Política de Subsídio Tributário A Medicamentos
Política de Subsídio Tributário A Medicamentos
Política de Subsídio Tributário A Medicamentos
Ciclo CMAP
2021
Política avaliada
Subsídio Tributário a Medicamentos
Coordenador da avaliação
CGAT/DEAP/SETO/ME
Executores da avaliação
CGAT/DEAP/SETO/ME
Rodrigo Leandro de Moura
Rafael Luis Giacomin
Ronan Luiz da Silva
Cíntia Beatriz Fonseca
CGPE/DEAP/SETO/ME
Nelson Leitão Paes
Igor Vinicius de Souza Geracy
Ana Cristina Secchi Correia
Assessoria técnica
ENAP/ME
Gustavo Cunha Garcia
Supervisor da avaliação
COART/DEAP/SETO/ME
Informações:
Departamento de Avaliação de Políticas Públicas (DEAP)
Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento (SETO)
Tel: (61) 3412-2264
Home Page:
https://bit.ly/DEAP-SETO
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Lista de tabelas
TABELA 1: MODELOS DE REGULAÇÃO DE PREÇOS DE MEDICAMENTOS ................................................................................... 31
TABELA 2 – QUANTIDADES DE REGISTROS, APRESENTAÇÕES E VALOR COMERCIALIZADO POR ANO E TOTAL NA BASE DE DADOS DA NF-E APÓS
CRUZAMENTO COM AS TABELAS DA CMED ............................................................................................................. 38
TABELA 3 – EVOLUÇÃO DO PREÇO MÉDIO DAS APRESENTAÇÕES MEDICAMENTOSAS POR CLASSE TERAPÊUTICA DE 2014 A 2020 (R$
NOMINAIS)...................................................................................................................................................... 41
TABELA 4 – PARTICIPAÇÃO DO VALOR TOTAL E DA QUANTIDADE DE EMBALAGENS COMERCIALIZADAS POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO
PIS/COFINS, POR ANO ..................................................................................................................................... 42
TABELA 5 – PARTICIPAÇÃO DO VALOR TOTAL E DA QUANTIDADE DE EMBALAGENS COMERCIALIZADAS POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO
PIS/COFINS, POR CLASSE TERAPÊUTICA - 2020 ..................................................................................................... 43
TABELA 6 – COMPOSIÇÃO DO VALOR TOTAL COMERCIALIZADO POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO PIS/COFINS, POR CLASSE
TERAPÊUTICA – 2014 E 2020 ............................................................................................................................. 44
TABELA 7 – PROPORÇÃO DA MÉDIA DO PREÇO PRATICADO EM RELAÇÃO À MÉDIA DO PREÇO DE REFERÊNCIA PARA COMPRAS PÚBLICAS, POR
LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO PIS/COFINS NO SETOR PÚBLICO - 2014 A 2020 .............................................................. 46
TABELA 8 – PROPORÇÃO DA MÉDIA DO PREÇO PRATICADO EM RELAÇÃO À MÉDIA DO PREÇO DE REFERÊNCIA PARA COMPRAS PÚBLICAS , POR
LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO PIS/COFINS NO SETOR PRIVADO - 2014 A 2020 ............................................................. 46
TABELA 9 – MODELO DE REGRESSÃO DA INFLAÇÃO DE MEDICAMENTOS, ANO-BASE MÓVEL (T-T-1) ............................................... 55
TABELA 10 – MODELO DE REGRESSÃO DA INFLAÇÃO DE MEDICAMENTOS, ANO-BASE FIXO (T-T0) .................................................. 55
TABELA 11 – MODELO DE REGRESSÃO DA INFLAÇÃO DE MEDICAMENTOS PARA AMOSTRAS SELECIONADAS , COM ANO-BASE FIXO (T-T0) .. 56
TABELA 12 – QUANTIDADE DE DOMICÍLIOS E PESSOAS, POR QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR PER CAPITA DAS PESSOAS ............... 59
TABELA 13 – PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM PRESENÇA DE CRIANÇAS E COM PRESENÇA DE IDOSOS POR QUINTIL DO RENDIMENTO
DOMICILIAR PER CAPITA DAS PESSOAS, POR POF ....................................................................................................... 59
TABELA 14 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO POR FAIXA ETÁRIA, POR POF .............................................................. 60
TABELA 15 – DOMICÍLIOS QUE INCORRERAM EM DESPESAS, POR TIPO DE DESPESA DE SAÚDE, POR QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR
PER CAPITA DAS PESSOAS – POF 2017-2018 (%) .................................................................................................... 60
TABELA 16 – PARTICIPAÇÃO DAS MODALIDADES DE GASTO DE SAÚDE NO RENDIMENTO DOMICILIAR TOTAL , POR QUINTIL DO RENDIMENTO
DOMICILIAR PER CAPITA DAS PESSOAS – POF 2017-2018 .......................................................................................... 61
TABELA 17 – CONSUMO MENSAL DE MEDICAMENTOS POR FAIXA ETÁRIA – POF 2017-2018 ...................................................... 62
TABELA 18 – PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM RESTRIÇÃO PARA AQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS , POR MOTIVO DA RESTRIÇÃO E POR
QUINTIL DA RENDA DOMICILIAR PER CAPITA (PESSOAS) – POF 2017-2018 ..................................................................... 63
TABELA 19 – PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM GASTOS CATASTRÓFICOS PARA AQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS , POR QUINTIL DO
RENDIMENTO DOMICILIAR PER CAPITA (PESSOAS) E PRESENÇA DE GRUPOS ESPECÍFICOS NO DOMICÍLIO – POF 2017-2018 ......... 64
TABELA 20 – PARTICIPAÇÃO DA QUANTIDADE DE MEDICAMENTOS ADQUIRIDAS POR CLASSES TERAPÊUTICAS , NAS POF'S .................... 65
TABELA 21 – DESPESA MONETÁRIA MÉDIA MENSAL FAMILIAR COM REMÉDIOS POR CLASSE TERAPÊUTICA E QUINTIL DO RENDIMENTO
DOMICILIAR PER CAPITA DAS PESSOAS (POF 2017-2018) .......................................................................................... 66
TABELA 22 – DESPESA MONETÁRIA MÉDIA MENSAL FAMILIAR COM REMÉDIOS E VARIAÇÃO DAS DESPESAS ENTRE AS POFS, POR QUINTIL DO
RENDIMENTO DOMICILIAR PER CAPITA DAS PESSOAS (R$ DE JAN/2018) ......................................................................... 69
TABELA 23 – PARTICIPAÇÃO DA DESPESA MONETÁRIA MÉDIA FAMILIAR COM REMÉDIOS NO RENDIMENTO DOMICILIAR MÉDIO , POR QUINTIL
DO RENDIMENTO DOMICILIAR DAS PESSOAS, NAS POFS .............................................................................................. 69
TABELA 24 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA DESPESA MONETÁRIA COM REMÉDIOS, POR QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR DAS
PESSOAS, NAS POFS .......................................................................................................................................... 69
TABELA 25 – DESPESA NÃO MONETÁRIA MÉDIA MENSAL FAMILIAR COM REMÉDIOS E VARIAÇÃO DAS DESPESAS ENTRE AS POFS, POR
QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR DAS PESSOAS (R$ DE JAN/2018) ......................................................................... 70
TABELA 26 – PARTICIPAÇÃO DA DESPESA NÃO MONETÁRIA MÉDIA FAMILIAR COM REMÉDIOS NO RENDIMENTO DOMICILIAR MÉDIO , POR
QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR DAS PESSOAS, NAS POFS ................................................................................... 71
TABELA 27 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA DESPESA NÃO MONETÁRIA COM REMÉDIOS, POR QUINTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR DAS
PESSOAS, NAS POFS .......................................................................................................................................... 71
TABELA 28 – PARTICIPAÇÃO DO FINANCIAMENTO PÚBLICO NAS DESPESAS TOTAIS COM MEDICAMENTOS POR QUINTIL DA RENDA
DOMICILIAR PER CAPITA E PERFIS DE FAMÍLIAS – POF 2017-2018 ................................................................................ 72
TABELA 29 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS DESPESAS MONETÁRIAS E NÃO-MONETÁRIA COM MEDICAMENTOS E DO SUBSÍDIO
TRIBUTÁRIO, POR QUINTIL DE RENDA DOMICILIAR PER CAPITA (PESSOAS) – POF 2017-2018 .............................................. 73
TABELA 30 – COEFICIENTE DE CONCENTRAÇÃO E PESO DAS MODALIDADES DE FINANCIAMENTO DO ACESSO A MEDICAMENTOS – 2003,
2009 E 2018 .................................................................................................................................................. 76
TABELA 31 – DECOMPOSIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DA DESPESA COM MEDICAMENTOS – 2003-2009............................................ 77
TABELA 32 – DECOMPOSIÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DA DESPESA COM MEDICAMENTOS – 2009-2018............................................ 77
Lista de figuras
FIGURA 1 – RELEVÂNCIA DE DESPESAS POR CLASSE TERAPÊUTICA, POR FORMA DE DISPÊNDIO E RENDIMENTO DOMICILIAR DAS PESSOAS
(POF 2017-2018) .......................................................................................................................................... 67
Lista de gráficos
GRÁFICO 1 – COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS GASTOS TRIBUTÁRIOS E GASTOS ORÇAMENTÁRIOS COM MEDICAMENTOS (EM R$ MILHÕES,
CONSTANTES DE 2021) ...................................................................................................................................... 10
GRÁFICO 2 – DISTRIBUIÇÃO DOS REGISTROS, VALOR COMERCIALIZADO E QUANTIDADE DE EMBALAGENS COMERCIALIZADAS, POR SETOR DO
COMPRADOR PARA TODOS OS ANOS ....................................................................................................................... 39
GRÁFICO 3 – EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS DE CLASSE TERAPÊUTICA NO VALOR TOTAL COMERCIALIZADO (2014 A 2020) . 40
GRÁFICO 4 – PREÇO MÉDIO PRATICADO E PREÇO MÉDIO DE REFERÊNCIA DOS MEDICAMENTOS POR ANO E POR LISTA DE CRÉDITO
PRESUMIDO PIS/COFINS - 2014 A 2020 ............................................................................................................. 45
GRÁFICO 5 – PREÇO MÉDIO PRATICADO E PREÇO MÉDIO DE REFERÊNCIA DOS MEDICAMENTOS POR ANO E POR NÍVEL DO ÍNDICE
HERFINDAHL-HIRSCHMAN (IHH) (R$ CORRENTES) ................................................................................................... 47
GRÁFICO 6 – VARIAÇÃO DE PREÇOS DE MEDICAMENTOS CALCULADA NA BASE DA NF-E E IPCA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS NACIONAL E
DE PORTO ALEGRE/RS (2015 A 2020) ................................................................................................................. 49
GRÁFICO 7 – VARIAÇÃO DE PREÇOS CALCULADA NA BASE DA NF-E, VARIAÇÃO DO PREÇO DE REFERÊNCIA CMED E IPCA ÍNDICE GERAL
(2015 A 2020) ............................................................................................................................................... 50
GRÁFICO 8 – VARIAÇÃO DE PREÇOS CALCULADA NA BASE DA NF-E POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO PIS/COFINS (2015 A 2020) 50
GRÁFICO 9 – VARIAÇÃO DE PREÇOS DA BASE NF-E PARA MEDICAMENTOS COMERCIALIZADOS EM TODO O PERÍODO E COM ANO-BASE
2014, POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO PIS/COFINS (2015 A 2020) .................................................................. 51
GRÁFICO 10 – ÍNDICE DE PREÇO ACUMULADO CALCULADO NA BASE DA NF-E PARA MEDICAMENTOS COMERCIALIZADOS EM TODO O
PERÍODO, POR LISTA DE CRÉDITO PRESUMIDO DO PIS/COFINS (2014=100) .................................................................. 52
GRÁFICO 11 – EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA DESPESA MONETÁRIA COM MEDICAMENTOS DAS PRINCIPAIS CLASSES TERAPÊUTICAS , NAS
POF'S ........................................................................................................................................................... 65
GRÁFICO 12 – PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM DESPESA MONETÁRIA DE MEDICAMENTOS POR CENTIL DO RENDIMENTO DOMICILIAR PER
CAPITA PARA AS PESSOAS .................................................................................................................................... 68
GRÁFICO 13 – DISTRIBUIÇÃO DOS DOMICÍLIOS E DAS MODALIDADES DE DESPESAS COM MEDICAMENTOS POR PERFIS DE FAMÍLIAS E QUINTIL
DO RENDIMENTO DOMICILIAR PER CAPITA – POF 2017-2018 ..................................................................................... 74
GRÁFICO 14 – CURVAS DE CONCENTRAÇÃO DAS DESPESAS COM MEDICAMENTOS, POR CENTIL DE RENDIMENTO DOMICILIAR DA POPULAÇÃO
– POF 2017-2018 .......................................................................................................................................... 75
Sumário
1 Introdução ....................................................................................................................................... 9
2 Contextualização e legislação da desoneração de medicamentos no Brasil .................................... 13
3 Questão 1 (avaliação de desenho) - Quais lições podem ser aprendidas a partir de experiências
internacionais no âmbito dos subsídios para medicamentos? ................................................................ 16
3.1 Quais são as principais características da política de regulação de preços de medicamentos
desonerados que é implementada no Brasil?................................................................................... 17
3.2 Quais são os principais problemas identificados para o alcance dos resultados esperados? .. 21
3.2.1 Problemas relacionados ao modelo de Price Cap ............................................................ 21
3.2.2 Problemas relacionados aos reajustes anuais de preços ................................................. 22
3.2.3 Outros problemas........................................................................................................... 25
3.3 Que lições podem ser aprendidas sobre a governança e o modelo de regulação de preços
de medicamentos subsidiados em arranjos regulatórios implementados em outros países? ............ 26
3.3.1 Organização Mundial da Saúde (OMS) ............................................................................ 27
3.3.2 Pharmaceutical Pricing and Reimbursement Information (PPRI)...................................... 31
3.4 Conclusões da questão 1 ...................................................................................................... 35
4 Questão 2. Qual o impacto do benefício tributário para a ampliação do acesso aos medicamentos?
35
4.1 Base de Dados – Nota Fiscal Eletrônica do Rio Grande de Sul (NF-e) ..................................... 37
4.2 Análise descritiva dos dados da NF-e .................................................................................... 39
4.3 Índices de preços dos medicamentos ................................................................................... 47
4.3.1 Metodologia adotada ..................................................................................................... 47
4.3.2 Evolução dos índices de preços ....................................................................................... 48
4.4 Modelo econométrico de inflação de medicamentos ........................................................... 52
4.4.1 Metodologia adotada ..................................................................................................... 52
4.4.2 Resultados do modelo .................................................................................................... 54
4.5 Conclusões da questão 2 ...................................................................................................... 56
5 Questão 3. Como evoluiu a participação de medicamentos nos orçamentos familiares, por tipo de
medicamento e quintil de renda?” ........................................................................................................ 57
5.1 Aspectos na montagem da base de dados e metodologia ..................................................... 58
5.2 Medicamentos no contexto das despesas com assistência à saúde....................................... 60
5.3 Acesso a medicamentos ....................................................................................................... 62
5.4 Perfil de consumo de medicamentos .................................................................................... 64
5.5 Evolução das despesas com medicamentos .......................................................................... 67
5.5.1 Despesas monetárias...................................................................................................... 68
5.5.2 Despesas não monetárias ............................................................................................... 70
5.6 Estimativas do benefício tributário ....................................................................................... 72
5.7 Financiamento público e desigualdade de gastos com medicamentos .................................. 74
5.8 Conclusões da questão 3 ...................................................................................................... 78
6 Conclusões .................................................................................................................................... 80
Referências Bibliográficas ...................................................................................................................... 82
Apêndice ............................................................................................................................................... 86
1 Introdução
A desoneração de medicamentos é regida pela Lei nº 10.147 de 21 de dezembro de 2000, que previu
regime especial de utilização de crédito presumido1 da Contribuição para os Programas de Integração
Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (COFINS), destinado às pessoas jurídicas que procedam à
industrialização ou à importação de determinados medicamentos (BRASIL, 2000; BRASIL 2021). Na prática,
os medicamentos com direito ao crédito presumido ficam isentos dessas contribuições. Trata-se de
benefício tributário concedido às empresas, com o objetivo de reduzir os preços e ampliar o acesso da
população aos medicamentos, essenciais para garantir o direito à saúde. Dessa forma, constitui um
importante instrumento da Política Nacional de Assistência Farmacêutica – (PNAF)2, que tem por objetivo
garantir o acesso e o uso racional de medicamentos para a promoção, proteção e recuperação da saúde
individual e coletiva.
