Aprendizagem X Faixa Etária
Aprendizagem X Faixa Etária
Aprendizagem X Faixa Etária
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por finalidade abordar o tema aprendizagem x faixa etária, uma
vez que essa discussão permeia os bastidores da educação e da psicologia educacional.
Muitos professores rejeitam a tese da entrada de crianças na escola, seja na pré-escola ou na
primeira série com idade inferior a cinco ou seis anos. Tal rejeição, pode não vir de leituras a
partir de teorias de aprendizagem, mas digamos, da práxis, pautada muito mais na sapiência
do que no saber enciclopédico que os cursos de formação de professores incutem na cabeça
dos estudantes.
Não se pode negar essa prática, pois é o professor em sala de aula, que tem o
diagnóstico mais coerente sobre a aprendizagem da criança.
Na defesa dessa linha de pensamento, encontramos mães que hoje demonstram
preocupação sobre o ingresso de seus filhos nas escolas com idade inferior à vigente.
Uma das estratégias utilizadas pelos pais, era de matricular seus filhos em escolas
particulares para burlar a legislação e depois transferi-los para a educação pública.
Sob essa forma de pensar, a criança com uma idade diferenciada do grupo, fica
deslocada, excluindo-se para o isolamento lúdico ou assumindo papéis longínquos à sua
idade.
As conseqüências disso tudo, pode estar relacionada a diferentes distúrbios de
aprendizagem, passando pela hiperatividade, aprendizagem lenta, dificuldades de leitura, etc.
Ao enfocar Piaget nesse estudo, pretende-se mergulhar fundo nessa questão, que é de
suma importância para quem atua no contexto educacional.
A pesquisa em si revela-se de suma importância devido ao tema abordado. Os
resultados obtidos a partir da monografia servirão de reflexão para possíveis intervenções no
campo da psicopedagogia no trabalho com crianças e professores.
No aspecto legal, a educação brasileira, através de legislação específica preconizou
durante algumas décadas a idade de sete anos para o ingresso de crianças nas escolas. Tal
2
adequação de idade esteve balizada sob prisma de leituras de caráter psicológico ancoradas na
vertente teórica do epistemólogo Jean Piaget.
No que se refere à aprendizagem da criança, o trabalho de Piaget entra em conflito
com outras teorias de aprendizagem, sendo uma delas a sócio-interacionista de Vygotski, que
acena para uma caminha justaposta de aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, o
desenvolvimento antecede a aprendizagem.
A discussão que permeia a questão psicogenética do ingresso ou não de crianças em
idade inferior a sete anos, tem provocado grandes discussões entre epistemólogos da
Psicologia, inclusive no Brasil. São discussões oportunas, que certamente produzirão
resultados significativos no entendimento do desenvolvimento cognitivo da criança.
Desta forma, é necessário ouvirmos educadores e especialistas sobre essa temática,
para subsidiar o respaldo ou uma posição referente a essa norma educacional vigente.
No que se refere ao problema de pesquisa, que norteia a respectiva monografia,
enunciou-se investigar quais os fatores que interferem na aprendizagem de crianças no ensino
fundamental (primeira série) com idade precoce
Dos objetivos propostos na pesquisa, através de uma pesquisa exploratória, de
campo, pretende-se destacar os fatores que interferem na aprendizagem da criança que
adentra na escola com idade inferior a sete anos. Além disso é de suma importância no campo
da pesquisa bibliográfica descrever os níveis de desenvolvimento infantil através de estudos
piagetianos.
No que se refere a pesquisa de campo, traçou-se como objetivo principal enumerar as
dificuldades enfrentadas por professores que atuam na educação infantil e ensino fundamental
relacionadas aos alunos com idade inferior a sete anos.
Evidentemente, alguns questionamentos decorrentes do problema maior foram
levantados ainda em nível de projeto sendo que através da pesquisa houve uma preocupação
em tentar responder se a idade antecipada da criança na escola não influencia na sua
aprendizagem e socialização e se os professores que atuam no ensino fundamental não
encontram dificuldades para atuar com crianças com idade inferior de crianças de primeira
série.
3
2 REFERENCIAL TEÓRICO
pressupostos inatistas, como se estivesse uma faixa etária para aprender. Também não é
um ser passivo, que depende dos estímulos do meio, que só recebe informações, mas é
participativa, realiza atividades, que interage com o mundo sendo capaz de inovar a
própria cultura.
O alfabetizando não é um ser passivo que aprende através de associações viso,
áudio-motoras, estimulado por métodos onipotentes, é ser ativo que pensa e,
enquanto tal, constrói hipóteses sobre a escrita, em interação com outros sujeitos.
