Gestão Da Mobilidade para Cidades Inclusivas
Gestão Da Mobilidade para Cidades Inclusivas
Gestão Da Mobilidade para Cidades Inclusivas
AUTOR
Dana Yanocha
PREFÁCIO 3
COLABORADORES
Tara Eisenberg
Jacob Mason 1. INTRODUÇÃO
Heather Thompson
Estratégias com e sem cobranças 9
Concepção de soluções equitativas 12
Colegas de diversos escritórios regionais do ITDP
contribuíram com dados e informações de apoio,
além da revisão interna:
Etsa Amanda, ITDP Indonésia
2. MENU DE OPÇÕES: ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DO TRÁFEGO
Carolynn Johnson, ITDP EUA Precificação de estacionamento 16
Christopher Kost, ITDP África
Clarisse Linke, ITDP Brasil Precificação de emissões 22
Edgar Mejia, ITDP US Precificação de congestionamento 28
Alphonse Nkurunziza, ITDP África
Gonzalo Peon Carballo, ITDP México Realocação de espaços viários para as pessoas 34
Vaishali Singh, ITDP Índia
Clara Vadillo, ITDP México Zonas de tráfego limitado 41
Xianyuan Zhu, ITDP China
Gestão da Mobilidade
para Cidades Inclusivas
ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR O USO DE VEÍCULOS
imagem da capa:
Rua Completa
Eje 3 Oriente,
Ing. Eduardo Molina,
Cidade do México
fonte: Héctor Ríos,
ITDP México
2
PREFÁCIO
Antes da pandemia de Covid-19, os congestionamentos
impunham enormes desafios para cidades grandes
e pequenas. Eles contribuíam para as mudanças
climáticas e aumentavam a poluição atmosférica
e sonora, além de outros impactos negativos. Para
combater o aumento dos níveis de congestionamento,
as cidades passaram a considerar a implementação
de medidas agressivas para redução do tráfego, tais
como a cobrança por estacionamento, tarifas de
congestionamento e zonas de baixa emissão. Embora
alguns desses esforços tenham perdido seu ímpeto ou
tenham um futuro incerto devido às novas prioridades
resultantes da pandemia, a má qualidade do ar, os
congestionamentos e as restrições que afetam os
orçamentos municipais agora representam uma ameaça
ainda maior para a qualidade de vida nas cidades,
dando ainda mais motivos para a implementação
dessas ações medidas.
2 3
INTRODUÇÃO
No entanto, uma redução do tráfego bem-sucedida requer mais do que
simplesmente reduzir os congestionamentos. Trata-se de redistribuir
1
recursos, prioridades e espaços nas ruas para tornar as cidades mais
Historicamente, o baixo custo do uso de vias públicas levou a uma dependência
habitáveis para as pessoas. Ao priorizar modos de transporte de baixo
desproporcional de veículos particulares com baixa ocupação no mundo todo. Isso
custo e amplamente acessíveis, como a mobilidade a pé, por bicicleta
gerou congestionamentos, poluição e a expansão das cidades, resultando em sérias
e o transporte público, e desestimular aqueles que contribuem para
consequências negativas para o acesso as oportunidades, o meio ambiente e a
mudanças climáticas e mais prejudicam a sociedade em geral (e as pessoas
qualidade de vida. Esses resultados prejudiciais afetaram desproporcionalmente as
vulneráveis, em particular), podemos criar sistemas de transporte mais
populações mais vulneráveis: pobres, idosos, crianças e pessoas com deficiência.
equitativos. Uma mudança em prol do uso da bicicleta já vem acontecendo
em muitos lugares, viabilizada por ciclovias temporárias (pop up), pela A quantidade de veículos particulares está aumentando nas cidades de muitos
redução da velocidade em certas vias, ou pela proibição ao tráfego de países de renda baixa (PRB) e países de renda média baixa (PRMBs) 1, embora os
automóveis em outras. Essas medidas têm sido implementadas em
índices de propriedade de veículos ainda sejam, em geral, mais baixos que em
resposta à pandemia de Covid-19, mas as cidades podem restringir países de renda alta2. Mesmo que o uso de transporte público e os deslocamentos
ainda mais o retorno aos veículos particulares por meio de uma melhor
a pé ou em bicicleta tendam a ser mais comuns em cidades de renda baixa, a
integração de modos de micromobilidade pessoais e compartilhados, infraestrutura pode ser ineficiente. Enquanto isso, os orçamentos de transporte
incluindo bicicletas e e-bikes, nas redes de transporte. frequentemente priorizam a construção e expansão de ruas e estradas como
uma solução para os congestionamentos, apesar de as pesquisas e experiências
Em alguns casos, as estratégias para redução do tráfego, que aqui demonstrarem que isso apenas aumenta a demanda por veículos particulares
denominamos como estratégias de Gestão da Mobilidade (GdM), criam e os engarrafamentos. A menos que os governos intervenham, os índices de
um fluxo de receitas confiável que pode financiar outras melhorias na propriedade, uso e tráfego de veículos nas cidades – especialmente aquelas em
infraestrutura para deslocamentos a pé, de bicicleta e em transporte rápida urbanização – continuarão a crescer.
público. O número reduzido de passageiros e o aumento dos requisitos
de distanciamento e higiene nos obrigaram a repensar o financiamento Em lugares onde a frequência da mobilidade a pé, por bicicleta e pelo transporte
do transporte público. A receita de estratégias GdM, como as tarifas de público é mais alta, como nas cidades de PRBs/PRMBs, há uma oportunidade
congestionamento, poderia preencher lacunas, redistribuindo alguns dos de saltar3 a etapa de aumento de veículos individuais e vincular diretamente
subsídios geralmente concedidos ao transporte individual para apoiar as estratégias de redução do tráfego a melhorias na infraestrutura de
meios de transporte mais equitativos e eficientes. No caso de comunidades transporte público e transportes ativos. Esta abordagem é mais equitativa
vulneráveis que se veem forçadas a viver nas periferias urbanas, é do que aquela adotada em países de renda mais alta, onde o crescimento da
especialmente importante que o desestímulo ao uso de veículos individuais renda está ligado à propriedade e uso de veículos particulares, aumentando
esteja associado a políticas e investimentos robustos em transporte os congestionamentos e, simultaneamente, os desafios para melhorar a
público que viabilizem deslocamentos mais longos. infraestrutura para a mobilidade sustentável.
Chegou a hora de as cidades serem mais proativas. Estratégias de GdM Em cidades grandes de renda alta, proprietários e usuários de veículos, que estão
bem planejadas podem representar uma solução de sucesso para reduzir acostumados à situação atual há várias décadas, apresentam forte oposição às
os congestionamentos, gerar receitas e tornar a mobilidade a pé, por políticas que eliminam subsídios ou cobram dos motoristas pelos resultados
bicicleta e o transporte público os meios de locomoção mais fáceis, rápidos negativos para os quais contribuem. No entanto, as cidades que observam
e econômicos. Neste relatório, apresentamos e avaliamos maneiras pelas atualmente um crescimento na quantidade de veículos têm uma oportunidade única
quais as cidades podem alcançar esses resultados, tais como a tarifação de adotar estratégias de redução do tráfego antes que a dependência de veículos
do estacionamento, das emissões e dos congestionamentos, além da individuais se torne generalizada. Essa tendência está crescendo globalmente, como
realocação de espaços viários para as pessoas. Embora essas estratégias pode ser visto, por exemplo, na iniciativa Ruas Verdes e Saudáveis do grupo C404.
às vezes sejam consideradas individualmente, este relatório destaca os Prefeitos de mais de 35 cidades, entre as quais Quito, Santiago, Cidade do México,
benefícios da implementação de várias estratégias em conjunto para Rio de Janeiro e Jacarta, comprometeram-se a identificar uma parte significativa
maximizar seus impactos e reduzir os desafios potenciais de sua cidade como “área de zero emissão” e a eletrificar suas frotas de ônibus
públicos. No entanto, restrições de capacidade, recursos e tecnologias podem
impedir a implementação bem-sucedida de estratégias de GdM. Portanto, essas
precisarão ser projetadas para levar em conta tais limitações. Qualquer política
bem-sucedida para a redução do tráfego deve garantir que as necessidades dos
grupos marginalizados e de renda mais baixa sejam reconhecidas e atendidas, e que
esses grupos não arquem com custos desproporcionalmente maiores que os grupos
mais ricos como resultado da política.
1 Para os fins deste estudo, as classificações de renda dos países são determinadas de acordo com o Banco Mundial e as cidades de
países de renda alta são consideradas cidades de renda alta (CRA).
2 Private Motorization in Worldwide Developing Countries’ Metropolitan Areas: Patterns in the Early 21st Century.
3 O termo “salto” é usado conforme a definição do Final Report High-Volume Traffic: Urban Transport Theme 2: “Fenômeno em que
certas tecnologias e inovações oferecem, aos retardatários, a oportunidade de entrar no mercado sem ter de passar pelas etapas
4 iniciais de tentativa e erro, o que acelera seu sucesso” (p. 147). 5
4 Our Commitment to Green and Healthy Streets.
Felizmente, as cidades têm diversas opções à disposição Isso pode ser feito priorizando a segurança e o conforto
para reduzir significativamente o tráfego de veículos de pedestres, ciclistas e usuários de transporte público e
motorizados e resolver vários problemas. garantindo que os usuários das ruas e estradas entendam e
paguem pelos custos reais de dirigir e estacionar.
A Gestão da Mobilidade (GdM) é um termo abrangente amplamente usado bem como incentivos ou medidas de “atração”, que tornam mais
para definir estratégias que buscam reduzir o tráfego e o uso de veículos interessantes as alternativas ao uso de veículos particulares (ver gráfico
particulares, restringindo a demanda por transporte individual. Em outras abaixo). No entanto, a implementação de medidas de “afastamento” sem
palavras, as estratégias de GdM visam a aumentar a eficiência do sistema de opções adequadas para substituir o transporte individual tende a ser
transportes e atingir objetivos políticos específicos, mudando como, quando e rejeitada pelo público ou, em alguns casos, leva a mais deslocamentos,
onde ocorrem os deslocamentos5. como foi visto com alguns programas de rodízio de placas6. Da mesma
forma, os incentivos de “atração” não convencem um número suficiente
Há um consenso geral de que as políticas de GdM incluem medidas de de motoristas para atender às metas das políticas se as opções de
dissuasão ou ”afastamento”, que desencorajam o uso de veículos particulares; mobilidade a pé, por bicicleta e o transporte público não satisfizerem os
usuários que têm condições de continuar a dirigir seu próprio carro.
AFASTAMENTO E
AFASTAMENTO
ATRAÇÃO ATRAÇÃO
5 Parking Management Best Practices; Practical Guidebook: Parking and Travel Demand Management Policies in Latin America;
6 Transportation Demand Management: Training Document. 7
6 Practical Guidebook: Parking and Travel Demand Management Policies in Latin America.
O que muitas vezes é menos evidente é até que ponto as estratégias de GdM
podem ser vinculadas a mudanças mais amplas com as quais as cidades se A redução do tráfego tem sido uma questão central para o ITDP: realizamos
comprometeram, tais como a melhoria da qualidade do ar, redução de veículos um amplo trabalho na área de reformas de políticas de estacionamentos em
de ocupação única, a redução da quilometragem percorrida por veículos (VKT, via pública e fora dela, desenvolvimento compacto voltado ao transporte
na sigla em inglês de Vehicle Kilometers Traveled), ou o incentivo a frotas público e priorização do espaço e dos recursos para mobilidade a pé, por
mais limpas e, mais especificamente, seu papel nas redes de transporte bicicleta e por transporte público, em vez de veículos particulares. Sabemos
sustentáveis. Além disso, há uma notável falta de compreensão sobre o que, ao incentivar a mudança para esses modos de transporte sustentáveis,
potencial de muitas dessas estratégias para reduzir o tráfego e a demanda por as cidades podem reduzir a poluição atmosférica e as emissões que
veículos em cidades com poucos recursos e capacidade limitada, como cidades contribuem para as mudanças do clima, melhorar a segurança no trânsito e
pequenas e aquelas em países de renda baixa e média. oferecer ambientes urbanos mais habitáveis.
CONTEXTO + +
Mudanças do clima Sinistros de trânsito com
ferimentos mortes
Como parte da pesquisa realizada para a elaboração deste estudo, o ITDP +
+
conduziu um levantamento interno seguido por debates com nossa equipe Poluição sonora
Congestionamento/tempo
sobre as oportunidades e desafios relacionados à redução do tráfego em perdido
diferentes regiões. Também foram entrevistados especialistas externos +
com conhecimentos e experiência específicos sobre o tema7. As informações
Estradas/estacionamento
obtidas nos debates internos e externos contribuíram para a estrutura e
+
abordagem geral do estudo e, em particular, serviram para embasar os
Divisão do tecido social e
critérios de avaliação usados na seção 3.3. comunitário
8 7 Foram realizadas entrevistas externas com Shomik Mehndiratta (Banco Mundial); Kate Laing (C40); Lloyd Wright (Banco Asiático de 9
Desenvolvimento); e Daniel Firth (Translink Vancouver).
Embora as estratégias com cobranças (por exemplo, tarifas de As estratégias que não impõem cobranças diretas aos usuários não
congestionamento ou zonas de baixa emissão) tendam a ter altos custos de geram receita e, portanto, podem representar um custo líquido para a
implementação e operação, sua capacidade de aumentar a receita ajuda a cidade, considerando sua implementação e manutenção. No entanto,
criar uma fonte de recursos específica para compensar os custos iniciais e essas estratégias podem melhorar a vitalidade econômica local e gerar
garantir a continuidade das operações, bem como melhorar, manter ou criar uma redução indireta de custos como menos sinistros de trânsito com
alternativas de transportes para aqueles que se afastarem da modalidade ferimentos ou mortes, além da melhoria da saúde pública no longo prazo.
cobrada8. Há um consenso na literatura acadêmica de que a precificação do As estratégias sem cobranças também costumam ter custos operacionais
transporte tem forte impacto no comportamento9. mais baixos em comparação às estratégias com cobranças11 e podem ser
politicamente mais palatáveis, uma vez que não impõem uma cobrança
explícita aos motoristas. Muitas pessoas têm uma forte reação negativa ao
GERAÇÃO DE RECEITAS serem cobradas por coisas que esperam ser gratuitas.
