Fundamentos de Teoria Da Relatividade e Física Quântica

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Fundamentos de Teoria

da Relatividade e Física
Quântica
Prof. Sandro Elias Braun

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof. Sandro Elias Braun

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

B825f

Braun, Sandro Elias

Fundamentos de teoria da relatividade e física quântica. /


Sandro Elias Braun. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

316 p.; il.

ISBN 978-85-515-0449-9

1. Teoria da relatividade. - Brasil. 2. Física quântica. – Brasil. Centro


Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 530

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Neste Livro Didático, desenvolveremos e explora-
remos as relevantes conquistas dos séculos XIX e XX conforme os elementos
da física moderna sob a perspectiva da teoria da relatividade e da mecânica
quântica, enfatizando conceitos e aplicações. Acreditamos que ao final do
livro você entenderá os fundamentos que constituem a física moderna que,
apesar de invisíveis, estão na nossa vida cotidiana.

Este trabalho foi criado considerando você, estudante a distância, que


está cursando a disciplina e deseja se suplementar dos conceitos e aplicações
deste tema. Com o objetivo de permitir uma visão geral do tema, ao longo
do texto serão desenvolvidos: os conceitos compreendidos, os padrões de
análise e a descrição dos cálculos. Não deixe de estudá-los anteriormente ao
entrar para o tópico posterior!

Vídeos, textos complementares, dicas e destaques foram apresenta-


dos de forma a integrar os fundamentos fornecidos no texto, e precisam ser
avaliados na sequência em que se apresentam, então preste atenção! E não
deixe de avaliar minuciosamente as figuras apresentadas, estas são impor-
tantes para o entendimento e a compreensão dos discursos de exploração.

Ao final da unidade há uma lista de exercícios — autoatividades —


para a fixação do conteúdo. A proposta é de que você os resolva primeira-
mente fazendo um estudo e em seguida tente resolver os mesmos exercícios
novamente, mas sem olhar as respostas, e, por fim, compare os acertos e os
erros. Não deixe de resolvê-los!

Bons estudos!
Prof. Sandro Elias Braun

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS..................................................1

TÓPICO 1 – A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE...................................................................................................5
3 O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY ..............................................................................8
4 O POSTULADO DE EINSTEIN.........................................................................................................14
5 ESPAÇO-TEMPO...................................................................................................................................17
5.1 LINHAS DO UNIVERSO NO ESPAÇO-TEMPO.........................................................................19
6 A TRANSFORMAÇÃO DE LORENTZ.............................................................................................20
7 SIMULTANEIDADE.............................................................................................................................23
8 TRANSFORMAÇÃO DE VELOCIDADES......................................................................................28
9 O EFEITO DOPPLER RELATIVÍSTICO...........................................................................................29
9.1 ALGUMAS APROXIMAÇÕES ÚTEIS...........................................................................................32
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................35
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................38

TÓPICO 2 – DINÂMICA RELATIVÍSTICA.......................................................................................45


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................45
2 MOMENTO RELATIVÍSTICO...........................................................................................................46
3 ENERGIA RELATIVÍSTICA...............................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................55
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................57

TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL..............................................................59


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................59
2 GEOMETRIA DIFERENCIAL.............................................................................................................59
3 O PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA.................................................................................................63
4 AS EQUAÇÕES DE CAMPO DE EINSTEIN...................................................................................66
4.1 APROXIMAÇÃO PARA CAMPOS FRACOS...............................................................................66
5 A SOLUÇÃO DE SCHWARZSCHILD..............................................................................................69
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................76
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................78

UNIDADE 2 – INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA


E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS............................................................................79

TÓPICO 1 – ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA E OS FÓTONS...............................................81


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................81
2 HISTÓRICO DA TEORIA QUÂNTICA...........................................................................................81
2.1 A HIPÓTESE DE PLANCK.............................................................................................................82
2.2 O EFEITO FOTOELÉTRICO...........................................................................................................84
2.2.1 A teoria quântica de Einstein sobre o efeito fotoelétrico....................................................88
2.3 O EFEITO COMPTON.....................................................................................................................94
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105
VII
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................106
TÓPICO 2 – MODELOS ATÔMICOS................................................................................................107
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................107
2 ESPECTROS ATÔMICOS..................................................................................................................107
3 O MODELO DE RUTHERFORD......................................................................................................112
4 O MODELO DE BOHR......................................................................................................................119
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................141

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS....................................143


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................143
2 A HIPÓTESE DE BROGLIE...............................................................................................................144
3 A DUALIDADE PARTÍCULA-ONDA............................................................................................153
4 INTERPRETAÇÃO PROBABILÍSTICA DA FUNÇÃO DE ONDA...........................................157
5 OPERADORES.....................................................................................................................................161
6 OBSERVÁVEIS E VALOR ESPERADO.................................................................................162
7 REPRESENTAÇÃO MATRICIAL E ÁLGEBRA DE OBSERVÁVEIS.......................................167
8 MOMENTO ANGULAR DO FÓTON.............................................................................................176
9 O PRINCÍPIO DA INCERTEZA.......................................................................................................181
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................188
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................191

UNIDADE 3 – A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER


E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS...................................................................193

TÓPICO 1 – A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER.............................................................................195


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................195
2 A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER EM UMA DIMENSÃO .....................................................196
3 OPERADORES DE POSIÇÃO E DE MOMENTO........................................................................201
4 AUTOFUNÇÕES DO MOMENTO..................................................................................................204
5 DENSIDADE DE CORRENTE E DE PROBABILIDADE............................................................205
6 RELAÇÕES DE INCERTEZA............................................................................................................208
7 ESTADOS ESTACIONÁRIOS..........................................................................................................211
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................216
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................218

TÓPICO 2 – A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO...................219


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................219
2 O POTENCIAL NULO .......................................................................................................................220
3 O POTENCIAL DEGRAU..................................................................................................................230
3.1 ENERGIA MENOR DO QUE A ALTURA DO DEGRAU........................................................231
3.2 ENERGIA MAIOR DO QUE A ALTURA DO DEGRAU..........................................................242
4 A BARREIRA DE POTENCIAL........................................................................................................251
5 O POÇO DE POTENCIAL QUADRADO.......................................................................................262
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................273
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................274

TÓPICO 3 – ESTRUTURA ATÔMICA...............................................................................................275


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................275
2 O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO ........................................................................................................276
2.1 QUANTIZAÇÃO DO MOMENTO ANGULAR E DA ENERGIA
DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO .................................................................................................276

VIII
2.2 QUANTIZAÇÃO DO MOMENTO ANGULAR........................................................................279
2.3 QUANTIZAÇÃO DA ENERGIA.................................................................................................283
2.4 RESUMO DOS NÚMEROS QUÂNTICOS..................................................................................286
2.5 AS FUNÇÕES DE ONDA DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO....................................................287
2.6 O ESTADO FUNDAMENTAL......................................................................................................288
2.7 ESTADOS EXCITADOS.................................................................................................................292
3 O SPIN DO ELÉTRON......................................................................................................................295
3.1 MOMENTO MAGNÉTICO...........................................................................................................296
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................303
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................305
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................306

IX
X
UNIDADE 1

MOVIMENTO PLANO DOS


CORPOS RÍGIDOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o que estabelece o princípio da relatividade;

• entender a experiência de Michelson-Morley;

• entender a formulação do postulado de Einstein;

• entender a relação do espaço tempo com o estudo da relatividade restrita


e relatividade geral;

• entender a transformação de Lorentz deduzida para um movimento rela-


tivo em qualquer direção;

• entender a imultaneidade de dois eventos poderem ser percebidos de for-


ma coincidente em um mesmo instante;

• entender a transformação de velocidades para um corpo se movendo em


relação a um determinado referêncial;

• entender o efeito Doppler relativístico para objetos (fonte emissora ou


detector) que se movem em velocidades relativísticas;

• entender o momento relativístico e energia relativística para uma partícula;

• entender a geometria diferencial como formulações matemáticas da me-


cânica quântica são os formalismos matemáticos que permitem uma des-
crição rigorosa da mecânica quântica;

• entender o princípio da equivalência de Einstein da aceleração de um


dado referencial;

• entender as equações de campo de Einstein, que descreve como a maté-


ria gera gravidade e, inversamente, como a gravidade afeta a matéria;

• entender a solução de Schwarzschild que descreve o campo gravitacio-


nal externo a um corpo esférico, porém desprezando qualquer rotação de
massa.

1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer de cada tópico
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

TÓPICO 2 – DINÂMICA RELATIVÍSTICA

TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

1 INTRODUÇÃO
A propriedade relativística das leis da física começou a ser observada muito
cedo na história da física clássica. Nicolau Copérnico já havia apresentado que o cál-
culo dos movimentos dos planetas se voltaria muito mais claro e preciso se o antigo
modelo aristotélico, entendido na ideia de que a Terra era o centro do universo, ficas-
se alterado por um padrão no qual os planetas se voltassem em tomo do Sol e não da
Terra. Copérnico se tornou largamente conhecido graças a sua correspondência com
os contemporâneos. Além disso, ajudou a preparar o caminho para a aceitação geral,
um século mais tarde, da teoria heliocêntrica do movimento dos planetas. Embora a
teoria de Copérnico tenha gerado uma verdadeira revolução do pensamento huma-
no, o aspecto que nos interessa é que a teoria não considerava a localização da Terra
como especial ou privilegiada. Logo, as mesmas equações ficariam obtidas, com in-
dependência da origem do sistema de coordenadas. Essa invariância das equações
que apresentam as leis da física é vista como princípio da relatividade.

A teoria restrita, desenvolvida por Einstein e outros em 1905, apresentam o


confronto entre os movimentos observados em diferentes referenciais que se encon-
tram movendo-se com velocidade constante, uns em relação aos outros.

A teoria geral, também formulada por Einstein, aborda os referenciais acele-


rados e os efeitos da gravidade. Apesar de que a teoria geral queira conhecimentos
mais agudos de matemática (como análise tensorial, por exemplo) para ficarem bem
compreendidas, umas de suas ideias básicas e hipóteses importantes dessa teoria po-
dem ser discutidas no nível deste Livro Didático. A teoria geral é fundamental para
a cosmologia e para o estudo dos fatos que surgem nas vizinhanças de massas muito
grandes (como as estrelas, por exemplo). Graças a melhorias com nossa prática de fa-
zer medidas claras, a teoria geral está sendo utilizada cada vez mais com outras áreas
da física e da engenharia e até na vida diária, como nos aparelhos de GPS.

Vamos dedicar os Tópicos 1 e 2 à teoria restrita — também conhecida como


relatividade restrita — e deixaremos para discutir a teoria geral no Tópico 3 desta
unidade.

Como abertura a este tópico, suponhamos um vagão de trem que está em


um movimento uniforme. Referimos que seu movimento é uma translação unifor-
me (uniforme, porque são de velocidade e direção constantes; translação, porque,
mesmo que a posição do vagão mude com relação à via, não realiza nenhum giro).

3
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Suponhamos que pelos ares voa um corvo em linha reta e uniformemente


(com respeito à via). Não há dúvida de que o movimento do corvo é — com
respeito ao vagão em marcha — um movimento de diferente velocidade e diferente
direção, mas segue sendo retilíneo e uniforme. Expresso de modo abstrato: se
uma massa m se move em linha reta e uniformemente com respeito a um sistema
de coordenadas K, então também se move em linha reta e uniformemente com
respeito a um segundo sistema de coordenadas K', sempre que este execute com
respeito a K um movimento de translação uniforme. Tendo em conta o afirmado
no parágrafo anterior, depreende-se daqui o seguinte:

Se K é um sistema de coordenadas de Galileu, então também é qualquer


outro sistema de coordenadas K' que, com respeito a K, se ache num estado de
translação uniforme. As leis da Mecânica de Galileu-Newton valem tanto com
respeito a K' como com respeito a K. Demos um passo a mais na generalização e
enunciemos o seguinte princípio:

E
IMPORTANT

Se K' é um sistema de coordenadas que se move uniformemente e sem


rotação com respeito a K, então os fenômenos naturais decorrem com respeito a K'
segundo idênticas leis gerais com respeito a K. Esta proposição é o que chamaremos o
Princípio de Relatividade (no sentido restrito).

Enquanto se manteve a crença de que todos os fenômenos naturais po-


diam ser representados com ajuda da Mecânica Clássica, não se podia acreditar
na validade do Princípio da Relatividade. No entanto, os recentes progressos da
Eletrodinâmica e da Ótica fizeram ver cada vez mais claramente que a Mecânica
Clássica, como base de toda descrição física da natureza, não era suficiente. A
questão da validade do Princípio de Relatividade se tornou assim, perfeitamente
discutível, sem excluir a possibilidade de que a solução fosse em sentido negati-
vo. Existem, contudo, dois fatos gerais que primeiramente falam muito a favor
da validade do Princípio da Relatividade.

Efetivamente, ainda que a Mecânica Clássica não proporcione uma base


suficientemente ampla para representar teoricamente todos os fenômenos físicos,
possui um conteúdo de valor muito importante, pois fornece com admirável pre-
cisão os movimentos reais dos corpos celestes.

O segundo argumento, sobre o qual voltaremos mais adiante, é o seguin-


te: se o Princípio da Relatividade (em sentido restrito) não é válido, então os siste-
mas de coordenadas de Galileu K, K’, K” etc., que se movem uniformemente uns
com respeito aos outros, não serão equivalentes para a descrição dos fenômenos
naturais. Nesse caso não teríamos mais remédio senão pensar que as leis da natu-
4
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

reza só podem formular-se com especial singeleza e naturalidade se, dentre todos
os sistemas de coordenadas de Galileu, elegêssemos como corpo de referência um
(K0) que tivesse um estado de movimento determinado. A este o qualificaríamos,
e com razão (por suas vantagens para a descrição da natureza), de absolutamente
em repouso, enquanto dos demais sistemas galileanos K diríamos que são mó-
veis. Se a via fosse o sistema K0, então nosso vagão de transporte ferroviário seria
um sistema K em relação ao qual regeriam leis menos singelas do que com res-
peito a K0. Esta menor simplicidade teria que atribuir que o vagão K se move com
relação a K0 (isto é, realmente).

Nestas leis gerais da natureza formuladas relacionadas a K teriam que


desempenhar um papel o módulo e a direção da velocidade do vagão.

Seria de esperar, por exemplo, que o tom de um tubo de órgão fosse di-
ferente quando seu eixo fosse paralelo à direção de marcha do que quando esti-
vesse perpendicular. Agora, a Terra, devido ao seu movimento orbital ao redor
do Sol, é equiparável a um vagão que viaja a uns 30 km por segundo. Portanto,
no caso de não ser válido o Princípio de Relatividade, seria de esperar que a di-
reção instantânea do movimento terrestre interviesse nas leis da natureza e que,
portanto, o comportamento dos sistemas físicos dependesse de sua orientação es-
pacial com respeito à Terra; porque, como a velocidade do movimento de rotação
terrestre varia de direção em decorrência do ano, a Terra não pode estar durante
o intervalo de um ano inteiro em repouso com respeito ao hipotético sistema K0.

Pense o mesmo que se há posto em detectar tal anisotropia do espaço físico


terrestre, isto é, uma não equivalência das diferentes direções, jamais pôde ser obser-
vada. O qual é um argumento de importância a favor do Princípio da Relatividade.

2 O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE
Você já estudou que, como consequência das equações de Maxwell, as
ondas eletromagnéticas se propagam no vácuo com velocidade c = 1/ ε 0 µ0 que
é uma constante universal. Entretanto, é importante discutirmos uma questão
básica: a que referencial se refere essa velocidade?

A dependência das leis físicas com respeito ao referencial foi discutida


na Mecânica Clássica, em que foi visto que as leis básicas da Mecânica assumem
sua forma mais simples nos referenciais inerciais. Por definição, um referencial
é inercial se nele vale a lei da inércia, ou seja, uma partícula não sujeita a forças
(suficientemente afastada das demais) permanece em repouso ou em movimento
retilíneo uniforme. Com boa aproximação, um referencial vinculado às estrelas
fixas é inercial.

Sabemos também que qualquer referencial em movimento retilíneo uni-


forme em relação a um referencial inercial é também inercial, como demonstrado
na Figura 1: Referenciais (S) e (S') a seguir:

5
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 1 – REFERENCIAIS (S) E (S')


z'
(S')

(S) O'
z y'

Vt
x'
y
O

x
FONTE: Nussenzveig (2014, p. 175)

Se o referencial (S') (Figura 1) se move em relação à (S) com velocidade


constante V e as origens O e O' dos dois referenciais coincidem no instante t = t'
= 0, vimos que a relação entre as coordenadas [x (x, y,z ), t ] e [ x' (x', y',z' ), t' ] nos
dois referenciais é dada pela transformação de Galileu:

X ′ = x - vt
(1.1)
t' = t

Da qual decorre a lei de Galileu de composição de velocidades:

v'' − v − V (1.2)

Onde v e v' são velocidades relativas à (S) e (S'), respectivamente. Decorre


também a igualdade das acelerações:

dv dv' (1.3)
= a = a′ = '
dt dt
Como a transformação de Galileu não afeta as distâncias entre partículas
nem a massa, também não afeta uma força F que só depende dessas distâncias
(como a gravitação), de modo que:

6
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

F = m.a → F ′ = m′a′ (m' = m) (1.4)

Isto é, a lei básica da dinâmica não se altera.

ATENCAO

Daí decorre o princípio de relatividade da Mecânica, devido a Galileu: é


impossível detectar um movimento retilíneo uniforme de um referencial em relação a
outro por qualquer efeito sobre as leis da dinâmica (Galileu deu o exemplo de experiências
de mecânica feitas sob o convés de um navio, com as escotilhas fechadas, que seriam
incapazes de distinguir se o navio estaria ancorado ou em movimento retilíneo uniforme).

Vimos também na Mecânica que esse princípio deixa de valer para refe-
renciais não inerciais, ou seja, aparecem efeitos detectáveis sobre as leis da mecâ-
nica, através das forças de inércia (força centrífuga, força de Coriolis etc.).

Entretanto, se procurarmos estender à Eletrodinâmica o princípio de re-


latividade, deparamo-nos imediatamente com um problema: decorre das leis da
Eletrodinâmica (equações de Maxwell) que a luz se propaga, no vácuo, com ve-
locidade c. Admitindo que isso vale num dado referencial inercial, e que valem
as leis da Mecânica Clássica, o resultado não poderia valer num outro referencial
inercial em movimento retilíneo uniforme em relação ao primeiro com velocida-
de V. Com efeito, pela lei da Galileu de composição de velocidades, seria:

c' = c − V (1.5)

E, por conseguinte, seria c' ≠ c (e c' variaria com a direção de propagação),


contradizendo o princípio de relatividade no caso da Eletrodinâmica.

A validade das equações de Maxwell estaria restrita, então, a um referencial


inercial privilegiado, onde a velocidade da luz é c em todas as direções. Isso
acontece, por exemplo, na acústica: as ondas de som se propagam através de um
meio material, que é o suporte das oscilações, e a velocidade do som é isotrópica
(a mesma em todas as direções) somente num referencial em que este meio está
em repouso. Observada de outro referencial em movimento em relação a este, a
velocidade do som é diferente e varia com a direção (Efeito Doppler).

7
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

A identificação do "vácuo” com um tal suporte material das ondas eletro-


magnéticas corresponde ao conceito do éter, meio hipotético cuja existência já ha-
via sido postulada por Descartes. O próprio Maxwell chegou a suas equações com
base num modelo mecânico para o campo eletromagnético, um “éter celular”.

Se o éter existisse como referencial privilegiado, deveria ser possível, por


experiências de propagação da luz, detectar um movimento retilíneo uniforme em
relação a ele, ou seja, o princípio de relatividade não seria válido na eletrodinâmica
(da mesma forma que não é válido na propagação do som).

Se quiséssemos, porém, manter o princípio de relatividade também na ele-


trodinâmica, isto não seria compatível com a validade simultânea das equações
de Maxwell e das leis da mecânica newtoniana: uma das duas teorias teria de ser
abandonada.

Teria de ser válida, portanto, uma das seguintes opções:

(i) A mecânica newtoniana e as equações de Maxwell são válidas, mas o


princípio de relatividade não se aplica a todas as leis físicas: existe um referencial
absoluto (o éter), onde a velocidade da luz é c em todas as direções, e deve ser pos-
sível, por meio de experiências eletromagnéticas, detectar um movimento retilíneo
e uniforme em relação ao referencial absoluto do éter.

(ii) O princípio de relatividade aplica-se a todas as leis físicas e a mecânica


newtoniana é correta. Nesse caso, as equações de Maxwell teriam de ser modifica-
das e para ser possível observar desvios das leis eletrodinâmicas clássicas.

E
IMPORTANT

A única opção compatível com os fatos experimentais, conforme vamos ver,


é a (iii).

(iii) O princípio de relatividade aplica-se a todas as leis físicas, e as equações de Maxwell são
corretas. Nesse caso, a mecânica newtoniana e a transformação de Galileu não podem ser
corretas: deve ser possível observar desvios das leis da mecânica newtoniana.

3 O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY
No século XIX, os cientistas acreditavam que todas as ondas conhecidas
necessitavam de um meio para se propagarem. As ondas do mar obviamente não
existem no vácuo. O mesmo se pode dizer das vibrações de uma corda de violão,
das ondulações da superfície de um tambor, das oscilações que atravessam a Terra
durante um terremoto e, de forma geral, das ondas que atravessam qualquer
8
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

material quando este é submetido a forças variáveis. A velocidade dessas ondas


depende das propriedades do meio em que se propagam e assume uma forma
particularmente simples quando é expressa em relação ao meio. Por exemplo, a
velocidade das ondas sonoras no ar, isto é, a velocidade com a qual se propagam
em relação ao ar parado, pode ser calculada e medida com relativa facilidade. O
efeito Doppler para o som no ar depende não só do movimento relativo entre a
fonte e o observador, mas também do movimento da fonte e do observador em
relação ao ar. Era natural, portanto, que os cientistas postulassem a existência
de um meio como o éter para permitir a propagação da luz e outras ondas
eletromagnéticas, e esperassem que o movimento absoluto da Terra em relação
ao éter pudesse ser medido, a despeito do fato de o éter jamais ter sido observado.

FIGURA 2 – ALBERT A MICHELSON JOGANDO BILHAR

FONTE: <http://bit.ly/2pG60or>. Acesso em: 18 nov. 2019.

Albert A Michelson, que aparece na foto jogando bilhar na maturidade


(Figura 2), fez a primeira medição precisa da velocidade da luz quando era
professor da Ll. S. Naval Academy, em que serviu como cadete na juventude.

Michelson foi o primeiro a perceber que, embora o efeito do movimento


da Terra sobre qualquer medida da velocidade da luz baseada em um percurso
de “ida e volta” — como o indicado esquematicamente na Figura 3 — fosse pe-
queno demais para ser medido diretamente, seria possível medir a razão
por um processo indireto, usando a interferência de ondas luminosas como um
“relógio” muito preciso.

9
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

De acordo com a teoria clássica, a velocidade da luz seria igual a c em


relação ao éter, c – v em relação ao observador para o raio emitido pela fonte
luminosa em direção ao espelho e c + v em relação ao observador para o raio
refletido pelo espelho em direção ao observador (Figura 3).

FIGURA 3 – UMA FONTE LUMINOSA, UM ESPELHO E UM OBSERVADOR SE MOVEM COM


VELOCIDADE EM RELAÇÃO AO ÉTER

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 6)

O aparelho que ele projetou para executar esse tipo de medida recebeu o
nome de interferômetro de Michelson. O objetivo do experimento de Michelson-
Morley era medir a velocidade da luz em relação ao interferômetro, ou seja, em
relação à Terra, o que equivaleria a demonstrar que a Terra estava em movimento
em relação ao éter, representando, portanto, uma prova da existência do último.
Antes de discutirmos o funcionamento do interferômetro, vamos descrever uma
situação análoga em um contexto familiar.

Os dispositivos óticos foram montados em um bloco quadrado de arenito,


com cinco pés de lado que flutuavam em mercúrio, para reduzir as tensões e
vibrações que haviam prejudicado os experimentos anteriores (Figura 4). Para
fazer observações em qualquer direção, bastava girar o bloco no plano horizontal.

10
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

FIGURA 4 – EQUIPAMENTO USADO POR MICHELSON E MORLEY NO EXPERIMENTO DE 1887

Espelhos
Fonte luminosa Ajustáveis Placa
de vidro
Espelhos Espelho
Semitransparente Espelhos Espelhos

Telescópio

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 7)

À distância L no novo interferômetro (Figura 4) era, aproximadamente, 11


m, graças a reflexões múltiplas. A Figura 5 mostra como funcionava o instrumento.

A luz amarela produzida por uma lâmpada de sódio é dividida em dois


feixes por um espelho semitransparente instalado no ponto.

• Figura 5a: os feixes se propagam ao longo de dois trajetos mutuamente


perpendiculares 1 e 2, são refletidos pelos espelhos M1 e M2 e voltam a a,
onde se recombinam e são observados. A presença do compensador tem por
objetivo igualar os comprimentos óticos dos dois percursos, fazendo com que
as distâncias L contenham o mesmo número de ciclos da onda luminosa. Se
o espelho M2 é inclinado ligeiramente, deixando de ser perpendicular a M1,
o observador passa a ver M1 e M2, a imagem de M: formando uma cunha. A
interferência dos feixes refletidos pelos dois espelhos depende do número de
ciclos de onda em cada trajeto, que, por sua vez, depende:
ᵒ do comprimento de cada trajeto; e
ᵒ da velocidade da luz em relação ao instrumento em cada trajeto.
11
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Qualquer que seja o valor dessas velocidades, o fato de que as imagens


M1 e M2 formam uma cunha significa que a diferença entre a distância percorrida
pelo feixe 2 e a distância percorrida pelo feixe 1 varia gradualmente ao longo da
imagem vista pelo observador. Isso faz com que o observador veja uma série de
franjas claras e escuras, como em (h), que resultam da interferência construtiva e
destrutiva, respectivamente, dos dois feixes.

FIGURA 5 – PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO DO INTERFERÔMETRO DE MICHELSON

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 8)

• Figura 5b: a imagem vista pelo observador consistia em uma série de faixas
claras e escuras denominadas franjas de interferência (Figura 5b). Os dois raios
luminosos presentes no interferômetro são análogos aos dois barcos a remo,
era de se esperar que o movimento da Terra em relação ao éter introduzisse
uma diferença de tempo e de fase dada pela Equação:

2L  v 2  2L 1v 2 Lv 2
Dt = t2 − t1 ≈  1+  − − (1 + ) ≈
c  c2  c 2c 2 c3
Uma rotação de 90° do interferômetro multiplicaria por dois a diferença
de tempo e mudaria a fase fazendo com que a figura de interferência se deslocas-
se de uma distância AN. Para fazer girar o aparelho, foi usado um sistema espe-
cial no qual o bloco de pedra em que estava montado o interferômetro flutuava

12
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

em um banho de mercúrio. Esse arranjo atenuava as vibrações e permitia que os


cientistas girassem o aparelho sem introduzir deformações mecânicas capazes de
provocar variações de L e, portanto, da posição das franjas. Usando uma lâmpa-
da de sódio com l = 590 nm e supondo que v = 30 km/s (ou seja, uma velocidade da
Terra em relação ao éter igual a velocidade orbital do planeta), os pesquisadores
esperavam que o deslocamento AN fosse da ordem de 40% da largura de uma
franja, ou seja, um valor 40 vezes maior do que o deslocamento mínimo (1% da
largura de uma franja) que o equipamento era capaz de medir.

Para grande decepção de Michelson e da maioria dos cientistas da época,


o deslocamento previsto não foi observado. Em vez disso, as franjas se desloca-
ram de apenas 1% da largura de uma franja, um valor da mesma ordem que a
precisão do instrumento. Com a circunspeção que era sua característica Michel-
son descreveu os resultados da seguinte forma:

E
IMPORTANT

O deslocamento observado foi certamente menor que um vinte avos de 40%


da largura de uma franja e, provavelmente, menor que um quarenta avos. Como, porém,
o deslocamento é proporcional ao quadrado da velocidade, a velocidade relativa entre
a Terra e o éter é provavelmente menor que um sexto da velocidade orbital da Terra e
certamente menor que um quarto.

ATENCAO

Michelson e Morley haviam acabado de mostrar que a velocidade da Terra em


relação ao éter não podia ser maior que 5 km/s. Do nosso ponto de vista, é difícil apreciar o
efeito devastador desse resultado. A teoria da propagação da luz aceita na época não podia
estar correta: a ideia de que o éter se comportava como um referencial privilegiado para as
equações de Maxwell teria que ser descartada.

O experimento foi repetido por outros cientistas mais de uma dúzia de


vezes, em diferentes condições e com maior precisão, mas nenhum deslocamento
jamais foi observado. No mais preciso desses experimentos, o limite superior da
velocidade relativa foi reduzido para 1.5 km/s por Georg Joos, em 1930, usando
um interferômetro no qual o percurso dos raios luminosos era muito maior do
que no interferômetro de Michelson. Recentemente, versões modernas do expe-
rimento, usando lasers, reduziram esse limite para 15 m/s.

13
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

NOTA

Em um contexto mais amplo, com base neste e em outros experimentos, de-


vemos concluir que as equações de Maxwell estão corretas e que a velocidade das ondas
eletromagnéticas é a mesma em todos os referenciais inerciais, independentemente do mo-
vimento da fonte em relação ao observador. Essa invariância da velocidade da luz para os
referenciais inerciais significa que deve haver algum princípio de relatividade que se aplique
tanto à mecânica quanto ao eletromagnetismo. Tal princípio não pode ser o da relatividade
newtoniana que leva a uma variação da velocidade da luz com a velocidade relativa entre a
fonte e o observador. Isso significa que a transformação de Galileu não está correta e deve
ser substituída por uma nova transformação de coordenadas que assegure a invariância das
leis do eletromagnetismo. As leis fundamentais da mecânica, que eram compatíveis com a
transformação de Galileu, devem ser modificadas para que permaneçam invariantes ao se-
rem submetidas à nova transformação. A dedução teórica dessa nova transformação foi uma
das pedras fundamentais da teoria da relatividade especial de Einstein.

4 O POSTULADO DE EINSTEIN
Em 1905, com 26 anos, Albert Einstein publicou vários artigos, entre os quais
um sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento. Neste, Einstein propôs um
princípio de relatividade mais abrangente, que se aplicava tanto às leis da mecânica
quanto às leis da eletrodinâmica. Uma das consequências desse princípio é que
não existe nenhum experimento capaz de detectar o movimento absoluto. Sendo
esse o caso, nada nos impede de supor que a Terra e o interferômetro de Michelson
estão em repouso, caso em que nenhum deslocamento das franjas é esperado quan-
do o interferômetro gira 90° já que todas as direções são equivalentes. O resultado
nulo do experimento de Michelson-Morley se torna, portanto, uma consequência
natural do princípio da relatividade de Einstein. É preciso ressaltar que Einstein
não formulou essa teoria com o intuito de explicar o experimento de Michelson-
-Morley, mas foi levado a ela por considerações a respeito da teoria da eletricida-
de e do magnetismo e das propriedades incomuns das ondas eletromagnéticas no
espaço livre. O primeiro artigo contém a teoria completa da relatividade restrita.
Einstein se refere, apenas de passagem, às tentativas experimentais de detectar o
movimento da Terra em relação ao éter. Mais tarde, afirmou não lembrar se estava
a par dos detalhes do experimento de Michelson-Morley quando propôs a teoria.

14
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

NOTA

A teoria da relatividade restrita se baseia em dois postulados que Einstein


menciona explicitamente no artigo de 1905:

• Postulado 1 – As leis da física são as mesmas em todos os referenciais inerciais.


• Postulado 2 – A velocidade da luz no vácuo tem o mesmo valor em qualquer que seja
o movi­mento da fonte.

O Postulado 1 é uma extensão do princípio da relatividade newtoniana


para incluir todos os fenômenos físicos, não só os mecânicos, mas também os
eletromagnéticos. Uma consequência direta dele é que não existe nenhum refe-
rencial inercial privilegiado e, portanto, o movimento absoluto é impossível de
se detectar.

O Postulado 2 descreve uma propriedade comum a todas as ondas. As-


sim, por exemplo, a velocidade das ondas sonoras não depende do movimento
da fonte. Quando um carro buzina ao se aproximar de uma pessoa, o som ouvido
é mais agudo que se o carro estivesse parado (o chamado efeito Doppler, mas a
velocidade das ondas não depende da velocidade do carro). Por outro lado, a ve-
locidade das ondas sonoras depende das propriedades do ar, como a densidade
do ar e a velocidade com a qual o ar está se movendo. A importância deste postu-
lado está no fato de que coloca as ondas luminosas, que se propagam no vácuo,
na mesma categoria que os outros tipos de ondas, que necessitam de um meio
para se propagar. Uma análise recente do espectro dos raios gama emitidos por
fontes situadas perto do limite do universo observável revela que a velocidade da
luz não depende da velocidade da fonte com uma precisão de uma parte em 10.

Na Figura 6a temos uma fonte luminosa estacionária S e um observador


estacionário R1 com um segundo observador R2 se aproximando da fonte com
velocidade v. A Figura 6b, no referencial em que o observador R2 está em repou-
so, a fonte luminosa S e o observador R se movem para a direita com velocidade
v. Se o movimento absoluto não pode ser detectado os dois pontos de vista são
equivalentes. Como a velocidade da luz não depende do movimento da fonte, o
observador R2 mede o mesmo valor para a velocidade da luz que o observador R1.

15
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 6 – FONTE LUMINOSA E UM OBSERVADOR

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 9)

Embora os dois postulados separadamente pareçam bastante razoáveis,


muitos dos resultados obtidos quando são aplicados simultaneamente parecem
contrariar o senso comum. Uma importante consequência desses postulados é
que a velocidade da luz é a mesma para todos os observadores, independente-
mente da velocidade relativa entre a fonte e o observador.

ATENCAO

Considere uma fonte luminosa S e dois observadores: R1, em repouso em re-


lação a S, e R2, viajando na direção de S com velocidade v (Figura 6a). A velocidade da luz
medida por R1 é c = 3 x 108 m/s. Qual é a velocidade medida por R2? A resposta não é c+v ,
o resultado que obteríamos aplicando ao problema a transformação de Galileu.

De acordo com o Postulado 1, a situação da Figura 6a equivale à da Figura


6b, na qual R2 está em repouso e as fontes S e R1 estão se movendo com velocidade
v. Em outras palavras, como o movimento absoluto é impossível de ser detectado,
não sabemos quem está se movendo e quem está em repouso. De acordo com o
Postulado 2, a velocidade da luz não depende do movimento da fonte. Assim,
olhando para a Figura 6b vemos que a velocidade medida por R2 é c, a mesma
medida por R1. O fato de que a velocidade medida para a luz não depende da
velocidade do observador é uma forma alternativa de enunciar o segundo postu-
lado de Einstein.

16
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

NOTA

Este resultado está em desacordo com nossa intuição. O que acontece é que
ideias intuitivas a respeito de velocidades relativas são válidas, para todos os efeitos práticos,
quando as velocidades são pequenas em comparação com a velocidade da luz. Mesmo
em um avião que esteja se movendo com a velocidade do som não é possível medir a
velocidade da luz com precisão suficiente para observar a diferença entre as velocidades c
+ v na qual v é a velocidade do avião. Para perceber essa diferença, devemos examinar um
corpo que esteja se movendo com grande velocidade (muito maior do que a velocidade
do som) ou realizar medidas extremamente precisas, como no experimento de Michelson-
-Morley. Quando fazemos isso, descobrimos como Einstein comentou no primeiro artigo
a respeito da relatividade, que as contradições são “apenas aparentemente irreconciliáveis”.

5 ESPAÇO-TEMPO
A descoberta da física relativística de que os intervalos de tempo entre even-
tos não são iguais para observadores em diferentes referenciais inerciais ressalta o
caráter quadridimensional do espaço-tempo. Com os diagramas que usamos até
agora, é difícil representar em duas dimensões eventos que ocorrem em instantes
diferentes, já que cada diagrama equivale a uma “fotografia” do espaço-tempo em
um determinado instante. Para mostrar eventos que variam com o tempo, torna-se
necessário recorrer a uma série de diagramas, como os que aparecerão nas Figuras
10, 11 e 12. Mesmo assim, a atenção do leitor tende a ser atraída para os sistemas de
coordenadas espaciais e não para os eventos, que são o que realmente importam.
Esse problema é resolvido na relatividade restrita com o uso de um tipo especial de
representação denominado diagrama espaço-tempo. Nos diagramas espaço-tem-
po, podemos representar as coordenadas especiais e temporais de muitos eventos
em um ou mais referenciais inerciais, embora com uma limitação. Como é possível
representar apenas duas dimensões no papel, temos que ignorar duas dimensões
espaciais, normalmente as dimensões v e c. Na verdade, da forma como será defini-
do o movimento relativo entre S e S' (Figura 9), y' = y e z'=z, de modo que todas as
mudanças importantes ocorrem ao longo do eixo dos x (esta é uma das razões para
nossa escolha, a outra é a simplicidade matemática). Isso significa que, no momen-
to, vamos limitar nossa atenção ao tempo e a uma das coordenadas espaciais, ou
seja, os eventos que ocorrem em apenas uma dimensão do espaço. Caso seja neces-
sário considerar as outras duas dimensões, como acontece na transformação relati-
vística de velocidades, podemos recorrer às equações da transformação de Lorentz.

Nos diagramas espaço-tempo, as posições dos eventos são representadas


em um eixo horizontal, denominado eixo x. E os instantes em que ocorrem os
eventos são representados em um eixo vertical, denominado eixo ct. Em vez do ar-
ranjo tridimensional de réguas e relógios, usaremos apenas os relógios localizados
no eixo x (Figura 7). Como você, acadêmico, bem pode ver, as coisas já começam a
ficar mais simples! Como os eventos que exibem efeitos relativísticos quase sempre
ocorrem em altas velocidades, é conveniente multiplicar a escala de tempos pela
velocidade da luz (uma constante), o que permite usar a mesma escala e as mesmas
17
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

unidades nos eixos espacial e temporal (metros de distância e metros percorridos


pela luz, por exemplo). É por isso que o eixo dos tempos é chamado de ct em que c
normalmente é a velocidade de luz em metros por segundo e t é o tempo em segun-
dos. Como veremos, essa forma de representar os eventos distribui melhor os pon-
tos sobre o gráfico e facilita a introdução de outros referenciais inerciais na figura.

Observe na Figura 7 que, com o passar do tempo, os relógios se movem


verticalmente para cima ao longo das linhas tracejadas.

Duas das dimensões espaciais y e z foram suprimidas (Figura 7). A mesma


unidade (o metro) é usada para o eixo espacial e o eixo temporal. Um metro de
tempo corresponde ao tempo necessário para que a luz percorra um metro, ou seja.
3.3 x IO-9.

FIGURA 7 – DIAGRAMA ESPAÇO-TEMPO PARA UM REFERENCIAL INERCIAL S

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 16)

Assim, quando os eventos A, B, C e D ocorrem no espaço-tempo, existe


sempre um relógio nas proximidades do evento. Como os relógios do referen-
cial estão sincronizados, a diferença entre as leituras dos relógios localizados nas
proximidades dos eventos corresponde ao intervalo de tempo próprio entre os
eventos. Na Figura 7, os eventos A e D ocorrem no mesmo local (x = 2 m), embora
em instantes diferentes. O intervalo de tempo entre esses eventos, medido pelo
relógio 2, é um intervalo de tempo próprio, já que o relógio 2 está situado nas pro-
ximidades dos dois eventos. Os eventos A e B ocorrem em locais diferentes, mas
ao mesmo tempo (isto é, simultaneamente) nesse referencial. O evento C ocorreu
no passado, já que ct = -1 para este evento (Nesta discussão, estamos consideran-
do o instante em que as origens dos sistemas de coordenadas coincidem, ct= ct' =
0, como o instante presente.)

18
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

5.1 LINHAS DO UNIVERSO NO ESPAÇO-TEMPO


O lugar geométrico das posições ocupadas por uma partícula no diagrama
espaço-tempo é denominado linha do universo da partícula. A linha do universo é
a "trajetória" da partícula no gráfico de ct em função de x, considere, por exemplo,
quatro partículas em movimento.

• Figura 8 (a): mostra as trajetórias no espaço de quatro partículas com diferentes


velocidades constantes. Observe que a velocidade da partícula 1 é zero e que a
partícula 2 está se movendo no sentido negativo do eixo. As linhas do universo
das partículas são linhas retas.
• Figura 8 (b): a linha do universo da partícula 1 coincide com o eixo ct, já que a
partícula permanece em x=0. As inclinações constantes são uma consequência
do fato de que as velocidades são constantes.
• Figura 8 (c): no caso das partículas aceleradas 5 e 6 que não aparecem em (a)
as linhas do universo não são linhas retas: a velocidade instantânea pode ser
calculada a partir da tangente em cada ponto.

FIGURA 8 – (A) CONJUNTO DE RELÓGIOS SINCRONIZADOS (B) E(C) AS LINHAS DO


UNIVERSO DE PARTÍCULAS

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 16)


19
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

• A Figura 8 (a) mostra o conjunto de relógios sincronizados associados aos di-


ferentes pontos do eixo dos x e as trajetórias no espaço (não no espaço-tempo)
das quatro partículas, todas partindo do ponto x = 0 e se movendo com veloci-
dade constante durante um tempo ct = 3 m.

• A Figura 8 (b) mostra as linhas do universo das mesmas partículas no espaço-


-tempo. Como a velocidade das partículas é constante, as linhas do universo
têm inclinação constante (são linhas retas), já que a inclinação de uma curva no
diagrama espaço-tempo é proporcional ao inverso da velocidade (inclinação =
Dt//Dx = 1/ (Dx /Dt) = 1/velocidade). A mesma coisa acontece nas curvas de t em
função de x dos cursos de física básica. Já, naquela época, o leitor, sem saber,
estava plotando trajetórias no espaço-tempo e desenhando linhas do univer-
so! Quando a velocidade da partícula está aumentando ou diminuindo, como
acontece com as partículas 5 e 6 respectivamente, da Figura 8 (c), as linhas do
universo não são retas.

ATENCAO

A linha do universo é o registro do percurso da partícula no espaço-tempo,


pois fornece a velocidade (1/inclinação) e a aceleração (1/taxa de variação da inclinação) da
partícula a cada instante.

6 A TRANSFORMAÇÃO DE LORENTZ
Vamos agora discutir uma importante consequência dos postulados de
Einstein: a relação geral entre as coordenadas do espaço-tempo t, y, z e t de um
evento em um referencial S e as coordenadas x', y', z' e t' do mesmo evento em
um referencial S' que esteja se movendo com velocidade uniforme cm relação a S.

Para simplificar os cálculos vamos considerar apenas o caso especial no


qual as origens dos dois sistemas de coordenadas coincidem no instante t = t’ = 0 e
S' está se movendo em relação a S com velocidade v ao longo do eixo x (ou x') e com
os eixos y' e z' paralelos, respectivamente, aos eixos y e z (Figura 9). Como vimos, a
transformação clássica, ou transformação de Galileu, é a equação 1.6 a seguir:

x' = x - vt y' = y z' = z t' = t (1.6)

A qual expressa os valores das coordenadas medidos por um observador


em S' em termos dos valores medidos por um observador em S. A transformação
inversa é:

20
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

x = x' - vt y = y' z = z' t = t' (1.7)

Que simplesmente reflete o fato de que o sinal da velocidade relativa dos


referenciais é diferente para os dois observadores. A transformação clássica de
velocidades é a equação 1.6 e a transformação de acelerações, como vimos, é inva-
riante para uma transformação de Galileu. Deste ponto em diante, vamos ignorar
as equações para os eixos y e z, que são y' = y e z' = z.

A essa altura, deve ser evidente para você, acadêmico, que a transforma-
ção clássica de velocidades não é compatível com os postulados de Einstein da
relatividade restrita. Se a luz se propaga ao longo do eixo x com velocidade c no
referencial S, a velocidade no referencial S' de acordo com a Equação u'x = ux - v,
u'y = uy, u'z = uz deveria ser u'k= c - v, e não u'k = c.

E
IMPORTANT

As equações da transformação de Galileu devem, portanto, ser modificadas


para se tomarem compatíveis com os postulados de Einstein, mas de tal forma que se
reduzam às equações clássicas para v « c. Vamos mostrar em seguida uma das formas
de obter a transformação correta, que recebe o nome de transformação de Lorentz em
homenagem ao descobridor H A. Lorentz.

Suponhamos que a equação correta para x seja da forma:

x' = g(x - vt) (1.8)

Em que g é uma constante que pode depender de v e c, mas não das


coordenadas. Para que a Equação 1.8 se reduza às equações clássicas é preciso
que g →1 quando v/c → 0. A transformação inversa deve ser semelhante, a não ser
pelo sinal da velocidade:

x = g(x' + vt') (1.9)

Os sistemas de eixos (Figura 9) podem ser considerados como os eixos co-


ordenados de duas redes com um relógio em cada vértice. Pouco antes do instan-
te representado na figura, as origens O e O’ coincidiam e as duas redes estavam
superpostas.

21
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 9 – DOIS REFERENCIAIS INICIAIS. S E S' COM O SEGUNDO SE MOVENDO COM UMA
VELOCIDADE V NO SENTIDO POSITIVO DO EIXO X DO SISTEMA S

y y'
S S'
v
(xb' tb )
(xa' ta )
x x'
O O'

z z'
FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 13)

Se os eixos estiverem dispostos como na Figura 9, não haverá movimento


relativo entre os referenciais nas direções y e z, portanto, y'=y e z'=z Por outro lado,
a introdução do multiplicador y de valor ainda desconhecido, modifica a transfor-
mação clássica dos tempos, t'=t. Para mostrar que isso é verdade, basta substituir x'
dado pela Equação 1.8 na Equação 1.9 e explicitar t' o resultado o seguinte:


t' = g t +
(
1- g 2 x 

)
(1.10)
 g2 v

Suponha que uma lâmpada seja acesa na origem de S em t= 0. Como es-


tamos supondo que as origens coincidem em t = t' = 0, a lâmpada também é acesa
na origem de S' em t' = 0. A luz se expande a partir das duas origens na forma
de uma onda esférica. Do ponto de vista de um observador em S a equação da
frente da onda é:

x2 + y2 + z2 = c2 t2 (1.11)

Enquanto, do ponto de vista de um observador em S' é:

x'2 + y'2 + z'2 = c2 t'2 (1.12)

Observe que as duas equações são compatíveis com o segundo postulado.


Para que sejam também compatíveis com o primeiro, é preciso que a transforma-
ção relativística que estamos buscando transforme a Equação 1.11 na Equação
1.12 e vice-versa. Assim, por exemplo, substituindo as Equações 1.8 e 1.9 na Equa-
ção 1.12, devemos obter a Equação 1.11.

22
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

NOTA

Para isso é necessário que:

1 1
g= =
v2 1- b 2 (1.13)
1-
c2

Na qual b = v/c. Note que g = 1 para v = 0 e g → ∞ para v = c.

ATENCAO

Embora seja possível estudar a relatividade restrita sem usar a transformação


de Lorentz, esta transformação tem uma aplicação muito importante: permite que as co-
ordenadas no espaço- tempo de eventos medidos com réguas e relógios no referencial
de um observador sejam convertidas em coordenadas medidas com réguas e relógios
no referencial de outro observador que esteja se movendo com velocidade constante em
relação ao primeiro.

7 SIMULTANEIDADE
Os postulados de Einstein levam a algumas previsões a respeito dos re-
sultados de medidas feitas por observadores situados em diferentes referenciais
inerciais que, a princípio, parecem estranhas ou mesmo absurdas, mas foram com-
provadas experimentalmente. Na verdade, quase todos os supostos paradoxos po-
dem ser explicados se reconhecermos que os postulados da relatividade restrita são
compatíveis com a relatividade da simultaneidade, segundo a qual dois eventos
que são simultâneos em um referencial não são simultâneos em outro referencial
inercial que esteja se movendo em relação ao primeiro.

E
IMPORTANT

A partir da afirmação anterior pode-se deduzir o seguinte: dois relógios que


estão sincronizados em um referencial não estão sincronizados em outro referencial iner-
cial que esteja se movendo em relação ao primeiro.

23
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Podemos perguntar: o que são eventos simultâneos? Suponha que dois ob-
servadores, ambos situados no referencial S, um no ponto A e outro no ponto B,
tenham combinado fazer explodir bomba no instante t (lembre-se de que os relógios
de S estão sincronizados). O relógio que se encontra no ponto C, equidistante de A e
de B, registrará a chegada da luz proveniente das duas explosões no mesmo instante.
Outros relógios de S registrarão primeiro a chegada da luz emitida pela bomba que
explodiu em A ou em B, dependendo da localização, mas depois de corrigidos para
levar em conta o tempo de percurso da luz os dados registrados por todos os relógios
indicarão que as duas explosões foram simultâneas. Vamos, portanto definir dois
eventos como simultâneos em um referencial inercial se os sinais luminosos associa-
dos a eles forem vistos simultaneamente por um observador, situado em um ponto
equidistante dos dois eventos de acordo com a indicação de um relógio situado na
posição desse observador, que recebe o nome de relógio local.

Para mostrar que dois eventos simultâneos no referencial S não são simul-
tâneos em um referencial S' que esteja se movendo em relação a S, vamos usar um
exemplo proposto por Einstein. Um trem está passando pela plataforma de uma
estação, com velocidade v. Três observadores A' B' e C' estão situados no primeiro
vagão, no vagão central e no último vagão do trem. Vamos associar o referencial S'
ao trem e o referencial S a plataforma da estação. Suponhamos que o trem e a plata-
forma sejam atingidos por dois relâmpagos, um no primeiro vagão e outro no último,
e que os relâmpagos sejam simultâneos no referencial da plataforma S (Figura 10a).
Em outras palavras, um observador situado em C, um meio caminho entre A e B,
observa os dois raios simultaneamente. É conveniente supor que o raio deixa o trem
e a plataforma chamuscados, pois, nesse caso, os eventos podem ser localizados com
facilidade nos dois referenciais. Como o observador C está no centro do trem a meio
caminho entre os pontos que foram chamuscados pelo raio, os dois eventos seriam
simultâneos em S apenas se fossem observados ao mesmo tempo por C'. Entretanto,
C observa o raio que atingiu o primeiro vagão antes de observar o raio que atingiu o
último. No referencial S, quando a luz proveniente do raio que atingiu os pontos A
e A' chega ao ponto C' o trem se deslocou de uma certa distância em direção a A e
por isso, a luz proveniente do raio que atingiu os pontos B e B' ainda não chegou a C'
como mostra a Figura 10b. O observador em C chega, portanto, a conclusão de que
os eventos não foram simultâneos, mas o raio que atingiu a parte da frente do trem
aconteceu primeiro.

• Figura 10a: dois relâmpagos atingem as extremidades de um trem chamuscan-


do tanto o trem quanto a plataforma no momento em que o trem (referencial
S') está passando pela plataforma (referencial S) com velocidade v.
• Figura 10c: os relâmpagos ocorrem simultaneamente em S e são vistos simultane-
amente pelo observador C, localizado na plataforma, a meio caminho entre A e B.
• Figura 10b e 10d: em S' o relâmpago que atingiu o primeiro vagão é visto antes
do relâmpago que atingiu o último vagão pelo observador C‘ localizado no
trem a meio caminho entre os pontos que foram chamuscados pelos raios (b)
e (d), respectivamente. Assim, o observador em C' conclui que os relâmpagos
não foram simultâneos.

24
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

FIGURA 10 – RELÂMPAGOS ATINGEM AS EXTREMIDADES DE UM TREM

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p 11)

• As Figuras 10c e 10d ilustram, respectivamente, a chegada simultânea dos dois


clarões ao ponto C e a chegada posterior ao ponto C' do clarão proveniente do
raio que atingiu o último vagão. Na verdade, todos os observadores estacioná-
rios em relação ao referencial S' obtêm o mesmo resultado que o observador
em C' depois de levarem em conta o tempo de percurso da luz.

Considere novamente um trem em repouso no referencial S' que esteja pas-


sando com velocidade v por uma plataforma em repouso no referencial S. A Figura
11 mostra três relógios do referencial S e três do referencial S'. Os relógios dos dois
referendais foram sincronizados da forma descrita anteriormente, mas os relógios
de S não estão sincronizados com os de S'. Um observador que esteja no ponto C da
plataforma, a meio caminho entre A e B, anuncia que duas lâmpadas localizadas em
A e B acenderão quando os relógios desses dois pontos marcarem t0 (Figura 11a).

• Figura 11a: duas lâmpadas são acesas simultaneamente nos pontos A e B onde
existem relógios sincronizados em S.

25
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

• Figura 11b: o observador situado em C' a meio caminho entre A' e B', no trem
em movimento, registra a chegada do raio luminoso proveniente de A antes
da chegada do raio proveniente de B, mostrada em (d). Como o observador
em S anunciou que as lâmpadas seriam acesas no instante t0 de acordo com os
relógios locais, o observador em C conclui que os relógios locais A e B não in-
dicaram simultaneamente o instante t0, isto é, que não estavam sincronizados.
• Figura 11c: os dois raios são vistos simultaneamente por um observador situa-
do em C.

FIGURA 11 – LÂMPADAS ACESSAS E VISÃO DO OBSERVADOR

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 12)

Um observador que esteja em C' a meio caminho entre A' e B' verá a luz
produzida pela lâmpada que foi acesa em A (Figura 11) antes de ver a luz produ-
zida pela lâmpada que foi acesa em B (Figura 11d).

26
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

E
IMPORTANT

O observador concluirá que se as lâmpadas foram acesas no momento em


que os relógios em A e B marcavam t0, conforme anunciado, os relógios em A e B não po-
dem estar sincronizados. Depois de levarem em conta o tempo de percurso da luz todos os
observadores situados no referencial S' concordarão com essa conclusão. Por outro lado,
o observador em C observará as duas luzes simultaneamente, já que todos os relógios de S
estão sincronizados (Figura 11c). Observe ainda, na Figura 11 que o observador em C tam-
bém conclui que o relógio de A está adiantado em relação ao relógio de B.

FIGURA 12 – RELATIVIDADE DA SIMULTANEIDADE DE UM PONTO DE VISTA DIFERENTE

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 12)

A Figura 12 mostra um clarão que é produzido na Terra no ponto médio


entre dois relógios situados da Terra. No instante em que a luz é emitida, o ponto
médio de uma espaçonave em movimento coincide com a fonte luminosa.

27
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

• Figura 12a: os relógios da Terra registram a chegada simultânea dos raios lumi-
nosos, o que significa que os relógios estão sincronizados.
• Figura 12b: os relógios situados nas extremidades da espaçonave também regis-
tram a chegada simultânea dos raios luminosos segundo postulado de Einstein,
o que significa que os relógios da espaçonave também estão sincronizados.
• Figura 12c: entretanto, o observador da Terra vê a luz chegar ao relógio que está
em B' antes de chegar ao relógio que está em A'. Como os relógios da espaçona-
ve mostram a mesma hora no instante em que é atingido pelos raios luminosos,
o observador da Terra conclui que os relógios da espaçonave A' e B' não estão
sincronizados.
• Figura 12d: um observador a bordo da espaçonave conclui que os relógios da
Terra, A e H não estão sincronizados.

8 TRANSFORMAÇÃO DE VELOCIDADES
A transformação de velocidades na relatividade restrita pode ser obtida
derivando a transformação de Lorentz. Em física, as transformações de Lorentz,
em homenagem ao físico neerlandês Hendrik Lorentz, descrevem como, de acordo
com a relatividade especial, as medidas de espaço e tempo de dois observadores
se alteram em cada sistema de referência. Elas refletem o fato de que observadores
se movendo com velocidades diferentes medem diferentes valores de distância,
tempo e, em alguns casos, ordenação de eventos. Suponha que uma partícula
esteja se movendo em S com uma velocidade u de componentes:

ux= dx / dt uy= dy / dt e uz= dz / dt

Um observador em S' medirá as componentes:

u'x = dx' / dt'


u'z = dz' / dt'
u'y = dy' / dt'

Usando as equações da transformação de Lorentz. temos:

dx' = g ( dx - vdt ) dy' = dy


 vdx  (1.14)
dt' = g  dt - 2  dz' = dz
 c 

Portanto:
 dx 
-v
dx'
g ( dx - vdt )  dt 
u'x = = = (1.15)
dt'  vdx  v dx
g  dt - 2  1- 2
 c  c dt

28
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

Ou:
ux - v
u'x =
vu (1.16)
1- 2x
c

Se a velocidade da partícula tem componentes nas direções y e z, não é


difícil mostrar que

uy uz
u'y = u'z =
 vu   vu  (1.17)
g  1- 2y  g  1- 2z 
 c   c 

É importante notar que esta forma da transformação de velocidades é


válida apenas para o caso especial em que os dois referenciais estão relacionados
como na Figura 9. Observe também que para v « c ou seja, para b = v / c = 0
a transformação relativística de velocidades se reduz à transformação clássica:
Equação u' x = u x - v u' y = u y u' z = u z . A transformação de velocidades inversa é
a seguinte:

 vu'   vu' y 
u x = u' x + v /  1+ 2 x  u y = u' y + v / g  1+ 2 
 c   c
  (1.18)
 vu' 
u z = u' z + v / g  1+ 2 z 
 c 

9 O EFEITO DOPPLER RELATIVÍSTICO


O efeito Doppler relativístico é a mudança aparente da frequência da luz,
para objetos (fonte emissora ou detector) que se movem em velocidades relativís-
ticas. No efeito Doppler clássico, como o caso de ondas sonoras, a velocidade da
fonte em relação ao detector tem influência na frequência aparente da onda (pode
ser um acréscimo ou decréscimo), tomando como referencial o ar. Como a luz é
uma onda eletromagnética, e não depende de um meio para propagação, a fre-
quência observada irá apenas depender da velocidade relativa de ambos. Nesses
casos relativísticos, uma distinção entre o movimento da fonte e do receptor não
pode ser feita, portanto o efeito Doppler clássico não será utilizado. A razão é que
o intervalo de tempo medido no referencial da fonte e do receptor são diferentes.

No caso das ondas sonoras, a variação de frequência com a velocidade


(efeito Doppler) depende se é a fonte ou o observador que está se movendo com
essa velocidade. Tal distinção é possível porque existe um meio (o ar) em relação
ao qual podemos medir os movimentos da fonte e do observador. No caso da
luz e outras ondas eletromagnéticas, porém, que podem se propagar no espaço

29
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

vazio, essa distinção não existe. Isso significa que a expressão clássica usada para
calcular o efeito Doppler não pode estar correta no caso da luz. Vamos agora
determinar a expressão correta do efeito Doppler para a luz.

Considere uma fonte luminosa que esteja se movendo em direção a um


observador A com velocidade v (Figura 13a).

FIGURA 13 – FONTE LUMINOSA, OBSERVADOR E DIREÇÃO DE PROPAGAÇÃO

(a) C V C

B A

(b)
Ct
Ct’

Linha do Linha do
C∆t C∆t’
universo da universo da
luz que se luz que se
propaga em propaga em
direção a B direção a A

B C∆t V∆t C∆t A x


0

(c) Observador (d) Experimento


y x (em S) y’ de Kündig

S S’

0 (medido ω V
em S)
Raios
x Fonte x’
gama
Receptor
FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 26)

30
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

A Figura 13 apresenta, no caso da luz e do som, o efeito Doppler causado


pelo movimento relativo entre a fonte e o receptor, entretanto, o fato de que a ve-
locidade da luz não depende do movimento faz com que as expressões do desvio
de frequência sejam diferentes nos dois casos.

• A Figura 13a mostra urna fonte que se aproxima do observador A e se afasta do


observador B. O diagrama espaço-tempo para o referencial S, no qual A e B estão
em repouso e a fonte se move com velocidade v ilustra as duas situações.
• A Figura 13b mostra a fonte situada em x'= 0 (o eixo x' foi omitido) se move ao
longo de sua linha do universo, o eixo ct'. As N ondas emitidas em direção a A
no intervalo de tempo Dt ocupam a região Dx = cDt - vDt enquanto as que se diri-
gem a B ocupam a região Dx = cDt + vDt. Em três dimensões, o observador em S
pode ver a luz emitida fazendo um ângulo θ em relação ao eixo x(c). Nesse caso,
é observado o chamado efeito Doppler transversal.
• A Figura 13 d: método usado por Kündig para medir o efeito Doppler transversal.

A fonte está emitindo uma série de ondas em direção aos observadores A


e B enquanto se aproxima de A e se afasta de B. A Figura 13b mostra o diagrama
espaço-tempo do sistema em S, o referencial no qual A e B estão em repouso. A
fonte está localizada em V =0 (o eixo x não aparece na figura e naturalmente, sua
linha do universo é o eixo ct'. Suponha que a fonte emite uma série de N ondas
eletromagnéticas nas duas direções a partir do instante em que as origens de S e
S' coincidem. Considere: primeiro a série de ondas emitidas em direção a A. Du-
rante o intervalo de tempo Dt no qual a fonte emite N ondas, a primeira onda a ser
emitida percorre uma distância cDt e a fonte percorre uma distância vDt em S. Do
ponto de vista do observador em A, as N ondas ocupam uma extensão cDt - vDt e
portanto o comprimento de onda X é dado por:

l= ( cDt − vDt ) Ν (1.19)

A frequência f = c / l é dada por:

χ χΝ 1 Ν
f
= = = (1.20)
l ( χ - v)Dτ 1- bDτ

A frequência da fonte em S' denominada frequência própria é dada por


N N / Dt ' , na qual Dt' é medido em S' o referencial inercial no qual a fonte
fu c / =
=
se encontra em repouso. O intervalo de tempo Dt’ é o tempo próprio, já que as
ondas luminosas, em particular a primeira e a enésima, vão todas emitidas em
x' = 0 assim, Dx' = 0 entre a primeira e a enésima onda em S'. A relação entre Dt
e Dt' é dada pela equação de dilatação dos tempos, equação Dt = yDt'. Assim, a
frequência medida pelo observador A em S é dada por

31
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

1 f 0 Dt ' f0 1
=f = (1.21)
1- b Dt 1- b g

ou

1- b 2 1+ b
f = f0 = f0 (1.22)
1- b 1- b

A única diferença entre a Equação 1.21 e a equação clássica é da presença


do fator de dilatação dos tempos, y.

Suponha que a distância entre a fonte e o observador esteja aumentando.


Para o observador B também estacionário em relação a S as V ondas ocupam uma
extensão cDt + vDt e uma análise semelhante a anterior mostra que a frequência
medida pelo observador B é dada por:

1- b 2 1- b
f = f0 = f0 (1.23)
1+ b 1+ b

E
IMPORTANT

Note que se a distância entre a fonte e o observador estiver diminuindo f>f0,


como no caso da luz visível, isto corresponde a um desvio em direção à parte azul do
espectro: o fenômeno é conhecido como desvio para o azul. Observe que se a distância
entre a fonte e o observador está aumentando f <f0. Como no caso da luz visível, isto cor-
responde a um desvio em direção à parte vermelha do espectro. O fenômeno é conhecido
como desvio para o vermelho.

Fica a cargo do acadêmico mostrar que os mesmos resultados são obtidos


quando a análise é executada no referencial em que a fonte está em repouso.

9.1 ALGUMAS APROXIMAÇÕES ÚTEIS


Se v « c (ou seja, b « 1) uma situação muito comum na prática, as Equações
1.22 e 1.23 podem ser substituídas por aproximações bem mais fáceis de memori-
zar. A Equação 1.22, por exemplo, pode ser escrita na forma:

32
TÓPICO 1 | A TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA

1
f = f 0 (1 + b ) 2 (1 - b )-1/2 (1.24)

Substituindo os fatores entre parênteses por suas expansões binomiais,


temos:

 1 1  1 3 
=f f 0 1 + b - b 2 +… 1 + b + b 2 +… (1.25)
 2 8  2 8 

Multiplicando termo a termo e desprezando os termos de ordem mais ele-


vada que b temos:

f
≈ 1+ b (1.26)
fo

No caso da Equação 1.23 um cálculo semelhante leva a seguinte expressão:

f
≈ 1+ b (1.27)
fo

Em ambos os casos | Df / f o |≈ b sendo Df = fo | − f .

DICAS

Teoria da Relatividade é a denominação dada ao conjunto de duas teorias


científicas: a Relatividade Restrita (ou Especial) e a Relatividade Geral. Aprenda mais sobre a
Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Assistindo o seguinte vídeo: https://www.youtube.
com/watch?v=nf32ejhzTNQ.

NOTA

A teoria da relatividade especial de Einstein é considerada por muitos cientistas


uma das mais belas criações humanas. Veja uma nova percepção da realidade: a Teoria da
Relatividade Especial ou Restrita, acessando: http://bit.ly/2GbPhhr.

33
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático no próximo


tópico será sobre a Dinâmica Relativística. Para construir uma dinâmica devemos definir
massa e momento sobre esta teoria. Na teoria Newtoniana massa é uma constante de
proporcionalidade entre a aceleração e a força. Fique agora com uma leitura complementar
sobre o assunto do Tópico 1.

O surgimento da teoria da relatividade restrita

A teoria da relatividade restrita (ou relatividade especial) foi de-


senvolvida no final do século XIX e início do século XX. Albert Einstein
formulou sua versão dessa teoria em 1905, embora uma grande parte da
teoria já tivesse sido desenvolvida por outros autores, antes disso. Este ca-
pítulo irá mostrar como essa teoria surgiu, discutindo desde suas origens
mais remotas até o trabalho de Einstein. No entanto, antes de apresentar
essa história, é importante proporcionar uma visão geral da própria teoria
da relatividade especial. A teoria da relatividade estuda, basicamente, as
diferenças que existem entre as medidas físicas realizadas em dois referen-
ciais em movimento relativo. Um referencial é um sistema físico dotado de
instrumentos de medida, em relação ao qual é possível fazer medições e
experimentos. Podemos imaginar, por exemplo, um referencial parado em
relação ao solo, e um outro referencial parado em relação a um avião que
passa pelo céu. Na teoria da relatividade geral, os referenciais podem estar
se movendo de qualquer modo (podem estar acelerados ou girando uns em
relação aos outros). A teoria da relatividade restrita, que foi desenvolvida
antes – e que será tratada aqui – estuda apenas referenciais inerciais, com
movimentos relativos retilíneos e uniformes. Um referencial inercial é, ba-
sicamente, aquele em relação ao qual vale a lei da inércia – ou seja, se um
corpo não está submetido a forças externas, então, quando ele é observado
a partir de um referencial inercial, ele fica parado ou se move em linha reta,
com velocidade constante. No entanto, o mesmo objeto, quando observado
a partir de um outro referencial (não inercial), pode estar se movendo em
uma trajetória curva, ou estar acelerado. Do modo como Einstein apresen-
tou a teoria da relatividade especial, ela se baseia em dois postulados – ou
seja, em dois princípios que são tomados como ponto de partida e que não
são provados pela própria teoria.

