DPC Resumo
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DPC Resumo
Os articulados
1. Os articulados
1.1. Noção. Função
A fase dos articulados encontra-se regulada nos arts. 552º a 590º.
É nesta fase e através das respetivas peças, que as partes introduzem o pleito em juízo,
expondo as suas razões, argumentos ou motivos, enunciando os fundamentos de facto e de
direito que suportam as suas teses jurídico-substantivas e jurídico-processuais, concluindo pela
formulação das respetivas pretensões, assim moldando o objeto da ação.
Articulados extraordinários.
A petição inicial
2. Petição inicial
2.1. Definição. Objeto. Iniciativa
A petição inicial é o articulado a utilizar pelo autor para dedução em juízo de uma dada
pretensão de uma tutela jurisdicional, nele alegando os respetivos fundamentos de facto e de
direito. É a primeira peça processual, é um articulado pela forma como está estruturada sendo
estrutura por artigos.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Este momento constitui o facto gerador da instância, o que releva, desde logo,
para impedir o decurso do prazo de caducidade, bem como para a chamada
pendência da causa.
Em relação ao réu:
Não sendo obrigatória a constituição de mandatário nos termos do art. 40º e a parte não se
encontrar patrocinada, pode também ser apresentada por uma das formas do art. 144º, nº 7.
Se for apresentada por transmissão eletrónica de dados, deve o autor apresentar, pela mesma
via, os documentos que devam acompanhar, ficando, contudo, o mesmo dispensado de
remeter os respetivos originais.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Na parte final da petição, deve o autor apresentar o rol de testemunhas e requerer outros
meios de prova.
A omissão deste dever, pela apresentação posterior dos documentos, faz incorrer
o autor em multa nos termos do art. 423º, nº 2.
Se tiver sido requerida citação urgente nos termos do art. 561º, nº 1 “faltando, à data da
apresentação da petição em juízo menos de 5 dias para o termo do prazo de caducidade, deve
o autor juntar documento comprovativo do pedido de apoio judiciário requerido, mas ainda
não concedido” (art. 552º, nº 9).
Nesta situação, o pagamento da taxa de justiça deve ser realizado mediante o art.
552º, nº 10.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Recai sobre as partes o ónus de auto liquidarem a taxa de justiça devida, de harmonia com o
disposto no RCP e as suas tabelas anexas e com as regras técnicas legalmente estabelecidas
(arts. 5º a 15º desse diploma).
2. Cabeçalho / intróito – o autor deve identificar as partes, com indicação dos seus
nomes domicílios ou sedes e, sempre que possível, indicar os números de identificação
civil e fiscal, profissões e locais de trabalho (corresponde à 2ª parte da al. a)). O autor
deve também mencionar a forma de processo aplicável (se a ação é especial ou
comum) – corresponde à al. c).
3. Narração – reporta-se à al. d), o autor através dela expõe os fundamentos da ação, da
mesma devendo constar, desde logo, a alegação do circunstancialismo fático que
integra ou substancia a causa de pedir – factos essenciais/principais – o ónus da
alegação, afirmação ou dedução fáctica cominado no nº 1 do art. 5º. E também a
alegação das razões de direito que servem de fundamento à ação e,
consequentemente, à fundamentação da futura sentença.
Pode a causa de pedir, para além da conduta ou omissão ilícitas e culposas subjacentes à
responsabilidade contratual e extracontratual, assumir uma qualquer das modalidades do art.
581º, nº 4:
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Tudo sem prejuízo de poder invocar-se uma causa de pedir, a titulo subsidiário ou causa de
pedir subsidiária, a ser considerada apenas na hipótese de não ser acolhida a causa de pedir
deduzida a titulo principal.
Ónus de susbtanciação este que não se estende aos factos que o autor não tem o
dever de conhecer e que o réu não pode desconhecer. A falta de substanciação
destes últimos é suprida, quer pelo dever de esclarecimento que impede sobre o
réu ao abrigo do princípio da cooperação (art. 7º, nº 2), quer por um eventual
depoimento da parte (art. 454º, nº 1).
Não há que confundir, nesta sede, factos necessários à determinação da causa de pedir, cuja
falta implica a rejeição da petição inicial por ineptidão (art. 186º , nº 2, al. a)) ou de absolvição
do réu da instância (arts. 577º , al. b) e 278º, nº 1, al. b)) e factos necessários para a
concludência da causa de pedir invocada, cuja falta será, a se, geradora da improcedência da
ação. No fundo, a clássica distinção entre pressupostos processuais e condições da ação, já que
a «causa de pedir pode não esgotar todos os factos indispensáveis à procedência da ação».
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Impende, pois, sobre as partes o ónus (também monopólio) da alegação, não só dos factos
principais da causa, isto é, dos que integram a causa de pedir como também aqueles em que
se baseiam as exceções (art. 5º, nº 1).
Alegação essa a ser feita nos articulados (art. 147º, nº 1); e que pode/deve também
estender-se aos factos complementares ou concretizadores e aos próprios factos
instrumentais, em ordem a facilitar uma profícua atividade
indagatória/instrutória/cognitiva por banda do juiz do processo na devida
oportunidade, mas sempre em observância do princípio da autocontenção quanto
às respetivas clareza, simplicidade e estrita pertinência funcional para uma boa e
justa decisão da causa.
A responsabilidade imposta por lei às partes da alegação dos factos essenciais – ónus da
alegação dos factos cujo efeito lhes é favorável – é produtor de efeitos cominatórios:
A alegação deve abranger, não só factos reais consubstanciadores de uma ação ou omissão
ilícitas ou de um qualquer evento danoso, como também os factos conjeturais ou hipotéticos.
