Zoologia de Moluscos E Artrópodes: Prof. Dr. Ricardo Lourenço de Moraes
Zoologia de Moluscos E Artrópodes: Prof. Dr. Ricardo Lourenço de Moraes
Zoologia de Moluscos E Artrópodes: Prof. Dr. Ricardo Lourenço de Moraes
E ARTRÓPODES
PROF. DR. RICARDO LOURENÇO DE MORAES
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Diretoria EAD:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof.a Dra. Gisele Caroline
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Novakowski
Primeiramente, deixo uma frase de
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
não vale a pena ser vivida.”
Diagramação:
Cada um de nós tem uma grande re- Alan Michel Bariani
sponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Thiago Bruno Peraro
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
e profissional, refletindo diretamente em nossa Revisão Textual:
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Felipe Veiga da Fonseca
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente
e busca por tecnologia, informação e conhec-
Luana Ramos Rocha
imento advindos de profissionais que possuam Marta Yumi Ando
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho. Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
De fato, a tecnologia e a comunicação Márcio Alexandre Júnior Lara
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Osmar da Conceição Calisto
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Gestão de Produção:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino
a Distância, a proporcionar um ensino de quali- Aliana de Araújo Camolez
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
ZOOLOGIA DE MOLUSCOS
E ARTRÓPODES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................. 4
1. FILOGENIA DO FILO MOLLUSCA...............................................................................................................................5
2. MORFOLOGIA GERAL DOS MOLUSCOS................................................................................................................... 7
2.1 O CORPO....................................................................................................................................................................11
2.2 A CONCHA DOS MOLUSCOS.................................................................................................................................. 12
2.3 CIRCULAÇÃO E TROCAS GASOSAS....................................................................................................................... 13
2.4 EXCREÇÃO E OSMORREGULAÇÃO........................................................................................................................ 13
2.5 SISTEMA NERVOSO E ÓRGÃOS SENSORIAIS..................................................................................................... 14
2.6 LOCOMOÇÃO........................................................................................................................................................... 15
2.7 ALIMENTAÇÃO E DIGESTÃO................................................................................................................................... 15
2.8 REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO................................................................................................................. 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................. 17
WWW.UNINGA.BR 3
ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Antes de iniciarmos o estudo desta unidade, vamos nos situar dentro da Biologia:
(1) lembre-se de que, para a manutenção e evolução da bio (vida), são necessárias algumas
“ferramentas” básicas à nutrição e ao equilíbrio bioquímico do organismo, além de características
reprodutivas que possibilitem que a espécie possa continuar existindo, apesar da grande
quantidade de predadores e de dificuldades que o ambiente pode impor; e que (2) a classificação
dos seres vivos organiza e facilita o estudo dos diferentes grupos, sendo que alguns grupos animais
já foram estudados no decorrer do seu curso e outros ainda serão.
Nesta apostila, você encontrará quatro unidades: as duas primeiras referem-se ao Filo
Mollusca, e as duas últimas ao Filo Arthropoda – os maiores grupos de invertebrados. Nos dois
casos, são apresentadas inicialmente a filogenia e as características morfológicas gerais dos grupos,
e então as características morfológicas específicas e ecológicas dos principais grupos de cada um
deles. Com essa organização, você será capaz de perceber o posicionamento filogenético de cada
WWW.UNINGA.BR 4
ENSINO A DISTÂNCIA
Protostômios e Deuterostômios
Diferenças do desenvolvimento entre protostômios e deuterostômios, e alguns filos representativos
PROTOSTÔMIOS DEUTEROSTÔMIOS
Clivagem espiral Clivagem radial
Nota: Alguns autores consideram os platelmintos acelomados (Platyhelminthes) como protostômios porque eles demonstram todas as
características do desenvolvimento dos últimos, exceção feita à ausência do celoma, ausência de um sistema nervoso circum-entérico e
ausência de ânus.
WWW.UNINGA.BR 5
ENSINO A DISTÂNCIA
Por mais diversificada que possa ser, até mesmo a vida tem suas limitações. O
termo “Bauplan” (do alemão “plano básico” ou “projeto”), empregado na zoologia,
refere-se ao conjunto de características de um grupo que confere estabilidade da
forma, e que é mantida através da evolução e nos táxons filogenéticos divergen-
tes. Somos capazes de definir a estrutura de um organismo, bem como de de-
screver os sistemas e órgãos que o compõem, o que nos aponta as capacidades
e limitações de determinado organismo. Há tarefas básicas de que todo ser vivo
necessita para manter-se vivo, e é nesse sentido que compreender o Bauplan de
um grupo ou espécie colabora com o nosso conhecimento sobre ele.
WWW.UNINGA.BR 6
ENSINO A DISTÂNCIA
O Filo Mollusca é um grupo monofilético com sete sinapomorfias (Figura 1) com um único
ancestral comum originando dois grupos: os Aculifera e os Conchifera. Dentro dos Aculifera,
se encontram os Aplacofora, chamados assim por não possuírem conchas calcárias, somente
espículas calcárias no manto. A rádula é uma característica simplesiomórfica em Mollusca, mas
se perde em Bivalvia. O grupo é constituído de seres filtrantes e a rádula perde sua função, o que
pode ter sido o motivo da perda dessa característica.
WWW.UNINGA.BR 7
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 2 – Molusco generalizado, com sistema circulatório aberto – diagrama para estudo. Estruturas genéricas: Ne-
frídios (para excreção e osmorregulação), Brânquias (ou Ctenídeos, relacionados às trocas gasosas), Rádula (forma-
da por dentes quitinosos, para raspar e cortar), Manto (espessa camada epidérmica-cuticular, que secreta o esqueleto
calcário – concha –, a forte musculatura promove locomoção – pé), Cavidade do manto (espaço entre a massa visce-
ral e o próprio manto e, em geral, abriga brânquias ou ctenídeos), Anel nervoso (conecta-se a fibras que enervam os
tentáculos, músculos e órgãos do sentido). Fonte: Hickman et al. (2016).
WWW.UNINGA.BR 8
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 3 – Anatomia da lula, em vista lateral, sistema circulatório fechado. Estruturas genéricas: Rim (para excreção
e osmorregulação), Brânquias (para trocas gasosas), Rádula (formada por dentes quitinosos, para raspar e cortar),
Figura 4 – Anatomia de caracol pulmonado, de sistema circulatório aberto, e massa visceral torcida. Estruturas
genéricas: Rim (para excreção e osmorregulação), Vasos pulmonados (trocas gasosas), Rádula (na boca, formada
por dentes quitinosos, para raspar e cortar), Manto (espessa camada epidérmica-cuticular, que secreta o esqueleto
calcário – concha –, a forte musculatura promove locomoção – pé), Gânglios cerebral e pedioso. Fonte: Hickman et
al. (2016).
