Unidade 1: Teoria Geral Do Direito: Prof. Me. Mauro Campello
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Unidade 1:
1. Introdução:
Não podemos estudar o Direito sem ter dele uma noção preliminar. Para os
olhos do homem comum o Direito é lei e ordem. Entretanto, o cientista do direito para
realizar sua pesquisa sobre o Direito, avança uma hipótese, conjetura uma solução
provável, sujeitando-a a posterior verificação.
Segundo o jusfilósofo Miguel Reale, o Direito é:
“Um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças
ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros.”
Logo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se conforme o
Direito. Observa-se que o conceito de Direito exige um comportamento cuja direção,
ligação e obrigatoriedade estejam de acordo com as regras (considerado lícito).
A palavra lei, etimologicamente, refere-se a ligação, liame, laço, relação, o
que se completa com o sentido nuclear de “jus”, que invoca a ideia de jungir, unir, ordenar,
coordenar.
Conclui-se que o Direito corresponde uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e
solidariedade.
1 - Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima. Foi Promotor de Justiça no Estado de Rondônia e advogado no Rio
de Janeiro. Professor efetivo no Curso de Direito do Instituto de Ciências Jurídicas da UFRR e nos Cursos de Direito da Faculdade
Cathedral e UNAMA. Foi professor nos Cursos de Direito das Faculdades Integradas Estácio de Sá (RJ), da Universidade Federal de
Rondônia, Faculdade Atual (RR), do Centro Universitário Estácio da Amazônia (RR) e da UERR. Lecionou nas Pós-graduações Lato
sensu em Direito da Criança e do Adolescente da UERJ, em Direito Processual Civil da (Estácio de Sá/RJ) e em Direito Público
(UERR). Pós-doutor em Direito pela Università degli Studi di Messina (ITA), doutorando em Direito pela UERJ, mestre em Sociedades e
fronteiras pela UFRR e especialista em Direito de Família pela Universidade Gama Filho (RJ), em Violência doméstica contra crianças
(USP) e Analista Internacional pela UFRJ. Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Direito da UERJ (PPGD). Prêmio
Sócioeducando 2ª edição do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância em 1999. Finalista do I Prêmio Innovare: O
Judiciário do Século XXI, categoria Juiz individual, com o programa Centro Sócio-educativo Homero Filho.
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1a. Edição
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Há uma correlação entre o Direito como fato social e o Direito como ciência.
4. Divisão do Direito:
Segundo Miguel Reale, a primeira divisão que se encontra na história da
Ciência do Direito foi feita pelos romanos entre Direito Público e Privado, segundo o
critério da utilidade pública ou particular da relação, sobretudo a partir da obra de Ulpiano
(Digesto, 1.1.1.2) no trecho: Publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat,
privatum, quod ad singulorum utilitatem.
Então, o Direito objetivo foi dividido em duas grandes classes: Direito Público
e Direito Privado.
Mas será que ainda prevalece essa distinção fundada na contraposição
entre a utilidade privada e a pública, tendo em vista que atualmente tem crescido a
interferência dos Poderes Públicos visando proteger a universalidade dos indivíduos? Há
uma interferência avassaladora do Estado, o que se denominou de “publicização” ou
“socialização” do Direito. Esse fenômeno garante a ideia da prevalência do interesse
público sobre o privado.
Mesmo nesse novo contexto, Reale defende que a distinção dicotômica do
Direito apresentada por Ulpiano ainda se impõe, claro que com algumas alterações
fundamentais da teoria romana, que como visto, levava em conta apenas o elemento do
interesse da coletividade ou dos particulares.
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Reale propõe uma nova distinção entre Direito Público e Direito Privado,
baseada em duas maneiras, uma atendendo ao conteúdo e outra com base no elemento
formal.
a) Quanto ao conteúdo ou objeto da relação jurídica:
Quando é visado imediata e prevalecentemente o interesse geral, o Direito é
público. Quando imediato e prevalecente o interesse particular, o Direito é privado.
b) Quanto à forma da relação:
Se a relação é de coordenação, trata-se, geralmente, de Direito Privado. Se
a relação é de subordinação, trata-se geralmente, de Direito Público.
