Um Olhar Diferente Sobre A Moda: ANO 2023 2 Edição Florianópolis/Sc Brasil Instituto Social Nação Brasil
Um Olhar Diferente Sobre A Moda: ANO 2023 2 Edição Florianópolis/Sc Brasil Instituto Social Nação Brasil
Um Olhar Diferente Sobre A Moda: ANO 2023 2 Edição Florianópolis/Sc Brasil Instituto Social Nação Brasil
UM OLHAR DIFERENTE
SOBRE A MODA
ANO 2023
2ª EDIÇÃO
FLORIANÓPOLIS/SC − BRASIL
INSTITUTO SOCIAL NAÇÃO BRASIL
2
REALIZAÇÃO:
Instituto Social Nação Brasil
Produção Executiva:
Claudio Rio
Presidente da AFLODEF/Associação
Florianopolitana de Deficientes Físicos
Caio Cavichioli,
Roberto Sander (Renaux View),
Anderson Lourenço (Silmaq),
Junior Limana (Iguaçu FM),
Karina Carvalho
João Leonel (Instituto Hadassa),
Juliana Gallas (Univali),
Andressa Marchioratto (Brandili),
Rosana Baron (Senai),
J. Moser,
Daniela Tomaz,
Marcos Batista,
Rubens Amorin,
Laia Orisa, Jupira Dias,
Daniela Auler
Amigo Down (Elizabeth e Pamela de Andrade),
Ronaldy Lemos,
entre tantos outros que se associaram a este
projeto.
6
Especialmente a
Beto Carramanhos,
Silvana Louro,
Juliana Caldas,
Daiane dos Santos,
Lais Souza,
Marinalva Almeida,
Thiago Cenjor,
Fernando Fernandes,
Mario Queiroz,
Maria da Penha,
Fernanda Dearo,
Negra Li,
Kadu Moliterno,
Ariel Goldemberg e
Rita Pock,
Caroline Marques,
Fernanda Yamamoto,
Julia Sato,
Kica Castro,
entre tantos outros.
7
Agradecemos a todos nossos modelos, muito
especiais, estilistas, estudantes, convidados e
todos os voluntários que participaram, e
participam, do Prêmio de Moda Inclusiva, projeto
que deu origem e resultou neste livro.
8
Prefácio: Ronaldo Fraga (Estilista − MG)
FOTO: Ronaldo Fraga
“A moda é um dos
vetores mais diversos
da atualidade, ela fala
de economia, ela fala
de história, ela fala de
antropologia, de antro-
pofagia, e ela fala tam-
bém da cultura de um
tempo, da face de um
tempo, e é neste lugar,
que acredito, que a
moda contemporânea
tem chance de se
renovar, que é lançar luz sobre grupos, sobre
figuras que sempre ficaram na sombra, ou bem
distantes das passarelas e do ideário, do clichê, do
modelo de clichê, aliás, eu acho que a chance dela
tem de se renovar e se refazer, é se tornar mais
democrática, mais diversa, e olhar para este
tempo diverso, num tempo que se mata pelas
diferenças, num tempo que se exclui pelas
diferenças, é a roupa mostrando talvez o desejo
mais íntimo de um tempo,
9
que é a relação pacífica amorosa com o diverso.
Então, pensando na moda inclusiva, na moda que
traga diferença de credos, diferenças físicas,
diferenças religiosas, diferenças sexuais, a moda
que sempre faz pela diferença, na verdade, este
vetor que sempre também se destacou por este
lugar.
Quando, no Brasil, projetos, como esse,
aparecem, lançando luz e conversando com as
novas gerações, que a moda ou a modelo é muito
mais do que a loura anglo saxônica com a blusa
de oncinha, com as pernas longas ao som de uma
música techno eletrônica, rompendo a passarela
num grande evento de moda, e traz, para esta
passarela, os acimas do peso, os mestiços, os
cegos, os deficientes físicos, traz gente de
verdade, a gente também tem uma face de
verdade da moda, e é este lugar que eu acho que
devemos apostar.”
10
SUMÁRIO
FOTO:
Inglaterra, 2002,
Manchester Metropolitan
University, MMU, Mestra-
do em Desenvolvimento
de Produto de Vestuário
(MSc Master of Science,
Clothing Product Develop-
ment) − foi o lugar e o
tempo para o avanço dos
conhecimentos e práticas
em moda e design, já adquiridos em nível
acadêmico no primeiro Curso de Estilismo em
Moda do Brasil, uma Extensão Universitária, 1992,
Universidade Federal do Ceará, UFCe.
22
A MODA INCLUSIVA
NO BRASIL
Um estudo pioneiro
Consciência de design
Os elementos e princípios do design podem criar
ilusões e efeitos físicos e psicológicos para pessoas
com deficiência, assim como para qualquer outra
pessoa, considerando as características e
necessidades do usuário. O objetivo principal do
design é apresentar a figura como atraente, bem
equilibrada e bem proporcionada.
Design de roupas para pessoas com
deficiência
Roupas para inclusão devem ser confortáveis,
simples de colocar e tirar; devem ser fáceis de
cuidar no tecido e no corte, com boas aberturas.
Os resultados das lesões podem determinar as
diferenças ou necessidades a serem satisfeitas no
desenvolvimento de uma roupa.
