Psicologia e Vida Espiritual - FAC 15-11-22

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Psicologia e vida espiritual - 2022, 1

Introdução à Psicologia e Psicoterapia Tomista

Psicologia ou Filosofia e Teologia

(Oferecido na FAC
Anápolis, Setembro-Outubro 2022)

Procuramos conhecer o próprio autor, Santo Tomás, sua vida e obra. (p. 2)

Depois perguntamos, segundo a maneira de Santo Tomás, o que o homem quer, ou


qual é o último motivo de sua vida e seu cumprimento; S. Tomás explica que é a
felicidade que, porém, o homem só pode encontrar em Deus, o Sumo Bem. (p. 40)

Isto exige de entender o homem, segundo o pensamento de Santo Tomás


(TRATADO SOBRE O HOMEM - A antropologia de Santo Tomás). Na procura da
resposta chegamos ao resultado que não é apenas um “animal racional”, mas uma
pessoa que “ama (gosta) ser amado”! (p. 64)

Explicado depois (em outras conferência e contribuições) os desafios na vida desse


homem, explicando a diversidade das faculdades no homem e segurando elas
harmonicamente unidas pela disciplina da vontade e com a ajuda do intelecto e do
apoio de fora, como pela educação.

Tudo leva a pergunta básica: A psicologia em si – o que é? (p. 87)


1º Quais são as respostas que se encontra na história, especialmente na
história moderna?
Com estas devemos confrontar a psicologia tomista.
2º Então procuramos encontrar segundo Santo Tomás a guia pela vida
psíquica saudável ou normal para todos os homens.
3º Isto então permite de olhar às falhas na vida humana, aos problemas,
o homem peca e como resolvê-los.

No fim: Frankl e cristianismo


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Introdução a Santo Tomás


1º Vida e Obra (p. 3)
2º Santo Tomás como mestre para todos os tempos (p. 10)
3º Por que e como começar a estudar S. Tomás (p. 15)
4º O método do artigo da Suma Teológica (p. 17)
5º Terminologia tomista (p. 21)

Santo Tomás, não é um pensador do qual se precisa distinguir o 1º e 2º ou até 3º fase na vida,
como estamos bem acostumados no estudo dos filósofos na História de Filosofia.
Podemos antes constatar que não poucas vezes conseguiram outros autores pelo contato com as
Obras de Santo Tomás chegar a sua fase definitiva de seus pensamentos;
Podemos lembrar de Edith Stein – a melhor aluna de Husserl e sua fenomenologia,
Ou de Conrad Baars que queria desistir da Psicologia para não perder a fé, mas não desistiu
quando foi indicado a Psicologia de S. Tomás.
“Brasil Paralelo” lembrou nestes dias de Chesterton que tinha chegado à tentação de suicídio, e o
mesmo aconteceu a Jacque Maritain e sua esposa; nenhum deles se entregou ao desespero por ter
encontrado os escritos de Santo Tomas.

Santo Tomás
- não só perguntou desde o início – segundo o que sabemos – pelo último fim, Deus, de modo
que este rumo nunca precisava corrigir.
Mas também recebeu durante 9 anos no Mosteiro beneditino de Monte Cassino uma grande
familiaridade com a Revelação divina, e em particular devemos pensar nos Salmos, que na
Liturgia são recitados dia por dia no coro dos Monges.
Neste livro dos Salmos se encontra tudo da vida humana, se fala de todos os aspetos,
principalmente dos lados dolorosos com da persegução por outros, ou da experiência de angústia
interior – porém, o orador é sempre conduzido à entrega confiante em Deus onipotente e
cuidador. (Sl 55: “Meu coração treme no meu peito e terrores mortais se abateram sobre mim.
Temor e tremor me invadem e me oprime o horror...
Eu invoco a Deus e o Senhor me salva.”
Sl 56: “Na hora do medo, em ti me refugio.”)
Se Santo Agstinho (e outros) entendem os Salmos como descrição da vida do Messias que virá,
como Redentor de todo o mal, então mais ainda, depois da Encarnação e obra redentor de
JESUS. Quem reza estas orações, encontra sempre luz nas trevas de sua vida porque é guiado a
JESUS e olha a Ele.

