1842 Fisioterapia Na Saude Do Idoso

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Fisioterapia na

Saúde do Idoso
João Paulo Manfré dos Santos
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
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Roberta de Melo Roiz

Editorial
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Santos, João Paulo Manfré dos
S237f Fisioterapia na saúde do idoso / João Paulo Manfré dos
Santos. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A.,
2019.
184 p.

ISBN 978-85-522-1394-9

1. Envelhecimento. 2. Promoção de saúde.


3. Reabilitação nas enfermidades. I. Santos, João Paulo
Manfré dos. II. Título.
CDD 610

Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1
Fisioterapia na saúde do idoso����������������������������������������������������������������� 7
Seção 1.1
Princípios da saúde do idoso......................................................... 9
Seção 1.2
O envelhecimento do idoso e suas doenças����������������������������� 22
Seção 1.3
O Idoso e as questões sociais����������������������������������������������������� 35

Unidade 2
Promoção da saúde do idoso: institucionalizado,
em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio����������������������� 51
Seção 2.1
Institutos de longa permanência para idosos�������������������������� 53
Seção 2.2
Domicílio do idoso���������������������������������������������������������������������� 64
Seção 2.3
Fisioterapia preventiva no idoso������������������������������������������������ 75

Unidade 3
Avaliação em fisioterapia na saúde do idoso�������������������������������������� 91
Seção 3.1
Avaliação funcional do idoso����������������������������������������������������� 93
Seção 3.2
Avaliação da qualidade de vida no idoso�������������������������������106
Seção 3.3
Avaliação fisioterapêutica no idoso�����������������������������������������118

Unidade 4
Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idosos����������������������133
Seção 4.1
Quedas entre idosos������������������������������������������������������������������135
Seção 4.2
Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I�����������������148
Seção 4.3
Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II����������������160
Palavras do autor

O
lá, prezado aluno! Vamos iniciar nossos estudos sobre a Fisioterapia
na Saúde do Idoso. Recentemente, fomos mais uma vez infor-
mados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características
dos Moradores e Domicílios de 2017) que, em breve, teremos a maior parcela
da população formada por idosos. Essa modificação representa um desafio
grandioso em todos os setores da sociedade, especialmente na área da saúde.
Como a fisioterapia atua diretamente com funcionalidade, independência e
qualidade de vida, teremos papel de destaque nesse contexto, por isso, é funda-
mental que você se dedique muito para adquirir as competências e habilidades
esperadas pelo mercado de trabalho que atua com a saúde do idoso.
Você, certamente, deve estar se perguntando: mas que competências
são essas? Fique tranquilo, pois tudo será abordado de maneira dinâmica,
moderna e integrada com a nossa realidade. Ao final da disciplina, esperamos
que você tenha adquirido os conhecimentos relacionados aos princípios do
envelhecimento, às doenças e às questões sociais que interferem nos indica-
dores de saúde e mostram o verdadeiro cenário a ser encontrado. Esperamos,
também, que você compreenda a relação da promoção da saúde de idosos
institucionalizados em grupos e em ambulatórios, tanto do setor público
quanto do privado. Além disso, veremos e praticaremos os métodos e técnicas
de avaliação utilizados atualmente pela Fisioterapia na Saúde do Idoso, utili-
zando evidências atuais e alinhadas com o meio científico. Por fim, conhe-
ceremos e praticaremos as intervenções da Fisioterapia na Saúde do Idoso,
também com evidências atuais e alinhadas com as práticas mais modernas.
Para atingirmos esses objetivos, na primeira unidade, passaremos pelo
processo de envelhecimento e discutiremos os princípios de saúde do
idoso; o envelhecimento e suas doenças; o idoso e as questões sociais. Na
segunda unidade, trabalharemos os conteúdos que abordam a promoção
da saúde do idoso institucionalizado em grupos, em ambulatório e em
domicílio. Para isso, abordaremos as instituições de longa permanência,
o domicílio do idoso, além de refletir sobre como a fisioterapia pode atuar
preventivamente. Na terceira unidade, iremos perpassar pela avaliação em
fisioterapia na saúde do idoso, trabalhando conteúdos focados na avaliação
funcional do idoso, avaliação da qualidade de vida e avaliação fisioterapêu-
tica na saúde do idoso. Ao final, na quarta unidade, debateremos sobre a
atuação da fisioterapia nas enfermidades em idosos, trataremos das evidên-
cias sobre as quedas entre os idosos e como a fisioterapia pode atuar nas
principais disfunções desses indivíduos.
Como você pôde perceber, temos muitos assuntos interessantes pela
frente. O conteúdo foi organizado para que você tenha uma formação de
destaque e alinhada com o mercado de trabalho, portanto, mantenha o foco
e bons estudos! Lembre-se de que o estudo e, consequentemente, o aprendi-
zado, requerem planejamento e dedicação, por isso, inicie o quanto antes e
não se esqueça de estudar previamente as aulas e conteúdos abordados.
Bons estudos e sucesso!
Unidade 1

Fisioterapia na saúde do idoso

Convite ao estudo
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
somos, atualmente, mais de 200 milhões de brasileiros, destes, 8,77% são
idosos e estima-se que em 2030 este índice esteja em 13,44% (Estimativa
IBGE, 2017).
Muito destaque tem sido dado ao fato de doenças e agravos relacionados
ao envelhecimento estarem em ampla ascensão, apresentando-se como um
problema de saúde pública, devido à alta demanda pelos serviços de saúde.
Um Hospital Regional determinou a abertura de vagas para fisioterapeutas
atuarem no setor de geriatria devido ao aumento crescente da demanda desta
população em relação aos serviços prestados pelo hospital. O processo de
contratação aconteceria da seguinte maneira: primeiramente, os interessados
passariam por um processo seletivo composto por uma prova. Em seguida,
os aprovados seriam entrevistados pelo setor de Recursos Humanos (RH)
e, por último, haveria uma entrevista com o fisioterapeuta gerente do setor.
Ana Carolina, fisioterapeuta, inscreveu-se no processo seletivo e conse-
guiu aprovação tanto na prova teórica quanto na entrevista com o setor de
RH, agora falta apenas a entrevista com o fisioterapeuta gerente do hospital.
Ela se preparou para esta etapa com a ajuda de seus livros e de periódicos
eletrônicos que tratavam sobre as questões acerca da saúde do idoso.
Como nesta unidade buscaremos conhecer os princípios relacionados ao
envelhecimento, as doenças a ele associadas e as questões sociais, precisa-
remos nos aprofundar na concepção fisiológica do envelhecimento. Assim,
você será o orientador profissional de Ana Carolina e a auxiliará neste
processo seletivo, atuando na preparação concernente às seguintes reflexões:
- Estamos, enquanto sociedade, preparados para o processo de envelheci-
mento pelo qual passamos em nosso país?
- A estrutura do setor de saúde está preparada e acessível para atender ao
aumento de demanda provocado pelo envelhecimento?
- Enquanto futuros fisioterapeutas, como poderemos atuar para garantir
qualidade na assistência e, principalmente, para produzirmos ações efetivas
e capazes de modificar a realidade?
Para auxiliá-lo na resolução das questões levantadas e da situação
geradora de aprendizagem, passaremos pelo estudo fisiológico do envelhe-
cimento, pela relação com os aspectos nutricionais, pela sarcopenia e suas
consequências. Posteriormente, abordaremos a temática voltada para os
indicadores epidemiológicos associados à morbimortalidade dos idosos,
além de debatermos sobre as questões mentais, aspectos comportamentais
e emocionais, equilíbrio, postura e marcha. Falaremos, também, sobre os
problemas relacionados à imobilidade para, no fim, abordarmos as relações
sociais e familiares dos idosos, as políticas públicas, as instituições de longa
permanência e os idosos nativos.
Seção 1.1

Princípios da saúde do idoso

Diálogo aberto
Vimos há pouco o processo de envelhecimento populacional pelo qual
o Brasil atravessa e as perspectivas de crescimento populacional desta faixa
etária, o que acarretará uma série de desafios para todo o setor de saúde.
Como um Hospital Regional determinou a abertura de vagas para fisio-
terapeutas atuarem no setor de geriatria/gerontologia, devido ao aumento
crescente da demanda desta população pelos serviços prestados no hospital,
Ana Carolina, fisioterapeuta, candidatou-se e, ao chegar para a entrevista
com o fisioterapeuta gestor, procurou se acalmar e refletir sobre a sua traje-
tória acadêmica e profissional que a capacitavam para assumir o cargo de
naquele estabelecimento de saúde.
Ana Carolina buscou em seus conhecimentos técnicos e científicos as
melhores respostas para demonstrar conhecimento e segurança. Você, como
o orientador profissional da Ana, trabalhou questionamentos semelhantes ao
do recrutador sobre quais são as principais teorias do envelhecimento e a suas
relações com a fisioterapia? O processo de envelhecimento acarreta mudanças
no setor de saúde em decorrência da sua fisiologia? O cenário atual e o futuro
do envelhecimento e da morbimortalidade desta população são desafiadores?
Como se deu essa preparação?

Não pode faltar


Para iniciarmos nossos estudos, será necessário entendermos as teorias
que tratam do processo natural de envelhecimento, que acarreta uma série
de modificações corporais importantes desde o cenário molecular até os
compostos estruturais.
Na teoria, os organismos vivos possuem um período de tempo de vida
limitado e a variação funcional dos sistemas que os compõem difere ao longo
do tempo. Em outras palavras, o envelhecimento biológico é um processo
que se inicia no nascimento e finda na morte, e essa passagem do tempo
provoca efeitos deletérios no organismo humano. As teorias a respeito desse
tema são inúmeras e amplas conforme veremos a seguir.
Dentre as muitas classificações existentes, destacamos as que agrupam as teorias
do envelhecimento em duas: as teorias programadas e as teorias estocásticas.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 9


1. Teorias programadas: caracterizadas pela existência de um relógio
biológico, que regula processos como o crescimento, a maturidade, a
senescência e a morte.
2. Teorias estocásticas: identificação de agravos que induzem aos danos
celulares e moleculares, aleatórios e progressivos.
Para você ter uma ideia da infinidade de nomenclatura e divisões,
veremos como elas se modificam de pesquisador para pesquisador, Austad
(2001) propõe duas categorias distintas: a ultimate (categoria que justifica o
porquê do processo de envelhecimento) e a proximate (categoria que trata de
questões imediatas e investiga os mecanismos); já Medvedev (1990) relata
existirem mais de trezentas teorias, enquanto Weinert e Timirias (2003)
trazem as seguintes teorias: evolutiva, molecular-celular e sistêmica.
Para pensarmos nas teorias evolutivas, é importante que analisemos uma
curva de sobrevivência padrão, cuja forma bifásica decorre do fato de serem
raras as mortes nas idades iniciais e comuns a partir da fase adulta tardia,
como pode ser visualizado na Figura 1.1.
Figura 1.1 | Representação do envelhecimento populacional
A. Curva de sobrevivência B.
Transformada de Gompertz
100% 1
Percentual de sobrevivência

Taxa de mortalidade

101

102
50%
103

104
0%
0% 25% 50% 75% 100% 25% 50% 75% 100%
Percentual de expectativa Percentual de expectativa
máxima de vida (tempo) máxima de vida (tempo)

A – Curva de sobrevivência do envelhecimento de uma população (hipotética); B – Curva prece-


dente em escala semilogarítimica.
Fonte: Teixeira e Guariente (2010, apud de DUFOUR; LARSSON, 2004).

Neste contexto biológico, o envelhecimento seria resultado do acúmulo


de defeitos somáticos não reparados que quebram a integridade celular pelos
mais diversos fatores, como o reparo do DNA, turnover de proteínas e defesas
por sistemas enzimáticos antioxidantes. Dessa forma, o declínio de um sistema
fisiológico decorre de um processo multifatorial e da interação de mecanismos
moleculares, celulares e sistêmicos, que geram as seguintes teorias:
99 Erros-catastróficos: teoria focada no acúmulo de erros nas prote-
ínas que sintetizam DNA ou outras moléculas e que comprometem
a síntese proteica.

10 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


99 Mutações somáticas e reparos no DNA: teoria que aborda as
mutações decorrentes de fatores ambientais e da ineficiência de
reparo de duplicação do DNA, fatores que poderiam levar às
“anormalidades” cromossômicas do tecido velho. Dessa maneira,
o acúmulo de mutações poderia ser um fator contribuinte para o
envelhecimento biológico.
99 Senescência celular/encurtamento dos telômeros: processo que
altera a fisiologia, limitando a capacidade de replicação celular, que
pode ocorrer por estresse (resposta aos eventos moleculares) e/ou
replicativa (perda de telômeros).
99 Radicais livres/DNA mitocondrial (mtDNA): os efeitos de
envelhecimento advêm dos efeitos deletérios nas organelas celulares
causados pelas espécies reativas de oxigênio (estresse oxidativo), que
resultariam na perda funcional dessas organelas e na morte celular.
Além disso, os mecanismos regulatórios dos radicais livres vão se
tornando ineficientes com o envelhecimento.
99 Glicosilação/ligações cruzadas: teoria que aborda as altera-
ções na qualidade das proteínas que acumulam AGEs (Advanced
Glycosylation End-products), que fazem ligações moleculares irrever-
síveis e formam ligações cruzadas, prejudicando a fisiologia celular
e orgânica.
99 Morte celular: necrose (morte celular patológica) e apoptose
(morte celular programada, regulada geneticamente e iniciada por
estímulos), sendo a mitocôndria a mediadora destes dois processos.
Além das teorias que apresentamos, existem, também, outras, como as
teorias sistêmicas:
99 Teoria neuroendócrina: diz que o envelhecimento resulta de
modificações que ocorrem em funções neurais e endócrinas, ou seja,
considera que a duração da vida é regulada por sistemas biológicos e
controlada por sinais nervosos e endócrinos.
99 Teoria neuroendócrina/imunológica: defende que o envelheci-
mento provoca redução da capacidade funcional do sistema imune e
aumento da propriedade autoimune (anticorpos séricos).
Todas essas teorias levam às modificações que observamos nos corpos e
nos sistemas fisiológicos, como a redução da quantidade de água corporal e
o aumento da quantidade de gordura, principalmente, na região abdominal.
Além disso, os órgãos internos passam por redução do peso, exceto o coração
que sofre um aumento.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 11


Assimile
O processo natural de envelhecimento perpassa por alterações físicas e
psicossociais, que vão desde manchas e modificações na pele até a altera-
ções genitourinárias, reprodutivas e sexuais, que transformam todo o
padrão fisiológico e alteram as atividades sociais realizadas pelos idosos.

Este processo de envelhecimento pode se dar por senescência, ou seja,


alterações próprias do envelhecimento populacional, ou por senilidade, que
são alterações produzidas pelas várias afecções que podem acometer o idoso.
É comum haver uma superposição desses dois fenômenos.
Dentre as modificações esperadas pelo processo de envelhecimento,
temos a redução da estatura, provocada pela redução dos arcos dos pés,
perda de água dos discos intervertebrais e aumento da curvatura da coluna
vertebral. Além disso, outras alterações são observadas, como o aumento do
diâmetro da caixa torácica (provocado pela perda de elasticidade pulmonar)
e do crânio, continuidade de crescimento do nariz e do pavilhão auditivo.
É comum, também, o aumento de gordura na região abdominal, perda
hídrica intracelular, perda de potássio e, consequentemente, perda de massa
corporal (fígado, rins, músculos, entre outros).
Há redução da elasticidade da pele, diminuição da espessura da pele e
do tecido subcutâneo, o que favorece o aparecimento de rugas, a redução
da atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas (pele áspera e seca) e a
formação de manchas hiperpigmentadas, marrons, lisas e achatadas, princi-
palmente, na face e no dorso da mão, geradas por alterações no funciona-
mento dos melanócitos.
As modificações observadas no sistema ósseo passam pelo processo
de perda da massa óssea, que se inicia mais precocemente nas mulheres,
principalmente no osso esponjoso, gerado pelo desequilíbrio no processo
de modelagem e remodelagem (aumento da atividade dos osteoclastos e
diminuição da atividade dos osteoblastos).
No sistema articular, notam-se alterações como redução do número de
condrócitos, da quantidade de água e das proteoglicanas; além do aumento
no número e na espessura de fibras colágenas, fazendo com que a cartilagem
fique mais fina e com rachaduras.
As modificações no sistema neuromuscular são a perda da massa muscular
ou sarcopenia, que é provocada pela perda de unidades motoras e menor
qualidade na contração muscular. Já as modificações nas fibras musculares são
caracterizadas pela redução mais acelerada das fibras de contração rápida ou
do tipo II e, em menor velocidade, nas fibras de contração lenta ou do tipo I.

12 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


As alterações no sistema nervoso são caracterizadas pela diminuição do peso
e do volume cerebral (concentrado nos lobos frontais e temporais), havendo
atrofia cerebral e aumento do volume dos ventrículos encefálicos e perda
contínua nos giros pós-centrais do córtex (área motora primária), giros tempo-
rais e córtex cerebelar. Perda gradual de neurônios piramidais com comprometi-
mento do aprendizado e da memória. Há, também, redução da substância branca
provocada pela morte axônica ou degeneração da mielina e redução da irrigação
sanguínea, com redução da quantidade de capilares sanguíneos, acúmulo de
gorduras e processo degenerativo; além de modificações no sistema sensorial,
como a redução da acuidade auditiva, visual e gustativa.
As modificações no sistema cardiorrespiratório perpassam por alterações
nos vasos (diminuição de fibras elásticas, aumento das fibras colágenas e de sais
de cálcio); no músculo cardíaco (espessamento fibroso, aumento da gordura,
hipertrofia e calcificação); nas válvulas cardíacas (depósito de lipídeos, calcifi-
cação e degeneração); na caixa torácica e no próprio pulmão. No sistema respi-
ratório, temos mudanças no nariz, nas cartilagens costais (aumento progres-
sivo), nas articulações costoesternais (calcificação) e no pulmão (aumento do
tecido conjuntivo, perdendo distensibilidade e elasticidade).
O envelhecimento também modifica o sistema digestório com aumento
da glicose, atrofia da mucosa estomacal, redução da digestão e da absorção de
algumas vitaminas, além de menor movimento intestinal e prejuízos na absorção
de cálcio. O sistema genitourinário fica comprometido, pois há redução da
função renal e perda de tônus muscular do assoalho pélvico. No sistema repro-
dutivo, ocorre o aumento da próstata e a redução na produção dos hormônios
andrógenos nos homens; já as mulheres podem sofrer com atrofia vaginal, preju-
ízos para o útero e ovários, além da redução dos hormônios sexuais.

Reflita
Estimado aluno, reflita sobre dois pontos importantes acerca da saúde
do idoso:
1. Todas as alterações encontradas no idoso devem ser atribuídas ao
envelhecimento natural?
2. Sinais e sintomas naturais do processo de envelhecimento podem
ser atribuídos a doenças e gerar a utilização de recursos humanos e
materiais necessários para diagnosticá-las?

Tendo em vista todas essas modificações, devemos focar os aspectos


nutricionais relacionados ao envelhecimento, já que as práticas alimentares
se modificam conforme a estrutura socioeconômica dos indivíduos, além de
suas culturas e hábitos.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 13


É muito comum o idoso não realizar uma alimentação adequada, por
diversos fatores, tais como o isolamento familiar e social, que pode acarretar
maiores riscos de complicações no curso de doenças. Além disso, é comum
haver fatores psicológicos (viuvez, abandono, perda da autonomia e autocui-
dado, perda do papel social e desinteresse em atividades rotineiras), o que
pode afetar o comportamento alimentar.
O distúrbio nutricional mais observado nos idosos é o baixo peso, que
está associado a altos índices de mortalidade e suscetibilidade a infecções,
além da alta incidência de osteoporose, fraturas, desordens respiratórias e
problemas cardíacos. Por outro lado, a obesidade também é um problema
muito prevalente em idosos, explicado por uma modificação do compor-
tamento alimentar focado no consumo elevado de calorias provenientes de
gorduras de origem animal, açúcar e alimentos refinados, em detrimento de
outras fontes como as frutas e as verduras, levando a um ciclo de aumento
das doenças crônicas não transmissíveis. É comum o idoso obeso apresentar
modificações em sinais importantes, como a elevação da pressão arterial,
menores níveis de HDL-c e maior frequência de diabetes mellitus.
Por isso, é importante que você conheça os fatores individuais, culturais
e sociais para que possa compreender as práticas alimentares dos idosos e
as repercussões para o estado de saúde deles. Dentre essas repercussões,
é preciso destacar a sarcopenia, que é associada à diminuição da força e
potência. Nesse caso, a massa muscular perdida, geralmente, é substituída
por gordura corporal, o que está relacionado à desnutrição e à obesidade.

Exemplificando
No processo de envelhecimento, a insegurança alimentar torna-se muito
presente, em função de fatores que alteram o consumo de alimentos,
tais como alterações fisiológicas e da cavidade bucal, fatores econô-
micos e psicossociais, restrição da mobilidade e institucionalização. A
mudança alimentar traz preocupações importantes, principalmente, ao
considerar a alta prevalência das doenças crônicas não transmissíveis.
A fisioterapia deverá ter especial atenção a essas variáveis para alcançar
um atendimento de melhor qualidade, focando a prevenção de doenças
e agravos e buscando sempre melhorar a qualidade de vida dos idosos.

A perda da força provocada pela sarcopenia provoca uma deterioração


da função física e dificuldades na execução de atividades funcionais, como
levantar/sentar da cadeira, subir/descer de escadas, manutenção do equilí-
brio, entre outras. Toda esta deterioração faz com que os idosos tenham
prejuízos na independência funcional.

14 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Tais modificações resultaram em uma alteração no perfil de morbimor-
talidade da população como um todo, o que impactou mais nos idosos,
devido à redução da prevalência de doenças infectocontagiosas e aumento de
doenças crônicas não transmissíveis, das quais destacam-se doenças circula-
tórias e neoplasias. Veja o padrão de mudança na evolução da mortalidade
no Brasil entre 1930 e 2009 na Figura 1.2.
Figura 1.2 | Mortalidade proporcional por causa, no Brasil, de 1930 a 2009

Fonte:<https://unasus.ufsc.br/atencaobasica/files/2017/10/Epidemiologia-ilovepdf-compressed.pdf>.
Acesso em: 27 ago. 2018.

No Brasil, dentre as doenças crônicas, as doenças cardiovasculares são


a principal causa de óbito, seguida por doenças neoplásicas e por causas
externas, veja na Figura 1.3.
Figura 1.3 | Causas de Óbito no Brasil

Fonte:<https://unasus.ufsc.br/atencaobasica/files/2017/10/Epidemiologia-ilovepdf-compressed.pdf>.
Acesso em: 27 ago. 2018.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 15


Pesquise mais
Prezado aluno, recomendamos a visualização do vídeo do médico
Alexander Kalache no programa Café Filosófico, que aborda o envelhe-
cimento populacional.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=MI43UyFfaOI>.
Acesso em: 13 ago. 2018.
Recomendamos, também, a visualização da Reportagem da RPCTV com
o Rubens de Fraga Junior sobre a transição epidemiológica no Brasil e as
repercussões no cuidado com a pessoa idosa.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Z2bshlCXA7I>.
Acesso em: 13 ago. 2018.

Por fim, devemos considerar que, no Brasil, este processo de transição


epidemiológica é bem heterogêneo e está associado às desigualdades obser-
vadas nas condições sociais da população de cada região. Tal fato determina
a necessidade de avaliarmos as necessidades de cada região para, assim, ser
possível entregar os serviços e os recursos capazes de modificar a realidade
da saúde da população idosa.

Sem medo de errar


Vimos que um Hospital Regional determinou a abertura de vagas para
fisioterapeutas no setor de geriatria/gerontologia. Ana Carolina, fisiotera-
peuta, candidatou-se e foi convocada para uma entrevista com o fisiotera-
peuta gestor do Hospital Regional e você, como orientador profissional,
a auxiliou no desenvolvimento de competências e habilidades necessá-
rias para se destacar na entrevista. Durante a entrevista, Ana Carolina foi
indagada sobre o seu conhecimento no assunto, pois era preciso verificar
o alinhamento do seu perfil com a vaga. Dentre os questionamentos levan-
tados, surgiram os seguintes assuntos: as teorias sobre o envelhecimento, a
fisiologia do processo e os indicadores atuais e projetados de morbimorta-
lidade de idosos.
O envelhecimento biológico é um processo que se inicia no nascimento
e finda na morte, com efeitos deletérios ao organismo humano, cujas teorias
são inúmeras e amplas. Destacam-se, nesse cenário, as teorias programadas
(relógio biológico que regula processos) e as teorias estocásticas (agravos que
induzem aos danos celulares e moleculares, aleatórios e progressivos).
Segundo as teorias evolutivas, a curva de sobrevivência padrão possui
forma bifásica nas idades iniciais e comum a partir da fase adulta tardia. Assim,
o declínio de um sistema fisiológico decorre de um processo multifatorial e

16 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


da interação de mecanismos moleculares, celulares e sistêmicos, que geram
as seguintes teorias:
• Erros-catastróficos (acúmulo de erros nas proteínas que sintetizam
DNA ou outras moléculas).
• Mutações somáticas e reparos no DNA.
• Senescência celular e encurtamento dos telômeros.
• Radicais livres no DNA mitocondrial.
• Glicosilação e ligações cruzadas
• Morte celular.
Este processo de envelhecimento, portanto, se dá de duas formas: senes-
cência (alterações próprias do envelhecimento populacional) e/ou por senilidade
(alterações produzidas pelas várias afecções que podem acometer o idoso).
Dentre as modificações esperadas pelo processo de envelhecimento,
temos as alterações em todos os órgãos e sistemas, dentre as quais, desta-
cam-se, para a fisioterapia, a redução da estatura, provocada pela redução
dos arcos dos pés, a perda de água dos discos intervertebrais e o aumento da
curvatura da coluna vertebral. Além disso, outras alterações são observadas,
como o aumento diâmetro da caixa torácica (provocado pela perda de elasti-
cidade pulmonar) e do crânio, a continuidade de crescimento do nariz e do
pavilhão auditivo. O processo de envelhecimento envolve ainda:
• Aumento de gordura na região abdominal.
• Perda hídrica intracelular.
• Perda de potássio e consequente perda de massa corporal (fígado,
rins, músculos, entre outros).
• Perda da massa óssea, que se inicia mais precocemente nas mulheres,
principalmente no osso esponjoso, gerada pelo desequilíbrio no
processo de modelagem e remodelagem.
• Redução no número de condrócitos, na quantidade de água e de
proteoglicanas.
• Aumento do número e da espessura de fibras colágenas, fazendo
com que a cartilagem fique mais fina e com rachaduras.
• Perda da massa muscular ou sarcopenia.
• Alterações no sistema nervoso com diminuição do peso e do volume
cerebral.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 17


• Perda gradual de neurônios piramidais.
• Redução da substância branca provocada pela morte axônica ou
degeneração da mielina e redução da irrigação sanguínea, com
redução da quantidade de capilares sanguíneos.
• Acúmulo de gorduras e processo degenerativo.
• Modificações no sistema sensorial, como a redução da acuidade
auditiva, visual e gustativa.
• Alterações nos vasos sanguíneos, no músculo cardíaco, nas válvulas
cardíacas, na caixa torácica e no próprio pulmão.
• Mudanças no nariz, nas cartilagens costais (aumento progres-
sivo), nas articulações costoesternais (calcificação) e no pulmão
(aumento do tecido conjuntivo, perdendo distensibilidade e
elasticidade).
Além de todas essas modificações, é muito comum o idoso não realizar
uma alimentação adequada, por diversos fatores, tais como o isolamento
familiar e social, que pode acarretar maiores riscos de complicações no
curso de doenças. O distúrbio nutricional mais observado nos idosos é
o baixo peso, que está associado a altos índices de mortalidade e susce-
tibilidade a infecções, além da alta incidência de osteoporose, fraturas,
desordens respiratórias e problemas cardíacos. A obesidade também é
um problema muito prevalente em idosos, gerada por modificação do
comportamento alimentar focado no consumo elevado de calorias prove-
nientes de gorduras de origem animal, açúcar e alimentos refinados. É
comum o idoso obeso apresentar modificações em sinais importantes,
como a elevação da pressão arterial, menores níveis de HDL-c e maior
frequência de diabetes mellitus.
A perda da força provocada pela sarcopenia provoca uma deterio-
ração da função física, dificultando a execução de atividades funcio-
nais, o que resulta em uma alteração no perfil de morbimortalidade
da população como um todo. Esse fato impactou mais os idosos, pois
houve redução da prevalência de doenças infectocontagiosas e aumento
de doenças crônicas não transmissíveis, destacando-se a doenças circu-
latórias e por neoplasias.
Assim, o fisioterapeuta que atua no setor de geriatria de um hospital deve
buscar, conjuntamente com a equipe multidisciplinar, construir informações
e documentos que possam auxiliar a população na prevenção de doenças e
agravos provenientes do envelhecimento.

18 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Avançando na prática

Análise de mercado da Fisioterapia na Saúde


do Idoso

Descrição da situação-problema
Um grupo de fisioterapeutas busca alternativas para empreender na área
da Fisioterapia na Saúde do idoso. Para isso, contrataram uma consultoria
especializada em serviços de saúde que buscou compreender os objetivos
do grupo e quais serviços iriam disponibilizar e você foi designado como o
consultor responsável pela análise.
Para a realização do diagnóstico inicial, você partiu de questionamentos
centrais sobre como estavam os investimentos em fisioterapia para atenção
à população idosa? Como estavam as taxas de cobertura da população idosa
em relação à fisioterapia no Sistema Único de Saúde? Como estavam as taxas
de cobertura da população em relação à Fisioterapia no sistema suplementar
para atenção à população idosa?

Resolução da situação-problema
Segundo a consultoria, os maiores investimentos em fisioterapia para
atendimento da população idosa se deram em algumas regiões (Sul e Sudeste)
e as regiões que possuem maior cobertura dos serviços de fisioterapia são as
regiões Sudeste e Nordeste, entretanto, na última nota-se menor cobertura
das cidades.
Dessa forma, a consultoria explicou que há maior demanda pelos
serviços, baseando-se na área de cobertura e proporção de profissionais, na
região Nordeste em cidades de pequeno e médio porte, todavia, nos valores
dispensados à fisioterapia, a região Sul destaca-se.
Assim, a consultoria concluiu que as demandas provocadas pelo aumento
da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e da elevação do
número de idosos gerou maior necessidade por serviços de fisioterapia.
Alguns centros já possuem a oferta bem estabelecida e focada nas necessi-
dades da população, entretanto, outras estão abertas. Caberá ao grupo definir
em qual nicho atuarão e estabelecer ações de promoção da saúde, prevenção
e tratamento de doenças e agravos relacionados ao envelhecimento, princi-
palmente, em relação a doenças do sistema cardiovascular e às doenças
neoplásicas. Será necessário, também, atuar nas causas externas.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 19


Faça valer a pena
1. O Brasil atravessa um momento de mudança nas suas características popula-
cionais, além de alterações na prevalência e incidência de morbimortalidade. Este
padrão já foi observado em países desenvolvidos, mas, atualmente, acontece apenas
em países que estão em desenvolvimento.
Baseado neste contexto, analise os dados a seguir:

• 66,3% dos anos de vida perdidos em decorrência de incapacidades dão-se pelas


doenças crônicas não transmissíveis.
• 10,2% dos anos de vida perdidos em decorrência de incapacidades dão-se por
causas externas.
• 14,7% dos anos de vida perdidos em decorrência de incapacidades dão-se por
doenças infectocontagiosas.
Fonte: Schramm et al. (2004).

Assinale a alternativa que contenha a análise correta dos dados apresentados no


enunciado.
a) O texto remete à transição demográfica caracterizada pelo aumento da morbimor-
talidade provocada por doenças infectocontagiosas.
b) O texto remete à transição epidemiológica caracterizada pelo aumento da morbi-
mortalidade provocada por doenças crônicas não transmissíveis.
c) O texto remete à transição demográfica caracterizada pelo aumento da população
adulta em comparação ao crescimento da população idosa.
d) O texto remete à transição epidemiológica caracterizada pelo aumento da população
jovem caracterizada pela associação com as doenças crônicas não transmissíveis.
e) O texto remete à transição demográfica caracterizada pelo aumento da morbimorta-
lidade de doenças infectocontagiosas provocada pelo crescimento da população adulta.

2. A elaboração de programas de tratamentos fisioterapêuticos para a população


idosa deve considerar todas as mudanças morfofuncionais que ocorrem nos órgãos e
sistemas para que seus objetivos de tratamento sejam alcançados. Dentre as mudanças
a serem consideradas em decorrência do envelhecimento, verifique quais são próprias
deste processo, colocando V para verdadeiro e F para falso:
( ) Redução da acuidade sensorial.
( ) Diminuição da força muscular.
( ) Redução da densidade mineral óssea.
( ) Diminuição da vascularização.

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta.


a) V – V – V – V.
b) F – F – F – F.

20 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


c) V – F – F – V.
d) F – V – V – F.
e) V – F – V – V.

3. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística vem há décadas analisando as mudanças


demográficas da população brasileira. No último censo em 2010, uma mudança foi obser-
vada e, de acordo com as projeções, o cenário se modificará muito até 2050.
Com base no exposto, analise a imagem a seguir:

Estrutura relativa da população, por sexo e idade


Brasil – 1940/2050

Fonte: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98579.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2018.

Assinale a alternativa que contenha a interpretação correta da imagem.

a) Em 2050, a maior parte da população será composta por bebês e crianças, o que
indica aumento na prevalência de doenças infectocontagiosas.
b) Em 2050, a maior parte da população será composta por adultos, o que indica
aumento na prevalência de doenças infectocontagiosas.
c) Em 2050, a maior parte da população será composta por idosos, o que indica
aumento na prevalência de doenças infectocontagiosas.
d) Em 2050, a maior parte da população será composta por bebês e crianças, o que
indica aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis.
e) Em 2050, a maior parte da população será composta por idosos, o que indica
aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis.

Seção 1.1 / Princípios da saúde do idoso - 21


Seção 1.2

O envelhecimento do idoso e suas doenças

Diálogo aberto
Em todos os meios de comunicação, há informações sobre como o
processo de envelhecimento trará uma série de desafios para o setor de saúde,
tendo em vista o aumento da prevalência de doenças crônicas não transmis-
síveis em decorrência deste processo. Por isso, é comum observamos cada
vez mais idosos serem hospitalizados por conta de doenças como a depressão
e a demência, além de apresentarem grandes períodos de imobilidade que
podem gerar comorbidades, como a síndrome da fragilidade. Muitos estudos
mostram que os idosos possuem maior propensão a quedas, o que está
diretamente relacionado ao equilíbrio e à postura do idoso.
Nesse sentido, após passar o primeiro momento da entrevista para a vaga
de fisioterapeuta do setor de geriatria do Hospital Regional, Ana Carolina
sentiu-se mais calma e confiante ao perceber que tinha desenvolvido bem a
discussão com o gestor da área.
Neste momento, o fisioterapeuta responsável pela entrevista do processo
seletivo passou a questionar sobre a visão da Ana Carolina acerca do envelhe-
cimento e das doenças crônicas. Em seguida, aprofundou o debate sobre a
relação do idoso com a depressão, demência, motivação e suas consequências
para a sociedade. Por fim, levantou questões sobre como o envelhecimento
afeta o equilíbrio e a independência funcional e quais seriam os impactos
provocados pela imobilidade.
Para responder a esses questionamentos e produzir uma conversa interes-
sante, Ana Carolina baseou-se em estudos realizados em livros e periódicos
e nas sessões de orientação profissional que teve com você. Baseando-se
nestas sessões, como foram trabalhados estes conceitos teóricos? O que um
fisioterapeuta que trabalhará com saúde do idoso precisa conhecer sobre as
doenças crônicas? Como a depressão, demência e motivação são abordadas
na fisioterapia? Quais os impactos das alterações do equilíbrio e das quedas
em idosos? Por que a fisioterapia trabalha para evitar a imobilidade?

Não pode faltar


O processo de envelhecimento acarreta uma série de mudanças fisio-
lógicas e sociais que impactam diretamente na sociedade por modifi-
carem as demandas por serviços de saúde, por exemplo. O envelhecimento

22 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


populacional é um grande fenômeno demográfico, pelo qual o Brasil atraves-
sará e poderá representar uma série de problemas que vão desde o aumento
da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, até os custos gerados
pelas morbidades e mortalidades.
A presença de doenças crônicas impacta diretamente na mobilidade e
autonomia da pessoa idosa, frequentemente apresentam-se na forma de multi-
morbidades, ou seja, a ocorrência simultânea de doenças, limitações físicas,
cognitivas e funcionais, por isso requerem muitos recursos do setor de saúde.
Dentre as doenças crônicas mais comuns, destacam-se diabetes mellitus,
hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, artrite, depressão e osteopo-
rose. Apresentaremos a seguir duas associações muito comuns entre disfun-
ções nutricionais (corriqueiras no perfil do idoso) e doenças crônicas.
Frequentemente, observa-se em idosos a associação entre IMC (índice de
massa corpórea) elevado e hipertensão arterial, a qual ocorre por mecanismos
não bem compreendidos, algumas mudanças psicológicas e disfunções
corporais tem impacto nesta relação, há, também, grande ativação do sistema
nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina-aldosterona, disfunção
renal, resistência à insulina e leptina e ação reduzida de peptídeos natriuré-
ticos. Em mulheres, existe, ainda, o papel da menopausa no aumento de peso
corporal e a presença de hipertensão, com a redução do estrógeno. O efeito
em células endoteliais e vasculares lisas resultará em elevação dos valores da
pressão sanguínea.
Outra associação comum é a do baixo peso e doenças pulmonares
crônicas, geralmente, indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica
(DPOC) se expuseram ao tabaco e a outros fatores de risco que levam a perda
de massa muscular, ativação de mecanismos proinflamatórios que consomem
muita energia e favorecem a perda de peso e o alto índice de catecolaminas,
que induzem o hipermetabolismo, aumentando a energia despendida e o
catabolismo muscular.

Assimile
Três doenças são muito comuns em idosos: a diabetes mellitus, hiper-
tensão arterial e dislipidemias. Elas possuem pontos em comum que serão
importantes para seu raciocínio clínico, como a alimentação rica em sódio
e baixa em potássio, gasto calórico baixo e sedentarismo, ou seja, a grande
parcela dos fatores de risco de doenças crônicas estão nos hábitos adqui-
ridos durante a vida, por isso, é importante focar esforços em todos os
âmbitos da assistência fisioterapêutica, perpassando pela promoção da
saúde, prevenção de doenças e o tratamento propriamente dito.

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 23


É importante que o fisioterapeuta esteja atento a condições que podem
afetar a saúde mental dos idosos. É muito comum a família observar que o
idoso apresenta alterações de memória, dificuldade para entender a comuni-
cação verbal e escrita, dificuldade para encontrar as palavras corretas para
se expressar, não reconhecer acontecimentos comuns e apresentar desorien-
tação. Essas queixas, geralmente, estão associadas a um processo de demência.
No próprio processo de envelhecimento, observa-se que há reduções
do número de neurônios da área de arborização dendrítica e da densidade
sináptica no córtex e nos núcleos subcorticais.
Nesse contexto, devemos observar se há uma capacidade cognitiva
anormal e buscar as possíveis causas que podem ser, por exemplo, a utili-
zação de determinados medicamentos. Todavia, para um diagnóstico preciso
e correto, é necessário que se faça o encaminhamento a um especialista que
procederá com exames de triagem de memória.

