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Universidade Federal da Paraı́ba

Centro de Ciências Exatas e da Natureza


Programa de Pós–Graduação em Matemática
Mestrado em Matemática

O Polinômio e Série de Taylor: Um


estudo com aplicações

Eduardo Isidoro dos Santos

João Pessoa – PB
Agosto de 2017
Universidade Federal da Paraı́ba
Centro de Ciências Exatas e da Natureza
Programa de Pós–Graduação em Matemática
Mestrado em Matemática

O Polinômio e Série de Taylor: Um


estudo com aplicações
por

Eduardo Isidoro dos Santos

sob a orientação da

Prof.a Dr.a Miriam da Silva Pereira

João Pessoa – PB
Agosto de 2017
Catalogação na Publicação
Seção de Catalogação e Classificação

S237p Santos, Eduardo Isidoro dos.


O polinômio e série de Taylor: um estudo com aplicações /
Eduardo Isidoro dos Santos. - João Pessoa, 2017.
94 f. : il. -

Orientadora: Drª Miriam da Silva Pereira.


Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCEN/PPGMAT

1. Matemática. 2. Polinômio de Taylor. 3. Série de Taylor.


I. Título.

UFPB/BC CDU - 51(043)


A Deus, que pela sua in-
finita misericórdia e fideli-
dade, me permitiu concluir
esse Mestrado. A Ele a
honra e glória para Sem-
pre.
Agradecimentos

Agradeço a Deus por essa vitória alcançada, sem Ele nada seria possı́vel realizar.
Aos meus pais José Izidoro e Benı́cia Marques, que sempre rogam a Deus a minha
proteção e sucesso.
À Karla Linhares que sempre está presente em todos momentos da minha vida e
que demonstrou nessa trajetória de curso todo seu apoio, compreensão e amor.
À professora Miriam Silva, pela orientação, incentivo e paciência, me auxiliando em
toda a estrutura desse trabalho.
Aos amigos, Matheus Vinı́cius, Anderson Dias e Suzana Alves por terem me incen-
tivado a realizar a seleção desse mestrado, pela motivação durante todo curso e pela
expectativa da conclusão, no desejo de se alegrarem com a minha vitória.
Aos meus amigos da turma do PROFMAT 2015, pelo respeito e união, comparti-
lhando conhecimentos no desejo que todos chegassem ao fim deste curso, em especial
aos amigos Manoel Wallace e Mailson Alves que me ajudaram grandemente nesta con-
quista.
Aos meus amigos de Pernambuco da cidade do Cabo de Santo Agostinho, em es-
pecial Célio Leonardo e Lázaro Maxuel, que demonstraram sempre uma amizade ver-
dadeira e me apoiaram em tantos momentos da minha vida, inclusive no ingresso ao
PROFMAT.
Aos professores do PROFMAT-UFPB, por terem transmitido seus conhecimentos
com dedicação, contribuindo no desenvolvimento de cada aluno na área de Matemática.
À CAPES pelo incentivo financeiro.
À Sociedade Brasileira de Matemática por todo acompanhamento pedagógico, vi-
sando uma formação mais sólida dos professores de matemática desse paı́s.
Enfim à todos que estiveram ao meu lado durante todo esse perı́odo de estudos,
com motivações e orações.
Resumo

Neste trabalho, abordamos dois conceitos importantes: o Polinômio de Taylor e


a Série de Taylor. Apresentamos como o Polinômio de Taylor pode ser usado para
aproximar o valor de funções analı́ticas na vizinhança de um ponto determinado e esti-
mamos a precisão da aproximação obtida. Posteriormente, estudamos a possibilidade
de representar, localmente, funções através de uma série de potências, chamada série
de Taylor. Finalizamos apresentando algumas aplicações dos resultados obtidos.

Palavras-chave: Polinômio de Taylor, Série de Taylor.


Abstract

In this work, we present two important concepts: Taylor Polynomial and Taylor
Series. We discuss how the Taylor Polynomial can be used to approximate the value
of Analytic functions in the neighborhood of a given point, and estimate the precision
of the approximation obtained. Subsequently, we study the possibility of locally re-
presenting functions through a power system, called the Taylor Serie. We conclude by
presenting some applications of the results obtained.

Keywords: Taylor Polynomial, Taylor Series.


Sumário

Introdução 2

1 Conceitos Fundamentais 4
1.1 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Limites Infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.5 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.6 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2 Fórmula de Taylor 43
2.1 Polinômio de Taylor de Ordem 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.2 Polinômio de Taylor de Ordem 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.3 Polinômio de Taylor de Ordem 3 e 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.4 Polinômio de Taylor de Ordem n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.5 Série de Taylor e Maclaurin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

3 Aplicações do Polinômio e Série de Taylor 77


3.1 Regra de L’Hospital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.2 Irracionalidade do número e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.3 Fórmula para calcular π. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
3.4 Outra Fórmula para Calcular π . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.5 Aproximações de Áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.6 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

Referências Bibliográficas 89

1
Introdução

Neste trabalho apresentamos uma teoria publicada em 1715 no livro Methodus


Incrementorum Directa et Inversa, escrito pelo matemático Brook Taylor que nasceu
em 1685 e morreu aos 46 anos em 1731. Como sua famı́lia era rica Taylor teve toda sua
educação básica em casa com professores particulares e somente aos 18 anos, (1703),
inicia seus estudos na universidade de St. John de Cambridge, onde formou-se em
direito no ano de 1709 e durante esse perı́odo já estava bastante envolvido com a
Matemática.
Entre 1712 e 1724, publicou treze artigos relacionados com a Matemática. Dentre
eles, um novo método para computar logaritmos. No ano de 1715 publica dois livros:
Methodus Incrementorum Directa et Inversa e Linear Perspective. Neste primeiro, se
encontra a Fórmula de Taylor e as representação de funções em série. Apesar de James
Gregory (1638 − 1675) já trabalhar com essas séries e Johann Bernoulli (1667 − 1748),
matemático de sua época, também conhecer essa representação, Taylor desenvolveu
sua fórmula sozinho sem o conhecimento do trabalho dos outros e foi o primeiro a
enunciá-la e descrever sua forma geral. Assim, o polinômio aproximador de funções
viria a ser conhecido como o Polinômio de Taylor e as representações de funções em
série como Série de Taylor. Esse reconhecimento só aconteceria alguns anos após a sua
morte, pois na sua época, sua teoria não foi vista como importante.
Colin Maclaurin (1698 − 1746) citou a obra de Taylor em um livro no ano de
1742, popularizando as representações de funções em série e trabalhando com um tipo
especı́fico de série, as centralizadas na origem, por isso essas séries ficaram conheci-
das como Série de Maclaurin. Mas foi a partir de 1772, que Joseph Louis Lagrange
(1736−1813), reconhece a importância do trabalho de Taylor e elege seu teorema como
princı́pio básico do cálculo diferencial. No ano de 1786 o termo série de Taylor começa
a ser utilizado. O Polinômio e a Série de Taylor, são temas presentes em diversos livros
de cálculo e analise e essa teoria se tornou a base de programação de calculadoras e
softwares.
No Capı́tulo 1, descrevemos alguns conceitos fundamentais do cálculo utilizados
na abordagem do tema deste trabalho. Dentre eles destacamos limites e derivadas e

2
Teoremas como o de Rolle e de Cauchy.
O Capı́tulo 2 é dedicado ao Polinômio de Taylor, demonstrando casos mais sim-
ples como o Polinômio de ordem 1 e generalizamos a expressão de sua fórmula para
todo natural. Vale ressaltar que em toda estrutura deste capı́tulo e dos demais, apre-
sentamos alguns exemplos para melhor entendimento da teoria de Taylor, mostrando
a visualização gráfica dos resultados, toda construı́da com auxı́lio do recurso compu-
tacional Geogebra Match. Finalizamos o capı́tulo desenvolvendo a série de Taylor e
entendendo sua diferença com o Polinômio. Nesta parte, observamos que determinadas
funções podem ser representadas pela série de Taylor e algumas delas válidas para todo
número real.
No Capı́tulo 3, mostramos a aplicação o Polinômio e Série de Taylor para obter
alguns resultados clássicos. Destacamos uma fórmula para obter uma aproximação
para o valor de π e estimativas de áreas, aplicação de fundamental importância prin-
cipalmente para obtermos o valor de integrais definidas de algumas funções, que pelas
técnicas de integração conhecidas no cálculo não podem ser resolvidas.

3
Capı́tulo 1

Conceitos Fundamentais

Apresentamos neste capı́tulo uma breve noção de Função juntamente com alguns
tipos e representações gráficas e conceitos fundamentais do Cálculo Diferencial e In-
tegral. Dentre essas definições do cálculo abordamos a noção intuitiva de limites, sua
definição formal e regras de operações. Apresentamos o conceitos de derivada, regras
operatórias e demonstrações da derivação de algumas funções, como as trigonométricas.
Importantes teoremas do cálculo serão demonstrados, como o do confronto, o de Rolle
e o Teorema de Cauchy. Concluı́mos o capı́tulo com a definição e exemplificação de
Série de Potências, conceito de extrema importância para o entendimento das Séries
de Taylor estudadas no capı́tulo 2.
Vale ressaltar que não abordamos o estudo de Séries, pois apenas utilizamos critérios
de convergência para verificação em séries de potências. Esses detalhes podem ser
analisados em [6] p. 12 e [11] p. 539. Utilizamos também em alguns momentos técnicas
de integração, ao integrarmos uma série de potências termo a termo e na aplicação de
estimativas de áreas no capı́tulo 3. Tais técnicas podem ser observadas em [2] p. 337.
Esse capı́tulo é fundamental para o entendimento de demonstrações posteriores.

1.1 Funções
Nesta seção vamos analisar a definição de função, alguns tipos e suas representações
gráficas. Para maiores detalhes ver [2] p. 26, [10] p. 56. e [7] p. 11.
Podemos definir uma função f , como uma relação entre dois conjuntos A e B, onde
para todo valor de x do conjunto A existe um único y que pertence a B. O conjunto
A será chamado de domı́nio, o B de contradomı́nio e cada elemento único b ∈ B,
associado a um elemento a ∈ A, será chamado de imagem de f quando x = a ou
ainda o valor que f assume em a. Em geral uma função assim definida é indicada por
f : A → B (f de A em B). Em particular uma função de uma variável real a valores

4
1. Conceitos Fundamentais

reais é uma função em que A ⊂ R e B ⊂ R.


A representação gráfica de uma função é o conjunto de todos os pares ordenados
(x, f (x)) para todo x do domı́nio da f . Além disso quando x percorre o domı́nio, a
função será crescente ou decrescente para todo x ou apresentar crescimento e decresci-
mento em intervalos desse domı́nio. Dessa forma na Definição 1.1, formalizamos esse
conceito.

Definição 1.1. Uma função será crescente em um intervalo I se f (x1 ) < f (x2 ) sempre
que x1 < x2 em I. E será decrescente se f (x1 ) > f (x2 ) sempre que x1 < x2 em I.

Na figura 1.1 percebemos que no intervalo [a, b] e [0, c] a função é crescente, já no
intervalo [b, 0] a função é decrescente.

Figura 1.1: Gráfico de uma função para análise de crescimento e decrescimento

Funções Polinomiais. São funções cuja lei de formação é um polinômio, ou seja,

f (x) = an xn + an−1 xn−1 + . . . + a1 x + a0

com an 6= 0 e an , an−1 , an−2 , . . . , a0 são números reais fixados, coeficientes do po-


linômio. Tais funções são definidas nos reais e o número n ∈ N representa o grau do
polinômio. Em particular o Polinômio de Taylor que será construı́do no capı́tulo 2 é
um exemplo de função polinomial. Vejamos o gráfico de algumas funções polinomiais.

a. f : R → R dada por f (x) = ax+b é uma função polinomial do primeiro grau com
a e b número reais e an 6= 0. Também conhecida como função
 afim,
 seu gráfico
−b
é uma reta que intercepta o eixo das abscissas no ponto , 0 e o eixo das
a
ordenadas no ponto (0, b). Se o valor de a conhecido como coeficiente angular,
pois o mesmo é a tangente do ângulo formado pela reta e o eixo das abscissas, for
positivo a função será crescente e caso seja negativo a função será decrescente,
Figuras 1.2 e 1.3.

5
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.2: Coeficiente angu- Figura 1.3: Coeficiente angu-


lar positivo lar negativo

Como aplicação podemos visualizar na Figura 1.4 o gráfico da função crescente


f (x) = 2x − 4 e na Figura 1.5 o gráfico da função decrescente f (x) = −2x − 4.

Figura 1.4: Gráfico de f (x) = 2x− Figura 1.5: Gráfico de f (x) =


4 −2x − 4

b. f : R → R dada por f (x) = ax2 +bx+c com a, b e c número reais e an 6= 0, é uma


função polinomial do segundo grau também conhecida como0 função quadrática.
Seu gráfico é uma parábola que terá concavidade para cima se a > 0 e para
baixo se a < 0. Podemos observar os gráficos das funções f (x) = x2 − 5x + 6 e
f (x) = −x2 + 5x − 6 nas Figuras 1.6 e 1.7 respectivamente.

6
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.6: Gráfico da função Figura 1.7: Gráfico da função


f (x) = x2 − 5x + 6 f (x) = −x2 + 5x − 6

Função Exponencial. De maneira geral é uma função da forma f (x) = ax com a


uma constante real, positiva e diferente de 1. Dessa forma a imagem dessa função será
maior do que zero para todo x ∈ R. Podemos perceber também que pela Definição 1.1,
de função crescente e decrescente, essa função será crescente se a > 0 e decrescente se
0 < a < 1. As representações gráficas dessa função podem ser visualizadas nas Figuras
1.8 e 1.9 respectivamente.

Figura 1.8: Gráfico de f (x) = ax Figura 1.9: Gráfico de f (x) = ax


para a > 1 para 0 < a < 1

Em particular no tema principal, o Polinômio de Taylor, vamos construir a apro-


ximação da função exponencial de base a igual ao número de Euler 2, 71828182 . . ., ou
seja, f (x) = ex , que por sua vez terá sua representação gráfica semelhante a Figura
1.8.

7
1. Conceitos Fundamentais

Função Logarı́tmica. Para tais funções devemos saber que pela definição de loga-
ritmo, temos que se a, b ∈ R, 0 < a 6= 1 e b > 0,

loga b = y ⇐⇒ ay = b.

Assim o logaritmo de um número b > 0 na base 0 < a 6= 1, é o expoente que devemos


dar a base a de modo que a potência obtida seja b. Assim uma função logarı́tmica é
uma função f : R∗+ → R que associa cada x ao número loga x com 0 < a 6= 1. Podemos
perceber que o gráfico estará todo à direita do eixo y e intercepta o eixo das abscissas
no ponto (1, 0), pois loga 1 = 0 para todo 0 < a 6= 1, e ainda que se a > 1 a função
será crescente e caso 0 < a < 1 a função será decrescente, tais situações podem ser
verificadas nas Figuras 1.10 e 1.11 respectivamente.

Figura 1.10: Gráfico de f (x) = Figura 1.11: Gráfico de f (x) =


loga x para a > 1 loga x para 0 < a < 1

Funções Trigonométricas. Vamos apresentar as definições das principais funções


trigonométricas: seno, cosseno e tangente. Para maiores detalhes ver [2] p. 50. Ini-
cialmente vamos considerar uma circunferência λ de raio 1 centrada na origem de um
sistema cartesiano e uma função f : R → λ, que associa um número real x em unida-
des de radianos a um ponto P na circunferência, ou seja, um arco de comprimento x
associado a um par ordenado no plano que é um ponto pertencente a circunferência.
Essa circunferência é conhecida como Cı́rculo Trigonométrico (Figura 1.12) e é
orientada positivamente de A para B e negativamente de A para B 0 . Assim observando
ainda a Figura 1.12, temos que em f (x) = P , x é positivo e em f (x) = P 0 , x é negativo.
Em particular sabemos que o comprimento de uma circunferência é 2πR, onde R
é o raio. Portanto o Cı́rculo Trigonométrico tem comprimento 2π, assim concluı́mos

8
1. Conceitos Fundamentais

conforme a Figura 1.12 que, f (0) = A, f ( π2 ) = B, f (π) = A0 , f ( 3π


2
) = B 0 e f (2π) = A.
Podemos perceber também que f (x) = f (x + 2π) e portanto a função f é periódica e
seu perı́odo é 2π e os arcos que diferem de um número inteiro de voltas são chamados
de arcos côngruos.

Figura 1.12: Cı́rculo Trigonométrico

Seno, Cosseno e Tangente. Seja x um arco AP no Cı́rculo trigonométrico (Figura


1.13). Aplicando as razões trigonométricas seno e cosseno do ângulo x no triângulo
retângulo OP2 P , temos que sen(x) = OP1 (ordenada do ponto P ) e cos(x) = OP2
(abscissa do ponto P ).

Figura 1.13: Seno e Cosseno no Cı́rculo Trigonométrico

Para verificarmos a Tangente no Cı́rculo Trigonométrico, vamos tomar a reta tan-


π
gente a circunferência no ponto A = (1, 0) e um número real x 6= + kπ com k ∈ Z.
2
Aplicando a tangente do ângulo x no triângulo retângulo OAT (Figura 1.14), con-
cluı́mos que tg(x) = AT .

9
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.14: Tangente no Cı́rculo Trigonométrico

Função Seno e Função Cosseno. A função f : R → R definida por f (x) = sen(x),


que associa cada valor de x em radianos ao número sen(x) é chamada de função Seno,
cuja representação gráfica pode ser observada na Figura 1.15. A função g : R → R
definida por g(x) = cos(x), que associa cada valor de x em radianos ao número cos(x)
é chamada de função cosseno com representação gráfica na Figura 1.16.

Figura 1.15: Gráfico da Função f (x) = sen(x)

Figura 1.16: Gráfico da Função g(x) = cos(x)

Podemos perceber que as funções seno e cosseno são periódicas de perı́odo 2π, pois
sen(x) = sen(x + 2π) e cos(x) = cos(x + 2π) e a imagem dessas funções é o intervalo
[−1, 1], ou seja, |sen(x)| ≤ 1 e |cos(x)| ≤ 1.
π
Função Tangente A função h : {x ∈ R/x 6= + kπ, k ∈ Z} → R definida por
2
h(x) = tg(x), que associa cada valor de x em radianos ao número tg(x), é chamada de
função Tangente. Seu gráfico pode ser visualizado na Figura 1.17.

10
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.17: Gráfico da Função h(x) = tg(x)

Concluı́mos observando que a função tangente é periódica de perı́odo π, ou seja,


π
tg(x) = tg(x + π) para todo x real diferente + kπ, sendo k um número inteiro.
2

1.2 Limites
Vamos considerar uma placa metálica quadrada que se dilata uniformemente quando
aquecida. Denotamos por x o comprimento de cada lado dessa placa, temos que sua
área é dada por A = x2 .
Suponhamos que 3cm < x < 4cm e que ao ser aquecida suas medidas lineares se
aproximam de 4cm. Assim, cada vez que x se aproxima de 4cm a área tende a 16cm2 ,
Figura 1.18.