WWW.UNINGA.BR 9
ENSINO A DISTÂNCIA
Latim bi , duplicado +
plax , placa + phora,
cabeça + pous , pé
Grego mono , um +
Monoplacophora
gaster , estômago
Polyplacophora
várias + gaster ,
Solenogastres
Grego kephale,
Caudofoveata
+ fovea , fossa
Cephalopoda
Grego gaster ,
Scaphopoda
Gastropoda
estômago
pous , pé
Bivalvia
portador
Classe
Marinhos, de
Marinhos, a Marinho, Marinhos,
Habitat
Cavidade do
Manto e Cavidade do
Com, e com
Com Com ou Sem Com Com Complexa Sem Com
bico
Grande com
Com
olhos
estatocisto, Rudimentar,
Cabeça
Rudimentar, complexos,
Reduzida Reduzida Distinta e pequena Reduzida olhos e 1 a 2 projeta-se na
sem olhos com braços ou
pares de abertura maior
tentáculos ao
tentáculos
redor da boca
Muscular
Forma um disco
Sem um pé rastejador
muscular ventral, Comprimido Modificado
Muscular e achatado, com (modificado em Quase
fraco, com 8 pares Ventral amplo lateralmente, centrado na
Pé
Quadro 3 – Características das Classes do Filo Mollusca, divididas em sete classes. Fonte: Brusca (2013) e Hickman
et al. (2016).
WWW.UNINGA.BR 10
ENSINO A DISTÂNCIA
Agora que você já tem alguma ideia das características gerais dos moluscos e
de alguns dos representantes deste fascinante grupo, assista à produção Origens
da Vida desenvolvida pela National Geographic, disponível em uma sequência de
seis vídeos que abordam o grupo desses animais incríveis (Partes 1 a 6, cada um
com aproximadamente 10 minutos). Neles você irá observar o funcionamento de
diversas estruturas, além da diversidade de espécies e modo de vida de alguns
representantes do Filo Mollusca. Parte 1, disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=io1fPFe_K_Q>.
2.1 O Corpo
WWW.UNINGA.BR 11
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 12
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 13
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 14
ENSINO A DISTÂNCIA
2.6 Locomoção
A maioria dos moluscos possui um pé notório, que pode conter um tipo de sola para
rastejar ventralmente, como em caramujos e lesmas. A sola possui cílios e glândulas que secretam
muco, permitindo que o animal deslize. Em gastrópodes, as glândulas pediosas são grandes e
secretam grande quantidade de muco, suprindo a necessidade de ambientes secos onde podem
habitar.
A contração do pé é, de fato, a principal forma de locomoção dos moluscos, horizontalmente
ou verticalmente. No entanto, há também o movimento por propulsão ciliar realizada por
pequenos moluscos, e a propulsão por jato de água realizada por cefalópodes.
WWW.UNINGA.BR 15
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 16
ENSINO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com maior popularidade de animais conhecidos como caracóis, lesmas, mexilhões, ostras,
lulas e polvos, moluscos apresentam uma grande diversificação, mas possuem características que
nos permitem agrupá-los com certa facilidade, como a presença de rádula, de pé muscular com
função locomotora e a secreção de concha. Com oito classes atuais, a filogenia é controversa,
como na maioria dos grupos de seres vivos, que neste caso inclui a possibilidade de terem
compartilhado um ancestral comum com os anelídeos e artrópodes. Mas os estudos continuam,
afinal não é tarefa simples inferir sobre o passado.
De grande maioria marinha, há também representantes terrestres, adaptados a diferentes
modos de vida. Diversos moluscos apresentam relevância socioeconômica, pois são vetores de
doenças, assim como também são fonte de renda e alimento para as diferentes classes econômicas
da sociedade humana, fato que remonta a tempos antigos.
WWW.UNINGA.BR 17
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
ZOOLOGIA DE MOLUSCOS
E ARTRÓPODES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 19
1. CLASSE CAUDOFOVEATA..........................................................................................................................................20
2. CLASSE SOLENOGASTRES....................................................................................................................................... 21
3. CLASSE MONOPLACOPHORA..................................................................................................................................22
4. CLASSE POLYPLACOPHORA....................................................................................................................................23
5. CLASSE GASTROPODA.............................................................................................................................................25
6. CLASSE BIVALVIA.....................................................................................................................................................28
7. CLASSE SCAPHOPODA............................................................................................................................................. 31
8. CLASSE CEPHALOPODA...........................................................................................................................................32
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................................................36
WWW.UNINGA.BR 18
ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Após abordarmos as características gerais de moluscos na Unidade 1, nesta unidade,
abordaremos algumas características específicas de cada uma das oito classes atualmente
indicadas como componentes do Filo Mollusca: Claudofoveata, Solenogastres, Monoplacophora,
Polyplacophora, Gastropoda, Bivalvia, Scaphopoda e Cephalopoda.
Nesta unidade, o objetivo é possibilitar que você possa compreender como as características
gerais do grupo refletiram no modo de vida e evoluíram para permitir que esse grupo apresentasse
a grande diversidade atual. Além disso, esperamos que você perceba a importância ecológica
desses animais, tanto do ponto de vista das relações ambientais que encontramos no meio
natural quanto do ponto de vista das relações ambientais estabelecidas com os seres humanos e
as modificações que causamos no meio ambiente.
Você irá conhecer mais detalhes sobre a forma e o desenvolvimento do corpo, a secreção
WWW.UNINGA.BR 19
ENSINO A DISTÂNCIA
1. CLASSE CAUDOFOVEATA
Os táxons Caudofoveata e Solonogastres (apresentados a seguir) anteriormente estavam
reunidos em uma única classe: a Aplacophora (FRANSOZO, 2017; HICKMAN et al., 2016).
Embora ambas possuam representantes que habitem profundidades marinhas de 200 metros a 3
mil metros, tenham corpo vermiforme e sejam desprovidos de concha, atualmente são agrupados
em duas classes irmãs distintas.
Esses animais apresentam coloração corpórea entre o marrom e o creme, e podem medir
de poucos milímetros a aproximadamente 14 centímetros. São cavadores e habitam substratos não
consolidados, nos quais constroem galerias verticais para si, para se posicionarem verticalmente,
mantendo uma extremidade (da cavidade do manto e das brânquias) para cima. Com rádula
reduzida e poucos dentes, alimentam-se de microorganismos e detritos.
