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Resumo
O objetivo geral deste trabalho foi apresentar um relato de experiência
sobre como a construção de jogos didáticos pode permitir melhor apreensão dos
conteúdos das unidades Ciclo de vida dos diferentes grupos de vegetais, Divisão
celular e Genética, com a participação dos alunos como sujeitos integrantes da
prática de ensino, na construção e utilização de recursos didáticos.
Participaram desse trabalho alunos da terceira série do ensino médio do
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. Buscou-se
discutir algumas formas de abordagem dos conteúdos favorecendo o processo de
aprendizagem na perspectiva da cognição, motivação e da dialogicidade. Os
resultados apontaram a necessidade de diversificação de metodologias de ensino
e de recursos que propiciem uma maior participação dos alunos no processo
ensino aprendizagem e confirmaram a importância da utilização de recursos
simples como dispositivos educativos motivacionais. Os sujeitos envolvidos
entenderam que participar do processo ensino aprendizagem potencializa a
construção do conhecimento científico.
Abstract
Integration of student teaching practice through the construction of
Introdução
A aquisição de conhecimentos elaborados exige abstração para a compreensão de suas
teorias, hipóteses, conceitos, princípios e pressupostos que são necessários para o entendimento
da relação dos seres vivos entre si e com o ambiente. O ensino de Biologia ainda hoje se organiza
de modo a privilegiar o estudo de conceitos, de métodos científicos e de hipóteses. Essa prática é
comumente considerada descontextualizada e desmotivadora pelo aluno, gerando a necessidade
de novos encaminhamentos metodológicos pelo professor.
O educador deve assumir também que “somente o diálogo, que implica um pensar crítico,
é capaz, também, de gerá-lo” (Freire, 2004a, p.83). Nesta perspectiva, a questão metodológica se
mostra fundamental no processo de ensino-aprendizagem, pois a exposição e/ou narração de
conteúdos, por si só, não consegue, de maneira significativa, dialogar com a realidade dos
estudantes e “por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou fazer algo quase morto” (Freire, 2004 b,
p. 57).
Objetivo
Os objetivos neste trabalho foram: construir, fazer o uso e avaliar os efeitos da utilização de
jogos como recurso didático em sala de aula, visando à discussão e à reflexão pelo professor e
pelos alunos envolvidos. Outro objetivo foi auxiliar no processo de ensino e aprendizagem dos
conteúdos referentes às unidades: a) Botânica, com ênfase no ciclo reprodutivo dos grupos de
vegetais; e b) Genética, com ênfase na transferência de características hereditárias humanas,
divisão celular, reprodução sexuada e variabilidade genética, considerando aspectos sociais –
preconceito.
Esse momento foi realizado a partir de: leituras, em grupo, de várias unidades temáticas de
livros didáticos do ensino médio; discussão sobre as diferentes formas de abordagem e de
apresentação de textos didáticos de diversos autores; percepção crítica das limitações das
apresentações bidimensionais das estruturas biológicas, assim como de esquemas, tabelas e
gráficos que porventura complementavam os temas.
A maioria das peças utilizadas foi composta por materiais reaproveitáveis como sucata e
embalagens vazias. Neste processo, levou-se em conta a natureza, a durabilidade e o custo do
material além dos cuidados necessários para o manuseio das peças que compunham os jogos.
Para a confecção desses jogos, foram envolvidos os 160 alunos da terceira série, divididos
em grupos de quatro componentes, de modo que cada grupo ficou responsável por um ciclo
reprodutivo. A duração do trabalho foi de oito semanas, incluindo o tempo de orientação pela
professora e de reuniões, definidas pelos alunos, para o desenvolvimento da tarefa. Os jogos se
encontram na escola e os alunos das séries anteriores irão utilizá-los.
Cada grupo de alunos unia um gameta feminino e um masculino retirados do pote. Com o
auxílio de um tabuleiro de madeira, com medidas de 15 cm de largura por 20 cm de altura,
elaborou-se uma planilha onde se discriminava o alelo de cada gameta com seus respectivos
fenótipos, além de aspectos como dominância, ausência de dominância e codominância.
Após a resolução teórica do fenótipo da “progênie”, cada grupo desenhou o perfil dos
indivíduos formados – características fenotípicas – utilizando folhas de papel brancas, lápis de cor,
cola e barbante, para montagem de um varal com exposição das figuras “humanas” construídas.
O resultado desse perfil se deu a partir da simulação do mecanismo de segregação aleatória e
independente dos alelos, representada pelo ato da retirada do par de alelos dos potes pelos
participantes durante a tarefa.
