Processamento Da Carne Ovina
Processamento Da Carne Ovina
Processamento Da Carne Ovina
1. Introdução
A carne ovina, em virtude de sua qualidade e valor nutritivo, vem ocupando posição
de destaque na dieta humana e o desequilíbrio entre a sua produção e seu consumo vem
determinando o desenvolvimento das mais variadas estratégias, visando o permanente
abastecimento do mercado consumidor. Entre essas estratégias, insere-se o processamento
da carne e dos subprodutos animais. O processamento da carne possibilita um maior
consumo da mesma pela diversificação de sabores, contribui para o aproveitamento de
cortes que teriam dificuldade de comercialização, permitem a confecção de embutidos,
presuntos, salames e patês, bem como, promove maior “vida” dos produtos nas prateleiras.
No que se refere aos subprodutos, estes são caracterizados como sendo tudo aquilo
com valor econômico, com exceção da carne, que se pode obter de um animal durante o
sacrifício e/ou abate. O aproveitamento integral dos subprodutos oriundos do abate de
ovinos, através do processamento e industrialização, sem dúvida, reveste-se de uma
importância econômica muito grande num estabelecimento de abate. O valor comercial de
uma carcaça, às vezes insuficiente para cobrir as despesas de abate, deixa aos subprodutos a
incumbência de equilibrar a balança econômica e comercial dos frigoríficos e/ou
matadouros.
Sendo assim, o objetivo do presente seminário é apresentar e discutir alguns
aspectos relacionados ao processamento da carne e dos subprodutos ovinos e suas
implicações na alimentação humana e animal.
1
Zootecnista – Doutor em Produção Animal – Direto da COAN Consultoria Avançada em Pecuária Ltda.
(não-componentes da carcaça), que se apresentam como fonte adicional de renda para os
diversos setores da cadeia produtiva da carne (produtor, frigorífico e indústria).
OSÖRIO (1992) citado por Silva Sobrinho (2001) define os não-componentes da
carcaça, como sendo os constituintes do peso do corpo vazio, excetuando-se a carcaça, ou
seja, conjunto de órgão (pulmões + traquéia, coração, fígado, pâncreas, timo, rins, baço,
diafragma, testículos + pênis e bexiga + vesícula), vísceras (esôfago, estômago e intestinos
delgado e grosso) e outros subprodutos (sangue, pele, cabeça, extremidades e depósitos
adiposos: gordura omental, mesentérica, pélvica e renal) obtidos após o abate dos animais.
Os não-componentes da carcaça podem variar de 39,2 a 69,6 % do peso vivo do
animal, em função da raça, sexo, idade, peso vivo, tipo de parto (simples/gemelar),
condições nutricionais e categoria animal. A Tabela 1 mostra a composição dos
componentes do peso do corpo vazio de ovinos segundo a categoria animal.
Tabela 2- Proporções dos não-componentes da carcaça em relação ao peso vivo ao abate (PVA) e
ao peso do corpo vazio (PCV) de cordeiros confinados.
O esquema proposto a seguir na Figura 1 relata que o peso vivo ao abate (PVA)
descontado do conteúdo gastrintestinal resulta no peso do corpo vazio (PCV). Este por sua
vez divide-se em peso da carcaça e peso dos não-componentes da carcaça (órgão, vísceras e
subprodutos).
- CONTEÚDO GASTRINTESTINAL
OUTROS
ÓRGÃOS VÍSCERAS SUBPRODUTOS
DÉPOSITOS
SANGUE ADIPOSOS
PELE, CABEÇA E
EXTREMIDADES
2.1. Órgãos
2.1.1. Pulmões
2.1.2. Coração
2.1.3. Fígado
2.1.3.2. Linfonodos
2.1.4. Pâncreas
2.1.5. Timo
2.1.6. Rins
Sua coleta e preparação é fácil e deve ser feita em condições higiênicas e retirado o
mais breve possível após a morte do animal. É raramente utilizado na alimentação animal
(cães e gatos) e na farmacêutica.