Dadas as novas restrições nos orçamentos municipais como resultado PRINCIPAIS OPORTUNIDADES DESAFIOS
da pandemia de Covid-19, a geração de receitas tornou-se uma
prioridade para muitas cidades. Analisamos o potencial de geração de
receitas das estratégias de GdM nas seções 3.1 e 3.2 deste relatório. Geração de receitas Altos custos de capital
(compensação dos custos e operacionais
de implementação e
manutenção) Alto potencial de
COM oposição política
As estratégias de GdM sem cobranças, como, por exemplo, a realocação de COBRANÇAS
Forte impacto na mudança Possíveis preocupações
Tráfego típico das espaços viários, também são capazes de desestimular o uso de veículos
rodovias de Los de comportamentos com equidade (custo
Angeles. A prefeitura particulares, diminuindo a priorização e o espaço ocupado por veículos e para o indivíduo)
está tentando tornando o transporte individual menos conveniente. A antítese da demanda
administrar a
induzida (em que a ampliação e a construção de novas estradas aumentam
demanda por
deslocamentos por a demanda por deslocamentos e o VKT) se manifesta em estratégias de
meio de uma nova realocação de espaços viários, que reduzem o espaço para os veículos e,
área de zero emissão.
fonte: Luke Jones portanto, diminuem a demanda por deslocamentos (um conceito às vezes Custos operacionais mais Sem geração de receitas
(Flickr) chamado de “demanda reduzida” ou “traffic degeneration”)10. baixos (custos líquidos de
SEM implementação e
COBRANÇAS Politicamente mais manutenção)
palatável
Possíveis preocupações
com equidade (tempo)
8 A concepção de políticas públicas deve reconhecer o incentivo potencial de atrelar o financiamento de transportes sustentáveis a
modalidades insustentáveis. Em outras palavras, se mais receitas forem geradas por mais pessoas dirigindo em uma zona tarifada, há
um incentivo para manter os motoristas circulando nessa zona, apesar da intenção de reduzir o tráfego e os deslocamentos.
10 9 Transitions Towards Sustainable Mobility: New Solutions and Approaches for Sustainable Transport Systems. 11
10 Induced Demand and Rebound Effects in Road Transport. 11 Metro Vancouver Mobility Pricing Could Cost Up to $8 per Day per Family: Report.
Angeles está buscando implementar uma área de zero emissão que poderia pagar para dirigir seu próprio carro. Se as melhorias na infraestrutura de
combinar a realocação de espaços viários com medidas de precificação de transporte público, para bicicleta e mobilidade a pé não forem priorizadas
congestionamento ou estacionamento, mantendo o foco na equidade. como parte do projeto, tarifar o tráfego em áreas designadas pode empurrar
as oportunidades ou os destinos para fora da zona de cobrança e catalisar a
expansão da área urbana. Da mesma forma, se esses modos sustentáveis não
forem confiáveis, seguros ou viáveis, o acesso a destinos dentro de uma zona
de cobrança pode se tornar injusto para aqueles que não podem pagar. Em
países como o Brasil, onde as regiões metropolitanas já são muito extensas,
com muitos residentes de baixa renda vivendo nas periferias, caminhar ou
andar de bicicleta não é prático para quem vive a 15 quilômetros do trabalho
ou da escola. Nesses casos, a concepção de políticas públicas pode ter de
reforçar as opções de integração multimodal, como, por exemplo, melhorar
as rotas de integração do transporte público ou lançar um programa de
aluguel prolongado de bicicletas compartilhadas, como o projeto Bicicleta
Integrada de Fortaleza. Esse programa permite que os usuários mantenham
uma bicicleta compartilhada durante a noite para ir e voltar dos terminais de
ônibus, além de viabilizar o pagamento integrado com o cartão de transporte
público da cidade. Como alternativa, as estruturas de tarifação podem incluir
descontos para condutores de baixa renda.
As estratégias de GdM
não devem exacerbar Vale notar que os resultados de equidade podem diferir de cidade para cidade
as desigualdades dependendo da porcentagem de deslocamentos em veículos particulares – ou
existentes no sistema
de transportes. Em seja, quais grupos possuem ou dependem de veículos particulares, e quem
Los Angeles, as será diretamente afetado por restrições no uso de automóveis versus outras
famílias sem acesso a
veículos estão
estratégias, como uma realocação de espaços viários que não privilegie os
concentradas em veículos. Por exemplo, melhorias na paisagem urbana e na concepção de
comunidades espaços públicos têm o potencial de tornar certas áreas mais desejáveis
majoritariamente não
brancas. para os pedestres e, portanto, podem aumentar os valores dos imóveis e
fonte: ITDP os custos de moradia. Ao mesmo tempo, manter o status quo (por exemplo,
não fazer nada) pode ser politicamente mais palatável, mas, mesmo assim,
provavelmente terá implicações de equidade devido às desvantagens
históricas e estruturais dos grupos marginalizados.
Áreas majoritariamente não brancas
12 13
MENU DE OPÇÕES:
ESTRATÉGIAS DE
GESTÃO DA MOBILIDADE PRECIFICAÇÃO E REFORMA DE ESTACIONAMENTOS
2
Neste estudo, examinamos cinco opções amplas para redução do tráfego. Reduzir ou eliminar subsídios de • Preços baseados na demanda para
Cada opção inclui uma ou mais estratégias de GdM, para as quais nós estacionamento e desincentivar o estacionamento em via pública e
estacionamento fora da via limites máximos de estacionamento
apresentaremos vários estudos de caso breves. Nos casos em que houver
pública para refletir com mais fora da via pública
dados disponíveis de avaliações de impacto pós-implementação, os
precisão o verdadeiro custo de
principais resultados da redução do tráfego e os benefícios de
dirigir um veículo. · Tarifa de estacionamento comercial
sustentabilidade relacionados serão destacados como parte dos estudos
de caso. Embora este artigo não descreva as nuances de como implementar
PRECIFICAÇÃO DE EMISSÕES
cada medida, alguns recursos de concepção e implementação estão
incluídos no apêndice A. Este estudo tem como foco estratégias que
Cobrar uma taxa cada vez que um · Zonas de baixa emissão
possam ser implementadas por governos municipais e que tenham êxito veículo entrar em uma zona com
comprovado. Não inclui todas as estratégias sob a categoria afastamento de base no nível de emissões do veículo, · Zonas de ar limpo
GdM. Portanto, não avaliamos estratégias como: encarecendo os deslocamentos por
veículos mais poluentes para refletir
Tributação de combustíveis (incluindo sistemas de limites e trocas, ou a seus custos externos.
tributação de fornecedores de combustíveis), cobrança de pedágio em
corredores e aumento do custo de aquisição de veículos particulares (por PRECIFICAÇÃO DE CONGESTIONAMENTO
exemplo, taxas de registro de veículos): essas estratégias geralmente não
são implementadas por governos locais ou municipais e podem, em alguns Exigir que os veículos paguem uma taxa · Precificação de áreas delimitadas
casos, ser regressivas. para entrar ou circular em determinadas (cordon pricing)
áreas, refletindo com mais precisão
Proibições de trânsito, como aquelas propostas para veículos de duas os custos reais de conduzir veículos · Precificação com base na distância
particulares.
rodas em Jacarta, Kuala Lumpur e Hanói: a relação entre as proibições e a
redução equitativa e duradoura do tráfego não é muito clara.
REALOCAÇÃO DE ESPAÇOS VIÁRIOS PARA AS PESSOAS
Rodízios de placas ímpares/pares: a relação com a redução do tráfego foi Reprojetar as ruas para que a maior parte · Pedestrianização
mínima, e, em alguns casos, esses programas levaram ao aumento do da área seja exclusiva para pedestres,
tráfego e das emissões12 13. ciclistas e transporte público, de forma · Transit malls (zonas exclusivas de
que esses modos se tornem mais rápidos, transporte público)
Por fim, vale notar que cobranças baseadas nas emissões não são mais seguros e mais convenientes que os
geralmente incluídas em debates sobre GdM e redução do tráfego. O foco veículos particulares. · Ruas completas
dessas estratégias costuma ser principalmente a transição rumo a uma
frota de veículos mais limpa para, assim, melhorar a qualidade do ar. No LIMITAÇÃO DO TRÁFEGO EM ZONAS ESPECÍFICAS
entanto, incluímos essas abordagens neste estudo porque tem havido um
interesse crescente em políticas como zonas de baixa emissão14, as LEZ Restringir o acesso da maioria dos · Zonas de tráfego limitado
(sigla em inglês para Low Emission Zones) geraram reduções no tráfego a veículos a certas áreas e impor multas
curto prazo, à medida que as pessoas trocam seus modos de transporte elevadas aos veículos não autorizados · Zonas de zero emissão
ou limitam os deslocamentos em veículos particulares. A redução de longo que entrarem. Isso inclui estratégias
prazo do tráfego somente ocorrerá se as LEZ se tornarem mais rigorosas para proibir veículos com base em seus
ao longo do tempo. As cidades têm a oportunidade de atrair vontade níveis de emissões.
política e apoio do público para esse tipo de estratégia e repensar as
metas de precificação com base nas emissões, de forma a incluir tanto a
promoção de veículos mais limpos quanto a redução dos deslocamentos e
do VKT (ver quadro 2).
12 Practical Guidebook: Parking and Travel Demand Management Policies in Latin America.
14 13 Getting Around a License-Plate Ban: Behavioral Responses to Mexico City’s Driving Restriction. 15
14 Spain to Introduce Low-Emission Zones Amid “Climate Emergency.”
CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO
TARIFAÇÃO DE ESTACIONAMENTO
Em 2012, a Cidade do México começou a testar o ecoParq, um programa de
1. PREÇOS COM BASE NA DEMANDA EM VIA PÚBLICA E parquímetros no bairro de Polanco. O ecoParq passou a tarifar 6.000 vagas em
LIMITES MÁXIMOS FORA DA VIA PÚBLICA vias públicas em que, anteriormente, o estacionamento era gratuito. A receita
gerada pelo programa foi destinada a melhorias nas calçadas e a outras obras
A cobrança do estacionamento em via pública com base na demanda de infraestrutura para pedestres na cidade de Polanco. O programa-piloto
permite que os gestores cobrem um preço de mercado para gerenciar a resultou na redução do tráfego e na melhoria da paisagem urbana, além de
demanda de locomoção e de vagas15. Diferentemente dos parquímetros gerar demanda por iniciativas semelhantes em bairros próximos.
usados em muitas cidades, que cobram um valor fixo independentemente
da localização ou da hora do dia, a tarifa com base na demanda varia O sucesso do programa ecoParq de estacionamento em via pública viabilizou
dependendo da localização, da hora do dia e de outros fatores. Se o a reforma do sistema de estacionamento fora da via, que, até o programa,
estacionamento for mais barato em determinados horários (por exemplo, havia superado os recursos de compensação e já representava 40% da área
no meio da tarde, ou fora dos horários de pico), os motoristas serão construída18 na cidade. Em 2017, a Cidade do México aprovou uma legislação
incentivados a se deslocar nesses horários. A tarifa baseada na demanda estabelecendo limites máximos de estacionamento fora da via pública (em
faz com que os motoristas considerem o preço do estacionamento da vez de limites mínimos) e a criação de um fundo para receber os recursos
mesma forma que considerariam o preço do combustível ou da manutenção de compensação pagas por incorporadores que constroem vagas de
do veículo, ao decidir se e quando dirigir. estacionamento além do máximo previsto por lei.
à direita: As receitas do
programa ecoParq
apoiam melhorias na
infraestrutura para
pedestres no bairro.
fonte: Alejandro, Flickr
15 Getting the Prices Right: An Evaluation of Pricing Parking by Demand in San Francisco.
16 16 Smart Pune’s Push Towards Sustainable Transportation. 17
17 How Much Does One Parking Spot Add to Rent? 18 “Área construída” refere-se à área horizontal total das edificações e estacionamentos cobertos acima do nível do solo.
SÃO FRANCISCO, EUA SÃO PAULO, BRASIL
O programa SFpark de São Francisco, lançado em 2011, usa sensores para São Paulo reformou seu sistema de estacionamento em via pública em 2016,
monitorar a disponibilidade de vagas em cada quarteirão e parquímetros substituindo os cupons de papel por um sistema digital conhecido como
que aplicam tarifas diferenciadas com base na hora do dia. Em geral, os Zona Azul Digital. O sistema automatizado buscava melhorar o cumprimento
preços são mais baixos antes do meio-dia (em comparação com antes da das normas de estacionamento e reduzir a fraude e a revenda de cupons,
implementação do programa); mais caros entre meio-dia e 15h; e ficam o que era comum no sistema anterior. A plataforma da Zona Azul Digital
num patamar intermediário após as 15h. A cidade também ajusta os preços também ofereceu a São Paulo a oportunidade de implementar futuramente
do estacionamento periodicamente em resposta às taxas de ocupação um sistema de precificação baseada na demanda19. Além disso, São Paulo
observadas. O Órgão Municipal de Transportes (SFMTA) estabeleceu uma meta eliminou limites mínimos de estacionamento fora da via pública para todos
de taxa de ocupação de 60% a 80% por quarteirão. Se a ocupação média de os usos da terra e adotou limites máximos de estacionamento para prédios
determinado quarteirão ficar nessa faixa, o preço não mudará após a revisão residenciais e comerciais ao longo de corredores de transporte público.
periódica. Há décadas, São Francisco também vinha flexibilizando os requisitos
mínimos de estacionamento fora da via pública ao longo dos corredores de
trânsito e em certos bairros. No início de 2019, a cidade eliminou os requisitos principais Nos anos que se seguiram à adoção de As receitas de estacionamento em vias
limites máximos de estacionamento, os públicas subiram 60% após o primeiro
mínimos de estacionamento fora da via pública em toda a cidade. resultados incorporadores relataram conseguir construir ano de operação, em grande parte devido
SÃO PAULO moradias públicas mais perto do centro à fiscalização mais eficiente, possibilitada
da cidade porque não precisavam incluir o pelo rastreamento digital da ocupação
estacionamento nos custos do projeto. das vagas20.
principais O aumento da A redução de As emissões de gases A receita líquida
disponibilidade de estacionamento de efeito estufa de estacionamento
resultados vagas levou a uma em fila dupla levou caíram 30% nas áreas cresceu em US$ 1,9
SÃO redução de 8% no a um aumento de cobertas pelo SFpark milhão por ano.
tráfego. 2% na velocidade. em comparação com
FRANCISCO média do trânsito. uma diminuição de
6% nas áreas de
controle durante o
mesmo período.
