6 - Metabolismo de Carboidratos I - Glicólise e Gliconeogênese

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

METABOLISMO DE CARBOIDRATOS I – glicose por ele.

Havendo glicose no sangue, há


GLICÓLISE E GLICONEOGÊNESE entrada de glicose nas células. É um
transportador bastante eficiente.
Ambas as vias, a glicólise e a gliconeogênese, O GLUT4 tem sua presença na membrana
envolvem o metabolismo da glicose. dependendo da sinalização da insulina.
Indivíduo com DM1 produz menos insulina, tem
Glicólise menos transportadores GLUT4 nas células. Isso
Glicólise significa quebra do açúcar, é uma via leva a menos glicose intracelular e alta glicose
catabólica, com conversão de glicose em no sangue.
moléculas mais simples. A glicólise completa é
a oxidação da glicose até CO2 e água,
altamente exoergônico, liberando energia livre
de Gibbs.
A ΔGo’ da glicólise completa é de -2.840 kJ/mol.
Essa energia pode ser utilizada para a síntese
de ATP.

A oxidação completa da glicose envolve a


glicólise, o ciclo de Krebs e a cadeia Destinos da glicose
respiratória. Uma vez dentro da célula, a glicose pode ter
Aqui, estudaremos a conversão de glicose até vários destinos.
ácido pirúvico. Processo exoergônico, que Pode ser armazenada como glicogênio, um
permite a síntese de ATP a partir da polissacarídeo de reserva animal. Em
fosforilação de ADP. Também há redução de momentos de necessidade, é quebrado
NAD+, que recebe elétrons ficando como liberando resíduos glicosil, energéticos.
NADH. Pode ser utilizada na biossíntese de
polissacarídeos, extracelulares.
Pode sofrer via metabólica secundária, a via
das pentoses fosfato, sendo convertida em
ribose-5-fosfato, importante para a estrutura
de ácidos nucleicos. Nucleotídeos são
formados por uma base, uma ribose e um
fosfato.
A entrada da glicose nas células
A glicólise é importante para muitos tipos
celulares, altamente conservada. A glicose
presente nas células pode provir da quebra do
glicogênio, da gliconeogênese e da dieta.
Carboidratos ingeridos podem ser digeridos e
contribuir com glicose. A maior parte desses
carboidratos vira glicose. Pelo sangue, a glicose
é distribuída pelos tecidos.
A entrada da glicose na célula depende do tipo
celular. Há vários tipos de transportadores de
glicose, os GLUT, glucose transporters. As
diferentes isoformas estão em quantidades
diferentes conforme o tipo celular.
A conversão da glicose em piruvato ocorre por
GLUT2 permite a entrada de glicose na célula,
oxidação, em 10 reações sequenciais. Chamado
tem baixa afinidade pela glicose, ou seja, se
de glicólise anaeróbica. O piruvato tem outros
satura dificilmente, permitindo a passagem da
destinos metabólicos, incluindo a oxidação
completa.

Reações da glicólise
Glicólise dividida didaticamente em duas fases,
a fase preparatória e a fase de pagamento,
ambas com 5 reações. A fase preparatória
envolve reações que utilizam ATP, há
investimento de moléculas de ATP, com gasto Na segunda reação, há isomerização pela fosfo-
mas não geração de ATP. hexose-isomerase, em frutose-6-fosfato.
Na segunda fase, a fase de pagamento, o saldo
pela formação de moléculas de ATP é maior
que o gasto na fase preparatória. O saldo total
da oxidação da molécula de glicose até piruvato
é de 2 ATP.

Na fase preparatória são gastas 2 ATP, nas


reações 1 e 3. Na fase de pagamento são
geradas 4 ATP. Saldo positivo de 2 moléculas de
ATP. Na terceira reação, enzima fosfofrutocinase-1,
PFK1, faz uma nova fosforilação utilizando ATP,
Na fase preparatória, molécula de glicose com introduzindo grupo fosfato no carbono 1,
6C é convertida em duas moléculas de formando a frutose-1,6-bifosfato. Portanto, há
gliceraldeído-3-fosfato, cada uma com 3C. gasto de mais uma ATP.

A quarta reação envolve a clivagem aldólica,


pela enzima aldolase, dando origem a duas
trioses, cada uma com um grupo fosfato. Essas
duas moléculas são isômeros, um aldeído, o
Na primeira reação, glicose é fosforilada na gliceraldeído-3-fosfato, e uma cetona, a di-
hidroxila do carbono 6, catalisada pela hidroxiacetona fosfato.
hexocinase. Transfere um fosfato da ATP para a
glicose, formando glicose-6-fosfato. A hexose
usa magnésio como cofator.
que é derivada da própria oxidação do aldeído,
e permite a redução de NAD+ a NADH. É feito
pela gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase,
que faz a transferência de elétrons ao
nucleotídeo NAD+.