FONTE: <http://www.ghtc.usp.br/server/pdf/RAM-Relatividade-livro.pdf>. Acesso em: 23 out. 2019.

34
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Princípio da relatividade é um princípio geral sobre a forma que deve tomar


uma teoria física.

• Frequentemente os princípios de relatividade estabelecem equivalências en-


tre  observadores, de acordo com princípios de simetria ou invariância entre
situações fisicamente equivalentes.

• De acordo com estes princípios, uma determinada descrição de um fenôme-


no poderia ser incorreta se não respeita o princípio de relatividade básico que
define a teoria (assim a teoria da gravitação de Newton era incompatível com
o princípio de relatividade que definia a teoria especial da relatividade, razão
que levou Einstein a formular uma nova teoria da gravitação como parte da re-
latividade geral).

• O experimento de Michelson-Morley é uma das mais importantes e famosas


experiências da história da física, foi levada a cabo em 1887 por Albert Michel-
son  (1852-1931) e  Edward Morley  (1838-1923), no que é hoje a  Case Western
Reserve University.

• O experimento pretendia detectar o movimento relativo da matéria (no caso,


do planeta Terra) através do éter estacionário. Os resultados negativos desse
experimento são geralmente considerados as primeiras evidências fortes con-
tra a hipótese do éter luminífero.

• No princípio da relatividade (primeiro postulado) as leis que governam as mu-


danças de estado em quaisquer sistemas físicos tomam a mesma forma em
quaisquer sistemas de coordenadas inerciais.

• Existem sistemas cartesianos de coordenadas — os chamados sistemas de inér-


cia — relativamente aos quais as leis da mecânica (mais geralmente as leis da
física) se apresentam com a forma mais simples.

• Podemos assim admitir a validade da seguinte proposição: se K é um sistema


de inércia, qualquer outro sistema K' em movimento de translação uniforme
relativamente a K, é também um sistema de inércia.

• O segundo postulado se trata da invariância da velocidade da luz.

• A luz tem velocidade invariante igual a  c  em relação a qualquer sistema de


coordenadas inercial.

35
• A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os observadores em refe-
renciais inerciais e não depende da velocidade da fonte que está emitindo a luz,
tampouco do observador que a está medindo.

• A luz não requer qualquer meio (como o éter) para se propagar. De fato, a exis-
tência do éter é mesmo contraditória com o conjunto dos fatos e com as leis da
mecânica.

• Na física, espaço-tempo é o sistema de coordenadas utilizado como base para


o estudo da relatividade restrita e relatividade geral.

• O  tempo  e o  espaço  tridimensional  são concebidos, em conjunto, como uma


única variedade de quatro dimensões a que se dá o nome de espaço-tempo.

• Um ponto, no espaço-tempo, pode ser designado como um "acontecimento".

• Cada acontecimento tem quatro coordenadas (t, x, y, z); ou, em coordenadas


angulares, t, r, θ, e φ que dizem o local e a hora em que ele ocorreu, ocorre ou
ocorrerá.

• As  transformações de Lorentz — em homenagem ao físico neerlandês  Hen-


drik Lorentz — descrevem como, de acordo com a  relatividade especial, as
medidas de espaço e tempo de dois observadores se alteram em cada sistema
de referência. Elas refletem o fato de que observadores se movendo com velo-
cidades diferentes medem diferentes valores de distância, tempo e, em alguns
casos, a ordenação de eventos.

• Simultaneidade é a propriedade de dois eventos poderem ser percebidos de


forma coincidente — em um mesmo instante — em pelo menos um sistema de
referências; usualmente — em se tratando da relatividade especial — em um
sistema de referência irrotacional com origem (e observador) posicionada no
ponto médio do segmento de reta que une os pontos espaciais de ocorrência
dos eventos no sistema em questão (eventos espaço-separados).

• A simultaneidade não é propriedade de qualquer par de eventos. Verificar si-


multaneidade em um referencial, não implica obrigatoriedade em verificar a
mesma referencial dele distinto. O que vale mesmo quando as origens e eixos
de tais referenciais momentaneamente coincidam de forma que as coordenadas
espaciais dos eventos venham a ser as mesmas em ambos, provido, contudo que
os referenciais se movam um em relação ao outro, na direção dos eventos.

• A simultaneidade, se verificada, é, contudo, tratada de forma absoluta no âm-


bito da mecânica clássica: nesse domínio — onde a informação é assumida pro-
pagar-se entre dois pontos de forma instantânea — a simultaneidade em um
referencial implica a simultaneidade em todos os demais referenciais; o que
não foge de forma perceptível do cotidiano.

36
• A transformação inversa (de velocidade) é facilmente obtida: basta mudar ν
por -ν e trocar os índices (linha por sem-linha). Um objeto cuja velocidade me-
dida no referencial S é:


u = (u x , u y , u z ) (1.28)

Terá a velocidade:

u' = (u 'x , u ' y , u 'z ) (1.29)

Medida no referencial S' dada por:

ux − v uy 1 u 1
=u'x = ; u' y = ; u'z
uv uv uv
1 x2 g 1 − x2 g
(1.30)
1 − x2
c c c

• O efeito Doppler relativístico é a mudança aparente da frequência da luz, para


objetos (fonte emissora ou detector) que se movem em velocidades relativísticas.

• No efeito Doppler clássico, como o caso de ondas sonoras, a velocidade da fon-


te em relação ao detector tem influência na frequência aparente da onda (pode
ser um acréscimo ou decréscimo), tomando como referencial o ar.

• Como a luz é uma onda eletromagnética, e não depende de um meio para pro-


pagação, a frequência observada irá apenas depender da velocidade relativa de
ambos. 

• Nesses casos relativísticos, uma distinção entre o movimento da fonte e do re-


ceptor não pode ser feita, portanto o efeito Doppler clássico não será utilizado.
A razão é que o intervalo de tempo medido no referencial da fonte e do recep-
tor são diferentes.

37
AUTOATIVIDADE

1 Cálculo de Velocidades no espaço-tempo. Determine a velocidade u da


partícula 3 da Figura a seguir.

Na figura, em: (a) As trajetórias no espaço de quatro partículas com diferen-


tes velocidades constantes. Observe que a velocidade da partícula 1 é zero e
que a partícula 2 está se movendo no sentido negativo do eixo x. As linhas do
universo das partículas são linhas retas. (b) A linha do universo da partícula 1
coincide com o eixo ct. já que a partícula permanece em x = 0. As inclinações
constantes são uma consequência do fato de que as velocidades são constan-
tes, (c) No caso das partículas aceleradas 5 e 6 que não aparecem em (u). As
linhas do universo não são linhas retas: a velocidade instantânea pode ser
calculada a partir da tangente em cada ponto.

FIGURA – QUATRO PARTICULAS SE MOVENDO E AS LINHAS DO UNIVERSO

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 16)

38
2 Mostre que a dilatação do tempo continua válida com a introdução da
constante de proporcionalidade (equação 1.31)

1
g=
v2 (1.31)
1−
c2

3 Uma nave espacial está viajando e passa pela Terra com velocidade relativa
V=0,8c. O rádio da nave sofreu uma pane e eles ficaram tentando estabelecer
a comunicação e ela foi retornada depois dos pilotos concertarem o rádio,
tarefa que demorou 2,5h. Qual foi o tempo esperado pela central de controle
na Terra?

4 Um super avião se move ao longo do eixo x, afastando-se de um observador


a uma velocidade de 0,7c. Um segundo avião se move também no eixo
x, afastando-se tanto do primeiro avião como do observador com uma
velocidade de 0,7c em relação ao primeiro avião. Qual é a velocidade do
segundo avião em relação ao observador?

FIGURA – AVIÃO SE MOVENDO COM DOIS REFERENCIAIS O E O'

FONTE: <HTTP://BIT.LY/38WZSXR>. Acesso em: 14 ago. 2019.

5 Suponha que um fóton se desloca a velocidade da luz c em relação ao


referencial O', na direção do eixo x. Determine a sua velocidade em relação
ao referencial O.

6 Cálculo da Constante y da Transformação de Lorentz. Mostre que a


constante y deve ser dada pela Equação:

39
1 1
=g =
v2 1− b 2
1− 2
c

Para que a Equação:

x '2 + y '2 + z '2 =


c 2t '2

Se transforme na Equação:

x 2 +y 2 +z 2 =c 2t 2

Como exige o primeiro postulado de Einstein.

7 Transformação de Intervalos de Tempo. A chegada de dois léptons p


(múons) produzidos por raios cósmicos é registrada em um laboratório,
um no instante ta e na posição xa e outro no instante th e na posição xh do
referencial do laboratório S na Figura a seguir:

FIGURA – REFERÊNCIAS S E S'

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 13)

Qual é o intervalo de tempo entre os dois eventos no referencial S' que se


move com velocidade v em relação ao referencial S?

8 Uma corrida de barcos. A Figura a seguir mostra os percursos usados por


dois remadores em uma corrida de barcos. Os dois conseguem desenvolver
a mesma velocidade c em água parada: a água do rio está se movendo com
velocidade v. O barco 1 vai do ponto A ao ponto B, percorrendo uma distância
L e volta ao ponto A. O barco 2 vai do ponto A ao ponto C percorrendo
também uma distância L e volta ao ponto A. A, B e C são marcas na margem
do rio. Qual dos dois remadores ganha a corrida? Suponha que c > v.

A Figura A mostra dois barcos que se movem com velocidade c em relação


à água parada. A velocidade da água do rio é v. O barco 1 vai do ponto A

40
ao ponto B e volta ao ponto A. enquanto o barco 2 vai do ponto A ao ponto
C e volta ao ponto A. (b) Ao se dirigir do ponto A ao ponto B, o barco 1
deve navegar rio acima para que a soma dos vetores velocidade c + v seja
perpendicular às margens do rio. A velocidade do barco em relação às
margens, ou seja. em relação aos pontos A e B c 2 -v 2 O mesmo acontece na
viagem de volta.

FIGURA – DOIS BARCOS SE MOVENDO DE UMA MARGEM A OUTRA E A REPRESENTAÇÃO


VETORIAL

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 6)

9 O meson p+ é uma partícula instável com massa da ordem de 273 vezes a do


elétron. Depois da sua produção numa colisão de alta energia entre partículas
nucleares, ele vive em média 2,6 x 1-8s antes de decair num muon e num neutri-
no. Este tempo é medido num referencial em que a partícula está em repouso.
Se esta partícula é criada com velocidade u = 0,99c, qual é seu tempo de vida
medido no laboratório, e que distância ela percorre durante este intervalo?

10 Velocidade Relativística dos Raios Cósmicos: Suponha que dois prótons se


aproximem da Terra vindo de direções opostas (Figura a). As velocidades dos
prótons, medidas no referencial da Terra, são v1 = 0,6c e v2 = -0.8c. Qual é a velo-
cidade da Terra medida no referencial de cada próton e qual a velocidade dos
prótons um em relação ao outro?

41
A Figura a mostra que dois prótons se aproximam da Terra vindo de direções
opostas com velocidades v1 e v2 em relação à Terra. (b) Associando referen-
ciais inerciais à Terra e as duas partículas, podemos visualizar as velocidades
relativas envolvidas e aplicar corretamente a transformação de velocidades.

FIGURA – DOIS PRÓTONS SE MOVIMENTANDO E REFERÊNCIAIS S, S' E S''

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 15)

11 Um evento ocorre no sistema de referência S, em x = 40 m, y = z = 0 e t = 10-8 s.


Um sistema de referência S’ se move com uma velocidade ν = 0,8c ao longo do
eixo positivo x de S. Ache as coordenadas do evento no referencial S’ (assuma
que os eixos x, y e z de ambos os sistemas são paralelos).

12 Os píons são partículas radioativas que podem ser produzidas num laboratório
de pesquisa. O tempo de meia-vida de um píon em repouso é T0 = 1,8 x 10-8
s. Isso significa que, em média, a metade dos píons existentes em um dado
instante se desintegra decorridos 1,8 × 10-8 s. Em uma dada experiência, os
píons são produzidos com alta velocidade e se verifica que, a uma distância
L = 39 m do local da produção, a população de píons caiu à metade. Qual a
velocidade dos píons?

13 Um grupo de astronautas realiza uma jornada da Terra até Sírius, uma estrela
muito brilhante localizada a 8,5 anos-luz de distância da Terra, de acordo com
medidas feitas na Terra. A velocidade escalar da astronave é ν = 0,95c. Ache a
distância entre a Terra e Sírius, de acordo com medidas feitas pelos astronautas.

14 Uma nave espacial S é alcançada por uma nave espacial S', que ultrapassa
S com uma velocidade relativa ν = c/2. O capitão de S saúda o capitão de S'
piscando as luzes da proa e da popa simultaneamente do ponto de vista de S.
Quando medida por S, a distância entre as luzes é de 100 m. Qual a diferença
entre os instantes de emissão dos sinais de luz, quando medidos por S'?

42
15 Um homem, carregando uma vara de comprimento próprio L0V = 20 m,
passa correndo por baixo de uma área coberta de telhas de comprimento
próprio L0T = 11 m. A situação é esquematizada na figura a seguir. A veloci-
dade ν do homem com relação ao telhado é tal que γ = 2. Responda:

a) Qual a magnitude da velocidade do homem em relação ao telhado?


b) No referencial do telhado, por quanto tempo a vara estará totalmente de-
baixo das telhas?
c) No referencial do homem, existe algum instante em que a vara esteja total-
mente sob as telhas?

16 Um objeto A se desloca com velocidade u em relação a um referencial S, ca-


minhando para leste. Um objeto B se desloca com velocidade u, também em
relação ao referencial S, caminhando para oeste. Qual a velocidade relativa
de B em relação a A?

17 Suponha que um corpo se move em S' com velocidade v'= 0,9c e S' move-se
em relação a S com velocidade u=0,9c. Qual é a velocidade do corpo medida
por S?

18 Uma fonte de luz em repouso na origem O' de S' emite um raio de luz no
plano x'y' formando em ângulo ϑ' com o eixo x'. Qual é a sua direção vista
em S?

19 A rotação do Sol na linha do equador completa uma rotação em aproxi-


madamente 25.4 dias. O raio do Sol é 7,0 x 108 m. Calcule o efeito Doppler
observado nas bordas do Sol, perto do equador, para uma luz cujo com-
primento de onda é X = 550nm - 550 x 109 m (luz amarela) Trata-se de um
desvio para o vermelho ou para o azul?

43
44
UNIDADE 1
TÓPICO 2

DINÂMICA RELATIVÍSTICA

1 INTRODUÇÃO
Anteriormente, discutimos a observação clássica de que, se a segunda lei
de Newton F = m.a é válida em um referencial, também é válida em qualquer
outro referencial que esteja se movendo com velocidade constante em relação
ao primeiro, isto é, em qualquer referencial inercial. A transformação de Galileu
leva a mesma aceleração a'x = ax nos dois referenciais; forças como as produzidas
por molas distendidas também são as mesmas nos dois referenciais. Entretanto,
de acordo com a transformação de Lorentz, as acelerações não são iguais em dois
desses referenciais. Se uma partícula tem urna aceleração a, e uma velocidade u,
no referencial S a aceleração da partícula em S' obtida calculando o valor de du'/
dt', na qual u' é dado pela Equação:
ux - v
u'x =
vu
1- 2x
c
é

ax
a'x =
vu (1.44)
ã3 (1- 2x )3
c

E
IMPORTANT

Para que a segunda lei de Newton F = m.a seja válida no segundo referencial,
o valor de F/m também não pode ser o mesmo nos dois referenciais e, portanto, a força F
não é invariante em relação à transformação de Lorentz.

Na verdade, é razoável esperar que força F não se mantenha constante


para altas velocidades, já que, se a força se mantivesse constante, de acordo com a
equação a = F/m a aceleração seria constante e, portanto, a velocidade de uma par-
tícula poderia aumentar sem limite. Entretanto, se a velocidade de uma partícula
fosse maior do que c em algum referencial S não poderíamos passar de S para o
referencial de repouso da partícula, já que y se toma imaginário para v > c. É pos-

45
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

sível demonstrar a partir da transformação de velocidades, que se a velocidade


duma partícula é menor que c em um referencial S é menor que em qualquer refe-
rencial que esteja se movendo em relação a S com velocidade v < c. Este resultado
nos leva a supor que as partículas jamais atinjam velocidades maiores do que c.
Assim, esperamos que a segunda lei de Newton, F = m.a, não seja invariante em
relação à transformação de Lorentz.

NOTA

Nesse caso, precisamos de uma nova lei de movimento, mas uma lei que seja
 v
equivalente a versão clássica de Newton para b= c  → 0 já que, quando b « 1, a lei F = m.a
está de acordo com as observações experimentais.

Neste tópico, vamos discutir as mudanças introduzidas na dinâmica clássica


pela teoria da relatividade, com atenção especial para as três grandezas que serviram
de base para a mecânica clássica: massa, momento e energia. Vamos ver que entre essas
mudanças, estão uma transformação de Lorentz para o momento, e a energia é uma
nova grandeza invariante para fazer companhia ao intervalo no espaço-tempo DS.

2 MOMENTO RELATIVÍSTICO
Entre os princípios mais importantes da física clássica estão as leis de conser-
vação do momento e de conservação da energia total. Essas leis fundamentais estão
ligadas a certas simetrias que existem nas leis da física. Assim, por exemplo, a conser-
vação da energia total na física clássica é uma consequência da simetria ou invariân-
cia das leis da física com relação as translações no tempo. Isso faz com que as leis de
Newton se apliquem hoje em dia exatamente do mesmo modo como se aplicavam na
época em que foram formuladas. A conservação do momento resulta da invariância
das leis da física em relação a translações no espaço. Na verdade, o primeiro postula-
do de Lorentz e a transformação de Lorentz resultante (Equações a seguir):

x ′=g ( x-vt ) y′=y


t'=g ( t − vx / c 2 ) z'=z
E:
= x g ( x '+ vt ') y=y'
 vx ' 
t=g  t '− 2  z=z'
 c 

Asseguram que esta última invariância seja mantida em todos os referen-


ciais inerciais.
46
TÓPICO 2 | DINÂMICA RELATIVÍSTICA

E
IMPORTANT

A simplicidade e a universalidade dessas leis de conservação nos levam a bus-


car equações para a mecânica relativística análoga à Equação:
dv
=F m= ma
dt
E outras, que sejam compatíveis com a conservação do momento e da energia e ao mes-
mo tempo invariantes em relação à transformação de Lorentz.

É fácil provar que o momento da mecânica clássica não é conservado na


mecânica relativística. Para mostrar que isso é verdade, vamos examinar uma
colisão isolada entre dois corpos em um exemplo no qual evitamos a questão de
como transformar forças supondo que a resultante das forças externas seja nula.

E
IMPORTANT

Na mecânica clássica, o momento total é conservado.

p = Σmu
Vamos ver que na mecânica relativística a conservação da grandeza Σmu é uma aproxi-
mação válida apenas em baixas velocidades.

Considere um observador no referencial S com uma bola A e outro em S'


com uma bola B. As bolas têm massa m e são iguais quando medidas em repouso.
Os dois observadores arremessam as bolas ao longo dos respectivos eixos v com
velocidades u0 (“medidas nos respectivos referenciais)» uma em direção a outra.
Supondo que as bolas sejam perfeitamente elásticas, cada observador observa
que sua bola adquire uma velocidade u após a colisão. Para que o momento total
seja conservado, é preciso que a componente v seja nula, já que o momento de
cada bola troca de sinal após a colisão, mas o valor absoluto permanece o mesmo.
Entretanto, ao usarmos a transformação relativística das velocidades, constata-
mos que a grandeza muy não tem o mesmo valor para as duas bolas, seja do ponto
de vista do observador em S, seja do ponto de vista do observador em S'.

Considere a colisão do ponto de vista do observador em S (Figura 14a).


Neste referencial, a bola A está se movendo ao longo do eixo y com velocidade
uyA= u0. A velocidade da bola B tem uma componente x dada por uxB = v e uma
componente y dada por:
47
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

v2
u xB =
u'YB /Y =
−u0 1 − (1.45)
c2

Para chegar a Equação 1.45 usamos as equações de transformação das


velocidades e o fato de que u'yB = -u0 e u'xB = 0. Vemos que a componente y da
velocidade da bola B é menor em valor absoluto que a componente y da bola A.
A presença do fator (1 - v2 / c2)1/2 é uma consequência da dilatação dos tempos.
O tempo que a bola B leva para percorrer uma certa distância ao longo do eixo y
em S é maior que o tempo medido em S' para a mesma distância. Assim, em S, a
componente y total do momento clássico não é nula. Como as componentes das
velocidades mudam apenas de sinal em uma colisão elástica, o momento defini-
do pela equação p = Σmu não é conservado em S. A análise do problema do ponto
de vista de S" leva a mesma conclusão (Figura 14b), já que os papéis de A e B são
simplesmente intercambiados. No limite clássico v « c, naturalmente, o momento
é conservado, já que neste limite y = 1 e uyb ≈ u0.

O motivo para definirmos o momento como Σmu na mecânica clássica é


que esta grandeza é conservada quando não existem forças externas, como em
nosso exemplo. Vemos agora que esta grandeza é conservada apenas na aproxi-
mação v « c. É possível, porém, definir um momento relativístico p de uma partí-
cula que apresente as seguintes propriedades:

• p é conservado nas colisões;


• p tende a mu quando u/c tende a zero.

A Figura 14a mostra a colisão elástica de duas bolas iguais, do ponto de


vista do observador S. Se a componente vertical da velocidade B for um para o ob-
servador S' será u0/y para o observador S. (b) A mesma colisão, do ponto de vista
do observador S'. Para este observador, a componente S vertical da bola A é u0/y.

FIGURA 14 – COLISÃO DE DUAS BOLAS E OBSERVADORES

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 43)

48
TÓPICO 2 | DINÂMICA RELATIVÍSTICA

Vamos aplicar a primeira dessas condições à colisão de duas bolas que aca-
bamos de discutir, observando dois pontos importantes. Em primeiro lugar, para
cada um dos dois observadores da Figura 14, a velocidade das bolas com valor ab-
soluto não é alterada pela colisão elástica: tanto antes como depois da colisão é u0,
para a bola lançada pelo observador u = (u2y + v2)2 para a outra bola. Em segundo
lugar, a falta de conservação do momento que descrevemos não se deve às veloci-
dades, porque usamos a transformação de Lorentz para calcular as componentes v.
Nesse caso, deve ter algo a ver com a rnassa! Vamos escrever a lei de conservação
da componente v do momento do ponto de vista do observador em S, chamando a
massa da bola arremessada pelo observador S de m(u0) e a massa da bola arremes-
sada pelo observador S' de m(u):

m(u0) u0 + m(u)uyB = - m(u0)u0 - m(u)uyB


(1.46)
Antes da colisão Depois da colisão

A Equação 1.46 pode ser colocada na forma:

m(u ) u
= − 0 (1.47)
m(u0 ) uy B

De acordo com a Equação 1.45, se u0 « v. temos também uyb « v e, portanto,


u ≈ v.

Vamos agora considerar o caso limite em que u0 → 0 isto é em que as duas


bolas estão em repouso no respectivo referencial “Iocal” e a colisão é de “raspão”,
com a bola B passando pela bola A com velocidade v. Nesse caso, levando em
conta as Equações 1.45 e 1.47 e supondo que a equação (1.46) é respeitada, isto é,
que o momento é conservado, temos:

m(u = v) u 1
= − 0
m(u0 = 0) u0 v2 (1.48)
1−
c2

ou

m
m(u ) =
u1 (1.49)
1−
c2

De acordo com a Equação 1.49 o observador em S mede a massa da bola


1/ 2

B que se move em relação a ele com velocidade u, como igual a 1 / 1 − u 2  vezes a
2

 c 

49
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

massa de repouso da bola, ou seja, a massa da bola B no referencial em que esta


bola se encontra em repouso. Observe que a massa medida por um observador
em relação ao qual a bola está em movimento é sempre maior do que a massa
medida por um observador em relação ao qual a bola está em repouso. Fator
1/ (1 − u 2 / c 2 )1/2 reservaremos o símbolo y para o fator 1/ (1 − v 2 / c 2 )1/2 no qual
v é a velocidade relativa dos referenciais.

A Figura 15 mostra o momento relativístico, dado pela Equação 1.50 em


função de u/c em que u é a velocidade do objeto em relação a um observador. O
módulo do momento, p é expresso com unidades de mc. A reta tracejada mostra
a variação do momento clássico com u/c.

FIGURA 15 - MOMENTO RELATIVÍSTICO

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 44)

A Figura 15 apresenta um gráfico do módulo de p em função de u/c. A


grandeza da Equação 1.49 é as vezes chamada de massa relativística: entretanto,
evitaremos usar esse termo ou qualquer símbolo para a massa relativística; aqui,
m sempre indica a massa medida no referencial em que o corpo se encontra em
repouso. Ao fazermos isto, estamos adotando o ponto de vista de Einstein. Em
uma carta escrita a um colega em 1948 ele afirma:

50
TÓPICO 2 | DINÂMICA RELATIVÍSTICA

E
IMPORTANT

v2 1/2
Não é aconselhável introduzir o conceito de uma massa=M m / (1 − 2 ) para a qual
c
não se pode oferecer nenhuma definição clara. É melhor não introduzir nenhuma massa
além da “massa de repouso" m. Em vez de introduzir M, é melhor mencionar as expressões
para o momento e energia de um corpo em movimento.

3 ENERGIA RELATIVÍSTICA
O caráter fundamental do princípio de conservação da energia total nos
leva a procurar uma definição de energia total na teoria da relatividade que
preserve a invariância dessa lei de conservação nas transformações entre sistemas
inerciais. Como no caso da definição de momento relativístico.

ATENCAO

A Equação 1.50 vai exigir que a energia relativística total E apresente duas
propriedades:

• A energia total E de qualquer sistema isolado é conservada.


• E tende ao valor clássico quando u/c tende a zero.

Nossa estratégia consistirá em procurar uma expressão para E que


apresente a segunda propriedade e verificar se essa expressão apresenta também
a primeira. Vimos que a grandeza mu (o momento clássico) não é conservada em
colisões relativísticas, devendo ser substituída pela expressão ymu, na qual y = 1/
(1 - u2 / c2)1/2. Também sabemos que a segunda lei de Newton na forma F = m.a não
pode estar relativisticamente correta, já que entre outras coisas, leva à conservação
de mu. Para encontrar a forma relativisticamente correta da segunda lei é preciso
escrevê-la na forma F = dp/dt. Esta equação é relativisticamente correta, contanto
que seja usada.

Podemos provar esta afirmação calculando a expansão binomial de y. O


resultado é o seguinte:

 u2  1 u2
g = 1- 2 
c 
-1/2=1+
2 c2
+… (1.60)

51
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Assim, para u/c « 1 temos:

 1 u2 
Ek = mc 2  1+ 2
+…- 1  » 1 / 2mu 2 (1.61)
 2c 

A Figura 16 apresenta a comprovação experimental da validade da Equa-


ção 1.59, usada para calcular a energia cinética relativística. Elétrons foram manti-
dos por intensos campos elétricos até atingirem energias da ordem de MeV e suas
velocidades determinadas medindo o tempo que levavam para percorrer uma
distância de 8.4 m. Observe que para u « c as equações relativísticas e clássicas
levam aos mesmos resultados.

FIGURA 16 – GRÁFICO DA ENERGIA RELATIVÍSTICA

FONTE: Tipler; Llewellyn (2006, p. 46)

52
TÓPICO 2 | DINÂMICA RELATIVÍSTICA

ATENCAO

A equação 1.59 contém dois termos. O primeiro ymc2 termo depende da


velocidade u da partícula, enquanto o outro termo mc2 é independente da velocidade. A
grandeza mc2 é a energia de repouso da partícula, ou seja, a energia associada a massa de
repouso m. A energia relativística total E é definida como a soma da energia cinética com
a energia de repouso:

mc 2
E = Ek + mc 2 = g mc 2 = (1.62)
1- u 2 / c 2
Assim, o trabalho realizado por uma força aumenta a energia do sistema da energia de
repouso mc2 para ymc2 ou aumenta a massa de m para ym. Para uma partícula em repouso
em relação a um observador Ek = 0 e a equação 1.62 se toma a que é, provavelmente, a
mais famosa de todas as equações da física E = mc2.

Para u « c. a equação 1.62 pode ser escrita na forma:

1
E≈ mu 2 +mc 2 (1.63)
2

Antes do aparecimento da teoria da relatividade, imaginava-se que a massa


fosse uma grandeza conservada; em consequência m teria o mesmo valor antes e de-
pois de qualquer interação ou evento rnc2 seria constante. Como o zero de energia é
arbitrário, estamos livres para incluir uma constante aditiva, assim, nossa definição
de energia relativística total se reduz a energia cinética clássica para u « c e, portanto,
a expressão para E apresenta também a segunda propriedade.

É preciso tomar cuidado para interpretar corretamente a equação 1.63. Esta


equação é usada para definir a energia total E, que é conservada em todos os sistemas
isolados. Em particular, as grandezas Ek (energia cinética) e mc2 (energia de repou-
so) não são necessariamente conservadas em todos os sistemas isolados. Convém
lembrar também que existe uma diferença entre grandezas conservadas e grandezas
invariantes. As primeiras têm o mesmo valor em um determinado referencial antes
e depois de uma interação, as segundas têm o mesmo valor em qualquer referencial.
Assim, não estamos afirmando que o valor de E medido por observadores em dife-
rentes referenciais inerciais é necessariamente o mesmo, e sim que o valor de E per-
manece constante com o tempo em um dado referencial. Para mostrar que a energia
E definida pela equação 1.63 é conservada em sistemas isolados, vamos examinar de
que modo E e p se transformam quando mudamos de referencial.

53
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

DICAS

Ao longo dos séculos, o homem sempre se voltou para a religião em busca de


respostas sobre a origem de tudo. Por exemplo, de onde viemos e para onde vamos? De
uns tempos para cá, a ciência substituiu a religião como a provável fonte das respostas. A
construção da mais complexa máquina já imaginada pelo homem — o colisor de partículas
atômicas — na fronteira entre a Suíça e a França, desperta enorme expectativa. Assista ao
vídeo Cern, do canal do jornal Matéria de Capa, disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=1TOnz71uDak.

DICAS

Você não precisa de uma nave espacial com velocidade próxima à da luz para
sentir os efeitos da relatividade — eles podem emergir mesmo nas lentas velocidades de
um automóvel. Leia: A bateria do seu carro só funciona graças à relatividade. Disponível
em: http://bit.ly/2ul6d2m.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático, no próximo


tópico, será sobre a Relatividade Geral. É um conjunto de hipóteses que generaliza a re-
latividade especial e a lei da gravitação universal de Newton, fornecendo uma descrição
unificada da gravidade como uma propriedade geométrica do espaço e do tempo, ou
espaço-tempo. Busque saber mais lendo o próximo tópico. Bons estudos!

54
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As relações cinemáticas da relatividade precisam de mudanças equivalentes


nos elementos da dinâmica.

• A fim de que o princípio de conservação do momentum de um sistema isolado


seja realizado em todos os referenciais inerciais é necessário que o conceito de
momentum seja generalizado.

• A definição generalizada precisa da forma para a corrente equação de movi-


mento, que é a generalização da segunda lei de Newton.

• A modificação correspondente da definição de energia cinética leva natural-


mente a consideração da energia associada a massa de um corpo e os princípios
de conservação de massa e energia emergem como dois aspectos de uma única
lei de conservação.

• A relação entre energia e momentum para uma partícula sem massa aparece
naturalmente das novas definições.

• Para que a lei de conservação do momentum fique verdadeira em todos os refe-


renciais inerciais, é necessário que a interpretação de momentum de um corpo
seja alterada.

• A nova determinação deve manter as propriedades comuns do momentum, isto é,


deve ser proporcional a massa do corpo e paralelo a sua velocidade. Além disso,
deve reduzir-se ao momentum newtoniano no limite de baixas velocidades.

• O momento linear relativístico de uma partícula que se move com velocidade


u em relação a um referencial inercial S é dado por:

  1
p = m(u)u, onde m(u)= g (u)m, g (u)=
u2
1−
c2

• Nestas expressões u é o módulo da velocidade, m(u) é a massa relativística da


partícula e m0 é a sua massa de repouso. Note que o momento relativístico se
 
reduz ao momento clássico (pc =mu) no limite u → 0

• Na dinâmica relativística, a energia relativística e a massa relativística de uma


partícula estão relacionadas pela famosa equação de Einstein:

E=m(u)x 2 =g (u)m0 c 2
55
• É fácil verificar que a energia e o momento linear relativísticos estão relaciona-
dos pela equação:

E 2 -p 2 c 2 =(m0 c 2 )2

• Se a partícula se encontra em repouso em relação a um referencial S (u = 0),


então a energia da partícula é a chamada energia de repouso:

E0 =m0 c 2

• Às vezes é útil definir a energia cinética relativística de uma partícula, que é


simplesmente a diferença entre a sua energia relativística e sua energia de re-
pouso:

K(u)=E-E0 =m(u)c 2 -m0 c 2 =[ g (u)-1]m0 c 2

• A equação E0 = m0 c2 tem um significado muito profundo: ela nos diz que massa
e energia são basicamente equivalentes. Uma das mais importantes implica-
ções dessa equação é a noção de que podemos, em princípio, transformar mas-
sa em energia e vice-versa.

56
AUTOATIVIDADE

1 Uma partícula de massa m está em repouso na origem O de um sistema S


e uma segunda partícula com mesma massa move-se no sentido positivo do
eixo x com velocidade v. Ache a velocidade do centro de massa.

2 Uma partícula carregada de massa m e carga q viaja com velocidade v = 0,8


c. Encontre a magnitude do campo elétrico necessário para dar a partícula uma
aceleração a na direção do movimento original. Se este campo fosse aplicado a
uma partícula em repouso, que aceleração ele produziria?

3 Valores Medidos da Massa de um Corpo em Movimento. Para que valor de


u/c a massa experimental de um corpo, m excede a massa de repouso de uma
dada fração f?

4 Momento de um Foguete. Uma sonda interplanetária de massa m = 50.000


kg foi lançada em direção a Plutão com uma velocidade u = 0,8c. Qual é o
momento da nave no referencial da base de lançamento? Se a velocidade da
sonda é reduzida para 0.4c ao se aproximar de Plutão, qual é o novo valor do
momento?

5 Uma nave tem uma massa de repouso igual a 1 tonelada, desloca com relação
a um sistema inercial O. Qual deveria ser a velocidade v da nave para que a
mesma sofresse um aumento na massa inercial de 1 g?

6 Calcule a massa relativística, o momento e a energia cinética de um múon


que se move com velocidade de magnitude v = 0, 999 c. A massa de repouso de
um múon é mμ = 1, 8807 x 10-28 Kg.

7 Um elétron tem momento linear de módulo p = 5×10-22 Kg m/s. Calcule


sua energia cinética relativística. A massa de repouso de um elétron é me =
9.096×10-31 Kg.

8 Um próton tem massa de repouso 1, 00731 u e um nêutron tem massa de


repouso 1, 00867 u. Quando os dois se combinam, forma-se um dêuteron
(Hidrogênio pesado), cuja massa de repouso é 2, 01360 u.

a) Qual a energia liberada pela reação?


b) Seja uma usina atômica que produza 1000 moles de deuterons a cada hora.
Qual a potência gerada pela usina?

9 Uma partícula em repouso, de massa M0, desintegra-se em duas partículas


iguais de massa de repouso m0 < M0/2. Use conservação de momento e energia
relativísticos para calcular as velocidades dos fragmentos em função das
massas m0 e M0.

57
10 Determine o equivalente energético de uma unidade atômica 1u = 1, 6605
x10-27kg.

11 Uma partícula foi acelerada e alcançou a velocidade de 0,8c. Determine a


energia cinética necessária para atingir esta velocidade e faça uma comparação
entre a energia newtoniana e relativística.

12 Determine a velocidade de um elétron com 10 MeV de energia cinética


sabendo que ele possui 0, 511 MeV de energia de repouso.

13 Determine o momento linear do elétron do exemplo anterior.

58
UNIDADE 1
TÓPICO 3

INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

1 INTRODUÇÃO
A teoria inicial da relatividade é "especial" no sentido de que trata com sis-
temas de referência em movimento uniforme, isso é, em sistemas de referência que
não são acelerados. A teoria geral incorpora sistemas de referência aceleradas. A
ideia subjacente é que os efeitos da gravitação e da aceleração não podem ser distin-
guidos um do outro. Com isso, Einstein formulou uma nova teoria da gravitação.

Lembre-se de que em 1905 Einstein postulou que nenhuma observação re-


alizada dentro de um compartimento fechado poderia determinar se ele estava em
repouso ou se movendo com velocidade uniforme; ou seja, nenhuma medição me-
cânica, elétrica, óptica ou de qualquer natureza física, que alguém possa realizar
dentro de um compartimento fechado de um trem se movimentando suavemente
num trilho reto e perfeito (ou um aeroplano voando uniformemente no ar com
as cortinas das janelas baixadas) poderia fornecer qualquer informação sobre se o
trem está se movendo ou em repouso (ou se o avião está em repouso ou voando).
Mas se o trilho tivesse imperfeições ou não fosse reto (ou se o ar fosse turbulento),
a situação seria inteiramente diferente: o movimento uniforme daria lugar ao mo-
vimento acelerado, o que seria notado facilmente. A convicção de Einstein que as
leis da natureza deveriam ser expressas na mesma forma em todos os sistemas de
referência, tanto não acelerados como acelerados, foi a motivação que o levou à
teoria geral da relatividade.

2 GEOMETRIA DIFERENCIAL
• Tensores

Tensores podem ser basicamente definidos como quantidades matemáticas


que obedecem a certas regras quando submetidos a uma transformação de
coordenadas. Assim, dados dois conjuntos distintos de sistemas coordenados em
um espaço de n dimensões:

x a =x a (x1 ,x 2 ,...,x n ) (1.64)

59
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

x´a = x´a ( x´1 , x´2 ,..., x´n ) (1.65)

Podemos definir dois tipos de tensores:

a) Tensores Covariantes:

∂x b
x 'a = (1.66)
∂x 'a
b) Tensores Contravariantes:

∂x 'a b
X 'a = X (1,67)
∂x b

Aqui, é utilizada a notação de Einstein, na qual consideram-se termos que


possuem índices repetidos como sendo um somatório sobre as dimensões. Obvia-
mente, deve-se definir o número de dimensões n do espaço no qual os tensores
são tratados para que esta notação faça sentido. Um tensor pode possuir tanto
índices covariantes quanto contravariantes, neste caso ele será um tensor misto.

c) Derivação covariante:

Ao aplicarmos uma diferenciação parcial a um tensor covariante, dado


por (2.3) obtemos:

∂  ∂x e 
∂ c X'a =   Xe (1.68)
∂x' c  ∂x' a 
Sendo:

∂ ∂x d ∂
∂'c º = (1.69)
∂x' c ∂x' c ∂x d
Temos então:

∂x e ∂x d ∂ ∂ 2 xe
∂'c X'a = Xe + c a Xe (1.70)
∂x' a ∂x' c ∂x d ∂x' ∂x'

60
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

Vemos então que esta operação não é tensorial, pois não se comporta como
(1.66) frente a uma transformação de coordenadas devido ao segundo termo do
lado direito. Mas podemos definir uma derivação de caráter tensorial reescreven-
do (1.70) da seguinte maneira:

∂ 2 x e ∂x' b ∂ e xd (1.71)
∂'c X'a = X'b + a c ∂ d X e
∂x' c ∂x' a ∂x e ∂x' ∂x'
com isso, definimos a seguinte operação:

∂ c X a - Γ ac
∇c X a = b
Xb (1.72)

b
Esta é a derivada covariante de um vetor Xa. O fator Γ ac é denominado
conexão. É esta conexão que faz com que a derivação covariante tenha caráter
tensorial.

No caso de um escalar, a derivação covariante nada mais é do que a pró-


pria derivada convencional:

∇cϕ =∂ cϕ (1.73)

A partir desse fato, podemos obter uma relação para a derivação cova-
riante de tensores contravariantes, definindo um produto escalar entre dois ten-
sores como:

X aYa =ϕ (1.74)

Utilizando esta relação em (1.73), temos

∇ cϕ = ∂ cϕ = Yb ∂ c X a + X a ∂ cYb (1.75)

Fazendo a derivação covariante no termo do lado esquerdo de (1.74),


temos

∇ c (X aYa ) = Ya ∇ c X a + X a ∇ cYa (1.76)

61
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Assim, substituindo (1.75) e (1.76) em (1.73), obtemos

Ya ∇c X a + X a (∂ cYa − Γ ac
b
Yb )= Ya ∂ c X a + X a (1.77)

Como no segundo termo entre parênteses os índices e definem somatórios


(pois estão repetidos), não faz diferença reescrevê-lo da seguinte forma:
Y a ΓbacYb → X b Γbc
a
Ya . Podemos então eliminar da equação, de modo que (1.77)
se torna:

∇c X a = ∂ c X a + Γ ab X b (1.78)
Que é a derivada covariante para um tensor contravariante. Agora
podemos generalizar a derivação covariante para o caso de um vetor misto
a
arbitrário Tb .

∇ cTba...... = ∂ cTba...... + Γdc


a
Tbd...... + ... − ΓdbcTba (1.79)

A operação (1.78) obedece às regras de transformação de um tensor:

∂x f ∂x 'a
∂ 'c X 'a +=
Γ 'abc X 'b (∂ f X d + Γdef X e ) (1.80)
∂x ' ∂x
c d

Efetuando uma mudança de coordenadas no primeiro termo da equação


anterior

∂x f ∂x 'a ∂ 2 x 'a ∂x f d
∂ '=
c X'
a
∂ f X d
+ X (1.81)
∂x 'c ∂x d ∂x d ∂x f ∂x 'c

Podemos reescrever (1.80) assim:

∂x f ∂x 'a d e ∂ 2 x 'a ∂x f d
Γ' =
X'
a
bc
b
Γef X − d f X (1.82)
∂x 'c ∂x d ∂x ∂x ∂x 'c

Novamente, podemos eliminar os vetores X'b, Xe e Xd efetuando uma


mudança nos seus índices repetidos, de modo que obtemos:

62
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

∂x f ∂x 'a ∂x e d ∂ 2 x 'a ∂x f ∂x d
=Γ' a
bc Γef − d f (1.83)
∂x 'c ∂x d ∂x 'b ∂x ∂x ∂x 'c ∂x 'b

Simplificando o segundo termo, obtemos:

∂x f ∂x 'a ∂x e d ∂2x d ∂x 'a


=Γ 'abc Γ ef − (1.84)
∂x 'c ∂x d ∂x 'b ∂x 'b ∂x 'c ∂x d

Assim, fica evidente que a conexão não é um tensor. Mas podemos formar
um tensor a partir da diferença entre duas conexões —pois aí o segundo termo
de (1.84) irá se anular, neste caso o tensor resultante será diferente de zero apenas
para conexões antissimétricas — nas quais os índices covariantes da conexão não
comutam. O tensor assim definido é denominado torção.

3 O PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA
Como vimos, é devido a igualdade entre massa inercial m, e massa
gravitacional m que o campo gravitacional numa pequena região próximo à
superfície da Terra produz a mesma aceleração (-g) de queda livre em qualquer
corpo material (“experiência” de Galileu da Torre de Pisa). Com efeito, a segunda
lei de Newton dá:


m1 X=-m gg (1.85)

Em que, no primeiro membro, temos a massa inercial, e no segundo a


massa gravitacional (resposta de um corpo de prova ao campo gravitacional).
Como ml = mg, resulta que:


X=-g (1.86)

Logo, a força gravitacional tem a notável propriedade de ser proporcional


à massa inercial de uma partícula (corpo de prova) sobre a qual atua. Vimos no
curso de Mecânica, que essa propriedade é sempre válida para forças de inércia,
características de referenciais não-inerciais. Isso sugere que possa existir uma
relação entre gravidade e forças de inércia, e que convenha examinar referenciais
não-inerciais. Na relatividade especial, o contínuo espaço-tempo tem caráter
absoluto (atua sobre a matéria, mas a matéria não atua sobre ele). Por outro lado,
referenciais inerciais concretos são definidos relativamente à distribuição de
matéria no Universo (Princípio de Mach).

63
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Num referencial inercial (S) próximo à superfície da Terra e numa região


suficientemente pequena para que o campo gravitacional possa ser tratado como
uniforme, a segunda lei de Newton se escreve, para uma partícula de massa m.

 - mg+F
mX= (1.87)
1

Em que F1 representa forças não-gravitacionais que atuem sobre a partícula.

Se considerarmos agora um referencial (S') que se desloca em relação


à (S) com movimento retilíneo uniformemente acelerado de aceleração a. A
aceleração da partícula em relação à (S') é, como consequência da lei de Galileu
de composição de velocidades,

  − A
X'=X (1.88)

De modo que a (1.87) fica:


m(X'+A)= - mg+F1 (1.89)

E, em particular, se A = - g:

 F
mX'= (1.90)
1

Ou seja, num referencial em queda livre no campo gravitacional (A = -g, “ele-


vador de Einstein”), desaparecem os efeitos do campo gravitacional sobre a partícula.
É o efeito da “ausência de peso” dos astronautas em órbita. A (1.90) mostra que (S') se
comporta como se fosse um referencial inercial na ausência de campo gravitacional.

Por conseguinte, as leis da mecânica na presença de um campo gravitacional


-g uniforme são as mesmas que resultariam, na ausência do campo, num referencial
uniformemente acelerado, com aceleração -g: não é possível distinguir entre as duas
situações por experiências de mecânica, o que generaliza o princípio de relatividade
de Galileu.

64
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

E
IMPORTANT

Em 1908, Einstein estendeu essa conclusão a todas as leis físicas, formulando


o Princípio de Equivalência: num recinto suficientemente pequeno para que o campo
gravitacional dentro dele possa ser tomado como uniforme, em queda livre dentro desse
campo, todas as leis físicas são as mesmas que em um referencial inercial, na ausência do
campo gravitacional.

Por que a restrição a um “recinto suficientemente pequeno"? Porque para


o campo gravitacional da Terra, por exemplo, se tomarmos um recinto de dimen-
sões comparáveis as da Terra (ABCD, na Figura 17), o campo gravitacional não
será mais uniforme nessa escala, e é perfeitamente possível detectá-lo, Figura 17.

FIGURA 17 - CAMPO GRAVITACIONAL DA TERRA

FONTE: Nussenzveig (2014, p. 226)

As trajetórias de dois pontos materiais bem separados, como P1 e P2 na


Figura 17, tenderão aproximar-se uma da outra. Analogamente, para dois pontos
a distâncias bastante diferentes do centro da Terra, como P1 e P3, as acelerações
serão sensivelmente diferentes. Logo, usando como “corpo de prova” um par
de partículas suficientemente afastadas entre si, é possível neste caso detectar a
existência do campo gravitacional e não é possível eliminá-lo por uma mudança
para um referencial uniformemente acelerado.

Vemos que o Princípio de Equivalência tem que ser aplicado localmente,


em pequenos recintos que podemos chamar de referenciais localmente inerciais.
65
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Tomando essa precaução, porém, o Princípio de Equivalência nos permite


inferir a existência de alguns dos efeitos novos, característicos da relatividade geral.

Já vimos que ele permite prever a existência de uma deflexão gravitacio-


nal da luz. O resultado previsto por Einstein para a deflexão pelo campo gravi-
tacional do Sol foi confirmado pelas observações realizadas em Sobral (Ceará)
durante o eclipse solar de 1919, que tiveram grande repercussão.

4 AS EQUAÇÕES DE CAMPO DE EINSTEIN


O problema agora é determinar de que forma a presença de corpos no
espaço-tempo altera a sua geometria. Ou seja: dada uma distribuição de matéria,
temos que achar o tensor métrico adequado para descrever a deformação causada
por ela. Este problema é resolvido pelas equações de campo de Einstein que
relacionam a geometria do espaço-tempo com a distribuição de matéria e energia
contidas nele. Esta equação foi postulada por Einstein através de uma série de
argumentos intuitivos. É possível utilizar alguns argumentos para convencer de
sua consistência. Em todo caso, as equações de Einstein foram corroboradas por
diversos experimentos desde que foi publicada, em 1915.

Posteriormente, foi possível obter as mesmas equações a partir da Teoria


Clássica de Campos, utilizando o Princípio Variacional. Mesmo assim, por esse
método variacional há uma quantidade postulada através de considerações
heurísticas, que é a lagrangeana de Einstein.

4.1 APROXIMAÇÃO PARA CAMPOS FRACOS


Apesar de tudo, a Teoria da Gravitação Universal de Newton funciona
muito bem para descrever a gravidade em casos em que a velocidade dos corpos
envolvidos é bem menor que a da luz e em que os corpos não são excessivamente
massivos. A teoria da relatividade geral deve coincidir com as previsões
newtonianas, nestas condições.

Ao considerarmos o caso de uma partícula livre se deslocando com


velocidades muito menores que a da luz em um campo gravitacional “fraco”
podemos escrever a métrica do espaço- tempo como sendo a métrica de Minkowski
acrescida de uma pequena perturbação:

g=
ab ηab + hab (1.91)

Sabemos que o movimento de uma partícula no espaço-tempo é dado


pela equação de uma geodésica:

66
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

d 2 xe e dx
b
dx c
+ Γ ab =0
dτ 2 dτ dτ

E a equação da geodésica fica:

2
d 2 xa 2 e dx
b
 dt 
+ c Γ 00   = 0 (1.92)
dτ 2
dτ  dτ 

Pois, para velocidades muito menores que c:

dx 0 dt dx a
=c >> (1.93)
dτ dτ dτ

Com o índice representando as coordenadas espaciais. E o conector


métrico dado por:

1 fc
Γ abf
= g (∂ agbc + ∂ bgca − ∂ cgbc )
2

considerando que o campo é aproximadamente estático (= 0) fica:

a 1 ab 1
Γ 00 = g (∂ 0gb0 + ∂ bg0b − ∂ bg00 ) = − gab ∂ bg00 (1.94)
2 2

Considerando que ℎab « 1, podemos inverter a métrica dada em (1.91) para


achar sua forma contravariante, pela relação:

Temos:

ab
g= η ab − h ab (1.95)

E a conexão fica:

1 ab
= a
Γ 00 η ∂ b h00 (1.96)
2

67
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Como ℎ = 0, a equação pode ser escrita como:

1 1
a
Γ 00 =Γα00 = d αb ∂ b h00 = ∂α h00 (1.97)
2 2
E (1.92) fica:

2
d 2 xα 1 2  dt 
=− ∂ α h00 c   (1.98)
dτ 2 2  dτ 
2
dt
Dividindo ambos os lados por   obtemos então:
 dτ 

d 2 xα c2
− ∂α h00
= (1.99)
dτ 2 2
Comparando com a segunda lei de Newton para uma força gravitacional
descrita por um potencial, temos:


h00 = (1.100)
c2
Ou, através de (1.91):


g00 = 1+ (1.101)
c2
Ou seja: podemos considerar a métrica do espaço-tempo como sendo o
análogo do potencial da gravitação newtoniana.

Na teoria da gravitação universal, temos a Equação de Poisson, que quando


resolvida para uma dada distribuição de massa nos dá o potencial gravitacional:

∇ 2ϕ=4p Gp (1.102)

68
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

Em que G é a constante gravitacional de Newton e a densidade de massa

5 A SOLUÇÃO DE SCHWARZSCHILD
O problema mais simples seria o do campo gravitacional central de uma
partícula de massa M em repouso (no movimento planetário, seria o Sol). É natu-
ral, neste caso, tomar origem na partícula e adotar coordenadas esféricas (r, θ, ϕ).

A grande distância da partícula (r → ∞) esperamos que o campo gravitacio-


nal tenda a zero e que a métrica do espaço-tempo seja, portanto, a de Minkowski,

(ds)∞2 =(dr)∞2 +(rdθ )∞2 +(r senθ d Φ )∞2 -(c d t)∞2 (1,103)

A presença de M deve alterar a métrica a distância finita, introduzindo


curvatura no espaço-tempo. Como o problema é estático, os coeficientes da
métrica devem ser independentes do tempo, e pela simetria esférica, não devem
depender de θ e φ, pela mesma razão, a métrica nessas variáveis angulares não
deve ser alterada. Assim, esperamos que a métrica seja da forma:

(ds)2 =a(r)(dr)2 +(rdθ )2 +(r senθ d Φ )2 -b(r)(c d t)2 (1.104)

Em que a(r) e b(r) são funções a determinar, resolvendo as equações de


Einstein para o campo gravitacional da teoria da relatividade geral.
Um argumento de plausibilidade para b(r) resulta da:

 ö(x) 
(dt)2 ≈ (dt∞ )2 1+2  2 
 c 
O caráter estático da métrica implica que a sincronização dos relógios em
posições diferentes (através de sinais luminosos) não deve variar com o tempo.
Entretanto, pela:

 GM   ϕ (x) 
Dt(r)=Dt∞  1- 2  =Dt∞ 1+ c 2 
 rc   

E a penúltima equação, a presença do campo gravitacional afeta a marcha


dos relógios diferentemente, conforme a posição. Para manter a sincronia e o
caráter estático do espaço-tempo, é preciso, portanto, corrigir o coeficiente de (c .
dt)2 por um fator que compense a:

69
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

O que daria:

(1.105)

Em 1916, Schwarzschild obteve uma solução exata das equações — de


Einstein — da relatividade geral que tem essa forma. O resultado para a(r) é o
inverso de b(r), como na relação entre dilatação de Lorentz temporal e contração
espacial, o que dá a solução de Schwarzschild:

(1.106)

Em que:

(1.107)

Chama-se o raio de Schwarzschild associado à massa M. Para r → ∞, a


(6.150) tende à (1.106).

Se interpretarmos M como a massa do Sol, a linha de universo de um


planeta seria uma geodésica no espaço-tempo com a métrica de Schwarzschild
(Figura 18).

70
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

Figura 18 – Linha de universo de um planeta em tomo do Sol

FONTE: Nussenzveig (2014, p. 236)

O cálculo mostra que a órbita não é mais a elipse newtoniana. Ela não é
fechada: é em geral uma rosácea (Figura 19), correspondendo a uma precessão
do periélio.

Figura 19 – Precessão do periélio

FONTE: Nussenzveig (2014, p. 236)

71
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

Na mecânica newtoniana, ocorre uma precessão quando levamos em conta a


presença dos demais planetas, como uma perturbação do problema de dois corpos.

Entretanto, havia uma pequena discrepância entre a precessão calculada pela


mecânica newtoniana e a precessão observada.

O valor dessa discrepância para o planeta Mercúrio é de 43,11" ± 0,45" (segun-


dos de arco) por século. A relatividade geral, calculando as órbitas como geodésicas
na métrica de Schwarzschild, prediz para este desvio o valor 43,03”, por século, em
excelente acordo com a experiência.

Também se pode empregar a métrica de Schwarzschild para obter a trajetória


de um raio luminoso no campo gravitacional da massa M. Isso dá o valor numérico
da deflexão gravitacional da luz. Para luz que passa próxima do Sol, encontra-se
uma deflexão a p = 1,75".

Para medir essa deflexão, é preciso comparar a posição aparente de uma es-
trela no céu noturno com sua posição quando vista no céu próxima do Sol, o que só
pode ser feito durante um eclipse solar. O valor médio observado é de 1,89", mas os
erros de observação são grandes.

Por outro lado, o quasar 3C279, fonte intensa de ondas de rádio, é ocultado
pelo Sol uma vez por ano, permitindo que se meça a deflexão gravitacional com pre-
cisão bem maior. O resultado é 1,73" ± 0,05", em excelente acordo com a predição da
relatividade geral.

DICAS

Albert Einstein (1879 -- 1955) foi um físico e humanista alemão, autor da teoria
da relatividade e de importantes estudos em ondulatória. O documentário Albert Einstein
está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tQz0KM6JEB4.

Assista também ao documentário: 100 Anos de Teoria da Relatividade (Legendado). Dispo-


nível em: https://www.youtube.com/watch?v=5Aie5w1CBus.

72
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

DICAS

Como nas gravuras de M.C. Escher, em que as coisas se fundem de forma


suave, o mundo é simultaneamente relativístico, clássico e quântico, dependendo das di-
mensões que consideremos. Leia o texto completo: Físicos fazem caminho matemático
das partículas ao Universo, disponível no endereço: https://www.inovacaotecnologica.
com.br/noticias/noticia.php?artigo=fisicos-alcancam-cosmologia-pela-gravidade-quanti-
ca&id=010130130805#.XUse7tJKjZ4.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático na próxima


unidade será sobre introdução a teoria quântica. A mecânica quântica é a teoria física que
obtém sucesso no estudo dos sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou abaixo da
escala atômica, tais como moléculas, átomos, elétrons, prótons e de outras partículas suba-
tômicas, muito embora também possa descrever fenômenos macroscópicos em diversos
casos. Você saberá mais sobre o tema estudando a Unidade 2. Bons estudos! Fique agora
com uma leitura complementar.

73
UNIDADE 1 | MOVIMENTO PLANO DOS CORPOS RÍGIDOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Espaço-tempo é gerado pelo entrelaçamento quântico?

Inovação Tecnológica

Dimensões adicionais

Um trabalho de uma equipe de físicos e matemáticos deu um passo sig-


nificativo em direção à unificação da relatividade geral com a mecânica quântica.

Para a equipe, não apenas não há incompatibilidade entre as duas teorias,


como o próprio espaço-tempo, conforme descrito por Einstein emerge do emara-
nhamento quântico, o estranho comportamento das partículas quânticas de que
Einstein gostava tão pouco.

O emaranhamento quântico — ou entrelaçamento quântico — é um fenô-


meno pelo qual estados como o spin ou a polarização de partículas localizadas
em diferentes pontos do espaço não podem ser descritos de forma independente.
Assim, mexer em umas das partículas - fazer uma medição de suas propriedades
- vai imediatamente alterar a outra partícula entrelaçada, algo que Einstein ironi-
zou chamando o fenômeno de "ação fantasmagórica à distância".

Jennifer Lin e seus colegas estão propondo agora — e demonstraram seus


argumentos de forma bastante firme — que é justamente esse entrelaçamento
quântico que gera as dimensões adicionais da teoria gravitacional.

Universo Holográfico

Os argumentos se fundamentam no chamado "Princípio Holográfico",


que vem ganhando sustentação por um número cada vez maior de físicos.

O Princípio Holográfico afirma que a gravidade de um volume tridimen-


sional pode ser descrita pela mecânica quântica na superfície bidimensional que
envolve esse volume — é matematicamente possível explicar as três dimensões
do volume a partir das duas dimensões da superfície.

Mas havia uma dificuldade: faltava compreender os mecanismos precisos


que eventualmente permitiram o surgimento do volume interno a partir da su-
perfície externa.

Foi isto que agora foi feito por Jennifer e seus colegas das universidades
de Chicago e de Tóquio, que encontraram uma forma de mostrar que o entrelaça-
mento quântico é a chave para resolver esta questão.

74
TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO À RELATIVIDADE GERAL

Densidade de energia

Usando uma teoria quântica (que não inclui a gravidade), Jennifer mostrou
como calcular a densidade de energia, que é uma fonte de interações gravitacionais
em três dimensões, usando apenas dados do entrelaçamento quântico na superfície
do holograma cósmico.

Em uma comparação mais simples, isto é análogo a diagnosticar as condi-


ções no interior tridimensional do seu corpo olhando para imagens de raios X em
folhas bidimensionais.

Isto permitiu interpretar propriedades universais do entrelaçamento quân-


tico como sendo condições para a densidade de energia que devem ser satisfeitas
por qualquer teoria quântica da gravidade que se queira consistente, sem realmen-
te incluir explicitamente a gravidade na teoria.

"Nosso artigo lança uma nova luz sobre a relação entre o entrelaçamento
quântico e a estrutura microscópica do espaço-tempo através de cálculos explícitos.
A interface entre a gravidade quântica [o trabalho dos físicos] e a ciência da infor-
mação [o trabalho dos matemáticos] está-se tornando cada vez mais importante
para ambos os campos”, disse o professor Hirosi Ooguri, orientador do trabalho.

Curiosamente, há poucos dias, outra equipe usou a gravidade, conforme


descrita por Einstein, para chegar até os comportamentos estranhos descritos pela
mecânica quântica:

FONTE: <http://bit.ly/2REM9A4>. Acesso em: 7 ago. 2019.

CHAMADA

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compreensão. Acesse o AVA e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

75
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico você aprendeu que:

• Além de que o cálculo ocorresse suficiente para a conhecimento e o uso das leis
de Newton, não ficou para a teoria da relatividade que nasceu sobre as bases
do conhecimento composto pela geometria diferencial.

• A relação entre a geometria diferencial e a análise tem sido fator de desenvol-


vimento de ambas as disciplinas.

• No espírito da geometria analítica de Descartes, problemas profundos de estu-


do têm sido resolvidos por meio da geometria e mutuamente.

• O Princípio da Equivalência diz que não há experimento local que possibilite


ao seu observador diferenciar entre o caso no qual o experimento é feito em
uma região em que há um campo de gravidade conhecido, formando o obser-
vador (referencial) neste caso, apesar de, imerso neste mesmo campo, um re-
ferencial inercial — não acelerado, portanto —, e o caso em que o experimento
é feito em uma região totalmente neutra de campos gravitacionais, mas com
o observador, neste caso, acelerado por uma força própria, que estabeleça, ao
mesmo, uma aceleração de módulo igual, porém de sentido oposto ao da ace-
leração criada no primeiro caso pelo campo de gravidade.

• A equação de campo de Einstein, em física, é uma equação na teoria da gra-


vitação, denominada relatividade geral, que caracteriza como a matéria gera
gravidade e, inversamente, como a gravidade influencia a matéria.

• A equação do campo de Einstein se restringe à lei de Newton da gravidade no


limite não-relativista, isto é, às velocidades reduzidas e campos gravitacionais
pouco fortes.

76
• A solução de Schwarzschild, incluído a teoria de Einstein da relatividade geral,
explica o campo gravitacional externo a um corpo esférico, porém, ignorando
qualquer rotação de massa. Então pode-se tomar uma previsão para o caso de
uma estrela, um planeta ou um buraco negro. Trata-se de uma ideal avaliação
para campos gravitacionais de corpos de fraca rotação como a Terra ou Sol.

• Segundo o teorema de Birkhoff, a resposta de Schwarzschild é uma generali-


zação para condições de simetria esférica, também uma solução em problemas
de vácuo para as equações de campo de Einstein.

CHAMADA

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pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

77
AUTOATIVIDADE

1 Discuta a importância da primeira lei de Newton na definição de um refe-


rencial inercial.

2 Discuta a seguinte afirmação: “Qualquer referencial fixo na Terra é não inercial”.

3 Um trem se desloca com velocidade constante de 60 km/h em trilhos retilíne-


os. Dentro de um vagão, uma pessoa anda com uma velocidade de 10 km/h
em sentido à frente do trem, medida em um referencial inercial fixo no trem.
Use as transformadas de Galileu para a velocidade e posição para estimar:

a) Qual é a velocidade da pessoa em relação a um ponto fixo nos trilhos atrás


do trem?

b) Qual é a distância que a pessoa se desloca em 11 segundos em relação a um


referencial fixo no trem?

c) Qual é a distância que a pessoa se desloca em 11 segundos em relação a um


ponto fixo nos trilhos?

4 Considere um elétron livre se movendo com velocidade de módulo 0,7c e


calcule:

a) A razão entre os módulos do momento relativístico e clássico.

b) A razão entre a energia cinética relativística e clássica.

5 Calcule a velocidade de uma partícula, cuja razão entre o módulo do


momento dado pela expressão relativística e o momento dado pela expressão
clássica é 1.2.

6 Calcule a velocidade de uma partícula para qual modulo do momento


clássico é 9% menor do que o módulo do momento relativístico.

7 Qual é a velocidade de uma partícula que possui energia total igual ao dobro
de sua energia de repouso?

8 Calcule o módulo da velocidade e do momento de uma partícula de massa


2 MeV/c2 e energia cinética de 3 MeV7.

78
UNIDADE 2

INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA


E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Saber das origens da teoria quântica e os fótons;

• Conhecer o histórico da teoria quântica;

• Aprender sobre a hipótese de Planck;

• Entender o efeito fotoelétrico;

• Familiarizar-se do efeito Compton;

• Identificar modelos atômicos;

• Reconhecer espectros atômicos;

• Saber a respeito do modelo de Rutherford;

• Conhecer o modelo de Bohr;

• Aprender sobre as propriedades ondulatórias das partículas;

• Entender a hipótese de Broglie;

• Familiarizar-se sobre a dualidade partícula-onda;

• Realizar a interpretação probabilística da função de onda;

• Identificar operadores;

• Reconhecer observáveis e valor esperado;

• Executar a representação matricial e álgebra de observáveis;

• Entender sobre o momento angular do fóton;

• Conhecer sobre o princípio da incerteza.

79
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA E OS FÓTONS

TÓPICO 2 – MODELOS ATÔMICOS

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

80
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ORIGENS DA TEORIA
QUÂNTICA E OS FÓTONS

1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, será apresentado uma introdução ao estudo da mecânica
quântica com seus fundamentos essenciais. Assim como os conceitos essenciais
da mudança mais profunda pela qual a física passou desde a fase de Newton até a
física quântica. A Física Quântica indicou uma transformação muito mais primor-
dial das ideias relevantes da física do que da relatividade, que manifestou, num
certo sentido, o auge do que denominamos atualmente na física clássica.

A física quântica versa, sobretudo, as manifestações na escala atômica e


subatômica, com mais de um milhão de circunstâncias menores do que as di-
mensões macroscópicas (também debate das consequências desses fenômenos ao
grau macroscópico). Como essa escala é completamente distante da nossa expe-
riência, não há qualquer razão para acreditar que consiga ser explanada pelos
conceitos da física clássica. Realmente não pode: a física quântica não coincide
com nada do que entendemos até hoje.

