Capítulo Leandro C Tavares
Capítulo Leandro C Tavares
Capítulo Leandro C Tavares
RESUMO: Este estudo tem como proposta central enfatizar algumas proposições ao que tange a História,
estudos culturais na relação mídia e educação, partindo da proposição do que se refere à influência midiática na
escrita da História na perspectiva de construir um conhecimento sobre a história da comunicação, voltando-se ao
passado historiográfico com os olhos no presente. Por meio dessa análise, apresenta discussões entre mídia e
educação, na vertente de que é preciso pensar na comunicação dentro da complexidade cultural e das relações de
poder que permeiam os meios de comunicação no contexto histórico social, político e econômico como fatores
essenciais para a compreensão da ação midiática na educação. Assim como faz ponderações elencando que os
registros presentes nos veículos de comunicação abriram a possibilidade de pesquisas que questionaram a noção
de documento em história. São fontes que apresentam processos de construção e desconstrução de identidades,
culturas e mentalidades, a partir da vida e experiências cotidianas. Emergem como documento na busca das
sensibilidades, muitas vezes camufladas e apresentam elementos capazes tanto de informar aspectos materiais
concretos cotidianos como a cristalização de uma memória, um testemunho direto ou indireto do passado.
Introdução
1
Doutorando em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. E-mail:
tavaresleo23@gmail.com
O segundo tópico apresenta discussões de análise entre mídia e educação, na vertente de que
é preciso pensar na comunicação dentro da complexidade cultural e das relações de poder que
permeiam os meios de comunicação no contexto histórico social, político e econômico como fatores
essenciais para a compreensão da ação midiática na educação.
Considerando essas perspectivas, este estudo objetiva-se em demonstrar as análises
realizadas acerca das relações entre História, Cultura, Mídia e educação. A partir dessas concepções, o
objetivo geral dessa pesquisa foi: Analisar a relação existente entre história, estudos culturais, mídia e
educação. Os objetivos específicos deste estudo se integraram em: Descrever a mídia como documento
para a escrita da história, assim como também, identificar os estudos culturais na relação entre
comunicação e educação.
Por meio desses aspectos, o pressuposto epistemológico que nortearam os caminhos desta
pesquisa, fundamentou-se no campo dos Estudos Culturais, na perspectiva crítica, objetivando
compreender e analisar as relações entre História, cultura, e conhecimento a partir da relação com a
comunicação. A escolha dos Estudos Culturais como referência teórica para esta pesquisa se assenta
no pensamento de que segundo Barbosa, (2015)2:
2
BARBOSA, Marialva Carlos. Por uma história cultural da comunicação. Revista Brasileira de História
da Mídia (RBHM), v.4, n.1, p. 105-107, jan. 2015. Entrevista concedida a Ariane Pereira.
3
SILVA, Tomas Tadeu da. Documentos de identidade. Uma introdução às teorias do currículo. 3. Ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2010, p. 134.
Diante do que foi supracitado, fica compreendido que na significação das palavras
informação e comunicação estão impostos de valores éticos e estéticos, interesses individuais ou
coletivos e ideologias. A comunicação estabelece a relação com o outro, tanto no processo de
interação e socialização do conhecimento como no jogo de interesses.
Essas e outras informações são as propostas desta obra, pois a mesma leva o leitor a ter
contato com várias estruturas básicas contextualizadas, dando assim, auxílio no entendimento sobre o
contexto existente entre História, comunicação, cultura e educação.
Levando em consideração a História como ciência 4 dos homens que estuda o processo
histórico da humanidade, interessa-nos mais procurar identificar os caminhos que nos levam a
determinadas concepções atuais do que esteja relacionado à mídia como documento para a escrita da
História5.
Considerando a amplitude do tema discutido ao longo desse artigo, o objetivo não é atingir
uma verdade acerca dos conceitos e muito menos acomodar ao leitor, com uma explicação
reducionista de algo que é amplo e complexo.
Na esteira desse raciocínio, procuramos apresentar análise de diferentes autores,
considerando o tempo e espaço em que construíram suas teorias, possibilitando uma reflexão sobre as
transformações pelas quais passou e tem passado o conceito e discussões sobre mídia e História, no
entanto, sem esgotar suas possibilidades de abordagem.
