Estruturas Gramaticais Do Português de Moçambique
Estruturas Gramaticais Do Português de Moçambique
Estruturas Gramaticais Do Português de Moçambique
PANORAMA
do PORTUGUÊS ORAL
de MAPUTO
VOLUME III
ESTRUTURAS GRAMATICAIS DO
PORTUGUÊS
PROBLEMAS E APLICAÇÕES
Cadernos de Pesquisa nº 27
MOÇAMBIQUE
Ficha Técnica
Edição: INDE
Capa: Cristina Castro
Composição: Autores, Ângelo Jorge
Arranjo gráfico: Ângelo Jorge
Registo do INLD:
Copyright: INDE, autores
Impressão: Imprensa Universitária, 1998
Tiragem: 750 exemplares
2
O INDE procura através dos Cadernos de pesquisa disseminar
os resultados de investigação em curso e encorajar a troca de
ideias entre os seus investigadores e outros profissionais de
educação interessados no desenvolvimento da educação em
Moçambique.
3
SUMÁRIO
Prefácio ......................................................................................................6
Perpétua Gonçalves e Christopher Stroud
I – Artigos .............................................................................................39
II – Pronomes indefinidos ....................................................................50
III – Pronomes pessoais ......................................................................58
IV – Orações integrantes......................................................................86
V – Orações relativas ...........................................................................96
VI – Concordância nominal ................................................................106
VII – Concordância verbal ..................................................................122
VIII – Concordância das formas de tratamento da 2.ª pessoa..........136
4
5
PREFÁCIO
Perpétua Gonçalves e Christopher Stroud
1
Kennedy, G. (1987). Quantification and the Use of English: a Case Study of One
Aspect of the Learner’s Task. Applied Linguistics, 8 (3): 264-286.
Holmes, J. (1988). Doubt and Certainty in ESL Textbooks. Applied Linguistics, 9 (1):
21-44.
6
as estruturas com mais probabilidade de ocorrer na linguagem
corrente (cf. Kennedy, 1987)2. Este objectivo só pode ser alcançado
se for possível dispor de amostras representativas da língua da
comunidade a que se destinam os materiais de ensino.
Uma das maiores aplicações de um corpus é exactamente
disponibilizar exemplos da língua da vida real que os aprendentes
têm à sua volta, fornecendo indicações sobre a distribuição e
frequência dos items lexicais, informação crucial para estabelecer
prioridades relativamente às estruturas gramaticais ou significados
lexicais a incluir nos materiais de ensino de língua.
Um corpus permite conhecer os contextos apropriados em
que são usadas as palavras e as estruturas gramaticais, revelando
não só o léxico e os significados dos itens linguísticos, mas também
as relações sintagmáticas entre as palavras (“collocations”), os
contextos em que estas ocorrem (“concordances”), e os aspectos
pragmáticos do uso da língua. “Todas as palavras têm a sua própria
gramática” (Sinclair, 1991)3, e este tipo de informação não está
disponível através de introspecção ou teorizações de gabinete.
Em última instância, um corpus dá acesso a dados
linguísticos que não podem ser manipulados através da
introspecção, e isto é particularmente válido para casos de variação
linguística, social ou regional, que só podem ser captados através
de amostras de língua representativas dos grupos ou regiões em
que são produzidos.
Na perspectiva da didáctica de línguas, o recurso a amostras
da língua real permite que os materiais de ensino sejam de alguma
forma familiares aos aprendentes, contribuindo desta forma para
um uso idiomático e idêntico ao dos falantes nativos (“native-like”),
no sentido de estarem de acordo com a língua de todos os dias, e
não com uma norma ideal. Este aspecto é particularmente relevante
no contexto da sociedade moçambicana, na qual a predominância
2
Vide Nota 1, para a referência bibliográfica.
3
Sinclair, J. (1991). Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford University
Press.
7
de variedades não padronizadas torna mais premente a necessidade
de dispor de informação sobre as suas propriedades, de forma a
que a linguagem dos livros tenha um formato mais familiar aos
aprendentes, do ponto de vista sociolinguístico e cultural. As
diferenças entre a língua real e a língua usada nos materiais
escolares, muitas vezes literária e descontextualizada, podem ser
altamente problemáticas nas zonas rurais, onde as crianças só
ouvem variedades informais do Português, podendo surgir
dificuldades adicionais se os textos escolares apenas lhes
oferecerem um registo de língua com o qual não estão
familiarizadas. Como ressaltam Hyltenstam & Stroud (1993)4, os
próprios professores primários experimentam uma grande
ansiedade e insegurança linguística, uma vez que a sua variedade
de Português é diferente daquela que aparece nos livros oficiais, e
que é vista como a norma a ser ensinada: os professores são assim
forçados a desempenhar o papel de modelos “letrados” de uma
variedade de língua na qual não se sentem confortáveis.
Esta foi a perspectiva que conduziu a recolha do corpus do
PPOM, concebido e estruturado tendo em mente as necessidade
educativas de Moçambique, onde os aprendentes de Português são
em geral falantes de línguas bantu que aprendem a língua ex-
colonial, tornada a língua oficial depois da independência, numa
comunidade multilingue. Assim, ao entrar para a escola, a maioria
das crianças tem não só de aprender o Português/L2 como tem de
“aprender a ler e escrever nesta língua, e, bastante cedo na sua
escolarização, exige-se que usem esta língua como ferramenta de
aprendizagem da matéria de ensino” (Hyltenstam & Stroud,
1993:75). No momento presente, enquanto não forem
implementadas a nível nacional metodologias de ensino bilingue, os
materiais de ensino do Português têm de cumprir o “importante e
difícil papel de fornecer simultaneamente apoio adequado à
4
Hyltenstam, K., & Stroud, C. (1997) Relatório Final e Recomendações da
Avaliação de Materiais de Ensino para o 1º Grau do Ensino Primário em Moçambique.
II - Questões Linguísticas. Maputo: Instituto Nacional para o Desenvolvimento da
Educação, Cadernos de Pesquisa nº 12.
8
aquisição da língua e das habilidades literárias por parte das
crianças aprendentes” (Idem:76).
Entre as numerosas aplicações educacionais do PPOM, está a
contribuição para a elaboração de programas de ensino de língua e
de formação de professores que tenham em consideração
dimensões como: se uma certa estrutura é rara ou comum, fácil ou
problemática, resultado de estratégias de aprendizagem de uma L2,
ou produto de influência do substrato linguístico bantu. De uma
perspectiva mais ampla, considera-se que esta amostra do
Português de Moçambique contribui para uma reflexão sobre
ideologias alternativas de ensino de língua, e pode igualmente
ajudar a definir uma política linguística, mais bem fundamentada.
9
e sobre as possibilidades de as instituições educacionais
beneficiarem do conhecimento do uso real da língua. Com os
estudos contidos neste volume, procura-se que, para além de
mostrarem a relevância de algumas variáveis sociais na variação
linguística, permitam avaliar criticamente os programas de ensino,
forneçam informação útil para a produção de discursos
pedagógicos mais adequados às línguas em geral e ao Português
em particular, e ajudem os profissionais da educação a avaliar
criticamente hipóteses sobre metodologias de ensino.