2 HISTÓRICO DA TEORIA QUÂNTICA


Em sua ideia real, o postulado de Planck não era tão completo como no es-
tilo em que o relatamos. O trabalho inicial de Planck foi disposto entendendo-se,
discriminadamente, o comportamento de elétrons nas paredes do corpo negro e
sua acoplagem ou trato com a radiação eletromagnética no interior da cavidade.
Por meio desta conexão, Planck associou a energia a uma dada frequência da
radiação de corpo negro a energia de um elétron na parede, alternando senoi-
dalmente com a similar frequência e postulou apenas que a energia da partícula
oscilante é quantizada. Somente mais tarde foi que Planck aceitou a ideia de que
as próprias ondas eletromagnéticas eram quantizadas e o postulado foi ampliado
de forma a incluir qualquer ente cuja coordenada oscilasse senoidalmente.

No princípio Planck não tinha clareza se sua apresentação da constante h


era somente um modo matemático ou algo de importância física mais complexa.
Por mais de uma década Planck tentou encaixar a ideia quântica dentro da teoria
clássica. Em cada tentativa, ele parecia recuar de sua ousadia original, mas sem-
pre gerava novas ideias e técnicas que a teoria quântica mais tarde adotou. Apa-
rentemente, o que finalmente o convenceu da correção e do profundo significado
81
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

de sua hipótese quântica foi o fato dessa hipótese levar a uma formulação mais
exata da terceira lei da termodinâmica e do conceito estatístico de entropia.

Foi no decorrer desse tempo de dúvida que Planck foi o editor do jornal
alemão de pesquisa Annalen der Phytík. Em 1905, ele obteve o primeiro artigo de
Einstein sobre a relatividade, e defendeu fortemente esse trabalho. Depois disso,
tornou-se um dos patronos do jovem Einstein em círculos científicos, mas resistiu
durante algum tempo as ideias emitidas por Einstein sobre a teoria quântica da
radiação e que mais tarde confirmaram e estenderam o próprio trabalho de Plan-
ck. Einstein, cuja profunda visão do eletromagnetismo e da mecânica estatística
talvez fosse inigualável nessa época, viu como resultado do trabalho de Planck
a necessidade de uma reformulação completa na estatística e eletromagnetismo
clássicos. Ele formulou previsões e interpretações de muitos fenômenos físicos
que foram mais tarde notavelmente confirmados pelas experiências. Nesta uni-
dade vamos canalizar a um destes fenômenos e continuar um outro destino em
direção à mecânica quântica. Dando sucessão ao estudo, em seguida você pode
equiparar no texto acerca da hipótese de Plank.

Em 1924, o físico francês Louis-Victor de Broglie apresenta a sua teoria de


ondas de matéria, dizendo que as partículas podem exibir características de onda
e vice-versa. Essta teoria era para uma partícula simples e derivada da teoria es-
pecial da relatividade. Baseando-se na aproximação de Broglie, nasceu a mecâ-
nica quântica moderna em 1925, quando os físicos alemães Werner Heisenberg e
Max Born desenvolveram a mecânica matricial, e o físico austríaco Erwin Schrö-
dinger inventou a mecânica de ondas e a equação de Schrödinger não relativista
como uma aproximação ao caso generalizado da teoria de Broglie. Schrödinger
posteriormente demonstrou que ambos as aproximações eram equivalentes.

2.1 A HIPÓTESE DE PLANCK



No subtópico anterior discutimos sobre o histórico da teoria quântica. Você,
acadêmico, pode se perguntar, mas qual é a relação entre o histórico da teoria quân-
tica com a hipótese de Planck assunto dessa subtópico? Em 1900, Max Planck fez
uma proposta que considerou desesperadora, mas que se revelou revolucionária.
Ele mostrou que a lei de Rayleigh-Jeans não ajustava a curva espectral em toda
a faixa de comprimentos de onda, porque Rayleigh e Jeans admitiam que os os-
ciladores irradiavam qualquer quantidade de energia. Planck impôs uma restri-
ção, isto é, os osciladores só podiam emitir energia em determinadas quantidades.
Mais precisamente, em quantidades inteiras de hf, onde h passou a ser chamada
de constante de Planck, e f é a frequência da radiação emitida. Esta suposição é
hoje conhecida como quantização da energia. Em notação moderna E=nhf. A partir
dessa ideia, ele obteve uma expressão que ajustou completamente a curva espectral
da radiação de corpo negro. A história da mecânica quântica entrelaçada com a his-
tória da química quântica começa essencialmente com o descobrimento dos raios
catódicos em 1838 realizado por Michael Faraday, a introdução do termo corpo
negro por Gustav Kirchhoff no Inverno de 1859-1860, a sugestão feita por Ludwig

82
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

Boltzmann em 1877 sobre que os estados de energia de um sistema físico deveriam


ser discretos, e a hipótese quântica de Max Planck em 1900.

A contribuição de Planck pode ser observada na forma de um postulado,


como se segue:

ATENCAO

Todo ente físico com um grau de liberdade cuja "coordenada" é uma função
senoidal do tempo (isto é, opera oscilações harmônicas simples) é capaz de deter somente
energias integrais e que solvam à relação:

E=nh n=,1,2,3,... (2.1)

Em que v é a frequência da oscilação e h uma constante internacional.

Um esquema de estados de energia, como é expresso na Figura 1, nos dá


um perfil oportuno de explanar o comportamento de um ente orientado por esse
axioma e inclusive é conveniente para evidenciar a divergência entre esse desem-
penho e o que seria previsto com base na física clássica. Em uma figura desse tipo,
informamos a distância de uma linha, a linha de energia zero é proporcional à ener-
gia total i a qual ela corresponde. No entanto, o ente, executando oscilações harmô-
nicas simples, pode ter apenas as energias totais discretas & = 0, hv, 2hv, 3hv..., caso
obedeça ao postulado de Planck. Isto é indicado pelo conjunto discreto de linhas
em seu diagrama de níveis de energia. A energia do ente que segue ao postulado de
Planck é dita quantizada, os estados de energia prováveis são enunciados estados
quânticos e o inteiro n é o dito número quântico. (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 1 – ENERGIAS PARA UM SISTEMA CLÁSSICO E DE ACORDO COM POSTULADO DE PLANCK


...

& = 5hv
& = 4hv
& = 3hv
& = 2hv
& = hv
&=0 &=0
Clássico Planck
FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 41)

83
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Na Figura 1, temos do lado esquerdo: as energias prováveis para um sistema


clássico, oscilando senoidalmente com frequência v, são distribuídas constantemente.

Ainda na Figura 1 temos do lado direito: as energias prováveis de consenso


com o postulado de Planck, são distribuídas decorosamente já que podem ter
somente os valores nhv. Informamos que a energia é quantizada, com n sendo o
número quântico de um estado quântico possível. (EISBERG; RESNICK, 1994).

DICAS

O texto anterior contém trechos subtraídos do livro: EISBERG, R.; RESNICK, R.


Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. P. 40-41. Como dica para você apro-
fundar seu conhecimento, leia o material na íntegra acessando: https://www.academia.
edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_Resnick.

NOTA

A constante reduzida de Planck: o feito de Planck foi relacionar matematica-


mente o conteúdo de energia de um quantum à frequência da radiação. Um quantum de
energia E, é igual à frequência f da radiação multiplicada pela constante de Planck h.

Dando sequência na análise, em seguida você acompanhará o texto sobre


o efeito fotoelétrico.

2.2 O EFEITO FOTOELÉTRICO


No subtópico anterior discutimos sobre a hipótese de Planck. Afinal, qual
é a relação entre a hipótese de Planck com o efeito fotoelétrico? Em 1900, o físico
alemão Max Planck (1858-1947), em um trabalho sobre a radiação emitida por
corpos aquecidos, conhecida como radiação de corpo negro, criou a teoria dos
quanta ou teoria quântica, estabelecendo um novo conceito na física, o da quanti-
zação de energia. Enquanto a física clássica trata de corpúsculos com distribuição
contínua de energia, a física quântica abre espaço para a concepção de um mundo
granular. Em substituição à visão contínua da natureza da matéria, introduz a
ideia de que nem todos os valores de energia são possíveis, ou seja, a energia é
quantizada e varia em quantidades denominadas “pacotes”, o que Plank chamou
84
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

de quantum (daí o termo física quântica). Mais tarde, essas unidades discretas de
energia foram chamadas de fótons. Foi por meio dessas ideias que Einstein pôde
explicar o efeito fotoelétrico, cujas aplicações são vastas na indústria moderna.

Entre 1886 e 1887 Heinrich Hertz fez as experimentações que pela primei-
ra vez sustentaram a presença de ondas eletromagnéticas e a teoria de Maxwell
acerca da propagação da luz. E essa é uma das circunstâncias antagônicos e admi-
ráveis na história da ciência que fez com que Hertz tenha percebido, no suceder
de seus ensaios, o efeito que Einstein tardiamente usou para argumentar outros
elementos da teoria eletromagnética clássica. Hertz descobriu que uma descarga
elétrica entre dois eletrodos ocorre mais facilmente quando se faz incidir sobre
um deles luz ultravioleta Lenard. Seguindo alguns experimentos de Hallwachs,
Hertz mostrou logo em seguida que a luz ultravioleta facilita a descarga ao fazer
com que elétrons sejam emitidos da superfície do cátodo. Logo, a emissão de
elétrons de uma superfície, correspondente à aplicação de luz mediante essa su-
perfície, chamada efeito fotoelétrico (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 2, apresenta uma ferramenta conveniente para aprender o efeito


fotoelétrico. A amplitude da voltagem V pode ser diversificada constantemente e
seu sinal pode ser comutado pela chave inversora.

FIGURA 2 – APARELHO USADO PARA ESTUDAR O EFEITO FOTOELÉTRICO

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 52)

A Figura 2, apresentada anteriormente, indica um aparelho usado para


analisar o efeito fotoelétrico. Um revestimento de vidro monta o aparelho em
um ambiente no qual se faz vácuo. A luz monocromática, incidente por meio de

85
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

uma janela de quartzo, cai conforme a placa de metal A e libera elétrons, deno-
minados fotoelétrons.

A Figura 3 a seguir mostra os diagramas da corrente i em função da volta-


gem K de dados adquiridos com o sistema. A discrepância de potencial emprega-
da V é dita positiva caso o coletor B na Figura 3 esteja a um potencial maior que a
superfície fotoelétrica A. Na curva b a intensidade da luz incidente foi reduzida à
metade daquela da curva a. O potencial limite V0 é independente da intensidade
da luz, mas as correntes de saturação Ia e Ib são diretamente proporcionais a ela.

FIGURA 3 – CORRENTE I EM FUNÇÃO DA VOLTAGEM K

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 52)

A curvatura a na Figura 3, apresentada anteriormente, é um esquema da


corrente fotoelétrica, em função da diferença de potencial V. Se V é muito grande,
a corrente fotoelétrica atinge um certo valor limite (ou de saturação) no qual to-
dos os fotoelétrons emitidos por A são coletados por B. Se o sinal de V é inverso, a
corrente fotoelétrica não cai rapidamente a zero, o que sugere que os elétrons são
emitidos de A com certa energia cinética. Alguns elétrons alcançarão o coletor B
apesar do campo elétrico opor-se ao seu movimento. Entretanto, se essa diferença
de potencial se tornar suficientemente grande, um valor V0 chamado potencial
limite ou de corte é atingido, e a corrente fotoelétrica cai a zero. Essa divergência
de potencial V0 multiplicada pela carga do elétron, abrange a energia cinética Kmax
do mais rápido fotoelétron emitido, isto é:

K máx = eV02 (2.2)

Na prática repara-se que a quantidade Kmax é livre da intensidade da luz


incidente, como é comprovado na curva b da Figura 3, na qual a intensidade da
luz foi restringida à metade do valor empregado para conseguir a curvatura d.
86
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

A Figura 4, a seguir, indica um esboço das medidas de Milikan do potencial


limite no sódio em diversas frequências. O limiar de frequências v0 é 4,39 x 1014 Hz.

FIGURA 4 – GRAFICO DAS MEDIDAS DE MILIHKAN

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 53)

A Figura 4 apresenta o potencial V0 para o sódio em função da frequên-


cia da luz incidente. Veja que há um limiar de frequência ou frequência de corte
v0 (também denominado limiar fotoelétrico), aquém do qual o efeito fotoelétrico
evita aparecer. Estes dados foram obtidos em 1914 por Millikan, cujo árduo tra-
balho no efeito fotoelétrico valeu-lhe o prêmio Nobel em 1923. Correspondente à
situação do efeito fotoelétrico ser sobretudo um evento de superfície, para a luz
na região do visível ou similar, é fundamental nas experimentações evitar-se fil-
mes de óxidos, gorduras e outros contaminantes de superfícies.

E
IMPORTANT

Há três condições determinantes do efeito fotoelétrico que não podem ser


evidenciados em termos da teoria ondulatória clássica da luz:

1. O raciocínio ondulatório demanda que a amplitude do campo elétrico oscilante E da


onda luminosa eleve, se a intensidade da luz for aumentada. Já que a força aplicada
ao elétron é qE, isto sugere que a energia cinética dos fotoelétrons deveria também
crescer ao se aumentar a intensidade do feixe luminoso. Entretanto, a Figura 3 mostra
que Kmax, que é igual à eV0 independe da intensidade da luz. Isto foi testado para varia-
ções de intensidade da ordem de 107.
2. De consenso com a teoria ondulatória, o efeito fotoelétrico precisaria decorrer para
qualquer frequência da luz, desde que esta fosse alta o suficiente para dar a energia
essencial à emissão dos elétrons. Entretanto a Figura 4 mostra que existe, para cada
superfície, um limiar de frequências v0 característico. Para frequências menores que
vo o efeito fotoelétrico não ocorre, qualquer que seja a intensidade da iluminação.

87
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

3. Se a energia adquirida por um fotoelétron é absorvida da onda incidente sobre a placa


metálica, a “área de alvo efetiva” para um elétron no metal é limitada, e provavelmente não
é muito maior que a de um círculo de raio aproximadamente igual ao raio atômico. Na
teoria clássica, a energia luminosa está uniformemente distribuída sobre a frente de onda.
Portanto, se a luz é suficientemente fraca, deveria haver um intervalo de tempo mensurá-
vel, entre o instante em que a luz começa a incidir sobre a superfície e o instante da ejeção
do fotoelétron. Durante esse intervalo, o elétron deveria absorver energia do feixe, até que
tivesse acumulado o bastante para escapar. No entanto, nenhum retardamento detectá-
vel foi jamais medido. Esta discordância é particularmente marcante quando a substância
fotoelétrica for um gás; nestas circunstâncias, mecanismos de absorção coletiva podem
ser ignorados e a energia do fotoelétron emitido deve certamente ter sido extraída do
feixe luminoso por um único átomo ou molécula (EISBERG; RESNICK, 1994).

2.2.1 A teoria quântica de Einstein sobre o efeito fotoelétrico


Em 1905, Einstein colocou em debate a teoria clássica da luz, sugeriu uma
nova teoria, e apresentou o efeito fotoelétrico como uma aplicação que conse-
guiria. Isto adveio diversos anos antes do trabalho de Millikan, mas Einstein foi
persuadido pela experiência de Lenard. Como já mencionamos, Planck original-
mente restringiu seu conceito de quantização de energia aos elétrons nas paredes
de um corpo negro. Planck acreditava que a energia eletromagnética, uma vez
irradiada, se espalhava pelo espaço da mesma forma que ondas de água se espa-
lham na água. Em alternativa disso, Einstein sugeriu que a energia luminosa está
quantizada em pacotes aglutinados que mais tardiamente voltaram a ser denomi-
nados fótons (EISBERG; RESNICK, 1994).

Einstein alegou que as experimentações óticas bem famosas de interferên-


cia e difração da radiação eletromagnética são praticadas somente em circuns-
tâncias que circundavam um número bem grande de fótons. Estes ensaios geram
resultados que são médias do comportamento dos fótons particulares. A presen-
ça dos fótons nessas experiências não é mais aparente do que a presença de gotas
d'água isoladas em um jato de água de uma mangueira de jardim, se o número de
gotas é muito grande. Evidentemente, as experiências de interferência e difração
mostram definitivamente que os fótons não vão de onde são emitidos até onde
são absorvidos da mesma maneira simples que partículas clássicas, como gotas
d'água, o fazem. Eles se propagam como ondas clássicas, no sentido que cálcu-
los baseados neste tipo de propagação clássica explicam corretamente em média
como os fótons viajam. Eles se difundem como ondas clássicas, no sentido que
cálculos fundamentados neste perfil de propagação clássico demonstram perfei-
tamente em média como os fótons transitam (EISBERG; RESNICK, 1994).

Einstein não intensificou sua atenção no estilo ondulatória familiar com


que a luz se pro­ paga, mas sim no contexto corpuscular com que ela é emitida e
absorvida. Ele argumentou que a exigência de Planck de que a energia das ondas
eletromagnéticas de frequência v irradiadas por uma fonte (por exemplo, uma

88
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

fonte de luz ultravioleta numa experiência fotoelétrica) fosse apenas 0, ou hv, ou


2hv,..., ou nhv,... implicava que no processo de ida de um estado de energia nhv
para um estado de energia (n - 1)hv a fonte emitiria um pulso discreto de radiação
eletromagnética com energia hv (EISBERG; RESNICK, 1994).

Einstein predisse que um certo pacote de energia está primeiramente en-


contrado em um pequeno volume do espaço, e que segue encontrado à medida
que se afasta da fonte com velocidade c. Ele predisse que a energia E do pacote,
ou fóton, está pertinente com sua frequência v pela equação:

E=hv (2.3)

Previu inclusive que no processo fotoelétrico um fóton é integralmente ab-


sorvido por um elétron no fotocátodo.

Caso um elétron seja emitido da superfície do metal, sua energia cinética:

E=hv-w (2.4)

Em que hv é a energia do fóton incidente absorvido e w é o trabalho neces-


sário para remover o elétron do metal. Esse trabalho é necessário para superar os
campos atrativos dos átomos na superfície e as perdas de energia cinética devidas
às colisões internas do elétron. Alguns elétrons estão mais fortemente ligados do
que outros; alguns perdem energia por colisões em sua trajetória. No caso da co-
nexão mais fraca e qualquer perda interna, o fotoelétron vai surgir com a energia
cinética máxima. Logo:

K máx = eV02 (2.5)

Em que w0, uma energia característica do metal chamada função trabalho, é a


energia mínima necessária para um elétron atravessar a superfície do metal e escapar às
forças atrativas que normalmente ligam o elétron ao metal (EISBERG; RESNICK, 1994).

Observemos agora como a possibilidade de Einstein define as três pergun-


tas levantadas contra a compreensão ondulatória do efeito fotoelétrico. Quanto à
objeção 1 (o fato de que Kmáx não depende da intensidade da iluminação), a teoria
do fóton concorda integralmente com a experiência. Dobrar a intensidade da luz
meramente dobra o número de fótons e, portanto, duplica a corrente fotoelétrica;
isto não muda a energia hv de cada fóton ou a natureza do processo fotoelétrico
descrita por (2.4) (EISBERG; RESNICK, 1994).

89
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

A objeção 2 (a existência de um limiar de frequências) é removida logo


por (2.5). Se Kmáx é similar a zero, dispomos:

hv0= w0 (2.6)

Que significa que um fóton de frequência v0 tem exatamente a energia


necessária para ejetar os fotoelétrons e nenhum excesso que possa aparecer como
energia cinética. Se a frequência for menor que v0, os fótons, não importando quantos
eles sejam (isto é, quão intensa seja a iluminação), não terão individualmente a
energia necessária para ejetar fotoelétrons (EISBERG; RESNICK, 1994).

A objeção 3 (a ausência de retardamento) é eliminada pela hipótese do


fóton, pois a energia necessária é fornecida em pacotes concentrados. Se tiver luz
incidindo mediante o cátodo, existirá pelo menos um fóton que o atinge; este fó-
ton será rapidamente absorvido por um átomo, formando a breve emissão de um
fotoelétron (EISBERG; RESNICK, 1994).

Vamos reproduzir a equação fotoelétrica de Einstein, (2.5), comutando eV0


por Kmax segundo (2.2). Isto dá

(2.7)
=

E
IMPORTANT

O conceito de Einstein presume um relacionamento direito entre o potencial


limite V0 e a frequência w0 em completa concordância com resultados experimentais, como
os mostrados na Figura 4. A inclinação da curva experimental da figura deve ser h/e, portanto:

(2.8)

Podemos determinar h multiplicando esta razão pela carga eletrônica e. Portanto h = 3,9 x
10-15 V-s x 1,6 x 10-19 C = 6,2 x 10-34 j-s (EISBERG; RESNICK, 1994).

90
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

De um diagnóstico bem mais melindroso destes e de outros dados,


também dados adquiridos com superfícies de lítio, Millikan conseguiu o valor
h = 6,57 x 10-34 j/s, com uma precisão de aproximadamente 0,5%. Esta medida
estava bem próxima do valor de h deduzido da fórmula da radiação de Planck.
A concordância numérica das duas determinações de h usando manifestações e
especulações absolutamente diferentes é claro (EISBERG; RESNICK, 1994).

Um número recente de h deduzido de distintas experimentações é:

j.s (2.9)

O efeito fotoelétrico [...] cede uma prova imparcial da fornecida pela


radiação de corpo negro, da autenticidade da hipótese principal dos
fundamentos quânticos, ou seja, a hipótese da emissão descontínua
ou violenta da energia que é absorvida das ondas pelos integrantes
eletrônicos dos átomos. Ele consuma por então dizer, a quantidade h
revelada por Planck em seu exame da radiação de corpo negro e, como
nenhum outro fenômeno, nos faz julgar que o conceito físico funda-
mental que está por trás do trabalho de Planck representa à realidade
(EISBERG; RESNICK, 1994, p. 58).

Hoje a teoria do fóton é empregada em todo o espectro eletromagnético,


não somente na extensão visível (veja a Figura 5).

91
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

FIGURA 5 – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 58)

92
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

A Figura 5 indica o espectro eletromagnético, expondo o comprimento de


onda, a frequência c do fóton em gama logarítmica.

Pode-se denotar por paradigma que uma cavidade de micro-ondas comporta


fótons. Com λ = 10 cm, um comprimento de onda típico de micro-ondas, pode-se
calcular da mesma forma que anteriormente, que a energia do fóton é 1,20 x 10-5 eV.
Esta energia é muito pequena para ejetar fotoelétrons de superfícies metálicas. Para
raios X, ou para raios y tais como os que são emitidos por núcleos radioativos, a
energia do fóton pode ser de 106 eV, ou mais. Estes fótons podem extrair, de átomos
pesados, elétrons fortemente ligados por energias da ordem de 106 eV. Os fótons na
região visível do espectro eletromagnético não têm energia bastante para acarretar
isto e os fotoelétrons que eles expelem são os intitulados elétrons de condução, que
ficam juntos ao metal por energias de uns elétrons-volt (EISBERG; RESNICK, 1994).

Veja que os fótons são arrebatados no modo fotoelétrico. Isto requer que os
elétrons estejam ligados a átomos, ou sólidos, pois um elétron completamente livre
não pode absorver um fóton e conservar simultaneamente a energia e os momentos
relativísticos totais. Temos de ter um elétron associado para que as forças de ligação
comuniquem momento para o átomo ou sólido (EISBERG; RESNICK, 1994).

Pertinente à grande massa de um átomo, ou sólido, confrontada com a


do elétron, o sistema pode absorver uma gigante quantidade de momento sem
conquistar uma extensão relevante de energia. A equação para a energia fotoelé-
trica permanece válida, e o efeito é possível apenas porque existe uma partícula
pesada que recue além do elétron ejetado. O efeito fotoelétrico é uma maneira
importante pela qual fótons, com energias que vão até as dos raios X (inclusive),
são absorvidos pela matéria (EISBERG; RESNICK, 1994).

E
IMPORTANT

Até que enfim obrigamo-nos salientar aqui que no modelo de Einstein


um fóton de frequência v tem precisamente a energia hv, e não múltiplos inteiros de
hv. Evidentemente, pode haver n fótons de frequência v de modo que a energia nessa
frequência seja nhv. Ao tratar a radiação de uma cavidade de corpo negro com o modelo
de Einstein, lidamos com um "gás de fótons", pois a energia radiante está localizada no
espaço em pacotes em vez de estar espalhada em ondas estacionárias. Anos depois de
Planck ter deduzido sua fórmula para a radiação de cavidade, Bose e Einstein obtiveram a
mesma fórmula baseados em um gás de fótons (EISBERG; RESNICK, 1994).

A descoberta do efeito fotoelétrico teve grande importância para a


compreensão mais profunda da natureza da luz. Tudo isto tornou-se possível
devido à invenção de aparelhos especiais, chamados células fotoelétricas, em

93
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

que a energia da luz controla a energia da corrente elétrica ou se transforma em


corrente elétrica. Expondo uma ordem na investigação em subsequente você será
capaz de harmonizar-se no texto acerca do efeito Compton, bons estudos!

2.3 O EFEITO COMPTON


No subtópico anterior estudamos sobre o efeito fotoelétrico. Qual é a rela-
ção existente entre o efeito fotoelétrico com o efeito Compton? Quando um fóton
penetra na matéria, ele pode interagir com um elétron e ser espalhado. Vamos
imaginar fótons de raios X incidindo num alvo e sendo espalhados pelos elétrons
deste alvo. Compton observou que a radiação espalhada (fótons) tinha compri-
mento de onda maior (λ`) do que a radiação incidente (λ) e que esta variação
no comprimento de onda dependia apenas do ângulo de espalhamento (θ). Este
efeito ficou conhecido como Efeito Compton ou Espalhamento Compton. O efeito
fotoelétrico é a emissão de elétrons por um material, geralmente metálico, quan-
do exposto a uma radiação eletromagnética (como a luz) de frequência suficiente-
mente alta, que depende do material, como por exemplo a radiação ultravioleta.
Ele pode ser observado quando a luz incide numa placa de metal, arrancando
elétrons da placa. Os elétrons ejetados são denominados fotoelétrons.

O universo corpuscular da radiação foi dramaticamente aceite em 1923


pelas experiências de Compton. Ele concebeu com que um feixe de raios x de
comprimento de onda λ recaísse acerca de um alvo de grafite, como é exibido na
Figura 5 (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 6 mostra o esquema da experiência de Compton, na qual raios x


monocromáticos de comprimento de onda incidem sobre um alvo de grafite. A
distribuição da intensidade em função do comprimento de onda é medida para
os raios x espalhados em qualquer ângulo θ. Os comprimentos de onda espalha-
dos são medidos observando-se a reflexão de Bragg em um cristal (veja a figura
2.7). Suas intensidades são medidas por um detector como, por exemplo, uma
câmara de ionização (EISBERG; RESNICK, 1994).

94
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

FIGURA 6 – EXPERIÊNCIA DE COMPTON

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 59)

Mediu-se a intensidade dos raios x espalhados como função de seu


comprimento de onda, para diversos ângulos de difusão. A Figura 7 apresenta
suas determinações práticas. A linha sólida vertical à esquerda corresponde ao
comprimento de onda λ, e a que está à direita ao comprimento de onda λ`. Os
resultados são mostrados para quatro ângulos de espalhamento θ diferentes.
Observe que o deslocamento Compton, ∆λ = λ' - λ, para θ = 90°, está de acordo
com a previsão teórica h/m0c = 0, 0243 A (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 7– RESULTADOS EXPERIMENTAIS DE COMPTON

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 60)

Averiguamos que, não obstante o feixe incidente contenha sobretudo de


um único comprimento de onda λ, os raios x espalhados têm máximos de inten-
sidade em dois comprimentos de onda; um deles é o mesmo que o comprimento
de onda incidente, e o outro, λ', é maior que λ por uma quantidade ∆λ. Este é o
chamado deslocamento Compton ∆λ = λ` - λ, e varia com o ângulo segundo o
qual os raios X espalhados são observados (EISBERG; RESNICK, 1994).

95
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

A presença do comprimento de onda λ não pode ser concebida se os raios x


incidentes estiverem classificados como uma onda eletromagnética clássica; no mo-
delo clássico o campo elétrico oscilante com frequência v da onda incidente age me-
diante os elétrons livres do alvo fazendo-os oscilar com a mesma frequência. Esses
elétrons, como cargas oscilando em uma pequena antena de rádio, irradiam ondas
eletromagnéticas com a mesma frequência v. Portanto, no modelo clássico a onda
espalhada necessitaria ter a similar frequência v o análogo comprimento de onda λ
da onda incidente (EISBERG; RESNICK, 1994).

Compton (e autonomamente Debye) analisou seus resultados experimentais


postulando que o feixe de raios X incidente não era uma onda de frequência v, mas
uma coleção de fótons; cada um com energia E = hv, e que esses fótons chocavam com
os elétrons livres do alvo de similar molde que colidem com duas bolas de bilhar.
Com esse ponto de vista, a radiação espalhada é composta por fótons que colidiram
com elétrons do alvo. Já que o fóton incidente transfere parte de sua energia para o
elétron com o qual colide, o fóton espalhado deve ter uma energia E‘ menor; portanto
ele deve ter uma frequência mais baixa v`=E'/h, o que Implica um comprimento de
onda λ` = c/v`. Esse ponto de vista explica qualitativamente a variação do compri-
mento de onda, ∆λ = λ' - λ. Veja que na interação os fótons são encarados como par-
tículas, e não conforme ondas, e que, o oposto de seu desempenho no efeito fotoelé-
trico, eles são espalhados em vez de valerem absorvidos (EISBERG; RESNICK, 1994).

Para radiação X de frequência v, a energia de um fóton no feixe incidente é

E=hv (2.10)

Aderindo à ideia de que o fóton é um pacote localizado de energia, tende-


mos considerá-lo como correspondendo uma partícula de energia E e momento p.
Tal partícula deve, entretanto, ter certas propriedades bastante especiais. Consi-
deremos a equação (2.11) que dá a energia total relativística de uma partícula em
termos de sua massa de repouso m0 e sua velocidade v (EISBERG; RESNICK, 1994).

E=m0 c 2 / 1-v 2 /c 2 (2.11)

Sabendo que a velocidade de um fóton é similar a c, e sua energia E=hv é


finita, é ostensivo que a massa de repouso de um fóton deve ser zero. Portanto,
podemos considerar que o fóton é uma partícula com massa de repouso nula, e
cuja energia relativística total E é inteiramente cinética. O momento de um fóton
pode ser calculado da relação geral entre a energia relativística total E, o momen-
to p, e a massa de repouso m0. Isto é:

96
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

E 2 =c 2 p +(m0 c 2 )2 (2.12)

Para um fóton, o segundo termo à direita é zero, e dispomos:

p=E/c=hv/c (2.13)

Ou:

p=h/ l (2.14)

Em que λ = c/v é o comprimento de onda do fóton. É excepcionalmente


intrigante ver que a teoria clássica de Maxwell da radiação eletromagnética
ainda leva a uma equação p = E/c, na qual p forma a quantidade de movimento
por unidade de volume da radiação e E a sua energia por unidade de volume
(EISBERG; RESNICK, 1994).

Foi visto que a frequência v da radiação espalhada era livre do material


que consistia no alvo. Isto importa que o espalhamento não cobre átomos inteiros.
Compton supôs que o espalhamento era devido a colisões entre os fótons e os
elétrons do alvo. Supôs também que os elétrons que participavam do processo de
espalhamento estavam livres e inicialmente em repouso. Pode-se descobrir certa
causa a priori para essas implicações se concebermos que a energia de um fóton
de raios-x é diversas ordens, de grandeza maior do que a energia de um fóton de
ultravioleta, e de nossa discussão do efeito fotoelétrico ficou claro que a energia
de um fóton de ultravioleta é semelhante à energia mínima com que o elétron está
ligado em um metal (EISBERG; RESNICK, 1994).

Vejamos então, a colisão entre um fóton e um elétron livre e estacionário,


como na Figura 8, a interpretação de Compton. Um fóton de comprimento de onda
λ incide sobre um elétron livre em repouso comprimento de onda aumentado
para λ', enquanto que o elétron se afasta segundo um ângulo ϕ. Após a colisão, o
fóton é espalhado de um ângulo θ.

97
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

FIGURA 8 – INTERPRETAÇÃO DE COMPTON

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 63)

No diagrama da esquerda, um fóton de energia total relativística E0 e


momento p0 incide sobre um elétron estacionário de energia de repouso ou próprio
m0c2. No diagrama da direita, o fóton é espalhado de um ângulo θ e se afasta
com energia total relativística E1 e momento p1, enquanto que o elétron recua,
formando um ângulo com o eixo da colisão, com energia cinética K e momento p.
Compton aplicou a conservação do momento e da energia relativística total a esse
problema de colisão. Foram aplicadas as equações relativísticas, uma vez que o
fóton sempre se move com velocidades relativísticas, e o elétron com o qual ele
se choca na maioria das circunstâncias também o faz (EISBERG; RESNICK, 1994).

A conservação do momento requer que:

=p0 p,cos θ + p cos ϕ (2.15)

E:
=p0 p, senθ + psenϕ (2.16)

Elevando ao quadrado essas equações, adquirimos:

(p0 =p1cosθ )2 =p 2 cos 2ϕ (2.17)

E:

p12 sen 2θ =p 2 sen 2ϕ (2.18)

98
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

Adicionando, recebemos:

p02 sen12 -=2p0 p1cosθ =p 2 (2.19)

A conservação da energia total relativística dispõe que:

E0 +m0 c 2 =E1+K+m0 c 2 (2.20)

Logo:

E0 -E1+K (2.21)

De consenso com (2.13), isto é capaz ser manifesto conforme:

c(p0 -p1 )=K (2.22)

Representando E = K +moC2 em (2.12), escrevemos:

(K+m0 c 2 )2 =c 2 p 2 +(m0 c 2 )2 (2.23)

O que se expõe ser reduzido:

K 2 +2Km0c 2 =c 2 p 2 (2.24)

Ou:

K 2 /c 2 +Km0 =p 2 (2.25)

Trocando p2 de (2.19) e K de (2.22) na equação acima conseguimos escrever:

(p0 -p1 )2 +2m0 c(p0 -p1 )=p02 +p12 -2p0 p1 cosθ (2.26)

O que se simplifica a:

m0 c(p0 -p1 )=p0 p1 (1-cosθ ) (2.27)

99
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Ou:

1 1 1
- = (1-cosθ ) (2.28)
p1 p0 m0 c

Multiplicando por h e usando (2.14), colhemos a equação de Compton:

Dl=l1 -l0 =lc (1-cosθ ) (2.29)

Em que:

lc ≡ h/m0 c=2,43x10 -12 m=0,0243A (2.30)

É denominado comprimento de onda Compton do elétron.

ATENCAO

Veja que ∆λ, o deslocamento Compton, necessita somente do ângulo de es-


palhamento θ, e não do comprimento de onda inicial λ. A equação (2.29) prevê os des-
locamentos Compton experimentalmente observados na Figura 9 dentro dos limites dos
erros experimentais. Em (2.29) vemos que ∆λ varia desde zero (para θ = 0, correspondendo
a uma, colisão “de raspão”? Onde o fóton incidente mal é desviado) até 2h/m0c=0,049 À
(para θ = 1800 correspondendo a uma colisão “de frente”, na qual o fóton incidente tem o
sentido de seu movimento invertido). A Figura 9 é um esquema de ∆λ versus θ (EISBERG;
RESNICK, 1994).

A Figura 9 manifesta a solução de Compton:

Dl=(h/m0 c)(1-cosθ ).

100
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

FIGURA 9 – RESULTADO DE COMPTON

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 64)

Ensaios consecutivos (feitos por Compton, Simon, Wilson, Bothe, Geiger


e Blass) localizaram o elétron atingido no processo, revelaram que ele vinha coin-
cidentemente com os raios X espalhados e certificaram quantitativamente a pre-
visão para a sua energia e direção do espalhamento.

A presença do pico na Figura 9 para o qual o comprimento de onda do


fóton não altera posteriormente o espalhamento ainda deve ser compreensível.
Admite-se até aqui que o elétron com o qual o fóton bate está livre. E mesmo que
o elétron esteja inicialmente ligado, essa suposição é justificada pelo fato da ener-
gia cinética adquirida por ele na colisão ser muito maior do que a sua energia de
ligação. No entanto, se o elétron estiver muito fortemente ligado a um átomo do
alvo, ou se a energia do fóton incidente for muito pequena, há uma chance de que
o elétron não seja ejetado do átomo. Neste caso, podemos pensar que a colisão
se dá entre o fóton e o átomo inteiro. O átomo ao qual o elétron está ligado recua
como um todo após a colisão. Então a massa característica para o processo é a
massa M do átomo e ela deve substituir, na equação do deslocamento Compton,
a massa eletrônica m0. Como M  m0 ( M ≅ 22000m0 ) para o carbono, por exemplo),
lemos de (2.29) e (2.30) que o deslocamento Compton para colisões com elétrons
vigorosamente agarrados é bastante pequeno (um milionésimo de angstrom para
o carbono), de forma que o comprimento de onda do fóton espalhado fica aproxi-
madamente similar (EISBERG; RESNICK, 1994).

101
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

E
IMPORTANT

Em súmula, poucos fótons são espalhados por elétrons que são dispensados
pela colisão; esses fótons têm seu comprimento de onda mudado. Outros fótons são
espalhados por elétrons que permanecem ligados após a colisão; esses fótons não têm
seu comprimento de onda modificado.

O processo de espalhamento dos fótons no qual não há transição em seu


comprimento de onda é denominado espalhamento Thomson, em respeito a um
físico que descreveu por volta de 1900 uma teoria clássica de espalhamento de
raios X por átomos. Thomson considerou os raios X como sendo um feixe de
ondas eletromagnéticas cujo campo elétrico oscilante interage com as cargas dos
elétrons do alvo. Esta interação faz com que o elétron oscile. Como resultado de
suas acelerações, os elétrons vão irradiar ondas eletromagnéticas com a mesma
frequência e a mesma fase das ondas incidentes. Portanto, os elétrons atômicos
absorvem energia do feixe de raio X incidente e o espalha em todas as direções,
sem modificar seu comprimento de onda. Não obstante a explicação clássica do
espalhamento Thompson seja divergente da explicação quântica dada no pa-
rágrafo anterior, ambas relatam o mesmo fato visto por meio de medidas (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

É intrigante saber em que região do espectro eletromagnético o espalha-


mento Thompson será o processo predominante e em que região o espalhamento
Compton irá administrar. Se a radiação incidente está na parte visível, de micro-
-ondas ou de ondas de rádio do espectro eletromagnético, então λ é extremamen-
te grande comparado com o deslocamento Compton ∆λ, independentemente se
é usada uma massa eletrônica ou atômica no cálculo do comprimento de onda
Compton. Portanto, a radiação dessa parte do espectro que for espalhada terá sem-
pre um comprimento de onda que é igual ao comprimento de onda da radiação in-
cidente dentro da precisão experimental. Assim, à medida que λ→∞, os resultados
quânticos se confundem com os resultados clássicos e o espalhamento Thomson é
dominante. Indo para a região dos raios X, o espaçamento Compton começa a se
tomar importante, particularmente para alvos com pequeno número atômico, nos
quais os elétrons atômicos não estão muito fortemente ligados; nesse caso, o deslo-
camento do comprimento de onda no espalhamento por um elétron que é liberado
no processo toma-se facilmente mensurável. Na região dos raios γ, nos quais λ→∞,
a energia do fóton se torna tão grande que um elétron sempre é liberado na colisão,
e o espalhamento Compton domina (EISBERG; RESNICK, 1994).

É na região de pequenos comprimentos de onda que os resultados clássicos


cessam de esclarecer o espalhamento de radiação, do similar modo que é nessa
região que as previsões clássicas relacionadas à radiação de cavidade contrariam
radicalmente dos resultados práticos, originando a catástrofe do ultravioleta. Isto

102
TÓPICO 1 | ORIGENS DA TEORIA

é devido ao valor da constante de Planck. Para longos comprimentos de onda a


frequência v é pequena, e como h é também pequeno a granulosidade da energia
eletromagnética, hv, é tão pequena que se toma virtualmente indistinguível do con-
tínuo da física clássica. Mas para comprimentos de onda suficientemente curtos,
em que v é suficientemente grande, hv não é mais tão pequeno a ponto de ser insig-
nificante e efeitos quânticos tomam-se evidentes (EISBERG; RESNICK, 1994).

DICAS

O texto acima contém trechos subtraídos do livro: EISBERG, R.; RESNICK, R.


Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p. 51-65. Como dica para você
aprofundar seu conhecimento leia o material na íntegra acessando: https://www.academia.
edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_Resnick.

A teoria quântica também fornece descrições precisas para muitos fenô-


menos inexplicáveis, como a radiação de corpo negro e a estabilidade dos orbitais
dos elétrons nos átomos. Ela também fornece informações sobre o funcionamento
de muitos sistemas biológicos diferentes (ver biologia quântica), incluindo recep-
tores de cheiro e estruturas de proteínas. Trabalhos recentes sobre fotossíntese
forneceram evidências de que as correlações quânticas desempenham um papel
essencial nesse processo fundamental das plantas e de muitos outros organismos.
Mesmo assim, a física clássica geralmente pode fornecer boas aproximações aos
resultados obtidos de outra forma pela física quântica, normalmente em circuns-
tâncias com grande número de partículas ou grande número quântico. Como as
fórmulas clássicas são muito mais simples e fáceis de calcular que as fórmulas
quânticas, as aproximações clássicas são usadas e preferidas quando o sistema
é grande o suficiente para tornar insignificantes os efeitos da mecânica quântica.

Baseado no estudo que realizamos sobre a mecânica quântica disponibili-


zo dicas de alguns vídeos para enriquecer os seus estudos.

103
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

DICAS

• Breve história da Física Quântica: a história das grandes transformações sofridas


pela física e que culminaram na formulação da mecânica quântica na segunda metade
da década de 1920 começou no primeiro ano do século, quando Max Planck logrou
explicar, através de uma hipótese que a ele próprio repugnava, o espectro de radiação
do corpo negro. Aprenda mais sobre história da Física Quântica, assistindo o seguinte
vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=bPgMh1F2sCw
• O efeito fotolétrico história e aplicações: aplicações nas células fotoelétricas (fotocé-
lulas) a energia luminosa se transforma em corrente elétrica. Diversos objetos e sistemas
utilizam o efeito fotoelétrico, por exemplo: os sistemas de alarmes. Aprenda mais sobre
o efeito fotoelétrico história e aplicações assistindo o seguinte vídeo: https://www.you-
tube.com/watch?v=IA0wLlDNBUs.
• Max Plank e a Física Quântica: conheça a teoria de Max Planck que ajudou no maior
entendimento da natureza, o pai da teoria quântica, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de
Física em 1918. Aprenda mais sobre Max Planck e a Física Quântica assistindo o seguinte
vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=dKP3GkkE6OA.

NOTA

Se a energia do fóton (hf) não é maior que a função trabalho, nenhum elétron
será emitido. A função trabalho é ocasionalmente designada por W. Em física do estado sólido
costuma-se usar a energia de Fermi e não a energia de nível de vácuo como referencial nesta
equação, o que faz com que a mesma adquira uma forma um pouco diferente.
Note-se ainda que ao aumentar a intensidade da radiação incidente não vai causar uma
maior energia cinética dos elétrons (ou elétron) ejetados, mas sim um maior número de
partículas deste tipo removidas por unidade de tempo.

104
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A história da mecânica quântica é entrelaçada com a história da química quân-


tica e começa essencialmente com o descobrimento dos raios catódicos em 1838
realizado por Michael Faraday.

• a introdução do termo corpo negro foi feita por Gustav Kirchhoff no Inverno
de 1859-1860,

• a sugestão de Ludwig Boltzmann em 1877 sobre como os estados de energia de


um sistema físico deveriam ser discretos

• a hipótese quântica de Max Planck, em 1900, dizia que qualquer sistema de ra-
diação de energia atômica poderia teoricamente ser dividido num número de
elementos de energia discretos, tal que cada um destes elementos de energia
seja proporcional à frequência, com as que cada um poderia de maneira indivi-
dual irradiar energia.

• Em 1905, para explicar o efeito fotoelétrico (1839) — que a luz brilhante em


certos materiais pode funcionar para expulsar elétrons do material —, Albert
Einstein postulou, baseado na hipótese quântica de Planck, que a luz em si é
composta de partículas quânticas individuais, as quais mais tarde foram cha-
madas fótons (1926).

• A expressão "mecânica quântica" foi usada pela primeira vez num artigo de
Max Born chamado Zur Quantenmechanik (A Mecânica Quântica). Nos anos
que se seguiram, esta base teórica lentamente começou a ser aplicada a estru-
turas, reações e ligações químicas.

• A constante de Planck é uma das constantes fundamentais da Física. Tem um


papel fundamental na mecânica quântica, aparecendo sempre no estudo de
fenômenos em que a explicação por meio da mecânica quântica é relevante.

• O efeito fotoelétrico é a emissão de elétrons por um material, geralmente me-


tálico, quando exposto a uma radiação eletromagnética (como a luz) de fre-
quência suficientemente alta, que depende do material, como por exemplo, a
radiação ultravioleta.

• O efeito Compton, ou espalhamento Compton, é o espalhamento de um fóton


por uma partícula carregada, geralmente um elétron, que resulta em uma di-
minuição da energia (aumento do comprimento de onda) do fóton espalhado,
tipicamente na faixa de raios-X ou de raios gama.

105
AUTOATIVIDADE

1 (Hipótese de Plank) Um pêndulo, consistido de uma massa de 0,01 kg está


suspenso por uma corda de 0,1 m de comprimento. Façamos a amplitude
de sua oscilação tal que a corda em suas posições extremas faça um ângulo
de 0,1 rad com a vertical. A energia do pêndulo diminui, por exemplo,
devido a efeitos de atrito. A diminuição de energia observada é contínua ou
descontínua?

2 (O efeito Fotoelétrico) Uma placa de potássio é colocada a 1m de uma fonte


luminosa pouco intensa, cuja potência é 1W =1joule/s. Suponha que um
fotoelétron ejetado possa ter coletado sua energia em uma área circular
da placa, cujo raio r é, digamos, um raio atômico: r=1x10-19m. A energia
necessária para remover um elétron da superfície de potássio é cerca de
2,1eV= 3,4x10-14joule. (Um elétron-volt =1eV=1,60x10-19 joule é a energia
ganha por um elétron, cuja carga é 1,60 x 10-19 Coulomb, ao passar através
de uma diferença de potencial de 1V.) Quanto tempo levaria o elétron para
absorver essa quantidade de energia da fonte luminosa? Suponha que a
energia está uniformemente distribuída sobre a frente de onda.

3 (O efeito Compton) Considere um feixe de raios X, com λ = 1,00 Â, e um feixe


de raios y vindo de uma fonte de Cs137, com λ= 1,88 x 10-2 Â. Se a radiação
espalhada pelos elétrons livres é observada a 90° do feixe incidente: (a) Qual
é o deslocamento Compton em cada caso? (b) Que energia cinética é cedida
ao elétron em cada caso? (c) Que percentagem da energia do fóton incidente
é perdida na colisão em cada caso?

106
UNIDADE 2 TÓPICO 2

MODELOS ATÔMICOS

1 INTRODUÇÃO
Perante a física, modelo atômico é todo modelo científico que se utiliza
para elucidar os átomos e seus comportamentos. Ainda que os modelos atômicos
admitidos hoje em dia sejam excepcionalmente importantes, o modelo de Ruther-
ford é muito utilizado por ser visualmente simples e funcional ao esclarecer algu-
mas manifestações da natureza. Atualmente, é o modelo da mecânica quântica ou
da mecânica ondulatória ou modelo orbital ou da nuvem eletrônica aceito para
definir a estrutura atômica.

No Tópico 1 desta unidade você estudou sobre o efeito Compton. O Efeito


Compton é a diminuição de energia (aumento de comprimento de onda) de um
fóton de raios X ou de raio gama, quando ele interage com a matéria.

A seguir, acadêmico, você acompanhará um estudo sobre os espectros


atômicos.

2 ESPECTROS ATÔMICOS
Neste subtópico vamos estudar sobre modelos atômicos. Mas, afinal, qual
a relação existente entre modelos atômicos com espectros atômicos? O espectro
atômico é característico dos átomos envolvidos. Dessa forma, é razoável suspeitar
que o espectro atômico depende da distribuição eletrônica do átomo. Cientistas
buscavam encontrar um padrão nos comprimentos de onda (ou frequências) das
linhas atômicas no espectro do hidrogênio. Quando um átomo emite um fóton da
energia h·ν, ele perde esta energia. Como a energia que o átomo pode perder só
pode ter certos valores discretos, faz sentido supor que o próprio átomo só pode
ter certos valores de energia, e que as energias dos fótons emitidos representam
as diferenças entre estes valores, dessa forma a energia do átomo de hidrogênio
(e de outros átomos) é quantizada. Com isso surgiram vários modelos atômicos
que são os aspectos estruturais dos átomos que foram apresentados por cientistas
na tentativa de compreender melhor o átomo e a sua composição.

Um aparato particular empregado na medida dos espectros atômicos está


esboçado na Figura 10.

A imagem 2.10 indica o sistema de um dispositivo apropriado para medir


espectros atômicos.

107
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

FIGURA 10 – APARELHO USADO PARA MEDIR ESPECTROS ATÔMICOS

FONTE: Eisberg e Resnic (1994, p. 135)

A fonte abrange de uma descarga elétrica que passa por meio de uma região
compreendendo um gás monoatômico. Similarmente a choques com os elétrons e
entre si, uns dos átomos da descarga acham-se em um processo no qual sua ener-
gia total é superior do que no átomo regular. Ao reiniciar ao seu estado de energia
normal, os átomos soltam sua demasia de energia exprimindo radiação eletromag-
nética. A radiação é colimada pela fenda, e logo passa um prisma (ou, para superior
resolução, uma rede de difração) decomposta em seu espectro de comprimentos de
onda que é estampado na folha fotográfica (EISBERG; RESNICK, 1994.).

A natureza dos espectros apreciados é indicada mediante a chapa foto-


gráfica. Ao reverso do espectro contínuo de radiação eletromagnética emitida,
por paradigma pela superfície de sólidos a grandes temperaturas, a radiação
eletromagnética emitida por átomos livres está centralizada em um conjunto de
comprimentos de onda discretos. Cada um desses comprimentos de onda é cha-
mado uma linha devido à linha (imagem da fenda) que é produzida sobre a cha-
pa fotográfica. Uma investigação dos espectros emitidos por diferentes tipos de
átomos mostra que cada tipo tem seu espectro característico próprio, isto é, um
conjunto característico de comprimentos de onda nos quais as linhas do espectro
são encontradas. Essa característica é de grande importância prática porque faz
com que a espectroscopia seja mais uma técnica muito útil a ser somada às técni-
cas usuais da análise química. Basicamente por esse argumento muito trabalho
foi disposto no sentido do alcance de medidas precisas dos espectros atômicos,
e, de fato, esse trabalho foi primordial pois os espectros são alicerçados de tantas
centenas de linhas e são em muito substanciais (EISBERG; RESNICK, 1994.).

No entanto o espectro do hidrogênio é mais ou menos simples. Isto, hi-


poteticamente, não surpreendente, porque o hidrogênio compreendendo apenas
um elétron, é o átomo mais simples. A maior do universo consiste em átomos de
108
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

hidrogênio isolados, de forma que seu espectro é de considerável interesse práti-


co. Embora haja consideração teórica e histórica para estudá-lo, como achar-se-á
necessário mais tardiamente (EISBERG; RESNICK, 1994.).

Na Figura 11, ao alto: um esboço da parte visível do espectro do hidrogê-


nio. Embaixo: um esquema deste espectro, com as linhas designadas.

FIGURA 11 – ESPECTRO

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 136)

A Figura 11 caracteriza a parte do espectro do hidrogênio atômico que


está mais ou menos dentro da região de comprimentos de onda da luz visível.
Vemos que o espaçamento, em comprimentos de onda, entre linhas adjacentes
do espectro diminui continuamente à medida que o comprimento de onda das
linhas diminui, de forma que a série de linhas converge para o chamado limite
da série em 3645,6 Â. As linhas com menores comprimentos de onda, compreen-
dendo o limite da série, são dificultosos de incumbirem observadas na prática,
pertinente do seu insignificante espaçamento e porque elas estão na região do
ultravioleta (EISBERG; RESNICK, 1994).

A regularidade clara do espectro do H houve com que muitas pessoas


propusessem conseguir um modelo empírico que relatasse o comprimento de

109
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

onda das linhas. Tal fórmula foi descoberta em 1885 por Balmer. Ele encontrou a
equação simples:

n2
l=3646 2 (2.31)
n -4
Em que n=3 para H a , n = 4 para H b , n = 5 para H g etc., suficiente de ana-
lisar o comprimento de ondas nove primeiras linhas da série, que constituíam
todas conhecidas na época com uma precisão melhor a uma parte em mil. Esta
descoberta iniciou uma busca de fórmulas empíricas similares que se aplicariam
a séries de linhas que pudessem ser identificadas na distribuição complicada de
linhas que constituem os espectros de outros elementos. A maior parte desse tra-
balho foi realizada em 1890 por Rydberg que deliberou oportuno lidar com o
recíproco do comprimento das linhas em vez do seu comprimento de onda (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

E
IMPORTANT

Em termos do número de onda k a equação de Balmer é capaz ser descrita como:

= l RH (1/m 2 -1/n 2 )
K 1/= n=3, 4, 5, ... (2.32)

Em que RH é a chamada constante de Rydberg para o hidrogênio. Seu valor é, a partir de


dados es- pectroscópicos recentes:

RH =10967757,6 ± 1,2m-1
Isto indica a precisão possível em medidas espectroscópicas.

Equações desse modo foram obtidas para muitas séries. Por exemplo,
sabemos agora da existência de cinco séries de linhas no espectro do hidrogênio,
como é expresso no esquema da Figura 12. Com os átomos de elementos alcalinos
(Li, Na, K, ...), as equações das séries têm o mesmo arranjo geral isto é:

1  1 1 
k= =R  - (2.33)
ë  (m-a)
2
(n-b)2 

A Figura 12 indica o quadro com as Séries do Hidrogênio:

110
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

FIGURA 12 – SÉRIES DO HIDROGÊNIO

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 137)

Em que R é a constante de Rydberg para o elemento ilustrado, a e b são


constantes para a série considerada, m é um inteiro que é fixo para a série tida e
n um inteiro variante regular de Rydberg tem o mesmo valor, dentro de aproxi-
madamente 0,05%, para todos os elementos, embora mostre uma rápida ascensão
regular à medida que o peso atômico sobe (EISBERG; RESNICK, 1994).

Estudamos o espectro de emissão de um átomo. Uma propriedade for-


temente relacionada com esta é o espectro de absorção. Ele pode ser
medido com um aparato similar ao exposto na [Figura 10], senão pelo
caso de se utilizar uma fonte que emite um espectro regular entre a
fonte e o prisma; se agrega uma célula com paredes de vidro, incluin-
do o gás monoatômico a ser examinado. Após a exposição e a revela-
ção, verifica-se que a chapa fotográfica foi escurecida em toda parte ex-
ceto em uma série de linhas. Estas linhas representam um conjunto de
comprimentos de onda discretos que estão faltando no espectro contí-
nuo que incide sobre o prisma, e que devem ter sido absorvidos pelos
átomos na célula gasosa. Observa-se que para cada linha no espectro
de absorção há uma linha correspondente (mesmo comprimento de
onda) no seu espectro de emissão; no entanto, o inverso não é verdade;
somente algumas linhas de emissão não comparecem no espectro de
absorção. Para o gás hidrogênio, comumente somente as linhas equi-
valentes à série de Lyman chegam no espectro de absorção; entretanto,
quando o gás está em altas temperaturas, por exemplo, na superfície
de uma estrela, fica linhas equivalentes à série de Balmer (EISBERG;
RESNICK, 1994, p. 138).

Portanto, a análise do átomo de hidrogênio é de suma importância para a


compreensão da estrutura da matéria, por ser esse o único átomo para o qual se
estabelece uma descrição matemática analítica precisa. Sendo por esse motivo o
modelo escolhido para se introduzir o tratamento quântico da matéria na maioria
dos (para não dizer em todos os) livros didáticos acerca do assunto. Veja a seguir
uma análise com relação ao modelo de Rutherford. Boa leitura!

111
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

3 O MODELO DE RUTHERFORD
No subtópico anterior foram analisados os espectros atômicos. Você, aca-
dêmico deve se perguntar: “afinal, qual a relação entre espectros atômicos com
o modelo de Rutherford?” Niels Bohr relacionou os espectros de linhas dos ele-
mentos, principalmente o do hidrogênio, com a constituição do átomo. Assim,
em 1913, ele propôs alguns postulados que alteraram a visão do modelo atômico
de Rutherford. Basicamente ele mostrou que os elétrons se movem ao redor do
núcleo atômico em órbitas circulares que possuem uma energia bem definida e
característica, sendo, portanto, um nível de energia ou camada eletrônica. Para
cada elétron são permitidas somente certas quantidades de energia, com valores
múltiplos inteiros do fóton (quantum de energia). O modelo atômico de Ruther-
ford-Bohr explica os fatos de que, por exemplo, cada elemento possui um espec-
tro descontínuo porque os níveis de energia são quantizados, ou seja, possuem
quantidades de energia definidas. Cada energia corresponde a um comprimento
de onda. Em 1859, Kirchhoff e Bunsen deduziram a partir de suas experiências
que cada elemento, em determinadas condições emite um espectro característico.
Tal espectro é exclusivo de cada elemento. Com isso foi possível desenvolver um
novo método de análise, baseado nestas emissões. A parte da ciência que estuda
estas emissões é chamada de Espectroscopia e foi de fundamental importância
no estudo dos astros, uma vez que praticamente tudo o que se sabe a respeito da
composição química deles vem de estudos das suas emissões espectrais.

No sistema de Rutherford para a estrutura do átomo, todas as cargas po-


sitivas desse átomo, e consequentemente toda sua massa, são supostamente reco-
lhidas em uma pequena região no centro denominada núcleo. Se suas extensões
estiverem abastadamente pequenas, uma partícula a que passe bem perto deste
núcleo poderá ser espalhada, devido a uma forte repulsão coulombiana, em um
grande ângulo ao atravessar um único átomo. Se, em vez de usarmos r`= 10-10 m
para o raio da distribuição de cargas positivas do átomo de Thomson, o que dá
um ângulo de deflexão máxima θ ≅ 10-4 rad, tentarmos saber qual deveria ser o
raio r* de um núcleo para obtermos θ ≅ 1 rad, por exemplo, encontraríamos r` =
10-14m. Isto, como estudaremos, concernirá uma legal apreciação do raio do nú-
cleo atômico (EISBERG; RESNICK, 1994).

Rutherford fez uma previsão minunciosa da distribuição angular que seria


esperada para o espalhamento de partículas por átomos do modo por ele exibido
em seu modelo. O cálculo estava relacionado somente com espalhamento em ân-
gulos maiores do que alguns graus. Assim o espalhamento pertinente aos elétrons
atômicos pode ser apagado. O espalhamento é, portanto, correspondente à força
repulsiva coulombiana que opera entre a partícula a carregada positivamente e o
núcleo, carregado positivamente. Além disso, o cálculo considerou apenas o espa-
lhamento por átomos pesados, para que pudesse ser utilizada a hipótese de que a
massa do núcleo é tão grande comparada à da partícula a que o núcleo não recua
apreciavelmente (permanece fixo no espaço) durante o processo de espalhamento.
Inclusive foi pressuposto que a partícula a não atravessaria realmente na região nu-
clear, de modo que a partícula e o núcleo (ambos conjecturados esféricos) interatu-

112
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

assem como cargas pontuais, pelo menos no que se menciona à força coulombiana.
Avaliaremos mais tarde que essas casualidades são válidas, menos para o espa-
lhamento de partículas a por núcleos mais leves, da qual obrigamo-nos elaborar a
correção para a massa finita do núcleo. O cálculo, até que enfim, usa a mecânica não
relativística, já que v/c ≅ 1/20 (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 13 apresenta a trajetória hiperbólica de Rutherford, expondo as


coordenadas polares r e ϕ os parâmetros b, D. Estes dois parâmetros determinam
completamente a trajetória, em particular o ângulo de espalhamento θ e a distân-
cia de maior aproximação R. A carga nuclear pontual Ze está mediante um foco
do setor da hipérbole (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 13 – TRAJETÓRIA HIPERBÓLICA DE RUTHERFORD

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 128)

A Figura 13 esclarece o espalhamento de uma partícula a, de carga +ze e


massa M, ao entrar próximo de um núcleo de carga +Ze. O núcleo está fixo na ori-
gem do sistema de coordenadas. Quando a partícula está muito afastada do núcleo,
a força coulombiana sobre ela é desprezível, de forma que a partícula se aproxima
do núcleo, segundo uma linha reta com velocidade constante v. Depois do espalha-
mento, a partícula vai se afastar novamente segundo uma linha reta, com veloci-
dade constante v`. A posição da partícula em relação ao núcleo é especificada pela
coordenada radial r e o ângulo polar, sendo o último medido a partir de um eixo

113
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

paralelo à linha da trajetória inicial. A separação normal desse eixo à linha do mo-
vimento inicial é indicada no parâmetro de impacto b. O ângulo de espalhamento
d é o ângulo entre o eixo e uma linha circulando pela origem e simétrica à linha do
movimento final; a distância normal entre essas duas linhas é b'.

A Figura 14 manifesta a relação entre o parâmetro de impacto b e o ângulo


de espalhamento θ. Quando b cresce (maior afastamento do núcleo), o ângulo
θ decresce (menor ângulo de espalhamento). A partículas a com parâmetros de
impacto entre b e b + db são espalhadas em ângulos entre θ e θ + d θ (EISBERG;
RESNICK, 1994).

FIGURA 14 – RELAÇÃO ENTRE O PARÂMETRO DE IMPACTO b E O ÂNGULO DE


ESPALHAMENTO θ

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 130)

De (2.14) deduzimos que no espalhamento de uma partícula a pôr um


único núcleo, se o parâmetro de choque for entre b e b + db, logo, o ângulo de es-
palhamento está entre θ e θ + dθ , no qual a relação entre b e Q está determinada
pela equação. Isto está desenhado na Figura 14. Portanto, o problema de calcular
o número N(ϴ)dϴ de partículas a espalhadas entre ϴ e ϴ + dϴ ao atravessar toda
a folha é equivalente ao problema de calcular o número das que incidem com pa-
râmetro de impacto entre b e b + db, sobre o núcleo na folha. Conforme expomos
no exemplo, o resultado é:

1 zZe 2 2 Iρ t2p senθ dθ


N (θ ) dθ =( )2 ( ) (2.34)
4pε 0 2Mv 2 sen 4 (θ /2 )

Em que I é a quantidade de partículas a incidentes sobre a folha de espessura


t em compreendendo p núcleos por centímetro cúbico (EISBERG; RESNICK, 1994).

114
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

ATENCAO

Se confrontarmos a solução auferido a partir do átomo de Rutherford, (2.34),


com a resposta achado a partir do átomo de Thomson:
2 /θ 2
/θ −2
N (θ )dθ = e −θ dθ
θ 2

Vemos que embora o fator angular decresça rapidamente quando o ângulo cresce em
ambos, o decréscimo é muito menos rápido na previsão de Rutherford.

O espalhamento em ângulos grandes é muito mais admissível em um


único espalhamento por um átomo nuclear do que em um espalhamento múltiplo
em pequenos ângulos em um átomo do tipo pudim de passas. Alguns meses após
a obtenção de (2.34), Geiger e Marsden dispuseram testes práticos precisos a seu
respeito, com os consecutivos efeitos:

• Foi experimentada a dependência angular, utilizando-se folhas de Ag e Au,


entre 5o e 150°. Embora N(ϴ)dϴ variasse por um fator de cerca de 10s nessa
região, os dados experimentais permaneceram proporcionais à distribuição
angular teórica com uma margem de erro percentualmente pequena.
• Obteve-se que o valor N(ϴ) dϴ é de fato correspondente à espessura t da
folha para mudanças de até 10 vezes, essa espessura para todos os elementos
examinados.
• A equação (2.34) analisa que o total de partículas α será inversamente
correspondente ao quadrado de sua energia cinética, Mv2/2. Isto foi testado
usando partículas a de várias fontes radioativas diferentes, e a dependência na
energia prevista foi confirmada experimentalmente para variações na energia
de até um fator de aproximadamente 3.
• Até que enfim, a equação conjectura que N(ϴ) dϴ é proporcional a (Ze)2, o
quadrado da carga nuclear. Nessa época Z não era conhecido para muitos
átomos. Supondo (2.34) válida, a experiência foi usada para determinação de
Z, e encontrou-se que Z era igual ao número atômico químico dos átomos do
alvo. Isto implicava que o primeiro átomo, H, da tabela periódica contém um
elétron, o segundo átomo, He, contêm dois elétrons, o terceiro, Li, contém três
etc., já que Z também é o número de elétrons no átomo neutro. Essa conclusão
foi logo certificada de forma imparcial por técnicas de raios X.
• A distância de maior aproximação, D, é o menor valor que R que ocorre para
R quando θ = 180°. Logo:

1 zZe 2
R180º= D= (2.35)
4p ∈0 Mu 2 / 2

115
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

O raio do núcleo não obriga ser maior do que D, porque os frutos estão in-
teligentes na teoria de que a força que age mediante a partícula α é, todavia, uma
força especificamente coulombiana entre duas cargas pontuais. Esta hipótese não
seria válida se ao atingir a distância de maior aproximação a partícula penetrasse
na região nuclear. A equação anterior mostra que R180o diminui quando Z dimi-
nui. Surge a questão: até quanto pode R180o diminui antes de ficar menor que o
raio nuclear? Divergências em relação às previsões do espalhamento Rutherford
foram na realidade observados para núcleos muito leves (com Z pequeno). Parte
disto era devido a uma violação, que ocorre para núcleos muito leves, da su-
posição de que a massa nuclear é grande comparada à massa da partícula a; no
entanto, as divergências continuaram mesmo depois de ter sido levada em conta
na teoria a massa nuclear finita. Assim mesmo indica que ocorre penetrabilidade
do núcleo, neste caso, desorganizando o espalhamento pressuposto. Logo, o raio
nuclear pode ser preciso como a extensão de R no ângulo de espalhamento limite,
ou na energia incidente, limite para o qual apresentam os desvios do espalha-
mento Rutherford (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 15 entrega uns dados adquiridos no espalhamento de partículas


α, emitidas por uma fonte radioativa, por alumínio. A abscissa é a longitude de
maior aproximação ao centro nuclear.