Exemplificando
Os principais critérios clínicos para diagnóstico de demência perpassam
por sintomas cognitivos que:
• Interferem na capacidade de trabalho ou de desempenhar atividades
usuais;
• Representam declínio de desempenho com relação a níveis prévios de
funcionamento;
• Não são explicados por delirium ou doença de cunho psiquiátrico
importante;
• Comprometimentos cognitivos ou comportamentais que afetam, no
mínimo, dois domínios (memória, função cognitiva, capacidade visuo-
espacial, linguagem, personalidade e comportamento).

A demência, em si, é considerada um grave problema de saúde pública,


estando presente em 5% dos indivíduos acima de 65 anos e em pelo menos
20% dos indivíduos acima de 80 anos de idade.
Além disso, com o envelhecimento, outra preocupação importante para
todos que atuam na saúde é a depressão, que pode levar ao isolamento social
e até culminar em suicídio, doença que impacta profundamente a quali-
dade de vido do idoso e da sua família. É importante frisar, também, que
a depressão pode levar à dependência física, que compromete toda a estru-
tura familiar e, em alguns casos, pode culminar em institucionalização, o que
altera toda a rotina do idoso e o afasta de seus familiares, agravando ainda
mais o quadro de depressão. O idoso com depressão apresenta implicações

24 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


em três hormônios: noraepinefrina, dopamina e serotonina, que podem estar
disfuncionais em vários circuitos cerebrais.

Exemplificando
É comum que o idoso com depressão apresente uma piora do seu estado
geral com queixas sintomáticas que podem confundir o diagnóstico e
levar à redução significativa da qualidade de vida. Por exemplo, idosos
com depressão podem ter sintomas semelhantes aos de idosos com
hipotireoidismo, cujos sintomas são fadiga, falta de concentração e
baixa no humor.

Para que o idoso seja diagnosticado com depressão, ele deverá apresentar
humor deprimido e/ou perda de interesse ou prazer por, no mínimo, 2
semanas, acompanhado por sintomas como alteração do apetite, do sono,
fadiga e perda de energia, agitação ou retardo psicomotor, sentimento de
inutilidade ou culpa, concentração reduzida, diminuição da libido e ideação
suicida ou desejo de morte.
Assim, o idoso poderá, também, apresentar modificações no que se refere
à motivação, que perpassa pelas necessidades psicológicas básicas que são:
autonomia, competência e pertencimento. Nesse contexto, a saúde e a indepen-
dência funcional são importantes fontes para motivação de idosos, entretanto
fatores pessoais e fatores ambientais podem desempenhar papel decisivo.
No tocante à independência funcional, outro ponto importante a se
observar em idosos é o equilíbrio e seus efeitos na mobilidade e no risco
de quedas, oriundos das modificações no aparelho locomotor, componente
fisiológico efetor da mobilidade, que pode estar prejudicado pela fraqueza
muscular progressiva do envelhecimento. O idoso tende a adotar posturas
viciosas e irregulares, o que modifica a biomecânica da marcha e acarreta
perda do equilíbrio. Todas essas modificações impactam diretamente na
independência funcional e é importante destacar o efeito de medicamentos
como benzodiazepínicos e/ou psicoativos (que podem provocar sedação,
hipotensão postural, tremores, relaxamento muscular e fraqueza) e diuréticos
(que podem gerar fadiga, distúrbio hidroeletrolítico, poliúria e nictúria). O
processo de envelhecimento, em si, compromete a habilidade do sistema
nervoso central em processos que utilizam sinais proprioceptivos, visuais
e vestibulares, além de reduzir a capacidade de modificação dos reflexos
adaptativos, os quais culminam em ocorrência de desequilíbrio (presbia-
taxia), de vertigem e/ou tontura (presbivertigem) e mudanças no processo de
estabelecimento da resposta postural, nas “respostas posturais automáticas”
que, neste caso, estão ineficientes.

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 25


Em cerca de 80% dos casos, o desequilíbrio não possui uma causa especí-
fica, podendo estar ligado ao comprometimento do sistema de equilíbrio como
um todo. As consequências mais perigosas do desequilíbrio são as quedas e as
fraturas, que podem deixar os idosos acamados por longos períodos.
Os maus hábitos posturais, geralmente, acompanham o indivíduo desde
a infância e, com isso, tornam-se uma das principais razões para as altera-
ções posturais. Os principais fatores para o desenvolvimento dessas altera-
ções são: anomalias congênitas e/ou adquiridas, má postura, obesidade,
alimentação inadequada, atividades físicas sem orientação e/ou inade-
quadas, distúrbios respiratórios, desequilíbrios musculares, frouxidão
ligamentar e doenças psicossomáticas.
A modificação da postura é mais perceptível com o avançar da idade, cujas
manifestações mais comuns são: aumento da cifose torácica (veja na Figura
1.4), redução da lordose lombar, aumento do ângulo de flexão do joelho,
deslocamento da articulação
Figura 1.4 | Idosa com Aumento da Cifose Torácica
coxofemoral para trás e incli-
nação do tronco para frente.
Todas estas modificações
ocorrem e se perpetuam por
retração ou hipomobilidade
em tecidos moles.
Outras modifica-
ções posturais comuns
são: protração ou abdução
escapular (modificação do
ritmo escapuloumeral),
rigidez ou contratura em
flexão do cotovelo, desvio
ulnar do punho, flexão dos
dedos, contratura em flexão
do quadril, contratura em
flexão do joelho, alterações
em valgo ou em varo de
quadril, joelho ou tornozelo. Fonte: Rodrigues, Romeiro e Patrizzi (2009).

Reflita
Nem todas as alterações posturais podem ser classificadas como defeituosas
ou anormais, algumas podem ser compensatórias. Levando em consideração
essa compensação, como a fisioterapia pode atuar para reduzir o impacto das
modificações posturais associadas ao processo de envelhecimento?

26 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Pensando em todas essas mudanças, a marcha das pessoas idosas também se
modifica em comparação à marcha de adultos. Nesse sentido, é comum observar
distúrbios da marcha nas pessoas idosas com caráter multifatorial, que se classi-
ficam de maneira dicotômica em componentes neurológicos e não neurológicos.
A marcha depende de vários órgãos (sistemas neurológico, musculoesque-
lético e cardiovascular) e, nos idosos, apresenta características importantes,
pois a velocidade da marcha está diretamente associada ao condicionamento
físico. Há, também, associação entre alterações sensoriais (acuidade visual e
sensibilidade plantar) com as quedas, além da redução do apoio unipodal,
que diminui a velocidade da marcha e o comprimento do passo, a perda do
balanço normal dos braços, da rotação pélvica e do joelho.
As doenças podem agravar ainda mais os distúrbios da marcha provo-
cados pelo processo de envelhecimento, sendo que a maior parte delas são
provenientes dos sistemas neuromuscular e vestibular, dentre as quais desta-
camos as síndromes/doenças:
99 Doença de Alzheimer.
99 Demência.
99 Síndrome multi-infartos.
99 Doença de Binswanger.
99 Hidrocefalia normobárica.
Geralmente, essas doenças possuem uma marcha caracterizada por uma
base mais alargada, postura ligeiramente fletida e passos pequenos, o que faz
com que os pés pareçam estar grudados no chão.
Outra marcha patológica muito comum em idosos é a marcha sensorial
atáxica, caracterizada por uma base alargada e pelos movimentos de arrastar
os pés. A marcha cerebelar atáxica é apresentada com bases largas e passos
instáveis, pequenos e irregulares. Por exemplo, após AVE, a marcha espás-
tica apresenta prejuízo na mobilidade do membro superior, os dedos dos pés
arrastam-se sobre o solo e a pelve fica em hiperextensão; enquanto a marcha
anserina é caracterizada por redução da força muscular da cintura pélvica
e da articulação coxofemoral, com movimento lateral do membro inferior
durante a marcha. Por exemplo, na doença de Parkinson, a marcha festinante
apresenta movimento apressado dos pés, de forma simétrica e rápida. Já a
marcha por déficits multissensoriais envolve distúrbios nos sistemas visual,
proprioceptivo e vestibular, com presença de tonturas, instabilidade ou
sensação de cabeça vazia. A marcha vestibular é caracterizada por sensação
de instabilidade ao caminhar, com bases largas, tropeços laterais e tendência
a caminhar em direção ao lado da disfunção vestibular.

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 27


Seguindo nesse contexto de mudanças funcionais associadas ao envelhe-
cimento, a imobilidade necessita ser debatida a partir da complexidade
das disfunções biológicas e socioambientais, principalmente, pelo fato da
população idosa ser mais suscetível às complicações. Destacam-se, entre os
fatores de risco para a imobilidade, a história de quedas, os distúrbios do
equilíbrio, as anormalidades da marcha e a fraqueza generalizada.
A imobilidade pode ser definida como uma restrição ou limitação
do movimento para desempenhar atividades de vida diária que compro-
metem a independência e provocam disfunções de diversos sistemas
orgânicos. Os principais fatores determinantes para a imobilidade de
idosos são: disfunções osteomioarticulares, neuromuscular e cardio-
vasculares; tratamentos ortopédicos com utilização de gessos, coletes
e órteses; repouso prolongado no leito para tratamento de doenças e
permanência contínua em determinada posição.
Dentre as consequências geradas pela imobilidade temos: predomínio
do catabolismo, com balanço negativo de nitrogênio, cálcio, fósforo, enxofre,
sódio e potássio; estado de hipoproteinemia; alteração do volume vasomotor
e no trânsito intestinal; aumento da perda óssea; aumento do espaço morto
(pulmonar); perda de sensibilidade motora; úlcera por pressão; fraqueza;
atrofia muscular por desuso; síndrome da fragilidade; entre outras.
A síndrome da fragilidade é caracterizada por sinais e sintomas predi-
tores de diversas complicações futuras, como a perda não intencional de
peso (5 Kg nos últimos 5 anos), fadiga, redução da força muscular, redução
das atividades físicas, lentidão da marcha e diminuição das relações sociais,
ou seja, é uma síndrome que afeta os domínios físico, psicológico e social.
Essa síndrome é mais prevalente em idosos de maior idade, com menor
escolaridade, com doença crônica prévia, que sejam institucionalizados, que
façam uso contínuo de medicações, que tenham histórico de quedas e poucas
relações sociais.
Em idosos com imobilidade, certos grupos musculares atrofiarão mais
rápido que outros, como é o caso do quadríceps, dos flexores plantares e
dos extensores da coluna, que resultam em dificuldades para subir e descer
escadas, ficar em pé e deambular. Em nível celular, as fibras com maior
capacidade de gerar tensão e velocidade (tipo II) são as mais atingidas pela
sarcopenia, causada, principalmente, pela morte celular dessas fibras e pela
redução na quantidade de células satélites, que estão diretamente relacio-
nadas à capacidade regenerativa do músculo esquelético. Nos músculos,
observam-se, também, mudanças histoquímicas, com a redução da síntese
proteica e o aumento da sua degradação, além de menor respiração celular,
menor consumo de O2 e diminuição dos fenômenos oxidativos (acúmulo

28 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


precoce e duradouro de ácido lático). Tais modificações geram alterações em
outros sistemas, como a perda de cálcio, aumento da atividade osteoclástica,
redução da atividade osteoblástica (mais comum em ossos como o calcâneo)
e degeneração da cartilagem articular (osteoartrite e anquilose).
Outro sistema que merece destaque na imobilização é o sistema tegumentar,
caracterizado pela diminuição da vascularização, água e elasticidade, o que
favorece o surgimento de úlceras de decúbito (lesão aberta em decorrência à
compressão tecidual), mais comuns em regiões sobre proeminências ósseas
que sustentam o peso (sacro e calcâneo). Essa lesão dá-se pela privação de
nutrientes e oxigênio pelos tecidos, o que induz a isquemia vascular.

Pesquise mais
Recomendamos a leitura do artigo intitulado Síndrome da fragilidade e
fatores associados em idosos residentes em instituições de longa perma-
nência, de Elisa Moura de Albuquerque Melo e colaboradores, publi-
cado na revista Saúde em Debate em 2018. Esse conteúdo permitirá
um aprofundamento sobre a prevalência de fragilidade e de fatores
associados em idosos institucionalizados.
Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/sdeb/2018.v42n117/468-
480/>. Acesso em: 14 set. 2018.

Em virtude de todas essas modificações, os serviços de saúde devem ser


interdisciplinares e interprofissionais, cujo foco deve ser preventivo, sempre
que possível, principalmente em modalidades de assistência que sejam
propícias ao desenvolvimento da imobilidade, como instituições de longa
permanência e hospitais.

Sem medo de errar


O seu trabalho de orientação profissional da Ana Carolina, visando ao
processo seletivo do Hospital Regional no setor de geriatria, focou a prepa-
ração para as etapas do processo seletivo e permitiu que ela debatesse os
questionamentos levantados pelo recrutador. Ela precisou demonstrar
conhecimentos sobre a relação entre o envelhecimento e as doenças crônicas,
sobre os impactos da depressão, sobre a questão da demência e a motivação
em idosos, além das modificações do equilíbrio e a associação com o risco de
quedas, buscando sempre evitar a imobilidade.
Nas conversas de preparação, foi trabalhada com a Ana a importância
de se destacarem as mudanças fisiológicas e sociais que o envelhecimento

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 29


provoca, com atenção para o aumento das prevalências crônicas não trans-
missíveis, para os altos custos gerados pelas mudanças na independência
funcional e para a presença de multimorbidades. Além disso, o fisioterapeuta
que irá atuar na saúde do idoso precisa conhecer as doenças crônicas mais
comuns, como a diabetes mellitus, a hipertensão arterial sistêmica, as disli-
pidemias, as disfunções nutricionais, a artrite, a depressão, a osteoporose e
o histórico de quedas, destaca-se, ainda, que comumente estas doenças se
apresentam associadas.
Outro ponto de atenção para o fisioterapeuta da área de geriatria está na
atenção à saúde mental dos idosos, pois o envelhecimento pode apresentar
alterações na memória, dificuldade para entender a comunicação verbal e
escrita, dificuldade para encontrar as palavras corretas para se expressar, não
reconhecer acontecimentos comuns e apresentar desorientação, que podem
estar associadas ao processo de demência, e apresentar agravos importantes
para a capacidade funcional. Este mesmo raciocínio pode ser aplicado aos
idosos com depressão, pois impacta a qualidade de vida do idoso e da sua
família e pode levar à dependência física. Assim, o fisioterapeuta deve se
atentar à saúde e à independência funcional como importantes fontes para
motivação de idosos.
É importante, também, que o fisioterapeuta que atue na saúde do idoso
entenda as modificações do equilíbrio, seus efeitos na mobilidade e sua
relação com o risco de quedas, fatores que impactam diretamente na indepen-
dência funcional. Modificações posturais são comuns em idosos e se dão
por anomalias congênitas e/ou adquiridas, má postura, obesidade, falta de
alimentação adequada, atividades físicas sem orientação e/ou inadequadas,
distúrbios respiratórios, desequilíbrios musculares, frouxidão ligamentar e
doenças psicossomáticas. As modificações mais comuns são o aumento da
cifose torácica, a redução da lordose lombar, o aumento do ângulo de flexão
do joelho, o deslocamento da articulação coxofemoral para trás e inclinação
do tronco para frente. Dessa maneira, a marcha das pessoas idosas também se
modifica com redução da velocidade da marcha, redução do apoio unipodal
e do comprimento do passo, perda do balanço normal dos braços, além da
rotação pélvica e do joelho.
Por fim, a fisioterapia atua contra a imobilidade pelo fato dela compro-
meter a independência e provocar disfunções de diversos sistemas orgânicos,
provocando predomínio do catabolismo,l alteração do volume vasomotor,
alteração no trânsito intestinal, aumento da perda óssea, aumento do espaço
morto (pulmonar), perda de sensibilidade motora, úlcera por pressão,
fraqueza e atrofia muscular por desuso. Dessa maneira, a Ana deveria
destacar que os serviços de saúde do idoso devem ser interdisciplinares e
interprofissionais, com foco preventivo.

30 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Avançando na prática

Atuação da Fisioterapia em um Programa de


Assistência Domiciliar

Descrição da situação-problema
Três fisioterapeutas foram aprovados em um concurso público para
atuar com a fisioterapia na assistência domiciliar na atenção básica de
um município. Como o programa já existia e estava bem estruturado, ao
iniciarem as atividades, foram deslocados à área de avaliação e triagem de
novos casos.
Inicialmente, os três fisioterapeutas participaram de uma integração com
os demais profissionais do setor de atendimento domiciliar e, durante estas
atividades, realizaram a triagem de um paciente que apresentava síndrome da
fragilidade. Ao se depararem com o caso, quais condições os fisioterapeutas
deveriam ter verificado para determinar se o paciente estava apto a receber
atendimento domiciliar? Os casos de síndrome de fragilidade eram comuns
na área urbana em que estavam alocados? Quais os fatores que estavam
associados a esta síndrome e que poderiam virar ações de prevenção?

Resolução da situação-problema
A síndrome da fragilidade promove a desregulação de múltiplos sistemas
e diminui as reservas fisiológicas sustentadas por uma tríade de alterações
relacionadas ao processo de envelhecimento:
1. Sarcopenia.
2. Desregulação neuroendócrina.
3. Disfunção do sistema imunológico.
Esta tríade gera um fenótipo de fragilidade caracterizado por perda de
peso não intencional, fadiga, redução da força muscular, diminuição da
velocidade da marcha e redução do nível de atividade física. A síndrome da
fragilidade é considerada preditora de comorbidades, quedas, institucionali-
zação, incapacidade, piora da qualidade de vida e mortalidade.
Dessa maneira, a síndrome da fragilidade deve ser alvo de ações de inves-
tigação e intervenção, considerando as especificidades locorregionais. Assim,
indivíduos que apresentam incapacidades funcionais severas e dificuldades
de mobilidade devem ser considerados a receber atenção domiciliar da equipe

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 31


multiprofissional. Nota-se, ainda, que, com a urbanização, os fatores desen-
cadeadores da síndrome da fragilidade ficam mais prevalentes e tendem a se
elevar com o envelhecimento populacional, requerendo ações de prevenção
que visem atuar sobre a sarcopenia, inatividade física e coordenação motora,
com vistas a atingir parte dos possíveis sinais e sintomas.

Faça valer a pena

1. As quedas proporcionam consequências severas na qualidade de vida de idosos,


muitas vezes esta ocorrência vem acompanhada de problemas de saúde físicos e
mentais, em decorrência da instalação de uma doença crônica.
Nesse contexto, analise a imagem a seguir:

Distribuição proporcional dos idosos, segundo fatores de risco ambientais presentes


em sua residência. Comunidade do Rio de Janeiro, 2005

Fonte: Ribeiro et al. (2008).

Com base no gráfico, é correto o que se afirma em:


a) O piso escorregadio não é um fator desencadeador de quedas em idosos, dada a
alta prevalência apresentada no gráfico.
b) O piso escorregadio no banheiro é um dos principais causadores de quedas em
idosos, conforme pode ser observado no gráfico (66,2%).
c) A utilização de calçados inadequados pode ser um fator protetor para quedas em
idosos em 64,7% dos casos.
d) A ausência de degrau por causa da soleira da porta aumenta em 55,9% os casos de
quedas em idosos.
e) Escadas com corrimão aumentam em 35,3% o risco de idosos sofrerem quedas em
seus domicílios.

32 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


2. Alguns problemas e doenças modificam a fisiologia do idoso, a Fisioterapia atua
na saúde do idoso com atividades preventivas com vistas a garantir qualidade de
vida e independência funcional, todavia isto nem sempre é alcançado. Nesse sentido,
analise as disfunções a seguir:
- Aumento da perda óssea;
- Atrofia muscular por desuso;
- Úlcera por pressão.

Com base no exposto, assinale a alternativa que apresenta a condição correta que gera
todas as disfunções citadas.
a) Tendinite do manguito rotador provocada por disfunções osteomioarticulares.
b) Osteoartrite cervical provocada por má postura.
c) Hipertensão arterial provocada por alteração no volume vasomotor.
d) Imobilidade por repouso prolongado no leito para tratamento de doenças.
e) Diabetes mellitus por desequilíbrio no metabolismo da glicose.

3. O foco da Fisioterapia na Saúde do Idoso está na transição epidemiológica que,


dentre as suas demandas, apresenta alto índice de hospitalização e utilização de serviços
de saúde. O quadro a seguir apresenta a distribuição proporcional do diagnóstico
principal que justificou a internação no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Distribuição proporcional (%) do diagnóstico principal que justificou a internação no


âmbito do Sistema Único de Saúde, segundo faixa etária e sexo. Brasil, 2001
Masculino por faixa etária (anos) Feminino por faixa etária (anos)
Diagnostico principal
20-59 60+ 60-69 70-79 >80 20-59 60+ 60-69 70-79 >80

Doenças do aparelho circulatório 11,5 28,6 27,4 29,7 29,6 11,6 30,1 28,0 31,5 31,8
Doenças do aparelho respiratório 11,5 20,4 17,7 21,3 24,9 10,2 18,7 17,0 18,9 21,5
Doenças do aparelho digestivo 15,3 11,0 12,8 10,2 8,1 11,6 9,7 11,2 9,2 7,8
Doenças infecciosas e parasitarias 8,1 5,5 5,2 5,3 6,6 5,8 6,6 6,4 6,4 7,1
Doenças do aparelho geniturinário 5.8 7,2 7,2 7,5 6,6 17,0 5,3 6,8 4,8 3,5
Causas externas 15,3 4,1 4,7 3,5 4,1 3,9 4,6 4,0 4,5 6,2
Doenças endócrinas, nutricionais 2,8 4,5 4,2 4,4 5,1 2,9 6,4 6,3 6,4 6,5
e metabólicas
Doenças do sistema nervoso 2,7 3,1 3,0 3,1 3,1 1,7 2,9 2,6 2,9 3,5
Transtornos mentais e 11,7 1,7 2,8 1,0 0,6 4,9 1,4 2,1 0,9 0,7
comportamentais
Neoplasias 3,2 5,4 6,2 5,5 3,6 7,3 4,9 6,0 4,7 3,0
Doenças do sistema osteomuscular 4,5 2,0 2,4 1,8 1,5 2,8 2,6 2,9 2,6 2,1
e tecido conjuntivo
Gravidez, puerpério 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 13,7 0,0 0,1 0,0 0,0
Outras 7,6 6,5 6,5 6,7 6,3 6,8 6,7 6,7 7,1 6,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Loyola Filho et al. (2004).

Seção 1.2 / O envelhecimento do idoso e suas doenças - 33


De acordo com este quadro pode-se concluir que:
I - As doenças dos aparelhos circulatório, respiratório e digestivo estão entre as
principais causas de internação em idosos.
II - Estas doenças podem ser prevenidas com auxílio da Fisioterapia em ações que
envolvam práticas educativas.
III – A Fisioterapia com ações de promoção da saúde não alterará a situação das
causas das doenças em idosos.
IV – As principais doenças causadoras de internação em idosos podem levar a
quadros de imobilidade temporária ou permanente.

Com base nas conclusões apresentadas, quais estão corretas?


a) Somente as conclusões I e III.
b) Somente as conclusões II e IV.
c) Somente as conclusões I, II e III.
d) Somente as conclusões I, II e IV.
e) Somente as conclusões II, III e IV.

34 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Seção 1.3

O Idoso e as questões sociais

Diálogo aberto
Caro aluno,
Em 2016 uma reportagem da TV Rio Sul com a fotógrafa Vívian Novas
abordou as visitas realizadas por ela às instituições de longa permanência
e a forma como retratou a beleza da terceira idade. O tom do seu trabalho
mostrou uma mistura de encantamento e fragilidade, provocada por fatores
como as relações sociais e familiares, os comportamentos e as emoções a eles
associadas, a inatividade e as políticas públicas para a saúde do idoso. Esses
temas perpassam cotidianamente por mesas de debates, comitês de saúde
e gabinetes de políticos e autoridades, todavia, nem sempre conseguimos
observar mudanças de rumos ou soluções que possam contribuir para
melhorar a qualidade de vida da população idosa.
Muitos dos idosos hospitalizados são provenientes de instituições
de longa permanência. Na situação-problema desta unidade, estamos
acompanhando o caso de Ana Carolina, que participava de um processo
seletivo para ingressar como fisioterapeuta do setor de geriatria e estava
no final da entrevista. O fisioterapeuta entrevistador mostrava-se bem
animado com as respostas desenvolvidas pela candidata e conduziu a
entrevista para o campo das questões sociais, abordando como ela atuaria
frente aos aspectos comportamentais e afetivos dos idosos, as relações
familiares e sociais, bem como a forma como ela atuaria com idosos
provenientes de instituições de longa permanência e com idosos inativos.
Ele fechou a entrevista tratando da compreensão de Ana Carolina sobre
as políticas públicas de saúde para idosos.
Ana sentiu-se muito feliz ao final da entrevista e estava certa de que
havia desenvolvido bem esta etapa da seleção, o que a deixou entusiasmada
com a grande possibilidade de ser contratada. O resultado seria fruto da sua
parceria na função de orientador profissional da candidata.
Baseado no trabalho de orientação profissional que você desenvolveu com
a Ana, como foram abordados esses temas tão importantes e complexos para
a Fisioterapia? Como o fisioterapeuta atua e tem seu trabalho influenciado
por aspectos comportamentais, afetivos e pelas relações sociais e familiares?
Quais os direitos adquiridos pelas políticas públicas de saúde dos idosos?
A compressão dos aspectos emocionais e comportamentais relacio-
nados ao envelhecimento, das relações sociais e familiares, a inatividade de

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 35


idosos e o processo de institucionalização, bem como das políticas públicas
voltadas aos idosos fornecem um importante componente para sua formação
enquanto profissional da saúde. Dedique-se e aproveite ao máximo as refle-
xões, bons estudos!

Não pode faltar


O próprio processo de envelhecimento por meio das influências biológicas e
sociais, sejam elas em decorrência das alterações no sistema nervoso, mudanças
cognitivas, saúde ou influências ambientais, modifica comportamentos e funções
psicológicas de idosos. Essas alterações podem comprometer e trazer danos
severos a eles, seja nas habilidades cognitivas, emocionais ou sociais.
Os mecanismos das alterações comportamentais acompanham o
declínio gradual da funcionalidade dos vários domínios físicos e psico-
lógicos. Nesse contexto, as alterações comportamentais mais observadas
em idosos são:
99 Distúrbios de sono.
99 Distúrbios de apetite.
99 Comportamento “aéreo”.
99 Isolamento social.
99 Sonhos com pessoas que morreram; evitar lembranças de falecidos;
procurar e chamar por estas pessoas; suspiros; choro; visitar lugares
e carregar objetos que lembrem o falecido.
99 Hiperatividade.
99 Autonegligência que ameace sua própria saúde ou segurança.
Não obstante, um conjunto de variáveis torna os aspectos emocionais
do envelhecimento heterogêneos, principalmente no tocante à natureza
psicossocial, em que o bem-estar do idoso influencia diretamente as
questões emocionais.
A forma como o idoso se relaciona com o envelhecimento fará com que
ele desenvolva aspectos positivos ou negativos que podem vir a provocar
doenças sérias como a depressão, o que pode comprometer sua capacidade
cognitiva. Além disso, as relações sociais empobrecidas podem ser conside-
radas fatores de risco para o desenvolvimento de problemas de saúde, tais
como a hipertensão arterial, obesidade e o sedentarismo.
Os fatores que mais influenciam os aspectos emocionais dos idosos são:

36 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


99 Privação de uma atividade ocupacional.
99 Passividade da aposentadoria.
99 Doenças físicas.
99 Enfraquecimento corporal.
99 Lentidão das funções psíquicas.
99 Diminuição ou ausência de atividades prazerosas e agradáveis da vida.
99 Medo da morte.
Como visto, o próprio processo de envelhecimento provoca transfor-
mações na vida do idoso, que são capazes de modificar comportamentos e
emoções, o que tem uma relação direta e/ou indireta com as capacidades
fisico-funcionais.
As relações sociais estão presentes no envelhecimento de uma forma
diferente da observada na população adulta. Elas podem, por exemplo,
envolver idosos em torno de programas de ação de saúde ou de direitos sociais
e, com isso, influenciar diretamente a qualidade de vida dos idosos envolvidos.
Além disso, a maneira como as fases infanto-juvenil e adulta foram viven-
ciadas é determinante para a quantidade e qualidade dos relacionamentos sociais
que serão mantidos pelos idosos. As redes sociais atendem a uma necessidade
básica do ser humano, a vida gregária que, para o idoso, assume um valor impor-
tante e precioso, além de atenderem a uma série de funções, por exemplo:
 Dar e receber apoio emocional;
 Ajuda material;
 Serviços e informações;
 Crença de ser cuidado, amado e valorizado;
 Encontrar sentido no desenvolvimento.
É importante ressaltar que os idosos que desempenham atividades sociais
e de lazer não têm presente a ideia de morte, ficando mais abertos às possibi-
lidades da vida. Todavia, alguns fatores podem influenciar o idoso a perder
o interesse pelo convívio social, como doenças físicas e mentais, luto ou até a
aposentadoria, em alguns casos.
Nesse contexto, a família desempenha papel essencial, principalmente no
que tange à função de auxiliar na orientação e aconselhamento a este idoso.
Aliás, em situações de dependência total do idoso, a responsabilidade da
família aumenta de forma exponencial.

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 37


Pesquise mais
Parte da tese de doutorado de Ana Elizabeth dos Santos Lins investigou a
dinâmica dos apoios sociais que preside a prestação de cuidados e o número
de parceiros sociais dos quais os cuidadores recebem e aos quais oferecem
apoio. O trabalho analisa, ainda, as associações entre a satisfação dos cuida-
dores e as relações familiares, os arranjos de moradia, a dinâmica e a insufi-
ciência dos apoios, além do ônus carretado por sua oferta.

Fonte: LINS, A. E. dos S. Satisfação com as relações e apoios familiares


em idosos cuidadores de idosos. Tese (Doutorado em Gerontologia) –
Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Campinas, Campinas
– SP, 2018. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/bitstream/
REPOSIP/331889/1/Lins_AnaElizabethDosSantos_D.pdf>. Acesso em: 12
nov. 2018; p.15-17.

Assim, a família ainda é a fonte de cuidados e suporte para os idosos,


entretanto, essa realidade não se aplica a todos, pois existem aqueles que
sofrem com o abandono familiar e com a negligência. Há, ainda, casos em
que as famílias são carentes e situações em que os familiares precisam traba-
lhar e não podem cuidar desses idosos, o que torna a fase da velhice ainda
mais dolorosa para alguns deles. Outro ponto de atenção quanto às relações
familiares está nos casos de desestruturação, que estão diretamente ligados
ao risco de violência contra o idoso.
Percebe-se, então, que a família enfrenta desafios importantes decor-
rentes do declínio fisiológico normativo do envelhecimento. Essas dificul-
dades envolvem, também, as limitações e os riscos que afetam a saúde dos
idosos; as mudanças sociais relativas ao afastamento da vida social, as altera-
ções nas relações entre as gerações e as mudanças na funcionalidade familiar.
Dessa maneira, podemos considerar que as condições de saúde, seja
física ou psicológica, e a participação social dos idosos configuram sistemas
relacionais e emocionais complexos entre eles e suas famílias.

Exemplificando
Famílias que possuem idosos funcionalmente dependentes possuem
maior disfunção familiar, isso acontece em decorrência do estresse e
da intensidade das situações vivenciadas, aumentando as chances dos
idosos de desenvolverem depressão e ansiedade, além de afetar negati-
vamente a percepção do suporte social e do funcionamento familiar.
Nesse contexto, a família fica exposta a muitos desafios com forte poten-
cial para originar conflitos. Todavia, quando o idoso é percebido como

38 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


membro integrante nas necessidades coletivas e individuais, os desafios
gerados podem ser um veículo positivo de mudança, de reestruturação
e de fortalecimento dos vínculos familiares.

O idoso percebe a família através da qualidade das relações, da eficácia


do atendimento de suas necessidades e do grau em que as relações familiares
correspondem às suas expectativas. Parte-se, portanto, de uma percepção de
coesão e conforto emocional, que tem influência direta sobre o bem-estar
psicológico dos idosos, afetando sua saúde física e mental. Todavia, altera-
ções na estrutura hierárquica da família podem gerar tensões nos relaciona-
mentos e determinar aumento da ansiedade, além de terem consequências
sobre a funcionalidade da família e sobre o bem-estar de seus membros.
Sendo assim, toda essa relação familiar complexa pode resultar na institucio-
nalização do idoso, uma vez que as instituições de longa permanência (também
denominadas como casa de repouso, asilo ou clínica geriátrica), teoricamente,
possuem ambiente adequado e profissionais qualificados para o atendimento ao
idoso. Essas instituições atendem a duas funções bem específicas, que são:
1. Propiciar assistência gerontogeriátrica de acordo com as necessidades
e o grau de dependência do idoso.
2. Criar um ambiente de aconchego que possa preservar a identidade do
indivíduo.
Entretanto, o perfil do idoso institucionalizado levanta a necessidade de
preocupação com estes ambientes, visto que, na grande maioria das vezes,
encontramos:
 Grande nível de sedentarismo.
 Carência afetiva.
 Perda de autonomia por incapacidades físicas e/ou mentais.
 Ausência de familiares para ajudar no autocuidado.
 Insuficiência de suporte financeiro.
Diante disso, percebe-se que a função do espaço das instituições de longa
permanência não está centrada na promoção a recuperação do idoso e,
muitas vezes, não visa incentivar sua volta ao convívio social mais amplo,
como acontece nos hospitais. Por esse motivo, é considerada uma instituição
depositária, tuteladora de idosos, que oferece apenas cuidados paliativos.
Sua estrutura também apresenta déficits importantes em espaços de lazer e
de promoção da saúde. São observadas, ainda, lacunas em atividades que
gerem renda e promovam grau de integração entre os residentes, deixando de

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 39


contribuir, na maioria dos casos, com o desenvolvimento do papel social do
idoso. Assim, dentre os serviços comumente disponibilizados aos residentes,
estão os de moradia, alimentação, vestuário, serviços médicos, além de fisio-
terapia e medicamentos.
É importante destacar que o idoso, quando asilado, torna-se membro
de uma nova comunidade, causando uma ruptura radical de seus vínculos
relacionais afetivos, passando a conviver cotidianamente com pessoas “estra-
nhas”, com quem não possuem qualquer vínculo afetivo. Assim, a institucio-
nalização pode se desenvolver com um fator de estresse e propiciar inúmeras
alterações psicossociais, levando-o a um quadro de aceleração de perdas
físico-funcionais e cognitivas.
Além disso, nas instituições e também nos domicílios, é comum encon-
trarmos idosos inativos devido à diminuição das funções motoras. Essa
situação pode chegar à imobilidade, com a capacidade de suprimir os
movimentos articulares, prejudicando as mudanças posturais e a indepen-
dência funcional, podendo levar à fragilidade e até mesmo à morte. Os
principais fatores de risco encontrados são:
 Idade avançada;
 Várias internações;
 Diversas comorbidades;
 Institucionalização;
 Repouso prolongado no leito;
Dessa forma, a inatividade do idoso pode culminar em altas taxas de morbi-
dade e mortalidade. Por isso, a atenção deve ser sempre focada naqueles que
estejam em grupos de risco, ou seja, os mais frágeis, com várias comorbidades
e perda da funcionalidade. Portanto, a atuação de equipe multidisciplinar é
fundamental para se obterem bons resultados, focando em medidas preven-
tivas que trarão benefícios maiores do que a atuação com foco apenas paliativo.

Assimile
A inatividade física de idosos associada à vida sedentária contribui para
a redução de independência funcional e para o início de muitas doenças
crônicas, pois o estilo de vida ajuda a determinar o declínio motor. Dessa
maneira, uma forma muito efetiva de se evitar que o idoso se torne
inativo é trabalhar, desde a idade adulta, com um estilo de vida fisica-
mente ativo, pois está bem evidenciado que idosos ativos apresentam
melhor desempenho psicomotor e qualidade de vida.

40 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Além disso, idosos não institucionalizados concorrem à inatividade, este
fenômeno, em alguns casos, pode ser perfeitamente controlável, pois muitos
se tornam inativos pelos obstáculos impostos pelo ambiente físico e social e o
quadro pode se agravar se forem pouco estimulados por familiares e amigos.
Soma-se a este contexto o estresse provocado pela adaptação a um modo
de vida diferente e pela cultura urbana. Assim sendo, destaca-se o fato de
a ociosidade imposta aos idosos ser uma opção social e não uma fatalidade
natural. Dentro do envelhecimento, ela pode gerar um ciclo vicioso perigoso
capaz de levar à perda da independência funcional, uma vez que a inércia e
o sedentarismo aceleram o declínio da força de idosos. Veja como este ciclo
vicioso acontece na Figura 1.5.
Figura 1.5 | Ciclo vicioso do envelhecimento

Envelhecimento

Inatividade física Inatividade física

Ansiedade e depressão Descondicionamento

Menor motivação e Fragilidade


menor autoestima músculo-esquelética

Perda do estilo de vida


independente

Fonte: Farinatti (2008, p. 68).

Como o envelhecimento é heterogêneo, as políticas públicas para a


saúde de idosos assumem papel de destaque para atender tanto os mais
frágeis quanto os mais autônomos. Por isso, o foco na atenção primária, com
acompanhamento multiprofissional contínuo e centrado no indivíduo, e não
na doença, é a receita para o sucesso dos setores público e privado.
Somado a isso, o Estatuto do Idoso traz, em sua normativa, a garantia
do cuidado domiciliar presente em algumas regiões do país, por exemplo.
Outros documentos legais também abrangem a saúde do idoso, entre eles:
99 Política Nacional do Idoso – Decreto n. 1.948/1996: norteia ações
sociais e de saúde e visa garantir ao idoso a assistência à saúde no SUS
mediante programas de prevenção, promoção, proteção e recupe-
ração da saúde, além de instituir a geriatria como especialidade

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 41


clínica e estabelecer a necessidade de realizar estudos para detectar o
caráter epidemiológico da saúde do idoso.
99 Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso – Portaria
n. 702/2002: determina as condições de gestão e a divisão de
responsabilidades.
99 Centros de Referência em Atenção à Saúde do Idoso – Portaria no
249/2002: criados como parte de operacionalizados das redes.
99 Estatuto do Idoso – Lei no 10.741/2003: norteia ações sociais e de
saúde em relação ao idoso;
99 Diretrizes do Pacto pela Saúde – Portaria 399/GM: contemplam o
Pacto pela Vida e afirmam a necessidade de enfrentar os desafios
impostos por um processo de envelhecimento caracterizado por
doenças e/ou condições não transmissíveis, muitas delas passíveis de
prevenção e controle, e por incapacidades que podem ser evitadas
ou minimizadas;
99 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa – Portaria no 2.528/2006:
norteia ações sociais e de saúde, assume o desafio da evolução das
enfermidades e do estilo de vida que resulta em perda da funcionali-
dade e das habilidades físicas e mentais necessárias para a realização
das atividades de vida instrumentais diárias.

Reflita
As políticas públicas para idosos no Brasil seguem em consonância com a
realidade nacional e busca o bem-estar físico, social e mental de idosos?
O Estado e a Sociedade participam conjuntamente para que os idosos
possam viver a vida plenamente?

Apesar de todas as políticas desenvolvidas para atuação na saúde do idoso,


sabemos que a efetivação de uma saúde pública requer atitudes conscientes,
embasadas na ética e na promoção da cidadania, por meio da corresponsabi-
lidade do Estado, dos profissionais de saúde e, também, dos idosos.

Sem medo de errar


Ana Carolina já estava em uma etapa final do processo seletivo para atuar
em um Hospital Regional e as sessões de orientação profissional geraram
bons frutos para as arguições levantadas pelo entrevistador. Vamos analisar
uma a uma.