Aqui devemos partir quando queremos procurar entender este Autor tão distante de nós segundo
o tempo, e tão próximo segundo os seus pensamentos e ensino (como estas pessoas do nosso
tempo mostram).
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Psicologia como próprio estudo - não digo como “ciência” – surgiu apenas nos últimos tempos,
no século 19, alguns colocam até no século passado, depende se se quer ver nas reflexões de
Herbart, que quis ocupar oa cátedra de Kant ou, mas tarde com Wundt que institui o primeiro
laboratório com exames tecnicas de funcionamentos espirituais.1
Santo Tomás de Aquino viveu no seculo XIII. Então, deve-se anted de tudo perguntar: Será que
pode ter uma concexão? Ele tem um lugar entre psicólogos que tem a ideia do homem como uma
máquina ou um objeto (Torelló, 90). Ou é só por piedade que se refere a ele?

Um psicólogo do nosso tempo, o “conhecido neopsicanalista e neomarxista Erich Fromm” (p.


101), afirma:
“Em Tomás de Aquino encontra-se um sistema psicológico
do qual se pode provavelmente aprender mais que de grande parte dos manuais atuais de
tal disciplina ... muitos profundos tratados de temas como narcisismo, soberba,
humildade, modéstia, sentimentos de inferioridade, e muitos outros” (em Martin F.
ECHAVARRÍA. A Práxis da Psicologia e seus níveis epistemológicos segundo Santo
Tomás de Aquino. Tradução por Fábio Florence. Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2021, p. 49).

Echavarría faz referência a tantos assuntos tratados por Santo Tomás, hoje chamados psicológicos,
e como tema apresenta três, quatro ou seis diferentes espécies, motivos e efeitos (cf. p. 592).
Não se espera hoje tal com um autor do passado, e assim conhecer Tomás de Aquino como um
dos maiores psicólogos! Echavarría diz:
“Santo Tomás, em particular, se mostrou não apenas um grande sintetizador da tradição neste
ponto [a vastidão da experiência acumulada pela tradição cristã (cf. p. 580) no conhecimento dos
problemas que afligem a personalidade humana], mas também identificou inteligentemente o
núcleo espiritual que distingue essa desordem de outras formas de tristeza ... soube reconduzir
todos os sintomas e efeitos que os Padres atribuíram à acídia ao seu princípio e à sua causa. De tal
maneira, sem descuidar da descrição deste mal, ele o tornou mais inteligível, a ponto de sua
contribuição poder bem considerar-se como perene.
Comprovamo-lo ao estudar o modo pelo qual os psicólogos contemporâneos analisam essa doença
e podemos concluir, por um lado, a atualidade da solução tomista; por outro, a dificuldade da parte
dos autores recentes para alcançar uma descrição que atinja a riqueza tradicional...” (p. 541)
O segredo desse religioso da Idade Média é que ele tinha como último fim de sua vida glorificar a
Deus e, no caminho, a preocupação sacerdotal pela salvação do homem, por uma vida na verdade.
A sinceridade da sua intenção e sua santidade lhe deram a sensibilidade necessária pela alma do
homem, especialmente pelos que estão longe de Deus, pelos pecadores.

Em todos nós já surgiu a pergunta:


Por que os psicólogos encontram em Santo Tomás
MAIS informações ou matéria do seu interesse ou do seu estudo
do que nos seus colegas no tempo de hoje?
Peço guardar essa pergunta na memória – e, se não recebem uma resposta durante curso,
perguntam no fim explicitamente.

Torelló, sacerdote e psicólogo, escreveu em 1961 um livro em italiano sobre a Psicolanálise e a


Confissão. Em 2005 foi publicado a tradução em alemão. Na introdução desta, observa que nestes
40 anos não aconteceu nada importante novo. Nesta obra relata da história, inclusive da psicologia

