Manual Sistema Nervoso 2023

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M.A.

Escola de Formação Técnica


Entidade Certificada na Área da Saúde e Educação

MANUAL
Noções básicas do sistema
nervoso e aconselhamento
na farmácia

José Coelho
2023
NOÇÕES BÁSICAS DO SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso é o responsável pelas nossas sensações

Todos nós sentimos fome, sede, cheiros, sons, dores. Todas essas sensações são
produzidas a partir de estímulos de um sistema muito importante no nosso corpo, o
sistema nervoso. Para ouvir o som de um pássaro cantando, é preciso que o ouvido
capte as vibrações desse som e envie um estímulo nervoso até o cérebro. Lá ele é
decodificado e interpretado. Assim, ouve-se o som. Mas isso ocorre em milésimos de
segundos, vamos descobrir como?

Composição de um neurônio
Nosso sistema nervoso é formado por células nervosas chamadas de neurônios, que
são compostos por:
• Dendritos: pequenos filamentos que recebem os impulsos de outros neurônios;
• Axônio: filamento alongado e fino da célula. Transmite os impulsos nervosos;
• Corpo celular: onde fica o núcleo celular;
• Bainha de mielina: a mielina é uma substância isolante produzida pelo axônio que tem
função de aumentar a velocidade de transmissão dos impulsos.
Entre os neurônios há um pequeno espaço chamado de sinapse. Quando o impulso
nervoso chega até o axônio, há liberação de substâncias (os neurotransmissores) nas
sinapses. Essas substâncias causam alterações nas extremidades das outras células,
provocando um novo impulso nervoso, passando rapidamente de uma célula para outra.
Existem três tipos de neurônios: os neurônios sensoriais, neurônios motores e neurônios
de associação.
Os neurônios sensoriais recebem os estímulos dos órgãos dos sentidos (visão, olfato,
audição, paladar e tato) e os levam até o sistema nervoso central para serem
decodificados e interpretados.

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Os neurônios motores levam as respostas do sistema nervoso central até os músculos
ou outros órgãos para serem executadas.
Os neurônios de associação fazem as ligações entre todos os neurônios.

Sistema nervoso central e periférico


O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico.
O sistema nervoso central é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo
encontra-se no crânio e é constituído pelo cerebelo, cérebro e bulbo. A medula espinhal
é um prolongamento do encéfalo.
O sistema nervoso periférico é composto pelos nervos que se originam nos encéfalo e
na medula espinhal. Esse sistema conecta o sistema nervoso central ao restante do
corpo.

Sistema Nervoso Central

O Sistema Nervoso Central (SNC) é responsável por receber e transmitir informações


para todo o organismo. Podemos defini-lo com a central de comando que coordena as
atividades do corpo.
O Sistema Nervoso apresenta diversas divisões. Anatomicamente, é dividido em:
 Sistema Nervoso Central (SNC): encéfalo e medula espinhal;

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 Sistema Nervoso Periférico (SNP): nervos e gânglios nervosos que conectam o
SNC aos órgãos do corpo.
Anatomia do Sistema Nervoso Central

O Sistema Nervoso Central é formado pelo encéfalo e medula espinhal. Podemos


dizer que ele localiza-se dentro do esqueleto axial, mesmo que alguns nervos penetrem
no crânio ou na coluna vertebral.
O Sistema Nervoso Central é protegido por partes ósseas. O encéfalo é resguardado
pelo crânio e a medula espinhal pela coluna vertebral.

Anatomia do Sistema Nervoso Central

Encéfalo
O encéfalo é formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Ele possui em torno de
35 bilhões de neurônios e pesa aproximadamente 1,4 kg.
O encéfalo é formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Encontra-se na caixa
craniana, ocupando todo seu espaço e junto com a medula e os nervos compõe o

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sistema nervoso. É envolvido por membranas chamadas meninges, cuja função é
proteger o encéfalo e a medula contra choques mecânicos.

Representação de um raio-x do crânio mostrando encéfalo e neurônios

Cérebro

O cérebro é a porção mais maciça e o principal órgão do Sistema Nervoso. Ele é


responsável por comandar ações motoras, estímulos sensoriais e atividades
neurológicas como a memória, a aprendizagem, o pensamento e a fala.
Ele é formado por duas metades, os hemisférios direito e esquerdo, separados por uma
fissura longitudinal. Os dois hemisférios compreendem o telencéfalo.

Eles trabalham em conjunto, porém, existem algumas funções específicas para cada um
dos hemisférios. O hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo e o hemisfério
esquerdo controla o lado direito.
O fluxo sanguíneo no cérebro é bastante elevado, superado apenas pelos rins e
coração.
A maior parte do encéfalo é o telencéfalo, que faz parte do cérebro. Ele constitui quase
90% da massa encefálica e possui uma superfície característica marcada por sulcos e
reentrâncias que formam as circunvoluções cerebrais.
Há um sulco muito profundo que marca a divisão do cérebro em duas metades
chamadas de hemisférios cerebrais. O hemisfério direito liga-se ao hemisfério esquerdo
através do corpo caloso, que é constituído de inúmeras fibras nervosas.

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As regiões do cérebro coordenam funções específicas

A região mais externa do cérebro possui coloração mais acinzentada formando o córtex
cerebral (também conhecido como substância cinzenta) e internamente a coloração é
mais esbranquiçada (substância branca).
Além disso, há regiões delimitadas no córtex dos hemisférios que são chamadas de
lobos e são responsáveis por coordenar funções específicas, como memória, raciocínio
e audição. São quatro: lobo frontal, lobo temporal, lobo parietal e lobo occipital.
Diencéfalo: Tálamo e Hipotálamo
Ligadas ao córtex cerebral, essas pequenas estruturas estão localizadas na base do
cérebro. O tálamo é composto de muitos corpos celulares tal como a substância
cinzenta dos hemisférios cerebrais. É responsável pela recepção das mensagens
sensoriais, atuando na transmissão delas ao córtex. Está também envolvido com a
regulação do estado de atenção e consciência.

O hipotálamo é tão pequeno como um grão de ervilha, sendo encontrado logo abaixo do
tálamo. Atua na regulação da temperatura corporal e controle de água do corpo, tendo

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importante papel na homeostase. Também participa na expressão das emoções e dos
comportamentos sexuais, relacionando o sistema nervoso ao endócrino.

Cort
e mediano do encéfalo e suas estruturas

Cerebelo
O cerebelo ou metencéfalo representa 10% do volume do encéfalo. Ele é relacionado
com a manutenção do equilíbrio corporal, controle do tônus muscular e aprendizagem
motora.
Assim, como ocorre no cérebro, o cerebelo possui dois hemisférios separados por uma
faixa estreita, o vérmis.

O cerebelo encontra-se entre o cérebro e o tronco encefálico, conectado ao tálamo e à


medula espinhal através de muitas fibras nervosas.
Esse órgão é constituído internamente de substância branca (prolongamentos dos
neurônios) e revestido pelo córtex cerebelar constituído dos corpos celulares (substância
cinzenta).

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As funções do cerebelo estão relacionadas com a integração sensorial e motora. Ele
participa nos movimentos da cabeça, dos olhos e dos membros coordenando todo o
movimento do corpo. Além disso o cerebelo controla o equilíbrio durante a caminhada e
também é responsável pela postura

Tronco Encefálico
O tronco encefálico é constituído pelo mesencéfalo, ponte e bulbo.
O mesencéfalo é a menor parte do tronco encefálico, localiza-se entre a ponte e o
cérebro. A ponte localiza-se entre o mesencéfalo e o bulbo. No bulbo, a parte inferior
liga-se a medula espinhal e a superior com a ponte.

Contém muitos corpos celulares de neurônios e de prolongamentos dos nervos


cranianos relacionados com respostas sensoriais, motoras e autônomas da cabeça e do
pescoço. Através dos nervos cranianos, o encéfalo recebe informações e controla
funções de estruturas da cabeça e pescoço prioritariamente.
Há uma formação reticular constituída por uma rede de neurônios, que estão envolvidos
na regulação das atividades cardíacas e respiratórias.
Uma lesão em alguma região do tronco encefálico é frequentemente muito perigoso,
dependendo da área afetada pode romper fibras relacionadas com a consciência, a
percepção e a cognição. Se a lesão afetar os centros vitais cardíacos e respiratórios leva
à parada cardíaca e respiratória irreversível, sendo portanto fatal.
Mesencéfalo
O mesencéfalo conecta a ponte e o cerebelo com o telencéfalo. É o segmento mais
curto do tronco encefálico. Recebe informações referentes aos músculos e participa no
controle das contrações musculares e postura corporal.

Bulbo
O bulbo ou medula oblonga começa um pouco acima do primeiro par de nervos
espinhais cervicais e vai até um sulco. Estão localizados aí os centros vitais que
controlam respiração e batimentos cardíacos.

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Ponte

A ponte está situada entre o bulbo e o mesencéfalo. Existe um sulco transversal que
marca a separação entre o bulbo e a ponte. Posteriormente a ponte fica encoberta pelo
cerebelo. A ponte está relacionada com as funções cerebelares de movimento e
equilíbrio.

Medula Espinal

A medula espinal é a parte mais alongada do sistema nervoso central. É caracterizada


por um cordão cilíndrico, composto de células nervosas, localizado no canal interno das
vértebras da coluna vertebral.
A função da medula espinhal é estabelecer a comunicação entre o corpo e o sistema
nervoso. Ela também coordena os reflexos, ocasiões em que o corpo necessita de uma
resposta rápida.
É a partir da medula espinhal que originam-se os 31 pares de nervos espinhais. Eles
conectam a medula espinhal as células sensoriais e diversos músculos pelo corpo.

Meninges

Todo o Sistema Nervoso Central é revestido por três membranas que o isolam e
protegem, as meninges.

