Resumo e Resenha Acadêmica

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A

RESUMO E RESENHA ACADÊMICAS


METAS
Apresentar o conceito, a função e as características dos gêneros acadêmicos resumo e
resenha.
Ampliar o conhecimento sobre os procedimentos de sumarização.
Desenvolver a capacidade de identificar e produzir avaliações críticas.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Ser capaz de ler e produzir resumos e resenhas acadêmicas.
Reconhecer as diferentes funções dos resumos no ambiente acadêmico.
Aplicar os procedimentos de sumarização em resumos e resenhas.
Diferenciar resumo e resenha.
Identificar e saber inserir comentários avaliativos em resenhas.

PRÉ-REQUISITOS
Ter compreendido o conceito, a funcionalidade e as características dos gêneros textuais,
com atenção aos gêneros acadêmicos (aula 06).
Ser capaz de parafrasear, fichar e resumir como tarefas de leitura e de escrita (aula 07).

Renata Ferreira Costa


Letramento Acadêmico

INTRODUÇÃO

Caro/a estudante,

Nas aulas anteriores (06 e 07), discutimos o conceito e as características


dos gêneros textuais, inclusive, apresentamos os gêneros que circulam no
ambiente acadêmico, com destaque para o resumo, a resenha e o artigo
científico. Também apresentamos as ações de parafrasear, fichar e resumir
textos como tarefas essenciais de leitura e de escrita na universidade.
Nesta aula, vamos nos concentrar no estudo do resumo e da resenha,
gêneros acadêmicos bastante requisitados em muitas disciplinas, em eventos
científicos e em publicações de periódicos, que envolvem as práticas de
sumarizar conteúdos, registrar informações para a produção escrita e avaliar
textos.
Certamente, na universidade, você já deve ter lido ou escrito um resumo
ou uma resenha, não é mesmo? Em caso negativo, não se preocupe, o
objetivo desta aula é justamente contribuir para que você adquira a habilidade
para sintetizar e avaliar textos.

Vamos lá?!

RESUMO ACADÊMICO

No ambiente acadêmico, resumir é preciso, tanto como tarefa de


leitura, quanto como tarefa de escrita, para apresentar uma comunicação
ou informações selecionadas de outros textos. O resumo é, então, um texto
que apresenta as ideias ou fatos essenciais desenvolvidos em um outro texto,
expondo-os de modo abreviado e respeitando a ordem pela qual surgem.
Como tarefa leitora, fazer resumos está associado ao hábito acadêmico
de ler textos e sintetizar, organizar e registrar informações neles contidas,
para utilizá-las, posteriormente, na elaboração de uma monografia, uma
palestra, um projeto ou um artigo científico, por exemplo. Vieira e Faraco
(2019, p. 98), ao tratar de fichamentos, mas que podemos estender para os
resumos, consideram que essa prática de sumarizar os textos lidos, quando
Ver glossário no bem feita, permite-nos “elaborar a fundamentação teórica de um artigo ou
final da Aula de um projeto de pesquisa, nos poupando a releitura dos textos-fonte – a
qual, embora válida, nem sempre é possível (texto inacessível, falta de tempo)
ou mesmo essencial ao objetivo”. Nesse sentido, os resumos contribuem
para a compreensão e a retenção de conhecimentos.
O resumo também pode assumir a função de objeto de comunicação.
Quando você pretende apresentar os resultados de seu trabalho de pesquisa
em algum evento científico (simpósio, seminário, congresso ou conferência),
o envio de um resumo lhe é requisitado.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
De acordo com Motta-Roth e Hendges (2010, p. 151), esse tipo de
resumo, ou abstract, visa convencer a comissão organizadora do evento a
aceitar seu trabalho e, se isso acontece, posteriormente o texto é publicado
nos anais ou no caderno de resumos do congresso, de modo a despertar
nos outros participantes o desejo de assistir a sua apresentação.
Observe, a seguir, um exemplo de resumo enviado a um evento
científico:

TEXTUS POST MORTEM: CONSTITUIÇÃO DE UM CORPUS


DIACRÔNICO DE OBITUÁRIOS EM JORNAIS SERGIPANOS

Renata Ferreira Costa (UFS)

Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apresentar os


resultados da primeira fase do projeto intitulado “Textus post mortem”,
que se fundamenta nos marcos teórico-operatórios da Filologia, em seu
labor de investigação, coleta e edição textual para a elaboração de um
corpus diacrônico de obituários publicados em jornais produzidos em
Sergipe nos séculos XIX e XX, que dê respaldo aos estudos relativos
ao princípio da composicionalidade textual, discursiva e linguística do
gênero obituário à luz da teoria das Tradições Discursivas (fases 2 e 3
do projeto). É importante destacar que há no Brasil estudos relativos
a obituários no âmbito dos estudos socio-históricos e culturais, da
Análise do Discurso, dos gêneros textuais/discursivos e da Literatura.
Entretanto, não se reconhece, até o momento, pesquisas que deem
conta da dimensão da história textual e linguística desse gênero, o
que dá maior relevância ao projeto aqui apresentado. Ressalta-se,
deste modo, a importância do aporte filológico de edição de textos
a fundamentar os estudos diacrônicos do português, na medida em
que facilita o acesso às fontes históricas, que documentam as diversas
fases da história da língua, e fornece ao pesquisador edições rigorosas
e fidedignas. Somente com a disponibilização de uma base de dados
de textos representativos será possível empreender pesquisas que
demonstrem a historicidade textual e linguística da língua portuguesa do
Brasil. Em última instância, pretende-se resgatar, preservar e divulgar
a memória sociocultural, linguística e discursiva brasileira.
Palavras-chaves: Filologia. Jornais Sergipanos. Obituário.
XXXV Encontro Nacional da ANPOLL, GT de Crítica Textual,
Londrina, 2020.

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Letramento Acadêmico

É interessante apontar que são os organizadores do evento que


estabelecem as normas de formatação do resumo, principalmente quanto ao
tipo e tamanho da fonte e à quantidade de palavras ou caracteres permitida.
Outra forma possível desse gênero pretende selecionar e condensar
informações de um texto acadêmico mais longo do qual faz parte, como
os resumos que precedem trabalhos de conclusão de curso, dissertações,
teses e artigos.
Resumos desse tipo são textos-síntese de outros gêneros acadêmicos
(um gênero dentro de outro), devendo chamar a atenção do leitor para
ler o texto completo, geralmente fruto de uma pesquisa. Assim, segundo
Motta-Roth e Hendges (2010, p. 24), o resumo acadêmico deve conter os
seguintes elementos:

• Justificativa: por que o estudo foi realizado?


• Perspectiva teórica: que conceito(s) é (são) centrais ao trabalho?
• Metodologia: como o estudo foi realizado?
• Resultados: que resultados foram obtidos?
• Conclusão: qual a significação desses resultados para a área?

A seguir, leia o resumo de um artigo científico e observe como esses


elementos aparecem dispostos:

Elementos de um resumo acadêmico


Fonte: http://projetopaulharris2014.blogspot.com.br/2012/10/resumo-para-trabalho-escolar.html. Acesso em:
16 abr. 2014.

As possibilidades de uso dos resumos de textos são diversas, tanto no


ambiente acadêmico, como foi possível observar, quanto em outras esferas
sociais. De qualquer forma, todo resumo sempre é uma reescrita, um
produto da reconstrução do significado do texto-fonte, uma vez que o leitor
de um dado texto busca reproduzi-lo de maneira condensada, ajustando-se
ao seu conteúdo, sem incluir comentários ou opiniões.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
Essa reelaboração de um outro texto “envolve tanto o processo de
compreensão leitora (a capacidade do leitor de construir o significado do
texto fonte) como o de produção escrita: a leitura do texto-fonte” (KLEIN,
2007, p. 79, tradução nossa), considerando, então, uma dupla tarefa: a de
leitura e a de escrita.

PROCEDIMENTOS DE SUMARIZAÇÃO NA
PRODUÇÃO DO RESUMO

Resumir significa reconhecer as ideias fundamentais do texto fonte


e organizá-las, ou melhor, reorganizá-las em um texto menor, mantendo seu
sentido original, em consonância com um novo propósito comunicativo.
A produção de um resumo é, então, uma tarefa bastante complexa, que
envolve uma série de procedimentos mentais de redução da informação
semântica, conhecidos como sumarização: compreensão, reconhecimento
da macroestrutura textual, seleção e hierarquização de informações,
capacidade de síntese, reescritura, fidedignidade, objetividade etc.
A sumarização permite condensar o conteúdo do texto fonte e
organizá-lo e reduzi-lo ao que é mais relevante para o conhecimento do
leitor, ou seja, àquilo que não pode ser apagado sob pena de atingir o sentido
original. Nesse processo, de acordo com Machado, Lousada e Abreu-Tardelli
(2004, p. 26, adaptado), é possível:

