Estudo de Mercado - Cachaca Lisboa 2021

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Introdução

A terceira publicação da série Estudos de Mercado realizada pelo Setor de Promoção Comercial
(SECOM) da Embaixada do Brasil em Lisboa é dedicada à indústria das bebidas espirituosas, com
foco na cachaça. O propósito do estudo é identificar o potencial de aumento das exportações e
delinear as principais características do mercado, de modo que os produtores de cachaça
consigam elaborar um plano de exportação adequado ao contexto europeu.
Em Portugal, o consumo de cachaça está majoritariamente associado à caipirinha, que é adquirida
em restaurantes ou bares. Para a produção desta bebida, é utilizada, principalmente, a cachaça
industrial ou de coluna, que é a mais importada e predomina no mercado português, tanto no setor
de hotelaria e alimentos e bebidas, como nos supermercados e lojas especializadas em bebidas.
Diante desse quadro, ressalta-se a necessidade de sensibilização do consumidor e importador
português para os diferentes tipos de cachaça existentes e, em especial, as cachaças de
alambique que, dada a sua qualidade, permitem um consumo mais variado, e, por consequência,
permitiriam conquistar novos consumidores, aumentando as exportações do produto.

Dinâmica do Mercado Português – Consumo de Bebidas Alcoólicas


Portugal tem uma das mais altas taxas de consumo de bebidas alcoólicas da União Europeia. De
acordo com o estudo publicado pelo Eurostat1, em 2019, cerca de um quinto (20,7%) da população
portuguesa consumia álcool todos os dias, valor muito superior ao da média da União Europeia
(8,7%).
Segundo o Inquérito Nacional de Saúde,2 realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os
valores de consumo diário de bebidas alcoólicas apresentaram, em 2019, uma diminuição de 5%
em comparação a 2014, ano de realização do inquérito anterior, o que se verificou
independentemente do gênero, mas com tendências mais pronunciadas em determinados grupos
etários, principalmente na população com idade entre os 55 e 74 anos.
Os dados indicam que os homens são os que mais consomem bebidas alcoólicas diariamente e
semanalmente, ao passo que, nas mulheres, é mais evidente o consumo semanal, mensal e
ocasional. O consumo diário de álcool tende a aumentar conforme a idade, sendo muito mais
acentuado a partir dos 55 anos. Nas faixas etárias mais jovens, dos 15 aos 34 anos, é
predominante o consumo semanal e mensal de bebidas alcoólicas, com um baixo percentual de
consumo diário.

https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Alcohol_consumption_statistics#General_overview
2

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=414436388&DESTAQUE
Smodo=2
Proporção da população com 15 ou mais anos por frequência de consumo de bebidas
alcoólicas por sexo e grupo etário, Portugal 2019

Fonte: Instituto Nacional de Estatística (INE)

No ano de 2019, o consumo de álcool registrado per capita (população maior de 15 anos) foi de
10,37 litros de álcool puro; sendo o vinho a bebida alcoólica mais consumida pelos portugueses
(58%), seguido da cerveja (25%), bebidas espirituosas (13%) e outras bebidas alcoólicas (4%).

Consumo de álcool per capita por tipo de bebida


alcoólica (litros de álcool puro) em Portugal

Cerveja
4%
13%
25%
Vinho

Espirituosas

Outras bebidas
58% alcoólicas

Fonte: SECOM, com dados de WHO Global Information System on Alcohol and Health (GISAH)3

3 https://apps.who.int/gho/data/node.main.A1039?lang=en
O consumo de destilados em Portugal e, em especial, de cachaça, está associado a determinados
contextos sociais (bares, restaurantes e discotecas). A cachaça é reconhecida como uma bebida
tipicamente brasileira e utilizada, principalmente, na preparação da caipirinha e outros coquetéis.
Apesar de Portugal ser um importante mercado internacional para a cachaça brasileira, ainda há
oportunidades a serem exploradas, especialmente para produtos de qualidade superior. A
cachaça vendida em Portugal é majoritariamente industrial ou de coluna e de menor valor
agregado, sendo possível encontrar, nas grandes superfícies comerciais e lojas especializadas
em bebidas, marcas como Cachaça 51, Velho Barreiro, Sagatiba, Bossa e Pitú, entre outras. As
cachaças de alambique e “premium” também estão disponíveis, mas apenas em poucos
estabelecimentos especializados e em menor diversidade de oferta, fator que pode estar
relacionado ao desconhecimento do consumidor português a respeito da qualidade e variedade
desta bebida.

