Sotratti MarceloAntonio
Sotratti MarceloAntonio
Sotratti MarceloAntonio
Campinas
Agosto de 2010
i
© by Marcelo Antonio Sotratti, 2010
Título em ingles: Image and cultural heritage : the spatial ideologies of Brazilian international
tourism promotion – EMBRATUR – 2003-2010 .
Keywords: - Spatial perception;
- Cultural heritage;
- Tourism;
- Landscape;
- EMBRATUR.
Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial
Titulação: Doutor em Ciências.
Banca examinadora: - Maria Tereza Duarte Paes;
- Olga Tulik;
- Paulo César Garcez Marins;
- Pedro Paulo Abreu Funari;
- Rafael Winter Ribeiro.
Data da defesa: 25/08/2010
Programa de Pós-graduação em Geografia.
ii
Dedico este trabalho a minha família,
v
Novamente não posso deixar de
vii
Como não dedicar também este trabalho
paciente, moderna
A quem me refiro?
Tereza.
ix
Agradecimentos
Agradeço imensamente a meu Deus pela orientação e força nos momentos mais difíceis de minha
vida. Graças a ele, mais um importante ciclo de minha vida foi concluído e me sinto preparado
para alçar novos vôos.
Aos meus amigos do Grupo de Pesquisa Geografia, Turismo e Patrimônio, pelas trocas de
experiências, encorajamento e muitas risadas.
Aos meus amigos Karina Poli, Ana Paula, Iara e Fernando, que sempre demonstraram amizade,
afeto e muita consideração por mim.
E a todos que não citei, mas que sempre demonstraram carinho, amor e sincera amizade por mim.
xi
Sumário
Apresentação p. 01
Introdução p. 05
xiii
Capítulo 05 – A EMBRATUR e os discursos ideológicos da promoção p. 113
turística: o Plano Aquarela 2002-2020
5.1 A política pública do turismo na gestão Lula segundo o Plano Nacional de p. 118
Turismo: o Programa de Regionalização do Turismo e o novo direcionamento da
EMBRATUR
p. 143
6.3 Metodologia de análise das imagens promocionais da EMBRATUR referentes
ao patrimônio cultural
p. 146
6.4 O patrimônio cultural na promoção turística da EMBRATUR
xiv
Lista de Figuras
Figura 1.1 Material Promocional da Maison de La France – Órgão Oficial de p. 32
Promoção Turística do Governo Francês. Fonte: Maison de La France.
Figura 1.6 Peça publicitária da Campanha Brasil: Vire Fã, veiculada pela p. 36
EMBRATUR entre 2004 e 2008.
Figura 1.8 Bairro de Ponta Negra, Natal, RN. Observa-se em primeiro plano, a p. 44
intensa proliferação de barracas ao longo da praia. No plano
intermediário, pousadas , pequenos hotéis e restaurantes e ao fundo
intensa verticalização para residência secundária, normalmente
direcionada ao público estrangeiro.
xv
Lista de Figuras
Figura 1.12 Paisagem comumente valorizada pela propaganda turística do Pe- p. 47
lourinho. Ao fundo, casario recuperado na 2a. etapa do Programa.
Figura 2.2 Eixo principal de circulação em Dubai – Emirados Árabes, onde pode ser p. 54
contemplada a maioria dos empreendimentos comerciais que fortalecem
a imagem de prosperidade e desenvolvimento desta cidade-estado.
Figura 2.3 Potsdamer Platz, Berlim, nas primeiras décadas do século XX. A praça p. 55
reunia a grande intelectualidade e vanguarda alemã da época em seus
bares, cafés, restaurantes, livrarias e cabarés.
Figura 2.5 Jardim Botânico de Curitiba, PR. O emprego de áreas ajardinadas com p. 56
estética francesa e elementos construtivos inspirados no Palácio de
Cristal de Kew Gardens em Londres reforçam a tentativa do
planejamento urbano na construção de uma imagem de cidade
europeizada e com alta qualidade de vida.
Figura 2.8 Paisagem do Centro de São Paulo, SP, mais precisamente do Vale do p. 59
Anhangabaú após a implantação do Projeto “Cidade Limpa” – projeto
contra a poluição visual causada pelo excesso de publicidade.
Figura 2.9 Fila organizada e controlada por guias locais para a descida à baía do p. 60
Sancho na ilha Fernando de Noronha, PE.
xvi
Lista de Figuras
Figura 2.12 London Eye , Londres, UK. p. 63
Figura 4.1 Avenida Vieira Souto em Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. p. 102
Figura 4.2 Contraste espacial e paisagístico entre a favela de Paraisópolis e o bairro p. 102
do Morumbi em São Paulo, SP.
Figura 4.4 Esquina das avenidas Ipiranga e São João no centro de São Paulo, SP. p. 104
Figura 5.1 Posicionamento turístico do Brasil na América latina, definido pelo p. 126
Plano Aquarela.
Figura 5.2 Marca Brasil: cores com respectivos significados e mensagem p. 127
permanente.
Figura 6.1 Peça publicitária da primeira fase da campanha da EMBRATUR “Brasil. p. 136
Vire Fã” para o mercado espanhol.
Figura 6.2 Peça publicitária da primeira fase da campanha da EMBRATUR “Brasil. p. 136
Vire Fã” para o mercado português.
Figura 6.3 Peça publicitária da segunda fase campanha “Brasil. Vire Fã” da p. 137
EMBRATUR, direcionada ao mercado Argentino.
Figura 6.4 Peça publicitária correspondente à terceira fase da campanha “Brasil. p. 138
Vire Fã” da EMBRATUR.
Figura 6.5 Painel publicitário da campanha “Brasil. Vire Fã” – terceira fase, p. 138
aplicada em ônibus turístico na cidade de Nova York, EUA.
xvii
Lista de Figuras
Figura 6.6 Peças publicitárias da campanha da EMBRATUR intitulada “Brasil: p. 140
Sensacional”, onde dois destinos diferentes são apresentados na mesma
peça publicitária..
Figura 6.11 Peça publicitária da campanha da EMBRATUR “Brasil: Vire Fã” - 3ª. p. 170
fase.
Figura 6.12 Peça publicitária das campanhas da EMBRATUR “Brasil: Sensacional”. p. 170
Figura 6.13 Peça da campanha publicitária da EMBRATUR “Brasil: Vire Fã” p. 173
primeira fase.
Figura 6.14 Peça da campanha publicitária da EMBRATUR “Brasil: Vire Fã” p. 173
segunda fase.
Figura 6.15 Peça da campanha publicitária “Brasil: Vire Fã” em sua segunda fase. p. 177
Figura 6.16 Peças da campanha publicitária “Brasil: Vire Fã” em sua terceira fase. p. 177
Figura 6.17 Peças da campanha publicitária “Brasil: Vire Fã” em sua terceira fase. p. 177
Figura 6.18 Vista recente da paisagem do Centro Histórico de Salvador amplamente p. 179
valorizada pela propaganda turística.
xviii
Lista de Figuras
Figura 6.26 Grupo de Imagens referentes à situação “A imagem das paisagens do p. 200
patrimônio cultural como expressão artística”, analisados por esta
pesquisa.
Figura 6.28 Grupo de Imagens referentes à situação “A valorização da estética das p. 203
paisagens de patrimônio cultural: a paisagem como “cartão postal”,
analisada por esta pesquisa.
Figura 6.29 Grupo de Imagens referentes à situação “A idealização social nos p. 205
espaços públicos do patrimônio cultural”, analisados por esta pesquisa.
Figura 6.30 Movimentação nas ruas do Centro Histórico de Salvador – Pelourinho. p. 206
Figura 6.31 Baiana vestida a caráter circulando nas ruas do Centro Histórico. p. 206
Figura 6.32 Imagem que retrata o processo de exclusão social e relativo descaso em p. 207
relação à manutenção e à valorização do Centro Histórico de Salvador.
Figura 6.33 Imagem que retrata o processo de exclusão social e relativo descaso em p.207
relação à manutenção e à valorização do Centro Histórico de Salvador.
xix
Lista de Tabelas
Tabela 1.1 Marcas turísticas de alguns países líderes no mercado emissivo p. 39
internacional de turistas.
Tabela 6.1 Distribuição quantitativa de imagens utilizadas pela promoção turística p. 147
da EMBRATUR, segundo segmentos ou nichos de mercado.
Tabela 6.5 Distribuição dos Bens Culturais presentes nas Imagens promocionais da p. 164
EMBRATUR segundo sua natureza e categorias associadas.
Tabela 6.6 Análise crítica do discurso publicitário da Campanha “Brasil: Vire Fã”. p. 181
xx
Lista de Gráficos
Gráfico - 01 Distribuição dos segmentos/nichos na promoção turística da p. 147
EMBRATUR.
xxi
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃOEM GEOGRAFIA
ÀREA ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL
Resumo
A presente pesquisa aborda as ideologias espaciais observadas nas ações promocionais do patrimônio
cultural brasileiro praticadas pela EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo – durante o período de 2003 a
2010. Apresenta, por meio do conceito de ideologia espacial apresentado por Vincent Berdoulay, a importância do
espaço e, sobretudo da paisagem, como elementos de apropriação ideológica dos grupos econômicos, sociais e
políticos ligados às localidades em diferentes escalas. Para isso, discute a importância dos conteúdos simbólicos das
paisagens turistificadas como elemento fundamental na formação de imagens que atinjam aos interesses do mercado
turístico e dos órgãos de promoção turística. Nesse sentido, discute o fenômeno apresentado por Berdoulay e por ele
denominado de “redução narrativa”, compreendido como a seletividade intencional de fragmentos da paisagem para
a formação de imagens com alto teor ideológico. A partir da análise de imagens referentes ao patrimônio cultural
brasileiro presentes nas peças publicitárias desenvolvidas pela a EMBRATUR, a pesquisa pretende comprovar a
hipótese que afirma a existência de conflitos e contradições de ordem ideológica entre o discurso dos planos de
marketing internacional dos destinos culturais brasileiros e a prática de promoção pela propaganda turística. A
importância deste trabalho resume-se a uma maior reflexão acerca dos processos atuais que envolvem a apropriação
turística do patrimônio cultural brasileiro, de forma a permitir uma revisão construtiva dos modelos de planejamento
turístico e mercadológicos empregados, das práticas de promoção do patrimônio cultural brasileiro no exterior e das
intervenções ora observadas em localidades dotadas de relevante patrimônio cultural de natureza material e imaterial.
xxiii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL
Abstract
This research approaches the spatial ideologies observed in promotional activities of the Brazilian cultural
heritage practiced by EMBRATUR - Brazilian Institute of Tourism - during the period 2003 to 2010. It presents,
through the concept of spatial ideology presented by Vincent Berdoulay, the importance of the space and especially
the landscape as elements of ideological appropriation. For this, discusses the importance of the symbolic contents of
tourism landscapes as element in the formation of images for the tourist market and for tourism promotion
organizations. In this sense, discusses the phenomenon displayed by Berdoulay called "narrative reduction”,
understood as the intentional selectivity of fragments of the landscape to form images with high content of ideology.
From the analysis of images related to the Brazilian cultural heritage present in advertising developed by
EMBRATUR, the research intends to investigate the hypothesis that asserts the existence of conflicts and
contradictions between the ideological discourse of marketing plans for tourism destinations and the practice of
promotion of tourism. The significance of this research is to contribute to the reflections that involve the
appropriation of cultural heritage tourism in Brazil, to enable a constructive review of models of tourism planning
and marketing practices, of the promotion practices of the Brazilian cultural heritage and the interventions observed
in locations with relevant cultural heritage.
xxv
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL
Résumé
Cette recherche porte sur les idéologies spatiales observées dans les activités de promotion du patrimoine
culturel brésilien pratiqué par EMBRATUR - Institut Brésilien du Tourisme - au cours de la période de 2003 à 2010.
Il présente, à travers le concept de l'idéologie spatiale developpé par Vincent Berdoulay, l'importance de l'espace et
surtout du paysage comme éléments d'appropriation idéologique de groupes économiques, sociaux et politiques.
Pour cela, discute l'importance du contenu symbolique des paysages du tourisme dans la formation des images qui
atteignent les intérêts du marché du tourisme et des organismes de promotion touristique. En ce sens, explique le
phénomène affichée par Berdoulay et appelé “reduction narractive”, entendue comme la sélectivité intentionnelle de
fragments du paysage pour former des images chargées de contenu idéologique. A partir de l'analyse des images
relatives au patrimoine culturel brésilien qui sont présentes dans les publicités developpées par Embratur, la
recherche a l'intention d'enquêter sur l'hypothèse qui affirme l'existence de conflits et de contradictions entre le
discours idéologique des plans de marketing pour les destinations touristiques et les pratique de la promotion du
tourisme. L’importance de la recherche est promouvoir une réflexion plus approfondie sur les processus qui
impliquent l'appropriation touristique du patrimoine culturel brésilien afin de permettre un examen constructif des
modèles de planification du tourisme, des pratiques de promotion du patrimoine culturel brésilien et les interventions
observés dans les endroits pertinents du patrimoine culturel.
xxvii
Apresentação
1
Em 2005 foi anunciado pelo governo federal, por meio do Programa Monumenta, o início
das intervenções no Centro Histórico em sua etapa 07 e a apresentação de uma nova premissa que
orientaria o processo de refuncionalização da área correspondente: a permanência e o
envolvimento da população local no processo e a diversidade de usos estimulados para a nova
área refuncionalizada, dentre eles os usos residencial e de comércio local.
2
Morando em Brasília e trabalhando na EMBRATUR, sob a direção e gerência direta de
Jurema Machado (coordenadora de cultura da UNESCO), Marcelo Pedroso (diretor de Produtos e
Destinos da EMBRATUR) e de Delma Andrade (gerente do Projeto EMBRATUR-UNESCO), o
projeto envolveu atividades diretamente ligadas ao marketing do segmento do turismo cultural,
como também orientou metodologias de pesquisa em turismo para os outros segmentos
trabalhados na EMBRATUR.
Acolhido pela minha querida UNICAMP e pela minha maravilhosa orientadora, vejo este
trabalho como a continuação de minha trajetória acadêmica nos estudos da geografia, do turismo
e do patrimônio cultural, contribuindo com discussões que possam levar ao desenvolvimento de
planos e projetos que escolham um caminho saudável para a recuperação, valorização e inclusão
de nossa herança cultural na dinâmica das cidades atuais.
3
Introdução
Na produção turística das cidades atuais, a paisagem torna-se um poderoso elemento que
orienta o processo de turistificação e de mercantilização do território, uma vez que por meio de
seu conteúdo simbólico alcançam com maior eficácia os resultados econômicos pretendidos em
tais áreas. As paisagens turistificadas, repletas de objetos novos e antigos, inovações
arquitetônicas, elementos tecnológicos e cenários criativos, expressam as representações
simbólicas de interesse das lideranças hegemônicas, na tentativa de induzir formas de apropriação
e consumo intensivo que se adequem aos objetivos do sistema capitalista globalizado.
5
como uma justificativa concreta para os discursos ideológicos de planos de turismo que
enaltecem o turismo como instrumento de desenvolvimento urbano, econômico e social das
cidades atuais. Tais fragmentos de paisagem são amplamente empregados na promoção turística
nacional e internacional e constituem-se como a peça principal da formação de imagens positivas
e atraentes das localidades. Distantes da realidade, tais imagens valorizam os conteúdos
simbólicos expressos na materialidade da paisagem e colaboram com a construção de um
imaginário coletivo do turismo calçado em realidades muitas vezes criadas pela propaganda
turística. A ideologia espacial faz-se presente em todo esse processo e permeia as relações entres
os agentes responsáveis pelo turismo e o espaço que compreende tais localidades.
6
Assim, a partir dessa discussão, a presente pesquisa tem como objetivo central discutir e
analisar os processos de ideologia espacial associados ao patrimônio cultural e presentes em
cidades turísticas brasileiras por meio das ações e estratégias de promoção turística desenvolvidas
pela EMBRATUR durante o período compreendido entre 2003-2010, ou seja, na gestão da
entidade durante o governo Lula. Nesse sentido, optou-se pela aplicação e análise do conceito
teórico desenvolvido pela geografia francesa de Vincent Berdoulay (1985) – a Ideologia Espacial
-em áreas dotadas de patrimônio cultural com intensa apropriação turística. A partir das
discussões deste autor, constata-se que as linhas ideológicas do Estado e do mercado são também
legitimadas pela apropriação do espaço e da paisagem e influenciam diretamente a formação de
imagens voltadas à promoção internacional, muitas vezes distantes da realidade sócio-espacial
desses destinos turísticos.
A comprovação desta hipótese foi realizada a partir da análise das justificativas e ações
presentes no Plano Aquarela – Plano de Marketing Internacional do Brasil - bem como dos
conteúdos simbólicos das paisagens representadas pelas imagens promocionais da EMBRATUR
em suas campanhas publicitárias e em seu site de divulgação. Com esta análise documental e
imagética, a pesquisa identificou e analisou os discursos ideológicos da EMBRATUR, suas
posturas e contradições bem como a ideologia espacial praticada pela promoção turística
brasileira.
7
A base metodológica empregada para atingir os objetivos centrais e conduzir à
confirmação da hipótese traçada envolveu uma abordagem qualitativa, com resultados descritos
de forma analítica e discursiva. O processo metodológico, no entanto, compreendeu inicialmente
uma pesquisa exploratória a partir de levantamento bibliográfico, abordando temas relevantes aos
objetivos da pesquisa e favorecendo a estrutura dos capítulos por ela apresentados.
8
Dessa forma, este trabalho foi dividido em três partes. A primeira parte é composta de três
capítulos que envolvem as perspectivas de análise do processo de apropriação ideológica do
espaço e o papel do elemento paisagem na legitimação desse processo. A partir das discussões
apresentadas pela nova geografia cultural, aborda a importância do conteúdo simbólico das
paisagens na produção turística das cidades atuais, sobretudo aquelas dotadas de significativo
patrimônio cultural, ao apontar as práticas reducionistas e seletivas da atividade turística em tais
localidades. Por fim, discute a relação entre a atividade turística e o patrimônio cultural,
identificando as principais aproximações, contrastes e conflitos em relação aos processos de
proteção e valorização do patrimônio por meio desta atividade.
Por fim, a terceira parte consiste na análise conclusiva acerca das ideologias espaciais da
promoção turística internacional do Brasil na gestão Lula, relacionando as premissas conceituais
apontadas por Berdoulay aos resultados analíticos dos documentos e das imagens produzidas
durante este período. Essa análise apontará os argumentos pertinentes à confirmação da hipótese
levantada por esta pesquisa, ou seja, a afirmação da existência de conflitos e contradições de
ordem ideológica entre os discursos e as práticas de promoção turística do patrimônio cultural
brasileiro e a consolidação da imagem do patrimônio brasileiro no exterior reduzido a paisagens
de cidades coloniais nordestinas e a manifestações populares estereotipadas e espetacularizadas.
Através de todo o trabalho realizado, pretende-se contribuir com uma maior reflexão
acerca dos processos atuais que envolvem a apropriação turística do patrimônio cultural
brasileiro, de forma a permitir uma revisão construtiva dos modelos de planejamento turístico e
9
mercadológicos empregados, das práticas de promoção do patrimônio cultural brasileiro no
exterior e das intervenções ora observadas em localidades dotadas de relevante patrimônio
cultural de natureza material e imaterial. A análise crítica desses processos, a constatação da
importância em que o Brasil se apresenta atualmente no cenário político, econômico e cultural
internacional e adoção de práticas criativas, ousadas e participativas pode alterar e transformar a
imagem já desgastada do Brasil no exterior e valorizar a pluralidade e diversidade que caracteriza
a herança cultural brasileira.
10
Parte 01 – Ideologia Espacial de Destinos Turísticos
11
Capítulo 01 – A Ideologia Espacial e a Produção Turística das Cidades Atuais
Ao afirmar que o espaço consiste num conjunto híbrido de sistemas de objetos e sistemas
de ações, Santos (1997, pp. 74-76) ressalta que essas relações entre objetos e ações expressam a
intencionalidade de determinados grupos hegemônicos sobre a cidade. Essa intencionalidade
demonstra a forma como tais grupos produzem o espaço, adequando-o aos interesses da produção
capitalista, de classes dominantes e às ordens hegemônicas locais ou globais.
A intencionalidade como elemento mediador entre objetos e ações pode ser percebida pela
força do caráter simbólico expresso, sobretudo, nos objetos e nas paisagens. Expressões culturais,
costumes, discursos e ideologias são percebidos e permanentemente criados, recriados e
reinventados no espaço por meio de representações simbólicas.
13
imprime. Segundo o autor, a tecnosfera é sustentada pela psicosfera ao incorporar aos objetos e
paisagens representações, imagens e significados.
Thompson (1995), ao fazer uma análise crítica sobre os conceitos de ideologia, sustenta
que o conceito de ideologia deve ser usado para referir às maneiras como o sentido – significado -
serve, em circunstâncias particulares, para estabelecer e sustentar relações de poder presentes em
14
relações de dominação. Dessa forma, o estudo de ideologia requer a análise de como o sentido é
construído e usado nas formas simbólicas, como nas falas cotidianas, nas imagens e nos textos
produzidos. Daí a necessidade de investigação dos contextos sociais nos quais as formas
simbólicas são empregadas e articuladas. Elas servem para verificar como o sentido é mobilizado
pelas formas simbólicas em contextos específicos, para estabelecer e sustentar relações de
dominação.
15
exemplo, consiste num aparelho ideológico eficaz que impõe ideologias políticas ou econômicas
à produção e organização do espaço.
O planejamento urbano como aparelho ideológico proposto por Althusser pode ser
utilizado como um dos aparelhos coercivos do Estado através da organização e ordem espacial.
Se analisarmos, por exemplo, a o projeto de criação de Brasília observamos que as justificativas
da criação da nova capital baseados na centralidade territorial e formação de um mercado interno
brasileiro não superam os ideais de concentração de poder e afirmação de uma identidade
nacional baseada no desenvolvimento industrial (PENNA, 2000, VESENTINI, 1985,
ROSSETTI, 2009). A lógica e estrutura da cidade de Brasília e, sobretudo, sua arquitetura
demonstram uma aproximação de processos ideológicos do Estado descrito por Gramsci com a
produção espacial.
Da mesma forma, a rigidez das normas de controle expressa nos Planos Diretores que
orientaram o crescimento e desenvolvimento das cidades brasileiras a partir da segunda metade
do século XX, expressam o caráter centralizador e impositor do Estado na ordem social através
do espaço ignorando, segundo Maricato (1997, p.124), as reais necessidades da cidade e
ressaltando os interesses políticos e econômicos dos agentes do planejamento.
16
A partir dos anos 1990, as políticas urbanas passam a dar maior importância a um tipo
denominado de planejamento “mercadológico”, já que, neste estilo, é priorizada a capacidade da
cidade em atrair investimentos ao passo que os interesses sociais são postos de lado, em favor
dos interesses do capital. Ao mesmo tempo, com a abertura econômica e a globalização, os
planos diretores e suas formas de projetarem o futuro das cidades são substituídos pelos planos
estratégicos (SOUZA & RODRIGUES, 2004).
Segundo Vainer (2000, p. 75), o planejamento estratégico vem ocupar o espaço vazio
deixado pelo tradicional padrão tecnocrático, centralizado e autoritário através de uma ação
combinada entre diferentes agências multilaterais e de consultores internacionais. Novos
mecanismos de controle, embora vinculados às ideologias do mercado, ainda colocam o Estado,
mesmo que de forma fragilizada, como papel centralizador na organização do espaço urbano, por
meio de ações e normas impositivas e excludentes.
17
elementos publicitários criados pelo mercado se incorporam às paisagens das grandes vias de
circulação trazendo para elas seus produtos, como se elas fossem vitrines de estabelecimentos
comerciais (SOTRATTI, 2005, p 35).
18
paisagens urbanas reforçam a ideologia de um estado centralizador e regulador, onde o
planejamento urbano e suas implicações legais se constituem num poderoso aparelho ideológico
de organização e desenvolvimento espacial.
É o caso do Projeto Cidade Limpa em vigor na cidade de São Paulo desde o início do ano
de 2008. Através de decreto assinado pelo então prefeito de São Paulo Gilberto Kassab em 2006,
a prefeitura de São Paulo restringiu a poluição visual na cidade de São Paulo proibindo
todo tipo de publicidade externa, como outdoors, painéis em fachadas de prédios,
backlights e frontlights. Também foram vetados quaisquer tipos de anúncios publicitários
em táxis, ônibus e bicicletas.
Ao limitar drasticamente o uso das fachadas e espaços públicos para fins publicitários, a
prefeitura da cidade confrontou diretamente com os interesses do mercado, implicando numa
série de conflitos de ordem econômica, política e ideológica sobre os usos da cidade. A
proliferação de propagandas nas fachadas de edifícios e nos espaços públicos e a transformação
de bairros residenciais em bairros comerciais traduzem a força dos grupos econômicos na gestão
do território, se contrapondo a ações normativas e centralizadoras como a do Projeto “Cidade
Limpa” que fortalecem a idéia de um Estado regulador e ordenador do território. Os conflitos
observados entre a prefeitura e os empresários, neste caso, evidenciam o papel do espaço urbano
como elemento ideológico de dominação.
