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Psico-USF, Bragança Paulista, v. 23, n. 3, p. 497-511, jul./set.

2018 497

Avaliação de Candidatos Pretendentes no Processo de


Habilitação para Adoção: Revisão da Literatura

Mariana Silva Cecílio1


Fabio Scorsolini-Comin 2
1
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG
2
Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP

Resumo
Este estudo teve por objetivo compreender de que modo a avaliação de pretendentes à adoção no contexto brasileiro vem
sendo abordada, descrita e problematizada na literatura científica, por meio de uma revisão integrativa. A partir de critérios
preestabelecidos, nas bases SciELO, PePSIC, LILACS e PsycINFO (2006-2016), foram recuperados 30 estudos, analisados pela
estratégia PRISMA. Predominam estudos empíricos, de caráter qualitativo, com instrumentos e amostras variados. Em geral, os
estudos discutem uma cultura da adoção em que a criança é reconhecida como protagonista, bem como diferentes configura-
ções familiares que ganham visibilidade e buscam legitimidade. Apenas oito estudos permitem a visualização de instrumentos/
técnicas, desafios, recomendações e críticas presentes no processo avaliativo. No entanto, em nenhum momento a avaliação de
pretendentes é foco de problematização, limitando compreensões acerca da prática profissional e sugerindo tratar-se de uma
análise subjetiva pelos aspectos abstratos que abarca. Investigações futuras acerca dos atores envolvidos nos bastidores da ado-
ção são sugeridas.
Palavras-chave: processos legais, avaliação psicossocial, atuação do psicólogo, psicologia jurídica

Evaluation of Applicant in the Enabling Process for Adoption: Literature Review


Abstract
The aim of this study was to understand how the evaluation of applicants for adoption in the Brazilian context has been
approached, described and problematized in the scientific literature, by means of an integrative review. Based on pre-established
criteria, 30 studies were retrieved in the SciELO, PePSIC, LILACS and PsycINFO databases (2006-2016) and analyzed by the
PRISMA strategy. Empirical studies of qualitative character predominate, with varied instruments and samples, and which,
in general, discuss a culture of adoption in which the child is recognized as the protagonist, as well as different family con-
figurations gain visibility and seek legitimacy. Only eight studies allow the visualization of instruments/techniques, challenges,
recommendations and criticisms present in the evaluation process. However, the evaluation of applicants does not appear as a
focus of problematization in the studies, limiting comprehension about professional practice and suggesting that it is a subjec-
tive analysis by the aspects it encompasses. Further studies on the actors involved in the adoption process are suggested.
Keywords: Legal processes; psychosocial evaluation; performance of the psychologist; legal psychology

Evaluación de Candidatos Pretendientes en el Proceso de Habilitación para Adopción: Revisión de Literatura


Resumen
Este estudio tuvo como objetivo comprender de qué forma es abordada, descripta y problematizado en la literatura científica,
la evaluación de pretendientes a adopción en el contexto brasileño, por medio de una revisión integrativa. A partir de criterios
preestablecidos, en las bases de datos Scielo, PePSIC, LILACS y PsycINFO (2006-2016), fueron recuperados 30 estudios, anali-
zados por la estrategia PRISMA. Predominan estudios empíricos, de carácter cualitativo, con instrumentos y muestras variadas.
En general, los estudios discuten una cultura de adopción en la cual el niño es reconocido como protagonista, así como dife-
rentes configuraciones familiares que ganan visibilidad y buscan legitimidad. Sólo ocho estudios permiten la visualización de
instrumentos / técnicas, desafíos, recomendaciones y críticas presentes en el proceso de evaluación. Sin embargo, en ningún
momento la evaluación de los pretendientes es foco de problematización, limitando las comprensiones sobre la práctica profe-
sional y sugiriendo tratarse de un análisis subjetivo por los aspectos abstractos que abarca. Se sugieren investigaciones futuras
sobre los actores envueltos en los bastidores de la adopción.
Palabras-clave: procesos legales; evaluación psicosocial; actuación del psicólogo; psicología jurídica