Nos próximos volumes, mantendo como principal objectivo
promover o desenvolvimento de metodologias de ensino do
Português culturalmente integradas no contexto moçambicano,
serão divulgadas bases parciais de dados do corpus, organizadas de
acordo com diferentes perspectivas linguísticas: sintáctica e morfo-
sintáctica, semântica e lexical. Através destas bases de dados,
torna-se possível estabelecer uma “ecologia linguística” (Kennedy,
1991)5 dos diferentes itens lexicais do Português, permitindo
implementar práticas pedagógicas em que fique reduzida a
arbitrariedade das intuições dos planificadores da educação,
aumentando assim a fiabilidade das decisões linguísticas e a
capacidade de predizer qual a informação pedagogicamente
significativa.
No primeiro volume desta nova série, o volume III, Estruturas
Gramaticais do Português: Problemas e Aplicações, estão
arquivados dados sobre os fenómenos sintácticos e morfo-
sintácticos em que o Português de Moçambique apresenta desvios
mais sistemáticos relativamente à norma europeia. Os dados
incluídos neste volume são assim parte de uma gramática baseada
na observação (cf. AARTS (1991)6, ‘observation-based grammar’) em
oposição a uma gramática baseada na intuição, que não dá conta
5
Kennedy, G. (1991). Between and through: the company they keep and the
function they serve. In Ajmer, K., & Altenberg, B. (Eds.) English Corpus Linguistics, pp.
95-110. Londres: Longman.
6
Aarts, J. (1991). Intuition-based and observation-based grammars. In Ajmer, K.,
& Altenberg, B. (Eds.) English Corpus Linguistics, pp.44-62. Londres: Longman.
10
do que acontece, a nível gramatical, no uso real da língua. Tendo
em vista a utilização “didáctica” destes materiais, o volume contém
igualmente sugestões de exercícios gramaticais sobre as áreas
identificadas como problemáticas. A inclusão destes diferentes
tipos de exercícios constitui um exemplo prático das aplicações
possíveis dos dados contidos no volume.
O volume IV, Vocabulário Básico do Português: Espaço,
Tempo, Quantidade, contém uma base de dados sobre categorias
semânticas consideradas essenciais na comunicação. Estas
categorias são realizadas linguisticamente através de um amplo e
complexo leque de formas lexicais e gramaticais, representando por
essa razão um desafio não só para a teoria semântica, mas também
para as gramáticas descritivas e pedagógicas. Tendo em vista uma
abordagem semântica do ensino de língua, neste volume, fornece-
se uma amostragem significativa dos itens lexicais do Português
que exprimem as diversas noções incluídas em cada categoria
semântica, apresentando o contexto sintáctico que determina o seu
significado específico. Através desta metodologia de apresentação
dos dados, torna-se possível o acesso a informação sobre a
expressão das diferentes categorias semânticas no contexto
específico do discurso produzido por falantes moçambicanos de
Português.
O volume V, Vocabulário Básico do Português: Dicionário de
Regências, contém um vasto número de itens lexicais cujo
comportamento sintáctico diverge da norma europeia. Assim, para
cada entrada lexical são estabelecidos os padrões sintácticos que
admitem, fornecendo-se os diversos contextos em que ocorrem.
Com este tipo de dados, pretende-se dar acesso a especificidades
do léxico do Português de Moçambique, não tanto a nível de
neologismos lexicais – área em que as realizações dos informantes
apresentam ainda carácter disperso – mas a nível de novas
propriedades lexicais de itens já existentes na variedade europeia.
Na maior parte dos casos, trata-se de vocabulário básico da
comunicação corrente, donde a importância destes materiais para
uso educacional. O volume contém igualmente sugestões de
11
exercícios práticos destinados a consolidar o estabelecimento dos
padrões sintácticos definidos pelos itens incluídos no dicionário de
regências.
12
FUNDAMENTOS SOCIOPOLÍTICOS E EDUCACIONAIS
PARA O ENSINO DA GRAMÁTICA
Christopher Stroud
1. INTRODUÇÃO
13
desenvolvimento da língua, e nessa base sugerir estratégias
específicas de aprendizagem para casos individuais de crianças com
diferentes tipos de problemas. Existe também um corpo substancial
de pesquisa nova que mostra, convincentemente, que centrar-se na
forma também se revela pedagogicamente eficaz.
Uma posição complementar sobre a língua vê-a como um
processo social, uma forma de acção social intimamente ligada às
preocupações do quotidiano – uma semiótica, servidora importante
de processos sociais, uma vez que a língua é ao mesmo tempo
formada por, e formadora de acções e relações sociais, e
instituições. Como uma instituição social, as formas da língua
englobam uma vasta gama de variação cultural e social da
comunidade do discurso. A partir desta perspectiva alternativa
socialmente mais rica, a gramática é vista adequadamente como um
recurso semiótico na articulação de "vozes" diferentes. Isto significa
que devemos olhar seriamente para a diversidade gramatical e seus
fundamentos sociais numa visão formal das necessidades da língua
a serem contextualizadas na realidade social em que aparecem. Esta
perspectiva é tratada no presente volume relativamente à forma
como o Português é descrito.
A preocupação do presente volume é de fornecer aos
professores os meios de que eles necessitam para desenvolver
instrumentos para controlar e reflectir no seu próprio uso da língua,
bem como no uso da língua pelos estudantes em contextos
específicos. Apresentamos uma visão da língua num formato
tradicional como uma estrutura formal. A importância e novidade
do nosso trabalho não reside tanto na abordagem que fazemos da
nossa gramática da frase, mas mais na forma como as descrições
gramaticais e exercícios para uso pedagógico aí contidos tiram
vantagem e utilizam comparações explícitas entre o Português de
Moçambique e o Português europeu.
O trabalho por detrás deste terceiro volume de estudos do
PPOM envolveu uma tomada de posição sobre uma série de
assuntos bastante sensíveis e por vezes até muito discutidos, sobre
o ensino da língua. Estes tocam em aspectos tais como: que
variedade ensinar, se se deve ensinar a gramática formal, e que
formato utilizar na apresentação de dados sobre a língua. Cada uma
destas questões apareceu de forma proeminente nas decisões
quotidianas que a equipa do PPOM tomou. A primeira parte deste
14
documento apresenta uma informação breve sobre as
considerações que precisam de ser feitas na escolha da variedade
da língua-alvo a ensinar. Na secção 2, discutem-se resumidamente
diferentes formas de abordar o ensino da língua, e considera-se
especificamente a questão relativa ao contributo que o enfoque
sobre a forma pode dar ao processo de aprendizagem da língua. Na
secção 3, trata-se da questão do formato a utilizar para ensinar a
forma linguística. Aqui, apresentamos algumas razões para a
escolha de uma gramática prescritiva baseada na frase, construída
de acordo com "princípios bidialectais", que se centra em pontos de
contraste e semelhança entre o Português de Moçambique e o
Português europeu. A quarta e última parte apresenta um breve
resumo geral.