Desprovidos de pé, seu manto forma um tubo cilíndrico. Com três regiões bem definidas
(anterior, posterior e mediana), seu corpo apresenta numerosas espículas alongadas – veja Figura
1. Na região posterior, é encontrada a cavidade do manto, que abriga um par de brânquias, ânus
Figura 1 – Exemplar de Caudofoveata. Corpo coberto por espículas alongadas. Indicadas as regiões anterior, poste-
rior e do tronco (mediana). Fonte: Fransozo (2017).
Família Limifossoridae
Família Prochaetodermatidae
Família Chaetodermatidae
Quadro 1 – Subclassificação da Classe Caudofoveata. Fonte: Fransozo (2017).
WWW.UNINGA.BR 20
ENSINO A DISTÂNCIA
2. CLASSE SOLENOGASTRES
Composto por cerca de 250 espécies, esta classe agrupa animais marinhos, geralmente
sem rádula e com pé não muscular representado por um sulco mediano ventral (sulco pedioso –
veja Figura 2) – a locomoção é feita por cílios. Também habitam o substrato, como caudofoveatas,
mas podem viver sobre e se alimentar de cnidários. Com corpos que variam de 1 milímetro a 30
centímetros de comprimento, são hermafroditas protândricos (produzem gametas masculinos
quando jovens e gametas femininos quando mais velhos), mas possuem fecundação interna.
Esses animais não possuem brânquias verdadeiras; ao invés disso, realizam suas trocas
gasosas por brânquias secundárias, formadas por pregas no manto, também chamadas de papilas
respiratórias. O sistema digestório de solenogastres não é dividido em compartimentos e o
alimento segue por um tubo digestório volumoso que termina em um tubo curto e simples. Na
região pericardial, células de ultrafiltragem realizam a função excretora, já que esses animais são
desprovidos de metanefrídios.
Ordem Pholidoskepia
Ordem Neomeniamorpha
Ordem Sterrofustia
Ordem Cavibelonia
Quadro 2 – Subclassificação da Classe Solenogastres. Fonte: Fransozo (2017).
WWW.UNINGA.BR 21
ENSINO A DISTÂNCIA
3. CLASSE MONOPLACOPHORA
Anteriormente considerada um táxon extinto, em 1952 foram encontrados espécimes
vivos no oceano Pacífico. São animais bentônicos, com rádula, com uma única concha, de simetria
bilateral e contorno arredondado, que podem medir até 4 centímetros, com pé grande e achatado,
e oito pares de músculos pediosos, boca anterior e ventral – veja Figura 3.
WWW.UNINGA.BR 22
ENSINO A DISTÂNCIA
4. CLASSE POLYPLACOPHORA
Figura 4 – Quíton muscoso, Mopalia muscosa. A superfície superior do manto, ou “cinturão”, é coberta com pelos e
cerdas, uma adaptação para defesa. Fonte: Hickman et al. (2016).
WWW.UNINGA.BR 23
ENSINO A DISTÂNCIA
Ordem Lepidopleurida
Ordem Ischinochitonida
Ordem Acanthochitonida
Quadro 3 – Subclassificação da Classe Solenogastres. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 24
ENSINO A DISTÂNCIA
5. CLASSE GASTROPODA
Esta classe constitui o grupo mais diversificado de moluscos. Com grande irradiação
adaptativa, diversos exemplares ocupam os mais variados habitats, de água doce, marinha
e terrestre, em ambientes arenosos ou lamosos, nos quais são capazes de se enterrar ou de
permanecer como plâncton. Há registros fósseis constantes desde o Cambriano, e a estimativa é de
que possuam quase 100 mil espécies, das quais mais de 70% são espécies viventes. De modo geral,
devido aos nomes das três subclasses que compõem Gastropoda, chamamos de prosobrânquios
lapas e búzios, de opistobrânquios lesmas-marinhas e lebras-do-mar, e de pulmonados lesmas e
caracóis terrestres e de água doce.
WWW.UNINGA.BR 25
ENSINO A DISTÂNCIA
A circulação de gastrópodes inclui coração, artérias, veias, seios venosos e uma rede
fina de lacunas capilarizadas; no entanto, como resultado da torção da concha, a aurícula direita
torna-se vestigial ou desaparece. Há gastrópodes com um ou dois metanefrídios, que se abrem
na cavidade pericárdica. Em geral, gastrópodes marinhos excretam amônia e os de água doce
podem liberar excretas nitrogenadas como amônia, ureia, ácido úrico e aminoácidos. Animais
das subclasses Prosobranchia e Opisthobranchia fazem suas trocas gasosas através de brânquias
que estão alojadas na cavidade do manto. Na subclasse Pulmonata, as trocas gasosas acontecem
graças à alta vascularização da cavidade do manto, que entra em contato com o ar por uma
abertura chamada pneumostômio, veja Figura 7.
WWW.UNINGA.BR 26
ENSINO A DISTÂNCIA
Subclasse Prosobranchia
Ordem Archaeogastropoda
Ordem Mesagastropoda
Ordem Neogastropoda
Subclasse Opisthobranchia
Subclasse Pulmonata
Ordem Archaeopulmonata
Ordem Basommatophora
Ordem Stylommatophora
Ordem Systellommatophora
Quadro 4 – Subclassificação da Classe Gastropoda. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 27
ENSINO A DISTÂNCIA
6. CLASSE BIVALVIA
Bivalves possuem duas conchas (valvas) mantidas unidas dorsalmente por um ligamento,
as valvas são aproximadas uma da outra por músculos adutores que, ao se contraírem, movem-nas
no sentido contrário ao movimento natural do ligamento, veja a Figura 8. Vivem em ambientes de
água doce, estuarinas e marinhos, desde a zona de entremaré até as profundezas, com tamanho
corporal que varia de 1 milímetro a 1 metro de comprimento. Em geral, são filtradores e dependem
da corrente criada pelo movimento de seus cílios para se alimentarem. Podem impulsionar seu
corpo com o fechamento abrupto das valvas em um tipo de natação por propulsão, ou podem
locomover-se com um movimento de “estica e puxa” utilizando o pé delgado. Esses animais não
possuem cabeça ou rádula e a cefalização é reduzida.
WWW.UNINGA.BR 28
ENSINO A DISTÂNCIA
As trocas gasosas ocorrem pelo manto e pelas brânquias; estas são geralmente modificadas
para auxiliar na alimentação e derivam de ctenídios primitivos. Em bivalves, o sistema nervoso
é formado por pares de gânglios que inervam a região cefálica, o manto e a área do pé; muitos
possuem filamentos sensoriais que saem da região do manto em forma de tentáculos, ocelos, ou
olhos (com uma córnea, uma lente, uma retina e uma camada pigmentar).