Ou seja, a substituição do olho que vê e da mão que escreve por um cérebro que
pensa (AZEVEDO; MARQUES, 1994, p. 40).
2.2.2 Inatismo
2.2.3 Construtivismo
2.2.4 Histórico-Cultural
Ainda hoje é comum depararmos com o mito da inteligência como pré-requisito para
a aprendizagem (não estamos tratando dos casos patológicos). Nessa percepção, a inteligência
é vista como um Dom (capacidade nata) e não como uma construção: cada indivíduo nasceria
com essa capacidade em determinada quantidade. Essa concepção costuma gerar práticas
pedagógicas equivocadas em que não há o adequado investimento no processo de
aprendizagem do aluno: ações padronizadas em que a lógica da disciplina prevalece,
desconhecendo-se os “pré-requisitos” do aluno (estágio de desenvolvimento em que se
encontra e necessidades decorrentes) na construção do conhecimento.
Numa perspectiva construtivista, exatamente o que coloca nas mãos dos educadores
uma grande carga de responsabilidade é o fato de a inteligência não se resumir ou depender
exclusivamente do desenvolvimento biológico. O desenvolvimento da inteligência situa-se no
terreno do bio-psico-social e depende de investimento. Sem oportunidade de ação e de
interação social, não haverá amadurecimento, a inteligência não se desenvolverá. A
construção da inteligência se dá num contexto de interdependência
desenvolvimento/aprendizagem (a aprendizagem promove o desenvolvimento e o
desenvolvimento viabiliza novas aprendizagens).
O desenvolvimento dos processos mentais realiza-se na interação do sujeito com o
ambiente, dependendo de mediações de sujeitos culturais nessa relação.
O professor pode e deve ajudar o seu aluno. Mas não pode pensar ou agir por ele;
não pode resolver os problemas por ele. Nem o professor, nem os colegas. Talvez,
por isso, o único caminho que nos resta, como professor ou colega, é uma zona de
proximidade em que só podemos ajudar, nunca fazer pelo outro, pois isso, mais do
que indesejável, é impossível (COLL, 1996, p.18).
A alfabetização se inicia muito antes da criança entrar na escola, pois desde que
nasce e durante seus primeiros anos de vida, a criança encontra-se em interação com
diferentes sujeitos - adultos e outras crianças - o que vai lhe permitindo atribuir
significados a diferentes ações, diálogos e vivências. Vamos citar um exemplo: uma
criança de três anos de idade convive na família, onde a escrita e a leitura são
práticas cotidianas e valorizadas. Tanto quanto os outros membros da família, ela
tem acesso a lápis, canetas e papel. O que acontece então? Ela "escreve" e muito.
Rabisca, desenha e submete essa "escrita", orgulhosamente, à aprovação de todos.
Ela "lê" o que "escreve" e outros também "lêem" as suas "escritas". (RIO DE
JANEIRO, 1994)
"Nas relações com os "outros" e com o "mundo" as crianças aprendem a ler este
mundo e a internalizá-lo. O sujeito-leitor-do mundo, vai produzindo suas singularidades,
através das interações realizadas por meio da linguagem: palavras, gestos, olhares, silêncios...
A dimensão de cada um, a singularidade, se cria e organiza-se, em grande parte, em
função das condições sociais em que se vive e reorganiza-se, a cada momento, em funções das
condições de interação a que se estiver exposto.
A singularidade tem estreita relação com as condições histórico-sociais e com o
curso da existência do sujeito. No mundo interior, cada um constrói suas apreciações, num
espaço marcado por tensões. O diálogo com o "outro" implica na internalização de
sentimentos e valores que não se impõem de forma homogênea, sendo, por isso mesmo,
contestados e desafiados".
13
A ação da escola, como instância de mediação, pode confirmar ou negar em cada pessoa
individualmente, ou em uma classe em seu conjunto, o poder das pressões sociais e culturais,
dependendo do modo como os professores se posicionam frente a determinadas questões (...) O papel
do professor, ao acompanhar e analisar as crianças em suas manifestações espontâneas, deve ser o
instaurador de desequilíbrios, de conflitos entre concepções assumidas, desafiando as bases em que
estão fundamentadas as experiências dos alunos, ao problematizarem as maneiras contraditórias e
múltiplas em que estas se entrecruzam". (RIO DE JANEIRO, 1993).
