Os Livros de Magia - Vol. 1 - O Convite - Carla Jablonski
Os Livros de Magia - Vol. 1 - O Convite - Carla Jablonski
Os Livros de Magia - Vol. 1 - O Convite - Carla Jablonski
] 24 de Maio
de 2010
CARLA JABLONSKI
Autoria
Carla Jablonski
Criação de
Neil Gaiman e John Bolton
Digitalização e Revisão
Arlindo_San
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Página 1
Introdução
Neil Gaiman
Prólogo
Capítulo Um
Para que serve essa porcaria de produto interno bruto? O que me
importa o principal produto de exportação do Chile? Tem umas
coisas que eu gostaria de exportar para o Chile, o Bobby Saunders
para começar, mas ninguém pergunta o que eu acho, não é mesmo?
Ninguém nunca pergunta.
Será que a escola precisa mesmo ser tão chata? Seria uma
exigência do conselho de educação? Deve ter alguma coisa
levemente interessante dentro de todos aqueles livros. Alguém se
interessou bastante, tanto que os escreveu. A Molly também está de
saco cheio, dá para ver pelo jeito que ela fica rodando o lápis de um
lado para o outro — deve estar desenhando na margem do caderno,
como sempre faz. Por que a gente nunca aprende nada de
interessante, como as respostas para as questões importantes de
verdade, como por que as coisas são tão aleatórias, ou como é que
se decide quem nasce pobre e quem nasce rico? E
por que são sempre as pessoas erradas que dão as ordens? Mas a
escola não é lugar para fazer perguntas assim tão perigosas.
— Ei!
Dr. Oculto segurou o ioiô com as mãos em concha. Os olhos de
T im se arregalaram quando uma coruja apareceu com um raio de luz.
— O-o quê? Isso... m-mas... — gaguejou T im. Ficou observando a
coruja bater suas asas poderosas e voar até o parapeito de uma janela
logo acima. A coruja prendeu a atenção de T im por um momento, e
então ele se voltou para Dr.
Oculto mais uma vez.
— Você...? Não — sacudiu a cabeça com firmeza. — Foi só um
truque. Um truque de mágica.
— Não — respondeu John Constantine. — Pelo menos não do jeito
que você está pensando.
— Não é truque — concordou Dr. Oculto. — Isso é magia.
T im olhou para a coruja novamente. Surpreendente. Há um minuto,
Dr.
Oculto estava segurando um brinquedo de plástico nas mãos. Agora
um pássaro vivo, que respirava, olhava para eles.
“ Se eu soubesse fazer uns truques desses”, pensou T im, “ a Molly
ficaria mesmo impressionada”. “ E por que ficar só transformando
brinquedos em pássaros?” Com a magia, ele poderia arrumar uma babá
para a família de Molly, para que ela não tivesse que ficar sempre
cuidando dos irmãozinhos. Poderia garantir que eles sempre tivessem
o que comer e que o apartamento se mantivesse limpo mesmo quando
a mãe dela ficava meio esquisita. A magia poderia fazer muitas coisas.
T im sentiu uma animação crescer em algum lugar bem dentro dele,
alguma coisa que só estava lá esperando para sair. Virou-se para Dr.
Oculto: — Eu seria capaz de fazer isso?
Os quatro homens trocaram um olhar silencioso. T im não
conseguia decifrar aquilo. A expressão deles era impenetrável. Será que
tinha dito algo errado?
O Estranho respondeu: — Se for este o caminho que você escolher,
sim.
T im sentiu o coração se acelerar, da mesma forma que ocorria
quando ele dava um salto com o skate e voltava para o chão depois de
uma manobra perfeita.
— É por isso que estamos aqui — prosseguiu o Estranho. — Nosso
papel é educar você, T imothy. Mostrar o caminho do encantamento,
da arte, do oculto e do feitiço. Se você vai escolher seguir este
caminho depois, é problema seu.
Você quer embarcar nessa viagem, T imothy Hunter?
“ Se eu pudesse fazer uns truques daqueles”, pensou T im, “ todo
mundo ia ter que me tratar de outro jeito. Eu não ia ter que agüentar
desaforo de ninguém.
Nunca. Nunca mais.”
Engoliu em seco. Não fazia a mínima idéia do que significaria
aceitar, continuar conversando com aqueles caras esquisitos. Mas não
estava nem aí. Já sabia a resposta.
— Eu vou com vocês — declarou T im. — É só me mostrar o que eu
preciso fazer.
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Capítulo Dois
Capítulo Trê s
— Para falar a verdade, vai ser a maior confusão. Quer dizer, vou
ter que orientar o Artur. Aquele negócio de espada na pedra e tudo o
mais.
T im assentiu com a cabeça, lembrando-se da história. Como era
surpreendente descobrir que era verdade! E estar lá antes mesmo de
tudo começar...
— Criar aquela glória tão efêmera e frágil que será Camelot — disse
Merlin. Foi até os frascos e pegou de um deles um punhado de botões
de flor com cheiro adocicado. Segurou-os com a mão aberta, olhando
para eles sobre a palma da mão, como se estivesse enxergando o
futuro naquelas pétalas delicadas.
— Camelot.
Vai ser um instante glorioso que lançará luz sobre a Idade das T revas
e então desaparecerá sem deixar vestígios.
Voltou para a mesa e jogou as flores dentro da tigela de trabalho.
Amassou-as com o pilão.
— T udo funcionaria bem se eu pudesse estar lá para supervisionar as
atividades. Mas não vou estar. — Merlin começou a trabalhar com
mais afinco, transformando seus ingredientes em uma pasta. Seus
dentes se apertaram, ele segurava o pilão com tanta força que os nós
dos dedos ficaram brancos.
— Por que não? — perguntou T im, com medo de que suas
perguntas estivessem deixando o garoto-mago bravo. Mas precisava
saber.