Os mandatários das partes não podem olvidar que a articulação dos factos desempenha um
papel fundamental na habilitação do juiz (na fase da gestão inicial do processo e da audiência
prévia) bem identificar o objeto do processo e enunciar os temas da prova (art. 596º) e a bem
delimitar e identificar as questões a resolver e a destrinçar quais de entre os factos principais
alegados julga (total ou parcialmente) provados e não provados (arts. 607º e 608º).
Assim, na narração deve fazer-se uma descrição segundo uma ordem sequencial cronológica.
Sobre o autor recai o dever de enunciar e substanciar devidamente a causa de pedir e o pedido
(art. 552º, nº 1, al. d) e e)).
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2.4. O pedido
2.4.1. Noção
O autor formula ou deduz na petição inicial, um pedido de tutela jurisdicional, solicitando ao
tribunal a emissão do dictat autoritário adequado à tutela do seu interesse (art. 552º, nº 1, al.
e)).
2.4.2. Modalidades
2.4.2.1. Pedidos alternativos
O pedido alternativo baseia-se numa obrigação alternativa, ficando o direito arrogado pelo
autor satisfeito se efetuada pelo réu uma só de duas ou mais das prestações em equação.
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Pedido subsidiário é aquele que se apresenta ao tribunal para ser tomado em consideração
apenas no caso de não proceder um pedido anterior.
Tal formulação, in eventu, ocorre nas situações em que, aquando da propositura da ação, o
autor tenha dúvidas acerca da admissibilidade ou do êxito do pedido principal.
Quer os pedidos subsidiários, quer os alternativos, subjaz uma pluralidade de pretensões, com
vista a ser atendida apenas uma delas.
Quanto aos requisitos para a formulação de pedidos subsidiários, o nº 2 do art. 554º remete
para os arts. 36º a 39º.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Pode o autor deduzir mais de um pedido contra o mesmo réu em cumulação (art. 555º, nº 1),
ou, em certas condições, discriminadamente contra diversos réus, também em cumulação (art.
36º) ou em relação de subsidiariedade (art. 39º).
Simples (art. 555º) – um autor deduz contra o mesmo réu vários pedidos. Através da
cumulação simples o autor almeja obter simultaneamente vários efeitos jurídicos
através da procedência de todos eles. O que distingue a cumulação da alternatividade
e da subsidiariedade, na medida em que, nestas duas últimas situações, o autor visa
apenas a procedência de apenas um dos diversos pedidos apresentados. Se a
cumulação respeitar a relações jurídicas díspares, os pedidos cumulados assumem,
entre si, inteira autonomia; se respeitar a uma mesma relação jurídica, os pedidos
(cumulados) são principais e acessórios
Plural (art. 36º) – vários autores, entre si coligados, deduzem contra um ou vários réus
diversos pedidos.
Para que a cumulação seja admissível, exige a lei compatibilidade entre os pedidos, identidade
de forma do processo correspondente a todos eles e identidade do juízo absolutamente
(conjugação dos arts. 36º, 37º e 555º).
Requisitos:
Os dois outros requisitos são de natureza processual. Por um lado, exige-se que a
todos os pedidos corresponda uma forma de processo de idêntico grau de
especialidade e solenidade (exceto se, dentro do processo comum, a diferença provier
unicamente do valor), assim se evitando que a um dos pedidos corresponda processo
comum e a outro processo especial ou, a um deles, determinado processo especial e,
ao outro, processo especial diferente; já se a todos os pedidos corresponder processo
comum, nenhum óbice existe à cumulação. Por outro, exige-se que o tribunal da
propositura da ação (o tribunal da causa) tenha competência absoluta para conhecer
de todos os pedidos (internacional, material e hierárquica), ainda que a não possua em
razão do valor ou do território.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
A sentença pode ser proferida em termos genéricos se não houver elementos para
fixar o objeto ou quantidade, o tribunal condena no que vier a ser liquidado, sem
prejuízo de condenação imediata na parte que seja liquida (art. 609º, nº 2).
Em sede executiva, sempre que for ilíquida a quantia em divida, o exequente deve especificar
os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir o requerimento
executivo com um pedido liquido (art. 716º, nº 1).
De excluir da previsão do art. 557º, face ao seu caracter excecional, quaisquer outras situações
congéneres ou similares (art. 11º do CC). Já a previsão do art. 610º parece permitir, de modo
irrestrito, o pedido do cumprimento de obrigações inexigíveis à data da propositura da
respetiva ação.
2.5.2. Modalidades
2.5.2.1. Pedidos alternativos
Art. 558º, nº 1, als. a) a I).
O ato de recusa pela secretaria encontra-se, de harmonia com a regra geral do art. 157º, nº 5,
sujeito a reclamação hierárquica para o juiz da causa com fundamento em injustificação da
recusa (art. 559º, nº 1).
Art. 559º, nº 2.
Art. 560º.
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O despacho pelo qual o juiz recusa a distribuição eletrónica é, em termos em tudo idênticos
aos do proferido em sede de reclamação do ato de recusa do recebimento pela secretaria,
suscetível de recurso e em grau (até à Relação) por aplicação analógica do nº 2 do art. 559º.
Também nesta situação goza o autor do beneficio da apresentação de nova petição, com
subsistência dos efeitos da apresentação da primitiva, ex-vi do disposto do art. 560º.
2.5.3. Ineptidão
Pode a petição inicial encontrar-se ferida de vícios de natureza substantiva, que prendem com
a aptidão desse articulado para uma correta configuração das pretensões deduzidas em juízo
face ao direito material abstratamente aplicável.
2.5.3.1. Causas
São quatro as causas que geram a ineptidão da petição inicial, ou seja, da sua falta de aptidão
para o eventual acolhimento ou reconhecimento do direito nela arrogado (art. 186º, nº 1 e 2,
al. a), b) e c)):
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Exemplos:
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Fora destes casos a ineptidão da petição inicial constitui nulidade insanável, cuja ocorrência
cabe ao juiz verificar oficiosamente até ao despacho saneador (art. 200º, º 2), absolvendo o
réu da instância (arts. 186º, 196º, 278º, nº 1, al. b) e 595º, nº 1, al. a)).