A concessão dos benefícios tributários é condicionada a uma sistemática estabelecida pela Câmara de
Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED (Lei 10.742/2003). Cabe à CMED definir normas de
regulação econômica para o setor farmacêutico, com a finalidade de promover a assistência farmacêutica
à população, por meio de mecanismos que estimulem a oferta de medicamentos e a competitividade do
setor. Essa instituição é responsável por especificar uma lista de medicamentos selecionados (lista
positiva), elegíveis ao regime especial de utilização de crédito presumido de que trata o art. 3º da Lei nº
10.147/2000 e isentos de pagamento de PIS/PASEP e COFINS sobre o faturamento de sua venda.
Integram a lista positiva os medicamentos cujas substâncias ativas constam do anexo do Decreto nº
3.803/2001, e suas atualizações, sujeitos a prescrição médica, identificados com tarja vermelha ou preta,
e cujas empresas produtoras usufruem do regime especial de utilização de crédito presumido de
PIS/Pasep e COFINS de que trata o art. 3º da Lei nº 10.147/2000 (ANVISA, 2016). Segundo a ANVISA (2021),
aproximadamente 68% dos medicamentos comercializados no mercado brasileiro eram isentos desses
tributos em 2019.
A implementação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica - PNAF consolidou a inclusão da
assistência farmacêutica no campo de atuação do SUS e definiu um modelo de gestão e financiamento da
provisão pública de medicamentos compartilhado pelos três entes da Federação. A disponibilidade
ambulatorial de medicamentos no SUS ocorre por meio dos Componentes da Assistência Farmacêutica
(Componente Básico, Estratégico e Especializado)3. Há também o Programa Farmácia Popular do Brasil -
1
Para a grande maioria dos fármacos, vigora o regime monofásico do PIS e da COFINS, que atribui a um determinado
contribuinte a responsabilidade pelo tributo devido em toda cadeia produtiva ou de distribuição subsequente. Pela
Lei nº 10.147/2000 os importadores e industriais de medicamentos se tornaram os responsáveis pelo recolhimento
do PIS e da COFINS incidentes sobre toda a cadeia de produção e consumo mediante a aplicação de uma alíquota
global de 12,50% (2,20% para o PIS e 10,30% para a COFINS) e reduziu a zero a alíquota do PIS e da COFINS para
revendedores e varejistas. Contudo, foi concedido regime especial de utilização de crédito presumido da
contribuição para PIS e COFINS para determinado subgrupo de medicamentos. Nesse regime, no lugar de pagar um
imposto em cada etapa de venda do produto, a empresa fabricante recebe um abatimento sobre a tributação a
partir dessa presunção de crédito, criando um valor líquido a ser pago. Os valores dos créditos presumidos são
determinados mediante a aplicação das alíquotas estabelecidas no art. 1º, I, “a” da mesma lei, sobre a receita bruta
decorrente da venda desses medicamentos. Sendo assim, nesse regime especial, o valor dos créditos será o mesmo
das contribuições devidas para esses medicamentos, reduzindo o ônus financeiro a zero.
2
Instituída pela Resolução nº 338, de 06 de maio de 2004.
3
Mais detalhes de cada componente estão disponíveis em: http://www.ccates.org.br/areas-tematicas/assistencia-
farmaceutica/.
PFPB, que oferece uma forma alternativa de acesso à assistência farmacêutica para o tratamento dos
agravos com maior incidência na população4.
Inicialmente, para entender o panorama geral de financiamento da assistência farmacêutica, o Gráfico 1
apresenta a evolução dos recursos federais, sob as modalidades de subsídios (gastos) tributários e de
gastos diretos com medicamentos. Para o cálculo do gasto orçamentário do Governo Federal com
assistência farmacêutica, foram consideradas as aplicações diretas e as transferências a Estados, Distrito
Federal e Municípios para custear despesas com a aquisição de medicamentos. Foram utilizados dados de
acesso público do Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento - SIOP para a obtenção dos valores
liquidados entre 2007 e 2021 das ações orçamentárias do Ministério da Saúde. As despesas de cada ano
foram corrigidas para valores de 2021 pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
25 23,9 50%
20,0
20 18,1 18,1 40%
34,6% 16,3 16,7 17,0 16,5
15,8
14,2
15 13,3 27,2% 30%
10,2 10,8 14,2
9,0 9,2
10 20%
10,9
9,1
5 6,8 6,4 6,5 6,2 6,4 10%
5,4 5,4 6,0 5,6
4,7 4,9 5,2
0 0%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Percentual GT no Financiamento Total Gastos Orçamentários com Medicamentos
Gasto Tributário com Medicamentos
(*) Foram consideradas as seguintes ações orçamentárias: 20AE - Promoção da Assistência Farmacêutica e Insumos
Estratégicos na Atenção Básica em Saúde; 20K5 - Apoio ao Uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no SUS; 20YE -
Aquisição e Distribuição de Imunobiológicos e Insumos para Prevenção e Controle de Doenças; 20YR - Manutenção
e Funcionamento do Programa Farmácia Popular do Brasil Pelo Sistema de Gratuidade; 20YS - Manutenção e
Funcionamento do Programa Farmácia Popular do Brasil pelo Sistema de Co-pagamento; 4295 - Atenção aos
Pacientes Portadores de Doenças Hematológicas; 4368 - Promoção da Assistência Farmacêutica por meio da
Disponibilização de Medicamentos e Insumos em Saúde do Componente Estratégico; 4370 - Atendimento à
População com Medicamentos para Tratamento dos Portadores de HIV/AIDS, outras Infecções Sexualmente
4
O PFPB é um programa do Governo Federal que visa complementar a oferta de medicamentos utilizados na
Atenção Primária à Saúde (APS), por meio de parceria com farmácias da rede privada. Dessa forma, além das
Unidades Básicas de Saúde (UBS) e farmácias municipais, o cidadão poderá obter medicamentos nas farmácias
credenciadas ao PFPB. Ademais, o programa disponibiliza medicamentos gratuitos para o tratamento de diabetes,
asma e hipertensão e, de forma subsidiada para dislipidemia, rinite, doença de Parkinson, osteoporose, glaucoma,
anticoncepção e fraldas geriátricas. Nesses casos o Ministério da Saúde paga parte do valor dos medicamentos (até
90% do valor de referência tabelado) e o cidadão paga o restante, de acordo com o valor praticado pela farmácia.
Transmissíveis e Hepatites Virais; 4705 - Promoção da Assistência Farmacêutica por meio da Disponibilização de
Medicamentos do Componente Especializado. Fonte: Demonstrativo de Gastos Tributários (DGT) Bases Efetivas
2019, Secretaria da Receita Federal (RFB) e SIOP/ME. Elaboração: DEAP/SETO/ME.
Releva notar que o volume dos benefícios tributários é bastante expressivo (R$ 6,4 bilhões ou 21,1% da
soma dos gastos orçamentários e tributários, em 2021). Os gastos diretos cresceram continuamente, em
termos reais, até alcançar o seu pico em 2016 (R$ 20,0 bilhões) e desde então vem apresentando queda
(R$ 16,5 bilhões em 2020), com exceção de 2021, em função da elevação dos gastos do Componente
Estratégico da Assistência Farmacêutica para aquisição e distribuição de imunobiológicos e insumos
destinados ao combate da pandemia de coronavírus (Covid19).
As causas dessa diminuição no período 2016-2020 se originam, em grande medida, na forte expansão das
despesas primárias no período pré-2016 combinada com a crise econômica enfrentada no biênio 2015-
2016, refletindo na deterioração das contas públicas, o que levou à necessidade de adoção de medidas
de ajuste fiscal, em especial, do Novo Regime Fiscal estabelecido pela Emenda Constitucional nº 95/2016
(EC 95). Dentre seus instrumentos, destacam-se dois: (i) o Teto de Gastos, que restringiu, a partir de 2017,
as despesas primárias nominais de cada Poder da União a um teto igual à despesa primária de 2016
corrigida pela inflação e, a partir de 2018, o valor do teto do ano anterior passou a ser corrigido pelo IPCA
também do ano anterior5; e (ii) a alteração na regra de aplicação de recursos mínimos pela União e entes
subnacionais em ações e serviços públicos de saúde (mais conhecida como (limite) mínimo constitucional
para a saúde), que antes da EC 95 era definida como percentuais da receita corrente líquida e passou a
ser, a partir do exercício de 2018, igual ao valor mínimo do ano-exercício anterior corrigido pelo IPCA
acumulado em doze meses, encerrado em junho do exercício anterior. Essas duas medidas combinadas
contribuíram para a redução em termos reais das ações orçamentárias destinadas para a saúde e, em
particular, para a assistência farmacêutica. De outra forma, esse mesmo cenário de restrição fiscal não
impôs limitações para o financiamento de acesso a medicamentos por meio de subsídio tributário.
Em relação à dinâmica de gastos tributários da assistência farmacêutica, observa-se que até 2015, a série
apresentou leve crescimento e, entre 2015 e 2017, o aumento se acelerou atingindo o pico de quase R$
14,25 bilhões (ou 44% do total). Esse crescimento pode ter sido devido a alguma substituição de gasto
orçamentário por tributário frente ao cenário de crise fiscal, que já se observava em 2016, como também
devido ao Teto de Gastos que passou a vigorar a partir do exercício de 2017. No entanto, a partir de então,
os gastos tributários de medicamentos regrediram, após dois anos, para o nível de 2015. Essa redução
pode ter sido ocasionada pela influência da redução das despesas primárias, que ocorreram a partir de
2017, de forma defasada (um ano), sobre a renúncia tributária das compras públicas de fármacos a partir
de 2018. Em outras palavras, as compras de medicamentos pelo setor público, que compõem também o
cálculo do subsídio para medicamentos, reduziram-se e o valor deixado de arrecadar também diminuiu.
Outra possibilidade de explicação para esse comportamento atípico no período 2015-2019 é uma possível
mudança de metodologia do DGT, ainda que temporária. No entanto, cabe alertar que essas explicações
apresentadas neste parágrafo são apenas hipóteses explicativas sobre a evolução da série de gastos
tributários de medicamentos e a falta de informações não permite concluir sobre os fatores que
influenciaram no comportamento dessa série.
Importante destacar que não se tem conhecimento sobre avaliações anteriores da concessão de subsídio
tributário a medicamentos. Com base em critérios de materialidade, relevância e criticidade, essa política
5
Para o exercício de 2017, o limite (teto) equivaleu à despesa primária paga no exercício de 2016, incluídos os restos
a pagar pagos e demais operações que afetam o resultado primário, corrigida em 7,2%; e para os anos-exercícios
posteriores, o teto passou a ser o valor do teto referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pelo IPCA
para o período de doze meses encerrado em junho do exercício anterior a que se refere a lei orçamentária.
pública foi incluída no ciclo 2021 de avaliações do Comitê de Monitoramento e Avaliação de Subsídios da
União (CMAS) do Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas (CMAP), instituído pelo
Decreto nº 9.834/2019. Assim, o propósito desta investigação foi conferir transparência e oferecer
evidências que propiciem melhor compreensão sobre esse instrumento de política pública, com vistas ao
seu aprimoramento.
A avaliação foi coordenada pelo Departamento de Avaliação de Política Pública (antiga Secretaria de
Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria - SECAP) da Secretaria Especial do Tesouro e Orçamento do
Ministério da Economia – DEAP/SETO/ME. Conforme o escopo de investigação pactuado em oficinas na
etapa de pré-avaliação, que envolveram diferentes atores de órgãos públicos, institutos de pesquisa e
academia, no âmbito do CMAP, foram propostas avaliações referentes ao desenho, ao impacto e ao
resultado da política de concessão de subsídio tributário a medicamentos. A execução da primeira
pergunta atinente à avaliação de desenho da política coube à DEAP/SETO/ME, com assessoria técnica da
Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, enquanto as análises de resultados e impacto,
referentes às perguntas 2 e 3, foram realizadas pelo DEAP/SETO/ME e pelo Instituto de Estudos para
Políticas de Saúde – IEPS.
Pergunta 1. A avaliação de desenho da política foi orientada pela seguinte questão: Quais lições podem
ser aprendidas a partir de experiências internacionais no âmbito dos subsídios para medicamentos?
Essa pergunta foi respondida a partir de um relatório elaborado pela Assessoria para Avaliação de Políticas
Pública da ENAP6. Foi feito um levantamento do histórico e das principais características da política de
regulação de preços de medicamentos no Brasil. O modelo de análise também explorou os principais
problemas apontados pela literatura para a regulação de preços da CMED e as diretrizes mais recentes da
Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as políticas de preços a serem adotadas pelos diferentes
países, listando as principais opções e trazendo uma série de recomendações para cada uma delas. Por
fim, a avaliação buscou apresentar um resumo sobre as principais lições aprendidas dos modelos
regulatórios aplicados em outros países.
Pergunta 2. No caso da segunda questão de avaliação, a ideia original era a realização de uma avaliação
de impacto com vistas a responder à seguinte questão: Qual o impacto do benefício tributário para a
ampliação do acesso aos medicamentos? Infelizmente, não foi possível realizar a avaliação de impacto
originalmente concebida devido a indisponibilidade de dados longitudinais com informações sobre o
tratamento tributário dos medicamentos e as variáveis de resultado da pesquisa, propícios a uma
investigação dessa natureza, bem como da falta de acesso a dados para o período pré-Lei nº 10.147/2000,
da criação do subsídio, ou de períodos de alterações normativas pós-Lei, como inclusão/exclusão de
medicamentos na Lista Positiva/Negativa. Portanto, em função das restrições de informação, o escopo
deste estudo foi alterado para uma investigação de resultados da desoneração tributária de
medicamentos, com enfoque na sua repercussão (correlação) sobre (com) os seus preços. De qualquer
maneira, cabe ressaltar que, a possibilidade de avaliação de resultados, em substituição à avaliação de
impacto, foi inserida na Ficha de Pré-Avaliação, derivada da oficina, bem como no Plano de Trabalho,
entregue ao CMAP.
Pergunta 3. Por fim, a questão que balizou a avaliação de resultado do subsídio tributário foi: Como
evoluiu a participação de medicamentos nos orçamentos familiares, por tipo de medicamento e quintil
de renda? A metodologia proposta para responder essa pergunta envolveu a estimação das despesas
(monetárias e não monetárias) e do subsídio tributário com medicamentos, sua evolução e distribuição
por perfis de famílias e de rendimento, perfil de consumo de medicamentos pelas famílias e dificuldade
6
O relatório foi elaborado pelo consultor Gustavo Cunha Garcia, contratado pela ENAP, e que atualmente trabalha
na Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
de acesso, considerando as informações e o período abrangidos nas últimas três Pesquisas de Orçamentos
Familiares (POF’s 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018).
Na próxima seção, apresenta-se a contextualização e a legislação da desoneração de medicamentos no
Brasil, que aprofunda aspectos normativos abordados nesta Introdução e que serve de base para as
análises das seções subsequentes. A sequência do relatório foi organizada de modo a apresentar os
resultados de cada uma dessas etapas da avaliação. Na seção 3, é apresentado o estudo referente à
resposta para a pergunta 1, relativa à avaliação de desenho. A seção 4 trata da pergunta 2 de avaliação
de resultados do benefício tributário e sua relação com os preços de medicamentos. A seção 5 traz a
investigação sobre os resultados da política. Por fim, na seção 6, são apresentadas as conclusões finais.
7
medicamentos com um único princípio ativo.
Posteriormente, essas informações são encaminhadas pela CMED à RFB, que expede ato no Diário Oficial
da União, reconhecendo o direito da empresa requerente à utilização do crédito presumido.
Destaca-se que a referência criada pelo Decreto nº 3.803/2001 para fins de regime de crédito presumido
de PIS/Pasep e COFINS serve de parâmetro para a concessão de incentivos fiscais e mecanismos de
desoneração também para o IPI, Imposto de Importação e para a instituição de ICMS devido pela
circulação de mercadorias e pela importação (Britto, 2012). Já a Lista Negativa contempla os
medicamentos que não estão sujeitos ao regime tributário estabelecido na Lei n. 10.147/2000 e sofrem a
incidência do PIS/Pasep e COFINS, pagos uma vez ao longo da cadeia produtiva, apenas pelo fabricante
pelo regime monofásico. As alíquotas para esses medicamentos são de 2,1% para PIS/Pasep e de 9,9%
para o COFINS.