Figura 1.18: Comportamento da função f (x) = x2 para valores de x à esquerda de 4.

Agora vamos considerar que 4cm < x < 5cm e a placa sofra uma contração térmica

11
1. Conceitos Fundamentais

de maneria que suas medidas lineares novamente se aproximam de 4cm. Dessa maneira,
a área estará novamente se aproximando de 16cm2 , Figura 1.19.

Figura 1.19: Comportamento da função f (x) = x2 para valores de x à direita de 4.

Percebemos que quando os valores de x se aproximam de 4cm pela direita ou pela


esquerda, a área estará cada vez mais próxima de 16cm2 . Podemos expressar este
comportamento matematicamente, dizendo que o limite da função x2 quando x está
próximo de 4cm é 16, em sı́mbolos,

lim x2 = 16.
x→4

É importante salientar que a ideia de limite está relacionada à entender o compor-


tamento de uma função na vizinhança de um ponto dado. No exemplo acima, estamos
interessados em determinar o comportamento de f (x) = x2 para valores que estão
próximos à 4cm. Pode acontecer também do limite não ser tão evidente. Por exemplo,
2x2 − x − 1
considerando a função f (x) = . Vamos determinar qual o comportamento
x−1
dessa função para valores de x próximos de 1. Nas Tabelas 1.1 e 1.2 observamos os
valores de f para próximos de 1, porém menores que 1 e maiores que 1, respectivamente.

x 0, 5 0, 75 0, 9 0, 99
f (x) 2 2, 5 2, 8 2, 98

Tabela 1.1: Valores de f (x) para x à esquerda de 1

12
1. Conceitos Fundamentais

x 1, 5 1, 25 1, 1 1, 01
f (x) 4 3, 5 3, 2 3, 02

Tabela 1.2: Valores de f (x) para x à direita de 1

2x2 − x − 1
Por esses resultados somos levados a supor que lim = 3.
x→1 x−1
De fato, o domı́nio dessa função abrange todos os reais exceto o 1 que anula o
denominador. Porém, isto não é relevante para o cálculo do limite, pois estamos in-
teressados em observar o valor de f para pontos numa vizinhança de 1. Então, para
x 6= 1
2x2 − x − 1 (2x + 1)(x − 1)
f (x) = = = 2x + 1.
x−1 x−1
Logo, para x 6= 1, o comportamento da função f é semelhante ao comportamento da
função 2x + 1 (Figura 1.20). Neste caso, intuitivamente, podemos dizer que quando x
se aproxima de 1 os valores de f (x) se aproximam de 3.

2x2 − x − 1
Figura 1.20: Comportamento da função f (x) = para x próximo de 1
x−1

Com base nas ideias expressadas nos exemplos anteriores, apresentamos a seguir a
definição de limite e visualizamos graficamente na Figura 1.21.

Definição 1.2. Sejam I um intervalo aberto e a um número real tal que a ∈ I. Se


uma função f está definida para todo x ∈ I, exceto possivelmente em a, dizemos que
o limite de f (x), quando x tende a a é L, se para todo  > 0 existir δ > 0 tal que
0 < |x − a| < δ implica |f (x) − L| < . Neste caso, escrevemos lim f (x) = L.
x→a

13
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.21: Gráfico que expressa o conceito formal de limite

Em outras palavras lim f (x) = L, se e só se ∀  > 0 existe δ > 0 tal que se x
x→a
está no intervalo aberto (a − δ, a + δ) e x 6= a, temos que f (x) pertence ao intervalo
(L − , L + ).

Exemplo 1.1. Vamos usar a definição de limite para mostrar que lim (−2x + 7) = 3 e
x→2
visualizar este resultado na Figura 1.22. De fato, dado  > 0, desejamos encontrar um
número δ > 0 tal que se

0 < |x − 2| < δ ⇒ |(−2x + 7) − 3| < 

Como |(−2x + 7) − 3| = | − 2x + 4| = 2|x − 2|. Dessa forma, queremos determinar um


número real δ > 0 tal que


0 < |x − 2| < δ ⇒ |x − 2| < .
2
 
Isso sugere escolher δ = . Portanto, dado  > 0, escolhemos δ = temos que se
2 2
0 < |x − 2| < δ então,


|(−2x + 7) − 3| = | − 2x + 4| = |(−2)(x − 2)| = |(−2)||x − 2| = 2|x − 2| < 2δ = 2. = 
2

Assim,
0 < |x − 2| < δ ⇒ |(−2x + 7) − 3| < .

14
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.22: Gráfico da função f (x) = −2x + 7 para visualização do lim (−2x + 7) = 3
x→2

Teorema 1.1. Seja f uma função definida num intervalo aberto I com a ∈ I. Se
lim f (x) = L1 e lim f (x) = L2 então L1 = L2 . (Unicidade do Limite).
x→a x→a

Demonstração.
De fato, suponhamos que lim f (x) = L1 e lim f (x) = L2 com L1 6= L2 . Pela de-
x→a x→a
finição, se lim f (x) = L1 , temos que dado  > 0 existe δ1 > 0 tal que:
x→a

0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f (x) − L1 | < 

Da mesma maneira, se lim f (x) = L2 , então dado  > 0 existe δ2 > 0 tal que
x→a

0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f (x) − L2 | < 

Temos pela desigualdade triangular que se 0 < |x − a| < δ = min.{δ1 , δ2 }, então

|L1 − L2 | = |L1 − f (x) + f (x) − L2 | ≤ |f (x) − L1 | + |f (x) − L2 | ⇒ |L1 − L2 | ≤ 2

Tomando-se  = 12 |L1 − L2 | > 0, temos que

1
|L1 − L2 | < 2 = 2 · |L1 − L2 | = |L1 − L2 |
2

o que é um absurdo. Logo, L1 = L2 .


No que segue, vamos enunciar algumas das principais propriedades das operações
com limites. Para maiores detalhes veja [1] p. 127.

15
1. Conceitos Fundamentais

Teorema 1.2. Seja K uma constante qualquer. Suponhamos que lim f (x) = L e
x→a
lim g(x) = M . Então,
x→a

1. lim [f (x) ± g(x)] = L ± M ;


x→a

2. lim [Kf (x)] = KL;


x→a

3. lim K = K
x→a

4. lim [f (x)g(x)] = LM ;
x→a

f (x) lim f (x) L


5. lim = x→a = , se M 6= 0.
x→a g(x) lim g(x) M
x→a

Vamos demonstrar apenas o item 1, para as demais demonstrações veja [2] p.98.
Demonstração.
Se lim f (x) = L então dado  > 0 existe δ1 > 0, tal que
x→a

1
0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f (x) − L| < .
2

Da mesma maneira se lim g(x) = M , então dado  > 0 existe δ2 > 0, tal que
x→a

1
0 < |x − a| < δ2 ⇒ |g(x) − M | < .
2

Se δ = min{δ1 , δ2 }, então

1
0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < 
2

e
1
0 < |x − a| < δ ⇒ |g(x) − M | < 
2
Pela desigualdade triangular que |f (x) − L + g(x) − M | ≤ |f (x) − L| + |g(x) − M |.
Portanto,

1 1
|f (x) + g(x) − (L + M )| ≤ |f (x) − L| + |g(x) − M | <  + 
2 2

1 1
|[f (x) + g(x)] − (L + M )| <  +  = 
2 2
Assim,
0 < |x − a| < δ ⇒ |[f (x) + g(x)] − (L + M )| < 

Logo, lim [f (x) + g(x)] = L + M .


x→a

16
1. Conceitos Fundamentais

√ √
x− 3
Exemplo 1.2. Vamos calcular lim 2 . Não podemos usar a regra 5 do Teo-
x→3 x − 2x − 3
rema 1.2, pois lim x2 − 2x − 3 = 0, mas multiplicando o numerador e denominador por
√ √ x→3
x + 3, obtemos
√ √
x− 3 (x − 3)
lim 2 = lim √ √
x→3 x − 2x − 3 x→3 (x − 3)(x + 1)( x + 3)
Aplicando agora a regra 5 do Teorema 1.2, concluı́mos que

1 1
lim √ √ = √
x→3 (x + 1)( x + 3) 8 3
Teorema 1.3. (Teorema do Confronto.) Sejam f , g e h funções definidas num
intervalo real aberto contendo x0 , exceto possivelmente em x0 , tal que f (x) ≤ g(x) ≤
h(x), temos que se
lim f (x) = L = lim h(x)
x→x0 x→x0

então,
lim g(x) = L.
x→x0

Demonstração.
Como lim f (x) = L, temos que dado  > 0 existe δ1 > 0 tal que
x→x0

0 < |x − x0 | < δ1 ⇒ |f (x) − L| < .

Da mesma maneira, se lim h(x) = L, temos que dado  > 0 existe δ2 > 0 tal que:
x→x0

0 < |x − x0 | < δ2 ⇒ |h(x) − L| < .

Tomando δ = min{δ1 , δ2 }, temos que 0 < |x − x0 | < δ implica |f (x) − L| < 


e |h(x) − L| <  ou ainda L −  < f (x) < L +  e L −  < h(x) < L + . Como
f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) temos que

L −  < f (x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + 

Portanto,
0 < |x − x0 | < δ ⇒ |g(x) − L| < 

ou seja, lim g(x) = L.


x→x0

Definição 1.3. Seja f uma função tal que o seu domı́nio contém o intervalo aberto
(a, b) com a, b ∈ R. Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a pela direita é L

17
1. Conceitos Fundamentais

e denotamos
lim f (x) = L
x→a+

se dado  > 0 existe δ > 0 tal que se a < x < a + δ então |f (x) − L| < .

Definição 1.4. Suponhamos que exista um intervalo aberto (c, a) com a, c ∈ R contido
no domı́nio da f . Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a pela esquerda é L,
denotamos
lim f (x) = L
x→a−

se dado  > 0, existe δ > 0 tal que a − δ < x < a ⇒ |f (x) − L| < .

As Definições 1.3 e 1.4 são conhecidas como limites laterais e nos auxiliam no
tratamento do limite de funções definidas por partes. Vejamos a demonstração desse
fato no Teorema 1.4.

Teorema 1.4. Seja f uma função e suponha que os intervalos (c, a) e (a, b) com
a, b, c ∈ R estejam contidos no domı́nio dessa função. Então,

lim f (x) = L ⇐⇒ lim+ f (x) = lim− f (x) = L


x→a x→a x→a

Demonstração.
Se lim f (x) = L, temos que dado  > 0, existe δ > 0 tal que |x − a| < δ ⇒
x→a
|f (x) − L| < . É o mesmo que afirmar que a − δ < x < a ou a < x < a + δ
⇒ |f (x) − L| < . Concluı́mos então que lim+ f (x) = lim− f (x) = L.
x→a x→a
Reciprocamente se lim+ f (x) = L temos que dado  > 0, existe δ1 > 0 tal que
x→a
a < x < a + δ1 ⇒ |f (x) − L| < . Analogamente se limx→a− f (x) = L então dado  > 0,
existe δ2 > 0 tal que a − δ2 < x < a ⇒ |f (x) − L| < . Tomando δ = min{δ1 , δ2 }
temos que a − δ < x < a e a < x < a + δ ⇒ |f (x) − L| < . Logo 0 < |x − a| < δ ⇒
|f (x) − L| < , ou ainda lim f (x) = L.
x→a

Exemplo 1.3. Consideramos a função definida por


(
5 − x2 se x ≤ 1
f (x) = .
x2 + 3 se x > 1

Vamos determinar se lim f (x) existe. Temos,


x→1

lim f (x) = lim+ x2 + 3 = 4


x→1+ x→1

lim f (x) = lim− 5 − x2 = 4


x→1− x→1

18
1. Conceitos Fundamentais

Logo, pelo Teorema 1.4 temos que os limites laterais existem e possuem o mesmo
valor. Portanto, lim f (x) = 4. A visualização gráfica deste exemplo está representada
x→1
na Figura 1.23.

Figura 1.23: Gráfico da função f (x) dada no Exemplo 1.3

1.3 Limites Infinitos


Seja f uma função definida em um intervalo aberto contendo a exceto possivelmente
em a. Se, quando x se aproximar de a, f (x) crescer ilimitadamente diremos que
lim f (x) = +∞. Caso f (x) decresça ilimitadamente diremos que lim f (x) = −∞.
x→a x→a
Formalmente para lim f (x) = +∞, temos que dado um número M > 0 existe δ > 0
x→a
tal que 0 < |x − a| < δ ⇒ f (x) > M. Analogamente para lim f (x) = −∞, temos que
x→a
dado um número M < 0 existe δ > 0 tal que 0 < |x − a| < δ ⇒ f (x) < M. As duas
situações podem ser visualizadas graficamente nas Figuras 1.24 e 1.25.

Figura 1.24: Gráfico representando a definição de lim f (x) = +∞


x→a

19
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.25: Gráfico representando a definição de lim f (x) = −∞


x→a

1
Teorema 1.5. Se n é natural par então, lim = +∞. Se n for natural ı́mpar
x→a (x − a)n
1 1
então, lim+ n
= +∞ e lim− = −∞.
x→a (x − a) x→a (x − a)n

Demonstração.
Considere a função f (x) = (x − a)n com n um número natural par. Temos que
lim f (x) = 0. Observando também que f (x) > 0 para todo x em a < x < a + δ, onde
x→a
δ > 0 e pelo fato de lim+ f (x) = 0, temos que dado  > 0, existe δ > 0 tal que
x→a

1 1
a < x < a + δ ⇒ |f (x) − 0| < =⇒ 0 < f (x) <
 

1
Assim, se a < x < a + δ então > . Logo,
f (x)

1
lim+ = +∞.
x→a f (x)

Como lim− f (x) = 0, temos que dado  > 0, existe δ > 0 tal que
x→a

1 1
a − δ < x < a ⇒ |f (x) − 0| < =⇒ 0 < f (x) < .
 

1 1
Assim, a − δ < x < a ⇒ > . Portanto, lim− = +∞. Concluı́mos então que
f (x) x→a f (x)
1
para todo n natural par lim = +∞.
x→a (x − a)n
Suponhamos agora f (x) = (x − a)n com n um número natural ı́mpar. Novamente
temos lim f (x) = 0 e f (x) > 0 para todo x em a < x < a + δ, onde δ > 0. Assim,
x→a
1
como lim+ f (x) = 0, concluı́mos de modo análogo ao anterior que lim+ = +∞.
x→a x→a f (x)
Agora, tomando a − δ < x < a temos f (x) < 0 para todo x desse intervalo. Assim

20
1. Conceitos Fundamentais

sendo lim− f (x) = 0 temos que dado  > 0, existe δ > 0 tal que
x→a

1 1
a − δ < x < a ⇒ |f (x) − 0| < ⇒ −f (x) <
 

Logo,
1 1
f (x) > − ⇒ < − < 0
 f (x)
1
Assim, lim− = −∞.
x→a (x − a)n
1 1
Concluı́mos então se n for natural ı́mpar, lim+ n
= +∞ e lim− =
x→a (x − a) x→a (x − a)n
−∞.
1
Observamos que em qualquer caso o gráfico da função f (x) = possui um
(x − a)n
assı́ntota vertical x = a e o eixo das abscissas é uma assı́ntota horizontal, pois quando
x tende a infinito f (x) tende a zero.
1
Exemplo 1.4. Seja a função f (x) = . Analisando as Tabelas 1.3 e 1.4,
(x − 2)3
podemos observar o comportamento de f (x) nas seguintes situações:

x 3 2, 5 2, 25 2, 01 2, 001
f (x) 1 8 64 106 109

Tabela 1.3: Comportamento de f (x) para x à direita de 2

x 1 1, 5 1, 75 1, 99 1, 999
f (x) −1 −8 −64 −106 −109

Tabela 1.4: Comportamento de f (x) para x à esquerda de 2

Com base nestes resultados percebemos que para valores de x próximos de 2, porém
maiores que 2, a função cresce ilimitadamente e para valores de x próximos de 2, porém
menores que 2, a função decresce ilimitadamente.
1 1
Com base no Teorema 1.5 concluı́mos que lim+ 3
= ∞ e lim− =
x→2 (x − 2) x→2 (x − 2)3
−∞, representado graficamente na Figura 1.26.

21
1. Conceitos Fundamentais

1
Figura 1.26: Gráfico da função f (x) =
(x − 2)3

1.4 Funções Contı́nuas


Definição 1.5. Dizemos que uma função f definida em um intervalo aberto é contı́nua
em x0 do seu domı́nio se lim f (x) = f (x0 ).
x→x0

1
Exemplo 1.5. Consideramos a função f (x) = e x0 = 4. Como para x0 = 4,
(x − 4)2
f (x0 ) não está definida e lim f (x) = +∞, concluı́mos que f não é contı́nua em x0 = 4
x→4
(veja Figura 1.27).

1
Figura 1.27: Gráfico da função f (x) =
(x − 4)2

Exemplo 1.6. Seja a função definida por


(
2x + 1 se x < 2
f (x) = 2
.
x − 5x + 10 se x ≥ 2

Podemos perceber que 2 é um ponto do domı́nio da função e f (2) = 4. Além disso,


lim f (x) = 5 e lim+ f (x) = 4. Como os limites laterais são diferentes, concluı́mos que
x→2− x→2
lim f (x) não existe e dessa forma f (x) é descontı́nua em 2, Figura 1.28.
x→2

22
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.28: Gráfico da função f (x) para x próximo de 2

Exemplo 1.7. Seja f a função definida por


(
3x + 1 se x < 1
f (x) = .
5−x se x ≥ 1

Neste caso, temos que em x0 = 1, f (1) = 4 e lim− f (x) = 4 e lim+ f (x) = 4. Portanto,
x→1 x→1
lim f (x) = 4 e como f (1) = 4, segue que a função é contı́nua em 1, Figura 1.29.
x→1

Figura 1.29: Gráfico da função f (x) para x próximo de 1

Podemos perceber que nos Exemplos 1.5 e 1.6, o gráfico de f apresenta um ”salto”em
x0 , enquanto isso não ocorre no gráfico do Exemplo 1.7. Caso uma função f seja
contı́nua em todo ponto x0 do seu domı́nio, diremos simplesmente que a função é
contı́nua. Na Definição 1.6 temos uma forma alternativa de definir continuidade de
uma função em um ponto.

Definição 1.6. Sejam f uma função real e x0 um ponto do seu domı́nio. Dizemos que
f é contı́nua em x0 , se para todo  > 0 dado existe δ > 0 tal que |x − x0 | < δ implica

23
1. Conceitos Fundamentais

|f (x) − f (x0 )| < , ou ainda,

x0 − δ < x < x0 + δ =⇒ f (x0 ) −  < f (x) < f (x0 ) + .

A definição acima pode ser ilustrada na Figura 1.30.