— A Nimue vai aparecer e eu vou sair atrás dela, arfando feito um
cachorro no cio. Vou ensinar a ela um tanto de mágica que pouco irá
lhe servir, mas que será o bastante para colocá-la em perigo. E tudo só
para ver se eu consigo entrar nas anáguas dela. E daí ela vai me atrair
para uma caverna e me prender com a minha própria magia e me
deixar lá até apodrecer.
Merlin fez uma pausa para tirar o cabelo comprido do rosto. Ficou
olhando para a tigela com tristeza, mas aos poucos um sorriso foi se
espalhando Por seu rosto.
— Ainda assim — disse, voltando-se para T im com um sorriso — ,
tudo vai ser muito, muito interessante.
— Mas, se você já sabe o que vai acontecer, por que não muda
tudo? Por que não faz as coisas de outro jeito? Por que não evita essa
tal de Nimue?
Merlin pareceu surpreso com as perguntas.
— Eu preciso fazer o que eu vou fazer. A magia não garante
nenhuma liberdade. Você sabe disso. T udo que ela compra tem um
preço. — Merlin voltou até os frascos, passando o dedos pela
prateleira até encontrar o ingrediente seguinte.
T im viu que Merlin estava desaparecendo, a sala toda, o fogo, os
frascos, tudo ia escurecendo... voltando para o lugar de onde tinha
vindo no passado. E
mais uma vez T im se viu no limbo, ao lado do Estranho.
— Ele só tinha a minha idade — disse, com os olhos ainda fixos no
lugar em que Merlin estivera momentos antes. — Só um pouquinho
mais velho.
— É isso mesmo — respondeu o Estranho.
— Eu poderia fazer o que ele faz? Eu poderia ser tão poderoso
quanto Merlin?
— Poderoso? Uma palavra estranha para se usar em relação a ele.
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Capítulo Q uatro
— Mas como é que a gente entrou no avião? — Aquilo ali era tão
esquisito quanto viajar através do tempo com o Estranho. T alvez
mais esquisito, já que agora as coisas estranhas estavam acontecendo
no “ mundo real”. Então T im pensou em outra coisa e disse: — O que
vai acontecer quando precisarmos descer? Quando tivermos que passar
pela imigração e tudo o mais?
John ajeitou o cabelo e arrumou o colarinho.
— Você se preocupa demais.
— E cadê o Ioiô? Você disse que eu podia trazê-lo comigo.
— Carregar uma coruja dentro do avião? Seria uma idiotice. Ele vai
estar à sua espera quando chegarmos. — Constantine o tranqüilizou.
Fechou a bandejinha à frente, desdobrou-se do assento de avião
apertado e ficou em pé. — Pousaremos em Nova York daqui a meia
hora. Agora vou ali bater um papo com aquela aeromoça simpática.
— T udo bem. — T im se acomodou no assento. — Você ajuda
muito — balbuciou.
T irou os óculos, voltou a fechar os olhos e resolveu que
simplesmente aceitaria tudo que fosse estranho dali para a frente.
O piloto anunciou o pouso no aeroporto JFK. T im colocou os
óculos de novo e olhou pela janela. “ Aí estão os Estados Unidos”,
pensou, “ Nova York”.
Dentro dele, a animação ia crescendo. Ficou com os olhos colados à
janelinha.
“ Será que é igual aos filmes?”
John retornou para o assento ao seu lado.
— Parece bem bonito daqui de cima, você não acha? — disse.
T im concordou com a cabeça, sem tirar os olhos da paisagem
desconhecida lá embaixo. Dava para ver arranha-céus, pontes,
trânsito caótico, tudo em miniatura. A comissária de vôo teve que
lembrá-lo duas vezes de afivelar o cinto de segurança para o pouso.
T im ficou bem firme no assento enquanto o avião taxiava até o
portão. T eve que se conter para não dar um pulo e sair correndo até a
porta. Queria ver tudo...
naquele instante! Os Estados Unidos! A terra dos caubóis, dos
operadores da bolsa de Wall Street, dos rappers, da calça Levi’s 501
original, dos gângsteres, dos filmes e dos milionários. Nova York!
— Podemos ir? — perguntou a John no instante em que a luz de
apertar os cintos se apagou.
John sorriu.
— Calma aí, amiguinho. A cidade não vai fugir, não precisamos
atropelar todo mundo.
Passaram facilmente pelo corredor estreito, já que não tinham
bagagem de mão. T im reparou que a comissária de bordo ruiva
encostou levemente no braço de John quando deixaram o avião.
O aeroporto estava lotado, cheio de gente, avisos tagarelavam
pelos alto-falantes. Era tão enorme! “ Como é que as pessoas se
acham por aqui?”, T im ficou imaginando, olhando em volta, tentando
absolver tudo. Se ele tivesse que se achar sozinho ali, entraria em um
avião para T imbuktu, e não para Londres.
Que bom estar ali com John. Espera aí! Cadê ele? T im correu os
olhos pelo aeroporto de maneira frenética, com o coração acelerado.
Então avistou John Oferecimento: www.BaixeLivro.com Ebooks
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atrás de uma grande família reunida. “ Não seja tão turista assim”,
T im tirou um sarro de si mesmo. John simplesmente continuou
caminhando enquanto T im ficou lá parado feito um bobo, olhando
para tudo de boca aberta. T im se apressou para alcançá-lo, não queria
se perder ali. “ E isso aqui é só o aeroporto”, pensou.
“ Espere só até eu sair lá fora!”
— Sabe, quando eu era criança — começou Constantine, dando
passos de pernas compridas, como se não tivesse percebido que T im
ficara para trás —, talvez? quando eu tinha a sua idade, achava que os
Estados Unidos eram uma terra mágica. É tudo tão grande... ei a gente
ouvia falar de todas aquelas histórias de super-heróis e acreditava,
porque aconteciam nos Estados Unidos.