Por sua vez, a Lista Neutra trata dos medicamentos com tributação normal, com a incidência de
PIS/COFINS em cada etapa da cadeia, ou seja, que possuem incidência plurifásica desses tributos, com
incidência de 0,65% para o PIS/Pasep e 3,0% para o COFINS.
Para assegurar o efetivo repasse aos preços dos medicamentos regidos por essas listas, a Lei nº
10.742/2003 atribui à CMED o monitoramento do mercado de medicamentos (art. 6º, inciso X e XII). Essa
e outras especificidades do modelo de regulação que ensejam a política de crédito presumido para os
medicamentos serão abordados na seção seguinte.
8
Especificamente, essa matriz é utilizada para cálculo do efeito do reajuste do custo de cada insumo (câmbio, energia
etc.) sobre o valor (inflação) do produto (medicamento). I.e., ela fornece elasticidades entre o preço dos insumos e
o preço do produto.
9
Em suma, essas matrizes podem ser derivadas diretamente de tabelas de insumo-produto, que, no entanto,
tendem a ser publicadas apenas a cada 5 anos, ou indiretamente de tabelas de uso e produção (ou oferta) publicadas
anualmente, que descrevem o uso de commodities (insumos) por indústrias, famílias, governo e setor externo, e a
produção de desses commodities. A construção indireta de uma matriz de coeficientes técnicos remove
essencialmente as atividades secundárias das indústrias, e esse procedimento pode gerar coeficientes de entrada
negativos (ten Raa e Rueda-Cantuche, 2013).
A crítica geralmente feita é de que as possibilidades de substituição, mudanças na escala, e as inovações
tecnológicas, relativas aos insumos utilizados no processo produtivo, tendem a tornar os coeficientes técnicos da
matriz (relações entre insumos e produtos) defasados (Christ, 1955). Outro problema adicional em relação a essa
dimensão temporal é que os preços relativos entre setores mudam constantemente ao longo do tempo, o que acaba
também por afetar os valores dos coeficientes técnicos da matriz (Guilhoto, 2011).
10
O sistema de classificação Anatômico Terapêutico Químico (Anatomical Therapeutic Chemical – ATC), utilizada
pela maioria dos países e pela OMS, divide os medicamentos em diferentes grupos de acordo com o órgão ou sistema
em que atuam, e segundo suas propriedades farmacológicas, terapêuticas e químicas. Segundo o ATC, os fármacos
são classificados em grupos em cinco níveis diferentes: o 1º nível forma o grupo anatômico; o 2º nível é denominado
grupo terapêutico; o 3º é o grupo farmacológico; o 4º é o grupo químico; e o 5º é a substância ativa. Exemplos
dessas classes no 1º nível são: aparelho digestivo e metabolismo, sistema cardiovascular, sistema nervoso central,
antiparasitários, inseticidas e repelentes etc. Exemplo: o Leite de Magnésia Phillips é um fármaco que contém a
substância ativa hidróxido de magnésio, que apresenta o código ATC “A02AA04”. A primeira letra (A) significa que
ele pertence ao grupo do aparelho digestivo e metabolismo. Somando os dois números seguintes (A02), no 2º nível,
pertence ao grupo terapêutico dos “antiácidos, inibidores da secreção gástrica e tratamento das úlceras”. Somando
a letra seguinte (A02A) implica que o grupo farmacológico é dos antiácidos. Na sequência, junto a próxima letra
(A02AA), o grupo químico é dos compostos com magnésio. Por fim, juntando os dois últimos números, forma-se o
código completo e se obtém a substância ativa hidróxido de hidrogênio.
competitivos, anula-o parcialmente para mercados moderadamente concentrados e mantêm a
integralidade do desconto do Fator X para mercados fortemente concentrados. A crítica ao Fator Z
está no fato de que ele acaba por permitir ajustes maiores para mercados competitivos, justamente
onde há incidência das forças da concorrência, pressionando os preços para baixo. Nesses casos, a
regulação pode ser inócua, ao autorizar preços teto mais elevados para medicamentos desse nicho
de mercado (Alves, 2016). Ademais, incorre em custos administrativos adicionais para a CMED na
gestão e aplicação da fórmula, além de custos extras de conformidade desnecessários para as
fabricantes. Assim, é possível questionar se não seria melhor simplesmente retirar tais fármacos da
lista de medicamentos regulados (Alves, 2016), reduzindo a carga regulatória de forma a reduzir a
ineficiência gerada, ao mesmo tempo que a CMED concentraria esforços nos mercados com maior
índice de concentração.
11
Segundo Schedler (1999, p.14, apud Miziara, 2013, p.134), “a noção de accountability possui duas conotações
básicas: [i] capacidade de resposta, que implica a obrigação dos funcionários públicos informarem e explicarem os
seus atos, e [ii] enforcement, que é a capacidade dos órgãos que devem prestar contas de impor sanções aos
detentores do poder que violaram seus deveres públicos” (grifo nosso).
12
Segundo Dias (2019, p.544),
por definição, um mercado sob regulação econômica é aquele que pode sofrer intervenções do Estado. A regulação pressupõe
participação ativa das várias partes interessadas para equilibrar riscos e benefícios para todas. Interessados incluem produtores,
importadores, cadeia de distribuição, consumidores, financiadores e profissionais de saúde, que atuam como consumidores
indiretos ao influenciarem a escolha dos produtos por meio das prescrições (grifo nosso).
nos normativos legais a previsão de mecanismos que assegurem o accountability13. Em outras palavras,
a CMED não tem obrigação legal de prestar contas (responsabilização) de sua atividade reguladora de
medicamentos a outros órgãos da Administração Pública ou aos entes regulados.
Ademais, há risco de captura da regulação de preços praticada pela CMED pela indústria farmacêutica,
visto que o setor é muito ativo tanto no momento do encaminhamento de propostas normativas quanto
no momento da elaboração de novas normas (De Souza et al., 2021).
iii. Informações de mercado. Vários estudos (Miziara e Coutinho, 2015; De Souza et al., 2021 e Couto,
2017) apontam a ausência do monitoramento dos preços efetivamente praticados no mercado como um
problema que potencialmente pode impedir a CMED de compreender a dinâmica tanto dos preços como
dos reajustes efetivamente praticados para os preços no varejo. Nesse sentido, a CMED se tornaria
altamente dependente do setor regulado para a obtenção de informações, o que aumenta o risco de
captura (Miziara e Coutinho, 2015). No entanto, em reunião realizada com a equipe da CMED, foi relatado
o uso, atualmente, de uma base de dados privados contratada junto à empresa IQVIA, que faz coleta de
boa parte dos preços dos medicamentos no país, o que auxiliaria no monitoramento. No entanto, não se
conseguiu obter maiores informações sobre como essas bases têm sido efetivamente empregadas. Assim,
o que se pode concluir é que existe falta de transparência, tal qual relatada no item anterior, mas aqui
especificamente relacionada ao uso e à divulgação do monitoramento sobre os preços de mercado.
iv. Rigidez e Desatualização das regras da CMED, inviabilizando a comercialização de medicamentos
essenciais e a adequação às novas tecnologias. A regra atual não prevê mecanismos de definição de
preços diferenciados para medicamentos essenciais de baixo custo, que tenham: (i) risco de
desabastecimento (ex. penicilina benzatina) e/ou (ii) risco de não registro do medicamento no Brasil por
falta de interesse comercial (ex. epinefrina auto injetável). No primeiro caso, o risco estaria associado à
igualdade ou proximidade do preço teto ao preço de mercado, resultando em controle direto de preços,
margens de lucro apertadas e, por fim, desabastecimento. No segundo caso, a falta de interesse de
fabricantes, devido ao preço de entrada baixo definido pela CMED, pode incorrer em falta de alternativa
terapêutica custo-efetiva que supra o mercado nacional (Farias, 2021).
Em relação à desatualização das regas, cabe destacar que a principal legislação da CMED, Resolução nº
2/2004, que estabelece os critérios para o estabelecimento de preços dos medicamentos, não é atualizada
desde então. Segundo Farias (2021), houve diversas publicações de Resoluções, Comunicados e
Orientações Interpretativas que contribuíram positivamente para esclarecer e melhorar alguns pontos da
legislação principal. No entanto, o principal arcabouço desta legislação continua inalterado. Desde então,
diversas tecnologias surgiram, como medicamentos biológicos, radio fármacos e nano tecnológicos,
porém o método de definição de preços desses medicamentos não acompanhou o avanço tecnológico
devido a sua falta de atualização e revisão.
13
Ressalta-se que o accountability não pode ser dissociado da noção de transparência (Miziara, 2013).
3.3.1 Organização Mundial da Saúde (OMS)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou, em setembro de 2020, um documento contendo
diretrizes para as políticas de preços de medicamentos (WHO, 2020). O documento apresenta
recomendações, baseadas em evidências, para auxiliar os países na formulação e implementação de
políticas de preços.
Abaixo, seguem as oito principais recomendações gerais que a OMS define para os países quando
estiverem formulando e implementando uma política de preços de medicamentos, são eles:
• Propósito claro: os objetivos da política devem se concentrar em alcançar preços acessíveis para
promover o acesso a produtos de qualidade para consumidores e sistemas de saúde;
• Contexto: a política deve levar em consideração os fatores específicos do sistema de saúde local
e a oferta e demanda por medicamentos;
• Coerência regulatória: a política deve ser usada em conjunto com outras especificações técnicas
para o gerenciamento de preços de medicamentos ao longo de toda a cadeia;
• Integração: a política deve estar integrada com a política de saúde e outros setores relacionados;
• Transparência: a política deve ser comunicada de maneira transparente a todas as partes
interessadas relevantes, incluindo fornecedores e consumidores;
• Relevância da política por meio de monitoramento e revisão: a relevância das políticas de preços
deve ser mantida por meio de monitoramento e revisões regulares até que as políticas alcancem
os seus objetivos, não apenas sobre os preços, mas também sobre seus efeitos sobre outros
resultados. As alterações nas políticas de preços devem ser informadas por dados e experiências
passadas.
• Compliance e enforcement: o compliance deve ser promovido por meio dos incentivos
adequados, monitoramentos por meio de dados e informações de rotina e as penalidades devem
ser aplicadas de formas proporcionais.
• Colaboração: a eficácia das políticas de preços é fortalecida por meio da colaboração com outros
países e com os stekaholders, incluindo as trocas de informações e transferência de conhecimento
sobre o mercado farmacêutico e sobre os impactos nos preços e no acesso.
A seguir, são apresentados cada um dos dez tipos de políticas de preços preconizadas pela OMS e suas
principais diretrizes.
3.3.1.1 Preços de referência externa
Ocorre quando os preços são definidos com base em preços praticados em outros países. As principais
diretrizes da OMS para esse tipo de política são:
• Utilização de recursos adequados e pessoal qualificado para a execução desse tipo de política;
• Deve ser utilizado em conjunto com outras políticas de preços;
• Deve-se explicitar os motivos para a escolha do conjunto de países de referência;
• Utilização de fontes de dados confiáveis para os preços dos países de referência;
• Deve-se ter uma metodologia confiável para os descontos, abatimentos e retirada de impostos
dos preços de referência;
• Deve-se seguir um processo transparente e consistente para a determinação dos preços;
• Os países devem realizar revisões de preços regulares, com uma frequência pré-estabelecida,
quando utilizarem referenciais de preços externos;
• Sugere-se que os países monitorem os impactos da implementação de preços de referência
externo em termos de preços, acessibilidade e acesso a medicamentos
3.3.1.2 Preço de referência interno:
Ocorre quando os preços são calculados com base em preços dos mesmos medicamentos ou
medicamentos similares, comercializados no mesmo país. As principais diretrizes da OMS para esse tipo
de política são:
• Utilizar a referência interna para definição de preços de medicamentos genéricos e similares,
utilizando o princípio do preço de referência;
• Utilização do preço de referência interno em conjunto com políticas (ex: que estimulem o
consumo de medicamentos genéricos e similares);
• Utilizar fontes confiáveis para a definição do preço de referência;
• Utilizar critérios consistentes e transparentes para a definição de preços de medicamentos
genéricos e similares;
• Utilização de preços de referência interna para medicamentos com equivalência terapêutica. Para
essa equivalência pode ser utilizado o código do sistema de classificação Anatômico Terapêutico
Químico (Anatomical Therapeutic Chemical – ATC) de quarto nível ou mesmo estudos clínicos de
não inferioridade.
3.3.1.3 Preço baseado em valor:
Ocorre quando os preços são definidos levando em consideração o quanto o medicamento “vale” quando
comparado com outros medicamentos para a mesma indicação. São levados em consideração fatores de
efetividade. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de política são:
• Utilizar, principalmente, para a definição de preços e tomada de decisão sobre o reembolso;
• Deve ser utilizado em conjunto com outras políticas de preços;
• Necessário que se tenha os recursos necessários e equipe qualificada;
• Utilização de ATS (Avaliação de Tecnologias em Saúde), que deve incluir uma análise de impacto
orçamentário e análise de viabilidade do ponto de vista do paciente e do pagador;
• Garantir uma estrutura de governança apropriada, onde se garanta que os processos decisórios
sejam transparentes e os relatórios de avaliação e as decisões sejam divulgados;
• Explicitar os métodos utilizados;
• As decisões e evidências devem ser revistas e reavaliadas periodicamente.
3.3.1.4 Regulação de mark-up da cadeia:
Ocorre quando os governos definem os preços, ao longo da cadeia, considerando o quanto os
fornecedores podem adicionar em cada elo da cadeia. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de
política são:
• Deve ser utilizada em conjunto com outras políticas;
• A estrutura de mark-up deve ser regressiva, onde a taxa de mark-up diminui à medida que o preço
aumenta (em vez de uma marcação percentual fixa para todos os preços);
• A OMS sugere que os países considerem o uso de regulamentação de remuneração e mark-up
como incentivos para fornecimento de medicamentos específicos (por exemplo, medicamentos
genéricos, medicamentos de baixo volume, medicamentos reembolsáveis) ou para proteger o
acesso a medicamentos para pacientes ou grupos populacionais específicos (por exemplo, grupos
vulneráveis, populações que vivem em áreas remotas);
• Deve-se garantir a transparência de preços e métodos utilizados ao se estabelecer mark-ups ao
longo da cadeia;
• Sugere-se uma revisão regular da regulamentação odo mark-up.
3.3.1.5 Promoção da transparência de preços:
Ocorre quando se certifica que os preços dos medicamentos, bem como a maneira como eles são fixados,
sejam conhecidos por todas as partes interessadas. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de
política são:
• Compartilhamento, interno e externo, dos preços líquidos praticados para os medicamentos;
• Divulgação de preços praticados ao longo da cadeia;
• Dar publicidade às contribuições de pesquisa e desenvolvimento;
• Comunicar ao público decisões de preço e reembolso;
• OMS sugere que os países melhorem a transparência de preços.
3.3.1.6 Licitação e negociação:
Ocorre quando os preços são fixados a partir da melhor oferta oferecida pelos fornecedores. A principal
diretriz da OMS para esse tipo de política é:
• Deve ser utilizada em conjunto com outras políticas;
3.3.1.7 Promoção do uso de genéricos e biossimilares:
Ocorre quando se promove o consumo de versões de medicamentos que possuem as mesmas ou
características similares às dos produtos originais. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de política
são:
• Sugere-se que os países favoreçam a entrada antecipada no mercado de medicamentos genéricos
e similares;
• Recomenda-se que os países adotem várias políticas de preços para alcançar preços mais baixos
para genéricos e similares. Essas políticas podem incluir preços de referência internos,
regulamentação de mark-up, controles diretos de preços, licitações, promoção de transparência
de preços etc.
3.3.1.8 Aquisições centralizadas:
Ocorre quando os recursos, financeiros e não financeiros, são combinados para criar maior poder de
barganha e melhorar a eficiência. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de política são:
• Devem ser usadas em conjunto com outras políticas;
• Os processos de compra devem ser transparentes e com alto padrão de governança;
• Deve-se utilizar financiamento sustentável, previsível e oportuno;
3.3.1.9 Preço de custo acrescido:
Ocorre quando os preços são definidos a partir do custo de produção de um medicamento, acrescido de
uma margem de lucro. As principais diretrizes da OMS para esse tipo de política são:
• A OMS sugere que os países não usem essa política de preços como uma política primária para
definir o preço de produtos farmacêuticos, dada a falta de transparência.