19
A partir de uma análise da ideologia conceituada por Althusser, Berdoulay (1985, p. 205)
ressalta que a ideologia pode ser representada por um sistema de representações – mitos, idéias,
ou imagens – formados num contexto histórico que responde aos anseios de determinada classe
dominante. A relação de dominação ideológica se dá através de uma falsa consciência, de forma a
permitir a reprodução dos interesses dessa classe dominante.
Berdoulay (1985, p. 209) aponta três eixos de aproximação da ideologia com o espaço: os
conflitos sociais gerados por imposições ideológicas, o poder simbólico da cultura e da paisagem
e a aproximação entre totalidade e finalidade no espaço.
O primeiro eixo sugere a compreensão dos conflitos espaciais gerados por imposições
ideológicas. Segundo o autor, os discursos produzidos pela ideologia assumem um papel
impositor uma vez que visam assegurar os interesses das classes hegemônicas de forma
consciente na apropriação do território. A relação de imposição ideológica gera seguramente
diferentes níveis de tensão política, cultural ou social no espaço e coloca, segundo o autor, a
ideologia dentro de um contexto de conflitos inerentes à sua existência.
As formas de atuação de alguns movimentos sociais, como o movimento dos Sem Teto -
1
MTST , consistem num bom exemplo de conflitos espaciais motivados por contrastes
ideológicos. Segundo Carlos (2004, p. 114) a dominação imposta pela articulação do poder
1
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) surgiu em 1997 da necessidade de acelerar a reforma
urbana e garantir moradia a todos os cidadãos. Está organizado nos municípios do Rio de Janeiro, Campinas e São
Paulo. É um movimento de caráter social, político e sindical. Em 1997, o MST – Movimento dos Sem Terra - fez
uma avaliação interna em que reconheceu que seria necessária uma atuação na cidade,além de sua atuação na área
rural. Dessa constatação, nasceu o MTST. Para mais informações, ver o site oficial do movimento:
http://www.mtst.info/.
20
político com a iniciativa privada implica numa homogenização de espaços – espaços
supervalorizados através do planejamento estratégico – que são comercializados de forma
fragmentada pelo capital privado.
Esse processo, segundo a autora, entra em contradição com as necessidades da vida social
gerando conflitos ideológicos que se materializam por meio de lutas em prol do direito à
habitação. Os conflitos espaciais são observados pelas ações repressoras do Estado na
desocupação e estabelecimento da ordem social – assegurando o papel ideológico centralizador e
autoritário do Estado – e das ocupações e invasões simbólicas de edifícios públicos ou privados
desocupados pelos integrantes do movimento dos sem teto (CARLOS, 2004, p. 115)
21
partir de uma idealização de ordem social ou cultural. Tais sistemas simbólicos, como a cultura, a
religião, muitas vezes cumprem a função de imposição ou legitimação da dominação,
assegurando os interesses de determinado grupo social em relação a outros.
Micelli (2009, p. LXI) adverte, no entanto, que objeto simbólico serve para exprimir
algumas demandas por significados, mas também pode oferecer elementos significantes visados
pelos interesses e reivindicações dos diversos grupos sociais. O patrimônio turistificado constitui-
se num ótimo exemplo dessa relação. Para o mercado turístico globalizado, o patrimônio cultural
22
se reduz a um cenário, uma vez que os elementos significantes de atratividade turística estão
presentes no conjunto das fachadas antigas ou esteticamente elaboradas.
Nesse sentido, para Thompson (1995, p. 123) é preciso pensar cuidadosamente sobre o
fenômeno da ideologia, de modo a avaliar como as pessoas localizadas diferencialmente na
ordem social respondem ou dão sentido a formas simbólicas específicas. E como essas formas
simbólicas, quando analisadas em relação aos contextos em que elas são produzidas, recebidas e
compreendidas, servem (ou não servem) para estabelecer ou sustentar relações de dominação.
23
de um limite, mesmo que não nitidamente definido, da totalidade do território ou dos limites de
inúmeras territorialidades.
O planejamento urbano, da mesma forma, também pode ser considerado um bom exemplo
de legitimação de processos ideológicos expressos pela seleção arbitrária de algumas áreas do
território urbano. Na requalificação urbana, estratégia de refuncionalização de áreas dotadas de
infraestruturas e de patrimônio cultural, normalmente observa-se processos de desvalorização
imobiliária e segregação sócio-espacial. Os espaços se transformam em símbolos de
desenvolvimento local e modernidade, através de discursos ideológicos de apelo a um tempo
pretérito glorioso ou pelo caráter simbólico do patrimônio cultural ali existente. No entanto, a
seletividade espacial praticada pela requalificação urbana reflete processos ideológicos muito
mais voltados aos interesses das classes hegemônicas do que aos ideais de cidadania e respeito à
memória.
24
estrategicamente localizadas no território urbano de forma a possibilitar a visibilidade das ações e
o interesse dos investidores privados.
“A requalificação das áreas centrais inclui-se hoje nos projetos de desenvolvimento das
nações e muitas cidades já vem recuperando e modernizando os seus centros como
instrumento de inserção na ordem mundial. Os princípios, conceitos, avaliações estratégicas e
perspectivas que então se percebiam, estão hoje confirmados. Daí a importância de divulgar
cada vez mais essas idéias, de retomar os fundamentos do debate, reexaminá-los à luz dos
desenvolvimentos mais recentes e submetê-los à prova de observação empírica e do confronto
de idéias.”
25
consideradas nas estratégias empregadas na requalificação e reforçam o ideal mercantilista de tais
intervenções.
26
seleção e a apropriação de um espaço urbano emblemático para o sucesso de suas estratégias se
via necessário. A presença e a concentração de edifícios ligados à história e à cultura da
localidade seriam, portanto, a oportunidade ideal de promover a vitalidade e o consumo desejados
pelos planejadores.
27
1.2 A produção turística das cidades atuais: imagens e representações simbólicas de espaços
e lugares
Numa sociedade onde o tempo livre se incorporou de forma significativa no cotidiano das
pessoas, a necessidade de deslocamentos em busca do lazer, do conhecimento de outras culturas,
da proximidade com a natureza, da busca da eterna juventude e da beleza se incorporou no
imaginário da sociedade urbana das grandes cidades. Esse imaginário, fomentado pelas
propagandas turísticas de lugares paradisíacos ou adaptados às mais excêntricas necessidades dos
turistas, se apegam a imagens criadas pelo mercado turístico global na tentativa de mercantilizar
o tempo livre por meio da projeção de paisagens dotadas de representações simbólicas que
alimentem esse imaginário ideal de consumo do tempo livre.
Segundo Silveira (2002, pp. 36), a produção de lugares turísticos é alicerçada através da
elaboração de um discurso idealizado que contribui com a fetichização de paisagens e de partes
do território. Segundo a autora, a produção de lugares turísticos apóia-se na criação de uma
28
psicosfera moldada pela publicidade, pelos modismos culturais, por critérios estéticos e
principalmente por estratégias de mercado.
A psicosfera, como define Santos (1997, pp. 203-204), “um reino das idéias, crenças,
paixões e lugar da produção de um sentido, que também faz parte desse meio ambiente, desse
entorno da vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário”, influencia a
produção turística das cidades globais no sentido de adequar paisagens e espaços idealizados no
imaginário do turismo globalizado.
As paisagens constituem-se, segundo Silveira (2002, p. 37), num domínio visível que lhes
confere uma aptidão à produção turística. Esta aptidão paisagística – termo empregado pela
autora - é uma manifestação da psicosfera, uma vez que por meio do turismo a constituição
material da paisagem clama por significados e representações simbólicas.
29
O lugar turístico apresenta dessa forma um conteúdo informacional e ideológico que é
comercializado pelo mercado, desenhando o que Santos (1986, pp. 190-192) designa como os
pontos do meio técnico-científico-informacional. Nesse sentido, o lugar turístico incentiva o
consumo de paisagens idealizadas por um imaginário criado e difundido pela psicosfera e
comercializa produtos tecnológicos que permitem a apropriação dessas paisagens (SILVEIRA,
2002, p.37).
A produção material dos lugares turísticos envolve, assim, duas ações que refletem a
ideologia espacial que permeia esse processo de produção espacial: o reducionismo simbólico do
espaço, impresso aos territórios, aos lugares e às paisagens e a seletividade espacial que envolve
as estratégias locacionais sob o controle de grupos hegemônicos do mercado turístico.
30
vários destinos evidencia a necessidade de um plano e de estratégias de marketing vinculadas à
formação de uma imagem positiva e de alto poder de atratividade.
A formação da imagem turística dos lugares consiste numa fase importante do processo
de produção turística dos lugares e se baseia na redução simbólica do espaço e do território a
partir de uma idealização baseada no imaginário construído pelo mercado turístico.
Para Gastal (2005, p. 23), a publicidade turística tem nas imagens sua forte aliada na
conquista de consumidores. Segundo a autora, as imagens são escolhidas deliberadamente de
forma a conduzir o olhar do turista e transmitir determinados sentimentos a eles. As imagens
turísticas podem levar o consumidor a conhecer determinados produtos ou mesmo somar outros
valores às imagens pré-existentes no imaginário do turista sobre determinado lugar, advindos da
literatura, do cinema ou de outros veículos midiáticos.
31
reduzem a complexidade e diversidade histórica, social e cultural dos lugares a imagens
estereotipadas e distorcidas para atrair públicos crescentes a tais lugares.
32
constante de reduzir o território Francês à capital Paris, desconsiderando cidades e regiões de
grande importância econômica, cultural ou mesmo turística do território. Da mesma forma, as
imagens de Paris normalmente estão associadas a paisagens que possuem a presença da Torre
Eiffel, importante marco paisagístico da capital francesa. Essa associação, além de reduzir a
grandiosidade e a beleza da paisagem urbana de diversos bairros da cidade, promoveu uma
associação equivocada entre a construção e presença da Torre Eiffel com a sociedade francesa.
3
Para mais informações sobre a história, importância simbólica e turística da Torre Eiffel, ver: http://www.tour-
eiffel.fr.
33
Figuras 1.2 e 1.3.
Peças
publicitárias do
Tourism
Australia e do
Tour Egypt,
órgãos de
promoção
turística da
Austrália e do
Egito
respectivamente.
Fonte:
http://www.touris
m.australia.com,
http://www.toure
gypt.net , 2010
34
expressões ideológicas do órgão responsável pela promoção turística internacional – a
EMBRATUR durante as últimas décadas.
Nos anos 70, a propaganda turística brasileira apresentava grande apelo sexual,
explorando imagens da mulher carioca com poucas roupas em paisagens normalmente associadas
ao prazer, como praias e desfiles de escolas de samba. (ALFONSO, 2006, p.89). Essa imagem
reforçava o imaginário do consumidor turístico da época de um Brasil hedonista e de sexo fácil,
que já era influenciado pela música da Bossa Nova de Tom Jobim – Garota de Ipanema e pelas
imagens do carnaval carioca difundidas pelas redes de televisão internacional. Isso resultou na
produção de um lugar turístico carioca baseado na exploração sexual de mulheres e adolescentes,
acentuando os conflitos sociais e econômicos da capital fluminense (Figuras 1.4 e 1.5).
Figuras 1.4 e 1.5. Revista Rio, Samba e Carnaval, distribuída na década de 70 do séc. XX no Brasil e
no exterior com o apoio da EMBRATUR. Observa-se o uso da imagem da mulher como o principal
atrativo turístico do Rio de Janeiro.
Fonte: EMBRATUR (1973-1975 apud Alfonso, 2006, pp. 88-89.
35
reforçaram o imaginário do Rio de Janeiro como destino sexual. O guia turístico “Rio for
Partiers” causou polêmica ao classificar as mulheres cariocas em categorias segundo sua
disponibilidade e interesse em realizar atos sexuais com turistas estrangeiros. Embora o guia não
faça referência direta à prostituição, a Embratur argumentou à Justiça que a classificação e a
indicação de locais para o turista buscar sexo viola a dignidade humana. De acordo com a
EMBRATUR, o foco da promoção turística do Brasil no exterior é a diversidade cultural do país
e suas belezas naturais. De acordo com a entidade,
4
.Para mais informações, ver reportagem na íntegra:
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=40&id=203887
36
A análise aprofundada do material promocional e publicitário da EMBRATUR referente
ao patrimônio cultural brasileiro e a ideologia espacial expressa pelas paisagens e imagens
associadas a tal patrimônio será discutida nos capítulos 05 e 06 deste trabalho.
Essa afirmação nos faz refletir sobre o papel do Estado na promoção de seu território num
mercado competitivo como o turismo. Reduzir o território a uma marca, talvez seja a
demonstração mais clara de uma ideologia do Estado voltada aos interesses do capital
globalizado, ao invés de reforçar seu papel no ordenamento e organização desse território. A
redução simbólica propagada pelas marcas turísticas de territórios vem promover a
homogeneização e a inserção de valores estereotipados aos lugares turísticos, distorcendo
realidades espaciais, culturais e sociais que caracterizam esses territórios.
37
devem ser a expressão da identidade dos lugares, devendo possuir em primeiro lugar um nome,
uma mensagem, um logotipo que traduza a essência e a identidade dos lugares. A metodologia se
baseia, segundo o autor, numa série de entrevistas com turistas, lideranças governamentais e
população local, seguida de um trabalho de desenho executado por uma agência publicitária.
Observa-se que a criação de marcas turísticas reforça a produção de identidades estereotipadas
baseadas em olhares técnicos e externos e muitas vezes alheios às impressões da sociedade local.
Alguns desses resultados podem ser observados na imagem a seguir:
38
comparativa entre as marcas expressas na Tabela 1.1 pode auxiliar a constatação de estereótipos
empregados pelo mercado turístico.
Tabela 1.1 - Marcas turísticas de alguns países líderes no mercado emissivo internacional de turistas.
Fonte: elaborado pelo autor.
39
A tabela acima mostra comparativamente o apelo simbólico do território empregado em
tais marcas. O sol está presente de forma direta nas marcas espanhola e australiana e indireta –
através da cor amarela – na marca Brasil. Essa presença reforça a associação do turismo com o
verão, com o sol e com as praias e estimulou sobremaneira a produção turística extensiva das
cidades costeiras de tais países.
40
Em relação à marca Brasil, observa-se a utilização de uma composição gráfica
dificilmente percebida pelos turistas estrangeiros – inclusive talvez pela grande parte da
população brasileira – uma vez que utiliza formas orgânicas características da obra do renomado
paisagística brasileiro Burle Marx. No entanto, as diversas cores utilizadas na marca brasileira
reforçam a imagem de exoticidade do território brasileiro no imaginário do turista internacional.
É curioso notar que todas as marcas analisadas possuem frases de efeito que buscam
despertar algumas sensações aos turistas em relação a tais países como alegria – marca espanhola
-, emoção – marca brasileira – e autenticidade – marca costa-riquenha. Da mesma forma que os
elementos gráficos, tais frases de efeitos supervalorizam aspectos relacionados à hospitalidade
em tais países e reduzem significativamente a realidade sócio-espacial que envolve tais
territórios. No caso da Austrália, observa-se que a marca se associa diretamente ao órgão de
promoção do turismo australiano no exterior - Turismo da Austrália – indicando a valorização do
Estado em relação ao desenvolvimento turístico no território.
Observa-se dessa forma, que a formação de imagens e a criação de marcas turísticas como
elementos de atratividade estão diretamente associadas à psicosfera criada pelos grupos
hegemônicos locais e mundiais, e se constituem em estratégias comumente empregadas pelos
países como uma forma de inserção no mercado turístico globalizado.
41
Observa-se ainda, que a aptidão paisagística dos lugares turísticos, defendida por Silveira
(2002, p.37), implica normalmente numa seletividade espacial de determinadas porções do
território que atendam aos valores simbólicos impressos pela psicosfera.
Fruto de uma ideologia espacial a partir de uma relação entre finalidade e totalidade,
como aponta Berdoulay (1985, pp.212, 213), a seletividade espacial dos lugares turísticos se
materializa a partir de duas ações básicas: a concentração de infraestrutura turística e a
apropriação de paisagens de alto valor simbólico.
42
Segundo os autores, empresas portuguesas e espanholas são as maiores investidoras,
evidenciando um fenômeno denominado pelos autores como transbordamento das atividades
turísticas desenvolvidas no sul de Portugal e da Espanha. Esse fenômeno está transformando o
ritmo de crescimento das cidades e o valor de troca dessas áreas, bem como a relação entre tais
espaços e as áreas tradicionais de tais núcleos urbanos (SILVA & FERREIRA, 2007, p 110).
5
O Programa de Desenvolvimento do Turismo – PRODETUR – consistiu num programa governamental iniciado em
1995 que tinha como objetivo expandir a atividade turística de forma planejada e estratégica nos estados nordestinos
e na região norte de Minas Gerais. Contando com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, do
Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES e do Banco do Nordeste do Brasil – BNB, destinava-se a financiar
projetos de infraestrutura como saneamento, sistemas de água e esgoto, transportes e construção e modernização de
aeroportos, além de apoio ao desenvolvimento institucional de órgão estaduais e municipais de turismo e preservação
do patrimônio histórico e ambiental (GOVERNO FEDERAL/BNDES, 1999). Para mais informações, ver
GOVERNO FEDERAL DO BRASIL/BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO. PRODETUR:
Infraestrutura e seus Reflexos no Turismo. Disponível em:
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/setorial/get4is06.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2010.
43
Figura 1.8 - Bairro de Ponta Negra, Natal,
RN. Observa-se em primeiro plano, a intensa
proliferação de barracas ao longo da praia.
No plano intermediário, pousadas , pequenos
hotéis e restaurantes e ao fundo intensa
verticalização para residência secundária,
normalmente direcionada ao público
estrangeiro.
Fonte: Skycrapercity,. Foto de Manu Neto,
2009.
http://www.skyscrapercity.com/showthread.p
hp?t=1018609
44
intencionalidades específicas. A requalificação urbana, por exemplo - denominação associada a
uma estratégia definida pelo modelo do planejamento estratégico – está associada à
refuncionalização de áreas dotadas de patrimônio, ou seja, de objetos antigos que permaneceram
inalterados no processo de transformação do espaço urbano. Por meio de uma refuncionalização
dirigida e estratégica, o emprego de funções vinculadas ao capitalismo global como turismo,
cultura, negócios, comércio e residências é incentivado nessas ações de planejamento urbano
(SASSEN & ROOST, 2001, p. 72, BORJA, 2001, pp. 78-79, PORTAS, 1998, p. 53, SOTRATTI,
2005, pp 14-16).
Estas novas representações simbólicas são criadas a partir de uma psicosfera que coloca o
patrimônio e a cultura como elementos de consumo, mediante uma pseudo-atmosfera de
valorização da memória. A partir da valorização do patrimônio como cenário estetizado, a
refuncionalização adapta esses objetos a funções turísticas e os transforma em equipamentos
como hotéis, bares, restaurantes. A paisagem cenarizada do patrimônio requalificado é valorizada
pelo seu conjunto, através de representações simbólicas ligadas a seu valor histórico e estético,
mas nitidamente percebe-se que essa significação acaba se reduzindo a um pano de fundo para o
consumo turístico.
45
O caso da requalificação urbana do centro Histórico de Salvador Pelourinho é um bom
exemplo da seletividade espacial para produção turística através da apropriação simbólica das
paisagens do patrimônio cultural. As imagens a seguir demonstram algumas das situações
descritas acima.
Figuras 1.10 e 1.11 - Interior do Convento do Carmo, refuncionalizado como meio de hospedagem
05 estrelas – o Pestana Convento do Carmo Hotel, da rede portuguesa de hotéis. Observa-se que a
introdução de objetos específicos de um equipamento voltado ao turismo, como piscina e
46
restaurante transformam o significado desse importante edifício histórico do Centro Histórico.
Fonte: Skycrapercity. Foto de Fiatbao, 2006.
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=394170 .
Embora o Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador tenha apresentado
resultados satisfatórios na expectativa de seus idealizadores, em pesquisa realizada anteriormente
(Sotratti, 2005), revelamos os efeitos ambíguos e mesmo antagônicos desse Programa.
Analisando a sequencia das etapas da implantação da proposta, observamos claramente a
importância da paisagem e do cenário recuperado nas prioridades do Programa de Recuperação
(SOTRATTI, 2005, pp. 145-151). A paisagem que envolve o largo do Pelourinho tornou-se o
epicentro das primeiras intervenções, de forma a fortalecer a imagem do Centro Histórico de
Salvador recuperado. No entanto, a área eleita como segunda etapa do Programa reúne,
curiosamente, quarteirões localizados relativamente distantes do largo do Pelourinho, mas de
alcance visual direto deste. Estes quarteirões reforçam o caráter fachadista da proposta e a
importância da paisagem do Centro Histórico recuperada – mesmo que fragmentada - para
fortalecimento da imagem do produto turístico Bahia. As Figuras 1.12 e 1.13 demonstram esta
relação.
47
Figura 1.13 - Vista recente da
paisagem apresentada na figura
anterior, a partir do olhar de um
turista. Observa-se o mau estado
de conservação das fachadas dos
casarios recuperados pelo
Programa.
Fonte - Foto de Galado, 2008.
http://www.skyscrapercity.com/sh
owthread.php?t=638011 .
48
Capítulo 02 – A paisagem de centros históricos turistificados: legitimação de ideologias
espaciais
Com a geografia cultural, os estudos geográficos buscam o sentido que uma sociedade
remete, seja individualmente seja como grupo social, à sua relação com o espaço. A cultura,
explica Duncan (2004, p.97) cria um sistema de signos que expressam determinada ordem social
e sua dinâmica de reprodução, exploração, experimentação e transmissão. Através da percepção
subjetiva desses símbolos, o espaço percebido pode externalizar conteúdos muito mais amplos do
que simplesmente as suas formas. A percepção de imagens espaciais pode, segundo Bachelard
(2003, p. 24), revelar a interligação do sujeito com o objeto, seu sentido de pertencimento e sua
contextualização com outros objetos – presentes ou passados.
Nesse sentido a geografia cultural se coloca, segundo Holzer (1977, pp. 80-81), como
uma ciência das essências nos moldes propostos pela fenomenologia. Segundo o autor, ela nos
remete para um campo que se estrutura na relação do eu com o outro, do eu com os objetos, um
campo que se estabelece a partir dos sentidos que o homem determina com o próprio homem e
com o espaço.
49
Berque (1990, p. 111) destaca ainda que a paisagem é a manifestação de uma mediação.
Ela traduz os diferentes objetos para nossa percepção através desta mediação. A paisagem não se
restringe simplesmente a oferecer versões objetivas e diretas dos objetos, mas segundo o autor, é
através da versão metafórica que a mediação se faz presente. A metáfora paisagística é que
permite a compreensão do mundo e dos espaços.
Com este olhar, a geografia extrapola o reducionismo formal dado à paisagem pela
geografia do século XX e valoriza a análise da essência desta categoria espacial “na relação entre
forma e conteúdo, materialidade e representação, paisagem e imaginário coletivo” (LUCHIARI,
2001, p.16).
A paisagem deve ser analisada, segundo Cosgrove (1999, pp. 33-34), como resultante da
forma como a sociedade a organiza a partir do modo de produção, dotando-a de significado. Esse
fato, segundo o autor, possibilita a integração entre o materialismo dialético e a apreensão da
paisagem por meio de seu significado. Tal afirmação nos facilita compreender a relação entre o
desenvolvimento capitalista e a organização material e simbólica das paisagens.
50
O período de aceleração industrial marcado pelo fordismo acarretou numa alteração na
lógica do crescimento das cidades, favorecida pela flexibilização estratégica para o potencial
construtivo e conseqüente especulação imobiliária (MARICATO, 1997, p. 124). O processo
acelerado de expansão das cidades alterou significativamente a relação do homem com a
natureza, exigindo cada vez mais espaços disponíveis para a instalação de novos complexos
urbanos e intensificando os processos de exploração de recursos naturais para alimentar a
produção industrial. A reação dos movimentos ambientalistas a esse processo propiciou, segundo
Luchiari (2001, pp. 18 e 19), uma inquietação de ordem ecológica e estética que conduziu a
construção de um novo discurso sobre a natureza e sobre a paisagem.
6
Os Parques Nacionais consistem numa categoria de Unidade de Conservação de proteção integral e os objetivo s de
sua criação consistem em preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,
possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e de
ecoturismo. Para mais informações ver: SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Disponível em:
http://www.mma.gov.br.
51
As áreas de exclusão social localizadas nas periferias das grandes cidades se constituem
em verdadeiras ameaças à integridade das paisagens naturais presentes nestas proximidades,
sendo alvos de intensa discussão e ações compartilhadas entre órgãos públicos e organizações
não governamentais. Em contrapartida, estruturas urbanas elitizadas associadas a tais áreas são
vistas como a verdadeira forma de integração e respeito do homem com a natureza, devido às
paisagens supervalorizadas dos espaços públicos ajardinados e construções com alto significado
estético para as classes mais favorecidas. Esta relação pode ser observada na figura abaixo:
52
cidadã. Esses novos anseios devem estar expressos de maneira simbólica na materialidade do
espaço, ou seja, na paisagem, que dá forma e sentido à nova cidade que se instaura.
