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ÍNDICE
Capítulo UM 28
Capítulo DOIS 41
Capítulo TRÊS 53
Capítulo QUATRO 70
Capítulo CINCO 84
Capítulo SEIS 95
Ahstrux Nohtrum (n.) Guarda particular com licença para matar, cujo posto
é concedido a ele ou ela pelo Rei.
Escravo de sangue [blood slave] (n.) Macho ou fêmea vampiro que foi
subjugado para cobrir as necessidades de sangue de outro vampiro. A prática
de manter escravos de sangue foi recentemente declarada ilegal.
As Escolhidas [the Chosen] (pr. n.) Fêmeas vampiras que foram criadas para
servir a Virgem Escriba. São consideradas membros da aristocracia, embora
sejam um tanto mais espiritualmente do que temporalmente focadas. Têm
pouca ou nenhuma interação com os machos, porém podem emparelhar-se
com Irmãos por ordem da Virgem Escriba para propagar sua classe. Algumas
possuem o dom de prever o futuro. No passado, eram usadas para cobrir as
necessidades de sangue dos membros não emparelhados da Irmandade, e essa
prática foi reinstalada pelos Irmãos.
Cohntehst (n.) Conflito entre dois machos competindo pelo direito de ser o
companheiro de uma fêmea.
Ehros (pr. s.) Uma Escolhida treinada nos assuntos das artes sexuais.
O Fade [the Fade] (n.) Reino atemporal onde os mortos se reúnem com
seus entes queridos e passam a eternidade.
Lhenihan (pr.n) Uma fera mística famosa por suas proezas sexuais. No
jargão moderno, refere-se ao macho de tamanho sobrenatural e vigor sexual.
O Omega [the Omega] (Pr. n.) Ser místico e malévolo que quer exterminar
a raça vampírica devido ao ressentimento que tem em relação à Virgem Escriba.
Existe em um reino atemporal e possui extensivos poderes, embora não o poder
de criação.
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A Virgem Escriba [The Virgin Scribe] (pr.n) Força mística que aconselha o rei
como guardiã dos registros vampíricos e concedente de privilégios. Existe em
um reino atemporal e possui grandes poderes. Capaz de um único ato de
criação, que usou para trazer os vampiros à existência.
Sehclusion (n.) Status conferido pelo rei a uma fêmea da aristocracia como
resultado de uma petição pela família da fêmea. Coloca a fêmea debaixo da
autoridade exclusiva de seu ghardian, tipicamente o macho mais velho da
família. Seu ghardian tem então o direito legal de determinar toda sua forma de
vida, restringindo à vontade qualquer e toda interação que ela tenha com o
mundo.
A Tumba [the Tomb] (Pr. N.) Cripta sagrada da Irmandade da Adaga Negra.
Utilizada como local cerimonial assim como instalação de armazenamento para
os jarros dos lessers. As cerimônias realizadas ali incluem: iniciações, funerais e
ações disciplinares contra os Irmãos. Ninguém pode entrar, exceto os membros
da Irmandade, a Virgem Escriba ou os candidatos à iniciação.
PRÓLOGO
Mas é claro, seu amado pai tinha mesmo ido para o Fade.
Mas quanto tempo esta triste procura duraria? Ele se perguntava. Era
uma ilusão inútil, especialmente porque as vestes sagradas do Rei dos
vampiros estavam sobre o seu corpo, as faixas bordadas em pedrarias, o
manto de seda e as adagas cerimoniais adornavam seu próprio corpo. Mas
sua mente não ligava para estas provas de sua recente coroação... Ou talvez
fosse apenas seu coração recusando-se a ser influenciado por tudo aquilo que
agora o definia.
Querida Virgem Escriba, sem seu pai, ele estava tão sozinho, mesmo
quando cercado de pessoas para servi-lo.
— Meu senhor?
Não. — Certamente.
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— Iniciemos a procissão?
— Sim.
Esticando a mão para tocar as pedras vermelho sangue, ele pensou que
era cedo demais para tudo aquilo. Ser rei, emparelhamento arranjado por
conveniência, milhares de exigências que pesavam agora sobre ele, das quais
ainda compreendia tão pouco...
Mas ele iria mesmo fazer aquilo? Ele não sabia nada do ato sexual, e
ainda assim, se a aprovasse, estaria praticando o ato com ela a qualquer
momento após o cair da noite e o amanhecer.
Não havia mais nada a ser dito: o cortesão tinha muito poder, mas ele
não era Rei.
Revelada o que traziam entre si, havia uma forma magra encoberta por
um manto negro da cabeça aos pés. Em comparação com os guerreiros, a
pretendida era pequena de tamanho, de ossos mais finos, ainda mais baixa
de altura... E ainda assim, uma presença que o afetou profundamente.
Minha.
melhor das intenções. Esta fêmea era o que ele precisava para ampará-lo
através da solidão: mesmo sem ver seu rosto, ela o fazia sentir a força em seu
sexo, a forma menor, mais delicada dela preenchia sua pele por dentro, a
urgência de protegê-la dava a ele a prioridade e foco que ultimamente lhe
vinha faltando.
Só que então, ele franziu o cenho ao perceber que não fazia ideia o que
ela tinha falado. — O que você disse?
Sua excitação tinha enevoado toda sua consciência a respeito dela, mas
aquilo exigia retificação.
os nós dos seus dedos ficando brancos enquanto ela se agarrava à própria
vida.
Wrath caiu de joelhos diante dela. Olhando para cima, seu único
pensamento, além da intenção de possuí-la, era que ele jamais queria vê-la
amedrontada.
Jamais.
*****
Por baixo das camadas pesadas de mantos, Anha sufocava de calor. Ou
talvez fosse terror o que lhe apertava a garganta.
Ela não desejara este destino para ela. Não procurara por nada daquilo.
Dá-lo-ia para qualquer uma das jovens fêmeas que a tinham invejado ao
longo dos anos. Desde o momento em que nascera, fora prometida para o
filho do Rei, como a primeira fêmea... E por causa desta suposta honra, tinha
sido isolada pelos outros, afastada, renegada de todo contato. Crescera em
solitário confinamento, sem conhecer o carinho de uma mãe, ou a proteção
de um pai... Estivera à deriva em um mar de estranhos suplicantes, tratada
como um objeto precioso, não uma coisa viva.
O Rei não estava feliz: ele tinha mandado todo mundo sair da sala onde
estavam. Ele não tinha removido nem um único tecido dos que a cobriam,
como o faria se desejasse aceitá-la de alguma forma. Ao invés disto, ficara
observando-a, com sua agressividade inundando o ar.
— Sente-se.
Anha obedeceu à ordem deixando seus joelhos fracos cederem sob seu
corpo. Esperava cair no chão gelado e duro, mas havia um assento estofado
de grande tamanho para ampará-la.
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Ela sabia demais a respeito dos cortesãos para esperar gentileza deles.
E ela tinha bastante consciência de que, embora fosse emparelhar com o Rei,
estava sozinha. Mas se ela tivesse um pouco de poder, talvez pudesse se
distanciar de tudo aquilo, deixando as maquinações da corte e do reinado
para fêmeas com maiores ambições e ganâncias.
Ele era totalmente belo... E de todas as coisas para as quais ela tinha se
preparado, esta primeira e magnífica impressão dele jamais passou pela sua
cabeça.
Só que mesmo isto não foi o que mais penetrou sua consciência.
— Não tenha medo, – ele disse em uma voz que era veludo e pedriscos.
— Ninguém jamais te fará mal, pois estou aqui.
Anha tentou responder, mas ficou presa no olhar dele, sua mente se
tornou confusa... Ele não parecia real, este macho poderoso que curvava sua
honra diante dela. Para ter certeza de uma vez por todas, suas mãos se
ergueram e se moveram para diminuir a distância entre eles...
Ele pegou sua mão e o impacto da carne sobre a carne fê-la engasgar.
Ou foram ambos que se engasgaram?
Quando ele soltou sua mão, ela pousou-a trêmula na face dele. Morna.
Suave de um barbear recente.
Quando ele se manteve parado onde estava, ela sentiu uma onda de
poder – não de uma forma arrogante, nem com qualquer ambição de
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Nada mais foi dito, mas a linguagem era desnecessária, todo o discurso
e vocabulário pareciam inúteis em expressar uma mera nuance, muito menos
definição, do vínculo que estava se formando e atraindo um para o outro.
Ele escolheu vermelho para ela. A mais valiosa de todas, o sinal de que
ela seria a favorita dentre todas suas fêmeas.
A rainha.
Quando ele olhou para ela, deve ter sentido sua tristeza. — O que te
aflige, leelan?
— Não o suficiente. – Com uma volta rápida, ele olhou pela mesa onde
as pedras preciosas estavam dispostas.
Quando ele voltou para ela, ela ficou com a respiração suspensa. Rubis,
tantos que ela não podia contar... De fato, uma bandeja inteira... Incluindo
o anel Saturnino que ela sabia sempre ornar a mão da rainha.
Anha sentiu a cabeça girar. — Não, não, eles são para a cerimônia...
— Anha, você me aceita como seu Rei e companheiro, até que as portas
do Fade se abram diante de ti?
Com aquilo, ele ergueu sua outra mão e entrelaçou seus dedos. —
Ninguém nos separará. Nunca.
Embora Anha não tivesse conhecimento disto na ocasião, nos anos que
se seguiram, enquanto o destino continuava a se desenrolar, transformando
este momento presente em história passada, ela reviveria este instante muitas
e muitas vezes. Mais tarde, ela refletiria que ambos tinham se perdido
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naquela noite, e a visão um do outro tinha lhes dado a base sólida que ambos
precisavam.
O Rei tocou a maior das pedras, a que se estava sobre o seu coração.
Quando as pálpebras dele baixaram, ela achou que sua mente tinha se
desviado para um lado mais carnal... Talvez ele estivesse imaginando-a sem
as roupas, com nada além de pele para emoldurar o conjunto dourado com
os detalhes em diamante e aquelas incríveis pedras vermelhas.
que ele estava prestando a ela naquele momento era lendária... E ela desejava
que pudesse ficar somente entre eles para sempre.
Mas aquilo não podia ser. E os cortesãos não iriam gostar disto, ela
pensou.
— Não tem nada mais que eu queira fazer esta noite, te garanto.
Só que ela não tinha certeza de conseguir ficar em pé com toda a...
Anha não fez o caminho com seus próprios pés. O Rei pegou-a no colo
e levou-a nos braços, abraçando-a acima do chão como se ela não pesasse
mais do que uma pomba.
E com aquilo, ele marchou, chutou a porta para abri-la e seguiu pelo
corredor: eles estavam todos lá, o salão cheio de aristocratas e membros da
Irmandade da Adaga Negra... E instintivamente ela afundou o rosto no
pescoço de Wrath.
Olhando por cima dos ombros de Wrath, ela viu sorrisos nos rostos da
Irmandade, como se os guerreiros aprovassem a agressividade. Os das
túnicas? Não havia aprovação em suas feições. Impotência. Súplica. Raiva
súbita.
Curvando as cabeças, e em uma só voz, eles disseram algo que ela não
compreendeu.
E ainda que fosse dirigido a ela: Eles estavam jurando lealdade a ela
como a rainha deles. Era o que teria acontecido ao cair da noite de amanhã,
na frente da glymera. Mas ela, de longe, preferia aqui, e quando os olhos deles
se ergueram, respeito brilhava neles... Respeito por ela.
Ela ficou chocada ao perceber que ela também queria aquilo. Naquela
hora. Rápido e forte...
Era a primeira das muitas, muitas vezes que seu hellren não a
decepcionaria.
Capítulo UM
O rugido que saiu daquele peito enorme foi um lembrete que seu
homem não era, de fato, um homem. Ele era o último vampiro de sangue
puro do planeta – e quando se tratava dela e sexo, ele era totalmente capaz
de bancar a bola de demolição para chegar até ela.
A palavra não, não estava somente fora de seu vocabulário, mas era um
conceito estrangeiro.
O beijo que veio a ela foi brutal bem do jeito que ela queria, a língua de
Wrath raspando contra a sua enquanto ele a empurrava de costas pelas portas
abertas de seu esconderijo secreto.
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Bum!
— Oh, porra, – ele disse em sua boca enquanto uma de suas mãos
deslizava entre suas coxas. — Eu quero... Sim... Você está molhada para
mim, leelan.
Não era uma pergunta. Porque ele sabia a resposta, não sabia?!
— Caralho, precisamos fazer isto mais vezes, – ele resmungou por entre
dentes, enquanto ela se esfregava contra sua mão, remexendo os quadris. —
Por que caralhos a gente não vem aqui todas as noites?
Gezuis, quem diria, surpresa, surpresa... Tudo sobre ele ser Rei e o
atentado contra sua vida e o Bando de Bastardos simplesmente se
escafederam.
Ele estava certo. Porque infernos eles não encontravam mais tempo
para este pedacinho de paraíso com mais frequência?
jamais fora uma dessas garotas idiotas que sonhavam com um Príncipe
Encantado ou um casamento de contos de fadas ou qualquer outra merda
musical da Disney. Mas mesmo para alguém que não acalentara ilusões e
não tivera intenção de assinar uma certidão de casamento, não havia jeito de
ela ter se imaginado com Wrath, filho de Wrath, Rei de uma raça que, pelo
que lhe constava na época, não passava de um mito de Halloween.
Ok, ele não era tão egocêntrico assim... Embora, sim, ele
provavelmente rejeitaria Taylor Swift sem pensar duas vezes, mas isto porque
rap e hip-hop eram suas músicas favoritas e não por ele ser um hater.1
1Hater é um termo usado na internet para definir pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critério.
2 Tempestade Perfeita é uma expressão que descreve um evento, em que a rara combinação de circunstâncias agravam
drasticamente uma situação. O termo também é usado para descrever um fenômeno que coincidentemente se soma a outro,
resultando em um evento de magnitude incomum.
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Mais rugidos, e uma grande virada no eixo do planeta quando ela foi
jogada ao chão e deitada no assoalho polido. O loft que era o apartamento
de solteiro de Wrath parecia um cenário de filme: tinha um telhado em forma
de catedral, decoração de um depósito vazio, e a pintura preta fosca de uma
Uzi. Não era nada parecido com a mansão da Irmandade, onde eles viviam,
e aquele era exatamente o ponto.
Raaaaaaaaaaasgo.
Com aquele barulho feliz, ela perdeu outra peça de seu guarda-roupa...
O que deixava Wrath muito orgulhoso de si mesmo: expondo presas tão
longas quanto adagas e tão brancas quanto a neve que caía, ele prosseguiu
em transformar sua camisa de botões de seda em um pano de chão, rasgando
a coisa para expor seus seios nus, botões voando para todo lado.
— Agora, era disto que eu estava falando. – Wrath arrancou seus óculos
escuros e sorriu, expondo a bela dentição. — Nada no caminho...
Caindo sobre ela, ele atracou-se com um mamilo enquanto suas mãos
iam para a cintura de seus jeans pretos. Levando tudo em conta, ele foi até
educado ao liberar o botão e baixar o zíper, mas ela sabia o que estava por
vir...
Com um puxão violento, ele arruinou o que era um par de Levi's com
somente duas semanas de uso.
— Você tem razão, já faz muito tempo, – ela sibilou quando ele foi
direto para seu próprio zíper, abrindo os botões, liberando uma ereção que
ainda conseguia tirar seu fôlego.
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Quando ela abriu bem as coxas para ele, ela soube exatamente pelo que
ele estava se desculpando. — Não peça descul... Jesus!
Mas tão bom quanto já estava, ela soube como levar as coisas a um
próximo nível. — Você ainda não tem sede? – provocou.
Enterrando as unhas nos ombros dele, ela se arqueou para ele e inclinou
a cabeça para o lado. — Que tal algo para beber?
Dã.
Por exemplo, depois de ser atingido por uma bala no pescoço, eles
tinham realmente conversado sobre aquilo? Claro, tinha havido um Oh, meu
Deus, você está vivo, você conseguiu, merdas como essa... Mas ela ainda se
encolhia cada vez que um doggen abria uma garrafa de vinho na sala de jantar
ou um dos Irmãos jogava bilhar até tarde.
Tudo o que ela podia fazer era piscar. Piscar, piscar, piscar... E ele
estava de volta com ela, claro como o dia.
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E aquilo a fez chorar mais. Porque seu forte e amado homem estava
cego... E embora aquilo não o tornasse defeituoso na opinião dela, o
chateava em alguns princípios, e aquilo não parecia justo.
— Não, não... – ela tomou o rosto dele entre as mãos. — Não pare.
— Você está.
Não havia motivo para definir o que era “nisto”. Tramas de traição.
Wrath naquela mesa decorada, sufocado pela sua posição. O futuro incerto
e não de uma maneira boa.
Beth queria acreditar nele. Precisava. Mas temia que fosse uma
promessa muito mais difícil de cumprir do que fazer.
— Beth?
— Faça amor comigo. – Era a única verdade que ela conseguiria dizer
que não cortaria o barato deles. — Por favor.
*****
Melhor. Noite. Do. Mundo.
Ao se retirar de sua shellan uma hora mais tarde, Wrath não conseguia
respirar, estava sangrando na garganta, e seu pau Homem de Aço tinha
finalmente amolecido.
Beth soltou um suspiro que foi mais longo e mais satisfatório do que
um soneto de Shakespeare... E por falar em um “Diabos, sim”? O peito de
Wrath se inflou como um balão de ar quente.
— Deus. Sim.
Mais sorrisos. Era O Máskara de novo, nada além de Jim Carrey, sorriso
Colgate em toda extensão. E ela estava certa: o sexo tinha sido mais que
fantástico. Eles foderam no chão até chegarem ao alcance do colchão. Então,
como o cavalheiro que era, ele a colocou na cama... E fizeram de novo mais
três vezes. Quatro?
Não haveria uma noite inteira para ele, não mais. Não quando se tratasse
de sexo com sua fêmea.
— Wrath?
— Não está.
— Estou bem.
— Porra.
Ah, inferno, ela estava certa. Ele vinha divagando muito ultimamente,
recuando para um lugar em sua mente onde o caos não pudesse atingi-lo...
Não era uma coisa ruim, mas era uma viagem para um só.
— Eu não te culpo. – Ela buscou sua boca e esfregou seus lábios contra
os dele. — Podemos ficar um pouquinho mais?
— Eu sinto tanto, – Beth disse. — Tem certeza que não há coisas que
você possa delegar para outras pessoas?
Não era uma opção. De fato, a única coisa em seu roteiro era voltar
para Caldie e voltar a colar o rabo naquela cadeira. Seu destino tinha sido
selado muitos, muitos, muitos anos atrás, quando sua mãe tinha entrado em
seu período de necessidade, e seu pai tinha feito o que um hellren devia fazer...
E contra todas as probabilidades, o herdeiro fora concebido, nascera, e então
havia sido criado por tempo o bastante para que pudesse testemunhar ambos
serem assassinados por lessers bem na frente de seus olhos pretrans ainda
funcionais.
Quando sua voz ricocheteou em volta do espaço aberto do loft, ele quis
enfiar a cabeça numa janela quebrada. — Desculpe, – ele murmurou,
jogando o cabelo para trás.
Cristo, eles estavam falando sobre ele ter pegado leve no sexo?
Deus, quando ele começou com esta merda de Rei, ele tinha feito
aquela besteira de resolução interna se comprometendo a dominar aquela
coroa, ser um cara proativo, seguir os passos do pai, bla bla bla. Mas a
realidade infeliz era que aquela era uma maratona que iria durar toda a sua
vida... E ele já vinha sucumbindo após somente dois anos. Três. Tanto fazia.
A merda era que todos sabiam que ele tinha o pavio curto, mas ficar
trancado na meia-noite de sua cegueira com nada além de exigências pelas
quais ele não ansiava, estava tornando-o vulcânico.
Não, espere, isto ainda era um pouco mais temperado do que o que ele
sentia agora... E o assunto subliminar era sua personalidade. Lutar era seu
primeiro e melhor talento, não governar atrás de uma mesa.
— Wrath?
— Desculpe, o quê?
Wrath ficou no chão enquanto ela se vestia, o suave ruído de seus jeans
subindo pelas suas longas e deliciosas pernas como uma canção fúnebre.
— Sim. Absolutamente.
A tristeza dela cheirava como chuva de outono e parecia tão fria quanto
o ar para ele.
Cara, pensar que havia pessoas lá fora desejando ser Rei, ele pensou
enquanto se erguia. Horda de Malucos.
Se não fosse pelo legado de seu pai, e todos aqueles vampiros que
tinham verdadeira e profundamente amado seu pai, ele teria mandado tudo
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a merda sem pensar duas vezes. Mas desistir? Ele não podia fazer isto. Seu
pai tinha sido um Rei digno de livros de história, um macho que tinha, não
somente exercido autoridade pela virtude do trono onde se sentava, mas
inspirado honesta devoção.
— Quero que saiba de algo, – ele disse afundado nos cabelos dela.
Capítulo DOIS
Isto era um tiro de advertência por entre sua árvore genealógica, uma
convocação compulsória que não poderia ser negada.
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E ainda assim, as palavras saíram de sua boca do jeito que saíram, e ele
não podia mudá-las.
— Ela está a ponto de debutar, não é mesmo? – Ichan olhou por cima
dos ombros. — Sim?
Abalone não soltou o fôlego até que o macho voltasse seu caminhar
lânguido em volta da sala. — Não te dá um grau de segurança pensar que
existem claras demarcações dentro de nossa sociedade? Procriação corretiva
resultou em um grupo superior de indivíduos, e é necessária por tradição e
por senso comum para preservar nossas ligações com os membros de nossa
raça. Pode imaginar sua filha casada com um plebeu?
Ichan parou para dar uma olhada nas pinturas a óleo que estavam
penduradas sobre as prateleiras da vasta coleção de primeiras edições da
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O pai de Abalone.
— É.
— De que forma?
— Para remover o Rei. A autoridade dele é tal que ele pode mudar as
leis a qualquer momento, vetando a provisão e enfraquecendo ainda mais a
raça. Ele deve ser deposto dentro das leis, o mais rápido possível. – O
aristocrata relanceou a pintura da filha de Abalone. — Acredito que na sessão
especial do Conselho, sua linhagem será bem representada pelo seu selo e
suas cores.
Quanto tempo até a ruína cair sobre esta casa se ele negar seu voto? E
que forma assumiria?
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Ele imaginou sua filha lamentando a perda de seu pai e sendo rejeitada
pelo resto de seu futuro. Ele mesmo torturado e então morto de alguma forma
horrível.
Com um sotaque baixo e carregado, ele disse, — Estão aqui para serem
pegas, não estão.
— De fato. Sim.
Tragando, ele fitou o retrato de sua filha e sentiu terror pela primeira
vez em sua vida.
Fora a primeira vez que as pessoas viram o Rei por... Bem, mais tempo
do que Abalone podia se lembrar. De fato, ele não conseguia lembrar de
quando alguém tivera uma audiência com o governante. Proclamações eram
divulgadas, claro... E decretos que eram esparsos e, na opinião de Abalone,
muito atrasados.
— Ninguém quer. Mas este aspecto legal que eles trouxeram? – seu
primo respirou fundo. — Sobre o herdeiro? Pessoas estão concordando.
— Não é certo. Wrath tem feito coisas boas, nos guiando no caminho
do mundo moderno. Ele aboliu a escravidão de sangue e montou aquele lar
para fêmeas abusadas e seus filhos. Ele é justo e tem feito suas
proclamações...
— Sem dúvida, ele tem em sua mente, assuntos mais urgentes do que
alguns livros velhos e empoeirados. E francamente, mesmo se ele modificasse
a lei? Não sei se haveria apoio suficiente para ele nisto.
Quando Abalone finalmente desligou, ele fitou os olhos de seu pai. Seu
coração lhe dizia que a raça estava em boas mãos com Wrath, mesmo que o
Rei se isolasse de tantas maneiras. Mas seu primo tinha razão.
A única coisa pior do que não ter nenhum legado... Era não viver pelo
legado que lhe foi dado.
*****
Ao sair da casa do aristocrata, Xcor se irritou ao ver que Ichan, o
representante do Conselho, e Tyhm, o advogado o esperavam sob o luar.
Xcor olhou de volta para a mansão estilo Tudor. Através das janelas
em formato de diamante, o macho que tinham confrontado estava ao
telefone, fumando um cigarro como se seus pulmões requeressem mais
nicotina do que oxigênio. Então, ele parou e olhou para alguma coisa mais
acima. Um momento depois, ombros caídos em derrota, ele voltou a levar o
celular ao ouvido.
Enquanto Ichan e Tyhm olhavam para ele, ele percebeu que tinham
acabado de convidá-lo para jantar.
Xcor deixou a faixa de casca cair na neve a seus pés. Sem dúvida, o
almofadinha lá dentro tinha empregados para recolhê-la, embora dada a
inquietação que o garotão lá demonstrava, talvez ele mesmo se aventurasse
a uma caminhada entre suas fodidas topearias e a recolheria ele mesmo.
Que fofo.
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Tão irrelevantes estes peões eram... Ele já tinha utilizado alguns e, sem
dúvida, um ou os dois que tinham acabado de sair, iriam para o túmulo a seu
serviço.
Não, não importa quão bela fosse aquela filha, ela não passava de um
eco distante do encanto se comparada com sua inatingível Escolhida.
— Você precisa parar com isto, – ele disse sob o frio da brisa noturna.
— Pare com isto imediatamente.
comida estragada e podridão era suficiente para fazer o interior de seu nariz
formigar.
— Oqueporratutáfazendo!
Ele não queria nada com esta briga idiota dos ratos sem rabo. Mas
parece que teria de se envolver.
Capítulo TRÊS
Sola Morte adorava carros novos, que era o motivo de seus Audi A4s
serem sempre alugados. A cada três anos ela pegava um novo... Às vezes, em
menos tempo, se o pacote permitisse troca mensal ou bimestral.
Então, sim, este era um território familiar... Exceto o fato de ela estar
sentindo este cheiro de paraíso de dentro do porta-malas de um sedan
desconhecido, para onde fora empurrada.
Não exatamente a maneira que ela tinha planejado passar seu fim de
sua noite, mas às vezes, o livre arbítrio saía de férias quando mais
necessitado.
Ao ser raptada de sua casa, não trazia nada além da parka que vestia e
uma esperança desesperada de que fosse quem fosse, a levasse antes que sua
avó descesse as escadas e fosse arrastada para tudo isso. Infelizmente não
trazia seu celular consigo.
Ela também não fazia ideia para onde estava sendo levada. Dado o
ronronar do motor e a ausência de solavancos? Deviam estar em uma
rodovia... E já há um bom tempo.
Puxou os joelhos até o peito, tentou se virar para outro lado no espaço
apertado, brigando com as mãos e os pés, entortando a cabeça em um ângulo
desesperador.
— Bom, olá...
A sorte tão grande quanto ganhar na loteria de achar uma Smith &
Wesson?
Mas seu orgulho estava em segundo plano nisto: ela sabia coisas demais
sobre Benloise. Seria necessário um milagre para libertá-la, e Assail era a
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Balançando a cabeça até a dor fazer as coisas girarem, ela pensou sobre
tudo o que tinha sido importante antes dela ser emboscada em sua própria
cozinha: o gato e rato entre os dois, a ameaça sedutora que ele exalava, a
carga erótica que ela sentia só de estar na presença dele.
O atual rolar dos dados tinha apagado tudo isto. Agora ela estava em
modo de sobrevivência... E se aquilo não desse certo, ela só esperava que
restasse algo para sua avó enterrar.
Porque ela não ia mentir para si mesma. Benloise não pegaria leve com
ela só porque ela uma vez tinha sido, por um tempo, quase como uma filha
para ele, em certo nível. Ela não devia tê-lo pressionado. Temperamento,
temperamento, temperamento; sua raiva tinha sido sua ruína.
Pousou a única arma que tinha perto do quadril, para juntar as mãos
acima, e baixou a cabeça, em oração, o queixo encostado no peito.
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Nada. — Maldição.
Escondida pela noite, ela levaria os dois homens para a garagem, ligaria
o carro, colocaria os dois no porta-malas. Ou... Talvez os colocasse no porta-
malas do carro deles.
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Depois disto, ela empacotaria suas coisas e de sua avó, e elas fugiriam
sem demora... Mesmo que no meio da noite.
Sua avó não faria perguntas. Ela sacaria o que tinha acontecido. Vida
dura, mente prática.
Ela viu, claro como o dia, uma fotografia de sua avó. Tinha sido tirada
no Brasil quando ela tinha dezenove anos. Seu rosto sem rugas, era cheio do
jeito certo, a juventude brilhava em seus olhos, os cabelos caíam pelos
ombros, soltos.
Se na época ela soubesse o que a esperava na fase adulta, ela não teria
sorrido.
Seu filho morto. Sua filha morta. Seu marido morto. E sua neta, a única
que restara?
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Não. Sola pensou. Isto tinha de acabar bem. Era a única opção.
Sola não falou em voz alta desta vez... Não houve frases repetitivas ou
mãos juntas. E ela nem sabia se tinha mais fé nesta prece do que na que
haviam lhe ensinado. Mas por alguma razão, se viu suplicando diretamente
no ouvido de Deus.
Eu prometo, Senhor, se sair desta, vou largar esta vida. Eu vou pegar vovó e
vamos deixar Caldwell. Eu nunca mais voltarei a me arriscar, roubarei de outrem, ou
cometerei qualquer mau ato. Esta é minha promessa solene ao Senhor, pelo coração de
minha vovó.
— Oh-Deus-oh-Deus-oh-Deus...
4 Alimento semi-pronto para ser aquecido no micro-ondas, espécie de um rolinho recheado com queijos, carne ou vegetais, muito
consumido nos EUA.
5 YouPorn é um site norte-americano onde é possível compartilhar vídeos com áudio e fotos pornográficas. Seu mecanismo de
compartilhamento de vídeo é similar ao do YouTube e ao do Google Vídeo, e também utiliza o formato Macromedia Flash para
disponibilizar os vídeos.
3
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de cabeça jogada para trás que a todo instante esfregava os apliques de cabelo
no rosto dele, começava a irritá-lo.
Pelo amor da porra, se ela pudesse alternar com uns JC6, pelo menos ,
ou algo assim.
— OHDEUSOHDEUSOHDEUS...
Levou a mão para o meio dos dois, decidido a acabar com seu
sofrimento. Esfregando o clitóris, ajudou-a a atravessar o limiar bem a tempo
de sua ereção murchar totalmente e sair dela.
Trez inclinou-se para o lado e pegou o... Aquilo era um sutiã que ela
usava como top? Ou uma calcinha? Ou...
Aquilo era para as pernas? Ele pensou, enquanto segurava alto a faixa
de tecido negro. Difícil imaginar aquela coisa cobrindo mais do que uma
mão, ou talvez um daqueles peitos do tamanho de tigelas.
Quem tinha tirado aquelas pseudo-calças? Não tinha sido ele, achava
que não, mas não conseguia se lembrar, e não porque estivesse bêbado.
Aquela sessão inteira, igual aos últimos anos de sua vida amorosa, não estava
apenas completamente, mas propositalmente esquecida.
Certo, não havia motivo para bancar o iAm. Seu irmão era mais do que
capaz de trilhar toda aquela retórica. Cada. Fodida. Vez. em que eles estavam
juntos.
— Eu também.
Ela fez beicinho... E aquilo lhe deu vontade de expor as presas e abrir
seu caminho para fora daquele banheiro a dentadas.
— A gente podia fazer de novo, – ela provocou, ficando nas pontas dos
pés para acariciar o pescoço dele com o nariz.
Foi quando fitou os olhos dela, viu neles uma emoção honesta, e quase
recuou. Por falar em espelhos... Ele sentiu como se estivesse olhando para si
mesmo: Triste. Vazio. Desenraizado.
Encarando-a, ele percebeu que tinha julgado a garota pelo seu lado
externo, mas como com todos os desconhecidos, havia toda uma estória por
trás do fato dela ter acabado em um banheiro, balbuciando sobre amor com
um homem que não era nem um homem.
— Ok, chefe.
Além disto, ele queria uma confirmação de que tinha deixado ela numa
situação melhor do que a tinha encontrado.
— Chefe?
— Desculpe, o quê?
P á g i n a | 66
Embora não do tipo Kevin Spacey, é claro. E pior ainda... Ele adorava
o cara naquele filme.
Ao voltar a olhar para a porta, Trez foi atingido no rosto pelos faróis de
um carro, e a dor fê-lo bancar o vampiro tímido e se proteger da luz. Piscando
para clarear sua visão, ele, de alguma forma conseguiu chegar à frente da fila
e...
— Que caralho... Ele furou a fila! Por que está deixando-o entrar?
Houve uma discussão naquele ponto, mas para ele já bastava. Como
Sombra, ele estava acostumado a ser encarado... Vampiros normais não
faziam ideia de como era para sua espécie, e francamente, ele não se
importava com eles também. De fato, ele tinha passado a acreditar que as
duas espécies não se misturavam... Pelo menos até Rehvenge tomar a frente
para ajudar a ele e a seu irmão em seu exílio. De início ele não tinha confiado
no cara... Até reconhecer que Rehv era como eles: um estrangeiro em um
clube fechado, cheio de caras que não o respeitavam.
Oh, e quanto ao mundo humano? Todo mundo assumia que ele era
negro e isso trazia consigo suas próprias associações raciais, boas e ruins...
Mas lá estava a ironia. Ele não era nem “Africano” nem “Americano,” então
nenhuma daquela merda se aplicava a ele apesar do fato de sua pele, por
acaso, ser escura.
Oh... Merda.
— Porra...
É claro, ele podia chamar o irmão. Mas iAm ofereceria seu tratamento
de comentários silenciosos o caminho inteiro, e não havia necessidade de
sujeitar-se àquela barulheira: iAm era a única pessoa que conhecia que podia
fazer o silêncio mais violento do que a decolagem de um avião a jato.
P á g i n a | 69
Quando seu telefone tocou, ele pensou, merda, era melhor ele ter ligado
para avisar a todos que ele já tinha encerrado por hoje.
Mas não era como se ele pudesse deixar a ligação de iAm tocar até cair
no correio de voz. Varrendo a tela com o dedo, levou a coisa ao ouvido
mesmo que no Estado de Nova York fosse proibido falar ao celular no
trânsito.
Seu irmão não lhe deu nem chance de dizer “olá”. — Você está com
enxaqueca.
— Eu não sou. Eu cheguei assim que você saiu. Estou bem atrás de
você... E só tem uma razão para você sair do trabalho à uma da manhã.
— Encoste.
— Eu...
— Encoste essa porra. Eu volto para buscar o carro assim que te deixar
em casa.
Bom plano. Pelo menos até um carro se aproximar pela via oposta...
Enquanto ele chegou perto, ficou totalmente cego e não teve escolha além
desacelerar. Piscando depois, com toda intenção de pisar no acelerador e
continuar a dirigir, só que a realidade se fez presente: seu tempo estava
acabando, e não só em relação à enxaqueca.
Enquanto esperava que iAm estacionasse perto dele, pensou ser irônico
o modo como fazer a coisa certa, às vezes podia parecer uma total derrota.
Capítulo QUATRO
Ela não tinha ficado por lá só para ser uma boa vizinha ou amiga
consoladora.
P á g i n a | 71
Não. Embora, por que infernos ela pensava que ela e Wrath precisavam
de um bebê, em meio a todo este drama, era um mistério. Mas a Mãe
Natureza tinha meio que encostado ela contra a parede, e agora não havia
retorno, não havia racionalização, nem discussão com aquela ânsia.
Não que ultimamente, ela sequer tenha conversado com Wrath sobre
isto. Como se ele já não tivesse o suficiente de problemas para lidar. Mas
vamos lá, se ela conseguisse espontaneamente desencadear sua
necessidade...
A onda de dor que acompanhou este pensamento foi tão grande, que
ela se apoiou contra o freezer e levou um tempo até conseguir concentrar sua
atenção no carregamento de Breyers, Bem & Jerry’s, Häagen-Dazs e
Klondikes.
Quando saía, Mac sempre lhe dava uma colher vermelha de plástico,
um guardanapo e um sorriso... Junto com seu troco de vinte e seis centavos.
Ele estava tão distante, mesmo com seu corpo no andar de cima,
naquele escritório.
Não. Era iAm... De novo. Parece que ele cozinhava quando estava
nervoso, e isso indicava que alguém mais estava na merda.
Ela não teve chance de pegar tigelas ou talheres. Fritz se pôs em ação,
abrindo armários e gavetas – e ela não teve coragem de dizer-lhe que não
precisava.
Ela baixou a voz. — Eu pensei que você tinha poderes especiais sobre
ele.
— Mais ou menos. – Ele lhe fez uma curta reverência e saiu da cozinha.
— Até mais.
— Tem certeza que não quer que eu lhe sirva? – o mordomo disse
ansiosamente.
E digno da realeza.
De fato, a mansão inteira era uma obra de arte, cada espaço um novo
sabor de luxo, inspirado em assombro, um tom diferente de perfeição em
cada cômodo.
Ela não vivia daquele jeito antes de Wrath entrar em sua vida... Ou
sequer tinha imaginado. Santo Deus, ela podia lembrar depois dos dois terem
se mudado para cá. De mãos dadas, eles passaram por todas as alas e
andares, do porão catacumbático ao sótão cheio de vigas. Quantos cômodos
havia lá? Tinha parado de contar em cinquenta.
Loucura, loucura.
E pensar que não tinha sido só aquilo que tinha herdado do pai.
Dinheiro... Havia tanto dinheiro também.
P á g i n a | 76
Loucura total.
Especialmente agora.
Ambos, seu homem e George, seu adorado cão guia, olharam para
cima como se tivessem captado seu cheiro.
Ela era a única a quem ele sorria... Embora mesmo amando-a, ele não
abandonasse o lado do Wrath.
— Estou tão contente que esteja aqui, – ele suspirou... Como se fizesse
anos desde a última vez que tinham se visto.
Um rolar de seus quadris sugeriu que seu cérebro tinha enveredado para
terreno horizontal. Ou vertical... Deus sabia que ele era forte o bastante para
segurá-la pelo tempo que quisesse.
*****
8Sisters Wives é um reality show americano que retrata a vida de uma família poligâmica, no ar desde 2010. A família conta com o
patriarca, 4 esposas e 17 filhos.
P á g i n a | 79
Pulando para trás, jogou seu corpo contra o prédio, e a dor em seu
ombro foi agradável. Mas não havia tempo para aproveitá-la. Olhou para a
esquerda... Para a direita...
Foi quando viu uma porta, cerca de cinco metros adiante, então se
jogou no chão e rolou naquela direção, sacando sua própria arma ao fazê-lo.
Disparou dois tiros no mecanismo de tranca de aço, deu um chute forte e se
enfiou na escuridão que havia atrás.
E lá estava.
Que decepção. Ele tinha esperado por algo mais ao seu estilo. Ao invés,
era só mais um humano.
— Porra!
— Vocês humanos... – Xcor deu mais uns passos a frente, não mais se
importando em abafar o som de suas botas. — O problema com vocês é que
não têm inimigos verdadeiros. Vocês lutam contra vocês mesmos nestes
becos da cidade ou nas fronteiras dos países, porque não há nada externo que
os unam. Já a minha espécie? Temos um inimigo que exige um mínimo de
coesão.
a dor e o medo acabavam com sua bravura, tornando-a não mais que uma
lembrança.
— Você precisa saber que há outros vivendo entre vocês, – Xcor disse
em voz baixa. — Parecidos, mas não da sua espécie. E nós sempre vigiamos.
O homem recuou, não que houvesse muito lugar para onde ir. O balcão
era uma bancada para corte, não um colchão para um homem adulto.
Expondo as presas, Xcor apontou o feixe de luz para seu próprio rosto.
O grito alto foi agudo, e não durou muito. Graças à resposta das
glândulas de adrenalina, o homem desmaiou, o cheiro de urina deixando
claro que ele tinha perdido o controle de suas funções.
Capítulo CINCO
Então, sim, em seu caminho para o segundo andar, ele estava muito
ligado ao presente e à presença de Xhex... Que, segundo o plano, teria saído
P á g i n a | 85
9 Reality show transmitido pela Discovery Home&Health no qual, o líder Ty Pennington e sua equipe de designers escolhem uma
família que tenha enfrentado/enfrenta algum tipo de dificuldade - um desastre natural como um furacão, por exemplo, muito comum
em determinadas regiões dos Estados Unidos ou ainda um membro da família que tem uma doença com risco de morte, dentre
outras razões - e seja totalmente merecedora de tamanha ajuda. O objetivo deste reality show é reconstruir a casa da família dentro
de um prazo de sete dias, adaptando a casa aos moldes dos moradores e realizando o sonho de muita gente.
P á g i n a | 86
A Dra. Jane estava perto dela, e do outro lado, estavam Qhuinn e Blay.
Wrath logo atrás, com Beth...
John franziu o cenho e pensou, Mentira. E ainda assim, não sabia mais
do que Beth o que tinha sido... Só sabia que parecia não ser capaz de
interromper a comunicação.
— John, seja lá o que for, está tudo bem. – A irmã apertou sua mão. —
Você está bem.
E foi só.
*****
— Estamos prontos.
P á g i n a | 88
Quando Assail puxou uma máscara negra sobre o rosto, eles fizeram o
mesmo... E então era hora de desmaterializar. Fechando os olhos para se
concentrar, se arrependeu da cocaína. Ele não precisava mesmo da fissura...
Considerando que para onde estavam indo, já estava suficientemente alerta.
Mas ultimamente, cheirar o pó era tão habitual quanto colocar seu casaco,
ou fixar o coldre da 40mm sob o braço.
Hábito.
seu destino, ele avançou, sentindo seus primos viajarem pelo céu noturno
com ele.
Então, não, ele não era um salvador; ele era totalmente o oposto de um
Bom Samaritano. E em se tratando de vingança? Qualquer uma que ele
levasse a cabo seria em seu próprio proveito, nunca de outro.
Seu destino era uma propriedade em West Point, Nova York, uma
venerável e antiga casa de pedra, construída em hectares de gramado. Assail
já tinha estado na propriedade anteriormente... Quando seguia uma certa
ladra... Observando-a, não apenas quebrar um confiável sistema de
segurança para entrar, mas também perambular pela mansão, sem roubar
maldita coisa alguma.
Mas ela tinha, tirado uma das esculturas de Degas de sua posição
original, movendo-a alguns centímetros.
Violentamente.
Mas Sola tinha sido diferente desde o momento em que tinha captado
seu cheiro, quando ela invadiu sua propriedade... E a ideia de que Benloise
a tinha capturado? Na própria casa dela? Onde sua avó dormia?
Inaceitável.
Nada se movia. Nem no exterior, nem por trás das janelas obscurecidas
da casa. Tudo cheirava a dinheiro antigo, pensou. Tão acima de qualquer
suspeita. Pelo menos tanto quanto um distribuidor de drogas podia ser.
Quando não encontrou nada nas áreas comuns da casa, se dirigiu à ala
de serviço e descobriu uma cozinha vazia, moderna e completamente
desinteressante. Deus, que enfadonho... O esquema de cores cinza e cromado
era como a palidez de um idoso, e a mobília esparsa sugeria que a decoração
não era prioridade em espaços que Benloise não frequentava pessoalmente.
Mas mais que tudo, assim como na área que já tinha passado, ele não sentia
o cheiro de Sola, nem de pólvora recém-disparada, ou sangue fresco.
Também não havia pratos em nenhuma das três profundas cubas da pia, e
quando ele abriu a geladeira, só porque podia, viu seis garrafas verdes de
Perrier na prateleira de cima e nada mais.
Ao seguir o homem para o outro lado, Assail manteve sua arma bem
na nuca do fodido, com o dedo coçando no gatilho, pronto para apertar.
Pop!
Exposto pelos faróis, Assail baixou a arma até a coxa para escondê-la
nos bolsos de seu casaco de couro... E o manteve lá. Por mais que o
enfurecesse ainda mais admitir, Ehric estava certo. Ele tinha acabado de
matar duas fontes de informações.
Mais uma evidência de que estava perdendo a cabeça nisto tudo. E ele
não podia voltar a cometer novamente aquele erro básico.
P á g i n a | 94
— O quê?
O dedo no gatilho voltou a coçar. — Seu chefe tem algo que quero de
volta.
Num piscar de olhos, seu braço se ergueu e “pop!” ele atirou no guarda
mais próximo, metendo uma bala em seu ouvido, em uma trajetória que
imobilizou os dois homens restantes.
P á g i n a | 95
Enquanto outro peso morto ia ao chão, ele pensou, Vê? Havia ainda
muitos sobreviventes para lidar.
Embora tenha havido uma porção de falatório por parte deles, nenhum
deles incluiu a palavra mulher, sequestro ou prisioneira.
Capítulo SEIS
Quando ela ergueu as mãos, ele balançou a cabeça. Você não fez nada
errado. Beth... Ssério. Estou bem, tudo está bem.
No instante em que ouviu o que tinha dito, praguejou. Agora não era o
momento certo. — Desculpe, não era minha intenção perguntar.
— Vou falar com Manny agora. Havers não tem este tipo de
equipamento, e nem nós. – Dra. Jane varreu uma mão pelos cabelos loiros
curtos. — Eu não faço ideia de como vamos levá-lo ao St. Francis, mas é o
que precisamos fazer.
— Sem ofensa, mas você não vai querer saber. Neste momento, deixe-
me começar a mexer uns pauzinhos e...
— Está bem, mas vamos levar o mínimo possível de gente. Já vai ser
difícil o bastante fazer funcionar, não precisamos levar um exército conosco.
Beth se virou para Blay e Qhuinn. — Algum de vocês sabe o que ele
estava tentando dizer?
Claramente, eles esperavam que uma fenda espacial se abrisse sob seus
coturnos.
— Leelan...
10Doctor Who é uma premiada série de ficção científica britânica, produzida e transmitida pela BBC. A série mostra as aventuras de
um Senhor do Tempo - humanoide alienígena viajante do tempo que possui dois corações - conhecido apenas como — O Doutor
(“The Doctor”).
P á g i n a | 99
Não.
Payne, a irmã de V, abriu a porta com um sorriso. E, cara, ela era uma
presença impressionante, especialmente toda vestida de couro preto. Ela era
a única fêmea em turno para lutar com os Irmãos... E ela devia ter acabado
de chegar de sua ronda.
Payne balançou a cabeça. — Eu acho que não vai ser necessário. Acho
que não há mais nada no estômago dela... De fato, acredito que ela devolveu
toda a comida que comeu na última semana também.
— Não parece.
O abraço de Payne foi rápido como uma rajada e tão forte quanto o de
um homem, cortando a respiração dos pulmões de Beth. — Estas são notícias
maravilhosas.
— Sim, ele ficará bem surpreso. – Quando Payne lhe deu um olhar
estranho, Beth balançou a cabeça. — Olhe, para ser honesta, eu nem sei se
minha necessidade será bem recebida.
Na verdade, ele lhe disse uma vez que não via filhos no futuro deles.
Mas já fazia tempo e...
Mas, a esta altura, sua necessidade não parecia estar com pressa de vir
à tona. Ela estava vindo aqui todas as noites, já há quanto tempo? E sim, ela
andava se sentindo meio hormonal... Ou talvez a vida só estivesse realmente
difícil.
P á g i n a | 102
Foi para a cama, esticou as pernas e começou a atacar o pote de Ben &
Jerry com a colher. Revolveu a embalagem, cavoucou os pedaços de
chocolate e esmagou-os com os molares, praticamente sem sentir o gosto.
