005 - EL 485 B NUNESCesar EducaçãoeCultura
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005 - EL 485 B NUNESCesar EducaçãoeCultura
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COSTA, C. idem, op cit. p.81.
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concepção de educação para o trabalho na Itália de Mussolini, produz uma escola
concentradora da finalidade de transformar a sociedade agrária em uma sociedade moderna,
industrial e urbana. Neste caminho, produz ainda uma máquina de qualificação para o
trabalho, preparando as massas para o adestramento letrado da sociedade industrial,
produzindo nas camadas médias uma qualificação profissional e destinando aos setores
dominantes um cabedal cultural simbólico necessário para sua reprodução como classe
dirigente.
A escola centrada na reforma de Francisco Campos e de Gustavo Capanema é uma
escola inspirada no modelo cultural europeu, cuja expressão institucional é o Grupo
Escolar e que representa, grosso modo, as formas estatísticas e institucionais do fascismo
escolar, travestido de instituição e de modelo pedagógico no Brasil. A escola centrada na
disciplina, nos exames, nas provas, nas sabatinas, no magistrocentrismo, na inspeção, na
memorização, na exaltação da frequência e da disciplina paramilitar, e que se torna, em
última instância, num mecanismo de qualificação e de seleção social de todas as camadas e
classes sociais daquele momento. A determinação de produzir uma escola centrada na
pedagogia autoritária derivava da perspectiva política maior, a concepção de Estado, que
Getúlio Vargas consubstanciava com sua atuação conservadora e autoritária.
Diz BÓRIS FAUSTO (1994):
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político da época. Porém, as reformas não partiam da realidade, mas do
modelo importado4.
Ainda que estejamos longe de fazer uma crítica efetivamente cabal deste período, a
escola proposta pelas estruturas do glorioso projeto nacionalista, no meio de tantas
contradições, ainda se configurou como a mais orgânica expressão de nosso frágil sistema
educacional. Prevalece até os anos 1960, ainda que abalada por inovações e exigências de
uma conflitiva conjuntura histórica. Precisamos estudar com maior propriedade a educação
brasileira voltada para a seleção e preparação de quadros profissionais superiores e de mão
de obra para o mercado de trabalho emergente tardiamente.
Por fim, encontramos a tradição escolar recente, centrada no modelo norte
americano, aqui produzida através dos acordos MEC/USAID. O símbolo da atuação desta
escola é a atuação do então ministro Jarbas Passarinho. A escola institucionalmente
defendida por Jarbas Passarinho perdia o papel histórico de produtora dos consensos
culturais, ético-morais e produtivos básicos, ainda que somente anunciada nas políticas de
estado daquele momento. Tornava-se, a partir da realidade do êxodo rural, do inchaço das
cidades, da presença das massas deserdadas da terra na cidade, uma escola compensatória,
voltada à compensação, com políticas mais assistencialistas, que atendem a demandas mais
emergenciais das comunidades carentes, mas que alteram profundamente o papel histórico-
institucional da educação e da escola no Brasil. A proposta de Educação da Ditadura
Militar (1964-1985), usando esta identidade personalista para representar o modelo, produz
uma suplementação das funções através da compensação nutricional pela merenda, do
papel subsidiário da escola como elemento de saúde pública, promovendo campanhas de
saúde, atendimentos incidentais primários, transforma-se num centro comunitário de lazer e
atendimento compensatório, por falta de equipamento social e comunitário nos bairros.
Assume ainda o papel social de centro de controle de zoonoses, centro de saúde,
medicalizando o processo pedagógico básico, quebrando profundamente o papel da escola
como formadora cultural e ético- institucional.
As bibliotecas definham e crescem os equipamentos de lazer e de espaços
improvisados, derivados da ação compensatória. Transformam a escola, até
arquitetonicamente, numa ilha de assistencialismos compensatórios, quebrando o currículo
e o ordenamento institucional tradicional e a tradição jurídico- curricular do Brasil,
produzindo um amplo desprestígio social para a função de educador, perdendo o prestígio
social da formação básica, produzindo dentro da escola, mecanismos e nichos de controle
comportamental e de patrulhamento ideológico- político, de modo que a escola de Jarbas
Passarinho torna-se uma “Torre de Babel”, onde professores, alunos, classes sociais e
determinações institucionais desagregam-se plenamente sem que possa haver uma unidade
político- formal emancipatória, capaz de criar e produzir cidadania.
Nesta direção, esta escola assistencialista quanto mais se afunda como instituição,
num papel subsidiário e secundário, mais amplia a determinação e influência da televisão,
com mecanismo modelar produtora de influências comportamentais entre crianças,
adolescentes e jovens do Brasil. A inclusão da sociedade de massas e da sociedade de
participação virtual é o mais novo ideário dessa escola.
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REIS FILHO, Casemiro. A educação e a ilusão liberal. São Paulo, Cortez/Autores Associados, 1981, p.
187.
