Cano Desindustrializacao Brasil

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A desindustrialização no Brasil * 1

Wilson Cano **2

Resumo
O texto analisa a desindustrialização em marcha no Brasil e alguns dos impasses da política
macroeconômica. A industrialização atingida nas décadas anteriores deteriorou-se face à ausência de
políticas industriais e de desenvolvimento e da conjugação de juros elevados, falta de investimento,
câmbio sobrevalorizado e exagerada abertura comercial. Nesse contexto, ocorre uma desindustrialização
nociva que fragiliza o país e compromete sua economia. Na ausência de uma política macroeconômica
consentânea com a política industrial, o desenvolvimento fica comprometido. Por sua vez, cabe lembrar
que o subdesenvolvimento não representa uma etapa ou acidente de percurso, mas um processo que se
inicia com a inserção no mercado internacional capitalista no século XIX e, desse processo, o Brasil
ainda não se libertou.

Palavras-chave: Industrialização; Desindustrialização; Políticas de desenvolvimento.

Abstract
Deindustralization in Brazil
The text analyzes the contemporary deindustrialization of Brazil and some of its impasses in terms of
macroeconomic policies. The level of industrialization that was reached in previous decades has
deteriorated because of the lack of policies on industry and development and the combination of high
interest rates, lack of investment, overvalued exchange rates and exaggerated trade openness. In this
context, harmful deindustrialization occurs. It weakens and undermines the country's economy. In the
absence of a macroeconomic policy in line with industrial policy, development is compromised. In these
terms, underdevelopment is not a phase or a bump in the road, but a process that began with Brazil's
involvement in the international capitalist market in the nineteenth century – a process which Brazil has
yet to complete.

Keywords: Industrialization; Deindustrialization; Development Policies.


JEL O, O1, O14.

Introdução
Para que se possa fazer uma reflexão mais rigorosa sobre a questão da
desindustrialização, é necessário preliminarmente lembrar os conceitos de
desenvolvimento e de subdesenvolvimento econômico, bem como o sentido da
industrialização em tais processos.

*
Versão atualizada em agosto de 2012.
**
Professor Titular do Centro de Estudos de Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da
Unicamp (Cede/IE/Unicamp), Campinas, SP, Brasil. E-mail: wcano@eco.unicamp.br.

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.


A desindustrialização no Brasil

Desenvolvimento é o resultado de um longo processo de crescimento


econômico, com elevado aumento da produtividade média, sem o qual o excedente
não cresce o bastante para acelerar a taxa de investimento e diversificar a estrutura
produtiva e do emprego. Esse processo intensifica a industrialização e urbanização
para transformar de maneira progressista as estruturas sociais e políticas do país 1.
Ademais, também se alterarão e modernizarão hábitos e costumes da sociedade. 3
Quando um país se desenvolve mostra alguns indicadores econômicos
básicos que se aproximam daqueles já obtidos pelos demais desenvolvidos: elevado
nível da renda per capita e forte diminuição da participação do setor agrícola no
Produto Interno Bruto (PIB) e no emprego. Passa, portanto, a ostentar menos de
10%, por força do aumento mais que proporcional obtido pelos setores de indústria e
de serviços. A diminuição é apenas relativa, uma vez que o crescimento dos demais
setores e da urbanização obrigam a agricultura a crescer, diversificar e modernizar-
se, reduzindo a diferença de seus resultados em relação aos dos demais setores, para
assim proporcionar maior homogeneidade estrutural econômica e social. Se a
industrialização não avançar e diversificar-se, a modernização agrícola ficará obstada
ou dependerá de grandes importações de insumos modernos e de bens de capital.
Para que isso ocorra, a industrialização tem de avançar e crescer mais que os
outros setores, aumentar a produtividade, alterar sua estrutura – no sentido de
implantar os compartimentos de bens de capital e intermediários, contribuindo,
assim, para a diversificação da pauta exportadora e, se possível, para a melhoria das
contas externas. Não há, na história, país algum que se desenvolveu, prescindindo de
uma generalizada industrialização e de um forte e ativo papel do Estado Nacional.
Quando atinge sua maturidade e torna-se mais completa, a indústria de
transformação mostra uma diversificada estrutura, na qual os bens de capital
perfazem entre 30% e 40% de seu produto2.4É essa notável expansão e transformação
mostra uma diversificada estrutura, na qual os bens de capital perfazem entre 30% e
40% de seu produto3.5É essa notável expansão e transformação que intensifica a
urbanização, induzindo e exigindo enorme crescimento e diversificação de serviços
de toda a ordem: comércio, transportes, finanças, saúde, educação e outros.

(1) No sistema capitalista, pode ocorrer, concomitantemente, a predominância de regimes políticos


autoritários liderando o processo. A evolução econômica, contudo, fortalece a luta de classes, amplia e diversifica os
interesses e conflitos sociais, induzindo um processo de mudança social e política rumo, ao menos, a uma democracia
formal. Mesmo essa democracia formal, todavia, pode passar por circunstâncias adversas e odiosas, como os casos
do nazismo e fascismo, contra os quais se opõe o restante da sociedade.
(2) Sobre o sentido, e a composição a que chega esse setor nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos,
ver: Cepal (1965); Fajnzyilber (1983); Teixeira (1983) e Valderrama (1966).
(3) Sobre o sentido e a composição a que chega esse setor nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, ver:
Cepal (1965); Fajnzyilber (1983); Teixeira (1983) e Valderrama (1966).

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Ao atingir esse elevado padrão, a estrutura produtiva e a do emprego passam