Introdução pretendentes à adoção é um tema que tem despertado o


interesse de diferentes públicos que compõem os bas-
Em tempos de intensa ressignificação da cultura da tidores desse processo. A fim de fomentar a “adoção
adoção, buscando-se vigorar o princípio do melhor inte- legal”, sob a propaganda de maior segurança e proteção
resse da criança e do adolescente, conforme preconizado à família que inicia a construção de um vínculo socioa-
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990) fetivo, algumas etapas no processo de habilitação devem
e reforçado pela Lei 12.010 (Brasil, 2009), a avaliação de ser seguidas pelos pretendentes (Costa & Campos, 2003).
Disponível em www.scielo.br http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712018230309
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Nesse contexto, sendo de responsabilidade da prévias, a fim de minimizar situações de riscos, aumen-
Justiça da Criança e da Juventude a “seleção” dos can- tando as chances da adoção ser bem-sucedida (Costa &
didatos aptos à adoção, ou seja, a busca de uma família Campos, 2003; Campos & Costa, 2004).
para uma criança, e não ao contrário, como acontecia Considerando, portanto, o trabalho da equipe téc-
na adoção clássica (Weber, 2010). Dentre as catego- nica na avaliação, com vistas às etapas subsequentes de
rias profissionais implicadas no processo, encontra-se preparação, acompanhamento e aproximações sucessi-
uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos vas entre criança-pretendentes, a partir da valorização
e assistentes sociais, como corpo técnico de asses- de informações e orientações recebidas (Vargas, 1998;
soramento e perícia; promotores, representantes do Weber, 1997), é possível reconhecer a relevância dessa
Ministério Público, responsáveis por acompanhar o etapa, tendo em vista seu caráter imprescindível para
processo como fiscais da lei e fundamentar o pedido respaldar a decisão de colocação de crianças/adoles-
de destituição do poder familiar; e juízes, cumpridores centes em família substituta (Campos & Costa, 2004;
de sua função judicante (Campos & Costa, 2004; Fer- Ferreira, 2010). No entanto, o que também é preciso
reira, 2001, 2010; TJSP, 2007). Sobre essa “divisão de destacar a aparente escassez de estudos científicos
tarefas”, o que é importante ser destacado refere-se ao que retratem vivências tanto das equipes quanto das
estudo psicossocial, a ser realizado pela equipe técnica, famílias durante a realização dessas avaliações (Scor-
incumbido de reunir informações que deem subsídio solini-Comin et al., 2015), bem como estudos que
para o parecer final, habilitando ou não os pretendentes discutam os protocolos empregados por psicólogos
a exercerem a parentalidade adotiva (Weber, 1997). e assistentes sociais nessa prática profissional, permi-
O estudo ou avaliação psicossocial tende a acon- tindo que se conheça e desmistifique uma atuação ainda
tecer durante todo o processo de habilitação dos pouco compreendida, sobretudo por se tratar de um
pretendentes à adoção, desde os primeiros contatos da contexto judicial que pode sugerir arbitrariedade em
equipe com estes à apresentação e estabelecimento do suas decisões. Para tanto, este estudo teve por objetivo
estágio de convivência com a criança, no qual se busca compreender de que modo a avaliação de pretendentes
averiguar, dentre vários aspectos, a adaptação dela à à adoção no contexto brasileiro vem sendo abordada,
nova família (Costa & Campos, 2003). O fato é que, descrita e problematizada na literatura científica nacio-
quando se fala em adoção, muitos aspectos emocionais nal e internacional, por meio de uma revisão integrativa.
e subjetivos se manifestam como uma espécie de alerta
diante do novo e do desconhecido, invadindo os futu-
Método
ros pais adotivos de sentimentos ambivalentes, sendo
imprescindível que se reserve um espaço para se pensar,
refletir, falar e elaborar: motivações, fantasias, angústias, Tipo de Estudo
traumas, a ansiedade de espera, a necessidade de adap- Trata-se de uma revisão integrativa da literatura.
tação na convivência e às expectativas mútuas geradas
(Gondim et al., 2008; Hueb & Cecílio, 2015; Merçon- Bases Indexadoras e Unitermos de Busca
Vargas, Rosa, & Dell´Aglio, 2015). Foram utilizados os indexadores eletrônicos
Nesse panorama, parte-se do pressuposto de que SciELO, PePSIC, LILACS e PsycINFO. A defini-
caberia aos profissionais que lidam diretamente com ção dos unitermos de busca foi baseada nos índices
essas manifestações não se limitarem a uma perícia de Terminologia Psi Alfabética e DeCS-LILACS, bem
seleção dos pretendentes, mas promoverem um trabalho como no vocabulário disponibilizado nas bases SciELO
de escuta e esclarecimento quanto ao trâmite proces- e PePSIC. Com seus correspondentes em inglês e
sual, ao perfil da criança (disponível e esperada) e o tipo espanhol, foram realizados cruzamentos, a partir do
de relação a ser construída com ela, ao amadurecimento operador booleano “and”, com os descritores: “adoção”
emocional e à elaboração em relação ao projeto adotivo (“and” processo de habilitação; processo de adoção;
(Costa & Campos, 2003; Tribunal de Justiça do Estado processo de avaliação; avaliação psicológica; avaliação
de São Paulo [TJSP], 2007; Weber, 1997), que deve se psicológica forense; avaliação psicossocial; estudo psi-
basear, necessariamente, em um relacionamento fami- cossocial; estudo psicossocial forense; processos legais;
liar calcado no afeto. A coleta de informações durante contexto judicial; contexto judicial; jurisprudência;
a avaliação, então, poderá dizer não apenas dos preten- psicologia jurídica; psicologia forense; atuação do psicó-
dentes e de sua dinâmica familiar, mas da relação de logo; laudos psicológicos; lei/lei; pais adotivos; perícia
confiança que ali será estabelecida com a equipe, abrin- psicológica; atuação profissional; homoparentalidade;
do-se possibilidades para a realização de intervenções pais homossexuais; pretendentes; homossexualidade);
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“adotantes” (“and” processo de habilitação; processo 2007), que representa um acrônimo para paciente,
de adoção; avaliação; avaliação psicológica; avaliação intervenção, comparação e “outcomes” (desfecho), faci-
psicológica forense; avaliação psicossocial; estudo psi- litando a recuperação de evidências nas bases de dados.
cossocial; processos legais; psicologia jurídica; lei/leis; A pergunta norteadora ficou redigida da seguinte
laudos psicológicos); “pais adotivos” (“and” processo forma: como a avaliação (I) de candidatos pretenden-
de adoção; processo de avaliação; avaliação psicológica; tes à adoção (P) é abordada na literatura científica em
avaliação psicossocial; processos legais; jurisprudência; termos de características, processos, contextos e prá-
atuação do psicólogo; lei/leis); e “homoparentalidade” ticas (O)?; (2) levantamento bibliográfico nas bases
(“and” jurisprudência; lei/leis; processos legais; ava- eletrônicas em um único dia, em julho de 2016; (3)
liação psicológica; processo de adoção). Por fim, foi leitura e análise dos artigos encontrados pelos títu-
realizada uma combinação entre os três descritores: los e resumos; (4) aplicação dos critérios de inclusão
“adoção”, “avaliação” e “pais”. e exclusão por dois juízes independentes, havendo a
possibilidade de acionar um terceiro juiz para solucio-
Critérios de Inclusão nar possíveis discordâncias na inclusão, ou não, dos
Nesta revisão, foram selecionados: (a) artigos registros; (5) seleção e leitura dos textos na íntegra;
indexados; (b) redigidos nos idiomas português, inglês (6) composição do corpus de análise, a partir de artigos
e espanhol; (c) publicados no período de janeiro de recuperados; (7) categorização dos estudos, permi-
2006 a junho de 2016, buscando-se priorizar a pro- tindo melhor visualização das informações principais;
dução recente acerca do tema; (d) que apresentassem (8) apresentação da revisão/síntese do conhecimento,
pertinência ao objetivo da revisão de compreender o pautando-se nas recomendações do sistema PRISMA
modo como a avaliação de pretendentes à adoção no (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta
contexto brasileiro é abordada, descrita e problemati-
-Analysis), preconizados em sua lista de verificação de
zada, sendo necessário que ela fosse mencionada como
27 itens-guia, para avaliar as características da redação
uma das etapas no processo de habilitação. Não foram
considerando-se, por exemplo: critério de elegibili-
feitas restrições quanto às abordagens teóricas ou ao
dade, caracterização/especificação dos estudos, se há
delineamento metodológico (pesquisas teóricas, empíri-
risco de viés entre eles e como isso pode afetar a revi-
cas, quanti, quali, mistas, estudos de casos), bem como
optou-se por não delimitar a área em que os artigos são, entre outros (Moher, Liberati, Tetzlaff, Altman, &
foram publicados, considerando a temática objeto de PRISMA Group, 2009). Com a finalidade de apresen-
investigação interdisciplinar. tar uma análise crítica das contribuições encontradas
na literatura, os estudos revisados foram agrupados
em quatro eixos temáticos: (a) o antes e o agora: (re)
Critérios de Exclusão
(a) Livros, capítulos de livro, cartas, resenhas, notí- construindo uma “nova” cultura de adoção; (b) per-
cias, anais de congressos, editoriais, dissertações, teses e fis de filiação adotiva, marcadores identitários e a
obituários; (b) artigos publicados no período anterior a construção do vínculo; (c) família(s) e os olhares dos
janeiro de 2006; (c) estudos que não abordem a avaliação futuros intervenientes sociais; (d) avaliação de preten-
de pretendentes no processo de adoção, por exemplo: dentes à adoção: limites, possibilidades e demandas.
as experiências e repercussões da adoção na dinâmica
familiar; os mitos e fantasias envolvidos na adoção; (d) Resultados
estudos que abarcassem amostras compostas por pes-
soas de outros países, que não o Brasil, ou que não se Foram encontradas 1.752 ocorrências que cor-
referissem à adoção no contexto brasileiro; (e) revisões respondiam à somatória de todas as buscas realizadas,
de literatura (sistemáticas, integrativas, meta-análises); por meio das combinações entre descritores já mencio-
(f) estudos indisponíveis na íntegra, por meio de acesso nadas. A partir desse montante, muitos artigos foram
via universidade pública. descartados por não abordarem o tema da adoção, bem
como por não fazerem qualquer menção ao processo
Procedimento de adoção, aos profissionais e/ou às etapas de avalia-
A revisão foi realizada em oito fases (Mendes, ção e habilitação, abarcando, por exemplo: a preparação
Silveira, & Galvão, 2008): (1) identificação do tema e de crianças e adolescentes ou dos candidatos, os senti-
construção da pergunta norteadora, a partir da apli- mentos evocados durante a espera na fila ou questões
cação da estratégia PICO (Santos, Pimenta, & Nobre, referentes à adaptação e construção de vínculos. Outra
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parcela de estudos foi excluída por debater questões de por abordarem outros assuntos pertinentes ao mundo
adoção em outros países – como histórias de crianças/ da adoção, e artigos lidos na íntegra por nem ao menos
adolescentes e suas famílias (de origem e por adoção) mencionarem a etapa de avaliação de pretendentes. A
e relatos sobre o processo de adoção – que há especi- respeito dos estudos selecionados para análise, para
ficidades de leis e de colocação em família substituta melhor delineamento dos resultados encontrados,
em cada país, não sendo o nosso intuito fazer um destaca-se a seguir os seguintes subtópicos: “perfil dos
mapeamento de como é abordada a avaliação de pre- estudos recuperados” e “estratégias metodológicas, ins-
tendentes fora do contexto brasileiro. Os detalhes do trumentos utilizados e objetivos”.
procedimento de seleção e composição do corpus de
análise estão representados na Figura 1. Perfil dos Estudos Recuperados (N = 30)
Após uma seleção por título, resumo e texto com- Em termos do período de publicação, a maior
pleto, 30 estudos foram recuperados para a realização concentração de estudos ocorreu nos anos de 2008,
de uma análise crítica sobre a temática na produção 2013 e 2015, com quatro publicações em cada ano,
científica. Na Figura 1, pode-se observar o passo a enquanto os demais artigos tiveram três (2006, 2007,
passo, destacando os motivos de exclusão para cada 2011, 2014 e 2016) e uma publicação (2009, 2010 e
base de dados, sendo descartados artigos pelo resumo, 2012). Quanto ao veículo de publicação, o periódico

