Os Direitos Da Natureza Na Atual Constituição Equatoriana: o
Os Direitos Da Natureza Na Atual Constituição Equatoriana: o
Os Direitos Da Natureza Na Atual Constituição Equatoriana: o
Resumo: O presente estudo pretende abordar, a partir da análise do novo texto constitucional
equatoriano, a formulação dos direitos da natureza na chamada “Revolução Cidadã”, no
Equador, desencadeada na última década por meio dos governos de Rafael Correa (2007-2017).
Para isso, como recorte metodológico, a pesquisa pontuará o novo arcabouço jurídico que
envolve a promoção da Constituição de Montecristi, de 2008, à luz das teorias decoloniais na
América Latina em contraposição com as leituras anglo-saxãs de Nash (1989) e Stone (2010).
Neste contexto, a análise da pesquisa envolve a investigação dos dispositivos da atual
constituição, destacando os artigos que explanam a concepção dos direitos da natureza e o
princípio do buen vivir (sumak kawsay). Para a estruturação do artigo, a primeira seção será
destinada à explanação do conceito de direitos na natureza via autores latinoamericanistas
ligados às epistemologias do sul e, ao mesmo tempo, seus respectivos contrastes frente às teorias
do hemisfério norte. Feito isso, pontuaremos o processo constituinte equatoriano, em 2007, e as
contribuições dos movimentos sociais indígenas, especialmente a Confederação das
Nacionalidades Indígenas do Equador – CONAIE, na promulgação da nova Carta Magna com o
intuito de se pautar um novo Estado plurinacional no país e, sobretudo, a inserção da natureza
como sujeito de direitos. Por fim, na esteira dos desdobramentos da nova Constituição,
estabeleceremos algumas críticas e contradições a respeito da experiência equatoriana para se
pensar dos direitos da natureza na contemporaneidade frente a um país dependente dos recursos
petrolíferos e, acima de tudo, periférico no sistema internacional.
Palavras-Chave: Equador; Constituição de Montecristi; Direitos da Natureza; Buen Vivir e
neoextrativismo.
Abstract: The present study intends to approach, from the analysis of the new Ecuadorian constitutional
text, the formulation of the rights of nature in the so-called "Citizen Revolution" in Ecuador, triggered in
the last decade through the governments of Rafael Correa (2007-2017) . For this, as a methodological cut,
the research will point out the new legal framework that involves the promotion of the Montecristi
Constitution of 2008, in the light of decolonial theories in Latin America as opposed to the Anglo-Saxon
readings of Nash (1989) and Stone 2010). In this context, the analysis of the research will involve the
investigation of the provisions of the current constitution, highlighting the articles that explain the
conception of the rights of nature and the principle of good living (sumak kawsay). For the structuring of
the article, the first section will be devoted to the explanation of the concept of rights in nature by Latin
American authors linked to the epistemologies of the south and, at the same time, their respective
contrasts with theories of the northern hemisphere. This will mark the Ecuadorian constituent process in
2007 and the contributions of the indigenous social movements, especially the Confederation of
Indigenous Nationalities of Ecuador (CONAIE), in the promulgation of the new Magna Carta with the
intention of guiding a new plurinational State in the country and , above all, the insertion of nature as a
subject of law. Finally, in the wake of the unfolding of the new Constitution, we will establish some
criticisms and contradictions regarding the Ecuadorian experience in order to think about the rights of
nature in the contemporary world, and to a country dependent on oil resources and, above all, peripheral
in the international system .
Keywords: Ecuador; Constitution of Montecristi; Rights of Nature; Buen Vivir and neoextractivism.
1
Trabalho apresentado ao 44º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais (ANPOCS), a ser realizado de 01 a 11/12/2020. GT10 - Conflitos e desastres ambientais: colonialidade,
desregulação e lutas por territórios e existências.