Roupas funcionais especialmente projetadas para
incorporar recursos de auto-ajuda e/ou de ajuste
especial, podem não ser sempre desejáveis,
26
devido a diferenças distintas das normas sociais
da moda.
Pessoas com deficiência fazem parte de um
mercado diversificado, composto por crianças,
adolescentes, adultos e idosos, com estilos de vida
diferentes, em diversos tipos de clima.
Principais dificuldades com roupas
identificadas no estudo de caso:
1) Roupas forradas. Normalmente, os tecidos
utilizados para o forro têm que ser lisos e
escorregadios para deslizar sobre outras peças de
roupa e facilitar o vestir e despir. Para a
entrevistada, além destes efeitos; roupas forradas
a fazem deslizar dentro da própria roupa.
Consequentemente, sua posição sentada é
constantemente afetada, forçando-a a fazer um
esforço extra para permanecer na posição correta,
provocando um cansaço extra.
2) Gola alta. Normalmente, as golas em pé são
entreteladas e rígidas, circundam a parte de trás
27
do pescoço. Como a cadeirante passa a maior
parte do tempo sentada, ela precisa frequente-
mente olhar para cima para interagir com outras
pessoas. A gola alta restringe o movimento da
cabeça, dificultando o movimento para cima,
causando desconforto.
3) Levantar os braços para tentar alcançar roupas
e demais objetos mais altos. Em decorrência, ela
precisa de uma folga especial nas cavas para
permitir o movimento total dos braços.
4) Impulsionar a cadeira de rodas à mão.
Consequentemente, as mangas compridas podem
ficar sujas e desgastadas, pois encostam na roda.
O formato das mangas também pode interferir. Se
forem soltas, podem se prender na roda e
eventualmente causar um acidente.
5) Andar com o auxílio de uma muleta canadense.
Estas se apoiam no cotovelo, enquanto transferem
para os braços parte do peso corporal que as
pernas
28
devem sustentar. Devido ao movimento repetido,
uma área de abrasão é gerada entre o antebraço
e a muleta. Ao usar mangas compridas, o pilling
pode ser criado na área em contato com a muleta.
As mangas devem deixar as mãos livres, para não
escorregarem.
6) Desconforto ao vestir e despir: Para calças é
necessário ficar em uma perna de cada vez.
Portanto, ela pode usá-las, mas não com a
frequência desejada − Como os movimentos de
sua coluna têm algumas restrições é difícil
manipular os fechos se não forem colocados na
frente.
Estes resultados não apareceram e diferiram de
alguns sugeridos pela literatura relativa, e nas
roupas encontradas em sites da internet
disponíveis então.
Análise dos dados
1. Roupas forradas
O forro pode ser dispensável se a peça for
confeccionada com um tecido que não precisa
29
ter sua forma melhorada pelo forro.
É importante fazer um bom acabamento para
evitar uma aparência desagradável do interior da
peça. Se o tecido for apropriado, a silhueta ideal
da roupa será alcançada e o problema que ela
pode criar para o usuário de cadeira de rodas é
eliminado.
2. Golas em Pé
As golas em pé restringem o movimento da
cabeça quando o cadeirante tem que olhar para
cima. A dificuldade surge devido ao tempo que os
cadeirantes passam na posição sentada. A gola
alta é sem dúvida elegante, mas é apenas uma
entre muitos tipos de golas. Decotes ideais são os
mais rentes aos ombros.
As golas fazem parte da linha da roupa, que
determina a direção do interesse visual em uma
peça inteira, são importantes para otimizar a
beleza, e fornecem potencial para criar ilusão que
minimize diferenças de uma figura.
Cabe ao designer selecionar apenas aquelas linhas
que apresentem a figura de forma
30
harmoniosa, independentemente das tendências
da moda. As golas podem chamar a atenção para
o busto da cadeirante, que é a principal parte do
corpo em evidência.
Se a ausência de um colarinho levantado mostrar
o pescoço, pode-se usar um lenço.
3. Movimento do braço
O corte é essencial para permitir movimento. A
ação dos braços precisa ser maior do que o normal
em movimentos ascendentes, com tecido que se
mova facilmente com o corpo.
Uma cava anatômica, rente ao braço, pode
aumentar a liberdade do braço.
Tecidos elásticos, inserções elásticas, fendas,
pregas, dobras ou outros recursos podem ser
usados para permitir uma maior variedade de
aparência atraente da parte superior. Estes devem
ser selecionados com muito cuidado, pois são
influenciados pela moda. Um top sem mangas é
uma opção, com o cuidado de não revelar as
axilas.
31
4) Impulsionando a cadeira de rodas
O comprimento das mangas colabora para a
apresentação da figura. Devem ser mais curtas e
próximas do braço. As longas podem ter
extremidade ou punho que se dobre facilmente ao
impulsionar a cadeira.
5) Uso de muleta canadense
A abrasão é um problema se há atrito entre o
tecido e muletas, o que danifica a vestimenta.
Deve-se usar tecidos com características de
fibra ou acabamento que retardem a abrasão.
6) Falta de movimento nos quadris e pernas
Dificuldades para vestir e despir estão relacio-
nadas à condição médica e podem restringir o uso
de peças como calças. A melhor opção é o uso de
saias, construídas sem forro; podem ser
ligeiramente largas, franzidas, drapeadas etc. As
retas podem ser o melhor, pois são clássicas,
femininas e não interferem no desempenho da
cadeira de rodas.
