2021 - Cartografia de Geossistema

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

THIAGO SILVA FORTE

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E CARTOGRAFIA DE


GEOSSISTEMAS COMO SUBSÍDIO AO
PLANEJAMENTO TERRITORIAL
DE DIVISA NOVA, SUL DE MINAS GERAIS

Alfenas - MG
2021
THIAGO SILVA FORTE

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E CARTOGRAFIA DE GEOSSISTEMAS COMO


SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO TERRITORIAL
DE DIVISA NOVA, SUL DE MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação Stricto sensu em Geografia (PPGEO)
da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
como requisito final para a obtenção do título de
Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Marques Neto

Alfenas – MG
2021
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Alfenas

Forte, Thiago Silva.


F737d Diagnóstico ambiental e cartografia de geossistemas como subsídio ao
planejamento territorial de Divisa Nova, sul de Minas Gerais. / Thiago Silva
Forte. -- Alfenas/MG, 2021.
129f.: il. –

Orientador: Roberto Marques Neto.


Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de
Alfenas, 2021.
Bibliografia.

1. Paisagem. 3. Mapeamento ambiental. 4. Geografia física.


I. Marques Neto, Roberto. II. Título.
CDD-910.02

Ficha Catalográfica elaborada por Fátima dos Reis Goiatá


Bibliotecária-Documentalista CRB/6-425
25/11/2021 20:31 SEI/UNIFAL-MG - 0636686 - Folha de Aprovacao

THIAGO SILVA FORTE


 
 
 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E CARTOGRAFIA DE GEOSSISTEMAS COMO SUBSÍDIO AO PLANEJAMENTO
TERRITORIAL DE DIVISA NOVA, SUL DE MINAS
 
 
A Banca examinadora abaixo-assinada aprova a
Dissertação apresentada como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Geografia  pela
Universidade Federal de Alfenas. Área de concentração:
Análise Sócio- Espacial e Ambiental.
 
Aprovada em: 04 de Maio de 2021
 
Prof. Dr.Roberto Marques Neto
Instituição: Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
 
Prof. Dr. Clibson Alves dos Santos
Instituição: Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL- MG 
 
Prof. Dr. Thomaz Alvisi de Oliveira
Instituição: IFSULDEMINAS - Campus Poços de Caldas
 

Documento assinado eletronicamente por Thomaz Alvisi de Oliveira, Usuário Externo, em


22/11/2021, às 15:35, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do
Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Clibson Alves dos Santos, Professor do Magistério
Superior, em 25/11/2021, às 14:26, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º,
§ 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Roberto Marques Neto, Usuário Externo, em 25/11/2021,
às 16:49, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539,
de 8 de outubro de 2015.

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“Ostras felizes não produzem pérolas”
Rubem Alves.
Dedico aos meus avós
Maria Geralda, Osmarina
M. Forte e Ismar Alves
(Em memória) ...
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida, que me foi dado e serviu
de alicerce em tempos tenebrosos quanto esses em que estamos vivendo. Agradeço
aos meus familiares pelo apoio.
Agradeço ao meu Orientador Professor Doutor Roberto Marques Neto por este
tempo de aprendizado e compreensão nesta empreitada. Agradeço ao programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Alfenas, ao Professor
Doutor Flamarion Dutra Alves pelo suporte que me foi necessário.
Agradeço ao incansável André Luís Bellini, pelas aulas e assessorias nas
elaborações dos mapas, amizade que fiz dentro da Geografia e levo para a vida. Seu
apoio foi fundamental para consecução deste projeto.
Agradeço aos colegas de mestrado, em especial a Renata Vieira Melo pelas
motivações, pelo apoio e parceria nos momentos mais difíceis desta trajetória, e aos
demais colegas e professores pelas contribuições importantes.
Ao Professor Doutor Paulo Henrique de Souza pela oportunidade que me foi
dada como seu estagiário, as vezes pequenos gestos nos motivam por uma vida
inteira.
Aline Bastos, pelo cuidado, carinho e amizade, motivação e principalmente por
não me deixar desistir, muito obrigado. Agradeço a todos que direta ou indiretamente
contribuíram com essa caminhada.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES)- Código de
financiamento 001.
RESUMO

A abordagem sistêmica é um método utilizado pela Geografia Física. Historicamente


se desenvolveu a partir do rompimento de concepções religiosas acerca dos
fenômenos naturais, e esteve intrinsecamente presente nos trabalhos do geógrafo
naturalista Alexander von Humboldt antes mesmo de sua consolidação como método
de pesquisa. Esta abordagem se consolidou no meio científico através de Bertalanffy
(1963), com a obra Teoria geral dos Sistemas, sendo incorporada a Geografia
posteriormente. A Abordagem Sistêmica foi incorporada na Geografia pela escola
Russo-soviética através de Viktor B. Sochava (1978), com a concepção dos
geossistemas, e isto significou um avanço cognitivo na interpretação das
complexidades espaciais. Sabe-se que o meio ambiente é objeto de pesquisas de
diversas áreas do conhecimento em função da pressão que a atividade antrópica
exerce neste, gerando deveras impactos significativos que muitas das vezes podem
vir a se tornar irreversíveis, resultando em perca e extinção de espécies e nichos
ecológicos. Partindo desta premissa, a nossa área de estudos não está exclusa desta
realidade. Divisa Nova é considerado um pequeno município localizado no sul do
Estado de Minas Gerais, que tem como força motriz de sua economia, o uso e
ocupação do solo de forma predominante pela atividade agropecuária, que
consequentemente é responsável pela pressão exercida sobre o meio ambiente em
conjunto com a ocupação urbana.
A partir desta conjectura, esta pesquisa tem por objetivo realizar o estudo integrado
da paisagem no município de Divisa Nova (MG), sob a óptica geossistemica russo-
soviética com adequações metodológicas visando viabilizar a composição de classes
de geossistemas, como subsídio ao planejamento ambiental, por meio do diagnóstico
e mapeamento Geoambiental. De posse destas informações preliminares é possível
proceder à elaboração de estratégias e ações com intuito de mitigar os impactos
ambientais encontrados.

Palavras-chave: Geossistemas; Paisagem; Método Sistêmico; Geografia Física.


ABSTRACT

Nature has undergone several transformations as a result of the pressures exerted by


society and its exploratory economic model, Capitalism. The transformations occurred
in Nature culminate in the existing spatial configuration, which in turn is the object of
study of Geography, that is, the relations of Man with Nature. Thus, with this research,
the objective is to carry out the integrated study of the landscape in the municipality of
Divisa Nova (MG), under the geosystemic perspective as a subsidy to environmental
planning. The municipality suffers from serious problems of territorial order for the
preservation and conservation of its natural resources, such as the lack of an adequate
territorial planning and planning, absence of sewage treatment, pressure from
agricultural cultivation by pesticides, territorial expansion, among others. In this way,
the systemic approach proceeds through the work of Sochava (1968), theory of
geosystems, to achieve the analysis of potentialities and weaknesses through
Geoenvironmental mapping, and to propose strategies and solutions to mitigate the
environmental impacts caused in the area of study. The systemic approach is a method
used by Physical Geography. Historically it developed from the breaking of religious
conceptions about natural phenomena, and was intrinsically present in the works of
naturalist geographer Alexander von Humboldt even before its consolidation as a
research method, and was consolidated through Bertalanffy (1963), with the work
General Systems Theory, Geography being later incorporated.

Keywords: Geosystems, Landscape, Systemic method, Physical Geography.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Uso e ocupação da Terra no Município de Divisa Nova-MG na escala


temporal de 2006 a 2016. ..................................................................... 19

Figura 2 - Lixo descartado de forma inapropriada em valas abertas. ...................... 21

Figura 3 - Fluxograma síntese do procedimentos metodológicos. .......................... 26

Figura 4 - Modelo de Rilley. .................................................................................... 28

Figura 5 - Mapa de distribuição de pontos de validação no município de DN. ........ 29

Figura 6 - Tabela matriz de confusão gerada pelo plugin Acatama. ....................... 30

Figura 7 - Fórmula estatística do índice Kappa ....................................................... 31

Figura 8 - Tabela do excel para cálculo do índice Kappa. ....................................... 32

Figura 9 - Critérios utilizados na avaliação do índice Kappa. .................................. 32

Figura 10 - Estrutura metodológica para mapeamento geomorfológico .................... 34

Figura 11 - Pontos onde foram realizados trabalho de campo em DN ...................... 36

Figura 12 - representação esquemática de um sistema Linear. ................................ 43

Figura 13 - Representação do Anel Tetralógico. ....................................................... 43

Figura 14 - Terminologia e classificação dos sistemas segundo Chorley e Kennedy,


1971. ...................................................................................................... 46

Figura 15 - Divisão taxonômica dos geossistemas ................................................... 65

Figura 16 - Vista aérea do sítio urbano do município. ............................................... 68

Figura 17 - Localização das de Divisa Nova/MG. ...................................................... 69

Figura 18 - Mapa hipsométrico do município de Divisa Nova-MG............................. 72

Figura 19 - Mapa de Declividade do município de Divisa Nova-MG. ........................ 74

Figura 20 - Mapa do índice de Rugosidade do Município de Divisa Nova-MG. ........ 76

Figura 21 - Mapa de Compartimentos geomorfológicos de Divisa Nova-MG. ........... 77

Figura 22 - Terraço Fluvial em Divisa Nova-MG. ...................................................... 78

Figura 23 - Mapa Geológico da área de estudos. ..................................................... 79


Figura 24 - Mapa pedológico da área de estudos. .................................................... 81

Figura 25 - Localização do município (DN) na unidade de planejamento GD3. ........ 82

Figura 26 - Mapa das Microbacias do município de Divisa Nova-MG. ...................... 83

Figura 27 - Descarte de Efluentes no Córrego da Lagoinha ..................................... 85

Figura 28 - Descarte de Efluentes no Córrego da Fábrica ........................................ 85

Figura 29 - Captação de água no córrego da lagoinha ponto (a). ............................. 86

Figura 30 - Estação de captação em um ponto do Córrego da Lagoinha ponto (b)..88

Figura 31 - Assoreamento, água turva e pisoteamento das margens do Córrego


Alegre......................................................................................................87

Figura 32 e 33 - Ponto de Confluência entre os córregos e o Rio Cabo Verde ......... 88

Figura 34 - Rio Cabo verde, Divisa Nova MG............................................................88

Figura 35 - Depredação e vestígios de fogo na ponte ............................................... 89

Figura 36 - Recorte de talude às margens do rio.......................................................92

Figura 37 – Feldspato Alterado..................................................................................90

Figura 38 - Planície de inundação do Rio Cabo Verde ............................................. 91

Figura 39 - Gado na planície inundada .................................................................... 91

Figura 40 - Material em suspensão............................................................................94

Figura 41 - Oleosidade na água.................................................................................92

Figura 42 - Material difuso em suspensão.................................................................95

Figura 43 - Leito Assoreado.......................................................................................92

Figura 44 - Cachoeira do Pedregal. .......................................................................... 93

Figura 45 - Cachoeira Water fall................................................................................ 94

Figura 46 - Mapa de uso e ocupação da terra do município de Divisa Nova-MG. .... 95

Figura 47 - Vegetação por associação e predominância por área/atividade. ............ 99

Figura 48 - Jequitibá Rosa de DN-Cariniana estrellensis .......................................... 98


Figura 49 - Canal usado para cultivo ......................................................................... 99

Figura 50 - Geossistemas de Divisa Nova, Minas Gerais. ...................................... 100

Figura 51 - Legenda Mapa de Geossistemas.......................................................... 102

Figura 52 - Diversidade de Geossistemas. ............................................................. 104

Figura 53 - Latossolo em relevo colinoso preparado para cultivo de cana. ............. 105

Figura 54 - Geossistema 29 - Morrarias e colinas intermontanas com floresta


estacional semidecidual sobre latossolos com incidência de Cana,
substrato Paragnaisse .......................................................................... 106

Figura 55 - Geossistema 15 - Morrarias e colinas intermontanas sobre latossolos


com influência de área urbana, substrato Migmatito. ........................... 107

Figura 56 - Geossistema 22 - Vertentes dissecadas e morrarias intermontanas sobre


latossolos com incidência de café e pastagem, substrato Paragnaisse.
............................................................................................................. 108
Figura 57 - Proposta de Zoneamento Ambiental, Divisa Nova – MG.......................112

Figura 58 - Pintura rupestre em Ortognaisse de DN................................................113

Figura 59 - Aterro controlado .................................................................................. 113

Quadro 1 - Quadro percentual de declividade do território .......................................76

Quadro 2 - Síntese de critérios para o Zoneamento Ambiental ..............................117


LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária


APP Área de Preservação Permanente
CONAMA Conselho nacional do Meio Ambiente
COPASA Companhia de saneamento e Minas Gerais
DN Divisa Nova
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDE Modelo Digital de Elevação
IPHAN Instituto nacional do Patrimônio Histórico Artístico e Natural
Brasileiro
PMDN Prefeitura Municipal de Divisa Nova - MG
SNIS Sistema Nacional de Informações de Saneamento Básico
UNIFAL-MG Universidade Federal de Alfenas
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14
1.1 Considerações Gerais .............................................................................................. 14
1.2 Justificativas ............................................................................................................. 17
1.3 Objetivos ................................................................................................................... 21

2 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 23
2.1 Elaboração do banco de dados ............................................................................... 26
2.2 Elaboração dos mapas temáticos............................................................................ 28

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 38


3.1 Fundamentos Teóricos da Abordagem Sistêmica.................................................. 38
3.2 A Abordagem Sistêmica e a Geografia Física......................................................... 44
3.3 Diferenciação de áreas e as sínteses naturalistas ................................................. 49
3.4 A categoria Paisagem, concepções e evolução do conceito na Geografia
Física ........................................................................................................................ .53
3.5 Geossistemas: aportes teóricos .............................................................................. 59

4 A ÁREA DE ESTUDO, HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO ............................ 68

5 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE DIVISA NOVA .............................................. 71

5.1 Resultados cartográficos ............................................................................... 71


5.1.1 Geomorfologia de Divisa Nova .................................................................................... 71
5.1.2 Declividade ................................................................................................................. 72
5.1.3 Rugosidade................................................................................................................. 75
5.1.4 Compartimentação Geomorfológica .............................................................................77
5.2 Geologia .................................................................................................................... 78
5.3 Pedologia................................................................................................................... 80
5.4 Hidrografia................................................................................................................. 81
5.5 Clima .......................................................................................................................... 94
5.6 Usos da terra ............................................................................................................. 94
5.7 Vegetação .................................................................................................................. 95

6 CARTOGRAFIA DOS GEOSSISTEMAS ........................................................ 100

7 ZONEAMENTO AMBIENTAL .......................................................................... 109


7.1 Propostas de Mitigação de Impactos Ambientais ................................................... 116

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 118

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 121


14

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Gerais

Os estudos acerca das questões relacionadas a Natureza e sua apropriação


pelo homem despertam o interesse de diversas áreas da ciência. Isto se dá em função
da grande importância que a mesma tem para todo o complexo de vida do planeta, e
a notoriedade que a temática ambiental adquiriu em eventos catastróficos recentes.
Ademais esta importância se estende à consecução do modo de vida da
sociedade nos dias atuais no tocante aos aspectos socioeconômicos e na
manutenção do seu modo de produção dominante, o Capitalismo. Por meio deste
modo de produção, o consumo dos patrimônios naturais de forma exacerbada tem
gerado escassez e impactos deveras irreversíveis à Natureza e à vida no planeta.
Os processos de urbanização e os avanços do grande capital tem tido papel
preponderante na organização espacial e nos impactos ao meio ambiente fruto da
ação antrópica e suas relações recíprocas com a natureza que, através da
tecnificação do espaço e seu uso exacerbado transformam as paisagens e ditam a
formação de uma identidade cultural em determinado local (entendendo cultura como
todo o trabalho humano manifesto no espaço geográfico).
O rápido crescimento populacional e a expansão urbana causam pressão
significativa sobre o meio biofísico, tendo consequências diversas, tais como: poluição
atmosférica, do solo, dos corpos hídricos, movimentos de massa, enchentes muitas
vezes levando a tragédias como a perca de vidas e a extinção de espécies e nichos
biológicos responsáveis por prestarem serviços ecossistêmicos fundamentais à
manutenção do equilíbrio ambiental e social.
Dialeticamente, a produção de espaço rural também pode interferir na dinâmica
territorial de localidades, aliado a falta de planejamento e ordenamento urbano, o
domínio de posses de terras e a atividade agropecuária podem vir a ser barreiras à
expansão das cidades e o acesso à moradia.

Diversos são os impactos socioambientais negativos advindos desta relação


dialética, e esses impactos interferem diretamente na qualidade de vida da população.
A exemplo disto estão o descarte de agrotóxicos em corpos hídricos de capitação de
água, poluição atmosférica por partículas de agrotóxicos sendo dispersadas próximas
a área urbana, que se somam à problemas respiratórios já recorrentes de outros
15

fatores como a poluição atmosférica gerada pelas atividades antrópicas urbanas,


queimada de cana-de-açúcar e seus desdobramentos, perda de solos cultiváveis e
falta de alimentos, erosão e degradação dos solos e diversos outros problemas de
saúde pública.

Para Ross (1994), os estudos relativos às fragilidades dos ambientes são de


extrema importância ao planejamento ambiental. A identificação dos ambientes
naturais e suas fragilidades potenciais emergentes proporcionam uma melhor
definição das diretrizes e ações a serem implementadas no espaço físico-territorial,
servindo de base para produtos como o zoneamento, fornecendo subsídios a gestão
do território.

Estudar as relações antrópicas com a natureza não é mais somente um


problema corológico e de interpretação dos processos naturais em detrimento de uma
ontologia do ser, ou transcendência religiosa, ou até mesmo o modismo vendido pelo
mercado criador de produtos e tendências consumistas. Perpassa pela necessidade
de se pensar o ordenamento territorial afim de otimizar recursos e evitar acidentes. As
questões relacionadas aos problemas ambientais são complexas e envolvem até
mesmo o risco de vida de populações, sejam elas humanas ou animais, e a extinção
de composições abióticas do espaço. Diante disto, é fundamental pensar o arranjo
espacial de forma que haja utilização racional do mesmo.
Desta forma, a Geografia como ciência se ocupa das relações do homem com
o espaço geográfico e sua organização, e interpretar o espaço geográfico como objeto
de pesquisa pelo viés dos impactos gerados pelo homem no meio físico, requer a
adoção de métodos que são inerentes a complexidade apresentada pelos arranjos
espaciais decorrentes desta interação.
O enfoque sistêmico através da Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig
Bertalanffy (1973), abriu novas perspectivas para a ciência geográfica no que tange
ao entendimento da integridade da natureza. Esta concepção permite que o meio
geográfico seja compreendido como um sistema hierárquico que possui em si uma
integridade e que é dividido em integridades subordinadas (Sochava, 1978).
Ao incorporar a abordagem sistêmica aos estudos da paisagem, Viktor
B.Sochava, ainda na década de sessenta do século passado, fez com que houvesse
um salto cognitivo no raciocínio geográfico que possibilitou responder a uma demanda
social complexa.
16

A abordagem sistêmica foi incorporada aos estudos da paisagem através dos


geossistemas por Sochava, corroborando com a demanda de avaliar a capacidade
dos geossistemas de resistir aos impactos humanos nas intervenções ao meio
ambiente em grandes projetos como as metropolizações de cidades, processos de
industrialização, construção de barragens, construção de rodovias e ferrovias,
transposições de água, a expansão da agricultura intensiva sobre o território por
intermédio da mecanização da mão de obra, ou seja; não bastava mais apenas
identificar as unidades de paisagens, mas entender o resultado dos impactos gerados
e a capacidade de resiliência do meio ambiente frente à essas intervenções de forma
dialética (RODRIGUEZ et al. 2019).
Ao realizar um recorte espacial para análise como o de um pequeno município
por exemplo, é possível extrair informações importantes de características particulares
desta localidade como: Densidade demográfica e fenômenos sociais que se
distribuem naquele lugar em função de aspectos culturais e econômicos próprios,
microclimas, composição de solos, padrões geomorfológicos que se apresentam
naquela paisagem e biomas que se formam pelas condições biofísicas e químicas
específicas da territorialidade. Estes fatores associados e delimitados a partir da
compreensão de suas funções no espaço geográfico formam os geossistemas.

Portanto objetiva-se com esse trabalho, diagnosticar os problemas ambientais


de Divisa Nova, município do sul de Minas Gerais, com premissas engendradas no
estudo integrado da paisagem, sob a óptica geossistemica russo-soviética com
adequações metodológicas visando viabilizar a composição de classes de
geossistemas, como subsídio ao planejamento ambiental, por meio do diagnóstico e
mapeamento Geoambiental.

De posse dos resultados obtidos, o desfecho esperado se encontra na


proposição de ações mitigadoras para os impactos negativos encontrados e, mediante
ao cenário visualizado, delimitar um Zoneamento Geoambiental que poderá vir a se
tornar uma importante ferramenta de análise e planejamento territorial.

