INRC Lidas Campeiras Volume 1

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Apresentação

A presente iniciativa de pesquisa atende a uma demanda da Prefeitura Municipal


de Bagé/RS, financiada e acompanhando a metodologia do INRC- Inventário Nacional
de Referências Culturais / IPHAN, acolhida pela Universidade Federal de Pelotas
(UFPel), por intermédio do curso de Bacharelado em Antropologia, visando a
documentação, a produção de conhecimento e o reconhecimento das lidas na pecuária,
enquanto referência na estruturação da cultura campeira. A primeira fase do inventário
visa realizar levantamento de dados bibliográficos e etnográficos sobre as relações
sociais entre homens, animais e utensílios envolvidos na produção pecuária na região do
pampa sul-rio-grandense, e sua consecutiva documentação e indicação como patrimônio
imaterial brasileiro.

A denominação pampa, aqui, não será configurada somente conforme


delimitações geográficas e biológicas, mas será referida a partir dos agenciamentos de
relações que se estabelecem entre paisagens, mulheres, homens, animais, ofícios e
utensílios, na configuração de um modo de vida “campeiro” (sua construção, abandono,
transformações e perpetuação).

Os “viventes” que significam e experienciam esse modo de vida “campeiro” são


pessoas que vivenciam ou já vivenciaram os trabalhos realizados na empresa da
pecuária extensiva com o intuito de criar, manter e reproduzir rebanhos de gado ovino,
equino e bovino, no extremo meridional da América do Sul – realidade que mescla as
fronteiras político-geográficas entre o estado do Rio Grande do Sul e os países vizinhos,
Argentina e Uruguai (Leal, 1989; 1992a; 1992b; 1997; Kosby & Rieth et al, 2011).
Ondina Leal discute a constituição acadêmica e sócio-antropológica do “Sul” como um
território de significados de uma realidade social específica, de um sistema de valores e
de uma determinada área social. Para Leal (1997), “os limites desta área cultural
etnografada e etnografável, frequentemente nominada o Sul, numa estratégica
imprecisão retórica, não coincidem com os limites políticos do estado Rio Grande do
Sul ou mesmo os da nação Brasil.” O Pampa se estende pelos territórios do Uruguai e
da Argentina, fronteira que se expande - compondo culturas de fronteira (Hartmann,
2011) - e se inventa, na relação entre humanos – animais-objetos e ofícios. (Latour )

Dentre as inúmeras atividades que podem ser abarcadas pelo que se conhece por
“lida campeira”, estão os ofícios de esquila (que fazem a tosa dos ovinos), doma,
tropeirismo, lida caseira (manutenção doméstica e cotidiana da propriedade rural),
pastoreio (lida com rebanhos), feitura de aramados, ofício do guasqueiro (fazedor de
artefatos e utensílios em couro) que vivem ou viveram praticando trabalhos
relacionados à pecuária. Esses ofícios, citados assim, como especialidades de
determinados trabalhadores, são, no entanto, abarcados pelo saber de um único (e
múltiplo) agente, o “campeiro”, aquele que conhece e sabe fazer um pouco de cada uma
das lidas.
Acontece que tais ofícios e seus sabedores compartilham territórios de existência
(Goldman, 2006) de um modo de vida que traz como motor de sua descrição/invenção a
própria ruína – encarada aqui não como um ponto final, mas como o conjunto de
transformações que o mundo da pecuária sofre desde seus primeiros sinais de
instauração na porção mais meridional do Brasil e seus lindeiros.
Ao pensar as culturas como patrimônio, a partir do que sugere Gonçalves
(2004), atenta-se para a ideia de comunicação entre o passado e o presente, o cosmo e a
sociedade, o indivíduo e o grupo social, e entre a história, a memória e a experiência,
considerando, portanto, as dimensões da ressonância, da materialidade e da
subjetividade postas na relação entre humanos, objetos e animais nas práticas
campeiras. (Latour, 1994)
A ressonância nos remete aos significados dos fatos para além da atividade
consciente e deliberada de indivíduos ou grupos, tratando do reconhecimento da
particularidade de tal identificação. A ênfase na materialidade dialoga com o conceito
antropológico de cultura, no intuito de indissociar os aspectos materiais e imateriais do
patrimônio cultural de modo a perceber a agência dos objetos na lida, bem como as
potencialidades simbólicas de sua plasticidade. De outra parte, tais fatos não se
constituem somente como emblemas exteriores ao indivíduo, trazendo a dimensão do
patrimônio como constitutiva dos sujeitos, nos permitindo pensar as lidas campeiras
como semantizadoras da cultura em que homens, animais e objetos estão em relação.
Desta forma, a proposta de inventariar a pecuária como referência cultural do
pampa, privilegia a relação cultura/natureza, mais especificamente a relação dos
humanos com os animais, para pensar a configuração desta paisagem que também
compreende a experiência e é formada pela interação entre agentes (Wagner, 2010 ).

O Relatório Final do INRC das lidas campeira na região de Bagé compõem-se


de três volumes, subdivididos da seguinte forma:
Volume I - apresentamos as fichas do Sítio e Localidades – Bagé, Aceguá, Hulha
Negra, Arroio Grande, Herval, Pelotas, Piratini –; a ficha do Levantamento
Bibliográfico com 166 títulos e 78 matérias de jornais; as fichas dos sete Ofícios
indicados; a ficha das Celebrações onde registramos a marcação, sociabilidade
associada à lida com os rebanhos;
Volume II – apresentamos a fichas dos 69 Contatos, interlocutores deste Inventário, e as
fichas dos Questionários;
Volume III – apresentamos as fichas do anexo audiovisual e a apresentação de 300
fotos repertoriando as lidas campeiras no contexto das relações entre homens, mulheres,
animais, objetos, ofícios e paisagens do pampa sul-rio-grandense.
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CÓDIGO DA FICHA

BAGÉ/RS,
ARROIO
GRANDE/RS,
Região HERVAL/RS,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS
de
ACEGUÁ/RS,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Bagé/RS 2012 F10 1
e seu
HULHA
SÍTIO entorno NEGRA/RS,
PELOTAS/RS
,
PIRATINI/RS
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

DENOMINAÇÃO DO SÍTIO REGIÃO DE BAGÉ


Pampa Sul-Rio-Grandense
OUTRAS DENOMINAÇÕES
Antigos Caminhos das Tropas
ESTADO Rio Grande do Sul
MUNICÍPIOS Bagé, Aceguá, Hulha Negra, Arroio Grande, Herval, Pelotas, Piratini.
Bagé – Sede, Estrada do Quebracho, Vila da Lata, Palmas
Aceguá - Sede, Corredor Brasil-Uruguai, Minuano do Aceguá, Vila da Lata,
Espantoso
Hulha Negra – Mei’Água
DISTRITOS OU SUBDISTRITOS
Arroio Grande – Sede, Bretanhas, Palma, Capão das Pombas
Herval – Boa Vista
Pelotas – Bairro Fragata, Estrada da Barbuda, IFSUL - CAVG/Arco-Íris
Piratini – Sede e Quinto Distrito

LOCALIDADES NO SÍTIO Bagé, Aceguá, Hulha Negra


INVENTARIADAS NO ENTORNO Arroio Grande, Herval, Pelotas, Piratini

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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Imagem 1: Campos de Aceguá – Localidade Minuano. Acervo INRC – Lidas Campeiras na Região de Bagé/RS.

Imagem 2: Serra de Palmas. Acervo INRC – Lidas Campeiras na Região de Bagé/RS.

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Imagem 3: Marcos de fronteira Brasil-Uruguai. Acervo INRC – Lidas Campeiras na Região de Bagé/RS.

Imagem 4: Farol da Ponta Alegre. Entrada da Lagoa Mirim, Município de Arroio Grande. Foto de Adriano Machado, www.popa.com.br

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Imagem 5: Farol Cristóvão Pereira. Costa leste da Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre e Rio Grande. Foto de Geraldo Knippling, em
www.popa.com.br

3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS.

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

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4. DESCRIÇÃO DO SÍTIO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA .

4.1. LOCALIZAÇÃO

O sítio da pesquisa se delimita como Região de Bagé, considerando os processos de emancipação dos
municípios de Aceguá, em 2000, Candiota e Hulha Negra, em 1992, que alteraram as fronteiras políticas da
cidade. Bagé faz divisa com os municípios de Dom Pedrito, Hulha Negra, Caçapava do Sul, Pinheiro Machado,
Candiota e Lavras do Sul.
A região encontra-se localizada no Pampa Sul-Rio-Grandense que se caracteriza pela diversidade de paisagem e
flora, estendendo-se por 63% do território do Estado do Rio Grande do Sul – o que corresponde a 2% do território
brasileiro - divido em cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto (2004),
quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico. Bagé contempla a paisagem de campos naturais, região core do Pampa, com
predomínio de vegetação rasteiras e gramíneas.
O entorno do sítio é composto pelas cidades de Herval, Piratini, Arroio Grande e Pelotas, localizadas no Pampa,
com economia voltada para a pecuária extensiva, onde o homem é o grande semantizador da cultura (LEAL,
1997). O Pampa se estende pelos territórios do Uruguai e da Argentina, fronteira que se expande, compondo
culturas de fronteira (HARTMANN, 2011).
Pode-se dizer que a integração da região se deu a partir das tropeadas, ligando a região em um mesmo ciclo no
vai e vem das gadarias que em um primeiro momento cruzavam das Missões até Montevidéu, passando por
Bagé, Hulha Negra, Aceguá; hoje esse caminho pode ser percebido no trajeto da RS 153, onde notadamente
muitos postos de paragem destas tropas ainda permanecem erigidos, os currais de pedra que serviram de
estacionamento ainda são perceptíveis, sejam em sua forma inteiramente preservada ou na ruína deste símbolo
do tropeirismo missioneiro.
Outra rota que merece atenção por ter este vínculo com a integração regional é a hoje nomeada BR 293, antigo
Caminho das Tropas, ou, Estrada Real. Nela o gado que vinha de Bagé em direção às charqueadas de Pelotas
passava por cidades como Pinheiro Machado (antiga Cacimbinhas), Hulha Negra, Candiota, Pedras Altas,
Piratini, Cerrito até chegar à tablada de Pelotas onde este gado seria vendido e remanejado até seu destino final.
Outra característica desse caminho era a conexão com outras regiões, que mais ao sul faziam e ainda fazem,
parte da rede de criação bovina, tais como: Arroio Grande, Pedro Osório, Herval e Jaguarão.

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito
antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela
ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são
mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas
áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a
babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis
algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque
Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus
saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres).

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Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus),
o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus
hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema
muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul
(Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção
tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-
barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região; além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos.
Entretanto, a progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado
a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão
conta de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978). Na
Vila da Lata, comunidade quilombola, observou-se a existência de ranchos como moradia. A utilização das casas de
torrão como galpão ou cozinha é também uma forma de celebração da tradição. Nestes termos, em Aceguá, a
programação dos festejos do Dia 20 de Setembro, da Semana Farroupilha, envolve a construção de ranchos pelos
peões. E, conforme Vaz Mattos (2003), na localidade de Olhos D’Água em Bagé, até 1940 havia a predominância dos
ranchos.

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MANGUEIRA DE PEDRAS
As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.
CHARQUEADA

“Ali, onde os bois eram martirizados e os homens eram os magarefes, as pessoas passavam ao longe,
buscando evitar o próprio ar, empestado pelo cheiro de sangue e resíduos putrefatos dos animais abatidos.” (A
Poética da Charqueada - Mário Mattos, In: LEITE, 2011).

As charqueadas, ou saladeiros, caracterizavam-se por serem propriedades onde ocorria o abate do gado bovino e a
industrialização de produtos de origem animal, primordialmente do charque (carne salgada). O conhecimento da salga
não era uma novidade para conservação das carnes na região meridional do Brasil nos séculos XVII e XVIII, porém
apenas na década de 1780 ocorre o início da produção do charque em larga escala e, ao longo do século XIX, as
técnicas são aperfeiçoadas para o aproveitamento máximo dos derivados bovinos (MAESTRI, 1984). O processo de
salgar e secar a carne aumentava o rendimento por animal abatido, diminuindo o desperdício das sobras decorrente do
consumo in natura, já que, à época, não havia possibilidades de conservação de carnes frescas por longos períodos.
Além da fabricação do charque, outros subprodutos bovinos como couro, sebos, graxas, ossos e chifres também eram
extraídos, processados e destinados ao consumo local ou à exportação (GUTIERREZ, 2012; ROSA, 2012).
Pelotas, com sua paisagem entrecortada por águas, propicia o surgimento das charqueadas em fins do século XVIII, e
é ao longo do XIX que o núcleo saladeril torna-se o alicerce da economia local e o responsável pela consolidação do
regime de produção escravista no Rio Grande do Sul. Cerne dessa indústria, o Sítio Charqueador Pelotense abrange
propriedades instaladas nas proximidades da união do Arroio Pelotas com o Canal São Gonçalo as quais se constituem
em faixas de terras compridas e estreitas subdivididas em potreiros, hortas, pomares, olarias e o terreno ribeirinho. A
casa (sede da propriedade), os varais para secagem e os galpões de manufatura da carne salgada, dos sebos e dos
couros ficavam junto aos canais e arroios, extremamente necessários para despejar os dejetos e para escoar a
produção, além de serem as vias usadas para importar escravos, sal e outras mercadorias. O trânsito principal das
embarcações ocorria entre o canal São Gonçalo, a Laguna dos Patos e o porto de Rio Grande. Instalada em uma
região com importantes acessos fluviais, Pelotas tomava para si a primazia da indústria saladeril rio-grandense
(GUTIERREZ, 2001, 2010; MAESTRI, 1984; OGNIBENI, 2005; PESSI, 2008; ROSA, 2011, 2012).
Os rebanhos que abasteciam as charqueadas eram oriundos de estâncias gaúchas e Uruguaias ou eram criados no
próprio núcleo saladeril, uma vez que muitos estabelecimentos possuíam extensões de campo para esse fim e o gado
era levado aos abatedouros por peões de tropa, trabalhadores campeiros comumente descritos como “índios” (AL-
ALAM, 2008; PALERMO, 2009; ROSA, 2012). Dessa forma o mercado alavancado pela indústria saladeril envolvia
trabalhadores livres e escravos que desempenhavam as mais diversas atividades; peões campeiros, tropeiros,
charqueadores para as mais variadas tarefas dentro da fábrica, entre outros, envolviam-se direta ou indiretamente com
as charqueadas. Havia, também, toda uma gama de atividades domésticas destinadas às mulheres, sendo a grande

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maioria realizada por escravas que atuavam como mucamas, amas-de-leite, costureiras, parteiras, cozinheiras, nos
serviços de limpeza e de agricultura das propriedades (DALLA VECHIA, 1994; GUTIERREZ, 2009, 2010).
Sabe-se, pois, que desde o seu surgimento os saladeiros sofreram uma série de inovações com o objetivo de obter um
maior rendimento das carcaças. Levando-se em conta as transformações funcionais e tecnológicas ocorridas, as
charqueadas podem ser classificadas em: charqueadas antigas, em transição e modernas (MARQUES, 1990). Ainda
que o charque constituísse uma forma de melhor rendimento da carne bovina, as primeiras indústrias, datadas da
última vintena do século XVIII, operavam de forma artesanal e com grande desperdício de sobras. Nesse período inicial
– charqueadas antigas – os animais eram provavelmente abatidos a céu aberto, carneados no chão de terra ou sobre
couros e a carne era extraída e salgada a seco e então levada para os varais. Esses primeiros estabelecimentos não
contavam com trabalhadores especializados, os mesmos operadores abatiam, carneavam, salgavam a carne e
preparavam o couro, além de desempenharem outras atividades, todas sendo realizadas em um ambiente
extremamente simples. Apenas com o passar do tempo e da intensificação da produção do charque e subprodutos
bovinos tanto para o mercado interno quanto para exportação tem-se a divisão e especialização das tarefas. O cenário
da indústria saladeril transformou-se lentamente durante o século XIX; enquanto algumas fábricas tornaram-se
tecnologicamente mais sofisticadas, outras mantiveram um funcionamento mais rudimentar (MAESTRI, 1984;
MARQUES, 1990; ROSA, 2012).
Toda a fabricação do charque insidia em um trabalho especialmente insalubre, pois a lida envolvia o abate de animais
muitas vezes violentos, o uso de instrumentos de corte, como facas e machados, a manipulação de água, sebos e
graxas ferventes e o manuseio do sal nas carnes. O serviço completo nas charqueadas industriais era realizado por
mão-de-obra escrava especializada e, para tanto, a maioria do plantel escravo, cerca de 80% do total, era constituído
de homens, considerados mais resistentes às rudes tarefas de charquear (GUTIERREZ, 2010; ROSA, 2012). Apesar
dessa preferência, há relatos sobre as escravas mulheres cumprindo trabalhos dentro da fábrica, como, por exemplo, o
minucioso processo de ferver as gorduras bovinas derivadas da medula e dos miolos dos animais (DEBRET, 1835 apud
MAGALHÃES, 2000).
No auge de sua produção, que abrangia os meses mais quentes e secos do ano, em torno de 2.000 escravos
trabalhavam com aproximadamente 1.200 animais ao dia. A manufatura do charque bovino abrangia os meses de
novembro a maio, pois era necessário que as mantas de carne salgadas fossem plenamente secas nos varais. Durante
o período de entressafra, os trabalhadores escravizados eram remanejados para serviços nas olarias ou para produção
agrícola, para construção civil e para trabalhos no meio urbano. A importância do escravo africano para manutenção
das elites charqueadoras estava justamente na forma de regime político-econômico da época, pois somente serviçais
escravizados sem a opção da escolha submetiam-se a atividades saladeris de tamanha brutalidade; mesmo as

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pessoas mais pobres deixavam de aceitar os serviços impostos por essa indústria, em meio a um ambiente
desagradável e totalmente desfavorável para a saúde (CARDOSO, 1977; GUTIERREZ, 2010; MAESTRI, 1984; ROSA,
2011, 2012).
A partir de 1850, os saladeiros pelotenses suplantaram os sistemas de produção artesanal e na década de 1860,
observa-se o auge da indústria charqueadora acompanhada do crescimento e da modernização do núcleo urbano
(ROSA, 2012). Nos últimos trinta anos oitocentistas, lentamente inicia-se uma crise nesse setor atribuída à falta de
mão-de-obra resultante de vários fatores envolvendo o fim da escravidão. Bagé, anteriormente centro fornecedor de
rebanhos para as fábricas de Pelotas, em fins do século XIX e início do XX torna-se o núcleo charqueador rio-
grandense. É um período de relevância econômica das regiões limítrofes entre Brasil, Uruguai e Argentina em que há
investimentos destes dois últimos em ferrovias prolongadas até a fronteira brasileira e, principalmente, há incentivos à
livre navegação dos rios, resultados do envolvimento político e comercial dos três países, uma consequência paulatina
do fim das guerras por independência. Essa abertura entre as nações impulsionou Bagé a intensificar a produção de
gado e a estabelecer charqueadas na região. Boa parte dos rebanhos era criado no próprio local, evitando o desgaste
sofrido nas tropeadas; contudo, comercializava-se gado com os países vizinhos, legalmente ou através de contrabando.
A produção escoava principalmente através das estradas de ferro, via porto de Rio Grande. O município de Bagé firma-
se, então, como o polo saladeril gaúcho da época, atuando com mão-de-obra assalariada, trabalho em série, utilização
de máquinas mais modernas no processo de fabricação do charque e buscando um aproveitamento ainda maior dos
subprodutos derivados do bovino (CESAR, 1978; LEITE, 2011; SOARES, 2006). A forma de operação desse sistema
está muito mais próxima a dos abatedouros e frigoríficos atuais. O fim das charqueadas ocorre na década de 1950,
quando passam a ser adaptadas para que a carne salgada seja substituída pela carne frigorificada (LEITE, 2011).
Ainda que a indústria saladeril, em especial a da Pelotas oitocentista, não expresse o mesmo poderio exaltado pela
história do açúcar no nordeste brasileiro ou do café no sudeste, o charque foi base mantenedora dos trabalhadores
servis em plantações e engenhos do Brasil durante praticamente todo o século XIX (BUENO, 2011), sendo um dos
principais alimentos dos escravos no Brasil e em países que adotavam esse regime de trabalho: escravos produzindo
para escravos, pela manutenção da economia elitista brasileira.

5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO

A MISSÃO DA CRIAÇÃO: A SÍNTESE DE UMA REGIÃO ATRAVÉS DA TRADIÇÃO CAMPEIRA


Por Pablo Dobke

A região do pampa sul-rio-grandense, não é de hoje que se faz conhecida como um grande criatório de bovinos, estes,
desde os primeiros marcos históricos que sabemos estão anexados não só ao trabalho rural da região, assim como no
modo de vida de seus habitantes, primeiramente os índios, que caçavam o gado chimarrão extraindo principalmente o
couro e a carne, em seguida, com a criação das estâncias, este gado acabou por ser confinado, a ter um dono; desde
então o rebanho parou de ser alçado para ser criado e cuidado, para que com o tempo fosse vendido.
Neste sentido, a metade do século XIX foi de extrema relevância para tais ações, pois os cercamentos tornaram-se
mais efetivos ao longo da campanha, fazendo com que o trabalho rude da estância tomasse uma forma mais racional
no que toca a lida com o gado, pois este, já não era mais o bravio chimarrão de outros tempos, vinha se acostumando
aos espaços de confinamento em invernadas, a bretes e a currais; até mesmo o homem acabou por se transformar, o
antes índio caçador se transformou no peão, o homem campeiro, nosso conhecido gaúcho.
Como principal companheiro e indispensável para a mão de obra na estância, o cavalo foi introduzido nessas terras

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juntamente com o gado vacum e em simbiose com o indígena que aqui vivia, formou um exímio cavaleiro, característica
que até hoje denota o homem campeiro.
Desde então a associação entre homem, animal e localidade passou a formar uma rede de acontecimentos que tem
como características o trabalho, a criação e a movimentação dos animais. Neste sentido é que procuramos orientar
este texto, salientar a importância das características citadas anteriormente para assim sintetizar a região a qual nos
detemos.
Partindo da cidade de Bagé é que vamos pontuar os aspectos que permeiam o pampa e seu modo de vida, fazendo um
pequeno panorama desde a criação do gado bovino, ovino e equino até o seu transporte pelos caminhos das tropas
que levavam as charqueadas e posteriormente até os frigoríficos, em suma, o trabalho campeiro praticado desde Bagé,
estendendo as cidades vizinhas, assim como ao país vizinho, Uruguai.
Não há duvida acerca do notável destaque de Bagé e região no que compreende o criatório animal, estes inseridos
pelos espanhóis e posteriormente pelos jesuítas no século XVII, para servir de alimento nas missões. A região da
campanha sul-riograndense destacou-se já a partir deste período pelo fluxo mercantil que o terreno plano e sem
obstáculos naturais proporcionara tanto para o transporte legal das tropas e mercadorias gerenciadas pela Companhia
de Jesus, como para o rentável contrabando, característica até hoje notada na localidade de Aceguá.
Devido a este movimento comercial, principalmente no que tange a pecuária, ao longo do caminho que vinha das
missões até a fronteira com o Uruguai, pode-se perceber até os dias de hoje os currais de pedra que permeiam as
rodovias 293 e 153, estes marcos edificados são símbolos do intenso movimento que por anos se fez através das
tropeadas que tanto traziam o gado das missões como o transportavam até os abatedouros, principalmente na cidade
de Pelotas; as charqueadas que floresceram ao longo do século XIX na dita cidade foram o principal destino da gadaria
de corte que se criava na região de Bagé, assim Bagé se destacava como criatório, adaptando-se ao desenvolvimento
genético, enquanto Pelotas destacava-se no abate e produção da carne salgada.
Com o passar do tempo (iniciando com a chegada dos primeiros rebanhos, passando pela caça do gado selvagem com
os indígenas, confinamento do mesmo rebanho por parte dos jesuítas com mão de obra indígena e posteriormente
mestiça, cercamentos das estâncias e criação da propriedade privada; era das charqueadas e por fim, os frigoríficos), a
região de Bagé provou ter o aporte necessário para a prática da pecuária extensiva, não apenas pela vastidão de suas
pradarias ou pela preocupação com a qualidade da carne destes rebanhos – visto que os criadores de Bagé foram
pioneiros no Brasil naquilo que tange a propriedade de uma boa genética na qualidade da carne – mas sim, por praticar
um ótimo trabalho que perdura de tempos ancestrais até os dias de hoje, mesmo que a prática em si se renove (como é
o caso do sistema rotativo de criação de bovinos).
A região de Bagé mantém fortes laços arraigados a sua tradição campeira, seja nas estâncias tradicionais ou nos
modernos haras que se dedicam a criação do cavalo crioulo; o homem ainda mantém o contato diário com o animal na
mesma terra que viu toda essa cultura nascer, por isso, não é de se estranhar que ao passar pelos caminhos que
adentram a esta região se encontre homem, animal e terra, em simbiose completa, seja no trabalho, montado em seu
cavalo apartando o gado, ajudando uma vaca a dar cria, ou, no simples gesto de admirar o horizonte que parece não
ter fim no pampa.

A PECUÁRIA NA FORMAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


Por Odilon Leston Júnior

A formação do estado do Rio Grande do Sul assenta-se na relação conflituosa entre os impérios português e espanhol
na disputa por território e domínio político e econômico (ZANOTELLI et al, 2003). Tal ocupação territorial teve início
através dos padres jesuítas que, vindos do Paraguai, instalaram–se na margem leste do Rio Uruguai com o objetivo
primordial de catequizar grupos indígenas que habitavam os territórios sulinos. Inicialmente logrando em seus intentos,
os jesuítas fundaram, a partir de 1626, aldeias e povoados chamados missões ou reduções. O conjunto de povoados
de maior importância histórica foram os Sete Povos das Missões. Ademais, foram os jesuítas que introduziram a criação
de animais no Rio Grande do Sul: ovinos, eqüinos e principalmente bovinos. Junto com a pecuária e valendo-se do
trabalho indígena, desenvolveram também a agricultura e a extração da erva-mate.
Ainda no século XVII, as missões começaram a ser invadidas por bandeirantes – homens vindos de São Paulo, que
atacavam as aldeias com a finalidade de aprisionar os índios para vendê-los como escravos. Em função destes

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sucessivos ataques, as missões entraram em decadência. Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portugal e Espanha
determinaram que a população dos Sete Povos deveria deixar a área, que ficaria para os portugueses. Embora tal
tratado tenha sido anulado em 1761, e os índios missioneiros tenham obtido o direito de permanecer na região, as
sucessivas guerras causaram a destruição dos Sete Povos. Os rebanhos espalharam-se pelo campo aberto
reproduzindo-se livremente, tornando-se um gado selvagem (MOREIRA, 1999).
Este gado cresceu livre durante décadas. Inicialmente milhares de cabeças de gado vacum eram sacrificados apenas
para a retirada e venda do couro.
Em 1634, mil e quinhentas cabeças de gado foram introduzidas e distribuídas entre
os povos da margem esquerda do rio Uruguai. Quando essas comunidades
missioneiras recuaram para a outra margem do rio, em razão dos ataques dos
paulistas escravizadores, os animais foram transferidos para a margem meridional
do rio Jacuí, onde se desenvolveram, formando as vacarias do mar. Nos anos 1700,
quando a vacaria do mar começou a esgotar-se, devido à extração de gado,
vaqueiros dos sete povos, introduziram milhares de animais nos campos de cima da
serra, formando a vacaria dos pinhais (MAESTRI, 2006)

Em 1737, para garantir os interesses dos portugueses instalados na região, foi construído o forte Jesus-Maria-José,
junto ao canal que liga laguna dos Patos ao oceano Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma povoação que deu
origem a atual cidade de Rio Grande. O domínio português se expandiu pelas áreas vizinhas, que no seu conjunto eram
chamadas de Continente de Rio Grande de São Pedro, primeira denominação do atual estado do Rio Grande do Sul.
Neste mesmo período, desenvolveu-se a mineração em Minas Gerais, o que atraiu milhares de pessoas para a região e
formou um mercado de consumo para os produtos da pecuária sul-rio-grandense: couro, carne, leite e animais para
transporte. Em conseqüência, a atividade de caça foi sendo substituída pela criação de gado, pois os animais passaram
a ser reunidos em locais destinados a tal finalidade: as estâncias (Idem, 1999).
Assim, estimulada pelo mercado do Sudeste do país, principalmente de Minais Gerais, desenvolveu-se a pecuária no
Rio Grande do Sul. Portugueses, paulistas e catarinenses ganhavam do governo grandes extensões de campo, onde
instalavam suas fazendas de criação de gado. Com o tempo, as áreas campestres, principalmente as da Campanha,
ficaram povoadas de fazendeiros.
A partir de 1780 notamos uma modificação na utilização do gado vacum. Iniciam, na província de São Pedro, as
charqueadas na região de Pelotas, e a carne começa a ganhar considerável valor comercial. Porém, durante anos o
couro continuou com grande valor monetário. As vacarias geralmente vindas da região da campanha traziam o gado
para ser vendido na região de Pelotas.
Um ano após a chegada da família real Portuguesa ao Brasil, ocorre a primeira divisão administrativa da província de
São Pedro. Em 1809 a região fica dividida em quatro localidades: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio e Porto Alegre.
A seguir, mapa onde podemos visualizar a divisão territorial da então capitania (item 7).
Em meados do Século XIX, para delimitar as propriedades, iniciou-se o uso do arame farpado e alambrado. Desta
forma o dono da estância conseguia controlar seus peões e impedir o uso de sua propriedade por gaúchos nômades,
geralmente tropeiros sem a posse da terra, que habitavam na região. Estes gaúchos sem nacionalidade definida
transitavam facilmente entre os atuais territórios brasileiro, uruguaio e argentino, e tinham como principal atividade
retirar o couro do gado vacum e vendê-lo no mercado informal, na região de domínio português e para a metrópole
hispânica. O modelo de transação econômica praticado por estes gaúchos era possível porque havia gado selvagem
em abundância nessa região, ao mesmo tempo, era considerado ilegal porque os animais soltos pelos campos eram de
propriedade real – tanto da coroa portuguesa quanto espanhola.
As estâncias pertencentes a proprietários portugueses iniciaram a domesticação do gado da região. Entretanto, não
existia tratamento para a saúde dos animais. A partir do século XX notamos uma drástica diferença no tratamento da
saúde do gado, com evidente melhora. A qualidade da carne e a genética destes animais tornam-se referência no país
e a carne bovina produzida nas pradarias pampeanas é exportada para inúmeros países.
A região de Bagé é conhecida pela criação de gado bovino de corte de significativa qualidade, com melhoramento
genético dos animais. Começam na região exposições de gado, ovinos e eqüinos. O cavalo, principal instrumento de
trabalho fundamental para a produção pecuária, era utilizado para arrebanhar o gado vacum. Já a criação de ovelhas,
além de suprir a demanda doméstica de carne da propriedade, através da venda anual de lã, ajudava a cobrir as
despesas de manutenção da propriedade – com o advento da lã sintética, a criação de gado ovino diminui

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expressivamente, passando a atender nichos específicos do mercado de carne e a demanda da produção artesanal de
artefatos de lã.
A integração da região se deu a partir das tropeadas, ligando a região em um mesmo ciclo no vai e vem das gadarias
que em um primeiro momento cruzavam das Missões até Montevidéu, passando por Bagé, Hulha Negra, Aceguá; hoje
esse caminho pode ser percebido no trajeto da RS 153, onde notadamente muitos postos de paragem destas tropas
ainda permanecem erigidos, os currais de pedra que serviram de estacionamento ainda são perceptíveis, sejam em sua
forma inteiramente preservada ou na ruína deste símbolo do tropeirismo missioneiro.
Outra rota que merece atenção por ter este vínculo com a integração regional é a hoje nomeada BR 293, antigo
Caminho das Tropas, ou, Estrada Real. Nela o gado que vinha de Bagé em direção às charqueadas de Pelotas
passava por cidades como Pinheiro Machado (antiga Cacimbinhas), Hulha Negra, Candiota, Pedras Altas, Piratini,
Cerrito até chegar a tablada de Pelotas onde este gado seria vendido e remanejado até seu destino final.
Outra característica desse caminho, era a conexão com outras regiões, que mais ao sul faziam e ainda fazem, parte da
rede de criação bovina, tais como: Arroio Grande, Pedro Osório, Herval e Jaguarão.
A criação de gado de corte e a exposição destes animais geram milhões de divisas, estas duas atividades são
majoritariamente vinculadas a grandes e médias propriedades rurais. No entanto, o ponto de partida para este estudo
seja a região de Bagé, a paisagem cultural que se configura a partir da produção pecuária, sua origem, manutenção e
perpetuação, extrapola tais limites geográficos e políticos, transitando suas fronteiras pelos territórios que abrange a
chamada cultura pampeana. Assim sendo, tal área cultural perpassa tanto o sul do Rio Grande do Sul quanto países
vizinhos, como Argentina e Uruguai.
Ondina Fachel Leal discute a constituição acadêmica e sócio-antropológica do “Sul” como um território de significados
de uma realidade social específica, de um sistema de valores e de uma determinada área social. Para Leal (1997), “os
limites dessas área cultural etnografada e etnografável, freqüentemente nominada o Sul, numa estratégica imprecisão
retórica, não coincidem com os limites políticos do estado Rio Grande do Sul ou mesmo os da nação Brasil.”

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Início séc. XVIII Concessão de sesmaria ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX - 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio
da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e exportação
da carne bovina.

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6. PERFIL SOCIOECONÔMICO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

6.1. POPULAÇÃO

TABELA: População dos Municípios.

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %
328.275 306.193 22.082
PELOTAS 93% 07%
hab. hab. hab.
116.794 19.029
BAGÉ 97.765 hab. 84% 16%
hab. hab.
PIRATINÍ 19.841 hab. 11.570 hab. 58% 8.271 hab. 42%
ARROIO GRANDE 18.470 hab. 16.085 hab. 87% 2.385 hab. 13%
HERVAL 6. 753 hab. 4.519 hab. 67% 2.234 hab. 33%
HULHA NEGRA 6.043 hab. 2.909 hab. 48% 3.134 hab. 52%
ACEGUÁ 4.394 hab. 1.059 hab. 23% 3.335 hab. 77%
Fonte: IBGE (Censo demográfico 2010).

A População total dos Municípios estudados, segundo o Censo Populacional do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) em 2010 está, em sua maioria, concentrada nos centros urbanos totalizando uma média de 88% da
população total desses Municípios. Seguindo em ordem decrescente, o município com maior população e com maior
concentração urbana é Pelotas com 328. 275 habitantes concentrando 93% da sua população na área urbana. O
segundo município mais populoso é Bagé com 116.794 habitantes e concentra 84% da sua população na área urbana.
Hulha Negra e Aceguá são os Municípios que ainda mantém maior concentração da população no meio rural sendo que
Hulha Negra tem 52% habitando a área rural. Aceguá é o Município menos populoso com 4.349 habitantes, no entanto
é aonde se concentra o maior numero de habitantes no meio rural equivalendo a 77% do total.

6.2. QUALIDADE DE VIDA


TABELA: Índice de Desenvolvimento HUMANO MUNICIPAL (IDH-M).
MUNICÍPIO QUALIDADE DE VIDA (IDH-2000)

PELOTAS 0,816

BAGÉ 0,802

HULHA NEGRA 0,761

ARROIO GRANDE 0,758

PIRATINÍ 0,756

HERVAL 0,754

ACEGUÁ -

FONTE: PNUD

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entorno
HULHA
NEGRA/RS,
PELOTAS/RS,
PIRATINI/RS

Em 2003 foi divulgado no Brasil o segundo Atlas de desenvolvimento Humano de todos os municípios brasileiros. O IDH
Municipal (IDH-M) baseia-se nos microdados dos censos 1991 e 2000 do IBGE. O PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) classifica o desenvolvimento de uma determinada região da seguinte maneira: Região
com baixo desenvolvimento é aquela que apresenta um IDH menor que 0, 500; médio desenvolvimento a região que
compreende o IDH entre 0,500 e 0,800; alto desenvolvimento a região com IDH acima de 0,800. Assim, os Municípios
em questão apresentam, de acordo com o IDH, uma qualidade de vida entre média e alta, onde os municípios com IDH
médio são Arroio Grande, Herval, Hulha Negra e Piratiní. Dois Municípios apresentam IDH alto que são Pelotas (0,816)
e Bagé (0,802). Pelotas tem o IDH maior que Rio Grande do Sul (0,814) e Brasil (0,766). Bagé tem o IDH maior que o
do Brasil. A estrutura administrativa de Aceguá tem como marco inicial 01 de Janeiro de 2001, portanto este não faz
parte da analise do IDH – M DE 2000 que tem como base dados do censo de 1991 e 2000 do IBGE.

6.3. TRABALHO E RENDA FAMILIAR


RENDA FAMILIAR
TABELA: ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO - RENDA
MUNICÍPIO IDH-RENDA
PELOTAS 0,748
BAGÉ 0,722
ARROIO GRANDE 0,676
HULHA NEGRA 0,665
PIRATINI 0,650
HERVAL 0,638
ACEGUÁ -
FONTE: PNUD

O índice de desenvolvimento Humano – Renda (IDH- Renda) é medida através do PIB per capita que é a soma dos
bens produzidos num determinado lugar pela sua população. De acordo com o IDH 2000 o padrão de vida da
população dos municípios estudados é considerado médio (entre 0,500 e 0,800) sendo que o município com melhor
padrão de vida é Pelotas com IDH de 0,748 que esta acima da média do Brasil (0,766) e abaixo da média do Rio
Grande do Sul (0,814). Bagé vem em segundo com 0,722. Em seguida Arroio Grande, Hulha Negra, Piratini e, por
ultimo, está Herval. A estrutura administrativa de Aceguá tem como marco inicial 01 de Janeiro de 2001 portanto, este
não faz parte da analise do IDH-renda.

TRABALHO
TABELA: População Ocupada em estabelecimentos Agropecuários
MUNÍCÍPIOS PESSOAL OCUPADO %
Aceguá 2.128 pessoas 48%
Hulha Negra 2.417 pessoas 40%
Herval 2.488 pessoas 37%
Piratini 7.028 pessoas 35%
Arroio Grande 3.372 pessoas 13%
Bagé 3.326 pessoas 03%
Pelotas 11.444 pessoas 03%
Fonte: IBGE (Censo Agropecuário de 2006 e Censo Demográfico de 2010)

O IBGE define estabelecimento agropecuário como a unidade de produção que se dedica, de maneira total ou parcial, a
atividades agropecuárias, florestais e aquicolas, subordinada a um único dono (Produtor ou Administrador),

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independente do tamanho, forma jurídica e localização (área Rural ou Urbana) cujo objetivo é a produção para
subsistência ou comércio. De acordo com o censo agropecuário 2006, 32 203 pessoas do total dos municípios estão
ocupados em estabelecimentos agropecuários equivalendo a 6, 43%. Salienta-se que o Censo agropecuário divulgou
os dados em 2007 e o censo demográfico divulgou em 2011. Assim pode existir incompatibilidade nos dados quando se
analisa o percentual de pessoas ocupadas em relação ao total da população. No entanto, acredita-se que essa
diferença não tenha sido expressiva. O que se pode apreender com esses dados é que nos municípios com maior
população, que são Pelotas e Bagé, é inexpressivo (03% da população total) o numero de pessoas em
estabelecimentos agropecuários. Nos demais municípios essa proporcionalidade aumenta sendo que em Aceguá onde
existe maior concentração da população no meio rural, o pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários equivale
a 48% da população total.

6.4. EDUCAÇÃO
TABELA: Índice de Desenvolvimento Humano – Educação.
MUNICÍPIO IDH-EDUCAÇÃO
Pelotas 0,922
Bagé 0,898
Arroio Grande 0,856
Hulha Negra 0,856
Herval 0,843
Piratini 0,838
Aceguá -
FONTE: PNUD

O IDH mede a qualidade do sistema educacional de uma região através do acesso ao conhecimento. Essa medida se
dá através da média de anos de educação recebidos por adultos (pessoas a partir de 25 anos de idade) e a expectativa
de anos de escolaridade que as crianças têm ao iniciar a vida escolar. De acordo com o IDH-Educação (IDH-E) do ano
de 2000 os municípios em questão tem um índice de educação alto sendo o município de Pelotas o mais alto IDH-E
com 0,922, seguido por Bagé com 0,898. Hulha Negra e Arroio Grande se igualam com o mesmo IDH-E sendo ambos
com 0,856. Os quatro tem IDH-E maior que a média dos municípios brasileiros (0,849) e somente Pelotas tem um
Índice maior que o do Rio Grande do Sul (0,904). Herval e Piratini têm os menores índices. Como já foi salientado
anteriormente o município de Aceguá se emancipou de Bagé em 2001 e por isso não está na analise do IDH.

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7. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

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Localização dos caminhos das tropas.


Acervo: Eron Vaz Mattos

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Primeira divisão política do Rio Grande do Sul.

8. LEGISLAÇÃO

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL E PATRIMONIAL


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o

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tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

9. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

9.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura; envelhecimento;
masculinização no campo; ausência de políticas públicas voltadas para o campo; diminuição da oferta de emprego e
mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associadas aos antigos Caminhos das Tropas.

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9.2. RECOMENDAÇÕES
Recomendações
Com relação à pesquisa do INRC- Lidas Campeiras
O Inventário das Lidas Campeiras buscou retratar o pampa sul-rio-grandense, na sua diversidade, nesse sentido o
contexto da investigação acompanha as redes de produção e comercialização dos rebanhos de bovinos, ovinos e
equinos em um território que abrange o sítio e o seu entorno, dos campos naturais ao litoral. Em que a paisagem da
pecuária se associa à da agricultura, com áreas de colônias e assentamentos, tal perspectiva se insere nas
transformações / invenções econômicas / culturais presentes nas narrativas sobre agricultura como uma prática
predatória por ocupar e revolver a terra em área de pecuária por excelência. Esta associação entre pecuária e
agricultura está aparece em narrações, no repertório alimentar e na diversidade da paisagem, entre outros aspectos
que devem ser aprofundados. Discussão que diversifica a forma de retratar a paisagem consagrada do pampa como
estância e tapera.
A discussão das fronteiras políticas e culturais entre países lindeiros – Brasil, Uruguai e Argentina - que compartilham
de um mesmo modo de vida campeira, é dimensão que se impõem. Neste ponto, sobre as trocas na fronteira,
considerando a fronteira do Aceguá, observa-se, especialmente, a existência dos Quileros, do contrabando, dimensão
que também se evidenciou, a qual assume importância tendo em vista a associação entre gaúcho e contrabandista.
Deter-se e aprofundar o dado do envelhecimento da população que permanece no campo, situação ocasionada pela
saída dos jovens para estudar na cidade. Tal deslocamento se caracteriza como familiar, pois dependendo da idade dos
jovens/crianças, elas são acompanhadas pela mãe que também busca emprego na cidade. No início da entrevista com
Sônia, Eliezer caracteriza a localidade da Meia’Água como sendo todos “da família”; atualmente restam somente três
proprietários aparentados. As narrativas do esvaziamento do campo remetem à reflexão da sociabilidade no campo: da
não ocorrência das carreiras, dos bolichos, dos bailes, das visitas aos vizinhos que agora moram na cidade.
Da mesma forma, o dado da masculinização do campo, com a diminuição de emprego na zona rural para as mulheres
que vão buscar colocação no mercado de trabalho em área urbana também deve ser aprofundado. Neste ponto, Flávia
Blanco comenta a falta de políticas públicas principalmente de educação e de saúde como fatores de expulsão dos
jovens do campo, ocasionando o êxodo familiar em direção à cidade.
Nas festas de marcação (F20-2) isso se evidencia. Atualmente, o caráter utilitário de marcar, capar e assinalar os
animais tem se sobressaído em relação à festa. Além do esvaziamento do campo, o envelhecimento da população e a
escassez de mão-de-obra residente nas propriedades rurais, contribuem para que o serviço da marcação seja feito da
forma mais prática e salubre possível. Há relatos de jerras em que o serviço é feito pelo proprietário e alguns
empregados, a marca é aquecida em fogo a gás, ou a marca pode ser com produto químico, a frio, e a castração é feita
com bordizo. Quando se realizam as festas de marcações, estes eventos têm um caráter mais simbólico do que
prático, sendo uma celebração do rebanho e de seu dono.
Outro ponto abrange as narrativas sobre a dificuldade da manutenção de trabalhadores no campo, como consequência
de fatores diversos (além dos já mencionados), quais sejam, os desconfortos provocados entre peões e proprietários
devido aos acordos de trabalho promovidos pelas Leis Trabalhistas, a falta de incentivo ao ofício, a introdução de
técnicas não-dominadas pelos peões, a baixa remuneração dos trabalhadores rurais, entre outros elementos, culminam
na desvalorização do ofício do campeiro, nos âmbitos social, econômico e político.
As narrativas sobre as mangueiras de pedra, construções em ruínas em todo sítio etnografado em paisagem que
abrangia os antigos Caminhos das Tropas, mostram a importância dessas edificações na memória das pessoas ligadas,
de alguma forma, às lidas campeiras no pampa sul-rio-grandense. Os Caminhos das Tropas eram as vias por onde
seguiam os comerciantes ou tropeiros de rebanhos e as carretas com mercadorias para venda nas cidades e nas
propriedades rurais. Essas atividades são lembradas nas narrativas sobre o campo. Algumas propriedades mantêm
essas mangueiras de pedra como segmento das atuais, feitas de madeira; porém não foi localizada nenhuma que
estivesse íntegra ou totalmente conservada. Observa-se, assim, a necessidade de um aprofundamento multidisciplinar
envolvendo as mangueiras de pedra e, consequentemente, os Caminhos das Tropas, tendo como ponto de partida

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estudos arqueológicos e antropológicos.


Quanto às ações de salvaguarda
Com relação às edificações relacionadas às lidas campeiras, observamos a representatividade do tombamento do Sítio
Charqueador Pelotense, já inscrito no plano diretor da cidade como área de interesse cultural. As charqueadas eram
estabelecimentos onde ocorria o abate do gado e a industrialização de seus derivados, sendo o charque o principal
produto. Pelotas, com seus diversos cursos d’água, proporciona o surgimento das charqueadas a partir de 1780 e
durante o século XIX o núcleo saladeril pelotense torna-se a base da economia local e o responsável pela firmação do
regime de produção escravista no Rio Grande do Sul. As águas eram importantes para o escoamento dos dejetos
provenientes dessa indústria e eram as vias utilizadas para exportar a produção e importar escravos, além de sal e
outras mercadorias. Portanto, o cerne dessa indústria, o Sítio Charqueador Pelotense abrange propriedades instaladas
nas proximidades da união do Arroio Pelotas com o Canal São Gonçalo. O mercado alavancado pelos saladeiros
envolvia trabalhadores livres e, diretamente nas atividades dentro das charqueadas, homens e mulheres escravizados
africanos e descendentes de africanos. A importância do escravo para manutenção das elites charqueadoras estava na
forma de regime político-econômico da época, pois somente serviçais escravizados, sem a opção de escolher seu
trabalho, submetiam-se a atividades de tamanha brutalidade; nem as pessoas mais pobres aceitavam os serviços
nessa indústria, pois era um ambiente totalmente prejudicial à saúde. Os escravos trabalhavam produzindo charque
para alimentar escravos em plantações e engenhos no Brasil e em outros países que adotavam o mesmo regime. O
que se tinha, então, eram escravos, trabalhando para manutenção de escravos, como forma de sustentar a economia
elitista brasileira.
De forma geral, o processo de ocupação da região em tela, que implica numa distribuição de bens de forma
territorialmente dispersa, sugere que estratégias de salvaguarda sejam elaboradas no âmbito de um escritório regional,
que não apenas coordene os trabalhos de inventário, quanto estabeleça, à região de interesse, políticas de
planejamento comuns para a gestão do patrimônio identificado.
Especificamente algumas ações podem ser consideradas prioritárias:
Indução ao estabelecimento de áreas especiais de interesse cultural, vinculadas ao território rural, no âmbito dos
municípios, que contemplem a diversidade de expressões relacionadas à tradição campeira e rural da região;
Oferecimento de recursos para a formação técnica, relacionadas às intervenções de salvaguarda;
Investimento na formação e atualização de profissionais sensíveis à importância dos bens em questão;
Investimento em ações de educação patrimonial e de ressignificação das relações rural-urbanas no mundo
contemporâneo.
De forma geral é necessário explicitar a importância das pequenas aglomerações, por serem elas justamente os
maiores alvos das transformações que se dão sobre o território rural no mundo contemporâneo. Neste enquadramento
devem ser listados tanto os pequenos aglomerados populacionais, quanto as representações materializadas em
complexos relacionados à habitação ou produção. Esta materialidade pode ser expressa por uma diversidade de
elementos, constituídos por sedes de estância ou de sítios charqueadores; casebres e ranchos; construções de apoio
ao estabelecimento agropecuário, relacionadas tanto à produção e armazenamento de produtos quanto ao abrigo de
animais, tais como galpões, estábulos, silos, celeiros, cocheiras, fornos e fornalhas, banheiros, mangueiras e terraços
de pedra e similares. Em alguns casos, complexos religiosos e de lazer podem estar associados a esses contextos,
ampliando ainda mais a listagem e incluindo edificações como capelas, igrejas, residência padre/pastor, cemitério e
locais para ritos.
Para respaldar a possibilidade do reconhecimento do valor patrimonial das localidades rurais e seus elementos, é
possível referenciar noções provenientes das cartas patrimoniais, dentre as quais cabe destacar os conceitos de sítio
rural, expresso na Carta de Veneza (1964); de conjunto histórico, presente na Carta de Nairóbi (1976), bem como na
Carta de Machu Picchu (1977) e de pequenas aglomerações, conforme expresso pela Declaração de Tlaxcala (1982).
Ainda, é importante salientar que a Declaração de Tlaxcala, ao se reportar ao fato de que as pequenas aglomerações
dão testemunho de nossas culturas, através de sua característica de reservas de modos de vida, oferece um ponto de

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ligação entre estas noções elencadas. Considerando que o modo de vida pode ser compreendido como um conjunto de
elementos percebidos como constitutivos da vida cotidiana, que permeia as relações do homem com o ambiente e com
o tempo, envolvendo práticas diárias relativas à obtenção dos meios de subsistência, relacionados à agricultura ou
outras formas de trabalho, à espiritualidade (religiosidade) e sociabilidade (SILVA, 2009), pode-se incluir na abordagem,
ainda, as preocupações relativas às relações entre espaços construídos e não-construídos, expressos na Carta de
Florença (1981).
Tais referenciais, que embora enfáticos, não são únicos no repertório das Cartas Patrimoniais, além de oferecer
subsídios a projetos e ações voltados aos aspectos de valorização das localidades rurais, expressam a necessidade de
investimentos em relação às políticas direcionadas à salvaguarda dos bens existentes nesses lugares.

10. DOCUMENTOS ANEXADOS


Obs.: Para lista dos documentos localizados, consultar o Anexo 1: Bibliografia.

FORMULÁRIOS
FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE
F11-1 a 7
LOCALIDADES

ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA F1 – A1 de 1 a 238

ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS F1-A2-1 (de 1 a 1.382), F1-A2-2 (de 1 a 9), F1-A2-4 (1) e F1-A2-5 (de 1 a 17)
ANEXO 3: BENS CULTURAIS
Lidas campeiras
INVENTARIADOS

ANEXO 4: CONTATOS F1 – A4 de 1 a 69

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a 7

11. TÉCNICOS RESPONSÁVEIS

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Flôor Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues DATA
Pablo Dobke, Liza Bilhalva Martins da Silva, Odilon Leston Júnior e Vanessa 10/04/2013
Ercolani Duarte.
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth.
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Região de Bagé,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS 2012 F11 1
Bagé/RS RS
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Região de Bagé


LOCALIDADE Bagé (Sede, Palmas, Estrada do Quebracho, Banhado dos
Carneiros/Estrada Bagé-Aceguá)
MUNICÍPIO / UF Bagé/RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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Região
Bagé,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO: LOCALIDADE RS de 2012 F11 1
RS
Bagé/RS

Imagem 1: Bairro Ivo Ferronato. Periferia de Bagé.

Imagem 2: Estrada Bagé/Aceguá. Próximo à localidade de Banhado dos Carneiros.

Imagem 3: Distrito de Palmas. Bagé.

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FICHA DE IDENTIFICAÇÃO: LOCALIDADE RS de 2012 F11 1
RS
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Imagem 4: Estrada do Quebracho. Bagé.

3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS.

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO


Município situado na campanha, área fisiográfica do Bioma PAMPA.

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %
116.794 19.029
BAGÉ 97.765 hab. 84% 16%
hab. hab.

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito
antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela
ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são
mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas
áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a
babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis
algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque
Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus
saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres).

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Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros
bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita
(Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um
ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-
barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas
de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o
caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (BRASIL, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região; além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos.
Entretanto, a progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado
a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão
conta de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância está ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
Propriedades rurais visitadas em Bagé:
Palmas:
Pequena propriedade do Sr. Edemar Scholante
Pequena propriedade do Sr. Leomar Alves
Estrada Bagé / Aceguá:
Fazenda Conquista do Sr. Nilo Romero e Srª Percília Romero
Olhos D’Água:
Pequena propriedade do Sr. Eron Vaz Mattos, informações coletadas a partir do ensaio etnográfico “Aqui: Memorial em
Olhos D’Água” (2003) e da entrevista com o proprietário.

RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

MANGUEIRA DE PEDRA
As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

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CHARQUEADA

As charqueadas, no Rio Grande do Sul Meridional, eram indústrias onde ocorria o abate do gado e a produção de
charque (carne salgada) e de outros derivados bovinos. Em Pelotas, as propriedades que constituem o Sítio
Charqueador Pelotense (GUTIERREZ, 2010), estavam dispostos em faixas de terras subdivididas em potreiros, hortas,
pomares, olarias e o terreno ribeirinho. A casa, os varais e os galpões de produção de carne salgada, dos sebos e dos
couros ficavam junto aos arroios e canais que serviam para despejar os dejetos, escoar a produção e importar sal e
escravos (GUTIERREZ, 2010). Havia propriedades que dispunham apenas das indústrias e outras que contavam,
também, com a criação do gado (GUTIERREZ, 2001; ROSA, 2012).
As charqueadas como estabelecimentos industriais, surgiram na região da atual cidade de em Pelotas a partir de 1780
e no século XIX tornaram-se o principal fomentador econômico da região. O produto primordial dessas indústrias era o
charque bovino, utilizado, à época, principalmente para alimentação de escravos. Além do charque, outros derivados
bovinos eram extraídos como sebos, graxas e couros, destinados ao consumo local e à exportação (GUTIERREZ,
2001; ROSA, 2011, 2012). Dezenas de estabelecimentos funcionaram às margens dos arroios que banham o município
de Pelotas (ROSA, 2011, 2012) e utilizavam mão-de-obra escravizada (africanos e descendentes de africanos) até a
década de 1880, quando ocorreu a abolição da escravidão no Brasil. Pelotas foi, dessa forma, o cerne da produção
saladeril oitocentista.
Posterior ao surgimento das charqueadas pelotenses, essa indústria inicia, no interior do Rio Grande do Sul, em fins do
século XIX e início do século XX, em um período de relevância econômica das regiões de fronteira brasileira com o
Uruguai e a Argentina, principalmente devido à livre navegação dos rios e ao envolvimento político e comercial dos três
países, consequências do fim das guerras por independência (SOARES, 2006). Essa abertura entre Brasil, Uruguai e
Argentina impulsionou o município de Bagé a intensificar a produção de gado e a estabelecer charqueadas nessa
região. Bagé firma-se, então, como o polo saladeril gaúcho da época (SOARES, 2006). Diferentemente das
charqueadas pelotenses do período escravagista, em Bagé essa indústria operava com mão-de-obra assalariada,
trabalho em série, utilização de máquinas no processo de fabricação do charque e maior utilização de sub-produtos
derivados da carne bovina (SOARES, 2006). A forma de operação desse sistema está muito mais próxima a dos
abatedouros e frigoríficos atuais. O fim das charqueadas ocorre na década de 1950, quando passam a ser adaptadas
para que a carne salgada seja substituída pela carne frigorificada (LEITE, 2011).

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5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
Bagé - cidade situada na campanha, área fisiográfica do Bioma PAMPA – desde muito cedo notabilizou-se pelo forte
arraigo a tradição pecuária, apoiada pela grande vastidão de campos característicos da região e pela proximidade com
o país vizinho Uruguai, outro grande notável da produção pecuária, o que foi de grande valia para a introdução de raças
puras ao sistema criacional bovino, não só para a região, assim como para todo o Estado do Rio Grande do Sul .
A região que hoje se encontra a cidade de Bagé, por muito tempo pertenceu à coroa espanhola, servindo de posto
avançado para a passagem das tropas de gado que vinham das Missões Orientais, especificamente de São Miguel;
este posto, anteriormente conhecido como Santa Tecla que deu origem a cidade de Bagé quando foi tomado pelo
Sargento-mor Rafael Pinto Bandeira em 1776.
Contudo, o gado antes de ser domesticado pelas estâncias missioneiras, em um primeiro momento era caçado - a
denominada preia do gado selvagem - pela população que vagava errante pelas estepes do sul, sendo deste retirado
principalmente o couro, que valia como moeda de troca no Rio da Prata; outro fator importante nesta ocasião era a
questão do comércio informal com a Banda Oriental, o popular contrabando fez com que centenas de cabeças de gado
atravessassem de lá para cá e vice-versa, prática essa adotada até meados do século XX. Conforme Lemieszek, a
vinculação de Bagé com a atividade da pecuária, está fortemente ligada a esse processo de rota de passagem de
tropas e comercialização com os países Platinos, visto a localização deste posto, mas principalmente a vastidão e bom
preparo de suas pradarias. (ver entrevista: com o historiador em 16/02/2012).
Porém, a princípios do século XVIII começa de fato a ocupação do hoje estado do Rio Grande do Sul em consonância
com a interiorização do Brasil, fato este promovido pela descoberta de ouro nas Minas Gerais. Por meio desta
descoberta, o Rio Grande do Sul passa a inserir-se na economia colonial como fornecedor de gado bovino, cavalar e
muar para o abastecimento e transporte das mercadorias nas Minas. Neste momento, devido ao esgotamento do gado
vacum – e também para uma melhor proteção da fronteira - começaram as concessões de sesmarias, principalmente
aos militares residentes na região, segundo Fabio Kühn (2007) esse processo deu inicio a sedentarização da atividade
pecuária.
Neste momento Bagé também exerce grande importância no que se diz ao criatório de gado, visto a concessão de
sesmarias e a instalação de grandes estâncias, as quais careciam de massiva mão de obra, fato este que além de
provocar a sedentarização de centenas de homens e mulheres com as práticas das lidas campeiras, fez com que a
campanha fosse povoada sistematicamente, ato esse que gerava a seguridade da fronteira recém criada.
Seguindo ao longo dos séculos XVIII e XIX, Bagé acumula uma grande riqueza devido a este setor primário da
pecuária, primeiramente como criatório e posteriormente na atividade saladeril com o charque, fato este que segundo
Lemieszek fez de Bagé – juntamente com Pelotas – uma das duas cidades do Estado com mais de uma charqueada a
introduzindo no setor mercantil não só do gado em pé, como também na indústria da carne para pronto consumo. Para
o historiador Elmar da Silva, a partir de 1810 a indústria do charque gaúcho adquire grandes proporções devido a
impossibilidade da indústria Platina, de carne seca, de atender o consumidor. (DA SILVA, p. 59. 1979).
No entanto, Bagé obtém seu maior êxito no que se refere a introdução das melhorias genéticas do gado, sendo a
pioneira neste seguimento. Antes da citada melhoria genética, o gado conhecido como Chimarrão era criado em campo
aberto pelas pradarias de Bagé e região, fazendo com que não houvesse uma especificidade genética nem mesmo um
aprimoramento da raça. Contudo, Bagé sente necessidade de uma melhoria, visto que o charque vindo do Prata
ultrapassava em qualidade o produzido na região, dado ao desenvolvimento genético de seus rebanhos, com isso,
ainda no século XIX, especificamente em 1899, Bagé faz sua primeira importação de gado de raça definida - neste caso
da raça Durham – pela família Nunes Vieira, proprietários da renomada Estância do Tigre; em primeiro momento esse
gado era importado de cabanhas uruguaias e argentinas e posteriormente vindo direto da Europa. (LEMIESZEK,
entrevista INRC em 16/02/2012).
E por esta razão, funda-se em Bagé no ano de 1906 por Leonardo Brasil Collares o Instituto Riograndense de
Genealogia, onde começa a catalogação das raças trazidas, assim como as cabanhas de criação envolvidas neste
processo de melhoramento genético do gado vacum. Com esta metodologia, Bagé salta na frente rumo a uma pecuária
progressista, razão esta que consolida a região no seguimento. Observa-se, contudo, a aptidão criacional de suas
estâncias, em um primeiro momento com o gado Chimarrão em campo aberto e posteriormente a criação de cabanhas
de melhoramento genético, fazendo desta a vocação do município e a pondo no marco de desenvolvimento do gado
para o Estado do Rio Grande do Sul.
Como já mencionado antes, as importações deste gado em princípio eram feitas através dos países do Prata,
importações estas muitas vezes feita de maneira ilegal por meio do contrabando, no entanto, na década de 10 do
século XX essa importação passou a ser feita diretamente da Inglaterra sob a tutela do Visconde de Ribeiro Magalhães,
onde mais tarde outras diversas cabanhas seguiram o exemplo e passaram a importar grandiosos lotes, fazendo com
que Bagé obtivera destaque na imprensa Pelotense, especificamente no jornal Diário Popular com a matéria intitulada

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“A lição de Bagé”, onde cita o referido melhoramento e que este sirva de exemplo para os demais municípios no que
tange a criação de raças puras; além de colocar Bagé no patamar de estar entre as três melhores exposições-feiras da
América do Sul, ao lado das exposições pecuárias de Montevidéu e Buenos Aires. (Jornal DIÁRIO POPULAR. Pelotas,
RS, 30/10/1914 p. o1).
Outro ponto importante no que toca a pecuária na cidade de Bagé é a criação de associações rurais. Criada em 1904, a
Associação Rural de Bagé não foi a primeira a ser criada, porém era tida como a mais estruturada e a que mantinha o
melhor rebanho no quesito de qualidade genética, segundo Cláudio Lemieszek, essa Associação servia de referência a
outros grupos de criadores quando por motivo de uma melhor organização se motivavam a fundar associações em seus
municípios. (LEMIESZEK: 16/02/2012).
Neste aspecto, Bagé além de pensar em uma melhoria genética para o seu rebanho, tratou também de estruturá-lo e
organizá-lo, mantendo essa prerrogativa do pioneirismo no segmento pecuário.
Neste mesmo pioneirismo, o Visconde Ribeiro de Magalhães reúne esforços para instalar em Bagé o primeiro frigorífico
do Rio Grande do Sul, isto no ano de 1913, contudo, este plano não daria certo devido a eclosão da Primeira Guerra
Mundial, visto que o grande capital injetado para a fundação deste frigorífico provinha da Europa, principalmente da
Inglaterra. Para Lemieszek, a proposta de instalação deste frigorífico com capital inglês mostra a importante liderança
de Bagé no ramo pecuário. (LEMIESZEK: 16/02/2012).
Porém, mesmo sem a instalação frigorífica – algo que só iria acontecer em 1918 e 1919 nas cidades de Rio Grande e
Pelotas – devido a guerra, a região de Bagé trata de inserir-se no contexto mundial de exportações. A carne bovina
provinda das charqueadas passa a ser o substrato alimentício da grande guerra na Europa, assim como o carvão
mineral provindo das localidades de Candiota e Hulha Negra e exportado para suprir as indústrias metalúrgicas
européias. (DIÁRIO POPULAR. p.1, 11/08/1914; p.1, 16/09/1914).
Além do gado bovino, Lemieszek destaca a importância do cavalo crioulo e da ovino cultura para a região,
mencionando que o aperfeiçoamento genético destes foi gerado algumas décadas após o melhoramento bovino. Para
salientar essa representatividade, a região detém prêmios no que se refere a ovino cultura com os criatórios de Pedras
Altas e Pinheiro Machado, onde podem-se enfatizar a nobilidade do conhecido “cordeiro Pedras Altas” – excelência em
matéria de carne – e a lã da raça merino, que por muito tempo devido a sua qualidade sustentou a produção laneira da
crescente indústria têxtil que vinha se destacando na região sul do estado, onde pode-se destacar a Fábrica Rheingantz
de Tecidos na cidade de Rio Grande.
Ao se tratar dos cavalos crioulos, é criada em Bagé, na década de 1930, a Associação Brasileira de Criadores de
Cavalos Crioulos (ABCCC) e, em 1932, a sede da Associação se transfere para a cidade de Pelotas – onde permanece
até hoje – devido ao fato da Associação do Registro Genealógico Sul Rio-Grandense também estar instalado na mesma
cidade. No entanto, a região de Bagé é considerada como um dos maiores criatórios de cavalos do país, comportando
ao todo 56 haras especializados na criação e melhoramento da raça de cavalos Crioulo e Puro Sangue Inglês (PSI). O
PSI também possui lugar de destaque no que diz respeito à criação de equinos, visto que por Bagé entra o primeiro
exemplar da raça no Estado, importado pelo criador Cândido Dias de Borba, que em viagem a Europa no século XIX
acaba por comprar um exemplar do animal para fundar em Bagé uma coudelaria que devido à importância do cavalo
militarmente, se tornou a maior fornecedora do animal para o Exército Brasileiro. O mesmo criador entusiasmado com o
potencial econômico de sua coudelaria resolve importar de forma pioneira a raça Percheron, animal este de grande
força voltado ao trabalho de tração. Fato interessante este, pois a implantação desta raça se perfila com a colonização
ítalo-germânica e como é sabido, o Percheron foi um animal - e ainda é – muito admirado por esses colonos que o
preferiam para puxar suas carroças. Neste sentido observa-se a visão empreendedora na melhoria do rebanho equino,
fato que talvez determine a consolidação da região como progressista do ramo pecuário.
Ainda sobre a importância do cavalo para a região, cabe ressaltar a figura de Joaquim Francisco Assis Brasil, que além
de papel fundamental na política brasileira durante a Primeira República, era grande incentivador deste ardoroso
processo de melhoria genética. Foi Assis Brasil que trabalhou intensamente na melhoria do PSI e na introdução do Puro
Sangue Árabe, como também introduziu as raças bovinas Jersey e Devon além da ovina Karakul; Assis possuía sua
estância no que hoje é a cidade de Pedras Altas. Neste aspecto, Assis Brasil foi convidado a fazer a palestra de
abertura na primeira Exposição-Feira de Bagé em 1904, palestra esta que tinha como titulo: “A importância militar e
econômica do cavalo”. Neste momento o cavalo atinge seu grau econômico para os rebanhos da região, pois então
antes este animal somente era usado para o trabalho nas estâncias e em ocasiões bélicas. No entanto, pós a
Revolução de 1923, o cavalo perde sua importância militar e segue atuando no já tradicional trabalho campeiro,
contudo, passa a ser a partir de 1930 a primazia criacional nos campos de Bagé e região, fazendo com que
principalmente a raça crioula seja a preferencial dos pecuaristas, que engajados buscam novos aprimoramentos
genéticos.
Com este enfoque, Bagé atravessa o século XX buscando não só uma melhoria genética dos seus rebanhos, como
também busca novas alternativas para a melhoria da criação dos mesmos, onde os criadores começam a investir na
melhoria de suas estâncias, transformando as antigas fazendas de criação extensiva em pilares da modernidade
pecuário-industrial para uma criação intensiva. Exemplo disso é o método Voisin praticado pelo senhor Nilo Romero em
suas estâncias, onde poucas quadras de campo e uma pastagem adequada são o bastante para uma produção de alto
nível, modelo este que se contrapõe ao método tradicional.
No presente momento, a região de Bagé ainda concentra seus esforços para manter seus rebanhos investindo em

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melhoramento genético, considerando a vocação criacional que as pradarias pampeanas trazem para a localidade que
faz desta um dos melhores campos sul-americanos de pastoreio.
Outro ponto interessante que não poderia deixar de ser tratado, é a questão do envolvimento entre homens e animais,
especialmente no que se refere às lidas campeiras. Tipo humano comum desta região desde os seus tenros tempos, o
gaúcho – utilizaremos a explicação do viajante Nicolau Dreys e empregada pelo folclorista Barbosa Lessa para essa
denominação: “Formaram-se originalmente do contato da raça branca com os indígenas...” (LESSA. p. 188, 2002) -
sempre soube fazer do natural o seu meio de vida, justamente por viver ao ar livre, ele aprendeu em contato direto com
os mais diversos animais – desde pumas e jaguares que antes habitavam o pampa – a sabedoria necessária para
sobreviver em meio às feras, como também para por em prática a domesticação de animais selvagens, neste caso o
cavalo e o gado Chimarrão.
Neste contexto, o gaúcho Segundo Moacyr Flores, passou a se tornar perigoso para a sociedade emergente, sendo
visto como um paria social que vivia de pequenos furtos, da caça de animais selvagens e sem nenhum respeito pelas
leis recém impostas, fazendo com que estes passassem a serem caçados pela vastidão dos campos, contudo, foi o
advento dos cercamentos que limitou a vida do gaúcho, o transformando em peão de estância. (FLORES. p. 3, 2007).
E nessa via de consolidação entre homem, animal e estância é que podemos perceber as nuances que ainda permeiam
os trabalhadores rurais no segmento da pecuária. Mesmo restringido a um trabalho cada vez mais escasso por meio
dos avanços tecnológicos, hoje, o campeiro como é conhecido, ainda trás as marcas do seu passado gaudério mesmo
que hoje valha muito mais a segurança de uma carteira de trabalho assinada do que a liberdade dos campos.