3.3.1.10 Isenções ou reduções fiscais:
Ocorre quando os impostos sobre os medicamentos são removidos ou reduzidos. As principais diretrizes
da OMS para esse tipo de política são:
• A OMS sugere que os países considerem desonerar de impostos os medicamentos essenciais e
ingredientes ativos14;
• A OMS sugere que os países considerem quaisquer desonerações de impostos, acompanhadas de
medidas para garantir que a política resulte em preços mais baixos de medicamentos para
pacientes e compradores.
Com relação aos tipos de políticas de preços listadas pela OMS, o Brasil faz uso, em alguma medida, e de
maneira descentralizada, de boa parte delas. Na política regulatória de preços da CMED, a Resolução nº
2/2004 prevê a utilização de referências de preços externas (menor preço internacional) e internas
(preços baseados na média de preços de outros medicamentos e o preço do medicamento genérico sendo
definido com base no medicamento referência).
A CMED também utiliza da regulação de preços baseado em valor por meio de análises de custo-
minimização, selecionando um medicamento com eficácia parecida para a definição do preço baseado no
custo de tratamento.
As margens de distribuição e de comercialização nas farmácias também são reguladas pela CMED, em
uma regulação de mark-up da cadeia.
A CMED publica seus preços máximos permitidos para os fabricantes, distribuidores, varejistas e os preços
máximos permitidos para a venda ao governo, nas diferentes alíquotas, no seu portal, desde o início da
sua política regulatória de preços. Assim, é possível afirmar que a CMED pratica promoção da
transparência de preços, que é um tipo de política de preços listada pela OMS. Apesar dessa
transparência, ainda há margem para avanços como o monitoramento dos preços efetivamente
praticados pelos diferentes elos da cadeia.
As isenções, desonerações ou deduções fiscais são previstas para um conjunto de medicamentos que
fazem jus ao benefício. Existem legislações específicas que isentam medicamentos de alguns tributos
como o PIS/COFINS (Brasil, 2000 e Brasil, 2001c), ICMS (ex: Convênio ICMS 87/02) e Imposto de
Importação (Brasil, 2021).
Com relação à Aquisição centralizada e licitação e negociação existem iniciativas do Ministério da Saúde
nesse sentido. Inclusive, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde
utiliza-se de instrumentos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), ou seja, utiliza princípios do preço
baseado em valor para realizar suas análises sobre o preço do medicamento para basear sua negociação.
Por fim, a política de medicamentos genéricos, que foi implantada no Brasil em 1999, com o objetivo de
estimular a concorrência comercial, melhorar a qualidade dos medicamentos e facilitar o acesso da
população é um exemplo exitoso da aplicação da Promoção do uso de genéricos e biossimilares.
Dentre todos os tipos de política de preços listadas pela OMS, o Brasil só não adota o preço de custo
acrescido, que é justamente o tipo de política desincentivada pela OMS. Certamente, há espaço para o
aprimoramento das políticas de preços adotadas no Brasil, porém, o país se mostra alinhado com as
diretrizes estabelecidas pela OMS.
14
Qualquer substância ou mistura de substâncias destinada a ser utilizada na fabricação de uma forma farmacêutica
e que, quando utilizada na produção de um medicamento, torna-se um princípio ativo desse medicamento. Tais
substâncias destinam-se a fornecer atividade farmacológica ou outro efeito direto no diagnóstico, cura, mitigação,
tratamento ou prevenção de doenças, ou afetar a estrutura e função do corpo. WHO technical report series; 908;
2003, pag. 39. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/WHO_TRS_908. Acesso em 27/05/2022.
3.3.2 Pharmaceutical Pricing and Reimbursement Information (PPRI)
O Pharmaceutical Pricing and Reimbursement Information (PPRI) é uma iniciativa de rede e
compartilhamento de informações sobre questões de políticas farmacêuticas, de uma perspectiva de
saúde pública. A rede PPRI é composta por mais de 60 membros, principalmente autoridades
competentes, e terceiros pagadores, de um total de 38 países. A rede PPRI inclui representantes de todos
os 27 Estados-Membros da União Europeia, além da Albânia, Canadá, Croácia, Islândia, Noruega,
República da Coreia, Sérvia, África do Sul, Suíça, Antiga República Iugoslava da Macedônia e Turquia. Além
disso, instituições europeias e internacionais (Agência Europeia de Medicamentos, Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), OMS, Banco Mundial) estiveram envolvidas no
projeto PPRI.
De acordo com Vogler et al., a definição do preço de um medicamento é uma ação realizada pela empresa
farmacêutica e/ou autoridades governamentais. Nas duas primeiras colunas da Tabela 1 encontram-se os
agentes responsáveis pela determinação de preços em cada país. Dentre os 47 países analisados pelo
relatório do Pharmaceutical Pricing and Reimbursement Information (PPRI) (Vogler, 2019), em quatro a
determinação de preços é feita somente pela indústria farmacêutica e em nove não há a participação da
indústria farmacêutica, os preços são totalmente controlados pelo Estado.
Os modelos de regulação de preço podem ser divididos em três tipos, os que fazem o controle de preços
diretamente sobre os fabricantes, como por exemplo a política de Preço de Referência Externa (PRE).
Existe ainda o controle de preços via atacado e varejo que ocorre quando o modelo interfere no preço de
compra e revenda das farmácias, como, por exemplo, as isenções de impostos e regulação de mark-up
das indústrias farmacêuticas. Por fim, os diferentes modelos de reembolsos garantem o acesso a
medicamentos ambulatoriais, de internação e a medicamentos de alto custo, em grande parte dos países
analisados.
Fonte: Informações extraídas e tabeladas a partir de Vogler et al. (2019) e Souza et al. (2021).
Dentre os 47 países analisados pelo PPRI Report (Vogler, 2019), quatro não possuem regulamentação de
preços, são eles: Armênia, Bielo-Rússia, Kosovo e Quirguistão. Em relação à política de Preço de Referência
Externa (PRE), terceira coluna da Tabela 1, 27 dos 47 países PPRI a utilizam como principal política de
preços e 14 como política complementar. O PRE tende a ser utilizado em medicamentos ambulatoriais,
mas alguns países também utilizam para os demais medicamentos. Normalmente, os medicamentos que
se enquadram no PRE são medicamentos patenteados e sujeitos à receita médica. O cálculo do preço de
referência também varia entre os países, 18 deles aplicam um preço médio/mediano e nove países
determinam seu preço como sendo igual ou inferior ao preço mais baixo dos países de referência. Seis
países utilizam uma combinação entre o preço médio e os preços mais baixos da cesta de países (Vogler,
2019).
O modelo de Preço de Referência Interna (PRI) (quarta coluna da Tabela 1) faz referência aos preços de
medicamentos idênticos ou semelhantes no mesmo país e pode ser aplicado em medicamentos genéricos
e/ou biossimilares. A vinculação dos preços dos medicamentos genéricos ao preço do originador está em
vigor em 32 países membros do PPRI. Já a vinculação com os biossimilares acontece em 23 países.
Segundo o relatório, 15 países PPRI não têm políticas de vínculo de preços, nem para genéricos nem para
medicamentos biossimilares (Vogler, 2019).
Dentre os 47 países membros do PPRI, 32 países regulamentam o mark-up e a margem que as empresas
de atacado estão autorizadas a cobrar. Em vários países essa regulamentação ocorre sobre todos os
medicamentos e em outros ocorre somente sobre medicamentos reembolsáveis (Vogler, 2019). As tarifas
e impostos são outro mecanismo de regulação de preço em algum dos países, sete deles oferecem
isenção total do imposto sobre o valor agregado (IVA) em todos os medicamentos. Já nove países
oferecem isenção parcial, podendo diferenciar de acordo com o tipo de medicamento. Vale destacar a
presença de impostos adicionais sobre medicamentos em alguns países como Portugal (Vogler, 2019).
Em relação à política de reembolso, 46 países membros da rede PPRI têm uma ou mais listas de reembolso
para medicamentos ambulatoriais (oitava coluna da Tabela 1). Kosovo é o único país sem qualquer lista
de reembolso ambulatorial. Dentre os 46 países, 41 aplicam apenas listas positivas. A Alemanha e o Reino
Unido possuem apenas lista negativa. Já a Itália, a Lituânia e a Espanha aplicam uma lista tanto positiva
como negativa. Alguns países adotaram mais de uma lista positiva ou mais de uma lista negativa (por
exemplo, Lituânia, Reino Unido com uma “lista cinza” e uma “lista negra”) (Vogler, 2019).
O Preço de Referência para Reembolso (PRR) (nona coluna da Tabela 1) é aplicado em 32 países. Alguns
países, como Alemanha e Eslovênia, consideram produtos copiados e produtos me-too ao estabelecer
grupos de referência. Quanto mais amplos os grupos de referência são definidos em termos de
medicamentos substituíveis, mais economia os países podem realizar. Na maioria dos países com um
sistema de preços de referência (pelo menos 16 países), o preço mais baixo dos medicamentos em um
grupo de referência é considerado o preço de referência. Uma vez que um sistema de preço de referência
é uma política ligada a medicamentos não patenteados, geralmente é acompanhado por medidas do lado
da demanda que visam aumentar a aceitação de genéricos e medicamentos de preço mais baixo (Vogler,
2019).
Políticas de copagamentos na área ambulatorial são praticados em 43 países da rede PPRI. Há alguns
poucos países onde a política de copagamento é aplicada de forma diferenciada entre estados, regiões
ou províncias e ainda entre grupos populacionais e tipos de medicamentos. Em alguns poucos casos
(Malta e Kazaquistão) não há esquema de copagamento para reembolso de medicamentos incluídos no
pacote de benefícios ambulatórias. No outro extremo, em Kosovo, não há política de reembolso de
medicamentos ambulatoriais e os pacientes têm que arcar com o todo o custo desses produtos.
Em suma, as políticas de copagamento são de 3 tipos:
• Uma taxa de prescrição é aplicada em medicamentos reembolsáveis, aplicada em 20 países da
rede PPRI;
• O copagamento de um percentual do valor do medicamento, aplicada em 30 países da rede,
sendo a forma de copagamento mais usual;
• Esquema dedutível ou franquia, aplicado em 9 países da rede PPRI.
Há também combinações entre esses tipos de políticas de copagamento, como por exemplo, a
combinação de taxa de prescrição e copagamento percentual, aplicada em 12 países da rede.
Além disso, vários países, Itália por exemplo, empregam uma política de copagamento indireto. Nessa
abordagem existe um sistema de preços de referência para os medicamentos ambulatoriais. Caso os
pacientes decidam comprar os medicamentos por um preço acima de seu preço de referência, eles têm
que pagar a diferença entre o valor efetivamente pago nas farmácias e esse valor de referência (Vogler,
2019).
3.3.2.1 Experiência internacional com medicamentos genéricos
As principais conclusões e aprendizados em relação as políticas de regulação de preços dos
medicamentos, principalmente no que tange à União Europeia é de que os preços de fábrica e de varejo
variam muito entre os países, no que diz respeito aos genéricos (Wouters, 2017). Foi observado ainda que
a diferença de preço entre genéricos e de referência tende a ser maior em países de preços livres devido
à concorrência, por outro lado, a regulação tende a reduzir o preço do medicamento de referência durante
o seu ciclo de vida, o que desencorajava a entrada de genéricos.
Por exemplo, na Áustria, é exigido, para cada novo medicamento genérico que entra no mercado, uma
redução no preço em relação ao medicamento genérico anterior. Os medicamentos genéricos, no Brasil,
estão sendo precificados a níveis mais elevados que nessas regiões que adotam essa prática. Ademais,
essas regiões permitem descontos progressivos, enquanto no Brasil todos os genéricos entram no mesmo
patamar de preços (De Souza et al., 2021).
O México, por sua vez, apostou na livre concorrência para a definição dos preços de medicamentos
genéricos, porém, o resultado foi um baixo mercado de medicamentos genéricos, uma vez que os preços
que esses medicamentos entram no mercado costumam não ser muito atraentes (De Souza et al., 2021).
Na Noruega, o Price Cap aplica-se apenas ao medicamento referência, que tendia a flutuar próximo ao
teto, enquanto os preços dos medicamentos genéricos reduziam bastante (De Souza et al., 2021).
3.3.2.2 Concorrência de descontos no mercado de genéricos leva a preços mais altos
Dylst et al. (2010) verificam que os níveis mais altos de preços dos genéricos estavam no Reino Unido,
França, Holanda e Alemanha, devido a uma superestimação dos preços dos genéricos provocado pela
negociação de preços artificiais entre atacadistas e varejistas. Segundo os autores, o tipo de concorrência
da forma de descontos não é transparente para os atores do mercado e não é justa.
3.3.2.3 Preços mais altos nos países que são referências internacionais
Em relação à política de Preço de Referência Externa (PRE) na União Europeia, observa-se que uma das
consequências de tal política é pressionar os países selecionados como referência a manter preços altos
uma vez que eles possuem informações assimétricas, ou seja, sabem que seus preços, mais tarde, se
tornarão referência para outros países (Dylst, 2010).
3.3.2.4 Preços de referência para reembolso estimulam a concorrência e reduzem preços
Quanto à utilização do preço de referência para reembolso (PRR), Brekke et al. (2008) observam a
capacidade desse mecanismo em reduzir significativamente os preços de medicamentos de marca e de
genéricos no grupo de referência, estimulando a concorrência e tornando a demanda por medicamentos
mais elástica.
3.3.2.5 Reembolso e copagamento como reguladores eficientes de preços e estimuladores da
participação dos genéricos
O mecanismo de reembolso e copagamento são fortemente utilizados nos sistemas europeus. Esses
mecanismos são tanto reguladores eficientes de preços quanto estimuladores do aumento da
participação dos genéricos no mercado. Portanto, a ausência desses mecanismos nos países em
desenvolvimento, ou em parte deles, mostra a importância da regulação de preços dos medicamentos,
uma vez que são países cujos gastos com medicamentos representam boa parcela dos gastos públicos e
privados (Brekke et al., 2008).
3.3.2.6 Possibilidade de redução de preços e realinhamento de preços
Outro ponto importante é a possibilidade de se aplicar reajustes e revisões negativas de preços (Dias et
al., 2019). Por exemplo, países como Grécia e Alemanha já adotam essa prática da redução de preços (De
Souza et al., 2021). Importante registrar que a Medida Provisória nº 754, de 19 de dezembro de 2016
(Brasil, 2016), previa que, excepcionalmente, o Conselho de Ministros da CMED poderia autorizar ajuste
positivo ou negativo de preços. Porém, a MP não foi convertida em lei e, atualmente, não há essa
previsão.
Segundo Dias et al. (2019), a experiência internacional com a utilização do modelo de Price Cap (ou preço
teto), que utilizam o referenciamento externo de preços, mostra a necessidade de realinhamento
periódico de preços (2 a 5 anos). A França pratica revisões a cada 5 anos. Em Portugal, algumas revisões
ocorrem trimestralmente. Na Grécia, as revisões ocorrem duas vezes ao ano e na Itália algumas revisões
chegam a ocorrer mensalmente (Farias, 2021). No Brasil, o modelo encontra-se vigente há quase duas
décadas sem que houvesse nenhum realinhamento de preços. Em outras palavras, não há revisão
(realinhamento) dos preços teto à luz dos preços de mercado, desvinculando o reajuste dos preços de
outras circunstâncias não inflacionárias. Esse é um dos fatores que ajuda a explicar o descolamento
entre os preços máximos permitidos e os preços realmente praticados no mercado.
3.3.2.7 Utilização de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS)
Alguns países como, por exemplo, Austrália, o Canadá, a Itália e a Nova Zelândia, utilizam análises de
custo-efetividade para determinar o preço pelo qual o medicamento possui uma boa relação de custo-
efetividade. Essa é uma informação que costumam utilizar para direcionar suas negociações com os
fornecedores (Farias, 2021).