Divisa Nova, é um município interiorano do sul do Estado de Minas Gerais com


um sítio urbano pequeno, e um população tipicamente pacata. O município possui um
território considerável, onde a atividade agropecuária é predominante, e os problemas
ambientais fruto destas atividades são recorrentes.
17

1.2 Justificativas

O município de Divisa Nova apresenta um cenário preocupante com relação ao


planejamento e ordenamento territorial, apresentando problemas ambientais graves,
o que assevera a relevância desta pesquisa.
O município é caracterizado por grandes propriedades rurais, o que de certa
forma limitou a expansão territorial de seu sítio urbano e também o seu
desenvolvimento. Através de uma abordagem empírica 1 realizada pelo autor em um
trabalho de iniciação científica, notou-se que houve nos últimos anos, o crescimento
acentuado do desmatamento de áreas rurais dando lugar ao cultivo de culturas como
o café e a cana-de-açúcar.
Fagundes (2014) explica que o estado de Minas Gerais vem se tornando um
dos novos territórios da cana-de-açúcar com um significativo avanço do setor
sucroalcooleiro. No caso da mesorregião Sul/Sudoeste, embora a cafeicultura
continue predominando, a mesma vem perdendo área para a cana-de-açúcar em
alguns municípios.
O principal motivo dessa expansão advém de sua proximidade com o estado
de São Paulo, onde essa cultura ocupa grandes extensões de terra, principalmente
com a criação da política do Proálcool, na década de 1970, como incentivo à plantação
de cana para a produção do combustível etanol (FORTE, 2018).
Em Divisa Nova, as áreas de cultivo de cana são terras arrendadas pela usina
Monte Alegre, do município de Monte Belo, complexo agroindustrial que foi adquirido
pelo grupo empresarial Adecoagro no ano de 2016, desta forma, vem ocorrendo
também o aumento na área ocupada por cana no município principalmente em áreas
de pastagem, em contrapartida ocorre também a diminuição da área plantada de café
(cultura essa muito forte na região do sul de Minas, e que foi a principal força motriz
da economia local) no mesmo, porém as duas culturas não disputam espaço, mas
subsistem enfraquecendo outros usos do solo (FORTE, 2018).
Moura (2017) comprovou, em sua pesquisa, ao realizar o mapeamento de uso
e ocupação do solo do município, entre 2006 a 2016, que houve avanço na área

1Segundo Chibeni (...) o Empirismo sustenta que o conhecimento se baseia e se adquire através do
que se apreende pelos sentidos. Admite-se, além de sentidos “externos” (visão, audição, tato, olfato e
paladar) a participação de um sentido “interno” (introspecção), que nos informa acerca de nossos
sentimentos, estados de consciência e memória. Epistemologia: noções introdutórias – Silvio Seno
Chibeni- acessado em 04/08/2020.
18

ocupada pela cultura de cana-de-açúcar, passando de 16,45 km² para 29,19km²


(IBGE, 2016). No entanto, essa expansão se deu sobre as áreas de pastagem, e não
da cafeicultura (figura 1).

Figura 1 - Uso e ocupação da Terra no Município de Divisa Nova - MG na escala temporal de 2006
a 2016.

Fonte: Moura, 2017.


19

O plano diretor de Divisa Nova data de 2006 e já possui 14 anos, sendo assim,
nunca foi revisto, não houve avaliação sistemática das metas propostas nele contidas
e se as mesmas foram executadas por parte dos gestores municipais nos anos
seguintes a sua confecção. A recomendação segundo o Estatuto das Cidades, Lei n°
10257/2001, em seu artigo 39, parágrafo 3°, é que o plano diretor seja revisto a cada
dez anos. O conteúdo do documento é generalista e pouco se aprofunda nas questões
técnicas de planejamento ambiental.
O plano diretor de Divisa Nova, é oriundo de um consórcio entre Furnas
Centrais Elétricas e os municípios que são banhados pelo lago de Furnas, e foi
fomentado em função do plano de aceleração do crescimento do Governo Federal
vigente naquele período, que exigia em sua época o plano diretor para que os
municípios angariassem recursos financeiros e insumos da esfera Federal.
Nota-se a ausência de uma secretaria de meio ambiente e planejamento, e as
decisões com relação aos problemas ambientais do município ficam sem serem
contempladas. O plano de saneamento básico é também generalista. De certa forma,
o poder público sempre busca a confecção destes documentos para conseguir
recursos financeiros das outras esferas de atuação, sem se preocupar com seus
desdobramentos, ou ter uma equipe técnica de avaliação e execução dos
documentos.
O município não possui base de dados cartográficos georreferenciados nem
mesmo a planta cadastral de seus imóveis e propriedades público/ privadas, o que
gerou uma ação do ministério público impedindo a transferência e venda de
propriedades nos limites territoriais do mesmo até que a situação seja regularizada,
desta forma apenas a usucapião como modalidade de posse de terras está sendo
aceito como processo para transferência de propriedades no município.
O cemitério da cidade se encontra com sua capacidade total quase exaurida e
há dificuldades de se encontrar outra localidade para o estabelecimento de outro
cemitério pelo problema citado acima, e por não haver disponibilidade de locais em
função das propriedades rurais do entorno urbano, ou seja, dentro da cidade não há
mais disponibilidade de terrenos, e as propriedades rurais já estão incorporadas à
pequenos sítios ou em grandes latifúndios.
Essa questão se torna um problema jurídico, uma vez que o Estado tem
prioridade no interesse a qualquer propriedade dentro de seu território o que é
20

amparado pela Constituição Federal, gerando assim um conflito político local na


disputa por propriedades.
O cemitério existente se localiza na região central da cidade e na parte mais
elevada da mesma. Os efeitos negativos de sua localização e os reflexos por ele
causados são diversos, dentre eles podemos citar a água da chuva que percola no
solo causando erosão e deslizamento de massas, o que causou a queda de grande
parte de sua estrutura. Além é claro de água composta por fatores químicos e
biológicos de decomposição dos corpos que se depositam nos níveis freáticos do
entorno e que são captadas por exemplo, para irrigação de lavouras, inclusive de uma
horta comunitária municipal.
Da mesma forma o município não possui estação de tratamento de esgotos, e
esse rejeito é descartado nos corpos hídricos do entorno da cidade gerando uma
cadeia de poluição dos mesmos. O agravante é que no percurso desses corpos
hídricos brotam outras nascentes de água que são utilizadas pela população rural e
urbana na irrigação de lavouras, dessedentação de animais na pecuária e também os
domésticos, no consumo próprio.
Ademais, há também a situação do descarte de lixo conforme mostrado figura
2 e a ausência de um aterro sanitário adequado, a prefeitura municipal abre valas para
deposito dos rejeitos causando processos de ravinamento e erosões, além de
acúmulo de chorume no solo por falta de impermeabilização. A prática do cultivo
agrícola e suas implicações também são fortemente presentes no território do
município causando desmatamento, compactação e subutilização da capacidade de
uso dos solos resultando na instauração de processos erosivos em suas variadas
formas de expressões físicas, e na dispersão e acumulação de agentes químicos no
meio ambiente resultantes de adubos e fertilizantes além dos remédios contra pragas.
21

Figura 2 - Lixo descartado de forma inapropriada em valas abertas.

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

A relevância da pesquisa se dá por um conjunto de fatores, dentre eles pode


se destacar a ausência ou até mesmo a inexistência de trabalhos desta natureza para
a área de estudos, em específico nesta escala de análise através do conceito de
geossistemas russo-soviético, onde no Brasil a maioria dos trabalhos desenvolvidos
se valem do viés Francês “Bertrandiano” (CAVALCANTI, 2013).
A relevância se estende à importância da gestão territorial e na ausência de
instrumentos importantes para o planejamento ambiental visando a preservação dos
patrimônios naturais, que em consequência trarão retorno à sociedade em forma de
serviços ecossistêmicos fundamentais e a consecução dos ecossistemas.

1.3 Objetivos

O objetivo geral do presente trabalho consiste em realizar um estudo integrado


da paisagem no município de Divisa Nova (MG), sob a óptica geossistêmica como
subsídio ao planejamento ambiental.

Objetivos Específicos:
 Promover um diagnóstico ambiental do município com ênfase no meio físico;
 Identificar e discutir os principais impactos ambientais existentes;
22

 Construir base de dados cartográfica para pesquisas futuras;


 Realizar o Zoneamento Geoambiental;
 Propor ações mitigadoras aos impactos ambientais.
23

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Os estudos acerca das dinâmicas ambientais e suas complexidades exigem a


compreensão das interconexões que ligam os fenômenos naturais, sociais,
econômicos e culturais que ocorrem na paisagem.
Desta forma, foram utilizados para confecção deste trabalho, contribuições de
estudos acerca da temática da paisagem no âmbito da Geografia Física. Tais estudos
formam um conjunto de técnicas e procedimentos que podem ser utilizados como
subsídios à pesquisa e a aplicação prática no planejamento ambiental de localidades
e regiões.
Para Rodriguez et al. (2007, pág. 27), a fundamentação teórica e metodológica
de qualquer ciência se torna imprescindível em função do desenvolvimento de
pesquisas. Essa assertiva justifica a fundamentação de um campo conceitual e
teórico- metodológico para a ciência das paisagens, isto porque o conteúdo teórico de
qualquer disciplina científica é determinado pelo conjunto de leis e regulamentos de
caráter conceitual que sejam possíveis de estabelecer sobre um determinado objeto
de estudo, onde:

As leis, axiomas e postulados científicos de qualquer ciência constituem a


base teórico-conceitual, na qual estão inseridos todos os fundamentos
metodológicos, os métodos os procedimentos técnicos da disciplina, inclusive
a função social da mesma e as vias de aplicação prática. (RODRIGUEZ et
al., 2007, pág. 27)

Os estudos sobre o meio ambiente e as paisagens são multidisciplinares, isto


se dá por se tratar de um vasto campo de pesquisas englobando diversas áreas do
conhecimento, o que é passível de uma complementariedade entre diferentes áreas.
Este caráter inter e multidisciplinar2 permite um intercâmbio de conhecimentos
proporcionando o entendimento dos problemas, das transformações, das causas e
possíveis soluções por meio da interação escalar.
Desta forma Rodriguez et al. (2007, pág.28) listam os axiomas que são mais
comumente aceitos a respeito da teoria da paisagem, dos quais podemos destacar
pelo caráter desta pesquisa:

2
Entende-se por multidisciplinaridade a abordagem de um mesmo assunto por várias disciplinas cada
uma com suas especificidades e interdisciplinaridade como o trabalho coletivo de entre diversas
disciplinas com o objetivo de produzir vários conteúdos ao tratar-se de um mesmo objeto de pesquisa.
24

- O axioma sistêmico: onde o mundo em que vivemos é sistêmico,


caracterizando-se pela existência de formações inter-relacionadas, em que os
diferentes elementos relacionados entre si, formam um todo único e integral que se
difere do seu meio, mas se relaciona com ele.
- O axioma hierárquico: o mundo possui uma estrutura hierárquica no qual os
sistemas de nível inferior com propriedades comuns isomórficas refletem as
propriedades do sistema de nível superior. (Podemos exemplificar aqui os processos
e sistemas endógenos e exógenos das composições geomorfológicas).
- O axioma temporal: tudo o que se observa atualmente é fruto do
desenvolvimento do fragmento do mundo material que estudamos, sendo só um dado
momento no transcurso do desenvolvimento passado e futuro.
A partir dos axiomas podemos também destacar algumas derivações lógicas:
- A substancial: onde os processos geográficos só são compreensíveis em sua
manifestação existencial no espaço e no tempo;
- A espacial: todos os fenômenos geográficos estão unidos a certa localidade
geográfica que se torna independente dada sua peculiaridade, constituindo base para
relações espaciais com localidades vizinhas;
- E o continuum geográfico: todos os fenômenos geográficos e todas as partes
da superfície terrestre encontram-se em inter-relação, não se excluindo nenhuma
parte que não se inclua nesta especificação.
O método utilizado neste trabalho está pautado na abordagem sistêmica,
através do conceito de Geossistemas Russo-Soviético de Sochava.

Em condições normais deve-se estudar, não os componentes da natureza,


mas as conexões entre eles, não se deve restringir à morfologia da paisagem
e suas subdivisões, mas de preferência, projetar-se para o estudo de sua
dinâmica, estrutura funcional, conexões, etc. (Sochava, 1977, pág.2)

Para tanto, o geossistema em Sochava é entendido como uma unidade natural


dinâmica de qualquer dimensão. Sochava compreende os espaços ou paisagens
naturais através de um ponto de vista sistêmico, onde o espaço terrestre e todas as
suas dimensões e componentes encontram-se em uma relação sistêmica uns com os
outros, e como integridade, interatuam com a esfera cósmica e com a sociedade
humana (RODRIGUEZ et al., 2019).
25

Segundo Sochava (1978, pág. 2):

O capítulo central da Teoria dos Geossistemas é o estudo da dinâmica do


meio natural, que abre os caminhos diretos para a compreensão científica
da influência do homem sobre a estrutura e funcionamento dos mesmos
ajudando a descobrir dos impactos antropogênéticos sobre natureza...

O trabalho foi realizado em fases distintas descritas abaixo, porém, algumas


fases foram realizadas em conjunto conforme a aquisição de dados e referenciais
teóricos foram sendo obtidos:
1. Pesquisa e revisão bibliográfica (livros, artigos, dissertações e teses), referentes
aos temas: mapeamento geoambiental, cartografia, geoprocessamento, impactos
ambientais, geossistemas, geomorfologia, abordagem sistêmica, pedologia,
geologia e temas correlatos nas bibliotecas da UNIFAL-MG e virtuais de outras
instituições de ensino e pesquisa, bem como em artigos disponíveis em revistas
eletrônicas;
2. Coleta de dados: a) Dados secundários: Prefeitura Municipal de Divisa Nova
(MG), IBGE, INPE, EMBRAPA e demais sites especializados e instituições afins; b)
Dados primários: Trabalhos de campo, coleta de amostras imagens e
coordenadas geográficas para análise, mapeamento dos compartimentos
geomorfológicos, levantamento das problemáticas ambientais;
3. Elaboração dos bancos de dados:
- Elaboração das bases cartográficas através de dados vetoriais extraídos das
cartas do IBGE e outros órgãos na escala de 1/50.000.
- Tratamento das Imagens (CBERS 4A) de Sensoriamento Remoto e produção do
mapa de usos da Terra.
4. Interpretação e obtenção da classificação dos Geossistemas de acordo com a
integração dos mapas temáticos (uso e ocupação do solo, geológico,
hipsométrico, pedológico declividade) e a compartimentação geomorfológica
(IBGE, 2009) e características físicas do município com adaptações da base
metodológica em Sochava (1968).
- Elaboração do mapa síntese de Geossistemas na escala de 1:50.000. O mapa
foi elaborado a partir da sobreposição dos mapas temáticos, mapeando as
tipologias dos grupos de fáceis de acordo com a metodologia de Sochava (1978).
26

- Definição de unidades de planejamento para elaboração de um zoneamento


Geoambiental. Este zoneamento foi elaborado com base nas potencialidades e
restrições do meio apreendidas pela base metodológica.

Figura 3 - Fluxograma síntese dos procedimentos metodológicos.

Fonte: Organização do autor (2020).

2.1 Elaboração do banco de dados:

Para confecção dos mapas foi utilizado o software livre QGIS na versão 2.18.26
Las Palmas. Para elaboração dos mapas e base cartográfica foram utilizadas as
folhas cartográficas de Areado (folha SF-23-V-D-I-4), Botelhos (folha SF-23-V-D-IV-
1), Campestre (folha SF-23-V-D-IV-2) e Campo do meio (folha SF-23-V-D-I-3) após
georreferenciamento das mesmas na escala de 1:50.000.
27

Para o mapa geológico foram utilizados dados do Projeto Fronteiras de Minas


disponibilizados no portal da geologia (2014) na escala de 1:100.000, juntamente com
a base vetorial do Brasil elaborada pelo IBGE 2010, desta forma extraídos dados de
símbolos categorizados no menu de propriedades da camada vetorial após serem
mescladas as cartas (Folha Caldas - SF.23-V-D-IV, Folha Poços de Caldas - SF.23-
V-C-VI) e (FOLHA NOVA RESENDE - SF.23-V-D-I) Base IBGE 1970, os mesmos
procedimentos foram utilizados para os mapas de solo e geomorfológico geral.
Para os mapas de declividade, hipsométrico e extração de hidrografia e curvas
de nível foram necessários tratamentos do MDE (modelo digital de elevação) Aster
gdem com resolução espacial de 30 metros, que compreenderam a miscelânea e
composição de mosaico, reprojeção para o sistema plano SIRGAS 2000 UTM zona
23 Sul código EPSG 31983, recorte da área, criação de arquivo txt (texto) com regras
para classificação. Para confecção do mapa de declividades foram adotados critérios
de classes de declividade de acordo com o manual da EMBRAPA de (1979).
Para o mapa hipsométrico foi utilizado o tratamento do modelo digital de
elevação (MDE-ASTER GDEM), em banda simples falsa cor com valores mínimos e
máximos e também foi utilizado o sombreamento com variação z no valor 3.0, esse
valor nos dá uma relação mais aproximada das diferenças de altitude no mapa.
Para o mapa de IRT (índice de Rugosidade do terreno), foi utilizado o MDE
ALOS com resolução espacial de 12,5 x 12,5. Desta forma após o tratamento do MDE
foi obtido a declividade do mesmo e aplicado uma ferramenta do Plugin GDAL que é
própria para extrair o índice em densidade de mapa de calor.
Os procedimentos foram executados também com auxílio do complemento
GRASS GIS 7.4.2 que se utiliza de algoritmos específicos como o r.recode e o
r.reclass para as variáveis a serem incorporadas como declive e hipsometria.
A ferramenta utilizada no software Quantum GIS segue a metodologia de Rilley
et al. (1999), onde o índice é calculado pela soma da mudança da mudança de
elevação (em metros) entre uma célula (pixel) central e as oito células vizinhas numa
grade de 3x3.
28

Figura 4 - Modelo de Rilley.

Fonte: Rilley, 1999.

Para extração e delimitação de bacias, foi realizado o comando Gedal – ot Uint


16. Este comando de saída faz com que o MDE seja trabalhado pelo software com
números inteiros, ou seja não fracionários, tornando o processamento dos dados
menos onerosos e mais precisos. Para delimitação das bacias hidrográficas e
drenagem foi utilizado o complemento Taudem (Terrain Analysis Using Digital
Elevation Models) incorporado ao software, e realizado todos os procedimentos para
adição da hidrografia contribuinte e definindo um exutório para as micro bacias e
conversão do MDE para polígono.

2.2 Elaboração dos mapas temáticos

Para confecção do mapa de solos, o mesmo foi extraído da base vetorial do


IBGE 2010, além do uso de dados obtidos à partir do levantamento realizado pelo
departamento de solos da Universidade Federal de Viçosa et al. (2010), na escala de
1:650.000. Foi incorporado também ao software QGIS através de um arquivo XML
para representação das legendas referentes as classes de solos, uma rampa de cores
apropriada e definida por convenção para mapeamentos pedológicos com os sistemas
de cores PANTONE, CMYK e RGB. Esta convenção está presente na segunda edição
do manual técnico de Pedologia da parceria entre a EMBRAPA e o IBGE (1979).
O mapa de uso e ocupação da terra foi elaborado à partir do tratamento de
imagens de satélite e classificação supervisionada. Para a classificação foram
29

utilizadas imagens de satélite CBERS 4A das quais foram trabalhadas as Bandas 1,2
e 3 bem como o método matemático (Interative Minimum Distance - Forgy 1965),
algoritmo este presente no provedor de algoritmos SAGA GIS do software QGIS,
gerando a interpolação dos polígonos delimitados para classificação pelo Dzetsezaka
plugin para esta finalidade.
Também foi realizado através do plugin AcATama, a matriz de confusão para
geração da acurácia e validação da Classificação supervisionada. Os procedimentos
de entrada no software foram realizados através da amostragem aleatória estratificada
para validação. De acordo com Olofsson et al. (2014), a estratificação é recomendada
para melhorar a precisão da exatidão e as estimativas da área.
Desta maneira, uma mudança de terreno ou uma outra categoria que possa
ocupar uma pequena proporção da paisagem pode ser identificada e o tamanho da
amostra pode ser alocado para este estrato podendo ser grande o suficiente para
gerar um erro padrão para a estimativa.
Desta maneira foram escolhidos no menu de forma aleatória 305 pontos para
validação da imagem conforme figura 5.
Figura 5 - Mapa de distribuição de pontos de validação no município de DN.

Fonte: Do Autor, 2020.


30

O arquivo gerado é um arquivo em formato geopackage extensão gpkg um


vetor no formato de pontos. A partir da validação são gerados dados estatísticos
exportáveis em formato “csv”, este formato pode ser aberto em aplicativos de planilhas
como o excel. Portanto a acurácia, ou precisão pode ser definida como o grau em que
o mapa produzido está de acordo com a classificação. Os dados gerados são:
- Matriz de erro ou de confusão: a matriz de erro é uma tabulação cruzada dos
rótulos de classe alocados pela classificação dos dados de sensoriamento remoto em
relação aos dados de referência (mapa temático) para os locais de amostra, ou seja,
ela quantifica a precisão da classificação supervisionada.
A diagonal principal da matriz de erro destaca as classificações corretas,
enquanto os elementos fora da diagonal mostram erros de omissão. Os valores da
matriz de erro são fundamentais para a avaliação da precisão e estimativa da área. A
coluna ‘Wi’ é a proporção da área de cada estrato no mapa (OLOFSSON et al. 2014).

Figura 6 - Tabela matriz de confusão gerada pelo plugin Acatama.

Fonte: Do Autor, 2020.

A acurácia obtida a partir das funções estabelecidas no software foi de 0,677,


ou 67,7%. Obtendo esses dados foi possível calcular o índice Kappa para avaliação
da acurácia. O índice Kappa segundo Cohen 3(1960, apud Queiroz et al. 2017), é
definido como um coeficiente de concordância para escalas nominais.
Para encontrar o índice kappa foi utilizado o excel como ferramenta tendo como
base os dados da matriz de confusão e seguindo os seguintes procedimentos para o
cálculo:
1°. Passo = somatório da diagonal

3
COHEN, J. A Coeficient of Agreement for Nominal Scales. Educational and
Measurment. Vol XX, No 1, p. 37-46, 1960.
31

2°. Passo = somatório das linhas


3°. Passo = número de amostras (será a soma da somatória das linhas)
4°. Passo = Soma das colunas
5°. Passo = Somatório dos Produtos das Linhas e das Colunas.
6°. Passo = cálculo do Kappa que é: fórmula: = ((número de amostras *
somatório da diagonal) -soma do produto das linhas e das colunas) / ((número de
amostras²) -soma do produto das linhas e das colunas) aplicada desta forma
=((B10*B9) -B11) /((B10^2) -B11).

Considerando que o índice kappa obedece a seguinte fórmula:

Figura 7 - Fórmula estatística do índice Kappa

Fonte: Queiroz et al. (2017).