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé

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Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”


Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio.

7. Legislação

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)

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A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver Ficha Sítio Item: 9.2

9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras


F1 – A4 – 1, 2, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 22, 23, 26, 29, 33, 34, 53,
ANEXO 4: CONTATOS 54, 55, 56, 57, 58, 62, 63.

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva e Pablo Dobke. 10.04.13

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RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth.


INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Pampa sul-
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Pelotas/
RS rio- 2012 F11 2
RS
grandense
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Pampa Sul-Rio-Grandense


Antigos Caminhos das Tropas

LOCALIDADE Pelotas (Bairro Fragata, Estrada da Barbuda, CAVG/IFSUL)

MUNICÍPIO / UF Pelotas/ RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

Imagem 1: Estrada da Barbuda. Bairro Três Vendas.

Imagem 2: Estrada da Barbuda. Bairro Três Vendas.

3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS .

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Pampa Sul-rio-
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grandense

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO


De acordo com o Censo IBGE 2010 a população de Pelotas é, em sua totalidade, 328.275 habitantes sendo que,
22.082 habitam a zona rural e 306.193 habitam na zona urbana.
O Mapa 01 (ver item 6) apresenta um zoneamento geomorfológico, dividindo a região estudada em três áreas,
conforme a altitude. A primeira, ocupando uma área cujas altitudes variam de 0 a 40 metros acima do nível do mar,
corresponde à Planície Costeira Interna. A segunda e a terceira, com altitudes correspondentes, respectivamente, às
variações de 40 a 100 m e 100 a 400 m, compreendem duas subdivisões da Encosta do Planalto Sul Rio-grandense: a
área intermediária, denominada coxilha ou “barreira 1”, e a área mais elevada, conhecida como Serra dos Tapes ou,
geologicamente, “escudo cristalino pré-cambriano”. A Planície Costeira Subdivisão Interna:
“(...) é constituída predominantemente por depósitos arenosos, síltico-argilosos,
argilosos e ocasionalmente conglomeráticos, que fracamente consolidados ou
inconsolidados constituem acumulações coluviais, fluviais, lacustres, eólicas e
marinhas, de idades variáveis desde o limite entre o Terciário e o Quaternário até o
Holoceno.” (RADAMBRASIL 33, 1986, p. 34)
Constitui-se em amplas e extensas planícies costeiras, numa vasta superfície plana, alongada, alargando-se para sul,
onde se registram as maiores áreas lagunares do Brasil.
A Região Geomorfológica Planície Costeira Interna apresenta-se como uma área baixa, posicionada entre a Unidade
Planície Marinha a Leste e os relevos Planálticos a Oeste.
A Região Geomorfológica Planície Costeira Interna abrange fundamentalmente dois distritos do município de Pelotas, a
Colônia Z-3 (2º) e Sede (1º), onde se situa o grande conglomerado urbano. Nas regiões rurais destes distritos, percebe-
se a relação entre as características fisiográficas e os processos de interações socioeconômicas. Na região costeira,
nomeadamente na Colônia Z-3, destaca-se a atividade pesqueira, com destaque à pesca do camarão. No restante das
áreas rurais da Planície Costeira Interna, os latifúndios dividem-se entre a produção de arroz e a pecuária de corte.
A Região Geomorfológica do Planalto Sul Rio-Grandense corresponde à área de ocorrência do conhecido Escudo
Cristalino Sul Rio-Grandense. Encontra-se limitada a Norte e a Oeste, pela Depressão Central Gaúcha, a Leste, pela
Planície Costeira Interna, e, a Sul, adentra em território uruguaio, ou tem como limite a fronteira política com o país
vizinho. Genericamente o relevo se apresenta dissecado em formas de colinas, ocorrendo também áreas de topo plano
ou incipiente dissecado, remanescente de antiga superfície de aplanamento (RADAMBRASIL 33, 1986, p. 352).

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE

Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito
antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela
ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são
mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas
áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a
babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis
algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque
Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus
saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres).
Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus),
o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus
hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema
muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul
(Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção
tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-
barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e ensejado
o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do gaúcho.

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A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma
rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta
de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

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RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO

PELOTAS: ORIGEM E APOGEU

Por Mario Osorio Magalhães

Mesmo que não se queira recuar demais, no tempo, quando se trata da origem da cidade sempre é preciso repetir que
tudo começou, de fato, com a fundação de uma charqueada, em 1779. Nesse momento Pelotas ainda não existe, é
apenas um distrito do município do Rio Grande, que, vila desde 1747, haverá de dar origem, desmembrando-se
administrativamente, a todos os atuais municípios da região sul do Estado.
Retirante da terrível seca que dois anos antes assolou o Ceará (que fornecia ao Brasil quase toda a carne em conserva,
através de sua secagem ao sol), um cidadão português estabeleceu nessa data a primeira charqueada sul-rio-
grandense, também a nossa primeira unidade industrial, no interior da Vila do Rio Grande; mais precisamente, às
margens do já denominado arroio Pelotas.
Há muito tempo era o território rio-grandense o maior repositório de rebanho bovino, no Brasil: desde que os jesuítas
foram expulsos pelos bandeirantes, em 1641. Desfeitas as primeiras reduções indígenas, ficaram espalhadas, a
multiplicar-se por este território e pelo atual território uruguaio, milhares e milhares de cabeças de gado. Surgiram,

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como era natural, as primeiras estâncias, enormes sesmarias que eram concedidas gratuitamente de preferência aos
militares, mas de modo geral aos indivíduos que demonstrassem capacidade para defender suas terras.
Pois igualmente era o Rio Grande, até então, uma região conflagrada, “disputadíssima” por Espanha e Portugal.
Apenas nesse final do século XVIII, coincidentemente no mesmo ano em que a seca dizimou o rebanho cearense,
assinou-se o Tratado de Santo Ildefonso (1777); a partir daí, a pacificação entre as duas metrópoles permitiu que se
trabalhasse, pela primeira vez, com certa tranqüilidade e sossego nos latifúndios rio-grandenses.
Já era possível organizar-se, agora, um investimento fabril no extremo sul brasileiro. As estâncias foram se
estruturando, economicamente: demarcavam-se as propriedades, identificavam-se, marcavam-se os gados. Permitia-
se, com a pacificação, o trabalho de transformação da carne, sua conservação, a manufaturação dessa matéria prima
no interior do próprio território gaúcho. (Até então, apenas aproveitava-se o couro, para exportação e contrabando,
através da Colônia do Sacramento, ou enviava-se o gado em pé para ser comercializado nas feiras de Sorocaba.)
Por isso é que, em 1779, com visão empresarial, José Pinto Martins, vindo do Ceará, estabeleceu às margens do arroio
Pelotas a nossa primeira fábrica de salgar carnes, utilizando um processo diferente, mas semelhante, ao da carne-de-
sol ou carne-do-sertão, que aqui chamamos charque de vento: a carne desdobrada bem fina e posta a secar ao sol e
ao vento1.
Escolheu uma porção de terras mais para o interior da vila com o objetivo de evitar as areias que, sob a ação dos fortes
ventos litorâneos, teriam o efeito de arruinar a produção. Estas terras interiores, embora um tanto afastadas, eram de
fácil comunicação com o mar, por onde haveriam de escoar-se as mantas de charque para abastecer os portos do
Brasil e do estrangeiro, sobretudo das Antilhas. Pelos arroios da região chegava-se de iate, em poucas horas, ao Canal
de São Gonçalo e à Lagoa dos Patos, que vai ao encontro do oceano na barra do Rio Grande.
Sendo o charque o principal alimento dos escravos, e sendo o escravismo o sistema dominante no Brasil, como em
outras partes do mundo, não é difícil imaginar a repercussão econômica desse empreendimento. Basta lembrar que já
em 1820, quarenta anos depois, havia 22 charqueadas nesta porção da Vila do Rio Grande que hoje constitui apenas
uma parte do município de Pelotas (sobretudo as margens do São Gonçalo e dos arroios Pelotas, Santa Bárbara,
Moreira e Fragata).
A maioria dos charqueadores, nesse momento, ainda residia na vila. Justamente porque era fácil a comunicação entre a
sede, Rio Grande, e o seu distrito de Pelotas; mas também porque o trabalho de enxerca não era permanente:
realizado por um grande número de escravos (uma média de oitenta em cada charqueada), durava apenas de
novembro a abril, ou seja, a metade mais quente do ano.
Aos poucos, porém, e à medida em que os negócios foram prosperando, todos começaram a perceber que era
conveniente edificar residências urbanas num lugar menos distante dos seus casarões rurais. Desde 1812 havia se
estabelecido um povoado, com a sua igrejinha e algumas casas esparsas, nesse lado de cá do São Gonçalo, mais
precisamente entre as atuais avenida Bento Gonçalves e rua General Netto. Construíram-se então, nesse espaço,
porém cada vez mais para o sul (cada vez mais na direção do canal e menos na direção das charqueadas, por causa
do “horrível cheiro de carniça”, como expressaria um viajante alemão), novas casas e sobrados, alguns
verdadeiramente suntuosos. Referindo-se aos charqueadores, disse um observador, de origem francesa: “eles
quiseram que o lugar prosperasse, e o lugar prosperou”2.
No começo da década de 1830, como conseqüência, a localidade emancipou-se da Vila do Rio Grande, transformando-
se, igualmente, em município, sob a invocação de São Francisco de Paula. Um município — é preciso que se diga— já
de início mais próspero do que a própria Vila do Rio Grande, que, agora desmembrada, perdia mais da metade da sua
população.
Quase simultaneamente à instalação da primeira Câmara administrativa e da primeira escola pública, e exatamente
num terreno entre ambas, construiu-se um teatro, que hoje é o mais antigo do Brasil em funcionamento. Entre os
locatários dos seus 61 camarotes, havia um barão (futuro visconde), três comendadores, três futuros barões e um
futuro visconde. Já era, pois, evidente a opulência; a nobreza era notória; a cultura, no mínimo, incipiente, sendo
resultado de uma sociabilidade que nem era tão recente.
Por exemplo: no final da década anterior, em 1827, um oficial alemão anotava que aqui os habitantes tinham “mais
civilização e mais gosto pela vida social e mais trato amigável do que nas outras regiões” do país; que o piano
encontrava-se quase em todas as casas; que as mulheres, que chama “espanholas do novo mundo”, quase todas
tocavam piano, quase todas falavam francês e a maioria dançava muito bem, sendo tudo isso muito significativo “em
comparação com a casmurrice anti-cavalheiresca que predomina no resto do Brasil” 3.
Opulência, sociabilidade e cultura foram mais e mais se tornando, na intensidade com que o século avançava 4,
conceitos emblemáticos dessa civilização, eminentemente urbana.
Para os industriais, o tempo relativamente desocupado (em virtude da curta safra das charqueadas), o charque e o
couro vendidos a altos preços nos mercados e a manutenção, desde logo, de um contato indireto com os grandes
1
Lopes Neto, J. Simões. História de Pelotas. Edição organizada por Mario Osorio Magalhães. Pelotas: Armazem
Literario, 1994, p. 19.
2
Dreys, Nicolau. Notícia descriptiva da Província do Rio-Grande de São Pedro do Sul. Rio de Janeiro: J. Villeneuve &
Cia., 1839, p. 119.
3
Seidler, Carl. Dez anos no Brasil. Tradução de Bertoldo Klinger. São Paulo: Livraria Martins, 3a edição, 1973, p. 94.
4
Consulte-se: Magalhães, Mario Osorio. Opulência e cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um
estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). Pelotas: Mundial/Editora da UFPel, 1993.

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centros (os navios que levavam charque, couro e até língua defumada não haveriam de voltar vazios: vinham
carregados de mantimentos, móveis, quadros, livros, figurinos europeus) foram fatores que alargaram, num ritmo
crescente, a sua visão de mundo. Permitiram-lhes uma certa leitura, uma certa elegância, uma certa aproximação às
artes —numa palavra, um relativo requinte social, mais evidente nos seus filhos bacharéis.
Claro, essa civilização se sustentava no suor do negro, na punição do escravo, na faca assassina, na degola do boi, no
arroio tinto de sangue, no cheiro da carniça, nas mantas de carne sob o calor do sol. Era uma civilização do sal, mas
que procurava atenuar seus rituais de castigo e de brutalidade adocicando-se em cortesias e amabilidades —no teatro,
nos saraus e nos salões. Era uma elite de novos áulicos e novos bacharéis que buscava adoçar corpo e espírito, neste
Brasil de clima europeu, com licores (os “finos líquidos”) e desserts, livros e versos rimados, saudações solenes,
dedicatórias rebuscadas e, veladamente, sensuais.
Lembre-se que em Pelotas, como em grande parte do Brasil, os nobres improvisados (ou, como hoje se diz, os
“emergentes”), que estavam à testa da sociedade, assumiram o tradicional desdém da aristocracia pelo dinheiro. Mas
não foram capazes de pôr, no seu lugar, o orgulho pelo nascimento e pela linhagem, já que os títulos de nobreza só
eram concedidos ao portador enquanto ele vivesse. Substituíram-no, então, pela “cultura”, como única prova aceitável
de nobreza, e a classe média urbana seguiu seu exemplo.
Em 1865, logo no início da Guerra do Paraguai, escrevia o príncipe consorte Gastão d’Orleans, o Conde d’Eu: “Depois
de ter percorrido por duas vezes em toda a sua largura a Província do Rio Grande do Sul, depois de ter estado em suas
pretensas vilas e cidades, Pelotas aparece aos olhos cansados do viajante como uma bela e próspera cidade. As suas
ruas largas e bem alinhadas, as carruagens que as percorrem (fenômeno único na Província), sobretudo os seus
edifícios, quase todos de mais de um andar, com as suas elegantes fachadas, dão idéia de uma população opulenta.
De fato, é Pelotas a cidade predileta do que eu chamarei a aristocracia rio-grandense...” 5.
Cinco anos depois, Carlos von Koseritz, intelectual alemão de larga importância na vida cultural do Rio Grande do Sul,
traçava um paralelo entre Pelotas e a capital, Porto Alegre (onde viveu a maior parte do tempo), afirmando: “Pe-lotas se
acha em circunstâncias diversas. Não podendo contar com os elementos oficiais que a Porto Alegre proporcionam
acanhado movimento, viu-se obrigada a recorrer à indústria que a sua posição topográfica lhe facilita. Reina ali uma
atividade industrial que Porto Alegre não conhece, e nota-se ali, em geral, progresso mais rápido, abastança maior,
fortunas mais sólidas. Cremos até que, para uma cidade nessas condições, não seria sorte alguma se, de repente, se
mudasse para ela a sede do governo e o mundo oficial”6.
Nessa época, a cidade já se auto-denominava, enamorada de si mesma, “Princesa do Sul”. Com idêntico orgulho, se
auto-proclamaria “Atenas Rio-Grandense”, identificada que estava, de um modo especial, com as artes e as letras,
numa espécie de desdobramento do seu apogeu econômico-urbano. Mas não era menos famosa, dentro e fora da
Província, pelos seus viscondes e barões (houve 17 ao todo, durante os dois impérios), as suas damas, os seus doces,
as suas festas, os seus sobrados, os seus monumentos públicos, as suas lojas.
Enfim, nessa época, e com certeza até o final do Império, a cidade se distinguia, era o maior empório industrial da
Província de São Pedro. Dentro de um outro ângulo, mas justamente porque polarizava as nossas principais atividades
econômicas (a pecuária e o charque), num renovado ajuntamento de tropeiros, criadores e comerciantes, tornou-se a
verdadeira capital da Campanha rio-grandense.
A Campanha — e isso todos sabem — é a nossa área histórica mais característica. Com ela, ainda hoje, em muitos
sentidos está identificado, no imaginário do Brasil, o Rio Grande como um todo.

(Texto retirado de: RIETH, Flávia et alii. INRC – produção de doces tradicionais pelotenses (relatório final). Pelotas: Editora da
UFPEL, 2008. vol.1.).

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
5
Eu, Conde d’. Viagem militar ao Rio Grande do Sul. São Paulo: Itatiaia, 1981, ps. 134-135.
6
Koseritz, Carlos von. A História da Ciência. Porto Alegre: tip. do Jornal do Comércio, 1870.

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passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio.

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IMAGEM 02 - MAPA ATUAL DA CIDADE.


FONTE: HTTP://GLCF.UMIACS.UMD.EDU
BASE VETORIAL IBGE 2000. ELABORADO POR RAFAEL ARNONI/
HECTARE, AGOSTO DE 2006.

IMAGEM 01 - MAPA DA PELOTAS ANTIGA.


FONTE: HTTP://GLCF.UMIACS.UMD.EDU
BASE VETORIAL IBGE 2000. ELABORADO POR RAFAEL ARNONI/
HECTARE, AGOSTO DE 2006.

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MAPA 01 – ZONEAMENTO MORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PELOTAS.


FONTE: ACERVO DO INVENTÁRIO, 2007.

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MAPA 02: LOCALIZAÇÃO DO ATUAL TERRITÓRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


MAPA 03: SITUAÇÃO DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE E DOS CAMPOS NEUTRAIS
MAPA 04: DIVISÃO DA SESMARIA DO MONTE BONITO - CERNE DO NÚCLEO CHARQUEADOR PELOTENSE (VER IMAGEM 03 PARA IDENTIFICAÇÕES REFERENCIAIS)
FONTE: GUTIERREZ, ESTER JUDITE BENDJOUYA. SÍTIO CHARQUEADOR PELOTENSE. PORTO ALEGRE: EDITORA PAISAGEM DO SUL, 2010.

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IMAGEM 03 – REFERENCIAIS CORRESPONDENTES AO MAPA 04.


FONTE: GUTIERREZ, ESTER JUDITE BENDJOUYA. SÍTIO CHARQUEADOR PELOTENSE. PORTO ALEGRE: EDITORA PAISAGEM DO SUL, 2010.

7. Legislação

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do

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Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver item 9.2 Ficha Sítio

9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras

ANEXO 4: CONTATOS F1 – A4 – 27, 28, 38, 39, 47, 51, 52, 59, 61, 67.

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.

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REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silvae Pablo Dobke. 10.04.13
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Região Aceguá,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS 2012 F11 3
de Bagé RS/Uy
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Região de Bagé.


LOCALIDADE Aceguá (Sede, Vila da Lata, Minuano do Aceguá, Corredor
Brasil-Uruguai e Espantoso).
MUNICÍPIO / UF Aceguá/RS e Aceguá/Uy

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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Imagem 1: Localidade Minuano do Aceguá.

Imagem 2: Vila da Lata.

Imagem 3: Corredor internacional.

Imagem 4: Praça Internacional de Aceguá.

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3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS.

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %

ACEGUÁ 4.394 hab. 1.059 hab. 23% 3.335 hab. 77%

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
desteestado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc.
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade,
ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas,
com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-
bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas
e de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de
afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas
do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos
remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí.
A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus
rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus
correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes
campestres). Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros
bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita
(Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um
ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-
barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas
de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o
caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.

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Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e ensejado
o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do gaúcho.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma
rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta
de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
Propriedades rurais visitadas em Aceguá:
Minuano:
Estância do Minuano
Fazenda Santa Leontina
Espantoso:
Agropecuária Umbu

RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978). Na
Vila da Lata, comunidade quilombola, observou-se a existência de ranchos como moradia. A utilização das casas de
torrão como galpão ou cozinha é também uma forma de celebração da tradição. Nestes termos, em Aceguá, a
programação dos festejos do Dia 20 de Setembro, da Semana Farroupilha, envolve a construção de ranchos pelos
peões.
Ranchos visitados em Aceguá:
Sede:
Ranchos construídos na avenida principal da cidade para as celebrações da Semana Farroupilha, onde os festejadores
se reúnem para tomar mate, jogar truco (jogo de cartas), cozinhar ou para atuar em serviços ligados às lidas campeiras,
como a restauração de arreios e laços através do conhecimento do ofício de guasqueiro. Além disso, atividades
administrativas envolvidas nos festejos da Semana Farroupilha podem ser executadas nos ranchos construídos.
Vila da Lata:
Comunidade quilombola localizada à beira do Corredor Brasil-Uruguai, composta por uma série de ranchos dispostos
em ambas às margens da única rua da Vila.

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MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.
Mangueiras de pedra visitadas em Aceguá:
Minuano:
Estância do Minuano.

5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
Dentre as localidades abarcadas pelas investigações do INRC – Lidas Campeiras em Bagé/RS, está o município de
Aceguá/RS, por se configurar histórica e culturalmente como território no qual a pecuária extensiva se apresenta como
fator fundamental na estruturação do desenvolvimento do mais amplo leque de relações sociais. Além do mais, as
localidades que compõem a rede de investigação de campo do INRC – Lidas Campeiras em Bagé/RS são incorporadas
à pesquisa por integrarem circuitos de produção, criação, comercialização e/ou abate de animais manejados pela
pecuária extensiva, na região do pampa sul–rio–grandense. Para isso, é de suma importância que – além dos dados
estatísticos e econômicos - seja também levado em consideração aspectos da continuidade histórica da atividade na
localidade em questão.
A hoje conhecida cidade de Aceguá desmembrou-se de Bagé oficialmente entre os anos de 1995 e 1996, porém, a
região primeiramente denominada de Pueblo Juncal pelos uruguaios e Coxilha Seca pelos brasileiros (ao longo do
tempo, a localidade recebeu diferentes nomes; Coxilha Seca, de 1897 a 1920; Rio Negro, de 1920 a 1933; a partir de
1933 volta então a chamar-se de Coxilha Seca para somente mudar definitivamente para Aceguá em 1938), tem sua
economia vinculada principalmente no que tange a cultura da pecuária extensiva, com suas tradicionais estâncias de
criação de gado bovino e equino.
Segundo Minga Blanco, interlocutor do inventário (informações sobre a formação histórica e geográfica de Aceguá, é de
certa maneira, muito limitada, ainda carecendo de fontes), a localidade está extremamente ligada ao trânsito do gado
bovino vindo das Missões Orientais em direção a Montevidéu ou a Colônia de Sacramento, ação esta que fazia da
região um posto de passagem para estes tropeiros da Companhia de Jesus, algo que acabou por consolidar a
característica da região. Por sua posição geográfica, o atual Município desempenhou importante papel na história do
Rio Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul), sendo o seu território alvo de disputas no século XVII entre índios,
portugueses e espanhóis. De acordo com o site da prefeitura de Bagé, o primeiro registro histórico quanto à ocupação
jesuítica da região correspondente ao Município de Bagé, é a data de 1681. Segundo os autores, os padres jesuítas
migraram das reduções guaraníticas e instalaram-se no sul do Rio Grande do Sul, no ponto mais extremo da Estância
de São Miguel o posto de Santa Tecla, tendo como objetivos, a guarda e o pastoreio do rebanho local; em 1683 durante
o domínio espanhol, os missionários jesuítas fundaram a Redução de Santo André de Guenoas.
Devido à facilidade em se atravessar a fronteira entre os territórios pertencentes aos Impérios Luso e de Castela (cabe
lembrar que a fronteira como hoje é conhecida ainda não existia, sendo assim, um lugar de imenso desacordo entre as
coroas), a região também se notabilizou desde o mais tenro tempo pela prática do contrabando, atividade esta que
ainda movimenta a região até os dias atuais.
Ao longo da linha divisória que separa politicamente Brasil e Uruguai, encontram-se muitas estâncias, propriedades
estas que estão inteiramente vinculadas ao latifúndio pastoril e historicamente ligadas as concessões de sesmarias,
contudo, em meio a estes símbolos da economia Sul-Rio-grandense, encontra-se a Vila da Lata, lugar definido como
comunidade quilombola e interessantemente abordado no trabalho de Francine Joseph (2010).
Com estes aspectos, a cidade de Aceguá e região (incluindo a cidade homônima do lado uruguaio), configuram-se
como um espaço transnacional, fazendo com que ambos os lados partilhem de uma mesma configuração social, pois a
gênese do local, em sua história, jamais admitiu fronteiras.

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5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

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6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

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Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio.

Mapa do Município de Aceguá / RS


FONTE: Acervo do INRC Bagé.

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7. Legislação

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura; envelhecimento;
masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta de emprego e
mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver Ficha Sítio Item: 9.2

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Região Aceguá,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO: LOCALIDADE RS 2012 F11 3
de Bagé RS/Uy

9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras


F1 – A4 – 3, 18, 19, 20, 21, 24, 25, 31, 32, 37, 42, 43, 44, 48, 49, 53, 56, 57 e
ANEXO 4: CONTATOS 58

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva e Pablo Dobke. 18.04.13
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Hulha
Região de
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Negra, 2012 F11 4
Bagé/RS
RS
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Região de Bagé


LOCALIDADE Mei’Água, Hulha Negra
MUNICÍPIO / UF Hulha Negra/ RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

Imagem 1: Localidade de Mei’água.

Imagem 2: Localidade de Mei’água.

3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS .

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,

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caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.


O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %

HULHA NEGRA 6.043 hab. 2.909 hab. 48% 3.134 hab. 52%

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc.
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade,
ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas,
com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-
bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas
e de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de
afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas
do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos
remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí.
A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus
rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus
correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes
campestres). Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros
bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita
(Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um
ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-
barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas
de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o
caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (BRASIL, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.

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Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e ensejado
o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do gaúcho.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma
rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta
de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
Propriedades rurais visitadas em Hulha Negra:
Mei’Água:
Pequena propriedade do Sr. Eliezer Sousa
Pequena propriedade do Sr. Leomar e Srª Sônia Garibaldi.
RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).
Ranchos visitados em Hulha Negra:
Mei’Água:
Rancho na pequena propriedade do Sr. Eliezer Sousa.

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MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
O município de Hulha Negra situa-se na microrregião da campanha Meridional no sudoeste do Rio Grande do Sul.
Emancipou-se em 20 de março de 1992 tendo sido anteriormente o 2° distrito do município de Bagé. Sua população,
segundo o censo IBGE de 2010, era de 6 043 habitantes sendo do que 3 134 habitam o meio rural, equivalendo a 52%
do total. Em 2000 o índice de desenvolvimento humano (IDH) do município era considerado médio sendo 0,761.
A economia de Hulha Negra baseia-se na agropecuária ocupando aproximadamente 40% da população do município.
Tradicionalmente a região esta voltada para a pecuária extensiva e também, devido ao relevo plano, à produção do
arroz irrigado. No entanto, a presença da pequena propriedade e de assentamentos do MST faz com que outras
atividades se apresentem no município tal como bovinocultura leiteira, cultura do milho, sorgo (voltados para
alimentação animal e comercialização de grãos), a fruticultura, trigo, a plantação de hortaliças como tomate e cebola
sendo esses dois produtos voltados para atender as demandas de um grande frigorífico presente no município.
Segundo Perske (2004, pag. 46) a maior parte do município é composta de projetos de assentamentos e também pela
agricultura e pecuária familiar que se localizam, em sua maioria, na metade sul do município. Juntos, minifúndio e
pequena propriedade equivalem a 79,9% do número de propriedades existentes no município ocupando 19,9% de sua
área. Entretanto, a concentração de terras é relevante no município onde a grande propriedade ocupa 51,9% da área
total e equivale a 5,4% do numero de propriedades existentes no município. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BAGÉ,
2011, pag. 73). Vieira Medeiros (2006) chama a atenção para o numero de assentamentos existentes sendo que, de
acordo com os dados abordados pela autora, no ano de 2003, Hulha Negra possuía 25 assentamentos onde ocupavam
1016 famílias. Considerando uma média de três pessoas por família a autora acredita que a população rural do
município constitui-se quase exclusivamente nos assentamentos. As famílias dos assentamentos no município estão
ligadas a cooperativas e a produção baseada na agroecologia. A autora chama atenção para a COOPERAL
(Cooperativa Regional dos Agricultores Assentados) onde 700 famílias dedicam-se a produção de sementes
agroecológicas (BIONATUR).
A origem da agricultura familiar no município esta relacionada ao que Perske (2004) chama de “Onda Migratória”.
Segundo o autor na história do município esta marcada por quatro “Ondas Migratórias” sendo a primeira no ano de
1925 onde se instalaram, no que hoje se chama Trigolândia, colonizadores Alemães que se dedicaram a produção de
trigo (em 1929 e 1932 vieram novas famílias). A segunda ocorreu em 1963 quando o então Presidente João Goulart
solicitou aos fazendeiros que doassem 10% de suas terras para fins de reforma agrária. Quem doou parte da fazenda
foi o fazendeiro Nestor de Moura Jardim disponibilizando 871ha que por sua vez foram divididos em 23 lotes para
serem vendidos pela quarta parte do preço com um financiamento, em longo prazo, pelo Banco do Brasil. A colônia
passou a se chamar Salvador Jardim e as terras foram vendidas para famílias situadas na Trigolândia. A terceira “Onda
Migratória” esteve ligada a criação da colônia Nova Esperança em 1974 quando o governo do Estado adquiriu a
fazenda Coxília Negra de 25000ha assentando 120 famílias. Segundo o autor esse fato se deu como decorrência do
conflito pelas terras entre os índios e posseiros, na reserva Nonoai, no Norte do Estado. Por fim a quarta “Onda
Migratória” se deu entre 1989 e 2002 com os projetos de reforma agrária dos governos estadual e federal onde,

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fazendas voltadas à pecuária extensiva e a plantação de arroz irrigado nas várzeas, foram divididas em pequenas
propriedades de tamanho médio de 23ha e destinadas a famílias vindos, em sua maior parte, do Norte do Estado.
Esse fato, segundo o autor, fez com que Hulha Negra se tornasse o município com maior número de famílias
assentadas no Rio Grande do Sul o que, de acordo com Vieira Medeiros (2006), promoveu significativas mudanças
tanto no perfil econômico do município, quanto na sua população e organização do seu espaço rural.

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

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6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio.

7. Legislação

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

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8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver item 9.2 Ficha Sítio

9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras

ANEXO 4: CONTATOS F1 – A4 – 7, 40, 41.

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva e Pablo Dobke. 10.04.13
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Pampa sul- Arroio
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS rio- Grande, 2012 F11 5
grandense RS
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Pampa Sul-Rio-Grandense


Antigos Caminhos das Tropas

LOCALIDADE Arroio Grande (Sede, Palma, Bretanhas, Capão das Pombas)

MUNICÍPIO / UF Arroio Grande/ RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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Imagem 1: Localidade da Palma.

Imagem 2: Localidade das Bretanhas.

Imagem 3: Localidade do Capão das Pombas.

Imagem 4: Sede do Município de Arroio Grande.

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3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS.

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO


Arroio Grande faz parte da microrregião de Jaguarão (Lagoa Mirim), situada na mesorregião do Sudeste Rio-
grandense, localizada geograficamente na região Sul do estado do Rio Grande do Sul (Fonte: www.famurs.com.br).

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %

ARROIO GRANDE 18.470 hab. 16.085 hab. 87% 2.385 hab. 13%

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito
antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela
ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são
mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas
áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a
babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis
algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque
Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus
saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres).

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Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus),
o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus
hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema
muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul
(Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção
tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-
barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região; além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos.
Entretanto, a progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado
a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão
conta de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
Propriedades rurais visitadas em Arroio Grande:
Bretanhas:
Estância da Várzea – propriedade do Sr. Mário Eduardo Ramos da Silveira
Capão das Pombas:
Pequena propriedade da Srª Ivaniva
Palma:
Pequena propriedade do Sr. Dega
RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).
Ranchos visitados em Arroio Grande:
Palma:
Rancho de propriedade da irmã do Sr. Dega

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MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.
Mangueiras visitadas em Arroio Grande:
Mangueira de Pedra situada às margens da BR 116, próximo à divisa com o município de Pedro Osório.

5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
A formação do estado do Rio Grande do Sul assenta-se na relação conflituosa entre os impérios português e espanhol
na disputa por território e domínio político e econômico (ZANOTELLI et al, 2003). Tal ocupação territorial teve início
através dos padres jesuítas que, vindos do Paraguai, instalaram –se na margem leste do Rio Uruguai com o objetivo
primordial de catequizar grupos indígenas que habitavam os territórios sulinos. Inicialmente logrando em seus intentos,
os jesuítas fundaram, a partir de 1626, aldeias e povoados chamados missões ou reduções. O conjunto de povoados
de maior importância histórica foram os Sete Povos das Missões. Ademais, foram os jesuítas que introduziram a criação
de animais no Rio Grande do Sul: ovinos, eqüinos e principalmente bovinos. Junto com a pecuária e valendo-se do
trabalho indígena, desenvolveram também a agricultura e a extração da erva-mate.
Ainda no século XVII, as missões começaram a ser invadidas por bandeirantes – homens vindos de São Paulo , que
atacavam as aldeias com a finalidade de aprisionar os índios para vendê-los como escravos. Em função destes
sucessivos ataques, as missões entraram em decadência. Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portugal e Espanha
determinaram que a população dos Sete Povos deveria deixar a área, que ficaria para os portugueses. Embora tal
tratado tenha sido anulado em 1761, e os índios missioneiros tenham obtido o direito de permanecer na região, as
sucessivas guerras causaram a destruição dos Sete Povos. Os rebanhos espalharam-se pelo campo aberto
reproduzindo-se livremente, tornando-se um gado selvagem (MOREIRA, 1999).
Este gado cresceu livre durante décadas. Inicialmente milhares de cabeças de gado vacum eram sacrificados apenas
para a retirada e venda do couro.
Em 1634, mil e quinhentas cabeças de gado foram introduzidas e distribuídas entre
os povos da margem esquerda do rio Uruguai. Quando essas comunidades
missioneiras recuaram para a outra margem do rio, em razão dos ataques dos
paulistas escravizadores, os animais foram transferidos para a margem meridional
do rio Jacuí, onde se desenvolveram, formando as vacarias do mar. Nos anos 1700,
quando a vacaria do mar começou a esgotar-se, devido à extração de gado,
vaqueiros dos sete povos, introduziram milhares de animais nos campos de cima da
serra, formando a vacaria dos pinhais (MAESTRI, 2006)

Em 1737, para garantir os interesses dos portugueses instalados na região, foi construído o forte Jesus-Maria-José,
junto ao canal que liga laguna dos Patos ao oceano Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma povoação que deu
origem a atual cidade de Rio Grande. O domínio português se expandiu pelas áreas vizinhas, que no seu conjunto eram
chamadas de Continente de Rio Grande de São Pedro, primeira denominação do atual estado do Rio Grande do Sul.
Neste mesmo período, desenvolveu-se a mineração em Minas Gerais, o que atraiu milhares de pessoas para a região e
formou um mercado de consumo para os produtos da pecuária riograndina: couro, carne, leite e animais para
transporte. Em conseqüência, a atividade de caça foi sendo substituída pela criação de gado, pois os animais passaram
a ser reunidos em locais destinados a tal finalidade: as estâncias (Idem, 1999).
Assim, estimulada pelo mercado do Sudeste do país, principalmente de Minais Gerais, desenvolveu-se a pecuária no
Rio Grande do Sul. Portugueses, paulistas e catarinenses ganhavam do governo grandes extensões de campo, onde

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instalavam suas fazendas de criação de gado. Com o tempo, as áreas campestres, principalmente as da Campanha,
ficaram povoadas de fazendeiros.
A partir de 1780 notamos uma modificação na utilização do gado vacum. Iniciam, na província de São Pedro, as
charqueadas na região de Pelotas, e a carne começa a ganhar considerável valor comercial. Porém, durante anos o
couro continuou com grande valor monetário. As vacarias geralmente vindas da região da campanha traziam o gado
para ser vendido na região de Pelotas.
Um ano após a chegada da família real Portuguesa ao Brasil, ocorre a primeira divisão administrativa da província de
São Pedro. Em 1809 a região fica dividida em quatro localidades: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio e Porto Alegre.
Em meados do Século XIX, para delimitar as propriedades, iniciou-se o uso do arame farpado e alambrado. Desta
forma o dono da estância conseguia controlar seus peões e impedir o uso de sua propriedade por gaúchos nômades,
geralmente tropeiros sem a posse da terra, que habitavam na região. Estes gaúchos sem nacionalidade definida
transitavam facilmente entre os atuais territórios brasileiro, uruguaio e argentino, e tinham como principal atividade
retirar o couro do gado vacum e vendê-lo no mercado informal, na região de domínio português e para a metrópole
hispânica. O modelo de transação econômica praticado por estes gaúchos era possível porque havia o gado nesta
região, ao mesmo tempo, era considerado ilegal porque os animais soltos pelos campos eram de propriedade real –
tanto da coroa portuguesa quanto espanhola.
As estâncias pertencentes a proprietários portugueses iniciaram a domesticação do gado da região. Entretanto, não
existia tratamento para a saúde dos animais. A partir do século XX notamos uma drástica diferença no tratamento da
saúde do gado, com evidente melhora. A qualidade da carne e a genética destes animais tornam-se referência no país
e a carne bovina produzida na região de pradaria e é exportada para inúmeros países.
O município de Bagé, é reconhecido pela criação extensiva de gado bovino de corte de significativa qualidade, com
melhoramento genético dos animais. Começam na região exposições de gado, ovinos e eqüinos. O cavalo, principal
instrumento de trabalho fundamental para a produção pecuária, era utilizado para arrebanhar o gado vacum. Já a
criação de ovelhas, além de suprir a demanda doméstica de carne da propriedade, através da venda anual de lã,
ajudava a cobrir as despesas de manutenção da propriedade – com o advento da lã sintética, a criação de gado ovino
diminui expressivamente, passando a atender nichos específicos do mercado de carne e a demanda da produção
artesanal de artefatos de lã.
A criação de gado de corte e a exposição destes animais, gera milhões de reais para a região. Estas duas atividades
são majoritariamente vinculadas a grandes e médias propriedades rurais. No entanto, embora o ponto de partida para
este estudo seja a região de Bagé, a paisagem cultural que se configura a partir da produção pecuária, sua origem,
manutenção e perpetuação, extrapola tais limites geográficos e políticos, transitando suas fronteiras pelos territórios
que abrange a chamada “cultura gaúcha”. Assim sendo, tal área cultural perpassa tanto o sul do Rio Grande do Sul
quanto os países vizinhos, como Argentina e Uruguai.
Ondina Fachel Leal discute a constituição acadêmica e sócio-antropológica do “Sul” como um território de significados
de uma realidade social específica, de um sistema de valores e de uma determinada área social. Para Leal (1997), “os
limites desta área cultural etnografada e etnografável, freqüentemente nominada o Sul, numa estratégica imprecisão
retórica, não coincidem com os limites políticos do estado Rio Grande do Sul ou mesmo os da nação Brasil.”
Segundo Correa et alii (2004), a constituição político-administrativa do município de Arroio Grande teve origem da
seguinte forma: Do ano de 1790 até o ano de 1819 no espaço compreendido: ao norte, pela margem direita do rio
Piratini; ao oeste, pelo arroio Santa Maria ou Piratini da Orqueta; ao leste, pelo canal de São Gonçalo e Lagoa Mirim; ao
sul, pelo arroio Chasqueiro, foram concedidos 34 títulos de doação de terras, as sesmarias, principalmente doadas a
militares açorianos e famílias açorianas.
A então freguesia de Arroio Grande se emancipou do município de Jaguarão em 1873, que foi distrito do município de
Rio Grande até 1832. Os primeiros registros do povoamento do território onde atualmente está situada a sede de Arroio
Grande datam de 1803, e tratam da doação de um terreno de criação de gado para a fundação de um povoado –
efetivada com a construção da capela de Nossa Senhora da Graça de Arroio Grande, em 1815, e confirma da em 1821.
Por Em 1891, Arroio Grande é elevada ao estatuto de cidade, graças ao progresso econômico e político que a indústria
pastoril trazia para a região:

Cidades como Pelotas, Rio Grande e Jaguarão, até finais do séc. XIX, conquistaram
progresso econômico baseado na atividade charqueadora. Já na época de sua
emancipação, o atual município de Arroio Grande integrava esta rede mercantil,
através de um porto à margem do arroio Grande e outro na Vila de Santa Isabel dos
Canudos (escala no trajeto Rio Grande – Jaguarão) e do modelo econômico
centrado em grandes fazendas de criação pastoril para a produção de charque,
couro e ossos de boi, bem como nas olarias de fabricação de tijolos e telhas (Corrêa
et ali, 2004 apud Kosby, 2010).

A.F.Monquelat e V. Marcolla (2012), afirmam que a primeira charqueada do Rio Grande do Sul foi fundada às margens
do rio Piratini, território do atual município de Arroio Grande.

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Mas, cabe lembrar, como salienta a professora Beatriz Loner, que a possibilidade do desenvolvimento da atividade
saladeril esteve diretamente ligada ao trabalho forçado dos negros, crioulos, africanos e seus descendentes, do que se
pode concluir que as charqueadas só existiram e prosperaram porque a mão-de-obra era escrava.

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa
Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX Instalação dos primeiros frigoríficos
(início)
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio.

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7. Legislação

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 _ Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver item 9.2 Ficha Sítio

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9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras

ANEXO 4: CONTATOS F1 – A4 – 15, 16, 17, 28, 30, 38, 60, 64, 65

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva e Pablo Dobke. 10.04.13
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Pampa
Piratini,
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RS
grandense
LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Pampa Sul-Rio-Grandense


Antigos Caminhos das Tropas

LOCALIDADE Piratini (Sede e Quinto Distrito)

MUNICÍPIO / UF Piratini/ RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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Imagem 1: Cerimônia em comemoração à Semana Farroupilha. Piratini

Imagem 2: Comemorações da Semana Farroupilha. Piratini

Imagem 3: Desfile da Semana Farroupilha. Piratini

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3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS .

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de aramados
(ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador), a feitura de
artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas leiteiras,
carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %

PIRATINÍ 19.841 hab. 11.570 hab. 58% 8.271 hab. 42%

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE

Conforme publicação da EMBRAPA (2009), o Bioma Pampa compreende área de clima temperado – marcado por
passagens de frentes polares e temperaturas negativas no inverno -, apresenta uma diversidade grande de paisagens e
flora que se estende da Patagônia Argentina, ao sul, até as encostas do Planalto Sul Brasileiro, no Rio Grande do Sul,
correspondendo a uma área de 700.000 km2 compartilhada entre Argentina, Uruguai e Brasil (IBGE, 2004). No Brasil, o
Bioma Pampa ocupa área de 178.243 km2, restrita ao Rio Grande do Sul, equivalendo a cerca de 63% do território
deste estado e 2% do território brasileiro.
O Bioma Pampa é encontrado nas cinco unidades de relevo do Rio Grande do Sul definidas por Suertegaray e Fujimoto
(2004), quais sejam: Planalto Sulriograndense, Planícies e terras baixas costeiras, Depressão Periférica, Cuesta de
Haedo e Planalto Arenito Basáltico.
A unidade Planícies e terras baixas costeiras corresponde a uma extensa planície arenosa litorânea, composta por
inúmeras lagoas, banhados e campos de restingas onde localiza-se a sede do município de Pelotas, as margens de
Laguna dos Patos e Arroio Grande próxima à Lagoa Mirim. Nas terras baixas, tem-se campos com capões e banhados.
A unidade Planalto Sulriograndense abrange as encostas leste das serras do Herval e dos Tapes (localização zona rural
do município de Pelotas), que se constituem em área de transição entre as terras baixas costeiras, e o planalto
propriamente dito. As encostas apresentam relevo com ondulações acentuadas, alternando paisagens de cobertura de
florestas estacional semidecidual, caracterizadas pela perda das folhas nos meses de outono e inverno, e campos
nativos. No planalto propriamente dito a paisagem é de morros e serras de rochas cristalinas (granitos, gnaisses,
migmatitos) e de formações rochosas de arenito cobertas de campos em solos rasos com ocorrência de capões de
mata e muitos afloramentos rochosos, como no Distrito das Palmas, ao norte do município de Bagé, no limite com o
município de Caçapava do Sul.
Já a porção da Depressão Periférica que se estende para sul até Bagé e Aceguá é a área considerada a mais
característica do Bioma Pampa com coxilhas, pequenas elevações, cobertas por vegetação campestre. È a região do
bioma com menor cobertura de florestas. Apresenta campos, banhados e campos de várzea nas proximidades dos rios,
onde se encontram algumas espécies arbóreas em matas ciliares e capões, como os espinilho, corticeiras e palmares
de butiá. Apresenta predominância de gramíneas que conformam a paisagem dos campos sulinos. É considerada a
área core do Bioma Pampa no Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um
imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. Por ser um conjunto de ecossistemas muito
antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela
ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são
mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas
áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a
babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas
muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis
algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque
Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus
chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus
saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres).

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Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus),
o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus
hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema
muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul
(Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção
tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-
barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (BRASIL, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da
região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e ensejado
o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do gaúcho.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma
rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta
de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.
As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

RANCHOS

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

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5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
Com a concessão de terras por parte da rainha D. Maria I de Portugal a José Antônio Alves em 1789 que se deu início a
povoação da hoje cidade de Piratini. Contudo, o povoamento da localidade se deu um pouco antes, em 1777 com a
instalação de um posto de guarda, a chamada Guarda do Passo do Piratinim.
Feita a concessão de terras acima dita, estas são divididas em datas e doadas a casais de imigrantes açorianos que ali
se estabeleceram, fundando a localidade de Capão Grande do Piratinim; por ter terras férteis para o cultivo de cereais e
excelentes pastagens, a localidade passa a ter um bom crescimento populacional o que faz sua elevação à freguesia
em carta régia de 1810 sob o nome de Freguesia da Nossa Senhora da Conceição de Piratinim.
Em 1830 a então freguesia é elevada a vila, desmembrando-se de Rio Grande, delimitando seu nome para apenas vila
de Piratini sendo integrada pelos distritos de Bagé, Cacimbinhas, Canguçu e Cerrito; nos anos seguintes, Piratini acaba
perdendo alguns de seus distritos que acabam tornando-se municípios: Bagé (1846), Canguçu, absorvendo o distrito de
Cerrito (1857) e Cacimbinhas (1878) que se tornaria posteriormente o município de Pinheiro Machado.
Sem dúvida, o período de maior relevância para o município foi durante a Revolução Farroupilha, onde na ocasião, a já
cidade de Piratini foi elevada a capital da República Rio-Grandense durante os anos de 1837 a 1839, até então por
motivos estratégicos dos revolucionários mudando a capital para o município de Caçapava.
Passada a Revolução, a antes terra rica em gadarias e plantações aparece dizimada pela guerra e por represália a sua
participação atuante durante o decênio revolucionário, é rebaixada a vila em 1845, logo após as tratativas de paz e tem
seu território fragorosamente dividido, impossibilitando assim uma nova compostura por meio da pecuária, antes carro
chefe de sua economia.
Com isso, Piratini, de papel principal passa a coadjuvante no que diz respeito à pecuária, sendo conhecida como
enclave territorial, pois era passagem de tropas vindas tanto da região da Campanha como da Fronteira Oeste que
rumavam em direção às charqueadas de Pelotas.
Hoje, a cidade notabiliza-se justamente por reviver o seu passado glorioso de capital farrapa, com seus prédios antigos
e ruas de pedra, faz reviver a cada 20 de setembro a República Rio-Grandense, pois seus festejos comemorativos a
esta data máxima nem mesmo precisam de cenário, porque ele está lá, desde 1835.

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos

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Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em


Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XVIII – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,
Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio

7. Legislação

Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional aplicado,
que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação estatal teve
como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes personagens históricos e
as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos no Rio Grande do Sul: o
tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja Matriz de São Pedro, em
Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D. Pedro II, em Caçapava
do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e Garibaldi (1941) em Piratini, e
David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo (1955); O Obelisco Republicano
em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel Pedro Osório (1977) todos em
Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos

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considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de
preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes de
Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de um
obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado nas
margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver item 9.2 Ficha Sítio

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9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras

ANEXO 4: CONTATOS F1 - A4 - 46

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva e Pablo Dobke. 10.04.13
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS


Pampa sul-
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Herval/
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LOCALIDADE
UF SÍTIO LOC. ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO Pampa Sul-Rio-Grandense


Antigos Caminhos das Tropas

LOCALIDADE Herval (Boa Vista)

MUNICÍPIO / UF Herval/RS

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

Localidade de Boa Vista. Herval.

3. REFERÊNCIAS CULTURAIS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS BENS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS.

SÍNTESE
A lida campeira é um conjunto de ofícios e modos de fazer que constitui o trabalho na pecuária extensiva no bioma
pampa, área onde está situada a região de Bagé, município do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Entende-se por
pecuária extensiva a criação, para fins lucrativos, de rebanhos de gado bovino, equino, ovino e, em menor escala,
caprino, em propriedades rurais de pequena, média e grande extensão.
O inventário das Lidas Campeiras na Região de Bagé, a partir de pesquisa etnográfica e bibliográfica, selecionou como
referências culturais sobre esse tema os seguintes ofícios: o pastoreio (ofício do peão campeiro), a feitura de
aramados (ofício do aramador ou alambrador), a doma (ofício do domador), a esquila dos ovinos (ofício do esquilador),
a feitura de artefatos em couro cru (ofício do guasqueiro), a tropeada (ofício do tropeiro) e as lidas caseiras (com vacas
leiteiras, carneadas, atividades na cozinha e demais serviços feitos perto da casa da propriedade).

4. DESCRIÇÃO
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DOS DOCUMENTOS ESCRITOS INVENTARIADOS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

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4.1. POPULAÇÃO E LOCALIZAÇÃO


De acordo com o Censo IBGE 2010 a população de Herval é, em sua totalidade, 6.753 habitantes sendo que, 2. 234
habitam a zona rural e 4.519 habitam na zona urbana. O município de Herval situa-se na região sul do Rio Grande do
Sul, faz fronteira ao sul com o Uruguai tendo como divisa o rio Jaguarão na localidade conhecida como Centurião.
Situado na Encosta do Sudeste, linda também ao sul com Jaguarão e ao Leste com Arroio Grande e Pedro Osório, ao
Oeste com Pedras Altas, e ainda com a República Oriental do Uruguai; ao Norte com Piratini e Pinheiro Machado. Do
ponto de vista dos biomas brasileiros, Herval posiciona-se no Bioma Pampa, com pastagens e campos característicos
dessa composição biológica também chamada de campos sulinos.

POPULAÇÂO (hab.)
MUNICÍPIO
TOTAL URBANA % RURAL %
HERVAL 6. 753 hab. 4.519 hab. 67% 2.234 hab. 33%

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4.2. PAISAGEM NATURAL E MEIO AMBIENTE


Conforme o Mapa de Biomas do Brasil (IBGE, 2004), o Bioma Pampa, com uma área aproximada de 2% do território
nacional, abrange a metade sul do Estado do Rio Grande do Sul e constitui a porção brasileira dos Pampas
SulAmericanos que se estendem pelos territórios do Uruguai e da Argentina. É caracterizado por clima chuvoso, sem
período seco, mas com temperaturas negativas no inverno, que influenciam a vegetação. O Bioma Pampa, que faz
limite apenas com o Bioma Mata Atlântica é formado por quatro conjuntos principais de vegetação de campos,
compostas por ervas e arbustos, situadas nas áreas geográficas conhecidas como Planalto da Campanha, Depressão
Central, Planalto Sul-Rio-Grandense e Planície Costeira. Em toda a área de abrangência do Bioma Pampa, a atividade
humana propiciou uma uniformização da cobertura vegetal que de um modo geral é usada como pastagem natural ou
ocupada com atividades agrícolas principalmente o cultivo de arroz.
O Ministério do Meio Ambiente define o Bioma Pampa da seguinte forma:
As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe
um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo
predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro,
formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc.
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande
biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000
espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete,
flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as
espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-
nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias
espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana)
arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra
do Quaraí.
A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus
rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus
correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes
campestres). Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro
(Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja),
o tatu-mulita (Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa
abriga um ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o
beija-flor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas
ameaçadas de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus
dichotomus), o caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus)
(BRASIL, 2003).
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a
maior parte do aquífero Guarani.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica
da região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e
ensejado o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do
gaúcho.
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma
rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta
de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa
(CSR/IBAMA, 2010).
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies
de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais
proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as
mudanças climáticas, por exemplo.
Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida
por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas
metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
cada bioma.

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As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”,
atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2)
foram consideradas de importância biológica extremamente alta.
Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e
0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de
espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a recuperação de áreas
degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do
Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o
planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para
assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.
O Pampa é uma das áreas de campos temperados mais importantes do planeta.
Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta.
Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada
por Brasil, Uruguai e Argentina.
No Brasil, o bioma Pampa está restrito ao Rio Grande do Sul, onde ocupa 178.243 km2 – o que corresponde a 63%
do território estadual e a 2,07% do território nacional.
O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos,
entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos
exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os
campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de
variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar.
(http://www.mma.gov.br/biomas/pampa).
Em Herval a paisagem pampeana apresenta-se com singularidades. Esta singularidade se constituí pelo fato de o
município se situar em meio a serra que leva seu nome. A serra do Herval é uma cadeia de coxilhas que se prolonga
desde as encostas do Rio Santa Maria até os limites de Jaguarão. Não se observa uma vegetação florestal luxuriante,
no entanto, o município não é desprovido de matos que bordam as margens dos arroios, que se desenvolvem nos
apertados vales das serras e seus campos são pontilhados por
O regime de águas do município dividiu-se por três bacias hidrográficas: a do Jaguarão; do Arroio Grande; a do Santa
Maria; O clima do município é subtropical ou temperado, com geadas frequentes e chuvas regulares. A localidade da
Fazenda Bela Vista é conhecida como Boa Vista, situando-se a cerca de 5km do centro urbano no sentido da estrada
Herval – Centurião. Nesse ponto, predominam os campos destinados a pecuária extensiva, a paisagem é composta de
diversas pequenas coxilhas e ao fundo alguns do conhecidos Cerros do Herval, (coxilhas maiores). A região da Boa
Vista é entrecortada por dois importantes arroios: o Arroio Grande e o Arroio do Empedrado.

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4.3. MARCOS EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS

A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração
do espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local
onde se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz
ou caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio
dos animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde
do gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu
tamanho podem não ser consideradas como estâncias.
Propriedades rurais visitadas em Herval:
Boa Vista:
Estância Boa Vista da família da pesquisadora Letícia de Faria Ferreira

RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando
a função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda
que os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-
prima e mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-
pique, barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE,
1978). Conforme Vaz Mattos (2003), na localidade de Olhos D’Água em Bagé, até 1940 havia a predominância dos
ranchos.

MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas
para prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos
nos rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de
cercas ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal
a se “embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é
chamada de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos
um em frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a
porteira evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas
que iam em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

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5. FORMAÇÃO HISTÓRICA
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FONTES INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA.

5.1. RESUMO
A formação do estado do Rio Grande do Sul assenta-se na relação conflituosa entre os impérios português e espanhol
na disputa por território e domínio político e econômico (ZANOTELLI et al, 2003). Tal ocupação territorial teve início
através dos padres jesuítas que, vindos do Paraguai, instalaram –se na margem leste do Rio Uruguai com o objetivo
primordial de catequizar grupos indígenas que habitavam os territórios sulinos. Inicialmente logrando em seus intentos,
os jesuítas fundaram, a partir de 1626, aldeias e povoados chamados missões ou reduções. O conjunto de povoados
de maior importância histórica foram os Sete Povos das Missões. Ademais, foram os jesuítas que introduziram a
criação de animais no Rio Grande do Sul: ovinos, equinos e principalmente bovinos. Junto com a pecuária e valendo-
se do trabalho indígena, desenvolveram também a agricultura e a extração da erva-mate.
Ainda no século XVII, as missões começaram a ser invadidas por bandeirantes – homens vindos de São Paulo, que
atacavam as aldeias com a finalidade de aprisionar os índios para vendê-los como escravos. Em função destes
sucessivos ataques, as missões entraram em decadência. Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portugal e Espanha
determinaram que a população dos Sete Povos deveria deixar a área, que ficaria para os portugueses. Embora tal
tratado tenha sido anulado em 1761, e os índios missioneiros tenham obtido o direito de permanecer na região, as
sucessivas guerras causaram a destruição dos Sete Povos. Os rebanhos espalharam-se pelo campo aberto
reproduzindo-se livremente, tornando-se um gado selvagem (MOREIRA, 1999).
Este gado cresceu livre durante décadas. Inicialmente milhares de cabeças de gado vacum eram sacrificados apenas
para a retirada e venda do couro.
Em 1634, mil e quinhentas cabeças de gado foram introduzidas e distribuídas entre
os povos da margem esquerda do rio Uruguai. Quando essas comunidades
missioneiras recuaram para a outra margem do rio, em razão dos ataques dos
paulistas escravizadores, os animais foram transferidos para a margem meridional
do rio Jacuí, onde se desenvolveram, formando as vacarias do mar. Nos anos
1700, quando a vacaria do mar começou a esgotar-se, devido à extração de gado,
vaqueiros dos sete povos, introduziram milhares de animais nos campos de cima
da serra, formando a vacaria dos pinhais (MAESTRI, 2006)

Em 1737, para garantir os interesses dos portugueses instalados na região, foi construído o forte Jesus-Maria-José,
junto ao canal que liga laguna dos Patos ao oceano Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma povoação que deu
origem a atual cidade de Rio Grande. O domínio português se expandiu pelas áreas vizinhas, que no seu conjunto
eram chamadas de Continente de Rio Grande de São Pedro, primeira denominação do atual estado do Rio Grande do
Sul.
Neste mesmo período, desenvolveu-se a mineração em Minas Gerais, o que atraiu milhares de pessoas para a região
e formou um mercado de consumo para os produtos da pecuária riograndina: couro, carne, leite e animais para
transporte. Em consequência, a atividade de caça foi sendo substituída pela criação de gado, pois os animais
passaram a ser reunidos em locais destinados a tal finalidade: as estâncias (Idem, 1999).
Assim, estimulada pelo mercado do Sudeste do país, principalmente de Minais Gerais, desenvolveu-se a pecuária no
Rio Grande do Sul. Portugueses, paulistas e catarinenses ganhavam do governo grandes extensões de campo, onde
instalavam suas fazendas de criação de gado. Com o tempo, as áreas campestres, principalmente as da Campanha,
ficaram povoadas de fazendeiros.
A partir de 1780 notamos uma modificação na utilização do gado vacum. Iniciam, na província de São Pedro, as
charqueadas na região de Pelotas, e a carne começa a ganhar considerável valor comercial. Porém, durante anos o
couro continuou com grande valor monetário. As vacarias geralmente vindas da região da campanha traziam o gado
para ser vendido na região de Pelotas.
Um ano após a chegada da família real Portuguesa ao Brasil, ocorre a primeira divisão administrativa da província de
São Pedro. Em 1809 a região fica dividida em quatro localidades: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio e Porto
Alegre. A seguir, mapa onde podemos visualizar a divisão territorial da então capitania.
Em meados do Século XIX, para delimitar as propriedades, iniciou-se o uso do arame farpado e alambrado. Desta
forma o dono da estância conseguia controlar seus peões e impedir o uso de sua propriedade por gaúchos nômades,
geralmente tropeiros sem a posse da terra, que habitavam na região. Estes gaúchos sem nacionalidade definida
transitavam facilmente entre os atuais territórios brasileiro, uruguaio e argentino, e tinham como principal atividade
retirar o couro do gado vacum e vendê-lo no mercado informal, na região de domínio português e para a metrópole
hispânica. O modelo de transação econômica praticado por estes gaúchos era possível porque havia o gado nesta
região, ao mesmo tempo, era considerado ilegal porque os animais soltos pelos campos eram de propriedade real –
tanto da coroa portuguesa quanto espanhola.

