Capítulo 8
Capítulo 8
Capítulo 8
Como já foi dito, as células têm a capacidade de seleccionar os genes que serão expressos sem
no entanto, alterar o seu DNA. Mas como sabemos isto?
Esta experiência mostrou que o DNA de células especializadas possuem toda a informação
necessária para dar origem a um novo organismo.
Após ter sido realizada electroforese às proteínas de células do fígado, coração e cérebro
concluiu-se que determinadas proteínas são características de determinados tecidos. No
entanto, descobriu-se também que existem proteínas comuns a todas estas células,
nomeadamente a RNA polimerase, enzimas de reparação do DNA, proteínas ribossomais,
enzimas envolvidas na glicólise e outros processos básicos de metabolismo.
Cada célula diferenciada produz proteínas específicas que irão determinar a sua função, forma,
tamanho.
Muitas proteínas são produzidas em poucas quantidades nas células não sendo detectadas por
electroforese. Um outro método mais rigoroso designa-se “mass spectrometry” e é usado para
detectar proteínas raras e fornecer informações acerca das suas ligações covalentes (por
fosforilação, por exemplo). A expressão génica pode ainda ser estudada pela monitorização de
mRNAs que codificam proteínas.
Estima-se que nas células diferenciadas sejam expressos cerca de 5000-15000 genes de um
conjunto de 25000.
Cada tipo de célula produz proteínas especializadas que dotam a célula de diferentes
capacidades.
Muitas células podem alterar a sua expressão génica de acordo com os estímulos externos, um
exemplo são as células do fígado.
Estes exemplos ilustram a diversidade de respostas por parte de diferentes tipos de células
face ao mesmo estímulo externo.
Desde a molécula de DNA até a formação de proteínas existem diversas maneiras de controlar
a expressão génica.
A célula controla a produção de proteínas determinando quando e com que frequência
determinado gene é transcrito (1); controla também o splicing e a forma como o RNA é
processado (2); selecciona os mRNAs que são exportados do núcleo para o citosol (3); Degrada
determinadas moléculas de mRNA (4); selecciona quais os mRNAs que serão traduzidos pelos
ribossomas (5); activando ou desactivando proteínas que foram produzidas (6).
As “Regulatory DNA sequences” das células eucariotas possuem cerca de 10.000 pares de
nucleótidos. Estes comandam a frequência com que o gene será expresso de acordo com os
estímulos (sinais) da célula.
Diferentes proteínas irão reconhecer diferentes sequências de DNA onde se irão ligar através
de pontes de hidrogénio, que isoladamente são fracas mas que em conjunto são bastante
resistentes.
As interacções entre DNA e proteínas são das mais especificas e das mais fortes ligações
conhecidas na biologia.
Embora, cada proteina reconheça determinada sequencia onde se irá ligar, muitas proteínas
responsáveis pela regulação génica reconhece o DNA através de características estruturais
especificas, nomeadamente o homeodominio, o zinco e a cadeia de leucina que estão
presentes nestes locais em particular.
O DNA da E.Coli codifica cerca de 4300 proteínas sendo que a sua expressão génica depende
do alimento disponível no meio.
Por exemplo, na E.Coli, cinco genes codificam enzimas para a produção do triptofano sendo
que estas são transcritas num único mRNA, recorrendo apenas a um promotor. Quando o
triptofano está presente no meio, estas proteínas deixam de ser necessárias e a sua síntese é
inibida.
O operão é constituído por um promotor que é uma sequência de 15 nucleótidos que será
reconhecida pela proteína “transcription regulator”. Quando esta se liga ao promotor bloqueia
o acesso da RNA polimerase ao operador, não ocorrendo transcrição.
O tryptophan repressor é uma proteína alostérica. Quando o triptofano se liga a esta proteína,
esta muda a sua configuração e liga-se ao operador. Se não houver triptofano no meio este
não se liga ao tryptophan repressor consequentemente este não muda a sua estrutura
tridimensional não se ligando ao operador, permitindo a transcrição dos genes.
