Tribunal Do Júri de Brasília: Número Do Documento: 22072717073606500000122638551
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DECISÃO
O MPDFT ofereceu denúncia contra THIAGO MENEZES ABREU, pelos seguintes fatos:
Momentos antes dos fatos, após ingerir bebida alcoólica, o denunciado assumiu a direção de seu veículo e
empreendeu deslocamento pelas vias públicas, imprimindo exorbitante velocidade ao veículo, da ordem
de 180 km/h no momento da colisão, conforme Laudo de Perícia Criminal (fls. 55v).
No local dos fatos, onde a velocidade máxima da via é de 80 km/h, o veículo do denunciado que trafegava
a 180 km/h colidiu com a parte traseira do veículo onde estavam as vítimas e que trafegava na faixa
central com velocidade média de 60 km/h. Com a força do impacto este derrapou e, após colidir com
meio-fio, iniciou processo de capotamento e arrastamento que se estendeu por 27,4 m.
As vítimas Alfredo Passos Barbosa e Rosilden Gonçalves de Souza morreram no local em decorrência de
politraumatismos causados por instrumentos contundentes.
O(s) fato(s) foi(foram) capitulado(s) como aquele(s) descrito(s) no art. 121, § 2º, IV, do Decreto-Lei n.º
2848/40 - Código Penal/CP, por duas vezes.
- Laudo de Exame de Corpo de Delito Lesões Corporais (cadavérico Rosilden) – 69276064 - Pág. 26;
- Laudo de Exame de Corpo de Delito Lesões Corporais (cadavérico Alfredo) – ID 69276065 - Pág. 14;
O MP aditou a denúncia para incluir a qualificadora do art. 121, § 2º, IV, CP.
O MP pediu a pronúncia nos termos da denúncia e a decretação da prisão preventiva do réu (ID
102545201) e a defesa a impronúncia ou, subsidiariamente, o afastamento da qualificadora e o
indeferimento do pedido de decretação da prisão preventiva (ID 103509469).
No dia 28 de setembro de 2021 (ID 104267057), o acusado foi pronunciado como incurso na conduta
descrita no art. 121, caput, do Código Penal.
O Ministério Público interpôs recurso de Apelação (ID 104800315), bem como recurso de Embargos de
Declaração (ID 104800528). A defesa apresentou contrarrazões ao recurso do Ministério Público no ID
129794357.
O recurso de Embargos de Declaração foram conhecidos e dado provimento, no seguintes termos (ID
104802922):
“Trata-se de embargos de declaração opostos pelo MP para correção de erro material constante do
dispositivo da decisão que pronunciou o réu.
Deste modo, onde se lê: "Diante de todo o exposto, PRONUNCIO THIAGO MENEZES ABREU, pela
prática do fato descrito art. 121, CAPUT, do Decreto-Lei n.º 2848/40 - Código Penal/CP." deverá ser lido
como: "Diante de todo o exposto, PRONUNCIO THIAGO MENEZES ABREU, pela prática do fato
descrito art. 121, CAPUT, do Decreto-Lei n.º 2848/40 - Código Penal/CP (por duas vezes)."
A defesa do réu interpôs recurso em sentido estrito (ID 105053317 e 105711590). O MP apresentou
contrarrazões no ID 106851945.
Inconformada, a defesa técnica do acusado interpôs Recurso Especial junto ao Superior Tribunal de
Justiça (ID 129795225). O Ministério Público juntou contrarrazões (ID 129795232).
A defesa, então, interpôs recurso de Agravo (ID 129795239). O MP apresentou contrarrazões (ID
129795297).
Em razão da ausência de efeito suspensivo dos recursos constitucionais, as partes foram intimadas e se
manifestaram nos termos do art. 422, do CPP. O Ministério Público se manifestou no ID 130287248 e a
Defesa no ID 131888398.
A Defesa requereu a revogação da prisão preventiva do réu (ID 131209220). O Ministério Público se
manifestou pela manutenção da prisão cautelar no ID 132189895.
Defiro a intimação das testemunhas arroladas pelo Ministério Público e pela Defesa, bem como a juntada
das folhas de antecedentes criminais do acusado, devidamente atualizadas e esclarecidas, com consulta
aos dados no INI, INFOSEG e TJDFT e Sistema PROCED da PCDF, bem como a exibição em plenário
dos documentos e mídias tempestivamente juntados aos autos, devendo as partes fornecerem os meios
para a sua exibição..
Assim, as partes devem atentar para o disposto no art. 461, §2º, do Código de Processo Penal,
segundo o qual, o não comparecimento de testemunha, que não for intimada por não ter sido
encontrada no endereço fornecido pela parte, não importará no adiamento da solenidade, mesmo
que seu depoimento seja considerado imprescindível pela parte.
