A Abolição e Seus Reflexos - Jonas Resende
A Abolição e Seus Reflexos - Jonas Resende
A Abolição e Seus Reflexos - Jonas Resende
É curioso notar que nesse mesmo ano entraram nada menos que 133
mil imigrantes no país. Por motivos plenamente entendíveis,
grande parte dos escravos das áreas rurais abandonaram as
fazendas onde moravam. Afinal, elas lembravam algo que eles
queriam apagar das suas vidas para sempre. Queriam sentir-se o
mais longe possível da senzala e do tronco. Sem terras e sem
dinheiro, os ex-escravos procuraram sobreviver nas cidades. Sem
emprego, sem instrução, foram se amontoar nas favelas e viver da
caridade pública, de biscates ou da criminalidade. A sociedade
brasileira, que por mais de três séculos viveu da exploração do
trabalho escravo, agora virava as costas para ele. A
marginalização dos ex-escravos contribuiu para aumentar o
preconceito racial. Durante todo o tempo da escravidão, os
escravos eram vistos e tratados como inferiores. Por serem
livres, explorar e oprimir os negros, os brancos tinham tudo
para se considerar superiores. Quando a abolição decretou a
igualdade jurídica entre negros e brancos, nada foi feito para
construir essa igualdade social. Nenhuma oportunidade foi dada
aos negros para demonstrarem o seu valor. Dessa forma, a
marginalização que a sociedade lhe impôs após a abolição só
serviu para consolidar na consciência dos brancos a idéia de que
os negros eram mesmo inferiores. Infelizmente o preconceito
racial tem sobrevivido até os nossos dias. Por isso muitos
afirmam que a abolição ainda está para ser feita.