Dinâmica do Mercado Português – Produção e Exportação


A produção de bebidas destiladas em Portugal, setor no qual a fabricação de cachaça está
inserida, pode ser enquadrada, segundo a Classificação Nacional das Atividades Econômicas
(CNAE), na classe 11.11-94 - Fabricação de aguardentes e outras bebidas destiladas. Os
principais resultados deste setor nos últimos anos são apresentados na tabela abaixo:

Resultados do setor de bebidas destiladas em Portugal


Número de Volume de negócios (€) Produção (€) das
Ano
empresas das empresas empresas
2015 343 58 699 857 59 579 012
2016 352 70 094 468 70 766 534
2017 382 81 115 102 77 788 386
2018 399 87 557 029 81 771 694
2019 418 95 670 749 91 899 334
2020* 397 77 312 433 71 450 206
*dados preliminares

Fonte: SECOM, com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE)

De 2015 a 2019, observou-se um aumento em todos os critérios avaliados: o número de empresas


aumentou 22% no período e o crescimento no volume de negócios (€) e produção (€) das
empresas foi de 63% e 54%, respectivamente. Já os dados preliminares de 2020 mostram uma
variação negativa do setor, com diminuição de 5% no número de empresas, 19% no volume de
negócios (€) e 22% na produção (€), em relação a 2019. O resultado negativo em 2020 pode ser

4 Equivalente,em Portugal, ao CAE 1101 – Fabricação de bebidas alcoólicas destiladas, que compreende a produção,
preparação, mistura e acondicionamento de aguardentes, brandies, aguardentes vínicas velhas, whisky, rum,
genebra, licores e outras bebidas espirituosas.
explicado pelo fechamento de bares, restaurantes e estabelecimentos de diversão noturna em
função da pandemia do coronavírus, que impactou muito particularmente este setor.
Entre as aguardentes fabricadas em Portugal, destacamos o “Rum da Madeira”, também
conhecido como aguardente de cana. Este rum agrícola de Indicação Geográfica Protegida (IGP) 5
é produzido na Região Autônoma da Madeira através da fermentação alcoólica e destilação do
suco de cana-de-açúcar, sendo a bebida de produção portuguesa que mais se assemelha à
cachaça.
No ano de 2020, foram produzidos6 363 045,62 litros de Rum da Madeira a 100% de volume. A
comercialização do produto é realizada, quase em sua totalidade, na própria Ilha da Madeira e em
Portugal Continental. O produto também distribuído, em menor escala, em outros países como
França, Alemanha, Reino Unido e Bélgica, além de Japão e China.
No que concerne às exportações de bebidas destiladas7, Portugal apresentou uma taxa média de
crescimento anual de 6% entre 2015 e 2019, com relativa estabilidade em 2016 (crescimento de
1% comparativamente a 2015), uma ligeira queda em 2017 (-2%), seguida de crescimento nos
anos de 2018 (17%) e 2019 (8%), alcançando mais de € 54 milhões em exportações em 2019. Em
2020, entretanto, houve um decréscimo de 14% na exportação destes produtos, em linha com o
observado em diversos setores da economia.
Os principais parceiros comerciais para estes produtos são os países da União Europeia8 (UE).
Esses países foram o destino de cerca de 60% do total exportado no período em pauta. Sua
participação foi especialmente importante em 2020: foram responsáveis por 74% das bebidas
destiladas exportadas por Portugal.