15
colonial). Falar Português liga os seus falantes a redes globais ou
transnacionais com que a língua está associada, ao mesmo tempo
que transforma a língua em várias formas de expressar os seus
próprios significados. Muitos aspectos de como os moçambicanos
modernos estão a gerir processos transnacionais de formação de
identidade aparecem na actual nativização/indigenização do
Português. Uma noção sociolinguística importante que capta este
aspecto essencial do "sincretismo" de identidades encontrado na
apropriação do Português é a noção de Bakhtin (1981) de
dialogismo:
16
parcialmente em contraste com isto, que um alargamento
apressado do padrão tal como propõe Parakrama, não é
actualmente uma opção viável em Moçambique. A situação
sociolinguística prevista por Crick e Wade em relação ao ISAN em
que ocorre uma elevação das normas populares a variantes de
prestígio não é ainda acessível. De facto, as formas nativizadas do
Português de Moçambique, que se afastam do padrão normativo
sancionado oficialmente, depois de terem gozado de um curto
"renascimento" na retórica política imediatamente após a
independência, nos anos 80 (ver Stroud, no prelo) não mais são
consideradas legítimas em arenas oficiais ou locais de poder. Os
desenvolvimentos actuais parecem mover-se na direcção oposta. A
pesquisa em curso na Universidade Eduardo Mondlane no âmbito do
projecto Práticas Linguísticas e Mudança Social numa Comunidade
em Desenvolvimento: o caso de Moçambique (apoiado pelo SAREC)
mostra que formas não padrão de Português são percebidas como
altamente estigmatizadas. Depois de terem sido consideradas
marcas gerais de um falante de L2, elas são agora tomadas como
indicadoras de facções socio-económicas emergentes na
comunidade.
Por outras palavras, as implicações da visão normativa padrão
da gramática reflectem-se muito para além das paredes das salas de
aula de língua. A priori, uma razão importante para se ensinar a
norma padrão é precisamente o facto de ser o padrão, e uma forma
valorizada da língua; sem o conhecimento e domínio desta
gramática nenhuma criança será capaz de se integrar na sociedade.
Tal como Goke-Pariola faz menção para o Inglês na Nigéria,
17
permite que se obtenha o equivalente ao que é obtido através da
força (quer seja física ou económica). (1991:170)
18
a norma para a língua falada – a ortografia padrão codifica a sua
pronúncia correcta. O facto de não se ter ainda chegado a um
acordo sobre este tipo de questão da língua na educação poderá ser
uma razão pela qual apesar das mudanças nas abordagens e
tecnologias relativas à aprendizagem e trabalho correctivo na sala
de aula, continuamos a ver reproduzidos padrões familiares
escolásticos de sucesso e de insucesso, juntamente com padrões de
raça-etnicidade, classe social, género e antecedentes linguísticos"
(Lankshear, 1996:1-2). De certeza que, havendo falhas no domínio
da língua de ensino, há "quase seguramente conivência com as
desigualdades do sistema social, precisamente à custa daqueles
cujas vozes estão fora dos curricula educacionais". (idem: 404).
19
entrar num programa de língua. As posições em relação a esta
questão vão desde o ponto de vista de que um centrar na forma
implica um compromisso preliminar com a negociação do
significado (por exemplo, Long & Robinson, 1998) até ao ponto de
vista em que a reflexão metalinguística, ou a discussão explícita do
conhecimento da gramática pelos alunos é defendida com um
instrumento central no ensino (por exemplo, Harley, 1998). O ponto
de situação é adequadamente resumido nas palavras seguintes:
Não existe, até agora, e talvez nunca venha a existir, uma única
solução para o problema intrigante de como aumentar o enfoque
na forma em aulas de comunicação... o modo ideal de estabelecer
o enfoque na forma está ainda por determinar. (Doughty and
Williams, 1998: 11)
20
exigência de acessibilidade, precisão e clareza. Isto é muitas vezes
interpretado como sendo equivalente a retirar a língua do seu
contexto cultural e social de produção. Em contraste com esta
afirmação, a gramática apresentada neste volume é construída à
volta do corpus de Português falado, PPOM, e contém uma riqueza
de informação tanto sobre o contexto linguístico como sobre o não
linguístico. Isto confere-lhe algumas vantagens especiais em relação
a gramáticas de frase tradicionais, que se baseiam numa linguagem
escrita descontextualizada. Assim, embora o corpus em si seja
neutro em relação à perspectiva quer pedagógica quer descritiva, o
seu formato permite formas mais inovadoras de abordagem de
questões problemáticas, do que as gramáticas de frase meramente
formais.
21
descontextualizado. Ocasionalmente, o princípio ou regra em
questão é exemplificado em frases, que muito provavelmente serão
produto da invenção dos gramáticos – o produto de liberdades
poéticas – nunca tendo sido usadas por alguém numa situação
concreta de comunicação. Os exemplos que se seguem, extraídos
dos livros de Português do ensino básico do Sistema Nacional de
Educação, ilustram bem as necessárias consequências que isto
envolve:
- A minha prima já foi a Cabo Delgado, mas eu ainda não fui. (4ª
classe, p. 63)
22
23
3.2. As características desta gramática
24
that (aquilo, aquele/a) fazem parte do conjunto a partir do qual o
falante deve escolher nas conversas reais, mais do que os dois
conjuntos de oposições abstractas e normalmente ensinadas em
que o it é tratado entre os pronomes pessoais, e this, that, these e
those são referidos como demonstrativos. De um modo geral, as
escolhas são feitas a partir de conjuntos de itens muito mais
pequenos do que os paradigmas gramaticais apresentam.
Conforme foi mencionado, os nossos materiais incluem dados
representativos da língua falada, o Português falado em Maputo, e
contêm apenas dados autênticos de grande frequência. Os itens
escolhidos para serem aqui incluídos foram produzidos por um
número significativo de informantes, o que assegura que eles têm
uma ampla distribuição. A frequência de cada item é também
grande, o que testemunha a regularidade e sistematicidade do
fenómeno investigado. (Por outras palavras, os itens apresentados
não podem ser considerados como provenientes de falta de
atenção, lapsos de língua, etc.)1. Isto significa que os itens
escolhidos para inclusão nesta gramática espelham, de facto, as
distinções e escolhas que foram feitas por falantes reais.
Em segundo lugar, o facto de as expressões ocorrerem
sempre num contexto, linguístico ou outro, significa que as
expressões da vida real são dialógicas, não monológicas. Hopper e
Thompson (1993) captaram isto dizendo que a gramática é o
sedimento de práticas conversacionais. Cumming e Ono (1997)
argumentam que a "gramática tem origem em padrões recorrentes
de discurso e estes padrões dão-lhe continuamente forma". Por
outras palavras, todas as expressões respondem de alguma forma a
outras expressões que ocorreram, ou que o falante prevê
1
Outros factores de carácter mais organizacional contribuíram para a escolha dos
itens incluídos no presente volume. Por exemplo, fenómenos que foram tratados no
volume II (frases concessivas ou comparação de adjectivos) ou que serão tratados no
volume IV (subcategorização verbal) foram omitidos neste volume, para se evitar a
repetição. Naturalmente, existem outras limitações nestes dados. Alguns fenómenos
(incluídos na rúbrica geral de "dispersos") não ocorrem com nenhuma frequência no
corpus e, embora mencionados, não foram portanto objecto de um tratamento
gramatical extensivo nos materiais deste volume. Isto não significa que eles não
sejam problemáticos para os moçambicanos falantes/aprendentes de Português.
