Introdução À Filosofia Do Direito - Resumo P2

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Introdução à Filosofia do Direito – Prof.

Marcus Boeira
Resumo P2

PROBLEMAS GNESIOLÓGICO, ANTROPOLÓGICO E ÉTICO

*Refere-se a como conhecemos as coisas, ao que somos e como devemos ser.

Aristóteles

*Faculdades da alma (3): são hora relativas ao corpo, hora relativas a ela mesma;
- vegetativa  é a mais animal do ser humano; relativa ao crescimento
do corpo, responsável por expandir o corpo; corpo como algo que nasce,
cresce, se desenvolve e morre; aspecto essencial para tornar isso possível:
nutrição; opera por nutrição; nos torna próximos a quaisquer outros seres
vivos; é a faculdade dos seres animados;
- sensitiva  contato do corpo com outros corpos; os nossos sentidos;
opera pelas sensações; permite que o corpo se mobilize para contatar com
outros corpos; tomando contato, os sentidos podem gerar imagens,
formando a nossa imaginação, pois apreendemos sensitivamente as
coisas; apreensão sensitiva; todo o nosso conhecimento começa nessa
faculdade;
- intelectiva  exclusiva, própria, típica, especifica dos animais
racionais; os gregos chamavam de nous; os latinos chamam de intelecto;
opera para um determinado fim; esse método de operação chama-se
razão. Da ao intelecto oportunidade de raciocinar.

*Quais são os fins do intelecto?


- quando a razão opera, ela opera a partir das imagens que formamos a
partir dos sentidos; 3 tipos/modos específicos de finalidades possíveis, e
a cada um desses existem diferentes modos de a razão operar (o intelecto
raciocina de 3 modos que são correspondentes aos 3 tipos de fins):
#razão técnica  também chamada de razão produtiva, razão
artística ou razão poética; produz alguma coisa (é o fim), criar
algo do nada, criar um bem do nada; é uma operação criativa; eh
um fim/bem externo; exemplo de criatividade: discurso; impõe
um “saber fazer”;
#razão prática  indica uma racionalidade no agir humano, nas
ações, nas relações sociais em geral, de modo que a razão prática
opera para a realização de certos fins correspondentes às nossas
ações em geral; fins devidos as nossas atividades; ao modo que
nos agimos nas circunstâncias das nossas vidas; indica uma certa
modalidade de ação humana de agir em uma ou outra
circunstancia; exigência quanto aos meios das ações fins; sempre
há um meio melhor para chegar a um fim; achar o melhor meio; o

Beatriz Schaedler Gava – 2015/1


meio mais adequado eh o meio virtuoso, que aperfeiçoa; está no
homem desde o primeiro momento; o fim da razão prática é
realizável na própria ação do agente, pois busca aperfeiçoar essa
ação; o fim/bem é interno ao agente; o bem final aperfeiçoa o
médio mediano; o bem e o meio misturam; a virtude aperfeiçoa o
meio; escolha (deliberação) do melhor meio para determinados
fins, tomados como bens que aperfeiçoam as nossas ações nas
circunstancias particulares da nossa vida social; a razão técnica
impõe um “saber agir”;
- razão teórica  é a razão mais decisiva e importante; mais abstrato; o
fim dessa é descobrir verdades universais e imutáveis (verdades
absolutas); exemplo: a logica, a matemática, a metafisica, são disciplinas
cujo o rigor, o foco, é saber pensar/contemplar bem; é a mais difícil;
existem verdades que são criadas por nos, mas outras não; o fim dela
aperfeiçoa ela mesma, porque quer descobrir algo externo capaz de se
aperfeiçoar.

*Observações: existe tanto para a razão teórica quanto para a prática uma virtude
que as aperfeiçoa. Essa virtude traz a continuidade mediante o hábito humano, ou seja,
existe o hábito da razão teórica e o hábito da razão pratica no tempo. Faz com que a
razão teórica se expanda; virtude que aperfeiçoa a razão teoria é a sabedoria (o bom
hábito). Nota-se que é a mesma ordem de physis, ethos e logos.