Especialmente nas famílias Pterridae (marinhas) e Anodontidae (de água doce) ocorre
a formação de pérolas quando um corpo estranho entra e fica alojado entre a concha e o manto.
O manto então reveste esse corpo com sucessivas camadas nacaradas, na tentativa de defender
o animal contra o corpo invasor, no entanto o crescimento exagerado desse revestimento (uma
grande pérola) prejudica o animal.
WWW.UNINGA.BR 29
ENSINO A DISTÂNCIA
Subclasse Protobranquia
Ordem Nuculida
Ordem Solemyida
Subclasse Lamellibranquia
Superordem Filibranchia
Superordem Eulamellibranchia
Ordem Paleoheterodonta
Ordem Veneroida
Ordem Myoida
Subclasse Anomalodesmata
Quadro 5 – Subclassificação da Classe Bivalvia. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 30
ENSINO A DISTÂNCIA
7. CLASSE SCAPHOPODA
Figura 10 – A concha dente-de-elefante, Dentalium (classe Scaphopoda). A. O animal enterra-se no lodo ou na areia
e se alimenta por meio dos tentáculos preênseis (captáculos). Correntes de água para a respiração são promovidas
por ação ciliar, entrando através da abertura na extremidade menor da concha e então expelida pela mesma abertura
por ação muscular. B. Anatomia interna de Dentalium. Fonte: Hickman et al. (2016).
WWW.UNINGA.BR 31
ENSINO A DISTÂNCIA
8. CLASSE CEPHALOPODA
Conhecidos como polvos, lulas e náutilos, esses animais representam a classe mais
especializada dos moluscos. São todos animais marinhos, bentônicos ou pelágicos e predadores
ativos. Possuem pé realmente bastante modificado, que forma uma espécie de funil que funciona
como sifão de água e prolonga-se até formar um círculo (ou coroa) de braços ou de tentáculos ao
redor da boca – um esquema corporal interno pôde ser observado na Unidade I, Figura 3. Esses
animais podem medir de 8 milímetros a 14 metros de comprimento e encontramse em um grupo
com cerca de mil espécies de cefalópodes viventes, dos quais uma grande variedade pode ser
encontrada na região do Indo-Pacífico.
Na subclasse Coleoidea, octópodes (polvos) apresentam cabeça simples e arredondada,
Cefalópodes são dioicos. Um dos braços nos machos adultos é utilizado para pegar o
espermatóforo armazenado em sua própria cavidade e depositar na cavidade do manto da fêmea,
próximo ao oviduto, veja Figura 11. Os ovos fecundados são anexados a outros objetos, como
pedras, de onde juvenis eclodem, sem fase larval livre-natante. Enquanto alguns octópodes
cuidam dos ovos, fêmeas de náutilo-de-papel secretam uma cápsula (uma “concha”) na qual os
ovos se desenvolvem.
WWW.UNINGA.BR 32
ENSINO A DISTÂNCIA
Veja você mesmo um pouco das habilidades que um corpo mole, mas musculo-
so, aliado à capacidade de aprendizado, é capaz de realizar. Disponível no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=_oDVFZSubUE>.
WWW.UNINGA.BR 33
ENSINO A DISTÂNCIA
Polvos perderam completamente sua concha. Lulas e sibas possuem uma pequena concha
interna envolvida pelo manto e constituem os endococleados (com concha interna), já os náutilos
são ectococleados (com concha externa), veja Figura 12. A concha em nautiloides é enrolada,
porcelanosa por fora e nacarada por dentro; e, diferentemente da concha de gastrópodes, é
formada por uma série de câmaras, separadas internamente umas das outras, mas conectadas
por um cordão de tecido nervoso (sifúnculo). Embora pareçam pesadas, as câmaras da concha se
enchem de gás e auxiliam na flutuação; nela o corpo do animal ocupa apenas a última câmara, a
mais recente.
WWW.UNINGA.BR 34
ENSINO A DISTÂNCIA
Subclasse Nautiloidea
Subclasse Coleoidea
Ordem Sepioida
Ordem Teuthoida
Ordem Octopoda
Ordem Vampyromorpha
Quadro 6 – Subclassificação da Classe Cephalopoda. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 35
ENSINO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
WWW.UNINGA.BR 36
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
03
DISCIPLINA:
ZOOLOGIA DE MOLUSCOS
E ARTRÓPODES
ARTRÓPODES: FILOGENIA E
MORFOLOGIA GERAL
PROF.A DR. RICARDO LOURENÇO DE MORAES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................39
2.1 O CORPO...................................................................................................................................................................45
2.1.1 EXOESQUELETO.....................................................................................................................................................46
2.1.2 APÊNDICES........................................................................................................................................................... 47
2.3 CRESCIMENTO........................................................................................................................................................48
WWW.UNINGA.BR 37
2.5 EXCREÇÃO E OSMORREGULAÇÃO.......................................................................................................................50
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 54
WWW.UNINGA.BR 38
ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
A evolução da vida é realmente algo incrível. Pequenas diferenças, com o passar de
milhares de anos, ao longo de milhares de gerações, tornam-se grandes diferenças, caracterizam
grupos e determinam o modo de vida de milhares de espécies distintas.
Do grego Arthron, “articulação”, e podos, “pés”, o termo artrópodes se refere essencialmente
à presença de articulação em apêndices corporais que realizam a locomoção e a comunicação
com o meio ambiente no qual o animal está inserido. Artrópodes representam mais de 60% de
todas as espécies de seres vivos descritas no planeta Terra e cerca de 80% de toda a diversidade
animal. Artrópodes habitam os mais variados habitats, e os representantes incluem os crustáceos
de ambientes aquáticos, insetos, aranhas, escorpiões, centopeias, lacraias e muitos outros animais
conhecidos por qualquer ser humano. Hickman et al. (2016) nos apresentam sua reflexão sobre
o processo evolutivo do grupo:
WWW.UNINGA.BR 39
ENSINO A DISTÂNCIA
Segundo Brusca (2013) e Hickman et al. (2016), atualmente temos uma classificação mais
amplamente aceita composta por: subfilos Trilobitomorpha; Crustacea; Hexapoda; Myriapoda;
Cheliceriformes. Hickman et al. (2016) ainda nos apresentam um cladograma das prováveis
relações evolutivas de características presentes em cada um deles, conforme Figura 1.