— Estou fantástica! – ela disse ao pegar seu sorvete. — Oh, isto é lindo.
Bem o que eu precisava para acalmar o estômago.
Layla ergueu uma mão. Cobriu a boca com a outra. Balançou a cabeça.
Quando a Escolhida foi para a cama com seu sorvete, olhou para Beth.
— Você é tão boa para mim.
Beth sorriu. — Depois de tudo que você passou, isso não parece
suficiente.
Tudo aquilo ainda estava lá, disse a si mesma. Mas a vida, tinha um
jeito de encobrir as coisas. Agora, se ela quisesse estar com seu homem, tinha
de entrar na fila e aquilo estava ok... Ela compreendia a pressão do trabalho.
O problema era que, ultimamente com muita frequência, quando eles
finalmente ficavam sozinhos, Wrath trazia aquela expressão no rosto.
Aquela que dizia que ele só estava lá de corpo. Não de mente. Talvez
nem mesmo de alma.
Talvez este fosse outro aspecto deste assunto de bebê para ela. Talvez
ela estivesse buscando retomar aquela conexão visceral que tinha com
Wrath.
— Beth?
Oh, uau, Blay e Qhuinn tinham saído. — Hum... Quem vomitou por
último tem de escolher.
— Na verdade, não. Mas posso dizer que eu queria para você a mesma
oportunidade de... Como você diria, enfeitar?
— Enfrentar. É enfrentar.
— Eu adoro a Patti.
Beth olhou para seu corpo, desejando que ele também concordasse. —
Posso ser honesta?
— Por favor.
— Dois anos e meio. – Eeeee agora ela se sentiu realmente maluca. Por
que ela estava se preocupando com algo que não apareceria em seu horizonte
em menos de três anos? — Antes que você diga, Eu sei, eu sei... Seria
totalmente precoce se eu passasse por minha necessidade agora. Um milagre.
Mas a única regra para as mestiças é não haver regra alguma, e eu tenho
esperanças... – Esfregou os olhos. — Desculpe, eu vou parar. Quanto mais
eu falo em voz alta, mais percebo que estou ficando louca.
Beth se afastou. — Mas Blay e Qhuinn estão totalmente com você nisto
tudo.
Beth esperou que a outra fêmea explicasse o que queria dizer. Quando
ela continuou em silêncio, Beth não quis pressionar. Mas talvez... Só talvez,
as coisas não fossem tão descomplicadas quanto pareciam. Todos sabiam
P á g i n a | 108
que a fêmea tinha sido apaixonada por Qhuinn antes – mas parece que tinha
se conformado com o fato dele estar destinado a outro.
Grande, Beth pensou. Até agora ela fez o irmão desmaiar, se meteu no
trabalho do marido... E agora estava evidentemente irritando Layla.
Mas naquele momento, estava dando uma de Wrath... Aqui, mas não
aqui, presente e ausente ao mesmo tempo.
Não houve resposta. E também não parece que haveria sono para a
fêmea.
Capítulo SETE
Era fácil ignorar todo aquele balbuciar. — Agora, vamos usar uma
chave ou dispositivo eletrônico de abertura... Ou alguma parte de sua
anatomia?
Assail sorriu. — Que bom que meu sócio esteja te segurando tão firme.
Um movimento na direção errada e...
11 Cro-Magnon é o nome que se dá aos restos mais antigos conhecidos na Europa de Homo sapiens, a espécie à qual pertencem todos
os humanos modernos.
P á g i n a | 112
As mãos do cara tremiam tanto que levou muitas tentativas para apertar
o botão certo, mas logo duas das quatro portas se ergueram. Então, os faróis
do sedan iluminaram tudo lá dentro.
Um prenúncio de condenação.
Mas o fato era que... Pela primeira vez em sua vida adulta, ele estava
com medo.
*****
— Onde diabos fica este lugar? Na porra do Canadá?
Ah, seria uma satisfação enorme apagar a luz piloto daquele fodido,
mas na organização, o papel de supervisor só te permitia ir até um ponto... E
o direito de matar um bastardo falador estava bem além.
Ele só tinha estado nesta propriedade uma vez antes... E pelo mesmo
motivo. O chefe gostava de ser provocado, e quem o fizesse, era capturado e
trazido para cá, onde jamais seria encontrado.
Ele não fazia ideia do que aquela mulher tinha feito para provocá-lo,
mas não era problema seu. Seu trabalho era desaparecer com ela... E mantê-
la presa até receber mais instruções.
Ainda assim, ele tinha de imaginar. O último imbecil que ele tinha
trazido a este lugar escondido tinha desviado quinhentos mil dólares e doze
quilos de cocaína. O que caralhos ela tinha aprontado? E merda, ele esperava
não ter de ficar aqui tanto tempo quanto aquele outro trabalho tinha exigido.
Mas, que seja, Duas Toneladas não se importava com esta parte do
trabalho. Ele não era como alguns caras, que não gostavam nem um pouco
do chefe, que não gostava de colocar as mãos na massa. Não, ele se sentia
integrado, satisfeito por cuidar das coisas desde que fosse bem pago por
aquilo.
Vai ser mais frio quando você estiver morto, filho da puta.
Ele nunca soube de uma fêmea já ter sido trazida para cá. Se perguntava
se ela era gostosa? Impossível avaliar quando carregaram desmaiada para
fora daquela casa.
Não precisava se preocupar com chaves. O acesso era feito por digitais.
— É. Que seja. – Phil circulou o carro. — Que porra ela pode fazer
comigo?
12 Phil = em inglês se lê “fill”, to fill é o verbo encher. Encher tem tudo a ver com buraco no trocadilho da personagem.
P á g i n a | 118
Descarregar sua arma era a única chance que ele tinha. Ha-ha.
Gemendo. Rolando.
Ele puxou o gatilho e enfiou uma bala no chão à direita da cabeça dela.
— Levante-se ou o próximo será na cabeça.
Ao passar por ele, Duas Toneladas verificou seu rosto. Oh... Merda...
Queimaduras de terceiro grau por todo lado, e um daqueles olhos tinha
desaparecido. Só que o bastardo provavelmente ia sobreviver.
Certo?
P á g i n a | 120
Desta vez, quando ela caiu no chão, ele sabia que levaria um tempo até
ela recobrar a consciência. Mas ainda esperou algum movimento súbito dela,
só então baixou a arma, pressionou o dedão no leitor de digitais, e abriu a
porta.
Duas Toneladas não respirou fundo até trancá-la na primeira das celas.
Capítulo OITO
Passou cerca de uma hora olhando para o teto antes de ligar para Payne
e pedir-lhe que o encontrasse no centro de treinamento.
Como Rhage sempre dizia, sexo ou briga era o que apagava o fogo.
Sexo estava fora de questão, então lá ia ele.
Payne não lutava como uma garota, fosse com os punhos, pés ou com
o corpo inteiro. Ela parecia um SUV, e por mais que suas bolas preferissem
o contrário, ela o atingiu de jeito.
Ela era uma fêmea sólida, musculosa e mortal... Mas não era páreo
para a força e tamanho dele... Especialmente quando ele montou-a e passou
um braço ao redor de seu pescoço. Com a garganta presa na curva de seu
cotovelo, ele travou a mão livre no pulso grosso e se inclinou para trás em
um golpe de enforcamento.
Ódio de si mesmo.
P á g i n a | 123
— Wrath!
Do mesmo modo que a defesa de Payne, quem gritava seu nome não
lhe importou. Ele estava fixo em seu caminho mortal, todo o sentido do que
acontecia perdido para...
Aumentou.
George.
Seu amado e dócil golden retriever estava na frente de seu rosto, latindo
tão alto quanto um tiro, como se exigisse que Wrath parasse e desistisse
naquele momento.
Wrath afrouxou o golpe, mas não teve chance de soltar. Alguém que
empurrava seus ombros, tomou controle, afastando seu pesado peso da
guerreira.
— Você achou que ela estava conseguindo respirar daquele jeito! – era
a Dra. Jane. É claro... Ela estava na clínica e deve ter ouvido os latidos ou…
E iAm estava com eles. Ele podia sentir a presença do Sombra mesmo
que, como sempre, o cara não falasse muito.
— Isto é entre ele e eu, – Payne falou para a cunhada. — Isto não é...
P á g i n a | 125
— Ele ia me soltar.
— Eu não estava.
— O braço dele está sangrando no tatame. Vai me dizer que suas unhas
não fizeram aquilo?
Dra. Jane baixou a voz. — Seu irmão sabe o quão longe isto está indo?
Wrath teve certeza de que ela tinha olhado para ele naquele momento.
— Isto é diferente.
— Então você acha que eu só estava pegando pesado com você? – ele
perguntou sombriamente.
— E é por isto que nunca mais faremos isto. – ele se virou na direção
da Dra. Jane. — Mas ela também tem razão. Isto não é problema seu, então
fique fora disto.
Merda.
O gemido que se ergueu de sua garganta soou como uma sirene. A irmã
de seu irmão. Uma guerreira respeitada. Arruinada.
Maldição...
Ele nunca tinha pensado nisso antes, mas a... Loucura... Era em grande
parte, um conceito hipotético para os sãos; uma palavra pejorativa para
ofender alguém por quem você não nutria respeito; uma descrição aplicada
a um comportamento inapropriado.
Capítulo NOVE
— Trez?
A resposta gemida não era nada boa, uma combinação de animal ferido
e garganta dolorida de tanto vomitar. iAm ergueu seu pulso para a luz fraca
que incidia de trás e praguejou para o relógio. Àquela altura, o filho da puta
já devia estar em plena recuperação, seu corpo erigindo daquele buraco de
dor de cabeça no qual tinha se afundado.
Mmmmmmgemidos.
— Ok, entendido.
A última coisa que queria, então, era ter de tentar tirar o Rei de cima
daquela guerreira. Ele estava terminando o seu treino quando ouviu alguém
gritar e tinha ido checar... Onde ele encontrou, olá, o Rei emboscando aquela
fêmea.
E então ele tinha tido de erguer aquele caminhão de cima de seu irmão
há cerca de dois anos.
Tentar mover Wrath tinha sido como empurrar uma árvore. Nada se
movia; nada cedia.
Miiiiiiaaaaauuuuuuu.
— Porra!
— Maldição, gato!
Não era realmente uma questão, já que ele não esperava que o felino
respondesse.
P á g i n a | 132
A próxima coisa que viu, o maldito gato estava subindo em seus braços,
rolando pelas suas costas... E ronronando como uma Ferrari.
Mas aquela era somente uma fantasia induzida por estresse. Como se
ele conseguisse lembrar-se de uma única vez, há muuuuito tempo, que ele
não tivesse sido ranzinza com tudo e todos. Realmente. Era verdade.
— Sim. Eu sei. Mas agora vou cuidar de meu irmão. Ninguém mais.
Estamos entendidos.
— Ele está bem, – iAm disse sem olhar para a Escolhida Selena.
— Ok, chega disto. – Ele brincou com uma das patas. — Vou te por no
chão agora.
— Está de brincadeira.
IAm abafou uma maldição e olhou para o gato. Então para a Escolhida.
Mas era melhor que tirar sua blusa. O Gato Maldito estava grudado nele.
iAm tinha toda intenção de soltar um “Eu assumo daqui” para a fêmea
quando finalmente chegaram à porta do quarto... Mas o Maldito ainda não
parecia dar sinais de querer descer.
Obrigado, gato.
Ao abrir das portas, a luz invadiu o ambiente, e – claro que a sorte não
ajudava – iluminou em cheio, o grande e feio Trez se sobressaltando na cama.
Quando percebeu o que era, iAm entrecerrou os olhos para seu irmão.
— Tá falando sério?
Mas eis a questão: era impossível lidar com a estupidez... E iAm estava
a ponto de parar de tentar.
Depois disto, ele levou o Maldito e seu próprio traseiro miserável para
fora dali.
Sem dúvida era melhor. Ele sentia como se fosse dar uma de Wrath em
cima do irmão, e nada bom ia resultar daquilo.
P á g i n a | 136
De volta à cozinha, que agora estava cheia da equipe de novo, era hora
de se separar daquela sombra.
— Fritz.
Jesus Cristo, Trez ia agora foder aquela fêmea. E só Deus sabia onde
aquilo os levaria.
— Sim, sim mestre. Só não à sua mesa. E certamente não em seu prato.
P á g i n a | 137
Se ele fosse dono de sua vida, livre do laço de seu irmão e a prisão
imposta a Trez pelos seus pais, teria escolhido uma existência diferente. Se
enfiaria em algum lugar do oeste, viveria da terra e longe de todo mundo.
Não que fosse um recluso por natureza. Ele só não via valor no que
tantos outros viam. Em sua mente, o mundo simplesmente não precisava de
outro iPhone, ou serviço mais rápido de internet, ou mais um reality show
de milhões de dólares. Inferno, quem caralhos se importava se o vizinho
tinha uma casa maior, um carro maior, um barco maior ou um trailer maior.
Por que ele se importaria se alguém tinha um relógio/anel/celular/tv/bilhete
de loteria melhor. Sem mencionar sapatos e moda no geral. Propaganda de
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E não, não eram só humanos que eram levados a toda aquela merda.
Tanta sublimação de quem eles realmente eram aos ditames do que lhe
disseram para querer, precisar, procurar, comprar.
Quando seu celular tocou no bolso da roupa, ele enfiou uma mão e
pegou-o. Ele sabia quem era mesmo antes de olhar para a tela, aceitou a
ligação e levou o celular ao ouvido.
Aquela pequena parte dele que tinha voltado a se acender para a vida,
morreu no centro de seu peito de novo.
*****
Ao perambular pela cozinha, Assail checou o relógio. Virou na frente
da pia. Voltou para o bar. Olhou para o relógio de novo.
Assail pulou para a frente, para abrir a porta. — Esta é nossa área de
serviço. Ali é a cozinha.
Ele ficou atrás dela, engolindo sua impaciência. Não havia motivo para
apressá-la. Ele tinha de ter certeza de que a verdadeira face do império de
Benloise estaria vazia de seus negociantes de arte e trabalhadores do
escritório, antes de ir para lá. E isto levaria pelo menos uma hora.
E enquanto ela olhava para os três, parecia que Ehric e seu gêmeo
assassino violento se sentiam tão perplexos quanto Assail.
Assail pigarreou. — Senhora, foi trazida aqui para sua segurança. – Ele
não permitiria que Benloise se adiantasse... E então teve de cobrir potenciais
efeitos colaterais. — Não para cozinhar.
Assail exalou longa e lentamente. Agora ele sabia de onde Sola tinha
herdado seu lado independente.
Assail encarou a avó de Sola diretamente nos olhos e baixou sua voz
para esclarecer um ponto que deveria ser respeitado. — Eu pago. Estamos
claros... A senhora não vai gastar nem um centavo.
Ela abriu a boca como se fosse discutir, mas era cabeça-dura, não burra.
— Então eu costuro.
Assail olhou por cima do ombro e expôs as presas para o idiota... Fora
das vistas da avó de Sola, é claro.
— Senhora...
— Voltaremos em trinta.
P á g i n a | 143
Com isto, ela se virou e foi para a porta. Atrás de sua forma diminuta,
os três vampiros jogavam pingue-pongue ocular.
Minha querida doce senhora, não somos nem humanos, ele pensou.
— Não fiquem parados aí, – ele brigou. — É capaz dela sair dirigindo
sozinha.
P á g i n a | 144
Capítulo DEZ
Mas ele não era suicida. — E quais são estas coisas, Payne, – ele falou
por entre dentes.
— E a segunda?
Cobrindo os genitais com as mãos, ele se virou para encará-la. Ele não
sabia qual a aparência de Payne, mas já tinham lhe dito que ela era parecida
com o irmão, alta e poderosa. Aparentemente, tinha o mesmo cabelo preto
P á g i n a | 145
— Não, eu espero que você respeite minha relação com seu irmão.
Houve uma pausa, e ele pressentiu que ela ia responder. Mas quando
nada veio, ele praguejou.
— E sim, você tem razão, – ele continuou. — Você luta bem o suficiente
para ser um Irmão... E eu treinei com eles por anos, então eu saberia julgar.
Eu não estou parando porque você é a porra de uma menina. É pela mesma
razão que Qhuinn e Blay não saem a campo juntos, e porque Xhex, se algum
dia decidir voltar a lutar conosco, não será colocada na mesma equipe que
John. E porque Dra. Jane não poderia operar seu irmão ou você. Algumas
coisas são íntimas demais, entende?
Um pouco ríspido, talvez. Mas ele sabia que, naquele momento, ser
civilizado estava fora de seu alcance.
Houve outro longo espaço de silêncio. Mas ela não tinha saído... Ele
podia sentir-lhe a presença quase como se pudesse vê-la: Ela estava do outro
lado do cômodo de azulejos, entre ele e a saída.
— Então por que eles não treinam com você? – a voz dela baixou. —
Por que você não mantém sua forma com eles? Isso mudou depois de você
assumir o trono?
— Está sugerindo que na verdade, eu posso ver? – ele expôs suas presas.
— Sério?
Quando ela falou em seguida, sua voz estava mais distante, e ele teve a
impressão de que ela tinha se dirigido para a arcada que levava aos armários.
— Eu acho que a única razão pela qual nós treinamos é eu ser uma
fêmea. – Quando ele abriu a boca, ela o cortou. — E eu acho que você
continuaria a lutar comigo, se eu fosse um macho. Você pode continuar
dizendo a si próprio que é por causa de meu irmão, tudo bem. Mas eu acho
que você é mais machista do que pensa.
— Eu não vou discutir com você. Mas por que não pergunta a sua
shellan?
— O quê?
— Por que ela não quer que você saiba aonde ela vai enquanto você
trabalha?
— Como é que é?
*****
Pooooorra, Trez pensou ao respirar novamente.
de seu irmão, e Trez foi deixado a sós com a Escolhida Selena, cada célula
de seu corpo começou a formigar.
Oh, cara, ele tinha de acender uma luz, embora ainda fosse cedo para
provocar suas retinas com qualquer tipo de luz de verdade.
Olá, deusa.
O que tornava a aparição dela ali em cima, com aquele saco de coisas,
ainda mais admirável.
Espere, ela tinha feito uma pergunta, não? O que ela tinha... — Não.
Estou bem. Muito bem.
E ficando duro como uma rocha, fodido ele fosse. Deus, ele esperava
que ela não percebesse o aroma de sua excitação.
Ummm... Que tal baixar aquela túnica e pular na minha cama. Depois
você poderia me cavalgar como um pônei até eu desmaiar.
P á g i n a | 150
Cara, a expressão no rosto dela era tão preocupada. A ponto de ele ter
de forçar-se a se lembrar que ela o tinha rejeitado antes. O que ela tinha
mesmo.
Sim, por mais falha que sua memória recente fosse – pelo menos
quando se tratava do irmão ter estado no quarto – ele podia se lembrar do
que se passara entre ele e aquela fêmea antes... Além da resposta menos que
entusiasmada dela para ele.
Mas aquilo tinha passado. E ele e iAm tinha sido chamados à casa de
Rehv recentemente... E foi aí que a tinha conhecido cara a cara.
P á g i n a | 151
Ok, iAm estava com ele na ocasião, mas ele tinha afastado o cara da
cabeça. Então de novo, no momento em que tinha visto aquela fêmea, tinha
se esquecido de seu próprio nome, a maior parte do vocabulário inglês, e
setenta e cinco por cento de seu equilíbrio.
Não que esta fosse uma questão que estivesse ansioso demais por
investigar.
Oh, sim, o jeito que ela se moveu para ir até a sacola. Tão fluida e
equilibrada, os quadris se movendo por baixo da túnica, os ombros
contrabalançando, seu...
Mas, caraca.
Quando ela voltou para a cama, ele se moveu mais para o meio do
colchão, esperando que ela se sentasse. Ela não se sentou. Se inclinou e lhe
P á g i n a | 152
— O que é isto?
Bem, exceto pelo fato de que a sua última tinha durado mais de doze
horas e o tinha deixado à beira da morte.
Enquanto ela pairava, ele desejou que ela estivesse um pouco mais
interessada em seu peito seminu: Ele não era arrogante, mas geralmente, as
fêmeas olhavam para ele e não desviavam o olhar.
— Mas você esteve aqui o dia inteiro... Desde que voltou para casa
ontem a noite.
P á g i n a | 153
Mentira.
Beleeeeeza.
Oh, ele queria dizer-lhe outro tipo de verdade, tá certo. Mas não havia
motivo para bancar o tolo.
— É só uma dor de cabeça que dura muito tempo. Sério. E eu tive isto
por toda minha vida adulta... Meu irmão não tem, mas ouvi dizer que meu
pai também tinha. Não é uma festa, mas nada que vá me matar.
Trez comprimiu o rosto para ter certeza de que não demonstrava nada.
— Ele ainda vive e respira. Mas está morto para mim.
P á g i n a | 154
— Por quê?
— E...?
— Você tem outros planos para a noite então? – isto foi dito numa
espécie de desafio calmo.
Ela olhou para as mãos. — Esta... Longa estória de seus pais. É por isto
que você tem um sobrenome?
Trez começou a sorrir, e era uma coisa boa que ela estivesse de olhos
baixos ou teria visto muito de seus dentes brancos.
— Nada importante.
Ele deu um longo gole final em sua Coca e olhou ao longe. — Todo
mundo tem de fazer alguma coisa.
Deus, ele realmente não queria entrar naquela parte de sua vida... A
ponto de que fingiria estar passando mal para ela sair: em um flash, imagens
dele fazendo sexo com aquela longa sucessão de mulheres humanas
P á g i n a | 155
espocaram em frente a seus olhos, tomando o lugar de Selena até ele não
mais poder nem mesmo sentir o cheiro dela.
Mas as regras não paravam às portas dos Homo Sapiens. Fazer amor
era completamente ritualizado no Território. Sexo era agendado entre os
casais, ou metades, como eram conhecidos, pergaminhos formais trocados
em corredores de mármores, requerendo consentimento através de uma série
de diretivas prescritas. E quando estava tudo acordado? O ato não podia ser
realizado durante as horas do dia, e nunca, nunca antes de um banho ritual.
E também era anunciado para toda a população, um estandarte especial era
dependurado em uma porta de quarto, não havia perturbação até que uma
ou ambas partes saíssem.
Então sim, sua gente não teria somente careteado sobre sua vida sexual;
eles só o tocariam com um espeto de churrasco enquanto vestiam uma roupa
de proteção para manejo de materiais perigosos e capacete de solda: Ele tinha
trepado com mulheres às onze da manhã e às três da tarde e muuuuito antes
do jantar. Ele tomara-as em locais públicos e sob pontes, em boates e
restaurantes, em banheiros e quartos sujos de hotel... E em seu escritório. Em
somente talvez metade dos casos ele sabia seus nomes, e daquele grupo
sortudo, ele podia se lembrar de somente umas dez.
P á g i n a | 156
E pela coisa da pele pálida? Ele não discriminava. Topava toda a raça
humana, até mesmo mais de uma raça ao mesmo tempo. O único setor com
o qual não tinha se metido ou chupado, tinha sido machos, mas só porque
não se sentia nem um pouco atraído por eles.
A ironia, é claro, era que ele tinha tido um orgulho doentio em arruinar-
se aquele ponto. Infantil, claro, mas tinha sido como mostrar o dedo do meio
para toda a tribo e aquela merda ridícula... Especialmente a filha da rainha,
com quem todos eles pensavam que ele deveria ter uma pressa imensa em
foder, regularmente, para o resto de sua vida.
Mas era engraçado. Apesar de tudo o que ele odiava sobre as tradições
sob as quais tinha nascido, se pegava – finalmente – meio que vendo sentido
nelas: Aqui estava ele, na viagem pós enxaqueca, a distância de um beijo de
uma fêmea que morria de vontade de idolatrar com seu corpo. E adivinhe o
que. Toda aquela rebeldia da qual ele tinha gostado tanto, fazia-o sentir-se
nojento e totalmente desmerecedor.
Não que o ato de verdade jamais fosse acontecer com Selena... Ele era
um vadio, mas não era maluco.
Merda.
Não diga que vai embora, ele pensou. Mesmo que eu não te mereça de
maneira nenhuma, por favor, não me deixe...
Trez sentiu sua boca se escancarar. De todas as coisas que tinha estado
esperando ouvir... Nem. Ao menos. Tinha. Passado. Pela. Cabeça.
Puta... Merda.
Mas ao sentir seu pau estremecer com a demanda, e seu sangue rugir,
a parte decente dele, que há tempos jazia enterrada falou alto de um jeito
lento e persistente.
Capítulo ONZE
Não precisava do cão para lhe dizer que chegaram ao destino – e ele
sabia exatamente na frente de qual quarto estavam: mesmo no corredor ali
fora, os hormônios de gravidez espessavam o ar de tal modo, que era como
se deparar com uma cortina de veludo.
Que era exatamente o motivo pelo qual a sua Beth estava ali, não era.
P á g i n a | 159
Maldição. Não lhe diga que sua companheira queria tanto um bebê, que
estava fazendo algo a respeito, sem nem mesmo falar com ele.
Eles não trocaram nem uma palavra. Nem quando ela fechou a porta
atrás deles. Nem ao caminharem lado a lado pelo corredor. Ao chegarem à
porta de seu escritório, ele disse a George para ficar do lado de fora, e fechou
a porta.
— Com quem?
A culpa tinha sumido agora. Em seu lugar, ela estava tão puta da vida
quanto ele.
— Como é que é?
Ele apontou um dedo para a direção que achava que ela estava. — Ela
está grávida.
— Eu percebi.
O punho dele bateu na mesa tão forte que o telefone caiu da base. —
Você está tentando iniciar sua necessidade!
Era incrível como podia ser tão devastador ouvir seu maior medo ser
verbalizado em voz alta.
— Eu preciso que você ouça uma coisa, – ele disse, em um tom de voz
morto, — E saiba que estou jurando por Deus. Eu nunca te servirei em sua
necessidade. Jamais.
Havia poucas coisas que ele sabia com grande certeza na vida. A única
outra, que lhe vinha à mente, era o quanto a amava.
— Wrath isto não é justo. Você não pode simplesmente determinar isto
como faz com suas proclamações.
— Não, mas podemos conversar sobre isto, pelo amor de Deus. Somos
parceiros e isto afeta a nós dois.
— Sim, quando uma fêmea não é casada. Mas pelo que me consta, meu
nome ainda está escrito em suas costas.
Ela ficou em silêncio por um tempo. — Não lhe ocorre nem por um
momento que isso possa ser importante para mim? E não como em “Oh, eu
preciso de um carro novo”, ou… ”Eu quero voltar a estudar” ou mesmo,
“que tal termos uma porra de um encontro antes de você ser baleado
cumprindo o dever que você odeia”. Wrath, isto é a base da vida.
Caralho. Ele não conseguia nem imaginar. — Eu não vou ter filhos.
Posso adoçar esta verdade com uma porção de besteiras sem sentido, junto
com palavras confortadoras, mas cedo ou tarde você vai ter de aceitar...
— Ok. Está bem. Por que não nos colocamos no lugar um do outro.
Que tal se eu disser... Que tal isto... Você vai me dar o filho que eu quero, e
isto é algo que você vai ter de se acostumar. Ponto.
Ele deu de ombros novamente. — Você não pode me forçar a ficar com
você.
P á g i n a | 163
Mas isso não mudava nada. — Quando você ia me contar? – ele exigiu.
— Contar o quê? Que você pode ser um verdadeiro imbecil? Que tal
agora.
Nada bom. Especialmente, se ele mais tarde descobrisse que ela tinha
passado as horas com aquela Escolhida, para justamente aquele propósito
específico.
Ele olhou para ela. — Sim, quando exatamente este assunto seria
trazido à baila? Não ia ser hoje, certo? Você estava segurando para amanhã?
Não? – ele se inclinou na mesa. — Você sabia que eu não queria isto. Eu te
disse.
Mais passos: ele podia ouvir cada passo dela. Levou um tempo até
pararem.
desta questão... Não! – ela ordenou ao vê-lo abrir a boca. — Você não diz
mais uma maldita palavra. Se disser, tenho a impressão que vou fazer as
malas e sair para sempre.
— Oh, eu ouvi o suficiente de você por ora. Então nos faça um favor e
fique bem onde está. A esta altura, esta mesa e a cadeira dura é só o que lhe
restará, de qualquer forma. É melhor se acostumar com elas.
Faltou pouco para ele levantar e correr atrás dela, mas ele se lembrou
da Dra. Jane dizer algo sobre a ressonância magnética que John Matthew ia
fazer em um hospital humano. Devia ser para lá que ela estava indo... Ela
tinha dito que lhe era importante ir junto com ele.
Grande soldado. Boa cabeça acima dos ombros. E a falta de voz não
era um problema, exceto com Wrath que, obviamente, não podia ler a
linguagem de sinais.
P á g i n a | 165
Oh, e quanto ao resultado de exame de sangue que dizia que ele era
filho de Darius? Quanto mais tempo se passava perto do garoto, mais óbvia
ficava a conexão.
Mas que seja. John ia para algum tratamento, e pelo lado de Beth, ele
não seria um problema. Mas este assunto do bebê...
Pelo andar da carruagem, esta mesa e cadeira dura serão tudo o que lhe restará.
E aquela era a outra grande parte dele. Ele não tinha pressa nenhuma
em condenar um inocente a toda esta merda de Reinado. Tinha arruinado
sua vida... E não era uma herança que ele quisesse dividir com alguém que,
indubitavelmente, amaria quase tanto quanto sua shellan...
Mesmo sem poder ver nada, ele percebeu... Que tinha uma ereção.
Uma pulsante, e comprimida ereção se erguia contra o zíper de suas calças
de couro.
P á g i n a | 166
*****
— Você gostaria de se alimentar?
Querida Virgem Escriba, que visão ele era. E uma revelação... Embora
não por ela ser ignorante ou ingênua. Ela pode ter vivido isolada no
Santuário desde seu nascimento, um século atrás, mas como uma ehros,
estava familiarizada com as mecânicas do sexo.
Mas sem nenhum conhecimento prático. O ato não tinha sido ainda
seu destino. O Primale anterior tinha sido assassinado nos ataques bem antes
dela amadurecer, e seu substituto tinha demorado décadas e décadas e
décadas para ser nomeado. Então, quando Phury tinha assumido o título, ele
tinha mudado tudo e libertado todas elas, ao tomar uma shellan à qual era
monogâmico.
Ela sempre tinha se perguntado como o sexo era. E agora, olhando para
Trez, sabia visceralmente porque as fêmeas se submetiam. Porque suas irmãs
se enfeitavam e se preparavam para sua “tarefa”. Por que elas voltavam ao
dormitório depois, com uma incandescência em suas peles, seus cabelos, seus
sorrisos, suas almas.
Só a maioria deles.
E isto não seria uma tarefa. Não, neste espaço escuro e silencioso entre
eles, ela o queria... Em seu pescoço, não no pulso.
Fechando os olhos, ela odiou o fato de que, por tudo o que era razoável,
ela devia se virar e sair daquele quarto naquele momento mesmo. Este macho,
este macho resplandecente que era capaz de derreter até mesmo a rigidez de
seus membros, não estava em seu futuro. Não mais do que o Primale estava...
Ou qualquer outro macho, a propósito.
P á g i n a | 168
Seu futuro tinha sido determinado bem antes dela ter vestido sua
primeira túnica de Escolhida.
E tudo tinha mudado para ele com sua oferta. Por quê?
— Eu te ofendi?
Ela não conseguiu captar o resto do que ele disse, porque ele esfregou
o rosto e abafou as palavras.
premonição, ela tinha sido voraz em seu tempo livre, estudando o mundo
moderno, as palavras que usavam, a maneira como as pessoas se conduziam.
Ela sempre soubera que aquilo era o mais próximo que ela teria de ter
liberdade de escolha, e qualquer tipo de destino.
E aquilo ainda era verdade, mesmo após a liberdade dada por Phury.
— Assim como?
Ele pareceu ondular os quadris, e quando murmurou algo que ela não
conseguiu entender, ela respirou fundo... E, querida Virgem Escriba, o aroma
que vinha dele era como ambrosia em seu nariz.
— Por favor.
Ah, mas a ironia. Agora que havia tantas cores para agradar aos olhos?
Tudo estava vazio de vida, as Escolhidas tinham dado no pé e batido suas
asas.
Quando os pés de Selena se puseram a andar, ficou claro que ela tinha
algum tipo de destino em mente, mas não sabia conscientemente qual. Pelo
menos não era incomum. Ela sempre andava com a cabeça nas nuvens,
geralmente por estar pensando sobre o que tinha visto nas vasilhas de
premonição, ou lido entre as espinhas daqueles volumes encapados em
couro.
Aquele macho de pele escura era... Bem, não parecia haver palavras
suficiente para descrevê-lo, apesar de seu extenso vocabulário. E as imagens
lembradas de agora a pouco no quarto dele eram como as cores recém-
chegadas aqui... Uma revelação de beleza.
então mais além até se aproximar da fronteira cheia de árvores que, caso
alguém entrasse, magicamente era cuspido de volta, no exato local onde
tinha entrado.
Não foi até ser tarde demais que ela percebeu onde seus pés a tinham
levado.
Ela pensou de novo no macho naquela cama. Tão vivo. Tão vital.
Por que ela tinha vindo ali. Por que, por que, por que... Ao cemitério.
Era aos pés de suas irmãs que ela sentia mais intensamente o destino
de sua morte precoce.
P á g i n a | 172
Durante toda sua vida, ela tinha suposto que todos os ângulos de seu
fim próximo já tinha sido explorado.
Estar perto de Trez Latimer lhe mostrou que estava errada sobre isso.
Capítulo DOZE
— Você quer que a gente entre com você? – Ehric perguntou, do banco
traseiro.
— Somente um.
— Nada.
Sniff.
Repetiu do outro lado, e então deu uma única cafungada dupla que fez
tudo ir para o caminho certo.
Assail sorriu sem expor as presas. — Tenho algo para entregar ao seu
chefe.
— Ele tá te esperando?
Como esperado.
O linguista que tinha entrado para avisar Benloise de sua visita, olhou
por cima do corrimão. — Que cê tá fazeno?
— Não podem fumar aqui também. – O homem olhou por cima dos
ombros como se seu nome tivesse sido chamado. — Sim, está bem. – Ele
virou de novo. — Ele disse que levará um minuto.
Que competência.
Assail geralmente tomava seu maldito tempo, mas não esta noite. Ele
e Ehric subiram os degraus de metal em um passo apressado.
P á g i n a | 177
*****
Uma hora e meia depois do confronto épico com seu marido, Beth
estava no banco traseiro do Mercedes S600 da Irmandade com o meio-irmão
ao seu lado e Fritz ao volante. O sedan era novinho em folha, o cheiro
maravilhoso de couro novo e verniz era como aromaterapia para gente rica.
Que pena que o cheirinho bom não melhorasse em nada o seu humor.
Então sim, ela assumia que a coisa de filho seria o mesmo... Que ele
cederia, já que ter um bebê era tão importante para ela.
— Desculpe, – ela disse ao baixar mãos que não tinha tido consciência
de levar ao rosto. — Estou sendo rude, não estou?
Pessoalmente, acho que é uma perda de tempo. Ele virou a cabeça para o
outro lado. Digo, vamos lá. Eu tenho tido isto há quanto tempo? Nunca aconteceu
nada.
O celular de John tocou com um bing! E ele virou a ela para conseguir
ver. É Xhex.
Sim. Ele exalou um fôlego pesado. Esta coisa toda de ir de carro é ridículo.
Eu podia chegar lá em um piscar de olhos.
Melhor ainda; podíamos ter pulado toda essa baboseira. Ele riu um pouco.
Eu te digo, sinto muito por qualquer um que cruze com Xhex a porta. Ela estava
preparada para varrer o complexo hospitalar inteiro... E quando ela fica assim? É
melhor não contrariá-la.
Acho que é o contrário. Acredite-me... Por que está com essa cara?
— Que cara?
Em dezembro? Jura?
Aí foi ela que desviou os olhos, Fritz tomou a saída para a rodovia.
Diminuiu a velocidade em uma curva. Voltou a acelerar quando chegaram
P á g i n a | 182
Ela tinha a sensação de que não haveria sono para ela até que ela e
Wrath resolvessem as coisas, ou...
Outro tapinha em seu braço. Sabe, pode falar comigo sobre qualquer coisa.
Beth. De verdade.
Me dará algo mais no que pensar, e eu preciso disto agora. Quando ela não
respondeu, ele gesticulou, Vamos, por favor. Estou preocupado com você.
Ela ficou quieta por um tempo. Mais a frente uma placa para a
Northway apareceu, o “I-87” brilhando com a luz dos faróis. Se eles
continuassem em frente, ao invés de pegar a primeira saída para o centro de
Caldwell, chegariam a Manhattan em menos de uma hora. Mais ainda ao sul
e estariam na Pennsylvania, e então à Maryland e...
Deus, pensar que era de Wrath que ela queria se afastar. Nunca tinha
imaginado que isto iria acontecer.
P á g i n a | 183
Houve outro silêncio longo, durante o qual ela soube que ele estava
esperando que ela juntasse uns pronomes e verbos para facilitar a conversa.
— Verdade.
Finalmente, ele gesticulou, Você pode usar a casa de Darius, sabe. Se precisar
de um pouco de espaço. Você a deu para mim, o que foi ótimo... Mas eu sempre penso
nela como metade sua também.
E mesmo que não ficasse, o último lugar onde gostaria de estar era onde
ela e Wrath tinham se apaixonado.
Você pode ao menos lançar um assunto? Minha cabeça está a mil em todos os
tipos de direção.
Eles ainda teriam mais quinze, vinte minutos para chegar ao complexo
médico St. Francis. Tempo demais para ficar sentado num silêncio
desconfortável. E ainda assim, parecia violação da privacidade dela e de
Wrath falar sobre a coisa do bebê... Ou talvez fosse apenas uma desculpa
para esconder o fato de que ela não queria explodir em lágrimas.
— Estamos. – Quando ele relanceou para ela, ela encarou-o nos olhos.
— Você estava me dizendo algo. No meio de sua convulsão, você olhou para
mim... E estava murmurando alguma coisa. Consegue se lembrar o que era?
P á g i n a | 184
Capítulo TREZE
Ao falar, Assail olhou pelo para brisa do Rover, o punho de uma adaga
seguramente presa em sua mão direita. Eles estavam afundados para além
das fronteiras florestais do código postal de Caldwell, onde não havia luzes
de habitações piscando pelas árvores alinhadas, nenhum outro veículo vindo
ou indo ao longo da estrada rural coberta de gelo.
— Apague os faróis.
Como a neve tinha parado de cair e a lua tinha aparecido por entre
nuvens, havia iluminação mais do que suficiente vinda por entre os
pinheiros.
Ehric manuseou o peso morto com admirável facilidade, uma vez que
Benloise estava nu e desmaiado, um verdadeiro mala sem alça, por assim
dizer.
Ele não esperava que surpresa virasse o jogo. Mas o que viria em
seguida sim.
P á g i n a | 189
— Seu irmão tem um lugar onde leva pessoas para matar. Onde fica?
Assail colocou seu corpo entre os dois e ficou olho a olho com Eduardo.
— Eu vou te machucar agora.
Assail lhe deu mais um tempo, até que perdeu a paciência. Buscando
pela adaga, ele anunciou, — Eu vou te machucar de novo.
Assail respirou fundo pelo nariz. Não havia cheiro de mentira vindo de
Eduardo. Sangue fresco, é claro, e o cheiro acre do terror. Também uma
vergonha um pouco tocante, que relembrava a Assail a raiz de vegetais
frescos recém colhidos.
Capítulo QUATORZE
Tão fácil esquecer que o coração de Caldie era um local sujo, com tanta
pobreza quanto riqueza... Se não mais: aqui em cima, isolado da realidade,
com o gemido das sirenes e o cheiro do lixo tão distantes, era tentador
acreditar na versão higienizada de Nova York.
Do outro lado, havia portas de vidro deslizantes que levavam para fora
do terraço, e após acender as luzes, ele atravessou e abriu uma delas, um
vento gelado invadiu o ambiente e agitou o ar saturado do interior. Seu
visitante chegaria antes de uma hora, mas ele queria se certificar que o local
parecesse habitado. Voltando à cozinha aberta, fez uma bagunça discreta ao
colocar um par de pratos já limpos na prateleira abaixo da pia e bagunçando
o balcão com... Vamos ver... Uma colher ou duas. Um pacote meio comido
de batatinhas Cape Cod, já meio murchas. Um exemplar da revista GQ que
ele tinha folheado e tinha largado aberta em uma página com uma jaqueta
que Trez iria gostar.
Ele e o irmão não tinham intenção de voltar ali, mas ele tinha de manter
o local, pois era importante que os s'Hisbe não fizessem ideia de que eles
P á g i n a | 194
tinham se mudado. Uma equipe de busca em Caldwell não ia ser uma adição
interessante. Especialmente se, de alguma forma culminasse em uma
visitinha à mansão da Irmandade...
iAm virou para a porta de vidro. Do lado de fora no terraço, uma figura
se materializou da noite, negra como um espectro, sua vestimenta golpeando
ao vento contra o lado liso do prédio.
Com aquele manto que o cobria inteiro, da cabeça aos pés, ele tinha
assumido que sabia quem tinha vindo a ele.
— Sim, entre, – iAm disse, sutilmente enfiando uma mão sob a jaqueta.
Com um gesto, soltou a tira do coldre onde sua Glock estava aninhada. —
Nunca esperei tê-lo em minha casa.
13 No original: “Well, am I, iAm.”, trocadilho entre "am I” (da pergunta: estou convidado?) e iAm, nome da personagem.
P á g i n a | 195
— Eu fiquei sabendo que você nunca deixou AnsLai entrar, – ele disse
ao fechar a porta. Estou... Emocionado.
14 Na cultura ocidental, a Morte é frequentemente associada à figura do “Ceifador Sinistro” (em inglês, Grim Reaper), seria a nossa
clássica visão da Morte com um manto negro com capuz e uma foice na mão.
P á g i n a | 196
— Que romântico.
— Nem um pouco.
— Baboseira.
A pausa curta lhe mostrou que atingira algum ponto certo. Mas não
durou. — O café está pronto. Traga o meu, por favor.
É. Certo.
E sim, por baixo ele era exatamente como iAm se lembrava. Pele
escura, muito escura. Olhos pretos inteligentes. Cabeça raspada com os
padrões cerimoniais. Tatuagens brancas garganta abaixo que continuavam
em cada centímetro de pele.
s'Ex sorriu um pouco... O que era pior do que seu riso aberto. — Então
você e seu irmão estiveram ocupados.
— Trabalho.
— Está certo. – Olhos pretos se fixaram nos seus. — Então, onde vocês
estão.
— Então por que você está sentado sobre algo que me pertence.
— Ok, vejamos esta noite. Por que está vestindo casaco? Porque as
colheres no balcão limpo? Oh, e a revista? Do mês passado. E ainda assim,
está aberta como se você estivesse “lendo”. Ele até fez as aspas no ar. — E
um saco de salgadinhos aberto não se passa por comida.
iAm esperou por dois motivos: um, que outra chance ele teria. E dois,
ele estava acostumado.
P á g i n a | 199
— Ela vai fazer você matar ele, não vai, – iAm disse sombriamente.
— Não me pressione. Eu não tive pais, e eu queria ter tido. Não estou
ansioso para fazer isto.
s'Ex sacudiu a cabeça. — Essas não são boas notícias. Para nenhum
dos dois.
iAm cerrou os olhos ante o tom estranho naquela voz profunda. Filho
da puta... — Você entende, não entende.
— s'Ex,
— Muito obrigado.
P á g i n a | 201
— Como assim?
Ótimo.
E se s'Ex não tivesse aparecido aqui e lhe dito para manter em segredo
toda aquela estória de sexo? Só Deus sabia o que poderia acontecer.
Ele não tinha nem mesmo ouvido sobre a purificação, mas podia
adivinhar.
P á g i n a | 202
Uma coisa era certa: ele nunca tinha pensado, nem em um milhão de
anos, que um dia deveria algo àquele executor de coração frio. Mas também,
parecia que Trez não era o único se revoltando ante as restrições do
Território.
Capítulo QUINZE
Beth deu uma arrumada em seu próprio boné Bos Sox. Já fazia um
tempo desde que ninguém a via no mundo humano, e ela não conhecia
ninguém em particular naquele hospital... Mas não havia motivo para
adicionar mais uma camada de complicação a esta viagem.
Oh, Deus, permita que esteja tudo bem, ela pensou, enquanto o doutor
rolava as imagens na tela novamente.
Bem ao seu lado, não que o homem a visse, a doutora Jane também
olhava por sobre os ombros dele, para as imagens em preto e branco... Em
modo fantasma total.
Todos suspiraram aliviados. E a primeira coisa que John fez foi agarrar
o corpo firme de Xhex e puxá-la para perto, o mundo obviamente
desaparecendo para os dois.
Ao observá-los, Beth soube que devia estar focada nas boas notícias.
Em vez disto, tudo o que podia pensar era como ela não estava somente
sozinha, enquanto esperava ouvir se o irmão tinha algum tipo de embolismo
ou tumor, ou sabe deus lá o que mais de horror em seu cérebro... Mas, que
também havia um imenso e metafórico elefante rosa entre ela e seu marido,
que tão cedo, não iria para lugar algum.
Eu preciso que você ouça uma coisa, e saiba que estou jurando por Deus. Eu não
vou servi-la em sua necessidade. Nunca...
Merda, ela pensou ao esfregar os olhos. Agora tinha de voltar para casa
e resolver aquilo.
E pensar que todo o ato médico que o cara fez, tinha sido enfiar seu
irmão na máquina que fazia ping, por cerca de meia hora.
Vamos voltar agora? John gesticulou na frente de seu rosto... Como se,
talvez, estivesse tentando chamar sua atenção.
— O q.. Qu, desculpe. – Ela jogou o cabelo para trás. — Não prefere ir
com Xhex?
É claro que não é, Jonh gesticulou. Você está fazendo um favor em voltar
comigo. Sabe, para me fazer companhia.
Fritz ficou feliz demais ao saltar do carro e abrir a porta para ela, e
enquanto ela entrava na traseira do sedan, ela vislumbrou Manny dar uma
beijoca em Payne, e John beijar Xhex.
Quando uma onda de terror caiu sobre ela, pensou que seria melhor se
embebedar ao invés de confrontar o marido. O único problema era que aquilo
não ia resolver nada, e além do mais, ela sempre tinha desprezado mulheres
que bebiam. Nada mais feio e mais patético.
— Eu estou bem.
— Eu sei. Não foi nosso melhor momento. – Ela olhou de novo para o
irmão. — Eu invejo tanto você e Xhex. Vocês tem tanta sincronia.
Ha! Você devia ter visto a gente há um ano. John encolheu os ombros. Eu
achei que não íamos superar.
— Sério?
Merda, sim. Ela queria sair para campo, e tipo, tava tudo certo para mim... Até
eu realmente perceber que ela podia se machucar. Ele descreveu um círculo com o
dedo próximo a cabeça. Fodeu direitinho com minha cabeça. Digo, como macho,
sua mulher é coisa sua de um jeito que eu acho que vocês fêmeas não conseguem
apreciar ou entender. Quando se trata de Xhex, eu, literalmente, não tenho controle de
minhas emoções, meus pensamentos, minhas ações relacionadas a sua segurança. É
uma espécie de psicose.