2.1.8. Testículos
2.2. Vísceras
2.2.1. Esôfago
2.2.2. Estômago
É enquadrado na categoria de miúdos. Este órgão é obtido na sala de matança, onde
juntamente com o rúmen, retículo e omaso são separados e suspensos em ganchos. É feita
então uma incisão à faca na porção inferior, resultando no esvaziamento de seu conteúdo. A
seguir são lavados com água sob pressão e introduzidos em máquinas rotativas apropriadas,
onde é feita um raspagem mecânica e lavagem com água quente.
Da raspagem mecânica é obtido o limo, que é destinado à fabricação de coalhos
usados na preparação de queijos. Também pode ser obtida a mucina, que é utilizada na
preparação de medicamentos para tratamento de úlceras.
O estômago é muito utilizado como envoltório para embutidos na Grã Bretanha.
2.2.3. Intestinos
2.3.2. Pele
2.3.3. Gorduras
3.1. Embutidos
3.1.1. Trituração
O grau de trituração da matéria prima difere muito dos distintos produtos elaborados
e freqüentemente constitui uma característica particular de cada produto; alguns são
compostos de carne picada grosseiramente e outro fina. Os equipamentos normalmente
utilizados são picadoras ou trituradoras, “cutters” e moinhos. Nas carnes submetidas à
grande fricção, pode ocorrer um aumento da temperatura de emulsão que reduz sua
estabilidade.
3.1.2. Mistura
Uma fase prévia da emulsão consiste na mistura da carne, especiarias e outros
condimentos. Nesta fase, os ingredientes, especialmente os sais de cura e os condimentos
devem ser distribuídos o mais uniformemente possível.
3.1.3. Emulsão
A emulsão é definida como a mistura dos líquidos imiscíveis, um dos quais se
dispersa em forma de pequenas gotículas ou glóbulos no outro (Figura 3). O líquido que
forma as gotículas pequenas denomina-se fase dispersa e aquele que estão dispersas as
gotículas é denominado de fase contínua.
A emulsão da carne constitui um sistema de duas fases, a fase dispersa formada por
partículas de gordura sólida ou líquida e a fase contínua por água que contém dissolvidas e
suspensas proteínas solúveis e a água formam uma matriz que encapsula os glóbulos de
gordura (Figura 4).
As emulsões geralmente são instáveis, se não possuírem outro composto como
agente emulsionante ou estabilizante (Figura 5). Quando a gordura entra em contato com a
água, existe uma grande tensão interfacial entre ambas fases. Os agentes emulsionantes
atuam reduzindo esta tensão e permitindo a formação de uma emulsão com menor energia
interna, aumentando, portanto, sua estabilidade. Os agentes emulsionantes tem afinidade
tanto pela água como pela gordura.
As porções hidrofílicas de tais moléculas tem afinidade pela água e as porções
hidrofóbicas tem mais afinidade pela gordura. Se existe quantidade suficiente de agente
emulsionante, este formará uma capa contínua entre as duas fases, estabilizando, portanto, a
emulsão.
3.1.6. Ingredientes
Nos produtos cárneos processados podem ser incluídos componentes distintos como
carnes, mistura de cura, especiarias, ligadores, enchedores de água. Durante a elaboração de
fórmulas, o fabricante seleciona os ingredientes utilizados e as quantidades empregadas. O
êxito da formulação depende da disponibilidade de informação exata sobre as propriedades
e composição das matérias primas que podem ser incluídas no produto.
Para incorporar a mistura de cura nos produtos cárneos são utilizadas diversas
técnicas. Qualquer que seja o método empregado, a exigência básica constitui na boa
distribuição dos ingredientes de cura por todo produto. Uma distribuição inadequada ou
irregular ocasionará o desenvolvimento de uma cor pobre, com possibilidade de
deterioração nas áreas não atingidas pela mistura de cura.