Figura 1.30: Continuidade em um ponto x0

Exemplo 1.8. Toda função da forma f : R → R definida por f (x) = ax + b, com a e


b números reais, é contı́nua. Pela definição ao fixarmos um x0 ∈ R devemos verificar
que dado  > 0 existe δ > 0 tal que,

|x − x0 | < δ =⇒ |f (x) − f (x0 )| < 

uma vez que,

|f (x) − f (x0 )| = |(ax + b) − (ax0 + b)| = |a(x − x0 )| = |a||(x − x0 )|,


temos que dado  > 0, tomando δ = , temos |f (x) − f (x0 )| <  para |x − x0 | < δ.
|a|
Exemplo 1.9. Seja uma função f : R → R definida por f (x) = c onde c é uma
constante real. Pela definição ao fixarmos um x0 ∈ R devemos verificar que dado  > 0
existe δ > 0 tal que,
|x − x0 | < δ =⇒ |f (x) − f (x0 )| < 

mas, como |f (x) − f (x0 )| = |c − c| = 0, temos que |f (x) − f (x0 )| <  é sempre válida.
Logo tomando qualquer δ > 0 teremos |x − x0 | < δ =⇒ |f (x) − f (x0 )| < .

Teorema 1.6. Se f e g são funções contı́nuas em um ponto x0 que pertence ao domı́nio


de f e g. Então,

24
1. Conceitos Fundamentais

1. f ± g é contı́nua em x0 ;

2. f · g é contı́nua em x0 ;

3. f /g é contı́nua em x0 , desde que g(x0 ) 6= 0.

Demonstração. Veja [4] p.85 ou [10] p.99

Teorema 1.7. São válidos os seguintes resultados sobre continuidade:

a) Toda função polinomial é contı́nua.

b) As funções trigonométricas, seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cos-


secante, são contı́nuas em todo seu domı́nio.

Demonstração. Veja [10] p.99. ou [4] p.393..


Na maioria das vezes, a técnica de cálculo de limites consiste em conduzir o pro-
blema até que possamos aplicar os limites fundamentais, facilitando assim, as soluções
procuradas. Apresentamos a seguir um limite fundamental estratégico para a solução
de problemas.

Proposição 1.8. Se x está em radianos temos

sen(x)
lim =1
x→0 x
π
Demonstração. Seja um cı́rculo trigonométrico e um ângulo 0 < x < conforme
2
Figura 1.31. Logo temos que o segmento EF¯ = sen(x) e o segmento (CD) ¯ = tg(x).
Graficamente temos que a área do triângulo (∆ODE) é menor que a área do setor
circular (ODE) e a área desse setor é menor que a área do triângulo (∆ODC).

sen(x)
Figura 1.31: Gráfico para demonstração do lim =1
x→0 x

25
1. Conceitos Fundamentais

Portanto,

Área(∆ODE) < Área setor(ODE) < Área(∆ODC)

então,

sen(x) x tg(x) x tg(x)


< < =⇒ sen(x) < x < tg(x) =⇒ 1 < < .
2 2 2 sen(x) sen(x)

Logo,
x 1 sen(x)
1< < =⇒ cos(x) < <1
sen(x) cos(x) x
Como lim cos(x) = 1 e lim 1 = 1 o resultado segue do Teorema do Confronto 1.3,
x→0 x→0
que
sen(x)
lim = 1.
x→0 x

1.5 Derivadas
Para entendermos o conceito de derivada de uma função, vamos definir o coeficiente
angular de uma reta tangente ao gráfico de uma função num ponto especı́fico. A
princı́pio vamos observar o coeficiente angular de uma reta secante ao gráfico de uma
função f . Dessa forma sejam P = (x1 , f (x1 )) e Q = (x2 , f (x2 )) os pontos de interseção
da reta s com o gráfico da função f conforme a Figura 1.32.

Figura 1.32: Reta secante ao gráfico de uma função f nos pontos P e Q

f (x2 ) − f (x1 )
Seja ms o coeficiente angular da reta s, isto é, ms = . Queremos
x2 − x1
determinar o coeficiente angular de uma reta t tangente ao gráfico de f no P . Assim,
mantemos P fixo e consideramos o ponto Q movendo-se em direção a P ao longo da
curva. Equivalentemente, estamos considerando o x2 se aproximando de x1 e, neste

26
1. Conceitos Fundamentais

caso, f (x2 ) tende a f (x1 ). Na Figura 1.33, podemos observar algumas situações do
deslocamento do ponto Q.

Figura 1.33: Gráfico da definição de derivada de uma função em um ponto x1

Portanto, se mt é o coeficiente angular da reta tangente t então,

f (x2 ) − f (x1 )
mt = lim .
x2 →x1 x2 − x1

Esse limite que nos fornece o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de uma
função num ponto qualquer, é um dos mais importantes limites do cálculo.
Se x1 é um ponto do domı́nio da função f , generalizamos o procedimento acima e
definimos a derivada da função f no ponto x1 denotada por f 0 (x1 ) por

f (x) − f (x1 )
f 0 (x1 ) = lim .
x→x1 x − x1

Podemos reescrever o limite acima de outra forma. Denotaremos por ∆x a variação


x2 − x1 , e, neste caso, se x2 tende a x1 , ∆x tende a zero. Portanto,

f (x1 + ∆x) − f (x1 )


f 0 (x1 ) = lim .
∆x→0 ∆x

Exemplo 1.10. O coeficiente angular da reta tangente ao gráfico da função f (x) = x2


no ponto (1, 1) é dado por

12 + 2∆x + (∆x)2 − 12
f 0 (1) = lim = lim (2 + ∆x) = 2.
∆x→0 ∆x ∆x→0

Portanto, a equação da reta tangente ao gráfico da funçãof (x) = x2 no ponto (1, 1)


é dada por y − 1 = 2(x − 1) = 2x − 1, (Figura 1.34).

27
1. Conceitos Fundamentais

Figura 1.34: Reta tangente ao gráfico de x2 no ponto (1, 1)

Exemplo 1.11. Observamos o deslocamento de uma partı́cula em movimento retilı́neo


uniforme e suponhamos que s(t) = 3t2 + 1 é a função em relação ao tempo em segundos
que nos proporcione as diversas posições dessa partı́cula em metros, em função do
tempo. Na Tabela 1.5 podemos observar algumas dessas situações:

t s = 3t2 + 1
0 1
1 4
2 13
3 28
4 49

Tabela 1.5: Posições em metros da partı́cula em relação ao tempo em segundos

Sabemos que a velocidade média é dada pelo quociente entre a variação do espaço
e a variação do tempo.

∆s s(t2 ) − s(t1 ) s2 − s1
Vm = = =
∆t t2 − t1 t2 − t1

∆s
Assim, a velocidade média no intervalo de tempo entre t = 0 e t = 2, é Vm = =
∆t
13 − 1 28 − 1
= 6m/s. Se o intervalo fosse entre t = 0 e t = 3, terı́amos Vm = = 9m/s.
2−0 3−0
Percebemos então que a velocidade média não é constante. Mas se desejássemos
encontrar o valor da velocidade da partı́cula num instante especı́fico? Suponhamos
que desejamos encontrar a velocidade num instante t1 . Assim com um tempo t 6= t1 ,

28
1. Conceitos Fundamentais

sabemos que nossa velocidade média seria:

s(t) − s(t1 )
Vm =
t − t1

Observamos que quanto menor for a diferença (t − t1 ), mais próximos estamos do valor
que queremos: a velocidade em t1 . Em outras palavras se tendermos t a t1 chegaremos
ao resultado. Assim, a velocidade no instante t1 será dada por

s(t) − s(t1 )
Vt1 = lim (1.1)
t→t1 t − t1

Esse limite nos fornece o que denominamos de velocidade instantânea. Podemos per-
ceber que essa velocidade é a derivada da função s no instante t1 . O limite 1.1 pode
ser reescrito como
s(t1 + ∆t) − s(t1 )
Vt1 = lim
∆t→0 ∆t
Dessa forma, podemos aplicar essa definição no nosso exemplo, calculando a velo-
cidade instantânea em t1 = 3. Como s(t) = 3t2 + 1, temos

3t2 + 1 − (3t21 + 1) 3(t2 − t21 ) 3(t + t1 )(t − t1 )


Vt1 = lim = lim = lim = 6t1 .
t→t1 t − t1 t→t1 t − t1 t→t1 t − t1

Assim, para t1 = 3, temos que a velocidade instantânea para esse momento é:
Vt1 = 6t1 = 18m/s.

Teorema 1.9. Se n 6= 0 é um número inteiro positivo, as seguintes fórmulas são


válidas:

1. Se f (x) = c para todo x, onde c é uma constante real, então f 0 (x) = 0.

2. Se f (x) = xn então f 0 (x) = nxn−1 .

3. Se f (x) = x−n então f 0 (x) = −nx−n−1 ;


1 1 1 −1
4. Se f (x) = x n então f 0 (x) = xn .
n
Demonstração. Demonstramos o item 1 e 2. Para as outras demonstrações veja [2]
p. 145. Pela definição, temos

f (x + ∆x) − f (x) c−c


f 0 (x) = lim = lim =0
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

Por outro lado,

f (x + ∆x) − f (x) (x + ∆x)n − xn


f 0 (x) = lim = lim
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

29
1. Conceitos Fundamentais

Desenvolvendo o binômio (x + ∆x)n observamos que o limite acima fica igual a:

! ! ! !
n n n n
xn + (∆x)xn−1 + . . . + (∆x)n−1 x + (∆x)n − xn
0 1 n−1 n
lim
∆x→0 ∆x

ou ainda
! !
n n
xn + n(∆x)xn−1 + (∆x)2 xn−2 + . . . + (∆x)n−1 x + (∆x)n − xn
2 n−1
lim .
∆x→0 ∆x

Cancelando xn com −xn e pondo ∆x em evidência, ficamos com:


" ! ! #
n n
∆x n · xn−1 + ∆x · xn−2 + . . . + (∆x)n−2 · x + (∆x)n−1
2 n−1
= lim
∆x→0 ∆x

" ! ! #
n n
= lim n · xn−1 + ∆x · xn−2 + . . . + (∆x)n−2 · x + (∆x)n−1
∆x→0 2 n−1

" ! ! #
n n
= lim n · xn−1 + lim ∆x · xn−2 + . . . + (∆x)n−2 x + (∆x)n−1
∆x→0 ∆x→0 2 n−1

Portanto, f 0 (x) = n · xn−1 + 0 = n · xn−1 , como querı́amos demonstrar.

Teorema 1.10. Sejam f e g funções deriváveis em x0 e k uma constante real, temos

1. (f + g)0 (x0 ) = f 0 (x0 ) + g 0 (x0 )

2. (kf )0 (x0 ) = kf 0 (x0 )

3. (f g)0 (x0 ) = f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 )


 0
f f 0 (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g 0 (x0 )
4. (x0 ) = , se g(x0 ) 6= 0.
g [g(x0 )]2

Demonstração.

30
1. Conceitos Fundamentais

1. De fato,

[f (x) + g(x)] − [f (x0 ) + g(x0 )] f (x) − f (x0 ) + g(x) − g(x0 )


(f + g)0 (x0 ) = lim = lim
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
f (x) − f (x0 ) g(x) − g(x0 )
= lim + lim = f 0 (x0 ) + g 0 (x0 ).
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0

2. Pela definição, temos

kf (x) − kf (x0 ) f (x) − f (x0 )


(kf )0 (x0 ) = lim = k lim = kf 0 (x0 )
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0

3. Como
f (x)g(x) − f (x0 )g(x0 )
(f g)0 (x0 ) = lim = ,
x→x0 x − x0
somando e subtraindo o termo g(x)f (x0 ) temos que

f (x).g(x) − g(x)f (x0 ) + g(x)f (x0 ) − f (x0 )g(x0 )


(f g)0 (x0 ) = lim
x→x0 x − x0
[f (x) − f (x0 )]g(x) + f (x0 )[g(x) − g(x0 )]
= lim
x→x0 x − x0
 
f (x) − f (x0 ) g(x) − g(x0 )
= lim g(x) + f (x0 )
x→x0 x − x0 x − x0

Como diferenciabilidade implica continuidade, veja [10] p. 121, concluı́mos que

(f g)0 (x0 ) = f 0 (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g 0 (x0 ).

4. Temos

f (x) f (x0 )
 0 −
f g(x) g(x0 ) f (x)g(x0 ) − f (x0 )g(x)
(x0 ) = lim = lim
g x→x0 x − x0 x→x0 (x − x0 )g(x)g(x0 )

Somando e subtraindo o termo f (x0 )g(x0 ) temos,


 0
f f (x)g(x0 ) − f (x0 )g(x0 ) + f (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g(x)
(x0 ) = lim
g x→x0 (x − x0 )g(x)g(x0 )
[f (x) − f (x0 )]g(x0 ) − f (x0 )[g(x) − g(x0 )]
= lim
x→x0 (x − x0 )g(x)g(x0 )
  
1 [f (x) − f (x0 )]g(x0 ) − f (x0 )[g(x) − g(x0 )]
= lim
x→x0 g(x)g(x0 ) (x − x0 )
 
1 [f (x) − f (x0 )]g(x0 ) f (x0 )[g(x) − g(x0 )]
= lim −
g(x0 )g(x0 ) x→x0 (x − x0 ) (x − x0 )

31
1. Conceitos Fundamentais

Portanto,  0
f f 0 (x0 )g(x0 ) − f (x0 )g 0 (x0 )
(x0 ) =
g [g(x0 )]2
com g(x0 ) 6= 0.

Teorema 1.11. (Regra da Cadeia.) Sejam duas funções deriváveis y = f (u) e


u = g(x), com a imagem g contida no domı́nio da f . Então h(x) = f (g(x)) é derivável
e sua derivada é dada por
h0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x)

Demonstração. Pela definição se h(x) = f (g(x)), temos que

h(x + ∆x) − h(x) f (g(x + ∆x)) − f (g(x))


h0 (x) = lim = lim
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

Sendo g(x + ∆x) − g(x) 6= 0 temos


 
0 f (g(x + ∆x)) − f (g(x)) g(x + ∆x) − g(x)
h (x) = lim ·
∆x→0 ∆x g(x + ∆x) − g(x)
 
f (g(x + ∆x)) − f (g(x)) g(x + ∆x) − g(x)
= lim ·
∆x→0 g(x + ∆x) − g(x) ∆x
f (g(x + ∆x)) − f (g(x)) g(x + ∆x) − g(x)
= lim lim
∆x→0 g(x + ∆x) − g(x) ∆x→0 ∆x

Sendo u = g(x) e ∆u o acréscimo de u correspondente a ∆x temos

u + ∆u = g(x + ∆x) =⇒ ∆u = g(x + ∆x) − g(x)

Observando que quando ∆x tende a zero, ∆u tende a zero, concluı́mos que

f (u + ∆u) − f (u) 0
h0 (x) = lim g (x) = f 0 (u)g 0 (x) = f 0 (g(x))g 0 (x).
∆u→0 ∆u

Exemplo 1.12. Seja h(x) = (2x2 + 3x)2 . Para calcularmos h0 (x) podemos desenvolver
o binômio e derivar. Agora, aplicando o Teorema 1.11 e usando u = 2x2 + 3x, temos
então que g(x) = u e h(x) = f (u) = u2 . Portanto,

h0 (x) = f 0 (u)u0 = 2uu0 = 16x3 + 36x2 + 18x

Teorema 1.12. (Regras de L’Hospital) Se f (x) e g(x) são deriváveis com g 0 (x) 6=
0 em um intervalo aberto que contém x0 exceto possivelmente em x0 . Suponha que

32
1. Conceitos Fundamentais

lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0 ou que lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = ±∞ então
x→x0 x→x0 x→x0 x→x0

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

f 0 (x)
se o limite lim existir ou for +∞ ou −∞.
x→x0 g 0 (x)
Demonstração. Mostraremos apenas o caso particular onde f (x0 ) = g(x0 ) = 0, f 0 (x)
e g 0 (x) são contı́nuas e g 0 (x0 ) 6= 0. Para maiores detalhes ver Apêndice A41 de [7] p.
525. Como f 0 (x) e g 0 (x) são contı́nuas e g 0 (x0 ) 6= 0 temos

f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )


lim
f 0 (x) f 0 (x0 ) x→x0 x − x0 x − x0 f (x) − f (x0 )
lim 0 = 0 = = lim = lim
x→x0 g (x) g (x0 ) g(x) − g(x0 ) x→x0 g(x) − g(x0 ) x→x0 g(x) − g(x0 )
lim
x→x0 x − x0 x − x0

Como e f (x0 ) = g(x0 ) = 0 concluı́mos que

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

Teorema 1.13. São válidas

1. f (x) = sen(x) =⇒ f 0 (x) = cos(x)

2. f (x) = cos(x) =⇒ f 0 (x) = −sen(x)

3. f (x) = tg(x) =⇒ f 0 (x) = sec2 (x)

4. f (x) = sec(x) =⇒ f 0 (x) = sec(x)tg(x)

5. f (x) = cotg(x) =⇒ f 0 (x) = −cossec2 (x)

6. f (x) = cossec(x) =⇒ f 0 (x) = −cossec(x)cotg(x)

Demonstração.

1. Pela definição de derivada temos que, sen0 (x) será dada por:

f (x + h) − f (x) sen(x + h) − sen(x)


f 0 (x) = lim =⇒ sen0 (x) = lim
h→0 h h→0 h
   
h 2x + h
Como sen(x + h) − sen(x) = 2 · sen · cos , temos
2 2

33
1. Conceitos Fundamentais

     
h 2x + h h
2 · sen · cos sen  
0 2 2 2 2x + h
sen (x) = lim = lim   · lim cos
h→0 h h→0 h h→0 2
2

sen(x)
Pelo limite fundamental sabemos que lim = 1, logo
x→0 x
 
h
sen  
0 2 2x + h
sen (x) = lim   · lim cos = 1 · cos(x) = cos(x)
h→0 h h→0 2
2

cos(x + h) − cos(x)
2. Temos cos0 (x) = lim e como
h→0 h
   
h 2x + h
cos(x + h) − cos(x) = −2 · sen · sen
2 2

temos

     
h 2x + h h
−2 · sen · sen sen  
0 2 2 2 2x + h
cos (x) = lim = lim −   · lim sen
h→0 h h→0 h h→0 2
2

Utilizando o limite fundamental, Proposição 1.8, concluı́mos que:

cos0 (x) = (−1) · sen(x) = −sen(x)

sen(x)
3. Como tg(x) = e aplicando o item 4 do Teorema 1.10 temos
cos(x)

sen0 (x) · cos(x) − sen(x) · cos0 (x) cos2 (x) + sen2 (x) 1
tg0 (x) = 2
= 2
= 2
= sec2 (x)
cos (x) cos (x) cos (x)

1
4. Sabemos que sec(x) = . Logo utilizando a regra do quociente (item 4 do
cos(x)
Teorema 1.10) temos,

(1)0 · cos(x) − 1 · cos0 (x) sen(x) 1 sen(x)


sec0 (x) = 2
= 2
= · = sec(x) · tg(x)
cos (x) cos (x) cos(x) cos(x)

34
1. Conceitos Fundamentais

1
5. Sendo cotg(x) = , temos novamente pela regra do quociente (item 4 do
tg(x)
Teorema 1.10) que:

− sec2 (x) 1 1 1
cotg0 (x) = 2
= − sec2 (x) · cos2 (x) · 2
=− 2 · cos2 (x) ·
tg (x) sen (x) cos (x) sen2 (x)

Assim
cotg0 (x) = −cossec2 (x).