O que caracteriza uma relação de Direito Público é o fato de atender, de
maneira imediata e prevalecente, a um interesse de caráter geral. É o predomínio e a
imediatidade do interesse que nos permite caracterizar a “publicidade” da relação.
Entretanto, existem relações intersubjetivas, em virtude das quais um dos
sujeitos tem a possibilidade de exigir de outro a prestação ou a abstenção de certo ato.
Temos aí uma relação de coordenação, pois os sujeitos da relação estão na mesma
situação. É uma relação típica de Direito Privado.
Tanto o Direito Público quanto o Direito Privado dividem-se em Direito
Interno e Direito Externo. O Direito Interno é aquele que tem vigência em determinado
território, como acontece com o Direito brasileiro. O Direito Externo rege as relações
distintas do Direito nacional, quer as que se estabelecem entre os indivíduos como tais,
quer as concluídas entre particulares com o Estado, ou dos Estados entre si.
concernente aos direitos fundamentais dos indivíduos para com o Estado, ou como
membros da comunidade política.
Os poderes do Estado são estatuídos em função dos imperativos
da sociedade civil, isto é, em razão dos indivíduos e dos grupos naturais que compõem a
comunidade. O social prevalece sobre o estatal. Orientação seguida pela Constituição
Federal brasileira de 1988.
Nas lições de Miguel Reale, as normas constitucionais são as
normas supremas, às quais todas as outras têm de se adequar. A Constituição é a lei
maior do país. É ela que delimita as esferas de ação do Estado e dos particulares, prevê
as formas preservadoras dos direitos fundamentais in abstracto e in concreto. E é graças
à competência atribuída ao Poder Judiciário, que pode ser decretada a
inconstitucionalidade de um ato normativo do próprio Estado, de maneira originária, ou de
qualquer ato concreto ofensivo as normas constitucionais, no decorrer de uma demanda.
O Brasil adotou o sistema de Direito Constitucional escrito, ao
contrário da Grã-Bretanha, cujo Direito Constitucional é fundamentalmente costumeiro.
- Voluntária; e
Jurisdição
- Contenciosa.
- Declaratória;
- Constitutiva;
Ação e sentença - Condenatória;
- Executiva; e
- Mandamental.
econômicas. Estas entidades impõem cada vez mais suas normas aos Estados que as
integram. Isto demonstra a não-subordinação do Direito Internacional à soberania dos
Estados.
Duas doutrinas predominam quanto à compreensão do Direito
Internacional, a saber:
de um país para outro e, mesmo ficando na própria terra, entram em contato cultural ou
mercantil com outros indivíduos, estabelecendo relações além das fronteiras.
Nesse contexto, surge o problema da harmonia das regras jurídicas de um
País com as de outros com referência à relações privadas constituídas no trato
internacional. A disciplina jurídica, cujo objeto é dirimir os possíveis conflitos entre regras
jurídicas estabelecidas pelos diferentes Estados, chama-se Direito Internacional Privado.
Para Miguel Reale, trata-se de uma designação imprópria. Pra ele, esse
Direito não é internacional e nem é privado. O Direito Internacional Privado não possui
regras que disciplinam as relações entre pessoas, mas sim regras destinadas a
determinar quais as regras que devem ser aplicadas para disciplinar aquelas relações.
Em suma, o Direito Internacional Privado não regula conflitos de interesses, mas apenas
conflitos de leis.
Portanto, o Direito Internacional Privado não tem por finalidade reger ou
complementar relações, mas decidir sobre as regras que se destinam a essas mesmas
relações. É, por isso, um sobredireito. O Direito Internacional Privado se situa nos dizeres
de Miguel Reale como “metalinguagem jurídica”.
Reale conclui esta temática em sua reconhecida obra Lições “Preliminares
de Direito” afirmando que “um dos conceitos básicos do Direito Internacional Privado é o
critério de ordem pública. Vela pelos Direitos do estrangeiro no Brasil, enquanto não
entram em conflito com as tradições da nossa gente e de nossa sociedade, e disciplina as
relações jurídicas exequíveis no território nacional, pondo-os em consonância com os
ditames de nosso ordenamento jurídico, numa natural e renovada tarefa de conciliação do
Direito Externo com o Direito Interno.”