O PROBLEMA ÉTICO E POLÍTICO

1. Teoria Pré-moderna

*São Baseadas na metafísica e na ética.

Aristóteles:

*Filosofia moral: afirma que há 2 tipos de virtude.

*Virtude de caráter (ética): para todas precisa-se de prudência; sofrem com


vícios de faltar ou exceder (respectivamente)
- coragem  covardia e temeridade (virtude individual);
- temperança  insensibilidade e emotivismo (virtude individual);
- justiça  injustiça e injustiça (virtude social).

*Só é possível entender os vícios da justiça a partir dos tipos de justiça:


- comutativa  é a relação entre indivíduos; é o tipo mais comum;
refere-se aos contratos de compra e venda, sendo uma justiça contratual;
é uma busca por igualdade aritmética;

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- distributiva  é a relação do indivíduo para a pólis (Estado);
responsável pela distribuição de bens proporcionalmente entre as partes,
buscando igualdade pressupondo desigualdade de tratamento, sendo que
os critérios de justiça podem variar (necessidade, merecimento, etc.); é
uma justiça proporcional, sendo uma busca por igualdade geométrica;
- legal/política  é fundamental para a manutenção da ordem política,
sendo exigida em qualquer sociedade; é uma justiça do indivíduo para a
pólis; é composta pelas normas, que a tornam uma justiça exigente; a
parte dá ao todo o que lhe é devido (impostos).
Portanto, o excesso de justiça é uma injustiça (exemplo: o Estado deu a mais do
que o necessário para os mais pobres), assim como a falta de justiça é uma injustiça
(exemplo: o Estado só libera os ricos do pagamento de certos impostos).

*Virtude intelectual (dianoética):


- referente aos hábitos do nosso intelecto;
- aperfeiçoam a inteligência em suas operações racionais, criando no
interior do intelecto o hábito da soberania (na memória);
- há 3 tipos de sabedoria:
#teórica  sabedoria em geral, levando o indivíduo à
contemplação mais profunda dos princípios;
#prática  frôneses (prudência); refere-se ao “saber agir da
maneira mais adequada”; é a mãe da virtude de caráter;
#técnica  poesis, que é a virtude do saber fazer/produzir.

Teorias Medievais

*Relacionada ao direito e à justiça, faz a ligação entre antiguidade e


modernidade;

*É o período em que ocorre o surgimento das universidades.

*Para Aristóteles, a razão pratica leva em consideração os meios mais adequados


para a realização dos fins, havendo uma estrutura na ação humana que leva em
consideração o objeto dessas ações. Exemplo: objeto  exercer a advocacia; fim 
prestar um serviço à sociedade; meio adequado  cumprir os prazos processuais.

*A razão pratica, portanto, ordena as ações humanas para fins correspondentes.


Tudo o que ordena tem forma de lei. Logo, a razão prática tem uma lei que a dirige: essa
intuição os medievais chamaram de lei natural.

*Lei natural é uma lei da razão prática, sendo uma ordenação da razão aos fins
que são compartilhados na sociedade – chamados de bem comum. Isso é o mesmo que
dizer que a lei natural é uma ordem da razão em direção ao bem comum, sendo esse um
bem compartilhado entre os agentes socialmente considerados, sendo que sua realização

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implica a realização de atos justos, devidos e para todos. Sendo assim, a lei natural
também é uma expressão da justiça, pois todo ato baseado na lei natural é justo e moral.

*A lei natural é fundamental para as escolas futuras do direito, como, por


exemplo, para a jusnaturalista, pois passa a ser fundamento de moralidade; além disso
também é a fonte do direito positivo, conforme os medievais. Direito positivo é o
conjunto das leis aprovadas pela autoridade (escritas), criadas pelo homem, ou seja, a lei
só é válida se tem um “gancho” com a lei natural. Portanto, o direito para os medievais
só é válida se for moral, pois o direito se identifica com a moral. Além disso, sabe-se
que tanto o direito quanto a moral surgem a partir da lei natural.