42 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Como o envelhecimento influencia e é influenciado pelos aspectos
comportamentais e afetivos e pelas relações sociais e familiares? O envelhe-
cimento acarreta uma série de mudanças no sistema nervoso, altera-
ções cognitivas, comportamentais e psicológicas. Dentre elas, é comum
observar idosos com distúrbios do sono e apetite, idosos que apresentam
isolamento social, tristeza, hiperatividade e até autonegligência. A hetero-
geneidade dos aspectos emocionais dos idosos faz com que o fisioterapeuta
tenha que saber atuar frente à possibilidade de desenvolvimento de sérias
doenças, como a depressão, além do fato das relações sociais empobrecidas
serem consideradas fatores de risco para hipertensão arterial, obesidade e
sedentarismo. Nesse tocante, deve atentar-se aos idosos que apresentam
privação de atividade ocupacional, passividade em decorrência da aposen-
tadoria, doenças físicas e enfraquecimento corporal, lentidão das funções
psíquicas, diminuição ou ausência de atividades prazerosas e agradáveis
da vida e medo da morte, uma vez que tais comportamentos têm relação
direta e/ou indireta com as capacidades físico-funcionais. A Fisioterapia,
conjuntamente com outras profissões da saúde, deve atuar com idosos de
forma a fomentar as relações sociais, dar apoio emocional, valorizá-los e
fornecer sentido para as atividades que eles desenvolverão. Nesse contexto,
a família desempenha papel essencial, todavia, o fisioterapeuta deve ter
atenção aos casos em que ela desenvolva função detratora da saúde física e
emocional do idoso.
Como se dá a complexa questão com idosos que residem em Instituições
de Longa Permanência?
Toda esta relação familiar complexa pode resultar na institucionali-
zação do idoso, uma vez que as instituições de longa permanência, teori-
camente, possuem ambiente adequado e profissionais qualificados para o
atendimento ao idoso, com duas funções bem específicas: propiciar assis-
tência gerontogeriátrica de acordo com as necessidades e o grau de depen-
dência do idoso e; criar um ambiente de aconchego que possa preservar a
identidade deste indivíduo.
Todavia, algumas vezes a estrutura geral das instituições de longa perma-
nência apresenta déficits importantes em espaços de lazer e de promoção da
saúde. São observadas, também, lacunas em atividades que gerem renda e
promovam algum grau de integração entre os residentes e que os auxiliem a
exercer um papel social. Entretanto, os serviços comumente disponibilizados
aos residentes são os de moradia, alimentação, vestuário, serviços médicos,
além de fisioterapia e medicamentos.
Como o idoso asilado torna-se membro de uma nova comunidade,
com ruptura radical de seus vínculos relacionais afetivos, passa a conviver

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 43


cotidianamente com pessoas com as quais não possuem qualquer vínculo
afetivo. Assim, a institucionalização pode se desenvolver com um fator de
estresse e propiciar inúmeras alterações psicossociais, levando a um quadro
de aceleração de perdas físico-funcionais e cognitivas.
Com esse cenário, a inatividade do idoso passar a ser um elemento
preocupante, tendo em vista as altas taxas de morbidade e mortalidade. A
inatividade física de idosos associada à vida sedentária contribui e muito
para a redução de independência funcional e para o início de muitas
doenças crônicas em idosos, pois o estilo de vida contribui bastante para
o declínio motor. A inatividade física dentro do envelhecimento pode
gerar um ciclo vicioso perigoso capaz de levar à perda da independência
funcional, uma vez que a inatividade e o sedentarismo aceleram o declínio
da força de idosos.
E quais os direitos adquiridos pelas políticas públicas de saúde em idosos?
Nesse contexto desafiador, as políticas públicas para a saúde de idosos
assumem papel de destaque para atender tanto os mais frágeis quanto
os mais autônomos. Por isso, o foco na atenção primária, com acompa-
nhamento multiprofissional contínuo e centrado no indivíduo, e não na
doença, é a receita para o sucesso dos setores público e privado. Dentre
os documentos legais existentes, destacam-se, em ordem cronológica, a
Política Nacional do Idosos (Decreto no 1.948/1996), que norteia ações
sociais e de saúde e visa garantir ao idoso a assistência à saúde no SUS,
mediante programas de prevenção, promoção, proteção e recuperação da
saúde, além de instituir a geriatria como especialidade clínica e estabe-
lecer a necessidade de realizar estudos para detectar o caráter epidemio-
lógico da saúde do idoso; as Redes Estaduais de Assistência à Saúde do
Idoso (Portaria no 702/2002), que determina as condições de gestão e
a divisão de responsabilidades; os Centros de Referência em Atenção à
Saúde do Idoso (Portaria no 249/2002) criados como parte de operacio-
nalizados das redes; o Estatuto do Idoso (Lei no 10.741/2003), que norteia
ações sociais e de saúde; as Diretrizes do Pacto pela Saúde (Portaria no
399/GM), que contemplam o Pacto pela Vida e afirmam a necessidade
de enfrentar os desafios impostos por um processo de envelhecimento
caracterizado por doenças e/ou condições não transmissíveis passíveis
de prevenção e controle, e por incapacidades que podem ser evitadas ou
minimizadas; e a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Portaria no
2.528/2006), que norteia ações sociais e de saúde, assumindo o desafio
da evolução das enfermidades e do estilo de vida que resulta em perda
da funcionalidade e das habilidades físicas e mentais, necessárias para a
realização das atividades de vida instrumentais diárias.

44 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


Avançando na prática

Fisioterapia em instituições de longa


permanência

Descrição da situação-problema
Joaquim foi contratado para atuar como fisioterapeuta geriátrico em uma
instituição de longa permanência de uma cidade do interior do Brasil. Após
algumas semanas, recebeu a notícia de que Thiago seria contratado para
compor conjuntamente com ele a equipe de Fisioterapia. Joaquim animou-se
com o crescimento da equipe e chamou Thiago para conversar sobre as
funções que eles deveriam desenvolver em conjunto que eram: conhecer a
realidade e o cotidiano da instituição e dos seus residentes; realizar anamnese
e exame físico dos residentes; promover lazer e socialização dos residentes
de maneira individual ou em grupo; realizar atividades que promovam a
melhoria do bem-estar e da autoestima dos residentes.
Mas ao refletirem sobre as atividades desenvolvidas, questionaram se
as ações da Fisioterapia desta instituição de longa permanência auxiliariam
no restabelecimento e quais variáreis estariam envolvidas? Seria possível
modificar a vida dos residentes através da Fisioterapia?

Resolução da situação-problema
Sabe-se bem que as instituições de longa permanência têm como função
essencial ofertar cuidado e suporte às necessidades básicas, com vistas a melhorar
a qualidade de vida dos residentes. A Fisioterapia atua diretamente na promoção
de maior independência dos idosos para a realização das atividades da vida diária
e minimizar as consequências das alterações decorrentes do envelhecimento,
desempenhando papel central na melhoria da qualidade de vida.
Todavia, a execução das atividades relacionadas à anamnese e ao exame
físico, que promovam lazer, socialização e, consequentemente, bem-estar e
autoestima, encontram obstáculos significativos, tais como idosos com déficit
cognitivo ou com quadros demenciais e significativo grau de dependência.
Dessa maneira, o fisioterapeuta deve trabalhar, preferencialmente,
com atividades de promoção da saúde, prevenção de doenças ou de reabi-
litação. Para isso, recomenda-se a realização de atividades práticas que
promovam interação entre os membros para a melhoria da qualidade de
vida dos residentes.

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 45


Faça valer a pena
1. A Carta de Otawa de 1996 preconiza cinco campos de atuação para a promoção
da saúde e melhoria da qualidade de vida e saúde das pessoas. Ao focar as ações de
promoção da saúde que a Fisioterapia pode realizar com a população idosa, quais
atividades poderiam ser realizadas?

I – Criação de atividades para o combate à inatividade física.


II – Elaboração de políticas públicas saudáveis.
III – Criação de estratégias de educação voltadas para a saúde de idosos.

Com base nas atividades citadas, quais são focadas na promoção da saúde de idosos?
a) Somente as sentenças I e II estão corretas.
b) Somente as sentenças I e III estão corretas.
c) Somente as sentenças II e III estão corretas.
d) Somente as sentenças I, II e III estão corretas.
e) Somente a sentença III está correta.

2. Quando uma família passa a ter um idoso acamado em sua residência, toda a
rotina dos membros da casa se altera e muitos desafios são impostos tanto ao idoso
quanto aos seus familiares. Um aspecto que merece especial atenção está na questão
comportamental e emocional do idoso e de sua família que podem estar alterados.
Diante desse cenário, analise as asserções a seguir:

I – A presença de um idoso com doença incapacitante gera um fator estressor na


família e no idoso, o qual pode ser capaz de estremecer as relações emocionais
pré-existentes.

POR QUE
II – A dependência é capaz de provocar sensação de inutilidade por parte do idoso
e a sensação de sobrecarga por parte dos familiares que têm sua rotina modificada.

Com base no exposto, assinale a alternativa que apresenta a análise correta.


a) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
b) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
c) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I.
d) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. As políticas públicas voltadas para a saúde do idoso buscam estabelecer diretrizes


e normas para a implementação de programas de saúde e bem-estar da população
idosa. Nesse cenário, a Fisioterapia assume papel de destaque por:

46 - U1 / Fisioterapia na saúde do idoso


I – Viabilizar, por meio de programas de promoção da saúde, prevenção de doenças e
reabilitação à permanência dos idosos na comunidade.
II – Integrar as famílias, por meio de atividades fisioterapêuticas, no processo de
cuidado e de saúde do idoso.
III – Manter o idoso no maior nível de dependência, garantindo por meio do atendi-
mento fisioterapêutico a unidade familiar.
IV – Promover no idoso, por meio de atividades, e na família, por meio de educação
em saúde, maior independência na realização das atividades da vida diária.

Quais das ações elencadas podem ser realizadas pela Fisioterapia por meio de
políticas públicas que visem garantir saúde e bem-estar de idosos?
a) Somente as sentenças I e II estão corretas.
b) Somente as sentenças III e IV estão corretas.
c) Somente as sentenças I, II e III estão corretas.
d) Somente as sentenças II, III e IV estão corretas.
e) Somente as sentenças I, II e IV estão corretas.

Seção 1.3 / O Idoso e as questões sociais - 47


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Unidade 2

Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em


grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio

Convite ao estudo
Uma reportagem da Folha de São Paulo, publicada em maio de 2018,
destaca o que hospitais, instituições de longa permanência e planos de saúde
oferecem à 3ª idade (LEWER, 2018). Na reportagem, observa-se o luxo e
glamour que alguns institutos oferecem aos usuários, com serviços que
vão desde restaurante com cinco refeições diárias e teatro até fisioterapia,
cujos valores praticados são exorbitantes e excludentes à grande parcela da
população. Todavia, as políticas públicas têm avançado de maneira lenta
no tocante à oferta de serviços como a fisioterapia domiciliar, fisioterapia
preventiva e até institutos de longa permanência com subsídios governa-
mentais, para tornar acessível à população mais carente e dependente dos
serviços públicos de saúde esse tipo de tratamento.
Por isso, a compreensão dos institutos de longa permanência com suas
equipes multiprofissionais é importante para que o Fisioterapeuta entenda
seu papel, suas principais atividades dentro das características sociais,
econômicas e de saúde dos idosos que ali residem. Além disso, é importante
entender as características e a estrutura básica que é prevista na realização de
atendimento domiciliar, o papel das equipes de saúde e dos familiares neste
processo, bem como o papel da fisioterapia e suas principais atividades dentro
do perfil de saúde dos idosos nas residências, considerando o perfil social e
econômico. Por fim, assimilar a importância da fisioterapia preventiva no
planejamento de um ambiente seguro e funcional para pessoas idosas, na
realização de uma comunicação eficaz e de programas de exercícios terapêu-
ticos individuais e em grupo. Todos estes conhecimentos auxiliarão na
compreensão da relação existente entre a promoção da saúde de idosos insti-
tucionalizados, em grupos, em ambulatórios e em domicílio e a aplicação de
exercícios para a promoção da qualidade de vida da pessoa idosa.
Neste contexto, o site Diário do Comércio, com dados de 2015, traz:

“ Mais de 184 mil empresas, entre serviços de atendimento


domiciliar, clínicas populares e de home care movimentam os
negócios de saúde no país. A recessão e o recuo nos planos
devem turbinar modelos inovadores. (GODINHO, 2016)
Dentro deste cenário, Fabiano formou-se em fisioterapia há alguns meses
e foi contratado por uma empresa especializada em atendimento domici-
liar. A sua jornada de trabalho seria distribuída em dois períodos, sendo um
prestando atendimento em instituições de longa permanência e, a outra, com
atendimento domiciliar para idosos.
A felicidade e o entusiasmo com os novos desafios eram evidentes nas
falas e nas ações de Fabiano que, após passar por um período de treinamento
para adequação à cultura da empresa e dos processos relacionados à sua
função, estava pronto para iniciar suas atividades.
Mas os desafios da atuação e complexidade destas frentes de trabalho
requerem conhecimento multidisciplinar e, desta forma, surgem questio-
namentos: como a Fisioterapia está inserida no contexto das instituições de
longa permanência? E no contexto dos serviços de saúde em domicílio, como
a fisioterapia atua? Quais práticas de fisioterapia preventiva são eficazes a
ponto de dimensionar um novo futuro?
Seção 2.1

Institutos de longa permanência para idosos

Diálogo aberto
Segundo a Organização Mundial de Saúde (ONU/BR, 2014), em 2050 o
mundo terá 2 bilhões de idosos e o Brasil passará por este processo de envelhe-
cimento apresentando gargalos importantes na sua estrutura de saúde pública,
assim, crescem serviços do setor privado que visam atender às necessidades desta
população, como por exemplo, as instituições de longa permanência.
A frente de trabalho da fisioterapia nas instituições de longa permanência
já é consolidada e está em amplo processo de expansão, tendo em vista o
envelhecimento populacional e a transição epidemiológica presente.
Fabiano, no seu primeiro dia de trabalho, precisou planejar as ações que
seriam realizadas com os residentes daquela instituição de longa perma-
nência, mas para que isto fosse realmente efetivo e seu planejamento tivesse
o êxito esperado, ele destacou pontos de atenção, como por exemplo, a estru-
tura da instituição, o papel da equipe multiprofissional e como a fisioterapia
se insere neste contexto, atividades a serem realizadas, além de traçar o perfil
dos idosos.
Para conseguir aprofundar no seu planejamento, ao final do período a equipe
de saúde da instituição se reuniu para discutir sobre os pontos levantados por
Fabiano. Como você faz parte da equipe de integração, de que maneira poderia
auxiliar o Fabiano a se preparar para os desafios que se apresentam?

Não pode faltar


Sabemos que a expectativa de vida da população brasileira aumentou
consideravelmente nas últimas décadas em decorrência da melhoria de
setores importantes da sociedade, como observamos na nutrição, higiene
pessoal, condições sanitárias e condições ambientais. Estas melhorias culmi-
naram em elevação da qualidade de vida e redução das taxas de mortalidade
nas fases iniciais da vida que, associadas à redução na taxa de fecundidade,
explica o processo de envelhecimento populacional acelerado da população
brasileira (CORRÊA; MIRANDA-RIBEIRO, 2017).
Todas as modificações advindas do envelhecimento populacional criam
novos desafios para a sociedade, que passa a requerer cada vez mais um
sistema de saúde estruturado para atender à demanda crescente de idosos.
Com as mudanças fisiológicas do envelhecimento somadas às patologias,

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 53


os idosos podem se tornar mais frágeis e suscetíveis a apresentar perda de
autonomia e independência, suscitando uma série de mudanças biopsicos-
sociais. Neste contexto, as instituições de longa permanência (ILPs) apresen-
tam-se como uma alternativa para prestar assistência à população idosa
que depende de cuidados especiais e também para aqueles que nem sempre
podem ser atendidas por seus familiares, pelos mais diversos motivos.
As ILPs, teoricamente, são ambientes dotados de estrutura física e pessoal
qualificadas para atendimento ao idoso em todos os seus aspectos. Em
outras palavras, são lares especializados para idosos cujas denominações são
variadas e bem conhecidas da população em geral, conforme pode ser visua-
lizado na Figura 2.1.
Figura 2.1 | Instituições de Longa PermanênciaDesde seu início, as ILPs
não têm como finalidade
a recuperação do idoso e
Asilo
também não visam incen-
tivar sua volta ao convívio
social mais amplo; na verdade,
são instituições caracteri-
zadas como tuteladoras que
ILP oferecem apenas cuidados
suficientes aos idosos em uma
Clínica Casa de estrutura com poucos espaços
Geriátrica Repouso de lazer e para promoção
de saúde. O funcionamento
destas instituições requer
Fonte: elaborada pelo autor. inscrição junto aos órgãos
competentes da vigilância
sanitária e aos conselhos de idosos e, em caso de descumprimento das
determinações legais, estão sujeitas às penas que vão desde advertências
até o fechamento (nos casos de ILPs não governamentais) e advertência
à proibição de atendimento, passando por multa e suspensão do repasse
de verbas públicas (no caso de ILPs governamentais).
Assim sendo, sabe-se que a grande demanda por ILPs dá-se, principal-
mente, por falta de respaldo familiar, dificuldades financeiras, distúrbios de
comportamento e precariedade nas condições de saúde. Entretanto, a insti-
tucionalização do idoso tem como agravante o rompimento dos vínculos
relacionais afetivos do idoso, obrigando este a conviver com pessoas com
as quais não tem qualquer conhecimento nem, tampouco, vínculo afetivo,
fato este que pode ser notado em qualquer instituição de longa permanência,
independentemente da qualidade da mesma.

54 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Nas ILPs os idosos são obrigados a adaptarem-se à aceitação de normas
e regulamentos que não são condizentes com suas realidades antes da inter-
nação. Estes fatores geram estresse nos idosos, que podem vir a apresentar
inúmeras alterações psicossociais; diante disto, os idosos institucionalizados
requerem maior atenção devido à fragilização pelas morbidades físicas e
mentais, as quais tornam-se maiores com o tempo de internação, uma vez
que a institucionalização acelera a velocidade das perdas funcionais físicas
e cognitivas.

Assimile
O indivíduo, ao envelhecer, traz consigo múltiplas mudanças fisiológicas
que acarretam prejuízos na funcionalidade física e cognitiva. O contexto
social e as relações familiares desempenham um papel fundamental na
manutenção da qualidade de vida e, quando ausentes, geram a necessi-
dade de institucionalização deste idoso, embora a legislação brasileira
estabeleça que o cuidado seja responsabilidade das famílias. Entretanto,
as ILPs, em vez de promoverem melhorias significativas, causam a acele-
ração do declínio funcional (físico e cognitivo) e da mortalidade.

Segundo Lacerda et al. (2017), os idosos institucionalizados


apresentam características comuns:
99 Idade avançada (acima de 75 anos).
99 Gênero feminino.
99 Solteiros ou viúvos.
99 Baixa escolaridade.
99 Polifarmácia.
99 Presença de uma ou mais síndromes geriátricas.
99 Presença de doenças cronicodegenerativas.
99 Presença de depressão severa.
99 Dependência na realização de atividades de vida diária (AVDs).
Para suprir esta demanda e atender às necessidades dos idosos,
a estrutura mais comum das ILP no Brasil é de estabelecimentos
voltados à clínica ou à terapêutica, apesar de os residentes receberem
moradia, alimentação e vestuário, além de serviços médicos e medica-
mentos. Os serviços médicos e de fisioterapia são os mais frequentes
nas instituições brasileiras, enquanto que a oferta de atividades que

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 55


geram renda, lazer e/ou cursos diversos são menos frequentes, fato
este que dificulta a integração entre os residentes e falha na busca por
exercer um papel social. A maioria das ILPs brasileiras é filantrópica,
todavia, a partir do ano 2000, a maioria das instituições criadas são
privadas, o que aponta uma mudança de perfil das ILPs (CAMARANO;
KANSO, 2000).
Todo idoso ao ser admitido em uma ILP deve ser avaliado global-
mente, de modo multidisciplinar – avaliação geriátrica ampla (AGA)
–, de acordo com o que embasa o Plano Integral de Atenção ao Idoso.
Este plano contém direções e contatos da equipe multiprofissional além
do Plano de Cuidados na Instituição, visando à promoção, prevenção e
manutenção da saúde.
A complexidade do envelhecimento e as demandas de cuidado das
condições de saúde requerem ações interdisciplinares nos serviços de
saúde em todos os níveis de atenção, inclusive na ILPs, por isso a equipe
multiprofissional promoverá atendimento que englobe serviços a fim de
contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos idosos, com ativi-
dades de lazer e serviços especializados.
Assim, para que o processo de trabalho seja qualificado e atenda
à necessidade de atenção multiprofissional, a equipe deve ser
composta por:
99 Enfermeiros.
99 Técnicos de enfermagem.
99 Cuidadores
99 Médicos.
99 Nutricionistas.
99 Psicólogos.
99 Assistentes sociais.
99 Fisioterapeutas.
99 Educadores físicos.
Porém, cabe destacar que a presença de equipes multiprofissionais
acontece em poucas instituições, geralmente para uma clientela com
mais recursos financeiros. DesSa forma, grande parcela da população
idosa com recursos mais escassos que depende de ILPs não têm acesso
ao modelo ideal de atenção. Veja na Figura 2.2 a composição de profis-
sionais em ILPs na região metropolitana de Belo Horizonte.

56 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Figura 2.2 | Equipe multiprofissional em ILPs da região metropolitana de Belo Horizonte
Privada Filantrópica

Fonoaudiólogo 30,2%
11,7%
Nutricionista 86,5%
50,0%
Terapeuta Ocupacional 78,1%
25,0%
5,2%
Educador físico 3,3%
Musicoterapeuta 8,3%
1,7%
5,2%
Assistente Social 51,7%
25,0%
Psicológo 55,0%

Fisioterapeuta 89,6%
66,7%
Médica 81,3%
56,7%
Fonte: Lacerda et al. (2017, p. 748).

Portanto, a importância da equipe multidisciplinar dentro da ILPs


mostra-se relevante pela necessidade de proporcionar aos idosos um cuidado
ampliado na busca de atender a um conjunto de necessidades, assegurando
aos idosos a atenção integral à saúde, com olhar multidimensional.

Reflita
O trabalho multidisciplinar em ILPs possibilita a atenção centrada no
usuário de forma plural e complexa? Ou requer atenção que se centra
em um eixo recortado e reduzido à área de atuação?

A ação do fisioterapeuta neste contexto está pautada em ações de saúde


desenvolvidas a partir do diagnóstico da realidade em que o indivíduo está
inserido, cuja abordagem está direcionada aos problemas multifatoriais que
o cercam, com objetivo claro de melhora ou manutenção da qualidade de
vida por meio de atividades fisicofuncionais, como pode ser visualizado no
Quadro 2.1.
Quadro 2.1 | Atividades fisicofuncionais

Ações/Atividades Exemplos de ações e atividades


Adaptações ambientais Adaptações de objetos e mobílias que fa-
zem parte do cotidiano dos residentes, de
forma a facilitar a realização de atividades
funcionais.

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 57


Ações/Atividades Exemplos de ações e atividades
Atividades funcionais Exercícios de mobilidade no leito.
Transferências de posicionamentos: deitado/
sentado/em pé.
Exercícios focados para tomar banho, usar o
vaso sanitário, vestir-se, arrumar-se e alimentar-
-se. Treino de marcha.
Uso de dispositivos auxiliares para locomoção.
Exercícios terapêuticos Exercícios terapêuticos para melhorar a força.
Exercícios terapêuticos para melhorar a fle-
xibilidade.
Exercícios terapêuticos para melhorar a resis-
tência muscular.
Exercícios terapêuticos para melhorar a am-
plitude de movimento.
Exercícios terapêuticos para melhorar o
equilíbrio.
Exercícios terapêuticos para melhorar as ha-
bilidades motoras e cognitivas.
Educação em saúde Orientar o idoso e a equipe multiprofissional a
respeito de posicionamentos e transferências.
Orientar o idoso e a equipe multiprofissional
sobre o risco de acidentes no domicílio.
Orientar o idoso e a equipe multiprofissional
a respeito de complicações relacionadas à
imobilidade.
Atividades em grupo Realizar grupos de atividades que podem en-
volver recreação, artes e trabalhos manuais,
cujo objetivo seja auxiliar na melhora ou ma-
nutenção da função e na socialização.
Fonte: elaborado pelo autor.

As ações que a fisioterapia realiza nas ILPs incluem níveis diversos de


intervenção cuja complexidade das ações relaciona-se com o grau de capaci-
dade funcional do idoso, que pode refletir desde idosos frágeis com incapaci-
dade funcional até idosos funcionalmente independentes.

Exemplificando
Diversos são os métodos existentes para avaliar a independência em relação
à execução de atividades de vida diária, dentre os quais temos como exemplo
o índice de Barthel, que permite a análise do funcionamento do intestino e da
bexiga, da realização de cuidados pessoais, do uso do banheiro, da capacidade
de alimentar-se, da capacidade de transferência, da mobilidade, da capaci-
dade de vestir-se, de subir e descer escadas e tomar banho. Também há o
Timed Up and Go (TUG) que permite analisar a mobilidade funcional.

58 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Além disto, o fisioterapeuta poderá participar do comitê de recepção
(corpo de funcionários e residentes) da ILP, que tem como objetivo diminuir
a ansiedade em virtude do choque da mudança, informando sobre a rotina,
eventual companheiro de quarto, horários, refeições, dietas; esclarecer que
a família será solicitada ao menor problema; além de organizar eventos e
grupos de apoio aos mais necessitados. Poderá também organizar e manter
um Conselho de Residentes, que fará recomendações para o programa de
atividades e sobre qualquer alteração desejada.

Exemplificando
O programa de tratamento fisioterapêutico deve enfatizar atividades
funcionais específicas que o idoso realiza ou necessita realizar no
contexto domiciliar, como transferências e deambulação.
Vamos supor o caso de um idoso institucionalizado que apresenta um
quadro pós-cirúrgico de fratura do colo do fêmur. O fisioterapeuta da
ILP deverá, primeiramente, realizar sua avaliação cinético funcional
com a finalidade de estabelecer os objetivos e as estratégias que serão
traçadas para melhorar e recuperar as funções prejudicadas em decor-
rência da fratura sofrida.

Desta forma, a fisioterapia nas ILPs tem como objetivos centrais, basica-
mente, promover ou manter a independência do idoso para a realização de
tarefas básicas de atividades de vida diária, no anseio de minimizar as conse-
quências das alterações fisiológicas e patológicas do envelhecimento, garan-
tindo melhoria da mobilidade e favorecendo qualidade de vida satisfatória,
por meio de ações simples e complexas.
Em resumo, a fisioterapia nas ILPs requer dos profissionais que sejam
criativos e persistentes, para promover melhora da autoestima dos residentes,
alívio da dor, evolução na realização de atividades funcionais, melhora no
equilíbrio, força muscular, amplitude de movimento, diminuição de quedas e
melhora nas atividades de vida diária. Por fim, destaca-se que a atuação fisio-
terapêutica é essencial para a reabilitação funcional e melhora na qualidade
de vida de idosos institucionalizados.

Pesquise mais
Para maiores informações sobre o idoso, a institucionalização e a fisio-
terapia, acesse o link que segue, que apresenta uma entrevista com a
fisioterapeuta Cristina Ribeiro.

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 59


CRISTINA RIBEIRO. O idoso e a institucionalização. 22 maio. 2016. Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e4PigZVp8MY>. Acesso
em: 26 set. 2018.

É importante lembrar de que toda a atenção à saúde do idoso prestada


pela fisioterapia deve estar centrada na busca pela quebra do paradigma de
imagens negativas das ILPs associadas à pobreza, ao abandono e à exclusão
social, uma vez que as ILPs são caracterizadas como serviços híbridos de
assistência à saúde e de bem-estar social. Como o Brasil é marcado pela
diversidade cultural e grandes desigualdades socioeconômicas, isto acaba
refletindo nos padrões das ILPs e nos fatores que pesam na institucionali-
zação de idosos.
Assim, a fisioterapia deve estar preparada para os fatores associados à
saúde de idosos institucionalizados, que apresentam padrões característicos
de manifestação de doença e disfunção (imobilidade, instabilidade, incon-
tinência, perdas cognitivas) que impactarão o diagnóstico, o planejamento
e a utilização de recursos voltados aos cuidados e recuperação da saúde, da
preservação da autonomia e da manutenção de laços afetivos. Desta forma, o
desafio é grandioso para a fisioterapia na promoção da saúde, principalmente
pela dificuldade em adequar as ações à heterogeneidade (grau de depen-
dência e capacidade cognitiva) dos idosos institucionalizados.

Sem medo de errar


Fabiano, recém-contratado, planejou as ações que realizaria com os
residentes de uma instituição de longa permanência. Para isso, buscou
compreender a estrutura característica da instituição necessária para prestar
os cuidados necessários aos idosos.
Concluiu que a estrutura da instituição deve estar preparada para atender
o idoso como um todo, seja nos aspectos físicos, seja nos aspectos sociais e
mentais, sendo capaz de prestar atendimento adequado aos idosos mesmo
com a heterogeneidade característica desta população. No Brasil, a ILP é
caracterizada como tuteladora e apresenta poucas áreas para lazer e para
promoção da saúde, o que pode se tornar um fator dificultador na recupe-
ração fisicofuncional dos idosos institucionalizados.
Fabiano também foi conhecer a equipe multiprofissional, seu papel e
como a fisioterapia atua.
Pôde verificar que a equipe multiprofissional é composta por enfermeiros,
técnicos de enfermagem, cuidadores, médicos, nutricionistas, assistentes

60 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


sociais, fisioterapeutas e educadores físicos. Essa equipe realiza a avaliação
geriátrica ampla do idoso e elabora o plano de cuidados e, neste contexto, a
fisioterapia atua, de modo geral, com adaptações ambientais, atividades funcio-
nais, exercícios terapêuticos, educação em saúde e com atividades em grupo.
Por fim, Fabiano foi conhecer os idosos e entender o perfil destes
residentes, e encontrou idosos com idade elevada (75 anos ou mais), com
predomínio do gênero feminino, sendo a maioria solteiras ou viúvas, com
baixa escolaridade, que fazem uso de polifarmácia, apresentando uma ou
mais síndromes geriátricas, doenças crônicas degenerativas, depressão e
dependência na realização das atividades de vida diária. Por fim, entendeu a
dificuldade em se estabelecer planos e estratégias que garantam a estes idosos
a melhoria na qualidade de vida e sua independência funcional.

Avançando na prática

Execução de atividades de vida diária


e mobilidade funcional em idosos
institucionalizados

Descrição da situação-problema
Camila, Fernanda e você fazem parte da equipe de fisioterapia de uma
instituição de longa permanência. Ao final do semestre, vocês tiveram que
apresentar aos gestores desta instituição os indicadores de independência
funcional dos idosos que estavam sob atenção da fisioterapia, uma vez que no
semestre anterior vocês haviam demonstrado preocupações com a qualidade
de execução das atividades de vida diária e com a mobilidade funcional dos
idosos que ali residiam.
Logo, vocês buscaram, no início do semestre, métodos confiáveis para
verificar a qualidade destas ações e determinar os possíveis riscos. Quais
foram os achados e como eles indicaram os níveis de funcionalidade dos
idosos residentes?

Resolução da situação-problema
Camila e Fernanda, para verificar as atividades de vida diária, utilizaram o
índice de Barthel, que permitiu a elas a compreensão geral sobre o funciona-
mento do intestino e da bexiga, cuidados pessoais, uso do banheiro, capaci-
dade de alimentar-se, capacidade de transferência, mobilidade, capacidade

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 61


de vestir-se, subir e descer escadas e tomar banho. Já para avaliação da
mobilidade funcional aplicaram nos idosos o TUG (Timed Up and Go),
para analisar a mobilidade funcional e a capacidade de equilíbrio mediante
esforço físico com mudança de direção.
Puderam observar que os idosos institucionalizados apresentam depen-
dência quase que total, considerando os vários aspectos analisados, e que
aqueles que detêm mobilidade por meio da marcha apresentaram médio
risco para quedas.
Desta forma, traçaram como estratégia a necessidade de se estabelecer
ações individuais e em grupo que visem melhorar os índices relacionados à
execução e qualidade das atividades de vida diária e utilizarem de recursos
que visem melhorar a mobilidade, equilíbrio dinâmico e segurança, para que
sejam evitadas as quedas e suas possíveis consequências.

Faça valer a pena


1. Ao avaliar um idoso de 86 anos de idade com síndrome de imobilidade e restrito
ao leito, com déficit cognitivo grave, úlceras de pressão sacral e trocantéricas bilate-
rais, a fisioterapia, conjuntamente com a equipe multiprofissional, poderá realizar
quais ações?
I – Diagnosticar as dificuldades mais relevantes relativas ao cuidado do paciente.
II – Elaborar plano de cuidados no que se refere ao manuseio, transferências e
manutenção da higiene.
III – Transferir para o médico a tomada de decisão sobre o plano de cuidados.

Fonte: adaptado de ENADE, 2004. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/


enade/provas/ENADE_FISIOTERAPIA.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2018.

Com base no exposto, assinale a alternativa que apresente a análise correta sobre as
ações da equipe multiprofissional.
a) Somente as sentenças I e II estão corretas.
b) Somente as sentenças I e III estão corretas.
c) Somente as sentenças II e III estão corretas.
d) Todas as sentenças estão corretas.
e) Nenhuma das sentenças está correta.

2. Joaquim iniciou o seu processo de institucionalização: ele apresenta um quadro


de senilidade avançada, com diminuição da capacidade funcional, dificuldade de
locomoção e uso de polifarmácia, além de apresentar algumas síndromes geriátricas.
Ao ingressar na instituição de longa permanência, o setor de fisioterapia realizou
quais ações?

62 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Coloque (V) para as ações que são realizadas pela fisioterapia e (F) para as ações que
não são realizadas pela fisioterapia.
( ) Avaliação diagnóstica cinética funcional inicial para determinar as capacidades
fisicofuncionais do Joaquim.
( ) Prescrição de medicamentos para regulação da função intestinal e vesical.
( ) Organização e coordenação de atividades em grupo para melhorar ou manter a
capacidade de realização das atividades de vida diária.
( ) Atividades de educação em saúde com a equipe multiprofissional,
residentes e familiares.

Assinale a alternativa que contenha a sequência correta.


a) V - V - F - F.
b) V - F - F - V.
c) V - V - V - F.
d) V - F - V - V.
e) V - V - V - F.

3. A procura pelas instituições de longa permanência aumentou em virtude da perda


de autonomia e independência dos idosos e pela oferta de melhores cuidados, incluindo
programas de reabilitação. Com base na atuação da fisioterapia nas instituições de longa
permanência, analise as sentenças a seguir e a possível relação entre elas:
I – O prejuízo da mobilidade e do equilíbrio e a dificuldade na execução de ativi-
dades básicas e instrumentais de vida diária são comuns em alguns idosos e acabam
gerando a institucionalização.
PORTANTO
II – A fisioterapia desenvolverá papel fundamental por estimular atividades como
terapia de restrição e indução do movimento.

Segundo as inserções apresentadas, é correto o que se afirma em:


a) A sentença I é verdadeira, a sentença II é verdadeira e a razão entre as
sentenças é verdadeira.
b) A sentença I é falsa, a sentença II é falsa e a razão entre as sentenças é falsa.
c) A sentença I é verdadeira, a sentença II é falsa e a razão entre as sentenças é falsa.
d) A sentença I é falsa, a sentença II é verdadeira e a razão entre as sentenças é falsa.
e) A sentença I é falsa, a sentença II é falsa e a razão entre as sentenças é verdadeira.

Seção 2.1 / Institutos de longa permanência para idosos - 63


Seção 2.2

Domicílio do idoso

Diálogo aberto
Isabela Palhares, em 17 de abril de 2018, publicou uma reportagem no
Jornal O Estado de S. Paulo na qual destaca o aumento do número de estabe-
lecimentos que prestam serviço de atendimento domiciliar na área da saúde,
setor que em 2017 cresceu 35% em comparação a 2016 em decorrência do
envelhecimento populacional e da percepção dos convênios sobre a humani-
zação e a redução dos custos em comparação à hospitalização.
Fabiano foi contratado por uma empresa especializada em atendimento
domiciliar. Sua jornada de trabalho seria distribuída em dois períodos, um
prestando atendimento em instituições de longa permanência e a outra, em
atendimento domiciliar para idosos. Passou por treinamento para adequação
à cultura da empresa e dos processos relacionados à função.
Em um dia de muitas experiências novas, Fabiano foi para o escritório
da empresa para realizar o planejamento das ações do seu atendimento fisio-
terapêutico domiciliar. Assim como fôra realizado na instituição de longa
permanência, ele levantou alguns pontos de atenção e conjuntamente com
outros colegas da equipe discutiu os pontos levantados para se preparar
para suas atividades profissionais: como são das características estruturais
dos domicílios atendidos? Como se dá a relação com a equipe de saúde da
família? Qual seria o seu papel como fisioterapeuta? Quais atividades seriam
desenvolvidas com base no perfil de saúde dos idosos?
Você, como fisioterapeuta já integrante desta equipe, participou deste
debate e auxiliou Fabiano, baseado em suas experiências.

Não pode faltar


Nem sempre as características e a estrutura básica dos domicílios de idosos
estão preparadas para se tornar um ambiente de espaço terapêutico a fim de
atender as múltiplas demandas que podem existir, considerando a heterogenei-
dade dos comprometimentos cinéticos funcionais que geralmente acometem os
idosos, como questões de acessibilidade e independência, tarefas necessárias para o
cuidado com o domicílio ou atividades domésticas.
A formação do domicílio com idosos ocorre em um processo dinâmico,
caracterizado além do espaço físico, mas também pelas pessoas organizadas
em unidades familiares ou não, influenciado por questões demográficas

64 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


como a distribuição etária, o ciclo de vida e taxa de fecundidade, e por
questões sociais, econômicas e antropológicas.
Neste sentido, a composição dos domicílios nas quais os idosos vivem se
refere ao suporte que as famílias podem oferecer, por exemplo: a divisão do
espaço físico domiciliar está diretamente relacionada com a divisão de outros
bens, ou seja, a maioria dos modelos de arranjos domiciliares consideram
características individuais como a renda, saúde e número de parentes.
Os domicílios com idosos podem ser classificados em unipessoal,
monoparental, casal e casal com filho, casal com extensão. Nota-se nesta
estrutura domiciliar que domicílios monoparentais (idosos não unidos com
filhos pequenos) são os menos comuns em idosos, assim como a categoria
casal com filho. As categorias mais comuns e com maior frequência são a
unipessoal (perda de um cônjuge) e casal (saída dos filhos). Todavia, existe
também uma grande proporção de casal com extensão e unipessoal com
extensão, bem maior do que as mesmas categorias sem extensão (filhos com
mais de 18 anos).
Existem, além da classificação apresentada, outros modelos de classi-
ficação do arranjo domiciliar, que permitem compreender como se dá a
relação com o cuidado com o idoso. Veja na Figura 2.3.
Figura 2.3 | Arranjo domiciliar e organização familiar nas relações de cuidado

Filho/filha residem próximo ao domi-


Domicílio Unipessoal
cílio da pessoa idosa.

Filho/filha foram residir com os netos


Domicílio Estendido no domicílio da pessoa idosa; a pes-
soa idosa foi residir no domicílio do fi-
lho/filha, para efetivação do cuidado.