P á g i n a | 209
Quando ela não respondeu, ele tocou seu braço para se certificar que
estava prestando atenção. Parece muito com o que você e Wrath estão lidando
agora. Sim, para você pode ser 'É só um bebê', mas diante das taxas de mortalidade
das fêmeas? Na mente dele, provavelmente é questão de sua sobrevivência... E ele está
considerando isso acima de qualquer tipo de filho ou filha.
Deus, talvez aquilo a tornasse uma megera, mas... Ela realmente não
queria ver o lado de Wrath nesta questão. Especialmente não dito assim, tão
racionalmente... Desde que aquilo, de fato, fosse o que um homem sentia.
Sim, mas, é fácil para mim teorizar sobre isto... Porque eu sei que ela não quer
um. Talvez eu me sentisse diferente se ela quisesse. Os riscos são reais, e há pouca coisa
que os médicos podem fazer.
Mas você é o interesse principal dele. Então ele tem um voto nisso.
Talvez você devesse dar um tempo. Tipo... Se afastar até não estar tão irritada.
Daí voltar e conversar sobre isto.
ficar sentada comendo sorvete com Layla. Ela não estava nem perto de sua
necessidade... Se um dia ela viesse, obviamente seria em seu próprio tempo.
Tudo o que tinha conseguido era fazer suas calças ficarem apertadas e
construir um abismo entre ela e o marido.
Nas palavras do Dr. Phil15, Como isto está funcionando para você?
Por que não passa um tempo na casa de nosso pai, John gesticulou.
Ela pensou na mansão. — Sim, não. Não quero nem pensar naquele
lugar.
Foi quando Wrath tinha dito que ela tinha gosto de...
15Phil McGraw (Vinita, Oklahoma, 1 de setembro de 150) é um psicólogo dos EUA que tornou-se conhecido do grande público ao
participar nos programas de Oprah Winfrey como consultor de comportamento e relações humanas. É conhecido por Dr Phil.
P á g i n a | 211
John estava certo. Ela não podia voltar para casa ainda: no instante em
que visse Wrath, ela se irritaria com ele, e aquilo novamente não os levaria a
lugar algum.
Deus sabia que eles já tinham tido aquela conversa uma vez. Um
repeteco só ia dificultar ainda mais as coisas.
— Ok, – ela se ouviu dizendo. — Tudo bem. Mas preciso comer algo
antes.
Capítulo DEZESSEIS
Não dava para enfiar George nisto. A cegueira não era uma virtude
para um governante nos tempos de paz. Durante a guerra? Era uma fraqueza
crítica... E nada delatava mais a cegueira que um cão guia.
aquele bando de filhos da puta eram fortes demais para serem abalados por
qualquer coisa menor que uma bomba H.
— Pare, – V disse.
Wrath parou, mesmo que tivesse de cerrar os dentes. Mas era melhor
do que dar de cara com a parede do prédio.
Houve uma pausa, na qual V digitou o código, que era mudado todas
as noites, e eles entraram em um saguão vazio, com aquele cheiro
característico antisséptico de hospital, anunciando estarem, de fato, no lugar
certo.
E a merda sabia que ele se sentia doente: Seu peito doía, a cabeça
latejava, e sua pele parecia pequena demais para seus ossos.
E provavelmente terminal.
— Obrigado, – V disse.
Sim, o irmão odiava Havers por vários motivos. Mas até aí, Wrath
também.
Merda, ele desejava poder voltar à era de seu pai, quando as pessoas
respeitavam o trono.
Wrath virou a cabeça para a voz e anuiu. — Obrigado por nos deixar
entrar.
— É claro, meu senhor. É uma honra rara ter sua presença em nosso...
Bla-bla-bla
O lado bom era ser levado rapidamente para uma área privada, com
interrupção mínima. E então foi questão de esperar. Mas não levaria muito
tempo. Ele apostava que Havers calçaria seus tênis de corrida para chegar
imediatamente onde estavam.
— Está bem, tem um sofá de seda da avó de alguém bem à sua direita.
— Fale comigo.
— Há algum aqui?
— Ah... Não.
— É... Claro.
— Não.
O silêncio que seguiu fê-lo desejar não ter vindo. Mas ele não ia sair
agora, e não só porque ele já não lembrava a direção onde a porta estaria. —
Não é a minha shellan, a propósito. É uma amiga.
Ele pensou em Beth sentada naquele quarto com Layla. Só Deus sabia
há quanto tempo aquilo vinha acontecendo... Mas, mais ao ponto, ele
receava que tivesse funcionado: Ele totalmente tinha ficado ereto na presença
de sua shellan. E sim, aquilo não era incomum, exceto pelo fato deles terem
discutido e sexo ter sido a última porra de coisa que estava em sua cabeça.
— Você quer que eu veja a fêmea em questão, meu senhor? Ela pode
vir aqui a qualquer momento que seja conveniente, ou eu poderia fazer uma
visita domiciliar...
Quando Havers saiu da sala, Wrath se inclinou até sua cabeça atingir a
parede de gesso que ele não tinha consciência de estar atrás dele.
— Você quer me dizer de que caralhos se trata isso? – seu irmão exigiu.
— Porque, neste momento, estou tirando uma porção de conclusões e
nenhum de nós precisa disto... Quando você pode simplesmente responder a
porra da pergunta.
— Um filho.
P á g i n a | 219
— É. Graças a Deus.
— Não. Ela não está nem nesta estação, cidade ou qualquer parte da
cidade que sua metáfora residir.
Wrath esfregou a testa. Por um lado, era ótimo ter alguém que
concordasse com ele sobre o assunto de não ter bebês... Fazia-o sentir menos
como que fazendo algo errado, ou sendo cruel com sua Beth. Por outro lado,
aquela concordância entre Vishous e Jane? Não que ele quisesse que o irmão
passasse por toda aquela merda também. Nem de longe. Mas caralho, ele
adoraria estar naquela posição tão confortável com sua shellan, muito
obrigado.
16 Norman Rockwell (Nova Iorque, 3 de fevereiro de 1894 — Stockbridge, Massachusetts, 8 de novembro de 1978) foi um pintor e
ilustrador estadunidense. Rockwell era muito popular nos Estados Unidos, especialmente em razão das 323 capas da revista The
Saturday Evening Post que realizou durante mais de quatro décadas, e das ilustrações de cenas da vida estadunidense nas pequenas
cidades.
P á g i n a | 220
cenário diferente de castelo medieval. Mas sim, aqueles dois tinham a relação
perfeita. Não havia discussão, não havia raiva, só amor.
Nada jamais se interpusera entre eles. Nem o trabalho de seu pai, nem
a corte onde viviam, nem os cidadãos que governavam.
Harmonia perfeita.
Este era outro padrão do passado que ele não conseguia manter.
Bem perto dele, a cadeira onde Havers tinha se sentado rangeu tão alto
quanto uma maldição... Como se V tivesse jogado seu peso inteiro na coisa.
— V?
Quando o irmão finalmente respondeu, sua voz era baixa, muito baixa.
— Eu vejo você...
— Ei, imbecil! Eu te disse o tempo inteiro que não quero saber quando
vou morrer. Você me ouviu? Eu não quero saber.
Merda, ele não queria encorajar aquilo. — Ouça, V, você tem de voltar.
Não aguento isso, cara.
P á g i n a | 221
Bem, pelo menos aquilo era genérico e óbvio, como uma previsão
astrológica em uma revista... O tipo de coisa que qualquer um poderia ler e
sentir como se aplicasse a ele.
— Me faça um favor, V.
— O que.
Mas o lado bom era... Ele não teria de se preocupar com a necessidade
de Beth. Graças a esta visitinha miserável, ele ia estar preparado para cuidar
dela quando acontecesse.
Capítulo DEZESSETE
O ANO 1664
— Leelan?
Como Rei, ele não precisava esperar pela autorização de ninguém, e não
havia ninguém que o impedisse de fazer algo.
E como nesta noite, quando havia uma festa, ela desejava embelezar-se
em privacidade, permitindo seu acesso, somente quando estivesse preparada
para sua observação e adoração. Era completamente encantadora... Como era
encantadora a maneira que o quarto que dividiam cheirava, por causa de seus
óleos e loções. Assim como era, mesmo um ano após sua união, que ela ainda
baixasse os olhos e sorrisse secretamente quando ele a cortejava. Assim como
acordar cada anoitecer com ela junto a ele, para então se deitar para descansar
ao amanhecer, ao lado de seu corpo lindo e cálido.
Anha estava do outro lado do quarto, perto da lareira que era grande o
bastante para caber um macho adulto. Sentada à sua penteadeira, que ele tinha
movido para perto do fogo para mantê-la aquecida, suas costas estavam viradas
para ele, o cabelo longo e preto caíam em espirais pelos ombros até a cintura.
Wrath franziu o cenho diante da tensão na voz dela. — O que lhe aflige?
Ela estava mentindo. Seu sorriso era uma versão apagada de sua radiância
normal, sua pele parecia pálida demais, seus olhos repuxavam nos cantos.
Apesar do risco para ela, eles realmente rezavam por uma concepção – e
não simplesmente por um herdeiro, mas por um filho ou filha para amar e criar.
— Anha, seja sincera comigo. – Ele esticou a mão e tocou seu rosto – e
imediatamente retirou sua mão. — Você está gelada!
Por um momento, ele quase esqueceu suas preocupações. Ela era uma
visão, na cor rica e profunda, o bordado dourado no corpete que captava a luz
do fogo, da mesma forma que os rubis: de fato, ela estava usando o conjunto
completo de joias naquela noite, as pedras brilhavam em suas orelhas, pescoço,
pulsos, mãos.
E ainda assim, tão resplandecente como ela estava, algo não estava certo.
Wrath semicerrou os olhos. Havia, é claro, outro assunto que pesava sobre
seu coração. — Alguém foi cruel com você?
— Nunca.
Naquilo ela estava mentindo com certeza. — Anha, você acha que algo
escapa ao meu conhecimento? Eu estou bem consciente do que transpira na
corte.
Ele amava sua força. Mas esta coragem era desnecessária... Se somente
ele conseguisse descobrir o que a atormentava, ele cuidaria do assunto. — Acho
que deveria acabar com essas fofocas.
P á g i n a | 225
— Não diga nada, meu amor. O que está feito, está feito... Não dá para
desfazer a apresentação. Tentar silenciar toda e qualquer crítica ou comentário
sobre mim, seria liderar uma corte vazia.
Tudo tinha começado na noite em que ela tinha sido trazida a ele. Ele não
tinha seguido o protocolo adequado, e apesar dos desejos do Rei reinarem sobre
e além da terra e todos os seus vampiros, havia os que desaprovavam
intensamente: Que ele não a tivesse despido. Que ele tivesse lhe dado o
conjunto de joias de rubis e o anel da rainha... E então tivesse conduzido o
emparelhamento sozinho. Que ele tivesse imediatamente levado ela para seus
aposentos particulares.
Seus críticos não tinham se acalmado nem um pouco quando ele tinha
consentido uma cerimônia pública. Nem tinham, um ano depois, acolhido sua
companheira. Eles nunca eram abertamente rudes com ela, em sua presença, é
claro... E Anha se recusava a dizer uma palavra do que acontecia às suas costas.
Inclinando-se para ele, suas mãos aninharam seu rosto. — Wrath, meu
amor. – Ela pressionou seus lábios nos dele. — Vamos descer para a festa.
Ele agarrou seus braços. Os olhos dela eram lagos onde se afogar, e o único
terror que ele conhecia nesta sina mortal, era que algum dia eles poderiam não
estar ali para ele se afogar.
Coisas tão prosaicas, mas por ter sido ela a juntá-las, tocá-las, consumi-los,
eram elevadas em valor: Ela era a alquimia que transformava tudo aquilo, e ele
mesmo, em ouro.
Ele proferiu algo vil que esperava ter sido abafado nas dobras do veludo.
Mas como ela riu suavemente, achou que tinha ouvido.
Malditos.
Não havia nada que o fizesse sentir seu sexo masculino mais sutilmente.
P á g i n a | 227
Quando a cacofonia se tornou tão alta que engolia os sons de seus passos,
ele se inclinou para o ouvido dela. — A gente devia cumprimentá-los bem
rapidamente.
Em certo ponto, quando seu pai ainda era vivo, ele podia lembrar de ficar
impressionado pelo grande salão e elegância da aristocracia. Agora? Mesmo que
os limites da construção fossem tão grandes quanto um campo de caça, e suas
lareiras duplas do tamanho de habitações civis, ele não nutria ilusões de
grandeza e honra.
da mesma forma que era dever da rainha agradecer aos reunidos com uma
reverência.
Então foi a vez dos reunidos reconhecerem sua fidelidade com curvas para
os machos e reverência para as fêmeas.
Não que lhe importasse. Ele estava muito mais interessado em quem
dentre eles tinha aborrecido a sua amada. Certamente tinha de ser um deles,
senão todos: Ela não tinha criadas, a seu próprio pedido, então estas eram as
únicas figuras que ela tinha qualquer contato na corte.
Não foi com pouca agressividade que ele passou pela fila e cumprimentou
um a um, de acordo com o protocolo. De fato, esta ancestral sequência de
cumprimentos particulares no meio de uma recepção pública era um modo de
reconhecer e reafirmar a posição dos conselheiros com a corte, uma declaração
da importância deles.
Ele podia lembrar de seu pai fazendo exatamente isto. Exceto que o
macho parecia realmente prezar as relações com seus cortesãos.
Quem tinha...
De início, ele supôs que sua amada tinha tropeçado e então exigia mais da
força de seu braço. Aí, no entanto, não foi um passo em falso. Ela perdeu o
equilíbrio...
Todo ele...
A sensação de estar sendo puxado pelo braço o fez virar a cabeça, e foi
quando ele viu acontecer, a forma vital de sua shellan ficando frouxa e caindo
para a frente.
P á g i n a | 230
Com um grito, ele esticou a mão para segurá-la, mas não foi rápido o
bastante.
Capítulo DEZOITO
Silêncio.
— Caralho.
Sua única chance era tentar subjugar o guarda com a arma, e como isto
aconteceria em sua situação atual, ela não fazia ideia. A menos...
17Chubby Checker (nascido Ernest Evans; Spring Gulley, 3 de outubro de 1941) é um cantor-compositor norte-americano, conhecido
por popularizar o twist com sua gravação, feita na década de 1960, do sucesso de R&B composto por Hank Ballard, “ The Twist”.
P á g i n a | 232
Oh, Deus, ela não podia acabar ali. E não daquele jeito... Não era uma
doença ou um acidente em uma estrada. Isto envolveria sofrimento
deliberadamente infligido, e depois? Benloise era exatamente o tipo de
doente fodido que enviaria um pedaço dela para ser enterrado.
Ao imaginar sua avó com somente uma mão ou pé para colocar dentro
de um caixão, ela sentiu seus lábios se moverem.
Deus, por favor, me deixe sair desta viva. Pelo amor de vovó. Deixe-me
sobreviver a isto, e eu prometo que largo esta vida. Eu a pegarei e a levarei para algum
lugar seguro, e eu nunca, nunca mais vou fazer algo errado de novo.
O homem que desceu a escada era aquele que tinha a imensa marca de
nascença no rosto. Vestia calças de combate pretas e uma camiseta sem
mangas, ele era sombrio, peludo e louco.
Ele estapeou seu rosto, e quando sentiu o gosto de sangue na boca, ela
descobriu que ele tinha cortado seus lábios... Mas qualquer dor seria somente
uma gota no balde de agonia de sua coxa.
P á g i n a | 233
— Cadela! – Outro tapa, ainda mais forte. — Não brinca comigo, porra!
O sutiã dela tinha fecho frontal e ele soltou, o ar gélido atingiu sua pele.
Ela cerrou os dentes quando ele a tocou, e teve de forçar seus membros
a ficarem imóveis quando ele começou a mexer na cintura de suas calças. Do
mesmo jeito que o sinalizador que tinha encontrado no porta malas, ela só
tinha uma chance nisso, e ela precisava que ele estivesse bem e
adequadamente distraído.
Quando as mãos dele foram para o meio de suas pernas, ela não
conseguiu conter o pânico de seu corpo diante da invasão... Não importava
o quanto seu cérebro comandasse, suas coxas se apertaram em volta dos
pulsos dele.
— Está acordada agora? – ele murmurou. — Você quer isto, não quer.
P á g i n a | 234
Relaxe, ela disse a si mesma. Você está esperando por uma coisa e
somente uma coisa.
Ele retirou a mão. E então o som de um zíper sendo baixado deu a ela
incentivo extra para abrir as pernas. Ela precisava dele tentando montá-la.
Abrindo ainda mais as pernas dela, ele ficou apoiado nas mãos e
joelhos e tentou se colocar em posição, por cima dela.
Torcendo o mais forte que podia, ela ignorou os gritos de dor de sua
coxa e cabeça e girou com cada pingo de força que tinha. O guarda soltou
um urro agudo, como um cachorrinho que tivesse caído em uma frigideira
grande, e caiu de lado.
Foi tudo o que ela precisou. Empurrando-o para longe dela, ela pulou
para ficar em pé enquanto ele colocava a mão sobre os genitais e se encurvava
como uma bola.
Ergueu o braço bem acima da cabeça, e trouxe o peso para baixo com
tanta força quanto pode, atingindo o crânio dele. O homem imediatamente
soltou um rugido e tentou se cobrir, com os braços tentando formar uma
barreira para o crânio.
P á g i n a | 235
Ela atacou abaixo das costelas, para o suave monte de carne que
protegia os rins e o pâncreas. Repetidamente, até ele tentar outra defesa. De
volta a cabeça... Mais forte esta vez. Até que ela estava ensopada de suor
mesmo que estivesse quase nua e o ar da cela fosse gelado.
Repetidas.
Vezes.
Sem parar.
E esta foi a coisa mais estranha: Ela tinha toda a força do mundo
durante os golpes; era como se estivesse possuída, seus ferimentos ficaram
em plano de fundo em deferência da necessidade superior de assegurar sua
sobrevivência.
Ela nunca tinha matado uma pessoa antes. Já tinha roubado muito.
Desde que tinha onze anos, certamente. Mentia quando precisava. Invadia
todo tipo de lugar onde não era bem-vinda. Com certeza.
Mas morte sempre a tinha atingido em um nível que não queria chegar.
Como heroína para um fumador de maconha, era o avô de tudo... E uma vez
cruzada a linha? Bem, então você realmente era um criminoso.
Jesus... Quando ela tinha rezado pela sobrevivência, ela não tinha
considerado que Deus poderia lhe dar o poder de quebrar um de seus Dez
Mandamentos.
P á g i n a | 236
Tontura, náusea, com uma dor de cabeça que era tão forte que sua visão
sumiu e voltou, ela tentou pensar.
Ao guardar o celular, ela deslizou as barras atrás de si. Ela tinha certeza
absoluta que o bastardo estava morto, mas filmes de terror e todos os filmes
da franquia Batman sugeria certificar-se duplamente era uma boa pedida
quando se tratava de vilões.
Pesquisa rápida. Havia mais duas celas iguais às que ela estava. Ambas
vazias. E só.
antes de subir, e ouviu. Não havia sons de movimento lá em cima, mas havia
um cheiro distinto de hambúrguer frito.
Sola colou-se à parede lateral dos degraus, com a arma a sua frente, o
manquejar de sua bota direita mantido a um mínimo, mesmo que ela tivesse
de parar duas vezes recuperar o fôlego.
O primeiro andar tinha muitas luzes acesas e nada mais: Havia um par
de catres no canto, uma cozinha embutida com pratos sujos na pia rasa.
Que seja o outro cara morto, ela pensou... E merda, que tipo de noite
era aquela que a fazia desejar aquilo?
Ela tinha feito aquilo com o sinalizador? Jesus... E o cheiro não era do
hambúrguer de alguém. Era carne humana queimada até criar uma casca.
É, claro, sem dúvida qualquer carro por ali teria um rastreador de GPS,
igual ao celular.
Tentou mais vezes, e viu que a porta estava trancada por fora.
Maldição! E no chaveiro do carro, não havia mais chaves. Nada de...
A porta podia ser aberta pela impressão digital, por dentro e por fora.
Olhando por sobre o ombro, ela olhou para o corpo do outro lado do
cômodo... Especificamente para a mão que estava pendurada para fora do
catre, quase tocando o chão.
— Caralho.
Voltando ao cara morto, ela sabia que arrastá-lo não ia ser fácil.
Especialmente com sua perna ruim. Mas que outra escolha ela teria?
Vermelho.
Oh, Deus, eu prometo sair desta vida se me deixar ver o rosto de minha avó mais
uma vez. Espere, aquilo poderia acontecer se ela estivesse a beira da morte e
de alguma forma, vovó viesse visitá-la no hospital. Querido Deus, se eu puder
só olhar nos olhos dela e saber que estou em casa, a salvo com ela... Eu juro que a
levarei para algum lugar longe e nunca mais arriscarei minha vida.
Capítulo DEZENOVE
Montanha Gore18
Tinha sido uma longa viagem. Horas e horas, cada milha embaixo dos
pneus do Range Rover como uma infinita sucessão de obstáculos a serem
superados.
18 Gore = filme de Gore ou filme splatter é um subgênero do cinema de terror que, deliberadamente, se concentra em representações
gráficas de sangue e violência explícita.
19 Killington = de “killing” que significa matar, matança.
P á g i n a | 242
E pelo resto de sua vida, ele jamais esqueceria o que saiu de lá.
Marisol, nua da cintura para baixo, uma parka que ele reconheceu
esvoaçando selvagemente atrás dela ao se lançar na noite. Iluminada em
cheio pelos faróis, ela brilhava em vermelho, sangue corria de suas pernas e
de seu torso fantasmagórico, seu rosto sombrio como a morte enquanto
apontava uma arma bem a sua frente.
Ele ergueu as mãos, mas não era como se ela pudesse vê-lo. — É Assail!
Ela cambaleou e parou, mas como uma boa garota ela manteve a arma
apontada, enquanto piscava repetidas vezes, procurando enxergar. —
Assail?...
Em seus pesadelos.
Ele queria dizer a Ehric para apagar aquelas luzes, mas não sabia quem
mais poderia estar lá com ela e se alguém estaria atrás dela.
O jeito que as mãos dela tremeram quando as levou até a cabeça, o fez
querer ajudá-la. Mas ela parecia incerta do que era realidade e o que podia
ser um fantasma de sua imaginação. E com aquela arma, ela era tão perigosa
quanto vulnerável.
Quando ela deu outro passo e mais um, e ainda ninguém surgiu atrás
dela, ele teve alguma esperança de que nem todo aquele sangue fosse dela.
— Venha para mim. – quando ouviu sua própria voz partir, ele
conseguiu sentir Ehric lançar-lhe um olhar do SUV. — Minha querida...
Marisol moveu aquela mão trêmula para abrigar os olhos, e por alguma
razão, aquilo trouxe o fato de que ela estava nua em foco total.
Sua garganta inchou tão completamente que ele não conseguia engolir.
P á g i n a | 244
Foda-se.
Com ela no colo, ele se virou e correu para o Rover blindado, correu
para aqueles faróis como se fossem uma celestial zona de segurança.
Ehric e seu irmão anteciparam o que ele queria com perfeição. Eles
pularam do Rover e abriram as portas traseiras... Ao mesmo tempo em que
tiraram Benloise do porta malas e mantiveram o homem fora da vista.
Ele tocou o lindo rosto dela. — Eu preciso fazer algo aqui por um
momento. Coisas que devo cuidar. Te encontro na estrada. – Ele se inclinou
para fora. — Ehric! Evale!
Mas não, vingança precisava ser executada, e ele era o que devia
equilibrar a balança.
Seus olhos frenéticos e assustados foram para frente e para trás como
se ela estivesse desesperadamente tentando se controlar.
Ehric agarrou seu antebraço. — Fique tranquilo, meu primo. Ela será
tratada como uma irmã preciosa.
Oh, agora ele desejava que a pista fosse asfaltada. Ele queria que fosse
uma rodovia com um limite de velocidade de cem quilômetros por hora. Ou
melhor ainda, que eles tivessem vindo de helicóptero.
Pop!
Assail foi até lá e tentou por o cara de pé. Quando Benloise falhou em
conseguir ficar em pé sozinho, foi o trabalho do momento arrastar seus
sessenta e três quilos para o interior. Então, juntos, seguiram para a escada.
E lá estava o mal.
O piso inferior era feito de um grande espaço aberto com três celas e
uma parede de horror. Uma das celas não estava vazia. Havia um homem
com o rosto e pescoço brutalizados, deitado de costas, encarando o que ele
só podia esperar que fosse o Inferno. Seu braço direito tinha sido puxado
pelas barras de aço, e a poça de sangue anunciava que era dele a mão tinha
sido arrancada.
Foi naquele momento que ele soube que tinha perdido para ela.
P á g i n a | 248
Oh, Marisol, como eu queria que você não tivesse de ser tão corajosa.
Antes que ele perdesse as estribeiras, ele foi para as escadas, deixando
as luzes acesas de modo que Benloise tivesse plena consciência de onde
estava: uma prisão que ele mesmo construiu com nada além de restos de um
de seus guarda-costas para lhe fazer companhia.
Subiu as escadas dois degraus por vez, soube que havia uma
possibilidade de que alguém viesse e libertasse o distribuidor, mas era remota.
Benloise era notoriamente discreto, e com a morte de Eduardo, as únicas
pessoas que sentiriam sua falta eram os guardas e equipe... E dada a maneira
discreta que o homem operava, levaria um tempo até as tropas se reunirem
para conversar e descobrirem que cada indivíduo estava tão fora do circuito
que não houve contato de seu superior com qualquer pessoa da equipe por
um tempo.
Depois disto? Era uma pergunta aberta onde qualquer um deles poderia
realmente ir a procura do chefe. Pessoas que operavam no submundo se
dispersavam quando se tratava de complicações como esta... Ninguém ia
arriscar a ser assassinado ou algemado por autoridades humanas só para
salvar a pele de alguém.
P á g i n a | 251
Estava.
A próxima chamada de Assail foi para sua própria casa, e quando a voz
feminina de sotaque carregado atendeu, ele se pegou piscando para afastar
as lágrimas.
— Não está morta, – a idosa gemeu. — Meu Deus, não me diga que
ela...
Obrigado, Virgem Escriba, ele pensou, mesmo que não fosse religioso.
P á g i n a | 253
Assail ficou confuso, Ehric se virou, olhou para ele... E recuou. Com
um círculo rápido, ele indicou o próprio rosto.
Por cima das pias, havia um painel de aço inoxidável que servia como
espelho.
— Caralho.
Não era o que qualquer fêmea quisesse ver, especialmente depois de ter
sido sequestrada: O rosto dele estava totalmente coberto de sangue, seu
queixo e lábios marcados com as manchas... E suas presas... As pontas das
presas estavam expostas.
P á g i n a | 254
Ao correr de volta ao Range Rover, ele soube que teria de fazer uma
terceira ligação quando sua Marisol terminasse com a avó: sua fêmea ia
precisar de um médico.
Capítulo VINTE
Oh, além disto, tinha aquele machado feliz pendurado sobre sua cabeça
do talvez você tenhaaa um tumoooooor. Parafraseando Arnold.
Com um bing! Seu celular anunciou que uma mensagem de texto tinha
chegado. Pegou a coisa, franziu o cenho ao que Tohr tinha enviado a todos.
Precisamos de reforços na clínica. Visitantes de fora em 55 minutos. Confirmar
posições, imediatamente.
Não sabia como terminar as coisas. Assim que chegassem em casa, ele
iria pedir a Fritz para empacotar algumas coisas que Beth tinha pedido... E
então encontraria Wrath. Falaria sobre coisas difíceis. Dizer ao Rei que sua
companheira não iria voltar para casa hoje iria ser tão divertido quanto ter
uma daquelas convulsões, mas alguém teria que contar ao macho sobre os
planos dela... E evidentemente não iria ser Beth.
Ela lhe disse claramente que não estava com grande pressa de falar com
o marido.
Depois de deixar o centro médico, ela tinha pedido ao Fritz para dirigir
por aí enquanto ela se acalmava, com a sugestão de John, em um restaurante
chinês 24 h na Trade... Que por coincidência acontecia de ser, oh, ei, bem no
fim da rua do Iron Mask: não era como se John não pudesse tomar conta de
sua irmã... Mas era bom saber que tinha bastante reforço disponível alguns
quarteirões adiante graças a sua companheira e seu esquadrão de gigantes.
E era engraçado, por mais que detestasse ficar no meio das coisas, não
havia nada que ele não fizesse por ela. Nada.
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O Irmão ainda tinha o Escalade, é claro. Só que era uma versão mais
nova dele.
Deus, ele queria ter conhecido o pai. Queria que o Irmão ainda
estivesse por ali... Porque ele tinha certeza absoluta que precisava de uns
conselhos de pai, sobre como falar com Wrath a respeito do que estava
rolando.
Porra.
Diante daquele olhar, John andou para frente. Sim, quase todos os
Irmãos estavam lá com Wrath... Sem dúvida, eles tinham se rendido ao seu
humor e tinham ficado na defensiva.
— Não, eu quero saber agora onde caralhos minha shellan está! – Wrath
berrou.
Sem parar para respirar, o Rei disparou como um tornado para sua
próxima vítima... O pesado sofá de couro do qual Rhage tinha acabado de se
levantar.
John pulou para o lado quando um barril veio voando para sua cabeça.
Felizmente, Vishous conseguiu agarrá-lo antes da coisa atingir o chão de
mosaico do vestíbulo... Que teria sido uma merda consertar.
— Eu cuidarei disto.
Só que não era uma Bic elegante. Com um sopro rápido, Lassiter
descarregou um pequeno dardo pela sala... E quando atingiu Wrath no
ombro, o impacto foi como se o Rei tivesse sido ferido por uma bala no peito.
— Se você o matou...
Todos olharam para a arcada. Fritz estava parado lá com uma maleta
Louis Vuitton em uma mão e a expressão de alguém testemunhando um
acidente de carro a sua frente.
Ele esperou como o inferno que Beth tivesse entrado naquela casa e
trancado a porta como ela tinha prometido, e deitado para dormir durante o
dia.
Capítulo VINTE E UM
De repente, ela era quem tinha sido antes de conhecer Wrath... Uma
mulher humana, de vinte e poucos anos, que vivia com seu gato em um
apartamento studio atulhado, tentando ganhar a vida em um mundo, com
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nada e ninguém às suas costas. Certo, ela tinha amado partes de seu trabalho,
mas seu patrão, Dick o Imbecil, tinha sido um pesadelo absoluto e misógino.
E sim, ela era adequadamente paga, só que não restava muito após pagar o
aluguel... Ou oportunidade de avanço de carreira no Caldwell Courier Jornal.
Oh, e romance de qualquer tipo tinha sido tão fictício e fora do horizonte,
quanto para o Cavaleiro Solitário.
Seguindo-se àquele pequeno horror, eles tinham vindo para cá... Onde
encontraram Rhage no banheiro do térreo, costurando seus ferimentos. Foi
depois daquilo que Wrath a tinha levado pela colorida e iluminada escadaria
para o subterrâneo... Ao covil escondido.
Por falar em entrar na toca do coelho. Só que tinha feito tanto sentido,
que a tinha deixado confusa... A desconexão das pessoas ao seu redor, sua
P á g i n a | 264
E pensar que ela supôs que tudo o que precisava era sair de Caldwell.
Não. Sua transformação estava vindo, e sem Wrath, ela teria morrido.
Sem dúvidas.
Ele a tinha salvo de tantas maneiras. Amara-a com seu corpo e alma.
Tinha lhe dado um futuro que ela jamais teria sonhado.
Naquele momento? Tudo o que ela queria era voltar para aquele início.
As coisas tinham sido tão mais fáceis...
Sua mãe.
Que tipo de vida a mulher tinha vivido? Como Darius apareceu em sua
vida? Do que Wrath tinha dito no início, os dois não ficaram juntos por muito
tempo antes dela descobrir o que Darius realmente era... E fugir. Não foi até
descobrir estar grávida que ela voltou a vê-lo, assustada pelo que traria ao
mundo.
Então só Deus sabia sobre a coisa da gravidez. Mas se ela tivesse sorte,
ela entraria em sua necessidade, e Wrath de alguma forma viria e ela daria a
luz a...
— Bosta.
Cristo, enquanto ela se sentava ali, cercada pelas fotos que Darius tinha
dela, ficava ainda mais convencida de que queria um filho.
V, não era somente anti-Apple; ele estava convencido que o legado de Steve
Jobs era a raiz de todo o mal no planeta...
E uma vez que Wrath não tinha sido razoável, isso não significava que
ela tinha de agir do mesmo modo. Se ela queria ter algum espaço pelas
próximas doze horas ou mais, ela realmente precisava lhe dar a cortesia de
dizer-lhe isso ela mesma... E não usar seu irmão como mensageiro.
Não havia correio de voz para Wrath porque a glymera tinha totalmente
abusado do número que lhes tinham dado. Que era porque ele acabou com
uma conta de e-mail do inferno.
O próximo número que tentou foi do aparelho de seu quarto, o que era
tão impublicável, que ela nunca tinha realmente ligado para lá. Ninguém
respondeu.
— Ah... Por quê? – Será que Wrath tinha dito à Irmandade que ela não
iria voltar para casa? Provavelmente não. — Não importa. Eu só... Estou
procurando Wrath. Sabe onde ele está? Tentei o escritório e nosso quarto e
ele não atendeu.
Ah, droga. Ela estava sendo paranoica. Melhor do que ter razão, então.
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— Quanto a Wrath, a última vez que o vi, ele estava... – houve uma
pausa. Então um ruído como se o cara estivesse trocando o celular para a
outra orelha. — Ele estava tirando um pequeno descanso.
— Descanso como?
— É. Descansando.
— Verdade?
— Bem, que bom, – ela ouviu-se dizer. — Eu fico feliz por ele.
— Beth...
Não, não que ela ligou. Homens não eram os únicos a quem era
permitido manter o orgulho; mulheres não tinha, de ser o “sexo frágil”.
O alívio honesto que veio pela linha foi atordoante. — Oh, que boa
notícia. Fico feliz.
— Sim. Estou. – Ela se pegou esfregando a coxa para cima e para baixo.
— Ouça, posso perguntar uma coisa?
— Sim. Claro.
Afinal, Wellsie e Tohr tinham tido suas discussões... Algumas das quais
Beth tinha ouvido em primeira mão bem antes da linda ruiva ser levada tão
cedo. Cara, Wellsie tinha sido destemida para dizer exatamente o que
pensava a qualquer um, inclusive seu hellren. Ela nunca ficava brava sem um
bom motivo, é claro, mas você não quereria ficar no caminho dela se não
precisasse.
As pessoas a respeitavam.
— Beth?
Abrindo a boca, ela quis falar, mas havia outro problema. A pessoa
com que precisava falar era Wrath. Qualquer outra pessoa era só enrolação.
Houve uma pausa. Então, o Irmão riu em seu costumeiro tom barítono.
— Está me dizendo que há outra maratona do Godzilla passando?
Ela só queria voltar para quando as coisas eram mais simples. Mais
fáceis. Mais próximas.
Ele se recuperou mais rápido que ela. — Não se sinta mal. O passado
é o que é... Bom e ruim, está escrito e não pode ser mudado. E há consolo
nisto também.
Houve uma longa pausa. — As partes boas são mais luminosas porque
você pode confiar nelas. E as partes ruins não podem ficar mais trágicas pela
mesma razão. O passado é seguro porque é indelével.
Pensando bem, ele tinha estado nervoso quando ela chegara aquela
noite. A ponto de ela ter considerado ir embora.
— Sim. – Ele pigarreou. — Sabe, não é tarde demais. Você ainda pode
voltar se sair agora.
Ela não podia contar a quantidade de vezes que as pessoas tinham lhe
agradecido por trazê-lo para o reinado... Como se o amor fosse alguma
espécie de poção mágica que transformava um monstro em… Bem, não em
um cara totalmente civilizado, mas pelo menos em alguém que estava
disposto a assumir suas responsabilidades.
Mas também, quando tinha sido a última vez que ele realmente tinha
dormido durante o dia? Não desde antes de ser ferido.
Sua cabeça se voltou para o som carregado daquela voz. Mesmo que
quase não houvesse luz dentro do SUV, ela conseguia imaginar o rosto de
Assail, como se estivesse sob um holofote: olhos profundos da cor da luz da
lua, espessas sobrancelhas escuras, lábios carnudos, maxilar forte. O pico de
viúva e o cabelo preto azulado.
Ela abriu a boca para falar, mas nada saiu. — Minha cabeça... Não está
funcionando direito.
21BTU (também pode ser escrito Btu) é um acrônimo para British Thermal Unit (ou Unidade térmica Britânica). Normalmente serve
para indicar a potência do ar condicionado.
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— Está tudo bem. – Como que por impulso, ele estendeu a mão em sua
direção, mas então a deixou cair como se não soubesse o que fazer.
Sola lutou para engolir, sentindo a boca seca. — Mais água, por favor?
Ele se moveu tão rápido que foi como se estivesse só esperando uma
chance de se por em movimento. Enquanto ele abria outra garrafa de água
mineral, ela começou a empurrar o saco de dormir para liberar as mãos... E
não conseguiu. O tecido de nylon parecia pesar mais do que uma camada de
asfalto.
— Oh. Certo. – Jesus, ela tinha se esquecido que estava seminua, ferida,
e precisando de um bom e longo banho. — Obrigada.
E assim foi.
— Sim.
Assail se recostou, e agora, sob a luz abundante, ela o viu enfiar a mão
direita sob o casaco.
Sola franziu o cenho. — Você... Por que está pegando sua arma?
Ao cruzar seu olhar com o dele, ela teve a sensação mais estranha em
seu peito. Parte dela era medo, e a confundiu. Com a situação na qual tinha
estado, era melhor seu salvador estar carregando uma Ponto 40, preparado
para usá-la.
A outra parte disto era... Nada que ela quisesse analisar mais
profundamente.
P á g i n a | 276
Ele olhou de volta para ela. — Não tenha medo. Eles me devem uma.
— Fique.
Quando chegaram perto para abrir sua porta, uma pontada de medo
fez Sola puxar o saco de dormir até a altura do queixo.
A mulher que enfiou a cabeça pela porta era atraente, com cabelos
loiros curtos e olhos verdes escuros. — Oi, eu sou a Dra. Jane. Gostaria de
dar uma olhada em você, tudo bem?
Pelo menos não até Assail aparecer atrás da médica. — Está tudo bem,
Marisol. Ela vai cuidar de você.
Sola se pegou olhando nos olhos dele por um longo tempo. Quando
pareceu satisfeita com o que viu, suspirou. — Está bem. Está bem...
Assail não estava contente com seus coldres vazios, mas Rehv tinha
sido bem claro: Ou ele e seus primos entregavam as armas, ou a fêmea
humana não seria tratada.
— Não, fique aí, Marisol. Vamos dar a volta. – A doutora saiu e acenou
para a equipe. — Os sinais vitais estão baixos, mas estáveis. Ferimento a
arma de fogo na coxa direita. Possível concussão. Talvez esteja em choque.
Pode ter sofrido outros traumas que não quis me falar.
Assail sentiu o sangue deixar sua cabeça, mas não permitiu que a
vontade de desmaiar o dominasse...
— Ele não vai chegar perto dela. – Assail expôs as presas. — Ela está
nua da cintura para baixo.
Recuando, ele ficou perto dos Irmãos, balançando a cabeça, mas sem
dizer nada.
P á g i n a | 279
Quando a médica abriu a porta de Marisol, ele odiou o jeito que sua
mulher se encolheu antes de conseguir se impedir. E então o olhou
fixamente.
Parecia tão correto empurrar todo mundo para longe e ser o macho a
cuidar dela: Inclinando-se para o interior do SUV, passou os braços sob ela,
sendo cuidadoso em trazer o saco de dormir junto, para que não ficasse
exposta.
O sibilo que ela tentou segurar o fez sentir náuseas, mas ele tinha de
tirá-la dali... E uma vez endireitado, ela pareceu encontrar posição cômoda
em seus braços.
Assail caminhava o mais suavemente que podia, cada vez que Marisol
se enrijecia em seus braços ou respirava fundo expressando sua dor,
atingindo-o diretamente em seu próprio peito até que fossem os seus pulmões
a queimarem, a sua respiração a se entrecortar, a sua perna a doer.
P á g i n a | 280
— Fique.
P á g i n a | 281
Ele se aproximou de sua cabeça, virou as costas a seu corpo, para que
ela pudesse travar contato visual com seu rosto, mas que ele não pudesse ver
nada que comprometesse sua privacidade.
Ele esperava que ela o soltasse ao se deitar. Mas ela não o fez... E seus
olhos não desgrudaram dos dele. Nem quando a médica retirou o saco de
dormir e a cobriu com um cobertor. Nem quando perguntas sobre uma
possível concussão foram feitas, e reflexos foram testados. Nem quando a
ferida da coxa foi cutucada e costurada. Nem quando uma máquina portátil
de Raios-X foi trazida e uma imagem foi tirada de diferentes ângulos.
Antes dele poder responder, Marisol apertou sua mão tão forte que ele
piscou. — Não, – ela disse cheia de tensão. — Em nenhum outro lugar.
— Isto não é um sintoma de aborto, já que ela não tem hemorragia. Não,
eu acredito que esta doença é por conta de algo diferente. Por favor, meu
senhor, vamos até a lareira para conversarmos sem perturbá-la.
Wrath permitiu-se ser arrastado para mais perto das chamas. — Ela está
doente então, com a febre?
Wrath voltou o olhar para sua companheira. Ele nunca tinha sido sensível.
Agora o terror deslizou sob sua pele, possuindo-o como um espírito maligno,
dominando-o inteiro.
— Meu senhor, eu diria para alimentá-la agora. Agora e por quantas vezes
ela precisar de sua veia. Talvez a troca de energia possa reverter isso...
Realmente, se ela tem qualquer esperança, é você. E se ela se levantar, eu lhe
darei água fresca somente, nada de cerveja. Nada que cause mais depressão em
seu sistema...
— Saia.
— Deixe-nos... Agora!
Voltou a se ajoelhar.
Wrath caiu de joelhos no chão perto da cabeça dela. Acariciou seu cabelo
sobre os ombros e seguiu acariciando o braço, sendo cuidadoso para não
colocar nenhum peso na carícia.
Ele sentia como se a claridade das memórias devessem ser uma porta, que
ele pudesse atravessar, e lá tomaria a sua mão, e absorveria seu aroma, e
sentiria a leveza no coração que acompanhava a saúde e o bem-estar... E a
colocaria de volta no presente, naquela condição.
Erguendo-a em seu antebraço livre, ele trouxe a fonte de seu sangue até
os lábios dela. — Anha, alimente-se de mim... Alimente-se de mim...
Os lábios dela se abriram, mas não por estar obedecendo à sua voz. Não,
era somente o ângulo de sua cabeça.
Quando gotas vermelhas caíram em sua boca, ele rezou para que elas, de
alguma forma, encontrassem seu caminho garganta abaixo, se enfiassem em
suas veias, revivendo-a com sua pureza.
Este não era o destino deles, ele pensou. Eles deviam ficar juntos por
séculos, e não separados apenas um ano após se conhecerem. Isto não era...
Para eles.
Baixou sua cabeça até a palma fria da mão dela, e rezou por um milagre. E
quanto mais ele ficava ali, mais ele se juntava a ela em um estado que só ficava
a uma batida de coração da morte.
*****
Wrath não despertou além da superfície do sono, como uma boia que
flutuasse das profundezas, para emergir sobre uma superfície instável.
Crash!
P á g i n a | 287
Lareira acesa.
Ele não estava em seu quarto. E Beth não estava com ele.
— Beth...?
Um ruído distante.
Cambaleando pelo espaço desconhecido, ele não foi até a porta, ela que
veio a ele, os painéis duros atingindo seu peito. Tateou em busca das
maçanetas, abriu o trinco e...
— Ei, ei...
Wrath queria voltar ao sofá, porque não queria que os olhos funcionais
na casa o vissem assim... Mas seu corpo tinha ideia diferente. E ao cair de
bunda, George aproveitou a oportunidade para pular em cima dele,
cobrindo-o como um cobertor.
P á g i n a | 288
Que pergunta cretina. Ela não estava aqui, e era sua maldita culpa.
— Merda, George.
— Merda.
Cara, ele devia ter deixado Vishous trazê-lo aqui para lhe dizer o que
estava acontecendo. Mas, pelo menos, só havia dois lugares onde sua
companheira poderia estar. Um era o Lugar Seguro da Marissa, e o outro era
a casa de Darius. E sem dúvida, aquilo era o que John tinha tentado dizer.
Porra, ele pensou. Aquilo não era ele e Beth. Não era assim que deviam
terminar.
discussões, claro. Ele era um imbecil de cabeça quente e ela não aguentava
nenhuma merda dele. Dã.
A mesa pareceu ser a última merda de coisa com a qual ele trombou, e
descobriu onde o telefone estava quando sua mão masculina bateu no
receptor e o derrubou da base. Levando a coisa ao ouvido, tateou em busca
dos números e então teve de voltar a por no gancho antes de conseguir voltar
a discar.
Eu não acredito que acabamos assim. Isto simplesmente... Não somos... Nós.
Subitamente, ele olhou para ela, uma luz intensa nos olhos fazendo-os
parecer mais brilhantes que o usual. — Fico contente que minha voz lhe
agrade, – ele disse roucamente...
— Eu te alimento.
— Eu...
Por alguma razão, ela voltou a pensa naquela noite em que o encontrou
lá fora, na neve, quando ele a tinha rastreado ao sair de sua propriedade e a
tinha confrontado no carro. Por falar em ameaça no escuro... Jesus, ele a
tinha assustado para caralho. Mas não tinha sido só isso o que tinha sentido.
— Não olhe para isto, – disse ele, suavemente. — Aqui. Para você,
escolhi somente o melhor.
22Pottery Barn é uma rede de lojas de móveis com qualidade, presente nos Estados Unidos e Canadá. Ficou popular no mundo todo
após ser muito citada no seriado Friends. Também foi rapidamente citada no seriado The Big Bang Theory, e no episódio Piloto de
Glee e Breaking Bad.
P á g i n a | 293
Fechando os olhos, ela gemeu. É, ela não estava com fome. Nem um
pouco.
O sorriso que iluminou o rosto dele não fez sentido. Era brilhante
demais para ser só por ter trazido a bandeja... E ele deve ter percebido, porque
virou a cabeça, de modo que ela só viu de relance sua expressão.
De seu ponto de vantagem, ela mediu cada movimento que ele fez: o
jeito que ficou em pé, agarrou as extremidades da bandeja com mãos grandes
e elegantes, virou-se, caminhou suavemente.
Por falar em boas maneiras. Ele tinha manejado os talheres com uma
fluidez educada, como se acostumado àquele tipo de coisa em sua própria
casa. E ele não tinha derrubado nem uma gota ao servir o café. Nem tinha
deixado cair qualquer migalha ao levar a comida à boca dela.
Um perfeito cavalheiro.
Difícil conciliar isto com o que tinha visto quando ele tinha lhe
entregado o celular para falar com sua avó. Naquela hora, ele tinha parecido
desequilibrado, com sangue correndo pelo queixo como se tivesse arrancado
P á g i n a | 294
Considerando que ela tinha matado todo mundo naquele lugar horrível
antes de escapar? Ele obviamente tinha trazido alguém com ele.
