Cano Desindustrializacao Brasil
Cano Desindustrializacao Brasil
Cano Desindustrializacao Brasil
Resumo
O texto analisa a desindustrialização em marcha no Brasil e alguns dos impasses da política
macroeconômica. A industrialização atingida nas décadas anteriores deteriorou-se face à ausência de
políticas industriais e de desenvolvimento e da conjugação de juros elevados, falta de investimento,
câmbio sobrevalorizado e exagerada abertura comercial. Nesse contexto, ocorre uma desindustrialização
nociva que fragiliza o país e compromete sua economia. Na ausência de uma política macroeconômica
consentânea com a política industrial, o desenvolvimento fica comprometido. Por sua vez, cabe lembrar
que o subdesenvolvimento não representa uma etapa ou acidente de percurso, mas um processo que se
inicia com a inserção no mercado internacional capitalista no século XIX e, desse processo, o Brasil
ainda não se libertou.
Abstract
Deindustralization in Brazil
The text analyzes the contemporary deindustrialization of Brazil and some of its impasses in terms of
macroeconomic policies. The level of industrialization that was reached in previous decades has
deteriorated because of the lack of policies on industry and development and the combination of high
interest rates, lack of investment, overvalued exchange rates and exaggerated trade openness. In this
context, harmful deindustrialization occurs. It weakens and undermines the country's economy. In the
absence of a macroeconomic policy in line with industrial policy, development is compromised. In these
terms, underdevelopment is not a phase or a bump in the road, but a process that began with Brazil's
involvement in the international capitalist market in the nineteenth century – a process which Brazil has
yet to complete.
Introdução
Para que se possa fazer uma reflexão mais rigorosa sobre a questão da
desindustrialização, é necessário preliminarmente lembrar os conceitos de
desenvolvimento e de subdesenvolvimento econômico, bem como o sentido da
industrialização em tais processos.
*
Versão atualizada em agosto de 2012.
**
Professor Titular do Centro de Estudos de Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da
Unicamp (Cede/IE/Unicamp), Campinas, SP, Brasil. E-mail: wcano@eco.unicamp.br.
832 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
(4) Sobre o papel da industrialização e da mudança estrutural no desenvolvimento, ver: Furtado (2000) e
UNCTAD (2003).
(5) Sobre a problemática da industrialização latinoamericana, ver Fajnzyilber (1983).
(6) Cifras calculadas a preços correntes. Os dados encontram-se no Anuário Estadístico de la Cepal, vários
anos e, para o Brasil, em Ipeadata (disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>). Dados obtidos em 15 ago. 2012.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 833
A desindustrialização no Brasil
1 A desindustrialização no Brasil
Vejamos, sumariamente, os principais fatos que estão causando a
desindustrialização precoce e nociva, dando-lhe um sentido regressivo do progresso
econômico:
1) Uma das causas principais tem sido a política cambial prevalecente,
instaurada a partir do Plano Real. Com as reformas liberalizantes e a política de
estabilização, o câmbio excessivamente valorizado cumpre, até hoje, o papel de
âncora dos preços, no que recebe o devido apoio “logístico” da prática de juros reais
absurdamente altos e da âncora fiscal. Isso produz parte do pagamento dos juros da
dívida pública7.9O resultado da insana trilogia foi a crescente perda de
competitividade internacional da indústria nacional perante outros países.
2) Outra razão resulta da abertura desregrada pela qual o Brasil passou e passa
desde 1989, ainda no governo Sarney, quando ocorre uma primeira investida quanto
à proteção que tínhamos sobre as importações. Tal investida ampliou-se sobremodo
no governo Collor, em 1990. A terceira foi feita no governo de Fernando Henrique
Cardoso, a partir de 1994. Essa desregulamentação manteve-se e assim está até hoje.
A abertura comercial com a queda das tarifas e demais mecanismos protecionistas da
indústria nacional complementou o nocivo efeito do câmbio valorizado, reduzindo
drasticamente o grau de proteção perante a concorrência internacional.