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As estâncias pertencentes a proprietários portugueses iniciaram a domesticação do gado da região. Entretanto, não
existia tratamento para a saúde dos animais. A partir do século XX notamos uma drástica diferença no tratamento da
saúde do gado, com evidente melhora. A qualidade da carne e a genética destes animais tornam-se referência no país
e a carne bovina produzida na região da campanha é exportada para inúmeros países.
A região da campanha, onde se localiza o município de Bagé, é conhecida pela criação de gado bovino de corte de
significativa qualidade, com melhoramento genético dos animais. Começam na região exposições de gado, ovinos e
equinos. O cavalo, principal instrumento de trabalho fundamental para a produção pecuária, era utilizado para
arrebanhar o gado vacum. Já a criação de ovelhas, além de suprir a demanda doméstica de carne da propriedade,
através da venda anual de lã, ajudava a cobrir as despesas de manutenção da propriedade – com o advento da lã
sintética, a criação de gado ovino diminui expressivamente, passando a atender nichos específicos do mercado de
carne e a demanda da produção artesanal de artefatos de lã.
A criação de gado de corte e a exposição destes animais, gera milhões de reais para a região da campanha. Estas
duas atividades são majoritariamente vinculadas a grandes e médias propriedades rurais. No entanto, embora o ponto
de partida para este estudo seja a região da campanha, mais especificamente, a localidade de Bagé, a paisagem
cultural que se configura a partir da produção pecuária, sua origem, manutenção e perpetuação, extrapola tais limites
geográficos e políticos, transitando suas fronteiras pelos territórios que abrange a chamada “cultura gaúcha”. Assim
sendo, tal área cultural perpassa tanto o sul do Rio Grande do Sul quanto países vizinhos, como Argentina e Uruguai.
Ondina Fachel Leal discute a constituição acadêmica e sócio-antropológica do “Sul” como um território de significados
de uma realidade social específica, de um sistema de valores e de uma determinada área social. Para Leal (1997), “os
limites destas área cultural etnografada e etnografável, frequentemente nominada o Sul, numa estratégica imprecisão
retórica, não coincidem com os limites políticos do estado Rio Grande do Sul ou mesmo os da nação Brasil.”
O nome da cidade origina-se da erva-mate encontrada em abundância nas matas quando da sua colonização. Os
primeiros habitantes (portugueses) desta região vieram provenientes de um acampamento de Rafael Pinto Bandeira no
ano de 1791, posterior ao Tratado de Santo Idelfonso. Com claras intenções de demarcar o território para a Coroa
Portuguesa, Rafael doa a sesmarias para homens do império que povoam o que vai se chamar de Vila de São João
Batista do Herval. De modo geral, as famílias que permaneceram em Herval dedicaram-se a agricultura de
subsistência, construindo moinhos de pedra para fazer farinha de mandioca, e fundamentalmente à pecuária, marca do
município até os dias atuais.
As famílias tradicionais que constituíram o município eram de portugueses ligados ao meio rural. (como de Bonifácio
José Nunes é considerado o fundador da cidade. Liderou e, juntamente com José da Silva Tavares, José Teixeira
Pinto, Antônio dos Santos Abreu e Antônio Madruga de Bittencourt se constituíram em sociedade para adquirir o
terreno onde estava edificada a povoação e o doaram à Irmandade de Nª Sª da Conceição.)

5.2. CRONOLOGIA
DATA EVENTO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até princípio do XIX Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do
Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de
Sousa Farias” – ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até
Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão,
passando pelos Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos
Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em
Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande,

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Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.


Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Séc. XX (início) Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos,
entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década de 1950 Fechamento da última charqueada em Bagé
Séc. XX – década de 1960 Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições
privadas e públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais,
associações de criadores, EMBRAPA, etc.

6. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio

7. LEGISLAÇÃO

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E PATRIMONIAL E DE PLANEJAMENTO


Segundo Freire (2005), com a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constituiu-se a
política de preservação e salvaguarda do patrimônio no Brasil por intermédio do tombamento (ato institucional
aplicado, que protege os bens culturais materiais da descaracterização cultural). Em um primeiro momento, tal ação
estatal teve como foco o salvamento emergencial dos bens relacionados ao período colonial, aos grandes
personagens históricos e as obras de arte. Neste sentido, representativos desta noção de nacionalidade, encontramos
no Rio Grande do Sul: o tombamento das Ruínas da Redução Jesuítico-Guarani de São Miguel Arcanjo (1938); Igreja
Matriz de São Pedro, em Rio Grande (1938) e a Matriz da Nossa Senhora da Conceição em Viamão (1938); O Forte D.
Pedro II, em Caçapava do Sul (1938); as casas dos líderes da Guerra dos Farrapos Bento Gonçalves (1940) e
Garibaldi (1941) em Piratini, e David Canabarro, em Santana do Livramento (1953); a Rua da Ladeira em Rio Pardo
(1955); O Obelisco Republicano em Pelotas (1955), O Teatro Sete de Abril (1972) e as três casas na Praça Coronel
Pedro Osório (1977) todos em Pelotas.
Esta visão de Patrimônio Cultural Brasileiro se altera em 1960 com a inclusão dos sítios arqueológicos
considerados bens patrimoniais, protegidos pela lei número 3924/61. Na década de 1970 ocorreu uma ampliação
institucional da área de Patrimônio com a criação de políticas específicas de preservação do patrimônio em estados e
municípios, a partir da Lei Federal de Tombamento. Freire (2005, p.12).
Tal expressividade de ações de tombamento em Piratini reflete a ampliação desta rede institucional de

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preservação do patrimônio legitimando a representação da cidade como Capital Farroupilha. Nestes termos, a ação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (IPHAE) tombou os seguintes bens: Antiga Cadeia (18/11/1986),
Antiga Casa de Fazenda (18/11/1986), Antiga Casa Fabião (21/11/1986), Antiga Farmácia Caridade (20/11/1986),
Antiga Moradia de Egydio Rosa (21/11/1986), Antigo Teatro Municipal (Sete de Abril) (20/11/1986), Casa Comercial dos
Fabião (21/11/1986), Casa de Camarinha (20/11/1986), Casa do Comendador Fabião (20/11/1986), Casa de Gomes
de Freitas (21/11/1986), Casa de Vicente Lucas de Oliveira (21/11/1986), Prédio no Logradouro Pe. Reinaldo Wist
(Geminado com o Teatro) (20/11/1986), Ponte do Império (01/08/1984), Prédio da Rua Bento Gonçalves (Casa de
Darwing Lucas) (21/11/1986), Sobrado da Dorada (21/11/1986).
Da mesma maneira, em Arroio Grande, por iniciativa do município e acompanhando a ideia de patrimônio a
partir dos feitos históricos do Rio Grande do Sul, considerando seus personagens e revoluções, propõe o registro de
um obelisco e de uma tapera localizados no lugar onde nasceu o Barão de Mauá e de um marco de fronteira situado
nas margens da estrada para Pelotas, homenageando uma batalha da Revolução Farroupilha. (Lei 586, de 14.1.1966)
A partir dos anos 80, a noção de patrimônio se altera no sentido de representar a diversidade cultural brasileira,
bem como se vincula ao tombamento de bens edificados o patrimônio imaterial. Neste sentido, observa-se o
tombamento dos conjuntos urbanos com maior densidade de população em uma região expressivamente rural que são
as ações em Pelotas e Bagé, considerando o sítio da pesquisa. Citam-se, ainda, as ações com relação ao registro do
patrimônio imaterial: INRC a produção dos doces Tradicionais Pelotenses, Porongos e Missões.
A diversidade dessas ações de patrimônio, em tais cidades, expressa uma ampliação das políticas de
preservação das várias esferas do estado (municipal, estadual e federal) bem como as alterações na noção de
patrimônio. Embora nos últimos anos, com a implementação das diretrizes da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) os
municípios tenham avançando, dentre outros aspectos, no estabelecimento de diretrizes voltadas às questões
patrimoniais, incluindo a instituição de Áreas de Interesse Cultural e outros mecanismos de gestão do patrimônio, é
importante destacar que ainda são praticamente inexistentes políticas de preservação voltadas ao patrimônio existente
áreas rurais.

8. AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS

8.1. PROBLEMAS E POSSIBILIDADES


Respondido no item 9.2 Ficha Sítio (itens a serem aprofundados) – Relações entre pecuária e agricultura;
envelhecimento; masculinização no campo, ausência de políticas públicas voltada para o campo; diminuição da oferta
de emprego e mão-de-obra; cultura de fronteira; investigações arqueológicas associada aos antigos caminhos das
tropas.

8.2. RECOMENDAÇÕES
Ver item 9.2 Ficha Sítio

9. DOCUMENTOS ANEXADOS
OBS.: VER ANEXO 1: BIBLIOGRAFIA

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ANEXO 3: BENS CULTURAIS INVENTARIADOS Lidas campeiras

ANEXO 4: CONTATOS F1 – A4 – 45.

FICHAS DE IDENTIFICAÇÃO DE BENS F60 – 1 a F60 – 7

10. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke, Daniel Vaz Lima. Consultores: Erika Collischonn – Geografia; Fernando
Camargo – História; Karen Mello – Urbanismo.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby e Marta Bonow Rodrigues.
REDATOR Marília Floôr Kosby, Daniel Vaz Lima, Marta Bonow Rodrigues, Flávia Rieth, DATA
Liza Bilhalva Martins da Silva, Pablo Dobke e Letícia de Faria Ferreira. 10.04.13
Responsável pelo inventário Flávia Rieth

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CÓDIGO DA FICHA
Bagé/RS,
Arroio
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de Bagé
ANEXO RS
e
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha
entorno
Negra/RS,
BIBLIOGRAFIA Pelotas/RS,
Piratini/RS
FICH
UF SÍTIO LOC. ANO NO.
A

4 1. LIVROS E OUTRAS PUBLICAÇÕES NÃO SERIADAS

REFERÊNCIA ASSUNTO ONDE ENCONTRAR NO


AGUINAGA, Antonio José Queirolo. Tese que discute perfil socioeconômico Acervo pessoal de 1
Caracterização se sistemas de produção dos pecuaristas sul-rio-grandenses e Fernando Camargo
de bovinos de corte na região da suas práticas.
campanha do Estado do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
AL-ALAM, Caiuá Cardoso. Pelotas Estudo sobre as punições efetuadas na Acervo pessoal de 2
Insubmissa: escravos e peões de tropas cidade de Pelotas, que incidiam Marta Bonow
como sujeitos do caos. IN: ______A Negra especialmente sobre escravos e pessoas Rodrigues
Forca da Princesa: Polícia, Pena de Morte marginalizadas no município no século
e Correção em Pelotas (1830-1857). XIX.
Pelotas: Ed. do Autor; Sebo Icária, 2008. Cap.
1, pp. 48-62.
ALVEAR, Diego de. Relación histórica y Diários e relatórios do demarcador D. Acervo pessoal de 3
geográfica de la provincia de misiones. Diego de Alvear sobre as Missões no Fernando Camargo
Resistencia: CONICET, 2000. final do século XVIII.
ANONIMO. Noticias sobre el Rio de la Transcrição de manuscrito de observador Acervo pessoal de 4
Plata: Montevideo en el siglo XVIII. Madrid: da situação da Banda Oriental do Fernando Camargo
Historia 16, 1988. Uruguai no final do século XVIII.
ANTÓN, Danilo. Uruguaypirí. Montevideo: Abordagem histórica do Uruguai sob Acervo pessoal de 5
Rosebud, 1997. uma perspectiva etnológica. Fernando Camargo
ARREDONDO, Horacio, Civilización del História uruguaia e apontamentos de Acervo pessoal de 6
Uruguay. Bibliografía de viajeros. viajantes. Diversas imagens. Fernando Camargo
Contribución grafica. s/d.
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Coletânea. Possui vários textos sobre Acervo pessoal de 7
Sul. Produzindo a História a partir de Bagé e região, na perspectiva de Fernando Camargo
fontes primárias. Porto Alegre: Corag, 2010. diferentes classes sociais.
ASSUNÇAO, Fernando O. El Gaucho: Estudo abrangente sobre o gaúcho Acervo pessoal de 8
estudio socio-cultural. Tomos i e II. pampeano histórico no que tange a Fernando Camargo
Montevideo: DGEU-DPE, 1978. diferentes aspectos da sua existência.
ASSUNÇAO, Fernando O. História del História da formação do gaucho – como Acervo pessoal de 9
Gaucho: el gaucho, ser y quehacer. Buenos símbolo nacional e modo de vida na Marta Bonow
Aires: Claridad, 2007. região do Prata (Argentina e Uruguai). Rodrigues
BAGÉ. História. Disponível em: Resumo histórico de Bagé e região. Site Internet 10
http:// WWW.BAGÉ.RS.GOV/HISTORIA.PHP
(Acesso em 12/10/2012)
BANDEIRA, Moniz. O Expansionismo Estudo abrangente sobre a formação do Biblioteca ICH - 11
Brasileiro: o papel do brasil na bacia do Brasil e a atuação do país na região UFPel
prata – da colonização ao império. Rio de Platina.
Janeiro: Philobiblio. 1985.

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Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

BARCELLOS, Tanya M. de. "Novas Migrações na campanha do RS nas Acervo pessoal de 12


Migrações no RS: os casos de Uruguaiana e últimas décadas. Fernando Camargo
Bagé". In: I Encontro Nacional sobre
Migração. Curitiba: IPARDES: FUNUAP,
1997.
BARRÁN, Jose Pedro. História de la Estudo abarcando o Uruguai do século Acervo pessoal de 13
Sensibilidad en el Uruguay – la cultura XIX sobre o entendimento do prazer e da Fernando Camargo
"bárbara" (1800-1860). Montevideo: dor pelas culturas, principalmente
Ediciones de la Banda Oriental, 1990. levando-se em conta a forma pela qual
as pessoas sentem-se frente a
experiências de morte, violência, sexo,
diversão ou trabalho.
BARRETO, Vitro Angelo Villar. Dom Pedrito, Dissertação sobre a alteração da Acervo pessoal de 14
cidade e campo: a modernização agrícola paisagem e dos usos decorrente do Fernando Camargo
e a cidade local. Porto Alegre: Universidade processo de modernização agrícola, em
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dom Pedrito, RS.
2011. (Dissertação de Mestrado em
Geografia).
BARROSO, Vera L. M. Os Açorianos no Rio Aborda a colonização no Estado do Rio Site internet 15
Grande do Sul. Disponível em: Grande do Sul.
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(Acesso em 25/03/2010)
BOEIRA, Nelson & GOLIN, Tau (orgs.) Estudo sobre a história do Rio Grande do Acervo pessoal de 16
História geral do Rio Grande do Sul. Vol.1. Sul, no período denominado Brasil José Plínio
Passo Fundo-RS: Ed. Méritos. 2006. colonial. Guimarães Fachel
BOEIRA, Nelson & GOLIN, Tau (orgs.) Estudo sobre a história do Rio Grande do Acervo pessoal de 17
História geral do Rio Grande do Sul. Vol.2. Sul, no período cronológico José Plínio
Passo Fundo: Ed. Méritos, 2006. compreendido de Brasil Imperial. Guimarães Fachel
BOEIRA, Nelson & GOLIN, Tau (orgs.) Estudo sobre a história do Rio Grande do Acervo pessoal de 18
História geral do Rio Grande do Sul. Vol.3. Sul, no período histórico intitulado José Plínio
Passo Fundo: Ed. Méritos, 2006. República Velha. Guimarães Fachel
BOUCINHA, Cláudio. História das Pesquisa sobre a história das Biblioteca da PUC- 19
Charqueadas de Bagé (1891-1940) na Charqueadas de Bagé, destacando o RS e da URCAMP-
Literatura. Porto Alegre: Pontifícia início em 1891 até 1940, quando foram Bagé.
Universidade Católica do Rio Grande do Sul introduzidas as primeiras câmaras frias.
(PUC), 1993. (Dissertação de Mestrado em Analisa as primeiras principalmente as
História) charqueadas de grande escala tais
como: Companhia Industrial Bageense,
Santa Thereza, São Martim, Santo
Antônio, São Domingos, Sociedade de
Fazendeiros, Cooperativa Bageense de
Carnes e Frigorífico SISPAL.
BRASIL, Carlos Roberto Martins. Pioneiros Relata a imigração açoriana no Rio Acervo da 20
Açorianos: notas históricas e Grande do Sul e Bagé, destacando a Secretaria Municipal
genealógicas. Porto Alegre: Renascença, localização, início do povoamento e da de Cultura de Bagé
2005. propriedade privada na região. Além de
traçar o perfil genealógico das famílias
descendentes dos açorianos.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

BRASIL, Carlos Roberto Martins. Sesmarias Descreve as sesmarias concedidas aos Acervo da 21
em São Sebastião de Bagé. Porto Alegre: primeiros povoadores de São Sebastião Secretaria Municipal
Renascença, 2009. de Bagé, situada nos atuais municípios de Cultura, NPHTT
de Bagé, Aceguá, Hulha Negra, Dom e Biblioteca
Pedrito, e em partes dos municípios de Municipal de Bagé.
Candiota, Lavras do Sul e de Santana do
Livramento, distribuídas entre os anos de
1789 a 1822. Obra baseada em
documentos do Arquivo Público e
Histórico do Rio Grande do Sul, Arquivo
Público e Histórico de São Paulo e
Arquivo Histórico Ultramarino de
Portugal.
BUENO, Eduardo. Apresentação. In: LEITE, Apresentação da obra de José Antonio Acervo pessoal de 22
José Antonio Mazza. Xarqueadas de Mazza Leite sobre os desenhos e Marta Bonow
Danúbio Gonçalves: um Resgate para a xilogravuras do artista plástico Danúbio Rodrigues
História. Porto Alegre: s. c. p., 3ª Ed., 2011. Gonçalves.
CAMARGO, Fernando. Crônicas do Rio Apresentação e transcrição das duas Acervo pessoal de 23
Grande de São Pedro: 1790 e 1804. Passo corografias completas mais antigas Fernando Camargo
Fundo: Clio, 2003. acerca do atual espaço do Rio Grande
do Sul.
CAMARGO, Fernando. O Malón de 1801: a A tomada das Missões Orientais do Acervo pessoal de 24
guerra das laranjas e suas implicações na Uruguai e seu contexto diplomático, Fernando Camargo
américa meridional. Passo Fundo: Clio, geopolítico e socioeconômico.
2001.
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo Estudo sobre a escravidão no Estado do Biblioteca ICH – 25
e Escravidão no Brasil Meridional: O negro Rio Grande do Sul. UFPel
na sociedade escravocrata do Rio Grande
do Sul. São Paulo: Editora Paz e Terra. 1977.
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo Estudo sobre a escravidão no Estado do Biblioteca ICH – 26
e Escravidão no Brasil Meridional: O negro Rio Grande do Sul. UFPel
na sociedade escravocrata do Rio Grande
do Sul. São Paulo: Editora Paz e Terra. 1997.
CESAR, Guilhermino. História do Rio Abrangente estudo sobre a história do Biblioteca ICH – 27
Grande do Sul Período Colonial. Porto Rio Grande do sul no período histórico UFPel
Alegre: Ed. Globo. 1970. colonial.
CESAR, GUILHERMINO. PRIMEIROS CRONISTAS Apresentação e transcrição de extratos Acervo pessoal de 28
DO RIO GRANDE DO SUL: 1605-1801. PORTO de textos de cronistas sobre o Rio Fernando Camargo
ALEGRE: UFRGS, S/D. Grande do Sul.
CESAR, Guilhermino. O Contrabando no Sul Estudo sobre a história do comércio Acervo pessoal de 29
do Brasil. Caxias do Sul, Universidade de ilegal no Rio Grande do Sul. Marta Bonow
Caxias do Sul; Porto Alegre: Escola Superior Rodrigues
de Teologia São Lourenço de Brides, 1978.
CHASTEEN, John. Fronteira Rebelde. Porto Relata o contexto da fronteira entre RS e Acervo pessoal de 30
Alegre: Movimento, 2003. Uruguai durante o século XVIII, XIX e Pablo Dobke.
início do XX na imagem dos irmãos
Aparício e Gumercindo Saraiva.
CHELOTTI, Marcelo Cervo. A dinâmica do Espaço agrário e dinâmica sócio espacial Acervo pessoal de 31
espaço agrário no município de Sant'ana do na campanha gaúcha. Fernando Camargo
Livramento/RS: das sesmarias aos
assentamentos rurais. In: Estudos
Geográficos. Rio Claro: Unesp, jan-jun 2005.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

CHIAPPINI, Ligia; MARTINS, Maria Helena; Aborda os diferentes aspectos da cultura Acervo pessoal de 32
PESAVENTO, Sandra. (Org.). Pampa e pampeana nos diferentes países Pablo Dobke.
Cultura. Porto Alegre: UFRGS, 2004. (Argentina, Uruguai e Brasil).
COELHO, Enyltho Paixão (org.) Mão Gaúcha Manual de trabalhos em couro. Produção Acervo pessoal de 33
– Trançados em Couro. Secretaria do de arreios para lidas campeiras e de Marta Bonow
Trabalho e Ação Social – Fundação Gaúcha artefatos para uso cotidiano e para Rodrigues
do Trabalho. Porto Alegre: Grafosul, Vol. 2, decoração.
1978.
COLVERO, Ronaldo. Negócios na O contrabando na fronteira do Rio Acervo pessoal de 34
Madrugada: o comércio ilícito na fronteira Grande do Sul, entre os séculos XIX e Fernando Camargo
do rio grande do sul. Passo Fundo: UPF XX.
Editora, 2004.
COLVERO, Ronaldo; SERRES, Helenize. O O saladeiro São Felipe como centro de Acervo pessoal de 35
saladeiro São Felipe de Itaqui: 1910-1930. várias considerações sobre a História de Fernando Camargo
Porto Alegre: Faith, 2009. Itaqui e região.
COSTA e SILVA, Fabiane. Tramas territoriais Trabalho acerca da formação e Acervo do INRC- 36
na campanha gaúcha: processo de transformações da região de Aceguá, Bagé (1ª Fase)
transformações na área de Aceguá. Porto abordando principalmente temas
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande socioeconômicos.
do Sul (UFRGS) - Programa de Pós-
Graduação em Administração, 2009.
(Dissertação de Mestrado em Administração).
COURLET, Beatriz Azevedo. "Identidades em A constituição da identidade fronteiriça. Acervo pessoal de 37
uma zona de fronteira: a região do Prata no Fernando Camargo
período colonial". In: II Jornadas de História
Regional Comparada. Porto Alegre: FEE,
2005.
COUTO, Mateus de Oliveira. A pia e a Cruz: Informações sobre os escravos nos Acervo Pessoal de 38
A demografia dos trabalhadores municípios de Herval e de Pelotas no Flávia Rieth.
escravizados em Herval e Pelotas (1840 – século XIX (anos 1840-1859).
1859). Passo Fundo: UPF Editora, 2011.
COTRIM, Eduardo. A Fazenda Moderna. Guia prático e científico para produtores Acervo pessoal de 39
Guia do criador de gado bovino no Brasil. voltados à indústria pecuária moderna. Marília Kosby
Bruxellas: Typographia V. Verteneuil & L.
Desmet, 1913.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução. Autora discorre sobre o processo de Acervo do INRC- 40
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico patrimonialização dos bens imateriais. Bagé (1ª Fase)
Nacional. N. 32, 2005. pp. 15-27.
DACANAL, José Hildebrando & Gonzaga, Livro escrito por historiadores renomados Acervo do 41
Sérgio. (orgs.) RS: Economia & Política. sobre a história do Rio Grande do Sul. Laboratório Ensino
Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto. 1979. de História- UFPel
DALLA VECHIA, Agostinho M. Vozes do Entrevistas com descendentes de Acervo pessoal de 42
Silêncio: depoimentos de descendentes de escravos em Pelotas e região. Marta Bonow
escravos no meridião gaúcho. Pelotas: Rodrigues
Editora da UFPEL, 1994. (Parte I).
DARWIN, Charles. Viagem de um Livro escrito como diário de viagem de Acervo pessoal de 43
Naturalista ao Redor do Mundo – Vol. 1: Charles Darwin, em que fala de suas Marta Bonow
África, Brasil e Terra do Fogo. Porto Alegre: impressões sobre os gaúchos do Rio Rodrigues
L&PM, 2010. Grande do Sul, Uruguai e Argentina.
DUTRA, Carlos Alberto dos Santos. A outra Monografia sobre a transição, no Acervo pessoal de 44
face do Rio Grande: ideologia e mitificação imaginário, do gaúcho histórico para o Fernando Camargo
do gaúcho histórico. Três Lagoas: UFMS, gaúcho mitificado.
2001.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

FAGUNDES, Elizabeth Macedo de. Trabalha a história de Bagé através do Biblioteca Municipal 45
Inventário Cultural de Bagé. Bagé (RS): patrimônio cultural. de Bagé e NPHTT
Praça da Matriz, 2005.
FARINATTI, L. A. E. "Criadores de gado na Estudo dos pecuaristas de Alegrete e Acervo pessoal de 46
fronteira meridional do Brasil (1831-1870)". In: região, a partir dos inventários post Fernando Camargo
II Jornadas de História Regional mortem.
Comparada. Porto Alegre: FEE, 2005.
FARINATTI, L. A. E. "Peões de estância e A reinterpretação do papel do peão de Acervo pessoal de 47
produção familiar na fronteira sul do Brasil estância no RS, caracterizando a Fernando Camargo
(1845-1865)". In: Anos 90. Porto Alegre: estratégia familiar de constituição de
UFRGS, 2008. muitos nessa lida.
FERREIRA FILHO, Arthur. História Geral do Historiografia tradicional. Abordagem de Acervo pessoal de 48
Rio Grande do Sul: 1503-1964. Porto Alegre: diversos aspectos da história sul- Pablo Dobke.
riograndense.
Editora Globo, 3ª Ed., 1965.
FERREIRA, Lúcio Menezes. O Pampa Projeto de pesquisa na área da Acervo pessoal de 49
Negro: arqueologia da escravidão na arqueologia que abarca as questões Marta Bonow
região meridional do Rio Grande do Sul referentes aos escravos na região do Rodrigues
(1780-1888). Pelotas: Universidade Federal pampa sul-riograndense.
de Pelotas (UFPel), 2009. (Projeto de
Pesquisa)
FLORES, Moacyr. Colonialismo e Missões História sobre a colonização e reduções Biblioteca ICH – 50
Jesuíticas. Porto Alegre: Ed. Nova jesuíticas instaladas no Rio Grande do UFPel
Dimensão. 1986. Sul no período do Brasil Colônia.
FLORES, Moacyr. Gaúcho: história e mito. Livreto que mostra de forma resumida a Acervo pessoal de 51
Porto Alegre: EST edições, 2007. construção historiográfica acerca do Pablo Dobke.
gaúcho.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande Apresentação panorâmica de diversos Acervo pessoal de 52
do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1997. aspectos da História do Rio Grande do Fernando Camargo
Sul
FLURY, Lázaro. Motivos Argentinos. Buenos Descrição de costumes e utensílios da Acervo pessoal de 53
Aires: Ciordia y Rodríguez, 1951. vida gaúcha. Pablo Dobke.
FONSECA, Pedro Ari Veríssimo da. O Proposta de caracterização do tipo Acervo pessoal de 54
gaúcho quem é.... Passo Fundo: UNESCO- sociocultural denominado "gaucho sul- Fernando Camargo
CIOFF/PMPF, s/d. rio-grandense.
FONSECA, Pedro Ari Veríssimo da. O tropeirismo muar e seus impactos no Acervo pessoal de 55
Tropeiros de Mula. A ocupação do espaço. Rio grande do Sul. Fernando Camargo
A dilatação das fronteiras. Passo Fundo:
Berthier, 2004.
FONTTES, Carlos; VIEIRA, Yara Maria Aborda a história da Bagé da região Acervo do Núcleo 56
Botelho. As Estâncias Contam sua História. através das propriedades rurais de Pesquisas
Santa Maria: Palltti, 2005. (estâncias, fazendas e chácaras). A obra Históricas Tarcício
foi resultado do Projeto Pró-memória Taborda (NPHTT),
Histórica das Propriedades Rurais. da Secretaria
Possui ilustrações a “bico de pena”. Municipal de
Cultura, Biblioteca
da URCAMP e
Biblioteca Municipal
de Bagé.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

FREIRE, Beatriz Muniz. O Inventário e o Texto sobre formas de trabalhar o Acervo do INRC- 57
Registro do Patrimônio Imaterial: Novos patrimônio imaterial. Bagé (1ª Fase)
Instrumentos de Preservação. Cadernos do
LEPAARQ. Textos de Arqueologia,
Antropologia e Patrimônio. Pelotas: Editora
da Universidade Federal de Pelotas, Vol II, n.
3, 2005. pp.11-19.

FREITAS, Décio. O Capitalismo Pastoril. Estudo sobre a história pecuária no Biblioteca ICH – 58
Caxias do Sul-RS: Ed. Escola Superior de Estado do Rio Grande do Sul. UFPel
Teologia São Lourenço de Brindes. 1981.

GARCIA, Elida Hernades Garcia. Escritores Coletânea das biografias e obras dos Acervo do NPHTT e 59
Bageenses. Porto Alegre: Praça da Matriz/ escritores nascidos ou que tiveram sua da Secretaria
Editora Evangraf, 2007. produção intelectual em Bagé. Municipal de Cultura
de Bagé
GOLIN, Tau. A Expedição: imaginário As manifestações paralelas da Acervo pessoal de 60
artístico na conquista militar dos sete expedição para a conquista dos povos Fernando Camargo
povos jesuíticos e guaranis. Porto Alegre: jesuítico-guaranis orientais ao rio
Sulina, 1997. Uruguai, durante a Guerra Guaranítica.
GOLIN, Tau. O povo do pampa. Passo Faz uma trajetória da história do RS Acervo pessoal de 61
Fundo: Ediupf; Porto Alegre: Sulina, 1999. desde o paleolítico até os dias atuais. Pablo Dobke.
GONZAGA, Sérgius & FISCHER, Luís Formação étnica do Estado do Rio Biblioteca ICH – 62
Augusto (coord.). Nós, Os Gaúchos. Porto Grande do Sul. UFPel
Alegre: Ed.UFRGS. 1992.
GONZALEZ, Luis Rodolfo; RODRIGUEZ Pesquisa prosopográfica acerca da Acervo pessoal de 63
VARESE, Susana. Guaranies y Paisanos: inserção indígena na sociedade crioula Pablo Dobke.
Impacto de los indios misioneros en la uruguaia e a importância da mestiçagem
formacion del paisanaje. Nuestras Raíces N° para a constituição do gaúcho.
3. Montevidéu: Nuestra Tierra, 1990.
GÜIRALDES, Ricardo. Dom Segundo Literatura: Traz a história do jovem Fábio Acervo pessoal de 64
Sombra. Porto Alegre: L&PM, 1997. Cáceres em sua trajetória ao lado do Pablo Dobke.
“gaucho” Dom Segundo, onde aquele
aprende na prática o que é ser um
“verdadeiro gaúcho”.
GUTIERREZ, Ester J. B. A arquitetura Análise da escravidão nas charqueadas Acervo pessoal de 65
pelotense: charqueada e cidade. In: pelotenses do século XIX, apontando Marta Bonow
MAESTRI, Mário; ORTIZ, Helen (Orgs.). questões rurais e urbanas. Rodrigues
Grilhão Negro: Ensaios sobre a escravidão
colonial no Brasil. Passo Fundo: Ed. da
UPF, 2009. pp. 201-231.
GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas e Estudo sobre o trabalho escravo, em Acervo pessoal de 66
Olarias: Um estudo sobre o espaço especial nas charqueadas e olarias de Marta Bonow
pelotense. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas. Rodrigues
Pelotas (UFPel), 2ª Ed., 2001.
GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas e Estudo sobre o trabalho escravo, em Biblioteca ICH - 67
Olarias: Um estudo sobre o espaço especial nas charqueadas e olarias de UFPel
pelotense. Passo Fundo: UPF Editora, 2011. Pelotas.
GUTIERREZ, Ester Judite Bendjouya. Sítio Estudo sobre as charqueadas pelotenses Acervo pessoal de 68
Charqueador Pelotense. Porto Alegre: estabelecidas ao longo do Canal São Marta Bonow
Editora Paisagem do Sul, 2010. Gonçalo e Arroio Pelotas. Rodrigues
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Colonização açoriana no Estado do Rio Site internet 69


HAMEISTER, Martha. Notas Sobre a Grande do Sul.
Construção de uma “Identidade Açoriana”
na colonização do Sul do Brasil ao século
XVIII.
Disponível em:
HTTP://WWW.UFRGS.BR/PPGHIST/21-22ART3.PDF
(Acesso em 22/03/2009)
HARTMANN, Luciana. Gesto, Palavra e Estudo dos contadores de causos na Acervo pessoal de 70
Memória: performances narrativas de região meridional do Rio Grande do Sul, Flávia Rieth.
contadores de causos. Florianópolis, Ed. da com uma perspectiva antropológica.
UFSC, 2011.
HERNÁNDEZ, José. Martin Fierro. Madrid: Literatura: Relata as desventuras de um Acervo pessoal de 71
Alianza Editorial, 2004. gaucho argentino durante o período Pablo Dobke.
histórico conhecido como Conquista do
Deserto, onde este, depois de desertar
do exército, é perseguido como um
bandido, desdenhando assim a figura do
gaúcho.
HOWES, Guilherme. De Bota e Bombacha: Estudo sobre a formação das Acervo do INRC – 72
um estudo antropológico sobre identidades gaúchas e as instituições do Bagé (1ª Fase)
identidades gaúchas e o tradicionalismo.– meio tradicionalista no Rio Grande do
Santa Maria: Universidade Federal de Santa Sul.
Maria (UFSM) - Centro de Ciências Sociais e
Humanas. 2009. (Dissertação de Mestrado
em Ciências Sociais)
IBGE Cidades. Informações socioeconômicas. Site Internet 73
HTTP://WWW.IBGE.GOV.BR/CIDADESAT/TOPWINDO
W.HTM?1
(Acesso em 12/10/2012)
IPHAE. Patrimônio Ferroviário no Rio Inventário das estações ferroviárias de Acervo da 74
Grande do Sul. Inventário das Estações passageiros do RS, destacando sua Secretaria Municipal
1874-1958. Porto Alegre: Pallott, 2002. importância no surgimento, crescimento de Cultura de Bagé.
e configuração dos núcleos urbanos.
ISABELLE, Arsène. Viagem ao Rio grande Diário e relato de viagem empreendida Acervo pessoal de 75
do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1983. pelo explorador francês Isabelle ao Rio Fernando Camargo
Grande do Sul, no século XIX.
JACOB, Raúl. "Saladeros de la Frontera". In: A crise de indústria saladeril uruguaia. Acervo pessoal de 76
II Jornadas de História Regional Fernando Camargo
Comparada. Porto Alegre: FEE, 2005.
JACQUES, Bayard Bretanha. Registros da Descreve a importância da equitação Acervo pessoal de 77
eficiência da equitação gaúcha: Primeiros gaúcha, assim como sua história e Daniel Vaz
escritos. Jaguarão: Do Autor, 2008. influência ibérica.
JOSEPH, Francine. Territorialidade e Direito Trabalho etnográfico discutindo a Acervo do INRC- 78
Étnico na Comunidade Negra Rural Vila da comunidade e sua vinculação com o Bagé (1ª Fase)
Lata – Aceguá, Fronteira Brasil/Uruguai. espaço em que se situa.
Pelotas: Universidade Federal de Pelotas
(UFPEL) - Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais, 2010. (Dissertação de
Mestrado em Ciências Sociais).
KEATONG, Vallandro; MARANHÃO, Ricardo. Material gráfico e textual sobre os Acervo pessoal de 79
OS caminhos da conquista: a formação do caminhos e espaços da conquista do Fernando Camargo
espaço brasileiro. São Paulo: Terceiro território brasileiro pelos europeus.
Nome, 2008.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

KERN, Arno Alvarez. Missões: uma utopia Leitura-chave sobre as missões jesuítico- Acervo pessoal de 80
política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. guaranis. Fernando Camargo
KOSBY, Marília Floôr. “O Açude”: A Ensaio apresentado na disciplina Acervo pessoal de 81
paisagem e os sujeitos pampeanos. 2011. literatura e Fronteiras Culturais, Marília Floôr Kosby
ministrada pelo professor João Ourique,
do curso de Letras da UFPEL.
KOSBY, Marília Floôr. Piedra y Camino: o Ensaio apresentado na disciplina Acervo pessoal de 82
pensamento nômade na invenção da literatura e Fronteiras Culturais, Marília Floôr Kosby
cultura do gaúcho. 2011. ministrada pelo professor João Ourique,
do curso de Letras da UFPEL.
KÜHN, Fábio. Breve História do Rio Grande História do RS de forma resumida. O Acervo pessoal de 83
do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 3ª edição, texto abrange as origens do Pablo Dobke.
2007. povoamento, a conquista do território, as
guerras intestinas, e a vida social,
política e econômica da província rio-
grandense.
LAYTANO, Dante. Folclore do Rio Grande Estudo histórico sobre alguns tipos de Biblioteca ICH – 84
do Sul. Caxias do sul – RS: EDUCS. 1984. folclores existentes no Estado. UFPel

LEAL, Ondina Fachel. Do entografado ao Construção do Rio Grande do Sul como Acervo do INRC- 85
etnografável: O “Sul” como área cultural. campo etnográfico a partir da leitura de Bagé (1ª Fase)
Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, viajantes do século XIX, na proposta de
ano 3, n. 7, outubro/1997. pp. 201-204. identificar uma área cultural.

LEAL, Ondina Fachel. Honra, morte e Estudo sobre suicídio de homens Acervo do INRC- 86
masculinidade na cultura gaúcha. IN: Oro, Ari campeiros. Bagé (1ª Fase)
P.; Teixeira, Sérgio A. (coords). Brasil e
França: Ensaios de Antropologia Social.
Porto Alegre: Ed. Universidade (UFRGS),
1992. pp; 141-150.

LEAL, Ondina Fachel. The Gaúchos: male Tese de doutorado que aborda a questão Acervo pessoal de 87
culture and identity in the Pampas. da identidade do gaúcho na região do Marta Bonow
Berkeley: University of California (USA), pampa (Rio Grande do Sul, Uruguai e Rodrigues
1989. (Tese de Doutorado). Argentina).

LEAL, Ondina Fachel. O Mito da Salamandra Discussão do mito riograndense da Acervo do INRC- 88
do Jarau: a constituição do sujeito masculino Salamandra do Jarau a partir de um Bagé (1ª Fase)
na cultura gaúcha. Revista de Psiquiatria do olhar antropológico sobre relações de
Rio Grande do Sul. Vol 1, n. 14. Jan- gênero.
abril/1992. pp. 8-11.

LEITE, José Antonio Mazza. Xarqueadas de Coletânea de gravuras de Danúbio Acervo pessoal de 89
Danúbio Gonçalves: um Resgate para a Gonçalves e de textos sobre as Marta Bonow
História. Porto Alegre: s. c. p., 3ª Ed., 2011. charqueadas. Rodrigues

LEITMAN, Spencer. Raízes Sócio- Aborda a formação social e econômica Biblioteca ICH – 90
Econômicas da Guerra dos Farrapos. Rio dos revoltosos farroupilhas. UFPel
de Janeiro: Edit. Graal. 1979.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

LEMIESZEK, Claudio de Leão. Bagé: Novos Relata fatos importantes da história de Bagé Acervo da 91
Relatos de sua História. Porto Alegre: tais como: da chegada do primeiro Balão e do Secretaria de
Martins Livreiro, 2000. Avião; as visitas embaixadores, entre eles o Municipal Cultura e
dos EUA, da França, da Áustria, do Chile, Biblioteca da
fatos que comprovam o progresso da cidade
no início do século XX; a vida cotidiana do
URCAMP- Bagé
bageense do passado, com suas opções de
lazer e principais manifestações culturais,
registrando o surgimento das primeiras
bandas musicais, grêmios literários, teatrais e
artísticos, clubes sociais e esportivos, obras
assistenciais e de benemerência; destaca a
força e a liderança do setor Agropecuário.

LEMIESZEK, Claudio de Leão. Governantes Trata do cenário político administrativo de Acervo do NPHTT e 92
e Governadores de Bagé 1964 - 1978. Porto Bagé no período de 1964 a 1978, através de da Secretaria
Alegre: Praça Da Matriz, 2003. pesquisas em documentos da época, jornais Municipal de Cultura
e entrevistas com personagens que viveram o de Bagé
período. A narrativa inicia na Revolução de
1964 em Bagé e passa pelas gestões de J.
Wilson Barcellos, W. Bandeira, Antônio Pires,
Camilo Moreira, abordando os estilos,
lideranças, realizações e frustrações de cada
administração.

LEMIESZEK, Claudio de Leão. Notícias Da Relata a história da Revolução de 1923 a Acervo do NPHTT e 93
Revolução de 1923 em Bagé. Porto Alegre: partir dos fatos ocorridos em Bagé. da Secretaria
Praça da Matriz, 2005. Municipal de Cultura
de Bagé

LESSA, Luís Carlos Barbosa. MÃO GAÚCHA História de ilustrações sobre os produtos Acervo pessoal de 94
– Secretaria do Trabalho e Ação Social – artesanais do Rio Grande do Sul. Marta Bonow
Fundação Gaúcha do Trabalho. Porto Alegre: Apresenta as contribuições de diversas Rodrigues
Escola Gráfica Feplam, 2ª ed.,1986. etnias na formação do que pode ser
chamado de Artesanato Riograndense.
LESSA, Luís Carlos Barbosa. Rio Grande do Estudo sobre o Folclore e a formação do Acervo do Núcleo 95
Sul, Prazer em Conhecê-lo. Rio De Janeiro- Estado do Rio Grande do Sul. de História Regional
Brasil. Ed. Globo, 2ªed.,1985. - UFPel
LIMA, Daniel Vaz. O campeiro e o cavalo na Trabalho de conclusão de curso (TCC), Acervo pessoal de 96
doma: um estudo etnográfico sobre a na área da Antropologia. O estudo Daniel Vaz Lima.
relação entre humanos e animais no apresenta a relação entre humanos e
pampa sul-riograndense. Pelotas: animais, buscando o significado do
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cavalo para o homem campeiro.
2013. (Trabalho de Conclusão de Curso do
Bacharelado em Ciências Sociais)
LOPES, Cícero Galeno. Transnação. In: O autor faz uma reflexão sobre culturas Acervo do INRC- 97
BERND, Zilá (org.). Dicionário das de fronteiras. Bagé (1ª Fase)
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355-369.
LOPES. Mário Nogueira. BAGÉ: Fatos e Narra fatos da sociedade e de Acervo do NPHTT e 98
Personalidades. Porto Alegre: Praça da personalidades que marcaram a história da Secretaria
Matriz/ Editora Evangraf, 2007. de Bagé. Os dados apresentados foram Municipal de Cultura
pesquisados nos arquivos dos jornais O de Bagé
Dever e Correio. E também do acervo do
autor.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

LUCCAS, Luís Henrique. Estâncias e Estudo sobre as estâncias riograndenses Site internet. 99
Fazendas do Rio Grande do Sul: como unidades de produção pastoril e
Arquitetura Tradicional da Pecuária. Porto agrícola, como foco na arquitetura das
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande propriedades.
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(Acesso em 04/03/2013).
MAESTRI, Mario. A Ocupação do Território Formação do sistema pecuário e Acervo pessoal de 100
(Da luta pelo território à instalação da charqueador no Estado do Rio Grande Odilon Leston Júnior
economia pastoril-charqueadora do Sul.
escravista). Passo Fundo: Ed. UPF. 2006.

MAESTRI, Mário. O escravo no Rio Grande Estudo sobre a escravidão no Rio Acervo pessoal de 101
do Sul – A Charqueada e a Gênese do Grande do Sul, levantando questões Marta Bonow
Escravismo Gaúcho. Porto Alegre: EST como a origem do trabalho escravo no Rodrigues
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de Brindes); Editora da Universidade de práticas de resistência escrava.
Caxias do Sul, 1984.
MAESTRI, Mário. O escravo no Rio Grande Aborda a escravidão, tipos de trabalhos Acervo pessoal de 102
do Sul. Porto Alegre: Ed.UFRGS, 3º Ed. e principais donos de escravos. Odilon Leston Júnior
2006.
MAESTRI, Mário (org.). O Negro e o Aborda o papel das estâncias, Acervo pessoal de 103
Gaúcho: Estâncias e Fazendas no Rio características dos trabalhadores do Odilon Leston Júnior
Grande do Sul, Uruguai e Brasil. Passo Estado do Rio Grande do Sul, Brasil e
Fundo: UPF, 2008. Uruguai.
MAESTRI, Mário (org.). Peões, Vaqueiros e Diversos artigos sobre a composição da Acervo pessoal de 104
Cativos Campeiros: Estudos sobre a economia pastoril onde se observa a Ester Gutierrez.
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Editora Universidade de Passo Fundo, 2009.
MAGALHÃES, Mario Osorio. Opulência e Análise econômica, urbana, social e Biblioteca ICH - 105
Cultura na Província de São Pedro do Rio cultural de Pelotas nos últimos 30 anos UFPel.
Grande do Sul: Um Estudo Sobre a do Império brasileiro.
História de Pelotas (1860-1890). Pelotas:
Editora da UFPel, 1993.
MAGALHÃES, Mario Osório. Pelotas: toda a Coletânea de fragmentos de textos de Acervo pessoal de 106
prosa. Vol.1 (1809-1871). Pelotas: Armazém viajantes que estiveram em Pelotas Marta Bonow
Literário, 2000. durante o século XIX. Rodrigues
MARQUES, Alvarino da F. Evolução das Estudo sobre as charqueadas do Rio Biblioteca do ICH – 107
Charqueadas Rio-Grandenses. Porto Grande do Sul, suas origens e mudanças UFPel.
Alegre: Martins Livreiro, 1990. funcionais e tecnológicas.
MATTOS, Eron Vaz. Aqui: Memorial em Ensaios etnográficos acerca dos Acervo do INRC- 108
Olhos d’Água. Bagé: Do Autor, 2003. costumes e tradições da cultura Bagé (1ª Fase)
gauchesca.
MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Os assentamentos camponeses no Rio Acervo pessoal de 109
Camponeses, cultura e inovações. São Grande do Sul. Fernando Camargo
Paulo: CLACSO, dezembro de 2006.
Memória do Ciclo do Charque em Pelotas – História do charque em Pelotas. Site internet 110
Viva o charque.
HTTP://WWW.VIVAOCHARQUE.COM.BR/PERSONAG
ENS/PINTOMARTINS.PHP
(Acesso em 01/04/2013).
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

METZ, Luiz Sérgio; OSÓRIO, Pedro Luiz da Relato de viagem pela fronteira entre RS Acervo pessoal de 111
Silveira; GOLIN, Tau. Terra Adentro. Porto e Uruguai, feita pelos autores no início Pablo Dobke
Alegre: Arquipélago, 2006. dos anos 1980, onde entra em contexto
o antigo e o novo, o tradicional e o
moderno.
MONQUELAT, A. F.; MARCOLLA, V. O Compreensão do espaço político-social Acervo pessoal de 112
desbravamento do sul e a ocupação do que hoje se conhece como República Fernando Camargo
castelhana. Pelotas: UFPel, 2010. Oriental do Uruguai e o Estado brasileiro
do Rio Grande do Sul.
MORAES, Alex Martins. "Dinâmicas de A constituição da cidadania na fronteira Acervo pessoal de 113
negociação da cidadania e construção social do RS. Fernando Camargo
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brasileira". In: I Seminário Internacional de
Ciências Sociais - Ciência Política da
UNIPAMPA - Buscando o Sul. São Borja:
UNIPAMPA, 2011.
NOGUERÓL, Luiz Paulo Ferreira, et al. contestação da suposição de que a Acervo pessoal de 114
"Elementos da escravidão no Rio Grande do região da fronteira com o Uruguai Fernando Camargo
Sul: a lida com o gado e o "seguro" contra a apresentava-se como local por demais
fuga na fronteira com o Uruguai". In: XXXV inseguro para a propriedade escrava; e,
ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA. endossoe a contestação da inviabilidade
Recife: UFPE, 2007. do uso de escravos na lida direta com o
gado, feita recentemente pela
historiografia.
O Ciclo do Charque – Pelotas – Capital História do Charque em Pelotas. Site internet 115
Nacional do Doce.
pelotas.ufpel.edu.br/charque.html (Acesso
em 01/04/2013).
OGNIBENI, Denise. Charqueadas Estudo sobre as charqueadas Acervo pessoal de 116
Pelotenses no Século XIX: Cotidiano, pelotenses. Marta Bonow
Estabilidade e Movimento. Porto Alegre: Rodrigues
Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUC), 2005. (Tese de
Doutorado em História das Sociedades
Ibéricas e Americanas)
OLIVEN, Ruben George. Cultura e Identidade O autor fala sobre a criação de Acervo de Flávia 117
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(org. geral); DUARTE, Luiz Fernando Dias viés da antropologia.
(cord. área). Horizontes das ciências
sociais no Brasil: Antropologia. São Paulo:
ANPOCS, 2010.
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Discussão sobre a formação da cultura e Acervo pessoal de 118
Identidade Nacional. São Paulo: Brasiliense, de uma identidade nacional. Flávia Rieth
1985.
OSÓRIO, Helen. Apropriação da Terra no História da formação das propriedades Biblioteca da 119
Rio Grande de São Pedro e a Formação do no Rio Grande do Sul. UFRGS.
Espaço Platino. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
1990. (Dissertação de Mestrado).
OSORNIO, Mario A. López. El Lazo y La História do uso do laço e da boleadeira e Acervo pessoal de 120
Boleadora: contribuición al estudio de las suas aplicações na lida com os animais. Marta Bonow
costumbres nativas. Buenos Aires: Rodrigues
Hemisferio Sur, 2006.
PADRÓN FAVRE, Oscar. Los charruas- Momentos finais da existência dos Acervo pessoal de 121
minuanes en su etapa final. Durazno: Tierra pampeanos uruguaios como grupos Fernando Camargo
Adentro: 2004. ativos na campanha.
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Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

PALERMO, Eduardo R. “Como continuación Análise da conformação das estâncias Acervo pessoal de 122
del Río Grande del Sur”: la hacienda sul-rio- uruguaias no século XIX, pontuando a Marta Bonow
grandense esclavista em el norte uruguayo existência de latifúndios de proprietários Rodrigues.
(séc. 19). In: MAESTRI, Mário (org.). Peões, gaúchos nesse país.
Vaqueiros e Cativos Campeiros: Estudos
sobre a economia pastoril no Brasil. Passo
Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo,
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PENSAVENTO, Sandra Jatahhy. História do História do Rio Grande do Sul abordada Acervo pessoal de 123
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado em diferentes aspectos. Pablo Dobke.
Aberto, 4ª Ed.,1985.
PERSKE, Rodolfo César Forgiarini. Sistemas Análise e descrição da experiência Acervo pessoal de 124
agroflorestais em pequenas propriedades realizada através do Programa Municipal Daniel Vaz.
no município de Hulha Negra. Bagé: de Florestamento com os agricultores.
Universidade da Região da Campanha
(UNICAMP), 2004. (Monografia:
Especialização em Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente da Faculdade
de Gestão Ambiental)
PESSI, Bruno Stelmach. O Impacto do Fim Estudo sobre a influência do fim do Acervo pessoal de 125
do Tráfico na Escravaria das Charqueadas tráfico de escravos no trabalho das Marta Bonow
Pelotenses (C. 1846-C.1874). Porto Alegre: charqueadas pelotenses, na demografia Rodrigues
Universidade Federal do Rio Grande do Sul dos trabalhadores e na especialização
(UFRGS), 2008. (Trabalho de Conclusão de das atividades.
Curso: Licenciatura em História)
PIÑEIRO, D. E. "Los trabajadores rurales en O impacto das mudanças globais no Acervo pessoal de 126
un mundo que cambia: el caso de Uruguay". trabalho do campo. Fernando Camargo
In: Agrociência. Vol V. Montevideo: 2001.
PNUD Brasil. Caracterização de IDH. Site Internet 127
HTTP://WWW.PNUD.ORG.BR/IDH/DH.ASPX
(Acesso em 12/10/2012)
PNUD Brasil. Ranking do IDH dos municípios, 2003. Site Internet 128
HTTP://WWW.PNUD.ORG.BR/ATLAS/RANKING/IDH_
MUNICIPIOS_BRASIL_2000.ASPX?
INDICEACCORDION=1&LI=LI_RANKING2003
(Acesso em 12/10/2012)
POLOZZI, André Bonetto. "O gado no Brasil Texto sobre como o gado superou a Acervo pessoal de 129
sulino durante o século XIX: interligação importância descrita na historiografia, Fernando Camargo
regional através da via comercial". In: Anais dentro do quesito da ocupação territorial
do XVI Encontro de Iniciação Científica e I e da rentabilidade econômica.
Encontro de Iniciação em
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação.
Campinas: PUC, 2011.
PORTO Rafael G.; BEZERRA, Antônio Jorge Tentativa de caracterização da pecuária Acervo pessoal de 130
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Município de Bagé, RS – Região da
Campanha Meridional". In: Revista Brasileira
de Agrociência. Pelotas: UFPel, 2009.
POSSAMAI, Paulo (org.). Gente de Guerra e Coletânea de estudos sobre grupo Acervo pessoal de 131
Fronteira: estudos de história militar do militares no Rio Grande do Sul. Fernando Camargo
Rio Grande do Sul. Pelotas: UFPel, 2010.
Prefeitura de Pelotas. História do charque em Pelotas. Site internet 132
“historia_do_charque”.
HTTP://WWW.PELOTAS.COM.BR/POLITICA_DESENV
_ECONOMICO/STE/ATRACOES_TURISTICAS/CHARQ
UEADAS/HISTORIA_DO_CHARQUE.PDF
(Acesso em 28/02/2012).
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Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Prefeitura Municipal de Bagé. Plano de Livro institucional que aborda diversos Acervo pessoal de 133
Desenvolvimento Econômico 2011-2031. aspectos econômicos de Bagé, assim Flávia Rieth.
Bagé: EDIURCAMP, 2011. como seu contexto historiográfico.

Prefeitura Municipal de Bagé. Agricultura e Dados estatísticos da agricultura e Biblioteca da 134


Pecuaria: Dados Estatisticos de Bagé 1979 pecuária de Bagé. URCAMP - Bagé
– 1983. Bagé: Prefeitura Municipal, 1984.
SCHWANZ, A. K.; ZANIRATO, S. H. "A A relação entre memória e paisagem, no Acervo pessoal de 135
Transformação da Paisagem no Pampa sentido da construção de identidades. Fernando Camargo
Gaúcho e a Constituição das Memórias". In: I
Simpósio sobre pequenas cidades e
desenvolvimento local. Maringá. UEM,
2008.
RAHMEIER, Clarissa Sanfelice. A Abordagem fenomenológica sobre a Acervo pessoal de 136
experiência da paisagem estancieira: um história e a cultura material do Rio Marta Bonow
estudo de caso em arqueologia Grande do Sul no século XIX. Mostra as Rodrigues
fenomenológica. estância vista alegre, regularidades na implantação das sedes
noroeste do rio grande do sul, séc. XIX. dos estabelecimentos pastoris no
Porto Alegre: - Pontifícia Universidade noroeste do estado.
Católica do Rio Grande do Sul (PUC), 2007.
(Tese de Doutorado: Programa de Pós-
Graduação em História)
RELA, Walter (org.). El manuscrito de 1772. Transcrição de manuscrito do navegador Acervo pessoal de 137
Noticia de la banda norte del Rio de le Millau sobre a margem norte do Rio da Fernando Camargo
Plata por el Marino Español Francisco Prata.
Millau. Montevideo: Acad. Uruguaya de Hist.
Marítima y fluvial, 1998.
Ribas, Rodrigo Justo; Massuquetti, Texto sobre pastoreio e produção de site 138
Angélica. A pecuária de corte gaúcha: uma gado. internet: www.fee.tc
análise dos principais sistemas de he.br/4-
produção. S/D encontro.../estudos-
setoriais-sessao4-
1.doc
Acesso em
23/04/2013.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Aborda as características do povo Acervo pessoal de 139
Paulo: Ed. Companhia das Letras. 2006. brasileiro. Odilon Leston Júnior
RIBEIRO, José Iran. Quando o serviços os A atuação, o perfil e o cotidiano de Acervo pessoal de 140
chamava: milicianos e guardas nacionais milicianos e guardas nacionais no Rio Fernando Camargo
no Rio Grande do Sul (1825-1845). Santa Grande do Sul da primeira metade do
Maria: Editora UFSM, 2005. século XIX.
RIETH, Flávia et alii. INRC – produção de Inventário da tradição doceira de Acervo UFPEL – 141
doces tradicionais pelotenses (relatório Pelotas, contemplando os doces finos ICH - DAA
final). Pelotas: editora da ufpel, 2008. vol.1. produzidos no município.
RIETH, Flávia et alii. INRC – produção de Inventário da tradição doceira de Acervo UFPEL – 142
doces tradicionais pelotenses (relatório Pelotas, contemplando os doces ICH - DAA
final). Pelotas: editora da ufpel, 2008. vol.2. coloniais produzidos no município.
ROBERTS, Monty. O Homem que Ouve Livro autobiográfico sobre Monty Acervo pessoal de 143
Cavalos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Roberts, reconhecido mundialmente Marta Bonow
2001. como o homem que inventou a “doma Rodrigues
racional”, em que procura-se a busca da
confiança do cavalo no homem, durante
o processo da doma.
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Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

ROSA, Estefânia Jaékel da. Memória, Artigo sobre charqueadas pelotenses Acervo pessoal de 144
identidade e território na constituição do apresentado para a disciplina de Marta Bonow
sítio arqueológico “Charqueada Santa Identidade e Memória na Constituição de Rodrigues
Bárbara”. Pelotas: Universidade Federal de Territórios – disciplina do Mestrado em
Pelotas (UFPel), 2011. (Artigo apresentado Memória e Patrimônio da UFPel.
para a disciplina de Identidade e Memória na
constituição de Territórios, do Mestrado em
Memória e Patrimônio)
ROSA, Estefânia Jaékel da. Paisagens Dissertação de Mestrado – estudo sobre Acervo pessoal de 145
Negras: Arqueologia da Escravidão nas a distribuição espacial-social nas Marta Bonow
Charqueadas de Pelotas/RS. Pelotas: charqueadas pelotenses, focando na Rodrigues
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), questão escravista.
2012. (Dissertação de Mestrado: Programa de
Pós-Graduação em Memória e Patrimônio)
ROSA, Mario. Geografia de Pelotas. Pelotas: Obra que trata da Geografia de Pelotas, Acervo pessoal de 146
Ed. Universidade Federal de Pelotas, 1985. paisagens naturais, urbanas, demografia Marta Bonow
e história do desenvolvimento econômico Rodrigues.
e social do município.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio O autor conta sua passagem, como Acervo pessoal de 147
Grande do Sul. Porto Alegre: Erus - Martins observador naturalista, pelo Rio Grande Marta Bonow
Livreiro Editores, 1987. do Sul. Narra episódios de sua estadia Rodrigues
no RS e conta suas impressões pessoais
sobre a sociedade rio-grandense.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como O livro apresenta como tema central uma Acervo pessoal 148
liberdade. São Paulo: Companhia das letras, nova perspectiva de desenvolvimento Daniel Vaz
2010. defendendo as liberdades
socioeconômicas, políticas e culturais.
SEVERAL, Rejane da Silveira. A guerra ABORDA AS GUERRAS ENTRE JESUÍTAS E BIBLIOTECA ICH - 149
guaranítica. Porto Alegre: Ed. Martins LUSOS PELA OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO DO UFPEL
livreiro.1995. RIO GRANDE DO SUL.
SILVA, Adriana Fraga da. “Meu avô era Estudo com enfoque arqueológico sobre Acervo pessoal de 150
tropeiro!”: identidade, patrimônio e o tropeirismo na região de Bom Jesus Marta Bonow
materialidades na construção da Terra do (RS), enfatizando aspectos de memória, Rodrigues.
Tropeirismo – Bom Jesus (RS). Porto identidade, patrimônios e transformações
Alegre: Pontifícia Universidade Católica do da atividade do tropeiro, além de
Rio Grande do Sul (PUC), 2009. (Tese de destacar a criação de uma “Terra do
Doutorado: Programa de Pós-Graduação em Tropeirismo”.
História)
SILVEIRA, Fábio Machado Prates da. Monografia sobre a paisagem e os Acervo pessoal de 151
Formação sócio-espacial da Fronteira espaços socialmente constituídos na Fernando Camargo
Oeste gaúcha: da gênese à atualidade. fronteira do Rio grande do Sul.
Florianópolis: DGEU UFSC, 2008.
SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Um dos primeiros estudos dedicados às Acervo pessoal de 152
Missões Orientais e seus antigos missões jesuíticas, tomando em conta Fernando Camargo
domínios. Porto Alegre: Echenique, 1908. especialmente aquelas situadas na
margem esquerda do rio Uruguai.
SOARES, Fernanda. Santa Thereza: Um História da Charqueada de Santa 153
Estudo Sobre as Charqueadas da Fronteira Thereza, a partir das suas relações
Brasil – Uruguai. Santa Maria: Universidade econômicas, socais e culturais. Destaca Site internet
Federal de Santa Maria (UFSM), 2006. que pelo modo de produção empregado
(Dissertação de Mestrado: Programa de Pós- é semelhante ao dos saladeiros
Graduação em Integração Latino Americana) uruguaios.
HTTP://CASCAVEL.CPD.UFSM.BR/TEDE/TDE_BUSC
A/ARQUIVO.PHP?CODARQUIVO=340.
(Acesso em 24/09/2010).
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

SOUZA, Suzana Bleil de. Charqueadas i A produção e as trocas econômicas no Acervo pessoal de 154
installacions frigorifiques a la frontera gautxa: sul do Brasil sob a perspectiva da Fernando Camargo
èl trànsit pel port de Montevideo a principis atividade charqueadora.
del segle XX. In: Recerques. 45-46. Valéncia:
UV, 2002-2003.
STUMPF, Elisabeth; Barbieri, Rosa; HEIDEN, Livro de divulgação acerca do bioma Acervo pessoal de 155
Gustavo (Orgs.). Cores e formas no Bioma pampa. Marta Bonow
Pampa: Plantas ornamentais nativas. Rodrigues.
Pelotas: EMBRAPA, 2009.
TARGA, Luiz Roberto Pecoits. "O Rio grande A fronteira luso-espanhola, suas Acervo pessoal de 156
do Sul: fronteira entre duas formações dimensões e ramificações. Fernando Camargo
históricas". In: Ensaios. Porto Alegre: FEE,
1991.
TISCORNIA, Ruth. La política económica A economia do Rio da Prata e seus Acervo pessoal de 157
rioplatense del siglo XVII. Buenos Aires, agentes no século XVII. Fernando Camargo
Ediciones Culturales Argentinas, 1983.
TORRES, Luiz Henrique. A Colonização A ocupação territorial do Rio Grande do Site internet 158
Açoriana no Rio Grande do Sul (1752-63). Sul, por açorianos.
Disponível em:
HTTP://WWW.SEER.FURG.BR/OJS/INDEX.PHP/DBH/
ARTICLE/VIEWFILE/421/105
(Acesso em 23/03/2010).
VELLINHO, Moysés. Capitania d'El Rey. Discute questões relativas ao Rio Acervo pessoal de 159
Aspectos polêmicos da formação rio- Grande do Sul colonial. Fernando Camargo
grandense. Porto Alegre: Globo, 1970.
VIANA, João Garibaldi Almeida. Evolução da As alterações no sistema produtivo da lã Acervo pessoal de 160
produção ovina no Rio Grande do Sul e no RS e no Uruguai. Fernando Camargo
Uruguai: análise comparada do impacto da
crise da lã na configuração do setor. Porto
Alegre: UFRGS-Agronegócio, 2012.
VIANA, João Garibaldi Almeida. Panorama Tópicos de história da ovinocultura no Site internet. 161
geral da ovinocultura no mundo e no Brasil. mundo.
Revista Ovinos. Porto Alegre, Ano 4, N. 12,
março/2008.
HTTP://WWW.ALMANAQUEDOCAMPO.COM.BR/IMAG
ENS/FILES/PANORAMA%20GERAL
%20OVINOCULTURA%20BRASIL.PDF
Acesso em 16/04/2013.
VIANA, Oliveira. Populações Meridionais do Uma abordagem sociológica, histórica, Acervo pessoal de 162
Brasil. Volumes I e II. Rio de Janeiro: Paz e psicológica e antropológica, propondo Fernando Camargo
Terra/UFF, 1973. uma tipologia dos povos do sul do Brasil.
VIEIRA MEDEIROS, Rosa Maria. Re-territorialização dos camponeses e o Site Internet 163
Camponeses, cultura e inovações. sentido de nova organização social
En publicación: América Latina: dentro de um novo espaço.
cidade,campo e turismo. Amalia Inés
Geraiges de Lemos, Mónica Arroyo,
María Laura Silveira. CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales,
San Pablo. Diciembre 2006.
Disponível em:
HTTP://BIBLIOTECA.CLACSO.EDU.AR/AR/LIBROS/ED
ICION/LEMOS/16MEDEIROS.PDF
(Acesso em 12/10/2012)
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

2. DICIONÁRIOSDE PALAVRAS, TERMOS E EXPRESSÕES REGIONAIS UTILIZADOS NO RIO GRANDE DO SUL –


REFERÊNCIAS PARA O ENTENDIMENTO DAS FALAS DE ALGUNS INTERLOCUTORES E DE ALGUNS TEXTOS
REALIZADOS PARA ESTE INVENTÁRIO, BEM COMO DE ALGUMAS OBRAS VINCULADAS ÀS REPRESENTAÇÕES
ENUNCIADAS NAS FICHAS.