32
O comprimento da saia adiciona mais dimensão à
silhueta total e cria uma ilusão vantajosa na
aparência. Saias acima do joelho devem ser
usadas por quem tem pernas atraentes, embora
não indicadas, pois podem aparecer algumas
folgas entre as pernas, causando um efeito
indesejável.
Zíperes devem ser colocados na parte frontal,
para facilitar o abrir e fechar.
7) Variedade de modelos disponíveis
As necessidades apresentadas pela cadeirante não
são muitas, mas são significativas o suficiente
para restringir suas opções de escolha.
Entretanto, com saias, blusas, suéteres e
acessórios é possível se vestir de forma muito
atraente e dar a impressão de possuir um guarda-
roupa vasto.
A escolha das cores deve ser significativa,
relacionadas entre si. Podem ser todas claros, ou
todas escuras, ou um equilíbrio de sombra e luz.
33
8) Aspectos Psicológicos
O estado de sentimentos da cadeirante está
diretamente relacionado à sua escolha de roupa
Conclusões
Essa análise mostrou que é possível encontrar
soluções simples e comuns de design de roupas
para as necessidades especiais da cadeirante e
que esta é uma área importante do design de
roupas que necessita ser desenvolvida.
É fundamental que as roupas oferecidas para
atender a cadeirante devam chamar a atenção
para a pessoa cadeirante, e assim desviar o olhar
da deficiência.
É possível que o usuário de cadeira de rodas use
roupas projetadas para indivíduos fisicamente
aptos; no entanto, existem restrições em
determinados recursos de design. A gama de
opções é grande, e contribui para a autoexpressão
no vestir, para satisfazer não apenas a exigência
de conforto,
34
mas também a necessidade de adorno.
Sobretudo, é clara a necessidade de uma
comunicação direta e aberta entre designers e
consumidores cadeirantes, para que o design seja
planejado para a pessoa, dessa forma permitindo
que a roupa e a moda sejam verdadeiramente
inclusivas.
Para ter acesso à pesquisa completa é só enviar
um e-mail para sheiladesign@hotmail.com
35
FOTO:
Bruna Brogin é doutora em
Design pela UFPR (2019),
realizou estágio doutoral
na Sapienza Università di
Roma (2017), é mestre em
Gestão do Design pela
UFSC (2015), é especialis-
ta em Design Experiencial
pela UFSC (2014) e é gra-
duada em Design de Moda
pela UDESC (2011). Atualmente é professora do
SENAI PR e SC e pesquisa sobre Moda Inclusiva a
oito anos.
A importância da Moda Inclusiva para as
pessoas com deficiência
Resumo: A Moda Inclusiva está na moda. Muitas
empresas vêm valorizando uma imagem social-
mente inclusiva e informando a seus clientes que
seus produtos são para todos.
36
Mas, o que é isso afinal? Algumas palavras
colaboram para que o conceito seja definido, são
elas: inclusão, acessibilidade, autonomia, saúde,
segurança, conforto, autoestima, ganho de tempo
e qualidade de vida.
Segundo Auler (2012) Moda Inclusiva é “uma
proposta de moda que propõe incluir tipos de
corpos que a indústria hoje não contempla...
pretende incluir pessoas com deficiência. Porque
elas existem e são muitas.” Percebemos, a partir
do trecho, que o foco é a inclusão, trazer para o
mercado de moda compradores com deficiência,
trazer para as prateleiras peças com adaptações
funcionais, e trazer para a passarela modelos com
deficiência.
Se analisarmos as mudanças que ocorreram nos
últimos dez anos, vemos que continuam aquém do
desejado, mas passos têm sido dados em direção
a inclusão. Os consumidores com deficiência
sempre existiram, mas muitas vezes delegaram a
tarefa a outros
37
compradores, como mães, irmãos e amigos.
Deixar de ir as compras tem vários motivos, que
vão desde a acessibilidade de meios de transporte
públicos, a dificuldade de acesso a meios de
transporte particular adaptados, a falta de acessi-
bilidade em ruas, lojas e provadores, a falta de
informação tátil e em áudio em lojas, a falta de
atendentes que se comuniquem em Libras, ou que
busquem outros meios de atender com equidade,
caso não saibam Libras.
Mesmo com tantas dificuldades as pessoas com
deficiência vão as compras, mas na maioria das
lojas as peças não são inclusivas ou adaptadas. É
importante lembrar que algumas pessoas
precisam de moda adaptada / inclusiva, ou seja,
precisam de roupas com modelos, tecidos ou
aviamentos que sejam inovadores a ponto de
promover melhoras na experiência de uso, princi-
palmente pessoas com deficiências severas.
Pessoas com deficiências leves muitas vezes
informam que não precisam
38
de adaptações, e não querem que as roupas
tenham nada de diferente, porque isso seria um
estigma, uma moda exclusiva.
A Moda Inclusiva poderia servir a pessoas com e
sem deficiência. Entendo que dar a opção de
escolha ao consumidor é o melhor. Se a empresa
tem opções de peças com soluções inclusivas,
quem quer pode comprar, se outros querem peças
sem adaptações, também podem consumir.
Algumas empresas que trabalham assim são a
Tommy Hilfiger, a Reserva, a Cat and Jack da
Target. No entanto, vale lembrar que algumas
empresas vendem as peças inclusivas somente
on-line, neste caso a comunicação precisa ser
eficaz, para que os clientes entendam exatamente
os tamanhos e funcionalidades das peças antes de
comprar.