Também esta comparação não é exata, porque esta segunda teoria parte de uma total
identificação entre desenvolvimento e aprendizagem e, portanto, levada ao extremo, não os
diferencia em absoluto. O desenvolvimento e a aprendizagem sobrepõem-se constantemente,
como duas figuras geométricas perfeitamente iguais. O problema de saber qual é o processo
que precede e qual é o que segue carece de significado para esta teoria. O seu princípio
fundamental é a simultaneidade, a sincronização entre os dois processos.
O terceiro grupo de teorias tenta conciliar os extremos dos dois primeiros pontos de
vista, fazendo com que coexistam. Por um lado, o processo de desenvolvimento está
concebido como um processo independente do de aprendizagem, mas por outro lado esta
mesma aprendizagem – no decurso da qual a criança adquire toda uma nova série de formas
de comportamento – considera-se coincidente com o desenvolvimento. Isto implica uma
teoria dualista do desenvolvimento. Um claro exemplo constitui a teoria de Koffka citado por
Luz (1996, p. 23), segundo a qual:
[...] o desenvolvimento mental da criança se caracteriza por dois processos que,
ainda que conexos, são de natureza diferente e condicionam-se reciprocamente. Por
um lado está a maturação, que depende diretamente do desenvolvimento do sistema
nervoso, e por outro a aprendizagem que é em si mesma o processo de
desenvolvimento.
A novidade desta teoria pode resumir-se em três pontos. Antes de tudo, como
dissemos, conciliam-se nela dois pontos de vista anteriormente considerados contraditórios;
os dois pontos de vista não se excluem mutuamente, mas têm muito em comum. Em segundo
lugar, considera-se a questão da interdependência, quer dizer a tese segundo a qual o
desenvolvimento é produto da interação de dois processos fundamentais. Luz (1996, p. 26)
ressalta que o caráter desta interação não aparece com clareza nas publicações de Koffka,
onde apenas se encontram observações gerais sobre a existência de uma conexão entre estes
dois processos; mas estas observações sugerem que o processo de maturação prepara e
possibilita um determinado processo de aprendizagem, enquanto o processo de aprendizagem
estimula, por assim dizer, o processo de maturação e o faz avançar até certo grau.
Por último, o terceiro aspecto novo, e também o mais importante desta teoria
consiste numa ampliação do papel da aprendizagem no desenvolvimento da criança. Este
aspecto especial deve ser examinado com mais atenção. Remete-nos diretamente a um velho
problema pedagógico, hoje menos atual, chamado tradicionalmente o problema da disciplina
formal.
17
Como se sabe, o conceito de disciplina formal, que encontra a sua expressão mais
clara no sistema de Herbart, liga-se à idéia de que cada matéria ensinada tem uma
concreta importância no desenvolvimento mental geral da criança, e que as diversas
matérias diferem no valor que representam para este desenvolvimento geral
(NUNEZ, 1999, p. 14).
Se aceita este ponto de vista, a escola terá que ensinar matérias tais como as línguas
clássicas, a história antiga, as matemáticas, pelo fato de que contêm uma disciplina de grande
valor para o desenvolvimento mental geral, e isso prescindindo do seu valor real. Como se
sabe, a concepção da disciplina formai provocou uma orientação muito conservadora na
práxis educativa. Justamente como reação contra esta concepção surgiu o segundo grupo de
teorias que examinamos, as quais pretendem devolver à aprendizagem o seu significado
autônomo, em vez de o considerar simplesmente como um meio para o desenvolvimento da
criança, ou seja, como se o exercício e a disciplina formal fossem necessários para o
desenvolvimento das aptidões mentais.
O fracasso da teoria da disciplina formal foi demonstrado em diversas investigações
que revelaram que a aprendizagem em determinado campo tem uma influência mínima sobre
o desenvolvimento geral.
A resposta que os psicólogos ou os pedagogos puramente teóricos costumam dar é
que cada aquisição particular, cada forma específica de desenvolvimento, aumenta direta e
uniformemente as capacidades gerais. O docente deve pensar e agir na base da teoria de que o
espírito é um conjunto de capacidades – capacidade de observação, atenção, memória,
raciocínio, etc. e que cada melhoramento de qualquer destas capacidades significa o
melhoramento de todas as capacidades em geral. Segundo esta teoria, concentrar a capacidade
de atenção na gramática latina significa melhorar a capacidade de atenção sobre qualquer
outro tema. A idéia é que as palavras "precisão", "vivacidade", "raciocínio", "memória",
"observação", "atenção", "concentração", etc., significam faculdades reais e fundamentais que
mudam segundo o material sobre que trabalham, que as mudanças persistem quando estas
faculdades se aplicam a outros campos, e que portanto, se um homem aprende a fazer bem
determinada coisa, em virtude de uma misteriosa conexão, conseguirá fazer bem outras coisas
que carecem de todo o nexo com a primeira. As faculdades intelectuais atuariam
independentemente da matéria sobre a qual operam e o desenvolvimento de uma destas
faculdades levaria necessariamente ao desenvolvimento das outras.