Isto porque qualquer dos defeitos essenciais enunciados nas als. A), b) e c) do nº
2 do art. 186º acarreta a falta de aptidão com a consequente inutilização dessa
peça básica da aça, provocando, naturalmente, a invalidação de todo o processo
(art. 186º, nº 1), sendo por isso, considerada como uma exceção dilatória
nominada (arts. 278º, nº 1, al. b), 576º, nº 2 e 577º, nº 1, al. b)).
Nestes casos excecionais das alíneas a) a e) do citado nº 4 do art. 226º (salvo, pois, no relativo
à citação urgente) - havendo necessidade de despacho liminar prévio -, em vez de ordenar a
citação do réu, pode o juiz indeferir liminarmente a petição inicial, ou o requerimento inicial. O
que poderá suceder quando o pedido seja manifestamente improcedente ou ocorram, de
forma evidente, exceções dilatórias insupríveis e de que o juiz deva conhecer oficiosamente
(cfr., genericamente, o disposto no nº 1 do art. 590º - despacho de gestão inicial do processo).
Havendo lugar a despacho liminar prévio, para além da alternativa de deferir ou de indeferir,
deve o juiz convidar o autor ao aperfeiçoamento da petição, na mesma medida em que deverá
«oficiosamente providenciar pelo suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis
de sanação, bem como pela realização dos atos necessários à regularização da instância ou
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas partes, convidando estas a
praticá-lo» - dever de gestão processual (art. 6º, n. 2).
Mas não cabe recurso do despacho que mande citar os réus ou requeridos - despacho liminar
positivo -, já que «não serão consideradas precludidos as questões que Podiam ter sido motivo
de indeferimento liminar» (art. 226º, nº 5). Não olvidar, com efeito, que - independentemente
do valor da causa ou da sucumbência - há sempre recurso de apelação (em um grau) para a
Relação - das decisões de indeferimento liminar da petição da petição de ação ou do
requerimento inicial de procedimento cautelar (cfr. a citada al. c)). De resto, «no despacho em
que o juiz de 1ª instância admita o recurso com tal fundamento, deve o mesmo ordenar a
citação do réu ou do requerido, tanto para os termos da recurso como para os da causa, salvo
nos casos em que o requerido não deva ou não possa ser previamente ouvido antes do
decretamento da providência cautelar que no caso couber (cfr. o nº 7 do artº 641º).
O que o autor não pode é, previamente à apresentação do recurso, seguir a via da "reclamação"
(a que se reporta o nº 1 do art. 559º para o caso de recusa pela secretaria), já que, no caso de
ineptidão, o despacho proferido em 1º grau possui, ele próprio, natureza jurisdicional.
Isto é: o autor pode apresentar outra petição nos 10 dias subsequentes a qualquer
das duas supra-citadas recusas ou à notificação do despacho judicial que haja
confirmado a decisão de ineptidão; nesta última situação, pois, se o autor tiver
optado pelo recurso de apelação previsto na al. c) do nº 3 do art. 629º,
considerando-se a ação proposta na data em que a primeira petição foi
apresentada em juízo, subsistindo, assim, todos os efeitos civis inerentes à
propositura dos concretos ação ou procedimento – art. 560º.
A citação
3. A citação
3.1. Noção. Função
Citação – ato ou peça processual através do qual se convoca o réu a exercitar o seu direito ao
contraditório e, eventualmente, deduzir pedidos contra o autor, sendo, pois, o ato pelo qual se
dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra ele determinada ação e se chama ao
processo para se defender. Utiliza-se, ainda, para chamar, pela primeira vez, ao processo
alguma pessoa interessada na causa. A notificação emprega-se em quaisquer outros casos,
chamar alguém a juízo ou dar conhecimento de um facto (art. 219º, nº 2).
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
A citação trata-se de um ato essencial de comunicação entre o tribunal e o réu com tripla
função:
Juiz
Com esta relação triangular dá-se o cumprimento ao
princípio do contraditório, permitindo-se à pessoa
contra quem foi proposta à ação vir a juízo pronunciar-
se sobre a pretensão, apresentando, para o efeito, a sua
defesa (art. 563º).
Autor Réu
Para tal, no ato da citação, devem ser obrigatoriamente disponibilizados ao réu o duplicado da
petição inicial e as cópias dos documentos que a hajam acompanhado.
Além disso, deve o demandado ser informado dos elementos identificativos da ação para a
qual é citado, do prazo de que dispõe para apresentar a sua defesa e da necessidade de
constituir advogado.
Finalmente, deve ser advertido das cominações em que incorre se não contestar,
designadamente no caso de revelia (art. 227º, nº 1 e 2).
Art. 224º, nº 1 e 2
Art. 219º, nº 3.
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Isto sem embargo dos poderes dos poderes de gestão processual e de gestão inicial
do processo expressamente consagrados nos arts. 6º e 590º, nº 1 respetivamente,
cuja exercitação pode mesmo ter lugar no próprio despacho inicial.
Art. 226º, nº 4;
Art. 931º, nº 1;
Art. 239º, nº 3
Art. 240º a 245º
Art. 366º
a) Citação pessoal
Pode ser efetuada por três vias distintas (art. 225º, nº 2):
Art. 225º, nº 3 e 5.
II. Entrega ao citando de carta registada com aviso de receção, seu depósito nos termos
do art. 229º, nº 5 ou certificação da recusa de recebimento, nos termos do nº 3 do
mesmo preceito legal:
Art. 230º, nº 1
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Art. 234º nº 1 a 4.
b) Citação edital
Art. 225º, nº 6
Art. 240º, nº 1 e 2
Art. 243º
Art. 244º
3.5. Efeitos
Art. 259º, nº 2
Os efeitos a que alude o art. 259º, nº 2 são aqueles a que se reporta o art. 564º CPC e ainda os
previstos nos arts. 323º, nº 1 e 805º do CC.