Alguns fragmentos das paisagens da cidade contemporânea, por exemplo, podem revelar
as intencionalidades provocadas pelas ações do planejamento urbano ou até mesmo sublinhar as
contradições e conflitos provocados pelo desenvolvimento do sistema capitalista. Tais paisagens,
repletas de objetos novos e antigos, cenários fantásticos, inovações arquitetônicas e instrumentos
tecnológicos, expressam as representações simbólicas de interesse das lideranças hegemônicas,
na tentativa de induzir formas de apropriação humanas que se adequem aos objetivos do sistema
capitalista globalizado.
53
Figura 2.2 - Eixo principal de
circulação em Dubai – Emirados
Árabes, onde pode ser
contemplada a maioria dos
empreendimentos comerciais
que fortalecem a imagem de
prosperidade e desenvolvimento
desta cidade-estado.
Fonte. Creative Commons.
Disponível em:
http://creativecommons.org.br
Acesso em janeiro de 2010.
O exemplo de Dubai (Figura 2.2) e da Potsdamer Platz (Figura 2.4) são casos
significativos da supervalorização da paisagem como símbolos de poder e modernidade. Os
grandes projetos urbanos de Dubai – empreendimentos hoteleiros, centros de negócios e
complexos de compras e lazer - ao empregar escalas monumentais da arquitetura, estéticas
futuristas, técnicas e materiais construtivos de última geração reforçam a necessidade desta
cidade-estado dos Emirados Árabes em se colocar para o mundo como o grande epicentro de
poder e desenvolvimento econômico, decorrente das reservas petrolíferas abundantes no país. As
grandes obras urbanas de Dubai omitem, no entanto, a realidade econômica e social local,
mascarando a recente crise financeira, a alta concentração de renda e a exclusão sócio-espacial de
imigrantes estrangeiros que vivem nas periferias da cidade.
54
cisão ideológica do espaço da cidade. A refuncionalização da praça deveria, segundo a opinião de
seus idealizadores, dar um novo sentido à cidade recém unida, se constituindo num símbolo de
poder, cultura, modernidade e desenvolvimento que espelhasse a essência da nova Alemanha
reunificada.
55
implementada após a queda do muro, Arantes (2003, pp. 31-32) enfatiza o caráter efêmero do
conjunto arquitetônico altamente tecnológico ali implantado. Ao reunir grandes complexos de
lazer de propriedade de empresas transnacionais ao tradicional espaço da capital alemã, esta
transformou-se num “enclave metástico” onde a imagem de tecnologia, modernidade e
acessibilidade se associam à nova idéia de espaços abertos controlados pela ordem, pela estética e
pelas novas funções de consumo.
A cidade de Curitiba (Figura 2.5), ao adotar um marketing público que fortaleceu sua
imagem de cidade europeizada e com excelente qualidade de vida, criou sucessivos projetos de
parques e memoriais em estratégicos pontos da cidade para valorizar o uso do solo local e afastar
as periferias mais carentes da área central (SANCHEZ, 2003, p.485).
56
Assim como o desenvolvimento tecnológico, a expansão e o incentivo do consumo
induzido pelas transformações no processo produtivo industrial certamente representam parte da
lógica sócio-espacial das cidades contemporâneas. Cada vez mais observamos no espaço urbano,
paisagens compostas por objetos que enfatizam esta necessidade se propagar por espaços de
enorme representatividade sócio-espacial, transformando significativamente a forma de
percepção de todo o conjunto construído. Um dos exemplos mais evidentes da exaltação do
consumo pela paisagem é a Times Square em Nova York, EUA (Figura 2.6).
Venturi, ao analisar o espaço urbano de Las Vegas, observa que o apelo e persuasão ao
consumo, muitas vezes são exercidos pela própria arquitetura. Aspectos ligados à forma e à
estética dos edifícios, à monumentalidade, à iluminação e ao seu próprio posicionamento
atribuem aos citadinos a direta relação entre os produtos ali comercializados e a arquitetura
(VENTURI, 1998, pp. 34-35). O maior desses exemplos pode ser observado na arquitetura dos
fast-foods (Figura 2.7) que se utiliza de formas e cores padronizadas para provocar a imediata
associação entre a paisagem e o produto comercializado. A arquitetura, neste caso, se reduz
simbolicamente a uma mercadoria consumida de forma efêmera e instantânea.
57
Figura 2.7 - Arquitetura
padronizada da rede de fast-
foods “McDonald’s”,
normalmente empregada em
qualquer cidade do planeta
que possui sua franquia. Sua
arquitetura remete,
simbolicamente aos produtos
alimentícios por ela
comercializados.
Fonte. Creative Commons.
Disponível em:
http://creativecommons.org.b
r Acesso em janeiro de 2010.
No entanto, a poluição visual causada pelo excesso de publicidade presente nas paisagens
de várias cidades do mundo levou ao poder público de determinadas municipalidades a adotar
ações de limpeza visual e valorização da arquitetura de algumas áreas que sofrem intensa
poluição visual. È o caso do Projeto “Cidade Limpa” desenvolvido pela gestão de Gilberto
Kassab em São Paulo. Criado em 2006 e regulamentado pela lei 14.223, este projeto prevê a
minimização da poluição visual na metrópole paulista proibindo e removendo out-doors, painéis
publicitários e back-lights das vias públicas e normatizando a implantação de placas comerciais
nas fachadas dos edifícios da cidade7 (Figura 2.8). Os resultados obtidos com esse Projeto
evidenciam, além da valorização estética das fachadas dos edifícios da cidade (muito deles
dotados de significativo valor artístico e histórico), a transformação das estratégias publicitárias
de várias empresas locais que acabam se aproveitando da arquitetura dos edifícios para criar uma
nova imagem e identidade na paisagem da cidade.
No entanto, vale ressaltar que ações públicas como a do “Projeto Cidade Limpa” reforçam
a ideologia espacial de um estado centralizador e responsável pela organização do espaço da
cidade, utilizando-se de um discurso de valorização do patrimônio e da identidade local. Observa-
se que tais medidas possuem, muitas vezes, um caráter meramente fachadista, uma vez que o
7
Para mais informações, ver a Lei no. 14.223 de 26 de setembro de 2006 na íntegra. Disponível em:
http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=27092006L%201422
30000. Acesso em janeiro de 2010.
58
patrimônio material que compõe estas paisagens é muitas vezes excluído da apropriação por parte
das comunidades locais.
Esta idealização propicia, na maioria das vezes, uma estetização padronizada e estratégica
das paisagens nos destinos turísticos que se constrói simbolicamente a partir das aspirações e dos
desejos impostos pelo mercado turístico. A paisagem é, neste caso, reduzida a um cenário para o
consumo e para o acúmulo de riqueza das organizações turísticas, fetichizada como símbolo
identitário da cultura e da realidade local.
59
O processo de turistificação de paisagens baseia-se, segundo Urry (1996, pp. 60-72), no
olhar subjetivo dos turistas. Para o autor, o olhar subjetivo do turista é construído por diversos
fatores como a formação social e cultural e, sobretudo, pelo conteúdo informacional e imagético
da propaganda turística, direcionando-se para paisagens repletas de signos e representações que
alimentam as imagens idealizadas pelos turistas. Para Urry, o olhar turístico é dividido em duas
formas: o olhar romântico e o olhar coletivo. O olhar romântico se concentra em paisagens que
retratem ambientes totalmente desvinculados às origens dos turistas. Paisagens naturais
sacralizadas como paradisíacas, vilas rudimentares de comunidades tradicionais e experiências
radicais em ambientes hostis normalmente são estruturadas e valorizadas por organizações
turísticas para alimentar o imaginário romântico desses turistas. As Figuras 2.9 e 2.10 traduzem o
peso simbólico do olhar romântico defendido por Urry.
60
O mesmo acontece com o Centro Histórico de Salvador – Pelourinho (Figura 2.10). O
Centro Histórico, recuperado por ações governamentais desde 1992, reforça o olhar romântico
dos turistas para uma Bahia imaginada e idealizada a partir do seu patrimônio material e
imaterial, no caso os grupos afro-brasileiros de afoxé. O Programa resultou numa
supervalorização das fachadas do conjunto edificado para apropriação turística, em detrimento de
uma possível ocupação social e democrática por parte da comunidade local. Além disso, a
associação do cenário turistificado do Pelourinho a grupos culturais de alta repercussão
internacional, como o grupo de afoxé Olodum, reforça a identidade fetichizada pela paisagem e
criada, neste caso, pela refuncionalização turística da área (SOTRATTI, 2005).
61
começou ma década de 80 na UNESCO, a partir de abordagens que buscavam uma visão
integradora entre o homem e a natureza.
O olhar coletivo colocado por Urry (1996, p. 70) se direciona a paisagens estritamente
criadas ou estruturadas para uma intensa apropriação turística. Normalmente compostas por
cenários fantásticos e espetacularizados ou mesmo por infraestruturas turísticas supervalorizadas,
o olhar coletivo se legitima pela presença generalizada do turista que dá sentido e significado à
paisagem e ao espaço. O objetivo da criação destes cenários se resume ao poder da paisagem em
atrair números superlativos de turistas, dinamizando de forma surpreendente as estruturas
comerciais normalmente implantadas nesses locais, como hotéis, restaurantes lojas, etc. Como
exemplos ilustrativos do olhar coletivo, apontado por Urry, pode-se considerar a paisagem das
cidades de Las Vegas, Nevada, EUA e a London-Eye em Londres, UK (Figuras 2.11 e 2.12). As
formas espetacularizantes dos simulacros turísticos da famosa cidade americana consistem numa
estratégia complementar para a atração de números crescentes de turistas aos cassinos e hotéis da
cidade. Do mesmo modo, A London Eye – enorme roda-gigante que permite a contemplação a
360 graus da paisagem da capital inglesa – foi construída como uma das ações do programa de
requalificação do rio Tâmisa para possibilitar a visualização da cidade a grandes alturas. Sua
função de mirante, associada ao poder recreativo do equipamento, transformou essa
superestrutura num ícone turístico da cidade.
62
Figura 2.11 - Paisagem da
cidade de Las Vegas, Nevada,
EUA.
Fonte. Creative Commons.
Disponível em:
http://creativecommons.org.br
Acesso em janeiro de 2010.
63
Da mesma forma, áreas dotadas de objetos com fortes conteúdos simbólicos para a
localidade como o patrimônio cultural são transformados em objetos de negociação política e
econômica e acabam sendo alvo de ações de planejamento, com resultados reducionistas e
excludentes. Refletir sobre o resultado desses processos a partir da análise cautelosa do conteúdo
simbólico da paisagem de centros históricos turistificados consiste numa ferramenta importante
pata a discussão das ideologias espaciais apontadas por Berdoulay (1985) e aprofundam
significativamente as discussões sobre a dinâmica espacial das cidades contemporâneas.
2.1 A turistificação das paisagens dos centros históricos como fenômenos de “redução
narrativa”
64
cultural, técnica e política. Segundo a autora, a dimensão cultural exprime a necessidade coletiva
do homem, no exercício de sua cultura, em eleger aquilo que deve ser preservado a partir de um
dimensionamento de valores aos objetos. A dimensão técnica se relaciona ao desenvolvimento de
saberes, regras e normas que dão transparência e legitimidade ao processo de preservação,
enquanto que a dimensão política envolve ações e decisões de grupos hegemônicos, de ideologias
e conflitos de interesses em relação à preservação de tais bens.
65
prática cotidiana que consiste em aproveitar a ocasião e fazer da memória o meio
de transformar os lugares” (DE CERTEAU, 1994, p.161.)
Essa situação pode se ilustrada pela festa da Lavagem do Bonfim em Salvador, BA, e pelo
carnaval de Olinda, PE (Figuras 2.13 e 2.14). Na Bahia, na segunda quinta-feira depois do Dia de
Reis, duas religiões de fundamentos religiosos antagônicos se unem para um ritual religioso em
comum – a lavagem da escada da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, no bairro Bonfim, em
Salvador. Nesse dia, católicos e adeptos do candomblé percorrem juntos 8 km de ruas baianas,
cantando hinos de adoração às duas principais divindades de cada crença, Nosso Senhor Jesus
Cristo e Oxalá, configurando um dos maiores exemplos brasileiros do sincretismo religioso
brasileiro. O centro do ritual consiste na lavagem da escada da antiga do Nosso Senhor do
Bonfim, em torno dos quais cerca de um milhão de pessoas se reúne anualmente para celebrar
esse lugar da memória.
66
Figura 2.13 - Ritual da
Lavagem do Bonfim, Salvador,
BA.
Fonte. Creative Commons.
Disponível em:
http://creativecommons.org.br
Acesso em janeiro de 2010.
Segundo Berdoulay, os lugares da memória permitem que uma coletividade atribua uma
imagem a ela mesma, tanto para se reconhecer como para se fazer reconhecer por sua
singularidade em relação aos outros. Para isso, se apóiam na formação de imagens ou tramas
narrativas, em domínios técnicos e intelectuais sobre a importância e valoração desses lugares e,
sobretudo, na apropriação política de tais espaços através de práticas e planejamento
(BERDOULAY apud PAES, 2009, p.165)
67
A materialização dos lugares da memória, por meio do conteúdo simbólico da paisagem
reproduz, segundo Paes (2009, p. 166), estruturas ideológicas vigentes sejam elas políticas,
econômicas ou mesmo identitárias dos grupos sociais que se apropriam desses espaços. A
ideologia espacial defendida por Berdoulay (1985, p 210-212) se legitima nos lugares da
memória a partir da seletividade de paisagens de alto peso simbólico que passam a sustentar
discursos e práticas de interesse dos grupos hegemônicos e a sofrer intervenções que alteram seu
sentido de lugar da memória.
Essa estratégia surgiu no planejamento estratégico das cidades, com um discurso apoiado
na ressignificação da cidade fragmentada, incorporando de forma globalizada os espaços de
grande peso simbólico renegados pelo novo sistema de produção. O discurso central da
requalificação urbana se apóia ainda na tentativa de inclusão social de uma população marginal
em novos espaços sadios e revalorizados, onde relações sociais includentes seriam estabelecidas e
reforçadas por novas funções urbanas.
68
idealizadores como inédita e de vanguarda, o modelo catalão de requalificação se propagou em
diversas cidades européias e americanas8.
A partir dessa análise, observa-se que essas iniciativas adotam princípios projetuais que
valorizaram uma nova forma de integração sócio-espacial, mas cabe observar que os efeitos
apenas reforçaram o apelo consumista e espetacularizante de tais espaços. De modo geral, as
8
Para maiores informações sobre o modelo catalão de refuncionalização ver especialmente: Sanchez, 2003, Sassen
& Roost, 2001, Borja, 2001, Portas, 1998, Sotratti, 2005.
69
novas formas incorporadas nesses locais são agregadas aos valores de consumo local e os
excluídos continuam distantes desse processo.
70
Por outro lado, a inserção de novos usos e significados a tais áreas favorecem a criação de
novas identidades urbanas apoiadas no lazer e na cultura. Cafés, restaurantes, centros de compra,
centros culturais adaptados a arquitetura antiga “modernizada” são frequentemente observados
em tais locais atraindo intenso fluxo de visitantes e turistas.
Figura 2.15 -
Refuncionalização do
waterfront da região portuária
de Barcelona.
Fonte. Creative Commons.
Disponível em:
http://creativecommons.org.br
Acesso em janeiro de 2010.
A B
Cabe-nos agora analisar as formas da prática turística realizada em tais áreas, bem como o
comportamento voyeurista dos turistas em relação ao patrimônio cultural visitado. Esse
comportamento é influenciado pela intensa propaganda turística desenvolvida pelos órgãos
72
públicos, que utilizam-se de imagens idealizadas e fragmentadas do patrimônio cultural para
estimular a adesão de turistas potenciais a roteiros culturais superficiais e abrangentes.
O turismo cultural, segmento criado e desenvolvido pelo mercado turístico mundial, acaba
se reduzindo a mera contemplação das paisagens que compõem tais áreas e evidencia a ideologia
espacial das políticas e programas de turismo que, ao fortalecer determinadas imagens e
identidades em detrimento de outras, estimulam processos de redução narrativa do patrimônio
cultural.
73
Capitulo 03 – Turismo Cultural e Patrimônio Cultural: Aproximações e Contrastes
Estudos teóricos sobre o segmento, como aqueles desenvolvidos por McKercher & Du
Cros (2002), Richards (1996, 2007), Vaquero & Hernández (1998) e do próprio ICOMOS
(2000), ressaltam a projeção do turismo cultural nos últimos anos, ampliando a gama de
possibilidades e caminhos da atividade turística nas cidades e sítios providos de recursos culturais
de diferentes naturezas. Tais trabalhos assinalam ainda a importância da organização e
especialização de diferentes segmentos na atividade turística, dentre eles o turismo cultural, onde
espaços e paisagens planejados e orientados para públicos específicos vem adquirindo
expressividade econômica e simbólica no panorama turístico internacional, diversificando o
antigo modelo massificado do turismo de sol e praia.
Segundo Richards (2009, pp. 25-26) o turismo cultural reflete um turismo de melhor
qualidade, onde as expressões culturais locais podem ser valorizadas e inseridas na economia
local. Entretanto, segundo o autor, essa possibilidade não se caracteriza como uma condição
onipresente em todos os destinos culturais hoje assim considerados, uma vez que a massificação
e a turistificação de bens culturais representa hoje uma possível ameaça à permanência e
originalidade de tais bens.
75
voltados ao turismo cultural, a valorização de bens culturais materiais e consagrados como
patrimônio cultural como os principais atrativos turísticos a serem estruturados, organizados e
promovidos pelos gestores públicos e privados do turismo. Essa seletividade espacial e
econômica é percebida claramente nos conceitos de turismo cultural apresentados por
organizações e por alguns teóricos internacionais voltados à pesquisa deste segmento.
O próprio Ministério de Turismo (2008, p. 16), em parceria com o IPHAN, apresenta uma
definição de turismo cultural pautada na vivência de elementos que compreendem o patrimônio
histórico e cultural, bem como os eventos culturais. Observa-se, por esse documento, que o
conceito de patrimônio cultural adotado pelo ministério é a mesmo utilizado pelo IPHAN, ao
considerar o patrimônio histórico e cultural como bens de natureza material ou imaterial que
expressam ou revelam a memória e a identidade das populações e comunidades (MINISTÉRIO
DO TURISMO, 2008, p. 17). Esses bens, segundo a instituição, possuem valor histórico,
artístico, científico e simbólico e são passíveis de se tornarem atrativos culturais voltados à
vivência e contemplação.
Para Richards (2009, p. 26), o conceito de turismo cultural vai além da apropriação
turística do patrimônio cultural. Segundo o autor, o turismo cultural representa o resultado de
uma motivação específica, no caso, a busca de turistas por experiências culturais de diferentes
naturezas, como viagens de estudo, festivais musicais, peregrinações ou mesmo visitas a centros
históricos e monumentos. Segundo o autor, a compreensão do segmento turismo cultural deve ser
76
focada no olhar do turista e de suas múltiplas motivações culturais e não simplesmente na
apropriação turística do patrimônio cultural. Nesse sentido, o conceito do turismo cultural
envolve aspectos específicos que revelam as diferentes possibilidades de análise que caracterizam
o segmento: aspectos turísticos, apropriação de bens culturais, consumo de experiências e
produtos, motivações dos turistas. (MCKERCHER & DU CROS, 2002, pp. 03-06)
77
O mesmo resultado se observa nos projetos de refuncionalização de centros históricos
implantados em diversas cidades européias, americanas e mesmo brasileiras. Como já discutido
nos capítulos anteriores, os usos econômicos, sobretudo o comércio e os serviços turísticos
representam um forte elemento de valorização e ressignificação do patrimônio cultural em tais
áreas, transformando-os em atrativos de forte apelo publicitário e de atratividade econômica.
Observa-se, dessa forma, que o turismo cultural analisado pela ótica da atividade turística
ratifica a visão mercantilista dos agentes responsáveis pelo segmento em relação ao patrimônio
cultural. Nesse sentido, o patrimônio cultural material assume importância diferenciada, uma vez
que possibilita novos direcionamentos na dinâmica econômica e imobiliária dos espaços urbanos
onde estão inseridos, ao invés de possibilitar a preservação das diferenças sociais que os
identificam e singularizam (MARINS, 2004).
A apropriação dos bens culturais, como assinalam McKercher & Du Cros (2002, pp. 03-
06), consiste em outra referência de análise da relação entre o turismo e o patrimônio cultural.
Segundo os autores, a tradição européia de gestão do patrimônio resultou, muitas vezes, no
distanciamento entre as populações residentes e visitantes e o patrimônio cultural de determinado
lugar. Esse distanciamento reflete o processo elitista que envolve a definição do patrimônio
cultural a ser preservado, bem como suas possíveis formas de apropriação.
78
Nesse sentido o turismo cultural colabora com uma apropriação coletiva mais intensa do
patrimônio cultural. O turismo possibilita a valorização de bens culturais desconsiderados ou não
priorizados pelos órgãos de preservação, como o patrimônio imaterial e o patrimônio cultural
material móvel de origem popular (MCKERCHER & DU CROS 2002, p. 07). A aproximação do
patrimônio cultural com o turismo como forma de valorização e apropriação coletiva,
independente das relações mercadológicas priorizadas pelos gestores do turismo, vem sendo
tratada largamente em diversos países. A análise bibliográfica acerca dessa aproximação
realizada na Espanha, por exemplo, demonstra a importância do turismo como atividade
potencialmente parceira e convergente aos princípios de proteção do patrimônio cultural.
Para Vaquero & Hernández (1998, p.249) a emergência do turismo cultural vem
possibilitando a recuperação física do patrimônio e o desenvolvimento econômico e social de
diversas cidades espanholas. Embora a aproximação do turismo e o patrimônio cultural
apresentem dificuldades e ofereçam diversos riscos à vitalidade urbana e social dessas cidades, a
implementação de um turismo cultural baseado na pluralidade, ou seja, na apropriação turística
diferenciada em diferentes naturezas de bens culturais vem se mostrando eficaz como ferramenta
de desenvolvimento econômico e social de cidades dotadas de relevante patrimônio cultural. Da
mesma forma, o turismo cultural na Espanha vem assumindo um papel fundamental na
consolidação de valores protecionistas e identitários do patrimônio cultural entre os moradores
locais, favorecendo a participação democrática nos processos de gestão dos bens culturais e das
cidades como um todo (VAQUERO & HERNANDEZ, 1998, p.253).
Hernández (2007) relata ainda que o turismo cultural na Espanha vem apresentando
mudanças significativas nos últimos anos. Segundo a autora, as cidades espanholas dotadas de
patrimônio cultural reconhecidos pela UNESCO passaram décadas desenvolvendo uma atividade
turística baseada unicamente na promoção e implantação de infraestrutura pontual em atrativos
de alta repercussão. No entanto, nos últimos anos, o patrimônio cultural vem sendo alvo de
processos mais amplos de gestão, envolvendo redes de agentes e ações que visam associar a
presença do patrimônio da humanidade e do turismo cultural ao processo de desenvolvimento
79
global dessas cidades. Conselhos de turismo e patrimônio, parcerias público-privadas, consórcios
e patrocínios empresariais para a recuperação física do patrimônio e organismos mistos de gestão
do turismo são alguns exemplos de sucesso apontados pela autora (HERNÁNDEZ, 2007, pp. 81-
85).
80
cultural, onde seu valor simbólico original passa a ser considerado como principal fator de
atratividade turística. Por outro lado, a presença de turistas culturais de diferentes idades,
motivações e formação sócio-econômica vem exigindo a apropriação ampliada e diversificada do
patrimônio cultural em suas diversas naturezas (GONZÁLEZ, 2009, pp. 243-245).
Esse fato é ratificado por López (2005) ao afirmar que a inserção diferenciada do
patrimônio cultural no território deve ser considerada nos processos de gestão do turismo
cultural. Ao analisar o caso espanhol, o autor considera as diferenças simbólicas, geográficas,
paisagísticas e econômicas exercidas pelo patrimônio nas metrópoles, cidades litorâneas, centros
históricos e vilarejos nos processos de planejamento urbano e turístico desses locais. No caso de
Toledo, como analisa o autor, sua condição paisagística, infraestrutural e cultural favorece o
turismo cultural como fator de desenvolvimento global da cidade, trazendo possibilidades de
investimentos públicos e privados que minimizem os problemas urbanos identificados atualmente
(LÓPEZ, 2005, pp. 338-339, 342-344).
81
No caso de Barcelona, o patrimônio como elemento de representação simbólica
transcendeu o centro histórico e a arquitetura icônica de Gaudí, ao incorporar novas referências
espaciais e paisagísticas associadas aos subsequentes processos de refuncionalização urbana
observados na cidade desde o período dos Jogos Olímpicos de 92. A relação entre o patrimônio
cultural e o turismo neste caso consiste na transformação dos valores atribuídos aos bens
culturais, direcionados então a um universo de consumo lúdico, turístico e cultural. Essa
transformação, iniciada e consagrada pelo marketing urbano internacional, eleva o patrimônio ao
status de referência estilística para a criação de simulacros e novos ícones na paisagem urbana.
(LÉON & AGUILAR, 2009, p.06-07).