A relação história e mídia se estabeleceu no tocante a análise de documentos. Desde a Escola
dos Annales, os registros cotidianos dos jornais, revistas, a iconografia, e mais tarde a televisão,
filmes, documentários, entre outras mídias se constituíam fontes históricas de excelência, que
demandam saberes, habilidade de interpretação e conhecimento.
Os registros realizados pela mídia são documentos que exigem do pesquisador aprender a
dialogar e decifrar os códigos implícitos e explícitos em seus interiores, a entender seus silêncios, seus
significados, o sentido da vida e das ideias, ou seja, o sentido escondido, a revelar as aparências
4
Essa discussão parte da conclusão e enfoque que a história é a ciência "Ciência dos homens", "dos homens, no
tempo". Seguindo essa concepção, a História como ciência, não apenas pelo objeto mais também pelo método
próprio que é a observação histórica, ou seja, representar o homem quanto sujeito da sua história. Buscando não
mais uma História voltada apenas aos fatos, às datas e aos relatos. Mas uma história que conseguisse
compreender as relações sociais que se deram através dos fatos, suas problematizações e seu contexto histórico.
Ver em: BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: ed. Zahar, 2001, p.
55.
5
Baseado na ideia de que “transforma o espaço do outro num campo de expansão para um sistema de produção.
A partir de um corte entre um sujeito e um objeto de operação, entre um querer escrever e um corpo escrito (ou a
escrever) fabrica a história ocidental. A escrita da história é o estudo da escrita como prática histórica. a escrita
da história remete a uma história "moderna" da escrita”. Ver em: CERTEAU, Michel de. A Escrita da história.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982, p. 5.
exteriores; enfim a penetrar em seus significados, para além do que ela pode fornecer como
simplesmente narração textual. Contém por atrás de si uma história repleta de continuidades e
descontinuidades, permanências e transformações relevantes para a história.
Enquanto documento, a mídia é um instrumento de fixação da memória, mostrando símbolos
fixados pelas permanências culturais; símbolos que se transformam nos movimentos da história e que,
ao mesmo tempo, expressam representações de emoção, sensibilidade e ideologia.
Dessa forma, Schwartz, (2012) 6 argumenta que:
Ainda na concepção da autora acima, tanto o filme, como a fotografia, as charges e matérias
em jornais e revistas não podem ser vistos somente enquanto testemunho/documento, igualmente,
deve ser integrado a seu contexto social, cultural, político, ideológico e estar relacionados ao público
alvo7.
“O uso das variadas mídias como documento deve revelar os filtros ideológicos que são
produtos, imagens objeto, cujas significações não são apenas de natureza cinematográfica, mas
também de testemunho” (FERRO8, 1989 apud SCHWARTZ, 2012, p. 2). Desse modo, Forma-se então
um conjunto de representações visuais, textuais e sonoras, cuja análise e decodificação faz parte da
função do historiador.
Os filmes históricos são produções que narrativizam: fatos históricos, biografias e
mentalidades de épocas. Em um filme histórico tradicional, hollywoodiano, por exemplo, enfatiza-se:
a emoção em detrimento ao aspecto racional da trama, égide da espetacularização; os elementos
estéticos, estilo artístico da obra; o caráter subjetivo dos modelos estéticos; a linguagem
cinematográfica, movimentos da câmera, planos, enquadramentos, iluminação, sonoplastia, ângulos de
análise que devem ser observados como documentos históricos, levando-se em conta o que está
presente de maneira implícita, e tudo aquilo que os produtores queriam que chegasse ao espectador,
mas não o fizeram, por algum motivo particular, direta e claramente. Assim:
6
SCHWARTZ, Rosana. Mídia e História: Registros, documentos e fontes. Jornal Alcar, Porto Alegre, 2 maio
2012. Disponível em http://www.ufrgs.br/alcar/jornal-alcar-no-2-maio-de-2012/Midia%20e%20Historia. Acesso
em: 4 mar. 2017, p. 1-2.
7
Idem, 2012, p. 2.
8
É importante frisar que já em 1989, Ferro atentava para a percepção do filme ou do vídeo tanto como fonte e
quanto objeto imagético, já que não são feitos apenas de código cinético (imagens em movimento), mas também
de outros tantos códigos, tais como o linguístico, escrito (legenda), fala (diálogos dos personagens) e código
musical (trilha sonora). Ver em: FERRO, Marc . Culture et révolution, Paris: Éditions de L'EHESS, 1989.