1
6. Temos que cossec(x) = . Aplicando a regra do quociente (item 4 do
sen(x)
Teorema 1.10) temos

− cos(x) 1 cos(x)
cossec0 (x) = 2
=− · = −cossec(x) · cotg(x).
sen (x) sen(x) sen(x)

Nos próximos resultados apresentamos algumas outras versões de limites funda-


mentais.

Proposição 1.14. São válidos os seguintes limites:


1
a) lim ln(1 + h) h = 1
h→0

1
b) lim (1 + )x = e
x→∞ x
1
c) lim (1 + h) h = e
h→0

ex − 1
d) lim =1
x→0 x
Demonstração do Item a
1
a) Pela definição de derivada da Seção 1.5 e utilizando o fato que ln0 (x) = para
x
x > 0, demonstração no Exemplo 1.13, temos:

f (x + h) − f (x) ln(x + h) − ln(x) 1


f 0 (x) = lim =⇒ (ln(x))0 = lim =
h→0 h h→0 h x

Para x = 1 temos

ln(1 + h) − ln(1) ln(1 + h) 1 1


ln0 (1) = lim = lim = lim · ln(1 + h) = lim ln(1 + h) h = 1
h→0 h h→0 h h→0 h h→0

Demonstração dos Itens b e c

35
1. Conceitos Fundamentais

1 1
Fazendo a substituição de = h em lim (1 + )x , percebemos que quando x tende
x x→∞ x
a infinito h tende a zero, logo

1 1
lim (1 + )x = lim (1 + h) h .
x→∞ x h→0
1
Portanto os limites dos itens (b) e (c) são iguais. Assim provando que lim (1 + h) h = e,
h→0
temos
!
1
1
1 lim ln(1 + h) h
ln(1+h) h
lim (1 + h) h = lim e =e h→0 = e1 = e.
h→0 h→0

Demonstração do Item d
ex − 1
Fazendo a substituição ex − 1 = w, em lim , podemos perceber que quando
x→0 x
x tende a zero w também tende a zero. E o valor de x em função de w será dado por:

ex = w + 1 =⇒ ln(ex ) = ln(w + 1) =⇒ x = ln(w + 1).

Substituindo temos,

ex − 1 w 1 1 1
lim = lim = lim 1 = lim 1 = = 1.
x→0 x w→0 ln(w + 1) w→0
w
· ln(w + 1) w→0 ln(w + 1) w 1

1
Exemplo 1.13. Vamos mostrar que se f (x) = ln(x) e g(x) = ex , então f 0 (x) = para
x
x > 0 e g 0 (x) = ex . De fato, segue da definição de derivada que
 
x+h
ln    1
ln(x + h) − ln(x) x 1 h h h
f 0 (x) = lim = lim = lim ln 1 + = lim ln 1 +
h→0 h h→0 h h→0 h x h→0 x

h
Fazendo a substituição: w = , percebemos que quando h tende a zero, w também
x
tende a zero, logo

1 1
 
1 1
f 0 (x) = lim ln(1 + w) wx = lim  ln(1 + w) w  =
w→0 w→0 x x

Agora, se g(x) = ex , então

ex+h − ex h
 
0 x (e − 1)
g (x) = lim = lim e · = ex .
h→0 h h→0 h

Os próximos Teoremas 1.15 e 1.16 respectivamente serão utilizados na demonstração


do Teorema de Rolle.

36
1. Conceitos Fundamentais

Teorema 1.15. Se f (x) existe para todos os valores de x no intervalo aberto (a, b) e f
tem um valor máximo ou mı́nimo em c, com a < c < b, então se f 0 (c) existe, f 0 (c) = 0.

Demonstração. Ver [10] p. 150.

Teorema 1.16. (Teorema de Weierstrass) Se f for contı́nua em [a, b], então exis-
tirão x1 e x2 em [a, b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para todo x em [a, b].

Demonstração. Ver [2] p. 513.

Teorema 1.17. (Teorema de Rolle) Seja f : [a, b] → R, uma função contı́nua em


[a, b] e derivável ]a, b[. Se f (a) = f (b), então existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = 0.

Demonstração. Se f for constante então sua derivada será zero em (a, b). Portanto
para qualquer c em (a, b) teremos f 0 (c) = 0. Supondo que f não é constante, temos
pelo teorema de Weierstrass que f assume um valor máximo e mı́nimo em [a, b], pois f
é contı́nua em [a, b] e como por hipótese f (a) = f (b), então pelo menos o valor máximo
ou mı́nimo pertencem ao intervalo ]a, b[. Portanto existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = 0.

Teorema 1.18. (Teorema de Cauchy) Se f e g forem contı́nuas em [a, b] e de-


riváveis em ]a, b[ então existe pelo menos um c em ]a, b[ tal que:

f (b) − f (a) f 0 (c)


= 0
g(b) − g(a) g (c)

se g(b) 6= g(a) e g 0 (c) 6= 0.

Demonstração. Seja a função h(x) = f (x)[g(b) − g(a)] − g(x)[f (b) − f (a)]. Como f e
g são contı́nuas em [a, b] e deriváveis em ]a, b[ e pelo fato da diferença de duas funções
contı́nuas ser contı́nua, Teorema 1.6, temos que h é contı́nua em [a, b] e derivável em
]a, b[. Como

h(a) = f (a)[g(b) − g(a)] − g(a)[f (b) − f (a)] = f (a) · g(b) − g(a) · f (b)

e
h(b) = f (b)[g(b) − g(a)] − g(b)[f (b) − f (a)]f (a) · g(b) − g(a) · f (b),

segue que h(a) = h(b).


Assim, como h : [a, b] → R é contı́nua em [a, b] e derivável em (a, b), com h(a) =
h(b). Então, pelo Teorema de Rolle existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0. Logo,

h0 (x) = f 0 (x)[g(b) − g(a)] − g 0 (x)[f (b) − f (a)]

37
1. Conceitos Fundamentais

e
h0 (c) = f 0 (c)[g(b) − g(a)] − g 0 (c)[f (b) − f (a)] = 0

Portanto,
f (b) − f (a) f 0 (c)
= 0 .
g(b) − g(a) g (c)
Podemos observar que se tomarmos g(x) = x, concluı́mos que

f (b) − f (a) f 0 (c)


= =⇒ f (b) − f (a) = f 0 (c) · (b − a),
b−a 1

obtendo o Teorema do Valor Médio.

1.6 Séries de Potências


Uma série de potências em (x − x0 ) é uma série da forma


X
cn (x − x0 )n = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + . . . + cn (x − x0 )n + . . .
n=0

onde cn são os coeficientes da série, x0 é um número real fixado e x é uma variável.


Precisamos determinar os valores de x que tornam a série convergente e para isso
vamos utilizar nesta seção, alguns testes de convergência de séries, que podem ser mais
detalhados em [6] p. 12, mas vamos mencionar quando uma série é convergente na
Definição 1.7.

X
Definição 1.7. Uma série an é convergente se a sua sequência de somas parciais
n=0
(Sn ) converge, isto é,
lim Sn = S
n→∞

onde S é um número real. Se Sn divergir a série não tem soma e será considerada
divergente.

X
Exemplo 1.14. A série n!xn , converge trivialmente em x = 0. Porém, diverge nos
n=0
demais valores de x, pois pelo teste da razão, temos

(n + 1)!xn+1

lim = lim [(n + 1)|x|] = ∞,
n→∞ n!xn n→∞

para todo x 6= 0.

38
1. Conceitos Fundamentais


X xn
Exemplo 1.15. A série é convergente para todo x real, pois pelo teste da razão
n=0
n!
temos n+1
x n! x
= lim 1 |x| = 0 < 1

lim · n = lim
n→∞ (n + 1)! x n→∞ n + 1 n→∞ n + 1

Portanto a série é absolutamente convergente para todo x real, logo é convergente.



X
Exemplo 1.16. A série xn é convergente se |x| < 1, pois é uma série geométrica e
n=0
1
converge para o número , ou seja,
1−x

1
1 + x + x2 + x3 + x4 + . . . + xn + . . . =
1−x

se −1 < x < 1.

Nestes exemplos, podemos perceber três diferentes possibilidades de uma série de


potências convergir, enunciadas no seguinte teorema:

X
Teorema 1.19. Seja cn xn uma série de potências então exatamente uma e apenas
n=0
uma das três condições é válida:

1. A série converge apenas quando x = 0;

2. A série é absolutamente convergente para todo x real;

3. Existe um número real R > 0, tal que a série é absolutamente convergente para
os valores de x quando |x| < R e divergente se |x| > R.

O número R é o raio de convergência da série. No caso 1 temos R = 0 e no


caso 2 temos R = ∞. No caso 3 não podemos afirmar nada em relação aos extremos
do intervalo, portanto os valores de x nos quais a série converge serão observados
nas seguintes possibilidades: (−R, R), [−R, R], (−R, R], [−R, R). Caso a série esteja na

X
forma cn (x − x0 )n , trocamos x por (x − x0 ) e as condições tornam-se:
n=0

1. A série converge apenas quando x = x0 ;

2. A série é absolutamente convergente para todo x real;

3. Existe um número real R > 0, tal que a série é absolutamente convergente para
os valores de x quando |x − x0 | < R e divergente se |x − x0 | > R.

39
1. Conceitos Fundamentais

Podemos definir uma função f a partir de uma série de potências da seguinte


forma: o domı́nio de f é o intervalo de convergência da série e, para cada x do domı́nio
definimos f (x) como a soma da série em x. Assim, se uma função é definida por

f (x) = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + . . . + cn (x − x0 )n + . . . ,

dizemos que essa é uma representação de f (x) por uma série de potências. Dessa forma,
as funções assim definidas possuem propriedades análogas aos polinômios. Por exem-
plo, podemos então derivar e integrar essa série termo a termo conforme os Teoremas
1.20 e 1.21. Vale também ressaltar que as técnicas de integração utilizadas agora e
posteriormente podem ser verificadas em [2] p. 336.

Teorema 1.20. (Derivação termo a termo de uma Série de Potência)



X
Seja cn xn uma série de potência cujo raio de convergência é R > 0. Então, se
n=0
f for a função definida por


X
f (x) = cn x n
n=0

f 0 (x) existirá para todo x do intervalo aberto (−R, R), sendo dada por


X
0
f (x) = ncn xn−1 .
n=1

Demonstração. Ver [11] p.755.

Teorema 1.21. (Integração termo a termo de uma Série de Potência)



X
Seja cn xn uma série de potência cujo raio de convergência é R > 0. Então, se
n=0
f for a função definida por


X
f (x) = cn x n
n=0

f será integrável em todo subintervalo fechado de (−R, R) e calculamos a integral de


f integrando termo a termo a série de potências, isto é, se x está em (−R, R), então
Z x ∞
X cn n+1
f (t)dt = x
0 n=0
n + 1

e o raio de convergência da série resultante também será R.


Demonstração. Ver [11] p.761.

40
1. Conceitos Fundamentais

1
Exemplo 1.17. A função f (x) = , é representada pela série
1−x

X
xn = 1 + x + x2 + x3 + x4 + . . . + xn + . . .
n=0

com domı́nio −1 < x < 1. Na Figura 1.35, podemos observar a convergência das somas
parciais nesse intervalo e a divergência fora dele.

1
Figura 1.35: Gráfico das Somas Parciais da Série da função f (x) =
1−x

Ao diferenciarmos ou integrarmos uma série de potências termo a termo, obtemos


uma nova série cujo intervalo de convergência é o mesmo da série original conforme
os Teoremas 1.20 e 1.21, mas a respeito dos extremos nada podemos garantir. Tais
pontos devem ser verificados.
1
Exemplo 1.18. Para determinar a série de potências que representa a função
1 + x2
podemos fazer a substituição x por −x2 na série do Exemplo 1.17. Portanto, se |x| < 1
temos

1 2 4 6 8 n 2n
X
= 1 − x + x − x + x + . . . + (−1) x + . . . = (−1)n x2n
1 + x2 n=0

Z x ∞
1 1 X
Dessa forma, como 2
dt = arctg(x) e 2
= (−1)n t2n , temos que ao
0 1+t 1+t n=0
integrarmos a série termo a termo obtemos, para |x| < 1,


x3 x5 x2n+1 X x2n+1
arctg(x) = x − + − . . . + (−1)n + ... = (−1)n
3 5 2n + 1 n=0
2n + 1

41
1. Conceitos Fundamentais

Devemos verificar o que ocorre nos extremos do intervalo de convergência. Se x = 1,



X (−1)n
temos que , é uma série convergente, pelo critério da série alternada. De
n=0
2n + 1
1 1
fato, sendo o termo geral an = percebemos que ak > ak+1 e lim = 0.
2n + 1 n→∞ 2n + 1
O mesmo ocorre para x = −1. Portanto, concluı́mos que para |x| ≤ 1, temos


X x2n+1
arctg(x) = (−1)n
n=0
2n + 1

Na Figura 1.36, podemos visualizar o comportamento de algumas somas parciais.

Figura 1.36: Gráfico da função f (x) = arctg(x) e de somas parciais de sua série

Estamos representando uma série de potências através de uma série geométrica


conhecida e por técnicas de derivação e integração termo a termo. Posteriormente,
vamos demonstrar que existe uma relação entre a função e os coeficientes da série de
potências que a representa.

42
Capı́tulo 2

Fórmula de Taylor

2.1 Polinômio de Taylor de Ordem 1


Consideramos uma função f : I ⊂ R → R derivável no ponto x0 , onde I é um
intervalo aberto e x0 ∈ I. Tomemos a reta t, Figura 2.1, tangente ao gráfico da
função nesse ponto (x0 , f (x0 )). Para valores de x próximos de x0 , temos que a função
T : R → R que representa a equação da reta t é uma boa aproximação de f (x).

Figura 2.1: Gráfico representativo da Aproximação Linear

Como t é uma reta que passa pelo ponto A = (x0 , f (x0 )), temos que sua equação
é dada por y − y0 = m(x − x0 ), onde m é o coeficiente angular da reta t ou ainda a
derivada de f no ponto x0 . Assim, T (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ).
Quando x = x0 temos,

T (x0 ) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x0 − x0 ) = f (x0 )

Agora, seja x ∈ I um ponto na vizinhança de x0 de maneira que T (x) 6= f (x).


A esta diferença de valores denotamos por E1 (x), ou seja, o erro que cometemos ao

43
2. Fórmula de Taylor

aproximarmos valores de f (x) por T (x), ou ainda, E1 (x) = f (x) − T (x). Podemos
visualizar graficamente na Figura 2.2.

Figura 2.2: Gráfico representando o erro obtido pela Aproximação Linear

Observamos que
lim E1 (x) = 0
x→x0

De fato,
lim E1 (x) = lim (f (x) − T (x)) = f (x0 ) − T (x0 ) = 0,
x→x0 x→x0

pois, f (x0 ) = T (x0 ).


Como T (x) = f (x0 ) + f 0 (x)(x − x0 ) e E1 (x) = f (x) − T (x), temos

E1 (x) = f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ).

Para x 6= x0 ,
E1 (x) f (x) − f (x0 )
= − f 0 (x0 ).
x − x0 x − x0
Além disso,
 
E1 (x) f (x) − f (x0 )
lim = lim − f (x0 ) = f 0 (x0 ) − f 0 (x0 ) = 0
0
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0

E1 (x)
Portanto, como lim = 0, segue que E1 (x) tende a zero mais rapidamente
x→x0 x − x0
que (x − x0 ). Além disso, a reta tangente é a única reta que possui essa propriedade.
De fato, seja S : R → R a função que representa a equação da reta s, Figura 2.3, de
coeficiente angular ms e que passa por (x0 , f (x0 )), isto é, S(x) = f (x0 ) + ms (x − x0 ).
Utilizando o mesmo argumento anterior temos Es (x) = f (x) − S(x) onde Es (x) é
o erro que cometemos ao aproximarmos valores de f (x) por S(x), assim

Es (x) = f (x) − f (x0 ) − ms (x − x0 ).

44
2. Fórmula de Taylor

Figura 2.3: Gráfico representando o erro obtido pela reta secante

Então,  
Es (x) f (x) − f (x0 )
lim = lim − ms = f 0 (x0 ) − ms .
x→x0 x − x0 x→x0 x − x0
Notamos que esse limite só será zero se f 0 (x0 ) = ms , ou seja, ms deve ser a derivada
da função no ponto x0 , ou ainda, o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico no
ponto x0 . Assim, T (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) é o único polinômio de ordem 1 que
localmente melhor aproxima valores da função f em volta de x0 .
Portanto, se uma função f for derivável até a primeira ordem num ponto x0 per-
tencente ao intervalo aberto I, definimos

P1 (x) = T (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )

o Polinômio de Taylor de ordem 1 de f em volta de x0 .

Exemplo 2.1. Vamos utilizar o polinômio de Taylor de ordem 1 para estimar o valor
p √
de 9, 03. Neste caso, nossa função é f : R+ → R definida por f (x) = x. Como
p
desejamos obter a aproximação de 9, 03, devemos construir o Polinômio de Taylor

de ordem 1 da função f (x) = x ao redor de x0 = 9.
1
Como f (x0 ) = f (9) = 3 e f 0 (x) = √ , temos
2 x

1 1 1
f 0 (x0 ) = f 0 (9) = √ = =
2 9 2·3 6

Assim, o polinômio de Taylor de ordem 1 de f (x) = x em torno de x0 = 9 é

1 x 9 1 3
P1 (x) = 3 + (x − 9) = 3 + − = x +
6 6 6 6 2

A Figura 2.4, mostra os gráficos da função f (x) e do polinômio P1 (x).

45
2. Fórmula de Taylor


Figura 2.4: Gráfico de f (x) = x e do seu Polinômio de Taylor de ordem 1

Com auxı́lio de uma calculadora obtemos f (9, 03) = 3, 004995 . . . Utilizando o po-
linômio de Taylor temos,

1 3
P1 (9, 03) = · 9, 03 + = 1, 505 + 1, 5 = 3, 005.
6 2

Percebemos que o valor de P1 (9, 03) aproxima-se do valor de f (9, 03), precisamos
apenas saber a precisão deste resultado. Sabemos que |E1 (x)| = |f (x) − P1 (x)|, onde
E1 (x) é o erro que cometemos ao substituir o valor de f (x) por P1 (x). Analisando essa
diferença com 6 casas decimais temos,

|E1 (9, 03)| = |f (9, 03) − P1 (9, 03)| = |3, 004995 − 3, 005| = | − 0, 000005| < 10−5 .
p
Nesse exemplo, observamos que analisando o valor da 9, 03 com 6 casas decimais,
estamos cometendo um erro menor que 10−5 . Em geral, precisamos de uma expressão
que nos forneça o erro que cometemos ao realizar esta aproximação, sem necessaria-
mente calcular f (x). O Teorema 2.1 demonstra este fato.

Teorema 2.1. Seja f uma função derivável até a segunda ordem no intervalo aberto
I com x0 e x ∈ I. Então, existe pelo menos um x̄ no intervalo aberto de extremos x0
e x tal que:
f 00 (x̄)
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
2
f 00 (x̄)
onde E1 (x) = (x − x0 )2 .
2
Demonstração:
De fato, sendo E1 (x) = f (x) − P1 (x), temos

E1 (x) = f (x) − [f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 )] = f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ).