T im passou rápido pela longa fila de pessoas que esperavam para
passar pela imigração. Em que fila será que ele e John ficariam? T im
olhou em volta, confuso, mas John continuava a falar e caminhar.
T im achou que ele devia saber o que estava fazendo, e tentou
acompanhar o ritmo acelerado do homem.
— Quer dizer, quando eu era criança, os Estados Unidos eram um
lugar onde tudo poderia acontecer — John disse. — T inha tanta coisa
incrível, sabe como é. Pizzas, hidrantes na rua, Hollywood, o Empire
State Building. T inha super-heróis, magia, alienígenas e sei lá mais o
quê.
John continuou avançando. Passou pela imigração, pelas esteiras de
bagagem, estava se dirigindo para a saída! T im olhou ao seu redor. A
qualquer minuto a polícia ou os inspetores da imigração, ou alguém,
iria detê-los. Não ia?
— Bom, mais aí eu cheguei aos Estados Unidos e descobri que era
igualzinho a todo filme ou programa de T V ou qualquer outro clichê
sobre os Estados Unidos que você já ouviu ou sonhou. Está tudo lá, em
algum lugar. Se você puder imaginar.
— Mas isso é bom, não é? — T im perguntou, confuso com o tom
de decepção de Constantine.
John deu de ombros.
— Eu prefiro a Inglaterra. Prefiro morar em um país que seja
pequeno e antigo e onde ninguém nunca teria coragem de usar uma
capa em público. Não faz mal se são ou não capazes de escalar um
prédio.
No instante em que puseram o pé para fora, John enfiou a mão no
bolso e tirou um maço de cigarros. Acendeu um e tragou
profundamente.
— E, ainda por cima, eles têm as regulamentações mais primitivas
possíveis em relação ao cigarro.
— Essas coisas vão matar você, sabia? — debochou T im. — E não
fique achando que você parece legal só porque fuma. Fica parecendo
que você tem uma sentença de morte escrita na testa.
John deu outra tragada profunda e sorriu.
— Você é daqueles que fala tudo que pensa, não é mesmo? Eu gosto
disso.
— Ergueu uma sobrancelha para T im. — Eu acho. — E apoiou-se
em uma pilastra.
T im apoiou-se em um pilar também, imitando a postura de John.
— Como foi que a gente fez aquilo? — perguntou.
— Fez o quê?
— Passou pela imigração e pela alfândega. T udo isso. A gente foi
passando!
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[WWW.BAIXELIVRO .CO M EBO O KS GRÁTIS!] 24 de Maio
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vezes a coisa ficava realmente séria. Ele não queria ser testemunha
de algo assim entre John e Madame Xanadu.
Passou pela cortina e saiu pela porta da frente, para o corredor.
Deixou-se escorregar pela parede e sentou-se no chão com as pernas
cruzadas, perguntando a si mesmo se estava se sentindo tão confuso
por causa do fuso horário ou da aventura estranha. Em que fuso ele
estava mesmo? Olhou para o pulso e percebeu que não estava usando
relógio. Riu para si mesmo. “ Você não tem a mínima noção.”
Um pouco mais tarde, a porta do apartamento se abriu. Constantine
colocou a cabeça para fora.
— Pode entrar, T im. Vou apresentá-lo direito.
Cautelosamente, T im voltou para o apartamento. Madame Xanadu
estava sentada à mesa outra vez. Parecia bem mais calma. T im ficou
imaginando o que Constantine teria dito para que ela se acalmasse.
Constantine colocou a mão no ombro de T im e o conduziu até a
mesa.
— T im, esta moça se chama Madame Xanadu... Madame X, este
aqui é o T im Hunter.
A mulher sorriu. Era linda, T im não podia fazer nada além de olhar
para ela.
O cabelo grosso e escuro ia quase até a cintura. O vestido era curto e
justo, e deixava pouco espaço para a imaginação.
— Prazer em conhecê-lo, menino — disse. Fez um gesto para a
cadeira a seu lado. — Venha se sentar. Constantine me falou um
pouco de você. Vou ler as suas cartas.
T im olhou para Constantine cheio de incerteza.
— Eu... eu não sei...
John assentiu com a cabeça.
— Vá em frente. Esses truques de barraquinha de feira podem ser
divertidos. Além disso, preciso entrar em contato com algumas
pessoas. Você está a salvo aqui. Muito mais do que eu — completou,
com uma piscadela.
Dirigiu-se para a porta do apartamento, deixando T im a sós com a
linda Madame X.
— Vamos fazer a leitura mais simples — ela explicou a T im —,
com quatro cartas. — Entregou a T im o baralho de tarô. T im ficou
surpreso, as cartas pinicavam suas mãos como se provocassem
pequenos choques elétricos. — Embaralhe até que você se sinta à
vontade. Depois, coloque quatro cartas na mesa.
T im seguiu as instruções. À medida que foi embaralhando, o
formigamento foi parando e as cartas foram ficando quentes. Dava
para jurar que tinham começado a brilhar. Deve ser um truque de luz,
disse a si mesmo. Com todas aquelas velas bruxuleantes.
— Humm. Só Arcanos Superiores — disse Madame Xanadu,
estudando as cartas que T im colocara sobre a mesa.
— Isso é bom?
— Não é bom nem ruim. Só indica uma intensidade que não me
surpreende.
T im olhou para as figuras estranhas, imaginando como elas
poderiam dizer algo.
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Capítulo Cinco
“ Isso não parece assim tão ruim”, T im pensou. O que será que John
estava tentando dizer? Será que estava mesmo tentando dizer alguma
coisa? Era difícil descobrir.
— A gente desce aqui — avisou John, depois de terem percorrido
uma boa distância. T ocou o sino e desceu do bonde com delicadeza,
antes que o veículo parasse completamente. T im desceu aos tropeços
atrás dele. “ Esse cara se movimenta como uma pantera”, pensou.