Domicílio Nuclear (mãe Parente residente em outro domicílio


e filho) oferta o cuidado.

Domicílio Nuclear
(casal com filhos) Filho cuida do casal de idosos.

Domicílio Nuclear Em cada dia da semana um filho/filha


(casal sem filhos) dorme na casa dos país.

Fonte: Silva, Mafra e Rocha (2017, p.).

Seção 2.2 / Domicílio do idoso - 65


Além da conformação do domicílio, a estrutura é outro aspecto impor-
tante a ser analisado, com destaque para os pontos a seguir – os quais, depen-
dendo da independência do idoso, podem ser obstáculos para a mobilidade
e realização de atividades de vida diária ou até acarretar risco de acidentes:
• Tipo de piso: áspero, seco ou molhado.
• Presença ou ausência de tapetes.
• Presença ou ausência de rampas.
• Presença ou ausência de degraus.
• Qualidade da iluminação.
Acessibilidade ao banheiro, quarto, sala, cozinha, varanda, jardim, área
de serviço, corredor, escada.
E, como o domicílio pode ser utilizado como um espaço terapêutico para
o idoso, quando necessário, a Estratégia de Saúde da Família como porta de
entrada do Sistema Único de Saúde, tem, por meio da sua equipe, preparo
adequado e capacitado para o atendimento do idoso e de sua família (na
função de atenção à saúde da família cuidadora). As equipes multiprofissio-
nais de atenção domiciliar e de apoio prestam assistência à saúde na atenção
primária que perpassa por várias ações, das quais vamos destacar algumas:
• Cuidados de menor complexidade com condições clínicas contro-
ladas, com objetivo de controlar as condições crônicas, reabilitar a
funcionalidade e prevenir complicações.
• Procedimentos frequentes e de maior complexidade, que requerem
profissional treinado e materiais para a realização dos procedimentos
(exemplo: administração de antibiótico parenteral).
• Acompanhamento contínuo em casos em que haja necessidade de
suporte ventilatório não invasivo, diálise peritoneal e/ou paracentese.
Desta maneira, é importante que você compreenda a necessidade que a
equipe de saúde da família tem de conhecer a situação de saúde da população
idosa de sua região, para que possa realizar um adequado planejamento das
ações, atuando não somente na aplicação de medidas terapêuticas para os
problemas instalados, mas principalmente em ações preventivas das doenças
e agravos não transmissíveis e na promoção da saúde.
A equipe de saúde da família deve estar organizada para acolher, além da
demanda espontânea e programada, as necessidades de saúde da população
idosa, a qual frequentemente apresenta perdas funcionais e dependência
para a realização das atividades de vida diária. O conhecimento do grau

66 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


de dependência dos idosos permite a elaboração de um plano assistencial
individualizado que objetiva manter este idoso o mais ativo possível, consi-
derando a heterogeneidade do processo de envelhecimento.
O fisioterapeuta dentro desta equipe multiprofissional de saúde da família
que presta assistência domiciliar continuada ao idoso em seu domicílio, na
maioria dos atendimentos trabalha com os seguintes objetivos:
• Promover a melhora da força muscular.
• Promover a melhora da mobilidade articular.
• Promover a melhora da propriocepção.
• Promover a reabilitação da capacidade funcional.
• Promover maior integração social.
• Promover valorização do processo de envelhecimento indivi-
dual e coletivo.
Vamos exemplificar para ficar mais claro: um fisioterapeuta observou que
na sua área existiam muitos idosos com limitações funcionais ou com histó-
rico de quedas. A partir deste diagnóstico situacional, estabeleceu para esta
população sessões domiciliares de fisioterapia que consistiam em treino de
equilíbrio, fortalecimento muscular e orientação de queda segura.

Pesquise mais
Caro aluno, sugerimos a leitura do artigo de Ihana Thaís Guerra de
Oliveira Godin e colaboradores, que aborda aplicação de exercícios
terapêuticos no atendimento domiciliar na Doença de Parkinson. Neste
artigo você poderá verificar a forma de se aplicar os conceitos relacio-
nados ao atendimento domiciliar conjuntamente com a cinesioterapia à
uma doença específica.
GONDIM, I. T. G. O.; LINS, C. C. S. A.; CORIOLANO, M. G. W. S. Exercí-
cios terapêuticos domiciliares na doença de Parkinson: uma revisão
integrativa. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, mar./
abr. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1809-98232016000200349&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 13 out. 2018.

Portanto, a fisioterapia atua com vistas a minimizar as perdas associadas


ao processo de envelhecimento, por meio da manutenção da capacidade
física pelo maior tempo possível e com a prevenção de complicações (como
as decorrentes da imobilidade na fase avançada), além de evitar que a

Seção 2.2 / Domicílio do idoso - 67


dificuldade em realizar as atividades funcionais não seja acentuada ou adian-
tada em decorrência dos aspectos físicos (dor musculoesquelética, imobi-
lizações em decorrência de quedas e alterações do equilíbrio e da marcha).
Outro papel importante do fisioterapeuta está na elaboração de orienta-
ções aos cuidadores e familiares com o objetivo de garantir a eficiência da
assistência prestada e de executar as atividades de forma segura.

Exemplificando
O fisioterapeuta poderá trabalhar na assistência domiciliar diretamente
com os idosos melhorando a força muscular, o equilíbrio e a marcha,
alertando os familiares e cuidadores quanto aos riscos e à necessidade
de adaptação ambiental, como a maneira correta de caminhar com o
idoso, para que este não caia durante a marcha, e quanto ao estímulo à
movimentação, a fim de evitar perda muscular.

As ações da fisioterapia devem ocorrer da forma mais precoce possível


e, se necessário, ela deve fazer uso de recursos alternativos, além de sempre
estimular o idoso a ser ativo na realização dos exercícios ou fazê-los de forma
passiva quando for necessário, sempre com o objetivo de recuperar funções,
melhorar a mobilidade, aliviar a dor e prevenir agravos.
Ações preventivas também devem ocorrer sempre que possível em
conjunto com cuidadores e familiares. Para isso, há a necessidade de construir
uma relação de confiabilidade e respeito mútuo entre os envolvidos.

Assimile
A proximidade do fisioterapeuta ao ambiente familiar/domiciliar do
idoso possibilita a realização de cuidados diretos no tratamento de
possíveis doenças ou alterações musculoesqueléticas. Também propor-
ciona conhecimento profundo das barreiras ambientais e relacionais
na prevenção de agravos à saúde do idoso e da família, no treino de
atividades de vida diárias, além de instruções na adaptação à realidade
experimentada pelo idoso.

Todavia, não se pode esquecer de que existirão limitações na assistência


que o fisioterapeuta presta no domicílio do idoso, como na utilização restrita
de equipamentos específicos da clínica de fisioterapia. Por isso, deve-se
explorar o trabalho da equipe multiprofissional, com abordagem multidisci-
plinar, para que o idoso tenha a garantia de assistência focada na qualidade
de vida e independência funcional.

68 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Você pode estar se perguntando: mas quais atividades a fisioterapia
desenvolve com os idosos em suas residências para alcançar os objetivos
detalhados? Uma das atividades com maior frequência desenvolvida pela
fisioterapia na Saúde da Família é a visita domiciliar, que permite ao profis-
sional adentrar no espaço da família e identificar as necessidades e potencia-
lidades, com uma visão real da vida da família, das interações familiares e
sociais, do cotidiano, da cultura, dos costumes e das crenças.
As atividades, cujo foco não deve ser sempre voltado às atividades reabi-
litativas, desenvolvem-se em uma tríade de:
1. Atividades educativas.
2. Atividades preventivas.
3. Atividades promotoras de saúde.
Estas atividades atingirão excelentes resultados se o idoso for obser-
vado de forma holística (como um todo) e de acordo com as características
da população idosa trabalhada. Apesar de o atendimento domiciliar estar
muito vinculado à impossibilidade de levar os idosos a centros especiali-
zados, recomenda-se a realização de trabalhos em grupo quando possível,
que podem ser focados em grupos de hipertensos, diabéticos, sedentários, de
saúde mental, dor, risco de quedas, saúde da mulher, saúde do homem, entre
outros que permitirão a interação social por meio de dinâmicas, oficinas,
brincadeiras e passeios. Atividades integrativas evitarão o isolamento social
do idoso e permitirão o alcance de resultados importantes para a recupe-
ração da saúde e qualidade de vida destes idosos. Por isso, o fisioterapeuta,
quando possível, deve incentivar o idoso a realizar essas atividades.
Outra atividade importante a ser realizada é o trabalho de educação em
saúde. Neste caso, é importante a participação de cuidadores e familiares,
palestras, cursos e afins, realizados para mostrar aos idosos sobre as condi-
ções de saúde, como prevenir doenças e como colaborar com o tratamento
proposto para eles, além da possibilidade de capacitar cuidadores e familiares
sobre o desafio de ajustar a residência para as novas necessidades dos idosos.
A realização dessas atividades passa inicialmente pelo diagnóstico das
necessidades e das organizações das demandas, das quais destaca-se a preser-
vação ou o reestabelecimento da capacidade de realização de atividades de
vida diária, com vistas a torná-los mais independentes e promover evolução
da funcionalidade.
Mas nem sempre poderemos atuar em idosos que tenham a capacidade de
reestabelecer suas funções. Nesses casos a fisioterapia realiza o atendimento
domiciliar ao idoso acamado e sem prognóstico de evolução fisicofuncional

Seção 2.2 / Domicílio do idoso - 69


com objetivo de manter a qualidade de vida e evitar possíveis complicações,
com ações conjuntas com demais membros da equipe multiprofissional.

Reflita
As atividades que podem ser desenvolvidas pela fisioterapia e pela equipe
multiprofissional no atendimento domiciliar de idosos estão presentes em
um amplo conjunto de recursos terapêuticos que possibilitam trabalhar com
promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos e reabilitação. Justa-
mente por apresentar uma gama ampla e variada de possibilidades, quais
fatores são determinantes para se escolher adequadamente as melhores
atividades terapêuticas a serem desenvolvidas?

A perda progressiva da capacidade física e da saúde no envelhecimento


torna o idoso mais propenso ao desenvolvimento de doenças crônicas
(diabetes, obesidade, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias): os
idosos apresentam, em média, três doenças crônicas, e com isto notamos alto
impacto nos custos econômicos e sociais. Estes fatores, associados às condi-
ções ambientais influenciam a realização de atividades de vida diária. Por
isto, ao analisar o perfil de saúde dos idosos que recebem assistência domici-
liar, o fisioterapeuta deve analisar além da presença ou ausência de doenças e
disfunções, o estado emocional, hábitos de vida (tabagismo, hábitos alimen-
tares, sedentarismo, lazer), fatores sociais (família e amigos) e fatores econô-
micos, uma vez que é comum encontrarmos idosos com desvalorização das
aposentadorias e pensões, com falta de lazer, com dificuldades na assistência
à saúde, sentindo abandono, solidão, depressão e medo da violência.
O conhecimento do perfil de saúde associado ao perfil social e econômico
proporciona não só ao fisioterapeuta mas também a toda equipe multidisci-
plinar um vínculo importante que permitirá, além da oferta da assistência
adequada, a coleta de indicadores específicos, como o perfil de morbidade e
mortalidade, problemas físicos e cognitivos e utilização de serviços de saúde.
As diversas síndromes geriátricas e a dependência funcional, frequentes
na população idosa, exigem preparo e a capacitação da equipe de saúde,
para que as ações sejam capazes de fornecer aos que recebem atendimento
domiciliar um envelhecimento digno e a alta qualidade de vida, uma vez que
a procura por este tipo de atendimento, frequentemente, acontece não apenas
pela alta dependência apresentada pelos idosos mas também pelas transfor-
mações socioeconômicas atuais e a inserção dos proventos destes idosos na
composição da renda familiar, além da presença de comorbidades. Estes
conceitos corroboram com o racional ligado à associação entre a qualidade
de vida e os aspectos socioeconômicos, não ficando restrito ao conhecimento

70 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


das doenças/disfunções como fatores de comprometimento da qualidade de
vida, pois existem outras variáveis que extrapolam os parâmetros clínicos.
Por fim, na realização do atendimento domiciliar, devemos considerar
o convívio com os familiares, ambientes, rotinas e relacionamentos, fatores
que podem comprometer os níveis de saúde dos idosos. Isso permitirá que
a prestação do serviço/atendimento seja determinada pelo perfil social e de
saúde, ou seja, as modalidades assistenciais devem ser direcionadas ao idoso
e sua família, com enfoque social e de saúde.

Sem medo de errar


Vimos que Fabiano foi contratado por uma empresa que presta atendi-
mento domiciliar, em jornada de trabalho distribuída em dois períodos,
sendo um para atendimento domiciliar a idosos. Após a contratação, passou
por treinamento com objetivo de se adequar à cultura da empresa e aos
processos relacionados à função que exerceria. Durante seu treinamento
discutiu com seus novos colegas sobre as características estruturais dos
domicílios atendidos, como se dá a relação com a equipe de saúde da família,
qual seria o seu papel como fisioterapeuta e quais atividades seriam desen-
volvidas, tendo como base o perfil de saúde dos idosos.
Durante o treinamento verificou que nem sempre as características e a
estrutura básica dos domicílios de idosos estão preparadas para se tornar um
ambiente de espaço terapêutico, e que a formação do domicílio com idosos
ocorre em um processo dinâmico, caracterizado pelo espaço físico, pessoas
organizadas em unidades familiares ou não e pelas questões demográficas.
Os domicílios com idosos podem ser classificados em unipessoal,
monoparental, casal e casal com filho, casal com extensão. Além da confor-
mação do domicílio, a estrutura é outro aspecto importante a ser analisado:
tipo de piso (áspero, seco ou molhado), presença ou ausência de tapetes,
presença ou ausência de rampas, presença ou ausência de degraus, qualidade
da iluminação e acessibilidade ao banheiro, quarto, sala, cozinha, varanda,
jardim, área de serviço, corredor, escada.
A Estratégia de Saúde da Família, como porta de entrada do Sistema
Único de Saúde, tem, por meio da sua equipe, preparo adequado e capaci-
tado para o atendimento do idoso e de sua família (na função de atenção
à saúde da família cuidadora), atendimento esse que vai desde cuidados de
menor complexidade com condições clínicas controladas, a fim de controlar
as condições crônicas, reabilitar a funcionalidade e prevenir complicações,
e procedimentos frequentes e de maior complexidade, que requerem profis-
sional treinado e materiais para sua realização, até o acompanhamento

Seção 2.2 / Domicílio do idoso - 71


contínuo em casos nos quais haja a necessidade de suporte ventilatório não
invasivo, diálise peritoneal e/ou paracentese.
O fisioterapeuta, como parte dessa equipe multiprofissional de saúde
da família que presta assistência domiciliar continuada ao idoso em seu
domicílio, geralmente trabalha com os seguintes objetivos: promover a
melhora da força muscular; promover a melhora da mobilidade articular;
promover a reabilitação da capacidade funcional; promover maior integração
social; promover valorização do processo de envelhecimento individual e
coletivo, a fim de minimizar as perdas associadas ao processo de envelhe-
cimento, por meio da manutenção da capacidade física pelo maior tempo
possível e com a prevenção de complicações, evitando que a dificuldade em
realizar as atividades funcionais não seja acentuada ou adiantada em decor-
rência dos aspectos físicos.
Outro papel importante do Fisioterapeuta está na elaboração de orientações
aos cuidadores e familiares com o objetivo de garantir a eficiência da assistência
prestada e as formas de garantir a execução de atividades de forma segura.
Em resumo as ações da Fisioterapia no atendimento domiciliar perpassam
por: atividades educativas; atividades preventivas; e atividades promotoras
de saúde. Estas atividades atingirão excelentes resultados se observar o idoso
de forma holística (como um todo) e de acordo com as características da
população idosa trabalhada.
O conhecimento do perfil de saúde associado ao perfil social e econômico
proporciona não só ao fisioterapeuta mas também a toda equipe multidisci-
plinar um vínculo importante que permitirá, além da oferta da assistência
adequada, a coleta de indicadores específicos, como o perfil de morbidade e
mortalidade, problemas físicos e cognitivos e utilização de serviços de saúde.
Isto para que na realização do atendimento domiciliar, este seja direcionado
ao idoso e sua família, com enfoque social e de saúde.

Avançando na prática

Atendimento fisioterapêutico domiciliar em


pacientes terminais

Descrição da situação-problema
Ingrid, fisioterapeuta da rede pública de saúde, fazia parte do setor de atendi-
mento domiciliar em cuidados paliativos. Durante a Conferência Municipal de
Saúde, foi convidada pelo Secretário de Saúde para explanar sobre as atribuições

72 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


da fisioterapia no cuidado de pacientes terminais e os benefícios decorrentes
desta prática. Após a apresentação, foi abordada pelos participantes daquele eixo
temático especificamente sobre quais seriam os desafios da atuação em domicílio
com pacientes em condições de terminalidade.

Resolução da situação-problema
Ingrid começa explicando que a atuação fisioterapêutica domiciliar nos
cuidados paliativos remete sempre à reflexão bioética vivenciada no cotidiano
de trabalho, seja na aproximação ou no distanciamento, na humanização e na
dignidade humana.
O profissional expõe-se à angústia e ao sofrimento existencial experi-
mentado pelo paciente terminal e pela família; por isso terá que estar prepa-
rado para enfrentar altos índices de estresse, a fim de evitar decréscimo da
efetividade das suas ações e seu adoecimento crônico.
As ações profissionais pautadas na bioética seguirão uma tríade carac-
terizada por autonomia, dignidade e direitos humanos. E para que as ações
sigam sempre estes princípios e estejam aliadas às melhores práticas, a
educação permanente dos profissionais auxilia na elaboração de cuidados
domiciliares e na utilização de equipamentos de saúde. Além disto, ao traba-
lhar diretamente com a questão da morte e do morrer, há necessidade de
apoio psicológico sempre que for necessário.
Portanto, os desafios do atendimento domiciliar em pacientes terminais
seguem os que são apresentados à fisioterapia domiciliar tradicional, com
a adição destes pontos que foram levantados e influenciam diretamente os
resultados dos objetivos propostos pela equipe de saúde.

Faça valer a pena


1. A crescente demanda por fisioterapia domiciliar pelas sequelas de doenças neuro-
lógicas, sobretudo no sistema público de saúde, faz com que a fisioterapia verifique
atentamente suas avaliações cinéticas funcionais:
I – Tônus muscular dos pacientes submetidos à fisioterapia domiciliar.
II – Amplitude de movimento articular dos pacientes submetidos à fisioterapia domiciliar.
III – Avaliação mental dos pacientes submetidos à fisioterapia domiciliar.

Com base nas atribuições do fisioterapeuta no atendimento domiciliar, assinale a


alternativa que contenha a análise correta das sentenças apresentadas.
a) Somente a sentença I está correta.
b) Somente a sentença II está correta.

Seção 2.2 / Domicílio do idoso - 73


c) Somente a sentença III está correta.
d) Somente as sentenças I e II estão corretas.
e) Somente as sentenças II e III estão corretas.

2. Analise a asserção-razão decorrente do texto a seguir:


Pacientes portadores de doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) podem
apresentar altos índices de incapacidade, podendo chegar em alguns casos à impossi-
bilidade de se deslocar até uma clínica para realização do tratamento fisioterapêutico.
Neste caso, analise as asserções que seguem:
I – O atendimento domiciliar segue uma série de prerrogativas, que consideram
principalmente as condições fisicofuncionais e de mobilidade dos indivíduos. Neste
sentido, o fisioterapeuta deverá realizar atendimento domiciliar em idosos com
DPOC que sejam dependentes ou semidependentes.
Porque
II – Há necessidade de avaliar e tratar alterações decorrentes da doença, adaptando-se
às condições funcionais do paciente, uma vez que a sua mobilidade estará prejudicada
e os benefícios de realizar o tratamento domiciliar serão vantajosos para melhorar a
sua independência e qualidade de vida.

Com base na análise das asserções, é correto o que se afirma em:


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. A realização de tratamento fisioterapêutico em domicílio é uma prática em ascensão no


Brasil, seja no sistema público ou no privado. Diversos são os motivos que levam as famílias
a optarem pelo serviço de fisioterapia domiciliar na atenção ao idoso.
O atendimento domiciliar apresenta como características:
I – Sessão padronizada para as necessidades dos pacientes.
II – Maior conforto aos idosos que apresentam grandes limitações funcionais.
III – Recuperação mais lenta devido à distância dos grandes centros de saúde.

Com base no exposto, é correto o que se afirma em:


a) Somente a sentença I está correta.
b) Somente a sentença II está correta.
c) Somente a sentença III está correta.
d) Somente as sentenças I e II estão corretas.
e) Somente as sentenças II e III estão corretas.

74 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Seção 2.3

Fisioterapia preventiva no idoso

Diálogo aberto
Caro aluno, você já viu ao longo do curso os diversos benefícios de se
trabalhar com a promoção da saúde e a prevenção de doenças, principal-
mente, com a população idosa. Como o envelhecimento provoca uma série
de modificações fisiológicas, passa a ser objetivo das estratégias de saúde a
busca pelo bem-estar e qualidade de vida de idosos.
Fabiano, atuando neste mercado de saúde voltado para o atendimento
domiciliar e entusiasmado pelos desafios que se apresentavam, observou
em seus atendimentos, após passar o período de adaptação na empresa em
que foi contratado, a necessidade em se trabalhar com fisioterapia preven-
tiva tanto na instituição de longa permanência quanto nos domicílios dos
idosos, e por isso planejou uma ação de educação continuada para com os
seus clientes. Então elegeu os tópicos que seriam abordados:
99 Qual o papel da fisioterapia na prevenção de doenças e agravos?
99 Como planejar um ambiente seguro e funcional para pessoas idosas?
99 O idoso compreendeu os comandos que foram dados? Qual a melhor
forma de comunicação?
99 Quais exercícios terapêuticos podem ser realizados individualmente
e em grupos?
Para realização desta ação, Fabiano recorreu aos livros de sua biblioteca e
artigos científicos disponíveis em base de dados eletrônicas a fim de fornecer
aos idosos a melhor evidência disponível. Vamos ajudá-lo a desenvolver esta
ação com os idosos atendidos por essa empresa?
Logo você utilizará estes conceitos na sua prática clínica, por isso, aproveite
ao máximo o material e extrapole para as suas experiências acadêmicas.

Não pode faltar


Um dos principais objetivos dos profissionais que trabalham com a saúde
do idoso está em transformar o envelhecimento em uma etapa da vida que
seja produtiva e prazerosa, por meio de uma busca incessante pela melhora
da qualidade de vida (GONÇALVES, 2011).
As estratégias utilizadas para se alcançar estes objetivos se dão pela:

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 75


99 Promoção do envelhecimento ativo e saudável.
99 Atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa.
99 Estímulo às ações intersetoriais.
Como cada idoso experimenta o processo de envelhecimento segundo
sua experiência de vida, sua capacidade de interação com o meio em que
vive e segundo o estilo de vida, não é novidade que evitar o tabaco, o álcool,
narcóticos, alimentos riscos em gorduras e sal, praticar exercícios físicos,
manter alimentação saudável, ter momentos de lazer e realizar consultas
médicas regularmente são medidas preventivas para várias doenças.
A fisioterapia preventiva é, portanto, pautada em valores, condutas,
programas e estratégias que devem ser cultivados e difundidos para atuação
multiprofissional focada na dimensão humana e ética, buscando:
99 Manutenção da autonomia e da independência.
99 Manutenção da autonomia associada à dependência de terceiros
para colocar em prática suas decisões.

Assimile
O fisioterapeuta que trabalha com a saúde do idoso deve estar prepa-
rado para lidar com o processo de envelhecimento e com a subjetividade
da pessoa idosa, com o objetivo de romper a fragmentação do processo
de trabalho e promover a interação multiprofissional, para que sejam
criadas condições para a melhora da qualidade de vida.

Desta forma, a fisioterapia preventiva pode atuar em três níveis de


atenção: a prevenção primária, a prevenção secundária e a prevenção terci-
ária, cujas especificações podem ser visualizadas no Quadro 2.2.
Quadro 2.2 | Tipos de atenção de fisioterapia preventiva

Prevenção Idosos independentes. Realizam sem dificuldade e sem ajuda as AVDs


Primária (atividades de vida diárias), como tomar banho,
vestir-se, usar o banheiro, transferir-se da cama
para a cadeira e alimentar-se por conta própria.

Prevenção Idosos com potencial Os idosos são independentes, mas apresentam


Secundária para desenvolver fragi- alguma dificuldade nas AIVDs (atividades instru-
lidade. mentais de vida diária), como preparar refeições,
controlar a própria medicação, fazer compras,
controlar o próprio dinheiro, usar o telefone, fazer
pequenas tarefas e reparos em casa.

76 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Prevenção Idosos frágeis. Idosos que vivem em instituições de longa
Terciária permanência para idosos, encontrando-se
acamados ou tendo estado recentemente
internados. Apresentam doença causadora de
incapacidade funcional.

Idosos com alta depen- Acamados, com alguma incapacidade funcional


dência funcional. para AVDs.
Fonte: Bernardi (2010, p. 133).

Como você pode ter notado, a independência nas atividades instrumen-


tais de vida diárias (AIVDs) representam uma das principais preocupações
quando se fala de fisioterapia preventiva. O design físico das residências dos
idosos, com um ambiente seguro e atrativo, pode contribuir para a indepen-
dência funcional dos idosos.
Por exemplo, uma área residencial de alta mobilidade pode estimular a
caminhada como atividade recreativa e como transporte, quando estas áreas
são estéticas e com muitas características funcionais (bancos, por exemplo),
estimulam ainda mais a autonomia e a mobilidade de idosos. A literatura
traz que idosos que residem em áreas com mais espaços verdes e melhor
manutenção da vizinhança apresentam níveis mais baixos de incapacidade.
Desta forma, o fisioterapeuta precisa considerar os ambientes interno e
externo à moradia da pessoa idosa, devido à sua influência direta sobre a
funcionalidade, seja positivamente (facilitador) ou negativamente (barreira).
As barreiras podem dificultar em diferentes graus a acessibilidade aos
espaços, assim como podem afetar a circulação com segurança, como são os
casos de barreiras arquitetônicas.

Reflita
Como é a realidade do ambiente da sua moradia? Ela está preparada ser
um ambiente seguro e funcional para a pessoa idosa?
E como é o ambiente da área residencial em que você vive? Existem mais
facilitadores ou mais barreiras?

De maneira geral, o ambiente domiciliar ideal para o idoso é aquele


prático, que valoriza a simplificação e funcionalidade, que respeita os
aspectos culturais e psicossociais e garante ao idoso a identificação e
manutenção da privacidade, proporcionando conforto, segurança e
acessibilidade (SILVA et al., 2015). O fisioterapeuta pode contribuir
considerando a capacidade funcional do idoso e sugerindo as adaptações
ambientais que visem melhorar a acessibilidade e o conforto, favorecer

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 77


a manutenção da independência e autonomia, prevenir o abandono de
atividades e proporcionar bem-estar.
O ambiente domiciliar interage constantemente com a pessoa idosa,
pelas suas características físicas, sensoriais, cognitivas, afetivas e funcionais.
Por isso, tudo o que envolve o domicílio deve ser considerado pelo fisiotera-
peuta, desde o acesso externo à iluminação, os pisos, portas, escadas, degraus
e mobiliários, sempre considerando os desejos e as necessidades de cada
pessoa idosa.
Seguindo no racional da atuação da fisioterapia preventiva na pessoa
idosa, outro aspecto importante a ser trabalhado é o da comunicação eficaz,
uma vez que a perfeita comunicação aumenta as condições de um trabalho
preventivo eficiente. A comunicação faz parte da vida do ser humano e na
saúde permite a obtenção de informações valiosas para a prática clínica,
apesar do fato de encontrarmos muitos idosos com dificuldade de se expressar
ou de interpretar a linguagem da comunicação (BERNARDI, 2010).
Precisamos, além de preparo técnico e humano, também estar
atentos à interpretação das linguagens verbal e não verbal, para que
na prática clínica consigamos satisfação, adesão ao tratamento e otimi-
zação dos resultados de saúde.
Em decorrência do envelhecimento, podemos nos deparar com idosos
que apresentem alterações nos padrões de sono, auditivas, visuais, na fala
e/ou na expressão visual. Nesse momento, devemos ter a habilidade neces-
sária de nos comunicarmos e estabelecer uma relação de ajuda profissional,
essencial para o sucesso da assistência prestada. Veja no Quadro 2.3 algumas
estratégias de comunicação:
Quadro 2.3 | Estratégias de comunicação nas alterações mais comuns em idosos

Alterações Estratégias
Alterações auditivas Chegar próximo ao ouvinte, para que ele possa ver e ouvir o in-
terlocutor.
Colocar-se à frente do ouvinte, com atenção para que a luz do
ambiente não ofusque a sua face.
Tocar o paciente ou sinalizar para chamar a atenção do ouvinte
antes de iniciar a fala.
Diminuir ruído e fundo de música.
Falar em volume normal, em ritmo normal, pronunciando clara-
mente as palavras.
Observar o movimento de cabeça do ouvinte para identificar o
lado de maior facilidade de captação e percepção de som.
Ser objetivo na fala.

78 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


Alterações Estratégias
Alterações auditivas Evitar mudanças repentinas de assunto.
Dar destaque ao assunto, frisando a palavra-chave.
Dar tempo para que o ouvinte possa assimilar e responder.
Utilizar gestos e não infantilizar a fala.
Quando não houver compreensão, modificar a estrutura da frase.
Alterações visuais Aproximar-se lentamente e utilizar saudações verbais e toque.
Evitar o posicionamento sob luz ofuscante.
Esperar a adaptação da visão à luminosidade.
Verificar condições dos óculos.
Posicionar o que necessita de atenção para dentro do campo de
visão.
Adaptar materiais: letras ampliadas, cores de alto contraste, re-
dução de luz ofuscante em superfícies próximas.
Utilizar e reforçar o reconhecimento tátil.
Evitar mudanças de posição de objetos pessoais e móveis.
Fonte: adaptado de Bernardi (2010, p. 138).

Assim, o fisioterapeuta precisa empregar entonação adequada da


linguagem, para que seu diálogo seja acolhedor, a fala seja clara, pausada
e com o profissional olhando de frente para o idoso, reforçando aspectos
positivos da comunicação assertiva, como a linguagem adequada, utili-
zação de expressões faciais e escuta atenta. Observar como o corpo do idoso
expressa um sentimento, muitas vezes com maior clareza do que com a
linguagem verbal. O gestual pode ser uma excelente ferramenta de comuni-
cação assertiva, que reforça o uso da linguagem adequada e pode aprofundar
o vínculo com os idosos.
E necessitamos, enquanto profissionais de saúde, bloquear aspectos negativos
da comunicação, como gestos de irritação e agressividade e linguagem inapro-
priada, que podem resultar em exposição e constrangimento dos idosos, além de
gerar dificuldade para verbalização de suas necessidades.
Outro ponto de atenção na comunicação está na orientação que devemos
passar aos idosos, com a qual solicitamos que sejam pacientes e não finjam
entender frases, quando não compreenderem que nos avisem para que sejam
repetidas até a perfeita compreensão. Desta forma, podemos determinar que
a comunicação ideal seguirá um vínculo de confiança e respeito, conside-
rando cada indivíduo como único e valioso.
Além disto, devemos evitar ambientes ruidosos no atendimento
à população idosa, uma vez que os ruídos interferem no processo de

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 79


comunicação geral, particularmente com os idosos que apresentam declínio
da acuidade auditiva.
Em resumo, podemos aferir que devemos nos atentar às formas verbais
e não verbais de comunicação, para que possamos atender integralmente a
população idosa com uma comunicação assertiva e coerente. E viabilizar a
verbalização dos idosos, com vistas a facilitar o tratamento terapêutico, criar
vínculo e controlar e saúde.
Estas estratégias de comunicação, quando bem empregadas, facilitam a utili-
zação de exercícios terapêuticos para a promoção da qualidade de vida das pessoas
idosas, seja individualmente, seja em grupo. A realização de exercício regular e
atividade física contribuem para a saúde e para o estilo de vida independente, com
melhora da capacidade funcional e qualidade de vida.
Os exercícios terapêuticos na fisioterapia preventiva auxiliam na
prevenção das doenças causadas pelo envelhecimento, na promoção da
independência, na realização de suas atividades de vida diária e na qualidade
de vida, preservando as funções motoras dos idosos. Ou seja, a cinesioterapia
pode ter como resultados a melhora do condicionamento físico, o alinha-
mento postural, a redução de incapacidades, o relaxamento, o alívio de dor e
a melhora da qualidade de vida.
A cinesioterapia, neste contexto, deve seguir algumas estratégias de inter-
venção: simplificar os exercícios (instruções, gestos, programas e ambientes),
explicar de maneira simples, com ritmo devagar, evitar mudanças (de fisiote-
rapeuta, ambiente e programa) e educar e dar suporte à família.
Existem muitos tipos de exercícios terapêuticos, que podem ser reali-
zados tanto individualmente quanto em grupo (VILELA-JUNIO; SOARES;
MACIEL, 2017; BERNARDI, 2010). Veja alguns na lista a seguir:
99 Mobilização passiva.
99 Mobilização ativa.
99 Alongamento.
99 Exercícios/fortalecimento isométricos.
99 Exercícios/fortalecimento isotônicos.
99 Exercícios de equilíbrio.
99 Exercícios de coordenação motora.
99 Exercícios de estimulação tátil.
99 Exercícios de estimulação visual.

80 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


99 Exercícios proprioceptivos.
99 Treino de marcha e circuitos integrados.

Exemplificando
Um protocolo de cinesioterapia em grupo para promoção da qualidade
de vida de idosos pode utilizar: caminhada (cinco minutos), exercícios de
fortalecimento com caneleiras, exercícios funcionais, circuito integrado
de marcha com obstáculos, exercícios de resistência muscular, treino de
equilíbrio, alongamento e relaxamento.

Esses exercícios terapêuticos permitem a restauração de funções, a


melhora da capacidade funcional, da força muscular e da amplitude articular,
favorecem a independência nas atividades de vida diária e colaboram para a
qualidade de vida do paciente idoso. Destacaremos a seguir três modalidades
de exercícios terapêuticos bem comuns na prática clínica.
Ao iniciar um programa de exercícios terapêuticos com idosos, é impor-
tante haver uma rotina de aquecimento, com exercícios de alongamento,
que também são recomendados na conclusão do programa de exercícios.
Exercícios de flexibilidade, geralmente, ocasionam importantes modificações
cinemáticas, como a melhora da marcha, que fica mais segura, apresentando
menor risco de quedas.
Um exercício terapêutico muito utilizado, tanto em grupo quanto indivi-
dualmente, é o fortalecimento, cujo treino de força de alta intensidade foi
demonstrado como seguro e efetivo na produção de força e mobilidade
funcional, proporcionando independência de atividades de vida diária.
Outro exercício terapêu- Figura 2.4 | Idoso realizando treino de resistência
tico utilizado é a resistência para membros superiores
muscular, que deve ser reali-
zado com a mecânica corporal
adequada (vide Figura 2.4).
A nossa atenção, enquanto
fisioterapeutas, nesse tipo
de exercício, está focada
mais na qualidade do que na
quantidade. Recomenda-se
evitar movimentos rápidos
e balísticos, para que não
ocorra fadiga muscular e o
padrão de movimento fique Fonte: Voight, Hoogenboom e Prentice (2014, p. 799).

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 81


inadequado (redução da suavidade do movimento e diminuição da ampli-
tude de movimento).
A cinesioterapia em grupo é frequentemente utilizada em forma de ativi-
dades como alongamentos, exercícios metabólicos, respiratórios e de forta-
lecimento, além de relaxamento, orientações posturais e realização de ativi-
dades funcionais.

Pesquise mais
Recomenda-se a leitura da dissertação de mestrado de Angélica de
Conti, sob título A importância da cinesioterapia na melhora da quali-
dade de vida nos Idosos. Sugerimos a leitura da seção 2.4, Cinesioterapia,
que se inicia na página 27 e finaliza na página 33.
DE CONTI, A. A Importância Da Cinesioterapia Na Melhora Da Quali-
dade De Vida Dos Idosos. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universi-
dade Católica do Rio Grande do Sul. Instituto de Geriatria e Gerontologia.
Mestrado em Gerontologia Biomédica, 2011. Disponível em: <http://
repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/3574/1/000434302-Tex-
to%2bCompleto-0.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2018.

Quando os exercícios terapêuticos são executados correta e regularmente,


os idosos melhoram as suas atividades cotidianas, têm mais disposição e
passam a fazer o que antes não conseguiam, além da relatarem melhora do
estado psicológico.
Praticamente todos os exercícios podem ser realizados individual-
mente e em grupo. Nos benefícios associados à atividade em grupo, temos
a associação de maior permanência no programa de tratamento e o incre-
mento de estímulos sociais, além de melhora de quadros depressivos. Já
as atividades realizadas individualmente têm, como benefícios associados,
melhores resultados na capacidade e limitações funcionais.

Sem medo de errar


Agora, caro aluno, você está apto para responder a situação-problema
proposta no início desta seção. Fabiano, após passar pelo período de
adaptação na empresa em que foi contratado, observou em seus atendi-
mentos, tanto na instituição de longa permanência quanto nos domicílios
dos idosos, a necessidade de se trabalhar com fisioterapia preventiva e por
isso planejou uma ação de educação continuada para com os seus clientes.
Para tanto, elegeu os tópicos que seriam abordados:

82 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


99 Qual o papel da fisioterapia na prevenção de doenças e agravos?
99 Como planejar um ambiente seguro e funcional para pessoas idosas?
99 O idoso compreendeu os comandos que foram dados? Qual a melhor
forma de comunicação?
99 Quais exercícios terapêuticos podem ser realizados individualmente
e em grupos?
A fisioterapia preventiva é pautada em valores, condutas, programas e
estratégias que devem ser cultivados e difundidos para atuação multipro-
fissional focada na dimensão humana e ética, buscando a manutenção da
autonomia e da independência, e da autonomia associada à dependência
de terceiros para colocar em prática suas decisões. Ela pode atuar em três
níveis de atenção: a prevenção primária (idosos independentes), a prevenção
secundária (idosos com potencial para desenvolver fragilidade) e a prevenção
terciária (idosos frágeis e com alta dependência funcional).
O fisioterapeuta precisa considerar os ambientes interno e externo à
moradia da pessoa idosa, devido a sua influência direta sobre a funciona-
lidade, seja positivamente (facilitador) ou negativamente (barreira). As
barreiras podem dificultar em diferentes graus a acessibilidade aos espaços,
como também afetar a circulação com segurança, como é o caso das barreiras
arquitetônicas. O fisioterapeuta pode contribuir considerando a capacidade
funcional do idoso e sugerindo as adaptações ambientais que visem melhorar
a acessibilidade e o conforto, favorecer a manutenção da independência e
autonomia, prevenir o abandono de atividades e proporcionar bem-estar.
A perfeita comunicação aumenta as condições de um trabalho preventivo
eficiente. Para isso, o fisioterapeuta precisa empregar entonação adequada da
linguagem para que seu diálogo seja acolhedor, a fala seja clara, pausada e que
o profissional olhe de frente para o idoso, reforçando aspectos positivos da
comunicação assertiva, como a linguagem adequada, a utilização de expres-
sões faciais e a escuta atenta. É importante observar como o corpo do idoso
expressa um sentimento, muitas vezes com maior clareza do que o verbali-
zado. O gestual pode ser uma excelente ferramenta de comunicação asser-
tiva, que reforça o uso da linguagem adequada e pode aprofundar o vínculo
com os idosos. É interessante, também, bloquear aspectos negativos da
comunicação, como gestos de irritação e agressividade e linguagem inapro-
priada, que podem resultar em exposição e constrangimento dos idosos e
gerar dificuldade para verbalização de suas necessidades.
A cinesioterapia para promoção da qualidade de vida de idosos pode ter
como resultados a melhora do condicionamento físico, o alinhamento postural,
a redução de incapacidades, relaxamento, alívio de dor e melhora da qualidade

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 83


de vida. Para tanto, utiliza: mobilização passiva; mobilização ativa; alonga-
mento; exercícios/fortalecimento isométricos; exercícios/fortalecimento isotô-
nicos; exercícios de equilíbrio; exercícios de coordenação motora; treino de
marcha e circuitos integrados. Estes exercícios terapêuticos permitem a restau-
ração de funções, a melhora da capacidade funcional, da força muscular e da
amplitude articular, favorecem a independência nas atividades de vida diária e
colaboram para a qualidade de vida do paciente idoso.
Quando os exercícios terapêuticos são executados correta e regularmente,
os idosos melhoram as suas atividades cotidianas, têm mais disposição e
passam a fazer o que antes não conseguiam, além de relataram melhora do
estado psicológico.