Thorndike (1932) citado por Nunez (1999, p. 15) opôs-se a esta concepção baseando-
se nas inumeráveis investigações que demonstram que ela é insustentável. Sublinhou a
18
dependência das diversas formas de atividade a respeito do material específico sobre o qual se
desenvolve a atividade. O desenvolvimento de uma faculdade particular raramente origina um
análogo desenvolvimento das outras. Um exame mais profundo demonstra – afirma – que a
especialização das capacidades é maior do que parece à primeira vista. Por exemplo, se entre
uma centena de indivíduos se escolherem dez especialmente hábeis em reconhecer erros
ortográficos ou na avaliação de um comprimento, estes dez não demonstram análoga aptidão
para avaliar corretamente o peso de um objeto. Nem tampouco a velocidade e a precisão ao
fazer somas são acompanhadas por uma velocidade e uma precisão análogas, quando se trata
de encontrar os contrários de determinada série de vocábulos.
Estes estudos demonstram que o intelecto não é precisamente a reunião de
determinado número de capacidades gerais: observação, atenção, memória, juízo, etc., mas
sim a soma de muitas capacidades diferentes, cada uma das quais, em certa medida, é
independente das outras e portanto tem de ser desenvolvida independentemente mediante um
exercício adequado. A tarefa do docente consiste em desenvolver não uma única capacidade
de pensar, mas muitas capacidades particulares de pensar em campos diferentes; não em
reforçar a nossa capacidade geral de prestar atenção, mas em desenvolver diferentes
faculdades de concentrar a atenção sobre diferentes matérias.
Os métodos que permitem que a aprendizagem especializada influa sobre o
desenvolvimento geral funcionam apenas porque existem elementos comuns, materiais e
processos comuns. Somos governados pelos hábitos. Daqui resulta que desenvolver o
intelecto significa desenvolver muitas capacidades específicas e independentes e formar
muitos hábitos específicos, já que a atividade de cada capacidade depende do material sobre o
qual essa capacidade opera. O aperfeiçoamento de uma função ou de uma atividade específica
do intelecto influi sobre o desenvolvimento das outras funções e atividades só quando estas
têm elementos comuns.
Como já dissemos, o terceiro grupo de teorias examinadas opõe-se a esta concepção.
As teorias baseadas na psicologia estruturai hoje dominante – que afirma que o processo de
aprendizagem nunca pode atuar apenas para formar hábitos, mas que compreende uma
atividade de natureza intelectual que permite a transferência de princípios estruturais
implícitos na execução de uma tarefa para uma série de tarefas diversas – afirmam que a
influência da aprendizagem nunca é específica. Ao aprender qualquer operação particular, o
aluno adquire a capacidade de constituir certa estrutura, independentemente da variação da
19
matéria com que trabalha e independentemente dos diferentes elementos que constituem essa
estrutura.
Esta teoria considera, portanto, um momento novo e essencial, um novo modo de
enfrentar o problema da disciplina formal. Koffka citado por Luz (1996) adota a velha
fórmula segundo a qual a aprendizagem é desenvolvimento, mas ao mesmo tempo não
considera a aprendizagem como um puro e simples processo de aquisição de capacidades e
hábitos específicos e não considera que aprendizagem e desenvolvimento sejam processos
idênticos; postula, pelo contrário, uma interação mais completa. Se, para Thorndike (1932)
citado por Nunez (1999, p. 12) , aprendizagem e desenvolvimento se sobrepõem
permanentemente, como duas figuras geométricas que estejam uma sobre a outra, para Koffka
o desenvolvimento continua referindo-se a um âmbito mais amplo do que a aprendizagem. A
relação entre ambos os processos pode representar-se esquematicamente por meio de dois
círculos concêntricos; o mais pequeno representa o processo de aprendizagem e o maior, o do
desenvolvimento, que se estende para além da aprendizagem.
A criança aprende a realizar uma operação de determinado gênero, mas ao mesmo
tempo apodera-se de um princípio estrutural cuja esfera de ampliação é maior do que a da
operação de partida. Por conseguinte, ao dar um passo em frente no campo da aprendizagem,
a criança dá dois no campo do desenvolvimento; e por isso aprendizagem e desenvolvimento
não são coincidentes.