A velocidade de cura em peças de carne depende da velocidade de difusão dos
ingredientes de cura pelos tecidos que depende, por sua vez dos métodos de aplicação dos
mesmos, do tamanho das peças de carne, da quantidade de cobertura de gordura e da
temperatura.
A indústria tem introduzido muitas alterações nas práticas de cura com o objetivo de
obter produtos de qualidade mais uniforme e econômicos, reduzir os riscos que tem os
produtos curados quando o mercado flutua e diminuir a incidência de alterações bacterianas
da carne durante a cura e o processamento.
Em produtos de salsicharia, os ingredientes de cura são incorporados durante os
processos de mistura e moagem. São adicionados em forma seca ou como solução
concentrada e são distribuídos uniformemente por todo produto durante a trituração e
preparo da massa. Essa técnica é conhecida como cura direta.
O método mais antigo é a cura à seco, que constitui na aplicação dos agentes de
cura na forma seca sobre a superfície da carne. É um processo lento.
Outro processo é a cura por imersão em salmoura, onde as peças são submersas em
uma solução formada pelos componentes de cura dissolvidos em água. Este método de cura
também é lento e necessita muito tempo para a salmoura se difundir por todo produto.
Tanto a cura a seco como cura por imersão em salmoura, quando aplicados em
peças grandes de carne como pernil, paleta, corre o risco de produzir alterações bacterianas
antes da penetração eficaz dos agentes de cura. Esses processos são utilizados isoladamente
em produtos que constituem autênticas especialidades.
A penetração dos agentes de cura é muito mais rápida e sua distribuição mais
uniforme quando são injetados diretamente nos tecidos. Constitui a cura por injeção de
salmoura. Nas peças de carne, cujo sistema vascular está relativamente intacto, como pernil
e paleta, a salmoura pode ser injetada por via arterial. As peças que não permitem a injeção
por via arterial pode ser realizada intramuscular em diversos pontos. Uma variação desse
método é a injeção múltipla, muito empregado atualmente na indústria para curar bacon e
presunto que consiste em injetar de maneira simultânea, automática e uniforme em
múltiplos pontos da peça, através de uma série de agulhas com numerosos orifícios
regulares na sua longitude.
Outra variação, também muito utilizada, é a injeção arterial, seguida por série de
aplicações intramusculares. A solução de cura injetada pode ser realizada através da seringa
(fabricação em pequena escala) ou injetores de pressão. Na prática são utilizados vários
métodos de introdução dos ingredientes de cura nas peças de carne. Constitui no processo
combinado. O pernil pode ser curado injetando a salmoura via arterial, seguido por injeção
intramuscular e finalmente serem submersos em salmoura ou receberem salga por
cobertura. Estes produtos, curados pelo método a seco, a espessura de graxa limita ou
modifica a velocidade de penetração dos agentes de cura. Entretanto, este problema pode
ser evitado, curando estas peças com o processo combinado.
A congelação afeta a estrutura do tecido muscular. A quantidade de sal que penetra nos
músculos que foram congelados e descongelados é ao redor de 20% maior que na carne
fresca.
3.2.2. Temperatura
Quase todas salas de cura comerciais trabalham sob temperatura de 2 a 4ºC. Essa
temperatura retarda o crescimento de quase todas as bactérias até que se complete a
penetração do sal, porém, permite ao mesmo tempo o crescimento das bactérias redutoras
de nitratos que são essenciais quando a cura se faz com o nitrato de sódio. As temperaturas
de cura inferiores de 2ºC retardam as reações de cura e as superiores a 4ºC favorecem o
crescimento de bactérias responsáveis por alterações. Entretanto, pode ser utilizado o
sistema de cura a quente com a utilização de salmouras quentes, ou cura de carnes na fase
de pré-rigidez, que apresentam melhor rendimento e economia de tempo.