Figura 1. Fluxograma com os procedimentos de seleção dos artigos.


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de maior frequência foi Psicologia & Sociedade com qua- campo (n = 1); instrumento elaborado com questões
tro estudos, seguido dos demais: Paidéia, com três, e abertas e fechadas (n = 1); dados estatísticos disponi-
Aletheia, Psicologia: Teoria e Prática, Psicologia: Teoria e bilizados em um site da Justiça e Juventude (n = 1);
Pesquisa, Temas em Psicologia, com dois estudos publi- Etnografia (n = 1); observação direta (n = 2); leitura e
cados cada. A maioria dos estudos foi redigida no reflexão de um livro (n = 1). Salienta-se que oito estu-
idioma português (n = 27), considerando o fato do dos empregaram mais de um instrumento na coleta de
contexto brasileiro ser alvo de investigação nesta dados, um estudo aplicou um estudo-piloto para veri-
revisão, enquanto os demais (n = 3) foram redigidos ficar a adequação dele e um apresentou uma consulta
no idioma inglês, não sendo encontrado nenhum no de juízes em sua elaboração, sugerindo a realização de
idioma espanhol. Caracterizando o primeiro autor uma triangulação dos dados.
de cada estudo, encontrou-se apenas a repetição de Em relação à população investigada, foram
dois autores na primeira posição (Araújo et al., 2007; incluídos pretendentes heterossexuais (solteiros, casa-
2008; Fonseca, 2006; 2008) e que a maioria é do sexo dos ou separados) que se encontravam em etapas
feminino (n = 25). Em termos das instituições de ori- específicas do processo de adoção (n = 4); estudantes
gem dos autores, 29 são originários de universidades, universitários com destaque aos cursos de Direito (n =
com destaque à Universidade de São Paulo (n = 5), 4), Psicologia (n = 3) e Serviço Social (n = 2); famí-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (n = 3), lias (nucleares, monoparentais e/ou homoparental) que
Universidade Federal de Pernambuco (n = 3), Univer- adotaram crianças especiais (n = 2) em dois; casais do
sidade Católica de Pernambuco (n = 3), Universidade mesmo sexo com projeto parental (adoção, inseminação
Federal de Santa Catarina (n = 3) e Universidade Fede- ou barriga solidária) ou que já haviam adotado (n = 2);
ral da Paraíba (n = 3), sendo que, em dois estudos, adultos adotantes homossexuais (n = 2); pais adotivos
uma das autoras atua no Tribunal de Justiça. solteiros; pais adotantes de crianças maiores; casal com
filhos biológicos; família homoafetiva (pais e filhos);
Estratégias Metodológicas e Instrumentos Utilizados Profissionais/peritos na área de adoção (psicólogos,
Nessa categorização, 10 artigos são de cunho teó- assistentes sociais e uma professora); um membro da
rico, buscando discutir ou problematizar de maneira família extensa; e mulheres que confiaram seus filhos a
geral ou específica uma teoria sobre o tema da adoção, outras pessoas.
diferentemente de revisões de literaturas que reúnem
estudos com o intuito de analisá-los enquanto corpus e Objetivos e Aspectos Envolvidos na Fase da Avaliação
evidências, e 20 de caráter empírico. Desses empíricos, Quanto aos objetivos dos estudos revisados,
15 são qualitativos – dois apresentando-se como estu- mostrando-se variados, apresentaram, em suma, cinco
dos descritivos e exploratórios, dois como estudos de tendências principais, como ilustrado na Tabela 1.
casos, um como pesquisa de campo, um como estudo Como é possível observar, os objetivos abarcam com-
etnográfico – e cinco quantitativos. Seis estudos empí- preender a vivência do processo de adoção, em termos
ricos não fizeram menção explícita ou detalhada de seu de construção de identidade e vínculo; refletir a prá-
delineamento metodológico. Há que se considerar que tica histórica e cultural da adoção no Brasil; discutir os
um estudo documental foi classificado como teórico, perfis de crianças/adolescentes e famílias no processo
ao passo que um relato de experiência e uma pesquisa de adoção; investigar as especificidades nas adoções de
de campo foram qualificados como empíricos. Especi- crianças maiores ou com necessidades especiais; abor-
ficamente quanto aos instrumentos ou fontes de dados, dar como tem sido investigado, aceito e discutido as
os estudos utilizaram: questionários (n = 3); escalas (n diferentes configurações familiares como possibilidade
= 2) – (a) de crenças sobre a homossexualidade, (b) de família adotiva. Nesse sentido, faz-se importante
de rejeição a relações de proximidade com homosse- salientar que nenhum estudo abarcou a avaliação de
xuais, (c) de oposição à adoção por homossexuais, (d) pretendentes explicitamente em seu objetivo, o que
de oposição à união civil entre homossexuais; testes (n corrobora a hipótese inicial da escassa produção cien-
= 1) – Teste de Associação Livre de Palavras (TALP); tífica sobre o tema, sendo imprescindível retomar que
entrevista não estruturada (n = 2) – sendo um vídeo um fundamental critério para a recuperação do artigo
gravado; entrevista semiestruturada (n = 12); Técnica lido na íntegra era ao menos mencionar, em algum
da História de Vida (n = 1); processos de adoção (n = momento do estudo, a etapa de avaliação de pretenden-
2); caracterização sociodemográfica (n = 7); diário de tes à adoção.
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Tabela 1
Principais Objetivos Encontrados nos Estudos Recuperados
Tendências Principais dos Objetivos Exemplos de Estudos
Compreender como os pretendentes atribuem e constroem os Merçon-Vargas, Rosa e Dell’Aglio (2014),
significados sobre a filiação adotiva e vivenciam o processo de Otuka, Scorsolini- Comin e Santos (2012),
adoção, resgatando as diferenças marcantes na constituição da Schettini, Amazonas e Dias (2006), Valério e
identidade dos pais adotivos, bem como as especificidades na Lyra (2014)
construção do vínculo, a fim de demarcar a necessidade de um
acompanhamento profissional.
Desenvolver reflexões a respeito da prática da adoção no Brasil, Macêdo (2014); Maux e Dutra (2010),
ao que se refere aos percursos e percalços no estabelecimento de Oliveira e Schwartz (2013), Rossetti-Ferreira
uma “nova cultura da adoção” com foco no interesse da criança e et al. (2008)
o lugar ocupado por ela no discurso familiar, sobretudo a partir de
marcos legais.
Discutir quais os perfis de crianças e adolescentes são/estão Amim e Menandro (2007), Guareschi,
aptos à adoção, ao delinear as preferências dos pretendentes Strenzel e Bennemann (2007), Mariano e
e caracterizar as famílias adotivas e biológicas envolvidas no Rossetti-Ferreira (2008)
processo de adoção.
Investigar as percepções e experiências da adoção de crianças Dugnani e Marques (2011), Mozzi e
com necessidades especiais ou maiores, bem como construir um Nuernberg (2016), Queiroz e Brito (2013)
instrumento para uma prática intenventiva, na perspectiva dos pais
adotivos ou profissionais imersos nas vicissitudes do processo.