Dentre algumas ferramentas de ATS, a análise de custo-minimização é uma das mais utilizadas pelos
países. Ela costuma ser utilizada quando o novo medicamento não demonstra superioridade, em termos
de eficácia, quando comparada com as opções já existentes. O modelo brasileiro utiliza a análise de custo-
minimização (Farias, 2021).
Outra estratégia muito utilizada pelos países é a análise de impacto orçamentário, baseada em avaliações
fármaco-econômicas, para avaliar o impacto líquido do reembolso/subsídio no orçamento dos sistemas
de saúde. As análises de custo-utilidade e custo-efetividade também são muito utilizadas pelos países na
definição de preços (Farias, 2021).
3.4 Conclusões da questão 1
As respostas à questão avaliativa nº 1 e suas subquestões trazem elementos importantes para a
compreensão do modelo de regulação de preços adotado no País, além de comparativos interessantes
com a prática internacional.
De forma genérica, pode-se destacar os problemas do modelo de regulação de preços dos medicamentos,
entendidos aqui como características que dificultam o alcance de seus objetivos de promover a
competição do mercado e favorecer o acesso aos medicamentos pela população.
Com relação às práticas internacionais é importante mencionar que a política de regulação dos preços de
medicamentos é adotada em muitos países como uma prática que visa a sustentabilidade econômico-
financeira do sistema de saúde, enquanto, no Brasil, trata-se de uma forma de promoção ao acesso. Nesse
contexto, pode-se destacar que práticas amplamente adotadas e apontadas pela literatura como
reguladores efetivos de preços como o reembolso e copagamentos não são adotadas no Brasil.
Dessa forma, enumeram-se os seguintes achados como os mais relevantes: i) diferenças significativas
entre os preços tetos e os preços praticados pelo setor farmacêutico; ii) reajustes dos preços de mercado
superiores aos reajustes dos preços teto definidos pela CMED; iii) impossibilidade de reajustes negativos;
iv) reajustes anuais distorcem os preços dos medicamentos ao longo do tempo; v) inexistência de
realinhamento regular dos preços teto aos preços de mercado, ao contrário do que acontece em vários
países; vi) problemas na fórmula de reajuste do preço teto que geram distorções: impossibilidade de
revisão dos preços já fixados; vinculação dos ajustes anuais à inflação; IPCA aparecer mais de uma vez na
fórmula; modelo de projeção de produtividade inefetivo para detectar avanços tecnológicos, capacitação
de mão-de-obra, inovações de gestão, entre outros fatores que afetam a produtividade; defasagem do
repasse da redução dos custos de produção para o preço teto; críticas ao uso de matriz insumo-produto
na estimação do impacto dos custos de produção sobre o valor do produto; permitir reajustes maiores
dos preços teto em mercados competitivos; vii) baixo enforcement na aplicação do desconto para
compras públicas, inexistência de mecanismos que garantam transparência, participação e accountability
e risco de captura da regulação de preços pela indústria do setor; e viii) rigidez e desatualização das regras
da CMED, inviabilizando a comercialização de medicamentos considerados essenciais de baixo custo, com
risco de desabastecimento ou de falta de registro no Brasil por falta de interesse comercial.
A partir dos achados apresentados acima, conclui-se, portanto, que é necessário rever o modelo de
regulação de preços de medicamentos brasileiro para que as limitações apontadas possam ser superadas.
Essa revisão envolve, em boa medida, a apresentação de alterações normativas.
15
A solicitação de acesso a bases de dados enviada à CMED, via OFÍCIO SEI nº 288652/2021/ME, no dia 29 de outubro
de 2021, requereu: (i) série histórica anual do preço máximo de cada medicamento do fabricante e o praticado para
o consumidor final, se possível desde 2000; (ii) histórico das alterações (inclusões / exclusões) dos medicamentos
(substância / produto / apresentação / classe terapêutica) nas listas positiva, negativa e neutra, se possível, desde o
início da concessão desse subsídio (2000); (iii) Base Sistema de Acompanhamento de Mercado de Medicamentos
(SAMMED): séries históricas anuais de diversas variáveis (preço médio de fábrica, quantidade produzida,
faturamento total, renúncia tributária, indicador de lista positiva ou não, grupo da classe terapêutica, indicador se
remédio é hospitalar/ambulatorial ou não, ano etc) por apresentação anonimizada; (iv) dicionário de variáveis (ou
questionário) da Base IQVIA (base de dados coletada por empresa privada que possibilita monitoramento de
aproximadamente 80% dos fármacos no Brasil): essa informação inicial teria nos auxiliado para refinar o pedido em
um segundo momento. No entanto, não foi enviada nenhuma resposta a essa solicitação.
16
Não houve manifestação via ofício, apenas troca de e-mails.
outros bens e serviços de saúde e refletem a influência do amplo conjunto de instrumentos regulatórios
e dos fatores socioeconômicos que afetam o mercado de medicamentos.
Esta avaliação busca trazer novas evidências, ao propor uma análise comparativa da evolução de preços
de medicamentos desonerados e medicamentos não desonerados. Para isso, foram utilizadas bases de
dados de Notas Fiscais eletrônicas (NF-e) de medicamentos comercializados no Estado do Rio Grande do
Sul, que foram cedidas pela Secretaria da Fazenda do Estado – SEFAZ/RS, referentes ao período de 2014
a 202017. Com base nesses dados, o objetivo da análise de resultados foi responder às seguintes questões:
• Como foi o comportamento das taxas de inflação de medicamentos desonerados e não
desonerados de 2014 a 2020?
• A desoneração tributária representou uma variável explicativa relevante da inflação de
medicamentos no período analisado? Em caso afirmativo, qual foi a direção da associação entre
essas variáveis (menor custo tributário estaria correlacionado com menor inflação)?
Para responder a essas questões, a metodologia da investigação foi segmentada em duas etapas. Na
primeira, foi realizada uma análise descritiva que contemplou a elaboração de índices de preços com
metodologia similar à utilizada no cálculo dos Índices de Preço ao Consumidor pelo IBGE, baseada em
Índice de Laspeyres18. Na segunda etapa, foram utilizados modelos econométricos para analisar a relação
entre subsídio tributário e inflação de medicamentos, controlando-se para outros fatores que podem ter
influência sobre os preços.
Cabe apontar uma restrição na metodologia que diz respeito ao mapeamento das mudanças no
tratamento tributário diferenciado, uma vez que a norma que disciplina o regime especial de utilização
do crédito presumido da contribuição de PIS/COFINS dispõe sobre princípios ativos elegíveis ao benefício,
o que não possibilita a identificação direta dos medicamentos contemplados. Ademais, não foi possível
obter informação sistematizada sobre o pertencimento de cada medicamento a esse regime (em nível de
produto e apresentação) ao longo da vigência da política de desoneração (a CMED disponibiliza essa
informação na internet, mas apenas a partir de 2017) 19.
Na próxima subseção, apresenta-se a base de dados utilizada. A subseção seguinte contempla as
estatísticas descritivas do mercado farmacêutico no RS e a evolução dos índices de preços. Em seguida,
são apresentados resultados da análise por meio de modelos econométricos. Por fim, são feitas algumas
considerações finais sobre a análise desta seção.
4.1 Base de Dados – Nota Fiscal Eletrônica do Rio Grande de Sul (NF-e)
Os dados da NF-e foram obtidos junto ao projeto Preços de Referência NF-e, principal ação do Programa
de Qualidade do Gasto do Rio Grande do Sul, coordenado pelo Tesouro do Estado/SEFAZ RS. Esses dados
têm sido utilizados por equipe técnica com vasta experiência da SEFAZ-RS, que desenvolve técnicas de
modelagem de dados e estatísticas para calcular preços de mercado para bens adquiridos pelo setor
17
As tratativas para solicitação e concessão das bases foram realizadas por e-mail e por reuniões virtuais.
18
Computa a mudança dos preços de uma cesta de bens e serviços no ano t, em relação a um período-base (ano 0).
I.e., o Índice de Laspeyres é dado por
((∑ Pt x Q0) / (∑ P0 x Q0)) * 100
em que, Pt é o preço no ano t, Q0 é a quantidade no período base e o P0 é o preço base. Cabe destacar que o período
base pode ser também definido como o ano t-1 e, portanto, para os anos subsequentes (t+1, t+2, ...) as informações
do período base se atualizam (t, t+1, ...).
19
Importante lembrar o que já foi apontado na seção 1 e 2 é que as empresas precisam entrar com processo de
requerimento junto à CMED para sua habilitação ao regime especial de crédito presumido e também do
medicamento candidato à desoneração.
público. Dessa forma, a base de dados, utilizada para fins de definição de preços de referência em compras
públicas de medicamentos no estado, pôde ser compartilhada de modo desagregado para cada
apresentação de medicamento, sem ferir o sigilo fiscal.
Os dados da NF-e disponibilizados têm como referência os anos de 2014 a 2020 e contam com
identificação dos medicamentos (número do código de barras) e do preço de referência da menor fração
do produto, que é calculado por meio da mediana dos valores efetivamente comercializados, já
descontado do valor da alíquota do ICMS. Contam também com outros atributos, como valor total
comercializado, informação do comprador (se era entidade pública ou privada), princípio ativo,
apresentação e quantidade de fracionamento. Essa base de dados foi complementada por informações
disponíveis nas listas de preços de medicamentos da CMED e no Anuário Estatístico do Mercado
Farmacêutico20.
Originalmente, os dados da NF-e contavam com 101.340 registros distribuídos entre os sete anos (2014 a
2020), com uma média de 14,5 mil registros por ano. Após os cruzamentos, com os ajustes e exclusão de
dados que não encontraram correspondência nas tabelas da CMED, restaram 99.820 registros (i.e.,
apenas 1,5% removido), somando um total de R$ 34,3 bilhões comercializados em todo o período (Tabela
2).
20
No caso do Anuário foi obtido o Índice Herfindahl - Hirschman (IHH) – índice utilizado para medir a concentração
– para cada medicamento.
indústria farmacêutica para a distribuidora, quanto desta para uma farmácia ou hospital, ou ainda
diretamente da indústria para o hospital. A preparação da base de dados infelizmente não permite fazer
essa distinção entre as etapas. Dessa forma, há possibilidade, por exemplo, de que medicamentos que
tenham peso maior da comercialização junto à indústria apresentem preço calculado relativamente
inferior àqueles com peso maior de aquisição pelo comércio farmacêutico. Ressalvadas essas limitações,
apresenta-se, a seguir, a descrição dos dados.
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
21
Os dados do AEMF 2020 podem ser encontrados na página 47 do documento no endereço
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/cmed/anuario-estatistico-
2019-versao-para-impressao.pdf/view. Acesso em 27/05/2022.
A Tabela 3 evidencia a grande heterogeneidade de preços das apresentações de medicamentos por
classes terapêuticas no RS. Em 2020, o preço médio variava de um valor de R$ 779,86 na classe de Agentes
antineoplásicos e imunomoduladores para um valor mínimo de R$ 4,76 na classe Soluções hospitalares.
Vale destacar que a categoria de Agentes antineoplásicos e imunomoduladores, por conta do elevado
preço médio, é a que conta com maior participação no valor comercializado entre as classes terapêuticas,
embora seja pouco representativa em termos de quantidade comercializada. Outro resultado observado
foi que o preço médio do total das apresentações de medicamentos subiu 113,5% entre 2014 e 2020. As
maiores taxas de crescimento ocorreram nas classes de Agentes diagnósticos (326,9%) e Aparelho
respiratório (218,5%).
22
Como preço de referência foi utilizado o teto máximo para as aquisições públicas de medicamentos das tabelas
da CMED. Existem em vigor dois tetos máximos de preços: o Preço Fábrica – PF e o Preço Máximo de Venda ao
Governo – PMVG. O PF é o teto de preço pelo qual um laboratório ou distribuidor pode comercializar um
medicamento no mercado brasileiro. Já o PMVG é o resultado da aplicação do Coeficiente de Adequação de Preços
(CAP) sobre o Preço Fábrica – PF, PMVG = PF*(1-CAP), tendo um efeito redutor sobre o preço máximo.
23
Em relação à lista neutra, por ter um quantitativo bem reduzido de fármacos,
medicamentos na lista positiva encontrava-se relativamente próximo ao preço de medicamentos na lista
negativa (R$ 26,14), embora o preço médio de referência daqueles fosse bem maior do que destes (R$
40,65). Vale destacar que a CMED considera os subsídios tributários na definição do preço de referência,
que serve como teto para o preço praticado no mercado. Os indicadores corroboram, assim, achados da
literatura de que os preços de referência dos medicamentos estariam superestimados em relação aos
preços praticados no mercado (Miziara e Coutinho, 2015) e sugerem que esse distanciamento pode ser
maior no caso dos medicamentos desonerados, que tem participação majoritária nesse mercado.
Gráfico 4 – Preço médio praticado e preço médio de referência dos medicamentos por
ano e por lista de crédito presumido PIS/COFINS - 2014 a 2020
24
IHH calculado a partir da base de dados da NF-e considerando as participações de mercado (faturamento em R$)
individuais das empresas e o sistema Anatomical Classification nível 4 (AC4) da European Pharmaceutical Market
Research Association (EPhMRA).
Gráfico 5 – Preço médio praticado e preço médio de referência dos medicamentos por
ano e por nível do Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) (R$ correntes)
25
Resolução CMED 01/2015. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/cmed/
legislacao/resolucoes. Acesso em 27/05/2022.
Gráfico 7 – Variação de preços calculada na base da NF-e, variação do preço de
referência CMED e IPCA Índice Geral (2015 a 2020)
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
2015 2016 2017 2018 2019 2020
140
135
130
125
120
115
110
105
100
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
26
Mais detalhes em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cssf/
arquivos/audiencia-publica-13-12.16/ap-13-12-2016-leandro-safatle-anvisa.
27
Mas não suficiente, pois, como já destacado, o efeito estimado da desoneração é sobre o preço praticado na venda
do fabricante para outra Pessoa Jurídica que atue na distribuição, hospitais ou comercialização, ou seja, na etapa
inicial e intermediária da cadeia produtiva, antes do acesso do consumidor ao medicamento em farmácias.
A segunda etapa contempla regressões da inflação de medicamentos em um ano “t” com base em uma
cesta de medicamentos constantes em todo o período, que foi ponderada pelo valor consumido no ano
inicial da série (t0=2014). Como a amostra de medicamentos é fixa, pode-se avaliar a inflação acumulada
ao longo do tempo, em linha com o comportamento dos índices de preço apresentados no Gráfico 9.
Apesar de restringir o número de observações, essa abordagem tem a vantagem de reduzir riscos de erros
de medida, que podem enviesar as estimativas. Esses riscos tendem a ser maiores quando variáveis de
resultado com alta persistência temporal, como parece ser o caso do preço de medicamentos (dada a
existência de componente inercial), são medidas em diferenças de intervalo de tempo curto.
Na terceira etapa, investiga-se a inflação de medicamentos acumulada ao longo de toda a série (2014 a
2020), com base em uma cesta de medicamentos constantes em todo o período e no peso dos
medicamentos no ano inicial (2014), restringindo-se a amostra a grupos selecionados de medicamentos.
O propósito é avaliar a heterogeneidade dos resultados da aplicação do modelo de regressão em amostras
selecionadas, compostas por medicamentos desonerados e não desonerados com características mais
homogêneas. Nessa abordagem, presume-se que a influência de fatores omitidos do modelo que possam
influenciar as diferenças de preços entre essas categorias de medicamentos seja menor, o que confere
robustez à análise. Os resultados da investigação são apresentados a seguir.
28
As tabelas 9 a 11 apresentam apenas os coeficientes de interesse. As tabelas completas com dos modelos de
regressão se encontram no Apêndice.
modelo29. Como pontuado, estimativas com variáveis em diferenças para um curto espaço de tempo são
mais sujeitas a riscos dessa natureza.
29
A princípio, o modelo de primeiras diferenças exposto na equação (1), capta efeitos temporais (choques
temporários em determinado ano) na constante. No entanto, ainda assim, é possível que efeitos temporais de
segunda ordem existam e influenciem na taxa de inflação.