As meninges dividem-se em:


 Dura-máter: É a mais externa, sendo espessa e resistente. Formada por tecido
conjuntivo rico em fibras colágenas. A sua porção mais externa fica em contato com os
ossos.
 Aracnoide: É a membrana intermediária, entre a dura-máter e a pia-máter. Sua
estrutura parece uma teia de aranha, por isso o seu nome.
 Pia-máter: É a mais interna e delicada, em contato direto com o SNC.

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A aracnoide e a pia-máter são separadas pelo líquido cefalorraquidiano ou liquor. Ele
confere proteção mecânica e amortecimento de choques aos órgãos do Sistema
Nervoso Central. Ainda oferece nutrientes ao cérebro.

Sistema Nervoso Periférico

O Sistema Nervoso Periférico (SNP) é formado pelos nervos e gânglios nervosos.


A sua função é ligar o Sistema Nervoso Central aos outros órgãos do corpo e com isso
realizar o transporte de informações.

Ele é uma das divisões do Sistema Nervoso, que anatomicamente, é dividido em:

 Sistema Nervoso Central (SNC): encéfalo e medula espinal;

 Sistema Nervoso Periférico (SNP): nervos e gânglios nervosos que conectam o


SNC aos órgãos do corpo.

Componentes do Sistema Nervoso Periférico

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Sistema Nervoso Central e Periférico
O SNP é constituído por nervos e gânglios. Eles são os responsáveis por interligar o
SNC as partes do corpo.

Nervos
Os nervos correspondem a feixes de fibras nervosas envolvidas por tecido conjuntivo.
Eles são responsáveis por fazer a união do SNC a outros órgãos periféricos e pela
transmissão dos impulsos nervosos.

Os nervos apresentam a seguinte divisão:


 Nervos Espinais: compostos por 31 pares. Fazem a conexão com a medula
espinhal. Estes nervos são responsáveis por inervar o tronco, os membros e algumas
regiões específicas da cabeça.
 Nervos Cranianos: compostos por 12 pares. Fazem conexão com o encéfalo.
São estes nervos que inervam as estruturas da cabeça e do pescoço.

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Os nervos apresentam os seguintes tipos:

 Nervos Aferentes (Sensitivos): enviam sinais da periferia da corpo para o


sistema nervoso central. Este tipo de nervo é capaz de captar estímulos como o calor e a
luz, por exemplo.
 Nervos Eferentes (Motores): enviam sinais do sistema nervoso central para os
músculos ou glândulas.
 Nervos Mistos: formados por fibras sensoriais e fibras motoras, por exemplo, os
nervos raquidianos.

Gânglios
Os gânglios nervosos são aglomerados de neurônios situados fora do sistema nervoso
central, espalhados pelo corpo. É comum eles formarem uma estrutura esférica.

Componentes do Sistema Nervoso Periférico

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Divisões do Sistema Nervoso Periférico

O Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático desempenham diversas atividades

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O SNP é dividido em sistema nervoso somático e sistema nervoso autônomo, de acordo
com sua atuação.

 Sistema Nervoso Somático: regula as ações que estão sob o controle da nossa
vontade, ou seja, ações voluntárias. Atua sob a musculatura esquelética de contração
voluntária.

 Sistema Nervoso Autônomo: atua de modo integrado com o sistema nervoso


central. Geralmente, exerce o controle de atividades de independem da nossa vontade, ou
seja, ações involuntárias como as atividades realizadas pelos órgãos internos. Atua sob a
musculatura lisa e cardíaca

O Sistema Nervoso Autônomo tem como função regular as atividades orgânicas,


garantindo a homeostase do organismo. Ele apresenta duas subdivisões:

1. Sistema Nervoso Simpático que estimula o funcionamento dos órgãos; é formado


pelos nervos espinhais da região torácica e lombar da medula. Os principais
neurotransmissores liberados são a noradrenalina e a adrenalina.
2. Sistema Nervoso Parassimpático que inibe o funcionamento dos órgãos; é
formado pelos nervos cranianos e espinhais das extremidades da medula. O
principal neurotransmissor liberado é a acetilcolina.

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Divisão do Sistema Nervoso Periférico

Fisiologia do Sistema Nervoso

A condução dos estímulos nervosos por células especializadas do sistema


nervoso

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O sistema nervoso ou sistema neural humano, originado a partir do ectoderma (um
folheto embrionário), é formado por neurônios, células da glia e reduzida quantidade de
substâncias intracelulares, atuando diretamente na coordenação funcional dos diferentes
órgãos e demais sistemas, armazenando informações, captando sensações e efetuando
reações por mecanismos hormonais e motores.

Esse sistema compreende o encéfalo, a medula espinhal, constituindo o sistema


nervoso central (SNC), e os nervos cranianos, nervos espinhais e os gânglios nervosos,
constituindo o sistema nervoso periférico, subdividido em: autônomo parassimpático e
autônomo simpático.

No parassimpático, as vias nervosas apresentam gânglios situados longe do sistema


nervoso central, partindo do encéfalo ou da região sacral. Enquanto no simpático os
gânglios se localizam nas proximidades da medula espinhal, partindo da região torácica
e lombar.

O principal componente desse sistema é a célula neuronal (o neurônio), altamente


especializada na recepção e condução de impulsos de natureza elétrica, possuindo
grande variedade quanto ao tamanho, forma e função.

A estrutura de um neurônio:

Corpo celular ou pericário → centro região de concentração citoplasmática e núcleo de


um neurônio, de onde partem numerosas ramificações;

Dendritos → prolongamentos anexos das ramificações do pericário, efetuando a


recepção dos estímulos nervosos;

Axônio → prolongamento extenso com diâmetro constante, projetado do corpo celular,


podendo medir mais de um metro de comprimento, envolvido por uma camada isolante
descontínua (bainha de mielina), formada por células de Schwann. Sua função está
relacionada à condução do estímulo nervoso.

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Telodendros → ramificações situadas na região terminal de um axônio, aumentando a
superfície de propagação de um impulso, permitindo intercâmbio com outro neurônio ou
um órgão.

As informações são emitidas por estímulos através da captação pelos sentidos e órgãos,
transferidos aos nervos até a medula espinhal ou o encéfalo. Sendo então o estímulo
processado e enviadas as mensagem por conexões neuronais aos nervos e desse aos
músculos ou gânglios, em resposta a alterações do meio externo ou interno.

Quando em repouso, o axônio encontra-se no estado polarizado, internamente contendo


cargas negativas e externamente cargas positivas, apresentando assim um potencial de
repouso.

Conforme o impulso é transmitido, percorrendo o axônio, as cargas por mecanismo de


difusão ativa se invertem (bomba de sódio e potássio / despolarização), mantendo uma
diferença de potencial elétrico membranar, denominado de potencial de ação.

Dessa forma, para desencadear um estímulo é necessário um potencial de ação


suficiente para ultrapassar a ordem do potencial de repouso. Caso contrário não haverá
condução e estímulo nervoso.

Esse processo dura apenas milionésimos de segundos, ocorrendo após a passagem do


impulso o processo inverso (repolarização) restabelecendo o estado de repouso.

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Nervos Cranianos

Os nervos cranianos são os que fazem conexão com o encéfalo. Em humanos, são
compostos por 12 pares que partem do encéfalo e o conectam aos órgãos dos sentidos
e músculos.

Enquanto isso, os nervos raquidianos ou espinhais conectam a medula espinhal a


células sensoriais e diversos músculos pelo corpo. Esses são constituídos por 31 pares.
Os nervos cranianos exercem funções sensitivas e motoras. A função é determinada
conforme as estruturas inervadas por cada par. Os 12 pares de nervos cranianos são
numerados, em algarismos romanos, em sequência crânio-caudal.

Os nervos cranianos e suas respectivas funções

I - Nervos olfativos
São originados na região olfatória de cada fossa nasal, atravessam o osso etmoide e
terminam no bulbo olfatório.
Possuem função exclusivamente sensitiva, sendo responsáveis pela condução dos
impulsos olfatórios.

II - Nervos ópticos
São compostos por um grosso feixe de fibras nervosas originadas na região da retina
que penetram no crânio através do canal óptico.
Possuem função estritamente sensitiva.

III - Nervo oculomotor


É um nervo motor, responsável pela movimentação dos olhos.

IV - Nervo troclear
É um nervo com parte sensitiva e motora, também relacionado com a movimentação dos
olhos e a visão.

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V - Nervo trigêmeo
Apresenta uma porção motora e outra sensitiva.
A porção motora atua nos músculos relacionados com a mastigação.
A porção sensitiva apresenta três ramos: o oftálmico, maxilar e mandibular. É
responsável pela inervação da face, parte do couro cabeludo e de regiões mais internas
do crânio.

VI - Nervo abducente
Ë responsável pela inervação do músculo reto lateral do olho.

VII - Nervo facial


É um nervo misto, apresentando uma porção motora e outra sensorial. A porção motora
é representada pelo nervo facial propriamente dito, relacionada com as expressões
faciais, secreção de saliva e produção de lágrimas.
O nervo facial proporciona a inervação motora para todos os músculos cutâneos da
cabeça e pescoço.
A porção sensorial recebe o nome de nervo intermédio e atua na sensibilidade muscular
e gustatória.

VIII - Nervo vestibulococlear


É um nervo exclusivamente sensitivo. Em referência ao seu nome, possui a parte
vestibular e coclear.
A parte vestibular é relacionada com o equilíbrio. A parte coclear relaciona-se com a
audição.

IX - Nervo glossofaríngeo
É um nervo com função sensitiva e motora. É responsável pela sensibilidade de parte da
língua, da faringe e tuba auditiva. A parte motora é relacionada com os músculos da
faringe.

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X - Nervo vago
É um nervo com função motora e sensitiva. Inerva quase todos os órgãos abaixo do
pescoço, com inervação parassimpática. É responsável pela manutenção de funções
vitais como regulação da frequência cardíaca.

XI - Nervo acessório
É um nervo essencialmente motor, atuando em funções relacionada à deglutição e
movimentos da cabeça e pescoço.