32

Desta forma o índice kappa obtido para esta classificação foi de 0,6892, ou
68,9%:

Figura 8 - Tabela do Excel para cálculo do índice Kappa.

Fonte: Do autor, 2020.

Este índice obtido pode ser considerado muito bom segundo Congalton et al.
(1999, apud Queiroz et al. 2017):

Figura 9 - Critérios utilizados na avaliação do índice Kappa.

Fonte: Queiroz et al. (2017).

Estes resultados são importantes pois atestam a credibilidade da classificação


supervisionada para composição do mapa de geossistemas e o zoneamento final.
Para o mapa de compartimentação Geomorfológica, foi necessário delimitar
manualmente os compartimentos previamente na carta mosaico, para depois transpor
os dados para o software, já no QGIS os compartimentos foram delimitados através
da edição de nova camada de shapefile do tipo linha. Foram adicionadas novas
feições e correções com sobreposição da carta utilizando a ferramenta nó do software.
Foi utilizada também a ferramenta autotrace juntamente com as opções avançadas
de aderência em pixels.
33

A compartimentação geomorfológica corresponde a individualização de um


conjunto de formas com características semelhantes, elaboradas a partir de
determinadas condições morfoclimáticas e litoestratigáficas e que tenham sido
submetidas a eventos tectodinâmicos (CREPANI, 1996).
A metodologia utilizada para compartimentação neste trabalho se embasa no
manual técnico de geomorfologia (IBGE,2009) que tem como princípio básico o
ordenamento dos fatos geomorfológicos de acordo com uma classificação temporal
espacial na qual se se distinguem modelados como unidade básica. Desta forma são
levadas em consideração para tal individualização das formas de relevo fatores
causais e estruturais como, litológica, pedológica climática e morfodinâmica,
responsáveis pela evolução das formas de relevo e das paisagens, sendo assim um
mapeamento de padrão de formas (IBGE, 2009).
O manual (IBGE, 2009), apresenta uma estrutura de ordem decrescente para
identificação da evolução no tempo geológico e de composição das paisagens os
quais são: Domínios morfoestruturais, Regiões Geomorfológicas, unidades
Geomorfológicas, Modelados e Formas de relevo simbolizadas.
34

Figura 10 - Estrutura metodológica para mapeamento geomorfológico

Fonte: IBGE (2009).

Seguindo a proposta taxonômica de Ross (1992, pág. 19-20), onde ao dissertar


sobre o 4° táxon, o autor assevera que:
As formas de relevo individualizadas dentro de cada Unidade de Padrão de
Formas Semelhantes correspondem ao 4° táxon na ordem decrescente. As
formas desta categoria tanto podem ser de agradação tais como as planícies
fluviais, terraços fluviais ou marinhos, planícies marinhas, planícies lacustres,
entre outros ou as de denudação resultantes do desgaste erosivo, como
colinas, morros, cristas, enfim, formas com topos planos, aguçados ou
convexos... A unidade Padrão de Formas semelhantes constitui-se por
grande número de formas de relevo do 4° táxon...

No entanto, este trabalho busca mapear o 3° táxon, onde Ross (2006) disserta
que este táxon é o das unidades de padrões de formas semelhantes do relevo ou
padrões de tipo de relevos, podendo ser identificados em análises regionais, ou seja,
em escalas pequenas.
Portanto foram utilizados para composição da diferenciação genética das
formas de relevo os modelados de acumulação (A) e de Dissecação homogênea do
35

relevo onde os modelados de acumulação são diferenciados, em função de sua


gênese, em fluviais, lacustres, marinhos, lagunares, eólicos e de gêneses mistas
resultantes de processos diversos.
Os modelados de dissecação (D), caracterizados como dissecados
homogêneos, dissecados estruturais, e dissecados em ravinas. Sendo que, os dois
primeiros são definidos pela forma dos topos e pelo aprofundamento e densidade da
drenagem (IBGE, 2009).
Os Modelados de dissecação homogênea e estrutural são definidos pela
forma dos topos e pela combinação das variáveis densidade e
aprofundamento da drenagem. As formas de topos convexos (c) são
geralmente esculpidas em rochas ígneas e metamórficas e eventualmente
em sedimentos, às vezes denotando controle estrutural. Portanto, podem ser
caracterizadas por vales bem definidos e vertentes de declividades variadas,
entalhadas por sulcos e cabeceiras de drenagem de primeira ordem. (IBGE,
2009, pág.44)

Para os conceitos de tipos de modelados deste trabalho, temos as seguintes


denominações para acumulação:
Planície - Apf: Área plana resultante de acumulação fluvial sujeita a inundações
periódicas, correspondendo às várzeas atuais. Ocorre nos vales com preenchimento
aluvial (IBGE, 2009).
Fluviolacustre – Apfl: Área plana resultante da combinação de processos de
acumulação fluvial e lacustre, podendo comportar canais anastomosados,
paleomeandros e diques marginais. Ocorre em setores sob o efeito de processos
combinados de acumulação fluvial e lacustre, sujeitos a inundações periódicas com
barramentos, formando os lagos (IBGE, 2009).
O mapeamento foi realizado de forma manual e posteriormente transposto para
o SIG (QGIS) trabalhando com construção de polígonos dos padrões de forma
semelhantes, (Metodologia IBGE, 2009). A interpretação dos elementos cartográficos
culminou nas configurações dos geossistemas. Sendo assim, a integração de
informações contidas no diagnóstico ambiental cartográfico, com base fundamental
no mapa de compartimentação geomorfológica resultou na classificação das unidades
geossistêmicas da área de estudos.
A determinação dos limites dos geossistemas foi realizada com a interpretação
dos dados cartográficos e a sobreposição dos mapas na seguinte ordem:
Compartimentação geomorfológica + Vegetação + solo + uso e cobertura + geologia.
O mapa de geossistemas foi confeccionado à partir da construção vetorial manual de
36

polígonos com a correlação 1:1, ou seja, 1 unidade, sendo 1 forma de relevo, um tipo
de vegetação, 1 tipo de solo, uso e vegetação naquele local específico, 1 tipo de rocha.
Pra cada tipo de compartimento geomorfológico foi observado as composições dos
outros elementos, delineando assim os geossistemas. Esse processo se deu através
da criação de novas camadas vetoriais e correção de erros topológicos com a
ferramenta nó do software QGIS.
Abaixo na figura 11, são apresentados os pontos onde foram realizadas as
observações de campo.

Figura 11 - Pontos onde foram realizados trabalho de campo em DN

Fonte: Do Autor, 2021.

Seguem abaixo os principais pontos das observações em campo em


coordenadas UTM:

1 Cachoeira Waterfall 0360483/7615287


2 Cachoeira do Pedregal 0360200/7616522
3 Cachoeira da Grama 0376644/7615722
4 Cachoeira 0377648/7619788
5 Lançamentos de efluentes 2 0377022/7619857
6 Córrego Alegre 0377072/7620545
37

7 Estação de captação 0377061/7620629


8 Voçoroca Natural 0376264/7621406
9 Aterro Sanitário 0373645/7620920
10 Cultivo de cana-de-açúcar 0375405/7626414
11 Terraço Fluvial 1 0373085/7626551
12 Rio Cabo Verde 0372131/7627063
13 Planície de inundação 0372480/7626812
14 Solo para Cultivo 0375670/7626706
15 Terraço Fluvial 2 0375987/7626972
16 Lago de furnas 0377108/7628176

A delimitação das App’s de topo de morro foi realizada através da base legal
dos morros seguindo a metodologia de Oliveira e Filho (2013), adaptada para o
software QGIS. O processo se deu a partir da determinação da base hidrológica,
invertendo o MDE original através da calculadora raster. Após foi realizado o
direcionamento de fluxo (escoamento) das microbacias da área de estudos. Os limites
dessas microbacias determinaram as linhas de cumeada e com o MDE invertido
também foram determinados os topos de morro do MDE original, enquanto as bacias
de drenagem passam nas bases hidrológicas do morro coincidindo com os pontos de
cela em sua altitude máxima.
Para o zoneamento ambiental foram utilizados critérios a partir do diagnóstico
ambiental, resultados cartográficos e legislação pertinente. O mapeamento de
geossistemas foi crucial e serviu de base para as delimitações, uma vez que através
dele foi possível conhecer as integridades que compõem a paisagem e pensar as
fragilidades e potencialidades dos ambientes. Dos resultados cartográficos todos
tiveram grande importância, mas pode-se destacar com peso preponderante o mapa
de declividades e do de compartimentação geomorfológica além do conhecimento a
realidade da área de estudos.
38

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Fundamentos Teóricos da Abordagem Sistêmica

É fato que desde os primórdios, o homem busca a compreensão e


significância de suas relações com o meio onde está inserido; sua origem, forma e
seu funcionamento. Esta pré disposição segundo Christofoletti (2002) está interligada
com a visão de mundo imperante em cada civilização no decorrer da História. Para
Ulmann (2002), o pensamento sistêmico, precede a 2500 a.c. historicamente atribuído
as civilizações mesopotâmicas.
Tal pensamento está intrinsecamente ligado ao fato de que historicamente o
ser humano possui a necessidade de conhecer e planejar as variáveis ambientais, o
que Ulmann (2002) irá denominar como “um esforço de prever o futuro”. Ressalta-se
a este fator, que os eventos ambientais apresentam riscos à sobrevivência humana e
às suas atividades e foram responsáveis ao decorrer da história da humanidade por
modificar e ditar a forma de vida das populações. Partindo desta premissa, a
necessidade de planejamento sobre o ambiente surge a partir das concepções de
mundo das civilizações no tempo e no espaço.
As concepções de mundo e as relações do homem com a natureza possuem
então variações diversas de acordo com o tempo histórico e a localidade onde as
mesmas se dão, sendo preponderantes e não excludentes, uma vez que em uma
escala de valoração, podem influenciar nas tomadas de decisões e as atitudes de
indivíduos tanto quanto de grupos sociais (CHRISTOFOLETTI, 2002).
Estas concepções de mundo e de ciência se relacionam também com o
conhecimento religioso, que foi dominante durante a Idade Média. Este viés tem como
fundamento, um mundo criado por Deus que por sua vez possui sua base em uma
natureza pura e perfeita. Esta natureza estaria a disposição do homem e os acidentes
e as catástrofes ambientais seriam castigos enviados por Deus como punição pelas
ações da humanidade.
O paradigma religioso também é denominado de escolástico e possui seus
fundamentos em dogmas e, neste período as ciências naturais eram subordinadas à
Teologia, sempre buscando mostrar a relação entre o mundo real e a verdade
espiritual.
Para Limberger (2006 pág. 96):
39

Desde a Antiguidade, pensadores como Aristóteles, Platão, Sócrates,


procuravam uma maneira de entender o funcionamento do mundo, e por esta
dúvida criavam teorias, buscavam explicar os acontecimentos, fenômenos da
natureza e o comportamento humano. Já durante a Idade Média, pensadores
como Santo Agostinho, Santo Ambrósio e Santo Tomás de Aquino viam o
mundo sob as ordens dogmática e metafísica. Estes adaptaram os
conhecimentos adquiridos pelos pensadores da Ciência Clássica aos
pressupostos da Igreja. Eram pautados principalmente na visão orgânica da
natureza e pela ordem divina de criação e provisão, presentes no sistema
feudal.

Este paradigma começa a ser incomodado a partir das incursões e estudos


realizados por Alexandre Von Humboldt, que propôs a ideia de que a distribuição das
espécies na superfície do planeta se dava pelas características e eventos climáticos
e não por obra divina, juntamente com a teoria da evolução Darwinista, colocando as
contradições do pensamento religioso em cheque (CHRISTOFOLETTI, 2002).
O rompimento com esse pensamento se dá através do movimento
renascentista, que foi considerado subversivo pela igreja por se opor as suas ideias.
Esse período foi marcado pelas perseguições, e o próprio nome do movimento sugere
um ‘renascer’ das ciências para a época. Cabe citar que houveram outros paradigmas
como o mecanicismo e o determinismo até chegarmos ao sistemismo do século XX
(ULMANN, 2002).
No século XX, os preceitos de Descartes eram utilizados como instrumento
às pesquisas. Estes preceitos consistiam em dividir e examinar o problema em partes,
começando pelas partes menores até os problemas mais complexos. Esta abordagem
ficou conhecida como reducionismo mecanicista, com grande contribuição às
ciências, possibilitou com que as áreas obtivessem seus objetos de estudos
decompostos, como por exemplo, o átomo na física e a célula da biologia, entre outros.
Entretanto, este paradigma não foi suficiente pois com a descoberta dos
quarks, elementos menores que os átomos, houve uma crise epistemológica na forma
de se pensar a ciência. Desta forma, com a necessidade de se explicar como essas
partes menores poderiam se inter-relacionar com o todo, a abordagem sistêmica viria
a ganhar notoriedade, ocupando gradativamente o lugar do pensamento cartesiano.
Para Rodriguez et al. (2007, pág. 41):
O interesse nos sistemas foi provocado à medida que se acumularam
conhecimentos e as investigações foram evoluindo, descobrindo novos
objetos de pesquisa e estudadas as relações entre eles, conduzindo a
necessidade de analisar uma grande quantidade de varáveis, sendo
impossível estudar situações complexas por métodos tradicionais.
40

A grande diferença entre os métodos cartesiano e sistêmico, é que a


abordagem sistêmica passa a estudar como os elementos se relacionam,
diferentemente da abordagem cartesiana que estuda os elementos de forma isolada,
desta forma a abordagem sistêmica busca a relação entre as unidades elementares
para se chegar a um todo. As interações entre os componentes que compõem o
sistema tomam destaque nas análises dos objetos de estudos e pesquisas, isto por
que as interações podem apresentar características novas que não são observáveis
em seus elementos isolados.
A ‘nova’ abordagem permitiu com que surgissem as interdisciplinaridades
entre ramos das ciências que eram isoladas entre si, em busca de uma ampliação e
uma visão do todo abrangendo uma quantidade maior de aspectos da realidade,
trazendo uma noção de interdependência entre as ciências.

O resultado foi a elaboração da teoria Matemática dos Sistemas, que permite


estudar qualquer possível regime, estrutura ou estado em qualquer sistema.
Ao mesmo tempo, o enfoque sistêmico tem o caráter de uma concepção
metodológica, elaborada sobre a base da estruturação dos princípios
filosóficos dialético-materialista. (RODRIGUEZ et al.,2007, pág. 41).

Bertalanffy irá introduzir a teoria geral dos sistemas (TGS) no ano de 1937.
Tendo cunho pautado na Biologia, esta teoria vem à tona demonstrando justamente a
necessidade de evoluir da perspectiva reducionista e separatista dos elementos para
uma ciência de integridade dos aspectos e fenômenos presentes em um ambiente,
isto frente as limitações metodológicas da ciência clássica.

...Só recentemente se tornou visível a necessidade e exequibilidade da


abordagem dos sistemas. A necessidade resultou do fato do esquema
mecanicista das séries causais isoláveis e do tratamento por partes terem se
mostrado insuficientes para atender os problemas teóricos, especialmente
nas ciências biossociais, e aos problemas práticos propostos pela moderna
tecnologia. (BERTALANFFY 1968, pág. 31).

Para Bertalanffy (1968, pág. 63), os sistemas podem ser definidos como
complexos de elementos em interação. Desta forma o autor faz uso recorrente de
aspectos matemáticos para perpetrar os ditames sobre a teoria, e reitera como
objetivo da TGS a formulação de princípios válidos para os sistemas em geral
qualquer que seja a natureza de seus elementos e forças existentes entre eles, tendo
como premissa que a teoria mesmo tendo cunho matemático pode ser aplicada em
toda ciência que considera os “todos organizados”.
41

Para ele as inter-relações deveriam ser levadas em conta não refutando a


visão mecanicista newtoniana, mas partindo do princípio da relação entre as partes o
todo e o seu ambiente. Esta abordagem traz a ideia de uma concepção de
complexidade.
Esta noção de complexidade irá contribuir não somente para as ciências
consideradas naturais, mas também será apropriada pelas ciências sociais, como as
de ordem política, governamental e por empresas do setor privado. A abordagem de
Bertalanffy tem características de uma disciplina Lógico-matemática, sendo a Teoria
Geral de Sistemas considerada uma ciência geral da totalidade, onde o aspecto
organizacional metodológico para as ciências de forma geral se torna importante
(ULMANN, 2002).
Bertalanffy (1968) entendendo que a Teoria Geral dos Sistemas é uma ciência
lógico-matemática-formal que pode ser aplicada a campos diversos, desde a biologia,
a estatística, à teoria dos seguros de vida, ou seja, uma ciência da “totalidade”, que
sai do campo metafísico para a aplicação prática, estabelece que esta teoria conduz
a integração na educação científica, ou seja, a TGS permite que as áreas do
conhecimento se complementem para o entendimento de uma dada realidade ou
sistema, refutando a especialização e fragmentação das ciências uma vez que ao
analisar um sistema, é necessário ter um olhar global para se entender as inter-
relações entre os componentes.

...dentre os vários conceitos existentes sobre sistema, alguns autores


colocam que para se caracterizar um sistema é necessário que exista
qualquer conjunto de objetos que possa ser relacionado no tempo e no
espaço. No entanto, outros dizem que além de relações é necessário que
haja uma finalidade, a execução de uma função por parte desse conjunto
inter-relacionado, para que possa ser considerado como um sistema.
(LIMBERGER, 2006, pág. 98).

A definição de sistema apoiado nos aspectos abordados por Bertalanffy


(1968), pode ser entendida também como um conjunto de elementos em inter-relação
entre si e com o ambiente, sendo interdependentes e em “movimento” por um objetivo.
Segundo Ulmann (2002) Os sistemas podem ser classificados como:
- Abstrato, sendo aqueles que ordenam um conjunto de ideias
interdependentes;
- Físicos, aqueles com materialização de elementos tangíveis;
- Determinista, onde os resultados de suas relações são exatos e sem erros;
42

- Probabilista, o que opera em condições prováveis admitindo-se uma margem


de erro.
- Fechado- não troca informações ou energia com o ambiente, aumentando o
processo de entropia, ou seja, a desordem de um ambiente (conceito refutado por
alguns autores que defendem a ideia de que todos os sistemas trocam energias com
o ambiente). E por conseguinte os sistemas abertos, que são de interesse a este
trabalho, em função de sua aplicação aos geossistemas:

Sistema Aberto é o que troca informações, materiais e energia com o meio


ambiente, ou seja, um sistema aberto é aquele que tem um ambiente, que
são outros sistemas com os quais ele se relaciona, efetua trocas, portanto se
comunica. Sistemas abertos tendem à adaptação, pois podem e necessitam
de adaptar-se às mudanças ocorridas em seus ambientes de forma a
procurar garantir a sua própria existência (A chamada Homeostase ou
Homeostasia). (ULMANN, 2002, pág. 26).

A partir das concepções de Bertalanffy, houveram grandes avanços nas


discussões acerca dos estudos dos sistemas. Edgar Morin (1977) será o precursor da
principal crítica realizada a TGS. Para ele, Bertalanffy pormenorizou a discussão na
essência do que realmente é um sistema. O autor cita a importância dos estudos de
Bertalanffy, mas assevera sua preocupação no avanço epistemológico da
incorporação da noção de sistemas como método de interpretação da realidade.
De forma generalizada Morin (1977), irá definir sistema como “uma inter-
relação de elementos que constituem uma entidade ou unidade global”. Para Morin
(1977, pág. 101), os sistemas possuem uma dinâmica de manifestações recíprocas
de ordem e desordem atuando no processo de organização dos mesmos. O ponto
central de suas críticas e discussões é o entendimento de que os sistemas trazem a
ideia de organização, desta forma o termo “organização” na formulação de Morin, é a
palavra chave para o entendimento do funcionamento de um sistema:

Pressentimos assim, o papel considerável da organização, uma vez que esta


pode modificar as qualidades e os caracteres dos sistemas constituídos por
elementos semelhantes, mas dispostos, isto é, organizado de forma diferente.
(MORIN 1977, pág. 102).

As formulações de Morin (1977), representam uma evolução paradigmática


ao modelo de Bertalanffy, isto por que a concepção de sistema de Bertalanffy possui
uma estrutura que pode ser considerada linear. O sistema de Bertalanffy apresenta a
seguinte estrutura:
43

Figura 12 - Representação esquemática de um sistema linear.

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

É a partir do anel tetralógico formulado por Morin (1977), que é embasada a


discussão sobre a importância central das interações existentes no funcionamento de
um sistema, sua complexidade e interdependência, onde quatro elementos
fundamentais atuam de forma mútua e são eles: A ordem, organização,
interações/encontros e a desordem. A Organização e a ordem se desenvolvem uma
em função da outra, sendo inconcebíveis sem as interações, e quanto mais se
desenvolvem, mais essa relação se torna complexa tornando-se dependente também
da desordem.
Figura 13 - Representação do Anel Tetralógico.

Fonte: Morin (1977).

Para Morin (1977), esses termos possuem sentido e funcionalidade em sua


relação, e devem ser concebidos em conjunto, ou seja, simultâneos e
complementares, mesmo que suas interações sejam concorrentes e antagônicas.
44

A gênese da ordem e da organização em Morin (1977), se dá a partir do caos.


Entendido como uma entidade antagônica que fragmenta e desintegra núcleos
através da desordem. A partir desta “destruição” energética gerada pelo caos é que
se constituem/surgem a ordem e a organização, desta forma perfazendo o ciclo, ou
andamento do anel tetralógico. Portanto a incorporação da ideia do caos como
elemento fundamental ao início de uma organização compondo a ideia de sistemas
caóticos, é o ponto crucial para a investigação da complexidade de um sistema.
Desta forma a maioria dos fenômenos que a ciência procura estudar não são
lineares, por exemplo, os processos de mudanças que ocorrem no regime de
funcionamento de um ecossistema ou na sociedade. Estas mudanças ocorrem longe
de um estado de equilíbrio.

