Georgia de Carvalho Lima:15001: Poder Judiciário

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PODER JUDICIÁRIO

DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELAÇÃO CÍVEL N.o 0015647-44.2018.8.19.0052

APELANTE: GELCIMARA MARINHO BANDEIRA

APELADA: CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS MINAS GERAIS


GOIÁS S.A.

RELATORA: DESEMBARGADORA GEÓRGIA DE CARVALHO LIMA

EMENTA

Apelação Cível. Pretensão da autora de


recebimento de indenização por danos
material e moral, sob o fundamento, em
síntese, de que o veículo em que se
encontrava, na qualidade de passageira,
sofreu uma capotagem, por ocorrência de
aquaplanagem, decorrente da má
conservação da pista, sob concessão da ré.
Sentença de improcedência do pedido.
Inconformismo daquela. Cerceamento de
defesa não configurado. Prova pericial que
é desnecessária ao deslinde da
controvérsia, por não poder averiguar as
condições da estrada no momento do
acidente. Documentos acostados pela
demandada que foram juntados

Assinado em 21/07/2022 19:02:09


GEORGIA DE CARVALHO LIMA:15001 Local: GAB. DES(A). GEORGIA DE CARVALHO LIMA
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tempestivamente, instruindo a contestação,


nos termos do artigo 434 do Código de
Processo Civil. Superadas tais
preliminares, tem-se que não obstante a
responsabilidade civil da concessionária
seja objetiva, cabia à autora a prova
quanto ao fato constitutivo do seu direito.
Súmula 330 desta Corte de Justiça.
Possibilidade de aquaplanagem que se
trata de fenômeno previsível por um
motorista habilitado em dias de chuvas nas
rodovias, sendo que a eventual ocorrência
de tal circunstância, em decorrência de
precipitação pluviométrica, por si só, não
impõe dever de indenizar. Vários fatores
contribuem para que o mesmo ocorra, tais
como a velocidade do veículo, a qualidade
do asfalto, a quantidade de água sobre a
pista e o estado de conservação dos pneus,
de modo que, com a estrada molhada, era
exigível do condutor redobrada cautela
diante das condições desfavoráveis. Além
disso, não há nenhuma prova de que no
local do acidente, a estrada estava em
estado precário, malconservada ou com
algum outro defeito. Portanto, não houve a
comprovação do nexo de causalidade entre
o acidente sofrido pela autora e qualquer
conduta a ser atribuída à ré, por não ter
ficado demonstrada nenhuma anomalia
derivada de má conservação da pista de
rolagem que tivesse contribuído para o
evento. Manutenção do julgado que se
impõe. Recurso ao qual se nega
provimento, majorando-se os honorários
advocatícios em 5% (cinco por cento)
sobre o quantum fixado pelo Magistrado a
quo, na forma do artigo 85, § 11, do
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estatuto processual civil, observada a


gratuidade de justiça deferida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível


n.º 0015647-44.2018.8.19.0052, em que é apelante GELCIMARA MARINHO
BANDEIRA e é apelada a CONCESSIONÁRIA DE RODOVIAS MINAS GERAIS
GOIÁS S.A.

A C O R D A M os Desembargadores da Décima Segunda


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade, em negar provimento ao presente recurso, nos termos do voto
da Relatora.

Trata a hipótese de Ação de Procedimento Comum, proposta


por Gelcimara Marinho Bandeira em face da Concessionária de Rodovias
Minas Gerais Goiás S.A., por meio da qual objetivou a autora o recebimento de
indenização por danos material e moral, sob o fundamento, em síntese, de que o
veículo em que se encontrava sofreu uma capotagem, por ocorrência de
aquaplanagem, decorrente da má conservação da pista, sob concessão da ré.

Sentença, constante de fls. 449/450, que julgou improcedente


o pedido, condenando a demandante ao pagamento das despesas processuais e
dos honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da
causa, observada a gratuidade de justiça deferida.

Inconformada, a autora apresentou apelação, às fls. 453/463,


na qual alega a inadmissibilidade do documento de fls. 325 apresentado pela ré,
que houve cerceamento de defesa, pelo indeferimento da produção da prova
pericial, que as fotos constantes do Boletim de Registro de Acidente de Trânsito
– BRAT não se prestam a demonstrar a condição da pista, bem como que não há
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qualquer prova de que o condutor do veículo se encontrava em velocidade


incompatível com a manobra.