Um outro exemplo espanhol a se considerar é o caso de Sevilla. Para Gómez & Rubio
(1999), Sevilla é um exemplo representativo de turismo cultural exercido em cidades médias do
sul da Europa, onde a articulação da cidade com o mercado turístico nacional e internacional não
foi suficiente para alterar a estrutura e o valor simbólico do patrimônio cultural local.
Segundo os autores, o turismo cultural deve ser pensado de forma estratégica, englobando
toda a região metropolitana andaluza. A infraestrutura urbana de Sevillha, seu riquíssimo
patrimônio cultural e a complementação patrimonial exercida potencialmente pelas cidades de
entorno possibilitam um desenvolvimento integrado e distribuidor de fluxos turísticos em toda a
região metropolitana, favorecendo a modernização e consolidação de toda a comunidade
82
autônoma no cenário turístico e urbano nacional e internacional (GÓMEZ & RUBIO, 1999,
pp.40-45).
Observa-se pelos exemplos espanhóis aqui considerados que não existe consenso em
relação às benesses da aproximação do turismo e do patrimônio cultural. Embora exaltado como
uma aproximação positiva, os exemplos espanhóis demonstram que a relação entre os bens
culturais e o turismo deve extrapolar os resultados econômicos esperados pela iniciativa privada,
devendo incorporar-se nos processos de planejamento global das cidades e ainda incentivar a
formação de redes sociais entre os diferentes agentes envolvidos na gestão do turismo e do
patrimônio cultural.
83
Uma das formas mais comuns em estabelecer um processo de comunicação interativo
entre os turistas e o patrimônio cultural é a interpretação. Segundo Murta & Goodey (2002, p.
13), a interpretação do patrimônio consiste em ações de comunicação entre os elementos culturais
e os visitantes através de textos, imagens ou outras representações possibilitando um melhor
aproveitamento ou experiência no local visitado.
84
utiliza recursos de ambientação como cenografia, vestuário, iluminação, música, alimentação e
dramatização para o aproveitamento de bens culturais para o turismo e o lazer, criando uma
atmosfera imaginária realista do ambiente original que compreende o patrimônio em questão.
Para o autor, a ambientação de base histórica consiste num poderoso recurso de marketing
turístico voltado à apropriação turística de bens culturais que eleva o patrimônio à condição de
bem dinâmico e interativo entre o passado e presente. Os exemplos do chamado triângulo
histórico americano, compreendendo as cidades de Williamsburg, James City e Yorktown, todos
no estado da Virgínia, são referências importantes dessa técnica de interpretação do patrimônio
(PIRES, 2001, p. 60-61).
85
fachadista no tombamento de sítios históricos como um recurso suficiente à preservação da
memória, podemos nos questionar se não estamos agindo como uma mera ambientação, ao
reduzir o patrimônio a um cenário desarticulado da dinâmica urbana das localidades.
Por fim, o último elemento de análise sobre a relação entre o patrimônio e o turismo
assinalados por McKercher & Du Cros (2002, pp. 03-06) refere-se à motivação dos turistas no
turismo cultural. Analisando os conceitos relativos ao segmento e apresentados no início desse
capítulo, como os apresentados pelo ICOMOS e pelo Ministério do Turismo constata-se a
existência de uma visão idealizada do turista cultural. A partir desses conceitos, imagina-se um
86
turista cultural que busca experiências diferenciadas e conhecimentos profundos do patrimônio
durante sua visitação turística. No entanto, pesquisas realizadas por instituições européias e
americanas demonstram a existência de uma variedade considerável de motivações e tipo de
turistas que buscam este segmento, incluindo muitas vezes experiências consumistas e
superficiais.
87
Esse fato nos remete aos tipos de turistas culturais identificados por Mckercher e Du
Cros (2002, p.144). Segundo os autores, existem cinco tipos de turistas culturais: turistas
determinados, turistas contempladores, turistas descobridores, turistas casuais e turistas
acidentais. Tal tipologia expressa os diferentes níveis de interesse que o patrimônio cultural exibe
durante a viagem e o nível de experiência e conhecimento pretendido pelos turistas quando
visitam determinado atrativo cultural. O grupo de turistas determinados, por exemplo, reúne
turistas que consideram o patrimônio cultural como a principal motivação da viagem e desejam
visitar atrativos e destinos que possibilitem grande níveis de interação e experiência com a
cultura local. Para os turistas contempladores, o patrimônio também assume um papel importante
no processo de decisão da viagem, mas este grupo de turista não aspira experiências e níveis de
interação intensa nos destinos e atrativos visitados. Querem ter uma visão geral da cultura do
local que visitam, preferindo roteiros tipo sight-seeing ou roteiros especializados.
Os turistas descobridores, por sua vez, buscam algo novo e fora dos roteiros ou guias
turísticos tradicionais. Normalmente o patrimônio cultural não assume o papel principal na
motivação da viagem desse grupo, mas após a descoberta ou o contato com tais bens, aspiram
visitar atrativos e destinos que possibilitem grandes níveis de interação e experiência. Para os
turistas casuais o patrimônio não assume papel principal na motivação da viagem e tampouco os
turistas desta categoria aspiram altos níveis de interação e experiências nos destinos e atrativos.
Os turistas casuais se limitam a conhecer atrativos culturais famosos, de alto valor simbólico e
que normalmente são amplamente difundidos pela mídia ou através de materiais promocionais.
Por fim, os turistas acidentais compreendem os turistas que não viajam com motivações
culturais, mas que visitam ocasionalmente atrativos culturais. Normalmente buscam atividades de
lazer e entretenimento associados a áreas de relevância cultural, como bares, restaurantes e shows
ambientados em centros históricos, museus, etc.
88
culturais entrevistados se consideram turistas contempladores, ou seja, preferem ter uma visão
geral dos bens culturais dos locais visitados e são adeptos de produtos turísticos pré-organizados,
como roteiros e passeios. A pesquisa ainda aponta que 23% e 27% dos turistas culturais
entrevistados se consideram turistas casuais e acidentais respectivamente, dividindo sua
motivação cultural com outros segmentos, como compras, eventos e ecoturismo. Somente 12% e
8% dos turistas culturais entrevistados se consideram como turistas determinados e
descobridores, posicionando o patrimônio cultural como elemento central na motivação e
visitação turística (McKERCHER & DU CROS, 2002, pp. 147-151).
Esse resultado reitera a análise de Richards (1996, p.38) sobre o interesse específico
dos turistas em relação ao patrimônio cultural dos locais visitados. Observa-se que a idealização
expressa pelos conceitos e programas de turismo cultural desenvolvidos por organizações
internacionais não confere com as motivações pessoais dos turistas ditos culturais, que preferem
um contato amplo e superficial com os bens culturais e elegem produtos turístico-culturais
elaborados e prontos para serem consumidos.
89
preferências de visitação em relação ao patrimônio cultural brasileiro, adotando ainda a
classificação proposta por McKercher e Du Cros (2002).
90
manifestações artísticas, foram os elementos citados, sendo a única exceção citada pelos turistas
nesse nível foi a história brasileira, que atingiu taxas de 27,8% dos turistas entrevistados.
91
Figura 3.1 - Tipologias de turistas culturais internacionais presentes nos festejos
juninos do norte e nordeste brasileiros em 2008. Fonte: EMBRATUR-UNESCO,
2009. Adaptado de McKercher e Du Cros (2002).
92
interagir e conhecer mais profundamente os elementos imateriais da cultura. Da mesma forma,
observa-se ainda a alta taxa de turistas culturais contempladores (75,5%) o que ratifica a
tendência internacional de turistas que preferem um contato genérico e superficial com o
patrimônio cultural visitado, associado ao consumo de produtos turístico-culturais formatados e
de fácil aquisição.
Constata-se dessa forma, que as categorias de análise apontadas por McKercher e Du Cros
(2002) acerca das características e dinâmica da relação entre o patrimônio e o turismo no
segmento do turismo cultural - aspectos turísticos, apropriação de bens culturais, consumo de
experiências e produtos, motivações dos turistas - contribuem significativamente com a
discussão sobre o papel que o turismo desempenha na apropriação e proteção do patrimônio
cultural. As discussões apresentadas neste capítulo demonstram que a atividade turística, ao
priorizar os resultados econômicos da atividade, tende a transformar o patrimônio cultural em
produtos turísticos padronizados e intensamente comercializados, incorporando elementos de
fácil aquisição e alta atratividade para o consumo. Da mesma forma, a alta tecnologia e a adoção
de inúmeras atividades e estratégias de entretenimento nos processos de interpretação do
patrimônio turistificado vem alterando o significado e o valor dos bens culturais reduzindo-os a
meros cenários para atividades de lazer ou mesmo transformando-os em espetáculos de alto valor
midiático.
93
Por fim, observa-se que muito embora a literatura especializada do turismo e os conceitos
idealizados por órgãos envolvidos com as duas atividades enalteçam um turista que busca
conhecimento e experiências distintas durante sua visitação a locais dotados de patrimônio
significativo, a realidade de mercado demonstra que o comportamento dos turistas dito culturais
não difere daqueles observados em outros segmentos da atividade. O consumismo exacerbado, a
busca incessante de novos produtos, a mera contemplação e a superficialidade na busca de
conhecimento são comumente observadas no comportamento dos turistas que visitam atrativos
culturais localizados em diversas cidades mundiais.
Tais considerações nos remetem à reflexão do real valor da atividade turística nos
processos de gestão e proteção do patrimônio cultural. O turismo, comumente sacralizado como a
melhor alternativa de valorização econômica, urbana e cultural do patrimônio, vem demonstrando
sua ineficácia e despreparo na identificação e condução dos valores simbólicos e do papel dos
bens culturais nas cidades onde a atividade se desenvolve.
94
Parte 02 – O Estado e a Promoção Turística do Patrimônio Cultural:
Conflito de Identidades Ideológicas
95
Capítulo 04 – Imagens e representações do patrimônio cultural na promoção turística
brasileira
A imagem urbana, segundo o autor, deve ser construída a partir de elementos espaciais
positivos e inspiradores, como paisagens naturais e construídas. A associação direta da cidade
com cenários de alta atratividade, como praias, lagoas, montanhas e extensas áreas verdes
contribuem para a formação de imagens extremamente atraentes para o turismo, uma vez que
convergem diretamente ao imaginário de lugar ideal de descanso e lazer. Da mesma forma,
produções culturais locais como festas, artesanato, gastronomia e a hospitalidade do povo
consistem em importantes ferramentas para a produção de imagens urbanas dinâmicas e
diferenciadas (KOTLER, 2007, pp. 71-74).
97
Essa estratégia vem sendo intensamente adotada pelas localidades em suas ações de
marketing turístico, reduzindo ou excluindo realidades que não interessam à formação de
imagens atraentes para o turismo. A cidade de Ouro Preto, por exemplo, consolida sua imagem
turística a partir do centro histórico reconhecido pela UNESCO como patrimônio da humanidade.
Todas as imagens promocionais criadas para atrair turistas à cidade se concentram em paisagens
da antiga cidade colonial, dando uma sensação ilusória de totalidade. A realidade revela,
entretanto, uma cidade dinâmica e em rápido crescimento onde o centro histórico encontra-se
totalmente envolvido por novos bairros e novas construções.
98
cidades européias formadas e a imagem de Barcelona como fonte inspiradora de tais iniciativas
se fortaleceu (SANCHEZ, 200, pp. 312-313).
Arantes (2000, p 58) declara que o modelo Barcelona praticamente foi imposto como um
receituário de sucesso às cidades mundiais e a busca de grandes eventos geradores de
oportunidades, como os Jogos Olímpicos, se tornaram a missão primeira na política urbana
dessas localidades. O Rio de Janeiro, futura sede dos Jogos Olímpicos de 2016, é um bom
exemplo.
De forma a alterar sua imagem negativa de cidade violenta e com extensas áreas de
pobreza, o Rio de Janeiro desenvolveu uma estratégia de marketing para a sua candidatura
baseada na beleza de sua paisagem natural e na hospitalidade carioca como elementos de
inspiração e de colaboração para a realização dos Jogos. Além disso, se utilizou da mesma
estratégia catalã, ao associar a tal imagem um projeto olímpico moderno e transformador que
seria totalmente absorvido pela dinâmica da cidade após os Jogos.
No entanto, uma semana após a vitória da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos
Olímpicos de 2016, notícias sobre a violência urbana e sobre os atentados contra a polícia militar
carioca foram veiculadas no mundo inteiro, demonstrando uma realidade urbana bem distante
daquela promovida durante o processo de candidatura da cidade (BRITO, 2009).
99
4.1 A imagem da cidade como elemento de significação e atratividade turística
Kevin Lynch, um dos grandes autores do urbanismo moderno, concebeu uma das obras
mais famosas e mais empregadas nos estudos da paisagem e da percepção do espaço urbano: a
Imagem da Cidade (1960). Nela, ele destaca a maneira como percebemos a cidade e as suas
partes constituintes, baseado em um extenso estudo em três cidades norte-americanas, no qual
pessoas eram questionadas sobre sua percepção da cidade, como estruturavam a imagem que
tinham dela e como se localizavam.
Segundo Lynch (2006, p.09-15), a percepção ambiental pode ser analisada segundo três
componentes: estrutura, identidade e significado. Segundo o autor, tais componentes são
indissociáveis para a formação de uma imagem urbana consolidada e legível. A identificação de
um objeto, por exemplo, implica na sua distinção em relação a outras coisas e no seu
reconhecimento como uma entidade separada, ou seja, sua identidade.
100
cauteloso, argumentando que o objeto deve ter algum significado para o observador, seja prático
ou emocional, e que isso está intimamente ligado à sua identidade e seu papel dentro de uma
estrutura mais ampla.
101
Analisando, por exemplo, a localização e o percurso estruturado pela avenida Vieira Souto no Rio de
Janeiro (Figura 4.1), observa-se que o caminho possibilitado per essa famosa avenida carioca favorece a
percepção serial e acentua o contraste entre a paisagem natural e artificial da cidade, influenciando a
construção uma imagem urbana característica da capital fluminense.
102
Da mesma forma, o contraste espacial e paisagístico entre a favela de Paraisópolis e o bairro do
Morumbi em São Paulo, SP, (Figura 4.2) é resultado do processo de fragmentação urbana
observado nas grandes cidades contemporâneas, evidenciando suas desigualdades sócio-espaciais
e influenciando a formação da imagem urbana através dos limites, apontados por Kevin Lynch.
103
Figura 4.3 - Bairro de Chinatown em Nova
York, NY, EUA.
Fonte. Creative Commons. Disponível em:
http://creativecommons.org.br Acesso em
janeiro de 2010.
Os pontos nodais, apontados por Lynch, podem ser visualizados por meio da paisagem
que compõe o cruzamento das avenidas Ipiranga e São João no centro de São Paulo, SP (Figura
4.4). A intensa movimentação de pessoas e veículos nesse local da cidade inspirou composições
musicais, como a canção “Sampa” de Caetano Veloso e fortaleceu o caráter simbólico dessa
esquina, influenciando a construção da imagem da capital paulista por parte dos cidadãos e
visitantes da cidade.
104
Os marcos visuais compreendem elementos urbanos de alto poder simbólico ou
referencial, uma vez que são eleitos deliberadamente pelos observadores como objetos
diferenciados da totalidade urbana (LYNCH, 2006, 52, 88-92). O forte caráter simbólico de tais
objetos é muitas vezes empregado pelo marketing de lugares na formação de imagens atraentes
para o mercado nacional e internacional de turismo. O Arco do Triunfo em Paris, monumento
implantado da antiga Place de l’Étoille durante o II império francês, consiste num forte marco
referencial e paisagístico do boulevard Champs Elysée e hoje representa um dos mais importantes
símbolos empregados pelo marketing turístico na formação de uma imagem cultural da cidade.
105
picos ou encostas, favorece a percepção de paisagens de grande impacto visual, valorizando
paisagens positivas e enfatizando contrastes e limites desejáveis à formação de imagens positivas
da cidade turística.
106
De qualquer forma, a propaganda turística ainda consiste no mais poderoso instrumento
formador de imagem sobre os destinos turísticos, influenciando o poder de decisão dos turistas a
partir da construção de um imaginário turístico. O discurso publicitário, composto de linguagens,
imagens estratégicas alimentam os desejos e as tendência de consumo e viagens impostas pelo
capitalismo contemporâneo, alterando o processo de percepção ambiental e a formação de
imagens a partir do referencial individual. A análise do discurso publicitário se torna fundamental
para desvendarmos as ideologias presentes através de imagens criadas a partir de alguns
fragmentos de paisagens dos lugares turísticos.
Para Durand, o imaginário é o “conjunto das imagens e das relações de imagens que
constitui o capital pensado do homo sapiens”, o grande e fundamental denominador onde se
encaixam todos os procedimentos do pensamento humano. Essa construção simbólica da
imaginação, materializada pelas imagens mentais, assinala o dinamismo do imaginário,
conferindo-lhe uma realidade e uma essência própria (DURAND, 1997, p. 14).
Silva Júnior (2001, p.1) ratifica o pensamento de Durant assinalando ainda que o
imaginário estabelece uma conexão obrigatória com o mundo real onde se constitui toda a
107
representação humana. Esta conexão se realiza, segundo o autor, necessariamente no espaço,
lugar por excelência e fonte inesgotável de signos e símbolos do imaginário social. Para o autor,
os objetos geográficos têm uma significativa contribuição para a afirmação do imaginário, uma
vez que se incorporam no cotidiano individual e coletivo através de sentidos e valores
simbólicos. As paisagens, ao se transformarem em imagens e representações da alma coletiva e
os lugares carregados de afetividades e simbologias para um determinado indivíduo, constroem o
imaginário coletivo na tentativa de tornar real a subjetividade do olhar e da experiência humana.
O consumo pode ser assim compreendido como um processo de comunicação, uma vez
que a apropriação de objetos simbólicos repercute diretamente na vida social dos diferentes
grupos. Tomando-se como referência a propaganda turística, observa-se atualmente que inúmeros
destinos internacionais se consolidaram no imaginário turístico como sinônimo de status e
diferenciação social, muitas vezes distantes dos ideais individuais de lugar de descanso e
visitação. Os cruzeiros marítimos, por exemplo, se utilizam de uma comunicação publicitária
cada vez mais assertiva, associando os futuros consumidores a estilos de vida cada vez mais
aceitos como modernos e diferenciados. Os lugares visitados pelos imensos navios de cruzeiros
não possuem nenhuma importância, uma vez que o consumo dos produtos do navio, como
equipamentos hoteleiros, atividades de lazer e alimentação já garantem o sucesso e a satisfação
da viagem.
108
Dentro da lógica discutida por Baudrillard os objetos e as paisagens não são consumidos
como mercadorias, mas sim como signos que expressam diferenciações. Para o autor, as
estruturas de classes ou de grupos são reorganizadas através da posse de “signos-troféus” que as
identificam como parte integrante de tais grupos (BAUDRILLARD, 1995, p 65-66). Dentro
dessa perspectiva, os destinos turísticos passam a ser segmentados e promovidos para distinguir e
atrair diferentes opções de consumo com diferentes imaginários turísticos idealizados.
109
dramático e muitas vezes irônico, pois revelam incoerências significativas entre a realidade local
e a dimensão simbólica por elas veiculadas. Para dar veracidade e eficiência ao imaginário
coletivo do turismo, as propagandas turísticas se utilizam de um discurso publicitário, composto
basicamente pela seleção e produção de elementos iconográficos, pela construção de discursos de
linguagem e pela utilização de elementos paisagísticos estetizados da paisagem urbana.
(PEIXOTO, 2000, p. 107; MAGALHÃES, 2005, pp. 240, 245)
A análise do discurso publicitário discutida por Magalhães (2005, pp. 242) deve
considerar alguns componentes essenciais: os componentes semióticos (imagens e textos) e os
componentes de linguagem (vocabulário, coesão, modalidade e intertextualidade). Os
componentes semióticos se referem ao papel das imagens e textos como elementos de
significação. O conteúdo simbólico das imagens, marcas e slogans, sua forma de inserção na peça
publicitária e suas características de lay-out podem fornecer subsídios importantes na análise do
discurso publicitário. Baseada na análise crítica do discurso defendida por Fairclough (2001), a
autora explica que os componentes de linguagem, por sua vez, se referem à utilização e à
composição estratégica de palavras para construir novos significados e codificar novas formas
lexicais.
110
Segundo Fairclough, a análise crítica do discurso investiga as relações de poder e
hegemonia praticadas nos textos para, a partir delas, conscientizar a sociedade sobre as práticas
discursivas permeadas por ideologias, uma vez que
111
A análise do discurso da promoção turística, por meio de planos de marketing e peças
publicitárias, revela-se um importante recurso para se discutir o processo de apropriação do
espaço e a transmissão de ideologias praticadas pela atividade, uma vez que a conjugação de
imagens selecionadas e dotadas de conteúdo simbólico visível se alia a componentes linguísticos
de alto grau de persuação e intertextualidade, consolidando um imaginário coletivo que se produz
e reproduz constantemente segundo os interesses dos grupos hegemônicos da atividade turística.
112
Capítulo 05 – A EMBRATUR e os discursos ideológicos da promoção turística: o Plano
Aquarela 2005-2020
113
Segundo Santos Filho (2003, p. 02), o contexto histórico da época da criação da entidade
nos remete a uma realidade distante da intenção de desenvolver o turismo no país: a ditadura
militar e a imagem negativa do Brasil nos países democráticos do primeiro mundo. Segundo o
autor, a censura, a repressão política e os relatos de tortura tiveram repercussão imediata na mídia
internacional, ratificada pelos depoimentos dos exilados políticos que buscaram abrigo em vários
países. Nesse sentido, a criação da EMBRATUR coincidiu com a necessidade do governo militar
em divulgar uma imagem do país diferente daquela que vinha se consolidando no exterior, ou
seja, o Brasil da ditadura militar, da perseguição política e do desrespeito aos direitos humanos
(SANTOS FILHO, 2003, p.03).
114
agora o governo federal vai atuar; a execução da atividade turística passa para outras
esferas governamentais de estados e municípios e incorpora a iniciativa privada
(BECKER, 1999, p. 187)
A política de turismo nesse período foi marcada pelo desenvolvimento e difusão de dois
grandes Programas: o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT e o
PRODETUR/NE – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste.
O PNMT, segundo Dias (2003, pp. 30-32), propôs de forma inédita a integração e a
descentralização do planejamento e da gestão do setor, abordando a sustentabilidade como
115
importante temática para a discussão do planejamento nas localidades e tendo na criação do
Conselho Municipal do Turismo o espaço desta argumentação entre os envolvidos com a
atividade turística. Este plano possibilitou, segundo o autor, uma visível organização
adminstrativa do turismo que se refletiu nas prefeituras, Unidades Federadas e na União,
possibilitando garantir a presença da temática do turismo em todos os Estados e em muitos
municípios com potencial turístico. No entanto, o alto grau de dependência técnica e financeira
dos municípios em relação às instâncias governamentais estadual e federal comprometeu o
resultado geral do Programa, gerando uma quadro heterogêneo em termos de desenvolvimento da
atividade no território brasileiro.
116
dessas cidades, recriando a discussão sobre a importância da memória no processo evolutivo das
cidades brasileiras e gerando o envolvimento de diferentes agentes sociais na gestão do
patrimônio cultural.
Tabela 5.1 - Investimentos do Prodetur NE I no Pólo Salvador e entorno. Fonte: SUINVEST, 2002.
Disponível em: http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/prodetur. Acesso em março de 2010.
117
atuam na região e atraiu significativo número de moradores e visitantes para o centro histórico.
Entretanto, o autor salienta demonstra que esse processo de recuperação expôs o distanciamento
existente entre as práticas de requalificação do patrimônio cultural e a inserção da comunidade
local, ao expulsar a maioria dos moradores que originalmente ocupavam os edifícios do centro
histórico e selecionar determinados grupos sociais e culturais como símbolos identítários da nova
área requalificada.
5.1 A política pública do turismo na gestão Lula segundo o Plano Nacional de Turismo: o
Programa de Regionalização do Turismo e o novo direcionamento da EMBRATUR
118
articulador do setor turístico com os demais setores de desenvolvimento. A alteração do foco da
EMBRATUR para a promoção, marketing e apoio à comercialização de produtos turísticos
brasileiros no mercado internacional é apontada no Plano como uma profissionalização da
entidade à luz das tendências internacionais de gestão pública do turismo (MINISTÉRIO DO
TURISMO, 2003, pp. 05-06, 10-11).
No entanto, observa-se que a apresentação desse Plano não deixa clara a política pública
de turismo adotada pela gestão do presidente Lula. Como discutido anteriormente, a política
pública é parte do processo de planejamento governamental e envolve o posicionamento e as
macro-estratégias da administração pública frente a determinado setor. Este posicionamento pode
ser exposto na forma de um documento – como foi realizado no caso do turismo na gestão FHC –
e ter, consequentemente a visibilidade que se espera de uma política pública frente ao
desenvolvimento da atividade. Cruz & Sansolo (2003, pp. 03-04) ressaltam que a apresentação do
Plano Nacional do Turismo – produto de planejamento genérico, mas que apresenta diretrizes
concretas em relação ao desenvolvimento da atividade – antes de uma Política Nacional de
Turismo demonstrou uma fragilidade no processo de planejamento da atual gestão,
comprometendo a visibilidade e a participação de diversos atores sociais no desenvolvimento e
encaminhamento de uma política pública de turismo estruturada e diferenciada.