2
Doutor em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina - PROLAM-USP. Mestre em
Ciências Sociais (Política) pela PUC-SP. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais -
NEILS/PUC-SP e no Centro Ibero-Americano da Universidade de São Paulo - CIBA/USP. Docente no Centro
Universitário SENAC - Santo Amaro – e na Faculdade de Guarulhos – FAG/Universidade Brasil. E-mail:
gustavo.menon@usp.br.
Introdução
Abordar os direitos da natureza, num primeiro momento, parece tarefa ligada aos
pesquisadores das ciências jurídicas. Entretanto, com a emergência dos movimentos e
atores ligados às causas do meio ambiente, a partir da segunda metade do século XX,
um grande debate sobre a preservação da natureza, nas mais variadas perspectivas, veio
à tona pautando questões como as mudanças climáticas, desflorestamento,
desertificação, efeito estufa entre outros fenômenos correlacionados com a crise
ecológica.
Desde o Clube de Roma, cientistas de diversas aéreas estão problematizando
cada vez mais os efeitos da intervenção do homem sobre o seu meio. Neste contexto, as
décadas de 1960 e 1970 são chaves para se interpretar uma maior organicidade por parte
dos movimentos ambientalistas. Obras anglo-saxãs como as de Carson (1962) e Jonas
(1979), pavimentaram o caminho para a ascensão de movimentos e organizações
ambientalistas como o World Wide Fund for Nature WWF e o Greenpeace. Tudo isso
em meio a um cenário de configuração da cultura hippie interligada à radicalização de
protestos nos Estados Unidos contrários à guerra no Vietnã. Ao mesmo tempo, a
conjuntura evidenciava lutas pelos direitos civis por parte do movimento negro
estadunidense a partir dos “Black Powers” e dos Panteras Negras.
Do ponto de vista institucional, desde a Conferência de Estocolmo, importantes
órgãos e programas foram criados com o intuito de se pensar novos caminhos para o
meio ambiente em escala mundial, como o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente – PNUMA (1972). O conceito de desenvolvimento sustentável, delineado via
relatório Brundtland (1987), se consolidou num cenário de extinção da Guerra Fria,
colocando em evidencia uma pauta inédita sobre o meio ambiente. Somado à criação do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, a passagem da década
de 1980 para 1990 teve como grande marco a promoção da RIO – 92 e a formulação da
Agenda 21, onde a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável com o
compromisso de governos e setores da sociedade civil ganhou destaque no campo das
relações internacionais. As Cúpulas de Johanesburgo (2002) e a Rio + 20 (2012)
alertaram a comunidade internacional para os efeitos da intervenção humana sobre os
recursos. Diversos tratados foram celebrados tendo como foco a questão ambiental. O
último deles, de maneira mais sintomática, foi o acordo de Paris em 2015, prevendo a
redução da emissão dióxido de carbono por parte dos Estados a partir de 20203.
Desde então o debate sobre a natureza ser ou não ser um sujeito de direito
levantou uma série de reflexões por parte de teóricos de todo o globo. A partir disso, o
presente estudo pretende mapear algumas possibilidades de se entender os chamados
direitos da natureza. Para tanto, explanaremos as abordagens vinculadas à tradição
liberal e, em contraposição a essa perspectiva, sinalizaremos a emergência das
epistemologias do sul, ligadas às teorias pós-coloniais. Do ponto de vista documental e o
estudo de caso em questão, analisaremos a celebração da Constituição do Equador, de
2008, e seus respectivos artigos referentes aos direitos da natureza. Por fim, este estudo
pretende levar o leitor a refletir sobre as contradições candentes acerca da natureza
como um sujeito de direitos a partir da experiência equatoriana da última década.
3
Para uma visão mais completa sobre o histórico do movimento ambientalista e, especificamente, a
promoção do conceito de desenvolvimento sustentável no interior do sistema ONU a partir de uma
abordagem neoinstitucional, ver O‟neill, Kate (2009) e Chambers, W. Bradnee (2008).