Ao final, foram iniciadas discussões mais amplas acerca dessa atividade enfatizando e
questionando os postulados de Mendel sobre a segregação independente e aleatória dos alelos
de um gene de cromossomos homólogos durante a divisão celular meiótica. Além disso, essa
atividade capacitou os alunos para caracterizar alelos como formas diferentes de um mesmo gene
e compreender terminologias específicas, como: alelo dominante, alelo recessivo, indivíduo
homozigótico, indivíduo heterozigótico, codominância, dominância completa, ausência de
dominância, determinação do sexo e ainda algumas síndromes na espécie humana. Nessa etapa,
os grupos puderam enriquecer a tarefa, problematizando questões sociais relativas ao
preconceito, à marginalização e ao racismo.
Resultados e Discussão
A abordagem metodológica utilizada se apóia na perspectiva da pesquisa qualitativa, uma
vez que privilegia o desenvolvimento do processo investigativo, assim como os resultados obtidos
Para cada recurso didático utilizado em aula, aplicou-se por duas vezes o mesmo
questionário, de modo que os fragmentos das ideias mais comuns fossem agrupados para uma
análise ampla. Ao término da dinâmica dos jogos, realizada durante oito aulas de biologia, os
grupos responderam e entregaram à professora o questionário em sala de aula. Cada fragmento
de resposta vem seguido da porcentagem da representação das ideias comuns, inseridas em uma
mesma categoria.
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Tabela 1 - Porcentagem de respostas extraídas da primeira questão do questionário
aplicado aos alunos da terceira série do ensino médio, ao final da utilização dos dois recursos
didáticos. Questão 1 - O que você mais gostou ao realizar tais tarefas propostas pela
professora? Justifique sua resposta.
Ideias apresentadas Respostas (%)
Aula 85
divertida/diferenciada/interessante
Aprende-se mais 80
Ter aula em grupo 75
Demonstrar capacidade 42,5
Pode-se notar nos registros que os jogos didáticos foram percebidos como recursos de
incentivo e de interação para maior participação nas aulas. Esse resultado sugere que a
Na questão 2 do questionário (tabela 2), 90% dos alunos afirmaram ter sido interessante a
utilização dos jogos durante as aulas. Essas opiniões externalizaram o reconhecimento de que
atividades aparentemente simples, como as sugeridas, podem apresentar um significativo avanço
no aprendizado.
O resultado apresentado sugere que uma proposta metodológica que tenha como objetivo
central gerar oportunidade aos alunos de se organizarem e, sobretudo de direcionarem
Considerações Finais
A construção e a utilização dos recursos didáticos propostos permitiram aos alunos
melhorar a apreensão dos conteúdos apresentados para o estudo. Além disso, possibilitou-lhes
entender que nem sempre as terminologias adotadas nas ciências biológicas devem ser vistas
como simples memorização.
Este trabalho evidenciou que os alunos podem ser responsáveis pelas suas próprias
aprendizagens, em decorrência de suas características enquanto sujeitos idiossincráticos. O
trabalho também sinalizou que a educação efetiva só ocorre se sustentada pelo processo de
construção coletiva e pela participação e, para tanto, há necessidade de mudanças didáticas. O
aluno deixa de ser objeto no processo e passa a construir e reconstruir, sob orientação do
professor, novos conceitos. A aquisição de conhecimentos estáveis e organizados passa a se
constituir fator educativo que influencia substancialmente na aquisição de novos conceitos.
Após finalizar este trabalho, confirmou-se que “o professor não pode obrigar o aluno a
aprender” e “ensinar não é o mesmo que aprender” (BORDENAVE; PEREIRA, 2001, p.58), pois o
processo de aprendizagem é desencadeado por várias estratégias, que incluem as motivações
intrínsecas e extrínsecas do indivíduo. A experiência vivenciada neste trabalho permitiu ao aluno
desenvolver a capacidade de aplicar o aprendido. Essa experiência também tornou possível,
através do conteúdo de Genética, realizar o exercício da conscientização acerca da miscigenação
Diante das considerações tecidas e dos resultados apresentados, pode-se inferir que na
concepção dos alunos, o processo de ensino e de aprendizagem, quando aliado à oportunidade
de manusear materiais pedagógicos por eles construídos e à de estreitar relações interpessoais
implica em uma forma de “aprender mais”. No entanto, salienta-se a não-garantia absoluta de
que determinado procedimento metodológico, mesmo executado a contento, efetivamente
contribua para a aprendizagem de todos os tipos de conteúdo.
Referências Bibliográficas
Bordenave, J. D.; Pereira, A. M. Estratégias de ensino–aprendizagem. Petrópolis: Vozes. 2001.
Freire, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
______. Pedagogia do Oprimido. 38. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.