Leal 2006
Leal 2006
Leal 2006
Resumo:
O texto aborda como os membros da Igreja Positivista do Brasil – IPB –, e alguns
políticos aliados, se envolveram na proposição do Decreto 155-B de 14 de janeiro de
1890, que estabeleceu o calendário republicano de feriados oficiais, e como se
empenharam para consolidá-lo na cultura política da Primeira República. Exemplifica-
se tal movimento por meio da análise da festa de 3 de maio de 1890, decretada como o
feriado em celebração do descobrimento do Brasil.
É a arte, que não é arte somente no sentido da estética, que permite dar uma
identidade imaginária ao coletivo. Esta identidade se expressa aos olhos de todos
de uma maneira indireta em um grande número de formas de expressão: estátuas
e monumentos, nomes de ruas e obras de arte. (Grange, 2000, p.237)
fórmula de ação adotada pelos brasileiros: elenco de tipos ideais (heróis) + produção,
com exageros, de suas imagens + sua contemplação = emoções.
Comte instituiu o uso de imagens e ritos que deveriam se transformar numa
forma de culto social, dando uma dimensão imaginária à vida cívica, tendo por âncora o
passado. As festas católicas e as festas públicas revolucionárias foram modelos para
Comte, ambas se utilizando fartamente de imagens e de evocações da história. Sua
proposição era uma síntese da alegoria republicana, com a estatuária, e da simbologia
cristã, com a pintura. Ambas as formas de expressão artística tiveram a capacidade de
ligar o passado ao presente. “Comte esperava sintetizar duas concepções opostas da
mediação social e da figuração artística que se reencontrarão e funcionarão
espontaneamente: a imagem cristã e a estátua alegórica republicana, a missa e a festa”
(Grange, 2000, p.244).
O estímulo a uma religiosidade civil, que teve por inspiradores Rousseau e
Comte, mas também Saint-Simon e Voltaire, deu base às atividades que homenageavam
os grandes homens. A heroicização de homens comuns – nem reis, nem santos –
demonstrava o ideal liberal e laico que imperava nos oitocentos (Agulhon, s/d., p.143).
Esse novo culto requeria liturgias em que o cidadão era agente político, ao mesmo
tempo espectador e ator na festividade cívica.
Catroga, ao analisar tal fenômeno festivo em Portugal a partir de final dos anos
1970 do século XIX, entendeu-o como ritualizações da História ou lições móveis de
História (Catroga, 1998, p.223). Tais práticas descendiam, segundo ele, das festas
cívicas inauguradas na Revolução Francesa e de um diminuto culto da humanidade,
porém não ortodoxo, popularizadas também no movimento socialista português.
Os positivistas brasileiros também perceberam o poder de mobilização
emocional que as celebrações cívicas continham. Carvalho chamou a atenção ao fato de
os positivistas da Igreja terem se dedicado de forma ativa e beligerante, por meio de
textos, rituais e símbolos cívicos, a tornar a República aceita e amada pela população
(Carvalho, 1990, p.129). Sua observação se reforça quando se analisa o esforço da IPB
para que o governo implementasse o novo calendário de festas nacionais.
desenvolvimento do culto, que como foi visto integrava atividades religiosas familiares,
no Templo e atividades cívicas, era o objetivo basilar da estratégia de ação estabelecida
pelo Diretor Miguel Lemos, seguido de organização do ensino e de intervenção nos
negócios públicos (Lemos, 1981, p.21).
As celebrações cultuais eram vistas como o principal veículo de divulgação do
positivismo, no início dos 1880. Quando Miguel Lemos fez um acordo com o redator-
chefe da Gazeta de Notícias para criar uma coluna no jornal, chamada Centro
Positivista, uma série de três artigos de Teixeira Mendes, que inaugurou a coluna, tratou
de uma tentativa de reforma do calendário, mais precisamente da eliminação dos anos
bissextos, proposta de Castro Lopes. A proposta foi criticada pelos positivistas, que
entendiam que os anos bissextos não deveriam ser suprimidos (Mendes, 1881).