— Quem?
— Benloise.
— Dois homens...
— Eles iam te matar. E você acha que eles iam ter um pingo de
consciência? Posso te garantir que não.
— Quantos?
— Desculpe?
Sola piscou. Descobrir que ele era um assassino sociopata era realmente
a cereja do bolo, não era?
— Deveria.
Quando Assail sentiu o coração bater forte no peito, percebeu que tinha
se enganado. Ele tinha assumido que manter sua Marisol fisicamente a salvo
e cuidar de Benloise encerraria este horrível capítulo na vida dela:
Uma vez que ela estivesse sob sua guarda, e ele lhe assegurasse o
retorno à avó, então tudo estaria resolvido.
— Marisol... – o tom de sua voz era um que ele nunca tinha ouvido
antes. Mas também, implorar não era de seu costume. — Marisol, por favor.
P á g i n a | 297
— Sabe, se você realmente quiser, você pode mudar o seu futuro. Você
pode parar de se envolver com os da laia de Benloise.
Mesmo que ela só tenha concordado, ele teve a sensação de que ela
estava em paz com a aposentadoria, como se podia dizer. E por alguma
razão, aquilo o fez querer chorar... Não que ele fosse admitir isso para
alguém, inclusive a ela mesma.
Quando ela ficou em silêncio, ele olhou para ela, memorizando tudo,
de seus cabelos escuros e ondulados, cuidadosamente lavados com shampoo
durante seu banho no banheiro daqui, passando pelas bochechas pálidas, até
os lábios perfeitamente desenhados.
Pensando em tudo o que ela tinha passado, ele ouviu-a dizer que ela
não tinha sido estuprada... Mas só porque ela matara o bastardo primeiro.
P á g i n a | 298
Aquele na cela, ele pensou. Aquele cuja mão ela tinha usado para sair
da instalação.
Marisol virou a cabeça de volta para ele, seus olhos de mogno buscando
o dele. — Onde nós estamos?
Bem, por mais que a distorção da realidade fosse algo que ela desejasse
evitar, não ia revelar o fato de não ser humano, mas um membro de uma
espécie que ela associava com Drácula. Muito obrigado, Stoker.
— Você tem uns amigos bem chiques. Você trabalha para o governo?
— Humano...?
— Obrigada, – ela soluçou contra seu pescoço. — Ela é tudo para mim.
— Sobre o quê?
Tudo o que ele pôde fazer, foi menear a cabeça e quebrar o contato
inteiramente ao se levantar. Era isso, ou ele se enfiaria naquela cama com
ela.
E então ela e sua avó poderiam viver com ele. E daquele jeito ele saberia
que ela sempre estaria segura.
Parou de supetão.
Assail esfregou o rosto. Naquele mundo ele achava que podia mesmo
dormir com duas mulheres humanas dentro de sua casa? E por toda a porra
da eternidade... Ele não ia conseguir fazer aquilo nem por uma noite. O que
ele diria quando se tornasse visível que ele não podia sair durante o dia? Ou
ter luz do sol invadindo sua casa? Ou...
— Wrath!
A casa de Darius. Não o quarto que tinha sido de seu pai, mas o que
Wrath usava quando precisava de algum lugar para descansar. Aquele para
onde ela tinha ido ao não conseguir dormir.
E pensar que ela tinha achado que eles tinham chegado ao fundo do
poço. Ou que a distância iria ajudar.
Correndo para a porta, ela abriu-a, correu pelo corredor curto, e voou
para o quarto do pai, mergulhando para o celular na mesinha de cabeceira.
— Oi.
Houve um longo silêncio, e aquilo estava ok: Mesmo que ele estivesse
em casa e ela ali, ainda era como se estivessem se abraçando.
— Um pesadelo?
— Eu não mereço isso. Estava com receio de ligar para seu celular e
você não atender. Eu achei que talvez se alguém estivesse com você,
poderiam atender e... É, sinto muito.
— Está?
P á g i n a | 303
— Eu liguei.
— Ligou?
— Ah... Sim.
morreram, descobri que aquele tipo de coisa tinha acabado ali, com eles.
Como se eles fossem um tipo de amor de um-em-um-milhão ou algo assim.
Mas então eu te conheci.
Mas ele sabia que ela estava chorando. Ele tinha de saber.
Deus, ela sabia que ele não estava feliz, mas não fazia ideia que era tão
profundo.
— Eu não sabia. – Ela suspirou. — Digo, eu sabia que não estava feliz,
mas...
— Mais de um ano.
— Maldição...
— O quê?
*****
Eeeee aquilo meio que resumia tudo, Wrath pensou ao se recostar na
poltrona da mesa da biblioteca. A seus pés, George estava esticado naquele
tapete, aquela grande cabeça quadrada deitada em uma das botas de Wrath
como se oferecendo apoio.
— Agora... – ele ergueu seu dedo indicador para enfatizar mesmo que
ela não estivesse pessoalmente com ele para ver o gesto — Isto não é desculpa
P á g i n a | 308
Ao se inclinar para o lado e colocar a mão sobre seu cão, George ergueu
a cabeça, o olhar dourado, fungando, dando uma lambidinha. Alisando os
pelos longos que cresciam do peito largo, Wrath acariciou-os até as pernas
de George.
Cada um deles disse o que tinham de dizer, do jeito que deviam ter feito
desde o início. Razoavelmente, com calma.
Tudo o que ele pode fazer, foi grunhir em resposta. — Quando você vai
voltar para casa?
Ele realmente não podia colocá-la em uma gaiola dourada só para não
ter de surtar sobre a sua segurança.
E talvez esta coisa de gravidez fosse para ele, somente uma nuance mais
profunda daquela cor de covardice...
— Qualquer coisa.
Dando um passo para trás, ele ajeitou o cabelo recém cortado e vestiu
seu casaco de inverno de cashmere da Marc Jacobs. Deu um puxão em uma
manga, depois a outra; então esticou os braços de forma que as abotoaduras
por baixo do paletó aparecessem.
Esta não era sua antiga casa, a Vitoriana onde Blay certa vez tinha
passado um dia. Este era seu outro local, uma construção térrea de Frank
Loyd Wright que ele comprou assim que foi colocada à venda... Como
poderia não comprá-la? Havia tão poucas delas no mercado.
Verificando pela segunda vez seus Patek Phillipe, ele se perguntou por
que estava fazendo esta horrível peregrinação. De novo.
23Menção ao filme Groundhog Day (No inglês, Dia da Marmota, mas traduzido para o português como Feitiço do Tempo) de 1993,
onde Bill Murray interpreta Phil Connors, um egocêntrico homem do tempo da TV em Pittsburgh, que durante a abertura do anual
Dia da Marmota (2 de fevereiro) em Punxsutawney, encontra-se repetindo o mesmo dias várias vezes. Depois de se deixar levar por
todas as formas de perseguições hedonísticas, ele começa a reavaliar sua vida e prioridades.
P á g i n a | 312
Cada vez que andava pela casa, com móveis Jetsons, e a completa e
total ausência de babados, sentia-se de volta a América pós-segunda guerra...
E isto o acalmava. Ele gostava do passado. Gostava das diferentes pegadas
de várias eras. Adorava viver em espaços que fossem tão autênticos quando
se pudesse fazer deles.
E isto não era como se ele fosse voltar àquela casa Vitoriana muito em
breve. Não depois que ele e Blay tinham essencialmente começado as coisas
lá.
Depois da separação, que tinha sido ideia dele, tinha lido muito sobre
a dor. Os estágios. O processo. E tinha sido bem esquisito... Estranhamente,
a melhor fonte tinha sido um pequeno livro que falava sobre a perda de um
animal de estimação. Tinham questões que você supostamente deveria
responder sobre o que o cão tinha lhe ensinado, ou o que você mais sentia
falta em relação ao gato ou quais tinham sido seus momentos favoritos com
sua cacatua.
Ele não admitiria para ninguém, mas tinha respondido cada uma delas
em seu diário sobre Blay... E tinha ajudado. Até certo ponto. Ele estava
dormindo sozinho, e embora tivesse feito sexo, ao invés de remediar as
coisas, só tinha feito doer mais.
Era tão duro ficar feliz por aquele a quem você amava... Em se tratando
dele estar com outro.
Ninguém atendeu.
P á g i n a | 314
Na verdade, Saxton tinha decidido que toda a sua existência era agora
um foda-se para seu pai. Do que entendia, Tyhm sempre tinha desejado
herdeiros... Um filho, especificamente. Tinha rezado à Virgem Escriba por
um. E então seu pedido tinha sido atendido.
Não tinha sido sempre assim na casa. Mas sua mãe tinha morrido, e
seu segredinho tinha sido revelado então...
O que para ele estava bom. Ele nunca tinha se importado com o cara,
de qualquer forma.
Sua mãe tinha morrido há cerca de três anos, mas isto não era embargo
à perda. De fato, ele não achava que seu pai sentia falta da fêmea.
Tyhm sempre tinha sido mais interessado pelas leis... Que ficavam para
ele ainda mais acima que a glymera.
Abrindo uma fresta, Saxton foi para a sala imponente e octogonal, onde
eram mantidos os volumes das Leis Antigas de seu pai, encadernados em
couro. O teto ficava a nove metros do chão, a modelagem de todas aquelas
prateleiras de mogno escuro, as cornijas sobre as portas entalhadas em
relevos apropriadamente Góticos... Ou pelo menos uma reprodução do
século dezenove.
— Oh, Jesus...
Sucessão.
Saxton ergueu a cabeça na direção das vozes. Estavam mais altas agora
que estava dentro desta sala, embora ainda abafadas por um outro par de
portas fechadas do meio do caminho.
Isto era sério... E Saxton não era estúpido. Havia uma conspiração
contra Wrath na glymera, e obviamente, seu pai estava envolvido.
Mas não hoje. Não, esta noite ele tinha um propósito ainda maior que
a frustração que iria acontecer, sem dúvida, quando seu pai percebesse que
mais uma das tentativas de convencê-lo a voltar a ser hetero falhasse.
*****
Puurrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.
— Você vai passar mais uma noite deitado aí, – iAm exclamou.
Quando o irmão só ficou parado lá, ele soube que este era o canto da
sereia de volta a realidade. E ele queria responder ao chamado, ele realmente
queria. Seu corpo, no entanto, estava sem combustível.
— Dá para ver.
— Responda.
O fato era que não podia nem se lembrar de quando tinha sido... Não,
branco total.
— Por que, para que depois possa fingir que não ouviu direito?
— Como.
— Não foi ele. Nah. Ele foi a segunda visita da noite passada.
— Que hora são? – Embora o fato de que pudesse enxergar pela janela,
a noite afora, parcialmente respondesse àquilo. — Por que não me acordou
quando chegou?
Trez baixou as mãos. Olhou para o irmão, e soube que devia ter ouvido
errado. — Desculpe, quem?
Quando pensava nos pais, Trez mal podia lembrar de seus rostos. A
última vez que os tinha visto já fazia... Bem, outra coisa que não conseguia
lembrar. Mas o que estava claro como cristal? O local onde viviam. Mármore
por todos os lados. Luminárias de ouro. Tapetes de seda. Serviçais por todos
os lados. Joias dependuradas das lâmpadas para criar um efeito de faísca.
Eles não eram assim no início... E aquilo era outra coisa que ele podia
lembrar: ele tinha nascido em um apartamento modesto de dois quartos no
canto mais longínquo da corte... Bom o suficiente para padrões normais.
beneficio adicional tinha sido não ter mais de cuidar de mim. Que porra de
mãe faria isso?
— Não.
— Não.
— Não, você fica aqui. – Quando sua cabeça confusa tentou avaliar as
variáveis, seu cérebro era só faísca, sem fogo. — Além disto, eu não vou.
— Sobre eles?
— Sim.
— Eu não sei.
Ele não confiava em si mesmo com ela em uma noite boa – a última
coisa de que precisava era estar próximo a ela naquele momento.
Ao bater na porta à sua frente, Wrath não sabia o que caralhos estava
fazendo. Talvez desse a sorte de ninguém atender.
Ele teria um pouco mais de tempo antes de fazer uma merda daquelas.
Negativo. A porta se abriu e uma voz profunda disse. — Ei. O que há?
Ao tentar pensar em uma resposta, fechou os olhos por trás dos óculos
escuros. — Z...
Wrath passou uma mão pelo cabelo. — Não, não, é... Está bem.
Cor de rosa.
— Se importa de eu entrar?
Cheeeeeeeeep!
— Obrigado.
Ele nem queria se sentar, mas, se continuasse em pé, iria querer andar
e não demoraria até pisar em alguma coisa que poderia não ser um
brinquedo.
Wrath estremeceu por trás dos óculos escuros, e descobriu que bem
poderia acabar com aquilo. — Beth pediu que eu conversasse com você.
— Sobre?
— É.
Mentiroso.
— Então é verdade.
Wrath baixou a cabeça e desejou que sua visão funcionasse para poder
fingir inspecionar algo. A roupa de cama. Suas botas. Um relógio.
Considerando que o cara tinha sido escravo sexual por quanto tempo?
Aquilo realmente significava algo.
P á g i n a | 326
— Valeu a pena?
Jesus Cristo, estava tudo tão claro como se tivesse acontecido ontem.
Mesmo assim, depois daquilo, Tohr tinha se emparelhado com Autumn e
seguira em frente, dentro do possível a um macho.
Wrath meneou a cabeça. — Eu não sei se consigo falar sobre isso com
o irmão.
*****
No minuto em que Beth entrou no magnífico saguão da mansão,
congelou.
— Ele está bem, – uma voz masculina disse por trás dela.
Seus olhos eram amarelos, iguais aos do pai, mas seu sorriso era todo
Bella, aberto, confiante, amigável.
— Parou? Lassiter atirou um dardo nele. Ele caiu como uma pedra e
tirou um longo, longo cochilo.
P á g i n a | 328
— Não era isso que eu queria dizer, mas... Sim. – Ela esfregou as mãos
geladas. — Ah, você sabe onde ele está?
Agora? Ele era como um irmão para ela... Exceto quando se tratava de
Wrath. Wrath sempre viria antes para ele.
— Pode deixar.
Ao passar pelo Irmão, ela ficou chocada quando a mão dele pousou em
seu ombro e deu um aperto encorajador.
comercial em seus braços musculosos, a dita filha olhando para seu rosto
cheio de cicatrizes com adoração total e absoluta?
Embora uma derrota, sua única graça salvadora... Seria ser morto por
Xcor e Bando de Bastardos.
E a solução dela era arriscar sua própria vida tentando engravidar. Não
era de se estranhar que ele perdera a merda da cabeça.
Mas quanto mais ficava ali, mais ela se perguntava se aquilo valeria a
pena se tivesse de sacrificar o homem a quem amava. E este seria o
resultado... Além do mais, assumir que ela pudesse ficar grávida e parir um
bebê saudável, se eles tivessem um filho, ele iria acabar aqui.
E se fosse uma filha? O homem com quem ela se casasse iria assumir o
poder... E então sua filha teria o prazer de assistir ao seu homem enlouquecer
sob tanta pressão.
Ela sabia que Wrath era o Rei quando se emparelhou com ele... Mas
para ela, naquela época, já era tarde demais. Ela estava loucamente
apaixonada, e mesmo se o emprego dele fosse guarda de segurança ou
governador do estado, ela não se importaria.
Ela não tinha pensado no futuro naquela época. Só estar com ele já era
suficiente.
Haviam boas razões para eles não terem um filho. E talvez aquilo
mudasse no futuro; talvez Xcor e os Bastardos morressem, e a glymera
voltasse, e a Sociedade Lessening parasse de matar...
Porcos voando.
Pelo amor de Deus, ela não era a primeira mulher do planeta que não
podia ter filho só porque queria. E ela não ia ser a última. E todas aquelas
fêmeas? Elas iam adiante. Elas viviam suas vidas e seguiam adiante... E elas
nem tinham o seu Wrath...
E quando ela começasse a pensar que ele não era? Ela ia voltar e se
sentar na frente daquela mesa... E colocar-se-ia no lugar de seu hellren.
Ela não queria decepcionar o pai que nem tinha conhecido. Para
Wrath, ser Rei era a única maneira de honrar o pai dele... E não querer
sujeitar a próxima geração ao trono?
Seu pai não fazia ideia de que estava falando do próprio filho, ao contar
esta.
O crime de ódio tinha sido ao final de seu primeiro encontro com Blay,
e ele quase tinha morrido em consequência dos ferimentos: Ele não tinha
procurado ajuda médica... Havers, o único médico da raça, era um
tradicionalista devoto, e se recusava a tratar homossexuais. E ir a um médico
humano seria impossível. Sim, havia clínicas 24 horas abertas na cidade, mas
tinha-lhe custado toda sua energia meramente se arrastar até sua casa... E ele
tinha ficado envergonhado demais para buscar pela ajuda de mais alguém.
Embora naturalmente seu pai usasse termos mais elegantes para dizer
aquilo.
Saxton não parecia em nada com seu pai, aqueles cabelos preto e olhos
escuros, pele pálida e corpo esguio não lhe haviam sido premiado pela loteria
genética. Em vez disto, sua mãe e ele tinham sido idênticos em disposição e
compleição, loiros e de olhos cinzentos com um brilho saudável em suas
peles.
Seu pai costumava lhe lembrar o tempo inteiro o quão semelhante ele
era à sua mahmen – e pensando bem, ele não tinha certeza de aquilo ser um
elogio.
— É claro.
O telefone na mesa, o que tinha sido feito para parecer antiquado, tocou
com uma campainha eletrônica quase tão real quanto qualquer coisa que não
fosse realmente de bronze produziria.
P á g i n a | 336
Quando seu pai só acenou para ele, teve uma breve sensação de alívio.
Geralmente, a pior parte de qualquer visita era a partida: quando ele ia
embora, e seu pai confrontava uma nova tentativa falha de trazer seu filho de
volta, era como uma caminhada cheia de vergonha novamente.
Saxton não tinha se revelado para sua família. Ele nunca tinha tido
intenção de que seu pai soubesse.
Mas alguém tinha fofocado, e ele tinha quase certeza de saber quem.
Então, cada vez que ele saía, revivia ter sido chutado para fora desta
mesma casa, cerca de uma semana após a morte da mãe: Ele tinha saído com
as roupas nas costas, sem dinheiro e sem lugar algum para ficar na
proximidade do amanhecer.
Ele soubera mais tarde, que todas as suas coisas tinham sido
ritualisticamente queimadas nas florestas atrás da casa da família.
Silêncio.
Tyhm olhou para as portas que Saxton tinha fechado atrás de si...
Como se perguntando por que estariam fechadas. — Você não deveria ter
entrado aí.
Saxton olhou para o chão. Por alguma razão absurda, notou que seus
próprios sapatos estavam perfeitamente polidos. Todos os seus sapatos eram.
Finos e elegantes, arrumados.
Como ser gay, Saxton terminou para o macho. E então ele entendeu...
Era quase como se seu pai estivesse se juntando à rebelião... Só por não
poder fazer nada sobre a falha de sua própria progênie.
P á g i n a | 339
Os olhos de seu pai se ergueram dos livros que iam ser usados para
pavimentar o caminho até a deposição. Quando seus olhares se cruzaram
acima da impressão em azul da destruição de Wrath, Saxton sentiu-se
reduzido a uma criança que, simplesmente, queria ser amada e valorizada
pelo único parente que tinha.
*****
Sola subiu os jeans pelos joelhos e fez uma pausa. Preparando-se,
passou cuidadosamente a cintura da calça pelo ferimento da coxa.
— Você está...
— Isto é realmente... Ah, gentil de sua parte. – Sim, gentil não podia ser
associado a ele de jeito nenhum.
Ela fechou os olhos. Queria dizer sim... E é claro, ela precisava ver a
avó. Mas estava com medo também.
— Perfeitamente.
E Sola aceitou só porque ela queria senti-lo contra ela. Conhecer seu
calor. Estar próxima a seu tamanho e força.
— Não pense nisto, – ele disse ao leva-la pelo grande corredor. — Você
precisa se lembrar disto. Ela verá em seu rosto se você pensar. Nada
aconteceu, Marisol. Nada.
Assail abriu a porta de trás do carro para ela e ofereceu sua mão. Ela
precisou. Impulsionar-se no SUV causou uma ferroada na coxa que fez seus
olhos lacrimejarem. Mas, ao se acomodar, conseguiu colocar o cinto
sozinha, puxando-o sobre o corpo e fixando-o no lugar.
Sola franziu o cenho. Pelo vidro filmado, viu Assail ir a cada homem,
um após o outro, e oferecer a mão. Não houve troca de palavras, pelo menos
não que tenha visto, mas não precisava ter.
Pelo menos ela queria que tivesse levado. Tinha esperança de que, caso
passasse tempo suficiente, ela poderia convencer à sua garotinha interior de
que não tinha quebrado duas vezes o maior dos Dez Mandamentos, quase
P á g i n a | 342
Não conseguiu.
Virando-se, ela olhou para o centro que se afastava, todas aquelas luzes
como estrelas que tinham caído na terra.
— Não aconteceu.
Olhando a paisagem urbana ficar cada vez menor, ela disse ao seu
cérebro para fazer o mesmo com as visões e cheiros e sensações que eram tão
próximas, tão próximas: o tempo era uma rodovia e seu corpo e cérebro
viajavam nele. Então, ela precisava pisar naquela porra de acelerador e
escapar do inferno das últimas 48 horas.
Subitamente, tudo deixou sua mente enquanto sua mão voava para
destravar a porta.
Sola correu e sua avó abriu os únicos braços que sempre estiveram lá
para abraçá-la.
Ela não teve um conhecimento claro do que foi dito em Português, mas
de ambos os lados, as palavras fluíram rápido. Até que sua avó afastou-a e
capturou seu rosto nas mãos idosas.
Isto era tudo o que importava. Elas estavam juntas. Elas estavam
seguras.
P á g i n a | 344
Tão logo Trez ouviu a batida na porta de seu quarto, respirou fundo...
E sim, o cheiro dela a precedia, invadindo o quarto por debaixo da porta.
Ele parou aquele redemoinho mental. Àquela altura, estava tão faminto
de sangue, que não ia conseguir fazer nenhum sentido. Alimentar primeiro.
Então... Pensar.
O problema era... Quem mais viria servi-lo? Ele não tinha visto
nenhuma Escolhida nesta casa exceto ela e Layla, que agora estava fora
turno. E se ele não tomasse a veia que estavam lhe oferecendo, sua única
opção seria ir ao clube e tentar se alimentar de meia dúzia de mulheres
humanas... Que era uma perspectiva quase tão apetitosa quanto beber líquido
de motor.
P á g i n a | 345
Havia também o fato de ele estar tão faminto, que não tinha certeza se
aquilo seria o suficiente. Outro fato engraçado? Ele não achava que podia
ficar em pé para vestir um par de calças jeans. Então como infernos ele iria
ao Iron Mask e...
Vai ter de ser ela, disse a si mesmo. Uma só vez, e nunca mais.
Ela estava tão linda como sempre naquela túnica branca com os cabelos
presos para cima, mas sua fome a tornava uma visão transcendental... Que
se concentrou diretamente em seus quadris. Sua pélvis imediatamente
começou a ondular, o pau implorando por algo, qualquer coisa dela.
— Feche a porta, – ele disse em uma voz tão profunda que soava
deformada.
— Está sofrendo.
P á g i n a | 346
— Feche.
Clique.
Mas talvez fosse a cor dos olhos dela que fazia aquilo.
E então a mão dela tocou seu braço, e ele gemeu de novo, tentando
virar para o outro lado. Cerrando os dentes, ele soube que era uma coisa bem
ruim.
— Eu não compreendo.
— Selena...
P á g i n a | 347
Grande erro.
Com um rugido, ele a tomou... E não pelo pulso. Suas mãos largaram
o edredom e ele agarrou-a, segurando-a pelos ombros e passando-a por sobre
seu colo para deitá-la de costas sobre o colchão.
Uma olhada em seus olhos chocados o fez congelar. E ainda assim ele
não conseguia sair de cima dela.
Saia de cima dela, ele ordenava a seu corpo. Sai daí, caralho.
Ela o queria. Puta merda, seu cheiro inundava seu nariz, seu sangue
correndo rápido e quente como o dele.
— Por isto.
Minha.
*****
Selena pensava estar preparada para aquilo. Ela tinha pensado que
estava pronta para vir até este quarto, encontrar Trez na cama, e tê-lo em seu
pulso. Ela assumira que estava pronta para fazer seu trabalho e manter o
desejo por ele em segredo, só para si mesma.
Ao invés disto, ela se perdeu. Pelo poder que ele emanava, pela
mordida em seu pescoço... Pelo desespero sexual com o qual ela precisava
dele. E havia mais. Esmagada sob seu grande peso, sentindo os quadris
empurrarem e recuarem sobre ela, sabendo que estava bebendo de sua veia,
ela estava, pelo menos momentaneamente, sem medo das estátuas no
cemitério lá em cima. Como ela poderia temê-las agora? Não com seu corpo
assim, com braços e pernas, seu próprio sexo, relaxado e ardente e
desesperado para recebê-lo.
P á g i n a | 349
Abriu os olhos, olhou para o teto por trás dos ombros negros dele. —
Tome-me, – ela suspirou ante o rugido dele. — Tome-me...
Cada sucção em sua garganta, cada sugada em sua veia, toda a pressão
dele sobre ela, a levava mais próximo de um tipo de precipício... E ela jamais
quisera tanto cair daquele jeito. Mesmo que ela não soubesse aonde a queda
a levaria, ela não imaginava que pudesse se erguer ainda mais alto sem se
despedaçar.
Não pode ter acabado, ela pensou freneticamente. Isto não pode ser...
Isto o fez erguer a cabeça para ela. E querida Virgem Escriba, ele estava
magnífico. Lábios inchados separados, olhos brilhantes pretos, um rubor
intenso nas bochechas, ele estava saciado e ainda faminto, o animal macho
só parcialmente satisfeito.
O frio caiu sobre ela. E não só porque o corpo dele não mais cobria o
dela. Era vergonha. Embaraço.
Cuidou disto com sua língua, jogou as pernas para fora da cama. Elas
pareciam fracas demais para aguentar seu peso, mas não tinha escolha,
exceto forçá-las a funcionar.
O aroma da excitação sexual dele estava mais forte do que nunca, e ela
franziu o cenho. Ele ainda a queria. Então por que ele...
— Sinto muito.
Com o cheiro da excitação dele ficava ainda mais forte em seu nariz,
ela espiou dentro. Ele estava do outro lado, apoiado nas pias, a cabeça baixa.
E fosse lá qual tormento ele estivesse atravessando, seu corpo estava seguro
de onde estava.
Esta podia ser sua única oportunidade de estar com um macho... E ela
queria isto. De fato, ela iria querê-lo mesmo que seu futuro não estivesse
respirando em seu pescoço.
— Puta merda, – ele murmurou. Então, mais alto, — Selena, por favor.
— Eu quero... Isto.
— Eu quero... Você.
P á g i n a | 352
— Não machucou.
Ele olhou por sobre os músculos esculpidos de seu braço. Seus olhos
brilhavam verdes. — Não me pressione agora. Não vai gostar das
consequências.
Dando-lhe as costas, ele ficou ali, olhando para uma parede branca.
— Trez...
— Fale comigo.
Ela não tinha certeza do que esperava, mas não era o que ele fez em
seguida.
Ele era tão alto que sua cabeça estava bem à altura de seus seios, e tudo
o que ela pode pensar em fazer foi correr suas mãos sobre seus cabelos suaves
e encaracolados...
Ela perdeu aquela iniciativa ao sentir a boca dele contra seu esterno. E
então, pela sua barriga. E então o umbigo.
Selena gemeu e quase caiu quando o sentiu roçar o topo de seu sexo nu
com os lábios; o toque dele em sua cintura era a única coisa que a mantinha
em pé.
P á g i n a | 354
A carícia foi gentil e suave, seu rosto e nariz esfregando em sua pélvis,
os lábios dele beijando a área externa de sua fenda.
A mão negra dele criou contraste com a palidez de sua pele quando ele
começou a acariciá-la languidamente, da clavícula aos seios. Capturando o
peso na mão, ela gemeu e ondulou, com os joelhos dobrados... E totalmente
aberta.
A toalha dele se afastou de seu corpo, expondo sua beleza sem pelos e
seu sexo formidável.
Capítulo TRINTA
Elas são tão vazias sem um filho quanto nós somos vazios sem elas.
Olhe para ele. Ele estava preso a uma vida que odiava, e à uma
alucinação de se transformar em psicótico. Ele não queria aquilo para ela...
E ele sabia bem demais que estar com alguém a quem amava não era
suficiente, se você fosse honesta e fundamentalmente infeliz.
George espirrou.
Deus, o que porra ele ia fazer? Assumindo que ela ia entrar em sua
necessidade... Mas talvez, ele estivesse errado e aquilo os salvaria. Mas por
quanto tempo? Mais cedo ou mais tarde ela iria se tornar fértil.
Fazia sentido. Naquela época, eles nunca o tinham visto com uma
fêmea por perto.
Eles estavam reconhecendo-a como sua futura rainha. Mesmo que ela
não soubesse naquela época.
— Meu senhor?
Wrath olhou por sobre o ombro com um franzir de cenho. — Ei, o que
está fazendo aqui, advogado.
Por trás dos óculos escuros, Wrath fechou os olhos. — Tenho certeza
que sim, – ele murmurou. — Mas tenho de ir à minha Beth.
— Meu senhor...
Estranho.
Tanto faz. Ele só queria chegar a sua Beth... E ele sentia que ela estava
lá em cima, no quarto deles.
Ele desejava que ele e sua Beth estivessem nessa mesma sintonia. Ele
realmente queria.
*****
P á g i n a | 358
Enquanto Anha ouvia seu nome através de uma grande distância, sentia
como se estivesse se afogando.
Sendo tragada para a profunda inconsciência, ela sabia que estava sendo
chamada, e ela queria responder ao chamado. Era seu companheiro, seu amado,
seu hellren que estava falando com ela. E ainda assim ela não conseguia alcançá-
lo, seu desejo ceifado por algum grande peso que se recusava a deixá-la ir livre.
Não, não um peso. Não, era algo introduzido em seu corpo, algo estranho
à sua natureza.
Mas não era para ser assim. O bebê concebido em seu útero deveria ser
uma bênção. Um golpe de sorte, um presente da Virgem Escriba para assegurar
o próximo Rei.
E ainda assim, tinha sido após sua necessidade que ela tinha começado a
sentir a doença. Ela tinha escondido os sintomas e a preocupação o máximo que
pôde, protegendo seu amado da preocupação que tinha se entranhado nela.
Mas ela quase tinha perdido aquela luta; tinha caído no chão ao lado dele na
festa...
A última coisa que ela tinha ouvido claramente, era ele chamando seu
nome.
Adeus... Ela queria dizer adeus à Wrath. Se ela não conseguisse reverter
isto, pelo menos ela podia expressar-lhe seu doce amor antes de ir para o Fade.
P á g i n a | 359
Evocando os resquícios de sua força vital, ela lutou contra a corda que a
prendia em seu estupor, lutando com desespero, rezando pela força que
precisava para vê-lo uma última vez.
A única coisa que saiu foi uma lágrima solitária que se formou no canto de
seu olho, inchando até se escorrer pela bochecha gelada.
E então foi isso, suas pálpebras voltaram a se fechar, seu adeus dado, sua
força acabada.
De repente, uma névoa branca ferveu dos cantos do campo escuro de sua
visão, suas camadas ondulantes substituindo a cegueira que tinha sido forjada
sobre ela. E de fora de suas curvas e iluminação estranha, uma porta chegou a
ela, se adiantando como se nascida da nuvem.
Ela soube sem lhe ter sido dito que se ela a abrisse, se ela esticasse a mão
para a maçaneta dourada e abrisse o portal, ela seria bem-vinda no Fade... E não
haveria retorno. Ela também estava consciente da convicção de que, se ela não
agisse em um tempo previsto, ela perderia sua chance e ficaria perdida no
Limbo.
Ela temia por Wrath sem ela. Havia poucos dignos de confiança na corte...
E tantos a serem temidos.
P á g i n a | 360
O legado deixado pelo seu pai tinha sido podre. Isso só não tinha sido
evidente no início.
Olhando para cima, ela teve alguma esperança de que a Virgem Escriba
aparecesse em sua túnica e seu esplendor e se apiedasse dela.
— Wrath...
Como ela podia deixar a Terra quando tanto dela seria deixado para trás...
— Sim?
Anha gritou ao girar de volta. De início, ela não tinha ideia do que a
confrontava: Era um garotinho de talvez sete ou oito anos, de cabelos pretos,
olhos pálidos, seu corpo tão dolorosamente magro que ela imediatamente
pensou que devia alimentá-lo.
— Quem é você? – ela guinchou. E ainda assim, ela sabia. Ela sabia.
— Você me chamou.
— Não é verdade.
— Eu estou morrendo.
Aqueles olhos dele, de um verde tão pálido... E havia algo estranho neles.
As pupilas eram pequenas demais.
— Não consigo beber. – ela repetiu. Querida Virgem Escriba, sua mente
estava confusa além da medida.
— Siga-me e conseguirá.
— Como?
Ele esticou a mão para ela: — Venha comigo. Eu te levarei para casa, e
então você beberá.
Ela olhou para a porta. Havia um puxão nela, um cordão que a fazia querer
ir adiante e completar o ciclo que tinha iniciado quando ela tinha desmaiado no
chão.
Mas o que ela sentiu pelo seu filho ainda era mais forte.
Aproximando-se, ela enlaçou sua mão na palma cálida de seu filho ao invés
maçaneta da porta, e ele a guiou, escoltando-a para fora da névoa branca, para
longe da morte que tinha vindo a ela, em direção a…
— Sim?
— Devolverei?
Ela não ouviu o resto do que ele disse: Como uma sucção tinha-a puxado
para baixo, uma explosão súbita a levou para fora, o empurrão atacando cada
parte dela ao mesmo tempo. E então um grande vento a atingiu no rosto,
empurrando seu cabelo para trás, deixando-a sem fôlego.
Tudo o que podia fazer era rezar para que, aquilo que tinha vindo a ela
fosse mesmo sua progênie... E não algum demônio, para enganá-la. A única coisa
pior do que não voltar, seria ser enganada por toda a eternidade por aquele a
quem ela amava...
Capítulo TRINTA E UM
— Tome-me, – ela disse na voz mais sexy que ele já ouvira. — Ensine-
me...
O olhar dela estava tão vidrado quanto o dele, e de certa forma, ele não
compreendeu. Ela o rejeitou antes, e agora... Agora ela o queria?
Quem se importa, Sua ereção latejou. Quem se importa! Tome-a! Ela nos
quer!
Nós. Como se houvesse duas partes dele. E realmente, aquilo não era
tão estúpido quanto parecia. Seu pau estava, de fato, falando sozinho àquela
altura.
Cale-se! Sente-se!
E pelo menos, ele podia fazer seu melhor para tornar aquilo tudo bom
para ela também.
Parecia justo.
entre suas coxas... E sim, ele queria marcá-la internamente com sua
ejaculação, deixando sua essência totalmente dentro e fora dela, para que
nenhum macho ousasse tocá-la, olhá-la.
Ainda assim ele tinha o tempo todo do mundo para aquele beijo.
Mas também, ela era doce como vinho gelado, suave como Bourbon,
encorpada como vinho do porto. E ele já estava embriagado antes mesmo de
erguer a cabeça para respirar.
Mas ele não ia ficar para sempre. Havia outro lugar onde queria ir.
— Por quê?
Teve de fechar os olhos de novo quando aquela voz rouca dela penetrou
sua bruma... E prontamente o excitou ainda mais. O que ela tinha
perguntado... Oh, sim.
Ele foi tão cuidadoso quanto tinha sido com a boca dela.
Ela abriu caminho para ele como água, seu corpo lânguido e confiante
enquanto ele sugava e subia seu toque alguns centímetros, e mais alto. Ele
estava quase em seu núcleo, e planejando exatamente onde acariciá-la
quando...
De início, ele não conseguiu entender o que caralhos seu cérebro tinha
captado... Mas então reconheceu a mulher aleatória com quem tinha
transado no banco de trás do carro há mais de um ano. E a clareza foi mortal.
Ele viu tudo em alta definição, o batom manchando o dente da frente, os
rímel escorrendo sob os olhos, o silicone mal implantado que deixara os
mamilos tortos.
Não, o pior era o jeito que a cabeça dela se movia para frente e para
trás, para cima e para baixo... Porque ele estava dentro dela. Seu pau estava
afundado em seu sexo, entrando e saindo, o ritmo crescente para que ele
pudesse gozar e acabar logo com aquilo.
A ereção dele, a que estava pronta para deslizar para dentro de Selena,
tinha estado na latrina. Tinha estado em... Centenas de humanas sujas que
não tinham apresentado testes negativos de DSTs ou que já tinha contraído
AIDS por deixarem vagabundos como ele entrarem em suas calcinhas.
O fato de que não pudesse contrair tais doenças não importava nem um
pouco.
P á g i n a | 367
— Trez?
Em rápida sucessão, ele viu a morena que ele tinha deixado chupá-lo
no escritório. A ruiva que tinha comido junto com a loira no banheiro do
clube. O ménage com aquelas colegiais, a gótica no cemitério, a garçonete no
Sal's, a farmacêutica quando fora comprar Motrin aquela tarde, a bartender
naquele lugar, a mulher que conhecera na concessionária de automóveis...
Rápido e mais rápido, até as imagens parecerem balas uma após a outra
após a outra, atirando de seu cérebro.
*****
Sentado à mesa da cozinha, tudo o que Assail fez foi olhar para os
primos. O par de matadores de aluguel, traficantes de droga e executores não
P á g i n a | 368
Inacreditável.
Ela tinha retornado para um lugar onde ele não a queria perdida.
A calma com a qual ela cedeu, lhe informou que ela ainda tinha dor. E
assumindo a frente, ele a levou para as escadas. Havia duas: uma que ia para
o quarto dele, outra que descia para o porão, onde havia cinco quartos.
Olhando por sobre os ombros, ela estava em silêncio e séria atrás dele,
os olhos baixos, seus ombros caídos de uma fadiga que era mais do que
somente física.
Antes que ele soubesse o que estava fazendo, ele abriu a porta com o
pensamento, expondo as escadas altamente polidas branco-e-preto.
— De fato.
— Bom. Obrigada. – Ela olhou para a Jacuzzi atrás de seu box. — Ela
parece incrível.
Silêncio incômodo.
Assail não tinha experiência em confortar fêmeas, mas foi a ela, sem
pensar duas vezes. — Querida, – ele murmurou, ao puxá-la para seu peito.
— Shh... – ele afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha dela.
— Está tudo bem.
— Não está...
Ele deu um passo para trás. — A banheira está quase cheia, – ele disse
roucamente. — Eu vou verificar as acomodações de sua avó, sim? Chame se
precisar de algo antes de eu retornar.
P á g i n a | 373
O gemido que ele soltou ameaçou conduzi-lo, mas não podia fazer
nada sobre aquilo. Ele estava muito perto do buraco do coelho para parar ou
mesmo alterar o curso de suas reações.
Mais rápido, para cima e para baixo... Até que morder seu lábio não
era mais suficiente: Ele teve de virar a cabeça no braço e morder seus bíceps,
suas presas se afundaram profundamente no músculo através do suéter,
através da camisa.
E foi quando esticou a mão para pegar a coisa que a primeira onda a
atingiu.
Ignorando a sensação, ela abriu o ziper do kit. Não eram óculos de sol.
Ao invés disto, havia um vidrinho contendo um líquido claro e três seringas,
todos amarrados como se estivessem seguindo as leis de transito para uma
viagem de carro, usando cintos de segurança. O rótulo da garrafinha estava
virado para o outro lado, desta forma, ela mexeu para poder ler.
Morfina.
Ela nunca tinha visto algo assim nas coisas de Wrath. E não era difícil
adivinhar que ele poderia ter ido até a Dra. Jane... Ou inferno, até mesmo
Havers... Para se preparar para a eventualidade de ela realmente passar pela
sua...
Outra explosão de calor caiu sobre ela, e ela careteou para a ventilação
acima. Talvez Fritz devesse chamar a manutenção...
P á g i n a | 375
Quando seus joelhos cederam sem nenhum aviso, ela mal teve tempo
de se segurar no balcão, o kit caiu na pia de Wrath, os dois vidros de perfume
Chanel dela se batendo um no outro. Com um grunhido de animal ferido,
ela tentou se erguer, mas seu corpo não parecia entender os comandos do
cérebro.
Seu companheiro.
Quantas horas? Ela tentou pensar... Quantas horas Layla tinha dito que
duraria?
Loucura.
Como podia não matá-la? E a necessidade de sexo? Não era nem mais a
respeito de ter um filho. Era questão de sobrevivência...
Wrath.
Oh, Deus, ele ia subir aqui. Quando terminasse a conversa com Tohr.
E ele ia encontrá-la no chão... E então o quê?
Ela chorava ao arrastar o corpo para junto dele, braços esticados, mãos
tateando...
Wrath.
Prendendo-o com um olhar duro, ela não teve energia para lutar contra
ele. — Me dê a porra das drogas!
*****
O corpo de Wrath tinha começado a responder assim que ele tinha
tomado as escadas para seus aposentos... E no momento em que entrou no
banheiro, sabia exatamente o que estava acontecendo. Além da solução:
cada instinto dele rugia para servir sua fêmea, acalmar o sofrimento dela da
única maneira que importava.
Ele pensou no kit que tinha deixado no balcão. Tudo o que tinha de
fazer era abrir, encher a seringa e injetar a morfina nela. E então o sofrimento
estaria acabado...
Ele não saberia dizer quando foi, exatamente, que sua mente tomou a
decisão. Mas de repente, suas mãos voaram para o zíper de suas calças de
couro, a medicação foi esquecida, a direção escolhida.
Eu o vejo parado em um campo branco. Branco, branco está em toda sua volta
e você está falando com um rosto no céu.
Olhando para baixo para seu corpo, na luz fraca, ela sentiu-se
desconectada dele, e ela não era idiota. Deixar um bandido qualquer boliná-
la para poder sobreviver naquela noite tinha criado a separação... A coisa
agora era... Como reconectar-se?
Onde infernos Assail a tinha levado para ser tratada? Aquele lugar era
luxuoso, do sistema de segurança às instalações médicas e todas aquelas
pessoas. Seu cérebro estava tentando compreender aquilo, e a única
conclusão que fazia sentido era governo.
Embora ele tivesse rido daquilo, ela não conseguia pensar em outra
explicação.
Dã.
Ela tinha morado naquela casa com sua avó por quase uma década, e
estava acostumada aos barulhos da vizinhança: carros passando, cães latindo
a distância, crianças pulando e gritando ao jogarem basquete nas ruas. Aqui?
Somente a água se movendo na banheira a cada movimento de suas pernas...
E ela sabia que o silêncio não era somente porque não havia outras casas
imediatamente em volta deles. Este lugar tinha sido construído como uma
fortaleza, e tinha seus truques. Truques de alto-nível.
Ela pensou de novo na noite em que tinha vindo ali pela primeira vez
a pedido de Benloise. Sua missão tinha sido espionar Assail e seu castelo...
E o que ela tinha descoberto a tinha confundido: Aquelas estranhas janelas
holográficas. As câmeras de segurança. E o próprio homem.
Seu calcanhar úmido fez um ruído ao se virar para a porta. Assail estava
parado entre as sombras, uma presença sombria, iminente que a fez sentir-se
mais do que somente nua.
O som dele exalando foi todo um tipo de derrota, mas ela não se
importou. Ela podia sentir o chiado do ar entre eles, e soube que não era só
de seu lado.
— Como posso dizer não, – ele suspirou naquele tom carregado dele.
Ela puxou os ombros dele para baixo, mais para perto dela quando ele
se sentou ao seu lado na cama... Como se preocupado que se aproximar dela
a fizesse entrar em pânico. Só que ela queria o peso dele restringindo-a;
queria a sensação dele pressionando-a no colchão, substituindo a lembrança
com realidade, levando-a a inconsciência através do contato.
Sola puxou-o para ela. Abriu as pernas para abrir espaço, a ereção por
trás do zíper dele pressionou diretamente em seu núcleo, a calça de lã
plissada que ele vestia arranhando contra sua pele sensível, fazendo-a
gemer... De uma maneira boa.
Mais beijos, a língua dele escorregou pela boca dela, as mãos dele
subiram para seus seios. Ele era melhor do que a água na banheira para suas
dores e ardores, especialmente quando ondulava os quadris contra os dela,
acariciando seu sexo com a promessa do dele, enlevando-a fácil e docemente.
Quando seus mamilos enrijeceram a ponto de doer, ele pareceu saber o que
precisava em seguida, quebrando o contato com sua boca e beijando todo o
caminho para eles.
Dificilmente. Ela era reta como um garoto, sem quadris e peitos que só
tinham tamanho suficiente para ser preciso usar um sutiã – e ainda assim,
sob aquela luz fraca, nesta cama redonda, sob seu olhar penetrante, ela se
sentia tão voluptuosa quanto qualquer mulher do planeta, totalmente
sexualizada e pronta para ser satisfeita pelo seu homem.
Então a mão dele escorregou entre eles, substituindo sua ereção vestida,
passando sobre seu sexo molhado uma vez, duas vezes... E começou a
esfregar.
Por uma fração de segundos, ela estremeceu tomada pela tensão, seu
corpo se lembrando da última vez que aquilo tinha acontecido.
Sola só balançou a cabeça. Ela não queria falar naquilo, não quando o
alívio estava tão perto que ela podia tocar.
— Marisol. Quanto?
— Eu acho que você disse para eu tentar esquecer que tinha acontecido.
Deus, ele era lindo, aquelas feições bonitas dele cobertas de agonia por
sua causa.
P á g i n a | 385
*****
Cada vez que Assail achava que sua fêmea tinha deixado de
surpreendê-lo, Marisol o levava a outro nível, mais profundo. Neste caso, a
ideia de que algum homem tinha brutalizado seu corpo sagrado... Virgem
Escriba no Fade, seu cérebro literalmente apagava ante um
congestionamento de agressão e agonia.
As mãos dela foram até a camisa dele e ela puxou-a das calças. E então
começou a abrir o cinto.
Só que ele não ia se permitir ser distraído. Não até ele saber...
— Então era você. – Ela balançou a cabeça. — Eu podia jurar que havia
alguém comigo. Mas não tive certeza. Jesus, você me deixa no chinelo em
termos de espionagem.
O sorriso que ela lhe deu era cheio de ironia. — Porque ele me disse
para parar de perseguir você... E se recusou a me pagar o valor que tínhamos
acordado. Digo, eu estava preparada para manter minha parte no acordo,
mas algo o assustou. Você?
Ele anuiu uma vez e tomou novamente a boca dela, bebendo a sensação
dela, seu gosto. — Nada mais disto para você.
— De quê?
Deus, era exatamente o que ele precisava ouvir e não sabia: a ideia dela
permanecendo a salvo o afetou tanto, que ele teve de piscar para passar.
ela, posicionado sobre suas coxas abertas, seu pau duro como rocha, no
entanto, contente de esperar.
E sim, ele sabia exatamente o que ela queria: ela estava usando-o como
uma borracha, e ele estava mais do que disposto a assumir o papel.