Exportações portuguesas de bebidas destiladas (€)


60,000,000

50,000,000

40,000,000

30,000,000

20,000,000

10,000,000

0
2015 2016 2017 2018 2019 2020

Intra UE Extra UE

Fonte: SECOM, com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE)

5 https://ivbam.madeira.gov.pt/bebidas-espirituosas/indicacao-geografica-protegida-rum-da-madeira
6 https://rumdamadeira.com/estatisticas/
7 Estatísticas referentes aos bens abrangidos nos NCM 2208.
8 Consideraram-se para as estatísticas os 27 países integrantes da União Europeia, incluindo os países que não

adotaram o euro como moeda oficial.


Entre os países da UE, a Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal, recebendo, em
2020, 55% do total de bebidas destiladas exportadas. Seguem-se-lhe os Países Baixos (6%) e
França (5%). Destacam-se, ainda, como destinos9 das exportações portuguesas de bebidas
destiladas, Macau10 (4% do total exportado), Estados Unidos (3%) e Angola (2%), embora com
menor expressividade.
Das diferentes categorias de bebidas destiladas, os produtos mais exportados por Portugal em
2020 foram uísques (31%), aguardentes de vinho ou bagaço (26%), licores (13%) e gins e
genebras (11%).

Exportações Brasileiras de Bebidas Alcoólicas


No ano de 2020, o Brasil exportou aproximadamente US$ 28,7 milhões ou 22 milhões de litros de
bebidas alcoólicas da categoria11 aguardentes, licores e outras bebidas espirituosas. Destes, cerca
de 33% foram produtos classificados no NCM 22084000, incluindo a cachaça, e 52% pertencem
ao NCM 2208500 (Outras bebidas alcoólicas). O gráfico abaixo mostra a evolução das
exportações brasileiras de bebidas alcoólicas entre 2015 e 2021, de acordo com a tipologia
desagregada de produtos:

Exportações brasileiras de bebidas alcoólicas (US$)


45,000,000
40,000,000
35,000,000
30,000,000
25,000,000
20,000,000
15,000,000
10,000,000
5,000,000
0
2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015

Outras bebidas alcoólicas Cachaça e caninha (rum e tafiá)


Uísques Gim e genebra
Vodca Licores
Aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas

Fonte: SECOM, com dados do Ministério da Economia do Brasil

9Salienta-se que, de acordo com as estatísticas portuguesas, a maior parcela das exportações de bebidas destiladas
para países extracomunitários, ou o equivalente a 7% do total exportado em 2020, teve como destino “Países e
territórios não especificados no âmbito das trocas comerciais extra-União”, não sendo possível identificá-los.
10 Macau é uma região administrativa especial chinesa, sendo tratada separadamente nas estatísticas portuguesas.
11 Foram considerados para as estatísticas os produtos compreendidos nos seguintes NCMs: 2208.20.00, 2208.30.10,

2208.30.20, 2208.30.90, 2208.40.00, 2208.50.00, 2208.60.00, 2208.70.00, 2208.90.00.


Conforme observado no gráfico, os valores de 2020 apresentaram uma diminuição de 13% em
relação a 2019. Essa variação negativa pode estar relacionada à pandemia, que causou
constrangimentos em diversos setores, principalmente devido ao fechamento de restaurantes,
bares e casas noturnas, onde o consumo de bebidas alcoólicas é mais usual. Nota-se, ainda, que
as exportações em 2021 indicam uma recuperação do setor, tendo atingido, até dezembro, a cifra
de US$ 37,3 milhões, ou 24,3 milhões de litros, superando os valores exportados em 2018 e 2019.
Essa recuperação deve-se, principalmente, a “outras bebidas alcoólicas”, “uísques” e “gins e
genebras”. Os valores exportados de cachaça, apesar do crescimento face a 2020, ainda são
inferiores aos números dos anos anteriores à pandemia.
Paraguai e Estados Unidos são os principais destinos das bebidas espirituosas provenientes do
Brasil, sendo os dois países responsáveis por 29% do total exportado em 2020. As estatísticas
mostram uma relevante participação do Peru, que importou, em 2020, um valor 274% maior que
no ano anterior, e continuou a ampliar a importação de bebidas alcoólicas brasileiras em 2021.
No continente europeu, destaca-se a Alemanha que – ao contrário da tendência verificada em
outros países, como Estados Unidos, Paraguai e Argentina – aumentou a importação de bebidas
alcoólicas brasileiras: o aumento verificado foi de 8% no ano de 2020, em comparação com 2019,
e de 38% em 2021 em relação a 2020. Esse resultado deve-se, principalmente, ao aumento na
importação de cachaça.
O quadro a seguir exibe as exportações brasileiras de bebidas alcoólicas nos anos 2019, 2020 e
2021, destacando os dez principais mercados importadores que, juntos, foram responsáveis por
64% do total exportado pelo Brasil em 2020.

