RESENHA A Nova História Cultural

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PATRIMÔNIO,


CULTURA E SOCIEDADE.

 
  DISCIPLINA: IM1207 - CULTURA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE

PROFESSORES: Otair Fernandes (PPGPACS/UFFRJ); Elielma


Machado (UERJ) e Aissa Guimarães (PPGA/UFES)

RESENHA DO TEXTO A NOVA HISTÓRIA CULTURAL –


CONSIDERAÇÕES SOBRE O SEU UNIVERSO CONCEITUAL E SEUS
DIÁLOGOS COM OUTROS CAMPOS HISTÓRICOS.

BARROS, J. D. (2011). A Nova História Cultural – considerações sobre o seu universo conceitual
e seus diálogos com outros campos históricos - DOI: 10.5752/P.2237-
8871.2011v12n16p38. Cadernos De História, 12(16), pp. 38-63 (25p)
https://doi.org/10.5752/P.2237-8871.2011v12n16p38

O artigo em tela compõe o volume 12, número 16, dos Cadernos de


História, que fazem parte dos periódicos da PUC de Minas, e foi publicado em
2011.
O autor José D’Assunção Barros é Doutor em História pela Universidade
Federal Fluminense (UFF), Professor da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ) e Professor-Colaborador no Programa de Pós-Graduação em
História Comparada da UFRJ.
O texto traz algumas considerações sobre a Nova História Cultural em
relação às alternativas conceituais oferecidas por algumas de suas correntes
como: “práticas”, “representações”, “ideologia”, “imaginário” e “Cultura Política”.
Reflete e confronta a confluência entre História Cultural e História Política; bem
como, História Cultural e modalidades como a História Social, História da
Religiosidade e História do Imaginário.
Para desenvolver o texto, Barros, optou por dividi-lo em quatro sessões: a
primeira sessão trata de algumas correntes fundamentais da Nova História
Cultural, a segunda sessão aborda práticas e representações, a terceira sessão
trata novas abordagens da História Cultural e, finalmente a quarta e última
sessão, com a Nova História Cultural nos diversos domínios.
O historiador, na primeira parte, “algumas correntes fundamentais da Nova
História Cultural”, aponta como características apresentadas entre os
historiadores, desde as últimas décadas do século XX, a atuação nas dimensões
cultural e política, o que levou à denominação de Nova História Cultural e Nova
História Política. Nos campos de interesse da Nova História Cultural estariam as
noções de “práticas” e “representações”.
O autor passa então a explanar sobre algumas correntes nas quais os
Historiadores Culturais se aprofundaram nas últimas décadas do século XX,
destacando que se relacionam a diálogos interdisciplinares, envolvendo as
relações da História com outros campos de saber, como a Antropologia, a
linguística, a psicologia ou a ciência política.
Sendo assim, sobre a primeira corrente, Barros afirma que os diálogos
interdisciplinares que a Antropologia de Clifford Geertz e Marshall Sahlins
contribuíram com uma nova abordagem com “descrição densa” e a atenção à
“alteridade”; proporcionado a interconexão entre História Cultural e a Micro
história, a mesma que apresenta como um de seus nomes mais importantes o
historiador italiano Carlo Ginzburg.
O autor traz contribuições de Ginzburg, surgidas através de uma pesquisa
sobre um grupo de camponeses, do século XVI tendo como base um tipo de
documentação relacionada a processos inquisitoriais. Ginzburg considera um dos
problemas mais desafiadores tanto da História Cultural quanto da Antropologia
lidar com a “contaminação de estereótipos”, para ele o historiador deve
empreender o esforço de compreender um mundo através de outro, ou uma
cultura através de outra. Quanto à documentação de pesquisa, alerta sobre a
qualidade e sobre o registro intensivo, atento aos detalhes, às margens do
discurso, e fundado sobre um olhar microscópico. Com relação à estratégia
metodológica “é exatamente a de traduzir uma cultura diferente por um código
mais claro ou familiar”. (GINZBURG, 1991, p.212). Ainda esclarece que “o
historiador pode-se beneficiar particularmente desta interação de culturas, por
vezes explorando com igual proveito também a mútua iluminação proporcionada
pelos momentos de não-comunicação entre as duas culturas.”