119
De qualquer forma, analisando os principais programas do ministério do turismo e
observando os estudos e as ações desenvolvidas nesses quase oitos anos de gestão do turismo no
governo Lula, conclui-se que a atual política pública de turismo se apóia, de um lado, na
organização e modernização do território a partir da regionalização do turismo e, por outro, na
intensiva ação do marketing para ampliar a vinda de turistas internacionais para o país.
120
Josep Chias, renomado consultor de marketing turístico que se projetou
internacionalmente a partir da elaboração do plano de marketing turístico da cidade de Barcelona
para os Jogos Olímpicos de 1992 e do primeiro plano de marketing turístico espanhol, sob
gerência direta da Turespaña, adota um conceito de marketing turístico integrado às ações de
desenvolvimento do território e baseado em pesquisas de campo com turistas e população local.
Nesse sentido, o consultor salienta que a antiga miopia do marketing voltada à valorização
de produtos e destinos turísticos locais por intensas e, muitas vezes, equivocadas campanhas
publicitárias vem sendo substituídas por uma ampla e complexa rede de ações voltadas à melhor
estruturação e comunicação dos produtos e destinos em função das expectativas e satisfação dos
turistas contemporâneos e também da comunidade local (CHIAS, 2008, pp. 26-41).
121
e operacional da própria EMBRATUR, com novas diretorias, gerências e equipes especializadas
segundo as diretrizes do Plano.
122
Não obstante, o redirecionamento funcional e a reestruturação gerencial da EMBRATUR
na gestão Lula demonstram a claramente a intencionalidade do governo federal em inserir o país
no mercado turístico internacional de forma técnica e empresarial, orientada por um planejamento
estratégico, tático e operacional com interesses econômicos evidentes. No entanto, a partir da
evolução e amadurecimento da EMBRATUR durante os oitos anos de experiência em promoção
internacional, das análises dos resultados do Plano Aquarela e do posicionamento do Brasil no
atual cenário global, observa-se alterações contraditórias do posicionamento da entidade em
relação à sua projeção e inserção no mercado turístico internacional, agora motivadas por
discursos de caráter mais nacionalista e político.
Nesse sentido, a análise dos relatórios gerados pelo Plano Aquarela é extremamente
importante para a identificação dos discursos ideológicos da EMBRATUR desde o período de
sua criação até os dias atuais, demonstrando sua evolução, seu amadurecimento e suas
contradições.
123
Os três momentos do Plano Aquarela foram desenvolvidos e orientados pela Chias
Marketing e a responsabilidade de operacionalização, execução e monitoramento ficaram à cargo
da EMBRATUR. A metodologia adotada pela empresa de consultoria catalã nesses três períodos
de desenvolvimento do Plano envolveu três etapas normalmente empregadas na elaboração de
planos de marketing de lugares, a saber, diagnóstico, formulação de estratégias de marketing e
plano operacional (COBRA, 2001, KOTLER, 2000, KOTLER, 2006, PETROCCHI, 2004,
RUSCHMANN, 1999, TRIGUEIRO, 1999).
124
definição dos segmentos turísticos prioritários e elaboração do portfólio de produtos turísticos
brasileiros.
Os mercados prioritários para promoção internacional do Brasil foram definidos com base
nas pesquisas e análises do mercado turístico realizadas na fase do diagnóstico. Tais mercados
foram divididos em categorias, segundo o grau de importância e prioridade em termos de ações
promocionais, identificadas pelas cores da bandeira brasileira: azul – países com máxima
prioridade; verde – países com alta prioridade; amarelos – países com prioridade média e
brancos – países potenciais.
O posicionamento turístico do Brasil nos mercados foi determinado mediante uma análise
conjunta com outros países da América latina, uma vez que o baixo conhecimento dos mercados
prioritários em relação aos produtos brasileiros dificulta uma análise mais precisa do
posicionamento do Brasil como destino único. O Plano Aquarela definiu – por meio das
pesquisas realizadas na fase de diagnóstico – quatro fatores que influenciam a motivação de
turistas estrangeiros em escolher destinos localizados na América latina: patrimônio natural,
patrimônio cultural, exotismo do destino e estilo de vida (EMBRATUR, 2005, pp. 81-86). A
partir desses quatro fatores, foi determinado o posicionamento turístico desejado pelo marketing
brasileiro, estratégia que orienta diversas ações que envolvem a construção da imagem do Brasil
nos mercados prioritários (Figura 5.1).
125
Figura 5.1 Posicionamento turístico do Brasil na América latina, definido pelo
Plano Aquarela.
Fonte: Plano Aquarela: 2005-2009, EMBRATUR. Disponível em:
http://www.turismo.gov.br. Acesso em março de 2010.
126
A mensagem global, segundo Chias (2007, pp. 130), se constitui num elemento simbólico
de alto poder estratégico nos mercados emissores, uma vez que fortalece a construção da imagem
e dá visibilidade e confiança às estratégias de posicionamento turístico do país. A mensagem
global é composta de três elementos empregados em diversas ações promocionais: o decálogo, a
mensagem permanente e a marca turística. O Plano Aquarela desenvolveu a mensagem global a
partir de duas premissas básicas: apresentar o Brasil no mercado internacional com a grafia
“Brasil” e não “Brazil” e privilegiar as cores da bandeira brasileira na composição da marca,
conforme ilustra a figura 5.2 (EMBRATUR, 2005, pp. 90). Essas premissas demonstram a
influência do nacionalismo e de posturas políticas nas ações de marketing do órgão brasileiro de
promoção turística, indicando processos contraditórios nas ideologias que permeiam o
desenvolvimento e execução do Plano. O desenvolvimento dessa estratégia pode ser visualizado
na tabela 03.
127
possíveis experiências proporcionadas aos turistas que elegerem o Brasil como destino, reforça a
contradição do discurso técnico e estratégico do Plano, com conteúdos mercadológicos de apelo
comercial e reducionista. A possibilidade de atrair turistas por meio da construção da imagem de
um Brasil, colorido, exótico, selvagem, hospitaleiro, alegre e ao mesmo tempo moderno supera as
justificativas técnicas presentes no Plano que valorizam, por meio de um discurso de caráter
nacionalista e político, uma identidade de país reconhecida pelos próprios brasileiros e de um
posicionamento turístico baseado num estilo de vida e culturas próprias.
Tabela 5.2 - Mensagem global da marca Brasil. Fonte: Baseado em Chias, 2007, p. 130 e no Plano
Aquarela: 2005-2009, EMBRATUR. Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em março de
2010.
Decálogo Argumentação que sintetiza Natureza – praia & mar, belezas naturais,
as características e valores a florestas, patrimônios da humanidade;
serem trabalhados nas ações
promocionais, influenciando Cultura Viva – festas, alegria, música,
a decisão dos turistas patrimônios da humanidade;
internacionais do Brasil
como destino turístico Povo – alegria e hospitalidade;
Modernidade
Mensagem Permanente Slogan que sintetiza o
decálogo e acompanha a
marca qualificando o
desenho e atraindo os Sensacional!
públicos-alvo. A mensagem
permanente é traduzida para
o idioma de cada país
prioritário trabalhado
Marca Turística Elemento visual que
expressa a identidade
corporativa e o
reconhecimento nos
mercados.
128
Outra estratégia formulada pelo Plano consiste na definição dos segmentos prioritários a
serem considerados nas ações de promoção turística internacional. A segmentação de mercado
compreende a divisão estratégica de produtos e destinos segundo as tendências de consumo de
diferentes grupos sociais. A segmentação no mercado turístico se apresenta sob várias dimensões:
a geográfica, a demográfica, a sócio-econômica, a psicológica, a motivacional, da natureza da
oferta (PETROCCHI, 1998, pp. 249-251). O Plano Aquarela definiu cinco segmentos
prioritários, baseados na expressividade e atratividade da oferta brasileira: sol & praia, cultura,
ecoturismo, esportes e negócios/eventos/incentivo ( EMBRATUR, 2005, pp. 96-97).
129
operacional apresentado foi de extrema importância na organização da própria EMBRATUR,
uma vez que influenciou a reestruturação técnica e gerencial da entidade.
Após dois anos ao início de sua implantação, o Plano Aquarela foi revisado e atualizado,
dando origem a uma nova versão – Plano Aquarela: 2007-2009, onde foram acrescidas as
análises de desempenho, os resultados alcançados e novas metas a serem atingidas.
O Plano Aquarela 2020 se apresenta como uma continuação natural e sistêmica das duas
versões anteriores do plano de marketing brasileiro. As premissas e ações centrais dessa última
versão são antecedidas, no entanto, por duas mensagens redigidas pelos líderes dos órgãos
turísticos em âmbito federal, ou seja, o ministro de turismo, Sr. Luiz Barretto, e a presidente da
EMBRATUR, Sra. Jeanine Pires. Observa-se que o conteúdo das duas mensagens possui a
mesma preocupação: valorizar o Brasil como país sede de dois grandes eventos esportivos e
turísticos internacionais – a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos – e demonstrar a capacidade
do Brasil de se mostrar para o mundo como um país moderno e preparado para receber grandes
eventos (EMBRATUR, 2010, pp. 04-05). As duas mensagens endossam o texto de abertura desta
versão, ratificando a necessidade de firmar o posicionamento do Brasil no imaginário turístico
internacional como país líder da América Latina e ainda como um dos grandes expoentes no
cenário mundial. Pois,
130
Como será o posicionamento do país no mercado de turismo global após a realização de
uma Copa do Mundo e de uma edição dos Jogos Olímpicos? Teremos novos produtos,
novos ícones? As imagens de sonho que vem à cabeça dos brasileiros ao tentar responder
a essas perguntas é o que perseguimos como meta neste Plano Aquarela 2020, que a
EMBRATUR apresenta ao setor de turismo e à sociedade brasileira. É uma estratégia
construída a partir de dois pilares: o primeiro é o posicionamento competitivo que o país já
tem hoje, como líder na América Latina, para os principais mercados turísticos no mundo.
(...) O segundo, é o conjunto de pesquisas periódicas realizadas com visitantes
estrangeiros, representantes do setor turístico no Brasil e no exterior, sondagens de
imagem e acompanhamento da imprensa internacional (EMBRATUR, 2010, p. 07).
A partir do texto de abertura, o Plano Aquarela 2020 apresenta uma série de informações
e dados que reforçam, de um lado, a oportunidade do Brasil em se firmar como um dos principais
destinos turísticos internacionais após a Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em
2016 e, de outro lado, o avanço do Brasil como destino turístico internacional após a implantação
e gestão do Plano Aquarela nos oito ano de gestão do presidente Lula.
As estratégias e ações previstas nesta última versão do Plano são pautadas a partir de um
diagnóstico situacional positivo do Brasil no turismo internacional e ainda reforçam a idéia de
equiparar o Brasil com destinos turísticos consagrados, como a Austrália e a Europa Ocidental.
Para isso, são apresentadas diretrizes operacionais para a implementação das estratégias e ainda
definida uma agenda de compromissos promocionais a partir da realização dos jogos da Copa do
mundo na África do Sul.
131
Aquarela foi substituído por um tom afirmativo e nacionalista de um Brasil já consagrado como
destino turístico internacional.
Esse fato ressalta o papel do planejamento e, sobretudo dos Planos, como instrumentos de
valorização e legitimação de ideologias expressas por seus idealizadores. O Plano Aquarela em
todas as suas versões, disponibilizados no site do Ministério do Turismo e intensamente
apresentado e debatido em diferentes ocasiões e cidades do território nacional, exerceu um papel
central para demonstrar as intencionalidades do órgão de promoção turística internacional frente
ao mercado turístico globalizado.
132
Capítulo 6 - Análise do discurso publicitário presente nas imagens promocionais do
patrimônio cultural desenvolvida pela EMBRATUR durante os anos de 2005 e 2010.
A partir das estratégias principais colocadas pelo Plano Aquarela, conforme discutido no
capítulo 05, inúmeras ações de marketing são desenvolvidas na EMBRATUR de forma a atingir
os objetivos maior desse plano de marketing. Tais ações se referem à utilização e aplicação dos
quatro componentes de marketing: produto, praça, preço e promoção (McCARTHY, 1960,
KOTLER, 2000, pp. 35-40).
A promoção consiste num componente chave do marketing uma vez que através de suas
ações estabelece-se uma comunicação direta com o consumidor e com o mercado turístico. As
133
ações promocionais podem se direcionar ao trade – empresas responsáveis pela distribuição e
promoção turística nos países emissores – e ao público final, no caso os turistas (KOTLER et al.,
2006, pp. 200-203). Esta pesquisa optou pela análise das ações promocionais voltadas
diretamente ao público final – campanhas publicitárias e site oficial da EMBRATUR - uma vez
que demonstram claramente a ideologia espacial que envolve as práticas sociais e sua
importância na formação de um imaginário coletivo do turismo na valorização dos lugares e
paisagens.
134
países emissivos prioritários designados pelas estratégias do Plano. Também deveriam se
concentrar nos públicos de renda média e alta, de forma a possibilitar um maior impacto da
atividade turística na geração de receitas para o Brasil.
9
Ministério do Turismo. Site Oficial. Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em março de 2010.
135
bandeira de seu país em seus rostos. No caso da campanha turística brasileira, as cores que
compõem os rostos dos turistas estrangeiros estão presentes na Marca Brasil e representam
simbolicamente elementos brasileiros correlacionados pelos turistas estrangeiros, como o azul –
céu e água, vermelho – festas populares, amarelo – sol e luminosidade, verde – florestas e branco
– religiosidade.
Figuras 6.1 e 6.2 - Peças publicitárias da primeira fase da campanha da EMBRATUR “Brasil.
Vire Fã” para o mercado espanhol e português, respectivamente.
Fonte: Material fornecido pela EMBRATUR.
No início da campanha, em 2005, cada uma das peças criadas promovia um destino
associado aos diferentes segmentos prioritários identificados no Plano Aquarela, a saber, sol &
praia, ecoturismo, esporte e cultura, não incluindo nesse momento o segmento de negócios,
eventos e incentivos. Todas as peças publicitárias elaboradas tiveram como objetivo, além de
promover a diversidade ambiental e cultural dos atrativos brasileiros, fortalecer a imagem de um
Brasil seguro, familiar e querido por todos os que o visitam. Essa estratégia de posicionamento de
imagem se utilizou de fotografias de turistas estrangeiros de diferentes nacionalidades, idades e
composições sociais – idosos, famílias, jovens, adultos, casais – para atingir um maior público e
eliminar a imagem do Brasil como destino sexual.
A segunda fase da campanha “Brasil. Vire Fã”, que ocorreu em 2007, deu continuidade à
mensagem publicitária da primeira fase, com a diferença que a pintura facial nos turistas (em
136
referência aos torcedores esportivos) foi removida. Segundo a EMBRATUR, os elementos que
compõem a marca Brasil foram removidos nessa fase, uma vez que a marca já se encontrava bem
posicionada no mercado turístico internacional e a atenção seria dada nesse momento à promoção
da diversidade dos destinos brasileiros nos diferentes segmentos apontados pelo Plano Aquarela
(Figura 6.3). No entanto, a mensagem textual presente nas peças da campanha passou a convidar
os turistas de maneira mais direta a visitar o país ao mesmo tempo em que fortaleceu a estratégia
de fidelização, mantendo imagens de diferentes turistas estrangeiros.
A terceira e última fase da campanha foi veiculada entre os meses de janeiro e agosto de
2008, onde se deu prioridade à promoção dos diferentes destinos brasileiros nos diferentes
segmentos. Cada peça contou com imagens de diferentes localidades, além de uma referência
direta à campanha de fidelização através de pequena faixa localizada na porção superior da peça.
As mensagens textuais seguiram a mesma linha observada na segunda fase da campanha, ou seja,
convidar e estimular assertivamente a vinda de diferentes grupos de turistas para o Brasil,
sobretudo de classes sócio-econômica superiores. Cabe ressaltar nessa fase a inserção de
diferentes destinos turísticos brasileiros, dando destaque a um deles. A referência à fidelização do
Brasil como destino permanece, por meio da imagem de um turista estrangeiro na faixa superior
da peça (Figura 6.4).
137
Figura 6.4 - Peça publicitária
correspondente à terceira fase da
campanha “Brasil. Vire Fã” da
EMBRATUR. Em destaque, Brasília, DF
(imagem central) e Porto de Galinhas, PE
(imagem superior).
Fonte: Material fornecido pela
EMBRATUR.
138
b) Campanha “Brasil Sensacional”
139
Figura 6.6 - Peças publicitárias da campanha da EMBRATUR intitulada “Brasil:
Sensacional”, onde dois destinos diferentes são apresentados na mesma peça
publicitária, de modo a valorizar a diversidade de atrativos turísticos que o Brasil
oferece.
Fonte: Material fornecido pela EMBRATUR.
Tomando como referência sua utilização para turistas, o site apresenta inicialmente uma
breve descrição das potencialidades brasileiras para cada segmento, seguido de uma lista
contendo os principais destinos representativos do segmento em questão. Nesse momento, o site
possibilita a consulta a cada um dos destinos listados, fornecendo informações relevantes aos
140
turistas, como principais atrativos, clima, localização, acessibilidade, hospedagem, serviços
básicos e outros links de interesse diretamente ligados ao destino. Além dessas informações, o
site disponibiliza imagens dos principais destinos brasileiros ligados diretamente aos segmentos
prioritários, de forma a fortalecer a imagem de um país diversificado e atraente segundo as
orientações do Plano Aquarela. O visual geral do Portal Brasileiro de Turismo pode ser
observado na Figura 6.7.
No caso do nicho Patrimônio Cultural da Humanidade, a janela dá destaque aos dez sítios
culturais brasileiros reconhecidos pela UNESCO, disponibilizando informações e imagens sobre
o patrimônio em questão e seus respectivos atrativos, além de fornecer informações turísticas
complementares, como acessibilidade, clima e calendários de eventos (Figura 6.8).
141
Figura 6.8 - Janela específica sobre os Patrimônios Culturais da Humanidade
existentes no Brasil, acessado a partir do Portal Brasileiro de Turismo.
Fonte: http://www.braziltour.com/heritage/html/pt/home.php. Acesso
em fevereiro de 2010.
De acordo com a EMBRATUR, um estudo feito pelo órgão com a Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas – FIPE - apontou que 27,6% dos turistas estrangeiros que vieram para o
Brasil em 2008 utilizaram a internet como principal fonte de informação para a viagem
(MINISTÉRIO DO TURISMO, 2010, p. 04). Nesse sentido, a autarquia investe 30% de sua
verba em publicidade em estratégias on-line, segundo informações do site do Ministério do
10
Informações obtidas através de entrevista fornecida ao jornal “A Gazeta do Povo”. Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/tecnologia. Acesso em fevereiro de 2010.
142
Turismo, e ainda está presente em redes de relacionamento como Facebook, Twitter, Hi5 e
Flickr.
143
A análise crítica do discurso apontada por Fairclough, conforme dito anteriormente, se
refere à utilização e à composição estratégica de palavras para construir novos significados e
codificar novas formas lexicais. De forma a se identificar as intencionalidades de comunicação
com os turistas, os textos publicitários presentes nas imagens são analisados através das
composições verbais propostas por Fairclough, ou seja, a coesão, a modalidade e a
intertextualidade.
O signo para Pearce (1978 apud Santaella 2000, p. 12) consiste em algo que, sob certo
aspecto ou modo, representa algo para alguém. Para Santaella, o objeto, que dá forma ao signo e
que é o que o signo representa, necessariamente não precisa ser algo tangível ou mensurável,
podendo adquirir natureza totalmente abstrata. Segundo a autora,
Defino um Signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinada por um
Objeto e, de outro, assim determina uma idéia na mente de uma pessoa, esta última
determinação, que denomino o Interpretante do signo, é desse modo, mediatamente
determinada por aquele objeto. Um signo, assim tem uma relação triádica com seu
Objeto e com seu Interpretante (SANTAELLA, 2000, p.12).
144
Divididas por Pierce em símbolos (representações), ícones (imagens convencionadas) ou
índices (imagens de atos reflexos, que incitam ações como ligar, desligar, empurrar, puxar) a
análise dos signos e de suas interpretações revelam o universo simbólico que permeia a mente
humana e sua relação com o mundo material. Empregado de forma estratégica, as imagens
publicitárias utilizam-se de signos (símbolos, ícones ou índices) para criar uma imagem e
induzir uma interpretação dirigida, no caso em que interpretamos, aos consumidores. O
significado da imagem revela-se, portanto, como importante resultado da relação semiótica
entre os objetos, signos e consumidores envolvidos na peça publicitária.
Desse modo, a presente pesquisa toma para análise o conteúdo simbólico das imagens
publicitárias, a partir do seu significado geral. Não pretende dessa forma, fazer uma análise da
composição triádica do signo, mas tomar a forma de comunicação estabelecida pela imagem a
partir de seu conteúdo simbólico.
Por meio da análise crítica dos conteúdos simbólicos textuais e imagéticos das peças
publicitárias desenvolvidas pela EMBRATUR na gestão Lula, durante os anos de 2005 a 2010,
a presente pesquisa buscou identificar os processos ideológicos que permeiam a produção e
promoção turística de cidades dotadas de patrimônio cultural.
145
Analisar a importância e o significado das paisagens dotadas de patrimônio cultural por
meio de imagens empregadas na promoção turística internacional amplia a discussão sobre o
papel do turismo no processo de proteção e refuncionalização de áreas patrimonializadas.
146
como ferramenta tecnológica eficiente, de grande alcance e ainda economicamente viável na
promoção de produtos turísticos, face aos altos custos que envolvem a publicidade em mídias
internacionais, como revistas, painéis, outdoors, televisão (MARUJO, 2008, pp. 29-35; LIU,
2000, p. 12).
Tabela 6.1. Distribuição quantitativa de imagens utilizadas pela promoção turística da EMBRATUR,
segundo segmentos ou nichos de mercado. Fonte: Organizada pelo autor, a partir do material fornecido
pela EMBRATUR e das imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo, 2010.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do material fornecido pela EMBRATUR e das
imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo, 2010.
147
Observa-se a partir do gráfico acima a supremacia das categorias sol & praia e patrimônio
cultural nas imagens empregadas pela promoção turística da EMBRATUR. O patrimônio cultural
assume ligeira liderança em relação ao segmento sol & praia, indicando uma mudança
significativa nas estratégias promocionais da entidade, tradicionalmente baseada na construção da
imagem de um Brasil paradisíaco e repleto de praias selvagens e edênicas, conforme aponta
Bignami (2000, p. 83). O segmento de ecoturismo ainda não se apresenta de forma significativa
na promoção turística internacional, fortalecendo a imagem da natureza brasileira associada aos
ambientes costeiros e praianos.
A partir dos resultados do Gráfico 01 é curioso notar ainda o esforço do órgão brasileiro
em inserir o país de forma competitiva no mercado turístico internacional, ao valorizar nichos de
mercado presentes em classes sociais e destinos internacionais de países de primeiro mundo,
como o turismo náutico e o golfe. Esse fato revela uma intencionalidade clara do órgão público
em adaptar os espaços turísticos brasileiros às exigências do mercado internacional, uma vez que
tais esportes não representam nenhuma tradição no Brasil e, quando praticados, estão associados
a uma pequena classe social abastada e concentrada, normalmente, nas grandes cidades da porção
centro-sul do país. No entanto, se analisarmos a distribuição destas categorias separadamente, ou
seja, segundo o tipo de instrumento promocional utilizado notamos algumas diferenças passíveis
de consideração especial.
148
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do material fornecido pela
EMBRATUR, 2010.
Observando os gráficos acima, identifica-se que o segmento sol & praia se destaca em
relação aos demais segmentos, mesmo em relação ao patrimônio cultural que atinge uma
porcentagem significativa – 37% - nas peças publicitárias analisadas. Em contrapartida, observa-
se que as imagens referentes ao patrimônio cultural presentes no site da EMBRATUR
apresentam-se em maior quantidade em relação aos demais, segmentos, embora o segmento sol &
praia se apresente quase na mesma proporção que o patrimônio cultural. Da mesma forma, os
outros segmentos apresentam uma melhor distribuição quantitativa no site do órgão brasileiro,
uma vez que nas campanhas publicitárias os nichos esportes, golfe e turismo náutico são
praticamente inexistentes.
149
Esse fato pode ser explicado devido ao perfil dos turistas potenciais associados a tais
ferramentas promocionais. As campanhas publicitárias se destinam a turistas potenciais em geral,
que circulam nas ruas de cidades européias ou norte-americanas ou que tem o hábito de ler
revistas de entretenimento ou de turismo e viagens. Para esses turistas, o elemento motivacional
mais importante associado ao Brasil continua sendo o sol e praia seguido do patrimônio cultural
brasileiro, normalmente o carnaval carioca e os centros históricos do nordeste, ratificando o
imaginário turístico internacional apontado por Silva (2006, p.10). No caso dos turistas potenciais
que acessam o Portal Brasileiro de Turismo, observa-se que o Brasil já possui um grau de
interesse diferenciado no processo de escolha de destinos por parte destes turistas, uma vez que
eles já desejam obter mais informações sobre as cidades, os atrativos turísticos e a infraestrutura
turística brasileira.