*Ditado: "Seguindo a estrutura de Aristóteles sobre a ação humana, os filósofos


do direito na Idade Média intuíram a existência de uma ordenação da razão prática ao
bem comum, ordenação esta entendida como lei. A lei da razão pratica é conhecida
como lei natural, isto é, uma ordenação da razão em direção ao bem comum. Os atos
praticados sob a guarda da lei natural são atos necessariamente justos, pois condizem
com o bem comum. Da lei natural decorre tanto a moral quanto o direito; sendo esta
fundamento de ambos, direito e moral se identificam."

2. Transição

*O ponto de corte entre as teorias modernas e as pré-modernas é que a ideia de


fins e bens acaba, pois passa a responder o direito e a justiça através da natureza do
agente humano, sendo a ideia de finalidade abandonada.

*Ditado: "A mudança das filosofias pré-modernas para as modernas está


centrada na modificação dos padrões culturais. A cultura antiga centrava-se na noção de
bem e fim para explicar os problemas do direito, já as filosofias modernas focalizam a
atenção na natureza humana em razão do antropocentrismo.”

3. Teorias Modernas

*Se baseia na antropologia; abordaremos principalmente as questões de direito,


justiça e poder.

Thomas Hobbes

*Principais obras: Leviatã e Do Cidadão

*O que é o ser humano (concepção antropológica):


- um animal que busca sobrevivência, de modo que a natureza humana
para ser bem compreendida só pode levar em consideração a matéria
humana (faculdades do corpo humano), visto que somos animais
instintivos  instintos, sensações, percepções; são faculdades que não se

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explicam por algo que não é visto ou experimentado. A razão é o veículo
das faculdades.
- o homem é matéria-prima, sendo fonte de todas as ações no mundo
físico, altissimamente empirista; dessa forma, afirma-se que os juízos não
são morais, mas sim empíricos;
- em sociedade, há conflitos, pois os indivíduos têm entre si duas ações
baseadas nas faculdades; dessa forma, a lei explica que as faculdades
explicam a própria sobrevivência: o amor por si mesmo;
- um humano não se hesitaria em cometer perversidade em prol da sua
sobrevivência. Portanto, a guerra é a condição natural da humanidade –
não existe comunidade política sem guerra; não existe Estado civil sem
estado de natureza. Logo, a guerra é anterior à ordem.
- os indivíduos decidem agir por livre arbítrio, prejudicando outros em
prol de si mesmos; abdicar disso só é possibilitado ao designar um
soberano para reger a comunidade a fim de acabar com a guerra; esse
soberano pode designar o arbítrio dos indivíduos.
- a guerra como estado de natureza tem três efeitos no que diz respeito às
relações humanas:
#os indivíduos mantém entre si relações de inimizade, negando
que o estado natural do ser humano era a pólis, e sim a guerra;
não há estimas, o outro é um meio.  isso foi um ataque à
Aristóteles, que acreditava que a noção de justiça exigia a
amizade;
#o efeito do estado natural é o temor permanente dos indivíduos,
pois o mais forte destrói o mais fraco;
#a vitória de uns sobre outros (a glória dos vencedores) torna-os
cada vez mais poderosos; há um momento que um dos grupos
conquista tal poder de modo que mantém em si o poder coercitivo
sobre os demais – o que indica o surgimento do Estado. Para que
esse poder tenha continuidade ele precisa de uma organização;
terá soberania quem organizar o poder coercitivo de forma que
não possa ser afetado por grupos rivais. Logo, da guerra surge o
Estado, organização que futuramente se tornará burocrática.

*Ditado: “Para Hobbes, a guerra é a condição natural da humanidade, pois a


natureza humana é material. No "estado de natureza" (expressão dos comentaristas) o
princípio do amor por si mesmo gera 3 efeitos nas relações individuais: inimizade,
temor permanente e a gloria dos vencedores que tem como resultado final a origem do
soberano, aquele que conseguiu organizar o seu poder coercitivo, criando a
institucionalização, de tal modo a continuar exercendo-o no tempo. Aqui radica a
origem da moderna concepção de direito e de Estado."