a) [Apagar] conteúdos facilmente inferíveis a partir de nosso


conhecimento de mundo.
b) [Apagar] sequências de expressões que indicam sinonímia ou
explicação.
c) [Apagar] justificativas de uma afirmação.
d) [Apagar] argumentos contra a posição do autor.
e) [Apagar] exemplos.
f) [Reformular] informações, utilizando termos mais genéricos. (ex.:
homem, gato, cachorro – mamíferos).

Klein (2007) denomina os procedimentos de sumarização de


“macrorregras”, as quais, para além da supressão, englobam a seleção, a
generalização e a construção ou integração de informações:

A supressão permite eliminar a informação incidental, irrelevante


ou redundante, como detalhes, exemplos, repetições, ou seja, aquela
informação que se considera desnecessária para a construção da
estrutura global do significado do texto ou macroestrutura semântica.
A seleção implica a omissão de elementos que são condições ou
consequências de outro elemento não omitido.

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Letramento Acadêmico

A generalização é o procedimento pelo qual se substitui diversos


elementos por um conceito mais abstrato ou geral (por exemplo,
no caso das enumerações, elas são integradas em uma categoria ou
conceitos que designam o conjunto).
A construção ou integração é a dedução que se realiza a partir da
informação explícita que o texto fornece. (KLEIN, 2007, p. 77,
tradução nossa)

No exemplo abaixo, apresentamos dois parágrafos do texto “As ciências


humanas”, da filósofa brasileira Marilena Chauí, e, em seguida, o resumo
desse texto elaborado por Vieira e Faraco (2019):

AS CIÊNCIAS HUMANAS
São possíveis ciências humanas?
Embora seja evidente que toda e qualquer ciência é humana, porque
resulta da atividade humana de conhecimento, a expressão ciências
humanas refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano
como objeto. A situação de tais ciências é muito especial. Em primeiro
lugar, porque seu objeto é bastante recente: o homem como objeto
científico é uma ideia surgida apenas no século XIX. Até então, tudo
quanto se referia ao humano era estudado pela Filosofia.
Em segundo lugar, porque surgiram depois que as ciências matemáticas
e naturais estavam constituídas e já haviam definido a ideia de
cientificidade, de métodos e conhecimentos científicos, de modo que as
ciências humanas foram levadas a imitar e copiar o que aquelas ciências
haviam estabelecido, tratando o homem como uma coisa natural
matematizável e experimentável. Em outras palavras, para ganhar
respeitabilidade científica, as disciplinas conhecidas como ciências
humanas procuraram estudar seu objeto empregando conceitos,
métodos e técnicas propostos pelas ciências da Natureza.
[...]

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 345.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
Resumo: A expressão ciências humanas refere-se àquelas ciências que
têm o próprio ser humano como objeto. A situação de tais ciências
é muito especial. Em primeiro lugar, porque o homem como objeto
científico é uma ideia surgida apenas no século XIX. Em segundo
lugar, porque as ciências humanas surgiram depois que as ciências
matemáticas e naturais estavam constituídas e já haviam definido a
ideia de cientificidade. Então, para ganhar respeitabilidade científica,
as ciências humanas procuraram estudar seu objeto empregando
conceitos, métodos e técnicas propostos pelas ciências da Natureza.

VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Escrever


na universidade: fundamentos. São Paulo: Parábola, 2019, p. 101.

Ao comparar o texto de Chauí ao resumo de Vieira e Faraco, você


constata que os autores eliminaram alguns trechos informativos (riscados)
e fizeram acréscimos (entre colchetes), como pode ser observado a seguir:

Embora seja evidente que toda e qualquer ciência é humana, porque


resulta da atividade humana de conhecimento, a expressão ciências
humanas refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano
como objeto. A situação de tais ciências é muito especial. Em primeiro
lugar, porque seu objeto é bastante recente: o homem como objeto
científico é uma ideia surgida apenas no século XIX. Até então, tudo
quanto se referia ao humano era estudado pela Filosofia.
Em segundo lugar, porque [as ciências humanas] surgiram depois que
as ciências matemáticas e naturais estavam constituídas e já haviam
definido a ideia de cientificidade, de métodos e conhecimentos
científicos, de modo que as ciências humanas foram levadas a imitar e
copiar o que aquelas ciências haviam estabelecido, tratando o homem
como uma coisa natural matematizável e experimentável. Em outras
palavras, [Então,] para ganhar respeitabilidade científica, as disciplinas
conhecidas como ciências humanas procuraram estudar seu objeto
empregando conceitos, métodos e técnicas propostos pelas ciências
da Natureza.

VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Escrever


na universidade: fundamentos. São Paulo: Parábola, 2019, p. 101.

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Letramento Acadêmico

ESTRUTURA BÁSICA DO RESUMO ACADÊMICO

Os resumos podem ser produzidos e circular em qualquer domínio


discursivo, para atender a objetivos específicos. Nesta aula, contudo, nosso
foco está na esfera acadêmica, em resumos de obras científicas, artigos,
dissertações e teses, produzidos ou não por seus próprios autores. Machado
(2010, p. 160) observa que uma das características que diferencia esses
resumos e abstracts dos outros resumos, que atendem a outros objetivos:

[...] é que estão rigidamente subordinados a normas acadêmico-


científicas, frequentemente explicitadas, por exemplo, nas normas de
apresentação de resumos de diferentes congressos, em que se pede
que os resumos apresentem os objetivos, os pressupostos teóricos,
a metodologia, os resultados e as conclusões a que se chegou.

Além disso, há que se considerar que seu formato e estrutura são


regidos pela norma NBR 6028: 2003 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), segundo a qual o resumo acadêmico se insere na categoria
de “resumo informativo”, cujo objetivo é informar “ao leitor finalidades,
metodologia, resultados e conclusões do documento, de tal forma que este
possa, inclusive, dispensar a consulta ao original”.
De acordo com Motta-Roth e Hendges (2010), o plano global de
organização do resumo acadêmico reflete o conteúdo e a estrutura do
trabalho resumido, devendo considerar o tipo de pesquisa realizada, se de
caráter mais teórico ou empírico/experimental.
Gustavii (2017, p. 127) é objetivo ao apontar que o resumo, especificamos
aqui o resumo acadêmico, requer quatro seções básicas, a saber: “pano de
fundo (incluindo o objetivo do estudo), métodos, resultados e conclusões”
(grifo do autor). O pano de fundo a que se refere o autor diz respeito à
contextualização da pesquisa (com apresentação dos objetivos); os métodos
ou metodologia são informações sobre “como, onde, quando, quem e/ou o
que foi feito” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 157); os resultados
são os dados objetivos a partir do método empregado; nas conclusões, é
necessário expor os resultados da análise realizada, comprovando ou não
seu ponto de vista ou sua hipótese.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
A PREVALÊNCIA DA FIBROMIALGIA: UMA REVISÃO
DE LITERATURA

Alane B. Cavalcante, Juliana F. Sauer, Suellen D. Chalot, Ana


Assumpção, Lais V. Lage, Luciana Akemi Matsutani, Amélia Pasqual
Marques

Introdução e Objetivo: este trabalho teve como objetivo realizar


uma revisão da literatura sobre a prevalência da fibromialgia (FM)
na população a partir dos critérios propostos pelo American College
of Rheumatology (ACR). Métodos: foi realizado levantamento
bibliográfico do período de 1990 a 2005 nas bases de dados MedLine,
Lilacs, Embase e ISI. Foram utilizadas as palavras-chave “fibromialgia”
e “prevalência” e as correspondentes em inglês, “fibromyalgia” e
“prevalence”. Foram selecionados 97 artigos e, após leitura dos
resumos, foram excluídos os que se referiam à prevalência em
doenças. Somente 30 abordavam o tema prevalência da fibromialgia
na população. Os artigos selecionados foram agrupados em cinco
categorias: a) prevalência da FM em populações adultas; b) prevalência
da FM em mulheres; c) prevalência da FM em crianças e adolescentes;
d) prevalência da FM em populações específicas; e) prevalência de
dor crônica e difusa na população, segundo os critérios do ACR.
Resultados: a literatura aponta a prevalência da FM na população
com valores entre 0,66 e 4,4%, sendo mais prevalente em mulheres
do que em homens, especialmente na faixa etária entre 35 e 60 anos.
Os estudos com crianças e adolescentes e em grupos especiais são
escassos e pouco conclusivos. A prevalência de dor crônica difusa na
população em geral também tem poucos estudos, com valores entre
11 e 13%. Conclusão: mais estudos sobre prevalência de dor crônica
e difusa devem ser estimulados, assim como os de prevalência na
população adulta, crianças e jovens.