Não pode, assim, o réu, sob o argumento de que a propositura da ação só produz efeitos
contra si depois da citação, invocar a seu favor uma pretensa caducidade do direito de ação se
a petição houver sido recebido a tempo.
Ainda que a citação venha a ser anulada (art. 198º), os efeitos produzidos pela
citação mantêm-se desde que o réu venha ser nova e regularmente citado nos
30 dias subsequentes ao trânsito em julgado do despacho anulatório (art.
565º), sem prejuízo do regime próprio de interrupção da prescrição (art. 323º,
nº 2 do CC).
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2. Inibe o réu de propor contra o autor ação destinada a apreciar a mesma questão
jurídica:
Faz cessar a boa-fé daquele contra quem tenha sido proposta a ação de
reivindicação da coisa possuída (art. 564º, al. a) do CPC e 1260º, nº 1, do CC);
se contudo, o possuidor estiver de boa fé, isto é, ignorar que, ao adquirir a
posse, lesava o direito de outrem (art. 1260º, nº 1, do CC) - o que, havendo
justo título, se presume (art° 1260º, nº 2, do CC) -, a sua citação para a ação de
reivindicação (art. 1311º do CC) ou de simples apreciação da existência do
direito de propriedade, converte-o em possuidor de má fé, o que tem
consequências quanto a benfeitorias, frutos e responsabilidade pela perda ou
deterioração da coisa.
2. Interrompe a prescrição:
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Contestação
4. Contestação
4.1. Noção. Modalidades.
Contestação – peça processual em que, por via de regra, é feita a defesa do réu relativamente
ao pedido do autor, assim exercitando o seu direito ao contraditório (art. 3º, nº 1 e 2).
Em certas circunstâncias, poderá ainda ser aproveitada pelo réu para deduzir
pedidos contra o autor (art. 266º).
Contestação em sentido material – peça escrita através da qual o réu responde à petição
inicial, deduzindo os meios de defesa que tenha contra a pretensão do autor.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Art. 569º, nº 3 – solução que se justifica já que, para além de não prejudicar o autor (dado o
art. 575º, nº 2), concede a vários réus a possibilidade de uma defesa conjunta ou comum,
beneficio que subsiste mesmo no caso de contestação separada dos diversos réus.
Face ao seu carácter perentório, o decurso do prazo da contestação faz precludir o direito a
contestar (art. 139º, nº 3), salvo o caso de justo impedimento (art. 140º) e ressalva também a
possibilidade da prática do ato nos 3 dias úteis imediatos ao termo do prazo, mediante o
pagamento de multa (art. 139º, nº 5, 6, 7 e 8).
A esses prazos haverá ainda que acrescentar o prazo dilatório previsto no art. 245º,
face à regra da continuidade dos prazos contemplada no art. 138º.
Pode, no entanto, o juiz, a titulo excecional (e sem audição do autor), prorrogar o prazo da
contestação por período não superior a 30 dias, quando motivo poderoso impeça ou dificulte
anormalmente a organização da defesa (art. 141º, nº 1 e 2 e art. 569º, nº 5 e 6).
Art. 569º, nº 4
Art. 575º, nº 2.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
b) Endereço – dirige a contestação ao juiz a quem foi distribuído o processo, com menção
da comarca, juízo ou secção pelos quais a causa corra os seus trâmites;
Art. 572º, al. d). O réu deve, pois, quanto ao requerimento de proposição / requerimento /
oferecimento da prova, cumprir, no seu articulado de defesa, idêntico dever ao que impede
sobre o autor.
No que especificamente concerne à junção da prova documental, deve a mesma ser, desde
logo, apresentada com esse articulado, dessa junção se fazendo menção expressa e
devidamente reportada aos factos a provar (art. 423º, nº 1), devendo, quanto à possibilidade e
aos efeitos da respetiva apresentação em momento ulterior, observar-se o preceituado no art.
424º e 425º.
O reu não tem que indicar qualquer valor na contestação, a menos que não concorde com o
valor atribuído pelo autor da ação, porquanto, nessa hipótese, pode impugná-lo, desde que
ofereça outro valor em substituição daquele e também se tiver deduzido pedido
reconvencional (art. 305º, nº 1).
Recai sobre o réu o dever de organizar as matérias da sua exposição – art. 583º, nº 1.
Deve começar pela invocação da matéria integradora de eventuais exceções dilatórias, já que a
verificação/procedência das mesmas preencherá normalmente uma circunstância obstativa do
conhecimento do mérito da causa, com consequente absolvição do réu da instância ou
remessa do processo para o tribunal ou juízo competente – arts. 278º; 576º, nº 2; 577º e 578º.
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No que respeita à defesa que diretamente se prende com o mérito da causa, deve o réu iniciar
a sua alegação pelos factos impugnatórios das teses sustentadas pelo autor, à qual se seguirá a
sua invocação/ alegação dos factos essenciais que se baseiam as exceções perentórias de pôr
em crise a pretensão do demandante (arts. 5º, nº 1; 576º, nº 3 e 578º).
Em todos os demais casos, o controlo deve ser feito pelo juiz ao abrigo do
princípio da gestão processual, contemplado nos arts. 6º e 590º, nº 1 a proferir
nos termos do art. 590º.
Revelia relativa – se dentro desse prazo, intervier por algum outro modo no processo.
O reu não apresenta defesa;
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
houver sido feita com observância das formalidades legais (art. 566º). Não há espaço
para alegações, passa-se diretamente para a sentença.
Este comportamento omissivo do réu provoca a chamada confissão tácita, ficta ou presumida.
A confissão presumida fica definitivamente adquirida no processo, não podendo o réu vir
posteriormente negar os factos relativamente aos quais se manteve em total silêncio o inércia.
