Sistemas de Governo
Sistemas de Governo
Sistemas de Governo
Enquadramento
Os órgãos de soberania são essenciais para a caracterização do sistema de governo, sendo que a
supressão de um ou a alteração das dinâmicas entre si (a estrutura ou o modo como estes relacionam
no exercício do poder) implica a transformação do sistema.
Critérios de distinção:
Posição relativa do chefe de Estado – se este é apenas chefe de Estado ou também chefe do
Executivo.
Relação de confiança/responsabilidade política entre o Poder Executivo e o Legislativo.
Existem três sistemas de Governo democráticos com separação de poderes: parlamentar, presidencial
e semipresidencial. Estes são sistemas que, nos modelos de referência – Inglaterra e USA –,
simbolizaram a passagem da monarquia limitada inglesa para sistemas democráticos (e naturalmente
representativos) com separação de poderes.
Chefe de Estado:
Pode ser hereditário – Monarca – ou eleito indiretamente (eleito por quem o povo elegeu) – Presidente
da República.
Ainda tem poderes formalmente atribuídos, como o de impedir ou evitar atuação isolada e
responsabilização política pelo aval, que são de exercício “obrigatório” (ex: não podem vetar as leis
parlamentares) e /ou dependem de referenda ministerial (confirmação ministerial dos atos do
presidente).
Poder Legislativo:
Assumido pelo Parlamento, cuja totalidade ou apenas a Câmara dos Comuns é eleita. É o único órgão
de soberania diretamente eleito, pelo que é o único com legitimidade democrática direta. Em teoria, é
o órgão central do sistema político e de decisão política.
Poder Executivo:
Assumido pelo Governo/Gabinete, um órgão colegial (com vários titulares), que é formado de acordo
com a composição parlamentar: Os ministros têm de ter sido deputados eleitos naquelas eleições
legislativas – legitimidade democrática indireta, no entanto forte.
Quando houver uma perda de confiança por parte do Parlamente, o Governo é obrigado a demitir-se /
cessar funções.
Na prática política:
Existe uma distinção entre duas modalidades fundamentais. O seu critério de distinção é o tipo de
maioria parlamentar, ou seja, se esta acontece devido a uma circunstância aleatória e conjuntural, ou
se é influenciada pelo sistema eleitoral.
Existe assim uma estabilidade e permanência governativa, que origina a possibilidade para a
verificação de um Governo de Legislatura: Governo cujo mandato tem o mesmo tempo que o
mandato parlamentar – funcionam ao mesmo tempo.
O Parlamento é bicamaral:
Câmara dos Lordes:
Nomeada pela rainha, com carácter vitalício mas não hereditário, de acordo com o mérito
pessoal.
Verificara uma progressiva perda de poder político efetivo, pelo que intervém apenas no
procedimento legislativo – fiscaliza, sugere indicações não obrigatórias e pode atrasar a
aprovação dos atos legislativos – mas não toma qualquer decisão nem tem poder de veto.
Câmara dos Comuns:
Eleita por sufrágio universal e direto – por cada círculo eleitoral uninominal é eleito um
deputado do partido mais votado.
Constituída por dois partidos hegemónicos e ideologicamente disciplinados. Por regra, é
reunida uma maioria estável e absoluta de um deles – sistema bipartido perfeito.
Tem amplas competências de natureza política e legislativa.
“Parlamentarismo”:
Sistemas parlamentares do passado em que se verificava um excesso de poderes injustificado e
supremacia parlamentares.
Degenerescência do sistema parlamenta, caracterizada por práticas constitucionais geradoras de
que instabilidade e ineficácia política e governativa.
A instabilidade foi ultrapassada por novos sistemas (ex: alteração para semipresidencialista), novos
regimes (ex: alteração do parlamentarismo para ditadura civil com apoio militar em Portugal), ou
por formas racionalizadas.
A partir da II Guerra Mundial, os sistemas pluripartidários tornaram-se mais estáveis e eficazes devido à
adoção desta racionalização, com uma moderação e limitação do exercício de poderes de controlo,
uma maior disciplina parlamentar fruto da maior disciplina ideológica dos partidos políticos e uma
maior estabilidade das coligações partidárias e acordos, o que possibilitou uma confiança contínua em
Governos de Legislatura.