46
2. Fórmula de Taylor

Daı́ percebemos que E1 (x0 ) = 0. Agora seja g(x) = (x − x0 )2 . Obtemos que


g(x0 ) = 0. Além disso podemos observar que

E1 (x) E1 (x) − E1 (x0 )


= .
g(x) g(x) − g(x0 )

Então, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe c que pertence ao intervalo
]x0 , x[ tal que:
E1 (x) − E1 (x0 ) E 0 (c)
= 01
g(x) − g(x0 ) g (c)
Consequentemente,
E1 (x) E 0 (c)
= 01
g(x) g (c)
Agora, como E10 (x) = f 0 (x) − f 0 (x0 ) e g 0 (x) = 2(x − x0 ) segue que E10 (x0 ) = 0 e
g 0 (x0 ) = 0. Assim, obtemos a igualdade

E1 (x) E 0 (c) − E10 (x0 )


= 10
g(x) g (c) − g 0 (x0 )

Novamente, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe x̄ que pertence ao intervalo
]x0 , c[ tal que:
E10 (c) − E10 (x0 ) E100 (x̄)
=
g 0 (c) − g 0 (x0 ) g 00 (x̄)
Consequentemente
E1 (x) E 00 (x̄)
= 001
g(x) g (x̄)
sendo E100 (x) = f 00 (x) e g 00 (x) = 2 temos que E100 (x̄) = f 00 (x̄) e g 00 (x̄) = 2, portanto

E1 (x) f 00 (x̄)
=
g(x) 2

f 00 (x̄)
E1 (x) = g(x)
2
f 00 (x̄)
E1 (x) = (x − x0 )2
2
como querı́amos demonstrar.

Exemplo 2.2. Considerando a função f (x) = x do Exemplo 2.1. Neste caso,
1 1
f 0 (x) = √ e f 00 (x) = − √ . Portanto, para algum x̄ tal que x0 < x̄ < x, temos
2 x 4 x3
00   
f (x̄) 2
1 1 1 −2 2

|E1 (9, 03)| = (9, 03 − 9) = − √ (3 · 10 )
2 2 4 x̄3

47
2. Fórmula de Taylor

assim,   
1 1 1 −4

|E1 (9, 03)| = − √ 9 · 10
2 4 x̄3
Não podemos calcular o x̄, mas sabemos que

9 < x̄ < 9, 03

93 < x̄3 < (9, 03)3


√ √ p
93 < x̄3 < (9, 03)3
√ p
33 < x̄3 < (9, 03)3
1 1 1
3
>√ >p
3 x̄ 3 (9, 03)3
1 1
Da desigualdade > √ concluı́mos que
33 x̄3
    
1 1 1 −4
1 1 1 −4

|E1 (9, 03)| = − √ (9 · 10 ) < − (9.10 ) .
2 4 x̄3 2 4 33

1 1 −4
Portanto, E1 (9, 03) < · ·10 , isto é, E1 (9, 03) < 10−5 . Assim utilizando P1 (9, 03)
8 3
no lugar de f (9, 03), concluı́mos que estamos cometendo um erro menor que 10−5 .

2.2 Polinômio de Taylor de Ordem 2


Considerando uma função f derivável até a segunda ordem num intervalo aberto I
com x, x0 ∈ I, podemos obter uma melhor aproximação de f (x), para cada valor de
x próximo à x0 . Nesse caso, vamos determinar um polinômio P2 (x) de ordem 2, que
deve satisfazer as seguintes condições:

a) f (x0 ) = P2 (x0 );

b) f 0 (x0 ) = P20 (x0 );

c) f 00 (x0 ) = P200 (x0 ).

Consideramos um polinômio do segundo grau da forma

P2 (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 ,

com A, B e C coeficientes reais. Temos P2 (x0 ) = A e, portanto, f (x0 ) = P2 (x0 ) = A.

48
2. Fórmula de Taylor

Além disso, P20 (x) = B + 2C(x − x0 ) e P200 (x) = 2C, assim

f 0 (x0 ) = P20 (x0 ) = B + 2C(x0 − x0 ) = B

f 00 (x0 )
f 00 (x0 ) = P200 (x0 ) = 2C =⇒ C =
2
Portanto, o polinômio de Taylor, de ordem 2 de f em volta x0 é dado por

f 00 (x0 )
P2 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 .
2

Essa expressão nos fornece um valor aproximado de f (x) com a propriedade que
E2 (x)
lim = 0, onde E2 (x) é o erro que cometemos ao estimar o valor de f (x) por
x→x0 (x − x0 )2
P2 (x). Assim, se E2 (x) = f (x) − P2 (x), temos

f 00 (x0 )
 
0 2
f (x) − P2 (x) f (x) − f (x0 ) − f (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )
lim = lim
 2 
(x − x0 )2 (x − x0 )2
 
x→x0 x→x0

f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) f 00 (x0 )


 
= lim −
x→x0 (x − x0 )2 2
0
f (x) − f (x0 ) − f (x0 )(x − x0 ) f 00 (x0 )
= lim − lim
x→x0 (x − x0 )2 x→x0 2

f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 )


Observamos que o cálculo do lim , conduz a uma inde-
  x→x0 (x − x0 )2
0
terminação . Utilizamos a regra de L’Hospital. Assim,
0

f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) f 0 (x) − f 0 (x0 ) f 00 (x0 )


lim = lim =
x→x0 (x − x0 )2 x→x0 2(x − x0 ) 2

Logo,
f (x) − P2 (x) f 00 (x0 ) f 00 (x0 )
lim = − = 0.
x→x0 (x − x0 )2 2 2
O Polinômio de Taylor de ordem 2 é o único que possui a propriedade do erro
E2 (x), tender a zero mais rapidamente que (x − x0 )2 . De fato, suponhamos que exista
P2∗ (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 , com A, B e C ∈ R, possuindo a propriedade do
E2∗ (x)
lim = 0, onde E2∗ (x) é erro que cometemos ao aproximar a função f (x) por
x→x0 (x − x0 )2
E2 (x) E2∗ (x)
P2∗ (x). Como lim = 0 e lim = 0, podemos escrever
x→x0 (x − x0 )2 x→x0 (x − x0 )2

E2 (x) − E2∗ (x)


lim = 0.
x→x0 (x − x0 )2

49
2. Fórmula de Taylor

Além disso, E2 (x) = f (x) − P2 (x) e E2∗ (x) = f (x) − P2∗ (x). Assim,
h i
0 2 f 00 (x0 )
P2∗ (x) − P2 (x) A − f (x0 ) + (x − x0 ) [B − f (x0 )] + (x − x0 ) C − 2
lim = lim
x→x0 (x − x0 )2 x→x0 (x − x0 )2
A − f (x0 ) B − f 0 (x0 ) f 00 (x0 )
 
= lim + +C − =0
x→x0 (x − x0 )2 (x − x0 ) 2

Logo, esse limite só será zero se A = f (x0 ) e B = f 0 (x0 ). Assim,

f 00 (x0 )
 
lim C − =0
x→x0 2

f 00 (x0 )
eC = . Portanto, o polinômio de Taylor de ordem 2, é o único que possui a
2
E2 (x)
propriedade do lim = 0.
x→x0 (x − x0 )2

Exemplo 2.3. Vamos determinar o polinômio de Taylor de ordem 2 em torno de


1 1
x0 = 1 da função f (x) = ln(x). Notamos inicialmente que, f 0 (x) = e f 00 (x) = − 2 ,
x x
assim f (1) = 0, f 0 (1) = 1 e f 00 (1) = −1. Logo,

1 1
P2 (x) = 0 + 1(x − 1) − (x − 1)2 = (x − 1) − (x − 1)2
2 2

Podemos visualizar graficamente na Figura 2.5.

Figura 2.5: Gráfico da função f (x) = ln(x) e do seu Polinômio de Taylor de ordem 2

Teorema 2.2. Seja f uma função derivável até a terceira ordem no intervalo aberto
I com x0 e x ∈ I. Então, existe pelo menos um x̄ no intervalo aberto de extremos x0

50
2. Fórmula de Taylor

e x tal que:

f 00 (x0 )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + E2 (x),
2

f 000 (x̄)
onde E2 (x) = (x − x0 )3 .
3!
Demonstração.
Temos que E2 (x) = f (x) − P2 (x), logo

f 00 (x0 )
 
0
E2 (x) = f (x) − f (x0 ) + f (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
2
Derivando E2 , temos:

E20 (x) = f 0 (x) − [f 0 (x0 ) + f 00 (x0 )(x − x0 )]


E200 (x) = f 00 (x) − f 00 (x0 )
E2000 (x) = f 000 (x)

Para x = x0 , temos E2 (x0 ) = E20 (x0 ) = E200 (x0 ) = 0.


Seja h(x) = (x − x0 )3 . Derivando h(x), temos:

h0 (x) = 3(x − x0 )2
h00 (x) = 3 · 2(x − x0 )
h000 (x) = 3 · 2 · 1 = 3!

Daı́ temos h(x0 ) = h0 (x0 ) = h00 (x0 ) = 0. Assim,

E2 (x) E2 (x) − E2 (x0 )


= .
h(x) h(x) − h(x0 )

Pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe c que pertence ao intervalo ]x0 , x[ tal
que:
E2 (x) E 0 (c)
= 20 .
h(x) h (c)
Como
E2 (x) E 0 (c) − E20 (x0 )
= 20
h(x) h (c) − h0 (x0 )
Novamente, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe d que pertence ao

51
2. Fórmula de Taylor

intervalo ]x0 , c[ tal que:


E2 (x) E 00 (d)
= 002 .
h(x) h (d)
Prosseguindo com este argumento, temos

E2 (x) E 00 (d) − E200 (x0 )


= 200
h(x) h (d) − h00 (x0 )

Novamente pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe x̄ que pertence ao


intervalo ]x0 , d[ tal que:
E2 (x) E2000 (x̄)
= 000
h(x) h (x̄)
Portanto,
f 000 (x̄)
E2 (x) = (x − x0 )3
3!
como querı́amos demonstrar.

Exemplo 2.4. Vamos utilizar o Polinômio de Taylor em torno de x0 = 1 de f (x) =


ln(x), calculado anteriormente no Exemplo 2.3, para obter uma aproximação para
ln (1, 4) estimando o erro cometido por esta aproximação.
1
Obtemos P2 (x) = (x − 1) − (x − 1)2 . Portanto
2

1
P2 (1, 4) = (1, 4 − 1) − (1, 4 − 1)2 = 0, 4 − 0, 08 = 0, 32
2

2
Sendo f 000 (x) = , podemos estimar o E2 (x). Assim temos,
x3
000
f (x̄) 2
3
1 1 3
3
1 64
−3 −3

|E2 (1, 4)| =
(1, 4 − 1) = 3
(0, 4) = 3 · · 4 · 10 = 3 ·
· 10
3! x̄ · 3! x̄ 3 x̄ 3

Para algum x̄ entre x0 = 1 e x = 1, 4. Assim,

1 < x̄ < 1, 4

1 < x̄3 < (1, 4)3


1 1
1> 3
>
x̄ (1, 4)3
1
Dessa forma, percebemos que < 1. Logo,
x̄3

1 64 64 64
· 10−3 < 1 · · 10−3 = · 10−3 < 102 · 10−3 = 10−1

|E2 (1, 4)| = 3 ·
x̄ 3 3 3

52
2. Fórmula de Taylor

Portanto, quando usamos o Polinômio de Taylor de ordem 2 para aproximar o valor


de ln(1, 4), estamos cometendo um erro menor que 10−1 .

2.3 Polinômio de Taylor de Ordem 3 e 4


De maneira análoga ao que fizemos para determinar o Polinômio de Taylor de ordem
2, vamos construir P3 (x), Polinômio de Taylor de ordem 3, que se aproxime de uma
função f dada. É necessário que f seja derivável até a 3.a ordem num intervalo aberto
I e x0 ∈ I. Neste caso, temos que P3 (x) deverá compartilhar em x0 com a função f os
seguintes valores:

1. f (x0 ) = P3 (x0 )

2. f 0 (x0 ) = P30 (x0 )

3. f 00 (x0 ) = P300 (x0 )

4. f 000 (x0 ) = P3000 (x0 )

Suponhamos P3 (x) um polinômio de ordem 3 da forma P3 (x) = A + B(x − x0 ) +


C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 , com A, B, C e D ∈ R. Para determinar os valores de A, B,
C e D observamos que:

P3 (x0 ) = A + B(x0 − x0 ) + C(x0 − x0 )2 + D(x0 − x0 )3 = A =⇒ f (x0 ) = P3 (x0 ) = A


P30 (x) = B + 2 · C(x − x0 ) + 3 · D(x − x0 )2 =⇒ f 0 (x0 ) = P30 (x0 ) = B
f 00 (x0 )
P300 (x) = 2 · 1 · C + 3 · 2 · D(x − x0 ) =⇒ C =
2!
f 000 (x0 )
P3000 (x) = 3 · 2 · 1 · D =⇒ D =
3!

Determinamos assim o polinômio de Taylor, de ordem 3 de f em volta x0 :

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


P3 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3
2! 3!
Podemos repetir o argumento na determinação do Polinômio de Taylor de ordem
4, P4 (x), de uma função f derivável até a 4.a ordem num intervalo aberto I e x0 ∈ I.
De maneira análoga, sejam A, B, C, D e E ∈ R tal que

P4 (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 + E(x − x0 )4 .

Nesse caso, temos que P4 (x) deve satisfazer as seguintes condições:

53
2. Fórmula de Taylor

1. f (x0 ) = P4 (x0 )

2. f 0 (x0 ) = P40 (x0 )

3. f 00 (x0 ) = P400 (x0 )

4. f 000 (x0 ) = P4000 (x0 )


(4)
5. f (4) (x0 ) = P4 (x0 )

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


Como no caso anterior, obtemos A = f (x0 ), B = f 0 (x0 ), C = ,D=
2! 3!
f (4) (x0 )
eE= . Logo, o Polinômio de Taylor de ordem 4 de f em volta x0 é dado por
4!

f 00 (x0 ) f 000 (x0 ) f (4) (x0 )


P4 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3 + (x − x0 )4
2! 3! 4!

Os erros cometidos ao aproximar a função f por P3 (x) e P4 (x), vamos denotar


por E3 (x) e E4 (x) respectivamente. E para esses dois polinômios seguem também
E3 (x) E4 (x)
respectivamente as seguintes propriedades: lim 3
= 0 e lim = 0.
x→x0 (x − x0 ) x→x0 (x − x0 )4
E3 (x)
Vamos verificar que lim = 0 a outra propriedade segue analogamente.
x→x0 (x − x0 )3
Temos que

f 00 (x0 )
 
f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )2
E3 (x) 2  f 000 (x0 )
lim = lim  − .

x→x0 (x − x0 )3 x→x0 (x − x0 )3 3!

f 00 (x0 )
(x − x0 )2
f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) −
Para calcular lim 2 usamos a regra
x→x0 (x − x0 )3  
0
de L’Hospital duas vezes, pois obtemos indeterminações do tipo . Temos
0

f 00 (x0 )
f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )2 f 00 (x) − f 00 (x0 )
lim 2 = lim
x→x0 (x − x0 )3 x→x0 3!(x − x0 )

Portanto,

E3 (x) f 000 (x0 ) f 000 (x0 )


lim = − =0
x→x0 (x − x0 )3 3! 3!
Como querı́amos demonstrar.

54
2. Fórmula de Taylor

O polinômio de Taylor de ordem 3

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


P3 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3
2! 3!

E3 (x)
é o único com a propriedade do lim = 0. De fato, suponhamos que exista
x→x0 (x − x0 )3
P3∗ (x) 6= P3 (x) de modo que

P3∗ (x) = A + B(x − x0 ) + C(x − x0 )2 + D(x − x0 )3 ,

E3∗ (x)
onde A, B, C, D ∈ R e P3∗ (x) com a propriedade lim = 0, sendo E3∗ (x) é
x→x0 (x − x0 )3
erro cometido ao utilizar P3∗ (x) para aproximar valores de f (x).
Assim,

f 00 (x0 )
 
E3 (x) − E3∗ (x) C−
 A − f (x0 ) B − f 0 (x0 ) 000
2! + D − f (x0 ) 
lim = lim + +  = 0.
(x − x0 )3 (x − x0 )3 (x − x0 )2 (x − x0 ) 3!

x→x0 x→x0

f 00 (x0 )
Logo, esse limite só será zero se A = f (x0 ), B = f 0 (x0 ) e C = e, consequen-
2!
temente, temos
f 000 (x0 )
 
lim D − =0
x→x0 3!
f 000 (x0 )
isto é, D = . Portanto, o polinômio de Taylor de ordem 3 é o único que possui
3!
a propriedade
E3 (x)
lim = 0.
x→x0 (x − x0 )3

Exemplo 2.5. Vamos construir os Polinômios de Taylor de ordem 3 e 4 da função


π
f (x) = cos(x) ao redor do ponto e visualizar graficamente o resultado.
4
Inicialmente temos f 0 (x) = −sen(x), f 00 (x) = − cos(x), f 000 (x) = sen(x), e f (4) (x) =
cos(x). Portanto,

π  π  √ √
2 0 π  π  2
f = cos = ,f = −sen =−
4 4 2 4 4 2
√  π  √2
00 π
  π  2 000  π 
f = − cos =− ,f = sen =
4 4 2 4 4 2
e √
π  π  2
(4)
f = cos =
4 4 2
Podemos determinar P3 (x) e P4 (x):

55
2. Fórmula de Taylor

√ √  √  √ 
2 2 π 2 π 2 2 π 3
P3 (x) = − x− − x− + x−
2 2 4 4 4 12 4
e

√ √  √  √  √ 
2 2 π 2 π 2 2 π 3 2 π 4
P4 (x) = − x− − x− + x− + x−
2 2 4 4 4 12 4 48 4

Na Figura 2.6 podemos observar os polinômios aproximadores de Taylor de ordens


3 e 4 da função f (x) = cos(x).

Figura 2.6: Gráficos dos Polinômios de Taylor de ordem 3 e 4 de f (x) = cos(x)

É importante notar que ao aumentarmos o grau do polinômio, mais próximo o seu


gráfico fica em relação ao gráfico da função. Na Figura 2.7 representamos os polinômios
π
Taylor da função f (x) = cos(x) ao redor do ponto do Exemplo 2.5, de ordem 1, 2,
4
3 e 4 observando assim a aproximação cada vez mais precisa.

Figura 2.7: Gráfico de f (x) = cos(x) e de polinômios aproximadores de Taylor

No Exemplo 2.6, vamos obter aproximações do cos(480 ) pelo polinômio de Taylor


construı́do no Exemplo 2.5.

