Modulo Direito Económico - Alcides Nobela
Modulo Direito Económico - Alcides Nobela
Modulo Direito Económico - Alcides Nobela
DIREITO
2º Ano
NSTITUTO SUPER
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
Curso de Licenciatura em Direito
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
Curso de Licenciatura em Direito
Economia é a ciência que estuda a forma pela qual os indivíduos e a sociedade interagem
com os factores de produção, integrando-os em um ciclo económico (produção, circulação e
consumo). É a ciência que trata dos fenómenos relativos à produção, distribuição e consumo de
bens.
Economia é a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Ela
estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação entre as necessidades dos
homens e os recursos disponíveis para satisfazê-las. Assim sendo, esta ciência está intimamente
ligada à política das nações e à vida das pessoas, sendo que uma das suas principais funções é
explicar como funcionam os sistemas económicos e as relações dos agentes económicos, propondo
soluções para os problemas existentes.
A ciência económica está sempre analisando os principais problemas económicos: o que produzir,
quando produzir, em que quantidade produzir e para quem produzir.
Por sua vez o Direito “é um sistema de normas de conduta social com protecção coactiva
(impostas pelo Estado)”.
Enquanto o Direito se ocupa de valores (ética e moral), a Economia tem seus parâmetros na
maximização de resultados, na eficiência, o que inviabiliza qualquer tentativa de empregar
parâmetros económicos na avaliação das normas jurídicas. O direito é um sistema aberto que influi
e é influenciado pelas instituições sociais existentes na comunidade em que se aplica.
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Curso de Licenciatura em Direito
Falar de Direito Económico como disciplina jurídica e como ramo de Direito, pressupõe a
enunciação de dois problemas:
As relações entre economia e direito enquanto fenómenos da vida social e disciplinas das
ciências sociais e humanas que estudam esses fenómenos;
Saber que razões justificam a emergência de um novo ramo e disciplina jurídica – Direito
Económico – e quais as implicações do seu aparecimento1.
O direito considerado como o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações entre as
pessoas na sociedade, por conseguinte o complexo de normas que formam determinado
ordenamento jurídico, “vai subsumir todos aqueles aspectos da vida económica, as actividades
dos agentes económicos na norma jurídica, no sistema jurídico, de modo a estabelecer-se uma
harmonia”. É nisto que consiste a relação entre o Direito e Economia.
O Direito e Economia partilham anseios, criando uma influência recíproca – e esta influência
manifesta-se no mundo externo. O Direito quando influencia a actividade económica através das
suas normas pretende induzir comportamentos aos agentes económicos vinculando-os a uma
conduta dentro da norma jurídico-económica.
O Direito Económico é uma disciplina jurídica autónoma e tem como função enquadrar, reger
e normalizar a economia (é uma disciplina com normas e princípios)2.
Por um lado, é o Direito que tem o objectivo de resolver conflitos entre os indivíduos e por
outro, a Economia, enquanto sistema económico que visa a produção de bens para a satisfação de
necessidades.
1
Cfr. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS et all, Direito Económico, 3ª Ed., Livraria Almedina, Coimbra 1998, pp. 11-
12.
2
Esta é uma ideia que se retira da noção de direito da economia de António Menezes CORDEIRO, Direito da Economia,
1º Volume, AAFDL, 1986, p. 5.
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As relações entre o direito e a economia poderão ser definidas por uma interdependência,
embora possuindo uma autonomia própria com funções e valores próprios, o que legitima o seu
estudo segundo ópticas e metodologias distintas.
Não pode o Direito isolar-se do ambiente em que vigora, deixar de atender às manifestações da
vida social e económica. As mudanças económicas e sociais constituem o fundo e a razão de ser de
toda a evolução jurídica; e o direito é feito para traduzir em disposições positivas e imperativas
toda a evolução social4.
A produção de normas de Direito, a sua aplicação, bem como a resolução de litígios por meio de
processos e decisões judiciais, aspectos que são tidos como predominantemente (e até
exclusivamente) jurídicos são, todavia, aspectos que contêm também dimensões económicas.
Numa outra vertente, algumas questões marcadamente económicas - por exemplo, as ligadas ao
circuito económico de produção, circulação, distribuição e o de consumo, são providas de
dimensões jurídicas, nomedamente a disciplina jurídico-laboral (que regula o uso da força de
trabalho), a disciplina jurídica das empresas ou sociedades, a disciplina jurídica da regulação do
mercado e das trocas, o regime jurídico da tributação dos rendimentos e da riqueza, etc.
Daí que alguns autores afirmem que “ o Direito precisa da Economia, da mesma forma que a
Economia precisa do Direito”5.
3
Cfr. WATY, Teodoro Andrade, Direito Económico, WW Editora, Limitada, Maputo, 2011, pp. 10-12. Mas esta é
também uma ideia sustentada por Luís S. Cabral de MONCADA, Direito Económico, 2ª ed., Coimbra Editora, p. 12ss.,
pois, a intervenção do Estado na vida económica é um aspecto marcante do direito económico.
4
Idem.
5
Este facto é alusão ao que Menezes Cordeiro refere quando fala de uma concepção funcional do direito económico
(para si entendido como direito da economia), nas pp. 17-19 da Op.Cit.
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O facto do direito económico ter autonomia didáctica e científica, não significa que não haja
uma interpenetração ou recepção de conceitos e técnicas provenientes de outras áreas jurídicas,
podendo falar-se neste sentido de uma interdisplinaridade interna que ultrapassa o campo jurídico.
6Microeconomia: é a teoria clássica económica, baseada nas unidades individuais da economia, focando-
se, tão-somente, em cada agente económico e sua interação com o mercado.
Macroeconomia: é a teoria moderna económica, que teve origem com o processo de intervenção do Estado
na economia, focando-se no funcionamento do fenómeno económico em caráter coletivo.
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orientar a produção de conhecimento que não poderia ser gerado a partir de duas disciplinas
separadamente.
Neste âmbito, tentamos escolher os ramos do Direito que interdisciplinarmente mais se ligam
com o Direito Económico.
Direito Constitucional;
Explicando:
7
MOTA PINTO, CARLOS ALBERTO DA, Teoria Geral do Direito Civil, 3ª Ed., Coimbra Editora, Limitada, 1994, pp.
24-34.
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A Constituição estrutura, por meio de seus princípios, as regras que irão nortear as relações
entre o Estado e as actividades económicas, bem assim o enquadramento geral e o conteúdo das
actividades económicas fundamentais, a serem seguidas pelo Governo e pelos cidadãos,
considerada em termos de direitos e obrigações.
A interligação entre esses ramos reside no facto do Direito Administrativo também regular a
intervenção do Estado no domínio económico quando edita normas atinentes ao serviço público
(Serviços Administrativos do Estado que servem os cidadãos e agentes económicos que acorrem ao
mesmos), bem assim quando o Estado intervém na economia como agente económico (praticando
actividades económicas sob a sua própria gestão – ex: através de Empresas Estatais9), aí intervêm
as normas de Direito Administrativo a regular tais processos.
8
Cfr. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS, Op. Cit., pp. 35-36.
9 O Direito Administrativo se incumbe de dar corpo e de reger parte parte da administração interna das
empresas criadas pelo Estado (Empresas Estatais e Empresas Públicas, que são criadas por Lei), para se
identificar com a administração própria do Estado. Mas no momento em que essas empresas/entidades
começam a actuar como sujeitos da actividade económica e como instrumentos da política económica,
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Entretanto, importa notar que o Direito Administrativo possui estrutura e teleologia distinta do
Direito Económico, sendo certo que o conteúdo daquele determina-se por regras rígidas (calcadas
na estrita legalidade), programadas (pois decorrem de comandos estabelecidos em lei) e com
eficácia decorrente. Por seu turno, o Direito Econômico encerra critérios que possibilitam uma
maior flexibilidade normativa, além de sua pragmaticidade10.
O Direito Criminal disciplina e garante a defesa da sociedade contra os actos individuais que a
afectam na sua conservação, fixando as penas e os meios preventivos adequados.
Sucede que certas práticas de consequências económicas podem ter o carácter de crime e ou
contravenção, neste caso incluindo-se no Direito Criminal.
A interligação entre o Direito Económico e o Direito Criminal reside no facto do Direito Criminal
também regular aspectos de natureza económica, tipificando-os como crimes e contravenções.
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O Direito Internaciona Público é considerado como o conjunto de regras e princípios que regem
as relações jurídicas entre Estados e outras entidades internacionais. Assim, o conteúdo económico
do Direito Internacional Público está nos instrumentos de disciplina como as relações político-
económicas entre os Estados irão processar-se.
A relação com o Direito Internacional fica evidente quando se verifica a influência que o
mercado internacional exerce sobre a economia interna ou mesmo o impacto que as grandes
fusões entre empresas, inclusive estrangeiras, causam no mercado interno.
O Direito Civil é o direito privado comum, e tem por objecto disciplinar os interesses entre
particulares12.
O direito civil patrimonial funciona como regra subsidiariamente aplicável nas relações jurídico-
económicas.
11
Cfr. WATY, TEODORO ANDRADE, Op.Cit., pp. 24-25.
12
Cfr. MOTA PINTO, CARLOS ALBERTO DA, Op.Cit., pp.23-24.
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O Direito Comercial regula a situação dos comerciantes e as relações que tenham por objecto
actos comerciais.
Existe uma vasta zona de matérias do direito comercial substancialmente atingidas pelo influxo
do Direito Económico. Os argumentos apresentados no Direito Comercial são válidos para o Direito
Económico com referência aos interesses privados regulamentados pelo contrato.
As relações entre o Direito Comercial e o Direito Económico podem ser definidas a partir do
facto de que o Direito Comercial regulamenta a actividade do comerciante no exercício da troca e à
base do contrato, enquanto que o Direito Económico vai traduzir e ordenar a política económica
exercida no mercado.
A relação entre estas disciplinas tem uma origem histórica, na medida em que foram as
mudanças no perfil económico do Estado que levaram ao surgimento do Direito do Trabalho. A
forma de actuação do Estado na ordem económica continua a influenciar as normas relativas ao
trabalho. Por outro lado, grande parte da regulamentação do Direito do Trabalho resulta da
influência das normas de Direito Económico13.
O Direito internacional Privado é o sistema de normas de conflitos que, nas relações privadas
com conexões internacionais, determinam quais as normas nacionais que vão reger cada questão
jurídica de cada relação. Nessa medida, as relações económicas privadas internacionais serão
igualmente abrangidas pelo Direito Económico.
13
Ideia também correspondente às concepções funcionais do direito económico referidas supra.
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O termo globalização ainda não tem uma definição acabada. Pode-se tentar definir este
fenómeno como um processo no âmbito internacional que visa o aprofundamento das relações
entre Estados, no âmbito económico, culutural, político e social, tendo como fim último o bem estar
mundial.
2. No sentido normativo – globalização designa uma política económica que visa unificar o
campo económico por todo um conjunto de medidas jurídico-políticas destinadas a suprimir
todos os limites a essa unificação entre os Estados.
O desenvolvimento de novas relações entre Estados, bem como a abertura das economias ao
comércio internacional e ao investimento, constituem uma das vantagens oferecidas aos Estados
pela globalização, como forma de desenvolvimento de tecnologias de continuidade ou de ponta.
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Alguns passos decisivos para a actual economia internacional podem ser identificados a partir
da segunda metade do Século XX, sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, com o surgimento da
Ordem Económica Internacional, destcando-se:
a) Os acordos de Bretton Woods (1944), que criaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
o sistema de pagamentos internacionais, e o Banco Internacional para a Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD), base dos sistemas de cooperação financeira internacional para o
desenvolvimento;
b) A criação do GATT (General Agreement on Tariffs and Trades), Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio, em Genebra em 1974, que foi extinto em 1994, e substituído pela criação da
Organização Mundial do Comércio (OMC)14;
c) O Plano Marshall, nos Estados Unidos da América (EUA), em 1948, concebido para ajudar a
erguer a economia dos países europeus em crise em virtude da 2ª Guerra Mundial;
d) A criação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento), visando a
cooperação Europeia;
e) A criação progressiva de organizações económicas e financeiras internacionais nas Nações
Unidas (ONU);
f) Tratado de Roma, em 1957, que preconiza uma aproximação maior dos países europeus,
estabelecendo o Mercado Único Europeu, e em 07/12/1992 é firmado o Tratado de
Maastricht, formalizando o surgimento da Comunidade ou União Europeia (UE);
g) Surgimento de blocos económicos: na Europa a União Europeia, na América do Sul o
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul, em África a SADC- Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral, CEDEAO - Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental, Comunidade da África Oriental (em inglês: East African Community – EAC), etc.
14
Veja-se a Colectânea da legislação do comércio internacional.