Obteve-se associação negativa estatisticamente significante entre a desoneração tributária e a inflação
de medicamentos nos casos das amostras selecionadas de classes terapêuticas sem restrição de
composição (-28,2%) e de princípios ativos com restrição de composição (-40,4%). Esses resultados estão
em consonância com o que foi evidenciado no modelo anterior de inflação acumulada 2014-2020 (-
14,4%), aplicado na amostra sem restrições. Ademais, o modelo de classe terapêutica com restrição de
composição manteve o sinal negativo da correlação (-52,2%), mas perdeu significância devido,
provavelmente, à redução do tamanho amostral. O mesmo não pode ser dito para os princípios ativos
sem restrição, uma vez que, mesmo com tamanho amostral maior – em relação ao mesmo grupo com
restrição – a correlação se mostrou estatisticamente não significativa, ainda que negativa (-6,9%). De
qualquer forma, relevante notar que, no caso das estimativas referentes a medicamentos mais
homogêneos, a intensidade da associação negativa entre desoneração tributária e inflação foi maior.
30
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101670.
31
As estimativas nas POF’s indicam que um percentual superior a 80% dos medicamentos obtidos de forma não
monetária é proveniente de doação pelo SUS (posto de saúde, hospital, laboratórios oficiais etc.).
32
A classificação ATC utilizada nas análises é a da Associação Europeia de Pesquisa de Mercado Farmacêutico
(EphMRA), a fim de manter compatibilidade com os dados das tabelas da CMED, que também utiliza essa
classificação.
de pessoas em cada quintil. Como os domicílios mais pobres têm em média mais moradores, ao distribuir
as pessoas igualmente em cada quintil, os quintis de menor renda ficam com uma quantidade menor de
domicílios.
Tabela 15 – Domicílios que incorreram em despesas, por tipo de despesa de saúde, por
quintil do rendimento domiciliar per capita das pessoas – POF 2017-2018 (%)
Quintil do rendimento domiciliar per capita
Tipo de despesa
1 2 3 4 5 Total
Medicamentos (A) 72,2 78,3 80,8 82,7 85,5 80,6
Medicamentos recebidos em postos de saúde* (B) 26,1 28,0 31,8 27,9 19,6 26,4
A+B 81,1 85,1 88,0 88,1 89,0 86,7
Plano seguro saúde 3,8 9,7 17,3 30,0 55,8 26,4
Consulta médica 8,2 12,7 16,8 19,8 23,5 17,1
Exames diversos 8,0 10,0 12,0 11,8 11,7 10,9
Material de tratamento** 5,9 8,4 9,7 11,0 15,1 10,5
Consulta e tratamento dentário 2,9 4,7 5,8 7,0 11,3 6,8
Outras 2,4 3,9 4,8 6,4 11,5 6,3
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da POF 2017-2018 – IBGE.
(*) Medicamento obtido por doação, quando, na aquisição do produto pelo morador, não houve nenhum dispêndio
em dinheiro, cheque, cartão ou bens e serviços, ou seja, o produto foi adquirido ou obtido sem nenhum custo. (**)
Inclui seringa, termômetro, teste de gravidez, óculos e lentes etc.
O amplo consumo de medicamentos pela população torna o dispêndio com esse item o mais relevante
na despesa total das famílias com assistência à saúde. Segundo a Tabela 16, o gasto com medicamentos
correspondia a 2,5% do rendimento total dos domicílios em 2018 e representava cerca de 40% do gasto
total com saúde (este, por sua vez, representava 6,3% do rendimento total). Ademais, a composição das
despesas com saúde, segundo o quintil de renda familiar, mostrava claramente a importância da despesa
com medicamentos no total de despesas com saúde das famílias de menor nível de renda (60% do gasto
total com saúde ou 5,6% do rendimento domiciliar total das 20% mais pobres), enquanto, para as famílias
de maiores níveis de renda, predominavam os gastos com plano de saúde (2,8% das 20% mais ricas), já as
despesas com medicamentos (segundo maior item) representavam 30% do despesa total com saúde (ou
1,8% do rendimento domiciliar). A importância das despesas não monetárias com medicamentos
recebidos em postos de saúde, por sua vez, decrescia conforme aumentava a renda das famílias,
equivalendo a 2,7% do rendimento total dos 20% domicílios mais pobres e 0,2% dos 20% mais ricos.
33
Esses dados devem ser vistos com cautela uma vez que na POF nem sempre o produto adquirido está vinculado
corretamente ao morador que o consumirá. Portanto, é bem provável que o consumo das crianças, por exemplo,
esteja subestimado.
Tabela 17 – Consumo mensal de medicamentos por faixa etária – POF 2017-2018
Participação na Valor médio dos Valor total dos
Quantidade Quantidade
Faixa etária população medicamentos medicamentos
consumida (%)
(%) (R$) (R$ milhões)
0 a 14 20,5 735.826 0,5 40,66 29,92
15 a 29 22,8 22.242.973 15,7 34,58 769,11
30 a 59 41,4 78.512.742 55,3 49,00 3.847,39
60 ou mais 15,3 40.432.601 28,5 68,28 2.760,76
Total 100,0 141.924.142 100 52,19 7.407,18
Fonte: POF 2017-2018, IBGE. Elaboração: DEAP/SETO/ME.
O governo também é um grande comprador de medicamentos e compromete parcela significativa do seu
orçamento com esses produtos. Segundo dados da ANVISA (2021), a Administração Pública Federal,
Estadual e Municipal respondeu pelo faturamento de 17,2% desse mercado em 2019, apesar de a
quantidade de medicamentos adquirida ter respondido por apenas 5,2% dos medicamentos
comercializados.
34
Hogerzeil H. V., Mirza Z. The world medicines situation 2011: access to essential medicines as part of the right to
health. Geneva: World Health Organization; 2011.
35
Cabe destacar que a não obtenção do medicamento pode ser um problema de escassez de oferta pública de
medicamentos, mas também um problema do lado da demanda. Nesse sentido, é possível que boa parte da
população não tenha nem mesmo tentado obter os medicamentos junto ao SUS ou ao Programa Farmácia Popular
(PFP), ou seja, adquiriram diretamente na rede privada. Neste caso, pode ser devido à falta de informação –
conhecido na literatura econômica como informação assimétrica – ou, para aqueles de maior faixa de renda, devido
ao custo elevado de locomoção e espera que não compensaria a ida até o posto público de saúde.
É importante ponderar que a prevalência do acesso integral aos medicamentos associa-se principalmente
à compra dos medicamentos na rede privada, o que provoca iniquidades no acesso a medicamentos,
decorrentes das desigualdades socioeconômicas e da heterogeneidade de capacidade de pagamento dos
usuários. Com efeito, os principais motivos pelos quais os usuários não conseguiam acessar integralmente
os medicamentos prescritos eram a indisponibilidade dos medicamentos nos serviços públicos de saúde
(52,4%) e a falta de dinheiro (18,3%), o que evidencia que as pessoas com menores níveis de rendimentos
sofrem mais com o problema de falta de acesso.
De forma similar à PNS 2019, as estimativas da POF 2017-2018 apontam uma restrição de acesso de
medicamentos na ordem de 14,2% (Tabela 18). A restrição apresenta forte relação com a renda domiciliar.
Quase um quarto da população do primeiro quintil indica restrição para aquisição de medicamentos, em
contraposição a 6,3% da população do último quintil. O principal motivo da restrição para a população
mais pobre é a falta de dinheiro (19%), enquanto para a população de maior renda, a indisponibilidade
do produto tem a mesma relevância que a falta de dinheiro (2,8%).
Tabela 21 – Despesa monetária média mensal familiar com remédios por classe
terapêutica e quintil do rendimento domiciliar per capita das pessoas (POF 2017-2018)
Quintil do rendimento domiciliar per capita
Grupo da Classe terapêutica (pessoas) Total
1 2 3 4 5
Sistema Nervoso (N) 13,23 19,53 23,48 25,88 37,92 25,39
Sistema Cardiovascular (C) 4,56 10,41 15,24 18,44 31,76 17,63
Aparelho digestivo e metabolismo (A) 5,64 8,70 12,05 14,88 29,86 15,58
Sistema respiratório (R) 7,08 8,85 9,57 10,27 13,11 10,11
Anti-infecciosos de uso sistêmico (J) 3,57 4,38 4,06 4,66 6,73 4,84
Sistema musculoesquelético (M) 1,62 3,32 4,50 4,94 7,54 4,72
Sistema geniturinário e hormônios sexuais (G) 2,10 2,69 3,90 5,22 7,80 4,69
Órgãos sensoriais (S) 1,70 2,47 3,67 3,59 5,07 3,50
Dermatológicos (D) 0,95 1,84 1,55 2,33 4,36 2,39
Preparações hormonais sistêmicas, exceto hormônios sexuais e
0,28 0,53 0,81 1,21 3,18 1,36
insulina (H)
Antiparasitários, inseticidas e repelentes (P) 0,76 0,53 0,42 0,35 0,45 0,48
Sangue e órgãos hematopoiéticos (B) 0,22 0,29 0,33 0,34 0,63 0,38
Antineoplásicos e agentes imunomoduladores (L) 0,01 0,06 0,15 0,20 0,77 0,28
Tratamento Alternativo (TA) 0,21 1,21 0,39 0,46 2,27 0,99
Medicamento Indeterminado 2,52 5,79 10,16 12,43 35,11 14,99
Total 44,44 70,62 90,27 105,19 186,55 107,32
Fonte: POF 2017-2018, IBGE. Elaboração: DEAP/SETO/ME.
A Figura 1 apresenta o perfil de dispêndio com medicamentos agregando os fatores de renda, tipo de
despesa (monetária e não monetária), além de aprofundar a classe terapêutica para o segundo nível, a
qual especifica propriedades terapêuticas. Primeiro, é possível constatar, por exemplo, que o dispêndio
não monetário (medicamentos obtidos gratuitamente no SUS, na parte superior do círculo rosa) das
famílias de alto rendimento são caracterizados por medicamentos classificados como Agentes
antineoplásicos e Agentes modificadores lipídicos. Por sua vez, entre as despesas monetárias (parte
superior do círculo azul), as Vitaminas são mais relevantes. As despesas com medicamentos do subgrupo
Terapia cardíaca, por seu turno, tem relevância tanto na despesa monetária como na não monetária das
famílias de alta renda (parte superior da intersecção entre os círculos). Por outro lado, são relevantes,
entre as despesas monetárias das famílias com baixo rendimento, os subgrupos Preparados contra a tosse
e resfriado e Antibacterianos de uso sistêmico (parte inferior do círculo azul). Essas mesmas famílias
obtêm gratuitamente no sistema público um montante maior de medicamentos classificados como
Agentes antidiarreicos, anti-inflamatórios e anti-infecciosos intestinais (parte inferior do círculo rosa). Os
Analgésicos são relevantes entre as despesas monetárias para todos os níveis de renda, enquanto os
Medicamentos usados no diabetes e os Psicoanalépticos são relevantes entre as despesas não monetárias
para todos os níveis de renda.
17,6%
65,2%
Tabela 25 – Despesa não monetária média mensal familiar com remédios e variação
das despesas entre as POFs, por quintil do rendimento domiciliar das pessoas (R$ de
jan/2018)
POF Taxa média de crescimento anual no período:
Quintil
2003 2009 2018 2003-2018 2009-2018
1 18,37 18,64 21,86 1,2% 1,8%
2 23,11 21,78 28,28 1,4% 2,9%
3 20,69 32,42 32,06 3,0% -0,1%
4 17,31 25,79 31,95 4,2% 2,4%
5 16,13 31,02 24,42 2,8% -2,6%
Total 18,90 26,72 27,92 2,6% 0,5%
Fonte: POF 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018, IBGE. Elaboração: DEAP/SETO/ME. Valores corrigidos pelo INPC para
jan/2018.
Apesar do crescimento dos gastos, a participação da despesa não monetária em relação ao rendimento
domiciliar praticamente manteve-se praticamente estável no período analisado, ao passar de 0,5% em
2003 para 0,6% em 2018 (Tabela 26). Além disso, de forma similar à despesa monetária, verifica-se que
houve queda da participação do valor dessa doação no orçamento familiar com medicamentos nos
domicílios de menor rendimento, notadamente naqueles situados entre os 20% mais pobres (caiu de 3,9%
para 2,8%) e no 2º quintil (caiu de 2,1% para 1,6%). Por sua vez, a participação dessa despesa no
orçamento dos mais ricos (3º e 4º quintil) aumentou um pouco.
A Tabela 27 demonstra que os 40% mais ricos da população apropriavam-se de 47,3% da despesa não
monetária com medicamentos em 2018, enquanto os 40% mais pobres ficavam com 29,3%, o que
representa uma distribuição menos concentrada do que a observada nas despesas monetárias (índices de
65,2% e 17,6%, respectivamente), o que é esperado dada a maior dependência do SUS desses estratos de
renda. Entretanto, nota-se que a participação dos quintis de menor rendimento nas despesas não
monetárias caiu no período analisado (participação dos 40% mais pobres variou de 35,9% em 2003 para
29,3% em 2018), ao contrário do que ocorreu com as despesas monetárias. Também se destaca que os
20% mais pobres da população, que apresentam participação maior de crianças, têm menor acesso à
provisão gratuita de medicamentos (participação de 11,9%), assim como ocorre com as despesas
monetárias (6,3%). Esses indicadores evidenciam o desafio de redução de iniquidades no acesso a
medicamentos, necessário para a garantia das condições de saúde da população.
Tabela 26 – Participação da despesa Tabela 27 – Distribuição percentual da
não monetária média familiar com despesa não monetária com remédios,
remédios no rendimento domiciliar por quintil do rendimento domiciliar das
médio, por quintil do rendimento pessoas, nas POFs
domiciliar das pessoas, nas POFs
Quintil 2003 2009 2018 Quintil 2003 2009 2018
1 3,9% 2,8% 2,8%
29,3%
1 14,5% 10,4% 11,9%
35,9%
2 2,1% 1,5% 1,6% 2 21,4% 13,9% 17,4%
3 1,2% 1,6% 1,3% 3 22,9% 25,2% 23,4%
4 0,6% 0,8% 0,9% 4 20,0% 21,4% 25,4%
41,2%
47,3%
5 0,2% 0,3% 0,2% 5 21,1% 29,0% 21,9%
Total 0,5% 0,7% 0,6% Total 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: POF 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018, IBGE. Elaboração: DEAP/SETO/ME.
36
Curvas de Concentração (CC) têm várias aplicações, como o estudo da progressividade da distribuição de serviços
públicos segundo grupos de renda ou a análise da distribuição dos componentes da renda total das famílias, tais
como rendimentos do trabalho, da previdência, de benefícios sociais etc (Medeiros, 2006). Segundo Soares (2006),
a CC, uma extensão da Curva de Lorenz, é a proporção acumulada da população ordenada pela renda total, no eixo
horizontal, e a proporção acumulada da variável X (gasto total com medicamentos), também ordenada pela renda
total, no eixo vertical. Em termos práticos, para construir uma CC, relativa ao gasto total com medicamentos,
seguem-se quatro etapas (Medeiros, 2006): a) ordenar a população por renda familiar per capita; b) acumular a
Como apontado por Soares (2006), o método pressupõe que o coeficiente de concentração pode ser
decomposto em partes, referentes ao coeficiente de concentração dos seus componentes e ao peso de
cada um deles na distribuição. Desse modo, o coeficiente de concentração do gasto total com
medicamentos das famílias foi decomposto em coeficientes de concentração de cada um dos
componentes da despesa (despesa monetária líquida do subsídio tributário, despesa não monetária
líquida do subsídio tributário e subsídio tributário) com relação à despesa total e o peso de cada
componente no total da despesa. Se a despesa cresce mais intensamente nos centésimos inferiores de
renda, este gasto tem caráter progressivo ou gerador de igualdade, ao passo que se aumenta mais nos
centésimos de renda mais altos, apresenta natureza regressiva ou geradora de desigualdade.
O Gráfico 14 apresenta as curvas de concentração, ordenadas por centil de rendimento domiciliar per
capita da população, das modalidades de gastos com medicamentos em 2018: subsídio tributário (linha
azul), despesas monetárias líquidas dos subsídios (linha preta) e despesas não monetárias líquidas de
subsídios (linha laranja). Evidencia-se uma grande desigualdade na distribuição dos subsídios tributários:
6,8% do total é alocado para os 20% mais pobres, enquanto 39,3% são alocados para os 20% mais ricos.