Na quinta reação, a triosefosfato-isomerase,


faz a conversão da cetona em seu isômero
aldeído. É uma reação de isomerização. Por
isso, a primeira fase da glicólise converte 1
molécula de glicose em duas moléculas de Na sétima reação, ocorre a primeira formação
gliceraldeído-3-fosfato. de ATP. O fosfato do 1,3-bifosfoglicerato é
transferido ao ADP, gerando ATP e 3-
fosfoglicerato. Ocorre pela enzima
fosfoglicerato-cinase.

Na fase de pagamento, há duas moléculas de


gliceraldeído-3-fosfato. Portanto, das reações 6
a 10, elas ocorrem em dobro. Há como produto
final, portanto, duas moléculas de piruvato.
Por questão estequiométrica, essas reações
têm (2) em sua frente.

Na oitava reação, há isomerização pela enzima


fosfoglicerato-mutase, formando o 2-
fosfoglicerato. O fosfato passa para o carbono
2 do glicerato.
Na sexta reação, gliceraldeído-3-fosfato recebe
grupamento fosfato, não derivado do ATP, mas
de fosfato inorgânico, convertido em 1,3-
bifosfoglicerato. Essa inserção requer energia,
Para muitas enzimas da glicólise e,
consequentemente, da gliconeogênese, o
magnésio é cofator enzimático.
O NADH formado tem potencial energético
importante.

Rendimento energético
Uma molécula de glicose com 6 átomos de
Na nona reação, a molécula é desidratada, carbono é fosforilada duas vezes na fase
liberando água, pela enzima enolase, formando preparatória. A fase de pagamento pode
fosfoenolpiruvato (PEP), o penúltimo ocorrer em dobro, com formação de duas
composto da glicólise, que pode fosforilar ADP moléculas de piruvato, por meio de reações
em ATP. que produzem ATP, as reações 7 e 10, e
nucleotídeo reduzido, NADH.
São produzidos 4 ATPs na fase de pagamento,
com gasto de 2 ATP na fase preparatória,
portanto há saldo de 2 ATP.

Na última reação, o fosfoenolpiruvato transfere


seu grupamento fosfato ao ADP, formando
ATP, e forma o piruvato. Enzima piruvato-
cinase.

Existem duas reações onde compostos com


grupo fosfato, fosfoésteres, armazenam grande
quantidade de energia livre. Pela transferência
do grupo fosfato, por enzimas cinases, fosforila
ADP em ATP. Ocorre na reação 7 e na reação Piruvato
10. O piruvato pode ter diferentes destinos.
Em geral, transforma duas moléculas de
gliceraldeído-3-fosfato em dois piruvato.
Na célula, isso é importante para regenerar
nucleotídeo oxidado, reduzindo os níveis de
nucleotídeo reduzido, permitindo o seguimento
da glicólise. A enzima gliceraldeído-3-fosfato-
desidrogenase utiliza NAD+, que, se não
regenerado, dificulta essa etapa.

Alguns pontos de regulação da glicólise


Existem moléculas que aumentam e que
Leveduras podem fermentar o piruvato em diminuem a velocidade dessa via.
etanol. A hexocinase pode ser inibida alostericamente
Em condições aeróbias, o piruvato pode sofrer por seu produto G6P. Isso ocorre nas isoformas
oxidação completa, até CO2 e água, em I e II da hexocinase. Na isoforma IV, presente
reações do ciclo de Krebs e da cadeia no fígado, essa inibição não ocorre.
respiratória. Esses dois processos A PFK-1, fosfofrutocinase-1, é inibida
compreendem a respiração celular, muito alostericamente por ATP. Além do ATP ser
importante para a geração de ATP. Essa substrato da enzima, é também seu inibidor
oxidação pode gerar mais de 30 moléculas de alostérico. Essa enzima é ativada por ADP e
ATP. AMP.
Em condições anaeróbias, em células sem A piruvato cinase é inibida alostericamente por
oxigênio – hipóxia – ou que não têm ATP.
mitocôndrias (hemácias), o piruvato pode ser Além dessas, existem outras formas de
convertido em lactato. Todas as reações da regulação da glicólise.
respiração celular necessitam de mitocôndria e
oxigênio. Gliconeogênese
Significa a síntese de um novo açúcar. É a
Formação de lactato formação de glicose a partir de componentes
Piruvato é reduzido em lactato, precisa receber não carboidratos. A glicose pode ser gerada no
elétrons do NADH. Reação catalisada pela organismo a partir do glicogênio, um
lactato-desidrogenase. Transferência de carboidrato, o que não é gliconeogênese.
elétrons do NADH para o piruvato, formando É importante quando o organismo carece da
lactato e regenerando NAD+, oxidado. ingestão de carboidratos e de estoques de
glicogênio. O organismo precisa gerar glicose
nessas situações porque existem células que
utilizam basicamente glicose como fonte de
energia. Por exemplo, as hemácias e o sistema
nervoso central, sendo necessário glicose
circulante no sangue.
Ocorre em grande proporção no fígado, em
células renais e em algumas células no podem ser utilizados para sintetizar glicose.
intestino. É importante para manter a glicemia
– o nível de açúcar no sangue – e evitar que o Na glicólise, das 10 reações, 3 são reações
organismo entre em hipoglicemia. irreversíveis: as reações 1, 3 e 10. São
O glicogênio hepático é escasso, após noite de irreversíveis por questões termodinâmicas, têm
sono ou no máximo 24h de jejum, ele é variação de energia livre padrão muito
depletado. Assim, a gliconeogênese precisa ser negativa, são muito exoergônicas. Assim, a
ativada. reação inversa é muito endodergônica e
desfavorável.
É a formação de glicose a partir de duas
moléculas de piruvato. Porém, a
gliconeogênese não é o inverso da glicólise.

