Estudo de Mercado - Cachaca Lisboa 2021
Estudo de Mercado - Cachaca Lisboa 2021
Estudo de Mercado - Cachaca Lisboa 2021
A terceira publicação da série Estudos de Mercado realizada pelo Setor de Promoção Comercial
(SECOM) da Embaixada do Brasil em Lisboa é dedicada à indústria das bebidas espirituosas, com
foco na cachaça. O propósito do estudo é identificar o potencial de aumento das exportações e
delinear as principais características do mercado, de modo que os produtores de cachaça
consigam elaborar um plano de exportação adequado ao contexto europeu.
Em Portugal, o consumo de cachaça está majoritariamente associado à caipirinha, que é adquirida
em restaurantes ou bares. Para a produção desta bebida, é utilizada, principalmente, a cachaça
industrial ou de coluna, que é a mais importada e predomina no mercado português, tanto no setor
de hotelaria e alimentos e bebidas, como nos supermercados e lojas especializadas em bebidas.
Diante desse quadro, ressalta-se a necessidade de sensibilização do consumidor e importador
português para os diferentes tipos de cachaça existentes e, em especial, as cachaças de
alambique que, dada a sua qualidade, permitem um consumo mais variado, e, por consequência,
permitiriam conquistar novos consumidores, aumentando as exportações do produto.
https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Alcohol_consumption_statistics#General_overview
2
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=414436388&DESTAQUE
Smodo=2
Proporção da população com 15 ou mais anos por frequência de consumo de bebidas
alcoólicas por sexo e grupo etário, Portugal 2019
No ano de 2019, o consumo de álcool registrado per capita (população maior de 15 anos) foi de
10,37 litros de álcool puro; sendo o vinho a bebida alcoólica mais consumida pelos portugueses
(58%), seguido da cerveja (25%), bebidas espirituosas (13%) e outras bebidas alcoólicas (4%).
Cerveja
4%
13%
25%
Vinho
Espirituosas
Outras bebidas
58% alcoólicas
Fonte: SECOM, com dados de WHO Global Information System on Alcohol and Health (GISAH)3
3 https://apps.who.int/gho/data/node.main.A1039?lang=en
O consumo de destilados em Portugal e, em especial, de cachaça, está associado a determinados
contextos sociais (bares, restaurantes e discotecas). A cachaça é reconhecida como uma bebida
tipicamente brasileira e utilizada, principalmente, na preparação da caipirinha e outros coquetéis.
Apesar de Portugal ser um importante mercado internacional para a cachaça brasileira, ainda há
oportunidades a serem exploradas, especialmente para produtos de qualidade superior. A
cachaça vendida em Portugal é majoritariamente industrial ou de coluna e de menor valor
agregado, sendo possível encontrar, nas grandes superfícies comerciais e lojas especializadas
em bebidas, marcas como Cachaça 51, Velho Barreiro, Sagatiba, Bossa e Pitú, entre outras. As
cachaças de alambique e “premium” também estão disponíveis, mas apenas em poucos
estabelecimentos especializados e em menor diversidade de oferta, fator que pode estar
relacionado ao desconhecimento do consumidor português a respeito da qualidade e variedade
desta bebida.
4 Equivalente,em Portugal, ao CAE 1101 – Fabricação de bebidas alcoólicas destiladas, que compreende a produção,
preparação, mistura e acondicionamento de aguardentes, brandies, aguardentes vínicas velhas, whisky, rum,
genebra, licores e outras bebidas espirituosas.
explicado pelo fechamento de bares, restaurantes e estabelecimentos de diversão noturna em
função da pandemia do coronavírus, que impactou muito particularmente este setor.
Entre as aguardentes fabricadas em Portugal, destacamos o “Rum da Madeira”, também
conhecido como aguardente de cana. Este rum agrícola de Indicação Geográfica Protegida (IGP) 5
é produzido na Região Autônoma da Madeira através da fermentação alcoólica e destilação do
suco de cana-de-açúcar, sendo a bebida de produção portuguesa que mais se assemelha à
cachaça.
No ano de 2020, foram produzidos6 363 045,62 litros de Rum da Madeira a 100% de volume. A
comercialização do produto é realizada, quase em sua totalidade, na própria Ilha da Madeira e em
Portugal Continental. O produto também distribuído, em menor escala, em outros países como
França, Alemanha, Reino Unido e Bélgica, além de Japão e China.