Exportações brasileiras de bebidas alcoólicas (US$)


País 2021 2020 2019 Var (%) 20/19 Var (%) 21/20
Paraguai 6 489 006 4 385 329 4 856 377 -10% 48%
Estados Unidos 4 525 164 3 989 271 5 959 420 -33% 13%
Bolívia 3 009 211 1 825 931 1 887 836 -3% 65%
Argentina 2 506 055 1 342 744 2 155 297 -38% 87%
Haiti 1 903 860 1 862 005 1 441 899 29% 2%
Alemanha 1 884 738 1 361 966 1 257 762 8% 38%
Peru 1 597 573 438 402 117 366 274% 264%
África do Sul 1 192 318 1 630 489 1 573 028 4% -27%
Chile 1 101 578 454 043 604 479 -25% 143%
Uruguai 961 160 1 202 465 1 572 257 -24% -20%
Subtotal (10 países) 25 170 663 18 492 645 21 425 721 -14% 36%
Total 37 288 353 28 697 797 32 997 094 -13% 30%
Fonte: SECOM, com dados do Ministério da Economia do Brasil

Como se nota, o desempenho do setor foi predominantemente negativo em 2020, mas registrou-
se crescimento em 2021, com cifras finais superiores àquelas registradas em 2019.
No que respeita exclusivamente à cachaça, em 2020 foram exportados US$ 9,5 milhões, ou o
equivalente a 5,57 milhões de litros, o que representou uma diminuição de 35% face a 2019. O
ano de 2021 registrou um crescimento nas exportações na ordem de 38%, apontando para o
recobro da atividade. No que concerne aos principais destinos, é possível observar maior
concentração dos países importadores, tendo os dez primeiros recebido 82% do total exportado
em 2021.
Os dados indicam o predomínio, entre os destinos das vendas, dos países europeus. Com efeito,
as cifras demonstram que a quase totalidade das vendas brasileiras de bebidas alcoólicas para
esses países deu-se no segmento das cachaças. Evidencia-se a participação da Alemanha,
Portugal, França, Itália, Países Baixos e Espanha como os principais importadores europeus de
cachaça em 2021.
Cabe ainda destacar o notável crescimento das exportações de cachaça para o Canadá, que
alcançaram, em 2021, a cifra de US$ 329,4 mil, o que representou um crescimento de 967%
relativamente a 2020, muito superior ao período pré pandemia.
As estatísticas encontram-se resumidas no quadro abaixo:

Exportações brasileiras de cachaça (US$)


País 2021 2020 2019 Var (%) 20/19 Var (%) 21/20
Estados Unidos 3 481 872 2 228 814 3 679 263 -39% 56%
Alemanha 1 883 391 1 332 203 1 251 646 6% 41%
Paraguai 1 323 344 1 027 364 1 683 197 -39% 29%
Portugal 937 024 420 055 1 372 026 -69% 123%
França 785 934 1 129 026 1 031 587 9% -30%
Itália 760 170 511 764 1 312 766 -61% 49%
Países Baixos (Holanda) 505 686 392 623 469 255 -16% 29%
Espanha 422 479 299 606 488 912 -39% 41%
Chile 371 693 175 666 292 452 -40% 112%
Reino Unido 352 023 117 130 327 739 -64% 201%
Subtotal (10 países) 10 823 616 7 634 251 11 908 843 -36% 42%
Total 13 178 061 9 522 402 14 603 035 -35% 38%
Fonte: SECOM, com dados do Ministério da Economia do Brasil