Poderá, pelo contrário, significar que os aprendentes evitam utilizar estas estruturas
para não cometerem erros. (frases relativas introduzidas por qual constituem
exemplo disto).
25
antecipadamente que ocorrerão no decurso de uma interacção. Isto
determina a forma como os falantes escolheram construir as suas
frases. Os falantes devem decidir, por exemplo, até que ponto uma
coisa ou um processo acerca do qual se fala numa frase – um
referente – é conhecido por todas as partes numa comunicação.
Caso o referente não seja familiar aos outros intervenientes, o
falante deverá ter o cuidado de o introduzir e descrever, e isto
poderá exigir a construção de um certo tipo de sintagma nominal.
Para se dar seguimento a isto, introduzem-se pronomes anafóricos
ou frases relativas, que são familiares aos intervenientes, e que
podem ser subsequentemente utilizados no resto da conversação.
Um exemplo de Hughes e McHarthy (1998), que ilustra como
as escolhas gramaticais são sensíveis ao contexto e interacção, é o
diálogo seguinte entre um médico e seu paciente2:
Paciente: Mm...
2
Doctor: Okay. So the same pharmaco-dynamics is going on with every
medicine you take virtually.
Patient: Mm...
Doctor: But no that really isn't a problem. Okay. You can sometimes in the
first week find your, your complexion, your skin's a bit more spotty.
Patient: /wails/ Agh. Oh, I don't want that.
Doctor: That's the only risk though.
Patient: Just for the first week?
Doctor: Yeah, usually it's not a long-term problem. Again, this is, initially
tends to be an early thing which will settle itself down.
26
Médico: Sim, isso (it) não é um problema que dure muito tempo. Mais
uma vez, isso (this) é, tende a ser uma coisa que aparece no
princípio, que depois desaparece por si só.
27
objectivos sociais e/ou as funções discursivas que esta forma pode
desempenhar3.
O corpus do PPOM está numa situação ideal para se examinar
formas diferentes de falar como reflexos ou articulações de
posições materiais e sociais, e de género, que fornecem materiais
com os quais se pode explorar a articulação linguística entre
diferentes valores sociais e os meios formais através dos quais isto
se realiza. Deste modo, o corpus apreende algo da realidade social
dos seus falantes e proporciona um forum em que se reconhece a
legitimidade de formas diferentes de falar. Em resumo, o corpus
contém materiais que incorporam experiências vividas pelos
membros da comunidade, articuladas através da variação da
linguagem. No actual contexto, isto significa que nós centramos e
orientamos a gramática contida neste volume para as preocupações
e problemas reais do falante de língua bantu com características
contextuais e sociais específicas, que aprende o Português ao
mesmo tempo que efectua a sua interacção diária.
3
Na medida em que factores sociais aparecem em contextos pedagógicos, estes
são considerados apenas como variáveis com impacto no processo universal de
aprendizagem para acelerar, atrasar ou arrastar uma progressão de aprendizagem
universal (para uma análise um pouco mais crítica disto, a partir deste ponto de vista,
embora com modificações, ver Stroud (1997a), que também se ocupa das
contribuições contextuais para padrões "aquisitivos").
28
prático – bem como entre os cânones pedagógicos da área. O
formato que escolhemos deve ser visto como uma forma de
compromisso entre estes critérios.
De um ponto de vista político, existe um fundamento teórico
interessante para a comparação de formas padrão e formas não
padrão da língua. Parakrama (1996), referindo-se ao Inglês do Sri-
Lanka, vê a utilização da língua não padrão como um dos meios
mais acessíveis de resistência natural à dominação colonial e neo-
colonial. Este autor caracteriza o uso de variedades não padrão das
línguas metropolitanas como um projecto intervencionista em que
os falantes confrontam os significados e normas hegemónicos (ou
ideologicamente dominantes) dos dialectos padrão "através de
significados alternativos e anti-normas" (Kandiah, 1995). Outros
autores propõem ideias semelhantes. Escrevendo sobre a África do
Sul, Ndebele afirma que as sensibilidades das comunidades
urbanizadas, chamadas "destribalizadas", implicam que a língua e o
ensino da língua precisa de ser "renovado", tanto no vocabulário
como na estrutura gramatical para estar de acordo com os
"fundamentos enraizados na experiência das próprias pessoas". Ao
preparar os exercícios para estes materiais, poderemos capitalizar
este tipo de ideologia de significados e normas alternativas.
Profissionalmente, esta gramática tenta fornecer a primeira
comparação pormenorizada e explícita entre o Português de
Moçambique e o Português europeu. Os exercícios não são práticas
descontextualizadas que apenas promovem a língua-alvo padrão,
como é o caso de gramáticas tradicionais da língua padrão, mas
uma tentativa de dar uma explicação sistemática das diferenças
gramaticais entre as duas variedades.
De um ponto de vista prático, o formato dos exercícios tem a
vantagem de ser familiar à maioria dos leitores. Para além disso, os
exercícios fornecem um formato adequado, que de facto se presta a
diferentes tipos de abordagem e utilização. Eles podem ser
utilizados para se trabalhar conceitos e explicações gramaticais, e
podem apoiar os professores e os instrutores a dar uma forma,
(re)identificar e compreender os fenómenos linguísticos. As
experiências já realizadas de utilização dos corpora para o ensino
da linguística têm mostrado que os alunos que trabalharam com
material autêntico são mais capazes de fazer análises gramaticais
de expressões complexas e "menos apropriadas" que pululam o
29
mundo real. Este tipo de exercícios pode simultaneamente
"sintonizar" a percepção dos professores com a produção de uma
série de variedades do Português falado. Por outras palavras, tal
como acontece com a própria descrição gramatical, a apresentação
de dados neste volume constitui um compromisso sério, moderado
e equilibrado em muitas questões controversas sobre norma,
tradição e práticas metodológicas. Eles acomodam assunções
existentes sobre a natureza da língua, e tentam apoiar-se no que os
professores pensam que é importante, e na forma como estão
habituados a trabalhar com as línguas.
De um ponto de vista pedagógico, os exercícios promovem a
ideia de que o método mais eficaz de aprender formas padrão da
língua é os alunos compararem as suas próprias variedades com as
variedades do Português padrão. A linguista brasileira Bortoni
(1992) referiu-se a isto como abordagem bidialectal. Um exemplo
de um resultado possível deste tipo de trabalho é dado por
Anderson e Irvine (1993), que descrevem o confronto para fins
correctivos, entre falantes de dialecto crioulo das West Indian e o
Inglês padrão. Os autores referem que:
30
5. CONCLUSÃO GERAL
31
da forma da língua na expressão de diferentes posições de
interesse, e os modos como estas formas são determinadas pela
maneira como são usadas. A forma como a gramática tradicional de
frase utiliza exemplos isolados e artificiais não reflecte este facto
absolutamente básico acerca da língua.
