CARVALHO, J. S. F. - Teatro de Improviso e Teatro de Formas
CARVALHO, J. S. F. - Teatro de Improviso e Teatro de Formas
CARVALHO, J. S. F. - Teatro de Improviso e Teatro de Formas
DOI: http://dx.doi.org/10.5965/2595034701242021240
Resumo: A partir do estudo de caso do coletivo de teatro de improviso Baby Pedra e o Alicate,
a investigação tem por objetivo analisar como os processos criativos de atores-improvisadores
podem ser dinamizados e sobrevalorizados por meio da disciplina da máscara e, principalmente,
do teatro de formas animadas. O texto busca aportar considerações relevantes para
improvisadores e para artistas manipuladores, concluindo que, enquanto a improvisação “no
calor da ação” pode ser uma perspectiva eficaz para dinamizar o trabalho atoral no teatro de
formas animadas, também a inserção de animants na cena improvisada demonstra ter um
potencial de efetividade para elevar o teatro de improviso para um patamar de excelência.
1
Data de submissão do artigo: 01/07/2020. | Data de aprovação do artigo: 15/07/2021.
2
Zeca Carvalho é ator, improvisador, diretor, Bacharel em Artes Cênicas (UNIRIO) e em Administração
(UFRJ), Mestre e Doutor em Administração (PUC-Rio), e Professor Associado IV da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). No período 2018-2019, cumpriu investigação em nível de Pós-Doutoramento
no Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CET/UL). Em 2017,
foi o diretor artístico do primeiro Festival Universitário de Teatro de Improviso do Brasil e, desde 2020,
coordena na UFRJ o projeto de extensão Universidade Impro. Em 2019, publicou pela editora 5Livros, do
Porto, em Portugal, a obra O Corpo no Teatro de Improviso – uma análise intercultural.
E-mail: zkcarvalho@hotmail.com | Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6701-4966
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uma perspectiva integrativa
Introdução
A presente pesquisa foi norteada pelo objetivo de analisar como os
processos criativos de atores-improvisadores podem ser dinamizados e
sobrevalorizados por meio da disciplina da máscara e do teatro de formas
animadas. A investigação empírica compreende o estudo de caso do coletivo
carioca de teatro de improviso Baby Pedra e o Alicate, que, há uma década, vem
desenvolvendo um repertório próprio de espetáculos calcados na dramaturgia
espontânea, com base em técnicas de improvisação criadas pelo encenador
britânico Keith Johnstone (1990; 1999), tendo por competência distintiva a
presença de animants (cf. WASZKIEL, 2019) em suas apresentações. A Figura
1 mostra o grupo Baby Pedra e o Alicate em uma cena apresentada na primeira
edição do Circuito Carioca de Improvisação Teatral3.
Com cursos de formação, performances e apresentações teatrais cada
vez mais frequentes em todos os continentes, o teatro de improviso – conhecido
simplesmente como impro ou improv, nos países anglo-saxões – pode ser
praticado tanto de modo recreativo, quanto com propósitos pedagógicos, por
atores e não-atores, como também a partir de uma perspectiva orientada para o
desenvolvimento pessoal e laboral, ou ainda voltado para competições ou,
finalmente, para ser apresentado como espetáculo (MUNIZ, 2015). Reconhecido
internacionalmente como criador de um paradigmático sistema pedagógico e
performativo baseado no teatro de improviso – projeto que remonta aos anos
1950 e que recebeu de Dudeck (2013) a denominação Sistema Impro – o
britânico Keith Johnstone, professor emérito da Universidade de Calgary, no
Canadá, edificou uma proposta cênica em que cada cena improvisada pode ser
vista, simultaneamente, como processo e resultado, como ensaio e espetáculo
(FARLEY, 2017; HINES, 2016).