O tryptophan repressor, tal como o nome sugere, é uma proteína repressora. Na sua forma
activa inibe a transcrição. Outras bactérias possuem outras proteínas “transciption regulators”
que fazem exactamente o oposto. Essas proteínas designam-se activator (activadores). Estas
proteínas actuam sobre o promotor promovendo a ligação da RNA polimerase.
À semelhança do “tryptophan repressor”, as proteínas activadoras têm de interagir com uma
segunda molécula para se poder ligar ao DNA. Por exemplo a proteína activadora CAP têm de
se ligar ao AMP cíclico antes de se ligar ao DNA. Portanto, em determinadas bactérias,
dependendo da concentração de AMP intracelular os genes são ou não transcritos.
Os eucariotas utilizam também transcription regulators que regulam a sua expressão genica.
As zonas especificas de DNA onde se ligam os activadores designam-se enhancers. No entanto,
o que intrigou os cientistas foi o facto destes enhancers actuarem à distancia.
Muitos modelos de “acção à distância” foram propostos desde então.
O modelo mais aceite diz que a porção de DNA existente entre o enhancer e o promotor forma
uma alça permitindo assim uma maior proximidade entre ambos (ver imagem). Deste modo a
proteína activadora que se liga ao enhancer pode entrar em contacto com as proteínas
adjacentes ao promotor (RNA polimerase e outros factores de transcrição). Existe ainda outro
complexo de proteínas que favorece a ligação entre os transcription regulators e o enhancer,
este complexo designa-se mediator.
Nestes casos os activadores promovem a montagem de todo este complexo proteico essencial
para que ocorra a transcrição enquanto que os repressores terão o efeito oposto.
O material genético das células eucariotas está “empacotado” nos nucleossomas. Então como
é que os transcription regulators e a RNA polimerase pode ter acesso ao DNA? Os
Note-se que, um regulador de transcrição pode fazer parte de diferentes combinações e deste
modo activar ou reprimir a expressão de um conjunto de genes.
Um exemplo ilustrativo deste tipo de regulação nos humanos está presente na proteína
receptora do glucocorticóide (regulador de transcrição). Para que este se ligue ao sítios de
regulação do DNA, este regulador de transcrição tem de fazer parte de um complexo do qual
Este músculo apresenta características específicas ao nível da actina e miosina, dos receptores
de proteínas e nas proteínas dos canais iónicos que fazem com que estas células sejam
sensíveis à estimulação do nervo. Neste tipo de tecido, todos os genes responsáveis por estas
características estão activos.
Estes “key transcription regulators” podem converter células não musculares em células
musculares. Por exemplo, quando um dos reguladores pertencentes à “key transcription
regulators”, nomeadamente o MyoD, é artificialmente expresso em culturas de fibroblastos
estes começam a comportar-se com mioblastos e fundem-se para formar células que se
assemelham às musculares. Isto acontece porque os fibroblastos derivam do mesmo folheto
embrionário que as células musculares, daí que tenham acumulado reguladores de transcrição
que fazem parte da conjunto de reguladores que coordenam a expressão de genes
responsáveis pelas características musculares. Nos fibroblastos não esta presente o regulador
que falta ao conjunto de reguladores, o MyoD, daí que este tenha sido adicionado. Daí que os
fibroblastos não se diferenciem em células musculares naturalmente.
Muitas outras células não se conseguem diferenciar em células musculares porque não
acumularam reguladores de transcrição específicos para tal durante o seu desenvolvimento
embrionário.
As células têm diversas maneiras de “lembrar” às suas células-filhas que tipo de célula é
suposto formarem. Uma maneira simples é através da “positive feedback loop”, onde a “key
transcription regulator” activa a transcrição dos genes característicos daquele tipo de célula,
tornando-a diferenciada. Uma outra maneira de manter o mesmo tipo de célula após a divisão
esta relacionada com a estrutura da cromatina que pode permitir ou não a expressão de
determinados genes; uma terceira maneira de transmitir informação acerca da expressão é
através da metilação de DNA. Este processo modifica as ligações covalentes das citosinas,
atraindo proteínas que impedem a transcrição. Os padrões de metilação são passados à
descendência através de uma enzima que copia os padrões de metilação para as cadeias de
DNA das células-filhas, imediatamente após a replicação.
