Artigo 4
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http://dx.doi.org/10.1590/S1982-21702017000300028
Artigo
Resumo:
O método de posicionamento a ser empregado em um levantamento batimétrico algumas vezes é
questionado, quanto a sua precisão horizontal e vertical. De forma geral, tem sido utilizado nesses
levantamentos o posicionamento da embarcação por meio do GPS Diferencial (DGPS). Mediante
consulta de literatura, poucas investigações no que concerne à precisão e acurácia destes métodos
têm sido realizadas principalmente quando tais levantamentos ocorrem em reservatórios. Dessa
forma, o presente trabalho teve como intuito verificar as precisões e acurácias para o
posicionamento da embarcação por meio dos métodos DGPS, Posicionamento por Ponto Preciso
(PPP) e de Posicionamento Relativo Cinemático (MPRC). Todos os resultados gerados neste
trabalho foram inseridos em um Sistema de Informação Geográfica (SIG), no qual foi observado
que o resultado mais preciso foi obtido pelo MPRC. No entanto, também é possível utilizar o
serviço online do IBGE-PPP para processar os dados para o posicionamento da embarcação
obtendo uma precisão inferior ao metro. Conclui-se que todos os métodos investigados para o
posicionamento da embarcação atenderam as especificações da Resolução Conjunta
ANEEL/ANA nº 03, de 10 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010). Contudo, é importante que o
usuário atenda aos requisitos mínimos necessários para cada método de posicionamento.
Palavras-chave: ArcGIS, Precisão, IBGE-PPP, Reservatório de Capivari-Cachoeira.
Abstract:
The positioning method to be employee in a bathymetric survey is questioned about the horizontal
and vertical precisions. In a general way, the vessel positioning in hydrographic surveys has been
determined through the Differential GPS (DGPS). Upon consulting the literature, it was observed
that few investigations regarding to the precision and accuracy of these methods were done when
such surveys occur in reservoirs. Therefore, the main objective of the present work is to perform
precisions and accuracies analyzes regarding to positioning of the vessel, through the methods as
DGPS, Precise Point Positioning (PPP) and Kinematic Relative Positioning (MPRC). All results
were inserted into a Geographic Information System (GIS), in which it was observed that the
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results were more precise for the MPRC. However, it was concluded that it is also possible to use
the IBGE-PPP online service to process the positioning data of the geodetic marks and the vessel
getting a precision lower than a meter. In conclusion, all methods investigated for positioning the
vessel are in agreement with the specifications of the Resolution ANEEL/ANA nº 03 of August
10th, 2010. Nevertheless, it is important to follow the minimum requirements for each positioning
method.
1. Introdução
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2. Métodos De Posicionamento
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por uma série de pontos. Isso tem como consequência a necessidade do usuário dispor de no
mínimo cinco satélites, para que haja a redundância e a solução seja passível de ser obtida
(MONICO, 2008 e IBGE, 2008). Neste método é importante realizar uma inicialização, em que o
receptor móvel permaneça estacionado por alguns minutos num ponto qualquer antes de percorrer
a trajetória a ser descrita.
O posicionamento pelo Differential GPS (DGPS), atualmente, baseia-se na transmissão
instantânea de dados de correções diferenciais dos sinais de satélites observados (pseudodistância
ou fase da onda portadora), do receptor instalado na estação de referência ao receptor que percorre
os vértices de interesse ou a trajetória a ser descrita, por um meio de comunicação. Desta forma,
proporciona o conhecimento instantâneo de coordenadas precisas dos vértices ocupados e das
trajetórias percorridas (INCRA, 2013). Quando estas posições instantâneas derivam das correções
diferenciais obtidas com o emprego do código e código suavizado pela fase da onda portadora,
denomina-se o método de DGPS e quando são obtidas por meio da fase da onda portadora de Real
Time Kinematic (RTK). Estes métodos também diferem quanto à precisão alcançada, conforme
Figura 2. Para o RTK, os dados de correção diferenciais são transmitidos por meio de um enlance
de rádio instalado nas estações de referência e móvel, na qual se observa que para distâncias de
até 10 km a precisão é inferior a alguns centímetros.
3. Metodologia
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a mesma trajetória da embarcação obtida a partir do processamento dos dados coletados pelo
método relativo cinemático.
Observa-se que não há um perfeito sincronismo entre as informações, devido ao intervalo de tempo
que o computador leva para armazenar os dados; contudo a defasagem de tempo é menor que um
segundo, não sendo significativa na análise em questão. Vale ressaltar que a trajetória obtida pelo
MPRC é tomada como referência para a análise da acurácia do método DGPS/RTK e do PPP. Na
Figura 3 observa-se a trajetória selecionada da mensagem NMEA-0183 (DGPS/RTK) que irá
proporcionar a comparação entre os métodos (MPRC e PPP).