a mover-se no sentido de expandir, modernizar e diversificar ainda mais os serviços,
mais que a agricultura e a indústria de transformação, caindo o peso relativo da
industrial, perdendo posição para os serviços. Assim é que se deve entender por
desindustrialização em um sentido positivo ou normal4.6.
Muito diferente é a situação que pode ocorrer em um país subdesenvolvido.
O subdesenvolvimento, como bem mostrou Furtado (2000), não representa uma
etapa do desenvolvimento ou um “desenvolvimento em grau inferior”. Trata-se de
um processo que se iniciou com a inserção do Brasil no mercado internacional
capitalista no século XIX, do qual advêm relações capitalistas de produção que aqui
se internalizam, mantendo, contudo, promíscua convivência com antigas e
predominantes relações brasileiras pré-capitalistas, sem, no entanto, extinguir a
maioria delas. Então, conforme Pinto (1979), decorre uma dinâmica de acumulação
perversa, incapaz de promover a homogeneização econômica e social, mantendo
traços econômicos e sociais desse processo como a heterogeneidade estrutural, a
debilidade das contas externas, financiamento de longo prazo, fiscalidade e inflação
latente.
Muitos países subdesenvolvidos também instauraram processos de
industrialização em seus territórios. Poucos, entretanto, conseguiram ultrapassar, com
alguma expressão, a produção de bens não duráveis de consumo e a do simples
beneficiamento industrial de produtos primários. Mesmo na América Latina, apenas
Argentina, México e Brasil conseguiram instalar um parque industrial expressivo e,
deles, somente o Brasil avançou na montagem parcial do setor de bens de capital. Ao
final da década de 1970, esses países tinham uma indústria de transformação cujo
produto representava cerca de 23% do PIB, no caso, mexicano, cerca de 25 % na
Argentina e de 33% no Brasil5.7.
Com os nefastos efeitos, porém, da década perdida de 1980 e os decorrentes
da instauração das políticas neoliberais a partir de 1990, a queda da participação da
indústria de transformação no PIB para a América Latina em seu conjunto foi grave.
Em 1980, houve participações, isto é, cerca de 24% (Argentina e México) e de 33%
(Brasil). Os dados entre 2008 e 2010 regridem para aproximadamente 19% no
México e na Argentina e a mais aguda, a do Brasil, para 14,6% em 20116.8.

(4) Sobre o papel da industrialização e da mudança estrutural no desenvolvimento, ver: Furtado (2000) e
UNCTAD (2003).
(5) Sobre a problemática da industrialização latinoamericana, ver Fajnzyilber (1983).
(6) Cifras calculadas a preços correntes. Os dados encontram-se no Anuário Estadístico de la Cepal, vários
anos e, para o Brasil, em Ipeadata (disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/>). Dados obtidos em 15 ago. 2012.

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A desindustrialização no Brasil

1 A desindustrialização no Brasil
Vejamos, sumariamente, os principais fatos que estão causando a
desindustrialização precoce e nociva, dando-lhe um sentido regressivo do progresso
econômico:
1) Uma das causas principais tem sido a política cambial prevalecente,
instaurada a partir do Plano Real. Com as reformas liberalizantes e a política de
estabilização, o câmbio excessivamente valorizado cumpre, até hoje, o papel de
âncora dos preços, no que recebe o devido apoio “logístico” da prática de juros reais
absurdamente altos e da âncora fiscal. Isso produz parte do pagamento dos juros da
dívida pública7.9O resultado da insana trilogia foi a crescente perda de
competitividade internacional da indústria nacional perante outros países.
2) Outra razão resulta da abertura desregrada pela qual o Brasil passou e passa
desde 1989, ainda no governo Sarney, quando ocorre uma primeira investida quanto
à proteção que tínhamos sobre as importações. Tal investida ampliou-se sobremodo
no governo Collor, em 1990. A terceira foi feita no governo de Fernando Henrique
Cardoso, a partir de 1994. Essa desregulamentação manteve-se e assim está até hoje.
A abertura comercial com a queda das tarifas e demais mecanismos protecionistas da
indústria nacional complementou o nocivo efeito do câmbio valorizado, reduzindo
drasticamente o grau de proteção perante a concorrência internacional.
3) Terceira razão: a taxa de juros elevada do país faz com que o empresário
capitalista – tanto na visão de Marx quanto na de Keynes –, compare-a com a taxa de
lucro, com a expectativa de acumular capital. Com exceção dos raros ou ilícitos
setores para os quais a taxa de lucro é exorbitante, podemos constatar que, no
financeiro, esses ganhos têm sido muito elevados. A taxa de lucro da economia
industrial moderna é relativamente contida e, quando ela se confronta com uma taxa
de juros como a oficial (Selic) brasileira, hoje, pouco mais de 8% 8,10o empresário
nacional fica atento a esse fenômeno e só investe em última instância, se obrigado a
investir. Caso contrário, quebra e fecha. Em tais condições, o investimento é
fortemente inibido, o que deixa a indústria vulnerável. Uma indústria que não investe
envelhece, torna-se, em parte, obsoleta, não cresce, tem dificuldades enormes de
assimilar progresso técnico no dia a dia. Enfim, perde produtividade, novas
oportunidades e competitividade, passando a ser forte entrave ao desenvolvimento
econômico do país.

(7) A taxa de câmbio real nos últimos anos esteve sempre valorizada, situando-se, em 2011, entre 20% e
28% e, em 2012, (janeiro a junho) entre 20% e 25%, em relação à de 2005. Cf. Ipeadata, Taxa de câmbio real efetiva
de exportações de manufaturados. Dados obtidos em 15 ago. 2012, disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/.
(8) Cf. Banco Central do Brasil. Com a recente redução. Ao longo de 2011, manteve-se, em média, pouco
acima de 12%, caindo, a partir do início de 2012, para cerca de 9,5% e atingindo pouco mais de 8% em 7/2012.

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4) Quarta razão: o investimento direto estrangeiro. É verdade que tal fluxo


cresceu em números absolutos nos últimos anos, fato comemorado por muitos
economistas. Eles, porém, têm um defeito grave quando falam de investimento
porque pensam apenas no sentido global, no volume e participação no PIB. O
investimento, no entanto, é uma variável tão importante na economia que os
economistas deveriam ser mais cuidadosos. Uma taxa de investimento precisa ser
estruturalmente analisada. Primeiro, deduz-se do fluxo total de capital estrangeiro o
investimento em carteira, em títulos privados e na dívida pública, em geral,
predominantemente, de caráter especulativo.
A série histórica do Ambiente Integrado de Desenvolvimento (IDE) no
Brasil, feita pelo Banco Central, mostra dados inequívocos: na década de 1980, a
participação da indústria de transformação no IDE total girava em torno de 75%; essa
cifra cai para cerca de 60% na de 1990 e flutua entre 30% e 40% a partir de 2001. Ao
mesmo tempo, a participação dos serviços sobe e, com eles, a das atividades
financeiras. O mais grave, porém, é que a média anual do IDE na indústria, o qual
girava em torno de US$ 17 bilhões na década de 1980, sobe para US$ 25 entre 1990
e 1995, mas cai fortemente a partir daí para US$ 8,5 bilhões entre 1996 e 2010.
Quanto ao investimento interno, também se observam fatos semelhantes,
predominando a alocação nos serviços, especialmente no setor financeiro,
construção, negócios imobiliários, agropecuária e mineração, sendo hoje mais
reduzida a participação na indústria de transformação.
Isso é compreensível, pois a produtividade e competitividade da indústria
brasileira contiveram-se e, em muitos casos, caíram e foi bem percebido pelo capital.
Ao mesmo tempo, houve a guinada de IDE predominantemente americano e asiático
para a China em busca de trabalho barato, câmbio desvalorizado e alta
competitividade. Por essa razão, ele se mudou, em grande parte, para a China a fim
de produzir mais barato, abandonando ou diminuindo sua presença em antigas áreas
onde havia tido grande expressão, como por exemplo, a fronteira norte-mexicana. Os
nocivos efeitos internos de tal fato foram:
i) perda de competitividade das exportações industriais brasileiras (“produtos
manufaturados”) e, ainda, deslocamento de parte delas, pelo produto da China, em
tradicionais mercados como o dos EUA;
ii) elevado aumento de importações desses produtos, tanto de bens finais de
consumo ou de capital, quanto inclusive de insumos industriais de toda ordem,
especialmente, os químicos e eletrônicos, afetando de forma nociva muitas
cadeias produtivas da indústria brasileira;