Avançando na prática

Cinesioterapia na melhora da qualidade de vida


de idosos

Descrição da situação-problema
Você estava em sua clínica quando recebeu o Sr. Roger, 82 anos de idade,
sem doença de base mas com queixa principal de dificuldade em realizar
atividades funcionais que fazem parte do seu dia a dia.
Durante a avaliação cinética funcional, verificou-se que havia um déficit
na força muscular e na flexibilidade dos membros inferiores, além da dificul-
dade em subir e descer escadas e maior risco de quedas.
Frente ao que fora encontrado, como a fisioterapia preventiva poderá
auxiliar na melhora da qualidade de vida do Sr. Roger?

Resolução da situação-problema
O envelhecimento provoca muitas modificações fisiológicas, sendo
comum observar redução da força muscular e da flexibilidade. No caso do
Sr. Roger, a diminuição da força muscular e da flexibilidade de membros
inferiores culminaram em maior dificuldade de realizar atividades funcionais
como subir e descer escadas, além de alterar o equilíbrio durante a marcha.
Neste cenário, a fisioterapia preventiva pode fazer uso da cinesioterapia com
vistas a melhorar os déficit encontrados e aumentar a qualidade de vida do Sr.
Roger. E para alcançar o aumento da independência funcional, a cinesioterapia

84 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


faz uso de exercícios de fortalecimento e alongamento, que podem ser realizados
individualmente e em grupo, com objetivo de alcançar bem-estar e evitar o isola-
mento social em decorrência das dificuldades apresentadas.

Faça valer a pena


1. A fisioterapia na atenção à saúde do idoso pode participar na prevenção de
doenças e na promoção da saúde. Um dos recursos que a fisioterapia preventiva
utiliza é a cinesioterapia (exercícios terapêuticos), com vistas a melhorar a qualidade
de vida dos idosos, seja na saúde pública, seja no ambiente privado.

Fonte: adaptada de ENADE, 2016 (questão 31). Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_


superior/enade/provas/2016/fisioterapia.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2018.

Com base na temática exposto, é correto o que se afirma em:


a) A cinesioterapia na fisioterapia preventiva só pode ser realizada individualmente
em idosos.
b) A cinesioterapia na fisioterapia preventiva só pode ser realizada em grupo em idosos.
c) A cinesioterapia na fisioterapia preventiva só pode ser realizada com atividades de
educação em saúde.
d) A cinesioterapia na fisioterapia preventiva pode ser realizada individualmente e
em grupo em idosos.
e) A cinesioterapia na fisioterapia preventiva não pode ser realizada com a população idosa.

2. As quedas são muito comuns em idosos, por isso são consideradas como um
problema de saúde pública. A fisioterapia preventiva executa um papel essencial na
prevenção de quedas em idosos, como ações relacionadas à cinesioterapia e no que se
refere às ações que podem ser realizadas.
Analise as asserções a seguir:
I – Realiza exercícios de fortalecimento e treinamento de equilíbrio, como exercícios
isométricos e proprioceptivos, respectivamente.
PORQUE
II – A fraqueza muscular está associada com a incapacidade funcional e o menor
equilíbrio, o que torna o idoso mais suscetível a quedas, tendo em vistas as mudanças
biomecânicas e funcionais que ocorrem ao longo deste processo.

Fonte: adaptado de ENADE, 2007 (questão 36). Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/enade/


fisioterapia2007.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2018.

É correto o que se afirma em:


a) As asserções I e II são verdadeiras, e a razão entre elas é verdadeira.
b) A asserção I é verdadeira e a II é falsa.

Seção 2.3 / Fisioterapia preventiva no idoso - 85


c) As asserções I e II são verdadeiras, e a razão entre elas é falsa.
d) A asserção I é falsa e a II é verdadeira.
e) As asserções I e II são falsas.

3. Danilo, idoso, apresenta como queixa fadiga muscular ao executar ativi-


dades de vida diária, redução da força muscular para executar atividades
funcionais com os membros superiores e tem dificuldade de socialização com a
comunidade em que vive.

Dentro das possibilidades de manejo fisioterapêutico, assinale a alternativa que


contenha a cinesioterapia adequada.
a) realização de alongamento muscular para combater a fadiga muscular e
fortalecimento muscular para tratar a redução da força muscular, por meio de
cinesioterapia individual.
b) realização de treinamento de resistência muscular para combater a fadiga muscular
e fortalecimento muscular para tratar a redução da força muscular, por meio de
cinesioterapia em grupo.
c) realização de alongamento muscular para combater a fadiga muscular e
relaxamento muscular para tratar a redução da força muscular, por meio de
cinesioterapia individual.
d) realização de treinamento de resistência muscular para combater a fadiga muscular
e relaxamento muscular para tratar a redução da força muscular, por meio de cinesio-
terapia em grupo.
e) realização de relaxamento muscular para combater a fadiga muscular e alonga-
mento muscular para tratar a redução da força muscular, por meio de cinesioterapia
em grupo.

86 - U2 / Promoção da saúde do idoso: institucionalizado, em grupo de idosos, em ambulatório e em domicílio


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Unidade 3

Avaliação em fisioterapia na saúde do idoso

Convite ao estudo
Caríssimo aluno, nesta unidade veremos os aspectos relacionados à
avaliação fisioterapêutica da pessoa idosa, pois, como você pode ter notado, o
Brasil atravessa um processo de envelhecimento acelerado que acarreta uma
série de demandas na área da saúde. Nesse contexto, a saúde pública, por
meio da atenção primária, tem um papel fundamental de estabelecer práticas
voltadas para a promoção da saúde, prevenção de doenças, reabilitação e
melhora da qualidade de vida.
Para isso, utilizaremos, neste material, instrumentos para que você
conheça e possa praticar métodos e técnicas de avaliação que são empregadas
na área da Fisioterapia aplicada à saúde da pessoa idosa.
Estima-se que em um futuro breve o Brasil tenha uma grande parcela
da sua população composta por idosos. Espera-se que em 2025 o Brasil
seja o sexto país com mais idosos no mundo (OMS, 2005), por isso, muitas
empresas já atuam voltadas para esse mercado promissor cujos negócios
concentram-se em saúde, segurança e bem-estar.
Atualmente observamos várias possibilidades de atuação nos mais
diversos ambientes, tais como, academias especializadas, clínicas especiali-
zadas, spas, serviços de saúde home care, atenção primária, entre outras. Em
todas, a Fisioterapia destaca-se pela atuação frente às necessidades funcio-
nais dos idosos.
Diante desse cenário, um grupo de Fisioterapeutas do Núcleo de Apoio
à Saúde da Família (NASF), em uma reunião de rotina, observou a necessi-
dade de um treinamento para adequar e padronizar os processos avaliativos
empregados em suas práticas fisioterapêuticas, principalmente para classi-
ficar os usuários frente às necessidades mais evidentes.
Para isso, esse grupo convidou profissionais de destaque para a realização
do treinamento com base em três grandes pilares:
Avaliação funcional do idoso.
Avaliação da qualidade de vida no idoso.
Avaliação fisioterapêutica no idoso.
E para adentrarmos nessa temática, deixaremos alguns questionamentos
que poderão lhes auxiliar no entendimento dos conteúdos que serão traba-
lhados: como saber quão comprometidos, funcionalmente, estão ou não os
idosos atendidos pela Fisioterapia? Os instrumentos existentes são confi-
áveis, fidedignos e reprodutíveis? É possível mensurar e estabelecer uma
métrica para a qualidade de vida? Como a Fisioterapia avalia integralmente
a pessoa idosa e como utiliza esse recurso para entender os níveis de saúde e
as necessidades dessa população?
Para que você possa responder a esses e outros questionamentos que
possam surgir nesta temática, passaremos pelos seguintes conteúdos: a funcio-
nalidade e suas alterações no envelhecimento, os aspectos de saúde geral a
serem avaliados na pessoa idosa, os princípios da avaliação física e funcional
e os testes funcionais: avaliação do nível de atividade física, avaliação da
prática de atividade física, avaliação cognitiva, avaliação da qualidade de vida
e avaliação dos aspectos sociofamiliares. Passaremos também pela avaliação
física e funcional nas enfermidades metabólicas, traumáticas, neurológicas,
cardiovasculares e reumatológicas.
Seção 3.1

Avaliação funcional do idoso

Diálogo aberto
O envelhecimento populacional é um fenômeno global que ocorre como
consequência do acentuado declínio na taxa de fecundidade e do aumento
da expectativa de vida, fato que trouxeram os processos de transição
demográfica e epidemiológica. No Brasil, essas transições trouxeram uma
tripla carga de doenças: contínua incidência de infecções, forte crescimento
de causas externas e elevação da prevalência de doenças crônicas; além de
desafios importantes para a saúde pública e a atenção à saúde da pessoa idosa
(MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016).
Um grupo de Fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), do qual você faz parte, realizou uma reunião de rotina e observou
a necessidade de um treinamento para adequar e padronizar os processos
avaliativos empregados em suas práticas fisioterapêuticas, principalmente
para classificar os usuários frente às necessidades mais evidentes.
Você e os demais fisioterapeutas do Núcleo da Apoio à Saúde da Família
(NASF) estavam animados e entusiasmados com o início do treinamento
cujo foco central era a avaliação funcional do idoso.
Vocês destacavam a importância de se padronizar a funcionalidade do
idoso com instrumentos utilizados no meio científico, uma vez que essa
variável é um bom indicador do estado de saúde dos usuários, que possibili-
taria a gestão de recursos de acordo com a atividade realizada e um direcio-
namento eficiente dos cuidados de saúde.
Ao iniciar o treinamento, o Fisioterapeuta passou a agenda para o time
do NASF e destacou os pontos que seriam abordados, perpassando desde a
funcionalidade até a utilização de testes específicos.
Ao final, vocês consolidaram um manual com os conteúdos trabalhados
pelo palestrante para auxiliar na busca por informações sobre a avaliação
funcional do idoso. Quais informações foram inseridas nesse manual?

Não pode faltar


Caro aluno, não é novidade para você que o processo de envelhecimento
provoca diversas alterações no corpo e no metabolismo humano, que são
capazes de reduzir a capacidade de adaptação do indivíduo e a habilidade
dele para decidir e atuar em suas atividades de vida diária. Observamos

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 93


comumente a redução da massa muscular, da força muscular e da amplitude
de movimento, bem como comprometimento da propriocepção. Todas essas
alterações são capazes de comprometer a funcionalidade da pessoa idosa e
provocar inúmeras implicações para a saúde dela, sendo consideradas um
problema importante a ser enfrentado com o envelhecimento populacional.
Condições de saúde comuns em idosos, como autopercepção de saúde
ruim, acidente vascular encefálico, diabetes mellitus e doenças cardíacas
estão associadas ao declínio funcional. Essa redução acarreta déficits de
habilidades para o autocuidado do idoso e podem torná-los dependentes de
familiares ou cuidadores. A funcionalidade da pessoa idosa está diretamente
relacionada com a qualidade de vida, ou seja, quanto maior for a indepen-
dência e a capacidade funcional do idoso, maior será a qualidade de vida
dele; nesse sentido, o contrário também é verdadeiro.
As alterações da capacidade funcional decorrente do processo de envelhe-
cimento são oriundas de aspectos primários, ou seja, aqueles inerentes à
própria idade avançada, como pode ser oriunda de aspectos secundários,
ou seja, aqueles inerentes ao surgimento de doenças e/ou disfunções, como,
por exemplo, as que decorrem de condições crônicas, como as cardiopatias,
a hipertensão arterial e as doenças de ordem neurológica. Por isso, o foco
preventivo com objetivo de manutenção da habilidade funcional passa a ser
um objetivo clínico.
A Fisioterapia trabalha diretamente com a capacidade funcional do
idoso, por isso, necessita de intensa interação com outros profissionais da
saúde e com um ambiente de estímulos adequados e de maior qualidade,
essenciais para a avaliação cinética funcional, bem como para a realização
de programas de tratamento. A intervenção fisioterapêutica desempenha um
papel fundamental na capacidade funcional da pessoa idosa, mas a avaliação
é um instrumento útil para o rastreamento de mudanças da capacidade
funcional; todavia, para isso, é necessário o conhecimento dos fatores intrín-
secos que atuam sobre a funcionalidade, além de amplo domínio dos fatores
secundários que geram redução da capacidade funcional, cito como exemplo
o ciclo observado em idosos com dano neurológico que apresentam altera-
ções nos sistemas neuromuscular, musculoesquelético ou somatossensorial,
que geram compensações na mobilidade e a adoção de posturas anormais,
que geram, como resultante, o prejuízo da capacidade funcional.
Como atuantes na área da saúde, devemos nos atentar à avaliação da
saúde do idoso focada na capacidade funcional, ou seja, é necessário que
compreendamos qual é a capacidade que o idoso possui de gerenciar a
própria vida, cuidar de si mesmo com autonomia e independência. Sendo
assim, uma maneira global de se atuar se dá em avaliar o quão harmonioso é

94 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


o funcionamento de quatro domínios funcionais:
1. Cognição.
2. Humor.
3. Mobilidade.
4. Comunicação.
O idoso que não apresenta uma relação harmoniosa entre esses quatros
componentes ou que apresenta a perda de uma ou mais função, certamente
desenvolverá alguma Síndrome Geriátrica.
Podemos, dessa forma, por meio de avaliações cinéticas funcionais,
reconhecer alterações funcionais, perceber possíveis modificações psicoló-
gicas e sociais que comprometem a capacidade funcional e prestar uma assis-
tência direcionada à real necessidade da pessoa idosa, prevenindo agravos
que possam comprometer a sua qualidade de vida. Por isso, consideramos de
extrema importância o reconhecimento precoce, que possibilita uma inter-
venção adequada, aumentando as possibilidades de diminuição do impacto
negativo que esse agravo pode causar na saúde do idoso. Por fim, quando
encontrarmos modificações psicológicas e sociais, faremos o encaminha-
mento para os devidos profissionais, como psicólogos e assistentes sociais.
Um bom raciocínio acerca das informações levantadas na avaliação consi-
dera que as condições de saúde e os fatores ambientais influenciam a funciona-
lidade e a realização de atividades de vida diária de idosos, uma vez que a saúde
geral deles não depende exclusivamente da ausência de doenças, mas depende
e muito do estado emocional, de seus hábitos de vida, como o tabagismo,
a dieta, a prática de atividade física e as atividades de lazer, além de fatores
sociais, como as relações familiares e de amizade e de fatores econômicos. Em
resumo, idosos com envelhecimento ativo apresentam melhor condições gerais
de saúde do que idosos que apresentam apenas a ausência de doenças.
Quero destacar, neste momento, que a independência é reconhecida
como um dos grandes componentes da saúde geral da população idosa,
pense nela como um fator chave para a avaliação geral da saúde da pessoa
idosa, pois permite que, por meio dela, sejamos capazes de dimensionar a
capacidade funcional desse público.
Um método eficaz e capaz de fornecer informações prognósticas importantes
é a avaliação física e funcional. Para isso, devemos considerar que os ambientes
de reabilitação utilizam ferramentas específicas para se avaliar o estado físico e
funcional da pessoa idosa e, assim, determinar alterações na funcionalidade. Veja
no Quadro 3.1 algumas das ferramentas mais utilizadas na avaliação funcional.

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 95


Quadro 3.1 | Ferramentas de Avaliação Funcional
Ferramenta Descrição
Avalia as atividades de vida diária (AVD’s)
Índice de Barthel
básicas e de mobilidade.
Índice de Katz das AVD’s Avalia a independência nas AVD’s.
Índice de Lawton para AIVD’s (atividades Avalia a capacidade de realizar algumas
instrumentais de vida diária) AIVD’s.
Avalia o estado físico e funcional de pacientes
Escala de desempenho paliativo
recebendo cuidados paliativos.
Avalia o grau de comprometimento funcional
Escala de desempenho de Karnofsky em pacientes com doença crônica ou
avançada.
Escala de avaliação global do Avalia o funcionamento psicológico, social e
funcionamento ocupacional.
Avaliação de reabilitação de pacientes
MIF (Medida de Independência Funcional)
internados.
Avalia o autodesempenho de AVD’s básicas e
CMD-AVD (Conjunto Mínimo de Dados)
o nível de suporte fornecido.
OASIS (Avaliação Funcional do Desfecho e
Avalia as AVD’s básicas e AIVD’s.
Conjunto de Informações de Avaliação).
Avalia o desempenho físico, a transferência e
Teste de levantar e sentar
a deambulação.
Avalia a velocidade da marcha, a elevação na
Breve bateria de desempenho físico
cadeira e o equilíbrio.

Fonte: adaptado de Williams et al. (2015, p. 42).

A avaliação física e funcional, resumidamente, permite a análise do


impacto global das condições de saúde no contexto do ambiente físico e
psicossocial da pessoa idosa, importantes para o planejamento e monito-
ramento de respostas à terapia e ao prognóstico, por exemplo, a perda de
fundação de AVD ou AIVD frequentemente indica piora da doença ou o
impacto combinado de múltiplas comorbidades.
Porém é importante destacarmos que em idosos altamente indepen-
dentes funcionalmente, as medidas de rastreamento funcional padrão não
irão capturar comprometimentos funcionais sutis; para esses idosos, um
método útil é identificar e questionar regularmente uma atividade-alvo da
qual eles gostem e participem regularmente.
A avaliação física e funcional permite também a identificação de altera-
ções biopsicossociais que irão interferir diretamente no diagnóstico e
direcionar o tratamento e as intervenções de possíveis problemas identifi-
cados, principalmente nas suas atividades corriqueiras.

96 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Assimile
A avaliação física e funcional é indispensável para se determinar o tipo
de intervenção necessário e monitorar o estado clínico e funcional da
população idosa. Quando a avaliação engloba aspectos interdiscipli-
nares, propicia o desenvolvimento de análises fundamentais para uma
assistência fisioterapêutica voltada para a promoção da saúde e da
qualidade de vida da pessoa idosa.

Vamos analisar alguns testes funcionais? Quero, neste primeiro momento,


apresentar a vocês o Timed Up and Go (TUG), teste que possibilita a avaliação
do equilíbrio assentado, das transferências da posição assentada para a
posição de pé, da estabilidade na deambulação em um percurso de 3 metros,
as mudanças do curso da marcha sem utilizar mecanismos compensatórios e
a obtenção de medidas de parâmetros temporais e espaciais da marcha, como
o índice de marcha dinâmica e de mobilidade. O TUG é utilizado pelo fisio-
terapeuta para identificar alterações da marcha, identificar idosos com risco
de quedas, monitorar progressos e determinar a efetividade de intervenções
terapêuticas. Esse teste é considerado pela comunidade científica um bom
indicador de funcionalidade (ROSA et al., 2017).
Ao analisarmos as propriedades psicométricas do TUG na população
idosa, observamos que é um teste simples, de fácil aplicação, e que possui
validade, reprodutividade e responsividade adequadas para avaliar a capaci-
dade funcional, a mobilidade e a fragilidade, mas não constitui isoladamente
um preditor de quedas que deve ser utilizado com outros testes para se
alcançar esse achado. Veja como se realiza o teste na ilustração da Figura 3.1.
Figura 3.1| Timed Up and Go

1 – no comando o idoso se levanta da cadeira; 2 – o idoso anda por 3 metros; 3 – o idoso gira em torno da
marcação de 3 metros; 4 – o idoso caminha de volta para cadeira; 5 – o idoso se senta novamente na cadeira.

Fonte: Nierat et al. (2016, [s.p.]).

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 97


Vamos analisar agora o teste de sentar e levantar utilizado para avaliar
a mobilidade e a função dos membros inferiores no contexto do equilíbrio
e da força, sendo um preditivo de incapacidade funcional e risco de quedas
(mas necessita ser associado a outros fatores de risco de quedas). Esse teste
mede múltiplos componentes dos efetores neuromusculares do equilíbrio e
exige boa força muscular dos membros inferiores para ser completado. A
realização do teste se dá pedindo ao idoso que cruze seus braços sobre o tórax
e comece sentado na cadeira; em seguida, pede-se ao idoso que se levante
cinco vezes o mais rapidamente possível; o tempo é mensurado por um
cronômetro a partir da palavra “comece” até que o idoso se sente completa-
mente na cadeira após a quinta repetição. Idosos que levarem 15 segundos ou
mais para executarem os testes possuem elevada chance de sofrerem quedas
(GUCCIONE; WONG; AVERS, 2013).
Também pode ser realizado o teste de sentar e levantar da cadeira em 30
segundos, em que o idoso cruza seus braços sobre o tórax, senta-se na cadeira
e, a pedido do fisioterapeuta, levanta-se o mais rápido possível durante 30
segundos, sendo feita a contagem da quantidade de vezes que levantou. Esse
teste avalia o desempenho físico de força de membros inferiores e serve
como discriminador da incapacidade funcional, pois envolve mecanismos da
função muscular que estão relacionados à redução da mobilidade e uma vida
social ativa (SANTOS et al., 2013). Veja na Figura 3.2 a execução do teste.
Figura 3.2 | Teste de sentar e levantar

Fonte: Santana et al. (2014, p. 381).

98 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Seguiremos agora com o Teste de Apoio Unipodal (TAU), que avalia o
equilíbrio estático do idoso em uma perna só. A realização do teste ocorre
com o idoso em uma perna só, com os olhos abertos e as mãos cruzadas
tocando os ombros opostos por 30 segundos. Esse teste possui elevada
sensibilidade e especificidade para determinar o risco de quedas, além de
ser um teste fácil de administrar, simples e seguro. É utilizado também para
examinar a força na musculatura dos membros inferiores.
A execução do TAU pelos idosos é considerada difícil, pois exige boa
força nas pernas; por isso, fornece informações úteis sobre a força de cada
perna individualmente e orienta a intervenção. A interpretação do teste se
dá da seguinte forma: se os idosos conseguem ficar em uma única perna por,
pelo menos, 30 segundos, têm baixo risco de quedas. O tempo que consegue
ficar apoiado é medido em três tentativas e considera-se a melhor das três (a
de maior duração).
Veja na Figura 3.3 o TAU sendo executado em uma plataforma de força.
Figura 3.3 | Teste de Apoio Unipodal

Fonte: Oliveira et al. (2015, p. 272).

Exemplificando
Você, ao receber um idoso no seu consultório, observou que uma de
suas principais queixas estava relacionada à dificuldade em manter
o equilíbrio ao executar tarefas relacionadas ao seu cotidiano.
Após a anamnese e a realização de alguns procedimentos relacio-
nados à avaliação cinética funcional, você buscou entre os testes
funcionais aqueles que analisassem o equilíbrio estático, para isso,

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 99


elegeu o teste de equilíbrio unipodal, que permite avaliar o equilí-
brio estático de cada membro inferior e orientar sobre eventuais
disfunções.

Por fim, temos a escala de equilíbrio de Berg, que examina o idoso


em pé e a ação dinâmica em pé por meio de 14 itens. A realização desse
teste necessita apenas de cadeira, banquinho, régua graduada e cronô-
metro. A interpretação do teste é realizada da seguinte maneira: escores
menores que 45 apresentam alto risco de quedas, escores menores ou
iguais que 36 indicam 100% de chance de cair nos próximos 6 meses. A
execução do teste leva em média 20 minutos e é frequentemente utilizada
em idosos que apresentam redução da função, relato de perda do equilí-
brio ou quedas inexplicáveis. Porém esse teste não pode usar nenhum
dispositivo de auxílio à marcha (GUCCIONE; WONG; AVERS, 2013).

Reflita
Você, ao ler sobre os testes funcionais, viu sobre como interpretar os
testes e o que eles indicam. Dessa forma, quero lançar uma reflexão:
quais testes funcionais você utilizaria para analisar o risco de quedas na
população idosa?

Em resumo, a escala de equilíbrio de Berg é uma medida qualita-


tiva que avalia o equilíbrio por meio de atividades funcionais, como
alcançar, inclinar, fazer transferências e ficar em pé, que incorporam a
maioria dos componentes do controle postural, como sentar e transfe-
rir-se de maneira segura entre cadeiras, fica em pé com os pés afastados,
juntos, em uma única perna e com os pés na posição de Romberg com
os olhos abertos ou fechados, alcançar e se agachar para pegar alguma
coisa no chão. A escala é confiável e válida, portanto, pode ser utilizada
na prática clínica.

Pesquise mais
Recomendo que você assista a um vídeo sobre avaliações qualitativas
de equilíbrio estático e dinâmico realizadas em uma idosa de 64 anos.
FERNANDA FERNANDES. Avaliações Qualitativas de Equilíbrio Estático
e Dinâmico – Avaliada: Dalma Bastos, 64 anos. 19 jun. 2012.

100 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Dessa forma, podemos, ao final desta seção, ter uma dimensão dos
principais testes físicos funcionais que a Fisioterapia pode utilizar na
avaliação da população idosa nas diversas enfermidades.

Sem medo de errar


Agora que você já aprendeu sobre avaliação funcional está apto a
retomar a situação problema descrita no início da seção, na qual um
grupo de fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF),
do qual você faz parte, observou a necessidade de um treinamento para
adequar e padronizar os processos avaliativos empregados em suas
práticas fisioterapêuticas, principalmente para classificar os usuários
frente às necessidades mais evidentes. O foco central era a avaliação
funcional do idoso e a necessidade de se padronizar a análise da funcio-
nalidade desse público com instrumentos utilizados no meio científico
e que possibilitem a gestão de recursos de acordo com a atividade reali-
zada, bem como um direcionamento eficiente dos cuidados de saúde.
Ao final, vocês consolidaram um manual com os conteúdos traba-
lhados pelo palestrante para auxiliar na busca por informações sobre a
avaliação funcional do idoso. Quais informações foram inseridas nesse
manual?
A funcionalidade da pessoa idosa está diretamente relacionada à
qualidade de vida. E as alterações da capacidade funcional decorrente
do processo de envelhecimento são oriundas de aspectos primários, ou
seja, aqueles inerentes à própria idade avançada, como pode ser oriunda
de aspectos secundários, ou seja, aqueles inerentes ao surgimento de
doenças e/ou disfunções, como, por exemplo, as que decorrem de
condições crônicas, como as cardiopatias, a hipertensão arterial e as
doenças de ordem neurológica. A Fisioterapia trabalha diretamente com
a capacidade funcional do idoso, por isso, necessita de intensa interação
com outros profissionais da saúde e com um ambiente de estímulos
adequados e de maior qualidade, essenciais para a avaliação cinética
funcional, bem como para a realização de programas de tratamento.
Um método eficaz e capaz de fornecer informações prognósticas
importantes é a avaliação física e funcional, para isso, devemos consi-
derar que diferentes ambientes de reabilitação utilizam ferramentas
específicas para avaliar o estado físico e funcional da pessoa idosa e
assim determinar alterações na funcionalidade.
O Timed Up and Go (TUG) é utilizado pelo fisioterapeuta para
identificar alterações da marcha, identificar idosos com risco de

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 101


quedas, monitorar progressos e determinar a efetividade de interven-
ções terapêuticas. Esse teste é considerado pela comunidade científica
um bom indicador de funcionalidade.
Teste de sentar e levantar avalia a mobilidade e a função dos membros
inferiores no contexto do equilíbrio e da força, sendo um preditivo de
incapacidade funcional e risco de quedas (mas necessita ser associado a
outros fatores de risco de quedas).
O TAU avalia o equilíbrio estático do idoso em uma perna só, permite
determinar o risco de quedas em idosos e é utilizado para examinar a
força na musculatura dos membros inferiores.
A escala de equilíbrio de Berg fornece uma medida qualitativa que
avalia o equilíbrio realizando atividades funcionais, como alcançar,
inclinar, fazer transferências e ficar em pé, que incorporam a maioria dos
componentes do controle postural, como sentar e transferir-se de maneira
segura entre cadeiras, ficar em pé com os pés afastados, juntos, em uma
única perna e com os pés na posição de Romberg com os olhos abertos ou
fechados, alcançar e se agachar para pegar alguma coisa no chão.
Pronto, agora você e os seus colegas fisioterapeutas poderão utilizar
o manual com pontos importantes sobre avaliação funcional em idosos.
Essas informações fazem parte do primeiro passo para você, aluno,
construir a ficha de avaliação para atendimento do idoso como resul-
tado de aprendizagem da Unidade 3

Avançando na prática

Equilíbrio dinâmico de idosos após utilização de


recursos terapêuticos biohídricos

Descrição da situação-problema
Durante o processo de envelhecimento, diversas funções fisiológicas
passam por comprometimentos e declínios, umas mais evidentes do que
outras, mas todas muito importantes para a manutenção da funcionalidade
e qualidade de vida da pessoa idosa. O equilíbrio é uma das funções mais
prejudicadas conforme o indivíduo envelhece, por isso, a demanda por
auxílio nas clínicas e nos consultórios de Fisioterapia quanto aos déficits de
equilíbrio está cada vez maior.
Você possui uma clínica, que tem como especialidade a utilização de

102 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


recursos terapêuticos biohídricos, e recebeu a Sra. Alice, com 65 anos de
idade, com histórico de quedas nos últimos 6 meses e autorrelato de déficit
de equilíbrio. Durante a anamnese, a paciente relatou que a alteração no
equilíbrio e o medo de cair novamente estão dificultando a realização de
atividades cotidianas, além disso, têm comprometido também sua vontade
de sair de casa e se encontrar com suas amigas.
Foi realizada uma avaliação por meio de testes funcionais. Após 3 meses
de hidroterapia, a senhora foi reavaliada e foi nítida a melhora em relação
ao equilíbrio dinâmico. Diante disso, reflita: quais possíveis testes funcionais
foram utilizados para indicar o nível de comprometimento do equilíbrio
dinâmico e reavaliar a Sra. Alice?
Resolução da situação-problema
Após refletir, você optou por utilizar a Escala de Equilíbrio de Berg, que
permite detectar risco de quedas em indivíduos idosos por meio da análise
do equilíbrio e da marcha. Ela permite uma descrição quantitativa da habili-
dade de equilíbrio funcional.
Outro teste que você escolheu foi o Timed Up and Go (TUG), que também
permite a avaliação do equilíbrio corporal e da mobilidade funcional, essen-
ciais para intervir nas queixas relatadas pela Sra. Alice.
Diante dos resultados da avaliação e reavaliação dos testes elencados,
você teve a certeza de que o programa de tratamento fisioterapêutico, por
meio de recursos terapêuticos biohídricos, melhorou a funcionalidade e o
equilíbrio, além de reduzir o risco de quedas para o paciente.

Faça valer a pena

1. Luiz, idoso, realizou um teste para avaliação do equilíbrio dinâmico, especifica-


mente, o Teste de Sentar e Levantar 5 vezes. Após a realização do teste, seu resultado
foi de 13 segundos. O Fisioterapeuta ao dar a devolutiva para ele, explicou sobre a
relação entre o tempo de teste e a indicação da funcionalidade e equilíbrio dinâmico.

De acordo com o texto apresentado acima, assinale a alternativa correta. A devolutiva


do Fisioterapeuta indicava que:

a) O Sr. Luiz apresentava escore relacionado a um excelente equilíbrio dinâmico,


que indica enorme risco de quedas.
b) O Sr. Luiz apresentava escore relacionado a um bom equilíbrio dinâmico, que
indica grande possibilidade de quedas.
c) O Sr. Luiz apresentava escore relacionado a valores normais de equilíbrio

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 103


dinâmico, que indica elevado risco de quedas.
d) O Sr. Luiz apresentava escore relacionado a valores anormais de equilíbrio
dinâmico, que indicam risco de quedas.
e) O Sr. Luiz apresentava escore relacionado a valores anormais de equilíbrio
dinâmico, que não indicam risco de quedas.

2. Analise o trecho a seguir:


“[...] o TUG (Timed Up and Go Test) possui boa confiabilidade intra (ICC-0,95) e
interexaminadores (ICC-0,98) e determina que um desempenho de até 12 segundos
seja o tempo normal de realização do teste para idosos que vivem na comunidade,
critério este adotado na presente pesquisa” (SANTOS; BORGS; MENEZES, 2013, p.
889).
Com base nesse texto verifique se as sentenças a seguir apresentam interpretações
corretas:
I. Valores do TUG próximos a 20 segundos são esperados para idosos fragilizados
ou com deficiências.
II. Valores menores que 12 segundos representam aumento do risco de quedas.
III. Idosos com pior desempenho no TUG apresentam incapacidades funcionais,
distúrbios do equilíbrio e/ou quedas.

Após analisar as sentenças, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta.

a) Somente as sentenças I e II estão corretas.


b) Somente as sentenças I e III estão corretas.
c) Somente as sentenças II e III estão corretas.
d) Somente a sentença II está correta.
e) As sentenças I, II e III estão corretas.

3. A diminuição do equilíbrio impacta diretamente a capacidade funcional da


população idosa, predispondo-lhes à fragilidade e menor autonomia na realização das
atividades de vida diária (AVD’s). Porém as possíveis diferenças de equilíbrio entre
homens e mulheres idosas ainda não foram totalmente compreendidas. O estudo de
Silva e Menezes (2014) trouxe em seus resultados a seguinte tabela:

Figura | Distribuição dos idosos estudados de acordo com a associação entre capaci-
dade funcional e sexo (%). Campina Grande – PB, Brasil

104 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Figura | Distribuição dos idosos estudados de acordo com a associação entre capacidade fun-
cional e sexo (%). Campina Grande – PB, Brasil

Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rbcdh/v16n3/1980-0037-rbcdh-16-03-00359.pdf. Acesso em: 19 nov. 2018.

De acordo com os dados apresentados por Silva e Menezes, pode-se concluir que:

a) Não existem diferenças significativas de desempenho de equilíbrio entre homens


e mulheres idosas.
b) Os homens idosos apresentam pior desempenho de equilíbrio em comparação
às mulheres idosas.
c) As mulheres idosas apresentam pior desempenho de equilíbrio em comparação
aos homens idosos.
d) Os homens idosos apresentam melhor desempenho de equilíbrio em compa-
ração às mulheres idosas.
e) As mulheres idosas apresentam melhor desempenho de equilíbrio em compa-
ração aos homens idosos.

Seção 3.1 / Avaliação funcional do idoso - 105


Seção 3.2

Avaliação da qualidade de vida no idoso

Diálogo aberto
Diversas reportagens mostram que a expectativa e a qualidade de vida
dos indivíduos com mais de 60 anos melhorou significativamente nas últimas
décadas. Muito dessa mudança de cenário tem como resultados a maior
consciência sobre o estado de saúde e o bem-estar. Muitos idosos relatam que
a independência funcional associada à prática de atividade física melhora a
autoestima, o humor e a felicidade. A seguir, listamos alguns exemplos de
reportagens para que você possa ler mais sobre o tema:
• GILLY, L. Com dores, idosa começa atividade física e afirma: ‘não
fiz cirurgia e os problemas acabaram’. G1 Sul do Rio e Costa Verde,
[S.l.], 1 out. 2018, 16h06.
• 5 OPÇÕES de atividades físicas para idosos. Saúde Brasil, [S.l.], 28
set. 2018.
• MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.
Atividade física. Belo Horizonte, MG: Secretaria de Estado de Saúde
de Minas Gerais, [s.d.].
Sigamos em nosso eixo-temático proposto no Convite ao estudo, em
que os fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família estabele-
ceram a necessidade de passarem por um treinamento visando à adequação
e à padronização dos processos avaliativos empregados em suas práticas
fisioterapêuticas.
No segundo dia de treinamento, você e os demais fisioterapeutas do
Núcleo de Apoio à Saúde da Família destacaram as evoluções observadas
após o primeiro encontro e a produção do manual e mantiveram a proposta
para esse segundo encontro.
Nesse encontro, o treinamento seria sobre a avaliação da qualidade de
vida no idoso, de modo a compreender o idoso em toda a sua essência e não
apenas no aspecto físico-funcional, considerando questões sociais, culturais,
familiares, laborais, religiosas, entre outras.
O fisioterapeuta que é responsável pelo treinamento explicou os instru-
mentos de avaliação da qualidade de vida, suas aplicabilidades, modo de
operação e interpretação dos resultados. Novamente, vocês se mobilizaram
a fim de consolidar um manual com os conteúdos trabalhados pelo pales-
trante. Quais instrumentos e conceitos fizeram parte dessa construção? Esses

106 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


instrumentos permitem uma avaliação ampla e global da saúde do idoso? Os
indicadores que esses instrumentos fornecem auxiliam na tomada de decisão
clínica?
Para isso, veremos neste material instrumentos de avaliação importantes
para a atuação fisioterapêutica na saúde do idoso, como o questionário de
Baecke, IPAQ (International Physical Activity Questionnaire), Miniexame do
Estado Mental, SE-36 e avaliação dos aspectos sociofamiliares, que auxiliarão
na resolução da situação-problema.
Bons estudos!

Não pode faltar


Atualmente, está mais do que comprovado que a atividade física
tem efeitos positivos sobre a saúde, tanto de crianças e adolescentes (i.e.
alto índice de obesidade infantil) quanto de idosos, promovendo, nesta
população, proteção da funcionalidade e da independência, e contribuindo
para o desenvolvimento e manutenção de uma alta qualidade de vida. Porém,
são poucos os idosos que realizam atividade física de forma regular. Por isso,
a avaliação dos níveis de atividade física em idosos são importantes para a
prática clínica do fisioterapeuta que atua na saúde do idoso.
São diversos os métodos para a avaliação da atividade física habitual.
Dentre eles destacam-se, por conta da acessibilidade e da facilidade de
aplicação na prática clínica, os questionários, que apresentam o baixo custo
e o reduzido tempo para aplicação como suas principais características.
Entretanto, por serem subjetivos, os idosos podem superestimar ou subes-
timar o tempo gasto em atividades. Cabe citar que existem também métodos
mais sofisticados de avaliação, como sensores de movimento (acelerômetros).
Em suma, os questionários utilizam o método recordatório para deter-
minar a medida da atividade física. O Questionário de Baecke, também
conhecido como Questionário de Atividade Física Habitual ou Questionário
de Atividade Física Habitual de Baecke, trabalha com um recordatório
dos últimos 12 meses e tem como diferenciais a facilidade de aplicação e
de compreensão dos achados, por meio de escala quantiqualitativa em

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 107


magnitudes como atividade física ocupacional, exercícios físicos no lazer,
atividades de lazer e locomoção, e resulta em uma pontuação contínua. Outro
ponto de destaque em se utilizar o Questionário de Baecke é a possibilidade
de comparação com muitos estudos epidemiológicos realizados no Brasil.
O instrumento Questionário de Baecke, validado para utilização na
língua portuguesa, é composto de 16 questões, em escala do tipo Likert (i.e.
escala que apresenta níveis de concordância), que abordam três domínios de
atividade física habitual dos últimos 12 meses e, de acordo com Voorrips e
colabores (1991), uma pontuação geral inferior a 9,4 classifica o idoso como
inativo. As questões nesse questionário são divididas da seguinte forma:
1. Escore de atividades físicas ocupacionais (8 questões).
2. Escore de exercícios físicos no lazer (4 questões).
3. Escore de atividades físicas de lazer e locomoção (4 questões).