*Como o ser humano se articula com o direito que surge junto ao Estado:

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- o direito é uma criação do soberano, da autoridade política, portanto,
antes do soberano não existe nada;
- possui duas justificativas/fins:
#certificar essa organização do poder em relação aos indivíduos
(organiza, dá os limites, confere legitimidade ao exercício do
poder coercitivo); isso permite que a soberania tenha continuidade
(sem o direito isso não ocorre); o direito é indispensável; é um
direito político, do Estado;
#estabelecer a paz na república (o direito serve para
institucionalizar a paz); confere um mínimo de expectativa.
- o direito não tem nenhum vínculo com a moral, com a justiça; o direito
é um ato de poder, tendo uma origem atrelada à soberania, uma criação
da autoridade pública, um ato de vontade do soberano. Isso é a herança
filosófica do que será o início do positivismo jurídico: a autoridade SE
limita dentro do próprio direito, conferindo um estado de direito;
- quando ocorre uma mudança de lei por vontade da autoridade, a
transição é um estado de exceção.

*Ditado: “Para Hobbes, o direito é um ato de vontade do soberano, cumprindo 2


objetivos: primeiramente, esse busca organizar, limitar e legitimar o poder político do
soberano. Em segundo lugar, o direito é um instrumento de institucionalização da paz.
O direito tem origem na vontade política e não mais na moral e nas virtudes como
entendiam os gregos e os medievais. A ideia de que direito e moral são coisas diferentes
é a herança primitiva do positivismo jurídico.”

Immanuel Kant

*Epistemologia (é a teoria do conhecimento; metafísica; nesse caso é uma crítica


à razão pura):
- procura explicar a relação entre um sujeito que conhece e um objetivo
que também é conhecido; embora o esquema “sujeito (inteligência,
razão)  objetivo (coisa, objeto, realidade)” tenha se perpetuado, não é
um esquema válido, sendo uma epistemologia que corta a realidade
externa, partindo do sujeito racional, pois o “objetivo” não é possível
conhecer;
- tudo o que existe fora da mente são fenômenos irreconhecíveis, pois se
alteram a cada instante, não podendo ser tomado como um objeto.
Portanto, todo o mundo a ser conhecido é subjetivo (interno à nossa
mente), havendo em nossa mente um princípio de conhecimento: a razão
(é tratada do mesmo jeito que Aristóteles tratava a inteligência, sendo o
ponto central);
- a razão, embora princípio, ela tem uma direção, um caminho a
percorrer, com uma meta a ser atingida, procurando sempre ser o mais
unilateral possível;

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- afirma a existência de uma lei universal que ordena todas as razões
subjetivas existentes, sendo a verdade absoluta da razão. Se (é uma
condição, pois não conhecemos nada no mundo concreto) possuíssemos
razão, todas as nossas razões buscam qual o nosso ponto de concórdia, o
ponto em comum: a lei universal (meta e o 1º princípio de razão);
- o que determina a lei universal é a forma, a mais abrangente possível. O
que é lei universal: é a forma segundo a qual um postulado racional seja
o mais universal possível, para todos os seres humanos.

*Ditado: “Para Kant, a teoria do conhecimento/epistemologia nasce da ideia de


que a razão é o princípio do conhecimento humano, o conhecimento subjetivo que tem
como direção a universalidade, isto é, um respeito e segmento à lei universal. Para
alcançar a universalidade, um postulado deve pautar-se pelos princípios da lei universal,
dentre os quais está o princípio de não contradição.”.

*Kant separa dois tipos de imperativos:


- imperativos da razão teórica  determinações do pensamento racional
lógico (abstração), da razão pura;
- imperativos da razão prática  relativos às ações humanas (razão
aliada à vontade = ações).

*Ditado: “Para Kant, tanto a razão teórica quanto a razão prática possui
interativos correspondentes. Os imperativos teóricos estabelecem postulados lógico
racionais que ordenam as abstrações. Os imperativos práticos determinam deveres para
as ações humanas, exigindo a vontade. Toda ação universal é um ato de vontade
racional.”