Barros apresenta uma segunda corrente que seria a que tem atentado para
os aspectos discursivos e simbólicos da vida sociocultural. Michel de Certeau e
Pierre Bourdieu são as influências importantes; e o mesmo se pode dizer com
respeito à contribuição da análise de discurso de Michel Foucault e Roger
Chartier. Essa corrente explora que “Comunicar” é produzir Cultura, sendo assim,
implica em Cultura Oral, Cultura Escrita, bem como, quando se comunica através
dos gestos, do corpo, e da sua maneira de estar no mundo social, isto é, do seu
“modo de vida”. Desta forma pode-se considerar que a posição de “sujeitos”
produtores e receptores de cultura podem abarcar tanto a função social dos
“intelectuais” de todos os tipos, até o público receptor. Agências de produção e
difusão cultural também se encontram no âmbito institucional: os sistemas
educativos, a imprensa, os meios de comunicação, as organizações socioculturais
e religiosas.
O autor afirma que nesta corrente, Certeau rediscute a invenção criativa de
táticas por parte das pessoas comuns, por oposição à ideia de que estas sofrem
passivamente a manipulação imposta pelas estratégias produzidas ao nível dos
grandes sistemas culturais o que foi denominada por “reinvenção do cotidiano” e
assim, “Certeau ao mesmo tempo se reapropria e empreende a critica da noção
de habitus do sociólogo Pierre Bourdieu, com o qual estabelece um frequente
diálogo teórico”. (BURKE, 2005, p.193).
Para a terceira corrente o autor traz as referências de Edward P.
Thompson e da escola marxista da história social inglesa no seu conjunto,
levando para o centro da análise historiográfica a ideia de experiência histórica. A
dimensão cultural que Thompson acrescentou a conceitos fundamentais do
Materialismo Histórico possibilitando uma conexão com uma História Política de
novo tipo. Ditos explorados por Thompson “sem produção não há história”, “sem
cultura não há produção”, “teatro do poder”, “teatro do controle”. A preocupação
de Thompson em examinar a Cultura e a Sociedade a partir da perspectiva
popular, marginal, incomum, não oficial, das classes oprimidas o coloca como um
dos pioneiros da chamada “História Vista de Baixo”.
Ainda nesta corrente, Barros abre um parêntese sobre “cultura política”
explicando que a expressão com Gabriel Almond e Sidney Verba (1963) foi
definida como: “expressão do sistema político de uma determinada sociedade nas
percepções, sentimentos e avaliações de sua população.” (ALMOND; VERBA,
1963, p.3) Em seguida, menciona as concepções sobre o termo de Serge
Berstein (1997): “constitui um conjunto coerente em que todos os elementos estão
em estreita relação uns com os outros, tendo por componentes fundamentais uma
“base filosófica ou doutrinal”, frequentemente colocada à disposição da maior
parte de seus participantes”. Ainda traz o conceito de Kuchinir e Carneiro (1999)
“conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado a um
processo político, pondo em evidência as regras e pressupostos nos quais se
baseia o comportamento de seus atores.”
Apesar do autor se referir a várias correntes, ele se limita a explorar as
concepções apenas de quatro e a quarta corrente que ele traz é a “História dos
Conceitos”, proposta por Koselleck, que implica em “construir uma relação entre a
história das idéias e a história social como um campo de tensões” (CHIGNOLA,
2007, p.52).
Na segunda seção do texto, “Práticas e representações” mostra a
relevância que este campo conceitual apresenta para a História Conceitual e para
a dinâmica de sua associação a outros campos históricos. De acordo com este
horizonte teórico, que tem entre os seus reafirmadores mais conhecidos figuras
como a de Roger Chartier (2002) e Michel de Certeau (1980), a Cultura (ou as
diversas formações culturais) poderia ser examinada no âmbito produzido pela
relação interativa entre estes dois pólos. Práticas culturais seriam “a feitura de um
livro, uma técnica artística ou uma modalidade de ensino, os modos como, em
uma dada sociedade, os homens falam e se calam, comem e bebem, sentam-se
e andam, conversam ou discutem, solidarizam-se ou hostilizam-se, morrem ou