Portugal aparece, em 2021, como o quarto maior importador de cachaça brasileira,


apresentando um aumento de 123% em relação a 2020, após uma queda de 69% neste último
ano, no contraste com 2019. Ainda assim, os valores registrados em 2021 são inferiores aos
de 2019. A cachaça é a principal bebida espirituosa exportada pelo Brasil a Portugal,
representando, em média, 98% do volume total exportado nos últimos anos.
Importações Portuguesas de Bebidas Alcoólicas
Portugal importou, em 2020, €92,7 milhões12 em bebidas alcoólicas, o que correspondeu a uma
diminuição de 31% face a 2019, ano em que o país atingiu um valor recorde de importações na
ordem de €135,1 milhões. As bebidas alcoólicas mais importadas por Portugal em 2020 foram os
uísques (42% do total), seguidos das aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas (22%) e gim e
genebra (13%). Os produtos inseridos na classificação de Cachaça e caninha (rum e tafiá)
representaram 4% do total importado em 2020.
O gráfico a seguir apresenta o volume das importações portuguesas de bebidas alcoólicas (em
euros) entre 2015 e 2020, de acordo com as categorias abrangidas neste estudo:

Importações portuguesas de bebidas alcoólicas (€)


140,000,000

120,000,000

100,000,000

80,000,000

60,000,000

40,000,000

20,000,000

-
2015 2016 2017 2018 2019 2020

Aguardente de vinho ou de bagaço de uvas Uísque


Cachaça e caninha (rum e tafiá) Gim e genebra
Vodca Licor
Outras bebidas alcoólicas

Fonte: SECOM, com dados do INE

Em relação à origem das importações de bebidas alcoólicas, em 2020, 56% do total foi procedente
de países da União Europeia e 44% de outros países. Dentro da União Europeia, os Países Baixos
são os maiores fornecedores13 desses produtos a Portugal, especialmente os Uísques, e, a seguir,
está a Espanha com aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas. O Reino Unido14 apareceu, em
2020, como o principal exportador extracomunitário de bebidas alcoólicas, destacando-se os
uísques, gins e genebras.

12 Importa salientar que as estatísticas brasileiras são divulgadas em US$ FOB, ao passo que as portuguesas estão
em Euros.
13 Convém mencionar que quase a totalidade de aguardentes de vinho ou de bagaço de uvas importadas por Portugal

a partir de países extra UE estão publicados nas estatísticas portuguesas como provenientes de “Países e territórios
não especificados no âmbito das trocas comerciais extra-União”, não sendo possível precisar sua origem.
14 O Reino Unido é considerado neste estudo como não integrante da União Europeia devido à sua saída do bloco

em 31 de janeiro de 2020, tendo sido tratado separadamente nas estatísticas.


Em relação à cachaça, por estar agrupada com rum e outros destilados provenientes da cana de
açúcar, não é possível analisar este produto isoladamente nas estatísticas. Em 2020, o Brasil
representou 13% do total de produtos dessa categoria pautal, atrás da Itália e Espanha (24% cada)
e República Dominicana (14%), conforme mostra o gráfico:

Origem das importações portuguesas de


bebidas alcoólicas de cana-de-açúcar (incluindo
cachaça e rum)

Brasil
15% 13%
República Dominicana
10% 14%
Espanha

Itália
24%
24% Países Baixos

Outros

Fonte: SECOM, com dados do INE

Apesar da dificuldade em isolar a cachaça nos dados, ao desagregarmos as estatísticas a oito


dígitos da Nomenclatura Combinada da UE, podemos excluir os códigos 22084011 e 22084051,
que se referem exclusivamente ao Rum. Assim, temos uma participação brasileira ligeiramente
maior em 2020, passando a 15% do total importado por Portugal nessas categorias de produtos.
Ao analisarmos unicamente o código 2208403915, o Brasil aparece como principal parceiro
comercial português, sendo responsável por 55% das importações portuguesas, o que pode
indicar que a cachaça exportada a Portugal esteja, predominantemente, incluída nesse código
pautal.