Chefe de Estado:
O chefe de Estado é o Presidente da República, que tem um papel muito importante e ativo na vida
política. É eleito por sufrágio universal, direito ou indireto – no caso dos EUA, é eleito através de um
colégio eleitoral próprio, eleito diretamente pelo povo (o que faz com que, depois de se designar os
deputados de cada Estado, todos os outros votos para outros deputados não são considerados para a
eleição do PR).
Este tem uma legitimidade popular (quase) direta, o que lhe confere importantes poderes próprios
e livres.
Cada deputado está, na prática, vinculado a um partido.
O PR é responsável perante e representa todo o eleitorado.
Poder Executivo:
O Chefe de Estado é o titular único do Executivo. Existe uma concentração do Poder numa só pessoa,
sendo que as decisões, em última instância, são tomadas por uma única pessoa – princípio da
singularidade na tomada de decisão política. Este define livremente e de forma individual a direção da
execução do Programa de “Governo” – tem auxiliares / colaboradores / consultores que o ajudam na
execução da mesma, mas ele é que tem a última palavra.
O PR designa o seu “Governo” – secretários de Estado e demais altos funcionários – sendo que esta
designação é dependente da aprovação do Senado, embora a sua reprovação seja muito rara
(condicionamento essencialmente formal).
Nenhum destes faz parte do Legislativo, nem ter de ser deputado para pode ser nomeado.
É um órgão não autónomo, de execução e consulta, subordinado apenas ao PR e de exercício
comprometido – Hierarquia e Solidariedade Interna: todos os membros da equipa do PR cessam
funções quando este o faz.
“President Government”: Ao contrário do Governo Parlamentar, em que o órgão de governo sai do
parlamento, no Governo Presidencial, o órgão de governo sai do próprio presidente.
O Vice-presidente é eleito segundo o mesmo processo e, em caso de empate, o Senado é que decide o
vice-presidente. Este preside às sessões do Senado mas não é deputado do mesmo, ou seja, não vota.
Poder Legislativo:
O Congresso tem o exclusivo da função legislativa. Este é um órgão bicamaral perfeito, ou seja, onde
ambas as câmaras são diretamente eleitas pela população – legitimidade democrática –, pelo que
ambas assumem todo o tipo de competências próprias.
Câmara dos Representantes: Representação do conjunto de cidadãos num plano Federal, na
medida em que existe uma distribuição do número de deputados proporcional à quantidade de
população em cada Estado.
Senado: Representação dos Estados federados, na medida em que cada Estado tem direito a
eleger dois senadores – regra da igualdade absoluta.
Verifica-se um funcionamento em conjunto destas, sendo que as providências legislativas têm de ser
aprovadas pelas duas câmaras – separação e interação interna.
Além das competências legislativas (bases gerais), estas têm competências de fiscalização e
controlo estrito entre ambas.
Existe um bipartidarismo perfeito, com dois partidos hegemónicos sem grande ideologia definida que,
normalmente, conseguem cada um a maioria de uma câmara.
Separação Estrita entre o Executivo e o Legislativo:
Não existe responsabilidade política, nem afetação de mandatos mútuo:
Não se exige qualquer relação de confiança política entre o PR e Congresso para o primeiro exercer
o seu poder, ou seja, não é obrigatório a aprovação do programa do “Governo”, nem existe a
possibilidade de votar moções de censura ou de confiança.
O Congresso não pode destituir o PR por razões políticas, apenas por razões criminais –
impeachment: processo criminal contra o PR iniciado pela Câmara dos Representantes, conduzido
no Senado pelo Presidente do Supremo Tribunal, que precisa do voto de dois terços dos deputados
para ser aprovado.
Impossibilidade de dissolução parlamentar e (quase) impossibilidade de eleições antecipadas.