No que concerne às exportações de bebidas destiladas7, Portugal apresentou uma taxa média de
crescimento anual de 6% entre 2015 e 2019, com relativa estabilidade em 2016 (crescimento de
1% comparativamente a 2015), uma ligeira queda em 2017 (-2%), seguida de crescimento nos
anos de 2018 (17%) e 2019 (8%), alcançando mais de € 54 milhões em exportações em 2019. Em
2020, entretanto, houve um decréscimo de 14% na exportação destes produtos, em linha com o
observado em diversos setores da economia.
Os principais parceiros comerciais para estes produtos são os países da União Europeia8 (UE).
Esses países foram o destino de cerca de 60% do total exportado no período em pauta. Sua
participação foi especialmente importante em 2020: foram responsáveis por 74% das bebidas
destiladas exportadas por Portugal.
50,000,000
40,000,000
30,000,000
20,000,000
10,000,000
0
2015 2016 2017 2018 2019 2020
Intra UE Extra UE
5 https://ivbam.madeira.gov.pt/bebidas-espirituosas/indicacao-geografica-protegida-rum-da-madeira
6 https://rumdamadeira.com/estatisticas/
7 Estatísticas referentes aos bens abrangidos nos NCM 2208.
8 Consideraram-se para as estatísticas os 27 países integrantes da União Europeia, incluindo os países que não
9Salienta-se que, de acordo com as estatísticas portuguesas, a maior parcela das exportações de bebidas destiladas
para países extracomunitários, ou o equivalente a 7% do total exportado em 2020, teve como destino “Países e
territórios não especificados no âmbito das trocas comerciais extra-União”, não sendo possível identificá-los.
10 Macau é uma região administrativa especial chinesa, sendo tratada separadamente nas estatísticas portuguesas.
11 Foram considerados para as estatísticas os produtos compreendidos nos seguintes NCMs: 2208.20.00, 2208.30.10,
Como se nota, o desempenho do setor foi predominantemente negativo em 2020, mas registrou-
se crescimento em 2021, com cifras finais superiores àquelas registradas em 2019.
No que respeita exclusivamente à cachaça, em 2020 foram exportados US$ 9,5 milhões, ou o
equivalente a 5,57 milhões de litros, o que representou uma diminuição de 35% face a 2019. O
ano de 2021 registrou um crescimento nas exportações na ordem de 38%, apontando para o
recobro da atividade. No que concerne aos principais destinos, é possível observar maior
concentração dos países importadores, tendo os dez primeiros recebido 82% do total exportado
em 2021.
Os dados indicam o predomínio, entre os destinos das vendas, dos países europeus. Com efeito,
as cifras demonstram que a quase totalidade das vendas brasileiras de bebidas alcoólicas para
esses países deu-se no segmento das cachaças. Evidencia-se a participação da Alemanha,
Portugal, França, Itália, Países Baixos e Espanha como os principais importadores europeus de
cachaça em 2021.
Cabe ainda destacar o notável crescimento das exportações de cachaça para o Canadá, que
alcançaram, em 2021, a cifra de US$ 329,4 mil, o que representou um crescimento de 967%
relativamente a 2020, muito superior ao período pré pandemia.
As estatísticas encontram-se resumidas no quadro abaixo:
120,000,000
100,000,000
80,000,000
60,000,000
40,000,000
20,000,000
-
2015 2016 2017 2018 2019 2020
Em relação à origem das importações de bebidas alcoólicas, em 2020, 56% do total foi procedente
de países da União Europeia e 44% de outros países. Dentro da União Europeia, os Países Baixos
são os maiores fornecedores13 desses produtos a Portugal, especialmente os Uísques, e, a seguir,
está a Espanha com aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas. O Reino Unido14 apareceu, em
2020, como o principal exportador extracomunitário de bebidas alcoólicas, destacando-se os
uísques, gins e genebras.
12 Importa salientar que as estatísticas brasileiras são divulgadas em US$ FOB, ao passo que as portuguesas estão
em Euros.
13 Convém mencionar que quase a totalidade de aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas importadas por Portugal
a partir de países extra UE estão publicados nas estatísticas portuguesas como provenientes de “Países e territórios
não especificados no âmbito das trocas comerciais extra-União”, não sendo possível precisar sua origem.
14 O Reino Unido é considerado neste estudo como não integrante da União Europeia devido à sua saída do bloco
Brasil
15% 13%
República Dominicana
10% 14%
Espanha
Itália
24%
24% Países Baixos
Outros
Canais de Distribuição
Antes de analisarmos os canais de distribuição, importa referir que a cachaça é um produto que
se beneficiaria de um maior esforço de sensibilização do consumidor português, sendo este fator
ainda mais relevante quando falamos de cachaça premium.