REFERÊNCIA ASSUNTO ONDE ENCONTRAR NO


ECHENIQUE, Sylvio da Cunha. Bruaca. Bagé: Dicionário de expressões Acervo de Marta 164
Centro de Comunicações Fundação Attila Taborda, populares usadas no Rio Grande Bonow Rodrigues
1980. do Sul.
NUNES, Zeno Cardoso; NUNES, Rui Cardoso. Dicionário de termos populares Acervo de Marta 165
Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do utilizados no Rio Grande do Sul. Bonow Rodrigues
Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1982.
PORTO ALEGRE, Apolinário José Gomes. Dicionário de palavras, termos e Acervo de Marta 166
Popularium sul-rio-grandense. Porto Alegre: Ed. Da expressões usados no Rio Bonow Rodrigues
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Grande do Sul.
(UFRGS)/ Instituto Estadual do Livro, 1980.

3. JORNAIS E REVISTAS
REFERÊNCIA ASSUNTO ONDE ENCONTRAR NO
Artigo sobre a preocupação com Acervo do INRC- 167
ALVES, TIAGO. ZERO HORA, SÁBADO, 3 DE SETEMBRO a manutenção da realidade do Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 19. ARTIGO. campo pelas gerações futuras.
Reportagem sobre os haras de Acervo do INRC- 168
DIÁRIO POPULAR, DOMINGO, 10 DE JULHO DE 2011. P. 2. criação de equinos PSI (Puro Bagé (1ª Fase)
Sangue Inglês), e cabanhas de
criação de Cavalos Crioulos.
Notícia sobre a chegada dos Acervo do INRC- 169
DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE animais à 34ª Expointer. Pelotas Bagé (1ª Fase)
2011. P. 17. CADERNO RURAL. é a cidade com maior número de
inscritos.
Notícia sobre as provas Acervo do INRC- 170
DIÁRIO POPULAR, SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE 2011. morfológicas dos Cavalos Bagé (1ª Fase)
P. 18. CADERNO RURAL. Crioulos - da 30ª Ed. do Freio de
Ouro.
Reportagem acerca da final do Acervo do INRC- 171
DIÁRIO POPULAR, DOMINGO, 28 DE AGOSTO DE 2011. P. Freio de Ouro. Bagé (1ª Fase)
22. CADERNO RURAL.

Notícia sobre inovações na Acervo do INRC- 172


DIÁRIO POPULAR, DOMINGO, 28 DE AGOSTO DE 2011. P. produção de ovinos. Dados do Bagé (1ª Fase)
23. CADERNO RURAL. IBGE/2009 sobre o número de
ovinos na região sul.
Notícia sobre os vencedores do Acervo do INRC- 173
DIÁRIO POPULAR, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE Freio de Ouro provenientes da Bagé (1ª Fase)
2011. P.9. CADERNO RURAL. Zona Sul, na 30ª Ed. do Freio de
Ouro. (Cabanhas Santa Edwiges
e Profecia)
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Reportagem sobre a produção e Acervo do INRC- 174


DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE artesanato em lã (Projeto Ladrilã, Bagé (1ª Fase)
2011. PP. 2 E 3. SEBRAE).

Notícia da 34ª Expointer. Evento Acervo do INRC- 175


DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE destinado à avaliação de búfalos, Bagé (1ª Fase)
2011. P. 19. ovinos, gado de leite e equinos.

Notícia da participação dos Acervo do INRC- 176


DIÁRIO POPULAR, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE cavalos crioulos na 34ª Bagé (1ª Fase)
2011. P. 21. CADERNO RURAL. Expointer; provas morfológicas
dos animais e
resultados/premiação.
Grupos de produtores de Acervo do INRC- 177
DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO DE Pelotas, Santa Vitória do Palmar, Bagé (1ª Fase)
2011. P. 17. CADERNO RURAL. Bagé, entre outras cidades do
estado, tiveram animais da raça
Angus (bovinos de corte)
premiados na 34ª Expointer.
Matéria sobre tecnologia na Acervo do INRC- 178
DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO DE Expointer. Ajuda tecnológica nos Bagé (1ª Fase)
2011. P. 20. CADERNO CAMPO E LAVOURA. julgamentos e catalogação dos
animais.
Notícia sobre os resultados dos Acervo do INRC- 179
DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO DE vencedores bovinos e ovinos da Bagé (1ª Fase)
2011. P. 20. CADERNO CAMPO E LAVOURA. Expointer.

Matéria sobre o aumento do Acervo do INRC- 180


DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO DE preço do boi gordo e de Bagé (1ª Fase)
2011. P. 22. CADERNO CAMPO E LAVOURA. terneiros.

Editorial sobre resultados e Acervo do INRC- 181


DIÁRIO POPULAR, SÁBADO, 3 DE SETEMBRO DE 2011. P. demandas do agronegócio. Trata Bagé (1ª Fase)
04. CADERNO OPINIÃO. da lucratividade obtida na
Expointer, em contraposição ao
baixo investimento do Governo
Federal.
Reportagem sobre a cavalgada Acervo do INRC- 182
DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA, 6 DE que percorre a Costa Doce Bagé (1ª Fase)
SETEMBRO DE 2011. P. 10. CIDADES. seguindo o trajeto que os
farroupilhas percorreram nos
tempos da Revolução, fazendo
um resgate histórico do caminho
Farroupilha.
Matéria referente a final da Acervo do INRC- 183
DIÁRIO POPULAR, DOMINGO, 4 DE SETEMBRO DE 2011. Expointer, destacando as finais Bagé (1ª Fase)
P. 20. CADERNO RURAL. das provas campeiras.

Reportagem sobre as origens da Acervo do INRC- 184


DIÁRIO POPULAR, DOMINGO, 18 DE SETEMBRO dança, música e hino Bagé (1ª Fase)
riograndense.
DE 2011. P. 6. MÚSICA.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Reportagem sobre os 50 anos da Acervo do INRC- 185


DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA/QUARTA-FEIRA, criação da Carta de Princípios do Bagé (1ª Fase)
MTG (Movimento tradicionalista
20 E 21 DE SETEMBRO DE 2011. P. 2. MEMÓRIA. Gaúcho).

Reportagem sobre Vilson Charlat Acervo do INRC- 186


DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE (renomado ginete e campeão do Bagé (1ª Fase)
Freio de Ouro em 1982) e
2012. ESPECIAL FREIO DE OURO. P. 2-3. listagem com os finalistas da
região sul para 2012.
Chegada dos animais a Acervo do INRC- 187
DIÁRIO POPULAR, TERÇA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE Expointer. Bagé (1ª Fase)

2012. CADERNO RURAL. P. 15.

Manchete sobre a inauguração Acervo do INRC- 188


DIÁRIO POPULAR, SEXTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2012. do galpão da Fundação Instituto Bagé (1ª Fase)
Gaúcho de Tradição e Folclore,
ESPETO CORRIDO. P. 12. no parque de exposições Assis
Brasil.
Reportagem sobre o comércio na Acervo do INRC- 189
DIÁRIO POPULAR, QUINTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 35ª Expointer. Bagé (1ª Fase)

2012. CADERNO RURAL. P. 12.

Reportagem acerca das Acervo do INRC- 190


DIÁRIO POPULAR, QUARTA-FEIRA, 29 DE AGOSTO DE premiações equinas; dando Bagé (1ª Fase)
destaque a morfologia dos
2012. CADERNO RURAL. P. 16. campeões. (Expointer 2012).

Reportagem referenciando os Acervo do INRC- 191


DIÁRIO POPULAR, SÁBADO, 1° DE SETEMBRO DE 2012. recordes obtidos durante a 35ª Bagé (1ª Fase)
Expointer.
CADERNO RURAL. P. 13.

Artigo sobre a vida no campo. Acervo do INRC- 192


DUARTE, IVAN. DIÁRIO POPULAR, SEXTA-FEIRA, 16 Bagé (1ª Fase)
DE SETEMBRO DE 2011. P. 4. OPINIÃO.

Caderno especial reportando Acervo do INRC- 193


MINUANO, SÁBADO E DOMINGO; 15 E 16 DE OUTUBRO DE notícias da 99ª Expofeira de Bagé (1ª Fase)
Bagé.
2011. DIÁRIO DA EXPOFEIRA.

Artigo sobre a falta de Acervo do INRC- 194


PATELLA, PAULO MARIO. ZERO HORA, SÁBADO, 3 DE conhecimento do meio rural por Bagé (1ª Fase)
SETEMBRO DE 2011. P. 19. ARTIGO. parte das autoridades.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Reportagem relacionando o Acervo do INRC- 195


WAGNER, CARLOS.
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 24 costume de tomar chimarrão com Bagé (1ª Fase)
DE JUNHO DE 2011. CADERNO O BRASIL DE o costume de tomar tererê.
BOMBACHAS. Gaúchos aderindo ao costume
de tomar tererê.
Matéria sobre a tosquia tally-hi, Acervo do INRC- 196
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE técnica australiana, que é usada Bagé (1ª Fase)
2011. P. 2. CADERNO CAMPO E LAVOURA. em algumas propriedades no Rio
Grande do Sul (esquila ou
tosquia à máquina).
Reportagem sobre a tentativa de Acervo do INRC- 197
ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 16 DE AGOSTO DE introdução do “Gado Franqueiro” Bagé (1ª Fase)
2011. P. 22. CADERNO CAMPO E LAVOURA . na expointer 2011, devido ao fato
de esta raça bovina não ter,
ainda, registro definitivo.
Matéria sobre o Sr. Bayard Acervo do INRC- 198
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE Bretanha Jacques, que já foi Bagé (1ª Fase)
2011. CAPA DO CADERNO CAMPO E LAVOURA . domador de cavalos, e é um dos
criadores do Freio de Ouro.
Artigo sobre a avaliação dos Acervo do INRC- 199
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE jurados de bovinos de corte – Bagé (1ª Fase)
2011. CADERNO CAMPO E LAVOURA ESPECIAL quais são os requisitos para o
EXPOINTER 2011. julgamento.

Artigo sobre a avaliação dos Acervo do INRC- 200


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE jurados de bovinos de leite – Bagé (1ª Fase)
2011. CADERNO CAMPO E LAVOURA ESPECIAL quais são os requisitos para o
EXPOINTER 2011. julgamento.

Artigo sobre a avaliação dos Acervo do INRC- 201


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE jurados de equinos – quais são Bagé (1ª Fase)
2011. CADERNO CAMPO E LAVOURA ESPECIAL os requisitos para o julgamento.
EXPOINTER 2011.

Artigo sobre a avaliação dos Acervo do INRC- 202


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 26 DE AGOSTO DE jurados de ovinos – quais são os Bagé (1ª Fase)
2011. CADERNO CAMPO E LAVOURA ESPECIAL requisitos para o julgamento.
EXPOINTER 2011.

Notícias, matérias e reportagens Acervo do INRC- 203


ZERO HORA, DOMINGO, 28 DE AGOSTO DE 2011. referentes ao agronegócio. Bagé (1ª Fase)
CADERNO DINHEIRO.

Reportagem sobre a 30º edição Acervo do INRC- 204


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO do Freio de Ouro – premiação Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 4 E 5. REPORTAGEM ESPECIAL. dos cavalos crioulos e ginetes
participantes .
Nota junto à reportagem especial Acervo do INRC- 205
ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO sobre como a Marca CAVALO Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 5. REPORTAGEM ESPECIAL. CRIOULO virou grife e vende
produtos variados (roupas,
acessórios...).
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Notícia sobre a 34ª expointer – Acervo do INRC- 206


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO julgamento de ovinos e eqüinos. Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 14. CADERNO CAMPO E LAVOURA.

Notícia sobre resultados de Acervo do INRC- 207


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO julgamentos de bovinos, ovinos e Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 14. CADERNO CAMPO E LAVOURA. equinos – 34ª Expointer.

Notícia sobre o faturamento do Acervo do INRC- 208


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO início da Expointer – R$ 70 Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 15. CADERNO CAMPO E LAVOURA. milhões

Reportagem sobre Fernando Acervo do INRC- 209


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO Pimentel – ministro do Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 17. CADERNO CAMPO E LAVOURA. Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior: fala sobre as
dificuldades na exportação
agropecuária.
Notícia sobre a relação que se Acervo do INRC- 210
ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO mantém entre um tratador de Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 18. CADERNO CAMPO E LAVOURA. animais e uma vaca da Raça
Jersey – diz o repórter:”a relação
entre os dois é quase familiar;
Sivorei (o tratador) dorme numa
barraca de lona ao lado da vaca
da Cabanha Terra Santa, de
Parobé”.
Nota sobre o touro da Raça Acervo do INRC- 211
ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO Devon que teve o maior peso Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 18. CADERNO CAMPO E LAVOURA. entre a raça: 1.300Kg. – animal
da Cabanha Santa Lúcia.
Foto dos ginetes vencedores do Acervo do INRC- 212
ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 29 DE AGOSTO 30º Freio de Ouro – prova de Bagé (1ª Fase)
DE 2011. CONTRACAPA. cavalos crioulos.

Reportagem sobre a presença de Acervo do INRC- 213


ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE estrangeiros (criadores, Bagé (1ª Fase)
2011. P. 16. CADERNO CAMPO E LAVOURA. agricultores, pecuaristas, etc.)
interessados na 34ª Expointer.
Notícia: Resultados de alguns Acervo do INRC- 214
ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE julgamentos de bovinos, eqüinos Bagé (1ª Fase)
2011. P. 16. CADERNO CAMPO E LAVOURA. e ovinos - 34ª Expointer.

Notícia sobre remate de gado Acervo do INRC- 215


ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE Red Angus e Aberdeen Angus – Bagé (1ª Fase)
2011. P. 22. CADERNO CAMPO E LAVOURA. rendimento em vendas: R$ 439
mil – 34ª Expointer.
Nota sobre campeã do concurso Acervo do INRC- 216
ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE de gado leiteiro – Premiação da Bagé (1ª Fase)
2011. P. 22. CADERNO CAMPO E LAVOURA. vaca da Raça Jersey, maior
produtora de leite. 34ª Expointer
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Notícia do julgamento de raças Acervo do INRC- 217


ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE bubalinas na 34ª Expointer. Bagé (1ª Fase)
2011. P. 24. CADERNO CAMPO E LAVOURA.

Reportagem sobre a Chama Acervo do INRC- 218


ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE Crioula – símbolo da Semana Bagé (1ª Fase)
2011. P. 37. GERAL. Farroupilha (em Eldorado do Sul)

Notícia sobre o concurso de Acervo do INRC- 219


ZERO HORA, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE gado de leite na 34ª Expointer – Bagé (1ª Fase)
2011. P. 18. CADERNO CAMPO E LAVOURA. maior produtora de leite – vaca
da Raça Holandês.
Reportagem sobre Acervo do INRC- 220
ZERO HORA, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE características necessárias aos Bagé (1ª Fase)
2011. P. 20. CADERNO CAMPO E LAVOURA. animais que participam de
concursos na 34ª Expointer.
Entrevista com jurados da
Expointer
Resultados de alguns Acervo do INRC- 221
ZERO HORA, QUARTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE julgamentos de bovinos, ovinos, Bagé (1ª Fase)
2011. P. 20. CADERNO CAMPO E LAVOURA. bubalinos e eqüinos na 34ª
Expointer
Reportagem sobre tratativas e Acervo do INRC- 222
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2011. P. negociações das entidades Bagé (1ª Fase)
4. REPORTAGEM ESPECIAL – EXPOINTER. representativas do agro-negócio
e Governo Federal.
Edição especial do Caderno Acervo do INRC- 223
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 2 DE SETEMBRO DE 2011. Campo e lavoura, referente à 34ª Bagé (1ª Fase)
CADERNO CAMPO E LAVOURA. NA ÍNTEGRA. Expointer.

Noticia a visita da Presidente Acervo do INRC- 224


ZERO HORA, SÁBADO, 3 DE SETEMBRO DE 2011. P. 4. Dilma à Expointer, em Bagé (1ª Fase)
REPORTAGEM ESPECIAL – EXPOINTER. consolidação e apoio ao agro-
negócio gaúcho.
Reportagem sobre a Acervo do INRC- 225
ZERO HORA, SÁBADO, 3 DE SETEMBRO DE 2011. P. 20. programação da 34ª Expointer. Bagé (1ª Fase)
CADERNO CAMPO E LAVOURA.

Notícia sobre a paleteada – Acervo do INRC- 226


ZERO HORA, DOMINGO, 4 DE SETEMBRO DE 2011. modalidade de esporte realizada Bagé (1ª Fase)
P. 21. CADERNO CAMPO E LAVOURA. por cavaleiros – final do
Campeonato Nacional de
Paleteada da Raça Crioula.
Dicionário Farroupilha – Acervo do INRC- 227
ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 12 DE SETEMBRO dicionário com termos e palavras Bagé (1ª Fase)
DE 2011. P. 33. GERAL. usadas no Rio Grande do Sul.
Feito em vários fascículos no
caderno geral do jornal Zero
Hora.
Notícia sobre exportação de Acervo do INRC- 228
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2011. gado gaúcho para África e Bagé (1ª Fase)
CADERNO CAMPO E LAVOURA, CONTRACAPA. Colômbia.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Matéria sobre donos de terras no Acervo do INRC- 229


ZERO HORA, SÁBADO, 17 DE SETEMBRO DE 2011. P. 6. Rio Grande do Sul – século XIX, Bagé (1ª Fase)
CADERNO CULTURA. que viviam sem conforto no meio
do pampa, apesar de serem
economicamente abastados.
Matéria sobre charqueadores, Acervo do INRC- 230
ZERO HORA, SÁBADO, 17 DE SETEMBRO DE 2011. P. 8. industriais da carne salgada – Bagé (1ª Fase)
CADERNO CULTURA. nos séculos XVIII e XIX, em
Pelotas-RS.
Reportagem sobre Manuel Acervo do INRC- 231
ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2010. Sarmento e a Fazenda São Bagé (1ª Fase)
Francisco; berço da importação
CADERNO CAMPO E LAVOURA, CAPA. de cavalos para o Estado.

Reportagem sobre os Acervo do INRC- 232


ZERO HORA, QUINTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE 2012. investimentos feitos no parque Bagé (1ª Fase)
Assis Brasil.
CADERNO CAMPO E LAVOURA, P.20.

Reportagem sobre o crescimento Acervo do INRC- 233


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO DE 2012. no consumo de carnes nobres. Bagé (1ª Fase)

CADERNO CAMPO E LAVOURA, P.24.

Crônica sobre a importância da Acervo do INRC- 234


ZERO HORA, QUARTA-FEIRA, 22 DE AGOSTO DE 2012. Expointer e do parque Assis Bagé (1ª Fase)
Brasil.
ECONOMIA, P.15.

Notícia acerca da classificação Acervo do INRC- 235


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2012. inédita de cavalos criados na Bagé (1ª Fase)
serra para a Expointer.
CADERNO CAMPO E LAVOURA, P.15.

Reportagem sobre a participação Acervo do INRC- 236


ZERO HORA, SÁBADO, 1° DE SETEMBRO DE 2012. de mulheres no Freio de Ouro; Bagé (1ª Fase)
em especial, sobre a jovem
CADERNO CAMPO E LAVOURA, P.25. Tássia Sá, que participa pela
primeira vez da competição.
Reportagem sobre a carne da Acervo do INRC- 237
ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 28 DE AGOSTO DE 2012. raça Wagyu, a mais cara do Bagé (1ª Fase)
mundo.
CADERNO CAMPO E LAVOURA. P.25.

Reportagem sobre a difícil prova Acervo do INRC- 238


ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 27 DE AGOSTO DE 2012. do cavalo crioulo no Freio de Bagé (1ª Fase)
Ouro no ano de 2012.
REPORTAGEM ESPECIAL. P.4-5.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

Diversas notícias e reportagens Acervo do INRC- 239


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 2012. acerca do evento realizado em Bagé (1ª Fase)
2012.
CADERNO CAMPO E LAVOURA ESPECIAL EXPOINTER.
2012.

Reportagem sobre a chegada Acervo do INRC- 240


ZERO HORA, TERÇA-FEIRA, 21 DE AGOSTO DE 2012. dos criadores e animais a Bagé (1ª Fase)
Expointer.
CADERNO CAMPO E LAVOURA, P.20.

Reportagens acerca da 100ª Acervo do INRC- 241


ZERO HORA, SEXTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 2012. Expofeira de Bagé. Bagé (1ª Fase)

CADERNO MAIS CAMPO.

4. FOLDERS E INFORMATIVOS

REFERÊNCIA ASSUNTO ONDE ENCONTRAR NO


Propagandístico referente as Acervo do INRC- 242
CAMINHO FARROUPILHA. CULTURA & TRADIÇÃO rotas “Costa Doce” e “Pampa Bagé (1ª Fase)
GAÚCHA. ABRATURR-RS. S/D. Gaúcho”.

Informativo referente as Acervo do INRC- 243


RIO GRANDE DO SUL: UM BRASIL DIFERENTE. diferentes localidades do Rio Bagé (1ª Fase)
MINISTÉRIO DO TURISMO. S/D. P. 9, PAMPA GAÚCHO. Grande do Sul.

Guia de exposições e remates. Acervo do INRC- 244


99° EXPOFEIRA DE BAGÉ. ASSOCIAÇÃO E SINDICATO Bagé (1ª Fase)
RURAL DE BAGÉ, 2011.

Informativo geral referente a Acervo do INRC- 245


99° EXPOFEIRA DE BAGÉ. ASSOCIAÇÃO E SINDICATO ExpoFeira, onde aponta Bagé (1ª Fase)
RURAL DE BAGÉ, 2011. características históricas e
culturais da cidade, além da
parte institucional do evento.

TÉCNICOS RESPONSÁVEIS

PESQUISADOR (ES) Odilon Leston Júnior, Tiago Lemões da Silva, Pablo Dobke e Fernando Camargo.
SUPERVISOR Fernando Camargo.
PREENCHIDO POR Odilon Leston Júnior, Tiago Lemões da Silva, Marta Bonow Rodrigues, 25.04.13
Marília Kosby, Daniel Vaz Lima, Liza Bilhalva Martins da Silva, Pablo Dobke
e Fernando Camargo.
MINC - MINISTÉRIO DA CULTURA INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Bagé/RS, Arroio
Grande/RS,
Região
Herval/RS,
de
ANEXO : BIBLIOGRAFIA RS
Bagé/RS
Aceguá/RS, 2012 F1 A1
Hulha Negra/RS,
e entorno
Pelotas/RS,
Piratini/RS

RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth.


INVENTÁRIO
A PAMPA SUL-RIOGRANDENSE E A PECUÁRIA

Fernando da Silva Camargo

A história do pampa do Rio Grande do Sul foi marcada pela constituição de


fronteiras: uma de caráter étnico, que opôs indígenas e europeus no longo e violento
processo de conquista do território pelos recém-chegados; e, outra, de caráter nacional,
que tinha como vizinhos, geralmente rivais e belicosos, espanhóis e portugueses. A
fronteira separa e une, simultaneamente, criando processos históricos peculiares
vinculados à troca ou à repulsa dos valores e das referências do outro.
A historiografia diverge sobre a maioria dos aspectos relativos ao processo de
construção histórica da região, tanto na perspectiva metodológica quanto na teórica. É
importante destacar a difusão dos textos clássicos de História do Rio Grande do Sul
como sendo a fonte inicial da maioria das discussões posteriores sobre o assunto. Dessa
forma, para estudar o campeiro e a pampa sul-riograndense, entre os anos 1930 e 1970,
foi necessário passar por autores locais, como Souza Docca, Vellinho, Ferreira Filho,
Spalding e outros, dentre outros. Ao final da década de 1970, entretanto, com a maior
propagação de pesquisas monográficas a partir da instalação do primeiro curso de pós-
graduação em História no Estado, a quantidade de material disponível cresceu
geometricamente.
Os temas centrais do debate historiográfico sobre a “formação histórica” do Rio
Grande do Sul cingiram-se àqueles ligados à discussão sobre: 1) se a maior contribuição
na formação do gaúcho seria a alma lusitana ou, por outro lado, o espírito platino; 2) a
suposta “leveza” do trabalho escravo no Rio Grande do Sul em relação ao restante do
Brasil; 3) existência de um padrão de comportamento e convivência interétnica
denominado de “democracia racial”; 4) o papel que teriam os conflitos fronteiriços na
constituição da formação política da região.
Em todos esses temas, entretanto, a discussão sobre o tipo do gaúcho,
centradamente aquele diretamente relacionado à lide campeira, foi elemento essencial.
Por exemplo: seria o gaúcho um tipo platino ou o gaúcho luso-brasileiro tem sua
especificidade? Quais as culturas materiais que atravessaram fronteiras e quais as que se
“nacionalizaram”? O escravo campeiro era mais “livre”? As diferentes etnias da região e
que teriam constituído do tipo gaúcho conviviam harmonicamente? Enfim, como se
pode deduzir, existe uma enorme quantidade de perguntas, além de suas nuances e
implicações discursivas e que afetam as narrativas e as análises históricas regionais.
A relação entre atividade pecuária de extração ou de produção e a economia e os
tipos socioculturais da região da bacia do rio da Prata possuem um vínculo longevo. A
introdução do gado pelos colonos espanhóis aponta para a primeira atividade econômica
que se destacou das demais e tornou-se carro-chefe de crescimento da produção e do
comércio platino. Mesmo sobre esse “primeiro rebanho” existe divergências, pois uns
apontam para a iniciativa estatal, e outros, para o gado que os missionários trouxeram
para a Província Jesuítica do Paraguai. Na verdade, não são excludentes as duas
posições e, a verificar a abundância de gado bravio (chamado cimarrón/chimarrão),
quando das primeiras estatísticas posteriores à expulsão dos jesuítas dos territórios
espanhóis, é necessário crer que as origens desse gado foram diversas.
Foram diversas as técnicas de exploração pecuária trazidas da Europa, mas
nenhuma preparada para a quantidade impressionante (para o olhar europeu coevo) de
gado vacum disponível. Novas técnicas precisaram ser adotadas para dar conta dessa
abordagem numérica completamente nova. Isso implicava em mesclar as práticas
tradicionais com as novas, criadas num ambiente sincrético. A arquitetura necessitou
mudar; a noção de unidade produtiva, a estância, precisou ser criada; os materiais de
construção precisaram adaptar-se.
Apesar da abundância da matéria-prima, o transporte e a conservação dos
derivados da exploração do gado figuraram entre os principais obstáculos para o sucesso
econômico e a acumulação de capital do setor. O fato de ser área de fronteira
permanente dificultou o processo de urbanização e, consequentemente, da criação de
redes mercantis e viárias interurbanas, no que hoje é fronteira entre o Brasil e o
Uruguai. Isso impossibilitava o transporte da carne, levando a uma matança
impressionante de gado vacum nas três últimas décadas do século XVIII, apenas pela
demanda de couro e chifres, ficando milhares de carcaças expostas à intempérie.
O estabelecimento de rotas regulares de tropas de gado (vacum, equino e muar),
por um lado, e a introdução de técnicas de conservação da carne por salgamento, por
outro, geraram a possibilidade de utilização de todos os recursos providenciados pela
res, incluindo já carne e ossos. A era dos tropeiros e dos charqueadores inaugurou o
processo de cercamento dos campos, mantendo as práticas cotidianas até então
desenvolvidas, mas num contexto de privatização (tanto da terra como do gado) que
alienou os trabalhadores tradicionais, ligados à preia do gado livre e bravio das duas
principais fontes de riqueza regional ao longo do século XIX.
A nova expansão econômica derivada desse processo estimulou o crescimento e
a disseminação de núcleos urbanos por toda a pampa sul-riograndense - vilas e cidades
que nasciam e cresciam à luz da exploração da lide campeira do gado e que eram
inevitavelmente influenciadas por suas práticas. Bagé, Livramento, Dom Pedrito,
Piratini, Caçapava e tantas outras tinham marcas a ferro do ambiente em que se
constituíram assim como o gado que as sustentava. Ainda que algumas urbes, como
Pelotas buscassem distinguir-se através de alguma alteração no horizonte cultural, os
mecenas desse processo eram os próprios senhores do gado.
De qualquer modo, a nova fase da industrialização da carne, com a chegada dos
primeiros frigoríficos no final do século XIX e no início do século XX, deu novo fôlego
à economia pecuária, gerando um abismo ainda maior entre aqueles que dispunham da
propriedade do gado e das terras e aqueles que não tinham acesso a essas riquezas. Nas
últimas décadas, com a alteração do padrão de consumo no mercado nacional,
mudanças vêm sendo feitas nas formas de ser e agir ligadas ao trabalho do campo e do
gado.
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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Região Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS de Pelotas,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Bagé/R Hulha 2013 F60 1
Se Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER entorno Herval,
Bagé e
Piratini
AN
UF SÍTIO -. LOC FICHA NO.
O

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense - Antigos Caminhos das Tropas)
Prática de pastoreio etnografada em Bagé (Palmas e Banhado dos Carneiros),
Aceguá (Minuano, Corredor Brasil-Uruguai, Espantoso), Hulha Negra
LOCALIDADES (Mei’Água), Herval (Boa Vista), Arroio Grande (Bretanhas, Palma e Capão das
Pombas) e Pelotas (Estrada da Barbuda), com ocorrência em todo o sítio
inventariado.
Bagé/RS, Aceguá/RS, Hulha Negra/RS, Herval/RS, Arroio Grande/RS,
MUNICÍPIO / UF
Piratini/RS e Pelotas/RS.

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida Campeira - Pastoreio


OUTRAS DENOMINAÇÕES Criação de rebanhos.
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

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Grande,
Região Aceguá,
de Pelotas,
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e Negra,
entorno Herval,
Bagé e
Piratini

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.
X MASCULINO
NOME Minga Blanco 19
FEMININO
DATA DE
Proprietário rural e produtor rural, Domador
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1962
e Ginete
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

NOME Percília Romero MASCULINO 4


X FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Proprietária rural NASCIMENTO / IDADE: 81 anos
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Eliezer Dias de Souza 7
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Proprietário rural, poeta e professor universitário NASCIMENTO / 20.11.1950
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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e Negra,
entorno Herval,
Bagé e
Piratini

X MASCULINO
NOME Nilo Romero 9
FEMININO
DATA DE
Engenheiro agrônomo aposentado e proprietário
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
rural
FUNDAÇÃO 1921
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Flávio Martins 10
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Estudante de agronomia e pecuarista NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Eron Vaz Mattos 11
FEMININO
Músico, poeta e pesquisador. Funcionário público DATA DE
aposentado. Proprietário de pequena propriedade
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1951
rural.
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Luiz Eduardo Lock Silva 13
FEMININO
Proprietário rural DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1956
FUNDAÇÃO
MESTRE XPRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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e Negra,
entorno Herval,
Bagé e
Piratini

X MASCULINO 14
NOME José Souza
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Trabalhador rural NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Olindo Medeiro de Albuquerque Neto 15
FEMININO
Agropecuarista e Agrônomo DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1956
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Macyr Recuero 16
FEMININO
Trabalhador rural aposentado DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1933
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO 17
NOME Neri Canhada
FEMININO
Proprietário rural - aposentado DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1926
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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entorno Herval,
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X MASCULINO
NOME Marcos Peres 20
FEMININO
Peão DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1972
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Leomar Alves 22
FEMININO
Proprietário rural. Presidente da associação dos DATA DE
quilombolas de Palmas.
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Edemar Scholante 23
FEMININO
Proprietário rural DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME José Luis Lima Laitano 27
FEMININO
É Veterinário de formação, mas não trabalha com a DATA DE
Veterinária. Trabalha no setor automotivo e é criador
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
de Cavalos Crioulos e Bovinos.
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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X MASCULINO
NOME Rafael Médice 29
FEMININO
Pecuarista e técnico em rastreabilidade. Trabalha na DATA DE
área de rastreabilidade bovina na propriedade
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
Rincão das Corunilhas, localidade das Palmas, que
pertence ao seu pai. FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Roberto Francisco Lopes dos Santos 30
FEMININO
Proprietário rural DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 1963
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Leomar Moreira Garibaldi 40
FEMININO
Peão Campeiro, Aramador e proprietário rural DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 12/12/1953
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

NOME Sonia Carlota Cabreira Garibaldi MASCULINO 41


X FEMININO
Proprietária rural e dona de casa DATA DE
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 12/11/1959
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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e Negra,
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Piratini

X MASCULINO
NOME Paulo Sérgio Borges Fontoura 38
FEMININO
Domador e proprietário e administrador de DATA DE
hospedaria.
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 19/03/1974
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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Imagem 1 - Criação de equinos. Fazenda Santa Leontina.

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Imagem 2 - Criação de equinos em hospedaria. Estrada da Barbuda, Pelotas/RS.

Imagem 3 - Criação de bovinos. Estância Santa Leontina, Aceguá.

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Imagem 4 - Pastoreio rotativo de bovinos, Sistema Voisin. Fazenda Conquista, Bagé.

Imagem 5 - Criação de ovinos. Localidade de Palmas, Bagé.

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4. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO


Os ofícios e saberes indicados neste inventário como “lidas campeiras” têm como principal finalidade possibilitar a
execução de uma atividade fundamental para a manutenção dos rebanhos de ovinos, bovinos e equinos, qual seja, o
pastoreio.
O pastoreio se refere à criação, reprodução e cuidado para com os animais envolvidos na pecuária extensiva, e requer
uma rotina de trabalho que obedeça os ciclos da natureza, ou o horário do sol. Por este aspecto, tratamos o universo da
pecuária e das lidas campeiras como um modo de vida, que articula saberes cosmológicos a respeito das relações
entre humanos e não-humanos com tecnologias desenvolvidas no campo científico.
Mesmo as feiras de remates, eventos de comercialização de animais realizados em uma etapa fora da estância e da
rotina diária dos peões, seguem o calendário dos ciclos reprodutivos das fêmeas, que entram em cio, emprenham e
parem conforme as estações do ano, o clima, a incidência de luminosidade solar diária, as fases da lua. Mesmo no
plantio das pastagens que servem de alimento aos rebanhos - afora a utilização de insumos e tecnologias científicas - é
importante observar os sinas do céu, das flores e ervas, dos próprios animais, que podem anunciar previamente a
incidência de chuvas ou secas, por exemplo. Todas essas considerações envolvem o cuidado com os rebanhos, o
pastoreio. Há casos, por exemplo, em que animais, humanos, e mesmo os temporais, são benzidos por benzedeiras.
Alguns desses saberes construídos a partir da observação de animais e elementos da natureza são associados à
presença indígena na região pampiana, como é o caso da doma “índia”, em que o domador utiliza técnicas de mimese
dos movimentos dos cavalos.
Alguns pecuaristas associam historicamente a presença de negros nas estâncias de pecuária extensiva à brutalidade
da lida com os rebanhos. Peões descrevem o universo desta lida como árduo, perigoso, insalubre. No entanto, essas
mesmas agruras parecem trazer os atributos ontológicos necessários à construção desses homens como pessoas – e
mesmo imprescindíveis à manutenção de sua existência. Acordar antes de raiar o sol e ter que quebrar geada com a
sola do pé descalço, derrubar novilhos com o próprio corpo (pois a contenção com o laço pode fraturar o animal), correr
risco de morte ante a fúria de um touro, participar do mesmo ambiente que animais peçonhentos, enfrentar temporal no
meio do campo aberto para salvar filhotes do rebanho, domar cavalo xucro, são alguns aspectos apontados como
responsáveis pelo fato de serem “brabíssimas” as lidas campeiras - o que, no entanto, não chega a representar uma
potência negativa, visto que, pelo contrário, o controle dessas situações impostas pelas forças da natureza selvagem,
(incorporado, é claro, pela exploração capitalista de sua força de trabalho), tem agência construtora dos sujeitos.

5. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

5.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


As atividades do pastoreio são realizadas, predominantemente, no ambiente externo. As lidas iniciam-se com a busca
dos cavalos no campo, ou nos potreiros próximos às casas, para posterior encilha no galpão; logo, os peões dirigem-se
aos campos para trabalhar com os rebanhos. as propriedades rurais dividem-se em local da sede e campos (divididos
em potreiros, em geral). Algumas propriedades podem apresentar a atividade de agricultura.
Com o deslocamento de alguns centros de doma e treinamento de equinos nos núcleos urbanos, as hospedarias de
cavalos proliferam-se nas periferias das cidades. Esses estabelecimentos contam com uma configuração que lembra as
estâncias e chácaras. Em geral, tem-se a casa do domador/treinador, as cocheiras (ou baias) dos cavalos, os galpões,
as mangueiras e/ou redondel para treino e algum potreiro para pastagem dos animais.

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5.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância está ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

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MANGUEIRA DE PEDRA
As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

5.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


As atividades do pastoreio são executadas durante o período diurno. Algumas tarefas são deixadas de lado quando as
condições climáticas são desfavoráveis (chuva intensa, por exemplo), porém, outras (como a identificação do cio das
vacas, cura de algum animal com enfermidade grave ou aguda) são realizadas independente do tipo de clima que se
apresente. O espaço ocupado pelas atividades abrange a sede e todos os campos vinculados à propriedade.

6. Tempo

6.1. PERIODICIDADE O pastoreio em uma estância de pecuária extensiva é um conjunto de atividades totais, ou seja,
que envolvem todo o cotidiano dos trabalhadores. Fica, portanto, difícil descrever quando as
atividades terminam. No entanto, no que diz respeito ao trato com os animais em mangueiras,
bretes e galpões, pode-se dizer que, após terminados os serviços, são guardadas as
ferramentas, os animais são levados de volta ao campo, é desencilhado o cavalo e limpa-se o
ambiente onde foram realizadas as atividades, retirando restos de fezes e demais dejetos
animais, jogando no lixo ou queimando embalagens de remédios.
Atualmente, há casos em que os empregados residem na cidade, indo e vindo para a estância
de moto, todos os dias, exceto aos domingos. Há também produtores que fretam ônibus para tal
transporte, principalmente quando há lavoura também.
6.2. O CORRÊNCIA EFETIVA – As lidas com bovinos remete a introdução dos rebanhos trazidos pelos colonizadores
europeus na América.

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7. BIOGRAFIAS

Marcos Peres. Neco realiza toda a lida campeira, trabalha com os rebanhos. Começou a trabalhar na Estância com 12 anos, de
jardineiro. Estudou até a sexta série, no Uruguay.
Olindo Medeiros de Albuquerque Neto. Sua família trabalha com pecuária extensiva desde 1802. Participava da lida
quando o pai ainda era vivo. Atualmente, administra a propriedade. Não trabalha com ciclo completo de gado, apenas
gado de engorda e terminação (animais são engordados e logo enviados aos matadouros).Ovinos (Cordeiro Herval
Premium).Planta grãos (milhos, arroz, sorgo, soja)
Leomar Alves. Foi peão campeiro em estâncias de pecuária durante grande parte de sua vida. Atualmente, cria
caprinos em sua pequena propriedade, para serem vendidos principalmente para casas de religiões afro-brasileiras da
região de Porto Alegre – como a maioria de seus vizinhos quilombolas. Trabalha com a ajuda de um cachorro treinado,
chamado Peão.
Edemar Scholante. Pequeno proprietário de terra, criador de gado, ovelha e cabritos.
Paulo Sérgio Borges Fontoura (Cusco). Tem uma hospedaria e um centro de treinamento e doma de cavalos na
periferia de Pelotas.
Roberto Francisco Lopes dos Santos. Pecuarista e proprietário de terra situada na localidade: Palma, Distrito de
Santa Isabel. Cedeu 21 fotos de marcação e uma do rancho na propriedade.
Rafael Médici. Trabalha especificamente com a parte de bovinos, na área de rastreabilidade. É ligado ao campo por
tradição familiar da atividade pecuária. Hoje a rastreabilidade é uma exigência do mercado europeu para conseguir a
autorização para exportar a carne. No momento em que o terneiro nasce até os três meses ele recebe um brinco
auricular com uma numeração. Nessa numeração estão identificados todos os passos da vida desse animal, até a
chegada dele no frigorífico. Com isto é possível saber de todo o ciclo pelo qual o animal passou: remédios, banho para
parasita, tudo o que ele recebeu de medicação, etc. É como se fosse um documento de identidade do bovino.
José Luiz Lima Laitano. Considera-se de origem urbana e desde o início dos anos 80 é criador de Cavalos Crioulos,
atividade que escolheu exercer por ser apaixonado por cavalos e tenta passar essa paixão para os filhos. É sócio-
proprietário de um Centro de Treinamento de Cavalos Crioulos localizado em Monte Bonito, onde treinam os animais
para a corrida de pista. O Centro de Treinamento possui uma estrutura focada na preparação do cavalo para as provas
do cavalo crioulo. Em outra área, localizada em Rio Grande, trabalha com criação de bovinos.
Neri Canhada. Sempre trabalhou no campo, até aposentadoria. Pequeno proprietário – bovinos e ovinos. Equinos para
trabalho. Trabalhou com agricultura apenas para o consumo próprio. Também é artesão. Trabalha com materiais
diversos fazendo referência ao campo, como estribos, facas, miniaturas de animais (pequenas esculturas), balanças
antigas, relógios antigos, equipamentos de fazer mate, materiais de montaria (ferraduras, rebenques). Trabalha
transformando os materiais em obras de arte.
Macyr Recuero. Alambrador, leiteiro, posteiro, campeiro, tropeiro, domador e peão. Bovinos, equinos e ovinos. Na
agricultura, trabalhou com lavoura de arroz, como (tratorista), lavrador. Também atuou como monteador de lenha,
chacareiro.

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Bagé e
Piratini

José Souza. Trabalha na Fazenda Conquista, modelo de Pastoreio Voisin, implantado por seu patrão, o agrônomo Nilo
Romero. O gado, criado em pastoreio rotativo, é manso, não precisando o funcionário usar cavalo, nem laço.
Luiz Eduardo Lock Silva. Reside em Bagé e possui a Agropecuária Umbu na localidade do Espantoso – Aceguá. Na
propriedade rural cria bovinos para engorda e produz pastagens e grãos em 800 hectares, que herdou dos pais.
Trabalha só com novilhos de 6 meses para engordar para abate. Faz pastagem artificial, não trabalha com campo nativo para
engordar o gado. Plantava arroz, mas estava se dedicando, no momento, só ao gado porque, segundo ele, é difícil conseguir
empregados bons.
Eron Vaz Mattos. Trabalhou na lida campeira enquanto morou na pequena propriedade rural da família, na localidade
de Olhos D’Água - Bagé. Aprendeu o trabalho do campo com o pai.
Flávio Martins. Estuda agronomia e trabalha com pecuária na estancia da família. Em 2010 viajou para Nova Zelândia,
onde permaneceu um ano estudando o sistema pastoril utilizado no País. De volta ao Brasil em 2011, busca usar o que
aprendeu para aperfeiçoar as técnicas da pecuária utilizadas em Bagé. È filho do presidente do Núcleo de Criadores de
Cavalos Crioulos de Bagé.
Nilo Romero. Trabalha em conjunto com a esposa, Percília Romero. Hoje não atua diretamente no trabalho das
propriedades. Proprietário da Fazenda Conquista, modelo de Pastoreio Voisin, implantado em 1963 nessa propriedade.
Como agrônomo, interessa-se por esse tipo de produção de gado a pasto, como forma de garantir a vida útil do campo.
Proprietário, também, da Fazenda Santa Inês, de produção de terneiros, que são enviados em seu devido tempo
(quando já novilhos) para engorda na Fazenda Conquista. O gado, criado em pastoreio rotativo científico (Voisin), é
manso, não precisando o funcionário usar cavalo, nem laço. Proprietário, ainda, de outras fazendas, uma no município
de Pinheiro Machado e uma em Aceguá. Ministrava palestras sobre o pastoreio rotativo Voisin (em vários locais do
mundo). É pioneiro dessa técnica em Bagé.
Percília Romero. Trabalha em conjunto com o marido Nilo Romero. Hoje é quem administra as fazendas da família.
O casal é Proprietário da Fazenda Conquista, modelo de Pastoreio Voisin, implantado em 1963 nessa propriedade.
Proprietários, também, da Fazenda Santa Inês, de produção de terneiros, que são enviados em seu devido tempo
(quando já novilhos) para engorda na Fazenda Conquista. O gado, criado em pastoreio rotativo científico (Voisin), é
manso, não precisando o funcionário usar cavalo, nem laço. O casal é proprietário, ainda, de outras fazendas, uma no
município de Pinheiro Machado e uma em Aceguá.
Eliezer Dias de Souza. Poeta, técnico em administração rural na Universidade da Região da Campanha em Bagé/RS.
Reside na cidade de Bagé e possui propriedade rural em Mei’água - Hulha Negra.
Minga Blanco. Herdou a Estância Minuano de seu pai. Administra a propriedade e trabalha na lida com o gado. Possui
exemplares de gado chamado “crioulo”. Cria cavalos. Também é artesão, produzindo utensílios de trabalho, como laços,
relhos, talas e o tradicional chapéu “Pança de burro”. É membro e fundador do Movimento Tradicionalista de Aceguá.
Sônia Carlota Garibaldi é casada com Leomar há 35 anos e tem 02 filhos. O filho mais velho cursou a ESA – Escola
Superior de Aeronáutica e, é sargento; é casado há 10 anos com uma paraibana; mora em João Pessoa, na Paraíba. A
filha (nascida em 1985) foi para Bagé estudar, ingressou no curso de Letras, mas não concluiu a graduação; encontra-
se trabalhando em Bagé; ela mora na casa dos pais, pois gosta da campanha. Sônia faz trabalhos de pastoral junto à
igreja católica. Faz a lida caseira, tem horta e pomar, faz doces para vender, cria galinha, bem como, conhece e se
envolve na lida campeira. Toca a propriedade com o marido.

Leomar Moreira Garibaldi é casado com Sônia há 35 anos e tem 02 filhos. O filho mais velho cursou a ESA – Escola
Superior de Aeronáutica e, é sargento; é casado há 10 anos com uma paraibana; mora em João Pessoa, na Paraíba. A
filha (nascida em 1985) foi para Bagé estudar, ingressou no curso de Letras, mas não concluiu a graduação; encontra-se
trabalhando em Bagé; ela gosta da campanha. Leomar é primo de Eliezer Dutra Tadeu. Conforme Sônia: (Leomar) “faz

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arame ele que faz tudo isso ai é feito por ele, não tem uma coisa feita por ninguém ai, ele que faz tudo, tudo, ele era
alambrador, profissão dele era alambrador antes ele alambrava tudo que era fazenda por ai tudo, tudo, se fez mais foi
fazendo arame ele parou depois que o pai dele ficou doente que ai ele parou aqui trabalhando (...) é ele que faz tudo (na
propriedade), a gente não paga ninguém pra fazer nada, só que precisa assim ajudar pra fazer, só que não tem, mas a
tosquia das ovelhas ele faz.” Na propriedade criam gado – carne e leite – e ovelhas, plantam milho, sorgo e aveia.

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8. ATIVIDADE

8.1. Origens, motivos, sentidos e transformações


O pastoreio de bovinos na região do pampa sul-rio-grandense está diretamente associada ao povoamento das porções
meridionais da América Latina e a criação de fronteiras político administrativas neste território, desde o século XVII.
Sobre a introdução do gado pelos colonizadores espanhóis, as opiniões divergem entre iniciativa estatal e dos
missionários jesuítas – a mais plausível é de que múltiplos atores tenham agido na introdução dos rebanhos ovino,
equino e, principalmente, bovino; que as origens dos mesmos tenham sido diversas. Após a expulsão dos jesuítas dos
territórios espanhóis, as primeiras estatísticas verificaram uma imensa abundância de gado bravo (chamado
cimarrón/chimarrão), cuja pecuária de extração ou de produção movimentaram o comércio platino.
Foram diversas as técnicas de exploração pecuária trazidas da Europa, mas nenhuma preparada para a quantidade
impressionante (para o olhar europeu coevo) de gado vacum disponível. Novas técnicas precisaram ser adotadas para
dar conta dessa abordagem numérica completamente nova. Isso implicava em mesclar as práticas tradicionais com as
novas, criadas num ambiente sincrético. A arquitetura necessitou mudar; a noção de unidade produtiva, a estância,
precisou ser criada; os materiais de construção precisaram adaptar-se.
Apesar da abundância da matéria-prima, o transporte e a conservação dos derivados da exploração do gado figuraram
entre os principais obstáculos para o sucesso econômico e a acumulação de capital do setor. O fato de ser área de
fronteira permanente dificultou o processo de urbanização e, consequentemente, da criação de redes mercantis e
viárias interurbanas, no que hoje é fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Isso impossibilitava o transporte da carne,
levando a uma matança impressionante de gado vacum nas três últimas décadas do século XVIII, apenas pela
demanda de couro e chifres, ficando milhares de carcaças expostas à intempérie.
O estabelecimento de rotas regulares de tropas de gado (vacum, equino e muar), por um lado, e a introdução de
técnicas de conservação da carne por salgamento, por outro, geraram a possibilidade de utilização de todos os
recursos providenciados pela rês, incluindo já carne e ossos. A era dos tropeiros e dos charqueadores inaugurou o
processo de cercamento dos campos, mantendo as práticas cotidianas até então desenvolvidas, mas num contexto de
privatização (tanto da terra como do gado) que alienou os trabalhadores tradicionais, ligados à preia do gado livre e
bravio das duas principais fontes de riqueza regional ao longo do século XIX .
De qualquer modo, a nova fase da industrialização da carne, com a chegada dos primeiros frigoríficos no final do século
XIX e no início do século XX, deu novo fôlego à economia pecuária, gerando um abismo ainda maior entre aqueles que
dispunham da propriedade do gado e das terras e aqueles que não tinham acesso a essas riquezas. Nas últimas
décadas, com a alteração do padrão de consumo no mercado nacional, mudanças vêm sendo feitas nas formas de ser
e agir ligados ao trabalho do campo e do gado. (FONTE: CAMARGO, F., 2013)
Quanto às formas de criar ovinos, bovinos e equinos, elas também variam conforme o tamanho da propriedade ou o
tipo de manejo que se pretende utilizar.
Há propriedades rurais que mantém o processo de criação de bovinos tido como tradicional, em que é feito o ciclo
completo, de cria, recria e engorda (ou terminação), nas quais as operações cosmológicas ficam mais evidentes. A cria
envolve desde o manejo reprodutivo, em que as fêmeas passam pelo acasalamento e pelo controle da prenhez, até o
parto e amamentação dos terneiros. A recria abrange desde a desmama dos filhotes até a fase de acasalamento das
fêmeas e a engorda dos machos que não serão utilizados como reprodutores. A engorda é a fase posterior, em que se
faz a terminação dos animais para o abate. No entanto, também se valem desses saberes tradicionais, os criadores que
tratam só de engorde, comprando animais magros, ainda não “terminados”, ou seja, ainda sem a cobertura de gordura
necessária para que sejam abatidos.
O manejo com as vacas e as ovelhas, é tradicionalmente feito a cavalo, o peão “toca” (por diante) os animais. Mas
existem casos, como os do pastoreio rotativo de bovinos, em que o uso do cavalo é dispensado, graças ao trato diário
com os animais, que acaba domesticando-os e fazendo-os andar atrás do pastor, seguindo-o. Este tipo de pastoreio
sofre de escassez de mão-de-obra para lidar com o gado, já que os trabalhadores campeiros relutam em deixar o
cavalo, o laço, o cachorro e a emoção de dominar vacas brabas. Em algumas propriedades de pastoreio extensivo, no
trabalho de recorrer o campo para observar a situação dos rebanhos o cavalo é substituído por motos ou caminhonetes.

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A criação dos cavalos também pode se dar no campo da propriedade rural, de forma extensiva, ou em haras e
hospedarias, próximos aos centros urbanos. Neste último caso, geralmente os cavalos são de raça e têm alto valor
monetário, genético e de estima. Os cavalos criados na propriedade também podem ser de raça, como é o caso das
cabanhas, manadas de cavalos criados por um proprietário ou sócios, registrados em associações de criadores (como
a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos). Os cavalos voltados para a lida campeira são criados na
propriedade e domados para tais fins. Ainda que raros no Brasil atual, existem frigoríficos de abate de equinos, mas
estão voltados para a exportação da carne, já que a mesma não apetece aos hábitos alimentares de quem cria cavalos.
Nenhum dos interlocutores da pesquisa relatou ter vendido cavalos para frigorífico, muitos criticam tal prática.

No caso dos ovinos, os rebanhos sempre foram criados para abastecer as demandas internas de consumo de carne.
Até a década de 1980, quando a indústria sintética se estabilizou, essas criações de ovinos também forneciam lã para
ser comercializada. Atualmente, após a diminuição da criação de ovelhas nas últimas duas décadas, houve abertura
para a comercialização internacional dos produtos brasileiros provenientes da ovinocultura.
Quanto ao pastoreio, não se pode deixar de citar também aqueles empreendimentos voltados para sanar as
adversidades do clima, como é o caso da feitura de açudes em localidades onde não passam cursos d’água ou não há
incidência de chuva suficientes para manter os rebanhos. Nas proximidades de Bagé, por exemplo, fala-se na presença
já não muito comum dos açudeiros, trabalhadores cuja especialidade é cavar açudes, utilizando ferramentas como pás
e a “mariposa”, esta movida por tração animal. Com a mecanização dos instrumentos de trabalho no campo, é mais
recorrente que sejam cavados açudes com retroescavadeiras e outros tipos de maquinários pesados.
Uma lembrança sempre importante no pastoreio é a do cão; muitos campeiros valem-se apenas de um “cachorro
campeiro” para lidar com os rebanhos. Há conhecimento de matilhas de cães que arrebanham cavalos, ovelhas e vacas
sem necessitar da presença humana. Uns aprendem na lida diária com os homens; outros trabalham a partir da
observação, incentivo e reprimenda de seus companheiros caninos. È explícita a companhia permanente dos cães
pastores de múltiplas raças e mestiços aos campeiros. Ainda que alguns peões e proprietários rurais não concordem
em utilizar cães na lida com os rebanhos, pois podem provocar machucados, mordeduras, em todos os
estabelecimentos envolvidos nas lidas campeiras a presença do cão é marcante.
Os naturalistas europeus Auguste de Saint-Hilaire, em 1920, em viagem ao Rio Grande do Sul (SAINT-HILAIRE, 1987)
e Charles Darwin, em 1832, em sua passagem pela região pampa da Argentina (DARWIN, 2010), observaram a
importância dos cães para os proprietários de ovinos. Segundo esses dois viajantes, os caninos eram criados juntos às
ovelhas para que se sentissem parte do rebanho e, com o passar dos anos, nem mesmo sentiam falta da presença de
membros de sua espécie, estando mais voltados à proteção do rebanho do que à integração a matilhas domésticas ou
selvagens.
Muitos peões campeiros consideram o cachorro como um par, pois desempenha as mesmas atividades do trabalhador
humano: arrebanha animais extraviados, faz os rebanhos concentrarem-se em um local preterido pelo peão, direciona o
gado pelos caminhos a serem seguidos. Além disso, em propriedades com a presença intensa de matas, em que é
difícil ou impossível para o campeiro a cavalo tentar qualquer manobra, o cão é elemento fundamental na busca pelo
rebanho (seja bovino, equino ou, principalmente ovino e caprino). Leomar Alves, morador das Palmas, em Bagé, é
produtor de caprinos e treina cães pastores para o trabalho no campo e considera extremamente importante essa
presença na lida com os rebanhos.

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O sistema de pastoreio Voisin, o cão é deixado de lado, pois o gado é criado de forma mansa, com manobras lentas e
com métodos que excluem a presença de qualquer elemento de agressividade
Em relação às mudanças mais recentes ocorridas no campo, Minga Blanco, proprietário rural, domador e ginete em
Aceguá, conta que no tempo de seu pai, não existia automóvel na família, o transporte era feito com carretas de bois,
principalmente para trazer as compras para a família (alimentos, material de higiene, limpeza). A “campanha” (vida no
campo, nas estâncias), segundo o entrevistado, sofreu muita mudança, pois hoje em dia há o acesso à internet,
telefone celular, os empregados não precisam permanecer no campo, podem dormir na cidade e, pela manhã, irem à
estância de moto, ou outro veículo. Nas palavras dele: “hoje, os caras, às vezes na terça-feira, que não tem nada a ver
com o dia de sair (a folga), mas depois do horário de expediente, às vezes monta na moto e vai ligeirinho em casa,
passa a noite com a mulher e no outro dia... quer dizer, não tem mais aquela coisa assim, de se afundar no campo e
ficar ali. então hoje tá... pra isso, tá mais fácil”.
Além disso, Minga conta sobre o posteiro, que era a pessoa responsável por cuidar de porções de terras para o
proprietário. Como existiam estâncias com grandes extensões de terra, era necessário que cada porção (com extensão
variada de tamanho) tivesse um posteiro, que evitaria roubo de gado, a fuga dos animais e observaria os animais,
identificando doenças e eliminando possíveis predadores. o posteiro morava naquela porção de terra, porque era muito
longe da sede da estância para que diariamente os empregados fossem, a cavalo, até aquele local.

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8.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES

Alguns pecuaristas associam historicamente a presença de negros nas estâncias de pecuária extensiva à brutalidade
da lida com os rebanhos. Peões descrevem o universo desta lida como árduo, perigoso, insalubre. No entanto, essas
mesmas agruras parecem trazer os atributos ontológicos necessários à construção desses homens como pessoas – e
mesmo imprescindíveis à manutenção de sua existência. Acordar antes de raiar o sol e ter que quebrar geada com a
sola do pé descalço, derrubar novilhos com o próprio corpo (pois a contenção com o laço pode fraturar o animal), correr
risco de morte ante a fúria de um touro, participar do mesmo ambiente que animais peçonhentos, enfrentar temporal no
meio do campo aberto para salvar filhotes do rebanho, domar cavalo xucro, são alguns aspectos apontados como
responsáveis pelo fato de serem “brabíssimas” as lidas campeiras - o que, no entanto, não chega a representar uma
potência negativa, visto que, pelo contrário, o controle dessas situações impostas pelas forças da natureza selvagem,
(incorporado, é claro, pela exploração capitalista de sua força de trabalho), tem agência construtora dos sujeitos.

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SELEÇÃO DE LETRAS DE MÚSICAS SOBRE A ATIVIDADE DO PASTOREIO:


A TROPA FEZ QUE SE IA
(Gujo Teixeira e Cristian Camargo)
A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio
Mas, se não fosse meus cusco, faltava boi no rodeio
Eram dois baios coleras e um brazino cimarrón
Três campeiros de respeito e, ainda por cima, dos bom

Se eu fosse metê o gateado e atropelar aquela ponta


Deixava o resta da tropa desgovernar-se por conta
Foi um pampa de aspa guacha, já com fama de matreiro
Que disparou, mais a diante, entre o chircal do potreiro

Mas foi estender um silvido e um grito de olha a volta


Se apresentaram os campeiros, meus três soldados da escolta

Era um acôo e mais outro, de vez em quando um ganiço


Juntando quem se desgarra, por conta do compromisso
Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso, e chegam que lhes garanto

Só avistava, de longe, os três pegando de trás


Um atracando a dentada, o outro volteando, no más
Levaram uns cinquenta metros, o boi pampa num volteio
Depois, a dente e pegada, por conta foi que o boi veio

Depois juntou-se na tropa, meio entendendo o motivo


E eu chamei os companheiros pra sombra abaixo do estrivo
E é bem assim nestes campos, quando se manda, se pega
Cachorro que tem comando não dorme pelas macega

De riba do meu gateado a coisa é bem do meu jeito


Quem pode mais, atropela e os cusco botam respeito

Era um acôo e mais outro, de vez em quando um ganiço


Juntando quem se desgarra, por conta do compromisso
Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso, e chegam que lhes garanto

A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio


Mas, se não fosse meus cusco, faltava boi no rodeio.

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ALMA DE ESTÂNCIA E QUERÊNCIA


( Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco e Jari Terres)
Da gadaria faz silhueta a madrugada
Das quatro quadras da invernada do branquilho
Rodeio grande, saltou cedo a peonada
Trazendo a lua na cabeça do lombilho

A mim me toca repontar o fundo do campo


Na hora santa em que a manhã tira o seu véu
Levo na testa do gateado a última estrela
Que aquerenciada não quis mais voltar pra o céu

E o meu cavalo que "le gusta" ouvir um silvido


Olha comprido e põe tenência nas orelhas
Enxergo o gado e o assobio sai tão sentido
Que acende o sol num gravatá crista vermelha

O boi compreende o chamado da melodia


E a gadaria pisoteia um Santa Fé
Chegam no passo da restinga, e uma traíra
Atira um bote à flor azul de um aguapé

Olhando a ponta qu e encordoa pra o rodeio


Cresce o anseio de viver nestas lonjuras
Bárbara é a lida no lombo dos arreios
E alma de campo é a rendição destas planuras

Já me disseram que se acabam as invernadas


Que retalhadas marcam o fim dessa existência
Mas trago a essência e a constância de um olho d'água
E a alma pendurada com sementes de querência.

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CAMPEIRO, CUSCO E CAVALO

(Joca Martins, Rodrigo Bauer e Pedro Guerra)

Eles são três companheiros


distintos na identidade,
forjando a cumplicidade
no velho ofício campeiro...
São três irmãos galponeiros
levados no mesmo embalo,
por entre tirões e pialos
vão resumindo as distâncias
os três soldados da estância
campeiro, cusco e cavalo!

Vão patrulhando as lonjuras


dessa querência estendida
e, em cada etapa da vida,
vão madurando a procura...
Buscando a volta segura,
tirando um golpe mais brusco...
Com sol ou no lusco-fusco,
num dia brando ou mais potro,
cada um cuida do outro:
campeiro, cavalo e cusco!

Campeiro, cusco e cavalo,


timbrados com o mesmo pó!
Campeiro, cusco e cavalo,
três galhos de um tronco só!

São três monarcas pampeanos


curtidos de terra e céu,
ramais do mesmo sovéu
que, entra ano e sai ano,
dividem seus desenganos
no exílio desses potreiros;
são confidentes, parceiros,
pelos verões e invernias,
nessa imortal trilogia:
cavalo, cusco e campeiro!

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MILONGÃO PRA ASSOBIAR DESENCILHANDO


(Gujo Teixeira e Luiz Marenco)
Silhueta de um fim de tarde, prenunciando a mesma sombra
Do tarumã bem copado contra o lado do galpão
Que larga fumaça branca no mais alto se desenha
De certo é cambona e lenha na porfia do fogão

A gateada apura passo no acôo da cuscada


Que faz festa com o retorno dos campeiros na mangueira
Silêncio se vai aos poucos pelas esporas nas pedras
E os tinidos da barbela nos escarceios da oveira

Aos poucos, ouvem-se coplas num assobio compassado


Que entram galpão à dentro, depois voltam mais sonoras
Se vão tirando a carona, o xergão e entram mais calmas
Parecem que campo e alma se mesclam bem nessa hora

Água nos lombos suados, mais águas pras cambonas


E o galpão se para quieto pra escutar um campeiro
Depois do dia de lida, de invernada e rodeio
Sobra tempo pra um floreio e um assobio milongueiro

Um mate recém cevado, silencia o galpão grande


Reverenciando quietudes nas sombras que aquerenciei
E quem refaz o seu dia de bem com a vida no campo
Um pelego sobre um banco é mais que um trono de rei

Ficou um resto de pasto agarradito no freio


Esporas mangos e laços e um silêncio esperando
Alguém de alma lavada á debruçar-se no violão
E tocar um milongão pra assobiar desencilhando

8.3. CRONOLOGIA – O PASTOREIO SEGUE OS CICLOS ECONÔMICOS DO ATUAL ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
princípio do XIX
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” –
ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba

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Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio
Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) – Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX (início)
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e exportação da
carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década Fechamento da última charqueada em Bagé
de 1950
Séc. XX – década Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
de 1960
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

9. PRODUTOS PATRIMONIAIS

9.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

9.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO


ETAPA ATIVIDADE

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Atividades Juntar cavalos para a lida com o gado (ou, quando necessário, para tratá-los, aplicar
realizadas medicamentos)
diariamente ou de
acordo com a
necessidade.
Recorrer o campo para verificar os rebanhos e, se necessário, fazer rodeios para identificar
animais doentes.
Verificar se há fêmeas no cio ou prenhes, nas épocas de reprodução.
Fornecer ração, sal ou outro suplemento para os animais, quando há necessidade de
complementar a dieta à base de pasto. Essa suplementação, em geral, para bovinos e ovinos é
fornecida nos potreiros, em cochos. Para os cavalos, o fornecimento de complemento pode ser
em potreiros ou nas cocheiras individuais.
Medicar algum animal, caso seja necessário.
Juntar os rebanhos para fazer algum procedimento nos bretes (vacinar, banhar, marcar, ou
carregar caminhão para encaminhar animais a remates, frigoríficos ou estância de comprador)
Juntar o rebanho no campo para mostrar a compradores em potencial (muitas vezes os
compradores preferem ver o rebanho no campo e não na mangueira)
Juntar ovinos para tratar, medicar ou esquilar e, ainda, quando há necessidade, fornecer
suplementos alimentares.
Nas hospedarias de equinos em centros urbanos: retirar os animais, pela manhã, das cocheiras
onde passaram a noite, ou trazê-los dos potreiros para alimentá-los. Em geral, esses animais são
alimentados com pasto (quando há disponibilidade), com feno, alguns grãos e ração. Esses
alimentos são fornecidos em cochos nos potreiros ou nas cocheiras individuais.