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iii- os dois efeitos anteriores afetaram profundamente os investimentos


produtivos do setor, tornando-os de caráter mais específico, oportunistas e
atomizados.
5- A quinta razão que deixa os economistas ainda mais preocupados é que de
2007 para cá, a economia mundial desacelerou. Nota-se, especialmente a partir da
política econômica norte-americana e a da União Europeia, que se pode
eventualmente atravessar um período de longa crise na maior parte das economias
desenvolvidas como, aliás, várias instituições e economistas críticos têm previsto9.
Tais economias, especialmente os EUA, mais a China – a qual perdeu parte dos
mercados que disputava -, estão desenvolvendo políticas agressivas no mercado
internacional de produtos manufaturados, obtendo taxas elevadas de crescimento
dessas exportações e recuperando parte do terreno perdido. 11.
Alguns dados macroeconômicos ajudam especialistas a compreender com
mais profundidade o problema, para que se possa entender melhor a complexidade da
situação:

Tabela 1
Brasil: taxa média de crescimento dos componentes de demanda efetiva (%)

2003-2008 2008-2011
PIB Total 5,0 3,3
Consumo Família 7,0 5,1
Consumo Governo 3,6 3,1
Investimento 9,9 5,8
Exportações 16,3 1,5
Importações 21,3 11,3
Fonte: IBGE-CN / Ipea-Data.

Após um período de crise e recessão, que se estende até 2003, a taxa do


crescimento do PIB sobe, graças a três fatos específicos. O primeiro e mais
importante foi o crescimento do consumo familiar, estimulado pelo aumento do
crédito ao consumidor10,12pela forte elevação do salário mínimo real e de outras
políticas sociais, como por exemplo, a da Bolsa Família.
O segundo, a despeito da política fiscal restritiva, foram as decisões de
expandir o financiamento público ao investimento (público e privado) e o terceiro
decorre da grande expansão gerada pelo setor exportador, apesar de que as
importações, a partir de 2005, cresceram mais que as exportações. Foram esses

(9) Ver, entre outros, as previsões da OECD (2012) e do Levy (2012).


(10) Basicamente, pelo crédito consignado e amparado pelo desconto em folha de salários e de aposentados.

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fatores que permitiram um avanço maior na renda e no emprego, expandindo a


demanda de consumo e o investimento.
O forte aumento das exportações decorreu do boom internacional entre 2004
e 2008, com forte elevação de preços de matérias primas e da demanda física,
principalmente, a gerada pela economia chinesa. Ademais, com a maior extensão
territorial da crise iniciada em 2007-2008, o crescimento médio do PIB caiu e a taxa
média aproxima-se da trajetória crítica dos anos 1990, quando ela foi de 3%.
A taxa de investimento, fortemente deprimida desde os 1980 caiu ainda mais
até 2005, recuperando pequena parte do terreno perdido, subindo em 2008 para
16,9% e cerca de 19% em 2010 e 2011. Já caiu novamente e mesmo com essa
elevação, o Brasil não recuperou o necessário nível alcançado nos anos de 1970, da
ordem de 25% do PIB. A Tabela 2 mostra as taxas de crescimento setoriais da
economia brasileira. Observa-se que a Indústria de Transformação obteve os piores
resultados, os mais sofríveis do PIB. Como indicado previamente, o investimento é
muito baixo, quadro agravado pelos efeitos da crise pós-2007.
Há outra consequência desse cenário: a perda de posição relativa dos países
subdesenvolvidos na produção industrial mundial. Incluindo-se ou não a China nesse
rol, os dados mostram que o Brasil está perdendo terreno de maneira acentuada no
panorama internacional. Com efeito, a participação do Brasil na produção da
indústria de transformação mundial, que era de 2,8% em 1980, vai caindo para 2%
em 1990 e atinge 1,7% em 201011.13.

Tabela 2
PIB Total e Setorial: taxas médias anuais de crescimento (%)

Período 1989-2001 2001-2006 2007 2008 2009 2010 2006-2010 2011


PIB Total 2,2 3,0 6,0 5,2 -0,3 7,5 4,6 2,7
PIB Agrícola 3,8 3,9 4,8 6,3, -3,1 6,3 3,5 3,9
PIB Industrial 1,4 3,2 5,3 4,1 -5,6 10,4 3,4 1,6
PIB Industrial 1,4 2,8 5,6, 3,0 -8,7 10,1 2,3 0,1
Transformação
PIB Serviços 2,4 3,2 6,1, 4,9 2,1 5,5 4,6 2,7
Fonte: IBGE-CN/Ipea-Data.

Sabe-se, também, quanto às taxas de crescimento da indústria, que o setor de


bens de capital e de consumo durável vinha apresentando, desde 2002, um
crescimento acentuado, mas, na verdade, era o segmento de bens de consumo
duráveis o que puxava a demanda.

(11) Cf. ONU, Sistema de Contas Nacionais, em US$, a preços de 2005. Disponível em:
http://unstats.un.org/unsd/snaama/dnllist.asp. Acesso em: 27 dez. 2011.

