Direito Consuetudinário 2018

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Identificação do direito internacional consuetudinário

Projectos de conclusão adoptados pel CDI na sua 70.ª sessão


Tradução do Relatório da CDI à AGNU - Documento A/73 /10 (pp. 125 ss.)

Primeira parte - Introdução ternacional consuetudinário, mas pode ser rele-


vante para efeitos de apreciação da prática refe-
Conclusão 1 rida nos pontos 1 e 2.
(Alcance)
Os presentes projectos de conclusão tratam Conclusão 5
da maneira como deve determinar-se a existên- (O comportamento dos Estados
enquanto prática estadual)
cia e conteúdo das normas de direito internaci-
onal consuetudinário. A prática de um Estado consiste no seu com-
portamento, através do exercício das respecti-
vas funções executiva, legislativa, judicial ou ou-
Segunda parte – Abordagem fundamental
tra.
Conclusão 2
(Elementos constitutivos) Conclusão 6
(Formas da prática)
Para determinar a existência e o conteúdo de
1. A prática pode revestir uma ampla varie-
uma norma de direito internacional consuetudi-
dade de formas. Pode compreender tanto actos
nário é necessário conferir a existência de uma
materiais como verbais. Pode, em determinadas
prática geral e a sua aceitação com carácter jurí-
circunstâncias incluir a inação.
dico (opinio juris).
2. As formas das práticas estaduais incluem,
Conclusão 3 entre outras: os actos e a correspondência diplo-
(Apreciação dos meios susceptíveis de mática; a conduta relativa às resoluções adopta-
estabelecer os elementos constitutivos) das por organizações internacionais ou aquando
Rui M. Marrana – Direito Internacional Público – Textos de apoio 2018/2019

1. Na apreciação dos meios que permitam de conferências intergovernamentais; a conduta


estabelecer conferir a existência de uma prática em relação a tratados; a conduta executiva, in-
geral e sua aceitação com carácter jurídico cluindo a conduta operacional no terreno; os ac-
(opinio juris) é necessário ter em conta o con- tos legislativos e administrativos; e as decisões
texto geral, a natureza da regra e as circunstân- das jurisdições internas.
cias próprias de cada um dos meios. 3. Não existe qualquer hierarquia predeter-
2. Cada um dos elementos constitutivos minada entre as diferentes formas da prática.
deve ser conferido separadamente. Isso implica
apreciar os meios susceptíveis de estabelecer a Conclusão 7
(Apreciação da prática estadual)
existência de cada um dos elementos.
1. Deve ter-se em conta toda a prática dis-
Terceira parte – Prática geral ponível do Estado em causa, a qual deve ser
apreciada em conjunto.
Conclusão 4 2. Nos casos em que a prática de um deter-
(Exigência da prática) minado Estado varie, o peso a atribuir a essa prá-
1. A exigência de uma prática geral en- tica pode ser reduzido, dependendo das circuns-
quanto elemento constitutivo do direito inter- tâncias.
nacional consuetudinário significa que é princi-
Conclusão 8
palmente a prática dos Estados que contribui
(Carácter necessariamente geral da prática)
para a formação ou expressão das regras de di-
reito internacional consuetudinário. 1. A prática relevante deve ser geral, ou
2. Em determinadas situações, a prática das seja, suficientemente difundida e representa-
organizações internacionais pode igualmente tiva, além de constante.
contribuir para a expressão ou formação ou de 2. Não é exigível qualquer duração especí-
regras de direito internacional consuetudinário. fica para a prática, conquanto esta seja geral.
3. A conduta de outros actores não confi-
gura práticas susceptíveis de contribuírem para
a expressão ou formação de regras de direito in-
Identificação do direito internacional consuetudinário – Projectos de conclusão – 2

Quarta parte – A aceitação do carácter jurídico c) Serviu de ponto de partida de uma