Nos próximos volumes, vamos explorar o tratamento do
Português falado em Maputo mais baseado no discurso. Os
materiais do PPOM são orientados para o discurso ou textos mais
do que para frases simples, compreendendo registos autênticos de
expressões produzidas no espaço e no tempo por actores, homens
ou mulheres, socialmente contextualizados e historicamente
posicionados com um objectivo claro, semântico e/ou intencional.
Mais especificamente, os materiais do corpus compreendem
expressões transcritas e codificadas de estilos de discurso formal e
informal, registados a partir de igual número de falantes mulheres e
homens de Português de diversos "graus" de competência, com
diferentes línguas maternas, antecedentes sociais, distribuição
etária, e de diferentes bairros da zona residencial urbana de
Maputo. Existe informação sobre o nível de escolaridade e profissão
relativamente a todos os informantes. Para alguns informantes, a
informação sobre as características da rede social relevantes para a
língua foi organizada em tabelas (ver Tuzine, 1996). Diferentemente
das gramáticas tradicionais, isto significa que existe a possibilidade
de as estruturas gramaticais dos materiais do PPOM serem
relacionadas com o seu contexto de produção linguístico e
interaccional.
Embora este volume não forneça grandes estratégias e
soluções, dá de facto uma oportunidade para reflectidamente se
iniciar uma análise aberta e um questionamento com base em
dados linguísticos.
32
BIBLIOGRAFIA
33
Hopper, P. J. and Thompson, S. (1993). Language universais,
discourse pragmatics and semantics. In Language Sciences, 15, 357-
376.
34
Tuzine, A. (1996). Aplicação do Conceito de Rede Social ("Social
Network") na Análise de Fenómenos de Variação Linguística no
Português Oral de Maputo: O Caso da Oração Subordinada
Relativa. Tese de Licenciatura. Maputo: Universidade Pedagógica,
Faculdade de Línguas (não publicado).
35
ESTRUTURAS GRAMATICAIS DO PORTUGUÊS:
PROBLEMAS E EXERCÍCIOS
1
Responsáveis pelas secções 1 a 3 de cada item gramatical.
2
Responsáveis pela secção 4 da cada item gramatical, e pela Guia de Correcção
dos Exercícios.
36
das estruturas gramaticais envolvidas. Assim, os exercícios têm os
seguintes objectivos:
- auxiliar os professores de Português no ensino da
gramática, e mais particularmente, na resolução das “dificuldades”
dos aprendentes de Português/L2 inseridos no contexto
moçambicano;
- permitir que os aprendentes de Português em Moçambique
tenham acesso à norma europeia, oficialmente estabelecida como
referência.
Os exercícios apresentados têm carácter exemplificativo, e
pretendem mostrar as potencialidades didácticas do corpus, pelo
que a sua aplicação em situação de aula requer, por parte do
professor, uma cuidadosa selecção e reorganização de acordo com
as características particulares do grupo-alvo (como o seu nível de
escolaridade, as dificuldades específicas de aprendizagem, os
objectivos da aula, etc.).
Cada um dos items gramaticais incluídos nesta Parte está
subdividido em quatro secções.
Na secção 1, “A Norma Padrão Europeia”, apresenta-se uma
descrição geral do item gramatical de acordo com a norma
europeia, que, como foi referido constitui oficialmente a norma de
referência. Além desta introdução geral, são também descritas, de
forma mais desenvolvida, as regras e/ou propriedades do item em
questão, que recebem um tratamento especial na secção 2, e que
correspondem a áreas em que os falantes apresentam mais
“dificuldades” de convergência com a gramática do Português
europeu (PE). Por exemplo, no item “Pronomes Pessoais”, dá-se um
desenvolvimento especial aos critérios que regulam a sua colocação
no PE, visto que o estabelecimento dos padrões de ordem destes
pronomes se revela particularmente problemático no corpus. Os
exemplos incluídos na secção 1 são em geral retirados do corpus, e
constituem casos em que os informantes aplicaram as regras da
gramática do PE3.
Na secção 2, “Português Oral de Maputo”, apresentam-se os
diferentes desvios à norma europeia, que ocorrem de forma mais
sistemática no corpus. Dado que o objectivo central deste volume é
3
Em alguns casos, devidamente assinalados, recorreu-se a exemplos retirados de
outras fontes.
37
pôr à disposição de diferentes utilizadores uma base de dados do
POM sobre estruturas gramaticais “problemáticas”, nesta secção
estas apenas são descritas de forma sintética, isto é, não se
apresenta argumentação sobre as possíveis causas da sua
realização pelos falantes. Os fenómenos que registaram um índice
de frequência inferior a cinco ocorrências foram considerados
“casos dispersos”4, não sendo por isso objecto de um tratamento
específico.
Na secção 3, “Fichas de Exemplos”, está arquivada em fichas
a base de dados com as citações do corpus que correspondem a
cada um dos subtipos de desvios apresentados na secção anterior.
Em cada caso, fornece-se entre parênteses o equivalente do desvio
em questão no PE. O número de exemplos por Ficha oscila entre 5 e
20. Isto significa que, nos casos em que havia mais de 20
ocorrências, foi seleccionada uma amostragem representativa dos
diferentes tipos de contextos.
Na secção 4, “Exercícios”, é apresentado um conjunto de
exercícios que visam a correcção dos desvios que estão arquivados
nas “Fichas de Exemplos”. Para cada tipo de desvio, são sugeridos
dois ou três exercícios, em função do número de ocorrências
verificadas. A chave de resolução dos exercícios correspondentes
aos diferentes itens gramaticais é apresentada no “Guia de
correcção dos exercícios”, que se encontra no final deste volume.
4
Esta decisão decorre da baixa frequência das estruturas gramaticais “desviantes”
no corpus, o que não exclui a hipótese de se tratar de fenómenos relevantes do
Português Oral de Maputo e/ou de Moçambique.
38
I – ARTIGO
39
A ausência de artigo (ou qualquer outro determinante) pode
destinar-se a apresentar a noção expressa pelo substantivo de
modo genérico, na plena extensão do seu significado, podendo o
substantivo estar no singular como no plural. Exemplos:
1
In Stroud,C. & Gonçalves, P. Panorama do Português Oral de Maputo - Vol. II: A
Construção de um Banco de “Erros”.
40
(7) Não tinha caderno. (= cadernos)
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
41
FICHA II: Expressões locativas e temporais
42
FICHA IV: Casos dispersos
43
4 – EXERCÍCIOS
44
Ensinaram os meus filhos a jogar futebol. ( )
45
b) 17 anos, comecei a ir às reuniões de jovens.
(a partir de / a partir dos)
c) Ele veio a Maputo setenta e quatro.