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Ainda que dados e fatos acima apresentados mostrem essa anormalidade no


processo econômico, a aceitação até há pouco tempo, não era pacífica e, vários
economistas, não raro, não acreditam que essas perdas tenham sido tão acentuadas. O
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) 2011 reafirmou em 23
de dezembro de 2011 sua visão crítica, advertindo que em 2011 houve um sério
agravamento da crise industrial12.14Com efeito, em 2012, a taxa média de
crescimento da indústria de transformação no período janeiro-junho foi – 4%.
Tornou-se a mais grave queda dos setores de bens de capital (-12,5%) e de bens de
consumo durável (-9,4%), tendo os setores de bens intermediários (-2,5%) e o de
consumo não durável (-0,3%) quedas menores. No sentido de reforçar essas críticas,
importante acrescentar alguns outros dados que desnudam um pouco mais a
debilidade à qual foi submetida a indústria de transformação, sendo:

i) A relação VTI (valor de transformação industrial) / VBP (valor da produção


industrial)
Cabe esclarecer que essa relação era cerca de 0,55 no período de alta inflação
(entre 1988 e 1994), mas poderia significar, em parte, um markup mais alto como
mecanismo de defesa das empresas. Com o início do Plano Real, ela baixa para 0,52
em 1995, contudo, por problemas de mudanças metodológicas da fonte dos dados
primários, é preferível não incluir tais dados no Gráfico abaixo, restringindo-se ao
período 1996-2010. O Gráfico abaixo mostra a acentuada queda sofrida pela referida
relação porcentual VTI/VBP. Observe-se que ela se situava em torno de 47 em 1996,
foi caindo até 2004 e 2005, (em torno de 41,1), apresentou pequena recuperação e
estabilidade em 2006-2008 (em torno de 42,3) e subiu em 2009 (43,4) e em 2010
(44,1), paradoxalmente, em um período de crise. Muito provável, porém, que isso se
deve aos seguintes fatos: a) mudança conjuntural na estrutura produtiva causada
fundamentalmente pelo desempenho de setores mais oligopolizados que têm alto
poder de fixação de markups; b) pelo fato de que a intensificação das importações
industriais, no período recente, rebaixou preços e custos de insumos e bens de capital
importados não repassados aos compradores dos produtos fabricados com tais bens;
c) essa intensificação das importações, com certeza, alterou cadeias produtivas,
substituindo produtos mais onerosos e menos lucrativos; d) pela forte elevação dos
preços de exportação de vários produtos industriais semielaborados pós 2003-2004;
e) por redução de custos financeiros e tributários decorrentes das políticas
anticíclicas praticadas recentemente.

14 Cf. IEDI, Carta de 23/12/2011, obtido em 27/12/2011, em <www.iedi.org.br/>.

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Wilson Cano

Relação VTI/VBPI (Ind. Transformação)

Fontes de dados brutos: IBGE, PIA, vários anos.

ii) A estrutura produtiva da Indústria de Transformação, segundo o critério de


uso dos bens
Como aqui está em análise apenas a indústria de transformação, não se pode
empregar neste item os dados e a classificação usada e divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pois este inclui em suas estimativas, a
indústria extrativa mineral. Assim, emprega-se uma metodologia que classifica os
setores da indústria de transformação em predominantemente produtores de: i) bens
de consumo não duráveis; ii) bens intermediários; e iii) bens de consumo durável e
de capital, este, o setor de maior complexidade tecnológica13.15.
O setor i, onde estão presentes fortes segmentos exportadores e que
diminuíra fortemente seu peso entre 1939 e 1980, para 33,9% do Valor de
Transformação Industrial (VTI), volta a ter participação crescente, atingindo 35,2%
em 2009. O setor ii, com forte presença exportadora, teve expressivo aumento de sua
participação entre 1939 e 1980, quando chegou aos 41%, atingindo 43,6% em 2009,
o que é normal em uma trajetória progressista de industrialização. O setor III teve as
maiores taxas de crescimento entre 1939 e 1980, quando passou a participar com
25,1% do VTI. Sua trajetória posterior, no entanto, é decrescente, atingindo 24% em
1996, 21,6% em 2003 e 21,2% em 2009. Esse movimento da estrutura mostra, sem
dúvida, uma tendência regressiva de 1980 para hoje, com a volta do predomínio de
não duráveis e de setores exportadores de semi-industrializados.
Essa metodologia, contudo, faz com que grande parte do setor iii contenha
uma fração maior de bens de consumo durável do que de bens de capital, dado
problemas metodológicos e de sigilo estatístico do IBGE, notadamente quando
operamos a mais de três dígitos nos subgrupos de atividades. Fez-se um pequeno e

(13) Para essa metodologia e para os dados no período 1970-2003, ver Cano (2008).

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A desindustrialização no Brasil

parcial exercício com os Censos Industriais de 1970 e 1980 e a Pesquisa Industrial


Anual do IBGE referente aos anos de 1996, 2003 e 2009, retirando, do setor iii, itens
que predominantemente se destinam mais ao consumo do que ao investimento
produtivo. Os itens retirados foram os de veículos de passageiros (automóveis e
utilitários), autopeças, eletrodomésticos e aparelhos de som e imagem (não é
possível, a três dígitos, excluir os celulares).
Deduzidos os VTIs desses quatro segmentos, a produção restante, do setor
iii, fica com um sentido mais próximo ao de bens de capital, embora ainda contenha
um resíduo importante de bens duráveis de consumo e de bens intermediários. Os
novos dados passariam a ser: 15,6% em 1970; 19,9% em 1980; 14,1% em 1996;
10,0% em 2003 e 11% em 2009. A regressão industrial mostra-se aqui, mais
transparente.

iii) Problemas com a nova inserção comercial externa


Após os sucessivos déficits comerciais da década de 1990, só revertidos após
a crise cambial de 1999, graças à expansão das exportações de primários, tivemos
superávits médios de US$ 42 bilhões em 2004-2007. A expansão das importações de
produtos industriais, todavia, reduziu aquela média, em 2008-2011, para cerca de
US$ 25 bilhões.
Os coeficientes porcentuais de exportação (Cx) e de importação (Cm) da
indústria de transformação, calculados pela Fundação de Comércio Exterior
(FUNCEX), cresceram com a abertura comercial com Cx, passando de 12,7 em 1985
para 16,8 em 2004. O Cm, porém, saltou de 3,9 para 10,9 e entre 1995 e 2000 atingiu
níveis mais elevados (de 12 a 14) superando os Cx. Alguns setores apresentaram
enormes aumentos de seus Cm, entre 1985 e 2004, como por exemplo, material
elétrico (de 8 para 26), equipamentos eletrônicos (de 12 para 85), farmácia e
perfumaria (de 4 para 35)14.16.
Pela nova série – de 1996 a 2008 –, a Funcex apresenta Cx que sobe de 12,1
para 16,8 e, para as importações, divulga os Cpm (coeficientes de penetração das
importações)15,17que passam de 13,7 para 17,5 números que, por se iniciarem em
1996, quando as importações já haviam crescido vigorosamente em termos absolutos
e relativos, subestimam parte das modificações ocorridas ao longo do período de
abertura. Ainda assim, examinados os coeficientes dos 22 segmentos divulgados para

(14) Coeficientes obtidos em 2005, no site da Funcex. Estes cálculos foram mais tarde substituídos por nova
série – de 1996 até hoje que apresenta os Cx com valores um pouco diferentes da série anterior e, no lugar dos Cm,
divulga os Cpm.
(15) Cpm = M/ (P-X+M), ou seja, importações sobre o consumo aparente.