Dado que as três teorias que examinamos interpretam de maneira tão diferente as
relações entre aprendizagem e desenvolvimento, deixemo-las de lado e procuremos uma nova
e melhor solução para o problema.
O que reforça a monografia aqui descrita é de que temos como ponto de partida o
fato de que a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar. A
aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem
uma pré-história. Por exemplo, a criança começa a estudar aritmética, mas já muito antes de ir
à escola adquiriu determinada experiência referente à quantidade, encontrou já várias
operações de divisão e adição, complexas e simples; portanto a criança teve uma pré-escola de
aritmética, e o psicólogo que ignorasse este fato estaria cego.
Um exame atento demonstra que esta aritmética pré-escolar é extremamente
complexa, que a criança já passou por uma aprendizagem aritmética própria muito antes de se
entregar na escola à aprendizagem da aritmética. Mas a existência desta pré-história da
20
aprendizagem escolar não implica uma direta continuidade entre as duas etapas do
desenvolvimento aritmético da criança.
O curso da aprendizagem escolar da criança não é continuação direta do
desenvolvimento pré-escolar em todos os campos; o curso da aprendizagem pré-escolar pode
ser desviado, de determinada maneira, e a aprendizagem escolar pode também tomar uma
direção contrária. Mas tanto se a escola continua a pré-escola como se a impugna, não
podemos negar que a aprendizagem escolar nunca começa no vácuo, mas é precedida sempre
de uma etapa perfeitamente definida de desenvolvimento, alcançado pela criança antes de
entrar para a escola.
Nunez (1999) contempla esta abordagem da seguinte forma:
Pela sua importância este processo de aprendizagem, que se produz antes que a
criança entre na escola, difere de modo essencial do domínio de noções que se adquirem
durante o ensino escolar. Todavia, quando a criança, com as suas perguntas, consegue
apoderar-se dos nomes dos objetos que a rodeiam, já está inserida numa etapa específica de
aprendizagem. Aprendizagem e desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na
idade escolar, portanto, mas estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança.
O problema que se nos apresenta é, por isso, duplamente complexo, e divide-se em
dois problemas separados. Antes de mais nada, devemos compreender a relação entre
aprendizagem e desenvolvimento em geral e depois as características especificas desta inter-
relação na idade escolar.
21
Podemos começar com o segundo problema, dado que nos ajuda a esclarecer o
primeiro. Para o resolver, teremos que levar em consideração os resultados de algumas
investigações que, em nossa opinião, são de importância básica e que permitiram o
desenvolvimento de uma nova teoria, fundamental para a solução carreta dos problemas
examinados: a teoria da área de desenvolvimento potencial.
É uma comprovação empírica, freqüentemente verificada e indiscutível, que a
aprendizagem deve ser coerente com o nível de desenvolvimento da criança. Não é
necessário, em absoluto, proceder a provas para demonstrar que só em determinada idade se
pode começar a ensinar a gramática, que só em determinada idade o aluno é capaz de
aprender álgebra. Portanto, podemos tomar tranqüilamente como ponto de partida o fato
fundamental e incontroverso de que existe uma relação entre determinado nível de
desenvolvimento e a capacidade potencial de aprendizagem.
Todavia, recentemente a atenção concentrou-se no fato de que quando se pretende
definir a efetiva relação entre processo de desenvolvimento e capacidade potencial de
aprendizagem, não podemos limitar-nos a um único nível de desenvolvimento. Tem de se
determinar pelo menos dois níveis de desenvolvimento de uma criança, já que, senão, não se
conseguirá encontrar a relação entre desenvolvimento e capacidade potencial de
aprendizagem em cada caso específico. Ao primeiro destes níveis chamamos nível do
desenvolvimento efetivo da criança. Entendemos por isso o nível de desenvolvimento das
funções psicointelectuais da criança que se conseguiu como resultado de um específico
processo de desenvolvimento, já realizado.