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Uma corrente identifica o Direito Económico como todo o direito relativo à economia (J. HAMEL
e G. LAGARDE).
Crítica: esta noção enferma, desde logo, das incertezas ligadas à definição de economia, ainda
que se convencione que a economia será toda a actividade dirigida à produção, distribuição e
consumo dos bens.
Ou seja, estender-se-ia a zonas de direito público que tenham incidência económica mas que
devem estar fora do âmbito do Direito Económico como por exemplo a disciplina jurídica das obras
públicas, o direito das expropriações, o regime jurídico do domínio público, bem assim a matérias
contíguas ao Direito Económico em sentido restrito, como por exemplo o direito da segurança
social.
Pode-se assim concluir que esta noção de Direito Económico como Direito da Economia não é
defensável, embora tenha vários seguidores, pois a doutrina que assim considera não aponta
realmente quais as fronteiras que delimitam ou separam os vários domínios do público e do
privado, do económico e do jurídico.
Na verdade, o Direito Económico dirige-se ao estudo dos problemas colocados pela intervenção
do Estado na economia, analisando também os temas decorrentes desse assunto principal. É uma
disciplina jurídica autonóma, com regras e principios próprios.
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I. Para SAVATIER, o Direito Económico é um ramo do Direito que tem por missão dirigir a vida
económica e em especial a produção e circulacão de riqueza.
II. CHAMPAUD considera o Direito Economico como Direito da organização e desenvolvimento
económico, quer estes dependam do Estado, da iniciativa privada ou do concerto de um
e de outro, tendo como objecto fundamental a empresa.
III. G. FARJAT considera o Direito Económico como Direito da concertação e da colectivação dos
meios de produção e de organização da economia.
IV. SAVY propõe uma concepção finalista do Direito Económico, e afirma que ele tem em vista o
equilíbrio dos agentes económicos públicos ou privados e o interesse económico geral.
V. ALEX JACQUEMIN e GUY SCHRANS consideram que o Direito Económico não se trata de um
ramo autónomo do direito, mas de uma técnica de abordagem científica das relações
fundamentais entre o direito e a economia.
DEFINIÇÃO ADOPTADA:
O Direito Económico é o ramo do Direito Público que tem por objectivo o estudo das relações
entre os entes públicos e os sujeitos privados na perspectiva da intervenção do Estado na vida
económica15.
As regras de Direito económico são regras jurídicas que apareceram depois da 1ª Guerra
Mundial, para reformar, ou mesmo, substituir a ordem económica existente.
A 1ª Guerra Mundial (1914 – 1918) marca o fim do capitalismo liberal e o início do capitalismo
social. O objectivo do capitalismo é essencialmente a procura do lucro. O meio para atingir esse
objectivo será a produção de bens e serviços, para satisfação das necessidades dos cidadãos.
O capitalismo liberal era marcado pelo direito à propriedade (privada) dos meios de produção
e à iniciativa privada bem como uma liberdade económica. Era o mercado que, através da lei da
15
Cfr. SOUSA FRANCO, ANTÓNIO, Noções de Direito da Economia, p. 47.
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Havia uma crescente intervenção por parte do Estado para satisfazer as exigências e as
necessidades trazidas pela 1ª Guerra.
Surgem, com a Revolução Russa de 1917, novas ideias políticas e económicas e aparece em
1919 a 1ª Constituição que dedicava uma especial secção à vida económica – A Constituição de
WEIMAR de 1919, na Alemanha. A Constituição de WEIMAR legitimava a intervenção do Estado na
vida económica16.
Em 1929 surge uma grande crise económica com uma elevada taxa de desemprego e de
inflação, uma taxa de crescimento reduzida, perdurava a fome, a bancarrota, etc.
Daí surgiu KEYNES que dizia que o Estado deveria intervir para estabilizar a economia.
Apareceu neste momento para defender, pela 1ª vez, a intervenção do Estado, no sentido do
investimento público em tempos de recessão, defendendo que perante um aumento da procura
agregada a oferta responderia.
A política de intervenção estatal começou a ser adotada primeiro nos Estados Unidos, com o
anúncio pelo presidente Franklin Roosevelt de uma série de medidas, que ficaram conhecidas como
New Deal (novo acordo) e que passaram a ser concretizadas em 1933. Dentre elas incluiam-se:
• criação de Previdência Social, que estipulou um salário mínimo, além de garantias a idosos,
desempregados e inválidos;
16
Cfr. WATY, TEODORO ANDRADE, Op. Cit. Pp. 13-17; veja-se também DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS et
all., Op. Cit. Pp. 37-38.
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Com a 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945), esta ordem económica existente, altera. O Estado
passa a intervir directamente e indirectamente e a própria guerra é o fenómeno que leva a que o
Estado passe a intervir. Há uma intervenção directa quando o Estado age como agente económico,
e indirecta quando o Estado age como agente de regulação económico-social e regula o acesso à
actividade económica, regula a concorrência, regula o consumo.
Depois das guerras mundiais, os Estados desejam regressar a uma ordem político-económica
normal. Essa normalidade é concretizada pelo Estado e, por conseguinte, o alargamento das tarefas
do Estado.
Foi a partir da 1ª Guerra Mundial, na crise económica de 1929, e depois da 2ª Guerra Mundial, que
17
Diz MONCADA que, «O direito económico passa a ser predominantemente direito público, não só pelas finalidades
que prosseguem as normas que o corporizam, mas também pelos instrumentos ou meios jurídicos em que se concretizam,
expressão do jus imperii do Estado. Os meios jurídicos ao dispor das entidades públicas, privadas e mistas que a
intervenção económica do Estado ter por destinatárias, não são consequência da sua mera capacidade de direito privado.
São, pelo contrário, consequência do conjunto de prerrogativas e especialidades de que o Estado as investe em ordem a
uma mais fácil prossecução da finalidades económico-sociais que norteiam nos nossos dias a sua actividade», p. 13,
Op.Cit.
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o Estado passou a intervir na economia, deixando de ser o Estado neutro típico do liberalismo.
JOHN KEYNES, em 1936, escreveu a obra Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda, considerando que
a intervenção do Estado na economia era a única forma de evitar crises económicas.
O fenómeno que fez aparecer o Direito Económico foi a mudança para um Estado intervencionista
(do liberalismo para o capitalismo), o fim da era liberal em que a relação do Estado com a Economia
se alterou.
Alemanha:
Para reformar o capitalismo foi necessária uma intervenção política do Estado, a qual não
poderia ser realizada sem recurso ao Direito.
França:
A França, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, surge como outro pólo de
desenvolvimento do Direito Económico, sendo este considerado como direito da intervenção
económica do Estado.
Foi a partir da Alemanha e da França que o Direito Económico ganhou força e expressão, tendo-se
alastrado por outros países da Europa e pelo mundo fora.
Inglaterra:
Nos países anglo saxónicos, com sistemas baseados na common law, não se verificou
semelhante desenvolvimento de uma disciplina jurídica autónoma de direito económico,
continuando esta área a ser enquadrada em disciplinas tradicionais : public corporations, antitrust
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law, mercantile law, regulatory agencies, porém com tendência a alterar-se, devido à influencia do
Direito Económico Comunitário.
EUA:
Portugal:
A 25 de Abril de 1974 dá-se o Golpe de Estado militar que representou uma ruptura com o
Estado Novo, verificando-se uma forte intervenção do Estado na economia tendente à instituição
de um novo sistema económico, compatível com a nova política do Estado.
18
Cfr. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS et all., Op. Cit., pp. 44-90.
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A aplicação intensiva das normas do Direito Económico ganha forma a partir de 1987, altura
em que se desenham os primeiros sinais de implementação de uma economia de mercado.
Entretanto em 1990, com a aprovação da nova Constituição da República, no Capítulo IV –
Organização Económica e Social, são claros os desígnios do Estado Moçambicano no que se refere à
actividade económica e as novas relações que se passaram a estabelecer entre os agentes
económicos e os poderes estaduais.
4. NATUREZA E OBJECTO
Natureza: O Direito Económico afirma-se fundamentalmente como o Direito Público que tem
por objectivo o estudo das relações entre os entes públicos e os sujeitos privados na perspectiva da
intervenção do Estado na vida económica.
Objecto: O Direito Económico tem por objecto as regras jurídicas que disciplinam a intervenção
do Estado na economia.
O Direito Económico pode ser apresentado como um sistema de normas ou como a disciplina
jurídica que estuda as normas reguadoras de: (i) organização da economia – definindo o sistema e o
regime económico; (ii) a condução superior da economia pelo Estado; e (iii) disciplina dos centros
de decisão económica não estaduais.
O certo é que,
Os meios jurídicos ao dispor das entidades públicas, privadas e mistas que a intervenção
económica do Estado tem por destinatárias, não são consequência da sua mera capacidade de
Direito Privado. São, pelo contrário, consequência do conjunto de prerrogativas e especialidades de
que o estado as investe em ordem a uma mais fácil prossecução das finalidades económico-sociais
que norteiam nos nosso dias a sua actividade.
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O cerne do Direito Económico são normas jurídicas de Direito Público. É esta a orientação
que melhor isola o seu conteúdo específico.
O Direito Económico surge-nos não como o direito geral da actividade económica, mas como
o direito especial da intervenção Estadual.
19
Cfr. DE MONCADA, Luís S. Cabral, Op.Cit., p.17ss.
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A vontade política dos órgãos do Poder é, deste modo, uma componente essencial e
evidente do Direito Económico, porque a vontade política do legislador é essencial.
g) Carácter concreto das normas: o Direito Económico é mais concreto do que os outros
ramos de direito, pois cria normas para regular certas situações em determinadas áreas,
num determinado momento, com o fim de realizar o interesse económico geral.
O direito económico disciplina os fenómenos socioeconómicos concretos, vinculado aos
factos históricos relevantes ao Estado e aos indivíduos.
h) É um direito quadro: enquadra a actividade económica, através de normas que ao serem
cumpridas, se realizam, deixando depois um espaço jurídico para outros ramos de direito.
i) Exige uma interdisciplinaridade interna e externa: necessidade de grande conhecimento
dos outros ramos de direito e de outros conhecimentos que de Direito.
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Porque tem…
a) Objecto próprio
20
Cfr. WATY, Op. Cit., pp.62-66.
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É o único ramo de direito que disciplina a actividade económica no seu conjunto. (estuda o
enquadramento jurídico do circuito económico, os sujeitos do processo económico e os aspectos
de produção e distribuição).
b) Função própria
c) Fim próprio
d) Conteúdo próprio
O Direito Económico possui características específicas que não permitiram a absorção das suas
normas por ramos de direito já existentes. Ele tem vindo a construir-se da reavaliação de certos
núcleos temáticos oriundos de outros ramos de direito (relação entre a economia e a Constituição,
intervenção económica do Estado, bens produtivos, etc.) e da consideração de novas realidades
para as quais os ramos existentes se mostram insuficientes ou inadequados (empresa,
concorrência, concertação social, etc.).
A proliferação de estudos de cariz económico, e mais que isso, a inserção nos programas
curriculares das Faculdades de Direito e de Economia, de uma cadeira de Direito Económico, parece
dizer-nos claramente que há uma necessidade pedagógica, funcional, operatória de estudo de
diversos temas não focados, ou tratados nas disciplinas curriculares tradicionais.
Resumindo:
- Sim, porque…
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- A actividade económica no seu conjunto, naqueles aspectos que seja necessário a criação de
normas jurídicas, para garantir o bom funcionamento dessas áreas
Qual o fim ?
Nos termos do nº 1, do artigo 1º do Código Civil, a Lei e as normas corporativas são fontes
imediatas e primárias de formação e criação de normas jurídicas. São normas corporativas as
regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais no domínio das suas atribuições, bem como os respectivos Estatutos e
Regulamentos Internos.
É verdade, no entanto, que grande parte do Direito Económico, assenta em normas com origem
nas autoridades públicas, mas também é verdade que não se esgota nelas. Há normas
desenvolvidas cada vez mais de forma negociada entre poderes públicos e privados – um direito de
21
Cfr. WATY, Op. Cit., pp.67-85.
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A ordem jus-económica é assim eminentemente plural, sendo diversificado o elenco das suas
fontes. Ao lado das tradicionais fontes formais de direito, é necessário considerar outras (“por
vezes designadas fontes materiais”), quer de natureza mista, quer de natureza privada.
Quanto à sua classificação, as fontes podem ser ordenadas em: a) Fontes Internas; b) Fontes
Internacionais e c) Fontes de Origem Mista ou Privada (Novas Fontes do Direito Económico).
a) Fontes Internas
A primeira fonte do direito é, por excelência, a Constituição da República pois é ela que
contém um conjunto de preceitos basilares que se referem directamengte à economia e
que constitui a essência da Constituição Económica.