4
Um dos primeiros documentos que expõem os valores liberais celebrados no âmbito da cultura
angloamericana é a Carta Magna de 1215, que impunha certos limites as arbitrariedades e vontades dos
reis na Inglaterra.
liberdades e direitos dos indivíduos e, ao mesmo tempo, dividido no âmbito de suas
funções e responsabilidades.
Nos Estados Unidos, o legado liberal, de conotação antropocêntrica, se
concretizou nas lutas de emancipação e na Declaração de Independência de 1776.
Diante de tal quadro, garantias civis e políticas foram sendo, gradualmente,
estabelecidas considerando o homem como um cidadão e um sujeito de direitos 5 .
Entretanto, como pensar o surgimento de outros elementos não humanos como
portadores de certos direitos?
De acordo com Nash (1989), um primeiro grande debate, no bojo da
modernidade, a respeito de questões éticas não humanas e diante do mundo animal foi a
problematização da vivisseção por parte de cientistas de todo o mundo. Descartes, por
exemplo, ao se debruçar na relação homem-natureza, garantiu a superioridade humana a
partir da razão, considerando os animais maquinas insensíveis e irracionais.
Contrariando toda noção de superioridade e apropriação humana insensata sobre a
natureza, Jeremy Bentham (1748-1832) foi um dos pioneiros no debate ético sobre todos
seres vivos na Terra. Embora o foco de sua teoria seja os seres humanos, a aplicação de
seu pensamento estende-se a todos os seres que são capazes de sentir dor ou prazer,
incluindo, especialmente, os animais (BETNHAM, 1907).
5
No caso dos EUA, o direito pelo sufrágio da mulher foi estabelecido em 1920, enquanto que dos índios
norte-americanos conquistados em 1924. A população negra teve seus direitos reivindicados e
conquistados a partir das manifestações das décadas de 1950 e 1960.
Dessa forma, a tradição liberal começava a vislumbrar o reconhecimento de
certas garantias a não humanos via extensão ética dos direitos naturais do homem. Ainda
no século XIX, influenciado pela obra de Henry David Thoreau, SALT (1980) se
colocou a favor dos direitos animais, advogando em prol do vegetarianismo. Dessa
forma, para Nash (1989) e Stone (2010) os direitos da natureza só podem ser pensados
em meio à forte tradição liberal anglo-americana de expansão dos direitos. Segundo
eles, os direitos da natureza serão conquistados e contemplados a partir de uma evolução
ética dos direitos naturais, onde o homem reconhecerá o todo a sua volta.
6
O povo Sarayaku está localizado na parte leste da Amazônia equatoriana, no curso médio da bacia do rio
Bobonaza, pertencente à província de Pastaza. Como um povo Kichwa, Sarayaku é composto por 7
comunidades. Possui uma extensão territorial de aproximadamente 135 mil hectares. 95% do território de
Sarayaku é floresta primária, com grande potencial para a biodiversidade. Segundo a visão dos povos
indígenas, os ecossistemas dos territórios formam três unidades ecológicas essenciais; Sacha (Selva),
Yaku (rios) e Allpa (terra). Cada um desses ecossistemas sustenta uma infinidade de espécies faunísticas e
florísticas transcendentes à experiência das nacionalidades e povos amazônicos. Assim o povo de
un ser vivo, con conciencia, constituido por todos los seres de la Selva,
desde los más infinitesimales hasta los seres más grandes y supremos;
incluye a los seres de los mundos, animal, vegetal, mineral, espiritual
y cósmico, en intercomunicación con los seres humanos brindándoles
a estos lo necesario para revitalizar sus facetas psicológicas, físicas,
espirituales, restableciendo así la energía, la vida y el equilibro de los
pueblos originarios. Es en las cascadas, las lagunas, los pantanos, las
montañas, los ríos, los árboles y otros lugares del territorio, donde los
Seres Protectores de Kawsak Sacha, habitan y desarrollan una vida
propia, semejante a la de los seres humanos. El Kawsak Sacha
transmite los conocimientos al yachak para que interactúen en el
mundo de los Seres Protectores de la Selva, a fin de mantener el
equilibro de la Pachamama, sanar a las personas y a la sociedad. Este
conocimiento es metódicamente mantenido y transmitido a las nuevas
generaciones. El equilibrio natural del universo, la armonía de la vida,
la perpetuidad cultural, la existencia de los seres vivos y la continuidad
del Kawsak Sacha, dependen de la permanencia y de la transmisión de
los poderes de los Seres Protectores de la Selva. También corresponde
a estos Seres y el yachak mantener una relación de respeto y equilibrio
entre los seres humanos y los seres de la selva (SARAYAKU, 2018, p.