— Mas se você escolher — prosseguiu John, como se não tivesse
parado de falar — bom, é a mesma coisa que descer da calçada e andar
no meio da rua. O
mundo continua parecendo a mesma coisa, mas um caminhão pode
atropelar você a qualquer momento. Isso é magia.
— Mas isso parece perigoso. Por que eu iria querer isso?
— Acho que algumas pessoas preferem viver perigosamente. Mas
não sou eu quem vai decidir. É você.
Voltaram a caminhar em silêncio, lado a lado. O único som que se
ouvia era o bater de asas de Ioiô. E então um outro som: o estômago
de T im roncou. Alto.
Que vergonha. T im bateu na barriga com a mão.
— Você pode tomar café-da-manhã na nossa próxima parada. Que
também será um santuário, se tivermos sorte — prometeu John,
abrindo um sorriso.
— Vamos chegar na casa de algum amigo seu sem avisar de novo?
— Por acaso, vamos sim.
— Ah, esse negócio não deu muito certo com a Madame Xanadu...
— zombou T im. — Não, obrigado.
— A Zatanna não tem nada a ver com a Madame X — garantiu
John.
— Zatanna? — repetiu T im. Os olhos dele se arregalaram quando
olhou para John. — Você está falando da moça feiticeira?
— Essa mesmo.
— Eu já a vi na T V! Ela é brilhante! Você a conhece?
John sorriu.
— Esta é a primeira vez que você parece animado de verdade desde
que começamos nossa pequena jornada. Finalmente consegui
impressioná-lo.
— Espera um pouquinho. — T im parou, de repente sentindo-se
todo ansioso.
John olhou para ele, confuso.
— Com o que você está preocupado agora?
— Bom, é só que, julgando pela maneira como as coisas estão indo
até agora, ela provavelmente é uma maluca que odeia você.
— Que nada, eu e a Zatanna nos conhecemos há muito, muito
tempo.
— Claro. Você provavelmente deve ter roubado o melhor truque
dela, ou coisa do tipo.
— Esta aqui é a casa dela — disse John, ignorando o comentário de
T im.
Estavam em um bairro cheio de casas pintadas em cores fortes, em
todos os tons pastel possíveis. John conduziu T im pela entrada de uma
casa cor-de-rosa com persianas azuis. Grandes botões de rosa ladeavam
o caminho.
T im o seguiu, relutante. Ele admirava Zatanna, e queria que as
coisas continuassem assim. Não queria descobrir que a pessoa de
verdade não era tão Oferecimento: www.BaixeLivro.com Ebooks
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Página 46
Capítulo Se is
Capítulo Se te
— Sei lá. Que todos eles, menos a Zatanna, têm tanto equilíbrio
quanto um ovo em pé. — Ele poderia ter incluído John Constantine
naquele grupo, mas achou melhor não.
— Bom, já é um bom começo.
T im pensou mais a respeito do que aquela viagem tinha mostrado,
quais eram as informações novas.
— E que eles não vivem no mesmo mundo que a maioria das
pessoas vive.
O mundo deles é como uma sombra do nosso. É escuro e distorcido
mas, ainda assim, os dois estão ligados. Pelo menos com os caras
maus. Acho que com os bons também. T ipo a Zatanna. Ela está meio
dentro e meio fora da vida comum.
— Revirou-se na poltrona para captar a reação de John. — O que
eu estou dizendo faz sentido?
John parecia pensativo.
— Mais do que você pensa.
T im sentiu a admiração nos olhos azuis de John e sorriu. Era bom
sentir que tinha conquistado o respeito daquele sujeito evasivo e
imprevisível.
Constantine esticou o braço para pegar os fones de ouvido no
bolsão do assento à sua frente.
— O Dr. Oculto será seu guia durante a próxima etapa da viagem.
— Para onde é que ele vai me levar desta vez? T ibet? Espaço
sideral?
— Para a T erra das Fadas.
T im ficou olhando para John, que brincava com o fone de ouvido,
tão calmo quanto um lago plácido. T im ficou olhando ainda mais para
ele. Afinal, conseguiu encontrar a voz. Mas a única coisa que saiu de
sua boca foi: — T erra das Fadas?
Capítulo O ito
Será que Dr. Oculto seria tão aberto em relação a si mesmo quanto
fora com os outros?
— Eu sou seu guia neste estágio da jornada, T imothy Hunter. E
você pode confiar em mim. Esvazie os bolsos.
“ Então é isso. Fim da entrevista. Bom, eu fiz o melhor que pude.”
T im jogou longe o talo da maçã, remexeu nos bolsos e tirou o
conteúdo. Um pedaço de barbante, um toco de lápis, dois marca-
textos, chaves, moedas, chiclete, um monte de fios soltos. Uma
figurinha.
Dr. Oculto examinou os objetos nas mãos dele.
— Deixe as chaves e as moedas aqui — instruiu. — Ferro frio não é
bem-vindo no lugar aonde vamos. O resto pode ficar com você.
T im olhou em volta.
— Onde é que eu...? — Não queria perder suas coisas. — Já sei! —
Ajoelhou-se ao lado de uma grande raiz da árvore, cavou um
buraquinho e colocou as moedas e as chaves lá dentro. Cobriu com
terra e amassou um pouco.
— Espero lembrar onde guardei mais tarde — disse, ficando em pé
outra vez. Bateu as mãos na calça jeans para tirar a poeira dos joelhos.
— Ouça com atenção o que eu vou dizer — alertou Dr. Oculto. —
Há algumas coisas de que você precisa se lembrar. É preciso obedecer a
minhas ordens explicitamente, em tudo o que eu disser, por mais
mesquinho e estranho que possa parecer.
— T uuuudo bem — concordou T im. Ele não gostava de concordar
com termos sem saber exatamente o que eram. E se Dr. Oculto o
mandasse pular da T orre de Londres? O que faria? Era isso que Molly
sempre perguntava. Mas ele não tinha exatamente muita escolha. E
Dr. Oculto sabia muito mais coisas a respeito do lugar para onde
estavam indo do que ele.