Palavras-chave: fibromialgia, prevalência, população.

Rev. Bras. Reumatol., v. 46, n. 1, p. 40-48, jan./fev., 2006.

Nesse exemplo, você pode observar que as seções básicas do resumo


são indicadas por meio de subtítulos, inclusive com destaque em negrito,
o que é comum em áreas como a medicina, como observam Motta-Roth e
Hendges (2010, p. 157). Esse tipo de formatação do resumo ajuda o leitor
no entendimento do texto.

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Letramento Acadêmico

Caro/a aluno/a, para reforçar a aprendizagem do conteúdo apresentado


até aqui, indicamos que você realize a atividade “Partes estruturais de um
resumo acadêmico”, disponível no AVA/Moodle.

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DO RESUMO


ACADÊMICO

Além de todas as informações que foram apresentadas sobre o gênero


textual resumo, para que você construa um bom texto, é necessário ter
atenção às suas características linguístico-discursivas.
Assim, o resumo deve ser escrito em um único parágrafo, em uma
linguagem clara e objetiva, com sentenças declarativas simples e sem juízos
de valor. Além disso, há o predomínio de verbos no pretérito composto e
no presente do indicativo e recomenda-se o uso da voz passiva e da terceira
pessoa do singular, ou primeira pessoa do plural (plural majestático), haja
vista a impessoalidade atinente a esse tipo de texto.

RESENHA ACADÊMICA

A resenha, assim como o resumo, é um gênero textual que apresenta


informações concisas sobre outro texto, mas, sobretudo, com juízos de
valor, comentários e críticas. Desse modo, a diferença entre o resumo e a
resenha está na natureza argumentativa desta última, identificada na NBR
6028:2003 da ABNT como “resumo crítico” e definida como um “resumo
redigido por especialistas com análise crítica de um documento”.
Na academia, tem como objetivo avaliar, positiva ou negativamente,
novas publicações (livros e capítulos de livros, dissertações e teses, filmes
e documentários) de uma determinada área do conhecimento, na verdade,
da área do conhecimento da qual o resenhista faz parte, chamando a
atenção de um público específico não só para o lançamento da obra em
foco, seu conteúdo e seus aspectos mais relevantes, mas também para o
posicionamento crítico de quem escreve.
Motta-Roth e Hendges (2010, p. 27-28) consideram a resenha

[...] um gênero discursivo em que a pessoa que lê e aquela que escreve


têm objetivos convergentes: uma busca e a outra fornece uma opinião
crítica sobre determinado livro. Para atender ao leitor, o resenhador
basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de um ponto
de vista informado pelo conhecimento produzido anteriormente
sobre aquele tema.

A resenha pode servir como instrumento de avaliação na universidade


ou ser publicada em periódicos científicos, em seção especial.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
O leitor de uma resenha encontrará referências sobre a obra resenhada,
dados do seu autor, o resumo do seu conteúdo, além de informações sobre
sua organização, o arcabouço teórico no qual se baseia e a linguagem
utilizada, com avaliação da importância da obra para a área e a qualidade e
a inovação da contribuição dada por ela (MOTTA-ROTH; HENDGES,
2010).

ESTRUTURA BÁSICA DA RESENHA ACADÊMICA

Embora a resenha não possua uma estrutura absolutamente estável,


é possível indicar pelo menos quatro etapas para sua organização textual,
as quais, segundo Vieira e Faraco (2019, p. 105), “não podem ser tomadas
como fórmulas fixas para a produção de uma boa resenha, mas sim como
possibilidades disponíveis”:

São apresentados tema e propósito centrais da


obra, informações sobre seus autores e seu modo
Apresentação de produção, referências a outras publicações
semelhantes, entre outros aspectos que a situem
contextualmente.

Descreve-se a organização da obra e realiza-


Descrição se seu resumo, com predomínio do discurso
indireto, embora citações literais também sejam
válidas.

Avalia-se a obra positiva ou negativamente,


Avaliação
considerando aspectos gerais e/ou específicos.