Ela jogou a cabeça para trás e as unhas se enterraram fundo e seu corpo
ficou tenso, e ele congelou, sentindo o turbilhão da excitação dela, os puxões
sutis que o intensificou.
Sua mente obstruída não sabia o que aquilo significava, mas o som da
voz foi suficiente para forçá-lo a voltar à realidade. Lambendo a ferida que
tinha feito, ele se aproximou e tomou mais do sangue dela... Embora uma
porção tão pequena comparada ao que ele queria.
Apertando ainda mais seu abraço nela, ele entrou e saiu, entrou e saiu,
balançando seus quadris.
Por mais que quisesse mais do que aquilo... E quisesse tê-la de novo,
agora mesmo... Ele não completaria o ato dentro dela até ela saber toda a
verdade sobre ele. Somente então ela estaria apta a honestamente decidir se
o queria como amante.
O gemido entrecortado que ela soltou foi resposta perfeita. E antes que
terminasse, antes das mãos de novo se afundarem em seus flancos e as pernas
P á g i n a | 389
dela apertarem a parte inferior do corpo dele, puxando para mais perto dela,
ele começou a se mover de novo, o sexo temperado por seu respeito por ela,
e ainda mais vívido pela restrição.
Ele nunca tinha estado com uma mulher ou uma fêmea como esta
antes.
Depois de anos fazendo sexo, ele pensou que finalmente estava com
alguém pela primeira vez.
E durante todo esse tempo, seu próprio coração continuava a bater, seus
próprios pulmões trabalhavam e seu corpo seguia funcionando.
Parecia tão cruel e ele trocaria seu estado saudável com ela num piscar de
olhos. Ele daria a ela qualquer coisa para mantê-la ao seu lado e, como isso não
era possível, colocou a sua palma da mão sobre o punho de sua adaga cravejada
de joias e posicionou-a no meio dos dois.
Sua Anha havia virado seu rosto pálido para ele e o encarava através de
pálpebras pesadas.
— Anha…?
— Nosso filho…
Na realidade, ele não ouvira o que ela havia dito. Lágrimas surgiram de
seus olhos e com o coração disparado, ele se perguntava pela primeira vez se
aquilo não era um sonho... Como resultado de ter seguido com sua própria
morte, apunhalando-se no mesmo lugar onde sentia seu amor por ela mais
intensamente.
P á g i n a | 391
Porém, não... Ela estendeu sua mão para o rosto dele. Tocando-o com
admiração, como se ela também não pudesse compreender seu retorno de
consciência.
— Anha!
Ele pressionou seus lábios nos dela e depois removeu suas próprias
lágrimas das frias bochechas dela.
— Beba, meu amor... Não falemos nada ainda. Beba. Em primeiro lugar,
você deve beber!
Quando ela gemeu e fechou os olhos, não era por desconforto ou medo.
Não, era por algo de uma natureza vital, como se ela estivesse alimentando uma
dolorosa fome e que esta agonia aos poucos se abrandava.
— Beba…
Acariciando seu cabelo para trás, ele olhou para sua adaga. E suplicava
para que este milagre permanecesse entre eles. Rezava para que ela se
mantivesse viva e se recuperasse logo...
— Meu amo?
Com o som de uma profunda voz, Wrath girou sua cabeça sem extrair sua
veia dos lábios dela. O Irmão da Adaga Negra Tohrture estava de pé ao lado da
porta fechada do quarto, tendo entrado silenciosamente.
— Isso não pode esperar? – Ele retornara sua atenção para sua amada. —
Deixe-nos…
O Irmão tinha os mais incríveis olhos azuis, a cor concorria com as gemas
aquáticas que haviam sido adquiridas especialmente para o vestido de
primavera de Anha.
Realmente, por mais que ele desejasse que os capítulos desta história
desaparecessem da sua mente, eles retornavam a ele claramente. Ele havia
sofrido um ferimento durante o dia, um passo em falso que o fez cair sobre uma
ponta de metal. O ferimento tornou impossível para ele se desmaterializar, mas
ele estava bem o suficiente para sair do castelo quando chamado para uma
reunião com uma das Famílias Originais.
P á g i n a | 393
Quando estava certo de que ela retornara a beber, ele olhou para mãos
dela e franziu a testa. Suas unhas estavam... Azuis.
Tohrture acenou com a cabeça e caminhou até a porta. Antes de sair, disse
claramente, — Não permita que ela beba qualquer coisa que não tenha sido
provada previamente.
Após a morte de seu pai, ele havia estado perdido no mundo, até que ela
foi trazida a ele e tornou-se a sua força, não apenas para as respirações em seu
peito e as batidas de seu coração, mas também para o seu gorvernar como Rei.
Pensar que seu pai pode ter sido tirado dele? E, em seguida, sua amada
fêmea?
Ele era o Rei, sim. Mas em primeiro lugar, ele era o hellren desta magnífica
fêmea e vingá-la era o que ele faria.
P á g i n a | 395
Mas era ainda mais claro quem estava ao seu lado, nua sobre o tapete
de pele.
Agarrando o tecido felpudo, ele não podia nem olhar para Selena. —
Meu povo.
Quando percebeu como havia soado, ele se sentou e notou que ela se
retraiu.
Selena puxou o tecido sobre ele e, por mais que isso doesse a ele, era a
coisa certa, em tantos níveis. Ele havia arruinado o que estava acontecendo
entre eles.
P á g i n a | 396
— Sinto muito, – ele disse, pensando que ele deveria ter aquilo tatuado
na testa para que visse no espelho todas as manhãs, todas as noites.
Ele nunca deveria ter levado as coisas tão longe quanto eles tinham ido.
De forma alguma.
— Não, eu não sinto por isso. – Quando ela recuou, ele quis chutar a si
mesmo nas bolas. — O que eu quero dizer é... Porra. Eu não sei. Eu não sei
de nada neste momento.
Houve uma longa pausa. E então ela disse calmamente. — Você precisa
saber que não há nada que não possa me dizer.
Uau, tudo bem. Se ele achava que ela era quente antes? Agora, ela
estava no território de deusa: Beleza física era uma coisa; ser determinada era
ainda mais atraente.
— Tudo bem, – ele disse, sentindo-se um completo lixo. Mas ela tinha
o direito de saber. — Eu fiz sexo com muitas fêmeas humanas nos últimos
dez anos e nada disso importava para mim até hoje à noite com você. E eu
acho que eu estou prestes a condenar os meus pais a uma torturosa morte.
Fora isso, eu estou bem.
Ela ergueu suas sobrancelhas. Mas não recuou, não fugiu. Houve uma
série de respirações profundas, no entanto. — Vamos começar por essa
última parte. O que no Fade da Virgem Escriba você está dizendo?
P á g i n a | 397
Olhando fixamente em seus olhos, ele sentiu tanto respeito por ela. —
Deus... Como é possível que você exista?
Trez sacudiu a cabeça, sabendo que ela merecia muito mais do que ele
poderia lhe oferecer. — Você não deveria. Você realmente não deveria.
— Isso sou eu quem decide. Agora fale... Se você está tão determinado
a me afastar, então use suas palavras para me convencer de sua feiúra.
— Que é?
— Nenhuma.
Ele pensou no sorriso cínico de sua mãe naquela noite em que a viu
pela última vez. — Mesmo que eles pudessem, eu não acho que fariam.
— Não, eu não pedi. Mas isso implicaria voltar ao Hisbe, e isso não é
possível.
— Eu acho que não. Meu irmão é o único, e eu não posso correr esse
risco. Não vou arriscá-lo.
— Não, eu sei que eles irão matá-los. – Ele massageou a nuca. — Sabe,
grande parte disso é triste, mas acho que o pior de tudo é o fato de que eu
não posso nem fingir ter emoção sobre aqueles dois. É, tipo... Eles fizeram
um pacto com o diabo. Se algo ruim acontecer, eles estão apenas colhendo o
que plantaram.
*****
As mãos de Selena tremiam. Estavam assim desde que Trez tinha dito
que ele tinha estado com... Exatamente com quantas muitas mulheres
humanas? Ela se perguntou.
No entanto, ela poderia, ao menos, tentar fazer com que suas mão
parassem de tremer. Enquanto Trez caía em silêncio, ela esticava e
flexionava seus dedos, esperando que isto parasse antes que ele visse através
de sua fachada calma: Ela tinha a sensação muito clara de que, se ele perceber
que a estava perturbando, ele nunca diria palavra alguma... E este espaço
íntimo que havia se aberto entre eles era muito mais sagrado do que a
experiência sexual prometia ser.
— Eu não tive pais como tal, – ela disse calmamente. — Mas eu não
posso imaginar ter um filho e... Vendê-lo.
P á g i n a | 400
— É por esse motivo que você ficava com as humanas? – Ela ouviu-se
perguntar.
No silêncio que se seguiu, foi difícil até mesmo respirar: Ela estava com
medo de sua resposta. Por uma série de razões.
Selena lutava para dizer a coisa certa, algo equilibrado e que sinalizasse
que ela estava confortável com o que ele estava dizendo a ela... Quando na
realidade isto estava arrancando o seu coração do peito. Mesmo que não
devesse.
Ela passou quanto tempo com ele? Uma hora? Duas, no máximo?
Ele inclinou a cabeça para trás e olhou para ela. — Sim. É exatamente
isso.
— Mas você não pode ser responsabilizado por isso, porque você nunca
consentiu.
— Como é?
— Deus...
— Dificilmente.
Ela olhou para o tapete de pele onde ela havia sido estendida. Oh,
aquilo valeria a pena...
Enquanto ele respirava, seu grande torso expandindo, ela era levantada
do chão e de volta para baixo. — Obrigado, – ele disse em uma voz quebrada.
— Você me fez sentir como se eu não fosse ruim. E por esta noite, isso
é tudo.
— Oh, você nunca foi isso, – ela sussurrou enquanto dava um beijo em
sua bochecha. — Você não, de forma alguma.
P á g i n a | 403
Quando confusão surgiu no belo rosto dele, ela percebeu que deveria
aceitar a ajuda. A essa altura, ela era incapaz de se levantar do chão sozinha.
Trez franziu a testa, mas foi gentil quando a levantou. — Você está
bem?
Forçando um sorriso para o seu rosto, ela tentou não desvanecer. Mas
era como isso havia começado para suas irmãs. Cada uma delas.
Oh, o poder dele. Quando sua boca estava cheia, ela foi atingida mais
uma vez pelo impacto incrível que o sangue dele tinha sobre ela. Com sua
força enfraquecendo inclusive quando a necessidade continuava, e seu corpo
doía em todos os lugares como se tivesse passado por uma prensa, ela, no
entanto, fortaleceu-se desde o primeiro gole, em melhores condições para
continuar, embora não fosse como se ela tivesse uma escolha.
Quando ela teve que liberar a veia dele para respirar, não podia
acreditar que se ofereceu para isso. Ela devia ser louca, alguma visão
romântica idiota de ter um beeeeeeeebê entrando no modo de doze tipos de
realidade.
A súbita mudança de ritmo lhe disse que ele estava se preparando para
outro orgasmo, e ela precisava disso...
Jesus, ele era magnífico: Pela névoa do sexo, ela observava o esforço,
seus lábios curvados para trás, suas próprias presas ficando expostas, seu
cabelo fluindo afastados do pico da viúva, enquanto seus cegos, pálidos olhos
verdes brilhavam amplos e, em seguida, bem fechados.
E logo depois foi a vez dela, seu núcleo agarrando sua excitação,
gananciosa para que ele ejaculasse dentro dela, o prazer tão agudo que era
uma espécie de agonia.
Wrath desmoronou contra ela, sua cabeça caiu tão afastada, com tanta
força que ela o ouviu bater a testa contra o mármore.
Beth abriu a boca para responder, mas apenas um som rouco saiu.
— Você vai querer minha veia ainda, – ele disse, afastando uma mecha
de cabelo do rosto. — Você precisa disso.
Ele parecia magro, rosto cavado como se tivesse perdido onze quilos,
mas ele balançou a cabeça. — Minha única preocupação é você.
— Sobre o quê?
— Mas eu...
*****
iAm estava parado no fogão da cozinha quando sentiu a presença do
seu irmão. Ele nem precisou se virar da panela de ensopado que estava
fazendo: O ar no cômodo mudou, e não no bom sentido.
Trez também não estava sozinho. E ele sabia disso, não porque ele...
Sentiu o cheiro de Selena, mas porque sentiu o do irmão.
Fantástico.
Grande teoria. Exceto que Sombras eram imunes a esse tipo de merda.
— Você não deveria ser a pessoa que o iria atender, – iAm murmurou
enquanto colocava mais sal marinho na mistura.
Seu irmão se materializou até ele, girou em torno dele e agarrou-o pelo
pescoço. — Peça desculpas a ela...
— Você quer uma arma? – Seu irmão rosnou. — Você quer uma
porra...
— Não me force...
Ele ainda estava furioso até a medula, mas o puxão de orelha foi
obedecido com tal facilidade, que você tinha que se perguntar se talvez a
merda do vínculo não pudesse ser útil a um ponto.
P á g i n a | 409
iAm olhou para seu irmão. — Não sei o que dizer a você.
Merda, quase podia com ela. Se ele não estivesse tão bravo com seu
irmão idiota...
— Sim.
— Marque a reunião.
iAm xingou muito e baixo. Sim, ele queria chutar o traseiro do seu
irmão, mas absolutamente, positivamente ninguém mais. — Trez.
P á g i n a | 410
— Faça isso.
— Então é isso que você está fazendo? Diga-me uma coisa, você está
pensando em trazer a sua Escolhida com você, criar uma pequena família
feliz ou algo assim?
Trez cortou o ar com sua mão. — Não sei sobre o que está falando...
Hora de voltar para o molho. Ensopado. Que diabos ele estava fazendo
de novo?
Tirando a tampa, ele pegou sua colher e mexeu lentamente. Ele tinha
feito à mão tudo, desde o caldo de galinha até os temperos que estavam
flutuando na superfície da mistura perfumada.
— iAm?
muito, se eles podem ser egoístas, então eu posso. Minha família é você e eu,
e eu o escolherei acima de qualquer um.
Quando iAm provou a merda, ele teve que concordar, mas manteve
isso para si mesmo. O orgulho era uma característica sem atrativo, mesmo
que fosse bem colocado.
Trez olhou para o ensopado. — Ela é apenas mais uma razão para ficar
do lado de fora. Não que eu precisasse.
— Eu não lhe disse o quão ruim vai ficar, – disse Trez baixinho quando
mais ensopado foi entregue.
Porque depois que a rainha eliminasse seus pais? A tribo iria vir atrás
de iAm. Ele era o próximo degrau na escada da coerção porque eles não
podiam tocar em Trez, afinal. Ele tinha que estar inteiro.
Era fácil pensar em Deus enquanto via a saída do sol sobre o Rio
Hudson.
Ela conseguiu sair desta prisão, pensou pela enésima vez. E apesar das
cicatrizes que se formaram dentro dela, seu corpo estava intacto, sua mente
funcional e tinha segurança, pelo menos por agora.
Pensando em todas as orações que fez, ainda não podia acreditar que
foram atendidas. O desespero a fez pronunciar as palavras, mas realmente
não esperou que alguém fosse escutá-la.
Cara, teria sido muito mais fácil se um anjo com asas tivesse descido e
a livrado, magicamente, colocando-a ali. Em vez disso, ela fez o trabalho
sujo sozinha e Assail a limpeza. Ah, e um desses primos ferozes dele tinha
sido motorista para a viagem de cinco horas de volta à sanidade. Ah, e em
seguida havia todas aquelas pessoas naquele prédio.
Sua avó nunca fez nenhuma pergunta, mas ela sempre foi assim e sua
mãe da mesma forma, exceto quando se tratou da participação de Sola em
sua vida. Infelizmente, a mulher não viveu o suficiente para causar um
grande impacto e depois que ela se foi, o marido e a filha que ela deixou para
trás ficaram mais próximos.
Bem.
Mais cedo ou mais tarde, iriam ser pegos. Inferno, seu pai era ainda
muito melhor que ela e ele morreu na prisão.
Ela deixou a sala do tribunal antes de saber se ele foi declarado culpado
ou não, e foi diretamente para seu apartamento. Entrando em casa, foi direto
buscar o dinheiro que guardava em um espaço pequeno na parede atrás do
banheiro e usou esta merda para libertar a ela e sua avó deste legado.
Com sua avó sendo viúva e sem filhos, Sola ocupou o papel de
provedora da única maneira que conhecia, da única maneira que funcionava.
Sua avó tinha o cabelo solto em cachos ao redor de seu rosto, seu
avental amarrado na cintura, e um pouco de batom em sua boca. Seu vestido
de algodão simples foi feito à mão por ela, claro e seus robustos sapatos
marrons eram de algum modo apropriado.
P á g i n a | 415
Quando ela foi se levantar, sua avó fez um gesto com ambas as mãos.
— Sente-se ao sol. Você precisa de sol, está muito pálida. Você vive como
um vampiro.
Normalmente ela teria respondido, mas não esta manhã. Estava muito
grata por estar viva para fazer qualquer coisa diferente de concordar.
Por causa da luz, desistiu de ficar olhando para longe, fechou os olhos
e inclinou a cabeça para trás. O calor em seu rosto a fez pensar em Assail.
Estar com ele era como tocar o sol e não se queimar e seu corpo queria
mais, inferno, apenas a ideia de tocá-lo era suficiente para levá-la de volta
aos momentos que passaram na cama, a noite tranquila, a respiração forte.
Estranho. Geralmente, a voz de sua avó era como suas mãos, nunca
suave. De fato, ela falava como cozinhava; franca e sem nenhum tabu.
Sola tentou mais uma vez ver o pescador. Então deu a volta e enfrentou
sua avó.
— Não quente o suficiente. – Sua avó deu um passo atrás e fez sinais.
— Você deve comer.
Sem olhar, sabia que Assail havia descido as escadas e estava olhando-
a. Merda, não tinha certeza de que poderia evitar.
*****
Depois de ser sequestrado e ficar em seu quarto pelos últimos dias, Trez
achava que o mundo era uma extensão de seus sentidos, como ter uma luz
estroboscópica em seu rosto e um fone de ouvido, ao chegar a Northway no
centro de Caldwell, encontrou-se colocando os óculos de sol e desligando o
rádio.
— Olha por onde vai! – Ele gritou para o para-brisa, tocando a buzina.
— Idiota.
Mais ou menos dez minutos mais tarde, Trez passou a andar a sessenta
quilômetros por hora e entrou em um labirinto de um único sentido.
Confrontado por todos os semáforos e os sinais de parada, seu cérebro perdeu
o caminho para o condomínio.
Ele fez uma pausa na GQ aberta. Já esperava por isso. — Belo casaco.
– Murmurou enquanto fechava a revista.
Trez mostrou suas presas, mas logo as retraiu. — Há algo que queira.
Todo mundo tem um preço.
— Por que iria arriscar minha própria vida pela de seus pais? Se eu
desobedecer uma ordem, haverá consequências e nenhum de vocês valem
isto.
— Suponha que isto seja certo e não estou dizendo que é, por que eu
faria?
— Desde que você parece saber tudo, o que exatamente acha que é? –
O executor disse em um tom entediado.
— Matá-los não vai me trazer de volta. E é por isso que o faria isto,
certo? Então vá até a rainha, diga a ela que conversou comigo diretamente e
eu não me importo se matá-los. Então sugira que ela tire deles tudo que lhes
foi dado, casas, joias que adquiriram com a recompensa que receberam, a
comida em seus armários. Tudo. Isso fará com que seja rainha novamente.
Ela não perderá nada.
— Besteira. Ela não tem um meio para chegar a sua filha. Toda esta
“restituição” não resolve o fato de que a princesa não tem um companheiro.
— Não vou ser eu. Estou dizendo a você agora. Vocês podem foder
meu pai e minha mãe, podem me ameaçar fisicamente, podem destruir
minha casa.
s’Ex ainda estava imóvel. — Você está fora de sua maldita mente.
— Tudo o que quer é o exterior s’Ex. Você cuida disto para mim e eu
cuidarei de você.
A ideia de perder seu irmão era… Nem sequer podia pensar. Mas o
homem estaria melhor sem ele se não pudesse solucionar este problema.
— Fico surpreso por querer salvar seus pais deste mal. – s’Ex disse de
repente.
— Você está brincando? Se perderem seu posto, será pior que a morte
para eles. O que fizeram comigo arruinou minha vida e a do meu irmão. Esta
merda é vingança. Além disso, como eu disse, não importa o que façam com
eles, eu não vou voltar lá.
— Se quiser, é seu.
— O que?
P á g i n a | 421
— Que bom que você pode vir, – ela disse grandiosamente, mostrando
atrás dela. — A sala de jantar, se você quiser.
Enquanto seus rubis relampejavam, ele imaginou sua filha como tal,
uma grande dama em uma grande casa com olhos vítreos.
Talvez o castigo por não aceitar esta afronta ao trono tenha valido a
pena. Ele encontrou o amor com sua shellan pelos anos em que ela tinha
estado na Terra, mas isso tinha sido sorte, viria a perceber. A maior parte de
seus contemporâneos, agora sacrificados nos ataques, viveram sem amor, em
relações assexuadas que revolviam em torno do circuito de festa em vez da
mesa de jantar da família.
Certo?
Era peixe pequeno para todos eles, porque há muito tempo decidiu que,
debaixo do radar era melhor. Seu sangue viu de primeira mão as crueldades
da corte e da sociedade, e aprendeu aquela lição lendo os diários que tinham
sido passados a ele. A verdade era que tinha recursos financeiros que todos
juntos nesta sala, mal podiam reunir.
O melhor investimento que alguém nos anos oitenta poderia ter feito.
E então houve um grande laboratório farmacêutico nos anos noventa. E
antes disto? As corporações de aço e companhias de via férrea em torno da
virada do século.
Ele sempre teve um talento para onde os humanos iriam querer ir tanto
com seus entusiasmos quanto com suas necessidades.
O que era a outra razão pela qual não conversava sobre seu patrimônio
líquido.
Dez minutos mais tarde, a sala estava cheia... E isto, mais do que uma
festa... Uma festa simulada, era o sinal de que a glymera tinha pelo menos
P á g i n a | 425
…Agora.
Ela o sentou como se ele fosse uma criança, organizando seu paletó,
alisando sua gravata vermelho claro.
P á g i n a | 426
De fato, esta coisa toda era um pesadelo, pensou enquanto batia suas
cinzas novamente.
Isto estava errado, pensou uma vez mais. Toda esta construção contra
Wrath era falsa, tamborilando apenas para servir as ambições de aristocratas
que não eram merecedores do trono: Eles não se importavam com a pureza
do sangue dos herdeiros. Era apenas o vocabulário designado para justificar
a meta deles.
Não diga não para isto, ele disse a si mesmo. Levante-se para que isto...
Ele não falou. Embora não porque tivesse coragem para ser o único a
“negar” quando a dissidência foi solicitada.
— Abalone?
Agitando-se ao som de seu nome, ele olhou para cima. A sala inteira
estava olhando fixamente para ele.
Agora era a oportunidade para estar à altura do nome de seu avô. Agora
era seu momento para expressar sua opinião de que isto era um crime, isto
era...
E ele sentiu os olhos dos outros como mil miras a laser apontada para
ele.
*****
P á g i n a | 429
Ele tomou outra colherada da rica sopa que tinha sido preparada com os
legumes que ele buscou e cavou a terra ele mesmo. O gosto era sutil, o caldo
cheiroso, os pedaços de carne da pata de uma vaca recém-abatida de seus
estábulos.
Mais batida.
— Seu desejo é meu comando, – ele disse, colocando a tigela larga no colo
dela e dando-lhe o utensílio que usou.
Teria preferido muito mais continuar a alimentá-la ele mesmo. Mas vê-la
capaz de administrar o esforço sem derramar, e efetuar o processo de obter
mais alimento em sua barriga? Isto o aliviou internamente.
E ainda infelizmente, uma mortalha ainda pairava sobre ambos: Nem ele
nem ela falavam sobre o jovem... Sobre se o que aconteceu a Anha roubou-lhes
ou não o maior desejos deles.
P á g i n a | 430
— Wrath. A porta.
Caminhando através dos tapetes soltos, ele estava pronto para decapitar
quem ousou intrometer-se na cura.
Sem uma palavra, suas lâminas pretas surgiram, a luz das tochas
capturando e piscando através daquelas superfícies mortais.
Exceto que não era: Cada um deles afundou de joelho, inclinando suas
cabeças, e atingiram o chão, suas adagas clicando na pedra do chão.
E então todos eles olharam para ele, o respeito deles claro em seus rostos,
aqueles corpos incríveis se prepararam para serem chamados a serviço dele, por
ele... E apenas daquela maneira.
P á g i n a | 431
Wrath colocou a mão sobre seu coração e não conseguiu falar. Não
percebeu até este momento o quão sozinho ele tinha estado, apenas sua shellan
e ele contra o mundo... O que pareceu suficiente. Até agora.
E isto era tão oposto da glymera. Os gestos dos cortesãos eram sempre
feitos em público, e não tinha mais profundidade do que qualquer
desempenho... Uma vez executado, era passado.
Lembrando-se das palavras que ouviu seu pai falar, ele pronunciou.
Então ele pronunciou algo que era só dele: — E isto é devolvido. Prometo
a vós, a cada e todos, que devo fornecer-lhes a fidelidade que ofereceram e eu
aceitei.
Seu pai usou estes machos especialmente criados pela força muscular
deles, mas sua aliança tinha sido com a glymera principalmente.
O instinto disse ao filho que o futuro era mais seguro se o oposto fosse
verdade: Com estes machos atrás dele, ele e sua amada e quaisquer jovens que
poderiam ter, teriam uma chance melhor de sobrevivência.
— Se vós desejar, meu senhor, por favor, vá até o outro aposento. Este é
aquele com quem vós preciseis falar.
P á g i n a | 432
Tohrture foi à pessoa que abriu a porta, e por causa de seu peso, não havia
como ver quem era...
A porta foi fechada por Ahgony, e os Irmãos não deixaram seu lado.
— Abalone?
Ele pegou o odor de medo, sim... Mas havia algo mais. E quando definiu
isto por si mesmo, ficou… Impressionado.
Nobreza não era ordinariamente uma emoção para ser cheirada. Isso era
mais como a intenção do medo, tristeza, alegria, estimulação… Mas este
rebento de um macho, apenas um ano depois de uma transição que tinha feito
muito pouco para aumentar seu peso corporal ou sua altura, tinha um propósito
debaixo de seu medo, uma motivação de direção que podia ser somente…
Nobre.
—Erga-se.
P á g i n a | 434
— N-n-n-não obrigado.
— Respire fundo.
— Perdi meu pai antes de minha transição. Minha mãe, também, morta
na cama de parto. Com estas perdas, sou como você é.
focar. Do lado de dentro, haviam três figuras, e eles estavam circulados sobre
um caldeirão sobre uma chama. Suas vozes estavam silenciosas, quando um
deles adicionou folhas de algum tipo no que quer que estivessem aquecendo. O
fedor era horrível... E eu estava para regressar e prosseguir sobre minhas
preocupações… Quando ouvi seu nome.
Abalone cedeu.
— Você o faz. Porque veio até mim, você pode fazer as reparações que
procura. Pode levar um dos Irmãos para baixo até este lugar escondido?
— Sim, – o macho disse sem vacilar. Pulando de pé, ele colocou seu capuz.
— Agora devo mostrar-lhes.
— Vá com ele?
Havia uma vantagem em morar sozinho e ser renegado pelo único pai
que ainda tinha: Quando você não voltava para casa durante um dia inteiro,
ninguém estava se descabelando por causa de sua possível morte.
Não era a escolhida Layla novamente, claro. Mas ele ouviu que,
quando uma fêmea entrava em sua necessidade, podia transmiti-la para
outras, e foi certamente o que aconteceu.
Deus, tomara que não fosse Beth, ele pensou enquanto esfregava seus
olhos cansados.
Não havia nenhuma razão para definir o que “isso” era. — Eu acho.
Você me odeia?
Sim, eu odeio.
— Não teria importado. – Rehv varreu sua mão no seu curto Moicano.
— Eles já tinham a faca e o queijo na mão.
— O quê?
Deus, aquela voz era rouca, apenas um sussurro. Existia força atrás
disso, entretanto.
P á g i n a | 440
— Nós temos que conversar. – Rehv bateu com o tubo em sua palma
como se fosse um taco de beisebol. — Agora.
— Não. Nós não podemos. E nós precisamos dos Irmãos. Todos eles.
– Rehv se levantou com a ajuda de sua bengala. — A glymera votou na sua
saída, meu amigo. E nós precisamos pensar numa resposta.
— Sua Rainha.
— Sim, amo?
Fritz curvou-se tanto, que era uma maravilha que seu rosto de pele
frouxa não encostou no tapete. — Imediatamente.
Wrath não respondeu. Ele apenas entrou na sala azul pálido, uma
sombra viva no centro de toda a detalhista mobília francesa.
Tudo isso era tão ingrato. As horas que o macho passou acorrentado à
escrivaninha do seu pai, a papelada passando na frente dele, um borrão de
páginas que tinha sido preparada por outros, apresentado por Saxton, regido
por Wrath, e devolvido mundo afora.
Qualquer coisa que viesse adiante? Ele estava do lado de Wrath, e não
só porque seu pai e ele eram estranhos um ao outro.
Ele sabia muitíssimo bem o que era ser forçado em um molde no qual
você não cabia, e então demonizado por não ser convencional.
Tragicamente.
*****
Em silêncio e com um coração pesado, Sola caminhou pela casa que
compartilhava com sua avó, indo de cômodo em cômodo, vendo tudo e
ainda assim nada.
— Marisol?
Liderando o caminho pela sala de estar, ela pegou algumas das caixas
desmontadas, deslizou alguns rolos de fita em seu pulso, e começou a subir
as escadas. Chegando lá, ela decidiu… Seu quarto.
Foi uma questão de minutos para montar uma das caixas de tamanho
médio, esticar a fita barulhenta como um tecido rasgando, ter seus dentes
fazendo o trabalho da tesoura nas tiras de fita, até os quatro lados ficarem
firmes e capazes de segurar coisas.
Sua avó tinha lavado a roupa de Sola por tanto tempo que a mulher
sabia quais roupas eram suas favoritas e já as tinha levado para a casa de
Assail. O que tinha sobrado na cômoda eram as segundas opções, e ela as
jogou sem se importar em dobra-las: As calças de ioga que tinham sido
lavadas tantas vezes que estavam cinza escuro, não pretas; blusas de gola alta
P á g i n a | 443
— O que… – Quando ela olhou para lenço dele, percebeu que estava
chorando. — Desculpe.
Olhando pra cima, ela estudou seu rosto. Deus, ela não podia acreditar
que ela alguma vez pensou que era um rosto duro. Era… Bonito.
— Caldwell.
A quietude que tomou conta dele era tão nítida quanto uma explosão
de movimento, tudo mudou, mesmo que ele tenha permanecido na mesma
posição.
— Por quê?
— Eu não posso ser uma parte da vida que você está vivendo. Eu só…
Não posso.
— Eu sei o que vem depois. Com Benloise morto, você vai precisar
conseguir seu produto em algum lugar, e você vai resolver este problema de
um modo que põe você no comando não só do abastecimento dos muitos
distribuidores de Caldwell, mas de toda a costa leste.
— Não do jeito que está indo e você sabe disto. – Ela o encarou. —
Poderia ser verdade se você fosse um advogado, mas você não é.
Engraçado, uma parte dela se animou que ele estava falando como se
eles fossem um casal. Mas a realidade afugentou aquela pequena cintilada de
alegria. — Você pensa em começar uma outra carreira?
— Onde.
— Você não vai me dizer nem mesmo onde você está indo.
— Eu acho que você viria atrás de mim. E eu estou muito fraca agora
pra dizer não.
Ele andou pelo tapete barato e elevou-se acima dela. — Eu não quero
que você vá.
— Talvez isso me faça uma demente, mas isso me deixa feliz. – Ela
passou o lenço dele em sua boca e esfregou os lábios de um lado para outro.
— Eu não quero sentir isso sozinha.
— Eu posso deixar você separada dos negócios. Você não terá que saber
qualquer coisa sobre as operações, distribuição, pagamentos.
— Exceto que, seja por quanto tempo eu for sua namorada, ou o que
for, eu sou um alvo. E se minha avó viver com você, ela é um alvo também.
Benloise tem família, não aqui nos Estados Unidos, mas na América do Sul.
Mais cedo ou mais tarde o corpo dele vai aparecer, ou sua ausência vai ser
notada, e talvez eles não achem você. Mas talvez eles achem.
— Você acha que eu não posso proteger você? – Ele exigiu altivamente.
Ela ergueu seus olhos até os dele, e soube que ela nunca, nunca iria
esquecer como ele se parecia de pé no centro de seu pequeno quarto, com as
mãos nos quadris, uma carranca em seu rosto e um ar de confusão o
cercando.
Era como se ele estivesse tão acostumado a conseguir tudo do seu jeito
em todos os aspectos da vida que ele não podia compreender o que estava
acontecendo.
— Eu vou sentir sua falta, – ela disse com uma voz rachada. — Todo
dia, toda noite.
Mas ela precisava ser esperta. A atração tinha estado lá desde o início...
E ele vindo salvá-la adicionou uma outra dimensão para tudo aquilo, uma
conexão sentimental forjada num forno de seu terror e dor. O problema?
Nada disso era a base para uma relação sólida.
Capítulo QUARENTA
E se fosse sobre ela? Ela não precisava ouvir isto agora mesmo. E merda
sabia que teria muito tempo para lhe contar.
Podia sentir Phury hesitante na porta com seu irmão gêmeo, e no ritmo
incômodo que se seguiu. Wrath balançou a cabeça. — Sem beijo no anel,
certo? Apenas me deem um pouco de espaço.
— Eu não vou ler esta merda. – Rehv grunhiu. — Não vale meu tempo.
Resultado final, todos colocaram seus selos nele. Em suas mentes, Wrath não
é mais o Rei.
Jesus Cristo, isto era um desastre. Uma merda de desastre total. Ele
poderia ter uma chance se não houvesse nenhuma criança, então o trono
poderia passar para sua relação mais próxima. Butch, por exemplo. Ou
qualquer criança que este Irmão e sua companheira tivessem.
— Isto é ridículo...
Wrath teria que acabar com o caos, assim ele fechou o punho e golpeou
a mesa. — O que está feito está feito. – Deus, isto doía. — A pergunta é: e
agora? Qual é a nossa resposta, e quem, no inferno, eles pensam que irá
governar?
Tohr falou. — Você não pode apenas modificar as Leis Antigas? Como
Rei, você pode fazer qualquer coisa que quiser, certo?
— Temo que sim. Eu encontrei uma nota processual oculta que diz que,
na ausência de um Rei, o Conselho pode designar um regente de fato com a
maioria dos votos e foi isso o que eles fizeram. A passagem estava destinada
a acontecer em tempos de guerra, no caso de toda a Primeira Família ser
eliminada junto com quaisquer herdeiros imediatos.
— Meu próprio pai fez isto. Da mesma maneira foi ruim, deveria ter
investigado. Eu deveria ter...
P á g i n a | 451
Então sim, ele deveria se sentir aliviado por estar livre da mentira.
*****
No fim, Wrath teve que esconder suas emoções. Encobrir sua forma em
uma humilde túnica para que ninguém soubesse quem ele era, andando pelo
castelo com Ahgony, Tohrture, e Abalone, que usavam disfarces também.
Wrath nunca havia ido ali. Como Rei, nunca andou muito pela
propriedade.
Este era um lugar apropriado para fazer o mal, pensou quando Abalone
parou na frente de uma parede que não parecia diferente de nenhuma outra.
Um guisado vil, frio agora, mas claramente deve ter sido cozinhado, se
estendia como os restos de uma inundação.
E usaram este espaço por algum tempo, pensou, passando os dedos sobre
a mesa e então examinando cuidadosamente inspecionando o caldeirão.
Ele girou e se dirigiu para Abalone. — Você honrou sua linhagem. Provou
seu valor esta noite. Vá e saiba que o que deve acontecer agora não recaíra sobre
você.
Abalone agarrou o diamante preto e beijou a pedra. Então ele se foi, seus
passos se arrastando em retirada enquanto abria caminho pelo corredor.
P á g i n a | 454
Wrath esperou até que não pudesse ouvir nada. Então em voz baixa disse.
— Quero que este jovem seja cuidado. Forneça tesouros o suficiente para que
sua geração seja cuidada.
— Por que ela? – Ele perguntou. — Se mataram meus pais por causa do
trono, porque não eu?
— Meu senhor?
Wrath deixou a capa cair de volta ao lugar. — Eu sei em quem eles estão
pensando. É um primo meu e sua companheira é bem jovem agora. Na outra
noite eles disseram que oraram à Virgem por um filho.
— De quem fala?
— Enoch.
Então ele viu o corpo morto de seu pai, com suas mãos enluvadas e as
unhas azuis de sua shellan.
— Não.
Capítulo QUARENTA E UM
Ao ver seu reflexo ficou surpresa, era como se estivesse olhando para
seu próprio fantasma e não porque estava pálida. Na verdade, tinha a pele
radiante e seus olhos brilhantes, embora estivesse cansada até o osso, como
se houvesse ido a Sephora e se maquiado com um profissional. Inferno, até
seu cabelo pertencia a um anúncio da Pantene.
Olhando para baixo, ela curvou-se sobre o kit médico que nunca usou.
Fechando-o, guardou-o no armário entre as duas pias.
Mas o que veio antes de sua necessidade estava claro agora. Como
alguém cujos sintomas não faziam sentido antes de receber um diagnóstico,
ela pensou nos últimos quatro meses… E amarrou-os com sua mudança de
humor, o anseio por uma criança, os desejos, o aumento de peso.
Toda essa coisa de ficar fértil esteve em seu caminho durante algum
tempo. Ela não tinha percebido todos os sinais...
Wrath a ajudou com tudo isso também. E foi divertido, como com a
necessidade, ela sentiu algumas vagas estranhezas por algum tempo antes de
P á g i n a | 458
sua mudança acontecer e também: inquietude, fome por outras coisas, dores
de cabeça ao sol.
Teve que se perguntar se descobrir que estava grávida seria tão grande
quanto descobrir que era um vampiro.
Colocando a mão em sua barriga, achava que havia uma grande chance
de estar.
Pelo menos seu abdômen estava ainda inchado. Embora isso fosse mais
provável apenas por causa do peso que ganhou graças a sua dieta Breyers.
Com seu intestino trabalhando a comida que lançou a ele, ela girou ao
redor e caminhou de volta para a cama.
Oh, e P.S., como se diz a uma criança que seu pai recebeu um disparo
na garganta de alguém que queria a coroa?
Ficou um pouco surpresa por ele não estar atrás da mesa do escritório.
Assumiu que, quando Fritz levou sua comida, seu hellren estava ocupado
trabalhando.
Roçando sua testa, reconheceu que tudo era a ponta do iceberg que iria
colidir direto com Wrath e enquanto isso, estava fixando a Fisher-Price em
sua cabeça, desfrutando de um debate interno sobre fraudas Pampers, que tipo
de vídeo comprar e iria gostar do estilo novo do berço Pottery Barn.
Cheia de coisas de bebê. O tipo de negócio que ela viu Bella e Z lutarem,
comprarem e usarem.
Nada em seu radar era sobre crianças em sua idade adulta. O que era
no que Wrath estava concentrado.
Apesar do fato de que não fosse a hora de comer, a casa inteira estava
à mesa e algo terrível tinha acontecido: Sua família era como uma coleção
de versões de Madame Tussauds, o grupo estava imóvel nas cadeiras, tinham
as feições corretas, mas as expressões erradas.
*****
No Antigo Mundo, Xcor e seus Bastardos ficavam em um castelo que
parecia ter saído da terra, como se as pedras de sua construção tivessem sido
rejeitas pela terra e expelida como um tumor. Situado em um monte
desprezível, inabitável, a construção estava sobre uma pequena aldeia de um
povoado humano medieval, a fortificação não tanto real. E no interior, não
era melhor, fantasmas de humanos mortos vagavam pelos muitos quartos e
no grande corredor especialmente, batendo nas mesas pesadas, balançando
lustres de ferro fundido, tombando pilhas de troncos em chamas das lareiras.
— Hurra!
Exceto que, não, era outra coisa: Esta luta com Wrath ainda não tinha
terminado.
Ou eliminá-los.
— Wrath.
— Não seja ingênuo. Haverá uma resposta para nosso tiro de canhão.
Isto não é sobre ele agora.
— Com todo respeito. – Throe disse. — Não vejo o que ele pode fazer.
Não havia mais casa nesta parte, a única estrutura era uma casa de
bomba para o sistema de esgoto municipal.
Inclinou a cabeça e considerou o céu. Não havia luz da lua, uma capa
de nuvens prometia mais neve e bloqueava a iluminação.
Não podia, de fato, ver muito mais do que um metro diante dele.
Antes quando foi a uma clínica, aterrorizou-se com o fato dos Irmãos
terem se vingado dele por se alimentar dela, esperou que saísse do tratamento
e a seguiu até ali. De fato, manipulou todos para que tomassem de sua veia.
P á g i n a | 465
Salvou a vida dela não por escolha, mas por uma preocupação criada por
Throe e pela primeira vez lamentou ir a caça da Irmandade. Se não quisesse
castigar ao homem como tal, nenhum deles a teria encontrado.
Ao invés, era como se houvesse usado uma serra em sua própria perna,
cortando-a.
Neste momento de triunfo, o único lugar onde queria estar era com a
mulher que não podia ter.
Em termos gerais, se seu marido se negava a dizer uma palavra até que
estivessem os dois sozinhos e a portas fechadas?
De repente sentia muito frio... Sobretudo porque Wrath não estava atrás da
mesa de escritório ou sentando no trono de seu pai.
George ficou aos pés de seu mestre, o cachorro olhando para cima
como se ele, também estivesse esperando um sapato cair.
Wrath apenas olhava para frente, apesar de não conseguir ver nada,
com o cenho franzido atrás dos óculos, seu cabelo negro como aura sobre
ele.
Silêncio.
— Por que você não está sentando atrás da mesa? – Ela disse
bruscamente.
Beth sentiu todo o sangue deixar sua cabeça. — O que você… Sinto
muito, o quê?
— Não importa.
Mesmo ela falando assim, levou um longo tempo antes dele falar. E
quando finalmente o fez, sua resposta não foi nada do que esperava... E tão
devastadora como qualquer peça do todo.
Indo para o mesmo sofá no qual ele estava sentado, ela caiu nas
almofadas suaves. — Por quê? Como? O que eu fiz?
Deus, a ideia de que ela lhe custou o trono por algo que ela fez.
— Você sabe o quê? A merda não vale a pena para mim. Você é a mais
importante. Você é o que importa. Todo o resto... Todo mundo pode se foder.
Ela olhou para o trono. — Você esta querendo me dizer que não se
importa que o trono de seu pai não seja mais seu?
— Sim, acredito que sim. Eu vi você nestes últimos dois anos. Eu sei o
que o motivou... E seria um erro pensar que todo este compromisso
desapareceu devido a um terceiro que diz que você não poderá jamais usar a
coroa.
— Deve haver algo que você possa fazer. Alguma forma de evitar isto...
P á g i n a | 469
— Você tem que aceitar, Beth. – Ele chegou a seus pés, sua cabeça na
direção do trono vazio. — Vamos passar por isto...
— Claro que não! Você não pode mudar quem você é. Não é sua culpa.
— Exatamente.
P á g i n a | 470
— Então quem é?
Enquanto ele continuava e continuava, ela soube que isto era vapor
liberando-se por seu vocabulário. Mas eles não tinham tempo para ele manter
isto indefinidamente.
Slap.
Olhando com calma ela disse. — E agora que tenho sua atenção e não
está em delírio como um lunático, eu apreciaria se contasse onde posso
encontrar o que seja que nos foi enviado.
Wrath deixou sua cabeça cair para trás como se estivesse totalmente
exausto. — Por que está fazendo isto?
Abruptamente, ela pensou no que ele disse para ela quando sua
necessidade golpeou e que a encontrou tentando chegar às drogas.
— Eu não sou forte suficiente para isto. – Ele sussurrou em sua orelha,
como se não quisesse que ninguém ouvisse isto saindo da boca dele. Nunca.
Passando suas mãos pelas suas costas poderosas, ela o abraçou forte.
— Mas eu sou.
*****
Isto foi a eternidade.
E justo quando pensava que nunca aconteceria, que ele e seu silêncio
companheiro estariam sempre na escuridão, literalmente e figurativamente,
ouviu um som áspero e o painel camuflado começando a deslizar.
— Não importa o que aconteça. – Ele sussurrou para o Irmão. — Você não
irá interferir. Eu ordeno assim e me escute bem.
A resposta de Tohrture não foi mais alta que uma respiração. — Como
desejar.
A luz vacilante de uma única tocha iluminava pouco, mas era mais que
suficiente para Wrath identificar o homem, um clérigo que estava na periferia
da corte… Mas cujo pai era curandeiro.
E então a capa que usava para esconder sua identidade ficou em chamas.
P á g i n a | 473
Quando o calor abrasador brilhou a seu lado e se dirigiu para seu cabelo,
saltou para trás e buscou sua adaga para cortar o tecido, exceto o que estava
sob a capa. Saltando para trás, ele puxou o volumoso tecido pela cabeça, mas
teve que soltar a mão com um grito de dor. Na seguinte batida do coração, as
chamas estavam sobre ele e ainda que tentasse afastá-las, era como se desviar
de uma nuvem de vespas. Batendo, cego por agonia e calor as grandes chamas
e quando ouviu o som, percebeu...
O dilúvio veio de cima e tinha mau cheiro, mau sabor e viscoso, era mais
úmido que um cobertor de lã molhado. Com um movimento e um fedor que fez
seus olhos lagrimejarem ainda mais, as chamas se foram, o fogo se foi, tudo
terminou.
— Como você fez... – Uma tosse cortou a fala de Wrath. — O que fez com
ele?
P á g i n a | 474
— Eu cortei os tendões atrás de seus joelhos de forma que ele não pudesse
correr.
— Ele é seu para fazer o que quiser, meu senhor. – Tohrture disse, dando
um passo atrás.
A resposta foi um estalar que não chegou a nenhum lugar, e antes que
Wrath soubesse o que estava fazendo, ele agarrou a roupa do clérigo e o
arrastou pelo chão sujo. Agitando-o, fazendo sua cabeça balançar de uma
maneira que fez com que Wrath fosse golpeado pela necessidade de matar.
Arrastando o homem mais alto para ficarem nariz com nariz... Wrath
grunhiu. — Se me disser quem mais está nisso, perdoarei sua jovem shellan e
seu filho. Se descobrir que existe alguém mais envolvido, sua família será
amarrada pelos pés e pelas mãos e pendurados pelos tornozelos no grande
salão, por muito tempo.
Sua mão tremia buscando o cabo de seu punhal, puxou sua arma com
movimentos espasmódicos, um ângulo incorreto, a lamina ficou presa no
coldre.
— Meu senhooooooooor...
E então tudo ficou quieto com exceção de algum espasmo secundário dos
músculos faciais e das mãos.
Queria.
Esta nova versão da realidade não era nada que ele quisesse fazer parte.
Mesmo com toda sua ferocidade, o tom de Tohrture era gentil. — Eu sei,
meu senhor. Você fez bem.