FORA DA VIA PÚBLICA
MULTINÍVEL
x4 x4
x10 x10
x4 x10 x10 x4
FORA DA VIA
FORA DA VIA
PÚBLICA
PÚBLICA
RESIDENCIAL /
PÚBLICO
COMERCIAL
SUBTERRÂNEO
SUBTERRÂNEO
SYDNEY, AUSTRÁLIA
22 23
MILÃO, ITÁLIA
Uma zona de baixa emissão conhecida como Ecopass foi implementada pela
primeira vez em Milão em 2008. Localizada na área de Cerchia dei Bastioni,
no centro de Milão, a zona ocupava 8,2 quilômetros quadrados. Foi instituído
um sistema de cobrança escalonada com base nas emissões dos veículos: €
10 para veículos a diesel Euro 0; € 5 para veículos a gasolina Euro 0 e diesel
Euro 1-4; e € 2 para veículos a gasolina Euro 1 e 2. Os veículos leves elétricos
QUADRO 2 A EVOLUÇÃO DAS ZONAS DE BAIXA EMISSÃO
e híbridos elétricos não pagavam nada. Além disso, o programa oferecia um
desconto de 50% aos residentes e 40% para entradas múltiplas32. O Ecopass
ajudou a reduzir o tráfego em 21% durante seu primeiro ano, já que muitas
pessoas passaram a usar o transporte público para evitar o pagamento da
As primeiras zonas de baixa emissão surgiram na ZONA DE BAIXA EMISSÃO 1.0
tarifa. No entanto, com o tempo, as pessoas substituíram seus veículos por
Europa no final dos anos 1990. Elas se concentravam
principalmente na redução da poluição causada por • Padrões de emissões com base no outros mais limpos para evitar a cobrança do Ecopass, e o número de veículos
caminhões pesados – os maiores emissores – em desempenho para veículos pesados que entravam na área voltou a aumentar33. Em 2012, os congestionamentos
áreas urbanas de alta densidade populacional. As haviam retornado aos níveis anteriores ao Ecopass. Na mesma época, a cidade
restrições das LEZ adotadas em Estocolmo e outras realizou um referendo sobre a modernização e ampliação do Ecopass, que
cidades suecas, Londres, Estrasburgo e Amsterdã só foi aprovado com quase 80% de apoio. A cidade acabou transformando o
se aplicavam a veículos pesados, como caminhões programa Ecopass em uma zona com precificação de congestionamento que
e ônibus, durante os primeiros anos de operação do usa normas cada vez mais rígidas para proibir a circulação de veículos com
programa 31. altas emissões, ano após ano. A transição teve grande apoio do público34.
Para reduzir ainda mais as emissões, restrições ZONA DE BAIXA EMISSÃO 2.0
semelhantes baseadas no desempenho foram A substituição pelo Após 4 anos, o A zona Ecopass
estendidas a veículos leves. No entanto, isso gerou
• Padrões de emissões com base principais transporte público tráfego voltou aos apresentou um
no desempenho para veículos resultados foi observada níveis anteriores número de colisões
novos desafios de equidade. No modelo original
pesados apenas no curto ao Ecopass. de trânsito
de LEZ, as taxas ou restrições ficavam sob a MILÃO prazo, enquanto ligeiramente menor
responsabilidade das empresas proprietárias dos os residentes que a área fora da
• Padrões de emissões com base
ônibus ou caminhões pesados, não de indivíduos. adquiriam veículos zona.
no desempenho para veículos
A eficácia das zonas de baixa emissão que incluem mais limpos.
leves
veículos leves é limitada pela relativa facilidade
com que motoristas de renda média e alta podem
pagar a taxa, ou comprar veículos mais eficientes e,
assim, evitar a tributação ou as multas. Geralmente,
os motoristas de renda baixa enfrentam mais
dificuldades para substituir seu veículo, e a tarifa
para entrar nas LEZ representa uma parcela maior
em seu orçamento de transporte em comparação à
parcela dos motoristas de renda alta.
32 Uma avaliação econômica, ambiental e de transporte do programa Ecopass de Milão: Três anos depois.
https://www.researchgate.net/publication/249322950_An_economic_environmental_and_transport_evaluation_of_the_Ecopass_
scheme_in_Milan_three_years_later
24 33 Cede l’effetto-Diga, 7 Mila Auto in Più. 25
31 Low Emission Zones in Europe: Requirements, Enforcement, and Air Quality. 34 Milan: Area C: Fewer Cars, More Public Spaces, Better Life for All.
LONDRES, INGLATERRA BRUXELAS, BÉLGICA
Em 2019, o centro de Londres implementou uma Zona de Emissão Ultrabaixa A zona de baixa emissão de Bruxelas cobre toda a região de Bruxelas, que
(ULEZ, sigla em inglês para Ultra Low Emission Zone) e passou a exigir inclui 19 municípios, e foi implementada em janeiro de 2019. A partir de janeiro
que automóveis particulares e comerciais, motocicletas e vans pagassem de 2020, os veículos que não atendem ao padrão Euro 2 (gasolina) ou Euro
£ 12,50 (US$ 15,88) para entrar na zona se não atendessem aos padrões 4 (diesel) não podem circular na LEZ. Os veículos que não se enquadram na
de emissões ultrabaixas (motores a gasolina abaixo de Euro 4 e motores regra podem comprar um passe diário por € 35, mas há um limite máximo de
a diesel abaixo de Euro 6). Essa tarifa é um acréscimo à tarifa diária de oito passes por ano para cada motorista. Os veículos que não se enquadram
congestionamento paga por quase todos os veículos que entram no centro na regra e, mesmo assim, entrarem na LEZ sem um passe serão multados em
de Londres, mas substitui as tarifas das zonas de baixa emissão (LEZ) e de € 350. Embora a LEZ tenha sido implementada para combater os danos da
toxicidade (T) da cidade. Câmeras de reconhecimento automático de placas poluição atmosférica, o programa também tem outros objetivos, como reduzir
(ANPR, na sigla em inglês Automatic number-plate recognition) são usadas o VKT e promover uma menor dependência de veículos particulares, em linha
para fazer cumprir os limites da ULEZ. Os motoristas devem cadastrar seu com o plano de mobilidade regional de Bruxelas35. Com isso em mente, a cidade
veículo e cartão de crédito online para o pagamento da tarifa ULEZ se os também implementou políticas adicionais de atração para encorajar e manter
padrões Euro 4/Euro 6 não forem cumpridos. Aqueles que entrarem na ULEZ a troca de automóveis por transporte público, bicicletas e mobilidade a pé,
sem pré-cadastrar seu veículo pagam uma multa de £ 160. As pessoas que bem como modos de transporte compartilhados. Os residentes têm acesso
residem dentro ou nas proximidades da ULEZ ficam isentas da cobrança até gratuito ao transporte público e a programas de compartilhamento de carros se
o final de 2021, quando a zona será ampliada. sucatearem um veículo antigo que não esteja em conformidade com os padrões
da LEZ. Bruxelas também oferece visitas de mobilidade gratuitas, que permitem
que as pessoas testem serviços de transporte, como o compartilhamento de
bicicletas, como alternativas ao uso de automóveis36. As estimativas do modelo
principais O fato de 13.500 veículos altamente Os níveis de NO2 caíram em um terço,
preveem que a zona de baixa emissão contribuirá para uma redução de dois
poluentes terem deixado de trafegar e o material particulado (MP) reduziu-
resultados na zona diariamente resultou em uma se em 13% dentro da zona durante os terços nas emissões de NOx na região de Bruxelas até 202537.
LONDRES redução de 4% nas emissões de CO2. primeiros seis meses.
principais Redução de 4,7% nas emissões de Redução de 71% nas emissões de NOx e
resultados NOx e de 6% nas emissões de MP de 67% nas emissões de MP de veículos
durante os primeiros seis meses de a diesel Euro 0 e Euro 1 durante os
BRUXELAS operação da LEZ. primeiros seis meses.
Em Bruxelas, os
As cobranças de esforços para
congestionamento e encorajar uma
da ULEZ de Londres se mudança para modos
sobrepõem de transporte
nos dias de semana. sustentáveis, e não
fonte: David Hawgood apenas uma redução
no uso de carros
particulares, ajudam a
tornar as ruas mais
animadas e
agradáveis para as
pessoas.
fonte: Eo Naya,
Shutterstock
35 Expected Effects From the Low Emissions Zone on Car Fleet and Air Quality in the Brussels Region.
26 36 ”Prrimes” in Quelles Sont les Offres de Mobilité Alternatives Proposées par la Région Bruxelloise? 27
37 Expected Effects From the Low Emissions Zone on Car Fleet and Air Quality in the Brussels Region.
PRECIFICAÇÃO DE CONGESTIONAMENTO
A precificação de áreas delimitadas (cordon pricing) é a principal estratégia Em 2003, Londres implementou uma tarifa de congestionamento para
de precificação de congestionamento usada atualmente em diversas reduzir os tempos de viagem no centro da cidade, melhorar a pontualidade
cidades. Uma área é isolada e uma taxa é cobrada dos veículos que dos ônibus e encorajar a adoção de meios de transporte público. A zona
entrarem ou circularem dentro do cordão de isolamento. A primeira cidade de cobrança cobre 21 quilômetros quadrados no centro de Londres, e
a implementar esse tipo de cobrança foi Singapura em 1998. A iniciativa os motoristas são obrigados a pagar um valor fixo (£ 15 em 2020, tendo
serviu de modelo para os programas de outras cidades (ver estudo de subido de £ 11,50 em 2019 e £ 5 quando a medida foi lançada) para circular
caso sobre Singapura adiante). A precificação de áreas delimitadas foi entre 7h e 22h todos os dias. Anteriormente, a cobrança terminava às 18h,
implementada principalmente como uma tarifa fixa para entrar na área, de forma a diminuir o ônus para os trabalhadores noturnos do setor de
independentemente do nível de congestionamento. Em outras palavras, entretenimento (teatro e restaurante). As pessoas que vivem na zona de
entrar na zona durante os horários de pico tem o mesmo preço que entrar cobrança tinham um desconto de 90%, embora a zona inclua relativamente
no meio do dia. No entanto, o sistema pode se concentrar mais diretamente poucas propriedades residenciais. As pessoas com deficiência, os veículos
nos congestionamentos nos horários de pico, cobrando mais durante esses de emergência e as motocicletas foram dispensadas da cobrança. Veículos
horários. A precificação de áreas delimitadas exige que quase todos os com emissões ultrabaixas, tais como veículos elétricos e os que atendem
veículos paguem uma tarifa para entrar. Portanto, os condutores devem à norma Euro 5, estão dispensados do pagamento até 2021, quando a
buscar modos alternativos de transporte para evitar o pagamento (ou isenção será restringida, cobrindo apenas a norma Euro 640. Os serviços
compartilhar a viagem com outras pessoas para reduzir o custo). Por de transporte individual e de carona remunerada foram inicialmente
esse motivo, os programas desse tipo precisam ser acompanhados por isentos; no entanto, o número de veículos operados por empresas como a
transporte público de alta qualidade e acessível, bem como infraestrutura Uber cresceu significativamente nos últimos anos – quase 10% entre 2015
segura e confortável para deslocamentos a pé e de bicicleta. e 201641. Assim, alegando preocupações com a qualidade do ar, Londres
removeu a isenção para esses serviços em meados de 201942. Os táxis, no
entanto, permanecem isentos da cobrança.
40 How Road Pricing Is Transforming London–and What Your City Can Learn.
28 38 The Welfare Effects of Cordon Pricing and Area Pricing: Simulation with a Multi-Regional General Equilibrium Model. 41 London Congestion Charge Has Been a Huge Success. It’s Time to Change It. 29
39 “Appendix B19: Cordon Congestion Tolls” in Moving Los Angeles: Short-Term Policy Options for Improving Transportation. 42 PHVs and the Congestion Charge.
infraestrutura de transporte público, cicloviário e para o modo a pé – uma cobrados cada vez que ultrapassam a linha de entrada, mas há um limite
medida importante para garantir o apoio do público e manter a qualidade e diário da cobrança para cada veículo. As tarifas variam ao longo do
confiabilidade dos serviços alternativos43. dia, e o não pagamento acarreta uma multa de Kr 500 (€ 48). A tarifa de
congestionamento foi aumentada em 2016: no horário de pico, o preço
subiu 75%, de € 2 para € 3,5; e fora do horário de pico, de € 1 a € 1,1. Os
principais Após um ano, 29.000 Após três anos, os Receitas de pelo Apesar do volumes de tráfego caíram 5% após o aumento dos preços em relação ao
passageiros de congestionamentos menos £ 100 aumento ano anterior, e o programa gerou € 140 milhões em receitas47.
resultados ônibus entraram diminuíram em milhões (US$ 129 proporcional
LONDRES na zona durante 30%. Até 2014, 39% milhões) foram de ciclistas e
os horários de menos veículos geradas todos pedestres, foi
pico da manhã em particulares os anos desde observada uma
comparação com circulavam na zona 2008. Entre 2014 e queda de 17%
principais Os tempos de Em comparação Gera
deslocamento com os níveis de aproximadamente
o ano anterior, de cobrança de 2018, as receitas dos sinistros resultados no centro de tráfego de 2005, US$ 155 milhões
e os atrasos nos congestionamento. superaram £ 150 envolvendo ESTOCOLMO Estocolmo foram observadas em receita anual,
serviços de ônibus milhões (US$ 194 ciclistas, e de diminuíram. As filas reduções anuais que é usada para
diminuíram em 50%. milhões). 15% naqueles foram reduzidas de 18% a 22% entre investimentos em
envolvendo em cerca de 30% 2006 e 2013. transporte público
pedestres no horário de pico e na rede viária.
Houve uma durante os da manhã, e 50%,
redução de 15% horários em no final do dia.
em VKT dentro da que é feita a
zona de cobrança cobrança.
após um ano de
operação, e uma
redução adicional
de 11% após a
implementação da
Western
Extension zone.
ESTOCOLMO, SUÉCIA
As receitas da
Estocolmo foi uma das primeiras cidades a implementar uma zona de precificação de
congestionamento em
baixa emissão (LEZ) para reduzir a poluição causada por veículos pesados. Estocolmo, Suécia,
Todavia, em 2007, após uma década em operação, os congestionamentos financiam melhorias
continuavam a aumentar e podiam anular outros benefícios positivos da no transporte
público..