3.2 A Abordagem Sistêmica e a Geografia Física:

Para Marques Neto (2008), a inserção da abordagem sistêmica na Geografia


Física como método de pesquisa se deu em praticamente em todos os ramos do
subconjunto da Geografia. Para o referido autor a geografia conheceu avanços
expressivos em seu arsenal teórico metodológico:

Ao longo de sua jornada evolutiva, a Geografia conheceu avanços


expressivos em seu arsenal teórico-metodológico. A Geografia Regional
Francesa de Paul Vidal de La Blache e a Geografia Física eminentemente
separatista que marca o monumental tratado de Emanuel De Martonne deram
lugar a uma postura (neo) positivista engendrada pela revolução teorético
quantitativa, duramente criticada por correntes sucessoras, entre as quais a
Geografia Radical se projeta como algoz mais feroz. (MARQUES NETO,
2008 pág. 73)

Humboldt teve um papel de destaque na história do desenvolvimento do


pensamento científico. Através de suas pesquisas e publicações é possível notar
traços da concepção sistêmica, principalmente no que tange ao conceito de landschaft
(paisagem), onde o mesmo considerava o meio geográfico em sua totalidade e as
inter-relações que o compõem (MARQUES NETO, 2008).
Para Gregory (1992), a forma sistêmica de pensamento na Geografia Física foi
adotada sucessivamente pela biogeografia, a Geografia dos solos, climatologia e
Geomorfologia, em um processo que durou de 1935 a 1971, com a publicação do livro
Physical Geograprhy: A Systems approach de Richard J. Chorley e Bárbara A.
45

Kennedy, entretanto, o crescimento das ideias sistêmicas se deram de forma


exponencial na Geografia entre 1965 e 1975.
O livro tinha como propósito, estimular no leitor o contato com o “tradicional”
objeto da Geografia Física por um “novo ângulo”, e apresentar uma visão da paisagem
e dos processos em termos significativos para os “Geógrafos da área Humana”,
mostrando a forma como os sistemas físicos e socioeconômicos se inter-relacionam
e interagem. Sendo bem sucedido nestes objetivos, é um dos livros mais citados do
século XX, porém, deixou de circular no meio acadêmico na década de 80
(GREGORY,1992).
O grande impacto da obra se deu pela apresentação estruturada de quatro tipos
de sistemas de média escala:
- Sistema morfológico: que compreende propriedades físicas morfológicas ou
formais momentâneas;
- Sistemas em sequência: compostos por uma cadeia de subsistemas ligados
por uma massa de energia, onde o output de um sistema se torne o input de outro;
- Sistema de processos e respostas: formados pela intersecção de sistemas
morfológicos envolvendo a ênfase em processos e formas;
- Sistemas controlados: aqueles onde a inteligência pode intervir resultando em
mudanças operacionais na distribuição de energia e massa.
46

Figura 14 - Terminologia e classificação dos sistemas segundo Chorley e Kennedy, 1971.

Fonte: Gregory (1992).

Essa apresentação mostrou o esforço em introduzir novos conceitos para a


época, principalmente no que tange a mudanças temporais.
Christofoletti (1979) discorre que:

A aplicação da teoria dos sistemas aos estudos geográficos serviu para


melhor focalizar as pesquisas e para delinear com maior exatidão o setor de
estudo desta ciência, além de propiciar oportunidades para reconsiderações
críticas de muitos dos seus conceitos... No âmbito da Geografia, todos os
seus setores estão sendo revitalizados pela utilização da abordagem
sistêmica. (CHRISTOFOLETTI, 1979, pág. 12).

Segundo Gregory (1992), na geografia dos solos a abordagem sistêmica foi


aplicada por Nikiforoff em 1959, estudando solos acumulativos e não acumulativos.
Os avanços nos estudos pedológicos foram realizados dentro da ciência dos solos,
contudo, para a Geografia Física a utilização da abordagem sistêmica nos estudos
pedológicos ocorreu à partir de Huggett em 1975 que estendeu a abordagem
sistêmica à bacia de drenagem, utilizando para isto o sistema de solos para verificar
o fluxo de matéria em áreas de vertentes.
Para Christofoletti (1979), a geomorfologia incorporou os pressupostos da
abordagem sistêmica na revisão realizada por Chorley em 1962, que procurou
sistematizar e esclarecer a necessidade da abordagem sistêmica aos problemas
47

geomorfológicos, embora outros autores como Strahler em 1952 e Hack em 1960 já


haviam discorrido sobre a abordagem sistêmica na geomorfologia, Chorley enfatizou
o contraste entre os sistemas abertos e sistemas fechados.
Acerca da importância da abordagem sistêmica para a geomorfologia, Gregory
(1992) escreve que:

O valor da abordagem dos sistemas abertos a geomorfologia foi concatenado


(Chorley, 1962) como dependendo da tendência universal para o ajustamento
de forma e processo; para dirigir a investigação ao caráter essencialmente
multivariado dos fenômenos geomórficos, para admitir visão mais liberal das
mudanças morfológicas com o tempo e incluir a possibilidade de mudanças
não-significativas ou não progressivas de certos aspectos da forma da
paisagem ao longo do tempo...para dirigir o enfoque ao conjunto da Paisagem
como um todo, em vez de fazê-lo visando as partes que se consideram ter
significância evolutiva... e para dirigir a atenção a heterogeneidade da
organização espacial... (GREGORY, 1992, pág. 222).

Neste âmbito de ideias o desenvolvimento do conceito de ecossistema é de


notória importância para as ciências naturais como um todo, mas fundamentalmente
para a Geografia Física no que concerne as orientações metodológicas que vieram a
emergir juntamente com o desenvolvimento desse conceito.
O termo ecossistema, carregado de sentido epistemológico foi apresentado
pelo ecólogo A. G. Tasnley na década de 30, e representou um arsenal crucial no elo
entre o pensamento sistêmico e a ciência Geográfica. Para Stoddart (1967b, pág. 523,
apud Gregory 1992, pág. 218), o conceito de Tansley ampliou o âmbito da ecologia
para além da biologia, é neste movimento que surge a Ecologia da Paisagem.
Outro conceito importante para a Geografia foi o termo biogeocenose formulado
por Sukachev em 1942, que introduziu a ideia sobre a unidade de conjunto de
organismos com o meio inorgânico e a circulação de substancias e a transformação
da energia com base nos sistemas ecológicos. (RODRIGUES et al., 2007).
Stoddart4 (1967b, pág. 524, apud Gregory 1992, pág. 219), discorre que a
definição de ecossistemas apresenta quatro propriedades que os tornam objetos de
estudo da Geografia:
- A propriedade monística, que une o homem ao meio ambiente, a flora e fauna
dentro de um quadro conceitual, possibilitando a análise da interação entre os
componentes;

4STODDART D.R. 1967b: Organism and ecosystem as geographical models. In CHORLEY, R.J.
anda HAGGET, P.(eds), Models in Geography (London: Methuen), 511-48.
48

- A propriedade ordenada do funcionamento de um ecossistema, que torna o


possível compreender sua estrutura de forma racional, desta forma há a necessidade
de se conhecer e identificar suas estruturas e os elos que ligam seus componentes;
- Os ecossistemas operam como resultado do fluxo de matérias e energias, e
a identificação e quantificação das cadeias alimentares e níveis tróficos e a
produtividade do todo, demonstram como a função desses ecossistemas pode ser
utilizada;
- O caráter de um ecossistema como um sistema geral e aberto tendendo a ser
estacionário sob a ótica das leis da termodinâmica e, como sistemas abertos estão
suscetíveis a auto regulagem, semelhante a homeostase nos organismos vivos
(equilíbrio), aos princípios da retroalimentação, mecanismos e sistemas das
engenharias.
A ecologia dirige sua atenção para os organismos biológicos dentro de um
sistema, entretanto, a necessidade de incorporar fundamentos teóricos às pesquisas
no ramo da Ecologia, exigiram observar a dimensão espacial dos fenômenos
estudados, o que culminou na incorporação do conceito de Paisagem na abstração
do biocentrismo nas interpretações dos fenômenos. Para Rodriguez et al. (2007, pág.
24-23):

A partir dos anos de 1970, com a consolidação da concepção ambiental, viu-


se a necessidade de integrar as correntes espacial (geográfica) e funcional
(ecológica) ao estudar a Paisagem. O aparecimento do conceito de
geossistema, proposto por Sotchava, no final dos anos 1960, que pressupõe
interpretar a paisagem e todo seu instrumento teórico acumulado por mais de
100 anos de estudo desde uma visão sistêmica, foi um passo importante para
integrar a dimensão espacial com a funcional...

A partir de então, a ciência da Paisagem, apesar de esforços integradores em


seu entorno acadêmico seguiu diferentes direções e orientações metodológicas sendo
algumas das principais a saber:
- Ecologia da Paisagem, ramificada entre uma parte da ciência da Paisagem
que estuda o aspecto ecológico-funcional e outra ligada as ciências biológicas que
estuda as inter-relações complexas entre os organismos e os fatores ambientais e o
seu manejo integral como ecossistemas.
- Geoecologia da Paisagem que irá centralizar-se nos estudos dos aspectos
espaço-funcionais fazendo parte da Ecogeografia ou Geografia Ambiental, aplicando-
se seus esforços nas paisagens como geoecossistemas (RODRIGUEZ et al., 2007).
49

- Ecodinâmica: Proposta por Jean Tricart (1965), baseia-se no estudo da


dinâmica dos ecótopos integrados na lógica de sistemas, tendo como foco as relações
mutuas entre diversos componentes da dinâmica e os fluxos de matéria e energia no
ambiente. Para o referido autor, a morfodinâmica é o elemento determinante de uma
análise ambiental, pois ela depende do clima, da topografia, do material rochoso, ou
seja, da integração e trocas desses elementos. (TRICART, 1977).

.. O mesmo propõe uma classificação dinâmica do meio ambiente, derivada


da relação sistêmica entre o equilíbrio ecológico promovido pelas
comunidades biológicas e a instabilidade ambiental causada pelos processos
erosivos. O autor salienta que o desenvolvimento rápido dos processos
erosivos dificulta a ocupação das terras pelos seres vivos, em contraponto,
uma área ocupada pelos seres vivos tende a se tornar cada vez mais estável,
dando margem à dinâmica florestal e à formação dos solos. (Cavalcanti,
2013, pág. 24).

- Fisiologia da Paisagem: Proposta por Ab’Sáber (1969), é o terceiro nível de


tratamento de uma abordagem metodológica para pesquisa geomorfológica. Esta
metodologia também é composta em sua primeira etapa, pela compartimentação do
relevo e na segunda pela descrição e estudo de sua estrutura. A Fisiologia da
Paisagem trata de entender os processos morfoclimáticos e pedogenéticos em
atuação na paisagem e, além de esclarecer fatos da dinâmica atual ainda em
processo, fornece elementos para interpretações relacionadas à paleodinâmica. É
uma abordagem interdisciplinar, que inclui a análise de “complexos de ações
morfológicas, pedológicas e hidrodinâmicas de ação integrada na natureza”.
(MODENESI-GAUTTIERI et al. 2010).
Deste modo, ao compreendermos a Geografia como uma ciência que estuda a
organização do espaço, entendemos que na dimensão espacial, seja em suas
diferentes escalas como por exemplo os lugares, estes estão sempre em conexão
funcional, com outros lugares. A unidade estruturada e funcional dos lugares forma a
Região e assim, por conseguinte em outras grandezas escalares até atingir a
organização espacial global.

3.3 Diferenciação de áreas e as sínteses naturalistas:

A relação do homem com a natureza é retratada pelo ser humano desde os


períodos pré-históricos, representando crenças, o modo de vida e o surgimento de
50

mitos e culturas das diversas civilizações. Estas representações aparecem em


pinturas rupestres ou até mesmo atreladas às obras de artes de civilizações históricas,
das quais pode-se destacar a civilização egípcia que adorava o rio Nilo como um
“deus” provedor de sua prosperidade. A busca por territórios aptos a serem habitados,
cultivados, lugares ótimos as estratégias de guerras são inerentes às relações do
Homem com o espaço onde vive.
Desta maneira, existem diversas variações terminológicas que tentam exprimir
dentro da ciência, uma ordem natural que interligam os elementos da natureza, desde
os elementos da superfície terrestre, (água, solos, vegetação, seres vivos) quanto os
elementos externos (movimentos orbitais, estrutura interna da terra, energia solar).
Esses elementos interligados formam um conjunto de estruturas hierarquizadas
independentes e organizadas entre si (CAVALCANTI; CORREA, 2014).
Segundo Cavalcanti (2013), acerca das buscas por lugares estratégicos e aptos
a ocupação e a diferenciação de áreas, narrativas bíblicas remontam à uma passagem
onde Moisés envia homens para fazerem reconhecimento de uma determinada área
onde mais tarde a mesma viria a ser ocupada pelo povo Israelita, algumas traduções
chegam até mesmo a utilizar o termo “região”. Entretanto, é no pensamento Greco-
Latino que encontramos registros antigos de certa forma, sistematizados, do conceito
de diferenciação de áreas.

“Quando Moisés os enviou para observarem Canaã, disse: "Subam pelo


Neguebe e prossigam até a região montanhosa. 18 Vejam como é a terra e
se o povo que vive lá é forte ou fraco, se são muitos ou poucos; 19 se a terra
em que habitam é boa ou ruim; se as cidades em que vivem são cidades sem
muros ou fortificadas; 20 se o solo é fértil ou pobre; se existe ali floresta ou
não. Sejam corajosos! Tragam alguns frutos da terra". Era a época do início
da colheita das uvas.” (Bíblia, Números 13: 17-20.)

Parmênides (530-460 a.C.) possui um dos registros mais antigos de


diferenciação de áreas, baseado na concepção de zonas naturais. A respeito dos
aspectos paisagísticos (vegetação, relevo, águas etc.) foi Ptolomeu o primeiro a
diferenciar as áreas pelos conceitos de natura (características particulares de uma
dada área) e positio (relação de vizinhança entre áreas) assim se comparadas duas
áreas poderiam ser diferenciadas uma da outra. (CAVALCANTI, 2013.)
Cabe um adendo aos pré-Socráticos do século VIII a.C. pela análise e
decomposição dos quatro elementos da natureza, o que representou uma evolução
científica significativa para época. Dentro desta perspectiva Aristóteles com a
51

proposição do ciclo hidrológico e Talles de Mileto com as premissas da geomorfologia


fluvial (erosão e sedimentação fluvial) contribuíram para a sistematização do que mais
tarde comporia a ciência Geográfica. Ainda em Ptolomeu, o mesmo, através do
método matemático contribuiu com a cartografia e a noção de escala, dentro de um
paradigma geocêntrico, ou seja, cosmográfico.
A chegada da Idade Média marca o rompimento com o teocentrismo com os
movimentos renascentista e iluminista. Havia até então uma noção estética da
Paisagem presente nas obras dos artistas da época que consideravam a
contemplação das paisagens e seus detalhes como a representação do mundo, o que
fomentava para o período uma Geografia puramente descritiva. Houve também um
ressurgimento dos conceitos Ptolomaicos principalmente neste período na obra de
Bernard Varenius.

Para Varen, o objeto da Geografia seria a Terra e principalmente suas partes


externas, não devendo resumir-se a uma simples enumeração e descrição
das regiões, devendo ser estudada a partir de duas perspectivas: uma
Universal e outra Particular. A Geografia Universal de Varen era voltada para
caracterização topográfica e geodésica e de tipos ambientais, como tipos de
rios, de lagos, de desertos, zonas e climas, além de explicações sobre o
funcionamento dos sistemas ambientais, como a variação da salinidade dos
corpos hídricos em terras tropicais, que diminuía em períodos chuvosos e se
acentuava em períodos de estiagem. (CAVALCANTI; CORREA, 2014 p. 388)

Já a geografia particular se dava em uma perspectiva corográfica (descritiva) e


topográfica que busca dar uma visão ou pequeno trato da terra. A obra de Varenius
irá explicitar uma Geografia bem ampla, que consistia não somente em descrever os
lugares e suas características, mas determinar o funcionamento de características
bióticas e abióticas das localidades.
No século XVIII a partir de Guettard e Buache na França, os estudos da
natureza ganham uma nova concepção, através da introdução da carta mineralógica
em 1746 trazendo uma abordagem temática à cartografia. Segundo Cavalcanti &
Corrêa (2014), os estudos da natureza irão ganhar a partir deste fato uma nova
concepção de caracterização, e não mais enciclopédica como propunha Varenius.
Humboldt e Desmaret com o empirismo racionalista sustentarão a ideia de uma
unidade natural de áreas. Isto por que Humboldt defende a concepção de que acerca
do Universo, a Geografia Física não se ocupa apenas do que se denomina de ‘vida
inorgânica’, mas de todo o conjunto que compõe a esfera da vida orgânica e seu
desenvolvimento, desta maneira a Geografia Física de Humboldt versa sobre o
52

discernimento da constância dos fenômenos e seus tipos, e não mais uma descrição
de áreas e diferenciações. (CAVALCANTI; CORREA, 2014).
Essas premissas sustentarão por exemplo seu trabalho acerca da distribuição
de espécies com relação a variação climática e o estabelecimento de leis que
justificam essas ocorrências e seus determinantes controladores, a latitude e a
altitude, para Cavalcanti (2013, pág. 70):

...é a partir dos esforços de naturalistas com visão integrada do mundo, como
Humboldt, que as variações da latitude e da altitude, passam a ser tratadas
como determinantes gerais de padrões regionais e globais de ambientes
naturais, passando a ser possível falar de uma teoria das zonas naturais, que
viria a sustentar propostas posteriores como a ideia de biomas de Karl H.
Walter e a noção de geossistemas de Viktor B. Sochava.

Dokuchaev marcou Geografia Física e a ciência com a reformulação do


conceito de zonas naturais para área de interação homogênea, entre os componentes
da natureza. Para Cavalcanti (2013), esse conceito seria posteriormente o objeto de
estudo da ciência da Paisagem, biogeocenologia, estudos dos Geossistemas,
Ecologia de paisagens dentre outros termos. Ele defendia que o solo era resultado da
interação entre o clima, a topografia, o material parental e os seres vivos ao longo do
tempo.
Com a consolidação da compreensão das unidades naturais, as teorias
explicativas viriam a se desenvolver e crescer de acordo com as necessidades de
planejamento e utilização dos recursos naturais visando também a conservação e
preservação da natureza, esse crescimento se dá principalmente em setores
relacionados as ciências agrárias e a Ecologia. Neste contexto de meio técnico
científico onde se deram importantes avanços tecnológicos que surge o conceito de
biótopos elaborado por Dahl:

Além disso, os termos significando um conceito unificador das relações entre


seres vivos e não vivos passam a despontar no meio acadêmico, como as
zonas naturais de Dokuchaev (1898), as regiões naturais de Herbertson
(1905), a paisagem de Berg (1913) e Passarge (1913) ecossistema, por
Arthur G. Tansley (1935); ecótopo, proposto por Thorvald J. Sørensen (1936)
e desenvolvido posteriormente por Tansley (1939) e Carl T. Troll (2006);
bioma por Clements e Shelford (1939), entre outros. Estes termos
fundamentaram o desenvolvimento de serviços de estudo e/ou avaliação do
terreno, seja com finalidades ecológicas ou agropecuárias. (CAVALCANTI,
2013 pág. 74)
53

A Teoria Geral dos Sistemas foi apresentada dessa forma pela primeira vez no
segundo quarto do século XX, porém as abordagens sistêmicas não eram novidade
nas sociedades mais antigas, sobretudo as anteriores a Cristo. De grande
versatilidade e capacidade de auxílio no desenvolvimento de diferentes áreas da
ciência sempre foi muito presente nas diversas temáticas relacionadas à Geografia
Física, evoluindo com o decorrer do amadurecimento da epistemologia desta e
tornando-se um de seus principais meios de ação.
A abordagem sistêmica foi um marco para os estudos geográficos e para o
entendimento das dinâmicas físico ambientais trazendo grande avanço para a ciência
geográfica, em se tratando especificamente desta área do conhecimento, se
configurou como um método de pesquisa de grande valia, principalmente pelos
subconjuntos da Geografia física.

3.4 A categoria Paisagem, concepções e evolução do conceito na Geografia


Física

A Paisagem como conceito é objeto de estudo não somente da Geografia, mas


de outras ciências como a arquitetura, Ecologia, Biologia entre outras. Além disto é
alvo de músicos, poetas, pintores, fotógrafos, ocupando lugar de destaque na cultura
e no cotidiano da sociedade desde períodos históricos, compondo um arcabouço de
linguagens símbolos e significados.
Desta maneira, o termo paisagem é carregado de polissemia. Para a Geografia,
a paisagem é um conceito-chave, um conceito que fornece a Geografia a sua unidade
e identidade, e a evolução do seu conceito, e o fato da paisagem ser seu objeto de
estudos, viabilizou a Geografia enquanto disciplina cientifica.
Para Lang et al. (2009, pág. 90) a paisagem se encontra indubitavelmente no
centro da pesquisa geográfica, podendo até mesmo dizer que a paisagem é o objeto
central propriamente dito da Geografia, tendo concepções multifacetadas e complexas
a seu respeito.
A conceituação da categoria paisagem depende do viés teórico pelo qual ela é
analisada. Geralmente a concepção que liga a paisagem a dimensão visual é a mais
difundida entre os geógrafos da dita linha “humana” da geografia, para Moreira (2008,
pág. 101):
54

A paisagem é o ponto de partida e o ponto de chegada na produção da


representação geográfica. Isso significa valorizar a imagem e a fala na
representação geográfica. E, assim, a sensibilidade e intelecção, fontes da
imagem e da fala...daí que a Geografia pareça ficar num meio termo entre a
arte e a ciência, duas formas próximas da representação.