Canais de Distribuição
Antes de analisarmos os canais de distribuição, importa referir que a cachaça é um produto que
se beneficiaria de um maior esforço de sensibilização do consumidor português, sendo este fator
ainda mais relevante quando falamos de cachaça premium.
O exportador deverá, como 1º passo, definir a sua estratégia de abordagem do mercado
português. Ao escolher um importador, deverá decidir se este terá o caráter de representante da
marca – e, em caso positivo, com ou sem exclusividade. É importante que o parceiro comercial
tenha capacidade de armazenar e distribuir o produto para que o mesmo não necessite
intermediários adicionais na negociação, o que forçosamente aumentará o seu custo final. Deve-
15
Rum e outras aguardentes provenientes da destilação, após fermentação, de produtos de cana-de-açúcar, de valor
= < 7,9 €/l de álcool puro, apresentados em recipientes de capacidade = < 2 l (exceto rum com um teor em substâncias
voláteis distintas do álcool etílico e do álcool metílico = > 225 g/hl de álcool puro, "com uma tolerância de 10%").
se considerar que os vendedores finais de cachaça, sejam eles lojas online, grandes lojas
especializadas em bebidas ou restaurantes, irão adquirir a cachaça nos armazenistas ou
distribuidores.
Cabe destacar que as grandes superfícies de supermercados que não importam seus produtos
diretamente preferem cooperar com representantes de marcas ou distribuidores sediados em
Portugal. Uma exceção digna de nota é a cadeia El Corte Inglés, que importa alguns produtos
diretamente.
Na análise de mercado conduzida pela Embaixada em Lisboa, foi possível identificar as seguintes
cachaças à venda no mercado:
 51;
 Abelha;
 Bossa;
 Carioca;
 Capucana;
 Janeiro;
 Leblon;
 Pindorama;
 Pitú;
 Pontal;
 Sagatiba;
 Sururu;
 Velho Barreiro;

Abaixo, listamos algumas empresas registradas como importadoras/distribuidoras de cachaça em


Portugal16:
 Drinks Nation
Rua Cidade de Cordova, Nº 1 – Armazém 1 2610-038 Alfragide
Tel.: +351 213 649 036
E-mail: geral@drinks-nation.com
Site: https://www.drinks-nation.com/pt/home

 Empor Spirits
Rua do Entreposto Industrial, nº 6 2610-135 Alfragide
Tel.: +351 213 631 356
E-mail: geral@emporspirits.com
Site: https://emporspirits.com/

 Sicodrink
Rua do Lar Trás-os-Matos – Vila Cã 3100-822 Vila Cã
Tel.: +315 236 922 314
E-mail: geral@sicodrink.com

16A lista de empresas foi elaborada mediante pesquisas online e em bases de dados. A Embaixada do Brasil não se
responsabiliza pela conduta das empresas listadas.
Site: http://www.sicodrink.com/pt/

 Solbel
Av. Marechal Gomes da Costa, 23 1800-255 Lisboa
Tel.: +351 217 991 050
E-mail: solbel@solbel.pt
Site: https://www.solbel.pt/

 Viborel
Rua Manuel António Rodrigues, Nº 6, Armazém B 2790-099 Carnaxide
Tel.: +351 214 398 310
E-mail: viborel@viborel.pt
Site: https://viborel.pt/

Ainda como relevante canal de distribuição e promoção dos produtos, destacamos a Feira
Alimentaria & Horexpo17, que atua como plataforma de negócios entre Europa, África e América
do Sul para o setor da indústria alimentar.

