Teologia Moral
Teologia Moral
Teologia Moral
Fui ouvir uma palestra sobre as epístolas paulinas e, lá pelas tantas, a palestrante falou de “pecado
social”. E insistiu que a “sociedade” pode ser considerada pecadora. Na hora rebati, dizendo que o
pecado é algo individual e que não é possível que uma sociedade faça penitência e se arrependa. Disse
mais: sociedade é abstração, não é sujeito de nada.
Ao chegar à casa fui direto consultar o Catecismo da Igreja Católica. Respirei aliviado, pois lá o tal pecado
social não está catalogado. A teologia da libertação ainda não conseguiu esse feito.
Qual a origem da expressão “pecado social”? Creio que é a própria teologia da libertação que cunhou a
expressão. Evidente que fez uma analogia para repudiar certas leis e costumes induzidos pelo Estado.
Aqui está a raiz da grande confusão: leis iníquas, antinaturais, não são “pecadoras”, pois não são sujeito.
São apenas legislação positiva, sem fundamento na lei natural. A macaquice legiferante do Estado
moderno quer se sobrepor a Deus e moldar o mundo à imagem e semelhança daqueles que o governam,
mediante leis iníquas.
Evidente que falar em pecado social esvazia o indivíduo de sua responsabilidade. Não dá para não
perceber o eco da filosofia de Rousseau, cuja antropologia contraria a cristã. Para Rousseau, o homem
nasce bom e é corrompido pela sociedade. Daí a cultura do coitadismo e da indulgência com que se
tratam hoje os crimes, sobretudo quando o criminoso é pobre. Não ao acaso o maior dos ditos pecados
sociais é a desigualdade, essa ferramenta para todos os usos dos comunistas. A igualdade pregada por
Rousseau, esse falsificador da liberdade, não a igualdade cristã.
O pecado, visto pela Igreja, pressupõe a confissão e o arrependimento. E a penitência e o perdão. Claro
que esse círculo não pode ser percorrido pelos supostos pecadores sociais. Como se vê, a ideia é uma
simples caricatura canhestra, sem realidade correspondente.
Teologia moral
Sumário
1 Lições da História
2 Ética humana ou moral religiosa?
3 Uma dupla abordagem na moral atual
4 A urgência de uma abordagem científica
5 A busca pelo bem maior
6 Consciência como tema central
7 Pecado e culpa
8 O pecado coletivo
9 Referências bibliográficas
1 Lições da história
Não há dúvida que a teologia moral sofreu uma forte desvalorização em nosso
mundo contemporâneo. Muitas pessoas, educadas em ambiente cristão, deixaram
de acreditar nos ensinamentos éticos recebidos. Durante muito tempo, no entanto,
tais ensinamentos éticos tiveram forte influência entre os crentes e orientavam a
vida concreta. O poder da Igreja para interpretar e aplicar estes ensinamentos éticos
à diferentes situações era considerado uma expressão explícita da vontade de Deus.
A promessa do Espírito dava-lhe uma garantia firme para não cometer um erro em
seus ensinamentos. Os fiéis não tiveram alternativas senão a obediência e a
submissão.
O problema metodológico que emerge é saber qual deve ser nosso ponto de
partida. Se partimos da razão para construir uma ética humana, razoável, válida e
universal para todos, ou se é a revelação que nos deve garantir, como crentes, a
firmeza e a segurança plena de nossa conduta. Devemos evitar as opiniões
extremistas, tanto daqueles que, por um lado, negam a baliza da fé em defesa da
plena autonomia humana, quanto, por outro lado, a visão daqueles que desejam
recorrer apenas à palavra literal das Escrituras. A ética secular seria um bom
representante da primeira opção. Proclama e defende a consistência humana das
regras e obrigações, sem fazer uso de justificativas externas. Na divindade se
encontrava a resposta à ignorância que impedia de descobrir um fundamento
racional. A hipótese de um Deus que se revela ou de uma igreja que ensina com
autoridade passou para o museu da história. O progresso científico certificou sua
morte definitiva.
Quero dizer que tudo que é moralmente considerado inaceitável ou, do ponto
de vista religioso, é classificado como um pecado, tampouco é, do ponto de vista
humano, a melhor maneira de se realizar como pessoa.
Tudo isso significa que não é possível uma moral autêntica sem que se apoie
em bases científicas, pois, de outro modo, suporíamos a defesa de uma moral sem
fundamentação. A dificuldade está no fato de que a ciência nem sempre possui
conclusões unânimes que permitem a avaliação do comportamento. O campo da
bioética é um exemplo claro dessa dificuldade. Também é digno de nota que, com o
progresso e as novas descobertas da ciência, as soluções que têm sido tomadas
antecipadamente devem ser repensadas ou reinterpretadas de forma diferente para
que possam integrar as novas possibilidades.
