Impressa e História Da Educação
Impressa e História Da Educação
Impressa e História Da Educação
A impressa passou neste sentido a ser entendida como uma inovação dentro
do campo da pesquisa, principalmente referente aos estudos pertencentes à História da
Educação. Essa nova forma de ver e escrever a História ocorreu a partir do surgimento
de uma visão ampliada sobre o uso das fontes. Visão esta que se desenvolveu através da
iniciativa de dois pensadores: Lucien Febvre e Marc Bloch, a partir de 1929 na França.
Juntos resolveram fundar a revista dos Annales, que segundo Le Goff (2003), propiciou
num “ato que fez nascer a nova história” (LE GOFF, 2003, p.129).
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Assim, instaurou-se essa nova perspectiva de uma História mais abrangente,
o que fez permitir seu enriquecimento na medida em que visava uma grande
aproximação com outras ciências, dando maior sentido para a inovação temática em
oposição a História dita tradicional, narrativa e política por uma História problemática.
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Entretanto, cabe ao pesquisador, ao longo de sua trajetória na busca do
conhecimento de seu objeto, ter em mente, de forma clara e consciente, que uma fonte
documental não se restringe apenas aos documentos escritos, também chamados de
documentos oficiais. Mas é preciso que reconheça a existência dos documentos não-
oficiais sejam eles: palavras, paisagens, signos ou qualquer outra forma que lhe
possibilite a fundamentação da pesquisa e a probabilidade de se construir o
conhecimento histórico. Le Goff faz referência a essa questão e diz que é preciso “tomar
a palavra documento no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido
pelo som, imagem, ou de qualquer outra maneira” (LE GOFF, 1999, p. 98).
Presente a este fato é relevante mencionarmos as idéias de Lopes e Galvão
(2001), em seu estudo “História da Educação”, quando defendem a idéia de que após ter
sofrido a influência de novas correntes como Marxismo e a Nova História, a História da
Educação renova-se, enquanto campo de pesquisa, passando a lançar um novo olhar
sobre os objetos de análise e as suas fontes, possibilitando dessa forma que a História da
Educação tornasse fonte de
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Em função disso, ao pesquisador é cabível saber quem são seus leitores para
entender seus escritos e suas representações, uma vez que toda fonte documental se
apresenta com verdades e mentiras, por ser ela uma expressão da vida de um homem,
composta de certezas e incertezas. Em vista disso, é preciso ter um olhar crítico e
minucioso sobre as fontes, discordando ou acreditando em todas elas, ou seja, que ele
apresente uma sensibilidade que lhe permita decifrar todas as pistas que uma
determinada fonte de informação contenha.
Todavia, convém ressaltar a questão da neutralidade das fontes e
entendermos que todas elas, sejam escritas, ilustrativas ou não, apresentam certa
intencionalidade. Pois, o documento como nos mostra Le Goff (1999), não é inócuo,
mas sim o resultado de uma “montagem, consciente ou inconsciente, da história, da
época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as
quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado,
ainda que pelo silêncio” (LE GOFF, 1999, p. 103).
O documento não é neutro e sim intencional, por isso compete ao
pesquisador levar em conta sua subjetividade e intencionalidade, submetendo-as a uma
criticidade histórica, na busca de uma maior priorização da produção do conhecimento
científico.
Nesse sentido fica evidente, que com a Nova História, que surgiu na França,
através da iniciativa de dois pensadores, a História conseguiu ganhar uma nova visão,
principalmente, em relação as fontes, que passou a ser ampliada, fazendo o pesquisador
chegar a uma compreensão dos fatos passados e a romper, de certa maneira, com a visão
tradicional, por fazer uso de outros vestígios além das fontes escritas, devido toda fonte
documental ser uma expressão da produção humana. Sejam elas escritas ou não, cabe ao
historiador saber fazer uso delas para compreender o processo vivido por seu objeto de
estudo, para construção de um processo histórico que permita alcançar uma maior
cientificidade.