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a indústria de transformação, cabe dizer que o Cpm aumenta em 20, dos quais os
casos mais notáveis foram os de Produtos Químicos (18 para 25), Borracha (9 para
15),Metalurgia Básica (9 para 14), Máquinas e Aparelhos Elétricos (21 para 32),
Outros Equipamentos de Transporte (de 28 para 31) e Equipamentos Médico-
Hospitalares (49 para 60).
A questão fica mais transparente quando se analisa o resultado líquido do
comércio de produtos da indústria de transformação. Após a crise de 1999, foi
possível reverter, a partir de 2003, o déficit de produtos manufaturados. Em 2003-
2006, houve um superávit médio anual de US$ 5 bilhões que se converte em déficits
sucessivos a partir de 2007 (-US$ 9,3), em –US$ 38 bilhões na média 2008-2009, -
US$ 76,7 em 2010 e atinge –US$ 95,8 em 2011, onde está localizado esse déficit?
Como o investimento contraiu-se na indústria, os setores de alta tecnologia estão
pesadamente representados nesse número e constituem mais da metade do citado
déficit, secundados pelo de média-alta tecnologia e o déficit só não foi maior graças à
expansão das exportações de produtos de baixa tecnologia.
Até mesmo no setor de baixa tecnologia é, todavia, surpresa constatar que o
segmento têxtil e confecções-tradicionais, setores superavitários tiveram, em 2010 e
2011, déficits de aproximadamente US$ 1 bilhão.

iv) Negócios do Brasil com a China


O exuberante crescimento anual da economia chinesa expandiu sobremodo
sua demanda externa de forma generalizada. A nova divisão internacional do
trabalho, elevada produtividade e câmbio desvalorizado fizeram, no entanto, com que
as relações comerciais com a América Latina passassem a ter a forma clássica da
relação centro-periferia, com a pauta exportadora chinesa constituída,
fundamentalmente de produtos manufaturados e sua pauta importadora, de produtos
primários, ao contrário da estrutura comercial que pratica com o resto da Ásia, UE e
EUA.
A Tabela 3 mostra a estrutura das exportações latino-americanas do México
e do Brasil para a China. Observe-se que, em 1990, era alta a participação dos
produtos industriais no total das exportações do Brasil (80,5%) e do México (98,4%)
e a dos primários baixa. Já, em 2000, aquela participação começa a cair, fortemente a
do Brasil (32,1%) e ainda moderada a do México (96%). Em 2008, caem ainda mais,
ou seja, para 22,5% a do Brasil e 72,3% a do México. Ademais, as exportações
chinesas para os EUA deslocaram boa parte de exportações industriais mexicanas,
centro-americanas e brasileiras, piorando muito a inserção externa.

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 841
A desindustrialização no Brasil

Tabela 3
América Latina e Caribe, México e Brasil: estrutura (%) das exportações para a China

América
México Brasil
Latina e Caribe
Produto 2008 1990 2000 2008 1990 2000 2008
Primários 75,0 1,4 3,7 27,5 19,5 67,9 77,5
Industriais: 25,0 98,6 96,3 72,3 80,5 32,5 22,5
-Recursos naturais 14,6 11,7 11,1 32,7 34,0 13,4 12,2
-Baixa CLT 2,4 6,7 1,9 2,8 17,3 4,5 2,6
-Média CLT 4,6 79,1 24,9 19,6 28,9 9,0 5,5
-Alta CLT 34,3 0,9 58,2 17,0 0,3 5,1 2,1
-Outros 0,1 0,2 0,2 0,2 - 0,1 0,1
Fonte Cepal: Base de Dados.

Na ordem neoliberal, entretanto, não se pode reclamar disso, do “livre


comércio”. Os dados da Tabela 3 mostram que a regressão é mais grave quando se
analisam os setores por intensidade tecnológica: a participação na pauta brasileira cai
em todas as categorias. Na do México, também ocorre o fenômeno, mas as categorias
de média e alta tecnologia ainda mantêm participações expressivas muito mais altas
que as ínfimas participações na do Brasil, deixando claro que os resultados do
comércio com a China mostram uma situação mais regressiva, mesmo em termos de
América Latina.
Em contrapartida, torna-se difícil para o Brasil pressionar e negociar com a
China sobre essa estrutura e sobre a “invasão” de produtos chineses, dado que depois
de 2009, a China tem sido responsável por cerca de 60% de nosso saldo comercial
total.

v) A reprimarização de nossa pauta exportadora


A Tabela 4 mostra a estrutura da pauta exportadora nos anos mais recentes,
segundo os níveis de industrialização: produtos básicos, semi-industrializados e
manufaturados. Note-se o que ocorre com os manufaturados: o peso das exportações
dos produtos indicados na balança exportadora brasileira, de pouco mais de 60% em
2000, passa a apenas 36,7% em 2011. Mesmo no segmento de semi-industrializados,
observa-se que a curva também é descendente. Ainda há quem não aceite a ideia de
que se possa estar passando por um processo de desindustrialização.

