11 Pag Revista Ecos V-10 N-01 A-2011
11 Pag Revista Ecos V-10 N-01 A-2011
11 Pag Revista Ecos V-10 N-01 A-2011
Resumo: O objetivo deste artigo é analisar o conto “Um dia ideal para os peixes-banana”,
de Jerome David Salinger, e sugerir uma leitura alegórica para a micro-narrativa (sobre os
peixes-banana) presente nesse conto. Sugerimos que essa micro-narrativa se configura como
uma alegoria que servirá para representar a experiência de Seymour Glass, a personagem
principal, durante a Segunda Guerra Mundial assim como antecipar o final trágico do conto.
Por isso, a história dos peixes-banana também é uma mise en abyme.
*Professor de Inglês e Literaturas de Língua Inglesa – UEG de Campos Belos. Doutorando em Letras – UFG. Bolsista FAPEG. Email: adolfo_the-
drifter@yahoo.com.br.
Definição de alegoria
O conto “Um dia ideal...” abre o volume de narrativas curtas de Jerome David
Salinger Nove estórias. Além de abrir o volume, o conto também apresenta uma das
personagens mais significativas de sua produção artística, Seymour Glass, que ao lado de
Holden Caulfield (O apanhador no campo de centeio), ganhou notoriedade na literatura
norte-americana. Seymour Glass também “aparece”1 em outros livros de Salinger publicados
depois de Nove estórias (1953)2: Franny & Zooey (1961) e Carpinteiros, levantem bem
alto a cumeeira e Seymour: uma apresentação (1963). Em Franny & Zooey, Seymour
é apenas aludido e seus ensinamentos são utilizados pelos irmãos como forma de “cura
espiritual”. São dois contos: “Franny” é a história da personagem Franny, a irmã caçula da
família Glass que passa por uma crise existencial e acredita que através da leitura de um
livro indicado por Seymour possa entender e superar esse momento. Em “Zooey”, Zoo-
ey, irmão de Franny, discute a influência de Seymour como um fantasma. Em uma longa
conversa com a irmã, Zooey consegue ajudá-la a superar o problema existencial quando
retoma alguns ensinamentos de Seymour e dá a sua interpretação para eles. “Carpinteiros,
levantem bem alto a cumeeira” é um conto narrado por outro irmão de Seymour, Buddy
Glass. A história ocorre no dia do casamento de Seymour com Muriel. Entretanto, Seymour
foge com Muriel e o casamento é cancelado. “Seymour: uma apresentação” é um conto
em o mesmo narrador, Buddy, discute o suicídio de Seymour, que ocorre no conto “Um dia
ideal...” e apresenta uma tese que, para ele, explica o motivo desse ato. Além desses três
livros, Seymour aparece no conto “Hapworth 16, 1924” (1965), conto que ainda não foi
traduzido para o Brasil e que nunca fez parte de qualquer antologia. A narrativa é uma longa
carta escrita por um Seymour ainda criança (sete anos de idade) para a família quando
passava férias em um acampamento.
“Um dia ideal...” apresenta as circunstâncias que precedem o suicídio de Seymour.
Em uma segunda lua de mel, ele e sua esposa estão hospedados em um hotel em Miami
Beach, Flórida. De acordo com John Wenke, em J. D. Salinger: a Study of the Short Fic-
tion (1991, p. 34-35), a viagem do casal pode ser considerada mais como uma forma de
restaurar a saúde debilitada do protagonista do que uma viagem de férias. Seymour sofre
de trauma pós-guerra por haver participado da Segunda Guerra Mundial.
1
Optamos por colocar o verbo entre parênteses porque, em algumas narrativas, Seymour é apenas lembrado ou aludido por causa de algum
comentário feito por ele. Conforme pode ser atestado em alguns artigos de nossa autoria (vide referências), Seymour Glass ganhou notoriedade
principalmente pela sua não-aparição “física”, ou seja, ele “participa” de outras narrativas mais como um “fantasma” que assombra e influencia
a vida e o comportamento de seus outros irmãos do que como uma personagem que “atua fisicamente”.
2
As datas se referem à primeira compilação dos contos em livros nos Estados Unidos.
3
“See more glass”?
Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
CEIA, Carlos. Alegoria. Disponível em <http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/ alegoria.htm>.
Acesso em 20 fev. 2011.
DÄLLENBACH, Lucien. Intertexto e autotexto. In: Intertextualidades. Tradução de Clara Crabbé
Rocha. Coimbra: Livraria Almedina, 1979. p. 51-76.
FLETCHER, Angus. Alegoría: teoría de un modo simbólico. Tradução de Vicente Carmona. Madrid:
Ediciones Akal, 2002.
FROTA, Adolfo José de Souza. Foco narrativo e (im)parcialidade nos contos da família Glass. In:
Camargo, Flávio Pereira; FRANCA, Vanessa Gomes (Org.). Estudos sobre literatura e linguagem:
pesquisa e ensino. São Carlos: Claraluz, 2009. p. 17-40.