Desse modo, podemos perceber que os impressos nos possibilitam conhecer
uma realidade impregnada, não apenas no campo dos acontecimentos e fatos
educacionais, mas sobre todos os ocorridos que se desenrolaram naquele momento, e
que podem ou não, estarem associados aos episódios ligados à educação. Como bem
nos mostra Catani e Bastos (2002),
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Na obra de Clarice Nunes sobre “Anísio Teixeira: a poesia da ação” é
evidente e profundo o entendimento sobre seu objeto de pesquisa, quando ela nos
mostra que:
Novos depoimentos sobre Anísio surgem após sua morte, em artigos
publicados em jornais e periódicos específicos como a Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos e o Anuário Acadêmico de Letras,
entre outros, além de pequenas publicações como a que lhe dedicou a
Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Brasileiro de Geografia
(NUNES, 2000, p. 13).
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escrever a História da imprensa, mas relutavam em mobilizá-los para a escrita da
História por meio da imprensa” (LUCA, 2006, p.111).
Os Ideários presentes entre os pesquisadores pela busca da verdade absoluta,
da objetividade e neutralidade, têm estabelecido neste sentido uma “hierarquia
qualitativa dos documentos”.
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Dentro desse panorama em que se encontrava a realidade dos impressos, e
por ser um instrumento de pesquisa que, segundo Catani e Bastos (2002), se apresenta
como importante fonte de informação para a história da educação, deve-se enquanto tal
submeter-se ao crivo de uma adequada crítica documental. Já que a imprensa é vista
como um mecanismo que,
O uso dos impressos vem ganhando espaço, não apenas como fonte de
pesquisa, mas como objeto de estudo para o entendimento de temas relacionados à
educação. O despertar de interesse de muitos pesquisadores fez com que essa temática
ganhasse novos ambientes.
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Carvalho e Inácio Filho (2007), também fazem menção ao desenvolvimento
das pesquisas que tomam a imprensa como objeto de investigação, principalmente, no
campo educacional. Desse modo, afirmam que têm surgido importantes trabalhos os
quais adotaram como objeto de estudo a imprensa educacional, dando assim uma grande
contribuição tanto em “termos de percepção da realidade como de demonstração
metodológica de novas formas de se compreender a educação pela utilização de outras
fontes de informação” (CARVALHO e INÁCIO FILHO, 2007, p. 53).
A “imprensa, sem dúvida, tem configurado como uma dessas novas fontes e
possibilitado, por meio de diversos olhares, a constituição do retrato de um tempo”
(SCHELBAUER, 2007, p.7). Novóa (2002) observa esse mesmo fato quando diz que:
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Além de ser uma fonte indispensável para o entendimento dos estudos
ligados a História da Educação ao mesmo tempo em que vem ganhando cada vez mais
espaço, dentro dessa área de conhecimento, é perceptível o alargamento do uso dos
impressos como objeto de estudo. Uma vez que é através de uma análise mais
aprofundada de um impresso que se torna possível conhecer o que os indivíduos ligados
a educação pensavam ou inscreviam a respeito dos fatos e como as idéias eram
mostradas aos seus leitores.
Entre as várias obras que já fazem uso dos impressos como fonte e objeto de
estudo, podemos destacar, nesse artigo, o trabalho de Marcus Aurélio Taborda de
Oliveira sobre a Educação Física escolar e Ditadura Militar no Brasil.
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circulação e sua apropriação pelos leitores (BARREIRA. Apud:
DANTAS, 2008, p.15).
Considerações Finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARVALHO, Carlos Henrique de; INÁCIO FILHO, Geraldo. Debates Educacionais na
Imprensa: republicanos e católicos no Triângulo Mineiro-MG (1892-1931). In:
SCHELBAUER, Analete Regina. ARAUJO, Jose Carlos. (Org.). História da
Educação pela Imprensa. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007. p.53-84.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral
e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança
Paulista-SP: EDUSF, 1998.
LE GOFF, Jacques. História. In: História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 2003. p. 17-171.
LUCA, Tania Regina de. “História dos, nos e por meio dos periódicos.” In: PINSKY,
Carla Bassanezi (Organizadora) Fontes Históricas. 2ª ed. São Paulo: Cotexto, 2006,
p.111-153.
NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança Paulista – SP, EDUSF,
2000.
OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. Educação Física escolar e ditadura militar
no Brasil (1968-1984): entre a adesão e a resistência. Bragança Paulista-SP: EDUSF,
2003.
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PAIVA, Vanilda Pereira. Paulo Freire e o nacionalismo-desenvolvimentista. 2ª ed.
São Paulo: Edições Loyola, 1983.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro. Mauad,
1999.
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