Tidos por confessados os factos por ausência de contestação, cessa a fase dos articulados,
deixando de haver lugar as fases da gestão inicial do processo e da audiência prévia, da
instrução e da audiência final.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Nesta situação não há lugar a qualquer averiguação ou decisão fácticas de carácter autónomo,
mas, tão-somente, à interpretação e aplicação da lei à hipótese vertente; seguir-se-á
normalmente a sentença de mérito de procedência ou improcedência do pedido.
O art. 566º é omisso quanto à possibilidade de sanação das exceções dilatórias e das
irregularidades da petição inicial. Mas quanto às exceções dilatórias, impondo o art. 608º, nº 1
que a sentença de mérito seja precedida da verificação dos pressupostos processuais, não
seria crucial que o juiz não pudesse promover a sanação da sua eventual falta, de preferência
antes das alegações das partes e, o objetivo essencial de alcançar uma decisão de mérito
sempre recomendará a correção dos eventuais vícios de forma.
Se for detetada qualquer exceção dilatória insuscetível de sanação, o juiz poderá (salvo as
exceções dos nº 2 e 3 do art. 278º) deixar de absolver o réu da instância (arts. 278º, nº 1; 576º,
nº 2 e 577º).
a) Art. 568º, al. a) – esta exceção funciona em qualquer situação de pluralidade de réus, e
limita a sua eficácia aos factos de interesse para o réu revel, não sendo prejudicada ela
superveniente desistência do autor relativamente ao réu contestante. O beneficio da
contestação por um dos co-réus é, assim, circunscrito à matéria concretamente
impugnada pelo réu-contestante; daí que os factos não efetivamente impugnados
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
tenham que ser dados como assentes relativamente a todos os réus ( nº 2 do art. 574º,
com referência à al. a) do art. 568º). Só não podem ser considerados como
confessados os factos impugnados pelo réu contestante (art. 574º, nº 1), pois que
seria absurdo que os réus revéis ficassem em situação mais favorável que a dos
efetivamente contestantes;
b) Art. 568º, al. b), 1ª parte – Se o réu for um incapaz e o objeto do litígio se situar no
âmbito da sua incapacidade, não se produz o efeito perentório ou cominatório, não só
perante o incapaz, como também perante outro eventual réu revel, na parte
respeitante a factos de interesse comum, ainda que se trate de litisconsórcio
voluntário ou coligação. Pretende-se, a um tempo proteger o incapaz que nela
permaneça e evitar a dissonância na apreciação da matéria de facto.
Já se o objeto do litígio se situar numa zona de capacidade do incapaz, a exceção se
não justifica, pois que a necessidade da proteção do incapaz se tornará então
despicienda, havendo que fazer funcionar plenamente o efeito (a operância) da
revelia.
No entanto, se o réu incapaz não contestar (através do seu representante) não entra,
desde logo, em revelia: deverá então ser citado o Ministério Público, correndo novo
prazo para a defesa (art. 21º, nº 1) e só na falta de contestação do Ministério Público é
que o réu incapaz fica em situação de revelia (ainda que inoperante).
c) Art. 568º, al. b), 2ª parte - Na base desta exceção legal encontra-se a consabida falta
de fiabilidade da citação edita associada à incerteza de que o réu tenha tido real e
efetivo conhecimento da ação contra si instaurada. Isto sendo certo não assistir ao réu
o direito de ilidir a presunção de que, através da publicação dos editais e anúncios,
tomou efetivo conhecimento dessa instauração (art. 240º, nº 1 e 2 e 242º; 244º). Só
opera a exceção relativamente ao réu citado editalmente que haja caído em revelia
absoluta, pois que, se não contestar, mas constituir mandatário no processo ou juntar
algum documento no prazo da contestação, a sua revelia é apenas relativa e, por isso,
operante (nº 1 do artº 567º e a al. b), in fine, do art. 568º).
Também, nesta sede, o efeito cominatório se não produz perante outro co-réu que
seja revel juntamente com o ausente.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
e) Art. 568º, al. d) - Do efeito revelia adveniente da falta de contestação do réu geradora
da confissão ficta (nº 1 do art. 567º) há ainda que excecionar os factos cuja prova só
possa fazer-se através de documento escrito (art. 568º, al. d)). Adjetiva a lei, através
desta exceção, a estatuição do art. 364º do CC. A inoperância da revelia circunscreve-
se, pois, aos factos carecentes de prova documental, que não a todos os demais factos,
sendo, qua tale, «mais restrita que a das previsões das anteriores alíneas» do art.
568º
Deste modo, se a lei exigir (art. 364º do CC) ou as partes convencionarem (art. 223º do
CC) a necessidade de documento escrito como forma ou para a prova de um negócio
jurídico (ou de outro facto jurídico), esse documento não é dispensável, sendo
pois irrelevantes para a prova da declaração negocial, quer o mero silêncio da parte,
quer a declaração expressa de confissão.
Também nesta sede, e ex-vi do nº 2 do art. 574º (de aplicar por analogia) serão de excluir da
confissão ficta os factos física ou legalmente impossíveis e os notoriamente inexistentes (art.
354º, al. c), do CC).
b) já nas hipóteses das alíneas b), c) e d) do art° 568° , a ausência de contestação faz com
que cesse a fase dos articulados. Na subsequente fase da gestão inicial do processo e
da audiência prévia, não há lugar à prolação do despacho a que se reporta o art. 596º
de identificação do objeto do litigio e enunciação dos temas da prova; não
funcionando a cominação, torna-se necessário submeter os factos articulados
relevantes à produção de prova, a fim de que o juiz possa, em função dela, bem decidir
o pleito, pelo que haverá lugar às fases da instrução, da audiência final e da sentença.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
A situação jurídico-processual do réu revel manter-se-á incólume «ainda que esse co-réu
venha, entretanto, a confessar o pedido, a transigir ou a ser absolvido da instância». Tal
situação só é afetada na parte que diretamente se prende com a falta de contestação,
subsistindo, quanto ao restante, todos os seus poderes processuais.