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A escola que surge nos anos 1980, das cinzas da escola assistencialista, ao invés de
ser a educação e a escola proposta pelos amplos grupos de educadores que empreenderam
uma heróica luta em defesa da educação pública nos anos 1980, na verdade, nas políticas
educacionais recentes, assume uma nova feição institucional e novas finalidades
institucionais. É o que chamamos de “Escola Parabólica”, voltada para o cultivo de novas
tecnologias artificialmente postas a serviço de um processo pedagógico desequilibrado e
desacreditado. A inserção de novas tecnologias de informação; a televisão, o vídeo, as “tvs”
integradas, o smartphone, os computadores, as tecnologias digitais, enfim, mostram e
formam um complexo tecnológico, que não bate com o perfil e a determinação institucional
da escola nesta sociedade, em amplo processo de dilaceramento social e de globalização
subserviente. A forma com que a globalização dos capitais e da cultura foi conduzida em
nossa história social, política e econômica recente, aponta para as maiores contradições, a
garantia de um suposto equilíbrio econômico à custa de um amplo processo de exclusão e
de marginalização social.
HABERMAS (1993) nos alerta:
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básica dilacerada, os mecanismos artificiais de produção estatística de uma otimização do
sucesso escolar, estão cada vez mais sendo desmascaradas pela realidade da ausência de
investimentos institucionais amplos na educação, pela esterilidade criativa na produção de
mecanismos regulares e institucionais de formação de professores, e pela cópia imperfeita
de modelos fiscalizatórios, derivados de países onde a educação básica já foi plenamente
universalizada e vencida. Os exames nacionais, os parâmetros curriculares, o uso pontual e
artificial de tecnologias de radiodifusão e uso da televisão e de educação à distância, não
convencem, quando comparados aos míseros 5,9 % do PIB, que continuam historicamente
a sustentar todo o equipamento educacional brasileiro, muito distante dos índices já
praticados nos países dominantes ou centrais do capitalismo. Por fim, esta educação mostra
a incapacidade do Estado em prover a educação pública boa e de qualidade para todos e, ao
mesmo tempo, nestes últimos trinta anos, prevaleceu no Brasil, um modelo de educação
privada, centrada no lucro e no sucesso quantitativo, mensurado somente pelos
determinantes da empresa e do perfil econômico.
Os estudos e pesquisas que analisam a relação histórica e institucional entre Estado
e Sociedade, para entender a dinâmica da produção e da educação apontam hoje para novas
funções e determinações da Escola e da Cultura na sociedade. Durante o século XIX e nos
inícios do século XX a escola era vista como uma instituição redentora, consagrada à
promoção da cultura e elevação moral dos homens. A partir dos anos 1920, com o
delineamento da crise mundial determinada pela Primeira Guerra Mundial, ela é
apresentada como uma instituição maléfica, carregada de adjetivações sociológicas e
políticas, particularmente depois da crítica do papel desagregador e desigual da distribuição
do capital escolar na sociedade de classes. Desde sua origem no século XVIII e ao longo do
século XIX, a escola transformara-se numa instituição central no processo de
homogeneização cultural e de construção de um determinado conceito e modelo de
cidadania.
Nesta direção somente uma referencial desta potencialidade poderia dar conta de
uma aproximação com o real vivido e tão arduamente buscado. Não se trata aqui de
descobrir uma chave infalível ou um método soteriológico que viesse a dar conta dos
enigmas opacos postos à Razão. A dialética apreende o ser, o saber e o fazer do homem, em
suma, ela define, em sua provisoriedade, a essência humana, dinâmica e mutável, ao
mesmo tempo em que caracteriza o esforço aproximado do homem em saber; e torna-se
exigência de seus fazer político. Já MARX (1988) deixava bem claro que não pretendia
criar ou constituir uma heurística messiânica, mas uma forma de apreensão dos dinamismos
da realidade, ao dizer:
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. Citado por KOSIK, K. In: DIALÉTICA DO CONCRETO, Editora paz e Terra, Rio de Janeiro, 1976, p. 36.
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constituídas como dados materiais e sensíveis do mundo, são maiores que o que delas se
possa saber ou dizer. A dialética mantém a tensão entre o saber e o ser das coisas
articuladas pelo fazer do homem. A acentuação da dialética como um referencial
essencialmente teórico, que não tivesse raízes constitutivas na concretude da vida material,
daria forma a um "positivismo dialético" ou uma concepção positivista da dialética, linear e
caricata, que seria um contrassenso histórico e filosófico. Ao mesmo tempo, extrair da
concepção dialética o papel reservado à teoria seria transformá-la num rigoroso
pragmatismo, opaco, confuso, um saber amorfo ou um conjunto de princípios de ação
desconexos que em nada alterariam o curso da dialética da natureza nem da própria
sociedade. MARX (1988) apontava já esta tensão entre a universalidade e subjetividade,
entre as condições materiais objetivas, postas pela sociedade e pelos determinados modos
de produção e a perspectiva de uma essência humana construída em tais relações ao dizer:
(...) Vigiar máquinas, reatar fios quebrados, não são atividades que exijam
do operário um esforço de pensamento, mas, além disso, impedem-nos de
ocupar o espírito com outros pensamentos. Já vimos, igualmente, que este
8
. Citado por SILVEIRA, P. e DORAY, B. op. cit. p. 156.