(opinio juris) prática geral aceite como jurídica (opinio
juris), dando assim origem a uma regra de di-
Conclusão 9
reito internacional consuetudinário.
(Exigência da aceitação do
carácter jurídico [opinio juris]) 2. O facto de uma regra ser enunciada em
diversos tratados pode significar, sem que isso
1. O requisito, enquanto elemento constitu-
seja, todavia, necessário, que a regra convencio-
tivo do direito internacional consuetudinário, da
nal reflecte uma regra de direito internacional
aceitação do carácter jurídico (opinio juris) da
consuetudinário.
prática geral, significa que a prática em causa
deve ser levada a cabo com a convicção da exis- Conclusão 12
tência de existir uma obrigação jurídica ou um (Resoluções de organizações internacionais
direito. e de conferências intergovernamentais)
2. A prática geral aceite como jurídica 1. Uma resolução adoptada por uma orga-
(opinio juris) deve ser distinta do simples uso ou nização internacional ou aquando de uma con-
hábito. ferência intergovernamental não é susceptível
enquanto tal, de criar uma regra de direito inter-
Conclusão 10
nacional consuetudinário.
(Meios de prova da aceitação do
carácter jurídico [opinio juris]) 2. Uma resolução adoptada por uma orga-
nização internacional ou aquando de uma con-
1. A prova da aceitação do carácter jurídico
ferência intergovernamental pode fornecer um
(opinio juris) pode revestir uma ampla variedade
elemento de prova para a determinação da
de meios.
existência ou do conteúdo de uma regra de
2. Os meios de prova da aceitação do carác-
direito internacional consuetudinário ou contri-
ter jurídico (opinio juris) incluem, entre outros:
buir para o seu desenvolvimento.
as declarações públicas efectuadas em nome
3. Uma disposição de uma resolução adop-
dos Estados; as publicações oficiais; os parece-
tada por uma organização internacional ou
res jurídicos governamentais; a correspondência
aquando de uma conferência intergovernamen-
diplomática; as decisões das jurisdições nacio-
tal pode reflectir uma regra de direito internaci-
nais; as disposições dos tratados; e bem assim, a
onal consuetudinário se se constata que essa
conduta relativa às resoluções aprovadas por or-
disposição corresponde a uma prática geral
ganizações internacionais ou conferências inter-
aceite como jurídica (opinio juris).
governamentais.
3. A ausência de reacção a uma prática du- Conclusão 13
rante um largo período de tempo pode consti- (Decisões judiciais)
tuir prova da aceitação do carácter jurídico
1. As decisões das jurisdições internacio-
(opinio juris), sempre que os Estados estivessem
nais, em particular as do Tribunal Internacional
em condições de reagir e que as circunstâncias
de Justiça, relativas à existência ou conteúdo de
ditassem uma reacção.
regras de direito internacional consuetudinário
constituem meios auxiliares de determinação
Quinta parte – Alcance dos meios de identificação das referidas regras.
do direito internacional consuetudinário
2. Pode atender-se, sendo caso disso, às de-
Conclusão 11 cisões das jurisdições nacionais relativas exis-
(Tratados) tência ou conteúdo de regras de direito interna-
1. Uma regra enunciada num tratado inter- cional consuetudinário enquanto meios auxilia-
nacional pode reflectir uma regra de direito in- res de determinação das referidas regras.
ternacional consuetudinário quando se constate
Conclusão 14
que essa regra convencional: (Doutrina)
a) Codificou uma regra de direito
internacional consuetudinário existente à A doutrina dos mais qualificados publicistas
data da conclusão do tratado; ou das diferentes nações pode servir como meio
b) Operou a cristalização de uma regra auxiliar de determinação de regras de direito in-
de direito internacional consuetudinário ternacional consuetudinário.
cujo surgimento havia começado antes da
conclusão do tratado; ou
Identificação do direito internacional consuetudinário – Projectos de conclusão – 3

Sexta parte – Objector persistente

Conclusão 15
(Objector persistente)
1. Sempre que um Estado tenha objectado
a uma regra de direito internacional consuetudi-
nário enquanto esta estava em formação, essa
regra não é oponível a esse Estado enquanto
este mantenha a sua objecção.
2. As objecções devem ser expressas de
forma clara, ser comunicadas aos outros Estados
e mantidas de forma persistente.
3. A presente conclusão não prejudica qual-
quer questão relativa a normas imperativas de
direito internacional geral (jus cogens).

Sétima parte – Direito internacional


consuetudinário particular

Conclusão 16
(Direito internacional consuetudinário particular)
1. Uma regra de direito internacional con-
suetudinário particular, seja ela regional, local
ou outra, é uma regra de direito internacional
consuetudinário que apenas se aplica a um nú-
mero limitado de Estados.
2. Para determinar a existência e o conte-
údo de uma regra de direito internacional con-
suetudinário particular é necessário conferir a
existência de uma prática geral entre os Estados
envolvidos aceite por estes como jurídica (opinio
juris) nas suas relações.

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