Pesquise mais
Acesse o artigo indicado a seguir para conhecer o instrumento Questio-
nário de Baecke validado para a língua portuguesa, apresentado na
página 31.

SARDINHA, A. et al. Tradução e adaptação transcultural do Questionário


de Atividade Física Habitual. Rev. Psiq. Clín., [S.l.], v. 37, n. 1, p. 16-22,
2010.

Outro instrumento muito utilizado para avaliar a atividade física é o


International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), que permite a compre-
ensão clínica dos hábitos dos idosos no quesito da medida da atividade
física. Esse questionário define que: a atividade física de intensidade leve não
provoca alterações significativas no organismo; a de intensidade moderada
provoca aumento moderado nas frequências cardíaca e respiratória, deixa
o corpo aquecido e faz suar um pouco; e a de intensidade vigorosa aumenta
muito as frequências cardíaca e respiratória. Seguindo essas definições, o
IPAQ permite que façamos estimativas do tempo semanal gasto em ativi-
dades físicas de intensidade moderada e vigorosa, em diferentes contextos do
dia a dia, como o trabalho, o transporte, as tarefas domésticas e atividades de
lazer e, ainda, o tempo em atividades passivas realizadas na posição sentada.
O IPAQ tem uma versão curta e uma versão longa. A versão curta é
composta de sete questões abertas e permite que façamos estimativas de

108 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


tempo semanal despendido em diferentes dimensões de atividade física, que
perpassam por caminhadas e esforços de intensidades moderada e vigorosa,
além de inatividade física na posição sentada. A versão longa é composta
de 27 questões relacionadas às atividades físicas realizadas semanalmente,
com intensidades vigorosa, moderada e leva, com a duração mínima de 10
minutos contínuos, dentro de quatro dimensões de atividade física (trabalho,
transporte, atividades domésticas e lazer), e relativas ao tempo despendido
por semana na posição sentada. No Brasil, os estudos mostram que o IPAQ
tem boa estabilidade de medidas e precisão aceitável, com boa reprodutibili-
dade teste-reteste e fidedignidade dos resultados na população idosa.

Exemplificando
O IPAQ pode ser aplicado em idosos para que se verifique como o déficit
de equilíbrio e de mobilidade funcional impactam os níveis de atividade
física. O questionário também pode ser utilizado como instrumento de
análise da progressão de idosos que estejam submetidos à assistência
da fisioterapia.

Podemos, assim, considerar que a utilização do IPAQ para avaliação do


nível de atividade física considera as atividades usuais do idoso e pode refletir
o comportamento habitual da pessoa idosa, além de discriminar os idosos
mais ativos dos menos ativos.

Pesquise mais
Para conhecer o questionário IPAQ, validado para a língua portuguesa,
acesse a página 14 do artigo a seguir:

MATSUDO, S. et al. Questionário internacional de atividade física (IPAQ):


estudo de validade e reprodutibilidade. Atividade Física e Saúde., [S.l.],
v. 6, n. 2, p. 5-18, 2001.

Como esses questionários dependem da memória e da cognição dos


idosos avaliados, precisamos ter também o amparo de que podemos confiar
nas respostas dadas. Um método para se realizar essa validação é por meio do
instrumento Miniexame do Estado Mental (MEEM), o teste de rastreio mais
empregado no mundo. Além de ser de fácil e rápida aplicação, ele avalia os
principais aspectos da função cognitiva e seus pontos de corte são definidos
pela escolaridade, com versões traduzidas e validadas para a língua portuguesa.

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 109


O MEEM é composto de duas seções que medem funções cognitivas: a
primeira contém itens que avaliam orientação, memória e atenção, totali-
zando 21 pontos; e a segunda seção mede a capacidade de nomeação, de
obediência a um comando verbal e a um escrito, de redação livre de uma
sentença e de cópia de um desenho complexo (polígonos), perfazendo nove
pontos. Veja o MEEM no Quadro 3.2.
Quadro 3.2 | Miniexame do Estado Mental (MEEM)

Fonte: Burcki et al. (2003 apud LENARDT et al., 2009, p. 640).

As pontuações do MEEM variam de 0 a 30, sendo que os valores mais


altos sugerem melhor desempenho. Você observará que existem diferentes
pontos de corte na literatura, todavia, recomendamos que você utilize o
sugerido por Freitas e colaboradores (2017):
• Analfabetos: 18/19 pontos.
• Indivíduos com mais de um ano de escolaridade: 23/24 pontos.
Esse instrumento tem validade de critério e de fidedignidade, boa confia-
bilidade teste-reteste e acurácia diagnóstica. Dessa forma, podemos conside-
rá-lo um importante exame clínico a ser aplicado na população idosa.
Até o momento, vimos dois instrumentos para avaliar o nível de atividade
física de idosos, além de um outro para avaliar a cognição e o estado mental.
Agora, conheceremos um instrumento que avalia a qualidade de vida da

110 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


pessoa idosa, relacionada à saúde genérica: o Medical Outcomes Study Short
Form 36 Health Survey (SF-36).

Pesquise mais
Recomendamos a leitura do artigo de Nelyse de Araújo Alencar e
colaboradores (2010), que traz uma análise dos níveis de atividade física,
autonomia funcional e qualidade de vida em idosas ativas e sedentárias.

ALENCAR, N. de A. Nível de atividade física, autonomia funcional e quali-


dade de vida em idosas ativas e sedentárias. Fisioter. Mov., Curitiba, v.
23, n. 3, p. 473-481, jul./set. 2010.

O SF-36 é um formulário composto de 36 itens que levantam o estado de


saúde e a qualidade de vida da pessoa idosa. É um questionário multicultural
que mede oito subescalas ou domínios:
1. Domínio capacidade funcional.
2. Domínio limitações por aspectos físicos.
3. Domínio dor.
4. Domínio estado geral de saúde.
5. Domínio vitalidade.
6. Domínio aspectos sociais.
7. Domínio limitações por aspectos emocionais.
8. Domínio saúde mental.
Os escores de cada domínio variam de 0 a 100, sendo que os escores mais
altos representam melhores níveis de saúde e de qualidade de vida. O SF-36
tem uma versão validada e adaptada à cultura brasileira, de fácil e rápida
aplicação, apresentando reprodutibilidade e validade. A seguir, indicamos a
versão do SF-36 para a língua portuguesa:

TESTES: versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36.


Cooperativa do Fitness. Belo Horizonte, 26 jan. 2009.

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 111


Assimile
A avaliação do estado de saúde da pessoa idosa está diretamente
relacionada à qualidade de vida, influenciada pelo gênero, escolaridade,
idade, condição econômica e presença de incapacidades, que interferem
no processo saúde-doença. Os indicadores provenientes da avaliação
permitem a implantação de propostas de intervenção, cujo objetivo é
promover o bem-estar dos idosos.
É importante refletirmos e considerarmos que a grande maioria dos
aspectos que relacionam a saúde à qualidade são subjetivos e multidi-
mensionais, dependentes da cultura e do sistema de valores em que o
idoso vive, além dos objetivos, expectativas, padrões e preocupações
que ele tem.

Por fim, analisaremos a avaliação sociofamiliar, que faz parte da avaliação


multidimensional do idoso. Nela investiga-se a posição familiar e o risco
psicossocial na esfera familiar, que perpassam por indicadores de violência e
maus tratos, lesões corporais inexplicadas, descuido com a higiene pessoal,
demora na busca por atenção médica, discordância entre os discursos do
idoso, do cuidador e da família, internações frequentes por não adesão ao
tratamento de doenças crônicas, ausência do familiar nas consultas e sessões
ou recusa à visita domiciliar.

Reflita
A avaliação do nível de atividade física, do estado mental, da qualidade de
vida e dos aspectos sociofamiliares requer um recordatório e confiança
do idoso no profissional que realiza a avaliação. O que você faria para
criar um ambiente de respeito e confiança de modo que o idoso forneça
as informações necessárias para seu planejamento terapêutico?

No contexto macro da saúde do idoso, a avaliação sociofamiliar está


dentro do plano de cuidados, no aspecto do planejamento, dentro do
diagnóstico multidimensional, no item diagnóstico das demandas biopsicos-
sociais, nos fatores contextuais. Veja exemplificação na Figura 3.4.

112 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Figura 3.4 | Plano de cuidados da pessoa idosa: avaliação sociofamiliar

Fonte: Malloy-Diniz, Fluentes e Consenza (2013, p. 321).

Em resumo, existem inúmeros métodos e instrumentos utilizados pela


fisioterapia para que possamos realizar uma avaliação global e interdisciplinar,
capaz de caracterizar as condições física e funcional da pessoa idosa avaliada.
Dessa maneira, dedicar-se a conhecer a fundo as propriedades psicométricas
desses e de outros instrumentos permitirá que você tenha uma ampla experi-
ência a respeito de quais instrumentos e métodos serão mais adequados para
os desafios futuros. Por isso, enfatizamos a importância de sua atuação ativa na
busca por bases, materiais e métodos de avaliação que sejam condizentes com
a sua realidade e com as necessidades de seus futuros pacientes.

Sem medo de errar


Você e os demais fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
verificaram a necessidade de passarem por um treinamento que possibili-
tasse a adequação e a padronização dos processos avaliativos utilizados nas
suas práticas clínicas, além de possibilitar a construção de um manual que
auxiliasse na integração e na execução dos procedimentos. No segundo
encontro desse treinamento, o tema abordado passava por avaliação da
qualidade de vida no idoso, de modo a compreender o idoso em toda a sua
essência, e não apenas no aspecto físico-funcional, considerando questões
sociais, culturais, familiares, laborais, religiosas, entre outras. Quais instru-
mentos e conceitos foram elencados para o manual?
O primeiro instrumento incluído foi o que avalia a atividade física habitual
– o Questionário de Baecke, acessível, de fácil aplicação e interpretação, com
baixo custo operacional e pequeno tempo para aplicação. Esse instrumento é
um recordatório dos últimos 12 meses e tem como diferenciais a facilidade de

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 113


aplicação e de compreensão dos achados, por meio de escala quantiqualitativa
em magnitudes como atividade física ocupacional, exercícios físicos no lazer,
atividades de lazer e locomoção, e resulta em uma pontuação contínua, que
possibilita a comparação com muitos estudos epidemiológicos realizados no
Brasil. É um questionário validado para utilização na língua portuguesa.
Outro instrumento incluído foi para avaliar a atividade física – International
Physical Activity Questionnaire (IPAQ) – que permite a compreensão clínica
dos hábitos dos idosos no quesito da medida da atividade física. Permite que
façamos estimativas do tempo semanal gasto em atividades físicas de intensidade
moderada e vigorosa, em diferentes contextos do dia a dia, como o trabalho, o
transporte, as tarefas domésticas e atividades de lazer, e, ainda, o tempo em ativi-
dades passivas realizadas na posição sentada. O IPAQ tem uma versão curta e
uma versão longa. Ele detém boa estabilidade de medidas e precisão aceitável,
com boa reprodutibilidade teste-reteste e fidedignidade dos resultados na
população idosa, além de discriminar os idosos mais ativos dos menos ativos.
O teste para avaliar a cognição e o estado mental dos idosos é o Miniexame
do Estado Mental (MEEM), teste de rastreio mais empregado no mundo, de fácil
e rápida aplicação. Esse teste avalia os principais aspectos da função cognitiva
e seus pontos de corte são definidos pela escolaridade. Há versões traduzidas e
validadas para língua portuguesa. Este instrumento tem validade de critério e de
fidedignidade, boa confiabilidade teste-reteste e acurácia diagnóstica.
Para avaliar a qualidade de vida, foi utilizado o Medical Outcomes Study
Short Form 36 Health Survey (SF-36), que levanta o estado de saúde e a quali-
dade de vida da pessoa idosa, por meio de um questionário multicultural. Tem
uma versão validada e adaptada à cultura brasileira, de fácil e rápida aplicação,
apresentando reprodutibilidade e validade.
Por fim, deve-se realizar a avaliação sociofamiliar, que faz parte da avaliação
multidimensional do idoso, na qual investiga-se a posição familiar e o risco
psicossocial na esfera familiar, dentro do espectro dos fatores contextuais.

Avançando na prática

Atuação na saúde do idoso em Centro de


Atenção Integral

Descrição da situação-problema
Com o avanço do envelhecimento populacional, as demandas pelos
serviços de saúde aumentam vertiginosamente. Nesse contexto, a prefeitura

114 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


de um município, localizado na Região Norte do país, abriu concurso público
para a contratação de um profissional que atuaria em um Centro de Atenção
Integral aos Idosos.
Após a divulgação do resultado, você foi convocado para iniciar as
atividades. No seu primeiro dia já foi possível notar que havia uma grande
demanda para a fisioterapia. Considerando esse cenário, como seria possível
atender de forma satisfatória os usuários que precisam da fisioterapia e dar
vazão ao fluxo de espera? Seria possível verificar se os idosos apresentam
condições semelhantes? Quais instrumentos utilizar?
Resolução da situação-problema
Após muita reflexão e debate, você verificou que uma forma de prestar
um atendimento inicial à parte dos idosos que estavam na lista de espera
seria com a realização de grupos, mas, para isso, os idosos deveriam ser
classificados e agrupados em condições específicas. Uma maneira debatida
entre os profissionais do Centro de Atenção Integral foi a avaliação e agrupa-
mento pelo nível de atividade física dos idosos, que poderia ser realizada por
meio de instrumentos validados e confiáveis, como o IPAQ. Outra possibili-
dade seria avaliar a qualidade de vida e a capacidade funcional, por meio de
instrumentos que analisem a qualidade de vida geral do idoso e tenham um
domínio de capacidade funcional, como no caso do SF-36.
Após essa triagem inicial, seria possível agrupar e realizar trabalhos em
grupo a fim de atender a maior parcela dos idosos que necessitam de fisiote-
rapia, priorizando os casos emergenciais e mais complexos.

Faça valer a pena


1. Uma pesquisa realizada em Santa Maria (RS) analisou, de forma comparativa, a
qualidade de vida de idosos ativos e insuficientemente ativos, por meio do instru-
mento SF-36, que avalia a qualidade de vida.
Analise com atenção a tabela a seguir, que apresenta alguns dos resultados obtidos:

Tabela | Avaliação do SF-36

Fonte: https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/viewFile/19753/14634. Acesso em: 29 jan. 2019.

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 115


Tendo como base que o instrumento SF-36 apresenta maiores escores para os que têm
melhor qualidade de vida, pode-se determinar que:
a) O domínio capacidade funcional apresenta resultados semelhantes entre idosos
ativos e idosos insuficientemente ativos.
b) O domínio dor apresenta maior qualidade de vida nos idosos insuficientemente
ativos.
c) O domínio vitalidade apresenta menor qualidade de vida nos idosos ativos.
d) O domínio saúde mental apresenta resultados semelhantes entre idosos ativos e
idosos insuficientemente ativos.
e) O domínio estado geral da saúde apresenta maior qualidade de vida nos idosos
ativos.

2. A cognição e o estado mental do idoso sofrem com o processo fisiológico do


declínio da capacidade cognitiva. Todavia, esse processo não é linear e sofre influ-
ência do ambiente. Considerando essas informações, analise as afirmações a seguir:

I. Idosos institucionalizados apresentam um baixo desempenho cognitivo e


funcional, que pode ser detectado pelo questionário do Miniexame do Estado
Mental, resultado em grande parte da perda de autonomia, alterações sociais e
culturais.

PORQUE

II. Os idosos institucionalizados realizam diversas atividades físicas e cognitivas,


além de terem elevada escolaridade, o que reflete nos indicadores.

Assinale a alternativa que contenha a análise correta.


a) As afirmações I e II são verdadeiras, e a razão entre elas é verdadeira.
b) A afirmação I é verdadeira e a II é falsa.
c) As afirmações I e II são verdadeiras, e a razão entre elas é falsa.
d) A afirmação I é falsa e a II é verdadeira.
e) As afirmações I e II são falsas.

3. Um fisioterapeuta, que trabalha na atenção à saúde do idoso, recebeu o resultado


de vários instrumentos de avaliação para análise e, posteriormente, deverá estabelecer
indicadores que forneçam dados relacionados às variáveis analisadas. Os resultados
que recebera referiam-se aos seguintes instrumentos de avaliação:
I. Miniexame do Estado Mental.
II. SF-36.

116 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


III. Questionário de Baecke.
IV. IPAQ.

Correlacione esses instrumentos com os indicadores a seguir:


A. Nível habitual de atividade física.
B. Qualidade de vida.
C. Cognição.
D. Tempo semanal gasto com atividade física.

Assinale a alternativa que contenha a associação correta:


a) I-A; II-B; III-C; IV-D.
b) IV-A; II-B; III-C; I-D.
c) III-A; II-B; I-C; IV-D.
d) IV-A; II-B; I-C; III-D.
e) III-A; I-B; II-C; IV-D.

Seção 3.2 / Avaliação da qualidade de vida no idoso - 117


Seção 3.3

Avaliação fisioterapêutica no idoso

Diálogo aberto
Como já vimos em outros momentos desta disciplina, a população
idosa passa por um processo de crescimento no Brasil. Com isso, abre-se
um importante nicho de mercado voltado para garantir a essa população
a devida qualidade de vida. No caso da fisioterapia, realiza-se um trabalho
direcionado ao movimento e funcionalidade, seja em idosos sem doença de
base, seja em idosos com as mais diversas enfermidades. Todavia, a atuação
da fisioterapia na saúde do idoso é tão complexa que requer uma formação
ampla e voltada tanto para o diagnóstico cinético funcional acurado quanto
para a elaboração de programas de tratamento.
No início da unidade trabalhamos com uma necessidade de treinamento
de um grupo de fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), que gostariam de adequar e padronizar os processos avaliativos
empregados em suas práticas fisioterapêuticas, principalmente para classifi-
carem os usuários em relação às necessidades mais evidentes. Inicialmente, a
solução encontrada foi trazer profissionais de destaque para a realização do
treinamento com base em três grandes pilares: avaliação funcional do idoso,
avaliação da qualidade de vida no idoso e avaliação fisioterapêutica no idoso.
No primeiro dia de treinamento, o fisioterapeuta convidado destacou os
pontos que seriam abordados, perpassando desde a funcionalidade até a utilização
de testes específicos e, ao final, você e a equipe de fisioterapeutas consolidaram um
manual com os conteúdos trabalhados. No segundo encontro do treinamento,
vocês participaram do treinamento sobre os instrumentos de avaliação da quali-
dade de vida, suas aplicabilidades, modo de operação e interpretação dos resul-
tados, e continuaram a inserir essas informações no manual que desenvolviam.
No último encontro do treinamento, você e os demais fisioterapeutas do
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) caminhavam para a padroni-
zação dos processos avaliativos, o que possibilitaria a geração de indicadores
de saúde fidedignos e passíveis de comparação.
Entretanto, para atingirem os objetivos iniciais de adequação e padroni-
zação dos processos avaliativos a fim de, principalmente, poderem classificar
os usuários em relação às necessidades mais evidentes, faltava passarem pela
avaliação fisioterapêutica nas diferentes áreas de abrangência da saúde do
idoso. Para isso, o fisioterapeuta responsável pelo treinamento utilizou um
modelo diferente de atuação: em um primeiro momento, pediu para que o

118 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


grupo do NASF fizesse um resumo da realidade e seria a partir desses relatos
que as formas de avaliação passariam a ser abordadas.
No fim do dia de treinamento, vocês elaboraram um manual desse
terceiro encontro com o objetivo de o utilizem como guia para os procedi-
mentos de avaliação adotados na unidade. Quais métodos, instrumentos e
conceitos foram utilizados nesse manual?
O conhecimento acerca da avaliação física e funcional nas enfermidades
que mais acometem os idosos é essencial para que você tenha informa-
ções suficientes que garantam a melhor tomada de decisão clínica. Assim,
empenhe-se, extrapole os conteúdos abordados e debata com seus colegas e
professores as particularidades e especificidades de cada método. Essa troca
de informações auxiliará muito na sua formação acadêmica.
Bons estudos!

Não pode faltar


A síndrome metabólica é definida pelo agrupamento de fatores de risco cardio-
vascular, como a hipertensão arterial sistêmica, resistência à insulina, hiperinsuli-
nemia, intolerância à glicose/diabete do tipo 2, obesidade central e dislipidemias
(LDL elevado, triglicérides elevados e HDL baixo). Essa amplitude de enfermidades
impacta a saúde e consequentemente a capacidade física e funcional da população
idosa. Nesse sentido, a avaliação fisioterapêutica focada nesses aspectos permite a
adoção de métodos preventivos e reabilitativos, quando necessário.
Nos indivíduos que têm uma ou mais enfermidades metabólicas, é
comum observamos um efeito da diminuição de força e massa muscular,
que ocorre por várias possibilidades de processos. A seguir, apresentamos
um esquema para com o objetivo de exemplificar essa questão dentro do
contexto da diabetes mellitus do tipo 2 (Figura 3.5).
Figura 3.5 | Ciclo dos efeitos de doenças metabólicas na capacidade física e funcional

Fonte: adaptado de Ciolac e Guimarães (2002 apud CIOLAC; GUIMARÃES, 2004, p. 321).

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 119


Esse processo de declínio funcional, além de afetar os componentes do
sistema musculoesquelético, gera também riscos cardiovasculares, conforme
exemplificado na Figura 3.5, que mostra um ciclo extremamente danoso e
perigoso para a população idosa.
Além disso, existem associações importantes entre as doenças metabólicas
e a incapacidade funcional dos idosos, as quais comprometem a produtividade,
a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos. Dessa maneira, a avaliação
física e funcional permitirá a nós, fisioterapeutas, o desenvolvimento de
objetivos da assistência fisioterapêutica em idosos com enfermidades metabó-
licas, com o foco de tornar a nossa atuação personalizada e mais eficiente.
A avaliação física funcional nas enfermidades metabólicas utiliza, além
dos testes e questionários que já estudamos nas seções anteriores, as atividades
de vida diária (AVDs), as atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) e
mobilidade. Ou seja, podemos investigar o impacto das enfermidades metabó-
licas em atividades como as que podemos observar na Quadro 3.3.
Quadro 3.3 | AVDs e AIVDs
AVDs AIVDs
Tomar banho Cozinhar
Vestir-se Limpar a casa
Levantar-se Fazer compras
Sentar-se Fazer jardinagem
Caminhar pequenas distâncias Usar o celular
Dirigir
Fonte: Franchi et al. (2008, p. 159).

Também fornecem informações importantes a avaliação da força muscular


dos principais grupos musculares, da flexibilidade e da amplitude de movimentos
das principais articulações, do equilíbrio estático e dinâmico, e da coordenação
motora em atividades simples e complexas. Os resultados observados fornecerão
informações importantes para a nossa tomada de decisão clínica.

Assimile
A avaliação física e funcional em idosos com enfermidades metabólicas
pode incluir métodos cotidianos da avaliação fisioterapêutica, como a
cirtometria, peso, altura e IMC, frequência cardíaca em repouso, além
da utilização de escalas de dor e de avaliação postural.

O envelhecimento também provoca inúmeras mudanças nos tecidos corpó-


reos, que se manifestam de vários modos: desde alterações bioquímicas na

120 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


composição do tecido até alterações provocadas secundariamente por danos
acumulados, que podem acometer os tecidos musculoesqueléticos e gerar
manifestações clínicas ortopédicas e traumatológicas, como a síndrome do
impacto, lesões meniscais, estenose lombar, osteoartrite, fraturas e distrofia
simpático-reflexa.
A avaliação fisioterapêutica dessas enfermidades inicia-se, assim como as
demais condições, com a obtenção da história clínica, que fornecerá informações
importantes, como o início e a caracterização dos sintomas, além da extensão do
comprometimento funcional; da história de tratamentos anteriores, que forne-
cerá informações sobre condutas conservadoras (medicamentos); realização de
testes específicos para indicar o diagnóstico cinético funcional da pessoa idosa;
avaliação da dor e da sensibilidade, que fornecerá informações sobre os processos
inflamatórios agudos ou crônicos nos tecidos avaliados; avaliação da mobilidade
ativa e passiva, por meio da análise da amplitude de movimento articular; testes
funcionais dos segmentos corporais; avaliação da força muscular; e a execução
dos testes e questionários apresentados nas seções anteriores.
Os achados que encontraremos na avaliação das enfermidades traumáticas
do idoso permitem o estabelecimento de metas, como:
➢ Diminuição dos efeitos da inflamação.
➢ Diminuição dos efeitos da imobilização.
➢ Aumento da independência da pessoa idosa.
➢ Ensino de adaptações funcionais à pessoa idosa.
➢ Diminuição da restrição articular.
➢ Diminuição da perda da força muscular.
➢ Recuperação da resistência muscular.
➢ Redução da perda de flexibilidade dos tecidos musculares e
periarticulares.
➢ Treino proprioceptivo.

Reflita
Apesar de discutirmos como se elabora um racional avaliativo em idosos
com enfermidades traumáticas, a fisioterapia pode atuar no diagnós-
tico de comprometimentos e disfunções ainda não determinados? A
avaliação funcional poderia auxiliar na determinação de disfunções
ainda não diagnosticadas? A avaliação funcional permite determinar o
grau de dependência da pessoa idosa e os tipos de cuidados que serão

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 121


necessários, além de como e por quem esses cuidados poderão ser mais
apropriadamente realizados?

Alguns distúrbios, como a doença de Alzheimer, o mal de Parkinson e


as doenças cerebrovasculares, cuja incidência tem aumentado, são especí-
ficos da idade avançada. Por isso, a compreensão acerca do impacto dessas
doenças nas capacidades físicas e funcionais assume grande destaque.
Grande parte do declínio observado nas habilidades funcionais associado
ao envelhecimento está ligado a doenças neurológicas, entre as quais desta-
cam-se a demência e o acidente vascular encefálico como as principais causas
de limitação funcional e de institucionalização na velhice.
Os idosos portadores de doenças neurológicas geralmente apresentam
tônus e movimentos anormais como consequência do dano neurológico,
que resultam em incapacidades físicas, as quais contribuem para o déficit
funcional. Embora o dano neurológico não seja progressivo, em alguns casos,
podemos observar que a incapacidade decorrente da doença pode aumentar
com o tempo, por conta de um ciclo caracterizado pela força da imobilidade
e dos padrões estereotipados, que tem como resultados mudanças estruturais
de grupos musculares e piora da capacidade funcional.
Nesse contexto, a avaliação física e funcional realizada pela fisioterapia
nas enfermidades neurológicas perpassa inicialmente pela anamnese e por
uma descrição das limitações funcionais; em seguida, realiza-se a observação
dos padrões de movimento durante a execução de atividades funcionais,
objetivando identificar possíveis variações fora dos limites de normalidade;
segue-se para a avaliação do equilíbrio estático e dinâmico, e do controle
postural; para a avaliação da força muscular, que está intimamente associada
à limitação funcional; avaliação do sistema musculoesquelético, enfatizando
os aspectos relacionados à preservação da amplitude articular, por meio de
mobilização passiva e ativa, bem como flexibilidade muscular; avaliação da
presença de rigidez (incapacidade de realizar relaxamento completo, seja a
relacionada à alteração de tônus ou a relacionada à redução da amplitude de
movimento e desuso), assim como da espasticidade; avaliação da coorde-
nação de movimentos de múltiplas coordenações; avaliação das habilidades
funcionais (postura, manipulação e locomoção, por exemplo) e do contexto
ambiental.
Porém, muitas vezes o dano neurológico que se manifesta em incapa-
cidade física leva o idoso a adotar estratégias compensatórias e impede a
realização dos movimentos da mesma maneira que fazia antes do início da
incapacidade. Assim, a avaliação em idosos com enfermidades neurológicas
requer que, durante esse processo, tenhamos a compreensão e a percepção

122 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


do movimento normal, a fim de observar quais condições caracterizam as
incapacidades do paciente: por exemplo, se uma pessoa idosa apresenta uma
dificuldade em realizar alguma atividade funcional, essa alteração pode ser
decorrente de uma postura ou movimento diferente do normal. Ou seja, a
pessoa idosa com dano neurológico decorrente de qualquer morbidade
apresentará limitação funcional, em decorrência de alterações nos sistemas
neuromuscular, musculoesquelético ou sensorial, que gera compensações
(movimentos e posturas anormais). A longo prazo, essas compensações podem
prejudicar a funcionalidade. O dano neurológico resultará em impedimentos
do sistema neuromuscular, como a espasticidade e o desequilíbrio na coorde-
nação dos grupos musculares, e até o desuso Além disso, ao considerarmos
que o sistema musculoesquelético é o executor final de qualquer ato volun-
tário, a redução de força observada em pacientes geriátricos neurológicos é
relevante e deve ser considerada como principal impedimento primário da
limitação das atividades funcionais. Dessa maneira, a atuação fisioterapêu-
tica em idosos com enfermidades neurológicas tem como objetivo final a
melhora da funcionalidade.
Portanto, a avaliação de idosos com enfermidades neurológicas está
relacionada com o déficit de força muscular, a alteração de tônus, a limitação
da amplitude articular ou déficit sensorial, que devem estar associados
com a análise das atividades funcionais, como a postura, a locomoção e a
manipulação.

Exemplificando
Idosos com sequelas de acidente vascular encefálico seguem uma
rotina de intervenção e tratamento que varia conforme o tipo
e a causa do acidente vascular, mas que consiste, na medida do
possível, em restabelecer funções e/ou minimizar as sequelas. Para
que a intervenção fisioterapêutica seja eficiente, é fundamental a
avaliação do nível de capacidade funcional na realização de ativi-
dades de vida diária e atividades instrumentais de vida diária.

Ao analisarmos os idosos com enfermidades cardiovasculares, obser-


vamos que muitos apresentam sinais clínicos de doenças cardiovasculares,
as quais também colaboram para a deterioração funcional e são a principal
causa de óbitos em pessoas nessa idade. Além disso, essas doenças podem
afetar a função global e acentuar os efeitos da senescência. Entre as doenças
cardiovasculares mais comuns, destacam-se as coronopatias, infarto agudo
do miocárdio, estenose da valva aórtica, estenose da valva mitral, regurgita-
mento da valva mitral, arritmias e hipertensão arterial sistêmica.

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 123


A avaliação de idosos com enfermidades cardiovasculares deve consi-
derar a dificuldade em se distinguir as alterações decorrentes do processo
de envelhecimento das alterações provenientes de comorbidades cardí-
acas. Deve considerar, também, o resultado do teste ergométrico, que nos
permitirá a compreensão da capacidade máxima de exercício que o paciente
suporta, fundamental para que possamos elaborar um programa de trata-
mento fisioterapêutico adequado às capacidades do indivíduo.
Em resumo, a avaliação fisioterapêutica em idosos com enfermidades
cardiovasculares, passa por uma boa anamnese, avaliação da frequência
cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial, teste de força muscular
para membros inferiores e superiores, teste de caminhada de seis minutos e,
consequentemente, a elaboração dos objetivos de tratamento, baseando-se
nos achados encontrados na avaliação. Os objetivos mais comuns nesse
contexto são:
➢ Permitir o retorno à vida produtiva o mais breve possível.
➢ Permitir o retorno à vida produtiva pelo maior tempo possível.
➢ Estabilizar ou reverter o processo aterosclerótico.
➢ Reduzir a morbimortalidade cardiovascular.
➢ Estimular a readaptação social.
➢ Promover educação em saúde.

Pesquise mais
Recomendamos a leitura da tese de doutoramento da Iracema Ioco
Kikuchi Umeda, indicada a seguir, que analisou o teste de caminhada de
seis minutos como preditor de morbidade e mortalidade cardiovascular
em pacientes após infarto agudo do miocárdio. Sugerimos a leitura das
páginas de 7 a 12.

UMEDA, I. I. K. Teste de caminhada de seis minutos como preditor de


morbidade e mortalidade cardiovascular em pacientes após infarto
agudo do miocárdio. 2014. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de
Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

E, por fim, as enfermidades reumatológicas que são altamente prevalentes


em idosos, por afetarem tecidos importantes, como o tecido muscular e o

124 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


tecido articular, causam impactos negativos sobrepostos ao declínio da função
natural do processo de envelhecimento. Como é o caso da sarcopenia, que
promove um declínio funcional importante, que gera perda progressiva da
independência, inabilidade para realizar atividades de vida diárias básicas e
instrumentais, maior risco de quedas e fraturas. Assim como nas outras enfer-
midades, a avaliação deve fornecer elementos que baseiem a tomada de decisão
clínica para o tratamento da sintomatologia e melhora/recuperação funcional.
Dessa forma, podemos considerar que entre os inúmeros testes disponí-
veis para as mais diversas enfermidades que acometem a população idosa, a
avaliação física e funcional deve espelhar fielmente o desempenho nas ativi-
dades básicas e instrumentais de vida diária, analisar a mobilidade e o equilí-
brio, sendo representativo da atividade dos idosos.

Sem medo de errar


Na situação-problema apresentada no início da seção, vimos você fazia
parte de um grupo de fisioterapeutas do NASF que buscou, por meio de
treinamentos, aprender a padronizar os métodos de avaliação empregados.
No terceiro encontro, o fisioterapeuta responsável pelo treinamento utilizou
um modelo diferente de atuação: em um primeiro momento, pediu para
que o grupo do NASF fizesse um resumo da realidade e seria a partir desses
relatos que as formas de avaliação passariam a ser abordadas. No fim desse
dia de treinamento, vocês elaboraram um manual desse terceiro encontro
com o objetivo de o utilizarem como guia para os procedimentos de avaliação
adotados na unidade. A seguir, verificaremos quais elementos, instrumentos
e conceitos foram utilizados nesse manual.
Inicialmente, você e os demais fisioterapeutas indicaram que os idosos
atendidos pelo NASF tinham, principalmente, enfermidades metabólicas,
traumáticas, neurológicas, cardiovasculares, reumatológicas. Após isso, o
palestrante iniciou debatendo sobre a avaliação físico funcional e o resultado
final do encontro para elaboração do material está indicado a seguir.
A avaliação física e funcional permitirá aos fisioterapeutas o desenvolvi-
mento dos objetivos da assistência fisioterapêutica em idosos com enfermi-
dades metabólicas, a fim de tornar a atuação personalizada e mais eficiente.
Ela deve ser realizada por meio de testes e questionários já estudados nas
seções anteriores, da avaliação das atividades de vida diária (AVDs), das
atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) e da mobilidade.
Já a avaliação em idosos com enfermidades traumáticas inicia-se com a
obtenção da história clínica, que fornecerá informações importantes como o
início e a caracterização dos sintomas, além da extensão do comprometimento

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 125


funcional; da história de tratamentos anteriores, que fornecerá informações
sobre condutas conservadoras (medicamentos); realização de testes especí-
ficos para indicar o diagnóstico cinético funcional da pessoa idosa; avaliação
da dor e da sensibilidade, que fornecerá informações sobre os processos infla-
matórios agudos ou crônicos nos tecidos avaliados; avaliação da mobilidade
ativa e passiva, por meio da análise da amplitude de movimento articular;
testes funcionais dos segmentos corporais; avaliação da força muscular; e a
execução dos testes e questionários apresentados nas seções anteriores.
A avaliação de idosos com enfermidades neurológicas perpassa inicial-
mente pela anamnese e por uma descrição das limitações funcionais; em
seguida, realiza-se a observação dos padrões de movimento durante a
execução de atividades funcionais, objetivando identificar possíveis varia-
ções fora dos limites de normalidade; pela avaliação do equilíbrio estático
e dinâmico, e do controle postural; avaliação da força muscular, que está
intimamente associada à limitação funcional; avaliação do sistema musculo-
esquelético, enfatizando os aspectos relacionados à preservação da amplitude
articular, por meio de mobilização passiva e ativa, bem como flexibilidade
muscular; avaliação da presença de rigidez (incapacidade de realizar relaxa-
mento completo), assim como da espasticidade; avaliação da coordenação de
movimentos de múltiplas coordenações; avaliação das habilidades funcionais
(postura, manipulação e locomoção, por exemplo) e do contexto ambiental.
Ou seja, a avaliação de idosos com enfermidades neurológicas está relacio-
nada com o déficit de força muscular, alteração de tônus, limitação da ampli-
tude articular ou déficit sensorial, que devem estar associadas com análise
das atividades funcionais, como a postura, a locomoção e a manipulação.
A avaliação de idosos com enfermidades cardiovasculares deve consi-
derar a dificuldade em se distinguir as alterações decorrentes do processo
de envelhecimento das alterações provenientes de comorbidades cardí-
acas. Deve considerar, também, o resultado do teste ergométrico, que nos
permitirá a compreensão da capacidade máxima de exercício que o paciente
suporta, fundamental para que possamos elaborar um programa de trata-
mento fisioterapêutico adequado às capacidades do indivíduo. Ela passa por
uma boa anamnese, avaliação da frequência cardíaca, frequência respira-
tória e pressão arterial, teste de força muscular para membros inferiores e
superiores, teste de caminhada de seis minutos e consequentemente a elabo-
ração dos objetivos de tratamento, baseados nos achados encontrados na
avaliação.
Por fim, no caso de idosos com enfermidades reumatológicas, a avaliação
deve fornecer elementos que baseiem a tomada de decisão clínica para o
tratamento da sintomatologia e melhora/recuperação funcional.

126 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


Avançando na prática

Avaliação físico funcional em idoso com


síndrome de Guillain-Barré

Descrição da situação-problema
Joaquim, 85 anos de idade, foi internado em um hospital com diagnós-
tico de síndrome de Guillain-Barré. Ele queixava-se de dormência e formiga-
mento nos dois pés e na extremidade inferior das pernas, que evoluíram para
as mãos há cinco dias. Relatava também fraqueza nos membros superiores.
Ao dar entrada no hospital e receber a assistência médica e da equipe
de enfermagem, foi encaminhado para o setor de fisioterapia do hospital.
Lá, realizou uma avaliação focada na sintomatologia e na capacidade físico
funcional. Com base nesse racional, responderemos ao questionamento
central do fisioterapeuta que ficou responsável pelo caso? A avaliação física e
funcional da fisioterapia objetiva estabelecer quais achados?

Resolução da situação-problema
Na avaliação física e funcional de Joaquim, com diagnóstico de síndrome
de Guillain-Barré, a fim de determinar metas para a elaboração do programa
de tratamento no hospital, foram realizadas:
➢ Avaliação da força muscular.
➢ Avaliação da funcionalidade de membros inferiores, nas atividades
de vida diárias básicas e instrumentais.
➢ Avaliação do equilíbrio estático e dinâmica, controle postural e estra-
tégias compensatórias.
➢ Avaliação da marcha.
➢ Avaliação da mobilidade passiva e ativa dos membros superiores,
inferiores e tronco.
➢ Avaliação da independência funcional.

Os achados fornecerão dados para a realização de tratamento adequado e


voltado às necessidades do paciente.