Deste modo, se a revelia for operante, o réu tem a faculdade de produzir alegações escritas,
desde que haja constituído advogado (nº 2 do art. 567º). Se a revelia for inoperante, há que
distinguir entre revelia absoluta e revelia relativa:
Se incurso em revelia absoluta, o réu revel não é notificado para nenhum ato ou
diligência processual, apenas lhe sendo notificada a decisão final (art. 249º, nº 2 a 5).
E pode ainda, na audiência final, produzir alegações orais, quer de facto, quer de direito (art.
604º, nº 3, al. e) e 4 a 8). Intervenções e atuações essas a serem feitas através de mandatário
judicial (art. 40º).
Sendo a revelia inoperante por verificação de uma qualquer das situações das al. b), c) e d) do
art. 568º, o processo segue a sua tramitação normal (art. 599º) não sendo o réu revel
notificado enquanto não intervier no processo, com exceção da notificação da sentença, desde
que a sua residência ou sede sejam conhecidas no processo (art. 249º, nº 5).
5. A defesa do réu
5.1. Defesa por impugnação e/ou por exceção
Através da contestação-defesa o réu opõe-se, por contradição, ao pedido contra si formulado
pelo autor ou através da invocação de exceções dilatórias ou perentórias.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Facto -o réu opõe-se à versão da realidade apresentada pelo autor, negando os factos
alegados como causa de pedir, na petição inicial;
Direito – o réu questiona a qualificação ou significação jurídica que o autor atribui aos
factos por si narrados. Aceitando, embora a verdade dos factos, o réu sustenta que
deles não emergem os efeitos jurídicos que o autor pretende (inconcludência da
pretensão). O réu contradiz o efeito jurídico que o autor pretende extrair dos factos
alegados, pondo em crise a determinação, interpretação ou aplicação da norma
jurídica pelo autor invocada na petição inicial.
Impugnação de facto:
A impugnação dos factos constitutivos, pelo réu, por sua vez, pode ser:
Direta – quando o réu nega frontalmente esses factos, afirmando não terem na
realidade ocorrido;
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
2. Negação indireta ou motivada, fornecendo dos factos alegados uma outra perspetiva,
panorâmica ou significado, isto é, apresentando uma contra-versão ou contra-
exposição desse mesmos factos (negatio per positionem);
Caso se trate de um facto pessoal ou de que o réu deva ter conhecimento, a invocação desse
conhecimento equivalerá a confissão (art. 574º, nº 3).
Toda a defesa por exceção é uma defesa indireta, porquanto não traduzida num
Defesa ataque frontal e direta, mas antes num ataque lateral oblíquo ou de flanco à
por pretensão do autor. Em suma: é exceção toda a defesa indireta, toda a defesa
que não seja por oposição.
exceção – traduz-se na alegação de nova factualidade que o réu entende como suscetível de
obstar a que o tribunal possa extrair o efeito pretendido pelo autor; seja porque tais factos
impedem o tribunal da causa de apreciar o pedido deduzido pelo autor (exceção dilatória – art.
576º, nº 2), seja porque conduzem o tribunal apreciador ao julgamento da respetiva
improcedência (exceção perentória – art. 576º, nº 3).
Ao invocar esta última, o réu aceita a narração fáctica apresentada pelo autor;
porém, traz para o processo novos factos suscetíveis de gerar a sua absolvição da
instância ou de impedir, modificar ou extinguir o direito que o autor pretende fazer
valer com a sua propositura da ação – art. 576º, nº 3.
Daí falar-se num ataque indireto, lateral ou de flanco, pois o réu sai do campo em que o autor
se colocou, lançando mão de armas de facto distintas das usadas pelo autor na petição inicial.
Em função dos efeitos produzidos por este meio defensional há que distinguir entre exceções:
Dilatórias;
Perentórias.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
A falta (não sanada) de algum desses pressupostos gera o surgimento das exceções que inibem
o juiz da emissão do seu juízo decisório final.
Daí serem também designadas por exceções processuais, já que somente afetam a
relação jurídica processual, sem contenderem com a relação jurídica material,
apenas protelando o momento em que esta será apreciada.
Art. 577º - enumera as exceções dilatórias. Na expressão “entre outras” cabem as exceções
dilatórias inominadas, nomeadamente:
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
f. A coligação de autores ou réus, quando entre os pedidos não exista a conexão exigida no
artigo 36.º;
h. A falta de constituição de advogado por parte do autor, nos processos a que se refere o
n.º 1 do artigo 40.º, e a falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por
parte do mandatário que propôs a ação;
Neste tipo de defesa o réu não repudia nem contradiz os factos articulados pelo autor,
arguindo-os de falsos ou inexatos.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Daqui resulta que o réu deve incluir nessa peça processual, quer a defesa direta
(impugnação), quer a defesa indireta (exceção dilatória ou perentória), não podendo
reservar para momento ulterior do processo certos meios defensionais de carácter
eventual ou subsidiário.
O réu pode defender-se, a titulo simultâneo, por exceção dilatória e por impugnação.
O que seria violador do direito da defesa do réu como dos princípios da economia,
celeridade, boa-fé e lealdade processuais.
A arguição de nulidades pode, contudo, ser feita mesmo antes da dedução da contestação.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Do principio da preclusão resulta que, recaindo sobre o réu o ónus de, na contestação,
impugnar os factos alegados pelo autor, alegando os factos que sirvam de base a qualquer
exceção dilatória ou perentória, todos os meios de defesa não invocados nesse momento
ficam prejudicados, não podendo voltar mais tarde a ser alegados.
O princípio da eventualidade significa que, face ao risco de preclusão, o réu há-de esgrimir, de
modo simultâneo, todos os fundamentos e argumentos da sua defesa, em ordem a que cada
um deles possa ser considerado na hipótese de qualquer dos precedentes vir a improceder.