— Em segundo lugar — prosseguiu Dr. Oculto —, não faça
perguntas nem peça favores a quem encontrar durante nosso percurso.
Não aceite presentes nem alimentos sem minha permissão.
T im concordou com a cabeça. “ Fique de boca fechada”, traduziu
para si mesmo, “ e nada de presentes.” Suspirou. Aquilo significava que
ele não levaria nenhuma lembrancinha. Que pena. Seria bom se
pudesse levar algum brinquedinho mágico para Molly.
— Em terceiro lugar, lembre-se de ser educado. A etiqueta é muito
importante no lugar aonde vamos, e boas maneiras valem ouro. Se
você fizer qualquer malcriação inofensiva, pode sair de lá com orelhas
de burro, ou coisa pior. Por último, nunca se desvie do caminho. Não
importa o que você vir, ouvir ou sentir. — Dr. Oculto estudou T im
com seriedade, olhando bem fundo nos olhos dele, como se pudesse
penetrar em sua mente para se assegurar de que as regras tinham sido
absorvidas. — Você compreendeu?
T im enxugou as mãos na camisa. A palma das mãos tinha ficado
suada enquanto ele ouvia as instruções de Dr. Oculto.
— Acho que sim.
Ele até estava se sentindo um pouco mais à vontade com toda
aquela história de magia... antes de ser bombardeado com todas aquelas
regras! “ T udo Oferecimento: www.BaixeLivro.com Ebooks Grátis
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pássaro parecia feliz, alerta, mais... mais ele mesmo, de certo modo.
“ T alvez pelo fato de Ioiô ser feito de magia”, raciocinou, “ o Mundo
das Fadas se pareça mais com seu lar”.
— Então, para onde estamos indo? — perguntou T im. Ficou
imaginando se Dr. Oculto (Rosa) tinha algum destino em mente, ou se
estavam apenas esperando que alguma aventura os agarrasse de
supetão. Naquele momento, T im sentia que estava pronto para
qualquer coisa. Estava gostando do que tinha visto do Mundo das Fadas
até então. Era verdade que só tinha visto belas paisagens, mas havia
alguma coisa naquele lugar que fazia com que seu peito se expandisse,
com que seus membros se movessem com facilidade. Era a vertigem da
ansiedade.
Rosa afastou para o lado alguns galhos e fez um gesto para que T im
passasse por ali.
— O que vamos fazer agora? — perguntou.
— Vamos à feira! — respondeu Rosa.
T im se abaixou e passou por entre os arbustos. Saiu nos limites de
uma pradaria, uma pradaria cheia de paisagens, sons e cheiros
surpreendentes.
Barraquinhas coloridas salpicavam o capim, e criaturas de todas as
descrições possíveis passeavam por entre elas. Mesas cobertas de
objetos, elfos com placas penduradas no corpo anunciando artigos e
goblins carregando bandejas cheias de objetos estranhos: tudo
competia pela atenção dos freqüentadores. Mesas de piquenique
rústicas estavam armadas, e uma grande churrasqueira cavada no chão
emitia enormes nuvens de fumaça com um cheiro delicioso.
Atendentes (com delicadas asas transparentes) iam com pressa de um
cliente a outro, enchendo e completando copos com líquidos
coloridos.
— Demais! — T im tentava olhar para todos os lugares ao mesmo
tempo, até concluir que ficaria com dor de cabeça se continuasse. Para
todo lugar para onde se virava, via uma cena de conto de fadas, uma
ilustração de livro de fantasia! .
— Ei, você aí! O rapazinho logo ali! Venha aqui!
T im se virou para ver quem o chamara. Encontrou uma barraquinha
com uma criatura estranha, felpuda, com a pele da cor de um talo de
trigo, abanando a mão magricela de dedos compridos. T im achou que
não haveria mal em dar uma olhada nos artigos da criatura. Sabia que
não devia comprar nada. Só estava dando uma olhada.
T im foi até a barraquinha. Ioiô desceu e pousou em seu ombro. Deu
tapinhas carinhosos nas garras do pássaro, sorrindo. Ioiô também
queria dar uma olhadinha.
Quando T im chegou mais perto, pôde ver que a criatura era bem
menor do que imaginava. T inha apenas 1,20 m de altura. As orelhas
pontudas atravessavam o cabelo prateado fino.
— T roco o desejo do fundo do seu coração por um ano da sua vida.
T im ficou olhando para a criatura. Devia estar brincando. Como é
que poderia estar se oferecendo para vender o desejo do fundo do
coração de alguém?
— Não? — A criatura deu tapinhas nas bochechas murchas. —
T roco pela sua voz, então. Ou pela cor dos seus olhos.
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T im teve que se segurar para não rir. Parecia tão... tão... absurdo.
Fantástico.
Bizarro. Como é que ele poderia entregar o azul de seus olhos? E
por que alguém ia querer aquilo? Quem iria imaginar que existia
mercado para essas coisas?
T im lembrou-se das instruções de Dr. Oculto, antes de se
transformar em Rosa: bons modos eram importantes.
— Não, muito obrigado — disse educadamente. — Mas agradeço
por ter pensado em mim.
Mas a criatura não desistia.
— Um dos seus dedos, então. Você tem dez dedinhos! — abanou a
mão para T im, que percebeu que a criatura fantástica só tinha quatro
dedos na mão. — Um só não vai fazer falta nenhuma. É o desejo do
fundo do seu coração que eu estou oferecendo, rapaz. Nada menos do
que isso. — A criatura suspirou, como se estivesse prestes a fazer um
enorme sacrifício. — T udo bem — resmungou —, dois dedos dos pés.
E seis meses da sua velhice pelo desejo do fundo do seu coração. E esta
é a minha oferta final.
— Não, obrigado. Mas muito obrigado mesmo, de qualquer forma.