Quanto a inclusão de pessoas com deficiência nas
passarelas, percebemos mudança nos últimos
anos, antes elas não existiam, agora vem
desfilando cada vez mais.
39
Além da promoção de inúmeros desfiles inclusivos
no mundo todo, as grandes semanas de moda de
Paris, Milão e Nova Iorque vem apresentando
diversidade entre os modelos. Como exemplo
pode-se citar a modelo com Síndrome de Down
Jamie Brewer a desfilar no NYFW (New York
Fashion Week) em 2015; o desfile Made in Italy
que apresentou roupas usadas por modelos
cadeirantes e amputados no NYFW em 2015; a
cadeirante Julian Mercado desfilou para a marca
The Blonds, na NYFW em 2020; em 2021 a modelo
cadeirante Aaron Philip desfilou para Moschino, e
a também modelo cadeirante Mya Pol desfilou
para Pretty Little Things, ambas na NYFW; em
2021 a collab de Faduma's Fellowship X Harriet
Eccleston desfilaram na London Fashion Week
com um casting com vários modelos com
deficiência.
A importância da Moda Inclusiva para as pessoas
com deficiência perpassa, também,
40
a acessibilidade. Isto se refere, além da acessi-
bilidade urbana e arquitetônica, como já citado, a
acessibilidade econômica. Os produtos de moda
inclusiva precisam ser comercializados a um preço
justo, isto é, que garanta a subsistência da
empresa, mas que o consumidor tenha recursos
para adquirir. Significa comercializar os produtos
em uma faixa de preço em que a população tenha
acesso ao consumo, caso contrário ela não tem
sentido de ser. Ao longo das pesquisas ouvi de
diversas pessoas sobre o custo elevado da moda
inclusiva, e que devido a isso não conseguiam
consumir, mesmo querendo.
Brogin (2019) aborda a necessidade de produção
de vestuário em uma quantidade escalável, para
que os preços sejam acessíveis e condizentes com
a realidade do Brasil. Uma sugestão apresentada
é a customização em massa, onde por meio da
produção de roupas em módulos, com
determinado grau
41
de variedade, é possível atender pessoas com e
sem deficiência, produzindo em grande
quantidade, baixando os preços unitários e
fornecendo produtos em um preço amigável.
A que se abordar a autonomia. A moda inclusiva é
importante para pessoa com deficiência pois
permite que ela tenha informações na peça que
permitam que ela escolha sozinha o modelo, o
tamanho, a cor. Autonomia para arrumar o guarda
roupa e conseguir achar sozinha as peças que
procura. Autonomia para se vestir sozinha.
Autonomia para ir ao banheiro sozinha, sabendo
que vai conseguir se desvestir e vestir para
desempenhar as atividades de higiene de que
necessita. Esta autonomia viabilizada por meio da
moda inclusiva proporciona que seu usuário tenha
a segurança necessária para ser independente, ou
seja, se sentir apto a estudar, trabalhar e conviver
socialmente, sabendo que com o uso de suas
tecnologias assistivas
42
se governará sem a presença de cuidadores.
A Moda Inclusiva é fundamental para a saúde de
pessoas com deficiência, pois provê tecidos que
levam em conta características dermatológicas,
aumento de temperatura, arrefecimento,
necessidade de ventilação, transpiração e
evaporação de suor, proteção contra quedas e
automutilações (em alguns casos de Autismo e
Paralisia Cerebral).
Modelagens que permitem que movimentos
amplos ou restritivos sejam ajustados, possi-
bilitando, por exemplo, maior amplitude de
movimento para pessoas com espasmos;
aberturas maiores (cavas, decotes, barras de
calças) para pessoas com espasticidade em mãos
e pés que geram padrões de rigidez; ou restrições
de acesso a fechos para que algumas pessoas não
se dispam (alguns casos Alzheimer).
Ao longo de pesquisas são inúmeros os casos de
relatos de danos a saúde de pessoas
43
com deficiência, principalmente severa, em
decorrência do uso de vestuários não inclusivos.
Cito alguns exemplos. Pessoas com paraplegia
adquirida por vezes são hospitalizadas devido a
usarem calças com botões ou zíperes nos bolsos
traseiros, devido a permanecerem sentadas por
longas horas sobre estes aviamentos forma-se
uma ferida, que pode evoluir para uma escara, e
demandar períodos de internamento hospitalar.
Quando a condição é adquirida muitas vezes a
pessoa ou seus cuidadores desconhecem a
sensibilidade na região glútea, sendo uma
ocorrência muito citada por usuários de cadeira de
rodas.
Outros exemplos incluem: episódios de quase
sufocamento ao vestir blusas e casacos com o
decote e a cava muito estreitos, com a pessoa
ficando presa entre as aberturas da peça;
machucados na região genital devido dificuldade
de puxar zíperes de calças; convulsões devido,
entre outros fatores, a sensação
44
de calor e não conseguir retirar a roupa ou pedir
que alguém o faça; queda da cadeira de rodas
devido a barra de saia ou vestido engatar na roda
da cadeira de rodas; inflamações em ostomias,
entre outros.