Esse fato justifica a distribuição um pouco mais equilibrada dos segmentos e nichos
promovidos pela EMBRATUR, embora neste caso, ainda se destaquem o patrimônio cultural e o
sol & praia. Face ao perfil dos usuários da internet – pessoas com maior poder aquisitivo e nível
cultural mais elevado, indivíduos mais bem informados e com mais tempo disponível no processo
de escolha dos produtos e destinos turísticos que desejam conhecer e comprar (VINCENTIN &
HOPPEN, 2003) – observa-se que a maior quantidade de imagens por segmentos/nichos
disponíveis pela internet favorece a formação de uma imagem de um Brasil mais diversificado e
multifacetado.
150
A Tabela 6.2 apresenta a distribuição quantitativa das imagens de patrimônio cultural em
diferentes localidades brasileiras identificadas nas campanhas publicitárias da EMBRATUR e no
site oficial da entidade, ambas destinadas a público final, ou seja, turistas. Analisando a tabela
abaixo se observa de uma forma geral que a freqüência de imagens de localidades dotadas de
patrimônio cultural pode ser dividida em três níveis, ou seja, localidades mais ilustradas
(frequência superior a cinquenta), localidades relativamente ilustradas (frequência entre 10 e 49)
e as localidades pouco ilustradas (frequências abaixo de 10). Cabe ressaltar que o site
promocional da EMBRATUR apresenta informações de outras localidades dotadas de patrimônio
cultural onde não há presença de imagens. Essa situação pode ser estendida também aos outros
segmentos aqui citados, ou seja, o sol & praia, o ecoturismo, os esportes, o golfe e o turismo
náutico. Como a presente pesquisa se concentra na análise das imagens do patrimônio cultural
presentes nas ações promocionais da EMBRATUR, essas localidades foram descartadas, assim
como àquelas associadas aos outros segmentos.
151
Tabela 6.2 - Frequência de imagens de localidades dotadas de Patrimônio Cultural presentes nas
Campanhas Publicitárias e no Portal Brasileiro de Turismo. Fonte: Organizada pelo autor, a partir de
material fornecido pela EMBRATUR e das imagens presentes no site da entidade, 2010.
152
Ainda nessa categoria verifica-se o interesse da EMBRATUR na promoção de metrópoles
dinâmicas com patrimônio cultural mais recente. Esse fato ratifica a intencionalidade do governo
em construir também uma imagem brasileira calçada na modernidade e desenvolvimento
tecnológico e humano. Nesse sentido, a dinâmica econômica e cultural paulistana e o prestígio da
cidade de Curitiba em relação à qualidade de vida e ao alto nível de seu planejamento urbano
justificam esse posicionamento privilegiado em termos de promoção turística (SANCHEZ, 2001,
pp.166-168).
153
Cabe destacar ainda nesta categoria, a presença de Ouro Preto e de Fortaleza, dando
destaque aqui à capital cearense, que sempre foi reduzida pela EMBRATUR a um destino de sol
& praia. Sua diversidade cultural, mais precisamente ligada ao artesanato, à dança, à vida noturna
e a requalificação do patrimônio urbano vem ganhando destaque nas ações promocionais do
município e do estado, ganhando agora respaldo internacional devido às ações da EMBRATUR.
Segundo Sanchez (2001, p. 168) o governo municipal fortalezense vem promovendo ações de
imagem e marketing urbano apoiados na refuncionalização do patrimônio localizado nas áreas
centrais da capital cearense – Centro Cultural Dragão do Mar – visando aumentar a
competitividade turística da cidade em meio a outras capitais nordestinas.
Cabe ressaltar, no entanto, que o status que Fortaleza exibe hoje no quadro de promoção
turística internacional vai além de sua importância em termos culturais, uma vez que o aumento
de receitas advindo do crescente fluxo de turistas justifica sua projeção. Da mesma forma, o
turismo e a exploração sexual de jovens e adolescentes constatado na capital cearense exige, além
de policiamento e políticas de turismo rigorosas, uma mudança de imagem em relação à sua
vocação turística (BEM, 2005; SADENBERGH & DIAS, 1988; SILVA & ÁVILA, 2010) e,
nesse sentido, o patrimônio cultural se apresenta como um importante aliado. Algumas ações
governamentais como o Programa Turismo Sustentável e Infância12, liderado pelo Ministério do
Turismo, visam demonstrar o papel positivo da cultura e do trabalho na proteção de crianças e
adolescentes contra a exploração sexual estimulada pela atividade turística.
12
Para mais informações, consultar diretrizes e resultados gerais do Programa. Disponível em:
http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/programa_sustentavel_infancia/. Acesso em março de 2010.
154
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de material fornecido pela EMBRATUR e
das imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo, 2010.
Por fim observa-se uma grande variedade de localidades pouco ilustradas em relação ao
respectivo patrimônio cultural (Gráfico 06), o que evidencia a necessidade de aperfeiçoamento
das ações promocionais da EMBRATUR em divulgar o extenso e diversificado patrimônio
existente nestas e em outras cidades que não exibem nenhuma imagem ilustrativa.
155
A redução de localidades é notória se analisarmos separadamente a porcentagem de
imagens de localidades dotadas de Patrimônio Cultural presentes nas Campanhas Publicitárias da
EMBRATUR (Gráfico 07). Essa análise torna-se importante na medida em que as campanhas
publicitárias constituem-se num poderoso elemento formador de imagem do país, uma vez que se
destinam ao público geral – turista potencial ou cidadão comum – que se deslocam pelos espaços
e equipamentos públicos onde são veiculadas tais imagens, como metrôs, fachadas de ônibus,
outdoors.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de material fornecido pela EMBRATUR. 2010.
156
dotados de patrimônio cultural, seguidos de Brasília, Olinda e São Paulo (12%, 6% e 6%
respectivamente). Esse fato denota o vício das ações promocionais brasileiras em promover de
forma enfática sempre os destinos culturais costeiros mais renomados internacionalmente como o
Rio de Janeiro e Salvador (BECKER, 2001, p. 04-06).
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de material fornecido pela EMBRATUR, 2010.
157
ações promocionais observadas em gestões públicas anteriores. Esse fato ratifica a fragilidade da
promoção turística brasileira em relação ao seu patrimônio cultural, que sem ousadia e
diversificação, reforça a imagem reducionista e estereotipada de um patrimônio cultural brasileiro
onipresente no Rio de Janeiro e Salvador.
Esse fato nos remete ao conceito de redução narrativa do patrimônio cultural apresentado
por Berdoulay (2009) ao salientar que a complexidade histórica, social e espacial das cidades é
reduzida a imagens idealizadas, construídas por fragmentos de paisagens selecionadas pelo
planejamento urbano e turístico. A redução narrativa apontada por Berdoulay e notadamente
presente na escala do lugar se projeta, no caso da promoção turística brasileira, à escala do
território reduzindo nossa diversidade cultural a paisagens urbanas e manifestações culturais
notadamente reconhecidas internacionalmente.
158
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de material fornecido pela EMBRATUR e
das imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo. 2010.
Vários destinos internacionais líderes no mercado turístico global, como Espanha, França,
Portugal e República Checa posicionam seu acervo de patrimônio reconhecido pela UNESCO
como elemento-chave nas estratégias de promoção turística internacional, uma vez que o
acúmulo desses títulos acaba funcionando como uma verdadeira grife e diferencial para o país
dentro do contexto vastíssimo e riquíssimo que caracteriza acervo do patrimônio cultural europeu
(LAZZAROTTI, 2000, p. 15, SCIFONE, 2006, pp. 63-69, PAES-LUCHIARI, 2005, pp. 49-50,
54-55).
Essa mesma estratégia vem sendo adotada pelo Brasil, destacando os patrimônios
culturais reconhecidos pela UNESCO como diferenciais brasileiros em relação ao turismo
cultural. A existência de uma janela especial no Portal Brasileiro de Turismo sobre os
Patrimônios da Humanidade no Brasil (Figura 6.8), contendo informações sobre a importância do
patrimônio, seus atrativos, condições de acessibilidade, infraestrutura, além de sugestão de
roteiros e de significativo banco de imagens refletem a tendência da EMBRATUR em equiparar
o destino Brasil aos principais líderes mundiais receptivos de turistas. O apelo mercadológico
dessa ação pode ser evidenciado se considerarmos que o órgão brasileiro de promoção turística
159
não leva em consideração como diferenciais promocionais os patrimônios tombados pelo
IPHAN. A visibilidade mercadológica, assim como nos países líderes do mercado turístico
mundial, é fortalecida pela promoção dos bens culturais reconhecidos pela UNESCO como
patrimônios da humanidade.
13
A categorização do patrimônio cultural, apresentado nesta pesquisa, levou em consideração os conceitos e
definições presentes nos decretos do IPHAN no. 3551 de 04 de agosto de 2000, que institui o registro do patrimônio
imaterial brasileiro e o decreto no. 25 de 30 de novembro de 37, que normatiza o tombamento do patrimônio
material.
160
Tabela 6.3. Categorias de Análise referentes ao Patrimônio Material.
Fonte: Organizada pelo autor, a partir do decreto IPHAN no. 25 de 30 de novembro de 1937.
Patrimônio Material
Categoria Justificativa
Centros Históricos Nesta categoria foram consideradas as imagens
que retratam o conjunto de determinado espaço
urbano de interesse histórico, contendo
agrupamentos de casarios, praças associadas com
igrejas, palacetes e casarios, bem como paisagens
urbanas dessas áreas captadas no nível da rua;
Igrejas Foram consideradas nessa categoria imagens de
edifícios com fins religiosos, independente de seu
período de construção. Cabe ressaltar, no entanto,
que a maioria das imagens de igrejas utilizadas
para fins de promoção turística são àquelas
referentes ao período colonial brasileiro. Nessa
categoria ainda foram incluídas imagens do
interior de tais edifícios, como altares, cúpulas e
esculturas religiosas
Arquitetura Oficial – Edifícios Civis de Escalas Nessa categoria foram agrupadas imagens de
Monumentais edifícios de alto valor estético e/ou histórico que
devido à sua grandiosidade acabam por reforçar
seu valor enquanto monumento. Teatros, palácios,
mercados, conventos, mansões e solares são
algumas tipologias incluídas nesta categoria
Espaços Públicos Imagens de praças públicas, parques, ruas e
avenidas que valorizam a apropriação dos cidadãos
para fins de convivência, lazer, deslocamento ou
mesmo fins políticos e religiosos foram
consideradas nesta categoria
Monumentos Esta categoria inclui imagens de objetos urbanos
de alto valor simbólico, cuja função consiste em
valorizar e honrar personagens, períodos históricos
e tradições culturais ou religiosas. Da mesma
forma, foram incluídos nessa categoria os
monumentos referenciais, ou seja, aqueles que
apresentam a função de marcos espaciais no
espaço urbano;
Paisagem Cultural A categoria paisagem cultural agrupa imagens de
paisagens urbanas panorâmicas que demonstram a
integração da apropriação humana com a natureza
no espaço da cidade. As imagens incluídas nesta
categoria normalmente possuem alto valor cênico
e são comumente utilizadas como cartão postal na
promoção turística das cidades;
Arquitetura Contemporânea Imagens de edifícios contemporâneos – públicos
ou privados - que devido ao seu valor estético,
grandiosidade ou tecnologia agregada foram
incluídos nesta categoria
Museus Imagens de edifícios que claramente se identificam
como os equipamentos culturais em questão, bem
como imagens parciais de acervos artísticos ou
161
culturais nitidamente identificados como arte
integrante de museus foram incluídas nesta
categoria;
Arqueologia Esta categoria de análise procurou agregar
imagens de paisagens que valorizam objetos ou
produção artísticas pré-históricas, como por
exemplo, cerâmica, artefatos indígenas, urnas
funerárias e pinturas rupestres;
Ruínas Foram consideradas nesta categoria imagens de
fragmentos de edifícios de tipologia diversas que
devido às ações de deterioração do tempo,
degradação, ou mesmo abandono, se encontram
em ruínas. No entanto, somente foram
consideradas as imagens de ruínas que apresentam
valor histórico, paisagístico e turístico, como por
exemplo, as ruínas de São Miguel das Missões,
RS;
Patrimônio Rural Esta categoria inclui imagens do patrimônio
cultural existente nas áreas rurais do território
brasileiro, como fazendas históricas, antigos
engenhos de cana-de-açúcar, senzalas, pátios de
secagem e beneficiamento de grãos e quilombos.
Patrimônio Imaterial
Categoria Justificativa
Manifestações Populares Esta categoria de análise considerou imagens de
manifestações populares aquelas que retratam a
cultura popular, como festas tradicionais e
manifestações folclóricas;
Eventos Populares Esta categoria corresponde às imagens de eventos
culturais massificados amplamente veiculados na
mídia nacional e internacional e fortemente
influenciados pela globalização. Carnaval,
réveillon, natal e paradas populares caracterizam
esta categoria;
Artesanato Compreende as imagens de objetos utilitários,
artísticos ou decorativos produzidos de forma
manual e artesanal com materiais e técnicas
tradicionais que caracterizam a produção cultural
de determinado grupo social;
Gastronomia Esta categoria agrupa imagens referentes à
culinária, às bebidas e aos materiais e alimentos
utilizados na produção alimentícia de determinado
grupo social, envolvendo todos os aspectos
culturais associados a essa produção;
162
Dança Embora as imagens agrupadas nesta categoria de
análise podem ser também consideradas como
manifestações populares, esta categoria selecionou
apenas aquelas associadas às danças e aos ritmos
tradicionais, como o samba de roda, o tambor de
crioula, o frevo e a capoeira;
Música Esta categoria considerou apenas as imagens de
shows, apresentações musicais, grupos e
instrumentos musicais associados à música popular
brasileira, sejam em seus ritmos mais clássicos,
como o samba e a bossa nova, sejam nem seus
ritmos e estilos contemporâneos, como o axé, o
mangue-beat e o rap;
Religiosidade Imagens de manifestações religiosas como
procissões, missas, rituais e festas específicas
foram incluídas nesta categoria.
A partir da categorização acima, a distribuição das imagens relativas aos bens culturais
materiais e imateriais brasileiros nas ações promocionais da EMBRATUR – campanhas
publicitárias e site promocional – pode ser observada na Tabela 6.5.
A partir da análise desta tabela, observa-se que o patrimônio material corresponde a 85%
das imagens presentes nas ações promocionais da EMBRATUR (Gráfico 10). Esse resultado
ratifica a intencionalidade brasileira em se equiparar aos países líderes no mercado turístico
internacional dentro do segmento do turismo cultural, onde a presença extensa do patrimônio
material como castelos, igrejas, centros históricos, palácios, monumentos e museus são
comumente associados à imagem turística desses países. O patrimônio imaterial, nesse caso,
normalmente é colocado como oferta complementar se inserindo nas ações promocionais de
maneira praticamente insignificante.
163
Tabela 6.5 - Distribuição dos Bens Culturais presentes nas Imagens promocionais da EMBRATUR
segundo sua natureza e categorias associadas. Fonte: Organizada a partir de material fornecido pela
EMBRATUR e pelas imagens presentes no Portal Brasileiro de Turismo, 2010.
Palacetes 01 41 42
Espaços Públicos - 55 55
Monumentos 01 13 14
Paisagem Cultural 10 73 83
Arq. Contemporânea 04 31 35
Museus - 02 02
Arqueologia - 03 03
Ruínas - 05 05
Patrimônio rural - - -
Total 30 391 421
Manifestações 03 19 22
Populares
Eventos Populares 01 04 05
Patrimônio
Imaterial
Artesanato - 23 23
Gastronomia - 13 13
Dança - 12 12
Música - - -
Religiosidade - 02 02
Total 04 73 77
164
Brasil como destino cultural totalmente baseado em seu patrimônio material, sobretudo àqueles
associados ao conjunto arquitetônico colonial de origem portuguesa.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de material fornecido pela EMBRATUR e das
imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo, 2010.
165
Imagens de centros históricos e de paisagens culturais de cidades lideram a frequência nas
ações promocionais brasileiras, atingindo respectivamente 26% e 20% do total (campanhas
publicitárias e site promocional). Esse fato demonstra a força da paisagem como elemento de
atratividade turística, uma vez que imagens que contemplam amplos panoramas e ícones
paisagísticos reconhecidos internacionalmente compõem um cenário de cartão postal, recurso
estrategicamente empregado na promoção turística. Essa realidade fica mais evidente quando
analisamos este resultado levando em consideração somente as campanhas publicitárias da
EMBRATUR (Gráfico 12)
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de material fornecido pela EMBRATUR e das
imagens presentes no Portal Brasileiro do Turismo, 2010.
O poder cênico da paisagem de cartão postal, expresso pelas imagens dos centros
históricos e de paisagens culturais de cidades brasileiras internacionalmente famosas, como
Salvador e Rio de Janeiro é nitidamente presente nas campanhas publicitárias do órgão brasileiro,
atingindo proporções de 40% e 34% respectivamente. Os ângulos das imagens captadas da
paisagem dessas duas cidades se repetem frequentemente, reforçando a construção de uma
166
imagem urbana e turística dessas cidades a partir desses fragmentos urbanos. Essa situação pode
ser observada nas Figuras 6.9 e 6.10.
Figuras 6.9 e 6.10. Peças da Campanha Publicitária “Brasil: Vire Fã”, segunda e terceira
fase respectivamente. À esquerda, peça publicitária referente ao Centro Histórico de
Salvador, BA e, à direita, peça publicitária referente ao Rio de Janeiro, RJ.
Fonte: Material fornecido pela EMBRATUR, 2010.
167
proporções nas imagens utilizadas nas duas ações analisadas. O carnaval carioca e o maracatu
pernambucano consistem nos dois bens culturais exclusivamente valorizados pela promoção
turística brasileira.
168
grandiosidade, importância midiática e animação cultural popular, vem assumindo um papel
significativo nas ações da EMBRATUR. Embora o gráfico 13 apresente um resultado
relativamente inexpressivo da presença de imagens desses eventos populares na promoção
turística brasileira, analisando esse resultado a partir das campanhas publicitárias desenvolvidas
pela EMBRATUR observa-se a dimensão que o réveillon carioca vem assumindo dentro do
portfólio de produtos prioritários na promoção turística internacional.
Conforme pode ser observado no Gráfico 14, o réveillon carioca assume a proporção de
25% das imagens relativas ao patrimônio imaterial brasileiro promovido nas campanhas
publicitárias da EMBRATUR, juntamente com 75% de imagens relativas ao carnaval carioca
(Figuras 6.11 e 6.12). Observa-se pelas figuras a valorização de eventos populares estereotipados,
massificados e globalizados associados à cultura brasileira, contrariando a construção da imagem
de um país de significativa diversidade cultural.
Segundo Trigueiro (2005, p. 02), as manifestações populares já não pertencem mais aos
grupos sociais e culturais que as criaram e alimentaram. As culturas tradicionais se transformam,
169
segundo o autor, em produtos folkmidiáticos manipulados segundo os interesses da mídia e da
indústria do entretenimento e do turismo. As manifestações e eventos populares, que alimentam o
imaginário simbólico dos grupos sociais de determinada localidade, são pressionadas pela
globalização, onde a mediação pela televisão, pelos equipamentos de alimentos e bebidas, pelos
patrocínios e pela promoção turística, acabam por transformá-las em produtos de consumos
estereotipados e espetacularizados (TRIGUEIRO, 2005, p. 04-05). Em contrapartida, observa-se
o reaparecimento e o fortalecimento de manifestações locais paralelas às grandes manifestações
de cunho mediático, demonstrando a força da cultura local como instrumento de resistência
ideológica baseada, neste caso, por elementos culturais de alto valor simbólico (THOMPSON,
1995, 75-87)
170
A partir da análise quantitativa14 realizada, constata-se que os esforços do órgão
promocional brasileiro em promover e construir uma imagem distinta do Brasil em relação ao
patrimônio e a diversidade cultural ainda são frágeis e tímidos face à forte influência que os
modelos europeus de turismo cultural exercem no mercado turístico internacional. Da mesma
forma, a consolidação de um imaginário turístico internacional calçado em imagens
estereotipadas e limitadas de nossa cultura acaba influenciando sobremaneira as decisões dos
gestores responsáveis pelas ações promocionais do turismo brasileiro, que na busca de resultados
estatísticos e econômicos favoráveis à imagem do setor turístico, optam por adiar ações ousadas
que viriam a transformar a imagem turística do Brasil no exterior.
Cabe, portanto, realizar neste momento a análise do significado das imagens relativas às
paisagens do patrimônio cultural brasileiro a partir de seus conteúdos simbólicos, de forma a
identificar as ideologias espaciais que permeiam a atual promoção turística brasileira e que se
apropriam de paisagens e lugares para se legitimar.
14
Cabe ressaltar que a sistematização quantitativa de imagens relativas às categorias de patrimônio cultural de
natureza material e imaterial determinada por esta pesquisa também foi realizada por localidade observada,
encontrando-se em tabela anexa.
171
6.5 - O Significado do Patrimônio Cultural na Promoção Turística Brasileira a partir de
Fragmentos Simbólicos da Paisagem
172
6.5.1 O Significado do Patrimônio Cultural nas Campanhas Publicitárias da EMBRATUR
173
Analisando as duas peças observamos três planos de imagem: o primeiro, em evidência, é
composto pela marca Brasil, canto inferior à direita, e pelos textos publicitários. O segundo plano
de destaque é composto por imagens de turistas estrangeiros que já estiveram no Brasil. O
terceiro plano da peça é composto por um pano de fundo que ilustra a comunicação publicitária,
neste caso composto por imagens de paisagens brasileiras relativas ao patrimônio cultural. No
caso das figuras acima, a primeira peça, destinada ao mercado português, utilizou-se da paisagem
do centro histórico de Salvador – Pelourinho. A segunda imagem, destinada ao público espanhol
e argentino, utilizou-se da paisagem do carnaval carioca para promover o destino Brasil
174
Ainda no segundo plano observa-se que as peças desenvolvidas na primeira fase da
campanha “Brasil:Vire Fã” estampam uma pintura facial nos turistas estrangeiros em estilo
hooligan inglês, ou seja, torcedores fanáticos que comparecem aos estádios com pinturas faciais
associadas aos seus times preferidos. No caso da campanha turística brasileira, a estampa no
estilo hooligan presentes nas faces dos turistas estrangeiros objetivou apresentar os turistas
estrangeiros que aqui estiveram como fanáticos pelo Brasil, a ponto de revisitar os destinos de
nosso país em outras ocasiões. O design da estampa facial – formas orgânicas e amebóides – e as
cores – no caso da figura 6.13, o vermelho – estão associados diretamente ao fortalecimento da
marca Brasil no mercado turístico internacional. Cabe lembrar que a forma orgânica consiste no
elemento visual mais importante da marca, representando, segundo a EMBRATUR, a
sinuosidade que caracteriza nossa natureza, nossa costa litorânea, nossos costumes e nossa
hospitalidade; da mesma forma, a organicidade da marca Brasil faz referência direta ao trabalho
do renomado paisagista brasileiro Burle Marx, que desenhou jardins, parques e calçadas num
estilo próprio e singular que fortaleceu a imagem de um Brasil moderno através dos espaços
públicos de Brasilia, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de inúmeras cidades brasileiras
(EMBRATUR, 2010, pp.76, 77).
Ainda em referência à associação da estampa facial dos turistas presentes nas peças
publicitárias e a composição da marca Brasil, observa-se que a cor vermelha utilizada na peça
demonstrada na figura 6.13 representa simbolicamente a cultura brasileira, segmento eleito como
tema ilustrativo da peça publicitária. A mesma situação se observa para outros segmentos
trabalhados nessa mesma fase da referida campanha, como sol & praia e ecoturismo, onde as
estampas faciais dos turistas aparecem com as cores amarelo/azul e verde, respectivamente
(EMBRATUR, 2003, p.92).
175
peças publicitárias dessa campanha se justifica pelo fato que o objetivo inicial de sua presença era
simplesmente fortalecer a marca Brasil no imaginário do mercado turístico internacional. Após
três anos de veiculação na mídia, os gestores da campanha acreditaram que esse objetivo tinha
sido cumprido e que em sua segunda fase as peças publicitárias deveriam apresentar os turistas
“de cara limpa” (Figura 6.14), centralizando a mensagem publicitária na fidelização dos turistas.
Numa análise mais extrema, as estampas coloridas também podem ser interpretadas como
máscaras do estilo clown, onde a representação do estereótipo do palhaço nas faces de turistas
estrangeiros pode induzir a ofensas ou constrangimentos em países que desconhecem as práticas
dos torcedores de futebol ou mesmo o carnaval brasileiro. Nesse caso, a mensagem publicitária
176
pode ter um efeito contrário ao proposto, ou seja, por uma questão de equívoco em sua
interpretação simbólica os turistas potenciais recusam o destino promovido.
Em todo o caso, entre 2007 e 2008 a campanha “Brasil: Vire Fã” continuou inserindo a
presença dos turistas estrangeiros nas peças publicitárias, fortalecendo a mensagem publicitária
da recomendação direta do destino Brasil aos turistas potenciais e da fidelização de turistas reais
que já estiveram no país (figuras 6.15 a 6.17).