*Além da razão, a vontade também implica na razão pautada pela


universalidade.

*O direito na filosofia de Kant se baseia nas seguintes perguntas: O que são


imperativos práticos? Como regem nossa vida em sociedade?
- os imperativos práticos são leis universais da conduta humana; por
serem universais, essas leis são extraídas diretamente da ideia mesma de
universalidade, ou seja, os imperativos em geral são universais,
universalmente compartilhados por toda e qualquer razão; são leis que a
razão descobre como leis universais para as nossas condutas, ações;
- Kant afirma que as leis universais de conduta, por serem plenamente
racionais, não são sujeitas a questionamentos morais, o que significa,
portanto, dizer que são leis de moralidade, leis que se aplicam a todos os
sujeitos dotados de razão; são determinações de moralidade, dirigem
condutas segundo uma forma universalmente válida; a moral é
diretamente extraída da razão;
- para Kant, as leis morais são justificadas pelo ponto de vista interno do
agente e da sua racionalidade apoiada na universalidade, que concebe sua
ação como maximamente universal;

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- a nossa razão encontra condutas universalmente justificadas segundo a
razão, pois essa formula condutas universalmente aceitas e válidas;
portanto, não há espaço para condutas universalmente válidas que não
sejam justificadas e ancoradas pela razão; logo, a razão é o princípio que
formula operações e juízos a partir dos imperativos (princípios dela
mesma).

*Ditado: “Para Kant, os imperativos práticos são leis universais de conduta


inquestionáveis e, por isso, constituem formas universalmente válidas de ação humana
que são imperativos morais para Kant. Exemplo: o dever moral de não matar constitui
uma forma que reconhece uma variedade indeterminada de ações práticas como
corretas.".

*Filosofia moral (base da filosofia do direito):


- reside nos imperativos práticos;
- as leis jurídicas são todas aquelas que dirigem os nossos espaços de
autonomia para se juntarem com a lei moral; dizem respeito ao âmbito
externo das nossas ações;
- a moral é interna, o direito é externo, sendo uma continuidade da lei
moral (conjunto de leis racionais); portanto o direito é a transição dessas
leis morais para as ações propriamente ditas;
- o direito decorre da moral, logo a lei jurídica também, sendo a
exteriorização dessa forma universalmente válida;
- tem-se como princípios do direito o fato de que "toda a ação conforme o
direito ou a liberdade decorrente do arbítrio de sua máxima deve coexistir
com a liberdade de todos segundo a lei universal"  isso significa,
basicamente, "cada um no seu quadrado"; a liberdade de um termina
quando começa a liberdade do outro; portanto se as ações do individuo
ficarem dentro do seu espaço de liberdade são universalmente válidas;
assim, o direto serve para preservar a autonomia de cada individuo
racional, importando o reconhecimento da liberdade individual do ponto
de vista externo (do direito); como a liberdade decorre da moral, não se
poderia mentir mesmo que estivessem invadindo tua liberdade;
- o que está realmente em jogo no direito é uma concepção de justiça
meramente formal; justiça é reconhecer que na sociedade cada um tem
um espaço em sua individualidade;
- Kant defendia o Estado Liberal, pois defendia como justiça o máximo
de liberdade e o mínimo de poder, tendo o poder uma única faculdade, a
de garantir a liberdade, realizando e praticando a justiça;
- “age de tal modo que a tua liberdade coexista com a liberdade todos
indivíduos racionais segundo a lei universal”  imperativo presente,
atual, não tem tempo, está fora do tempo, é um imperativo segundo a
razão universal e, portanto, eterno; destinado àqueles que agem de acordo
com as leis universais; seguir esse princípio é ser justo; lei da liberdade.

*Ditado: "Para Kant, o direito serve como instrumento de garantia dos espaços
de liberdade, isto é, de ações práticas e morais que, realizadas dentro de uma esfera de
autonomia, passam a ser universalmente válidas segundo a razão. Se o direito é
instrumento, é também a própria lei moral da liberdade.".