Abordar importantes vivências e reinvindicações de homossexuais Amazonas, Veríssimo e Lourenço (2013),


tanto no plano conjugal quanto no parental, assim como investigar, Araújo e Oliveira (2008), Cerqueira-Santos
caracterizar e comparar crenças de estudantes universitários e Santana (2015), Futino & Martins (2006),
acerca da homossexualidade e do exercício da parentalidade, Machin (2016), Pereira et al. (2013), Rosa et
considerando implicações psicológicas, sociais e legais, partindo al. (2016)
da ideia de “novas” formas de ser família, explicitando as
possibilidades de adoções no país.

Em termos de melhor detalhamento acerca da artigos selecionados, a discussão a seguir foi dividida
atividade avaliativa a ser realizada pela equipe técnica, em quatro eixos, a fim de se dar voz aos assuntos em
apenas oito artigos apresentaram informações que per- destaque abordados: cultura da adoção; perfil de crian-
mitem a sua visualização, como delineado na Tabela 2. ças/adolescentes para adoção; diferentes olhares sobre
Como foi possível notar, apesar de não ser foco as diferentes configurações familiares; e avaliação de
explícito de análise de nenhum dos estudos recupera- pretendentes, em termos de seus limites e possibilida-
dos, os dados fornecidos contemplam aspectos, como des evidenciados na literatura.
instrumentos e procedimentos, o foco da avaliação,
os desafios, as recomendações ou o que se espera da Discussão
prática dos profissionais, as críticas e as possíveis reper-
cussões das intervenções realizadas nesse processo. O Antes e o Agora: (Re)Construindo uma “Nova” Cultura
Sendo assim, a partir dessa minuciosa caracterização de Adoção
e contextualização dos resultados encontrados, para Em sua história, a prática da adoção no cená-
melhor compreensão dos conteúdos abarcados nos rio nacional transitou por pelo menos três desenhos
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Tabela 2
Principais Aspectos Mencionados sobre a Fase da Avaliação
Instrumentos/ - Entrevistas, Visitas Domiciliares;
Técnicas - Subsídios por escrito (laudos) ou verbalmente (audiências);
Procedimentos - Vínculo de confiança e empatia que favoreça um contato franco;
- Intervenção profilática e preventiva voltada para a construção de laços emocionais de pais
e filhos
- Estudo Social e Estudo Psicológico;
- Papel educativo, de aconselhamento e preventivo de Assistentes Sociais;
- Trabalhar o ato de filiar e gestar simbolicamente uma criança
Foco da avaliação - Motivação subjacente ao interesse pela parentalidade; Significado de adoção;
- Lugar a ser ocupado pela criança; Elaboração de algum luto (perda/infertilidade);
- Expectativas, medos, fantasias e idealizações;
- História pessoal e familiar; Relacionamento e Aceitação da família em relação à adoção;
- Adoção fundamentada em bases sólidas ou temporárias, com foco na disponibilidade para
filiação; Preparo/Amadurecimento do projeto;
- Discurso voltado ao bem-estar da criança e afetividade voluntária;
- Preferência pelo país (adoção internacional)
Desafios - Para adotantes: (re)construção de um espaço mental para um filho; provar que serão bons
pais;
- Para Profissionais: análise extremamente subjetiva; sensibilizar à flexibilização do perfil
da criança; subordinação à autoridade judiciária; desmitificar preconceitos sobre adoção,
sobretudo de crianças maiores;
- Crítica/incômodo à avaliação para ser pai/mãe;
- Concretização da Nova Lei da Adoção, sobretudo quanto à qualidade e agilidade do
processo, bem como para minimizar os casos de adoção informal;
Recomendações aos - Atuação multiprofissional antes (destituição do poder familiar), durante (avaliação) e após a
profissionais sentença proferida (período de adaptação);
- Encaminhamento de pretendentes para acompanhamento Psicológico e/ou Grupos de
Apoio à Adoção tanto para distinguir as reais motivações, quanto para aguardarem na fila de
espera ou no período de adaptação.
- Formação, capacitação e atualização;
- Oferecer um espaço de reflexão; Atenção às mensagens veiculadas na cultura coletiva;
O que se espera da - Escuta sensível e sensata; Compromisso ético;
prática profissional - Imparcialidade quanto à orientação sexual dos pretendentes, assegurando-se em uma
ordem legal e não moral;
Críticas às atuações - Não devem se colocar como detentores do saber ditando parâmetros de bons/maus pais e
ou limitações da mães;
prática - Atribuição de modelos ideais de família e de papéis de gênero não como construção social
- Adoção como “menos pior” e não legítima;
- Não abrange o restante da família.
Possíveis repercus- Positivas
sões das interven- - Flexibilização do perfil da criança; Divisão de tarefas mais igualitárias, democráticas e
ções ou falta delas flexíveis entre membros; Difusão de uma nova cultura de adoção;
Negativas
- Abandonos, frutos de frustrações e desidealizações;
- Estereotipização de pretendentes homossexuais que pode influenciar as decisões de juízes;
Não inscrição simbólica da criança na família nuclear ou extensa.

