Boaventura - Globalização e Globalismo
Boaventura - Globalização e Globalismo
Boaventura - Globalização e Globalismo
GLOBALISMO LOCALIZADO:
O CHOQUE CULTURAL COM O
FUNDAMENTALISMO
1 Advogado, graduado em Direito pela URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões, Campus de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul. Pós Graduado em Direito do Estado
pela UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aluno regular de Mestrado em Direito
pela FMP – Fundação Escola Superior do Ministério Público. signor.jorge@gmail.com
Jorge Alberto Signor
Resumo
Abstract
1 Introdução
2 Quando refiro-me a “sem volta”, refiro-me ao sentido de que, uma vez que o mundo está inteira-
mente conectado e globalizado, não há mais como retroceder ao isolamento em que se vivia em
seus primórdios. Muito pelo contrário: quanto mais passa o tempo, mais conectado estará o mun-
do.
3 GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução do original inglês intitulado SOCIOLOGY. 6ª ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. p. 64.
4 SANTOS, Boaventura de Sousa. As tensões da modernidade. Faculdade de Economia da Universi-
dade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais.
5 SANTOS, Boaventura de Sousa. A globalização e as ciências sociais. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
p. 26.
6 SANTOS, 2002, p. 27.
7 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 2º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. p. 136.
8 GIDDENS, 2008, p. 53
3 Localismo globalizado vs
globalismo localizado
Do mesmo modo que a globalização encurta distâncias,
transforma o comércio e abre portas para o conhecimento,
também há de se delimitar seu caráter prejudicial. Não que se
queira, de uma maneira pessimista, condenar a globalização,
que tantos benefícios trouxe para a sociedade como um todo.
Até porque esse processo globalizante é irreversível. Mas bus-
ca-se, sim, um contraponto a essa ideia, de modo a demonstrar
os efeitos colaterais que resultam desse processo.
O que muitos autores mencionam é que a globalização,
a priori, deve ser sempre considerada no modo plural. E, por
assim ser, propõe o surgimento de diversas formas de globa-
lização: (a) localismo globalizado; (b) globalismo localizado; (c)
cosmopolitismo e (d) patrimônio comum da humanidade. Para
este trabalho, ater-se-á tão somente às duas primeiras formas –
de modo a apenas mencionar as duas últimas.
Importante, então, definir os termos supramencionados, a
começar pelo localismo globalizado, de modo que, nas palavras
de Boaventura:
4 Fundamentalismo:
o contra ataque ao globalismo localizado
Ao passo de tudo o que já foi dito, percebe-se claramen-
te a necessidade de desvincular a globalização de seu aspecto
puramente econômico porque, para além disso, ela é um fenô-
meno social. E, assim, incluir os aspectos políticos, culturais e
sociológicos em sua avaliação é imprescindível. Neste viés, a
luta contra a globalização assumiu, em grande parte, a feição
ideológica de uma cruzada contra o chamado neoliberalismo,
com o ocidente como alvo em especial dessa manifestação,
posto que a globalização pode ser considerada como uma “cria
ocidental”.
26 CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução Klauss Brandini Gerhardt. São Paulo: Paz e
Terra, 2006. p. 25.
27 HUNTINGTON, Samuel P. O choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem mundial. Tradu-
ção de M. H. C. Côrtes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. p. 134.
Conclusão
Datado do século XVIII, o início das navegações marítimas
pode ser considerado como o marco inicial de uma mudança
estrutural no mundo. Ali, ainda que timidamente, começava o
que viria a ser chamado de globalização, num movimento a prio-
ri estritamente financeiro de troca de mercadorias entre países
europeus e o resto do mundo.
Com o passar dos anos, tal movimento acabou por desen-
cadear um comércio inimaginavelmente interligado, com trocas
e contatos constantes e intermináveis entre todo o globo. E,
nesse movimento globalizado de economia, passou-se também
a acontecer a troca cultural, social e política de experiências e
características, no que se pode chamar de uma globalização to-
tal de convívio social.
Surge, nesse viés, dois aspectos especialmente importan-
tes: o localismo globalizado e o globalismo localizado, os quais
traduzem a tendência de globalização: de um lado, a expan-
são das tendências locais – leia-se do ocidente – para o resto
do mundo, adentando pequenas comunidades e se instalando
como se dali fosse e, de outro, a luta dos povos menos desen-
volvidos contra tal globalismo e seus impactos na cultura local.
Com isso, nesse contexto de imposição de um lado contra
o outro, surgem diversas formas de resistência e, ao que se per-
cebe, a mais comum delas é o surgimento do fundamentalismo
religioso, o que acaba por ser o reduto de identidade e raiz
buscado pelos povos – no caso em análise, do Oriente Médio –
como forma de se identificar contra a globalização. É uma forma
encontrada de se contra identificar dentro do “ocidentalmente
imposto”, numa clara exclusão dos que excluem pelos excluídos.
Assim, tem-se que o movimento globalizante traz consigo
o surgimento de um forte fundamentalismo religioso, na espe-
rança de que ali se possa encontrar novamente as raízes locais
e, de algum modo, contrariar a globalização.
Referências
CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução Klauss Bran-
dini Gerhardt. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução do original inglês intitu-
lado SOCIOLOGY. 6ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2008.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. Tradução
Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 11ª Ed. Rio de Ja-
neiro: DP&A, 2006.
HUNTINGTON, Samuel P. O choque de Civilizações e a Recom-
posição da Ordem mundial. Tradução de M. H. C. Côrtes. Rio de
Janeiro: Objetiva, 1997.
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 2º ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1996.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A globalização e as ciências so-
ciais. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento úni-
co à consciência universal. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.