842 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano

Tabela 4
Brasil: exportações segundo fator agregado (%) *

Ano Básicos Semimanufaturados Manufaturados


1964 85,4 8,0 6,2
1980 42,2 11,7 44,8
1985 33,3 10,8 54,9
1990 27,8 16,2 54,2
1995 22,9 20,8 56,2
2000 23,4 15,8 60,7
2006 29,9 14,5 55,6
2007 32,8 13,9 53,5
2008 37,9 13,8 48,1
2009 41,4 13,7 45,0
2010 45,5 14,3 40,2
2011 48,9 14,3 36,8
(*) Exclui Operações Especiais.
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

Os dados acima são incontestes: significam forte regressão e reprimarização


da pauta exportadora. O fenômeno também atingiu a América Latina, conforme
mostram os dados da Cepal: entre 1980 e 2000, a participação dos manufaturados
para o total da região sobe de 17,6% para 58,2%, caindo em 2010 para 47,1%. Se
retirados os dados do México, aquelas cifras passam a ser, respectivamente, de
19,3% para 30,6%, caindo para 25,3%.

vi) A estrutura da pauta importadora


A Tabela 5 indica a estrutura das importações totais em termos de bens de
capital, de consumo duráveis, consumo não duráveis e bens intermediários
(excluindo-se combustíveis e lubrificantes). Enquanto as importações totais crescem
4,8 vezes entre 2002 e 2011, as de bens de capital e bens intermediários crescem um
pouco menos (4,1 e 4,3 vezes, respectivamente), mas as de consumo não durável
multiplicam-se por 4,7 e as de consumo durável crescem 9,6 vezes.
A verdadeira “avalanche” de importações, principalmente quanto aos bens de
consumo duráveis, deu-se graças ao dólar barato e à abertura comercial mal
negociada. Esse aumento de importações vem, em parte, quebrando ou debilitando
elos de várias cadeias produtivas e, assim, eliminando empresas e linhas produtivas
de várias empresas. Ao mesmo tempo, o fenômeno é altamente inibitório do

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 843
A desindustrialização no Brasil

investimento normal e daquele típico inovador ou mesmo o que complementa


cadeias produtivas.
Há de se entender que eliminar uma empresa é relativamente fácil, em tais
circunstâncias. Destruir uma liderança industrial nacional, um empresário industrial
dinâmico, como ocorreu com vários, também é fácil. O difícil é criar ou tentar recriar
tais empresas e respectivas lideranças. Criar e recriar empresas nacionais expressivas
e grandes como as do grupo de Mindlin [Metal Leve, do setor de autopeças] ou
outras, como a Kasinski, que antes produziam peças e exportavam-nas aos mercados
norte-americano e europeu para se transformarem em simples montadoras de
motocicletas na Zona Franca de Manaus e, finalmente, venderem as novas empresas
para o capital estrangeiro. Ainda, o que também é muito grave, grandes empresas
têxteis nacionais, como a Hering, que antes tinham na produção industrial sua
principal atividade e, agora, regrediram para a atividade predominantemente
comercial,

Tabela 5
Brasil: Importações (em US$ bilhões)

Ano Total Bk Bi* Bcd Bcn


2002 47,2 11,6 23,4 2,5 3,4
2003 48,3 10,4 25,8 2,4 3,1
2004 62,8 12,1 33,5 3,2 3,7
2005 73,6 15,4 37,8 3,9 4,6
2006 91,4 18,9 45,3 6,1 5,9
2007 120,6 25,1 59,4 8,3 7,8
2008 173,2 35,9 83,1 12,7 9,8
2009 127,6 29,7 59,7 11,6 9,9
2010 181,6 41,0 83,9 18,6 12,8
2011 226,2 47,9 100,1 24,1 16,0
(*) Exclui combustíveis e lubrificantes.
Fonte: MDIC.

vii) A política macroeconômica e o balanço de pagamentos


A Tabela 6 sintetiza para algumas das contas externas efeitos diretos e indiretos
dessa perversa política macroeconômica, os quais não se limitam às importações e
exportações, pois o câmbio barato estimula os gastos de vários tipos de serviços. Os
gastos líquidos em serviços (turismo, aluguel de filme, serviços de engenharia,
serviços de transporte internacional, serviços financeiros etc.) saltaram de –US$ 8,3
em 2005, para -US$ 37,9 bilhões em 2011.

844 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano

Tabela 6
Balanço de pagamento (em US$ bilhões)

Transações
Ano Comercial Serviços Rendas Amortizações
correntes
2005 44,7 -8,3 -26,0 14,0 33,2
2006 46,1 -9,6 -27,4 13,6 44,1
2007 40,0 -13,2 -29,4 1,6 38,1
2008 24,8 -16,7 -40,6 -28,2 22,4
2009 25,3 -19,2 -33,7 -24,3 30,3
2010 20,2 - 30,8 -39,6 -47,4 32,7
2011 29,8 - 379 -47,3 -52,6 38,0
Fonte: Banco Central do Brasil.

O câmbio barato e a baixa oportunidade de investimentos geram efeitos


ainda piores na conta de rendas, fazendo com que diminuam os reinvestimentos e
aumentem as remessas de lucros e dividendos. Os números também são assustadores:
seu déficit, que em 2005 somou – US$ 26 bilhões salta em 2010 e 2011,
respectivamente, para – US$ 39,6 bilhões e – US$ 47,3 bilhões. Assim, serviços e
rendas somaram em 2011 – US$ 85,2 bilhões. Como se sabe, a soma algébrica do
balanço de serviços e do balanço de rendas com a balança comercial indica
(aproximadamente)1618o saldo em transações correntes, que atingiria ao final de 2011,
cerca de –US$ 53 bilhões.
Para fechar esse déficit, a política macroeconômica mantém a economia
desregulada e os juros reais em nível surpreendentemente elevado, com o objetivo
óbvio de atrair capitais externos, os quais, com a volúpia dos juros altos, entram em
maior quantidade do que o necessário. Sendo assim, a origem do acúmulo de
reservas torna-se mais financeira do que comercial.
Cobertos os déficits ao longo desses anos todos, depois de 1999, não houve
mais crise cambial e ainda houve o acúmulo de US$ 350 bilhões de reservas
internacionais. Vários analistas olham esses números e afirmam que a
vulnerabilidade externa do país acabou. Os US$ 350 bilhões de reservas
internacionais, no entanto, custam muito caro para todos, pois estão aplicados
basicamente em títulos do governo norte-americano cuja taxa de juros é próxima a
zero. O governo, porém, para acumular essa reserva tem de emitir títulos da dívida
pública, aos quais pagam juros que até 2011 chegavam a aproximadamente 11%
anuais e equivaliam a cerca de 5% do PIB, em uma grande sangria da receita e do
gasto públicos.
O desestímulo ao investimento interno e o dólar barato incentivam
fortemente a saída de capitais brasileiros. Até 2001, o total aplicado lá fora era de

(16) O saldo não é exato, por força de Erros e Omissões e outros dados não apurados.