Todos estes fatores citados dizem respeito,
também, a segurança dos usuários de peças de
Moda Inclusiva, que além de conforto estético
buscam o conforto sensorial, no toque, na
aderência e no acomodamento na peça ao corpo
(tamanhos). Saber que uma roupa é segura
significa sentir que ao usá-la está livre de perigos,
danos e riscos eventuais. É, por exemplo, a
segurança que uma calça com costuras reforçadas
apresenta a um usuário cadeirante que faz a
transferência várias vezes ao dia, e se sente
tranquilo de que a peça não vai romper, e de que
o cós traseiro é alto o suficiente para não descer e
revelar suas roupas íntimas durante estes
momentos.
45
Outro exemplo é a segurança que uma pessoa que
se alimenta por tubo de alimentação sente ao
saber que sua blusa tem uma abertura estratégica
para este momento, possibilitando a alimentação
sem a necessidade de se despir, sem pressionar o
acesso e causar um acidente. Um último exemplo
de segurança é um reforço em peças usadas por
usuários de próteses no local da união entre a
prótese e o corpo, garantindo que um movimento
brusco não vai romper a peça, expondo
determinada parte do corpo.
O conforto na Moda Inclusiva é a ausência de
desconforto. Alguns tipos de conforto são
destacados por Slater (1997) e valem, também,
para Moda Inclusiva. Vai desde a ausência de uma
etiqueta que incomoda (conforto sensorial ou do
toque), uma peça que cabe e tem bom caimento
no corpo sem incomodar (conforto ergonômico), a
capacidade da peça de absorver o suor e
transmiti-lo para o exterior da roupa,
46
permitindo a transpiração e não provocando
alergias (conforto termo fisiológico), e mesmo o
fato de se sentir belo e adequado com
determinada roupa em determinado ambiente
(conforto pisco estético).
Este último tipo de conforto se relaciona com a
autoestima, que é a autoavaliação de si mesmo.
Quando um vestuário inclusivo adquire infor-
mações de tendências de moda, levando em conta
modelos, tecidos, aviamentos, cores, estampas e
acabamentos, então o usuário se sente parte de
algo maior, da Moda do momento. Ao ser incluído
na estética vigente ele se sente igual aos demais,
parte da sociedade, tendo acesso ao
conhecimento sobre moda e ao direito de
consumi-la, mostrando que também pode usufruir
destes códigos de beleza tão efêmeros. Minhas
pesquisas em moda inclusiva (BROGIN, 2019)
mostraram uma mudança positiva das emoções
envolvidas na percepção da autoimagem quando
jovens
47
com deficiência vestiam peças de Moda Inclusiva,
indo desde sorrisos, até abraços em si mesmo, e
longas contemplações no espelho.
O ganho de tempo no uso de Moda Inclusiva se
refere aos longos períodos de tempos que são
necessários para uma pessoa com deficiência se
vestir, podendo chegar a horas. Este tempo se
deve primeiro a casos de dificuldade de escolha da
peça, por exemplo para pessoas com deficiência
visual, o que pode ser sanado pelo uso de códigos
táteis de cores (MARCHI, 2019). Depois pela
decisão de se trocar sentado, deitado ou em pé e
fazer as devidas transferências (cadeirantes), pelo
tempo aguardando os cuidadores chegarem
(pessoas com maior dependência), pela necessi-
dade de movimentações lentas (pessoas com
espasmos), pelas dificuldades em introduzir as
partes do corpo em aberturas justas e fechar
aviamentos. Roupas projetadas com inclusão são
mais fáceis de vestir
48
e despir, promovendo ganho de tempo do usuário
e do cuidador, além de não acometer tanto a
saúde do cuidador devido a movimentos com
sobrecarga.
Todos os fatores mencionados que são levados em
consideração no projeto de Moda Inclusiva condu-
zem a uma melhor qualidade de vida das pessoas
com deficiência que as usam e seus cuidadores
e familiares. Por meio da Moda Inclusiva obtém-
se melhores níveis de bem-estar físico, mental,
psicológico e emocional, favorecendo o convívio
sociais, a saúde, e oportunidades de educação e
trabalho, permitindo que seus usuários se
desenvolvam mais e melhor.
REFERÊNCIAS
AULER, D. Secretaria dos Direitos das Pessoas
com Deficiência de São Paulo. Moda Inclusiva.
2012.
BROGIN, B. Método de Design para cocriação de
moda funcional para pessoas com deficiência.
49
411 p. Tese de Doutorado em Design. Programa
de Pós-graduação em Design. Universidade
Federal do Paraná. Curitiba. 2019.
MARCHI, S. R. Design Universal de Código de
Cores Tátil: Contribuição de Acessibilidade para
Pessoas com Deficiência Visual. Tese (Doutorado
em Engenharia Mecânica) − Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2019.
SLATER, K. Subjective Textile Testing. J. Text.
Inst. V.88 Part 1, no 2, pp. 79-91, 1997.
50
FOTO:
É bacharel em negócios
da moda pela Universi-
dade Anhembi Morumbi,
com especialização em
responsabilidade social e
sustentabilidade pela FGV
(Fundação Getúlio Var-
gas). Desenvolveu sua
carreira na criação e no
marketing em moda
inclusiva e sustentável. Idealizadora do Concurso
Internacional de Moda Inclusiva e dos cursos de
Moda Inclusiva realizados pela Secretaria de
Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de
São Paulo. Idealizadora do projeto Retalhos
&Atalhos realizados na Rede de Reabilitação Lucy
Montoro. Co-idealizadora do MoDe (moda e
design: economia, inovação e sustentabilidade), é
representante do Fashion Revolution na cidade de
Paraty.