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culturais arraigados: o princípio da caridade e pos- motivações e condições de candidatos exercerem uma
suir mão de obra barata; da solução para problemas parentalidade responsável.
sociais (de abandono e casais inférteis); e a ideia de Assim, mesmo diante desse cenário otimista, crí-
uma filiação de segunda categoria, em comparação à ticas também podem ser encontradas (Maux & Dutra,
supremacia dos laços de sangue (Maux & Dutra, 2010). 2010; Oliveira & Schwartz, 2013), principalmente em
Muito associado à falta de uma regulamentação, a ideia relação à burocratização e lentidão do processo e à
de “parentesco inventado” entre doadores e acolhedo- lacuna de não se explicitar, por exemplo, a possibili-
res era permitida, ao passo que o termo “adoção” não dade de casais do mesmo sexo adotarem, ocasionando
era frequentemente empregado, sendo exprimido por a leitura de ainda se conviver com a herança cultural
variantes do verbo “criar”, sem que isso acarretasse, de laços consanguíneos e socialmente aceitos como pri-
necessariamente, em uma ruptura das relações anterio- meira opção. No entanto, é imprescindível ressaltar que
res com a família de origem (Fonseca, 2006; Maux & ajustes necessários acontecem à medida que a socie-
Dutra, 2010; Rossetti-Ferreira et al., 2008) ou em uma dade é convidada a pensar e a se posicionar a respeito.
vinculação calcada em afeto. Nesse sentido, a maior aceitação da filiação adotiva de
A opção pela adoção passa a apresentar uma fato não dá garantias de que ela será bem-sucedida,
roupagem diferente de satisfazer pressões sociais e mas corrobora para um trabalho militante pró-adoção
familiares, partindo de uma decisão a ser refletida e ama- e de desmistificação de mitos e preconceitos (Valério &
durecida pelos pretendentes quanto às suas motivações Lyra, 2014), viabilizando novos olhares e significados
(Schettini, Amazonas, & Dias, 2006), olhando-se tam- sobre ser/sentir-se família.
bém para a outra ponta: a família de origem da criança,
muitas vezes fragilizada pelo sentimento de desam- Perfis de Filiação Adotiva, Marcadores Identitários e a
paro frente à ausência de políticas públicas (Mariano & Construção do Vínculo
Rossetti-Ferreira, 2008) ou rede de apoio, culminando Apesar da visibilidade garantida pela recente gla-
no abandono de seus filhos. Assim, com o tempo, a mourização da adoção (Maux & Dutra, 2010; Valério &
partir de marcos legais, como o Estatuto da Criança Lyra, 2014), são encontrados marcadores identitários
e do Adolescente (ECA, 1990) e a Nova Lei da Ado- que reafirmam estereótipos culturais da adoção, sendo
ção (12.010/2009), campanhas de incentivo à adoção fundamental discutir-se, não somente os significados
legal, sobretudo na modalidade plena, visaram erradicar atribuídos, mas a forma como são construídos e quais
as adoções informais, como as adoções prontas e “à as repercussões nas construções dos vínculos (Cecílio
brasileira” (Brasil, 2009; Mariano & Rossetti-Ferreira, & Scorsolini-Comin, 2016; Valério & Lyra, 2014). Ana-
2008), reconhecendo a importância de se avaliar e pre- lisando 110 processos de adoção entre 1991 e 2000,
parar, tecnicamente, os pretendentes (Hueb & Cecílio, Mariano e Rossetti-Ferreira (2008) constataram a falta
2015; Maux & Dutra, 2010; Oliveira & Schwartz, 2013; de dados sobre as famílias biológicas e encontraram que
Weber, 1997), além de oferecer um espaço de reflexão 73% das adoções haviam acontecido na modalidade
pela equipe profissional, em seus bastidores de avalia- direta, sendo bebês a preferência dos adotantes. Essas
ção e preparação (Weber, 1997), para se “pensar” sobre autoras sugerem ter ocorrido uma prática silenciada,
o futuro filho que chega com uma história pré-adotiva sem o acompanhamento da Justiça e de uma equipe
(Schettini et al., 2006). interprofissional às famílias biológicas, bem como se
É possível inferir que o foco principal dessa remetem à ausência de políticas públicas para a manu-
mudança foi combater práticas ilegais, bem como mini- tenção ou reinserção da criança nesse núcleo, como
mizar experiências negativas ou situações investidas de preconiza a Lei nº. 12010/2009 em seus aspectos posi-
sofrimento e insegurança durante a construção de um tivos para Oliveira e Schwartz (2013).
vínculo de filiação, por não haver um acompanhamento Sob um tom de crítica aos dados estatísticos sobre
da Justiça nas etapas de aproximação e adaptação impli- a aptidão de crianças à adoção disponíveis em um site
cadas nesse processo (Mariano & Rossetti-Ferreira, da Justiça, Guareschi, Strenzel e Bennemann (2007)
2008; Maux & Dutra, 2010; Otuka, Scorsolini-Comin, discutem o descompasso entre os perfis de preten-
& Santos, 2012; Rossetti-Ferreira et al., 2008; Santos et dentes habilitados, crianças/adolescentes “facilmente”
al., 2011). Passa-se a vigorar um trabalho priorizando o adotáveis e crianças/adolescentes “dificilmente” adotá-
discurso de medida protetiva pautada no melhor inte- veis, a partir de marcadores identitários idade, cor de
resse da criança e do adolescente, avaliando as reais cútis, particularidades e síndromes. A crítica se remete
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Cecílio, M. S. & Scorsolini-Comin, F.  Avaliação de Pretendentes à Adoção 505