02).
Sarayaku tem essa visão e missão de preservar e uso sustentável e uso sustentável dos recursos naturais
em seus territórios, para fortalecer Sumak Kawsay (vida em harmonia) e assegurar a continuidade do
Kawsak Sacha (Selva viva). Sarayaku tem 1200 habitantes. Toda a população fala Kichwa. Os jovens
praticam a língua espanhola nas escolas e escolas bilíngues interculturais. A maioria da população vive da
agricultura, coleta, caça e pesca, base fundamental da economia comunitária e solidária da cidade. Há
também pequenos programas produtivos e iniciativas familiares, como a fabricação e venda de artesanato,
turismo comunitário, avicultura e piscicultura, que garantem alimentos, segurança econômica e melhoram
a qualidade de vida das famílias (SARAYAKU, 2018).
El Sumak Kawsay en su traducción literal desde el kichwa significa
buena vida o bien vivir. Este concepto proviene y se sintoniza con las
culturas indígenas andinas de América del Sur y es acogido por el
Ecuador con el „buen vivir‟. Plantea una cosmovisión de armonía de
las comunidades humanas con la naturaleza, en la cual el ser humano
es parte de una comunidad de personas que, a su vez, es un elemento
constituyente de la misma Pachamama, o madre tierra. El Sumak
Kawsay practicado por las comunidades indígenas se sustenta en un
modo de vida en el que las personas siendo parte de la naturaleza
viven bajo principios milenarios y fundamentales que determinan que
„sólo se toma de la naturaleza lo necesario‟, con una vocación clara
para perdurar. Esto se evidencia en la utilización de las plantas y
animales de los ecosistemas para satisfacer sus necesidades de
alimentación, hábitat, salud, movilidad, entre otras (QUIROGA, 2009,
p. 104-105).
7
Mais informações sobre os dados sociais do Equador em meio a crise dos anos 1990, ver ACOSTA,
Alberto (2005). Quanto ao debate sobre a dependência equatoriana, considerar MARINI, Ruy Mauro
(2000) e CUEVA, Augustin (1997).
Tratado de Cooperação Amazônica 8 , de 1978, fora violado em dezenas de artigos e
princípios. No entanto, as multas destinadas à empresa foram revistas em cortes
estadunidenses. Além do prejuízo ao solo e aos rios no município de Nueva Loja,
inúmeros habitantes foram diagnosticados com câncer e problemas de pele em virtude
dos vazamentos petrolíferos (PÉREZ & TORRES, 2014). Indígenas e movimentos
sociais se rebelaram contra a empresa transnacional. O sumak kawasy parecia então
palavra de ordem no sentido da reorientação política equatoriana e seu modelo de pensar
o desenvolvimento socioeconômico no país. A fissura deixada pelo neoliberalismo abriu
margem para que essas discussões de plurinacionalidade, buen vivir e direitos da
natureza fossem colocados na ordem do dia em meio ao processo constituinte de 2007.
8
Para uma análise do tratado e suas perspectivas quanto ao desenvolvimento regional e o crescimento
econômico com preservação do meio-ambiente amazônico, ver GARCIA, Beatriz (2011).
Decidimos construir Una nueva forma de convivencia ciudadana, en
diversidad y armonía con la naturaleza, para alcanzar el buen vivir, el
sumak kawsay; Una sociedad que respeta, en todas sus dimensiones, la
dignidad de las personas y las colectividades; Un país democrático,
comprometido con la integración latinoamericana – sueño de Bolívar y
Alfaro-, la paz y la solidaridad con todos los pueblos de la tierra
(CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DEL ECUADOR, 2008).