Quando se estabelece a idade mental da criança com o auxilio de testes, referimo-nos
sempre ao nível de desenvolvimento efetivo. Mas um simples controle demonstra que este
nível de desenvolvimento efetivo não indica completamente o estado de desenvolvimento da
criança. Suponhamos que submetemos a um teste duas crianças, e que estabelecemos para
ambas uma idade mental de sete anos. Mas quando submetemos as crianças a provas
posteriores, sobressaem diferenças substanciais entre elas. Com o auxílio de perguntas-guia,
exemplos e demonstrações, uma criança resolve facilmente os testes, superando em dois anos
o seu nível de desenvolvimento efetivo, enquanto a outra criança resolve testes que apenas
superam em meio ano o seu nível de desenvolvimento efetivo. Neste momento, entram
diretamente em jogo os conceitos fundamentais necessários para avaliar o âmbito de
22
desenvolvimento potencial. Isto, por sua vez, está ligado a uma reavaliação do problema da
imitação na psicologia contemporânea.
O ponto de vista tradicional dá como certo que a única indicação possível do grau de
desenvolvimento psicointelectual da criança é a sua atividade independente, e não a imitação,
entendida de qualquer maneira. Todos os atuais métodos de medição refletem esta concepção.
As únicas provas tomadas em consideração para indicar o desenvolvimento psicointelectual
são as que a criança supera por si só, sem ajuda dos outros e sem perguntas-guia ou
demonstrações.
Várias investigações demonstraram que este ponto de vista é insustentável.
Experiências realizadas com animais mostraram que um animal pode imitar ações que entram
no campo da sua efetiva capacidade potencial. 1sto significa que um animal pode imitar
apenas ações que, de uma maneira ou de outra, se lhe tornam acessíveis; de modo que, como
demonstraram as investigações de Kohler, a capacidade potencial de imitação do animal
dificilmente supera os limites da sua capacidade potencial de ação. Se um animal é capaz de
imitar uma ação intelectual, isso significa que, em determinadas condições, é capaz de realizar
uma ação análoga na sua atividade independente. Por isso, a imitação está extremamente
ligada à capacidade de compreensão e só é possível no âmbito das ações acessíveis à
compreensão do animal.
A diferença substancial no caso da criança é que esta pode imitar um grande número
de ações – senão um número ilimitado – que superam os limites da sua capacidade atual. Com
o auxílio da imitação na atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode fazer muito
mais do que com a sua capacidade de compreensão de modo independente. A diferença entre
o nível das tarefas realizáveis com o auxílio dos adultos e o nível das tarefas que podem
desenvolver-se com uma atividade independente define a área de desenvolvimento potencial
da criança.
Voltemos por um momento ao exemplo dado antes. Estamos perante duas crianças
com uma idade mental de sete anos, mas uma, com um pouco de auxílio, pode superar testes
até um nível mental de nove anos e a outra apenas até um nível mental de sete anos e meio. O
desenvolvimento mental destas crianças é equivalente? A sua atividade independente é
equivalente, mas, sob o ponto de vista das futuras potencialidades de desenvolvimento, as
duas crianças são radicalmente diferentes. O que uma criança é capaz de fazer com o auxílio
dos adultos chama-se zona do seu desenvolvimento potencial. Isto significa que com o auxílio
23
deste método podemos medir não só o processo de desenvolvimento até ao momento presente
e os processos de maturação que já se produziram, mas também os processos que estão
ocorrendo ainda, que só agora estão amadurecendo e desenvolvendo-se.
O que a criança pode fazer hoje com o auxílio dos adultos, poderá fazê-lo amanhã
por si só. A área de desenvolvimento potencial permite-nos, pois, determinar os futuros
passos da criança e a dinâmica do seu desenvolvimento, e examinar não só o que o
desenvolvimento já produziu, mas também o que produzirá no processo de maturação. As
duas crianças que tornamos como exemplo demonstram uma idade mental equivalente a
respeito do desenvolvimento já realizado, mas a dinâmica do seu desenvolvimento é
inteiramente diferente. Portanto, o estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser
determinado referindo-se pelo menos a dois níveis: o nível de desenvolvimento efetivo e a
área de desenvolvimento potencial.
Este fato, que em si mesmo pode parecer pouco significativo, tem na realidade
enorme importância e põe em dúvida todas as teorias sobre a relação entre processos de
aprendizagem e desenvolvimento na criança. Em especial, altera a tradicional concepção da
orientação pedagógica desejável, uma vez diagnosticado o desenvolvimento. Até agora, a
questão tinha se apresentado do seguinte modo: com o auxílio dos testes pretendemos
determinar o nível de desenvolvimento psicointelectual da criança, que o educador deve
considerar como um limite não superável pela criança. Precisamente, este modo de apresentar
o problema contém a idéia de que o ensino deve orientar-se baseando-se no desenvolvimento
já produzido, na etapa já superada.