às características de aptidão estarem associadas aos encontram imersos é de suma importância. Reitera-
padrões de normalidade sociais, classificando como -se a ideia que haja um acompanhamento psicológico
mais ou menos “prováveis” de adoção. No mesmo sen- e da Justiça nos casos de acolhimento institucional e
tido, Amim e Meandro (2007) analisam empiricamente no decorrer da constituição de um vínculo entre pais e
essas preferências ressaltando a dicotomia entre as ado- filhos, como acontece durante o estágio de convivência,
ções clássicas e mais “fáceis” – bebês, meninas, claras a fim de que crianças/adolescentes saiam do “limbo”
ou com a mesma cor da pele dos pretendentes – e as de uma espera interminável (Machado et al., 2015, San-
adoções necessárias e mais “difíceis” – maiores de 2 tos et al., 2011). Grupos de apoio, compartilhamento
anos, inter-racial, que apresentam necessidades espe- de experiências com outros pretendentes, intervenções
ciais e grupos de irmãos (Guareschi et al., 2007). na avaliação e preparação dos candidatos são aventadas
O que se nota, como salientam Valério e Lyra pelos estudos (Machado et al., 2015; Queiroz & Brito,
(2015) em seu estudo com um membro da família 2013) como sugestão para desmitificar estereótipos
extensa acerca da adoção, é que a construção de sig- culturais, possibilitando maior sensibilização, flexibi-
nificados se inicia em um desconhecimento do que é lização e alteração nas preferências de características.
o novo e o diferente (do laço de sangue), observando- Nos estudos em que essas adoções “necessárias” ou
se “vírus culturais” (sugestões sociais) difundidos na “difíceis” e a flexibilização aconteceram, pretendentes
sociedade acerca dos mitos, preconceitos e fantasias apresentaram maior satisfação com a menor morosi-
no campo da adoção. Assim, nas discussões teóricas e dade do processo (Amim & Meandro, 2007; Queiroz &
experiências relatadas de adoção de crianças maiores Brito, 2013). Assim, os profissionais foram destacados
(Dantas & Ferreira, 2015; Dugnani & Marques, 2011; como importantes agentes de mudanças nos espaços
Machado, Ferreira, & Seron, 2015; Merçon-Vargas, de esclarecimentos e reflexão, sobretudo para que haja
Rosa, & Dell’Aglio, 2014; Queiroz & Brito, 2013; Ros- um amadurecimento dessa flexibilização, evitando-se
setti-Ferreira et al., 2008) ou de crianças que apresentam cair no risco de inadaptação e devolução (Dugnani &
necessidades especiais (Fonsêca, Santos, & Dias, 2009; Marques, 2011; Machado et al., 2015).
Mozzi & Nuernberg, 2016), encontra-se discursos
dessa natureza. Família(s) e os Olhares dos Futuros Intervenientes Sociais
Enquanto Rossetti-Ferreira et al. (2008) discutem A instituição família, alvo incansável de defini-
a crença veiculada de que haveria maior dificuldade ções, acabou por permitir que o jogo de visibilidade de
na construção de vínculos quando a criança é maior, arranjos/configurações viabilizasse uma discussão de
dotada de uma “herança genética” e hábitos, para os desnaturalização dela, pelas quais papéis de gênero, por
pretendentes entrevistados em outros estudos (Mer- exemplo, podem ser repensados com base no discurso
çon-Vargas et al., 2014; Queiroz & Brito, 2013), essa de igualdade de direitos (Machado et al., 2015; Rou-
dificuldade não se fundamenta como fator desmotiva- dinesco, 2003). Nesse sentido, nove estudos abordam
dor, considerando que a dificuldade (não incapacidade) outras formas de ser família e exercer a parentalidade.
de adaptação dessas crianças demanda um exercício de Especificamente, retratando o exercício da mono-
ressignificação das experiências anteriores, propiciadas parentalidade, um estudo (Santos et al., 2011) relata
pelo cuidado, afeto e rede de apoio. Nessa perspectiva, experiências de pais adotivos solteiros, discutindo-se a
Dugnani e Marques (2011) construíram um instru- importância da aceitação familiar (não ocorrendo em
mento, a partir das falas dos pais adotivos, que aponta dois dos seis casos), a gestação psicológica inerente à
as vivências e estratégias para resolução de conflitos no espera da criança e dificuldades relacionadas, principal-
processo de adoção de crianças maiores, possibilitando mente, à questão econômica. Um estudo (Otuka et al.,
intervenções e práticas de técnicos do setor judiciário. 2012) narra a experiência de adoção não planejada em
Diante desse panorama de incertezas e inseguranças um casal com filhos biológicos, permeados pelas dificul-
sobre como lidar com um filho que possui uma história dades de lidar com preconceito e revelação da adoção,
pré-adotiva, fica claro, pelo estudo de Merçon-Vargas et alimentando fantasias (de roubo e abandono) e senti-
al. (2014) sobre dois casos de adoção (nacional e inter- mentos ambivalentes de satisfação e culpa. Dois estudos
nacional), que olhar para os pretendentes ao longo do teóricos (Ferrari & Andrade, 2011; Fonseca, 2008) dis-
processo de habilitação e aprofundar em seus discursos cutem as reinvindicações feitas por homossexuais tanto
sobre os significados da adoção, as motivações para a no campo conjugal quanto parental, colocando o prin-
prática (Gondim et al., 2008) e as culturas em que se cípio da diferença dos sexos em cheque, recriando as
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506 Cecílio, M. S. & Scorsolini-Comin, F.  Avaliação de Pretendentes à Adoção