Rosa caminhou até lá para se juntar a eles. A criatura a ignorou e
continuou a conversar com T im.
— Posso ver que você veio de muito longe, querido. Pronto. Deixe
eu lhe dar meu melhor frasco de suco de frutinhas silvestres para a sua
viagem.
Rosa falou antes que T im tivesse chance de responder.
— Agradecemos pela oferta, senhora, mas também a recusamos.
Então a criatura era mulher. Era difícil para T im ver a diferença.
— O garoto está sob a minha proteção — explicou Rosa. — Não
podemos nos divertir com o povo do Mundo das Fadas.
— Muito bem colocado — disse a criatura. — Desejo-lhes uma boa
viagem, e isto é de graça.
— Ei! — gritou T im quando Ioiô fez um movimento repentino.
Saiu voando de seu ombro, rodopiou no ar e mergulhou atrás dele.
— Sai daqui! — gritou uma pequena criatura ajoelhada atrás de T im.
Ioiô enfiou as garras na mão da criatura... a mão que estava
tentando alcançar o bolso de T im.
— O que está acontecendo? — perguntou Rosa.
A criatura congelou, e depois se jogou no chão.
— Esse pássaro de vocês me atacou. Exijo reparação.
T im ficou olhando para a criatura caída ao chão, gemendo de
agonia.
A criatura se contorcia e se lamentava, apertando a mão com força.
T im não fazia a menor idéia de qual tipo de ser que seria aquele. Não
se parecia com os elfos nem com as fadas que tinha visto em
desenhos, e certamente não se parecia com os gnomos do jardinzinho
acanhado do vizinho. Era pequena e magricela, porém forte, coberta
com uma pelagem amarelada. Usava apenas um colete de couro e uma
espécie de short com aparência medieval. Mas o que mais ajudou T im
a identificar a criatura foi a longa cauda que se debatia, levantando
poeira.
Uma pulseira estava jogada no chão ali perto.
— Aaaaaai — a criatura gemia. — Que animal mais horrível e
perigoso.
T em coragem de me atacar sem avisar! Não devia ficar solto por
aí!
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de 2010
de ninguém. Dr. Oculto (Rosa) tinha razão. Ele tinha que andar com
cuidado e seguir as regras naquele lugar.
Narigudo se contorceu todo para se levantar, puxando a calça de
Glory para ajudar no processo.
— Humm, Mestre Glory...
— Silêncio! — Glory fez um gesto com a mão.
Os olhos de T im se arregalaram em choque. A boca de Narigudo
desaparecera! Estava bem claro que Glory não estava brincando
quando queria que alguém calasse a boca. T im sabia que ia se lembrar
daquela informação também.
Glory abaixou-se para segurar Narigudo pelo ombro, como se
desconfiasse que a criatura fugiria correndo.
— Pena que a ação do Narigudo manchou a reputação da feira —
disse Glory a T im. — Você pode pedir reparação.
T im quase sentiu pena de Narigudo, mas se lembrou de que quase
tinha se tornado um criado daquele ser por setenta anos.
— Leve-nos até sua morada — ordenou Glory a Narigudo.
T im teve a sensação de que todo mundo estava olhando para eles
quando saíram da feira. Seguiram uma trilha estreita para dentro do
bosque e logo chegaram a uma pequena colina. Narigudo colocou para
o lado folhas e arbustos, revelando uma portinha de madeira. T irou
uma chave do bolso do colete, colocou na fechadura e abriu uma porta
para dentro da colina.
T im, Rosa e Glory precisaram se abaixar para passar pela portinha.
Lá dentro era bem apertado, e o lugar estava cheio de porcarias:
mobília quebrada, caixas, caixotes, estantes, troços e trecos. Um
fogãozinho, uma mesa e uma cadeira estavam arranjados em um
canto, e uma cama tinha sido cavada na parede suja, como um beliche.
O resto era só um monte de... coisas.
— Agora vejamos, Narigudo — ordenou Glory. — Você agiu mal
com o garoto e a coruja. Como guardião da feira, eis aqui o meu
veredicto. Cada um deles pode pegar, de graça e sem nenhuma outra
obrigação, um objeto da sua morada.
T im ergueu os olhos para Rosa.
— Posso? — perguntou. Queria assegurar-se de que era permitido
fazer aquilo. Já tinha aprendido que cada ato tinha conseqüências
surpreendentes no Mundo das Fadas.
— Pode.
Ioiô voou até um cabideiro que estava jogado perto da porta. Vários
colares e cachecóis estavam pendurados nele. A coruja pegou uma
corrente prateada com as garras e voou até Mestre Glory.
Mestre Glory assentiu com a cabeça, como se estivesse dando
permissão ao pássaro.
— Claro — disse a Ioiô. — Se é isso que você deseja. — Voltou-se
para T im. — Agora é sua vez, menino mortal.
T im não sabia o que pegar. A sala estava abarrotada de coisas
esquisitas.
Podia passar dias ali, explorando, examinando, descobrindo o que
era cada coisa, como funcionava. Mas sabia que não devia enrolar.
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Capítulo De z
Capítulo O nz e
T im suspirou. Será que não dava para se mexer sem ser ameaçado?
Será que todos os habitantes do Mundo das Fadas estavam atrás dele?
Aquele lugar parecia ainda mais perigoso do que o mundo dele, onde
todos aqueles praticantes de magia queriam matá-lo. Esse último, pelo
menos, seria um destino simples.
Ali, quem podia saber o que teria acontecido? Narigudo queria que
ele fosse seu criado durante setenta anos. O vendedor do “ desejo do
fundo do coração” queria os seus dedos ou a cor de seus olhos. Baba
Yaga queria cozinhá-lo.
Provavelmente, naquele mundo havia o mesmo número de destinos
que a quantidade de criaturas que existia para inventá-los. As mãos de
T im se fecharam em punhos e todo o seu corpo ficou tenso. Mas não
de medo. Não dessa vez.