Partindo desta linha de pensamento, a paisagem toma uma dimensão ligada a


percepção daquilo que é visível, e a aproxima da concepção de valorização estética,
de valor subjetivo. Todavia esta não é a única concepção acerca de Paisagem.
Para Rodriguez et al. (2004, pág.18), a Paisagem é um conjunto de inter-
relações naturais e antroponaturais com características e propriedades sistêmicas e
complexas. Desta maneira o autor assevera que a Paisagem pode ser definida como
uma entidade ou fenômeno holístico de trajetória histórica que se materializa em uma
determinada área. Todavia entende-se que a Paisagem como elemento estético e
puramente visual, tem mais sentido pitoresco e artístico do que científico e geográfico.
Este fato não exclui os elementos culturais presentes na paisagem, uma vez
que o espaço geográfico é apropriado pelo homem em termos exploratórios,
econômicos sociais e políticos. Mas por conseguinte, toda paisagem possui um ritmo
de funcionamento geoecológico e condicionantes naturais variando ao longo do
tempo.
Segundo Figueiró (1997), para as línguas de origem Latinas, o termo Paisagem
é derivado do termo Pagus, que significa país, território. Já para os povos de origem
anglo-saxônica a origem do termo Paisagem (landscape, landschaft) está associada
ao termo Land, e concerne a um espaço territorial delimitado. É possível notar que em
ambas maneiras de expressar o conceito, o mesmo está fortemente vinculado a
questão espacial.
Antes da renascença, as paisagens foram representadas por duas fases
distintas. A primeira é relativa à fase das pinturas na antiguidade, onde o foco central
da preocupação era a figura humana, sendo que quando aparecia, a paisagem nada
mais era do que um simples pano de fundo para ornar com a exposição do corpo. Os
primeiros esboços paisagísticos estão presentes na descrição de mundo conhecido
até então, através do dimensionamento e localização amparados pelo
desenvolvimento da matemática e da geometria (CARVALHO et al. 2002).
Na segunda fase, as representações paisagísticas se resumiam nas pinturas
cristãs, essas pinturas sacras tendiam a deixar o antropocentrismo de lado nas obras,
sendo a prática antropocentrista considerada pela igreja como injuria ao criador. Desta
55

forma, é dada maior ênfase neste período para objetos naturais mesmo que sua
simbologia fugisse de sua imagem real, ou seja, mesmo que fossem distorcidos, assim
lhes atribuindo uma conotação religiosa (FIGUEIRÓ, 1997).
Cronologicamente, a Paisagem foi sendo apresentada como uma visão
subjetiva e idealizada do espaço territorial habitado pelo homem, sendo que
posteriormente viria a se tornar uma representação mais objetiva de uma dada
realidade observada adquirindo o seu caráter polissêmico (CARVALHO et al.,2002).
As representações paisagísticas estiveram presentes na sociedade egípcia por
meio das obras de arte e arquitetura, onde os edifícios, principalmente os religiosos,
eram decorados com cenas e preocupações da vida diária.
Dentre as preocupações científicas, a matemática e a geometria foram
desenvolvidas e utilizadas nas construções e medições das terras afetadas pelas
cheias do Nilo, trazendo os princípios de mensuração espacial. Outra importante
representação paisagística está no que concerne a organização do calendário anual,
dividido pelas observações feita nas mudanças da Paisagem culminando nas
estações do ano (365 dias) cheia, inverno e verão.
No Oriente, as paisagens foram incorporadas nas civilizações de acordo com
cada desenvolvimento histórico e com a ampliação e avanço da escrita e dos
conhecimentos matemáticos, geométricos e arquitetônicos bem como a astronomia e
a medicina; perpetuando as características e culturas das civilizações. A integração
da cultura grega com a egípcia marcou a paisagem cultural de sua época
caracterizada pelas construções de templos e esculturas que retratavam a natureza
(CARVALHO et al., 2002).
No período do renascimento, o racionalismo é a maior influência na
ressignificação das representações paisagísticas que ocorrem juntamente com a
ressignificação dos jardins, em uma transição dos meios de apreciação. Estes jardins
eram planejados para a contemplação cênica, tendo como público frequente,
principalmente intelectuais e acadêmicos (FIGEIRÓ 1997).
A integração dos jardins com as edificações urbanas e sua ornamentação, irão
caracterizar fundamentalmente a Paisagem concreta. Desta forma, a pintura e os
jardins irão delinear trajetórias diferentes para a construção do conceito de paisagens.
Enquanto os jardins serão incorporados ao aspecto urbano e concreto, as pinturas
assumem o papel de representações simbólicas das realidades e de idealizações do
imaginário de seu autor (CARVALHO et al., 2002).
56

A reinterpretação do conceito de paisagem no final da Idade Média fruto das


mudanças nas condições históricas marcam uma forma importante de se enxergar as
relações do homem com seu entorno. Outrora o que significava o conjunto formado
pelo terreno e as relações políticas expressas neste espaço, tomam forma
notoriamente de uma separação entre, o terreno e seus habitantes, a natureza e a
sociedade.
A contribuição da escola holandesa em meados dos anos 1430 na região de
Flandres e do sul da Alemanha, está na representação fidedigna das paisagens nas
pinturas, possibilitando a separação profunda entre sujeito e objeto. Desta maneira as
artes são evocadas como instrumento de comunicação ao olhar humano, a cena
estática, inserindo a ideia de percepção e subjetividade na interpretação estética da
Paisagem o que não ocorria em outras épocas, concomitantemente com o
desaparecimento progressivo dos mitos e das representações fantasiosas do mundo
real (FIGEIRÓ, 1997).
A configuração espacial da propriedade privada da terra e as cidades marcam
a transição do feudalismo para o capitalismo onde Figueiró (1997, pág. 43) afirma que:

O caminho do racionalismo vai forçando a substituição da paisagem


idealizada pela paisagem concreta, cuja territorialidade assume importância
secundária diante da perspectiva de “unidade” que ela pressupõe. A ideia de
paisagem vai se afirmando cada vez mais como um mosaico de elementos
naturais e não-naturais, passiveis de serem captados pelos sentidos
humanos. Em detrimento disto sua componente espacial-territorial vai se
perdendo progressivamente, até ser resgatada novamente pela escola
alemã.

Na Alemanha do século XIX surgem as primeiras concepções de Paisagem do


ponto de vista científico. O alemão Alexander Von Humboldt, é considerado o pioneiro
nestas concepções, tendo como um dos seus principais objetos de estudo as
Paisagens relacionadas a vegetação, o que em seu ponto de vista, seria a forma mais
significativa de caracterizar os aspectos espaciais.
Contida na base da linguagem popular, antes mesmo de a Geografia a
reconhecer como objeto de estudo, a palavra “Paisagem” era utilizada no dia a dia
das pessoas como algo comum, desta forma, alcançou avanço através da Geografia
Alemã como objeto de conhecimento da teoria científica, sendo definida
cientificamente em 1807 por Humboldt como “caráter total de uma região ou terra”
(LANG et al., 2009, pág. 90).
57

O romantismo5 e seus ideais na Alemanha, influenciaram na construção da


concepção de Paisagem enquanto totalidade, a Naturphilosophie, uma visão holística
integradora, que resgata o subjetivismo e a unidade entre o homem e a natureza
(CARVALHO et al., 2002).
Humboldt considerava que o caráter de uma paisagem deriva da
simultaneidade de ideias e sentimentos, a noção estética e artísticas de paisagens é
intrínseca à sua obra, entretanto influenciado por Goethe, Humboldt tem seu método
baseado na observação e na morfologia das paisagens. Desta forma surge a
Landschaft6 como um conceito que se difere do significado de paisagem em outras
línguas, sendo assim, as acepções sobre o vocábulo são diferentes de acordo com a
língua e cultura em que é empregado.
A Landschaft (em alemão) possui um significado mais complexo que acepções
latinas do vocábulo Paisagem, isto por que suas origens estão ligadas ao
renascimento, concepções filosóficas pretéritas e às artes plásticas. Ela se refere a
uma associação entre sítios e seus habitantes ou de uma associação morfológica e
cultural.
Para Holzer7 (1999, pág 152, apud Castro 2006, pág. 2) a Landschaft:

Talvez tenha surgido de” Land schaffen”, ou seja, criar a terra, produzir a
terra. Esta palavra transmutada em” Landscape” chegou a Geografia norte-
americana pelas mãos de Sauer que, cuidadosamente, enfatizava que seu
sentido continua sendo o mesmo: o de formatar (land shape) a terra,
implicando numa associação das formas físicas e culturais.

A landschaft não possui um correspondente em outras línguas, a mesma


abrange um conjunto de significados e visões de mundo que dão ao conceito variadas
interpretações. A paisagem na concepção da escola alemã abarca um complexo

5
O Romantismo é um movimento filosófico, artístico e literário surgido na Alemanha do século XIX
como uma forma de reação às consequências da Revolução Industrial e ao ritmo acelerado do
progresso que dominava a sociedade europeia da época. Para se opor a mecanização em curso, esta
Escola propõe a contemplação do sublime e o resgate das paisagens idealizadas, retratadas pelos
pintores do século XVII.

6
O termo Landschaft já existia desde a idade média, ocorre que a partir da Renascença este conceito
começa a incorporar novos valores relacionados ao senso estético com a observação da natureza.

7
HOLZER, Werther. Paisagem Imaginário e Identidade: alternativas para o estudo geográfico. In:
ROSENDAHL, Zeny & CORRÊA, Roberto Lobato (orgs). Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de
Janeiro: Eduerj, 1999. 248p. p.149-168 (Série Geografia Cultural)
58

natural total, que compreende a relação do homem com a natureza e as


transformações engendradas por ele decorrida desta relação (CASTRO, 2006).
O sufixo do termo landschaft (Schaft), do conceito de Paisagem de Humboldt,
exprime a ideia de uma conectividade e cooperação entre a forma da matéria existente
na superfície da terra, desta maneira tem-se um axioma do conceito de Paisagem
onde “em cada ponto da superfície terrestre coexistem elementos (substancias
geográficas) em múltiplas e ordenadas relações e ações recíprocas”. Cria-se assim
uma evidencia (verdade/afirmação) por meio de uma hipóstase, ou seja, atribuição de
existência concreta e objetiva a uma realidade fictícia da mente humana (LANG et al.,
2009).
No final do século XIX, Ratzel desenvolve seus trabalhos na linha do
racionalismo e do positivismo ambiental, estudando as relações e as causas que
interagem na natureza, desta forma dando origem a corrente da landschaftskunde,
uma ciência da Paisagem vista sob a perspectiva da ótica territorial (MOURA et al.
2010).
O século XX traz consigo no meio acadêmico, a ideia de análise da interação
entre os elementos da Paisagem. Sigrifid Passarge é o primeiro autor a escrever um
livro dedicado a Paisagem (Grundlagen der landchsftskunde), considerando as
interações entre o clima e as vegetações na destruição e conservação das formas,
sua obra resultou na origem do ramo de estudos denominado Geografia das
Paisagens.
Carl Troll acrescentou o conceito de Paisagem às abordagens contemporâneas
da Ecologia. As ideias de Troll irão dar origem a Geoecologia e a Ecologia das
Paisagens centrados nos estudos dos aspectos funcionais da mesma. Conceitos
importantes irão ser introduzidos por ele como a noção de que o ecótopo8 seria uma
extensão do biótopo9 corroborando com a totalidade geográfica das paisagens
traçando assim um caminho para o que seria entendido como Geossistemas
posteriormente.
Os estudos sobre paisagem na ex- URSS tem papel preponderante na
evolução epistêmica com semelhanças na escola alemã, tendo como pilar a

8 Representa uma área do meio externo que é determinado pelas condições vitais de um outro
agrupamento de organismos. É uma região que apresenta regularidade nas condições ambientais e
nas suas populações, um mesmo ecótopo pode incluir a uma mesma família diferentes cenoses.
Concerne à menor parcela de um habitat, possível de ser discernida geograficamente.
9 Conjunto de condições físicas e químicas que caracterizam um ecossistema ou bioma
59

contribuição do edafólogo Dokoutchaev no final do século XX. A noção de Complexo


Natural Territorial irá apoiar a fundamentação da pedologia como um ramo da ciência.

As escolas moscovitas, ligadas à Morfologia da Paisagem, apresentam uma


abordagem da paisagem mais próxima da Física e da Matemática. Grigoriev,
no início dos anos 30, propôs fechar por balanços os fluxos de matéria e de
energia que influenciaram no Complexo Natural Territorial. Solncev e
Isachenko, teóricos da Morfologia da Paisagem, mostram grande interesse
nesses estudos, já que eles poderiam levar ao estudo dinâmico da Paisagem.
O Geossistema, visto por essa lógica, é definido por combinações de massas
e de energias e o conjunto da Paisagem é considerado a expressão de
diferentes combinações. (Moura et al. 2010 pag.182)

Para Cavalcanti (2018), a Geografia russo- soviética difundiu o conceito de


morfologia da Paisagem com o estudo da composição, forma e arranjo espacial das
paisagens, isto tudo associado a ideia de evolução dinâmica da mesma.
As contribuições anglo-saxônicas tem a sua importância para o
desenvolvimento dos estudos das paisagens cujo a teoria do Holismo presente nos
trabalhos de Smuts foi fundamental para a compreensão do conceito de integração
da paisagem. Desta maneira podemos citar também as contribuições de Bertalanffy
com a teoria geral de sistemas proporcionou a Geografia novos olhares epistêmicos
a partir desta abordagem:

Presente na noção de Ecossistema estabelecida em Tansley em 1937, a


Teoria dos Sistemas foi adotada pela Geografia desenvolvida na ex-União
Soviética e nos demais países da Europa Ocidental, originando o método
denominado Geossistema. Desenvolvido pelo então soviético Sochava em
1962, utiliza os princípios sistêmicos e a noção de paisagem, em que os
Geossistemas são fenômenos naturais englobando fatores econômicos e
sociais, das paisagens modificadas pelo homem. (Moura et al. 2010 pág.183)

Para Marques Neto (2008), dentro da Geografia sistêmica há uma tendência


conceitual que sobrepõe o conceito de Paisagem ao conceito de geossistemas, onde
muitas vezes são discutidos de forma associada ou até mesmo como sendo a mesma
categoria de análise. Entretanto pode se inferir que a paisagem é a materialização de
um geossistema através das interações de seus componentes no espaço geográfico.

3.5 Geossistemas: aportes teóricos

Os estudos integrados da paisagem através da perspectiva dos geossistemas


ajudaram a consolidar a abordagem sistêmica na Geografia. O Geossistema é um
60

conceito difundido originalmente pelo cientista pertencente à escola russo-soviética


Viktor B. Sochava no ano de 1962.
O paradigma sistêmico abriu uma frente de novas perspectivas para a
Geografia. A partir dele foi possível interpretar de uma maneira nova, a circulação de
matéria ou substancias sobre o meio geográfico, concomitantemente, esta nova
interpretação trouxe uma ideia nova sobre a quantificação de entropia na paisagem,
proporcionando a compreensão sobre a dinâmica transformadora e estabilizadora do
meio geográfico.
Sotchava define o objetivo dos estudos sistêmicos pela Geografia Física da
seguinte forma:

Em condições normais deve se estudar, não os componentes da natureza,


mas as conexões entre eles; não se deve restringir à morfologia da paisagem
e suas subdivisões mas, de preferência, projetar-se para o estudo de sua
dinâmica, estrutura funcional, conexões etc. (SOTCHAVA 1977, pág. 2)

Sochava era crítico à fragmentação da ciência geográfica; em sua visão esta


divisão leva a Geografia ao esquecimento de sua principal concepção que é a conexão
do homem com a natureza. Desta forma, com o estudo dos geossistemas se torna
possível não isolar as áreas da Geografia e, no seu entendimento, ao solucionar
problemas geográficos complexos, a Geografia Física se relaciona diretamente com
a Geografia Humana (SOTCHAVA, 1977).
A partir de então a escola russo-soviética começa a enxergar a Geografia Física
moderna”, entendendo que a mesma está diretamente relacionada aos aspectos
antrópicos do ambiente, ligação esta que configura uma complexa rede de
organização espacial atingindo as esferas econômicas e sociais:

De acordo com o que foi dito, a concepção de geossistemas adquire um


especial significado: confere precisão aos limites entre a geografia física e as
outras disciplinas geográficas definindo, ao mesmo tempo, a essência do seu
campo de investigações e o seu lugar no conjunto da Geografia. (SOCHAVA,
1977, pág. 6)

Corroborando com Bertalanffy (1968), Sotchava (1977) entende o geossistema


como sendo uma classe de sistemas abertos dinâmicos e hierarquicamente
organizados, tendo sua premissa preponderante na dimensão espacial. Há uma
discussão entre os níveis de hierarquia acerca dos geossistemas, de vários níveis de
61

grandeza, porém, ele é adequado preferencialmente ao estudo de áreas extensas


sendo assim, também compreendido como um sistema natural:

Influencias antropogênicas dizem respeito a numerosos componentes


naturais de um geossistema (mudanças de umidade, e regime de salinidade
dos solos, modificações da vegetação, poluição do ar). Todos esses índices
determinam o estado variável de um geossistema em relação a estrutura
primitiva e refletem-se em seu modelo. As ditas paisagens antropogênicas
nada mais são do que estados variáveis de primitivos geossistemas naturais,
podendo ser referidos à esfera de estudo do problema da dinâmica da
paisagem. (SOCHAVA, 1977 pág.7)

Ao estabelecer a organização espacial como objeto de estudo da Geografia,


faz-se necessário compreender que as escalas de análise tornam esse objeto único
em sua composição, desta forma, a interação dos sistemas físicos ambientais
(organização espacial) é a chave para o entendimento dos geossistemas e, os
sistemas físicos ambientais são resultantes das interações dos componentes da
natureza (solos, clima topografia, água, vegetação) com a sociedade, e este, para
Sochava, é o ponto principal do conceito de geossistema, a conexão do homem com
a natureza.
Os aportes teóricos de Sochava são revolucionários para a ciência da
paisagem, sendo que sua significância maior concerne na incorporação de modo
integral da abordagem sistêmica no estudo das paisagens como unidades espaciais,
entidades totais, considerando a organização sistêmica com algo inerente à natureza:

Um geossistema pode ser definido como o espaço terrestre de todas as


dimensões, onde todos os componentes individuais da natureza encontram-
se em uma relação sistêmica uns com os outros e, como integridade
determinada, interatuam com a esfera cósmica e com a sociedade humana”.
(SOCHAVA, 1978, pág.11, tradução nossa)

Desta forma ele entende o geossistema como sendo uma unidade natural de
todas as categorias possíveis, do geossistema planetário (todo o ambiente geográfico
em geral), ao geossistema elementar (fácies físico-geográficas).
A problemática central da teoria dos geossistemas é o estudo da dinâmica do
meio natural, desta maneira, compreendendo essa dinâmica se torna possível
62

compreender a influência do ser humano sobre a estrutura e função dos geossistemas


fundamentando os conceitos de epifácie10 e epigeoma11.
A estrutura de um geossistema pode ser decomposta em três dimensões:
material, espacial e temporal. Estas estruturas são regidas pelas entradas de energia,
matéria e informação advindas de fora de seus domínios, e também pelos processos
internos de auto regulação/organização (CAVALCANTI, 2010).
A cada parte da estrutura material ou substancial dos geossistemas são
denominadas de geocomponetes. Os geocomponentes são compostos por elementos
químicos e substancias ou por um dado conjunto destes mesmos (tipos de solos,
vegetação, Rochas etc.).
A estrutura espacial dos geossistemas, corresponde a diferenciação da
estrutura material ao longo do vetor de gravidade terrestre sendo que suas
componentes são divididas em: vertical e horizontal.
Desta forma, foi introduzido o termo geohorizonte para descrever os diferentes
componentes da estrutura vertical.Portanto, um geohorizonte se caracteriza por ser
um estrato da paisagem onde há combinação de geomassa12, levando em
consideração também as condições da hidrosfera e da atmosfera, e não somente os
estratos vegetais e dos horizontes do solo (CAVALCANTI, 2010).
A estrutura espacial horizontal, corresponde à diferenciação da estrutura
material normal ao vetor de gravidade, sendo identificada através de mapeamentos
de unidades de paisagem.
A estrutura temporal, corresponde a mudança na totalidade das substancias ao
longo do tempo. Desta forma, a estrutura temporal obedece a processos diversos e
com durações diferentes, como por exemplo os processos pedológicos,
geomorfológicos que diferem da temporalidade de processos das biocenoses e
atmosféricos (CAVALCANTI, 2010).
A taxonomia das paisagens podem ser agrupadas em dois conjuntos
metodológicos: A regionalização e a tipologia. A regionalização diz respeito aos
procedimentos de identificação de geossistemas de várias dimensões, sendo assim,

10
Correspondem a estruturas derivadas que surgem de maneira espontânea e sob o impacto humano
podendo se manifestar em grupos e classes de epifácies, essas ultimas epigeomas.
11
Grupo de epifácies sistematizadas
12 Geomassa, é um termo aplicado para definir a ideia de matéria geográfica, ou seja, aquela eu pode

ser agrupada de acordo com sua posição entre as esferas geográficas (litomassa, biomassa,
hidromassa, aeromassa).
63

este termo utilizado desta forma, designa que está sendo utilizado no sentido de
diferenciação de áreas (CAVALCANTI, 2010).
Desta forma, seguindo o axioma hierárquico, no sentido da regionalização, o
planeta seria subdividido em áreas menores até alcançar a menor dimensão de
conexão com a natureza, ou seja, áreas elementares (indivisíveis) compondo a base
do sistema hierárquico, que com o decorrer da história recebeu diversas
nomenclaturas, variando de acordo com a abordagem, sendo que o topo do sistema
classificatório sempre foi o próprio planeta (CAVALCANTI, 2010).
Segundo Isachenko13 (1991, apud Cavalcanti 2010, pág. 63), um cinturão
geográfico é a maior divisão zonal do envelope geográfico. As características
fisiográficas do cinturão são expressas pelo nível de calor e umidade e a relação à
circulação das massas de ar. O cinturão é dividido em zonas e subzonas com base
nas variações de umidade e calor. O setor físico-geográfico corresponde a variação
de características termohidrológicas em função da continentalidade e o sub setor
físico geográfico corresponderia a variação interna em um determinado setor.
As ideias de continente e subcontinente estão relacionadas às ideias de forma
e orografia. Um país físico-geográfico é definido como parte do continente marcado
por elemento estruturais. Para Isachenko (1991, apud Cavalcanti 2010, pág. 59) um
domínio físico-geográfico individualizou-se a partir da influência de fatores azonais
(movimentos tectônicos, transgressões e regressões marinhas, glacial, continental) no
desenvolvimento de um país físico geográfico, um domínio pode ainda conter um
subdomínio, tratando-se diferentes estágios de evolução geomorfológica de um
domínio.
A província físico-geográfica é a constituição de uma unidade morfoestrutural
que se desenvolveu dentro de condições termohidrológicas similares e a subprovíncia
seria uma parte isolada da província ao longo do seu desenvolvimento. Um distrito é
definido como um subdomínio no interior de uma zona físico-geográfica.
Para Sochava (1978), a noção de macrogeócoro se relaciona com o termo
landschaft, uma interpretação diferenciada do sentido do conceito de paisagem.
Isachenko (1971) estudou as divisões físico-geográficas e as classificou tomando
como princípio a landschaft. Desta forma ele entende a paisagem como sendo uma