3) Terceira razão: a taxa de juros elevada do país faz com que o empresário
capitalista – tanto na visão de Marx quanto na de Keynes –, compare-a com a taxa de
lucro, com a expectativa de acumular capital. Com exceção dos raros ou ilícitos
setores para os quais a taxa de lucro é exorbitante, podemos constatar que, no
financeiro, esses ganhos têm sido muito elevados. A taxa de lucro da economia
industrial moderna é relativamente contida e, quando ela se confronta com uma taxa
de juros como a oficial (Selic) brasileira, hoje, pouco mais de 8% 8,10o empresário
nacional fica atento a esse fenômeno e só investe em última instância, se obrigado a
investir. Caso contrário, quebra e fecha. Em tais condições, o investimento é
fortemente inibido, o que deixa a indústria vulnerável. Uma indústria que não investe
envelhece, torna-se, em parte, obsoleta, não cresce, tem dificuldades enormes de
assimilar progresso técnico no dia a dia. Enfim, perde produtividade, novas
oportunidades e competitividade, passando a ser forte entrave ao desenvolvimento
econômico do país.
(7) A taxa de câmbio real nos últimos anos esteve sempre valorizada, situando-se, em 2011, entre 20% e
28% e, em 2012, (janeiro a junho) entre 20% e 25%, em relação à de 2005. Cf. Ipeadata, Taxa de câmbio real efetiva
de exportações de manufaturados. Dados obtidos em 15 ago. 2012, disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/.
(8) Cf. Banco Central do Brasil. Com a recente redução. Ao longo de 2011, manteve-se, em média, pouco
acima de 12%, caindo, a partir do início de 2012, para cerca de 9,5% e atingindo pouco mais de 8% em 7/2012.
834 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 835
A desindustrialização no Brasil
Tabela 1
Brasil: taxa média de crescimento dos componentes de demanda efetiva (%)
2003-2008 2008-2011
PIB Total 5,0 3,3
Consumo Família 7,0 5,1
Consumo Governo 3,6 3,1
Investimento 9,9 5,8
Exportações 16,3 1,5
Importações 21,3 11,3
Fonte: IBGE-CN / Ipea-Data.
836 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Tabela 2
PIB Total e Setorial: taxas médias anuais de crescimento (%)
(11) Cf. ONU, Sistema de Contas Nacionais, em US$, a preços de 2005. Disponível em:
http://unstats.un.org/unsd/snaama/dnllist.asp. Acesso em: 27 dez. 2011.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 837
A desindustrialização no Brasil
838 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
(13) Para essa metodologia e para os dados no período 1970-2003, ver Cano (2008).
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 839
A desindustrialização no Brasil
(14) Coeficientes obtidos em 2005, no site da Funcex. Estes cálculos foram mais tarde substituídos por nova
série – de 1996 até hoje que apresenta os Cx com valores um pouco diferentes da série anterior e, no lugar dos Cm,
divulga os Cpm.
(15) Cpm = M/ (P-X+M), ou seja, importações sobre o consumo aparente.
840 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
a indústria de transformação, cabe dizer que o Cpm aumenta em 20, dos quais os
casos mais notáveis foram os de Produtos Químicos (18 para 25), Borracha (9 para
15),Metalurgia Básica (9 para 14), Máquinas e Aparelhos Elétricos (21 para 32),
Outros Equipamentos de Transporte (de 28 para 31) e Equipamentos Médico-
Hospitalares (49 para 60).
A questão fica mais transparente quando se analisa o resultado líquido do
comércio de produtos da indústria de transformação. Após a crise de 1999, foi
possível reverter, a partir de 2003, o déficit de produtos manufaturados. Em 2003-
2006, houve um superávit médio anual de US$ 5 bilhões que se converte em déficits
sucessivos a partir de 2007 (-US$ 9,3), em –US$ 38 bilhões na média 2008-2009, -
US$ 76,7 em 2010 e atinge –US$ 95,8 em 2011, onde está localizado esse déficit?
Como o investimento contraiu-se na indústria, os setores de alta tecnologia estão
pesadamente representados nesse número e constituem mais da metade do citado
déficit, secundados pelo de média-alta tecnologia e o déficit só não foi maior graças à
expansão das exportações de produtos de baixa tecnologia.