Com já vimos anteriormente, um único regulador de transcrição pode fazer parte de diferentes
combinações de proteínas (combinator control) e consequentemente “ligar” ou “desligar”
diversos genes podendo converter um tipo de célula noutro tipo.
Após o estudo da Drosophila chegou-se à conclusão que era possível fazer surgir olhos nas
patas com apenas um regulador de transcrição (Ey) que fazia parte do controlo de diferentes
genes. Alguns dos genes controlados por Ey irão actuar como reguladores e controlar a
expressão de outros genes, provocando uma cascata de regulações e expressões de genes que
irão levar à formação de um olho.
Controlos Pós-Transcrição:
Até agora vimos os reguladores de expressão génica. No entanto, existem outras formas de
regulação após a transcrição que actuam após a RNA polimerase se ter ligado ao promotor do
gene e a síntese de RNA ter começado. Esta regulação é crucial para determinados genes.
Sendo que esta interacção é necessária para uma eficiente tradução, constitui uma etapa ideal
para controlo. Nesta etapa, ao expor ou bloquear a sequência reconhecida pelo ribossoma, a
bactéria pode promover ou inibir a tradução do mRNA.
Nos eucariotas, o mRNA possui uma extremidade 5’ que não é transcrita e que ajuda a
orientar o ribossoma na direcção do codão AUG, onde começa a tradução. Nas células
eucariotas, os repressores podem inibir a tradução ligando-se à região do mRNA a esta
sequência específica impedindo assim que o ribossoma encontre o codão de iniciação,
controlando assim a tradução do mRNA.
Foi encontrado um RNA nas plantas e em animais, designado microRNA (miRNA). Sabe-se que
os humanos produzem mais de 400 miRNAs diferentes que regulam cerca de um terço dos
genes que codificam proteínas. Tal como o tRNA e o rRNA, o precursor do miRNA sofre um tipo
especial de processamento tornando-se então em miRNA maturo que irá associar-se com
proteínas especializadas, constituindo-se assim o RNA-induced silencing complex (RISC). O RISC
irá percorrer o citoplasma procurando mRNA que lhe sejam complementares. Uma vez
encontrado o mRNA complementar, este será destruído imediatamente por uma nuclease ou
então a sua tradução será bloqueada enviando-o para uma região do citoplasma onde haja
nucleases para o degradar. Após degradar esse mRNA, o miRNA irá procurar outros para
degradar, impedindo assim a síntese da proteína que esse mesmo mRNA codifica.
De facto, os miRNA são bastante úteis como reguladores da tradução, primeiro porque um
único miRNA pode regular uma grande quantidade de mRNA desde que apresentem a
sequência que lhe é complementar. Segundo, porque os genes que codificam os miRNA são
muito mais pequenos em comparação com os genes que codificam os reguladores de
transcrição, tanto que devido ao seu reduzido tamanho foram descobertos muito mais tarde.
A presença de cadeias de RNA estranhas atrai o RNAi que contem nucleases, designadas Dicer.
A Dicer quebra as duplas cadeias de RNA transformando-as em pequenos fragmentos
chamados small interfering RNAs (siRNAs). Estes pequenos fragmentos serão integrados nos
RISC (complexos que contêm miRNAs). O RISC descarta uma das cadeias de RNA e usa a outra
para procurar as restantes cadeias complementares. Desta forma, as moléculas de RNA
estranho são rapidamente degradadas e o organismo é defendido contra os ataques de vírus,
por exemplo.
Após vários estudos chegou-se à conclusão de que o RNAi permite “desligar” determinados
genes o que poderá ser muito útil no tratamento de doenças, uma vez que muitas delas
resultam de uma inapropriada expressão génica.