As Leis Ordinárias da Assembleia da República, os Decretos-Leis (do Conselho de Ministros),
as Resoluções da Assembleia da República com relevância económica.
Os Regulamentos do Governo, sob a forma de Decretos, Resoluções, Diplomas Ministeriais e
Despachos Normativos que, directa ou indirectamente, regem determinados aspectos da
ordem económica são fontes imdeiatas do direito económico.
Outros regulamentos de Municípios e outras instituições públicas (por exemplo, Avisos do
Banco de Moçambique que são obrigatórios para o sistema financeiro) no âmbito da
actividade económica.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Explicando:
Todavia, existem muitos outros preceitos que contêm normas que não regulam directamente a
actividade económica, mas cujo conteúdo tem uma aplicação indirecta ou mediata no que diz
respeito à conformação da actuação dos vários agentes económicos no ordenamento jurídico
moçambicano, como acontece, por exemplo, quanto ao reconhecimento e garantia do “Direito de
Propriedade Privada” e sua protecção (artigos 82 e 83 da CRM), do “Princípio da Igualdade” (artigos
35 e 36 da CRM), “Liberdade de Associação” (artigo 52 da CRM), e ainda a “Garantia dos Direitos e
Liberdades Fundamentais” (artigos 56 a 72 da CRM)22.
2) Actos normativos
22
Sobre a Constituição económica veja-se também WATY, Op. Cit., pp.87-129.
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A Lei da Assembleia da República é uma das mais importantes fontes do Direito em geral, e do
Direito Económico em especial, pois, em última instância, ela representa a vontade do povo
manifestada através deste órgão.
De acordo com o nº 1 do artigo 169 da CRM, “ a Assembleia da República é o mais alto órgão
legislativo na República de Moçambique”, daí que grande parte das normas jurídicas que regulam a
ordenação da actividade económica resultem da aplicação das leis emanadas da Assembleia da
República.
É assim que, em matéria económica a Assembleia da República tem competência para: legislar
sobre as questões básicas da política interna e externa do país (nº 1 do artigo 179 da CRM),
deliberar sobre as grandes opções do Plano Económico e Social e do Orçamento do Estado e os
respectivos relatórios de execução (alínea l) do nº 2 do artigo 179 da CRM).
Através destas disposições observa-se que irá caber à Lei da Assembleia da República, dotada
de um elevado grau de generalidade e abstracção, estabelecer o regime jurídico básico, isto é,
definir os aspectos essenciais do enquadramento jurídico da actividade económica, cabendo por
sua vez a outros actos normativos (como por exemplo, o Decreto do Conselho de Ministros, Aviso
do Banco de Moçambique, etc), proceder à sua regulamentação, isto é, definir os aspectos
específicos necessários à sua execução.
Além das Leis da Assembleia da República, são actos normativos os Decretos e as Resoluções do
Conselho de Ministros (artigos 143 e 210 da CRM de 2004 e artigo 157 da CRM de 1990).
23
Cfr. WATY, Op. Cit., pp. 74-76.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
Curso de Licenciatura em Direito
Em matéria económica o Conselho de Ministros tem competência para emitir normas que
visem: promover o desenvolvimento económico (artigo 203, nº 1 da CRM), preparar o Plano
Económico e Social (alínea e) do nº 1 do artigo 204 da CRM), promover e regulamentar a actividade
económica e dos sectores sociais (alínea f) do nº 1 do artigo 204 da CRM), estimular e apoiar o
exercício da actividade empresarial e da iniciativa privada e proteger os interesses do consumidor e
do público em geral (alínea e) do nº 2 do artigo 204 da CRM), promover o desenvolvimento
cooperativo e apoiar à produção familiar (alínea e) do nº 2 do artigo 204 da CRM).
Os Decretos Presidenciais são fonte de Direito Económico, por exemplo, quando definam
competências económicas a agentes da Administração ou atribuição de Ministérios25.
b) Fontes Internacionais
As fontes internacionais do Direito Económico dizem respeito aos factos normativos com
origem na ordem jurídica internacional, de cariz universal, continental ou regional (como por
exemplo, os casos do FMI, Banco Mundial, SADC, etc), que têm vigência no ordenamento jurídico
interno, encontrando-se nessa situação todas as convenções com incidência económica às quais
Moçambique se vincule26.
24
Ibidem, p. 77.
25
Ibidem, pp. 77-78.
26
Cfr. Ibidem, p. 78.
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1) Fontes de natureza Mista: têm a ver com as decisões, acordos ou pareceres emanados dos
organismos de concertação económica e social. Refira-se ainda a importância dos contratos-
programa e de outras formas de contratação económica entre entes públicos e privados
(por exemplo, ver o Decreto nº 7/94, de 9 de Maco – Comissão Consultiva do Trabalho).
2) Fontes de natureza Privada: têm a ver com a regulamentação das actividades económicas
pelas Associações Profissionais, nomeadamente através de decisões internas ou de Códigos
de Conduta, os usos da actividade económica de carácter interno ou internacional,
designadamente as práticas negociais que se traduzem em contratos-tipo ou contratos de
adesão, sucessivamente reutilizados em determinados ramos de actividade económica
(como nos seguros ou nos sectores da energia e das telecomunicações), as decisões
vinculativas dos grupos da sociedade, etc.
Podemos encontrar um poder regulamentar exercido por organismos económicos privados,
quando consentido por lei ou outro diploma regulamentar, sendo ou não homologado por
organismo público.
27
Cfr. Ibidem, pp. 78-81.
28
Cfr. Ibidem, pp. 81-82.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Isto sem esquecer a crescente importância para a actividade económica interna e internacional,
dos Tribunais Arbitrais.
As fontes normativas no Direito Moçambicano podem ser ordenadas de acordo com a seguinte
hierarquia:
29
Cfr. Ibidem, pp. 83-85.
30
Cfr. Ibidem, p. 85.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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31 Os tratados normativos têm um valor hierárquico inferior à Constituição e superior às Leis e Decretos-Leis.
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O liberalismo é uma “teoria económica” e uma “teoria política” que tem propiciado a
compreensão do Estado liberal enquanto “Estado mínimo”, “Estado limitado”, “Estado polícia” ou
“Estado guarda-nocturno”, em suma, um “Estado mínimo” que se restringe “às funções de
protecção contra a violência, roubo e fraude, bem como às funções que permitam o cumprimento
de contratos.
O Estado Liberal tinha que garantir o direito à propriedade privada e assegurar as liberdades
para que todos pudessem desenvolver as actividades económicas, caracterizado-se pela liberdade
individual, defesa da propriedade privada, liberdade económica e livre concorrência.
de iniciativa
32
O capítulo sobre a ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA em Menezes Cordeiro é parte das explicitações sobre a
interdependência destes factores. Pp. 209-290.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Liberdade de empresa
de trabalho
de consumo
As teorias económicas do Estado Liberal partiam do pressuposto que a nova ordem económica
deveria assentar no princípio da liberdade. Assim, para os economistas (Adam Smith, Jean-Baptiste
Say, etc.) o indivíduo era soberano e livre, deveria ter liberdade de iniciativa – poder utilizar e
aplicar livremente os seus meios de produção na actividade económica. As empresas deveriam ter
liberdade de concorrência – mas como seria assegurado o equilíbrio da actividade económica? A
resposta encontrava-se no mercado. Os mecanismos do mercado (leis da oferta e da procura) eram
auto-reguladores, determinavam o que produzir e em que quantidades, as remunerações dos
factores produtivos, etc. Adam Smith afirmava que: “uma mão invisível regularia a ordem natural
das coisas e permitiria conciliar o interesse individual e geral”.
A intervenção do Estado na esfera económica era considerada inútil, ou até mesmo prejudicial
para o seu funcionamento. Deveria limitar-se a promover o consenso a nível da sociedade, de
forma a garantir o desenvolvimento harmonioso da economia. Poderia também regulamentar
juridicamente a actividade económica no sentido de fazer respeitar a livre concorrência, garantir a
estabilidade monetária e orçamental, etc. – esta concepção de Estado costuma designar-se por
Estado Liberal33.
33
Esta é uma ideia que também se alcança do pensamento do Professor TEODORO ANDRADE WATY, na sua obra já
aqui referenciada.
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A seguir à 2ª Guerra Mundial, numa fase de expansão capitalista caracterizada por um modelo
de regulação político-social com o modelo de regulação económico o Estado-providência, o
“intervencionismo”, o “Estado social” ou o “Estado dos serviços” começa a impor-se.
O papel jurídico do Estado alargou-se a todas as esferas de actividade, com destaque para a
economia e a sua actividade assumiu finalidades próprias, distintas das dos indivíduos.
Os traços essenciais do Estado Social são: o esbatimento da distinção entre o direito público e o
direito privado e a funcionalização crescente da autonomia privada à vontade dos poderes públicos
bem como o papel positivo da norma jurídica na conformação da vida económica e social34.
O Estado não poderia continuar a ser inútil mas sim passar a intervir em áreas específicas da
economia, tais como o investimento, o emprego, o consumo – Estado Intervencionista. Keynes
propunha uma intervenção directa do Estado para combater a crise.
- garantir uma maior justiça social através de uma distribuição mais equilibrada dos
rendimentos;
Em termos Económicos:
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Para realizar com eficácia esta função o Estado deverá fixar as metas a atingir e escolher os
meios que poderá utilizar para atingir esses objectivos. O Estado para isso dispõe de instrumentos
de intervenção na actividade económica como a regulamentação jurídica da actividade económica,
a elaboração de planos reguladores da economia, a produção de bens e serviços para satisfazer
necessidades colectivas ou para serem comercializados (empresas públicas)35.
35
Cfr. CORDEIRO, António Menezes, Op.Cit., sobretudo as pp. 399-419.
36
Cfr. DE MONCADA, Luís S. Cabral, Op.Cit., pp.20-23.
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Os Princípios: são normas ou comandos gerais dotados de alto grau de abstracção, com amplo
campo de incidência e abrangência, que orientam a produção do ordenamento jurídico, que
ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e
reais existentes. Os princípios admitem maior flexibilização às situações sociais. Por outro lado, As
Regras: são normas ou comandos que devem ser cumpridos. Se uma regra é válida, então deve-se
fazer exactamente o que ela exige, sem mais nem menos. Por isso, as regras contêm determinações
(definitivas) no âmbito do fáctico e juridicamente possível.
A distinção reside na própria estrutura dos comandos normativos e não somente na sua extensão
ou generalidade das proposições de dever-ser.
a) Princípio da Economicidade
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b) Princípio da Eficiência
O Estado pode por ele próprio exercer uma actividade económica, adoptar uma postura normativa,
ou estimular, favorecer ou planear sempre com o objectivo de, como a empresa, fazer um
aproveitamento racional dos meios humanos e materiais de que dispõe, servindo-se dos seguintes
instrumentos: preço, custo das oportunidades, gravitação de recursos para uso mais vantajoso, isto
é, através da maximização da diferença entre os custos e as vantagens. A principal ideia é
maximizar o ganho e minimizar o custo.
c) Princípio da Generalidade
Confere às normas de Direito Económico alto grau de generalidade e abstracção ampliando seu
campo de incidência ao máximo possível, a fim de possibilitar sua aplicação em relação à grande
multiplicidade de organismos económicos, à diversidade de regimes jurídicos de intervenção
estatal, bem como às constantes e dinâmicas mudanças que ocorrem no mercado.
a) Regra do Equilíbrio
Significa que em qualquer relação de Direito Económico há um ponto de equilíbrio que traduz a
mais justa ponderação dos interesses individuais e sociais, considerada a ideologia adoptada
constitucionalmente.
b) Regra de Equivalência
A equivalência tem sentido de valor (não do preço) político-económico e deve ser entendida no
sentido de que quando uma medida tem repercussões superiores às normas, o pagamento da
obrigação deve ser em ordem a corresponder ao valor do momento do cumprimento do
compromisso.
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c) Regra da Recompensa
Esta regra é baseada na autonomia da vontade, e entende-se que o particular não pode ser
responsabilizado pelas consequências de actos de autoridade que modifiquem a prática então em
vigor e que não são cumpridos não por falta de vontade, capacidade, honorabilidade nem de
eficiência.
Baseada na força jurígena de facto, esta regra estabelece que a regulamentação dos actos e factos
económicos deve obedecer à realidade económica.
Esta regra pressupõe que o interesse social (interesse acima do privado ou particular) deve ser o
fundamento da justiça distributiva.
g) Regra da Correcção
Esta regra estabelece que quando o poder aquisitivo da moeda varia, as autoridades devem
assegurar medidas defensivas e protectoras dos interesses dos particulares.