adoecem, tratam seus loucos ou recebem os estrangeiros.”
Para explicar a relação entre “práticas” e “representações”, Barros, a partir
dos exemplos do mendigo e do livro, traça um panorama explicativo para ilustrar
que os termos são sempre resultantes de determinadas motivações e
necessidades sociais. Para ele, a noção de “representação” pretende corrigir
lacunas que aparecem em noções mais ambíguas, como por exemplo, a de
“mentalidades”. A palavra “Imaginário” é citada como de uso recente e por ter
migrado para o campo histórico, importada de campos como a psicologia e a
fenomenologia.
Barros explica que “representações”, “práticas”, “mentalidades” e
“imaginário”, são apresentadas como “noção” ao invés de “conceito”, ou seja,
“quase conceitos”. Outra menção é “símbolo”, tratada como “conceito” pelo fato
de há muito tempo ser considerada uma categoria amadurecida entre as ciências
humanas.
O autor analisa “ideologia” como um conceito polissêmico e fundamental
para a História Cultural, sendo “produzida a partir da interação de subconjuntos
coerentes de representações e de comportamentos que passam a reger as
atitudes e as tomadas de posição dos homens nos seus inter-relacionamentos
sociais e políticos”, entretanto, alerta que ao utilizar este conceito deva-se definir
com bastante clareza qual o sentido adotar, devido aos seus inúmeros sentidos
nas Ciências Humanas.
Finalizando a segunda seção, o historiador justifica a opção pela
perspectiva cultural desenvolvida por autores como Roger Chartier e Michel de
Certeau, pois constitui uma das alternativas teóricas mais influentes para o atual
desenvolvimento de uma História Cultural, e porque essa abordagem permite
examinar a confluência entre História Cultural, História Social e História Política.
Novas abordagens da História Cultural é o título da terceira seção, na qual
o autor retorna a quarta corrente para lembrar que há uma gradual constituição de
um novo repertório conceitual e o deslocamento para novas abordagens e
percepção da complexidade pertinente aos aspectos culturais (dinâmicos e
diversificados). Segundo ele, passam a ser utilizadas expressões normalmente
empregadas por Pierre Bourdieu, como “performances”, “habitus”, e outras que
coloquem em cena a mobilidade dos atores, o dinamismo de suas práticas, sua
capacidade de desempenharem distintos papéis no mundo cultural. Para ele, há
uma tendência em se atentar ao “biculturalismo” pela capacidade dos indivíduos
em transitarem em universos culturais diversos, utilizando-se de registros também
diversos. Neste contexto, Barros assinala o surgimento de uma perspectiva móvel
de identidades, “identidades fluidas”, por conta da inserção simultânea do
indivíduo em vários grupos, exigindo o desempenho de vários papéis sociais.
A quarta seção, A Nova História Cultural nos diversos domínios, vem
encerrar a explanação constatando que nos mais diversos domínios temáticos de
pesquisa em História incidem habitualmente para o campo da História Cultural, o
que permite um novo olhar, aberto a novas conexões com outras modalidades
historiográficas e campos de saber, ao mesmo tempo em que tem proporcionado
aos historiadores um rico espaço para a formulação conceitual.
O artigo apresenta-se como uma narrativa histórico-conceitual importante
para que os interessados em desenvolver pesquisas históricas, ou outras áreas
das ciências humanas, consigam identificar as concepções de algumas das
principais correntes atuantes no campo. Desta forma, além de auxiliar o
pesquisador quanto à percepção dos diferentes conceitos, traz referências
bibliográficas dos teóricos que norteiam as pesquisas na atualidade para o devido
aprofundamento, já que o texto tem um caráter explanatório. A relevância do tema
está na constatação de que História Cultural permeia os mais diversos domínios
temáticos. E aqui me atrevo a lançar uma questão: Poderia ser o contrário? Os
diversos domínios temáticos permeiam a História Cultural?

Dagmar Dias Cerqueira, aluna especial


DISCIPLINA: IM1207 - CULTURA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE

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