FIGURA 15 – DADOS OBTIDOS NO ESPALHAMENTO DE PARTÍCULAS

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 133)

Na Figura 15, por exemplo, são exibidos elementos adquiridos pelo grupo
de Rutherford para o espalhamento de partículas α , de muitas energias, a um
ângulo fixo grande, por uma folha de Al. A ordenada é a razão entre o número
analisado de partículas espalhadas e o número pressuposto pelo raciocínio de

116
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

Rutherford (com a correção para a massa nuclear finita). A abscissa é a distância


de maior aproximação. Estes dados implicam que o raio do núcleo de Al é
aproximadamente 10-14 m = 10 F (A unidade de comprimento usada em física
nuclear é o fermi, que é igual a 10-15 m. Observe que 1F= 10-5 Â, em que Â, o
angstrom, é a unidade utilizada na física atômica.) (EISBERG; RESNICK, 1994).

A fórmula de espalhamento Rutherford, (2.34), é comumente informada


em termos de uma fração de choque diferencial dσ / d Ω. Esta grandeza é definida
de forma tal que o número dN de partículas a espalhadas dentro de um ângulo
sólido d Ω em tomo de um ângulo de espalhamento θ é:


dN
= Ind Ω (2.36)
dΩ

Se I elementos α incidem mediante um alvo que comporta n núcleos


por centímetro quadrado. A explicação é similar à designação de uma seção de
choque σ :

N =σ / n

Na Figura 16 têm-se uma imagem da designação de seção de choque


diferencial dσ/dΩ. Se o alvo for abastadamente fino para que uma partícula
incidente contenha uma probabilidade insignificante de inter-relacionar-se com
mais de um núcleo ao atravessá-lo, logo:

dN= (dσ / d Ω) Ind Ω.

FIGURA 16 – ILUSTRAÇÃO DA DEFINIÇÃO DE SEÇÃO DE CHOQUE DIFERENCIAL

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 134)

117
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Ela está vista na Figura 16. O ângulo sólido dΩ, que é sobretudo uma re-
gião angular bidimensional, é avaliado numericamente pela área que a região an-
gular subtende sobre uma esfera de raio unitário equidistante no ambiente onde
sucede o espalhamento. Para o espalhamento Rutherford, que é bem-proporcio-
nado em analogia ao eixo do feixe incidente, achamo-nos devotados no ângulo
sólido dΩ condizente a todos os fatos nos quais o ângulo de espalhamento está
na região dϴ em ϴ. Conforme:

d Ω =2p senθ dθ (2.37)

Utilizando essa sentença em (2.34), formulando N(ϴ) dϴ nesta equação


como dN, e igualmente concebendo o termo ρt que lá surge como n, colhemos
rapidamente:

2 2
 1   zZe 2  1
dN    2 
In d Ω (2.38)
 4p ∈0   2 Mu  sen (θ / 2 )
4

Confrontando com a designação de (2.38), deduzimos que a seção de


choque diferencial de espalhamento Rutherford é:

(2.39)

NOTA

O texto acima contém trechos extraídos do livro: EISBERG, R.; RESNICK, R.


Física Quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. Como dica para você aprofun-
dar seu conhecimento leia o material na íntegra. Disponível em: https://www.academia.
edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_Resnick. Acesso em: 10 set. 2019

Portanto, podemos concluir que existe falha do modelo de Rutherford,


mostrada pela teoria do eletromagnetismo, de que toda partícula com carga
elétrica submetida a uma aceleração origina a emissão de uma onda eletromag-
néticas. O elétron, em seu movimento orbital, está submetido a uma aceleração
centrípeta e, portanto, emitirá energia na forma de onda eletromagnética. Essa
emissão, pelo Princípio da conservação da energia, faria com que o elétron per-
desse energia cinética e potencial, caindo progressivamente sobre o núcleo, fato
que não ocorre na prática. A falha foi corrigida pelo modelo atômico de Bohr, de

118
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

seu aluno e colega de trabalho Niels Bohr, que dizia que considerava a ideia de
um modelo atômico planetário bonita demais para estar errada. Tenha em segui-
da o conhecimento com relação ao modelo de Bohr. Boa leitura!

4 O MODELO DE BOHR

No subtópico anterior foi discutido sobre o modelo de Rutherford. Mas,
afinal, qual a relação entre o modelo de Rutherford com o modelo de Bohr? O
modelo atômico de Rutherford foi complementado com um novo conceito intro-
duzido pelo físico dinamarquês Niels Bohr: “O elétron descreve uma órbita circu-
lar ao redor do núcleo sem ganhar ou perder energia”. Cada órbita descrita pelo
elétron é denominada nível de energia ou camada de energia. Em 1911, Ruther-
ford apresentou a sua teoria para o seu modelo atômico, afirmou que o modelo
vigente até então, também conhecido como "pudim de passas", que foi feito por
J. J. Thomson, estava incorreto. Rutherford afirmou com seu experimento, que
o átomo não era apenas uma esfera maciça de carga elétrica positiva incrustada
com elétrons como dizia J. J. Thomson. Segundo Rutherford, o átomo teria na ver-
dade um núcleo de carga elétrica positiva de tamanho muito pequeno em relação
ao seu tamanho total, sendo que este núcleo, que conteria praticamente toda a
massa do átomo, estaria sendo rodeado por elétrons de carga elétrica negativa, os
quais descreveriam órbitas helicoidais em altas velocidades.

O argumento para as evidências de Bohr, ou para todo conjunto de postula-


dos, só pode ser encontrada comparando-se aos cômputos que podem estar obtidos
a partir dos postulados com as consequências práticas (EISBERG; RESNICK, 1994).

Analise um átomo embasado de um núcleo de carga +Ze e massa M, e


um único elétron de carga -e e massa m. Para um átomo de hidrogênio neutro, Z
= 1, para um átomo de hélio ionizado, Z = 2, para um átomo de lítio duplamente
ionizado, Z = 3 etc. Admitimos que esse elétron gira em uma órbita circular em
tomo do núcleo. Primeiramente, admitimos a massa do elétron absolutamente
pequena confrontada com a massa do núcleo, e consequentemente, entendemos
que o núcleo segue fixo no espaço. A chance de equilíbrio mecânica do elétron é:

1 Ze 2 v2
=m (2.40)
4p ∈0 r 2 r

Em que v é a velocidade do elétron em sua órbita, e r o raio da órbita. O


lado esquerdo dessa equação é a força coulombiana que age mediante o elétron, e
o lado direito é ma, no qual a é a aceleração centrípeta que resiste o elétron em sua
órbita circular. Porém, o momento angular orbital do elétron, L = mvr, deve ser
uma constante, pois a força que atua sobre o elétron é central. Usando a categoria
de quantização:

119
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

=L nh
= n 1, 2, 3,...
a L, dispomos:

=mur nh
= n 1, 2, 3,... (2.41)

Tendo v e repondo em (2.40), dispomos:

2
 nh  n2h2
4p ∈0 mu 2 r =
Ze 2 = 4p ∈0 mr  4p ∈0
 = (2.42)
 mr  mr

De modo que:

n2 h2
r=4p ∈0 n=1, 2, 3,... (2.43)
mZe 2

E:

nh 1 Ze 2
u= = n=1, 2, 3,... (2.44)
mr 4p ∈0 nh

O uso do status de quantização do momento angular delimitou as prováveis


órbitas circulares àqueles cujos raios são informados por (2.43). Veja que esses
raios são equivalentes ao quadrado do número quântico n. Se calcularmos os raios
da menor órbita (n - 1) para o átomo de hidrogênio (Z=1), usando-se os valores
conhecidos de h, m e e, obtemos r = 5,3 x 10-11 m 0,5 A. Veremos mais tarde que o
elétron tem sua energia total mínima quando está na órbita correspondente a n=1.
Consequentemente, podemos interpretar o raio desta órbita como sendo uma
medida do raio de um átomo de hidrogênio em seu estado normal. Ele está de
acordo com a estimativa mencionada anteriormente, de que a ordem de grandeza
do raio atômico é 1 . Portanto, os postulados de Bohr preveem um tamanho
razoável para o átomo. Calculando a velocidade orbital de um elétron na menor
órbita de um átomo de hidrogênio a partir de (2.44), obtemos v = 2,2 x 104 m/s. É
evidente na equação que esta é a maior velocidade possível para um elétron em
um átomo de hidrogênio. O fato de que essa velocidade seja menor do que 1%
da velocidade da luz é a justificativa para usarmos a mecânica clássica em vez da
mecânica relativística no modelo de Bohr. Por outro lado, (2.44) manifesta que
para longos valores de Z, a velocidade do elétron se volta relativística; o sistema
não pode ser efetuado em tais fatos. Esta equação inclusive torna claro porque
Bohr jamais conseguiria conceder que o número quântico n levasse o valor n = 0,
como o atuava na equação de quantização de Planck (EISBERG; RESNICK, 1994).

Analisamos a energia total de um elétron atômico se transportando em


uma das órbitas prováveis. Tendemos representar a energia potencial como
120
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

correspondendo zero, caso o elétron esteja infinitamente longe do núcleo. Logo, a


energia potencial V a qualquer distância finita r é capaz de ser obtida integrando-
se o trabalho que seria sucedido pela força coulombiana que age, assim:
Ze 2 Ze 2
v=- ∫ dr=- (2.45)
4p ∈0 r 2 4p ∈0 r

A energia potencial é negativa porque a força coulombiana é atrativa; é


primordial trabalho para mexer um elétron de raio infinito, versus essa força. A
energia cinética do elétron, K, pode ser calculada, com auxílio de (2.40), como sendo:

1 2 Ze 2
K= mu = (2.46)
2 4p ∈0 2r

A energia total do elétron E, é, portanto:

Ze 2
E=K+V=- =-K (2.47)
4p e0 2r

Utilizando (2.43) para r na equação antecedente dispomos:

mZ 2 e4 1
E= n=1, 2, 3,... (2.48)
( 4p e0 )
2 2
2h 2 n

Entendemos que a quantização do momento angular orbital do elétron


importa na quantização de sua energia global (EISBERG; RESNICK, 1994).

E
IMPORTANT

A energia de cada estado prevista por (2.48), é indicada à esquerda, em termos


de joules e elétrons-volt e o número quântico do nível é expresso à direita. O esquema é
disposto de modo tal que a longitude de cada nível, ao nível de energia zero, é correspon-
dente à energia desse nível. Observe que o menor (mais negativo) valor possível da energia
total ocorre para o menor número quântico n = 1. À medida que cresce, a energia total do
estado quântico se torna menos negativa, com E se aproximando de zero quando n tende
a infinito. Conforme o estado de menor energia total é, obviamente o estado mais estável
para o elétron, contemplamos que o estado normal do elétron no átomo de um elétron é
o estado no que n = 1 (EISBERG; RESNICK, 1994).

121
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Examinamos a frequência v da radiação eletromagnética emitida caso o


elétron sofre uma transição do estado quântico ni para o estado quântico nf, isto
é, em que um elétron que se move inicialmente em uma órbita reconhecida pelo
número quântico ni transforma descontinuamente seu transporte sobrevivendo
a se mover em uma órbita diferenciada pelo número quântico nf. Manipulando o
quarto postulado de Bohr:

E1 -E
v= ∫
h

E:

mZ 2 e4 1
E= n=1, 2, 3,...
( 4p e0 )
2 2
2h 2 n

Obtemos:

E1 -E 2  
∫ = 1  mZ 2e 4  1 1 
v= +  − 2 (2.49)
 4p ∈0  4p h  n∫ n 
3 2
h
 ∫ 

Em função do número de onda k = 1/λ = v/c, têm-se:

(2.50)

Ou:

(2.51)
em que

E no qual ni e nf são inteiros (EISBERG; RESNICK, 1994).

122
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

ATENCAO

As precauções principais do modelo de Bohr ficam contidas em (2.48) e (2.51).

Tendemos inicialmente analisar a emissão de radiação eletromagnética por um átomo de


Bohr de um elétron em função dessas equações.

1. O estado normal do átomo será o estado no qual o elétron tem a menor energia, isto é,
o estado n = 1. Este é o chamado estado fundamental.
2. Em uma descarga elétrica, ou em algum outro processo, o átomo recebe energia devi-
do a colisões etc. Isto significa que o elétron deve sofrer uma transição para um estado
de maior energia, ou estado excitado, no qual n > 1.
3. Obedecendo à tendência natural de todos os sistemas físicos, o átomo vai emitir o ex-
cesso de energia e voltar ao estado fundamental. Isto ocorre por meio de uma série de
transições nas quais o elétron cai para estados excitados de energias sucessivamente
mais baixas, até atingir o estado fundamental. Em cada transição, é emitida radiação
eletromagnética com um comprimento de onda que depende da energia perdida pelo
elétron, isto é, dos números quânticos inicial e final. Em um caso típico, o elétron pode
ser excitado até um estado n = 7 e decair sucessivamente passando pelos estados n =
4 e n = 2 até o estado fundamental n = 1. São emitidas três linhas do espectro atômico
com número de onda dado por (2.51) para ni = 7 e nf = 4, nf=2 e ni=2, e nf= 1.
4. Em um grande número de processos de excitação e desexitação que acontecem durante
uma medida de um espectro atômico, todas as possíveis transições ocorrem e é emitido
o espectro completo. Os números de onda, ou os comprimentos de onda, do conjunto
de linhas que constituem o espectro são dados por (2.51), nos quais fazemos com que ni
e nf tomem todos os valores inteiros possíveis, sujeitos apenas à restrição de que ni > nf.

Para o hidrogênio (Z= 1) percebamos o subconjunto das linhas espectrais


que apresentam das mudanças nas quais nf = 2. Segundo (2.51) os comprimentos
de onda correspondentes dessas linhas são informados por:

K R∞ (1/n 2 f )
= n f 2en1 > n f
= (2.52)

Ou:

k=R∞ (1/2 2 -1/n 2 ) n =3, 4, 5, 6,... (2.53)

Esta fórmula é similar à equação para a série de Balmer do espectro do


hidrogênio:

k=1/ l=RH (1/2 2 -1/n 2 ) n =3, 4, 5,...

Se R∞ for igual a RH . De acordo com o modelo de Bohr:

123
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

2
 1  me4
R∞ =   (2.54)
 4p ∈0  4p  c
3

Embora os valores numéricos de poucas das quantidades que entram nes-


sa equação não fossem destacados com muita certeza naquela época, Bohr calculou
R∞ em termos dessas grandezas, e conseguiu que o número resultante ficasse bem
próximo do valor prático de RH. No próximo subtópico faremos uma comparação
detalhada, usando dados recentes, entre o valor experimental de RH e a previsão de
Bohr, e mostraremos que os dois consentem quase que completamente (EISBERG;
RESNICK, 1994).

De consenso com o modelo de Bohr, qualquer uma das cinco séries consi-
deradas do espectro do hidrogênio emerge de um subconjunto de mudanças nas
quais o elétron vai a um determinado estado final nf. Para a série de Lyman, nf = 1;
para a de Balmer, nf = 2; para a de Paschen, nf = 3; para a de Brackett, nf= 4; e para
a de Pfund, nf = 5 (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 17 – DIAGRAMA DE NÍVEIS DE ENERGIA

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 144)

124
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

Na Figura 17, ao alto: O esquema de estados de energia para o hidrogênio,


com o número quântico n para cada nível e umas das mudanças que apresen-
tam no espectro. Um número infinito de níveis está aglomerado entre os níveis
demonstrados n = 4 e n = ∞. Embaixo: as linhas espectrais correspondentes para
as três séries indicadas. Dentro de cada série, as linhas espectrais seguem um pa-
drão definido, aproximando-se do limite da série à medida que o comprimento
de onda diminui. Como observa-se, nem a escala de frequência nem a de com-
primentos de onda é linear, sendo escolhidas dessa forma apenas para clareza
da ilustração. Uma escala de dimensões de onda linear representaria melhor a
imagem real da chapa fotográfica obtida de um espectroscópio. As séries de Bra-
cket e Pfund, que não são mostradas, ficam na parte do infravermelho distante do
espectro (EISBERG; RESNICK, 1994).

As três primeiras séries estão oportunamente ilustradas em termos de es-


quema de estados de energia na Figura 17. A transição que dá origem a uma linha
particular de uma série está indicada nesse diagrama por meio de uma seta indo
do estado quântico inicial ni ao estado quântico final nf. Somente as setas equi-
valentes às primeiras linhas de cada série e ao limite das séries são mostradas.
Como a distância entre cada dois níveis de energia nesse esquema é correspon-
dente à diferença entre a energia dos dois estados e como:
E1 -E
y= ∫
h
Admite que a frequência v (ou o número de onda) é correspondente à di-
ferença de energias, o comprimento de cada seta é proporcional à frequência (ou
ao número de onda) para a linha espectral condizente (EISBERG; RESNICK, 1994).

Os comprimentos de onda das linhas de todas essas séries são apanhados


de modo bem preciso por (2.51), usando-se os recursos convenientes de nf. Este
foi um grande triunfo para o modelo de Bohr. O sucesso do modelo foi particular-
mente impressionante porque as séries de Lyman, Brackett e Pfund não tinham
sido descobertas na época em que o modelo foi desenvolvido por Bohr. A presen-
ça dessas séries foi calculada e as séries foram posteriormente descobertas experi-
mentalmente e tiveram os nomes de seus inventores (EISBERG; RESNICK, 1994).

O sistema subsistia bem, dedicado ao caso de átomos de um elétron com


Z= 2, isto é, átomos de hélio ionizado, He+. Tais átomos podem ser produzidos
passando-se uma descarga elétrica particularmente violenta através de gás hélio
normal. A presença desses íons se toma evidente pela emissão de um espectro
mais simples do que o emitido por átomos de hélio normais. De veracidade o
espectro atômico do He+ é precisamente o similar que o espectro do hidrogênio,
senão pelo caso de que os números de onda de quaisquer linhas são quase pre-
cisamente quatro vezes maiores. Isto é exposto bem simplesmente em termos do
modelo de Bohr tornando-se Z2 =4 em (2.51) (EISBERG; RESNICK, 1994).

As características do espectro de absorção dos átomos de um elétron in-


clusive são simplesmente explícitas em termos do modelo de Bohr. Como o elé-
tron atômico deve ter uma energia total precisamente similar à energia de uma
das condições de energia prováveis, o átomo pode meramente adquirir quantida-
des discretas de energia da radiação eletromagnética incidente. Este fato conduz

125
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

à ideia de considerarmos que a radiação incidente é constituída de um feixe de fó-


tons, e que apenas podem ser absorvidos aqueles fótons cujas frequências são da-
das por E = hv, em que E é uma das quantidades de energia discretas que podem
ser absorvidas pelo átomo. O processo de absorção de radiação eletromagnética é
então exatamente o inverso do processo normal de emissão, e as linhas do espec-
tro de absorção terão exatamente os mesmos comprimentos de onda do espectro
de emissão. Normalmente, o átomo está inicialmente no estado fundamental n
= 1, de forma que apenas processos de absorção de n = 1 a n > 1 podem ocorrer.
Por conseguinte, somente as linhas de absorção que encaixam (no caso do hidro-
gênio) à série de Lymafl serão comumente observadas. Entretanto, se o gás que
está encerrando os átomos que captam energia vierem a uma temperatura bem
alta, logo pertinente às colisões, uns desses átomos irão inicialmente no primeiro
estado excitado n = 2, e serão observadas linhas de absorção equivalendo à série
de Balmer (EISBERG; RESNICK, 1994).

Portanto, podemos concluir que algumas fragilidades e contradições do mode-


lo ficaram claras na publicação de 1913. Outros foram mais tarde evidenciados com ex-
perimentos melhores (mais modernos) e teorias mais elaboradas da mecânica quântica.
• Os postulados são justificados por qualquer princípio fundamental, mas ape-
nas através de seu sucesso. Eles contradizem a eletrodinâmica clássica.
• O modelo de Bohr descreve o comportamento dos átomos de hidrogênio e íons
com apenas um elétron. Sistemas de vários elétrons não estão incluídos.
• A teoria de relatividade não é considerada, embora seja atribuído ao elétron no
estado fundamental do átomo hidrogênio, cerca de 1% da velocidade da luz.
• O átomo de hidrogênio no modelo de Bohr teria de ser um disco plano.
• Ligações químicas no modelo de Bohr não podem ser entendidas (ou seja, o
modelo não explica ligações químicas).
• Em todos os estados estacionários o momento angular do elétron em torno de
órbita de fora é muito grande. Em particular no estado fundamental, mesmo na
realidade sendo 0 (nulo).
• Até mesmo o dividir de muitas linhas espectrais sob a influência de campos
magnéticos (efeito anômalo de Zeeman) não pode ser explicado.
• Certas linhas espectrais do hidrogênio são capazes de resistir à medidas mais
precisas do que as linhas duplas. Após isso, descobriram uma separação que
não podia ser explicada pelo modelo de Bohr que foi chamada de Lamb-Shift .
• Na radioastronomia a principal linha de 21 cm do hidrogênio pode ser obtida
a partir do modelo de Bohr.
• A noção de uma órbita definida do elétron em torno do núcleo em 1927 confli-
tava com o princípio da incerteza descoberto por Werner Heisenberg.

Na física quântica, com todas as teorias e resultados obtidos até os dias


de hoje e com os registros dos dados experimentais, o modelo orbital possui uma
imagem fundamentalmente diferente do átomo. Ao contrário do que é aceito pelo
modelo de Bohr, os elétrons no átomo possuem probabilidade finita de estarem
até mesmo no núcleo. Atualmente, sabemos que eles não se movem em órbitas.
Razoavelmente aceitamos a ideia de uma nuvem de elétrons.

126
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

DICAS

• O átomo: é a unidade fundamental da matéria, é a menor fração capaz


de identificar um elemento químico. Ele é formado por um núcleo, que contém nêu-
trons e prótons, e por elétrons que circundam o núcleo. O termo átomo deriva do grego
e significa indivisível. Nesse vídeo, é falado um pouco a respeito do átomo, partícula
fundamental que forma tudo que conhecemos no Universo. Aprenda mais sobre o áto-
mo, assistindo o seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=TKEOWch5kXE.
Acesso em: 12 set. 2019.

• Mundo subatômico: em física, partícula subatômica é a designação genérica daquelas


cujas dimensões são muito menores que as de um átomo. Entre as partículas subatô-
micas, existem determinadas denominações, que foram escolhidas para designar os
números quânticos. Aprenda mais sobre o mundo subatômico, assistindo o seguinte
vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=JdHlAVQPf7s. Acesso em: 12 de set. 2019.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático, o próximo


tópico, será sobre as propriedades ondulatórias das partículas. A luz é uma onda, e como
toda boa onda, ela possui propriedades ondulatórias como frequência, comprimento de
onda e amplitude.

127
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

A história do desenvolvimento da teoria atômica: um


percurso de Dalton a Bohr

Ehrick Eduardo Martins Melzer


Joanez Aparecida Aires

Este artigo é parte de uma pesquisa de mestrado que está em andamento,


junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e em Matemática
da UFPR, e tem por objetivo fazer uma retomada da história do átomo de John
Dalton até Niels Bohr, contemplando as idas e vindas do desenvolvimento da te-
oria atômica. Essa retomada faz necessária na medida em que os livros didáticos,
tanto da Educação Básica, quanto da Educação Superior, têm suprimido dados
importantes para a compreensão de como os atores da teoria atômica chegaram
a determinados modelos. Esta preocupação tem estado presente em vários traba-
lhos da área de Ensino de Ciências (LOPES, 2009; VIANA, 2007; LOBATO, 2007),
especialmente daqueles que discorrem sobre livros didáticos (LOPES, 1990;
MORTIMER, 1988; NIAZ, 1998; QUINTANILLA et al., 2008).

Niaz (1998) e Quintanilla et al. (2008) analisam os livros didáticos de quí-


mica mostrando como estes tratam o episódio histórico do átomo. Ambos traba-
lhos sinalizam que esses se encontram modificados e com recortes acerca dessa
história, encobrindo algumas características desse episódio histórico, não trazen-
do a forma de construção dos modelos atômicos e sem evidenciar alguns aspectos
sociais que podem ser tangentes à construção desses.

Nesse sentido, Matthews (1995) lembra que se faz necessário a introdução


de história e filosofia das ciências (HFC) para desconstruir essa imagem de ciên-
cia idealizada, mostrando-se a real história por trás de um conceito ou teoria. As-
sim, este trabalho tem como por objetivo fazer uma leitura histórica do episódio
dos modelos atômicos, fixado em Manchester e Cavendish.

Para sistematizar este estudo, o artigo foi dividido em dois períodos: o pri-
meiro corresponde ao período anterior à construção do laboratório de Cavendish,
localizado na Universidade de Cambrigde na Inglaterra e inaugurado em 1874,
com a publicação de um artigo. O segundo, corresponde ao período posterior a
sua construção. Esta divisão é enfatizada em função da fama mundial atingida
por Thomson (LOPES, 2009), a qual fez deste um centro de referência mundial no
desenvolvimento de estudos acerca da constituição da matéria.

A ordem de apresentação das propostas, portanto, está dividida nos dois


períodos, objetivando demonstrar como cada modelo atômico foi sendo trabalhado
e quais eram as preocupações dos pesquisadores em torno destes. O período ante-
rior à construção do laboratório de Cavendish corresponde aos trabalhos de John
Dalton. O período posterior aos trabalhos de J. J. Thomson, J. H. Jeans, H. Nagaoka,
Lorde Rayleigh, G. A. Schott, E. Rutherford, J. W. Nicholson e Niels Bohr.
128
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

Entre Dalton e Thomson, apresentam-se alguns trabalhos que também ti-


veram alguma influência na forma de pensar dos físicos e químicos e que foram
base para muitas das propostas atômicas elaboradas. Ao final é apresentada uma
reflexão para o ensino de ciências acerca do episódio histórico da teoria atômica.

Período anterior a construção do laboratório de Cavendish

John Dalton (1766 – 1844)

Anteriormente a construção do laboratório de Cavendish, John Dalton mar-


cou o desenvolvimento da teoria atômica, apoiado, segundo Lobato (2007) e Viana
(2007), por uma série de fatores de ordem profissional e de opções teóricas assumi-
das por Dalton. O Primeiro destes fatores refere-se ao fato de Dalton não ter, origi-
nalmente, uma formação química, mas sim matemática, que de acordo com Viana
(2007), pode ter influenciado por uma perspectiva diferente de sua percepção dos
fenômenos físicos e químicos. Outros fatores também podem ter sido importantes
para a sua teoria, gerando uma série de interpretações sobre como Dalton chegou
ao seu modelo atômico. Dentre estas podem ser citadas as influências dos traba-
lhos de Richter, a leitura do livro de Berthollet (1803-1804), algumas fontes também
fazem referência aos trabalhos de análise do eteno e do metano aliado as leis das
proporções múltiplas. Bem como, são citados os trabalhos e suas reflexões sobre
as teorias de mistura gasosa, pelo estudo de pesos atômicos e o justificando com
uma proposta mecanicista, com base em sua reflexão acerca das reações com Oxido
Nitrogênio e das leis das proporções múltiplas. Tornou-se difícil uma ideia mais
precisa sobre a elaboração do seu modelo, em função dos registros da sua produção
terem sido, em grande parte, perdidos durante a Segunda Guerra Mundial.

Lobato (2007) argumenta que nenhuma destas interpretações apresentadas


pelos historiadores da ciência pode ser desprezada, pois não se pode aferir o de-
senvolvimento teórico de Dalton a um único fator. O que é sugerido pelo autor é
que todos esses trabalhos e acontecimentos fizeram parte de uma construção, cul-
minando na proposta do átomo publicado em seu trabalho de 1810. Logo, o que se
pode afirmar é que Dalton trabalhou sua teoria com base em múltiplas influências
de físicos e químicos renomados de sua época, sendo que, de acordo com Viana
(2007), a mais notável influência pode ter vindo da tradição newtoniana inglesa. O
Principia (questão 26) e o Óptica (questão 31), de Isaac Newton, parecem também
terem influenciado Dalton em suas leituras e interpretações dos fenômenos natu-
rais e acerca da expansão e contração dos gases, determinando a sua proposta de
teoria atômica.

Assim, pode-se compreender que a teoria atômica foi construída a partir


de uma série de trabalhos publicados por Dalton, todos eles com foco específico
nas questões relacionadas aos gases e à composição da atmosfera. Ou seja, grande
parte dos estudos pertencente à área de meteorologia. Nesse sentido, parece haver
uma progressão e uma mudança na forma que Dalton encarava o átomo, de um
corpuscularismo newtoniano, chegando a uma espécie de híbrido entre a teoria
corpuscular de Newton e a leis de afinidade química, teorias muito estudadas na

129
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

época, de acordo com os relatos apresentados por Viana (2007) e Lobato (2007).
Lembrando que a construção do seu modelo começa em 1802 com a publicação da
1ª lei das misturas gasosas e termina em 1810, com a publicação das mudanças teó-
ricas ocorridas a partir de 1804, quando Dalton tem um encontro com T. Thomson
e W. Henry, os quais discutem as bases da sua teoria atômica. De acordo com Viana
(2007), o próprio Dalton em seu trabalho de 1810, reconhece o ano de 1804 como
definidor de sua teoria atômica.

Com base nesta compreensão pode-se afirmar que a teoria atômica de John
Dalton, como publicada em sua forma final em 1810, passa por dois momentos
distintos de construção: Em um primeiro momento, Dalton, baseia sua proposta
em uma teoria ligada a seus estudos acerca da física proposta por Isaac Newton
(na leitura do Principia e do Óptica), ancorada no corpuscularismo newtoniano.
E um segundo momento, através de seus estudos sobre misturas gasosas (1802 e
1805), com todas as discussões e críticas feitas pelos seus contemporâneos que o
fizeram analisar e conceber uma união entre a proposta Newtoniana de partícula
com as propostas de afinidade química, ambas apresentadas em sua época. Para sa-
nar equívocos e más interpretações do calórico, Dalton, publicou o artigo “on heat”
em 23 de maio de 1806, quando descreveu a sua proposta para o calórico e como
este seria intimamente ligado a sua proposta atômica. Formulando as bases de seu
átomo e o descrevendo como um corpúsculo esférico de tamanho variável que seria
envolvido por uma “atmosfera”4, denominada de calórico (heat), responsável pela
atração e repulsão entre os elementos, sendo medido e variável entre diferentes
elementos químicos e quantificado através do valor de calor específico.

Assim, este modelo dava conta, em sua época, de explicar os questiona-


mentos que Dalton e outros pesquisadores tinham sobre o comportamento de ga-
ses, fenômenos meteorológicos, bem como a composição da atmosfera. Porém, essa
proposta perdurou por vários anos até o seu modelo dar os primeiros sinais que
chegara a um limite em que era necessário novos estudos para a estrutura atômica.

Os Trabalhos do século XIX e XX e a construção do laboratório de Cavendish

Antes de trazer os outros atores que participaram da construção da pro-


posta atômica que culminou nas bases da quântica e da física moderna, se faz
necessário trazer algumas leituras sobre o que foi desenvolvido no final do sé-
culo XIX e início do século XX. Trabalhos estes que deram as bases e os dados
empíricos necessários, bem como instrumentação para que a proposta atômica
pudesse evoluir de um corpúsculo para algo mais complexo regido por leis mais
complexas. Começar-se-á pelo final do século XIX que é marcado por notórios
estudos da física, química e astroquímica. Muitos destes trabalhos foram vitais
para o estabelecimento da teoria atômica que conhecemos hoje. Destes estudos
destacam-se os trabalhos sobre radioatividade, raios catódicos, elétrons, valência,
espectroscopia, efeito Zeeman e, posteriormente, a bases da quântica.

Nesse sentido, Lopes (2009) apresenta uma relação dos autores divididos
em áreas: na radioatividade com os trabalhos de E. Rutherford, F. Soddy, P. Curie,

130
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

M. Curie, A. H. Becquerel, A. S. Eve, W. Bragg, H. Geiger, E. Marsden e H. Mose-


ley. Nos raios X temos os trabalhos de W. Röntgen e todas as outras pesquisas que
foram possibilitadas por essa descoberta. A eletricidade representada nos trabalhos
de M. Faraday, G. J. Stony, J. J. Thomson e W. Crookes5 . Na área de espectroscopia
desde trabalhos assinados por J. Melvin, J. Draper, D. Alter, A. Angströn, G. Stokes,
B. Stewart, J. L. Foulcault, G. R. Kirchhoff, R. W. Bunsen, John Tyndall, J. Balmer,
J. Evershed, J. Rydberg, H. Kaysen, Carl Runge, A. Fowler, W. Ritz, G. J. Stoney e
Pieter Zeeman6 . E na química com Moléculas, ligação química e valência repre-
sentada por S. Arrhenius, R. Abegg, G. Lewis e W. Kossel. Junto a outros trabalhos
de Tabela Periódica (Mendeliev) que contriburiam de forma profunda para as pro-
postas de Thomson, Nicholson e Bohr. Lembrando que toda essa produtividade
teve uma estreita relação com as teorias atômicas, já que todos estudavam efeitos
ocasionados pela constituição da matéria, desenvolvendo inúmeras pesquisas.

De acordo com Lopes (2009), Joseph Larmor, já assinalava o átomo com


uma proposta para explicar certos efeitos. Demonstrando a necessidade que a co-
munidade naquela época tinha em explicar a modelagem e constituição atômica.

Outro fator de impacto na concepção da teoria atômica está relacionado


à tradição de Manchester, com seus estudos na área de física experimental. Este
impulso é fortalecido com a criação e consolidação de grupos de pesquisa e associa-
ções, concentrando importantes físicos experimentais na Cambrigde, obtendo seu
ápice em 18747 , a partir da inauguração do laboratório de Cavendish, o qual foi
considerado por vários físicos como o maior centro de estudos de constituição da
matéria do mundo, tornando-se palco para grande parte dos avanços relacionados
ao modelo atômico. Tal fama se deu muito em função de que Thomson, Rutherford,
Nicholson, Schott, Jeans e Rayleigh integravam diversas equipes que trabalhavam
com pesquisas neste laboratório, bem como pela estreita ligação que Hantaro Na-
gaoka e Niels Bohr também tiveram com o mesmo. Pode-se afirmar, portanto, que
este laboratório concentrou uma grande diversidade de pesquisadores, vindos de
todo o continente europeu, os quais buscavam aprimorar seus estudos e construir
uma proposta coerente acerca da constituição da matéria e outras áreas afins.

A seguir são apresentados os pesquisadores que trabalharam com a


constituição atômica após a construção do laboratório de Cavendish e suas
respectivas influências na construção das teorias atômicas.

Período posterior a construção do laboratório de Cavendish

Joseph John Thomson (1856 – 1940)

Thomson foi físico experimental, esteve à frente do laboratório de Cavendish,


sendo o grande responsável pela fama mundial deste, bem como pela migração de
jovens cientistas que sonhavam em trabalhar em Cavendish sob sua orientação.

De acordo com Lopes (2009), Thomson começou seus estudos em engenha-


ria no Owens College, em 1870, com 14 anos de idade, quando demonstrou interes-
se pela física, particularmente pelas leis de combinações químicas e teorias atômicas
131
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

da matéria, influenciado, possivelmente, pelos escritos de John Dalton. Posterior-


mente foi indicado para entrar na Cambrigde, foi sucessor de Lorde Rayleigh, na
cátedra de física experimental, tornando-se a terceira geração de físicos no labora-
tório de Cavendish e coordenador de pesquisas na área neste laboratório.

Thomson, durante sua vida acadêmica se debruçou sobre a questão da ele-


tricidade e do átomo, mudando inúmeras vezes sua base teórica, que de acordo com
Lopes (2009), é uma das mais notáveis características presentes nos estudos sobre a
sua vida. Inicialmente, começou estudando o átomo vortex de Lorde Kelvin, apli-
cando-o a inúmeros problemas de combinações químicas, relacionando a questão da
valência com o número de vórtices presentes no átomo. Posteriormente, influencia-
do pelas leituras de trabalhos de M. Faraday, Thomson elabora um modelo atômico
baseado em girostatos. Ou seja, o átomo seria formado por uma série de girostatos.
Dessa forma, esse estudo sobre o modelo batizado de girostatos abriu caminhos para
o cálculo da razão de carga negativa. Mas, foi em 1897, com a publicação do seu es-
tudo sobre raios catódicos intitulado “On the cathode rays” que abriu a possibilidade
de uma profunda mudança em sua proposta atômica. No ano de 1903, seus estudos
na tentativa de compreender a distribuição dos elétrons com os cálculos de carga e
massa do elétron, culminaram em sua proposta atômica de 1904.

O modelo apresentado por Thomson seria formado por anéis coplanares


de corpúsculos dentro de uma esfera de carga positiva e uniforme. As bases te-
óricas deste modelo são mais aprofundadas no livro “Theory of Matter” de 1907,
no qual são apresentadas várias propostas e vários estudos, configurando-se na
proposta atômica de Thomson.

Assim, pode-se perceber que há uma constante mudança ao longo da vida


de J. J. Thomson no que diz respeito aos referenciais teóricos, mostrando a sua
versatilidade em mudar de referencial em busca de novas perspectivas de pesqui-
sa, bem como na junção de diferentes trabalhos para gerar teorias mais consisten-
tes que respondiam a inúmeros problemas da época.

James Hopwood Jeans (1877 – 1946)

Em 1901, em um artigo intitulado de “The Mechanism of Radiation”, Jeans


apresentou uma particular forma de interpretar os dados de Thomson, gerando o
que foi denominado de átomo “ideal” de Jeans.

Com base em Connor e Turner (1965), na proposta de Jeans o átomo seria


formado por uma porção de cargas –e, e uma porção de cargas +e, as quais estariam
em um certo equilíbrio, permanecendo estáveis, nos quais essas cargas estariam,
mutuamente, se repelindo e se atraindo de acordo com a lei do inverso quadrado
da distância. Baseando esta proposta na análise de linhas espectrais de várias ob-
servações espectroscópicas. Este átomo “ideal” de Jeans, de certa forma, explicava
com êxito o efeito Zeeman e descrevia as linhas dos espectros de Rydeberg.

132
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

Porém, ao que parece, este modelo era basicamente teórico, validado pelos
dados da espectroscopia e que não ganhou muito destaque, pois três anos depois
Thomson desenvolvera sua proposta atômica que daria conta desses problemas.
O que pode ser observado dessa sua participação da história da Teoria Atômica,
é que Jeans trabalhava sob orientação de Thomson, o que o levou a definir sua
proposta de átomo ideal seguindo a linha de raciocínio deste.

Hantaro Nagaoka (1865 – 1950)

Físico japonês formado em Tókyo, no Japão, na época da restauração Mei-


ji. Fez mestrado e doutorado na mesma instituição9 sob a orientação de C. G.
Knott. Após seu doutorado, por incentivo do governo japonês, foi estudar em
Berlim e Munich, com L. Boltzman. Seu intuito era se aprofundar na física oci-
dental e levar ao Japão conhecimento para o desenvolvimento da ciência e da tec-
nologia daquele país. Durante suas viagens, Nagaoka, fez uma série de contatos,
inclusive com Rutherford, quando visitou o laboratório de Cavendish. E em 1904,
publicou na revista Nature e depois na Phil. Magazine a sua proposta de modelo
atômico, baseando-se nos cálculos de Maxwell dos anéis de Saturno e adaptan-
do-os para a escala atômica.

Em seu modelo, Nagaoka, de acordo com Conn e Turner (1962) e Lopes


(2009), colocava um centro grande e carregado envolvido de anéis formados por
corpúsculos que giravam com mesma velocidade ao seu redor. Com esta pro-
posta era possível explicar vários fenômenos relacionados a diversas áreas de
pesquisa. Porém, sua teoria encontrava um percalço com base na estabilidade de
todo o sistema proposto, fazendo com que o tamanho e a energia da carga central
fossem muito mais forte que das cargas opostas que orbitavam ao redor do nú-
cleo. Outro problema apresentado por este modelo era o da velocidade angular
dos corpúsculos, que deveria ser muito alta, com valores que de acordo com a
física clássica, eram difíceis de serem obtidos.

Este modelo foi fortemente combatido por Schott, que enviou cartas a
Nagaoka apresentando as fragilidades da sua proposta, estabelecendo assim
um debate teórico entre os dois pesquisadores. Schott discordava dos cálculos
de Nagaoka e também dos valores de carga central e de velocidade angular dos
corpúsculos ao redor no anel, travando um longo debate sobre a validade do mo-
delo saturniano. Posteriormente, Nagaoka desistiu de sua proposta e se dedicou
a outras áreas de pesquisa. Posteriormente, em carta10 mandada a Neils Bohr,
Nagaoka demonstra sua felicidade e satisfação ao reparar a grande similaridade
entre a sua proposta e a proposta do modelo atômico de camadas proposto por
Bohr a partir da proposta de Rutherford.

Lorde Rayleigh (1842 – 1919)

Físico experimental no Laboratório de Cavendish, que dedicou sua vida


ao estudo do som. Em contato com Thomson e sua pesquisa sobre a constituição
da matéria e eletricidade, passou a fazer alguns estudos relativos à hipótese de o
fenômeno sonoro estar relacionado às propriedades atômicas.
133
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Segundo Connor e Turner (1965), em 1906 Rayleigh sugeriu um modelo


similar ao que Thomson apresentou em 1904, porém o número de elétrons em seu
modelo teria uma variação para o infinito. Seu modelo também tinha uma seme-
lhança com a proposta de Jeans, no entanto, diferia na forma de arranjo das di-
ferentes cargas na estrutura atômica. Ou seja, Rayleigh optou por usar a mesma
estrutura elucidada por Thomson, mas a variação de corpúsculos no interior da
esfera positiva poderia chegar até o infinito. Rayleigh justifica essa possibilidade de
acordo com a disposição das cargas e com a necessidade de haver a mesma quanti-
dade de cargas positivas e negativas e de que a única diferença é que as cargas po-
sitivas estariam sem movimento de forma fluida, enquanto as negativas estariam
com maior liberdade de movimento dentro da região delimitada pela esfera.

Esta proposta é uma possível tentativa de resposta para a definição do núme-


ro de corpúsculos negativos dentro do átomo, a qual Thomson não havia ainda conse-
guido chegar. Havia esta dificuldade porque ainda não se conhecia outras partículas
e nem as relações de massa que seriam estudadas no átomo nuclear posteriormente,
logo, Rayleigh partindo desta problemática extrapola o número de possibilidades a
infinito sempre trazendo uma distribuição igualitária entre positivo e negativo.

George Adolphus Schott (1868 – 1937)

Schott em seu trabalho publicado na Phil Magazine, entitulado de “On the


Electron Theory of Matter and the Explanation of Fine Spectrum Lines and of Gravi-
tation” explica sua proposta do “elétron expandindo”, publicado em junho de 1906.
Em sua proposta, de acordo com Connor e Turner (1965), Schott leva em conta que
todos os elétrons se movem em círculos com velocidades uniformes. Recordando
que o problema de Jeans era que os elétrons estariam se movendo com uma veloci-
dade muito alta e com um pequeno raio de giro, o que causaria um problema físico
de movimentação. Para trazer uma possibilidade de elucidação e uma saída a esse
dilema, Schott propõe que o elétron pode se expandir e que ele internamente resiste
a essa expansão. Nesta compreensão, Schott leva em conta que o elétron é uma forma
esférica que está sujeito a uma constante força (pressão) em toda a sua superfície.
Ou seja, para Schott o elétron teria a capacidade de se expandir para ocupar espaços
dentro do átomo e consequentemente essa característica seria dominada pela pressão
de todo o sistema.

Assim, com base em suas investigações, Schott elabora quatro postulados


para o elétron no sistema atômico (CONNOR e TURNER, 1965):

1. O elétron se expande vagarosamente.


2. Para satisfazer o princípio da conservação de energia, se faz necessário que haja
um stress interno que resiste à expansão, a qual segundo a visão de Schott seria
um caso clássico de pressão hidrostática.
3. Que esta força a que o elétron está sujeito é parte da natureza de um éter que
rodeia o elétron.
4. Assim a reação final no elétron seria produto de uma pressão causada pela
pressão do éter na superfície do elétron. Essa pressão não é exatamente balan-

134
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

ceada com a taxa de expansão do elétron, porém, gravitação entre si como se o


sistema se comportasse como um líquido.

São nestes postulados que Schott baseia seu modelo do elétron que expan-
de, como uma tentativa de conciliar as observações de Rayleigh e Jeans sobre o
átomo, numa forma de responder a inúmeras questões que surgiam naquela épo-
ca e que não encontravam uma resposta satisfatória nas propostas de Thomson,
Jeans e Rayleigh.

Ernest Rutherford (1871 – 1937)

Físico que dedicou sua vida ao estudo dos fenômenos radioativos e da física
nuclear, foi um dos precursores do átomo nuclear, junto com Nagaoka. Ingressou
no ano de 1889 com uma bolsa de estudos no Canterbury College em Christchurch.
Ganhou uma bolsa de estudos para estudar na Inglaterra, onde veio a trabalhar
com J. J. Thomson no laboratório de Cavendish e após se destacar em sua pesqui-
sa, foi convidado pelo próprio Thomson a estudar Raios X e eletricidade, vindo a
publicar com Thomson na Phil. Magazine. Após este tempo de estudo foi para o
Canadá, por indicação de Thomson, estudar com F. Soddy, onde ganhou um No-
bel pelos estudos sobre radioatividade. Após alguns anos de estudos, Rutherford
retorna para Manchester e começa a influenciar toda uma geração de jovens físicos
como Marsden, Darwin, Geiger, Bohr, Chadwick, dentre outros (LOPES, 2009).

Como relatam Connor e Turner (1965), Rutherford dedica-se ao estudo


das partículas radioativas e seu espalhamento mediante o bombardeamento des-
tas em lâminas metálicas, trabalho desenvolvido em conjunto de Geiger e pos-
teriormente com Marsden. Neste trabalho fizeram vários disparos de partículas
alfa e beta sobre lâminas metálicas buscando explicar os desvios sofridos por
estas partículas. Lembrando que se deu a opção pelo estudo de partículas alfa,
devido aos melhores resultados obtidos em inúmeros testes.

Geiger e Marsden, juntos, estudaram e observaram os espalhamentos de


partículas alfa em vários metais vindo a publicarem um artigo na Royal Society.
Após este trabalho Geiger publica outro artigo explicando a preferência por usar
somente o ouro nos experimentos, devido ao fato deste metal ser mais fácil de
trabalhar e também por possuir os melhores coeficientes de espalhamento. De
posse dos resultados de Geiger, Rutherford tenta elucidar uma hipótese para o
ocorrido, tentando usar o modelo proposto por Thomson que se mostra inconsis-
tente com os ângulos de deflexão das partículas alfa. Nesse sentido, Rutherford
trabalha em levar em conta que o átomo teria uma região central e periférica.

Lopes (2009) argumenta que Rutherford nunca localizou as cargas no áto-


mo, somente explicou que o sinal de cargas do núcleo e da região à sua volta
teria de ser diferente para ocorrer atração. Logo, Rutherford defendia seu modelo
como sendo um centro de carga concentrada, rodeado por uma distribuição esfé-
rica uniforme de cargas opostas de igual valor. Vale lembrar que, segundo Lopes

135
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

(2009), este estudo não despertou interesse na comunidade, pois os pesquisado-


res da época estavam preocupados em elucidar os elétrons. Alguns anos após
este trabalho é que é dada a devida atenção a esta questão, através dos estudos de
Niels Bohr e outros físicos.

John William Nicholson (1881 – 1955)

Astroquímico e estudioso de física de partículas, também atuou no labora-


tório de Cavendish e posteriormente em Oxford, estudando os espectros da coroa
solar. Propôs um modelo atômico baseado em seus estudos publicados em três
artigos em 1911, os quais faziam menção ao estudo de espectros da coroa solar.

Lopes (2009) e Conn e Tunner (1965) afirmam que a proposta de Nichol-


son tinha relação com o seu estudo de movimentos de elétrons. Assim, Nicholson
supôs um núcleo maciço e elétrons dispostos em órbitas, não tendo como refe-
rência a proposta de Rutherford e sim usando como base de suas investigações o
modelo de Thomson e, possivelmente, o de Nagaoka. “Nicholson foi o primeiro
a usar este modelo com sucesso para prever linhas espectrais de corpos celestes
antes mesmo destas serem observadas” (LOPES, 2009, p. 115).

Nicholson atribuía a emissões do espectro a fenômenos de configuração


eletrônica dos átomos. Para chegar a estes resultados usou as idéias de Planck,
as quais, segundo Lopes (2009), abriram caminho para outros estudos e para o
desenvolvimento das bases da teoria quântica na Inglaterra. No seu modelo de
átomo, Nicholson levou em conta quatro substâncias primordiais para a sua for-
mação:

1. Coronium: átomo com um anel com dois elétrons girando ao redor de um nú-
cleo positivo.
2. Hidrogênio245: átomo com um centro e um anel com três elétrons girando ao
seu redor.
3. Nebulium: átomo contendo um único anel com quatro elétrons girando ao re-
dor de um núcleo positivo.
4. Protofluorine: átomo com um único anel com cinco elétrons girando ao redor
de um núcleo positivo.

E que a união dessas quatro substâncias desenvolveria todos os átomos dos


elementos que atualmente conhecemos. Com esta proposta, Nicholson evitava os
problemas que Schott apontou no modelo proposto por Nagaoka, do ponto de vista
da estabilidade. E ainda usando sua proposta para calcular dois átomos hipotéticos
contendo o Nebulium e Protoflorine, de acordo com Connor e Turner (1965). Poste-
riormente, como lembra Lopes (2009), este e outros trabalhos de Nicholson serviram
de base para os cálculos do átomo de Bohr, mostrando sua importância no estabele-
cimento das bases de uma nova física e no desenvolvimento da teoria atômica.

136
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

Niels Bohr (1885 – 1962)

Graduo-se e pós-graduou-se em Copenhague. No seu trabalho de mestra-


do e de doutorado fez estudos teóricos sobre o comportamento do elétron, estudo
este que não era explicado quantitativamente. Desde 1911, época em que termina
seus estudos de Doutorado, Bohr já estava convencido que era necessária uma
ruptura da física clássica para uma nova física. Após o termino do seu doutora-
do foi para Cavendish na tentativa de trabalhar com J. J. Thomson, pesquisador
que ele muito admirava. Porém, em um jantar Bohr leva um artigo de Thomson
e começa a apontar possíveis erros sem explicação, o que acaba por tumultuar a
sua relação com Thomson. Após este episódio, Bohr vai trabalhar com Rutherford
nas pesquisas com partículas alfa, trabalhando na variação de energia dessas par-
tículas. Com os dados deste estudo, Bohr consegue desenvolver as bases do seu
famoso artigo de 1913 (LOPES, 2009).

No ano de 1913, de acordo com Lopes (2009), Bohr publica “sobre a consti-
tuição de átomos e moléculas”, em que apresenta em três artigos as bases de sua te-
oria atômica, inspirada nos trabalhos anteriores de Rutherford. No primeiro artigo
Bohr traz os modelos de Thomson e Rutherford fazendo várias ponderações sobre
o cálculo, analisando como seu modelo era instável frente à dinâmica clássica.

Com esta trilogia de artigos, Bohr faz alusão a uma nova possibilidade,
na qual a física clássica não daria conta de explicar certos fenômenos, necessi-
tando de uma nova física. De acordo com BOHR (1963), quem sugere que Niels
Bohr publique uma trilogia é Rutherford, depois de ler uma carta com uma cópia
do artigo original, sugerindo uma simplificação de cálculos, ideias e conclusões,
para se adequar a forma britânica de publicação. Em julho de 1913, época que
ocorre a publicação de sua trilogia, Bohr se encontrava em Copenhague e tinha
uma estreita relação de amizade e comunicação com Rutherford, que lia todos os
seus estratos de trabalhos com o átomo, emitindo suas opiniões.

Segundo Lopes (2009), Bohr também tem contato com os trabalhos de Ni-
cholson que o ajudam a compreender a empregabilidade de cálculos que foram
à base de seu modelo atômico, mesmo seguindo um caminho completamente
diferente do de Nicholson no uso da Constante de Planck (h). Com base no mo-
delo proposto por Bohr o átomo tem, como defendido por Rutherford, um núcleo
central pequeno que concentra toda a massa do átomo, este núcleo é positivo. E
ao seu redor há um número de elétrons fazendo movimento circulares. Na Parte
II de seu artigo, nos pressupostos gerais, Bohr deixa claro essa decisão tomada de
partir do modelo de Rutherford para propor seu modelo:

Seguindo a teoria de Rutherford, supomos que os átomos dos elemen-


tos são formados por um núcleo carregado positivamente rodeado por
um enxame de elétrons. No núcleo está concentrada a parte essencial
da massa do átomo, sendo as suas dimensões lineares extremamente
pequenas em comparação com as distâncias entre os elétrons que o ro-
deiam. (...) Postularemos que os elétrons estão dispostos em intervalos
angulares iguais, rodando sobre anéis coaxiais em torno do núcleo.
Com o fim de determinar a frequência e dimensões dos anéis empre-

137
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

garemos a hipótese principal do primeiro artigo, ou seja: que, no esta-


do permanente de um átomo, o momento angular de cada elétron em
torno do centro da sua órbita é igual ao valor universal h/2B, sendo h
a constante de Planck (BORH, 1963, p 133 – 135).

Através do trabalho de Bohr (1963), entende-se que os átomos possuem um


núcleo denso e positivo que representa a maior parte do peso do átomo e que à sua
volta há elétrons que descrevem órbitas circulares de acordo com o cálculo da cons-
tante de Planck (h). Ainda vale lembrar que estes dados são postulados, pois naquele
momento a física ainda estava no paradigma clássico, necessitando uma mudança
para um novo paradigma, o quântico. Com base nesta estrutura, Bohr estabeleceu
que as emissões em séries de espectros seriam em decorrência da mudança e mo-
vimentos de elétrons de camadas mais externas para mais internas, seguindo um
conjunto de regras postuladas ao final da trilogia de 1913: “Para se aplicarem os re-
sultados obtidos por Planck é, portanto, necessário introduzir novas hipóteses sobre
a emissão e absorção de radiação por um sistema atômico” (BOHR, 1963, p. 195).

Estas cinco hipóteses seriam com base, de acordo com Bohr (1963), no
movimento e organização dos elétrons ao redor do núcleo. E de como ocorreriam
a absorção e a liberação de energia para gerar espectros luminosos dos elementos
químicos. De acordo com as cartas de Bohr presentes no compendio de 1963, a
repercussão de sua teoria foi muito grande gerando questionamentos vindos de
pesquisadores de todas as partes do mundo, dentre estes destaco A. Sommerfeld
que se mostrou mais participativo em debates teóricos, propondo cálculos para o
modelo atômico de Bohr, bem como propondo que Bohr o usasse para problemas
físicos já conhecidos como o do efeito Zeeman, dentre outros:

Agradeço-lhe muito o envio do seu interessantíssimo trabalho, que


eu já estudara no Philosophical Magazine. O problema de exprimir a
constante de Rydberg-Ritz mediante a constante h de Planck desde há
muito que me traz suspenso. Há alguns anos, falei nele a Debye. Con-
quanto eu seja ainda um pouco céptico perante os modelos atômicos
em geral, há sem dúvida nos domínios daquela constante muito traba-
lho a fazer. Aliás, a estimativa numérica efetuada com o novo valor de
h=6,4x10-27 é ainda melhor. Aplicou o seu modelo atômico ao efeito
de Zeeman? Gostaria de tratar desse problema. Talvez possa em breve
saber mais sobre os planos por intermédio de Rutherford, que espero
ver em outubro (BOHR, 1963, 88).

Assim, pode-se entender como Bohr, com sua trilogia de artigos, condu-
ziu a uma significativa mudança na forma de pensar sobre a estrutura atômica,
abrindo caminho a uma nova física que viria se instaurar anos mais tarde.

Considerações Finais

Neste trabalho apresentou-se um recorte da teoria atômica, que de acordo


com Lopes (2009) é um episódio histórico rico e complexo com diversos grupos de
pesquisadores analisando a constituição da matéria. Com base em Lopes (1990),
Mortimer (1988), Niaz (1998) e Quintanilla et al (2008), os livros didáticos de quí-
mica, geralmente, recortam esse episódio histórico, apresentando os modelos sem

138
TÓPICO 2 | MODELOS ATÔMICOS

fazer referência ao percurso histórico da construção destes. Lembrando que, segun-


do Niaz (1998), a maioria dos livros didáticos ignoram o fato que o progresso da
ciência envolve a competição entre vários grupos e conflitos entre estes, passando
uma imagem de ciência linear, na qual um modelo atômico substitui o outro, quan-
do na verdade estes competiram e foram postos à prova por toda uma comunidade
de pesquisadores. Sendo assim, muitas vezes o livro didático apresenta somente
o produto, não apresentando as reais idas e vindas da construção de um determi-
nado modelo. Nesse sentido, entende-se que, de acordo com Matthews (1995), a
abordagem histórica e filosófica da ciência no processo de construção dos modelos
atômicos, pode vir a se tornar um potencializador da aprendizagem, contribuindo
para a compreensão de que a ciência é uma construção humana, provisória e não
linear. Sendo assim, este trabalho pode vir a subsidiar a prática de professores que
querem trazer esta compreensão dos processos de construção dos modelos atô-
micos, contrapondo-se à história simplista que geralmente é veiculada por vários
livros didáticos destinados ao Ensino Básico e ao Ensino Superior.

FONTE: <http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1348-1.pdf>. Acesso em:


12 set. 2019.

139
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Espectros atômicos são espectros de raias.

• Um dos espectros atômicos mais apreciados, entre outros, dada a sua magni-
tude em ramos como mecânica quântica, física de plasmas, astrofísica, astrono-
mia e cosmologia, é o espectro do hidrogênio.

• Quando a estrutura fina é ignorada, os comprimentos de onda para os quais


verificam-se amplitudes não nulas ou negligenciáveis (radiação espúria) no es-
pectro do hidrogênio atômico são determináveis por uma relação matemática
empírica conhecida como fórmula de Rydberg:

• A investigação do átomo de hidrogênio é de substancial interesse para o conhe-


cimento da morfologia da matéria por ser esse o singular átomo para o qual se
forma uma descrição matemática profunda e precisa

• A solução da Equação de Schrödinger, sujeita ao potencial de interação cou-


loumbiano  adequado ao átomo, fornece por solução  autoestados  de energia
descritos por autofunções e autovalores dos quais se derivam conclusões lógi-
cas em plenitude condizentes com a estrutura espectral e demais dados empi-
ricamente obtidos para o elemento.

• O modelo atômico, ou modelo atómico de Rutherford, é um modelo atômico


exibido pelo pesquisador Ernest Rutherford.

• Para montar sua teoria, Rutherford analisou resultados de seu experimento


que ficou conhecido como "experiência de Rutherford".

• Na física atômica, o átomo de Bohr é um sistema que representa o átomo como


um núcleo pequeno e carregado positivamente rodeado por elétrons em órbita
circular.

140
AUTOATIVIDADE

1 Mostre que v‘= v e b' = b.


FONTE: EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p. 129.
Disponível em: http://bit.ly/2U66b9j. Acesso em: 10 set. 2019

2 Calcule R, a distância de maior aproximação da partícula ao centro do núcleo


(a origem na Figura 13). A coordenada radial r será igual a R quando o ângulo
polar for ϕ
= (p − θ ) / 2 Substituindo esse ângulo em:
1 1 D
= senϕ+ 2 (cosϕ -1)
r b 2b
obtemos

1 1 p  D  p  
= sen  -θ  + 2 cos  2 -θ  -1
R b  2  2b    

FONTE: EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p.
129-130. Disponível em: https://www.academia.edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_
Resnick. Acesso em: 10 set. 2019

3 Calcule a energia de ligação do átomo de hidrogênio (a energia que liga o


elétron ao núcleo) a partir de

mZ 2 e4 1
E=- n = 1, 2, 3,...
(4p ∈ ) 2h n 2
2 2

FONTE: EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p.
141-142. Disponível em: https://www.academia.edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_
Resnick. Acesso em: 10 set. 2019

4 Estimar a temperatura de um gás contendo átomos de hidrogênio para o qual


serão observadas linhas da série de Balmer para o espectro de absorção.

FONTE: EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p. 145.
Disponível em: https://www.academia.edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_Resnick.
Acesso em: 10 set. 2019

141
142
UNIDADE 2
TÓPICO 3

PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS


PARTÍCULAS

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2 foi discutido sobre a física atômica. Ao longo de sua carreira,
Einstein realizou inúmeras contribuições para a física atômica, mas seu trabalho
combinado com outro físico, N. Bose, foi de extrema relevância para criar novas
perspectivas para a física atômica. A chamada condensação de Bose-Einstein, re-
levante para vários campos das ciências. A condensação de Bose-Einstein, ainda
é muito nova do ponto de vista experimental para que possamos saber que novas
superpropriedades ela deverá nos revelar. Por essa razão, este tópico é um dos
mais importantes para os próximos anos e, sem dúvida, constituiu-se numa das
maiores perspectivas de avanços para o campo da física atômica. Outro campo de
grande perspectiva é o de entender como esses átomos, nesse regime quântico,
interagem formando moléculas.

Em 1924, um aluno francês de pós-graduação, Louis de Broglie, sugeriu


em sua apresentação de doutorado que a dualidade onda-partícula, até então
certificado apenas no caso das ondas eletromagnéticas, era igualmente uma pro-
priedade da matéria e em particular dos elétrons. Esta sugestão era altamente
especulativa, já que não havia na época nenhum indício experimental do caráter
ondulatório dos elétrons ou de qualquer outra partícula. Como o novo pesquisa-
dor teria chegado a uma ideia visivelmente tão estranha? Na verdade, tratava-se
de um “lampejo", similar à “ideia fantástica" de Einstein que o levou ao princípio
de equivalência (TIPLER, LLEWELLYIN, 2006).

NOTA

Nas palavras do próprio Broglie (1924 apud TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 128):

Depois da Primeira Guerra Mundial, pensei muito a respeito


da teoria dos quanta e do dualismo onda-partícula... Foi então
que tive uma súbita inspiração. O dualismo onda-partícula de
Einstein era um fenômeno absolutamente geral, que se esten-
dia a toda a natureza.

143
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

“Como o universo é composto unicamente de matéria e radiação, a


hipótese de Broglie é um pressuposto fundamental à perspectiva da similitude
da natureza” (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 128).

Acompanhe posteriormente uma análise sobre a hipótese de Broglie. Boa


leitura!

2 A HIPÓTESE DE BROGLIE
Neste tópico vamos discutir sobre as propriedades ondulatórias das partí-
culas. Enfim, você, acadêmico, deve se perguntar o que a hipótese de Broglie tem
a ver com isso? Em mecânica quântica, uma onda de matéria, ou onda de Broglie,
é a onda (dualidade onda-partícula) de matéria. As relações de Broglie mostram
que o comprimento de onda é inversamente proporcional ao momento linear da
partícula, e que a frequência é diretamente proporcional à energia cinética da par-
tícula. Um aspecto que chamou a atenção de Broglie, foi o fato de que as regras de
quantização envolviam números inteiros.

Ora, sabia-se, desde muito tempo, que os números inteiros eram fun-
damentais em todos os ramos da física onde fenômenos ondulatórios
estavam presentes: elasticidade, acústica e ótica. Eles são necessários
para explicar a existência de ondas estacionárias, de interferência e
de ressonância. Seria, portanto, permitido pensar que a interpretação
das condições de quantização conduziria à introdução de um aspecto
ondulatório no comportamento dos elétrons atômicos. Dever-se-ia fa-
zer um esforço para atribuir ao elétron, e mais geralmente a todos os
corpúsculos, uma natureza dualística análoga àquela do fóton, para
dotá-los de um aspecto ondulatório e de um aspecto corpuscular in-
terligados pelo quantum de ação (a constante de Planck) (CHAVES,
2010, p. 61-62).

Maurice de Broglie foi um físico prático francês que, desde o princípio,


confirmou o ponto de vista de Compton em analogia à natureza corpuscular da
radiação. Seus testes e argumentações em relação às questões filosóficas da física
na época deslumbraram tanto a seu irmão Louis, que este permutou de carreira,
indo da história para a física. Em sua tese de doutorado, apresentada em 1924 à
Faculdade de Ciência da Universidade de Paris, Louis de Broglie propôs a exis-
tência de ondas de matéria. O alcance e a originalidade de sua tese foram reco-
nhecidos de imediato, mas, devido à aparente falta de evidência experimental,
não se considerou que as ideias de Broglie tivessem alguma realidade física. Foi
Albert Einstein quem observou sua importância e validez, e por sua vez, apelou a
importância de outros físicos para elas. Cinco anos mais tarde, de Broglie obteve
o Prêmio Nobel em Física, tendo estado suas ideias dramaticamente confirmadas
por experimentações (EISBERG; RESNICK, 1994).

A teoria de Broglie era de que o conduta dual, isto é, onda-partícula da


radiação também se usava à matéria. Então, como um fóton tem confrontada a
ele uma onda luminosa que comanda seu movimento, outrossim uma partícula

144
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

material (por exemplo, um elétron) tem congruente a ela uma onda de matéria
que comanda seu movimento. Como o universo é inteiramente composto por ma-
téria e radiação, a sugestão de Broglie é essencialmente uma afirmação a respei-
to de uma grande simetria na natureza (EISBERG; RESNICK, 1994). De fato, ele
sugeriu que as condições ondulatórias da matéria fossem pertinentes com seus
aspectos corpusculares justamente da mesma forma quantitativa com que essas
condições são pautadas para a radiação. De acordo com de Broglie, tanto para a
matéria como para a radiação, a energia total E está concernente à frequência v da
onda concatenada ao seu movimento pela equação:

E=hv (2.56)

O momento p é referente com o comprimento de onda λ da onda


correlacionada pela equação:

p=h/ l (2.57)

Agora, convicções próprias a partículas, energia E e momento p estão per-


tinentes por meio da constante de Planck h aos conceitos respectivos a ondas,
frequência v e comprimento de onda λ (EISBERG; RESNICK, 1994).

E
IMPORTANT

A equação (2.57), na forma a seguir, é chamada relação de Broglie:

l = h/p (2.58)

Ela prevê o comprimento de onda de Broglie λ de uma onda de matéria associada ao


movimento de uma partícula material que tem um momento p.

A natureza ondulatória da propagação da luz não é descrita por experiên-


cias em ótica geométrica, porque as características determinantes dos instrumen-
tos utilizados são bem grandes se comparadas ao comprimento de onda da luz.
Se a representa uma dimensão característica de um equipamento ótico (por exem-
plo, a abertura de uma lente, espelho ou fenda) e λ é o comprimento de onda da
luz que atravessa o equipamento, estamos no limite da ótica geométrica quando
λ/a →∞. Observe-se que a ótica geométrica implica a propagação de raios, o que
é similar a caminho das partículas clássicas (EISBERG; RESNICK, 1994).