Esta regra pressupõe que o contrato de concessão de serviços públicos (por empresa privada) deve
assegurar os objectivos e tarefas compatíveis com a política em vigor.
i) Regra da Oportunidade
Por esta regra entende-se que na análise do comportamento de um sujeito de Direito Económico
há que ter em consideração o sentido de oportunidade. Significa isto que a legitimidade do
comportamento de um indivíduo não pode afastar-se da análise da oportunidade.
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j) Regra da Razão
Esta regra tem em vista reprimir o abuso do poder económico e dela deve entender-se que para a
defesa da concorrência pode ser admitida interpretação “restritiva” de dispositivo legal com o
objectivo de fornecer benefício real ao mercado.
k) Regra da Irresponsabilidade
Esta regra deve entender-se como significando que os projectos e as decisões de política
económica são considerados com os seus efeitos irreversíveis. São disso exemplo, uma alienação
pouco ponderada, um plano mal elaborado.
l) Regra da Precaução
Por esta regra, enfim, entende-se que os particulares devem dispor de meios jurídicos para evitar
medidas de política económica contrárias ao interesse geral e sem garantias efectivas de
probabilidade reduzida de prejuízos económicos e sociais.
a) Instituto da Intervenção
Quando se refere à intervenção pelo Estado no domínio económico, esta se pode dar de duas
maneiras:
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. através da prática concreta de actos económicos pelo Estado, seja de forma directa, seja
indirectamente, por meio de empresas criadas para tanto, como Empresas Estatais, Públicas e
Mistas.
O Estado actua no domínio económico como agente económico na produção de bens e serviços, e
através de seus próprios poderes, com a elaboração (Legislativo), execução (Executivo) e aplicação
(Judiciário) de disposições legais destinadas à regulação económico-social.
Importa ainda ressaltar que a intervenção do Estado na economia concretiza-se também através de
estímulos, por meio de incentivos fiscais e creditícios, bem como permissões legais para tais
práticas.
Por exemplo, o artigo 101 da CRM (Coordenação da actividade económica), estabelece que “O
Estado promove, coordena e fiscaliza a actividade económica agindo directa ou indirectamente
para a solução dos problemas fundamentais do povo e para a redução das desigualdades sociais e
regionais” (nº 1) e “O investimento do Estado deve desempenhar um papel impulsionador na
promoção do desenvolvimento equilibrado” (nº 2).
b) Instituto do Planeamento
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c) Instituto da Produção
Estes elementos são disciplinados pela Constituição da República de Moçambique de 2004 e pela
legislação infraconstitucional relacionada aos Recursos Naturais, por exemplo, o Solo, Subsolo, os
Recursos Hídricos, Florestas, Fauna e Flora, Fontes Energéticas, etc. (Ver, alínea e) do artigo 97 –
Princípios fundamentais, artigo 98 – Propriedade do Estado e domínio público, artigo 102 –
Recursos naturais e artigo 109 - Terra, todos da Constituição).
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d) Instituto da Circulação
. moeda;
. crédito;
. preços.
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A concorrência que exprime a prática permitida na economia de mercado regulada pelo Direito,
passa a ser tomada como um conjunto harmónico relacionado entre si. Surge, desta forma e
paralelamente, o elemento político-económico inserido no processo de competitividade de
mercado, sob as regras de equilíbrio, da razão, da equivalência etc., sendo o Direito Económico o
ramo do Direito detentor da normatização jurídica para disciplinar as questões oriundas deste novo
instrumento de mercado.
e) Instituto da Repartição
f) Instituto do Consumo
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Pode ainda definir-se Constituição Económica como o conjunto de princípios fundamentais que
determinam as relações entre o poder político e a economia ou, mais amplamente, o conjunto de
princípios que regulam a relação entre a economia, o Estado e os cidadãos.
37
Esta matéria encontra-se amplamente discutida no manual do Prof. TEODORO A. WATY, já referenciado supra, entre
as páginas 87 e 129. É assim que todo o conteúdo que se segue se baseia nesta referência.
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Quanto ao seu objecto, a Constituição Económica visa a regulação dos aspectos jurídicos do
sistema e do regime económico. Poder-se-á dizer que o seu 1º objecto é a ordenação dos
elementos jurídicos do sistema económico e das instituições fundamentais, variáveis de sistema
para sistema, como bases da ordem jurídica da economia.
A Constituição Económica é menos ampla que a ordem jurídica da economia, isto porque não
inclui todas as suas normas e princípios, mas apenas as normas e princípios básicos, deixando
uma margem variável de liberdade ao legislador ordinário para fazer variar ou evoluir a ordem
jurídica da economia. Ou seja, O legislador constituinte não pretende incluir na Constituição todas
as normas e princípios de cariz económico. Há uma margem variável de liberdade que a
Constituição deixa ao legislador ordinário, no uso da qual este poderá fazer evoluir e variar a ordem
jurídica da economia. Esta margem de liberdade varia de acordo com o tipo de Constituição
Económica existente.
Assim, por exemplo, a Constituição incumbe o Estado de assegurar uma equilibrada concorrência
entre as empresas, mas é a Lei que define os tipos de práticas restritivas da concorrência que não
são permitidas ou de concentrações que devem ser controladas. A Constituição atribui direitos aos
consumidores, mas é ao legislador ordinário que compete estabelecer as garantias desses direitos.
Outros exemplos:
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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b) Delimitação dos poderes do Estado, das entidades menores e dos grupos sociais no domínio
económico.
d) Definição dos elementos jurídicos do sistema económico e do regime económico, bem como dos
princípios gerais da ordem jurídica económica.
e) Formulação de tarefas económicas gerais do Estado e de critérios jurídicos para selecção dos
objectivos da política económica.
38
Idem.
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Uma relativa ausência de normas económicas nas Constituições Liberais do Século XIX não significa
a inexistência de uma Constituição Económica, primeiro, porque mesmo nessas Constituições
encontramos normas de incidência, directa ou indirecta, na ordem económica (por exemplo, a
consagração do direito de propriedade e da liberdade de comércio e indústria), segundo, porque a
relativa ignorância de outros aspectos da vida económica tem um significado jurídico e económico,
reflectindo no modelo onde o Estado se demite, em geral, uma intervenção correctiva na
economia, aceitando e garantindo, como princípio da regulação económica, a propriedade privada,
a livre concorrência e a liberdade contratual.
A origem e formação do conceito de Constituição Económica tem a sua mais directa raiz
embrionária e seu desenvolvimento na doutrina Alemã quando após a 1ª Guerra Mundial com a
Constituição de Weimar de 1919, inaugura no seio literal-formal a consagração de normas e
princípios sobre matérias económicas e sociais, rompendo com a tradição das Constituições
Políticas e espelhando o declínio ou abandono da Ideia de Estado Liberal puro, abstencionista
quanto à «coisa económica», para albergar – ainda em salvaguarda do princípio da liberdade do
comércio e da indústria – a legitimação dos poderes do Estado para intervir na Economia.
A ideia de Constituição Económica tem uma origem Alemã, confundindo-se praticamente com a
origem do Direito Económico, e ecoa a prepocupação demonstrada pela Constituição de Weimar
perante as questões económicas e sociais.
39
Idem. Veja-se também....
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
Curso de Licenciatura em Direito
Para além disso, refira-se ainda à Constituição Russa de 1918 que contém proposições jurídicas e
princípios sobre matérias económicas e sociais de concepção socialista-comunista, inexistindo, à
partida e por intrínseca inerência estrutural, a separação entre Estado e a coisa económica.
40
Na CRM este direito foi também acautelado, conforme disposto no Artigo 90.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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41
Cfr. WATY, Op. Cit. P. 92ss.
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Temos assim o modelo institucional (instituições civis – propriedade, iniciatia económica, mercado,
contratos; e instituições personificadas – o Estado, órgãos, empresas, sindicatos, isto é, instituições
–grupo e instituições –pessoas), como o modo de organização jurídico-política das estruturas
institucionais de enquadramento duma determinada economia num momento.
Existem quatro modelos institucionais: (i) modelo liberal, (ii) modelo socialista liberal e
democrático, (iii) modelo fechado de autosuficiência e o (iv) modelo colectivista.
Pode-se falar de sistemas abstractos e sistemas concretos, consoante a concepção dos respectivos
princípios, como modelos de diferentes realidades sociais.
Os sistemas distinguem-se uns dos outros pela afirmação de determinadas forças produtivas e
determinadas formas de organização material da produção (base económica).
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Sistema feudal
Sistema capitalista
Sistema socialista
Sistemas económicos
Abstractos
Breves definições:
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O sistema económico é inerente a cada época histórica e constitui um referencial organizador das
relações sociais; na prática surge o regime económico que resulta das condições concretas de
aplicação do sistema à infra-estrutura social existente; nesta perspectiva o Direito Económico surge
da necessidade de intervenção do Estado sobre o processo produtivo e desenvolve-se de modo
diverso, de acordo com os Estados e com os sistemas que se inspiram.
a) Constituição Social - normas e princípios sobre a ordenação social, relações entre pessoas e
grupos;
b) Constituição Cultural – normas e princípios sobre a actividade cultural das pessoas, grupos e
colectividades;
42
Veja-se também WATY, Op. Cit. P. 94ss.
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b) Constituição em Sentido material - Núcleo essencial de normas jurídicas que regem o sistema e
os princípios básicos das instituições económicas, quer constem ou não do texto constitucional.
É o conceito de Constituição Económica em sentido material que nos interessa, porque permite a
integração de um conjunto de leis, que são fundamentais na definição da ordem jus-económica,
tais como as leis da concorrência ou as leis que regulam a actividade específica de determinados
sectores da economia.
b) Constituições Implícitas - uma ordem jurídica da economia incorpora sempre uma "constituição
económica", de cujos princípios essenciais decorre, ou com os quais deverá ser minimamente
coerente. A maior parte das Constitituições Liberais é implícita.
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A Constituição Económica, definida a partir da sua função, é pois formada pelo ordenamento
essencial da actividade económica – contendo os princípios e as normas ordenadoras da
economia, dos quais decorrem sistematicamente as restantes normas da ordem jurídica da
economia. Ela é pois, uma parte da ordem jurídica da economia e a parte estruturadora e básica
dela.
Contudo, a Constituição Económica não se identifica com a ordem jurídica da economia na sua
totalidade. A ordem jurídica da economia é contituída pelo conjunto do Direito Económico,
enquanto tomado como conjunto de normas ou a disciplina das relações jurídico-económicas;
enquanto que a Constituição Económica apenas integra as normas qualificadas como essenciais
(formal ou materialmente).
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
Curso de Licenciatura em Direito
No dia 07 de Setembro de 1974, são assinados os Acordos de Lusaka, na Zâmbia, entre o Estado de
Portugal e a FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique, para a descolonização de
Moçambique, e no dia 20 de Setembro de 1974 toma posse o “Governo de Transição”.
Desde logo, a alínea e) do ponto 5 dos Acordos de Lusaka outorgava ao Governo de Transição a
competência de gestão económica do território, o que efectuaria, nomeadamente, estabelecendo
as estruturas e os mecanismos de controlo em ordem ao alcance de uma economia moçambicana
independente e desenvolvida.
Para Teodoro Waty, em relação ao Período de Transição podemos, com toda a propriedade, falar
de uma Pré-Constituição Económica, que seria integrada por um conjunto de medidas jus-
económicas que abriu caminho e bem influenciou aquilo que viria a ser o futuro texto
constitucional de 1975, caracterizada por:
43
Cfr. WATY, Op. Cit., pp. 103-129.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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5. Protecção do trabalho;
6. Repressão de delitos anti-económicos (o boato, a sabotagem, através por exemplo da Lei “20-
24”). 44
a) Organização política
44
Designou-se 20-24 a operação promovida pelo Ministério da Coordenação Interna pela qual os cidadãos, normalmente
de origem Portuguesa, considerados sabotadores, boateiros ou, de alguma forma, contrários ao processo revolucionário
em curso eram considerados personae non gratae e, co o tal, expulsos de Moçambique, num prazo de 24 horas e com
uma bagagem máxima de 20 quilogramas. (Op. Cit. Pp.105-119).
45
Cfr. Ibidem.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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O sistema político era caracterizado pela existência de um partido único - a FRELIMO (Frente da
Libertação de Moçambique) que assumia o papel de dirigente. Eram abundantes as fórmulas
ideológicas - proclamatórias e de apelo das massas, limitação acentuada das liberdades públicas em
moldes autoritários, recusa de separação de poderes a nível da organização política e o primado
formal da Assembleia Popular Nacional.
Muito embora a Constituição de 1975 incluísse um capítulo sobre direitos dos cidadãos, era dada
ênfase aos direitos colectivos e não aos individuais.