WWW.UNINGA.BR 40
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 41
ENSINO A DISTÂNCIA
No Quadro 2, temos um resumo das principais características gerais dos animais que
pertencem ao Filo Arthropoda, segundo Brusca (2013). Além disso, diversas estruturas externas
e internas podem ser observadas nas Figuras 2 e 3, apresentadas na sequência.
WWW.UNINGA.BR 42
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 43
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 3 – Anatomia interna de dois insetos comuns, barata e gafanhoto. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 44
ENSINO A DISTÂNCIA
2.1 O Corpo
Artrópodes possuem corpo segmentado e recoberto por um rígido exoesqueleto. É a
presença de membranas intersegmentares e articulações que dão flexibilidade ao corpo dos
artrópodes. A maioria dos segmentos (somitos) do corpo tem 1 par de apêndices (raramente
2), que podem ser unirramados ou birramados (estes termos serão mais bem abordados no
tópico 2.1.2), veja as Figuras 4 e 5. O corpo dos artrópodes é uma hemocele aberta, com os
órgãos banhados no fluido hemocelomático, ou sangue. O corpo é revestido por uma cutícula
(em camadas), que é secretada pela epiderme, e cada segmento do corpo (somito) está envolto
por placas esqueléticas chamadas de escleritos. As pernas e asas desses animais articulam-se na
região pleural, em áreas não esclerotizadas (não endurecidas). Os apêndices sofreram incontáveis
modificações e podem exercer diversas funções.
Os somitos e os apêndices formam tagmas, como, por exemplo, cabeça, tórax e abdômen,
em um processo denominado tagmose, e são especializados em certas funções, de acordo com o
grupo de artrópodes analisado.
WWW.UNINGA.BR 45
ENSINO A DISTÂNCIA
2.1.1 Exoesqueleto
Artrópodes possuem exoesqueleto cuticular secretado pela epiderme subjacente com
quitina e proteínas com graus variáveis de calcificação por sais de cálcio, como o carbonato e o
fosfato. É o exoesqueleto rígido que fornece a sustentação ao corpo, além de ponto de apoio para
a musculatura (apódema). Para a dureza da cutícula, as proteínas devem passar por um processo
conhecido por tanização. Assim, há três camadas que compõem o exoesqueleto: a epicutícula
(proteína e lipídios, com função protetora), a endocutícula (quitina e proteína, com função de
flexibilidade) e a exocutícula (quitina e proteína tanizada, com função de dureza); no entanto,
existem diferentes tipos de exoesqueleto de acordo com o habitat em que os animais vivem.
A rigidez do esqueleto impõe que o crescimento ocorra pelo processo de mudas periódicas
(ecdise) – veremos mais detalhes a seguir –; assim, o crescimento externo do animal fica restrito à
troca de exoesqueleto. O enrijecimento do novo exoesqueleto varia de acordo com a espécie e, até
ser concluído, o animal fica vulnerável a predadores e ao estresse osmótico, já que não tem “sua
armadura” ou a camada de cera para protegê-lo da perda de água, por exemplo.
A cutícula teve forte influência na vantagem evolutiva de artrópodes, pois os protege
de lesões, predadores e estresse osmótico, e ainda possibilita o recebimento de informações
provenientes do ambiente, como veremos ao falarmos dos apêndices.
WWW.UNINGA.BR 46
ENSINO A DISTÂNCIA
2.1.2 Apêndices
Figura 6 – Dois caracteres importantes dos artrópodes: os apêndices podem ser unirremes (perna de uma abelha) ou
birremes (membros de uma lagosta); as peças bucais podem incluir quelíceras (aranha) ou mandíbulas (gafanhoto).
Note que a presença/ausência de brânquias não está relacionada com a forma do apêndice. Fonte: Hickman et al.
(2016).
WWW.UNINGA.BR 47
ENSINO A DISTÂNCIA
A grande diversidade observada nos apêndices dos artrópodes surgiu pelo poten-
cial exclusivo dos genes homeobox (Hox), e outros genes de desenvolvimento, e
a cadeia de genes regulados por eles, que, embora sejam conservativos, são flex-
íveis em sua expressão. Então, qual seria a capacidade de um único gene em in-
fluenciar na diversidade de espécies ao longo da evolução? Atualmente, sabemos
que o desenvolvimento de apêndices é influenciado, em particular, pelos genes
Distalless (Dll) e Extradenticle (Exd), que são independentes entre si e podem ou
não ser expressos, durante toda a vida ou parte do ciclo de desenvolvimento dos
animais. Dll é um gene antigo que ocorre em muitos táxons animais, mas sua
manifestação é tão diversa quanto seu alto potencial em contribuir com a diversi-
dade da vida.
Sugerimos que assista a este vídeo para observar a variedade dos tipos de asas em
insetos. Disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=5q3CRH69snk>.
2.3 Crescimento
A muda é um fenômeno característico dos artrópodes e de alguns outros invertebrados
– no entanto, esta não é tida como uma característica homóloga, embora já tenha sido sugerida.
A rigidez do esqueleto impõe que o crescimento ocorra pelo processo de mudas periódicas, que
são controladas pelo hormônio ecdisona; por essa razão, é conhecida como ecdise. Durante
os estágios de intermuda, denominados instares, ocorre o crescimento real dos tecidos dos
artrópodes até o corpo “preencher” seu envoltório de exoesqueleto. Com a secreção de enzimas
que fazem a digestão de parte da antiga, separa-se o exoesqueleto da epiderme do animal, até que
este possa se libertar do velho exoesqueleto, chamado de exúvia – veja Figura 7.
WWW.UNINGA.BR 48
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 7 – Sequência da muda na lagosta Homarus americanus. A. Ruptura da membrana entre a carapaça e o abdô-
men e o início de uma lenta elevação da carapaça. Esse passo pode consumir duas horas. B. e C. Liberação da cabeça,
tórax e, finalmente, do abdômen. Esse processo, em geral, toma não mais do que 15 minutos. Imediatamente após a
ecdise, os quelípodes estão desidratados e o corpo é muito mole. A lagosta continua a absorver água rapidamente de
maneira que, em 12 horas, o corpo aumenta 20% em comprimento e 50% em peso. A água dos tecidos será substitu-
ída por proteínas nas semanas subsequentes. Fonte: Hickman et al. (2016).
Em cada grupo, o animal liberta-se por linhas específicas que se abrem e pelas quais o
animal pode sair. Durante o processo de muda, uma nova cutícula está sendo secretada e, ao
Figura 8 – Crescimento comparado entre artrópodes e não artrópodes. A linha contínua grossa indica o padrão de
crescimento de um artrópode, no qual é considerado o tamanho externo do animal, associado às mudas. A linha
tracejada indica o crescimento real dos tecidos do artrópode. A linha cinza representa o crescimento típico de um
não artrópode. Fonte: Brusca (2013).