P á g i n a | 477
— Eu não o fiz.
Sim, realmente ele estava. — Eu quis dizer o que disse sobre sua shellan e
filho. Eles se salvaram.
— Claro.
Wrath olhou para cima, os olhos brilhantes e claros, pensou que pareciam
a lua, lançando luz sobre a escuridão, mostrando um caminho para sair de seu
habitat natural.
Por um momento, tudo que Wrath pode fazer foi olhar para a palma
estendida a ele como a benção da própria Virgem Escriba.
Ele abriu sua boca para dizer obrigada, mas nada saiu.
A modo de resposta, ele agarrou o que estava ante ele… E sentiu seus
próprios pés se levantarem com controle.
P á g i n a | 478
Era, claro, loucura falar com aquele que ainda nem tinha nascido. Mas
ela pensou que se pudesse manter o diálogo aberto, por ventura o jovem
continuaria a escolher ficar por perto. Se ela apenas pudesse comer as coisas
certas e não cair e descansar… De alguma forma, no fim de alguns meses,
ela conseguiria segurar seu filho ou filha em seus braços, e não só em seu
corpo.
Ele tinha que estar. Não foi de orquestrar uma tentativa de assassinato
a se sentar de braços cruzados enquanto a glymera processualmente ganhou
o que queria. Não, ele estava à espreita nos bastidores. Em algum lugar.
Ela sabia muito pouco sobre ele... Além de suas aspirações políticas,
ele era um completo estranho, e um que matava. E ainda teve a sensação,
dada a sua falta de jeito com ela, que ele não era alguém que se deleitava com
fêmeas com muita frequência.
Pegando o seu telefone celular, o que Qhuinn tinha insistido que levasse
com ela em todos os lugares, ela ligou a tela de discagem.
Xcor tinha dito a ela como chamá-lo, os dígitos gravados em sua mente
no momento em que tinha deixado os lábios dele.
*****
De pé no chuveiro na casa de Assail, Sola não sabia quanto tempo ela
ficou sob o jato quente, deixando a água cair em seus ombros e costas,
fechando os olhos e inclinando-se contra a parede.
Por alguma razão, ela estava gelada... Mesmo que não houvesse vapor
suficiente para qualificar o banheiro como uma sauna, e ela tinha certeza que
aumentou a temperatura central para quarenta graus.
Supondo que ele nem sequer sabia o que seu irmão tinha feito a ela. Ou
planejado para ela.
Assail caminhou até a porta de vidro que os separava e abriu. Ele estava
respirando com dificuldade, e à luz acima de sua cabeça, seus olhos
brilhavam como faíscas.
Sem dizer uma palavra, ele pressionou as mãos sobre o rosto dela e a
arrastou pela cabeça até sua boca, os lábios dela esmagando enquanto ele a
apoiava contra o mármore com todo o seu corpo. Sola deu um gemido,
aceitando sua língua enquanto penetrava nela, segurando seus ombros
através de suas roupas de grife.
Como se sentisse o que ela precisava, Assail caiu de joelhos, jogou uma
de suas pernas sobre o ombro, e caiu sobre ela, seus lábios devorando seu
sexo, da mesma forma que ele atacou sua boca.
Esse sexo foi como castigo, uma acusação de sua escolha, uma
expressão física da sua ira e sua desaprovação.
E talvez isso fizesse dela uma vadia doente, mas ela adorou.
Ela queria que ele viesse assim, puto e no limite, derramando-se dentro
dela, para que ela não se sentisse tão culpada... Ou tão vazia.
25 Hermes.
P á g i n a | 483
Não quando ele abriu as pernas e montou nela, e não quando seu pau
entrou e ele começou a golpear nela, nem mesmo quando ele se apoiou sobre
ela e olhou-a nos olhos, como se estivesse desafiando-a a deixar tudo o que
ele poderia dar a ela.
Quando seu sexo agarrou sua ereção, ele iniciou o orgasmo, também,
seu corpo se arqueando...
Assim que o pensamento passou por sua mente, ele foi embora de novo,
seu orgasmo se multiplicando, em vez de afastá-lo, ela estendeu a mão e
afundou as unhas em seus quadris.
Talvez dizer-lhe o que ele tinha mostrado a ela: que ele não queria que
ela fosse.
Em vez disso, ele colocou o seu peso em uma mão e agarrou seu pênis
brilhando com a outra. Acariciando a si mesmo, ele gemia como se estivesse
se preparando para gozar novamente.
O segundo orgasmo disparou dele e ele dirigiu tudo sobre seu sexo... E
ele não parou por ai. Depois que ele cobriu seu núcleo, ele subiu, deslocando-
se para seu estômago, suas costelas, seus seios, seu pescoço, o rosto dela. Ele
parecia ter uma provisão infinita de esperma, e quando os jatos quentes
caiam em sua pele supersensível, ela se encontrou gozando junto com ele,
passando as mãos para cima e para baixo em seu corpo, sentindo a bagunça
quente que ele estava cobrindo-a, espalhando em seus próprios seios.
No fundo da sua mente, ela sabia que existia algum outro motivo para
tudo isso.
Tudo o que conseguiria era ficar cercado por guerreiros... E embora ele
tivesse ouvido que vermelho era a cor do amor, derramamento de sangue não
era um substituto apropriado para uma rosa.
Sem resposta.
P á g i n a | 486
— Porra, Throe.
Era… Ela.
— Como você está aqui? – Ela perguntou com uma voz trêmula.
Mas ele podia sentir o cheiro dela... E aquele perfume. Aquele cheiro.
— Sim.
P á g i n a | 487
— Como se eu tivesse vindo essa noite para derrotar o Rei Cego fora
de sua casa?
Sua voz ficou mais forte. — Você tem o que queria dele, e usou sua
amada para fazê-lo. Por que se preocupar com ele agora.
E Deus o salve, Xcor deu um passo mais próximo a ela, embora por
tudo que era correto e apropriado, ele deveria se afastar: Ela era mais perigosa
para ele do que qualquer Irmão, especialmente quando os leves tremores que
vibravam através de seu corpo esbelto eram registrados por ele.
— Você sabe disso, não é, – ele disse com um suave rosnado. — Estava
me ligando para ver se podia influenciar minhas ações? Vá em frente, agora.
Você pode ser sincera... Somos só você e eu aqui. Sozinhos.
Ela ergueu o queixo. — Eu nunca vou entender seu ódio por aquele
bom macho.
— Sim, – ela respondeu com genuína paixão. — Ele tem uma alma
boa, tem uma relação duradoura de amor verdadeiro com sua companheira...
Um macho que todas as noites se compromete a fazer seu melhor para a raça.
Mesmo através de seu agasalho, ele podia dizer que seus seios estavam
empinados sob seus braços cruzados, e seus olhos baixaram antes de se
fecharem brevemente. — Eu nunca gostei da inocência, – ele murmurou.
Ela estendeu suas longas mãos para ele, implorando através do ar frio.
— Por favor. Apenas pare. Eu irei…
Com movimentos bruscos, ela andava diante dele. E ainda assim, ele
não podia mover um único músculo.
Ela parou. Levantou o queixo adorável. Desafiou-o com seu olhar e seu
corpo, mesmo que ela fosse noventa quilos mais leve do que ele e totalmente
inexperiente.
P á g i n a | 489
*****
— Está muito quente aqui... Ou eu estou louca?
Diabos, mesmo que ele estivesse no mesmo quarto com ela, ela não
fazia ideia de onde ele estava.
— Então não há nada que possamos fazer sobre isso? – Disse ela depois
de um tempo.
Cara, ela estava com calor. A flanela não tinha sido uma boa escolha...
Ou era isso ou estresse.
P á g i n a | 490
Sua mão foi para seu ventre. A ideia de que um grupo de pessoas tinha
como alvo seu filho, que ainda estava por nascer e talvez nem mesmo
existisse, era suficiente para fazê-la querer ir até o ginásio e dar uns bons
socos.
Isso mesmo, ela pensou. Era tão fácil esquecer que ele não era apenas
o leahdyre do Conselho, mas o rei dos symphaths.
— Eu simplesmente não posso acreditar que foi tão fácil. – Ela olhou
para o trono. — Quero dizer, um pedaço de papel e acabou.
Com passos largos, ele veio até ela, uma mão estendida para ela agarrar
e o guiar nos últimos centímetros.
Quando ela pegou sua palma e o puxou para baixo, ela inclinou sua
cabeça para um lado assim ele podia beijar sua jugular, e inclinou para o
outro assim ele podia fazer o mesmo na esquerda, e em seguida, colocar os
lábios em sua boca assim ele podia beijá-la lá, também.
Observando ele ir, ela odiava como ele parecia, tão frágil, tão perdido...
Embora fisicamente falando, era mais do que ela causou a ele durante o
período de necessidade. Mentalmente e emocionalmente? Uma longa lista de
pessoas eram responsáveis por isso.
P á g i n a | 492
Deus, ela orou para que seu hellren não estivesse indo para o ginásio. A
última coisa que ele precisava era de mais exercício... Descanso e comida era
o que seu corpo exigia agora.
Quando Layla repetiu o que ela havia dito, seu cheiro inspirava o
intenso tempero do medo: — Você pode me ter.
Xcor fechou os olhos e fechou suas mãos. Seu corpo já havia traduzido
seu discurso e respondeu por vontade própria, seus músculos se contraindo
para chegar até ela, levá-la para baixo até o chão frio, montá-la para marcá-
la como sua.
— Eu sei.
Tinha sido uma espécie de loucura desde o início com ela... Desde que
ele a tinha trazido para aquela árvore no prado, e desde que ele tomou de seu
pulso e tomou de seu manancial, ele havia sido infectado com uma doença.
Ela deixou cair o olhar. Apertou os braços sobre seu coração. Abaixou
a cabeça.
Ele estendeu a mão e ergueu o queixo dela com o mais suave dos
toques. — Diga isso. Você deve ouvir sua própria verdade... E eu asseguro
que tomei flechas mais duras do que isso.
Ele sentiu seu corpo balançar, com certeza, como se tivesse sido
atingido. Mas como assegurou, ele ficou de pé em agonia. — Então minha
resposta para você é não. Mesmo se houvesse uma maneira de desfazer tudo
isso com o seu rei, e não há... Eu nunca vou levá-la contra sua vontade.
Ele deu um passo para trás. — Você devia voltar para… – Ele olhou
para a névoa, ainda totalmente perdido. — Onde você tem que ir...
— Você me quer. – Agora sua voz era firme e segura. — Eu posso sentir
isso.
— Claro que sim. Mas não como um cordeiro indo para o matadouro.
Minha fantasia... Não é isso.
— Alguns presentes são mais dolorosos do que insultos. – Ele foi para
afastar-se dela, e encontrou-se imóvel. — Especialmente quando não há nada
a ser feito sobre o seu Wrath. Ele foi substituído.
— Por favor.
Sua firmeza o enfureceu, mesmo que fosse uma virtude, ele supôs. —
Por que isso importa tanto para você. Sua vida não deve mudar. Você estará
segura aqui... Ou lá. A Irmandade não será desfeita.
P á g i n a | 495
Na verdade, ele não podia acreditar que estava dizendo isso. Mas para
não perturbá-la, ele deixaria que eles e Wrath vivessem... Desde que não
entrassem em seu caminho.
Ela olhou para ele durante muito tempo. — Temo que não posso fazer
isso.
Xcor fez o possível para ignorar a forma como o seu coração pulou. —
Eu vou me retirar.
— Não.
Por um momento, ele fingiu sonhar em que ela dizia isso e queria dizer
isso para ele pessoalmente. E não apenas na esperança de convencê-lo sobre
a sua posição.
Ele queria apenas começar a descer a ladeira. Ao contrário dela, ele não
poderia se desmaterializar... Já havia tentado várias vezes para acelerar a
subida dessa forma e não conseguiu nesse nevoeiro.
Sim, ele queria deixá-la para trás. Por todas as razões que ele soletrou
para ela e também aquelas que ele guardava para si.
— Para que, – ela fechou mais sua parca como se estivesse para ser
comida viva, — Propósito?
Agora ele deu a volta e começou a caminhar, até que seus pensamentos
clareassem o suficiente para detê-lo. Olhando por cima do ombro, ele disse,
— Escolhida. Você sabe o caminho para casa?
— Oh, sim… Claro… – Exceto quando ela olhou ao redor, ela pareceu
ficar confusa. — Sim, é logo ali…
Ela não parou para esconder suas palavras. Ela honestamente não
parecia saber onde estava.
Fechando os olhos, ele xingou. Ele nunca deveria ter vindo aqui...
Nunca.
Por que e se ele a deixasse aqui sozinha, e ela não encontrasse abrigo
antes do sol nascer? E se eles estivessem no meio do caminho para onde ela
precisava ir?
P á g i n a | 497
Ele nunca tinha considerado que seria por causa de uma fêmea.
*****
Quando Trez inspecionou a multidão de góticos no Iron Mask, ele não
podia dizer que estava emocionado por voltar ao trabalho novamente. Seus
negócios sempre foram importantes para ele... Bem, primeiro fazia bico para
o Rehv; Então quando o Reverendo se despediu... Ou mais como apagou o
seu caminho... Trez assumiu o comando do empreendimento do clube
inteiro. E ainda que o lugar tinha sido seu ou de Rehv, ele adorava dirigir as
operações, lidar com as pessoas, planejar novos locais, ver seu dinheiro
crescer. Sim, certo, os humanos eram um pé no saco, mas isso era verdade
se você estivesse dirigindo seu carro, comprando em um supermercado, ou
tentando ganhar a vida.
Cara, era tão tentador presumir que ele tinha resolvido o problema...
que manter o carrasco feliz ia fazer tudo ir embora.
Errado.
A coisa era, ele só ficava pensando que, se ele tivesse mais tempo, ele
iria encontrar uma maneira de sair.
Na sua mente, tudo o que ele podia ver era sua Escolhida, exposta
diante dele, tão bonita e limpa.
Depois que Selena tinha deixado ele e iAm na cozinha juntos, ela não
voltou: Quando todo mundo tinha sido chamado para a sala de jantar para
ouvir a notícia horrível sobre o Rei, ele esperava vê-la lá. Nada feito.
Ela também.
Quando ele fez um sinal para ela vir, ela estava mais do que feliz em
afastar a multidão e diminuir a distância. — Ei, chefe.
P á g i n a | 499
— Entendido.
iAm disse a ele que o negócio feito com s'Ex era uma ideia idiota. E
então prontamente voltou para a cozinha para fazer cacciatore.
Assim que ele abriu a boca para dizer merda cara, não, o vento mudou
de direção e ele foi atingido em cheio no rosto pelo cheiro de lesser.
— Qual.
— Butch? – Ele disse. — Ei, amigo, qual é? Uh-huh. Sim. Certo. — Ele
fechou os olhos do assassino e pensou se as articulações molengas dos braços
e pernas estavam totalmente fora de visão. — Bem, eu tenho um amigo que
gostaria que você conhecesse. Não, não é o tipo que você gostaria de levar
para casa para o jantar. Sim, ele não está indo para lugar nenhum. Não se
apresse.
Depois que ele desligou, ele olhou para os pacotes na palma da mão.
Eles foram marcados com o símbolo de morte, no Idioma Antigo.
Era perto do amanhecer, quando Beth decidiu que ela tinha que sair
das habitações dela e do Wrath. Ele não tinha voltado ainda, e a perspectiva
de passar mais um minuto com o caos em sua mente foi o suficiente para
fazê-la querer dar uma pausa.
em dois relatos: Uma, se ela havia concebido, era o que, como 24 horas, no
máximo? E dois, Layla quase tinha tido aquele horrível aborto espontâneo.
Não era exatamente uma boa companhia... Se Beth não queria ficar
completamente louca.
Ela hesitou enquanto olhava para si mesma. — Alguém ai? – Ela disse
para sua pélvis.
Depois de uma viagem pela despensa, que provou ser como tentar
encontrar algo comestível na lavanderia, pelo amor de Deus, ela voltou para
a geladeira e conseguiu pegar um pote de picles Vlasic.
Quando ela levou o monte de cenouras orgânicas até a gaveta das facas,
ela não podia acreditar que estava prestes a comer todo aquele betacaroteno.
Elas eram tão frescas, que partia toda vez que ela dava uma mordida
nelas, e o doce, gosto de terra era melhor do que chocolate.
26Crudités é uma palavra francesa, quer dizer: vegetais crus, são aperitivos tradicionais na França, são legumes crus (ou
não) e frutas, geralmente cortado em tirinhas do mesmo tamanho e espessura, que deve corresponder a apenas uma ou duas
mordidas.
P á g i n a | 505
Mais uma, ela pensou enquanto terminava sua última porção. Exceto
quando ela chegou ao fim da número dois, ela pensou… Que tal outra.
Ela olhou para os fornos duplos. O relógio digital azul mostrava quatro
e cinquenta e quatro. Então, eles tinham 19 horas.
A Escolhida pulou tão alto que teve que esticar ambos os braços para
se manter equilibrada. — Oh! Oh... Ah, sim. Sim, estou. Eu estou bem, muito
bem, sim. Obrigada. – A fêmea abruptamente franziu o cenho. — E você?
Você está…
P á g i n a | 506
A solução veio a ela com tanta clareza, que quase cortou a ponta do
seu dedo fora...
*****
P á g i n a | 507
Falando sobre um triz... Ele mal conseguiu que Layla voltasse a tempo.
E até o momento, ele não tinha certeza se tinha conseguido.
Uma vez que ficou óbvio que ela sofreu a mesma desorientação que ele
na névoa, ele tomou sua mão e começaram a subir a colina. Ele não
perguntou a ela para confirmar onde estava escondido o complexo da
Irmandade, na verdade, no canto superior, para aquela informação, ele se
baseou nos mesmos princípios que construíram seu muito mais apropriado
covil no Antigo País.
Em muitos níveis.
Ele escolheu à direita... Na teoria que ele queria fazer direito por ela, e,
portanto, essa era a direção que ele tomaria.
P á g i n a | 508
Xcor tinha visto ela se mover com pressa por apenas um momento, e
então ela se perdeu em meio à névoa, nem mesmo os sons de seus passos
alcançando mais os ouvidos.
E por mais que uma parte dele tivesse sido tentada a sentar-se e deixar
o sol levá-lo, ele forçou-se a se afastar, descendo em zigue-zague até que
tropeçou, literalmente, em um canteiro.
Embora ele só tivesse sido capaz de ver um metro e meio antes dele, a
superfície elevada forneceu uma oportunidade para descer pelo terreno
irregular com um entusiasmo inigualável. Ele correu a toda, a gravidade a
seu favor, sua única preocupação era que alguém viria de roldão até a
montanha e o veria em seus faróis.
Ele tinha verificado seu telefone sem sucesso e então foi forçado a
fechar os olhos, concentrar-se e rezar para que ele tivesse força restante
suficiente e concentração para continuar afastado.
A única coisa que ele tinha noção era que ele não poderia morrer sem
saber o que tinha acontecido com ela.
P á g i n a | 509
Pegando seu telefone mais uma vez, ele tinha um pouco de esperança
errante que ela o chamou e ele não ouviu o toque em sua fuga montanha
abaixo. Ai… Não.
Seguindo para a porta colonial, o fraco brilho no céu fez a sua pele
formigar com advertência e seus olhos fecharam... Quando ele entrou
repentinamente na casa.
A única coisa que teria tornado mais completa teria sido a presença de
fêmeas. Como estava, o ar estava com cheiro espesso de rum e gim, cheio de
gargalhada, pesado com o tipo de agressão masculina que surgia após a
vitória.
Não havia nenhum modo para discar: qualquer que fosse o telefone que
ela usou era codificado.
Deitado de costas e olhando para o teto, ele sabia que um vazio era
uma revelação.
A ideia de que ela pudesse estar morta e ele não soubesse o atingiu tão
profundamente, que sentiu como se sua personalidade se dividisse em duas.
No chuveiro.
Cara, por uma vez, as lembranças de estar com ele não conseguiram
convencê-la. Deixava-a com vontade de chorar.
— Eu não entendo por que vamos tão cedo. – Sua avó anunciou
quando saiu do porão. — Nem amanheceu ainda.
Sua avó estava vestida com uma versão amarela do vestido que
costumava usar em casa, mas estava pronta para a viagem, com seus bons
sapatos, sua bolsa combinando pendurada em seu pulso com uma alça de
P á g i n a | 511
couro falsa. Atrás dela, cada um dos guardas de Assail carregava uma mala...
E não pareciam felizes. Embora, digamos, dificilmente tinham caras de bons
amigos.
— Não. – Ela não podia correr o risco com sua avó junto. — Pode
dirigir durante o dia. Você adora dirigir.
Sua avó deixou escapar um som que para qualquer outra pessoa teria
sido um “foda-se”. — Nós deveríamos ficar aqui. É bom. Eu gosto da
cozinha.
Não era da cozinha que a mulher gostava. Inferno, sua avó podia
cozinhar como Coleman sem piscar um olho... E o fazia.
Naquele momento, sua avó respirou fundo e a cruz de ouro que sempre
levava no pescoço captou a luz do teto
Com isto, ela levantou sua mala e dirigiu-se à porta de trás. Do lado de
fora, um totalmente “perca-se entre a multidão” Ford estava estacionado
perto da casa, o contrato de aluguel no nome da identidade de emergência
de Sola.
O que eram...
Ela queria dizer a eles… Mas não, não pareciam estar interessados em
levar uma mensagem para Assail.
O motor soou com um barulho alto ao pouco de vida que tinha e ela
colocou o carro em ré. Antes de girar deu uma última olhada à porta aberta.
O que Sola não sabia, porém… Era que nem ela sabia.
*****
Assail observava sua saída do circulo de árvores na parte de trás de sua
casa.
Aqui fora, meu amor, ele pensou. O que você perdeu está aqui fora.
E então, sua avó apareceu com seus primos, e estava claro que a mulher
não queria partir.
Também era óbvio que seus primos não estavam de acordo com sua
partida. Por outro lado, nunca mais haviam comido tão bem quanto
ultimamente e eles respeitavam quem os apoiavam.
Quando Assail percebeu sobre o que era a busca de sua mulher, como
se estivesse esperando que ele se apresentasse, sentiu uma pequena satisfação
em sua tristeza. Mas era imperativo convencer sua fera interior que a
deixasse escolher seu caminho.
Ele não podia discutir sua autopreservação da mesma maneira que não
podia desistir de seus negócios. Trabalhou muito tempo e duro para
desvanecer-se em um estilo de vida sedentário pelas noites... Inclusive
passando-as com ela. Além disso, preocupava-se ainda com a família
Benloise. Apenas o tempo diria se havia outro irmão por aí ou quem sabe
algum primo com um olho ambicioso e um coração vingativo que queria seu
sangue.
olhar ao redor, o sentiu, mas não o viu. Seus olhos passaram por ele em seu
esconderijo nas sombras.
— Não diz.
— Maldição.
P á g i n a | 516
Seu foco era artificial, sua atenção forçada, mas sabia que teria que se
acostumar a isto.
Ele tinha mentido para ela. Quando ele finalmente assumiu o trono de
forma séria, os Irmãos e Beth o confrontaram com uma série de “diretrizes”
com a intenção de dissuadi-lo do antigo perfil de risco físico. Não foi
exatamente um conversa feliz, e ele quebrou as regras pelo menos uma vez,
com a ciência de todos, e um número de vezes que ninguém o havia pegado.
E depois que ele foi descoberto lutando no centro da cidade, ele novamente
concordou em deixar os punhais de lado, e usá-los apenas em cerimônias...
E desde então, o cheiro de decepção de sua shellan tinha sido suficiente para
mantê-lo na linha.
Bem, isso e o fato de que ele perdeu totalmente o restante de sua visão
nessa época.
O bando não estava errado. O Rei precisa estar vivo acima de tudo;
derrubar assassinos na parte de trás de um beco em Caldwell não poderia ter
sido mais sua diretiva primordial.
Ele supôs agora... Que poderia lutar com qualquer um que quisesse. E,
por isso, lhe devia um pedido de desculpas.
Útil em uma noite como essa. Oh, espere... Era dia, agora.
Indo em um ritmo mais rápido, ele descobriu que, como sempre, sua
cabeça tinha uma maneira de flutuar acima do esforço, como se com o seu
corpo envolvido e trabalhando, ele ficasse livre à deriva. Infelizmente, como
um helicóptero com medidores defeituosos, manteve-se batendo em
penhascos rochosos: seus pais, sua shellan, a possibilidade de um bebê e todos
os anos vazios que se estendia à sua frente.
Se ele tivesse a sua visão. Pelo menos, então, ele poderia sair com
credibilidade e se envolver com o inimigo. Mas agora ele estava preso... Por
sua cegueira, por sua Beth, pela chance dela estar grávida.
Claro que, se ela não estivesse em sua vida? Ele teria estado em uma
farra de matança até que morresse honrosamente no campo. Embora,
inferno, sem ela, ele provavelmente não teria se incomodado em fazer nada
sobre a ascensão, em primeiro lugar.
Ele sabia que nunca deveria ter colocado essa porra de coroa na cabeça.
Depois de tudo o que seu pai tinha feito em um tempo tão tragicamente
curto, ele deveria ter seguido seus principais instintos e mantido distancia
dessa porra. A Raça havia ido bem, sem rumo, por vários séculos;
provavelmente poderia ter mantido essa merda por tempo indeterminado.
Tanto faz.
— Wrath!
— Divorcie-se de mim.
P á g i n a | 520
— Se você se livrar de mim, você se livra dos motivos que eles usaram.
Sem motivos, sem remoção. Você tem o trono e...
— Você está fora da porra de sua mente! – Ele berrou. — Que porra
você está falando!
Houve uma pequena pausa. Enquanto ela ficava surpresa por ele não
ter achado sua ideia brilhante.
Era a coisa mais estranha. Agitado como ele estava, quando ela lhe deu
uma ordem direta assim? Ele seguia de pé como um soldado.
— Você pode estar levando nosso filho agora mesmo. Você está
dizendo que quer trazer para o mundo um bastardo?
— Ele não seria para mim. Ele não seria para você.
Wrath se soltou de seu domínio e queria andar... Exceto que ele não
conhecia a posição da sala de musculação bem o suficiente para não cair
sobre seu traseiro.
Ele piscou por trás de seus óculos. — Não vai acontecer. Sinto muito,
mas não vou fazer isso.
— Eu não acho que as pessoas jamais passaram por esse tipo de coisa,
especialmente do jeito que aconteceu com você.
Ele não iria perder Beth. Nem mesmo de uma forma figurada.
Quando Beth saiu da sala de musculação com seu hellren, ela era um
balão desinflado. Sem argumentos, sem planos, ela odiava onde eles
estavam, mas todos os caminhos para um lugar melhor foram obstruídos por
um "não" que ela não poderia trespassar.
Só havia um.
Abrindo a coisa, ela o leu uma vez. Duas vezes. E uma terceira vez.
Eu não fiz jus a esse legado essa noite. E eu acho que não
posso tolerar a minha covardia.
A glymera tinha maneiras de arruinar vidas que não tinham nada a ver
com caixões.
Talvez eles pudessem mudar de quarto hoje. Ela não achava que podia
lidar ou até mesmo ver essa suíte adornada com joias.
Sim. Certo.
Deus, se V não odiasse tudo sobre a empresa Apple, ela poderia ter um
iPhone na mão e perguntar a Siri o que fazer.
Ela apreciava tanto que Wrath batesse o pé pelo seu casamento, mas
caramba...
Beth congelou.
Ele deixou seu enorme corpo cair para trás contra a porta de vidro do
escritório, enquanto George se enrolou para deitar-se... Como se esperasse
que isso fosse demorar. — Beth.
— Bem, ama?
P á g i n a | 527
— Sim.
— Não.
— Certo. – Isso foi falado em um tom que sugeriu em sua cabeça, ele
estava respondendo a pergunta: Se eu colocar a arma aqui, e puxar o gatilho, eu
poderia me tirar dessa miséria, não é?
— Certo.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Nada. – Ela correu para o armário para que pudesse entrar no túnel
à frente dele. — Tudo.
Quando ela saiu correndo do painel oculto, ela ouviu seu hellren
xingando, mas não tinha tempo para entrar nisso com o seu homem.
Agora.
*****
Selena experimentou seu primeiro verdadeiro bloqueio naquela manhã.
Mas ela poderia fazer algo sobre o Java, como os Irmãos o chamavam.
Não havia mais ninguém em casa. A outra Escolhida tinha ido até o
Santuário para visitar Amalya, por conta do destronamento de Wrath.
Rehvenge estava em Caldwell. O doggen que agora revezava entre esse local
e a mansão da Irmandade tinha ficado na cidade, tendo em conta a triste
notícia.
Ela ainda sentia a fome que a atraiu até a cozinha para tentar satisfazer.
Quando seu corpo estava lutando para sair de sua prisão, sacudindo as
barras metafóricas que tinha se fechado em torno dele.
— Oi?
Apenas quando Trez entrou, seu corpo irrompeu livre de seus limites
invisíveis, seus membros estalando, batendo em coisas, agitando-se livres. E
então ela caiu, batendo a cabeça na borda da caneca de café, o bolinho
saltando do seu prato, o ruído do açucareiro e o impacto estrondoso de seu
peito em cima da mesa como uma bomba explodindo.
— Selena!
Trez a pegou antes dela deslizar para o chão, seus grandes braços
pegando-a e segurando-a firme em seu corpo, tudo o que estava rígido se
P á g i n a | 531
tornou líquido: Ela não apenas reclinou em seu aperto como se derreteu nele.
E não porque ela estava excitada.
Embora ela abrisse a boca para falar, não saiu nada. Em vez disso, os
detalhes dos painéis de madeira escura e da lareira de pedras do rio e a coruja
de pelúcia em cima da lareira tornou-se hiper claro, seus olhos praticamente
ardendo pela acuidade da sua visão.
— Selena? Selena.
Havia uma curiosa letargia agora, uma tão intensa que ela podia sentir
sua energia sendo sugada para dentro de um vórtice que temia que nunca
seria livre. Vagamente, ela estava ciente de que tinha errado a doença. Ela
sempre assumiu que era nas articulações, mas na verdade, sentiu como se
seus músculos fossem o problema.
Um bom tempo.
A língua dela saiu testado o sabor e o gosto dele a fez gemer com sede.
Ela não achava que poderia engolir, no entanto...
Franzindo os lábios, ela vedou em torno do corte que ele tinha feito no
pulso e oh, o alimento glorioso. Com cada sorvo, ela sentiu uma força vindo,
enchendo onde a letargia a tinha deixado vazia.
E quanto mais ela tinha, mais ela queria, a ganância crescente em vez
de saciedade.
Com mãos gentis, ele a reposicionou para que ficasse deitada em seu
colo, com as pernas esticadas, com os braços sobre a cabeça. E enquanto
bebia dele, ele era tudo o que ela via, seus belos olhos amendoados, os lábios
perfeitamente moldados, sua pele escura e cabelo curto.
Da mesma maneira que ela esteve antes em sua presença, ela podia
sentir suas prioridades mudando de volta para aquele lugar de desespero,
para o impulso sexual que havia dizimado seu pensamento para tal ponto
que não existia de qualquer modo.
Capítulo CINQUENTA
Enquanto sua irmã continuava a falar, sentiu sua cabeça acenar, ele
retrocedeu para aquele lugar onde a epilepsia nascia, algum tipo de
emaranhado de impulsos elétricos ameaçando assumir o controle de tudo...
Exceto que tinha acabado com esta merda. Assim, quando o zumbido
começou a elevar-se, ele impediu pela força de vontade.
Cara, pela primeira vez, estava contente que fosse mudo. Porque se
tivesse que falar, ela saberia que estava em algum lugar emocionalmente
estranho. Como estava, suas mãos estavam mais constantes do que sua voz
estaria.
Antes que pudesse soltar os braços, sua irmã se lançou sobre ele,
abraçando-o com tanta força que quase arrancou sua cabeça fora. E quando
fechou os olhos e a segurou em retorno, o tempo parou...
Tudo o que podia ver eram lágrimas… Exceto, não, isto era a chuva.
Chovia no para-brisa de um carro... Um carro que amava. E então ele estava
alcançando a ignição e...
Apoiando sua testa nos painéis, não tinha nenhuma ideia por que seus
olhos estavam lacrimejando... Ou por que seu peito tinha inchado com tal
orgulho e felicidade.
— Sim, eu sei, – ela disse. — Mas tenho que perguntar em voz alta às
vezes.
Não entendo isto, ele sinalizou. Por que estou com ela na porra da mente?
Mas havia mais do que aquilo nisso, ele pensou. Não de modo
romântico ou qualquer coisa assim. Ainda assim…
que cuidar deles. E esqueça o cinto e a gravata borboleta... Ele apenas ficou
lá como uma vaca leiteira, enquanto ela fazia o trabalho rápido.
O olhar dela estava cintilando quando lhe deu aquele olhar da cabeça
aos pés nele.
John estufou o peito, ficando todo peito de pomba. Difícil não ficar
quando sua fêmea estava lhe comendo com os olhos assim.
E você ainda está nua. Ele sorriu. Seu presente de aniversário é meu favorito.
Xhex não era normalmente melosa, mas cobriu a mão dele com a dela
e a trouxe até a boca. Beijando-a, ela murmurou, — Eu sei. Eu amo você,
também. Para sempre.
Alguns minutos mais tarde eles se dirigiram para fora, com ela vestida
com calça e uma camisa de seda preta. Que, junto com o presente de
aniversário acima mencionado, era um equipamento muito bom.
Especialmente porque pela primeira vez, ela colocou nos pés um espetacular
par de sapatos de foder.
Outras pessoas estavam saindo das portas dos quartos: Blay e Qhuinn,
também em ternos. Z e Bella, com a pequena Nalla vestida em outra
confecção rosa de seda e tule… Que a fazia praticamente a coisa mais
adorável que já viu.
Abaixo no foyer, ainda mais dos da casa se juntaram, mas não Wrath
ou Beth ainda, e John juntou-se a multidão... Que novamente estava muito
quieta. Inferno, até Rhage colocou um freio em sua habitual palhaçada...
Embora com a boca daquele anjo caído pronto para mostrar...
— Ela disse que queria a coisa mais santa na casa para fazer isto.
— Sim. E seu livro de orações, é assim que ele chama? Tenho também
um sermão que eu mesmo preparei.
— Sim, meu filho, você vai para o inferno. – Lassiter fez o sinal da cruz
e em seguida olhou em volta. — Então onde está a nossa noiva? O noivo?
Estou pronto para casar alguém.
Rhage suspirou.
— Há Goose no bar, meu irmão... Oh, espere. Nós não temos mais um
bar.
Todos examinaram por cima de seus ombros quando Beth falou mais
alto. Ela estava entrando na biblioteca, Saxton ao lado dela, Rehv atrás deles.
Este último tinha um pergaminho fechado debaixo do braço, e uma
expressão confusa em seu rosto.
Levou um bom tempo antes que John pudesse fazer suas mãos
funcionarem direito. E quando sinalizou sua resposta, pensou que de toda
aquela besteira que a glymera estava arremessando, e a tensão na casa, e a
tristeza de Wrath… Isto era algo que sentiu como se tivesse esperado pela
vida toda. Algo que cruzou uma grande distância para fazer. Algum tipo de
meta que precisava enfrentar, apesar de não estar ciente do que estava lá fora.
Beth nunca amou tanto o seu irmão. Quando John Matthew entrou ao
lado dela, podia sentir a força silenciosa dele ressonando para ela... E ela
precisava disto.
Beth se inclinou.
— Uau.
— Impressionante.
Beth esfregou suas têmporas. Vishous. Ela devia ter pedido a Vishous
para fazer isto.
Quando todos ficaram em silencio, ela olhou para o topo das escadas.
Wrath apareceu e estava de pé, alto e orgulhoso, com George ao lado dele.
Diferentemente de John, ele não estava em um smoking, mas tinha colocado
um certo terno que ela lembrava.
Era o que ele tinha usado no primeiro encontro oficial deles com
Darius.
Cara, ela não podia esperar até que estivesse grávida ou completamente
necessitada. Seu micro-ondas interno estava deixando-a louca.
Quando Wrath bateu no chão de mosaico sem seus pares de botas, ela
pensou que ele não poderia parecer mais magnífico. Seu cabelo estava
espalhado por todos seus enormes ombros, as extremidades chegando até os
quadris, e com aquela gravata em seu pescoço… Parecia como um poderoso
homem de negócios. Que poderia matar se estivesse disposto.
Quando ele recuou, ela apressou-se antes que ele pudesse continuar
com qualquer tipo de discurso.
— Isto é...
Capítulo CINQUENTA E UM
Francamente, ainda que tivesse sua visão, teria que ser acompanhado.
No entanto, não tinha certeza de como se sentia. Por outro lado, eles
sempre fizeram as coisas de acordo com as tradições de sua raça
originalmente e ainda que nada disso tivesse importância para ela, sempre
esteve ao lado dele. Parecia justo que fizesse o mesmo por ela.
Ou Xcor e os Bastardos.
— Branco. Longo. Solto. Está sendo escoltada por seu irmão e leva
uma rosa que Rhage tirou de um buquê em cima da lareira. – Fez uma pausa.
— Os olhos dela estão em você e o sorriso? Vale milhões de dólares, meu
amigo. Fodidos milhões de dólares.
A casa inteira bem como sua shellan e ele mesmo gritou. — Não!
— Homem, nós estamos fazendo isto muito bem. – Disse sério. — Sim,
continuando. Wrath?
— Você recebe esta mulher incrível que acaba de salvar seu traseiro
como sua esposa? Irá amá-la, confortá-la, honrá-la e cuidá-la na saúde e na
doença, renunciar a todas as outras e ser fiel a ela, sempre e até que a morte
os separe... Merda, supunha-se que você teria que responder antes dele Beth.
Pode responder?
— Não. – Beth disse com outra risada. — Realmente está tudo perfeito.
Estava tudo tão… Certo. Era natural e real... E a falta da cerimônia tão
trabalhada, especialmente considerando o sistema de valores ridículos da
aristocracia.
Wrath movimentou a cabeça para sua leelan. — Ele está certo. Você é,
de fato, incrível. Acho que precisamos ouvir isto.
— Bem, bem, bem. – Ela disse. — Eu, Beth, uma mulher totalmente
incrível…
E de repente já não era uma piada. Quanto mais longe ia, mais sério
Lassiter ficava, e a shellan de Wrath estremeceu como se as palavras que
falava tivessem um grande valor e significado.
— “…Para amar e respeitar, até que sejamos separados pela morte. Este
é meu voto solene...”
Beth nunca fora uma daquelas mulheres que imaginava seu casamento.
Brincava com Barbies. Comprava revistas de noivas assim que completou
vinte anos.
P á g i n a | 548
As mãos de Beth estavam tremendo quando ela as levou para seu rosto.
Puxou os óculos e seus olhos incríveis foram revelados e pensou na primeira
vez que o viu, no quarto de hospedes subterrâneo da casa de seu pai.
Eram exatamente como agora. Verdes brilhantes até o ponto onde tinha
que piscar e não apenas pelas lágrimas em seus olhos.
— Não, eles me mostram todo o amor em seu coração. – Ela tocou seu
rosto. — E isto é muito útil.
A boca de Wrath desceu sobre a dela, roçando uma vez, duas vezes. E
então a beijou profunda e lentamente.
Quando Rehv entrou pelos arcos, ele movimentou a cabeça para Beth
e ela se inclinou para seu marido.
Exceto que ele tomou seu tempo para ir onde Rehv estava segurando
um pergaminho que tinha tiras vermelhas e pretas fluindo mais abaixo pela
metade.
Beth soltou sua mão para dar a seu homem um pouco de espaço, mas
ele não queria isto, claramente. Levantou o pergaminho.
— Minha assinatura diz que sim. E seu nome está ali. Então é sobre
nós.
Ele não iria fazê-lo, ela pensou. Apenas não seria capaz de fazê-lo...
Vendo Selena tomar de sua veia, Trez estava totalmente contente por
dar o fora do que quer que fosse que estava acontecendo em Caldwell por
isso.
Ele permaneceu por cerca de um minuto e meio com essa merda antes
de escapar, deixando iAm com um olhar sombrio no hall de entrada com o
Gato Maldito, como ele chamava o animal, de volta em seus braços.
Assim que Trez tinha chegado até o grande acampamento, ele havia
sentido a presença de Selena e ficou elétrico... Mas tudo tinha mudado
quando ele a encontrou na cozinha, no meio de algum tipo de colapso.
Vamos lá, contudo... Quando foi a última vez que ela se alimentou...
— Sim?
Seu sorriso teria batido em sua bunda se ele já não estivesse sentado. —
O que fazemos.
Deus, ele amava o sossego aqui. Sem música alta, nenhum ser humano
bagunçando a sala, sem pressões do mundo exterior... Ou do s’Hisbe. Nem
mesmo os Irmãos e as suas companheiras, tão legais como todos eles eram.
Apenas os dois.
Quando sua ereção engrossou ainda mais, ele teve que mover seus
quadris debaixo da cabeça dela. E, em seguida, ouviu-se dizer, — Eu quero
fazer amor com você. Agora mesmo.
Quando ela acenou com a cabeça… Ele sabia que ambos estavam
perdidos.
— Por favor, – ela sussurrou com voz rouca. — Tire-me dessa miséria,
desse castigo.
Sua mão desceu para o corpo dela, indo para união de suas pernas... E
ele quase teve um orgasmo em seguida, e ali, suas bolas apertando e seu pênis
pressionando contra suas calças, até que ele teve que trincar seus molares.
Seu primeiro pensamento foi para tomá-la onde eles estavam. Não era
inteligente.
Com uma onda de força, Trez se levantou com ela em seus braços,
embalando-a com cuidado. — Onde é o seu quarto?
Saindo a passos largos, ele a levou pelas escadas que rangiam até o
segundo andar, indo para uma suíte que estava sobre a cozinha, chutando a
porta aberta. No interior, o mobiliário vitoriano era todo de mogno pesado
com muitas curvas, e a cama era uma extensão espetacular de marcenaria, o
quadro perfeito para ela quando ele a deitou sobre o edredom de veludo.
As mãos dela foram para o cinto em seu robe, mas ele a impediu. —
Não, eu gostaria de... Fazer isso.
O cinto era tão branco e suave quanto o resto do que ela usava, e
quando suas mãos escuras afrouxaram o laço, ele lambeu os lábios.
Separando as duas metades do tecido, não se apressou com a revelação.
— Oh, porra…
O cheiro dela foi direto para o seu sexo, seu pênis empurrando de novo,
tentando sair.
E merda, o som dela gemendo seu nome o fez ceder. Mas, então, ele
estava de volta a ação, tocando-a entre suas pernas, encontrando o núcleo
quente, molhado dela e o acariciado. Quando as unhas dela arranharam seus
braços, ele sorriu contra seu seio.
Ele sabia que precisava ter cuidado com a linguagem, e jurou fazer
melhor com o vocabulário.
P á g i n a | 555
Sua calça não foi tratada melhor do que sua camisa quando a lançou
longe, nem mesmo se importou quando ela caiu sobre um dos postes da
cabeceira.
— Você é… Magnífico.
O grunhido que ele soltou foi alto suficiente para abalar o espelho ao
lado da porta, e ele caiu para o lado. — Cuidado… Oh, Deus…
— Mas eu quero...
Seu sorriso era sexy como o inferno, seus olhos cintilantes. — E então
eu posso explorar?
Isso fazia parte do seu trabalho... Embora ele odiasse pensar sobre isso.
Como uma Escolhida que serviu as necessidades de sangue de outros, ela
tinha sido sexualmente treinada e esteve com os machos que ela serviu. Era
assim que as coisas funcionavam.
— Não pare.
— Eu não irei...
Aconteceu tão rápido que ele não teve a chance de pará-lo... Selena
agarrou seus quadris, prendeu-o no lugar, e empurrou-se para frente,
levando-o a ultrapassar uma barreira... Que não deveria ter estado lá.
Virgem.
Trez retirou-se tão rápido, e ela estremeceu... E ele quase terminou não
apenas fora da cama, mas fora do quarto.
Seus olhos se afastaram dele enquanto ela puxava seu robe. Ela ainda
amarrou o cinto antes de sentar-se sobre os travesseiros. — Eu queria você.
Eu ainda quero. É tão simples quanto isso.
— Não é simples, – ele disse com voz rouca. — Isso não é simples.
A última coisa que ele precisava era outra fêmea com a qual ele seria
obrigado a se casar: Se Phury como Primale quisesse que ele seguisse com
isso? Que diabo ele iria fazer?
*****
Quando Trez ficou pelado no lado mais longe do quarto, Selena
pensou, Hmm, não era o que ela estava esperando.
Mas ela tinha razão em ficar quieta. No último minuto, ela fez uma
decisão consciente para não contar... Precisamente por esse motivo.
— Como é... Como... Por que… – A gagueira não era um bom sinal.
— Eu pensei que você fosse uma ehros.
— Eu sou.
Não com o futuro dela. Embora do modo como Trez estava olhando-
a, isso não estava nas cartas de qualquer maneira...
P á g i n a | 559
Ela ergueu o queixo. — Quem vai dizer a ele? – Quando isso parecia
impedi-lo, ela deu de ombros. — Não vou ser eu. E ninguém está em casa
com a gente. Então, se você não fizer isso, ele nunca vai saber.
Foi por isso que, quando Trez fez uma pausa depois de constatar que
seu sexo estava apertado, tinha tomado o assunto em suas próprias mãos. Ela
estava determinada a não perder sua chance, especialmente não depois
daquele episódio no andar de baixo na mesa da cozinha.
— Não se preocupe, – ela disse com exaustão. — Não existe nada para
ser feito.
— Você não sabe da missa a metade. – Mas pelo menos ele veio e se
sentou na cama. Colocou a cabeça para trás em suas mãos, ele exalou duro.
— Eu não deveria ter sido o único, Selena. Ninguém além de mim.
— Mais uma vez, você não acha que isso é uma decisão que só eu posso
fazer?
— Você está brincando comigo, – ele reclamou quando passou por ela
até o travesseiro. Nele, um aparelho celular estava sentado com sua tela
virada para cima, depois de ter claramente deslizado para fora do bolso da
sua calça, quando ela acabou na cabeceira da cama.
Algo lhe dizia que isto não estava em seu futuro, no entanto.
P á g i n a | 561
O anel de sua mãe em seu dedo mindinho foi o que veio a sua mente:
aquele rubi era um símbolo do voto solene de Beth e o fez pensar sobre tudo
o que sua fêmea havia feito por ele. Para emparelhar, ela colocou sua fé, seu
coração, seu futuro nele e em seu povo, tradições, costumes... Afastando-se
do seu lado humano por completo, até o ponto em que não tinha mais
nenhum contato com a raça, nada além dele e de seus irmãos, o trabalho dele
assumindo a vida de ambos.
Ela ganhou muito, com certeza. Mas tinha perdido tudo o que já tinha
conhecido. E tinha feito isso por ele, por eles.
Se não fizesse isso? Ele estaria tratando-a com o mesmo desrespeito que
o Conselho.
Ele a deixou levar a ponta da caneta para onde devia haver uma linha,
e então ele rabiscou seu nome.
— Entendido.
— Deite-se, George, – ela disse quando parou no que ele achou ser a
porta. — Eu sei, eu sei que você não quer sentar-se aqui fora, mas precisamos
de um minuto.
