Como Ler Um Texto
Como Ler Um Texto
Como Ler Um Texto
OBJETIVOS
Al final de esta clase el alumno deberá ser capaz de:
Entender que a leitura de textos acadêmicos é guiada por um propósito.
Fazer uso das estratégias de leitura.
Definir os tipos de leitura a serem realizados nos diferentes momentos da leitura dos
textos acadêmicos.
Estabelecer a diferença entre compreender e interpretar.
Compreender os textos lidos, a partir dos objetivos traçados para a leitura.
Interpretar textos acadêmicos e científicos seguindo as estratégias necessárias para tal
finalidade.
PREREQUISITOS
Considerar o texto como um processo.
INTRODUCCIÓN
Caro/a aluno/a,
Vamos à aula?!
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
da leitura, ampliamos nosso conhecimento como também aprendemos
formas de organização dos textos e dos eventos comunicativos de que
participamos. Isso não se trata de imitação, mas de um trabalho que nos
possibilita desenvolver parâmetros para a avaliação de nossos próprios
textos, conforme Vieira e Faraco (2019). Na universidade, estamos em
formação profissional, por isso, lemos para sistematizar a aprendizagem
e para escrever, principalmente. Trata-se da leitura para aprender, para
escrever. Por essa razão, a leitura é feita a partir de propósitos, de objetivos
definidos, pois é a partir dela que ampliamos nosso conhecimento.
É muito importante que você considere que a leitura do texto acadêmico
precisa ser aprendida e que “a aprendizagem no ensino superior implica
a adaptação a novas formas de saber: novas maneiras de compreender,
interpretar, e organizar o conhecimento” (LEA; STREET, 1998, p. 157).
A clareza disso vai fazer toda diferença, pois possibilita a você construir
sentido nos textos propostos para leitura. No espaço acadêmico, circulam
diversos gêneros, mas a centralidade está no artigo científico, no resumo
e na resenha. Nesta aula, vamos nos deter na leitura do artigo científico,
considerando a abrangência que esse gênero nos possibilita; a partir dele,
todas as demais produções científicas serão possíveis de compreensão.
Nessa relação, há de se considerar também a área de publicação do artigo
em função das especificidades decorrentes dos propósitos e a organização
do conhecimento promovido por elas. No entanto, as diretrizes de
leitura apresentadas nesta aula poderão ser adaptadas às diversas áreas
do conhecimento científico. Agora que já temos a noção do que é ler na
universidade, vamos às estratégias?
ESTRATÉGIAS DE LEITURA
Chamamos estratégias de leitura as “operações regulares para abordar
o texto” (KLEIMAN, 2000, p. 49). Essas estratégias são cognitivas ou
metacognitivas. As cognitivas acionam inconscientemente, durante a
leitura, os conhecimentos que temos. Já as metacognitivas mobilizam os
conhecimentos de modo consciente. Por esse caráter de consciência, as
estratégias metacognitivas têm dois propósitos: 1) de autoavaliar a leitura e
2) determinar um objetivo para a leitura. Ainda conforme Kleiman (2000, p.
49), o uso dessas estratégias faz com que você, como leitor, tenha controle
consciente sobre essas duas operações – autoavaliar e determinar objetivos
– e, por conta disso, saberá dizer quando não está entendendo um texto e
para que esse texto está sendo lido. Nas palavras de Leffa (1996, p. 46), a
metacognição envolve:
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Letramento Acadêmico
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
Já vimos como as estratégias de leitura funcionam para monitoramento
e compreensão. Agora, vamos ver que, para a leitura de um texto teórico,
por exemplo, fazemos dois movimentos: buscar a ideia geral e buscar a
ideia específica do texto. Vamos ver como funciona?
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Letramento Acadêmico
FASES DA LEITURA
ATIVIDADE
Caro/a aluno/a, para reforçar a aprendizagem do conteúdo apresentado
até aqui, realize a atividade “Explorando a superfície do texto”, disponível
no AVA/Moodle.