Ambos têm uma responsabilidade igual perante o eleitorado e a Constituição, assim como têm um grau
similar de legitimação popular. Por isso, existe um nível de interdependência e controlo menos
acentuado:
Não há condicionamento estrutural, na medida em que nenhum dos poderes pode afetar a
manutenção do outro num contexto político – independência política mútua e, por consequente,
separação estrita.
Há uma relação de condicionamento funcional, na medida em que os poderes podem afetar a ação
um do outro – interdependência recíproca e, consequentemente, separação colaborante.
Congresso:
Vota a aprovação do OE e das despesas para a Defesa – limitação funcional na execução do
programa do Governo.
O Senado tem que confirmar a aprovação dos tratados internacionais, assinados primeiramente
pelo PR (ex: EUA não entrou na Sociedade das Nações porque o Senado não autorizou) – limita
indiretamente o veto de bolso e a sua utilização pelo PR.
Confirma as nomeações para altos cargos da Administração e Supremo Tribunal (vitalício), sendo
que estas não se costumam verificar no fim dos mandatos – acaba a legitimidade.
Fiscaliza o Executivo através de Comissões de Inquérito, impeachment, etc.
Sistema diretorial
Inspirado na 3ª Constituição Francesa (1795).
Sistema de Referência: Confederação Suíça (Constituição de 1848)
Traços parlamentares:
Executivo colegial (com várias pessoas) – Conselho Federal;
Membros do Executivo eleitos pelo Parlamento (legitimidade democrática indireta);
Presidente da Confederação representa a Nação, mas não exerce poderes próprios;
Alinhamento do Executivo com o Parlamento, visto que o Executivo é designado pelo Legislativo,
pelo que existe um alinhamento de ideias que não provoca bloqueios à atividade executiva.
Traços presidenciais:
Irresponsabilidade política entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo;
Inexistência de condicionamento estrutural – nenhum poder pode por termo ao mandato do
outro.
Parlamento bicameral – uma proporcional à população de cada cantão e outra constituída por dois
representantes de cada cantão (federalismo);
O Poder Executivo assume a Chefia do Estado;
Apenas dois órgãos de soberania: Presidente da República e o Parlamento.
Traços específicos:
Competências próprias do Poder Executivo e da Chefia de Estado assumidas pelo Conselho Federal
(7 membros);
Presidente da Confederação preside às sessões do órgão (um ano de mandato, rotativo) e exerce
as competências de Representação, com respeito pelo Programa e deliberações do Conselho.
Existem dúvidas quanto ao facto de se tratar de um sistema autónomo, ou seja, de um sistema à parte
dos dois grandes sistemas. No entanto, a opinião mais difundida é que este é, de facto, um sistema
autónomo com características próprias e aplicado de formas diferenciadas.
Traços presidenciais:
Chefe de Estado é órgão politicamente ativo, ou seja, exerce poderes próprios e efetivos – centro
autónomo de poder;
Eleição do Chefe de Estado por sufrágio direto e universal – legitimação democrática direta do seu
Poder e poderes;
Dois órgãos de soberania eleitos no contexto de sufrágios próprios: Parlamento e Presidente da
República;
O Chefe de Estado é politicamente irresponsável perante o Governo e o Parlamento;
O Governo responsável perante o Chefe de Estado, visto que todos os secretários de Estado são
apontados pelo PR, que pode nomeá-los e demiti-los quase livremente.
Exemplos de poderes efetivos de intervenção e direção política do Chefe de Estado:
Promulgação e veto em relação ao Parlamento e ao Governo;
Suscitar fiscalização da constitucionalidade;
Sujeição de questões a referendo (normalmente por iniciativa do Governo ou Parlamento);
Nomeação de altos funcionários do Estado e titulares de outros órgãos;
Decretar estados de exceção constitucional (nalguns casos, poderá assumir poderes especiais
nesse contexto);
Competências (partilhadas ou não) em matéria de defesa e relações internacionais;
Demitir o Governo – e, nalguns casos, dirigi-lo juntamente com o PM;
Enviar mensagens ao país e ao Parlamento;
Dissolução parlamentar.