A apropriação desses benefícios acompanha o padrão da distribuição da despesa monetária das famílias
(43,4% do total das despesas é realizado pelos 20% mais ricos), que corresponde à principal modalidade
de aquisição de medicamentos e está relacionada diretamente ao nível de rendimentos. A distribuição
das despesas não monetárias, associadas à provisão pública gratuita de medicamentos, também é mais
concentrada nos estratos mais ricos da população (aproxima-se da igualdade quando atinge os 20% mais
ricos), porém a desigualdade é bem inferior àquela verificada nos subsídios – os 20% mais pobres
apropriam-se de 12,0% das despesas não monetárias e os 20% mais ricos de 21,6%.
100%
90%
78,1%
80%
70%
60,7%
60%
56,6%
50%
38,9%
40%
26,6%
30%
20%
12,0%
10%
6,8%
0%
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
fração de 0% a 100% da população; c) acumular a fração de 0% a 100% do gasto total com medicamentos; d) marcar
as frações acumuladas de população no eixo horizontal e de gastos acumulados no eixo vertical.
regressividade em 2018, mais que compensando o aumento do primeiro período, quando atingiu um
índice de 0,313. O coeficiente referente à despesa não monetária, que é a menos concentrada entre as
modalidades de financiamento, também se elevou, consideravelmente, entre 2003 e 2009 (de 0,052 para
0,202), mas recuou em 2018 (0,117). Esta despesa ganhou relevância no total das despesas com
medicamentos no período (peso subiu de 15,8% em 2003 para 19,2% em 2018). Por sua vez, o nível de
concentração da despesa monetária, que representa a modalidade de maior peso no gasto com
medicamentos e a mais concentrada nos mais ricos, permaneceu relativamente estável entre 2003 e 2009
(0,388) e apresentou leve redução em 2018 (0,362). De forma análoga à despesa não monetária, foi
observada tendência similar no gasto com subsídio tributário, que também manteve peso estável no
período (5,8% em 2018) e apresentou trajetória de aumento do nível de concentração em 2009 (0,367) e
de queda em 2018 (0,324).
37
Ver NR 15.
38
Ver NR 16.
teria maiores efeitos para a consecução desse objetivo do que os subsídios tributários, por apresentar
natureza menos regressiva. Dessa forma, torna-se fundamental avaliar se o modelo atual de
financiamento dessa política pública, caracterizado por participação relevante dos gastos tributários
(27,2% da soma dos dois tipos de gastos, em 2020), não deveria ser revisado para se avançar na garantia
de acesso universal e integral a medicamentos.
Por fim, é importante ter em vista que o estudo foi realizado com base na hipótese de que os subsídios
tributários são integralmente repassados para os preços dos medicamentos. Nesse sentido, caso essa
hipótese não seja válida, ou seja, as empresas da cadeia produtiva se apropriem do crédito presumido,
ainda que não em sua totalidade, os resultados de concentração do subsídio tributário, obtidos nessa
seção, indicariam regressividade ainda maior do que o observado, uma vez que empresários tendem a
se localizar nos estratos de renda superiores. Segundo a teoria econômica, tanto características da oferta
(alta concentração do mercado de fármacos) como da demanda (baixa sensibilidade da demanda ao
preço) contribuem para que dificilmente o crédito presumido do PIS/COFINS concedido na produção e
importação de medicamentos seja repassado ao longo de toda cadeia produtiva, até alcançar o
consumidor final, cristalizado em redução de preços. Em outras palavras, a estrutura desse mercado
(prevalência de monopólios e oligopólios e demanda inelástica do consumidor) incentiva produtores,
distribuidores e comerciantes de fármacos a se apropriarem desse subsídio, ampliando sua margem de
lucro.
Esses aspectos teóricos-econômicos estariam indo de encontro com os achados da questão 2, os quais
apontam correlação negativa entre a presença de medicamentos na lista positiva (desonerados) e os
preços de mercado? Em outras palavras, os indícios de existência de repasse do crédito presumido para
os preços de mercado estariam refutando o argumento teórico do parágrafo anterior? A resposta é não.
Importante relembrar que a avaliação de resultados realizada na questão 2 envolve preços de venda entre
fabricantes e outras pessoas jurídicas (distribuidoras, hospitais e varejistas). Nesse sentido, ainda que a
evidência empírica obtida na questão 2 pudesse ser considerada efeito causal, a parcela do crédito
presumido, não retida nas etapas inicial e intermediária da cadeia produtiva, pode ser apropriada pelas
distribuidoras, farmácias e drogarias ao não repassarem esse benefício fiscal ao consumidor final.
Portanto, há indícios de que os resultados que apontam para regressividade nesta avaliação caracterizam
um limite inferior, isto é, provavelmente a concentração dos subsídios tributários é ainda maior nas
classes de renda mais alta do que a relatada neste relatório.
De qualquer forma, alerta-se para o fato de que, a política de regulação dos preços de medicamentos não
se torne um controle rígido sobre os preços de mercado, o que levaria a sua redução artificial, incorrendo
em redução das margens de lucro a ponto de levar ao fechamento de empresas e, assim, gerando
desabastecimento. Aliás, algumas das sugestões propostas neste relatório propõe válvulas de escape para
essas situações.
Conclui-se que os achados obtidos são robustos e consistentes entre si, dadas as limitações deparadas ao
longo da execução e reportadas neste relatório. Portanto, as evidências geradas servem de base para
diversas recomendações de aprimoramento da Política de Subsídio Tributário a Medicamentos, incluídas
no Relatório de Recomendações e submetido ao CMAS e CMAP para deliberação.
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Apêndice
Quadro 1 – Código dos Medicamentos por Classe Terapêutica*
ATC POF 2002-2003 POF 2008-2009 POF 2017-2018
Agentes
LIQUIDO PARA CONTRASTE (EXAME)
Diagnósticos (T)
Anti-infecciosos ANTI HANSENIASE ANTIBACTERIANO ANTIBACTERIANO
de uso sistêmico
(J) ANTIBACTERIANO ANTIBIOTICO ANTIBIOTICO
ANTIBIOTICO ANTIFUNGICO ANTIFUNGICO
ANTIFUNGICO ANTI-HANSENIASE ANTI-HANSENIASE
ANTIINFECCIOSO ANTIINFECCIOSO ANTI-INFECCIOSO
ANTIINFECCIOSO E
ANTIINFECCIOSO E ANTIINFLAMATORIO ANTIVIROTICO
ANTIINFLAMATORIO
ANTIVIROTICO ANTIVIROTICO PARA AIDS
PARA AIDS PARA AIDS PARA INFECCAO
PARA INFECCOES DA BOCA E PARA INFECCOES DA BOCA E
PARA INFECCAO
GARGANTA GARGANTA
PARA TRATAMENTO DE AIDS PARA INFECCOES DA BOCA E GARGANTA PARA PNEUMONIA
PARA TUBERCULOSE PARA TUBERCULOSE PARA TUBERCULOSE
PASTILHA PARA GARGANTA PASTILHA PARA GARGANTA PASTILHA PARA GARGANTA
TRATAMENTO AIDS TRATAMENTO DE AIDS TRATAMENTO DE AIDS
TRATAMENTO DE AIDS VACINA ANTIOFIDICO VACINA ANTIPOLIO
VACINA (ANTI-POLIO) VACINA ANTIPOLIO VACINA ANTITETANICA
VACINA ANTI TETANICA VACINA ANTITETANICA VACINA DE HEPATITE B
VACINA ANTIOFIDICO VACINA DE HEPATITE B VACINA PARA GRIPE
VACINA BCG VACINA TRIPLICE VACINA TRIPLICE
VACINA DE HEPATITE B VACINAS VACINAS
VACINA TRIPLICE
VACINAS
Antineoplásicos e ANTINEOPLASICO (TRATAMENTO ANTINEOPLASICO (TRATAMENTO DE ANTINEOPLASICO (TRATAMENTO
agentes DE CANCER) CANCER) DE CANCER)
imunomoduladore ANTINEOPLASICO (TRATAMENTO MEDICAMENTOS
PARA CANCER
s (L) DE CANCERES) IMUNOSSUPRESSORES
PARA CANCER PARA QUIMIOTERAPIA PARA CANCER
PARA QUIMIOTERAPIA QUIMIOTERAPICO PARA ESCLEROSE MULTIPLA
QUIMIOTERAPICO PARA QUIMIOTERAPIA
QUIMIOTERAPICO
Antiparasitários, ANTIHELMINTICO ANTI-HELMINTICO (VERMIFUGO) PARA DOENCA DE CHAGAS
inseticidas e
PARA DOENCAS INFECCIOSAS E
repelentes (P) ANTI-HELMINTICO (VERMIFUGO) ECTOPARASITOSE (SARNA, PIOLHO, ETC.)
ENDEMICAS
PARA DOENCA DE CHAGAS PARA DOENCA DE CHAGAS PARA MALARIA
PARA DOENCAS INFECCIOSAS E
PARA MALARIA PARA PIOLHO
ENDEMICAS
PARA PIOLHO PARA MALARIA PARA SARNA
PARA PROTOZOARIOS PARA PIOLHO PARA SARNA, PIOLHO, ETC.
PARA VERMES PARA PROTOZOARIOS PARA VERMES
VERMIFUGO PARA SARNA PARA VERMES (VERMIFUGO)
PARA VERMES VERMIFUGO
PARA VERMES (VERMIFUGO)
REMEDIO PARA PIOLHO (SABONETE)
SABONETE ANTI-PIOLHO
VERMIFUGO
ANTIACIDO ANTIACIDO ANTIACIDO
Aparelho digestivo ANTICOLICA ANTICOLICA ANTICOLICA
e metabolismo (A)
ANTIDIARREICO ANTIDIARREICO ANTIESPASMODICO
ANTIESPASMODICO ANTIESPASMODICO ANTI-REFLUXIVO GASTRICO
ANTI-ESPASMODICO ANTI-REFLUXIVO GASTRICO CALCIO (CALCIFICANTE OSSEO)
ANTI-REFLUXIVO GASTRICO CALCIO (CALCIFICANTE OSSEO) CALCIO PARA OSTEOPOROSE
ANTIULCERA PEPTICA (ESTOMAGO
CALCIO PARA OSTEOPOROSE COMPLEXO VITAMINICO
E DUODENO)
ANTIULCEROSO COMPLEXO B CONTROLADOR DE APETITE
CALCIO (CALCIFICANTE OSSEO) COMPLEXO VITAMINICO EMAGRECEDOR
CALCIO PARA OSTEOPOROSE CONTROLADOR DE APETITE ESTIMULANTE DO APETITE
CILIDRON (PARA GASES) DIGESTIVO FORTIFICANTE
FORTIFICANTE E ESTIMULANTE
COMPLEXO B EMAGRECEDOR
DO APETITE
COMPLEXO VITAMINICO ESTIMULANTE DO APETITE HEPATICO (PARA O FIGADO)
CONTROLADOR DE APETITE FORTIFICANTE LAXANTE
FORTIFICANTES E ESTIMULANTES DO
DIGESTIVO LAXANTE E PURGATIVO
APETITE
MEDICAMENTO PARA GENGIVA
EMAGRECEDOR HEPATICO (PARA O FIGADO)
DE BEBE
ESTIMULANTE DO APETITE INTESTINAL MODERADOR DE APETITE
ESTOMACAL (PARA ESTOMAGO) LAXANTE OLEO (LAXATIVO)
FORTIFICANTE LAXANTE E PURGATIVO OLEO FORTIFICANTE
HEPATICO (PARA O FIGADO) MEDICAMENTO PARA GENGIVA DE BEBE PARA AFTA
HIDRAFIX MODERADOR DE APETITE PARA AZIA (ANTIACIDO)
INTESTINAL OLEO (LAXATIVO) PARA DIABETE
LACTO-PURGA OLEO FORTIFICANTE PARA DIARREIA
LAXANTE PARA AFTA PARA EMAGRECER
LAXANTE E PURGATIVO PARA AZIA (ANTIACIDO) PARA ENJOO
PARA ENJOO E VOMITO
LUFTAL (PARA GASES) PARA DIABETE
(ANTIEMETICO)
MODERADOR DE APETITE PARA DIARREIA PARA ESTOMAGO
OLEO (LAXATIVO) PARA EMAGRECER PARA GASES E COLICA
OLEO FORTIFICANTE PARA ENJOO PARA GASTRITE
PARA DIABETES PARA ENJOO E VOMITO (ANTIEMETICO) PARA HEPATITE
PARA DIARREIA PARA ESTOMAGO PARA O FIGADO (HEPATICO)
PARA O FIGADO, PANCREAS E
PARA EMAGRECER PARA GASES E COLICA
VIAS BILIARES
PARA PRISAO DE VENTRE
PARA ENJOO PARA GASTRITE
(LAXANTE)
PARA ESTOMAGO PARA HEPATITE PARA PROBLEMA DE ESTOMAGO
PARA GASES PARA INTESTINO PARA PROBLEMAS NO INTESTINO
PARA GASTRITE PARA O FIGADO (HEPATICO) PARA REFLUXO GASTRICO
PARA HEPATITE PARA O FIGADO PANCREAS E VIAS BILIARES PARA VESICULA
PARA INTESTINO PARA PRISAO DE VENTRE (LAXANTE) PARA VOMITO
PARA O FIGADO (HEPATICO) PARA PROBLEMAS DE ESTOMAGO PURGATIVO
PARA PRISAO DE VENTRE PARA REFLUXO GASTRICO REMEDIO DIGESTIVO
PARA REFLUXO GASTRICO PARA VESICULA SUPOSITORIO
PARA ULCERA PEPTICA (ESTOMAGO
PARA VOMITO VITAMINA
E DUODENO)
PARA VESICULA PURGATIVO VITAMINA B12
REPOSITOR ELETROLITICO (CLORETO DE
PARA VOMITO VITAMINA C
POTASSIO, SODIO, ETC.)
PLASIL (PARA ENJOO OU VOMITO) SOLUCOES HIDRATANTES VITAMINA COMPLEXO B
PREPULSID (ANTI-REFLUXIVO) SORO FISIOLOGICO HIDRATANTE VITAMINA D
PURGATIVO SUPOSITORIO
REPOSITOR ELETROLITICO
(CLORETO DE POTASSIO, SODIO VITAMINA B12
ETC.)
SORO FISIOLOGICO HIDRATANTE VITAMINA C
SUPOSITORIO VITAMINAS
VITAMINA (EXCETO B12)
VITAMINA B12
VITAMINA C
Dermatológicos ANTI-CASPA ANTIMICOTICO ANTIMICOTICO
(D)
ANTIMICOTICO CICATRIZANTE CREME ANTIALERGICO
ANTI-SEPTICO BUCAL CREME ANTIALERGICO CREME ANTIMICOTICO
CICATRIZANTE CREME ANTIMICOTICO CREME CICATRIZANTE
CREME ANTIALERGICO CREME CICATRIZANTE CREME DERMATOLOGICO
CREME ANTIMICOTICO CREME DERMATOLOGICO CREME PARA ASSADURA
CREME CICATRIZANTE CREME PARA ASSADURA CREME PARA QUEIMADURAS
CREME DERMATOLOGICO CREME PARA QUEIMADURAS LOCAO DERMATOLOGICA
CREME PARA QUEIMADURAS DERMATOLOGICO OLEO DERMATOLOGICO
DERMATOLOGICO LOCAO DERMATOLOGICA OLEO PARA ASSADURA
LOCAO DERMATOLOGICA OLEO DERMATOLOGICO PARA ASSADURA
OLEO DERMATOLOGICO OLEO PARA ASSADURA PARA FIMOSE
PARA MICOSE (DERMATOLOGICO) PARA ASSADURA PARA HERPES
PARA MICOSE
PARA HERPES
(DERMATOLOGICO)
PARA MICOSE (DERMATOLOGICO) PARA PROBLEMAS DE PELE
PARA PROBLEMAS DE PELE REMEDIO DERMATOLOGICO
SABONETE ANTIALERGICO VASELINA
VASELINA
Medicamento ADESIVOS ADESIVOS ADESIVOS
Indeterminado
(MI) AGREGADO AGREGADO AGREGADO
CREME PARA O CORPO (MAO,PE,
CREME PARA O CORPO (MAO, PE, ETC.) DST
ETC.)