O réu ou demandado não pode remeter-se a uma atitude passiva sobre os factos
articulados pelo autor.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Há exceções a considerar à regra do efeito cominatório, não tendo por admitidos por acordo:
b) Os factos sobre os quais não seja admissível confissão – explica-se pela razão de que,
se a lei proíbe a confissão expressa de determinado facto ou negócio jurídico, evidente
se torna que a confissão tácita, ou a admissão por acordo também não pode revelar,
sob pena de vir a obter-se por via indireta ou obliqua um resultado que diretamente
não pode ser alcançado;
c) Os factos que só possam ser provados por documento escrito (art. 574º, nº 2) – à
previsão do nº 2 do art. 574º subjaz um fundamento em tudo equivalente à da al. a)
do art. 568º para o efeito cominatório da revelia: em matéria de declaração negocial,
rege o principio da consensualidade ou da liberdade de forma (art. 219º do CC);
porém, em diversas situações, a lei exige, sob pena de nulidade, o mero documento
particular escrito outra forma mais solene para a celebração de certos negócios
jurídicos;
No caso de pluralidade de réus, subsiste o ónus de impugnar, pelo que, ao contrário do que
ocorre no caso de revelia a que se reporta a al. a) do art. 568º, ao não impugnante não
aproveita a impugnação que haja sido feita por outro ou por outros réus.
6. A reconvenção
6.1. Defesa por exceção e reconvenção
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
No articulado de defesa, pode o réu limitar-se a exercer uma defesa indireta ou obliqua
através da invocação de qualquer exceção perentória.
Se o réu aproveitar esse articulado para operar uma modificação objetiva da instancia,
deduzindo um pedido que se perfile em substância como autónomo relativamente ao pedido
principal, visando através dele obter a condenação do autor nesse novo pedido, ultrapassará
uma postura ou atitude simplesmente defensional, pois que acrescentará algo inovatório,
dizendo que tal eventualidade que contra-atacou através da reconvenção.
Deste modo, quando o pedido formulado pelo réu constituir uma decorrência
lógica e necessária da sua oposição, não pode ele ser considerado como
reconvenção, mas sim como mera defesa.
O efeito jurídico pretendido pelo réu pode ser materialmente incompatível ou compatível com
o pedido formulado pelo autor ou ser dependente deste. O uso da exceção ou da reconvenção
dependerá do efeito jurídico pretendido obter, de harmonia com o principio do pedido.
A contestação/reconvenção não constitui um ónus do réu, mas uma mera faculdade cujo
exercício não preclude o direito de acionar o autor em ação autónoma – princípio da liberdade
de reconvir.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
6.3. Requisitos
6.3.1. Requisitos processuais
Art. 583º, nº 1 e 2.
A reconvenção pode ser deduzida não apenas pelo réu contra o autor mas também por ou
contra outros sujeitos que, de harmonia com os critérios gerais aplicáveis à pluralidade de
partes, possam associar-se ao reconvinte ou reconvindo através da suscitação do incidente de
intervenção principal provocada (arts. 311º a 315º e 316º, nº 1, 2 e 3), como sucederá quando
o pedido formulado pelo réu implicar um litisconsórcio necessário passivo entre o reconvindo
e uma terceira pessoa (art. 266º, nº 4).
O autor e o réu supostos pelo art. 266º são aqueles a quem se reconheça
legitimidade para, nessa qualidade, intervirem no pleito. Se o réu for julgado parte
ilegítima para a ação principal no despacho saneador, esse julgamento prejudica
também o conhecimento do pedido reconvencional. 37
Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Essa ineptidão não gera, todavia, nulidade de todo o processo, mas, tão-somente,
a nulidade da própria reconvenção, com a consequente absolvição do autor-
reconvindo da instância reconvencional.
Para além dos elementos de conexão com o pedido do autor indicador no nº 2 do art. 266º,
cumpre ao réu observar, na dedução do seu pedidos, todos os requisitos legalmente exigidos
para a obtenção de uma decisão de mérito, isto é, os pressupostos processuais, uns relativos à
competência absoluta do tribunal, outros ligados à forma do processo (este ultimo ponto: art.
266º, nº 3).
Assim, desde logo, quanto à competência absoluta do tribunal para o conhecimento do pedido
principal e do pedido reconvencional (art. 93º, nº 2).
É preciso, ainda, ter em conta o poder-dever, por parte do juiz, de ordenar a junção/apensação
de ações pendentes no próprio ou em tribunal distinto, suscetíveis de ser reunidas num só
processo, se nelas se verificarem os pressupostos da admissibilidade da reconvenção, salvo a
inconveniência dessa junção, quer pelo estado do processo, quer por outra qualquer razão
atendível (art. 267º, nº 1 a 4).
Isto para a chamada reconvenção pura, uma vez que, nas situações da alínea b) e
c), a reconvenção pode ser deduzida a titulo eventual para o caso de o pedido
originário vir a ser julgado procedente.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Se o processo não admitir a contestação do réu ou réplica do autor, não poderá usar-se a
reconvenção.
Nos processos que correm pelos julgados de paz «não se admite reconvenção, exceto quando
o demandado se propõe obter a compensação ou tornar efetivo o direito a benfeitorias ou
despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é pedida». Só é, pois, admissível reconvenção nas
hipóteses das alíneas b) e c) do nº 2 do art. 266° (cfr. o nº 1 do art. 48º da Lei nº 78/2001, de
13 de julho).
Nos processos da arbitragem voluntária « demandado pode deduzir reconvenção, desde que o
seu objeto seja abrangido pela convenção de arbitragem» (art. 339º, nº 4 da LAV).
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Ao autor cabe verificar se, perante a contestação apresentada, pode ou não haver
réplica, pelo que a notificação se destina a assegurar ao autor o eventual direito de
resposta.