XII - Nervo hipoglosso


É um nervo exclusivamente motor. Emerge do crânio pelo canal do hipoglosso e dirige-
se aos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua. Relacionando-se com a
movimentação da língua.

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ANSIEDADE

A ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de tensão, preocupação,


insegurança, normalmente acompanhados por alterações físicas como o aumento da
pressão arterial e da frequência cardíaca, sudação, secura da boca, tremores e tonturas.
 
Em condições normais, a ansiedade pode ser útil, na medida em que ajuda a identificar
situações de perigo e permite uma melhor preparação para as enfrentar. Quando bem
controlada, a ansiedade atua sobretudo como estimulante. Em excesso, a ansiedade
causa sofrimento desnecessário.
 
Existem diferentes formas de ansiedade, cada uma delas com sintomas diferentes,
sendo as principais as seguintes:
 doença obsessiva compulsiva
 stress pós-traumático
 pânico
 agorafobia (ansiedade generalizada; ansiedade social; ansiedade da separação)
 
Qual a relação entre ansiedade e depressão?

A ansiedade faz parte do quadro clínico da depressão e está associada de forma


variável às alterações de humor e aos estados depressivos. Pode-se, portanto, afirmar
que os pacientes com depressão sofrem também de ansiedade, mais ou menos
pronunciada. Da mesma forma, a maioria das pessoas em que a ansiedade se
manifesta num grau elevado pode evoluir para um estado depressivo.
 
A presença em simultâneo de depressão e ansiedade é muito marcante, implicando
maior gravidade de sintomas. Estudos desenvolvidos em Portugal registaram forte
correlação entre depressão, ansiedade e stress.
 

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Qual a incidência de ansiedade em Portugal?

Trata-se de um problema importante e comum. A nível da medicação, entre 2004 e


2009, observou-se um crescimento de 25,3% no consumo de ansiolíticos, hipnóticos,
sedativos e antidepressivos. Estes dados são confirmados pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), onde Portugal se situa acima da
média dos países desta organização no consumo de ansiolíticos.
 
São escassos, no entanto, os estudos que apresentam resultados relativos à realidade
portuguesa. Alguns estudos apontam para taxas de cerca de 50% dos utilizadores de
cuidados primários de saúde apresentando sintomas de depressão/ansiedade.
 
As evidências demonstram maior prevalência de perturbações depressivas e de
ansiedade entre as mulheres. Em Portugal, existem poucas evidências dessa tendência,
embora alguns estudos recentes sugiram que as mulheres são mais suscetíveis a esse
tipo de perturbação.
 
Quais são as causas da ansiedade?

Em alguns casos, a ansiedade poderá ter uma causa evidente. Por outro lado, existem
outros casos em que a ansiedade parece não ter causa aparente. Quando isso sucede,
o facto de o paciente não conseguir identificar a causa da sua ansiedade tende a
aumentá-la ainda mais. Por esse motivo, um dos aspetos importante no tratamento da
ansiedade é a identificação dos fatores que a desencadeiam.
 
Para além disso, pensa-se poder existir uma base genética para a ansiedade.
 
A ocorrência de experiências stressantes e a incapacidade de lidar com elas é outro
aspeto importante.
O consumo de álcool, drogas, chá, café, tabaco e alguns medicamentos podem também
associar-se a crises de ansiedade.
 

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De um modo geral, as dificuldades da vida são habitualmente fatores que desencadeiam
ansiedade, e nos casos agudos, angústia. Além disso, as dificuldades pessoais de
inserção na sociedade, os conflitos interiores no domínio afetivo, emocional e sexual
podem conduzir a uma sintomatologia ansiosa.
 
Como se manifesta a ansiedade?

Os sintomas mais comuns da ansiedade são as sensações de apreensão ou


preocupação, de impotência, de medo ou pânico. Estas sensações associam-se
frequentemente a sintomas físicos como o aumento da frequência cardíaca e
respiratória, suores, tremores, sensação de fadiga, entre outros.
 
Os diferentes tipos de ansiedade apresentam manifestações específicas:
 Os ataques de pânico podem começar de forma súbita, causando sintomas
físicos muito fortes, quase de asfixia. o Na agorafobia, a ansiedade ocorre em
ambientes nos quais o paciente se sente encurralado.
 As fobias sociais ocorrem em circunstâncias de exposição social ou pública.
 Na doença obsessiva compulsiva ocorrem pensamentos persistentes e um desejo
incontrolável de repetir, sem razão aparente e sem propósito, um determinado
ato.
 No stress pós-traumático, o paciente sente que está a reviver uma experiência
traumática, referindo reações emocionais e físicas muito intensas.
 
Como se diagnostica a ansiedade?

O diagnóstico da ansiedade pode ser bastante difícil.


O exame médico é essencial de modo a poder excluir-se a presença de doença física
real que esteja na base das queixas referidas.
A confirmação do diagnóstico depende da confirmação da presença dos critérios de
ansiedade definidos internacionalmente.
 
Como se trata a ansiedade?

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 É necessário não esquecer que a ansiedade é um fenómeno universal, que faz
parte da nossa vida. Frequentemente, pequenas alterações no quotidiano ou nos
hábitos podem diminuir ou mesmo eliminar as reações ansiosas.

 Pode ser útil adotar no dia-a-dia hábitos simples que permitam reduzir os estados
de ansiedade. São exemplos disso as técnicas de relaxamento e meditação, uma
boa gestão e organização do tempo, uma comunicação regular e eficaz com os
outros (tanto no trabalho como em casa), entre outros.

 Dormir bem é, também, muito importante.

 Por vezes, pode ser necessário o recurso a medicamentos, que deverão ser
sempre prescritos pelo médico. Este tipo de tratamento é, habitualmente, de
longa duração e deve ser cuidadosamente acompanhado.

 Em alguns casos o tratamento com medicamentos pode ser complementado com


apoio psiquiátrico.

 Deve ser sempre evitada a automedicação.

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DEPRESSÃO

A depressão é uma das doenças psiquiátricas mais comuns. De acordo com a


Organização Mundial de Saúde, a depressão é um dos principais problemas de saúde
no mundo desenvolvido.
 
Depressão em números

Estima-se que uma em cada quatro mulheres e um em cada dez homens possam ter
crises de depressão em alguma fase da sua vida e as crianças também podem ser
afetadas.
 
Não existem dados concretos em relação à sua frequência em Portugal, mas as
estimativas referem valores de 2 a 3% para os homens e de 5 a 9% para as mulheres
para as formas mais graves de depressão e valores superiores a 20% para formas mais
ligeiras da doença.
 
O que distingue uma Depressão de sentimentos de tristeza?

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Trata-se de uma doença que pode passar despercebida, uma vez que os seus sintomas
podem atribuídos a outras causas (doenças físicas, stress, etc.).
 
É importante perceber que todos podemos estar tristes, mas esses sentimentos duram
pouco tempo. No caso da depressão, ocorre interferência no dia-a-dia e um sofrimento
intenso. Como tal, a depressão, embora comum, é uma doença grave.
 
Muitos doentes com depressão não procuram tratamento, embora existam formas
eficazes de tratar a depressão.
 
Quais os sintomas de depressão?

A depressão é uma perturbação do humor que não deve ser confundida com os
sentimentos de tristeza, geralmente reativos a acontecimentos da vida, temporários e
que, de um modo geral, não são incompatíveis com uma vida normal.
 
A depressão pode apresentar diferentes formas e graus de gravidade.
 
Na depressão, os sintomas tendem a persistir durante mais tempo e podem incluir:
 Sentimentos de tristeza e aborrecimento
 Sensações de irritabilidade, tensão ou agitação
 Sensações de aflição, preocupação, receios infundados e insegurança
 Diminuição da energia, fadiga e lentidão
 Perda de interesse e prazer nas atividades diárias
 Perturbação do sono e do desejo sexual
 Variações significativas do peso por perturbações do apetite
 Sentimentos de culpa e de auto-desvalorização
 Alterações da concentração, memória e raciocínio
 Sintomas físicos não devidos a outra doença (dores de cabeça, perturbações
digestivas, dor crónica, mal-estar geral)
 Ideias de morte e tentativas de suicídio
 
A depressão afeta de um modo significativo o rendimento no trabalho, a vida familiar e
todas as atividades do doente, causando grande sofrimento.

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Nas formas mais graves, os sintomas podem surgir sem relação aparente com
acontecimentos traumáticos da vida e duram diversos meses.
Nas formas mais ligeiras, a intensidade dos sintomas é menor e permitem a manutenção
das atividades diárias, embora sempre com uma sensação de fadiga, tristeza e
desinteresse, que se prolonga durante anos.
 
Em alguns casos, a depressão não se manifesta sob a forma de tristeza, mas através de
sintomas como a fadiga, dores inespecíficas, sensação de opressão no peito, insónias,
perturbações digestivas (náuseas, vómitos, diarreia), o que coloca a hipótese de uma
doença diferente, assim dificultando e retardando o diagnóstico.
 
A depressão pode fazer parte da Doença Bipolar, na qual ocorrem episódios de
depressão alternados com períodos de excitação e euforia. Nas fases eufóricas, a
autoestima dos doentes está muito elevada com perda da noção da realidade, podendo
ocorrer gastos excessivos e a realização de negócios impossíveis.
 
Quais as causas da Depressão?

De um modo geral, a depressão resulta de uma combinação de fatores genéticos,


biológicos, ambientais e psicológicos.
 Está demonstrada a existência de uma tendência hereditária para alguns tipos de
depressão.
 Os acontecimentos traumáticos da vida contribuem também para o aparecimento
da depressão, podendo funcionar como desencadeantes ou facilitadores de
episódios depressivos.
 O tipo de personalidade e a forma como cada indivíduo lida com os problemas
também se associa a uma maior ou menor predisposição para a depressão.
 
Como se trata a Depressão?

O tratamento é importante de modo a que a depressão não se arraste e se agrave. Se


os sintomas não forem reconhecidos como fazendo parte de uma doença, a avaliação

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negativa feita pelos outros tenderá a acentuar a fraca imagem pessoal e a reduzida
autoestima.
 