A obra é ou não recomendada, são apresentadas


(Não) Recomendação possíveis restrições e indicados seus leitores em
da obra potencial.

Estrutura da resenha acadêmica


Fonte: Adaptado de Motta-Roth e Hendges (2010, p. 29) e Vieira e Faraco (2019, p. 104).

Essas etapas podem aparecer nessa ordem, mas também podem variar,
de modo que, conforme Vieira e Faraco (2019, p. 105), “ao longo de uma
resenha pode-se resumir e avaliar simultaneamente”.
Na resenha acadêmica que segue, observe o destaque que se dá aos
elementos da estrutura básica do gênero:

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Letramento Acadêmico

KOLLER, SH; COUTO, M.C.P.P.; HOHENDORFF, J.V. (org.).


Métodos de pesquisa: manual de produção científica. Porto Alegre:
Penso, 2014. Resenha por INOUE, Silvia Regina Viodres; MAIA,
Thais Laudares Soares. Interface – Comunicação, Saúde, Educação,
Botucatu, v. 20, n. 58, jul./ set. 2016.

Elementos da estrutura básica de uma resenha acadêmica


Fonte: https://www.scielo.br/pdf/icse/v20n58/1807-5762-icse-20-58-0809.pdf

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8

127
Letramento Acadêmico

Observe também que a resenha pode ser mais descritiva ou mais


avaliativa, a depender da obra em foco e do estilo do resenhista (MOTTA-
ROTH; HENDGES, 2010).
Algo importante a se considerar também é o título da resenha. Em
geral, deve ser um título original, diferente do título da obra resenhada, e,
conforme Viana (2011, p. 138), sugestivo, “capaz de chamar a atenção do
leitor”.

Caro/a aluno/a, para reforçar a aprendizagem do conteúdo apresentado


até aqui, indicamos que você realize a atividade “Etapas de elaboração da
resenha acadêmica”, disponível no AVA/Moodle.

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DA RESENHA


ACADÊMICA

Assim como no resumo, a linguagem da resenha deve ser clara, objetiva


e em estilo formal. O resenhista deve ser preciso na exposição de seus
comentários avaliativos, que devem ser muito bem fundamentados, e valer-
se de um tom persuasivo, de modo a influenciar o leitor a ter contato (ou
não) com a obra, conforme o seguinte exemplo:

MÓDOLO, Marcelo. Resenha crítica do livro De uma página a outra:


o reclame em livros manuscritos e impressos dos séculos XVI a XIX,
de Elizangela Dias. São Paulo: Miró Editorial, 2018, 143 p. Revista
Confluência, n. 56, 1º semestre de 2019, Rio de Janeiro.

Certos livros apresentam uma qualidade rara: despertar o interesse


do público amplo e disseminar conhecimentos acadêmicos – antes
restritos aos especialistas – para toda a sociedade. É o que caracteriza
a obra em questão. [...]
[...]

[...] Além da excelência dos recursos analíticos empregados pela autora,


a publicação de De uma página a outra: o reclame em livros manuscritos
e impressos dos séculos XVI ao XVII destaca-se como uma relevante e
inovadora contribuição aos estudos da área de filologia e de codicologia
portuguesa, fundamental não apenas para especialistas, mas para todos
aqueles que se interessam pelos textos escritos.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
Ademais, pode ser escrita na primeira ou terceira pessoa, utilizar verbos
no presente do indicativo, incluir exemplos e trechos da obra resenhada e
ideias e referências complementares.
Você já sabe reconhecer e produzir resumos e resenhas, então, na
próxima aula, será o momento de você ter acesso a mais um gênero textual
de grande circulação no ambiente acadêmico, o artigo científico.
Bons estudos!