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
Depois de ter obtido uma visão geral do texto, é o momento da
identificação dos objetivos propostos e do ponto de vista sustentado pelo
autor. Para identificá-los, você deve ir, no caso dos artigos científicos, ao
resumo (que você estudará detalhadamente na aula 08) e às considerações
finais, porque nesse espaço se faz uma retomada dos objetivos; no caso dos
capítulos de livro, à introdução. São nessas seções que os objetivos são postos.
O resumo funciona “como uma fonte de informação precisa e completa,
[que ajuda] os pesquisadores a ter acesso rápido e eficiente ao crescente
volume de publicações científicas” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010,
p. 152). Para identificar essas informações, que geralmente aparecem no
início dessas partes do texto, é preciso uma leitura mais cuidadosa, buscando
pontualmente cada uma delas.
Identificados os objetivos e o ponto de vista defendido, é o momento
da leitura geral do texto. Mas, antes de fazer isso, você observou que até
agora o que se fez foi buscar a ideia geral do texto a partir do título, das
partes que o compõem e, em seguida, a identificação do objetivo e do ponto
de vista do autor? Se isso ficou claro, então estamos prontos para a leitura
geral do texto. Vamos a ela!
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Letramento Acadêmico
ATIVIDADE
Caro/a aluno/a, para reforçar a aprendizagem do conteúdo apresentado
até aqui, realize a atividade “Compreendendo um texto acadêmico”,
disponível no AVA/Moodle.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
foram encontrados na pesquisa? Como foram encontrados? O método
utilizado foi apropriado? Os dados foram interpretados adequadamente?
Você é capaz de sintetizar o artigo lido?
Nem sempre essa fase é tranquila, principalmente para quem está
iniciando, mas é muito importante e possível. É só uma questão de tempo,
você vai ver!
Para que você tenha condições de relacionar as ideias do texto, de
chegar a conclusões a partir de pistas dadas por ele e não, necessariamente,
a partir do que está na superfície do texto, vamos estudar: conhecimento de
mundo, inferência, pressuposto, pressuposição e intertextualidade, aspectos
fundamentais para a interpretação. Pronto(a) para isso?
Conhecimento de mundo
Para que o que lemos faça sentido, acionamos todo o conhecimento que
construímos ao longo de nossas vidas, mesmo, quase sempre, sem termos
consciência disso, “ativamos uma rede de conhecimentos prévios para
produzir uma compreensão global e coerente do texto que estamos lendo”
(VIEIRA; FARACO, 2019, p. 43). Assim, todo e qualquer conhecimento se
faz necessário nesse momento, toda a carga de experiência que se tem, desde
as experiências mais simples, é importante. Essa construção é um processo
natural, intuitivo, mas que pode ser potencializado de várias formas, como
pela busca do conhecimento formal que é sistematizado e exige, por conta
disso, posicionamentos diferentes do utilizado em uma conversa informal
com os amigos em uma lanchonete, por exemplo. Então, quanto maior o
conhecimento que se tem, maiores as possibilidades de se construir sentido,
porque, para esse propósito, mobilizamos todo o nosso repertório, que é
único e intransferível.
É importante que saibamos que não há conhecimento superior, há
diferentes conhecimentos e alguns mais valorizados socialmente, mas isso
é só uma convenção. Então, como você pode perceber, o conhecimento
de mundo é uma condição para interpretação textual por conta das
possibilidades de relação e de conexão com todo seu repertório.
No mundo acadêmico, também é muito importante que busquemos
informações, porque isso pode reduzir as nossas incertezas e nos
aproximar da “verdade”. No entanto, considere que informação não
significa conhecimento, este é qualitativo e construído individualmente e
internalizado por nós com base em seleções e conexões diversas, enquanto
aquela é apenas quantitativa. No entanto, é verdade que quanto mais
informação você tiver, maior é sua base para construir conhecimento.