LEZ, como a redução da poluição. Naquela época, a ideia de implementar fonte: Iulianna Est,
uma tarifa de congestionamento foi politicamente contestada e foi apoiada Shutterstock
por somente 36% da população44. Como resultado, o governo de coalizão
da cidade introduziu um projeto-piloto de seis meses que seria seguido por
um referendo. Durante esse período, o congestionamento diminuiu em mais MILÃO, ITÁLIA
de 20%, e muitos passageiros migraram para o transporte público. Muitos
Em substituição ao programa de precificação de emissões Ecopass, Milão
motoristas apreciaram o fato de os tempos de deslocamento serem mais
criou, em 2012, o programa da Área C, que estabeleceu uma tarifa de
confiáveis e de as receitas ajudarem a sustentar não apenas o transporte
congestionamento de € 5 para a maioria dos veículos que entrassem na
público, mas também algumas melhorias nas estradas. Ao final do período
área previamente estabelecida para o Ecopass em dias de semana, das 7h30
de teste, a aprovação pública para a precificação de congestionamento
às 19h30. Os veículos elétricos, as motocicletas, os táxis e os veículos de
superou 50%, e um plano permanente foi implementado45. Com o tempo,
transporte público estão isentos da cobrança. Veículos a diesel altamente
o apoio público cresceu ainda mais. O programa de Estocolmo também
poluentes (abaixo dos motores Euro 4) e a gasolina (abaixo de Euro 0) não
adotou um incentivo fiscal para aliviar a resistência pública: as tarifas
têm permissão para entrar na zona. Os infratores recebem uma multa de €
de congestionamento pagas para ir ao trabalho podem ser deduzidas
87. Em 2019, Milão implementou a Área B, uma zona de tráfego limitado que
do imposto de renda46. A zona de cobrança de congestionamento cobre
circunda a Área C e cobre a maior parte da cidade. A área B aplica restrições
uma área menor que a LEZ (30 quilômetros quadrados) e se aplica a
adicionais com base nas emissões dos veículos.
todos os veículos, exceto ônibus e carros com placas de outros países.
O monitoramento do perímetro da zona de congestionamento é feito
por meio do reconhecimento automático da placa. Os motoristas são
43 How Road Pricing Is Transforming London—and What Your City Can Learn.
44 Toward Car-Free Cities: Stockholm Shows the Sometimes-Bumpy Road to Congestion Charges.
30 45 Study on International Practices for Low-Emissions Zone and Congestion Charging. 31
46 The Potential of Road-Pricing Schemes to Reduce Carbon Emissions. 47 Long-Term Effects of the Swedish Congestion Charges: Discussion Paper.
2. PRECIFICAÇÃO COM BASE NA DISTÂNCIA
principais Após três anos, O programa gerou A diminuição no
os níveis de CO2 € 30 milhões em número de carros
resultados dentro da zona receitas em 2017, no centro da
Diferentemente da precificação de áreas delimitadas, que cobra dos
MILÃO diminuíram 33% em dos quais cerca cidade permitiu motoristas uma tarifa fixa para que possam entrar em um perímetro
comparação aos de € 4 milhões que Milão delimitado, a precificação com base na distância cobra uma tarifa
níveis de 201048. foram usados convertesse 15.000 variável com base no tempo gasto e/ou na distância percorrida dentro
para cobrir custos metros quadrados de determinada zona. A tarifa dinâmica pode aumentar durante os
operacionais, e nas proximidades
o restante, para de Castel Sforzesco períodos de pico de congestionamentos, o que se alinha mais ao
financiar melhorias em uma zona princípio econômico subjacente à precificação de congestionamento
na frequência do de pedestres e que uma tarifa única 51. Assim, em vez de uma tarifa fixa cobrada
transporte público substituísse vagas por meio da precificação de áreas delimitadas (cordon pricing), a
e outros projetos de estacionamento
precificação com base na distância vincula o trajeto percorrido (e,
de transporte em via pública
sustentável49. por estações de correlativamente, quanto gera de congestionamento, poluição do
bicicletas e carros ar e outras externalidades negativas) ao valor a ser pago. Modelos
compartilhados acadêmicos demonstram que tanto a precificação com base na
instaladas em toda
distância quanto a precificação de áreas delimitadas (cordon pricing)
a cidade50.
reduzem o congestionamento; no entanto, a precificação com base na
distância é mais eficaz na redução de atrasos e consegue fazer isso com
tarifas mais baixas 52. Embora Singapura tenha anunciado planos para
implementar uma tarifa de congestionamento com base na distância
de “última geração” ainda em 2020, não há exemplos de programas
de precificação de congestionamento na área central com base na
distância atualmente em operação53.
Área B
Projetos-piloto de precificação com base na quilometragem percorrida
por veículos (neste caso a sigla é VMT, referente a Vehices Miles
Perímetro de Milão Travelled pois milhas é a unidade local) implementados no Oregon e na
Califórnia, nos Estados Unidos, são uma espécie de precificação com
Área C base na distância, pois cobram dos motoristas com base no trajeto que
percorrem, embora não estejam relacionados a congestionamentos.
Programas de pedágio em faixas de alta ocupação ou de vias expressas
com preços dinâmicos foram implementados em San Diego, Orange e
Riverside (na Califórnia), além de Houston, Denver, Maryland, Norte da
Virgínia e outras regiões nos Estados Unidos. Esses programas aplicam
A Área B de Milão,
tarifas de pedágio com base no horário e na distância percorrida,
uma zona de tráfego usando faixas expressas especiais e tarifas ajustadas para manter
limitado que cobre o fluxo do tráfego. Alguns desses programas oferecem isenções ou
quase toda a cidade,
exige que os veículos descontos para veículos com alta ocupação, e outros dedicam uma
atendam a certos parte da receita do pedágio para financiar os serviços de ônibus ou
critérios de emissões
para entrar. A Área C,
para oferecer ônibus gratuitos ou mais baratos. No entanto, eles não
a zona de precificação estão localizados em áreas urbanas centrais e servem principalmente
de congestionamento para distribuir o tráfego entre rotas paralelas em que não há cobrança.
no centro da cidade,
exige que os veículos
paguem para entrar.
fonte: Wiki Commons
SINGAPURA
Em 1998, Singapura tornou-se a primeira cidade do mundo a usar um
sistema de precificação rodoviária eletrônica (ERP, na sigla em inglês
Eletronic Road Pricing) – com painéis suspensos em portais espalhados
51 O congestionamento é entendido como um problema de “bens comuns”, ou seja, o caso em que um bem que é de todos é usado em
excesso. Como nenhuma entidade é incentivada ou autorizada a protegê-lo, ele é usado em excesso em detrimento de todos. A tarifa
de congestionamento é um tributo pigouviano que visa a internalizar para o usuário a externalidade do prejuízo econômico causado
48 The Potential of Road Pricing Schemes to Reduce Carbon Emissions. pelo uso do bem comum, garantindo assim seu uso adequado.
32 49 https://www.transport.govt.nz/assets/Uploads/Report/DArtagnan-appendices-to-be-released.pdf 52 Distance-Dependent Congestion Pricing for Downtown Zones. 33
50 Charging Scheme in City Center (Area C) and Other Strategies in Milan. 53 Ministry of Transport: ERP.
pela cidade e leitores instalados nos veículos – para operar uma 1. RUAS PRIORITÁRIAS PARA PEDESTRES
zona de cobrança de congestionamento, substituindo o programa de
licenciamento de área que estava em operação desde 1976. O ERP de As ruas prioritárias para pedestres banem ou restringem fortemente o
Singapura é o programa de cobrança de tráfego mais sofisticado do acesso de veículos (por exemplo, restringindo as entregas aos períodos
mundo, com preços ajustados a cada poucos minutos em mais de 75 fora do horário de pico, ou permitindo apenas o acesso de veículos de
pontos de cobrança em toda a rede. Os preços são definidos com o emergência) e priorizam o espaço e a segurança de pedestres e ciclistas.
objetivo de manter um bom fluxo rodoviário em pelo menos 85% do O acesso e o deslocamento em ruas prioritárias para pedestres são mais
tempo. Alegando aumentos nos custos de operação e manutenção de fáceis para pedestres e ciclistas, o que pode ajudar a incentivar a redução
seu sistema de ERP, que já existe há várias décadas, o Ministério do dos veículos particulares e a adoção desses modos de transporte. Este
Transporte de Singapura anunciou em 2014 que começaria a transição modelo é geralmente adotado em ruas com muita atividade comercial
para um programa de ERP com base na distância em 2020. Os veículos e demandas múltiplas, tais como compras, restaurantes e pontos de
serão rastreados por GPS e a cobrança será feita com base na encontro de pessoas. Por meio da integração de elementos de melhoria
quilometragem percorrida. O novo sistema substituirá os leitores de do espaço público, assentos e eventos sociais e culturais, ruas prioritárias
ERP instalados atualmente nos veículos por unidades de bordo (OBU, para pedestres podem se tornar destinos por si só, além de fornecerem
na sigla em inglês on-board units) que fornecem informações em tempo uma conexão conveniente para outros lugares.
Em Singapura, a zona
de cobrança de real sobre os preços, o tráfego e a disponibilidade de estacionamento
congestionamento é em cada via. Os portais de ERP existentes também serão eliminados. Os
delimitada por
letreiros suspensos
usuários mais frequentes, como táxis e outros serviços de transporte
que indicam o preço individual, pagariam tarifas mais altas, que poderiam ser repassadas
atualizado para entrar aos passageiros 54. No entanto, foram manifestadas preocupações sobre
na zona.
fonte: Tim Adams, a privacidade e a vigilância ilegal gerada pela presença de unidades
Flickr habilitadas com GPS em todos os veículos 55.
54 Shift to New ERP System Starts Next Year with Free in-Vehicle Unit Swap.
34 55 Singapore Losing Sight of Privacy in Next-Gen Tech Ambitions. 35
56 Freight in a Bicycle-Friendly City: Exploratory Analysis with New York City Open Data. 57 Car-free Zone Redevelopment to Commence Early Next Year.
GUANGZHOU, CHINA (LIUYUN XIAOQU) SEUL, COREIA DO SUL (YONSEI-RO)
57 Car-free Zone Redevelopment to Commence Early Next Year. 57 Car-free Zone Redevelopment to Commence Early Next Year.
36 58 TOD Best Practical Case: A Mixed-Mode Open Court. 58 TOD Best Practical Case: A Mixed-Mode Open Court. 37
59 Jaime Lerner on Making Curitiba’s First Pedestrian Street. 59 Jaime Lerner on Making Curitiba’s First Pedestrian Street.
JERUSALEM, ISRAEL (JAFFA ROAD) O corredor de ônibus
da rua 14 em Nova
Jaffa Road é uma das ruas mais antigas de Jerusalém e conecta os lados Iorque prioriza ônibus
leste e oeste da cidade. Anteriormente uma importante via arterial da e veículos comerciais
ao longo de um
cidade, Jaffa Road foi reformada décadas atrás e passou a permitir corredor de seis
apenas o trânsito de ônibus e táxis como parte de um esforço mais amplo quarteirões, o que
resultou no aumento
para revitalizar o centro de Jerusalém e atrair empresas e residentes da velocidade dos
de volta ao centro da cidade. No entanto, devido ao grande número de ônibus e
ônibus a diesel antigos que trafegam pelo corredor, as velocidades dos no número de
usuários.
trajetos permaneceram relativamente baixas, e o ruído e a poluição do fonte: Metropolitan
ar continuaram a preocupar os gestores públicos62. Desde 2011, a linha Transportation
Authority, Flickr
Jaffa Road em
vermelha do sistema leve sobre trilhos (VLT) de Jerusalém substituiu a
Jerusalém tem uma rede caótica e congestionada de ônibus como o único meio de transporte
via de pedestres público ao longo do corredor da Jaffa Road. Atualmente, a rua atrai um
ampla e segura.
fonte: Wikimedia grande número de pedestres e ciclistas, tendo se tornado um centro de 3. RUAS COMPLETAS E OUTROS MODELOS QUE PRIORIZAM
Commons atividades comerciais e espaços de encontro.
AS PESSOAS
NEW YORK CITY, USA (14TH STREET BUSWAY) As ruas completas são projetadas para atender às necessidades de todos
os usuários das vias, o que inclui pedestres de todas as idades e com
Em outubro de 2019, a rua 14 de Manhattan (entre a 3ª e a 9ª avenidas)
deficiências ou mobilidade reduzida, ciclistas, passageiros de transporte
foi fechada ao tráfego como parte de um projeto-piloto, criando uma via
público e motoristas. Em vez de priorizar a velocidade dos automóveis, as
exclusiva para ônibus públicos e veículos comerciais e de emergência. Os
ruas completas incorporam elementos que tornam mais fáceis, seguros
carros podem entrar na zona para pegar ou deixar passageiros e carga, mas
e confortáveis os deslocamentos em outros modos de transporte. Esses
em todos os cruzamentos há sinalizações instruindo-os a deixar a área. Os
elementos podem incluir ciclovias, faixas exclusivas para transporte público,
motoristas que permanecerem mais tempo no corredor estão sujeitos a uma
calçadas mais largas, faixas de pedestres elevadas, ilhas centrais, paradas
multa de US$ 50; e um sistema que aumenta gradualmente as multas de ABAIXO: Os pedestres acessíveis, assentos e áreas sombreadas. As ruas completas também
reincidentes tem como objetivo encorajar o cumprimento da lei. A fiscalização desfrutam de áreas
vibrantes destinadas oferecem estruturas contínuas para mobilidade a pé, por bicicleta e por
é facilitada por câmeras instaladas nos ônibus63. Alguns moradores da região a interações sociais transporte público. Os veículos não estão proibidos de entrar nas ruas
se opuseram veementemente ao plano, contestando juridicamente o projeto e ao longo da nova JM
Road, em Pune.
completas; em vez disso, parte do espaço dedicado aos carros é realocado
alegando preocupações sobre a transferência do tráfego para as ruas laterais
fonte: ITDP India para modos de transporte sustentáveis e espaços públicos melhorados.
ao redor do corredor. A via de ônibus tornou-se permanente em junho de
2020, e há planos para sua expansão rumo ao leste da cidade.
PUNE, ÍNDIA (JANGALI MAHARAJ ROAD OU JM)
Desde 2009, Pune vem revitalizando sua rede de
principais Em média, a O tempo de Foi observado calçadas e ciclovias para oferecer uma estrutura
velocidade dos deslocamento nas um aumento de
resultados ônibus aumentou ruas paralelas 17% no número
segura e conveniente para pedestres e ciclistas.