1 Wilhelm Wundt que veio a ser tradicionalmente considerado como o primeiro psicólogo experimental.
Assistente de Helmholtz em Heidelberg depois de ter sido professor em Zurique, obteve a cátedra de psicologia na
Faculdade de Filosofia de Leipzig em 1875. Foi ai, em 1879 (data crucial para a história da psicologia), que Wundt
fundou o primeiro instituto de psicologia experimental. (G. Reale, História da Filosofia, vol. 3, 390).
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do século 19 que é chamada a “psicologia sem alma”, com uma mentalidade que diz: Pode ir ao
médico como fosse ao mecânico para reparar o seu veículo; e se espera do médico demasiado
frequentemente uma “pílula mágica” com a dose exata (cf. p. 44). Este refere também certas
estatísticas com observações psico-somáticas (Ex. Sth I, 20, a 1 ad1; Torr., 33, 128).
Todos sabem hoje o que se quer dizer com isso, se trata de doenças físicas que encontram sua
causa em tensões psíquicas (cf. Torrelló, 37, 39, 40, 42). E como se explica este fenômeno? É
impossível na base da filosofia de Descartes (1596-1650) que declarou a alma e o corpo do homem
com duas substâncias independentes; segundo o corpo o homem – como todos os seres vivos – é
uma máquina. Ele é apenas relacionado, ou melhor conectado com a alma por uma “pequena
glândula, chamada pineal, situada no centro do cérebro, que constitui a sede da alma” (Reale,
História, vol. II, 386). Então, para poder explicar este fenômeno, tão claramente constatado hoje,
é necessário voltar atrás de Descartes.
E atrás desse homem e sua ideia se chega a Santo Tomás que coloca como base de toda a
compreensão do homem a união de alma e corpo,
Referindo-se ou a Aristóteles com seu hile-morfismo ou ao Cristianismo com a união da natureza
divina e humana na Pessoa de Cristo e que semelhante se encontra em cada homem, na natureza
do homem de hoje, de cada um de nós.

Dá para constatar com Fulton Sheen: “


“A filosofia moderna tem agido de modo tão desleixado com o bom senso, que logo quando
aparecer um filósofo moderno que volte ao bom senso, ele será saudado como um dos pensadores
mais originais de todos os tempos.” (SHEEN, Inteligência, p. 224)

(tb. pag. 11)


Aqui vale observar que a maior contribuição na busca da verdade veio e virá também no futuro
por parte de homens das Congregações religiosas. E as razões são várias:
- Devido a sua formação pessoal cultural e religiosa;
- seus defeitos humanos são em grande parte eliminados;
- interesses pessoais, mais motivados pela curiosidades do que pela procura da verdade, também
são excluídos, em grande parte devido a renúncia de qualquer ambição pessoal;
- eles são livres, não precisam ganhar seu pão com teorias extravagantes e publicar livros novos
com ideias arriscadas por motivo financeiro.
- E por fim, eles partem de um depósito já iluminado pela verdade revelada.2

2 A consideração da vida dos filósofos permite dizer:


A. Um filósofo é um homem, e
B. No homem se distingue sua natureza ou essência (imutável e substancial), isto é, de ter alma e corpo,
e o que lhe é acidental (e variável) como a altura, o peso, a cor, conhecimento ...
e, toda a formação pertence ao acidental (pode adoecer, saber mais ou menos, ...)
C. Logo, um filósofo é humano, cresce, ser mais ou menos inteligente, pode errar ... (o que é diminuído num
monge ou religioso pelos motivos indicados ou, porque “morreu” a muitas dimensões variáveis da vida
humana.
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1. Datas da vida e obra de Santo Tomás3

1) Descendência:
O Pai Conde, parente do Imperador Frederico I; Mãe é da normandia e suebia, T37.
Um eremita revelou à mãe que já estava grávida com um filho e descreveu a sua missão; T 1;
Santo Tomás nasceu 1224 ou antes do 7 de março de 1225 como mais jovem de 7 Irmãos e 5
irmãs;
escapou do fogo de um relâmpago que entrou no castelo e matou uma sua irmã, T2.
História do papel c/ “Ave Maria”, T3; BB 9; V3.
Seus irmãos serviram no exército do Imperador; mais tarde
um passou ao lado do papa e morreu martir, V6.
2) Formação:
1230 - Santo Tomás foi entregue à Abadia de Montecassiono com 5 anos para a formação, V3;
pergunta: “Quem é Deus?”.
1239 - O abade mandou em 1239 à Nápoles a) pela insegurança política e b) por causa de sua
inteligência.
Clima em Nápoles: o mundo de cidade e universidade; encontrou a filosofia de Aristóteles
e o movimento de pobreza da 1ª geração dos Dominicanos (S.Dom. + 1226).
3) Entrada na Ordem Dominicana:
1243/4 - Um irmão dominicano teve a visão de um rosto irrandiante sobre o mundo, T7.
1243 ou Janeiro 1244: Entrada na Ordem Dominicana, problema: São do lado do Papa, e pobre
(contra a dignidade da família); falece o pai.
Visita da piedosa Mãe, não cedida pelos dominicanos por desconfiança; isto causou a perseguição
pelos irmãos.
Maio 44-fim de 45: prisão familiar: leu Sagr.Escr., Officio, Sentenças de Pedro Lombardo e a
“Sofistica” de Aristóteles, e contato com a Logica e Metafísica de Arist. (V4).
Procuram convertê-lo, mas eles se converteram; uma irmã tornou-se benedictina e santa. Tentação
por uma prostituta e a vitória de Santo Tomás e aparição de (2) anjos: T8-10; V4-5.4
4) Estudos:
1245/6: Transferência a Paris, estudando com Santo Alberto Mg.,
1248: Este o levou a Colônia. Ordenação sacerdotal 1251 (V6; 1248 ?). Estuda Dionísio e
Neoplatonismo com Aristotelismo (Ética). História da “vaca voante” e do “boi mudo” (cf.
V6).
Oferta de ser abade de Monte Cassino – S.T. recusa (cf. aparição de N.Sra. seg. a V6; BB 21).

