Técnica de Entrevista e Aconselhamento Psicológico
Técnica de Entrevista e Aconselhamento Psicológico
Técnica de Entrevista e Aconselhamento Psicológico
ENTREVISTA E
ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO
Aconselhamento
psicológico
Maria Mabel Nunes de Morais
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Com início no século XX, o aconselhamento psicológico é uma técnica que vem
sendo aprimorada dentro dos contextos públicos e privados de atuação dos
psicólogos. Essa técnica é considerada de atuação pontual, uma vez que é voltada
para a solução de problemas e, diferentemente da psicoterapia de longa duração,
não tem como objetivo desenvolver vários aspectos da vida do sujeito.
A prática de aconselhamento psicológico foi modificada e aperfeiçoada ao
longo dos anos, em particular pela abordagem centrada na pessoa (ACP), que tem
como principal teórico Carl Rogers. Hoje, o aconselhamento psicológico é utilizado
principalmente por clínicas-escola em plantões psicológicos, cujo principal objetivo
é acolher a demanda inicial e tentar ajudar o cliente a encontrar direcionamento
para o problema apresentado.
Neste capítulo, você vai estudar a história do aconselhamento psicológico.
Além disso, vai conhecer a definição dessa técnica e as suas principais áreas
de atuação na atualidade. Por fim, você vai conferir as abordagens teóricas da
psicologia no processo de aconselhamento.
2 Aconselhamento psicológico
comportamento;
construtos pessoais ou preocupações emocionais relacionadas com
as percepções;
capacidade para ser bem-sucedido nas situações de vida, aumentando
as oportunidades e diminuindo as condições adversas;
conhecimento e habilidade para tomada de decisão (PATTERSON; EI-
SENBERG, 1988).
O processo de ACP, definido por Rogers (1942), foi desenvolvido com base na
percepção de que as pessoas poderiam apresentar respostas distintas para as
mesmas situações e ficar satisfeitas com os resultados. Assim, o papel do acon-
selhamento passou a ser ajudar as pessoas, de forma objetiva, a clarificarem seus
próprios objetivos e a pensarem em planos de ação para a solução dos problemas.
No ACP, enfatiza-se que cada pessoa tem um potencial único, e o conselheiro será
o facilitador do crescimento pessoal do cliente (PATTERSON; EISENBERG, 1988).
Nessa perspectiva, Rogers parte da concepção de que a escuta empática
por parte do conselheiro já tem, por si só, um efeito facilitador para o processo
de mudança e autorreflexão por parte do cliente. Assim, o conselheiro pode
Aconselhamento psicológico 5
ser entendido como a pessoa que recebe a demanda do cliente e tem o papel
de acolhê-lo e propor alternativas para ajudá-lo, o que pode ser feito por meio
de informação, orientação, encaminhamento ou mesmo por psicoterapia de
longa duração (SCHMIDT, 1987).
O aconselhamento psicológico, nomeado por Forghieri (2007) como acon-
selhamento terapêutico, não tem como objetivo curar os sintomas e as psi-
copatologias, mas sim atingir os aspectos saudáveis do indivíduo que está
passando por uma perturbação psicológica e precisa de ajuda para lidar com
essa situação (FORGHIERI, 2007).
Para a teoria da Gestalt, o aconselhador e o cliente não são sujeitos dis-
tintos, visto que ambos têm semelhanças que os identificam de algum modo.
O que os diferencia é que o aconselhador, naquele momento, tem o papel de
ajudar o cliente a encontrar soluções para o problema que ele não consegue
resolver sozinho. Segundo Forghieri (2007), independentemente de seu papel
naquele contexto, os sujeitos podem vivenciar situações similares, que podem
trazer alegria, tristeza ou frustação, de modo que eles podem apresentar
sentimentos diferentes, porém vivências semelhantes.
Em virtude de o aconselhamento psicológico ser um processo curto, é
comum vê-lo enquadrado como parte das psicoterapias breves — processos
psicoterápicos em que se tem foco definido, tempo delimitado e postura ativa
e diretiva por parte do psicoterapeuta. Para Schmidt (1987), embora o ACP
seja enquadrado na psicoterapia breve, a atitude do conselheiro deve ser a
mesma diante do processo, pois “[...] a direção e a configuração do processo
continuam pertencendo ao cliente” (SCHMIDT, 1987, p. 18).
Para o propósito do aconselhamento, um número reduzido de sessões ou
até mesmo um único encontro pode ser suficiente para que o cliente desen-
volva as reflexões necessárias e consiga prosseguir sem ajuda. No entanto,
para que isso seja possível, faz-se imprescindível que haja uma postura
facilitadora e uma atitude empática por parte do conselheiro (SCHMIDT, 1987).
Em suma, pode-se entender o aconselhamento psicológico como:
[...] uma relação de ajuda que visa facilitar uma adaptação mais satisfatória do
sujeito à situação em que se encontra e otimizar os seus recursos pessoais em
termos de autoconhecimento, autoajuda e autonomia. A finalidade principal é
promover o bem-estar psicológico e a autonomia pessoal no confronto com as
dificuldades e os problemas (TRINDADE; TEIXEIRA, 2000, p. 3).
O CASO DE THAD
(Continuação)
Outro campo de atuação que está ganhando cada vez mais força na psi-
cologia é o atendimento em modalidade on-line, principalmente após o início
da pandemia da covid-19. No entanto, desde 2018, por meio da Resolução
nº 11, o Conselho Federal de Psicologia autorizou a prestação de serviços
psicológicos realizados por meio de teleatendimento (CONSELHO FEDERAL
DE PSICOLOGIA, 2018). Nesse contexto, o aconselhamento psicológico on-line
também se tornou uma alternativa popular em meados de 2020.
De acordo com Situmorang (2020), o aconselhamento na modalidade on-line
traz vários benefícios para os clientes, pois apresenta maior disponibilidade,
alcançando um número maior de pessoas, além de facilitar a manutenção dos
registros. De modo geral, o aconselhamento psicológico on-line é realizado
da mesma forma que o presencial e pretende atingir os mesmos objetivos,
tendo o mesmo nível de profundidade, satisfação e suavidade; ou seja, trata-
-se apenas de uma nova forma do fazer psicológico.
10 Aconselhamento psicológico
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