Contrarrazões apresentadas às fls. 473/485.

É o relatório.

In casu, cinge-se a hipótese em exame a respeito da


existência, ou não, de responsabilidade da demandada em relação à capotagem
sofrida por veículo em que a demandante se encontrava, na qualidade de
passageira.

Ab initio, cumpre registrar que, na condução do processo,


cabe ao Julgador avaliar a pertinência dos elementos probatórios para o desate
da lide, indeferindo as diligências desnecessárias ou meramente protelatórias,
bem como determinar a produção daquelas que julgar úteis ao caso em exame,
uma vez que figura como o destinatário final da prova, consoante o artigo 370 e
parágrafo único do Código de Processo Civil.

No caso concreto, é desnecessária a produção da prova


pericial de engenharia, por ser despicienda à solução da controvérsia em exame,
eis que a mesma não seria capaz de avaliar as condições da estrada no momento
do acidente, sendo certo os documentos acostados aos autos são suficientes para
tanto, havendo, inclusive, o BRAT, produzido na data do evento, por autoridade
pública.

Ultrapassado tal ponto, cabe também rejeitar a alegação de


intempestividade da apresentação do documento constante de fls. 325, o qual
demonstra que uma viatura teria passado no local pouco tempo antes para aferir
se havia algum ponto de alagamento na rodovia, tendo atestado que a pista
estava em condições satisfatórias de tráfego.

Isso porque o mesmo foi juntado aos autos instruindo a


contestação, em observância ao artigo 434 do estatuto processual civil.

Superadas tais preliminares, tem-se que, não obstante a


responsabilidade civil da concessionária seja objetiva, cabia à autora a prova
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quanto ao fato constitutivo do seu direito, na forma do inciso I do artigo 373 do


Código de Processo Civil, o que não ocorreu na presente hipótese.

Esse inclusive é o entendimento pacífico deste Egrégio


Tribunal de Justiça, consolidado através da Súmula 330, que ora se consigna:

Os princípios facilitadores da defesa do


consumidor em juízo, notadamente o da inversão
do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus
de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato
constitutivo do alegado direito.

In casu, a possibilidade da ocorrência de aquaplanagem com


a estrada molhada trata-se de fenômeno previsível por um motorista habilitado
em dias de chuvas nas rodovias, sendo que a eventual ocorrência de tal
circunstância, em decorrência de precipitação pluviométrica, por si só, não
impõe dever de indenizar.

Isso porque a água pode se acumular mesmo em pistas que


apresentam boas condições, sendo oportuno ressaltar que vários fatores
contribuem para que tal fenômeno ocorra, tais como a velocidade do veículo, a
qualidade do asfalto, a quantidade de água sobre a estrada e o estado de
conservação dos pneus, de modo que, com a pista molhada, era exigível do
condutor redobrada cautela diante das condições desfavoráveis.

Além disso, não há nenhuma prova de que no local do


acidente, a pista estava em estado precário, malconservada ou com algum outro
defeito, valendo ressaltar que a reportagem colacionada aos autos versando
sobre acidentes na rodovia não socorre à autora, eis que os mesmos ocorreram
em diversos pontos, por variadas causas.

Sobre o tema, cabe ressaltar que, das fotos constantes do


BRAT, infere-se que não há que se falar em má preservação do asfalto naquela
área e que, apesar da qualidade das imagens da cópia acostada aos autos, de fato,
não ser a mais adequada, tal documento foi juntado pela própria autora, não
podendo, agora, alegar que o mesmo não presta.
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Portanto, não houve a comprovação do nexo de causalidade


entre o acidente sofrido pela demandante e qualquer conduta a ser atribuída à ré,
por não ter ficado demonstrado nenhum defeito ou anomalia derivada de má
conservação da pista de rolagem que tivesse contribuído para o evento.

Dessume-se, do que se antecede, a correção do julgado


atacado, o qual deve ser integralmente mantido.

Pelo exposto, nega-se provimento ao presente recurso,


majorando-se os honorários advocatícios em 5% (cinco por cento) sobre o
quantum fixado pelo Magistrado a quo, na forma do artigo 85, § 11, do estatuto
processual civil vigente, observada a gratuidade de justiça deferida.

Rio de Janeiro, 21 de julho de 2022.

GEÓRGIA DE CARVALHO LIMA


DESEMBARGADORA RELATORA

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