(em / no)
46
III – Uso genérico dos substantivos, sem artigo
47
d) - O que havia no envelope? (selo)
48
49
II – PRONOMES INDEFINIDOS
VARIÁVEIS INVARIÁVEIS
50
O pronome todo (a/s) co-ocorre obrigatoriamente com o
artigo definido. Exemplo:
algum nenhum
alguém ninguém
algo nada
51
2 – PORTUGUÊS ORAL DE MAPUTO
1
Frase extraída do corpus de Gonçalves (1990)
52
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
53
4 – EXERCÍCIOS
54
3. Rescreva a frase, introduzindo o advérbio de negação não e
substituindo o pronome destacado, conforme o exemplo.
55
d) Ele gastou tudo o dinheiro a pintar a casa. ( )
Ele gastou todo o dinheiro a pintar a casa. ( )
Ele gastou tudo dinheiro a pintar a casa. ( )
56
vão para o serviço a pé e vão de chapa-cem. Às
vezes há trabalhadores que ficam manhã na
estrada e os chapas não passam. Muitas vezes passo de
carro mas nunca me pediu boleia. Ontem não
havia na estrada porque os transportes não
falharam.
57
III – PRONOMES PESSOAIS
58
(2) a. Eu retirei-me do exército moçambicano no ano
passado.
b. Daqui não saio, daqui ninguém me tira!
c. Isso ser-me-á difícil este ano.
59
(6) a. Os meninos podem-me perseguir.
b. Os meninos podem perseguir-me.
60
tónico (Ficha I). O exemplo (9b) mostra o caso em que os falantes
sobregeneralizam o uso da forma lhe, própria para OI, em
contextos em que, na norma europeia, só se admitiria o pronome
o/a(s) (Ficha II). Finalmente, o exemplo (9c) representa o caso,
menos sistemático, de selecção do pronome pessoal tónico ele/a(s),
no lugar do pronome pessoal átono o/a(s) OD (Ficha III).
61
b. Estamos a fazer qualquer coisa para que então
ajuda-se a criança. (= se ajude)
1
Note-se que nesta Ficha XI estão incluídos casos já inseridos noutras Fichas. O
objectivo é agrupar as frases em que ocorrem perífrases verbais, independentemente
dos factores que regulam a posição do pronome pessoal.
62
(15) a. Trocámos aquela roupa que eles tinham-nos dado (=
nos tinham dado)
b. Eu penso que ia me sentir muito perdida. (= me ia
sentir/sentir-me-ia)
c. Eu sei que não podes me ajudar. (= me podes
ajudar/ajudar-me)
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
63
- Deixa a ela este ano. (= deixa-a)
- Eu não conheço a ela. (= não a conheço)
- Teve que socorrer a ele. (= socorrê-lo)
- É para a gente não conhecer a ele. (= não o conhecer)
64
FICHA IV: Uso da “prep + pronome pessoal tónico” em vez das
formas átonas do complemento indirecto
65
- Despegar almoço lá é o que mais alegrou-me. (= me alegrou)
- Há divórcios que devem-se mais à falta de condições financeiras.
(= se devem)
66
- Quando chega-se à casa da noiva, a noiva está metida no quarto.
(= se chega)
- Quando ela muitas vezes sentir-se marginalizada, isso pode dar
azo ao divórcio. (= se sentir...)
- Sobre divertimento, acho que é quando as duas pessoas
descontrairem-se né? (= se descontrairem)
- Eles acham que quando forem-se juntar com aqueles, hão-de
viver melhor. (= se forem juntar/juntar-se)
- Ela quando diz-me alguma coisa, eu entendo. (= me diz)
- Quando vai-se apresentar em casa dos pais da noiva, os pais não
pedem lobolo. (= se vai apresentar/apresentar-se)
67
FICHA IX: Uso da ênclise em construções com advérbios de
negação
68
FICHA X: Uso da ênclise com operadores em posição pré-verbal
69
- Então ela me estava a contar uma novidade.
(= estava-me a contar/contar-me ...)
- Ninguém vai te ver. (= te vai ver/ver-te)
- Sabe onde é que foi se despedir de mim?
(= se foi despedir/despedir-se ...)
- Eu não sei se pode-nos ajudar. (= se nos pode ajudar/ajudar-nos)
- Eles conseguem muito bem te engatarem.
(= conseguem-te engatar/engatar-te)
- Sei como posso te explicar-te. (= te posso explicar/explicar-te)
- Não vais me dizer que estás apaixonada.
(= me vais dizer/dizer-me...)
- São os métodos que estão se a utilizar agora
(= se estão a utilizar/utilizar-se)
- Trocámos aquela roupa que eles tinham-nos dado.
(= nos tinham dado)
- Os alunos não têm-se dedicado tanto ao estudo.
(= se têm dedicado)
- Começou a me proibir de treinar.
(= começou-me a proibir/a proibir-me)
- É claro que pode-se ver. (= se pode ver/ver-se)
- Irei-me responsabilizar.
(= ir-me-ei responsabilizar/responsabilizar-me)
- Por isso é que não querem-se perder.
(= se querem perder/perder-se)2
- Não queriam me deixar ir. (= me queriam deixar ir/deixar-me)
2
Embora o verbo querer não seja um verbo auxiliar, ele é aqui incluído, uma vez
que, em construções infinitivas, ele se comporta como tal.
70
FICHA XII: Dispersos
71
4 – EXERCÍCIOS
72
2. Substitua as palavras sublinhadas por um pronome, fazendo
as transformações ao verbo, quando necessário, conforme o
exemplo.
73
b) Aquelas miúdas não estudam.
Esse é o motivo que leva a andar aí na rua.
74
3. Escolha a alternativa correcta, conforme o exemplo.
75
2. Identifique a alternativa correcta de entre as duas sugeridas,
conforme o exemplo.
76
c) O meu marido diz (me / a mim) que devo exercer a minha
profissão.
77
V – Uso da Ênclise em Construções de Subordinação
78
b) Nós ajudámos a jovem.
79
4. Escolha alternativa correcta de entre as duas propostas,
conforme o exemplo.
80
com colegas mais novos na décima e, por isso, continuei a
estudar à noite. Tive muitas dificuldades de transporte. Para
(conseguir / se) resolver este problema ainda
vai passar muito tempo.
81
e) Ele não vai se sentir à vontade. ( )
82
2. Dê respostas às perguntas, integrando nas frases o material
entre parênteses, fazendo as transformações necessárias,
conforme o exemplo.
a) Eu vou-me embora.
Eu já .
83
c) O Gustavo vai-te ver cantar.
Ninguém .
84
f) Nós estudamos pouco.
O meu pai vai proibir de sair de casa.
85
IV – ORAÇÕES INTEGRANTES
1
Em Mateus et al (1989:264), as orações integrantes são designadas “completivas
de que”.
2
Sobre as classes semânticas dos verbos, ver Mateus et al. (1989: 268-278).
86
No encaixe do discurso directo, além do uso da conjunção
integrante como introdutor, também há alterações das formas que
designam a pessoa (cf. eu Ù ele), o tempo (cf. vou Ù ia) e o espaço.
87
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
88
FICHA II: Encaixe do discurso directo
89
4 – EXERCÍCIOS
90
b) Vejo (que / de que) o homem não está cansado.