Acesso ao Mercado – Tarifas e Medidas não tarifárias


Em relação às tarifas aplicadas à cachaça, cabe mencionar que analisamos o NCM 220840, que
agrega “Rum e outras aguardentes provenientes da destilação, após fermentação, de produtos de
cana-de-açúcar”. Deste universo, destacamos os NCM 22084031 e 22084039, ambos de
capacidade inferior a 2 litros, visto que as estatísticas indicam que a maioria da cachaça é
importada em recipientes que se enquadram nesta categoria. Os NCMs apresentados variam
apenas no valor por litro de álcool puro.
O NCM 22084031 (com a designação “apresentados em recipientes de capacidade não superior
a 2 litros e de um valor superior a 7,9€ por litro de álcool puro”) está isento de taxas de importação,
mas aos produtos dessa rubrica aplica-se imposto sobre valor acrescentado (IVA) à alíquota de
23%.
Por sua vez, sobre os produtos da rubrica NCM 22084039 (com a designação “apresentados em
recipientes de capacidade não superior a 2 litros – outros”) incide uma tarifa de importação de
0,60€/% vol/hl + 3,20€/hl, para além do IVA, também no valor de 23%.
Importa realçar que, aos dois NCM analisados, é também aplicado o Imposto Especial sobre o
Consumo no valor de 1386,93€ por hl de álcool puro. Este imposto vem associado a uma medida
não tarifária, dado que, para comprovar o seu pagamento, as garrafas devem trazer uma
estampilha especial de bebidas espirituosas. Para informações sobre os procedimentos para
aquisição destas estampilhas, bem como as entidades intervenientes, aconselhamos a consulta
da Informação Complementar 063, da Alfândega Portuguesa, sobre “obrigatoriedade de utilização
de uma estampilha especial, nas bebidas espirituosas para venda ao público, no link:
https://pauta.portaldasfinancas.gov.pt/pt/partespauta/partesanexos/Documents/P17_ICI063.pdf,

17 https://alimentariahorexpo.fil.pt/
Durante o planejamento da importação de cachaça para Portugal, o produtor deverá consultar
também a Informação Complementar 019, da Alfândega Portuguesa, sobre as “condições para a
importação de gêneros alimentícios de origem não animal” disponível no link:
https://pauta.portaldasfinancas.gov.pt/pt/partespauta/partesanexos/Documents/P17_ICI019.pdf.
Para informações adicionais sobre a importação de cachaça aconselhamos o contato com a
Alfândega Portuguesa:
Tel.: +351 217 206 707
Fax: +351 218 813 941
E-mail: dsra@at.gov.pt

Conclusão
O mercado português apresenta um elevado potencial para incremento das exportações de
cachaça, devendo ser encarado pelos exportadores como um mercado alvo para a sua expansão
internacional. As estatísticas indicam uma crescente participação de países da UE como destinos
da cachaça brasileira, sendo Portugal oportuna porta de entrada do produto no bloco europeu.
Ressalta-se que Portugal é um mercado onde há espaço para a coexistência de cachaça de coluna
ou industrial e cachaça de alambique, que não se devem encarar, necessariamente, como
produtos concorrentes entre si. Contudo, a cachaça de alambique carece de uma ação de
sensibilização junto dos consumidores finais. Importa que esta sensibilização seja concertada
pelos produtores e pelas entidades brasileiras do setor para unir esforços e obter resultados
promissores.
O SECOM da Embaixada do Brasil em Lisboa está à disposição das empresas brasileiras
interessadas para facilitar contatos, em caso de necessidade, e para fornecer mais detalhes sobre
o efetivo funcionamento do mercado doméstico destes produtos.

Estudo realizado pela equipe do SECOM da Embaixada do Brasil em Lisboa. Comentários, sugestões e
pedidos de correção podem ser enviados para o e-mail secom.lisboa@itamaraty.gov.br.

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