ideologias de parentesco e fomentando debates sobre Para finalizar, estudos chamam a atenção para
política, cultura, sociedade, leis e lógica de consumo do que novos olhares e práticas, fundamentadas na pers-
objeto-filho. Abrindo os estudos empíricos, Meletti e pectiva jurídica e psicossocial, abram espaço para
Scorsolini-Comin (2015) apresentam as qualificações maiores discussões sobre as representações de gênero,
atribuídas por quatro casais aos seus relacionamentos família e sexualidade em um constante processo de
conjugais, bem como mencionam suas expectativas em desnaturalização (Ferrari & Andrade, 2011; Fonseca,
relação ao exercício parental, revelando preocupação e 2008; Futino & Martins, 2006; Machin, 2016; Meletti
sentimento de responsabilidade. & Scorsolini-Comin, 2015; Rosa et al., 2015; Schettini
Outros quatro estudos que abordam a adoção et al., 2006). Especificamente sobre a homoparenta-
por homossexuais, solteiros ou casados (Amazonas, lidade, prevalece a ideia de que o fundamental é que
Veríssimo, & Lourenço, 2013; Dantas & Ferreira, 2015; os pretendentes que compõem esses arranjos sejam
Machin, 2016; Rosa et al., 2016) também fazem menção amparados pela lei, avaliados como quaisquer outros
às parentalidades até então impensáveis, sendo alvos de nos trâmites do processo e recebam apoio social e psi-
discussão a disponibilidade dos pais em oferecer os cológico, principalmente no período de adaptação no
cuidados necessários aos filhos, os segredos e revela- estágio de convivência, corroborando com o estudo de
ções (da adoção e da orientação sexual), a superação de Scorsolini-Comin, Ximenes, Meletti e Santos (2015),
preconceitos, a morosidade do processo, a maior fle- de que, nos olhares debruçados aos pretendentes,
xibilidade na escolha das características do filho, bem deve-se priorizar as potencialidades para o estabeleci-
como na divisão de papéis parentais, e o rompimento mento de vínculos seguros e saudáveis.
com a ideia de que apenas a mulheres seriam “natu-
ralmente” aptas de cuidar e amar seus filhos, como Avaliação de Pretendentes à Adoção: Limites, Possibilidades
também discutido no estudo de Ferrari e Andrade e Desafios
(2011), pela representação de feminilidade. Conforme os eixos temáticos foram desenha-
Enquanto Futino e Martins (2006) trazem teo- dos e debatidos, nota-se que, apesar de o momento
ricamente os olhares da Psicologia e do Direito, da avaliação ser um dos mais importantes no processo
resgatando a possibilidade de adoção mono e unilate- de adoção, poucas pesquisas (Futino & Martins, 2006;
ral por homossexuais, enfatizando a orientação sexual Macêdo, 2014; Merçon-Vargas et al., 2014; Oliveira &
não ser um quesito a ser investigado no processo de Schwartz, 2013; Queiroz & Brito, 2013; Rosa et al.,
adoção, mas a capacidade de vinculação dos envolvi- 2016; Schettini et al., 2006; Valério & Lyra, 2014) dedi-
dos, em outros quatro estudos empíricos, discute-se a caram-se a retratar essa realidade ou mesmo investigar,
visão de universitários – com destaque aos cursos de de modo mais aprofundado, as características, as difi-
Direito, Psicologia e Serviço Social – acerca da homo- culdades e as potencialidades dessa fase. Além disso, é
parentalidade. Perpassando questionamentos sobre importante salientar que a Tabela 2, mencionada nos
a natureza da homossexualidade, todos os estudos resultados deste estudo, foi construída a partir de infor-
(Araújo & Oliveira, 2008; Araújo et al., 2007; Cer- mações fornecidas nos estudos citados acima.
queira-Santos & Santana, 2015; Pereira et al., 2013) Como pode-se observar nessa tabela, o estudo
constataram posicionamentos preconceituosos e con- realizado conjuntamente por psicólogos e assistentes
trários à homoparentalidade ancorados em mitos de sociais traz à tona diversos questionamentos, tanto
possíveis consequências nocivas às crianças (Cecílio, em termos dos instrumentos empregados nesse pro-
Scorsolini-Comin, & Chapadeiro, 2017). Há que se cesso, como no manejo das entrevistas, na condução
considerar que cinco, dos doze estudos, foram realiza- das observações e no modo como essa atuação pro-
dos antes do marco de reconhecimento da união estável porcionará a tomada de decisão do juiz em relação ao
entre pessoas do mesmo sexo, pelo Supremo Tribunal deferimento ou não de uma adoção. Haveria critérios
Federal em 2011, viabilizando aberturas em partes do -padrões na condução dessas avaliações? O que de fato
país na adoção. Independentemente desse fato, ressal- aparece de forma unânime, como um dos focos princi-
tou-se as sérias implicações para a formação acadêmica pais da avaliação, se refere à investigação das motivações
pela carência de conhecimento e de posicionamentos para adoção, no sentido de evitar, mas não garantir, que
mais tolerantes à diversidade advindas de futuros atores a criança seja exposta à outras situações traumáticas de
fundamentais na promoção de práticas que não apoiem abandono e sofrimento nessa nova família que o judi-
a discriminação (Cerqueira-Santos & Santana, 2015). ciário está arrumando para ela.
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Cecílio, M. S. & Scorsolini-Comin, F.  Avaliação de Pretendentes à Adoção 507

Para se adentrar a esse campo, Amim e Meandro viria a possibilitar orientações, intervenções e encami-
(2007), Macêdo (2014), Machado et al. (2015) e Sche- nhamentos dos postulantes, minimizando possíveis
ttini et al. (2006) resgatam o papel do psicólogo na conflitos ou até mesmo devoluções.
avaliação. Caberia a esse profissional compreender as Quanto às diferentes configurações familiares,
fantasias e o lugar que a criança ocupará no imaginário estudos ressaltam que a orientação sexual não deve
parental e desmistificar pré-conceitos quanto à história ser um quesito a ser investigado, sendo fundamental
pré-adotiva da criança, observando aspectos emocio- que os profissionais revejam seus posicionamentos e
nais e afetivos que contribuam para o amadurecimento elaborem discursos menos estereotipados quanto aos
do projeto e para a construção de um sentimento de papéis de gênero e funções parentais (Cerqueira-San-
pertença e inscrição do filho na história da família, tos & Santana, 2015; Futino & Martins, 2006, Meletti
como sugere Zornig (2010). Como bem destaca Levin- & Scorsolini-Comin, 2015). Sobre esse aspecto, des-
zon (2004), a experiência de espera e de passar por taca-se uma forte corrente para que os profissionais
avaliações é marcada por sentimentos de ansiedade, implicados nas etapas do processo de habilitação de
angústia, frustração e expectativas por parte dos can- pretendentes se preparem para colher essa “nova”
didatos, mas diz também de uma realidade desafiadora demanda, devendo-se priorizar o melhor interesse da
para profissionais que são incumbidos de uma respon- criança, necessitando o trabalho ser realizado de forma
sabilidade de encontrar uma família para uma criança imparcial às crenças morais pautadas em preconceitos
ou adolescente. Nesse sentido, o que não se encontra (Ferreira & Chalhub, 2014).
na Tabela 2 são as diferentes técnicas envolvidas na O ponto chave dessa discussão parece ressaltar
avaliação psicológica, como mencionado no estudo de a subjetividade investida na análise, como destacam
Ferreira e Chalhub (2014): entrevistas e/ou aplicação de Campos e Costa (2004), haja vista que a avaliação se
testes projetivos e psicométricos com os pretendentes, pautaria não somente na observação das disponibili-
bem como a hora do jogo diagnóstica e a utilização de dades dos pretendentes para a filiação, sob o discurso
instrumentos lúdicos com a criança. Observa-se, por- de uma afetividade voluntária, mas na desmistificação
tanto, que os estudos não se preocuparam em descrever de preconceitos, na maneira como são encarados os
como acontece a avaliação. encaminhamentos necessários para acompanhamento
Em consonância, não se atendo apenas aos estu- psicológico e/ou grupos de apoio à adoção e, princi-
dos listados, pôde-se verificar aspectos levantados não palmente, ao realizar um trabalho que mobilize esse
aprofundados, em outros estudos não listados no iní- futuros pais a tornar o contexto familiar o mais favo-
cio desse eixo. Um estudo (Merçon-Vargas et al., 2014) rável ao desenvolvimento do futuro filho. Dessa forma,
mostrou que a avaliação aconteceu de forma mais os achados corroboram com Campos e Costa (2004)
sistematizada e detalhada no caso de ima adoção inter- sobre o contexto jurídico ser um elemento catalisador
nacional, o que nos leva ao questionamento dos motivos da mudança, mas também precursor da arbitrariedade
não esclarecidos para essa condução. Outra observação ao ser responsável pela decisão de quem é apto e quem
se refere ao estudo de Machado et al. (2015) que fala não é apto a adotar, enfatizando a ideia de que o ato
muito da importância de um trabalho preventivo e pre- de selecionar é insuficiente, sugerindo a realização de
paratório com os postulantes, porém sem delimitar a(s) esclarecimentos que transcendam à prática avaliativa.
etapa(s) do processo, e sugere ser um grande desafio Nesse panorama, apesar de o recorte nesta revi-
para os profissionais trabalharem aspectos abstratos, o são ser recente, resgatando apenas os últimos dez anos
que nos permite inferir uma limitação da avaliação, haja de uma história de adoção que acontece desde a anti-
vista que se lida com hipóteses, e não situações concre- guidade, perpassando diversas culturas, considerando a
tas que só acontecerão com a chegada da criança e o quantidade de artigos (n = 8) que mergulham no objeto
estabelecimento das relações. No mesmo prisma, Dug- de estudo (avaliação de pretendentes), quando com-
nani e Marques (2011) não mencionam explicitamente parados ao total de estudos recuperados (n = 30) que
se o instrumento construído e validado por eles pode mencionam tal objeto, é possível inferir que poucos são
ser utilizado na etapa de avaliação, mas fazem alusão ao os estudos voltados para os bastidores do processo de
uso dele pela equipe do judiciário, recomendando que habilitação para adoção, sobretudo para a prática dos
seja aplicado individualmente em pretendentes à adoção profissionais engajados na etapa destacada como a mais
de crianças maiores sob uma utilização versátil (como importante: a avaliação. É necessário, então, reconhecer
questionário, entrevista ou formulário). O instrumento que a atividade avaliativa ainda encontra dificuldades
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508 Cecílio, M. S. & Scorsolini-Comin, F.  Avaliação de Pretendentes à Adoção