No caso, a extensão característica a de um dispositivo ótico se toma com-


parável ou menor do que o comprimento de onda λ da luz que o penetra, trans-
145
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

pomos no poder da ótica física. Neste caso, quando λ/a >1, o ângulo de difração
θ = λ/a é suficientemente grande para que efeitos de difração sejam facilmente
observados e a natureza ondulatória da propagação da luz se evidencia. Para
observar aspectos ondulatórios no movimento da matéria, portanto, precisamos
de sistemas com aberturas ou obstáculos de dimensões convenientemente peque-
nas. Os dispositivos mais convenientes para este objetivo, aos quais os experi-
mentadores compreendiam ascensão na época de Broglie empregavam o espaça-
mento entre planos adjacentes de átomos em um sólido no qual a ≅ 1Â (EISBERG;
RESNICK, 1994).

Foi Elsasser quem mostrou, em 1926, que a natureza ondulatória da matéria


poderia ser testada do mesmo modo que a natureza ondulatória dos raios X, havia
sido, ou seja, fazendo-se com que um feixe de elétrons de energia ideal atinja sobre
um sólido cristalino. Os átomos do cristal agem como um arranjo tridimensional de
centros de difração para a onda eletrônica, espalhando fortemente os elétrons em
certas direções características, exatamente como na difração de raios X. Esta ideia
foi concordada por experimentos praticadas por Davisson e Germer nos Estados
Unidos e por Thomson na Escócia (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 18 revela o equipamento de Davisson e Germer. Elétrons do fila-


mento F são arrebatados por uma diferença de potencial variável V. Posteriormen-
te, do espalhamento pelo cristal C, eles são arrecadados pelo detector D (EISBERG;
RESNICK, 1994).

FIGURA 18 – EQUIPAMENTO DE DAVISSON E GERMER

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 89)

A Figura 18 indica esquematicamente o dispositivo de Davisson e Ger-


mer. Elétrons emitidos por um filamento aquecido são acelerados por meio de

146
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

uma diferença de potencial V e sobem do “canhão de elétrons” G com energia


cinética eV. O feixe incide segundo a normal sobre um monocristal de níquel
em C. O detector D é colocado num ângulo particular θ e para vários valores do
potencial acelerador V são feitas leituras da intensidade do feixe espalhado (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 19 à esquerda: a corrente do coletor no detector D da Figura 19


em função da energia cinética dos elétrons incidentes, expondo um máximo de
difração. A Figura 19, marca um grupo de dimensões para as quais θ = 50°. Se um
valor apreciavelmente menor ou maior for usado, o máximo de difração desapa-
rece. À direita: a corrente como função do ângulo no detector para o valor fixado
da energia cinética dos elétrons de 54 eV (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 19 – CORRENTE NO COLETOR

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 90)

A Figura 19, por exemplo, indica que um feixe de elétrons estreitamente


espalhado é localizado em θ = 50° com V= 54 V. A presença deste pico indica
qualitativamente a legitimidade do princípio de Broglie, porque ele só é capaz
ser exposto como uma interferência construtiva de ondas espalhadas pelo arranjo
periódico dos átomos nos planos do cristal. O fenômeno é exatamente análogo
à conhecida “reflexão de Bragg” que ocorre no espalhamento de raios X pelos
planos atômicos de um cristal. Não pode ser entendido com base no movimento
clássico de partículas, mas apenas com base no movimento ondulatório. Partí-
culas clássicas não podem exibir interferência, mas ondas sim! A interferência
que ocorre aqui não é entre ondas associadas a elétrons distintos. Trata-se de
interferência entre partes diferentes da onda associada a um único elétron que foi
espalhado por várias regiões do cristal. Isto é, capaz de ser expresso usando-se
um feixe de elétrons com uma intensidade tão baixa que os elétrons cruzam o
aparato um a um; observa-se que a imagem do espalhamento dos elétrons fica
similar (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 20, ao alto: o feixe apertadamente difratado em θ=50° e V=54V


emerge do espalhamento ondulatório pela família de planos indicados isolados
por um espaço d = 0,91 Â (EISBERG; RESNICK, 1994).
147
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

FIGURA 20 – FEIXE INCIDENTE E FEIXE ESPALHADO

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 90)

O ângulo de Bragg é φ= 65°. Para facilitar, a refração da onda espalhada,


caso ela deixe o cristal, não é indicada. Embaixo: Derivação da relação de Bragg,
mostrando apenas dois planos atômicos e dois raios dos feixes incidentes e espa-
lhados. Se um número inteiro de comprimentos de onda nλ se ajusta exatamente
na distância 2l através das frentes de onda incidente e espalhada, medida confor-

148
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

me o raio inferior, então a parcela dos dois raios para a frente da onda espalhada
encontrar-se-á em fase, e um auge de difração será atingido para o ângulo φ (EIS-
BERG; RESNICK, 1994). Conforme:

l/d =cos (90° - ϕ)=sen ϕ,

Dispomos:

2l=2d sen ϕ,

E logo atingimos a relação de Bragg:

nλ = 2 d sen ϕ.

O total de difração de primeira classe (n = 1) é comumente mais intensivo


(EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 20 expõe a origem de uma reflexão de Bragg, respeitando a rela-


ção de Bragg, deduzida a partir de:

nl = 2d sen ϕ (2.59)

Com as circunstâncias da Figura 20, pode-se exibir que o espaçamento


interplanar efetivo d, atingido por espalhamento de raios X mediante o mesmo
cristal, é 0,91 Â. Como θ = 50°, segue-se que:

ϕ = 900 - 500/2 = 650

O comprimento de onda determinado a partir de (2.21), considerando n = 1, é:

o o
nl=2d sen ϕ=2x0,91 Å Å
A x sen 65º= 1,65 A (2.60)

O comprimento de onda de Broglie para elétrons de 54 eV, achado por


meio de (2.20), é:

o
l=h/p=6,6x10 A
-34 -24 (2.61)
j-s/a,0x10 kg-m/s=1,65 Å

Esta consonância significante prova quantitativamente a relação de


Broglie entre λ,h e p (EISBERG; RESNICK, 1994).

A largura do pico notado na Figura 19 é ainda indubitavelmente justificável,


uma vez que elétrons de baixa energia não podem penetrar profundamente no

149
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

interior do cristal, de forma que somente um pequeno número de planos atômicos


auxilia para a onda difratada. Portanto, o máximo da difração não é pronunciado.
Todos os resultados experimentais concordavam muito bem, tanto qualitativa
quanto quantitativamente, com as previsões de Broglie, e cediam sinais claros
de que as partículas materiais se movem de acordo com as leis do movimento
ondulatório (EISBERG; RESNICK, 1994).

Em 1927, G. P. Thomson indicou a difração de feixes de elétrons ao passar


por meio de filmes finos e corroborou especificadamente de modo independen-
te, a relação de Broglie λ= h/p. Ao passo que a tentativa de Davisson-Germer
é similar à de Laue para a difração de raios X (reflexão em um arranjo regu-
lar de planos atômicos em um grande monocristal), a experiência de Thomson é
semelhante ao método de Debye-Hull-Scherrer de difração de raios X por uma
substância pulverizada (transmissão através de um agregado de cristais muito
pequenos orientados ao acaso). Thomson usou elétrons de alta energia, porque
são muito mais penetrantes, de forma que centenas de planos atômicos apoiam
para a onda difratada. A imagem de difração sequente tem uma estrutura bem
declarada (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 21, ao alto: o arranjo experimental para a difração de Debye-S-


cherrer de raios X ou elétrons por um material policristalino. Embaixo à esquer-
da: a figura de difração de Debye-Scherrer de raios X difratados por cristais de
óxido de zireônio. Embaixo à direita: A figura de difração de Debye-Scherrer de
elétrons difratados por cristais de ouro (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 21 – FEIXE INCIDENTE DE RAIOS X SOBRE UMA CHAPA FOTOGRÁFICA

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 91)

150
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

Na Figura 21, apresentamos para analogia uma figura de difração de


raios X e uma figura de difração de elétrons por substâncias policristalinas (subs-
tâncias nas quais um número grande de cristais microscópicos está disposto ao
acaso) (EISBERG; RESNICK, 1994).

É interessante notar que J. J. Thomson, que em 1897 descobriu o elétron


(por ele caracterizado como uma partícula que tinha uma razão entre
carga e massa definida) e recebeu o Prêmio Nobel em 1906, era o pai de
G. P. Thomson que em 1927 descobriu experimentalmente a difração do
elétron e recebeu (juntamente com Davisson) o Prêmio Nobel em 1937.
A respeito disso, Max Jammer escreve: “Pode-se ficar inclinado a dizer
que Thomson, o pai, recebeu o Prêmio Nobel por ter mostrado que o elé-
tron é uma partícula, e que Thomson, o filho, o recebeu por ter mostrado
que o elétron é uma onda” (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 92).

Não somente elétrons, mas todos os objetos materiais, carregados ou não,


sugerem propriedades ondulatórias em seu movimento, caso estejam sob as cir-
cunstâncias da ótica física. Por exemplo, Èstermarm, Stem e Frisch realizaram expe-
riências de difração de feixes moleculares de hidrogênio e feixes atômicos de hélio
por um cristal de fluoreto de lítio; Fermi, Marshall e Zinn mostraram fenômenos de
interferência e difração para nêutrons lentos (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 22, ao alto: a figura de Laue da difração de raios X por um mono-


cristal de cloreto de sódio. Embaixo: a figura de Laue de difração de nêutrons de um
reator nuclear por um monocristal de cloreto de sódio (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 22 – FIGURA DE LAUE

FONTE: Eisberg e Resnick (1994, p. 93)

Na Figura 22 é apresentada uma imagem de difração de nêutrons difra-


tados por um cristal de cloreto de sódio. Foi construído até mesmo um interfe-
rômetro operando com feixes de elétrons. A existência de ondas de matéria está,
portanto, bem estabelecida (EISBERG; RESNICK, 1994).

151
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

É intrigante constatar que se admite considerar comprimentos de onda


de Broglie relativamente grandes para lograr sinais experimentais da natureza
ondulatória da matéria. Tanto para grandes como para pequenos comprimentos
de onda, a matéria e a radiação difundem os dois elementos: o ondulatório e o
corpuscular (EISBERG; RESNICK, 1994).

Os aspectos corpusculares são salientados quando se estuda a emissão


ou absorção e os aspectos ondulatórios são salientados quando se estuda o mo-
vimento através de um sistema. Mas os aspectos ondulatórios do movimento se
tomam mais dificilmente observáveis quando os comprimentos de onda ficam
menores. Mais uma vez vemos o papel fundamental desempenhado pela cons-
tante de Planck h (EISBERG; RESNICK, 1994).

Se h = 0 então em λ = h/p obteríamos sempre λ = 0.

Todas as partículas materiais teriam então um comprimento de onda me-


nor do que qualquer dimensão característica e nunca poderíamos observar efeitos
de difração. Embora o valor de h absolutamente não seja zero, ele é pequeno. E
é exatamente pelo fato de ser pequeno que a existência de ondas de matéria no
mundo material fica disfarçada, pois deveríamos ter momentos muito pequenos
para que obtivéssemos comprimentos de onda mensuráveis. Para partículas ma-
croscópicas usuais, a massa é tão grande que o momento é sempre grande o su-
ficiente para que o comprimento de onda de Broglie seja muito pequeno, ficando
além dos limites em que pode ser detectado experimentalmente e a mecânica
clássica predomina. No mundo microscópico as massas das partículas materiais
são tão pequenas que seus momentos são pequenos mesmo se suas velocidades
são grandes (EISBERG; RESNICK, 1994).

E
IMPORTANT

Por conseguinte, os comprimentos de onda de Broglie são suficientemente


grandes para se valerem análogos às dimensões particulares do sistema considerado, tal
como um átomo, e as propriedades ondulatórias são reconhecíveis empiricamente em seus
movimentos. Mas não devemos nos esquecer que, tanto para a radiação como para a maté-
ria, em suas interações (por exemplo, quando são detectadas), as propriedades corpusculares
são preponderantes, mesmo para grandes comprimentos de onda (EISBERG; RESNICK, 1994).

Portanto, o comportamento como ondas de partículas de momentos pe-


quenos é análogo àquele da luz. Como, por exemplo, microscópios eletrônicos
usam elétrons, ao invés de luz, para observar objetos muito pequenos. Dado que
elétrons tipicamente tem mais momento do que fótons, seu comprimento de onda
de Broglie irá ser menor, resultando em melhor resolução espacial.

152
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

Acompanhe, a seguir, um estudo sobre a dualidade onda-partícula. A ideia


da dualidade teve origem em um debate sobre a natureza da luz e da matéria, que
remonta ao século XVII, quando Christian Huygens e Isaac Newton propuseram
teorias concorrentes para descrever a luz: a luz foi pensada tanto para consis-
tir de ondas (Huygens) ou de partículas (Newton). A partir do trabalho de Max
Planck, Albert Einstein, Louis de Broglie, Arthur Compton, Niels Bohr e muitos
outros, a teoria científica atual sustenta que todas as partículas também têm uma
natureza de onda (e vice-versa). Este fenômeno foi verificado não somente para
partículas elementares, mas também para as partículas compostas, como átomos
e até mesmo moléculas.  Boa leitura!

3 A DUALIDADE PARTÍCULA-ONDA
No subtópico anterior foi estudado a hipótese de Broglie. Mas afinal qual
é a relação entre a hipótese de Broglie com a dualidade partícula onda?

Com base em análises e experiências, verificou-se que a luz apresenta


um comportamento dual: ora como partícula, ora como onda. Em 1924,
o físico francês Louis de Broglie lançou a hipótese de que, se a luz apre-
senta natureza dual, uma partícula também apresentaria características
ondulatórias. Broglie procurou associar a natureza dual da luz com o
comportamento do elétron e afirmou que “a todo elétron em movimen-
to está associada uma onda característica”, postulado que princípio da
dualidade ou princípio de Broglie (CARDOSO, 2019, s.p.).

A teoria de Broglie foi bastante razoável e apresentava total consistência


com a teoria de Bohr.

Na física clássica, a energia é carregada ou por ondas ou por partículas. Os


físicos clássicos repararam ondas de água movendo energia mediante a superfície
da água, ou balas transferindo energia do revólver para o alvo. A partir dessas expe-
riências, eles construíram um modelo ondulatório para certos fenômenos macros-
cópicos e um modelo corpuscular para outros, e de forma bem natural estenderam
esses modelos para regiões visualmente menos acessíveis. Assim, eles explicaram
a propagação do som em termos de um modelo ondulatório e pressões de gases
em termos de um modelo corpuscular (teoria cinética). O caso de terem ganhado
sucesso os envolveu a contar que todos os entes fossem ou partículas ou ondas. Per-
maneceram estando bem-sucedidos até o início do século XX com as utilidades da
teoria ondulatória de Maxwell à radiação e a descoberta de partículas elementares
de matéria, tais como o nêutron e o pósitron (EISBERG; RESNICK, 1994).

Os físicos clássicos seguiam assim, muito despreparados para adiar que


para entender a radiação demandaria investir a um modelo corpuscular em umas
circunstâncias como no efeito Compton e a um modelo ondulatório em demais
como na difração de raios X. Talvez mais notável seja o fato de que essa mesma
dualidade onda-partícula se aplica tanto à matéria quanto à radiação. A razão
entre a carga e a massa do elétron e o rastro de ionização que ele deixa na matéria

153
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

(uma sequência de colisões localizadas) sugerem um modelo corpuscular, mas a


difração de elétrons sugere um modelo ondulatório. Os físicos sabem agora que
são compelidos a usar ambos os modelos para o mesmo ente. É bem fundamental
descobrir, entretanto, que em qualquer medida feita somente se usa um modelo
– os dois modelos não são convenientes sob as mesmas circunstâncias. "Quando
o ente é localizado por algum tipo de interação, ele age como uma partícula no
sentido que é localizado; caso esteja se movendo, atua como uma onda, no sen-
tido que se notam fenômenos de interferência, notoriamente uma onda dispõe
extensão, e não é descoberta (EISBERG; RESNICK, 1994).

Niels Bohr sintetizou o contexto em seu princípio da complementarida-


de. Os modelos corpuscular e ondulatório são complementares; se uma medi-
da prova o caráter ondulatório da radiação ou da matéria, então é impossível
demonstrar a categoria corpuscular na similar medida, e vice-versa. A escolha
de que modelo usar é determinada pela natureza da medida. Além disso, nossa
compreensão da radiação ou da matéria está incompleta, a menos que levemos
em consideração tanto as medidas que revelem os aspectos ondulatórios quanto
as que revelem os aspectos corpusculares. Radiação e matéria não são meramente
ondas ou unicamente partículas. Um modelo mais geral e, para a mentalidade
clássica, mais complicada, é fundamental para representar seu comportamento,
ainda que em circunstâncias extremas possa ser diligente um modelo ondulatório
simples, ou um modelo corpuscular simples (EISBERG; RESNICK, 1994).

A aliança entre os modelos corpuscular e ondulatório é feita por meio


de uma perspectiva probabilística da dualidade onda-partícula. Na situação da
radiação, foi Einstein quem ligou as teorias ondulatória e corpuscular e a seguir,
Max Bom colocou um contexto análogo para unificar as teorias ondulatória e cor-
puscular da matéria (EISBERG; RESNICK, 1994).

No modelo ondulatório a intensidade da radiação, I, é correspondente a


& , no qual &2 é o valor médio, sobre um período, do quadrado do campo elétrico
2

da onda. No modelo do fóton, ou corpuscular, a intensidade da radiação é escrita


I = Nhv, em que N é o número médio de fótons por unidade de tempo que cru-
zam uma unidade de área perpendicular à direção de propagação. Foi Einstein
quem sugeriu que &2, que na teoria eletromagnética é correspondente à energia
radiante tida em uma unidade de volume, toleraria ser exposto como um modelo
do número médio de fótons por unidade de volume (EISBERG; RESNICK, 1994).

Lembremos que Einstein instaurou uma granulosidade para a radiação, au-


sentando-se a compreensão contínua de Maxwell. Isto leva a uma compreensão es-
tatística da intensidade. Nessa compreensão uma fonte pontual de radiação emite
fótons ao acaso em todas as direções. O número médio de fótons que cruza uma uni-
dade de área vai diminuir com o aumento da distância da fonte à área. Isto se deve
ao fato de que os fótons se espalham sobre uma esfera de área tanto maior quanto
mais longe eles estiverem da fonte. Como a área de uma esfera é proporcional ao
quadrado de seu raio, obtemos, em média, uma lei de inverso do quadrado para a
intensidade, assim como no modelo ondulatório (EISBERG; RESNICK, 1994).

154
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

No modelo ondulatório, imaginamos que ondas esféricas se espalham a par-


tir da fonte e que a intensidade cai de forma inversamente proporcional ao quadrado
da distância à fonte. Aqui, essas ondas, cuja intensidade é capaz de ser medida por
&2, podem ser vistas como ondas condutoras dos fótons; as ondas em si mesmas não
têm energia — há somente fótons — no entanto, são uma grandeza de que a inten-
sidade compreende o número médio de fótons por unidade de volume (EISBERG;
RESNICK, 1994).

Empregamos a palavra “média” porque os processos de emissão são de na-


tureza estatística. Não informamos precisamente quantos fótons transpassam uma
unidade de área em uma unidade de tempo, apontamos somente seu número médio;
o número preciso pode oscilar no tempo e no espaço, tal como na teoria cinética dos
gases há mudanças em tomo de um valor médio de muitas quantidades (EISBERG;
RESNICK, 1994). Podemos denotar de forma definitiva, no entanto, que a perspecti-
va de que um fóton cruze uma unidade de área a 3 m de longitude da fonte é precisa-
mente um nono da probabilidade de que um fóton corte uma unidade de área a 1 m
da fonte. Na fórmula I = Nhv, N é um valor médio e é uma medida da perspectiva de
que um fóton cruze uma unidade de área em uma unidade de tempo. Se coincidir-
mos a expressão ondulatória à expressão corpuscular alcançaremos:

I=(1/ µ0c )&2 =hvN (2.62)

De forma que &2 é proporcional a N. A interpretação de Einstein de &2


como uma medida probabilística da densidade de fótons então se toma clara. Pre-
vemos que, tal como sucede na teoria cinética, as flutuações em torno da média
se usem mais observáveis a baixas intensidades do que a altas, de forma que as
baixas intensidades, as manifestações quânticas, divirjam mais dramaticamente a
compreensão contínua dos clássicos (EISBERG; RESNICK, 1994).

De molde similar à compreensão de Einstein da radiação, Max Bom su-


geriu uma união similar para a dualidade onda-partícula da matéria. Ela surgiu
muito anos depois de Schroedinger ter desenvolvido sua generalização do postu-
lado de Broglie, a chamada mecânica quântica (EISBERG; RESNICK, 1994).

Tendemos concatenar mais do que unicamente comprimento de onda e


frequência às ondas de matéria. Fazemos isto introduzindo uma função que re-
presenta a onda de Broglie, chamada função de onda 'P. Para partículas que se
movem na direção x com um valor preciso do momento e da energia, por exem-
plo, a função de onda pode ser escrita como uma função senoidal simples de
amplitude A, conforme:

x 
Ψ(x,t)=A sen 2p  -vt  (2.63)
l 

155
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Isto é, o semelhante de:

x 
ε (x,t) =A sen 2p  -vt  (2.64)
l 

Para o campo elétrico de uma onda eletromagnética senoidal de compri-


mento de onda λ, e frequência v, movimentando-se no sentido positivo do eixo x.
A magnitude Ψ 2 vai para as ondas de matéria desempenhar um papel análogo ao
2
desempenhado por & para as ondas de radiação. Essa grandeza, a média do qua-
drado da função de onda para ondas de matéria, é uma medida da probabilidade
de encontrar uma partícula em uma unidade de volume em um dado ponto e ins-
tante de tempo (EISBERG; RESNICK, 1994). Assim como & é uma função de espaço
e do tempo, também o é Ѱ; e, como vamos ver mais tarde, assim como & satisfaz à
equação de onda, também a satisfaz Ѱ (à equação de Schroedinger). A grandeza &
é uma onda (de radiação) associada a um fóton, e Ѱ é uma onda (de matéria) asso-
ciada a uma partícula material (EISBERG; RESNICK, 1994).

De acordo com a interpretação de Neil Born (1985-1962), toda a evolução


dos eventos é determinada pelas leis da probabilidade; a um estado no espaço cor-
responde, uma probabilidade definida, que é dada pela onda de Broglie associada
ao estado. Um processo mecânico é, portanto, acompanhado por um processo on-
dulatório, a onda ‘condutora`, descrita pela equação de Schroedinger, cujo signifi-
cado é o de dar a probabilidade de um curso definido do processo mecânico. Se,
por exemplo, a amplitude da onda condutora for zero num certo ponto do espaço,
isto significa que a probabilidade de encontrarmos o elétron nesse ponto é pratica-
mente nula (EISBERG; RESNICK, 1994).

Assim como, na interpretação de Einstein, da radiação não especificamos


a localização exata de um fóton num dado instante, mas ao invés disso especifi-
2
camos, por meio de & , a probabilidade de encontrar um fóton numa certa região
num dado instante, também na interpretação de Born não especificamos a locali-
zação exata de uma partícula em um certo instante, mas em vez disso, especifica-
mos, por meio de probabilidade de encontrar uma partícula em um dado ponto em
um dado instante (EISBERG; RESNICK, 1994). Como estamos habituados a somar
funções de onda “(&1+&2=&)” para duas ondas eletromagnéticas superpostas, cuja
intensidade resultante é dada por &2 também vamos somar funções de onda para
duas ondas de matéria superpostas (Ѱ1+Ѱ2 = Ѱ) cuja intensidade resultante é dada
por Ѱ2. Isto é, um princípio de superposição se aplica tanto à matéria quanto à radia-
ção. Isto está de acordo com o fato experimental notável de que a matéria exibe
propriedades de interferência e difração, um fato que não pode ser entendido com
base nas ideias da mecânica clássica. Devido ao fato de que ondas podem se super-
puser tanto construtivamente (em fase) quanto destrutivamente (fora de fase), duas
ondas podem se combinar ou para darem uma onda resultante de grande intensi-
dade ou para se cancelarem, mas duas partículas clássicas de matéria não podem
se combinar de forma a se cancelarem (EISBERG; RESNICK, 1994).

156
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

O aluno pode conceder a lógica dessa fusão das concepções de onda e par-
tícula, mas mesmo assim, indagar se faz essencial uma compreensão estatística ou
probabilística. Foram Heisenberg e Bohr quem, em 1927, pela primeira vez revela-
ram quão relevantes era o conceito de probabilidade para a união das descrições
ondulatória e corpuscular da matéria e radiação (EISBERG; RESNICK, 1994).

NOTA

No texto acima contém trechos subtraídos do livro: EISBERG, R.; RESNICK, R.


Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p. 94-97. Como dica para você apro-
fundar seu conhecimento leia o material na íntegra. Disponível em:https://www.academia.
edu/11688163/Fisica_Quantica_-_Eisberg_and_Resnick. Acesso em: 10 set. 2019.

Podemos concluir que:

[...] a dualidade onda-partícula foi substituída por outra dualidade


mais sutil e não resolvida, marcada por Roger Penrose: a dualidade
entre a evolução determinista (como uma função do comprimento de
onda) e evolução aleatória (colapso da função de onda) pela qual a
função de onda sofre uma mudança abrupta, irreversível e não-deter-
minística. Essa dualidade é frequentemente chamada interpretações
da mecânica quântica. A maneira de conceituar o processo de medição
é uma das grandes questões em aberto da mecânica quântica. A in-
terpretação padrão é a Interpretação de Copenhague, porém, a teoria
da decorrência quântica também é considerada cada vez mais pela co-
munidade científica (KENOBI, 2017, s.p.).

4 INTERPRETAÇÃO PROBABILÍSTICA DA FUNÇÃO DE ONDA


Qual a relação da partícula com a função de onda? A função de onda atua
apenas como um guia para conduzir a partícula, que no fundo nunca deixa de ser
exatamente isso: uma partícula. Com isso, mesmo que não haja observação ou me-
dição, pode-se concluir que a partícula tem uma posição definida a cada instante.

Discernindo Ψ =(x) com a função de onda de Schroedinger das ondas de


2

Broglie, a (2.65) demanda que a interpretação física de Ψ =(x) é como uma ampli-
2

tude de probabilidade, ou de acordo que:

P (x) d x=|Ψ(x)|2 d x (2.65)

É a probabilidade de encontrar a partícula entre x e x + dx (detecção ao


longo da direção x descrita acima). Essa perspectiva física foi argumentada por
Max Bom em 1928 e valeu-lhe o prêmio Nobel em 1954 (NUSSENZVEIG, 1998).

157
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

O caso de que amplitudes de probabilidade podem interceder e propagar-


se como ondas é bastante peculiar. A interferência encontrada no experimento de
Young com elétrons, por exemplo, é incompatível com a ideia de que o elétron
tem de passar pela fenda 1 ou pela fenda 2 (NUSSENZVEIG, 1998).

Para investigar isso essencialmente julguemos uma variante (altamente


esquematizada) do ensaio relatado em que verificaremos por qual das fendas o
elétron passa (NUSSENZVEIG, 1998).

FIGURA 23 – OBSERVAÇÃO DA FENDA PELA QUAL UM ELÉTRON PASSA

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 288)

Para isso, iluminaremos as fendas com uma “lâmpada” L e assistiremos


luz espalhada pelo elétron (Figura 23) por momento de sua passagem. Como par-
tícula carregada, o elétron espalha a luz, e podemos verificar (usando um circuito
de coincidências) se o “flash”, devido a sua passagem, provém da fenda 1 ou da
fenda 2. Para devolver o reconhecimento capaz, podemos reduzir a intensida-
de do feixe de elétrons a um valor tão baixo que passa somente um elétron de
cada vez. Por outro lado, é preciso que a luz seja abastadamente forte para que
achemos veracidade de que todos os elétrons são examinados (são reunidos de
“flashes”) (NUSSENZVEIG, 1998).

Se concebermos a experimentação, nessas circunstâncias, investigaremos que


os elétrons que apontam pela fenda 1 têm uma distribuição de probabilidade P1(x)
(como seria de se esperar), e os que passam por 2 têm P2. Todos os “flashes” de luz.
Provêm ou de 1 ou de 2; nunca se observarão “flashes” vindo ao mesmo tempo de 1
e 2 devidos à passagem de um elétron. E quanto vale P12 (x)? Como as observações
estiveram feitas com as duas fendas abertas e todos os elétrons foram examinados
somente agrupando-se segundo a fenda pela qual apontam consistirá em:

158
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

P12 (x) =|P1 (x)+P2 (x) (2.66)

Ou seja, ao virmos por qual fenda o elétron passa, anulamos a interferência.

Por imediato, a forma pela qual se faz a observação na escala microscópi-


ca (atômica ou subatômica) pode influenciar completamente os resultados (NUS-
SENZVEIG, 1998).

Na física clássica, o sistema de investigação também interfere nos resulta-


dos, mas esta perturbação pode ser levada em conta e consegue ser limitada em
princípio, a um grau eventualmente pequeno (NUSSENZVEIG, 1998).

No presente exemplo, a perturbação provém do espalhamento de luz pelo


elétron. Não será possível também reduzir o seu efeito? Há dois parâmetros que
podemos usar como controles para isso: a intensidade da luz e o seu comprimen-
to de onda (supondo-a monocromática). Classicamente, diminuir a intensidade
equivaleria a diminuir a interação com os elétrons. Entretanto, a dualidade onda-
-partícula também se aplica à luz: ela é formada de fótons, e reduzir a intensidade
equivale a diminuir o número de fótons incidentes por unidade de tempo e de
área, sem alterar a interação de cada fóton com o elétron (NUSSENZVEIG, 1998).

O resultado é que diminui a probabilidade de que o elétron encontre um


fóton ao passar, ou seja, a probabilidade de espalhamento torna-se < 1 (antes, su-
púnhamos que era = 1: havia um fóton espalhado na passagem de cada elétron)
(NUSSENZVEIG, 1998).

Existirá dois tipos de elétrons nas observações: os de “tipo A”, cuja detec-
ção está correlacionada à respeito de um fóton espalhado com probabilidade P1
(x) para os que passam por 1 e P2(X) por 2, e os de “tipo B”, que foram detectados
sem espalhamento de luz associado, de forma que não podemos dizer se passa-
ram por 1 ou por 2 (NUSSENZVEIG, 1998).

Para os elétrons de tipo A, a disposição de probabilidade segue sendo dada


pela (2.66). Mas para os elétrons do tipo B, surge o termo de interferência, ou seja, só
interferem as amplitudes de probabilidade relacionadas aos elétrons para os quais
não se pode distinguir porque pela fenda passaram (NUSSENZVEIG, 1998).

Podemos, entretanto, reduzir a perturbação correspondente ao espalhamento


de luz, mantendo a sua intensidade suficientemente grande para assegurar que todos
os elétrons que passam dão origem a um “flash" de luz espalhada. Basta para isso bai-
xar a energia de cada fóton, o que, pela relação de Einstein E = hv, equivale a diminuir
v, ou seja, aumentar o comprimento de onda λ da luz (NUSSENZVEIG, 1998).

Identifica-se que, para λ suficientemente grande, ressurgem os resultados


de interferência, mesmo com luz de intensidade superior, isto acontece quando
λ é da ordem da distância d entre as duas fendas. Mas, devido às propriedades

159
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

ondulatórias da luz (poder separador), não podemos localizar uma partícula,


usando luz de comprimento de onda λ, com precisão melhor do que λ. Portanto,
nessa situação, não podemos mais prever se a luz espalhada provém da fenda 1
ou da fenda 2! (NUSSENZVEIG, 1998).

NOTA

O resultado dessa “conspiração da Natureza” é que amplitudes de probabilidade


relacionadas as duas possibilidades diferentes (fenda 1 ou fenda 2) interferem quando não
é possível saber qual das duas foi seguida, e não interferem quando é possível distingui-las.
Caminhos indistinguíveis interferem (NUSSENZVEIG, 1998).

Vemos então que, na escala quântica, o sistema de investigação pode ter


uma importância decisiva no resultado visto. Segundo foi visto por Paul Dirac
(1902-1984), isso concede descrever pela primeira vez na física uma escala abso-
luta de tamanho, em que “grande” e “pequeno” deixam de serem somente con-
cepções relativas. A escala atômica e subatômica é pequena no sentido absoluto
de que nela se encontram limitações absolutas às possibilidades de observação:
neste intento, os objetos atômicos são “frágeis” e é preciso descrever de que perfil
estão estando analisados (NUSSENZVEIG, 1998).

A medida dessa escala é inserida por meio da constante de Planck h: uma


ação é “grande” caso é » h, status fundamental para que nos aproximemos do
nível macroscópico (NUSSENZVEIG, 1998).

Conseguiríamos investigar por exemplo, por que não se assistem interfe-


rências de Young com balas de metralhadora, uma vez que estas também carecem
ser descritíveis pela física quântica (NUSSENZVEIG, 1998).

Acharíamos de defender para começar, que é potencial criar um feixe mo-


noenergético de balas, todas com a similar velocidade v. Qual seria o comprimen-
to de onda de Broglie correspondente? Se tomarmos m = 10 g e v = 500 m/s:

h 6,63x10 -34
l= = -2 2
m~1,3x10 -34 m (2.67)
mv 10 x5x10
De forma que as oscilações da imagem de interferência — se fosse aceitável
produzi-las — ocorreriam numa escala completamente inatingível à resolução de
todo detector imaginável, estando logo inobserváveis (NUSSENZVEIG, 1998).

160
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

DICAS

O texto acima contém trechos subtraídos do livro: NUSSENZVEIG, H. M. Curso


de física básica 4: ótica, relatividade, física quântica. São Paulo: Blucher, 1998. p. 287-291.
Como dica para você aprofundar seu conhecimento, leia o material na íntegra. Disponível
em: http://bit.ly/34hP4D0. Acesso em: 13 ago. 2019

E para que serve a interpretação probabilística da função de onda?

A função de onda é a descrição mais completa possível de um siste-


ma regido pela mecânica quântica. Se na mecânica clássica a descrição
completa de um sistema consistia na tarefa de encontrar a posição e a
velocidade de todas as partículas e, com esta descrição, ser possível
prever todos os movimentos futuros e passados do sistema, na mecâ-
nica quântica não se pode descrever todas as grandezas desejadas com
a mesma certeza (ver Princípio da incerteza de Heisenberg). De acordo
com a mecânica quântica, a descrição do sistema termina ao nível da
função de onda, com suas probabilidades de posição. Por isso, depois
do nascimento da mecânica quântica, a ciência alcançou um patamar
que encerra o contraste entre o determinismo e o indeterminismo e,
sob os auspícios da ciência contemporânea, temos a função de onda,
que está na fronteira entre o determinismo e o indeterminismo (ME-
CÂNICA QUANTICA, 2010, p. 44).

Acompanhe, a seguir, uma explanação sobre operadores. Bons estudos!

5 OPERADORES
No subtópico anterior estudamos a função probabilística da função de
onda. Qual a relação entre função probabilística da função de onda com os opera-
dores? A função de onda é um valor complexo, apenas a sua fase relativa e a sua
relativa magnitude podem ser medidas. Isso não diz nada diretamente sobre as
magnitudes ou as direções das observações mensuráveis, tem de se aplicar ope-
radores quânticos para a função de onda ψ e encontrar os seus próprios valores,
que correspondem a conjuntos de possíveis resultados de medição.

Um operador é um ente matemático que principia uma relação operante


por meio de dois espaços vetoriais. A relação funcional que um operador indica
pode ser denominado transformação linear. Os detalhes mais formais não serão
apontados aqui. Interessa, por enquanto, desenvolver uma ideia mais intuitiva
do que são esses operadores.

Por paradigma, examine o Espaço Euclidiano. Para cada vetor, nesse es-
paço, é exequível fazer uma rotação (de um certo ângulo) e descobrir outro vetor

161
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

no mesmo espaço. Como essa rotação é uma relação funcional entre os vetores de
um espaço, podemos definir um operador que realize essa transformação. Logo,
dois paradigmas bem reais de operadores são os de rotação e translação.

Na mecânica clássica, é usual descrever o movimento de uma partícula


com uma função escalar do tempo. Por exemplo, imagine que vemos um vaso de
flor caindo de uma janela. Em cada instante de tempo podemos calcular a que al-
tura se encontra o vaso. Em demais informações, relatamos a grandeza, a posição,
com um número (escalar) que varia em função do tempo.

Uma natureza peculiar na mecânica quântica é o uso de operadores para


configurar grandezas físicas. Ou seja, não são somente as rotações e translações
que podem ser representadas por operadores. Na mecânica quântica grandezas
como posição, momento linear, momento angular e energia igualmente são exi-
bidos por operadores.

Até este objetivo já é possível verificar que a mecânica quântica desenha a


natureza de modo bem obscuro. Em suma, os estados que um sistema físico pode
ocupar são representados por vetores de estado (kets) ou funções de onda (que
também são vetores, só que no espaço das funções). As dimensões físicas não
são representadas diretamente por escalares (como 10 m, por exemplo), mas por
operadores.

Para entender como essa forma abstrata de configurar a natureza fornece


informações sobre experiências reais, é fundamental analisar da álgebra linear o
tema de autovalor e autovetor.

Portanto, podemos concluir que:

Uma característica distintiva na mecânica quântica é o uso de opera-


dores para representar grandezas físicas. Ou seja, não são somente as
rotações e translações que podem ser representadas por operadores.
Na mecânica quântica grandezas como posição, momento linear, mo-
mento angular e energia também são representados por operadores.
Até este ponto já é possível perceber que a mecânica quântica descreve
a natureza de forma bastante abstrata. Em suma, os estados que um
sistema físico pode ocupar são representados por vetores de estado
(kets) ou funções de onda (que também são vetores, só que no espaço
das funções). As grandezas físicas não são representadas diretamente
por escalares (como 10 m, por exemplo), mas por operadores (MECÂ-
NICA QUANTICA, 2010, p. 10).

Veja agora uma análise sobre observáveis e valor esperado. Boa leitura!

6 OBSERVÁVEIS E VALOR ESPERADO


No subtópico anterior estudamos operadores. Qual a relação entre opera-
dores com observáveis e valor esperado? Na física quântica, a relação entre estado

162
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

de sistema e o valor de um observável requer um pouco de álgebra linear para sua


descrição. Na formulação matemática da mecânica quântica, estados são dados por
vetores (mais propriamente, de raios - coleção de todos os vetores que comparti-
lham de uma mesma direção) não nulos em um espaço de Hilbert V (onde dois vec-
tores são considerados para especificar o mesmo estado se, e somente se, eles são
múltiplos escalares entre si) e observáveis são dados pelo operador autoadjunto em
V. Entretanto, como indicado a seguir, nem todo operador autoadjunto correspon-
de a um observável com significado físico. Para o caso de um sistema de partículas,
o espaço V consiste de funções de onda ou vectores de estado quântico.

Na física, e mais particularmente na física quântica, observável é uma


propriedade do estado do sistema que pode ser determinado por uma sequência
de operações físicas. Nos sistemas governados pela mecânica clássica, qualquer
valor observável pode ser demonstrado por uma função de valor real no conjunto
de todos os possíveis estados do sistema.

Que grandezas são observáveis na física quântica? “Uma grandeza que


pode ser medida, como a polarização linear de um fóton numa dada direção,
é observável, mas o resultado de uma medida não precisa ser “sim” ou “não”,
como numa observação binária. A energia de um fóton, por exemplo, é uma
grandeza observável e o resultado pode ser qualquer número real ≥0. Por outro
lado, é condição necessária de observabilidade que o resultado da observação seja
um número real (NUSSENZVEIG, 1998).

Vamo-nos limitar, por enquanto, a grandezas A que só podem tomar um


número finito de valores, ou seja, tais que os resultados da observação de A só
podem ser os números reais a1, a2, a3,... an. Vamos supor também, de início, que
existe um e um só estado quântico I e j 〉 para o qual A toma o valor aj (j = 1, 2, ...,
n) (NUSSENZVEIG, 1998).

Podemos então definir como Ejk a observação binária que responde à per-
gunta:

Ejk: O valor de A no estado I e j 〉 é ak?

Para ver que se trata de uma observação binária, basta notar que só há
duas respostas possíveis: “sim”, se j = k, e “não” para j ≠ k, e só existe um estado,
I e j 〉 para o qual a resposta é “sim” (NUSSENZVEIG, 1998).

Escolhendo convenientemente as fases dos vetores de estado, a (2.68) se


reduz a:

163
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

E
IMPORTANT

Logo, pela regra II, se um fóton for preparado no estado I e j 〉 a probabilidade


de que a medida de A produza o resultado ak (portanto, que o fóton seja observado no
estado, I e 〉 é:
k

|〈 ek |e j 〉|= d jk (j,k)=1,2,...,n (2.68)

Em que:
d jk =1 ( j=k ) ,= () (j ≠ k).

〈 ek |e j 〉 =d k j (2.69)

O que significa que Ie1 〉, Ie2 〉...Ien 〉 , formam um conjunto ortonormal


de n vetores de estado.

Sabemos, porém, da álgebra linear, que num espaço vetorial de dimensão m,


não podem existir mais de m vetores ortonormais. Vimos também que m = 2 para os
vetores de estado associados à polarização do fóton (NUSSENZVEIG, 1998).

Logo, no conjunto de estados quânticos associados à polarização do


fóton, nenhuma grandeza observável (ou seja, que só dependa da polarização)
pode tomar mais do que 2 valores diferentes: a dimensão do espaço dos estados
representa o número máximo de valores que uma grandeza observável nesse
espaço pode tomar (NUSSENZVEIG, 1998).

• Exemplo:

FIGURA 24 – DUPLA RETRAÇÃO

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 299)

164
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

Quando um feixe de luz qualquer incide sobre um cristal de calcita


(CaCO3) talhado de forma conveniente, dá origem a dois feixes transmitidos (feixe
ordinário e feixe extraordinário), que têm polarizações lineares ortogonais (Figura
24). Nenhum material produz mais de dois feixes associados com as polarizações
diferentes, o que é consistente com termos tomando n = 2 para descrever o estado
quântico de polarização de um fóton (NUSSENZVEIG, 1998).

• Valores médios:

Num estado de polarização I u〉 qualquer do fóton, a grandeza A não


tomará em geral um valor definido: isso só acontece nos estados I e j 〉 No caso
geral, A tomará um de seus dois valores possíveis, a1, ou a2, em cada observação
e haverá probabilidades p1 e p2 dadas pela:

E
IMPORTANT

Regra II (generalizada) para cada um desses valores:

p1= | 〈 e1 | u 〉 |2 ,p2 = | 〈 e2 | u 〉 |2 (2.70)

Se fizermos um número N muito grande de observações de A no estado


I u〉 e obtivermos o resultado a1 em n1 delas e a2 nas n restantes, com n1 + n2 = N,
as frequências relativas n1/N e n2/N se aproximarão respectivamente de p1 e p2 à
medida que N for crescendo (NUSSENZVEIG, 1998).

Conforme a definição usual, o valor médio (também chamado de valor


esperado) de A no estado I u〉 é então a média ponderada:

2
〈 A〉 ≡ ∑ p j a j (2.71)
j=1

Substituindo os valores de pj pelas (2.70):

2
〈 A〉 H ≡ ∑ a j | 〈 e j | u 〉 2 (2.72)
j=1

Voltando à definição:

165
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

( )
b1
〈 a | b〉= a1* a*2
b2

Do produto escalar, temos:

(〈 a | b〉 )* =a1b1* +a1b2* = b1* b2* ( )( )a1


a2
(2.73)

O que equivale a:

(〈 a | b〉 )* 〈b | a〉 (2.74)

De forma que a (2.72) se escreve:

2
〈 A=
〉u ∑ a 〈u | e 〉
j=1
j j 〈 e j |u 〉 (2.75)

• Produto externo

Vamos introduzir a nova notação 〈 a〉 〈b | (produto externo de | a〉 e 〈b | ),


definida por sua atuação sobre urn ket Iu〉 qualquer:

(| a〉〈b |) | u 〉 ≡ 〈b | u 〉 | a〉 (2.76)

É o produto do número 〈b | u 〉 pela ket I a〉 . Logo, atuando sobre um ket


Iu〉 , o resultado é outro ket: | a〉 〈b | é um operador sobre kets, e é imediato que
é um operador linear

(|a〉〈b|) ( α|u 〉 + b | v〉=


) (α 〈b | u 〉 + b 〈b|v〉 )|a〉 (2.77)

Em termos das componentes:

| a〉
= (=
)e | b > ( )
a1
a2
b1
b2 (2.78)

166
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

O produto externo está associado a uma matriz 2x2:


 a1b1* a1b2* 
| a〉〈b|
= ( )
a1
=
a2 ( b* *
b
1 2 )  * 
a2b2* 
(2.79)
 a2b1

O que corresponde à relação bem conhecida entre operadores lineares e


matrizes, em termos de álgebra vetorial e satisfaz a (2.76) (verifique!).

Voltando à (2.75), vemos então que ela pode ser reescrita como:

〈 A〉 u =〈u|Â|u 〉 (2.80)

Em que  é o operador linear (o circunflexo é a notação para operador):

2
 ≡ ∑aj Π j (2.81)
j=1

Com:


Π j ≡| e j 〉〈 e j | (j=1,2) (2.82)

Acompanhe, posteriormente no texto, uma explanação sobre a represen-


tação matricial e álgebra de observáveis, bons estudos!

7 REPRESENTAÇÃO MATRICIAL E ÁLGEBRA DE OBSERVÁVEIS


No subtópico anterior estudamos observáveis e valor esperado. Você, aca-
dêmico, pode se perguntar qual é a relação entre observáveis e valores esperados
com a representação matricial e álgebra de observáveis? A base para um bom
entendimento da Mecânica Quântica encontra-se numa sólida compreensão de
conceitos matemáticos, principalmente de Álgebra Linear. Neste subtópico abor-
daremos a maior parte de tais conceitos matemáticos necessários à compreensão
da Mecânica Quântica.

Antes de formular regras relativas a observáveis, vamos recapitular alguns re-


sultados de álgebra linear sobre a representação de operadores lineares por matrizes e
introduzir alguns desenvolvimentos da notação de Dirac (NUSSENZVEIG, 1998).

Como o espaço dos vetores de estado de depolarização do fóton tem di-


mensão 2, podemos introduzir nele uma base ortonormal I e1 〉 , I e2 〉 , na qual:

167
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

〈 ei |e j 〉 =d ij (j=1,2) (2.83)

E representar qualquer vetor de estado |c〉 como superposição dos vetores


da base:

|c〉 c1 | e1 〉 + c2 | e2 〉
=
(2.84)
〈 e1 | c〉 ,c2 =
c1 = 〈 e2 | c〉

Em que c1 e c2 são as componentes do vetor coluna:

|c〉 = ( )
c1
c2 (2.85)

Em particular:

|e1 〉
= ( )=
1
0 ,| e 〉 ( )
2
0
1 (2.86)

Exemplo 1: na representação em que:

|θ 〉 = ( ) cosθ
senθ

Corresponde ao estado de polarização linear na direção θ , os estados


(2.86) correspondem a θ = 0 e θ = p /2, respectivamente, e qualquer outro estado
de polarização é uma superposição destas duas polarizações ortogonais, nas
quais as componentes c1 = cos θ e c2 = sen θ , pela (2.84):

p
〈0 | θ 〉, c2 = θ
c1 =
2

Representam as amplitudes de probabilidade, no estado I θ >, de detectar


o fóton com polarização linear na direção 0 ou p /2 respectivamente (NUSSEN-
ZVEIG, 1998).

Exemplo 2: é fácil ver (verifique!) que os vetores de estado de polarização


circular:

1 1
| +〉
=
2
1
()
i ,| −〉
=
2
( )
1
−i

São ortogonais:

168
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

〈+ | −〉 = 0

De modo que formam outra base ortonormal para a polarização: fisica-


mente, qualquer estado de polarização pode ser representado como superposição
de polarizações circulares direita e esquerda. Em particular.

| θ=
〉 ( =)
cosθ
senθ c1 | +〉 + c2 | −〉

Em que:

1 e-iθ
c1 = 〈+ | θ 〉 =
2
(1-i) ( )
cosθ
senθ =
2
1 eiθ
c2 = 〈− | θ 〉 =
2
(1 i) ( )=
cosθ
senθ
2

O que dá:

|θ〉 =
1
2
( )
e-iθ
eiθ

Que é a:

|θ〉 =
1
2
( )
e-iθ
e+iθ

Logo, a multiplicidade de representações dos vetores de estado corres-


ponde à multiplicidade de escolhas de bases possíveis, exatamente como a de
escolhas de sistemas de coordenadas para vetores em três dimensões (NUSSEN-
ZVEIG, 1998).

A decomposição:

θ 〉 ( cos
senθ ) =c1 | +〉+c2 | -〉
θ

É um caso particular, para luz linearmente polarizada, da representação


de um estado geral de polarização como superposição de luz circularmente po-
larizada direita com polarização circular esquerda. A interpretação quântica em
termos de fótons, porém, é que |c1|2 = 1/2 = |c2l2 dão as probabilidades de detectar
o fóton linearmente polarizado, respectivamente, como fóton circularmente po-
larizado direito ou esquerdo. Fisicamente, isto pode ser realizado com o auxílio

169
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

de cristais que têm a propriedade de birrefringência circular, decompondo luz


incidente sobre eles em dois feixes, um de polarização circular direita e outro de
esquerda (NUSSENZVEIG, 1998).

• Operador de projeção

A equação a seguir:

| c〉 c1 | e1 〉 + c2 | e2 〉
=
(2.87)
〈 e1 | c〉, c2 =
c1 = 〈 e2 | c〉

Permite escrever a identidade:

| c〉 = 〈 e1 | c〉 | e1 〉 + 〈 e2 | c〉 | e2 〉
  (2.88)
=Π 1 | c〉+Π 2 | c〉

Na qual, analogamente à (2.82):

 
Π 1= | e1 〉〈 e1| , Π 2 | e2 〉〈 e2 | (2.89)

Temos:


| c〉 c j | e j 〉
Π1 = (j=1,2) (2.90)

Ou seja:


Π 1 | c〉 (2.91)

Representa a componente do estado I c〉 associada ao estado I e j 〉 da base


(por exemplo, componente do estado I θ 〉 que tem polarização I +〉 ). Diz-se que:


Π 1 | c〉 (2.92)


É a projeção de | c〉 sobre o estado | e j 〉 , e Π chama-se um operador de
projeção (NUSSENZVEIG, 1998) .

170
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

FIGURA 25 – PROJEÇÃO DE UM VETOR

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 304)

Para um vetor em 3 dimensões, a Figura 25 mostra que:

  
Π 1v=(v. ∈ 1) ∈ i (2.93)


É a componente de v na direção ∈ 1 obtida projetando v sobre essa direção,

o que justifica o nome de operador de projeção dado a Π j (NUSSENZVEIG, 1998).

A (2.88) mostra que:

  2
Π1=
+ Π2 ∑
j=1
|=
e j 〉〈e j | Î (2.94)

Em que é o operador identidade:

Î |c > = |c > , (2.95)

Para qualquer vetor | c >. A relação (2.94) exprime o caráter completo


da base:

| e1 >, e2 > (2.96)

Ou seja, que qualquer vetor pode ser representado em termos dela


(NUSSENZVEIG, 1998).

171
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

As (2.79) e (2.86) dão a representação matricial dos operadores de projeção


e da (2.94):
 1 0 
=
Π1 (=
) (1 0)
1
0  
0 0    1 0
 Π1=
+ Π2  =  Î (2.97)
  0 0  0 1
=
Π2 ()
0
(0 1) 
1 = 
 0 1  

• Matrizes

Dado um operador linear  a (8.50) permite escrever a identidade (NUS-


SENZVEIG, 1998).

2 2
=Â ∑
i=1
| ei 〉〈 ei | Â ∑ | e j 〉〈 e j |
i=1
2 2
(2.98)
= ∑∑
i=1 i=1
| ei 〉 Aij 〈 e j |

Em que:

Aij ≡ ei | Â | e j (2.99)

Chama-se elemento de matriz do operador  entre os estados:

| ei 〉 e | e j 〉 (2.100)

(para i = j, são os elementos diagonais)

Temos, por exemplo:

0 1
| e1 〉=
e2 | ()1
0 (=
0 1)   (2.101)
0 0

Matriz em que só o elemento 12 é ≠ 0 ( e = 1 ) Logo, a (2.99) permi-


te interpretar Aij como o, elemento (ij) de uma matriz que representa o operador
, da mesma forma que ( ) representa I c ˃:
c1
c2

A A12 
=
 Aij  11
=  (2.102)
 A21 A22 

172
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

Usando a (2.98), vemos que, para qualquer vetor de estado I c >.:

2 2
| c'=
〉 ≡ Â | c〉 ∑ Aij e j=
j=1
| c | ei 〉 ∑Ac
i, j=1
ij j | ei 〉 (2.103)

O que equivale a:

2
| ci' = ∑ Aij ci (2.104)
j=1

Que é o resultado da aplicação da matriz Aij ao vetor coluna ( ) c1


c2
segundo a regra do produto de matrizes:

 A11 A12   c1   A11 c1 + A12 c2 


=Â | c〉  =     (2.105)
 A21 A22   c2   A21 c1 + A22 c2 

Analogamente, aplicando sucessivamente dois operadores lineares B e Â
a um vetor I c〉 , o resultado equivale à regra do produto:

 2

( )AB =∑ Aik Bkj


ij
k=1
(2.106)

• Regra para observáveis

Voltando agora a:

( A )u = u|Â|u (2.107)

Voltando agora a (2.107), que dá o valor médio (esperado) de um


observável A num estado quântico de polarização arbitrário, vemos que ele é o
elemento de matriz diagonal de um operador linear  associado a A, dado pela:

Assim temos:

( A )u = u|Â|u (2.108)

173
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Como o valor médio de uma grandeza observável é necessariamente um


número real, devemos ter:

(2.109)
O que implica:

(2.110)

E leva à regra (NUSSENZVEIG, 1998).

E
IMPORTANT

“Regra Ill a: Uma grandeza observável A é representada por um operador


hermiteano Â"

(NUSSENZVEIG, 1998, p. 308).

Anteriormente, Â foi representado em termos dos dois valores possíveis que


pode tomar a1 e a2, e dos vetores de estado (únicos) I eI a eles associados, por:

(2.111)

Em que, como vimos,


Formam uma base ortonormal, e Π j são os operadores de projeção sobre
os vetores da base.

A (2.111) dá, como:

(2.112)

174
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

O que se exprime dizendo que é um AUTOVETOR de  associado ao


AUTOVALOR ai. Isso leva às regras:

E
IMPORTANT

Regra Ill b: Os resultados possíveis das observações de A são os autovalores


de Â.
Regra III c: Os estados (de polarização) para os quais A assume com certeza (probabilidade=1)
seus valores possíveis (a1, a2) são os autovetores (também chamados de autoestados)
correspondentes de  (NUSSENZVEIG, 1998, p. 308-309).

Para que essa interpretação seja aceitável, é necessário que os autovalores


sejam reais. Isso decorre do teorema: Os autovalores de um operador hermiteano são
sempre reais. (NUSSENZVEIG, 1998).

A demonstração é imediata:

(2.113)

Juntamente com a (2.109). Finalmente, a:

Dá a:

Regra III d: O valor esperado (médio) de A num estado qualquer I u > é


dado por:

(2.114)

175
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Levando em conta a:

 1 0 
=
Π1 (=
) (1 0 )
1
0  
0 0    1 0
 Π1 + Π 2   =Î
  0 0  0 1
=
Π2 ()
1 (
0
= 0 1)  
 0 1  

Vemos também que a decomposição:

2 
 ≡ ∑ a jΠ
j =1

Equivale a:

(2.115)

Ou seja, na base de seus autoestados, a matriz  é diagonal, e seus


elementos diagonais são os autovalores (NUSSENZVEIG, 1998).

Acompanhe, posteriormente, no texto a explicação sobre momento


angular do fóton. Bons estudos!

8 MOMENTO ANGULAR DO FÓTON


Que grandezas são observáveis na física quântica? Essa não é uma questão
fácil de responder, uma vez que estamos lidando com propriedades de objetos da
escala atômica, em muitos casos (NUSSENZVEIG, 1998).

Entretanto, o Princípio de Correspondência, que já vimos na formulação


de Bohr, pode sugerir pelo menos candidatos a grandezas observáveis. Com
efeito, um objeto macroscópico é um agregado de objetos microscópicos, e deve ser
possível extrapolar ao domínio quântico determinadas propriedades dos objetos
macroscópicos, como fizemos para a polarização de fótons (NUSSENZVEIG, 1998).

Isso se aplica pelo menos as grandezas aditivas, cujo valor para um siste-
ma de partículas é a resultante dos valores associados a cada partícula. Exemplos
de tais grandezas são o momento linear, o momento angular e a energia de siste-
mas sem interações entre as partículas. A “posição de um sistema”, definida em
termos do seu centro de massa, é também uma “variável coletiva”, combinação
das posições das partículas (NUSSENZVEIG, 1998).

Vamos empregar essa ideia para procurar definir um observável quântico


correspondente ao momento angular de um fóton. Na eletrodinâmica clássica,
já se verifica que um feixe de luz pode transportar não só momento linear, mas

176
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

também momento angular. Da mesma forma que a radiação pode transmitir


momento linear a um corpo macroscópico (pressão da radiação), pode também
transmitir momento angular (NUSSENZVEIG, 1998).

Isso foi verificado experimentalmente por R. Beth em 1936. Fazendo luz


circularmente polarizada atravessar uma lâmina de um cristal birrefringente,
que modifica seu estado de polarização, ele verificou que a lâmina, absorvendo
energia da luz, entra em rotação em torno da direção de propagação da luz; a
transferência de momento angular pode ser medida (NUSSENZVEIG, 1998).

Vamos ver como esse efeito pode ser descrito em termos da teoria clássica.
A interação da luz com a matéria, classicamente, é descrita pela teoria da dispersão.
O campo elétrico da onda, de frequência angular W, coloca em oscilação forçada
os elétrons atômicos que são tratados classicamente como osciladores harmônicos
de massa m, frequência própria Wo e constante de amortecimento y associada a
absorção de energia da onda. Assim, tomando eixo z na direção de propagação
da onda, as equações de movimento para um elétron atômico são:

(2.116)

Pela (5.37), o campo elétrico da onda circularmente polarizada é tal que:

(2.117)

De modo que, definindo:

(2.118)

As (2.116) dão:

(2.119)

Procuremos a solução como oscilação forçada sob a forma (2.118), em que:

(2.120)

Vem, com:

177
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

(2.121)

(2.122)

O que dá:

(2.123)

Permitindo calcular r e d ; devido ao amortecimento, será d ≠ 0:

FIGURA 26 – OSCILAÇÃO FORÇADA DO ELÉTRON

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 313)

A Figura 26 ilustra o resultado para luz esquerda W < Wo (d > 0): o elétron
descreve um movimento circular uniforme forçado, acompanhando o campo com
uma defasagem cinco: o campo tem uma componente Eᶿ≠ 0 tangencial à trajetória
do elétron, que produz um torque, realizando trabalho sobre ele e transferindo-
-lhe momento angular (NUSSENZVEIG, 1998).

A energia transferida pela onda por unidade de tempo (potência) é dada


por (para um elétron):

178
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

(2.124)

(o campo B não contribui)

Em que:

(2.125)

Mas:
(2.126)

Em que τ z é a componente do torque (exercido pela onda) ao longo do


eixo de rotação, que pela dinâmica das rotações, está relacionada com a taxa dJz/
dt de variação do momento angular do elétron em torno do eixo de rotação por:

(2.127)

Finalmente, as (2.125) e (2.127) dão:

dW dJ + para polarização circular esquerda


= ±ϖ z (2.128)
dt dt - para polarização circular direita

Notando que o sinal de w teria de ser trocado para polarização circular


direita (NUSSENZVEIG, 1998).

Vamos agora usar o Princípio de Correspondência para interpretar essa


relação em termos de fótons. No limite clássico, o feixe incidente é composto de
um grande número N de fótons de energia E = h w, de forma que:

(2.129)

Em que dN / dt pelo material, por unidade de tempo (que coloca a lâmina


em rotação, no experimento de Beth). (NUSSENZVEIG, 1998).

179
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

E
IMPORTANT

Se admitirmos que cada fóton absorvido transfere um momento angular Jz


para o elétron, ou seja, que Jz é o momento angular do fóton ao longo de sua direção de
propagação z, teremos analogamente à (2.129):

dJ dN
= ±Jz
dt dt (2.130)

Levando as (2.129) e (2.130) na (2.128), resulta:

dN + para polarização circular esquerda


Jz = ±
dt - para polarização circular direita
(2.131)

Ou seja, o momento angular do fóton ao longo de sua direção de propagação é quantizado,


assumindo os valores +h ou -h estes são seus autovalores (NUSSENZVEIG, 1998).

Associando o autovetor da (8.25) à polarização circular esquerda e


a direita, podemos então construir o observável usando a:

Temos:

(2.132)

Representação matricial na base dos estados de polarização linear (NUS-


SENZVEIG, 1998):

Acompanhe posteriormente no texto a explicação sobre o princípio da


incerteza. Bons estudos!

180
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

9 O PRINCÍPIO DA INCERTEZA
No subtópico anterior estudamos sobre o momento angular do fóton.
Você pode se perguntar qual é a relação entre momento angular do fóton com
o princípio da incerteza, assunto deste subtópico? No final da década de 1920,
Heisenberg formulou o chamado princípio da incerteza, e, de acordo com esse
princípio, não podemos determinar com precisão e simultaneamente a posição e
o momento de uma partícula.

O uso de considerações probabilísticas não é estranho à física clássica. Por


exemplo, a mecânica estatística clássica se utiliza da teoria de probabilidades. Entre-
tanto, na física clássica as leis básicas (tais como as leis de Newton) são determinís-
ticas, e a análise estatística é apenas um artifício prático para tratar sistemas muito
complicados. De acordo com Heisenberg e Bohr, no entanto, a interpretação proba-
bilística é fundamental em mecânica quântica, e deve-se abandonar o determinismo.
Vejamos de que forma se chega a essa conclusão. (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na mecânica clássica, as equações de movimento de um sistema, conheci-
das as forças que atuam sobre ele, podem ser resolvidas de forma a dar a posição
e o momento de uma partícula para todos os valores do tempo. Tudo que é neces-
sário saber é a posição e o momento precisos da partícula em um certo instante t
= 0 (as condições iniciais), e assim o movimento futuro fica determinado de forma
exata. Esta mecânica foi utilizada com grande sucesso no mundo macroscópico,
por exemplo, na astronomia, para prever os movimentos subsequentes de objetos
em função de seus movimentos iniciais. Observemos, no entanto, que no proces-
so de realizar observações o observador interage com o sistema. Um exemplo da
astronomia contemporânea é a medição precisa da posição da Lua pela reflexão
de radar. A posição da Lua é perturbada pela medida, mas, devido à sua gran-
de massa, essa perturbação pode ser ignorada. Em uma escala um tanto menor,
como por exemplo, uma experiência macroscópica cuidadosamente planejada na
Terra, tais perturbações também são normalmente pequenas, ou ao menos con-
troláveis, e podem ser previstas acuradamente por cálculos convenientes. Portan-
to, uma hipótese naturalmente feita pelos físicos clássicos foi que para sistema
microscópicos, a posição e o momento de um objeto, por exemplo, um elétron,
poderiam de maneira análoga ser determinados de forma precisa pelas observa-
ções. Heisenberg e Bohr questionaram essa hipótese (EISBERG; RESNICK, 1994).

A situação é algo semelhante à existente quando do nascimento da teoria


da relatividade. Os físicos falavam de intervalos de comprimento e intervalos
de tempo, isto é, de espaço e tempo, sem se perguntarem criticamente como se
poderia medi-los na realidade. Por exemplo, falavam da simultaneidade de dois
eventos separados sem se perguntarem ao menos como alguém poderia fisica-
mente estabelecer uma simultaneidade. Na realidade, Einstein mostrou que a si-
multaneidade não era de forma alguma um conceito absoluto, como se supunha
anteriormente, mas que dois eventos separados que eram simultâneos para um
observador ocorriam em tempos diferentes para outro observador em movimen-
to relativamente ao primeiro. A simultaneidade é um conceito relativo. Da mes-
ma forma, então, devemos nos perguntar como na realidade medimos a posição
e o momento (EISBERG; RESNICK, 1994).

181
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

Podemos determinar por meio de uma experiência real a posição e o mo-


mento no mesmo instante da matéria ou de radiação? A resposta dada pela teoria
quântica é: não com precisão maior do que a que é permitida pelo princípio da
incerteza de Heisenberg. Este princípio, também chamado princípio da indeter-
minação, tem duas partes. A primeira é relativa à medida simultânea de posição e
momento. Ela afirma que uma experiência não pode determinar: simultaneamente
p valor exato de uma componente do momento, por exemplo px, de uma partícula
e o valor exato da coordenada correspondente, x (EISBERG; RESNICK, 1994).

ATENCAO

Em vez disso, a precisão de nossa medida está inerentemente limitada pelo


processo de medida em si, de forma tal que:

Dpx > h/2 (2.133)

Em que o momento px é conhecido com uma incerteza de Dpx, e a posição x no mesmo


instante com incerteza ∆px.

Aqui h (leia h cortado) é um símbolo simplificado para h/2p, no qual h é a


constante de Planck. Isto é:
h ≡ h/2p (2.134)

Há relações correspondentes para as outras componentes do momento,


ou seja, ∆py ∆y ≥ h/2 bem como para o momento angular. É importante notar
que esse princípio não tem nada a ver com possíveis melhorias nos instrumentos
que possam nos dar melhores determinações simultâneas de px e x. O que o
princípio diz na realidade é que mesmo que tenhamos instrumentos ideais nunca
poderemos obter resultados melhores do que ∆px ∆x ≥ h/2. Observemos também
que está envolvido o produto de incertezas, de forma que, por exemplo, quanto
mais modificarmos uma experiência para melhorarmos nossa medida de px, mais
abrimos mão de poder determinar x precisamente. Se conhecemos px exatamente,
nada sabemos a respeito de x (isto é, se ∆px = 0, ∆x = ∞). Portanto, a restrição não
é em relação à precisão com que px ou x podem ser medidas, mas em relação ao
produto ∆px ∆x numa medida simultânea de ambos (EISBERG; RESNICK, 1994).