Considerações análogas são igualmente válidas para o desenvolvimento da criança
normal. Um ensino orientado até uma etapa de desenvolvimento já realizado é ineficaz sob o
ponto de vista do desenvolvimento geral da criança, não é capaz de dirigir o processo de
desenvolvimento, mas vai atrás dele. A teoria do âmbito do desenvolvimento potencial
origina uma fórmula que contradiz exatamente a orientação tradicional: o único bom ensino é
o que se adianta ao desenvolvimento.
Sabemos por uma grande quantidade de investigações, que o desenvolvimento das
funções psicointelectuais superiores na criança, dessas funções especificamente humanas
formadas no decurso da história do gênero humano, é um processo absolutamente único. De
outro modo formulamos a lei fundamental deste desenvolvimento da seguinte maneira:
No se refere ao papel da linguagem, Nunez (1999, p. 02) acrescenta que:
24
Por muito tempo concebeu-se a criança como um ser passivo. Acreditava-se que o
conhecimento era adquirido pela absorção do meio. Na teoria do conhecimento, denominada
Teoria Empirista, a linguagem é concebida como comportamento verbal, sendo a escrita mera
atividade motora que deriva da associação dos estímulos sonoro-auditivos.
Com relação às práticas de escrita, elas se voltaram nesta perspectiva para o
desenvolvimento da prontidão, no caso das crianças que ainda não escreviam. Essa prontidão
seria alcançada por meio da exercitação das habilidades percepto-motoras, atendendo ao
pressuposto de que o domínio prévio dessas habilidades garantiria a aquisição da escrita.
Para as crianças que já sabiam escrever, os recursos utilizados eram cópias de letras e
palavras isoladas, cujos significados as crianças ignoram e as redações com temas
aprisionados, apresentando grande preocupação com a gramática e ortografia.
No que diz respeito às práticas de leitura, as estratégias mais usadas eram ainda e são
as cartilhas e os livros didáticos. A ênfase, neste caso, recai na sonorização da escrita (sinais
gráficos em sonoros) onde a criança vai a duras penas identificando cada palavra escrita sem
conseguir, no entanto, atribuir-lhes significados.
Contrariamente à anterior, a Teoria Interacionista Construtivista, que tem em Piaget
seu principal representante, concebe a criança como um ser ativo, inteligente, que constrói o
seu conhecimento com base na interação com o ambiente. Por intermédio dos processos
mentais de assimilação e acomodação, o sujeito vai se modificando para se adaptar ao meio.
Ferrero e Teberosky, com base na psicogênese do conhecimento elaboram uma
psicogênese da escrita. Tomando como base a escrita como objeto do conhecimento, elas
observam que, na sua interação com esse objeto, a criança vai desenvolvendo hipóteses cada
vez mais avançadas sobre a escrita.
As pesquisas de Ferrero e Teberosky trouxeram para as práticas de escrita a enorme
contribuição de liberar a criança da obrigação de passar grande parte de seu tempo na escola
exercitando suas funções percepto-neurológicas. Em outras palavras, libertaram-na das tarefas
pouco significativas de "cobrir pontinhos", "levar o osso ao cachorrinho", "apontar a cadeira
que está à esquerda da mesa", "corresponder vogais", etc.
26
A sociedade mudou muito e hoje esse conceito de alfabetização não atende mais às
necessidades da sociedade atual.
O cidadão que sabe ler é aquele que consegue dar sentido ao material a quem tem
acesso. Ler não significa apenas decifrar a palavra escrita. Estamos lendo o mundo o tempo
todo.
Leitura exige não só a decodificação de um determinado código como também,
compreensão e posicionamento crítico do material, que pode ser um texto escrito, imagem,
escultura, etc.
A leitura tem uma relação direta com a história de vida de cada pessoa. Por isso, a
leitura que duas ou mais pessoas fazem de um determinado texto, nunca é igual, nunca é
homogênea.
28
3 METODOLOGIA
3.2 DELIMITAÇÃO
3.2.1 LOCAL
Itaiópolis - SC
3.2.2 POPULAÇÃO
3.2.3 AMOSTRA
TABELA III - Idade cronológica da criança que atualmente está ingressando no ensino
fundamental, você, através da sua experiência como educadora percebe que...
Outros:
1. Ter um maior tempo de preparo nas creches
2. Sala de reforço.
33
TABELA VII - das crianças que iniciaram a primeira série do ensino fundamental sem
levar em consideração sua maturidade para a alfabetização
idade dos alunos provoca implicações no processo ensino-aprendizagem, sob todos os ângulos
de análise, passando pela questão da alfabetização ao processo de socialização do aluno,
através da convivência em sala de aula. A idade precoce da criança, gera uma dependência em
relação ao professor, cujas implicações envolverá toda a turma.