13
ISASCHENKO, A.G. Principles of landscape Science and phisical geographic regioalization.
Melbourne University Press. 1973. 320p.
64

área específica homogênea em sua história e origem, com o mesmo fundamento


geológico, mesmo tipo de relevo, o clima geral, uma combinação uniforme de
condições hidrotermais, solos, biocenoses, e um conjunto lógico de partes
morfológicas – fácies14 e tratos15. (SOCHAVA, 1978; ISACHENKO 1971 apud
CAVALCANTI, 2010).
Para cada área homogênea identificada, pode se dar o nome de individuo
geográfico, a Tipologia, é realizada quando se tem indivíduos com características
semelhantes, podendo-se aplicar o conceito de tipo para diferenciação e comparação
entre paisagens e unidades locais. (ISACHENKO, 1973 apud CAVALCANTI, 2010).
Desta maneira pode-se utilizar diversos critérios para se mapear as paisagens,
como por exemplo a utilização de mapas temáticos para compreensão das relações
de controle e evolução das paisagens. Portanto o modelo de Sochava é fundamentado
em no princípio regional- tipológico, sendo que a fileira tipológica é a fileira dos
geômeros e a regional a dos geócoros.
Sotchava classifica os geossistemas em duas fileiras, ele identifica geômeros
e geócoros16, sendo os geômeros17 sistemas espaciais homogêneos ou área naturais
homogêneas, e os geócoros sistemas naturais heterogêneos ou a combinação
heterogênea de geômeros, formando unidades individuais heterogêneas.
(RODRIGUEZ, 2019; SOCHAVA, 1978).
O geossistema pode ser considerado então uma unidade de sistema conceitual
naturalista, multiescalar, que se conecta com a sociedade e suas atividades
econômicas, sendo organizado com uma classificação bilateral.
Os sistemas homogêneos são aqueles semelhantes do ponto de vista da
organização espacial de seus componentes, já os geócoros são complexos de
hierarquia superior que vão aumentando o nível de sua heterogeneidade de acordo

14 É definida como parte da estrutura do trato (topo do morro, segmento de encosta etc.)
15 É uma unidade maior, um sistema conjugado de fáceis formado a partir de qualquer forma de relevo
(convexa ou côncava unidos em gênese e idade, podendo ainda apresentar subtratos, e uma conexão
funcional de um conjunto de tratos conjugados recebe o nome de Terreno (bacias hidrográficas, vales
de rios, terraços).
16 Significa um sistema espacial heterogêneo, formado por geômeros, que se cruzam territorialmente,

em um conjunto de totalidade estrutura/dinâmica/funcional. Os geócoros formam uma fileira hierárquica


composta de geossistemas subordinados, porém integrados (micro, meso e macrogeócoro, região,
distrito, províncias e outros.
17 O Geômero (área natural homogênea), elementar é o espaço homogêneo mínimo sobre o qual se

estabelecem todos os componentes de um dado geossistema. A facie, é o menor táxon do geômero e,


se reúnem segundo o princípio de generalização em grupos e classes de fácies, em geomas e depois
em categorias maiores que em seu conjunto formam a fileira dos geômeros.
65

com o tamanho areal, desta maneira os dois sistemas formam uma totalidade e a
relação entre eles é dada pelas trocas de matéria e energia.
Desta maneira, Sochava se dedica a estudar os sistemas através de três
propriedades: a estrutura, a dinâmica e a evolução das paisagens. Considerando
também os geossistemas em três dimensões ou escalas: a planetária, a regional e a
topológica, tendo como arsenal metodológico a cartografia (RODRIGUEZ, 2019;
SOCHAVA, 1978).
É importante ressaltar que o autor não aceita a existência de um sistema
integral, sempre se remetendo a inter-relação dialética das categorias de sistemas.
Sochava (1978) considera a natureza e a sociedade como antagônicos dialéticos.

Figura 15 - Divisão taxonômica dos geossistemas

Fonte: Adaptado de Sochava (1978).


66

Cabe um adendo aqui a ideia referente a invariante de um geossistema18. Este


termo é oriundo da linguagem matemática, e concerne na fundamentação de dois
princípios fundamentais, mas que são contraditórios: Transformação (modificação) e
conservação (invariante). Na envoltura geográfica, os processos de transformação
são constantes, e ao mesmo tempo, ocorre a conservação de algumas propriedades,
aos quais em conjuntos são as invariantes com relação a determinados saltos no
tempo e no espaço (RODRIGUEZ, 2019; SOCHAVA, 1978).
Desta maneira, mediante aos estudos e compreensão desses elementos
conservados e suas relações é que se vislumbra a possibilidade de estabelecer a
classificação dos geossistemas que correspondem as leis atuantes no meio natural e
que culminam nas transformações.
Entretanto como todo método, apresenta problemas que são de ordem
epistemológica e nos levam a eterna discussão da fragmentação da ciência
geográfica. Falar da dicotomia Geografia Física e Geografia Humana é esbarrar na
dificuldade de integração entre as áreas, principalmente a Geografia Física no que
concerne as análises socioeconômicas, sendo esta última central no entendimento do
Geossistemas.
Acerca dos Geossistemas e sua teoria, temos que mencionar a corrente
francesa de pensamento Bertrandiana (1968), que se apresenta como uma corrente
acerca das interpretações da temática, principalmente na Geografia brasileira, essa
corrente do pensamento entende o geossistema como uma unidade mesorregional da
paisagem.
Todavia, o geossistema como conceito é difundido a partir da escola Russo-
soviética sendo associado a uma teoria explicativa das relações dos componentes
ambientais e dos diversos campos da Geografia Física. Desta forma a teoria
geossistemica de Sochava é realista no que concerne a estrutura, dinâmica e
evolução das áreas naturais resultantes das interações e relações entre os
componentes da natureza.
Há uma grande dificuldade na Geografia brasileira de entendimento e até
mesmo de aceitação e diferenciação entre a teoria Bertrandiana e a russo soviética
de Sotchava. Isto se deve a diversos motivos, mas o principal está na forma com que
se deu a organização estrutural acadêmica e do pensamento geográfico no Brasil, que

18Invariante de um geossistema é ideia sobre um conjunto de propriedades inerentes ao geossistema


que, se conservam sem se modificar quando se transformam nas categorias de geossistemas.
67

se difere da organização estrutural acadêmica nos países formadores da antiga


URSS, sendo que, a Geografia Brasileira, historicamente foi fortemente influenciada
pela escola francesa de pensamento.
O ponto chave no entendimento da teoria dos geossistemas de Sochava é que
a mesma aceita a existência de uma compartimentação de unidades fisiográficas da
paisagem de forma real, e das trocas de energia e matéria entre os ecossistemas
integrantes da realidade e a relação do homem com esse ambiente.
O geossistema em Sochava é um conceito naturalista, e é nesta epígrafe que
os elementos de caracterização do geossistema se ancoram, nas mais diversas
manifestações escalares e no princípio bilateral (unidades homogêneas e
heterogêneas). Em Bertrand o viés tende ao culturalismo, é taxo-corológico
funcionando como uma unidade de grandeza.
A vantagem na abordagem geossistemica é que ela permite o olhar por vários
prismas dos aspectos naturais, sejam esses aspectos concernentes à estrutura,
dinâmica, evolução, e permite o tratamento dos problemas, entretanto, ressalta-se que
é preciso a diferenciação epistemológica no seu estudo.
68

4 A ÁREA DE ESTUDO, HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO.

Localizada ao sul do estado de Minas Gerais (Figura 16) a área de estudos


compreende o município de Divisa Nova, localizada na zona a 23s no hemisfério sul,
a mesma faz limite com os municípios de Alfenas, Areado, Campestre, Cabo Verde,
Botelhos, Monte Belo e Serrania.

Figura 16 - Vista aérea do sítio urbano do município.

Fonte: Ramos assessoria S/C LTDA (2015).

Divisa Nova possui uma população estimada de 6025 habitantes (IBGE,2020),


e sua área é de 216, 955 km². O município está a uma altitude média de 877 metros
acima do nível do mar, com uma densidade demográfica de 26,56 hab./km². As
principais vias de acesso são a BR 491 que liga a cidade à Alfenas e Areado e a BR
369 sendo que a distância do município para a capital Belo Horizonte é de 340 km.
A densidade demográfica do município é baixa, o sítio urbano, assim como sua
área rural, não apresentam verticalizações significativas, ou seja, prédios com mais
de dois andares.
Nesse trabalho, utilizou-se o conceito de pequeno município adotado pelo
IBGE, aqueles cuja população urbana não ultrapassa 20.000 habitantes (IBGE, 2015).
O município possui características socioeconômicas que se voltam para a agricultura,
sobretudo para a produção do café, que influencia grandemente a economia e culturas
locais.
69

Figura 17 - Localização das de Divisa Nova/MG.

Fonte: Elaborado por Forte e Bellini, 2019.

O comércio e o modo de vida da população do município são organizados entre


o período de safra (colheita de café) e o período da entressafra, que são sazonais.
Esta sazonalidade é preenchida pela produção de outros produtos agrícolas como o
milho, o arroz e o feijão, como já citado Divisa Nova se caracteriza pelas grandes
propriedades rurais. (FORTE,2018)
Segundo o Plano Diretor Participativo do município, a formação de seu território
se deu a partir do auge do ciclo do ouro. O Capitão Silvério Luiz de Figueiredo e sua
esposa Rita de Cássia de Jesus, Manoel Joaquim de Figueiredo e sua esposa
Bernardina Maria da Trindade, venderam por um conto de réis (moeda da época) uma
área de 40 alqueires localizados no lugar denominado “Divisa”, na Fazenda Santo
Antônio do Pinhal, a diversos moradores do local (PREFEITURA MUNICIPAL DE
DIVISA NOVA, 2006).

A dita sociedade então doou a área para construção da Capela de Nossa


Senhora da Conceição e formação do povoado, inicialmente denominado
‘Conceição da Boa Vista”, em homenagem à santa de devoção dos
moradores. Em 11 de março de 1870, Conceição da Boa Vista foi elevada à
categoria de Freguesia Forânea de Cabo Verde, sendo logo depois
70

desmembrada para pertencer ao município de Alfenas. Através da Lei


Provincial nº 1.651, de 14 de setembro de 1870, confirmada pela Lei Estadual
nº 02, de 14 de setembro de 1891, o povoado foi elevado à categoria de
Distrito e recebeu o nome de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista.
Através da Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, o distrito passou a se
chamar Divisa Nova, isso em razão das terras cedidas para construção da
primeira capela que deu origem à formação do povoado, que se situava na
divisa de duas grandes fazendas, uma das quais denominada Fazenda da
Divisa (PREFEITURA MUNICIPAL DE DIVISA NOVA, 2006).

Com o Decreto-Lei 148, de 17 de dezembro de 1938, o Distrito foi elevado à


categoria de município, mantendo-se o nome de Divisa Nova. Também ficou mantido
como o Foro da Comarca de Cabo Verde (PREFEITURA MUNICIPAL DE DIVISA
NOVA, 2006).
É de suma importância os apontamentos nos fatos da concepção do município,
porque aqui reside um problema central de planejamento e ordenamento territorial.
Com a ausência de um georreferenciamento de propriedades privadas e públicas, a
justiça determinou suspensão de todo e qualquer ato de transferências e
documentação de propriedades, até que o governo municipal tome as providencias.
Desta forma, a maioria dos terrenos públicos que não estão registrados e
documentados, não pertencem a prefeitura, mas sim a Igreja católica.
71

5 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE DIVISA NOVA

5.1 Resultados cartográficos

O diagnóstico ambiental é uma importante ferramenta de base para o


planejamento ambiental, e consiste em um levantamento da situação e percepção dos
componentes ambientais de uma determinada localidade.
Para Gustafsom (1998), os sistemas ecológicos são complexos e heterogêneos
no tempo e no espaço, e a sua variabilidade é tipicamente representada por mapas
temáticos. Dessa maneira, a análise dos mapas temáticos é uma das formas de se
estudar as alterações que podem ocorrer nas paisagens ao longo do tempo, pois os
mesmos possuem propriedades úteis para ordenar, inferir e planejar acerca de
fenômenos espaciais.

5.1.1 Geomorfologia de Divisa Nova:

Hipsometria:

A avaliação hipsométrica da área de estudos possibilita a observação da


variação de altitude. Sendo assim sua análise de suma importância na abordagem da
dinâmica de uso e ocupação, na configuração topográfica e a dinâmica de
escoamento superficial e erosão hídrica no terreno (MARQUES NETO et al. 2013).

A amplitude altimétrica, que está relacionada com o aprofundamento da


dissecação, é um indicador da energia potencial disponível para o “runoff”.
Quanto maior a amplitude altimétrica maior é a energia potencial, pois as
águas das precipitações pluviais que caem sobre os pontos mais altos do
terreno adquirirão maior energia cinética no seu percurso em direção às
partes mais baixas e, conseqüentemente, apresentarão maior capacidade de
erosão ou de morfogênese. (CREPANI et al. 1996, p. 74).

O mapa hipsométrico de uma forma geral é uma variação da representação do


relevo de uma determinada área.
72

Figura 18 - Mapa hipsométrico do município de Divisa Nova-MG.

Fonte: Do Autor, 2020.

A maior altitude da área de estudos está estimada em 1070 metros e a base da


mesma em 775 metros próximo ao lago de furnas. O relevo não apresenta altitudes
muito elevadas, e amplitude de 295 metros. Estas características somadas a
declividade podem indicar a aptidão do uso dos solos para determinados tipos de
usos.

5.1.2 Declividade

A declividade (expressa em porcentagem), é a relação existente entre o valor


do desnível de altura entre dois pontos no relevo e o valor da distância horizontal entre
eles. É a medida de inclinação do terreno expressa em graus. A fórmula matemática
que expressa esta relação é D = (ha – hB) x 100/dAB, onde “D” é a declividade, há a
altura do ponto A, hB a altura do ponto B e dAB a distância horizontal entre dois
pontos. Pelo novo código Florestal toda área com inclinação superior a 45° ou 100%
de declividade é considerada como área de proteção permanente. (BOSSLE, 2015)
73

Para morros ondulados, é necessário que a distância entre o cume e o ponto


de sela mais próximo tenha altura mínima de 100 metros ou que a distância entre o
cume e a base de uma planície ou curso d’água seja igual ou superior a 100 metros.
(BOSSLE, 2015)
Para confecção deste mapa foram adotados critérios de classes de declividade
de acordo com o manual da EMBRAPA de (1979). Foi utilizado o modelo digital de
elevação Aster GDEM.
As declividades até 3% compreendem as áreas planas, planícies e terraços
fluviais que estão a uma altitude de 775 metros, ocupando 2,2% da área de estudos,
sendo assim, esta classe tem baixa vulnerabilidade a processos erosivos.
A classe de relevo suave ondulado, na faixa e declividade de 3% a 8%
compreende 14,55% da área de estudos, sendo uma área apta ao cultivo agrícola
anual pois apresenta fraca vulnerabilidade a processos erosivos.
O relevo é predominantemente ondulado com 49,1 % do território conforme
pode ser visto no mapa de declividade que correspondem a classe de 8% à 20%,
contendo áreas sujeitas à APP’s (essas áreas deveriam ser respeitadas, porém não
são), conforme o novo código florestal 12651/12 artigo 4°. A declividade pode ser fator
preponderante também para a mecanização agrícola, que não é recomendada para
declividades acima de 20%, nesse caso infere-se que a predominância do terreno no
município não favorece a mecanização.
74

Figura 19 - Mapa de Declividade do município de Divisa Nova-MG.

Fonte: Do Autor, 2020.

Forte ondulado entre 20% e 45% ocupam 32,9% do terreno, sendo uma área
de difícil cultivo agrícola, onde se requer restrições para o uso e ocupação visando a
conservação dos recursos naturais. As faixas acima de 45% são áreas montanhosas
e de alto declives, não indicadas para qualquer tipo de cultivo. Na área de estudos
estão também associadas às APP’s de Topo de Morro, aquelas onde se leva em
consideração o ponto de sela de acordo com o novo código florestal.

Quadro 1 - Abrangência das Classes de Declividades, em porcentagem, no âmbito do município de


Divisa Nova - MG.
.
Classe de declividade Percentual do Território
1- Plano 2,2%

2- Suave ondulado 14,55%

3- Ondulado 49,21%
75

4- Forte ondulado 32,9%

5- Montanhoso 0,98%

6- Escarpado 0,17%

Fonte: Do autor, 2020.

5.1.3 Rugosidade:

Para Bertol et al. (2006), a rugosidade pode ser entendida como a distribuição
espacial das ondulações do terreno, ou seja, pelas variações de altura nas
microelevações e de profundidade das microdepressões superficiais.
Dentre outros fatores, a rugosidade é afetada pelo tipo de preparo do solo em
cultivos agrícolas, volume das chuvas e estabilidade dos agregados estruturais diante
do intemperismo hídrico. O aumento da rugosidade é responsável pelo aumento da
armazenagem de água na superfície, da infiltração da água no solo e na retenção de
sedimentos e por isso, pela redução da erosão hídrica, ou seja, seu aumento ou
diminuição está diretamente associado com o volume e intensidade das chuvas.
(BERTOL et al., 2006)
Portanto, à partir do exposto, o cálculo do índice de rugosidade (I.R.T), propicia
uma análise mais detalhada do terreno e a possibilidade de inferir quais áreas estão
mais ou menos propensas a erosão hídrica.
76

Figura 20 - Mapa do índice de Rugosidade do Município de Divisa Nova-MG.

Fonte: Do Autor, 2020.

Desta forma pode se considerar após a determinação dos índices extraídos que
I.T.R com índices:

ITR local muito baixo: valores ITR abaixo de 3.00


ITR local Baixo: 3.00 a 5.99
ITR Médio: 5.99 a 15.00
ITR local alto: 15.00 a 31.99 > Muito alto.

Em sua maior parte, o relevo de Divisa Nova, associando o IDR a declividade


e a altimetria, está sujeito a processos erosivos, e não se indica a mecanização
agrícola e o uso intensivo da terra principalmente na região SSW.

5.1.4 Compartimentação Geomorfológica:

A compartimentação geomorfológica (figura 22) é a base para o mapeamento


dos geossistemas, ela é o ponto de partida para a delimitação e a análise integrada
dos sistemas ambientais. O relevo é o suporte da paisagem, as subunidades
geomorfológicas representam os elementos mais “estáveis” das paisagens. É sob as
77

unidades de relevo que atuam os fatores climáticos e hidrológicos, responsáveis pela


dinâmica das paisagens.

Figura 21 - Mapa de Compartimentos geomorfológicos de Divisa Nova-MG.

Fonte: Do Autor, 2019.

Corroborando com os mapas hipsométrico, declividade e índice de rugosidade,


pode-se inferir que o município apresenta o domínio de mares de morros convexos,
ou seja, fortemente dissecado, com alta capacidade de erosão hídrica e perca de
solos, sendo assim desfavorável a mecanização agrícola, necessitando de um
planejamento adequado de uso e ocupação.
A compartimentação geomorfológica de Divisa Nova confirma o caráter
mamelonizado do relevo, com tipicidades em morros e colinas dominantemente
convexas com drenagem subdendrítica a subparalela, esta última sugerindo um
controle estrutural NNE-SSW.
78

Figura 22 - Terraço Fluvial em Divisa Nova-MG.

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Na figura 22 podemos notar a interação entre o Rio Cabo Verde e o Lago de


Furnas através do ponto de confluência, a seta vermelha indica a vegetação arbórea
das margens do Rio e a seta amarela indica o terraço fluvial, que contém hoje
vegetação herbácea onde havia volume de água do lago de Furnas, e que se tornou
consequentemente pela seca em um terraço fluvial, a seta vermelha indica o local
onde está a ponte do Rio Cabo Verde e a planície do mesmo com uso e cobertura de
cana e gado bovino. Ao fundo vemos colinas e morrarias intermontanas com
incidência de café. Esta figura ilustra as planícies fluviais e flúvio lacustres do mapa
de compartimentação, além das morrarias e colinas intermontanas.

5.2 Geologia

A área de estudos se encontra dentro do chamado Complexo Guaxupé (Figura


19):

O complexo Guaxupé (Fonseca et al., 1979) corresponde a um bloco limitado


a norte pela Zona de Cisalhamento Campo do Meio, a sul pela Zona de
Cisalhamento Ouro Fino e a leste pelo Supergrupo Alto Rio Grande (Hasui &
79

Oliveira, 1984). As rochas ortoderivadas encontradas nesse Complexo são


hiperstênio-granulitos (charnockitos), granulitos alaskíticos (enderbitos),
granulitos básicos, gnaisses graníticos bandados, metabásicas e
metaultrabásicas. A essas rochas associam-se metassedimentos de alto
grau, que foram separados no Grupo Caconde (Hasui & Costa, 1988):
quartzitos, gnaisses, xistos diversos, mármores, etc. O conjunto de rochas
ortoderivadas e de supracrustais é de fácies granulito, exibindo condições
metamórficas nas fácies anfibolito, em parte migmatizado (OLIVEIRA et al.,
1984 apud GASPAR, 2010, p. 72).