Boa pedida, ele pensou quando se soltou dela e caminhou por conta
própria, sua mão da adaga esticada. Quando ele sentiu a cornija da lareira,
P á g i n a | 563
desejou poder ver o fogo controlado. Ele queria cutucar algo quente e fazê-
lo chiar.
Cara, a amargura em sua voz não era característica dele. Mas essa
situação o mudou.
Graças a Deus que seu pai estava morto... E isso não era algo que ele
ousasse imaginar em pensar...
Atrás dele, Beth pressionou-o com seu corpo, suas mãos deslizando até
seus ombros e esfregando os músculos tensos. — Foi uma cerimônia bonita.
— O quê?
Wrath começou a sorrir, mas então ele se lembrou da última vez que
estiveram juntos... E as circunstâncias. — Tem certeza que você está pronta
para... Depois... Bem, você sabe.
P á g i n a | 564
— Muito certa.
Para provar o ponto, ela esfregou-se contra ele, e ele teve que xingar.
Instantaneamente faminto, ele, no entanto, reprimiu aquele lado selvagem
quando baixou a sua cabeça e tomou a boca de sua esposa.
Quando ele concordou, ela puxou o vestido que estava usando até a
cintura, as pernas se abriram para ficar ao redor dos quadris dele.
Jamais.
*****
Fora do quarto de Selena, Trez aceitou a ligação... Mas não conseguiu
um "alô".
Já era meio-dia?
P á g i n a | 566
Virgem.
Porra.
Virgem.
Logo em seguida, todas as mulheres com que ele já tinha fodido vieram
rapidamente em lembrança, mais uma vez enchendo o espaço entre eles. E
então ele teve um pensamento feliz com as que ele estava fornecendo para
s'Ex hoje.
E, ainda, ela o olhou nos olhos. — Como quiser. Mas estarei aqui se
você mudar de ideia.
Cara, ela não era nada mais que autocontrole quando ele olhou para
baixo, quase um desafio para ele ficar longe.
Seu autocontrole não era tão bom. Mas a situação em que ele se
encontrava era muito ruim.
Oh, e quanto a Phury? Ele se sentiu como merda sem dizer nada ao
Primale. Apenas outra forma em que ele a desonrou, mas nada de bom pode
vir de uma revelação como essa.
Porém havia muita gente esperando por ele no décimo oitavo andar.
iAm estava apoiado na porta fechada, bem casual, exceto pelo seu olhar
mortífero. E com ele? As prostitutas que Trez tinha arranjado para s'Ex.
Puta Merda.
— Chefe...
— E aí...
Passando por seu irmão, ele entrou na sala de estar. E, assim como a
sombra que ele era, o assassino estava esperando do outro lado do vidro, as
suas vestes negras flutuando no vento frio.
Ele esperou até que elas saíssem da sala antes de deixar s'Ex entrar. Boa
coisa... O assassino estava puto, ao tirar o capuz de sua cabeça.
Assim que Trez estava prestes a jogar tudo na cara do desgraçado, iAm
entrou. — Tínhamos um compromisso obrigatório com o Rei. Não
podíamos sair de lá, e nada que vá acontecer de novo.
s'Ex chegou até o broche preto em sua garganta. Grande como o punho
de um lutador, era cravejado com pedras pretas, o metal torcido em torno de
si mesmo... E quando ele tirou a coisa, o robe caiu no chão.
O que não era comum era o resto do corpo: Cada centímetro de sua
pele era marcada com aquela tatuagem ritual branca, com os braços
fortemente musculosos e ombros modelados como a merda. E, no entanto,
ele ainda poderia se passar por humano.
— Apesar do fato de que você está atrasado, – s'Ex disse entre dentes,
— Eu fiz a todos um favor.
— Qual é o favor?
P á g i n a | 570
— Sua Majestade está prestes a ficar ocupada com coisas que não
envolvem você por um tempo.
— Sim. Uma vergonha. – s'Ex estalou os dedos. — Ele teve uma queda
feia.
— Então de quem é?
Santa… Merda.
s'Ex assentiu. — O momento é bom para você, porque ela vai ter que
esperar para ver se é outra filha. Nesse ponto, os mapas de estrelas terão que
serem lidos para descobrir qual será a próxima rainha. É óbvio que se for um
filho, você está ferrado. Se não, você pode ter uma chance... Afinal, foi
prometido particularmente para aquela filha. Se a outra for rainha? Você
estará bem.
— Não se preocupe com isso. – Trez ajeitou calça, sua mente girando.
— Tudo o que você precisar.
— Sim.
— Oh, merda, porque não disse logo? – s'Ex estendeu a palma da mão.
— Eu prometo. Nada permanente e nenhum almoço.
s'Ex parecia entediado. — Tudo bem. Mas teria sido mais divertido de
outra maneira.
Quando ele saiu da sala, seus passos pesados ecoaram pelo corredor e,
em seguida, houve vozes. Seguido pelo som de uma porta sendo fechada.
Trez foi direto para o bar apesar de ser pouco depois do meio-dia
apenas, e pegou uma garrafa de uísque Maker’s Mark. Ele não se incomodou
com um copo; direto da garrafa era bom o suficiente para ele.
E ele tinha tirado a virtude de uma boa fêmea cerca de meia hora atrás.
— Ele vai fazer com todas as três de uma vez, – iAm murmurou.
Puta merda, Trez pensou, ele esperava poder ficar à frente daquele
apetite.
P á g i n a | 573
Neve fresca começou a cair às seis horas, como se isto tivesse esperado
pelo sol baixar no horizonte antes de fazer seu aparecimento... E pela meia-
noite, a tempestade não estava mostrando qualquer sinal de clarear.
— Você vem?
Ao som da voz de Throe, Xcor olhou por cima do ombro. Seu lutador
estava de pé na entrada, vestindo um terno adequado.
Sua Escolhida estaria esperando por ele, Xcor pensou. Neste tempo
ruim.
— Sim, – ele disse com a voz rouca, saindo da cadeira que puxou para
perto da janela.
Depois que Xcor a colocou nas costas, ele cobriu tudo com seu casaco
de couro. — Vamos em frente.
P á g i n a | 574
— Por aqui, – Throe disse, indicando uma entrada dianteira que tinha
toda a sutileza de um outdoor ao lado da estrada. — Como se alguém
pudesse perder isto.
— Não.
— Como desejar, senhor. – A curvatura que ele fez foi tão baixo, que o
doggen quase tocou o chão brilhante. — Mas é claro.
Xcor deixou seu Bastardo responder por ele, decidindo se mover para
outra sala.
E se alguém questionasse por que ela estava saindo? E se ela fosse pega
voltando para casa...?
— Sim.
Por trás, a porta principal abriu uma última vez, uma corrida de ar seco
e gelado intrometeu-se como um convidado errante. Olhando por cima de
seu ombro, ele franziu o cenho.
Xcor olhou por cima de seu ombro novamente. A porta tinha sido
deixada aberta, os funcionários se distraíram para fechá-la... Ou talvez
tenham apenas ido para cima e desapareceram.
— Acho que você deveria fazer as honras, – ele disse para Ichan.
— Sim, eu acho que você verá que tudo é bom e legal. Wrath não está
mais emparelhado com ela. Ele se divorciou há mais ou menos três
semanas... E não sou um advogado, mas estou bem certo de que você não
pode basear um voto de não confiança em um assunto que não existe.
Ficaram lá por muito tempo, e puta que pariu, ele desejava poder vê-la
corretamente. Em vez disso, ele se acomodou para passar seus dedos sobre
suas feições.
Quando ele não disse nada, ela suspirou. — Isso é uma boa coisa,
Wrath. Eu prometo a você.
— Na verdade... Não. Eu não estou com fome, mas deve ser a hora da
primeira refeição. A menos que tenhamos dormido durante ela?
banheiro. — Eu duvido que alguém esteja acordado. Aquela festa foi até às
cinco da tarde.
— Wrath?
— Wrath.
— Sim?
— Sim. Eu estou.
A boa notícia, ele supôs, era que ninguém iria querer nada com ele no
banheiro. E quando ele entrou debaixo do chuveiro antes que estivesse
quente, não sabia por que estava se apressando. Essa sua esposa iria puxar
sua coleira até que ele estivesse de volta ao trono, empurrando papeis.
Com essa perspectiva pairando sobre sua cabeça? Ele devia estar
lavando a mão na pia e usando o secador de uma senhora para se secar...
Ele pulou para fora do Box de mármore tão rápido, que quase caiu no
chão escorregadio. — Beth! Beth.
P á g i n a | 582
Só que tocou antes que ele pudesse pegar a coisa e marcar a extensão
da clínica. Merda, talvez a mulher de V estava lendo mentes, também, agora.
— Jane?
— Wrath, pare com isso. Eu estou bem, – disse Beth diretamente atrás
dele.
Essa era a terceira opção, oh, Deus, agora ele sentia vontade de
vomitar.
— Trabalhadores?
*****
Foi um pouco difícil argumentar com o marido sobre a visita de um
médico quando Beth não podia ficar com a cabeça fora do vaso. Toda vez
que ela pensava que a náusea havia terminado, e ficava de pé, voltando para
o quarto... Dois minutos mais tarde, ela estava de joelhos novamente no chão
de mármore, vomitando absolutamente nada.
— Uh-huh.
— Eu não fiz.
— Sim, eles são reais. – Wrath deu de ombros como se não fosse grande
coisa. — Eles faziam parte do tesouro recuperado do Antigo País. Darius os
instalou aqui.
— Eu estou bem.
— Sim. Eu estou.
Dra. Jane levantou ambas as mãos e olhou para trás e para frente. —
Um… Você sabe o que eu gostaria de fazer se estiver tudo bem para você,
Wrath? Que tal eu conversar com sua companheira cara a cara... Eu não
estou excluindo você. Eu só acho, talvez, que as coisas irão um pouco melhor
se ela e eu tivéssemos um segundo sozinhas?
Wrath colocou as mãos nos quadris. — Ela vomitou. Pelo menos uma
dúzia de vezes. Se ela quiser adoçá-lo, tudo bem. Mas esses são os fatos.
— Como um macho vinculado, eu sei que você vai querer cuidar dela.
E eu acho que, se ela está enjoada, ter essas coisas em sua barriga pode fazê-
la se sentir melhor.
Em um tom mais suave, a médica disse, — Você não vai dar azar. Dizê-
lo em voz alta não vai mudar nada, eu prometo. Eu só quero saber onde sua
cabeça está.
Dra. Jane balançou a cabeça. — Ela fez. Mas antes de irmos muito
longe comparando vocês, eu quero lembrá-la de que cada gravidez é
diferente. Mesmo com a mesma mulher. Dito isso, você apenas passou por
sua necessidade, e talvez você esteja. Provavelmente é muito cedo para dizer,
no entanto.
— Bem, eu vou dizer isso. O fato de que você tenha uma parte humana
na mistura? Ela acrescenta outra camada de complicação que vai fazer o
diagnóstico e o tratamento complicado. É por isso que eu queria ter uma
conversa franca com você. Eu acho que seria uma boa ideia para você e eu
termos uma ideia de como e por quem você gostaria de ser tratada se você
estiver grávida. Eu ficaria mais do que feliz de ajudá-la a passar por isso, mas
essa não é a minha área de especialização. Agora, Layla foi para Havers...
— Eu não posso ir lá. Wrath vai querer estar comigo durante todas as
consultas, e ninguém vai acreditar que não estamos juntos, se ele aparecer
comigo grávida na clínica. Quer dizer, a última coisa que precisamos é que
eles nos chamem por motivos de fraude.
P á g i n a | 588
— Qual?
— Sirva-se.
— Fechado...
— Oh, meu Deus, – Beth disse quando ela percebeu o monte de…
Hum, um monte… Ambos estavam carregando... — Isso é uma caixa de
refrigerante?
Dra. Jane riu quando ela se levantou. — Sua esposa está bem agora.
Mas ela me prometeu que vai chamar, e eu tenho a sensação de que, se não
o fizer, você vai.
Beth revirou os olhos, mas por dentro, ela não se importava de ele ser
insistente. Seu marido estava pronto para tomar conta dela... Ela estando ou
não carregando o seu filho.
Depois que Wrath acompanhou Dra. Jane até a saída, ele voltou
diretamente para a cama. Quando se sentou, Beth pegou sua mão e apertou-
a.
Como não queria deixar sua paranoia sair, ele acenou com a cabeça.
— Sim. Tudo vai ficar bem.
Exceto que por dentro, ele não estava sentindo isso. Nem um pouco.
Como se a glymera fosse ter qualquer coisa para dizer-lhe esta noite?
P á g i n a | 591
Quando ele desceu para conseguir comida com Fritz, ele chocou-se
com Rehvenge, que estava mais do que feliz em reportar a frustrada
cerimônia da realeza de Ichan. Falando sobre seu gingado... Rehv estava alto
como uma pipa vitoriosa: Os aristocratas tinham levado uma, a perna que os
sustentava fora cortada na altura do joelho.
Mas não havia nenhuma razão para ser ingênuo e assumir que eles não
iriam receber tudo de volta no rabo novamente.
Eles iriam apenas encontrar outro caminho para chegar até ele.
Graças a Xcor.
— Eu quero ficar.
— Não há nada para ser feito aqui. Nós estamos em modo de correr e
esperar até que saibamos de uma forma ou de outra.
Bem… Merda.
— Boa pedida.
— Sete. Nós queremos que eles entrem e saíam tão rápidos quanto
possível, porque estamos todos um pouco inquietos... John está aqui comigo.
— Noite, – ele disse, tentando ser casual. — Como está indo o trabalho?
Ele abriu a boca para levar aquilo… Exceto que à medida que inalou,
percebeu que era a verdade. Para cada e todos eles. Eles estavam
honestamente temendo e dominados.
*****
Quando John passou por debaixo do lençol e permaneceu atrás de
Wrath, tudo o que pode pensar foi, sobre a porra do tempo.
P á g i n a | 594
Então o Rei falou, e as quatro simples palavras que saíram de sua boca
foram transformadoras, os trabalhadores olharam para cima como uma coisa
sem igual… Uma espécie de adoração.
— O quê?
— Deus, não. Estava apenas curioso. Isto é tudo. Não sei nada sobre
construção.
— Ah… Sim. Ela foi ferida. Ela nasceu sem ajuda. Apenas eu, que não
era de nenhuma ajuda.
— Não fui.
— Sem dúvida. E sei que você sente falta de sua companheira como o
inferno.
— Você não tem que dizer nada. E eu deveria deixá-los em paz. Estou
começando a tomar o tempo de vocês. – Wrath ergueu sua mão da adaga em
uma onda casual. — Até mais tarde.
P á g i n a | 597
— Assim como?
— Tão acessível.
— Baseado em quê?
— Ele parece com o pai dele, – o mais velho atrás disse. — Escarrado
e cuspido.
— E vi os dois juntos uma vez. O Wrath mais jovem estava com cinco
anos. Ele sempre permanecia ao lado de seu pai, quando o Rei tinha
audiência com os cidadãos. Tive uma disputa de propriedade com meu
proprietário que era da glymera. O Rei cuidou de mim sobre aquele
aristocrata, eu digo a você. – Um ar de tristeza superou a aura inteira do
macho. — Lembro quando o Rei e a rainha foram mortos. Nós estávamos
certos que o herdeiro tinha sido sacrificado também, quando soubemos do
contrário… Wrath já tinha ido embora.
Provavelmente não.
Quando Anha se sentou em frente a sua penteadeira, ela não tinha nada
mais que a sombra de um prolongado cansaço de seu episódio: A cada noite que
passava, estava se sentindo mais ela mesma, seu corpo se recuperando, sua
mente se reafirmando.
— Ele deve retornar logo. – O sorriso era para ser reconfortante. A sombra
em seu olhar certamente não era.
O Irmão apenas sorriu para ela daquele jeito dele, não lhe dando nada para
continuar.
— Ele pensa que eu fui envenenada, então. Caso contrário, por que esta
proteção. A culinária. A preocupação.
Erguendo suas saias, ela correu descalça através do chão de carvalho pelo
horror diante dela: Suspenso entre os braços de dois Irmãos, seu companheiro
estava sangrado em todos os lugares, a frente de sua bata manchada, de seu
lábio cortado e de seu rosto contundido, suas juntas pingavam sobre o tapete,
sua cabeça pendia mole como se ele não pudesse mantê-la erguida.
— O que fizeram com ele! – Ela gritou quando a porta da câmara foi
fechada e bloqueada.
Antes que pudesse se impedir, ela bateu nas pessoas que o seguraram,
seus punhos não causando nenhum impacto naqueles que o manobraram para
cima da plataforma da cama.
Ela queria apertar a mão dele e agarrar-se nele, mas ele parecia
machucado em todos os lugares.
— Eu pedi a eles.
— O quê?
Recostando-se, ela achou que agora tinha vontade de bater nele também.
A voz de Wrath estava tão fraca, que ela se perguntou como ele ainda
estava consciente.
— Há um trabalho que precisa ser feito. Por minhas próprias mãos. – Ele
dobrou-se e estremeceu. — Nenhum outro será suficiente.
P á g i n a | 601
Anha olhou para seu companheiro... E então fez o mesmo para os machos
reunidos, como também para as pessoas que tinham acabado de chegar,
entrando claramente depois que ouviram os gritos.
— Anha...
Wrath ergueu a mão como se fosse esfregar o rosto e então fez uma
careta quando o contato foi feito.
— Acredito que seu nariz está quebrado, – ela disse sem rodeios.
— Realmente.
— Sim.
Rastreando os danos feitos a seu hellren com outros olhos, ela balançou a
cabeça. — Não, não devo permitir isto. Se você precisa ter uma vingança
forjada, deixe um destes machos capazes fazê-lo.
— Não.
Ela olhou para a pesada mesa esculpida do outro lado, que eles
recentemente moveram para cá, em que ele esteve sentado feliz por horas e
horas, governando, pensando, planejando. Então considerou seu rosto
disforme.
— Wrath, você não está apto para deveres violento, – ela disse com voz
rouca.
— Eu devo estar.
— Não. Eu o proíbo.
— Eles fizeram o mesmo com meu pai, – disse Wrath com voz morta. —
Exceto que o envenenaram ao ponto de matá-lo.
Anha levou a mão até a garganta. — Mas não… Ele morreu de causas
naturais...
P á g i n a | 603
— Ele não morreu. E como filho, sou obrigado a corrigir o erro... Como
também o seu. – Wrath enxugou o sangue de sua boca. — Escute-me agora,
minha Anha, e ouça esta verdade claramente… Não devo ser castrado nisto por
você ou qualquer um. A alma de meu pai me assombra agora, caminhando pelos
corredores de minha mente, conversando comigo. E você irá fazer o mesmo se
eles finalmente tiverem sucesso em colocá-la em seu tumulo. Estou
predestinado a viver assim nesta geração. Não espere que eu faça o mesmo com
a seguinte.
Ela se debruçou com urgência. — Mas você tem a Irmandade. É isso o que
eles são, para que servem. Eles são seus guardas particulares.
Sua mão ensanguentada ergueu-se, e ela pensou que fosse para apertar a
dela. Ao invés disso, descansou em seu vestido, sobre seu corpete… Em seu
útero.
— Então não posso permitir que outros façam o que é meu dever. Ainda
que eu possa considerar que você ache que sou tão fraco… Nunca poderia olhar
no rosto de um filho ou uma filha com a consciência de que não tive coragem de
cuidar de minha linhagem.
Derrotada, Anha sentiu as lágrimas caírem por seu rosto, queimando por
todo o caminho.
Em seu coração, ela sabia que ele estava certo... E odiou o mundo em que
eles viviam… E iriam colocar um bebê neste mundo.
Mais adiante, o assassino era tão rápido quanto ele. O bastardo não
estava tão bem armado, no entanto... Especialmente depois de ter
descarregado sua arma, e em seguida, numa crise de quinze anos de idade,
ter lançado o carregador automático para Xcor.
Por outro lado, o Omega lhe dava uma espécie de super poderes depois
de sua introdução.
Xcor deu três passos e saltou, lançando seu corpo no ar, seu peso indo
para cima e aterrissando nas costas do assassino golpeando-o com um
movimento parecido ao de esgrima. Bloqueando-o e puxando com força, se
esgrimiu no ar, girando de tal maneira que caíram com Xcor por cima.
Sua espada gritava para sair e brincar. Mas em lugar de liberá-la, tirou
seu pequeno primo da cintura.
A lâmina assobiou pela segunda vez no ar, a precisão de Xcor era exata,
tocando apenas a orelha. E a dor era o suficiente para incapacitar sua presa...
Bem, isso e o fato de que com certeza o assassino sabia que o que viria seria
muito pior.
P á g i n a | 606
Com uma série rápida de cortes, Xcor abriu caminho pelo corpo,
golpeando a lâmina profundamente em cada ombro para cortar os tendões e
incapacitar o torso... E então as partes atrás dos joelhos.
Em meio a seu trabalho, sua mente saiu de seus pensamentos que tinha
certeza serem ainda mais depravados.
Não venha dizer-lhe que o Rei não havia assinado na linha tão logo o
pergaminho caiu sobre o seu escritório.
A pergunta era: até que ponto este pedaço de papel iria? O Rei
realmente teria se afastado de sua companheira?
Quando não havia nada mais para cortar, Xcor se sentou nos
calcanhares e respirou fundo. Não era tão divertido agora que o assassino
estava todo comprometido. O sofrimento estava ainda lá, mas não era tão
óbvio.
No entanto, ele não queria colocar fim a sua obra. Como um viciado
que se aferra a algo que já não existe para satisfazer suas necessidades, ele no
entanto não podia terminar as coisas.
Quando seu telefone tocou e foi para caixa de voz, estava decidido a
ignorá-lo. Não queria ouvir as queixas de Ichan... O aristocrata vinha
deixando mensagens uma atrás da outra, tentando recuperar seu quase trono.
E logo havia Tyhm, que também ligou.
Houve uma pausa. E então a voz mais doce que ele já havia ouvido
entrou em seus ouvidos.
— Havia coisas que eu não podia deixar passar. – Esta maldita reunião.
O mal estar depois. — Mas já não é mais assim. Tenha certeza.
Ele não iria limpar nada esta noite, no entanto. Qualquer humano que
encontrasse os restos poderia apreciar seu trabalho.
Ela era a única meta que importava neste momento, e quando chegou
ante ela, estava sem fôlego. Fora de sua mente.
P á g i n a | 609
Apaixonado.
*****
Layla levou uma mão a seu nariz.
Quando Xcor aproximou-se, o cheiro que o circundava era vil, tão doce
que ela sufocou. E ele notou sua reação imediatamente, escondendo suas
mãos ensanguentadas nas costas, afastando-se contra o vento.
Como não havia nada que indicasse que o sangue era de sua espécie,
ela suspirou com alívio. — Nosso inimigo?
— Sim.
— Isto é refrescante.
Ele estreitou seus olhos. — De modo que é por que isso que veio aqui?
Para se regozijar?
Quando ela não terminou, ele cruzou seus braços, seu peito parecendo
maior. — Ponha isto em palavras.
P á g i n a | 610
— Qualquer coisa.
— Esta não é uma resposta segura para você, Escolhida. – Ele olhou
por cima, seus olhos reluzindo na escuridão. — De fato, esta reunião não é
segura para você.
Encontrando seus olhos, ela disse sem qualquer emoção: — Sim, ele o
fez. O anúncio foi precedido, mas é verdade. Ele desistiu de seu único amor
para tentar manter o que você tenta roubar dele.
— Deixe esta busca ímpia para trás. – Ela disse. — Por favor.
Ela engoliu forte. Em muitos níveis, ela não podia imaginar fazer sexo
com ele. Ele era um inimigo como a Sociedade Lessening... E de fato, uma parte
dele era monstruosa. Além disso, ela nunca imaginou trocar seu corpo por
algo.
E ela não era ingênua. Sim, sentiu uma atração por ele quando chegou
até ela e a encontrou naquele carro. Mas isto era um acordo de grandes
proporções.
Suas mãos foram para seu ventre, um terror súbito apoderou-se dela. E
se ela colocasse em perigo a criança dentro dela? Mas as outras Escolhidas
continuavam tendo relações com o Primale, não continuavam? Não seria
prejudicial.
— Pensei que fosse para isso que me chamou aqui esta noite.
— Eu mudei de ideia.
— O que você disse para ele? – Uma voz exigiu atrás dela.
respirar... Pelo tempo que durasse... Ele tinha que fazer a situação com
aquela fêmea a sua prioridade.
Nesse ritmo, elas estariam lhe pagando para ver aquele filho da puta.
Droga, elas ainda não tinha levantado a questão do dinheiro que ele
tinha concordado em pagar-lhes por seus esforços.
— Selena…?
Seu cheiro estava no ar; ele sabia que ela estava lá.
Ele teve que abaixar a cabeça sob o batente da porta para entrar, e
quando ele foi para a esquerda novamente, ele sentiu a umidade no ar, e o
calor...
Oh… Cara.
P á g i n a | 614
Trez limpou a garganta com uma tosse... O que você fazia quando
alguém batia no seu plexo solar. — Ah… A gente pode conversar?
Com isso, ela moveu suas pernas, a água ondulou sobre aquele corpo
incrível, suas curvas ampliadas como se ela estivesse se movendo… Seus
mamilos úmidos e deixados ao ar.
Fodido inferno. — Existe uma maneira em que eu consiga que você saia
dai. E vestida?
Sim, porque colocar as mãos sobre ela pelada ia ser uma tão graaaande
ajuda.
— Não.
P á g i n a | 615
Foram tantos os penhascos em sua via, quando as coisas que ele fizera
ou fizeram com ele tinham voltado para mordê-lo na bunda. Nunca gostei
disso.
— Por quê? – A tensão era espessa em sua voz. — Pelo que você está
se desculpando?
Tudo o que ele podia fazer era sacudir a cabeça. — Olha, você sabe que
eu tive… Extensas relações com os seres humanos.
— Isso não foi exatamente como você escolheu a frase anterior, – ela
observou.
— Rúgbi? Ou beisebol?
— Sim…?
Ele deixou cair as mãos. Ela se sentou e seus mamilos rosa ficaram
justamente na extremidade da água, a superfície morna lambendo-os mais
uma vez... Não que ela parecesse notar.
Certo, certo, virgens não deviam ser tão tentadoras. Então, novamente,
ela não era mais... Ele tinha dado um jeito nisso.
Ele focou os olhos no chão. Era azulejo branco simples, antigo e bem
limpo, o tipo de coisa que conseguia parecer fresco até com as suas
rachaduras laterais e lascados ocasionais.
Apenas faça.
Silêncio.
Houve uma longa pausa. E então ela disse, — Acho que eu devia me
vestir.
*****
Lá fora, no campo coberto de neve, Layla virou. Ela estava prestes a
gritar quando reconheceu o homem que havia saído de trás da grande árvore.
Era o soldado, que tinha sido ferido e levado para o centro de treinamento
da Irmandade. O único que não conseguiu corrigi-la quando ela assumiu que
ele era afiliado com os Irmãos.
A pessoa que a tinha trazido aqui para ajudar Xcor naquela noite a
muito tempo.
Ela estava prestes a fazer uma reverência quando se lembrou de que ele
não merecia o respeito. Ele, assim como Xcor, estava do outro lado das
coisas.
Layla puxou as vestes pesadas para mais perto em torno de seu corpo.
— Eu acho que se você quer saber, pode perguntar a ele mesmo. Se você me
der licença, vou me despedir de você...
A mão que prendeu seu braço machucou sua carne, e seu belo rosto
sombrio ao ponto de ameaça. — Não, eu não penso assim. Eu quero que
você me diga o que você estava discutindo com ele.
O soldado deixou cair a sua mão. — Assumindo que você pode ser
confiável.
— Pelo contrário, o seu amor era óbvio para todos. Ele estava bem e
verdadeiramente vinculado. – Layla se forçou a dar de ombros casualmente.
— Mais uma vez, você vai ouvir isso de outras pessoas, eu tenho certeza.
Throe balançou a cabeça. — Então ele não podia tê-la deixado ir.
— Mais uma vez, é apenas um fato para você descobrir em seu tempo
livre. Ou não. De qualquer forma, não me incomoda.
Quando ele deixou-a dar outro passo para longe, ela pensou que havia
uma boa chance que ela pudesse partir.
P á g i n a | 619
— Não.
Ela franziu a testa, não tendo pensado nisso. — Você terá que perguntar
a ele.
— Tenha cuidado.
Quando ela contemplou a porta pesada, um tremor passou por ela. Esse
lutador lhe pareceu mais aterrorizante do que Xcor: esse último nunca iria
machucá-la. Ela não sabia como tinha tanta certeza disso, mas era como a
batida de seu coração, algo que ela podia sentir no centro do peito.
Fechando os olhos, ela odiava estar no meio com Xcor. Como iria
passar as horas antes de amanhã à meia-noite? E por que ele estava fazendo-
a esperar?
Capítulo SESSENTA
Ele olhou para ela, seus olhos escuros faiscando por um momento. —
Você está pronta para continuar a conversa agora?
Querida Virgem Escriba, de todas as coisas que ela pensou que ele
contaria... Não esperava nada daquilo.
— Sim.
Ela teve de sentar-se antes que caísse... E estava indo para a cama antes
de pensar, não, ali não. Em vez disso, escolheu o sofá que ficava em frente à
lareira. Sentando-se sobre os pés e fez com que a túnica cobrisse toda a sua
pele.
— A pior parte é que eu estive com umas duas mil mulheres. Fácil.
A princípio, ela pensou que ela não poderia ter ouvido direito. Mas a
onda de frio que a transpassou sugeriu o contrário.
— Chutando baixo. Pode ter sido perto de dez. Mil, quero dizer.
Merda, talvez até mais.
Selena piscou. Certo, quando ele tinha dito anteriormente que eram
"muitas" mulheres humanas? Ela tinha pensado que era uma dúzia, no
máximo. Mas os números que ele havia mencionado? Mesmo para os
padrões ehros, eram... Incomensuráveis.
Quando ela tentou imaginar todos os diferentes cenários que ele podia
ter… — E algumas dessas mulheres você…
Com uma onda de náusea disparando pelo seu estômago, tudo o que
Selena pôde fazer foi olhar para ele.
— Apenas chega.
Ela também sentia. Porque a triste verdade era que ela tinha gostado de
estar com ele. Na verdade, enquanto estava acontecendo, tinha sido uma
espécie de paraíso. Infelizmente, essa ilusão tinha sido passageira como o
ato, e agora que tudo tinha acabado? Era como se o prazer nunca tivesse
existido.
— Isso ainda pode acontecer para você. – Sua voz se tornou totalmente
impassível. — Isso pode acontecer... Qualquer macho iria querer você.
Ah, sim, mas só havia uma pessoa que ela queria. E mesmo que Trez
tivesse sido um santo, o que ele claramente não foi, o tempo dela ainda estava
se esgotando.
— Eu não a amo, – ele disse entre dentes. — Não sei por que sinto que
tenho de dizer isso, mas sinto.
— Dentro…?
Quando ele tocou o centro do peito, ela percebeu que, de fato, ele estava
oco, a luz tinha desaparecido de seu olhar, faltava animação em seu corpo,
sua aura dissipada como se ele nunca tivesse existido.
P á g i n a | 624
— Sobre o quê?
Tão vazio, ele estava… Vazio até a alma. — O que eu vejo agora… É
o pior de tudo.
*****
Nas margens do Hudson, Assail estava novamente vestido de preto
com uma máscara preta cobrindo o rosto. Atrás dele, Ehric estava em
silêncio e alerta, vestido da mesma maneira.
Assail olhou para o céu noturno. Depois da nevasca que tinha caído
mais cedo, a lua agora tinha algumas nuvens preguiçosas flutuando sobre sua
face, e ele esperava que elas ficasse lá por um tempo. Eles não precisavam de
mais luz, embora o local fosse discreto o suficiente: Distante, em uma curva
na linha da costa, com a floresta que vinha quase até a beira do rio congelado.
Além disso, o modo como a pista era irregular, esburacada, até o SUV tinha
dificuldade em transitar em seu modo off-road.
Fazia tanto tempo que Ehric não perguntava alguma coisa, que Assail
teve que se virar mais uma vez. E na verdade, seu principal instinto era acabar
rápido com o interrogatório, mas a verdadeira preocupação naquele rosto
tenso o deteve.
— Não.
O barco de pesca que virava a esquina era tão lento no rio como uma
folha flutuando e quase tão silencioso. Conforme previsto, haviam três
homens nele, todos eles vestidos em roupas escuras, e cada um trazia uma
vara na mão, como se não estivesse nada mais do que pescando sua próxima
refeição.
— Três trutas.
O homem mais alto digitou o código que tinha recebido, abriu a tampa,
inspecionou os maços, e anuiu.
Agora, ele e seus primos só tinham que dividir o produto para a venda
na rua, e contatar o Forelesser para a distribuição. E o negócio poderia
recomeçar como se Benloise nunca tivesse existido.
Perfeitamente planejado.
— Correu tudo bem, – Ehric disse ao pegarem a estrada que iria levá-
los para a casa de vidro de Assail.
— Sim.
Ele devia estar mais feliz. Isso iria, afinal de contas, abrir um enorme
potencial de lucro. E ele amava o dinheiro e todo o seu poder.
Verdadeiramente, amava.
Em vez disso, a única coisa em sua mente era a preocupação com sua
fêmea, se ela tinha de fato conseguido chegar a Miami a salvo com a avó
dela.
P á g i n a | 628
Para sempre.
Capítulo SESSENTA E UM
Ao acordar, a primeira coisa que Beth fez foi analisar seu corpo inteiro
em busca de ânsia de vômito. Quando a detectou com força total, forçou-se
a se erguer e colocar os pés no chão. Quanto tempo tinha dormido? As
venezianas ainda estavam fechadas, isso significava que ainda não era dia,
mas cara, ela se sentia como se tivesse apagado por dias.
Ao caminhar para o closet, sentia como se seu corpo fosse uma bomba
prestes a explodir... E, cara, ela odiava aquilo: Não tinha nenhuma ideia do
quanto subestimava sua boa saúde até deliberadamente tentar se complicar...
Quando foi colocar a coisa de volta, percebeu que seus dedos estavam
positivamente esqueléticos, a pele esticada nas juntas nodosas e a palma
afundada.
Ele e George estavam saindo da sala de jantar junto com uma série de
doggens, o pessoal levando todos os tipos de bandejas prateadas através do
mosaico da macieira em flor.
— Sim?
— Hum-hum.
P á g i n a | 631
Juntos, eles passaram pela longa mesa de jantar, e entraram pela porta
vai e vem do outro lado. Do outro lado, iAm estava uma vez mais no fogão,
mexendo uma grande panela.
— Como soube?
— Eu o mantive em sobreaviso.
Uma tigela de sopa fumegante foi deslizada na frente dela pelo Sombra.
— Aproveite.
Pegou a colher que Fritz lhe ofereceu, ciente de que os três machos a
olhavam... Wrath com tal intensidade, que era quase como se ele tivesse
conseguido sua visão de volta...
P á g i n a | 632
Talvez fosse apenas por ela ter passado por sua necessidade e estar sem
comer há quanto tempo?
Ela estremeceu.
— Ah.
E assim foi, os três servindo à mesa: Mais sopa? iAm enchia sua tigela
novamente, imediatamente. Mais pão com manteiga? O marido
providenciava. Mais leite? O mordomo corria para o refrigerador.
Sim, isso tudo emergiu, da sopa até o pão, por assim dizer. E então,
mesmo quando podia jurar que não apenas seu estômago, mas sua cavidade
torácica inteira estava vazia, os engolfos a manteve curvada sobre o vaso
sanitário até que seus olhos lacrimejavam, sua cabeça latejava e sua garganta
nada mais era que uma bagunça ardente.
Quando houve uma pausa na ação, por assim dizer, ela descansou sua
testa quente e suada no braço, estendendo a mão para a descarga
novamente… E descobriu que não tinha energia para puxar a alavanca para
baixo.
*****
P á g i n a | 634
Com a porra das suas pupilas, ele não conseguia ver o rosto dela para
conseguir uma analise de sua cor, sua expressão, seus olhos. E sua sensação
aguda de olfato? Saiu pela janela, também... O vômito entupiu suas narinas,
tornando impossível puxar quaisquer indícios emocionais.
A única coisa que funcionava? Seus ouvidos... De forma que toda nova
onda de náusea ia diretamente para seu cérebro.
— Ao médico...
Mas que porra...? Espera um minuto. — Isto não está soando como
Havers, – ele rangeu.
para o mundo humano, durante o dia... Porque olá, o caralho das persianas
tinham acabado de descer…
E sabe o que mais? Ele realmente desejava que a porra da vida o tirasse
da sua lista de merdas. Estava ficando cansado pra caralho de situações
invencíveis.
Wrath olhou por cima de seu ombro ao som da voz de iAm. Seu
primeiro instinto foi dar uma de macho vinculado para cima do cara e dizer
ao Sombra que ele mesmo resolveria aquilo, obrigado. O problema era que,
não conseguiria resolver merda nenhuma... E apenas um idiota se recusaria a
permitir um tratamento médico que sua companheira necessitava.
— Você está certa de que ela precisa disto? – Ele perguntou, sem saber
realmente do que estava falando.
iAm falou novamente. — Cuidarei para que nada aconteça com ela.
Pela minha honra.
— O que posso fazer por você? – Wrath ouviu-se dizendo enquanto eles
se cumprimentavam.
— Ok. Tudo bem. – Só que, quando Wrath soltou e recuou, não estava
em paz com nada daquilo. Mas que outra escolha ele tinha?
Balançando a cabeça, ele pensou, veja, era justamente por isto que não
queria um filho. Esta merda toda de gravidez não era para ele.
— Você vai me levar para cima? Acho que deveria tentar me alimentar
primeiro, e não quero fazer isto na rua.
— Pelo quê?
P á g i n a | 637
Ela não lhe respondeu até que George os guiou até a base das escadas
e Wrath começou a subir.
Eram sete e vinte e três da manhã, quando Sola saiu para seu terraço e
conseguiu ver o mar.
Com o nascer do sol, a vasta extensão azul de água se fundia com a cor
do céu, apenas as belas nuvens do amanhecer marcavam o horizonte entre o
céu e a Terra.
Ela não tinha pensado que deixar Assail a machucaria tanto. Mas, não
podia dizer que se arrependia.
Será que ele voltaria para aquela mulher? Aquela que ela o tinha visto
foder?
P á g i n a | 639
Então, o que ele estaria fazendo e com quem? Não era seu problema.
Não mais.
Sim, a viagem havia lhe dado algo mais além de um corpo dolorido e
um cérebro cansado: todos aqueles quilômetros de rodovia tinham feito
maravilhas sobre sua perspectiva a respeito de tudo.
No norte, ela tinha dito a si mesma que sua fuga tinha sido seu próprio
rumo.
Mas agora, com o amanhecer à sua frente, os raios riscando por cima
da água, os golfinhos brincando nas ondas da manhã... Ela percebeu que não.
Aquilo tinha sido um pretexto.
de fato sido respondida... E na vinda para cá, ela estava honrando sua parte
no trato.
O mesmo, quando escovou os dentes: A última vez que ela tinha usado
sua escova de dente estava no banheiro dele, no andar de cima.
Quanto tempo ia levar antes que ela parasse de comparar tudo o que
havia deixado para trás?
Era exatamente como tinha sido quando sua mãe tinha morrido.
Durante meses depois, os marcadores da sua vida tinham sido determinados
por nuances de sua mãe: último filme que viram juntas, as coisas que tinha
comprado na loja naquela mesma tarde, o último presente de aniversário
dado e recebido, aquele Natal... Que, é claro, ninguém sabia que seria o fim
da tradição.
P á g i n a | 641
Mas lá estava.
Que bom que Beth nunca tinha tido uma fantasia hipotética sobre como
seria descobrir que estava grávida.
P á g i n a | 642
Sim, não era exatamente a merda de cenário que estaria descrito na,
digamos... Pegou a revista mais próxima... Na Maternidade Moderna, por
exemplo.
— Não, não. – Ela puxou-o para baixo de novo. — Quero dizer, é, não,
era apenas um comentário.
— Tem certeza?
Olhando para ela, ele firmemente riu. — Me disseram que você era
repórter?
— Sim. Mas está bem, eu não tenho nada para esconder. – Ele cruzou
as pernas, o tornozelo sobre o joelho. — Sabe, com tudo isto acontecendo
com meu irmão estes anos todos, eu nunca pensei nisto, entende? Preciso
conseguir consertar as coisas com ele sabe, e a merda é que não tenho
conseguido.
— Você pode segurar isto? – Ela perguntou para iAm, estendendo sua
bolsa Coach.
— Sim.
Enquanto ele pegava a sua bolsa, a enfermeira parou e deu uma olhada
da cabeça aos pés para o Sombra. Então ela corou em um tom vermelho
brilhante e teve que pigarrear. — Bem-vindo. – Ela disse para ele.
Enquanto iAm passava por ela, ela recuou um grande passo, seus olhos
muito abertos, como se gostasse da forma como ele cheirava.
A parte do histórico foi rápida, porque antes de sua transição ela era
perfeitamente saudável, e não era como se fosse contar que há apenas dois
anos, ela tinha se tornado uma vampira.
Dã.
— Eu ainda não tenho certeza se estou grávida, para ser honesta. Mas
é possível, tenho tido bastante enjoo... Eu só quero me assegurar de que estou
bem.
— Não. Deveria?
— Obrigada.
P á g i n a | 646
— Estou de acordo.
iAm olhou para ela. — Nós não podemos conversar sobre beisebol ou
algo assim?
Oh, merda. — Ou que tipo de cara, se for o caso. Desculpe, não quis
ofendê-lo.
Agora foi a vez dela rir. — Escute, estou sentada aqui, congelando neste
modelito de papel, esperando ouvir que tenho uma gripe e não preciso me
preocupar, então me ajude a me distrair de minha realidade, certo?
Ela levantou as mãos. — Certo, certo. É só que, eu não sei, você parece
um cara legal.
Oh, Deus, por favor não deixe a médica entrar antes que ele...
— Bem, isto é…
— Ridículo. Eu sei.
29Wilt Chamberlain foi um dos maiores jogadores de basquetebol norte-americano de todos os tempos. Além de vencer o título da
NBA em duas oportunidades (1967 e 1972), também quebrou diversos recordes individuais da NBA em pontos e rebotes: É o único
jogador em todos os tempos a fazer mais de 100 pontos em um jogo e o único a ter média de mais de 40 ou 50 pontos por jogo em
uma temporada. Já foi o líder da NBA em pontos e rebotes por jogo 11 vezes, por 9 vezes teve a melhor taxa de acertos (field-goal)
e até já foi líder em assistências uma vez (1968), fato incomum para um jogador de sua posição. Em toda história da NBA, é o unico
jogador a ter média de mais de 30 pontos e 20 rebotes por jogo em uma temporada.
P á g i n a | 648
— Eu só… Nunca ouvi você dizer tantas palavras de uma vez. É bom
vê-lo se abrir.
— Sim, absolutamente.
Ele balançou a cabeça. — Eu agradeço. Mas não sou uma boa aposta.
Quando ele voltou a ficar em silêncio, ela achou que ele tinha
terminado de falar. Ao invés disto, ele falou uma última vez: — Eu só tenho
mais um segredo.
— E o que é?
*****
P á g i n a | 649
E era apenas outra enfermeira. — Oi, eu sou Julie. A Dra. Sam está
presa em uma emergência. Ela realmente sente muito. Pediu que tirasse uma
amostra de sangue para agilizar as coisas.
— Sra. Marklon?
— Eu não sei. Eu nunca estive doente, certa como o inferno que nunca
desconfiei que estivesse grávida antes.
— Um amigo.
— Meu marido não pôde vir. – Beth disse enquanto os dois apertavam
as mãos.
— Não.
— Isso vai ser primeira coisa em nossa lista. – A Dra. Sam olhou para
cima. — Eu tenho algumas naturais que não irão fazê-la enjoar...
Beth sentiu o sangue sumir de sua cabeça. — Eu... Isto não é possível.
— Sim, ela gostaria que fizesse. – iAm disse à distância. — Você pode
fazê-lo agora?
— Eu… Eu…
— Sim, agora mesmo. – Mas a Dra. Sam não se moveu. — Mas vamos
nos certificar de que Beth concorda. Você gostaria de algum tempo com seu
amigo?
P á g i n a | 652
— Eu não posso estar de quatro meses. Você não entende que… Não é
possível.
Talvez isto fosse uma coisa de vampiro, ela pensou. Tipo, os resultados
deram alterados por que ela era uma...
— Mensagem?
E então, tudo que pôde ver foi sua irmã correndo pelo mosaico de
macieira do piso... Como se estivesse sendo perseguida por um louco.
— Oh, Deus...
John esticou a mão em busca de equilíbrio. Ele não podia ter ouvido
direito. De jeito nenhum...
*****
No silêncio que se seguiu ao grande anúncio de Beth, Wrath não
conseguiu fazer seu cérebro funcionar. Ou seus braços ou pernas. Ao cair
naquele degrau que seu traseiro tinha esquentado, sentiu-se como se estivesse
em uma espécie de pesadelo.
— O quê?
— Foi o que ela disse. – Beth balançou a cabeça contra o peito dele. —
Quero dizer, eu sei que me sentia diferente, mas pensei que fosse a
P á g i n a | 656
Jesus… Cristo.
— Ela disse… – Sua companheira fungou. — Ela disse que ele é bonito.
É perfeito. E que tem o coração de um leão.
— Sim. Um filho.
De repente, ele sentiu o maior, mais largo e mais feliz sorriso se formar
em seu rosto, a maldita coisa esticando suas bochechas a ponto de dor,
fazendo os olhos lacrimejarem, e as têmporas arderem. E a felicidade não
P á g i n a | 657
estava somente em seu rosto. Uma carga tão intensa que queimou seu corpo
inteiro por dentro, limpou lugares que ele nem sabia estarem sujos, tirando
teias de aranhas que estavam nos cantos, fazendo-o se sentir vivo como não
se sentia há um longo, longo tempo.
— Um fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilhoooooooooooooooooooooooooooooo! Vou
ter um fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilhoooooooooooooooooooooooooooooo!
Enquanto Wrath uivava para a lua com orgulho paternal, ela sorriu por
entre as lágrimas e a preocupação. Já fazia tanto tempo que não o via bem e
verdadeiramente feliz... E, no entanto, ali estava, em meio a notícia que
achou que iria enlouquecê-lo, radiante como o sol.
Wrath girou-a para segurá-la com um braço só... E com o outro braço
pegou o papel e empurrou como se tivesse o tamanho de um outdoor e fosse
feito de ouro.
Beth teve que rir mesmo que suas lágrimas corressem mais forte.
— Olhem!
E então ela olhou para Tohr. Ele estava atrás, ao lado de Autumn.
Quando sua companheira olhou para cima com preocupação, pareceu
preparar-se para se aproximar.
Houve tantas vozes e pessoas felicitando-os, mas havia outro rosto que
ela queria ver.
John também estava por perto, e ao cruzar o olhar com o dela, começou
a sorrir... Mas não como Wrath. Ele estava preocupado.
P á g i n a | 659
Saindo do transe, ela se aferrou a duas coisas: uma, ela tinha ouvido
aquele coração batendo, alto e forte; e dois, a médica lhe tinha dito
maravilhas sobre o estado do bebê.