Até mesmo no setor de baixa tecnologia é, todavia, surpresa constatar que o
segmento têxtil e confecções-tradicionais, setores superavitários tiveram, em 2010 e
2011, déficits de aproximadamente US$ 1 bilhão.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 841
A desindustrialização no Brasil
Tabela 3
América Latina e Caribe, México e Brasil: estrutura (%) das exportações para a China
América
México Brasil
Latina e Caribe
Produto 2008 1990 2000 2008 1990 2000 2008
Primários 75,0 1,4 3,7 27,5 19,5 67,9 77,5
Industriais: 25,0 98,6 96,3 72,3 80,5 32,5 22,5
-Recursos naturais 14,6 11,7 11,1 32,7 34,0 13,4 12,2
-Baixa CLT 2,4 6,7 1,9 2,8 17,3 4,5 2,6
-Média CLT 4,6 79,1 24,9 19,6 28,9 9,0 5,5
-Alta CLT 34,3 0,9 58,2 17,0 0,3 5,1 2,1
-Outros 0,1 0,2 0,2 0,2 - 0,1 0,1
Fonte Cepal: Base de Dados.
842 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Tabela 4
Brasil: exportações segundo fator agregado (%) *
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 843
A desindustrialização no Brasil
Tabela 5
Brasil: Importações (em US$ bilhões)
844 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Tabela 6
Balanço de pagamento (em US$ bilhões)
Transações
Ano Comercial Serviços Rendas Amortizações
correntes
2005 44,7 -8,3 -26,0 14,0 33,2
2006 46,1 -9,6 -27,4 13,6 44,1
2007 40,0 -13,2 -29,4 1,6 38,1
2008 24,8 -16,7 -40,6 -28,2 22,4
2009 25,3 -19,2 -33,7 -24,3 30,3
2010 20,2 - 30,8 -39,6 -47,4 32,7
2011 29,8 - 379 -47,3 -52,6 38,0
Fonte: Banco Central do Brasil.
(16) O saldo não é exato, por força de Erros e Omissões e outros dados não apurados.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 845
A desindustrialização no Brasil
US$ 68,6 bilhões que cresce velozmente, atingindo US$ 274, 6 bilhões em 2010, dos
quais 25,5% aplicados em notórios paraísos fiscais17.19Do estoque total, o IDE
somava US$ 189,2 bilhões, do qual apenas 8,4% foram alocados na indústria de
transformação, 36,6% em agricultura e mineração e 55% nos serviços dos quais 65%
em serviços financeiros. Como se vê, a alocação do investimento nos setores
produtivos é muito semelhante à do investimento no Brasil. Ao todo, os capitais
brasileiros teriam criado cerca de 200 mil empregos no exterior.
O mais paradoxal, contudo, é que, para isso, boa parte desses investimentos
tem sido financiada por recursos públicos (em geral subsidiados), principalmente do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Estão sendo
financiados investimentos no exterior, quando é aqui que se deve criar empregos,
modernizar a indústria, erradicar o analfabetismo e a fome, acabar com os buracos
nas estradas, promover política habitacional aos pobres, acabar com as endemias
rurais que são uma barbaridade.
A Tabela 7 relaciona a Dívida Externa Total ao Passivo Externo Líquido e às
Reservas Acumuladas. Os dados mostram que, se descontadas as Reservas, do
Passivo Externo, o Passivo Líquido aumenta de US$ 298 bilhões em 2004, para US$
887 bilhões em 2010. Ainda, é preciso considerar que grande parte do investimento
externo constitui-se hoje de títulos em carteira mais facilmente mobilizáveis e
passíveis, portanto de fuga mais rápida.
Tabela 7
Dívida externa e passivo líquido externo
(17) Como os dados desses investimentos são por países, entre os quais só se identificam poucos deles como
paraísos fiscais, certamente a cifra estimada no texto está fortemente subestimada. Várias pesquisas ao longo desses
últimos dez anos apontam cifras que se situam entre 50% e 70%. Para os dados oficiais ver: Banco Central do Brasil;
Capitais Brasileiros no Exterior, disponíveis em: www.bcb.gov.br/rex/cbe/port; dados obtidos em 24 mar 2012.
846 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 847
A desindustrialização no Brasil
(18) É o pacote de logística anunciado à imprensa em 15/8/2012, com investimentos totais de R$ 133
bilhões, sendo R$ 80 bilhões para os próximos 5 anos e o restante para os 25 anos seguintes. O peso deles como
proporção anual do PIB seria de 0,4% nos primeiros e apenas 0,05% nos seguintes.