O suicídio é uma possibilidade que não deve ser esquecida e o tratamento é essencial
para reduzir esse risco e permitir a melhoria dos sintomas da depressão.
 
Existem diversos tratamentos possíveis para a depressão, incluindo-se nestes os
medicamentos antidepressivos e a psicoterapia.
 
Existem diversas classes de medicamentos que deverão ser sempre escolhidos pelo
médico de uma forma individualizada. De um modo geral, são tratamentos que devem
ser prolongados durante um período de tempo significativo de modo a serem eficazes.
 
O suporte familiar e social é um complemento importante do tratamento selecionado
pelo médico.
 
O prognóstico da depressão é bom e depende essencialmente do tratamento instituído e
de um adequado controlo de todos os fatores de risco presentes em cada caso.

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SONO NORMAL e INSÓNIA

O sono e um estadio comportamental caraterizado pela ausência de interação e


resposta
ao meio ambiente, com diminuição da atividade motora e reversível com estimulação. E
fundamental no restabelecimento de vários sistemas orgânicos, conservação da energia,
manutenção da termorregulação e imunidade e em determinadas funções endócrinas
como a produção de hormona do crescimento. Desempenha um papel importante nas
funções cognitivas como a consolidação da memoria, e no crescimento e
desenvolvimento do sistema nervoso central.

O ciclo sono-vigília e regulado por dois processos que funcionam em conjunto. O


processo homeostático regula a duração e a profundidade do sono e esta relacionado
com a acumulação de substancias químicas promotoras de sono durante a vigília. O
ritmo circadiano endógeno influencia o horário e a duração do ciclo sono-vigília e
depende da produção de melatonina regulada pela alternância claridade-escuridão.

A arquitetura do sono baseia-se no reconhecimento de que existem duas fases distintas:


Non-rapid eye movement (NREM) e Rapid eye movement (REM):

• NREM – corresponde a fase de sono profundo ou reparador, com baixa atividade


cerebral, frequências cardíacas e respiratórias mais baixas e regulares, diminuição da
temperatura corporal e com diminuição relativa do tónus muscular mantendo alguma
capacidade de movimento;

• REM – refere-se a fase de sono com intensa atividade cerebral (com sonhos),
movimentos oculares rápidos, ausência da termorregulação e de tónus muscular (exceto
no diafragma e nos músculos dos olhos e do ouvido medio).

Durante a noite, as duas fases alternam-se em ciclos com uma duração de 90 a 110
minutos cada. Estes ciclos terminam em breves micro-despertares e repetem-se quatro

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a seis vezes por noite. A proporção das diferentes fases em cada ciclo varia durante a
noite, com o sono NREM predominando no primeiro 1/3 e o sono REM no ultimo terço
da noite,

Hipnograma mostrando ciclos e fases do sono.

A arquitetura do sono varia com a idade.


Nos primeiros dois meses de vida não existem os padrões eletroencefalográficos que
permitem distinguir as fases do sono, pelo que este se divide em três estadios: ativo
(equivalente ao REM), calmo (equivalente ao NREM) e indeterminado.

Durante o primeiro ano de vida, individualizam-se as fases de sono REM e NREM,


durando os ciclos de sono cerca de 50 minutos. Estes ciclos vão-se tornando mais
longos a medida que a criança cresce, ate atingir os 90 a 110 minutos.

Com o crescimento a duração total de sono nas 24 horas vai diminuindo bem como a
proporção de sono REM e inversamente há um aumento de sono NREM.

Durante o primeiro ano de vida e fundamental estabelecer medidas de higiene do sono.


O primeiro passo e garantir adequada educação parenteral nas consultas de vigilância
de saúde infantil e juvenil. Os horários de sono devem ser regulares e adequados a
idade da criança, respeitando a variabilidade individual. As sestas devem também ser

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adaptadas a idade e ao desenvolvimento da criança e, quando já só há uma sesta, esta
deve ser realizada no inicio da tarde e durar no máximo duas horas. Antes de dormir
devem ser evitadas bebidas estimulantes, refeições pesadas ou exercício físico. A rotina
de ir para a cama deve ser consistente, de curta duração e com atividades calmas e
agradáveis.
O ambiente em que se dorme também e importante, não devendo existir televisão,
computador ou telemóvel no quarto.

Idade Sono
0 - 2 meses
Duração de sono - 10 a 19 / 24 horas. Períodos de sono alternados com uma a duas
horas de vigília, determinados pela fome e saciedade e sem padrão diurno/noturno.
Padrões de sono irregulares.

2 - 12 meses
Duração de sono - 12 a 13 / 24 horas. Período de sono noturno de nove a dez horas.
Diminuição progressiva do numero de sestas diurnas, de quatro a duas. Desenvolve-se
a capacidade de adormecer sozinho.

1 - 3 anos
Duração de sono - 11 a 13 / 24 horas. Passa a haver apenas uma sesta durante o dia
(habitualmente por volta dos 18 meses).

3 - 6 anos
Duração de sono – 9 a 10 /24 horas. Em idade variável desaparecem as sestas. Cerca
de 26% das crianças de quatro anos e 15% das de cinco anos necessita de sesta.

6 - 12 anos
Duração de sono – 9 a 10 /24 horas. Adolescência. Duração de sono - 8 a 9 / 24 horas.
Com a puberdade há um atraso fisiológico na produção da melatonina que condiciona o
inicio do sono cerca de duas horas mais tarde do que e habitual. Os adolescentes têm
tendência a estar mais alerta a noite e a acordar mais tarde.

DISTÚRBIOS do SONO

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Estima-se que cerca de 30% das crianças/adolescentes apresente ou ja tenha
apresentado algum problema de sono. A falta de identificação e orientação pode
contribuir para a sua persistência ate a idade adulta. E fundamental que estas situações
sejam diagnosticadas e orientadas atempadamente e, por isso, o inquérito de hábitos do
sono deve fazer parte das consultas de vigilância de saúde infantil e juvenil. Devem ser
abordadas questões relativas a hora de deitar e de levantar (durante a semana e fim-de-
semana), rotina de ir dormir, resistência em ir para a cama, dificuldade em adormecer e
despertares noturnos; sintomas noturnos como ressonar, pausas respiratórias, agitação
ou movimentos exuberantes, episódios de confusão, choro ou deambulação; sintomas
diurnos como a sonolência excessiva, hiperatividade, perturbações do comportamento
ou dificuldades de aprendizagem.

Principais grupos de problemas do sono em idade pediátrica.

 Higiene inadequada do sono


 Parassónias
 Insónias
 Hipersónias
 Distúrbios do ritmo circadiano
 Perturbações respiratórias do sono
 Distúrbios do movimento relacionados
 com o sono
 Sono nas doenças médicas

Parassónias

As Parassónias são fenómenos aberrantes do sono, reflexo da imaturidade cerebral. A


sua prevalência diminui com a idade, todavia podem persistir ate a idade adulta.

Nas parassónias da fase NREM existe uma perturbação do mecanismo do despertar


caraterizada por uma diferente ativação sono-vigília em diferentes áreas corticais. A
criança/adolescente está a dormir, mas tem comportamentos motores ou autonómicos
da vigília. Atendendo as características do sono NREM, compreende-se que estes

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episódios sejam mais frequentes na primeira metade da noite e que não haja memoria
para o episodio.
A historia familiar e frequentemente positiva já que existe uma predisposição genética. A
esta associa-se fatores precipitantes que condicionam a ocorrência e frequência dos
episódios: privação, ma higiene ou simplesmente alteração do padrão de sono (como
dormir num local diferente); alterações emocionais ou comportamentais e patologias
como a síndrome de apneia obstrutiva do sono.

Os diferentes tipos de parassónias do NREM são:

1. Sonambulismo (entre os quatro e os 12 anos) - episódios de comportamentos


motores complexos com deambulação, podendo a criança falar ou responder a ordens e
ter vagas memorias do episodio;

2. Terrores noturnos (entre os três e os oito anos) - ocorrências de fenómenos de inicio


súbito, com graus variados de atividade motora e sinais autonómicos de medo intenso
(taquicardia, taquipneia, rubor facial, sudorese e midríase); a criança apresenta um
fácies de susto, esta confusa, agitada, chora ou grita, não manifesta o que a perturba,
nao acalma com a presença dos pais e apos alguns minutos continua a dormir;

3. Despertares confusionais (entre os seis meses e os sete anos) - fenómenos de


inicio
lento e duração mais prolongada, em que não há alterações comportamentais, respostas
autonómicas ou componente motor relevante; a criança tem um ar assustado, com olhar
vago e um discurso confuso e lentificado.
Na abordagem das parassónias do NREM e importante tratar fatores precipitantes e
tranquilizar a família, explicando que a única intervenção deve ser garantir a segurança
e que a criança/adolescente não deve ser acordado.

Se as características não forem típicas (vários episódios por noite, horário não habitual,
movimentos estereotipados, posturas distónicas ou memoria lucida para o episodio)
deve ser equacionado o diagnostico diferencial com crises epiléticas.

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As parassónias do período REM mais frequentes são os pesadelos. Ocorrem na
segunda metade da noite, há memoria para o episodio, e as crianças acordam
completamente, estando assustadas e com medo de voltar a dormir. Nestes casos e
importante tranquilizar e transmitir segurança.

Os pesadelos são frequentemente confundidos com terrores noturnos.

Hipersónia

A hipersónia e um sintoma que ocorre com maior frequência no adolescente. O primeiro


passo na sua abordagem e compreender se a sonolência excessiva diurna esta
relacionada com sono noturno insuficiente ou perturbado ou se deve a uma hipersónia
verdadeira

Devem ser excluídas doenças que cursem com dor ou necessidade de tomar medicação
durante a noite, psiquiátricas (como a depressão) e distúrbios do sono como a
perturbação respiratória obstrutiva do sono ou a síndrome de pernas inquietas. A
privação de sono pode também estar relacionada com ma higiene do sono - horários
irregulares, horário tardio de ir dormir e/ou presença e uso de televisão, computador ou
telemóvel.