de ser abordada mais detidamente nos estudos científi- manifestadas por pretendentes à adoção. Intera-
cos, ora se apresentando de forma descritiva ora sendo ção em Psicologia, 11(2), 241-252. doi: 10.5380/psi.
apenas mencionada superficialmente, geralmente nas v11i2.7653
considerações finais, acerca da importância de atuações
Araújo, L. F., Oliveira, J. S. C., Sousa, V. C., & Cas-
profissionais jurídicas na etapa de interesse, mas em
tanha, A. R. (2007). Adoção de crianças por
nenhum momento é problematizada ou questionada casais homoafetivos: Um estudo comparativo
sobre a forma como acontece ou deveria acontecer, entre universitários de Direito e de Psicologia.
no sentido de promover reflexões sobre as vicissitudes Psicologia & Sociedade, 19(2), 95-102. doi: 10.1590/
desse processo (Scorsolini-Comin et al., 2015). S0102-71822007000200013
A lacuna se aloja em termos de concepções, expe-
riências, informações ou até mesmo orientações para Araújo, L. F., & Oliveira, J. S. C. (2008). A adoção de
profissionais e futuros profissionais da área, limitando crianças no contexto da homoparentalidade. Ar-
compreensões acerca do público (pretendentes) aten- quivos Brasileiros de Psicologia, 60(3), 40-51.
dido e da prática profissional recomendada, ficando Brasil (1990). Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990: Dis-
a etapa da avaliação técnica permeada por fantasias põe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
construídas socialmente, o que destaca os aspectos e dá outras providências. Recuperado de http://
intersubjetivos dos avaliadores e o contexto judicial www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm
da avaliação. Nesse contexto, para além dessas contri-
buições aqui discutidas, esta revisão permitiu mapear a Brasil (2009, 4 de agosto). Lei nº. 12.010, de 3 de agosto
produção científica a fim de se fazer um convite para de 2009. Dispõe sobre adoção. Brasília. Diário Ofi-
investigações futuras acerca das atuações nos bastidores cial da União, Seção 1.
da adoção, abrindo possibilidades de se refletir as cons- Campos, N. M. V., & Costa, L. F. (2004). A subjetividade
tantes concepções e redefinições de família, questões presente no estudo psicossocial da adoção. Psicolo-
de gênero, as etapas e suas respectivas atuações multi- gia: Reflexão e Crítica, 17(1), 95-104. doi: 10.1590/
profissionais, a subjetividade implicada nas avaliações S0102-79722004000100012.
psicossociais, as referências de práticas consideradas
Cecílio, M. S., & Scorsolini-Comin, F. (2016). Parenta-
adequadas e inadequadas, dentre outras nuanças de
lidades adotiva e biológica e suas repercussões nas
casos experienciados no processo.
dinâmicas conjugais. Psicologia: Ciência e Profissão,
Em contraponto, algumas limitações podem
36(1), 171-182. doi: 10.1590/1982-3703003832015
ser destacadas, como a restrição ao contexto brasi-
leiro, impedindo a comparação com outros países, Cecílio, M. S., Scorsolini-Comin, F., & Chapadeiro
em termos de como ocorrem as etapas no processo (2017). O contexto da adoção por casais do mes-
de adoção; e o recorte de dez anos, impossibilitando mo sexo. Em C. A. Chapadeiro, C. A. Serralha &
maior abrangência temporal e incorporação de mais M. F. D. Hueb (Orgs.), Questões de família (pp. 115-
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pretendentes e famílias que passaram pelas etapas do moparental e preconceito: Crenças de estudantes
processo, sobretudo pela de avaliação, podendo essas de direito e serviço social. Temas em Psicologia, 23(4),
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Reformulado em: 04/12/2017
Santos, C. P., Fonseca, M. C. S. M., Fonseca, C. M. S.
Aprovado em: 21/12/2017
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Cecílio, M. S. & Scorsolini-Comin, F.  Avaliação de Pretendentes à Adoção 511

Nota dos autores:

Apoio: CAPES

Sobre os autores:

Mariana Silva Cecílio é psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro,
Uberaba-MG.
E-mail: mari_cecilio@hotmail.com
ORCID: 0000-0001-8287-9394

Fabio Scorsolini-Comin é doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo e docente do Departamento de
Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas e do Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica da
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP.
E-mail: fabio.scorsolini@usp.br
ORCID: 0000-0001-6281-3371

Contato com os autores:

Prof. Dr. Fabio Scorsolini-Comin


Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre
Ribeirão Preto-SP, Brasil
CEP: 14040-902
Telefone: (16) 3015-3422
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 23, n. 3, p. 497-511, jul./set. 2018

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