“A República Popular de Moçambique é orientada pela política definida pela FRELIMO, que é a força
dirigente do Estado e da sociedade. A FRELIMO traça a orientação política básica do Estado e dirige
e supervisa a acção dos órgãos estatais a fim de assegurar a conformidade da política do Estado
com os interesses do povo”.
b) Organização económica
A ordem económica moçambicana tal como deriva da CRPM de 1975 adopta o modelo económico
Socialista, na medida em que assenta na propriedade pública e colectivização dos meios de
produção, e uma economia marcadamente intervencionista, onde o Estado procurava evitar a
acumulação do poderio económico e garantir uma melhor redistribuição da riqueza.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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- artigo 13 – “À propriedade privada estão ligadas obrigações. A propriedade privada não pode ser
usada em detrimento dos interesses fixados na Constituição”.
3) Apropriação Estatal dos principais meios de produção, a terra e os recursos naturais – (artigo 8
da CRPM de 1975 – “A terra e os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas águas
territoriais e na plataforma continental de Moçambique são propriedade do Estado”).
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Os financiamentos da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e dos paíse da Europa do
Leste estavam a diminuir;
Face a uma crise de fome e pobreza generalizados, agudizada pela guerra civil que assolava o país,
em 1987 o Governo declarou a situação de emergência e pediu assistência à comunidade
internacional e lançou o PRES.
A Constituição da República de Moçambique de 1990 marcou uma ruptura radical com o passado,
consagrando a transição de uma economia centralizada e Socialista para a economia de mercado,
de um sistema monopartidário para a democracia multipartidária, e colocando o cidadão como
figura central relativamente ao Estado.
Resumidamente, podemos citar alguns aspectos mais marcantes da Constituição de 1990, como
sejam:
46
Cfr. WATY, Op. Cit. Pp.119-121.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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5) Várias mudanças ocorreram nos órgãos do Estado, passam a estar melhor definidas as funções e
competências de cada órgão, a forma como são eleitos ou nomeados;
No texto constitucional de 1990, o artigo 41, no seu nº 1, estabelece que “a ordem económica da
República de Moçambique assenta na valorização do trabalho, nas forças de mercado, na iniciativa
dos agentes económicos, na participação de todos os tipos de propriedade e na acção do Estado
como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento económico e social, visando a
satisfacção das necessidades básicas da população e a promoção do bem-estar social”.
O mesmo artigo 41 refere, no seu nº 2, que a economia nacional compreende os seguintes tipos de
propriedade que se complementam: Propriedade Estatal, Propriedade Cooperativa, Propriedade
Mista e Propriedade Privada.
O artigo 42, por sua vez, proclama o papel fundamental do sector familiar.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Das disposições deste Título IV pode ler-se a consagração constitucional duma democracia
económica e social, a subordinação do poder económico ao poder político e coexistência de
47
Descrição feita em WATY, Op. Cit., pp.121-129.
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DIREITO ECONÓMICO - 2º Ano, 2016
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Nos termos do artigo 97, a satisfação das necessidades essenciais da população e a promoção do
bem-estar social assentam na:
1. Valorização do trabalho;
2. As forças do mercado;
5. Na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de produção, de acordo com o interesse
colectivo;
a) A zona marítima;
b) O espaço aéreo;
c) O património arqueológico;
e) O potencial hidráulico;
f) O potencial energético;
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h) As jazidas minerais;
i) Os demais bens como tal classificados por lei que igualmente regula o regime jurídico dos bens do
domínio público.
O artigo 108 - o Estado garante o investimento estrangeiro que opera no quadro da política
económica e estabelece as suas restrições no que respeita aos sectores económicos reservados à
propriedade ou exploração exclusiva do Estado.
O artigo 109 - mantém a terra como propriedade do Estado, acrescentando que a mesma não
pode ser vendida, ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada, nem penhorada.
Os direitos e deveres económicos têm a ver com o estatuto económico das pessoas, seja na
qualidade genérica de titulares de um direito a trabalhar, seja no papel de trabalhadores, de
consumidores, de empresários ou de proprietários.
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Nos termos do artigo 45 devem ser entendidos como deveres económicos, os seguintes deveres
para com a comunidade: a) servir a comunidade nacional; b) trabalhar na medida das suas
possibilidades e capacidades; c) pagar as contribuições e impostos; d) defender e conservar o
ambiente e e) defender e conservar o bem público e comunitário;
c) Direito de propriedade:
Nos termos do artigo 82, o Estado reconhece e garante o direito de propriedade, sendo a
expropriação apenas possível por causa de necessidade, utilidade ou interesse públicos, definidos
nos termos da lei, dando, potanto, lugar à justa indemnização que deve ser fixada pelo valor real do
bem expropriado com a expressão mais próxima, embora não exclusiva , no valor do mercado.
O direito de propriedade, que abrange os meios de produção com as especificidades próprias, não
é um direito absoluto porque tem restrições negativas ou positivas, compreende os direitos de
adquirir, de usar e fruir os bens de que se é proprietário, de transmitir inter vivos ou mortis causa
e o de não ser dela privado.
Nos termos do artigo 84, o trabalho constitui direito e dever de cada cidadão. Cada cidadão tem
direito à livre escolha da profissão sendo proibido o trabalho compulsivo, exceptuando-se o
trabalho realizado no quadro da legislação penal.
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f) O direito ao ambiente:
O artigo 90 consagra o direito ao ambiente que por ser um limite ao livre exercício da actividade
económica pode ter reflexos no acesso e organização duma actividade económica, na instalação e
nas condições de funcionamento, nas relações com terceiros, entre outros.
Nos termos do artigo 90, “todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o dever
de o defender, e o Estado e as autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do
ambiente adoptam políticas de defesa do ambiente e zelam pela utilização racional de todos os
recursos naturais”.
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Esta intervenção não se limita à ordenação abstracta de regras ou instituições jurídicas que
orientam, enquadram ou condicionam o desenvolver da actividade económica – Ordenação
económica, nem se traduz apenas nos comportamentos em que o próprio Estado (ou entidade
equiparada) desenvolve uma actividade económica própria, dispondo de bens raros susceptíveis de
aplicações alternativas para satisfazer necessidades (próprias do aparelho estadual ou da
sociedade) – Estado produtor, intervenção directa.
O conceito de intervenção define uma função clara e um conjunto coerente de normas jurídico-
económicas, que, no essencial, se caracterizam por operarem uma delimitação dos poderes do
Estado relativamente a comportamentos económicos dos sujeitos que em princípio seriam livres.
a) Intervenção Directa: quando é o próprio Estado que é o sujeito económico, assumindo o papel
de agente produtivo, criando empresas públicas ou actuando através delas, intervindo nos circuitos
de comercialização, agindo da mesma forma como agem os agentes económicos, e sujeitando-se às
regras e normas jurídico-económicas traçadas para serem de cumprimento geral.
49
Cfr. WATY, Op.Cit. p. 194ss.
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Contudo, importa referir que o Estado, por essência, não devia produzir bens e serviços
transaccionáveis porque tem uma função essencialmente executiva, legislativa e judicial e,
portanto, todos os seus órgãos estão dependentes destas funções estatais no serviço da
administração pública.
b) Intervenção Indirecta: quando o Estado não é ele próprio sujeito económico, mas limita-se a
condicionar, a partir de fora, a actividade económica privada, sem assumir o papel de sujeito
económico activo – trata-se da “regulação”.
O Fomento Económico pode consistir na concessão de crédito pelo Estado, de benefícios fiscais
como redução e isenção, bonificação de juros, bem como subsídios. Portanto, o fomento
económico pode compreender: isenções fiscais; redução de impostos, subsídios financeiros,
crédito, aval, isenção ou redução de direitos aduaneiros, facilidade de exportação e reexportação
de bens, etc.
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b) Dirigismo (ou direcção económica): existe quando o Estado formula objectivos globais e
pretende propô-los, ou até impô-los, aos sujeitos económicos. Dirige assim a sua actividade (em vez
de se limitar a corrigi-la), embora com respeito pelos princípios essenciais da liberdade económica e
pelo mercado como instrumento regulador.
O Plano é um documento adoptado pelo poder público, que analisa a evolução nacional, identifica
os problemas e define a orientação que seja pertinente.
Nos países de economia de mercado, o plano é um instrumento político meramente indicativo, pois
não determina a conduta dos agentes – a economia assenta sempre na liberdade de decisão desses
agentes económicos. Nos países de economia centralizada, o plano é um instrumento fundamental
da actividade económica e tem um carácter vinculativo quer ao sector público, quer privado.
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a) Absorção: existe quando o Estado assume integralmente o controlo dos meios de produção. O
Estado actua como agente económico em regime de monopólio ou exclusividade50.
b) Participação: existe quando o Estado assume o controlo de parcela dos meios de produção. O
Estado actua como agente económico em regime de competição com empresas privadas que
permaneçam a exercer as suas actividades nesse mesmo sector.
a) Intervenção Global: quando a intervenção se relaciona com a economia no seu conjunto. (ex: o
Estado adopta normas gerais de fixação de margens de comercialização ou de encorajamento do
investimento global).
c) Intervenção Pontual ou Avulsa: ocorre quando uma determinada empresa está em situação
económica difícil, carecendo de uma injecção financeira. Ela relaciona-se, portanto, com uma
empresa ou unidade económica determinada e consiste em o Estado adoptar medidas de
intervenção nessa empresa, celebrando contratos de viabilização ou contratos programa, e o
mesmo acontece quando se trata de um sector de actividade importante. (ex.: intervenção do
Estado através do Banco Central, num banco comercial)52.
50
Veja-se o caso da política das nacionalizações em Moçambique em WATY, Op. Cit. P. 203ss.
51
Cfr. WATY, Op. Cit. P.195ss.
52
Para este tipo de intervenção, em Moçambique daríamos o exemplo da intervenção do Estado através do Banco de
Moçambique no Banco Austral.
53
Cfr. WATY, Op. Cit. P. 196.
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b) Intervenção Mediata (ou indirecta): quando o Estado adopta medidas que não têm apenas fins
económicos, mas também sociais ou outros, apesar de se repercutirem na política económica.
Neste tipo de intervenção o Estado não intervém na economia mas sim sobre a economia. (ex.:
aumento ou diminuição de impostos sobre o rendimento das empresas ou sobre o trabalho;
abertura de linhas de crédito a favor da construção social; diminuição das taxas de juro, etc.).
Trata-se de uma intervenção baseada numa relação jurídica contratual com tendência para, em
conjunto, o Estado e agentes económicos realizarem uma acção concertada no campo económico.
(ex.: a oferta por parte do Estado de reduções fiscais às empresas em troca de um aumento de
investimento, o que é completamente diferente, em termos de efeitos esperados, da medida
unilateral de reduções fiscais).
54
Ibidem, p. 197ss.
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«Os objectivos que presidem a estas funções do Estado podem ser os mesmos: a redistribuição do
rendimento, por exemplo, tanto pode ser através da produção directa, pelo Estado, de bens ou
serviços a preços mais baixos do que os do mercado, como por meio de subsídios a outros
produtores ou aos consumidores ou pela fixação de preços máximos. Mas a natureza e o tipo de
instrumentos utilizados, assim como a posição do Estado perante a actividade económica em geral
serão distintas em qualquer das opções.
Quando o Estado produz ou distribui bens ou serviços, retira do mercado certas actividades,
reservando para si o seu exercício, ou concorre com agentes económicos privados ou cooperativos
na mesma actividade. Intervém, assim, por uma via directamente económica, ao passo que o Estado
regulador possibilita e condiciona positiva (incentivando) ou negativamente (proibindo a actividade
de terceiros), na qualidade de agente exterior ao mercado. Nesta função o Estado usa meios de
natureza político-legal, ou, em certas circunstâncias, meios contratuais»56.
À luz da doutrina liberal, os poderes públicos deveriam abster-se de actuar como agentes
económicos sob pena de falsearem as leis do mercado. Daí que as suas intervenções só fossem em
princípio admitidas quando justificadas pela existência de “falhas do mercado”, incapacidade do
55
Ibidem, p.200ss.
56
Ibidem, p. 200.
57
Cfr. Ibidem, p. 200ss.
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Nesta fase, duas foram as formas de organização e gestão das actividades do Estado como produtor
de bens: (a) a administração directa por departamentos da Administração Pública sem
personalidade própria; (b) a concessão dessas actividades a sociedades de estatuto privado.
A figura de serviço público económico não personalizado foi progressivamente cedendo lugar à
instituição de serviços dotados de personalidade jurídica. Embora esta tendência para a
personalização dos serviços públicos, que se desenvolveu sobretudo a partir da 1ª Guerra Mundial,
tenha abrangido tanto os serviços administrativos propriamente ditos como os serviços industriais
e comerciais, ela marcou em especial estes últimos por razões que se prendem com a maior
exigência de autonomia e flexibilidade que os caracteriza. Desenvolvem-se, na mesma época, as
empresas de economia mista.