Traços parlamentares:
O Primeiro-Ministro é Chefe do Executivo e dirige o Governo;
O Governo é formado de acordo com os resultados das eleições legislativas (condicionamento do
poder do Chefe de Estado);
O Governo depende da confiança parlamentar e é politicamente responsável perante o
Parlamento – apreciação do programa de Governo, moções de confiança, moções de censura;
O Chefe de Estado é politicamente irresponsável perante o Governo e o Parlamento.
Traços próprios:
Três órgãos de soberania (PR, Assembleia e Governo) com intervenção efetiva no exercício do
poder político – poderes próprios, livres e significativos;
Dupla responsabilidade do Governo perante o Chefe de Estado e o Parlamento. Quanto ao
Presidente, poderá haver confiança política ou institucional consoante os sistemas em concreto.
Possibilidade, geralmente, de dissolução Parlamentar pelo Chefe de Estado por sua decisão e
iniciativa autónoma – entre nós, o PR não pode fazê-lo em certas alturas (ex: estado de
emergência, senão a sua renovação é posta em causa).
Na maioria dos casos, estes são mais próximos do sistema parlamentar do que do sistema presidencial,
na medida em que acolhem integralmente um traço essencial do primeiro mas só acolhem
parcialmente um traço essencial do segundo.
Tinham a intenção de racionalizar e corrigir as fraquezas do sistema parlamentar –
parlamentarismo – de forma a garantir a estabilidade, eficácia e continuidade governativa e a
evitar instabilidade política.
Funcionam com uma base parlamentar com um reforço da posição e poderes do Presidente da
República – sistema de “base parlamentar com corretivo presidencial”: PR tem poderes próprios
atribuídos para controlar o parlamentarismo.
Em termos práticos, funciona de forma muito variável/diferenciada, baseada no texto e na prática
constitucional. Distinguem-se, particularmente, consoante os poderes exercidos pelo Presidente
da República.
Concretizações distintas:
Modelo aparente ou meramente representativo (Áustria, Irlanda, Islândia):
Chefe de Estado não exerce efetivamente os poderes próprios constitucionalmente atribuídos;
Comporta-se como poder simbólico/de representação (tipo parlamentar).
Modelo garante ou de moderação (Portugal):
Chefe de Estado atua como poder moderador, de garantia da Constituição e do sistema político
(papel de garantir, por exemplo, a separação de poderes), e do normal funcionamento das
instituições democráticas. Em teoria, é “não-militante” – não está associado a um partido político,
candidata-se por si, como pessoa individual, não oferece um programa político nas eleições, mas
sim uma visão sobre a sociedade. Deverá comportar-se exterior à lógica político-partidária, tem de
respeitar o Governo/ideologia escolhida pela população.
Não há coabitação no Governo. Apenas coexistência institucional com o Primeiro-Ministro.
Existe uma preponderância presidencial acentuada consoante as maiorias eleitorais (visto que o
Governo é do mesmo partido da maioria da AR) e a prática política. Fora das situações de
coabitação em sentido estrito, o Chefe de Estado conduz e dirige o Governo, que executa o
Programa do Presidente – o PM é subordinado ao PR –, e dirige uma maioria parlamentar que lhe é
favorável, ou seja, que é o mesmo partido.
Outras doutrinas:
Sistema parlamentar-presidencial (Gomes Canotilho) – o mesmo que semipresidencial, apenas
considera que a expressão semipresidencial não caracteriza os sistemas semipresidenciais de uma
forma "feliz", visto que existe uns que têm mais uma parte do que outra.
Sistema parlamentar racionalizado (André Gonçalves Pereira) – devido aos poderes do PR agirem
como uma cláusula de racionalização.
Critérios de caracterização:
Relação de responsabilidade política do Governo/Executivo perante a AR/Legislativo, que se
encontra na base do sistema parlamentar (e tudo o que dela decorre).
Posição e estatuto do Chefe de Estado: é eleito de forma direita e universal e tem poderes
próprios, efetivos e significativos, nomeadamente enquanto poder moderador, garante de
estabilização, extrapartidário, etc.