Rosa colocou a mão no braço dele. Deve ter pressentido sua
decepção.
— Minha senhora — dirigiu-se à mulher verde. — Somos viajantes.
E é mister que sigamos este caminho a qualquer lugar que ele nos leve.
“ É mister?” T im apertou os olhos e observou Rosa. Ela tinha
começado a falar toda empolada. Deu de ombros. Devia ser assim que
gostavam de falar no Mundo das Fadas. Bem chique.
— Quem cavalga o vento deve ir aonde seu corcel conduz —
respondeu a mulher sobre o cavalo.
— Quem segue o caminho das estrelas deve caminhar em silêncio
— devolveu Rosa.
T im ficou só olhando, boquiaberto. Que diabo estava acontecendo?
Será que estavam conversando em código?
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Capítulo Doz e
T im ergueu os olhos.
— Foi isso que eu quis dizer. Normal. Chato. Mundano. Fui bem na
prova de sinônimos. Eu sabia que era uma dessas palavras.
— Não, T imothy — corrigiu Rosa, com delicadeza. Não tem nada a
ver com nenhuma dessas palavras. Não neste contexto.
— Por quê? O que ele tem de tão especial?
— Dentro desse ovo, está uma parte da criação que ainda não
nasceu — explicou Rosa. — Um dia, o ovo vai chocar, e um mundo
novinho em folha vai surgir dele. T odos os mundos saem de um Ovo
Mundano. E eles são muito valiosos. Seu valor é quase incalculável.
T im ficou olhando para o ovo que tinha na mão. Estava segurando
um universo inteiro?
— Vossa Majestade — Rosa se dirigiu a T itânia. — Peço que nos dê
a honra de aceitar o presente de T imothy.
T im estendeu o ovo para T itânia.
— Por favor?
— Não tenho escolha. Regras são regras — a rainha retirou o ovo
da mão de T im com cuidado. — Estranho. Eu achava que o último
Ovo Mundano já tinha chocado fazia muito tempo.
— Então a senhora aceita?
— Muito bem — respondeu T itânia, sem tirar os olhos do ovo. —
Podem ir... os dois.
Rosa pegou T im pelo braço e eles saíram do palácio. Do lado de
fora, encontraram o caminho e prosseguiram, com Ioiô sobrevoando
a cabeça deles de novo.
T itânia ficou observando o grupo que ia desaparecendo no bosque.
O falcão reapareceu lá em cima. Desceu voando em círculos para
pousar na cerca próxima a T itânia. Em segundos, o pássaro forte se
transformou em um homem. O cabelo comprido e liso era um pouco
mais claro que o de T im, e seu rosto era anguloso e magro.
T itânia virou-se para ele.
— Você estava certo a respeito do menino, T amlin — disse
T itânia, pensativa. — Ele é especial. Precisamos vigiá-lo.
Capítulo Catorz e
— Ah. Bom, parece não ter muita coisa para ver por aqui. — Olhou
para Mister Io. — Podemos voltar para o nosso tempo agora, então?
— Não. Vamos prosseguir.
Dessa vez foi Dr. Oculto que rompeu o silêncio tenso em Londres.
— Eles já não deviam ter voltado?
Fez-se uma pausa pesada.
— Já — o Estranho por fim admitiu.
— Algum problema? — questionou Constantine.
— T emo que sim — respondeu o Estranho. — Para mim, estão
perdidos.
Para onde quer que tenham ido, estão tão longe no futuro que eu
não consigo mais senti-los. E você, Dr. Oculto?
Dr. Oculto sacudiu a cabeça.
— Desapareceram completamente.
— Isto é ridículo! — explodiu Constantine. — O que você está
dizendo?
Que eles se mandaram para o futuro distante e você não pode fazer
nada para trazê-los de volta?
— Exato.
— Não dá para acreditar! Você confiou o T im para aquele louco?
Existem algas mais inteligentes do que você, colega.
— Eu cometi um erro. Já percebi. Peço desculpas.
Isso só deixou Constantine ainda mais bravo.
— Isso não vai trazer o T im de volta. Ele é só um garoto. Ele
confiou em nós para protegê-lo. Eu não...
— Acredito nisso — Dr. Oculto terminou a frase para ele. — Nós
sabemos.
E também sabemos que errar é humano.
Constantine olhou torto para o Estranho.
— Se ele é humano, então eu sou uma torradeira. — resmungou.
— Precisamos concentrar nossos esforços em trazê-los de volta —
disse o Estranho. — Essa discussão é inútil.
— Você não consegue entrar em contato com eles? — perguntou
Constantine. — Não existe nenhum deus ou demônio ou qualquer
outra coisa que você possa enviar para trazê-los de volta?
— Não. Mas você me deu uma idéia. Dr. Oculto, o pássaro pertence
ao T imothy.
— É mesmo! — Dr. Oculto pegou Ioiô de John. Olhando bem
fundo nos olhos amarelos do pássaro, falou com ele em tom assertivo.
— Ouça bem, ave noturna. T imothy, seu mestre, onde quer que esteja,
onde quer que possa estar, encontre-o. Proteja-o. Ajude-o.
— Inclinou a cabeça na direção do Estranho. — Amigo, conceda-
me força.
O Estranho assentiu com a cabeça.
— Constantine, conceda-me vontade. Juntos, vocês dois me
concederão confiança.
T odos se concentraram no pássaro mais um instante.
— Agora, vá! — instruiu Dr. Oculto.
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instante para chegar à frente dele, com uma mão em seu ombro e a
outra se erguendo cada vez mais. E então a estaca mergulhou.
Em Ioiô.
A coruja soltou um guincho, e só então T im percebeu o que tinha
acontecido. Ioiô tinha aparecido do nada e voado na frente dele, para
protegê-lo.
Ioiô tinha levado o golpe no lugar dele.