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 845
A desindustrialização no Brasil

US$ 68,6 bilhões que cresce velozmente, atingindo US$ 274, 6 bilhões em 2010, dos
quais 25,5% aplicados em notórios paraísos fiscais17.19Do estoque total, o IDE
somava US$ 189,2 bilhões, do qual apenas 8,4% foram alocados na indústria de
transformação, 36,6% em agricultura e mineração e 55% nos serviços dos quais 65%
em serviços financeiros. Como se vê, a alocação do investimento nos setores
produtivos é muito semelhante à do investimento no Brasil. Ao todo, os capitais
brasileiros teriam criado cerca de 200 mil empregos no exterior.
O mais paradoxal, contudo, é que, para isso, boa parte desses investimentos
tem sido financiada por recursos públicos (em geral subsidiados), principalmente do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Estão sendo
financiados investimentos no exterior, quando é aqui que se deve criar empregos,
modernizar a indústria, erradicar o analfabetismo e a fome, acabar com os buracos
nas estradas, promover política habitacional aos pobres, acabar com as endemias
rurais que são uma barbaridade.
A Tabela 7 relaciona a Dívida Externa Total ao Passivo Externo Líquido e às
Reservas Acumuladas. Os dados mostram que, se descontadas as Reservas, do
Passivo Externo, o Passivo Líquido aumenta de US$ 298 bilhões em 2004, para US$
887 bilhões em 2010. Ainda, é preciso considerar que grande parte do investimento
externo constitui-se hoje de títulos em carteira mais facilmente mobilizáveis e
passíveis, portanto de fuga mais rápida.

Tabela 7
Dívida externa e passivo líquido externo

Ano Dívida externa bruta Passivo externo líquido * Reservas totais


2004 220,2 298 50,1
2005 188,0 317 64,3
2006 199,4 369 83,1
2007 240-,5 550 177,1
2008 262,9 283 194,7
2010 351,9 887 285,5
2011 402,4 723** 352,0
(*) Em 2008, o BC passou a divulgar o dado “Posição Internacional do Investimento”, que é menor do
que o dado do antigo cálculo do PEL. A grande redução entre 2007 e 2008 refere-se à forte saída de
investimentos em carteira.
(**) dados de 9/2011
Fonte: Banco Central do Brasil.

(17) Como os dados desses investimentos são por países, entre os quais só se identificam poucos deles como
paraísos fiscais, certamente a cifra estimada no texto está fortemente subestimada. Várias pesquisas ao longo desses
últimos dez anos apontam cifras que se situam entre 50% e 70%. Para os dados oficiais ver: Banco Central do Brasil;
Capitais Brasileiros no Exterior, disponíveis em: www.bcb.gov.br/rex/cbe/port; dados obtidos em 24 mar 2012.

846 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano

Como superam as reservas, a vulnerabilidade ainda se mantém. É claro que


as reservas são importantes e estratégicas, mas não o suficiente para evitar ou sair de
uma crise internacional que cause grande fuga de capital.

Seria possível reverter esse quadro de desindustrialização?


As crises anteriores mostraram que não há como ser liberal em depressão. Se
o “cofre” está vazio, sem dinheiro, como ser liberal? Ao contrário, em tais
circunstâncias, é preciso ser interventor com a coisa pública, não há remédio menos
amargo.
A consolidação da empresa nacional é um investimento caro e muito
importante, cujos maiores exemplos, antes da China, vêm da Alemanha, Japão e
Coreia do Sul. Em tais casos, as circunstâncias internacionais eram outras, pois a
ameaça do socialismo era muito forte e condicionou parte das reações americanas a
políticas de intervenção estatal na economia desses países.
Houve uma intervenção drástica na sociedade, economia alemã e japonesa. ,
As maiores e mais radicais foram a reforma agrária e a reforma do capital. Quando o
Japão se abre, industrializa-se e recupera-se da derrota da guerra e quando a Coreia
do Sul é amparada pelos EUA, então, ambos “abrem“ seus mercados. Tais países
tinham não só circunstâncias internacionais extremamente favoráveis para que suas
empresas ficassem mais fortes e agressivas e fossem vitoriosas no cenário
internacional, como tinham políticas de Estado voltadas para isso, ou seja,
protecionistas, direcionadas para a industrialização, financiadoras da atividade
industrial. A Coreia do Sul chegou a proibir o consumo interno de televisão colorida,
direcionando sua produção para exportar. Houve, certo ou errado, políticas
macroeconômicas internas e políticas industriais, além de circunstâncias
internacionais, permitindo que suas grandes empresas crescessem e alcançassem um
desempenho extraordinário no cenário internacional. Houve, acima de tudo, um
Estado Nacional e, não raro, um Estadista que soube conduzir esse processo.
Seria possível, hoje, reverter esse quadro de desindustrialização no Brasil?
Para isso, a formulação de uma nova política industrial, apesar de necessária, não
seria suficiente. A “meu” juízo e de alguns economistas, nenhuma política específica
(setorial, regional, industrial, agrícola, de comércio exterior ou outra) será bem-
sucedida se a política macroeconômica não lhe der a necessária sustentação política e
econômica, ou seja, a política macroeconômica tem de ser consentânea com a
política industrial. De outro modo, com a taxa de juros em vigor, a atual política
cambial, o nível de abertura da economia e com o não controle da conta de capital do
balanço de pagamentos, não há política industrial que possa reverter o quadro acima
analisado.

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 847
A desindustrialização no Brasil