CONCLUSÃO
aptidões para a aprendizagem, balizadas pela vivência em nível de pré-escolar, dentro da faixa
etária estabelecida em Lei, quando efetuadas as matrículas.
Desta forma, conclui-se que a idade precoce da criança no processo de alfabetização
se dá mediante uma visão de pedagogia, que tem no professor o elemento-chave para superar
as dificuldades vindouras dessa heterogeneidade. Ou seja, o professor deverá se esforçar para
“adaptar” o aluno no coletivo das atividades pertinentes a idade da maioria da criança, com
reflexos da leitura construtivista de Piaget.
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Maria Amélia; MARQUES, Maria Lúcia. Alfabetização hoje. São Paulo :
Cortez, 1994.
SMOLKA, Ana L. B. A criança na fase inicial da escrita. 6. ed. São Paulo : Cortez,
1993.
SPODEK, Bernard; SARACHO, Olivia N. Ensinando crianças de três a oito anos. Porto
Alegre : Artes Médicas, 1998.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo : Martins Fontes, 1989.
ANEXOS
42
Dados de identificação:
Tempo de serviço: ( ) 01 a 05 anos; ( ) 06 a 10 anos; ( ) 11 a 15; ( ) acima de 15
6. Das crianças que iniciaram a 1a série no ensino fundamental sem levar em consideração
sua maturidade para a alfabetização:
( ) Conseguiram superar as dificuldades na 1a série;
( ) Não conseguiram superar as dificuldades na 1a série;
( ) Conseguiram superar parcialmente suas dificuldades;
( ) Outros. Quais?________________________________________
8. Dos autores abaixo, qual você identifica com a abordagem da aprendizagem da criança x
idade?
( ) Piaget; ( ) Vygotsky; ( ) Freinet; ( ) Leontiev; ( ) Paulo Freire;
Emília Ferreiro; ( ) Outros. Quais?
9. A diferença de idade entre as crianças que ingressam na escola, na sua opinião, influencia
no processo ensino-aprendizagem do educando?
( ) Sim ( ) Não
10) Você concorda com a lei que regulamenta o ingresso da criança no ensino fundamental a
partir de uma determinada idade? ( ) Sim; ( ) Não
44
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................1
2 REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................................................3
2.1 CONCEPÇÕES DA ALFABETIZAÇÃO..........................................................................................................3
2.2 TEORIAS DA APRENDIZAGEM.....................................................................................................................7
2.2.1 Empirismo ou Ambientalismo.........................................................................................................................7
2.2.2 Inatismo............................................................................................................................................................7
2.2.3 Construtivismo................................................................................................................................................8
2.2.4 Histórico-Cultural...........................................................................................................................................8
2.3 CONCEPÇÕES DE INTELIGÊNCIA E PROCESSO EDUCATIVO..............................................................9
2.3.1 Inteligência: “Pré-requisito” ou Construção?...............................................................................................9
2.3.2 Inteligências ou Inteligência?........................................................................................................................11
2.4 O INÍCIO DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO......................................................................................12
2.4.1 O papel da escola e do professor no processo de alfabetização...................................................................12
2.5 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL NA IDADE ESCOLAR...........................13
2.6 A NECESSIDADE DE UMA PREPARAÇÃO PARA A ALFABETIZAÇÃO..............................................24
3 METODOLOGIA..............................................................................................................................................28
3.1 MODALIDADE DE PESQUISA.....................................................................................................................28
3.2 DELIMITAÇÃO...............................................................................................................................................28
3.2.1 LOCAL...........................................................................................................................................................28
3.2.2 POPULAÇÃO................................................................................................................................................28
3.2.3 AMOSTRA......................................................................................................................................................28
3.3. METODOLOGIA DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA.................................................................................29
3.4 METODOLOGIA DA PESQUISA CAMPO..................................................................................................29
3.5 DA COLETA DE DADOS...............................................................................................................................29
3.6 APLICAÇÃO DA COLETA DE DADOS.......................................................................................................29
3.7 INTERPRETAÇÃO DA COLETA DE DADOS.............................................................................................29
4 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................................................................30
4.1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS...................................................................................................................30
4.2 EVIDENCIAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...........................................30
CONCLUSÃO.......................................................................................................................................................37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................39
ANEXOS................................................................................................................................................................41
ANEXO I – QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES.......................................................................................42
45