WWW.UNINGA.BR 49
ENSINO A DISTÂNCIA
E, por essa razão, são um reflexo da quantidade de água disponível no ambiente e do tamanho do
corpo do animal.
Artrópodes aquáticos possuem brânquias, outros artrópodes aquáticos de pequeno porte
realizam as trocas gasosas por uma fina cutícula. As formas terrestres, em geral, retiram o oxigênio
do ar por pulmões foliáceos, traqueias, ou túbulos em apêndices abdominais.
Com sistema circulatório aberto, o sangue (hemolinfa) é drenado do coração por meio
de pequenos vasos até o hemocelo (espaços nos tecidos preenchidos por sangue), no qual são
irrigados os órgãos internos. O sangue retorna pelo seio pericárdico e entra no coração por
aberturas denominadas óstios. O sangue contém amebócitos e pigmentos respiratórios de natureza
proteica, hemocianina e, mais raramente, hemoglobina. Veja, na Figura 9, a representação do
sistema circulatório de um inseto.
WWW.UNINGA.BR 50
ENSINO A DISTÂNCIA
Os túbulos de Malpighi são estruturas excretoras que surgem como túbulos de fundo
cego que se estendem para dentro da hemocele a partir da parede do trato digestivo, retirando
excretas, água, sais e nutrientes do hemocélio e lançando-os diretamente no estômago, onde
porções aproveitáveis são absorvidas e a concentração da urina é aumentada. Túbulos de Malpighi
estão presentes em quatro grupos de artrópodes terrestres: aracnídeos, miriápodes e insetos
(assim como tardígrades).
Túbulos de Malpighi são túbulos com fundo cego que se abrem no intestino da
grande maioria dos insetos e de alguns miriápodes e aracnídeos, e funcionam
essencialmente como órgãos excretores. Brusca (2013) aborda com mais detal-
hes o tema, e dá a chance de você explorar o livro sobre esse assunto utilizando
o índice alfabético (no final do livro, com a indicação das páginas onde o termo
é abordado), algo realmente útil em livros com grande quantidade de conteúdo,
co-mo livros de Zoologia. Aprofunde seus conhecimentos sobre os Túbulos de
WWW.UNINGA.BR 51
ENSINO A DISTÂNCIA
Artrópodes têm uma ótima percepção do que acontece no ambiente. Apresentam órgãos
sensoriais que vão desde olhos compostos (em mosaico) até aqueles relacionados com o tato, o
olfato, a audição, o equilíbrio e a recepção química. Há uma variedade de estruturas cutâneas, em
forma de cerdas, espinhos e cavidades – os exteroceptores – que possibilitam a comunicação com
o meio ambiente. Além disso, artrópodes podem apresentar três tipos de fotorreceptores: ocelos
simples, ocelos complexos com lentes e olhos compostos ou facetados. Os olhos compostos de
artrópodes são formados por unidades fotorreceptoras denominadas omatídeos, sendo que cada
uma delas tem o próprio campo visual e é alimentada por um nervo óptico próprio conectado ao
nervo principal – alguns artrópodes podem conter milhares de omatídeos.
WWW.UNINGA.BR 52
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 53
ENSINO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como você já deve ter percebido a esta altura, a filogenia dos grupos é um processo
em constante aperfeiçoamento. As diferentes evidências que surgem da descoberta de fósseis, de
análises moleculares, de análises funcionais de estruturas corpóreas e demais estudos exigem que
adequemos nossa linha de pensamento e reorganizemos a classificação dos seres vivos na busca
pela verdade histórica da evolução da vida em nosso planeta.
Em grupos diversificados, como é o caso dos artrópodes, é importante que nos
mantenhamos críticos ao que já é aceito como fato científico, sem nos privar de imaginar novas
possibilidades que sejam capazes de explicá-lo – como citado quanto ao parentesco provável de
artrópodes, onicóforos, tardígrades e anelídeos, ou ainda, quanto à expressão dos genes Dll e Exd.
O crescimento externo do corpo por meio de mudas é característica dos artrópodes, mas
em cada grupo a abertura do exoesqueleto que será descartado se dá de acordo com a espécie.
WWW.UNINGA.BR 54
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
04
DISCIPLINA:
ZOOLOGIA DE MOLUSCOS
E ARTRÓPODES
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................56
1. SUBFILO CHELICERIFORMES.................................................................................................................................. 57
1.1 “TEIAS” DAS ARANHAS E SEU ACASALAMENTO..................................................................................................60
2. SUBFILO MYRIAPODA..............................................................................................................................................60
3. SUBFILO CRUSTACEA...............................................................................................................................................62
4. SUBFILO HEXAPODA................................................................................................................................................66
5. SUBFILO TRILOBITOMORPHA................................................................................................................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................. 73
WWW.UNINGA.BR 55
ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Agora, com conhecimentos gerais acerca do grupo, nesta última unidade, podemos
avançar em nossos estudos e nos aprofundar nas especificidades de cada um dos subfilos:
Cheliceformes, Myriapoda, Crustacea, Hexapoda e Trilobitomorpha.
De modo geral, artrópodes são vetores de diversas doenças causadas nos humanos por
vírus, bactérias e protozoários. Há ainda outras relações negativas com a humanidade, como
acidentes com artrópodes venenosos, destruição de plantações por ataque direto (pragas) ou
transmissão de doenças às plantas. No entanto, esses animais também são indispensáveis para
polinização natural, para realização do controle de pragas em plantações (controle biológico) e,
ainda, como fonte de toneladas de proteína animal utilizada pelos humanos na alimentação, o
que faz bilhões de dólares girarem na economia anualmente.
Ácaros, por exemplo, estão entre os principais transmissores de doenças, pois carregam
WWW.UNINGA.BR 56
ENSINO A DISTÂNCIA
1. SUBFILO CHELICERIFORMES
Quelicerados, com registros que datam de mais de 445 milhões de anos, incluem aranhas,
carrapatos, ácaros, escorpiões e outros grupos que incluem euriptéridos já extintos. Sem antenas
e com corpos formados por dois tagmas (um cefalotórax e um abdômen), apresentam seis
pares de apêndices no cefalotórax, incluindo um par de quelíceras (peças bucais), um par de
pedipalpos e quatro pares de apêndices locomotores. Outra característica desse grupo é a forma
de alimentação, que envolve a sucção dos tecidos de suas presas. Brusca (2013) nos traz um
resumo das principais características de quelicerados, veja o Quadro 3.