182
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

ATENCAO

A segunda parte do princípio da incerteza está relacionada com a medida da


energia E e do tempo t necessário à medida, como, por exemplo, o intervalo de tempo ∆t
durante o qual um fóton com incerteza na energia ∆E é emitido de um átomo. Neste caso:

DE D1> h/2 (2.135)

Em que ∆E é a incerteza no nosso conhecimento da energia E de um sistema e ∆t é o


intervalo de tempo característico da rapidez com que ocorrem mudanças no sistema.

Mostraremos mais tarde que as relações de Heisenberg são consequência


do postulado de Broglie e de propriedades simples comuns a todas as ondas.
Como o postulado de Broglie é verificado pelas experiências que já discutimos,
podemos dizer que o princípio da incerteza está baseado na experiência. Breve
consideraremos a consistência do princípio com outras experiências. Notemos,
entretanto, que é novamente a constante de Planck h que distingue os resultados
quânticos dos clássicos (EISBERG; RESNICK, 1994).

Se h ou ℏ, fossem zero em (2.133) e (2.135), não haveria nenhuma limitação


básica sobre nossas medidas, o que é o ponto de vista clássico. Mais uma vez é
o fato de h ser pequeno que tira o princípio da incerteza do alcance de nossas
experiências cotidianas. Isto é análogo ao que ocorre na relatividade, na qual a
pequenez da razão v/c nas situações macroscópicas tira a relatividade do alcance
das experiências cotidianas. Em princípio, portanto, a física clássica tem validade
limitada e a sua aplicação a sistemas microscópicos conduzirá a contradições com
os resultados experimentais. Se não podemos determinar x e p simultaneamente,
então não podemos especificar as condições iniciais do movimento de forma exata.
Assim, não podemos determinar precisamente o comportamento futuro de um
sistema. Em vez de fazer previsões determinísticas, podemos afirmar apenas os
possíveis resultados de uma observação, dando as probabilidades relativas de sua
ocorrência. Como o ato de observar um sistema o perturba de uma forma que não
é completamente previsível, a observação altera o movimento do sistema fazendo
com que ele não possa ser perfeitamente conhecido (EISBERG; RESNICK, 1994).

Vamos agora ilustrar a origem física do princípio da incerteza e para isso,


inicialmente usaremos uma experiência imaginária devida a Bohr para verificar
(2.133). Digamos que, queiramos medir com toda a precisão possível a posição de
uma partícula “pontual”, como um elétron. Para maior precisão, usaremos um
microscópio para “ver” o elétron, como é mostrado na Figura 27.

A Figura 27 mostra a experiência imaginária do microscópio de Bohr.


Ao alto: o equipamento. No meio: O espalhamento de um fóton pelo elétron.
Embaixo: A figura de difração da imagem do elétron vista pelo observador.

183
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

FIGURA 27 – EXPERIÊNCIA IMAGINÁRIA DO MICROSCÓPIO DE BOHR

FONTE: Eisberg; Resnick (1994, p. 99)

Para ver o elétron precisamos iluminá-lo, pois é na verdade o fóton de luz es-
palhado pelo elétron que é visto pelo observador. Já aqui, mesmo antes de qualquer
cálculo, surge o princípio da incerteza. Só o ato de observarmos o elétron o perturba.

No instante que iluminamos o elétron, ele recua devido ao efeito Compton,


de uma forma que, como logo veremos não pode ser completamente determinada.
Se não iluminarmos o elétron, entretanto, não seremos capazes de vê-lo (detectá-
lo). Portanto, o princípio da incerteza diz respeito ao processo de medida em si
e expressa o fato de que sempre existe uma interação não determinável entre o
observador e o que é observado; não podemos fazer nada para evitar a interação
ou para corrigir seus efeitos. No caso considerado podemos tentar reduzir ao
máximo a perturbação causada ao elétron usando uma fonte luminosa muito
fraca. No caso extremo podemos considerar que é possível ver o elétron se apenas

184
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

um fóton, por ele espalhado, atingir a objetiva do microscópio. O momento do


fóton é p=h/λ. Este fóton pode ter sido espalhado em qualquer direção dentro
da região angular 200 subtendida pela objetiva a partir da localização do elétron.
É por isso que a interação não pode ser previamente calculada. Vemos que a
componente x do momento do fóton pode variar de +p sen θ a -p sen θ e sua
incerteza depois do espalhamento é

(2.136)

A lei de conservação do momento exige que o elétron receba um momento


na direção x igual em módulo à variação da componente x do momento do fóton.
A componente x do momento do elétron tem a mesma incerteza da componente
x do momento do fóton. Observe que para reduzir ∆px podemos aumentar o
comprimento de onda da luz, ou usar um microscópio cuja objetiva subtenda
um ângulo menor. Mas e quanto à coordenada x do elétron? Lembre-se de que a
imagem de um objeto pontual vista através de um microscópio, não é um ponto,
mas uma figura de difração; a imagem do elétron é “difusa”. O poder de resolução
de um microscópio determina a precisão máxima como sendo uma medida da
incerteza em x, uma expressão bem conhecida para o poder de resolução de um
microscópio nos dá:

Dx=l /senθ º (2.137)

(Observe que, como sen θ ≅ θ, isto é um exemplo da relação genérica a


^ X/0 entre a dimensão característica do aparelho de difração, o comprimento
de onda das ondas difratadas e o ângulo de difração). O fóton espalhado que
estamos considerando deve ter vindo de algum lugar de uma região com essa
largura centrada no eixo do microscópio, de forma que a incerteza há localização
do elétron é ∆x. (Não podemos ter certeza do local exato de origem de cada fóton,
embora após um grande número de repetições da experiência os fótons produzam
a figura de difração mostrada anteriormente.) Observe que para diminuir ∆x
podemos usar luz com comprimentos de onda mais curtos, ou um microscópio
cuja objetiva subtenda um ângulo maior (EISBERG; RESNICK, 1994).

Se tomarmos agora o produto das incertezas verificamos que:

(2.138)

O que concorda razoavelmente com o limite mínimo h/2 fixado pelo


princípio da incerteza. Não podemos simultaneamente tornar ∆px e ∆x tão
pequenos quanto queiramos, pois, o procedimento que diminui um deles
aumenta o outro. Por exemplo, se usarmos luz de pequeno comprimento de onda
(como raios x) para reduzir ∆x através de uma melhor resolução, aumentamos
o recuo Compton do elétron e consequentemente ∆px, e vice-versa. De fato, o
comprimento de onda λ e o ângulo θ subtendido pela objetiva sequer aparecem

185
UNIDADE 2 | INTRODUÇÃO À TEORIA QUÂNTICA E A SEUS PRINCÍPIOS BÁSICOS

no resultado. Na prática, uma experiência dá resultados piores do que (2.138)


sugere, pois, esse resultado representa a situação mais ideal possível. No entanto,
chegamos a ele a partir de fenômenos físicos perfeitamente mensuráveis, como o
efeito Compton e o poder de resolução de uma lente (EISBERG; RESNICK, 1994).

Este resultado não deve parecer misterioso ao estudante. Resulta diretamente


da quantização da radiação. Deveremos ter no mínimo um fóton iluminando o elé-
tron, ou então absolutamente nenhuma iluminação; e mesmo um único fóton carrega
um momento p = h/λ. É esse fóton espalhado que realiza a interação necessária entre
o microscópio e o elétron. Essa interação perturba a partícula de uma forma que não
pode ser exatamente prevista ou controlada. Como resultado, as coordenadas e mo-
mento da partícula não podem ser completamente conhecidos após a medida. Se a
física clássica fosse válida, então, como a radiação é considerada contínua em vez de
granular, poderíamos reduzir a iluminação a níveis arbitrariamente pequenos e dar
ao elétron um momento arbitrariamente pequeno ao mesmo tempo usando compri-
mentos de onda arbitrariamente pequenos para obter uma resolução “perfeita”. Em
princípio não haveria nenhum limite mínimo simultâneo para a resolução e o mo-
mento transferido, e não existiria nenhum princípio de incerteza. Mas isto não pode
ser feito; o fóton é indivisível. Novamente vemos, a partir de ∆px ∆x ≥ h/2 que a cons-
tante de Planck é uma medida da menor, perturbação não controlável que distingue
a física quântica da física clássica (EISBERG; RESNICK, 1994).

Vamos agora considerar (2.135), que relaciona as incertezas na energia e no


tempo. Para o caso de uma partícula livre podemos deduzir (2.135) de (2.133), que
relaciona posição e momento, da seguinte maneira. Considere um elétron moven-
do-se ao longo do eixo x com energia E = /2m. Se tem uma incerteza ∆px, então a
incerteza em E é dada por ∆E = (px/m) ∆px = vx ∆px . Aqui vx pode ser interpretado
como a velocidade de recuo ao longo de x do elétron que é iluminado em uma
medida da posição (EISBERG; RESNICK, 1994). Se o intervalo de tempo necessário
para a medida é ∆t, então a incerteza em sua posição x é ∆x = vx ∆t. Combinando:

Dt=Dx/vx eDE = vx DPx


Obtemos:

DE Dt =Dpx Dx

Mas:

Dpx Dx> /2

Portanto:

DE Dt> /2 (2.139)

Posteriormente, indicamos algumas sugestões de filmes para enriquecer


o seu estudo, acompanhe!

186
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES ONDULATÓRIAS DAS PARTÍCULAS

DICAS

Discovery Channel - Mecânica Quântica - Tudo Sobre Incerteza: neste ótimo do-
cumentário, o Discovery Channel explica com uma linguagem simples (não técnica) sobre o que
vem a ser a Mecânica Quântica, conhecida como a mais 'Dura' de todas as ciências, pois não
existe nada mais complexo ou difícil (matematicamente falando) em todo o mundo da ciência
do que o “Mundo Quântico” e suas leis misteriosas. Assista este documentário em: https://www.
youtube.com/watch?v=UHx0MjsFiOk. Acesso em: 13 set. 2019.

Dualidade Onda-partícula – Física Avançada: dualidade onda-partícula, também denomina-


da dualidade onda-corpúsculo ou dualidade matéria-energia, constitui uma propriedade básica
dos entes físicos em dimensões atômicas — e, por tal, descritos pela mecânica quântica — que
consiste na capacidade dos entes físicos subatômicos de se comportarem ou terem proprieda-
des. Aprenda mais sobre a dualidade onda-partícula, assistindo o seguinte documentário: https://
www.youtube.com/watch?v=Mhdj1X0H2Vc. Acesso em: 13 set. 2019.

Quem somos nós: documentário lançado em 23 de abril de 2004 e mostra como a Mecânica
Quântica explica a realidade do universo no qual estamos inseridos e como isso afeta a nossa vida
diariamente sem nos darmos conta disso. Assista ao documentário em: https://www.youtube.
com/watch?v=93b3UwHCxGM. Acesso em: 13 set. 2019.

NOTA

A Física Quântica desperta em muitas pessoas interesses variados. Nascida


com o século XX, bastaram algumas décadas para que influenciasse, decisivamente, a vida
de todos nós, pois deu sustentação teórica à estonteante revolução tecnológica, ocorrida
principalmente a partir dos anos cinquenta. Leia mais em: http://www.ihu.unisinos.br/
images/stories/cadernos/ideias/022cadernosihuideias.pdf. Acesso em: 12 set. 2019.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático, na próxima


unidade, será sobre a equação de Schrodinger e alguns sistemas quânticos. Na mecâni-
ca quântica, a equação de Schrödinger é uma equação diferencial parcial que descreve
como o estado quântico de um sistema físico muda com o tempo. Foi formulada no final
de 1925, e publicado em 1926, pelo físico austríaco Erwin Schrödinger.

187
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Em 1924, em sua tese de doutorado, o físico francês, Louis de Broglie, formulou


uma hipótese na qual afirmava que toda a matéria apresenta características
tanto ondulatórias como corpusculares comportando-se de um ou outro modo
dependendo do experimento específico.

• Para postular esta propriedade da matéria, Broglie se baseou na explicação do


efeito fotoelétrico, que pouco antes havia sido apresentada por Albert Einstein
sugerindo a natureza corpuscular da luz.

• Para Einstein, a energia transportada pelas ondas luminosas estava quantiza-


da, distribuída em pequenos pacotes de energia ou quantia de luz.

• Albert Einstein propunha que, em determinados processos, as ondas eletro-


magnéticas se comportam como corpúsculos.

• Broglie se perguntou se tal não poderia se dar de maneira inversa, ou seja, que
uma partícula material (um corpúsculo) pudesse mostrar o mesmo comporta-
mento que uma onda.

• A dualidade onda-partícula, também denominada dualidade onda-corpúscu-


lo ou dualidade matéria-energia, constitui uma propriedade básica dos entes
físicos em dimensões atômicas — e por tal descritos pela mecânica quântica —
que consiste na capacidade dos entes físicos subatômicos de se comportarem
ou terem propriedades tanto de partículas como de ondas.

• O módulo da função de onda ao quadrado é proporcional à probabilidade de


que a partícula.

• Um operador é um ente matemático que estabelece uma relação funcional en-


tre dois espaços vetoriais.

• A relação funcional que um operador estabelece pode ser chamada transfor-


mação linear.

• Os exemplos mais concretos de operadores são os de rotação e translação.

• Do ponto de vista teórico, a semente da ruptura entre a física quântica e clássica


está no emprego dos operadores.

188
• Na mecânica clássica, é usual descrever o movimento de uma partícula com
uma função escalar do tempo.

• Na física quântica, observável é uma propriedade do estado do sistema que


pode ser determinado por uma sequência de operações físicas.

• Nos sistemas governados pela mecânica clássica, qualquer valor observável


pode ser demonstrado por uma função de valor real no conjunto de todos os
possíveis estados do sistema.

• Observáveis com significados físicos precisam também satisfazer as leis de


transformação que relacionam observações feitas por diferentes observadores
em diferentes referenciais.

• Em Mecânica Quântica trabalhamos com valores esperados (ou valores médios) das
grandezas dinâmicas. O valor esperado de uma grandeza é definido como a média
dos valores possíveis, ponderados pelas respectivas probabilidades de ocorrência.

• Diferente da maioria das partículas, fótons não tem uma massa intrínseca de-
tectável, ou "massa restante" (que se opõem a massa relativística).

• Fótons estão sempre se movendo à velocidade da luz (a qual varia de acordo


com o meio no qual ela viaja) em relação a todos os observadores.

• A despeito da sua ausência de massa, fótons têm um momento proporcional a


sua frequência (ou inversamente proporcional ao seu comprimento de onda),
e seu momento pode ser transferido quando um fóton colide com a matéria
(como uma bola de bilhar em movimento transfere seu momento para outra
bola). Isto é conhecido como  pressão de radiação  a qual deve ser algum dia
usada como propulsão como um veleiro solar.

• Fótons são desviados por um campo gravitacional duas vezes mais que as pre-
dições da mecânica Newtoniana predisse para uma massa viajando a velocida-
de da luz com o mesmo momento de um fóton.

• Excitações no material tem uma dispersão não-linear, isto é, seu momento não


é proporcional a sua energia. Logo, estas partículas se propagam mais devagar
do que a velocidade da luz no vácuo (a velocidade de propagação é a derivada
da relação dispersão com seu respectivo momento).

• O princípio da incerteza integra num axioma da mecânica quântica expresso


em 1927 por Werner Heisenberg.

189
• O princípio da incerteza princípio indica um limite na precisão com que alguns
pares de propriedades de uma certa partícula física, conhecidas como variáveis
integrantes (tais como posição e momento linear), podem ser conhecidos.

• Heisenberg propõe que em nível quântico, quanto menor for a  incerteza  na


medida da posição de uma partícula, maior será a incerteza de seu momento
linear e vice-versa.

• O princípio da incerteza é um dos aspectos mais conhecidos da física do século


XX e é comumente apresentado como um exemplo claro de como a mecânica
quântica se diferencia das premissas elementares das teorias físicas clássicas.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

190
AUTOATIVIDADE

1 (a) Qual é o comprimento de onda de um corpo de 1 g que se move com


uma velocidade de 1 mm por ano? (b) Qual deveria ser a velocidade do
corpo para que o comprimento de onda fosse igual a 1 cm?

FONTE: <http://plato.if.usp.br/2-2004/fnc0375n/lista6a/node1.html>. Acesso em: 2 dez. 2019.

2 Se a energia cinética de uma partícula é muito maior que a energia de repouso,


podemos usar a aproximação relativística E≈pc. Use esta aproximação para
computar o comprimento de onda de um elétron com uma energia de 100
MeV.
FONTE: <http://plato.if.usp.br/2-2004/fnc0375n/lista6a/node1.html>. Acesso em: 2 dez. 2019.

191
192
UNIDADE 3

A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E
ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a equação de Schrödinger em uma dimensão;


• entender operadores de posição e de momento autofunções do momento;
• entender densidade de corrente e de probabilidade;
• entender as relações de incerteza;
• entender os estados estacionários;
• entender o potencial nulo;
• entender o potencial degrau;
• entender a barreira de potencial;
• entender o poço de potencial quadrado;
• entender o átomo de hidrogênio;
• entender o spin do elétron.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

TÓPICO 2 – A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER INDEPENDENTE DO TEMPO

TÓPICO 3 – ESTRUTURA ATÔMICA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

193
194
UNIDADE 3
TÓPICO 1

A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

1 INTRODUÇÃO
Na unidade anterior, disponibilizamos uma introdução à teoria quântica
e seus princípios. A mecânica quântica é o ramo da física que estuda os objetos
em escala muito pequenas e a física moderna é dominada pelos seus conceitos.
Durante o século passado, o mundo físico era explicado de acordo com os prin-
cípios da mecânica clássica ou newtoniana. A partir da Unidade 3 estudaremos a
equação de Schrödinger.

O triunfo da teoria de Broglie ao presumir a difração de elétrons e de-


mais partículas e o caso de que o emprego de ondas estacionárias afiguravam
tanger um estilo natural de quantizar o momento e a energia das partículas com
massa de repouso divergente de zero direcionaram os físicos a solicitar uma te-
oria ondulatória para o elétron similar à teoria ondulatória da luz. Nesta teoria
ondulatória do elétron, a mecânica clássica apareceria como o limite para peque-
nos comprimentos de onda, assim como a óptica geométrica é o limite da teoria
ondulatória da luz para pequenos comprimentos de onda.

NOTA

A gênese da teoria correta é descrita por Felix Bloch, que estava presente na
ocasião. Em uma das palestras, Schroedinger apresentou uma explicação muito clara do
modo como de Broglie associava uma onda a uma partícula e a forma como ele, de Bro-
glie, podia chegar às regras de quantização, impondo que uma órbita estacionária conti-
vesse um número inteiro de ondas. Quanto terminou, Debye comentou que achava aquela
maneira de trabalhar quase infantil, que para lidar com ondas de forma adequada, era pre-
ciso dispor de uma função de onda.

Em 1926, Erwin Schroedinger publicou a sua popular equação de onda,


que comanda a propagação das ondas de matéria, compreendendo as dos elé-
trons. Uns meses antes, Werner Heisenberg havia exposto uma ideia teoricamen-
te peculiar para esclarecer os fenômenos atômicos. A teoria de Heisenberg incluía
apenas grandezas mensuráveis e grandezas dinâmicas, como energia, posição e

195
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

momento, representadas por matrizes; os elementos das diagonais dessas matri-


zes representavam os resultados possíveis das medidas. Embora as teorias de
Schroedinger e Heisenberg pareçam diferentes, o próprio Schroedinger mais tar-
de provou que são na verdade equivalentes, isto é, que uma pode ser demonstra-
da a partir da outra. A teoria resultante, hoje conhecida como mecânica ondula-
tória ou mecânica quântica foi uma das teorias mais bem-sucedidas de todos os
tempos. Embora seus princípios possam parecer estranhos para aqueles de nós,
cujas experiências se limitam ao mundo macroscópico, e embora a matemática
necessária para resolver até mesmo os problemas mais simples seja bastante so-
fisticada, parece não haver alternativa para descrever corretamente os resultados
experimentais da física atômica e da física nuclear. Neste material, tendemos
conter nosso saber à ideia de Schrödinger porque é mais claro de entender e um
pouco menos obscura que a teoria de Heisenberg. Primeiramente, vamos delimi-
tar nosso debate a questões unidimensionais.

Acompanhe posteriormente no texto a explicação sobre a equação de


Schrödinger em uma dimensão, bons estudos!

2 A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER EM UMA DIMENSÃO


Na unidade anterior, no último tópico, estudamos o princípio da incer-
teza. A incerteza entre a posição e o momento proposta por Heisenberg é uma
consequência dos postulados da mecânica quântica, e não um postulado por si
só. A partir deste tópioco estudaremos a equação de Schrödinger em uma di-
mensão (NUSSENZVEIG, 1998). Mas, enfim, a equação de Schrödinger pode ser
analisada em termos de uma dimensão até três dimensões. Neste subtópico, nos
detemos a analisar a equação de Schrödinger em uma dimensão. Bons estudos!

Vejamos uma partícula não relativística de massa m pequena a mover-se


unicamente ao extenso de uma direção, que adotaremos como eixo O . Uma ob-
servação da partícula pode encontrá-la em qualquer ponto do eixo, ou seja, os va-
lores possíveis do observável, “posição da partícula”, são todos os números reais,
correspondendo a uma infinidade contínua de valores possíveis. Como passagem
mediadora mais superficial para representar essa situação, tendemos estabelecer
primeiro um esboço similar partindo a reta em cortes idênticos (Figura 1), de
comprimento (NUSSENZVEIG, 1998).

FIGURA 1 – DIVISÃO DE INTERVALOS

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 333)

196
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Diremos que a partícula está no intervalo n quando:

(3.1)

Podemos interpretar como sendo a precisão na determinação da posição


(o erro é < ).

Isso leva a uma representação aproximada do vetor de estado da partícula


em termos de sua posição.
. 
 
 . 
. 
 
c
 n-E 
c 
| ϕ 〉 = n 
 Cn+1 
(3.2)
 
. 
. 
 
. 
 
 

“Como um vetor coluna de infinitas componentes (infinidade discreta), em que


o número complexo cn, representa a amplitude de probabilidade de encontrar a partí-
cula no intervalo n, com a condição de normalização” (NUSSENZVEIG, 1998, p. 334):

∞ 2


n = −∞
cn =1 (3.3)

Para passar à representação contínua, é necessário analisar que a proba-


bilidade IcnI2, para suficientemente pequeno, deve ser proporcional ao compri-
mento do intervalo. Quando :

lim  | cn |2 
d →0   (3.4)
 d 
É igual a densidade de probabilidade de encontrar a partícula em x, cen-
tro do intervalo :

Logo, deve também tender a um limite finito, que representa a


amplitude de densidade de probabilidade correspondente, (NUSSENZ-
VEIG, 1998):

197
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

(3.5)

Em que:

(3.6)

É igual à probabilidade de encontrar a partícula entre x e x + dx, com a


∞ 2

condição de normalização forma limite da ∑


n = −∞
cn = 1 .

(3.7)

O “valor” correspondente à (3.2) é:

(3.8)

E a (3.7) é o limite, para , de:

(3.9)

Analogamente, o produto escalar de dois vetores de estado | ϕ 〉 e | Ψ〉 , as-


sociados às amplitudes de densidade de probabilidade |ϕϕ( 〉x )ee| Ψ〉(x), é dado por:

(3.10)

As amplitudes de densidade de probabilidade são chamadas de funções


de onda. Chegamos, finalmente, às funções de onda de Schrödinger conhecendo
agora a sua interpretação física (NUSSENZVEIG, 1998).

Em geral, numa descrição dinâmica, a função de onda associada a uma


partícula deve depender do tempo t:

(3.11)

A relação de Einstein , estendida por de Broglie a uma partí-


cula qualquer, sugere que, para uma partícula de energia E, essa dependência do
tempo seja da forma:
198
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

(3.12)

O que daria:

(3.13)

Mas, pela:

A equação de Schrödinger nesse caso deve ser da forma:

(3.13)

Para uma partícula de massa m num potencial V(x).

E
IMPORTANT

Especializando esses resultados ao caso unidimensional, as (3.13) e (3.14) da-


riam:

(3.15)

Que é a equação de Schrödinger dependente do tempo para o movimento unidimensional


no potencial V (x) (NUSSENZVEIG, 1998).

Para o vetor de estado correspondente, essa é uma equação de evo-


lução temporal:

(3.16)

Análoga à equação de evolução espacial:

199
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Em que:

(3.17)

Com o operador:

(3.18)

Cuja atuação diretamente sobre uma função de onda é definida pela


(3.17) (NUSSENZVEIG, 1998).

H chama-se operador hamiltoniano. Embora tenhamos partido de um


caso particular (estado estacionário), a (3.16) tem validade geral: para a mecânica
quântica, é a lei fundamental da dinâmica (como a 2ª lei de Newton para a mecâ-
nica clássica) (NUSSENZVEIG, 1998).

Ao contrário da 2a lei de Newton, na qual aparece ∂ 2 / ∂t 2 , a (3.16) é de 1ª


ordem em r, contendo apenas ∂ / ∂t . Logo, basta uma condição inicial, ,
para determinar a solução. Isso é consistente com o fato de que o vetor de estado
descreve completamente o estado quântico do sistema no instante inicial
(NUSSENZVEIG, 1998).

DICAS

O texto deste subtópico contém trechos extraídos do livro: NUSSENZVEIG, H.


M. Curso de física básica 4: ótica, relatividade, física quântica, São Paulo: Blucher, 2014.
p. 333-337. Como dica para você aprofundar seu conhecimento leia o material na íntegra.
Disponível em: http://bit.ly/2tjJaoCAcesso em: 10 set. 2019.

Portanto, podemos concluir que:

Na interpretação padrão da mecânica quântica, a função de onda é a descri-


ção mais completa que pode ser dada a um sistema físico. As soluções para
a equação de Schrödinger descrevem não só sistemas moleculares, atômi-
cas e subatômicas, mas também os sistemas macroscópicos, possivelmente,
até mesmo todo o universo. A equação de Schrödinger, em sua forma mais
geral, é compatível tanto com a mecânica clássica ou a relatividade espe-
cial, mas a formulação original do próprio Schrödinger era não-relativista.
A equação de Schrödinger não é a única maneira de fazer previsões em
mecânica quântica, outras formulações podem ser utilizadas, tais como a
mecânica matricial de Werner Heisenberg, e o trajeto da integração funcio-
nal de Richard Feynman (SOBRAL; MACHADO, 2019, p. 39).

200
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Acompanhe, a seguir, uma explicação sobre operadores de posição e de


momento. Bons estudos!

3 OPERADORES DE POSIÇÃO E DE MOMENTO


No subtópico anterior estudamos sobre a equação de Schrödinger em
uma dimensão, ou seja, a equação de onda de Schrödinger na sua forma depen-
dente do tempo para uma partícula com energia E se movendo num potencial V
em uma dimensão é: e i é a raiz quadrada de -1 o que nos mostra que a energia
total do sistema é a energia cinética que também descreve o movimento de uma
onda na direção x. A partir deste subtópico vamos entender sobre operadores de
posição e de momento (NUSSENZVEIG, 1998).

A interpretação física de | Ψ ( x,t ) |2 d x como probabilidade de encontrar


a partícula entre x e x + dx no instante t mostra que o valor esperado da posição da
partícula nesse instante tem de ser definido por (NUSSENZVEIG, 1998):

∞ ∞ •

∫ x | Ψ | ( x,t ) | d x=∫ Ψ ( x,t ) x Ψ ( x,t ) = (3.19)
2
( x )Ψ
∞ ∞

Em que:

x Ψ ( x,t ) =
xΨ ( x,t )
Ou seja, o observável x = “posição da partícula” é um operador equivalen-
te à multiplicação por x.

Para definir a observável velocidade v da partícula, ou, equivalentemen-
te, seu momento m v, vamos usar o princípio de correspondência, pelo qual de-
vemos ter (NUSSENZVEIG, 1998):

d  
x = v (3.21)
dt Ψ Ψ

d  1  
Num estado descrito por Ψ( x,t ) A dt
A
Ψ
=  A ,H 
ih   Ψ dá:

d  1  
x =  x ,H  (3.22)
dt Ψ
ih  Ψ

Como o operador identidade comuta com qualquer outro, a (3.18) dá:

201
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

  h2   ∂ 2  
 x,H 
=  x,  + V ( x ) 
 
x,I
2m  ∂x 2  
=0
(3.23)
  h  ∂  2 2
.⋅.  x,H  =
−  x, 
2m  ∂x 2 
Para calcular o comutador entre esses dois operadores, basta aplicá-lo a
uma função de onda qualquer Ψ :

(3.24)

Temos, pela (3.20):

(3.25)

De modo que a (3.24) fica:

(3.26)

E, levando nas (3.22) e (3.23):

(3.27)

O que, comparando com a (3.21), dá:

 i ∂
v=- (3.28)
m ∂x
E:

(3.29)

Operador momento
202
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Isso mostra que a (3.18) equivale a:

(3.30)

Ou seja, que o hamiltoniano equivale à observável energia da partícula.


Obtemos assim a interpretação física da:

d 
〈 H 〉 Ψ =0
dt

A qual garante a conservação do valor esperado da energia (NUSSENZ-


VEIG, 1998).

Temos, por outro lado:

 ∂  ∂Ψ ∂
x
 ∂x  Ψ = x − ( xΨ ) = −Ψ, ∀Ψ (3.31)
  ∂x ∂x
Ou seja:

(3.32)

Combinando esse resultado com a (3.29), obtemos a regra de comutação


de Heisenberg:

(3.33)

Como a dedução da:

É válida em geral, daí resulta:

(3.34)

Que é a insigne relação de incerteza de Heisenberg para posição e mo-

203
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

mento de uma partícula. Entendemos que posição e momento (ou velocidade)


de uma partícula são manifestos contraditórios não podem ter, ao mesmo tempo,
valores bem claros em nenhum estado quântico. As mudanças bilaterais têm de
acatar a (3.34) (NUSSENZVEIG, 1998).

Acompanhe no texto a seguir uma explanação de autofunções do momen-


to. Bons estudos!

4 AUTOFUNÇÕES DO MOMENTO
No subtópico anterior estudamos sobre operadores de posição e de mo-
mento, ou seja, devemos associar um operador quântico a cada grandeza física.
Observamos também que o conhecimento da função de onda nos permite calcu-
lar o valor esperado (ou valor médio) de um conjunto muito grande de medidas
dessa grandeza física. A partir deste subtópico vamos entender sobre autofun-
ções do momento (NUSSENZVEIG, 1998).

Uma autofunção do operador momento (3.29) é definida por:

 ∂Ψ P
pΨ P ( x ) ≡ −i = PΨ P ( x )
∂x (3.35)

Na qual p é o autovalor. A solução dessa equação diferencial é:

(3.36)

Que é uma onda plana de momento:

(3.37)

Em que p pode tomar todos os valores reais.

A (3.37) é a relação de Broglie entre momento e número de


onda k. A (3.36) dá:

Ψ P ( x ) |2 =
| C |2 = constante (3.38)

De forma que Ψp ( x ) não representa realmente um estado quântico acei-


tável, porque não pode ser normalizada: a integral de normalização ∫ | ϕ ( x)| d x=1
2

diverge (NUSSENZVEIG, 1998). −∞

Entendemos de fato que uma onda plana é uma construção, um caso li-
mite. Do ponto de vista do princípio de incerteza (3.34), corresponderia a p = 0

204
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

o que requer , ou seja, indeterminação completa da posição: daí o valor


constante da “densidade de probabilidade” (3.38) (NUSSENZVEIG, 1998).

Não obstante a (3.36) prove uma “autofunção imprópria”, as ondas pla-


nas, como na ótica, consistem em uma construção excepcionalmente eficaz. Vi-
mos para os estados de polarização que os autovetores de um observável formam
uma base, ou seja, que é possível expandir qualquer vetor de estado como super-
posição dos autovetores (NUSSENZVEIG,1998, p. 344).

NOTA

Apesar do caráter impróprio das autofunções do momento, essa propriedade


se generaliza para elas: qualquer função de onda Ψ ( x ) normalizável (representando,
portanto, um estado quântico aceitável) pode ser expandida em termos das (3.36):


Ψ ( x )=∫ c( k )ei k x d k (3.39)

Na qual a soma sobre todos os autovalores corresponde aqui a uma integral sobre toda a
reta (NUSSENZVEIG, 1998, p. 345).

“Na análise matemática, a (3.39) corresponde ao que se chama de expan-


são em integral de Fourier e é possível dar expressões explícitas para o cálculo
dos coeficientes c(k)” (NUSSENZVEIG, 1998, p. 345).

Acompanhe, posteriormente, no texto uma explanação sobre densidade


de corrente e de probabilidade. Boa leitura!

5 DENSIDADE DE CORRENTE E DE PROBABILIDADE


No subtópico anterior estudamos sobre autofunções do momento. Mas,
qual é a relação entre autofunções do momento com densidade de corrente de
probabilidade dentro da mecânica quântica?

205
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Em uma interpretação importante da mecânica quântica chamada a in-


terpretação de Copenhague, o módulo de elasticidade ao quadrado da
função de onda, |ψ|2 , é um número real se interpretado como a densida-
de de probabilidade de encontrar uma partícula em um dado local num
determinado momento, se a posição da partícula está a ser medida. Uma
vez que a função de onda é um valor complexo, apenas a sua fase relativa
e a sua relativa magnitude podem ser medidas. Isso não diz nada direta-
mente sobre as magnitudes ou as direções das observações mensuráveis,
tem de se aplicar operadores quânticos para a função de onda ψ e encon-
trar os seus próprios valores, que correspondem a conjuntos de possíveis
resultados de medição. m matemática, uma autofunção de um operador
linear D definido em algum espaço de função é qualquer função não-zero
f naquele espaço que, quando atuada por D, é apenas multiplicada por
algum fator de escala chamado autovalor. No âmbito da mecânica quân-
tica as autofunções são chamadas de autovetores, pois estas soluções são
linearmente independentes (BARBOSA, 2019, p. 3).

Vimos que há conservação global da probabilidade:


d

dt ∞
| Ψ ( x,t ) |2 dx=0 (3.40)

Entretanto, há também uma lei de conservação local, análoga à equação


da continuidade na hidrodinâmica e à conservação local da carga elétrica (NUS-
SENZVEIG, 1998).

Sabemos que a densidade de probabilidade p(x, t) é dada por:

(3.41)

(3.42)

Usando a equação de Schrödinger:

Isso dá:

206
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Ou finalmente:

(3.43)

Na qual:

(3.44)

A (3.43) é a versão unidimensional da equação da continuidade:

(3.45)

E representa a lei de conservação da probabilidade.

ATENCAO

Com efeito, integrando ambos os membros sobre um segmento de reta entre


x1 e x2, vem com x1 < x2:

(3.46)

Ou seja, a taxa de decréscimo, por unidade de tempo, da probabilidade de encontrar a


partícula entre x1 e x2, é igual ao fluxo de probabilidade, por unidade de tempo, que sai por
x2, menos aquele que entra por x1. Logo, j (x, t) dado pela (3.44) representa a corrente de
probabilidade (em uma dimensão, a densidade de corrente se confunde com a corrente,
porque o “fluxo” é tomado através de um ponto).

Em particular, fazendo x1 → −∞ , x2 → ∞ na (3.46), e observando que j deve


tender a zero no infinito para vetores de estado normalizados, recuperamos a lei
de conservação global (3.40) (NUSSENZVEIG, 1998).

Portanto, “o estado quântico de uma partícula é descrito por sua função


de onda, que satisfaz à Equação de Schrödinger. O módulo ao quadrado da fun-
ção de onda nos dá a amplitude de probabilidade de encontrarmos a partícula
numa certa posição” (DONANGELO; CAPAZ, 2009a, p. 47).

207
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

6 RELAÇÕES DE INCERTEZA
No subtópico anterior estudamos sobre a densidade de corrente de probabi-
lidade. E, qual a relação entre fluxo de probabilidade com o princípio da incerteza?

Tal princípio estabelece um limite na precisão com que certos pares de


propriedades de uma dada partícula física, conhecidas como variáveis comple-
mentares (tais como posição e momento linear), podem ser conhecido, ou seja,
ainda que o princípio da incerteza tenha sua validade restrita ao nível subatô-
mico, ao inserir valores como indeterminação e probabilidade no campo do ex-
perimento empírico, tal princípio constitui uma transformação epistemológica
fundamental para a ciência do século XX (FERNANDES, 2018, p. 9).

As regras de comutação canônicas :

Implicam:

(3.48)

Ao passo que todos os demais pares de observáveis podem ser determina-


dos conjuntamente com precisão (NUSSENZVEIG, 1998).

Podemos visualizar a origem desses resultados analisando experimentos


concebíveis para localização de uma partícula (NUSSENZVEIG, 1998).

a) Diafragma

Poderíamos tratar de localizar a posição numa dada direção x fazendo um


feixe de elétrons (por exemplo) incidir perpendicularmente sobre um diafragma
de largura d na direção x (Figura 2) (NUSSENZVEIG, 1998).

208
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO POR UM DIAFRAGMA

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 354)

O que levaria a uma incerteza:

Dx  d (3.49)

Na coordenada x dos elétrons que atravessam o diafragma. Entretanto, em-


bora se pudesse ter px = 0 antes do atravessamento, isto deixa de ser verdade depois,
devido à difração (propriedades ondulatórias do elétron) (NUSSENZVEIG, 1998).

Com efeito, difração por uma fenda, a abertura angular do feixe difratado
é~ , na qual:
o

(3.50)

O que leva a uma incerteza em da ordem de:

h
DPx  p senθ 0  (3.51)
d
O que leva a uma incerteza em Px da ordem de:

209
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

Combinando as (3.49) e (3.51), resulta:

D x DPr ~ h (3.52)

b) O “microscópio” de Heisenberg

Poderíamos tentar localizar o elétron observando-o num (super) micros-


cópio. Entretanto, devido à natureza ondulatória da luz, a localização não pode
ser mais precisa do que o poder separador do microscópio, dado por (NUSSEN-
ZVEIG, 1998):

h
Dx ~ (3.53)
scnθ
Em que X é o comprimento de onda da luz empregada e é a abertura
angular da objetiva (Figura 3).

FIGURA 3 – MICROSCÓPIO DE HEISENBERG

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 355)

Por outro lado, devido à natureza corpuscular da luz, o espalhamento de


luz pelo elétron modifica seu momento. Para minimizar a transferência de mo-
mento, podemos espalhar um único fóton (NUSSENZVEIG, 1998).

Mas não sabemos em que direção, dentro do ângulo θ de abertura da ob-


jetiva, o fóton será espalhado. Logo, há uma incerteza D px na componente x do
momento do fóton espalhado, dada por (NUSSENZVEIG, 1998).:

210
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

2p 
D px ~ p sen θ =
 k sen θ sen θ (3.54)
l

E
IMPORTANT

Pela conservação do momento (recuo), essa é também a incerteza D px na


componente Px do elétron. As (3.53) e (3.54) dão:

D x DPx ~ 2p  =h (NUSSENZVEIG, 1998) (3.55)

Acompanhe em seguida no texto uma explanação sobre estados estacio-


nários, bons estudos!

7 ESTADOS ESTACIONÁRIOS
Poderíamos nos perguntar qual é a relação existente entre o princípio da in-
certeza com estados estacionários? Diríamos que uma partícula nunca tem energia
igual à zero, pois assim ela teria uma velocidade e posição definida, contrariando o
princípio da incerteza de Heisenberg. Mas muito pelo contrário, ela pode ter uma
quantidade mínima de energia, chamado estado fundamental, ou seja, ela teria de-
nominadas flutuações de energia.

Como consequência os estados estacionários têm uma energia definida, ou


seja, são autofunções do Hamiltoniano do sistema, em mecânica quântica um estado
fundamental, também chamado de estado estacionário, é aquele no qual a densi-
dade de probabilidade não varia com o tempo. Ainda que o princípio da incerteza
tenha sua validade restrita ao nível subatômico, ao inserir valores como indetermina-
ção e probabilidade no campo do experimento empírico, tal princípio constitui uma
transformação  epistemológica  fundamental para a ciência do século XX. A partir
deste subtópico vamos aprofundar nossos estudos sobre estados estacionários (NUS-
SENZVEIG, 1998).

Um estado estacionário de energia E é descrito por uma função de onda:

211
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

ϕ E ( x )e-iE1/h
Ψ E ( x,t ) = (3.56)

Na qual:

H ϕ E ( x ) = Eϕ E ( x ) (3.57)

Ou seja, Eϕ é uma autofunção de energia E. O conjunto dos autovalores de


H dá o espectro de energia do sistema (NUSSENZVEIG, 1998).

Para o movimento num potencial unidimensional, a (3.57) fica (omitindo


o índice E):

 d 2ϕ  2
− + v( x )ϕ =Eϕ ≡ k0 ϕ (3.58)
2m dx 2
2m

Em que ko seria o número de onda na ausência do potencial (V = 0). A


(3.58) equivale a:

d 2ϕ
2
+ n 2 ( x ) k02ϕ =
0 (3.59)
dx

Na qual:

V(x)
n2 ( x) = 1 (3.60)
E

É o quadrado do índice de refração na analogia óptico-mecânica. Na me-


cânica clássica, para uma partícula de energia total E dada:

1 2
E-V ( x ) = p ( x) (3.61)
2m

É a energia cinética da partícula na posição x, contanto que seja E > V(x), caso
em que a posição x é acessível ao movimento da partícula (região classicamente per-
mitida).

Conforma a mecânica clássica, num potencial V (x) como o da Figura 4, as


regiões permitidas variam com a energia E da partícula (NUSSENZVEIG, 1998).

212
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 4 – PONTOS DE INVERSÃO

FONTE: Nussenzveig (1998, p. 360)

Para uma energia E1 > V(x) para , a reta toda é permitida e o movimento
é ilimitado.
Já para E = E2 (fig. 3.4), há um ponto xo, em que:

(3.62)

Que se chama ponto de inversão ou de retomo, em que p(x) se anu-


la e troca de sinal: o movimento da partícula pode ser ilimitado à es-
querda, mas ela não pode ultrapassar xo: se vier de - ∞ , ela inverte o sen-
tido do movimento ao atingir xo e retorna a - ∞ (NUSSENZVEIG, 1998).

Para uma energia E = E3 (fig. 3.4), o movimento é confinado à região entre


os pontos de retorno x1 e x2: a partícula oscila indefinidamente entre esses pon-
tos(NUSSENZVEIG, 1998).

Já se pensarmos do ponto de vista da óptica ondulatória, numa região onde


n(x) é constante, com E > V (região permitida), a solução da (3.59) é da forma:

(3.63)

Representando ondas que podem propagar-se nos dois sentidos. Entretan-


to, se E < V (região classicamente proibida), com n2 < 0 na (3.60), podemos tomar:

(3.64)

E ainda existem soluções do tipo:

Que são exponencialmente atenuadas para a direita ou para a esquerda. En-


contramos soluções desse tipo, chamadas de ondas evanescentes, no estudo da refle-
xão total (NUSSENZVEIG, 1998).

213
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Portanto, concluímos que:

Os estados estacionários são extremamente importantes na descrição


quântica da natureza, não só por representarem os estados que têm
energia definida, mas também porque o conjunto dos autoestados do
hamiltoniano, que são os estados estacionários, é completo. Isto signi-
fica que qualquer estado pode ser representado como uma combina-
ção linear de estados estacionários (FLEMING, 2003, s.p.).

No UNI DICAS, a seguir, há algumas sugestões de filmes para enriquecer


o seu estudo, acompanhe!

DICAS

• Biografia dos cientistas Erwin Schrödinger e Werner Heisenberg contada por Antônio Toledo
Piza. Este vídeo faz parte da Coleção Imortais da Ciência, órgão de divulgação científica da
Universidade Federal do Ceará. Aprenda mais sobre a Física Quântica, assistindo ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=zJJq388H_fQ. Acesso em: 17 de outubro de 2019.
• O gato de Schrödinger foi um experimento mental proposto pelo físico Erwin Schrödinger
mais ou menos no surgimento da física quântica. A ideia é bem simples, mas muitas vezes
a discussão interessante proposta por Schrödinger é deixada de lado. Aprenda mais sobre
a Física Quântica com o gato de Schrödinger, assistindo ao vídeo: https://www.youtube.
com/watch?v=pKEq8d_1pn4. Acesso em: 17 de outubro de 2019.
• Trecho reeditado de vídeo do canal Discovery Channel sobre o documentário Tudo
Sobre Incerteza com abordagens sobre a física quântica. Aprenda mais sobre Colapso da
função de onda na mecânica quântica, assistindo ao vídeo: https://www.youtube.com/
watch?v=4UUPJSPBMBY. Acesso em: 17 de outubro de 2019.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático, no próximo


tópico, será sobre a equação de Schrödinger independente do tempo. Esta equação é co-
nhecida como Equação de Onda de Schrödinger Independente do Tempo, e é uma equa-
ção tão fundamental em Mecânica Quântica como a equação de Schrödinger dependen-
te do tempo. A função de onda pode ser escrita como: A densidade de probabilidade fica:
A distribuição de probabilidade é constante no tempo.

214
TÓPICO 1 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

DICAS

Como sugestão de leitura, a fim de aprofundar os estudos e conhecimentos, leia


o texto: O Gato de Schrodinger de Guilherme David Araújo: http://bit.ly/2UgIBaa. Boa leitura!

215
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Usando a notação de Dirac, o vetor de estados é dado, em um instante t por


.

• A equação de Schrödinger dependente do tempo, então, escreve-se:

• i é a unidade imaginária,  é a constante de Planck dividida por 2 p , e o Hamil-



toniano H é um operador auto-adjunto atuando no vetor de estados.

• O Hamiltoniano representa a energia total do sistema. Assim como a força na


segunda Lei de Newton, ele não é definido pela equação e deve ser determina-
do pelas propriedades físicas do sistema.

• Em uma dimensão, a equação de Schrödinger independente do tempo, para


uma partícula, escreve-se:

• Uma característica distintiva na mecânica quântica é o uso de operadores para


representar grandezas físicas. Ou seja, não são somente as rotações e transla-
ções que podem ser representadas por operadores.

• Na mecânica quântica, grandezas como posição, momento linear, momento
angular e energia também são representados por operadores.

• As grandezas físicas não são representadas diretamente por escalares (como 10


m, por exemplo), mas por operadores.

• No âmbito da mecânica quântica, as autofunções são chamados de autoveto-


res, pois estas soluções são linearmente independentes.

• A densidade de corrente e de probabilidade; a taxa de decréscimo, por unida-


de de tempo, da probabilidade de encontrar a partícula entre x1 e x2, é igual ao
fluxo de probabilidade, por unidade de tempo, que sai por x2, menos aquele
que entra por x1. Logo, (x, t) representa a corrente de probabilidade (em uma
dimensão, a densidade de corrente se confunde com a corrente, porque o “flu-
xo” é tomado através de um ponto).

• A teoria das Relações de Incerteza mostra que não podemos ter simultanea-
mente ambos arbitrariamente pequenos.

216
• Δx e Δp podem ser encarados como incertezas na determinação da posição e do
momento, respectivamente.

• Em mecânica quântica, um estado fundamental, também chamado de estado esta-


cionário, é aquele no qual a densidade de probabilidade não varia com o tempo.

• Uma partícula nunca tem energia igual à zero, pois assim ela teria uma veloci-


dade e posição definida, contrariando o princípio da incerteza de Heisenberg.

• Como consequência os estados estacionários têm uma energia definida, ou


seja, são autofunções do Hamiltoniano do sistema.

217
AUTOATIVIDADE

1 Usando o postulado de Born, obtenha a densidade de probabilidade p (x,t)


de se encontrar a partícula em um ponto qualquer do eixo x, no instante t.
Verifique que esta densidade é real e positiva.

2 Imponha a condição de normalização e encontre a constante A.

3 Ache a probabilidade de se encontrar a partícula na metade direita do poço


(x > 0).

218
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
INDEPENDENTE DO TEMPO

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior estudamos sobre a equação de Schrödinger e alguns siste-
mas quânticos. Na mecânica quântica, a equação de Schrödinger é uma equação di-
ferencial parcial que descreve como o estado  quântico  de um  sistema  físico muda
com o tempo. Foi formulada no final de 1925 e publicado em 1926 pelo físico austría-
co Erwin Schrödinger. A partir desse tópico aprofundaremos nossos estudos sobre a
equação de Schrödinger independente do tempo.

Neste tópico, o objetivo é colher previsões relevantes das ocorrências quânti-


cas. Avançamos inclusive pleitear algumas das experimentações que comprovam as
previsões, e poucas das determinantes utilidades práticas dos fenômenos. As previ-
sões serão obtidas através da resolução da equação de Schroedinger independente do
tempo para diferentes formas da função energia potencial V (x), para obtenção das
autofunções, autovalores e funções de onda; e, com a posterior utilização dos proces-
sos desenvolvidos no tópico anterior, para a interpretação do significado físico dessas
grandezas (EISBERG; RESNICK, 1994).

Iniciaremos tratando a forma mais clara possível para o potencial V (x) = 0. En-
tão passo a passo anexaremos complexidade a ele. Com cada novo potencial tratado, o
estudante obterá uma nova compreensão da mecânica quântica e do comportamento de
sistemas microscópicos. Nesta metodologia ele deve abrir a apresentar uma ideia para
com a mecânica quântica, da similar forma que explanou uma impressão para com a
mecânica clássica por meio do uso replicado dessa teoria (EISBERG; RESNICK, 1994).

Os potenciais já destacados não serão convenientes de agregar uma partícula,


logo não há locais onde eles compreendam depressões. Embora a quantização discreta
da energia não seja obtida com estes potenciais, obteremos outros fenômenos funda-
mentais. Além do fato de que eles se ajustam naturalmente ao início de nossa aborda-
gem sistemática, outra razão para tratarmos potenciais que não são capazes de ligar
uma partícula em primeiro lugar é que assim enfatizamos sua importância. Possivel-
mente a metade dos estudos sendo hoje em dia alcançados na mecânica quântica se
descrevem a partículas não ligadas.

É verdade, não obstante que a maioria das implicações iniciais da mecânica


quântica era relativa a partículas presas. A maioria dos aspectos da estrutura dos áto-
mos, moléculas e sólidos são exemplos de problemas de partículas ligadas, assim como
muitos dos aspectos da estrutura nuclear também o são (EISBERG; RESNICK, 1994).
219
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Procederemos somente com potenciais separados do tempo, já que uni-


camente para esses potenciais é que a equação de Schroedinger independente do
tempo tem T importância. Além disso, nos restringiremos a uma única dimensão,
pois isto simplifica a matemática e ao mesmo tempo nos permite demonstrar a
maioria dos fenômenos quânticos interessantes. As vantagens óbvias são os fenô-
menos que demandam o momento angular, logo esta grandeza não tem impor-
tância em uma dimensão (EISBERG; RESNICK, 1994).

2 O POTENCIAL NULO
Neste tópico vamos estudar a equação de Schrödinger independente do tem-
po. Mas o que o potencial nulo tem em relação com a equação de Schrödinger inde-
pendente do tempo? A equação de Schrödinger pode ser resolvida considerando uma
partícula dentro de uma caixa.

Em física, a partícula em uma caixa (também conhecida como poço de poten-


cial infinito) é um problema muito simples que consiste de uma só partícula que reba-
te-se dentro de uma caixa imóvel da qual não pode escapar, e onde não perde energia
ao colidir contra suas paredes. A versão mais precisa se dá na situação idealizada de
uma "caixa monodimensional", na que a partícula de massa m pode ocupar qualquer
posição no intervalo [0,L]. Para encontrar os possíveis estados estacionários é necessá-
rio aplicar a equação de Schrödinger independente do tempo em uma dimensão para o
problema: Considerando que o potencial é zero dentro da caixa e infinito fora, e obser-
vando que a função de onde se anula fora da caixa, pode ser encontrado as condições
de contorno.

No último subtópico do Tópico 1 desta unidade, estudamos que os estados


estacionários são extremamente importantes na descrição quântica da natureza, não só
por representarem os estados que têm energia definida, mas também porque o conjun-
to dos autoestados do hamiltoniano, que são os estados estacionários, é completo. Isto
significa que qualquer estado pode ser representado como uma combinação linear de
estados estacionários. A partir deste subtópico vamos entender sobre o potencial nulo
(EISBERG; RESNICK, 1994).

A equação de Schrödinger independente do tempo mais simples é aquela na


qual V (x) = constante. Uma partícula se movendo sob ação de um potencial desse tipo
é uma partícula livre, pois a força que atua sobre ela é F = -dV(x) /dx = 0. Como isto é
verdade qualquer que seja o valor da constante, não perdemos em generalidade se es-
colhermos a constante aditiva arbitrária que sempre aparece na definição do potencial,
de forma tal que (EISBERG; RESNICK, 1994):

V ( x) = 0 (3.69)

Sabemos que na mecânica clássica uma partícula livre pode estar ou em


repouso ou se movendo com momento constante p. Em qualquer um dos casos, a
energia total E é uma constante.

220
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

E
IMPORTANT

Para obter o comportamento previsto pela mecânica quântica para uma


partícula livre, resolvemos a equação de Schrödinger independente do tempo:

h 2 d 2ψ ( x)
− 2
+ V ( x)ψ ( x) =
Eψ ( x)
m dx 2
Fazendo V(x) =0. Com esta forma para o potencial, a equação fica:

h 2 d 2ψ ( x)
− Eψ ( x)
= (3.70)
2 m dx 2

As soluções são as autofunções Ψ (x), e as funções de onda Ψ (x, t), segundo:

ψ ( x , t ) = ψ ( x)e − iEt / h

São:

ψ ( x , t ) = ψ ( x)e − iEt / h (3.71)

Os autovalores E são iguais a energia total da partícula. Sabemos que deve


existir uma solução aceitável da equação de Schrödinger independente do tempo
para este potencial para qualquer valor de E > 0 (EISBERG; RESNICK, 1994).

Já conhecemos, é claro, uma forma para a função de onda da partícula livre,


a partir dos argumentos que levaram à obtenção da equação de Schroedinger.
Esta função de onda:

ψ ( x , t=
) cos( kx − ωt ) + i sen( kx − ωt )

É:

ψ ( x , t=
) cos( kx − ωt ) + i sen( kx − ωt ) (3.72)

Reescrevendo-a na forma de uma exponencial complexa, temos:

ψ ( x , t ) = e i ( kx − wt ) (3.73)

O número de onda angular k e a freqüência angular w são dados por:

221
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

p 2 mE
k= = (3.74)
h h

E:

E
ω= (3.75)
h

Podemos desmembrar a exponencial em um produto de dois fatores:

ikx − iωt
ψ=
( x , t ) e= e e ikx e − Et / h (3.76)

Comparando então com a forma geral da função de onda, escrita em (3.71):

ψ ( x , t ) = ψ ( x)e − Et / h (3.77)

Fica evidente que:

ψ ( x) = e ikx (3.78)

Em que:

2mE
k= (3.79)
h

Isto é, a exponencial complexa de (3.79) dá a forma de uma autofunção


para a partícula livre, correspondendo ao autovalor E.

Uma função de onda:

ψ ( x , t ) = e i ( kx −ωt )t (3.80)

Representa uma onda que se propaga. Isto pode ser visto, por exemplo, a
partir do fato de que os nós da parte real da função de onda estão localizados nas
posições em que:

kx − ωt =(n + 1 / 2)p

Com n = 0, ± 1, ±2, ... Isto ocorre porque a parte real de P(x, t), que é cos
(kx - wt), tem valor zero sempre que kx - wt = (n + 1/2) p . Portanto, os nós ocorrem
sempre que x = (n + 1/2) p k + wt/k, e, como estes valores de x aumentam à medida
que t aumenta, os nós se movem no sentido de x crescente. A conclusão está ilus-
trada na parte superior da Figura 5, que mostra gráficos da parte real de Ψ (x, t)
em instantes de tempo sucessivos (EISBERG; RESNICK, 1994).

222
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

A Figura 5 apresenta ao alto: a parte real, cos (kx - wt) de uma função
de onda exponencial complexa se propagando, ψ = e i ( kx − wt ) para uma partícu-
la livre. Quando o tempo cresce, os nós se movem no sentido de x crescente.
Embaixo: Para esta função de onda, um gráfico da densidade de probabilidade,
=ψ * ψ e= − i ( kx − wt ) i ( kx − wt )
e 1 não transmite nenhuma ideia de movimento, já que ela
é constante para todos os t (e para todos os x). Evidentemente, não podemos de-
senhar a própria Ψ , pois ela é complexa (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 5 – PARTE REAL DE FUNÇÃO DE ONDA E GRÁFICO DA DENSIDADE DE


PROBABILIDADE

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 236)

Para essa função de onda, a densidade de probabilidade ψ * ( x ,)ψ ( x , t ) ilus-


trada na parte inferior da Figura 5, não transmite nenhuma ideia de movimento
(EISBERG; RESNICK, 1994).

A intuição nos sugere que, para o mesmo valor de E, deveria existir tam-
bém uma função de onda que representasse uma onda se propagando no sentido
de x decrescente (EISBERG; RESNICK, 1994). O argumento precedente indica
que essa função de onda seria escrita com o sinal de kx trocado, isto é:

223
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

ψ ( x , t ) = e i ( − kx −ωt ) (3.81)

A autofunção correspondente seria:

ψ ( x) = e − ikx (3.82)

Em que:

2mE
k= (3.83)
h

É fácil ver que esta autofunção é também uma solução da equação de


Schroedinger independente do tempo para V(x) = 0. Na verdade, qualquer com-
binação linear das duas autofunções, a de (3.78) e a de (3.82), para o mesmo va-
lor da energia total E, também é uma solução da equação (EISBERG; RESNICK,
1994). Para demonstrar esta afirmação, tomamos a combinação linear:

ψ=
( x) Ae ikx + Be − ikx (3.84)

Em que:

2mE
k= (3.85)
h

Na qual A e B são constantes arbitrárias, e a substituímos na equação de


Schroedinger independente do tempo, (3.70). Como:

d 2ψ ( x) 2 2 ikx 2 2* − ikx 2 mE
2
=i k Ae + i k Be = − k 2ψ ( x) =
− 2 ψ ( x) (3.86)
dx h

A substituição na equação dá:

h 2  2 mE 
− − ψ ( x) =
Eψ ( x) (3.87)
2 m  h 2 

Como esta expressão é evidentemente satisfeita, a combinação linear é


uma solução válida para a equação de Schroedinger independente do tempo
(EISBERG; RESNICK, 1994).

A forma mais geral da solução de uma equação diferencial ordinária (isto


é, não parcial) que envolva uma segunda derivada contém duas constantes ar-
bitrárias, isto ocorre porque a obtenção da solução de uma tal equação equivale

224
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

basicamente a fazer duas integrações sucessivas para remover a segunda deriva-


da, e cada uma delas introduz uma constante de integração. Exemplos familiares
ao estudante são encontrados nas soluções gerais das equações de Newton para
o movimento, que envolvem duas constantes arbitrárias, tais como a posição e a
velocidade iniciais. Como a combinação linear de (3.84) é uma solução de (3.70)
que contém duas constantes arbitrárias, ela é a sua solução geral. A solução geral
é útil porque ela nos permite descrever qualquer autofunção possível associada
ao autovalor E. Por exemplo, se fizermos B = 0, obtemos uma autofunção onda se
propagando no sentido de x crescente. Se fizermos A = 0, a onda se propaga no
sentido de x decrescente. Se fizermos |A|=|B|, há duas ondas se propagando em
sentidos opostos que se combinam, formando uma onda estacionária (EISBERG;
RESNICK, 1994).

Vamos considerar agora o problema da interpretação física das autofun-


ções e funções de onda para a partícula livre. Consideremos inicialmente o caso
de uma onda se propagando no sentido de x crescente (EISBERG; RESNICK,
1994). A autofunção e a função de onda nesse caso são:

ψ ( x) = Ae ikx (3.88)

ψ ( x , t ) = Ae i ( kx −ωt ) (3.89)

Uma suposição óbvia seria que a partícula cujo movimento é descrito por
essas funções também está se movendo no sentido de x crescente. Para verificar
isto, vamos calcular o valor esperado do momento, P, da partícula. Segundo a
fórmula geral para o valor esperado:

∞ ∞
 ∂ 
= ∫
f ( x , p , t ) −∞
ψ=
( x ,) fop  x , −ih , t ψ ( x , t )dx , p =
 ∂x  ∫ ψ * popψ dx (3.90)
−∞

Na qual o operador para o momento é:


pop = −ih (3.91)
∂x

Mas, para a função de onda considerada, temos:


popψ =
−ih Ae i ( kx −ωt ) =
−ih(ik ) Ae i ( kx −ωt ) =
+ hkψ =
+ 2 mEψ (3.92)
∂x

De forma que:

∞ ∞
+ ∫ ψ * 2 mEψ dx =
p= + 2 mE ∫ ψ *ψ dx (3.93)
−∞ −∞

225
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

A integral à direita é a densidade de probabilidade integrada sobre todo


o eixo x. É exatamente a probabilidade de que a partícula seja encontrada em al-
gum lugar, que deve ser igual a um. Obtemos, portanto:

p = + 2 mE (3.94)

Este é exatamente o momento que seria esperado para uma partícula se


movendo no sentido de x crescente com energia total E em uma região de energia
potencial nula (EISBERG; RESNICK, 1994).

Para o caso de uma onda se propagando no sentido de x decrescente, a


autofunção e a função de onda são:

ψ ( x) = Be − ikx (3.95)

E:

ψ ( x , t ) = Be i ( − kx −ωt ) (3.96)

Quando fazemos a operação Pop sobre Ѱ, a mudança do sinal no termo


kx leva a uma mudança de sinal no resultado. Isto, por sua vez, leva a um valor
esperado do momento de:

p = − 2 mE (3.97)

Portanto, interpretamos que a autofunção e a função de onda descrevem o


movimento de uma partícula que se move no sentido de x decrescente, com momen-
to negativo (EISBERG; RESNICK, 1994).

As autofunções e as funções de onda que acabamos de considerar represen-


tam situações idealizadas de uma partícula se movendo, em um sentido ou em outro,
em uma região de extensão infinita (EISBERG; RESNICK, 1994). Sua coordenada x
é completamente desconhecida, porque as amplitudes das ondas são as mesmas em
todas as regiões do eixo x. Isto é, as densidades de probabilidade, por exemplo:

= * e − i ( kx −ωt ) Ae i ( kx −ωt ) A * A
ψ * ψ A= (3.98)

São constantes independentes de x. Portanto, a partícula tem igual pro-


babilidade de ser encontrado em qualquer local, e a incerteza em sua posição é
x = . O princípio da incerteza afirma que nessas situações podemos saber o
momento da partícula com total precisão, já que:

DpDx > h / 2 (3.99)

226
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Pode ser satisfeita, no caso em que x = , e a incerteza no seu momento for


= 0. A relação de de Broglie, = ℏk, também indica que temos valores perfeitamen-
te precisos do momento p, porque estas funções de onda contêm apenas um único
valor do número de onda. Como temos à disposição um intervalo de tempo infinito
para medir a energia de uma partícula se movendo sobre uma região de extensão
infinita, o princípio da incerteza para energia-tempo E t ℏ/2 permite que sua
energia seja conhecida com total precisão. Isto está de acordo com a existência de um
único valor para a frequência angular nessas funções de onda, porque a relação de
Broglie-Einstein = ℏ mostra que isto implica na existência de um único valor para
a energia E (EISBERG; RESNICK, 1994).

Um exemplo físico que se aproxima da situação ideal representada por essas


funções de onda seria um próton se movendo em um feixe altamente monoenergé-
tico emergindo de um cíclotron. Esses feixes são utilizados para o estudo do espa-
lhamento de prótons por alvos constituídos de núcleos inseridos diante do feixe. Do
ponto de vista do núcleo alvo, em termos de distâncias da ordem de seu raio nuclear
a posição x de um próton no feixe seria, para todos os fins práticos, completamente
desconhecido, isto é, x r'. Portanto as funções de onda para a partícula livre de
(3.88), (3.89) e (3.95), (3.96) podem dar uma boa aproximação do próton no feixe, na
região próxima ao núcleo, na qual ocorre o espalhamento. Em outras palavras, próxi-
ma ao núcleo, a função de onda de (3.88) e (3.89) (EISBERG; RESNICK, 1994):

ψ = Ae i ( kx −ωt ) (3.100)

Pode ser utilizada para descrever um próton em um feixe, proveniente de


um cíclotron, dirigido no sentido de x crescente, desde que o feixe seja extrema-
mente longo se comparado às dimensões do núcleo - uma condição que é sempre
satisfeita na prática, pois os núcleos são extremamente pequenos. A função de
onda descreve uma partícula de momento bem definido p = k e energia to-
tal bem definida , na qual estas grandezas estão relacionadas através da
equação p = 2mE apropriada a uma partícula de massa m se movendo em uma
região de energia potencial nula.

Há aqui uma dificuldade em relação à normalização das funções de onda


de (3.88 e 3.89) e (3.95 e 3.96). Para termos, por exemplo:

∞ ∞ ∞

∫=
ψ *ψ dx
−∞
∫= * A ∫ dx 1
A * Adx A=
−∞ −∞
(3.101)

A amplitude A deveria ser nula, pois dx tem valor infinito. A dificuldade


surge da afirmação não ∫ ∞−∞ dx feita pela função de onda, de que a partícula tem a
mesma probabilidade de ser encontrada em qualquer ponto de uma região de
extensão infinita. Isto nunca é realmente verdade, pois os feixes reais têm sempre
tensão finita (EISBERG; RESNICK, 1994).

227
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

O feixe de prótons é limitado em uma extremidade pelo cíclotron e na


outra por uma parede do laboratório. Embora a incerteza x na localização de
um próton seja muito maior do que um raio nuclear ela não é maior do que a
distância L do cíclotron a parede. Isto é, embora x também é verdade que
< L. Isto sugere que se pode normalizar a função de onda, fazendo-se Ѱ = 0
fora do intervalo –L/2 < x < +L/2, ou seja, restringindo-se x a estar neste intervalo
(EISBERG; RESNICK, 1994).