Percebem-se as possibilidades de leituras do passado conectadas as do presente:
filmes cujas histórias tocam o presente, não obstante sua temática discursiva esteja
centrada no passado. Na dialética passado-presente, tais categorias de filmes
desempenham papel significativo na polemização do conhecimento histórico, já que
se constituem de imagens documento e monumento (SCHWARTZ, 2012, p. 3).
Dessa forma, entende-se que em filmes documentos, o historiador deve considerar, também,
a problemática do imaginário social. Esse imaginário ocorre, tanto por questões ideológicas, como por
motivos técnicos. “O recorte específico de um momento da História pelos enredos cinematográficos
permite ao historiador detectar ideologias, tanto do público-alvo, quanto dos produtores”
(SCHWARTZ, 2012, p. 4).
Na perspectiva dessas vias analíticas, entende-se que toda produção presente nos veículos de
comunicação é histórica. E em meios a essas discussões, pode-se considerar que o mundo
contemporâneo é o século das comunicações como afirma Barbosa, (2015) 9:
Ainda mais quando vivemos num século governado pela comunicação. Costumo
dizer que o século XXI é o século da comunicação. Que assumimos a primazia da
explicação das ações humanas. Há que então compreender esse processo. E para isso
um olhar histórico é fundamental (Barbosa, 2015, p. 109).
9
BARBOSA, Marialva Carlos. Por uma história cultural da comunicação. Revista Brasileira de História
da Mídia (RBHM), v.4, n.1, p. 105-107, jan. 2015. Entrevista concedida a Ariane Pereira.
10
A ideia de “campo”, “refere-se a um domínio autônomo que, em dado momento, atinge a independência em
uma determinada cultura e produz suas próprias convenções culturais”. Ver em: BURKE, Peter. O que é
História Cultural?. Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 76.
A possibilidade de reflexão a partir dos temas construídos nesse estudo nos instiga a buscar
uma história com movimento. Uma história que torna possível uma aproximação com o vivido. Se
pensarmos em História Cultural, que será discutido no tópico seguinte é isso, a aproximação com o
vivido.
Compreender como as pessoas sentem, agem e pensam não é tarefa fácil e por essa razão que a
metodologia da historiografia cultural nos dá espaço para diferentes interpretações acerca dos
significados da história. Da mesma maneira, trabalha com a ideia de que na história não existe uma
verdade única e acabada, mas sim versões 11. É nesse sentido que mais uma vez dar-se ênfase a uma
história em movimento, que se renova e se transforma, assim como a sociedade em que vivemos.
11
“Notadamente naquelas versões da história que o vê a partir da chave da evolução, do progresso, do
desenvolvimento orgânico, do avanço da consciência ou como resultado de um projeto de existência”. Ver em:
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. O objeto em fuga. Fronteiras. Dourados, v. 10, n. 17, p. 55-67,
jan./jun./2008. Disponível em: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/62/72.
Acesso em 02 de março de 2016.
12
É importante compreender também que sempre há relações de poder nessas concepções, nesses conceitos e
essas relações de poder não se estabelecem na sociedade apenas a partir do plano econômico, ou de algum plano
específico. Essas relações vão ser uma construção simbólica, caracterizando assim o poder simbólico que é toda
aquela concepção, aquele aparato ético, moral, social de postura e de comportamento que a classe dominante
constrói para subordinar as outras classes e se manter no poder. Bourdieu (1989) nos faz entender que essas
relações de poder construídas a partir dessas simbologias, dão-se por meio da linguagem e que essa linguagem é
que vai reforçar e viabilizar os elementos de controle impostos pela classe dominante. Essas argumentações
partiram do entendimento de: BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação: elementos para uma reflexão
crítica sobre a ideia de região. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989, p. 107-132.
13
Nessa concepção, “preenche o espaço entre o interior e o exterior – entre o mundo pessoal e o mundo público.
O fato de que projetamos a “nós próprios” nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que internalizamos seus
significados e valores, tornando-os “parte de nós”, contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os
lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural”. Ver em: HALL, S. A identidade cultural na pós-
modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Touro. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p.
11-12.
para organizar as nossas relações com o outro”. Desse modo, “A comunicação é um objeto de
conhecimento interdisciplinar, proporcional à dimensão antropológica, e essa dimensão de cruzamento
deve ser preservada para evitar uma especialização que, aparentemente, transmite segurança”
(VOLTON, 2004, p. 100).