A criação de serviços públicos de carácter industrial e comercial dentro da esfera do próprio Estado
veio também acompanhada da tendência para a submissão desses serviços a regras de Direito
Privado, sem que, todavia, isso prejudicasse a sua vinculação institucional ao sector público e a
sujeição ao Direito Público de aspectos do seu funcionamento como a tutela, estatuto pessoal,
entre outros.
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Verifica-se, assim, que tanto no caso da concessão como no do serviço público personalizado foram
aplicadas técnicas do Direito Privado para a prossecução de finalidades públicas.
A seguir à 2ª Guerra Mundial, particularmente nos países que haviam estado nela directamente
envolvidos, tiveram lugar processos de nacionalização de empresas privadas (que abrangem, em
certos casos, empresas concessionárias). As nacionalizações deram origem a uma nova figura
institucional – a empresa pública – a par dos serviços públicos personalizados. Estas
nacionalizações, que se explicam por um contexto político e ideológico específico, coincidiram com
o reforço de outros mecanismos de intervenção desses Estados na economia, como o plano e o
auxílio às empresas privadas.
De acordo com o artigo 4 da Constituição de 1975, a República Popular de Moçambique tinha como
um dos objectivos fundamentais “a edificação de uma economia independente e a promoção do
progresso cultural e social”.
O artigo 10 da mesma Constituição consagra ainda que “o sector Estatal deve ser o dominante da
economia do país”.
Na fase de transição para o socialismo, sistema abraçado por Moçambique , após a independência,
era de máxima importância o papel a desempenhar pelas empresas estatais.
Neste contexto, as empresas estatais assumiam uma função primordial na construção da base
material avançada para a edificação de uma nova sociedade e para o desenvolvimento económico
planificado e acelerado (artigo 9 da Constituição de 1975).
58
O exemplo de Moçambique é extraido em WATY, Op. Cit. Pp.203-235., como reflexo do disposto na constituição
económica de 1975.
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Pretendia-se com isso que a “empresa estatal” fosse um instrumento essencial através do qual o
Estado assumiria a função dirigente e impulsionadora da economia nacional. Esta constituía, por
excelência, a forma jurídico-institucional da actividade empresarial do Estado.
É assim que o período que se seguiu a 1975 seja caracterizado pelo importante peso económico,
político e social do sector empresarial do Estado. O mesmo era constituído, essencialmente, por
empresas directa ou indirectamente nacionalizadas após aquela data, ou empresas criadas ex novo
e, nalguns casos, por empresas que foram intervencionadas e mais tarde revertidas a favor do
Estado, que passaram a ser por ele geridas.
A criação de sectores públicos empresariais com peso significativo nas economias nacionais
encontra-se historicamente ligada à experiência das nacionalizações. Assim, em Moçambique a
figura de empresa estatal ganhou relevância política e económica com as nacionalizações. Não
obstante tal realidade, não se pode esquecer a relevância prática da figura da intervenção estatal
para o respectivo sector59.
59
Cfr. WATY, Op.cit., pp. 204-205.
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mudança foi fruto das desigualdades sociais geradas pelo exercício sem limites do direito de
exploração da propriedade privada e de outros factores históricos, jurídicos e sociais, tais como a
revolução industrial, a Constituição de Weimar, as duas Grandes Guerras, os movimentos sociais e
o surgimento das Constituições Económicas.
O novo perfil jurídico da propriedade é de um direito individual de livre fruição, mas condicionado
ao atendimento da função social. Com isso a exploração económica da propriedade passou a ser
fundada por objectivos e princípios específicos regrados pelo Direito e impositivos à ordem
económica e social.
Dentro desta realidade a estrutura social, estatal e económica adoptada pelo país demonstra a
importância do direito de propriedade e a necessidade de sua exploração ser direccionada e
baseada por princípios e objectivos jurídicos de bem-estar e desenvolvimento social.
A Constituição moçambicana de 2004 no seu artigo 82 nº 1 reconhece e garante o direito de
propriedade.
Ora, o direito de propriedade não é um direito absoluto podendo ser objecto de limitações ou
restrições, as quais se relacionam desde logo, com os princípios de Direito (ex: a função social da
propriedade), com razões de utilidade pública ou com a necessidade de conferir eficácia a outros
princípios ou normas Constitucionais, incluindo os direitos económicos ou sociais e as disposições
da organização económica.
Restrições ao direito de propriedade:
a) Na aquisição ou acesso – há bens insusceptíveis de apropriação privada – é o caso dos bens de
domínio público (artigo 98 da Constituição). No entanto, note-se que alguns desses bens poderão,
por vezes, ser explorados por entidades privadas ou cooperativas em regime de concessão. Trata-
se, portanto, de uma reserva de propriedade pública mas não uma reserva de actividade
económica pública.
b) No uso e fruição – para além do dever geral de uso relativo aos meios de produção (a
propriedade de meios de produção implica o seu uso), devem considerar-se outras condicionantes
por razões ambientais ou de ordenamento do território (ex: delimitação de áreas de reserva
agrícola, reserva ecológica, planeamento urbano, etc).
c) Na transmissão inter vivos ou mortis causa – é por vezes limitada por direitos a favor de
terceiros, como o direito de preferência atribuído por vezes aos proprietários confinantes.
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A actividade económica distribui-se por qualquer destes sectores, tendo como base objectivos
diferenciados.
O Sector Público tem que ser entendido no âmbito das incumbências gerais do Estado em matéria
económica e social e articulado com outras formas de regulação constitucionalmente previstas.
No Sector Privado concentra-se a actividade económica que se organiza e desenvolve livremente
de acordo com objectivos lucrativos que lhes são inerentes, sujeitando-se aos condicionamentos e
às restrições constitucionais ou legalmente previstas.
O Sector Cooperativo e Social possui a sua filosofia própria em matéria de objectivos, combinando
os económicos e os sociais, que se reflectem na sua organização.
Enquadramento jurídico-legal:
A estrutura da propriedade dos meios de produção, ou os sectores de produção, encontram-se
definidos nas seguintes disposições constitucionais:
a) Artigo 97, alíneas d) e e) da Constituição de 2004, que referem que a organização económica e
social da República de Moçambique assenta na “coexistência do sector público, do sector privado e
do sector cooperativo e social” e “na propriedade pública dos recursos naturais e de meios de
produção, de acordo com o interesse colectivo”;
b) Artigo 99 da Constituição, que trata dos sector de propriedade dos meios de produção.
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A expressão “meios de produção comunitários” parece indicar que se trata de bens de propriedade
comunitária, ou seja, de uma comunidade concreta, eventualmente sem personalidade jurídica
pública ou privada. Os casos mais conhecidos são os “baldios” em que os titulares da propriedade
são os “povos”, as “aldeias”, “ os agregados populacionais”. De notar que estes meios de produção
só integram o sector social quando são possuídos e geridos pelas respectivas comunidades locais.
b) Os meios de produção destinados à exploração colectiva por trabalhadores;
Esta figura refere-se à autogestão das empresas pelos respectivos trabalhadores e é um direito que
parece pressupor a gestão aos trabalhadores e a propriedade a outrem. Considera-se que os bens
podem ser de titularidade de entidades privadas ou públicas, pressupondo-se o assentimento dos
titulares da propriedade ou um motivo legal que confira o direito á autogestão.
c) Os meios de produção possuídos e geridos por pessoas colectivas, sem carácter lucrativo, que
tenham como principal objectivo a solidariedade social, designadamente entidades de natureza
mutualista.
Trata-se de estender o sector social às entidades que desenvolvem uma actividade económica
tendo em vista a solidariedade social, e por isso, sem intuito de apropriação lucrativa pública ou
privada, antes dirigida à ajuda mútua.
23. AS COOPERATIVAS
23.1. Noção e espécie
As Cooperativas são organizações de natureza colectiva que visam a satisfação, sem fins lucrativos,
das necessidades económicas, sociais ou culturais dos seus membros, através da sua cooperação e
entreajuda e na observância dos princípios cooperativos.
Os tipos de cooperativa podem ser: de Consumo, Comercialização, Indústria, Agrícola, Crédito,
Construção e Habitação, artesanato, Pesca, Cultura, Serviços e Ensino.
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– As Cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus
serviços e dispostas a assumir as responsabilidades de membro, sem discriminações de sexo,
sociais, políticas raciais ou religiosas. A admissão ou demissão dos sócios é livre e não pode ser
objecto de quaisquer discriminações do sexo, nacionalidade, religião, instrução, situação
económica e social. Qualquer pessoa, não obstante não ter participado na constituição da
cooperativa, pode a ela associar-se participando na vida desta.
2º. Princípio: Gestão democrática pelos membros ou democracia interna.
– As Cooperativas são organizações democráticas geridas pelos seus membros, os quais participam
activamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres
que exerçam funções como representantes eleitos são responsáveis perante o conjunto dos
membros que os elegeram. Nas Cooperativas do primeiro grau, os membros têm iguais direitos de
voto (um membro, um voto), estando as Cooperativas de outros graus organizadas também de uma
forma democrática;
3º. Princípio: Participação económica dos membros.
– Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas Cooperativas e controlam-no
democraticamente. Pelo menos parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da
Cooperativa. Os cooperadores, habitualmente, recebem, se for caso disso, uma remuneração
limitada pelo capital subscrito como condição para serem membros. Os cooperadores destinam os
excedentes a um ou mais dos objectivos seguintes: desenvolvimento das suas Cooperativas,
eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível;
benefício dos membros na proporção das suas transacções com a Cooperativa, apoio a outras
actividades aprovadas pelos membros;
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desenvolvimento das suas Cooperativas. Elas devem informar o grande público particularmente, os
jovens e os líderes de opinião sobre a natureza e as vantagens da cooperação;
6º. Princípio: Intercooperação.
– As Cooperativas servem os seus membros mais eficazmente e dão mais força ao movimento
cooperativo, trabalhando em conjunto, através de estruturas locais, regionais, nacionais e
internacionais;
7º. Princípio: Interesse pela comunidade.
– As Cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável das suas comunidades, através
de políticas aprovadas pelos membros.
Comissão de Gestão;
Comissão de Controle.
A Assembleia Geral é o órgão supremo da cooperativa, cujas deliberações são obrigatórias para os
restantes órgãos da cooperativa, bem como para todos os membros desta. Participam na
Assembleia Geral todos os cooperados no pleno gozo dos seus direitos.
A Comissão de Gestão é o órgão de administração e representação da cooperativa.
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A Constituição Mexicana
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Também nas democracias populares de Leste que, depois da 2ª Guerra Mundial, se inseriram na
órbita Soviética, se generalizaram as nacionalizações, abrangendo a quase totalidade dos meios de
produção.
Na República Popular da China, após 1949, colectiviza-se a terra e, posteriormente, nacionalizam-se
as indústrias.
e) Tentar um melhor aproveitamento dos meios disponíveis e dos recursos naturais mediante a
utilização de técnicas de planeamento.
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Esta figura vem prevista no nº 2, do artigo 82 da Constituição de 2004 nos seguintes termos:
“A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse públicos,
definidos nos termos da lei e dá lugar a justa indemnização.”
Por sua vez, o artigo 1308º do Código Civil, refere-se à expropriação nos seguintes termos:
“Ninguém pode ser privado, no todo ou em parte, do seu direito de propriedade, senão nos casos
fixados na lei.”
Diferenças entre nacionalização e expropriação:
NACIONALIZAÇÃO EXPROPRIAÇÃO
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b) Requisição
Na requisição a Administração Pública impõe aos particulares a obrigação de, temporariamente,
prestarem certos serviços ou de consentirem a utilização de alguns bens disponíveis, no interesse
público, cabendo o direito à indemnização.
A requisição relaciona-se com a possibilidade de a Administração ou as autoridades militares
poderem impor a um particular a obrigação de prestar serviços ou dispor um bem para utilização
temporária.
Tem como pressuposto a necessidade por interesse público, a submissão ao princípio da legalidade
e a justa indemnização.
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Segundo o artigo 1308º do Código Civil (Requisições), “só nos casos previstos na lei pode ter lugar a
requisição temporária de coisas do domínio privado”.
Mais adiante, o artigo 1310º do Código Civil (Indemnizações), refere que “havendo expropriação
por utilidade pública ou particular ou requisição de bens, é sempre devida a indemnização
adequada ao proprietário e aos titulares dos outros direitos reais afectados”.
Diferenças entre nacionalização e requisição:
NACIONALIZAÇÃO REQUISIÇÃO
c) Confisco
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Na prática, o que aconteceu é que as empresas intervencionadas foram extintas e o seu património
transferido para o Estado, tendo algumas delas sido transformadas em Empresas Estatais. O Estado
agiu assim ao abrigo do estabelecido no artigo 1 do Decreto-Lei nº 18/77, de 28 de Abril, que foi
revogado pela Lei nº 13/91, de 3 de Agosto.