CORREDOR em 47%, e o subiu um pouco, de usuários O sucesso dos primeiros projetos encorajou as
DE ÔNIBUS número de entre 0 e 3 minutos. de bicicletas autoridades municipais a desenvolver o programa
DA RUA 14 DE usuários, em 24% O volume de compartilhadas na Pune Streets, um plano de expansão que prevê 100
nos horários de veículos nessas rua 14, em relação
NOVA IORQUE quilômetros de ruas completas65. A primeira fase
pico na parte da ruas, por sua vez, ao ano anterior.
manhã. quase não mudou: Esse crescimento começou em 2018 com um trecho comercial de Jangali
subiu um pouco na foi maior que no Maharaj Road, conhecida como JM. A regulamentação
12, e diminuiu na 13. resto da cidade64. do que antes era um estacionamento desordenado de
veículos liberou espaço para adicionar uma ciclovia e alargar as calçadas,
além de criar canteiros de proteção entre pedestres e ciclistas. O mobiliário
urbano, os espaços recreativos para crianças e a iluminação e sinalização
melhoradas tornam a rua ainda mais atraente66.
60 Road Diet for a More Active Street. 62 From Mule Tracks to Light-Rail Transit Tracks: Integrating Modern Infrastructure into an Ancient City—Jerusalem, Israel.
61 Yonsei-ro, Seoul’s First Transit Mall. 63 14th Street Select Bus Service with Transit & Truck Priority Pilot Project.
62 From Mule Tracks to Light-Rail Transit Tracks: Integrating Modern Infrastructure into an Ancient City—Jerusalem, Israel. 64 14th Street Transit + Truck Priority Pilot Project Quarterly Report, Winter 2020.
38 63 14th Street Select Bus Service with Transit & Truck Priority Pilot Project. 65 Complete Streets Best Practices | Complete Streets Toolkit: Volume VII. 39
64 14th Street Transit + Truck Priority Pilot Project Quarterly Report, Winter 2020. 66 In India, the City of Pune Is Making Space for Transit and People.
FORTALEZA, BRASIL (AVENIDA CENTRAL, CIDADE 2000)
em fase de implantação. Foi constatado que as primeiras superquadras
A avenida Central é uma via pública de 100 metros geraram resultados positivos para a saúde, tais como redução da poluição
que atravessa o centro do bairro Cidade 2000 em atmosférica e sonora e melhoria dos níveis de atividade e acesso a
Fortaleza, Brasil. Anteriormente um espaço quase espaços verdes72.
exclusivo para o tráfego de veículos, a rua foi
reconstruída em 2017 no âmbito do projeto Cidade da
Gente, que visa a melhorar a segurança e valorizar os
espaços públicos para as pessoas. A primeira fase do principais O volume de tráfego diminuiu 40% nas A superquadra Sant Antoni recuperou
projeto é uma zona de baixa velocidade implantada ruas internas da superquadra Gràcia, e mais de 25.000 metros quadrados de
resultados 26% em toda a superquadra73. espaço público anteriormente dedicado
em apenas dois dias com materiais flexíveis e baratos,
SUPERQUA- aos veículos74.
como tintas, floreiras e mobiliário urbano. Foi
DRAS DE
preservada uma faixa para o tráfego de veículos, mas
BARCELONA
ACIMA: Av. Central, a maior parte do espaço foi destinado aos pedestres. Após a intervenção,
Cidade 2000.
entrevistados relataram que se sentiam muito mais seguros ao caminhar
Fortaleza, Brasil
fonte: Prefeitura de na rua, e o volume de pedestres aumentou em 350%. As contagens de
Fortaleza veículos realizadas na vizinhança não mostraram nenhuma alteração como
resultado da intervenção67.
Antes e depois da
BUENOS AIRES, ARGENTINA (ÁREA MICROCENTRO) implementação da
superquadra na Carrer
Com a implementação de seu plano de Mobilidade de Sancho de Ávila em
Sustentável em 2009, Buenos Aires buscou priorizar Barcelona. Árvores,
pedestres e ciclistas como forma de democratizar bancos e uma área de
recreação para
as ruas retirando o espaço dedicado aos veículos crianças substituíram
que apenas representavam 10% dos deslocamentos o estacionamento e
as largas faixas de
ao centro68 . Aproximadamente duas em cada três veículos.
famílias residentes em Buenos Aires e no entorno fonte: Google Maps
não possuem carro. Durante a última década,
a cidade instalou mais de 100 quarteirões de
ACIMA: A rua Lavalle, no zonas de pedestres no centro – algumas que proíbem totalmente o ZONAS DE TRÁFEGO LIMITADO E ZEAS
microcentro de Buenos tráfego de veículos, e outras que incluem espaços seguros ampliados
Aires, é totalmente
destinada aos pedestres, para pedestres e ciclistas, com uma faixa para veículos restrita a
com uma ampla calçada uma velocidade máxima de 10 km/h69. O conforto e a segurança são As zonas de tráfego limitado (LTZ, na sigla em inglês para Limited Traffic
que oferece um animado
incrementados pela iluminação melhorada, pela arborização e por novas Zone) restringem o acesso para a maioria dos veículos e impõem uma
espaço de convívio
urbano. ciclovias instaladas nessas zonas. alta multa aos veículos não autorizados que entrarem nelas. Residentes,
fonte: ITDP meios de transporte público, veículos de emergência e, às vezes, táxis
são, em geral, isentos e podem entrar na zona sem restrições. Os veículos
BARCELONA, ESPANHA (SUPERQUADRAS) de entrega normalmente só podem entrar na zona durante a noite ou
fora do horário de pico. Para entrar, os veículos autorizados devem exibir
Talvez um dos exemplos mais reconhecidos do modelo de ruas completas
um adesivo ou decalque, ou podem acionar os pilares móveis (bollards)
sejam as superquadras de Barcelona. A cidade está comprometida com
instalados em torno do perímetro da zona. Nenhum outro veículo pode
a pedestrianização desde a década de 1980, a partir da parte antiga e de
entrar. As zonas de tráfego limitado são particularmente populares
outras praças e áreas abertas da cidade. O Plano de Mobilidade Urbana de
em cidades com centros históricos, como Roma e Teerã, que não foram
Barcelona para 2013–2018 introduziu o modelo de superquadra, uma área
construídas para lidar com o congestionamento de veículos pesados. Elas
de aproximadamente 400 metros por 400 metros composta por blocos de
podem reduzir rapidamente o volume de veículos, liberando espaço para
150 metros por 150 metros70. Dentro de cada superquadra, a velocidade
reformulações da paisagem urbana que priorizem os pedestres e ciclistas.
máxima é de 20km/h, e o acesso é limitado por ruas que só viram à direita.
Os antigos estacionamentos e espaços de interseção foram transformados
Embora nenhuma esteja ainda em operação, as áreas de emissão zero
em estruturas para mobilidade ativa, ou pontos de encontro públicos.
propostas (ZEAs, na sigla em inglês para Zero Emission Areas) funcionariam
Paralelamente à implementação das superquadras, Barcelona também
de maneira semelhante às zonas de tráfego limitado, pelo menos no curto
se comprometeu a expandir sua infraestrutura cicloviária e introduzir
uma nova rede ortogonal de ônibus projetada para aumentar o acesso e
a confiabilidade71. Três superquadras já foram criadas, e outras seis estão
71 Nova rede de ônibus de Barcelona.https://bcnroc.ajuntament.barcelona.cat/jspui/bitstream/11703/115929/5/
67 Reshape Streets, Reconnect Communities: Reclaiming Streets in Fortaleza, Brazil. NovaXarxaBus_20-09-2019_eng.pdf
68 El Plan de Movilidad Sustentable para la Ciudad de Buenos Aires. 72 Changing the Urban Design of Cities for Health: The Superblock Model.
40 69 Walk This Way: In Buenos Aires Pedestrian Streets Are the Way of the Future. 73 Spain’s Plan to Create Car-Free “Superblocks” Is Facing Protests. 41
70 Mobilidade e transporte: Plano de Mobilidade Urbana. https://www.barcelona.cat/mobilitat/en/about-us/urban-mobility-plan 74 The new Sant Antoni superblock regains 5,000 square meters for use by local residents.
prazo, até que um número suficiente de pessoas adquiram carros elétricos
e o tráfego se recupere. Em teoria, as ZEAs são mais rigorosas que as Teerã tem duas
zonas de baixa emissão, pois permitem o acesso apenas a veículos com estratégias
emissão zero e outros veículos autorizados. Embora tal modelo rigoroso simultâneas de
redução do tráfego: a
possa resultar em menos tráfego (ou seja, menos deslocamentos e menor zona ímpar-par, que
VKT) que em zonas tradicionais de baixa emissão com cobranças, por restringe os dias em
que certos veículos TEERÃ
permitirem que motoristas que não se enquadrem na regra paguem para podem circular, e a
entrar nelas, ainda podem surgir questões de equidade, que deverão ser zona de tráfego
solucionadas pelo projeto. Por exemplo, é mais provável que pessoas de restrito que, além das
restrições das placas,
renda baixa dirijam veículos mais antigos e menos econômicos, o que os só permite a entrada
impediria de circular nessas áreas. Portanto, como no caso das zonas de de veículos
autorizados
tráfego limitado, as ZEAs devem priorizar alternativas aos deslocamentos no centro durante a
em veículos particulares, como transporte público e modos ativos. semana.
fonte: Adaptado de
Salarvandiano, et al.,
2017 76.
Zona ímpar-par (OEZ)
TEERÃ, IRÃ
A zona de tráfego restrito de Teerã (RTZ, sigla em inglês para Restricted Zona de tráfego restrito (RTZ)
Traffic zone) está em funcionamento desde 1979. Em sua forma atual, a RTZ
restringe o acesso de veículos em um raio de 32 quilômetros quadrados no
centro da cidade durante a semana. Os motoristas podem entrar na zona
apenas se tiverem um passe diário, semanal ou anual, e apenas certos
tipos de motoristas, tais como servidores públicos, médicos e pessoas ROMA, ITÁLIA
com deficiência, se qualificam para os passes. Os veículos não autorizados Na Itália, as zonas de tráfego restrito são conhecidas como zone a
que entrarem na zona serão multados em até US$ 230. Diferentemente da traffico limitato (ZTLs). Em muitas cidades italianas, como, por exemplo,
maioria das outras zonas de tráfego limitado, os veículos autorizados ainda Roma, essas zonas circundam centros históricos mais antigos que os
precisam pagar uma tarifa para entrar na zona, semelhante à precificação automóveis. Muitas ruas italianas não têm capacidade para suportar
de áreas delimitadas (cordon pricing). O perímetro da RTZ é monitorado volumes normais de tráfego. Além disso, em Roma, especialmente,
eletronicamente com câmeras. A RTZ de Teerã é cercada por uma zona as autoridades municipais estavam preocupadas com o impacto das
ímpar-par mais ampla (OEZ, na sigla em inglês Odd-Even Zone), que só emissões veiculares em monumentos históricos, como o Coliseu. A
permite o acesso a motoristas com placas terminando em números ímpares primeira ZTL da cidade, estabelecida em 1989, era sinalizada com sinais
em dias ímpares da semana, e em números pares nos dias pares. de trânsito, o que dificultava sua aplicação. As placas foram substituídas
em 1994 por cancelas operadas por policiais encarregados de multar
os veículos infratores. A partir de 1999, a cidade instalou um sistema de
principais O uso de veículos Na RTZ, o uso Os tempos de
reconhecimento automático de placas (ANPR) para monitorar as entradas.
particulares de veículos deslocamento
resultados diminuiu em particulares é na RTZ e na OEZ Em 2015, Roma tinha sete ZTLs, cada uma com restrições e horários de
ZONA DE ambas as zonas muito menor que o aumentaram, funcionamento ligeiramente diferentes. Roma concede isenções aos
de tráfego restrito uso de transporte possivelmente
TRÁFEGO residentes, táxis, ônibus e veículos de emergência, bem como motocicletas
em comparação público ou os devido à
RESTRITO DE com o resto da deslocamentos a infraestrutura e veículos que transportem pessoas com deficiência77.
TEERÃ cidade, onde não pé, em comparação limitada e de
há restrições. com a OEZ 75. baixa qualidade
para modos de principais Foi observada O uso de O número
uma redução de transporte público de pessoas
transporte ativo. resultados 13% no trânsito aumentou em que possuem
ZTL DE ROMA (avaliação de 2004) cerca de 4%, e os motocicletas e
em comparação aos deslocamentos a patinetes, que
níveis anteriores pé ou em bicicleta, estão autorizados
à instalação das em 1,5%. a circular na ZTL,
câmeras ANPR; aumentou em 50%.
e uma redução
adicional de 5% nos
deslocamentos de
carro foi relatada
como parte de uma
avaliação de 2014.
42 76 https://doi.org/10.5198/jtlu.2017.1087 43
75 Impact of Traffic Zones on Mobility Behavior in Tehran, Iran. 77 The Most Widespread Traffic Control Strategy You've Never Heard of: Traffic Restricted Zones in Italy.
AVALIAÇÃO DAS
ESTRATÉGIAS
3
Nesta seção, apresentamos três critérios para avaliar as estratégias
descritas na seção 2.
PRECIFICAÇÃO COM
MENOS CARROS EM ÁREAS ESPECÍFICAS
depende do
BASE NAS EMISSÕES X X modelo
X
(LEZ/CAZ) As cidades podem restringir o acesso de veículos a certas áreas (como distritos
comerciais centrais) usando estratégias com e sem cobranças. A precificação
PRECIFICAÇÃO DE
de congestionamento em áreas delimitadas (na prática) e com base na
X distância (em teoria) exige que os motoristas arquem com uma parte maior
CONGESTIONAMENTO
dos custos sociais e ambientais de dirigir e, portanto, menos carros entrarão
na zona de cobrança à medida que as pessoas migrarem para alternativas
REALOCAÇÃO DE
ESPAÇOS VIÁRIOS N/A X mais baratas. De fato, tanto o número de passageiros de ônibus quanto o
PARA AS PESSOAS uso de bicicletas aumentaram durante os horários de pico da manhã após
a introdução da tarifa de congestionamento no centro de Londres88. No
ZONAS DE entanto, a redução dos carros no centro pode não resultar em redução dos
TRÁFEGO N/A X X X congestionamentos se o espaço anteriormente dedicado aos automóveis (por
LIMITADO (LTZ)
exemplo, estacionamento e faixas de rodagem) for reaproveitado para outros
modos de transporte, como ocorreu em Milão e Londres. Portanto, a redução
X Nenhuma evidência Vínculo sustentado por evidências Vínculo fortemente sustentado por evidências
82 London Congestion Charge: What Worked, What Didn't, What Next.
83 Why It’s Time for Congestion Pricing in New York City.
84 Primes” in Quelles Sont les Offres de Mobilité Alternatives Proposées par la Région Bruxelloise?
85 Impacts of the EcoParq Program on Polanco.
86 SFpark Pilot Project Evaluation Summary.
46 87 Evaluating Seattle Parking Tax Options. 47
88 London Congestion Charge: What Worked, What Didn’t, What Next.
para outros lugares. Isso é particularmente preocupante se os veículos
sujos forem exportados para países de renda baixa e média baixa – o
que constitui um motivo adicional para as cidades em países de renda
baixa e países de renda média baixa PRBs/PRMBs adotarem restrições
baseadas nas emissões. No entanto, programas de recompra de veículos
patrocinados pelo governo podem ajudar a mitigar esses riscos.