Face à taxatividade legal das hipóteses de admissibilidade da réplica, diz-se que se trata de um
articulado de carácter eventual.
Também a falta de impugnação dos factos ex-novo invocados pelo réu surte o efeito
cominatório plasmado no art. 574º aplicável ex-vi do nº 1 do art. 587º.
A réplica deve ser notificada ao réu pelo mandatário do autor nos termos do art. 221º.
8. Articulados extraordinários
8.1. Articulados supervenientes
Art. 611º, nº 1 CPC.
Quanto à oportunidade para o carreamento para os autos de tais factos, através de articulados
supervenientes, contemplam os arts. 588º e 589º os seguintes momentos processuais
preclusivos:
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Art. 588º, nº 5 e 6.
Art. 589º, nº 1.
Art. 590º, nº 3 e 4.
Logo aquando da apresentação liminar da petição ao abrigo dos arts. 6º; 226º, nº 4 e 590º, nº
1 ou, não tendo sido proferido despacho liminar, no despacho de aperfeiçoamento que tem o
se lugar próprio na fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia, em regra, no
despacho pré-saneador (art. 590º, nº 2 a 4); ou, se ai não tiver sido emitido, na audiência
prévia propriamente dita (art. 590º, nº 4).
Trata-se de articulados que não são apresentados sob impulso da parte, antes resultando de
uma atitude persuasiva expressa do juiz da causa, destinando-se corrigir (articulados
irregulares) ou a complementar (articulados deficientes) os já apresentados.
Em qualquer outra hipótese, o prazo para a resposta será de 10 dias (art. 149º, nº
1), contados, se o convite for feito no despacho pré-saneador, da data da respetiva
notificação (art. 149º, nº 2) e, quando feito a audiência prévia da data dessa
apresentação.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
b) Art. 573º, nº 2;
Se a modificação do pedido for operada na audiência final, ficará a constar da respetiva ata,
não sendo, qua tale, objeto de requerimento avulso (art. 265º, nº 3).
A gestão inicial
1.1. Despacho pré-saneador
1.1.1. Oportunidade. Finalidades.
Nas hipóteses em que, por expressa exigência legal ou por determinação do juiz, a petição haja
de ser objeto de despacho liminar, poderá haver lugar a indeferimento liminar da petição
inicial, não só quando o pedido se perfile como manifestamente improcedente, como quando
ocorram, de forma evidente, exceções dilatórias insupríveis e de que o juiz deva conhecer ex-
officio, com aplicação do preceituado no art. 560º.
Excluídos os casos de despacho liminar obrigatório, é este o momento em que o juiz toma pela
primeira vez contacto com o processo.
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Art. 14º;
Arts. 16º e 17º e 20º a 27º;
Art. 29º;
Art. 34º, nº 2;
Art. 38º;
Art. 41º;
Art. 48;
Arts. 261º a 263º; 278º, nº 1, al. c) e 279º, nº 3.
Sanação a titulo oficioso sucede com a citação do representante do réu (art. 16º a 24º), a
citação do pai preterido do menor do menor (art. 16º, nº 3) ou o chamamento para
intervenção da administração principal da sociedade cuja sucursal, agencia, filial, delegação ou
representação houver sido demandada (art. 14º).
Na generalidade das situações a iniciativa oficiosa terá de ser seguida por um ato de
cooperação da parte do seu representante ou curador do terceiro titular do poder de autorizar
ou consentir, atos complementares esses que podem traduzir-se:
Tudo, sem embargo, de em caso de inércia do juiz, poder a parte vir aos autos, se dentro do
prazo praticar o ato regularizador do pressuposto em falta. E, também sem prejuízo de só na
audiência prévia se tornar evidente a falta de pressuposto e de o juiz apenas detetar a
irregularidade no momento da prolação do despacho saneador, podendo/devendo o juiz,
antes de proferir esse despacho, providenciar pela respetiva sanação (art. 6º e 590º, nº 2 a 4).
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
Caso esse controlo externo haja sido omitido, deve o juiz da causa, no despacho
pré-saneador, convidar o autor a corrigir a irregularidade entretanto detetada.
Já o controlo formal dos restantes articulados é feito, em última análise, pelo juiz. Deste modo,
desrespeitando o réu as normas do art. 572º, quando não individualize a ação e não exponha
as razoes de facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor, cumpre ao juiz verificar,
designadamente, se o réu distinguiu claramente a matéria da impugnação e da exceção,
especificou separadamente as exceções deduzidas (art. 572º, al. c )), identificou e deduziu, de
modo destacado, o pedido reconvencional (art. 583º, nº 2).
É também requisito comum a qualquer outro articulado em sentido técnico a dedução por
artigos (art. 147º, nº 2), formalidade que se, não observada, constitui irregularidade, como tal
podendo dar lugar ao consequente despacho de correção.
No que se refere à formulação do pedido, ainda que a petição inicial seja apta, pode o mesmo
apresentar alguns defeitos pontuais de inteligibilidade, mormente se respeitantes à dedução
de pedidos genéricos ou ilíquidos, caso em que competirá igualmente ao juiz dirigir ao autor
um convite à respetiva concretização.
Art. 981º;
Art. 959º, nº 2;
Art. 220 do CC.
Essenciais para o prosseguimento da causa, dando a sua falta temporária lugar à suspensão da
instancia e, a sua falta definitiva, ao indeferimento liminar ou à absolvição do réu:
Art. 380º, nº 2;
Art. 583º, nº 3;
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Direito Processual Civil II – 1ª frequência
O despacho de aperfeiçoamento pode ter lugar, quer em face do autor, quer em face do réu,
considerando o conjunto dos articulados por cada um deles apresentado. Constitui um
remédio no sentido da clarificação dos factos alegados por autor ou réu.
O convite de aperfeiçoamento, devendo ser feito pelo juiz, pode ser feito:
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