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Georg Friedrich Hegel

*História (essencial para entender sua filosofia do direito):


- era um autor do romantismo alemão; portanto, sempre que trata de
temas filosóficos trata a luz da ideia de espírito, ou seja, toma por base
que as coisas em geral possuem um sentido;
- para ele, a história é dotada de sentido, possui um espírito que a dirige;
assim, todos os acontecimentos possuem um destino;
- a noção de que a história tem um destino deve ser compensada com
outra ideia: quando se fala em história se fala do campo onde um
determinado espírito absoluto (eternidade; noção de entidade e mundo) se
encontra consigo mesmo. Isso significa que o princípio de todas as coisas
não é a lei universal, mas sim o espírito absoluto, que é eterno e que
relativo à história, se encontra consigo mesmo; é uma questão pura de
metafísica; o espírito de tudo é o espírito absoluto;
- existe uma diferença clássica na filosofia entre a história e a eternidade:
a ideia de cronologia está sustentada em uma ideia de eternidade – a
história nasce de algo que é anterior a ela: a eternidade;
- para Hegel, esses dois planos se fundem porque o espírito eterno é o
mesmo espírito da história; esse espírito também é chamado de espírito
absoluto, ideia absoluta, razão absoluta da história, espírito universal;
- as concepções de história e de eternidade se fundem em um mesmo
sujeito, o espírito absoluto; essa noção influenciou as mais diferentes
correntes de pensamento da era moderna, por exemplo, a de Marx;
- na obra de Marx, a dialética do espírito é tomada por ele com a mesma
estrutura que em Hegel, mas com a diferença de que coloca tudo
diretamente na história, a fim de explicitar que a história do homem é
uma história dialética, pois alguns se mantêm em um estado de
consciência (capitalistas) e outros em um estado de alienação
(proletariado), e para acabar com a alienação deve haver uma luta de
classes, ou seja, uma luta entre a classe consciente e a classe alienada;
- não há nada fora do espírito absoluto, nem início, nem fim, nada; não
existe eternidade sem história;
- o espírito absoluto percorre a história e a eternidade de maneira
absoluta, mas para que esse espírito possa continuar a se dirigir, a ter um
destino, ele se encontra, por vezes, em um estado de desalienação;
- o espírito absoluto tem um caminho a percorrer, mas para percorrê-lo
precisa de um método, de um meio pelo qual ele possa percorrer esse
caminho, um veículo;
- o método notado por Hegel é a dialética (dois lados em constate
oposição); portanto, o espírito absoluto está em um constante processo de
oposição consigo mesmo  é como se o espírito absoluto não tivesse um
caminho linear, mas sim vive-se em altos e baixos, sendo os momentos
de oposição consigo mesmo o período em que está em alta, pois está
consciente de si mesmo (desalienado), ao passo que quando está em
baixa está alienado em si mesmo; esses períodos representam,
respectivamente, períodos em que a sociedade está em paz e em guerra;
- o bem comum na sociedade política também sofre o processo dialético.

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*Ditado: "Para Hegel, o espírito absoluto funde história e eternidade e objetiva-
se por meio do método dialético. Por vezes, é consciente de si, e em outros casos,
aliena-se a si próprio. Na visão de Hegel, o espírito existe quando objetiva-se na historia
eterna.".

*Filosofia do direito a partir da noção de espírito absoluto:


- a ideia do método dialético impõe uma ideia acerca da forma adequada
pela qual o espírito absoluto caminha de maneira opositiva; dessa forma,
para que o espírito absoluto possa percorrer o caminho da
consciência/alienação de si, precisa de uma forma adequada para isso:
uma espécie de conjunto de estruturas históricas dentro das quais o
espírito absoluto se objetiva;
- para que o espírito absoluto possa tomar consciência de si no que diz
respeito ao conhecimento científico, é fundamental que existam
instrumentos científicos para que esse esclarecimento venha a tona; os
instrumentos referidos são estruturas históricas/formas adequadas que
permitem que o espírito absoluto saio do estado de alienação para o
estado de consciência de si; sem essas estruturas/formas/instrumentos, o
espírito absoluto não tem como praticar sua dialética;
- portanto, direito para Hegel é o mecanismo pelo qual os indivíduos, os
sujeitos, aderem ao espírito pela liberdade; o direito é o mecanismo que
permite que os indivíduos possam entrar no espírito absoluto por meio da
liberdade; “eu tenho vontade de tomar consciência de mim na história;
vontade de aderir ao espírito absoluto; vontade de no fundo tomar
consciência de mim dentro do espírito da história”; o mecanismo para
concretizar as vontades do livre arbítrio é o direito por um ato de
liberdade;
- direito é a forma que leva a liberdade do indivíduo para a consciência
de si mesmo; no exercício da liberdade própria, se deixa de ser um
sujeito alienado e se passar a ser um agente consciente; logo, o indivíduo
é uma imagem do espírito absoluto;
- nunca somos plenamente conscientes ou alienados, pois sempre há uma
dialética em um grau universal do espírito absoluto; o direito formaliza a
liberdade do espírito para que possa tomar consciência de si;
- o espírito absoluto é tudo, porém também sofre estado de alienação
quando os sujeitos históricos estão alienados; o direito é a forma que, a
partir da liberdade, troca o lado da dialética.

*Ditado: "Para Hegel, o direito é a forma pela qual os sujeitos históricos tomam
consciência de si através da liberdade. Por um ato livre, os sujeitos só tomam
consciência de si mesmos no espirito absoluto.".

*Escala de determinação  significa a passagem do mundo subjetivo para o


mundo objetivo, do mundo interior (pessoal) para o mundo exterior (social). Hegel,
quando apresenta a ideia de que tomamos consciência de nós mesmos através da
liberdade e por meio do direito como forma, afirma que esse processo é ir do subjetivo
para o objetivo; de maneira concreta quando falamos em liberdade normalmente
pensamos nela na nossa convivência social, só que a liberdade pressupõe um ato
interior: um ato de vontade (subjetivo), que leva o indivíduo a agir de tal maneira

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(objetivo). Com base nisso, Hegel diz que esse processo de mergulho no
espírito/tomada de consciência de si através da liberdade respeita três etapas/planos:
- indeterminação  exemplo concreto: um indivíduo foi se inscrever no
vestibular; ficou em dúvida entre três cursos; estava em um estado de
indeterminação. Portanto, é quando a pessoa ainda esta em um estado
abstrato, onde ainda não colocou a sua decisão de maneira concreta; é um
estado indeciso, inconcluso, indeterminado, onde não há decisão;
- determinação  existe uma decisão; sai de um estado de alienação e
entra num estado de consciência, de tal forma que surge a vontade;
- autodeterminação  quando se entra no estado de consciência, se deve
determinar dentro do espirito, passando a se autodeterminar, a tomar
consciência plena de si neste ou naquele ato especifico (a minha carreira
profissional).
Exemplo concreto de cada etapa:
1) decisão do que fazer;
2) cursar e se formar;
3) trabalhar durante bastante tempo até tomar consciência da sua
profissão.

*O direito reconhece que o indivíduo tem direitos abstratos (liberdade de


consciência para sair do estado de alienação), reconhece que pode tomar certas decisões
e reconhece que é um sujeito não apenas individual, mas um sujeito de direito para os
outros. Portanto, ao reconhecer isso, o direito reconhece que o indivíduo também é um
sujeito social. Para Hegel, existe uma escala de determinação que leva o individuo de
um estado de alienação para um estado de consciência em determinado ato de sua vida.

*Ditado: "Para Hegel, o percurso da liberdade é trilhado dentro de uma escala de


determinação: indeterminação (plano subjetivo puro, ou seja, quando o sujeito apenas
detém direitos em abstrato – possibilidades –, como, por exemplo, a liberdade de
consciência), determinação (quando o sujeito livre decide, objetivando-se no mundo
externo; por exemplo: eu decido ser biólogo), autodeterminação (quando o sujeito toma
consciência de si no espirito absoluto, determinando para si o caminho certo no
espirito).".

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