- Direito Civil; e
Direito Privado
- Direito Comercial.
Observação: Segundo o Min. Mauricio Godinho Delgado (TST), em sua obra Curso de
Direito do Trabalho, “nesse debate teórico, o Direito do Trabalho foi classificado como
componente do Direito Público, por autores de distinta especialização jurídica.
Prepondera, hoje, entretanto, a classificação do ramo justrabalhista no segmento do
Direito Privado. Há autores, contudo, que consideram esse ramo jurídico inassimilável a
qualquer dos dois grandes grupos clássicos enquadrando-se em um terceiro grande
grupo de segmentos jurídicos, o Direito Social.”
- Direito Civil; e
- Direito Privado
- Direito Comercial.
- Direito Constitucional;
- Direito Penal
- Direito Processual;
Direito - Direito Público - Direito Administrativo;
- Direito Financeiro;
- Direito Tributário; e
- Direito Internacional Público.
- Direito do Trabalho;
- Direito Social - Direito Previdenciário; e
- Direito Agrário.
5. A ubiquidade do Direito:
O Direito está presente em cada ação do homem que se relaciona com outro
homem. Há em cada comportamento humano a presença, embora indireta do fenômeno
humano.
O Direito é um manto protetor de organização e de direção dos
comportamentos sociais. Todas as infinitas possibilidades de ação se condicionam à
existência primordial do fenômeno jurídico.
O Direito tutela comportamentos humanos, para que essa garantia seja
possível é que existem as regras, as normas de direito como instrumentos de salvaguarda
e amparo da convivência social.
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6. Complementariedade do Direito:
As diferentes partes do Direito não se situam uma ao lado da outra, como
coisas acabadas e estáticas. O Direito é dinâmico. É ordenação que dia a dia se renova.
Logo, não basta ter uma visão unitária do Direito, tornando-se necessário possuir o
sentido de complementariedade inerente a essa união.
A ideia da complementariedade das disciplinas jurídicas está ligado ao
sentido sistemático da unidade do fenômeno jurídico. A Ciência Jurídica obedece a uma
unidade de fins – finalístico ou teleológico.
7. Linguagem do Direito:
Para estudarmos o Direito e alcançarmos a visão unitária dele, torna-se
necessário adquirir um vocabulário. Cada ciência exprime-se numa linguagem, ou seja, se
há uma Ciência Jurídica é dizer que existe um vocabulário do Direito.
Logo, onde quer que exista uma ciência, existe uma linguagem
correspondente. Cada cientista tem a sua maneira própria de expressar-se. Os cientistas
do Direito (juristas) falam uma linguagem multimilenar própria.
Sem a linguagem do Direito não haverá possibilidade de comunicação. Aos
acadêmicos de direito fica a orientação que dediquem a maior atenção à terminologia
jurídica, sem a qual não poderão ingressar no mundo do Direito.
A disciplina de Introdução ao Estudo do Direito tem como uma das
finalidades esclarecer ou determinar o sentido dos vocábulos jurídicos, traçando as
fronteiras das realidades e das palavras.
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8. O método no Direito:
Método é o caminho que deve ser percorrido para a aquisição da verdade. É
o caminho de um resultado exato ou rigorosamente verificado. Sem método não há
ciência.
O conhecimento produzido pelo senso comum é um conhecimento parcial,
isolado, fortuito, sem nexo com os demais. O homem que utiliza o senso comum nem
sempre está errado, ou incompleto. Pode mesmo ser uma verdade, todavia o que
compromete é a falta de segurança quanto àquilo que afirma (“não tem certeza da
certeza”).
Entretanto, o conhecimento científico (metódico) é o produzido pela ciência,
pela verificação de conhecimentos, ou seja, um sistema de conhecimentos verificados.
Quando dizemos que temos ciência de uma coisa é porque verificamos o que a seu
respeito se enuncia.
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Fonte bibliográfica:
1. BORGES, Paulo Torminn. Institutos básicos do Direito agrário. São Paulo: Saraiva,
1994.
2. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito – Teoria Geral do
Direito. 7ª Ed. Bahia: Editora JusPodvm, 2020.
3. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª Ed. 9ª tiragem. São Paulo: Saraiva,
2010