O exportador deverá, como 1º passo, definir a sua estratégia de abordagem do mercado
português. Ao escolher um importador, deverá decidir se este terá o caráter de representante da
marca – e, em caso positivo, com ou sem exclusividade. É importante que o parceiro comercial
tenha capacidade de armazenar e distribuir o produto para que o mesmo não necessite
intermediários adicionais na negociação, o que forçosamente aumentará o seu custo final. Deve-
15
Rum e outras aguardentes provenientes da destilação, após fermentação, de produtos de cana-de-açúcar, de valor
= < 7,9 €/l de álcool puro, apresentados em recipientes de capacidade = < 2 l (exceto rum com um teor em substâncias
voláteis distintas do álcool etílico e do álcool metílico = > 225 g/hl de álcool puro, "com uma tolerância de 10%").
se considerar que os vendedores finais de cachaça, sejam eles lojas online, grandes lojas
especializadas em bebidas ou restaurantes, irão adquirir a cachaça nos armazenistas ou
distribuidores.
Cabe destacar que as grandes superfícies de supermercados que não importam seus produtos
diretamente preferem cooperar com representantes de marcas ou distribuidores sediados em
Portugal. Uma exceção digna de nota é a cadeia El Corte Inglés, que importa alguns produtos
diretamente.
Na análise de mercado conduzida pela Embaixada em Lisboa, foi possível identificar as seguintes
cachaças à venda no mercado:
51;
Abelha;
Bossa;
Carioca;
Capucana;
Janeiro;
Leblon;
Pindorama;
Pitú;
Pontal;
Sagatiba;
Sururu;
Velho Barreiro;
Empor Spirits
Rua do Entreposto Industrial, nº 6 2610-135 Alfragide
Tel.: +351 213 631 356
E-mail: geral@emporspirits.com
Site: https://emporspirits.com/
Sicodrink
Rua do Lar Trás-os-Matos – Vila Cã 3100-822 Vila Cã
Tel.: +315 236 922 314
E-mail: geral@sicodrink.com
16A lista de empresas foi elaborada mediante pesquisas online e em bases de dados. A Embaixada do Brasil não se
responsabiliza pela conduta das empresas listadas.
Site: http://www.sicodrink.com/pt/
Solbel
Av. Marechal Gomes da Costa, 23 1800-255 Lisboa
Tel.: +351 217 991 050
E-mail: solbel@solbel.pt
Site: https://www.solbel.pt/
Viborel
Rua Manuel António Rodrigues, Nº 6, Armazém B 2790-099 Carnaxide
Tel.: +351 214 398 310
E-mail: viborel@viborel.pt
Site: https://viborel.pt/
Ainda como relevante canal de distribuição e promoção dos produtos, destacamos a Feira
Alimentaria & Horexpo17, que atua como plataforma de negócios entre Europa, África e América
do Sul para o setor da indústria alimentar.
17 https://alimentariahorexpo.fil.pt/
Durante o planejamento da importação de cachaça para Portugal, o produtor deverá consultar
também a Informação Complementar 019, da Alfândega Portuguesa, sobre as “condições para a
importação de gêneros alimentícios de origem não animal” disponível no link:
https://pauta.portaldasfinancas.gov.pt/pt/partespauta/partesanexos/Documents/P17_ICI019.pdf.
Para informações adicionais sobre a importação de cachaça aconselhamos o contato com a
Alfândega Portuguesa:
Tel.: +351 217 206 707
Fax: +351 218 813 941
E-mail: dsra@at.gov.pt
Conclusão
O mercado português apresenta um elevado potencial para incremento das exportações de
cachaça, devendo ser encarado pelos exportadores como um mercado alvo para a sua expansão
internacional. As estatísticas indicam uma crescente participação de países da UE como destinos
da cachaça brasileira, sendo Portugal oportuna porta de entrada do produto no bloco europeu.
Ressalta-se que Portugal é um mercado onde há espaço para a coexistência de cachaça de coluna
ou industrial e cachaça de alambique, que não se devem encarar, necessariamente, como
produtos concorrentes entre si. Contudo, a cachaça de alambique carece de uma ação de
sensibilização junto dos consumidores finais. Importa que esta sensibilização seja concertada
pelos produtores e pelas entidades brasileiras do setor para unir esforços e obter resultados
promissores.
O SECOM da Embaixada do Brasil em Lisboa está à disposição das empresas brasileiras
interessadas para facilitar contatos, em caso de necessidade, e para fornecer mais detalhes sobre
o efetivo funcionamento do mercado doméstico destes produtos.
Estudo realizado pela equipe do SECOM da Embaixada do Brasil em Lisboa. Comentários, sugestões e
pedidos de correção podem ser enviados para o e-mail secom.lisboa@itamaraty.gov.br.