51
Jornadas Entrelaçadas
Ao ser convidada para participar de mais uma
edição desse projeto, me senti muito honrada,
mas dentro da temática que vem sendo desenvol-
vida, não poderia assinar um texto sem meu
amigo ativista Dani Massafera e minha amiga
jornalista e educadora social, Débora Monteiro.
Hoje, mais do que nunca, acredito que só
construímos uma sociedade igualitária e inclusiva
juntos, pessoas com e sem deficiência, e a moda
inclusiva tem esse propósito.
Nossas histórias se misturam em ideais e
experiências, essa troca já é moda inclusiva, pois
desde o início o que me encanta na construção do
conceito são essas trocas entre pessoas com ou
sem deficiência, terapeutas ocupacionais, fisiote-
rapeutas, estilistas, modelistas, uma equipe
multidisciplinar que nos mostra o respeito da
diversidade e o olhar sobre o talento do outro.
52
Sou apaixonada pela moda inclusiva, pois ela
sempre me traz novas percepções e perspectivas
sobre o assunto.
53
FOTO:
Um resgate. O meu
primeiro contato com a
moda inclusiva foi em
2014, através de um curso
oferecido pela Secretaria
de Estado dos Direitos da
Pessoa com Deficiência.
Chego ali ainda no proces-
so de luto, entre o luto e a
luta, dores e dúvidas, mas
com muita vontade de aprender, querendo me
reconhecer e acreditando que de alguma forma as
aulas iriam me ajudar a me olhar diferente e dar
gás para seguir bem o meu período de
reabilitação. Após o curso, iniciei um processo de
descobertas, conhecimento e o entendimento que
eu precisava me encontrar comigo mesmo, me dar
uma segunda chance, e assim surgiu a minha
paixão pela moda inclusiva. Foi o sutiã de bojo
para mulheres que tinham perdido a mama por
conta do câncer que me deu esse
54
estalo e me motivou a criar um universo de
possibilidades através das "dificuldades".
Após o curso, voltei a focar na minha reabilitação,
mas dessa vez com histórias para contar. Voltei
com os olhos brilhando, com a minha cabeça
pipocando cheia de ideias e vontades. A terapeuta
ocupacional da Rede Lucy Montoro, Denise
Tsukimoto me convidou para participar do desfile
do 10º Concurso Internacional de Moda Inclusiva.
Aceitei o convite vestindo a camiseta branca e
uma bermuda vermelha.
O meu sonho começaria a se realizar quando no
backstage, durante a maquiagem, posso expres-
sar sobre minha vida. Agora, eu tenho aquele
contato com amor próprio que estava tão distante
de mim. Naquele momento do penteado, da
maquiagem, da produção para o desfile, o sonho
começa a ganhar forma, brilho e cor. Entendi ali
que a vida tinha dado certo.
55
Logo depois do desfile fui convidado para fazer um
curso na UNIBES com os irmãos Campana e a Dani
Auler sobre customização de prótese (eu uso
prótese de membro superior e membro inferior).
Escolhi customizar a prótese do membro inferior
inspirado no jogo de xadrez com ajuda dos
designers dos Campana, com tecidos de reuso
como couro de jacaré preto e branco, e criamos
assim a peça com o nome “xeque mate”. Adorei
abrir essa janela na moda.
Logo depois participei do workshop Retalhos &
Atalhos, na Rede Lucy Montoro. Ali, eu já tinha
aceitado a minha condição física estava com
muitos sonhos e vontades, mas algumas pessoas
estavam iniciando o processo de resgate. Passei a
incentivar esses meus amigos e dizia “não
podemos morrer, somos grandes e essa sala é
pequena para os nossos sonhos”. A moda ajuda a
acelerar processo de inclusão, pois quando você
se reconhece
56
como indivíduo valorizado e é tratado de uma
forma humana, isso se reflete na reabilitação.
57
FOTO:
Débora Monteiro é
jornalista e educadora
social, publicou "Três mil
horas e adeus" na
antologia 2020, o ano
que não começou, da
Editora Reformatório, e
as obras "Vítimas Colate-
rais" e "Viageiros" na
antologia Parem as
Máquinas, do Selo Off Flip. Desde 2015 mora em
Paraty/RJ, onde participa do coletivo literário
"Segundas Intenções", que publicou o livro
coletivo "Paraty em Festa − Contos e Encontros".
A Ju (Juliana Nobre Monteiro Paiatto) viveu
guardando segredos. Sua mente permaneceu
incógnita para nós até aquele 13 de março, a
sexta-feira da nossa despedida: foram 36 anos
sem termos a chance de conhecer sua voz.
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Podíamos supor os lugares onde ela gostava de ir
porque conseguíamos “ler” seus olhares e seus
sorrisos; sentíamos de quem ela mais gostava
pelas gargalhadas gostosas que expressavam sua
alegria; sabíamos que algo ia mal percebendo as
expressões do seu corpo enrijecido pela falta de
mobilidade.
Mas jamais soubemos qual sua cor favorita, a
comida preferida, seus detalhes prediletos. Quem
verdadeiramente se conectou com a minha prima
intuía seus quereres, tentando adivinhar como
agradá-la pouco a pouco.