As medidas de desoneração fiscal previdenciária, por exemplo, sobre a folha


de pagamento e de IPI, utilizadas recentemente para alguns setores (vestuário,
calçados, móveis e confecções, construção civil, veículos, também, para a produção
de softwares) surtiram efeitos positivos sobre a demanda em momentos de
desaceleração da economia. No momento atual, elas estão sendo renovadas e
estendidas a vários setores industriais. Restringem-se, no entanto, preponderantes à
demanda e menos ao investimento, salvo no caso da construção residencial. Agora, o
governo acaba de lançar um plano de investimentos privados e públicos para
logística de transporte, oportuno, necessário e elogiável com recursos importantes em
termos do setor, porém muito limitados em termos gerais, equivalentes a apenas
cerca de 0,4% anuais do PIB nos próximos cinco anos. Tal plano amplia ainda a
capacidade de investimentos dos governos estaduais, cujos investimentos, porém, são
proporcionalmente muito pequenos no total da formação de capital do país18.20.
Para os empresários desses segmentos, são medidas boas, porque reduzem
seus custos, amortecendo prejuízos ou aumentando lucros. São, no entanto, muito
insuficientes, tendo em vista as necessidades não só conjunturais, mas estruturais do
país. Não se pode esquecer os diferenciais de produtividade para com os produtos
similares da China e dos EUA e, ainda, a defasagem cambial de cerca de 30%.
Então, precisaria fazer muito mais do que está sendo feito e proposto, para
que esses empresários enfrentassem a concorrência e reestruturassem a indústria.
Subsídios e investimentos públicos, porém, são sempre limitados, não só pela
“obrigação” do comportamento fiscal restringido como também pelo fato de que
passou a integrar a Organização Mundial do Comércio (OMC) desde 1994 e
subscreveu a Rodada Uruguai (GATT). Assim, o governo está sempre “de mãos
amarradas”. A OMC até admite algumas medidas temporárias, mas esses subsídios
podem tornar-se inaceitáveis para ela.
É necessário lembrar que se atravessa, neste momento, não apenas mais uma
crise, mas sim, a continuidade de uma crise muito longa que vem desde o final da
década de 1970. É um processo cumulativo nefasto, que não apenas destruiu
instituições de desenvolvimento, mas debilitou o próprio Estado além de desvirtuar o
caminho do empresariado produtivo e progressista.
Essa é a questão central da crise brasileira, mas nela não se toca. Nenhum
dos governos que atravessou e atravessa um longo período tentou algo. Para tal fato,
tem-se de enfrentar sérias adversidades políticas e econômicas internas e externas. O
Brasil entrou na chamada globalização, assinou tratados e assumiu compromissos
internacionais que não deveria. A China declarou-se como economia de mercado,

(18) É o pacote de logística anunciado à imprensa em 15/8/2012, com investimentos totais de R$ 133
bilhões, sendo R$ 80 bilhões para os próximos 5 anos e o restante para os 25 anos seguintes. O peso deles como
proporção anual do PIB seria de 0,4% nos primeiros e apenas 0,05% nos seguintes.

848 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano

mas não abriu a conta de capital. A Índia fez a mesma coisa, assim como a Rússia.
Não abrir a conta de capital significa manter o controle sob a entrada e saída de
capital internacional e nacional sobre as remessas de lucros e os fluxos de
investimentos. Mais do que isso, é ter um grau avançado de soberania no manejo de
sua política cambial, fiscal e monetária, o que não se tem.
No Brasil, há política industrial. Há ações importantes de vários órgãos
públicos, como o BNDES. Há, entretanto, mais equívocos do que acertos. Há acertos
nas tentativas de fusão e resolução de problemas estruturais de grandes empresas
nacionais, inclusive para tentar fortalecê-las futuramente em termos de presença
internacional. Ao mesmo tempo, não há nenhuma estratégia macroeconômica e
industrial para que seja sustentável e exequível a fim de enfrentar a
desindustrialização, como apontaram Cano e Gonçalves (2010).
Economistas precisam aprender que a economia vai além das premissas
teóricas de que os neoclássicos tanto gostam. A economia é política! A economia
como ciência é muito limitada. Economia é fruto de decisões sociais tomadas por
homens que têm poder. Sejam empresários tomando decisões de investir ou não, de
comprar ou vender, seja o Estado em adotar e tentar fazer cumprir certas metas e
objetivos econômicos. Essas tomadas de decisões são sempre conflituosas. Sempre se
defrontam com interesses diversos ou mesmo contraditórios.
Não adianta pensar em Economia apenas por um prisma técnico de formular
uma determinada receita quando o problema é político. Se os governos, depois de
1990, “venderam a alma ao diabo”, ou seja, ao sistema financeiro; precisamos
romper esse acordo. É, todavia, uma atitude muito complicada, pois quando se faz
acordo com o diabo, ele vai exigir a alma, depois de levar o fígado, o pâncreas. De
todo modo, os atuais horizontes políticos internacionais são pelo menos imprecisos e
imprevisíveis. Há, portanto, a “meu” juízo, uma janela aberta para uma reflexão
sobre o futuro.
O governo norte-americano é democrata, mas a política econômica continua
sendo controlada pelos republicanos. Na Europa, o quadro é exatamente o mesmo. A
direita mais reacionária está à testa do manejo da administração desses problemas e
da crise. Há uma boa entrevista da professora Maria da Conceição Tavares ao site
Carta Maior1921em que ela chama a atenção para as diferenças em relação à crise de
1929. Naquele momento, o vencedor foi Roosevelt e, por meio do New Deal, foi
possível, além de tomar medidas para a economia, passar a olhar um pouco mais para
os pobres e, a partir daí, desenvolveram-se políticas de Welfare State no mundo
ocidental. É preciso atenção para a diferença crucial entre as estruturas de poder
anteriores e posteriores à “Crise de 29” e as atuais estruturas de poder, conservadoras

(19) Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17556.


Acesso em: 21 dez. 2011. Entrevista concedida em 17 mar. 2011.

Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012. 849
A desindustrialização no Brasil

e reacionárias e, ainda, deflacionistas, ou seja, a julgar pelas atitudes consumadas e


intenções declaradas até agora, tendem a aprofundar a crise.
No Brasil, para administrar a “Crise de 29” e seu período subsequente, foi
necessária uma revolução, a Revolução de 1930. Aqui, houve um Estadista, Vargas
que se antecipou àquelas medidas. O México teve Cárdenas e ambos souberam,
inteligentemente, conduzir seus países.
O Brasil pode e deve enfrentar a crise estrutural reportando-se, em grande
medida, ao mercado interno. Há quase 200 milhões de habitantes, um grande
território e uma boa dotação de recursos naturais. Não se trata de uma atitude voltada
exclusivamente para o mercado interno, mas complementada em um “Programa
Nacional de Desenvolvimento” que tenha, além desse vetor, uma estratégia
específica de exportações, introjeção tecnológica e uma priorização setorializada e
regionalizada de infraestrutura e alta tecnologia22. Em contrapartida, tal via não pode
estar voltada apenas para fins de crescimento e produtividade, mas contemplar,
prioritariamente, os setores que atendem às necessidades básicas da população e do
país como habitação popular, saneamento básico, educação e saúde pública, que, sem
dúvida, deveriam encimar a agenda de planejamento.

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www.funcex.com.br/. Acesso em: 22 jan. 2012.FURTADO, C. Teoria e política do
desenvolvimento econômico. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

22 O autor publicou, recentemente, proposta nesse sentido, na qual o programa é relativamente


detalhado. Ver Cano (2010).

850 Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 831-851, dez. 2012.
Wilson Cano

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