9
Para os direitos específicos das comunidades indígenas e afro equatorianas, ver Capítulo quarto da
Constituição, “Derechos de las comunidades, pueblos y nacionalidades”, especialmente os artigos 56, 57,
58, 59 e 60.
Art- 74-- Las personas, comunidades, pueblos y nacionalidades
tendrán derecho a beneficiarse del ambiente y de las riquezas naturales
que les permitan el buen vivir.
Los servicios ambientales no serán susceptibles de apropiación; su
producción, prestación, uso y aprovechamiento serán regulados por el
Estado (CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DEL ECUADOR,
2008).
Neste contexto, a inovação aqui presente é que a natureza deixa de ser vista
como apenas um objeto do qual se extraem os recursos para nossa existência. Agora, a
natureza passa a ter também um sujeito de direito, o que implica respeito à reprodução
de seus ciclos, a sua restauração e seus processos evolutivos. Isso significa, em tese,
colocar um fim à marcha “civilizatória” do capitalismo contemporâneo que suga os
recursos naturais para a produção de mercadorias e fomento do hiperconsumo,
destruindo, dessa forma, cada vez mais o planeta. A crise ambiental com o aparecimento
de fenômenos como o aquecimento global, o el nino, o aumento das emissões de gases
nocivos ao meio ambiente e outras catástrofes climáticas são, a partir de dessa
perspectiva, apenas os sintomas desse modelo extrativista e prejudicial ao planeta. Falar
em buen viver, então, requer reorientar o pensamento ocidental entendendo a natureza
como elemento vital para a existência dos seres (humanos e não humanos).
Contrariamente às epistemologias tradicionais da modernidade, de acordo com tais
concepções indígenas ancestrais, deve existir uma indissociabilidade entre o homem e a
natureza. Dessa forma, o novo texto constitucional “deixa de enxergar a natureza como
mera fonte de recursos naturais e passe a encará-la, como sempre fizeram os povos
originários, como uma mãe ou, em palavras ocidentais, como um sistema cujo bom
funcionamento é essencial à vida do planeta” (BREDA, 2011, p. 152).
Sem dúvidas, aí está uma grande contribuição dada pelos movimentos sociais
constituintes equatorianos: com o novo texto, a natureza deixa de ser uma propriedade e
passa a ser um sujeito. A nova Carta Magna, portanto, alega que a defesa natureza e sua
respectiva preservação é, no fundo, uma ampla defesa à vida. Concebendo a terra como
uma verdadeira mãe, ficaria então todos sujeitos – incluindo o Estado - responsáveis
pela sua preservação e manutenção, não cabendo formas predatórias de mercantilização
e exploração. Afinal, como todos sabem, mãe se cuida e valoriza (não se vende!).
Contudo, a controvérsia sobre os direitos da natureza levantou as seguintes
considerações: como um ser dotado de direitos não possui deveres? Mais do que isso,
como a natureza reivindicará seus direitos perante os tribunais e às devidas instâncias
adequadas no Equador?
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“Art. 395 - La Constitución reconoce los siguientes principios ambientales: 1. El Estado garantizará un
modelo sustentable de desarrollo, ambientalmente equilibrado y respetuoso de la diversidad cultural, que
conserve la biodiversidad y la capacidad de regeneración natural de los ecosistemas, y asegure la
satisfacción de las necesidades de las generaciones presentes y futuras. 2. Las políticas de gestión
ambiental se aplicarán de manera transversal y serán de obligatorio cumplimiento por parte del Estado en
todos sus niveles y por todas las personas naturales o jurídicas en el territorio nacional. 3. El Estado
garantizará la participación activa y permanente de las personas, comunidades, pueblos y nacionalidades
afectadas, en la planificación, ejecución y control de toda actividad que genere impactos ambientales. 4.