Miguel Lemos, no Relatório de 1881, explicita críticas às festas do regime
monárquico, dizendo que haviam perdido a animação, que não mais comoviam o povo,
que eram “a morte do entusiasmo público” (Lemos, 1981, p.32). Para ele, a principal
causa era o descrédito na Monarquia – vista como um regime transitório à República – e
descrença no regime constitucional. A religião do civismo, tal como estava sendo
instituída pelos positivistas, visava, no seu entender, despertar o povo da atonia e fazia
parte da campanha política contra a Monarquia. É difícil precisar o significado da
palavra povo para os positivistas, já que estes desenvolveram atividades voltadas para
um público escolarizado, deixando à margem grande parte da população analfabeta que
compunha o “povo”. Inclusive as festas cívicas promovidas por estes, que a princípio
poderiam congregar o “povo”, eram de caráter bem intelectualizado, ocorrendo
conferências e discursos.
Os festejos do tricentenário da morte de Camões, que ocorreram
simultaneamente no Rio de Janeiro e em Paris, em 10 de junho de 1880, inauguraram as
atividades de culto cívico do grupo. No Brasil, a festa aconteceu no Teatro Ginásio, que
foi decorado com bandeiras por Aníbal Falcão. Primeiro, ocorreu uma sessão pública
com a apreciação histórica da vida de Camões e sobre Portugal, por Teixeira Mendes; e,
depois, a execução do Hino à Humanidade, adaptado da Marselhesa por Teixeira de
Souza. O evento em homenagem ao português tinha por objetivo reconciliar os
brasileiros com a “mãe-pátria” e desenvolver o sentimento de continuidade histórica
(ibidem, p.15). A solenidade prosseguiu com uma passeata noturna, aberta com o busto
de Camões e outras insígnias religiosas positivistas. O busto, feito pelo escultor
Candido Caetano de Almeida Reis, levado em procissão, foi exposto provisoriamente na
verde da IPB, com o slogan Ordem e Progresso. Após a festa, o busto foi doado aos
positivistas (Lemos, 1908, p.17-8).
A partir de 1884, Tiradentes foi incorporado no que os positivistas chamavam de
festas sociolátricas, mas sempre em eventos próprios. Milliet, em sua tese, refere-se às
festas a Tiradentes realizadas no período monárquico, sob iniciativa do Clube
Tiradentes, e ressalta que os positivistas se incorporaram à festa coletiva somente após a
República. De fato, nos relatórios da IPB desse período, não há referências de que
tenham se unido ao Clube Tiradentes nos eventos por ele organizados (Milliet, 1998,
p.80-2).
Os eventos preparados pelos positivistas normalmente eram conferências
públicas, com salão decorado com a imagem e a temática histórica relacionada ao
homenageado; eram abertos ao público e tinham pouca repercussão nos jornais. Eles
usavam as expressões festa, celebração ou culto cívico para designar o mesmo evento.
Os relatos que existem são os dos próprios positivistas, nos folhetos e relatórios anuais.
No relatório de 1881, Miguel Lemos esclarece que estas celebrações eram mais ensino
do que culto, pois assim era necessário àquela platéia de brasileiros, naquele momento.
Um dos relatos desses eventos revela que havia cerca de 500 pessoas ouvindo a
conferência. Os freqüentadores eram militares, professores, funcionários públicos,
mulheres e estudantes, não necessariamente adeptos do positivismo. Certamente alguns
curiosos freqüentavam as conferências, pois neste momento o positivismo não era ainda
muito conhecido do público brasileiro, tampouco havia se tornado alvo dos ataques de
intelectuais e políticos, descontentes com a ortodoxia doutrinária de Miguel Lemos e
Teixeira Mendes, o que passou a ocorrer durante o Governo Provisório da República.
Percebe-se nos jornais cariocas que outros grupos também faziam chamadas
para a realização de celebrações cívicas, em 14 de julho, por exemplo, mas os
positivistas não participavam. Nos anos de 1881, 1882 e 1883, a comunidade francesa
no Rio de Janeiro se reuniu para celebrar a data. Neste último ano, uma chamada no
Jornal do Commércio conclamava os abolicionistas a se juntarem à festa, fazendo uma
associação entre o anseio de abolição da escravidão no Brasil e o lema francês
14
Liberdade, Fraternidade e Igualdade. Embora os positivistas fossem abolicionistas,
não há referência de que tenham aceitado o convite para a celebração.
Com a República e a decretação do calendário de festas nacionais, os positivistas
da IPB passaram a participar delas, em comitiva, unindo-se a outros grupos. Esta
atuação durou pouco, apenas até 1892. Três fatores parecem ter colaborado para o
Mesmo o Clube Militar, hoje com um acervo artístico bastante variado, não empregava
suas obras nas celebrações.