MEDICAMENTO NAO
ESTIMULANTE INJECAO AMPOLA (NAO-DETERMINADA)
ESPECIFICADO
GEL MASSAGEADOR POMADA INDETERMINADA POMADA NAO ESPECIFICADA
INJECAO (NAO DETERMINADA) REMEDIO INDETERMINADO
LOCAO (NAO ESPECIFICADA) REMEDIO MANIPULADO INDETERMINADO
ODONTOLOGICO
OLEO INDETERMINADO
PARA VITILIGO
POMADA (INDETERMINADA)
REMEDIO INDETERMINADO
REMEDIO MANIPULADO (INDETERMINADO)
Órgãos sensoriais COLIRIO COLIRIOS COLIRIOS
(S)
PARA PROBLEMA DE BOCA,
OFTALMOLOGICO OTOLOGICOS
OUVIDO, NARIZ OU GARGANTA
PARA PROBLEMAS DE BOCA, OUVIDO, PARA PROBLEMA OCULAR
OFTALMOLOGICOS
NARIZ E GARGANTA (OFTALMOLOGICO)
PARA PROBLEMAS OCULARES
OTOLOGICOS REMEDIOS OTOLOGICOS
(OFTALMOLOGICOS)
SOLUCAO OFTALMICA (PARA A SOLUCAO OFTALMICA (PARA A
SOLUCAO OFTALMICA (PARA A VISTA)
VISTA) VISTA)
Preparações ANTITIREOIDISMO ANTITIREOIDISMO ANTITIREOIDISMO
hormonais
sistêmicas, exceto CORTICOIDE CORTICOIDE PARA LUPUS
hormônios sexuais PARA LUPUS PARA LUPUS PARA TIREOIDE
e insulina (H)
PARA TIREOIDE PARA TIREOIDE
PARA TIROIDE PARA TIROIDE
Sangue e órgãos ANTI HEMORRAGICO ANTIANEMICO ANTIANEMICO
hematopoiéticos
(B) ANTIANEMICO ANTICOAGULANTE ANTICOAGULANTE
ANTICOAGULANTE ANTI-HEMORRAGICO ANTI-HEMORRAGICO
COAGULANTE COAGULANTE COAGULANTE
PARA DERRAME CEREBRAL PARA ANEMIA PARA ANEMIA
PARA DERRAME CEREBRAL PARA DERRAME CEREBRAL
PARA PROBLEMAS DE
PARA PROBLEMAS DE COAGULACAO
COAGULACAO
Sistema DIURETICO DIURETICO DIURETICO
Cardiovascular (C)
PARA CIRCULACAO PARA CIRCULACAO PARA COLESTEROL
PARA COLESTEROL PARA COLESTEROL PARA HEMORROIDAS
PARA INSUFICIENCIA
PARA HEMORROIDAS PARA HEMORROIDAS
CARDIOVASCULAR
PARA O CORACAO
PARA INSUFICIENCIA
PARA INSUFICIENCIA CARDIOVASCULAR (INSUFICIENCIA
CARDIOVASCULAR
CARDIOVASCULAR)
PARA O CORACAO (INSUFICIENCIA PARA O CORACAO (INSUFICIENCIA PARA PRESSAO ALTA (ANTI-
CARDIOVASCULAR) CARDIOVASCULAR) HIPERTENSIVO)
PARA PRESSAO ARTERIAL PARA PRESSAO ALTA (ANTI-HIPERTENSIVO) PARA PRESSAO ARTERIAL
PARA PROBLEMA CARDIACO OU
PARA TRIGLICERIDIO PARA PRESSAO ARTERIAL
CIRCULATORIO
PARA PROBLEMAS CARDIACOS E PARA REDUCAO DE COLESTEROL
PARA VARIZES
CIRCULATORIOS OU TRIGLICERIDEOS
REDUTOR DE COLESTEROL PARA TRIGLICERIDEO PARA TRIGLICERIDEOS
REDUTOR DE TRIGLICERIDIO PARA VARIZES PARA VARIZES
REMEDIO PARA HEMORROIDAS REDUTOR DE COLESTEROL REDUTOR DE COLESTEROL
REDUTOR DE COLESTEROL OU
REMEDIO PARA VARIZES REDUTOR DE TRIGLICERIDEOS
TRIGLICERIDEOS
VASODILATADOR/PRESSAO
REDUTOR DE TRIGLICERIDEOS REMEDIO PARA VARIZES
ARTERIAL
VASODILATADOR/PRESSAO
REMEDIO PARA VARIZES
ARTERIAL
VASODILATADOR/PRESSAO ARTERIAL
Sistema ADESIVOS INTRADERMICOS (
ADESIVOS INTRADERMICOS (MENOPAUSA) ANTIABORTIVO
geniturinário e MENOPAUSA)
hormônios sexuais ANTI-ABORTIVO ANTIABORTIVO ANTICONCEPCIONAL
(G)
ANTICONCEPCIONAL ANTICONCEPCIONAL CREME VAGINAL
CREME VAGINAL CREME VAGINAL ESTIMULANTE SEXUAL
FITO-HORMONIOS ESTIMULANTE SEXUAL HORMONIO
HORMONIO FITO-HORMONIOS PARA MENOPAUSA
PARA MENOPAUSA HORMONIO PARA OS RINS
PARA OS RINS (RENAL) PARA MENOPAUSA PARA PROBLEMA GINECOLOGICO
PARA PROSTATA PARA OS RINS PARA PROSTATA
PARA PROSTATA E VIAS
POMADA VAGINAL PARA PROBLEMAS GINECOLOGICOS
URINARIAS
PARA TRATAMENTO PARA
REMEDIO GINECOLOGICO PARA PROSTATA
FERTILIDADE
RENAL (PARA OS RINS) PARA PROSTATA E VIAS URINARIAS PARA VIAS URINARIAS
UROLOGICO POMADA VAGINAL POMADA VAGINAL
REMEDIO GINECOLOGICO REMEDIO GINECOLOGICO
RENAL (PARA OS RINS) RENAL (PARA OS RINS)
UROLOGICO
ANALGESICO E
ANALGESICO E ANTIINFLAMATORIO ANTI-INFLAMATORIO
ANTIINFLAMATORIO
Sistema ANTI OSTEOPENIA ANTI OSTEOPENIA ANTIOSTEOPOROSE
musculoesquelétic
o (M) ANTIINFLAMATORIO ANTIINFLAMATORIO ANTI-REUMATICO
ANTIINFLAMATORIO E ANTI-
ANTIINFLAMATORIO E ANTI-REUMATICO PARA ACIDO URICO
REUMATICO
ANTIOSTEOPOROSE ANTIOSTEOPOROSE PARA ARTRITE
ANTI-REUMATICO ANTI-REUMATICO PARA ARTROSE
GELOL (ANALGESICO) PARA AS ARTICULACOES PARA AS ARTICULACOES
PARA ACIDO URICO PARA COLUNA PARA COLUNA
PARA COLUNA PARA DORES MUSCULARES PARA DORES MUSCULARES
PARA DOENCAS DOS OSSOS E PARA INFLAMACAO E REUMATISMO
PARA FIBROMIALGIA
ARTICULACOES (ANTIINFLAMATORIO E ANTI-REUMATICO)
PARA DORES MUSCULARES PARA OS OSSOS PARA INFLAMACAO
PARA OS OSSOS PARA OS OSSOS E ARTICULACOES PARA OS OSSOS
PARA REUMATISMO PARA OSTEOPOROSE PARA OS OSSOS E ARTICULACOES
RELAXANTE MUSCULAR PARA PROBLEMAS MUSCULARES PARA OSTEOPOROSE
TANDRILAX (ANTIBIOTICO) PARA REUMATISMO PARA PROBLEMAS MUSCULARES
PARA REUMATISMO (ANTI-
VACINA PARA OSTEOPOROSE RELAXANTE MUSCULAR
REUMATICO)
VACINA PARA OSTEOPOROSE RELAXANTE MUSCULAR
Sistema Nervoso ADESIVOS ANTITABAGISMO ADESIVOS ANTITABAGISMO ADESIVOS ANTITABAGISMO
(N)
ANALGESICO ANALGESICO ANALGESICO
ANALGESICO E ANTITERMICO ANALGESICO E ANTITERMICO ANALGESICO E ANTITERMICO
ANESTESICO ANESTESICO ANESTESICO
ANSIOLITICO ANSIOLITICO ANSIOLITICO
ANTICONVULSIVO ANTICONVULSIVO ANTICONVULSIVO
ANTIDEPRESSIVO ANTI-DEPRESSIVO ANTIDEPRESSIVO
ANTI-DEPRESSIVO ANTIEPILEPTICO ANTIEPILEPTICO
ANTIEPILEPTICO ANTIEPILETICO ANTIPARKSONIANO
ANTIEPILETICO ANTIPARKSONIANO ANTIPSICOTICO
ANTIPARKSONIANO ANTIPSICOTICO ANTITABAGISMO
ANTIPSICOTICO ANTITABAGISMO ANTITERMICO
ANTITABAGISMO ANTITERMICO CALMANTE
COMBATE AO ALCOOLISMO E
ANTITERMICO CALMANTE
TABAGISMO
CALMANTE COMBATE AO ALCOOLISMO E TABAGISMO PARA ALZHEIMER
NEUROLOGICO NEUROLOGICO PARA AUTISMO
PANCREATICO PARA ALZHEIMER PARA CONTUSAO (ANALGESICO)
PARA ALZHEIMER PARA CONTUSAO (ANALGESICO) PARA CONVULSAO
PARA DEPRESSAO
PARA CONTUSAO (ANALGESICO) PARA CONVULSAO
(ANTIDEPRESSIVO)
PARA DOR E FEBRE (ANALGESICO
PARA CONVULSAO PARA DEPRESSAO (ANTIDEPRESSIVO)
E ANTITERMICO)
PARA DOR E FEBRE (ANALGESICO E
PARA ENXAQUECA PARA ENXAQUECA
ANTITERMICO)
PARA EPILEPSIA PARA ENXAQUECA PARA EPILEPSIA
PARA ESTRESSE PARA EPILEPSIA PARA ESQUIZOFRENIA
PARA LABIRINTITE
PARA ESTRESSE PARA ESTRESSE
(ANTIINFLAMATORIO)
PARA MEMORIA PARA LABIRINTITE (ANTIINFLAMATORIO) PARA ESTRESSE (CALMANTE)
PARA O MAL DE PARKINSON PARA MEMORIA PARA LABIRINTITE
PARA O PANCREAS PARA O MAL DE PARKINSON PARA MEMORIA
PARA PSICOSE PARA O PANCREAS PARA O MAL DE PARKINSON
PARA SISTEMA NERVOSO PARA O SISTEMA NERVOSO PARA O PANCREAS
PARA STRESS PARA PSICOSE PARA O SISTEMA NERVOSO
PARA TONTURA PARA SISTEMA NERVOSO PARA PROBLEMAS NO CEREBRO
PARA TRATAMENTO DO
PARA STRESS PARA PSICOSE
ALCOOLISMO
PARA VERTIGEM PARA TONTURA PARA TONTURA
SEDATIVO (MORFINA) PARA TRATAMENTO DO ALCOOLISMO PARA TRANSTORNO BIPOLAR
PARA TRANSTORNO DEFICIT
SONIFERO PARA VERTIGEM
ATENCAO
PARA TRATAMENTO DO
XILOCAINA SEDATIVO (MORFINA)
ALCOOLISMO
SONIFERO PARA VERTIGEM
REMEDIO NEUROLOGICO
SEDATIVO (MORFINA)
SONIFERO
Sistema AEROFLIN (ANTIASMATICO) ANTIALERGICO ANTIGRIPAL
respiratório (R)
AMINOFILINA (ANTIASMATICO) ANTIGRIPAL ANTIGRIPAL E ANTITUSSIGENO
ANTIALERGICO ANTIGRIPAL E ANALGESICO ANTITUSSIGENO
ANTIASMATICO ANTIGRIPAL E ANTITERMICO BRONCODILATADORES
ANTIBRONQUITE ANTIGRIPAL E ANTITUSSIGENO DESCONGESTIONANTE NASAL
ANTICONGESTIONANTE ANTITUSSIGENO EXPECTORANTE (XAROPE)
ANTIGRIPAL BRONCODILATADORES PARA ALERGIA (ANTIALERGICO)
ANTIGRIPAL E ANALGESICO DESCONGESTIONANTE NASAL PARA ASMA
ANTIGRIPAL E ANTITERMICO EXPECTORANTE (XAROPE) PARA ASMA E BRONQUITE
ANTIGRIPAL E ANTITUSSIGENO PARA ALERGIA (ANTIALERGICO) PARA BRONQUITE
ANTITUSSIGENO PARA ASMA PARA NEBULIZACAO
BRONCODILATADORES PARA ASMA E BRONQUITE PARA O PULMAO
PARA PROBLEMAS
DESCONGESTIONANTE NASAL PARA BRONQUITE
RESPIRATORIOS
EXPECTORANTE (XAROPE) PARA NEBULIZACAO PARA SINUSITE
PARA TOSSE E RESFRIADO
PARA ASMA PARA O PULMAO
(ANTIGRIPAL E ANTITUSSIGENO)
PARA BRONQUIOS PARA SINUSITE (ANTIINFLAMATORIO) REMEDIO ANTIALERGICO
PARA BRONQUITE PARA TOSSE E RESFRIADO (ANTIGRIPAL E ANTITUSSIGENO)
PARA NEBULIZACAO
PARA O PULMAO
PARA SINUSITE
(ANTIINFLAMATORIO)
Tratamento AGUA MEDICINAL AGUA MEDICINAL AMINOACIDO
Alternativo (TA)
AMINOACIDO AMINOACIDO ANTIALERGICO HOMEOPATICO
ANTIALERGICO HOMEOPATICO ANTIALERGICO HOMEOPATICO ANTIGRIPAL HOMEOPATICO
ANTIGRIPAL HOMEOPATICO ANTIGRIPAL HOMEOPATICO CALMANTE NATURAL
CALMANTE NATURAL CALMANTE NATURAL COLAGENO
CHA (QUALQUER TIPO) CANFORA COMPLEMENTO ALIMENTAR
COMPLEMENTO ALIMENTAR CHA DE QUALQUER TIPO DEPURADOR DE SANGUE
DEPURADOR DO SANGUE CHAS E REMEDIOS ALTERNATIVOS DEPURADOR SANGUINEO
DEPURADOR SANGUINEO COMPLEMENTO ALIMENTAR DEPURATIVO DE SANGUE
DEPURATIVO DO SANGUE DEPURADOR DO SANGUE DEPURATIVO SANGUINEO
DESCONGESTIONANTE NASAL
DEPURATIVO SANGUINEO DEPURADOR SANGUINEO
HOMEOPATICO
DESCONGESTIONANTE NASAL MEL MEDICINAL (QUALQUER
DEPURATIVO DO SANGUE
HOMEOPATICO TIPO)
EXTRATOS (QUALQUER TIPO) DEPURATIVO SANGUINEO OMEGA TRES
DESCONGESTIONANTE NASAL PARA ESTIMULAR O
FLORAIS
HOMEOPATICO ALEITAMENTO
GARRAFADA (QUALQUER TIPO) EXTRATOS DE QUALQUER TIPO PARA IMUNIDADE
GARRAFADA (QUALQUER
FLORAIS PARA INTOLERANCIA A LACTOSE
TRATAMENTO)
MEL MEDICINAL (QUALQUER TIPO) GARRAFADA DE QUALQUER TIPO REMEDIO ORTOMOLECULAR
OLEO DOCE (PARA GASES) GARRAFADA DE QUALQUER TRATAMENTO SUPLEMENTO ALIMENTAR
REMEDIO HOMEOPATICO
MEL MEDICINAL (QUALQUER TIPO)
(INDETERMINADO)
REMEDIO HORTOMOLECULAR OLEO DOCE (PARA GASES)
REMEDIO HOMEOPATICO INDETERMINADO
REMEDIO ORTOMOLECULAR
Fonte: POF 2002-2003, 2008-2009, 2017-2018, IBGE. Elaboração: CGAT/DEAP/SETO.
Nota: (*) Utilizou-se a classificação ATC até o nível 2 que permite identificar a classe terapêutica e comparar entre
POF’s de períodos distintos. Ainda assim, houve casos em que não foi possível identificar a ATC do medicamento,
como nas respostas: “remédio indeterminado”, “remédio manipulado indeterminado”, “injeção ampola (não
determinada)” e “pomada indeterminada”. Para esses casos, foi criado o grupo Medicamento Indeterminado (MI).
Além disso, para produtos homeopáticos e produtos à base de ervas da medicina tradicional, foi criado o grupo
principal Tratamento Alternativo (TA).