56
2. Fórmula de Taylor

Exemplo 2.6. Utilizando os polinômios de Taylor de ordem 1, 2, 3 e 4 da função


π
f (x) = cos(x) ao redor do ponto , vamos obter uma estimativa do valor do cos(480 ).
4  
4π 4π
Temos que 480 em radianos equivale . Sendo cos = 0, 669130606 . . . e usando
15 15


4π π π
as seguintes aproximações: − = ≈ 0, 05235 e 2 ≈ 1, 41421 obtemos:
15 4 60

  √√
4π 2 2
P1 = − (0, 05235) ≈ 0, 67008
15 2 2
    √
4π 4π 2
P2 = P1 − (0, 05235)2 ≈ 0, 66911
15 15 4
    √
4π 4π 2
P3 = P2 + (0, 05235)3 ≈ 0, 66913
15 15 12
    √
4π 4π 2
P4 = P3 + (0, 05235)4 ≈ 0, 6691302
15 15 48

Dessa forma, percebemos que ao aumentarmos o grau do polinômio estamos nos


aproximando cada vez mais do valor real de cos(480 ). Tal fato também pode ser
observado com as expressões dos erros E1 (x), E2 (x), E3 (x) e E4 (x) de P1 (x), P2 (x),
P3 (x) e P4 (x) respectivamente.
Teorema 2.3. Seja f uma função real derivável até a 4.a ordem no intervalo aberto I
com x0 e x ∈ I. Então, existe pelo menos um x̄ no intervalo aberto de extremos x0 e
x tal que:

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + (x − x0 )3 + E3 (x),
2 3!

f (4) (x̄)
onde E3 (x) = (x − x0 )4 .
4!
Demonstração.
Temos que E3 (x) = f (x) − P3 (x), logo

f 00 (x0 ) f 000 (x0 )


E3 (x) = f (x) − f (x0 ) − f 0 (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )2 − (x − x0 )3 .
2 3!

Derivando E3 temos,

f 000 (x0 )
E30 (x) = f 0 (x) − f 0 (x0 ) − f 00 (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )2 ;
2
E300 (x) = f 00 (x) − f 00 (x0 ) − f 000 (x0 )(x − x0 );
E3000 (x) = f 000 (x) − f 000 (x0 );
(4)
E3 (x) = f (4) (x).

57
2. Fórmula de Taylor

Para x = x0 temos E3 (x0 ) = E30 (x0 ) = E300 (x0 ) = E3000 (x0 ) = 0. Tomando a função
h(x) = (x − x0 )4 , percebemos que

h0 (x) = 4(x − x0 )3 ;
h00 (x) = 4 · 3(x − x0 )2 ;
h000 (x) = 4 · 3 · 2(x − x0 );
h(4) (x) = 4 · 3 · 2 · 1 = 4!.

Além disso, para x = x0 temos h(x0 ) = h0 (x0 ) = h00 (x0 ) = h000 (x0 ) = 0 e

E3 (x) E3 (x) − E3 (x0 )


= ,
h(x) h(x) − h(x0 )

então, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe a que pertence ao intervalo
]x0 , x[ tal que
E3 (x) E 0 (a)
= 30 .
h(x) h (a)
Como
E3 (x) E30 (a) − E30 (x0 )
= 0 ,
h(x) h (a) − h0 (x0 )
pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe b que pertence ao intervalo ]x0 , a[ tal
que
E3 (x) E 00 (b)
= 003 .
h(x) h (b)
Prosseguindo com este argumento obtemos

E3 (x) E 00 (b) − E300 (x0 )


= 300
h(x) h (b) − h00 (x0 )

e pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe c que pertence ao intervalo ]x0 , b[ tal
que
E3 (x) E3000 (c)
= 000
h(x) h (c)
e como
E3 (x) E 000 (c) − E3000 (x0 )
= 3000
h(x) h (c) − h000 (x0 )
Novamente, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy existe x̄ que pertence ao
intervalo ]x0 , c[ tal que
E3 (x) f (4) (x̄)
= (4)
h(x) h (x)
f (4) (x̄)
Portanto, E3 (x) = (x − x0 )4 .
4!

58
2. Fórmula de Taylor

Teorema 2.4. Seja f uma função real derivável até a 5.a ordem no intervalo aberto I
com x0 e x ∈ I. Então, existe pelo menos um x̄ no intervalo aberto de extremos x0 e
x tal que:

f 00 (x0 ) f 000 (x0 ) f (4) (x0 )


f (x) = f (x0 )+f 0 (x0 )(x−x0 )+ (x−x0 )2 + (x−x0 )3 + (x−x0 )4 +E4 (x),
2 3! 4!

f (5) (x̄)
onde E4 (x) = (x − x0 )5 .
5!
Demonstração. A demonstração é análoga a do Teorema 2.3.

Exemplo 2.7. Tomando a função f (x) = cos(x) do Exemplo 2.5 e sendo E1 (x), E2 (x),
E3 (x) e E4 (x) os erros respectivos que obtemos ao aproximar f (x) por P1 (x), P2 (x),
π
P3 (x) e P4 (x), polinômios de Taylor construı́dos em torno do ponto x0 = , vamos
4
π
calcular esses erros analisando a precisão desses resultados. Adotamos ≈ 0, 05235.
60
π 4π
Como < x̄ < , 0 < cos(x̄) < 1 e 0 < sen(x̄) < 1, temos que:
4 15

 
E1 4π = cos(x̄)  π 2 1  π 2
≈ 1, 37026 × 10−3

<
15 2 60 2 60
 
E2 4π = sen(x̄)  π 3 1  π 3
≈ 2, 391105 × 10−5

<
15 3! 60 6 60
 
E3 4π = cos(x̄)  π 4 1  π 4
≈ 3, 12935 × 10−7

<
15 4! 60 24 60
 
E4 4π = sen(x̄)  π 5 1  π 5
≈ 3, 27643 × 10−9

<
15 5! 60 120 60

Dessa forma, verificamos que o erro se torna cada vez menor sempre que construı́mos
um polinômio de grau maior.

2.4 Polinômio de Taylor de Ordem n


É possı́vel generalizar o procedimento seguido nas seções anteriores para obter um
polinômio de ordem n, com n ∈ Z+ , que aproxime os valores de f em pontos x numa
vizinhança de x0 .
Seja uma função f , n vezes derivável num intervalo aberto I e x0 ∈ I. Queremos
determinar o Polinômio Pn de ordem n, que aproxime os valores da função f , ao
tomarmos valores de x próximos a x0 . De forma análoga aos casos anteriores, devemos
ter:

f (x0 ) = Pn (x0 ), f 0 (x0 ) = Pn0 (x0 ), f 00 (x0 ) = Pn00 (x0 ), . . . , f (n) (x0 ) = Pn(n) (x0 ).

59
2. Fórmula de Taylor

Portanto, o polinômio deve ser da forma

Pn (x) = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + a3 (x − x0 )3 + a4 (x − x0 )4 + . . . + an (x − x0 )n .

Procedendo como nos casos anteriores, obtemos f (x0 ) = a0 e calculando as deriva-


f 00 (x0 )
das de Pn temos f 0 (x0 ) = a1 , = a2 e assim sucessivamente. Percebemos que ao
2!
derivarmos Pn n vezes obtemos

Pn(n) (x) = n · (n − 1) · (n − 2) · (n − 3) . . . 2 · 1 · an .

Como f (n) (x0 ) = Pn(n) (x0 ), então

f (n) (x0 ) = Pn(n) (x0 ) = n · (n − 1) · (n − 2) · (n − 3) . . . 2 · 1 · an = n!an

Logo
f (n) (x0 )
an =
n!
Portanto, o Polinômio de Taylor de ordem n em torno de x0 é dado por

f 00 (x0 ) f 000 (x0 ) f (n) (x0 )


Pn (x) = f (x0 )+f 0 (x0 )(x−x0 )+ (x−x0 )2 + (x−x0 )3 +. . .+ (x−x0 )n .
2! 3! n!

Como nos casos anteriores o erro que se obtém ao aproximarmos a função f (x) pelo
En (x)
valor de Pn (x) é En (x) = f (x) − Pn (x) com lim = 0.
x→x0 (x − x0 )n

Teorema 2.5. Seja f : I → R onde f é uma função n − vezes derivável em x = x0 .


En (x)
Então, lim = 0, onde En (x) = f (x) − Pn (x).
x→x0 (x − x0 )n

Demonstração.
n−1 (k)
X f (x0 )(x − x0 )k En (x) f (x) − Pn (x)
Seja g(x) = . Como lim n
= lim =0
k=0
k! x→x 0 (x − x0 ) x→x 0 (x − x0 )n
Devemos mostrar que

f (x) − g(x) f (n) (x0 )


 
lim − =0 (2.1)
x→x0 (x − x0 )n n!

Como o segundo termo do Limite 2.1 não depende de x basta mostrar que

f (x) − g(x) f (n) (x0 )


lim = . (2.2)
x→x0 (x − x0 )n n!

Como f é n−vezes diferenciável em x0 e como g é um polinômio, para calcular o Limite


2.2 podemos aplicar a regra de L’Hospital (n − 1) vezes a primeira parte da equação e

60
2. Fórmula de Taylor

obtemos,
f (x) − g(x) f (n−1) (x) − g (n−1) (x) f (n) (x0 )
lim = lim = .
x→x0 (x − x0 )n x→x0 n!(x − x0 ) n!
Teorema 2.6. Seja f : I → R onde f é uma função n − vezes derivável. Suponhamos
f (x) − P ∗ (x)
que P ∗ (x) é um polinômio de ordem n em (x−x0 ) satisfazendo lim = 0.
x→x0 (x − x0 )n
Então, P ∗ (x) é o polinômio de Taylor de ordem n de f em torno do ponto x0 .

Demonstração. Seja

P ∗ (x) = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + a3 (x − x0 )3 + . . . + an (x − x0 )n

En∗ (x)
com a0 , a1 , a2 ,..., an ∈ R e lim n
= 0, onde En∗ (x) é o erro cometido ao estimar
x→x0 (x − x0 )

valores de f (x) por P (x).
En (x)
Como lim = 0, onde En (x) é o erro cometido ao estimar valores de f (x)
x→x0 (x − x0 )n
por Pn (x), temos

En (x) − En∗ (x) [f (x) − Pn (x)] − [f (x) − P ∗ (x)] P ∗ (x) − Pn (x)


lim = lim = lim =0
x→x0 (x − x0 )n x→x0 (x − x0 )n x→x0 (x − x0 )n

Portanto,
 
f (n−1) (x0 )
an−1 −
 a − f (x )
 0 0 a1 − f 0 (x0 ) (n − 1)! f (n) (x0 ) 
lim  + + ... + + a −  = 0.

n n−1 n
x→x0  (x − x0 ) (x − x0 ) (x − x0 ) (n)! 

f 00 (x0 )
Logo, esse limite só será zero se a0 = f (x0 ), a1 = f 0 (x0 ), a2 = , ... ,
2!
f (n−1) (x0 )
an−1 = . Concluı́mos então que
(n − 1)!

f (n) (x0 )
 
lim an − = 0,
x→x0 (n)!

f (n) (x0 ) En (x)


isto é, an = . Portanto Pn (x) é o único que possui a propriedade lim n
= 0.
(n)! x→x 0 (x − x0 )

Teorema 2.7. Seja f uma função derivável até a ordem (n + 1) no intervalo aberto I
com x0 e x ∈ I. Então, existe pelo menos um x̄ no intervalo aberto de extremos x0 e
x tal que:
f (x) = Pn (x) + En (x),
f (n+1) (x̄)
onde En (x) = (x−x0 )(n+1) é o erro que obtemos ao substituir f (x) por Pn (x).
(n + 1)!

61
2. Fórmula de Taylor

Demonstração.
Temos que En (x) = f (x) − Pn (x), logo

0 f 00 (x0 ) 2 f (n) (x0 )


En (x) = f (x) − f (x0 ) − f (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 ) − . . . − (x − x0 )n .
2! n!

Derivando En (x) (n + 1) vezes, temos

f 000 (x0 ) f (n) (x0 )


En0 (x) = f 0 (x) − f 0 (x0 ) − f 00 (x0 )(x − x0 ) − (x − x0 )2 − . . . − (x − x0 )n−1
2! (n − 1)!
(n)
f (x0 )
En00 (x) = f 00 (x) − f 00 (x0 ) − f 000 (x0 )(x − x0 ) − . . . − (x − x0 )n−2
(n − 2)!
..
.
En(n) (x) = f (n) (x) − f (n) (x0 )
En(n+1) (x) = f (n+1) (x)

(n)
Para x = x0 , temos En (x0 ) = En0 (x0 ) = En00 (x0 ) = En000 (x0 ) = . . . = En (x0 ) = 0.
Seja a função h(x) = (x − x0 )n+1 , assim

h0 (x) = (n + 1)(x − x0 )n
h00 (x) = (n + 1) · n(x − x0 )n−1
..
.
h(n) (x) = (n + 1) · n · · · 2(x − x0 )
h(n+1) (x) = (n + 1) · n · · · 1 = (n + 1)!

Para x = x0 , temos h(x0 ) = h0 (x0 ) = h00 (x0 ) = h000 (x0 ) = . . . h(n) (x0 ) = 0. Observa-
mos que
En (x) En (x) − En (x0 )
= .
h(x) h(x) − h(x0 )
Então, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe a1 que pertence ao intervalo
]x0 , x[ tal que:
En (x) E 0 (a1 )
= n0 .
h(x) h (a1 )
Como
En (x) E 0 (a1 ) − En0 (x0 )
= n0 .
h(x) h (a1 ) − h0 (x0 )
Pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy, existe a2 que pertence ao intervalo ]x0 , a1 [
tal que
En (x) E 00 (a2 )
= 00n
h(x) h (a2 )

62
2. Fórmula de Taylor

Repetindo esse argumento n vezes obtemos an no intervalo ]x0 , an−1 [ tal que

(n)
En (x) En (an )
= (n) .
h(x) h (an )

Assim,
(n) (n)
En (x) En (an ) − En (x0 )
= (n) .
h(x) h (an ) − h(n) (x0 )
Novamente, pelo Teorema do Valor Médio de Cauchy existe x̄ que pertence ao
intervalo ]x0 , an [ tal que
(n+1)
En (x) En (x̄)
= (n+1) .
h(x) h (x̄)
Portanto,
f (n+1) (x̄)
En (x) = (x − x0 )(n+1) .
(n + 1)!

A expressão En (x) no teorema anterior é conhecida como Resto de Lagrange em


homenagem ao matemático francês Joseph L. Lagrange.

Exemplo 2.8. Vamos obter o Polinômio de Taylor de ordem n da função f (x) = ex


em torno de x0 = 0, visualizar graficamente algumas aproximações e obter o valor de
e com erro inferior a 10−8 . Inicialmente observamos que f (n) (x) = ex , para todo x ∈ R
e n ∈ Z+ e f (n) (x0 ) = f (n) (0) = e0 = 1. Assim, substituindo na fórmula de Taylor

f 00 (x0 ) f 000 (x0 ) f (n) (x0 )


Pn (x) = f (x0 )+f 0 (x0 )(x−x0 )+ (x−x0 )2 + (x−x0 )3 +. . .+ (x−x0 )n
2! 3! n!

obtemos

x2 x3 xn
Pn (x) = 1 + x + + + ··· + .
2! 3! n!
Graficamente podemos verificar na Figura 2.8 alguns polinômios aproximadores da
função f (x) = ex .

63
2. Fórmula de Taylor

Figura 2.8: Gráfico de f (x) = ex e de seus Polinômios aproximadores até a ordem 4

Pelo Teorema 2.7 obtemos a expressão do erro que cometemos ao aproximar os


valores de f (x) pelos valores de Pn (x). Temos que,

f (n+1) (x̄)
En (x) = (x − x0 )(n+1)
(n + 1)!

para algum x̄ no intervalo aberto ]x0 , x[. Portanto desenvolvendo a expressão do erro
relativo a aproximação da função f (x) = ex por Pn (x) desenvolvido na origem, temos:

e(x̄)
En (x) = x(n+1)
(n + 1)!
Como f (1) = e, podemos obter aproximações para o número de Euler por meio do
Polinômio de Taylor de ordem n em torno de x0 = 0. Sendo e = 2, 718281828459 . . .,
temos para x = 1 que:

1 1 1
Pn (1) = 1 + 1 + + + ... + ≈ e.
2! 3! n!

Esta expressão se aproxima de e com a seguinte precisão

e(x̄)
En (1) =
(n + 1)!

para algum 0 < x̄ < 1 e assim,

1 = e0 < e(x̄) < e1 < 3.

64
2. Fórmula de Taylor

Portanto, (x̄)
e (x̄)
= e 3

|En (1)| = < .
(n + 1)! (n + 1)! (n + 1)!
Como desejamos obter uma aproximação com um erro inferior a 10−8 , temos:

3 1
|En (1)| < < 10−8 =
(n + 1)! 100000000
Logo (n + 1)! > 300.000.000. Pela Tabela 2.1 percebemos que esse fato será obser-
vado para n = 11. Então e com um erro menor que 10−8 , vale:

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
e≈2+ + + + + + + + + + = 2, 718281826 . . .
2! 3! 4! 5! 6! 7! 8! 9! 10! 11!

F atorial Resultado
0! 1
1! 1
2! 2
3! 6
4! 24
5! 120
6! 720
7! 5040
8! 40.320
9! 362.880
10! 3.628.800
11! 39.916.800
12! 479.001.600

Tabela 2.1: Valores do Fatorial

Exemplo 2.9. Para datar rochas ou artefatos com mais de 50.000 anos, é preciso
usar outros elementos radioativos. A seguinte equação é válida para qualquer isótopo
radioativo:
S(t) − S(0)
+ 1 = e(ln 2)t/λ
R(t)
onde R(t) é o número de átomos do isótopo radioativo no instante t. S(t) é o número
de átomos do produto estável que resulta do decaimento radioativo, S(0) é o número
de átomos do produto estável inicialmente presentes na amostra (no instante t = 0)
e λ é a meia-vida do isótopo radioativo (o tempo que metade dos átomos da amostra
leva para decair).

65
2. Fórmula de Taylor

a. Determine o valor aproximado de t nesta equação usando o Polinômio de Taylor


de grau 2 de ex no entorno de x = 0.

b. Um pedaço de mica é analisado e os cientistas descobrem que 5% dos átomos do


mineral são do isótopo radioativo rubı́dio 57 e 0, 04% são de estrôncio 87. Se todo
estrôncio 87 foi produzido pelo decaimento do rubı́dio 57 presente na amostra,
qual é a idade da amostra? Use a aproximação do item (a). A meia-vida do
rubı́dio 87 é 48, 6 × 109 anos.

Solução.
a. Do Exemplo 2.8, sabemos que o polinômio de Taylor de ordem 2 de f (x) = ex em
x2
torno de x0 = 0 será dado por P2 (x) = 1 + x + . Logo, estimando o valor de e(ln 2)t/λ
2!
por P2 (x) temos,
 2
(ln 2)t
 
S(t) − S(0) (ln 2)t (ln 2)t λ
e(ln 2)t/λ = + 1 ≈ P2 =1+ +
R(t) λ λ 2!

 2
(ln 2)t
S(t) − S(0) (ln 2)t λ
≈ +
R(t) λ 2!