9.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Peão campeiro Realiza as atividades diárias do pastoreio, em que não são necessárias intervenções de
profissionais (veterinário, agrônomo, zootecnista). Lida cotidianamente com os rebanhos.
Capataz da estância É o organizador das atividades; é ele quem gerencia o serviço de pastoreio. Essa administração
pode se estender para além das atividades campeiras, como, por exemplo, em alguns casos o
capataz pode intervir em compras e vendas de animais.
Peão posteiro Trabalhador rural raro nos dias atuais. Sua função era estabelecer-se nos potreiros mais
afastados da sede da propriedade evitando roubos e abigeato. Muitas vezes, o posteiro era
descendente direto do proprietário da estância, filho ou neto; mas, na maioria dos casos, é um
trabalhador contratado como peão campeiro que reside em uma casa ou rancho nos campos que
ficam longe da sede.

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9.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES

O PASTOREIO É REALIZADO EM PROPRIEDADES RURAIS. NO CASO DA CRIAÇÃO E CAVALOS, PODE ACONTECER EM PEQUENAS
PROPRIEDADES OU TERRENOS MAIS ISOLADOS NA PERIFERIA DE CENTROS URBANOS.
DESCRIÇÃO GALPÃO - A edificação pode ser um “rancho”, coberta de palha santa fé ou telhas, com paredes de
torrão ou um prédio de alvenaria situada próximo à sede da propriedade rural;

QUEM PROVE Proprietário rural


FUNÇÃO/ É o local onde os peões guardam os arreios e instrumentos de trabalho. Também no galpão as
SIGNIFICADO vacas leiteiras podem ser ordenhadas, as ovelhas esquiladas, os animais abatidos e carneados. Em
dias de chuva, o trabalho campeiro se desloca para o interior do galpão e os peões ocupam-se de
lidas que complementam o serviço de campo. O restauro dos arreios é um dos trabalhos no galpão,
e os campeiros manuseiam a matéria-prima e os artefatos, “sovando couros, tirando tentos,
trançando cordas, passando tentos em um laço ‘ramalhado’, tramando barrigueiras, afiando esporas
e outras ferramentas, costurando uma carona, consertando alguma peça dos arreios, arrumando
uma cancela, fazendo cangalhas para porcos e guaxos ovinos, etc.” (MATTOS, 2003 p.40).
Também no galpão acontece a roda de chimarrão, contam causos em torno do fogo de chão.
POTREIROS – Campos rodeado de cercas de piques de madeira e/ou fios de arame onde os
DESCRIÇÃO
animais se alimentam.
QUEM PROVÊ Proprietário rural
FUNÇÃO Manter os animais reunidos em um determinado espaço físico, para alimentação. Dessa forma,
preserva-se, sempre, outros potreiros com alimentos (pastos) para posterior consumo. Sem os
potreiros, os animais ficam soltos pelos campos; com isso há a dificuldade de arrebanhá-los.
DESCRIÇÃO ALAMBRADOS. Cercas feitas com fios de arame e piques de madeira, delimitando toda a
propriedade e os potreiros. Para a contenção dos ovinos, em geral, utiliza-se uma quantidade maior
de linhas de arame; se para bovinos o usual são 4 fios de arame na cerca, para ovinos usa-se em
torno de 7 fios.
QUEM PROVE O proprietário rural
FUNÇÃO/ O produtor compra o material com seus recursos próprios. Quem fabrica e conserta os alambrados
SIGNIFICADO são os chamados “alambradores”, que especialistas contratados para isso. Mas a atividade também
pode ser feita por algum empregado da propriedade, que tenha tal conhecimento.
DESCRIÇÃO CERCAS DE MADEIRA – contenções feitas de tábuas de madeira.
QUEM PROVE Proprietário rural.
FUNÇÃO/ São usadas para conter os animais nos potreiros ou piquetes (potreiros menores localizados mais
SIGNIFICADO próximos às casas). Em geral esse tipo de contenção é usado nos criatórios de cavalos, pois esses
animais são mais propensos a machucaduras nos cercamentos.
DESCRIÇÃO CERCAS DE PEDRA – contenções feitas de pedras. São raras as cercas de pedra mantidas ativas e
em bom estado. A maioria compreende ruínas ou suas pedras foram realocadas para outras
edificações. Erguidas da mesma forma das mangueiras de pedra e correspondem às mesmas
épocas históricas de origem e uso.

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FUNÇÃO/ São usadas para conter os animais nos potreiros ou piquetes (potreiros menores localizados mais
SIGNIFICADO próximos às casas).
DESCRIÇÃO AÇUDES – estão nos campos, potreiros e piquetes. São fontes artificiais de água.
QUEM PROVE Proprietário rural.
FUNÇÃO/ Fornecimento de água para os rebanhos.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO MANGUEIRAS – locais de encerra do rebanho para descanso durante as tropas, ao longo das
estradas (em geral mangueiras de pedra antigas) e dentro da propriedade, para posterior lida com
os animais (dosificação, vacinação, procedimentos em geral). As mangueiras para trabalho com
grandes animais (bovinos, equinos), são mais altas, assim como o brete, para que mantenham-se
encerrados.
QUEM PROVÊ Proprietário rural
FUNÇÃO Manter os animais reunidos em um determinado espaço físico, para posterior lida com os mesmos
(dosificação, aplicação de medicamentos diversos, verificação da existência de parasitas, etc)
DESCRIÇÃO BRETE. Corredor de madeira por onde os animais passam para serem tratados, ou para serem
presos no tronco. A maioria dos bretes é pré-fabricada, feitas de forma industrial. É cada vez mais
difícil encontrar mão-de-obra para sua construção artesanal.
QUEM PROVÊ O produtor compra o material com seus recursos próprios. Disponível no mercado.
FUNÇÃO / Individualizar o tratamento dos animais, colocando-os enfileirados, um atrás do outro, sem que
SIGNIFICADO possam se deslocar.
DESCRIÇÃO TRONCO. Espécie de guilhotina na vertical, localizada no extremo de um corredor da mangueira. É
formado por duas placas de madeira, com sinuosidades que formam um espaço oval onde é
encaixado o pescoço do animal. Há um espaço na altura de um animal adulto e outro na altura de
terneiros. O tronco é controlado por uma alavanca do lado externo da mangueira.
Existem, atualmente, troncos mecanizados e eletrônicos.
QUEM PROVÊ O produtor compra o material com seus recursos próprios.
FUNÇÃO / Evitar que o animal dispare ou machuque alguém enquanto é tratado.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO BANHEIRO DE IMERSÃO PARA BOVINOS. De alvenaria; corredor com 2,5 metros de profundidade,
aproximadamente, contendo água com produto químico. Sua extensão é variada (8, 10 metros) e
sua largura deve ser para que passe um animal por vez. Sua capacidade de carga é em torno de 10
mil litros. Os banheiros mais antigos poderiam conter até 18 mil litros de água com produto químico
(às vezes até mais) e sua extensão ultrapassar os 20 metros de comprimento, além de possuir
profundidade de até 3 metros. É o local para banho de bovinos em que os animais atiram-se na
água contendo o produto químico.
QUEM PROVÊ O proprietário rural.
FUNÇÃO / Banhar o gado, na cura ou prevenção, contra ectoparasitas.
SIGNIFICADO

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DESCRIÇÃO BANHEIRO DE PULVERIZAÇÃO PARA BOVINOS. De alvenaria ou pré-fabricados, de madeira e


cobertura de folhas de zinco; contem água com produto químico para banho de bovinos.
QUEM PROVÊ O proprietário rural.
FUNÇÃO / Banhar o gado, na cura ou prevenção, contra ectoparasitas.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO BANHEIRO DE IMERSÃO PARA OVINOS. Tanque redondo contendo água com produto químico, de
alvenaria. Atualmente poucas propriedades dispõe desse tipo de banheiro, pois há novos produtos
químicos menos prejudiciais aos rebanhos (o banheiro de imersão pode propiciar quebraduras,
cortes, afogamentos).
QUEM PROVÊ O proprietário rural.
FUNÇÃO / Banhar o rebanho, na cura ou prevenção, contra ectoparasitas e endoparasitas. Em especial, os
SIGNIFICADO ovinos são banhados contra piolhos e sarna.
DESCRIÇÃO PEDILÚVIO – corredor de alvenaria em forma de caixa contendo uma depressão de 10 cm de
profundidade e 2 metros de extensão. Sua largura é variável, mas é de menos de um metro. Em
geral fica junto ao tronco.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Banhar os cascos dos ovinos, prevenindo ou curando enfermidades específicas dessa região
SIGNIFICADO corpórea.
DESCRIÇÃO BALANÇA.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Para acompanhar o desenvolvimento dos rebanhos ou para aplicação de medicamentos que exijam
SIGNIFICADO uma dosagem específica.
DESCRIÇÃO ABRIGOS. Instalações de bosques onde não há mata natural, ou de coberturas artificiais.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Proteção dos rebanhos contra insolação e variações climáticas.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO COCHOS. Em geral de madeira. Podem ser de alvenaria.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Fornecer alimentação e suplementos alimentares aos rebanhos (sal, ração, feno, etc.)
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO BEBEDOUROS ou cochos para água. De alvenaria, concreto.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Em locais com problemas de acesso a fontes naturais (cursos d’água, olhos d’água) ou artificiais
SIGNIFICADO (açudes), os bebedouros são instalados para fornecimento de água aos animais.

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DESCRIÇÃO PALANQUES – tipo de “poste” feito de tronco de árvore de aproximadamente 2 metros de altura,
podendo, esta medida, ser variada. Possui, próximo à sua extremidade superior, um entalhe na
madeira ao redor de toda a circunferência, local onde apoia-se e amarra-se o cabresto do cavalo.
Em geral, localiza-se em mangueiras próximas ao brete ou em potreiros ou piquetes.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO / Usados para conter as montarias (cavalos), em geral quando essas são xucras ou estão em
SIGNIFICADO processo de doma e treinamento. Também podem ser usados na contenção dos animais para
procedimentos diversos, como na aplicação de medicamentos.

9.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


DESCRIÇÃO MADEIRA e ARAME para mangueiras, bretes e alambrados (aramados)
O produtor compra o material com seus recursos próprios. Sua fabricação e manutenção também
QUEM PROVÊ
podem ficar por conta de alambradores ou empregados aptos para tais serviços.
FUNÇÃO / Manter e instalar mangueiras, bretes, cercas. Evitam que os animais se dispersem pelo campo antes
SIGNIFICADO de serem tratados.
Compra-se material nas lojas de comércio. Algumas mangueiras são pré-fabricadas, feitas de forma

DISPONIBILIDADE industrial. Mas é cada vez mais difícil encontrar mão-de-obra para sua construção artesanal.

LAÇO. Corda trançada, feita de couro, nylon ou outros materiais, com uma argola de metal em uma
das extremidades. A outra extremidade passa por dentro da argola, formando um anel com acorda,
DESCRIÇÃO que é girada no ar, jogada sobre o animal, e esticada quando enlaçando este, até derrubá-lo. O laço
é um instrumento manual, que pode ser usado pelo homem montando cavalo, bem como, no chão,
quando em espaços cercados.
O produtor compra o material com seus recursos próprios. Ou o trabalhador confecciona seu próprio
QUEM PROVÊ
laço, segundo técnicas de trabalho com corda (couro cru).
FUNÇÃO /
Evitar que o animal dispare ou machuque alguém enquanto é tratado.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Disponível nas lojas de correaria, de produtos agropecuários e com guasqueiros.
ARREIOS – para montaria do cavaleiro, tanto para a lida campeira, incluindo a tropeada, quanto
DESCRIÇÃO
para doma e gineteada. Há variações dos arreios conforme sua utilização.
QUEM PROVÊ O produtor rural ou o peão.

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Para montaria do cavaleiro, tanto para a lida campeira, incluindo a tropeada, quanto para doma e
gineteada. Há variações dos arreios conforme sua utilização, porém os itens básicos, utilizados para
montaria, serão descritos de acordo com observação e entrevista. Os arreios estão dispostos na
seguinte ordem de sobreposição, mais comumente usadas para as lidas campeiras: xergão - carona,
FUNÇÃO / - basto/sela/serigote - cinchão (ou cincha) e barrigueira – pelegos – badana (nem sempre é usada) –
SIGNIFICADO cincha (ou sobrecincha) e barrigueira. Fazem parte do conjunto, ainda, os estribos, a cabeçada com
freio e rédeas e o bucal com cabresto (opcional). Pode-se considerar parte do conjunto, ainda, o
rebenque/mango/relho (usado para instigar o animal a acelerar a andadura, ou, no caso do esporte
de gineteada, para fazer o animal pular com o cavaleiro sobre ele. Os arreios podem sofrer variação,
porém os relacionados acima são os mais comumente utilizados na região.
A maioria das peças de arreios podem ser encontradas em casas especializadas; alguns artefatos
DISPONIBILIDADE
podem ser confeccionados por artesãos ou pelos próprios peões.
XERGÃO: é um artefato confeccionado em lã crua, em geral produzido artesanalmente, através da
fiação e tear. Seu formato é aproximadamente um retângulo e deve cobrir todo o lombo do animal,
DESCRIÇÃO
caindo pelos lados do mesmo, não chegando a cobrir toda a região das costelas do cavalo. Todos os
outros artefatos que fazem parte dos arreios de montaria apóiam-se sobre o xergão.
QUEM PROVÊ O proprietário rural ou o peão campeiro.
FUNÇÃO /
Serve para proteger o lombo do animal contra o atrito do basto/sela/serigote
SIGNIFICADO
O xergão pode ser confeccionado na própria estância, porém, em geral, é comprado de mulheres
DISPONIBILIDADE
que trabalham com a fiação da lã e a confecção do artefato com o tear.
CARONA – em geral é feita de couro. Atualmente é confeccionada artesanalmente ou
industrialmente. Sua matérias-primas, além do couro, podem ser materiais sintéticos como esponja
DESCRIÇÃO
forrada com tecidos de algodão ou poliéster. É posta sobre o xergão e suas medidas são
aproximadamente as mesmas deste.

QUEM PROVÊ O proprietário rural ou o peão campeiro.


FUNÇÃO /
É utilizada para minimizar o impacto dos arreios sobrepostos no animal.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionada na própria estância, ou ser adquirida através da compra de terceiros,
DISPONIBILIDADE
diretamente com o fabricante, ou em lojas especializadas.
BASTO/SELA/SERIGOTE – artefatos de formatos diferentes, confeccionados em couro e materiais
DESCRIÇÃO sintéticos, como vinil imitando couro. Porém o couro é a matéria-prima de preferência. Pode ser feito
artesanalmente ou industrialmente, o que, nos dias atuais, é mais comum.

QUEM PROVÊ O proprietário rural ou o peão campeiro.


FUNÇÃO / São utilizados para a mesma função: que o cavaleiro monte o cavalo com maior equilíbrio e
SIGNIFICADO segurança.
DISPONIBILIDADE Comumente, adquire-se esses artefatos em lojas especializadas, com recursos próprios.

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CINCHÃO (OU CINCHA) E BARRIGUEIRA - É uma tira de couro de um palmo e meio de largura
(aproximadamente), duplo (duas trias costuradas juntas), que contém duas argolas de metal em
suas extremidades mais compridas (mais ou menos 50 cm de comprimento). Nessas argolas, a
DESCRIÇÃO BARRIGUEIRA é presa. Este é um artefato confeccionado com várias tiras de barbantes grossos
(em torno de 8 ou 10 tiras), em cujas extremidades são colocadas argolas de metal, que servem
para unir este objeto ao cinchão. Enquanto o cinchão fica sobre o basto, a barrigueira passa por
baixo da barriga do cavalo. A união entre o cinchão e a barrigueira, ocorre através de LÁTEGOS.

QUEM PROVÊ O proprietário rural ou o peão campeiro.


FUNÇÃO / O cinchão serve, junto com a barrigueira, para segurar os arreios anteriormente descritos, sobre o
SIGNIFICADO lombo do cavalo.
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas. O couro pode ser
produzido na própria estância, porém as argolas de metal e o barbante são comprados com recursos
DISPONIBILIDADE
do entrevistado em lojas comerciais. As argolas podem ser compradas diretamente de ferreiros -
especialistas em trabalhar com metais.
LÁTEGOS - são tiras de couro de dois dedos de largura (couro cru) que podem ter até 2 metros de
DESCRIÇÃO
comprimento.
QUEM PROVÊ O proprietário rural ou o peão campeiro.

FUNÇÃO / São enrolados nas argolas do cinchão e da barrigueira, concomitantemente, unindo esses dois
artefatos e mantendo o basto sobre o cavalo, evitando que os arreios fiquem soltos durante a
SIGNIFICADO montaria.
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas
ESTRIBOS - Os estribos têm formato variado, porém parecem-se com argolas grandes, com a
porção inferior, onde o cavaleiro apoiará o pé, podendo ser de formato achatado ou arredondado.
São feitas de metal (ferro, inox) e são postos nas laterais do cavalo, para o cavaleiro calçar o pé e
Descrição firmar-se quando está montando o cavalo. São presos ao basto/sela/serigote por meio dos LOROS.
Os estribos ficam presos aos loros e esses, são presos ao basto/sela/serigote, através dos látegos.
Cada estribo fica de um lado do cavalo e seu comprimento de uso depende do comprimento das
pernas do cavaleiro
QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.
FUNÇÃO /
Artefatos utilizados para apoio dos pés do cavaleiro, permitindo maior equilíbrio na monta.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE São comprados de ferreiros especializados, ou em casas comerciais.

LOROS - são artefatos confeccionados, em geral, em couro. Os loros são feitos, comumente, de
duas tiras de couro, de dois dedos de largura, unidos por costuras em fios de couro (tentos) ou,
industrialmente, por fios de barbante reforçados. O loros têm aproximadamente um braço de
DESCRIÇÃO comprimento, (as tiras de couro dos loros são de aproximadamente dois dedos de largura). São
unidos ao basto/sela/serigote através de látegos - em um local específico do basto (em argolas de
couro ou de metal que estão presos ao basto para passar os látegos).

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FUNÇÃO /
Servem para prender os estribos ao basto/sela/serigote.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

PELEGOS – São feitos da pele inteiriça de ovinos, a parte “carnal” é a de contato com a carne do
ovino in vivo. A parte externa, é a lã do ovino sem que este tenha sido tosado (tosa: retirada do
DESCRIÇÃO excesso de lã dos ovinos para venda desse material e para aliviar os animais do calor do verão). Os
pelegos são colocados sobre o basto/sela/serigote, com a parte externa (lã) voltada para cima. Pode
ser utilizado um ou mais pelegos sobrepostos.

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.


FUNÇÃO /
Minimiza o atrito das pernas do cavaleiro com o basto/sela/serigote. É para proteção do cavaleiro.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

BADANA – artefato de couro, praticamente bidimensional, É o artefato que fica sobre todos os outros
DESCRIÇÃO (com exceção da cincha e barrigueira) e nem sempre é utilizado (opcional). Tem o tamanho
aproximado dos pelegos, em geral, um pouco mais curto e estreito que esses.

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.


FUNÇÃO /
Serve para proteger as pernas do cavaleiro do contato direto com os pelegos.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionada na estância ou comprado em lojas especializadas.

CINCHA (OU SOBRE-CINCHA) E BARRIGUEIRA – São praticamente os mesmos artefatos “cinchão


e barrigueira”, porém a cincha (sobre-cincha) nesse caso é de aproximadamente 10 cm de largura e
60 a 70 cm de comprimento, mais ou menos). A barrigueira que faz parte desse conjunto, também
DESCRIÇÃO
costuma ser um pouco mais comprida, ainda que sua largura possa ser a mesma da primeira
barrigueira (que faz parte do cinchão).

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.


FUNÇÃO /
Têm a função de manter os pelegos em seu lugar para a montaria do cavaleiro, evitando quedas.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas. O couro pode ser
produzido na própria estância, porém as argolas de metal e o barbante são comprados com recursos
DISPONIBILIDADE
do entrevistado em lojas comerciais. As argolas podem ser compradas diretamente de ferreiros -
especialistas em trabalhar com metais.

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CABEÇADA e RÉDEAS – A cabeçada é um artefato em couro que envolve a cabeça do animal com
o objetivo de manter o FREIO na boca do cavalo. A cabeçada pode ser de couro liso, quase
bidimensional, de largura variável, ou trançada, com vários tentos (finas tiras de couro). As RÉDEAS
são presas nas “pernas” do freio. As rédeas são tiras de couro compridas (podem ser lisas,
DESCRIÇÃO
bidimensionais) ou trançadas, com as mais diversas tranças. As rédeas podem ter a espessura de
um pouco menos de um dedo (quando trançadas) até quase dois dedos de largura, em geral lisas,
de couro chato e cru (quase bidimensionais). Têm, em torno de 2 metros de comprimento, mas essa
medida pode ser variada.
QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.

Através das rédeas o cavaleiro consegue comandar o cavalo, pois cada uma (são duas), fica de um
lado do pescoço do cavalo, em contato com essa parte do corpo do animal. Mas, principalmente, o
FUNÇÃO / comando ocorre porque o freio (que está na boca do animal) preso às rédeas através das “pernas”,
SIGNIFICADO pode ser ativado de acordo com o movimento que o cavaleiro faz com as rédeas. Através desse
conjunto, juntamente com o freio, o cavaleiro pode levar o animal para os lados e pode “sofrenar” o
cavalo (fazê-lo parar, puxando as rédeas para trás).

DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.


FREIO - artefato de metal. Possui uma parte que fica dentro da boca do cavalo e as “pernas” -
DESCRIÇÃO partes que ficam externamente à boca do animal e possuem argolas de metal onde as rédeas serão
presas.
QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.
FUNÇÃO /
O freio serve para direcionar o cavalo a partir de comandos do cavaleiro, através das rédeas.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE São comprados de ferreiros especializados, ou em casas comerciais.

BUÇAL e CABRESTO – O buçal, a exemplo da cabeçada, é um artefato de couro trançado


tridimensional (com vários tentos) ou liso e chato, que envolve a cabeça do animal. Porém, ao
contrário da cabeçada, não se prende ao freio, e sim, envolve o focinho do cavalo. O cabresto é uma
DESCRIÇÃO tira de couro chato comprida. Pode ser quase bidimensional, de couro chato, ou trançado com vários
tentos (tridimensional).
Possui, em geral, mais de 2 metros de comprimento e largura variável (2 a 3 cm, podendo ter mais
ou menos).
QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.
FUNÇÃO /
Serve para guiar o cavalo (puxando-o, como uma guia) quando este não está sendo montado.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

DESCRIÇÃO FACA/ ADAGA

QUEM PROVÊ Peão campeiro.

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Região Aceguá,
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e Negra,
entorno Herval,
Bagé e
Piratini

Usada como instrumento auxiliar na cura de animais com feridas (por exemplo, pode ser usada para
FUNÇÃO /
abrir” uma ferida infeccionada, para posterior aplicação de medicamento), para cortar algum galho
SIGNIFICADO
de árvore, algum tento de couro, etc.
DISPONIBILIDADE Pode ser adquirida em casas especializadas com recursos próprios, ou herdada.

DESCRIÇÃO FERRADURAS – ferros utilizados sob os cascos das montarias para evitar as machucaduras.
Em geral quem provê é o proprietário do cavalo. Podem ser fornecidas tanto pelo proprietário rural,
QUEM PROVÊ
quanto pelo peão.
FUNÇÃO /
Evitar machucados na sola dos cascos da montaria (cavalo/ mula)
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Adquirido em lojas especializadas ou direto com os ferreiros
ESPORAS - apesar de serem usadas nos pés do cavaleiro, é parte da monta, portanto é
apresentada juntamente com os arreios. é um artefato tridimensional, e consiste de uma armação de
metal (em geral ferro) em forma de “u”. na sua volta externa (volta do “u”), uma “roseta” se encontra
acoplada à armação, por meio de uma extensão (“papagaio” - de 3 a 4cm ou mais) do próprio metal.
a parte interna da volta do “u” fica encaixada no calcanhar da pessoa que usa a espora; uma
corrente de metal ou o tento de couro faz um outro “u” que é acoplado por baixo do pé, firmando a
espora no taco (salto) da bota do campeiro. tentos de couro são utilizados fazendo voltas pela frente
DESCRIÇÃO
do pé, passando pela extensão de metal onde se encontra a “roseta”, com o objetivo de evitar que a
espora se solte do pé. a “roseta” é um artefato de metal (em geral ferro ou latão) quase
bidimensional, circular, achatado, de 2cm de diâmetro ou mais, com pontas agudas em toda a sua
volta (pontas também variam de tamanho e de quantidade, de acordo com o tamanho da roseta). as
esporas são utilizadas nos calcanhares dos trabalhadores campeiros, entretanto são entendidas
como parte dos arreios e não do vestuário, pois atuam auxiliando no controle dos cavalos que estão
sendo montados pelos peões.
QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.
FUNÇÃO /
Incitar o animal a alterar a andadura (“apressar, apurar o passo”).
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Adquirido em lojas especializadas ou direto com os ferreiros

REBENQUE/MANGO/ RELHO – são variações do mesmo artefato. Em geral, confeccionado em


couro, possui cabo rígido, de madeira ou material sintético (cano de PVC, por exemplo). O cabo é
forrado de couro, podendo apresentar vários tipos de desenhos de forração, podendo ser de couro
liso ou trançado. Do cabo, sai uma porção de couro chato e comprido, com mais ou menos 5 cm de
DESCRIÇÃO
largura. Pode ter em torno de um metro de comprimento total variando para mais ou menos. Pode
ter esse prolongamento trançado, a exemplo de outros artefatos confeccionados artesanalmente. O
relho, em geral é bem mais comprido que o rebenque/mango, e pode ser bem semelhante a um
chicote.

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peão campeiro.


FUNÇÃO /
Servem para instigar o animal a andar mais acelerado, batendo-se no mesmo com o artefato.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas; também pode ser
DISPONIBILIDADE
adquirido diretamente dos artesãos (guasqueiros).

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Grande,
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de Pelotas,
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e Negra,
entorno Herval,
Bagé e
Piratini

9.6. COMIDAS E BEBIDAS.


A alimentação preferencial dos campeiros consiste em carne ovina ou bovina. O arroz é
DESCRIÇÃO
complemento geralmente preparado na forma de “arroz carreteiro”, com carne ou charque picado.
QUEM PROVÊ Proprietário rural.
FUNÇÃO /
Alimentação dos trabalhadores e proprietários rurais.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO Chimarrão ou mate.

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou peões.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate”, em geral no galpão, os peões se
SIGNIFICADO reúnem para conversar sobre a lida cotidiana ou contar causos.

9.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS : NÃO HÁ


DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

9.8. TRAJES E ADEREÇOS

A Pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. Compõe a pilcha: botas (calçado próprio
para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o pé e a perna), bombacha (calças presas por
DESCRIÇÃO botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata,
chapéu (feito de couro ou feltro);. é pilcha todo objeto de valor ou adorno que faz parte da montaria
do gaúcho
QUEM PROVÊ Proprietário rural e peão campeiro
FUNÇÃO /
Vestimenta
SIGNIFICADO
Ponche – mesmo que poncho. É o agasalho tradicional do gaúcho. Consiste em uma capa de pano
ou lã, com forma redonda, retangular ou ovalada, tendo uma abertura no centro por onde passa a
DESCRIÇÃO cabeça. Assim, o tronco da pessoa que o está vestindo fica protegido (frente e costas).

QUEM PROVÊ O peão campeiro ou o proprietário rural.

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entorno Herval,
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Piratini

Proteger o campeiro da chuva e frio.


O poncho “baeta vermelha” ou “carnal vermelho” é o preferido pelos trabalhadores que necessitam
FUNÇÃO / prestar serviços durante os períodos de frio ou chuva, pois são confeccionados com duplos tecidos
de “lã batida”. Nesse tipo de poncho, a lã do tecido é com tramas muito fechadas, o que evita a
SIGNIFICADO
passagem de água e protege o peão do frio. O nome referencia a cor dos ponchos que, em geral
apresentam o tecido de lã externo de cor preta ou azul marinho e o segundo tecido de lã, interno, de
cor vermelha.

DESCRIÇÃO Chapéu de abas largas

QUEM PROVÊ O campeiro.


FUNÇÃO /
Proteger o campeiro da chuva e do sol.
SIGNIFICADO

9.9. DANÇAS Não há


DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

9.10. MÚSICAS E ORAÇÕES NÃO HÁ


DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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9.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS : Não há


DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

9.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO


EXECUTANTE ATIVIDADE
Peões, caseiros, O pastoreio em uma estância de pecuária extensiva é um conjunto de atividades totais, ou seja, que
capatazes, envolvem todo o cotidiano dos trabalhadores. Fica, portanto, difícil descrever quando as atividades
demais terminam. No entanto, no que diz respeito ao trato com os animais em mangueiras, bretes e
empregados ou galpões, pode-se dizer que, após terminados os serviços, são guardadas as ferramentas, os animais
contratados. são levados de volta ao campo, é desencilhado o cavalo e limpa-se o ambiente onde foram
realizadas as atividades, retirando restos de fezes e demais dejetos animais, jogando no lixo ou
queimando embalagens de remédios.
Atualmente, há casos em que os empregados residem na cidade, indo e vindo para a estância de
moto, todos os dias, exceto aos domingos. Há também produtores que fretam ônibus para tal
transporte, principalmente quando há lavoura também.

10. DESTINAÇÃO DO PRODUTO


PARA USO PRÓPRIO
VENDE X TROCA OUTRO ESPECIFICAR
X
PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO INTERMEDIÁRIO X COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO X

11. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

A remuneração do trabalho dos peões segue tabela estabelecida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Há também
Sindicatos e Associações de Produtores Rurais.

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12. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Caseiras F60-2


Lidas Campeiras - Esquila F60-3
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras - Ofício do F60-5
Guasqueiro
Lidas Campeiras - Aramado F60-6
Lidas Campeiras - Tropeada F60-7

13. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio – F10.

14. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

14.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

14.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


F1-A2- 2: 2, 3, 7, 8, 9.

14.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1-A2-1: 208 à 216, 225 à 229, 230 à 237, 485 à 497, 499, 501, 511, 512, 514 à 518, 731 à 742, 779, 29, 39, 40, 43,
103, 186 a 193, 240 a 270, 355 a 366, 370 a 372, 501, 525, 528, 530, 531, 535, 547, 1089 a 1091, 1116, 1234 a 1358,
205, 207 a 209, 293 a 332, 544 a 546, 549, 552, 559, 1377, 401, 407 a 443, 333 a 354.

15. OBSERVAÇÕES

15.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

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15.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


OFÍCIO DO AÇUDEIRO - Atividade que integrava a Lida Campeira, executada pelo açudeiro, que consistia na
construção de açude. O açude era construído na várzea, utilizando-se das depressões naturais do terreno, depois do
local demarcado, a terra era escavada com um arado puxado por junta de boi. As leivas de pasto eram retiradas com a
mariposa também puxada por junta de boi – uma, duas ou três juntas de boi -, o pasto e o barro serviam de alicerce
para a construção das taipas. Na medida em que a caixa do açude era escavada, a terra era carregada na mariposa e
depositada sobre a taipa. Esta ferramenta de trabalho também servia para socar e emparelhar a terra usada na
construção da taipa, esta terra era igualmente socada pelos cascos de boi. Avaliada a fundura da caixa do açude e a
Estrutura da taipa, o açudeiro decidia onde seria o sangrador, ladrão ou vertedor, por onde escoaria o excesso de água
acumulada. O sangrador era aberto com uso da pá. (MATTOS, 2003). Na construção dos açudes atuais, a mariposa e
o boi foram substituídos pela caçamba e pelo trator, que desempenham, respectivamente, as funções de tração e
retirada da terra. O objetivo do açude é fornecer água para os animais, em locais em que não há a presença de arroios,
sangas ou outros cursos d’água, ou em regiões com problemas de estiagem.
OFÍCIO DO FERREIRO - O oficio de ferreiro caracteriza-se pelo trabalho na confecção de ferros. No processo, o ferro é
aquecido numa fornalha ou forja e logo após é moldado com um martelo na bigorna. Após estar confeccionado o
artefato da marca, do sinal, ou da ferradura, é mergulhado em água fria ou óleo para ganhar as qualidades desejadas.
ARTESANATO EM LÃ - Dona Santa Célia Pereira da Silva fia a lã com uma roda com eixo, não usa máquina. Não tem
tear, usa gravetos tirados do mato perto de sua casa. Cria ovelhas. A lã das costas é a melhor para fazer fio. Tem uma
filha, a mais nova, que segue o trabalho com lã. Um dos filhos também. Teve 14 filhos, e criou-os em 1 hectare.
Aprendeu a fiar e tecer com uma tia, que trabalhava para dois irmãos espanhóis, os Ourique, que lhes ensinaram a
atividade. Participa de cooperativa de produção de artesanato em lã.
OFÍCIO DO CANTAREIRO – Artesão que trabalha com pedras na construção ou restauro de mangueiras, cercas,
casas, galpões erguidos com essa matéria-prima. O trabalho do cantareiro inicia com a busca das pedras no leito de
arroios e sangas e em pedreiras escondidas nas coxilhas dos campos¹. Para essa busca é necessário todo um saber,
da extração das pedras em sua jazida, da forma de transporte utilizando alavancas e o próprio corpo, do trabalho nas
rochas. Além da exigência das técnicas, é preciso força física para lidar com as pedras. É um ofício herdado de pai para
filho e é raro atualmente; nas localidades inventariadas há informação sobre esse ofício ainda vigente em Herval e,
também, na localidade de Capão do Leão, emancipado do município de Pelotas em 1982.

¹GONÇALVES, Jussemar Weiis; FERREIRA, Letícia de Faria. O pampa , o cavalo, a pedra e o trabalho. Curitiba: IX Reunião de Antropologia do
Mercosul, 2011. (Artigo apresentado no GT 15: Antropologia do Trabalho e Memória dos Trabalhadores).

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Bagé e
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15.3. Outras observações :

Panorama geral da ovinicultura no mundo e no Brasil


VIANA, João Garibaldi Almeida, 2008.
Conforme Viana, a ovinocultura está presente na Ásia, África, Oceania, Europa e América do Sul, criação de ampla
difusão com exceção da América do Norte. Os rebanhos de ovinos na América do Sul são mistos, para a produção de lã
e carne de qualidade para o mercado internacional. O Brasil possui 15,5 milhões de cabeças ovinas por todo o país, no
Rio Grande do Sul e no nordeste ocorre uma concentração dos rebanhos, embora se observe o crescimento da criação
em São Paulo, Paraná e na região centro-oeste. Na região nordeste do Brasil, os ovinos pertencem às raças
deslanadas, para carne e leite, adaptadas aos trópicos. A criação ovina no Rio Grande do Sul é de raças de carne,
laneiras e mistas, adaptadas ao clima subtropical.
No Rio Grande do Sul, em meados da década de 90, ocorreu um decréscimo acentuado do número de animais nos
rebanhos, em razão da crise internacional e aumento da área cultivada de grãos. Já na região nordeste do Brasil
observa-se um crescimento contínuo do número de animais nos rebanhos.
Conforme o autor, a produção de carne se tornou o principal objetivo da ovinicultura no Brasil, houve um incremento no
consumo de carne de cordeiro. Os maiores frigoríficos para abate de ovinos estão no RS. O Brasil importa do Uruguai
carne ovina para abastecer o mercado interno. Mercado em expansão.

16. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 1,2,3,5,6,8,9,10, 11, 12, 15, 18, 21, 22, 28, 29 e 34
PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marta Bonow Rodrigues, Marilia Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva,
Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Liza Bilhalva Martins da Silva e Flávia Rieth
REDATOR Marta Bonow Rodrigues e Marilia Floor Kosby. DATA
10/04/2013
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

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Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região
Pelotas,
de
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Hulha 2013 F60 2
Bagé/RS
Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER e entorno
Herval,
Bagé e
Piratini
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense -Antigos Caminhos das Tropas)
Prática da lida caseira etnografada nas localidades abaixo, embora tenha
ocorrência em todo o sítio inventariado:
Aceguá – Minuano (Fazenda Santa Leontina).
LOCALIDADE
Herval – Boa Vista (Fazenda Boa Vista)
Hulha Negra – Mei’ Água (Propriedade do Sr. Leomar Moreira Garibaldi e Sra.
Sônia Carlota Cabreira Garibaldi)
Aceguá/RS.
MUNICÍPIO / UF Herval/RS
Hulha Negra/RS

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida Caseira


OUTRAS DENOMINAÇÕES Lida da volta “das casas” ou “da casa”
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.

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entorno Negra,
Herval,
Bagé e
Piratini

NOME Nélzia Maria Ritta Moreira MASCULINO 37


X FEMININO
DATA DE
Cozinheira e responsável pela limpeza e arrumação
OCUPAÇÃO “das casas” na Fazenda Santa Leontina (esposa do NASCIMENTO / 55 anos
capataz da fazenda)
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Micael Peres Bezon 50
FEMININO
DATA DE
Peão caseiro na Fazenda Santa Leontina/
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 25 anos
Aceguá/RS
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO

APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE


RELAÇÃO COM O BEM
X OUTRO TRABALHADOR RURAL INICIADO NA LIDA DESDE OS 12 ANOS
________________________________________________________

X MASCULINO
NOME Zé Mario 45
FEMININO
DATA DE
Peão de estância na Fazenda Boa Vista –
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 25 anos
Herval/RS
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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Grande,
Aceguá,
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entorno Negra,
Herval,
Bagé e
Piratini

MASCULINO
NOME Sônia Carlota Cabreira Garibaldi 41
X FEMININO
Produtora rural – trabalha na pequena propriedade DATA DE
que possui junto com seu marido, Sr. Leomar
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
Garibaldi. Faz todo o tipo de lida caseira e, também,
desempenha atividades da lida campeira. FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
X OUTRO proprietária rural

MASCULINO
NOME Luci Mari de Oliveira Siqueira 49
X FEMININO
DATA DE
Cozinheira e responsável pela limpeza e arrumação
OCUPAÇÃO “das casas” na Fazenda Santa Leontina (esposa de NASCIMENTO / 34 anos
peão campeiro)
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
X OUTRO trabalhadora rural

MASCULINO
NOME Flávia Blanco 48
X FEMININO
DATA DE
Proprietária rural e professora. Desempenha
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 15/11/1963
funções na lida caseira da propriedade.
FUNDAÇÃO
MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO

APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE


RELAÇÃO COM O BEM
X outro Proprietária rural, junto com seu marido, Minga Blanco.

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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Herval,
Bagé e
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Imagem 01 – Dona Nélzia com livro de


Culinária Campeira onde constam receitas de sua autoria
Aceguá/RS

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Imagem 02 – cozinha de Dona Nélzia na Fazenda


Santa Leontina/Aceguá.

Imagem 03 – Micael Bezon peão caseiro carneando ovelha na


Fazenda Santa Leontina – Aceguá/RS

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Imagem 04 – Micael Bezon peão caseiro ordenhando na


Fazenda Santa Leontina – Aceguá/RS

Imagem 05 – Seu Zé Mario carneando


Na Fazenda Boa Vista – Herval /RS

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Imagem 06 – Luci Mari cozinhando no rancho de um piquete


na Semana Farroupilha - Aceguá/RS

Imagem 07 – Sônia Carlota Garibaldi em sua propriedade rural

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5. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO


As lidas caseiras são atividades cuja funcionalidade está voltada para a manutenção doméstica e cotidiana da
propriedade rural. Esses trabalhos encerram desde os serviços de cozinha e limpeza da casa – ou das casas, quando
há casas de empregados – até a capina, a ordenha, o cuidado com os chiqueiros, galinheiros, jardins e hortas. As lidas
“da volta das casas” podem incluir, inclusive, a carneada de algum animal, desde que para o consumo doméstico.
Muitas vezes, quando há famílias de empregados morando na estância ou próximas a esta, acontece da esposa de
algum funcionário se ocupar das lidas caseiras. Há também os casos em que são contratadas copeiras, cozinheiras (ou
cozinheiros) e peões caseiros. Uma presença bastante lembrada quando se trata de lidas caseiras é a das lavadeiras,
que percorriam estâncias e propriedades rurais, recolhendo roupas para lavarem em córregos ou arroios próximos ás
propriedades rurais.
De acordo com Seu Abelardo Meireles (guasqueiro em Pelotas) a atividades da lida caseira abrange: “sim que ele
(peão caseiro) carneava, ele tirava leite, ele cortava lenha, ele varria pátio, ele atendia na volta das casas; de manhã
cedo ele juntava os “cavalo” pra chegar na hora da pegada os “peão” estarem com os “cavalo” tudo na mangueira pra
embuçalar. Ele (peão caseiro) fazia uma jornada”.

Segundo Flávia Blanco: “Muitas vezes a mulher, não só a do proprietário rural, as mulheres de pequenas propriedades,
que os maridos iam para as estâncias trabalhar, elas ficavam em casa fazendo toda a lida [...] cortando lenha, tirando
leite, cuidando dos filhos [...]; tem a mulher administradora da propriedade, tem a mulher que cuida da casa [...]. Tem a
cozinheira e a lavadeira, hoje já não existe, mas, também existia bastante. As lavadeiras normalmente eram essas
mulheres dos arredores que também marcavam como atividade econômica, e tem as que fiam lã, e até hoje tem”.

6. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

6.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


A lida é realizada ao redor das casas, ocupando-se da limpeza e manutenção da sede, galpões e ranchos das
propriedades rurais. A ordenha das vacas leiteiras, bem como a alimentação dos animais “da volta das casas”, como
porcos, galinhas, gansos, cães, também fazem parte das lidas caseiras. Abrange também o trabalho na cozinha no
preparo das refeições para os trabalhadores e proprietários e o cuidado com a horta e o pomar (também chamado de
quintal).

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6.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


GALPÃO
A edificação pode ser um “rancho”, coberta de palha santa fé ou telhas, com paredes de torrão ou um prédio de
alvenaria situada próximo à sede da propriedade rural; é o local onde os peões guardam os arreios e instrumentos de
trabalho. Em dias de chuva, o trabalho campeiro se desloca para o interior do galpão e os peões ocupam-se de lidas
que complementam o serviço de campo. O restauro dos arreios é um dos trabalhos no galpão, e os campeiros
manuseiam a matéria-prima e os artefatos, “sovando couros, tirando tentos, trançando cordas, passando tentos em um
laço ‘ramalhado’, tramando barrigueiras, afiando esporas e outras ferramentas, costurando uma carona, consertando
alguma peça dos arreios, arrumando uma cancela, fazendo cangalhas para porcos e guaxos ovinos, etc.” (MATTOS,
2003 p.40).
Também no galpão acontece a roda de chimarrão, contam causos em torno do fogo de chão.
PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

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RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

6.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


As atividades que a lida caseira abrange são realizadas da seguinte forma:
Ordenha, carneada, corte de lenha, limpeza dos galpões e entorno das casas e todas as demais atividades que
envolvem o trabalho externo são executadas no período diurno.
As lidas internas, como as atividades executadas na cozinha e preparo de alimentos se estendem no período noturno.
Segundo Barbosa Lessa (1986), a rotina na sede da estância se inicia ao clarear do dia, com o acender do fogo à lenha
e o esquentar da água para o primeiro chimarrão. Ordenhadas as vacas (geralmente pelo peão caseiro), o balde de
leite é trazido à cozinha. Prepara-se e serve-se o café-da-manhã; após estarem alimentados, os homens partem para o
campo e sucedem-se, então, as variadas tarefas femininas. Um trabalho constante é varrer o chão batido, ou e
alvenaria, da cozinha e despensa, das demais dependências da casa e, também, limpar o terreiro em torno das casas.
É fornecido o alimento aos porcos e galinhas e os ovos são recolhidos. Lava-se a roupa. Prepara-se o almoço; na tarde,
o café; à noite, a janta. As horas intermediárias são ocupadas com tarefas suplementares à lide doméstica, tais como
preparação de alimentos para posterior cozimento, trabalhos manuais ou artesanato, conserto de roupas de trabalho,
de panos de prato, etc. Ao entardecer é servido o jantar; geralmente seu preparo é mais rápido em relação ao almoço.
Após a janta, os homens se reúnem no galpão. No verão a colheita de fruta dá ensejo ao preparo de doces em tachos
de cobre, como figada, marmelada, pessegada.
Segundo a entrevistada Sonia Garibaldi: “Ah sim, 6h da manhã a gente levanta, tiro leite, agora não tenho tirado leite,
dou comida para os cachorros e o primeiro bom dia é para os cachorros, a gente levanta eles já começam a latir e
incomodar, depois o Leomar sai pra campo e eu fico fazendo minha vida, lavando roupa, eu tenho minhas atividades na
rua, eu saio bastante, o Leomar que não sai, mas, eu saio bastante sempre tenho minhas atividades, minhas visitas,
minhas coisas pra fazer eu tenho ( faz trabalhos de pastoral junto aos grupos de terceira idade da igreja católica)”.
Trabalha na horta e no pomar, cria galinhas.

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7. Tempo

7.1. PERIODICIDADE O ano todo, tarefas cotidianas.

7.2. OCORRÊNCIA EFETIVA

As atividades relacionadas ao manejo dos rebanhos – ordenha, carneada, etc. - que integram as lidas caseiras rurais
no Rio Grande do Sul remetem à chegada dos colonizadores europeus, momento em que os rebanhos são introduzidos
na região e, posteriormente, a instalação de propriedades rurais.

8. BIOGRAFIA

Dona Nélzia - é esposa de Seu Brasileiro (capataz da fazenda Sta Leontina). Moram na fazenda juntamente com a
filha, genro e neta. Iniciou suas atividades como copeira e depois passou a ser cozinheira. É responsável, com a ajuda
de sua filha Luci, por cozinhar, limpar a casa grande e a casa dos empregados, passar e costurar. O preparo diário de
refeição para os peões, e demais pessoas que ali se encontram, é de sua responsabilidade, assim como o cuidado com
horta e com o jardim. A feitura de doces (chimias de frutas) também é realizada por Nélzia. Fora da fazenda, ocupa a
função de cozinheira em piquetes na Semana Farroupilha de Aceguá. É nome conhecido na região, pela culinária que
apresenta nos concursos das Semana Farroupilha de Aceguá e Bagé. Suas receitas constam no Livro de Culinária
Campeira de Aceguá que é resultado desses concursos.
Micael Peres Bezon – peão caseiro da Fazenda Santa Leontina em Aceguá. Suas atividades compreendem a ordenha,
carneação de animais, manutenção da limpeza dos galpões e área externa, alimentação dos animais do pátio (porcos,
galinhas, cães, etc.).
Zé Mário - Peão de estância na Fazenda Boa Vista – Herval/RS. Suas atividades compreendem a ordenha, carneação
de animais, manutenção da limpeza dos galpões e área externa, alimentação dos animais do pátio (porcos, galinhas,
cães, etc.).
Sônia Carlota Cabreira Garibaldi – proprietária rural em Hulha Negra/RS. Faz toda a lida caseira em sua propriedade
e também participa das atividades campeiras junto ao seu esposo, Leomar Moreira Garibaldi. Não possui empregados.
Luci Mari de Oliveira Siqueira – Mora na Fazenda Santa Leontina acompanhando seu esposo (Neco – sota capataz,
autoridade imediatamente inferior à do capataz), seu pai (capataz), sua mãe (Dona Nélzia – cozinheira) e sua filha. Luci
exerce todas as atividades juntamente com sua mãe nessa propriedade rural. Fora da fazenda, ocupa a função de
cozinheira em piquetes na Semana Farroupilha em Aceguá.
Flávia Blanco – casada com o proprietário rural Minga Blanco, atua na lida caseira e é professora. Mora em
Aceguá/RS na Estância Minuano de propriedade da família.

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9. ATIVIDADE

9.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


As atividades relacionadas ao manejo dos rebanhos – ordenha, carneada, etc. - que integram as lidas caseiras rurais
no Rio Grande do Sul remetem à chegada dos colonizadores europeus, momento em que os rebanhos são introduzidos
na região e, posteriormente, a instalação de propriedades rurais.
As atividades da “volta das casas” sofreram alterações significativas em suas formas com a introdução de tecnologias
que facilitaram o trabalho doméstico, como, por exemplo, as vassouras de “guanxuma” (feitas de um galho de árvore
como cabo e ramo de ervas ou arbustos como escova da vassoura), que foram substituídas por vassouras industriais,
máquina de lavar roupa, máquina de cortar e a máquina de moer carne, usadas na feitura de cortes de carnes e na
confecção de derivados desse produto; a máquina de costura, e outros aparelhos eletrodomésticos que facilitam o
trabalho interno e a conservação dos alimentos.
Flávia Blanco (interlocutora da pesquisa, produtora rural) comenta, em várias passagens de sua entrevista sobre as
mudanças percebidas no contexto rural, faz referência aos processos de masculinização, trabalho/ presença das
mulheres e de envelhecimento do campo.

Com relação à masculinização do campo, ela diz: “[...] acho que hoje a presença da mulher no campo é menor, ela já
foi mais expressiva...” [...] “Porque na verdade como o espaço de trabalho para a mulher é pequeno, o homem tem
muitas funções ainda masculinas, mas para a mulher não existem tantas funções porque esse espaço doméstico dessa
propriedade rural diminuiu, mas mesmo assim, também não era tão grande que justificasse muitas mulheres no campo.
Acho que as mulheres não têm muitas oportunidades de trabalho no campo, são poucas, a não ser assim na lida da
casa, na subsistência, algumas mulheres que ocupam funções, mais nesse universo dito masculino; é um universo de
funções bem marcadas.”
Mencionou, ainda, que tem uma amiga que assume o trabalho na terra, corta palha, faz alambrado, mas é uma das
poucas. Caracteriza o universo campeiro como um universo machista, onde as funções são culturalmente bem
marcadas, “até em função da lida ser pesada, mas se encontra hoje mulheres fazendo funções que antes eram
masculinas, mas são poucas.”
Quanto ao trabalho/ presença das mulheres no campo: “As mulheres (dos trabalhadores rurais), normalmente os
que têm mulheres, tem muita gente que não tem mulher, ficam nas vilas, nas cidades. Antigamente era bem mais
comum que trabalhassem os casais, hoje em função desse espaço doméstico na zona rural ter diminuído, vamos dizer
que, assim... em função de leis trabalhistas, da melhor condição salarial e também da diminuição do tamanho das
propriedades que começam a ser fracionadas, antigamente era muito normal ter a cozinheira, ter mais mulheres no
estabelecimento, e alguns (trabalhadores rurais) eram, assim, casados.”.
Flávia comenta que ainda existem benzedeiras no Aceguá, mas que não existem mais parteiras pela proximidade da
cidade; dos serviços de saúde e sobre as lavadeiras ressalta: “[...] é, a lavadeira, normalmente ela não morava na
estância, a lavadeira era uma pessoa tipo agregada, assim, ela morava no encosto da estância ou na vizinhança,
assim, pessoas que precisavam trabalhar. Mas tinham estâncias que tinham dinheiro, lavadeira, tinham copeira,
cozinheira. A minha sogra conta que aqui, assim, antigamente, era um estabelecimento só (e que agora aqui é
fracionado, são três estabelecimentos, mais uma parte de lavoura; são 4, na verdade. Mas, quando aqui era um único
estabelecimento), ela lembra de situações de ter 7 mulheres aqui, trabalhando”.
E, sobre o envelhecimento do rural, a entrevistada fala que: “Isso, eles falam na masculinização da zona rural e no
envelhecimento também, acho que em seguida tem que haver políticas públicas para fixar os jovens no campo, porque,
talvez, um movimento que ainda não seja muito perceptível, mas a evasão dos jovens é bem grande. Se a gente for
fazer um levantamento, assim, a questão do transporte escolar, do acesso à escola, acho que amenizou um pouco,
mas, amenizou no sentido de retardar a saída dos jovens do campo, porque chega uma idade que eles querem sair.”

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Sônia Carlota Garibaldi fala do êxodo rural, do afrouxamento das relações de reciprocidade entre vizinhos e
parentes; envelhecimento e masculinização do campo.
Diz que na localidade de Meia’Àgua não tem mais crianças, não tem mais escola. A percepção do processo de
envelhecimento das pessoas que permanecem no campo é vivido e destacado pelo trabalho na pastoral. Conforme
Sônia:
- “Vão estudar e ai já ficam lá arrumam serviço. Meus filhos mesmo também, a menina mora aí, mas trabalha na
cidade. Mora porque quer porque por mim não morava. Por mim ela morava na cidade, mas ela gosta, gosta da
campanha assim. Ela estudou e veio embora e eu disse como é que tu vai estudar e vim pra campanha de volta.”
- “Tem pouca, na nossa região aqui eu digo pra vocês não tem uma criança, um adolescente, nenhum jovem e da idade
de trinta e tantos pra cima, isso que é um casal só que tem aqui de trinta e poucos porque os demais é de cinquenta
pra cima, não tem colégio não tem nada porque não tem criança não tem nada na nossa região terminou
completamente não tem criança.”
- “Não voltam depois de irem não voltam, os que ficaram, ficaram, os que foram não voltam, depois de ir não voltam.
Assim ó é muito pouca coisa pra todos viver né. Por que um casal vivia aqui ta, criou os filhos, mas, depois não dá pra
todos ficarem aqui com as famílias, que jeito? Depois começa o colégio e ai tem que ter condução pra levar, por que
agora tem condução pra levar porque não existe mais escola, não tem porque escola não tem mais criança”.
- “P: nesse grupo de terceira idade que a senhora trabalha?
Sônia: Tem uns quantos eu tenho oito idosos, tens uns quantos são uns casais assim, são mais velhos, mas a
realidade também é diferente do idoso da cidade. Porque o idoso da cidade é assim ó, quando a gente fez a
capacitação então é assim ó, é aquele idoso que é carente que a família trabalha e que fica em casa sozinho as vezes
dependendo de cuidadores, só que os nossos idosos aqui todos trabalham e vivem do trabalho, são aposentados mas
vivem do seu trabalho, não estão assim ó.
P: Com quantos anos?
Sônia: De setenta e poucos pra cima, quase oitenta.
P: Trabalhando na lida?
Sônia: Trabalhando na lida do campo, tem um mesmo um senhor que tem 75 e outro 79 e passam no campo
trabalhando, não tem, são idosos, visitam aquela coisa toda, eles gostam adoram a minha visita, eu aviso que vou e
eles ficam em casa, não saem nem pro campo.”
O deslocamento das mulheres para a cidade, muitas delas acompanhando os filhos na Escola, gera um afrouxamento
das redes de reciprocidade no campo, segundo Sônia: “Mas meus pessegueiros estão muito feios já, eu tinha
quantidade de pessegueiros então a gente fazia um mutirão assim antigamente, tinha um monte de mulher e todas
tinham. A gente se juntava ali naquela casa, passava pêssego daquela casa e ia pra outra passava e assim todas
ajudavam, só que foi terminando as mulheres foram embora e agora não tem mais ninguém pra trabalhar, e os
pessegueiros foram morrendo e eu disse pro meu marido, tu não me planta mais nem um pé de pessegueiro, que eles
vão terminar junto comigo porque eu não posso mais fazer sozinha, me vence porque ele passa do tempo, aí ele
amadurece e não presta mais.”

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9.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES


SELEÇÃO DE LETRA DE MÚSICA QUE FALA SOBRE A CARNEADA, PARTE DAS LIDAS CASEIRAS

AÇOUGUEIRO
(Telmo de Lima Freitas)

O pulso é o fiel da balança


Empunhando a carneadeira,
Rude e guapa companheira
Para qualquer puxirão,
Corta da ponta ao gavião,
Cabo de pau falquejado,
Com três pinos remachados
Na empunhadura da mão.

Só vendo com que destreza


Sangra, coureia e desmancha.
E segue pedindo cancha
Na munheca do Zé Grande.
A experiência que comande
No seu jeitão de carnear,
Vai tirando o costilhar
No estilo do Rio Grande.

Golpeia um golpe daqueles


De afugentar mau-olhado,
Avental ensanguentado
Cheirando a chão de sangria,
Tapado de judiaria,
Vai coureando a própria vida,
Cheirando a alma na lida
Pra retalhar mais um dia.

E quem passa na Glorinha,


Bem logo ali, mais adiante,
Vai encontrar um gigante
Prestativo ao seu dispor,
Um gaúcho, sim senhor,
Zé Grande por apelido,
Graças a Deus, bem vivido,
Açougueiro e carneador.

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9.3. CRONOLOGIA –

As atividades relacionadas ao manejo dos rebanhos – ordenha, carneada, etc. - que integram as lidas caseiras rurais
no Rio Grande do Sul remetem à chegada dos colonizadores europeus, momento em que os rebanhos são introduzidos
na região e, posteriormente, a instalação de propriedades rurais
Grandes extensões de terras necessitavam grande número de trabalhadores em todas as lidas. A lida caseira agregava
um número expressivo de mulheres nas propriedades rurais.
O ofício da parteira se institui, assim como o da lavadeira que percorre várias propriedades morando ao redor destas ou
na vizinhança.

DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

10. PRODUTOS PATRIMONIAIS

10.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

10.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO

ETAPA ATIVIDADE
Preparação do O dia na estância começa com o acender do fogo a lenha e o esquentar da água para o chimarrão
chimarrão ou
mate

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Ordenha Retirada do leite das vacas para consumo da propriedade e feitura de queijo.
Serviço da Preparo dos alimentos para as refeições tanta dos peões como da casa (sede): café da manhã,
cozinha almoço e janta, feitura de doces e pães.
Trato com os Hora de alimentar galinhas e porcos bem como recolher os ovos.
animais ao redor
das casas
Limpeza dos Limpeza e organização de todas as dependências da propriedade e inclusive da área externa (ex:
galpões, ranchos recolhimento de folhas caídas, concerto de aramados, corte de gramas e espinhos)
e casas
Corte de lenha Corte de lenha para o fogão e lareira.
Pomar e Horta Cuidados com o pomar e horta, limpeza, retirada de ervas daninhas, podas, colheita de frutas.
Esquila Trabalho de esquila da ovelha que será carneada para a alimentação dos trabalhadores e
proprietários.
Carneada Carneada de gado, ovelha e porco para a alimentação interna da propriedade (geralmente
executada cedo pela manhã ou à tardinha quando o sol está mais baixo e a incidência de insetos é
menor)

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10.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Trabalhador Manutenção doméstica e cotidiana da propriedade rural. Esses trabalhos encerram desde os
caseiro (peão serviços de cozinha e limpeza da casa – ou das casas, quando há casas de empregados – até a
caseiro) e capina, a ordenha, o cuidado com os chiqueiros, galinheiros, jardins e hortas. As lidas “da volta das
trabalhadora casas” podem incluir, ainda, a carneada de algum animal, desde que para o consumo doméstico.
caseira Muitas vezes, quando há famílias de empregados morando na estância ou próximas a esta,
acontece da esposa de algum funcionário se ocupar das lidas caseiras. Há também os casos em
que são contratadas copeiras, cozinheiras (ou cozinheiros) e peões caseiros. Uma presença
bastante lembrada quando se trata de lidas caseiras é a das lavadeiras, que percorriam estâncias e
propriedades rurais, recolhendo roupas para lavarem em córregos ou arroios.
Flávia Blanco falou da importância das atividades domésticas exercidas pelas mulheres, na
estância e da invisibilidade dessa presença feminina no meio rural: “eu sempre fiquei em casa,
até porque a nossa família é muito masculina, tem muitos homens, eu sou a única mulher que tem;
se vai pro campo, aí sim, a casa vira uma tapera, então tem que ter mais ou menos essa presença
feminina, que eu acho que faz muita diferença; só, ela é muito invisível. [...] Tem uma cozinheira que
é geral, assim, cozinha para todo o mundo, mas eu sempre fui assim de fazer pão, fazer massa,
fazer doce, fazer queijo, fazer toda essa parte; assim, sempre fui eu que fiz, aí também sempre,
horta, estas “coisa” assim; eu sempre tive, assim, essa questão de lidar com essa coisa que faz
muita diferença, a gente está na zona rural e ao mesmo tempo providenciar bastante da
subsistência, não ter que comprar tudo de fora; então, produto industrializado até, hoje aqui entra,
mas bem pouca coisa; a gente compra mais a farinha, o açúcar, o arroz, e eu compro algumas
outras coisas principalmente quando eu estou trabalhando muito, se eu não estou, a gente sempre
tenta fazer tudo em casa”.
Segundo Flávia Blanco: “Muitas vezes a mulher, não só a do proprietário rural, as mulheres de
pequenas propriedades, que os maridos iam para as estâncias trabalhar, elas ficavam em casa
fazendo toda a lida [...] cortando lenha, tirando leite, cuidando dos filhos [...]; tem a mulher
administradora da propriedade, tem a mulher que cuida da casa [...]. Tem a cozinheira e a lavadeira,
hoje já não existe, mas, também existia bastante. As lavadeiras normalmente eram essas mulheres
dos arredores que também marcavam como atividade econômica, e tem as que fiam lã, e até hoje
tem”.

10.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


O conjunto de edificações da propriedade rural que é abrangido pelas lidas caseiras é composto
basicamente pela casa sede, casas dos empregados, galpões, cocheiras para cavalos, chiqueiros
para porcos, galinheiros, pomar, horta; a manutenção e limpeza de todo e qualquer prédio, cerca ou
DESCRIÇÃO outra edificação erguida próxima às casas são de responsabilidade dos “caseiros” e “caseiras”.
A configuração da propriedade rural pode ser alterada em razão do tipo de exploração econômica,
do tamanho da propriedade, da quantidade de funcionários, quantidade de animais, entre outros.
QUEM PROVÊ Proprietários rurais.
FUNÇÃO Manutenção doméstica e cotidiana da propriedade rural. Moradia dos proprietários e empregados,
galpões para guardar artefatos de uso cotidiano e para execução de múltiplas tarefas, cocheiras (ou
baias) para pernoite de cavalos, encerra para animais,

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10.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


DESCRIÇÃO Todos os artefatos necessários ao preparo de alimentos e limpeza das casas e da volta das casas.

QUEM PROVÊ Proprietários rurais.


FUNÇÃO /
Manutenção doméstica e cotidiana da propriedade rural
SIGNIFICADO
Os alimentos são geralmente produzidos dentro da propriedade rural, tal como carne de gado
bovino, ovino e suína. Também são feitas hortas e pomares para colheita de legumes, verduras e
frutas.
DISPONIBILIDADE
Os equipamentos necessários para a feitura das refeições tais como panelas, louças, fogão à lenha,
instrumentos de limpeza, facas para a carneada de animais e utensílios para a ordenha são
disponibilizados pelo proprietário rural.

10.6. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO As refeições são geralmente à base de carne, arroz, feijão e saladas, doces caseiros e sucos.

QUEM PROVÊ O proprietário


FUNÇÃO /
Alimentação dos trabalhadores e proprietários.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO Chimarrão ou mate.

QUEM PROVÊ O proprietário rural ou os próprios funcionários.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate” entre as mulheres ou os peões se
SIGNIFICADO reúnem para conversar sobre a lida cotidiana ou contar causos.

10.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

Não há
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.8. TRAJES E ADEREÇOS

DESCRIÇÃO Avental

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou o próprio funcionário.

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FUNÇÃO /
Proteção da roupa do trabalhador e da trabalhadora
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO Botas de borracha

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou o próprio funcionário.


FUNÇÃO / Proteção para trabalhador e para trabalhadora em algumas lidas externas, como alimentar os
SIGNIFICADO porcos, carnear, ordenhar. Cabe salientar que não são trajes obrigatórios das lidas.