A síndrome de atraso de fase e um distúrbio do ritmo circadiano que causa insónia e


sonolência excessiva diurna na adolescência. A sua etiologia ainda não é
completamente conhecida.

Parece haver uma anomalia na regulação do ciclo sono-vigília, endógena e/ou


condicionada por fatores ambientais, e que esta relacionada com atraso na produção da
melatonina que ocorre na puberdade. Tipicamente estes adolescentes adormecem tarde
e se for possível acordam tarde, sendo, nestas circunstancias, a duração de sono
normal. Clinicamente há insónia inicial (quando o adolescente tenta adormecer a uma
hora socialmente aceitável, mas que não corresponde a altura em que tem sono) e
dificuldade em acordar de manha (se tiver que ser num horário não desejado) podendo
condicionar absentismo escolar, sonolência diurna excessiva com sestas durante o dia,
dificuldades escolares e perturbações comportamentais ou do humor. No tratamento da

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síndrome de atraso de fase e fundamental a motivação do adolescente e da família e
podem ser utilizados ajustes de horários de ir dormir e acordar, exposição a luz ou
administração de melatonina,

A narcolepsia e uma perturbação cronica do SNC com desregulação do ciclo sono-


vigília e intrusão do sono REM na vigília. Manifesta-se habitualmente na segunda
década de vida, mas pode surgir mais cedo. A etiologia e desconhecida, sendo o
mecanismo fisiopatológico mais provável a destruição autoimune de células do
hipotálamo produtoras de hipocretina, em indivíduos com suscetibilidade genética
(presença do alelo HLA DQB1*06:02). Clinicamente há sonolência excessiva diurna e,
frequentemente mais tarde, cataplexia, alucinações hipnagógicas (ao adormecer) ou
hipnopompicas (ao acordar) e paralisia do sono. A cataplexia, paradigmática da
narcolepsia, e uma redução súbita e reversível do tónus muscular, desencadeada por
um estimulo como a gargalhada ou o susto. Pode haver dificuldades de aprendizagem,
perturbações do comportamento
ou do humor. Nas crianças, e difícil equacionar a hipótese de narcolepsia, já que pode
apenas existir sonolência excessiva diurna, e esta ser interpretada como necessidade
fisiológica de sesta ou preguiça da criança. O diagnostico assenta na realização de um
estudo poligráfico do sono para excluir outras causas de sonolência, e de um teste de
latência múltipla do sono em que se avalia o grau de sonolência diurna e a ocorrência no
inicio do sono da fase REM. E efetuada também a pesquisa do HLA DQB1*06:02 que
esta presente em 90% dos casos, mas e inespecifico. Pode ser necessário efetuar o
doseamento da hipocretina-1 no liquido cefalorraquidiano, que esta diminuída.

Do tratamento fazem parte estratégias de terapia comportamental e fármacos para


controlar a sonolência (como o metilfenidato) e a cataplexia (como a venlafaxina).

A síndrome de pernas inquietas e um distúrbio neurológico em que ocorrem sensações


desconfortáveis nos membros inferiores acompanhadas por urgência, praticamente
irresistível, em mexer as pernas. Estes sintomas agravam- -se a noite e com a
inatividade e aliviam com o movimento. O reconhecimento desta entidade em idade
pediátrica e recente, mas estima-se que possa afetar cerca de 2% das
crianças/adolescentes a partir dos oito anos. Nestas idades, o diagnostico e dificultado
pela descrição pouco clara dos sintomas, podendo as crianças referir dor ou haver

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apenas resistência em ir para a cama, insónia inicial ou sono agitado. A historia familiar
e frequentemente positiva e o fator de
risco mais comumente associado e a diminuição das reservas de ferro. Se a ferritina for
inferior a 50 ng/ml, esta indicado a administração de ferro (6 mg/kg/dia) durante seis
meses.

O bruxismo ou “ranger” dos doentes e uma entidade que, com frequência, preocupa os
pais. Consiste em movimentos repetitivos involuntários e não funcionais, que
habitualmente desaparecem com a erupção da dentição definitiva. A sua fisiopatologia
não é completamente conhecida, descrevendo-se fatores de risco como ma oclusão
dentaria, rinite alérgica, ansiedade, paralisia cerebral ou historia familiar positiva. Se
ocorrer frequentemente pode causar erosão dentaria, dores faciais ou na articulação
temporomandibular, cefaleias e eventualmente sintomas diurnos relacionados com ma
qualidade do sono. Nestes casos a criança/adolescente deve ser referenciada para
tratamento dentário.

FACTOS A RETER

A higiene do sono e fundamental e deve ser promovida desde o período neonatal. A


avaliação do sono faz parte das consultas de vigilância de saúde infantil e juvenil.

As parassónias são situações benignas e transitórias, sendo fundamental a


tranquilização
dos pais e a instituição de medidas de higiene de sono.

A insónia comportamental da infância pode causar resistência em ir dormir, dificuldade


em
adormecer e/ou os múltiplos acordares noturnos; medidas de higiene de sono e
estratégias de terapia comportamental adequadas a criança e a família são
fundamentais.

A hipersónia verdadeira e rara; as principais causas de sonolência excessiva diurna


estão relacionadas com privação ou perturbação do sono noturno.

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A síndrome de pernas inquietas pode ocorrer em crianças/adolescentes e cursar com
queixas de difícil caracterização nos membros inferiores, insónia inicial e sono agitado.

Os distúrbios rítmicos do movimento são situações benignas e desaparecem com o


crescimento.

A hiperatividade pode ser uma manifestação de défice de sono na criança mais pequena
e, por outro lado, cerca de um quarto das crianças com esta perturbação tem problemas
de sono.

Ressonar não é normal; a sua investigação etiológica e abordagem terapêutica precoce


são fundamentais.

A criança com síndrome de apneia obstrutiva do sono grave pode ter uma observação
normal durante o dia.

A perturbação respiratória do sono na infância pode constituir um fator de risco


cardiovascular para a vida adulta.

A presença de atraso de crescimento inexplicado, alterações do


comportamento/hiperatividade, dificuldades de aprendizagem/concentração devem
evocar a presença de um problema de sono.

INSÓNIA

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A insónia define-se como a dificuldade no inicio do sono, na sua consolidação ou
qualidade.

Pode surgir em qualquer idade e ter múltiplos fatores desencadeantes.

Nos primeiros anos de vida, importa destacar a insónia comportamental da infância,


em que há uma perturbação do funcionamento diário da criança ou da família associada
ao problema de sono.
No subtipo sleep-onset association, a criança (seis meses a três anos) tem dificuldade
em adormecer sozinha e apresenta múltiplos despertares durante a noite. A partir dos
seis
meses, os lactentes têm capacidade para adormecer sozinhos.

O sono preenche aproximadamente um terço das nossas vidas e é fundamental para a


recuperação física e psíquica do indivíduo. Vários estudos apontam para uma
diminuição do tempo médio de sono, da ordem de hora e meia, relativamente ao início
do século passado.
 
Por outro lado, nos países europeus o aumento dos gastos com os «medicamentos para
dormir» é uma realidade e constitui uma preocupação crescente.
 

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As perturbações do sono constituem, portanto, um problema de saúde pública que
requer uma intervenção quer a nível individual, quer num âmbito mais vasto.
 
Em Portugal, de acordo com os resultados obtidos em alguns estudos, 28,1% da
população com mais 18 anos de idade sofre de sintomas de insónia, pelo menos três
noites por semana.
 
A insónia é o distúrbio do sono mais frequente no adulto e associa-se a importantes
consequências, como o aumento da mortalidade causada por doenças cardiovasculares,
distúrbios psiquiátricos, acidentes e o absentismo laboral.
 
A insónia pode afetar cerca 69% dos doentes de uma consulta de Clínica Geral e,
apesar de afetar milhões de pessoas em todo o mundo, esta doença continua a ser sub-
diagnosticada, razão pela qual muitos doentes não recebem o tratamento adequado.
 
A insónia é definida como uma experiência subjetiva de sono inadequado ou de
qualidade limitada, apesar de existir uma oportunidade e condições adequadas para
dormir, com prejuízo para o funcionamento social, ocupacional e de outras atividades
diurnas.
 
Pode ainda ser definida como uma dificuldade em iniciar o sono (insónia inicial),
dificuldade em manter o sono (insónia intermédia), acordar muito cedo (insónia terminal)
ou, embora com menor frequência, por uma queixa de sono não restaurador ou de má
qualidade.
 
Quanto à duração, a insónia pode ser aguda (duração inferior a quatro semanas) ou
crónica (duração superior a quatro semanas) com os sintomas ocorrendo pelo menos
em três noites por semana.
 
O que causa as insónias?

As causas mais frequentes de insónia aguda são o stress situacional (laboral,


interpessoal, financeiro ou outro), stress ambiental (por exemplo, ruído no quarto de
dormir) e morte ou doença de uma pessoa próxima.

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No que se refere às causas, a insónia pode ser dividida em insónia primária (não é
causada por condição física ou mental conhecida) ou secundária (causada por outra
doença médica ou psiquiátrica, medicamentos, etc.). A prevalência da insónia
secundária é muito superior à da insónia primária, e parece estar a aumentar.
 
Os distúrbios do humor e ansiedade estão presentes em 30% a 50% dos doentes com
insónia; as doenças médicas (mais frequentemente a dor) são encontradas em 10 % dos
doentes, o abuso de substâncias é encontrado noutros 10% e apenas 10% parece
resultar de distúrbios primários do sono.
 
As doenças psiquiátricas que mais frequentemente se apresentam com insónia, incluem
depressão major e a ansiedade.
 
Estão descritos como fatores de risco para a insónia crónica o aumento da idade, género
feminino, presença de outras doenças (doença médica, psiquiátrica, abuso de
substâncias), escassas relações sociais, baixo nível socioeconómico, separação
matrimonial ou de um parceiro, o desemprego e o trabalho por turnos.