O complexo Guaxupé, que engloba a cunha varginha-guaxupé, que apresenta


uma grande diversidade mineralógica devido aos processos de assentamento
geológico ao qual foi exposta, sua variedade de rochas é composta, segundo Rodrigo
Prudente Melo; Marcos Aurélio Farias de Oliveira (2013):

O Complexo Guaxupé é constituído por rochas de natureza intermediária a


ácida, ortoderivadas, com intercalações de rochas metassedimentares
(pelíticos, psamíticos e carbonáticos), rochas máficas e mais raramente
rochas ultramáficas (Zanardo et al. 2006). São granulitos félsicos a máficos,
gnaisses graníticos, paragnaisses, quartzitos, xistos, mármores e lentes de
rochas calciossilicáticas (Del Lama et al. 2000). A porção estudada
corresponde à extremidade sul deste complexo e refere-se à unidade
migmatítica superior de Campos Neto e Caby (2000). (OLIVEIRA, 2013, p.
256)

Figura 23 - Mapa Geológico da área de estudos.


80

Fonte: Do Autor, 2020.

5.3 Pedologia

De acordo com Gaspar (2013), o sul de Minas Gerais tem um predomínio


pedológico composto por latossolos vermelhos, os quais estão em sua maioria
inseridos nas áreas morfológicas de colinas.
A área de estudos conforme constatado na (Figuras 24) tem como principal tipo
de substrato o latossolo vermelho distrófico, caracterizado pela extensa camada
horizontal B homogênea, amplamente lixiviada, rica em óxidos férricos e
consequentemente, ácido, o que a torna desfavorável para agregar nutrientes, assim
como impossibilita o acumulo de água.
Segundo a legenda proposta no livro Mapa de Solos do Estado de Minas Gerais
(2010), tem-se que os solos presentes na área de estudo são:

 LVAd17 – LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO distrófico típico A moderado


textura argilosa + ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO eutrófico típico A
moderado textura média/argilosa; ambos fase floresta subperenifólia, relevo
montanhoso.
 LVd2 – LATOSSOLO VERMELHO distrófico típico A moderado textura
argilosa; face cerrado, relevo plano e suavemente ondulado.
 PVAe2 – ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO eutrófico típico A moderado
textura média/argilosa; fase floresta subcaducifólia, relevo forte ondulado e
montanhoso.
81

Figura 24 - Mapa pedológico da área de estudos.

Fonte: Do Autor, 2020.

5.4 Hidrografia

Divisa Nova faz parte da Bacia Hidrográfica do reservatório de Furnas (GD3).


O município possui uma rede hidrográfica bastante ramificada, de forma que dá se
destaque ao córrego Lagoinha e ao córrego da Fábrica por tratarem-se de rios que
contornam a malha urbana. Ambos os córregos deságuam no rio Muzambo, afluente
do reservatório do Lago de Furnas, e divisa do município.
82

Figura 25 - Localização do município (DN) na unidade de planejamento GD3.

Fonte: Comitê da Bacia Hidrográfica (2019).

Com relação à rede hidrográfica, os principais problemas estão ligados às


questões sanitárias e de preservação das margens dos rios, que deveriam seguir a
legislação referente as áreas de APP’s. O grau de poluição dos córregos situados na
área urbana compromete a qualidade ambiental das áreas de entorno, devido à
ausência de um sistema de esgotamento sanitário.
O Rio Cabo Verde também é muito importante na configuração da hidrografia
local, ele possui sua nascente na cidade de Campestre e sua foz no lago de Furnas,
cortando os municípios de Divisa Nova e Cabo Verde. Já o rio Muzambo, também
possui sua nascente na cidade de Campestre, passando pelas cidades de Campestre,
Serrania, Divisa Nova e Alfenas, desaguando no lago de Furnas.
83

A captação de recursos hídricos em larga escala na área interna do município


associa-se ao setor agrícola, onde as grandes fazendas cafeeiras e os diversos
agricultores familiares direcionam o recurso para irrigação de suas culturas, porém
vale ressaltar outros tipos de uso, como o turístico e a pesca.
Ao realizar os procedimentos no software QGIS para adição da hidrografia
contribuinte e definindo um exutório para as micro bacias, resultou-se em 13
microbacias hidrográficas reconhecidas e sete as quais não são identificadas
totalizando 20 microbacias no município.

Figura 26: Mapa das Microbacias do município de Divisa Nova-MG.

Fonte: Do Autor, 2020.

É importante ressaltar que no município de Divisa Nova, o uso dos recursos


hídricos com fins de produção de energia elétrica tem forte interferência nas áreas de
cachoeiras, o que gera impactos ainda desconhecidos, e o plantio de cana de açúcar
aparece como forte exponente no uso agrícola da terra.

O saneamento básico do município é comprometido. O controle e fiscalização


bem como sua regulamentação é concedida a Companhia de Saneamento de Minas
Gerais (COPASA), sob contrato celebrado pelo número 4302, datado de 13/05/1998
84

apresentando validade de 30 anos. Sua ETA (estação de tratamento de água) opera


com vazão de 54 metros cúbicos por hora, sendo sua captação realizada por 5 poços
artesianos, sendo 3 outorgados pelo IGAM e dois em processo de outorga. SNIS
(2019).

O processo de tratamento é realizado utilizando desinfecção pela aplicação de


ácido fluo silícico e hipoclorito de cálcio, e sua distribuição é realizada por meio de
2060 ligações atendendo 4456 pessoas. De acordo com o SNIS (Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento), a captação de água bruta possui rede adutora com
7441 metros de extensão, não dispondo de sistema de elevação de água bruta. O
índice de atendimento urbano é de 99,75% com uma extensão de rede de água de
29,51 km e um volume distribuído de 54,5 m³/h, com uma perda de 26,8% por
distribuição o que dá em média 117,62 litros por ligação diários, dados estes
preocupantes (SNIS, 2019).
Não há nenhum registro de mapeamento ou de localização da rede de coleta
de esgoto, desta forma, não se pode afirmar que as áreas residenciais estão ligadas
a uma rede de coleta de esgoto.
O município não apresenta uma ETE (estação de tratamento de efluentes).
Todo efluente gerado é lançado diretamente em corpos hídricos no entorno do sítio
urbano, havendo diversos pontos de lançamento que culminam nos córregos Fonte
Grande ou Córrego da Fábrica e no Córrego da Lagoinha.
O município incorre risco de estar cometendo vários crimes ambientais, uma
vez que não respeita as resoluções 357 e 430 do CONAMA que versam sobre a
qualidade das águas, classificação e enquadramento assim como condições e
padrões de lançamentos de efluentes em corpos hídricos. O odor às margens do
córrego é forte e a água apresenta turbidez por poluição.
O mais preocupante é que existem residências que captam água em poços as
margens dos córregos para uso diário, além do uso para agricultura, bem como a
própria COPASA faz captação em poço em um dos locais de descarte de efluentes
no córrego da lagoinha.
Outro fator preponderante é que esses dois córregos se encontram com dois
rios importantes na região, sendo esses o Rio Cabo Verde e o Rio Muzambo, e ambos
os rios poluídos deságuam no lago de furnas.
85

Figura 27 - Descarte de Efluentes no Córrego da Lagoinha

Fonte: Trabalho de Campo, 2021.

Figura 28 - Descarte de Efluentes no Córrego da Fábrica

Fonte: trabalho de Campo, 2021.


As figuras 29 e 30 são de dois pontos de captação distintos que ficam as
margens do córrego, ambos da empresa COPASA. A imagem 29 se refere à um ponto
de captação que fica em cima de um ponto de descarte, e logo a sua frente há a
referida residência que capta água para uso doméstico, em uma espécie de sítio, ou
chácara. A prefeitura local não tem um programa de monitoramento desses efluentes
lançados bem como do corpo hídrico, muito menos das pessoas residentes nesse
local, com relação a sua saúde e consumo dessa água.
86

Figura 29 - Captação de água no córrego da lagoinha ponto (a).

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Figura 30: Estação de captação em um ponto do Córrego da Lagoinha ponto (b)

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Na realização do trabalho de campo foi possível notar que há um processo de


assoreamento no curso hídrico do córrego alegre que pode ser visto na figura 31, em
função além da carga de resíduos lançada no mesmo, pelo processo de transporte de
sedimentos do cultivo agrícola do entorno, além do pisoteamento de gado em alguns
87

pontos que causam a compactação do solo e consequente redução na capacidade de


infiltração do mesmo.

Figura 31 - Assoreamento, água turva e pisoteamento das margens do Córrego Alegre

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

A geomorfologia no entorno do córrego pode ser classificada como um


Modelado de acumulação, e os colapsos presentes são erosões marginais, pois é
possível notar cicatrizes de colapso do solo neste curso, e o mesmo faz parte de um
regime mal drenado, onde o seu substrato permanece molhado a maior parte do ano
e o nível freático é visível na superfície.
As margens do córrego apresentam pouca proteção, existem manchas de
vegetação em alguns pontos, mas é predominante a utilização das margens para uso
de pasto e uma pequena porção para cana de açúcar.
O município não apresenta nenhum instrumento de planejamento ou
infraestrutura para drenagem das águas pluviais, e essa demanda é necessária para
que possam ser evitados impactos socioambientais decorrentes de inundações ou
processos de movimento de massa em áreas de encosta como o ocorrido em 2018.
88

Figura 32 e 33 - Ponto de Confluência entre os córregos e o Rio Cabo Verde

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Nas figuras 32 e 33, é possível visualizar à esquerda o Rio Cabo Verde, e à


direita os córregos com seus efluentes. É importante o levantamento de campo no Rio
Cabo Verde, uma vez que o levantamento cartográfico é da década de 1970, e as
imagens de satélite recentes mostram um recuo do corpo hídrico ao norte do município
justamente nesta região de confluência conforme indicado na figura.
No levantamento de campo foi possível verificar esse recuo, e a diminuição do
nível de água da margem. O Rio Cabo Verde apresenta em sua Margem vegetação
arbustiva e herbácea em alguns pontos, à qual não fecham dossel de uma margem a
outra.

Figura 34 - Rio Cabo verde, Divisa Nova - MG.

Fonte: Trabalho de campo, 2021.


89

O aspecto da água na data do levantamento de campo é bastante turvo, isso


demonstra que o rio transporta uma quantidade de sedimentos considerável, e estava
com material em suspensão. É possível visualizar a presença de dosséis de espécies
arbóreas (árvores que possuem tronco principal), com lenhosidade e cobertura aberta
latifoliadas semidecíduas.

Não existem retificações de canal no local, nem barragens, porém há uma


ponte que perpassa em um dos pontos do rio. Abaixo desta ponte, há um local
utilizado para área de pesca e lazer, o qual se encontra depredado com pichações,
resíduos sólidos, vestígios de carvão e fogueiras (figura 35).
Figura 35 - Depredação e vestígios de fogo na ponte

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Neste ponto do rio, próximo a ponte, foi possível visualizar processos erosivos,
e taludes que apresentaram marcas de recorte feitos por máquinas pesadas para
retirada de solos, que em seu aspecto se assemelham ao solo utilizado para saibro
na construção civil, saibros são produtos de alteração de rochas quartzo-feldspáticas.
90

Figura 36: Recorte de talude às margens do rio. Figura 37: Feldspato Alterado

Fonte: Trabalho de campo, 2021. Fonte: Trabalho de campo, 2021.

O rio possui uma ampla planície de inundação (figura 38) alagada em sua
margem direita com modelados de acumulação fluvial caracterizadas por sedimentos
provenientes de inundação com regime mal drenado, seu substrato permanece
molhado a maior parte do ano, e o nível freático é visível na superfície, um
geossistema frágil e suscetível a pressões externas poluidoras.
Esta área é conhecida do ponto de vista local por ter sido utilizada para o cultivo
de arroz durante um longo período. Esta área se encontra assoreada, e está ocupada
pela criação de gado bovino (figura 39), o que gera consequências como o
pisoteamento e compactação dos solos, além da carga de material poluente
descartado na mesma como metano e outros através das fezes dos animais, além é
claro de defensivos agrícolas.
91

Figura 38 - Planície de inundação do Rio Cabo Verde

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Figura 39 - Gado na planície inundada

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

É possível também ver nutrientes, ou matéria orgânica em suspensão no local,


o que indica uma possível eutrofização da água distribuída de forma difusa na planície.
92

Figura 40 - Material em suspensão Figura 41 - Oleosidade na água

Fonte: Trabalho de campo, 2021. Fonte: Trabalho de campo, 2021.

O município de Divisa Nova possui algumas cachoeiras, as quais se encontram


e situação delicada do ponto de vista ambiental. A primeira se encontra poluída e em
processo de assoreamento, isto por causa do descarte de efluentes do sítio urbano, o
aspecto da água é turvo, e com forte odor, há presença de espumas e resíduos sólidos
no local figuras 42 e 43.

Figura 42 - Material difuso em suspensão Figura 43 - Leito Assoreado.

Fonte: Trabalho de campo, 2021. Fonte: Trabalho de campo, 2021.

A cachoeira denominada Pedregal (figura 44) se encontra com acesso restrito


função de sua utilização para geração de energia elétrica. O que é um agravante
pensando nos impactos ambientais decorrentes desta atividade, que modifica todo o
ambiente e seu entorno. A cachoeira da Grama também se encontra na mesma
93

situação, ela está sendo utilizada para geração de energia elétrica e seu acesso é
restrito e não autorizado para visitação.

Figura 44 - Cachoeira do Pedregal.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2018.

Há a cachoeira Water fall (figura 45), que se encontra dentro de uma


propriedade privada de difícil acesso, a qual do ponto de vista ambiental se encontra
melhor preservada. O acesso a ela não é permitido, entretanto em 2018, em um
levantamento de campo realizado acerca de outro trabalho coordenado pelo Professor
Doutor Lineo Gaspar Júnior, foi possível fotografar a mesma, que se encontrava no
período com o nível de vazão baixo.
94

Figura 45 - Cachoeira Water fall.

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

5.5 Clima

O site Climate Data foi utilizado como fonte dos dados climáticos devido à
escassez de dados locais, portanto a escala da coleta de dados foi regional. De acordo
com os dados do Climate Data a cidade de Divisa Nova possui o clima quente e
temperado, ocorrendo grande pluviosidade no verão e no inverno, segundo a escala
de Köppen e Geiger o clima é classificado como CWA (clima temperado húmido com
Inverno seco e Verão quente), a média anual de temperatura é de 20,1ºC e a
pluviosidade média anual é de 1520 mm, o mês mais seco é julho com média de 22
mm e o mais chuvoso é dezembro com média de 277 mm.

5.6 Usos da terra:

O mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal (figura 27) revelou uma


acentuada divisão nas modalidades de uso, ainda que a pastagem tenha um
predomínio bem marcado. Quanto às práticas agrícolas, sublinha-se a cafeicultura e
o plantio de cana-de-açúcar, encerrando um conjunto de mosaicos transformados nos
quais as florestas estacionais semidecíduas nativas encontram-se reduzidas em
fragmentos descontínuos.
95

A cafeicultura é o uso predominante da terra na área, devido à características


pedológicas favoráveis ao cultivo e também à força econômica dessa cultura na região
sul de Minas Gerais.

Figura 46 - Mapa de uso e ocupação da terra do município de Divisa Nova - MG.

Fonte: Do Autor, 2020.

As vegetações rasteiras de transições para cerrado foram generalizadas em


pastagens na legenda.

5.7 Vegetação:

De acordo com Samuel Martins da Costa Coura (2007):

As diferentes formas de relevo em Minas Gerais, somadas às especificidades


de solo e clima, propiciaram paisagens muito variadas, recobertas por
vegetações características, adaptadas a cada um dos inúmeros ambientes
particulares inseridos no domínio de três biomas brasileiros: o Cerrado, a
Mata Atlântica e a Caatinga. É possível, assim, entender a ocorrência de
vegetações distintas em ambientes semelhantes do ponto de vista
topográfico e climático, mas com características locais particulares. (COURA,
2007, p.64).
96

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2019) o


principal bioma presente na área de estudos é o da Mata Atlântica, tendo uma grande
reserva natural no município. A cobertura vegetal de Divisa Nova encontra-se bastante
modificada em função da atividade agropecuária. A vegetação original do município
pode ser classificada como floresta tropical semidecídua, florestas de várzea/ matas
higrófilas (áreas de inundação), matas ciliares e vegetação brejosa/ de áreas úmidas
Bioma Mata Atlântica (PREFEITURA MUNICIPAL DE DIVISA NOVA, 2006)19.
No município, o que restam das primitivas florestas que deveriam ter ocupado
a maior parte de sua área, são fragmentos florestais secundários reduzidos a
pequenas ilhas remanescentes na paisagem agropecuária caracterizada pelos
cafezais, canaviais e outras lavouras além das pastagens.
A maioria dos remanescentes florestais são pequenos e até mesmo minúsculos
fragmentos florestais (figura 28), alguns dos quais degradados pela retirada de
árvores de madeira de lei e de palmito juçara através da coleta predatória e ilegal e
pela utilização do seu sub-bosque para sombreamento do gado nas pastagens. Estas
áreas servem também de depósitos irregulares, através do despejo de resíduos
sólidos, materiais de construção e até mesmo carcaças de animais mortos.

19
Irá se utilizar a abreviação (PMDN) para se referir a tal documento.
97

Figura 47 - Vegetação por associação e predominância por área/atividade.

Fonte: Do Autor, 2021.

As florestas de várzea / hidrófila são o segundo tipo de vegetação no município


e ocorrem com bem menor frequência por estarem restritas às áreas de várzeas onde
encontram condições ideais para seu desenvolvimento (PMDN, 2006).
Estas florestas de várzeas acompanham ribeirões permanentes e ficam
alagadas em alguns trechos temporariamente durante a estação chuvosa. Nela pode-
se encontrar uma vegetação peculiar que requer condições de alta umidade.
São abundantes no município as orquídeas, bromélias, samambaias e aráceas.
A sua flora arbórea contem menor variedade de espécies que a das matas
semidecíduas e as árvores atingem um porte bem menor, sendo frequente as
mirtáceas, euforbiáceas e bignoniáceas com os ipês amarelos (PMDN, 2006).
As matas ciliares atualmente são elementos raros na paisagem do município
em função da devastação das áreas ribeirinhas para expansão de agricultura e de
pastagens, das construções irregulares / urbanização caótica e do alagamento
efetuado nos anos 60 para implantação da represa de Furnas na Bacia do Rio Grande,
as mesmas ocorrem de forma pontual, sem ligação de corredores ecológicos.
98

Outra questão interessante é que Divisa Nova possui uma vegetação chamada
de cerradão, reconhecida pela população local, vegetação esta de suma importância
para nichos ecológicos. A mesma não aparece no mapa de uso e ocupação por se
tratar de fragmentos florestais. Esta área é caracterizada por ser de transição entre a
mata Atlântica e o cerrado (figura 48).

Figura 48 - Jequitibá Rosa de DN-Cariniana estrellensis

Fonte: Arquivo Pessoal, 2019.

A figura 48 mostra um sub-bosque, que contém um Jequitibá Rosa milenar com


diâmetro de 9 metros de circunferência e 40 metros de comprimento. Na área onde
fica o espécime foi criada uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), a
área do entorno da RPPN é utilizada para o cultivo de Café.

Embora esteja em um sub-bosque, esta árvore é conhecida por pesquisadores


por destoar de demais indivíduos de sua espécime por suas dimensões, sendo assim
considerada um patrimônio cultural e ambiental do município, recebeu tombamento
junto ao IPHAN. O Jequitibá é uma espécie recorrente no cerradão.

Neste município ocorre também um tipo de vegetação de áreas alagadas


denominadas localmente de brejos, que estão sempre associados com as matas de
várzeas, mas ocupando as áreas baixas e mais úmidas. Nestas áreas semelhantes a
pântanos em que o lençol d’água se encontra a superfície, com variados graus de
umidade conforme a topografia e a estação do ano, esses locais são comumente
99

usados para cultivo de culturas como arroz e hortaliças, abaixo pode-se observar uma
área a qual o afloramento foi direcionado através de um canal antrópico figura 49
(PMDN, 2006).

Figura 49 - Canal usado para cultivo

Fonte: Trabalho de campo, 2021.


100

6 CARTOGRAFIA DOS GEOSSISTEMAS

A paisagem no município de Divisa Nova - MG se configura a partir da dinâmica


dos elementos naturais e humanos apresentados nos capítulos anteriores,
consubstanciando-se com a incidência de intervenções antrópicas representadas
pelas atividades agropecuárias (gado de corte, cana-de-açúcar e café). Desta forma
objetivou-se classificar a tipologia dos geossistemas à partir da estrutura dinâmica de
fácies e seu agrupamento em grupos de fácies.
Partindo do princípio bilateral, o mapeamento das unidades de paisagens
(Divisa Nova - MG) que compreendem a fileira dos geômeros está no Grupo de Fácies,
tipologia pertencente aos níveis topológicos de Sochava (1978). Portanto, foram
mapeados neste trabalho, grupos de fáceis e fácies físico geográficas sem se prender
a um nível hierárquico, transitando assim entre esses dois níveis sempre que as
informações permitiram fazê-lo. Por motivo de organização das legendas, as mesmas
foram alocadas a partir da tipologia de compartimento geomorfológico, e as mesmas
não seguem um princípio hierárquico.
Sendo assim, a integração de informações contidas no diagnóstico ambiental
cartográfico, com base fundamental no mapa de compartimentação geomorfológica
resultou na classificação das unidades geossistêmicas da área de estudos.

Figura 50 - Geossistemas de Divisa Nova, Minas Gerais.


101
102

Figura 51: Legenda Mapa de Geossistemas

Fonte: Do Autor, 2021.