10.9. DANÇAS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.10. MÚSICAS E ORAÇÕES

Durante a execução da lida não há. Sobre a Música do ofício da lida caseira ver Item: 9.2 Narrativas e Representações
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO

NÃO HÁ ATIVIDADE ESPECÍFICA


EXECUTANTE ATIVIDADE

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Grande,
Aceguá,
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entorno Negra,
Herval,
Bagé e
Piratini

11. DESTINAÇÃO DO PRODUTO

PARA USO PRÓPRIO X VENDE X TROCA X OUTRO ESPECIFICAR

PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO X
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO X INTERMEDIÁRIO X COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO

12. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

Não há

13. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Pastoreio F60-1


Lidas Campeiras - Esquila F60-3
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras - Ofício do F60-5
Guasqueiro
Lidas Campeiras - Aramado F60-6
Lidas Campeiras - Tropeada F60-7

14. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio – F10

15. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

15.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

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entorno Negra,
Herval,
Bagé e
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15.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


F1 –A2 – 2: 7.

15.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2 – 1 – 374-353; 578-587; 370-435; 1173; 1373-1375.

16. OBSERVAÇÕES

16.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.


Discutir o dado da masculinização do campo em que – face à formalização dos contratos de trabalho e,
consequentemente os encargos trabalhistas que daí surgiram, acarretou a diminuição dos empregados nas fazendas –
há preferencialmente o emprego de homens para conjugar as lidas caseiras e campeiras.
Flávia Blanco menciona ainda a precariedade dos serviços públicos no campo – educação e saúde - como fator que
ocasiona o êxodo familiar. As mulheres acompanham os filhos que vão estudar na cidade, onde ingressam no mercado
de trabalho. Associado às dificuldades de manutenção da propriedade rural / permanência das pessoas no campo,
discutir também: a atração que o modo de vida urbano exerce sobre os jovens; desvalorização do campo;
envelhecimento.

16.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA

NÃO HÁ

16.3. OUTRAS OBSERVAÇÕES

17. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 13, 25, 26, 29


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues e
Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Flávia Rieth e Marília Floôr Kosby.
REDATOR Liza Bilhalva Martins da Silva e Marta Bonow Rodrigues DATA

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Grande,
Aceguá,
Região de Pelotas,
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entorno Negra,
Herval,
Bagé e
Piratini

RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth 17.04.2013


INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região
Pelotas,
de
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Hulha 2013 F60 3
Bagé/RS
Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER e entorno
Herval,
Bagé e
Piratini
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense - Antigos Caminhos das Tropas)
Prática de esquila etnografada em Aceguá (Minuano) e Herval (Boa Vista),
LOCALIDADES
com ocorrência em todo o sítio inventariado.
Bagé, RS
MUNICÍPIO / UF
Herval, RS

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida Campeira - Esquila


OUTRAS DENOMINAÇÕES Tosquia
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

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Região de Aceguá,
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RS Bagé/RS e Pelotas, Hulha 2013 F60 3
FAZER
entorno Negra, Herval,
Bagé e Piratini

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.
X
NOME Edson Rodrigues MASCULINO 42
FEMININO
Empreiteiro e esquilador da comparsa que realizava DATA DE
a esquila na Estância Minuano; 66 anos,
OCUPAÇÃO NASCIMENTO /
Proprietário da máquina de esquila, sócio do 1946
Mantiaca FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO
X MASCULINO 43
NOME Paulo Perez Siqueira
FEMININO
Atador/levantador de velo, pagador da comparsa
(realiza o controle do número de ovelhas esquiladas DATA DE
OCUPAÇÃO por esquilador) que realizava a esquila na Estância NASCIMENTO / 1970
Minuano;
FUNDAÇÃO
Peão campeiro, trabalhador rural.
MESTRE PRODUTOR PÚBLICOX
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________
X MASCULINO 44
NOME Nélio Pereira
FEMININO

Cozinheiro e embolsador da comparsa que realizava DATA DE


OCUPAÇÃO a esquila na Estância Minuano; NASCIMENTO /
Trabalhador rural. FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________
X MASCULINO 45
NOME Zé Mário
FEMININO
DATA DE
Trabalhador rural, peão que realizou a esquila de
OCUPAÇÃO ovelhas e a carneação de uma delas para o NASCIMENTO /
consumo interno da Estância Boa Vista, Herval /RS
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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FAZER
entorno Negra, Herval,
Bagé e Piratini

Imagem 01 – Tosa a martelo


Herval – Estância Boa Vista

Imagem 02 – Tosa a martelo, Seu Zé Mario


Herval – Estância Boa Vista

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Bagé e Piratini

Imagem 03 – Esquila à máquina, Seu Edson Rodrigues


Estância Minuano - Aceguá

Imagem 04 – Comparsa de esquila à máquina


Estância Minuano - Aceguá

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Bagé e Piratini

4. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO


Atividade que integra a lida campeira executada pelo esquilador em comparsa; A comparsa para o trabalho de tosa das
ovelhas se compunha: além do esquilador, pelo o empreiteiro e/ou proprietário da máquina que negocia com o dono do
rebanho e paga os peões; pelo agarrador, responsável por manear as ovelhas; pelo cancheiro, responsável pela
limpeza da cancha suja com os excrementos do animal; pelo descascarreador que limpa a região posterior da ovelha
em que a lã fica suja de fezes; pelo o atador dos velo; pelo levantador que alcança os velos para o embolsador, que
organiza os fardos e, pelo cozinheiro responsável por carnear a ovelha e esquentar a água do chimarrão. Conforme o
número de integrantes da comparsa, do grupo de homens trabalhando, e do tamanho do rebanho a ser esquilado,
algumas destas funções podem ser executadas por uma só pessoa.
A tosa de ovinos é realizada com os animais vivos e a lã extraída é utilizada para feitura de artefatos – em que se
destacam os instrumentos de trabalho: arreios, laços, etc. - e roupas. Esta atividade é realizada “por safra”, de outubro
a dezembro, após o inverno; e, é executada no galpão.
Na região de Bagé predomina a raça Corriedale que tem bom peso de lã e carne.

5. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

5.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


As ovelhas ficam reunidas do lado de fora do galpão, em uma mangueira, local onde o agarrador vai buscá-las para a
Tosa. A Esquila é realizada no interior do galpão.
Inicialmente se tosa o dorso do animal, do velo de lã limpa, de melhor qualidade; depois das patas soltas, com a ovelha
de barriga prá cima é tosado o ventre onde a lã acumula alguns resíduos, as patas e o quarto do animal, na região
posterior, são tosados ao final, nesta região a lã é considerada de baixa qualidade, em função dos resíduos de fezes,
urina e do barro.
Na Estância Minuano,em Bagé, as ovelhas depois de tosadas foram soltas em campo aberto. Já na Estância Boa Vista,
em Herval, as ovelhas voltaram para a mangueira para serem conduzidas para o potreiro que estavam.

5.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


GALPÃO
A esquila é realizada no interior do galpão. A edificação pode ser um “rancho”, coberta de palha santa fé ou telhas, com
paredes de torrão ou um prédio de alvenaria situada próximo à sede da propriedade rural; é o local onde os peões
guardam os arreios e instrumentos de trabalho. Em dias de chuva, o trabalho campeiro se desloca para o interior do
galpão e os peões ocupam-se de lidas que complementam o serviço de campo ; nesses dias,os trabalhadores
“aproveitavam para conferir as fichas, consertar alguma peça dos arreios, renovar o estoque de carvão de corticeira,
embolsar lã, lavar algumas peças de roupa com a água que caía dos beirais de zinco dos galpões e trançar alguma
corda.” (MATTOS, 2003 p.40).
O restauro dos arreios também é um dos trabalhos no galpão, e os campeiros manuseiam a matéria-prima e os
artefatos, “sovando couros, tirando tentos, trançando cordas, passando tentos em um laço ‘ramalhado’, tramando
barrigueiras, afiando esporas e outras ferramentas, costurando uma carona, consertando alguma peça dos arreios,
arrumando uma cancela, fazendo cangalhas para porcos e guaxos ovinos, etc.” (MATTOS, 2003 p.40).
Também no galpão acontece a roda de chimarrão, contam causos em torno do fogo de chão.

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PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS


A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

5.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


Preferencialmente, a esquila é realizada no período de sol alto, até por volta das 16 horas da tarde para não submeter
os ovinos a grandes mudanças de temperatura. A ovelha é apresentada como um animal frágil, facilmente pode morrer
submetida ao rigor das temperaturas de inverno, ou “se quebrar”, com isso a lida com ovelhas é tida como difícil.
Na estância do Minuano, a esquila, no ano de 2012, foi realizada no final da safra, em dezembro, cumprindo-se uma
jornada de 8 horas por dia: das 08 às 12 e das 14 às18, não acompanhando o horário de verão vigente. Já na estância
Boa Vista, observou-se o cair da tarde para finalizar o trabalho, realizado no horário do “sol alto”.

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6. Tempo

6.1. PERIODICIDADE O tempo de tosquia, a “safra”, é de outubro a dezembro, findo o rigor do inverno.
As ovelhas são esquiladas todos os anos, nesse período.
A tosa dos cordeiros, animais jovens de até um ano de idade, ocorre, geralmente em fevereiro,
em razão da época do nascimento e do crescimento da lã.

6.2. O CORRÊNCIA EFETIVA – As lidas com ovinos remete a introdução dos rebanhos trazidos pelos colonizadores
europeus na América.

7. BIOGRAFIAS

Edson Rodrigues. Exerceu a lida por 29 anos, há 15 não tosava mais: E, agora, faltou esquilador, os outros não
puderam vir. Aí eu tive que pegar aqui. Parou de esquilar em razão de problemas de saúde – meu mal é a cintura.
Antigamente também lidava com doma e carreiras, conforme ele as carreiras - corridas de cavalo - não acontecem
mais. Aprendeu a esquilar com 12 anos: Eu aprendi com os mais velhos, eu era guri (...) me entusiasmei e fui pegando,
foi seguindo o bolero e fui pegando. Trabalhava como esquilador na região. Tem filhos.
Paulo Perez Siqueira.Nasceu em 1970, na cidade de Aceguá. Mora na cidade, na localidade do Minuano.
Atador/levantador de velo, pagador da comparsa que realizava a esquila na Estância Minuano.Peão campeiro,
trabalhador rural. Paulo é neto de esquilador; é irmão do Marcos Peres (Neco).
Nélio Pereira. Natural de Aceguá, localidade da Colônia Nova. Cozinheiro e embolsador da comparsa que realizava a
esquila na Estância Minuano. Trabalhador rural.
Zé Mário. Trabalhador rural na Estância Boa Vista , no município de Herval / RS.
Minga Blanco. Proprietário da Estância Minuano. Executa as atividades da lida campeira, participa em festas de rodeio
como ginete e é conhecido na região como mantenedor das “tradições” relacionadas ao conhecimento das lidas
campeiras que envolvem o Rio Grande do Sul e suas fronteiras com Uruguai e Argentina. Durante os períodos de folga
de seus trabalhos principais, executa artesanato em couro e desempenha todo o processo, desde a extração do couro
do animal (coureada), passando pela raspagem do pelo, estaqueamento do couro, retirada dos tentos e finalizando com
o trançamento dos mesmos. Além da produção de cordas, faz artefatos variados em couro animal.
Eliezer Sousa. Poeta, técnico em administração rural na Universidade da Região da Campanha em Bagé/RS. Reside
na cidade de Bagé e possui propriedade rural em Mei’água - Hulha Negra.
Eron Vaz Mattos. Eron trabalhou na lida campeira enquanto morou na pequena propriedade rural da família, na
localidade de Olhos D’Água - Bagé. Aprendeu o trabalho do campo com o pai. Músico, poeta e pesquisador.
Funcionário público aposentado. Proprietário de pequena propriedade rural.
SANTA CÉLIA PEREIRA DA SILVA. Antes de aprender a fiar e tecer lã de ovinos, dona Célia foi aramadora, trabalhava com
o pai consertando alambrados. Aprendeu a fiar e tecer com uma tia, que trabalhava com dois irmãos espanhóis, os
Ourique, em Bagé. Dos 14 filhos, apenas dois trabalham com lã. Ela e os filhos participam da cooperativa de artesanato
em lã da comunidade de Tamanduá. "Diz-se da Comunidade Quilombola de Tamanduá. Próximo a essa comunidade há
a colônia de alemães.Dona Célia diz que no tempo de seus avós negro não casava com branco: 'os brancos pegavam
os negros para escravos. E negro é gente muito orgulhosa! Não gostavam de misturar. Deus o livre!'. Conta que sua
avó tinha as costas marcadas por mordidas de cachorro, que esta foi criada por uma família branca, e depois casou-se
com seu avô.Segundo ela,o reconhecimento da comunidade como quilombola ajudou na organização dos moradores.
Há uma cooperativa que trabalha com artesanato em lã. Antes de aprender a fiar, trabalhava como aramadora junto
com o pai.

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8. ATIVIDADE

8.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


Em princípio, os esquiladores eram chamados em grupos para efetuarem a tosa nas estâncias. As chamadas
“comparsas” muitas vezes eram compostas por mais de 50 homens, que tosavam centenas de ovelhas usando uma
tesoura específica para esquilar, prática chamada de “tosa a martelo”.
No contexto de modernização surge a máquina de tosa, aparelho que dinamiza esta atividade. As transformações no
processo de trabalho acarretam a diminuição da mão de obra especializada do tosador e sua comparsa, fazendo com
que a tesoura a martelo e o seu manipulador se tornem figuras raras no pampa sul-rio-grandense.
Na Estância Minuano foram esquiladas à maquina, por volta de 700 ovelhas, cruza das raças Corriedale e Merino. na
Estância Minuano, no tempo do avô de Minga Blanco o rebanho de ovelhas tinha em torno de 6.000 animais.
Antigamente a criação de ovelhas era uma atividade rentável podendo ser até a fonte econômica principal da
propriedade.

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8.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES

A esquila é descrita como uma atividade “dura”, como toda a lida campeira exige esforço físico em razão do manejo repetitivo da
tesoura, pelas horas em que o peão permanece com o corpo curvado e pela necessidade do uso da força para levantar/trabalhar o
animal . Nesse sentido, os peões usam uma faixa na cintura para proteger as “cadeiras” (região do quadril) e uma tira de pano atada
no pulso - da mão que maneja a tesoura - para “não se abrir”. Outro cuidado, conforme Vaz Mattos (2003), é aguardar para tomar
banho, pois a cera da ovelha é quente e a água do banho sendo fria pode ocasionar um “pasmo”. Outro esquilador não trabalha se
não estiver com a “tavinha de sorro” na cintura, protegendo as “cadeiras”. A “tavinha de sorro” é um osso de graxaim/ sorro
(Pseudalopex gymnocercus) que se crê proteger as “cadeiras” na lida.
Destaca-se também a sociabilidade pelo trabalho ser executado em grupo, na comparsa, em que se descreve o
contar causos, conversas sobre peleias, carreiras, gineteadas, tropas, bailes, caçadas, assombrações, conversas que
se intensificam após o termino do trabalho, no ambiente do galpão. (MATTOS, 2003).

SELEÇÃO DE LETRAS DE MÚSICAS SOBRE A ATIVIDADE DA ESQUILA:

ESQUILADOR
(TELMO DE LIMA FREITAS)
Quando é tempo de tosquia já clareia o dia com outro sabor;
As tesouras cortam em um só compasso enrijecendo o braço do esquilador;
Um descascarreia, o outro já maneia e vai levantando para o tosador;
Avental de estopa, faixa na cintura e um gole de pura pra espantar o calor.

Alma branca igual ao velo, tosando a martelo quase envelheceu;


Hoje perguntando para a própria vida pr'onde foi a lida que ele conheceu;
Quase um pesadelo, arrepia o pelo do couro curtido do esquilador;
Ao cambiar de sorte levou cimbronaço ouvindo o compasso tocado a motor.

A vida disfarça lembrando a comparsa quando alinhavava o seu próprio chão;


Envidou os pagos numa só parada, 33 de espada, mas perdeu de mão;
Nesta vida guapa vivendo de inhapa, vai voltar aos pagos para remoçar;
Quem vendeu tesouras na ilusão povoeira, volte pra fronteira para se encontrar;
Volte pra fronteira para se encontrar.

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FAZER
entorno Negra, Herval,
Bagé e Piratini

DESCASCANDO OVEIA
(MANO LIMA)

Aí, vem chegando s safra de esquila


Vou dando um jeito e vou arrumando minha mochila
Eu sou um índio que de tudo entende um pouco
E gosto muito de perseguir o velho pila

Sou tosador, sou maneador, sou levantador


Sou atador sou embolsador, sou curador
Nos dias de chuva eu tenteio minha cordeona
Lido com corda e também sou domador.

Começa a safra e eu sempre largo na ponta


Devo bastante, preciso pagar minhas contas
E vou botando com dois cabos e uma vela
Se me sobrar algum trocado dou um chinelinho pra ela

Eu gosto muito é de tosar de tolda folha


Quadro-lhe o corpo e vou botando os barbatão
Se o patrão tá perto eu toso baixinho e parelho
Cuido demais pra não dar um beliscão.

Ela viras costas e eu largo de marretada


“Tosito” guapo enraizado neste chão.

Bueno patrão me pegue as fichas que tosei


Tem mais a bolsas que embolsei entre véu e guerra
De tosas aveia já ando “descaderado”
E cada vez tô mais pelado, não consigo arrumar nada.

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entorno Negra, Herval,
Bagé e Piratini

COPLAS DE TOSADOR
(CESAR OLIVEIRA)

Tá chegando as esquilas!!!
Já sinto cheiro de cera e as comparsas de fronteira!!!
Já andam reculutando a indiada flor de tesoura!!!
Que grude de toda folha e couro, fique alumiando!!!

Já desaguachei a moura
Afiei bem as tesouras
Tô pronto pro que vier
Ferro com as folha benzida
E os braços pra ganhá a vida
No cabo desses talher

Vou me enturmar na comparsa


Que vai lá pra Paz das Garças
Tosar miles de capão
Corriedale sem escolha
De mete de toda folha
Acolherando as duas mãos

Sendo pra lotá ficheira


Me tapo de lã e cera
Pouco me importa o calor
Se resolvo soltá o braço
Quase mato no cansaço
Quem se mete a agarrador

(É dois pulsos no martelo


Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador)

Grudo a marca santaninha


Solto lisa e rosadinha
Porque o braço não se micha!
E n'alguma escapada
Boto cortiça queimada
Garanto que não abicha!

Se me topo com as merina


Apelo pra cangibrina
Arrolhadita atrás da porta
E no couro murcilhado
Sigo de ferro embuchado
Nas rugas campeando as volta

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entorno Negra, Herval,
Bagé e Piratini

A pobreza é igual capacho


E só biqueando por baixo
Que um pobre cristão se safa
Quando largo da tesoura
Nas patas da minha moura
Prossigo espichando a safra!

É dois pulsos no martelo


Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador)

8.3. CRONOLOGIA
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - Fundação dos Sete Povos das Missões.
1626
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à Laguna
1703
Séc. XVIII - Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” – ligava
1728 Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
1730 Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu,
Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.
Séc. XVIII - Tratado de Madri.
1750
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XIX (final) Instalação dos primeiros frigoríficos
– Séc. XX
(início)
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

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Bagé e Piratini

Década 1980 / Crise no mercado internacional de lã em razão da entrada de tecido sintético.


1990
Após 1990 Cenário econômico favorável com a abertura para a comercialização internacional dos produtos
brasileiros provenientes da ovinocultura ; estabilidade financeira.

9. PRODUTOS PATRIMONIAIS

9.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

9.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO


ETAPA ATIVIDADE
Atividades Juntar os animais na mangueira para a esquila;
realizadas
concomitantemente
pelos integrantes da
comparsa
Buscar cada ovelha na mangueira, maneá-la e organizar a ordem da esquila.
Tosa das ovelhas.
Limpeza da cancha.
Amarrar os velos e jogá-los para o embolsador.
Arrumar/ costurar os fardos de lã.
Separar e carnear uma ovelha, esquentar a água para o chimarrão ou café, nos intervalos de
descanso da lida.

9.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Chefe da comparsa Esquilador; proprietário da máquina de esquila e/ ou ferramentas.
ou empreiteiro
Esquilador Tosar a lã das ovelhas e curar os ferimentos – cortes ou picões – sofridos durante a esquila.
Agarrador Buscar os animais na mangueira, trazê-los para o galpão, deixando-os maneados para serem
esquilados. Os animais eram postos em ordem, um ao lado do outro.
Cancheiro Limpeza da “cancha” - piso do galpão onde era realizada a esquila – que consiste na secagem da
urina da ovelha com saco de estopa e recolhimento do esterco com pá ou vassoura;
e,recolhimento da lã da garra da ovelha que ficava espalhada na cancha.
Descascarreador Limpeza das fezes do animal acumuladas na lã na traseira do animal – cascarra -, por vezes,
esta limpeza era realizada pelos peões da propriedade dias antes da chegada da comparsa.
Cozinheiro Encarregado de carnear a ovelha para a refeição, esquentar a água para o mate e lavar pratos,
talheres e canecas.
Atador Atar os velos
Levantador Levantar/jogar os velos para serem embolsados.

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Embolsador Organiza os velos de lã nos fardos, faz a costura para o fechamento dos fardos. Nas pontas, é
colocado um punhado de lã de menor qualidade para formar as orelhas por onde se agarra o
fardo.
Pagador Pagar por ovelha esquilada, processo que consiste em colocar uma moeda por ovelha nas latas
coletoras de cada esquilador a fim de realizar a contagem, ao final do dia, do número de animais
esquilados. De acordo com esta contagem, ocorre o pagamento do serviço realizado pelo chefe
da comparsa a cada esquilador. Esta conta também é conferida pelo proprietário dos animais que
contrata a comparsa.
Obs: conforme o número de integrantes da comparsa e do tamanho do rebanho, um peão pode
acumular várias funções: atar os velos, jogá- lós para o embolsador, fazer a conferência das
ovelhas esquiladas; limpar a cancha e agarrar os animais na mangueira fora do galpão.

9.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


O chefe da comparsa é o proprietário da máquina e, é quem negocia com o proprietário do rebanho
DESCRIÇÃO
a execução do serviço no estabelecimento rural.
QUEM PROVÊ Proprietário rural
FUNÇÃO Serviço Especializado

9.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


DESCRIÇÃO TESOURA da “tosa a martelo”

QUEM PROVE O empreiteiro da comparsa, o esquilador ou o proprietário rural


FUNÇÃO/
Tosar o animal
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Ainda se encontra para a venda no comércio especializado.

DESCRIÇÃO MÁQUINA DE TOSA

QUEM PROVÊ Chefe da comparsa


FUNÇÃO /
Tosar o animal
SIGNIFICADO
Conforme seu Edson Rodrigues, a máquina de esquila de sua propriedade deve ter “mais de
noventa anos, isso deve ter mais de cem anos, foi uma das primeiras máquinas que entrou no
Brasil, é exportação isto é da Alemanha, na época que havia [...], agora já tem pouco, mas a
DISPONIBILIDADE
máquina continua a mesma. Depois tem máquinas novas já inventaram, mas não ta dando
resultado. Continuam as antigas.”
As máquinas de tosa industrial são comercializadas em lojas agropecuárias.
DESCRIÇÃO BOLSA DE LÃ

QUEM PROVÊ Proprietário Rural


Embolsar a lã retirada na tosa do animal. A bolsa de lã é um tipo de saco de estopa retangular com
FUNÇÃO / tamanho aproximado de 1 metro por 2 ou 2,5 metros, com três lados costurados com barbante de
algodão e um dos lados aberto, que será costurado após a lã estar depositada em seu interior. Nas
SIGNIFICADO pontas, é colocado um punhado de lã de menor qualidade para formar as orelhas por onde se agarra
o fardo.
Estão disponíveis no comércio especializado, como lojas de venda de produtos agropecuários e
DISPONIBILIDADE
indústria de produção desse material.

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9.6. COMIDAS E BEBIDAS .


CARNE - A alimentação preferencial dos campeiros consiste em carne ovina ou, algumas vezes,
DESCRIÇÃO
bovina.
QUEM PROVÊ Proprietário rural
FUNÇÃO /
Alimentação dos trabalhadores e proprietários rurais.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO CHIMARRÃO ou MATE.

QUEM PROVÊ Proprietário rural ou os esquiladores.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate”, em geral no galpão, onde apões o
SIGNIFICADO trabalho, os peões se reúnem para conversar sobre a lida cotidiana ou contar causos.

9.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS : NÃO HÁ


DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

9.8. TRAJES E ADEREÇOS

A Pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. Compõe a pilcha: botas (calçado próprio
para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o pé e a perna), bombacha (calças presas por
DESCRIÇÃO botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata,
chapéu (feito de couro ou feltro); é pilcha todo objeto de valor ou adorno que faz parte da montaria
do gaúcho.
QUEM PROVÊ Proprietário rural e peão campeiro
FUNÇÃO /
Vestimenta
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO Avental de esquilador

QUEM PROVÊ O esquilador, o chefe da comparsa ou o proprietário rural.


FUNÇÃO / Proteger as roupas do trabalhador do contato com a lã da ovelha (e do sebo natural que se encontra
SIGNIFICADO na lã).

9.9. DANÇAS Não há


DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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Bagé e Piratini

9.10. MÚSICAS E ORAÇÕES

Durante a execução da lida não há. Sobre a Música do ofício do esquilador ver item: 9.2 Narrativas e Representações
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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9.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS : Não há


DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

9.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO


EXECUTANTE ATIVIDADE
Cozinheiro Carnear uma ovelha para a refeição da comparsa, esquentar água para o chimarrão ou café
Comparsa Sociabilidade de galpão

10. DESTINAÇÃO DO PRODUTO


PARA USO PRÓPRIO
VENDE X TROCA OUTRO ESPECIFICAR

PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA COMPLEMENTO X
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO INTERMEDIÁRIO X COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO X

11. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

A remuneração do trabalho segue tabela estabelecida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, conforme informações
dos esquiladores da comparsa na Estância Minuano – Aceguá.

12. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Pastoreio F60-1


Lidas Caseiras F60-2
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras - Ofício do F60-5
Guasqueiro
Lidas Campeiras - Aramado F60-6
Lidas Campeiras - Tropeada F60-7

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13. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de identificação: Sítio – F10.

14. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

14.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

14.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


F1 – A2 – 2: 6.

14.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2 – 1. 373 a 400, 402 a 435, 578 a 587, 890 a 995.

15. OBSERVAÇÕES

15.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

15.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


ARTESANATO EM LÃ:
Dona Santa Célia Pereira da Silva fia com uma roda com eixo, não usa máquina. Não tem tear, usa gravetos tirados do
mato perto de sua casa. Cria ovelhas. A lã das costas é a melhor para fazer fio. Tem uma filha, a mais nova, que segue
o trabalho com lã. Um dos filhos também. Teve 14 filhos, e criou-os em 1 hectare. Aprendeu a fiar e tecer com uma tia,
que trabalhava para dois irmãos espanhóis, os Ourique, que lhes ensinaram a atividade. Participa de cooperativa de
produção de artesanato em lã.

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Bagé e Piratini

15.3. Outras observações :

Panorama geral da ovinicultura no mundo e no Brasil


VIANA, João Garibaldi Almeida, 2008.
Conforme Viana, a ovinocultura está presente na Ásia, África, Oceania, Europa e América do Sul, criação de ampla
difusão com exceção da América do Norte. Os rebanhos de ovinos na América do Sul são mistos, para a produção de lã
e carne de qualidade para o mercado internacional. O Brasil possui 15,5 milhões de cabeças ovinas por todo o país, no
Rio Grande do Sul e no nordeste ocorre uma concentração dos rebanhos, embora se observe o crescimento da criação
em São Paulo, Paraná e na região centro-oeste. Na região nordeste do Brasil, os ovinos pertencem às raças
deslanadas, para carne e leite, adaptadas aos trópicos. A criação ovina no Rio Grande do Sul é de raças de carne,
laneiras e mistas, adaptadas ao clima subtropical.
No Rio Grande do Sul, em meados da década de 90, ocorreu um decréscimo acentuado do número de animais nos
rebanhos, em razão da crise internacional e aumento da área cultivada de grãos. Já na região nordeste do Brasil
observa-se um crescimento contínuo do número de animais nos rebanhos.
Conforme o autor, a produção de carne se tornou o principal objetivo da ovinicultura no Brasil, houve um incremento no
consumo de carne de cordeiro. Os maiores frigoríficos para abate de ovinos estão no RS. O Brasil importa do Uruguai
carne ovina para abastecer o mercado interno. Mercado em expansão.

16. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 5, 6, 14 e 32


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marta Bonow Rodrigues, Marilia Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva,
Daniel Vaz Lima
SUPERVISOR Marta Bonow Rodrigues e Marília Kosby
REDATOR Flávia Rieth. DATA
10/04/2013
RESPONSÁVEL PELO Flávia Maria Silva Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região de Pelotas,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Bagé/RS e Hulha 2013 F60 4
entorno Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER
Herval,
Bagé e
Piratini
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense, Antigos caminhos das tropas)
Prática da doma etnografada nas localidades abaixo, embora tenha ocorrência
LOCALIDADE em todo o sítio inventariado:
Bagé (Sede), Aceguá (Vila da Lata), Pelotas (Estrada da Barbuda).
MUNICÍPIO / UF Bagé/RS, Aceguá/RS e Pelotas/RS.

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida campeira - Doma de cavalos


OUTRAS DENOMINAÇÕES
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.
X
NOME Pedro Móglia MASCULINO 1
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Ginete NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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Herval,
Bagé e
Piratini

X
NOME Nelson Garibaldi MASCULINO 5
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Domador NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X
NOME Minga Blanco MASCULINO 19
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Produtor rural, Domador e Ginete NASCIMENTO / 1962
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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Bagé e
Piratini

X
NOME Marcos Peres MASCULINO 20
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Peão NASCIMENTO / 1972
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________
X
NOME Juan Carlos Rodriguez MASCULINO 25
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Ginete/Domador NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X
NOME Roberto Larrosa MASCULINO 32
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Domador e Guasqueiro NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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Bagé e
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X
NOME Antônio Vilson Martins MASCULINO 33
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Domador e Guasqueiro NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X
NOME Claudio Fernandes MASCULINO 34
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Treinador de Cavalos Crioulos NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X
NOME Paulo Sérgio Borges Fontoura MASCULINO 38
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Domador e administrador de sua Hospedaria NASCIMENTO / 19/03/1974
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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NOME Lucia Wachholz MASCULINO 39


X FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Veterinária e administradora de sua Hospedaria NASCIMENTO / 07/04/1973
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

X
NOME Eliezer Dias de Souza MASCULINO 7
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Poeta e professor universitário NASCIMENTO / 20.11.1950
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE
X OUTRO – PROPRIETÁRIO DE UM SITIO DE VERANEIO POSSUINDO ALGUNS CAVALOS.

NOME Lilian Müller MASCULINO 61


X FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Veterinária NASCIMENTO / 22/ 03/1970
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO

RELAÇÃO COM O BEM X APRENDIZ VENDEDOR EXECUTANTE


X OUTRO – Fez um curso de doma racional onde aprendeu algumas técnicas. Lilian doma seus
próprios cavalos por lazer, não constituindo um ofício.

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4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

Imagem 01 – Condução do cavalo para Imagem 02 – quebrando o queixo Imagem 03 – Primeiro galope
o local que será realizada a prática da
doma.

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5. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO

O oficio de domador tem como principal intuito preparar o cavalo para que este aceite a montaria. As diferentes formas
de domar são operacionalizadas conforme o temperamento do cavalo e a finalidade para a qual será montado. Dentre
outras finalidades, os equinos podem ser domados para a lida no campo, para gineteadas, corridas de carreiras, para
provas de equitação gaúcha (como as do Freio de Ouro), mas a técnica usada vai depender da aprendizagem e
preferência do domador.
Os domadores classificam os tipos de doma segundo as graduações de força bruta utilizada para a “sujeição” do
cavalo, que é tida como inversamente proporcional à racionalidade empregada para tal fim. Assim, há a doma chamada
de tradicional, que é baseada no uso da força e de técnicas de reforço para submeter o animal. No sentido contrário,
existem aquelas domas conhecidas como racionais (“doma índia”, “bachiana”, entre outras), que se valem de técnicas
de adestramento, de observação e mimese do comportamento animal, sem o uso da força e sem machucar o bicho.
No entanto, essas oposições se tornam menos cristalizadas quando, por exemplo, na doma tradicional o domador
considera o temperamento do animal. Segundo alguns adeptos deste tipo de técnica, a violência empregada pelo
domador é recíproca à violência com que o cavalo reage às tentativas de dominação por parte dos homens. Ou seja,
tanto a doma classificada como tradicional quanto aquela tida como racional, são saberes e práticas construídos e
desenvolvidos a partir da observação da intencionalidade e agência de homens e animais.
Geralmente, quem doma costuma saber produzir os utensílios utilizados neste ofício, como maneias, rédeas, buçais,
relhos, laços, cuja matéria-prima principal é o couro cru (mais resistente que o curtido). Para isso, é preciso ter
conhecimentos, mais ou menos aprimorados, na feitura do artesanato em couro, no qual os especialistas são
chamados de guasqueiros.
Aliado aos saberes a respeito da doma está o trabalho do ferrador. O ferrador é responsável pela colocação das
ferraduras ideais para que cada cavalo mantenha o aprumo desejado no andar, ou necessárias para a correção de
defeitos nos cascos do animal, que possam prejudicar seu desempenho tanto na lida quanto nos esportes e provas. No
contexto da lida campeira, geralmente, as ferraduras são utilizadas quando o cavalo vai andar na cidade ou em chãos
muito duros. Não é uma regra, mas muitos ferradores são também ferreiros, produzindo as ferraduras artesanalmente.

6. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

6.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


A doma ocorre nas propriedades rurais e atualmente, nas hospedarias e centros de treinamento localizados nos centros
urbanos. Geralmente as primeiras etapas da doma são feitas dentro de uma mangueira ou curral.

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6.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

MANGUEIRA DE PEDRA
As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS


A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância está ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão

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(local onde se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do
capataz ou caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de
manuseio dos animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e
engorde do gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu
tamanho podem não ser consideradas como estâncias.

6.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


As atividades da doma são executadas durante o período diurno. As tarefas são deixadas de lado quando as condições
climáticas são desfavoráveis como frio intenso e chuva.
O espaço ocupado pelas atividades abrange mangueiras tanto na sede das estâncias quanto das hospedarias

7. Tempo

7.1. PERIODICIDADE O ofício da doma é praticado geralmente nas épocas da primavera, verão e outono.

7.2. OCORRÊNCIA EFETIVA DESDE 1990


1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

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X X X X X X X X X X X X

8. BIOGRAFIA

Pedro Móglia – Reside em Bagé/RS. Estudou equitação e hipismo em Porto Alegre até escolher começar a participar
das provas do Freio de Ouro. Hoje compete nas provas e gineteadas todos os anos, sendo ginete premiado em vários
concursos.
Nelson Garibaldi - Desde os 16 anos exerce a função de domador. Nunca foi vinculado a patrão e a uma única
propriedade. Hoje mora na cidade de Bagé no bairro Ivo Ferronato, entretanto, ainda é contratado para realizar a doma.
Minga Blanco – Reside em Aceguá/RS. Herdou a Estância Minuano de seu pai. Administra a propriedade e trabalha na
lida com o gado possuindo exemplares de gado chamado “crioulo”. Cria cavalos sendo domador e conhecido ginete.
Também é artesão, produzindo utensílios de trabalho, como laços, relhos, talas e o tradicional chapéu “Pança de burro”.
É membro e fundador do Movimento Tradicionalista de Aceguá.
Marcos Peres – Peão na Estância Santa Leontina (propriedade de moradores de Bagé, Carlos Mário Suñe) –
Aceguá/RS. Neco realiza toda a lida campeira, trabalhando com os rebanhos. Começou a trabalhar na Estância com 12
anos, de jardineiro.
Juan Carlos Rodriguez – Reside em Aceguá/RS. Participou de gineteadas em diversos lugares, como: Uruguai,
Argentina, São Paulo, México e até Estados Unidos. Descendente de índios Charrua.
Roberto Larrosa - Roberto vive na Vila da Lata, Aceguá/RS em um rancho de santa fé e barro. É solteiro, domador e
produtor de artefatos em couro (guasca) para o serviço da lida com o cavalo.
Antônio Vilson Martins – Reside em Bagé/RS e aprendeu a domar cavalos com o tio. Trabalhou com doma tradicional
e gentil no Parque do Gaúcho localizado na mesma cidade. Quando contatado estava desempregado e sem local para
trabalhar. É genro de Dirceu Silveira, esquilador e artesão em lã.
Claudio Fernandes - Claudio habita e trabalha em um Centro de Treinamento na cidade de Montevidéu – Uruguai. Há
10 anos ele realiza o treinamento dos cavalos crioulos do Centro de Treinamento onde reside como também dos
cavalos que pertencem a alguns integrantes do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos da cidade de Bagé/RS, que
participam e concorrem nos concursos envolvendo o cavalo crioulo.
Paulo Sérgio Borges Fontoura - Tem uma hospedaria e um centro de treinamento e doma de cavalos na periferia de
Pelotas/RS.
Lucia Wachholz - Veterinária, tem uma hospedaria e um centro de treinamento e doma de cavalos na periferia de
Pelotas/RS.
Eliezer Dias de Souza - Poeta, técnico em administração rural na Universidade da Região da Campanha em Bagé/RS.
Reside na cidade de Bagé e possui propriedade rural em Mei’água - Hulha Negra.

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9. ATIVIDADE

9.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


O ofício de domador caracteriza a pecuária que se desenvolveu no pampa. A configuração social, econômica e cultural
que se desenvolveu está originalmente associada à introdução, pelos conquistadores europeus, de gado bovino e
cavalar nesse território. A pecuária configurou o modo de vida, as relações entre objetos, animais e humanos e a
paisagem1. Os cavalos chegaram à América através das Antilhas e foram introduzidos no pampa no século XVI quando
a primeira expedição para a fundação de Buenos Aires fracassou ficando para trás, diversos cavalos que se procriaram
naturalmente encontrando um clima, solo e campo favoráveis. Tornaram-se importantes tanto para o comércio que era
realizado pelos conquistadores europeus, como também para os nativos da região. Em campo vê-se a estreita relação
entre o gaúcho e o cavalo estando este presente em todas as entrevistas. Segundo Eliezer Souza “cavalo mantém o
vinculo com o campo. Esse contato com o cavalo é o que te leva ao campo. Tirou o cavalo do gaúcho ele não é mais
nada.” Esse contato mantém o vinculo do campeiro com o meio rural quando este vai residir no meio urbano.
Jacques (2008, p. 41) entende que essa configuração histórica que se desenvolveu no pampa possibilitou o nascimento
de uma “Escola de Equitação Gaúcha”. Essa escola, que chegou à América com os europeus, surgiu no movimento das
Cruzadas que foram movimentos militares, sob o comando da Igreja Católica da Europa Ocidental, que entre os séculos
XI e XIII objetivou recuperar a Terra Santa (hoje território da Palestina). Segundo o autor foi nesse movimento em que
se capacitou o uso do cavalo como arma de guerra. Antes considerado o “motor da vida dos povos” sendo o principal
meio de transporte torna-se principal arma de guerra proporcionando o desenvolvimento da escola de equitação. Essa
escola de equitação que se desenvolveu na Europa Ocidental chamava-se “brida” que tinha um cavalo grande, pesado,
protegido por uma armadura, sendo montado por um cavaleiro também cheio de armaduras além de lanças e escudo
sendo essa equitação voltada para o choque da carga. Pelo lado dos mouros, que invadiram a península ibérica como
resposta aos ataques dos cruzados, tinha-se a “escola gineta”, termo que vinha de Xenetes, povos do norte da África
que tinham esse tipo de cavalo. Por sua vez, estes montavam cavalos pequenos e ágeis usando o arco, a flecha e a
espada. Assim, enquanto a escola brida tinha como tática de guerra o embate frontal com pouca mobilidade lateral, a
escola gineta recusava o ataque frontal, atacando pelos flancos e retaguarda fazendo uma guerra de grande
mobilidade. A entrada da escola gineta na Europa transformou a escola de equitação brida sendo, de acordo com o
autor, a hibridização dessas duas escolas que chegou à América trazida pelos conquistadores europeus. “O cavaleiro
usava um cavalo enérgico, que praticava as escaramuças das escolas vigentes da época, uma armadura leve que lhe
abrigava o peito, um elmo que não lhe tapava o rosto, que lhe permitia obrar com velocidade e agilidade.” (JACQUES,
2008, p. 26). A doma gaúcha consiste na integração da Escola de Equitação Ibérica, voltada para a guerra, e Escola
Índia que entendia o cavalo como “continuação de seu ambiente”. De acordo com o autor a sociedade que se formou
no pampa, sociedade de pastores e guerreiros, desenvolveu o que chama de “cultura do cavalo” que se reflete hoje nos
diversos tipos de provas e eventos onde o cavalo é o elemento central.
De acordo com Minga Blanco a doma que se desenvolveu na região platina é uma doma de guerra sendo uma doma
rápida, apurada, diferente da doma indígena baseada na paciência e calma. Nas guerras havia uma demanda muito
grande de cavalos para o deslocamento das colunas, dos exércitos e nesse sentido tinha-se a necessidade de
arrebanhar cavalos. Assim, as tropas de cavalaria enviavam os chamados “potreadores” (JACQUES, 2008, p.40), que
arrebanhavam cavalos selvagens para a tropa. Os cavalos de combate iam ao lado, “de tiro”, pois eram cavalos usados
somente no momento do combate. Esses cavalos eram encerrados dentro de uma mangueira onde eram pegos e já se
colocavam os arreios e bocal e esses iam sendo domados no andar da marcha.

1
REICHEL, Heloisa Jochims. Fronteiras no Espaço Platino. In: História Geral do Rio Grande do Sul: Colônia. Passo
Fundo: Méritos, 2006, p. 43 – 63.
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Essa forma de domar é vista como bruta, pois o cavalo é adestrado através da imposição, da força, da violência e foi
onde, de acordo com Minga Blanco, surgiram as ginetiadas. O cavalo, segundo Minga Blanco, possibilitou ao indígena
explorar o pampa, pois estando a pé não era possível. Nesse sentido, o indígena criou um modo próprio de domar,
onde através da paciência e calma, o animal é conquistado. De acordo com Jacques (2008) os indígenas enxergavam o
cavalo como continuação de seu ambiente. Essas duas formas de domar não se opõem, estando interligadas, e
conviveram e convivem juntas até os dias atuais.
A doma em primeiro momento era feita em campo aberto, onde os cavalos selvagens eram arrebanhados, caçados
através das boleadeiras e presos ao palanque onde eram trabalhados. Com o surgimento das estâncias passou-se a
usar a mangueira para prender os cavalos a serem domados. No interior desta, no que chamam de “praia da
mangueira”, eram laçados e levados ao palanque para serem “amanuciados” (amansados, aproximando a presença e
ao toque do humano) ou já eram maneados (presos por uma maneia nas patas), encilhados, embocalados, e tirados
para fora da mangueira para serem montados. Assim o domador percorria de estância em estância domando cavalos
sendo estes voltados para a lida na estância, para transporte, deslocamento das pessoas no campo e para a guerra.
Tinham-se os tropilheiros que levavam diversos cavalos de mesmo pêlo amadrinhados pela égua madrinha que era um
animal já domado, manso, experiente que usava uma sineta no pescoço sendo que o som desta fazia com que os
demais cavalos ficassem em volta dela, não se dispersando. Seu Nelson era um domador que andava assim e se
orgulha de dizer que sempre “foi livre”, nunca tendo patrão. Nas tropeadas também eram levados cavalos para serem
domados. Com as transformações da pecuária no pampa o oficio da doma se modificou. Howes Neto (2006) mostra
que a doma hoje raramente se faz nas estâncias. Com a especialização das técnicas a atividade se transferiu para
ambientes próximos dos centros urbanos sendo reelaborada e relacionando de forma diferente o homem e seu universo
de trabalho. Exemplo disso é a doma para competição em eventos (provas de freio-de-ouro, ginetiadas) que se fazem
nas hospedarias para cavalos ao redor dos centros urbanos e as “cabanhas” que são estabelecimentos especializados
na criação e desenvolvimento da genética de uma determinada raça ou linhagem.
Essas transformações no oficio da doma tem relação com o fato de, em 1931, os estancieiros criarem a ABCCC
(Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Crioulo) na busca de padronizar a raça do Cavalo Crioulo que abrange
animais descendentes dos cavalos da península ibérica que vieram para a América com os conquistadores europeus,
trazidos do velho mundo por serem considerados os mais resistentes. Em 1982 criou-se a prova do Freio de Ouro como
forma de incentivar a criação da raça sendo o primeiro vencedor o cavalo Itaí Tupambaé, da Cabanha Tupambaé
localizada em Dom Pedrito, montado pelo ginete Vilson Charlat de Souza. Em entrevista ao jornal Diário Popular de 26
de agosto de 2012, o então ex-ginete mostra que guarda o couro do cavalo que morreu dois anos após ter sido o
campeão. Vilson no dia da entrevista com 78 anos, diz que “muita gente achou loucura guardar o cavalo que já tinha
morrido, mas é uma lembrança muito grande, não só pra mim, mas para todo o pessoal do Cavalo Crioulo”. Nas provas
do Freio-de-Ouro é avaliada a “habilidade campeira do cavalo”. (Jornal Zero Hora de 29 de agosto de 2011).
Portanto, a doma é um oficio das lidas campeiras que se atualizou, difundiu-se para os ambientes urbanos. Em campo
diversos domadores foram encontrados assim como treinadores como Pedro Móglia, que preparam cavalos para se
apresentarem em eventos. Cabe salientar que estes animais quando são encaminhados para o treinamento, já estão
domados. Segundo os entrevistados domar é um oficio em que é preciso vocação, coragem e força sendo um trabalho
predominantemente masculino. Com o advento da doma racional as mulheres também passaram a dedicar-se a doma
como é o exemplo de Liliam, que doma seus próprios cavalos.

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9.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES

O naturalista Charles Darwin, em sua viagem à América no século XIX, descreveu o ofício do domador em localidade
próxima a Mercedes, no Uruguai: “Uma noite um domidor veio com o propósito de domar alguns potros. Vou descrever
os passos preparatórios, pois acredito que eles não foram mencionados por outros viajantes. Uma manada de jovens
cavalos selvagens é levada para dentro do curral, ou uma grande área cercada de postes, e a porteira é fechada.
Vamos supor que um homem sozinho tenha que pegar e montar um cavalo que nunca sentiu rédea ou sela. Imagino
que, não fosse executado por um gaúcho, tal feito seria totalmente impraticável. O gaúcho escolhe um potro bem
crescido e, enquanto o animal corre ao redor do picadeiro, ele atira seu laço para pegar as patas dianteiras.
Instantaneamente o cavalo rola com um golpe pesado, e enquanto ele se debate no chão, o gaúcho, segurando firme o
laço, faz um círculo para pegar uma das patas traseiras perto do casco e então puxa para perto das patas fronteiras
dele. Nesse momento, ele aperta o laço, para que as três fiquem presas juntas. Então, sentado no pescoço do cavalo,
ele fixa uma forte rédea, sem bocado de freio no maxilar inferior. Consegue isso fazendo passar uma correia estreita
pelo orifício da extremidade das rédeas e dando várias voltas em torno da mandíbula e da língua do cavalo. As duas
patas dianteiras estão agora amarradas juntas firmemente com uma forte tira de couro, apertadas por um nó de correr.
O lazo, que prendia as três patas juntas, assim que afrouxado, permite que o cavalo se levante com dificuldade. O
gaúcho, agora segurando firme a rédea presa no maxilar inferior, leva o cavalo para fora do curral. Se um segundo
homem está presente (de outra forma o trabalho é muito maior), ele segura a cabeça do animal, enquanto o primeiro
lhe põe os arreios e a guarnição completa e amarra tudo junto. Durante essa operação, o cavalo, assustado e surpreso
por ser assim amarrado pela cintura, atira-se no chão várias vezes até que, cansado, recusa-se a se erguer.
Finalmente, quando o encilhamento está completo, o pobre animal mal consegue respirar de medo e está coberto de
suor e espuma branca. O homem agora se prepara para montar, apertando fortemente os estribos para que o cavaleiro
não perca seu equilíbrio. No momento em que ele lança sua perna sobre o lombo do animal, puxa o nó corrediço,
soltando as patas dianteiras da besta, que fica livre. Alguns domidores puxam o nó enquanto o animal ainda está
deitado no chão e, montados na sela, esperam que o animal se ponha em pé. O cavalo, transfigurado pelo terror, dá os
mais violentos saltos e então parte em disparada. Assim que o animal atinge a exaustão, o homem, com paciência, o
traz de volta ao curral, onde, esfumaçando de calor e quase morta, a pobre criatura é libertada. Esse processo é
tremendamente severo, mas após duas ou três vezes o cavalo está domado. Não é, contudo, senão algumas semanas
depois que o cavalo é montado com o bocado de ferro e anel sólido, pois ele deve aprender a associar a vontade do
cavaleiro com a sensação da rédea, uma vez que, antes disso, mesmo a mais poderosa brida não serviria para nada”.
(DARWIN, 2010. pp. 183-184)

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MÚSICAS:

ESPANTANDO BAGUAL
(MANO LIMA)

Temo domando
Temo aprendendo, temo ensinando.

O homem é igual ao cavalo quando é bom já nasce pronto


Mas a vida é que dá o pealo para deixar de ser potro
O cavalo se ajeita no freio e o homem na luta em que passa
Um se conhece em rodeio e o outro na causa em que abraça.

Temo domando
Temo aprendendo, temo ensinando.

O mundo é que doma o homem e o homem é quem doma o cavalo


Uns atropelam no laço e outros já nascem domados
Não sou xucro, nem domado sou manso só de selim
Se me botarem no arado quebro a coice o balancim.

Temo domando
Temo aprendendo, temo ensinando.

DOMA GAÚCHA
(JOCA MARTINS)

A primavera vem trazendo no seu manto


Viço pra o campo e pêlo novo pra manada
Um manso que vai, um xucro que vem
Um potro que cai na armada
Dia a dia a serventia é comprovada.

O queixo atado, a velha doma gaúcha


"Son cosas brujas" qual ponteio de guitarra
O tempo se vai, um costeio mais
No bagual que sai e esbarra
Outra sova e já se tem pingo pras garras.

A minha gente segue firme campo a fora


Tinindo esporas por Rio Grande se traduz
Alma de campo na amplidão do pampa largo
Um descampado que o bom Deus banhou de luz.

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Num valseado... O potro dança "escramuçado"


Sem ressábios pra um aparte de rodeio
Por "domero" sei de cordas e cavalos
Sovados de arreio, de freio "costeados"
"Muy" bem "rendados".

Mansos de baixo e do lombo nem se fala


Feito uma bala num estampido de trovão
Num upa se foi a terra levanta
Pecha no boi e então
Esta lida é de paciência e vocação.

Fazer cavalo pras precisão do serviço


É o compromisso de quem nasce sendo alguém
Um homem se vai, um outro que vem
Herança de pai que tem
Bocal e rédeas pra ensinar o que convêm.

DOMA TRADICIONAL (WALTHER MORAIS)


Entre patas e relinchos
E alguns manojos de crina
É que vive esse ginete
Entre o rio grande e a argentina
Pra entrega o cavalo manso
Só quando a doma termina
Do potro me fiz escravo
Tropilhas buenas de bravo
Que um índio taura arrocina.

Forma potros na mangueira


Pealo e bota o buçal
Em seguida a maneia
Depois enfio o bocal
Sempre tive este cuidado
Domo pra não puxar mal
É a forma que aprendi
A doma tradicional
É a forma que aprendi
A doma tradicional.

Bem orelhado o ventena.


Bota a carona e o socado
Cincha no osso do peito
E deixo bem apertado
Pelego, cinchão e rabicho.
Monto o que já tá encilhado
Se o maula sair berrando
As rosetas vão cortando
E eu vou batendo cruzado.

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Gosto do urco veiaco


Que saiba corcovear
Desses que dobra o espinhaço
Fazendo um arco no ar.
Que se brandeie lá em cima
Tenteando me derrubar
Deixo o maula cortado
Depois de queixo quebrado
Aprende a me carregar.

CADELA BAIA
(MANO LIMA)

A minha doma é na base do “iá há há”


Deixo que corra a vontade embalo o corpo pra golpear
Dou-lhe um tirão lá no fundo da invernada
E outro aqui na chegada e nesse já faço esbarrar.

Conto com a sorte e com minha cadela baia


Que ás vezes a pobre me ajuda e outras vezes me atrapaia
Eu mesmo pego, eu mesmo encilho, e eu mesmo espanto
Depois que eu salto pra arriba nos arreios eu me garanto.

Depois que eu boto a curva da perna no arreio


Pode frouxar minha cadela só que rache pelo meio
A minha cadela sai pegando pelas ventas
E afirmo na soiteira e abraço nas ferramentas.

Pra quem não sabe meu apelido é polvadeira


E desde que vim da fronteira dou pau em égua aporreada
Meu professor foi o maragato Antenor
Que mora ali no corredor pra diante da encruzilhada.

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AMADRINHADOR
(LUIZ MARENCO)

Quem pensa que em si se basta não conhece o mandamento


Não hay tormenta sem vento e nem cambona sem alça
Uma guampa sem cachaça, cabelo negro sem flor
E nem tropilha machaça sem ter bom amansador.

Se o potro baba a flexilha, da própria sorte se olvida


Como se embaixo mandinga viesse apertando as virilhas
Num transe de vida e morte, o bagual e o domador
Tem anjo da guarda e sorte nas mãos do amadrinhador.

Assim com verso crioulo bebido em laje de sanga


Bem quando a flor da pitanga beija o remanso do arroio
Verte a água da parede denunciando um nascedor
Pra mim que nasci com sede, de lá mostrou um payador.

Eu sigo a filosofia daquele andejo e errante


Que deixou impresso o semblante do canto na geografia
Viu a gruta dos assombros e o rastro do boi barroso
E nos trouxe sobre os ombros, versos que a bruxa escondia.

O GAÚCHO E O CAVALO (OS MONARCAS)


Me cansei de patacoadas
E fandango sem rodeios
Tardes de falsos campeiros
E montão contra o confreio.
Chega de brutalidades
De rasgar cavalo ao meio
Porque cavalo e gaúcho
Desta pátria são esteio.

Quem sou eu sem meu cavalo


O que será dele sem mim
Talvez dois seres perdidos
A vagar pelo capim.
Quem sou eu sem meu cavalo
O que será dele sem mim
Porque quando morre um cavalo
Morre um pedaço de mim.

O que será dele sem mim


Porque quando morre um cavalo
Morre um pedaço de mim.
Foi feita sobre o cavalo.

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Quem sou eu sem meu cavalo


O que será dele sem mim
Talvez dois seres perdidos
A vagar pelo capim.
Quem sou eu sem meu cavalo

Nunca se monta num potro


Sem antes amanuncia-lo
Parceiro a gente conquista
Não prende a força de pealo.
Tem que respeitar o amigo
Que nos serve de regalo
até nossa independência

Um gaúcho sem cavalo


É um arreio sem estribo
É igual a um pajé solito
Sentindo a falta da tribo.
É mutante sem destino
Que não acha lenitivo
É um ser sem ideal
Que não honra o chão nativo.

Quem sou eu sem meu cavalo


O que será dele sem mim
Talvez dois seres perdidos
A vagar pelo capim.
Quem sou eu sem meu cavalo
O que será dele sem mim
Porque quando morre um cavalo
Morre um pedaço de mim.

Quem sou eu sem meu cavalo


O que será dele sem mim
Talvez dois seres perdidos
A vagar pelo capim.
Quem sou eu sem meu cavalo
O que será dele sem mim
Porque quando morre um cavalo
Morre um pedaço de mim.

PREÇO DA DOMA
(LEONEL GOMEZ)

O preço da doma no 5º Distrito de Piratini


É o mesmo que pagam na costa do mato do Palmaroti.

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Não há diferença de São Gabriel para o Cacequi


O preço é igual do Rio Jaguarão até o Quarai.

Pra agarrar de campo, tironear dos queixo, sacar cósca e balda


É sempre um salário não importa o bruto de cada pegada.

Pra adoçar de boca, amansar de cincha, cabresto e garupa


Ninguém mais pergunta, um salário basta pra esta lida bruta.

O que não se sabe é quanto cobra a doma para o domador


A peso de ouro nos pulsos e no couro do amansador.

A doma que engana, quando empresta a fama respeito e altura


Vai cobrar no cerno a dor dos invernos pelas quebraduras.

Ofício antigo, de corda e coragem, de ferro e linhagem,


De braço e nobreza, ofício de campo, de campo e pobreza.

9.3. CRONOLOGIA
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - Fundação dos Sete Povos das Missões.
1626
Séc. XVII até Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
princípio do XIX
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à Laguna
1703
Séc. XVIII - Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” – ligava
1728 Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
1730 Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio Iguaçu,
Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.
Séc. XVIII - Tratado de Madri.
1750
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.

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Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.
1931 Criação da ABCCC (Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Crioulo).
1981 Criação da Prova de Freio de Ouro.
2002 O Cavalo Crioulo é adotado como spimbolo do estado do Rio Grande do Sul.

10. PRODUTOS PATRIMONIAIS

10.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

10.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO


ETAPA ATIVIDADE
Amanunciação Segundo os entrevistados a preparação do cavalo para a doma, chamado de “amanunciar o potro”,
começa a partir de quando este completa quatro meses momento em que este já pode ser
desmamado. Amanunciar significa domesticar o animal acostumando-o este com os humanos e com
os instrumentos utilizados para a montaria e trabalho para que no momento de “quebrar o queixo” o
animal esteja manso e acostumado com esses instrumentos facilitando o trabalho dos agentes
envolvidos. Algumas praticas desta etapa são escovar o pêlo, “palmear” que significa tocar, acariciar
com as mãos, dar ração, ensinar a cabrestear, entre outros sendo que o cavalo pode ser
“amanunciado” pelo domador ou já vem manso tendo sido preparado pelo dono. Segundo Sérgio,
antigamente não se fazia esse trabalho de amanunciar, ou seja, o potro era pego “xucro” (não
domesticado) para a doma o que demandava muito mais força de trabalho. Esses cavalos eram
então colocados na mangueira e interior desta, no que chamam de “praia da mangueira”, eram
laçados e levados ao palanque para serem “amanuciados”. No palanque deixavam este por algum
tempo para se amansar ou, como diz Jacques, (2008) impor limites ao potro, começar o processo de
sujeição. Por outro lado não se fazia esse processo e os cavalos eram laçados ou pealado,
maneados (presos por uma maneia nas patas), encilhados, embocalados, e tirados para fora da
mangueira para serem montados. O ato de amanunciar facilita muito o trabalho do domador.

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Quebrar o queixo Após a preparação do animal (“amanunciação”) vem à etapa denominada “quebrar o queixo” onde
ou puxar o simboliza o principal momento de dominação deste pelos humanos. De acordo com as descrições
cavalo. de Lucia e Sérgio esta etapa ocorre da seguinte maneira: Dentro da mangueira leva-se o cavalo
para ser trabalhado. Neste local ele é derrubado e depois “maneado” (preso nas patas e mãos por
uma corda de couro ou náilon chamado “maneia”), para não se “debater”, ou seja, se agitar com
violência visando resistir à ação numa tentativa de se desprender. Feito isso, amarra-se e aperta o
bocal no queixo do cavalo. No bocal está anexado as rédeas na qual os agentes colocados atrás do
cavalo irão puxar o queixo na direção do peito dando alguns “tirões” e depois ficar puxando a corda
até este “patear” que significa dizer que esta demonstrando resistência. Puxa-se três vezes para
cada lado sendo que é o domador quem determina a quantidade e intensidade dos “tirões”. De
acordo com Sérgio, sabe-se que “está pronto” (os objetivos da ação foram conseguidos) quando o
animal “pateia”. Eliezer chama essa maneira descrita anteriormente de puxar de baixo onde em vez
de serem pessoas que puxam, utiliza-se outro cavalo. Também o entrevistado descreve como era a
maneira mais antiga onde os cavalos pegos na mangueira eram levados para fora desta já com as
encilhas e montado e após o domador fazia o cavalo sair para frente (o que se chama “espantar”),
corcoveando e correndo e em determinado momento “leva as duas mãos e dá aquele tirão e vai lá
pra trás [...] na anca do cavalo e puxa de cima, se chama "puxar de cima". O objetivo do ato de
“quebrar o queixo” ou “puxar o cavalo” é deixá-lo “sensível de boca” e assim nas próximas etapas
este já esteja atendendo aos comandos do domador. Se o cavalo fosse “duro de boca”, não se
sensibiliza-se, puxava-se de cima e de baixo. Os métodos assim, são determinados conforme o
temperamento do cavalo podendo ser “manso” ou rebelde, “velhaco”. Na doma racional não se
quebra o queixo, ensina-se o cavalo através do bridão.

1° Galope A terceira etapa consiste em montar no cavalo que, segundo Sérgio, é a etapa mais perigosa da
doma. Montar significa subir no animal, que esta com os arreios, e trabalhar ele para que se
acostume. Já na amanunciação são colocados os arreios no cavalo visando habituá-lo o que se
chama “tirar as coscas”. Ao ser montado o cavalo começa a corcovear. O domador tem de ficar em
cima mostrando-o que deve acostumar-se com esse fato. Nesse momento é acompanhado pelo
“amadrinhador” sendo quem acompanha montado num outro cavalo, auxiliando o domador. É no
cavalo do amadrinhador que está preso o animal a ser domado. Após esta etapa o cavalo segue
sendo trabalhado e treinado (nos primeiros ainda acompanhados do amadrinhador) todos os dias. A
intensidade do trabalho é determinada conforme o animal vai ficando “sujeito” e atendendo os
comandos do domador. O conjunto dessas primeiras etapas eram chamadas “primeira sova” onde
após esta os cavalos eram soltos no campo para descansar. A próxima etapa consiste em enfrenar.

Enfrenar O processo de adestramento do cavalo é continuo e demora alguns anos. Embora fique manso de
bocal e montaria em alguns dias, nas entrevistas viu-se que para o processo ficar completo demora
mais de um ano, como por exemplo, o cavalo para correr a prova do Freio-de-Ouro, que é a etapa
máxima da equitação gaúcha (Jacques, 2008), deverá no mínimo estar a três anos sendo
trabalhado. Pode considerar o momento de enfrenar o cavalo como a etapa final do processo de
adestramento. A submissão total do cavalo acontece quando este passa a atender o freio. Eliezer diz
que “a ciência da doma” esta no freio e o domador tem que saber o momento certo, de acordo com o
aprendizado do cavalo, para enfrenar. No inicio bota-se o freio sem montar no cavalo e o deixa
mangueira, “mascando o freio”, pode ser com a rédea ou sem a rédea, com as rédeas cruzadas por
cima, cruza as rédeas e ata por baixo na barriga do cavalo. Faz-se isso para ele ir “mascando o
freio”, pra ele conhecer o freio, “calejar” a boca. Depois anda-se com ele do lado com o freio, sujeita,
puxa, sempre com cuidado pra não machucá-lo, para não feri-lo, pois ele já esta sensível da boca.

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10.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Domador Adestrar o cavalo.
Amadrinhador Acompanha o domador no momento de montar, montado num cavalo já domado. Na cincha do
cavalo do amadrinhador está preso um laço que prende o cavalo a ser domado para controlar este e
não causar acidentes.

10.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


DESCRIÇÃO MANGUEIRA - Cercas de arame, madeira ou pedra de formato circular e de tamanhos variados.
QUEM PROVÊ O proprietário da hospedaria ou da estância.
FUNÇÃO Espaço onde os cavalos ficam presos durante os processos de iniciação da doma.

COCHEIRA - Na hospedaria de Sérgio e Lucia a cocheira consiste num estabelecimento constituído


DESCRIÇÃO em parte de madeira e em parte de tijolos dividido em 15 baias tendo forragem, em geral, de casca
de arroz que chamam cama.
QUEM PROVÊ O proprietário da hospedaria ou da estância.
FUNÇÃO Abrigo para cavalos.

PALANQUE - Tipo de “poste” feito de tronco de árvore de aproximadamente 2 metros de altura,


podendo, esta medida, ser variada. Possui, próximo à sua extremidade superior, um entalhe na
DESCRIÇÃO
madeira ao redor de toda a circunferência, local onde apoia-se e amarra-se o cabresto do cavalo.
Em geral, localiza-se em mangueiras próximas ao brete ou em potreiros ou piquetes.
QUEM PROVÊ O proprietário da hospedaria ou da estância.
FUNÇÃO Sujeitar, prender os cavalos a serem domados.

REDONDEL – tipo de mangueira redonda, com piso de chão batido ou areia, feita de madeira para
DESCRIÇÃO
trabalhar com o cavalo na doma e treinamentos.
QUEM PROVÊ O proprietário da hospedaria ou da estância.
FUNÇÃO Local para trabalhar com os cavalos.