(Começa ensinar)
1252: Chamado para Paris para ensinar – Bachelar; sobre a S.Escr. e Sentenças de Pedro
Lombardo, V6.
Luta entre o clero diocesano e religioso.
Carta pessoal de Papa Alexandre IV a S. Tomás (que acabou tornar-se 30!).

3 Fontes: Tocco (1320 = T + cap.); Pieper (Tomás de Aq.); Grabmann (Thomas v.Aq.; Seelenleben); Royo Marin
(Grandes mestres de Vida espiritual, p. 255-261); Ameal (São Tomáz, p. 1-228); Vida (= V + pág.); “Breve Biografia
de S. Tomás de Aquino” (Pdf; BB); Fraile, p. 259-282.
4 Na sua clausura doméstica foi preparada uma tentação contra a sua pureza. Vencida esta como firme decisão,
implorou a Deus pela santa virgindade. Aí, caiu num sonho e lhe foram mandados dois anjos que disseram: “Nós te
cingimos em nome de Deus como pediste com o cinto de castidade que não pode ser tirado por nenhuma outra luta. E
o que não se podia obter por méritos de virtudes humanas, te será dado pelo dom da liberalidade divina. ... Tomás
acordou pela dor que este contato com os Anjos causou.” (Cf. Wilhelm von TOCCO. Das Leben des hl. Thomas von
Aquino. capítulo 4 e 34. Em: W. Eckert. Das Leben des heiligen Thomas von Aquino erzählt von Wilhelm von Tocco
und andere Zeugnisse. Düsseldorf: Patmos-Verlag, 1965, cap. 10; cf. ibid., cap. 39-41). Aqui, Santo Tomás recebeu
a graça de uma tranquilidade da mente e pureza especial que lhe fez capaz de uma perspicácia intelectual, semelhante
a dos Santos Anjos, aquele, que receberá o título “doctor angelico”.
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1256 licença de ensinar. Aula inaugural por indicação de São Domingos: Ps 103,13; V10.

5) Missão (universal):
Santo Tomás é chamado para o Cap. Geral da Ordem (com apenas 30 anos, deve elaborar com
Alberto Mg e Pedro Tarantasia Direções pelos estudos na Ordem), V11.
Chamado por Urbano IV a Orvieto por causa de re-unificação com a Igreja oriental (1261-
1264), V12. 5
Encontra Moerbecke que pode traduzir Aristóteles do grego. Agora: Mandato papal a estudar
Aristóteles!
Chamado a Roma para formar o estudo da Ordem (8 de set.1265-67), V14;
Clemente IV quer fazer T. Arcebispo de Nápoles – Tomás o implora que não; Clemente IV
chamou-o a Viterbo como leitor, V15.

1269-72: Chamado a Paris por serem as divergências tão grandes com os Averroistas (=
eternidade do mundo; nega providência e liberdade do homem; unidade do intelecto contra
alma individual, V 15-18).

Páscoa de 72: Chamado a Florença para o Cap. Provinc. e


mandato a Nápoles para o Estudo Geral. V 18s.

Fim de 73/ini.74: Gregório X chama-o para o Concílio de Lyon (por causa do tema da união
com os gregos).
6 de dec. 73: Visão: “Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?". E a
resposta que Tomás deu: “Nada mais do que Tu, Senhor!” (T 34 e 52; V 19-24);
E para a escrever pois percebe na luz da graça: Tudo que escrevi é “um monte de palha!”).