Síntese de carboidratos a partir de precursores


simples
Lactato, alguns aminoácidos, os glicogênicos, e
o glicerol, proveniente dos triacilgliceróis,
podem ser convertidos até glicose-6-fosfato,
que pode ser convertida em glicose e
glicogênio. Isso ocorre não em todas as células
Assim, existem desvios metabólicos,
do corpo, mas em alguns tecidos.
alternativas da célula para realizar essas
A transformação de glicose em piruvato e de
reações inversas.
piruvato em glicose não ocorre
simultaneamente nas células. Isso
caracterizaria um ciclo fútil. Assim, o piruvato
não é derivado da glicose, mas de outras
fontes, para gerar glicose.

Desvios metabólicos
O primeiro desvio metabólico, a conversão de
piruvato em fosfoenolpiruvato, não ocorre em
uma única etapa. São necessárias duas
enzimas, a piruvato-carboxilase, que carboxila
o piruvato com derivado do bicarbonato,
formando oxalacetato. O oxalacetato tem 4
átomos de carbono, é descarboxilado, pela
PEP-carboxicinase, formando
fosfoenolpiruvato. Essas reações demandam
nucleotídeos trifosforilados, a primeira utiliza
Quando há falta de carboidratos, aminoácidos
ATP e a segunda utiliza GTP.
glicogênicos, provenientes de proteínas,
transportadores ao sangue, mantendo a
glicemia.

Das 10 reações da gliconeogênese, 7 são as


mesmas da glicólise. Porém, 3 desvios
metabólicos são necessários para sobrepujar a
barreira termodinâmica.
Glucagon é hormônio pancreático, produzido e
secretado pelas células alfa do pâncreas, em
jejum. Ele ativa a gliconeogênese, para evitar a
hipoglicemia.

Fontes de carbono para a gliconeogênese


Além do piruvato, há outras fontes de carbono.
O lactato é precursor do piruvato. É originado
de músculos em contração intensa e de células
que degradam glicose anaerobicamente, como
as hemácias. É convertido em piruvato pela
lactato-desidrogenase.
O glicerol, presente nos TAG, tem pequena
importância. É um álcool de 3 carbonos, que
pode ser transformado em intermediários, o
Ou seja, esse primeiro passo é energeticamente gliceraldeído-3-fosfato.
custoso para a célula. As moléculas que mais contribuem na
O segundo desvio metabólico é a conversão de gliconeogênese são os aminoácidos. Os
frutose-1,6-bifosfato em frutose-6-fosfato, que aminoácidos glicogênicos, que não são todos os
deveria gerar ATP, mas não gera, pois a enzima 20. Perdem seu grupamento amino, o
é a frutose-1,6-bifosfatase. Essa enzima é uma esqueleto carbono que sobra, chamado alfa-
fosfatase, não um cinase, por isso gera apenas cetoácido, vai originar outras moléculas.
Pi. Essa reação é indiretamente ativada por
glucagon (#).

Aminoácidos precursores de piruvato podem


gerar glicose. Há aminoácidos também que são
precursores de outras moléculas, também
capazes de gerar glicose pela gliconeogênese,
O terceiro desvio metabólico é a conversão de
formando intermediários do ciclo de Krebs. No
glicose-6-fosfato em glicose, pela glicose-6-
CK, há formação de oxalacetato, precursor da
fosfatase, liberado Pi. O glicose pode ser
glicose.
transportada do meio intra ao extracelular por
Felipe Piccoli Rostirolla

Você também pode gostar