Na Academia, toda produção é fruto de conhecimento, e, por essa
razão, não é um fator de inspiração, mas de dedicação e investimento de
tempo. Então, quanto mais leitura, maior a possibilidade de conhecimento,
de pensar o mundo e de agir sobre ele.
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Letramento Acadêmico
Intertextualidade
Inferências
Você já deve ter ouvido dizer que, para interpretar, é preciso ler nas
entrelinhas do texto, não é mesmo? Pois bem, esse ler nas entrelinhas diz
respeito à inferência. Mas o que é inferir? Podemos dizer, grosso modo, que
se trata de construir um sentido novo a partir de sentidos já conhecidos, é
relacionar as informações explícitas no texto com informações implícitas.
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
Mas isso não é feito de modo aleatório, é feito a partir de pistas linguísticas
do texto, do contexto e de conhecimentos outros que você tem a respeito
do assunto, da situação etc. Vamos analisar o exemplo a seguir para que
essa concepção fique clara para você:
Para que esse texto faça sentido, precisamos considerar alguns aspectos:
o primeiro deles é que se trata de um aviso, mas que precisa estar situado
num contexto específico de circulação, pois ele não pode, por exemplo,
estar na porta de um restaurante, porque consta no texto a informação
explícita de que se trata de um veículo – mesmo que um veículo funcione
como restaurante, não é a função imediata que pensamos para um veículo.
Depois de situar o aviso, temos a informação da existência de um “cofre
boca de lobo”. Podemos pressupor que “boca de lobo” seja o modelo
do cofre, uma vez que essa construção veio imediatamente ligada à cofre
e por sabermos, a partir de nosso conhecimento de mundo, que não se
trata especificamente da boca do animal. Em seguida, temos mais uma
informação, a de que o cofre tem uma chave e que essa não está com o
motorista, no caso, o do veículo onde o aviso se encontra. Considerando
todos os elementos presentes no aviso, podemos inferir que, apesar da
leitura ter sido possível, não se trata de um texto direcionado a qualquer
um que conseguisse decodificá-lo, mas a leitores muito específicos, pois a
quem interessaria saber de: um cofre em um veículo; da chave desse cofre
que o permitisse abri-lo; de que essa mesma chave existe, mas que não está
com o motorista que conduz o veículo? A partir das pistas do texto e de
nosso conhecimento, podemos chegar à conclusão de que se trata de um
aviso a possíveis interessados em assaltar um carro forte (que outro carro
que conhecemos é equipado com um cofre?) e que, mesmo que o assalto
viesse a acontecer, ainda assim seria inútil, porque não haveria como abrir
o cofre, porque a chave não estaria com o motorista.
Podemos até inferir que, talvez, um aviso como esse tenha sido pensado
em função do número elevado de assaltos a carros fortes, mas essa é
uma outra questão que pode ser tratada a partir de outras informações e
propósitos. Nesse momento, é importante que você perceba as relações
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Letramento Acadêmico
Pressupostos
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
conjunções concessivas e temporais na maioria de seus empregos)
e um bom número de verbos que regem subordinadas substantivas
(esquecer que, adivinhar que, saber que, conseguir que, etc.), mas
ainda verdadeiras construções gramaticais: uma dessas construções
é a chamada “construção de realce”: é que.
Subentendidos
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Letramento Acadêmico
tenha sido um registro de protesto por, talvez, até aquele momento, nada
ter sido servido a ela, não pode?
Mas, nesse caso, não vamos trabalhar com essas duas hipóteses, porque
precisamos considerar as situações culturais e contextuais que temos:
1) culturalmente, no Brasil, quando estamos com sede, o líquido que
costumamos ingerir é água. É possível que algumas pessoas tomem outra
bebida, mas estamos falando da ideia que cria base para a situação, então água
é o esperado; 2) por uma questão de convenção social, não evidenciamos
a indelicadeza do anfitrião, então não poderia ser um protesto, não é isso?