91
d) O polícia lamentou: "Aquele carro foi roubado". ( )
O polícia lamentou de que aquele carro foi roubado. ( )
O polícia lamentou que aquele carro foi roubado. ( )
92
93
III – Ausência de introdutor de subordinação
94
2. Organize o material dado em frases com sentido, conforme o
modelo apresentado.
95
V – ORAÇÕES RELATIVAS
1
Exemplo extraído do MATEUS et al (1989).
96
Os pronomes relativos são regidos por preposição quando
têm a função de oblíquo Exemplos:
2
Vide nota 1.
97
(7) a. Vai entrar onde que a gente dorme. (= onde a gente)
b. Não sei se há uma organização qualquer deles que
possam fazer valer a sua voz... (=...onde/em que
possam...)
98
FICHA I: Escolha do pronome
3
Dado que se pode admitir que foi omitida a preposição em, esta frase está
também arquivada na Ficha II.
4
Vide nota 3.
5
Vide nota 3.
6
Vide nota 3.
7
A partir deste exemplo, e até à nota 3, apresentam-se casos do uso do pronome
cujo/a.
99
- O jovem actual gosta de modas no que os pais não admitem.
(= o que os pais não admitem)
- Transporte não há falta que está em causa é o dinheiro.
(= o que)
- Lá para as doze apareceu um carro nos levou para o quartel.
(= que nos levou)9
- Há outros casais a vida dele leva para esquadra.
(= há outros casais que levam a vida deles)
- Foi pela primeira vez eu meter-me naquilo.
(= foi pela primeira vez que eu me meti naquilo)
8
A partir deste exemplo, apresentam-se casos das apositivas de frase.
9
A partir deste exemplo, apresentam-se casos da omissão do introdutor.
100
- Há muitas coisas que eu costumo calhar com elas no caminho.
(= com que)
- Ia pedir os responsáveis se entender com essas conversações
que eles estão com elas. (= conversações que eles estão a fazer)
- Tem mais outro que está a namorar com ele.
(= com quem está a namorar)
- Não sei quantas vezes que foi ... (= quantas vezes foi)
- O quê que vocês acham do comportamento em que são atribuídos
os alunos aqui? (= do comportamento que é atribuído aos alunos...)
- Ninguém que nunca há-de vir dizer. (= nunca ninguém há-de...)
- Pode ter amigos aqueles de vir conversar.
(= aqueles que vêm conversar)
- ...aquele amigo de sair com ele. (= aquele amigo com quem se pode
sair)
- O dinheiro que venderam a quem entregam?
(= o dinheiro do que venderam)
- As crianças que as mães estão a rezar... (= cujas mães)
- Estou na fase de que os meninos poderão me perseguir.
(= estou na fase em que os meninos me poderão perseguir)
- Tudo que uma mulher devia fazer é ajudar o marido.
(= tudo o que)
101
4 – EXERCÍCIOS
102
d) Trabalho numa empresa. Nessa empresa, é preciso ter
muitos conhecimentos. (na qual)
103
Este é o quarto onde que a gente dorme. ( )
104
problema é a falta de transporte, prejudica o rendimento
pedagógico.
105
VI – CONCORDÂNCIA NOMINAL (GÉNERO E NÚMERO)
1
Sobre a concordância em pessoa, que diz respeito a verbos e pronomes, ver os
itens VII e VIII.
106
2 – PORTUGUÊS ORAL DE MAPUTO
107
(6) a. Eu não mostro os meus dente. (= dentes)
b. O lobolo aumentou, eram quatro conto. (= contos)
(8) Basta ver aquela pessoa aí, pronto, se vêem que a cara
dele está limpa dão um carro. (= dela)
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
2
Os casos em que também há falta de concordância em número são repetidos na
Ficha IV.
108
- Uma criança (...) recebe elementos que a tornam educado.
(= educada)
- Elas escolheram sozinho. (= sozinhas)
- Os transportes são caras. (= caros)
- A nossa vida está virado muito batido. (= virada... batida)
- A criança não espera para ser educado. (= educada)
- Ultimamente é muito pesado esta vida. (= pesada)
- Facilita-me a vida ... não sinto tão pesado como alguns
reclamam. (= pesada)
- As mulheres são muitos demais. (= muitas)
- Estive lá naquela praia de chamado praia de Chonguene.
(= chamada)
- Tem que ir via rodoviário. (= rodoviária)
- Só ficou um filho lá casada com uma moça. (= casado)
- Temos relacionamento muito boa. (= bom)
- Quarta classe antigo (= antiga)
- É uma pergunta que precisa de uma resposta um pouco
aprofundado. (= aprofundada)
- Quando beber, barriga dela já está cheio? (= cheia)
109
FICHA III: Flexão do nome em número
110
- Vocês não se sentem incomodado (= incomodados)
- Estão satisfeito. (= satisfeitos)
- Esta gente que está cá também estão ricos. (= está rica)
- Estamos acumulado aqui na cidade. (= acumulados)
- Vai começar a eleições enquanto está aqui na cidade.
(= as eleiçoes)
- Nos tempos ido ia buscar isso. (= idos)
- As condições não estão nada bom. (= boas)
- Se fosse daquelas mulheres muito saída... (= saídas)
- Elas escolheram sozinho” (= sozinhas)
- A única melhor coisa era que houvesse assim por exemplo esse
machimbombos. (= esses)
- ...com uns preços um bocado baixo. (= baixos)
111
4 – EXERCÍCIOS
112
b) As condições de trabalho não são ...
boas ( )
bons ( )
113
II – Concordância dos artigos e pronomes em género
Ex: Quando ele ouvir uma conversa dessas, vai ficar nervoso.
(um / uma)
114
115
b) Ele perguntou-me ... (quantos / quantas anos eu ter)
116
III – Flexão do nome em número
117
(junto / juntos)
118
119
V – Concordância do pronome pessoal em género e número
120
c) - A Mariana é a melhor amiga da Alice? (sim, ele/ ela, ser
melhor amiga)
121
VII – CONCORDÂNCIA VERBAL (PESSOA E NÚMERO)
1
O símbolo * significa frase agramatical.
122
2 – O PORTUGUÊS ORAL DE MAPUTO
2
No corpus, ocorrem alguns casos em que não está claro se há falta de
concordância morfológica ou se se trata de uma questão de pronúncia. Exemplos:
a. Os miúdos preferem ir vadiar lá fora porque tem medo das mães. (= têm)
b. Agora aí vem diferentes ramos né? (= vêm)
123
b. Muita gente já deixaram as igrejas e foram para ali.
(= deixou ... foi)
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
124
- Eu para o serviço vou a pé, usa o machibombo e o chapa cem.
(= uso)
- Eu tenho falta de transporte no meu lugar onde é que eu vive.
(= vivo)
- Eu não trabalha. (= trabalho)
- Mas como eu trabalha, não tem tempo. (= trabalho ... tenho)
- Eu já foi não sei quantas vezes a Inhambane. (= fui)
- Eu tirou dois mil e quinhentos. (= tirei)
- Eu gosta de ver ele aqui em Moçambique. (= gosto).