Trajetos mais curtos e menos convenientes para os veículos também podem Estratégias bem-sucedidas de redução do tráfego diminuem a demanda
ser encorajados por meio de melhorias no projeto das ruas com o objetivo pelo uso de veículos particulares – especialmente veículos com um único
de restringir o acesso de veículos. Priorizar o espaço viário para pedestres, ocupante e altamente poluentes durante os horários de pico – e encorajam
ciclistas e veículos de transporte público, colocando os veículos pessoais no sua substituição por modos de transporte sustentáveis e equitativos. Nesta
ponto mais baixo da hierarquia, reduz a conveniência do uso de automóveis seção, mapeamos as estratégias apresentadas acima em relação aos objetivos
para deslocamentos curtos. O plano de superquadras de Barcelona, que de transporte sustentável (ver a tabela resumida). Vale destacar a presença
instituiu que todas as vias internas fossem de mão única com conversão à de fatores que podem gerar falhas de entendimento em muitos casos, o que
direita e limitou a velocidade dos veículos, torna menos conveniente o uso pode dificultar a atribuição de certos resultados (como, por exemplo, reduções
de veículos particulares. Os níveis de tráfego em algumas ruas internas das de emissões ou reduções de colisões relacionadas com veículos) diretamente
superquadras caíram em até 40%102. à implementação de uma estratégia de GdM107. Sempre que possível, são
apresentadas comparações com áreas de controle.
MAIS DESLOCAMENTOS EM MEIOS DE TRANSPORTE SUSTENTÁVEIS
A realocação de espaços viários, que reaproveita o espaço das ruas para Melhor Mais Proteção do Uso eficiente
infraestruturas de alta qualidade para mobilidade a pé, uso da bicicleta e acesso segurança meio ambiente das receitas e
transporte público, oferece espaços mais seguros para as pessoas. Isso faz do e da saúde espaços
transporte sustentável uma opção mais atraente. De fato, já foi demonstrado
que, mais que qualquer outra estratégia de redução do tráfego, a realocação
de espaços viários desencoraja o uso de veículos particulares e incentiva
ESTACIONAMENTO
a adoção de modos sustentáveis103. Por exemplo, esforços significativos COM BASE NA
realizados em Bogotá para criar espaços públicos sem carros – em particular, DEMANDA
o comprometimento da cidade com a Ciclovia, que fecha mais de 100
quilômetros de ruas aos veículos todos os domingos – geraram um aumento REFORMA DE
da participação da bicicleta como modo de transporte de 0,8% em 1995 para ESTACIONAMENTOS
X X
3,2% em 2003. Desde então, a cidade já construiu 540 quilômetros de ciclovias, FORA DA VIA
PÚBLICA
e a participação das bicicletas subiu para 9%. Um efeito semelhante ocorreu
em Sevilha, Espanha, onde 80 quilômetros de ciclovias foram implementados
em 2008, aumentando a participação da bicicleta de 0,5% para 9% de todos TARIFA DE
ESTACIONAMENTO X X X
os deslocamentos até 2014104. Em alguns casos, as vagas de estacionamento COMERCIAL
nas vias públicas foram convertidas em ciclovias. Ao gerenciar a demanda
por estacionamento, a tarifação com base na demanda para vagas em via
pública pode permitir a substituição dos estacionamentos por usos mais PRECIFICAÇÃO COM
BASE NAS EMISSÕES X
interessantes, como ciclovias ou estações de bicicletas compartilhadas. (LEZ/CAZ)
Projetos de ruas completas dentro das superquadras de Barcelona geraram
um aumento de 10% nos deslocamentos a pé e de 30% naqueles de bicicleta ao
redor das intervenções. Da mesma forma, depois da conversão de Yonsei-ro, PRECIFICAÇÃO DE
em Seul, em um transit mall com espaços melhorados para pedestres, a área CONGESTIONAMENTO
viu um aumento de 11% no número de passageiros de ônibus105.
132 Madrid Could Become First European City to Scrap Low-Emissions Zone.
133 People Power and Courts Fight First-Ever Attempt to Scrap Low-Emissions Zone.
Effectiveness of Low Emission Zones: Large-Scale Analysis of Changes in Environmental NO2, NO, and NOX Concentrations in 17 German
134 Cities.
135 Spain’s Plan to Create Car-Free “Superblocks” Is Facing Protests.
56 136 Changing the Urban Design of Cities for Health: The Superblock Model. 138 CO₂ Emissions from Cars: The Facts. 57
137 Effects of Different Urban Traffic Mitigation Actions on Cities’ Noise Levels. 139 Reducing Carbon Emissions Through Transport Demand Management Strategies: A Review of International Examples.
USO EFICIENTE DE RECEITAS E ESPAÇOS Uso eficiente do espaço
O espaço nas cidades é finito, e, frequentemente, as ruas não são vistas
Uso eficiente de receitas como o ativo de espaço aberto mais valioso da cidade. Por exemplo, em
No contexto da concepção das estratégias de redução do tráfego, o uso comparação com faixas viárias de uso geral, as faixas exclusivas de BRT ou
eficiente de receitas refere-se, em sentido amplo, ao potencial de reequilibrar de ônibus comuns constituem um uso mais eficiente desses ativos, porque
os subsídios implícitos para os automóveis, investindo mais recursos na podem servir a mais pessoas com menos externalidades negativas. Da
melhoria da infraestrutura de transporte público e transportes ativos. Foi mesma forma, em uma rua urbana movimentada, a definição de zonas de
demonstrado que a tarifação do estacionamento em via pública com base carga é um uso mais eficiente do espaço que a disponibilização de vagas
na demanda gera receitas significativas (ver seção acima sobre a Capacidade gratuitas. O estacionamento em via pública com base na demanda é mais
de Reduzir o Tráfego: Geração de Receitas), que superam as despesas eficiente que o estacionamento em via pública estático ou gratuito, porque
operacionais dos programas. Em vários casos, uma parte dessas receitas foi incentiva a rotatividade e reduz a busca por vagas. Iniciativas de realocação
dedicada a melhorias hiperlocais no espaço público. Por exemplo, em 2012, o de espaços viários que desestimulem o uso de veículos individuais
programa ecoParq da Cidade do México gerou receitas da ordem de Mex$ 58 (ineficientes) e privilegiem modos de alta capacidade (como transporte
milhões, dos quais Mex$ 17,3 milhões foram reinvestidos em melhorias dos público) e mais eficientes em termos de espaço (como bicicletas e mobilidade
espaços públicos e das calçadas no bairro de Polanco, onde o programa de a pé) maximizam o uso do espaço limitado da rua e são mais justas145.
estacionamento foi implementado140. As reformas de estacionamento fora da
via pública também integraram a realocação de receitas: na Cidade do México,
receitas de tarifas cobradas de empreendedores que desejavam construir 3.3 CAPACIDADE NECESSÁRIA PARA UMA IMPLEMENTAÇÃO
vagas de estacionamento além do limite máximo da cidade (respeitando EFICAZ
um teto) são alocadas para melhorias do transporte público e das moradias
populares. Também foram geradas receitas substanciais com a cobrança de Para garantir a eficácia dos programas implementados, é necessário que
estacionamento comercial141. Essas receitas são geralmente alocadas para os governos locais tenham uma gestão eficaz e a capacidade de solucionar
melhorias no transporte público. No entanto, a estratégia de aumentar as problemas146. Esses recursos incluem:
tarifas de estacionamento comercial para investir em transporte público não
teve sucesso em alguns casos, como em Seattle, onde, em 2014, foi rejeitada Conscientização e apoio dos tomadores de decisão (visão);
a proposta de aumentar o valor do estacionamento comercial da cidade de
forma a evitar cortes no serviço do metrô142. Capacidade técnica dos servidores municipais (e/ou capacidade de
contratar consultores) para facilitar a adoção e implementação de
As receitas geradas de cobranças diretas aos motoristas, como, por exemplo, políticas, redigir contratos e conduzir o planejamento, a concepção e a
mediante programas de precificação de congestionamento ou com base em implementação de programas relacionados;
emissões, são frequentemente alocadas para melhorias nas estruturas de
transporte público e transportes ativos como forma de gerar apoio público Instituições fortes e capacidade de criar estruturas, quando apropriado,
e fornecer alternativas de alta qualidade ao uso de veículos particulares. Na para coordenar e planejar ações;
verdade, as receitas de programas de precificação com base nas emissões
provavelmente diminuirão ao longo do tempo com a adoção de veículos Financiamento para implementação, operação e manutenção do projeto.
mais limpos (portanto, menos motoristas precisariam pagar a tarifa), mas
as receitas da precificação de congestionamento têm aumentado ao longo Para implementar políticas com eficácia, as cidades devem compreender
do tempo, particularmente se regras mais rigorosas forem integradas os requisitos políticos, técnicos e de financiamento de diferentes políticas
ao projeto143. Londres usou parte de suas receitas de precificação de de GdM, bem como as próprias limitações da capacidade do governo. Com
congestionamento para melhorar o sistema de ônibus, um modo já base na literatura disponível e nas informações obtidas em entrevistas
amplamente utilizado por muitos viajantes de baixa renda144. O uso eficiente de com especialistas internos e externos, consideramos os seguintes
recursos não é um elemento inerente de nenhuma estratégia específica, mas conceitos no contexto dos requisitos de capacidade para a implementação
pode ser introduzido no modelo, assim como a determinação de priorizar o eficaz de políticas de redução do tráfego: preocupações com vigilância e
uso das receitas para melhorias em meios de transporte mais equitativos. privacidade de dados; necessidades tecnológicas; complexidades políticas;
e necessidade de investimento público inicial (para mais detalhes sobre
O potencial de geração de receitas pode permitir que as cidades criem esses conceitos, ver apêndice B).
instrumentos de investimento específicos para financiar a infraestrutura ou os
custos de implementação relacionados. A receita gerada pelo programa pode,
então, ser usada para pagar os juros e/ou a parte principal aos investidores.
Essa abordagem tem sido usada para financiar projetos de transporte
ferroviário de passageiros e rodovias com pedágio.
140 Impacts of the ecoParq Program on Polanco: Preliminary Overview of the Parking Meter System After One Year Running. Mexico City
141 Got Rid of a Ridiculous Subsidy for Drivers, and Other Cities Should Too.
142 The Case for a Tax on Parking Lots.
58 143 London Congestion Charge: What Worked, What Didn’t, What Next. 145 Transit Street Design Guide: Designing to Move People. 59
144 Income-Based Equity Impacts of Congestion Pricing—A Primer. 146 Institutional Capacity-Building in Urban Planning and Policy-Making for Sustainable Development: Success or Failure?
Preocupações Necessidades Complexidades Investimento Capacidade
com privaci- tecnológicas políticas público inicial necessária
dade para uma
implementação
eficaz
REFORMA DE
ESTACIONAMENTOS NENHUMA MÉDIA
(EM VIA PÚBLICA E
Pune realocou o FORA DELA)
espaço público para
pedestres e ciclistas
ao longo de muitas
vias principais, PRECIFICAÇÃO DE
inclusive a DP Road, ESTACIONAMENTO NENHUMA NENHUMA BAIXA
mostrada aqui. COMERCIAL
fonte: ITDP Índia
VONTADE POLÍTICA
PRECIFICAÇÃO DE
CONGESTIONAMENTO ALTA
E COM BASE EM
É necessária vontade política para fazer 2 EMISSÕES
avançar qualquer estratégia com objetivo
CONTEXTUALIZAÇÃO DAS NARRATIVAS DAS
de reduzir o tráfego. Ao tentar promover ESTRATÉGIAS NO ÂMBITO DO CLIMA POLÍTICO LOCAL
tais estratégias, é fundamental identificar
autoridades que promovam o conceito e REALOCAÇÃO DE
Compreender o clima político e cultural atual
compreender o grau de complexidade política ESPAÇOS VIÁRIOS NENHUMA BAIXA
é importante para selecionar as opções de PARA AS PESSOAS
ou burocrática envolvida (por exemplo, o políticas mais promissoras, bem como promover
escopo do problema é multi-jurisdicional a adoção de reformas de políticas públicas.
e/ou regional? Quais grupos de interesses Os contextos – incluindo fatores políticos,
podem resistir ou apoiar a ideia de tornar o ZONA DE
logísticos, demográficos, econômicos e culturais MÉDIA
custo de dirigir mais explícito?). TRÁFEGO
– diferem de uma cidade para outras147. Assim, LIMITADO
as lições aprendidas em um contexto não
Cultivar a vontade política muitas vezes necessariamente serão aplicáveis a outros.
requer: Com isso em mente, devem ser elaboradas
1 mensagens relativas às estratégias de GdM que Baixa Média Alta
reflitam o contexto e o ambiente específicos de
cada cidade. Sempre que possível, os objetivos
IDENTIFICAÇÃO DE PATRONOS POLÍTICOS E
TÉCNICOS CAPACITADOS EM POSIÇÕES-CHAVE devem estar alinhados a outras prioridades
políticas atuais. Da mesma forma, podem ser
Os patronos, ou autoridades interessadas em desenvolvidas narrativas sobre a redução do
defender e promover o conceito, podem ajudar tráfego como uma solução para os desafios que
a introduzir e levar adiante uma estratégia de os líderes políticos estão tentando enfrentar, ou
GdM promovendo credibilidade aos olhos dos como uma solução que promova seus objetivos
aliados e apaziguando eventuais opositores. políticos declarados. Por exemplo, se um político
Ao mesmo tempo, é útil desenvolver a base ou governante eleito se preocupar menos com
de conhecimento dos técnicos do setor questões ambientais e mais com a economia
público que podem influenciar diretamente local, a narrativa da estratégia deve enfatizar os
o entendimento interno e as mensagens. Seu ganhos econômicos potenciais da redução do
interesse e curiosidade sobre as questões congestionamento. Independentemente de seu
subjacentes podem ser um gancho para seu conteúdo, as narrativas devem ser simples, viáveis
engajamento e aliança. e vendáveis. Elas não devem conter argumentos
excessivamente complexos ou moralistas.