Aplicou-se o cálculo das diferenças das coordenadas, em metros e projeção UTM, obtidas pelo
processamento IBGE-PPP subtraídas das coordenadas processadas através do software Leica Geo
Office 7.0 (LGO), considerada como referência. Desta forma, foram determinadas as
discrepâncias, para os métodos PPP e DGPS/RTK em relação ao MPRC, nas componentes Estes
(∆Ej) e o Norte (∆Nj), e planimétrica (Dplan,j) apresentadas nas equações (1), (2) e (3),
respectivamente.
E E E (1)
j k,j pos,j
N N N (2)
j k,j pos,j
Onde:
Índice j indica a época GPS e k é o método que será analisado;
∆Ej: Discrepância entre as componentes Este dos métodos PPP e MPRC (metros);
∆Nj: Discrepância entre as componentes Norte dos métodos PPP e MPRC (metros);
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Ek,j; Nk,j: Componentes Este e Norte, respectivamente, obtidas pelo método a ser analisado
(metros); e
Epos,j; Npos,j: Componentes Este e Norte, respectivamente, obtidas pelo MPRC (metros).
D E 2 N 2 (3)
plan,j j j
Posteriormente foi calculado, de acordo com o manual da NSDI (1998), o erro médio quadrado
(RSMEi) nas componentes x e y para os métodos PPP e DGPS/RTK apresentado equação (4); e a
acurácia planimétrica (RMSE plan), de acordo com a equação (5).
RMSE RMSE 2 2
x RMSE y
(5)
plan
4. Resultados E Discussões
Os dados gravados nas memórias dos receptores instalados nas estações de referência (marco
MSC04) e móvel (embarcação), no dia 01 de dezembro de 2012, foram processados pelo software
LGO. As coordenadas planimétricas que compõem esta trajetória advêm de uma solução de 100%
dos inteiros das ambiguidades. Em relação à qualidade do posicionamento planimétrico do método
de Posicionamento Relativo Cinemático, apresentada no LGO os valores mínimo e máximo foram
de 0,001 e 0,050 metros, respectivamente. Com uma qualidade entre 0,004 metros e 0,009 metros
em 10.772 pontos dos 17.047 que compõem a trajetória processada no levantamento (Figura 4).
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Os desvios padrão para coordenadas planimétricas do PPP encontraram-se no intervalo entre 0,623
e 9,745 metros. Os maiores valores ocorreram da época inicial até a época 1.741, período
correspondente aos primeiros 29 minutos de observação, com registro a cada segundo. O método
do IBGE-PPP para realizar o ajustamento sequencial e convergir à solução necessita um tempo de
aproximadamente 30 minutos, fazendo com que as épocas iniciais, tenham como consequência,
desvios padrão mais elevados (Bisbath & Gao, 2008 apud KLEIN et al.,2010). Este fato decorre
de que a solução gerada usa a combinação livre dos efeitos ionosféricos de primeira ordem
(ionofree) (IBGE, 2013).
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Portanto, removendo os pontos referentes aos primeiros 30 minutos é possível verificar que o
desvio padrão se encontra entre os valores mínimo e máximo de 0,06 metros e 0,13 metros,
respectivamente (Figura 6). Neste caso a imprecisão da trajetória da embarcação seria inferior a
13 cm, sendo superior àquela obtida com o MPRC. Pelo exposto anteriormente quando o usuário
desejar empregar o PPP é conveniente que seja efetuada uma inicialização com a embarcação
atracada ou docada de aproximadamente 30 minutos.
Figura 6: Gráfico do desvio padrão do posicionamento planimétrico com o uso do PPP com a
exclusão dos primeiros 30 minutos utilizados na convergência da solução.
A Figura 7 apresenta as trajetórias descritas pela embarcação obtidas com base nos métodos MPRC
e PPP, com uma discrepância máxima na componente N de aproximadamente 50 cm e 37 cm na
componente E.
Figura 7: Trajetórias descritas pela embarcação pelo MPRC e PPP no dia 01/12/2012.
Coordenadas em metros, projeção UTM: Sistema de Referência SIRGAS2000.
É possível verificar, visualmente, que a trajetória obtida com o processamento IBGE-PPP foi
eficaz comparando com o método de referência adotado (MPRC). As discrepâncias para as
componentes Norte e Este foram na ordem de decímetros, conforme ilustra a Figura 8A. Para a
coordenada Este a discrepância foi entre o intervalo mínimo e máximo de -0,375 e 0,147 metros;
e para a coordenada Norte, entre o intervalo mínimo e máximo de 0,108 e 0,507 metros,
respectivamente.
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Figura 8: (A) Gráfico das discrepâncias para as componentes E e N, entre as trajetórias dos
métodos MPRC e PPP. (B) Gráfico das diferenças planimétricas entre pós-processado (MPRC) e
PPP com exclusão do tempo de convergência.