Qualquer que seja a forma de fazê-lo obtém uma descrição mais realística da
situação física real, e também podemos normalizar a função de onda com amplitude
não nula A. Esse processo é chamado normalização de caixa. Apesar do valor de A
obtido depender do comprimento L da caixa, sempre acontece que o resultado final
do cálculo de uma grandeza mensurável é independente do valor real de L usado.
Além disso, vemos que normalmente não é necessário fazer a normalização da caixa
em detalhes, porque as grandezas de interesse físico podem ser expressas como ra-
zão as quais o valor de A se cancela (EISBERG; RESNICK, 1994).

A situação é bastante análoga a situações encontradas na física clássica. Por


exemplo, na resolução de um problema de eletrostática, um fio reto carregado de
comprimento infinito é frequentemente utilizado para aproximar um fio de compri-
mento finito em um sistema no qual “efeitos de borda” não são importantes. Essa
idealização simplifica muito a geometria do problema, mas leva à dificuldade que é
necessária uma quantidade infinita de energia para que o fio infinitamente longo seja
carregado, a menos que sua densidade carga seja nula. No entanto, normalmente é
possível contornar essa dificuldade simplesmente expressando-se as grandezas que
aparecem no problema em termos de razões (EISBERG; RESNICK, 1994).

É possível obter uma ideia muito mais realística de movimento do que a vista
em qualquer das partes da Figura 5 se usarmos um grande número de funções de
onda da forma de (3.88 e 3.89) para gerar um grupo de ondas. A Figura 6 mostra a
densidade de probabilidade para um grupo particularmente simples, indican-
do seu movimento no sentido de x crescente, e a largura sempre crescente do grupo
(EISBERG; RESNICK, 1994).

A densidade de probabilidade para uma função de onda de grupo de uma


partícula livre. À medida que o tempo passa, o grupo se move no sentido de x cres-
cente, e também se alarga (EISBERG; RESNICK, 1994).

228
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 6 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 239)

Em qualquer instante, a localização do grupo pode ser bem caracterizada


pelo valor esperado x, calculado a partir da densidade de probabilidade. A ve-
locidade constante do grupo, dx/dt, é igual à velocidade constante da partícula
livre, v = p/m = /m = . O alargamento do grupo é uma propriedade
característica de ondas que está intimamente relacionada com o princípio da in-
certeza. É claro que o comportamento da função de onda do grupo é mais fácil de
interpretar do que o comportamento de uma onda puramente senoidal, porque
a densidade de probabilidade correspondente está mais próxima da descrição
do movimento da partícula que estamos acostumados, da mecânica clássica. No
entanto, a matemática necessária para descrever o grupo, e tratar seu comporta-
mento analiticamente, muito mais complicada. Isto ocorre porque um grupo deve
necessariamente envolver uma distribuição de números de onda k, e, portanto,
uma distribuição de energias E= h2k2/2m. Mesmo para compor um grupo simples,
como o mostrado na figura, devemos somar um número muito grande de ondas
senoidais, com diferenças muito pequenas nos números de onda ou nas energias.
Estas complicações matemáticas eliminam completamente qualquer vantagem
que porventura surja no sentido de facilitar a interpretação. Consequentemente,
os grupos raramente são utilizados nos cálculos quânticos práticos, e a maioria
desses cálculos é feita com funções de onda que envolvam um único número de
onda e uma única energia (EISBERG; RESNICK, 1994).

A consideração do movimento do grupo da Figura 6 nos leva à discussão


breve de um caso relacionado a este, de grande interesse. Se, ao invés de ter o va-
lor constante nulo, a função H potencial V(x) varie tão lentamente que seu valor é
quase constante em uma distância da ordem do comprimento de onda de Broglie
da partícula, a função de onda que descreve o grupo ainda se propagará de forma

229
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

semelhante à ilustrada na figura, mas a velocidade do grupo mudará lentamente


(EISBERG; RESNICK, 1994). Cálculos, a partir da equação de Schroedinger, le-
vam a uma expressão que relaciona a variação na velocidade, dx/dt, do grupo à
variação no potencial V(x). Esta expressão é:

d  dx  d  V ( x) 
 =  − (3.102)
dt  dt  dt  m 

Ou:

dV ( x)

d2 x dx F ( x) (3.103)
= =
dt 2 m m

Na qual as barras denotam valores esperados, e F(x) é a força correspondente


ao potencial V(x) (EISBERG; RESNICK, 1994).

Infelizmente, os cálculos são muito complicados para serem reproduzidos


aqui. Eles são muito significativos, porque mostram que a aceleração da posição mé-
dia da partícula associada à função de onda que descreve o grupo é igual à força
média agindo sobre esta partícula, dividida por sua massa. Isto é, a equação de Schro-
edinger implica que a lei de Newton para o movimento é obedecida, em média, por
uma partícula de um sistema microscópico. As flutuações em tomo de seu comporta-
mento médio refletem o princípio da incerteza, e são muito importantes no limite mi-
croscópico. Porém, estas flutuações se tornam desprezíveis no limite macroscópico,
no qual o princípio da incerteza não tem consequências, e não é mais necessário falar
em médias quando falamos de posições nesse limite (EISBERG; RESNICK, 1994).

No limite macroscópico qualquer potencial realístico muda apenas de uma


pequena quantidade em uma distância tão pequena quanto o comprimento de onda
de Broglie. Portanto, nesse limite também não é necessário falar em médias ao discu-
tir o potencial.

Logo, no limite macroscópico, podemos ignorar as barras que repre-


sentam valores esperados, ou médias, nas equações escritas anterior-
mente. Concluímos que a lei de Newton para o movimento pode ser
obtida a partir da equação de Schroedinger, no limite clássico de siste-
mas macroscópicos. A lei de Newton para o movimento é um caso es-
pecial da equação de Schroedinger (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 240).

3 O POTENCIAL DEGRAU

No subtópico anterior estudamos sobre o potencial nulo. Qual a relação


com o potencial degrau? Ambos utilizam da equação de Schrödinger indepen-
dente do tempo para resolver o caso da partícula em uma caixa — também co-

230
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

nhecida como poço de potencial infinito. A equação de Schrödinger para a região


entre as paredes, isto é, no interior da caixa, o potencial é nulo (V(x) =0) que é o
mesmo para uma partícula livre. A partir deste subtópico aprofundaremos nos-
so estudo sobre o potencial degrau com energia menor do que altura do degrau
(EISBERG; RESNICK, 1994).

3.1 ENERGIA MENOR DO QUE A ALTURA DO DEGRAU


A partir de agora estudaremos as soluções da equação de Schroedinger
independente do tempo para uma partícula cuja energia potencial possa
ser representada por uma função V(x) que tenha um valor constante di-
ferente em cada uma de várias regiões adjacentes do eixo. Esses poten-
ciais mudam de valor abruptamente ao ir de uma região para a outra. É
claro que potenciais que mudam abruptamente (isto é, que são funções
descontínuas de x) não existem realmente na natureza. No entanto, es-
ses potenciais idealizados são frequentemente utilizados na mecânica
quântica para aproximar situações reais, pois, por serem constantes em
cada região, eles são de fácil tratamento matemático. Os resultados que
obtemos para estes potenciais nos permitem ilustrar uma série de fe-
nômenos quânticos característicos (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 241).

Uma analogia, que é certamente familiar ao estudante, é encontrada no


processo utilizado no estudo do eletromagnetismo. Ele envolve o trata-
mento de muitos sistemas idealizados, como o fio infinito, o capacitor
sem bordas e etc. Estes sistemas são estudados porque são relativamen-
te fáceis de tratar, porque são excelentes aproximações para sistemas
reais, e porque os sistemas reais normalmente são difíceis de tratar ma-
tematicamente por terem geometrias complicadas. Os potenciais ideali-
zados que tratamos neste tópico são utilizados da mesma forma e com a
mesma justificativa (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 241).

O caso mais simples é o degrau de potencial ou potencial degrau ilustrado


na Figura 7. Se escolhemos a origem do eixo x como estando sobre o degrau e a
constante aditiva arbitrária que sempre aparece na definição de uma energia po-
tencial de forma tal que a energia potencial da partícula seja nula à esquerda do
degrau, V(x) pode ser escrita como:

{
V0 V0 x>0 x>0

V ( x) =V ( x) = (3.104)

0 0 x<0 x<0

Na qual Vo é uma constante. Podemos imaginar que V(x) é uma represen-


tação idealizada da função energia potencial para uma partícula carregada se mo-
vendo ao longo do eixo x de um sistema de dois eletrodos ligeiramente separados
que são mantidos a voltagens diferentes. A parte superior da Figura 7 ilustra esse
sistema e a parte inferior ilustra a função energia potencial correspondente (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

231
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

A Figura 7 traz a ilustração de um sistema físico com uma função energia


potencial que pode ser aproximada por um degrau de potencial. Uma partícula
carregada se move ao longo do eixo de dois eletrodos cilíndricos mantidos a di-
ferentes voltagens. Sua energia potencial é constante quando ela está dentro de
um dos eletrodos, mas muda muito rapidamente ao passar de um para o outro
(EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO DE UM SISTEMA FÍSICO

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 242)

À medida que a separação diminui, a função potencial se aproxima da


idealização mostrada na Figura 8.

FIGURA 8 – UM DEGRAU DE POTENCIAL OK

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 241)

Suponhamos que uma partícula de massa m e energia total E esteja na região


x < 0, e que esteja se dirigindo para o ponto x = 0, no qual o potencial V (x) muda
abruptamente seu valor. Segundo a mecânica clássica, a partícula vai se mover livre-
mente nessa região até atingir x = 0, na qual ela estará sujeita a uma força impulsiva
F= -dV(x) /dx atuando no sentido de x decrescente. O potencial idealizado, (3.104), dá
uma força impulsiva de módulo infinito atuando apenas no ponto x = 0. No entanto,
como ela age sobre a partícula apenas durante um tempo infinitesimal, a grandeza
∫ F dt (o impulso), que determina a variação no seu momento, é finita. Na verdade,
a variação no momento não é afetada pela idealização (EISBERG; RESNICK, 1994).

232
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

O movimento da partícula após sofrer a ação da força em x = 0 depende, na me-


cânica clássica, da relação entre E e V0. Isto também vale na mecânica quântica. Neste
tópico, tratamos o caso em que E < V0, isto é, no qual a energia total é menor que a altura
do degrau de potencial, como está ilustrado na Figura 9 (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 9 apresenta a relação entre as energias potencial e total para uma


partícula incidente sobre um degrau de potencial com energia menor do que a altura
do degrau (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 9 – RELAÇÃO ENTRE AS ENERGIAS POTENCIAL E TOTAL

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 243)

Como a energia total E é uma constante, a mecânica clássica diz que a par-
tícula não pode passar para a região x > 0. A razão é que nessa região:

p2
E = + V ( x) < V ( x) (3.105)
2m

Ou:

p2
<0 (3.106)
2m

Logo, a energia cinética p2/2m seria negativa na região x > 0, o que impli-
caria em um valor imaginário para o momento p nesta região. Isto, além de não
ser possível, não tem sentido físico na mecânica clássica. Segundo a mecânica
clássica, a força impulsiva vai mudar o momento da partícula de uma forma tal
que seu movimento ficará exatamente invertido, afastando-se no sentido de x
decrescente, com momento em sentido oposto ao sentido de seu momento inicial.
O módulo do momento p será o mesmo antes e depois da inversão, pois a energia
total E= p2/2m permanece constante (EISBERG; RESNICK, 1994).

233
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Para determinar o movimento da partícula segundo a mecânica quânti-


ca, devemos achar a função de onda que é uma solução, para a energia total E
< K0, da equação de Schroedinger para o degrau de potencial de (3.104). Como
esse potencial é independente do tempo, o problema real é resolver a equação de
Schrödinger independente do tempo. Sabemos, a partir da discussão qualitativa
feita no capítulo anterior, que deveria existir uma solução aceitável para qualquer
valor E > 0, já que o potencial não pode limitar a partícula a uma região do eixo x
(EISBERG; RESNICK, 1994).

Para o potencial degrau, o eixo x se divide em duas regiões. Na região


onde x < 0 (à esquerda do degrau), temos V (x) = 0, de forma que a autofunção que
descreve o comportamento da partícula é uma solução da equação de Schroedin-
ger independente do tempo simples:

h 2 d 2ψ ( x)
− Eψ ( x)
= (3.107)
2 m dx 2

Na região em que x > 0 (à direita do degrau), temos V (x) = V0 e a auto-


função é uma solução de uma equação de Schroedinger independente do tempo
quase tão simples quanto à anterior:

h 2 d 2ψ ( x)
− + V0ψ ( x) =
Eψ ( x) (3.108)
2 m dx 2

Estas duas equações são resolvidas separadamente. Constrói-se então


uma autofunção válida para todos os x juntando-se as duas soluções em x = 0 de
forma a satisfazer às exigências de que a autofunção e sua primeira derivada se-
jam em todos os pontos finitas, unívocas e contínuas (EISBERG; RESNICK, 1994).

ATENCAO

Consideremos a equação diferencial válida para a região na qual V(x) = 0,


(3.107). Como esta é precisamente a equação de Schrödinger independente do tempo para
uma partícula livre, tomamos como sua solução geral à autofunção ψ= ( x) Ae ikx + Be − ikx .
Escrevemos esta autofunção como (EISBERG; RESNICK, 1994):

ψ=
( x) Ae ik ,x + Be − ik ,x (3.109)

Em que:

2 mE
=k1 x<0 (3.110)
h

234
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Consideremos agora a equação diferencial válida na região na qual V(x) = V0, (3.108). Não
esperamos que uma função oscilatória, como em (3.109 e 3.110), seja uma solução, pois
a energia total E é menor do que a energia potencial V0 na região considerada. Na ver-
dade, estas considerações nos dizem que a solução será uma função que “se aproxima
gradualmente do eixo x”. A função mais simples com esta propriedade é a exponencial real
decrescente, que pode ser escrita como:

=ψ ( x) e − k , x x<0 (3.111)

Vamos determinar se esta é uma solução e se for obter também o valor exigido para k2
substituindo-a em (3.108), que é a equação à qual ela deve satisfazer. Primeiro calculamos:

d 2ψ ( x)
2
= k22ψ ( x)
( − k2 )2 e − k , x = (3.112)
dx
A substituição dá que:

h2 2
− k ψ ( x) + V0ψ ( x) =
Eψ ( x) (3.113)
2m 2
A equação é satisfeita, e portanto a solução está verificada, desde que:

2 m(V0 − E)
=k2 E < V0 (3.114)
h

A solução que acabamos de verificar não é uma solução geral da equação de


Schrödinger independente do tempo, (3.108). A razão é que a equação contém uma
segunda derivada, de forma que a solução geral deve conter duas constantes arbi-
trárias. No entanto, se pudermos encontrar uma solução da equação para a mesma
E, com forma diferente da que obtivemos, podemos fazer uma combinação linear
das duas, chamadas soluções particulares. A combinação linear também será uma
solução, e, como ela conterá duas constantes arbitrárias, vai ser uma solução geral
(EISBERG; RESNICK, 1994).

Uma sugestão para a forma de uma outra solução particular é encontrada se


notarmos que aparece como um quadrado na equação anterior a (3.114). Logo, seu
sinal não interessa exponencial crescente:

ψ ( x) = e + k x
2
(3.115)

Em que:

2 m(V0 − E)
=k2 x>0 (3.116)
h

235
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Também deve ser uma solução da equação de Schrödinger independente


do tempo que estamos considerando. É igualmente fácil verificar isto, por subs-
tituição na equação, mas verificaremos em vez disso, que a combinação linear
arbitrária das duas soluções particulares (EISBERG; RESNICK, 1994):

( x) Ce k x + De − k x
ψ= 2 2
(3.117)

Em que:

2 m(V0 − E)
k2 x>0 (3.118)
h

E onde C e D são constantes arbitrárias, é uma solução de (3.108). Calcu-


lamos:

d 2ψ ( x) 2 m(V0 − E)
= Ck22 e k2 x + D( − k2 )2 e −=
k1 x
k22ψ (=
x) ψ ( x) (3.119)
dx 2
h

E substituímos o resultado na equação. Obtemos:

h2 2m
− (V − E)ψ ( x) + V0ψ ( x) =
Eψ ( x) (3.120)
2m h2 0

Como esta expressão é obviamente verdadeira, verificamos que (3.17 e 3.18)


é uma solução. Como ela contém duas constantes arbitrárias, é a solução geral da
equação de Schroedinger independente do tempo na região do potencial degrau em
que V (x) = K0, com E < V0.

As constantes arbitrárias A, B, C e D, de (3.109) e (3.117) devem ser escolhi-


das de forma tal que a autofunção total satisfaça às exigências relativas à limitação,
unicidade e continuidade de Ѱ (x) e Ѱ(x) /dx. Consideremos inicialmente o compor-
tamento de Ѱ(x) quando x . Nesta região do eixo, a forma geral de Ѱ (x) é dada
por (3.117). Podemos verificar que ela vai em geral crescer sem limite quando x
devido à presença do primeiro termo, . Para evitar manter Ѱ (x) finita, devemos
fazer com que o coeficiente arbitrário C do primeiro termo seja igual a zero. Obtemos,
portanto (EISBERG; RESNICK, 1994):

C=0 (3.121)

A unicidade é automaticamente satisfeita por essas funções. Para estudar


sua continuidade, consideremos o ponto x = 0. Neste ponto, as duas formas de Ѱ
(x), dadas por (3.109) e (3.117), devem se juntar de uma forma tal que Ѱ (x) e dѰ
(x) / dx sejam contínuas. A continuidade de Ѱ (x) é obtida se a seguinte relação for
satisfeita (EISBERG; RESNICK, 1994):

− k2 x ik1 x − ik , x
=
D=
(e )
x 0=
A( e x 0=
)x 0
+ B( e ) (3.122)

236
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Que resulta de igualarmos as duas formas em r = 0. Esta forma de:

D=A+B (3.123)

A continuidade na derivada das duas formas:

dψ ( x)
= − k2 De − k2 x (3.124)
dx

E:

dψ ( x)
= ik1 Ae ik2 x − ik1 Be − ik1x (3.125)
dx

É obtida se igualarmos estas derivadas em x = 0. Portanto, fazemos:

− k2 x ik1 x − ik1 x
2
=
− k D( e
x 0 =
1
) = (ik A( e
x 0=
1 x 0
) − ik B( e ) (3.126)

O que dá:

ik2
D= A − B (3.127)
k1

Somando (3.123) e (3.127), temos:

D  ik2 
A
= 1+  (3.128)
2 k1 

Subtraindo-as, temos:

D  ik2 
=B 1+  (3.129)
2 k1 

Já determinamos A, B e C em função de D. Portanto, a autofunção para o


degrau de potencial, com energia E < V0, é:

D D
(1 + ik2 / k1 )e ik1x + (1 − ik2 / k1 )e − ik1x x<0
2 2
(3.130)
ψ ( x) =

De − k2 x x>0

237
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

A constante arbitrária restante D, determina a amplitude da autofunção,


mas ela não aparece em nenhuma de suas características mais importantes. A pre-
sença dessa constante reflete o fato de que a equação de Schrödinger independen-
te do tempo é linear em Ѱ (x), e, portanto, são possíveis soluções com qualquer
amplitude. Veremos que é normalmente possível obtermos resultados úteis sem
nos preocuparmos em normalizar Ѱ, o que especificaria D. A razão disso é que as
grandezas mensuráveis que obteremos como previsões da teoria contém D tanto
no numerador quanto no denominador de uma fração, de forma que este valor
deverá se cancelar, não aparecendo no resultado (EISBERG; RESNICK, 1994).

A função de onda correspondente à autofunção é:

{
Ae ik2 x eAe
− iEtik
/ h2 x − iEt /−hik 1 x − iEt
+e Be + eBe − ik/ h1x= iEt / hi ( k1 x − Et / hi ()k1 x − Et / hi ()− k1 x − Eti/(h−)k1 x − Et / h )
e −Ae =Ae + Be + Be x<0 x<0
ψ ( x) =ψ ( x) = (3.131)

De − k2 x eDe
− iEt−/kh2 x − iEt / h
e x>0 x>0

Consideremos a região x < 0. O primeiro termo da função de onda nesta


região é uma onda se propagando no sentido de x crescente. Esse termo descreve
uma partícula se movendo no sentido de x crescente. O segundo termo da fun-
ção de onda para x < 0 é uma onda se propagando no sentido de x decrescente, e
descreve uma partícula se movendo neste sentido. Essas informações, somadas
às previsões clássicas descritas anteriormente, sugerem que deveríamos associar
o primeiro termo à incidência de uma partícula sobre o degrau de potencial, e o
segundo termo a reflexão da partícula pelo degrau (EISBERG; RESNICK, 1994).

Vamos usar esta associação para calcular a probabilidade que a partícula


incidente seja refletida, que chamamos coeficiente de reflexão R. Evidentemente, R
depende da razão B/A, que especifica a amplitude da parte refletida da função de
onda relativamente à amplitude da parte incidente. Mas na mecânica quântica as
probabilidades dependem das intensidades, como B*B e A*A e não das amplitudes.
Portanto, devemos calcular R a partir da fórmula (EISBERG; RESNICK, 1994):

B* B
R= (3.132)
A* A

Isto é, o coeficiente de reflexão é igual à razão entre a intensidade da parte


da onda que descreve a partícula refletida e a intensidade da parte que descreve
a partícula incidente (EISBERG; RESNICK, 1994). Obtemos:

B * B (1 − ik2 / k1 ) * (1 − ik2 / k1 )
=R = (3.133)
A * A (1 + ik2 / k1 ) * (1 + ik2 / k1 )

238
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Ou:

(1 + ik2 / k1 )(1 − ik2 / k1 )


=R = 1 E < V0 (3.134)
(1 − ik2 / k1 )(1 + ik2 / k1 )

O fato de que esta razão seja igual a um significa que uma partícula inci-
dente sobre o degrau de potencial, com energia total menor do que a altura do
degrau tem probabilidade um de ser sempre refletida. Isto está de acordo com as
previsões da mecânica clássica (EISBERG; RESNICK, 1994).

Consideremos agora a autofunção de (3.131). Usando a relação:

e ik1x cos k1 x + isenk1 x


= (3.135)

É fácil mostrar que a autofunção pode ser expressa como:


k

{
D cos k1 x − D 2 sen k1 xk2 x<0
D coskk1 1 x − D sen k1 x x<0
k1
ψ ( x) = (3.136)
ψ ( x) =
De − k2 x x>0
De − k2 x x>0

Se gerarmos a função de onda, multiplicando Ѱ(x) por e − iEt / h , vemos ime-


diatamente que temos na verdade uma onda estacionária, pois as localizações
dos nós não mudam com o tempo. Neste problema, as ondas incidente e refletida
para x < 0 se combinam formando uma onda estacionária, pois elas têm a mesma
intensidade (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 10 representa a Ilustração esquemática da combinação de uma onda


incidente e de uma onda refletida de mesmas intensidades, formando uma onda es-
tacionária. A função de onda é refletida por um degrau de potencial em x = 0. Ob-
serve que os nós das ondas incidente e refletida se movem para a direita ou para a
esquerda, mas os da onda resultante são estacionários (EISBERG; RESNICK, 1994).

239
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 10 – ILUSTRAÇÃO DE ONDA INCIDENTE E DE ONDA REFLETIDA

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 247)

Na parte superior da Figura 11, ilustramos a função de onda por meio


de um gráfico da autofunção, (3.136), que é uma função real de x se tomarmos D
− iEt / h
real. Pode-se imaginar a função de onda oscilando no tempo segundo e com
uma amplitude cuja dependência espacial é dada por Ѱ(x) (EISBERG; RESNICK,
1994). Obtemos aqui uma característica que está em flagrante contraste com as
previsões clássicas. Embora na região x > 0 a densidade de probabilidade:

= * e − k2 xe + iEt / h De − k2 xe −iEt / h D * De −2 k2 x
ψ * ψ D= (3.137)

Ilustrada na parte inferior da Figura 11 decresça rapidamente à medida


que x cresce, há uma probabilidade finita de encontrar a partícula na região x > 0
(EISBERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 11, ao alto: A autofunção Ѱ (x) para uma partícula incidente so-
bre um degrau de potencial em x = 0, com energia total menor do que a altura do
degrau. Observe a penetração da autofunção na região classicamente proibida,
x > 0. Embaixo: A densidade de probabilidade Ѱ*Ѱ = Ѱ*Ѱ =Ѱ2 correspondente a
esta autofunção. O espaçamento entre os picos de Ѱ2 é duas vezes menor do que
o espaçamento entre os picos de Ѱ (EISBERG; RESNICK, 1994).

240
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 11 – AUTOFUNÇÃO E DENSIDADE DE PROBABILIDADE PARA UMA PARTÍCULA

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 248)

Segundo a mecânica clássica, seria absolutamente impossível encontrar a


partícula na região x > 0, pois aí a energia total é menor do que a energia potencial,
de forma que a energia cinética p2 /2m seria negativa e o momento P, imaginário.
Este fenômeno, chamado penetração na região classicamente proibida, é uma das
previsões mais notáveis da mecânica quântica (EISBERG; RESNICK, 1994).

Alguns pontos que confirmam essa previsão: um deles é que a penetração


não significa que a partícula seja mantida na região classicamente proibida. De fato,
vimos que a partícula incidente é certamente refletida pelo degrau (EISBERG; RES-
NICK, 1994).

Um outro ponto é que a penetração na região proibida, que obedece a


(3.137), não está em conflito com as experiências da mecânica clássica. É evidente,
a partir da equação, que a probabilidade de encontrar a partícula com uma coor-
denada x > 0 é apreciável apenas em uma região começando em x = 0 e se esten-
dendo em uma distância de penetração x, que é igual a 1/k2. A razão disto é que
e −2 k2 x cai muito rapidamente a zero quando x e muito maior do que 1/k2. Como
=k2 2 m(V0 − E) / h , temos:

h
Dx = (3.138)
2 m(V0 − E)

241
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

No limite clássico, o produto de m por (V0 - E) é tão grande comparado a


h2, que x é imensuravelmente pequeno (EISBERG; RESNICK, 1994).

Foi estudado sobre o potencial degrau com energia menor do que altura
do degrau. Foi aplicado o formalismo quântico ao caso de uma partícula quântica
que incide sobre um potencial V(x) que tem a forma de um degrau, ou seja, tem
um valor 0 para x < 0 e um valor V0 > 0 para x > 0. Foi considerado inicialmente o
caso em que a energia da partícula é menor que a altura do degrau. A partir deste
subtópico aprofundaremos nosso estudo sobre o potencial degrau com energia
maior do que altura do degrau (EISBERG; RESNICK, 1994).

3.2 ENERGIA MAIOR DO QUE A ALTURA DO DEGRAU


Segundo Eisberg e Resnick (1994), consideramos o movimento de uma partícu-
la sob influência de um potencial degrau, (3.104), quando sua energia total E for maior
do que a altura V0 do degrau, isto é, fazemos E> K, como ilustrado na Figura 12.

A Figura 12 traz a relação entre as energias potencial e total para urna


partícula incidente sobre um degrau de potencial com energia total maior do que
a altura do degrau (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 12 – RELAÇÃO ENTRE AS ENERGIAS POTENCIAL E TOTAL

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 251)

Na mecânica clássica, uma partícula com energia total E movendo-se na


região x<0 no sentido de x crescente sofrerá uma força retardadora F = -dV (x) / dx
no ponto x = 0. No entanto, o impulso apenas fará com que a partícula fique mais
lenta, e entre na região x > 0, continuando com seu movimento no sentido de x
crescente. Sua energia total E permanece constante; seu momento na região x <
0 e p1, na qual /2m = E seu momento na região x > 0 é p2, em que /2m =E - V0.

242
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Veremos que as previsões feitas pela mecânica quântica não são tão sim-
ples assim. Se E não for muito maior do que V0, a teoria prevê que a partícula tem
uma possibilidade apreciável de ser refletida pelo degrau de volta para a região x
< 0, mesmo tendo energia suficiente para ultrapassar o degrau e ir para a região x
> 0 (EISBERG; RESNICK, 1994).

Um exemplo disto é encontrado no caso de um elétron no cátodo de uma


célula fotoelétrica, que recebeu energia ao absorver um fóton, e que está tentando
escapar da superfície do cátodo metálico. Se sua energia não for muito maior do
que a altura do degrau no potencial existente na superfície do metal, ele pode ser
refletido e não conseguir escapar. Isto faz com que haja uma redução significativa
na eficiência das células fotoelétricas para luz de frequências não muito superio-
res à frequência limite (EISBERG; RESNICK, 1994).

Um exemplo mais importante da reflexão que ocorre quando uma par-


tícula tenta passar por um potencial degrau é encontrado no movimento de um
nêutron em um núcleo. O potencial atuando sobre o nêutron nas proximidades
da superfície nuclear é, em boa aproximação, um potencial degrau. O potencial
cresce muito rapidamente na superfície nuclear porque um núcleo tende a ligar
um nêutron. Se o nêutron recebeu, de alguma forma, energia, e está tentando
escapar do núcleo, ele será provavelmente refletido de volta para dentro do nú-
cleo na superfície, se sua energia for apenas um pouco maior do que a altura
do degrau. Isto tem o efeito de inibir a emissão de nêutrons de baixas energias,
e, portanto, aumenta consideravelmente a estabilidade do núcleo nos primeiros
estados excitados. O efeito é uma manifestação das propriedades ondulatórias de
nêutrons, que é muito significativa nos processos que ocorrem em reações nucle-
ares, como veremos no final deste livro (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na mecânica quântica, o movimento de uma partícula sob a influência do


degrau de potencial é descrito pela função de onda:

ψ ( x , t ) = ψ ( x)e − iEt / h (3.139)

Em que a autofunção(x) satisfaz à equação de Schrödinger independente


do tempo para esse potencial. Esta equação tem formas diferentes nas regiões à
direita e à esquerda do degrau, que são:

h 2 d 2ψ ( x)
−= Eψ ( x) x<0 (3.140)
2 m dx 2
E:
h 2 d 2ψ ( x)
− ( E − V0 )ψ ( x)
= x<0 (3.141)
2 m dx 2

A autofunção Ѱ(x) também satisfaz às condições que exigem a unicidade,


a continuidade e a limitação de Ѱ(x) e de sua derivada, em particular no ponto
que separa as duas regiões, x = 0 (EISBERG; RESNICK, 1994).

243
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

A equação (3.140) descreve o movimento de uma partícula livre de momento


p1. Sua solução geral é:

Ae ik x + Be − ik x
ψ ( x) = 1 1
x<0 (3.142)

Em que:

2 mE p
=k1 = 1 (3.143)
h h

A equação (3.141) descreve o movimento de uma partícula livre de momento p2. Sua
solução geral é:

Ce ik x + De − ik x
ψ ( x) = 2 2
x>0 (3.144)

Em que:

2 m( E − V0 ) p2
=k2 = (3.145)
h h

A função de onda especificada por estas duas formas consiste de ondas se


propagando com comprimento de onda de Broglie= l1 h= / p1 2p / k1 , na região x
< 0, e com comprimento de onda de Broglie maior = l2 h= / p2 2p / k2 , na região
x > 0. Observe que as funções de onda que estamos tomando já satisfazem às exi-
gências de serem finitas e unívocas, mas devemos considerar explicitamente sua
continuidade, e o faremos em breve (EISBERG; RESNICK, 1994).

Uma partícula que estivesse inicialmente na região x < 0, se movendo na


direção de x = 0 teria, na mecânica clássica, a probabilidade de passar do ponto x
= 0 e entrar na região x > 0 e igual a um. Isto não vale na mecânica quântica. Devi-
do às propriedades ondulatórias da partícula, existe uma certa probabilidade de
que a partícula seja refletida no ponto x = 0, onde há uma mudança descontínua
em seu comprimento de onda de Broglie. Portanto, precisamos tomar ambos os
termos da solução geral de (3.142) para descrever as ondas refletida e incidente
na região x < 0. Não precisamos, no entanto, tomar o segundo termo da solução
geral de (3.144). Este termo descreve uma onda se propagando no sentido de x
decrescente na região x > 0. Como a partícula incide no sentido de x crescente,
esta onda só poderia surgir a partir de uma reflexão em algum ponto com coorde-
nada x grande (bem depois da descontinuidade em x = 0). Como não há nada que
cause tal reflexão, sabemos que há apenas uma onda transmitida na região x > 0,
e, portanto, fazemos a constante arbitrária (EISBERG; RESNICK, 1994):
244
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

D=0 (3.146)
As constantes arbitrárias A, B e C devem ser escolhidas de forma a fazer
Ѱ (x) e dѰ(x) /dx contínuas em x = 0. A primeira exigência, de que os valores de Ѱ
(x), expressos por (3.142) e (3.144), sejam os mesmos em x = 0, é satisfeita se:

ik1 x − ik1 x ik2 x


=
A( e
x 0=
) + B( e
x 0= x 0
) C( e )
= (3.147)

Ou:

A+B=C (3.148)

A segunda exigência, de que os valores das derivadas das duas expressões


para Ѱ (x) sejam os mesmos em x = 0, é satisfeita se (EISBERG; RESNICK, 1994):

ik1 x − ik1 x ik2 x


2
=
ik A( e
x 0=
1
) x 0=
2
+ ik B( e
x 0
) ik C( e )
= (3.149)

Ou:

k1 ( A − B) =
k 2C (3.150)

Das equações (3.148) e (3.150), obtemos:

k1 − k2 (3.151)
B= A
k1 + k2
E:
2 k1
C= A (3.152)
k1 + k2

Portanto, a autofunção é:

k1 − k2 − ik1x
Ae ik1x + A e x<0
k1 + k2

ψ ( x) = (3.153)

2 k1 ik2 x
A e x>0
k1 + k2

Como antes, não será necessário calcular a constante arbitrária A que de-
termina a amplitude da autofunção.

É evidente que não poderíamos obter uma autofunção satisfazendo às


duas condições de continuidade se tivéssemos inicialmente igualando o coefi-
ciente B da onda refletida a zero. Teríamos neste caso apenas duas constantes ar-

245
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

bitrárias para satisfazer às duas condições de continuidade, e não haveria nenhu-


ma para desempenhar o papel da constante arbitrária, exigida pela linearidade
da equação de Schrödinger independente do tempo, que determina a amplitude
da autofunção (EISBERG; RESNICK, 1994).

Em analogia com nossa interpretação da autofunção de (3.136), reconhece-


mos que o primeiro termo na expressão de (3.153) válida para x < 0 (à esquerda da
descontinuidade) representar a onda incidente, o segundo termo da expressão vá-
lida para x < 0 representa a onda refletida; e a expressão válida para x > 0 (à direita
da descontinuidade) representa a onda transmitida (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 13 mostra a densidade de probabilidade para a autofunção de


(3.153), quando k1 =2k2.

FIGURA 13 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE

FONTE: Eisberg, Resnick, (1994, p. 254)

A Figura 13 representa a densidade de probabilidade ψ * ( x , t )ψ ( x , t ) = ψ * ( x)ψ ( x)


para a função de onda Ѱ (x, t) que corresponde à autofunção Ѱ(x) de (3.153) (no caso
em que k1=2k2). Não desenhamos a autofunção e a função de onda porque ambas
são complexas. Na região x > 0 a função de onda é uma onda plana (de amplitude 4
A/3 neste caso) se propagando para a direita, e assim a densidade de probabilidade é
constante. Na região x < 0 a função de onda é uma combinação da onda incidente (de
amplitude A) se propagando para a direita, e uma onda refletida (de amplitude A/3)
se propagando para a esquerda. Como a amplitude da onda refletida é necessaria-
mente menor do que a da onda incidente, as duas não podem se combinar de forma
a dar uma onda estacionária. Sua soma Ѱ (x, t) nesta região é, em vez disso, algo entre
uma onda estacionária e uma onda se propagando. Podemos observar isto no com-
portamento de Ѱ* (x, t) Ѱ (x, t) para x < 0 — que é algo intermediário entre a densida-
de de probabilidade de uma onda estacionária (como a da Figura 11) e a densidade
de probabilidade de uma onda se propagando (como a da Figura 5), pois ela oscila,
tendo, porém 4 valores mínimos maiores do que zero (EISBERG; RESNICK, 1994).

246
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

A razão entre a intensidade da onda refletida e da onda incidente dá a proba-


bilidade que a partícula seja refletida pelo degrau de potencial de volta à região x < 0.
Esta probabilidade é o coeficiente de reflexão R (EISBERG; RESNICK, 1994). Ou seja:

2
B * B  k − k   k − k2   k1 − k2 
=R =  1 2 * 1 =    (3.154)
A * A  k1 + k2   k1 + k2   k1 + k2 

Vemos deste resultado que R < 1 quando E> V0, isto é, quando a energia total
da partícula é maior do que a altura do degrau de potencial. Isto está em contraste
com o valor R = 1 quando E < V0. Evidentemente, o que é surpreendente nesse resulta-
do não é que R < 1, e sim que R > 0. Ele é surpreendente porque uma partícula clássica
jamais seria refletida caso tivesse energia suficiente para passar a descontinuidade
do potencial. Por outro lado, em uma descontinuidade correspondente, uma onda
clássica seria refletida, como discutiremos em breve (EISBERG; RESNICK, 1994).

Também nos interessa o coeficiente de transmissão T, que especifica a pro-


babilidade de que a partícula seja transmitida através do degrau da região x < 0 para
a região x > 0. O cálculo de T é ligeiramente mais complicado do que o cálculo de R,
porque a velocidade da partícula é diferente nas duas regiões. Segundo a convenção
aceita, os coeficientes de transmissão e reflexão são na verdade definidos em termos
de razões entre fluxos de probabilidade (EISBERG; RESNICK, 1994).

Um fluxo de probabilidade é a probabilidade por segundo de que uma partí-


cula seja encontrada ao cruzar algum ponto de referência, se movendo em um senti-
do particular. O fluxo de probabilidade incidente é a probabilidade por segundo de
encontrar a partícula cruzando um ponto em x < 0 se movendo no sentido de x cres-
cente; o fluxo de probabilidade refletida é a probabilidade por segundo de encontrar
uma partícula cruzando um ponto em x < 0 se movendo no sentido de x decrescente;
e o fluxo de probabilidade transmitido é a probabilidade por segundo de encontrar
uma partícula cruzando um ponto cm x > 0 se movendo no sentido de x crescente
(EISBERG; RESNICK, 1994). Como a probabilidade por segundo de que uma partí-
cula cruze um dado ponto é proporcional à distância que ela percorre por segundo, o
fluxo de probabilidade é proporcional não apenas à intensidade da onda apropriada,
mas também à velocidade apropriada da partícula. Portanto, segundo a definição
estrita, o coeficiente de reflexão R é:

v1 B * B B * B
=R = (3.155)
v1 A * A A * A

Em que v1, é a velocidade da partícula na região x < 0. Como as velocida-


des se simplificam, o que resta é idêntico à fórmula que usamos anteriormente
para R. Para T as velocidades não se simplificam, e temos:

2
v2C * C v2  2 k1  (3.156)
=T =  
v1 A * A v1  k1 + k2 

247
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Em que v2, a velocidade da partícula na região x > 0, mas:

p1 hk1
v= = (3.157)
1
m m
E:
p2 hk2
v=
2
= (3.158)
m m

Assim, a expressão anterior dá:

k2 (2 k1 )2 4 k1 k2
=T = E > V0 (3.159)
k1 ( k1 + k2 ) 2
( k1 + k2 )2

É fácil mostrar, substituindo R e T de (3.155) e (3.159), que:

R+T=1 (3.159)

Esta relação útil é a motivação que temos para definir os coeficientes de refle-
xão e transmissão em termos de fluxos de probabilidade (EISBERG; RESNICK, 1994).

O fluxo de probabilidade incidente sobre o degrau de potencial é dividido


em um fluxo refletido e um fluxo transmitido. Mas (3.160) mostra que sua soma é
igual ao fluxo incidente; isto é, a probabilidade de que a partícula seja transmitida
ou refletida é um. A partícula não desaparece no degrau; e ela também não se divide
nele. Em qualquer tentativa particular, a partícula irá em um sentido ou em outro.
Para um grande número de tentativas, a probabilidade média de ir ao sentido de x
decrescente é dada por R, e a probabilidade média de ir ao sentido decrescente é me-
dida por T (EISBERG; RESNICK, 1994).

Observe que R e T não mudam de valor se trocamos k1 por k2 em (3.155) e


(3.159). Um instante de reflexão deve convencer o estudante que isto significa que
seriam obtidos os mesmos valores de R e T, se a partícula incidisse sobre o degrau
de potencial vinda da região x > 0. A função de onda que descreve o movimento
da partícula, e consequentemente o fluxo de probabilidade é parcialmente refletida,
simplesmente porque há uma mudança descontínua em K (x), e não porque V(x) tor-
ne-se maior no sentido de incidência da partícula (EISBERG; RESNICK, 1994).

O comportamento de R e T quando k1 e k2 são trocados envolve uma proprie-


dade característica de todas as ondas, que, na ótica, é às vezes chamada propriedade de
reciprocidade. Quando a luz passa perpendicularmente através de uma superfície fina
entre meios com diferentes índices de refração, uma fração da luz é refletida devido à
mudança abrupta em seu comprimento de onda, e a mesma fração é refletida, indepen-
dentemente se a luz incide por um lado ou por outro da superfície. Acontece exatamen-
te a mesma coisa quando uma partícula microscópica sofre uma mudança brusca em
seu comprimento de onda de De Broglie. Na verdade, as equações que governam os
dois fenômenos têm a mesma forma. Vemos, mais uma vez, que uma partícula micros-
cópica se move de uma maneira ondulatória (EISBERG; RESNICK, 1994).

248
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Na Figura 14 estão feitos os gráficos dos coeficientes de transmissão e refle-


xão como função da razão E/V0.

Na Figura 14 estão os coeficientes de reflexão e transmissão R e T para uma


partícula incidente sobre um potencial degrau (EISBERG; RESNICK, 1994). A abs-
cissa E/V0 é a razão entre a energia total da partícula e o aumento em sua energia de
potencial no degrau. O caso k1 = 2k2 ilustrado na Figura 13, corresponde a E/V0=1,33.

FIGURA 14 – COEFICIENTES DE REFLEXÃO E TRANSMISSÃO

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 257)

Substituindo k1 e k2 em (3.155), obtemos que essas expressões para os coe-


ficientes de reflexão e transmissão podem ser escritas em termos da razão E/V0 na
forma:

2
 1− 1− V / E  E
R =1 − T = 0
 >1 (3.161)
 1+ 1− V / E  V0
 0 

A figura também mostra o resultado:

E
R =1 − T =1 <1 (3.162)
V0

Obtido em (3.134) da seção precedente para um potencial degrau com E/V0 <1.

Por exemplo, para E/V0 = 1,33 o coeficiente de transmissão tem o valor T =


0,88. Esta razão E/V0 corresponde ao caso k2 =k1 /2, cuja densidade de probabilidade
está ilustrada na Figura 13. Observe daquela figura que a probabilidade de encontrar
a partícula em uma dada extensão do eixo, suficientemente grande para que tome-
mos uma média das flutuações quânticas na densidade de probabilidade, é quase
duas vezes maior à direita do potencial degrau do que à esquerda. De um ponto de
vista clássico, que é apropriado para discutir uma média das flutuações quânticas,
pode ser dito que as razões para isto são:

249
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

a) a probabilidade de que a partícula passe o degrau e continue na região a sua


direita é quase igual a um; e
b) a velocidade da partícula é dividida por dois quando ela entra na região à
direita do degrau já que k = p/h = mv/h e k2= k1/2 de forma que ela gasta duas
vezes mais tempo em qualquer extensão do eixo nesta região.

Na Figura 14 vemos que a energia da partícula deve ser consideravelmente


maior do que a altura do potencial degrau antes que a probabilidade de ocorrer re-
flexão se torne desprezível. No entanto, o caso em que E se torna muito grande não
é necessariamente o caso do limite clássico, para o qual sabemos que não há abso-
lutamente reflexão. Isto porque (3.161) diz que R depende apenas da razão E/V0, de
forma que ele vai manter o mesmo valor se V0 crescer tão rapidamente quanto E. Isto
parece paradoxal, a menos que observemos que, no limite de altas energias, a nos-
sa hipótese de que a mudança no valor do potencial degrau V (x) é completamente
abrupta não pode mais ser sequer uma aproximação para uma situação física real. Se
a função potencial mudar (apenas) muito lentamente com x, então o comprimento
de onda de Broglie vai mudar (apenas) muito lentamente. Neste caso, a reflexão será
desprezível porque a mudança em comprimento de onda é gradual, e a reflexão sur-
ge a partir de uma mudança brusca no comprimento de onda. Especificamente, se a
variação relativa em V (x) é muito pequena quando x varia por um comprimento de
onda de Broglie, então o coeficiente de reflexão será muito pequeno. Isto dá origem
ao limite clássico, já que nesse limite o comprimento de onda de Broglie é tão peque-
no que qualquer potencial fisicamente realístico V (x) muda apenas por uma fração
desprezível em um comprimento de onda (EISBERG; RESNICK, 1994).

Para partículas em sistemas nucleares ou atômicos, o comprimento de onda


de De Broglie pode ser grande em relação à distância na qual o potencial que atua
sobre a partícula muda seu valor de forma significativa. Então o potencial degrau é
uma aproximação muito boa. Para estas partículas microscópicas, a probabilidade de
reflexão pode ser grande (EISBERG; RESNICK, 1994).

DICAS

Este subtópico contém trechos extraídos do livro: EISBERG, R.; RESNICK, R.


Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. P. 241-257. Como dica para apro-
fundar seu conhecimento, leia o material na íntegra.
Disponível em: http://bit.ly/2U66b9j. Acesso em: 10 set. 2019.

Portanto aplicamos o formalismo matemático para o caso de uma partí-


cula quântica que incide sobre um potencial V(x) que tem a forma de um degrau,
ou seja, tem um valor 0 para x < 0 e um valor V0 > 0 para x > 0. Vamos considerar
inicialmente o caso em que a energia da partícula é menor que a altura do degrau.

250
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Um degrau de potencial é definido por uma energia potencial nula


para x > 0 e igual a uma constante V0 para x > 0 . Se uma partícula
incide a partir da esquerda com energia menor que a altura do degrau,
essa partícula é refletida com 100% de probabilidade. Porém, consegue
penetrar um pouco na região classicamente proibida DONANGELO;
CAPAZ, 2009a, p. 93).

No próximo subtópico vamos estudar sobre a barreira de potencial.

4 A BARREIRA DE POTENCIAL
No subtópico anterior estudamos sobre o potencial degrau. Afinal qual a
relação entre o potencial degrau e a barreira de potencial? Para a barreira de poten-
cial será aplicado o formalismo quântico ao caso de uma partícula que incide sobre
uma barreira de potencial, em que a energia potencial tem um valor 0 para x < 0 e
para x > a, e um valor V0 > 0 para 0 < x < a. Já para o potencial degrau, foi aplicado
o formalismo quântico ao caso de uma partícula quântica que incide sobre um po-
tencial V (x) que tem a forma de um degrau, ou seja, tem um valor 0 para x < 0 e um
valor V0 > 0 para x > 0. Foi considerado inicialmente o caso em que a energia da par-
tícula é menor que a altura do degrau. A partir deste subtópico vamos aprofundar
nosso estudo sobre a barreira de potencial. (EISBERG; RESNICK, 1994).

Consideramos uma barreira de potencial, como está ilustrado na Figura 15


(EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 15 – UMA BARREIRA DE POTENCIAL

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 259)

O potencial pode ser escrito como:

V ( x) =V0 0 0< x<a


x < 0 ou x > a
(3.163)

Segundo a mecânica clássica, uma partícula de energia total E na região x < 0,


que incide sobre a barreira se movendo no sentido de x crescente, tem probabilida-
de um de ser refletida, se E<Vo, e probabilidade um de ser transmitida para a região
x>a se E>V0. Nenhuma destas afirmações descreve de forma precisa os resultados da

251
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

mecânica quântica. Se E não for muito maior do que V0, a teoria prevê que vai haver
alguma reflexão, exceto para certos valores de E. Se E não for muito menor do que
V0, a mecânica quântica prevê que há uma certa probabilidade de que a partícula seja
transmitida através da barreira para a região x>a (EISBERG; RESNICK, 1994).

No momento em que atravessa uma barreira cuja altura excede sua energia
total, uma partícula material está se comportando exclusivamente como uma onda.
Mas na região após a barreira, ela pode ser detectada como uma partícula localizada,
sem que seja introduzida uma incerteza significativa no conhecimento de sua ener-
gia. Assim, a Penetração em uma região classicamente proibida de largura limitada
pode ser observada, no sentido que a partícula pode ser observada, tanto antes como
depois de atravessar a barreira, de energia total menor do que a energia potencial na
região proibida (EISBERG; RESNICK, 1994).

Para a barreira de potencial de (3.163), que devem existir soluções aceitáveis da


equação de Schrödinger independente do tempo para todos os valores da energia total
E > 0. Também sabemos que a equação se divide em três equações separadas para as três
regiões: x < 0 (à esquerda da barreira), 0 < x < a (dentro da barreira), e x > a (à direita da bar-
reira). Nas regiões à esquerda e à direita da barreira as equações são as de uma partícula
livre com energia total E. Suas soluções gerais são (EISBERG; RESNICK, 1994).

Ae ik x + Be − ik x
ψ ( x) = 1 1
x<0
(3.164)
Ce ik x + De − ik x
ψ ( x) = 1 1
x>a

Em que:

2mE
k1 = (3.165)
h

Na região dentro da barreira, a forma da equação, e de sua solução geral,


depende de se E < V ou E > V. Já tratamos estes dois casos nas seções anteriores.
No primeiro caso, E < V0, a solução geral é:

x) Fe − k x + Ge k
ψ (= 11 11 x
0<x<a (3.166)

Em que:

2 m(V0 − E)
k11 = (3.167)
h

No segundo caso, E> V0, é:

x) Fe k
ψ (= 111 x
+ Ge − k111x 0<x<a (3.168)

252
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Em que:

2 m( E − V0
k111 = (3.169)
h

Observe que (3.166) envolve exponenciais reais, enquanto que (3.164) e


(3.168) envolvem exponenciais complexas (EISBERG; RESNICK, 1994).

Como estamos considerando o caso de uma partícula incidindo sobre a bar-


reira vinda da esquerda, na região à direita da barreira pode existir apenas uma
onda transmitida, já que não há nada nessa região que produza reflexão (EISBERG;
RESNICK, 1994). Assim, podemos fazer:

D=0 (3.170)

Nesta situação, entretanto, não podemos fazer G = 0 em (3.166), já que o va-


lor de x está limitando na região da barreira, 0 < x < a de forma que Ѱ(x) para E < V0
não pode se tornar infinitamente grande, mesmo se a exponencial crescente estiver
presente. Também não podemos fazer G = 0 em (6-48), já que Ѱ(x), para E>V0 será
uma componente refletida na região da barreira, que se origina na descontinuidade
do potencial em x = a (EISBERG; RESNICK, 1994).

Consideremos primeiro o caso em que a energia da partícula é menor do


que a altura da barreira, isto é, o caso:

E<V0 (3.171)

Ao igualarmos as equações para Ѱ(x) e dѰ (x) /dx nos pontos x = 0 e x =


a, obteremos quatro equações para as constantes arbitrárias A, B, C, F e G. Estas
equações podem ser utilizadas para calcular B, C, F e G em termos de A. O valor
de A determina a amplitude da autofunção e pode ser mantida arbitrária. A forma
da densidade de probabilidade correspondente à autofunção obtida é indicada
na Figura 16 (EISBERG, 1994, p. 258-260).

A Figura 16 apresenta a função densidade de probabilidade Ѱ* Ѱ para


uma situação típica de penetração de barreira (EISBERG; RESNICK, 1994).

253
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 16 – FUNÇÃO DENSIDADE DE PROBABILIDADE

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 260)

Na região x>a função de onda é uma onda plana, e, portanto, a densidade de


probabilidade é constante, como para x > 0 na Figura 17 (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 17 traz a densidade de probabilidade para a autofunção de (3.153),


quando k1 =2k2 (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 17 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE

FONTE: Eisberg, Resnick, (1994, p. 254)

De acordo com Eisberg e Resnick (1994, p. 260-261), na região x < 0, a fun-


ção de onda é basicamente uma onda estacionária, mas tem em sua composição
também uma onda que se propaga, devido ao fato de a onda refletida ter uma am-
plitude menor do que a da onda incidente. Portanto, a densidade de probabilidade
nessa região oscila, mas têm valores mínimos um pouco maiores do que zero como
para x < 0 na Figura 17. Na região 0 <x <a, a função de onda tem componentes dos
dois tipos, mas é basicamente uma onda estacionária de amplitude decrescente ex-
ponencialmente, e esse comportamento pode ser observado se verificamos o com-
portamento da densidade de probabilidade na região (EISBERG; RESNICK, 1994).

254
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

O resultado mais interessante do cálculo é a razão entre o fluxo de probabi-


lidade transmitido através da barreira para a região x > a e fluxo de probabilidade
incidente sobre a barreira (EISBERG; RESNICK, 1994). Obtemos que esse coeficien-
te de transmissão é:

−1 −1
   
   2 
v1C * C  ( e k 11a − e − k 11a )2  1 + senh k11a 
T= = 1+ = (3.172)
v1 A * A  E E   E E 
 16  1 −    4 1−  
 V0  V0    V0  V0  

Em que:

2 mV0 a 2  E
=k11a  1 −  (3.173)
h 2  V0 

Se os expoentes forem muito grandes, esta fórmula se reduz a:

E  E  -2k22a
T  16 1 − e k11a  1 (3.174)
V0  V0 
Como pode ser facilmente verificado. Quando (3.174) é uma boa aproxima-
ção, T é extremamente pequeno (EISBERG; RESNICK, 1994).

Estas equações fazem uma previsão que, do ponto de vista da mecânica clás-
sica, é bem notável. Elas dizem que uma partícula de massa m e energia total Ey
incidente sobre uma barreira de potencial de altura V0 > E largura finita a tem na re-
alidade uma certa probabilidade T de penetrar na barreira e aparecer do outro lado.
Este fenômeno é chamado penetração de barreira ou efeito túnel. Evidentemente, T
é praticamente nulo no limite clássico, porque nesse limite a grandeza 2mV0a2/h2, que
é uma medida da opacidade da barreira, é extremamente grande (EISBERG; RESNI-
CK, 1994).

255
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

Vamos em breve discutir a penetração de barreira em detalhes, mas antes disto,


terminemos de descrever os cálculos considerando o caso no qual a energia da partícula é
maior do que a altura da barreira, isto é, o caso:

E>V0 (3.175)

Neste caso, a autofunção é oscilatória nas três regiões, mas com comprimento de onda
maior na região da barreira, 0 < x < a. O cálculo das constantes B, C, F e G, por meio da
aplicação das condições de continuidade em x = 0 e x = a, leva à seguinte fórmula para o
coeficiente de transmissão:

−1 −1
   
   
v1C * C  ( e k 111a − e − k 111a )2   sen2 k111a 
T= = 1+ = 1+ (3.176)
v1 A * A  E E   E E 
 16  − 1   4  − 1 
 V0  V0    V0  V0  

Em que:

2 mV0 a 2  E 
=k111a  − 1 (3.177)
 V0
2
h 

Podemos juntar os resultados das três últimas seções comparando o gráfico da depen-
dência em energia do coeficiente de reflexão R por uma barreira de potencial, na Figura
18, com o mesmo gráfico para um degrau de potencial, na Figura 14.

A Figura 18 mostra os coeficientes de reflexão e transmissão R e


T para uma partícula incidindo sobre uma barreira de potencial
de altura V0 e largura a, tal que 2mV0a2/h2 = 9. A abscissa E/V0 é a
razão entre a energia total da partícula e a altura da barreira de
potencial (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 262).

256
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 18 – COEFICIENTES DE REFLEXÃO E TRANSMISSÃO.

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 262)

A Figura 19 mostra os coeficientes de reflexão e transmissão R e T para


uma partícula incidente sobre um potencial degrau. A abscissa E/Vo é a
razão entre a energia total da partícula e o aumento em sua energia de
potencial no degrau. O caso k1=2k2, ilustrado na Figura 17, corresponde
a E/Vo = 1,33 (EISBERG; RESNICK, 1994, p. 257).

FIGURA 19 – COEFICIENTES DE REFLEXÃO E TRANSMISSÃO.

FONTE: Eisberg, Resnick, (1994, p. 257)

257
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

As comparações mostram que para os dois potenciais, R 1 quando E/V0


0 e R 0 quando E/V0 com a diminuição em recorrendo em tomo de E/V0
= 1. No entanto, para a barreira de potencial o coeficiente de reflexão se aproxima
gradualmente de um, em baixas energias, já que a largura finita da região
classicamente proibida permite alguma transmissão. Também, o coeficiente de
reflexão da barreira de potencial em altas energias oscila, devido às interferências
entre as reflexões em suas duas descontinuidades. Como o degrau de potencial
pode ser considerado como um caso limite de uma barreira de largura muito
grande podemos ver, de nossa comparação, o comportamento do coeficiente de
reflexão da barreira de potencial nesse limite (EISBERG; RESNICK, 1994).

Agora discutiremos, em detalhes, as origens desses resultados. Todos eles


envolvem fenômenos que surgem do comportamento ondulatório do movimento
de partículas microscópicas, e cada fenômeno também é observado em outros
tipos de movimento ondulatório. A equação diferencial independente do tempo
que governa o movimento ondulatório clássico tem a mesma forma que a equação
de Schroedinger independente do tempo. Por exemplo, radiação eletromagnética
de frequência v se propagando através de um meio com índice de refração
obedece à equação (EISBERG; RESNICK, 1994):

2
d 2ψ ( x)  2p v 
+ µ  ψ ( x) =
0 (3.178)
dx 2  c 

Em que a função Ѱ(x) especifica o valor do campo elétrico ou campo mag-


nético. Quando a comparamos com a equação de Schroedinger independente do
tempo, escrita na forma:

d 2ψ ( x) 2 m
+ 2 {E − V ( x)}ψ ( x) =
0 (3.179)
dx 2 h

Podemos ver que elas são idênticas se o índice de refração da primeira for
relacionado à função potencial da última por meio da relação:

c 2m
µ ( x)
=  E − V ( x)  (3.180)
2p v h 2 

Logo, o comportamento de um sistema ótico com índice de refração n(x) deve


ser idêntico ao comportamento de um sistema mecânico com energia potencial V(x),
desde que as duas funções estejam relacionadas corno em (3.180). Sem dúvida, exis-
tem fenômenos óticos exatamente análogos a cada um dos fenômenos quânticos que
surgem ao considerarmos o movimento de uma partícula não ligada. Um fenômeno
ótico, inteiramente análogo à transmissão total de partículas por barreiras de com-
primento igual a um número inteiro ou semi-inteiro de comprimentos de onda, é
utilizado no revestimento de lentes para obtenção de transmissões muito altas de luz
e em filtros ópticos de filmes finos (EISBERG; RESNICK, 1994).

258
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Um análogo ótico da penetração de barreiras por partículas é obtido com os


índices de refração imaginários que surgem na reflexão interna total. Considere um
raio de luz incidindo sobre uma superfície de separação entre o ar e o vidro em um
ângulo maior do que o ângulo crítico . O comportamento resultante do raio de luz
é chamado reflexão interna total e está ilustrado na parte superior da Figura 20. Um
tratamento detalhado do processo em termos da teoria eletromagnética mostra que
o índice de refração, medido ao longo da linha ABC, é real na região AB, mas imagi-
nário na região BC. Observe que um (x) imaginário é sugerido por (3.180) para uma
região análoga a uma na qual E < V(x). Além disso, a teoria eletromagnética mostra
que há vibrações eletromagnéticas na região BC, exatamente com a mesma forma da
onda estacionária exponencial decrescente de (EISBERG; RESNICK, 1994):
k

{
D cos k1 x − D 2 sen kk1 x2 x<0
D cos kk11x − D sen k1 x x<0
k1
ψ ( x) =
ψ ( x) =
De − k2 x x>0
De − k2 x x>0

Para a região em que E < V(x). O fluxo de energia (o vetor de Poynting) e


zero nesta onda eletromagnética estacionária, assim como o fluxo de probabilida-
de é zero para a onda estacionária da mecânica quântica, de forma que o raio de
luz totalmente refletido. No entanto, se um segundo bloco de vidro for colocado
suficientemente próximo ao primeiro bloco, de forma a estar na região na qual as
vibrações eletromagnéticas ainda são apreciáveis, essas vibrações são captadas e
se propagam através do segundo bloco. Além disso, as vibrações eletromagnéti-
cas no espaçamento com ar agora conduzem um fluxo de energia até o segundo
bloco. Este fenômeno, chamado reflexão interna total frustrada, está ilustrado na
parte inferior da Figura 20 (EISBERG; RESNICK, 1994).

Na Figura 20, ao alto: Ilustração da reflexão interna total de um raio de luz. O


ângulo de incidência é maior do que o ângulo crítico. Embaixo: ilustração da reflexão
interna total frustrada. Uma parte do raio luminoso é transmitida através do espaça-
mento com ar se este for suficientemente estreito (EISBERG; RESNICK, 1994).

259
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 20 – REFLEXÃO INTERNA TOTAL E REFLEXÃO INTERNA TOTAL FRUSTRADA

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 264)

Acontece basicamente a mesma coisa no caso quântico, quando a região na


qual E < V(x) é diminuída desde uma largura infinita (degrau de potencial) até uma
largura finita (barreira de potencial). A transmissão de luz através do espaçamento
com ar, em um ângulo de incidência maior do que o ângulo crítico, foi observada pela
primeira vez por Newton, por volta de 1700. A equação relacionando a intensidade
do feixe transmitido com a largura do espaçamento com ar, e outros parâmetros, é
idêntica em forma a (3.176), e foi verificada experimentalmente (EISBERG; RESNI-
CK, 1994).

É particularmente fácil observar a reflexão interna total frustrada de ondas


eletromagnéticas usando a região de micro-ondas do espectro e dois blocos de parafi-
na separados por um espaço contendo ar. Além disso, uma verificação cuidadosa das
fotografias dos tanques de onda da Figura 21 (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 21 mostra a reflexão interna total de ondas de água. À esquerda, é


produzido um conjunto de ondas em uma região de água rasa, sendo as ondas ilu-
minadas de forma a que suas cristas sejam facilmente visíveis. As ondas são refletidas
totalmente no limite da região em que a camada de água fica abruptamente mais pro-
260
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

funda; a reflexão ocorre porque a velocidade das ondas na água depende da profun-
didade da água. Observe que a intensidade das ondas cai rapidamente quando elas
tentam penetrar na região de água mais profunda, mas que existe alguma penetração
nessa região (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 21 – REFLEXÃO INTERNA TOTAL DE ONDAS NA ÁGUA.

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 265)

A Figura 21 mostra a reflexão interna total frustrada de ondas de água.


Quando a região de maior profundidade se torna um espaço suficientemente es-
treito, as ondas que penetram na água mais profunda são captadas e transmitidas
para a segunda região de água rasa, mostrarão que o fenômeno pode ser observa-
do até com ondas de água. A reflexão interna total frustrada, ou seu equivalente
quântico, a penetração de barreiras, surge a partir de propriedades comuns a
todas as formas de movimento ondulatório, tanto clássico quanto quântico (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

DICAS

O texto deste subtópico contém trechos extraídos do livro: EISBERG, R.; RES-
NICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. P. 258-266. Como dica
para aprofundar seu conhecimento, leia o material na íntegra.
Disponível em: http://bit.ly/2U66b9j. Acesso em: 10 set. 2019.

261
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Então concluímos que:

Se uma partícula incide sobre uma barreira de potencial com energia


menor ou maior que a altura do degrau, ela pode ser refletida ou trans-
mitida. A transmissão no caso de energia menor que a barreira (efeito
túnel) e a reflexão no caso de energia maior que a barreira são situações
não previstas pela Mecânica Clássica. As probabilidades de transmissão
e reflexão em cada caso são obtidas pelas leis da Mecânica Quântica (DO-
NANGELO; CAPAZ, 2009b, p. 18).

Tenha em seguida o conhecimento com relação ao poço de potencial qua-


drado. Boa leitura!

5 O POÇO DE POTENCIAL QUADRADO


Qual é a relação entre a barreira de potencial e o poço de potencial qua-
drado? Para o poço de potencial quadrado será aplicado o formalismo quântico
ao caso de um potencial V(x) que tem a forma de um poço (tem um valor V0 para
x < -a/2 e para x > a/2, e um valor 0 para –a/2 < x < a/2). No subtópico anterior
vimos que, a barreira de potencial consiste numa região contendo um máximo de
potencial que impede uma partícula, que se encontre num dos lados, atravesse
para o outro lado, isto é, impede de atravessar para uma região cujas forças que
predominam na interação entre as partículas são de caráter repulsivo. A partir
deste subtópico, aprofundaremos nosso estudo sobre o poço de potencial quadra-
do (EISBERG; RESNICK, 1994).

De acordo com Eisberg, Resnick (1994), a partir de agora, discutiremos


um dos potenciais mais simples que apresentam esta propriedade: o poço de po-
tencial quadrado (EISBERG; RESNICK, 1994).

O potencial, neste caso, pode ser escrito como:

ψ ( x) =0V 0 x <− a /2 ou x >+ a /2


− a /2 < x <+ a /2
(3.181)

A ilustração na Figura 22 indica a origem de seu nome (EISBERG; RESNICK,


1994).

262
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

FIGURA 22 – UM POÇO DE POTENCIAL QUADRADO

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 271)

Se uma partícula tem energia total E < V0, então segundo a mecânica clás-
sica ela pode estar somente na região -a/2 < x <+a/2 (dentro do poço). A partícula
está limitada a esta região e oscila entre os extremos da região com momento de
módulo constante, mas com sentidos alternados. Além disso, qualquer valor E
para a energia total é possível. No entanto, segundo a mecânica quântica apenas
certos valores da energia total separados discretamente são possíveis (EISBERG;
RESNICK, 1994).

O poço de potencial quadrado é frequentemente utilizado na mecânica


quântica para representar uma situação na qual uma partícula se move em uma
região limitada do espaço sob a influência de forças que a mantêm nesta região.
Embora este potencial simplificado perca alguns dos detalhes do movimento, ele
contém a característica básica, de limitar a partícula a uma região de um certo tama-
nho. É uma boa aproximação representar o potencial que atua sobre um elétron de
condução em um bloco de metal por meio de um poço quadrado. A profundidade
do poço quadrado é de cerca de 10 eV, e sua largura é igual à largura do bloco (EIS-
BERG; RESNICK, 1994).

A Figura 23 traz uma indicação qualitativa de como podemos fazer com


que a superposição dos potenciais que atuam sobre um elétron condutor em um
metal se aproxime de um poço de potencial quadrado. Os potenciais se devem aos
íons positivos próximos no metal (EISBERG; RESNICK, 1994).