A doença de Alzheimer e a doença de Parkinson podem também causar insónia, bem


como as doenças que causam dor, dificuldade em respirar, problemas da tiroide ou
digestivos, um acidente vascular cerebral ou a menopausa.
 
Como se manifestam as insónias?

A insónia define-se normalmente pela presença de um padrão do sono alterado,


caracterizado pela dificuldade em adormecer, pela duração do sono insuficiente, com um
despertar matinal demasiado cedo, por despertares frequentes ou prolongados e por
variabilidade do padrão de noite para noite; pela qualidade do sono, caracterizada pela
ocorrência de ansiedade ou agitação antes ou durante o sono, sensação de cansaço ao
acordar e experiências de sono desagradáveis, nomeadamente pesadelos; pelas
sequelas diurnas, caracterizadas por sonolência, fadiga e dificuldade de concentração.
 

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A insónia transitória (duração de uma a várias noites) é uma situação comum e sem
consequências graves. A insónia persistente ou crónica (duração de meses/anos) pode
corresponder a uma situação de doença e deve ser avaliada pelo médico.

A insónia também se associa a sonolência diurna, falta de energia, ansiedade,


depressão ou irritabilidade. Ocorre dificuldade de concentração e de atenção, problemas
de aprendizagem e de memória, que afetam o rendimento no trabalho e na escola.

Por outro lado, a insónia pode ser a causa de acidentes graves, quando a sonolência
ocorre durante a condução automóvel ou de outros veículos.
 

Como se diagnosticam as insónias?

É fundamental uma correta história clínica, com uma detalhada história do sono e com o
registo de um diário de sono, bem como informação complementar sobre o/a parceiro(a)
para saber como ele (a) dorme.
 
O exame objetivo e o pedido de exames complementares de diagnóstico devem ser
direcionados para a suspeita da causa secundária da insónia.
 

Como se tratam as insónias?

No caso da insónia secundária, o tratamento deve ser direcionado para a sua causa
específica.
 
A combinação do tratamento farmacológico específico (benzodiazepinas) com o não
farmacológico (terapia comportamental) pode ser útil na insónia secundária, como
complemento do tratamento da doença de base.
 
As intervenções farmacológicas têm uma mais rápida resposta, mas a eficácia é melhor
mantida com a terapia combinada.

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O recurso a medicamentos deve ser considerado quando a insónia é aguda e é
necessária uma redução imediata dos sintomas.
 
Os medicamentos utilizados no tratamento das insónias podem ter importantes efeitos
secundários e, por isso, a sua utilização deve ser prescrita e acompanhada por um
médico.
Por exemplo, é importante não tomar esse tipo de medicamentos juntamente com álcool
ou outros fármacos psicoativos.
 
O tratamento deve ser iniciado com a menor dose eficaz, no menor tempo possível, e
ser descontinuado gradualmente. Se houver necessidade de administrações durante um
longo período de tempo, a sua utilização deve ser intermitente, (por exemplo, três noites
por semana), ou conforme necessário.

Como se previnem as insónias?

 É útil evitar substâncias que agravam as insónias como a cafeína, o tabaco e


outros estimulantes. Os efeitos dessas substâncias duram até 8 horas.

 Alguns medicamentos para a gripe ou para as alergias podem afetar o sono.

 Uma bebida alcoólica antes de deitar facilita o início do sono, mas tende a torná-
lo mais leve, com maior probabilidade de se acordar durante a noite.

É igualmente útil adotar hábitos que facilitem o sono, como ler um livro, ouvir
música ou tomar um banho quente.

O exercício físico deve ser realizado pelo menos 5 a 6 horas antes da hora de
deitar e devem ser evitadas refeições muito pesadas.

O quarto de dormir deve ter um ambiente confortável no que se refere a
temperatura e iluminação e silêncio.

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Vale a pena tentar criar um ritmo, indo dormir e acordando às mesmas horas
todos os dias, incluindo os fins-de-semana.

PSICOSES

A psicose é um estado mental patológico de perda de conexão com a realidade que


pode levar a alucinações, alterações de personalidade, desordem de pensamento,
delírios, dificuldades sociais e problemas para manter atividades cotidianas. Não é
reconhecida como doença, mas como sintoma de transtorno mental.
O filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883 – 1969) afirmou, em sua época, que
as psicoses não causavam alterações na esfera cognitiva do paciente, porém hoje em
dia sabe-se que algumas das doenças classificadas como psicoses podem, no decorrer
do tempo, causar déficits cognitivos.

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Tipos

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) são várias as


psicoses

 esquizofrenia;
 transtorno de personalidade esquizotípica;
 transtornos psicóticos.

Esquizofrenia
Esquizofrenia, no geral, é caracterizada por alterações no pensamento, na percepção,
no comportamento e no humor.
Apesar de poder acontecer em outras idades, este tipo de psicose se manifesta pela
primeira vez com maior frequência em adolescentes e jovens adultos na faixa dos 14 e
28 anos.
Existem diversos tipos de esquizofrenia, cada um com suas características específicas.

Transtorno de personalidade esquizotípica


O transtorno esquizotípico se mostra por anomalias do pensamento e humor
semelhantes aos da esquizofrenia.
O paciente pode apresentar comportamento excêntrico, além de ideias estranhas e
paranóides, mas que não evoluem completamente para um delírio. Períodos quase
psicóticos e alucinações auditivas podem surgir.
Transtorno delirante persistente
Caracterizados única ou principalmente por delírios persistentes, mas sem outros
sintomas que possam indicar esquizofrenia ou transtornos de humor, os transtornos
delirantes não causam alucinações na maioria dos casos, mas idosos podem ter
alucinações auditivas com frequência irregular.
Desde que alucinações tipicamente esquizofrênicas não dominem o quadro, o
diagnóstico desses transtornos não é alterado.
Caso os delírios sejam de curta duração — em torno de duas semanas — o caso é
classificado como psicose aguda e transitória.

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Psicoses agudas e transitórias
Estes transtornos são caracterizados por sintomas psicóticos de curta duração e que
não reincidem. Os sintomas incluem ideias delirantes, alucinações e percepções
perturbadas, além de comportamento gravemente desorganizado. O tempo de duração
costuma ser de, no máximo, duas semanas.

Transtorno delirante induzido


O transtorno delirante induzido é dividido por duas ou mais pessoas fortemente ligadas
emocionalmente. É frequente em famílias, e apenas um das partes apresenta delírios
autênticos, sendo o outro induzido a eles.
Pais podem passar delírios aos filhos que acreditam no que eles dizem. O afastamento
das partes costuma ocasionar o abandono dos delírios por parte do induzido.

Transtornos esquizoafetivos
Este tipo de transtorno possui sintomas tanto de características esquizofrênicas quanto
de transtornos de humor, não podendo ser classificados nem como um nem como outro.
Está dentro do espectro da esquizofrenia.

Pode ser dividido em três:


 Transtorno esquizoafetivo do tipo maníaco
Quando o paciente apresenta sintomas tanto de esquizofrenia quanto de mania de
maneira predominante, esta é a classificação do transtorno. Sintomas de mania podem
incluir euforia ou irritabilidade não condizente com a situação.
Quando leve, pode passar despercebida por parecer apenas um dia animado para a
pessoa. Ela pode parecer feliz, sociável, com mais vontade de conversar, animada, com
menos sono e mais energia. Ela também pode se sentir mais irritada.

 Transtorno esquizoafetivo do tipo depressivo


Nesta condição, o paciente sofre com sintomas tanto de esquizofrenia quanto de
episódios depressivos, ambos de maneira predominante.
Sintomas de episódios depressivos são falta de energia, desânimo, perda de interesse,
falta de concentração, capacidade de experimentar prazer alterada, diminuição do
apetite e da concentração apresentados em um contexto que não condiz com estes
sentimentos.

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 Transtorno esquizoafetivo do tipo misto
Aqui, os sintomas de esquizofrenia são acompanhados tanto por episódios maníacos
quanto depressivos em igual medida.

Transtornos afetivos / psicoses

Os transtornos afetivos são aqueles que afetam o humor. É o caso do transtorno


afetivo bipolar. É importante ressaltar que transtornos de humor não são psicoses.
Existem casos em que os transtornos afetivos (como também é o caso do transtorno
depressivo) apresentam sintomas psicóticos, mas isso não quer dizer que eles passam a
ser uma psicose.

Outros transtornos
Existem outras psicoses que não entram em nenhuma das classificações anteriores. É o
caso, por exemplo, da psicose alucinatória crônica, uma condição que causa
alucinações e delírios e cujos episódios podem ser espaçados por meses. Ela não se
encaixa em nenhum tipo de esquizofrenia.

Causas das psicoses

Pode-se dizer que existem duas causas para psicoses: genética e devido ao abuso de
substâncias. Além disso, existem as chamadas psicoses secundárias, que são sintomas
psicóticos causados por outras condições e não são realmente psicoses, fazendo parte
de outro diagnóstico.

No geral, ou a pessoa possui psicose ou não. Um acidente, outras doenças ou traumas


severos não irão criar uma psicose que não existe.

Existe, na medicina e na psicologia, a discussão sobre o que causa o desencadeamento


de uma psicose latente, mas na gigantesca maioria dos casos é impossível saber. O que
se sabe é que a pessoa já era propensa a desenvolver a psicose.

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Entretanto, existe uma maneira de adquirir a psicose mesmo sem tê-la latente. O abuso
de substâncias psicoativas é capaz de causar uma psicose legítima.

Psicose devido a abuso de substâncias

Usar drogas em grandes quantidades e de maneira frequente pode causar uma psicose.
Se a pessoa já possui a condição latente, existe uma chance maior de a doença ser
desencadeada. As drogas aqui listadas não estão em ordem específica e todas, em
menor ou maior grau, apresentam riscos. As drogas que provocam este quadro são:
 Cocaína; Anfetamina; Metanfetamina; MDMA (ecstasy); Mephedrone (MCAT);
LSD; Cogumelos alucinógenos; Ketamina e o Álcool.