• Nitratos e Nitritos
As finalidades da utilização de nitrato de sódio ou potássio e nitrito de sódio ou
potássio são de desenvolver cor característica da carne curada e funcionar como
bacteriostático em meio ácido. O nitrato é bastante empregado nas misturas de carnes,
entretanto, seu papel tanto na cura como na conservação ainda não está totalmente
esclarecido. O nitrato atua como fonte de nitrito, que permite que a carne mantenha um
nível de nitrito eficaz para a sua conservação.
O nitrato é reduzido a nitrito mediante um processo bacteriano, mas para que a
quantidade reduzida seja significativa, é necessário um número de bactérias razoavelmente
alto, que pode ser prejudicial aos produtos cárneos curados e dificilmente se sabe da
quantidade de nitrito que pode formar-se.
A tolerância do nitrito varia amplamente entre diferentes grupos de bactérias.
Existem diversas explicações das propriedades bacteriostáticas do nitrito. Nas fórmulas de
cura, podem ser adicionados nitrito de sódio ou nitrito de potássio, embora raramente é
utilizado o nitrito de potássio. O nitrito de sódio é um sal de ácido relativamente fraco e de
uma base forte. É uma substância cristalina, muito solúvel em água de cor amarela pálida.
Suas soluções aquosas são ligeiramente alcalinas e tem também cor amarelo pálido. O íon
nitrito possui grande reatividade. Nos sistemas biológicos, o íon nitrito ou o ácido nitroso
pode intervir em muitas reações químicas.
• Açúcar
O açúcar conserva os alimentos quando adicionado em concentrações muito
elevadas. As concentrações utilizadas na cura de carnes (0,5 a 1,0%) não chegam a ter
alguma ação conservadora.
Este aditivo é adicionado com dois objetivos básicos. O primeiro é a função de dar
sabor, proporcionando uma combinação de doce-salgado, suavizando o sabor derivado de
especiarias e condimentos utilizados no produto. Mascara o gosto amargo do nitrito. A
segunda função, de igual importância, e que tem um significado especial na produção de
embutidos secos, é a de servir como fonte de energia para as bactérias responsáveis pela
redução de nitrato a nitrito, na primeira etapa do processo de formação de cor na cura de
carnes e posterior desenvolvimento das bactérias acidoláticas responsáveis pelo
abaixamento do pH no produto.
• Fosfatos e polifosfatos
Diversas classes de fosfatos tem sido utilizadas principalmente para diminuir as
perdas durante o processamento e para melhorar a estabilidade das emulsões cárneas.
O mecanismo de ação dos fosfatos pode ser explicado de diversas maneiras.
Contribuem com a força iônica dos fluidos cárneos, mantendo as fibras mais separadas,
aumentando por esse motivo, a capacidade de retenção de água das mesmas. Este efeito
também é atribuído ao aumento do pH pela adição destes sais. Também é atribuído a eles,
um poder seqüestrante dos íons metálicos bivalentes (cálcio e magnésio) cuja remoção
favorece a hidratação das cadeias peptídicas das proteínas. Sua utilização está restrita num
valor máximo de 0,5% no produto final.
O rendimento das peças de carne tratadas com fosfatos em condições comerciais
aumenta de 1 a 10%. O emprego de alguns fosfatos permitidos podem causar problemas na
indústria de carnes. Nas salmouras mais saturadas os fosfatos podem precipitar. Possui ação
corrosiva e pode recristalizar na superfície das carnes curadas.
4. Considerações Finais
De maneira geral, podemos considerar que o mercado da carne ovina apresenta boas
perspectivas de crescimento, em função da tendência de aumento do rebanho nacional e da
demanda por carne ovina de qualidade. No entanto, é necessário que ocorram mudanças no
setor, no que se refere ao campo tecnológico e da organização da cadeia produtiva, de
forma a aumentar a oferta de produto nacional no mercado interno. Há ainda a necessidade
de agregação de valor ao produto comercializado, através da utilização de ferramentas de
marketing, aproveitamento de subprodutos para consumo e/ou pela indústria, no
desenvolvimento de remédios, rações, fertilizantes e outros.