Contrato de Compra e Venda No Código Civil
Contrato de Compra e Venda No Código Civil
Contrato de Compra e Venda No Código Civil
O Código de Seabra definia no art.º 1544º a CeV como o contrato em que um dos
contraentes se obriga a entregar certa coisa, e o outro se obriga a pagar por ela certo
preço em dinheiro.
Apesar dessa redação, era sólida a posição de que, regra geral, a CeV seria um contrato
de natureza real quoad effectum, uma vez que :
a) 715º - Nas alienações de coias certas e determinadas, a transferência da
propriedade opera-se entre os contraentes, por mero efeito do contrato, sem
dependência de tradição ou de posse, quer material, quer simbólica, salvo havendo
acordo das partes em contrário-
b) 1549º - A coisa comprada pertence ao comprador, desde o momento em que o
contrato é celebrado.
Desde que se afaste uma teoria segundo a qual nesta modalidade de venda o
comprador adquire imediatamente a propriedade da coisa e o vendedor apenas é
titular de um especial direito de garantia, a propriedade da coisa continua a
pertencer ao vendedor.
Faltando ao comprador o direito de propriedade, ele não pode praticar atos que
pressuponham a titularidade de tal direito. Quanto a contratos de venda, são
admissíveis os que, nos termos gerais, apresentem a coisa como futura. Fora desta
hipótese, o comprador vende coisa de outrem.
No entanto, o comprador pode adquirir a posse da coisa vendida, pela entrega que o
vendedor lhe faça. É uma posse em nome proprio, que o comprador pode defender
contra o vendedor e contra terceiros, nos termos gerais, e é manifestamente uma
posse de boa-fé.
Os credores do comprador não podem penhorar a coisa comprada com reserva de
propriedade para o vendedor.
O comprador é investido pelo contrato numa situação jurídica, composta por vários
direitos, dos quais potencialmente resultará a aquisição da propriedade. Esses direitos
são penhoráveis pelos seus credores.
A doutrina tem entendido que, reservado o domínio para o vendedor, o risco é
suportado pelo comprador a partir da entrega. Um dos argumentos será a
disponibilidade do artigo 796º.
O vendedor, ao vender com RdP, assume para com o comprador um dever de não
vender ou por outro modo alienar a coisa. Não se trata apenas do dever geral de nada
fazer que impeça a produção do efeito do contrato, mas antes de uma convenção de
indisponibilidade da coisa implícita da RdP, como necessária salvaguarda do
comprador, oposta à salvaguarda obtida pelo vendedor por meio da reserva.
Uma vez que as proibições de alienação apenas produzem efeitos entre os pactuantes,
há que determinar o valor jurídico para com terceiros das vendas efetuadas pelo
vendedor, apesar da reserva.
Nos casos em que nem o contrato nem a reserva sejam oponíveis a terceiros, a venda
a terceiro não sofre de vício invocável contra terceiro adquirente. Se tanto o contrato
como a reserva são oponíveis a terceiro, a nova venda está subordinada a esse facto. O
contrato ainda não produziu a transmissão da propriedade, mas se esta vier a ocorrer,
será oponível a terceiros, designadamente aqueles cujos CeV tenham sido registados
posteriormente, ou não sendo sujeita a registo a primeira venda, àqueles cujos
contratos sejam posteriores.
(…)