Este estudo não esgota as possibilidades de estudos acerca dos geossistemas


nesta área; é apenas uma primeira aproximação da realidade local. Segue abaixo,
alguns exemplos de geossistemas mapeados no município.
103

O lago e furnas é a porção do território de Divisa Nova com um dos maiores


geossistemas, o número 2. Esse geossistema possui uma importância fundamental
para o município pois à partir dele são fomentadas diversas atividades econômicas
como o cultivo de cana-de-açúcar, café, irrigação de culturas sazonais (mandioquinha,
arroz, feijão, milho, batata), piscicultura, negócios imobiliários, turismo e pesca, e
devido ao município ser banhado pelo lago, o mesmo recebe recursos financeiros e
outros benefícios de associações formadas pelo circuito turístico como a ALAGO, e
também outros recursos estaduais e federais.
Portanto, os problemas ambientais do município e das atividades antrópicas
impactam diretamente no fluxo de matéria e energia nesta porção do reservatório,
uma vez que os principais afluentes urbanos, o Córrego da Lagoinha e o Córrego
Alegre confluem no Rio Cabo Verde e este último no Lago de Furnas. Ao
geossistemas 16.1, 16.2, 16.3 e 16.4 são geossistemas que se repetem no espaço,
ou seja, possuem as mesmas configurações de composição.
Através da figura 65, é possível notar a diversidade de relevo e de uso e
cobertura do entorno que compreendem as colinas intermontanas e morrarias com
incidência de café, cana, pecuária e residências (abaixo da linha vermelha), também
é possível visualizar diferentes tipos de geossistemas, na serra (acima da linha
vermelha) e na planície (abaixo da linha azul).
104

Figura 52 - Diversidade de Geossistemas.

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Com o recuo do nível do lago de Furnas, a confluência entre o Rio Cabo Verde
se dá por um canal que se encontra com o mesmo, dá para se notar pela vegetação
a diferença entre a planície de inundação e a área de recuo do lago.
Neste local não há verticalizações, as residências são pontuais, há construções
ao longo da margem do lago de furnas. É importante salientar que esta área está
localizada em uma área considerada como zona rural, não há saneamento básico, o
descarte de efluentes das residências se dá por meio de fossas rudimentares o que a
longo prazo percola no nível freático e escoa até mesmo para o próprio lago de furnas.
A cana de açúcar é predominante no entorno da represa. Os problemas
ambientais desta prática de cultivo são diversos, dentre eles a erradicação da
vegetação natural, a contaminação por agrotóxicos, a degradação dos solos além dos
problemas gerados pelo fogo.
Os problemas com as queimadas das safras são decorrentes da fuligem, que
possui um tipo de carbono diferente que impacta na assimilação por organismos na
ciclagem deste como nutriente, ou seja, ela pode ser assimilada em maior ou menor
105

escala, que ao se depositar em um sistema, causa a alteração desta ciclagem naquele


meio. Esta fuligem acidifica o solo e a água, causando impactos significativos para
nichos ecológicos.
O uso de agrotóxicos nos canaviais, representa um alto risco ao meio-
ambiente, pela sua interferência nas cadeias ecológicas, e a saúde das populações
locais, por meio da contaminação das águas.
Há algumas contradições na utilização da vinhaça, que é um subproduto do
refino da cana em álcool, utilizado na fertilização de solos. Sua utilização traria o
benefício da diminuição do uso de resíduos industriais. Entretanto, a vinhaça é rica
em nitrogênio, composto químico que em excesso na água, pode favorecer o
crescimento de algas.

Figura 53 - Latossolo em relevo colinoso preparado para cultivo de cana.

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

Podemos verificar na figura 54, as configurações de um geossistema local,


onde é possível notar um fragmento florestal, um cultivo inicial de uma safra de cana
onde o solo está totalmente alterado e ao fundo planícies flúvio lacustres fazendo
divisão territorial com colinas do município de Areado.
106

Figura 54 - Geossistema 29 - Morrarias e colinas intermontanas com floresta estacional semidecidual


sobre latossolos com incidência de Cana, substrato Paragnaisse.

Fonte: Trabalho de Campo, 2021.

Esta área corresponde a uma antiga lavoura de café que foi substituída pela
cana-de-açúcar, esse padrão se repete pelo município, o que assevera a necessidade
de planejamento territorial, uma vez que esta atividade se mostra predatória para
geossistemas. O avanço da cana chega até a faixa periurbana conforme figura 55,
que em períodos de queimadas em função do seu cultivo, causam deveras prejuízos
a comunidade local.
107

Figura 55 - Geossistema 15 - Morrarias e colinas intermontanas sobre latossolos com influência de


área urbana, substrato Migmatito.

Fonte: Trabalho de Campo, 2021.

A figura 55 mostra um geossistema com incidência de área urbana e usos


antrópicos, onde pode-se observar o misto agropecuário entre cana, café mais ao
fundo e pastagens no entorno. Os múltiplos usos da terra fica evidenciado, juntamente
com a pressão antrópica sobre o meio natural. O termo incidência foi escolhido para
compor as legendas, porque em sua classificação morfológica como um verbo
transitivo indireto, o mesmo denota o sentido de “pesar, afetar ou ter efeitos sobre;
recair, atingir”.
Outro ponto importante a se destacar é a cobertura vegetal autóctone que é
cada vez mais rarefeita, com fragmentos pontuais, e a quase inexistência de
corredores ecológicos que são fundamentais para disseminação de sementes, transito
de espécies e procriação das mesmas conforme pode ser avistado na figura 56.
108

Figura 56 - Geossistema 22- Vertentes dissecadas e morrarias intermontanas sobre latossolos com
incidência de café e pastagem, substrato Paragnaisse

Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

A figura 56 foi feita acima de um afloramento rochoso de paragnaisse


intemperizado, popularmente chamado de pedra da taboca, em uma propriedade
privada de cultivo de café. Da mesma é possível ver amplamente o relevo do
município, o cultivo de café, áreas de culturas sazonais e pastagens, remanescentes
florestais cada vez mais extintas.
Através do diagnóstico e do mapeamento dos geossistemas é possível
vislumbrar alguns cenários e desdobramentos possíveis partindo para uma proposta
de zoneamento ambiental.
109

7 ZONEAMENTO AMBIENTAL

A partir do diagnóstico ambiental do município e do mapeamento de


geossistemas foi possível delimitar e zonear áreas com aptidões e restrição de uso
com o intuito de propor ações mitigadoras para os impactos ambientais encontrados
e subsidiar o planejamento municipal no tocante a administração do território (figura
80).
A dimensão ambiental do zoneamento foi instituída no país pela lei 6.938/81,
que dispõe sobre a política nacional do meio ambiente e assim o estabelecendo como
instrumento (BRASIL, 1981).
Em 2002 o decreto 4.297 estabelece critérios para o zoneamento Ecológico
Econômico (ZEE), o definindo como instrumento de organização do território a ser
obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e
privadas, assim admitindo padrões e medidas de proteção ambiental para assegurar
a qualidade ambiental dos recursos naturais. Como instrumento de política urbana, o
zoneamento é legitimado por meio do Estatuto da Cidade, lei 10.257/2001 como
instrumento de planejamento.
110

Figura 57 - Proposta de Zoneamento Ambiental, Divisa Nova – MG.

Fonte: Do Autor, 2021.

Delimitação de APP de Morro: As APP’s de morro foram delimitadas seguindo


parâmetros da legislação 12.651/2012 considerando os pontos de sela, que
estabelece como topo de morros áreas delimitas a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura mínima de elevação da base, desta forma
seguiu-se a seguinte metodologia para obtê-las:

As APPs de topos, conforme a Lei n° 4.771/65 e Resolução CONAMA 303/02,


foram delimitadas considerando três categorias: topo de morros (elevações
de 50 até 300metros de amplitude entre o cume e a base), topo de montanhas
(amplitude superior a 300 metros) e linhas de cumeada. As linhas de
cumeada foram delimitadas juntamente com as elevações, nas quais dois ou
mais cumes apresentaram distância inferior a 500 metros, integrando assim
uma única categoria. (ALMEIDA, PAULA, pág.6, 2014)

Esta delimitação é controversa por questões legislativas, porém como é


aplicável a luz da Lei, optou-se por realizá-la. Esta delimitação se encontra dentro da
zona de uso restrito e da zona de uso controlado.
111

Zona de Interesse e uso Restrito: esta zona foi delimitada por apresentar
diversidade geológica, por conter patrimônio cultural e natural como áreas com
pinturas rupestres, e por representar a faixa de maior elevação do município, sendo
também uma área de transição de relevo entre municípios onde o uso do café é
preponderante. Sendo assim a conservação destas áreas se faz fundamental para
manutenção de ecossistemas, evitando perca de solos e demais degradações do
meio.
Figura 58 - Pintura rupestre em Ortognaisse de DN.
112

Fonte: Arquivo Pessoal, 2018.

Zona de uso Controlado: A zona de uso controlado se enquadra pelo relevo


mamelonar, onde seu uso intensivo agravaria processos erosivos. Desta forma o uso
controlado desta área visa preservar solos, nichos ecológicos, fragmentos de
cobertura vegetal de matas remanescentes, tendo como característica a presença de
atividades agrícolas, aglomerações rurais de pequeno porte, recursos hídricos em
bom estado de conservação.
Zonas de recuperação e reabilitação: estas áreas se caracterizam por serem
cursos hídricos no entorno da área urbana, onde os mesmos se encontram poluídos
por resíduos sólidos e efluentes, necessitando de reparação e retorno a um estado
biológico e químico adequado. As áreas no entorno das planícies flúvio lacustres,
necessita, de reparação de solos impreterivelmente em função do cultivo de cana-de-
açúcar, onde os mesmos encontram-se altamente alterado, além dos cursos hídricos
que recebem cargas de agrotóxicos utilizado nesta cultura agrícola.
Zona de Conservação: A zona de conservação é a área que corresponde a
porção do Lago de Furnas no município.
APP de Rios 30 metros: Foi delimitado APP’s de rios do município de 30 metros
de sua margem conforme legislação, assumindo que a área de estudos não tem
nenhum rio com largura superior a 10 metros, desta forma estabelece-se buffer para
todos os cursos hídricos no limite territorial com o intuito de preservação dos mesmos,
que apresentam de forma generalizada, diagnóstico preocupante e desconforme
quanto a sua gestão e qualidade da água questionáveis. Desta forma, todos os cursos
hídricos estão nesta categoria com exceção do lago de furnas que possui uma
categoria própria.
Zona urbana Consolidada: A zona urbana consolidada exerce pressão
significativa no meio ambiente. Levando em consideração a baixa densidade
populacional e o entorno da cidade contendo recursos hídricos importantes que já
estão poluídos, concluiu-se que não é o caso de se pensar uma área de expansão
urbana uma vez que não há essa demanda por parte da população, e exceder os
limites urbanos que já existem trariam prejuízos inestimáveis ao meio físico, ou seja,
expandir significa pressionar mais ainda o meio ambiente.
Os resíduos sólidos gerados pelo município são coletados pela prefeitura
municipal e despejados em um aterro sanitário irregular, pois o mesmo não possui
113

regulamentação oficial para servir de depósito de rejeitos urbanos nem mesmo


licenciamento junto ao órgão ambiental do Estado de Minas Gerais.
Os resíduos orgânicos são dispensados em valas abertas no solo diretamente
sem nenhum tipo de impermeabilização, o que favorece a infiltração de chorume no
mesmo e consequentemente, como o aterro fica em um geossistema de morro,
existem cursos hídricos que passam pelo seu entorno, provavelmente poluídos por
esse material.
Essas valas permanecem descobertas até que sejam saturadas e são cobertas
por solo (latossolos) retirados do próprio local, e são deixados para que haja uma
“regeneração natural”.
Figura 59 - Aterro controlado.

Fonte: Trabalho de campo, 2021.

O município realiza coleta seletiva de resíduos, onde os materiais são


separados por tipo. Segundo a Prefeitura Municipal de Divisa Nova (2016), são
geradas 190 toneladas de resíduos sólidos mensais na cidade. Há um cronograma de
coleta em alguns bairros rurais, porém não há um programa de educação ambiental
no município que contemplem questões relacionadas a coleta seletiva e a preservação
ambiental.

Resíduos hospitalares e de alta contaminação são coletados por uma empresa


terceirizada e seu armazenamento necessita de adequação conforme a ANVISA na
sua RDC n° 306/2004, e os resíduos advindos de exumação do cemitério municipal
são descartados no aterro sanitário.
114

Zona de recuperação: Corresponde a uma voçoroca natural dentro dos limites


urbanos, que necessitam de intervenção técnica afim de controlar os processos
erosivos e estabelecer políticas necessárias de ocupação da área como por exemplo
a planta cadastral de imóveis delimitando as ocupações, afim de preservar as áreas
de nascentes e a diversidade biológica.
115

Quadro 2 - Síntese de elementos do Zoneamento

DECLIVES PROBLEMAS AMBIENTAIS


ZONA DOMINANTES RELEVO SOLOS GEOSSISTEMA ASSOCIADOS
Patamares de
cimeira,
Forte vertentes
ondulado, dissecadas e Latossolo
Zona de ondulado e morros vermelho 5/5.1/5.2/5.3/6/7/8/9/10/12/16/16.1/ 20/21/ Uso de agrotóxicos, cultivo de café,
Uso Restrito montanhoso altimontanos amarelo 23/25/26/ 27/ 28/ 26.1/ processos erosivos, desmatamento
Morrarias e Pressão urbana, erosão marginal, conflitos
Zona de colinas Latossolo de uso da água, deposição de resíduos e
recuperação Ondulado intermontanas vermelho 15 efluentes
Morrarias e Uso antrópico, impermeabilização,
Zona urbana colinas Latossolo escoamento superficial, erosão,
consolidada Ondulado intermontanas vermelho 15 desmatamento
Gleissolo
flúvico Conflitos de interesses de uso da água,
Zona de Planícies /latossolo cultivo de cana e suas implicações,
conservação Plano/suave fluviais vermelho 2 pisoteamento de gado, erosão, deposição
Poluição por efluentes e resíduos sólidos,
Zona de Suave planicies fluvio- Latossolos, cultivo de cana, pisoteamento,
recuperação ondulado lacustre gleissolos 32/ 32.1/14/11/15 assoreamento.
APP de rios Desmatamento, poluição erosão e uso
30 m Todos Todos Todos Todos agrícola
morarrias e
Zona de uso Ondulado e colinas Latossolo 1/3/11/30/ 18.1/ 32/ 32.1/ 18/13/14/33/ 31/ Desmatamento, erosão, uso agrícola,
controlado forte ondulado intermontanas vermelho 4/ 21/22/29/ 12/ poluição.

Fonte: O Autor, 2021.


116

7.1 Propostas de Mitigação de Impactos Ambientais:

Se faz necessário que o município por meio da administração pública adote


algumas medidas para que se possa implementar o zoneamento ambiental:
- Criação de um departamento técnico exclusivo para tratar das questões de
meio ambiente como legislação local, planejamento, angariamento de recursos
financeiros, criação e implementação de projetos, fiscalização de empreendimentos e
denúncias correlatas;
- Criação de um departamento de planejamento urbano exclusivo e coordenado
junto com o meio ambiente para administrar demandas urbanas importantes;
- Revisão e readequação do plano diretor;
- Mapeamento cadastral e georreferenciamento de imóveis para assim poder
controlar áreas de APP’s e definir seus usos conforme legislação;
- Levantamento e Mapeamento de galerias pluviais e saneamento básico;
- Construção de uma estação de tratamento de efluentes e direcionamento das
galerias pluviais e efluentes para a estação destinando ao devido trato.
- Recuperação dos córregos do entorno do município.
- Criação de um destino adequado e impermeabilizado de resíduos sólidos,
com tratamento do chorume, ou licitação para transporte e tratamento de resíduos
sólidos em outra localidade, com critérios técnicos adequados.
- Não se recomenda o cultivo de cana-de-açúcar nas áreas de planícies do
município, nem sequer em qualquer área, uma vez que esta atividade traz consigo
impactos ambientais consideráveis e futuros prejuízos até mesmo de ordem
econômica, como a improdutividade dos solos, degradação e assoreamento de rios.
Desta forma caso a impossibilidade desta sugestão, é possível a criação de um comitê
fiscalizador de contratos com cláusulas de recuperação de áreas de cultivo, com
análises técnicas para verificação quanto a execução desta recuperação, se ocorreu
ou não.
- Criação de um currículo escolar municipal que contemple a educação
ambiental em todas as modalidades de ensino;
- Criação de um programa de conscientização ambiental para a população,
customizado a partir das experiências de produtores rurais locais e da população em
geral.
117

- Quanto a voçoroca natural, é necessária sua recuperação com técnicas de


manejo apropriadas, delimitação de propriedades privadas e proibição de uso da
margem de APP, bem como regular o uso das nascentes, além do direcionamento
das galerias pluviais de forma adequada.
118

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este trabalho abordou um arcabouço epistemológico acerca de concepções


aplicadas a Geografia Física. A aplicação dos geossistemas a luz da teoria de
Sochava (1978) se mostrou adequada e de alta relevância na compreensão da
dinâmica espacial acerca da área de estudos, fundamentando-se no conceito de áreas
naturais, principalmente na compreensão das paisagens no território. Entretanto a
ideia de complexidade em Morin é crucial para o entendimento das interconexões
entre os sistemas e suas relações recíprocas e apresenta um avanço cognitivo
importante na compreensão do geossistemas.
Conforme já mencionado acima, este estudo em nada esgota as possibilidades
de aplicações e aprofundamentos acerca do município de Divisa Nova. Se faz
necessário que o poder público não ignore os indicadores acerca da realidade
ambiental do município para que se possa ter a consecução dos recursos naturais
para longo prazo. Desde a sua fundação autônoma e com sede administrativa própria
tais fatores vem sendo ignorados em detrimento do fator econômico.
A atividade agropecuária é a força motriz econômica do município, e mesmo
com características rurais e rústicas e, um município dado como pequeno, o mesmo
movimenta um orçamento anual de 18 milhões de reais, o que é um montante
considerável em se comparado com municípios do mesmo porte do Estado de Minas
Gerais, ou seja, o agronegócio é lucrativo e demanda uma estrutura administrativa
que privilegie o setor no município.
Entretanto, os custos ambientais estão na mesma proporção, e até mesmo
pode se classificar como imensuráveis dependendo dos impactos causados pela
atividade antrópica, pois os mesmos são finitos, e a sociedade age como se não
fossem.
Para além, este estudo reitera a importância que o Geógrafo tem com seu olhar
técnico e crítico acerca da realidade espacial. Olhar este, que um administrador
público que não tem o conhecimento que um Geógrafo tenha (obviamente), como é
comum em pequenos municípios que geralmente elegem administradores advindos
de setores como saúde, empreendimentos privados do agronegócio (coronelismo
político), compromete a qualidade ambiental. Desta forma, conclui-se como
fundamental a participação de um Geógrafo no planejamento ambiental e urbano de
um município, com uma equipe multidisciplinar.
119

É necessário um inventário mais específico de flora e fauna para se ter uma


ideia mais precisa acerca das espécies presentes no município para que se possa
identificar nichos ecológicos. O que não é inteiramente objeto deste estudo, mas estas
informações fizeram falta no decorrer da pesquisa.
Outro fator limitante foi a falta de dados pluviométricos do município, que não
tem uma estação de coleta destas informações. Coletar estas informações de outros
municípios vizinhos em nada apresentaria a realidade de Divisa Nova, uma vez que
as configurações espaciais são completamente diferentes. Isto limitou por exemplo,
na construção de um modelo de vulnerabilidade ambiental de solos a erosão, que é
dependente principalmente desta variável e poderia ser um ponto de partida
interessante para o zoneamento ambiental.
Buscou-se modelar os Geossistemas de forma manual, ou seja, um a um, pois
os métodos estatísticos de atribuição de peso por variáveis poderiam generalizar
alguns dados e subjetivar demais as análises e não mostrar a realidade. Nas demais
composições cartográficas, a automatização de processos se mostrou satisfatória.
Desta forma o mapa de geossistemas é bem detalhado, até mesmo para a escala de
análise proposta para a pesquisa.
O software QGIS foi escolhido por afinidade com sua interface, e seu manuseio.
Até mesmo pela questão econômica de licenças e pelo momento instável com o qual
passamos. Portanto o mesmo cumpriu com suas expectativas, e se mostrou uma
ferramenta robusta e poderosa nas análises espaciais. Entretanto houveram muitos
contratempos e falhas na execução dos processos, forçando muitas vezes a mudar
de versão, transitando entre a versão 2.18 e a 3.10, dependendo do processo rodado.
A versão 2.18.26 de longe se mostrou a versão mais estável e confiável na realização
desta pesquisa. Outro fator limitante é o compositor de legendas, que não permite
muitas alterações na adequação dos resultados.
A importância dos estudos regionais é fomentada através desta pesquisa, ao
ressaltar a interligação e interdependência que os ditos pequenos municípios têm na
configuração ambiental de centros urbanos maiores, não só em aspectos humanos,
sejam demográficos e econômicos, mas ambientais, podendo dar exemplo da bacia
do Lago de Furnas que é influenciada pelas atividades de Divisa Nova assim como
outros pequenos, se olharmos pela lógica filosófica indutiva, do particular para o geral.
Este estudo corrobora para uma compreensão de como os sistemas e os mosaicos
120

paisagísticos integram o sistema planetário, como são interligados, perpassando


pelas escalas, ou seja, diminuir a escala de análise também é importante para uma
compreensão global das complexidades.
Por fim, espera-se que este estudo sirva de material consultivo acerca da teoria
dos geossistemas russos-soviéticos e possa contribuir para o desenvolvimento dessa
corrente de pensamento, mesmo que de forma ínfima. Espera-se uma contribuição ao
município de Divisa Nova-MG e sua população acerca do conhecimento da realidade
ambiental a qual estão inseridos, e também trazer notoriedade de sua realidade para
a comunidade científica, mostrando a importância dos estudos integrados da
paisagem em pequenos municípios. Para além, espera-se saltar aos olhos da
comunidade em geral a imensa importância do papel do Geógrafo na sociedade, no
ambiente e para a vida.
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