O investimento da IPB na constituição de um acervo artístico, grande parte
formado por bustos, deu-se por razões doutrinárias. Como foi visto, a implementação do
culto cívico era meta básica a ser desenvolvida. O culto eficiente, aquele que tocaria no
sentimento da população, que desenvolveria suas emoções cívicas e que a educaria para
uma sociabilidade civil, necessitava ter por apoio a contemplação de imagens dos
heróis. A arte positivista tinha um sentido pragmático e não de pura contemplação
estética. A arte, como uma das formas de operacionalização da memória e da emoção,
era vital para o culto cívico positivista. A festa de 3 de maio é um evento exemplar neste
sentido.
navegante português. Para o diário, fazendo uma lógica atribuição, o busto carregado
28
pelos positivistas era o de Augusto Comte, não o de Colombo. Talvez aqui se possa
pensar na hipótese de que a festa era compreensível apenas a alguns mais
intelectualizados, como defendeu Ferreira Neto. A confusão dos bustos e a insistência
dos jornais em que o homenageado era Cabral demonstra que as imagens desses
personagens eram pouco conhecidas. A educação cívica que tais festas ensejavam
requeria uma educação visual.
Outro ponto que vale discutir é o tema do encontro entre as civilizações européia
e americana, representado pelos andores da caravela e da piroga indígena. Os
positivistas tinham consciência de que este encontro havia sido responsável pela
dizimação indígena e pela apropriação de suas terras, tema de alguns de seus folhetos
ainda nesta década e de sua rejeitada proposta de Constituição republicana, no ano
seguinte. Para eles, isso poderia ser revertido ou minimizado se a Constituição
republicana garantisse autonomia “às hordas fetichistas – enquanto estados livremente
confederados à República brasileira”. 29 Propunham que a República fosse formada pela
livre federação dos povos, composta por dois estados confederados autônomos: os
Estados Ocidentais Brasileiros, formados pela fusão do europeu, com o africano e o
americano aborígine; e Estados Americanos Brasileiros, constituídos pelas “hordas
fetichistas” esparsas pelo território brasileiro (Lemos & Mendes, 1934, p.1). Assim a
composição étnica e territorial brasileira ficaria dividida em uma população mista, fruto
da fusão das três raças, e uma população pura, autóctone americana, que deveria receber
proteção governamental. O estágio civilizatório dos índios ainda não miscigenados
deveria ser respeitado, e sua integração aos ocidentais feita de forma gradual, o que não
havia ocorrido na época do descobrimento.
Os periódicos apresentavam visão diferente dos positivistas quando se referiam
ao encontro desses povos. Além da chegada da civilização, trazida pelos portugueses,
como já foi referido, havia também uma analogia entre trevas e luz, reforçando o
argumento de que os indígenas selvagens deveriam ser abatidos para dar lugar à ciência
e ao progresso trazidos pelos europeus. 30 A Revista Ilustrada apresentou essa idéia em
duas imagens colocadas lado a lado, aludindo ao 3 de maio de 1500 e ao de 1890. A
primeira reproduz a chegada dos portugueses à costa brasileira, estes observados pelos
índios curiosos e escondidos na mata densa. A segunda imagem apresenta a festa do
descobrimento, cujas figuras de destaque são a caravela, o busto de Colombo, a
Ferreira Neto propõe outra analogia bem pertinente ao analisar o significado dos
andores. “O encontro de brancos e indígenas era uma clara alegoria da nova sociedade
republicana, na imaginação de seus crentes letrados e na prática de seus rituais.”
(Ferreira Neto, 1989, p.79). Os letrados republicanos assumiam o poder e o papel dos
europeus civilizados, e o povo, analfabeto ignorante dos mistérios da História do Brasil,
ficava com o papel de indígenas.
Um terceiro ponto que se destaca para análise é a ordem dos blocos e a posição
dos positivistas. Para quem assistia à procissão cívica, a ordem construída era de uma
lógica histórica. Os navegantes portugueses, no primeiro andor, representados
simbolicamente pela caravela, tiveram a intermediação da Igreja, no segundo andor,
se aqui que tiveram uma posição flexível a respeito das datas e fatos históricos. Para
eles, valia mais manter a eficácia emocional da comemoração, como costumavam fazer
os antepassados, do que trocar a data para 22 de abril. O contrário, concluíram, “seria
romper essa precioza comunhão com o conjunto das gerações tranzactas, justamente em
uma ocazião [1890] em que mais preciso se tornava assegurar por todos os modos essa
continuidade moral e social”. 33
Para compreender a participação dos positivistas na organização da festa de 03
de maio, é necessário ainda discutir a construção visual da mesma. Não foi encontrada
documentação específica sobre o busto de Colombo ou das demais imagens, apenas a
informação de que todas as obras empregadas na festa de 03 de maio eram de Villares.