Sangue e penas voaram por todos os lados e Ioiô desapareceu...
Simplesmente desapareceu. T im agarrou a estaca ensangüentada que
flutuava no espaço à sua frente, e jogou a arma de madeira na direção
de Mister Io, derrubando seus óculos escuros.
T im se sentiu seu estômago ficar embrulhado por causa do sangue e
do sacrifício de Ioiô. E então, no lugar dos olhos, órbitas vazias do
rosto contorcido de Mister Io encararam T im. Ele se dobrou em dois,
respirando com dificuldade.
— Você não compreende como pode ser poderoso — Mister Io
disse. — Eu consigo enxergar você, garoto. Você brilha como um
feixe de luz na escuridão.
Não preciso de olhos para encontrar você. E não preciso de arma.
Posso usar as mãos.
T im sentiu mãos fortes em torno de seu pescoço. Estava difícil
respirar.
Puxou os dedos de Mister Io, tentando desesperadamente tirá-los de
sua garganta.
Achou que não ia durar mais muito tempo. Aquele homem era tão
forte...
— Pare com isso! — uma voz ordenou da escuridão. Mister Io se
afastou aos tropeções, como se algo o tivesse arrancado de T im.
T im viu um homem estranho, usando uma capa escura com capuz,
flutuando na direção deles. “ O que é agora?” Esfregou a garganta,
engolindo algumas vezes, e inspirou grandes quantidades de ar.
— Não é nem adequado nem apropriado comportar-se dessa
maneira no fim das coisas.
O homem encapuzado agora estava ao lado deles. Apareceu um atril
com um livro grosso em cima. “ Será que aquilo estava ali o tempo
todo?”, T im se perguntou.
— Você é T imothy Hunter — disse o homem. — E você é...?
— Eu me chamo Mister Io.
— Notável. Nenhum de vocês está no meu livro. Um instante.
Consultou o grande livro sobre o atril.
— Ah, sim. Há uma nota de rodapé a esse respeito. Quase esqueci.
Vocês estão muito distantes de seu tempo, mortais.
Uma mulher bonita, de cabelo escuro, apareceu atrás do homem.
— Oi, irmão. — Ela estava toda vestida de preto, e usava muitas
pulseiras e colares. T im achou que parecia o tipo de moça que também
teria tatuagem e piercing no umbigo. Igual à garota gótica que ele
conhecia do conjunto habitacional de Londres. Ela parecia um pouco
mais nova do que Zatanna. O que será que estava fazendo ali? —
Oi,vocês dois.
A cabeça de T im estava confusa. Por que eles estavam ali, flutuando
no espaço, conversando como se alguém estivesse perguntando como
chegar ao aeroporto, sendo que apenas alguns minutos antes Mister Io
tinha tentado matá-
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Capítulo Q uinz e
T im estendeu o Ioiô.
— Você não pode trazê-lo de volta?
Dr. Oculto pareceu triste, e sacudiu a cabeça.
— Não.
— Ah. — T im guardou o Ioiô de novo no bolso e limpou a
garganta. Olhou para os três. — Então, eu voltei. Já fui até o fim dos
tempos e voltei.
— T imothy, você viu o que nós lhe mostramos — disse o
Estranho. — Você viu o passado, conheceu diversos praticantes atuais
da arte. T eve um vislumbre dos mundos que podem tocar o seu. Viu o
início e viu o fim. Agora, a decisão é sua.
T im trocou o peso do corpo de perna. Sabia que iam perguntar qual
era a decisão dele a certa altura, mas não achou que seria tão rápido.
T inha acabado de voltar. Nem havia tido tempo para pensar.
— Se você escolher a magia, nunca mais vai poder retomar a vida
que viveu no passado — lembrou o Estranho. — Seu mundo pode ficar
mais...
movimentado. Mas também será mais perigoso e menos confiável.
E, quando você começar a percorrer o caminho da magia, nunca mais
vai poder sair dele. — O Estranho fez uma pausa, para permitir que
T im absorvesse aquilo tudo. — Ou então você pode escolher o
caminho da racionalidade — prosseguiu. — Viver no mundo normal.
Morrer uma morte normal. É menos agitado, mas é mais seguro.
A escolha é sua.
Como ele poderia escolher? T im sentia-se frio da sola dos pés até a
ponta dos cabelos, completamente gelado. A sensação era parecida
com medo... só que mais profunda, mais no tutano do que nos ossos.
— Não dá! — despejou. Ficou olhando para os pés. — Desculpem.
Aprecio muito o que vocês fizeram por mim. E por todas as coisas que
eu vi. T udo aquilo.
Mas aprendi muitas coisas.
Enfiou as mãos nos bolsos e jogou o peso do corpo nos calcanhares.
Não tinha coragem de encará-los.
— A principal coisa que aprendi é que tudo tem um preço. Quer
dizer, a gente pode conseguir tudo o que quiser, mas precisa pagar o
preço. Como o Merlin disse. E eu não quero pagar o preço. Eu... eu
estou com medo.
Inspirou profundamente e finalmente ergueu os olhos para encará-
los.
— Desculpem. Vocês estão bravos?
— A escolha é sua, T imothy — garantiu o Estranho. — Sempre e
eternamente sua. Não é nosso papel aprovar ou não.
— Adeus — disse Dr. Oculto.
— Até mais, garoto — disse John Constantine.
— T chau — balbuciou T im. Olhou para os pés de novo. Quando
ergueu os olhos de novo, a Brigada dos Encapotados tinha
desaparecido. Ele tinha ficado sozinho na rua deserta e chuvosa, de
volta a seu bairro, de volta a seu antigo mundo. De volta a Londres.
De volta à realidade.
— Esperem! — T im gritou. — Não foi isso que eu quis dizer! Eu
quero!
Quero sim! Eu... — A voz dele foi ficando baixinha conforme foi
percebendo o que tinha feito. E já era tarde demais para voltar atrás.
Epílogo