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 127


Faça valer a pena

1. Téo, 75 anos de idade, procurou uma clínica de fisioterapia por apresentar dificul-
dade em caminhar, sensação de instabilidade e dificuldade em controlar o esfíncter
urinário. Durante a avaliação fisioterapêutica foi observado:
• Redução dos reflexos posturais.
• Alteração na marcha, com giro em bloco, ou seja, falta de rotação ao andar e
olhar o entorno.
Com base nesses achados, quais as metas da fisioterapia?
I. Minimizar a independência funcional de Téo.
II. Melhorar a mobilidade funcional, focada na melhora da capacidade funcional.
III. Focar o repouso e evitar a marcha devido ao giro em bloco.

Com base no exposto, assinale a alternativa correta.


a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente a afirmativa II está correta.
c) Somente a afirmativa III está correta.
d) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
e) Somente as afirmativas I e II estão corretas.

2. Uma senhora aposentada procurou a Unidade Básica de Saúde (UBS) reclamando


de tontura e vertigem ao se virar na cama, com histórico de quedas. Ela relata que
sente falta de realizar atividades como cuidar de seu jardim e de jogar cartas com as
amigas no sábado à tarde. A senhora foi avaliada por toda a equipe de saúde da UBS,
incluindo a fisioterapia.
A avaliação física funcional realizada pela fisioterapeuta da UBS abordou:
I. Exame do controle postural, com objetivo de verificar o risco de quedas e
atitudes compensatórias.
II. Avaliação funcional da marcha, com vistas a determinar o padrão da marcha, os
riscos envolvidos e a independência de locomoção.
III. Análise da força muscular e mobilidade, com objetivo de verificar a presença de
dor e redução da sensibilidade.

Com base no exposto, assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
b) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Nenhuma das afirmativas está correta.
e) Somente as afirmativas I e II estão corretas.

128 - U3 / Avaliação em fisioterapia na saúde do idos


3. João, que tem 64 anos de idade, sofreu queda da escada da casa em que reside,
consequentemente, teve lesão medular completa no nível neurológico C7. Quais as
limitações funcionais que João pode apresentar?
( ) Incapacidade de realizar flexão e rotação cervical.
( ) Instabilidade postural.
( ) Função comprometida de extremidade inferior.

Qual avaliação a fisioterapia deveria fazer para analisar o impacto físico funcional da
lesão medular em João?
( ) Avaliação da mobilidade funcional presente.
( ) Avaliação do tônus muscular.
( ) Avaliação da marcha.

Classifique as afirmativas em verdadeiras (V) ou falsas (F). Em seguida, assinale a


alternativa correspondente à ordem correta dessa classificação.
a) V - F - F - V - V - F.
b) F - V - V - F - F - V.
c) F - V - V - V - V - F.
d) V - F - F - F - F - V.
e) V - V - V - F - F - F.

Seção 3.3 / Avaliação fisioterapêutica no idos - 129


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Unidade 4

Atuação da fisioterapia nas enfermidades em


idosos

Convite ao estudo
O Brasil atravessa no momento dois processos importantes para a elabo-
ração de políticas de saúde: o processo de envelhecimento populacional e o
processo de transição epidemiológica, ambos relacionados e que direcionam
o perfil dos profissionais da área da saúde, principalmente, da Fisioterapia.
Os brasileiros envelhecem de maneira nem sempre salutar, apresen-
tando inúmeros problemas de saúde decorrentes de hábitos de vida inade-
quados e que predispõem o surgimento de doenças e agravos à saúde. Neste
contexto, destacam-se doenças como diabetes, colesterol alto (hiperlipi-
demia) e hipertensão.
Por isto, precisamos conhecer e praticar as intervenções da Fisioterapia
na Saúde do Idoso. Por exemplo, a Fisioterapia atua com medidas preventivas
e reabilitadoras para idosos caidores ou com risco de quedas, a atuação da
Fisioterapia frente às enfermidades mais comuns, dentre as quais se destacam
as síndromes da imobilidade, geriátricas e metabólicas, doenças oncológicas,
traumatológicas, reumatológicas, neurológicas e cardiovasculares.
Uma clínica de fisioterapia de um grande centro urbano se especializou
nos serviços prestados à saúde do idoso e, com o aumento da demanda,
contratou uma empresa de consultoria empresarial para reestruturar a clínica
e auxiliar na melhoria da eficiência operacional.
Para realizar tal reestruturação, a empresa contratada, da qual você
faz parte, visitou a clínica, entrevistou os gestores e o corpo profissional e
acompanhou por um período prolongado como se executavam as atividades.
Para finalização do projeto, foram convidados fisioterapeutas externos, inclu-
sive você, para que pudessem colaborar com a finalização da reestruturação,
uma vez que a compreensão das demandas e como as atividades são execu-
tadas são fundamentais para que os processos funcionem com excelência e
os idosos tenham o acompanhamento adequado e focado na resolução das
suas demandas pela equipe profissional. Para isto, o corpo de fisioterapeutas
precisa conhecer a fundo as principais maneiras de atuação da fisioterapia
frente às doenças e agravos que mais acometem os idosos.
Entre as demandas e necessidades da clínica, você observou a necessidade
de se entender como os Fisioterapeutas atuam frente aos idosos caidores?
Como eles atuavam frente às principais disfunções decorrentes das enfermi-
dades mais frequentes?
Para isto, passaremos pelos conteúdos referentes às quedas em idosos,
desde medidas preventivas até o papel da fisioterapia neste problema,
além de abordarmos a atuação da fisioterapia frente às principais disfun-
ções da pessoa idosa, como, por exemplo, na imobilidade, oncologia,
neurologia e reumatologia.
Seção 4.1

Quedas entre idosos

Diálogo aberto
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (BUKSMAN
et al., 2008), as quedas e suas consequentes lesões constituem um grande
problema de saúde pública e consequentemente de grande impacto social,
enfrentado por todos os países que passaram ou passam por um processo de
envelhecimento populacional.
Seguindo o caso apresentado no contexto de aprendizagem, de uma
clínica de um grande centro urbano que optou por passar por um processo de
reestruturação operacional da clínica de Fisioterapia especializada no atendi-
mento de idosos, a qual passou por um longo processo de estudo, reuniões e
debates, focados nas demandas e nas atividades realizadas em cada uma das
ações com a finalidade de encontrar um modelo eficiente e satisfatório.
Um dos fatos observados pela equipe estava na prevalência de idosos que
buscavam o serviço em decorrência de quedas. A equipe da clínica entendia
muito bem esse processo, alertando que as demandas possuem tendência de
crescimento, podendo ser considerado um problema de saúde pública. As
causas e consequências podem ser diversas, por isso, a atuação da equipe se
dá muitas vezes com medidas preventivas.
Durante este processo você, como especialista da área e colaborador da
consultoria, se reuniu com os Fisioterapeutas da clínica para entender quais
eram as demandas dos idosos que apresentavam histórico de quedas? Como
a Fisioterapia pode atuar em idosos caidores? Como a Fisioterapia atua com
medidas preventivas para quedas em idosos?
Para isto veremos por que as quedas em idosos são consideradas um
problema de saúde pública, os seus indicadores epidemiológicos, suas causas
e consequências, medidas preventivas e como a fisioterapia atua frente a
este problema. Lembre-se de que o sucesso é a soma de pequenos esforços
repetidos dia após dia!

Não pode faltar


As quedas na população idosa são altamente incapacitantes e preocu-
pantes, e apenas um evento já é capaz de trazer consequências relevantes,
pois constituem grande causa de morbidade e mortalidade (veja na Figura
4.1 as taxas de mortalidade por quedas em cada faixa etária). Neste contexto,

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 135


são consideradas como um problema de saúde pública devido aos problemas
no âmbito social e econômico, veja na Figura 4.2 uma distribuição dos gastos
com internações provocadas por quedas.
Figura 4.1 | Taxas de Mortalidade Por Quedas em Cada Faixa Etária no Brasil em 2011

Fonte: Mendes (2014, p. 415).

Figura 4.2 | Custos de Internações Por Quedas no Brasil em 2011

Fonte: SIH/SUS (2012 apud MENDES, 2014, p. 414).

A queda pode ser definida como a ocorrência de um evento não inten-


cional que leva uma pessoa, inadvertidamente, ao chão, em um mesmo nível

136 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
ou em um nível inferior. Desta maneira, não pode ser considerada uma
doença, mas uma síndrome cujos sinais e sintomas estão relacionados à
função prejudicada e ambiente desfavorável.

Assimile
As quedas em idosos têm se mostrado como um problema de saúde
pública em consequência das graves consequências que acarreta,
apontadas como um marcador de perda da capacidade funcional,
principal causa de hospitalização, de mortes e acidentes entre idosos.
Além disto, apresenta alta prevalência, onerando o sistema público e
suplementar de saúde.

Dentro deste contexto, os indicadores epidemiológicos podem estar


subestimados pelo fato de boa parte das quedas que resultam em lesões não
exijam atenção médica e assim permanecem sem relato. Existem relatos de
que a prevalência de quedas está em torno de 26% a 35% da população idosa,
de acordo com a comunidade estudada (MENDES, 2014). Dados alarmantes
mostram a gravidade deste problema, entre 1996 e 2012 ocorreram 66.876
óbitos por quedas e 941.923 internações por quedas, sendo que as capitais
brasileiras concentram 32,3% dos óbitos e 21,2% das internações (ABREU
et al., 2018).
A Figura 4.3 apresenta bem a prevalência de quedas nas principais
cidades da América Latina e nos dá uma dimensão sobre o problema de
saúde pública em todo o mundo.
Figura 4.3 | Prevalência de Quedas em Idosos na América Latina

Fonte: Reyes-Ortiz et al. (2005 apud Mendes, 2014, p. 408).

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 137


Estudos de prevalência e retrospectivos mostram que os principais fatores
associados às quedas são:
Idade avançada.
Gênero feminino.
Morar só/Ausência de vida conjugal.
Necessidade de auxílio para locomoção.
Osteoporose/Artrite/Diabetes mellitus/Infarto agudo do miocárdio.
Sedentarismo.
Autopercepção de saúde ruim/Qualidade de vida prejudicada.
Maior número de comorbidades/Maior número de medicamentos
de uso contínuo/Suplementação de vitamina D.
Hospitalização no ano anterior.
Queixas auditivas.
Sinais depressivos.
Prejuízo nas atividades básicas e/ou instrumentais de vida diária.
Deficiências motoras.
Maior dor.
Alcoolismo.
Déficit cognitivo.
Já estudos de incidência mostram que em São Paulo uma incidência
anual de 29%, sendo 13% de forma recorrente, coerentes aos dados de
relatórios internacionais cuja incidência varia entre 25 a 60% da população,
com média de 0,7 quedas por pessoa por ano, assim como a incidência de
quedas recorrentes na América Latina de 8,7 a 14% das amostras estudadas
e de países industrializados do Hemisfério Norte variam entre 10 e 15%
(MENDES, 2014).
Em idosos com osteoporose a prevalência de quedas recorrentes é de
15,5% entre homens e 25,6% entre mulheres, com algumas particularidades,
como o aumento de eventos de recorrência de quedas em homens que vivem
na zona rural, e a menor prevalência de quedas recorrentes na região Sul
(8,6%). Já em idosos hospitalizados e institucionalizados a incidência é maior,
de 0,5 a 2,9 e 0,2 a 3,6 por pessoa por ano, respectivamente (MENDES, 2014).

138 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
As taxas de mortalidade são maiores no gênero masculino, associadas
ao fato do maior envolvimento do homem em atividades físicas intensas e
perigosas, ignorando os limites da sua capacidade física, evidenciada pela
maior gravidade de traumatismos observados em homens e a maior presença
de comorbidade (ABREU et al., 2018).

Reflita
A alta prevalência e a incidência de quedas em idosos fornecem dados
importantes para a tomada de decisão referente a programas preventivos
e reabilitadores? Como a Fisioterapia pode atuar nestes dois cenários?

As quedas, geralmente, estão relacionadas a várias causas, como a falta de


equilíbrio, riscos ambientais e utilização de medicação, bem como pode ser
resultado direto de disfunções cardiovasculares, doença osteomioarticular
ou neurológica.
Ao analisarmos a população idosa que já sofreu uma ou mais quedas,
observamos que podem haver sinais evidentes de fragilidade, imobilidade,
instabilidade ou outras doenças não diagnosticadas. Além de contribuir para
o declínio funcional, limitação das atividades de vida diárias, medo de sofrer
novas quedas e perda da mobilidade e da independência.
As lesões decorrentes de quedas na pessoa idosa se devem à presença de
comorbidades, declínio funcional, aumento do tempo de reação e redução
da eficácia de estratégias motoras do equilíbrio corporal. A morbidade e,
também, a mortalidade resultante de quedas da pessoa idosa dependem do
atendimento de emergência prestado e do tempo médio de permanência do
idoso no chão.
As lesões decorrentes mais comuns são: fraturas, trauma cranioencefálico,
lacerações e comprometimentos articulares. As lesões mais severas reduzem
a mobilidade e a independência, aumentando as chances de morte prema-
tura. Sendo que a severidade da queda depende de fatores como a velocidade
da queda, capacidade de absorção de energia da superfície na qual o idoso
cai, capacidade de autoproteger, limiar de lesão dos tecidos moles e direção
e local do impacto; além de outros fatores como idade mais avançada, baixa
densidade mineral óssea, baixo índice de massa corporal (IMC), déficit
cognitivo, diminuição da acuidade visual e presença de doenças crônicas
específicas. O impacto psicológico também é importante, pois traz consequ-
ências como o isolamento social, insegurança e o medo.
Mais de 90% das fraturas de quadril estão diretamente relacionadas
ao impacto da queda, sendo as mulheres mais suscetíveis, com risco até 4

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 139


vezes maior do que os homens (MENDES, 2014). As outras lesões que mais
acontecem são:
Lesões na cabeça, incluindo olhos e dentes.
Lesões na coluna vertebral.
Fraturas em braços ou mãos.
Fraturas em costela/esterno.
Fraturas em fêmur/quadril/pelve.
Fraturas em perna/joelho/pé.
Entorses.
Luxações.
Além disso, idosos que já sofreram quedas apresentam medo de cair de
novo, denominado na literatura como síndrome pós-queda, tendo como
fatores desencadeantes: alterações da marcha, prejuízos na acuidade visual,
problemas de saúde e possuir baixo suporte social. Este medo gera um ciclo
vicioso, conforme podemos visualizar no diagrama a seguir (Figura 4.4).
Figura 4.4 | Síndrome Pós-Queda

Fonte: adaptada de Mendes (2014, p. 416).

Exemplificando
As quedas são frequentes em idosos e, pelo fato deles permanecerem
a maior parte do tempo em domicílio, estão expostos a muitos riscos.
Desta maneira, o Fisioterapeuta pode atuar identificando as causas e as

140 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
consequências das quedas de idosos em domicílio para que seja possível
estabelecer estratégias preventivas eficazes para reduzir o risco de
quedas de idosos em seus domicílios e no seu entorno.

Desta maneira, todas as áreas da saúde buscam formas de prevenir ou


amenizar este problema, e qualquer que seja o programa preventivo, ele
deve incluir aspectos abrangentes, como: características epidemiológicas da
região, fatores de risco intrínsecos, fatores de risco extrínsecos e abordagem
da família e/ou prestadores de cuidados de longa permanência.
Durante a rotina da prática fisioterapêutica, é comum procurarmos o
relato mais detalhado de desequilíbrios ou quase quedas, para que possamos
compreender melhor as causas subjacentes e facilitar o emprego de medidas
educativas, como o esclarecimento do tema e melhor comunicação entre
profissionais da saúde, pacientes e cuidadores.
Diversas situações são trabalhadas pela Fisioterapia para minimizar
a ocorrência do evento de quedas e recomenda-se realizá-los de maneira
associada, com objetivo de obter efeitos satisfatórios. Algumas medidas
preventivas podem ser feitas nos domicílios dos idosos, principalmente
através de orientação e educação em saúde, orientando quanto aos cuidados
com pisos escorregadios, ausência de corrimão, assentos sanitários muito
baixos e prateleiras muito altas; outros pontos de risco externo ao domicílio
devem ser analisados, como calçadas esburacadas ou irregulares, guias de
calçadas mal sinalizadas e degraus de ônibus muito altos; já no uso individual
da pessoa idosa, devem ser considerados os tipos de calçados utilizados e o
uso habitual de óculos; as orientações relacionadas a estes riscos podem ser
observadas no Quadro 4.1.
Quadro 4.1 | Orientação aos Problemas nos Domicílios de Idosos
Característica do
Problemas Providências
ambiente
Superfícies muito lisas, Tapetes antiderrapantes;
Pisos
polidas ou úmidas. Cera antideslizante.
Iluminação insuficiente
Iluminação Aumentar a iluminação.
ou reduzida.
Reflexos de objetos Vidros polarizados ou pintados;
Reflexos
brilhantes. Alterar a posição de objetos brilhantes.
Interruptores no início e no fim das escadas;
Escadas com ilumina-
Escadas Fitas adesivas antiderrapantes nas bordas dos
ção insuficiente.
degraus.

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 141


Degraus com altura máxima de 15 cm;
Ausência ou instalação Instalar corrimões em ambos os lados;
Corrimões
inadequada. Estender os corrimões para além do primeiro
e do último degrau.
Bordas do lavabo Barras porta-toalhas
Substituir por barras de apoio antideslizan-
e barras porta-to- frouxas;
tes.
alhas Borda de lavabo úmida.
Assento do vaso
Assento muito baixo. Elevar o assento e instalar barras de apoio.
sanitário
Fitas de borracha adesivas ou antideslizantes;
Pisos úmidos
Tapetes no chão do banheiro;
da ducha ou Escorregões.
Instalar barras ao redor da banheira e da
banheira
ducha.
Movimentos de trans-
Altura da cama Altura da cama na altura dos joelhos.
ferência.
Colchão de
Bordas moles. Bordas do colchão firmes.
dormir
Altura das cadeiras de 32 a 40 cm. Apoios
Altura das
Cadeiras baixas. para os braços a 18 cm do assento e estender-
cadeiras
-se de 2,5 a 5 cm para além da cadeira.
Torneiras de
controles de gás Inalação. Torneiras de controle de tamanho adequado.
em fogões
Temperatura Hipotermia. Climatizar em 22°C.
Altura das Organizar as estantes de forma que os obje-
Pegar objetos.
estantes tos fiquem ao alcance das mãos.
Fonte: adaptado de Rebelatto e Morelli (2007, p. 181).

Além disso, o fisioterapeuta pode atuar com orientações sobre a neces-


sidade de amplo espaço no local de circulação do idoso, retirar móveis com
quinas, reduzir o número de móveis em locais de ampla circulação. E realizar
um programa de exercícios, utilizando os seguintes métodos:
Cinesioterapia com movimentação das articulações dentro da ampli-
tude de movimento disponível em cada articulação e não provocar
dor.
Cinesioterapia com exercícios de alongamento, principalmente dos
membros inferiores.
Cinesioterapia com exercícios para fortalecimento dos músculos dos
membros superiores e inferiores.
Treinamento de equilíbrio.
Treinamento em atividades funcionais, como subir e descer escadas,
caminhar sobre diferentes superfícies, simulação de realização de

142 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
atividades rotineiras ao cotidiano da pessoa idosa.
O fisioterapeuta deve ser capaz de lidar de maneira adequada com a
situação cujo repertório central perpassa por equilíbrio, força muscular,
propriocepção articular, tempo de resposta muscular, orientar quanto ao uso
de medicamentos e ergonomia. Em resumo, a intervenção clínica foca no
desenvolvimento da marcha, força, equilíbrio e propriocepção, por meio de:
Treino de marcha com ou sem acessórios (bengalas, muletas,
andadores) e em diferentes superfícies.
Treino da melhora cardiorrespiratória, utilizando, por exemplo,
esteira ergométrica.
Treino de força muscular.
Treino de equilíbrio em superfícies estável e instável, com e sem
pistas visuais, estático e dinâmico, variando conforme a necessidade
e a condição da pessoa idosa.
Treino de propriocepção, utilizando recursos de mecanoterapia,
por exemplo, como o balancim, bola bobath murcha, cama elástica,
entre outros.
Treino funcional.

Pesquise mais
Recomendamos a visualização do vídeo a seguir, que mostra uma entre-
vista com uma fisioterapeuta que fala sobre os dispositivos auxiliares
que são utilizados na prevenção de quedas em idosos, além de outros
aparatos como o tapete de borracha.
VIDA MELHOR. A prevenção de quedas para os idosos! 31 mar. 2017.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5ol5shwnjJ8&t=6s.
Acesso em: 4 dez. 2018.

Outro ponto de atenção está no acompanhamento fisioterapêutico e o


risco do paciente idoso cair em algum procedimento, caso isto aconteça,
verifique se o acidente foi testemunhado, se houve perda de consciência e o
seu tempo de duração, se o paciente apresenta algum tipo de dor na coluna
ou nas extremidades, se há alguma alteração no estado mental ou sintoma no
sistema nervoso periférico (falta de sensibilidade, formigamento, fraqueza,
incontinência urinária ou fecal). Caso o paciente idoso esteja inconsciente,
mantenha todos os segmentos estáveis e providencie transporte do paciente
para um hospital.

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 143


Sem medo de errar
Uma clínica de fisioterapia de um grande centro urbano se especializou nos
serviços prestados à saúde do idoso e, com o aumento da demanda, contratou
uma empresa de consultoria empresarial para reestruturar a clínica e auxiliar na
melhoria da eficiência operacional. Você fazia parte desta empresa de consul-
toria e ficou responsável por entender os processos de atendimento que eram
prestados em cada grande grupo de casos. Entre as demandas e necessidades
da clínica, iniciaram as atividades sobre como os Fisioterapeutas da clínica
atuavam frente aos idosos caidores? Como eles atuavam frente às principais
disfunções decorrentes das enfermidades mais frequentes?
As quedas são consideradas como um problema de saúde pública devido
aos problemas no âmbito social e econômico e pelos altos custos com inter-
nações, cujos sinais e sintomas estão relacionados à função prejudicada e
ambiente desfavorável, além de apresentar uma alta prevalência e incidência,
inclusive de quedas recorrentes. Um bom tratamento passa necessariamente
pela compreensão dos fatores causais e, no caso das quedas, observamos como
fatores predisponentes a falta de equilíbrio, riscos ambientais e utilização de
medicação, bem como disfunções cardiovasculares, doença osteomioarticular
ou neurológica. Também é fundamental conhecermos as lesões mais comuns
originadas pelas quedas em idosos, que são fraturas, trauma cranioencefálico,
lacerações e comprometimentos articulares, sendo que as lesões mais severas
reduzem a mobilidade e a independência, aumentando as chances de morte
prematura, além disto temos a síndrome pós-queda, caracterizada pelo medo
de cair novamente, mesmo executando atividades rotineiras.
Desta maneira, a assistência fisioterapêutica no âmbito preventivo busca
formas de prevenir ou amenizar este problema considerando caracterís-
ticas epidemiológicas da região, fatores de risco intrínsecos, fatores de risco
extrínsecos e abordagem da família e/ou prestadores de cuidados de longa
permanência. O trabalho preventivo parte, principalmente, pela orientação
e educação em saúde, com ênfase nos cuidados no domicílio e seu entorno.
O fisioterapia atua, também, com cinesioterapia com movimentação
das articulações, exercícios de alongamento, principalmente dos membros
inferiores, exercícios para fortalecimento dos músculos dos membros
superiores e inferiores, treinamento de equilíbrio e treinamento funcional.
Além de realizar treino de marcha com ou sem acessórios (bengalas,
muletas, andadores), treino de força muscular, treino de equilíbrio e treino
de propriocepção.
Assim, caro aluno, com o conhecimento adquirido nesta seção sobre
idosos e a atuação da fisioterapia frente a quedas, você poderá iniciar um
programa de tratamento para idosos em formato de mapa conceitual.

144 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Avançando na prática

Intervenção fisioterápica e prevenção de quedas


em idosos

Descrição da situação-problema
O setor de Fisioterapia de uma casa de repouso observou o aumento da
incidência das quedas dos idosos residentes e determinou a necessidade de se
avaliar os fatores causais e estabelecer métodos para se reduzir a incidência de
quedas. Você foi designado(a) a avaliar os idosos e observou que, de maneira
geral, os idosos que caíram tinham redução de força muscular, déficit de
equilíbrio, faziam uso de dispositivos auxiliares da marcha, tinham defici-
ência visual ou cognitiva, eram sedentários e apresentavam multimorbidades
com polifarmácia. Após a consolidação das avaliações, você apresentou aos
demais colegas os achados e os questionou sobre formas de se atuar preven-
tivamente a novas quedas.
Resolução da situação-problema
Após observação e análise dos resultados da avaliação, ficou evidenciada
a necessidade de se trabalhar com recursos cinesioterapêuticos, com vistas
a melhorar o equilíbrio, a força muscular, a resistência muscular, a agili-
dade e a diminuição no risco de quedas. Este programa deveria ser focado
em exercícios de resistência muscular, flexibilidade, equilíbrio e coorde-
nação motora. Um colega pontuou a necessidade de se utilizar recursos
modernos e diferenciados, fazendo uso de realidade virtual influenciando
o controle postural e os sinais sensoriais importantes na manutenção do
equilíbrio e da orientação.
Aproveite e reflita: você acrescentaria algum outro recurso?

Faça valer a pena


1. Questão baseada no Enade (2007) – questão n° 36 do caderno de Fisioterapia.
É de conhecimento dos profissionais da saúde que as quedas em idosos são consideradas
um sério problema de saúde pública, tornando a adoção de medidas necessárias para
se prevenir e reduzir os indicadores de idosos que sofreram quedas. A abordagem da
fisioterapia na prevenção das quedas nos idosos torna-se fundamental para a garantia
de saúde e autonomia, principalmente pelo caráter etiológico multifatorial.
Um programa fisioterapêutico preventivo deverá envolver diversas estratégias, entre

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 145


elas uma avaliação cuidadosa e uma intervenção eficaz, voltada especificamente para
evitar que as quedas aconteçam. Desta maneira o programa de tratamento deve incluir:

I. Treino de marcha com obstáculos, pela sua ação no equilíbrio e desenvolvi-


mento de respostas motoras.
II. Fortalecimento dos membros inferiores, porque a diminuição de sua força
muscular, própria do processo de envelhecimento, aumenta o risco de quedas.
III. Treinamento de técnicas de levantamento, para que o idoso se levante rapida-
mente caso sofra alguma queda.
IV. Treinamento de equilíbrio, com a utilização de técnicas específicas, para
melhorar o controle postural.

Com base nas opções disponíveis, é correto o que se afirma em:

a) Somente as sentenças I, II e III estão corretas.


b) Somente as sentenças II, III e IV estão corretas.
c) Somente as sentenças I, II e IV estão corretas.
d) Somente as sentenças I, III e IV estão corretas.
e) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.

2. Questão baseada no Enade (2016) – questão n° 24 do caderno de Fisioterapia.


As quedas, em idosos, costumam causar lesões e hospitalização. Os dispositivos
auxiliares de marcha fazem parte de programas multidimensionais de prevenção de
quedas. A indicação de tais dispositivos deve ser realizada após a avaliação da força
muscular, resistência, equilíbrio, marcha, função cognitiva, dor e demandas ambientais.
A boa utilização destes recursos perpassa por:

I. Treinamento de força muscular e resistência muscular de membros superiores


e inferiores.
II. Orientação quanto ao uso de calçados adequados, preferencialmente, utilização
de sandálias e chinelos, pela sua leveza e aderência.
III. Treino de marcha com obstáculos, simulando, em ambiente controlado, muitas
possibilidades que o idoso pode encontrar no seu ambiente.

Com base nas sentenças apresentadas, é correto o que se afirma em:

a) Somente a sentença I está correta.


b) Somente a sentença II está correta.
c) Somente a sentença III está correta.
d) Somente as sentenças I e II estão corretas.
e) Somente as sentenças I e III estão corretas.

146 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
3. As quedas em idosos se apresentam como um grave problema de saúde pública.
A tomada de decisão do Fisioterapeuta perpassa pelos achados da avaliação cinética
funcional realizada. Desta maneira, associe abaixo os achados de uma avaliação com
a escolha do método terapêutico:

Achados da avaliação:
I. Redução da amplitude de movimento da articulação do quadril nos movimentos
do plano sagital.
II. Dificuldade em realizar atividades funcionais simples, como subir escadas e
colocar objetos em prateleiras altas.
III. Fadiga muscular durante caminhada leve em um curto espaço de tempo.

Recursos fisioterapêuticos:
A. Treinamento funcional focado em atividades de vida diária e controle postural
dinâmico.
B. Cinesioterapia com exercícios de alongamento muscular, mobilização passiva
e mobilização ativa.
C. Treino de marcha e de resistência muscular.

Com base no exposto, é correto o que se afirma em:

a) IA – IIB – IIIC.
b) IA – IIC – IIIB.
c) IB – IIA – IIIC.
d) IB – IIC – IIIB.
e) IC – IIB – IIIA.

Seção 4.1 / Quedas entre idosos - 147


Seção 4.2

Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I

Diálogo aberto
Olá acadêmico(a), já caminhamos para conclusão da nossa disciplina
e agora iniciaremos o processo de aplicação dos principais conceitos que
discutimos e aprendemos juntos, neste momento é importante você deixar
a criatividade ser sua principal característica, expandido as evidências e
aplicando-as da melhor maneira nas enfermidades que debateremos a seguir,
considerando que as enfermidades que afetam a população idosa podem
incapacitar e afetar as relações sociais e familiares dos idosos, criando uma
necessidade complexa de atenção e atuação.
Vimos, no contexto de aprendizagem, uma clínica que passa por um
processo de auditoria com objetivo de melhorar as suas operações, você já
entrevistou os fisioterapeutas para entender como eles realizavam as avalia-
ções e discutiram sobre os métodos propostos. A consultoria, durante a
execução do projeto, observou que a clínica tinha também uma demanda
crescente nas mais diversas frentes de atenção na saúde do idoso.
A equipe de fisioterapeutas atuava de maneira bem-conceituada na saúde
do idoso, passando desde casos cujas doenças e problemas provocaram
imobilidade até às síndromes geriátricas mais comuns, como nas doenças
que afetavam o sistema geniturinário e oncologia. Durante o processo você
se reuniu com os Fisioterapeutas e procurou entender como eles atuavam
na imobilidade de idosos? E como eles atuavam nas síndromes geriátricas,
geniturinárias e oncológicas nos idosos atendidos na clínica?
O conhecimento acerca do racional empregado na escolha de métodos de
tratamento fisioterapêutico é essencial para garantir a eficiência e o sucesso
da atuação fisioterapêutica, desta maneira, esteja bem aberto a criticar e
pensar em formas diferentes para os exemplos propostos.

Não pode faltar


Para iniciarmos a discussão sobre a atuação da fisioterapia frente às
principais enfermidades que acometem os idosos, precisamos conhecer o
perfil dos idosos que procuram os serviços de Fisioterapia, de maneira geral.
Assim como nas consultas médicas, as pessoas de maior nível socioeconô-
mico e do gênero feminino têm maior probabilidade de utilizar a assistência

148 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
fisioterapêutica (SIQUEIRA; FACCHINI; HALLAL, 2005).
A Fisioterapia, na saúde do idoso, pode desempenhar um papel impor-
tantíssimo na promoção da saúde, prevenção de doenças, reabilitação
de disfunções e melhora na qualidade de vida, nas mais diversas áreas de
atuação que perpassam por clínicas, consultórios, unidades básicas de saúde,
hospitais, entre outros.
Todavia, proporcionar assistência fisioterapêutica à população idosa é
extremamente desafiador, pois o número de casos é muito variado (disfun-
ções musculoesqueléticas, neurológicas e cardiovasculares, que podem ser
encontrados em um único caso).

Assimile
Um fisioterapeuta que trabalha com pessoas idosas é considerado um
profissional de todos os ofícios, em virtude das habilidades que neces-
sita possuir para aplicar em seus pacientes uma visão holística à luz do
modelo biopsicossocial. Para isto, ele considera os declínios fisiológicos
dos sistemas corporais, da mobilidade e da independência funcional.

Dentre as enfermidades que acometem a população idosa, a imobilidade


acarreta uma série de problemas e sequelas que podem agravar as condições
de saúde da pessoa idosa. Assim, de maneira direta, podemos afirmar que o
Fisioterapeuta deve estar ciente das consequências adversas relacionadas à
imobilidade prolongada, como, por exemplo, a obstrução intestinal parcial,
anormalidades nos níveis de cálcio, úlceras de pressão e trombose venosa
profunda, e defender a mobilidade nas restrições impostas.
A imobilidade é um processo dinâmico que envolve transições, desde
ausência de incapacidade à incapacidade intermitente e até a incapacidade
contínua. No entanto, a melhora dos níveis de incapacidade relacionados à
imobilidade é possível, dependendo do caso. Precisamos considerar, também, o
histórico de medicamentos, que podem ter impacto significativo na mobilidade.
Para estes casos são recomendados exercícios terapêuticos que promovam
ou busquem promover mobilidade nas articulações, baseados nas capaci-
dades físicas e funcionais da pessoa idosa, como:
Mobilização passiva.
Mobilização ativa.
Alongamento muscular.
Exercícios de resistência muscular.

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 149


Recomenda-se, nestes exercícios, que as atividades executadas sejam
de intensidade moderada, para que os idosos ganhem confiança em sua
mobilidade e aumente a motivação intrínseca em direção a uma progressão
mínima, focada na utilização de vários sistemas corporais para melhorar a
mobilidade e o nível de independência funcional.
Todavia, existirão casos em que não será possível obtermos a melhora e
nem mesmo a manutenção da mobilidade funcional, nestes casos devemos
auxiliar os idosos a permanecerem confortáveis e sem dor.

Reflita
As consequências da falta de mobilidade são importantíssimas na
população idosa, significativamente associadas com desfechos
negativos, como institucionalização, re-hospitalização e mortalidade.
Pensado nas inúmeras possibilidades de casos de pessoas idosas com
imobilidade, quais complementos terapêuticos você agregaria para
estas pessoas? E existem formas de se atenuar os resultados da imobili-
dade atuando preventivamente?

Outra condição que gera muita procura pelo atendimento fisioterapêu-


tico são as síndromes geriátricas (quedas, má nutrição, perda da visão, perda
auditiva e comprometimento cognitivo), elas geram um declínio funcional
acentuado de características multifatoriais (fatores médicos, psicológicos,
sociais e ambientais) que contribuem para o comprometimento do estado
funcional, desta forma, o cuidado de reabilitação deve abordar estes aspectos
multifatoriais. Além disto, o ambiente em que o idoso está inserido influen-
ciará nos programas de reabilitação, que poderá ocorrer em ambulatórios,
hospitais, asilos e domicílios.
Assim como nos casos que discutimos acima, aqui o plano de trata-
mento é adequado às necessidades da pessoa idosa, mas de maneira geral os
objetivos e as escolhas dos métodos de tratamento são basicamente:
Déficit de equilíbrio/cinesioterapia focada na melhora do controle
postural e em atividades funcionais (vide Figura 4.5).
Déficit de força/cinesioterapia com exercícios ativos resistidos nas
suas diferentes formas de utilização.
Déficit de amplitude de movimento/cinesioterapia com alonga-
mentos e mobilizações ativas, ativa-assistidas e passivas.
Déficit de resistência muscular/cinesioterapia com exercícios que
foquem mais repetição e menos na carga.

150 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Déficit na marcha/treino de marcha com e sem obstáculos (vide
Figura 4.6).
Dor/recursos eletrotermofototerapêuticos específicos para cada fator
causal da dor.

Figura 4.5 | Estratégias para melhora do controle do equilíbrio

Fonte: Rebelatto e Morelli (2007, p. 267).

Figura 4.6 | Treino de Marcha

Fonte: Rebelatto e Morelli (2007, p. 265).

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 151


E seguem parâmetros específicos que visam garantir maior eficiência:
Foco claro na identificação e tratamento precoce de síndromes
geriátricas.
Envolvimento dos familiares e cuidadores na formulação dos planos
de cuidados.
Assistência preventivas secundárias e terciárias como treino de
equilíbrio.
Avaliação periódica dos estados físico e cognitivo com instrumentos
de avaliação padronizados.
Utilização de indicadores clínicos importantes.

Exemplificando
Estudos mostram que, até o momento, a única intervenção capaz de
afetar positivamente a mobilidade é o exercício físico, por exemplo,
a realização de exercícios terapêuticos estruturados a longo prazo
previnem a incapacidade de mobilidade em idosos com comprometi-
mento da função física (PAHOR et al., 2014; CESARI et al., 2016).
Recomenda-se, nestes casos, atuação multiprofissional, com o
adendo de orientação nutricional com vistas a atender as novas
demandas de energia e fornecer ingestão adequada de proteínas
para o crescimento e o fortalecimento muscular (PAES DA SILVA et
al., 2015, CESARI et al., 2016).

Seguindo no racional das enfermidades que mais acometem os idosos


e necessitam de atenção fisioterapêutica, temos as enfermidades genituri-
nárias, dentre as quais, destaca-se a incontinência urinária. A Fisioterapia
atua com a melhora da função dos músculos do assoalho pélvico e estimu-
lação elétrica.
Os exercícios para a musculatura do assoalho pélvico diminuem a incon-
tinência urinária de estresse e a incontinência urinária mista, por meio
da melhora do fechamento uretral e do suporte dos órgãos pélvicos. Estes
exercícios visam, também, ensinar os idosos a contraírem seus músculos do
assoalho pélvico em situações que provoquem perda de urina, principal-
mente, em antes e após situações de maior pressão abdominal (tosse, espirro,
levantar um objeto pesado). Os exercícios para a musculatura do assoalho
pélvico também são importantes no tratamento da bexiga hiperativa. Estes
exercícios precisam contemplar força, resistência, potência e coordenação,
para que o idoso consiga realizar os exercícios durante tarefas funcionais.

152 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Outro método de tratamento utilizado é a estimulação elétrica, para
promover a contração dos músculos do assoalho pélvico e aumentar a pressão
de fechamento uretral. Todavia, ela deve ser utilizada de forma criteriosa e
com cautela pelos vários efeitos colaterais associados: irritação vaginal, dor,
sangramento, infecção vaginal e infecção do trato urinário.
Também podemos fazer uso dos cones vaginais para exercícios de resis-
tência progressiva dos músculos do assoalho pélvico e, assim como a estimu-
lação elétrica, devem ser utilizados com cautela pelos vários efeitos colaterais
associados: fadiga muscular, dor abdominal, vaginite e sangramento vaginal.
Os cones estão disponíveis em kits com tamanhos progressivos, sendo que
as mulheres começam com o cone mais pesado que conseguem manter
enquanto caminham ou ficam em pé, aumentando progressivamente o peso
do cone, conforme tolerado. Geralmente, são utilizados duas vezes por dia
durante 15 minutos.
Além disto, no espectro multidisciplinar, observamos também a utilização
de intervenções comportamentais, como o treinamento vesical, orientações
sobre mudança no estilo de vida, perda ponderal, administração de líquidos
e redução no consumo de cafeína, bem como intervenções farmacológicas.

Pesquise mais
Recomendamos a leitura do artigo de Jaqueline Ramos de Oliveira e
Rosamaria Rodrigues Garcia, publicado na Revista Brasileira de Geriatria
e Gerontologia, que aborda a cinesioterapia no tratamento da inconti-
nência urinária em mulheres idosas.
OLIVEIRA, J. R. de.; GARCIA, R. R. Cinesioterapia no tratamento da inconti-
nência urinária em mulheres idosas. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de
Janeiro, v. 14, n. 2, abr./jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1809-98232011000200014&lng=en&nrm=-
iso . Acesso em: 12 dez. 2018.