60 61
147 Urban Transport Pricing.
REALOCAÇÃO DE ESPAÇOS VIÁRIOS PARA AS PESSOAS REFORMAS DE ESTACIONAMENTO
CAPACIDADE Projetos de pedestrianização, transit malls e ruas completas foram CAPACIDADE Reformas de estacionamento em via pública e fora dela requerem um nível
NECESSÁRIA PARA NECESSÁRIA PARA
implementados com sucesso em uma grande variedade de cidades, inclusive moderado de capacidade para que sua implementação seja bem-sucedida.
UMA IMPLEMENTAÇÃO UMA IMPLEMENTAÇÃO
EFICAZ: em países de renda baixa e países de renda média baixa (PRBs e PRMBs). EFICAZ: A tarifação com base na demanda requer níveis mais baixos de capacidade,
Essas estratégias exigem tecnologia mínima para operar (nos transit malls porque a tecnologia necessária é acessível e econômica e praticamente não
BAIXA e nas ruas para pedestres, pode ser necessário instalar pilares baixos MÉDIA apresenta problemas de privacidade. Embora o conceito de tarifação com
(bollards) ou cancelas de acesso, que possam ser acionados por veículos de base na demanda possa ser novo para alguns motoristas, muitas pessoas
emergência, por exemplo). Algumas podem até mesmo ser implementadas que moram em cidades maiores já estão familiarizadas com a ideia de pagar
sem qualquer tecnologia, usando cones, tinta e mobiliário urbano. Essas para estacionar perto de destinos de alta densidade. Estudos de caso bem
abordagens não geram preocupações com a privacidade e não cobram documentados sobre programas já implementados de estacionamento
pelo acesso; devido a isso, geram menos resistência do público que outras com base na demanda e outras reformas complementares podem fornecer
estratégias de GdM que podem ser vistas como punitivas. Em cidades orientações úteis para a concepção e avaliação de programas semelhantes em
onde os deslocamentos a pé já respondem por uma parte considerável outros locais. Há certo consenso de que reformas de estacionamento servem
dos movimentos e onde a segurança para pedestres e ciclistas não é como políticas de entrada: são mais fáceis de implementar que políticas mais
subpriorizada, pode haver um apoio maior para esse tipo de política. complexas, como, por exemplo, precificação de congestionamento; e, uma
Estudos de caso bem documentados de realocação de espaços viários para vez implementadas, podem promover mais abertura para a introdução de
pessoas em cidades de PRBs e PRMBs – como Buenos Aires e Pune, por reformas mais complexas.
exemplo – e guias detalhados, tais como o kit de ferramentas Complete
Streets Framework 148, do ITDP Índia, e o kit de ferramentas de transporte não O estacionamento com base na demanda exige certo investimento inicial
motorizado149, do ITDP África, oferecem referências para em novas tecnologias, como medidores e sensores de estacionamento
a implementação de projetos semelhantes em outros países. Assim, a inteligentes. No entanto, esse equipamento é relativamente barato e tende
capacidade necessária para uma implementação eficaz é baixa. a ser aceito pelo público, porque as pessoas costumam ter familiaridade
com o funcionamento dos parquímetros. Sensores inteligentes usados para
Será necessária mais capacidade para elaborar planos que guiem a implementar programas de estacionamento com base na demanda também
implementação da realocação de espaços viários, o que normalmente inclui podem tornar mais eficiente a fiscalização de parquímetros que não tenham
ações como definição de metas, envolvimento das partes interessadas e sido pagos ou que estejam com o horário vencido. Por meio de um aplicativo
elaboração e adoção de políticas públicas150. Recomenda-se que os governos móvel, os fiscais de estacionamento podem visualizar automaticamente a
locais coordenem com as principais partes interessadas de agências e órgãos localização dos parquímetros não pagos ou com pagamento vencido em que
públicos, serviços de utilidade pública e outras áreas relacionadas para que houver um veículo estacionado, em vez de circular por vários quarteirões para
essas contribuam com seus conhecimentos e experiências em políticas ou localizar eventuais infratores151. Esse sistema mais eficiente poderia permitir
projetos. O desenvolvimento de um plano diretor para ruas que priorizem que as cidades reduzissem o número de fiscais.
as pessoas ajudará a garantir que os projetos se conectem para formar uma
rede; definam diretrizes e padrões mínimos; e garantam financiamento de A complexidade política para implementar os estacionamentos com base na
longo prazo para sua implementação e manutenção. demanda é moderada. A oferta de estacionamento não precisa ser alterada
(pelo menos no curto prazo). As pessoas que tiverem flexibilidade para
Os governos também precisarão comunicar com eficácia os benefícios da realizar seus deslocamentos fora dos horários de pico e/ou estacionar em
realocação dos espaços viários às empresas e ao público em geral. Em alguns locais menos caros, podem evitar as tarifas mais altas. No entanto, pressões
casos, intervenções temporárias com materiais flexíveis e de baixo custo políticas (em cidades como Bogotá, por exemplo) impediram completamente
podem ser implementadas, reduzindo os custos iniciais e permitindo que o aumento dos preços dos estacionamentos. Há certa resistência pública
as pessoas observem e interajam fisicamente com ambientes restritos aos quando a população crê que os governos municipais estejam implementando
veículos. Será mais fácil para essas intervenções se tornarem permanentes programas de estacionamento com base na demanda e aumentando os preços
depois que as pessoas tiverem a oportunidade de experimentar o modelo do estacionamento somente para aumentar as receitas municipais. Essa
e fornecer feedback sobre o que funciona e o que pode ser melhorado. crítica pode ser combatida se os governos forem transparentes em relação à
Uma abordagem de implementação gradual (por exemplo, quarteirão por parcela das receitas necessária para operar o sistema e dedicarem as receitas
quarteirão, ou bairro por bairro) também pode ajudar a gerenciar os custos, excedentes a programas específicos. Por exemplo, o programa ecoParq da
e a definição de linhas de base e coleta de dados durante essas intervenções Cidade do México investiu a receita excedente das tarifas de estacionamento
temporárias ajudam a destacar seus benefícios. em calçadas e outras melhorias na infraestrutura de pedestres no bairro de
Polanco, onde o programa estava operando. Este tipo de reinvestimento local
das receitas pode aumentar a aceitação pública e a vontade política152.
148 https://www.itdp.in/resource/complete-streets-framework-toolkit/
62 149 https://nmttoolkit.itdp.org/guide/introduction/ 151 SFpark Pilot Project Evaluation. 63
150 Complete Streets: Policy Workbook. 152 Parking Reform Has Big Implications for Sustainable Transit—and for Ride-Hailing, too.
TARIFAÇÃO DO ESTACIONAMENTO COMERCIAL LIMITED TRAFFIC ZONES + ZEAS
CAPACIDADE As tarifas de estacionamento comercial são uma forma direta de limitar CAPACIDADE As zonas de tráfego limitado requerem um alto grau de capacidade para sua
NECESSÁRIA PARA NECESSÁRIA PARA
a oferta de vagas e gerar receita. O sistema é relativamente barato e implementação eficaz devido a preocupações moderadas com privacidade
UMA IMPLEMENTAÇÃO UMA IMPLEMENTAÇÃO
EFICAZ: simples de implementar, não requer tecnologia adicional e não apresenta EFICAZ: e a necessidades tecnológicas, bem como à alta complexidade política e à
problemas de privacidade. Embora o custo do estacionamento comercial necessidade de investimentos iniciais do governo. Em termos de necessidades
BAIXA seja normalmente repassado aos consumidores, ele é embutido nas MÉDIA tecnológicas, os pontos de acesso às zonas de tráfego limitado podem ser
tarifas de estacionamento que o motorista já está pagando, o que o torna monitorados manualmente por fiscais de trânsito. A Zona de Tráfego Restrito (RTZ)
menos visível. A tarifação do estacionamento comercial reduz o excesso de Teerã operou sem monitoramento automático de entrada até 2015, quando
de oferta de estacionamento e os lotes de superfície não utilizados ou a cidade instalou câmeras ANPR (na sigla em inglês para Automatic number-
subutilizados, o que pode ajudar a aumentar a densidade e o potencial para plate recognition)154. Embora posicionar policiais nas entradas das zonas em vez
os deslocamentos a pé. de investir em tecnologia automatizada seja uma opção, as câmeras têm uma
vantagem de eficiência sobre o monitoramento manual, porque podem identificar
No entanto, as tarifas de estacionamento comercial não têm sido vários veículos infratores ao mesmo tempo e emitir as multas automaticamente.
fortemente associadas a mudanças no comportamento dos motoristas Comparativamente, quando os guardas de trânsito de Teerã multavam os
(por exemplo, migração para outros modos de transporte). Na verdade, infratores, muitos motoristas tentavam negociar, o que levava a interrupções
em locais onde são comuns os subsídios de estacionamento (como no trânsito, para não mencionar a corrupção. A instalação de câmeras resultou
aqueles oferecidos por empregadores ou embutidos nos custos de em um aumento de quase três vezes nas infrações identificadas; no entanto,
habitação), o aumento do custo de estacionamento por meio de tarifas alguns motoristas começaram a cobrir a placa de seus carros e a vandalizar os
comerciais pode tornar esses subsídios mais valiosos para os motoristas equipamentos com o intuito de evitar multas155.
e pode, na verdade, aumentar os deslocamentos153. As cidades devem
estar cientes desse resultado potencial e considerar a precificação do O processo de identificação, processamento e envio das multas aos infratores
estacionamento comercial como uma política complementar (à precificação pode envolver vários órgãos públicos ou empresas privadas. Em Teerã, esse
de congestionamento ou com base nas emissões, por exemplo), e não uma processo inclui três setores do governo e duas empresas, o que fez com que as
solução independente. multas não fossem emitidas de forma consistente. Em cidades onde a coordenação
entre os setores público e privado não é transparente ou onde a corrupção é
Complexidades políticas podem surgir em relação a como garantir que generalizada, o processo pode apresentar desafios.
os gestores dos estacionamentos declarem as receitas corretamente.
Desafios políticos também podem resultar da capacidade de gerar receitas Por fim, os governos precisarão fornecer alternativas de alta qualidade, confiáveis
significativas da cobrança de estacionamento comercial. Por isso, é e acessíveis para quando a zona entrar em vigor. Se as pessoas não puderem
importante que as cidades – especialmente aquelas que lutam contra a mais dirigir seus carros até a zona onde trabalham, estudam ou precisam realizar
corrupção – sejam transparentes sobre onde serão alocadas essas receitas outras tarefas, deve haver alternativas viáveis que não gerem perdas significativas
e criem fundos específicos para abrigá-las. Em muitos casos, as receitas de tempo, aumento de custos ou problemas de segurança. Isso decorre de um
de estacionamento comercial são usadas para melhorar as estruturas de princípio comum de planejamento de transporte: todos têm direito a serviços
transporte público. O potencial de geração de receitas de programas de de transporte equitativos156. Os governos que não têm capacidade – financeira,
tarifação do estacionamento comercial também pode apoiar, de maneira técnica ou ambas – para fornecer alternativas viáveis ao uso de automóveis podem
confiável, outras estratégias de GdM, como a realocação de espaços viários. não ter sucesso na implementação de uma zona de tráfego limitado (LTZ) ou de
outras restrições de acesso de veículos. Por exemplo, em Manila, muitas pessoas
relataram preferir alterar sua programação (ir para o trabalho mais cedo e voltar
mais tarde para casa) para evitar restrições de circulação com base nas placas
a ter de usar o transporte público por causa da precariedade dos serviços157. Os
governos também precisam considerar cuidadosamente quais motoristas terão
permissão para acessar a zona – e ser transparentes sobre suas decisões. Na
maioria das zonas de tráfego limitado da Itália, os residentes, as pessoas com
deficiência e os veículos de serviços públicos, como transporte público, táxis e
veículos de emergência, podem entrar. As motocicletas também são permitidas.
A zona de tráfego limitado de Teerã também permite que servidores públicos
adquiram licenças para entrar. Na verdade, 40% dos veículos que circulam na zona
de tráfego limitado em Teerã são de propriedade do governo158.