25. AS PRIVATIZAÇÕES
25.1. Noção de privatização
A privatização designa uma técnica pela qual o Estado reduz ou modifica a sua intervenção na
economia a favor do sector privado, implicando, por isso, a redução do domínio económico e do
sector público.
O conceito de privatização, consiste genericamente no movimento redutor do peso do sector
empresarial público efectuado através da transformação legal e factual de empresas com
personalidade jurídica de direito público em empresas de estatuto jurídico privado.
Estreitando o conceito, pode entender-se privatização como:
a) Transferência total ou parcial da propriedade de empresas e/ou bens públicos para entidades
privadas. A natureza pública desses bens ou empresas tanto pode ser originária como resultar de
nacionalizações anteriores (neste caso fala-se de reprivatização);
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a) A ineficiência das empresas públicas, provocada em parte pelo facto de a gestão pública
sacrificar objectivos económico-financeiros e comerciais aos objectivos políticos e sociais – ex:
contracção de empréstimos, redução de tarifas e preços e manutenção de emprego;
Como se vê, argumentavam-se razões de ordem financeira, económica, política e ideológica para
justificar o movimento das privatizações.
25.3. Classificação
A privatização pode classificar-se em:
Formal ou Legal;
Material;
Económica e Financeira.
a) Privatização Formal ou Legal: traduz-se, apenas, no recurso pelo Estado de regimes jurídicos de
direito privado, não obstante manter a respectiva titularidade e direcção da gestão.
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Mas, será a Lei nº 15/91, de 3 de Agosto que irá definir, de forma clara, identificando as
modalidades de alienação a título oneroso de empresas, estabelecimentos, instalações, quotas e
outras formas de participação financeira do Estado. De facto, e mais profundamente, esta lei veio
regular o processo de reestruturação empresarial do Estado (artigo 3).
Definiram-se os sectores de carácter estratégico que obrigavam à permanência nas empresas
públicas (artigo 4) independentemente de posterior alargamento a ser determinado por Decreto do
Conselho de Ministros.
II. Objectivos
b) Financeiros – diminuição dos encargos com o sector público, utilização das receitas das
privatizações para amortização da dívida pública, da dívida do sector empresarial do Estado;
c) Sociais – intenção de promover uma ampla participação dos trabalhadores das próprias
empresas e dos pequenos subscritores na titularidade do capital das empresas;
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i. Prestem serviço a tempo inteiro há pelo menos 5 anos e sejam por ela remunerados. Poderão
também adquirir os reformados e aposentados da empresa ou do estabelecimento objecto de
alienação.
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Para as aquisições individuais estabelece-se um limite máximo de 25% da parcela de capital social
reservada a esta categoria de subscritores, ou de 10% do capital da sociedade.
ii. As acções adquiridas por esta via são intransmissíveis durante um período de 5 anos, dentro do
qual estas serão nominativas, exceptuando, obviamente, as situações jurídicas sucessórias que
envolvam transmissibilidade. Em relação aos gestores, técnicos e trabalhadores da empresa o prazo
de intransmissibilidade é de 3 anos.
V. O Fundo de Privatizações
O produto gerado pela alienação constituirá receita de um fundo próprio a ser criado pelo Conselho
de Ministros (artigo 25) e essas receitas terão como destino prioritário:
a) Estimular o investimento em actividades produtivas e de prestação de serviços;
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c) O Decreto nº 19/93, de 14 de Setembro – visa criar condições para regular a situação jurídica de
empresas, prática necessária ao processo de reestruturação do sector empresarial do Estado;
Consiste na atribuição, por contrato, pela Administração Pública a uma entidade externa
(concessionária), da gestão e/ou da exploração de uma catividade ou serviço público.
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60
Esta matéria é abordada nas páginas 246 a 268 da obra de WATY.
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O Sector Público Empresarial é constituído pelas Empresas Estatais, Empresas Públicas e outras
empresas cuja orientação, controlo ou tutela dependa da Administração Central do Estado, de
modo directo ou indirecto.
a) Empresa Estatal (E.E) – é aquela cuja titularidade e gestão são exclusivamente do Estado,
estando a Empresa Estatal integrada dentro do Estado.
b) Empresa Pública (E.P) – é aquela criada pelo Estado, com capitais próprios ou de outras
entidades públicas e que sujeitam-se à direcção e orientação do Estado. São públicas por
a titularidade dos respectivos factores ser de entidades públicas, as quais controlam e
asseguram as respectivas decisões, ou por assumirem formas de organização e actuação
próprias do Direito Público.
c) Empresas Mistas – são sociedades de direito privado, organizadas segundo a forma
comercial comum, cujo capital pertence em parte a agentes económicos privados, em
parte ao Estado ou outras entidades públicas, que por esse motivo se encontram
associadas à sua gestão.
As empresas mistas são todas que por lei têm a participação de entidades públicas e
privadas, quer essa participação seja obrigatória quer seja facultativa.
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Cfr. WATY, Op. Cit., p. 248.
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1º ― Criação e extinção
As Empresas Estatais são criadas pelo Estado por Decreto do Conselho de Ministros, no caso das
Empresas Estatais de âmbito nacional.
No caso das Empresas Estatais de âmbito local são criadas por Diploma Ministerial, conjunto dos
Ministros do Plano e Finanças e do Ministro que superintende o ramo ou sector de actividade onde
irá operar (artigo 6 da Lei nº 2/81).
O Decreto ou Diploma Ministerial que cria cada Empresa Estatal deve definir o órgão do
aparelho de Estado a que a mesma se subordina (artigo 6 e artigo 8 da Lei nº 2/81).
A extinção da Empresa Estatal compete ao Conselho de Ministros - órgão criador, por via de
Decreto.
A constituição das Empresas Estatais e as respectivas alterações está sujeita a registo junto da
Conservatória de Registo Comercial (artigo 11 da Lei nº 2/81).
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Cfr. Ibidem, p. 248ss.
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Cfr. Ibidem, p.249ss.
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3º ― O regime financeiro
No campo financeiro, é-lhes concedida, pelo artigo 25 nº 1, a possibilidade de contrair
empréstimos a curto prazo.
Às Empresas Estatais está reservado o papel ou responsabilidade de fornecimento de receitas ao
Estado, através das transferências de lucros e impostos, os quais seriam transferidos em cada ano
para o Orçamento do Estado (artigo 26 da Lei nº 2/81).
As subvenções recebidas do Orçamento do Estado poderiam ocorrer quando tal se justificasse,
necessitando de aprovação do Ministério das Finanças, nos termos da Lei Orçamental aprovada
(artigo 26, nº 3 da Lei nº 2/81).
A alienação de património só podia ocorrer com autorização do órgão central do aparelho do
Estado que superintende o ramo ou sector de actividade (artigo 27, nº 2 da Lei nº 2/81).
A gestão económica e financeira das Empresas Estatais realiza-se de acordo com o plano (artigo
13 e artigo 21, nº 2 da Lei nº 2/81).
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1º ― Criação e extinção
A Empresa Pública é criada por Decreto do Conselho de Ministros, tomando em conta a
viabilidade económica, financeira e social comprovada pelo estudo previamente elaborado (artigo
3, nº 1 da Lei nº 7/2012).
Compete igualmente ao Conselho de Ministros aprovar as alterações aos Estatutos que se
mostrarem necessárias.
A constituição de Empresa Pública e as alterações aos seus estatutos devem ser registadas na
Conservatória de Registo das Entidades Legais, no prazo de 30 dias a contar da respectiva
publicação no Boletim da República (artigo 7 da Lei nº 7/2012).
A criação de uma Empresa Pública por Decreto é um acto administrativo e por conseguinte
impugnável no Tribunal Administrativo.
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Um aspecto importante é que as Autarquias Locais também têm competência para a criação de
Empresas Públicas, devido a autonomia patrimobnial que lhes é reconhecida através da Lei nº 2/97,
de 18 de Fevereiro.
O capital social da Empresa Pública, bem como as condições da sua realização, são fixados no
respectivo Decreto de criação. O capital social pode subdividir-se em unidades de participação,
representadas em títulos na forma especificada nos Estatutos da empresa (artigo 20 da Lei nº
7/2012).
A extinção da Empresa Pública compete ao Conselho de Ministros - órgão criador, por via de
Decreto.
Segundo o nº 1 do artigo 38 da Lei nº 7/2012 (Formas de extinção), a extinção de uma Empresa
Pública pode visar:
a) A reorganização das respectivas actividades, mediante a sua cisão ou fusão com outras, ou
b) Destinar-se a pôr termo a tais actividades, sendo então seguida da liquidação do respectivo
património.
Não são aplicáveis à extinção das Empresas Públicas as regras sobre dissolução e liquidação de
sociedades nem os institutos da falência e insolvência (nº 2 do artigo 38 da Lei nº 7/2012).
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d) Autonomia financeira.
b) Autonomia Financeira
A autonomia financeira é a capacidade da empresa pública gerarar receitas no decurso da sua
actividade operacional que cubram a totalidade das respectivas despesas (artigo n.º 22, nº 3 da Lei
n.º 7/2012).
A autonomia financeira assenta na existência de um orçamento próprio, elaborado pela própria
empresa e aprovado pelo Governo. A Lei n.º 7/2012, no seu artigo 5, alínea d) conjugado com o
artigo 28 estabelece que as Empresas Públicas devem elaborar, em cada ano económico,
orçamentos de exploração e investimento, por grandes rubricas, a serem submetidos à aprovação
do Ministro das Finanças, sob proposta do Ministro da respectiva área de subordinação.
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O Orçamento das Empresas Públicas não faz parte integrante do Orçamento do Estado, nem
incide sobre ele qualquer acto de aprovação Parlamentar.
A fiscalização do orçamento compete ao Conselho Fiscal (artigo 16, n.º 1, alínea a) da Lei n.º
7/2012).
A autonomia financeira das empresas Públicas também se manifesta pelo facto das mesmas
recolherem as suas próprias receitas e realizar despesas inerentes à sua actividade, gerindo a sua
própria receita.
c) Autonomia Patrimonial
A autonomia patrimonial é a capacidade que a Empresa Pública tem de adquirir, registar, gerir e
dispor de bens patrimoniais necessários à prossecução do seu objecto (artigo nº 22, nº 4 da Lei nº
7/2012).
Os bens que integram o património da Empresa Pública podem ser penhorados e executados
judicialmente, bem como podem ser constituídas, sobre eles, garantias reais de modo a privilegiar
determinados credores numa execução.
No entanto, o regime de autonomia patrimonial das Empresas Públicas não permite a sua
falência ou insolvência, não sendo possível liquidação concursal plena do seu património por
iniciativa dos credores.
A liquidação das Empresas Públicas ocorre por iniciativa do Governo.
De acordo com o artigo 19 da Lei nº 7/2012, o património das Empresas Públicas é constituído
pelos bens e direitos recebidos ou adquiridos para exercício da sua actividade. As Empresas
Públicas administram, ainda, os bens do domínio público do Estado afectos às actividades a seu
cargo, devendo manter o respectivo cadastro actualizado.
Pelas dívidas das Empresas Públicas respondem apenas os bens que integram o respectivo
património, desde que não sejam bens de domínio público.
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Os sacrifícios aqui referidos reportam-se ao dever que o Estado tem de assumir os prejuízos que resultem da má gestão
das Empresas Públicas.
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a) Princípio da economicidade
O princípio da economicidade exige o lucro empresarial, ou seja, o excedente. Os preços
praticados pela empresa devem, portanto, ser superiores aos preços de custo.
A Empresa Pública deve gerir a sua actividade de forma que as suas receitas sejam superiores
aos custos e, por conseguinte, os preços praticados pelas Empresas Públicas devem ser superiores
aos custos de produção.
Ficam, no entanto, salvaguardadas as situacões em que seja necessário o apoio financeiro do
Estado sempre que a empresa desempenhe uma função eminentemente social (ex: transportes
públicos) ou pretenda, através dela, aumentar o volume de exportações. Isto significa que, quando
o Estado impõe às Empresas Públicas missões que se afastam da sua gestão normal deve atraibuir-
lhes as necessárias compensações financeiras de modo a não comprometer o seu equilíbrio. Mas,
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O conjunto de princípios que se segue está explicado por....
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b) Princípio da eficiência
Este princípio obriga a um aproveitamento racional dos meios humanos e materiais,
minimizando os custos de produção. Possibilita criar as condições de rentabilidade das empresas.
c) Princípio do planeamento
Este princípio via a perspectivação racional da gestão da empresa anual e a médio prazo.