Quando eu conheci a Daniela Auler em Paraty e
ouvi a sua história no trabalho com a moda
inclusiva, imediatamente pensei na minha prima.
A Juliana era especial, estávamos sempre
procurando oportunidades para garantir o seu
bem-estar. E a Daniela trazia ideias para melhorar
a rotina de pessoas que às vezes precisam
literalmente se desdobrar para entrarem
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no padrão do consumo. A Juliana precisava
experimentar as criações da Dani, essa conexão
era urgente!
Assim veio o convite para minha prima desfilar no
9º Concurso Internacional de Moda Inclusiva, na
Unibes Cultural, em São Paulo. Eu não poderia
estar com elas na data, e para essa estreia
combinamos que a Ju assistiria de camarote ao
evento. Temos uma fotografia desse encontro, e
nela vemos o brilho da emoção da minha prima
presente em uma celebração aos seus pares.
Debater empoderamento ou inclusão pode parecer
frescura, mas é no mínimo essencial para a
autoestima das maiorias que estão ausentes do
mainstream, ganhando a narrativa de minorias.
De acordo com o Censo 2010, aproximadamente
46 milhões de brasileiros, ou cerca de 24% da
população, declarou ter algum grau de dificuldade
ou possuir deficiência.
No site “IBGEeduca”, portal do IBGE voltado para
a educação,
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os dados apontam que em 2010 a deficiência
visual estava presente em 3,4% da população
brasileira, a deficiência motora em 2,3%, a
deficiência auditiva em 1,1% e a deficiência
mental/intelectual em 1,4%. É importante
ressaltar que, seguindo orientações interna-
cionais, considera-se “pessoa com deficiência” os
indivíduos que responderem ter pelo menos muita
dificuldade em uma ou mais das habilidades
investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir
degraus) ou possuir deficiência mental/intelectual.
Ao perguntar à população sobre essa questão, o
“IBGE procurou captar a percepção sobre a
dificuldade em ouvir, enxergar e caminhar ou
subir escadas, mesmo contando com facilitadores
como aparelhos auditivos, lentes de contato e
bengalas”
(https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o
brasil/populacao/20551-pessoas-com-deficiencia.
html)
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Saber que no Brasil a população das pessoas com
deficiência equivale ao número de habitantes da
Espanha
(https://www.spain.info/pt_BR/descobrir-
espanhaÿdados-espanha-sociedade-populacao/)
deveria ser motivo suficiente para empreende-
dores e empreendedoras investirem em produtos
e soluções que potencializem a qualidade de vida
de quem precisa de mais.
Na prática, encontrar soluções para necessidades
especiais é mais complicado. Na casa da minha
prima existe um depósito de aparelhos,
equipamentos e traquitanas esperando doação.
Desde a infância a Ju conviveu com os limites do
corpo e ganhou acessórios que a acompanhavam
no dia a dia. A cadeira de rodas, inseparável,
tornou-se definitiva quando os ajustes pareceram
perfeitos. E a cada reforma era preciso buscar
talentos para deixá-la adaptada. Parece que o
maior obstáculo para o capitalismo é a
personalização.
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Difícil transformar a lógica das massas. Por isso,
vamos driblando a ordem das coisas. Da cadeira
de rodas sisuda fabricada no exterior sobraram as
ferragens em preto enfeitadas com tinta roxa para
marcar o feminino. O inconveniente de ser
confundida sempre foi resolvido por toques do que
estamos acostumados a vincular com femini-
lidade. Um tique-taque nos cabelos pretos com
corte chanel, o strass aplicado à estampa da
camiseta, a sandália de tiras coloridas. Sempre o
improviso.
O último presente de aniversário que demos para
a Ju foi comprado na inauguração de uma loja
infantil. Ainda com a etiqueta, o biquíni verde
água com babados desenhado para meninas
serviu, ao contrário dos modelos tamanho P, M ou
G. Para os pés a saída era procurar sapatos e
sandálias em lojas infantis, senão nada se
ajustava à delicadeza de quem pouco caminhou
por aí. Em noites de traje, nada de saias e
vestidos; as calças eram
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encomendadas na costureira, para terem
caimento à rigor. Os inventos misturavam tecidos
finos e sobreposições que deixavam a Ju ainda
mais graciosa.
Maquiagem? Testávamos um pouco de batom,
uma sombra divertida, improvisávamos com o que
usávamos nos nossos rostos. Penteado exigia
maior habilidade, e lá vinha a cabelereira fazer
cafuné para montar o look. Enquanto montávamos
o quebra-cabeça da moda, a Ju se esbaldava nos
mimos. Ela gostava dos paparicos.
Desculpe-me aos que parecem futilidade abordar
a questão da moda para pessoas com deficiência.
Sentir-se bem também é questão do que vesti-
mos, principalmente de como nossa personalidade
transparece na moda que escolhemos usar nas
ruas ou dentro de casa. Para o cotidiano e as
longas horas de dedicação nos momentos de
alimentação, a Ju vestia roupas antigas, que
podiam colecionar manchas. Para sair de casa, ela
estava sempre impecável em roupas
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que infelizmente exigiam treino para serem
acomodadas aos membros. Eu não me lembro de
ver zíper, velcro, botões ou apetrechos que
facilitariam o vai-e-vem de colocar e tirar roupas
durante o dia. Na minha memória está o
contorcionismo de quem precisava desvestir
minha prima na correria no banco de trás do carro
para livrá-la de roupas acidentalmente encardidas
pelas necessidades fisiológicas. Pior se estivesse
frio. As pessoas com paralisia sentem tremendo
frio!