Um inventário do acervo da IPB revelou um grande investimento em bustos,
muito maior do que em estatuetas e quadros, grande parte dessas obras feitas por
Villares. A ênfase visual dada às celebrações positivistas requeria objetos artísticos de
uso flexível, como os bustos em gesso, que eram leves e permitiam que fossem
pintados, dando maior realismo à imagem. O Templo da Humanidade, no Rio de
Janeiro, foi decorado com bustos dos homenageados dos meses do calendário
positivista. Também era uma prática da época utilizar bustos não só para serem
instalados sobre hermas em praças, como para serem colocados em colunas, decorando
salas públicas; e Villares teve algumas encomendas de bustos para esse fim.
Assim como o suporte, a temática dos andores já havia sido representada por
Villares em outras obras. As figuras pintadas ou as inscrições de nomes nos andores da
festa de 3 de maio eram homenageados do calendário positivista. O nono mês do
calendário, dedicado a Gutenberg, tem cada dia da semana relembrando os navegantes,
liderados por Colombo.
Villares também havia desenvolvido obras na temática indígena, logo que
voltara de seus estudos de arte em Paris. Junto com Aurélio de Figueiredo, fora
contratado para pintar dezoito telas, todas representando índios Botocudos, para a
Exposição Antropológica de 1882, realizada no Museu Nacional (Nascimento, 1991).
Anos adiante, Eduardo de Sá, outro artista positivista colaborador da IPB, retomaria o
tema em quadros e no monumento a Floriano Peixoto, erguido na Cinelândia, no Rio de
Janeiro. Essa era uma abordagem cara aos positivistas, porque permitia duas teses: a da
formação da “raça brasileira”, somatório de indígenas, portugueses e africanos, contra
***
Tentou-se neste texto analisar a festa como uma forma de construção visual, em
que se têm os objetos que integram os andores, com seus significados, e também uma
imagem do conjunto dos andores, criando uma nova narrativa. É necessário que outras
festas sejam analisadas como construções visuais, para compararmos com a de 3 de
maio e, com isso, sabermos o quão diferente, ou não, ela foi. Se foi, se ela pode ser
exemplo de uma genuína celebração positivista, ou se apenas reproduziu a fórmula das
festas cívicas da época.
Procurou-se mostrar como se compõe o culto positivista, destacando as
atividades cívicas, e como o grupo brasileiro esteve envolvido na definição de um
calendário de festas nacionais. Para este, a principal intervenção política necessária nos
anos de 1880, visando a República, era o caráter cultual cívico. Propor um calendário de
festas oficiais a um membro do Governo Provisório que demonstrava simpatias ao
positivismo se tornou a grande oportunidade dos positivistas de consolidar este culto
cívico.
Viu-se que, nos anos que antecederam a República, os positivistas promoveram
várias atividades abertas ao público, tentando estabelecer um culto patriótico, porém
com pouco sucesso de público. Desde esse período, a IPB vinha compondo sua coleção
artística, cujas obras davam entrada no acervo em razão de celebrações cívicas, porque,
também para os positivistas, não há culto sem contemplação de imagens.
Com a República instituída, os positivistas passaram, por um curto período, a
participar das celebrações do calendário junto com outros grupos. Mas a festa de 3 de
maio de 1890, ao que tudo indica, dirigida por eles, foi sua experiência de maior
extensão nas celebrações públicas. Tendo um artista que não só aceitava a doutrina
positivista, mas também tinha experiência profissional adequada para executar as
imagens que comporiam o discurso histórico do descobrimento, e se valendo das
relações pessoais com os militares da comissão oficial organizadora do evento, a IPB
conseguiu, enfim, fazer seu grande evento – uma parada cívica com três andores
principais, que se uniam em um discurso sobre o encontro das civilizações americana e
européia, com a mediação da religião. Se, para o público, não era evidente de que
religião se tratava, se católica ou da humanidade, não importava. Se, para a imprensa, o
homenageado fora Cabral, mesmo que o busto sobre o andor fosse o de Colombo,
também não era relevante. Para os positivistas, valia mais a comunhão cívica do que a
verdade rigorosa dos fatos, o que também ficou evidente na manutenção da data do
descobrimento em 3 de maio. Ambas as atitudes foram pouco ortodoxas para
positivistas ortodoxos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Abstract: The paper concerns about not only the involvement of Positivist
Church of Brazil members and some allied politicians in proposing
Decree 155-B from January 14, 1890, which has established the
republican calendar of official holidays, but also their efforts to
consolidate it in the political culture of the First Republic. This movement
is exemplified through an analysis of the celebration of May 3, 1890,
which was decreed a holiday in celebration of the discovery of Brazil.