E fechando a primeira parte das enfermidades, temos as atuações da


Fisioterapia em idosos com câncer. O papel central do Fisioterapeuta que
atua na oncologia está na prevenção e/ou minimização de possíveis complica-
ções, controle e alívio de sintomas (sensoriomotores, respiratórios ou vascu-
lares) e manter ou melhorar as funções musculoesqueléticas. Em idosos que
necessitam de cuidados paliativos, o foco passa a ser em educar e orientar
os cuidadores e familiares, maximizar as habilidades funcionais e manter o
máximo de autonomia.

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 153


Em linhas gerais, considerando a condição de cada idoso, a assistência
fisioterapêutica perpassa basicamente por:
Cinesioterapia respiratória: exercício de propriocepção diafragmá-
tica, exercícios respiratórios associados à cinesioterapia ativa de
membros superiores, exercício de inspiração máxima sustentada,
exercício com inspiração desde o volume residual, exercícios respi-
ratórios com incentivador respiratório a fluxo ou volume, cinesiote-
rapia desobstrutiva e reexpansiva.
Mobilização precoce das articulações.
Transferências posturais.
Sedestação à beira do leito.
Ortostatismo.
Deambulação.
Alongamentos.
Eletroterapia: quando se quer estimular fibras nervosas periféricas,
sensitivas e do sistema nervoso autônomo.
Termoterapia: crioterapia, agentes superficiais de calor, agentes de
aquecimento profundo (diatermia por ondas curtas, ultrassom e
fonoforese) e hidroterapia.
Drenagem linfática: quando possível.
Mecanoterapia: tração, compressão e mobilização passiva contínua.
Terapia manual: técnicas miofasciais, técnicas articulares, técnicas
neurais.
Seja qual for a escolha, devemos sempre considerar que aplicar uma
conduta não pode aumentar o sofrimento do paciente, quando isto for
acontecer devemos sempre optar por condutas mais conservadoras em prol
da qualidade de vida e do conforto. Existem casos em que a atuação fisiotera-
pêutica acontecerá de forma indireta e o objetivo passará a ser a redução do
gasto energético e a deambulação para cuidados mínimos, mobilização no
leito, vigilância da função respiratória, prevenção de infecções e posiciona-
mento favorável à digestão.
Assim, podemos esperar que o tratamento fisioterapêutico tenha influ-
ência positiva na qualidade de vida e bem-estar, considerando sempre o
conhecimento, atitudes, crenças e experiências dos idosos com enfermidades
oncológicas.

154 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Sem medo de errar
Você lembra da situação-problema descrita no início da seção? O processo
de auditoria caminhava para o entendimento sobre as condutas aplicadas
nos principais grupos de enfermidades que são atendidos pela clínica e você
conduziu as entrevistas e o diálogo com os profissionais que realizavam os
atendimentos, procurando entender como eles atuavam na imobilidade de
idosos? E como eles atuavam nas síndromes geriátricas, geniturinárias e
oncológicas nos idosos atendidos na clínica?
Nos idosos que apresentam algum tipo de imobilidade, o fisioterapeuta
deve estar ciente das consequências adversas relacionadas à imobilidade
prolongada e buscar a melhora dos níveis de incapacidade relacionados à
imobilidade, dependendo do caso, considerando o histórico de medica-
mentos, que podem ter impacto significativo na mobilidade. Geralmente,
são utilizados exercícios terapêuticos que promovam ou busquem promover
mobilidade nas articulações, baseados nas capacidades físicas e funcionais
da pessoa idosa, como: mobilização passiva, mobilização ativa, alongamento
muscular, exercícios de resistência muscular. As atividades executadas
prioritariamente são de intensidade moderada, para que os idosos ganhem
confiança em sua mobilidade e aumentem a motivação intrínseca em direção
a uma progressão mínima, focada na utilização de vários sistemas corpo-
rais para melhorar a mobilidade e o nível de independência funcional. E
existirão casos em que não será possível obtermos a melhora e nem mesmo
a manutenção da mobilidade funcional, nestes casos devemos auxiliar os
idosos a permanecerem confortáveis e sem dor.
O atendimento fisioterapêutico para as síndromes geriátricas (quedas, má
nutrição, perda da visão, perda auditiva e comprometimento cognitivo) visam
combater o declínio funcional acentuado de características multifatoriais. O
plano de tratamento é adequado às necessidades da pessoa idosa, utilizando
basicamente com cinesioterapia focada na melhora do controle postural e
em atividades funcionais, com cinesioterapia com exercícios ativos resistidos
nas suas diferentes formas de utilização, cinesioterapia com alongamentos e
mobilizações ativas, ativa-assistidas e passiva, cinesioterapia com exercícios
que foquem mais repetição e menos na carga, treino de marcha com e sem
obstáculos e recursos eletrotermofototerapêuticos específicos para cada fator
causal da dor.
Nas enfermidades geniturinárias, a Fisioterapia atua com a melhora da
função dos músculos do assoalho pélvico e estimulação elétrica. Os exercí-
cios para a musculatura do assoalho pélvico visam, também, ensinar os idosos
a contraírem seus músculos do assoalho pélvico em situações que provo-
quem perda de urina, principalmente em antes e após situações de maior

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 155


pressão abdominal (tosse, espirro, levantar um objeto pesado). Eles precisam
contemplar força, resistência, potência e coordenação, para que o idoso
consiga realizar os exercícios durante tarefas funcionais. Outro método de
tratamento utilizado é a estimulação elétrica para promover a contração dos
músculos do assoalho pélvico e aumentar a pressão de fechamento uretral.
Todavia, ela deve ser utilizada de forma criteriosa e com cautela pelos vários
efeitos colaterais associados: irritação vaginal, dor, sangramento, infecção
vaginal e infecção do trato urinário. Também são utilizados os cones vaginais
para exercícios de resistência progressiva dos músculos do assoalho pélvico
e, assim como a estimulação elétrica, devem ser utilizados com cautela pelos
vários efeitos colaterais associados: fadiga muscular, dor abdominal, vaginite
e sangramento vaginal.
E o tratamento fisioterapêutico nas enfermidades oncológicas visa
prevenir e/ou minimizar possíveis complicações, controle e alívio de sintomas
(sensório-motores, respiratórios ou vasculares) e manter ou melhorar as
funções musculoesqueléticas. Em idosos que necessitam de cuidados palia-
tivos, o foco passa a ser em educar e orientar os cuidadores e familiares,
maximizar as habilidades funcionais e manter o máximo de autonomia. A
assistência fisioterapêutica perpassa basicamente por cinesioterapia respira-
tória, mobilização precoce das articulações, transferências posturais, sedes-
tação à beira do leito, ortostatismo, deambulação, alongamentos, eletrote-
rapia, termoterapia, mecanoterapia e terapia manual. Existem casos em que
a atuação fisioterapêutica acontecerá de forma indireta e o objetivo passará a
ser a redução do gasto energético e a deambulação para cuidados mínimos,
mobilização no leito, vigilância da função respiratória, prevenção de infec-
ções e posicionamento favorável à digestão.
Caro aluno, agora que você já tem conhecimento sobre atuação da
Fisioterapia na saúde do idoso, nas Síndromes Geriátricas, na Imobilidade
e nas enfermidades Geniturinárias e Oncológicas, você poderá acrescentar
esses conhecimentos no mapa conceitual, iniciado na Seção 4.1.

Avançando na prática

Atuação fisioterapêutica em idosos oncológicos


hospitalizados

Descrição da situação-problema
Thiago, fisioterapeuta do Hospital do Câncer, tinha em seu plantão vários
idosos com os mais diversos casos de câncer. Ao analisar a demanda buscou

156 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
estratégias que garantissem maior eficiência operacional nos atendimentos
que tinha a realizar.
Desta maneira, Thiago buscou elencar os principais objetivos cinéticos e
funcionais que os idosos com câncer possuem? Além disto, buscou sumarizar
também os principais recursos terapêuticos que utilizaria para buscar os
objetivos. Tudo isto para otimizar o tempo e os instrumentos que teria que
levar para atender todos os seus objetivos.

Resolução da situação-problema
Dentre os casos existentes no Hospital do Câncer, Thiago observou que os
principais objetivos cinéticos e funcionais estavam relacionados à prevenção
de complicações relacionadas às doenças e ao fato dos idosos estarem hospi-
talizados, controle de sintomas sensório-motores, respiratórios, vasculares
e de dor, e manter ou melhorar as funções musculoesqueléticas visando
manter a capacidade funcional existente.
Para isto, ele considerou utilizar a cinesioterapia por meio de mobiliza-
ções passiva/ativa-assistida/ativa-resistida, eletroterapia com TENS, corrente
russa e interferencial, crioterapia, termoterapia, posicionamento no leito e
terapia manual.
Com estes objetivos e recursos, Thiago acredita que terá êxito em melhorar
a capacidade funcional e a qualidade de vida dos idosos hospitalizados.

Faça valer a pena

1. Questão baseada no Enade 2016 (questão n° 26, Caderno de Fisioterapia).


Uma paciente de 65 anos se encontra em fase terminal de câncer da mama, com
metástases nos tecidos cerebral, pulmonar e ósseo. A avaliação fisioterapêutica deter-
minou a necessidade de:

I. Fornecer assistência fisioterapêutica indireta pautada em conceder os cuidados


mínimos e preparar a família e/ou cuidador para este processo paliativo.

PORQUE

II. A adoção de cuidados paliativos é necessária para aqueles pacientes que não se
beneficiarão do tratamento antitumoral, garantindo qualidade de sobrevida e controle
dos sintomas.

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 157


A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Questão baseada no Enade 2016 (questão n° 25, Caderno de Fisioterapia).


Uma senhora de 65 anos de idade refere, em consulta com o Fisioterapeuta, descon-
forto pela perda urinária involuntária quando executa esforços e o desejo urgente de
urinar. Com base no quadro clínico apresentado, avalie as informações a seguir:

I. O repouso ou a orientação de evitar esforços é um recurso a ser adotado, conside-


rando a idade da paciente.
II. Pode ser utilizada estimulação elétrica com vistas a fortalecer a musculatura do
assoalho pélvico.
III. Utilização de técnicas inibitórias para relaxar a musculatura do assoalho pélvico e
assim garantir melhor coordenação motora destes músculos.

Desta maneira, é correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

3. De acordo com Ulhoa e colaboradores (2017), o diabetes tipo 2 impacta socio-


economicamente de forma significativa nos dias atuais, neste contexto, medidas de
prevenção e tratamento são importantíssimas para a diminuição da morbimortalidade.
Analise os resultados da amplitude articular dos movimentos do tornozelo, apresen-
tados na tabela a seguir:

158 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Legenda: FPD: flexão plantar direita; FPE: flexão plantar esqueda; DD: dorsiflexão direita; DE:
dorsiflexão esquerda; Grupo C: grupo controle; Grupo DM: grupo diabetes mellitus; Grupo
DMF: grupo diabetes mellitus em tratamento fisioterapêutico.

Fonte: ULHOA, et al. (2011, p. 99-106).

Com base nos resultados de Ulhoa e colaboradores (2017), podemos determinar que:

a) Idosos com diabetes mellitus apresentam pior amplitude de movimento e não


melhoram após tratamento fisioterapêutico.
b) Idosos sem diabetes mellitus apresentam pior amplitude de movimento e sem
diferença com aqueles que realizam fisioterapia.
c) Idosos com diabetes mellitus apresentam melhor amplitude de movimento,
exceto aqueles que realizam tratamento fisioterapêutico.
d) Idosos com diabetes mellitus apresentam pior amplitude de movimento e
melhoram após tratamento fisioterapêutico.
e) Idosos sem diabetes mellitus apresentam pior amplitude de movimento, acima
dos idosos que realizam tratamento fisioterapêutico.

Seção 4.2 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso I - 159


Seção 4.3

Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II

Diálogo aberto
Olá acadêmico, chegamos à última seção da nossa disciplina e você já
deve ter notado a importância da Fisioterapia frente aos desafios do envelhe-
cimento e das principais enfermidades que acometem a população idosa,
pois com o processo de envelhecimento populacional, as demandas relacio-
nadas à saúde tendem a aumentar significativamente.
Neste contexto, vimos que uma clínica de um grande centro urbano
contratou uma empresa de consultoria para otimizar suas operações e focar
na melhora da sua eficiência, para isto ela precisará rever todos os seus
processos de atendimento e programas de tratamento.
Por fim, seguindo todo o racional já empregado, a equipe de consultoria
apresentou uma proposta baseada nos pontos faltantes no atendimento fisio-
terapêutico prestado aos idosos na clínica. Muitos casos estavam voltados
para as doenças metabólicas, traumáticas, neurológicas, cardiovasculares e
reumatológicas, cuja prevalência é alta em todos os setores da sociedade,
inclusive na população que procura atendimento particular em uma clínica
de fisioterapia especializada.
Você, fisioterapeuta especialista da equipe de consultoria, reuniu-se com
os fisioterapeutas da clínica e debateu com eles para entender: como atuam
frente às síndromes metabólicas? Como atendiam os idosos com enfermi-
dades traumáticas e reumatológicas? Como prestavam assistência aos idosos
com doenças neurológicas e cardiovasculares?
A partir destas reflexões você entenderá como a Fisioterapia pode
atuar nas enfermidades metabólicas, traumáticas, neurológicas, cardio-
vasculares e reumatológicas. O conhecimento destes processos de atuação
auxiliará na sua formação profissional e permitirá que esteja apto a atuar
nestas condições. E deixo uma frase do John Wooden: “a vida é melhor
para aqueles que fazem o possível para terem o melhor”. Vamos buscar
fazer o melhor?
Bons estudos!

160 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Não pode faltar
A atuação fisioterapêutica nas enfermidades metabólicas perpassa por ações
que visem alterar o estilo de vida da pessoa idosa, incluindo a prática rotineira
de exercícios físicos e terapêuticos para combater o declínio físico, considerando
a teoria do estresse físico a fim de obter o nível adequado de ganhos positivos na
função tecidual e na homeostasia e evitar lesões teciduais e declínio fisiológico.
Assim como em outras condições, precisamos considerar o impacto
das alterações relacionadas ao envelhecimento e adequar o plano de trata-
mento, todavia não podemos subutilizar a reabilitação ativa. O planejamento
do tratamento deve ser pautado na avaliação cinética funcional minuciosa,
integrando os dados objetivos e subjetivos da avaliação do paciente, garan-
tindo prognóstico adequado.
Todo o planejamento fisioterapêutico deve começar pela prevenção, com
objetivo de melhorar a saúde e diminuir as limitações funcionais e os compro-
metimentos. A atuação fisioterapêutica na prevenção primária atende a:
Estímulo à prática rotineira de exercícios físicos.
Controle da pressão arterial.
Controle da obesidade.
Já a atuação na prevenção secundária atende a:
Controle da progressão da doença.
Melhora da força muscular por meio da cinesioterapia.
Evitar a perda da função.
Melhora da capacidade aeróbica.
Realização de treinamento funcional.
Minimizar ou eliminar a dor.
Enquanto a atuação na prevenção terciária atende a:
Mobilidade funcional.
Orientação sobre sinais e sintomas.
Prevenção de deterioração adicional.
Dentro do espectro da síndrome metabólica, temos como principal
exemplo a diabetes mellitus do tipo 2 cujo tratamento ideal consiste em
mudança no estilo de vida, realização de exercício terapêutico e manutenção
do peso corporal, além do tratamento medicamentoso.

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 161


Assimile
A atuação do fisioterapeuta na síndrome metabólica se dá através da reali-
zação de exercícios físicos, reabilitação dos fatores associados à síndrome
metabólica por meio de exercícios aeróbicos, resistidos e multifuncionais,
os quais visam normalizar os índices de glicemia no sangue, minimizando
os riscos de desenvolvimento de complicações cardiovasculares.
Uma outra forma de atuação é através da educação em saúde, como a
realização de palestras, por exemplo, explicando aos pacientes sobre os
benefícios relacionados à realização de exercícios físicos, sobre os benefí-
cios relacionados a mudanças na dieta e como podem monitorar os princi-
pais sinais da doença.

Já no contexto das enfermidades traumatológicas e ortopédicas, a


síndrome do impacto do ombro é muito comum na população idosa, e o trata-
mento conservador deve ser sempre considerado antes da indicação cirúr-
gica para reparação do manguito rotador. A avaliação perpassa pela obtenção
da história clínica, início e caracterização dos sintomas e compreensão do
comprometimento funcional, exame físico cuidadoso e testes especiais, como
o teste da queda do braço. O acompanhamento fisioterapêutico é focado no
alívio da dor, manutenção e melhora da amplitude de movimento e fortaleci-
mento da musculatura responsável pelo ritmo escapuloumeral.
Também são comuns em idosos as lesões meniscais, a atuação fisiotera-
pêutica se inicia com a avaliação cinética funcional focada na história clínica,
nas queixas da pessoa idosa e no exame físico, além dos testes especiais de
Apley e McMurray. O tratamento objetiva o fortalecimento isométrico do
quadríceps, melhora da amplitude de movimento e alívio da dor.
Além destas, observamos também considerável prevalência de
estenose lombar degenerativa, que também se inicia pela coleta da história
clínica, focada principalmente na sintomatologia, exames físicos e testes
especiais como stop, além da análise de exames complementares, como,
por exemplo, a tomografia computadorizada. O tratamento fisioterapêu-
tico nestes casos está focado na educação do paciente frente à doença,
exercícios de flexibilidade, de fortalecimento, focados na flexão da
coluna vertebral (vide Figura 4.7), alongamento da musculatura isquioti-
bial e fortalecimento da musculatura abdominal; também são utilizados
recursos como o ultrassom e termoterapia.

162 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Figura 4.7 | Exercícios de flexão da coluna

Fonte: Rebelatto (2007, p. 332).

Também é comum observamos grande procura para tratamento fisio-


terapêutico para artroplastias,desde a prótese total do quadril, que tem no
tratamento fisioterapêutico a educação do paciente nas posições seguras e
não-seguras do quadril, dependente da aproximação cirúrgica utilizada, na
qual uma aproximação posterior terá instabilidade com o quadril em flexão,
adução e rotação interna, treino de mudanças de decúbito, mobilização
do tornozelo no pós-operatório imediato e fortalecimento isométrico do
quadríceps, cinesioterapia respiratória. Com a evolução do paciente, pode-se
iniciar abdução passiva e adução assistida, flexão do quadril com o joelho
em extensão, rotações interna e externa, e exercícios para o quadríceps com
a perna pendente fora do leito. Em seguida, evolui-se para suporte de carga
sobre os membros, ortostatismo e treino de marcha, com uso de disposi-
tivos auxiliares da marcha (andador, muletas e bengalas, progressivamente),
treino de equilíbrio. Dentro de todo este espectro de tratamento, ainda se
deve realizar métodos para combate da dor.
Temos também muitos casos com prótese total de joelho, cujo trata-
mento é focado na mobilização passiva contínua, restauração da amplitude
de movimento, manutenção do recrutamento voluntário do quadríceps e
seu fortalecimento, treino de marcha com dispositivos auxiliares e treino
proprioceptivo.
Observamos, ainda, grande prevalência de fraturas. Neste cenário, a
Fisioterapia tem como objetivos permitir a mobilização precoce, retorno do
nível de função da lesão e alívio da dor, sempre considerando as condições

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 163


clínicas decorrentes do período de imobilização. Neste sentido, a Fisioterapia
faz uso da cinesioterapia para evitar o agravamento do enfraquecimento das
estruturas do tecido conjuntivo, degeneração da cartilagem articular, atrofia
muscular e o desenvolvimento de contraturas. De maneira geral, as metas
perpassam por:
Redução da inflamação: por meio de proteção, posicionamento e
elevação, além da possibilidade de utilizar crioterapia.
Redução dos efeitos da imobilização: por meio de contrações muscu-
lares intermitentes, realização de cinesioterapia para amplitude de
movimento das articulações acima e abaixo da área imobilizada.
Ensinar adaptações funcionais: por meio de assistência e suporte de
deambulação e mobilidade no leito.
Após o período de imobilização, geralmente se observa no paciente idoso
redução da amplitude de movimento, atrofia e dor muscular localizada. Por
isso, as metas e o plano de assistência perpassam por:
Redução da restrição articular: através de cinesioterapia para ampli-
tude de movimento passiva e ativa assistida, como, por exemplo, na
facilitação neuromuscular proprioceptiva.
Redução da perda de força muscular: através de cinesioterapia para
fortalecimento isométrico e ativo resistido com carga progressiva.
Recuperação da resistência muscular: através de cinesioterapia com
fortalecimentos concêntricos e excêntricos com baixa carga e grande
número de repetições.
Diminuição da perda de flexibilidade dos tecidos musculares e
periarticulares: através de cinesioterapia com alongamentos.
Diminuição da propriocepção: através de cinesioterapia com exercí-
cios de coordenação, equilíbrio e pliometria.

Reflita
Prezado(a) aluno(a), você já refletiu se a incidência das disfunções
ortopédicas, traumatológicas e reumatológicas possuem amparo nas
modalidades terapêuticas existentes para tratamento eficiente de
pacientes idosos?

Em resumo, temos à disposição para atuação nas enfermidades traumá-


ticas no idoso, de acordo com os objetivos elencados no processo avalia-
tivo, recursos terapêuticos como cinesioterapia, massoterapia, eletroterapia,

164 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
hidroterapia, terapias manuais, pilates e termofototerapia.
Já a Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neuroló-
gicas pode ser compreendida com o tratamento fisioterapêutico relacionado
aos aspectos primários, considerando sempre as demandas do idoso com
enfermidades neurológicas:
Tratamento fisioterapêutico preventivo para quedas e suas
consequências.
Restaurar ou manter a funcionalidade.
Treinamento do controle postural, que pode incluir exercícios
aeróbios, de força muscular e equilíbrio. Por exemplo, utilizando
pranchas de equilíbrio ou espumas de diferentes densidades
associadas à restrição visual ou alteração visual.
Cinesioterapia para alongamento muscular.
Cinesioterapia para fortalecimento muscular.
Neste mesmo contexto, o tratamento fisioterapêutico relacionado aos
aspectos secundários, compreendendo as condições que caracterizam a
incapacidade do paciente e o porquê ele possui dificuldade para realizar as
habilidades funcionais:
Inibição da espasticidade e facilitação do movimento normal, com
vistas a enfatizar os componentes dos padrões de movimentos
comprometidos, para gerar uma imagem proprioceptiva normal
e maior habilidade no reaprendizado do movimento seletivo, pois
os idosos, geralmente, apresentam redução da força, associação da
espasticidade e dificuldade na realização de atividades funcionais
básicas de manipulação e locomoção. Veja na Figura 4.8.
Figura 4.8 | Inibição da espasticidade e facilitação do movimento normal.

Fonte: Rebelatto (2007, p. 260).

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 165


Intervenção combinada de várias técnicas como mobilização
articular, facilitação neuromuscular proprioceptiva e eletroestimu-
lação funcional. Veja um exemplo na Figura 4.9.

Figura 4.9 | Exercícios de fortalecimento muscular associado ao FES e à descarga de peso.

Fonte: Rebelatto (2007, p. 262).

Melhora do controle muscular com habilidades funcionais e


estímulos sensoriais externos, por meio de repetições de ações
voluntárias com adequado alinhamento postural e equilíbrio.
Estratégias para melhora do controle por meio do aumento da
quantidade de estímulos sensoriais adequados, que determinem
respostas motoras apropriadas à situação funcional exigida.
Melhora do controle postural, seja o controle postural vertical,
através de estímulos verbais ou visuais, seja o controle postural
dinâmico, durante os movimentos corporais.
Treino de marcha e manipulação.

Exemplificando
Idosos com Parkinson frequentemente apresentam déficit no equilí-
brio, portanto podemos utilizar tarefas de manutenção do equilíbrio em
superfície instável em três condições:
1. Com foco de atenção interno (para os pés).

166 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
2. Com foco de atenção externo (para a superfície).
3. Com controle (sem foco de atenção específico).

As combinações de tratamento podem englobar, ainda, em idosos com


enfermidades neurológicas, movimentos de estabilização, manipulação e
locomoção com atenção direcionada para amplitude de movimento e tensão,
as quais podem ser incorporadas tarefas lúdicas, como dicas de aprendi-
zagem para partes do corpo.
Enquanto que a atuação da Fisioterapia na reabilitação cardiovascular
aplicada à pessoa idosa é indicada quando o paciente está em fase estável, o
trabalho da Fisioterapia está voltado para o recondicionamento físico. Mas
antes de iniciar a reabilitação, o paciente deve passar por uma série de avalia-
ções e testes, principalmente o teste ergométrico.
Os cuidados especiais para pacientes idosos na reabilitação cardíaca
passam por prevenir adversidades clínicas como dispneia, estertores de bases
pulmonares, fraqueza profunda, alteração mental aguda com confusão,
mudança de hábitos alimentares, edema pulmonar, embolia arterial, insufi-
ciência renal progressiva, agitação e sonolência. Além disto, é importante
considerarmos outros aspectos como o ambiente e a escolha de exercícios
apropriados aos idosos, a relação entre o exercício e a medicação utilizada.
O desenvolvimento do programa de reabilitação cardiovascular deve
considerar as particularidades de cada paciente, visando alcançar uma frequ-
ência cardíaca-alvo (60% a 80% da FCmáx), recomenda-se duração de dez
a doze semanas com frequência que varia de 3 a 5 vezes por semana, com
duração de 20 a 30 minutos. A cada sessão o paciente idoso inicia com um
leve aquecimento, fazendo caminhadas, exercícios de membros superiores e
inferiores. O acompanhamento da FC e da pressão arterial deve ser feito no
aquecimento e durante os exercícios na esteira ou na bicicleta ergométrica.
A reabilitação cardiovascular é dividida em quatro fases:
Fase 1: durante a fase aguda, no período de internação hospitalar.
Os objetivos são: evitar complicações circulatórias e pulmonares,
reduzir a inatividade, manter o trofismo muscular, reduzir os efeitos
da hipotensão, reduzir o tempo de internação e de deambulação
precoce.
Fase 2: na fase de convalescência, em ambiente domiciliar. Os
objetivos são: aumentar a capacidade aos esforços, trabalhar a
musculatura respiratória, assegurar continuidade ao programa,
avaliar as cargas de trabalho leve a moderada, criar hábitos saudáveis
e educar o paciente quanto ao controle dos fatores de risco.

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 167


Fase 3: fase crônica, graus variáveis de supervisão. Os objetivos são:
avaliar o progresso e a estabilidade da doença, melhorar o condicio-
namento físico e resistência, criar hábitos saudáveis e proporcionar
maior conscientização sobre qualidade de vida.
Fase 4: integração em grupos de reabilitação não supervisionados.

Pesquise mais
Recomendamos a leitura do trabalho de conclusão de curso sobre os
efeitos do treinamento aeróbico nos parâmetros cardiovasculares na
reabilitação de cardiopatas isquêmicos, mais especificamente o subitem
revisão de literatura que vai da página 12 a 19.
SILVA, R. I. S. da. Efeitos do treinamento aeróbio nos parâmetros
cardiovasculares na reabilitação cardíaca de cardiopatas isquêmicos:
um estudo de caso. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2015. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/
handle/10183/133514/000983750.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 21 jan. 2019.

E temos também a atuação da Fisioterapia em idosos com doenças


reumáticas, como em idosos com osteoartrite, baseada em uma minuciosa
avaliação cinética e funcional, que leva, geralmente, a objetivos comuns
como redução da dor, redução da rigidez articular, redução da sensibilidade
parestésica, aumento da funcionalidade, manutenção e aumento da força
muscular, aumento da estabilidade articular, proteção articular e aumento da
propriocepção e sensação cinestésica. Para isto, o fisioterapeuta deve:
Orientar o paciente sobre o controle de peso corporal e sua impli-
cação na progressão das lesões articulares.
Orientar sobre a maneira de sentar e manipular e transportar objetos.
Órteses de suporte e aparelhos imobilizadores, quando necessários.
Cinesioterapia para combate à atrofia muscular, por meio de exercí-
cios isométricos e isotônicos.
Cinesioterapia para alongamento muscular.
Outra condição reumática muito comum é a artrite reumatoide, cujos
objetivos, geralmente, englobam alívio da dor, manter ou melhorar a capaci-
dade funcional, prevenir as incapacidades, adaptar o paciente ao meio e
melhorar sua qualidade de vida. Para isto, o fisioterapeuta utiliza os seguintes

168 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
métodos:
Orientar sobre a doença.
Cinesioterapia para manutenção ou aumento da amplitude de
movimento.
Cinesioterapia para promoção da estabilidade articular.
Cinesioterapia para redução da sobrecarga biomecânica sobre as
articulações.
Cinesioterapia para melhora do condicionamento cardiorrespiratório.
Treino de marcha, que pode ser feita através de dispositivos auxiliares.
Fisioterapia aquática.
Além destas, a osteoporose gera alta demanda aos serviços de
Fisioterapia. Nela, o fisioterapeuta procura prevenir complicações mais
sérias, como as fraturas, por meio de exercícios que visem aumentar a flexi-
bilidade, o equilíbrio e o fortalecimento para evitar as quedas. E também
é comum a procura de idosos com sarcopenia, cujo tratamento busca o
aumento de massa muscular, com cinesioterapia focada no fortalecimento
de alta intensidade (60 a 95% de 1 RM – Resistência Máxima), com frequ-
ência de 2 a 3 vezes por semana.
Observamos ao longo deste material as amplas possibilidades de atuação
fisioterapêutica, perpassando pelas condições mais prevalentes na prática
e clínica e trazendo reflexões que auxiliam na tomada de decisão clínica,
todavia, é importante ressaltar que cada caso terá as suas particularidades e
requererá um raciocínio clínico específico e voltado para as necessidades que
se apresentarem. Espero que este material tenha sido valioso na sua formação
e lhe auxilie na formação profissional.

Sem medo de errar


Uma clínica de um grande centro urbano, que contratou uma empresa
de consultoria para otimizar suas operações e focar na melhora da sua efici-
ência, precisou rever todos os seus processos de atendimento e programas de
tratamento. Como muitos casos estavam voltados para as doenças metabó-
licas, traumáticas, neurológicas, cardiovasculares e reumatológicas, você,
fisioterapeuta especialista da equipe de consultoria, reuniu-se com os fisio-
terapeutas da clínica e debateu com eles para entender: como atuam frente
às síndromes metabólicas? Como atendiam os idosos com enfermidades
traumáticas e reumatológicas? Como prestavam assistência aos idosos com

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 169


doenças neurológicas e cardiovasculares?
Os fisioterapeutas explicaram para você que a atuação fisioterapêutica nas
enfermidades metabólicas perpassa por ações que visem alterar o estilo de vida
da pessoa idosa, incluindo a prática rotineira de exercícios físicos e terapêu-
ticos para combater o declínio físico, controlar a pressão arterial, controlar a
obesidade, melhorar a força muscular, evitar a perda da função, melhorar a
capacidade aeróbica, realizar treinamento funcional e promover alívio da dor,
além de atuar na mobilidade funcional e prevenir deterioração adicional.
Nas enfermidades traumatológicas e ortopédicas, a síndrome do impacto
do ombro tem o acompanhamento fisioterapêutico focado no alívio da dor,
manutenção e melhora da amplitude de movimento e fortalecimento da muscu-
latura responsável pelo ritmo escapuloumeral. Nas lesões meniscais, cujo
tratamento objetiva o fortalecimento isométrico do quadríceps, melhora da
amplitude de movimento e alívio da dor. O tratamento de idosos com estenose
lombar degenerativa está focado na educação do paciente frente à doença,
exercícios de flexibilidade, de fortalecimento focados na flexão da coluna verte-
bral, alongamento da musculatura isquiotibial e fortalecimento da musculatura
abdominal; também são utilizados recursos como o ultrassom e termoterapia.
Já o tratamento fisioterapêutico para artroplastias vai da educação do paciente
nas posições seguras e não-seguras, mobilização e fortalecimento, cinesioterapia
respiratória. Dentro de todo este espectro de tratamento, ainda se deve realizar
métodos para combate da dor. Enquanto que no tratamento fisioterapêutico
de fraturas os objetivos são: permitir a mobilização precoce, retorno do nível
de função da lesão e alívio da dor, sempre considerando as condições clínicas
decorrentes do período de imobilização, utilizando proteção, posicionamento e
elevação; contrações musculares intermitentes, realização de cinesioterapia para
amplitude de movimento das articulações acima e abaixo da área imobilizada;
assistência e suporte de deambulação e mobilidade no leito; cinesioterapia para
fortalecimento isométrico e ativo resistido com carga progressiva; cinesiote-
rapia com fortalecimentos concêntricos e excêntricos com baixa carga e grande
número de repetições; cinesioterapia com alongamentos; cinesioterapia com
exercícios de coordenação, equilíbrio e pliometria.
Já a Fisioterapia aplicada aos idosos portadores de disfunções neuroló-
gicas pode ser compreendida com o tratamento fisioterapêutico preventivo
para quedas e suas consequências, restaurar ou manter a funcionalidade,
treinamento do controle postural, que pode incluir exercícios aeróbios, de
força muscular e equilíbrio, cinesioterapia para alongamento muscular,
cinesioterapia para fortalecimento muscular. Além da inibição da espastici-
dade e facilitação do movimento normal e intervenção combinada de várias
técnicas, como mobilização articular, facilitação neuromuscular proprio-
ceptiva e eletroestimulação funcional, melhora do controle muscular com

170 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
habilidades funcionais e estímulos sensoriais externos, estratégias para
melhora do controle postural, treino de marcha e manipulação.
Enquanto que a atuação da Fisioterapia na reabilitação cardiovascular
aplicada à pessoa idosa passa por alcançar uma frequência cardíaca-alvo
(60% a 80% da FCmáx).
E temos também a atuação da Fisioterapia em idosos com doenças
reumáticas, como na osteoartrite, com orientações sobre o controle de peso
corporal e sua implicação na progressão das lesões articulares e sobre a
maneira de sentar e manipular e transportar objetos, utilização de órteses
de suporte e aparelhos imobilizadores, quando necessários, cinesioterapia
para combate à atrofia muscular, por meio de exercícios isométricos e isotô-
nicos, e para alongamento muscular. Na artrite reumatoide, o fisioterapeuta
orienta sobre a doença, utiliza cinesioterapia para manutenção ou aumento
da amplitude de movimento para promoção da estabilidade articular, para
redução da sobrecarga biomecânica sobre as articulações e para melhora do
condicionamento cardiorrespiratório e treino de marcha, que pode ser feita
através de dispositivos auxiliares e fisioterapia aquática. Já na osteoporose,
previne complicações mais sérias, como as fraturas, por meio de exercícios
que visem aumentar a flexibilidade, o equilíbrio e o fortalecimento para
evitar as quedas. E na sarcopenia, cujo tratamento busca o aumento de massa
muscular, com cinesioterapia focada no fortalecimento de alta intensidade.
Agora, após conhecimento adquirido nesta seção, você poderá concluir
o mapa conceitual com programa de tratamento para as principais enfermi-
dades dos idosos.

Avançando na prática

Treino de marcha em idosos com Parkinson

Descrição da situação-problema
Idosos com doença de Parkinson apresentam distúrbios motores que levam à
alteração no padrão da marcha, como a bradicinesia, hipocinesia, rigidez, tremor
em repouso e instabilidade postural. Considerando os aspectos cinéticos e cinemá-
ticos do movimento humano, como você elaborará um programa de tratamento
com exercícios terapêuticos voltados para melhora da marcha nestes indivíduos?

Resolução da situação-problema

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 171


A melhora do padrão de marcha de idosos com doença de Parkinson
passam por exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, exercícios
de equilíbrio e exercícios respiratórios, além do próprio treino de marcha
utilizando diversos estímulos visuais, auditivos e somatossensoriais, assim
como a realização de esteira ou bicicleta ergométrica, pois ajudam a automa-
tizar os movimentos, melhorando a rigidez, por exemplo.

Faça valer a pena

1. Questão adaptada do ENADE 2013 (questão n° 29).


As doenças cardiovasculares (DCV) estão associadas às condições patológicas e
comportamentais. A maioria dos indivíduos com potencial para desenvolver DCV
exibe múltiplos fatores de risco que se acumulam e tornam a probabilidade de
ocorrência ainda maior.

Considerando a reabilitação desses pacientes, avalie as afirmações a seguir.

I. A prescrição de atividade física faz parte dos programas de reabilitação nas fases
II e III, por contribuir para a redução dos fatores de risco apresentados.
II. Na fase de internação hospitalar, a fisioterapia é fundamental com ênfase na
prescrição de exercícios de membros superiores, atingindo alta intensidade (60
a 80% da FCmáx).
III. As condições patológicas e comportamentais apontadas demandam uma
atuação multiprofissional focada no repouso e na impossibilidade de se realizar
atividade física orientada.

É correto o que se afirma em.

a) Apenas na sentença I.
b) Apenas na sentença II.
c) Apenas na sentença III.
d) Apenas nas sentenças I e II.
e) Apenas nas sentenças I e III.

2. Questão adaptada do ENADE 2013 (questão n° 34).


Em uma visita domiciliar, um fisioterapeuta encontra uma idosa acamada devido
a um acidente vascular encefálico (AVE) ocorrido há 15 dias. Desde o evento, ela
permanece restrita ao leito, totalmente dependente para comer, vestir-se e realizar a
higiene pessoal. À avaliação, o fisioterapeuta verifica que a paciente está consciente,
embora desorientada no tempo e no espaço, com importante hemiparesia completa à

172 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
esquerda e dificuldade para tossir e deglutir. Durante inspeção do tórax, ele constata
a diminuição da expansibilidade do lado esquerdo, sem sinais de desconforto respira-
tório. A ausculta pulmonar revela murmúrio vesicular com roncos difusos, e, durante
a expectoração, observa-se a presença de secreção aquosa com restos de alimentos. A
idosa não apresenta febre e tem dificuldade na deglutição.
Considerando o exposto, avalie as afirmações abaixo.

I. Orientar a cuidadora a não elevar a cabeceira do leito durante a alimentação e


realizar exercícios para aumentar a capacidade ventilatória.
II. Orientar a cuidadora a procurar outro profissional para fazer a fisioterapia
neurofuncional.
III. Realizar técnicas de remoção de secreção, orientar o posicionamento no leito e
recomendar a elevação da cabeceira do leito durante a alimentação.

É correto apenas o que se afirma em:

a) Somente I e II.
b) Somente I e III.
c) Somente II e III.
d) Somente III.
e) Somente I, II e III.

3. Um paciente do sexo masculino, com 75 anos de idade, foi diagnosticado com


doença de Parkinson. No momento, apresenta os principais sintomas compatíveis
com a morte massiva dos neurônios da parte compacta da substância negra.

Considerando o exposto, avalie as afirmações abaixo.

I. A lesão dos núcleos da base requer o tratamento fisioterapêutico que priorize


exercícios que visem ao treino funcional, à orientação familiar e à prevenção de
complicações secundárias.
II. A fisioterapia visa, justamente, melhorar a funcionalidade na vida diária e a
qualidade de vida dos sujeitos, sem necessariamente modificar o curso natural
da doença.
III. A fisioterapia visa, também, promover o repouso prolongado a fim de evitar a
fadiga muscular e a piora da bradicinesia e da hipertonia elástica.

É correto apenas o que se afirma em:

a) Somente I e II.
b) Somente I e III.

Seção 4.3 / Fisioterapia nas principais disfunções do idoso II - 173


c) Somente II e III.
d) Somente III.
e) Somente I, II e III.

174 U4
- / Atuação da fisioterapia nas enfermidades em idoso
Referências
ABREU, D.R.O.M.; NOVAES, E.S.; OLIVEIRA, R.R.; MATHIAS, T.A.F.; MARCON, S.S.
Internação e mortalidade por quedas em idosos no Brasil: análise de tendência. Ciênc.
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