A Ju esteve na moda? Ela se adaptou... A moda
nunca coube exatamente nela. Por isso ela deve
ter ficado tão satisfeita naquele desfile de moda
inclusiva. Tanto quanto os modelos e as modelos
que eu vi desfilar na Casa da Cultura, em
Paraty/RJ, durante o Paraty Eco Festival (2017).
Acompanhei os alunos da APAE seguindo a Dani
de noites pelas ruas do Centro Histórico, e aplaudi
com o público os passos firmes
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de pessoas especiais orgulhosas por vestirem
conforto e beleza. Um jovem com Síndrome de
Down nos chamou a atenção por fazer questão de
cruzar a passarela diversas vezes rodopiando em
modelos modernos, arrojados e milimetricamente
pensados para o seu estilo de vida. Foi uma festa.
Em tempos de diversidade, trazer para os
holofotes o que está fora da norma comprova o
quanto a empatia é primordial para a humanidade.
Que amputações, privação de sentidos, doenças
de pele não sejam consideradas um problema.
Que sejamos humanos, simplesmente.
Reflexão
Então através dessas jornadas entrelaçadas deixo
um convite para que vocês levem o conceito da
moda inclusiva em seus corações, em novas
atitudes do cotidiano pois sem percebermos a
caminhada, o presente não conseguiremos
transformar o futuro. E o futuro é o autocuidado e
o cuidado
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das nossas relações, sim isso também é MODA.
* Foram criados 3 cursos sobre moda inclusiva
para atender as necessidades de trocas de saberes
sobre os participantes do Concurso Internacional
de Moda Inclusiva e a sociedade como um todo.
Sobre o concurso: além de estimular novas ideias
e técnicas de modelagens ergonômicas também
aproximava pessoas com e sem deficiência em um
novo protagonismo na moda, pois a moda
inclusiva começou a ser cocriada por designers,
pessoas com deficiência, profissionais da área da
saúde entre outros. Ele foi criado em 2008
idealizado pela Secretaria de Estado dos Direitos
da Pessoa com Deficiência durante a gestão da
Prof. Dra. Linamara Rizzo Battistella, onde que
teve 10 edições, sendo sua última em 2018.
O concurso foi um dos grandes fomentadores do
conceito, pois se precisávamos levar a temática
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para o mercado dialogar com os estudantes era
uma forma de sensibilizar o futuro profissional.
** O projeto retalhos & atalhos realizado na Rede
de Reabilitação Lucy Montoro acredita que moda
inclusiva possibilita o direito de acesso da pessoa
com deficiência a vestimenta adequada para cada
ocasião que necessitar melhorando o acesso a
inclusão uma vez que aumenta o poder de escolha
do que o usuário deseja vestir, sendo assim,
podemos considerar que a prática da moda
inclusiva pode gerar impacto positivo na
sociedade, podendo ser usada por qualquer
pessoa − com ou sem deficiência, o projeto tem
como propósito a prestação de serviços à
população promovendo: resgate e elevação da
autoestima; desestigmatização dos corpos com
deficiência; representatividade e pertencimento
ao setor de moda e na sociedade como um todo;
estreitamento da relação
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entre os temas de moda, beleza e deficiência,
além de trabalhar com os inscritos técnicas de
upcycling (reutilização criativa, é o processo de
transformação subprodutos, resíduos, produtos
em novos materiais ou produtos de melhor
qualidade ou com maior valor ambiental e
usabilidade, reconstrução das peças direcionada
para as necessidades do participante, orientação
sobre a ressignificação das peças que o
participante já possui no seu armário) durante o
projeto.
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FOTO:
Cursou Design e Produção
de Moda, atuando no
mercado ao lado de nomes
como Lenny Niemeyer,
Dudu Bertholini, Reinaldo
Lourenço e Luiza Ortiz.
Posteriormente se especial-
zou em Consultoria de
imagem pela Fashion Insti-
tute Of New York − Fit e
também em etiqueta e protocolo pela The Protocol
School Of Washington − Psow. Atualmente
ministra classes de Consultora de Imagem no
Curso de Moda Inclusiva em parceria com a Rede
Lucy Montoro de reabilitação, sob tutela de
Daniela Auler.
70
FOTO:
A jornalista Heloisa Rocha é
idealizadora do Moda Em
Rodas, projeto que trabalha
em prol da moda inclusiva, do
resgate da autoestima
feminina, especialmente da
mulher com deficiência, e de
promover uma nova percep-
ção do corpo com deficiência
na mídia. Radicada em São
Paulo desde 2008, a profissional de 37 anos é
natural de Aracaju (SE) e nasceu com
osteogênese imperfeita, condição rara que tem
como principal característica a fragilidade óssea.
FOTO:
Brasileira, tetraplégica, Presi-
dente do Faschion Inclusivo,
modelo Inclusiva, com desfiles
em vários eventos, HairBrasilia,
Made in Japão, II Congresso
Ibero Americano de Doenças
Raras, paratleta de tênis de
mesa e bailarina.