- Eu não pode ficar. (= posso)
- Eu conhece a casa. (= conheço)
- Eu também há-de comer. (= hei-de)
- Se pudesse gostarias de estudar à noite. (= gostaria)
- Até na escola nós entrava às dezassete! (= entrávamos)3
3
Nesta frase, para além da falta de concordância em pessoa, também há falta de
concordância em número.
125
- ... para os portugueses ir também no país deles. (= irem)
- Elas próprias fazem isso sem as mães ver. (= verem)
- Aí só se salvou três pessoas. (= salvaram)4
- Então chega as pessoas. (= chegam)
- É dominante os bitongas. (= são)
- O lobolo aumentou, era quatro contos. (= eram)
- Vai começar as eleições. (= vão começar)
- Quando o marido descobre, surge problemas na família, no lar.
(= surgem)
4
A partir daqui fornecem-se exemplos em que o sujeito está posposto ao verbo.
126
- ... aquelas escolas que recebe aqueles que são mandados embora.
(= recebem)
- Há muitas pessoas que casa, outra não faz lobolo. (= casam)
- Não gosto de meios de transporte que é muito perigoso. (= são)
- Há muitas crianças aqui não há-de estudar. (= que não hão-de)
- Vemos alunos que faz e desfaz. (= fazem e desfazem)
- Nós que não tem transporte. (= temos)5
- O motivo que lhes levam a estarem aí ... (= leva)
- Havia mesmo cacimbo que caíam nas manhãs. (= caía)
- Sempre há muita história que complicas. (= complica)
5
Vide Nota 3..
127
4 – EXERCÍCIOS
I – Concordância em Pessoa
128
b) (eu / tirar) dois mil meticais e entreguei-lhe.
129
II – Concordância em número
130
131
d) Muitas vezes os alunos .... (chegar atrasado) às aulas,
outras vezes... (chegar) à hora certa.
132
f) Muitos filhos parece que ...
só gostam dos pais quando precisam. ( )
só gosta dos pais quando precisa. ( )
133
2. Escolha a alternativa correcta conforme o exemplo.
134
c) Esses chapas que ... (estar a criar dificuldades / dever ser
multados)
135
VIII – CONCORDÂNCIA DAS FORMAS DE
TRATAMENTO DA 2ª PESSOA
1
Este último caiu completamente em desuso em todas as variedades actuais do
Português.
136
O sistema verbal permite fazer referência ao interlocutor
através dos sufixos de pessoa, mesmo nos casos em que não são
usados nem os pronomes nem os nomes como formas de tratamento.
Os sufixos da 2ª pessoa do singular estão associados ao tratamento
por tu (ex. 3a)), e os sufixos da 3ª pessoa são usados com as restantes
formas de tratamento (ex. (3b)). Exemplos:
137
associado à flexão verbal na 3ª pessoa do singular (ex. (6b)) (Ficha I).
Exemplos:
3 – FICHAS DE EXEMPLOS
138
- Que vais fazer, se voltar a encontrar a ele?
(= vai... voltar/ vais... voltares)
- Senhor, tens que receber o fardamento. (= tem)
- Sabes, Simões, agora namoras, você apanha miudinhas aí...
(sabe... namora)
- Se você não tira, não entra também, tens que gastar. (= tem)
- Você, vai-te lixar, ouviste? (= ouviu)
- Você é que fizeste. (= fez)
- Você, quando estavas de férias, foste para Gaza. (= estava ... foi)
- Você entraste hoje às sete. (= entrou)
- O que é que tu conversa? (= conversas)
139
- Você vai, mandam-te ir numa montanha. (= mandam-no)
- Quem é esse seu irmão que está longe de ti? (= seu...si/teu...ti)
- O que é que tu projectas para os seus estudos? (= teus)
- Esta é a casa dos seus pais, nem é a tua casa.
(= teus...tua/seus..sua)
140
4 – EXERCÍCIOS
141
b) - Tive negativa no teste de Inglês.
- de estudar melhor os verbos com o teu
colega. (ter)
- de escrever os verbos no seu caderno.
(necessitar)
142
e) Ouvir o noticiário da RM ou ver o telejornal da TVM ?
(você)
a) - Diga lá, senhor João, isso não foi uma atitude vergonhosa
para ? (ti / si)
143
2. Complete as frases iniciadas e escreva-as correctamente,
seguindo o exemplo.
144
b) - Podes reabilitar o carro à sua maneira.
145
Ex: Sair da sala de aulas, imediatamente. (tu)
- Sai da sala de aulas, imediatamente!
146
. (parar/ tu) de vez em quando para descansares.
147
. não (estragar / tu) a porta.
148
GUIA DE CORRECÇÃO
I – ARTIGO
149
II – PRONOMES INDEFINIDOS
150
II – Uso dos Pronomes Pessoais Átonos objecto indirecto em vez das
formas átonas do objecto directo
3. a) ... aconselhá-lo ...b) ... deixa-os ...c) ... para a ajudar ...
III – Uso do Pronome Pessoal Tónico ele(s)/a(s) em vez das formas átonas
do objecto directo
1. a) Ele disse-lhes ... b) ... dar-me ... c) ... diz-me ... d) Perguntei-lhe ...
1. a) ... ela nos ensina? b) ... se tem dito. c) ... lhes aparece primeiro.
d) ... se casam ...e) se devem ...
151
4. a) ... se vai organizar uma excursão na escola.
b) ... se tem de ir devagar.
c) ... se conseguir arranjar emprego.
d) ... se estejam a preparar bem para os exames.
e) ... virem visitar-me.
152
VII – Colocação do Pronome Pessoal com Perífrases Verbais
IV – ORAÇÕES INTEGRANTES
153
e) O general confirmou: "Nós devemos actuar assim."
III – Ausência de introdutor de subordinação
V – ORAÇÕES RELATIVAS
154
VI – CONCORDÂNCIA NOMINAL
1. a) propostas;
b) paralítica;
c) boa;
d) gordinhas;
e) aprofundadas
2. a) casado;
b) boas;
c) rodoviária;
d) antigo;
e) sozinhas
155
2. a) Aqueles jovens têm um bom método para estudar.
b) As campanhas de alfabetização têm bons resultados.
c) Os alunos e os professores aproveitam a oportunidade para virem
juntos.
d) O produto está acumulado nos armazéns.
e) Esses machimbombos ajudam muito a população de Maputo.
I – Concordância em Pessoa
II – Concordância em número
156
2. a) ... estão normais. b) ... são fundamentais. c) ... não respeitam ...
d) ... chegam atrasados ... chegam ... e) ... conseguem saber ...
1. a) ... gosta de falar ... b) ... estava a viver ... c) ... chumba ... estuda.
d) ... está de férias; aproveita ...e) ... joga ...
157
3. a) Vais sair à noite ou ficas em casa?
b) Precisa de comprar peixe para o jantar?
c) Sabe a que horas é a reunião?
d) Voltas hoje da Manhiça ou ficas até amanhã?
e) Ouve o noticiário da RM ou vê o telejornal da TVM?
f) Vive em Maputo ou está cá de férias?
158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
159