Conforme o artigo 156, CPP, o ônus da prova cabe às partes. Desse modo, devem as partes levar ao
plenário os meios/suportes para apresentação das mídias áudio/visuais. Ficam cientes de que podem
utilizar os equipamentos existentes no plenário, mas caso esses apresentem problemas de qualquer
natureza, assumem o ônus do julgamento prosseguir sem a apresentação das mídias.
Eventuais cartas precatórias deverão ser expedidas com o prazo de 15 (quinze) dias.
Trata-se de pedido de revogação da prisão preventiva formulado pela defesa do réu, alegando, em síntese,
não subsistirem os motivos que ensejaram a prisão preventiva e requerendo, subsidiariamente, a aplicação
de medidas cautelares diversas da prisão.
A aplicação da medida excepcional da prisão preventiva somente pode ocorrer quando a materialidade
delitiva for confirmada e quando os indícios de autoria forem suficientes, assim como deve ser adequado,
necessário e proporcional para garantir a ordem pública e econômica, pela conveniência da instrução
criminal ou para a assegurar a aplicação da lei penal.
Primeiramente, a prisão preventiva não caracteriza a antecipação do julgamento do mérito do fato e não
prejudica a ampla defesa e o contraditório. Para a aplicação da prisão cautelar deve-se analisar se nos
autos existem comprovação da materialidade e se existem indícios suficientes de autoria. Destaca-se que
os indícios de autoria para a decretação de uma prisão cautelar não precisam ter a mesma força que os
indícios de autoria necessários para a convicção em caso de uma condenação criminal.
Diferentemente do alegado pela defesa, até o momento, não há fatos novos que afastam os fundamentos
da decisão que decretou a prisão preventiva, restando intocados a comprovação da materialidade do fato e
dos indícios suficientes de autoria.
Como bem explicitada na decisão que decretou a prisão cautelar (ID 130326713 – autos nº
0724368-91.2022.8.07.0001), a materialidade está comprovada e há indícios suficientes de autoria para a
decretação da medida excepcional.
Os fatos objeto da presente Ação Penal é tipificado como crime doloso contra a vida que tem pena in
abstrato superior a quatro anos.
O processo corre normalmente, não havendo demoras injustificadas por parte do Poder Judiciário,
havendo inclusive data designada para a realização da sessão plenária.
Como a medida cautelar imposta restringe o direito fundamental da liberdade, deve-se verificar
observância do princípio da proporcionalidade , ou seja, analisar se a medida é adequada , necessária e
proporcional em sentido estrito.
A prisão preventiva, no presente caso, tem por objetivo a preservação da ordem pública e por
conveniência da instrução criminal. O afastamento cautelar do réu da sociedade se mostra apto para
alcançar tais objetivos, visto que a gravidade em concreto do fato praticado, demonstrado pelo modus
operandi na prática do delito demonstra que a liberdade do acusado expõe risco à garantia da ordem
pública, assim como existem informações nos autos de que o réu teria continuado a praticar atos
semelhantes àqueles que ensejaram o presente processo, tendo sido preso em flagrante delito conduzindo
A medida restritiva de liberdade também se mostra necessária, uma vez a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão são insuficientes para alcançar os objetivos da medida imposta, fornecendo
proteção deficiente para os valores sociais e coletivos fundamentais salvaguardados .
A ponderação dos valores em conflito no caso concreto indica, ao meu sentir, a possibilidade de restrição
da liberdade individual frente ao dever/poder do Estado de reprimir e impedir a prática de crimes – mais
graves violações à ordem jurídica –, visto que no caso concreto há indicativos de que a liberdade do réu
efetivamente põe em risco os valores sociais e coletivos protegidos, como fundamentado na decisão que
aplicou a medida, não podendo ser utilizado o manto protetor do direito constitucional para expor a riscos
outros direitos fundamentais constitucionalmente previstos. Assim, tenho que a medida atende ao
subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito.
Convém destacar que não houve nenhuma modificação fática nos fundamentos da decretação da prisão
preventiva do réu.
Ademais, a jurisprudência do e. TJDFT segue no sentido de que o fato de o réu ser primário de bons
antecedentes, ter domicílio fixo e labor lícito não é suficiente para a liberdade provisória (Precedentes:
TJDFT, acórdãos nº 1249517, 42002, 796054, 1248240, 669668 e 235632).
Por fim, não vislumbro condições para a substituição do encarceramento cautelar por outras medidas
cautelares diversas da prisão previstas no art. 319, do CPP, uma vez que se revelam inadequadas e
insuficientes, nos termos do art. 282, § 6º e art. 312, caput, ambos do CPP.
Diante do exposto, mantenho a prisão preventiva imposta, nos termos do art. 319, do CPP, pelos
próprios fundamentos da decisão que a decretou.