Os recursos de mídia possibilitam as novas formas de ver, de ler, de escrever e de entrar em
contato com outro universo cultural, mas também sufocam a inteligência humana com o excesso de
informações que contribuem para fragilizar a capacidade de conceituar, de pensar e de estabelecer
relações dialéticas para a compreensão da realidade social 14. Entre os estudantes, e até entre
professores e professoras, é comum tratar as informações da mídia, tanto eletrônicas quanto impressas,
como fontes de verdade.
A perspectiva dos estudos culturais15 salienta a necessidade de se educar o olhar ou educar
para a mídia na formação de professores e professoras, não apenas para utilizar a mídia como recurso
didático, mas é preciso ir além, problematizar as narrativas que dão sentidos à cultura do consumo
para atender os interesses da produção capitalista.
Os programas de televisão, a internet e os cinemas são convites para o consumo de massa e
responsáveis pelos mesmos gostos e as mesmas preferências entre as crianças e os adolescentes. O
conhecimento das potencialidades das mídias pode formar uma geração mais crítica em relação à
mídia. A educação para mídia pressupõe um envolvimento no processo de elaboração e produção de
conhecimento na mídia digital.
A mediação na educação escolar pode ser um espaço para formação da recepção crítica, mas
também para a produção de mídias. Assim:
Os estudos culturais (ou mediações culturais) com o foco nas crianças e adolescentes devem
problematizar estas relações e operações de sentido entre estratégias de mobilização (por parte da
indústria) e táticas de apropriação e consumo (por parte das crianças e adolescentes) e que se cruzam
14
Nesse sentido, a “incorporação sob forma de categorias mentais das classificações da própria organização
social”, e de outro, “como matrizes que constituem o próprio mundo social, na medida em que comandam atos e
definem identidades”. Ver em: CHARTIER, Roger. A beira da falésia. Porto Alegre: EDUFRGS, 2002, p.72.
15
É importante salientar que nos estudos da mídia e da comunicação, os estudos culturais exercem grande
influência. Neste sentido, Nelson, Treichler e Grossberg (1995 apud TERUYA, 2009 p. 151) dizem que os
estudos culturais se aproveitam “dos muitos campos principais de teoria das últimas décadas, desde o marxismo
e o feminismo até a psicanálise, o pós-estruturalismo e o pós-modernismo”. Ver em: TERUYA, Teresa Kazuko.
Sobre mídia, educação e Estudos Culturais. In. MACIEL, Lizete Shizue Bomura; MORI, Nerli Nonato Ribeiro
(Org.) Pesquisa em Educação: Múltiplos Olhares. Maringá: Eduem, 2009, p. 151.
nas textualidades dos produtos disponibilizados pelas mídias: redes virtuais e internet (lan games,
chats, por exemplo), rádio, TV, videogames etc. Em meios a esse seguimento, vê-se que:
Considerações finais
Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. O objeto em fuga. Fronteiras. Dourados, v. 10, n. 17, p.
55-67, jan./jun./2008. Disponível em:
http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/FRONTEIRAS/article/view/62/72. Acesso em 02 de
março de 2016.
BARBOSA, Marialva Carlos. Por uma história cultural da comunicação. Revista Brasileira de
História da Mídia (RBHM), v.4, n.1, p. 105-107, jan. 2015. Entrevista concedida a Ariane Pereira.
BOURDIEU, Pierre. A identidade e a representação: elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia
de região. In: BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: ed. Zahar, 2001.
BURKE, Peter. O que é História Cultural?. Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2005.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
SCHWARTZ, Rosana. Mídia e História: Registros, documentos e fontes. Jornal Alcar, Porto Alegre,
2 maio 2012. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/alcar/jornal-alcar-no-2-maio-de-2012/Midia%20e%20Historia. Acesso em: 4
mar. 2017.
SILVA, Tomas Tadeu da. Documentos de identidade: Uma introdução às teorias do currículo. 3. Ed.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
SIQUEIRA, A. B. de. Educação para a mídia como política pública: uma experiência inglesa a
proposta brasileira. Educação & política, v. 15, n. 1., 2007, p. 73-100.
TERUYA, Teresa Kazuko. Sobre mídia, educação e Estudos Culturais. In. MACIEL, Lizete Shizue
Bomura; MORI, Nerli Nonato Ribeiro (Org.) Pesquisa em Educação: Múltiplos Olhares. Maringá:
Eduem, 2009. p. 151-165.