No Sistema Impro, não se pode traçar um planejamento para desenvolver
a performance, porque, assim, todo o frescor da criação, do imprevisto e do jogo
estabelecido com os parceiros e com a plateia seria imediatamente destruído
3
Idealizado e produzido por Davi Salazar e Tomaz Pereira, o Circuito Carioca de Improvisação Teatral,
cuja primeira edição foi sediada no Teatro da Casa de España, reuniu alguns dos principais grupos de teatro
de improviso do Rio de Janeiro em seis sábados consecutivos, entre os dias 3 de março e 7 de abril de 2018,
perfazendo um total de onze espetáculos de impro.
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Eventualmente, alguns membros do Baby Pedra, formados em carreiras não relacionadas ao teatro,
obtiveram seus registros profissionais como atores em decorrência do reconhecimento de suas experiências
profissionais em impro.
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Figura 2 – Adriano Pellegrini (ao fundo, de chapéu) e Thaine Amaral improvisam um dueto no
espetáculo Puppet Fiction, apresentado no Circuito Carioca de Impro, na noite de 7 de abril de
2018, diante de Carlos Limp (encoberto) e Alberto Goyena (de barba, à direita). Foto: Zeca
Carvalho.
O Baby Pedra conta com artistas que viajaram ao Canadá para estudar
sob a supervisão de Keith Johnstone, e seus integrantes mantêm uma agenda
de pesquisas em impro com a utilização de formas animadas, técnicas de
palhaçaria, máscaras ao estilo da Commedia dell´Arte e máscaras
contemporâneas. Seu repertório inclui espetáculos como Blackout, Puppet
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O Bernardo traz, com esse talento dele, e com essa prática, (...)
ele expandiu a imaginação do grupo inteiro através do que
podem ser os corpos de cada um, através das máscaras e dos
bonecos. Porque, invariavelmente, a gente acaba entrando num
outro universo, e os corpos que ele inventa, e as máscaras que
ele faz, jogam a gente pra outras coisas, saindo bem mais do
que seria o impro cotidiano, comum. (OMURA, 2018)5
Figura 3 – Trajando máscaras, Taiyo Omura (à esquerda) e Carlos Limp contracenam durante
a apresentação de Puppet Fiction na primeira edição do Festival Universitário de Teatro de
Improviso6 do Brasil, em 9 de novembro de 2017. Foto: Zeca Carvalho.
5
PELLEGRINI, Adriano. LIMP, Carlos. OMURA, Taiyo. Entrevista grupal focalizada concedida a José
Luis Felicio Carvalho em 5 de fevereiro de 2018.
6
O Festival Universitário de Teatro de Improviso foi um evento cultural de extensão universitária realizado
por intermédio de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), entre os dias 6 e 10 de novembro de 2017, com direção
artística de Zeca Carvalho e direção administrativa de Marina Faria. Em sua programação, o evento contou
com doze oficinas de improvisação, cinco mesas redondas e sete espetáculos de teatro de improviso
apresentados por coletivos de renome na cena impro do Rio de Janeiro.
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Bernardo Sardinha se refere ao capítulo final do livro Impro – Improvisation and the Theatre, de Keith
Johnstone, publicado pela primeira vez em 1979, pela editora Faber and Faber, de Londres. Na presente
investigação, utiliza-se a edição chilena da obra, intitulada Impro – La improvisación y el teatro, publicada
em 1990 pela editora Cuatro Vientos, de Santiago.
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SARDINHA, Bernardo. Entrevista individual semiestruturada concedida a José Luis Felicio Carvalho
em 14 de setembro de 2017.
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dadaístas apresentadas no final dos anos 1910 em centros europeus tais como
Berlim, Paris e Zurique, em que eram amplamente utilizadas máscaras e títeres
(GOLDBERG, 1979).
Figura 4 – Observados por Bernardo Sardinha (ao fundo, com o boneco do Escritor), Taiyo
Omura (parcialmente encoberto), Adriano Pellegrini (ao centro) e Carlos Limp improvisam uma
canção ao final do espetáculo Puppet Fiction, em 9 de novembro de 2017, na quarta noite do
Festival Universitário de Teatro de Improviso. Foto: Zeca Carvalho.
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Para concluir
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