Essas duas possibilidades não são descartadas, mas, para que possam ser
pensadas como subentendido para essa situação, é preciso que tenhamos
pistas do seu contexto. Observe que só temos a informação do que a visita
disse, mesmo que, nesse momento, você a tenha recebido e você saiba de
quem se trata, por exemplo.
A questão que se apresenta, a partir dessas possibilidades de
interpretação, é a de que o subentendido é sempre uma informação de
responsabilidade do leitor (no caso do exemplo analisado aqui, do ouvinte).
A visita pode se proteger na estrutura linguística e dizer apenas que estava
constatando um fato: que estava com sede. Por essa razão, ao fazer uso
de pressuposição, é imprescindível que você busque sempre os propósitos
do texto, as observações, as conclusões com base em argumentos sólidos
para fazer afirmações.
Para fechar essa segunda parte de nossa aula, precisamos considerar
que a interpretação se constrói a partir da relação de nossas experiências
com o que o texto apresenta. Para Bazerman (2006, p. 45), “os leitores
ativamente constroem significados na interseção das palavras de um texto
com suas experiências, conhecimentos e metas anteriores, organizados no
esquema do leitor. É através de nosso esquema que fazemos sentido do
que lemos”. É importante que você pense nisso a partir de agora e ponha
em prática o que vimos até então!!
CONCLUSÃO
A leitura de texto acadêmico é uma atividade complexa que precisa
ser aprendida juntamente com a compreensão do fazer científico. Só a
partir dessa clareza você poderá lançar um olhar com propósito para
as atividades corriqueiras a serem desenvolvidas nesse universo, desde
o início do curso. É importante explicitar que se trata de um percurso
desafiador, mas perfeitamente possível. E assegurar a qualidade na leitura
é um passo definidor em sua trajetória acadêmica. Então, é importante
considerar que se trata de um processo; é importante ter clareza de que será
necessário e possível voltar todas as vezes que a dificuldade se apresentar.
É importante também estabelecer uma rotina de dedicação e trabalho, pois,
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
na universidade, é o trabalho que permeia as ações, e não a inspiração, então
ler – compreender e interpretar – é uma ação fundamental para construir
conhecimento necessário às práticas a serem desenvolvidas.
RESUMO
ATIVIDADE FINAL
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Letramento Acadêmico
AUTOAVALIAÇÃO
Ao término desta aula, consegui entender que a leitura de textos
acadêmicos é guiada por propósitos definidos? Consigo fazer uso das
estratégias para monitorar as minhas leituras por meio de perguntas ao
texto antes, durante e depois da leitura? Consigo definir como deve ser o
contato com o texto acadêmico e, em seguida, como deve ser efetivada a
leitura desse texto? Consigo compreender textos acadêmicos, identificando
as ideias expostas e como são apresentadas? Consigo estabelecer relações
nos textos acadêmicos lidos em um processo de interpretação?
Se, em algum momento de sua autoavaliação, você não conseguir
responder a alguma das questões propostas, volte à aula e releia o conteúdo
específico relacionado a sua dúvida. Não hesite em saná-la!
PRÓXIMA AULA
REFERÊNCIAS
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Textos Acadêmicos: como ler e interpretar? Aula 3
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do
trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto
e relatório, publicações e trabalhos científicos. São Paulo: Atlas, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos,
resumos, resenhas. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
MOTTA-ROTH, Désirée; HENDGES, Graciela Rabuske. Produção
textual na universidade. São Paulo: Parábola, 2010.
ZAMPONI, Graziela. Estratégias de construção de referência no gênero
de popularização da ciência. In: KOCH, Ingedore; MORATO, Edwiges;
BENTES, Anna Christina. Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto,
2005.
VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Escrever na
universidade: fundamentos. São Paulo: Parábola, 2019.
GLOSSÁRIO
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