Psicose secundária

Quando uma doença causa sintomas psicóticos como alucinações e delírios, ela não
passa a ser considerada uma psicose. Estas doenças podem levar ao sintomas, mas
são seu próprio diagnóstico e não entram na classificação de psicose.

Grupos de risco

Estima-se que 1% das pessoas entre 14 e 28 anos de idade são consideradas de alto
risco clínico para esse transtorno e que pelo menos 20% dessas pessoas sofrerão um
episódio psicótico na vida.
Algumas pessoas estão no grupo de risco para o desenvolvimento de psicoses:
Quadro clínico

Psicoses são caracterizados pela desconexão do paciente com a realidade. Entre os


seus principais sintomas estão:

Delírios
A percepção é a maneira como uma pessoa interpreta um estímulo externo, por exemplo
quando você observa o desenho de um sol. O estímulo é o desenho. O seu cérebro
interpreta este estímulo e você é capaz identificá-lo como um sol: esta é a percepção.
Num delírio, o paciente possui uma percepção falsa sobre a realidade, necessariamente

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baseada em um estímulo externo. É um erro de julgamento. A pessoa em delírio
acredita em coisas que não são reais baseada em estímulos reais.
Por exemplo, ela pode ver alguém trazer sopa ao ver o líquido se mover, acreditar que
isso significa que ela está envenenada. Esse pensamento não é abalado apesar de
contra-argumentação e provas óbvias do contrário. Isso significa que alguém em delírio
não pode ser convencido do contrário, mesmo através de experiências que provem a
impossibilidade do delírio.
Os delírios apresentam-se como convicções firmes, que não podem ser mudadas, de
coisas impossíveis. Esta impossibilidade, entretanto, é aplicada ao caso. Certas pessoas
podem ter delírios em que acreditam que alguém envenenou seu alimento, mesmo que
a pessoa saiba que este alguém nunca chegou perto da comida. Comida envenenada é
tecnicamente possível, mas alguém que nunca esteve presente não pode adicionar o
veneno.
Importante notar que os delírios são coisas individuais, diferentes de instituições como
as religiosas, que são culturais e coletivas.

Alucinações
Alucinações são experiências que se assemelham com a percepção de um estímulo que
não está presente no momento. Elas podem envolver qualquer um dos cinco sentidos,
fazendo com que a pessoa veja ou ouça imagens ou sons que não estão sendo
emitidos.

Desorganização do pensamento
Pensamentos e discurso confusos e desorganizados.

Comportamento motor desorganizado


O paciente pode ter o comportamento alterado, podendo estar por exemplo muito
agitado ou catatônico, que é um estado de baixa reatividade ao ambiente.

Sintomas negativos
São chamados de sintomas negativos quaisquer sintomas que subtraem capacidades do
paciente. No caso das psicoses, com o tempo, pode haver reduções cognitivas e perda
da volição, ou seja, perda da capacidade de escolha e decisão.

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Alterações de humor
Oscilações de humor podem ser comuns em psicoses, causando sentimentos de
depressão ou euforia.

Alterações comportamentais
É comum que pacientes de psicoses tenham queda no rendimento escolar e
profissional, além de prejuízo no círculo social. Entre os comportamentos alterados pode
estar deixar de realizar responsabilidades que antes eram cumpridas como tarefa de
casa ou o trabalho.

Agitação e agressividade
O paciente pode se tornar agitado e agressivo.

Como é feito o diagnóstico de psicoses?

Diagnosticar uma psicose é trabalho do médico psiquiatra ou psicólogo por meio de


investigação adequada.
Nesta avaliação, devem ser abordados os sintomas das psicose através de entrevista e
relatos de comportamentos, histórico familiar, história de vida do paciente, doenças e
uso de substâncias.

Exames extras podem ser utilizados, por exemplo exames de sangue, ressonância
magnética e tomografia computadorizada. É importante notar que estes exames não são
feitos para encontrar sinais de psicose, mas para descartar condições que possam
causar uma possível psicose secundária.

Psicose tem cura?

Infelizmente, as psicoses não têm cura. Elas podem ser tratadas e entrar em remissão,
mas o risco de afetar o paciente sempre estará presente.
Os tratamentos para a condição podem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de
vida do paciente.

Qual o tratamento?

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O tratamento para psicoses envolve o uso de medicamentos antipsicóticos e terapia
psicológica, além de afastar o paciente de gatilhos conhecidos.

 Medicamentos

Tomar os medicamentos nos horários e doses recomendadas pelo médico é importante


para evitar e reduzir o número de episódios.
Ajustes na medicação podem ser necessários durante todo o tratamento, buscando uma
dosagem correta para o corpo do indivíduo e o tipo certo de medicamento.
O tratamento medicamentoso é o mais comum para psicoses.
Ele varia de pessoa para pessoa e de tipo para tipo de transtorno, então a dosagem e o
medicamento específico pode variar. Dependendo do caso, provavelmente haverá
necessidade de ajustes.
Os primeiros meses de tratamento podem ser difíceis devido a dosagens que precisam
ser adaptadas para cada paciente.
Os medicamentos mais usados em caso de psicoses são:
 Amissulprida; Aripiprazol; Benperidol; Ciamemazina; Clorpromazina; Flufenazina;
Flupentixol; Haloperidol; Levomepromazina; Melperona; Olanzapina; Pimozida;
Hemifumarato de Quetiapina; Risperidona; Sulpirida; Trifluoroperazina;
Ziprasidona; Zuclopentixol e a Carbamazepina.

Atenção!
NUNCA se automedique ou interrompa o uso de um medicamento sem antes consultar
um médico. Somente ele poderá dizer qual medicamento, dosagem e duração do
tratamento é o mais indicado para o seu caso em específico. As informações contidas
neste site têm apenas a intenção de informar, não pretendendo, de forma alguma,
substituir as orientações de um especialista ou servir como recomendação para qualquer
tipo de tratamento. Siga sempre as instruções da bula e, se os sintomas persistirem,
procure orientação médica ou farmacêutica.

 Terapia

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As psicoses são condições que podem causar grande sofrimento no paciente e é
importante que haja terapia psicológica para ajudá-lo a conviver melhor com seu
transtorno.
Em casos em que o paciente apresenta risco para si ou para outras pessoas, ele poderá
ser hospitalizado.

 Convivendo

O medo das crises, os medicamentos, os julgamentos sociais e dos familiares podem


ser pesos complicados na vida do paciente com psicoses.
É importante que, para a convivência e aumento da qualidade de vida, a pessoa
frequente o psicólogo. Os parentes próximos também podem usar de consultas
psicológicas para aprender sobre e como lidar com a condição que será presente na
vida a partir daquele momento.

Algumas recomendações são:


 Orientação familiar

Os familiares são aqueles que irão passar mais tempo com o paciente doente e isso
pode ser desgastante. A doença causa sofrimento, acima de tudo, para o paciente, mas
os familiares também passarão por desafios.
É importante que a família aceite e entenda a doença, evitem tentar culpar alguém ou
alguma coisa pelo que aconteceu e que não desconte no paciente as frustrações que ela
lhe causa.

 Terapia ocupacional

A terapia ocupacional pode ajudar o paciente a aprender como conviver com seus
arredores e com sua condição. Este tipo de terapia é capaz de aumentar drasticamente
a qualidade de vida do paciente, especialmente se houver terapia familiar junto da
ocupacional.

 Grupos de ajuda

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Grupos de ajuda podem transmitir a sensação de que a pessoa não está sozinha na
situação em que se encontra, tanto para os pacientes quanto para os familiares. Parte
considerável da população passa por situações parecidas e os grupos de ajuda podem
servir de apoio para quem se sente solitário nesta situação.

Prognóstico

Com o devido tratamento, o paciente pode ter seus sintomas controlados e entrar em
remissão. Isso não é uma garantia e nem é definitivo.
A remissão significa que os sintomas não estão mais presentes e que a condição não
está ativa no momento. Contudo, ela pode voltar e, por isso, o tratamento não deve se
descontinuado mesmo durante a remissão.
Se o primeiro episódio do psicose se deu na vida adulta, é mais fácil viver com menos
complicações, seguindo o tratamento e evitando gatilhos para as crises, já que o
paciente passou pelas adaptações sociais necessárias antes da condição o atingir.
Entretanto, seguindo o tratamento medicamentoso e frequentando o médico psiquiatra e
o psicólogo, mesmo em remissão, é possível ter uma qualidade de vida satisfatória.

Complicações
O paciente com psicose sofre com enorme perda de qualidade de vida e isso acontece
mesmo com tratamento. Sem tratar a condição, as psicoses podem levar um paciente ao
suicídio.

 Perdas sociais

Por conta dos delírios e alucinações, pessoas com psicoses podem sofrer severas
perdas sociais, tanto pelas pessoas não se sentirem confortáveis próximas a elas,
quanto pelo paciente não se sentir confortável próximo de outras pessoas.
Durante uma crise psicótica, a pessoa pode acreditar que os outros estão tramando
contra ela ou que querem seu mal. Fora de uma crise, ela pode se sentir mal e
envergonhada pelo que acontece consigo.

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 Redução cognitiva e de memória

Com o tempo, existe o risco de diminuição cognitiva do paciente com psicose. Isso não
necessariamente irá acontecer, mas é um risco real, especialmente sem tratamento.

 Perda de volição

A volição é a capacidade de fazer escolhas. Com o tempo, o paciente pode ter sua
volição reduzida, tornando o paciente dependente das escolhas de pessoas a seu redor.

Como prevenir a psicose?

Não existe como prevenir todas as causas de psicoses. Algumas são genéticas,
algumas são doenças e algumas não são conhecidas. É possível, entretanto, prevenir
comportamentos que facilitam o desencadear de psicoses.
 Evitar o uso de drogas psicoativas como a maconha, o LSD e o álcool pode
prevenir alguns tipos de psicose.