— Você está pronta para ser uma ir… – Beth olhou para Z e então seu
marido. — …Uma irmãzona?
Sim, Beth pensou. Por que era isso o que a Irmandade e suas famílias
eram. Mais próximos do que irmãos, mais fortes do que o próprio sangue por
terem sido escolhidos.
— Sim, ela está. – Bella disse, ao enxugar seus olhos e olhar para trás,
na direção de Z. — Ela está tão pronta.
— Meu irmão. – Z levantou sua mão, seu rosto cheio de cicatrizes com
um meio sorriso, seus olhos amarelos cálidos. — Parabéns.
P á g i n a | 660
Beth devolveu a Nalla para seus pais. — E a Dra. Sam disse que ela fez
o parto de mais de quinze mil bebês em sua carreira.
— Veja! – Wrath gritou. — Ela sabe das coisas. Meu filho é perfeito!
Onde está o champanhe? Fritz! Traga o maldito champanhe!
Mas pela próxima hora, apenas queria curtir com Wrath toda esta
alegria... E fazer parte da celebração deste milagre.
Seu hellren era um cara alto. Mas naquele momento? Ele envergonharia
o Monte Everest.
P á g i n a | 661
O cenho franzido que lhe disparou era sua maneira de dizer que era
uma parede de tijolos, se ela já viu uma. — Absolutamente não! Você é
minha esposa, e está carregando minha criança. Terá sorte se eu deixar seus
pés tocarem o chão daqui a três anos.
Ah, inferno, talvez devesse discutir aquilo, tipo “este bebê é nosso, e não
só seu”... mas não teve vontade. Tinha ficado tão apavorada e com medo que
ele não aceitasse e amasse a criança, que estava aliviada e mais do que feliz
por ele já se sentir tão possessivo.
E já apaixonado.
O que era muito bom para seu futuro filho: Quando Wrath, filho de
Wrath, decidia que alguém lhe pertencia? Ele arrastaria a Lua para a Terra,
se fosse preciso.
Esta reação era exatamente o que ela tinha tido medo de desejar.
Quando ele virou seu rosto para ela, o amor que sentia fazia seus olhos
brilharem tão ferozmente, que ela podia ver a pálida luz verde, mesmo
através das lentes do óculos escuros.
*****
Wrath deixou-se levar totalmente pelo momento. Com seus irmãos o
cercando, e um novo propósito lhe dando razão de viver, ele sabia que esta
P á g i n a | 662
era uma das melhores noites de sua vida. Ou... Merda, ainda era dia, não
era?
Era difícil explicar, até mesmo para ele mesmo, o que exatamente tinha
mudado. Mas de repente tudo parecia diferente, desde a forma como
apertava as mãos de seus Irmãos a como sorria para suas companheiras e
como mantinha Beth no colo.
Já de quatro meses.
O destino tinha servido aos dois: dando a ela o que queria e temia
jamais ter, e o que ele nem sabia que precisava.
de seus irmãos. Eles sempre foram protetores com ela. Agora estando
grávida? Ela iria ter vinte vezes mais daquela merda.
— Ela não acha que seja gripe. Mas já que ela não sabe de toda a estória
da necessidade, que talvez seja a causa.
George o guiou até a porta que dava para a escada do terceiro andar e
lá em cima, Wrath virou a esquerda.
— Ama o quê?
— Esta coisa toda que está acontecendo. – Ele sorriu. — Nosso bebê.
— Eu também.
— Aqui, tome minha veia. – Ele estendeu seu pulso para sua boca. —
Por favor.
— Oh, obrigada.
A medida que seus dentes se afundavam em sua pele, ele a quis em sua
garganta, mas não confiava em si mesmo. Ele já estava todo excitado, e
aquele tipo de merda sempre terminava de um determinado jeito... E de jeito
nenhum aquilo voltaria a acontecer enquanto ela estivesse grávida. Não. Não
com seu filho ali...
A mão de sua esposa caiu em seu pau duro... E ele quase pulou —
Merda!
— Estou tão feliz com tudo isto. – Ela disse, ao mesmo tempo que
sentia-o tocar seu rosto. — Sobretudo com sua reação a tudo isto.
— Você me deu algo… Que até então não sabia que precisava. É o
maior presente que eu recebi... E tipo, completa-me em lugares que nem sabia
que estavam vazios. E apesar de tudo? Eu não te amo nem um pouquinho a
mais. Você continua tão importante para mim como sempre foi. – Ele
curvou-se para baixo e deu um beijo sobre a camisa solta que ela usava...
Uma das suas, na realidade, e aquilo era ótimo. — Eu estava completamente
unido a você antes disso e continuarei depois disto... E para sempre.
— Eu te amo tanto.
Ele foi para sua boca e a beijou uma vez, duas vezes, três vezes. —
Certo. Para trás. Agora termine de se alimentar e descanse... E depois trarei
comida.
— Nada de comida, por favor. Não agora. Sua força é tudo que eu
preciso.
Um filho. Um filho.
Foi com uma sensação de assombro que ele lentamente soltou seu peso.
O trono rangeu como sempre fazia... E ele se perguntou se quando o seu pai
se sentava nele também rangia? Não se lembrava daquele detalhe de sua
juventude e desejou ter uma memória melhor.
Então ele mesmo abriria o caminho e estaria lá para apoiar seu filho.
Ser cego não era genial... Mas também não significava não ter uma vida.
Ah, sim. E por um momento, ele quase voltou a seu padrão de evitar
as coisas, mas então ficou em pé. — Eu descerei... Não.
Parecia que ele não era o único imensamente feliz por ali.
Baixou o olhar para o chão. — Eu não sei o que estou fazendo aqui,
George.
— Traga-o.
Ele jamais tinha visto tamanha… Gratidão? Era aquilo o que era?
Reverência? Era um conjunto de odores nascido de emoções profundas, com
certeza.
Wrath ficou em pé e deu a volta. Mas antes que pudesse dizer qualquer
coisa, uma corrente de palavras saiu da boca do humilde homem.
— Eu sei que foi você. Eu sei que só poderia ser você. – A voz do
homem sufocou. — Eu jamais poderei pagá-lo... Como soube?
Wrath deu de ombros. — Eu só achei que fosse provável que sua filha
precisasse de uma cadeira de rodas melhor. E um par de rampas.
— Será uma honra. – Disse com voz rouca enquanto estendia as mãos.
O que foi colocado em suas mãos era liso e suave. — O que é isto?
E foi neste momento quando Wrath soube que tinha chegado a uma
encruzilhada. Curiosamente pensou em seu filho.
Trocando o leve peso de uma mão para outra, levou a mão ao rosto...
— Eu sou cego. – Ele disse ao cidadão. — Eu não posso ver. Foi assim
que eu soube o que seria importante para você e sua família. Tenho um pouco
de experiência em me adaptar ao mundo.
Wrath sorriu um pouco. — Sim, o título de Rei Cego não é apenas uma
fofoca. E juro por Deus... Que não me envergonho dele.
Puta merda… Até dizer as palavras, ele não tinha percebido o quão
inferior se sentia antes. O quanto tinha mantido escondido. Quantas
desculpas ele tinha oferecido por causa de algo sobre o que não tinha o menor
controle. Mas isto era passado.
Houve uma pausa muito longa. E o homem não foi o único que ficou
surpreso. V estava emanando dúzias de Oh-Meu-Deus enquanto fumava como
uma maldita chaminé em um canto.
— Vermelho.
— Minha cor favorita. – Wrath fez uma pausa. E então decidiu, Foda-
se. — Eu vou ter um filho.
P á g i n a | 670
— Não, ele não será o herdeiro para o trono. – Wrath disse. — Minha
esposa é metade humana. Então ele não poderá me suceder no trono... Mas
tudo bem.
Seu filho poderia seguir seu próprio caminho. Ele seria... Livre.
Percebeu que ele também finalmente estava livre... E que seus pais, se
tivessem a chance de vê-lo, o teriam aprovado.
Ele não tinha ideia do que estava fazendo aqui. Metido entre humanos.
Com um propósito que, se apresentado por um de seus soldados, ele jamais
teria deixado levar a cabo.
Ao passar por eles, baixou os olhos. Ele não queria se lembrar de sua
feiura. Especialmente essa noite...
Será que eles sequer tinham o que ele queria neste lugar?
Rondando o primeiro andar, ele podia sentir os olhos dos clientes sobre
ele... E ficou claro que eles estavam se perguntando se iam acabar no
noticiário da noite de uma maneira ruim. Ele ignorou a todos e subiu a
escada rolante.
— Estar vestido.
O cara fez uma pausa como se não tivesse certeza de ter sido uma piada.
— Ah… Certo, acho que posso achar algo para vesti-lo. Além disso, vai ser
legal. Venha comigo.
Xcor o seguiu, porque ele não sabia mais o que fazer... Ele tinha
iniciado aquilo; não havia razão para não seguir adiante.
— XXXL.
Xcor olhou para si mesmo. Não vestia nada além da camiseta sem
mangas mais limpa que tinha, um par de calças cargo, e suas botas.
— Eu não sei.
— Gravata?
Tirou a jaqueta escura que lhe foi sugerida, atou suas armas e facas e,
em seguida, colocou a coisa de volta. Ficava um pouco apertada na parte de
trás, e ele não podia abotoá-la totalmente por isto... Mas ficava muito melhor
que o seu casaco de couro manchado de sangue. E as calças ficaram apenas
ligeiramente esticadas em suas coxas.
— Sim.
— Eu gosto desse.
Xcor assentiu como se soubesse o que ele estava falando. Que mentira.
— E aqui está o seu troco e recibo. Você quer uma sacola para suas
roupas velhas?
P á g i n a | 676
Uma sacola grande branca com uma estrela vermelha foi passada sobre
o balcão. — Obrigado por ter vindo, a propósito, meu nome é Antoine. Se
você quiser voltar para comprar os sapatos no final do mês...
*****
Layla deixou a mansão às onze e quarenta e oito, esgueirando-se pelas
portas francesas da biblioteca. Ninguém pareceu notar; Mas também, Rhage
e John Matthew estavam vigiando os trabalhadores na sala de jogos, Wrath
estava lá em cima em seu escritório com Saxton, Beth estava de repouso, os
outros Irmãos estavam lutando, e Qhuinn e Blay estavam desfrutando de um
momento de tranquilidade em sua folga.
Não.
Era ele. E… Mais alguma coisa? Algum tipo de fragrância que era ao
mesmo tempo masculina... E deliciosa.
Xcor levou muito tempo para se aproximar. Seus passos eram regulares
e vagarosos e quando ele subiu ao monte e veio até ela, carregava algo sob o
braço. Ela sentiu o corpo responder imediatamente à sua presença, seu
coração acelerando, as mãos suando, sua respiração ficou entrecortada.
— Ruim?
30Mace (spray), uma marca de gás lacrimogêneo, muitas vezes usado pela polícia. Mace Segurança Internacional (empresa), um
fabricante de spray de pimenta nos EUA.
P á g i n a | 678
Ele não respondeu, e seu rosto não revelava nada... De modo que ela
não pôde tirar qualquer conclusão.
Pelo menos ele não fingiu interpretar mal sua pergunta. — Eu tenho
pensado sobre tudo o que você me ofereceu.
E agora seu coração batia tão alto, ela mal podia ouvir sua voz
profunda.
Pelo menos havia alívio naquilo, exceto ela saber que tinha que cumprir
com a sua parte no trato.
Pelo menos ela tinha salvo Wrath. E desde que seu próprio bebê
estivesse em segurança, ela iria em frente e faria o que fosse necessário por
seu Rei.
Quando Wrath saiu do closet, estava vestido com seu uniforme, e ela
teve que tomar um segundo para admirar a vista. Seus cabelos balançavam
soltos, quase até os quadris estreitos. Seus braços magníficos mostravam
todos os músculos, graças a camiseta sem mangas. E aquelas calças de
couro...
— Você vai voltar a fazer sexo comigo? Ou eu tenho que esperar cinco
meses?
Parada. Súbita.
Mas pelo menos, ela sabia que seu marido estava prestando atenção. —
Vamos, Wrath. Como eu disse ontem, eu estou grávida, não doente.
— Ah…
— Então, que tal agora. Porque você parece... Muito bem. – Os olhos
dela subiram e desceram novamente. — Você ficou maior de repente? Quero
dizer, isso é um taco de beisebol em seu bolso ou você só está feliz em me
ver? Venha aqui e me deixe provar sua mercadoria, garotão.
— Meu filho está ai dentro, certo? E só... Isso só não parece… Certo.
P á g i n a | 681
— Oh, é mesmo?
— Será que ele também fará tatuagens como estas? – Tantos nomes, ela
pensou. — Ou por eu ser mãe dele, não lhe será permitido...
— Estou surpresa.
— Com o quê?
P á g i n a | 682
— Com o tanto que eu quero que ele queira. Eu quero que ele seja
exatamente como você.
Ele se inclinou. — Você está tentando me bajular para que eu faça sexo
com você?
— Está funcionando?
Ela passou a mão pelo seu rosto e sua mandíbula firme. — Eu esperarei
por você. Sempre.
— Não sinto vontade de comer nada. Mas vou tentar algumas dessas
bolachas de água e sal e refrigerante daqui a pouco. Layla disse que era a
única coisa que conseguia manter no estômago.
— Bem, essa foi a outra parte do compromisso. iAm teve que trabalhar
um pouco de magia na pobre mulher... Naturalmente, meu exame de sangue
não foi nada do que eles já tenham visto antes, embora as taxas dos
hormônios da gravidez acabaram por serem suficientemente normais. Ela
quer que eu volte em um mês, a menos que haja qualquer alteração. Dra Jane
disse que tentaria conseguir uma máquina de ultrassom para a clínica, eles
têm algum equipamento portátil para ortopedia, mas não tem nada
especificamente para gravidez que faça processamento de imagens em 3D.
Infelizmente, é o tipo de equipamento que custa muito caro.
— O que você vai fazer hoje à noite? – Mesmo que ela soubesse a
resposta.
— Fico feliz.
chegar até eles. Meu pai costumava tirar esta merda de letra, falava com as
pessoas... Pessoas de verdade, não aquela porcaria da glymera...
Ele olhou para ela, e o sorriso lento que marcou seu rosto foi a coisa
mais sexy do mundo. — Sabe o quê? – ele disse. — Eu amo sua mente.
Totalmente.
*****
Wrath girou a perna esticada ao redor, trazendo-a em um círculo
completo. E o contato se fez exatamente onde ele quisera – no alto, e no rosto.
Mas Wrath sabia que não devia desfrutar a pequena vitória. Saltando para
trás sobre seus pés, deu uma cambalhota no ar e aterrissou solidamente,
definindo sua posição de combate, levantando ambas as adagas...
Tohrture veio para ele em pleno ataque, sem amenizar a velocidade nem
a força, e Wrath ficou muito quieto. No último segundo, quando o grito de
guerra do Irmão soou e ecoou na caverna iluminada por tochas, Wrath se
agachou no chão e pegou o lutador pelos tornozelos com um bote explosivo.
Tohrture caiu para frente... E como Wrath tinha aprendido, a última coisa
que se poderia querer era um Irmão com uma espada sobre você. Saindo do
P á g i n a | 685
caminho, ele pulou de volta para seus pés. Isso era fundamental. Sempre se
manter em pé.
Wrath não teve nem consciência dos cálculos que fazia... Onde o peso de
seu oponente estava dividido, para onde aqueles olhos estavam olhando, onde
os pequenos grupos musculares se contraiam. Mas era tudo parte de seu
treinamento, as coisas que uma vez pareceram estranhas, se tornavam uma
segunda natureza.
Vindo do nada, ele foi atacado pelas costas, um peso enorme o levou para
o chão. Antes que ele pudesse respirar, virou-se e se viu preso pela garganta com
uma gravata.
Crack!
A dor queimava como brasa em seu rosto, e enquanto ele esperava que
ela amenizasse, lembrou-se do inicio de tudo isso... Como a sensação da dor uma
vez o deixara perturbado, assustado, distraído. Agora não mais. Agora ele
P á g i n a | 686
Seu sangue era vermelho brilhante ao formar uma poça crescente sob seu
rosto.
Wrath se apoiou de joelhos de modo que seu torso ficasse na vertical. Ele
sabia que não devia tentar se levantar ainda. Seu crânio estava muito zonzo
para isso. Espera… Espera…
Wrath fechou os olhos e sentiu seu corpo desabar. Mas então ele imaginou
sua amada shellan, deitada na cama deles, sua pele da cor das nuvens.
— Como quiser, meu senhor, – Ahgony disse. Antes de gritar mais uma
vez, — De novo!
P á g i n a | 687
— A lugar algum, meu bem. – Ele sorriu. — Prossiga com suas lições...
— Por que esta carta? – Ela indicou o envelope aberto em sua mão. —
Onde você vai?
— Não vá!
— Nada lhe faltará. – Desde que fossem mantidos os recursos que certa
vez foram dados pelo pai do atual Rei a ele. Mas então, ele o mantinha
escondido em muitos lugares secretos. — Fedricah sabe de tudo e cuidará de
você. – Ele deu um passo para trás. — Eu não posso envergonhar minha
linhagem. Seu futuro depende disto.
Se ele não compensasse sua ação covarde, sabia que ela poderia ser a
próxima. E ele não aguentaria.
Fora, ainda podia ouvir sua filha amada gritando seu nome e
lamentando. E passou-se um tempo até ele ser capaz de convocar toda sua
concentração para se desmaterializar... Mas eventualmente, conseguiu.
Bem, se este fosse o lugar onde seria executado, era um lugar elegante
o suficiente para se perder a vida. A mansão ficava na melhor parte de
Caldwell, uma beleza Federal com luz brilhante em todas as janelas e um
alegre lustre na entrada convidativa.
Tudo que pode fazer foi piscar. A morena à sua frente vestia roupas
soltas, seu cabelo enrolado nas pontas, os olhos azuis brilhantes, amigáveis e
atentos.
— Eu sou Beth. – Ela estendeu a mão. — Estou realmente feliz por ter
vindo.
Ele baixou o olhar para a mão dela e franziu o cenho. Aquilo era… O
Rubi Saturnino em seu dedo? Queridíssima Virgem Escriba, esta era a...
Abalone caiu de joelhos diante dela, curvando sua cabeça quase até o
chão polido. — Vossa Alteza, eu não sou merecedor...
Abalone ergueu seus olhos, para cima, bem acima… O maior vampiro
macho que já tinha visto olhava para ele. E realmente, com aquele cabelo
preto longo e aqueles óculos escuros, ele sabia exatamente quem ele era.
E então tudo o que pode fazer foi olhar de um lado para outro... E então
para trás, quando dois homens tão grandes quanto ele, que deveriam ser
membros da Irmandade, moviam cadeiras através do vestíbulo.
— Abe?
— Ah… – Não era o que ele esperava disto em qualquer nível, embora
lhe agradasse muito a ideia da glymera ter sido passada para trás. — Sim, mas
é… Se trata mais de uma pequena afiliação, na verdade. Existiam questões a
serem avaliadas e... Não que eu estivesse tentando fazer o seu papel...
*****
— Eu sei onde você foi ontem à noite.
Agora ele girou sobre suas botas de combate. Estreitando o olhar para
seu homem de confiança, disse. — Cuidado com o que vai dizer em seguida.
E nunca mais volte a me seguir.
— Você não tem direito de questionar isto. – Xcor se segurou para não
sacar a adaga, mas foi difícil. — O que ocorre dentro de minha vida particular
não é da sua conta. E me permita esclarecer: não se atreva a voltar a se
aproximar dela, se quiser viver para morrer de causas naturais.
— O que é então?
— Se você quiser eu diga mais alguma coisa, vai ter que baixar a arma.
No entanto, este era o problema. Ele temia ser muito mais que isso. —
Eu não estou.
— Então forme seu próprio bando e tente vencer. Não vai funcionar,
mas prometo a você um bom enterro, se ainda estiver por aqui.
— Não mais.
Throe olhou para cima como se buscando inspiração dos céus. — Está
bem. – Ele disse firmemente.
Mas ele não se enganaria. A ambição de Throe estava entre eles agora,
e nenhuma troca de palavras ou mesmo um pergaminho mudaria isto.
Isto não acabava ali, nem de longe. E quem sabe se levaria noites,
semanas ou anos antes do desdobramento vir à tona… Mas aquela dívida os
perseguiria daquele momento em diante.
Outra enxaqueca?
O que realmente queria era dar o fora daqui. E não só deste clube. Ou
do que estava acontecendo no armazém do outro lado da cidade. Ele queria
sair de toda esta porra de negócio, da vendas de bebidas às prostitutas, do
dinheiro à loucura.
Puta merda, toda vez que fechava os olhos, ele via o rosto de Selena.
Ouvia a voz dela ao dizer que queria se vestir. Sentia o cheiro de sua
decepção.
Tudo dele.
P á g i n a | 696
E era estranho. Seu irmão vinha tagarelado com ele para limpar seu
modo de agir por quanto tempo? Dizendo-lhe que tinha que se controlar e
parar com as trepadas, advertindo-o de que o tempo estava encurtando,
esperando e rezando para que uma reviravolta chegasse... Mesmo quando
não havia nenhuma esperança de que isto acontecesse. Enquanto isso, ele
vinha trepando com prostitutas em lugares públicos, tendo enxaquecas, e
montando uma onda enorme de autodestruição... Erguendo o colarinho, e
não dando a mínima.
Deus… Ele rezava para que a rainha tivesse uma filha que fosse
escolhida. Talvez daquele jeito, pelo menos parte deste pesadelo estaria
terminado...
A batida na porta foi suave, e ele sentiu o aroma de loção corporal antes
mesmo da coisa abrir.
A funcionária que entrou tinha pernas longas o suficiente para ser uma
modelo, mas seu rosto não chegava lá: o nariz um pouco grande demais, os
lábios pequenos demais, os olhos um pouco fora do centro. E isso mesmo
depois de toda cirurgia plástica. Ainda assim, de longe ou na escuridão, ela
era um maldito nocaute.
— Sim. – Ainda bem que ela não o conhecia bem o suficiente para saber
de que ele estava meio morto. — Tenho um cliente especial que...
Ela começou a correr as mãos para cima e para baixo em seu corpo,
cobrindo seus peitos e seu sexo.
— Obrigada, chefe.
— Tem certeza?
Olhando fixamente para ela, parte dele queria ceder. Seria muito mais
fácil desta maneira... Como cair para trás em uma piscina em julho... Splash,
e lá se ia o calor. O problema era que, naquela situação hipotética, ele não
sabia nadar. E toda vez que se deixava ir apenas para se esfriar, acabava
debaixo d’água, incapaz de respirar.
— Sim, tenho.
P á g i n a | 698
Depois da pequena DR feliz deles, Selena não foi mais até a casa da
Irmandade novamente, e ele certo como inferno não foi para o grande
acampamento de Rehv.
Quando a porta fechou, ele voltou a olhar fixamente para ela. Em sua
superfície plana, tudo o que podia ver era Selena, exatamente como se ela
tivesse morrido e o fantasma dela viesse assombrá-lo.
um escravo sexual encarcerado nas paredes do palácio, usado apenas por seu
pau e sua ejaculação… Não parecia muito diferente do modo como vinha
vivendo sua vida.
Bem, merda… A única coisa que não seria a mesma coisa? Seu irmão
estaria livre para viver a vida dele.
Liberto.
*****
Sola saiu de seu apartamento mesmo que fosse meio da noite. Ela
simplesmente não conseguia mais permanecer confinada, e o terraço não
estava sendo suficiente para seu perambular.
Parando, ela observou o luar que fluía por detrás dela tocando o topo
do mar agitado. Embora isto a deixasse nauseada, deliberadamente colocou-
se de volta no porta mala daquele carro, sentindo o frio e a vibração, o medo
de saber que o que quer que estivesse por vir, iria machucar. Muito.
Não foi um cheiro, não; o vento a seu favor. E não foi a visão de nada
específico... Ao vasculhar a paisagem atrás dela, em busca de arbustos
balançando, viu somente outro condomínio em desenvolvimento, um tipo de
gramado, uma piscina… Mas nada se movendo. Nenhum som, nada.
Sua voz não foi muito longe por causa do vento. Retrocedendo, ela
correu se aproximando de casa. — Assail?
— Assail…?
P á g i n a | 701
Ela olhou ao redor, rezando para vê-lo, mesmo que fosse a última coisa
que precisasse.
No caminho de volta para sua casa, ela deixou as lágrimas rolarem uma
a uma sem se preocupar em enxugá-las. Estava escuro. Não havia ninguém
para vê-las.
Capítulo SETENTA
Foi pelas noites que ele passou ouvindo as histórias de seu povo.
Como sempre, Beth ficava ao seu lado, sentada junto com Abe durante
as audiências, verificando a papelada com Saxton quando era necessário…
Sua barriga crescendo a cada momento.
— Volto o mais rápido possível, meu senhor! Acho que vou pegar
alguns sorvetes de iogurte para ela? Ela gosta de raspas de chocolate?
— Não esquecerei.
E o cachorro sabia direito para onde ir, levando-o para a entrada... Que
Wrath abriu com a mente. — Oi, querida, cheguei! – Ele gritou.
— Porra. Bem, eu estou escalado esta noite com Tohr, então podemos
nos apressar? Há uma lista cheia de compromissos, mas eu quero voltar para
Hell’s Kitchen.
— Você não grava essa merda? – Wrath reclamou quando ele e George
entraram na antiga sala de jantar.
— Ha! Eu tenho asas e uma auréola, seu filho da puta mal humorado.
Eu já sou permanentemente salvo.
Wrath teve que sorrir ao se sentar. A única coisa que fazia o filho da
puta irritante ficar sério era quando se tratava de Beth, e ele tinha que admitir
que isso era meio... Amável.
O único que não perguntou em voz alta foi John... Mas não precisava.
O irmão de Beth era uma presença discreta e preocupada, desde que haviam
feito o anúncio da gravidez surpresa. E Wrath amava o cara por isso. John
P á g i n a | 704
nunca ficou no caminho, mas estava sempre lá, ouvindo Beth, sendo
solidário, conversando com ela, trazendo seus filmes.
Jesus…
Toda vez que Wrath pensava sobre o evento iminente, ele perdia a
respiração. Mas se forçava a lembrar de todos os exames que iAm tinha
levado sua esposa para fazer. Beth estava tendo uma gravidez perfeita. Ela
estava saudável, feliz, comendo e bebendo, e se alimentando bem... Não que
a Dra. Sam, a médica humana que a acompanhava, soubesse sobre isso. E a
frequência cardíaca estava ótima. E seu filho estava ótimo.
Sem dúvida o pobre coitado não tinha nenhum interesse naquela merda
toda, mas isso não importava. Ele era outro que era fiel a Beth, e era seu
P á g i n a | 705
— Sim. E você ainda não viu nada. Ainda tem de passar pelas Fraldas
Genies e mamadeiras.
Qualquer um deles teria dado a sua vida por ela ou pelo bebê em seu
ventre.
Era o suficiente para fazer um macho ter que piscar um pouco mais
rápido.
Àquela altura, eles tinham que fazer com ela por cima, e isso estava
mais do que bem para ele. Ele amava tomar seus seios, agora pesados, nas
31 Born Free são utensílios que ajudam na transição do bebe, mamadeiras que viram copos, mordedores que acalmam e estimulam
as gengivas sensíveis do bebê, ajudando na transição para alimentos sólidos.
P á g i n a | 706
mãos sentindo seu núcleo levá-lo de uma maneira nova, devido à forma
como o corpo dela havia mudado de forma.
— Ei, Abes.
— Aê, Ab.
— E ai, Albacore?
— Absolutamente não.
P á g i n a | 707
*****
Com um sentimento de grande pavor, Anha colocou sua mão em sua
barriga intumescida, e viu seu companheiro se preparar para noite à frente.
À luz bruxuleante da lareira e das velas, tudo nele estava diferente. Ela
tinha notado a mudança que vinha ocorrendo ao longo dos últimos meses, mas
nessa noite, tudo o que era sutil parecia ter se unido de uma só vez, o auge tinha
chegado.
Seu corpo estava diferente agora, mais rijo, mais definido. Maior.
E sua expressão não era a mesma. Pelo menos, não quando esse seu novo
estado de espírito pesava sobre seus ombros.
P á g i n a | 708
— Quanto tempo vai ficar fora? – Ela perguntou. — E não minta. Eu sei
com que propósito está partindo.
Sua voz estava mais baixa do que o normal, mais fria que o normal. E então
ela percebeu que ele estava colocando um cinto de couro sobre o peito. Assim
como os irmãos usavam.
— Sim.
Wrath, seu companheiro, seu amor, o pai de seu bebê por nascer,
aproximou-se de onde ela estava sentada diante de seu espelho. Quando ele se
ajoelhou, foi um alívio, porque ele era quase familiar dessa forma.
Especialmente quando olhou em seus olhos.
Com isso, ele beijou-a com força, e então saiu pela porta do quarto. Antes
que voltasse a se fechar à sua passagem, ela viu que os Irmãos fizeram fila em
ambos os lados do corredor de pedra, cada um com uma tocha.
Eles se curvaram para seu hellren à medida que este passava por eles.
Sozinha…
Deixando cair a cabeça nas mãos, ela sabia que tudo o que podia fazer...
Era rezar.
Capítulo SETENTA E UM
Mas, sim, a preocupação tinha passado em sua maioria, agora que ela
estava no final das quarenta semanas. E claro, o parto poderia ser difícil...
Mas não, ela não iria tentar se arriscar a um parto natural, sem anestesia. E
cada vez que ficava um pouco inquieta? Ela só lembrava a si mesma das
milhões de mulheres e fêmeas que tinham passado por aquilo antes dela.
Dando a volta na sala de jantar, ela teve cuidado de não fazer nenhum
barulho ao atravessar para o sofá.
Oh… Inferno.
Mortes. De parto.
Ela ouviu por tanto tempo sobre como a Raça de vampiros sofriam na
cama do parto, como chamavam, mas antes não compreendia muito suas
perdas. Agora por estar mais perto dos cidadãos? Estava horrorizada.
Era uma tragédia que a ciência médica não conseguia resolver. Dissesse
o que fosse sobre Havers: Ele tinha uma clínica equipada com todos os tipos
de tecnologias modernas, e coisas ruins ainda aconteciam. Aparentemente o
tempo todo.
Mas ele segurou suas mãos e as levou aos lábios beijando suas juntas
uma por uma. E quando uma repentina onda de cansaço a golpeou, ele
pareceu perceber.
— Como soube?
— Eu?
— Bom. – Ele a beijou uma vez. E então pareceu ter que fazê-lo
novamente. — Eu amo você.
*****
Ao se afastar de Beth, Wrath se recostou na poltrona, e não estava nem
um pouco à vontade.
— Meu senhor?
Caminhando pela porta com seu cachorro, sentiu-se aliviado por Fritz
já ter saído e que os Irmãos tivessem ficado.
Um acidente de carro.
Wrath estava certo de que tinha sido o primeiro, mas não foi assim que
o destino jogou. Não, a mulher sobreviveu até o nascimento e teve a criança.
Foram assassinados por um condutor bêbado voltando para casa, da clínica
de Havers. A crueldade casual do destino era às vezes destruidora em escalas
épicas.
Incrível.
Tantas histórias que tinha ouvido, mas esta… Jesus Cristo, o afetou.
Não soube dizer quanto tempo ficou ali, mas finalmente V colocou a
cabeça na porta. — Você está bem?
— Não.
— Sim.
P á g i n a | 715
— Certo.
— V.
— Sim?
— Sim.
— O que…
Sem razão aparente, pensou em seu pai e sua mãe, e perguntou-se como
teria sido a noite de seu nascimento. Eles nunca tinham falado disto, mas ele
nunca tinha perguntado, de qualquer forma. Sempre havia mais em jogo,
além disso, era muito jovem para se preocupar com estas coisas.
Sempre.
A família primeiro.
Eu amo você.
Não foi um Seja um bom Rei. Nem um Siga meus passos. Nem mesmo um
Deixe-me orgulhoso senão…
Eu amo você.
— Wrath?
Wrath voltou-se para as janelas que não podia ver. — Você trabalhou
rápido.
— Oh.
— A maioria dos Irmãos saíram há horas. Fritz está ainda aqui. Ele
está limpando lá em cima.
— Oh.
— Um legado?
Mas então, ele e sua shellan já estavam grávidos meses antes de sua
primeira necessidade.
P á g i n a | 718
Wrath honrou a palavra que dera a sua shellan. Ele estava, na verdade, de
volta ao amanhecer.
Havia seis corpos sendo arrastados pelo chão, atrás dele e seu cavalo, e
mais dois na parte traseira da sela. Os primeiros, ele tinha amarrado com cordas
nos tornozelos; os últimos foram fixados ao cavalo com ganchos e redes.
E dos outros que tinha matado não tinha sobrado suficiente de seus restos
para trazer com ele.
Ele não conseguia sentir nenhum cheiro além do sangue que havia
derramado.
Ele não conseguia ouvir nada além do ruído abafado dos corpos sobre a
sujeira da estrada.
Ele não sabia de nada, exceto que havia assassinado a cada um deles com
suas mãos.
P á g i n a | 719
Ele não gostava do que tinha feito. Ao contrário de um gato de celeiro que
gostava de seu dever, os ratos que tinha matado não lhe tinham sido fonte de
felicidade maliciosa.
Mas, quando ele pensava em seu filho ainda não nascido, sabia que tinha
feito do mundo um lugar mais seguro para ele ou ela. E, quando ele considerava
sua amada companheira, bem como a morte de seu próprio pai, ele estava bem
ciente de que o que tinha sido atípico para a sua natureza tinha sido, de fato,
muito necessário.
E estava mesmo.
Ele a conhecia há tão pouco tempo, quando julgado pela passagem das
estações. Mas com o curso dos acontecimentos, acreditava que estavam juntos
há vidas.
Puxando as rédeas, ele soube que ela viu tudo quando suas mãos subiram
para a boca e Tohrture teve que tomar seu cotovelo para mantê-la de pé.
Desejou que ela não tivesse vindo. Mas não havia modo de desfazer as
coisas.
Pensou que talvez ela fugisse dele, mas, não, foi o oposto.
P á g i n a | 720
— Você mente.
Pelo menos com ela, não tinha de fingir. A verdade era que ele ainda temia
o futuro. Ele podia ter tomado a sua vingança sobre esses traidores, mas
haveriam outros.
Fechando os olhos, ele desejou que houvesse uma maneira de sair daquele
legado... E ele se preocupava com seu futuro filho, se tivesse um. Filhas tinham
uma chance. Filhos eram amaldiçoados.
Mas não podia mudar o que ele nascera para ser. Ele apenas rezava para
que a coragem que o tinha amparado essa noite, viesse de novo, quando mais
fosse necessário.
Pelo menos agora ele provou para si mesmo e sua amada que ele não era
apenas um líder em tempos de paz. Na guerra, ele podia empunhar a espada, se
fosse preciso.
Quando sua companheira estremeceu contra ele, ele soube que ela
estremeceria novamente, na noite seguinte, quando visse o que ele faria com as
cabeças daqueles cadáveres.
Quando acenou para os irmãos, sabia que eles cuidariam de seu cavalo e
suas presas. Haveria tempo para as decapitações mais tarde. Agora? Ele só
queria um pouco de sanidade em meio à loucura.
Ao entrar no castelo deles, ela foi, como sempre, sua única força.
Wrath observou o rosto que o olhava de volta, o belo rosto que definia
suas horas, bem como seus anos. — Espero que ele encontre alguém como você.
— Sim. Eu rezo para que ele tenha pelo menos metade da minha sorte.
Tendo isto? Você será mais rico do que qualquer rei e rainha que já
percorreram a Terra.
P á g i n a | 722
Wrath viu sua mãe, pela primeira vez em trezentos e trinta anos, no dia
seguinte.
Em algum nível, sabia que devia ser um sonho. Ele estava cego por
tanto tempo para ser seduzido a pensar que aquela realidade de repente tinha
mudado.
E ainda assim, ela saiu da escuridão para ele, estava tão viva quanto ele
poderia ter desejado que estivesse, movendo-se com facilidade, usando um
vestido de veludo vermelho no estilo antigo.
— Wrath.
P á g i n a | 723
— Mahmen?
— Não sei se você se lembra disto, mas você veio a mim uma vez.
Deus, sua voz era tão gentil, assim como ele se lembrava... E quase
fechou os olhos apenas para poder memorizar o som. Só que não, não se
privaria nem por um nano segundo da visão.
— Eu não lembro...
— É uma dívida que lhe devi por um longo tempo. – Seu sorriso era
tão pacífico como o da Mona Lisa. — E devo retribuí-lo agora. Porque o amo
tanto, tanto...
— Wrath, acorde.
Franzindo o cenho, ele virou-se para o lado da cama onde sua mãe
esteve em pé…
— Quem?
Ele deu uma boa alongada, e quando sua espinha soltou um estalo,
estalando, esticando, pensou com carinho na conversa que teve com Payne
assim que chegou em casa. Eles iriam começar a lutar novamente... E não
porque ela era uma fêmea.
Era porque ela era uma lutadora e tanto e ele queria voltar ao jogo
agora.
Quando voltou para cama, pretendia retornar para a terra dos sem luz.
Exceto que quando se deitou, franziu a testa.
— Por nada.
Quando ele ficou calado, ela enrolou-se contra ele e soltou um suspiro
como se estivesse se aconchegando para voltar a dormir. Ele aguentou cerca
de um minuto e meio.
— Bem, sim.
Sim, como ele poderia dizer-lhe algo como, Minha mãe morta me disse
isto.
— Não sei. Somente, talvez ela pudesse lhe fazer um exame ou algo
assim.
— Desculpe, – ela disse. — Senti uma pontada nas costas. Sabe de uma
coisa? Usarei tênis de corrida da próxima vez que for caminhar assim. Agora
você vai desligar e...
— Sim, oi, isto é uma emergência médica. Preciso que a Dra. Sam
venha até nossa casa, minha esposa é uma paciente dela… Trinta e seis
semanas... Sintomas? Minha esposa está grávida, quanto tempo você vai
demorar?
— Wrath.
E isso foi quando ele se calou… E percebeu que sua mãe tinha razão.
Virando a cabeça na direção de sua esposa, ele disse com medo, — O quê?
— Estou sangrando.
*****
A definição de terror mudava quando as coisas não eram apenas sobre
você. E nada era menos sobre si mesma do que se estar com trinta e seis
semanas de gravidez, sentindo algo jorrar entre as pernas… Sabendo que não
era a bolsa que tinha estourado.
Quando foi transferida para maca, olhou para onde tinha estado na
cama e estremeceu com a mancha neon. Era enorme, como se alguém tivesse
despejado um galão de tinta por baixo dela.
Mas Wrath, o mais velho, estava bem ao seu lado, segurando sua mão,
orientando-se com ajuda da lateral da maca.
— O pequeno Wrath vai ficar bem? – Até sua própria voz estava
apagada, o volume totalmente baixado. Ela tentou torná-la mais alta. — Ele
vai ficar bem?
Exceto que este não era seu plano de parto. Ela deveria ir para o mundo
humano, onde havia pessoas para cuidar dela e do pequeno Wrath, resolver
quaisquer problemas que ele pudesse ter, estar lá para ela e iAm se fosse luz
do dia, e para Wrath, o pai, e John, se fosse noite.
Ao chegar à clínica, ficou apenas pensando que não deveria estar aqui.
Especialmente quando olhou para aquele enorme lustre na sala de cirurgia.
P á g i n a | 729
Por alguma razão, pensou em todas as vezes que tinha vindo até aqui,
apoiando um Irmão ferido em campo, vindo para um exame com Layla, ou...
Mas sua resposta não foi registrada. Não conseguia ouvir sua própria
voz.
— Se eu apertar...
Ele não estava usando seus óculos escuros. E seus pálidos olhos verdes
desfocados, vagavam em torno do quarto como se estivessem desesperados
para ver algo, qualquer coisa.
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Por alguma razão, isso a fez chorar, aquela imagem de seu marido cada
vez mais flutuante, enquanto a natureza incontrolável da vida voltava a se
impor da pior maneira possível: Ela não se importava com nada, exceto o
bebê, mas não havia coisa alguma que pudesse fazer para evitar qualquer
resultado. Seu corpo e o bebê eram os que jogavam aqueles dados.
Sua mente, sua vontade, a alma dela? Todos os seus sonhos e desejos,
esperanças e loucuras?
Quando ergueu a mão para tirar um fio de cabelo de seu rosto, ela
percebeu que eles colocaram um medidor de pressão nela e introduziram
uma IV. E aquilo não era cabelo no caminho; eram lágrimas.
— O que faremos?
Com uma voz que estava tão rouca que era apenas compreensível, ele
disse, — Deixe ela e Manny operá-la, ok?
— Tudo bem.
P á g i n a | 731
A Dra. Jane voltou à vista. — Nós vamos ter que colocá-la para
dormir... Não quero fazer uma epidural porque não vai dar tempo.
— Certo.
John Matthew.
— Ei, cara, – ele disse, ciente do tempo ter dado uma parada. — Ei…
Cara.
No final, tudo o que Wrath podia fazer era devolver o aperto da mão
de seu Irmão, e assim os dois ficaram, lado a lado, juntos, congelados,
enquanto termos médicos eram trocados de um lado para o outro e havia
sons de metal ressoando e assobios e ruídos de sucção.
P á g i n a | 732
Outro assobio.
Ninguém respondeu.
Ele não podia respirar. Nem pensar. Ele nem estava vivo.
Passou-se uma eternidade até a Dra. Jane vir até ele. E pela
proximidade e direção de sua voz, ele sabia que ela tinha se ajoelhado à sua
frente.
Ela estava falando com ele como se fosse estúpido... Isso era bom,
também.
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— Eu não ligo para nada além dela. Faça tudo o que for preciso. Faça,
agora.
Ele queria abraçá-lo porque sua shellan estava nessa criança. Em cada
molécula de seu corpo vivo, ela estava com ele, e isso significava que, se
mantivesse a criança junto a seu coração… Estaria segurando sua Beth.
Beth saiu da confusa terra do nunca como uma rolha ainda boiando na
água. Veio à tona, sentindo as coisas irem e virem, fora de foco.
Quando ela se esticou para o lado da cama, sua intra venosa repuxou,
mas ela não se importou. E seu macho veio até ela, Wrath levantou-se com
o recém-nascido e sentou-se ao lado dela na cama de hospital.
Pequeno Wrath, sim, ela realmente o havia nomeado já que era a cara
do pai. Até mesmo as entradas do cabelo formando o pico da viúva no centro
da testa. E como ele a reconheceu de alguma forma, abriu os olhos quando
seu pai deixou-a segurar o precioso pacote.
Porque mesmo que, ele pesasse quanto? Três quilos ou algo assim? Da
maneira que o pequenino a encarou, era como se ele já fosse mais alto do que
o pai.
E então ela viu seus olhos. As pupilas eram normais, as íris azuis
escuras, e não verdes claras.
— Ele parece.
— Eu também.
Quando ele esfregou o rosto, aquele terror que ela sentia voltou. — O
que. Há algo de errado com ele?
— Não.
— Eles tiveram que retirar suas entrahas. Você estava sangrando muito.
Beth exalou. Outra coisa que não fazia parte do plano. E foi um choque
perceber que a parte do que a definia como uma mulher... Uma fêmea... Já
não estava com ela.
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Dane-se o útero.
— Eu sinto muito.
— Foi preciso dois. – Ela acariciou seu rosto. — Você e eu. Juntos.
*****
Várias horas mais tarde, Beth saiu da cama e tomou um banho de
esponja no banheiro. Então vestiu uma camisola Lanz e, com a ajuda de
Wrath, saiu do quarto com o pequeno Wrath em seus braços.
Ela pretendia voltar para a mansão para encontrar a família, mas eles
tinham vindo até ela. Quase cinquenta deles, desde os Irmãos até os doggen,
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Mancando até ele, ela não disse uma palavra. Ela só lhe entregou o
P.W.
Franzindo a testa por cima do ombro, ela e todo mundo só olhava para
o último vampiro de raça pura do planeta.
34 Pequeno Wrath.
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Com isso, Wrath enfiou a mão no bolso da calça cargo pretas que
vestia... E tirou um punhado de pedaços de... Lascas?
Beth abriu a boca para dizer alguma coisa. Mas no final, tudo o que
pôde fazer foi ir contra o corpo duro de seu marido e abraçá-lo.
Mas isso era o que acontecia quando um mortal comum... Fazia algo
digno de um super-herói.
Parecia ter encontrado sua natureza. Ela era incrível… E estava tão
feliz, tão malditamente feliz.
A realidade de ter um filho era melhor até do que o sonho tinha sido.
Wrath reposicionou seu filho, Deus, ele amava essa palavra, filho e, em
seguida, fez as contas.
— Será que é para a lua que você está olhando? Deve ser... Sim, eu
acho que é.
Ou… O rosto.
Ergueu-o alto.
Para que seu filho visse a lua pela primeira vez, com olhos que eram
tão perfeitos quanto o resto dele.
As pessoas saíam correndo para fora das portas da casa. Uma grande
multidão.
*****
Eles procuraram Beth quando ela estava na esteira. Todos eles. Todos
os membros da Irmandade.
E quando ele terminou, ela ficou entorpecida e quase caiu fora de seus
Nikes.
Sua viagem de volta pelo túnel, em direção à casa, teve o mesmo tipo
de remoção de consciência, que ela tinha sofrido quando entrou em trabalho
de parto. Ela não se lembrava de nada da corrida, nem todas as pessoas com
ela, e nem do que foi dito.
Quando ela saiu para a noite, viu o marido segurando seu filho até a
lua mais cheia da temporada, o astro brilhando cintilante como o sol, a
paisagem banhada em luz branca.
*****
Com um giro rápido, Wrath girou num instante, protegendo seu filho
com seus enormes braços. — O quê?
Um passo à frente, ela desejava que estivesse em algo que não fosse
roupa de ginástica. Um vestido de baile, talvez.
— Você foi eleito por unanimidade por toda a vida. Rei da Raça.
Abalone liderou os esforços, e todos os cidadãos que você ajudou votaram.
Cada um deles. Você foi escolhido pelo seu povo para liderar. Você é o Rei.
— E quem sabe, – Beth disse quando ela olhou para seu filho. — Talvez
ele cresça para ser como o pai, e seja escolhido, também. Mas cabe ao povo,
você colocou o direito de voto nas mãos deles, e eles deram o trono a você.
No final, tudo o que ele pôde fazer foi sussurrar, — Eu queria que meu
pai e minha mãe estivessem vivos para ver isso.
Para sempre.
FIM
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Considerações Finais
Gostei muito do livro. Ward nos contou um pouco mais sobre a vida de
Wrath através da história de seus pais. Agora sabemos de onde vem toda
a tenacidade do nosso Rei.
O que não gostei foi do estilo roteiro em que o livro foi escrito. Sempre
gostei de ler um livro porque quem manda na leitura sou eu. É o leitor quem
determina o ritmo da leitura. E com o Rei, até meados do livro, a história
de Wrath e Beth era interrompida por histórias paralelas. Não pude
determinar o ritmo da leitura. Eu me senti dentro de um seriado. E foi
frustrante.
Mas do meio para o final, Ward não decepcionou. O livro foi do nosso
Rei. Ele mandou e desmandou. E o final foi surpreendente! Bem ao jeito
democrático de ser dos estadunidenses.
Agradecimentos:
Bjos
Grupo PRT
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