Finalmente, existe hoje uma dupla forma de aplicar à realidade alguns valores
éticos. Nem tudo que na teoria é apresentado como princípio válido e aceitável
pode ser aplicado em situações concretas. Valores evidentes e aceitáveis como não
mentir, respeitar a vida, pagar a cada um conforme seu merecimento etc., devem ser
analisados verificando se vale a pena cumpri-los na eventual possibilidade de que
sua execução provoque uma mal maior. A mesma moral tradicional afirma que
quando uma ação implica consequências boas e negativas, no caso de perplexidade,
todos devem escolher o mal que parece menor. O chamado princípio do duplo
efeito, a lei da gradualidade, a distinção entre a cooperação formal e material e a
virtude da epiqueia indicam que não se pode julgar uma ação enquanto não se
considere especificamente como ela se realiza concretamente.
Não me parece que esta última perspectiva, à qual a maioria dos atuais
moralistas se inclina, seja contra os ensinamentos fundamentais da Igreja, embora a
doutrina oficial faça críticas a muitas de suas formulações. Tampouco penso que
com essa abordagem estejamos entrando em uma moral de pura eficácia ou de
benefícios imediatos. Também não se nega a existência das chamadas ações
intrinsecamente pecaminosas, quando não existe nenhuma razão ou motivo que
pudesse justificar a sua não observância. Contudo, é verdade que nem sempre
coincidem na mesma valoração.
Pode-se dizer que, para o legalista, a regra conserva sempre sua validez, como
o caminho mais seguro para evitar erros. O antinomista, pelo contrário, anula sua
validez a fim de seguir os ditames de sua decisão pessoal (ética situacional). Já a
pessoa madura aceita, por um lado, a obrigatoriedade das exigências éticas, mas
sabe também relativizá-las quando se encontra diante de outros valores
importantes, desde que tais ações não sejam consideradas intrinsecamente
pecaminosa, como já dissemos.
7 Pecado e culpa
São muitos os que não querem reconhecer a sua própria sua culpa, como se
fosse uma decisão que brota dela própria. O erro e o equívoco fazem parte do nosso
patrimônio, como uma consequência inevitável de nossa finitude. A falta, no
entanto, não se deve à liberdade de quem assim atua, mas constitui um fracasso
pelo qual ninguém pode sentir-se responsável. É um evento que nos deixa chateado
e magoado, que nos comove, pois afeta as fibras mais íntimas da personalidade, mas
sobre o ser humano, mesmo que ele cometa o mal, não se pode lançar qualquer
condenação acusatória. Ninguém escolhe algo contra si e, por isso, quando rejeita
Deus ou recusa um valor ético, é porque encontrou outra atração pela qual se sente
inevitavelmente seduzido sem outra possibilidade de eleição.
Ainda que pareça estranho, não é fácil uma prova evidente de nossa liberdade.
Aquele que insiste em negá-la verá, por detrás de cada escolha, um mundo de certas
experiências, pressões, lembranças, interesses, expectativas etc., que inclinam a
balança para um lado de uma forma inevitável. A hipótese de sua existência, no
entanto, não é um dado anticientífico. Os múltiplos mecanismos que a ameaçam
não tem porque destruir a capacidade básica da autodeterminação. Contudo, não
devemos defendê-la com uma ingenuidade excessiva. São muitos fatores que a
condicionem, embora não a eliminem. É possível que, às vezes, queiramos e não
possamos, contudo, mais frequente é a situação na qual podemos e não queremos.
A liberdade é também uma conquista que cada pessoa deve realizar com o seu
esforço.
É lógico que a pessoa que não quis responder ao chamado de um valor que o
desumaniza, ou como crente encontra-se fechado para a amizade com Deus,
experimente internamente algum desconforto. O fracasso de um projeto humano ou
religioso, embora não absoluto e definitivo, deve produzir determinadas reações
internas que não nos deixem tranquilos e imutáveis, como se nada tivesse
acontecido. A culpa, como a dor ou a febre nos mecanismos biológicos, faz sentir o
mau funcionamento da pessoa e o desejo de uma cura eficaz.
Este sentimento de culpa poderia ser causado por diferentes fatores. Uma
sensação de angústia por medo de uma perda, ou por medo de uma punição. O que
dói não é o mal praticado, mas as más consequências dele decorrentes. Em outras
ocasiões, é a ferida que causa o próprio narcisismo. É um fato que destrói o Eu ideal,
que humilha e corrói, com um remorso que se faz companheiro constante de
caminhada. Quando, em sua natureza mais profunda, radica na vergonha de haver
atentado contra o meu próprio bem, causado danos aos outros e, sobretudo, ter
quebrado a minha amizade com Deus.
8 O pecado coletivo