4
ser acessado se um projeto atender a certos critérios pré-acordados. Isso foi
feito na Cidade do México – não para a precificação de congestionamento,
mas para outros programas de transporte: a cidade criou um “fundo de táxis, Neste estudo, selecionamos várias estratégias de Gestão da Mobilidade
mobilidade e pedestres” para abrigar as tarifas pagas ao governo local por (GdM) que promovem o afastamento do transporte individual, nas áreas
cada deslocamento feito por empresas de transportes, como Uber e Cabify; e de tarifação do estacionamento, precificação de emissões, precificação de
iniciou outro fundo para melhorias dirigidas a pedestres e ciclistas, que reúne congestionamento, zonas de tráfego limitadas e realocação de espaços viários
as receitas de empresas que atuam no setor de meios compartilhados sem para as pessoas. Avaliamos essas estratégias, usando os critérios a seguir, para
estações (dockless) – geralmente bicicletas e patinetes166. ajudar as autoridades municipais a tomarem decisões mais fundamentadas que
levem em consideração suas necessidades e a capacidade disponível:
Por fim, os governos precisarão identificar grupos que possam ser
desproporcionalmente afetados por políticas de restrição ao uso de veículos, 1) Como a estratégia contribui para metas individuais de redução do
ou seja, aqueles que não podem comprar veículos mais limpo ou para quem o tráfego que melhorem o bem-estar (por exemplo, a redução de veículos
transporte público e os transportes ativos não sejam alternativas viáveis (por de ocupação única, menos quilômetros rodados ou incentivo a uma frota
exemplo, certos trabalhadores em regime de turnos, ou pessoas com deficiência). de veículos mais limpa). Como as cidades têm prioridades diferentes em
É uma boa prática oferecer apoio a esses grupos para que eles possam, no futuro, relação a esses resultados, não fornecemos uma classificação resumida
cumprir as normas de emissões ou arcar com a tarifa de congestionamento. para esses critérios;
Cidades como Londres e Paris oferecem subsídios para pequenas empresas e
organizações sem fins lucrativos que dependem de automóveis como forma de 2) Como a estratégia contribui para as metas de transporte sustentável
ajudá-las a cobrir os custos de aquisição de veículos elétricos167. No entanto, pode de melhorar o acesso, manter a segurança, proteger o meio ambiente e a
ser mais complicado oferecer incentivos a indivíduos, e é necessário planejá- saúde humana e usar os recursos de forma eficiente;
los cuidadosamente para evitar o uso generalizado de recursos públicos para a
aquisição de novos veículos. Se forem considerados subsídios para indivíduos, 3)A capacidade necessária para uma implementação eficaz.
eles devem ser limitados a pessoas de baixa renda e por um prazo determinado,
com o propósito de incentivar a adoção de veículos limpos, mas não substituir a
Relação com habitabilidade e Capacidade necessária para uma
responsabilidade da indústria automobilística pela fabricação de veículos mais sustentabilidade * (ver 3.1 e 3.2) implementação eficaz (ver 3.3)
limpos ao longo do tempo. Da mesma forma, a transição pode ser facilitada se
o governo der um tempo maior aos residentes da zona de cobrança para que tarifação com base
MÉDIA
adquiram veículos compatíveis ou encontrem alternativas viáveis (no caso de na demanda
REFORMAS DE MÉDIA
uma LEZ), ou se lhes for concedida uma isenção com prazo determinado (no caso
ESTACIONAMENTO reforma de
da precificação de congestionamento). BAIXA
estacionamentos
fora da via pública
PRECIFICAÇÃO DE
ESTACIONAMENTO BAIXA BAIXA
COMERCIAL
Manifestantes se
reuniram em 2019 PRECIFICAÇÃO COM zona de baixa
emissão BAIXA
para defender Madrid BASE NAS EMISSÕES
Central, a zona de ALTA
tráfego limitado no E PRECIFICAÇÃO DE reforma de
centro da cidade, CONGESTIONAMENTO estacionamentos ALTA
contra a intenção do fora da via pública
governo recém-eleito
de eliminar a zona
sem um plano REALOCAÇÃO DE
alternativo para ESPAÇOS VIÁRIOS ALTA BAIXA
reduzir a poluição PARA AS PESSOAS
atmosférica.
fonte: Thomas
Holbach, Wikimedia
Commons ZONA DE TRÁFEGO
LIMITADO MÉDIA MÉDIA
*A avaliação considera até que ponto cada estratégia contribui para as metas de habitabilidade, identificadas em 3.1, e os objetivos
de transporte sustentável, identificados em 3.2.
166 People Power and Courts Fight First-Ever Attempt to Scrap Low-Emissions Zone.
Apresentação de María Fernanda Rivera Flores, diretora geral de Sistemas de Segurança Viária e Mobilidade Urbana Sustentável,
68 Semovi, 14 de janeiro de 2020. 69
167 Low-Emission Zones Are a Success—But They Must Now Move to Zero-Emission Mobility.
Juntas, essas avaliações resultaram nas seguintes lições importantes:
Lição A realocação de espaços viários para as pessoas deve ser
importante
considerada parte de uma estratégia mais ampla de redução
Lição
importante
A implementação conjunta de várias estratégias de gestão da 2 do tráfego, especialmente onde a capacidade for limitada.
1
mobilidade (GdM) maximiza os impactos e reduz os desafios
potenciais relacionados à vontade política e à equidade.
A realocação de espaços viários nem sempre é a primeira estratégia
considerada para a redução do tráfego; no entanto, demonstrou-se que
ela favorece o uso de modos mais sustentáveis. A redução física do espaço
Há poucos exemplos de cidades que implementaram várias estratégias em
para veículos nas ruas torna o ato de dirigir menos conveniente e as opções
conjunto, embora essa abordagem venha ganhando força. Em particular,
de modos ativos e transporte público mais rápidas, seguras e agradáveis.
a iniciativa Ruas Verdes e Saudáveis do grupo C40 reconhece o papel do
Reformas das vias públicas que não priorizem os veículos (sem proibi-los
aumento dos deslocamentos a pé, de bicicleta e em transporte público na
completamente ou cobrar dos motoristas) podem incentivar a aceitação
redução do uso de veículos particulares poluentes e incentiva os prefeitos a
pública. A adoção gradual – começando com a modificação dos corredores
promover a eletrificação das frotas de ônibus e outros veículos públicos, além
ou interseções principais e expandindo as intervenções ao longo do
de estratégias complementares para reduzir as emissões e a VKT168.
tempo – pode garantir o desenvolvimento de uma rede de ruas prioritárias
para pedestres, ciclistas e transporte público, aumentando seu impacto
As estratégias com cobranças têm a vantagem de gerar receitas consideráveis,
e a capacidade de fornecer uma alternativa viável ao uso de veículos
dependendo do projeto, o que comprovadamente cobre os custos operacionais
particulares. Da mesma forma, as realocações de espaços viários podem
e também financia melhorias em estruturas para pedestres, ciclistas e
ser implementadas gradualmente, ao passo que as zonas de baixa emissão
usuários do transporte público – projetos que, de outra forma, não teriam
ou as zonas de precificação de congestionamento dependem de uma
recebido financiamento. A geração de receitas pode ser um atrativo para
escala significativa para que sejam eficazes. Além disso, a realocação de
as cidades com orçamentos limitados. No entanto, além de cobrir os
espaços viários não gera as preocupações com transparência ou requisitos
custos operacionais, as receitas geradas por estratégias com cobranças
tecnológicos de outras estratégias de redução do tráfego. Ademais, em
devem ser usadas para solucionar problemas de equidade, compensando
locais onde a participação modal de veículos particulares for baixa, como
os ônus para pessoas de baixa renda e outros grupos que possam ser
costuma ser o caso em muitas cidades de PRBs/PRMBs, a realocação de
desproporcionalmente afetados pelas políticas de precificação. Isso pode
espaços viários para as pessoas restringe o uso de veículos particulares
ajudar a resolver as preocupações sobre a regressividade, que, muitas vezes,
e, ao mesmo tempo, melhora a segurança e o conforto para a maioria das
surgem como resultado de estratégias com cobranças.
pessoas que já transitam a pé, de bicicleta ou em transporte público.
As estratégias sem cobranças, embora não sejam capazes de gerar receitas
diretamente, têm demonstrado a capacidade de estimular a atividade
econômica e reduzir os custos sociais decorrentes de sinistros de trânsito e Lição A presença de alternativas de transporte é fundamental,
mortes. Isso também pode ser atraente para cidades com aversão a riscos, importante
especialmente quando a maioria ou todos os veículos
que podem não estar dispostas a se comprometer com um programa de
precificação de congestionamento em grande escala, por exemplo. Como 3 particulares são banidos de determinadas zonas.
essas estratégias não impõem custos aos motoristas, elas podem ser menos
desafiadoras de implementar, politicamente, em comparação a estratégias Os impactos de qualquer estratégia de redução do tráfego serão
com cobranças, especialmente em cidades com uma alta proporção de reforçados por melhorias nas infraestruturas para mobilidade a pé, por
pedestres. No entanto, as mudanças de comportamento podem não ser bicicleta e por transporte público. Sem essas alternativas, as pessoas
observadas tão rapidamente ou em tão grande escala em comparação com as que puderem arcar com os custos (financeiros ou de tempo) de dirigir
estratégias com cobranças, uma vez que os motoristas podem continuar a usar seus próprios carros continuarão a fazê-lo; e aqueles que não puderem,
seus carros, embora com menos conveniência. sofrerão um impacto desproporcional em sua capacidade de acessar
certos destinos. O fornecimento de alternativas acessíveis e confiáveis
A implementação de estratégias com e sem cobranças como parte de uma ao uso de automóveis particulares é frequentemente citado como
política mais ampla de redução do tráfego pode ajudar a maximizar os um requisito para promover mais equidade ao implementar qualquer
benefícios de ambas, ao mesmo tempo em que reduz as resistências políticas estratégia de GdM169. Além disso, ao usar as receitas geradas por
ou públicas. A concepção de uma política abrangente de GdM também pode estratégias com cobranças (como a precificação de congestionamento ou
oferecer mais transparência sobre o uso das receitas geradas pelas políticas o estacionamento em via pública com base na demanda) para financiar
com cobranças, como, por exemplo, apoiar outras intervenções. A realocação diretamente melhorias locais na mobilidade ativa e no transporte
dos espaços viários, por exemplo, não apenas restringe o acesso de veículos, público, o governo torna essas estratégias, que poderiam ser vistas como
mas também melhora as condições para quem não usa automóveis. regressivas, mais progressivas170.
70 169 Low-Emission Zones Are a Success—But They Must Now Move to Zero-Emission Mobility. 71
168 Amsterdam, Austin, Berlin, Jakarta and Liverpool Commit to Rid Fossil Fuels from City Streets by 2030. 170 Traffic Congestion Pricing: Methodologies and Equity Implications.
Lição
importante Se a capacidade for limitada, a adoção de estratégias de
4
GdM pode ser gradual.
72 73
APÊNDICE A:
RECURSOS DE • ITDP. (2017). TOD Standard.
IMPLEMENTAÇÃO • ITDP África. (sem data). How to Develop Non-motorised Transport Strategy
REALOCAÇÃO or Policy.
DE ESPAÇOS
VIÁRIOS PARA • ITDP África. (2018). https://africa.itdp.org/publication/africa-streets-
AS PESSOAS
walking-cycling/
• Banco Asiático de Desenvolvimento. (2011). Parking Policy in Asian Cities.
• ITDP Índia. (2019). Complete Streets Framework.
• Banco Interamericano de Desenvolvimento. (2013). Practical Guidebook:
Parking and Travel Demand Management Policies in Latin America. • NACTO/GDCI. (2016). Global Street Design Guide.
• ITDP México. (2014). Less Parking, More City: A Case Study in Mexico City.
ZONAS DE BAIXA • Grupo C40. (2019). How to Design and Implement a Clean Air or Low
EMISSÃO E Emission Zone.
PRECIFICAÇÃO
COM BASE NAS • WRI. (2017). Study on International Practices for Low Emission Zone and
EMISSÕES
Congestion Charging.
74 75
APÊNDICE B: DEFINIÇÕES
DOS CRITÉRIOS DE Investimento público inicial
Algumas estratégias de GdM são mais caras de implementar e manter
AVALIAÇÃO DA SEÇÃO 3.3 do que outras, especialmente se novas tecnologias ou sistemas tiverem
de ser instalados. O programa de precificação de congestionamento de
Londres exigiu US$ 214 milhões em investimento inicial, mas gerou quase
Preocupações com vigilância e privacidade de dados US$ 4 bilhões em receitas em seus primeiros 10 anos de operação173. A
O modelo de algumas estratégias de gestão da mobilidade (GdM) pode necessidade inicial de investimentos públicos significativos pode levar a
gerar preocupações sobre a capacidade dos governos de proteger a uma reação da população, especialmente se também houver cobranças
privacidade das pessoas, manter a integridade dos dados ou evitar o para os motoristas. Portanto, é importante comunicar claramente como a
compartilhamento impróprio de dados. Por exemplo, os programas de estratégia de GdM melhorará o dia a dia das pessoas. A transparência sobre
precificação de congestionamento existentes em Estocolmo, Singapura, o uso das receitas também pode ajudar a promover sua aceitação social.
Milão e outros lugares usam câmeras de reconhecimento automático Deve ser priorizado o financiamento de benefícios concretos, que possam
da placa (ANPR, sigla em inglês Automatic number-plate recognition) ou ser observados localmente no curto prazo, embora algumas receitas devam
tecnologia semelhante para identificar os veículos sem uma unidade de ser reservadas para projetos sistêmicos de longo prazo174.
bordo (OBU) que entrarem na zona de precificação de congestionamento.
Questões de privacidade relacionadas à capacidade de identificar
indivíduos com base nos padrões de deslocamento de seus veículos ou
o uso das placas para rastrear grupos marginalizados, como imigrantes,
podem levar a uma rejeição desse modelo de estratégia de GdM171.
Necessidades tecnológicas
Algumas estratégias de GdM dependem de tecnologias específicas para
que sejam bem-sucedidas. Por exemplo, medidas de precificação de
áreas delimitadas (cordon pricing) e com base na distância podem exigir
a instalação de OBUs em cada veículo para que a cobrança seja correta,
ou podem depender de câmeras ANPR para identificar os veículos sem
uma OBU. Outras tecnologias, como parquímetros e sensores inteligentes,
são usados para operar programas de estacionamento com base na
demanda. A falta de acesso a essas e outras tecnologias caras, como
sistemas inteligentes de transporte (ITS, na sigla em inglês para Intelligent
Transportation System), pode impedir a implementação bem-sucedida de
certas estratégias de GdM. Além disso, embora essas tecnologias possam
ajudar a automatizar os aspectos operacionais das estratégias, elas
apresentam custos monetários e podem gerar questionamentos sobre a
privacidade, o que poderia reduzir a aceitação pública.
Complexidades políticas
As complexidades políticas referem-se à viabilidade de projetar e
implementar determinada estratégia de GdM, dada a disposição política
atual e histórica de fazê-lo. Por exemplo, embora as estratégias com
cobranças possam ser atraentes do ponto de vista econômico, sua
aprovação tem sido difícil do ponto de vista político, porque certos
indivíduos e grupos têm resistido a pagar pelo que anteriormente era
gratuito. Estratégias sem cobranças também apresentam complexidades
políticas, conforme demonstraram as contestações judiciais de
motoristas parisienses após o prefeito impedir a circulação de veículos ao
longo do rio Sena172.
76 171 Congestion Pricing Should Use Apps, Not Cameras. 173 https://www.nlc.org/resource/making-space-congestion-pricing-in-cities/ 77
172 Paris Car Ban: Court Upholds Mayor Anne Hidalgo’s Plan. 174 The Potential of Road Pricing Schemes to Reduce Carbon Emissions.
CONTATO
INSTITUTO DE
POLÍTICAS DE TRANSPORTE E
DESENVOLVIMENTO
Tel.: + 1-212-629-8001
E-mail: mobilidade@itdp.org
Site: www.itdp.org