En caso de duda sobre el alcance de las disposiciones legales en materia ambiental, éstas se aplicarán en el
sentido más favorable a la protección de la naturaliza”
Art. 400 - El Estado ejercerá la soberanía sobre la biodiversidad, cuya administración y gestión se
realizará con responsabilidad intergeneracional. Se declara de interés público la conservación de la
biodiversidad y todos sus componentes, en particular la biodiversidad agrícola y silvestre y el patrimonio
genético del país”
(CONSTITUCIÓN DE LA REPÚBLICA DEL ECUADOR, 2008).
(NETO & ARAÚJO, 2015). Sair do texto constitucional, mudar seu modelo de
acumulação, predominante extrativista, e avançar para uma visão biocêntrica de
preservação da natureza talvez seja o maior desafio equatoriano da contemporaneidade
11
Para um debate sobre o caso Yasuní-ITT, ver Menon (2019). Quanto a transição de uma economia
petroleira para uma economia verde, ver o debate de DORYAN GARRÓN & LÓPEZ CASTRO (1993).
catalisando recursos oriundos das exportações petrolíferas. A encruzilhada equatoriana
dos direitos da natureza parece encontrar entraves em meio ao modelo de política
econômica adotada no país de natureza (neo)desenvolvimentista. Em especial, no setor
petrolífero durante os governos da “Revolução Cidadã”. Inúmeras perguntas
permanecem em aberto: como sair da condição de subdesenvolvimento sem a
exploração dos recursos? É possível conciliar a questão do buen vivir e,
consequentemente, os direitos da natureza com os dinamismos do modo de produção
capitalista atual? Pensar as questões essenciais do país, como o modelo econômico e
jurídico, via epistemologias neoclássicas oriundas da Europa ou fortalecer cosmovisões
decoloniais? Em que apostar: preservação ou exploração dos recursos para a saída da
condição de um país periférico e com fortes déficits sociais? Eis os dilemas equatorianos
na alvorada do século XXI.
REFERÊNCIAS:
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es ahora. Abya Yala. Quito, 2009.
• DAVALOS, Pablo. El “Sumak Kawsay” (“Buen vivir”) y las censuras del desarrollo. Quito:
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• DORYAN GARRÓN, Eduardo; LÓPEZ CASTRO, Grette. Transición - hacia una economía
no petrolera en Ecuador: retos y perspectivas. Quito: INCAE. 1993.
• DUSSEL, Enrique. 20 Teses de Política. Editora: Expressão Popular, São Paulo, 2003.
• GARCIA, Beatriz (2011). “The 1978 Amazon Cooperation Treaty” in Beatriz Garcia The
Amazon from an International Law Perspective, Cambridge University Press, 2011.
• JONAS, Hans. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para uma civilização
tecnológica (1979). Trad. Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro:
Contraponto, PUC Rio, 2006.
• LOCKE, John. O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Tradução: Magda Lopes e
Marisa Lobo da Costa. Editora Vozes: Petrópolis, 1994.
• MONTESQUIEU, Conde. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
• NASH, Roderick Franzier. The Rights of Nature: a history of environmental ethics. The
University of Wisconsin Press, 1989.
• QUIROGA, Dania. Sumak Kawsay: hacia um nuevo pacto social en armonía con la
Naturaleza. In: ACOSTA, Alberto; MARTÍNEZ, Esperanza (Ed.). El Buen Vivir: una vía para
el desarrollo. Quito: Abya Yala, 2009.
• SALT, Henry. Animals’ rights: Considered in relation to social progress. Clarks Summit,
PA: Society for Animal Rights, 1980.
• SANTAMARÍA, Ramiro Ávila. El neoconstitucionalismo transformador: el estado y el
derecho en la constitución de 2008. Quinto: Abya-Yala; Universidad Andina Simón
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• STONE, Christopher D. Should trees have standing? : law, morality, and the
environment. Oxford University Press, 2010.
• THOREAU, Henry David. A desobediência civil. Tradução: Sérgio Karam. Porto Alegre:
L&PM, 1997.