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10.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


ARREIOS - Conjunto de peças de couro para montaria. Em geral compõem-se de: buçal, baixeiro ou
DESCRIÇÃO
xergão, carona, lombilho, cincha, pelego e sobre-chincha.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Essas peças são utilizadas para arrear o animal para montá-lo.
SIGNIFICADO
A maioria das peças de arreios pode ser encontrada em casas especializadas; alguns artefatos
DISPONIBILIDADE
podem ser confeccionados por artesãos ou pelos próprios domadores.

XERGÃO: é um artefato confeccionado em lã crua, em geral produzido artesanalmente, através da


fiação e tear. Seu formato é aproximadamente um retângulo e deve cobrir todo o lombo do animal,
DESCRIÇÃO
caindo pelos lados do mesmo, não chegando a cobrir toda a região das costelas do cavalo. Todos os
outros artefatos que fazem parte dos arreios de montaria apóiam-se sobre o xergão.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Serve para proteger o lombo do animal contra o atrito do basto/sela/serigote.
SIGNIFICADO
O xergão pode ser confeccionado na própria estância, porém, em geral, é comprado de mulheres
DISPONIBILIDADE
que trabalham com a fiação da lã e a confecção do artefato com o tear.

CARONA – em geral é feita de couro. Atualmente é confeccionada artesanalmente ou


industrialmente. Suas matérias-primas, além do couro, podem ser materiais sintéticos como esponja
DESCRIÇÃO
forrada com tecidos de algodão ou poliéster. É posta sobre o xergão e suas medidas são
aproximadamente as mesmas deste.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
É utilizada para minimizar o impacto dos arreios sobrepostos no animal.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionada na própria estância, ou ser adquirida através da compra de terceiros,
DISPONIBILIDADE
diretamente com o fabricante, ou em lojas especializadas.

BASTO/SELA/SERIGOTE – artefatos de formatos diferentes, confeccionados em couro e materiais


DESCRIÇÃO sintéticos, como vinil imitando couro. Porém o couro é a matéria-prima de preferência. Pode ser feito
artesanalmente ou industrialmente, o que, nos dias atuais, é mais comum.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO / São utilizados para a mesma função: que o cavaleiro monte o cavalo com maior equilíbrio e
SIGNIFICADO segurança.
DISPONIBILIDADE Comumente, adquirem-se esses artefatos em lojas especializadas, com recursos próprios.

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CINCHÃO (OU CINCHA) E BARRIGUEIRA - É uma tira de couro de um palmo e meio de largura
(aproximadamente), duplo (duas trias costuradas juntas), que contém duas argolas de metal em
suas extremidades mais compridas (mais ou menos 50 cm de comprimento). Nessas argolas, a
DESCRIÇÃO BARRIGUEIRA é presa. Este é um artefato confeccionado com várias tiras de barbantes grossos
(em torno de 8 ou 10 tiras), em cujas extremidades são colocadas argolas de metal, que servem
para unir este objeto ao cinchão. Enquanto o cinchão fica sobre o basto, a barrigueira passa por
baixo da barriga do cavalo. A união entre o cinchão e a barrigueira, ocorre através de LÁTEGOS.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO / O cinchão serve, junto com a barrigueira, para segurar os arreios anteriormente descritos, sobre o
SIGNIFICADO lombo do cavalo.
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas. O couro pode ser
produzido na própria estância, porém as argolas de metal e o barbante são comprados com recursos
DISPONIBILIDADE
do entrevistado em lojas comerciais. As argolas podem ser compradas diretamente de ferreiros -
especialistas em trabalhar com metais.

LÁTEGOS - são tiras de couro de dois dedos de largura (couro cru) que podem ter até 2 metros de
DESCRIÇÃO
comprimento
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FUNÇÃO / São enrolados nas argolas do cinchão e da barrigueira, concomitantemente, unindo esses dois
artefatos e mantendo o basto sobre o cavalo, evitando que os arreios fiquem soltos durante a
SIGNIFICADO montaria.
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

LOROS - são artefatos confeccionados, em geral, em couro. Os loros são feitos, comumente, de
duas tiras de couro, de dois dedos de largura, unidos por costuras em fios de couro (tentos) ou,
industrialmente, por fios de barbante reforçados. O loros têm aproximadamente um braço de
DESCRIÇÃO
comprimento, (as tiras de couro dos loros são de aproximadamente dois dedos de largura). São
unidos ao basto/sela/serigote através de látegos - em um local específico do basto (em argolas de
couro ou de metal que estão presos ao basto para passar os látegos).
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Servem para prender os estribos ao basto/sela/serigote.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

ESTRIBOS - Os estribos têm formato variado, porém parece-se com argolas grandes, com a porção
inferior, onde o cavaleiro apoiará o pé, podendo ser de formato achatado ou arredondado. São feitas
de metal (ferro, inox) e são postos nas laterais do cavalo, para o cavaleiro calçar o pé e firmar-se
DESCRIÇÃO quando está montando o cavalo. São presos ao basto/sela/serigote por meio dos LOROS. Os
estribos ficam presos aos loros e esses, são presos ao basto/sela/serigote, através dos látegos.
Cada estribo fica de um lado do cavalo e seu comprimento de uso depende do comprimento das
pernas do cavaleiro

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FUNÇÃO /
Artefatos utilizados para apoio dos pés do cavaleiro, permitindo maior equilíbrio na monta.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE São comprados de ferreiros especializados, ou em casas comerciais.

PELEGOS – São feitos da pele inteiriça de ovinos, a parte “carnal” é a de contato com a carne do
ovino in vivo. A parte externa é a lã do ovino sem que este tenha sido tosado (tosa: retirada do
DESCRIÇÃO excesso de lã dos ovinos para venda desse material e para aliviar os animais do calor do verão). Os
pelegos são colocados sobre o basto/sela/serigote, com a parte externa (lã) voltada para cima. Pode
ser utilizado um ou mais pelegos sobrepostos.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Minimiza o atrito das pernas do cavaleiro com o basto/sela/serigote. É para proteção do cavaleiro.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

BADANA – artefato de couro, praticamente bidimensional, É o artefato que fica sobre todos os outros
DESCRIÇÃO (com exceção da cincha e barrigueira) e nem sempre é utilizado (opcional). Tem o tamanho
aproximado dos pelegos, em geral, um pouco mais curto e estreito que esses.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Serve para proteger as pernas do cavaleiro do contato direto com os pelegos.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionada na estância ou comprado em lojas especializadas.

CINCHA (OU SOBRE-CINCHA) E BARRIGUEIRA – São praticamente os mesmos artefatos “cinchão


e barrigueira”, porém a cincha (sobre-cincha) nesse caso é de aproximadamente 10 cm de largura e
DESCRIÇÃO 60 a 70 cm de comprimento, mais ou menos). A barrigueira que faz parte desse conjunto, também
costuma ser um pouco mais comprida, ainda que sua largura possa ser a mesma da primeira
barrigueira (que faz parte do cinchão).
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Têm a função de manter os pelegos em seu lugar para a montaria do cavaleiro, evitando quedas.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas. O couro pode ser
produzido na própria estância, porém as argolas de metal e o barbante são comprados com recursos
DISPONIBILIDADE
do entrevistado em lojas comerciais. As argolas podem ser compradas diretamente de ferreiros -
especialistas em trabalhar com metais.

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CABEÇADA e RÉDEAS – A cabeçada é um artefato em couro que envolve a cabeça do animal com
o objetivo de manter o FREIO na boca do cavalo. A cabeçada pode ser de couro liso, quase
bidimensional, de largura variável, ou trançada, com vários tentos (finas tiras de couro). As RÉDEAS
são presas nas “pernas” do freio. As rédeas são tiras de couro compridas (podem ser lisas,
DESCRIÇÃO
bidimensionais) ou trançadas, com as mais diversas tranças. As rédeas podem ter a espessura de
um pouco menos de um dedo (quando trançadas) até quase dois dedos de largura, em geral lisas,
de couro chato e cru (quase bidimensionais). Têm, em torno de 2 metros de comprimento, mas essa
medida pode ser variada.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
Através das rédeas o cavaleiro consegue comandar o cavalo, pois cada uma (são duas), fica de um
lado do pescoço do cavalo, em contato com essa parte do corpo do animal. Mas, principalmente, o
FUNÇÃO / comando ocorre porque o freio (que está na boca do animal) preso às rédeas através das “pernas”,
SIGNIFICADO pode ser ativado de acordo com o movimento que o cavaleiro faz com as rédeas. Através desse
conjunto, juntamente com o freio, o cavaleiro pode levar o animal para os lados e pode “sofrenar” o
cavalo (fazê-lo parar, puxando as rédeas para trás).
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

BUÇAL e CABRESTO – O buçal, a exemplo da cabeçada, é um artefato de couro trançado


tridimensional (com vários tentos) ou liso e chato, que envolve a cabeça do animal. Porém, ao
contrário da cabeçada, não se prende ao freio, e sim, envolve o focinho do cavalo. O cabresto é uma
DESCRIÇÃO tira de couro chato comprida. Pode ser quase bidimensional, de couro chato, ou trançado com vários
tentos (tridimensional).
Possui, em geral, mais de 2 metros de comprimento e largura variável (2 a 3 cm, podendo ter mais
ou menos).
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Serve para guiar o cavalo (puxando-o, como uma guia) quando este não está sendo montado.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

DESCRIÇÃO BOCAL: O bocal é uma guasca sovada, desquinada, que se ata ao queixo dos potros.

QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.


FUNÇÃO / Sua utilização esta relacionada à questão de sensibilizar a boca do cavalo fazendo com que aprenda
SIGNIFICADO a atender os comandos do cavaleiro.
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

FREIO – embocadura de ferro, metal, madeira, borracha que se compõem de barra, parte que vai
dentro da boca, sem articulações. Compõem-se da barbela que é uma corrente presa as argolas do
DESCRIÇÃO freio que cruza por trás da queixada, e da cabeçada que é uma peça de couro, também presa as
argolas, que cinge a cabeça do cavalo passando por trás das orelhas e que segura o freio na boca
do cavalo.

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FUNÇÃO /
O freio exerce uma pressão na boca do cavalo fazendo obedecer aos comandos do cavaleiro.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE São comprados de ferreiros especializados, ou em casas comerciais.

LAÇO. Corda trançada, feita de couro, nylon ou outros materiais, com uma argola de metal em uma
das extremidades. A outra extremidade passa por dentro da argola, formando um anel com acorda,
DESCRIÇÃO que é girada no ar, jogada sobre o animal, e esticada quando enlaçando este, até derrubá-lo. O laço
é um instrumento manual, que pode ser usado pelo homem montando cavalo, bem como, no chão,
quando em espaços cercados.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Prender e conduzir o cavalo no trabalho da doma.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas.

REBENQUE/MANGO/ RELHO – são variações do mesmo artefato. Em geral, confeccionado em


couro, possui cabo rígido, de madeira ou material sintético (cano de PVC, por exemplo). O cabo é
forrado de couro, podendo apresentar vários tipos de desenhos de forração, podendo ser de couro
liso ou trançado. Do cabo, sai uma porção de couro chato e comprido, com mais ou menos 5 cm de
DESCRIÇÃO
largura. Pode ter em torno de um metro de comprimento total variando para mais ou menos. Pode
ter esse prolongamento trançado, a exemplo de outros artefatos confeccionados artesanalmente. O
relho, em geral é bem mais comprido que o rebenque/mango, e pode ser bem semelhante a um
chicote.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Servem para instigar o animal a andar mais acelerado, batendo-se no mesmo com o artefato
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas; também pode ser
DISPONIBILIDADE
adquirido diretamente dos artesãos (guasqueiros).

BRIDÃO - embocadura de ferro, metal, madeira, borracha que se compõem de barra, parte que vai
DESCRIÇÃO dentro da boca, ligada por articulações. O bridão é seguro pela cabeçada que é uma peça de couro,
ligada através da argola, que cinge a cabeça do cavalo passando por trás das orelhas.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO / O bridão exerce uma pressão na boca do cavalo, que é menor do que a do freio, fazendo obedecer
SIGNIFICADO aos comandos do cavaleiro.
DISPONIBILIDADE São comprados de ferreiros especializados, ou em casas comerciais.

DESCRIÇÃO MANEIA - Peça constituída por dois pedaços de couro, ligados por uma argola.

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QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.


FUNÇÃO /
Prender as patas do cavalo para este não fugir ou corcovear.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas; também pode ser
DISPONIBILIDADE
adquirido diretamente dos artesãos (guasqueiros).

MANEADOR - Peça de couro inteiriço para amarrar o animal, “puxando”o queixo e acostumando o
DESCRIÇÃO
cavalo com o contato com os arreios.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Prender o cavalo.
SIGNIFICADO
Pode ser confeccionado na estância ou comprado em lojas especializadas; também pode ser
DISPONIBILIDADE
adquirido diretamente dos artesãos (guasqueiros).

ESPORAS - Apesar de serem usadas nos pés do cavaleiro, é parte da monta, portanto é
apresentada juntamente com os arreios. É um artefato tridimensional e consiste de uma armação de
metal (em geral ferro) em forma de “U”. Na sua volta externa (volta do “U”), uma “roseta” se encontra
acoplada à armação, por meio de uma extenção (“papagaio” – de 3 a 4cm ou mais) do próprio metal.
A parte interna da volta do “U” fica encaixada no calcanhar da pessoa que usa a espora; Uma
corrente de metal ou o tento de couro faz um outro “U” que é acoplado por baixo do pé, firmando a
espora no taco (salto) da bota do campeiro. Tentos de couro são utilizados fazendo voltas pela frente
DESCRIÇÃO
do pé, passando pela extensão de metal onde se encontra a “roseta”, com o objetivo de evitar que a
espora se solte do pé. A “roseta” é um artefato de metal (em geral ferro ou latão) quase
bidimensional, circular, achatado, de 2cm de diâmetro ou mais, com pontas agudas em toda a sua
volta (pontas também variam de tamanho e de quantidade, de acordo com o tamanho da roseta). As
esporas são utilizadas nos calcanhares dos trabalhadores campeiros, entretanto são entendidas
como parte dos arreios e não do vestuário, pois atuam auxiliando no controle dos cavalos que estão
sendo montados pelos peões.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO /
Incitar o animal a alterar a andadura (“apressar, apurar o passo”).
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Adquirido em lojas especializadas ou direto com os ferreiros

BOLEADEIRA – Instrumento, hoje em desuso, que constituía-se de três pedras redondas retovadas
com couro e ligadas entre si por cordas trançadas chamadas “sogas” sendo duas pedras maiores
DESCRIÇÃO
ligadas por uma soga de um metro e meio de comprimento e a terceira pedra, menor, ligada através
de outra soga ao meio da que liga as duas pedras maiores, com metade do comprimento.
QUEM PROVÊ O domador.
FUNÇÃO /
Apreender os animais em campo aberto.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Aquirido diretamente dos artesãos (guasqueiros) ou confeccionados pelo próprio domador.

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10.6. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO As refeições são geralmente à base de carne, arroz, feijão e saladas, doces caseiros e sucos.

QUEM PROVÊ O proprietário ou o domador.


FUNÇÃO /
Alimentação dos trabalhadores campeiros e proprietários.
SIGNIFICADO

DESCRIÇÃO Chimarrão ou mate.

QUEM PROVÊ O proprietário ou domador.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate” entre as mulheres ou os peões se
SIGNIFICADO reúnem para conversar sobre a lida cotidiana ou contar causos.

10.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

Não há.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.8. TRAJES E ADEREÇOS

A Pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. Compõe a pilcha: botas (calçado próprio
para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o pé e a perna), bombacha (calças presas por
DESCRIÇÃO botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata,
chapéu (feito de couro ou feltro); é pilcha todo objeto de valor ou adorno que faz parte da montaria
do gaúcho.
QUEM PROVÊ Proprietário ou o domador.
FUNÇÃO / Vestimenta.
SIGNIFICADO

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10.9. DANÇAS

Não há.
DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.10. MÚSICAS E ORAÇÕES

Durante a execução da lida não há; Ver item 9.2: Narrativas e representações.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS

Não há.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO

Não há atividade específica.


EXECUTANTE ATIVIDADE

11. DESTINAÇÃO DO PRODUTO


ESPECIFICAR – O produto destina-se a quem
PARA USO PRÓPRIO X VENDE TROCA OUTRO X
contratou o serviço.
PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO
FAMILIAR

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MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO X INTERMEDIÁRIO COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO

12. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

Não participam.

13. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Pastoreio F60-1


Lidas Caseiras F60-2
Lidas Campeiras - Esquila F60-3
Lidas Campeiras - Ofício do F60-5
Guasqueiro
Lidas Campeiras - Aramado F60-6
Lidas Campeiras - Tropeada F60-7

14. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio F10.

15. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

15.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

15.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


Não há

15.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2-1: 1181-1227; 645-696

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16. OBSERVAÇÕES

16.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

16.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


OFÍCIO DO FERREIRO - O oficio de ferreiro caracteriza-se pelo trabalho na confecção de ferros. No processo, o ferro é
aquecido numa fornalha ou forja e logo após é moldado com um martelo na bigorna. Após estar confeccionado o
artefato da marca, do sinal, ou da ferradura, é mergulhado em água fria ou óleo para ganhar as qualidades desejadas.
OFÍCIO DO CANTAREIRO – Artesão que trabalha com pedras na construção ou restauro de mangueiras, cercas,
casas, galpões erguidos com essa matéria-prima. O trabalho do cantareiro inicia com a busca das pedras no leito de
arroios e sangas e em pedreiras escondidas nas coxilhas dos campos¹. Para essa busca é necessário todo um saber,
da extração das pedras em sua jazida, da forma de transporte utilizando alavancas e o próprio corpo, do trabalho nas
rochas. Além da exigência das técnicas, é preciso força física para lidar com as pedras. É um ofício herdado de pai para
filho e é raro atualmente; nas localidades inventariadas há informação sobre esse ofício ainda vigente em Herval e,
também, na localidade de Capão do Leão, emancipado do município de Pelotas em 1982.

¹ GONÇALVES, Jussemar Weiis; FERREIRA, Letícia de Faria. O pampa , o cavalo, a pedra e o trabalho. Curitiba: IX Reunião de
Antropologia do Mercosul, 2011. (Artigo apresentado no GT 15: Antropologia do Trabalho e Memória dos Trabalhadores).

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16.3. OUTRAS OBSERVAÇÕES

Tabela de doma elaborada em reunião realizada com domadores no dia 28/01/1990, revisada em reunião
ocorrida em 25/10/1993 e atualizada conforme a vigência da convenção coletiva de trabalho 2012/2013 do sindicato
dos trabalhadores rurais de Bagé, Hulha Negra, Candiota, Aceguá e Pedras Altas, juntamente com o sindicato rural de
Bagé que passou a vigorar em 01/03/2012 até 28/02/2013:

 CAVALO DE SERVIÇO: R$ 678, 00 (Seiscentos e setenta e oito reais) por animal;


 CAVALO DE CABANHA OU ÉGUA DE CABANHA: R$ 980,00 (Novecentos e Oitenta Reais) por animal;
 CAVALO PURO SANGUE: R$ 678, 00 (Setecentos e setenta e oito reais) por animal, mais um proporcional aos
dias em que o domador ficar à disposição;
 CAVALO BULIDO OU DE TRAÇÃO – LIVRE NEGOCIAÇÃO;
 REPRODUTOR DE CAMPO OU ÉGUA REGISTRADA – R$ 690, 00 (Seiscentos e noventa reais) por animal;

A cada lote de cavalos domados, o domador terá direito a:

 Um couro vacum e um pelego;


 O domador deverá receber do proprietário dos cavalos a serem domados, um cavalo para o desempenho dos
mesmos, devendo este ser devolvido assim que concluídos os trabalhos da doma;
 Cinqüenta por cento (50%) dos valores acima estipulados deverão ser pagod separadamente na pegada do
serviço e cinqüenta por cento (50%) na entrega dos cavalos domados;
 Estes valores serão reajustados pelos maiores índices do reajuste normativo da categoria dos municípios de
abrangência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bagé.

17. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

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entorno Negra,
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Piratini

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 6, 22, 30 e 31


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues e
Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva e Marta Bonow Rodrigues
REDATOR Daniel Vaz Lima 10/04/2013
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região
Pelotas,
de
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Hulha 2013 F60 5
Bagé/RS
Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER e entorno
Herval,
Bagé e
Piratini
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense - Antigos Caminhos das Tropas)
Prática do guasqueiro etnografada nas localidades abaixo, embora tenha
ocorrência em todo o sítio inventariado:
LOCALIDADE
Aceguá - Corredor Brasil-Uruguai, Minuano, Vila da Lata
Pelotas- Sede.
MUNICÍPIO / UF Aceguá/RS, Pelotas/RS

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida Campeira – Ofício do Guasqueiro


OUTRAS DENOMINAÇÕES Artesanato em couro – Trabalho em corda
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.

X MASCULINO
NOME Roberto Larrosa 32
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Guasqueiro e domador NASCIMENTO /
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO

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Negra,
e entorno
Herval,
Bagé e
Piratini

X MASCULINO
NOME Abelardo Augusto da Silveira Meireles 47
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Guasqueiro NASCIMENTO / 59 anos
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO

X MASCULINO
NOME Ginêz Costa 18
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Trabalhador rural aposentado e Guasqueiro NASCIMENTO / 1936 aprox.
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO

X MASCULINO
NOME Minga Blanco 19
FEMININO
DATA DE
Proprietário rural da Estância Minuano – Aceguá/RS;
OCUPAÇÃO NASCIMENTO / 49 anos.
domador; ginete; conduz tropas; guasqueiro amador.
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO GUASQUEIRO AMADOR

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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Negra,
e entorno
Herval,
Bagé e
Piratini

Imagem 01 - Guasqueiro tirando tentos do couro cru


(Pelotas)

Imagem 02 - Seu Abelardo – guasqueiro na oficina


(Pelotas)

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e entorno
Herval,
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Imagem 03 – Mesa de trabalho de Minga Blanco


(Aceguá)

Imagem 04 – Minga Blanco com bota de garrão


de potro (Aceguá)

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Imagem 05 – Ginês Costa com seus artefatos em couro


em frente ao seu rancho de moradia ( Vila da Lata – Aceguá)

Imagem 06 – Roberto Larrosa mostrando o trabalho em couro (rebenque)


(VILA DA LATA – ACEGUÁ)

5. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO

O artesanato de uso campeiro tendo como base o couro cru é conhecido como trabalho em corda ou ofício do
guasqueiro, nome pelo qual é conhecido o artesão que se dedica a este tipo de atividades.
Variados artefatos de uso campeiro e de artesanato “decorativo” e de vestuário são produzidos a partir do trabalho em
couro. Destacam-se as “cordas” (rédeas, laços, cabrestos, etc.) feitas de couro bovino e “corredores” (revestimentos)
em geral feitos de couro eqüino. Outros couros animais também podem ser utilizados de acordo com a disponibilidade e
autorização dos órgãos competentes como: couro de cabra, couro de capincho (capivara), couro de veado, couro de
lagarto, entre outros (COELHO, 1978; MATTOS, 2003). A plasticidade de tais artefatos transcende a lida campeira,
compondo roupas, chaveiros, bainhas de faca, calçados, chapéus, carteiras, mateiras (bolsa para carregar mate e
acessórios) e souvenires em geral.

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6. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

6.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


Na zona rural é comum que a atividade seja desempenhada no galpão da propriedade ou na própria casa do artesão.
Na cidade geralmente é executada em oficinas junto à casa do guasqueiro.

6.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


Quando a atividade é um complemento aos trabalhos da lida campeira é realizada comumente nos galpões da
propriedade rural, como é o caso do Sr. Minga Blanco da Estância Minuano em Aceguá. Quando desempenhada como
atividade principal do executante é geralmente realizada em oficinas, como é o caso do guasqueiro Aberlado na cidade
de Pelotas ou em ranchos de moradia, caso do Sr. Ginês Costa na Vila da Lata em Aceguá.
GALPÃO
A edificação pode ser um “rancho”, coberta de palha santa fé ou telhas, com paredes de torrão ou um prédio de
alvenaria situada próximo à sede da propriedade rural; é o local onde os peões guardam os arreios e instrumentos de
trabalho. Em dias de chuva, o trabalho campeiro se desloca para o interior do galpão e os peões ocupam-se de lidas
que complementam o serviço de campo. O restauro dos arreios é um dos trabalhos no galpão, e os campeiros
manuseiam a matéria-prima e os artefatos, “sovando couros, tirando tentos, trançando cordas, passando tentos em um
laço ‘ramalhado’, tramando barrigueiras, afiando esporas e outras ferramentas, costurando uma carona, consertando
alguma peça dos arreios, arrumando uma cancela, fazendo cangalhas para porcos e guaxos ovinos, etc.” (MATTOS,
2003 p.40).
Também no galpão acontece a roda de chimarrão, contam causos em torno do fogo de chão.
PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

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RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

6.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


Quando o trabalho em couro se constitui como atividade principal é realizado durante todo o período diurno. Quando
realizado como complemento do trabalho campeiro usa-se os períodos de descanso ou em que há impossibilidade da
execução das tarefas principais como, por exemplo, em dias de chuva em que não se faz o trabalho de campo.

7. Tempo

7.1. PERIODICIDADE O ano todo.

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7.2. OCORRÊNCIA EFETIVA – O trabalho em couro para as lidas campeiras remete à introdução dos rebanhos trazidos
pelos colonizadores europeus na América.

8. BIOGRAFIA

Roberto Larrosa - Vive na Vila da Lata em um rancho de santa fé e barro. É solteiro; domador e produtor de artefatos
em couro (guasca) para o serviço da lida com o cavalo.
Abelardo Augusto da Silveira Meireles – Guasqueiro desde os 8 anos de idade. Aprendeu a lida com seu pai e avô.
Executa a atividade na cidade de Pelotas e atende clientes de toda a região. Faz artefatos para a lida campeira e
também artigos decorativos e para vestuário.
Ginês Costa – Era domador e aprendeu a atividade de guasqueiro em razão da necessidade do trabalho, uma vez que
as cordas tem tempo de uso reduzido devido ao grande manuseio nas lidas campeiras, desta forma é preciso que se
restaure constantemente esses artefatos. Após a aposentadoria se dedicou exclusivamente a atividade de guasqueiro
tendo em vista que não pôde mais montar a cavalo e assim executar a atividade de domador.
Minga Blanco – proprietário da Estância Minuano. Executa as atividades da lida campeira, participa em festas de rodeio
como ginete e é conhecido na região como mantenedor das “tradições” relacionadas ao conhecimento das lidas
campeiras que envolvem o Rio Grande do Sul e suas fronteiras com Uruguai e Argentina. Durante os períodos de folga
de seus trabalhos principais, executa artesanato em couro e desempenha todo o processo, desde a extração do couro
do animal (coureada), passando pela raspagem do pelo, estaqueamento do couro, retirada dos tentos e finalizando com
o trançamento dos mesmos. Além da produção de cordas, faz artefatos variados em couro animal.

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9. ATIVIDADE

9.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


O trabalho em couro para as lidas campeiras remete à introdução dos rebanhos trazidos pelos colonizadores europeus
na América e os artefatos são produzidos a fim de auxiliar no trabalho campeiro. As peças feitas pelos guasqueiros são
geralmente utensílios para a lida campeira: laços, arreios para a montaria em equinos, peças do vestuário e demais
objetos que são necessários à execução das atividades na pecuária. Em geral, todo trabalhador que lida com rebanhos,
sejam de ovinos, bovinos ou equinos, faz ou reforma seus utensílios de trabalho, utilizando técnicas do ofício de
guasqueiro - mais ou menos aprimoradas -, por razões econômicas, utilitárias e também pela satisfação de saber fazer
objetos esteticamente bonitos.
Além da funcionalidade, os elementos estéticos incorporados pelos guasqueiros em seus trabalhos seguem padrões
peculiares, como, por exemplo, a trançagem dos tentos (tiras finas de couro). A plasticidade de tais artefatos transcende
a lida campeira, compondo roupas, chaveiros, bainha de facas, carteiras, calçados, chapéus, mateira (bolsa para
carregar mate e acessórios) e souvenires em geral.
A origem do trabalho de extração e comercialização de couro, no atual Rio Grande do Sul, vincula-se às instalações dos
rebanhos, primeiramente selvagens, remanescentes da constante mobilidade das Missões Jesuíticas até o início do
século XIX e, posteriormente, decorrentes dos criatórios já estabelecidos nesse estado.
Com a chegada dos colonizadores europeus na América, o couro, muito utilizado para artefatos diversos pelos
habitantes nativos, constitui a matéria-prima de uma série de utensílios como sacos para transporte de grãos e erva-
mate, arreios, cordas, embarcações e acessórios de moradias (móveis, portas, janelas, tetos, dobradiças) (MAESTRI
In: MAESTRI, 2009; SAINT-HILAIRE, 1987).
O valor do couro, em tempos anteriores à instalação das primeiras charqueadas, era superior ao valor da carne, pois
não havia forma de conservar por muito tempo esse alimento; além dos caçadores de gado selvagem, alguns
proprietários de estância promoviam a matança apenas para extrair o couro, os sebos, os chifres e os cascos, ficando
as carcaças expostas aos animais carniceiros ou à deterioração no campo (MAESTRI In: MAESTRI, 2009; DARWIN,
2010). Cavalos também eram abatidos para a retirada do couro, mais fino e maleável que o do bovino, e dos cascos e
as manadas de equinos eram as preferidas para o abastecimento de exércitos no pampa, pois além de fornecerem
transporte e alimentação, transpunham grandes distâncias mais rapidamente que os rebanhos bovinos (DARWIN,
2010). Portanto, desde o tempo da preia ao gado selvagem até a chegada dos abatedouros atuais, o couro passou de
produto primordial do abate no início dos criatórios, a artigo secundário à extração da carne após a instauração das
charqueadas.
O ofício do guasqueiro remete, assim, aos tempos em que o couro era produto principal de comercialização da pecuária
sulina e, ainda que essa mercadoria fosse, em sua grande maioria, destinada à exportação para Europa (MAESTRI In:
MAESTRI, 2009), parte dos utensílios e artefatos de uso cotidiano no Rio Grande do Sul e países da região do Prata
era fabricada com dessa matéria-prima.
Alguns guasqueiros participam de todo o processo de fabricação dos objetos em couro, desde o abate do animal,
passando pela extração e estaqueamento do couro e o preparo do mesmo para que seja manipulado durante a feitura
dos artefatos, estando mais vinculados ao trabalho complementar às lidas nas propriedades rurais. Porém, a grande
maioria dos artesãos profissionais recebe o couro já preparado de fornecedores específicos. É necessário que o
produto seja cru, sem passar pelas técnicas industriais de curtume, para que possa ser manuseado de forma correta e
resulte em artefatos resistentes às lidas campeiras.

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Os procedimentos pelos quais o couro cru passa praticamente não sofreram mudanças significativas desde seus
primórdios, assim como o ofício do guasqueiro.
Houve a tentativa, na segunda metade do século XX, principalmente na década de 1990, por parte dos guasqueiros, de
utilizarem o couro proveniente de curtumes ou couro “meio-curtume”, modo artesanal de curtir o couro, mas que deriva
da forma industrializada. O “meio-curtume” é adquirido já limpo de pelos, de coloração branca, sem tantas imperfeições
e de mais fácil manuseio (mais maleável), o que significa uma confecção mais rápida dos artefatos. Nessa época, o
ofício do guasqueiro popularizou-se e vários interessados passaram a aprender e profissionalizar-se, atraídos pela
facilidade da manipulação da matéria-prima. Entretanto, os artefatos produzidos com esse couro industrializado não são
resistentes e, para os trabalhadores campeiros, não eram ideais devido à sua baixa durabilidade e difícil restauração.
Os guasqueiros tornaram a usar o couro cru, apenas retirado do animal e estaqueado. Alguns artesãos nunca deixaram
de utilizar o couro cru para fabricação dos objetos. Cabe salientar que há uma indústria dedicada à fabricação massiva
de artefatos campeiros cuja matéria-prima é o couro, porém, os trabalhadores campeiros que lidam
diariamente com esses objetos, preferem-nos fabricados artesanalmente, com couro cru.
Apesar de o couro bovino ser o mais utilizado na maioria das confecções, o equino e o suíno são, também, bastante
trabalhados pelos guasqueiros. Com o fechamento dos grandes abatedouros de cavalos, esse tipo de couro é de difícil
obtenção atualmente.
Outros animais domésticos e selvagens também fornecem couros e peles usadas pelos artesãos.
Uma mudança significativa ocorrida foi no ambiente de trabalho do guasqueiro, pois, enquanto os trabalhadores
mantinham-se nas propriedades rurais os galpões eram os locais em que se exercia o ofício. Com a mobilidade desses
campeiros para a cidade, as oficinas são estabelecidas em casa e passam a configurar um elemento essencial na
sociabilidade desses peões; a casa dos guasqueiros profissionais ou amadores reportam aos galpões de estâncias,
com rodas de mate e contadores de causos.

9.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES


O OFÍCIO DO GUASQUEIRO É ESPECIALMENTE ARTESANAL E É PRECISO PACIÊNCIA PARA EXERCÊ-LO. QUANTO ÀS MATÉRIAS-
PRIMAS UTILIZADAS, O SR. ABELARDO MEIRELES, GUASQUEIRO EM PELOTAS, APRESENTANDO SEU OFÍCIO, MOSTRA OS TIPOS DE
COURO: “[...] ESSE AQUI É DE VACA. [...] TEM BÚFALO, TEM... TEM ESSE AQUI, É UM COURO MAIS FINO, TEM DE CABRITO. EU
TRABALHO COM COURO DE PORCO PRA FAZER CINTA, ESSAS COISAS. [...], DEPENDE O QUE O CLIENTE QUER.”

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DÉCIMA DO TRANÇADOR
(RODRIGO BAUER,JOCA MARTINS E JOÃO MARCOS NEGRINHO MARTINS)
Aprendi a lidar com couro
Quando um franqueiro aluado
Pranchou cruzando um lajeado
E se quebrou num estouro...
Já nem se ergueu mais o touro
Quando eu apeei, me cuidando!
Olhando o pobre berrando,
Saquei a cabo de osso
E fiz sumir, no pescoço,
A folha inteira, alumiando!
Tirei-lhe o couro com jeito,
Fui descascando aos "poquitos";
Nada, sem ser despacito,
Se aproxima do perfeito...
Depois do serviço feito,
Ganha as estacas cravadas
Sessenta e quatro - estiradas
Num terreno decrescente,
Deixando a parte da frente
Para o lado da baixada!
Só depois de bem curtido
Com o mormaço lhe ardendo,
Foi que a coqueiro, lambendo,
Lhe recortou o tecido...
O seu pêlo enegrecido,
Com a pitoca, eu fui raspando,
Tento por tento, tirando
Pra rédeas, buçais e relhos,
Tento por tento, parelhos,
Um por um, os desquinando!
Aprendi a lidar com lonca
Quando um lobuno do meio
Me despejou de um arreio
E se atirou numa estronca...
Eu saí liso da bronca!
Mas o lobuno, coitado!
Além de ser retalhado,
Quebrou a mão e, lutando,
Se degolou, pataleando,
No velho arame farpado!
Aprendi a lidar com trança
Quando um baio, sem pretexto,
Arrebentou o cabresto
Sentando que nem criança!

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Eu danço conforme a dança,


Seguindo o antigo adágio...
Trancei outros nesse estágio,
Pra um sentador que mereça,
Fugir, deixando a cabeça
Para pagar o pedágio
Por isso é que trago os dedos
Picados de tantos talhos,
O coração em frangalhos
De tanto trançar segredos...
Sovei o couro do medo
Com o macete da dor...
No aço do cravador
Abri caminhos da história
Escrita com a trajetória
Das mágoas do trançador!

9.3. CRONOLOGIA – O OFÍCIO DO GUASQUEIRO SEGUE OS CICLOS ECONÔMICOS DO ATUAL ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
princípio do XIX
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” –
ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio
Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX (final) – Instalação dos primeiros frigoríficos
Séc. XX (início)
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

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10.PRODUTOS PATRIMONIAIS

10.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

10.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO

Observação: as etapas elencadas abaixo referem-se ao trabalho completo de manuseio com o couro. Alguns
guasqueiros já recebem o couro tratado para a feitura do artesanato.
ETAPA ATIVIDADE
Coureada Se diz “courear” ao ato de despegar o couro do animal morto
Raspagem do Esta operação se chama lonqueamento. Lonca é o couro desprovido de pelos. Lonqueamento é feito
pelo com o couro “verde” ainda úmido.
Em alguns casos, o couro, depois do estaqueamento, é enviado com pelos, para o guasqueiro, que
os raspa em sua oficina.
Cabe salientar, ainda, que alguns artefatos podem ser produzidos em couro apresentados os pelos.
Estaqueamento É o ato de esticar o couro com estacas para secagem.
Macetear ou Ato de manusear o couro amolecendo-o para posterior confecção dos artefatos.
sovar o couro
(amolecer para
manipulação)
Obtenção das Retirada das porções do couro equino para obtenção de tentos finos para costura e detalhes nos
loncas (no couro artefatos..
equino)
Obtenção dos A retirada dos tentos é feita com faca e sua largura depende do trabalho a ser realizado pelo
tentos guasqueiro.
Desborde dos Chama-se “desquinar” o ato de cortar os cantos ou “costados” do tento. Isso é realizado a fim de que
tentos os tentos se ajustem uns aos outros no conjunto da trança.
Tranças É o conjunto de tentos entrelaçados. São feitas de vários tamanhos e comprimentos dependendo do
artefato a ser fabricado. Existem tranças com variadas quantidades de tentos e formas.
Artefatos em Além dos artefatos para a lida campeira, o guasqueiro produz peças para vestuário, tais como:
geral (vestuário e botas, chapéus, cintos, tirador. Outros objetos como chaveiros, bainhas de facas, carteiras, mateiras
peças e peças decorativas em geral também são fabricados.
decorativas)

10.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Guasqueiro Aquele que faz todo o processo do artesanato em couro.

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10.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


As instalações fazem parte da propriedade rural onde trabalha o guasqueiro ou é de posse do
DESCRIÇÃO
próprio executante.
QUEM PROVÊ Proprietários rurais, o próprio guasqueiro, e casas comerciais
FUNÇÃO Confecção do artesanato em couro.

10.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


Couro cru, faca, furador, jacaré (suporte que prende o couro para o trabalho de tirar o tento ou
trançar), sebo de rinhonada (sebo da volta do rim de animais que serve para amaciar o couro e não
deixá-lo ressecar), peças em metais utilizadas juntamente com o couro na confecção dos artefatos.
DESCRIÇÃO Também, para a confecção das cordas, é utilizada uma máquina na qual se prende uma ponta da
corda trançada e se puxa com as mãos a outra ponta, para que seja espichada. Isso é feito para que
as tranças fiquem bastante unidas e espichadas, evitando que cedam e rebentem conforme sua
utilização.
QUEM PROVÊ Proprietários rurais, o próprio guasqueiro, e casas comerciais.
FUNÇÃO /
Confecção do artesanato em couro.
SIGNIFICADO
O couro pode adquirido em propriedades rurais onde ocorre o abate de animais. Os instrumentos
para manusear o couro podem ser fabricados pelo próprio guasqueiro ou obtido em casas
DISPONIBILIDADE
comerciais do ramo. O sebo de rinhonada é fornecido por abatedouros ou por propriedades rurais
onde ocorre o abate de animais.

10.6. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO Mate ou chimarrão

QUEM PROVÊ O guasqueiro

FUNÇÃO / Bebida sorvida pelo guasqueiro enquanto desempenha a atividade. A bebida é associada a todas as
lidas campeiras, pois está presente, se não no momento da atividade, antes ou após a execução da
SIGNIFICADO mesma.

10.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

Não há
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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10.8. TRAJES E ADEREÇOS

DESCRIÇÃO Avental de couro

QUEM PROVÊ O guasqueiro


FUNÇÃO /
Proteger a roupa e o corpo do trabalhador.
SIGNIFICADO
DESCRIÇÃO Luvas de couro

QUEM PROVÊ O guasqueiro


FUNÇÃO /
Proteger as mãos no trabalho de espichar o laço.
SIGNIFICADO

10.9. DANÇAS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.10. MÚSICAS E ORAÇÕES

Durante a execução da lida não há. Sobre a Música do ofício do guasqueiro ver Item: 9.2 Narrativas e Representações
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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10.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO

NÃO HÁ ATIVIDADE ESPECÍFICA


EXECUTANTE ATIVIDADE

11.DESTINAÇÃO DO PRODUTO

PARA USO PRÓPRIO X VENDE X TROCA X OUTRO ESPECIFICAR

PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO X
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO X INTERMEDIÁRIO X COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO

12.PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

Não há

13.BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Pastoreio F60-1


Lidas Caseiras F60-2
Lidas Campeiras - Esquila F60-3
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras - Aramado F60-6
Lidas Campeiras - Tropeada F60-7

14.PLANTAS, MAPAS E CROQUIS


VER ITEM 7 DA FICHA DE IDENTIFICAÇÃO: SÍTIO – F10.

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15.DOCUMENTOS INVENTARIADOS

15.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

15.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


Não Há

15.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2 – 1 – 208 à 216, 225 à 229, 230 à 237, 485 à 497, 499, 501, 511, 512, 514 à 518, 731 à 742 e 779.

16.OBSERVAÇÕES

16.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

16.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


FERREIRO - responsável pela confecção de artefatos em ferro. Alguns arreios e produtos finais do guasqueiro utilizam
objetos de ferro confeccionados pelo ferreiro.

16.3. OUTRAS OBSERVAÇÕES

17.IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 6, 7, 25.


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues e
Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Flávia Rieth e Marília Floôr Kosby.
REDATOR Liza Bilhalva Martins da Silva e Marta Bonow Rodrigues DATA

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RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth 17.04.2013


INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região
Pelotas,
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Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER e entorno
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Piratini
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-Grandense, Antigos Caminhos


SÍTIO INVENTARIADO
das tropas)
Prática do aramador etnografada na localidade abaixo, embora tenha ocorrência em todo o
LOCALIDADE sítio inventariado:
Aceguá (Espantoso)
MUNICÍPIO / UF Aceguá / RS

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida campeira - Aramador


OUTRAS DENOMINAÇÕES Alambrador
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.

X MASCULINO
NOME Ari Flores Pereira 58
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Alambrador NASCIMENTO / 13/03/1942
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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X MASCULINO
NOME Leomar Garbaldi 40
FEMININO
DATA DE
OCUPAÇÃO Peão Campeiro, Aramador NASCIMENTO / 1957
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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Seu Ari fazendo aramados.

Acampamento de aramadores em Aceguá.

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5. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO


A construção das cercas de fios de arame intercalados por piques ou “tramas” de madeira é o ofício dos
chamados aramadores, ou alambradores, trabalhadores artesanais, geralmente sem patrão fixo. Além de evitar que os
rebanhos se misturem com os animais dos campos lindeiros, o cercamento veio acompanhado do fracionamento das
propriedades e de novas práticas de carneada (abate artesanal), atividade sobre a qual se tinha parco controle antes, e
que, desde então, passa a ser realizada para consumo doméstico, sendo aproveitadas praticamente todas as partes do
corpo do animal. A prática ilegal da carneada, realizada por estranhos dentro dos limites da propriedade de outrem,
para fins de roubo de carne, caracteriza-se como crime de abigeato.

6. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

6.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


Na sede da propriedade são feitos as tramas e os moirões, ambos de eucaliptos, que são levados ao lugar em que vai
ser construído o alambrado. No caso da Agropecuária Umbu, em que o ofício do aramador foi acompanhado, estes são
levados de caminhonetes pick – up da sede até o local em que está sendo feito o alambrado. O alambrador e seus
ajudantes acampam no local em que está sendo feito o alambrado, ficando em média vinte dias ali trabalhando sem
folga.

6.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


O Alambrado é feito no interior das propriedades rurais e serve para demarcá-la e dividir esta em potreiros, piquetes ou,
no caso das grandes propriedades, em invernadas. O alambrado que estava sendo construído no momento da
entrevista serviria para demarcar parte da propriedade.

PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS


A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância está ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

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6.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


A atividade é realizada no período diurno e, em geral, nas épocas mais quentes do ano. Não há preferência de horário
de trabalho, pois, sendo um serviço terceirizado, por empreitada, o aramador procura desempenhar suas tarefas de
maneira rápida para que possa atender outras propriedades. Ainda assim, procura-se evitar os picos de sol, o que nem
sempre é possível. Os materiais e instrumentos a serem usados na feitura do aramado ou no seu restauro, são levados
até o local onde a cerca será confeccionada ou arrumada por meio de caminhonetes, caminhões pequenos e carroças
puxadas por cavalo.

7. Tempo

7.1. PERIODICIDADE A atividade de alambrar ocorre em todos os períodos do ano.

7.2. OCORRÊNCIA EFETIVA DESDE 1990


1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
X X X X X X X X X X X X

8. BIOGRAFIA

Ari Flores - Começou a praticar o ofício a partir dos sete anos de idade ajudando seu tio. Seu pai e tios eram
alambradores e foi com quem ele, e alguns de seus irmãos, com quem aprenderam. Trabalha numa estância e, de vez
em quando, é contratado para alambrar em outras propriedades. No trabalho é auxiliado por ajudantes.
Leomar – Foi alambrador durante grande parte de sua vida trabalhando em diversas estâncias. No dia da entrevista
trabalhava em sua pequena propriedade onde fazia todo o serviço.

9. ATIVIDADE

9.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


Desde que se instituiu a propriedade privada no pampa sul-rio-grandense, diferentes formas de delimitação das
terras e rebanhos foram sendo adotadas.
Além das delimitações “naturais”, feitas a partir de referências geográficas e paisagísticas - como coxilhas e
cerros, matos ou árvores específicas, arroios, sangas ou pequenos córregos d’água -, algumas tecnologias de
instituição de limites foram desenvolvidas para tais fins. Houve, por exemplo, a prática de marcar os rebanhos e estes
traçarem a territorialidade das propriedades dos campos de seu dono, houve o empreendimento de construírem-se
cercas de pedra e de vegetação densa e espinhosa, as quais, embora sem a funcionalidade original, ainda fazem parte
da paisagem da região pampiana em questão. No entanto, a tecnologia de cercar campos e rebanhos com fios de
arame tornou-se o meio mais comum de evitar o extravio de animais e demarcar a posse da terra, seja por quem vive
em menos de dez hectares, seja por quem possui cinquenta mil deles.

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9.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES

LETRAS DE MUSICAS NATIVISTAS


FIRMINO ALAMBRADOR
(Rui Carlos Ávila)

Escoltando corredores
Também bordando invernadas
Primorosas estiradas
São marcas de um sofredor
Seu Firmino, alambrador
Nas dobras de encruzilhada

Alinhou o seu destino


Como se estende moironada
E nunca teve mais nada
Do que a vida de teatino
As ferramentas, o tino
E a pampa como morada

Ao empeçar a jornada
Aurora rubra incendeia
Se a pá de corte chispeia
Em pedras enterradas
Junto às feridas cavadas
No corpo da terra alheia

Escalava mãos e braços


Sem tempo pra sentir dor
Não lhe esgota o torpor
Pois tem âmago de aço
E o coração faz compasso
Pra bater o socador

Dói-lhe um sonho insatisfeito


Com retrancas de dolência
Espera o fim com descrença
Pois, rude, não achou jeito
De abrir porteiras no peito
Pra ter família e querência

Ao empeçar a jornada
Aurora rubra incendeia
Se a pá de corte chispeia
Em pedras enterradas
Junto às feridas cavadas
No corpo da terra alheia

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ALAMBRADOR
(Valdo Nóbrega, Lucio Yanel)

Ergue a pau o alambrador


E os buracos vão brotando
E os moirões se enfileirando
Que nem soldados pra guerra.

Um socado de capricho
Pra que ninguém se desgoste
Por grosso que seja o poste,
Não lhe deixa sobrar terra.

Gira a pua sai fumaça


Num moirão de guajuvira
E o alambrado se estira
Tal qual um pinho afinado.

O serrote marca os trastes


Já vem o atilho depressa
Se enroscando na promessa
De viver sempre abraçado.

Rabicho e morto de angico


Pra que o cinbronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta


Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!

À noite á beira da carpa


Ao ver a estrela cadente
Três pedidos, num repente
Faz depressa antes que apague.

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E a cada alambrado firme


Tenha outro pela frente
E um piazito sorridente
Para ensinar-lhe o que sabe.

Rabicho e morto de angico


Pra que o cinbronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta


Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!

FAZENDO CERCA
(Binho Pires, Érlon Péricles)

Corta taquara pra alinhar a cerca


Que não tem perca essa porfia
Moceia as tramas, fura os palanques
Até de tarde atemos as guia.

Vou cavoucando na tabatinga


Essa restinga “ta” me judiando...
Lajeado brabo, fundão de passo
E eu vou no braço me sustentando...

A maderama toda de lei


Classifiquei na moda “veia”
Só puro cerne que eu vou socando
E vai ficando que é uma “tetéia”.

Vamos cortando cerro e canhada


Pouca risada, muita labuta
De noitezinha me vou pra vila
E deixo os pilas la no “chicuta”.

Cava que cava, soca que soca,


Fura que fura, bota que bota,
Que nem tatu, abrindo toca,
Fazendo cerca na bossoróca.

Estronca forte, mestre de angico


Firma o rabicho e vai tenteando
Mordente e gancho, braço e corrente
Ringindo os dentes vamos estirando.

É a Bossoróca velha tronqueira


Bem missioneira como ela só.

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São cinco liso e depois as “farpa”


Que dão as cartas nesse tirão
Cerca gaucha, campo e rodeio
De dar costeio até em lebrão.

É timbaúva, rincão ipê


Oigaletê, taquarembó,

9.3. CRONOLOGIA – O OFÍCIO DO ARAMADOR SEGUE OS CICLOS ECONÔMICOS DO ATUAL ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Séc. XVII até Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
princípio do XIX
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.


Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre outros.
Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.
Séc. XX – década Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
de 1960
Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

10. PRODUTOS PATRIMONIAIS

10.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

10.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO


ETAPA ATIVIDADE

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Fazer os buracos Se faz dois buracos, um em cada ponto de uma linha reta, onde vão ficar os moirões, chamados
e demarcar a mestres, os quais vão segurar os fios do alambrado. Cava-se os buracos para os moirões com uma
linha do pá de corte retirando a terra do buraco com uma colher ou facenta. Estes tem que ter em média 50
alambrado cm de fundura. Após o buraco preparado coloca-se o moirão e coloca a terra socando-a com um
instrumento chamado socador.
Estender o fio Ata-se, utilizando a torquês, o primeiro fio (de cima para baixo) em um dos mestres e leva-se até o
outro. Após se espicha o fio com a máquina atando-o no outro moirão definindo assim, a linha do
alambrado. Em seguida colocam-se as tramas ou piques entre esses dois pontos. As tramas tem
uma ponta as quais vão ser cravadas no chão e a distancia entre elas é, em média, 2m.
Cavar os Com a linha do alambrado demarcada, cavam-se os buracos dos moirões que ficarão entre os
buracos e mestres. Com a linha do alambrado demarcada, cavam-se os buracos dos moirões que ficarão entre
colocar os os mestres. A distancia entre eles não pode ser maior do que 10m.
moirões
Estender os Esta etapa consiste em estender os demais fios passando-os por dentro das aberturas das tramas.
outros fios. Coloca-se um fio elétrico na frente da cerca, preso aos isoladores pregados nos moirões, para que
os animais não “forcem” o alambrado afrouxando os fios.

10.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES


STATUS FUNÇÃO
Alambrador Responsável pela construção do alambrado.
Ajudante – Auxiliar o alambrador.
Changueiro

10.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


GALPÃO - A edificação pode ser um “rancho”, coberta de palha santa fé ou telhas, com paredes de
DESCRIÇÃO
torrão ou um prédio de alvenaria situada próximo à sede da propriedade rural.
QUEM PROVÊ O proprietário.
FUNÇÃO É o local onde os peões guardam os arreios e instrumentos de trabalho. Também no galpão as
vacas leiteiras podem ser ordenhadas, as ovelhas esquiladas, os animais abatidos e carneados. Em
dias de chuva, o trabalho campeiro se desloca para o interior do galpão e os peões ocupam-se de
lidas que complementam o serviço de campo. O restauro dos arreios é um dos trabalhos no galpão,
e os campeiros manuseiam a matéria-prima e os artefatos, “sovando couros, tirando tentos,
trançando cordas, passando tentos em um laço ‘ramalhado’, tramando barrigueiras, afiando esporas
e outras ferramentas, costurando uma carona, consertando alguma peça dos arreios, arrumando
uma cancela, fazendo cangalhas para porcos e guaxos ovinos, etc.” (MATTOS, 2003 p.40).
Também no galpão acontece a roda de chimarrão, contam causos em torno do fogo de chão.
As Tramas, moirões e fios são guardados dentro do galpão.

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10.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


Moirão - Tora de madeira de eucalipto com altura de em média 2 m e grossura acima de 10cm de
DESCRIÇÃO
diâmetro.
QUEM PROVÊ O proprietário.
FUNÇÃO / Firmar o alambrado. Os que ficam nas pontas são chamados de mestre e são mais grossos e
SIGNIFICADO enterrados mais fundos, pois vão segurar os fios espichados.
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra ou pode ter uma mata de arvores especificado para esse fim.

Fio de arame – fio de aço, com ou sem farpas, vendido em rolos de mil duzentos e cinqüenta
DESCRIÇÃO
metros.
QUEM PROVÊ O proprietário
FUNÇÃO /
Constitui a cerca, impedindo que os animais bovinos, eqüinos e ovinos saiam da propiedade.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE O proprietário obtém através da compra em comércios.

Trama ou pique – instrumento de madeira com altura entre 1,5m e 2 m de altura com menos de
DESCRIÇÃO 10cm de diâmetro. Possui um corte na parte de cima e cinco furos onde por dentro vai passar o fio
do alambrado.
QUEM PROVÊ O proprietário
FUNÇÃO /
Segurar os fios e afirmar o alambrado.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra ou pode ter uma mata de arvores especificado para esse fim.

Pá de corte ou cavadeira – Instrumento constituído com cabo de madeira em que numa das
DESCRIÇÃO
extremidades fica anexado uma peça metálica de formato retangular.
QUEM PROVÊ O alambrador.
FUNÇÃO /
Cavar a terra no solo.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

Colher ou facenta - Instrumento constituído de dois cabos de madeira em que numa das
extremidades de cada um fica anexado uma peça metálica de formato de colher. Estas são ligadas
DESCRIÇÃO uma a outra por um eixo, que permite usá-las fazendo movimentos como o de um fórceps. As duas
colheres são cravas no solo, arrancando leivas de terra, e deixando buracos onde são enterrados
moirões ou piques.
QUEM PROVÊ O alambrador.

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FUNÇÃO / Tirar a terra de dentro do buraco


SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

Socador - Instrumento constituído com cabo de madeira em que numa das extremidades fica
DESCRIÇÃO
anexado uma peça metálica de formato (?).
QUEM PROVÊ O alambrador.
FUNÇÃO / Socar a terra apertando o moirão no buraco.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

DESCRIÇÃO Atilho – pequeno pedaço de arame.

QUEM PROVÊ O alambrador. Obtém tirando pedaços do rolo de arame.


FUNÇÃO / Amarrar o fio do arame nas tramas e moirões.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém tirando pedaços do rolo de arame.

Alicate ou torquês – instrumento de aço com mandíbulas com gumes. Alguns possuem borrachas
DESCRIÇÃO
isolantes no cabo.
QUEM PROVÊ O alambrador.
FUNÇÃO / Cortar ou também manejar o fio de arame. Para cortar ou manejar fios elétricos utiliza-se os
SIGNIFICADO instrumentos que possuem revestimento de borrachas no cabo.
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

Chave de arame – instrumento de ferro dobrado numa das pontas sendo que nessa dobra passa o
DESCRIÇÃO
fio para serem dobrados.
QUEM PROVÊ O alambrador.
FUNÇÃO / Emendar o arame ou dar os arremates.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

DESCRIÇÃO Maquina de espichar – Instrumento constituído de máquina, corrente e mordaça.

QUEM PROVÊ O alambrador.

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FUNÇÃO / Esticar o alambrado.


SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

DESCRIÇÃO Martelo e grampos

QUEM PROVÊ O alambrador.


FUNÇÃO /
Martelo – usado para pregar os grampos que prenderão o arame na cerca.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Obtém através da compra em comércios.

10.6. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO As refeições são geralmente à base de carne, arroz, feijão e saladas, doces caseiros e sucos.

QUEM PROVÊ O alambrador ou proprietário.


FUNÇÃO /
Alimentação dos trabalhadores campeiros e proprietários.
SIGNIFICADO

10.7. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO Chimarrão ou mate.

QUEM PROVÊ O alambrador ou proprietário.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate” entre as mulheres ou os peões se
SIGNIFICADO reúnem para conversar sobre a lida cotidiana ou contar causos.

10.8. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

Não Há.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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10.9. TRAJES E ADEREÇOS

Pilchas – Compõe-se de botas (calçado próprio para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o
DESCRIÇÃO pé e a perna), bombacha (calças presas por botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e
geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata, chapéu (feito de couro ou feltro).
QUEM PROVÊ O alambrador e os seus ajudantes.
FUNÇÃO / A pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. No entanto, na entrevista o almbrador
SIGNIFICADO usava pilchas enquanto os ajudantes não estavam usando pilchas, mas bermudas e camisetas.

10.10. DANÇAS

Não Há.
DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.11. MÚSICAS E ORAÇÕES

Durante a execução da lida não há; Ver item 9.2: Narrativas e representações.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.12. INSTRUMENTOS MUSICAIS

Não Há.
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.13. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO


EXECUTANTE ATIVIDADE
O alambrador Juntam as ferramentas utilizadas e levam para a barraca do acampamento.
junto com seus
ajudantes.

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11. DESTINAÇÃO DO PRODUTO

PARA USO PRÓPRIO VENDE TROCA OUTRO X ESPECIFICAR - Prestação de serviço.

PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO X INTERMEDIÁRIO COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO

12. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

Não participam.

13. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - tropeada F60-7


Lidas Campeiras – Lidas caseiras F60-2
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras - esquila F60-3
Lidas Campeiras – Ofício de guasqueiro F60-5
Pastoreio F60-1

14. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Ver item 7 da Ficha de Identificação: Sítio – F10

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15. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

15.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

15.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


Não há

15.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2 – 1: 865 – 886; 748-776

16. OBSERVAÇÕES

16.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

16.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


Não há

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16.3. OUTRAS OBSERVAÇÕES

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17. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 33


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues e
Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva e Marta Bonow Rodrigues
REDATOR Liza Bilhalva Martins da Silva e Marta Bonow Rodrigues DATA
17.04.2013
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

Arroio
Grande,
Aceguá,
INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS Região de Pelotas,
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO RS Bagé/RS e Hulha 2013 F60 7
entorno Negra,
OFÍCIOS E MODOS DE FAZER
Herval,
Bagé e
Piratini
UF SÍTIO -. LOC ANO FICHA NO.

1. LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense, Antigos Caminhos das tropas)
Prática da Tropeada informada a partir de entrevista na localidade abaixo,
LOCALIDADE embora tenha ocorrência em todo o sítio inventariado.
Piratini (Quinto Distrito)
MUNICÍPIO / UF Piratini / RS

2. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Lida Campeira - Tropeada


OUTRAS DENOMINAÇÕES Tropa, tropeirismo.
CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO MEMÓRIA RUÍNA

3. EXECUTANTE
OBS.: PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O (A) ENTREVISTADO(A) VER ANEXO 4: CONTATOS.

X MASCULINO
NOME Valdemar Góes 46
FEMININO
DATA DE
1925
OCUPAÇÃO Seu Valdemar NASCIMENTO /
(86 anos)
FUNDAÇÃO
MESTRE PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

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entorno Negra,
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Piratini

X MASCULINO
NOME Minga Blanco 19
FEMININO
DATA DE
1962
OCUPAÇÃO Proprietário rural, domador e ginete NASCIMENTO /
(49 anos)
FUNDAÇÃO
X MESTRE X PRODUTOR PÚBLICO
RELAÇÃO COM O BEM APRENDIZ X VENDEDOR X EXECUTANTE
OUTRO ________________________________________________________

4. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS.

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Imagem 01 – Tropeada em curta distância. Estância Minuano – Aceguá


FONTE: Acervo INRC.

Imagem 02 – Tropeada em curta distância. Estância Minuano – Aceguá


FONTE: Acervo INRC.

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Imagem 03 – Carreta de bois usada para desfiles temáticos. Estância Minuano – Aceguá
FONTE: Acervo INRC.

Imagem 04 – “A Tropeada” – pintura a óleo do artista plástico Zé Darci


FONTE: Acervo INRC.

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5. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO

As tropeadas são a forma de conduzir os rebanhos entre propriedades em uma mesma região ou entre diferentes
localidades. Os animais são levados dos criatórios nas propriedades rurais para outras propriedades ou para
abatedouros. As tropeadas são formadas pelos rebanhos (bovino, equino, ovino, muar, etc.), pelos tropeiros, que são os
peões campeiros responsáveis pela condução dos animais pelos caminhos, e, algumas vezes podem contar com a
presença de cães pastores para ajudar na atividade de guiar os animais da tropa.
Por vezes, até o início do século XX, as tropeadas acompanhavam ou eram acompanhadas de carretas puxadas por
parelhas de bois, que transportavam víveres para vender nas propriedades rurais por onde passavam. A quantidade de
bois que compunham a força de tração da carreta dependia do tamanho da mesma. Essas carretas eram as principais
fontes de fornecimento de produtos para consumo e tinham papel importante na comunicação entre as localidades.
No tropeirismo atual o transporte dos rebanhos é realizado em pequenas distâncias e em curtos espaços de tempo.

6. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA ATIVIDADE

6.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


A atividade é desempenhada nos caminhos entre os campos, propriedades rurais e abatedouros. Em geral, os
caminhos usados pelos tropeiros são conhecidos previamente pelos mesmos. São estradas, campos, propriedades
rurais, além de mangueiras para encerrar o gado e potreiros que servem, também, para o cuidado do rebanho, evitando
que esse se disperse durante o descanso dos trabalhadores. Na região Pampa Sul-Rio-Grandense, existem caminhos
de tropas há mais de dois séculos.

6.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância estar ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.

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RANCHO

Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).

MANGUEIRA DE PEDRAS

As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

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CHARQUEADA

As charqueadas, no Rio Grande do Sul Meridional, eram indústrias onde ocorria o abate do gado e a produção de
charque (carne salgada) e de outros derivados bovinos. Em Pelotas, as propriedades que constituem o Sítio
Charqueador Pelotense (GUTIERREZ, 2010), estavam dispostos em faixas de terras subdivididas em potreiros, hortas,
pomares, olarias e o terreno ribeirinho. A casa, os varais e os galpões de produção de carne salgada, dos sebos e dos
couros ficavam junto aos arroios e canais que serviam para despejar os dejetos, escoar a produção e importar sal e
escravos (GUTIERREZ, 2010). Havia propriedades que dispunham apenas das indústrias e outras que contavam,
também, com a criação do gado (GUTIERREZ, 2001; ROSA, 2012).
As charqueadas como estabelecimentos industriais, surgiram na região da atual cidade de em Pelotas a partir de 1780
e no século XIX tornaram-se o principal fomentador econômico da região. O produto primordial dessas indústrias era o
charque bovino, utilizado, à época, principalmente para alimentação de escravos. Além do charque, outros derivados
bovinos eram extraídos como sebos, graxas e couros, destinados ao consumo local e à exportação (GUTIERREZ,
2001; ROSA, 2011, 2012). Dezenas de estabelecimentos funcionaram às margens dos arroios que banham o município
de Pelotas (ROSA, 2011, 2012) e utilizavam mão-de-obra escravizada (africanos e descendentes de africanos) até a
década de 1880, quando ocorreu a abolição da escravidão no Brasil. Pelotas foi, dessa forma, o cerne da produção
saladeril oitocentista.
Posterior ao surgimento das charqueadas pelotenses, essa indústria inicia, no interior do Rio Grande do Sul, em fins do
século XIX e início do século XX, em um período de relevância econômica das regiões de fronteira brasileira com o
Uruguai e a Argentina, principalmente devido à livre navegação dos rios e ao envolvimento político e comercial dos três
países, consequências do fim das guerras por independência (SOARES, 2006). Essa abertura entre Brasil, Uruguai e
Argentina impulsionou o município de Bagé a intensificar a produção de gado e a estabelecer charqueadas nessa
região. Bagé firma-se, então, como o polo saladeril gaúcho da época (SOARES, 2006). Diferentemente das
charqueadas pelotenses do período escravagista, em Bagé essa indústria operava com mão-de-obra assalariada,
trabalho em série, utilização de máquinas no processo de fabricação do charque e maior utilização de sub-produtos
derivados da carne bovina (SOARES, 2006). A forma de operação desse sistema está muito mais próxima a dos
abatedouros e frigoríficos atuais. O fim das charqueadas ocorre na década de 1950, quando passam a ser adaptadas
para que a carne salgada seja substituída pela carne frigorificada (LEITE, 2011).

