Crónica de D.João I - Capítulo XI

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Fernão Lopes, Crónica de D.

João I

CAPÍTULO XI

Estamos no pós morte de D.Fernando.

«Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló
foi Alvoro Paaes muitas gentes com ele»

O título do capítulo antecipa os acontecimentos que irão ser narrados ao


longo deste: Lisboa vai ser alvo de grande alvoroço. Alvoroço esse que terá a
ver com Álvaro Pais, uma das personalidades que apoiava Mestre de Avis.

Situação Inicial: CONVOCAÇÃO, APELO

Temos um pajem que grita que estão a matar o Mestre, que lança o caos em
Lisboa. Claramente, este pajem está dentro de um segredo que fora
arquitetado por Álvaro Pais e por D.João Mestre de Avis. D.João queria que
pensassem que o estavam a matar no Paço da Rainha. Uma vez que o pajem
sabe o objetivo do Mestre, ele tem um destino, a casa de Álvaro Pais. Este é
o apelo que se faz ao povo de Lisboa.

Posteriormente, é Álvaro Pais que brada que estão a matar o Mestre, ou seja,
continua a dar credibilidade ao boato. De tal forma que, Álvaro Pais não se
esquece de fazer referência a que D. João é filho de D.Pedro, associando-o
assim à família real, dando credibilidade e por outro lado porque recorda
aqueles tempos em que D.Pedro teve uma relação com Inês de Castro
(Castelhana) e portanto havia o perigo de perdermos a independência. O
povo é levado, por Álvaro Pais, através das ruas de Lisboa até ao Paço da
Rainha.

Chegando ao Paço o povo mostra vontade em invadi-lo, uma vez que as


portas estão fechadas. Subindo aos muros, deitando fogo às portas porque
estavam a matar D.João. Depois chega a notícia de que quem está morto é o
Conde Andeiro. No entanto, o povo não acredita e exige ver D.João. Este
exita, mas é aconselhado a mostrar-se devido à tamanha revolta do povo.

O povo apoia o mestre, tanto que mesmo depois de se mostrar continua a


haver pessoas a duvidar de que aquela pessoa seja o verdadeiro Mestre.
Aqui temos a verificação de que se o povo tivesse invadido o Paço da
Rainha, a rainha teria sido morta.
É de tal forma esta imagem de comunhão com o Mestre que este começa o
seu discurso por chamar «amigos» ao povo, há aqui a construção de uma
identidade nacional. Há quem sugira ao Mestre que saia do Paço porque só
lá estão traidores e outros sugerem mesmo que para além de ele ter matado
o Conde Andeiro também tivesse matado a rainha. Mas não era esse o
objetivo de D.João, o objetivo era que o Mestre fosse legitimado pelo povo de
Lisboa.

D.João sai do Paço e a primeira coisa que o povo lhe pergunta é o que ele
quer que eles façam. E D.João diz que naquele momento mais nada, aquilo
que ele e Álvaro Pais queriam está feito, o Mestre está legitimado como
candidato a rei pelo povo de Lisboa.

Temos uma ação que vai em crescente, é uma gradação.


1. Convocação: através do tal boato que o Pajem espalha.

2. Movimentação: Do povo na sua totalidade, homens, mulheres. O povo,


enquanto personagem coletiva que se movimenta e que se concentra
na porta do Paço.

3. Concentração

4. Aclamação: O povo quer ver o Mestre porque querem aclamá-lo, mas


querem também ter a certeza de que o boato não é verdadeiro.

5. Dispersão: Quase como uma autorização do Mestre para que o povo


dispersasse pela cidade.

O povo mostra que existe uma relação de confiança e de defesa entre ele e
D.João I, eles estavam dispostos a invadir o Paço da Rainha e salvar o
Mestre.

Personagens individuais: Mestre, Pajem, Álvaro Pais.

Mestre: Carismático, afável, humano, estimado pelo povo.

Álvaro Pais: homem bom, um homem que quer esta ligação entre o povo e o
Mestre, estratega.
Personagem coletiva: Povo. «as gentes», «todos», «a gente», «aquelas
gentes», «as donas da cidade».
1º momento: Movimento de concentração: indignação, revolta e agressão.

2º momento: Movimento de dispersão: alívio, serenidade e satisfação.

● Dentro desta personagem coletiva temos uma gradação:

Curiosidade Agitação
Indignação Desorientação
Determinação Precipitação
Empenho Desconfiança
Mobilização Alívio
Impaciência

Dinamismo da narração: marcas linguísticas.

● Utilização de verbos de movimento


● Recurso ao discurso direto
● Emprego de advérbios expressivos
● Campo lexical relacionado com movimento ou ruído
● Descrição de espaços de forma gradual (rua, janela do Paço, rua,
Paços do
Almirante).

Visualismo: leva o leitor a “ver” e a “viver” os acontecimentos.

● Utilização de pormenores
● Valor pictórico do discurso
● Sensorialismo (visão)
● Metáfora, personificação, comparação
● Expressões valorativas
● Conjugação de planos

● O discurso direto reproduz os apelos à população, mostra a


fidelidade e o contentamento da população.
● O texto está cheio de arcaísmos e neologismos.

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