263
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 23 – INDICAÇÃO QUALITATIVA

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 272)

A Figura 23 indica como podemos obter algo semelhante a um poço qua-


drado superpondo os potenciais produzidos pelos íons positivos do metal que es-
tão bastante próximos uns dos outros. O movimento de um nêutron em um núcleo
pode ser aproximado se supusermos que a partícula está em um poço de potencial
quadrado de profundidade de cerca de 50 MeV. As dimensões lineares do potencial
se igualam ao diâmetro nuclear, que é cerca de 10-14m (EISBERG; RESNICK, 1994).

ATENCAO

Vamos iniciar nosso tratamento considerando, qualitativamente, a forma das


autofunções que são soluções da equação de Schroedinger independente do tempo para
o poço de potencial quadrado de (3.181). O problema se decompõe em três regiões: x <
-a/2 (à esquerda do poço),
-a/2 < x < +a/2 (dentro do poço) e x>+a/2 (à direita do poço). a chamada solução geral da
equação na região dentro do poço é:

2 mE
( x) Ae ik x + Be − ik x
ψ= 1 1
onde k1 − a / 2 < x < +a / 2 (3.182)
h

O primeiro termo descreve ondas se propagando no sentido de x crescente, e o segundo,


ondas se propagando no sentido de x decrescente (EISBERG; RESNICK, 1994).

264
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

A descrição clássica da partícula oscilando dentro do poço sugere que a


autofunção nesta região deve corresponder a uma mistura igual de ondas se mo-
vendo nos dois sentidos. As duas ondas de mesma amplitude se propagando em
sentidos opostos vão se combinar, formando uma onda estacionária. Podemos
obter este comportamento igualando as duas constantes arbitrárias, de forma que
A = B, isto dá (EISBERG; RESNICK, 1994):

ψ
= ( x) B( e ik x + e − ik x )
1 1
(3.183)

Que podemos escrever como:

e ik1x + e − ik1x
ψ ( x) = B ' (3.184)
2

Na qual B‘ é uma nova constante arbitrária, definida pela relação B‘ = 2B.


Mas esta combinação de exponenciais complexas nos dá simplesmente:

2 mE
=ψ ( x) B=
' cos k1 x onde k1 (3.185)
h

Esta autofunção descreve uma onda estacionária, já que uma inspeção na


função de onda associada ψ ( x , t ) = ψ ( x)e − iEt / h mostra que ela tem nós em posições
fixas, onde cos k1x = 0 (EISBERG; RESNICK, 1994).

Podemos obter também uma onda estacionária fazendo -A = B. Isto dá:

ψ ( x) A( e − ik1x − e − ik1x )
= (3.186)

Que podemos escrever com:

e ik1x − e − ik1x
ψ ( x) = A ' (3.187)
2i

Na qual A‘ é uma nova constante arbitrária, definida por A' = 2iA. Mas
isto é exatamente:

2 mE (3.188)
=ψ ( x) A=
' sen k1 x onde k1
h

Como tanto (3.187) quanto (3.188) especificam soluções da equação de


Schroedinger independente do tempo paia o mesmo valor de E, e como a equação
diferencial é linear em (x), sua soma:

2 mE
ψ ( x) A ' sen k1 x + B ' cos k1 x
= onde
= k1 − a / 2 < x < + a / 2 (3.189)
h

265
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Também é uma solução, como pode ser verificado por substituição direta.
Na verdade, esta é uma solução geral da equação diferencial para a região den-
tro do poço porque ela contém duas constantes arbitrárias - é tão geral quanto
à solução (3.182). Matematicamente, as duas são completamente equivalentes.
No entanto, é mais conveniente utilizar (3.189) em problemas que en­ volvem o
movimento de partículas ligadas. Fisicamente podemos pensar em (3.189) como
descrevendo uma situação na qual uma partícula se move de forma tal que se
conhece precisamente módulo de seu momento:

p hk
= =1
2 mE (3.190)

Mas o seu sentido pode ser tanto o de x crescente quanto o de x decrescente.

ATENCAO

Consideremos agora as soluções da equação de Schrödinger independente


do tempo nas duas regiões fora do poço de potencial: x < -a/2 e x > +a/2. Nestas regiões,
as soluções gerais terão as formas:

ψ
= ( x) Ce k 11x + De − k 11x (3.191)

Em que:

2 m(V0 − E)
=k11 x < −a / 2 (3.192)
h

E:

ψ
= ( x) Fe k 11x + Ge − k 11x (3.193)

Em que:

2 m(V0 − E)
=k11 x > +a / 2 (3.194)
h

As duas formas de Ѱ(x) descrevem ondas estacionárias na região fora do poço, já que na
função de onda associada ψ ( x , t ) = ψ ( x)e
− iEt / h
as dependências em x e t ocorrem como
fatores separados. Estas ondas estacionárias não têm nós, mas elas serão ajustadas às
ondas estacionárias dentro do poço, que têm nós (EISBERG; RESNICK, 1994).

266
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

Podemos obter autofunções válidas para todos os x unindo as formas con-


sideradas, em cada uma das três regiões de x, para soluções gerais da equação de
Schrödinger independente do tempo. Estas três formas envolvem seis constantes
arbitrárias: A`, B` C, D, F e G. Mas como uma autofunção aceitável deve se manter
sempre finita podemos ver imediatamente que devemos fazer D = 0 e F= 0. Se isto
não fosse feito, a segunda exponencial em (3.192) faria Ѱ(x) quando x
, e a primeira exponencial em (3.193) faria Ѱ(x) quando x . Mais quatro
equações podem ser obtidas exigindo-se que Ѱ(x) e dѰ(x) /dx sejam contínuas
nos dois limites entre as regiões, x = -a/2 e x= +a/2, como é necessário para que a
autofunção seja aceitável. (Elas já são unívocas). Mas não podemos permitir que
todas as quatro constantes arbitrárias que sobram sejam especificadas por estas
quatro equações. Uma delas deve se manter não especificada, de forma tal que
a amplitude da autofunção possa ser arbitrária. Exige-se que a amplitude seja
arbitrária porque a equação diferencial é linear em relação à autofunção Ѱ(x).
Assim, parece haver uma discrepância entre o número de equações que devem
ser satisfeitas e o número de constantes que podem ser ajustadas, mas isto é resol-
vido considerando-se a energia total E como uma constante adicional que pode
ser ajustada, se necessário. Veremos que esse procedimento funciona, mas apenas
para certos valores de E. Isto é, vai surgir um certo conjunto de valores possíveis
da energia total E, e assim a energia total será quantizada, com um conjunto de
autovalores. Apenas para estes valores da energia total é que a equação de Schrö-
dinger tem soluções aceitáveis (EISBERG; RESNICK, 1994).

Não é difícil fazer o que está descrito anteriormente, como verificaremos em


breve tratando um caso especial. No entanto, o caso geral leva a uma solução que
envolve uma equação transcendental complicada (uma equação na qual a incógnita
está contida no argumento de uma função, como um seno), o que não permite ex-
pressar a solução de forma matematicamente concisa (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 24 apresenta um poço de potencial quadrado e seus três auto-


valores dos estados ligados. Não está mostrado o contínuo de autovalores da
energia E > V0 (EISBERG; RESNICK, 1994).

267
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 24 – AUTOVALORES DOS ESTADOS LIGADOS

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 274)

A Figura 25 mostra as três autofunções do poço quadrado da Figura 24.

FIGURA 25 – TRÊS AUTOFUNÇÕES DO POÇO QUADRADO

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 275)

Segundo Eisberg e Resnick (1994, p. 274-275):

268
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

De acordo com a Figura 25 também não são mostradas as autofunções


do contínuo. Observando primeiro a região de x dentro do poço, nota-
mos que a curvatura da parte senoidal da autofunção cresce à medida
que a energia do autovalor correspondente aumenta. Em consequência
disso, quanto maior for a energia, mais numerosas são as oscilações da
autofunção correspondente e maior é o número de onda. Estes resultados
refletem o fato de que o número de onda angular k1 na solução de (3.189)
para a região dentro do poço, é proporcional a E1/2. O poço de potencial
quadrado desenhado na figura não tem um quarto estado ligado porque
o valor associado de k1, e, portanto, de E1/2, seria muito grande para satis-
fazer à condição de ligação E< V0.

Consideremos agora as partes das autofunções que se estendem às regi-


ões fora do poço. Na mecânica clássica, uma partícula nunca poderia ser encon-
trada nessas regiões, já que sua energia cinética é p2/2m = E - V(x), que é negativa
quando E < V(x). Observemos que nestas regiões classicamente proibidas quanto
menor for à energia do autovalor correspondente, mais rapidamente as autofun-
ções tendem a zero. Isto está de acordo com o fato de que o parâmetro exponen-
cial k11, que aparece nas soluções (3.191) e (3.193) para a região fora do poço, é
proporcional a (V0 - E)1/2. Também está de acordo com a ideia de que quanto mais
séria for a violação da restrição clássica, de que a energia total deve ser ao menos
do mesmo valor que a energia potencial V(x), menos facilmente as autofunções
penetram nas regiões classicamente proibidas (EISBERG; RESNICK, 1994).

É instrutivo considerar o efeito que as autofunções sofrem se fazemos as


paredes do poço quadrado ficarem muito altas, isto é, se fazemos V0 Na Fi-
gura 26, está mostrada a primeira autofunção para um poço de potencial quadra-
do (EISBERG; RESNICK, 1994).

A Figura 26 apresenta a primeira autofunção para um poço de potencial


com paredes de altura moderada (EISBERG; RESNICK, 1994).

FIGURA 26 – AUTOFUNÇÃO PARA UM POÇO DE POTENCIAL.

FONTE: Eisberg, Resnick (1994, p. 276)

Quando V0 → ∞ , E1 crescerá, mas o fará de maneira muito lenta se comparada


ao crescimento de V0. Isto é verdadeiro porque E1 é determinado essencialmente pela
exigência de que aproximadamente metade de uma oscilação da autofunção deve se
ajustar ao comprimento do poço. Assim o parâmetro exponencial = k11 2 m(V0 − E) / h
, que determina o comportamento da autofunção nas regiões fora do poço, ficará

269
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

muito grande à medida que V0 fica muito grande, e a autofunção tenderá rapidamen-
te a ir a zero fora do poço. No limite, Ѱ1(x) deve ser zero para todos x < - a/2 e para
todos x > +a/2. É evidente que este argumento é válido para todas as autofunções de
um potencial deste tipo. Isto é, para todos os valores de n, em um poço de potencial
quadrado infinito:

ψ n ( x) 0
= x < −a / 2 (3.195)

Ou:

x > +a / 2 (3.196)

NOTA

Esta condição para as autofunções do poço quadrado infinito só pode ser satis-
feita se for violada, em x = ±a/2, a exigência de que a derivada dѰn(x) /dx seja contínua em
todos os pontos; mas se o estudante for verificar o argumento que foi apresentado para justi-
ficar a exigência, verá que a derivada deve ser contínua apenas quando o potencial for finito.

DICAS

O texto deste subtópico contém trechos extraídos do livro: EISBERG, R.; RES-
NICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994. p. 270-275. Como dica
para aprofundar seu conhecimento, leia o material na íntegra.
Disponível em: http://bit.ly/2U66b9j. Acesso em: 10 set. 2019.

Então concluímos que o poço de potencial representa a energia potencial


em forma de poço envolvida num certo sistema e pode ser qualificado como fini-
to ou infinito. Um poço de potencial é a região em torno de um mínimo local de
energia potencial que, por sua vez, é a forma de energia que está associada a um
certo sistema, no qual ocorre interações entre diferentes corpos, e está relacionada
com a posição que determinado corpo ocupa.

No uni dicas você pode aprofundar o seu conhecimento assistindo alguns


vídeos!

270
TÓPICO 2 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER

DICAS

Como sugestão, a fim de aprofundar os estudos e conhecimentos, apresen-


tamos os seguintes vídeos:

• HÁ UM GRANDE FALATÓRIO POR AÍ ... De fato, está havendo um grande falatório sobre
a Física Quântica, em que nós ouvimos quase tudo sobre este assunto, até coisas que
vão além do misticismo. Antes de qualquer comentário sobre isso, lembre-se de que
não foi o povo que iniciou esse falatório, mas os próprios físicos, pois foram eles que
primeiramente ficaram perplexos e espantados com os mistérios da Física Quântica.
Saiba mais, assistindo ao seguinte vídeo: http://bit.ly/2tt8Krb. Acesso em: 17 out. 2019.
• O Quantum é um verdadeiro fantasma. Individualmente ele existe somente quando
interage com uma consciência que lhe observa, para aparecer e imediatamente de-
saparecer, para reaparecer e desaparecer novamente, e assim sucessivamente. Isso
acontece dentro de tudo que existe: átomos, partículas, moléculas, minerais, vegetais
e animais, inclusive dentro do nosso próprio corpo. Aprenda mais sobre o Quantum,
assistindo ao seguinte vídeo: http://bit.ly/2SkvUs3. Acesso em: 17 out. 2019.
• Mistério por todos os lados. A realidade quântica é naturalmente misteriosa! Como
se isso não bastasse, essa realidade em que nós vivemos os nossos cotidianos, ela
própria também é misteriosa. Veja: mais de 70% do Universo é feito com uma energia
invisível, conhecida como Energia Escura, e 25% dele é feito com uma matéria também
invisível, conhecida como Matéria Escura, algo que os físicos ainda não sabem o que é.
Aprenda mais sobre Deus versus a física quântica, assistindo ao seguinte vídeo: http://
bit.ly/2OnQMxy Acesso em: 17 out. 2019.

TUROS
ESTUDOS FU

O conteúdo que será abordado no decorrer do Livro Didático no próximo tópico


será sobre a estrutura atômica. A estrutura atômica é composta por três partículas fundamen-
tais: prótons (com carga positiva), nêutrons (partículas neutras) e elétrons (com carga negativa).
Toda matéria é formada de átomo sendo que cada elemento químico possui átomos diferen-
tes. Fique agora com dicas de leitura complementar sobre o assunto do Tópico 2.

271
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

DICAS

Como sugestão de leitura, a fim de aprofundar seus conhecimentos, apresen-


tamos o texto a seguir:

A Física Quântica e sua Utilização na Vida Prática:


1. Quais são os significados dos princípios quânticos?
2. Quando e onde os princípios quânticos atuam sobre as pessoas em suas atividades e
relacionamentos?
3. Como os princípios quânticos podem ser utilizados como ferramentas para resolver
problemas e concretizar projetos?

Disponível em: http://bit.ly/2uhZQxb. Acesso em: 17 out. 2019.

272
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:


 d 2ψ
2
• − + Ep ( x )ψ =
Eψ é a equação de Schrödinger independente do tem-
po.2 m dx
2


• A energia total da partícula, sugere que o primeiro termo da esquerda corres-
ponde à energia cinética, e o segundo termo está relacionado à energia.

• Uma partícula livre é aquela que não sofre a influência de nenhuma força e,
portanto, tem associada uma energia potencial constante ou nula.

• Um degrau de potencial é definido por uma energia potencial nula para x > 0 é
igual a uma constante V0 para x > 0.

• Se uma partícula incide a partir da esquerda com energia menor que a altura
do degrau, essa partícula é refletida com 100% de probabilidade. Porém, con-
segue penetrar um pouco na região classicamente proibida.

• Se uma partícula incide sobre um degrau de potencial com energia maior que
a altura do degrau, ela pode ser refletida ou transmitida, com probabilidades
dadas pelos coeficientes de reflexão e transmissão, respectivamente. Esses coe-
ficientes são funções da razão entre a energia da partícula e a altura do degrau.

• Se uma partícula incide sobre uma barreira de potencial com energia menor ou
maior que a altura do degrau, ela pode ser refletida ou transmitida. A transmis-
são no caso de energia menor que a barreira (efeito túnel) e a reflexão no caso de
energia maior que a barreira são situações não previstas pela Mecânica Clássica.
As probabilidades de transmissão e reflexão em cada caso são obtidas pelas leis da
Mecânica Quântica.

• Uma partícula incidente em um poço de potencial com E > V0 pode ser transmi-
tida ou refletida, exatamente como no caso da barreira de potencial.

• Os coeficientes de reflexão e transmissão apresentam oscilações com a energia


da partícula incidente.

• Para alguns valores da energia incidente, a partícula é transmitida com probabili-


dade de 100%, o que é conhecido como efeito Ramsauer. Já se 0 < E < V0, existem
soluções para a equação de Schrödinger para apenas alguns valores da energia
(estados ligados).

• Essas soluções podem ser pares ou ímpares, e quanto maior o número de no-
dos das funções de onda, maior o valor da energia da partícula.
273
AUTOATIVIDADE

1 Faça uma estimativa da distância de penetração ∆x para uma partícula de po-


eira muito pequena, de raio r = 10-6 m e densidade = 104 kg/m3, se movendo
com a velocidade muito baixa v = 10-2 m/s, se a partícula atinge um degrau de
potencial de altura igual a duas vezes sua energia cinética, vinda da região à
esquerda do degrau.

2 Um elétron de condução se move através de um bloco de Cu com energia total


E, sob influência de um potencial que, em uma boa aproximação, tem um valor
constante zero no interior do bloco e subitamente cresce até o valor constante
V0 > E fora do bloco. O valor do potencial no interior é basicamente constante
e pode ser considerado nulo, pois um elétron de condução dentro do metal
praticamente não sofre influência da força coulombiana total exercida pela dis-
tribuição de cargas aproximadamente uniforme que o cerca. O potencial cresce
muito rapidamente na superfície do metal até o valor exterior V0, porque o elé-
tron sofre uma forte atração exercida pela distribuição de cargas não uniforme
presente nesta região. Esta força tende a atraí-lo de volta ao metal e é, evidente-
mente, o que faz com que o elétron de condução fique ligado ao metal. Devido
ao elétron estar ligado, V0 deve ser maior do que sua energia total E. O valor no
exterior do potencial é constante, se o metal não tiver carga total, pois fora do
metal o elétron não sofreria ação de nenhuma força, A massa do elétron é m =
9 x 10-11 kg. Medidas da energia necessária para removê-lo permanentemente
do bloco, ou seja, medidas de sua função trabalho mostram que V0 - E = 4 eV.
Destes dados, faça uma estimativa da distância x que o elétron pode penetrar
na região classicamente proibida fora do bloco.

3 Quando um nêutron entra em um núcleo, fica sob influência de um potencial


que cai na superfície nuclear muito rapidamente de um valor externo constante
V = 0 a um valor interno constante de cerca de V = -50 MeV. A queda no poten-
cial é o que faz com que um nêutron possa estar ligado em um núcleo. Consi-
dere um nêutron incidindo sobre um núcleo com uma energia cinética externa
K=5 MeV, que é típica de um nêutron logo que ele é emitido a partir de uma
fissão nuclear. Faça uma estimativa da probabilidade de que o nêutron seja
refletido na superfície nuclear, desta forma não conseguindo entrar e induzir
outra fissão nuclear.

274
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ESTRUTURA ATÔMICA

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior estudamos sobre a equação de Schrödinger independente
do tempo, que é uma equação tão fundamental em Mecânica Quântica como a equa-
ção de Schrödinger dependente do tempo. E de acordo com isso, ficou estabelecido
que a função de onda pode ser escrita como: a distribuição de probabilidade é cons-
tante no tempo.

Neste tópico, vamos aplicar a teoria quântica a sistemas atômicos. Para todos
os átomos neutros, com exceção do hidrogênio, a equação de Schrödinger não pode
ser resolvida exatamente. Apesar disso, foi no reino da física atômica que a equação
de Schrödinger colheu seus maiores sucessos, já que os físicos sabem como descre-
ver matematicamente a interação eletromagnética dos elétrons com outros elétrons e
com o núcleo atômico. Com o uso de métodos aproximados e de computadores de
alta velocidade, vários aspectos do comportamento de átomos mais complexos que
o hidrogênio, como os comprimentos de onda e intensidades das linhas espectrais,
podem ser calculados, muitas vezes com uma precisão tão alta quanto se deseje.

A equação de Schroedinger para o átomo de hidrogênio foi resolvida no


primeiro artigo de Schroedinger, publicado em 1926. Este problema é muito impor-
tante, não só porque neste caso a equação de Schrödinger pode ser resolvida exata-
mente, mas também porque as soluções obtidas servem como ponto de partida para
soluções aproximadas no caso de outros átomos. Por essa razão, vamos estudar este
problema com uma certa profundidade. Embora algumas passagens matemáticas
necessárias para resolver a equação de Schrödinger sejam um pouco difíceis, vamos
tentar apresentar resultados quantitativos sempre que possível, mostrando alguns
resultados sem demonstrá-los e discutindo qualitativamente aspectos importantes
destes resultados apenas quando necessário. Sempre que possível, forneceremos ar-
gumentos físicos simples para mostrar que os resultados são razoáveis.

Tenha em seguida o conhecimento com relação ao átomo de hidrogênio. Boa


leitura!

275
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

2 O ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
Neste tópico vamos estudar a estrutura atômica. Podemos perguntar qual
a relação existente entre o átomo de hidrogênio com a estrutura atômica? O áto-
mo de hidrogênio foi usado por Niels Bohr para explicar a estrutura do átomo.

Em 1913, o físico dinamarquês Niels Bohr desenvolveu um novo modelo


para explicar a estabilidade da matéria e a emissão do espectro em raias definidas
em cada elemento. Esse modelo embora ainda não “funcionasse” para átomos
mais pesados, explicou com perfeição os fenômenos como o espectro de emissão
e absorção do hidrogênio. O hidrogênio é o átomo mais simples que existe: seu
núcleo tem apenas um próton e só há um elétron orbitando em torno desse nú-
cleo. Para explicar a evidente estabilidade do átomo de hidrogênio e, de quebra,
a aparência das séries de linhas espectrais desse elemento (PAULA, 2019, s.p.).

Ernest Rutherford que deduziu que um átomo é formado de um núcleo pe-


queno e denso, onde residem os prótons (cargas positivas) e igual número de elétrons
(cargas negativas) habitando a periferia. Este modelo ficou conhecido como modelo
planetário. A partir deste tópico aprofundaremos nosso estudo sobre a estrutura
atômica especialmente com o átomo de hidrogênio (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

2.1 QUANTIZAÇÃO DO MOMENTO ANGULAR E DA


ENERGIA DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO
Neste tópico resolveremos a equação de Schrödinger independente do
tempo para o átomo de hidrogênio e para outros átomos com um elétron. Vere-
mos que a quantização da energia e do momento angular são consequências natu-
rais das condições de aceitabilidade das funções de onda e discutiremos a origem
e o significado físico dos números quânticos n, l e m (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

O primeiro passo para resolver uma equação diferencial parcial como a


equação:

 2 1 ∂  2 ∂ψ  2  1 ∂  ∂ψ  1 ∂ 2ψ 
−  r  −   sen θ  +  + V (r )ψ =
Eψ (3.197A)
2 µ r ∂r  ∂r  2 µ r 2
2
 sen θ ∂θ  ∂θ  sen2 θ ∂φ 2 

Que consiste em procurar soluções separáveis escrevendo a função


de onda ψ (r ,θ ,φ ) como o produto de funções de uma única variável (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006). Assim, escrevemos:

ψ (r ,θ ,φ ) = R(r ) f (θ ) g(φ ) (3.197B)

Na qual R depende apenas da coordenada radial r, f depende apenas de


e g depende apenas de . Quando esta forma de ψ (r ,θ ,φ ) é substituída na equa-
ção (3.197A), a equação diferencial parcial pode ser transformada em três equa-
276
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

ções diferenciais ordinárias uma para R(r), uma para f( ) e uma para g( ). Muitas
das soluções da equação (3.197A), naturalmente, não possuem esta forma; entre-
tanto, se um número suficiente de soluções com a forma da equação (3.197B) for
encontrado, todas as soluções da equação poderão ser expressas como combina-
ções lineares destas soluções. Acontece que as soluções com a forma da equação
(3.197B) são fisicamente as mais importantes, porque correspondem a valores de-
finidos (autovalores) da energia e do momento angular (TIPLER; LLEWELLYN,
2006). Substituindo a equação (3.197B) na Eq. (3.197A) e executando todas as
diferenciações indicadas, temos:

2 1 d  dR  2 1 d  df  2 Rf d 2 g
− fg 2  r 2  − Rg  sen θ − + VRfg =
ERfg (3.198)
2 µ r dr  dr  2 µ r 2
sen θ dθ  dθ  2 µ r sen2 θ dφ 2
2

Já que as derivadas em relação à r não afetam f( ) e g( ), as derivadas em


relação à não afetam R(r) e g( ) e as derivadas em relação à não afetam R(r) e
f( ). Para separar as funções que dependem de r das funções que dependem de
e de , basta multiplicar a equação 3.198 por −2 µ r / h Rfg e reagrupar os termos
2 2

(TIPLER; LLEWELLYN, 2006). O resultado é o seguinte:

1 d  2 dR(r )  2 µ r 2  1 d  df (θ )  1 d 2 g(φ ) 
 r  + 2  E − V (r )  = −   sen θ +  (3.199)
R(r ) dr  dr   f (θ )sen θ dθ  dθ  g(φ )sen θ dφ 2 
2

Dois pontos importantes podem ser observados com relação à equação 3.199:

• O lado esquerdo contém apenas termos que dependem de r, enquanto o lado


direito contém apenas termos que dependem de θ e de ∅ . Como as variáveis
são independentes, mudanças em r não podem alterar o valor do lado direito
da equação, enquanto mudanças em θ e ∅ não podem alterar o valor do lado
esquerdo. Assim, os dois lados da equação devem ser iguais à mesma constan-
te, que vamos chamar, por razões que veremos mais tarde, de l (l + 1) (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006).

• Como o potencial depende apenas de r, a solução do lado direito (a parte angu-


lar) da equação (3.199) deve ser a mesma para qualquer potencial que dependa
apenas de r (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Tendo em vista o segundo ponto, resolveremos primeiro a equação angu-


lar para que os resultados estejam disponíveis quando começarmos a examinar
as soluções da equação que depende de r, conhecida como equação radial, para
valores particulares do potencial V(r) (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). Fazendo o
lado direito da equação 3.199 igual al (l + 1), multiplicando por sen2 θ e reagru-
pando os termos, temos:

1 d 2 g(φ ) sen θ d  df (θ ) 
=−l(l + 1)sen2θ −  sen θ (3.200)
g(φ ) dφ 2
f (θ ) dθ  dθ 

277
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Como o lado esquerdo da equação 3.200 depende apenas de e o lado


direito depende apenas de , ambos devem ser iguais à mesma constante, que
vamos chamar, por razões que veremos em seguida, de –m2. Fazendo o lado
esquerdo da Eq. 3.200 igual a -m2 e resolvendo a equação diferencial resultante,
temos (TIPLER; LLEWELLYN, 2006):

gm (φ ) = e imφ (3.201)

Para que a função de onda total Ѱ seja unívoca, é preciso que g(φ + 2p ) =
g(φ )
, e, portanto, que o número m que aparece na equação 3.201 seja zero ou um nú-
mero inteiro positivo ou negativo (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Fazendo o lado direito da equação 3.200 igual a –m2 e resolvendo a equa-


ção diferencial resultante, temos (a solução não é óbvia):

l + im
( sen θ )im  d 
fim (θ ) (cos 2 θ − 1)' (3.202)
2' l !  d(cos θ ) 

Em que:

l = 0,1, 2, 3,...
(3.203)
m = 0, ±1, ±2,...

As limitações indicadas anteriormente para os valores de l e m resultam


da exigência de que f( θ ) seja finita em θ = 0 e θ = . Observe que existe uma rela-
ção entre l e m: para cada valor de l, são permitidos apenas valores de m tais que
m ≤ l. As funções flm ( θ ) dadas pela equação 3.202 são conhecidas como funções de
Legendre associadas. As funções de Legendre associadas com m = 0 recebem o
nome especial de polinômios de Legendre (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

O produto de flm ( θ ) por gm ( ∅ ), que descreve a variação angular de


para qualquer potencial com simetria esférica, constitui uma família
de funções que aparecem com freqüência em problemas de física:

Yim (θ , φ ) = fim (θ ) gm (φ ) (3.204)

Que são chamadas de harmônicos esféricos (TIPLER; LLEWELLYN,


2006). A seguir, algumas dessas funções.

278
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

FIGURA 27 – HARMÔNICOS ESFÉRICOS

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 189)

É fácil obter o valor das funções de Legendre associadas e dos polinômios


de Legendre a partir dos harmônicos esféricos (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

2.2 QUANTIZAÇÃO DO MOMENTO ANGULAR


O momento angular L de um corpo de massa m cuja posição é especifica-
da por um vetor posição r é dado por:

L=rXp (3.205)

Em que p = m(dr/dt). Se o potencial a que o corpo está submetido é função ape-


nas de r (como acontece com o elétron do átomo de hidrogênio), o momento angular
L é conservado e o movimento clássico do corpo ocorre em um plano fixo perpendi-
cular a L passando pela origem (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). As componentes do
momento p na direção de r e pr e na direção perpendicular a r (e a L) são dadas por:

 dr 
Pr = µ   (3.206)
 dt 
E:

 dA 
Pt = µ r   (3.207)
 dt 

279
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E o módulo do vetor constante L é dado por:

=L rp
= sen A rpt (3.208)

A Figura 28 mostra quando V = V(r), a órbita de uma partícula clássica está


em um plano particular a L. As componentes do momento p nas direções paralela
e perpendicular a r são pr e pr* respectivamente. O vetor posição r faz um ângulo A
com direção de referência (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

FIGURA 28 – ÓRBITA E O VETOR POSIÇÃO

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 189)

Em termos dessas componentes, a energia cinética pode ser escrita como:

p 2 pr2 + pt2 pr2 L2


= = + (3.209)
2µ 2µ 2µ 2µr 2

E, portanto, a energia clássica total E é dada por:

pr2 L2
+ + V (r ) =
E (3.210)
2µ 2µr 2

Reescrevendo a equação (3.210) em termos do potencial ‘"efetivo


, temos:

pr2
+ Vef (r ) =
E (3.211)

280
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

Que é idêntica à equação usada para demonstrar a equação de Schrödin-


ger (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Usaremos a expressão da energia total da partícula, que no caso atual é a


equação (3.210) para chegar à equação de Schroedinger (TIPLER; LLEWELLYN,
2006). Para isso, usaremos a relação de Broglie e introduziremos os operadores
diferenciais apropriados (em coordenadas esféricas) para p2 e L2. No caso de Pr2,
o operador é:

1 ∂  2 ∂ 
( pr2 )op = − 2 r  (3.212)
r 2 ∂r  ∂r 

Que, dividido por 2 e operando em Ѱ é o primeiro termo (energia cinéti-


ca) da equação de Schroedinger em coordenadas esféricas (Eq. 3.197A) (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006). O operador L2 é dado por:

 1 ∂  ∂  1 ∂2 
( L2 )op =
− 2   sen θ +  (3.213)
 sen θ ∂θ  ∂θ  sen2 θ ∂φ 2 

Que, dividido por 2 r2 e operando em Ѱ é o segundo termo da equação


de Schrödinger em coordenadas esféricas (equação 3.197A). O lado direito da
equação 3.199, que é igual a pode, portanto, ser escrito da seguinte forma,
depois de multiplicado por h f (θ ) g(φ ) e lembrando que fim (θ ) gm (φ ) = Yim (θ , φ ) :
2

 1 ∂  ∂  1 ∂2 
− 2   sen θ  + Y (θ , φ ) =
2  im
l(l + 1) 2Yim (θ , φ ) (3.214)
 sen θ ∂θ  ∂θ  sen 2
θ ∂φ 

Ou:

( L2 )op Yim (θ , φ=
) l(l + 1) 2Yim (θ , φ ) (3.215)

Ou, como ψ (r ,θ ,φ ) = R(r )Y (θ ,φ ),


( L2 )opψ (r ,θ , φ=
) l(l + 1) 2ψ (r ,θ , φ ) (3.216)

281
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

Temos um resultado muito importante de que para qualquer potencial da


forma V = V(r), o momento angular é quantizado e seus módulos permitidos (autovalores)
são dados por:

|=
L| l(l + 1) (3.217)

Temos um resultado muito importante de que para qualquer potencial da forma V = V(r),
o momento angular é quantizado e seus módulos permitidos (autovalores) são dados por:

1 = 0, 1, 2, 3,... (3.218)

Em que l é chamado de número quântico de momento angular.

Podemos usar o mesmo método de substituição para Z... a componente z de L, e mostrar


que a componente r do momento angular é quantizada e seus valores permitidos são
dados por:

Lz = m para m = 0, ±1, ±2.... ± l (3.219)

O significado físico da equação (3.219) é que o momento an-


gular L, cujo módulo é quantizado em valores de l(l + 1) , pode
apontar apenas em direções no espaço tais que a projeção
de L no eixo dos z seja 0 ou um múltiplo inteiro de . Assim,
L é também espacialmente quantizado (TIPLER; LLEWELLYN,
2006, p. 189-190).

A Figura 28 mostra o modelo vetorial ilustrando as orientações possíveis


de L no espaço e os valores possíveis de Lz para a casa em que = 2.

282
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

FIGURA 29 – ILUSTRAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES POSSÍVEIS DE L.

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 190)

O diagrama que aparece na Figura 29, denominado modelo vetorial


do átomo, mostra as possíveis orientações do vetor momento angular.
Observe que o vetor momento angular nunca aponta no sentido do
eixo dos z já que a maior componente possível de z, m  é sempre
menor do que o módulo do vetor, 1(1 + 1) . Este fato é consequência
do princípio de indeterminação do momento angular (que não vamos
demonstrar), segundo o qual é impossível determinar com precisão
absoluta duas componentes do momento angular a não ser no caso
trivial em que o momento angular é nulo. Observe que para um dado
valor de l existem 2l+1 valores possíveis de m, que vão de -l a + l em in-
tervalos inteiros. Operadores para Lx e Ly também podem ser obtidos
pelo método de substituição; entretanto, operando com eles na função
de onda Ѱ não obtemos autovalores. Isto acontece porque para espe-
cificar rotações em torno dos eixos dos x e dos v é preciso medir dois
ângulos diferentes, θ e ∅ .(TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 190).

2.3 QUANTIZAÇÃO DA ENERGIA


Os resultados discutidos até agora se aplicam a qualquer sistema que seja
esfericamente simétrico, isto é, no qual a energia potencial só dependa de r. A solução
da equação radial para R (r) por outro lado, depende da forma detalhada de V(r). O
novo número quântico associado à coordenada r é denominado número quântico
principal e é representado pela letra n. Como veremos, este número quântico está
relacionado à energia no caso do átomo de hidrogênio (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

A Figura 30 mostra um gráfico da energia potencial em função da dis-


tância radial r. Se a energia total é positiva, o elétron não está ligado
ao átomo e a energia não é quantizada. Quando a energia total é ne-
gativa, como E, o elétron está ligado ao átomo e apenas certos valores
discretos da energia total levam a soluções bem-comportadas (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006, p. 190).

283
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 30 – GRÁFICO DA ENERGIA POTENCIAL.

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 191)

A Figura 30 mostra um gráfico da energia potencial, dada pela Equação:

Zke 2
V (r ) = −
r

Em função da distância radial r. Se a energia total é positiva, o elétron não


está ligado ao átomo. No momento, estamos interessados apenas em estados
ligados, isto é, estados para os quais a energia E é negativa. Neste caso, como
mostra a figura, a energia potencial se torna maior que E para grandes valores de
r. Acontece que no caso de sistemas ligados, como já vimos apenas certos valores
de E levam a soluções bem-comportadas. Esses valores podem ser determinados
resolvendo a equação radial, que é obtida igualando o lado esquerdo da equação
(3.199) à constante . Para o potencial de Coulomb, dado pela equação
Zke 2 , a equação radial tem a forma:
V (r ) = −
r
− d  2 dR(r )   kZe 2  2 l(l + 1) 
r d  
+ − +  R(r ) =ER(r ) (3.220)
2µr 2 d  r 2µr 2 

A equação radial pode ser resolvida usando os métodos convencionais de so-


lução de equações diferenciais: os detalhes da solução serão omitidos exceto para ob-
servar (1) que esperamos que exista uma ligação entre o número quântico principal n
e o número quântico de momento angular , já que último está presente na equação
(3.220), e (2) que para que as soluções da equação (3.220) sejam bem comportadas,
apenas certos valores da energia são permitidos (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

284
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

E
IMPORTANT

Os valores permitidos de E são dados por:

2
 kZe 2  µ Z 2 El
En =
−  2
=
− (3.221)
   2n n2

=El µ k 2 e 4 / 2 h 2 ≈ 13,6 e V
e o número quântico principal pode assumir os valores 1, 2, 3... com a
restrição adicional de que n deve ser maior que l. Estes valores de energia são idênticos aos
encontrados no modelo de Bohr (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

As funções radiais encontradas resolvendo-se a equação 3.220 para o caso


do átomo de hidrogênio são dadas pela seguinte equação:

 r 
Rnl (r ) = a0 e − ria0 n r −1 nl  
 a0 

Em que  nl (r / a0 ) são funções especiais denominadas polinômios de La-


guerre a = h 2 / µ ke 2 é o raio de Bohr. A Figura 31 mostra as funções radiais Rnl (r)
0
para n = 1, 2 e 3.

FIGURA 31 – FUNÇÕES RADIAIS DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO


2
=z 1=l 0 =R10 e − r / a0
a03

1  r  − r /2 a0
=z 2=l 0 =R20 1− e
2a  2
3 a0 
0

1  r  − r /2 a0
=l 0 =R20 1− e
2 a  2 a0 
3
0

r − r /2 a0
1
=l 1=R21 e
a
2 6a 0 3
0


2 r 2r 2  − r /3 a0
=z 3 =l 0 R30
=  1 − + e
2 
3 3a  3a0 27 a0 
3
0

8 r  r  − r /3 a0
=l 1 =R31 1− e
27 6 a03 a0  6 a0 

r 2 − r /3 a0
4
=l 2=R32 2
e
8 30 a a0 3
0

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 191)

285
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

2.4 RESUMO DOS NÚMEROS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

Os valores permitidos dos números quânticos n, l e m associados às variáveis


r, e são os seguintes:

n = 1, 2, 3...
(3.223)
=l 0,1, 2...,(n − 1)

m =−l ,( −l + 1),...,0,1, 2,..., +l

O fato de a energia do átomo de hidrogênio não depender de l está de


acordo com a teoria clássica, já que, de acordo com a mecânica clássica,
a energia de uma partícula que se move em uma órbita elíptica sob a
ação de uma força proporcional ao inverso do quadrado da distância
não depende da excentricidade da órbita. A órbita de menor excentri-
cidade (isto é, a mais próxima de um círculo) está associada ao maior
valor possível do momento angular (l= n - 1), enquanto um valor de
l pequeno corresponde a uma órbita altamente excêntrica. (Quando
o momento angular é nulo, isto é, quando l = 0, o elétron se limita
a executar oscilações ao longo de uma linha reta que passa pelo nú-
cleo.). Tanto na teoria clássica como na teoria quântica, quando a força
central não varia com o quadrado do inverso da distância, a energia
depende do momento angular. Nesse caso, a energia é função tanto
de n como de l (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 191).

O número quântico m está relacionado a componente z do momento


angular. Como não existe uma direção preferencial para o eixo dos
z no caso de uma força central, a energia não pode depender de m.
Veremos mais tarde que quando o átomo está imerso em um campo
magnético externo, existe uma direção preferencial no espaço e a ener-
gia depende de m (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 191).

A Figura 32 mostra o diagrama de níveis de energia do átomo de hi-


drogênio, mostrando as transições que obedecem à regra de seleção
= . Os estados com o mesmo valor de n e valores diferentes
de l têm a mesma energia, - E/ri2, onde E1= - 13,6 eV, como na teoria de
Bohr. Os comprimentos de onda da linha a da série de Lyman (n = 2
n = 1) e da linha a da série de Balmer (n = 3 n = 2) estão indicados
em nm. Observe que no segundo caso existem três transições distintas
com o mesmo comprimento de onda (de n = 3, l = 0 para n = 2, l = 1:
de n = 3, l = 1 para n = 2, l = 0; de n = 3, l = 2 para n = 2. l = 1) (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006, p. 192).

286
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

FIGURA 32 – DIAGRAMA DOS NÍVEIS DE ENERGIA DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 192)

As transições do tipo dipolo elétrico entre os níveis de energia obedecem


às regras de seleção:

m 0 ou ± 1
D=

Dl =±1
O fato de que o número quântico um deve variar de ± 1 quando o átomo
emite ou absorve um fóton está relacionado à conservação do momento
angular, já que o fóton possui um momento angular intrínseco igual a
1ℏ. Por outro lado, não existem restrições quanto à variação do número
quântico principal, Dn (TIPLER.; LLEWELLYN, 2006, p. 191).

2.5 AS FUNÇÕES DE ONDA DO ÁTOMO DE HIDROGÊNIO


As funções de onda ψ nlm (r ,θ ,φ ) que satisfazem à equação de Schrödinger do
átomo de hidrogênio são funções complicadas de e . Neste tópico, vamos es-
crever por extenso algumas dessas funções e mostrar graficamente algumas de
suas propriedades mais importantes (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

287
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

ATENCAO

Como vimos a variação com da função de onda (Eq. 3.201) é dada simples-
mente por A variação com (equação 3.202) é dada pelas funções de Legendre associa-
das flm ( ). A variação angular completa é dada pelos harmônicos esféricos Ylm ( , ), o
produto de flm ( )por gm ( ) (Eq, Yim (θ , φ ) = fim (θ ) gm (φ ) ); os valores dos harmônicos
esféricos para l= 0, 1 e 2 aparecem na Figura 27. As soluções da equação radial Rnl(r) são
da forma indicada na equação 3.222, os valores para n=1,2 e 3 aparecem na Figura 31.
De acordo com a equação 3.197B a função de onda completa do átomo de hidrogênio é
dada por:

ψ nlm (r ,θ ,φ ) = Cnlm Rlu (r ) flm (θ ) gm (φ ) (3.225)

A qual é uma constante de normalização (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Podemos ver pela forma da equação 3.225 que a função de onda completa
depende dos números quânticos n, l e m que por sua vez resultam das condições
de contorno impostas às funções R(r). ) e g( ). A energia, por outro lado de-
pende apenas do valor de n. De acordo com a equação 3.223, para cada valor de
n existem n valores possíveis
= de l(l 0,1, 2,..., n − 1) e para cada valor de l existem
2 l + 1 valores possíveis de m ( m =−l , −l + 1,..., +l) +l). Exceto no caso do estado
fundamental (para o qual n = 1 e, portanto l = m = 0), existem várias funções de
onda correspondentes à mesma energia. Como vimos no subtópico anterior, a
origem desta degeneração está na variação com 1/r2da força de atração do nú-
cleo e no fato de que não existem orientações privilegiadas no espaço (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006).

2.6 O ESTADO FUNDAMENTAL


Vamos examinar mais de perto as funções de onda de alguns estados, co-
meçando pelo estado de menor energia, ou estado fundamental, para o qual n = 1,
l = 0 e m = 0. Nesse caso, o polinômio de Laguerre  nl aí da equação 3.222 é igual
a 1 e a função de onda é dada por:

ψ=
100
C100 e − Zr / a0 (3.226)

A constante C100 é determinada por normalização:

∞ p 2p
∫ψ * ψ dτ ∫=
∫ ∫ ψ * ψ r sen θ dφ dθ dr 1
2
= (3.227)
0 0 0

288
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

Na qual usamos o elemento de volume em coordenadas esféricas (Figura


33) (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

A Figura 33 mostra o elemento de volume d em coordenadas esféricas.

FIGURA 33 – ELEMENTO DE VOLUME EM COORDENADAS ESFÉRICAS

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 192)

dτ = (r sen θ dφ )(r dθ )(dr ) (3.228)

Como Ѱ* Ѱ é esfericamente simétrica para este estado, o resultado das


integrações em e é 4 . Integrando em r temos:

3/2 3/2
1 Z 1 1
C100
=100
=     para Z 1
= (3.229)
p  a0  p  a0 

A probabilidade de encontrar um elétron no volume d é Ѱ* Ѱ d (TI-


PLER; LLEWELLYN, 2006).

A densidade de probabilidade está ilustrada na Figura 34.

A Figura 34 mostra a densidade de probabilidade Ѱ* Ѱ para o estado


fundamental do átomo de hidrogênio. A grandeza Ѱ* Ѱ pode ser encarada como
a densidade de carga associada ao elétron .

289
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

a) A densidade de probabilidade tem simetria esférica, é máxima na


origem e diminui exponencialmente com r. Para gerar este gráfico
um programa de computador realizou centenas de "observações" do
elétron no plano xz (ou seja, com 0) e assinalou com um ponto as
posições em que o elétron foi "observado”.
b) Gráfico mais convencional da densidade de probabilidade Ѱ100 em
função de r/a0. Compare os dois gráficos (TIPLER; LLEWELLYN, 2006,
p. 193).

FIGURA 34 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE PARA O ESTADO FUNDAMENTAL DO ÁTOMO


DE HIDROGÊNIO

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 193)

No caso do estado fundamental, a densidade de probabilidade é máxima


na origem. Muitas vezes é mais interessante calcular a probabilidade de encon-
trar o elétron em uma casca esférica entre r e r + dr. Esta probabilidade, P (r) dr,
conhecida como densidade de probabilidade radial, é igual à densidade de pro-
babilidade Ѱ* Ѱ multiplicada pelo volume de uma casca esférica de espessura dr
(TIPLER; LLEWELLYN, 2006):

290
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

P(r )dr ψ=
= * ψ 4pτ 2 dr 4pτ 2C100
2
e −2 Zr / a0 dr (3.230)

A Figura 35 mostra um gráfico de P (r) em função de r/a0. (TIPLER;


LLEWELLYN, 2006).

A Figura 35 apresenta a densidade de probabilidade radial P(r) em função


de r/a0 para o estado fundamental do átomo de hidrogênio, P(r) é proporcional a
p = eψ * ψ A distância mais provável é igual ao raio de Bohr (TIPLER; LLEWELLYN,
2006).

FIGURA 35 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE RADIAL P (r)

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 193)

Ao contrário do que ocorre no modelo de Bohr do átomo de hidrogênio,


em que o elétron possui uma órbita bem definida com r = a0, no modelo de Schro-
edinger o elétron pode ser encontrado a qualquer distância do núcleo; entretanto,
a distância mais provável é e a probabilidade de o elétron ser encontrado a uma
distância muito diferente deste valor é extremamente pequena. É possível imagi-
nar o elétron como sendo uma nuvem de carga negativa de densidade p = eΨ * Ψ
sem esquecer, porém, que o elétron é sempre observado como uma carga isolada.
Observe que o momento angular do elétron no estado fundamental é zero e não
ℏ, como na teoria de Bohr (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

291
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

2.7 ESTADOS EXCITADOS


No primeiro estado excitado, n = 2 e l = 0 ou 1, para l = 0, m = 0, e novamen-
te temos uma função de onda com simetria esférica, dada por:

 Zr 
ψ 200 C200  2 −  e − Zr /2 a0
= (3.231)
 a0 

Para l = 1, m = + 1,0 ou -1. As funções de onda correspondentes (veja as


Tabelas 3.1 e 3.2) são:

Zr − Zr /2 a0
ψ 210 = C210 e cos θ
a0
(3.232)
Zr − Zr /2 a0
ψ 21±1 = C21±1 e sen θ e ± iφ
a0

A Figura 36 (a) mostra P (r) em função de r/a0 para essas funções de onda.
Para n=2, l = 1, o valor de P(r) é máximo quando a distância radial é igual ao raio
da segunda órbita de Bohr (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

rmáx = 2 2 a0 (3.233)

Enquanto para n= 2 e l = 0, P(r) tem dois máximos, o maior dos quais


ocorre para uma distância um pouco maior que o raio da segunda órbita de Bohr
(TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

A densidade de probabilidade radial para os outros estados excitados do


hidrogênio pode ser calculada da mesma forma (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

A Figura 36 apresenta a densidade de probabilidade radial P (r) em


função de r/a0 para os estados n = 2 ao átomo a de hidrogênio. No caso
de l= 1, P(r) é máxima para o valor de Bohr, 22a0. No caso de l = 0, exis-
te um máximo nas vizinhanças deste valor e um máximo secundário
perto da origem (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 194).

292
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

FIGURA 36 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE PARA DIFERENTES ESTADOS

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 194)

A Figura 36 (b), por exemplo, mostra a função P (r) o segundo estado


excitado, n = 3. A não ser nas vizinhanças da origem, a principal variação radial
de P(r) está contida no fator e-zr/na0. Uma análise detalhada dos polinômios de La-
grerre mostra que Ѱ quando r 0; assim, para um dado n, Ѱnlm é maior nas
proximidades da origem quando l é pequeno (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

ATENCAO

“Uma propriedade importante destas funções de onda é que as densidades


de probabilidade apresentam simetria esférica para l = 0, mas dependem de para l ≠ 0”
(TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 194).

293
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

A Figura 37 mostra a densidade de probabilidade para os estados n = 2 do


hidrogênio. A probabilidade tem simetria esférica para l = 0 e proporcional a cos2
para l = 1, m = 0 e é proporcional a sen2 para l = 1, m = ± 1. Como as densidades
de probabilidade são simétricas em relação ao eixo dos z a densidade tridimen-
sional de carga tem a forma de uma esfera para o estado l = 0, m = 0, a forma de
um haltere para o estado l = 1, m = 0 e a forma de um pneu para o estado l = 1, m
= ± 1. As formas dessas distribuições são típicas para todos os átomos em estados
S(l = 0) e P(l = 1) e desempenham um papel importante nas ligações moleculares
(TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

FIGURA 37 – DENSIDADE DE PROBABILIDADE PARA OS ESTADOS N=2 DO HIDROGÊNIO

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 195)

Os gráficos de densidade de probabilidade da Figura 37 ilustram este fato


para o primeiro estado excitado, n = 2. Essas distribuições angulares de densi-
dade de carga do elétron dependem do valor de l, mas não da parte radial da
função de onda. Distribuições de carga semelhantes para os elétrons de valência
de átomos mais complexos desempenham um papel importante na formação de
ligações químicas (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

DICAS

Este subtópico contém trechos extraídos do livro: TIPLER, P. A.; LLEWELLYN,


R. A. Física Moderna. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2006. p. 188-194. Como dica para
aprofundar seu conhecimento, leia o material na íntegra.
Disponível em: http://bit.ly/2vN4dR7. Acesso em: 13 ago. 2019.

294
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

Tenha em seguida a explicação sobre o spin do elétron, enriqueça o seu


estudo!

3 O SPIN DO ELÉTRON
Anteriormente estudamos sobre o átomo de hidrogênio. Você pode se
perguntar qual é a relação existente entre o átomo de hidrogênio com o spin do
elétron? O spin nasceu da tentativa de se entender e explicar o motivo pelo qual
o espectro do hidrogênio e o de outros átomos apresentavam linhas múltiplas,
como o efeito Zeeman. Antes da descoberta do spin do elétron, a órbita do átomo
analisado era feita através dos números quânticos.

O modelo atômico a partir do átomo de hidrogênio embora ainda não “fun-


cionasse” para átomos mais pesados, explicou com perfeição os fenômenos como
o espectro de emissão e absorção do hidrogênio. O termo spin em mecânica quân-
tica liga-se ao vetor momento angular intrínseco de uma partícula e às diferentes
orientações (quânticas) deste no espaço, embora o termo seja muitas vezes incorre-
tamente atrelado não ao momento angular intrínseco mas ao momento magnético
intrínseco das partículas, por razões experimentais. A partir deste tópico aprofun-
daremos nosso estudo sobre o spin do elétron (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Quando uma linha espectral do hidrogênio ou de outros átomos é obser-


vada com alta resolução, verifica-se que existe uma estrutura fina, ou seja, que a
suposta linha é constituída na verdade por duas ou mais linhas muito próximas.
Comentamos na ocasião que os cálculos relativísticos de Stomerfeld, baseados no
modelo de Bohr estavam de acordo com os resultados experimentais para a estru-
tura fina do hidrogênio, mas esta concordância revelou-se fortuita: o número de
linhas observadas em outros átomos era maior que o previsto por Sommerfeld.
Para explicar a estrutura fina e ao mesmo tempo conciliar a tabela periódica com
o princípio de exclusão W. Pauli sugeriu em 1925 que além dos números quân-
ticos n, l e m o elétron possuía um quarto número quântico, que podia assumir
apenas dois valores (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Como vimos, os números quânticos resultam das condições de fron-


teira para alguma coordenada. Pauli esperava inicialmente que o quar-
to número quântico estivesse associado à coordenada em uma teoria
relativística, mas esta ideia não se revelou frutífera. No mesmo ano,
S. Goudsmit e O. Uhlenbeck, aluno de doutorado em Leiden propu-
seram que este quarto número quântico era a componente z, ms de um
momento angular intrínseco do elétron que chamaram de spin (TI-
PLER; LLEWELLYN, 2006, p. 195).

295
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

E
IMPORTANT

S. Goudsmit e O. Uhlenbeck atribuíram ao módulo do vetor spin S a mesma for-


ma que o módulo do vetor angular órbita L assume na mecânica ondulatória de Schrödinger:

|S|
= S(S + 1) (3.234)

Como este momento angular intrínseco é descrito por um número quântico s semelhante
ao número quântico l usado para descrever o momento angular orbital, esperamos que
existam 2s + 1 possíveis para a sua componente z assim como 2l + 1 valores possíveis para
a componente z do momento angular orbital (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Para que m tenha apenas dois valores, como foi sugerido por Pauli, é
preciso que s seja igual a 1/2, caso em que m pode ter os valores +1/2 e
-1/2. Além de explicar a estrutura fina e a tabela periódica, a hipótese do
spin eletrônico também explicou o resultado inesperado de um interes-
sante experimento realizado por O. Stern e W. Gerlach em 1922. Para
compreendermos por que o spin do elétron produz o desdobramento
dos níveis de energia conhecido como estrutura fina, precisamos exami-
nar a relação entre o momento angular e o momento magnético de um
sistema de partículas carregadas (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 195).

3.1 MOMENTO MAGNÉTICO


De acordo com o chamado teorema de Larmor, um sistema de partículas
carregadas animado de um movimento de rotação, apresenta um momento
magnético proporcional ao seu momento angular. Considere uma partícula de
massa M e carga q descrevendo uma circunferência de raio r com velocidade v.
A frequência do movimento da partícula é dada por e seu momento
angular é (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

296
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

E
IMPORTANT

O momento magnético de uma espira percorrida por corrente é dado pelo


produto da corrente pela área da espira. No caso de uma carga em movimento circular, a
corrente é igual à carga multiplicada pela frequência do movimento:

qv
i qf=
= (3.235)
2pτ
O momento magnético é, portanto dado por:

 v  1 1  L 
µ iA
= = q  (pτ =
2
) qvr
= q
2  M 
(3.236)
 2pτ  2

A Figura 38 apresenta uma partícula que se move em órbita circular tem


um momento angular L cujo módulo é dado por L=Mvr. Se a carga da partícula é
positiva, o momento magnético associado à corrente tem o mesmo sentido que
L (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

FIGURA 38 – MOMENTO ANGULAR E MOMENTO MAGNÉTICO.

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 196)

297
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

Como podemos ver na Figura 37, se q é positiva, o momento magnético


tem o mesmo sentido que o momento angular: se q é negativa, e L têm sentidos
opostos, ou seja, são antiparalelos. Isto nos permite escrever a equação. 3.236
como uma equação vetorial (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

q
µ= L (3.237)
2M

A equação 3.237, que demonstramos para uma única partícula movendo-


-se em círculos, é válida para qualquer sistema de partículas e qualquer tipo de
movimento, contanto que a relação q/M entre a carga e a massa seja a mesma para
todas as partículas do sistema (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

Aplicando este resultado ao movimento orbital do elétron no átomo de


hidrogênio e substituindo o módulo de L pelo seu valor, dado pela equação:

l(l + 1)
L= para l=
0,1, 2, 3,...

Temos:

e e
µ= L= l(l + 1) = l(l + 1)µ B (3.238)
2 me 2 me

Além disso, de acordo com a equação Lz= m ℏ para m=0, - + 1, - + 2, ...,-+l,


a componente z do momento é dada por:

e
µz =
− − mµ B
m= (3.239)
2 me

Na qual é a massa do elétron, m é a componente z do momento angu-


lar e „ é uma unidade natural de momento angular conhecida como magneton
de Bohr, cujo valor é:

e
µB =
− 9, 27 × 10 −24 joule/tesla
=
2 me

5,79 × 10 −9 e V/gauss =
= 5,79 × 10 −5 e V/tesla

Embora a proporcionalidade entre e L seja uma propriedade geral de dis-


tribuições de carga animadas de urn movimento de rotação, a relação expressa pela
equação 3.237 se aplica apenas a uma carga isolada q descrevendo um movimento
circular. Para permitir que a mesma expressão matemática seja usada em situações
mais complexas, costuma-se expressar o momento magnético em termos de e de
uma grandeza adimensional denominada razão giromagnética ou fator g, represen-
tada pela letra , cujo valor depende da geometria da distribuição de cargas. No caso
do momento angular L do elétron, a Equação 3.237 pode ser escrita na forma:
298
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

gL µB L
µ= − (3.240)

E as equações 3.238 e 3.239 na forma:

µ
= l(l + 1) g L µ B (3.240b)
µ z = −mg L µ B (3.241)
Na qual gL= 1.

O sinal negativo nas equações 3.240 e 3.241 se deve ao fato de a carga do


elétron ser negativa. Os vetores momento magnético e momento angu-
lar associados ao movimento orbital do elétron têm, portanto, sentidos
opostos. As equações 3.240b e 3.241 mostram que a quantização do mo-
mento angular leva à quantização do momento magnético.
O comportamento de um sistema com um momento magnético diferen-
te de zero na presença de um campo magnético pode ser visualizado
imaginando o que acontece com um pequeno ímã em forma de barra
(Figura 39). A Figura 39 traz a representação de um momento magnéti-
co por um ímã em Forma de barra.
Em um campo magnético externo, o momento experimenta um torque
= x B. (b) O torque faz com que o eixo do ímã processe em torno da
direção do campo magnético (TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 195-196).

299
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

FIGURA 39 – MOMENTO MAGNÉTICO DE UM ÍMÃ

FONTE: Tipler e Llewellyn (2006, p. 196)

Quando o ímã é submetido a um campo magnético uniforme B, surge


um torque τ = µ x B que faz com que o eixo do ímã processe em tomo da direção
do campo magnético, da mesma forma como o eixo de rotação de um pião ou de
um giroscópio processa em torno da direção do campo gravitacional (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006).

Para mudar a orientação do ímã em relação à direção do campo aplicado,


é preciso realizar um certo trabalho. O trabalho necessário para que o ângulo
varie de d é dado por:

dW = τ dθ = µ B sen θ dθ = d( − µ B cos θ ) = d( − µ ⋅B) (3.242)

300
TÓPICO 3 | ESTRUTURA ATÔMICA

A energia potencial do sistema é, portanto:

U =− µ ⋅B (3.243)

Tomando a direção do campo B como eixo dos z, temos:

U = −µz B (3.244)

No caso do spin do elétron, temos:

3 1
µ=s( s + 1)µ B =µ B e µ z =
ms µ B =
± µB (3.245)
4 2

Em um átomo, os elétrons estão submetidos ao campo magnético resultante


do movimento aparente do núcleo. De acordo com a equação 3.244 a interação entre
o spin eletrônico e este campo magnético tem valores diferentes para elétrons com
ms = +1/2 e para elétrons com ms = -1/2. Este desdobramento dos níveis de energia é
o responsável pela estrutura fina das linhas centrais (TIPLER; LLEWELLYN, 2006).

A restrição do spin, e, portanto, do momento magnético intrínseco


do elétron, a duas orientações no espaço com ms = ± 1/2 é mais um
exemplo de quantização espacial. O módulo do momento magnético
associado ao momento angular de spin pode ser determinado a partir
da deflexão do feixe de partícula em um experimento de Stern-Gerlach
(TIPLER; LLEWELLYN, 2006, p. 197).

NOTA

Medidas mais precisas revelam que o momento magnético intrínseco do elé-


tron é dado por:

µ = −ms gs µ B (3.246)

Na qual gs = 2, 002319. Este resultado, é o fato de que s não é um número inteiro como o
número quântico de momento angular orbital l, sugere que o modelo clássico do elétron
como uma esfera carregada girando em tomo de si mesma não deve ser tomado literal-
mente. Embora não faça parte da mecânica ondulatória de Schroedinger, o fenômeno
do spin está incluído na mecânica ondulatória relativística formulada por Dirac (TIPLER;
LLEWELLYN, 2006, p. 196-197).

301
UNIDADE 3 | A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER E ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS

DICAS

Como sugestão de vídeos, a fim de aprofundar os estudos e conhecimentos


apresentamos o vídeo de um antigo documentário de 1957 (Disney) que explica de forma
fácil como o átomo é utilizado para gerar energia. Aprenda mais sobre o Nosso Amigo o
Átomo (1957 - dublado): https://www.youtube.com/watch?v=qppUlgmN76s. Acesso em:
17 out. 2019.

DICAS

A história das grandes transformações sofridas pela física, e que culminaram


na formulação da mecânica quântica, na segunda metade da década de 1920, começou
no primeiro ano do século, quando Max Planck explicou, através de uma hipótese — que
a ele próprio repugnava — o espectro de radiação do corpo negro. Leia o texto completo
em: http://books.scielo.org/id/xwhf5/pdf/freire-9788578791261-07.pdf. Boa leitura!

302
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A estrutura atômica explica os átomos e seus comportamentos. Embora os mode-


los atômicos aceitos atualmente sejam bastante complexos.

• O modelo de Rutherford é muito utilizado por ser visualmente simples e prático


ao explicar alguns fenômenos da natureza. Atualmente, é o modelo da mecânica
quântica ou da mecânica ondulatória ou modelo orbital ou da nuvem eletrônica
aceito para definir a estrutura atômica.

• O hidrogênio é o átomo mais simples que existe: seu núcleo tem apenas um pró-
ton e só há um elétron orbitando em torno desse núcleo. Para explicar a evidente
estabilidade do átomo de hidrogênio e, de quebra, a aparência das séries de linhas
espectrais desse elemento, Bohr propôs alguns "postulados".

• O termo spin em mecânica quântica liga-se ao vetor momento angular intrínseco


de uma partícula e às diferentes orientações (quânticas) deste no espaço, embora o
termo seja muitas vezes incorretamente atrelado não ao momento angular intrínse-
co, mas ao momento magnético intrínseco das partículas, por razões experimentais.

• Os vetores momentos angular e momento magnético intrínsecos de uma partícula


são acoplados através de um fator giromagnético que depende da carga e da es-
pécie de partícula, e uma partícula que tenha carga e spin (angular) não nulos terá
um momento magnético não nulo.

• Experimentalmente o momento magnético é muito mais acessível do que o mo-


mento angular em si, em virtude da interação deste com corpos magnéticos e ele-
tromagnéticos, e o momento angular intrínseco (spin) de partículas carregadas,
acaba sendo inferido a partir de seu momento magnético intrínseco.

• As experiências consistiram na passagem de um feixe de átomos metálicos, vapo-


rizados, por um campo magnético não-homogêneo.

• Com alguns metais não houve desvio do feixe, enquanto outros, como o sódio, so-
freram desvio. Era sabido que um feixe de partículas como elétrons ou íons, sofre
desvio ao passar por um campo magnético. Contudo, átomos não têm carga elétrica.

303
• Para explicar esse fenômeno, foram atribuídos aos elétrons dois possíveis sentidos
de rotação, chamados spins.

• Há evidências de que os elétrons podem apresentar movimento de rotação em dois


sentidos diferentes foram obtidas em 1921 pelos físicos alemães Otto Stern e Wal-
ther Gerlach. Eles empregaram umas séries de experiências, com a finalidade de
comprovar as suas evidências.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

304
AUTOATIVIDADE

1 Se um sistema tem um momento angular caracterizado pelo número quân-


tico / = 2, quais são os valores possíveis de Lz . qual é o módulo de L e qual
c o menor ângulo possível entre L e o eixo dos z

2 Considere mais uma vez a função de onda do estado fundamental do poço


infinito – Equação:

2
=x ∫x
−∞
Ψ( x , t ) dx.
.
a) Calcule o valor esperado da posição x e interprete seu resultado.
b) Além do valor esperado de um conjunto de muitas medidas, podemos cal-
cular a incerteza.

305
REFERÊNCIAS
CARDOSO, M. Modelo atômico de Broglie. InfoEscola, [s.l.], c2019. Disponível
em: http://bit.ly/372CkBI. Acesso em: 9 dez. 2019.

CARUSO, F.; OGURI, V. Física moderna: origens clássicas e fundamentos quân-


ticos. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2006.

CHAVES, G. F. Uma proposta de inserção de conteúdos de Mecânica Quântica


no ensino médio, por meio de um curso de capacitação para professores em
atividade. 2010, 109f. Proposição Instrucional (Mestrado Profissional em Ensino
de Ciência) – Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2010. Disponível em: http://
bit.ly/371m4Ro. Acesso em: 9 dez. 2019.

DE TOLEDO PIZA, A. F. R. Mecânica quântica, São Paulo: Edusp, 2009.

EINSTEIN, A. Teoria da relatividade especial e geral. São Paulo: Contraponto, 1999.

EINSTEIN, A.; INFELD, L. Evolução da física. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988.

EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1994.
Disponível em: http://bit.ly/2U66b9j. Acesso em: 10 set. 2019.

KENOBI, M. O que é a dualidade onda-patícula? Emergência Científica, [s.l.], 13


jul. 2017. Disponível em: http://bit.ly/372cmOL. Acesso em: 9 dez. 2019.

MECÂNICA QUÂNTICA, Física.net, [s.l.], 2 dez. 2010. Disponível em: http://bit.


ly/2SnUsAr. Acesso em: 9 dez. 2019.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. São Paulo: Blucher, 1998. v. 4.


Disponível em: http://bit.ly/2GXP7uI. Acesso em: 13 ago. 2019

OLIVEIRA, I. S. Física Moderna: para iniciados, interessados e aficionados. 2. ed.


São Paulo: Editora Livraria da Física, 2009. v. 2.

TIPLER, P. A.; LLEWELLYN, R. A. Física Moderna. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora


LTC, 2006. Disponível em: http://bit.ly/2vN4dR7. Acesso em: 13 ago. 2019.

306

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