6.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A ATIVIDADE


Abrange todos os espaços geográficos por onde as tropas são levadas, desde o local de origem desses rebanhos até o
local de abate ou propriedades rurais para onde esses animais serão transportados. Os animais são juntados na
propriedade de origem pelos peões da propriedade ou pelos peões tropeiros; em geral esse serviço é realizado por
campeiros a cavalo. Após os preparativos, os animais são levados por caminhos, estradas e campos até seu destino. A
atividade pode ser desempenhada em todos os períodos do ano, usualmente no inicio do inverno e durante o dia. Á
noite,é o momento de descanso do rebanho e dos tropeiros.

7. Tempo

7.1. PERIODICIDADE Principalmente no início do inverno. Isto ocorre porque no inverno o animal emagrece muito,
pois sofre bastante com o rigor do clima. Assim, os criadores vendem os animais gordos do
rebanho para não perder o capital empregado no período de engorda (prévio ao inverno).

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7.2. OCORRÊNCIA EFETIVA - O Trabalho da tropeada remete à introdução dos rebanhos trazidos pelos colonizadores
europeus para a América.

8. BIOGRAFIA

Valdemar Góes - Aposentado e pequeno produtor juntamente com sua esposa, Dona Islair, a qual herdou a pequena
propriedade de seu pai. Começou a atividade com dezoito anos, acompanhando o sogro que tropeava gado da região
de Piratini para os abatedouros de Pelotas e região. Além da atividade de tropeiro, atuou plantando em pequenos
espaços, além de fazer todo o tipo de lida campeira.
Minga Blanco: Proprietário rural, trabalha com criação de gado bovino (pecuária extensiva) e equino. A propriedade
rural na qual trabalha é herança de família, seus pais moravam nessa estância. Possui ovinos para consumo. Além
disso, faz tropeadas em curtas distâncias com seu gado. É domador e guasqueiro.

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9. ATIVIDADE

9.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


As tropeadas surgiram no Rio Grande do Sul a partir do conhecimento da alta qualidade dos pastos para a atividade
criatória no Brasil meridional, resultado das empreitadas colonizadoras das Coroas Portuguesa e Espanhola durante os
séculos posteriores à chegada dos europeus na América.
A vinda da população luso-brasileira ao atual Rio Grande do Sul ocorreu quase dois séculos após essa instalação na
costa do país (LUCCAS, 1997), e foi a partir da necessidade de abastecimento de alimentos e transporte para os
povoamentos da região das Minas que os campos meridionais passaram a ser fornecedores dessas mercadorias de
origem animal em fins do século XVII. Os pastos sulinos propícios à criação de rebanhos impulsionou essa atividade,
voltada principalmente à produção de mulas para transporte, de equinos e de bovinos. Portanto, após a ocupação pelos
bandeirantes paulistas, desde a região dos Campos Gerais, os quais abrangiam do sudeste brasileiro até o sul do atual
Paraná, o Rio Grande do Sul foi local de expansão dos criatórios por excelência (LUCCAS, 1997).
Como consequência dessa necessidade de fornecimento de rebanhos a partir do Rio Grande do Sul para outras
localidades do Brasil, além de Uruguai e Argentina, tropeiros foram se especializando na atividade e, apesar de muitas
vezes conhecerem toda a lida campeira, trabalhavam durante quase todo o ano traçando os diversos Caminhos das
Tropas que interligavam regiões diversas.
As tropas antigas de bovinos, no século XVII, eram formadas por rebanhos selvagens originados do gado
remanescente das Missões Jesuíticas Espanholas. Os padres transferiam os povoados de acordo com as exigências
políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -, deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007).
Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram, posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários
portugueses (RAHMEIER, 2007).

“Eram tempos em que as fronteiras oscilavam, movendo-se ao ritmo das disputas


territoriais dos impérios ultramarinos de Portugal e Espanha. Também naqueles tempos,
como nos dias atuais, homens circulavam, com seus objetos e suas ideias, nas amplas
áreas da região platina. Mas o faziam de modo inteiramente distinto. Cruzavam as
campanhas, as planícies litorâneas, a serra e os Campos de Cima da Serra,
atravessavam pradarias, serrados e planaltos. Deslocavam-se sobre o lombo de cavalos
e mulas, conduzindo rebanhos de gado bovino, muar, ovino, suíno e equino, entre outros.
Transportavam toda a sorte de mercadorias destinadas a suprir as necessidades de
regiões localizadas a centenas de quilômetros.” (SILVA, 2010).

Os primeiros caminhos conhecidos para a passagem das tropas são registrados antes mesmo da chegada oficial dos
luso-brasileiros ao Rio Grande do Sul. Em 1703, o “Caminho da Praia” ligava a Colônia do Sacramento (atualmente
território uruguaio) a Laguna - SC; em 1728, o “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” seguia de
Araranguá - SC passava pelos Campos de Cima da Serra e chegava à atual Curitiba - PR; o “Caminho das Tropas”,
estabelecido em 1730, originava-se em Viamão-RS, passava pelos Campos das Vacarias, no norte do atual Rio Grande
do Sul, atravessava o rio Pelotas (antigo rio do Inferno), chegava aos Campos de Lages e aos Campos Curitibanos,
cruzava o rio Negro e o rio Iguaçu, até os Campos Gerais de Curitiba até chegar à feira de Sorocaba-SP (SILVA, 2010).
Com o passar dos anos, diversos outros caminhos foram abertos para a passagem das tropas de rebanhos.
Os caminhos das tropas contavam com mangueiras, geralmente de pedras, para a paragem dos rebanhos,
principalmente à noite. Dessa forma, os tropeiros poderiam descansar, não necessitando rondar o gado durante o
período de descanso (MATTOS, 2003).

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Segundo Mattos (2003), devido à ferocidade do gado selvagem, os tropeiros precisavam encerrar os rebanhos nas
mangueiras de pedra, presentes em quase todo o trajeto das tropas e providenciar um enorme fogo na porteira,
evitando a fuga, o rompimento da encerra da porteira e o avanço dos animais sobre os homens e cavalos.
Até a década de 1970, há uma intensa movimentação de rebanhos na região pampa sul-rio-grandense. Porém, com a
introdução mais efetiva do transporte por caminhões, a maioria dos proprietários de gado bovino, equino e ovino
passaram a utilizar essa via; há um desgaste menor dos animais em comparação às tropas tocadas a cavalo.

“As tropas tinham por objetivo conduzir os gados para as invernadas dos seus
compradores onde permaneciam até engordar e, depois de gordos, eram levados para o
abate nas charqueadas ou, ainda, as chamadas tropas de mudança, troca ou transferência
de gados de um estabelecimento para o outro geralmente do mesmo proprietário e isso
ainda acontece atualmente por entrega de campo arrendado, por venda de uma
propriedade ou por manejo.” (MATTOS, 2003).

As tropeadas, anteriormente o único meio de transportar animais por terra, ao longo do século XX perdem a
exclusividade em seu objetivo: com a chegada dos caminhões boiadeiros, os rebanhos são transferidos de um local ao
outro de maneira mais rápida e com menores danos aos animais, configurando um maior retorno econômico para os
proprietários e operando de forma mais segura.
As tropas sulinas não contam mais com grandes rebanhos, nem as distâncias percorridas exigem que os peões
permaneçam muitos dias na estrada, mas ainda as tropeadas conservam suas raízes, cumprindo o trabalho de
transportar gados pelos caminhos entre diferentes estabelecimentos e localidades.

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9.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES


A atividade do tropeirismo caracteriza-se por ser essencialmente masculina. Há a narrativa do Sr. Valdemar Góes a
respeito da atividade das mulheres dos tropeiros. “As mulheres ficavam nas casas, quem tinha filhos, cuidando dos
filhos. Outra, cuidando do seu cercado, da sua horta.”
A lida na tropeada era difícil, perigosa, pois além das intempéries e dos riscos dos peões sofrerem machucados no
momento em que estão lidando com o rebanho ou com os materiais, o que pode ocorrer em todo trabalho campeiro, os
tropeiros não contavam com outro modo de segurança além de seus próprios companheiros e recursos.
“Perigo, assim, é a toda hora, o cavalo é muito perigoso, faca, o laço... O laço é muito perigoso, né, o laço... e com o
rebento... muitas vezes ele pode rebentar, né? Tem gente que fica cego de bater aquele laço na cara, porque espicha,
estica, estica, remalha, como eles dizem, assim, corta o laço no meio e vem com tudo”, narra Flávia Blanco, esposa de
Minga Blanco, sobre as lidas no campo. Também ela fala sobre os perigos do uso concomitante da faca, do cavalo e do
laço, na lida com o gado: “Tem perigo toda hora. Volta e meia eles (os campeiros) chegam contando uma coisa que
quase aconteceu, e às vezes acontece, porque eles não tem muito, assim... É na verdade uma profissão assim, que
tem risco, né? Claro, tem jeito de lidar, né, se pega de qualquer jeito é pior (falando dos instrumentos de trabalho).
Mesmo lidando bem se tem riscos, não é muito fácil, é uma vida muito bruta...”.
Sobre a forma de defesa dos tropeiros, o Sr. Valdemar Góes, em entrevista, fala: “Facão era a arma do tropeiro, né? E
carregava a faca na bota, não tinha perigo, né? E revólver, tinha que ter. [...] Porque, de primeiro, o pessoal era meio
estúpido, né? Pensavam, porque tinham um carro, metiam por meio de uma tropa e tocavam tudo por diante. Então, o
tropeiro tinha que desviar, tinha que parar, e ia acuando o gado, tirando o gado. [...] Mas os carros tinham que respeitar,
porque o carro tem freio, mas a tropa não tem. [...] Mas, antes a coisa não era fácil, se metia o carro, a gente prendia o
grito, e quando vê: ‘para, ou lhe toco bala’. Porque é que não ia parar?! E nós sapateava com o cavalo véio e ele
parava. Nós não ia atirar. Era pra ele parar. Era só os carro que viessem, que avançassem, aí tu pensava que ia ter que
dar um tiro, pra respeitar, não é? Porque o tropeiro, o capataz de tropa, ele leva um compromisso grande por cima, né?
Então a gente tinha que assumir o que levava ali, né? É, e era assim que nós fazia.”
Além disso, há a carência de locais para pernoitar, o que é feito ao relento muitas vezes, e junto ao rebanho.
Flávia Blanco destaca que seu marido costuma sair para tropear porque gosta dessa atividade, porém, há resistência,
por parte dos proprietários dos campos, em ceder espaço para pouso das tropas. “O Minga tem saído pra tropear, e sai
assim por aí. Ele gosta de caminhar aí pra fazer tropa. E, aí, tem se deparado com lugares que não dão pouso, não dão
comida, mas, num sistema assim, mais tradicional, a estância é... ela é acolhedora.”

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Seleção de letras de músicas referentes à atividade do tropeiro:


A BOA VISTA DO PEÃO DE TROPA
(Mauro Moraes)

Nos rincões da minha querência, arrabaleira conforme a vontade


Me serve um mate, pampa minha, nesta vidinha que me destes;
Antes que embeste a novilhada pr’a o mundo alheio das porteiras
Saúdo a poeira destas crinas, que me arrocinam sujeitando.

E na garupa do cavalo faço um regalo à ventania


Que na poesia destas léguas tomo por rédeas e conselhos;
Chamo no freio a coisa braba; o tempo é feio, mas que importa?
Quando se engorda na invernada, não falta nada pra quem baba de focinho levantado e mais curioso.

A fim de ir, pra Estância do Passo,


Na direção de casa costeando o arvoredo,
O meu desespero porfia co’a tropa
Fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo.
E todo o bem que havia, maneado ao destino
Divide caminho com a rês que amadrinha
O rio que eu não via, mimando de sede a minha vontade.

Na função dos meus afazeres, rememorados conforma a manada


Vou ressabiando afeito à fadiga, nas horas mingas de sossego;
Talvez melhore durante a sesteada, sou por demais igual à campanha
Tamanha alma de horizonte, ali defronte, os cinamomos.

Já não habita a teimosia, atropelando meu rodeio,


Quando me aguento no forcejo, pra erguer no laço os caídos;
Não me lastimo, nem receio, vou pelo meio do sinuelo,
Tocando manso os mais ariscos só pelo vício de, por quartos,
Cuidar do gado, rondando o baio que amanunseio.

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DE TEMPO E TROPA
(Guilherme Colares e Zulmar Benites)

A lenta imagem da tropa


Serpenteia estrada afora
Sucessão de hora após hora
Fundindo terra e peçunha
Rigores de mesma alcunha
Pro tropeiro linda estampa!
Conduzindo couro e guampas
Numa procissão terrunha.

Trago embebidos na imagem


Os verões e as soalheiras
Mastigando a polvadeira
Da gadaria assolhada
Trago no couro estampada
A marca das invernias
Poncho molhado faz dias...
...Até a alma gelada.

O mouro da mi'as confiança


Tranqueia mascando freio,
Carregando os meus anseios
Nos rumos dos meus despontes.
Companheiros de horizonte
Bem mais que um simples vassalo...
...Porque tropeiro e cavalo
São como a estrela e a noite.

A gadaria contesta
Berro após berro a tristeza
Ruminando as incertezas
De cambear rumo e querência
Longínquas reminiscências
De tantas tropas de outrora
Que rumbearam mundo afora
Ensimesmada de ausências

Já gastei basto e carona


Mangueando boiada "ajena"
Plantei luzes nas canhadas
Dos rincões por onde andei
Muitas tropas entreguei
Nessa sina de tropeiro...
...Voltei sempre repisando
Os caminhos que trilhei.

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CANÇÃO DOS TROPEIROS


(Crioulo dos Pampas)

Antigamente minha querência era povoada


A carreta era o transporte que cruzava nossa estrada
Até a tropo era por diante repontada
E o tropeiro ia cantando era boi, era boiada...

Era boi, era boiada


Hoje só resta esta canção e mais nada.

Veio o progresso e trouxe dificuldade


Levou o homem da campanha e morar la na cidade
Hoje eu só vejo é tapera abandonada
E carreta e o tropeiro sumiram igual pó da estrada.

Saia a tropa de são chico pra Rosário


Da Estância pra o matadouro um verdadeiro calvário
Quanto rigor o pobre tropeiro passava
E a canção era do boi pra se distrair cantava.

Não vejo canga, corda de coice rejeira,


Apetrecho da carreta, brocha, ajojo e tiradeira
Só algum rodado em alguma estância atirado
E canção do eira boi em algum disco gravado.

9.3. CRONOLOGIA - AS TROPEADAS SEGUEM OS CICLOS ECONÔMICOS DO ATUAL ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
DATA DESCRIÇÃO
SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.
Início séc. XVIII Concessão de sesmaria ocupação do Rio Grande do Sul
Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias” –
ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio
Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.
Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.
Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.
Séc. XIX - 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo Antônio da
Patrulha e Porto Alegre.
Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.
Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.

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Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e exportação da


carne bovina.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.

10. PRODUTOS PATRIMONIAIS

10.1. REPERTÓRIO OU PRINCIPAIS PRODUTOS


Lidas Campeiras

10.2. PROCESSO DE TRABALHO E COMERCIALIZAÇÃO


ETAPA ATIVIDADE
Preparação do Os animais são reunidos na propriedade de origem
rebanho para a
tropeada
Tropeada Condução dos animais através dos caminhos entre o local de origem e o local de destino dos
animais. O gado bovino e, às vezes outros rebanhos, eram comprados pelo capitão da tropeada.
Assim o tropeiro poderia ser, também, o intermediador de compra e venda dos rebanhos. Juntava-se
animais para formar uma tropa e esta era conduzida a cavalo para ser vendida ou entregue ao
receptador.
Comumente, os tropeiros faziam pausas para se alimentar e descansar, durante o dia e à noite. No
entanto, era preciso ficar vigiando a tropa para que os animais não fossem roubados. Enquanto uns
tropeiros preparavam a alimentação ou descansavam, os outros vigiavam o rebanho.

Entrega ou Finalização do processo de comercialização do rebanho.


venda dos
animais

10.3. PRINCIPAIS PARTICIPANTES - Comitiva dos tropeiros


STATUS FUNÇÃO
Capataz ou Responsável por todo o serviço da tropa; viajava na culatra (atrás) da tropa, entre os “culatreiros”
Capitão
Culatreiros Viajavam nas laterais do capataz
Fiadores Viajavam nas laterais da tropa, fazendo com que o gado não se espalhasse durante a jornada e
permitindo uma melhor movimentação dos animais através da manutenção dos mesmos por um
único caminho, acelerando o andamento do rebanho (“afinavam” a tropa).
Ponteiros Viajavam na frente da tropa, com a tropilha de cavalos ou mulas com cargas e/ou com cavalos para
substituição das montarias desgastadas (quando a tropa seguia um longo percurso).

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10.4. CAPITAL E INSTALAÇÕES


POTREIROS – Campos rodeado de cercas de piques de madeira e/ou fios de arame onde os
DESCRIÇÃO
animais ficavam presos durante o descanso dos tropeiros.
QUEM PROVÊ No caminho utilizado pelas tropas havia estâncias que alugavam ou emprestavam esses espaços
para o descanso da tropa.
FUNÇÃO Evitar que os animais se dispersem e também servia como lugar para alimentação (pastagens).
DESCRIÇÃO MANGUEIRAS DE PEDRA – locais de paragens dos rebanhos, evitando o extravio de algum animal;
as mangueiras são feitas de pedras empilhadas, têm uma porteira composta de toras de madeira
atravessadas perpendicularmente ao solo.
As mangueiras também são feitas de madeira, árvores, cactos, dependendo da região e da
disponibilidade de materiais.
QUEM PROVÊ Ao longo dos Caminhos das Tropas existiam diversas mangueiras, principalmente de pedra,
construídas anteriormente ao século XX, para serem utilizadas pelos tropeiros.
FUNÇÃO A função das mangueiras é a mesma dos potreiros: evitar a fuga e o roubo dos animais, porém, em
geral, não há disponibilidade de pasto para o gado nesses locais. Assim, o gado era levado
primeiramente para um campo para ser alimentado e posteriormente era encerrado na mangueira
para passar a noite ou outro período de descanso.
DESCRIÇÃO AÇUDES – Estão nos campos por onde passam as tropas.
QUEM PROVÊ No caminho utilizado pelas tropas havia estâncias que alugavam ou emprestavam os espaços de
potreiros para o descanso da tropa que contavam com a presença de açudes.
FUNÇÃO Fornecimento de água para os animais.

10.5. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO


ARREIOS – para montaria do cavaleiro, tanto para a lida campeira, incluindo a tropeada, quanto
DESCRIÇÃO
para doma e gineteada. Há variações dos arreios conforme sua utilização.
QUEM PROVÊ O tropeiro ou o contratante (vendedor ou comprador do rebanho).
Para montaria do cavaleiro, tanto para a lida campeira, incluindo a tropeada, quanto para doma e
gineteada. Há variações dos arreios conforme sua utilização, porém os itens básicos, utilizados para
montaria, serão descritos de acordo com observação e entrevista. Os arreios estão dispostos na
seguinte ordem de sobreposição, mais comumente usadas para as lidas campeiras: xergão - carona,
FUNÇÃO / - basto/sela/serigote - cinchão (ou cincha) e barrigueira – pelegos – badana (nem sempre é usada) –
SIGNIFICADO cincha (ou sobrecincha) e barrigueira. Fazem parte do conjunto, ainda, os estribos, a cabeçada com
freio e rédeas e o bucal com cabresto (opcional). Pode-se considerar parte do conjunto, ainda, o
rebenque/mango/relho (usado para instigar o animal a acelerar a andadura, ou, no caso do esporte
de gineteada, para fazer o animal pular com o cavaleiro sobre ele. Os arreios podem sofrer variação,
porém os relacionados acima, são os mais comumente utilizados na região.
A maioria das peças de arreios podem ser encontradas em casas especializadas; alguns artefatos
DISPONIBILIDADE
podem ser confeccionados por artesãos ou pelos próprios tropeiros.

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LAÇO - Corda trançada, feita de couro, nylon ou outros materiais, com uma argola de metal em uma
das extremidades. A outra extremidade passa por dentro da argola, formando um anel com acorda,
DESCRIÇÃO
que é girada no ar, jogada sobre o animal. O laço é um instrumento manual, que pode ser usado
pelo homem montando cavalo, bem como, no chão, quando em espaços cercados.

QUEM PROVÊ O tropeiro


FUNÇÃO / Evitar que o animal dispare quando este se desgarra da tropa.
SIGNIFICADO
Podem ser comprados em casas especializadas ou ser confeccionados por artesãos ou pelos
DISPONIBILIDADE
próprios tropeiros.

DESCRIÇÃO FACÃO – Tipo de adaga.

QUEM PROVÊ O tropeiro


FUNÇÃO / Usada como arma pelo tropeiro e como instrumento para a alimentação e afazeres do dia-dia tais
SIGNIFICADO como defesa pessoal e trabalho, como para abrir caminhos através de matas.

DISPONIBILIDADE Pode ser adquirido em casas especializadas com recursos próprios, ou herdado.

DESCRIÇÃO REVÓLVER – arma de fogo.

QUEM PROVÊ O tropeiro


FUNÇÃO / Utilizado como arma de defesa contra roubos e “injustiças” pelo tropeiro.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Comprada com recursos próprios ou herdada.

DESCRIÇÃO FERRADURAS – ferros utilizados sob os cascos das montarias para evitar as machucaduras.

QUEM PROVÊ O tropeiro ou o contratante da empreitada


FUNÇÃO / Evitar machucados na sola dos cascos da montaria (cavalo/ mula)
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Adquirido em lojas especializadas ou direto com os ferreiros

10.6. COMIDAS E BEBIDAS


CARNE - Durante a tropeada comia-se churrasco de carne principalmente de ovelha ao meio dia. À
noite comia-se “arroizada” que era carne com arroz cozidos em uma panela. A carne picada com
arroz é conhecido como “arroz carreteiro” ou “arroz de carreteiro”. O arroz carreteiro pode ser feito
DESCRIÇÃO com restos da carne picada que sobra do churrasco anteriormente feito ou de charque (carne
salgada).
SALAME.
QUEM PROVÊ O tropeiro provê sua alimentação levando de casa ou comprando em comércios durante a trajetória.
FUNÇÃO /
Alimentação dos tropeiros.
SIGNIFICADO

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DESCRIÇÃO CHIMARRÃO ou MATE.


QUEM PROVÊ O tropeiro provê levando de casa ou comprando ou em comércios durante a trajetória.

FUNÇÃO / Bebido enquanto a alimentação está sendo preparada, seja café da manhã, almoço ou janta. Tem,
também, a função de sociabilidade: em uma “roda de mate” os peões se reúnem para conversar
SIGNIFICADO sobre a lida cotidiana ou contar causos.

DESCRIÇÃO CANHA (cachaça)

QUEM PROVÊ O tropeiro provê levando de casa ou comprando ou em comércios durante a trajetória.

FUNÇÃO / Bebida alcoólica que é ingerida enquanto a alimentação está sendo preparada, seja esta café da
manhã, almoço ou janta. Pode ser ingerida juntamente com o mate, intercalando essas duas
SIGNIFICADO bebidas.

DESCRIÇÃO CAFÉ

QUEM PROVÊ Bebido, em geral, depois da alimentação.


FUNÇÃO /
O tropeiro provê levando de casa ou comprando ou em comércios durante a trajetória.
SIGNIFICADO

10.7. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.8. TRAJES E ADEREÇOS

PONCHE – mesmo que poncho. É o agasalho tradicional do gaúcho. Consiste em uma capa de
pano ou lã, com forma redonda, retangular ou ovalada, tendo uma abertura no centro por onde
DESCRIÇÃO passa a cabeça. Assim, o tronco da pessoa que o está vestindo fica protegido (frente e costas).

O tropeiro
QUEM PROVÊ

Proteger o tropeiro da chuva e frio.


O poncho “baeta vermelha” ou “carnal vermelho” é o preferido pelos trabalhadores que necessitam
FUNÇÃO / prestar serviços durante os períodos de frio ou chuva, pois são confeccionados com duplos tecidos
de “lã batida”. Nesse tipo de poncho, a lã do tecido é com tramas muito fechadas, o que evita a
SIGNIFICADO
passagem de água e protege o peão do frio. O nome referencia a cor dos ponchos que, em geral
apresentam o tecido de lã externo de cor preta ou azul marinho e o segundo tecido de lã, interno, de
cor vermelha.

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DESCRIÇÃO PILCHA CAMPEIRA

A Pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. Compõe a pilcha: botas (calçado próprio
para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o pé e a perna), bombacha (calças presas por
QUEM PROVÊ botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata,
chapéu (feito de couro ou feltro). Além de fazer parte da indumentária campeira, também é pilcha
todo objeto de valor ou adorno que faz parte da montaria do gaúcho.
FUNÇÃO / O tropeiro. Em alguns casos, o tropeiro é peão de alguma propriedade rural, podendo receber os
SIGNIFICADO trajes do proprietário das terras.

DESCRIÇÃO CHAPÉU DE ABAS LARGAS

QUEM PROVÊ Proteger o tropeiro da chuva e do sol.


FUNÇÃO /
O tropeiro
SIGNIFICADO

10.9. DANÇAS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.10. MÚSICAS E ORAÇÕES

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

10.11. INSTRUMENTOS MUSICAIS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

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10.12. ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO


EXECUTANTE ATIVIDADE
Comprador e Pastoreio e todas as atividades que o envolvem.
peões
campeiros
que recebem
o gado
Trabalhador Abate dos animais, quando esses são levados diretamente aos abatedouros (matadouros, frigoríficos e,
dos antigamente, charqueadas).
abatedouros

11. DESTINAÇÃO DO PRODUTO


SERVIÇO, EM GERAL, TERCEIRIZADO. TRANSPORTE DE
PARA USO PRÓPRIO VENDE TROCA OUTROX
REBANHOS.

PARTICIPAÇÃO NA RENDA
SIM X NÃO PRINCIPAL FONTE DE RENDA X COMPLEMENTO X
FAMILIAR

MODO DE COMERCIALIZAÇÃO DIRETO X INTERMEDIÁRIO COOPERATIVA / ASSOCIAÇÃO

12. PARTICIPAÇÃO EM COOPERATIVAS OU ASSOCIAÇÕES

Não há

13. BENS ASSOCIADOS

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Pastoreio F60-1


Lidas Caseiras F60-2
Lidas Campeiras - Esquila F60-3
Lidas Campeiras - Doma F60-4
Lidas Campeiras – Ofício de guasqueiro F60-5
Lidas Campeiras - Aramado F60-6

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14. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Localização dos caminhos das tropas.


Acervo: Eron Vaz Mattos

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15. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

15.1. DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

15.2. REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


Não há

15.3. REGISTROS FOTOGRÁFICOS


F1 – A2 – 1. 497, 498, 1051 a 1060, 1068, 1069, 1077 a 1082, 1084 a 1087, 1359, 1364, 1365.

16. OBSERVAÇÕES

16.1. APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU


TOMBAMENTO

Ver ficha F10-1, item 9.2.

16.2. IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


OFÍCIO DO CARRETEIRO – Os carreteiros eram os comerciantes que transportavam e vendiam víveres pelo interior
do Rio Grande do Sul. Por vezes acompanhavam as tropeadas pelos Caminhos das Tropas. Eram conduzidas pelo
carreteiro e contavam com a força de tração de juntas de bois que variavam em quantidade: tem-se notícias de carretas
puxadas por seis, oito e até doze parelhas de bois. Há documentos que informam a presença da carreta no Rio Grande
do Sul em 1781 (LESSA, 1986); em Bagé, MATTOS (2003) aponta para as carretas cruzando o interior do município por
volta do ano 1970. Os produtos transportados pelos carreteiros eram variados: desde gêneros alimentícios até peças de
vestuários, panelas, e outros utilitários (LESSA, 1986; MATTOS, 2003).
OFÍCIO DO AÇUDEIRO - atividade que integrava a Lida campeira, executada pelo açudeiro, que consistia na
construção de açude. O Açude era construído na várzea, utilizando-se das depressões naturais do terreno, depois do
local demarcado, a terra era escavada com um arado puxado por junta de boi. As leivas de pasto eram retiradas com a
mariposa também puxada por junta de boi – um, duas ou três juntas de boi -, o pasto e o barro serviam de alicerce para
a construção das taipas. Na medida em que a caixa do açude era escavada, a terra era carregada na mariposa e
depositada sobre a taipa. Esta ferramenta de trabalho também servia para socar e emparelhar a terra usada na
construção da taipa, esta terra era igualmente socada pelos cascos de boi. .Avaliada a fundura da caixa do açude e a
Estrutura da taipa, o açudeiro decidia onde seria o sangrador, ladrão ou vertedor, por onde escoaria o excesso de Água
acumulada. O sangrador era aberto com uso da pá. (MATTOS, 2003).
O objetivo do açude é fornecer água para os animais, em locais em que não há a presença de arroios, sangas ou
outros cursos d’água, ou em regiões com problemas de estiagem.

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OFÍCIO DO FERREIRO - O oficio de ferreiro caracteriza-se pelo trabalho na confecção de ferros. No processo, o ferro é
aquecido numa fornalha ou forja e logo após é moldado com um martelo na bigorna. Após estar confeccionado o
artefato da marca, do sinal, ou da ferradura é mergulhado em água fria ou óleo para ganhar as qualidades desejadas.

OFÍCIO DO CANTAREIRO – Artesão que trabalha com pedras na construção ou restauro de mangueiras, cercas,
casas, galpões erguidos com essa matéria-prima. O trabalho do cantareiro inicia com a busca das pedras no leito de
arroios e sangas e em pedreiras escondidas nas coxilhas dos campos¹. Para essa busca é necessário todo um saber,
da extração das pedras em sua jazida, da forma de transporte utilizando alavancas e o próprio corpo, do trabalho nas
rochas. Além da exigência das técnicas, é preciso força física para lidar com as pedras. É um ofício herdado de pai para
filho e é raro atualmente; nas localidades inventariadas há informação sobre esse ofício ainda vigente em Herval e,
também, na localidade de Capão do Leão, emancipado do município de Pelotas em 1982.

¹ GONÇALVES, Jussemar Weiis; FERREIRA, Letícia de Faria. O pampa , o cavalo, a pedra e o trabalho. Curitiba: IX Reunião de
Antropologia do Mercosul, 2011. (Artigo apresentado no GT 15: Antropologia do Trabalho e Memória dos Trabalhadores).

16.3. OUTRAS OBSERVAÇÕES


Havia a existência de vários caminhos de tropas dentro do Rio Grande do Sul e entre este estado e outros locais do
Brasil, Uruguai e Argentina. Esses caminhos faziam a comunicação entre diferentes locais de criação e abate dos
animais, além de serem as vias de comércio por onde os carreteiros passavam com seus produtos. Assim, nas épocas
em que as informações não chegavam de forma tão rápida como ocorre atualmente, esses caminhos propiciavam a
formação de uma rede de comunicações.
Cabe informar que o tropeirismo é uma atividade essencialmente masculina, ainda que em alguns casos,
principalmente em curtas distâncias, ocorra a presença de mulheres nessa lida.
O galpão é, em geral, o local de pouso dos tropeiros. Se o galpão não fosse cedido pelos proprietários, os tropeiros
costumavam fazer acampamentos junto às mangueiras em que o rebanho ficaria encerrado, ou nos potreiros onde
pernoitaria. Há relatos sobre a resistência, nos dias de hoje, dos proprietários cederem pouso às tropas. É possível que
essa resistência ocorra em função dos roubos de gado e pelo abigeato praticado nas propriedades rurais.

17. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Q60 – 19, 24 e 26.


PESQUISADOR(ES) Flávia Rieth, Marília Floôr Kosby, Liza Bilhalva Martins da Silva, Marta Bonow Rodrigues,
Pablo Dobke e Daniel Vaz Lima.
SUPERVISOR Flávia Rieth, Liza Bilhalva Martins da Silva e Marília Floôr Kosby.
REDATOR Marta Bonow Rodrigues. DATA
17/04/2013
RESPONSÁVEL PELO Flávia Rieth
INVENTÁRIO

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CÓDIGO DA FICHA

BAGÉ/RS,
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INRC - INVENTÁRIO NACIONAL DE REFERÊNCIAS GRANDE/RS,


Região
CULTURAIS HERVAL/RS,
de
RS ACEGUÁ/RS, 2013 F20 2
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO Bagé/RS
HULHA
CELEBRAÇÕES e entorno
NEGRA/RS,
PELOTAS/RS,
PIRATINI/RS
UF SÍTIO-. LOC ANO FICHA NO.

LOCALIZAÇÃO

SÍTIO INVENTARIADO
Região de Bagé/RS e entorno (Pampa Sul-Rio-
Grandense, Antigos Caminhos das Tropas)
Em todas as localidades inventariadas obtivemos relatos de festas de marcação, mas o
LOCALIDADE trabalho de campo etnográfico foi feito em Arroio Grande (Localidade da Palma).

MUNICÍPIO / UF Arroio Grande/RS

1. BEM CULTURAL

DENOMINAÇÃO Marcação

OUTRAS DENOMINAÇÕES Jerra / Yerra


CONDIÇÃO ATUAL X VIGENTE / ÍNTEGRO X MEMÓRIA RUÍNA

2. FOTOS
OBS.: PARA LISTA COMPLETA DAS FOTOS INVENTARIADAS, CONSULTAR O ANEXO 2: REGISTROS AUDIOVISUAIS .

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entorno HULHA
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PELOTAS/RS,
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FOTO 1. Terneiro lançado, prestes a ser imobilizado, marcado, capado e assinalado. Arroio Grande, RS

FOTO 2. Terneiro sendo assinalado e marcado. Arroio Grande, RS

FOTO 3. Castração de terneiro. Arroio Grande, RS.


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NEGRA/RS,
PELOTAS/RS,
PIRATINI/RS

Foto 4. Testículo dos terneiros castrados assando nas brasas que aquecem o ferro de marcar. Arroio Grande, RS.

Foto 5. Churrasco para a festa da Marcação. Arroio Grande, RS.

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NEGRA/RS,
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PIRATINI/RS

3. DESCRIÇÃO DO BEM IDENTIFICADO


As marcações são referências quase que unânimes nas memórias e narrativas sobre sociabilidade na chamada vida
campeira, universo de homens, mulheres, animais, paisagem e utensílios envolvidos na pecuária extensiva do pampa
sul-rio-grandense. As “marcações” são festas anuais nas quais ocorrem a castração dos terneiros (bovinos jovens) que
são apartados dos machos escolhidos para reprodutores, a assinalação (corte de parte da orelha do bicho) e aplicação
com ferro quente, da marca do proprietário no couro dos terneiros e terneiras. São esses eventos uma celebração do
rebanho, da estância e de seu dono, um rito cuja expressividade, não se refere apenas ao volume de gado, mas à
possibilidade de atualizar as relações com aquilo que é tido como tradição na vida campeira, mais especificamente, na
construção da pessoa do gaúcho.
Comparecem amigos, familiares e vizinhos da propriedade rural, trabalhadores e patrões. Em alguns casos, mulheres
participam, geralmente acolhendo as famílias convidadas e administrando a festa, na qual a comida principal é o
churrasco de carne bovina e/ou ovina – se o dono da festa mandar carnear uma ou mais vacas para assar durante a
marcação, isso é sinal de fartura e celebração, pois carnear ovelhas é um ato de consumo cotidiano e mais trivial.
Quando os terneiros são colocados, um por um, para dentro da mangueira, os homens mais velhos encenam aos mais
jovens como se atira o laço, como se assinala, como se “capa” ou “faz o serviço” (castra). Aos mais novos é permitido
pealar (laçar o animal pelas mãos para derrubá-los), imobilizar os bichos e comer os testículos destes. No mesmo fogo
em que as marcas aquecem são jogados os testículos recém extraídos dos terneiros, a carne gordurosa e suculenta
não chega a assar e é disputada para ser comida quente, acompanhada de cachaça.
Durante o serviço, que é um híbrido de trabalho e brincadeira, debocha-se daqueles que têm pouca habilidade com o
laço e não são ágeis nem fortes o suficiente para segurar os animais enquanto estes são castrados, cortados e
marcados. Da mesma forma, desdenha-se e fazem-se chacotas dos terneiros fracos, que “não valem a pena” do
esforço de serem derrubados e imobilizados.
Embora atualize relações ontológicas para aqueles homens cujo manejo com os bovinos é um eixo fundamental na sua
formação, a grande maioria dos participantes da marcação já não reside mais no campo. No mesmo sentido,
enfraquece-se o sentido utilitário de marcar o rebanho para assegurar a propriedade da terra e dos animais, visto o
fracionamento das propriedades e o cercamento das mesmas.
A jerra - yerra, como a marcação é chamada no Uruguai e na Argentina, encerra, portanto, rituais de iniciação de
homens e animais na vida campeira, e é abordada pelo Inventário Nacional de Referências Culturais – Lidas Campeiras
na Região de Bagé/RS, que visa o levantamento preliminar, e as consecutivas documentação e divulgação de dados
bibliográficos e etnográficos sobre as relações envolvidas na produção pecuária no pampa sul-rio-grandense.
As marcações como descritas acima são eventos cada vez mais raros, eram muito comuns até 20 atrás. Atualmente,
ainda se realizam marcações, mas estes eventos têm um caráter mais simbólico do que prático, sendo uma celebração
do rebanho e de seu dono. Afirma-se isso, pois já existem utensílios que tornam a prática mais rápida e menos
insalubre. Os animais são colocados em mangueiras de madeira ou arame, encaminhados para um tronco, onde são
imobilizados pelo pescoço, assinalados com um corte na orelha (feito com o assinalador, uma espécie de alicate com
as bordas afiadas contendo um desenho específico – em formato de “v”, flor, círculo, etc), e castrados com bisturi em
lugar da faca (com prévia limpeza da região e com a ligadura, com fio, dos canais e vasos sanguíneos para evitar o
sangramento) ou com um instrumento chamado “bordizo” (Burdizzo), espécie de alicate sem fio, que faz um corte
interno nos canais de transporte do sêmen, acima dos testículos dos animais, esterilizando-os.
Não obstante, é importante ressaltar que o uso de práticas tidas como tradicionais também pode ocorrer de forma
conjugada com os utensílios e a logística mais atualizada.
Atualmente, o caráter utilitário de marcar, capar e assinalar os animais tem se sobressaído em relação à festa. Além do
esvaziamento do campo, o envelhecimento da população e a escassez de mão-de-obra residente nas propriedades
rurais, contribuem para que o serviço da marcação seja feito da forma mais prática possível. Há relatos de jerras em
que o serviço é feito pelo proprietário e alguns empregados, a marca é aquecida em fogo a gás, ou a macra pode ser
com produto químico, a frio, e a castração é feita com bordizo.

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NEGRA/RS,
PELOTAS/RS,
PIRATINI/RS

4. DESCRIÇÃO DO LUGAR DA CELEBRAÇÃO

4.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS


A marcação ocorre na propriedade rural. O serviço da marcação, ou seja, a castração, a assinalação e a marcação com
ferro quente, acontecem dentro das mangueiras, espaços circulares ou retangulares, cercados com aramado ou com
cercas de madeira. A festa ocorre mais próxima à sede da propriedade, onde também é assado o churrasco, que pode
ser feito em churrasqueira ou fogo de chão. Comparecem amigos, familiares e vizinhos da propriedade rural,
trabalhadores e patrões. Em alguns casos, mulheres participam, geralmente acolhendo as famílias convidadas e
administrando a festa, na qual a comida principal é o churrasco de carne bovina e/ou ovina – se o dono da festa mandar
carnear uma ou mais vacas para assar durante a marcação, isso é sinal de fartura e celebração, pois carnear ovelhas é
um ato de consumo cotidiano e mais trivial. O caráter festivo está cada vez mais raro, sendo priorizada a praticidade e
utilidade dos serviços de marcar, castrar e assinalar os terneiros.
Quando se realizam as festas de marcações, estes eventos têm um caráter mais simbólico do que prático, sendo uma
celebração do rebanho e de seu dono. Afirma-se isso, pois já existem utensílios que tornam a prática mais rápida e
menos insalubre. Os animais são colocados em mangueiras de madeira ou arame, encaminhados para um tronco, onde
são imobilizados pelo pescoço, assinalados com um corte na orelha (feito com uma espécie de tesoura), e castrados
com um instrumento chamado “bordizo”, espécie de alicate sem fio, que faz um corte interno nos genitais dos animais,
esterilizando-os.
Não obstante, é importante ressaltar que o uso de práticas tidas como tradicionais também pode ocorrer de forma
conjugada com os utensílios e a logística mais atualizada.

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4.2. MARCOS NATURAIS E/OU EDIFICADOS


PROPRIEDADE RURAL DE CRIAÇÃO DE REBANHOS
A estância ou fazenda, no Rio Grande do Sul, é o estabelecimento rural associado às atividades de criação de gado
bovino, ovino e equino. Uma explicação recorrente para sua origem remete às Missões Jesuíticas: os padres
transferiam os povoados de acordo com as exigências políticas – tratados entre as coroas portuguesa e espanhola -,
deixando o gado bovino para trás (RAHMEIER, 2007). Esses animais multiplicavam-se nos campos e eram,
posteriormente, incorporados aos domínios rurais de proprietários portugueses (RAHMEIER, 2007). Apesar de, em sua
origem, a estância está ligada a qualquer espaço rural ocupado por criações e também por agricultura, em meados do
século XIX passou a indicar as grandes extensões de campos destinados à produção de gado, com a presença de
mão-de-obra escrava ou assalariada e com uma arquitetura contando com sede (casa do proprietário) e outras
construções vinculadas à atividade criatória (RAHMEIER, 2007; LUCCAS, 1997). Em geral, nessa nova configuração do
espaço não há agricultura em grandes áreas e, quando há, não será a base econômica principal. Dessa forma,
propriedades menores anteriormente também chamadas de estâncias, em que há consórcio de várias espécies de
produtos agrícolas e a criação de animais em uma escala menor, paulatinamente passam a não fazerem parte dessa
classificação popular. São conhecidas por chácaras – nome de origem “indígena” que significa plantação (SAINT-
HILAIRE, 1987) ou por designações locais, utilizadas até a atualidade, como “campo” e “sítio”. A estância atual
corresponde a grandes extensões de terras e é formada, comumente, pela casa do proprietário, pelo galpão (local onde
se mantém os materiais de uso cotidiano, além de ser o lugar de convivência dos peões), pela casa do capataz ou
caseiro (quem administra a estância), pelos currais (mangueiras, brete, banheiro para gado – locais de manuseio dos
animais), e pelos potreiros, piquetes ou invernadas (campos divididos por cercas destinados à criação e engorde do
gado). Pequenas propriedades são capazes de contar com essa mesma configuração, porém, devido ao seu tamanho
podem não ser consideradas como estâncias.
RANCHO
Os ranchos são moradias construídas com torrão de barro ou pau-a-pique. A madeira, o capim santa-fé e a taquara
(tipo de bambu) eram cortados na lua minguante e as leivas (ou torrões) retiradas da beira das várzeas. Construída a
armação de taquara ou madeira de mato, projetadas as portas e janelas (sem vidros) as paredes eram preenchidas
com os torrões de barro e, normalmente, apresentava uma espessura aproximada de 50 cm. A armação do telhado,
chamada tesoura, sustentava as quinchas – camadas superpostas de capim santa-fé para a cobertura que, muitas
vezes são dissimuladas pela técnica de aparar as pontas do capim (LESSA, 1986; VAZ MATTOS, 2003). O chão é de
terra batida e podem haver uma ou duas divisões em seu interior, com couros ou cortinas de tecidos desempenhando a
função de portas. Em média, a moradia é construída com 6 metros de frente por 4 metros de fundos e seu pé direito
não ultrapassa os 2 metros de altura (LESSA, 1986). Os ranchos foram as primeiras moradias das estâncias; ainda que
os proprietários fossem abastados, até fins do século XVIII e início do XIX, não havia, em larga escala, matéria-prima e
mão-de-obra para a construção de casas de tijolos e telhas, portanto predominavam as habitações de pau-a-pique,
barro e santa-fé na paisagem pampeana (ISABELLE, 1983; LESSA, 1986; LUCCAS, 1997; SAINT-HILAIRE, 1978).
MANGUEIRA DE PEDRA
As mangueiras, currais ou encerras são grandes construções circulares de paredes altas confeccionadas com pedras
ou, onde era escasso esse material, com paus-a-pique, árvores ou, ainda, eram feitas com valas no chão. Não há
comprovação da origem histórica dessas edificações, porém sabe-se que eram utilizadas pelos tropeiros (homens que
levam o gado de um local a outro) para o descanso e a guarda dos animais. Dessa forma, os tropeiros poderiam
repousar sem a necessidade de “fazer ronda” (vigiar os animais). Acredita-se que as mangueiras não eram usadas para
prender o gado com fins de manuseio como curar, medicar, contar e marcar. Esses serviços eram, em geral, feitos nos
rodeios, atividade que consiste em juntar os animais no campo, somente com o auxílio do cavalo, sem o uso de cercas
ou similares. O formato circular da mangueira propõe-se a evitar arestas ou cantos que poderiam levar o animal a se
“embretar”, ficando sem saída e atirando-se contra as paredes (JACQUES, 2008). A entrada da mangueira é chamada
de porteira. Nela eram colocadas duas “tronqueiras”, que são objetos verticais de pedra ou madeira postos um em
frente ao outro com perfurações em que eram encaixadas e dispostas varas (madeiras retas) atravessando a porteira
evitando a fuga dos animais. Essas construções são bastante encontradas nas rotas ou Caminhos das Tropas que iam
em direção às antigas charqueadas e, posteriormente, aos matadouros e frigoríficos.

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4.3. AGENCIAMENTO DO ESPAÇO PARA A CELEBRAÇÃO


O espaço da marcação é o espaço das mangueiras, onde geralmente se lida mais diretamente com os rebanhos,
quando se quer proceder com um número maior de animais. Nos relatos a respeito de tempos pregressos, até finais do
séc. XIX, as marcações aconteciam campo afora, nos chamados rodeios, onde o gado se territorializava, se reunia, já
que os aramados eram raros, assim como os bretes. Utilizava-se laço para derrubar os animais, como ainda hoje,
dentro das mangueiras, se usa. O uso das marcas no gado, além de determinar a posse dos rebanhos, também
determinava ou demonstrava o interesse pela posse do território onde o rebanho se encontrava, já que, segundo Minga
Blanco, o gado possui noções de territorialização. Quando dentre os convidados para a marcação estão mulheres e
crianças, estas se reúnem em volta da casa da propriedade, onde é preparada a festa. Algumas mulheres e crianças
assistem o processo de marcar, castrar e assinalar os terneiro, mas são minoria.

5. TEMPO

DATA DATA FIXA:

X DATA MÓVEL: EM GERAL EM FINS DO INVERNO E COMEÇO DA PRIMAVERA.


DURAÇÃO UM DIA. DOIS, NO MÁXIMO.
PERIODICIDADE X ANUAL OUTRA

OCORRÊNCIA EFETIVA DESDE 2001


2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
X X X X X X X X X X X X

6. HISTÓRIA

6.1. ORIGENS, MOTIVOS, SENTIDOS E TRANSFORMAÇÕES


A marcação tem origem com o estabelecimento das estâncias e a necessidade de demarcação da posse de terras e de
rebanhos. Com a formação dos rebanhos de criação de gado bovino e o estabelecimento do mercado de carne, a
seleção de reprodutores se faz necessária, como medida de melhoramento genético das raças ou espécimes. Além
disso, os machos castrados, por não estarem em “serviço de cobertura”, tendem a ganhar mais peso em um espaço de
tempo menor, sendo abatidos mais precocemente. Aliados aos fatores utilitários, a questão simbólica de celebrar o
rebanho e a propriedade são aspectos atualizados na festa, na reunião de parentes e vizinhos, no sentido de fazer com
que o vínculo de propriedade com a terra e os animais não exclua a possibilidade de boas relações entre lindeiros. A
marcação se estabelece num contexto de constante disputa e conflito por demarcação de fronteiras. Há relatos, em
diário de campo, da latente animosidade entre vizinhos de propriedades rurais.

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6.2. NARRATIVAS E REPRESENTAÇÕES

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Sobre as transformações na marcação, Netinho Albuquerque diz:


“Uma coisa que existia, que era muito forte aqui, a questão da marcação, que era uma questão tradicional no período
de setembro, onde todas as propriedades faziam as marcações dos animais. Hoje as coisas já estão mudando, esses
processos já são mais pontuais, já são feitos os processos durante quase todo o ano, não tem aquela festança que
existia na época; antes se reunia os vizinhos, as pessoas vinham de longe, era um dia de festa, a marcação era um dia
de festa as propriedades eram muito maiores, hoje as propriedades estão praticamente subdivididas, não existem
grandes estâncias; hoje existem algumas propriedades grandes, porque empresários novos se tornaram grandes, mas
é que as grandes estâncias do passado hoje estão todas elas dividida, houve uma reforma agrária indireta na verdade.”
O pai do entrevistado contratava um castrador especialista, mas também fazia tal serviço, com sua faca especial.
Netinho era o marcador, quem usava o ferro em brasa para marcar o couro dos animais. Depois do falecimento de seu
pai, o serviço de marcar é feito de forma menos manual, e mais mecanizada e esterilizada, na propriedade de Netinho.
Não há mais a grande mobilização de outrora.
Na versão chamada de “tradicional” das marcações, os homens mais jovens ou empregados pealam (laçam e derrubam
o animal pelas mãos) e imobilizam os terneiros. O proprietário, geralmente o mais velho dos homens que participam,
castra e assiná-la os animais com uma faca especial. Outro homem mais jovem, geralmente o possível herdeiro do
rebanho, faz a marcação com ferro quente. Os demais homens auxiliam na desinfecção dos sangramentos dos
animais, bem como, cuidam das brasas onde as marcas devem permanecer muito quentes, e onde se assam os
testículos decepados.
No mesmo sentido, Sônia Carlota relata: “Agora já não tem muito aquelas grandes coisas de marcação estão fazendo
mais é no brete mesmo aquela coisa de laçar campo a fora já tem poucos que fazem já estão terminando com isso aí,
já foi mais tradição agora já estão fazendo no brete pra fazer mais ligeiro, o mundo ta correndo sabe? Tudo correndo,
tudo corre, tudo anda, tudo voa, a gente não tem tempo pra nada como diz o outro né então, a gente pra fazer mais
rápido, mais ligeiro, então bota no brete e já sai prontinho bota no tronco marca o sinal e já sai prontinho, ai até largam
pra laçar mas já esta pronto o serviço, de primeiro tiravam pra laçar se perdiam, aqueles tinham que sair atrás pra
pegar,correr laçar pegar derrubar agora não precisa se não laçou deixa ir embora já esta pronto mesmo. Não tem mais
aquela farra que ai não precisa, tem um vizinho aqui que faz porque eles tem bastante ainda e faz marcação. Tem o
sogro da minha filha que faz também mas não aqui numa estância que eles arrendam.”
BOTANDO UM PEALO
(Gujo Teixeira e Luiz Marenco)
Um pampa-brazino mocho
Ganhou o mundo da porteira
Levantou terra por touro
E disparo na mangueira.
Eu ajeitava minha armada
Quatro rodilhas e um destino
Um doze braças, de oito
De couro de um boi salino.

Zunio o vento no céu...


Bateram bombos na terra...
Era um encontro ao acaso
Era um combate de guerra.
Cruzou o pampa-brazino
Meu laço seguiu seu rastro
“Tava” com fome de um pealo
Pois foi lambendo o pasto.

O pampa juntou as mãos


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Pois quando boto um pealo


Meu tirador nem faz conta
“Quadro” o corpo e só escuto
O estouro na outra ponta.
Deixo assim, que se estenda
Depois que espiche meu laço
Que eu ainda me governo
Seja com jeito, ou no braço.

Logo se vem o capataz


Com a peonada apertando
Firma a cabeça e coleia
Por que a marca vem queimando.
E a faca no serviço
Por bem afiada se guia
E deixa um risco de sangue
Coloreando na "viria".

Depois foi um, e mais outro


Serviço de tarde inteira
Era um buraco no chão
Na saída da porteira.
Pra resumir essa história
Vou lhes contar como foi:
Quando caia era touro
Depois do pealo era boi...

6.3. CRONOLOGIA
DATA DESCRIÇÃO

SÉC. XVII - 1626 Fundação dos Sete Povos das Missões.


Séc. XVII até princípio Caça ao gado selvagem no pampa para retirada do couro.
do XIX
Início séc. XVIII Concessão de sesmarias; ocupação do Rio Grande do Sul

Séc. XVIII - 1703 Primeiro caminho de tropas oficial: “Caminho da Praia” – ligava Colônia do Sacramento à
Laguna
Séc. XVIII - 1728 Segundo caminho de tropas oficial: “Caminho dos Conventos” ou “Caminho de Sousa Farias”
– ligava Araranguá, passando pelos Caminhos de Cima da Serra até Curitiba
Séc. XVIII - 1730 Terceiro caminho de tropas oficial: “Caminho das Tropas – origem em Viamão, passando pelos
Campos das Vacarias, pelo rio Pelotas, Campos de Lages, Campos Curitibanos, rio Negro, rio
Iguaçu, Campos Gerais de Curitiba, chegando em Sorocaba.

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Séc. XVIII - 1750 Tratado de Madri.

Séc. XVIII Consumo dos produtos da pecuária em razão do ciclo minerador nas Gerais.

Séc. XVIII – 1809 Primeira divisão administrativa da Província de São Pedro: Rio Pardo, Rio Grande, Santo
Antônio da Patrulha e Porto Alegre.

Séc. XVIII e XIX Instalação das estâncias e de charqueadas em Pelotas e Bagé.

Séc. XIX Introdução do arame para cercamento das propriedades.

Séc. XIX (final) – Séc. Instalação dos primeiros frigoríficos


XX (início)
Séc. XX Investimento no melhoramento genético dos rebanhos, incremento na importação e
exportação da carne bovina.
Séc. XX Criação de associações e cooperativas de criadores de bovinos, equinos e ovinos, entre
outros.
Séc. XX Introdução do transporte de rebanhos por caminhões.

Séc. XX Instalação de consórcio pecuária-agricultura de forma mais intensa.

Séc. XX – década de Fechamento da última charqueada em Bagé


1950
Séc. XX – década de Introdução do Pastoreio rotativo científico “Voisin”
1960
Séc. XX Instalação de centros de doma e treinamento de cavalos nos núcleos urbanos

Séc. XX Instauração de cursos para aprimoramento dos trabalhadores rurais em instituições privadas e
públicas municipais, estaduais e federais, como sindicatos rurais, associações de criadores,
EMBRAPA, etc.

7. ATIVIDADE

7.1. PROGRAMAÇÃO
ETAPA ATIVIDADE
Preparação Carneada e preparação da festa
(dia anterior)
Serviço (manhã) Marcar, “capar” e assinalar os terneiros na mangueira

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Comensalidade Confraternização em volta do churrasco e da casa.


(meio-dia)

7.2. PRINCIPAIS PARTICIPANTES

STATUS FUNÇÃO
PEALADOR Laçar o animal pelas “mãos” (patas dianteiras) para derrubá-lo e imobilizá-lo.
CASTRADOR Castrar (esterilizar para reprodução) o terneiro, extraindo, através de corte no saco escrotal, os
testículos.
MARCADOR Marcar com ferro em brasa o “quarto” (parte superior externa do membro posterior) do terneiro. A
marca é aplicada sempre no quarto esquerdo e a queimadura, após cicatrizada, permanece no
couro, identificando a origem do animal. A marca de cada propriedade é exclusiva e registrada na
Secretaria da Agricultura nas Prefeituras.
ASSINALADOR Assinalar a orelha do terneiro. O sinal não é exclusivo de cada propriedade, mas, juntando-se a
marca no quarto com o sinal, é possível identificar a quem o animal pertence. Isso é feito porque o
terneiro pode passar por vários proprietários. Em geral, ainda que isso não seja uma regra, a marca
a ferro é aplicada apenas pelo primeiro proprietário, enquanto as orelhas do animal podem
apresentar mais de um sinal. O sinal também pode diferenciar os donos do gado quando o
estabelecimento pertence a mais de um proprietário.

7.3. CAPITAL E INSTALAÇÕES


Mangueiras. Cercas de arame ou madeira onde os animais ficam presos durante os processos de
DESCRIÇÃO
vacinação, cura, banho, castração e demais atividades de cuidado.
QUEM PROVÊ O produtor compra o material com seus recursos próprios. Sua fabricação e manutenção também
podem ficar por conta de alambradores ou empregados aptos para tais serviços.
FUNÇÃO Evitar que os animais se dispersem pelo campo antes de serem manejados.
Brete. Corredor de madeira por onde os animais passam para serem tratados, ou para serem presos
DESCRIÇÃO
no tronco.
QUEM PROVÊ O produtor compra o material com seus recursos próprios. Disponível no mercado.
FUNÇÃO Individualizar o tratamento dos animais, colocando-os enfileirados, um atrás do outro, sem que
possam se deslocar.
DESCRIÇÃO Tronco. Espécie de guilhotina na vertical, localizada no extremo de um corredor da mangueira. É
formado por duas placas de madeira, com sinuosidades que formam um espaço oval onde é
encaixado o pescoço do animal. Há um espaço na altura de um animal adulto e outro na altura de
terneiros. O tronco é controlado por uma alavanca do lado externo da mangueira.
Existem, atualmente, troncos mecanizados.
QUEM PROVÊ O produtor compra o material com seus recursos próprios.

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FUNÇÃO / Evitar que o animal dispare ou machuque alguém enquanto é tratado.


SIGNIFICADO

7.4. MATÉRIAS PRIMAS E FERRAMENTAS DE TRABALHO:


Laço. Corda trançada, feita de couro, nylon ou outros materiais, com uma argola de metal em uma
das extremidades. A outra extremidade passa por dentro da argola, formando um anel com acorda,
DESCRIÇÃO que é girada no ar, jogada sobre o animal, e esticada quando enlaçando este, até derrubá-lo. O laço
é um instrumento manual, que pode ser usado pelo homem montando cavalo, bem como, no chão,
quando em espaços cercados.
O produtor compra o material com seus recursos próprios. Ou o trabalhador confecciona seu próprio
QUEM PROVÊ
laço, segundo técnicas de trabalho com corda (couro cru).
FUNÇÃO /
Imobilizar o animal.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Disponível nas lojas de correaria, de produtos agropecuários e com guasqueiros.

DESCRIÇÃO Faca pequena de prata

QUEM PROVÊ Pode ser herdada. O proprietário provê.

FUNÇÃO / É utilizada tradicionalmente com o intuito exclusivo de castrar os animais durante as marcações. Seu
uso exclusivo e cuidado especial, tinha como objetivo evitar a ocorrência de infecções nos animais.
SIGNIFICADO O fato de ser pequena evita acidentes, quando o animal esperneia.

DISPONIBILIDADE Disponíveis com ferreiros ou em lojas de artigos agropecuários.

DESCRIÇÃO Bordizo (em espanhol). Alicate de metal sem fio, com cerca de 70 cm de comprimento.

QUEM PROVÊ O proprietário.


FUNÇÃO /
Castrar os machos sem precisar cortar os testículos.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Em lojas de artigos agropecuários.

DESCRIÇÃO Marca de ferro para marcação a quente ou a frio.

QUEM PROVÊ O proprietário.


FUNÇÃO /
Marcar o couro do animal.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Em lojas de artigos agropecuários ou diretamente com ferreiros – artesãos.

DESCRIÇÃO Assinalador.

QUEM PROVÊ O proprietário.

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FUNÇÃO /
Assinalar a orelha do terneiro, como forma de auxiliar em sua identificação.
SIGNIFICADO
DISPONIBILIDADE Em lojas de artigos agropecuários.

7.5. COMIDAS E BEBIDAS


DESCRIÇÃO Carne de ovinos e bovinos, mate, cerveja e cachaça.

QUEM PROVÊ Proprietário rural


FUNÇÃO /
Alimentação e sociabilidade
SIGNIFICADO

7.6. OBJETOS E INSTRUMENTOS RITUAIS

NÃO HÁ
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

7.7. TRAJES E ADEREÇOS

A Pilcha é a vestimenta utilizada pelos homens campeiros. Compõe a pilcha: botas (calçado próprio
para andar a cavalo, feito de couro, que envolve o pé e a perna), bombacha (calças presas por
DESCRIÇÃO botões no tornozelo), lenço (feito de tecido e geralmente utilizado amarrado ao pescoço), alpargata,
chapéu (feito de couro ou feltro);. é pilcha todo objeto de valor ou adorno que faz parte da montaria
do gaúcho
QUEM PROVÊ Proprietário rural e peão campeiro
FUNÇÃO /
Vestimenta
SIGNIFICADO
TIRADOR - Tipo de "avental" de couro, usado sobre a perna do pealador ou laçador, preso na
cintura. Em geral, o tirador fica sobre a perna que corresponde ao braço que o pealador usa para
DESCRIÇÃO
trabalhar com o laço: se o pealador é destro, o tirador fica sobre a perna direita, se é canhoto, sobre
a perna esquerda, porém isso nem sempre é regra.

QUEM PROVÊ Proprietário rural e peão campeiro

FUNÇÃO / Proteger a perna do laçador contra o atrito do laço no exato momento seguinte em que o animal foi pego. Com
o laço nas mãos ou guampas da rês, é preciso que se "firme" o laço, e isso é feito calçando­o na parte superior
SIGNIFICADO na perna do laçador.

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7.8. DANÇAS

NÃO HÁ

DESCRIÇÃO

QUEM EXECUTA
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

7.9. MÚSICAS E ORAÇÕES

Não há
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

7.10.INSTRUMENTOS MUSICAIS

Não há
DESCRIÇÃO

QUEM PROVÊ
FUNÇÃO /
SIGNIFICADO

7.11.ATIVIDADES APÓS A EXECUÇÃO


EXECUTANTE ATIVIDADE
Proprietários, Quando acontece de a marcação durar mais de um dia, à noite come-se mais carne e bebe-se
empregados e bastante.
alguns
convidados
Empregados Levar os terneiros para o campo e limpar o local da festa.
e/ou proprietários
Empregados Nos dias que se seguem à marcação, a recuperação dos animais castrados é acompanhada para

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e/ou proprietários que não ocorram enfermidades decorrentes do procedimento; medicamentos podem ser aplicados,
feridas curadas. Para esse cuidado, normalmente os animais são deixados para pastoreio em
potreiros próximos às casas.

8. PÚBLICO

DESCRIÇÃO
Comparecem amigos, familiares e vizinhos da propriedade rural, trabalhadores e patrões. Em alguns casos, mulheres
participam, geralmente acolhendo as famílias convidadas e administrando a festa.

9. BENS ASSOCIADOS:

DENOMINAÇÃO CÓDIGO

Lidas Campeiras - Tropeada F60 - 5


Lidas Campeiras - Doma F60 - 4
Lidas Campeiras - Ofício do Guasqueiro F60 - 7
Lidas Campeiras - Esquila F60 - 3
Lidas Campeiras - Aramado F60 - 6
Lidas Caseiras F60 - 2
Lidas Campeiras - Pastoreio F60 - 1

10. PLANTAS, MAPAS E CROQUIS

Não há

11. DOCUMENTOS INVENTARIADOS

11.1.DOCUMENTOS ESCRITOS, DESENHOS E IMPRESSOS EM GERAL

Não há

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11.2.REGISTROS SONOROS E AUDIOVISUAIS


Não há

11.3.REGISTROS FOTOGRÁFICOS
Consultar Anexos: Audiovisuais ( F1-A2-42 a 50)

12. OBSERVAÇÕES

12.1.APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS PARA COMPLEMENTAÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO OU PARA FINS DE REGISTRO OU

TOMBAMENTO

As marcações merecem estudo mais aprofundado sobre a construção da pessoa do gaúcho.

12.2.IDENTIFICAÇÃO DE OUTROS BENS MENCIONADOS NESTA FICHA


Idem ao item 9 desta ficha.

12.3.OUTRAS OBSERVAÇÕES
Não há

13. IDENTIFICAÇÃO DA FICHA

QUESTIONÁRIOS ANALISADOS Ficha preenchida a partir de observação etnográfica do evento.


PESQUISADOR(ES) Marília Kosby, Flávia Rieth, Rafael Arnoni e Marta Bonow Rodrigues
SUPERVISOR Flávia Maria Silva Rieth e Marília Kosby
REDATOR Marília Kosby, Rafael Arnoni e Marta Bonow Rodrigues DATA
Abril de
RESPONSÁVEL PELO Flávia Maria Silva Rieth 2013
INVENTÁRIO

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