848 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
mas não abriu a conta de capital. A Índia fez a mesma coisa, assim como a Rússia.
Não abrir a conta de capital significa manter o controle sob a entrada e saída de
capital internacional e nacional sobre as remessas de lucros e os fluxos de
investimentos. Mais do que isso, é ter um grau avançado de soberania no manejo de
sua política cambial, fiscal e monetária, o que não se tem.
No Brasil, há política industrial. Há ações importantes de vários órgãos
públicos, como o BNDES. Há, entretanto, mais equívocos do que acertos. Há acertos
nas tentativas de fusão e resolução de problemas estruturais de grandes empresas
nacionais, inclusive para tentar fortalecê-las futuramente em termos de presença
internacional. Ao mesmo tempo, não há nenhuma estratégia macroeconômica e
industrial para que seja sustentável e exequível a fim de enfrentar a
desindustrialização, como apontaram Cano e Gonçalves (2010).
Economistas precisam aprender que a economia vai além das premissas
teóricas de que os neoclássicos tanto gostam. A economia é política! A economia
como ciência é muito limitada. Economia é fruto de decisões sociais tomadas por
homens que têm poder. Sejam empresários tomando decisões de investir ou não, de
comprar ou vender, seja o Estado em adotar e tentar fazer cumprir certas metas e
objetivos econômicos. Essas tomadas de decisões são sempre conflituosas. Sempre se
defrontam com interesses diversos ou mesmo contraditórios.
Não adianta pensar em Economia apenas por um prisma técnico de formular
uma determinada receita quando o problema é político. Se os governos, depois de
1990, “venderam a alma ao diabo”, ou seja, ao sistema financeiro; precisamos
romper esse acordo. É, todavia, uma atitude muito complicada, pois quando se faz
acordo com o diabo, ele vai exigir a alma, depois de levar o fígado, o pâncreas. De
todo modo, os atuais horizontes políticos internacionais são pelo menos imprecisos e
imprevisíveis. Há, portanto, a “meu” juízo, uma janela aberta para uma reflexão
sobre o futuro.
O governo norte-americano é democrata, mas a política econômica continua
sendo controlada pelos republicanos. Na Europa, o quadro é exatamente o mesmo. A
direita mais reacionária está à testa do manejo da administração desses problemas e
da crise. Há uma boa entrevista da professora Maria da Conceição Tavares ao site
Carta Maior1921em que ela chama a atenção para as diferenças em relação à crise de
1929. Naquele momento, o vencedor foi Roosevelt e, por meio do New Deal, foi
possível, além de tomar medidas para a economia, passar a olhar um pouco mais para
os pobres e, a partir daí, desenvolveram-se políticas de Welfare State no mundo
ocidental. É preciso atenção para a diferença crucial entre as estruturas de poder
anteriores e posteriores à “Crise de 29” e as atuais estruturas de poder, conservadoras
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 849
A desindustrialização no Brasil
Referências bibliográficas
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Capitais Brasileiros no Exterior. Disponível em:
www.bcb.gov.br/rex/cbe/port. Acesso em: 24 jul. 2012.
CEPAL. El proceso de industrialización en América Latina. Nueva York: ONU-Cepal,
1965.
________. Anuário Estadístico. Santiago: Cepal, vários anos.
CANO, W. Desconcentração produtiva regional do Brasil: 1970-2005. São Paulo: Unesp,
2008.
________. Uma agenda nacional para o desenvolvimento. Revista Tempo no Mundo,
IPEA, Brasília, v. 2, n. 2, dez. 2010.
________; GONÇALVES, A. L. Política industrial do Governo Lula. In: OS ANOS Lula:
contribuições para um balanço crítico 2003-2010. Garamond Editora.
FAJNZYLBER, F. La industrialización trunca de America Latina. México: Nueva Imagen,
1983.
FUNCEX – Fundação de Comércio Exterior. Banco de dados. Disponível em:
www.funcex.com.br/. Acesso em: 22 jan. 2012.FURTADO, C. Teoria e política do
desenvolvimento econômico. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
850 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano
Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 851