(ln2 2) 2 (ln 2) S(t) − S(0)


2
t + t− ≈0
2!λ λ R(t)
Resolvendo a equação de segundo grau na variável t temos,

ln2 2 ln2 2 ln2 2 2 ln2 2 S(t) − S(0)


   
S(t) − S(0)
∆= 2 −4· · − = 2 +
λ 2λ2 R(t) λ λ2 R(t)
2   
ln 2 S(t) − S(0)
= 2 1+2
λ R(t)

e, portanto,
s s
2
 
S(t) − S(0)
  
ln 2 ln 2 S(t) − S(0) ln 2 ln 2
− ± 1+2 − ± 1+2
λ λ2 R(t) λ λ R(t)
t≈ ≈ .
ln2 2 ln2 (2)
2 2
2λ λ2

66
2. Fórmula de Taylor

Como t > 0, temos


s   !
ln(2) S(t) − S(0)
1+2 −1 s !
λ R(t) λ

S(t) − S(0)

t≈ = 1+2 −1 .
ln2 (2) ln(2) R(t)
λ2

5
b. Denotamos por M a quantidade de átomos da mica analisada, temos que M
100
0, 04
são do isótopo radioativo, ou seja R(t), M são de estrôncio 87, ou seja, S(t).
100
Como todo estrôncio foi produzido do decaimento do rubı́dio, não existiam átomos de
estrôncio inicialmente na amostra, ou seja, S(0) = 0. Como λ = 48, 6×109 e utilizando
ln 2 ≈ 0, 693, temos então que

v 
0, 04
u  
s
M −0
! u
48, 6 × 109 
 
λ S(t) − S(0) u
100 
t≈ 1+2 −1 = u1 + 2  − 1
 
ln 2 R(t) 0, 693 t
 5  
M
100

p 
t ≈ 70, 12 × 109 1, 016 − 1 = 5, 587 × 108

Exemplo 2.10. Utilizando a expressão do Polinômio de Taylor de ordem n, vamos


obter uma aproximação da função f (x) = sen(x) em torno de x0 = 0, estimar o valor
do sen(1), com erro inferior a 10−5 , onde 1 é expresso em unidades de radianos e fazer
a análise gráfica do resultado. Temos, f 0 (x) = cos(x), f 00 (x) = −sen(x), f 000 (x) =
− cos(x), f (4) (x) = sen(x), f (5) (x) = cos(x) e assim sucessivamente.
Para x0 = 0, temos f (0) = 0, f 0 (0) = 1, f 00 (0) = 0, f 000 (0) = −1, f (4) (0) = 0,
f (5) (0) = 1. Notamos que f (n) (0) = 0, se n é par e se n é ı́mpar os valores de f (n) (0)
vão se alternando entre 1 e −1, assim

P1 (x) = 0 + 1(x − 0) = x

0
P2 (x) = 0 + 1(x − 0) + (x − 0)2 = x
2!
0 −1 x3
P3 (x) = 0 + 1(x − 0) + (x − 0)2 + (x − 0)3 = x −
2! 3! 3!
0 −1 0 x3
P4 (x) = 0 + 1(x − 0) + (x − 0)2 + (x − 0)3 + (x − 0)4 = x − .
2! 3! 4! 3!
Portanto, P1 (x) = P2 (x), P3 (x) = P4 (x) . . . P2k+1 (x) = P2k+2 (x) com k ∈ Z+ .

67
2. Fórmula de Taylor

Logo,

x3 x5 x2k+1
P2k+1 (x) = x − + − . . . + (−1)k
3! 5! (2k + 1)!
Para determinar a estimativa do erro que cometemos, devemos observar que,

x3 x5 x2k+1 x2k+2
P2k+1 (x) = P2k+2 (x) = x − + − . . . + (−1)k +0·
3! 5! (2k + 1)! (2k + 2)!

Logo
(2k+3) (2k+3)
f (x̄) (2k+3)
f (x̄) (2k+3)

|E2k+1 (x)| = |E2k+2 (x)| = (x − 0) = x
(2k + 3)! (2k + 3)!

Como |f (2k+3) (x̄)| ≤ 1 temos que,


(2k+3)
f (x̄) (2k+3)
1
|E2k+1 (x)| = x ≤ |x|(2k+3)
(2k + 3)! (2k + 3)!
Estimando o valor de sen(1), para 1 em unidades de radianos, com erro inferior a
−5
10 , temos então que,

1 1
|E2k+1 (1)| ≤ < 10−5 =
(2k + 3)! 100000

Assim (2k + 3)! > 100.000. Pela Tabela 2.1 isso ocorre quando 2k + 3 = 9 isto é k = 3.
Portanto com erro inferior a 10−5 , temos,

1 1 1
sen(1) = 0, 8414709 . . . ≈ 1 − + − = 0, 8414682 . . .
3! 5! 7!

A visualização gráfica pode ser observada na Figura 2.9, onde verificamos algumas
aproximações da função f (x) = sen(x), utilizando Polinômios de Taylor.

68
2. Fórmula de Taylor

Figura 2.9: Gráfico de f (x) = sen(x) e de Polinômios aproximadores de Taylor

2.5 Série de Taylor e Maclaurin


Seja f uma função com derivadas de todas as ordens representada por uma série
de potência, ou seja,

X
f (x) = cn (x − x0 )n = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + . . . + cn (x − x0 )n + . . .
n=0

onde seu domı́nio é o intervalo de convergência da série contendo x0 . Derivando algumas


vezes essa função, percebemos que:

f 0 (x) = c1 + 2 · c2 (x − x0 ) + 3 · c3 (x − x0 )2 + 4 · c4 (x − x0 )3 + . . . + n · cn (x − x0 )n−1 + . . .
f 00 (x) = 2 · c2 + 3 · 2 · c3 (x − x0 ) + 4 · 3 · c4 (x − x0 )2 + . . . + n · (n − 1) · cn (x − x0 )n−2 + . . .
f 000 (x) = 3 · 2 · c3 + 4 · 3 · 2 · c4 (x − x0 ) + . . . + n · (n − 1) · (n − 2) · cn (x − x0 )n−3 + . . .
f (4) (x) = 4 · 3 · 2 · c4 + . . . + n · (n − 1) · (n − 2) · (n − 3) · cn (x − x0 )n−4 + . . .

Para x = x0 , obtemos

f 00 (x0 ) f 000 (x0 ) f (4) (x0 )


c0 = f (x0 ), c1 = f 0 (x0 ), c2 = , c3 = , c4 =
2! 3! 4!

f (n) (x0 )
De modo geral para qualquer n natural maior ou igual a zero temos cn = .
n!

69
2. Fórmula de Taylor

Concluı́mos que a função f (x) pode ser escrita da seguinte maneira


X f (n) (x0 ) f (n) (x0 )
f (x) = (x−x0 )n = f (x0 )+f 0 (x0 )(x−x0 )+. . .+ (x−x0 )n +. . . (2.3)
n=0
n! n!

Denominamos a representação de f (x) dada em 2.3, por Série de Taylor de f em x0 .


Em particular, quando x0 = 0 a série será denominada Série de Maclaurin. Observando
essa representação podemos então concluir que o Polinômio de Taylor de ordem n,
obtido na Seção 2.4 é uma soma parcial da Série de Taylor.
Com este resultado podemos obter a representação da série de potências de uma
função f , infinitamente derivável, sem utilização da integração ou derivação termo a
termo de uma série conhecida.

Exemplo 2.11. Vamos determinar a série de Maclaurin de f (x) = arctg(x). Derivando


sucessivamente, obtemos

1 2x 6x2 − 2 24x(x2 − 1)
f 0 (x) = , f 00
(x) = − , f 000
(x) = , f (4)
(x) = − ,
1 + x2 (1 + x2 )2 (1 + x2 )3 (1 + x2 )4
(5) 24(5x4 − 10x2 + 1) (6) 240(3x5 − 10x3 + 3x)
f (x) = , f (x) = −
(1 + x2 )5 (1 + x2 )6
720(7x6 − 35x4 + 21x2 − 1)
f (7) (x) =
(1 + x2 )7

f 00 (0) f 000 (0) 1 f (4) (0)


Assim, c0 = 0, c1 = 1, c2 = = 0, c3 = = − , c4 = = 0,
2! 3! 3 4!
f (5) (0) 1 f (6) (0) f (7) (0) 1
c5 = = , c6 = = 0 e c7 = − . Logo,
5! 5 6! 7! 7

1 1 1
arctg(x) = 0 + x + 0 − x3 + 0 + x5 + 0 − x7 + . . . .
3 5 7

x2n+1
Podemos observar que o n-ésimo termo dessa série será da forma (−1)n .
2n + 1
Concluı́mos então que

x3 x5 x7 x2n+1
arctg(x) = x − + − + . . . + (−1)n + ....
3 5 7 2n + 1

Tal resultado é o mesmo do Exemplo 1.18. Para verificar a convergência da série,



X x2n+1
utilizamos o critério da razão. Logo, se arctg(x) = (−1)n , então
n=0
2n + 1

(−1)n+1 · x2(n+1)+1 2n+3



2n + 1 x 2n + 1
lim · = lim (−1) · ·
n→∞ 2(n + 1) + 1 (−1)n · x2n+1 n→∞ 2n + 3 x2n+1

70
2. Fórmula de Taylor

e, assim,
2 2n + 1
= | − x2 · 1| = | − x2 | = x2
lim (−x )
n→∞ 2n + 3
Dessa forma, a série será convergente se x2 < 1, isto é, −1 < x < 1. Verificamos
no Exemplo 1.18 que a convergência acontece também nas extremidades do intervalo.
Portanto, concluı́mos que para −1 ≤ x ≤ 1 temos

X x2n+1
arctg(x) = (−1)n .
n=0
2n + 1

No Exemplo 2.11, percebemos que a igualdade da f em relação a sua série é obser-


vado para todo x tal que −1 ≤ x ≤ 1. Em geral, é necessário estabelecer um teorema
que nos permita concluir para quais valores de x temos uma função igual a sua série.
Observando que se temos uma série infinita a1 + a2 + . . . + an + . . ., onde sua somas
parciais são denotadas por S1 , S2 , . . . , Sn , sua convergência acontece se lim Sn = S de
n→∞
maneira que S é a soma da série.
Assim, se uma função é representada por sua Série de Potências, a igualdade estará
estabelecida para todo x se o limite de Sn quando n tende a infinito, for igual a função.
Como a Série de Potências é a Série de Taylor e o Polinômio de Taylor de ordem n,
denotado por Pn (x), é uma soma parcial dessa série, precisamos que lim Pn (x) = f (x).
n→∞
Tal fato ocorrerá se lim En (x) = 0, onde En (x) é o erro que cometemos ao aproximar
n→∞
a função f por Pn (x).

Teorema 2.8. Se uma função f possui derivadas de todas as ordens em um intervalo


aberto contendo x0 e se
lim En (x) = 0
n→∞

para todo x nesse intervalo, então f (x) é representada por sua série de Taylor de f (x)
em x0 .

Demonstração
Sabemos que Pn (x) = f (x) − En (x). Logo,

lim Pn (x) = lim [f (x) − En (x)] = f (x) − lim En (x) = f (x) − 0 = f (x)
n→∞ n→∞ n→∞

Exemplo 2.12. Vamos determinar a série de Maclaurin de f (x) = sen(x) e provar que
a série que representa essa função é válida para todo x real.
No Exemplo 2.10 desenvolvemos o polinômio de Taylor da função f (x) = sen(x)
em torno x0 = 0. Como o Polinômio de Taylor é a soma parcial da Série de Taylor,

71
2. Fórmula de Taylor

concluı́mos que

X x2n+1 x3 x5 x7 x2n+1
sen(x) = (−1)n =x− + − + . . . + (−1)n ...
n=0
(2n + 1)! 3! 5! 7! (2n + 1)!

Precisamos agora provar que essa igualdade é válida para todo x real. Como para n
natural temos que f (n+1) (x) é ±sen(x) ou ± cos(x), temos |f (n+1) (x)| ≤ 1. Sendo o
f (n+1) (x̄) (n+1)
erro dado por En (x) = x , para algum x̄ entre 0 e x temos
(n + 1)!
(n+1)
|f (n+1) (x̄)| (n+1) |x|(n+1)

f (x̄)
0 ≤ |En (x)| = x(n+1) = |x| ≤
(n + 1)! (n + 1)! (n + 1)!


|x|(n+1) X x(n+1)
Podemos observar que lim = 0, pois pelo teste da razão a série
n→∞ (n + 1)! (n + 1)!
n=0
é absolutamente convergente. Segue do Teorema do Confronto que

lim En (x) = 0.
n→∞

Logo, a função f (x) = sen(x) é igual a sua série de Maclaurin para todo x real.
Nas Figuras 2.10, 2.11 e 2.12, podemos analisar algumas somas parciais dessa série
e observar graficamente a convergência para todo x real.

Figura 2.10: Gráfico de f (x) = sen(x) e de Soma Parcial da sua série

72
2. Fórmula de Taylor

Figura 2.11: Gráfico de f (x) = sen(x) e de Soma Parcial da sua série

Figura 2.12: Gráfico de f (x) = sen(x) e de Soma Parcial com maior aproximação

Podemos obter a partir da série de Maclaurin da função f (x) = sen(x), a série de


Maclaurin da função f (x) = cos(x), aplicando a derivada na série termo a termo. A
série resultante possui o mesmo intervalo de convergência, nesse caso vale para todo x
real.

Exemplo 2.13. Vamos obter a série de Maclaurin da função f (x) = cos(x), utilizando
o resultado do Exemplo 2.12. Portanto
0
x3 x5 x7

0
(sen(x)) = x− + − + ...
3! 5! 7!

Logo,

3x2 5x4 7x6 x2 x4 x6 x2n


cos(x) = 1 − + − + ... = 1 − + − + . . . + (−1)n + ...
3! 5! 7! 2! 4! 6! (2n)!


X x2n
Portanto, f (x) = cos(x) = (−1)n para todo x real.
n=0
(2n)!

73
2. Fórmula de Taylor

Vejamos graficamente na Figura 2.13 uma soma parcial dessa série observando sua
convergência.

Figura 2.13: Gráfico de f (x) = cos(x) e de uma Soma Parcial da sua série

X xn
Exemplo 2.14. Mostramos no exemplo 1.15 que a série é convergente para
n=0
n!
x
todo x real e afirmamos que converge para função f (x) = e .
Construindo a série de Maclarin de f (x) = ex , temos que esta função é infinitamente
derivável e todas as derivadas são iguais, ou seja, f (n) (x) = ex com n natural. Em
particular, para x0 = 0 temos f (n) (0) = e0 = 1. Portanto, substituindo em

f 00 (x0 ) f (n) (x0 )


f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + . . . + (x − x0 )n + . . .
2! n!

temos

f 00 (0) 2 f (n) (0) n x2 xn


f (x) = f (0) + f 0 (0)x + x + ... + x + ... = 1 + x + + ... + + ...
2! n! 2! n!

Dessa forma ∞
x
X xn
e =
n=0
n!

Vamos mostrar que essa convergência é válida para todo x real para função ex ,
utilizando o Teorema 2.8. Assim podemos observar mais uma maneira de verificar esta
afirmação.
Demonstração
O erro que cometemos ao utilizar o polinômio de Taylor de ordem n é dado por

f (n+1) (x̄) n+1 ex̄


En (x) = x = xn+1
(n + 1)! (n + 1)!

para algum x̄ entre 0 e x.

74
2. Fórmula de Taylor

Se x = 0 a soma da série será 1 e f (0) = e0 = 1.


Se x > 0 temos ex̄ < ex e, portanto,

ex̄ ex
0< xn+1 < xn+1
(n + 1)! (n + 1)!


xn+1 X xn+1
Podemos perceber que lim = 0, pois a série é convergente pelo
n→∞ (n + 1)! (n + 1)!
n=0
ex
teste da razão e portanto o limite do seu termo geral é zero, logo lim xn+1 = 0.
n→∞ (n + 1)!
Concluı́mos então pelo Teorema do Confronto que

lim En (x) = 0.
n→∞

Se x < 0, temos que x < x̄ < 0 e 0 < ex̄ < 1. Portanto, se xn+1 > 0 temos

ex̄ xn+1
0< xn+1 <
(n + 1)! (n + 1)!

e, para xn+1 < 0


xn+1 ex̄
< xn+1 < 0.
(n + 1)! (n + 1)!
xn+1
Como lim = 0, segue em cada caso pelo Teorema do Confronto que
n→∞ (n + 1)!
ex
lim xn+1 = 0. Portanto, para todo x real
n→∞ (n + 1)!


x
X xn
e =
n=0
n!

Podemos visualizar algumas somas parciais da série da função f (x) = ex nas Figuras
2.14 e 2.15.

75
2. Fórmula de Taylor

Figura 2.14: Gráfico de f (x) = ex e de Soma Parcial da sua série

Figura 2.15: Gráfico de f (x) = ex e de Soma Parcial da sua série com maior precisão

76
Capı́tulo 3

Aplicações do Polinômio e Série de


Taylor

Neste capı́tulo vamos utilizar o Polinômio e Série de Taylor, para provar alguns
resultados matemáticos como a irracionalidade do número de Euler, desenvolver uma
fórmula para obter o valor de π e calcular integrais definidas, utilizando o polinômio
aproximador de Taylor de uma determinada função, para obter uma estimativa da área
abaixo do gráfico dessa função.

3.1 Regra de L’Hospital


Utilizando o Polinômio de Taylor, vamos mostrar um caso particular das regras de
L’Hospital, Teorema 1.12, considerando duas funções f e g com derivadas contı́nuas
até a 2.a ordem.
Dessa forma sendo f e g deriváveis até a 2.a ordem, definidas no intervalo aberto I
com x, x0 ∈ I e g 0 (x) 6= 0, se lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0, a regra de L’Hospital nos
x→x0 x→x0
afirma que
f (x) f 0 (x)
lim = lim 0 .
x→x0 g(x) x→x0 g (x)
Assim vamos escrever a Fórmula de Taylor das funções f e g, sendo o polinômio
aproximador de ordem 1. Portanto existe pelo menos um x¯1 e um x¯2 no intervalo
aberto de extremos x0 e x tal que:

f 00 (x¯1 )
f (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
2
g 00 (x¯2 )
g(x) = g(x0 ) + g 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
2
Se lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0, temos pela continuidade de f e g que
x→x0 x→x0

77
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

lim f (x) = f (x0 ) = 0


x→x0

lim g(x) = g(x0 ) = 0


x→x0

logo

00
 f 0 (x0 )(x − x0 ) + f (x¯1 ) (x − x0 )2 
f (x) 2
lim = lim 00
x→x0 g(x) x→x0 g (x¯2 )
g 0 (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2
2
como (x − x0 ) 6= 0 temos que

00
 f 0 (x0 ) + f (x¯1 ) (x − x0 ) 
f (x) 2 f 0 (x0 )
lim = lim = 0
x→x0 g(x) x→x0 g 00 (x¯2 ) g (x0 )
g 0 (x0 ) + (x − x0 )
2

finalmente como lim f 0 (x) = f 0 (x0 ) e lim g 0 (x) = g 0 (x0 ) concluı́mos que
x→x0 x→x0

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→x0 g(x) x→x0 g (x)

3.2 Irracionalidade do número e


No Exemplo 2.8 construı́mos o polinômio de Taylor Pn (x) de ordem n em torno de
x0 = 0 de f (x) = ex :

x2 x3 xn
Pn (x) = 1 + x + + + ··· + .
2! 3! n!