Pretende-se que os seus órgãos se habituem a calcular racionalmente as suas decisões de acordo
com a conjuntura económica nacional e internacional. Requer-se uma capacidade de estabelecer
estratégias de gestão.
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Referência à Lei n.º 23/2007, de 10 de Agosto.
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O tema aqui apresentado é extraído em DOS SANTOS, António Cardos et all., Op.Cit., pp.225-248.
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DOS SANTOS, António Carlos et all., Op.Cit., p.225.
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3) Concorrência e preços;
4) Actividade monetária e financeira;
5) Ambiente;
6) Qualidade;
7) Protecção dos consumidores;
8) Informação e comunicação;
9) Mercados emergentes.
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2) De um ponto de vista material, o seu âmbito pode ser geral ou da totalidade da economia,
sectorial, de um tipo de empresas e de uma actividade específica.
a) A regulação geral ou da totalidade da economia – quando regula todos os sectores da
economia. Por exemplo, através do plano, das normas de concorrência, das normas de
defesa do consumidor ou do ambiente.
b) A regulação sectorial ou de um sector de actividade – quando regula um determinado
sector de actividade. Por exemplo, o sector dos transportes, as telecomunicações, os
têxteis, etc.
c) A regulação de um tipo de empresa – quando a regulação apenas abrange determinado
tipo de empresa, como por exemplo pequenas e médias empresas.
d) A regulação de uma actividade específica, como por exemplo a actividade industrial, de
exportação, agrícola.
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A) Os Contratos Económicos
Natureza jurídica: contém características especiais que podem levantar dúvidas sobre a sua
natureza de verdadeiros contratos, já que as empresas interessadas em subscrevê-los têm que
possuir determinados requisitos impostos, previamente, por lei. Fica assim limitado o princípio da
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autonomia da vontade. Também a decisão final de celebrar ou não o contrato depende das
autoridades administrativas competentes. Por estas razões, são por vezes designados actos-
condição.
A favor da natureza contratual está o facto de implicarem a aceitação (pelas empresas) de
certas condições, obtendo contrapartidas a que o Estado se obriga. Essas obrigações constam de
um acordo assinado livremente. As obrigações nele constante resultam do contrato e não da lei.
Para além disso, o Estado não pode altera-lo ou rescindi-lo, a não ser por incumprimento da outra
parte.
Trata-se de contratos que integram, assim, elementos de direito público e de direito privado,
comprovando-se aqui, claramente, a natureza mista do Direito Económico.
Tipos de Contrato:
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33. O PLANO71
33.1. Noção
O Plano é um documento adoptado pelo poder público, que analisa a evolução nacional,
identifica os problemas e define a orientação que seja pertinente.
Ou seja, o Plano Económico pode ser definido como o acto jurídico que define e hierarquiza
objectivos de política económica a prosseguir em certo prazo e estabelece as medidas adequadas à
sua execução.
No conceito de plano económico fazem parte 3 elementos: as previsões, os objectivos e os
meios a utilizar, numa perspectiva sempre temporária.
O Plano visa alterar o comportamento dos agentes económicos através de um grande quadro
normativo definido pelo Estado. Trata-se de uma orientação global, sistemática e propositada dos
fenómenos económicos por parte do Estado.
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Vejam-se as diferentes espécies de planos em WATY, Op.Cit., pp. 339-443.
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O planeamento surge como um auxiliar do mercado, sendo este formalizado através de actos
legislativos, ou seja, através da intervenção indirecta do Estado na vida económica
O «orçamento» é o plano mais antigo.
33.2. Características
O plano é um diagnóstico e formulação de previsões quantitativas e qualitativas.
O plano é fixação de objectivos e metas sectoriais e globais, mínimas e máximas.
O plano é escolha e ordenação de meios financeiros para a prossecução de objectivos.
O plano tem objectivos económicos mas também sociais.
A planificação pressupõe sempre uma programação. A primeira é de natureza macroeconómica
e de referência político-económica e a segunda limita-se aos aspectos técnicos e meios necessários
à realização dos objectivos planificados.
Nos países de economia de mercado, o plano é um instrumento político meramente indicativo,
pois, não determina a conduta dos agentes, já que seja qual for o grau de intervenção, a economia
assenta sempre na liberdade de decisão dos agentes económicos.
Nos países de economia centralizada (Socialistas), o plano é um instrumento fundamental da
actividade económica, pois, determina a conduta dos agentes económicos, em razão do seu
carácter vinculativo, quer ao sector público, quer privado.
Em termos de composição, o plano compreende dois documentos, designadamente:
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Tem natureza jurídica porque apresenta-se sob a forma de Lei, já que está
juridicamente expresso.
Tem natureza económica porque é um instrumento de desenvolvimento.
Compete ao Governo propor o Plano Quinquenal. É a partir daí que se constrói o Plano
Económico e Social (PES) anual.
É imperativo quanto à sua apresentação na Assembleia da República mas é maleável quanto ao
seu cumprimento.
O plano pode aparecer como uma Lei-Medida e o primeiro interessado em cumpri-lo é o
Governo. É também uma Lei-Orientação, com carácter dirigista e orientador.
Alguns defendem que se trata de um Acto-Incentivo – pode dar compensações a quem cumprir
os incentivos lá contemplados (volumes de investimento, quantidades produzidas, etc).
O plano, nas economias de mercado, apesar de ter disposições obrigatórias para certos agentes
públicos, é mais político e técnico de política governativa. Apesar de não conter sanções, no pode
deixar de ser qualificado como um instrumento jurídico. Está dotado de generalidade e de
normatividade própria dos actos jurídicos e a sua elaboração corresponde às exigências
democráticas pelos mais qualificados representantes dos administrados.
É correntemente referido como:
- acto jurídico,
- acto colectivo,
- comprometimento unilateral do Estado,
- ilustração de contradições internas da democracia.
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A planificação pode exigir uma relativa contracção de certos direitos fundamentais. É uma área
de intervenção dos poderes públicos onde se evidencia a vontade e a ideologia dos agentes
administrativos.
Recordemos os planos de Moçambique:
a) PAP – Plano de Acções Prioritárias;
b) PEN – Plano Económico Nacional;
c) PEC – Plano Estatal Central;
d) PES – Plano Económico e Social;
e) Agenda 20-25.
Exercícios Diversos
Tema 1: Introdução ao Direito Económico
1. A típica distinção oitocentista entre Direito Público e Direito Privado abre fissuras. Comente
2. Sobre a concepção ampla do Direito Económico, que admite a autonomia e que em termos
práticos também a nega, recaem críticas. Discuta esta afirmação.
7. Para o caso de Moçambique, para além das fontes mistas ou privadas do Direito Económico,
podemos identificar outras fontes internas supra-estaduais. Comente.
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9. O período entre as duas grandes guerras foi fecundo para o surgimento do Direito
Económico como intervenção do Estado na Ordenação Económica. Como se pode justificar a
necessidade do Estado intervir na Economia?
10. “Havendo pois vários direitos da economia, qual o sentido de um Direito Económico
autónomo?” (in: António Carlos dos Santos e outros, Direito Económico, 3ª Edição, Coimbra,
1998, p. 13). Comente justificando a autonomia do Direito Económico.
11. “O Direito Económico que se afirma no pós primeira guerra mundial tem como ideia
fundamental a intervenção do Estado em aparente contradição com a Economia de
mercado. Discuta.
12. A autonomia do Direito Económico é controvertida. Discuta.
13. A mão invisível de Adam Smith é a regra do funcionamento do mercado. Posicione-se.
14. Um dos fundamentos da autonomia do Direito Económico é o facto desta apresentar
características próprias. Identifique três características do Direito Económico apresentando
o seu sentido.
15. Segundo António Carlos Santos, afirmar que o Direito Económico constitui “uma superação
da clássica distinção entre direito público e privado é (...) excessivo”. Fale, criticamente, da
natureza do Direito Económico.
2. Em não mais que dez linhas refira-se aos Princípios e Regras do Direito Económico.
3. São várias as características do direito económico. Em não mais que quatro linhas explique em que consiste a
Recenticidade, Declínio das Fontes tradicionais de direito, Permeabilidade Política e Crescimento da Vinculação
Concertada.
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2. Alguns autores têm defendido que a intervenção do Estado na gestão das empresas privadas consubstancia uma
verdadeira nacionalização. Comente
3. Identifique a forma de intervenção na economia do sector empresarial do Estado. Justifique a sua resposta.
Tema 6: O Regime Jurídico das Empresas Públicas e Das Empresas Estatais Moçambicanas
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1. Identifique na CRM de 2004 pelo menos duas disposições que revelem o tipo de intervenção do Estado,
segundo o critério quantitativo, adoptado em Moçambique. Justifique a sua resposta.
2. A limitação constante do art. 19, n° 2 da lei 6/12 de 8 de Fevereiro não põe em causa o
princípio da liberdade da gestão das empresas públicas visto que tal limitação apenas incide
sobre a capacidade de dispor de bens e não sobre a capacidade de administrar tais bens.
Comente.
6. Tanto nas Empresas Públicas como nas Empresas de Capital Público temos o Estado como
único detentor das participações. Refira-se à diferença entre estas duas empresas?
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A “Altiva- Estradas e Pontes, SA”, face a dificuldade de ligação rodoviária entre Maputo e Catembe,
através de uma proposta dirigida ao Ministério dos Transportes e Comunicações, ofereceu-se para
estabelecer uma parceria com o Governo visando a construção e exploração de uma ponte ligando
a Cidade de Maputo à Catembe. Face a proposta acima referida e face ao facto de ter sido a
entidade privada a proponente daparceria, o Ministro dos Transportes e Comunicações dispensou a
realização do procedimento concursal e partiu de imediato para a celebração do contrato de
parceria na modalidade de contrato de gestão com a empresa supra referida. No contrato de
parceria ficou estabelecido que o Estado Moçambicano não participaria com capital na construção
da ponte mas prestaria uma garantia financeira ao Banco financiador do projecto bem como ficou
estabelecido que, durante os primeiros dez anos de exploração da ponte, o parceiro privado ficaria
isento do pagamento ao Governo da contrapartida pela celebração do contrato de parceria. Quid
Juris?
II
“As empresas, estabelecimentos, instalações, quotas e outras formas de participação do Estado em
património dalgumas empresas e/ou entidades revertidas, apropriadas ou transferidas para o
Estado, (...), em cumprimento das directivas económicas e sociais do Partido Frelimo, vêm sendo
trespassados, vendidos ou cedidos por diversas formas pelos Ministérios e Secretarias de Estado que
tutelam as suas actividades, sem uma regulação adequada.
Ora, os bens em questão constituem património do Estado pelo que a sua alienação tem de ser o
mais transparente possível
Assim, urge encontrar rapidamente as soluções adequadas, que (...) possibilitem traçar novas
etapas do processo de cessação de propriedade do Estado (...)
De igual modona alienação de participações sociais que forem negociáveis, privilegiar-se-ão os
critérios de avaliação que mais se coadunam com a situação patrimonial da empresa (...)
Nestes termos ao abrigo do disposto na (...) Constituição da República, o Conselho de Ministros
decreta:
Artigo 1: É aprovado o Regulamento de Avaliação a título oneroso, de empresas, estabelecimentos,
instalações, quotas e outras formas de participação financeira da propriedade do Estado(...)
Artigo 2: A alienação doutros bens que reverteram para o Estado não abrangidos pelo presente
decreto será feita de acordo com a legislação vigente. (...)
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Artigo 5: As empresas e estabelecimentos intervencionados, não podem ser alienados enquanto não
for regularizada a sua titularidade a favor do Estado. (...)”
a) Identifique, justificando (de preferência recorrendo a transcrições), no diploma supra,
os elementos caracterizadores das constituições económicas estudadas.
Bibliografia
Manuais
CORDEIRO, A. Menezes; S/D - Direito da Economia, I Vol, Edição da Associação
Académica da Faculdade de Direito de Lisboa
DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS et all, Direito Económico, 3ª Ed., Livraria Almedina,
Coimbra 1998
MOTA PINTO, Carlos Alberto; S/D - Direito Económico Português, Coimbra
SOUSA FRANCO, António L.; S/D - Noções de Direito da Economia, 1º Vol, 2º Vol,
Edição da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa
VAZ, Manuel Afonso; S/D - Direito Económico – A ordem Económica Portuguesa, S/
Ed., Coimbra.
WATY, Teodoro Andrade, Direito Económico, WW Editora, Limitada, Maputo, 2011
Legislação
Constituição da República de Moçambique de 2004.
Código Civil.
Lei nº 23/2007, de 1 de Agosto – Lei do Trabalho
Lei nº 9/87, de 19 de Setembro – Lei de Defesa da Economia.
Lei 2/81, de 30 de Setembro – Lei de Empresas Estatais.
Lei 15/91, de 3 de Agosto – Lei das Privatizações.
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