NOTAS
∗
Doutora pelo PPG de História Social da UFRJ. Vice-presidente da ANPUH, Núcleo do Rio Grande do
Sul, gestão 2006-2008. Agradeço a gentileza da primeira leitura e crítica de Hendrik Kraay. Este texto,
em um formato resumido, foi apresentado no Simpósio Temático Imagem e Cultura Visual, durante o
Simpósio Nacional de História da ANPUH, ocorrido em Londrina em 2005. Agradeço as observações dos
participantes do Simpósio Temático, em especial de Iara Lis Schiavinatto
1
A primeira agremiação positivista formou-se em 1876 com Antônio Carlos de Oliveira Guimarães
(presidente), Joaquim Ribeiro de Mendonça, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Álvaro Joaquim
de Oliveira, Cristiano Batista Franco, Oscar de Araújo, Francisco Ribeiro de Mendonça e Roberto
Trompowsky Leitão de Almeida. Neste primeiro momento, Miguel Lemos e Teixeira Mendes não
participavam da associação, embora em seus escritos se incluam na lista dos fundadores da agremiação.
Consolidando essa primeira iniciativa, fundaram, em 05 de setembro de 1878, a Sociedade
Positivista do Rio de Janeiro, filiada à Sociedade Positivista de Paris, dirigida por Pierre Laffitte. A
Sociedade brasileira tinha como presidente Joaquim Ribeiro de Mendonça. A dissolução desta Sociedade
ocorreu em 1881 e deu origem ao Centro Positivista Brasileiro ou Igreja Positivista do Brasil, sob [ a ]
presidência de Miguel Lemos, ainda seguindo as orientações de Pierre Laffitte, com quem romperiam
dois anos depois. Sobre estas primeiras agremiações positivistas consultar: Mendes, 1930; Lemos, 1981;
Lemos, 1999.
2
Os periódicos pesquisados para este texto foram publicados no Rio de Janeiro durante o ano de 1889 e
1890 e são: Jornal do Commércio; Diário de Notícias; O Paiz; Diário do Commércio; Gazeta da Tarde;
Gazeta de Notícias; e Revista Ilustrada.
3
Estudo sobre a confecção de obras de arte por artistas positivistas para fins políticos foi feito pela autora
em: Leal, 2006.
4
Uma amadurecida historiografia trata das festas cívicas coloniais discutindo, por exemplo, as
aproximações e distanciamentos das cerimônias brasileiras em relação à matriz portuguesa, em texto de
Cardoso; ou a existência de um fenômeno de “oportunismo lúdico”, conforme analisa Tinhorão, para as
festas coloniais brasileiras oficiais e religiosas, em que percebeu a presença de um acento profano nestas,
devido à impossibilidade de controle popular nos eventos públicos. Nas festas durante a Monarquia, tem-
se também uma rica discussão sobre o significado e formato dos eventos festivos, como a contribuição de
Souza, que estudou algumas convenções ou tradições em um fenômeno marcado pela temporalidade
efêmera, arte efêmera, como chama as festas da monarquia luso-brasileira. Ela também analisa como a
festa se substancia na imagem e é mediada por ela – pois a festa consegue dar corporeidade às idéias; ou a
análise de Schwarcz, que discute a presença no Brasil de um rico imaginário acerca das “várias realezas”,
permitindo a existência de “várias festas”, não no sentido numérico, mas no discursivo. Cardoso in
Jancsó, 2003, p.549-601; Tinhorão, 2000, p.7-9; Souza, in Jancsó & Kantor, p.545-66.; Schwarcz, 1998,
p.247-94.
5
Parte dos estudos sobre a Religião da Humanidade foram desenvolvidos quando, em 1996, organizei
juntamente com o historiador Paulo Pezat o acervo da Capela Positivista de Porto Alegre. Nesse trabalho,
foi possível fazer um arrolamento completo de todas as publicações da Igreja Positivista, aquelas editadas
oficialmente pela instituição no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Paris. Esse arrolamento foi
publicado em: Leal & Pezat, 1996.