Para x = 1, obtemos uma aproximação para o número e:

1 1 1
e≈1+1+ + + ··· + .
2! 3! n!

3
Com um erro inferior a .
(n + 1)!
a
Suponhamos que o número e seja racional da forma e = , com a e b inteiros
b
positivos e primos entre si, temos então que
 
1 1 1 3
0 < e − 1 + 1 + + + ... + <
2! 3! n! (n + 1)!

78
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

e  
a 1 1 1 3
0 < − 1 + 1 + + + ... + <
b 2! 3! n! (n + 1)!
Tomando n > b e n ≥ 3, segue que
 
an! 1 1 1 3
0< − n! 1 + 1 + + + ... + < n!
b 2! 3! n! (n + 1)!
 
an! n! n! n! 3 3
0< − n! + n! + + + ... + < ≤
b 2! 3! n! n+1 4
 
an! n! n! n!
Notamos que e n! + n! + + + ... + são números inteiros, logo sua
b 2! 3! n!
diferença deve ser um número inteiro. Assim, temos uma contradição pois um número
3
inteiro não pode estar compreendido entre 0 e . Portanto, e é um número irracional.
4
Uma forma alternativa de mostrar irracionalidade do número e, é proceder da se-

X 1
guinte forma: sabemos que para x = 1, e = . Suponhamos que o número e seja
n=0
n!
p
racional, isto é, da forma e = , com p e q inteiros positivos e primos entre si. Então,
q

∞ q ∞
p X 1 X 1 X 1
e= = = + .
q n=0
n! n=0
n! n=q+1
n!

Dessa forma, temos


q ∞  
p X 1 X 1 1 1 1 1
− = = + + + ... .
q n=0 n! n=q+1 n! q! q + 1 (q + 2)(q + 1) (q + 3)(q + 2)(q + 1)

Como
   
1 1 1 1
+ + ... < + + ...
q + 1 (q + 2)(q + 1) q + 1 (q + 1)(q + 1)
 
1 1 1
e + + ... é uma série geométrica e converge para , temos
q + 1 (q + 1)(q + 1) q
então que
q
p X 1 1 1
0< − < ·
q n=0 n! q! q

Multiplicando por q!, temos:


q
X 1 1
0 < p(q − 1)! − q! < .
n=0
n! q

79
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

q
X 1
Como 0 < p · (q − 1)! e q! · são inteiros, temos que sua diferença é um número
n=0
n!
1
inteiro. Logo, temos um número inteiro entre 0 e , absurdo.
q

3.3 Fórmula para calcular π.


No Exemplo 2.11 obtivemos a série de Taylor da função arctg(x) de modo que


x3 x5 x 7 X x2n+1
arctg(x) = x − + − + ... = (−1)n
3 5 7 n=0
2n + 1

Como essa igualdade é válida para todo −1 ≤ x ≤ 1, em particular para x = 1


temos:
1 1 1 1
arctg(1) = 1 − + − + . . . + (−1)n ...
3 5 7 2n + 1
Logo,
π 1 1 1 1
= 1 − + − + . . . + (−1)n ...
4 3 5 7 2n + 1
Esse resultado ficou conhecido como a fórmula de Leibniz para π. Podemos observar
graficamente a convergência dessa série na Figura 3.1. Portanto,

4 4 4 4
π =4− + − + . . . + (−1)n ...
3 5 7 2n + 1


X 4
Figura 3.1: Convergência das somas parciais da série (−1)n para π
n=0
2n + 1

Nesse caso a convergência para π ocorre lentamente. Podemos obter uma con-
vergência mais rápida por meio do próximo resultado.

80
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

3.4 Outra Fórmula para Calcular π


   
π 1 1
Inicialmente vamos provar que a expressão = arctg + arctg é verda-
  4   2 3
1 1
deira. Denotando por α = arctg e β = arctg , temos que a tangente da soma
2 3
nos fornece que:

1 1 5
tg(α) + tg(β) +
2 3 = 6 = 1 = tg π
 
tg(α + β) = =
1 − tg(α)tg(β) 1 1 5 4
1− ·
2 3 6

logo    
π  1 1 π
α+β = =⇒ arctg + arctg =
4 2 3 4

X x2n+1
Agora, utilizando a série de Taylor arctg(x) = (−1)n para −1 ≤ x ≤ 1,
n=0
2n + 1
temos que

( 1 )2n+1
  X
1
arctg = (−1)n 2
2 n=0
2n + 1
e ∞
( 1 )2n+1
  X
1
arctg = (−1)n 3
3 n=0
2n + 1

Logo,
∞ ∞
!
1 2n+1 1 2n+1
n (2) n (3)
X X
π=4 (−1) + (−1)
n=0
2n + 1 n=0 2n + 1

Para percebemos como a convergência acontece rapidamente, usando uma apro-


ximação de cada somatório com apenas 4 termos, temos
∞ 1 2n+1  3  5  7  9
n (2) 1 1 1 1 1 1 1 1 1
X
(−1) = − + − + ≈ 0, 46368427
n=0
2n + 1 2 3 2 5 2 7 2 9 2

∞ 1 2n+1  3  5  7  9
n (3) 1 1 1 1 1 1 1 1 1
X
(−1) = − + − + ≈ 0, 321741023
n=0
2n + 1 3 3 3 5 3 7 3 9 3

Assim,
π ≈ 4 · (0, 46368427 + 0, 321741023) ≈ 3, 1417

Obtemos π com as três primeiras casas decimais corretas. Na figura 3.2, podemos
observar essa convergência para π.

81
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

Figura 3.2: Convergência mais rápida das somas parciais para π

3.5 Aproximações de Áreas


Utilizamos o Polinômio de Taylor no capı́tulo 2 para obtermos uma aproximação
do valor de uma função, de maneira que essa diferença fosse a menor que desejássemos.
Argumento análogo pode ser aplicado, utilizando o polinômio de Taylor para aproxi-
mar áreas. Dessa forma podemos construir o Polinômio de Taylor que representa a
aproximação de uma função f e calcular a integral definida desse polinômio. Assim,
estamos obtendo uma aproximação da área e consequentemente a precisão de tal re-
sultado será dada pela integral do erro. Logo sendo Pn (x) o polinômio aproximador de
f (x) e En (x) o erro dessa aproximação, temos
Z b Z b Z b
f (x) = Pn (x) + En (x) =⇒ f (x) = Pn (x) + En (x)
a a a

onde f é contı́nua num intervalo e a e b são números reais que pertencem a esse
intervalo.
Essa conclusão terá grande utilidade principalmente quando não for possı́vel obter
uma primitiva da função por intermédio das técnicas de integração conhecidas. Para os
Z b
Z b
Exemplos 3.1 e 3.2, utilizaremos a seguinte desigualdade: | f (x)dx| ≤ |f (x)|dx.
a a
(Veja demonstração em [12] p.174).

Exemplo 3.1. Vamos utilizar o Polinômio de Taylor para obter o valor de

82
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

Z 1
2
e−x dx
0
−4
com erro inferior a 10 .
O que desejamos obter, é uma aproximação da área abaixo da curva da função
2
f (x) = e−x e verificar a precisão desse resultado.
Z 1 Inicialmente utilizando recurso
2
computacional temos com 5 casas decimais que a e−x dx = 0, 74682 (Figura 3.3).
0

Z 1
2
−x2
Figura 3.3: Gráfico da função f (x) = e dx com representação da e−x dx
0

Como já construı́mos o Polinômio de Taylor de ordem n de f (x) = ex em torno de


x0 = 0 temos que
x2 x 3 xn
ex = 1 + x + + + ... + + En (x)
2! 3! n!
f (n+1) (x̄) (n+1)
Onde En (x) = x , para algum x̄ no intervalo ]0, x[. Portanto temos
(n + 1)!
x 2 x3 xn e(x̄)
ex = 1 + x + + + ... + + x(n+1)
2! 3! n! (n + 1)!
Substituindo x por −x2 temos

2 x4 x6 (−1)n x2n (−1)n+1 e(x̄) (2n+2)


e−x = 1 − x2 + − + ... + + x
2! 3! n! (n + 1)!
Aplicando a integral temos

1 1 Z 1
x4 x6 (−1)n x2n (−1)n+1 e(x̄) (2n+2)
Z Z   
−x2 2
e dx = 1 − x + − + ... + dx + x dx
0 0 2! 3! n! 0 (n + 1)!
Z 1 n+1 (x̄)

(−1) e
dx < 10−4 .
−4 (2n+2)

Desejamos que o erro seja inferior a 10 , isto é x
0 (n + 1)!
Observe que

83
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

1
Z 1 Z 1
(−1)n+1 e(x̄) (2n+2) (−1)n+1 e(x̄) (2n+2) |e(x̄) | (2n+2)
Z

x dx ≤ x dx = x dx.

0 (n + 1)! 0
(n + 1)!
0 (n + 1)!

Além disso, como 0 < (x̄) < 1 temos que e(x̄) < e < 3. Portanto

1 1 1
|e(x̄) | (2n+2) 3 · x(2n+2)
Z Z Z
e
x dx ≤ x(2n+2) dx ≤ dx.
0 (n + 1)! 0 (n + 1)! 0 (n + 1)!
−4
Desejamos que nossa área tenha um erro menor que 10 então

1
3 · x(2n+2)
Z
dx < 10−4 ,
0 (n + 1)!
logo
1
3 · x(2n+3) 3
< 10−4 .

=
(2n + 3)(n + 1)! 0 (2n + 3)(n + 1)!

Essa desigualdade é satisfeita para n = 6. Portanto temos

1  1
x4 x6 x8 x10 x12 x3 x5 x7 x9 x11 x13
Z   
2
1−x + − + − + dx = x− + − + − +
0 2! 3! 4! 5! 6! 3 5 · 2! 7 · 3! 9 · 4! 11 · 5! 13 · 6! 0

e concluı́mos então que


Z 1
2 1 1 1 1 1 1
e−x dx ≈ 1 − + − + − + = 0, 74683603 . . .
0 3 10 42 216 1320 9360

Percebemos então que com a utilização da integral do Polinômio de Taylor obtemos


para essa aproximação o valor da área com 4 casas decimais corretas.
Z 0,4
ln(1 + x)
Exemplo 3.2. Vamos obter dx com erro inferior a 10−3 . Neste exem-
0,2 x
plo utilizamos o fato de que se f (x) = ln(1 + x), sua n-ésima derivada é f (n) (x) =
(n − 1)!
(−1)n−1 . Vamos provar este fato via indução em n.
(1 + x)n
Para n = 1, temos

(1 − 1)! 0! 1
f (1) (x) = (−1)1−1 1
= (−1)0 =⇒ f 0 (x) =
(1 + x) (1 + x) 1+x

(n − 1)!
Supondo que f (n) (x) = (−1)n−1 , temos que f (n+1) (x) = (f (n) (x))0 , logo
(1 + x)n
 0
(n) 0 n−1 (n − 1)!
(f (x)) = (−1)
(1 + x)n

84
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

Logo
[(n − 1)!]0 (1 + x)n − (n − 1)![(1 + x)n ]0
(f (n) (x))0 = (−1)n−1
(1 + x)2n
e daı́

(−1)(n − 1)!n(1 + x)n−1 n!


(f (n) (x))0 = (−1)n−1 2n
=⇒ f (n+1) (x) = (−1)n
(1 + x) (1 + x)n+1

(n − 1)!
Logo n-ésima derivada da função f (x) = ln(1 + x) é f (n) (x) = (−1)n−1
(1 + x)n
para todo n natural. Z 0,4
ln(1 + x)
Concluı́da esta etapa podemos estimar o valor de dx de acordo com
0,2 x
a aproximação desejada. Inicialmente vamos visualizar nas Figuras 3.4 e 3.5 o com-
portamento gráfico, a área desejada e o valor da integral que aproximadamente com 5
casas decimais vale 0, 17503.

ln(1 + x)
Figura 3.4: Gráfico de f (x) =
x

85
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

ln(1 + x)
Figura 3.5: Gráfico de f (x) = com representação da Integral
Z 0,4 x
ln(1 + x)
dx
0,2 x

Inicialmente desenvolvendo o Polinômio de Taylor em torno de x0 = 0 da função


1 1 2
f (x) = ln(1 + x) temos: f 0 (x) = , f 00 (x) = − 2
, f 000 (x) = ,
1+x (1 + x) (1 + x)3
−6 24
f (4) (x) = 4
, f (5) (x) = . de modo geral provamos por indução que
(1 + x) (1 + x)5

(n − 1)!
f (n) (x) = (−1)n−1
(1 + x)n

.
Portanto obtemos então f (0) = 0, f 0 (0) = 1, f 00 (0) = −1, f 000 (0) = 2, f (4) (0) = −6,
f (5) (0) = 24. Logo

x2 x3 x4 x 5 n−1 x
n
ln(1 + x) = x − + − + + . . . + (−1) + En (x) (3.1)
2 3 4 5 n

f (n+1) (x̄) (n+1) xn+1


onde En (x) = x = (−1)n , para 0 ≤ x̄ ≤ x.
(n + 1)! (n + 1)(1 + x̄)n+1
Dividindo por x os dois lados da igualdade em 3.1, obtemos a função e o Polinômio
aproximador:

ln(1 + x) x x2 x3 x4 xn−1 xn
=1− + − + + . . . + (−1)n−1 + (−1)n
x 2 3 4 5 n (n + 1)(1 + x̄)n+1

86
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

Z 0,4
ln(1 + x)
Portanto calculando dx, temos
0,2 x

0,4 Z 0,4 
x x2 x3 x4 n−1
xn
Z   
n−1 x n
1− + − + +. . .+(−1) dx+ (−1) dx
0,2 2 3 4 5 n 0,2 (n + 1)(1 + x̄)n+1

0,4
xn
Z
< 10−3 e daı́ temos que
n

Desejamos que (−1) n+1
dx
0,2 (n + 1)(1 + x̄)

0,4
Z 0,4
xn n
Z
n
n x
(−1) n+1
dx ≤ (−1)
n+1
dx

0,2 (n + 1)(1 + x̄) 0,2
(n + 1)(1 + x̄)

portanto

0,4 0,4
0,4
|x|n xn xn+1 (0, 4)n+1 − (0, 2)n+1
Z Z
dx ≤ dx = = < 10−3
0,2 (n + 1)(1 + x̄)n+1 0,2 n (n + 1)n 0,2 (n + 1)n

Podemos observar a validade da última desigualdade para n = 4. Logo

0,4 0,4  0,4


x x2 x3 x2 x3 x4
Z Z   
ln(1 + x)
dx ≈ 1− + − dx = x − + −
0,2 x 0,2 2 3 4 2 · 2 3 · 3 4 · 4 0,2

e daı́ temos:

(0, 4)2 (0, 4)3 (0, 4)4 (0, 2)2 (0, 2)3 (0, 2)4
   
0, 4 − + − − 0, 2 − + − ≈ 0, 17472.
2·2 3·3 4·4 2·2 3·3 4·4

Concluı́mos então que


Z 0,4
ln(1 + x)
dx ≈ 0, 17472.
0,2 x
Obtemos assim o valor da integral com a aproximação desejada.

87
3. Aplicações do Polinômio e Série de Taylor

3.6 Considerações Finais


Neste trabalho abordamos como temas principais o Polinômio e a Série de Taylor.
Neste primeiro tema percebemos que a essência teórica, seria aproximar os valores
de uma função utilizando polinômios. Dessa maneira observamos que as operações
se tornavam mais simples, pois basicamente os polinômios são regidos por cálculos de
fácil manipulação e além disso, dependendo da função, tal aplicação seria extremamente
necessária.
Percebemos que os resultados assim obtidos, necessitavam de uma análise de pre-
cisão, pois o Polinômio de Taylor proporciona uma aproximação dos valores de uma
determinada função, por falta ou excesso. Portanto utilizamos um resultado conhecido
como Resto de Lagrange, para obtenção da estimativa do erro ao substituirmos o valor
da função pelo do Polinômio.
Nas Séries de Taylor observamos que o objetivo não era mais obter aproximações,
mas representar efetivamente uma determinada função num intervalo real. Nesse caso
vimos que a função deveria ser infinitamente derivável e que o intervalo de convergência
da série, determinaria onde a igualdade entre a função e a Série de Taylor que a
representava, seria satisfeita.
Concluı́mos o trabalho aplicando o Polinômio e a Série de Taylor, onde mostramos
a irracionalidade do número de Euler, desenvolvemos uma fórmula para obter o valor
de π e calculamos integrais definidas, substituindo uma função por um Polinômio de
Taylor, obtendo assim aproximações de áreas.
Por fim fica a percepção da grande importância do trabalho desenvolvido por esse
matemático brilhante, Brook Taylor, que num momento histórico sem nenhum recurso
tecnológico, percebeu com bastante genialidade todas essas aproximações polinomiais
e as representações em série infinitas, tornando essa teoria um tema essencial no estudo
do cálculo diferencial e integral.

88
Referências Bibliográficas

[1] A. Caminha, Fundamentos de Cálculo da coleção PROFMAT, SBM, Rio de Ja-


neiro, 2015.

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[5] W. Swokowski, Cálculo com Geometria Analı́tica volume 1, McGraw-Hill do


Brasil, São Paulo, 1983.

[6] W. Swokowski, Cálculo com Geometria Analı́tica volume 2, McGraw-Hill do


Brasil, São Paulo, 1983.

[7] J. Stewart, Cálculo, volume 1, Cengage Learning, São Paulo, 2013.

[8] J. Stewart, Cálculo, volume 2, Pioneira Thomsonn Learning, São Paulo, 2006.

[9] L. Konguetsof, Cálculo Diferencial e Integral, McGraw-Hill do Brasil, São


Paulo, 1974.

[10] L. Leithold, Cálculo com Geometria Analı́tica, volume 1, Harper & Row, São
Paulo, 1977.

[11] L. Leithold, Cálculo com Geometria Analı́tica, volume 2, Harper & Row, São
Paulo, 1977.

[12] M. Urbano, H. Corrêa, A. Amélia, Cálculo Diferencial e Integral: funções


de uma variável, UFG, Goiânia, 1994.

[13] D. Hughes-Hallett, A. Gleason, Calculus,Joohn Wiley & Sons , United


States of America, 1974.

[14] G. Iezzi, C. Murakami, N. José Machado, Fundamentos de Matemática


Elementar 8: Limites, derivadas e noções de integral, Atual, São Paulo, 1993.

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Referências Bibliográficas

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http://www.fem.unicamp.br/˜em313/paginas/person/taylor.htm. Acesso em:
21/05/2017.

[16] Buscabiografias,Brook Taylor(1685/08/18-1731/12/29). Disponı́vel em


https://www.buscabiografias.com/biografia/verDetalle/2155/Brook%20Taylor.
Acesso em: 21/05/2017.

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