Límulos são verdadeiros “fósseis vivos”, dizem os especialistas. Estudos que vis-
am compreender como ess’es animais permaneceram vivos e com características
tão similares às apresentadas por seus ancestrais mais primitivos não param.
Para conhecer um pouco sobre esses animais e os estudos que os envolvem, veja
o vídeo disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=ycmARS9LLeE>.
WWW.UNINGA.BR 57
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 58
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 59
ENSINO A DISTÂNCIA
2. SUBFILO MYRIAPODA
Os miriápodes são artrópodes terrestres, com o corpo alongado formado por segmentos
com um ou dois pares de pernas. São facilmente reconhecíveis pelo grande número de pernas
e um tronco não diferenciado em tagmas distintos (tronco e abdômen), como ocorre com os
hexápodes. Com cerca de 17 mil espécies conhecidas, esse grupo ocorre na maior parte do planeta,
com maior diversidade nos trópicos ou em regiões temperadas quentes. Possuem tamanhos que
variam de 2 a 13 centímetros na maior parte das espécies, embora algumas exceções possam
chegar a ter mais de 30 centímetros de comprimento.
WWW.UNINGA.BR 60
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 61
ENSINO A DISTÂNCIA
3. SUBFILO CRUSTACEA
Em meio às espécies mais conhecidas, como as de caranguejos, camarões, lagostins e
tatuzinhos-de-jardim, são conhecidas mais de 67 mil espécies de crustáceos. Dentre os animais
com maior diversidade em designs corporais, os crustáceos ocupam uma enorme variedade de
habitats, fato garantido pela capacidade inerente de tagmatização (especialização de segmentos
para diferentes funções) dos crustáceos e a posse de segmentos no corpo e de apêndices
especializados. Encontramos crustáceos das regiões equatoriais às polares ao redor de todo
o globo, de regiões costeiras ao fundo dos oceanos mais profundos, de estuários aos costões
rochosos, de cavernas subaquáticas às águas continentais, em relação simbiótica com outros
animais e, inclusive, no ambiente terrestre, embora os crustáceos não tenham tantas adaptações a
esse meio, como outros artrópodes. São os únicos artrópodes com dois pares de antenas, e todos
seus apêndices são birremes (com exceção provável às primeiras antenas). Veja no Quadro 3,
apresentado por Brusca (2013), as principais características desse subfilo.
WWW.UNINGA.BR 62
ENSINO A DISTÂNCIA
Hickman et al. (2016) nos apresentam um cladograma com as principais relações entre
os grupos dentro de Crustacea e, ainda, com Hexapoda – veja a Figura 5. Os tagmas não são
homólogos a Crustacea ou entre suas classes, isso porque segmentos diferentes fundiram-se e
formaram a cabeça ou o cefalotórax.
Do mesmo modo que outros artrópodes, os crustáceos apresentam o corpo segmentado,
ou seja, composto por seções repetidas linearmente, mas diferem por possuírem apêndices
birremes. O plano do corpo dos crustáceos dispõe de um número variável de somitos, desde oito
em Ostracoda até 42 em Branchiopoda. Em geral, o corpo dos crustáceos possui, no mínimo,
dois tagmas: cabeça com cinco segmentos (com ou sem um escudo cefálico ou “carapaça”) e o
tronco multissegmentado (número de segmentos varia conforme a classe). A parte anterior do
tronco é chamada de tórax (péreon) e a posterior, abdômen (pléon); no entanto, na maioria dos
crustáceos, um ou mais segmentos torácicos estão fundidos à cabeça e formam o cefalotórax –
veja Figura 6.
Na Figura 6, ainda podemos observar que os músculos estriados estão presentes em
grande parte do corpo dos crustáceos, arranjados, em geral, em grupos antagônicos (flexores e
extensores). O abdômen dos lagostins possui poderosos flexores, importantes para a explosão de
velocidade durante a fuga de predadores.
Em geral, crustáceos apresentam dois pares de antenas (antênulas e antenas), ocelos e
olhos compostos, dois pares de maxilas (maxílulas e maxilas), glândulas antenais ou maxilares
(nefrídios excretores) e estágio larval náuplio (com exceções, por exemplo, em caranguejos,
ermitões, lagostas, lagostins, tatuíra, entre outros). Malacostraca é o maior grupo em crustáceos,
e seu plano corporal típico, de uma cabeça com cinco segmentos fundidos, um tórax com oito
segmentos e um abdômen com seis (sete em algumas espécies), demonstra um plano ancestral
nessa classe.
WWW.UNINGA.BR 63
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 64
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 65
ENSINO A DISTÂNCIA
4. SUBFILO HEXAPODA
O subfilo Hexapoda recebe este nome pela presença de seis pernas, todas unirremes. Os
hexápodes têm três tagmas (cabeça, tórax e abdômen), e o subfilo é dividido em duas classes:
Entognatha e Insecta. Veja o cladograma apresentado por Hickman et al. (2016) na Figura 8.
Entognatha agrupa espécies com as bases das peças bucais encerradas dentro de uma
cápsula cefálica; diferentemente de Insecta, que agrupa animais com peças bucais ectognatas,
ou seja, bases das peças bucais fora da cápsula cefálica. Entognatos são divididos em três ordens:
Protura, Collembola e Diplura, animais muito pequenos, que podem passar despercebidos.
WWW.UNINGA.BR 66
ENSINO A DISTÂNCIA
WWW.UNINGA.BR 67
ENSINO A DISTÂNCIA
Hexápodes possuem plano corporal básico com cabeça, tórax e abdômen: no tórax,
apresentam três pares de pernas; no abdômen, não apresentam apêndices locomotores. Para a
locomoção, feita por pernas, os hexápodes dependem da sustentação do exoesqueleto. Para evitar
que uma perna interfira no movimento da outra, uma forma de locomoção comumente adotada
pelos insetos é a sequência alternada de tripé: enquanto, de um lado do corpo, há duas pernas
tocando o chão, no outro, há apenas uma das pernas, alternando-as enquanto o movimento
ocorre.
Os insetos foram os primeiros seres vivos a voar, e são os únicos invertebrados a fazê-
lo. A maioria dos insetos possui dois pares de asas, mas há três ordens nas quais as asas foram
reduzidas a apenas um par: em besouros, dípteros e estrepsípteros. Em insetos modernos, as
asas se desenvolveram como evaginações do tegumento e finas membranas de cutícula, que, pela
ação combinada de músculos direta e indiretamente envolvidos com o voo, tornam esses animais
capazes de viajar através do ar.