Figuras 6.15, 6.16 e 6.17. Peças da campanha publicitária “Brasil: Vire Fã” em sua segunda
fase (figura 6.15) e terceira fase (figuras 6.16 e 6.17). O patrimônio cultural nestes casos é
representado pelos centros históricos brasileiros, representados na figura 6.15 pelo centro
histórico de Salvador – Pelourinho, BA, as cidades modernas do Brasil, representadas na figura
6.16 por Brasília, DF e o nosso patrimônio imaterial, representado na figura 6.17 pelo carnaval
carioca.
177
O segundo plano visual é formado, no caso da terceira fase, de três campos visuais
distintos e paralelos: um campo superior composto de uma pequena faixa onde são utilizadas
imagens de turistas estrangeiros numa paisagem brasileira de pano de fundo, um campo central
composto de uma faixa textual que centraliza a mensagem publicitária e um campo inferior, de
maior proporção, que valoriza uma paisagem brasileira em destaque. Constata-se que essa fase da
campanha objetiva apresentar o Brasil como um destino diversificado, onde o patrimônio
cultural, a natureza, as praias e as práticas esportivas podem ser encontradas em diferentes
localidades. As imagens de turistas estrangeiros se apresentam em proporções reduzidas, fazendo
apenas uma referência às fases anteriores da campanha. A mensagem publicitária se alicerça,
neste caso, pela junção dos textos e da imagem da paisagem em destaque.
Antes da análise crítica dos textos publicitários presentes nas peças da campanha “Brasil:
Vire Fã” é importante avaliarmos o papel que as paisagens do patrimônio cultural exercem no
conteúdo simbólico desta campanha. Como dito anteriormente, as duas primeiras fases da
campanha inserem o patrimônio apenas como um pano de fundo ilustrativos da peça, não
exercendo nenhum caráter informativo ou motivador específico para a localidade envolvida.
Somente na terceira fase observa-se um maior destaque ao destino, chamando a atenção do
observador à paisagem representada na porção inferior da peça publicitária.
178
Como discutido no capítulo 01, a escolha desses quarteirões reforça o caráter fachadista
da produção turística deste espaço e demonstra a importância da paisagem do Centro Histórico
recuperada – mesmo que fragmentada - no fortalecimento da imagem do produto turístico Bahia.
A realidade atual demonstra que a falta de manutenção das fachadas dos edifícios (Figura 6.18)
por parte dos órgãos responsáveis compromete a paisagem do conjunto arquitetônico que envolve
o largo do Pelourinho e fragiliza a imagem de sucesso do Programa. No entanto, a paisagem
recuperada e colorida quando das fases iniciais da refuncionalização da área ainda permanecem
nas imagens da propaganda turística da EMBRATUR.
179
Analisando por fim os textos publicitários inseridos nas peças analisadas, observam-se
recursos de linguagem empregados que direcionam a mensagem global da campanha a um
denominador comum e bastante óbvio: o convencimento do turista internacional a escolher o
Brasil como destino. No entanto, recursos lingüísticos como coesão, intertextualidade e
modalidade, apontadas por Fairclough (2001, pp. 100-101) em sua metodologia de análise crítica
de discurso, são comumente empregadas nestas campanhas de forma a estabelecer relações
diretas entre a visitação ao Brasil e as experiências sensoriais possíveis. O emprego de
superlativos e jargões publicitários também é bastante comum, contrariando o perfil dos turistas
culturais que buscam originalidade e conhecimento (McKERCHER & DU CROS, 2002, pp. 140-
141).
A análise crítica do discurso publicitário realizada por esta pesquisa em algumas peças
destinadas à promoção do patrimônio cultural pode ser observada na tabela 6.6.
180
Peça Publicitária Analisada Fase da Textos Posição do Análise Crítica do Discurso Publicitário
Campanh Publicitários Texto na Peça Baseada em Faircough (2001)
a
1ª. fase “Faça uma viagem Mensagem única Essa frase se utiliza da coesão para demonstrar que a visita a Salvador certamente tornará o
no tempo e fique fã e principal turista um fã de nossa cultura e de nossas cidades históricas. A intertextualidade da imagem
de nossas cidades dos dois turistas através das pinturas faciais em estilo “holligan” com o termo “fã” expresso
históricas” no texto publicitário faz referência direta ao tema central da campanha, ou seja, tornar os
turistas fãs do destino Brasil. Cabe analisar ainda o emprego de modalidade lingüística
informal e estereotipada, utilizando-se o jargão publicitário “faça uma viagem no tempo”.
2ª. fase “Em uma cidade Mensagem única Essa frase se utiliza da coesão lingüística para se comunicar como público. A idéia de
que respira cultura, e principal comparar a cultura da cidade com o estado de espírito do turista remete à satisfação
os fanáticos garantida na visitação. Essa satisfação é reiterada pelo tom de afirmação da frase,
suspiram alegria” expressando uma verdade quase que inquestionável. A modalidade lingüística coloquial,
utilizada pelo jargão “uma cidade que respira cultura” é comparada com a alegria do turista
ao conhecer essa cultura, ao afirmar que os turistas que visitam Salvador “suspiram alegria”
na mesma proporção que a cidade proporciona experiências culturais. O emprego do termo
“fanático”, ao se referir aos turistas, se perde na mensagem uma vez que não se observa
nenhuma referência ao tema central da campanha, o turista se tornar um fã do Brasil.
3ª. fase “Venha conhecer Mensagem Essa frase se utiliza da coesão lingüística para se comunicar com os turistas. A idéia
nosso design Principal principal da coesão está na associação de vir ao Brasil e se tornar um fã desse destino. Da
moderno e se torne mesma forma que a peça anterior, o emprego do termo “fã” ao se referir aos turistas, se
um fã das perde na mensagem uma vez que não se observa nenhuma referência ao tema central da
maravilhas campanha, o turista se tornar um fã do Brasil.
brasileiras”
“Vir ao Brasil é ter Mensagem Essa mensagem complementar, presente de forma idêntica em todas as peças dessa fase da
uma viagem complementar campanha inicia sua mensagem com uma afirmação, inquestionando a experiência de se
inesquecível num visitar ao Brasil. Utilizando-se de superlativos publicitários, como inesquecível e
país repleto de exuberantes, a frase denota um apelo lingüístico de enaltecimento do Brasil como destino,
praias e natureza estratégia bastante criticada na publicidade contemporânea (MARTINS, 1997, p. 19). A
exuberantes. Tenha segunda frase demonstra a intencionalidade brasileira de ressaltar a hospitalidade brasileira
a oportunidade de e a boa infraestrutura de serviços, elementos fundamentais na escolha de destinos por
conhecer nossas turistas de maior poder aquisitivo.
modernas cidades e
ser bem recebido
no conforto de
nossos hotéis e
resorts de padrão
internacional.
Venha disfrutar o
Brasil na sua
próxima viagem”
A análise geral da campanha “Brasil: Vire Fã” a partir da análise semiótica das imagens e
do discurso publicitário permite identificar elementos importantes sobre o processo que permeia
o planejamento e produção de ações promocionais do órgão brasileiro de promoção turística.
Constata-se que o conceito da campanha analisada não se relaciona com o diagnóstico
apresentado no Plano de Marketing Internacional do destino Brasil – Plano Aquarela, onde a
diversidade cultural e ambiental brasileira se apresenta como o principal eixo a ser considerado
nas ações comerciais. A preocupação formal, estilística e visual das peças publicitárias é
evidente, supervalorizando a criação técnica em detrimento do conteúdo imagético e textual que
deveria compor a mensagem global da campanha. Cabe ressaltar ainda, que a escolha de alguns
recursos publicitários, como a intertextualidade estabelecida pela imagem da pintura facial em
estilo “hooligan” e a mensagem principal dos textos publicitários e da própria campanha, ou seja,
tornar os turistas fãs do Brasil dá margem a interpretações diversas que podem comprometer os
objetivos maiores das ações promocionais da EMBRATUR, ou seja, atrair mais turistas
internacionais para o Brasil e construir uma imagem turística do Brasil que promova e valoriza a
diversidade brasileira.
188
b) Campanha “Brasil: Sensacional”
189
O segundo plano visual das peças associadas a esta campanha é formado por uma
montagem fotográfica que insere grupos de turistas – casais, grupos de amigos, famílias com
crianças – num cenário brasileiro composto de duas imagens de paisagens juntapostas. A
juntaposição dessas imagens tem como objetivo ilustrar a idéia que todos os destinos brasileiros –
independente de sua natureza – são perfeitamente adequados para qualquer grupo social de
turistas. Observa-se, neste caso, a mesma estratégia empregada na campanha anterior em relação
ao público alvo do turismo brasileiro: famílias e pessoas de todas as idades que buscam
experiências saudáveis e seguras em seu período de férias.
191
Tabela 6.7. Análise crítica do discurso publicitário da Campanha “Brasil: Sensacional”. Fonte:
Peças publicitárias da Campanha, EMBRATUR, 2010.
Peça Publicitária Analisada Textos Publicitários Posição do Texto na Análise Crítica do Discurso
Peça Publicitário
Baseada em Faircough (2001)
“Resorts de qualidade internacional e cidades históricas com Mensagem textual O texto publicitário desta peça se utiliza do
arquiteturas riquíssimas. Isto é sensacional. Isto é o Brasil” principal: compreensão recurso lingüístico da coesão para expressar
dos temas ou segmentos diferentes situações que levem ao leitor
em evidência na peça chegar a uma conclusão final, ou seja, o
Brasil é um país sensacional – tema central
da campanha. Embora a linguagem
empregada possua um caráter mais
“Visitar a costa nordestina brasileira é uma experiência Mensagem textual informativo quando comparada com a
sensacional. Praias de tirar o fôlego, sol o ano todo, e complementar: conteúdo campanha anterior da entidade – inclusive
maravilhosa infraestrutura hoteleira como aquelas de Porto informacional sobre cada citar Ouro Preto como patrimônio da
de Galinhas em Pernambuco. Por outro lado, a cidade de destinos promovido na UNESCO -, o uso de superlativos ligados a
Ouro Preto no estado de Minas Gerais, reconhecida como peça. aspectos sensoriais como “praias de tirar o
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, e o centro de um fôlego” evidenciam o apelo comercial da
dos mais ricos complexos arquitetônicos do Brasil. campanha ao reforçar o país como uma
Recomendamos lugares sensacionais. O Brasil possui muito experiência de sensações, um país
mais e tornará suas viagens experiências inesquecíveis.” sensacional.
“Mais de 8500 km de praias ensolaradas o ano todo e uma Mensagem textual O emprego da coesão para levar ao leitor a
rica e preservada história. Brasil: um país sensacional” principal: compreensão uma conclusão final também permanece
dos temas ou segmentos nesta peça publicitária. Entretanto, a
em evidência na peça mensagem complementar se utiliza de uma
linguagem e conteúdo bastante informativo
para qualificar os destinos presentes na
montagem fotográfica, no caso, o centro
“O Brasil nas praias do estado da Baía, onde também se Mensagem textual histórico de Salvador – Pelourinho.
apresentam muitos ritmos brasileiros de um país repleto de complementar: conteúdo
alegria e cultura. Maior símbolo de Salvador, o Pelourinho é informacional sobre cada
o centro histórico que representa o espírito baiano e serve de destinos promovido na
palco para todas as atividades culturais apresentadas na peça.
cidade. Em suas próximas férias, organiza-se para conhecer a
Bahia e outros locais sensacionais no Brasil.”
192
A análise do conteúdo simbólico do patrimônio cultural expresso nas imagens da
campanha “Brasil: Sensacional” reitera o papel da estetização da paisagem na ideologia espacial
exercida pela promoção turística brasileira. A aproximação da ideologia espacial com o poder
simbólico das paisagens, conforme aponta Berdoulay (1985, p. 210), exalta a consagração desta
categoria espacial pelos grupos responsáveis pela promoção turística brasileira, tornando-se
importantes elementos de dominação e doutrinação subjetiva (BOURDIEU, 2009, pp. 117-118).
Conforme discutido no início deste capítulo, o Portal Brasileiro de Turismo consiste numa
poderosa ferramenta de promoção turística, uma vez que a internet consiste em um dos principais
veículos de informação e comercialização de produtos da atualidade. Face ao perfil dos turistas
potenciais que pesquisam destinos turísticos internacionais na internet, o Portal Brasileiro de
193
Turismo se apresenta disponível em vários idiomas, a saber, português do Brasil, português de
Portugal, espanhol, inglês americano, inglês britânico, francês, alemão e italiano. A variedade de
idiomas disponíveis corresponde aos países prioritários de promoção turística indicados pelo
Plano Aquarela. De acordo com o Plano, o site complementa as ações promocionais realizadas
em tais países, bem como despertam interesses para um público geral que tem intenção de viajar.
Para todos os segmentos promovidos no site – sol & praia, cultura (patrimônio cultural),
esportes, ecoturismo e negócios/eventos -, o portal fornece informações gerais de diversos
destinos associados a cada um desses segmentos. De forma complementar, como demonstrado na
análise de posicionamento quantitativo das imagens de patrimônio cultural discutido no início
deste capítulo, o site contém generoso acervo de imagens de vários destinos por ele divulgados.
No caso do patrimônio cultural, assim como o caso dos outros segmentos, todas as
imagens disponíveis são resultantes de reproduções fotográficas de fragmentos de paisagens
representativas desses espaços, livres de conceitos publicitários e montagens digitais. Entretanto,
da mesma forma que as imagens analisadas nas campanhas publicitárias, as paisagens do
patrimônio cultural presentes no site carregam conteúdos simbólicos que merecem ser analisados
e discutidos. Devido à grande quantidade de imagens disponíveis, observaram-se algumas
situações que denotam interpretações simbólicas específicas, independente dos lugares a qual
estão associadas tais situações. A partir do agrupamento e da análise dessas situações, a presente
pesquisa pretende enriquecer a base para discussão do processo de ideologia espacial que permeia
a promoção turística do patrimônio cultural brasileiro.
Analisando as 464 imagens referentes ao patrimônio cultural (ver tabela 6.1) foram
identificadas 07 situações distintas que nos remetem a uma discussão sobre o conteúdo simbólico
das paisagens representadas em tais imagens. São elas:
194
a) Priorização de patrimônios culturais consagrados ou ícones de expressividade
nacional;
e) A consagração ao consumo;
195
Observou-se ainda um enaltecimento do patrimônio cultural brasileiro reconhecido pela
UNESCO. Como dito anteriormente, a organização das imagens desse grupo de patrimônio numa
janela especial de acesso no site eleva a condição simbólica desse patrimônio para outro nível,
equiparando-o a destinos turísticos culturais aclamados internacionalmente, conforme salientado
por Scifone (2006, pp. 63-69). Da mesma forma, o patrimônio imaterial promovido, como festas
ou pequenas manifestações culturais altamente significativas, normalmente são inseridas num
cenário com o patrimônio material local como pano de fundo, enaltecendo de forma
estereotipada, o centro histórico como destino turístico cultural. A realidade, no entanto, revela às
vezes a existência de apresentações culturais organizadas propositalmente para os turistas e
muitas vezes patrocinadas pelo próprio comércio turístico existente nesses centros históricos.
196
b) Valorização do patrimônio monumental e simbólico do poder (Estado, Igreja e de
classes sociais elitizadas);
197
c) A expressividade do patrimônio refuncionalizado;
198
d) A imagem das paisagens do patrimônio cultural como expressão artística;
199
Figura 6.26. Grupo de Imagens referentes à situação “A imagem das paisagens do patrimônio
cultural como expressão artística”, analisados por esta pesquisa. No sentido horário, da esquerda
para a direita: Centro Histórico de Ouro Preto, Ouro Preto, MG; Centro Histórico de Olinda, Olinda,
PE, Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF e Centro Histórico de Salvador, Salvador, BA.
Fonte: Portal Brasileiro de Turismo. Disponível em: http://www.embratur.gov.br. Acesso em março
de 2010.
e) A consagração ao consumo;
200
Figura 6.27. Grupo de Imagens referentes à situação “A consagração ao consumo”,
analisados por esta pesquisa. No sentido horário, da esquerda para a direita: Restaurantes no
Centro Histórico de Salvador, Salvador, BA; Loja de artesanato no Centro Histórico de
Salvador, Salvador, BA; Café no Centro Histórico de Olinda, Olinda, PE e Feira de
artesanato no Bairro do Recife Antigo, Recife, PE.
Fonte: Portal Brasileiro de Turismo. Disponível em: http://www.embratur.gov.br. Acesso
em março de 2010.
201
f) “A valorização da estética das paisagens de patrimônio cultural: a paisagem
como “cartão postal”
De acordo com Urry (1996, pp. 69-70), a subjetividade do olhar turístico está muitas vezes
distante da realidade local, gerando expectativas e satisfações equivocadas nos turistas ou
propiciando impactos negativos de ordem ambiental, social e cultural. A subjetividade do olhar
turístico também é discutida por Ferrara (1999) que faz uma analogia interessante deste olhar
com alguns comportamentos observados na história social: os conquistadores, os colonizadores e
os românticos.
202
Fotos do Portal Brasileiro de Fotos de Turistas
Turismo
Figura 6.28. Grupo de Imagens referentes à situação “A valorização da estética das paisagens de
patrimônio cultural: a paisagem como “cartão postal”, analisada por esta pesquisa. Observa-se pela foto a
influência da importância simbólica dessas paisagens no olhar subjetivo dos turistas. Na sequência:
Elevador Lacerda e vista da Baía de Todos os Santos, Salvador, BA; Igreja de São Francisco de Assis, Ouro
Preto, MG; Jardim Botânico, Curitiba, PR.
Fonte: Fotos do Portal Brasileiro de Turismo. Disponível em: http://www.embratur.gov.br. Acesso em
março de 2010. Fotos dos Turistas, respectivamente: 1. Salvador: Foto de Juninho Pessoa. Disponível em:
http://www.vibeflog.com/juninhopessoa/p/18797538. Acesso em março de 2010. 2. Ouro Preto: Cláudio
Humberto. Disponível em: http://www.claudiohumberto.com.br. Acesso em março de 2010. 3. Curitiba:
Foto de Guillherme.
Conforme Disponível
pode ser observadoem:nahttp://www.flickr.com/photos/guilherme-name/4306611418.
figura acima, a fotografia consiste numa prática Acesso
em março de 2010.
203
decorrente do olhar turístico (SERRANO, 2000, p. 49-50; GASTAL, 2005, p. 35,
SIQUEIRA & SIQUEIRA, 2005, p. 01). Fotografar e ser fotografado diante de paisagens do tipo
“cartão postal" funciona como uma prova irrefutável de visita a tais lugares, funcionando como
elemento subjetivo de dominação, ascensão social e poder. Nesse sentido, a veiculação dessas
paisagens em imagens de promoção turística acaba transformando o valor simbólico do
patrimônio cultural, projetando alguns objetos ou fragmentos paisagísticos como signos
associados à totalidade do espaço urbano a qual se encontram inseridos.
204
dificuldades de inserção de diversos grupos sociais nesse local. Vendedores de fitinhas de Nosso
Senhor do Bonfim, pintores de quadros de rua, baianas vestidas a caráter e baianas do acarajé são
retratados como representantes da comunidade que se apropriam dos espaços públicos de forma
positiva, valorizando a cultura baiana, as tradições e interagindo com turistas e visitantes que ali
estão.
Figura 6.29. Grupo de Imagens referentes à situação “A idealização social nos espaços públicos do
patrimônio cultural”, analisados por esta pesquisa. No sentido horário, da esquerda para a direita:
Largo do Pelourinho, Salvador, BA; Artista pintando quadro nas ruas do Centro Histórico de
Salvador, Salvador, BA; Baiana do Acarajé no Centro Histórico de Salvador, Salvador, BA e
Vendedores de Fita de Nosso Senhor do Bonfim no Centro Histórico de Salvador, Salvador, BA.
Observa-se, no entanto, que o processo de refuncionalização urbana implantado no Centro
Fonte: Portal Brasileiro de Turismo. Disponível em: http://www.embratur.gov.br. Acesso em março
de 2010.
205
Histórico de Salvador a partir de 1992, onde práticas como a expulsão dos moradores
locais e a intensa turistificação da área caracterizaram as ações principais do Programa de
Recuperação, transformou significativamente a dinâmica espacial de todo o local, criando
diversas territorialidades, gerando inúmeros conflitos entre grupos sociais e atraindo um número
significativo de pessoas marginalizadas em busca de dinheiro, drogas ou prostituição
(SOTRATTI, 2005, pp.172-182).
Além da cenarização paisagística como elemento de atração para o consumo dos produtos
e serviços ligados ao turismo e ao lazer, pessoas travestidas de personagens culturais ligados ao
centro histórico circulam freqüentam o local para realização de negócios ou aquisição de rendas
206
(Figura 6.31). As indefectíveis baianas do acarajé constituem hoje um verdadeiro negócio
lucrativo passíveis de inscrição municipal, taxação de impostos e regras específicas de
apresentação e comercialização de seus produtos. Além das baianas do acarajé, baianas vestidas
com trajes coloridos e brilhantes são contratadas pelo comércio local, onde ao amarrar fitinhas do
Nosso Senhor do Bonfim em turistas e visitantes, os estimulam a consumir produtos dos
estabelecimentos a qual são contratadas. A presença desses personagens culturais remetem,
segundo Gonçalves, a uma performance teatral ascética, atemporal e não-aurática, contrariando
os preceitos de Walter Benjamin acerca da autenticidade. (GONÇALVES, 1988, p. 271).
Figuras 6.32 e 6.33. Imagens que retratam o processo de exclusão social e relativo descaso em
relação à manutenção e à valorização do Centro Histórico de Salvador. À esquerda, morador de
rua dormindo na porta de edifício histórico e à direita, acúmulo de lixo nas ruas do Centro
Histórico.
Fonte: Figura 70: Disponível em: http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1232813.
Acesso em março de 2010. Figura 71: Foto de Leonardo Araújo. Disponível em:
http://www.flickr.com/photos/leonaraujo/3266606552. Acesso em março de 2010.
207
Inserido num um grupo de países que almeja ser visto e considerado pelas potências
mundiais como um país em franco desenvolvimento e ascensão, o Brasil vem adotando e
reproduzindo práticas de gestão públicas consonantes às tendências e realidades do mundo
globalizado. O turismo, concebido como atividade econômica estratégica no mercado global,
exigiu dos órgãos brasileiros envolvidos com o setor a adoção de políticas, planos e programas
que projetassem o país no cenário turístico internacional e ainda atraíssem para os nossos
destinos turísticos contingentes consideráveis de turistas internacionais dispostos a aumentarem o
quadro de receitas advindos dessa atividade no Brasil.
208
Parte 03 – A Ideologia Espacial do Patrimônio Cultural Brasileiro
Turistificado: Idealização ou Consumação?
209
Capítulo 07 – A Ideologia Espacial do Patrimônio Cultural Brasileiro na Promoção de
Destinos Turísticos
A análise teórica acerca dos processos de ideologia espacial apontados por Berdoulay
(1995) bem como o estudo das imagens empregadas pela EMBRATUR em suas estratégias
promocionais nos permitem identificar as ideologias relativas à apropriação espacial do
patrimônio cultural brasileiro nas ações de promoção turística desenvolvidas por esta entidade.
De acordo com os três eixos apontados por Berdoulay (1985, p. 209), ou seja, a
identificação de conflitos espaciais gerados por imposições ideológicas, o poder simbólico da
paisagem e a redução narrativa, observa-se na promoção turística brasileira a existência de
processos de ideologia espacial associados ao segundo e ao terceiro eixo identificados pelo autor.
211
eficácia do planejamento e gestão, medida e quantificada periodicamente por indicadores e
relatórios públicos desenvolvidos pela própria EMBRATUR, acaba influenciando as práticas
promocionais do órgão de promoção turística. Nesse sentido, a supervalorização de imagens do
patrimônio cultural brasileiro representado pelas cidades coloniais nordestinas e pelo carnaval
carioca demonstra a fragilidade do órgão de promoção turística em romper a imagem do Brasil já
consolidada no imaginário do turismo internacional.
Conflitos de ordem ideológica são identificados, neste caso, pelo emprego de imagens de
paisagens que se antepõem aos discursos presentes no plano de marketing. As ideologias
políticas, culturais e sociais percebidas nos discursos do plano de marketing são substituídas por
ideologias econômicas que venham favorecer o alcance dos resultados pretendidos pelos gestores
públicos da entidade. No entanto, a pesquisa realizada com turistas internacionais que visitavam
os festejos juninos do nordeste no ano de 2008 – apresentada no capítulo 03 – demonstra que os
interesses da maioria dos turistas internacionais que vêm ao Brasil se concentram no patrimônio
imaterial, no caso, a música, a dança, as festas, o povo e a gastronomia. Esse fato decorre da
projeção da cultura brasileira no exterior, difundida pela literatura, pelo cinema, pelas
apresentações musicais e pela própria internet.