BENZODIAZEPINAS

Histórico

As benzodiazepinas (BZDs) são um grupo de fármacos ansiolíticos, produzidos por


síntese química, que têm sido utilizadas para diversos fins terapêuticos, entre os quais a
redução de ansiedade, tratamento de insónia, sedação, aumento do limiar convulsivante,
relaxamento muscular por ação central, indução de anestesia e abstinência do álcool.

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São moduladores alostéricos positivos dos recetores do tipo A do ácido gamma-
aminobutírico (GABA), neurotransmissor inibidor do SNC (Sistema Nervoso Central),
tornando os recetores GABA mais sensíveis à ativação pelo próprio GABA. O
mecanismo de ação de todas as BZDs é sensivelmente o mesmo, contudo, as
diferenças no âmbito da farmacocinética e farmacodinamia conferem características a
cada um dos fármacos, permitindo definir a escolha de um fármaco em detrimento de
outro, consoante a situação clínica.

Devido ao seu maior índice terapêutico e menor potencial para induzir tolerância e
dependência física, as BZDs vieram substituir os barbitúricos e meprobamato, tornando-
se numa das classes farmacológicas mais prescritas em todo o mundo. Também
Portugal apresenta um dos maiores níveis de utilização a nível europeu. Contudo,
pensa-se que este consumo generalizado não se verifique apenas pela sua ampla
aplicabilidade clínica.

Apesar das BZDs serem consideradas fármacos seguros e eficazes no que diz respeito
a tratamento de curto prazo, o seu uso no tratamento a longo prazo é controverso devido
ao desenvolvimento de tolerância e dependência. Assim sendo, mostra-se oportuno
apurar em que consistem os fenómenos da tolerância, da dependência (física e
psicológica), da síndrome de abstinência de BZDs, entre outros conceitos relacionados,
bem como apresentar quais os mecanismos neurobiológicos, modelos explicativos e
fatores associados que visam explicar a sua ocorrência. Diversos aspetos devem ser
tomados em conta, relativamente à decisão terapêutica e à prescrição racional por parte
do médico em relação às BZDs. Isso inclui a decisão da implementação do fármaco
perante os sintomas e patologias apresentadas, medidas de prevenção de abuso e
dependência, bem como a consciencialização de que a interrupção do fármaco deverá
ser realizada de forma progressiva e submetida a uma vigilância apertada. O uso
inapropriado desta classe farmacológica acarreta ainda um risco crescente dos doentes
se automedicarem e aumentarem a dose destas substâncias.

Neste âmbito, é importantíssima a atuação do doente do ponto de vista do tratamento do


abuso de BZDs, em que as terapias cognitivo-comportamentais assumem um papel
relevante, e o médico deverá assumir uma postura cada vez mais criteriosa perante esta

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temática, devendo sempre equacionar qual a melhor estratégia terapêutica para o
doente

No final dos anos cinquenta, Sternbach sintetizou a primeira Benzodiazepina – 1,4


Benzodiazepinas – clordiazepópsido (Librium) – comercializada em 1960. 
A partir daí, o número de compostos dessa mesma família já superou os dois mil, mas
apenas de empregam para uso terapêutico menos de quatro dezenas. 
A partir de meados dos anos 60, foram-se tornando no grupo de fármacos mais
receitados no tratamento dos estados de ansiedade e insónia. Uma vez que a sua
margem de segurança é maior e apresentam menos efeitos secundários, ocupando,
assim, o lugar dos barbitúricos. Constituem, atualmente, o grupo de fármacos mais
receitado em todo o mundo. 
São, normalmente, comprimidos ou cápsulas. Também existem em ampolas e
supositórios. Muitos são conhecidos pelo seu nome comercial, como por exemplo,
Valium, Rohypnol, Serenal, Dormicum …..
A via de administração normal é a oral

As benzodiazepinas facilitam a ação do ácido gamma-aminobutírico (GABA) sobre os


seus recetores.

A metabolização e a sua duração média variam de forma considerável de uns fármacos


para outros. Ocasionalmente dão lugar a metabolitos ativos ou a outras
benzodiazepinas, prolongando-se assim a sua ação farmacodinâmica.

As benzodiazepinas são utilizadas no tratamento da ansiedade sintomática e das


alterações do sono, sendo comum a sua prescrição. Embora bem toleradas, a sua
utilização tem vindo a ser condicionada devido ao risco de dependência e habituação
num número expressivo de utilizadores, o que dificulta a interrupção do tratamento.

Segundo o Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), o aumento contínuo da


prescrição de ansiolíticos representa um risco para a saúde pública.2
Ainda segundo o PNSM, entre 3% (ARS Algarve) e 8% (ARS Norte) dos utentes ativos
nos Cuidados de Saúde Primários em 2015, têm registo de perturbações da ansiedade.

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É aconselhado que a utilização destes medicamentos se restrinja a ansiedade e insónias
patológicas, evitando-se a sua utilização nas formas ligeiras e moderadas. A sua
utilização deve ser limitada no tempo.

Efeitos Psicoativos

1. Efeitos Imediatos
Têm uma ação ansiolítica, anticonvulsiva e provocam um estado de relaxamento
muscular e sonolência. Podem provocar desinibição, pondo o indivíduo num estado
loquaz, excitável ou inclusivamente agressivo.
Trata-se de fármacos com uma ampla margem de segurança e, até nas intoxicações
agudas, o risco de morte é reduzido.
As doses elevadas provocam náuseas, confusão, diminuição da coordenação
psicomotora.
Todos os efeitos, tal como acontece com os barbitúricos, aumentam em combinação
com o álcool, podendo provocar uma overdose. 

2. Efeitos a longo prazo e potencial de dependência 


Se tomar durante poucas semanas, a tolerância é escassa e são pequenas as
dificuldades para a deixar de consumir. 
Ao fim de vários meses, o número de pacientes que desenvolvem tolerância aumenta e
ao reduzir a dose, podem surgir sintomas de abstinência, – já um sinal de dependência.
 
A interrupção brusca pode ser perigosa, mas o seu abandono não se torna problemático,
se for retirada com controlo médico e gradualmente.
 
Os sinais que prefiguram uma Síndrome de Abstinência serão enumerados a seguir,
tendo em conta que a manifestação varia se:  
 Forem benzodiazepinas de ação curta, os sintomas podem aparecer poucas
horas depois de serem suprimidas;
 Forem benzodiazepinas de ação prolongada, os sintomas podem aparecer
semanas depois de cessar a sua administração:
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 Aumento da ansiedade;
 Insónia;
 Irritabilidade;
 Náuseas;
 Dor de cabeça e tensão muscular;
 Tremores e palpitações;
 Disforia. 

Nos casos graves:


 convulsões, quadro confusional, despersonalização, diminuição do limiar de
perceção dos estímulos sensoriais, psicose entre outros.

Utilização das benzodiazepinas em Portugal Continental

As Benzodiazepinas são fármacos com um bom perfil de segurança e efetivos nas


indicações para os quais estão aprovados, quando administrados por curtos períodos de
tempo. O seu uso durante longos períodos tem sido desaconselhado, devido ao risco de
conduzir a habituação, tolerância e dependência que se traduz em síndromes de
privação
aquando da interrupção do tratamento4. O uso crónico destes fármacos, para além dos
riscos de dependência, tem efeitos ao nível das capacidades psicomotoras, estando
demonstrado que aumenta o risco de fraturas e acidentes de viação.

Apesar das recomendações no sentido de uma utilização de apenas duas a quatro


semanas no tratamento da ansiedade e insónias, verificou-se que a utilização por longos
períodos de tempo é mais comum do que o desejável especialmente nos mais idosos. A
utilização de benzodiazepinas tem sido associada não só às faixas etárias mais
elevadas,
mas também ao sexo feminino, aos níveis elevados de desemprego e aos indivíduos em
situação de reforma. Outros fatores passíveis de influenciar uma utilização prolongada
destes fármacos são o desconhecimento da relação risco/benefício deste tipo de
tratamento, a medicalização do sofrimento humano e dos problemas sociais, assim
como um serviço de saúde incapaz de dar resposta às diferentes solicitações.

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Não obstante as recomendações para uma utilização restrita destes fármacos, Portugal
apresenta dos maiores níveis de utilização de benzodiazepinas ao nível europeu. Este
facto veio realçado no relatório do International Narcotics Control Board, que aconselha
Portugal a analisar a prática atual no que concerne à prescrição e utilização de
benzodiazepinas.

BIBLIOGRAFIA
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Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
 Evidência científica sobre custo-efetividade de intervenções psicológicas em
cuidados de saúde, Ordem dos Psicólogos Portugueses, outubro 2011

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 Apóstolo, J. L. Alves e col., Depressão, ansiedade e estresse em usuários de
cuidados primários de saúde, Rev. Latino-América Enfermagem, 19(2), março-abril
2011: 1-6,
 American Psychological Association, 2013
 Anxiety.org, 2013
 Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Maníaco-Depressivos (ADEB),
2013
 Gonçalves, B e col., Prevalência e diagnóstico da depressão em medicina geral e
familiar, Revista Portuguesa Clínica Geral 2004;20:13-27
 American Psychological Association, 2013
 The National Institute of Mental Health, julho, 2012
 G.E. Simon, Long-term prognosis of depression in primary care, Bulletin of the
World Health Organization, 2000, 78 (4), 439-445
 Eleonora Paixão e col., uma observação sobre a prevalência de perturbações do
sono, em Portugal Continental, Observatório Nacional de Saúde, janeiro 2006
 Luís Filipe Cavadas e col., Abordagem Da Insónia Secundária Do Adulto Nos
Cuidados de Saúde Primários, Acta Med Port 2011; 24: 135-144
 National Institutes of Health Department of Health and Human Services,
dezembro de 2011
 Sleep Health Foundation, 2011
 University of Maryland Medical Center, janeiro de 2012
 Neuropsychiatric disorders and renal diseases: an update — Jornal Brasileiro De
Nefrologia, 36(3)

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