CONCLUSÃO

Na universidade, há uma grande demanda de leituras, muitas das quais


bastante complexas e que atendem aos objetivos de dar acesso a conceitos
e ideias formulados sobre determinado assunto e preparar o leitor para a
produção de um novo conhecimento gerado a partir de uma tradição. Nesse
contexto, é essencial ser capaz de condensar informações, registrar dados
relevantes, expor sinteticamente procedimentos, métodos e resultados,
bem como avaliar criticamente um dado texto. Assumem tais funções, no
ambiente acadêmico, o resumo e a resenha, gêneros bastante requisitados.
Iniciamos esta aula com o estudo do resumo acadêmico, que pode ser
utilizado como forma de representar a compreensão do texto lido, como
objeto de comunicação em eventos científicos e como texto-síntese de
outros textos: trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses e artigos
científicos.
Vimos que sintetizar informações mais relevantes de um texto é algo
que exige o conhecimento de procedimentos cognitivos específicos, como,
por exemplo, excluir conteúdos secundários, exemplos e contra-argumentos
e trocar palavras e expressões por termos mais genéricos.
Ainda sobre o resumo, foi apresentada sua estrutura básica, composta
pela justificativa do estudo, incluindo o seu objetivo, os métodos utilizados,
os resultados alcançados e as conclusões.
A resenha, que também é um texto condensado, diferencia-se do
resumo por sua função, que, na academia, é avaliar obras recentemente
lançadas, e por apresentar juízos de valor, comentários e críticas sobre os
textos resenhados. Podemos identificar em sua estrutura, ainda que de
maneira flexível, quatro partes: apresentação, descrição, avaliação e (não)
recomendação da obra.

RESUMO

Esta aula teve como objetivo apresentar ao estudante as funções,


características e estrutura de dois gêneros textuais que circulam com muita
frequência na universidade, o resumo e a resenha, de modo que seja capaz

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Letramento Acadêmico

de utilizá-los efetivamente em suas práticas acadêmicas de leitura e escrita.


Resumir textos é uma atividade essencial não só para a melhor compreensão
do que se leu, mas também para a organização e representação coerente das
informações de acordo com o sentido do texto que deu origem ao resumo.
Tal atividade exige retextualizar um gênero em outro, realizando uma série
de operações, a começar pela compreensão global do texto lido, e, depois,
selecionar as informações mais relevantes, organizar as principais ideias
e dispô-las no resumo na mesma ordem em que aparecem no original. A
resenha acadêmica comporta um resumo, não como gênero, mas como
estratégia de sintetizar informações, e uma apreciação da obra, com
comentários a respeito de sua contribuição para a área do conhecimento
na qual se insere, seu público-alvo, sua utilidade e seu potencial inovador.
Assim, combinando resumo e juízo de valor, a resenha visa apresentar um
panorama de uma obra, de modo a levar o leitor a consultar (ou não) o
texto original.

AUTOAVALIAÇÃO

Ao terminar esta aula, sou capaz de ler resumos e resenhas e reconhecer


suas características e funções? Consigo diferenciar resumo e resenha
acadêmica? Eu sei identificar em um texto o que ele tem de mais relevante
e sintetizar essas informações por escrito? Posso reconhecer em uma
resenha comentários avaliativos, assim como também sou capaz de avaliar
criticamente um texto?
Caso você não tenha conseguido responder a algum desses
questionamentos, volte aos conteúdos apresentados e refaça as atividades
propostas.

PRÓXIMA AULA

A próxima aula será dedicada ao estudo de um outro gênero de grande


circulação no meio acadêmico, o artigo científico.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028:


resumos: apresentação. Rio de Janeiro. 2003. São Paulo: Geração Editorial,
2006.
CAVALCANTE, Alane B. A prevalência da fibromialgia: uma revisão de
literatura. Rev. Bras. Reumatol., v. 46, n. 1, p. 40-48, jan./fev., 2006.

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Resumo e Resenha Acadêmicas Aula 8
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
COSTA, Renata Ferreira. Textus post mortem: constituição de um corpus
diacrônico de obituários em jornais sergipanos. In: XXXV Encontro
Nacional da ANPOLL, GT de Crítica Textual, Londrina, 2020.
GUSTAVII, Björn. Como escrever e ilustrar um artigo científico.
Tradução: Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2017.
KLEIN, Irene. Resumir: ¿una tarea de escritura o de lectura? In: KLEIN,
Irene (coord.). El taller del escritor universitario. Buenos Aires: Prometeo
Libros, 2007. p. 75-83.
KOLLER, SH; COUTO, M.C.P.P.; HOHENDORFF, J.V. (org). Métodos
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universidade: fundamentos. São Paulo: Parábola, 2019.

GLOSSÁRIO

Sumarizar – É aplicar, durante a leitura de um texto, regras ou


estratégias mentais de redução da informação semântica, retendo
apenas o que é essencial e eliminando o que é acessório (MACHADO,
2010).

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