Se os interesses reais dos turistas culturais são contrários às imagens empregadas pela
promoção turística internacional, por que não alterar a essência de tais imagens? Tal mudança
não favoreceria mais rapidamente o alcance dos resultados econômicos pretendidos pelos
gestores públicos da atividade? Tais indagações nos levam a algumas reflexões que
possivelmente justifiquem a persistência do órgão de promoção turística brasileiro em perpetuar a
imagem do patrimônio cultural brasileiro veiculada pelo Brasil desde a primeira metade do século
XX.
212
próprio setor privado da atividade. Além das dificuldades naturais de organização e estruturação
de produtos turísticos de natureza imaterial, bem como do desenvolvimento de novas formas de
apropriação turísticas baseadas na interpretação e na experimentação cultural, a presença
inexorável das comunidades locais requereria atenção redobrada das organizações responsáveis
em relação à prevenção de impactos culturais e sociais e à descaracterização de tais patrimônios.
O processo de planejamento e gestão necessários para o desenvolvimento de um portfólio de tais
produtos levaria um período longo e indeterminado, o que seria indesejável para o cumprimento
dos prazos requeridos pelo marketing turístico.
Esse fato nos leva à terceira questão sobre os possíveis motivos que levam a
EMBRATUR em manter a imagem promocional do patrimônio cultural brasileiro trabalhada por
gestões anteriores e consagrada pelos organismos responsáveis pelo patrimônio no Brasil. Essa
questão refere-se à percepção limitada dos órgãos de turismo em relação ao próprio conceito de
patrimônio cultural. A formação acadêmica diversificada e a ausência de profissionais formados e
213
qualificados em gestão do patrimônio, ambas observadas nos órgãos de turismo brasileiros,
seguramente conduzem à compreensão e percepção rasa do universo que envolve a diversidade
do nosso patrimônio ambiental e cultural. Nesse sentido, a formação genérica e superficial dos
profissionais de turismo associada à supervalorização de instrumentos de gestão estratégica e
empresarial na atividade dificultam a construção de conhecimento que superem os quadros
teóricos estabelecidos pela atividade.
Considerando ainda que a formação acadêmica dos gestores tenha influencia direta na
elaboração e implementação das políticas públicas, constata-se que a falta de ousadia,
criatividade e de conhecimento específico observadas na promoção turística do patrimônio
cultural brasileiro se devem, em parte, ao despreparo técnico e acadêmico do corpo profissional
que compõe a EMBRATUR. A repetição de práticas ideológicas acerca do patrimônio cultural,
difundidos pelo IPHAN e pela UNESCO durante décadas, deve-se a ausência de estruturas
perceptivas que superem a compreensão da essência do patrimônio cultural e de sua diversidade.
214
A necessidade de demonstrar resultados econômicos satisfatórios e eficiência nas práticas
gerenciais e operacionais da organização levou a EMBRATUR a desenvolver um plano de
marketing internacional elaborado pela renomada empresa de consultoria catalã Chias Marketing,
conforme apresentado no capítulo 05. Esse fato reflete a intencionalidade da entidade em inserir-
se no cenário internacional dos principais países receptores de turismo onde o desenvolvimento
de planos de marketing elaborados por empresas de consultorias renomadas, a criação de marcas
turísticas e a participação em eventos e feiras internacionais de promoção turísticas são
considerados ingredientes fundamentais para uma imagem de competência e profissionalismo por
parte dos órgãos oficias de promoção turística. Esse fato levou à contratação da Chias Marketing
e consequente elaboração do Plano Aquarela –Marketing Turístico Internacional do Brasil em
2003. A intensa influência do Plano Aquarela nas ações promocionais e operacionais da
EMBRATUR levou inclusive a organização a alterar sua estrutura organizacional e funcional em
2008, para favorecer a aplicação eficiente do Plano.
215
ações globais expressa a ideologia política da entidade como órgão centralizador, moderno e
competente por meio de um elemento simbólico, no caso um plano de marketing desenvolvido
por um escritório de renome internacional. A ideologia política pelo discurso competente
observada na EMBRATUR impede a revisão qualitativa dos resultados obtidos durante o
processo de execução do Plano Aquarela e compromete o rompimento da visão tradicional e
desgastada do patrimônio cultural brasileiro em suas práticas promocionais atuais. Esse fato
confirma a afirmação de Chauí de que
O terceiro eixo que exprime as ideologias espaciais defendidas por Berdoulay (2005), ou
seja, a redução narrativa, também é observada no emprego de fragmentos de paisagens para a
formação de uma imagem positiva e de alto poder de atratividade para turistas potenciais. Tanto
nas imagens referentes às peças publicitárias da EMBRATUR como nas presentes no Portal
Brasileiro de Turismo, a seletividade espacial é deliberadamente realizada por meio de imagens
que retratam situações do patrimônio cultural distantes da realidade de tais localidades. Imagens
de fragmentos de paisagens monumentais, em bom estado de conservação ou que passaram por
processos de refuncionalização turística recentes e paisagens de alto valor cênico são
deliberadamente empregadas na promoção turística brasileira no sentido de representar
simbolicamente a totalidade de tais espaços urbanos. As contradições, a complexidade e a
vivacidade observada nas cidades atuais são intencionalmente descartadas e a dinâmica urbana é
reduzida a fragmentos espaciais que dêem sentido e visibilidade às ações governamentais
(BERDOULAY, 2005, pp. 74-75).
216
A redução narrativa praticada pela promoção turística brasileira expressa claramente
ideologias espaciais de natureza econômica e política, uma vez que ao representar
simbolicamente a totalidade das cidades brasileiras por meio de um mosaico de fragmentos de
paisagens idealizadas, valorizam o apelo comercial de tais locais como objetos de consumo como
também denotam um sentido de ordem, civilidade e preservação associadas a algumas das
qualidades requeridas de um bom governo.
217
Considerações Finais
219
ideologia espacial observados na promoção turística do patrimônio cultural brasileiro consiste
num importante referencial teórico que comprova esta afirmação.
220
Por meio da análise teórica, foram desenvolvidos os capítulos que compreenderam a
segunda parte desta pesquisa, ou seja, a análise do discurso presente no Plano Aquarela e das
imagens empregadas nas ações publicitárias da EMBRATUR, ou seja, as campanhas publicitárias
e o site promocional desenvolvido pela entidade. Os discursos e justificativas do plano de
marketing brasileiro foram apresentados e analisados de forma a permitir a identificação dos
discursos ideológicos oficiais da entidade em relação à promoção do patrimônio brasileiro. Por
meio da análise semiótica peirciana, foram analisadas todas as imagens promocionais da entidade
e identificados os conteúdos simbólicos das imagens e dos fragmentos das paisagens
selecionados e utilização pela promoção turística.
Por meio dessa análise documental, a terceira e última parte apresentou as ideologias
espaciais presentes nas ações promocionais da EMBRATUR: seus contornos, suas contradições e
conflitos e demonstrou a conformação da hipótese central que norteou o desenvolvimento da
pesquisa.
Espera-se, com este trabalho, que as discussões espaciais que envolvem o patrimônio
cultural brasileiro sejam estimuladas e sistematicamente desenvolvidas e que os estudos
geográficos se insiram de forma incisiva nos processos de planejamento e gestão dos bens
culturais.
Espera-se ainda que o turismo encontre um caminho correto para o bom e justo
planejamento, gestão e promoção dos bens culturais e demonstre seu potencial como atividade
propulsora de desenvolvimento e inclusão social. Este caminho levará, certamente, à mudança da
imagem do Brasil no exterior e ao reconhecimento internacional do Brasil como o grande país e
destino turístico da diversidade cultural, da solidariedade e do respeito.
221
Referências Bibliográficas
ARANTES, Otília Beatriz Fiori. O Lugar da Arquitetura depois dos Modernos. São Paulo:
EDUSP, 1995.
_____. Berlim Reconquistada: Falsa Mistura e Outras Miragens. Espaço & Debates. v. 03, n. 43-
44, p. 28-50, jan/dez 2003.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro, RJ: Elfos Editora; Lisboa:
Edições 70, 1995.
223
_____. Políticas e Planejamento do Turismo no Brasil. Caderno Virtual de Turismo, vol. 01, no.
01, 2001, pp. 01-07.
BEM, Arim Soares do. A Dialética do Turismo Sexual. Campinas: Pairus, 2005.
____. Espaces Publics et Mise en Scène de la Ville Touristique. Rapport Final de Recherche.
Université de Pau et des Pays de L’Adour, outubro de 2005.
____. La Historia de la Geografía en el Desafío de la Prospectiva. Boletín de la A.G.E, no. 51, pp.
09-23, 2009.
BERQUE, Augustin. Médiance: De Milieux en Paysages. Montpellier, Fr: GIP RECLUS, 1990.
BORG, Jan Van der et al. Tourism in European Heritage Cities. Annals of Tourism Research,
volume 23, issue 2, 1996, pp. 306-321.
BORJA, Jordi & CASTELLS, Manuel. Local Y Global: La Gestión de las Ciudades en la era de
la Información. 7ª. ed. Madrid: Taurus, 2004.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 12ª. Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
____. A Economia das Trocas Simbólicas. 6ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.
BOYD, Dana. M., & Ellison, Nicole. B. (2007). Social network sites: Definition, history, and
scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), article 11.
http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html.. Acesso em março de 2010.
225
BRITO, Diana. Olimpíada 2016 não é foco principal do combate ao crime organizado, diz
Beltrame. Folha online. Cotidiano. 19 out. 2009. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u640148.shtml. Acesso em março de 2010.
CARLOS, Ana Fani Alessandri Carlos. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São
Paulo: Contexto, 2004.
CARVALHO, Caio Luís de. Breves Histórias do Turismo no Brasil. In: TRIGO, Luis Gonzaga
Godói (Org.). Análises regionais e globais do turismo brasileiro. São Paulo: Roca, 2005, pp. 19-
38.
CASTRO, Maria Adriana Almeida Couto de. O Programa de Recuperação. In: CASTRO, Maria
Adriana Almeida Couto de et al. Centro Histórico de Salvador – Bahia: Patrimônio Mundial.
São Paulo: Horizonte Geográfico, 2000.
CHIAS, Josep. Turismo: O Negócio da Felicidade. São Paulo: Editora SENAC, 2007.
CORRÊA, Roberto Lobato. Cultura e Cidade: Uma Breve Introdução ao Tema. In: CARLOS,
Ana Fani Alessandri e LEMOS, Amália Inês Geraiges (orgs.). Dilemas Urbanos: Novas
Abordagens sobre a Cidade. São Paulo: Contexto, 2003.
226
COSGROVE. Denis E. Social Formation and Symbolic Landscape. Madison, USA: The
University of Wisconsin Press, 1995.
_____. Geografia Cultural do Milênio. In: CORRÊA, Roberto Lobato ; ROSENDAHL, Zeny
(orgs). Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.
COSTA, Otávio. Memória e Paisagem: em Busca do Simbólico dos Lugares. Espaço & Cultura,
UERJ, RJ, Edição Comemorativa, pp.149-156, 2008.
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Política de Turismo e Território. São Paulo: Contexto, 2001.
227
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da & SANSOLO. Davis Gruber. Plano Nacional de Turismo: uma
Análise Crítica. Caderno Virtual de Turismo, vol. 03, no. 04, 2003, pp. 01-06.
DE CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: Artes do Fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
DUNCAN, James. A Paisagem como Sistema de Criação de Signos. In: Corrêa, Roberto Lobato
& Rosendahl, Zeny (orgs.). Paisagens, Textos e Identidade. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004.
ECO, Umberto. A Estrutura Ausente. 7ª. Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1997.
228
FEATHERSTONE, Mike. Cultura Global: Nacionalismo, Globalização e Modernidade. 3ª. Ed.
Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
_____. O Turismo dos Deslocamentos Virtuais. In: YÁZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana Fani
Alessandri e CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Turismo: Espaço, Paisagem e Cultura. São Paulo:
Hucitec, 1999.
GASTAL, Susana. Turismo: Imagens e Imaginários. São Paulo: Ed. Aleph, 2005.
GEORGEL, Chantal. La Rue – XIX siècle – Histoire. Paris: Éditions Hazan, 1986.
GOMEZ, Manuel Marchena; RÚBIO, Fernando Repiso. Turismo cultural: el caso de Sevilla.
Cuadernos de Turismo. Universidad de Murcia, no. 04, 1999, pp. 33-50.
229
GONZÁLEZ, María Velasco. Gestión turística del património cultural: enfoques para un
desarollo sostenible del turismo cultural.. Cuadernos de turismo, Universidad de Murcia, no. 23,
2009, pp. 237-253.
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. 11a.ed., São Paulo: Edições Loyola, 2002.
JELLYCOE, G.; JELLYCOE, S. El Paisaje del Hombre: La Conformación del Entorno desde La
Prehistoria hasta Nuestros Días. Barcelona: Ed. Gilli, 1995.
230
JUSTAMAND, Michel. As Pinturas Rupestres No Brasil: Educação para a Vida até Hoje. Revista
Espaço Acadêmico. Universidade Estadual de Maringá, no. 41, pp. 01-02, 2004.
KOTLER, Philip et al. Marketing de Lugares: Como Conquistar Crescimento de Longo Prazo na
América Latina e no Caribe. São Paulo: Prentice Hall, 2006.
KUSTER, Eliana & PECHMAN, Robert. Maldita Rua. In: Seminário de Estudos Urbanos, 2007,
Lisboa. Anais do SEU – Seminário de Estudos Urbanos. Disponível em:
http://seu2007.saau.iscte.pt/. Acesso em 19 de outubro de 2009.
231
LÉON, Aurora García García de; AGUILAR, Alejandro Duarte. Turismo cultural en Barcelona:
marketing de ciudad y arquitectura icônica. Topofilia: Revista de arquitectura, urbanismo y
ciencias sociales, vol. I, no. 03, abril de 2009, pp. 01-15.
LIU, Zenhua. Internet Tourism Marketing: Potencial and Constraints. Fourth International
Conference Tourism in Southeast Asia & Indo-China: Development, Marketing and
Sustainability, 2000. Anais. The Scottish Hotel School. University of Strathclyde, UK.
_____. Urbanização turística: um Novo Nexo entre o Lugar e o Mundo. In: SERRANO, Célia,
BRUHNS, Heloísa Turini & LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes (orgs). Olhares
Contemporâneos sobre o Turismo. Campinas, São Paulo: Papirus Editora, pp. 105-130, 2004.
LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 3ª. Ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
232
MAGALHÃES, Izabel. Análise do Discurso Publicitário. Revista da ABRALIN, vol. 04, no. 01 e
02, dezembro de 2005, pp. 231-260.
MARICATO, Hermínia. Brasil 2000: qual Planejamento Urbano? Cadernos IPPUR, Rio de
Janeiro, Ano XI, n. 01-02, p. 113-130, 1997.
MARTINS, Jorge S. Redação Publicitária: Teoria e Prática: São Paulo: Atlas, 1997.
MARUJO, Maria Noémi Nunes Vieira. A Internet como novo Meio de Comunicação para os
Destinos Turísticos. Revista Turismo em Análise, v. 19, no. 01, maio 2008, pp.25-42)
233
MAXIMIANO, L. A. Considerações sobre o Conceito de Paisagem. R. RA ‘E GA. Curitiba,
UFPR, no. 08, p. 83-91, 2004.
McKERCHER, Bob; DU CROS, Hilary. The Partnership between Tourism and Cultural
Heritage Management. New York, USA: Routledge, 2002.
MELO, Vera Mayrinck. Paisagem e Simbolismo. In: ROSENDAHL, Zeny e CORRÊA, Roberto
Lobato (orgs.). Paisagem, Imaginário e Espaço. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001.
MEYER. Regina Maria Prosperi et al. São Paulo: Metrópole. São Paulo: EDUSP: Imprensa
Oficial do Estado, 2002
MICELLI, Sérgio. A Força do Sentido. Introdução de: BOURDIEU, Pierre. A Economia das
Trocas Simbólicas. 6ª. Ed. São Paulo: Perspectiva, pp. VII- LXI, 2009.
MIRANDA, Danilo Santos de. Reflexões sobre o Papel da Cultura na Cidade de São Paulo. São
Paulo em Perspectiva São Paulo, volume 14, n. 04, p.105-110, 2000.
MURTA, Stela Maris; GOODEY, Brian. Interpretação do patrimônio para visitantes: um quadro
conceitual. In: MURTA, Stela Maris; ALBANO, Celina. Interpretar o patrimônio: um exercício
do olhar (org.). Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2002.
234
OLIVEIRA, Fernando Meloni de. As Políticas de Turismo no Brasil nos Anos 90. Turismo em
Análise, v. 19, no. 02, agosto de 2008, pp. 177-200.
OHTAKE, Ricardo. Os Novos Monumentos da Metrópole. São Paulo em Perspectiva. Vol. 14,
no. 04, outubro-dezembro, 2000. pp. 111-119.
PAES, Maria Tereza Duarte. Patrimônio Cultural, Turismo e Identidades Territoriais – um Olhar
Geográfico. In: BARTHOLO, Roberto; SANSOLO, Davis Gruber; BURSZTYN, Ivan (orgs).
Turismo de Base Comunitária: Diversidade de Olhares e Experiências Brasileiras, 1ª. ed. Rio de
Janeiro, RJ: Letra e Imagem, 2009, v. 01, pp. 162-174.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. Trad. José Teixeira Coelho Neto, 3ª. Ed. São Paulo:
Perspectiva: 2000.
235
PEIXOTO, Paulo. Gestão Estratégica das Imagens das Cidades: Análise de Mensagens
Promocionais e de Estratégias de Marketing Urbano. Revista Crítica de Ciências Sociais, no. 56,
Coimbra, Portugal, fevereiro de 2000, pp. 99-122.
PIRES, Mário Jorge. Lazer e turismo cultural. São Paulo: Manole, 2001.
PORTAS, Nuno. L’Interpretazione del Progetto Urbano. Revista Urbanística. Roma:, no.110,
giugno, 1998.
236
RECUERO, Raquel. Estratégias de Personalização e sites de Redes Sociais: um Estudo de Caso
da Apropriação do Fotolog.com. Comunicação, Mídia e Consumo, vol. 05, no. 12, março de
2008, pp. 35-56.
RICHARDS, Greg. Culture Tourism in Europe. Oxon, UK: CAB International, 1996.
_____. Cultural Tourism. Global and Local Perspectives. New York, USA: Routledge, 2007.
RISSO, Luciene Cristina. Paisagens e Cultura: uma Reflexão Teórica a partir do estudo de uma
Comunidade Indígena Amazônica. Espaço e Cultura, UERJ, RJ, no. 23, pp.67-76, jan/jun, 2008.
SADENBERGH, Cecília M. B., DIAS, Antonio Jonas. O que é que a Bahia tem: o outro lado do
Turismo em Salvador. Salvador: Chame, 1998.
237
SANCHEZ, Fernanda. A (in)Sustentabilidade das Cidades-Vitrine. In: ACSERALD, Henri
(org.). A Duração das Cidades: Sustentabilidade e Risco nas Políticas Urbanas. Rio de Janeiro:
DP & A editora, 2001, p.155 – 175.
____. A reinvenção das cidades para um mercado mundial. 1. ed. Chapecó-SC: Argos Editora
Universitária, 2003.
SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. 1ª. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.
___. Teoria Geral dos Signos. 2ª. Ed. São Paulo: Guazelli, 2000.
____. Semiótica aplicada. 2ª. reimpr. da 1ª. ed. de 2002. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2005.
SANTAELLA, Lúcia. & NOTH, Winfried. Imagem – cognição, semiótica e mídia. São Paulo:
Iluminuras, 1998.
____. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2 ed. São Paulo: Hucitec,
1997.
____. Por uma outra globalização, do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro:
Record, 2000
238
____. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo:
EDUSP, 2002.
SASSEN, Saskia; “La ville globale”; Paris: Descartes & Cie., 1996.
SASSEN, Saskia e ROOST, Frank. A Cidade: Local Estratégico para a Indústria Global do
Entretenimento. Espaço e Debates. São Paulo, ano XVII, n. 41, p. 67-75, 2001.
SCHMOLL, G. A.(1977) e Crompton, John (1992) In: COOPER, C. et. al. Turismo: princípios e
prática. Porto Alegre: Bookman, 2001,
SCIFONE, Simone. A Construção do Patrimônio Natural. 2006. 294 pp. Tese (Doutorado em
Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2006.
239
SEIXAS, Andréa Milhomem. O Brasil sob o Olhar dos Estrangeiros. 2007. 101pp. Monografia.
(Pós-Graduação Latu-Sensu em Gestão de Negócios em Turismo). Universidade de Brasília,
Brasília, 2007.
SERRANO, Célia. Poéticas e políticas das viagens. In: SERRANO, Célia; BRUHNS, Heloísa;
LUCHIARI, Maria. (orgs.) Olhares contemporâneos sobre o turismo. 2 ed. Campinas, SP:
Papirus, 2000.
SILVA, Alexsandro Ferreira Cardoso da & FERREIRA, Ângela Lúcia de Araújo. Dinâmica
Imobiliária e Turismo: Novas Relações, Novos Riscos. Observatório das Metrópoles. Cadernos
Metrópole, no.18, 2007, pp. 109-133.
SILVA, Tatiana Amaral; ÁVILA, Marco Aurélio. Turismo Sexual e Exploração Sexual Infantil:
uma Análise da Atuação do Programa Sentinela em Ilhéus. Revista Pasos, vol. 08, no. 01, 2010,
pp.185-193.
240
SILVA JÚNIOR, Otoniel Fernandes da. Por uma Geografia do Imaginário: percorrendo o
Labiríntico Mundo do Imaginário em uma Perspectiva Geográfica Cultural. Revista Labirinto.
Revista Eletrônica do Centro de Estudos do Imaginário. Ano I nº. 3 - Outubro - Dezembro 2001.
SILVEIRA, Maria Laura. Da Fetichização dos Lugares à Produção Local do Turismo. In:
RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo, Modernidade , Globalização. 3ª. Edição.São Paulo:
Hucitec, 2002.
SIMÕES JR, José Geraldo. O Ideário dos Engenheiros e os Planos realizados para as Capitais
Brasileiras ao longo da Primeira República. Arquitextos, 090.3, novembro de 2007. Disponível
em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq090/arq090_03.asp. Acesso em 19 de outubro de
2009.
SIQUEIRA, Euler; SIQUEIRA, Denise. Corpo, mito e imaginário nos postais das praias cariocas.
Anais. XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UERJ – 05 a 09 de setembro
de 2005.
241
SOUZA, Marcelo Lopes de & RODRIGUES, Glauco Bruce. Planejamento Urbano e Ativismos
sociais. São Paulo: Ed. Unesp, 2004.
THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: Teoria Social na Era dos Meios de
Comunicação de Massa Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
_____. A Mídia e a Modernidade: uma Teoria Social da Mídia. Trad. Wagner O. Brandão e
revisão Leonardo Avritzer. 3ª. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
URRY, John. O Olhar do Turista: Lazer e Viagens nas Sociedades Contemporâneas. São Paulo:
Nobel, 1996.
242
VAINER, Carlos. Pátria, Empresa e Mercadoria: notas sobre a estratégia discursiva do
Planejamento Estratégico Urbano. In: ARANTES, Otilia; VAINER, Carlos; MARICATO,
Ermínia (orgs.). A cidade do pensamento único – Desmanchando Consensos. Petrópolis: Vozes,
2000, p 75-120.
VESENTINI, José William. Construção do espaço e dominação: considerações sobre Brasília. In:
Revista Teoria & Política, ano 2, n.7. São Paulo: Editora Brasil Debates, 1985, p. 102-121.
VINCENTIN, Ivan Carlos & HOPPEN, Norberto. A Internet no Negócio de Turismo no Brasil:
Utilização e Perspectivas. REAd, Ed. 31, vol. 09, no. 01, jan—fev, 2003, pp. 01-26.
243
VINUESA, Miguel Ángel Trotiño. Aranjuez: património cultural, recuperación urbana y turismo.
Cuadernos de turismo, Universidad de Murcia, volúmen extraordinário, 2002, pp. 495-518.
WTO – World Tourism Organization/ ETC – European Travel Comission. City Tourism and
Culture. The European Experience. WTO/ETC: Bruxelas, 2005.
244
Referências Documentais
____. Plano Aquarela 2007-2009: Marketing Turístico Internacional do Brasil. Brasília, DF,
2007. Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em março de 2010.
____. Plano Aquarela 2020: Marketing Turístico Internacional do Brasil. Brasília, DF, 2010.
Disponível em: http://www.turismo.gov.br. Acesso em março de 2010.
245
EMBRATUR/UNESCO. Estudo de Comportamento do Turista Cultural Internacional em
Festejos Juninos do Norte e Nordeste do Brasil. Projeto de Cooperação Técnica Internacional
entre EMBRATUR e UNESCO para a Promoção da Diversidade e do Diálogo Intercultural entre
o Brasil e o Exterior por meio do Turismo Cultural. Brasília, DF, 2009, 81 pp.
ICOMOS. Carta internacional sobre turismo cultural. La gestión del turismo en los sítios com
património significativo. México, 1999. Disponível em:
http://www.international.icomos.org/charters/tourism_sp.htm. Acesso em maio de 2010.
246
http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_pub
licacoes/plano_nacional_turismo_2003_2007.pdf. Acesso em fevereiro de 2010.
247