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trabalho somente deixa lugar à atividade física, ao exercício dos
músculos. Assim, a bem dizer, não se trata de um trabalho, mas sim de um
aborrecimento total, o aborrecimento mais paralisante, mais deprimente
possível - o operário da fábrica está condenado a deixar enfraquecer todas
as forças físicas e morais neste aborrecimento e o seu trabalho consiste em
aborrecer-se durante todo o dia desde os oito anos. E também não se pode
distrair um só instante - a máquina à vapor funciona durante todo o dia, as
engrenagens, as correias e as escovas zunem e tilintam sem cessar aos
seus ouvidos, e se quiser repousar, mesmo momentaneamente, o
contramestre cai-lhe logo em cima com multas. E o operário bem sente
que está condenado a ser enterrado vivo na fábrica, e vigiar sem cessar a
infatigável máquina é a tortura mais penosa possível. De resto, exerce um
efeito extremamente embrutecedor tanto sobre o organismo como sobre as
faculdades mentais do operário. (9).
9
. MARX. K. e ENGELS, F. TEXTOS SOBRE EDUCAÇÃO E ENSINO, Editora Cortez e Moraes, 1988, São Paulo, p. 24-25.
10
SCHAFF, A Sociedade Informática, Guanabara, Rio de Janeiro, 1998, p.134.
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Tal admiração não se reduz a uma investigação física sobre o mundo exterior, a
admiração da filosofia atinge a igual suscetibilidade e dinamismo das profundezas da
condição humana. A Filosofia é um modo de ver o mundo, que nasce do espanto e da
admiração. A contemplação, a "theoria" como afirmavam os gregos, não tem aqui um
significado passivo. Contemplar significa ver com profundidade, com serena racionalidade
e deleite, com plenitude e comprometimento com o que se vê. Os olhos do "lógos" não se
perdem na profusão do ser das coisas. Esta seria a prática do filósofo, consoante aos
destinos de sue tempo:
(...) Os filósofos não são capazes de transformar o mundo. O que nós
necessitamos é de um pouco mais de praticas solidárias; sem isso, o
próprio agir inteligente permanece sem consistência e sem conseqüências.
No entanto, tais práticas necessitam de instituições racionais, de regras e
formas de comunicação, que não sobrecarreguem moralmente os cidadãos
e, sim, elevem em pequenas doses a virtude de se orientar pelo bem
comum O resto de utopia que eu consegui manter é simplesmente a idéia
de que a democracia – e a disputa livre por suas melhores formas – é
capaz de cortar o nó górdio dos problemas simplesmente insolúveis. Eu
não pretendo afirmar que iremos ser bem- sucedidos nesse
empreendimento. Nós nem ao menos sabemos se é dada a possibilidade
desse sucesso. Porém, pelo fato de não sabermos nada a esse respeito,
devemos ao menos tentar. Sentimentos apocalípticos não traduzem nada,
além de consumir as energias que alimentam nossas iniciativas. O
otimismo e o pessimismo não são as categorias apropriadas a esse
contexto.11
A filosofia da educação que defendemos é a que se sustenta sobre uma corporeidade
essencialmente humanizada, consciente de si e de seus potenciais meios de produzir coisas
reais e sensíveis num mundo real, feito para todos os homens. Os corpos dos homens e
mulheres livres, libertos de toda forma de expropriação e reconhecedores do que podem
produzir e socializar entre seus pares e semelhantes as mais criativas e originais formas de
expressão. Um corpo que recusa ser mercadoria e que busca constituir-se além do “reino da
necessidade”, com as quais garantimos unicamente nossa sobrevivência material, mas sim
um corpo projetado para ser signo de liberdade, para novas e plenas formas de
espiritualização da paixão humana. Este corpo, carregado de signos sociais de exploração,
anseia superar as condições materiais que lhe dilaceram e fazem padecer, para alcançar
e engendrar outra plenitude numa nova materialidade. Esta possibilidade encontra as
condições objetivas, presentes nos novos movimentos sociais, a anunciar horizontes de
solidariedade, de justiça social e de ampla participação política das massas excluídas.
Estamos num processo histórico de luta política para constituir uma forma de
vivência social democrática e igualitária. Nesse processo as forças e os movimentos sociais
expressam seus interesses e suas concepções de mundo, de ciência, de cultura e de
educação. Lutamos pela conjunção histórica que reconhece a educação como prática social,
como dimensão humana e como fenômeno cultural político. O reconhecimento da prática
educacional e escolar como formação humana plena, como direito a estar na escola e direito
a aprender na escola tem sido nosso horizonte de buscas e de conquistas.
11
HABERMAS. J. Passado como Futuro, 1993, p. 94.
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BIBLIOGRAFIA.
HABERMAS, Jurgen Passado como Futuro, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1993.
MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. 8. Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1981.
MARX, Karl Obras Completas, Fondo de Cultura Económica, Mexico, 1988, vol I, II e
IV.
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