Visando detalhar mais as análises, os 30 minutos iniciais foram excluídos das trajetórias descritas
e recalculando as diferenças planimétricas entre estas trajetórias verifica-se que elas se encontram
entre -0,080 e 0,109 metros na direção E, e entre 0,043 e 0,208 metros na direção N (Figura 8B).
Desta forma, se respeitada à inicialização de aproximadamente 30 minutos, pode-se dizer que a
acurácia do método PPP deverá ser inferior a cerca de 25 cm, para este caso.
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Os dados deste levantamento foram disponibilizados no formato .txt, arquivo NMEA-0183, com
mensagens do tipo GGK.
Figura 10: (A) Mapa da distribuição espacial da resolução das ambiguidades. (B) Mapa da
distribuição espacial do PDOP. (C) Mapa da distribuição espacial do número de satélites.
Coordenadas em metros, projeção UTM: Sistema de Referência SIRGAS 2000, zona 22S.
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Figura 11: (A) Mapa da distribuição espacial da resolução das ambiguidades. (B) Mapa da
interpolação referente aos valores de PDOP durante o levantamento. (C) Mapa da interpolação
referente ao número de satélites observados durante o levantamento batimétrico. Coordenadas
em metros, projeção UTM: Sistema de Referência SIRGAS 2000, zona 22S.
Para estimar a resolução das ambiguidades, o número de satélites e PDOP; foi utilizado o
interpolador IDW, o qual melhor representou as características do reservatório. Pois devido à
heterogeneidade na dispersão dos pontos, os outros métodos generalizaram as informações,
representando de forma inadequada à realidade dessas variáveis ao longo da área de estudo. A
resolução das ambiguidades (Figura 11A) apresentou uma solução absoluta para todo o
reservatório. O número de satélites observados foi de 6 a 18, com o predomínio de 13 a 15 satélites
observados na maior parte do levantamento (Figura 11C). O intervalo de PDOP (Figura 11B) ficou
entre 1,3 e 4,8, com predominância de valores mais baixos (1,3 a 2,5), e os valores mais elevados
foram identificados nas bordas do reservatório. Segundo Krueger (2011), para o método
cinemático os valores obtidos neste trabalho estão dentro da classificação de um bom
levantamento, ou seja, apresentam PDOP menor que 5.
A partir da distribuição dos valores de PDOP e número de satélites, é possível verificar um padrão,
em que nas regiões onde há presença de um número menor de satélites os valores de PDOP são
superiores em relação aos pontos em que há um maior número de satélites. Este fato justifica-se
devido ao PDOP estar diretamente ligado a geometria dos satélites, claramente observado.
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Figura 12: Gráfico das discrepâncias para as componentes E e N, entre as trajetórias dos
métodos MPRC e DGPS/RTK.
A partir desses valores se obteve a discrepância planimétrica com intervalo entre 0,41 e 3,62
metros. Com o uso do MPRC como referência esta operação envolveu 4.318 observações, a qual
gerou resultados na ordem do metro, como observado na Figura 13.
Essa diferença pode estar atrelada ao erro no momento da filtragem dos pontos, visto que esta foi
feita de forma visual devido à falta de uma variável em comum que pudesse servir de ligação entre
as duas planilhas de informações. No entanto, apesar do receptor estar configurado para RTK, de
acordo com a Figura 11A, as soluções são provenientes de um método absoluto. Podendo
proporcionar precisões planimétricas de até 12 metros (95% de probabilidade) (Krueger, 2006).
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RMSE y
Mediante o cálculo do erro médio quadrático observou-se que o foi maior que os
quais apresentaram valores de 1,817 m e 1,539 m, respectivamente. Esses resultados geraram um
de 2,381 metros entre os métodos DGPS/RTK e MPRC, ou seja, proporcionou uma
acurácia na ordem de metros.
5. Conclusão
Analisando os métodos de acordo com a resolução da ANA (2013), a qual preconiza uma precisão
planimétrica de 2 a 5 metros, para o DGPS/RTK é possível utilizar a qualidade planimétrica
extraída do LGO. O PPP poderia ser aplicado desde que desconsiderados os 30 minutos iniciais,
ou seja, é imprescindível a inicialização do equipamento com a embarcação docada; e o
MPRC/RTK atende totalmente as exigências. Comparando os três métodos, o DGPS/RTK é o
mais prático e viável, pois proporciona a correção em tempo real da posição da embarcação
sincronizada com a profundidade. No entanto, caso o usuário não tenha a sua disposição um RTK,
é indicado realizar o levantamento com o GPS através do método cinemático, posteriormente
enviar os dados para o serviço online do IBGE-PPP e utilizar as informações processadas por esse
serviço (devido a este método ter apresentado resultados condizentes com a precisão esperada e
não exigir alto custo financeiro).
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