6
Sobre as atividades de educação operária desenvolvida por Comte e seus discípulos franceses, ver:
Benoit, 1999.
7
Decreto no. 155 B, de 14 de janeiro de 1890.
8
O calendário proposto por Comte, elaborado para substituir o gregoriano, salienta os ciclos marcantes da
evolução da humanidade e os representantes mais destacados, que deveriam ser consagrados por serem os
exemplares da raça humana. Ele estabeleceu um calendário que chamou de concreto, pois baseou-se em
seres reais, que pertencem à humanidade e que contribuíram para sua evolução. Os escolhidos não eram
fixos, podendo ser substituídos com o tempo e as necessidades locais de novos heróis, mais nacionais.
Para cada ciclo, representado por um mês com 28 dias, havia um homenageado. Cada semana, com sete
dias, havia um representante hierarquicamente inferior ao do mês, e cada dia tinha outro representante
hierarquicamente inferior ao da semana.
9
Decreto no. 03, de 28 de fevereiro de 1891.
10
Lemos, 1894. Texto também publicado no Jornal de Commércio, 25 de agosto e 14 de outubro de
1892.
11
O busto de Camões ficou na Biblioteca Nacional até 1924. Após grande disputa com o então diretor da
Biblioteca, e por ordem do Ministro da Justiça e Negócios do Interior, atendendo a um requerimento dos
positivistas, foi entregue à IPB e transladado para o Templo da Humanidade.
12
Curiosamente os positivistas ingleses realizavam anualmente a Festa das Máquinas, mas a direção da
IPB, ao divulgar o evento, alertava que o Brasil não havia chegado ainda no estágio industrial, portanto
não poderia realizá-la no país.
13
Circular acerca da festa nacional de 7 de setembro de 1881 (in Lemos, 1981, p.72).
14
Jornal do Commércio, 14 de julho de 1883, p.4.
15
Sobre esta festa a Tiradentes ver: Carvalho, 1990; Milliet, 1998, cap.II; e Ferreira Neto, 1989.
16
Villares ingressou na Academia Imperial de Belas Artes em 1868. Abandonou-a após dois anos de
estudos e partiu em 1872 para estudar arte em Paris, freqüentando o atelier de Alexandre Cabanel. Sua
formação artística foi acadêmica, de influência sobretudo neoclássica como a da maioria dos estudantes
de arte no Brasil, naquela época. Em Paris, conheceu Miguel Lemos, que lhe “apresentou” a doutrina
positivista. Quando voltou ao Brasil em 1881, reencontrou um antigo colega do Colégio Pedro II ―
Teixeira Mendes. Esses encontros reafirmaram os laços com os diretores da IPB e lhe garantiram o posto
de pintor e escultor oficial da mesma, ornamentando os templos no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em
Paris. O artista morreu em 1931, no Rio de Janeiro.
17
Jornal do Commércio, 03 de maio de 1890, p.2.
18
Sobre os alunos de Benjamin Constant na Escola Militar da Praia Vermelha, ver: Castro, 1995 e
Lemos, 1999.
19
Rostral significa “coluna ornada de proas de navios, elevada em memória de uma vitória naval”
(Michaelis, 1998, p.1862).
20
Almadia ou piroga são embarcações estreitas e compridas feitas de um tronco de árvore, usadas com
remo ou vela (Michaelis, 1998, p.109).
21
Gazeta de Notícias, 04 de maio de 1890, p.1.
22
Gazeta da Tarde, 04 de maio de 1890, p.1.
23
Diário de Notícias, 03 de maio de 1890, p.1.
24
Gazeta de Notícias, 04 de maio de 1890, p.1.
25
Diário de Notícias, 03 de maio de 1890, p.1.
26
Revista Ilustrada, 03 de maio de 1890, p.2.
27
O Paiz, 03 de maio de 1890, p.1.
28
Diário de Notícias, 04 de maio de 1890, p.1.
29
Sobre a política indigenista republicana e a posição dos positivistas da Igreja, ver: Pezat, 1997.
30
Diário de Notícias, 03 de maio de 1890, p.1.
31
Revista Ilustrada, 03 de maio de 1890, s/p.
32
Gazeta de Notícias, 03 de maio de 1890, p.1. Editorial.
33
Lemos, 1899. Também publicado no Jornal do Commércio, 27 de maio de 1899.