Asas podem ser finas e membranosas (moscas), grossas e duras (asas anteriores dos
besouros), coriáceas (asas anteriores de gafanhotos), cobertas por finas escamas (borboletas e
mariposas), ou cobertas por pelos (tricópteros). O movimento das asas é controlado por músculos
diretos de voo, ligados diretamente a uma parte da asa; e músculos indiretos de voo, que não
estão ligados à asa e provocam o movimento da asa ao alterar a forma do tórax – veja Figura 9.
WWW.UNINGA.BR 68
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 9 – A. Musculatura de voo de insetos como a barata, nos quais a elevação das asas dá-se por meio da muscu-
latura indireta e o abaixamento pela musculatura direta. B. Em insetos como moscas e abelhas, tanto o movimento
para cima como para baixo é dado pela musculatura indireta. C. O padrão de figura em “8” seguido pela asa de um
inseto em voo durante a elevação e o abaixamento das asas. Fonte: Hickman et al. (2016).
Figura 10 – Estrutura interna de uma fêmea de gafanhoto. Fonte: Hickman et al. (2016).
O sistema digestivo apresenta boca com glândulas digestivas, esôfago, papo para
armazenagem e moela para maceração em alguns insetos, além de estômago e cecos gástricos,
e ainda intestino, reto e ânus. Embora parte da digestão possa ocorrer no papo, a absorção é
realizada no mesênteron.
Muitos insetos são parasitas na fase adulta, na larval ou, em alguns casos, em ambas as
fases – como pulgas e piolhos, respectivamente. Mas, em sua maioria, os insetos são fitófagos ou
herbívoros (alimentam-se de fluidos e tecidos vegetais) e, em geral, podem comer quase qualquer
planta. Há lagartas de mariposas e borboletas que comem somente folhas de plantas específicas,
há algumas espécies de formigas e cupins que cultivam fungos para se alimentar. Ainda, há
besouros e larvas de insetos que são saprófagos (alimentam-se de animais mortos), e outros são
insetos predadores, que capturam e comem outros insetos e animais.
WWW.UNINGA.BR 69
ENSINO A DISTÂNCIA
Insetos mais primitivos apresentam desenvolvimento direto, mas insetos mais avançados
apresentam desenvolvimento indireto complexo, com formas realmente distintas entre larva,
pupa e adulto. Não há dúvidas de que o desenvolvimento indireto é uma característica derivada
(recente, contrária de “basal”, que se refere à primitiva).
A partenogênese é mais comum em animais que vivem em ambientes extremos, mas
em geral são dioicos. A partenogênese pode envolver a determinação sexual, como em abelhas,
vespas e formigas, nas quais ovos diploides (fertilizados) se tornam fêmeas, e haploides (não
fertilizados) se tornam machos.
Insetos maduros sexualmente são chamados de imagos, e a cópula e inseminação, em
geral, são diretas – processo que apresenta uma grande diversificação de comportamentos de
corte, de acordo com a espécie, de cópula durante o voo, liberação de espermatozoides no solo à
perfuração do corpo da fêmea. É comum que, na reprodução, ocorra atração química ou visual,
envolvendo feromônios, exibição, estimulação tátil, cantos, pulsos luminosos ou longos rituais.
Os ovos são cobertos por uma membrana espessa denominada córion, e secreções
fornecem endurecimento e capacidade adesiva aos ovos. Insetos geralmente depositam uma
grande quantidade de ovos de uma única vez, mas animais como a barata envolvem vários ovos
em um casulo protetor.
Em geral, emergem dos ovos animais com pouca variação em relação aos adultos;
este desenvolvimento é denominado simples. Mas há animais que apresentam uma série de
modificações em seu desenvolvimento (metamorfoses). Se as metamorfoses forem radicais, o
desenvolvimento é conhecido como holometábolo, mas se forem graduais, são chamamos de
desenvolvimento hemimetábolo (veja as Figuras 10 e 11 na unidade anterior).
Durante o estágio de pupa, o animal não se alimenta e mal se move, e consome as reservas
de energia acumuladas ao longa da vida, geralmente enquanto ingeriam uma grande quantidade
de alimento, como as lagartas fazem com folhas.
5. SUBFILO TRILOBITOMORPHA
Sobre estes extintos artrópodes, dos quais conhecemos cerca de 4 mil espécies, podemos
afirmar que tinham tamanho variado de alguns poucos a mais de 70 centímetros de comprimento
– veja Figura 11. Viveram em praticamente todos os mares e oceanos entre 250 e 542 milhões de
anos atrás (Era Paleozoica), fato amplamente registrado graças ao esqueleto biomineralizado por
quitina, proteínas e carbonato de cálcio desses animais, que permaneceram fossilizados.
WWW.UNINGA.BR 70
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 11 – Variação da dimensão de carapaças de diferentes trilobites, incluindo formas milimétricas (Agnóstida)
até formas gigantes (Isotelus rex), com mais de 70 cm de comprimento. Fonte: Fransozo (2017).
WWW.UNINGA.BR 71
ENSINO A DISTÂNCIA
Figura 12 – Morfologia geral da carapaça de trilobites. Corpo trilobado longitudinalmente e segmentado transver-
salmente. À esquerda um Burmeisteria (Phacopida), Polimerada, do Devoniano da Bacia do Paraná, Brasil, e à direita
um Agnostida, Miomerida, do Cambriano. Fonte: Fransozo (2017).
WWW.UNINGA.BR 72
ENSINO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, há diversos fatos interessantes sobre os subfilos de Artropoda. Por exemplo,
a classe que agrupa os aracnídeos talvez seja a que mais desperta medo, embora apenas uma
pequena parte represente perigo real. As estruturas que nos aterrorizam (ferrões, presas, pinças e
glândulas de veneno) são apêndices modificados. Em Arachnida, estão agrupados aranhas,
escorpiões e ácaros, animais com estruturas corporais bastante diversificadas umas das outras.
De animais que parecem verdadeiros fósseis vivos aquáticos, como os limulus, às
adoradas joaninhas (ladybug, em inglês, inspiração atual de um desenho animado de sucesso),
dotadas de capacidade de voo, passando por centopeias, lacraias, carrapatos, ácaros, moscas,
cigarras, escorpiões, aranhas e opiliões, artrópodes habitam praticamente todo o globo terrestre,
especialmente as áreas mais quentes do planeta – e ainda possuem um importante representante
já extinto, os trilobitas.
Embora o exoesqueleto tenha, sem dúvida, sido um grande marco do sucesso evolutivo
WWW.UNINGA.BR 73
ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
BRUSCA, R. C. Invertebrados. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
HICKMAN, C. P. et al. Princípios integrados de zoologia. 16. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2016.
WWW.UNINGA.BR 74