7 de março 1274: Falece em Fossanuova.

(Para receber uma ideia do seu imenso trabalho:


Em 16 meses (de 1271-1272) teria composto - por dia - 12,5 páginas no formato A 4 do nosso
papel (com 350 palavras por página)!

Como consideramos o aspeto psicológico, talvez alguém se pergunta:

Santo Tomás morreu


por estresse e esgotamento – ou o Burnout?
Foi por decepção?
Caiu numa depressão?
É um caso para a Psiquiatria?
– Não tinha toda a razão para ser orgulhoso?
Para se considerar valioso, digno de respeito pelos outros?

Veja embaixo caraterísticas de sua personalidade – ou como Santo !


A VIDA de Santo Tomás
Data e lugares Clima do Maiores Obras de Santo Tomás
século acontecimentos
1225 Vento político: Nascimento

5 CHESTERTON quer saber que “o franciscano Boaventura contraiu tão grande amizade com o dominicano Tomás,
que os contemporâneos os compararam a Davi e Jónatan” (C.G.CHESTERTON. Santo Tomás de Aquino: Biografia.
Nova Friburgo, RJ: Edições Co-Redentora, 2002, p. 70).
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Papa :
Imperador
1230 Monte Igreja : Estado, Estudo
Casino Internos, com
- Judeus e
- Muçulmanos
1239 Nápoles Estudo de
Aristóteles
1244/45 - familiar Prisão Pequenos opúsculos filosóficos
Aquino
1246 Paris - universitário Estudo
1248 Colonia - universitário Ordenação sac.
1251
1252-59 Paris - clero secular- 52:Bacharel bíbl.
De ente et essentia;
religioso 54: Bacharel De principiis naturae
sentenciario 54-56: Commentário às Sentenças de
56: Licentia Pedro Lombardo
docendi 56-59: In Isaiam;
57: grau: Mestre In Matthaeum;
In Boetii Trinitate,
Ad Hebreos
56 Contra impugnantes Dei cultum et
religionem
56-59 De Veritate
1259 Itália - eclesiástico Para Capítulos 59: Summa contra Gentiles, lib, 1
gerais da Ordem 59-65 In S.Paulo (de 1 Cor 11 até o
fim)
60-66 De regimine principum
1261-64 Orvieto - ecumênico Teólogo papal 61-64: Summa contra Gentiles, II-IV;
(Urbano IV) Catena aurea: 61-64 Mt; 65 Mc; 66 Lc;
67 João6
63: Contra errores Graecorum
64: Piae preces;
Officium de festo Corporis Christi.
1265 Roma Formação de 65-66: In Dionysium De Div.Nom.;
estudos p/Ordem 66: In Arist. De Anima;
Summa theologiae, pars I;
67: Summa theologiae, I-II;
De spiritualibus creaturis
67-69: In Ieremiam;
1267 Viterbo Por Clemente IV 68-72: Summa theologiae, II-II;
De Malo;
De virtutibus cardinalibus;
De spe;
De Caritate;
De substantiis separatis.
In Aristotelis Metaphysicorum;
69-72: In Ar. Meteorologicorum;

6 I.T.Eschmann afirma que Catena aurea “marca um ponto de volta no desenvolvimento da teologia do Aquinato” (A
Catalogue of St. Thomas’ Works: Bibliographical Notes” in E. Gilson. The Christian Philosophy of St. Thomas
Aquinas. New York: 1956, p. 381-430, 397); Torrell é também desta opinião (cf. p. 139).
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Perihermeneias;
I+II Post.Analyticorum;
In decem libros Ethicorum;
In librum de Causis;
In Iob;
In Ioannem.
1269 Paris Sac.secular-relig. Ensino 70: Compendium Theologiae
Ortodoxia: Polémicas com De Unitate Intellectus;
-aristot-neoplató. - João Peckham De aeternitate mundi
-aristotelismo - Siger de Brab. Quodlibetales I-IV e XII.
musulmano/crist
ão
1272 Nápoles Ensino 72: Summa theologiae, III;
In Aristotelis, De Coelo;
In Aristotelis Politicorum;
In A., Generatione et corruptione;
In Psalmos;
In epistolas S.Pauli (Rom - 1Cor 10)
6-12-1273 Parou a escrever

7-03-1274 (Gregório X) Chamada ao Ficaram incompletos:


Fossanova Concílio de Lião Summa theologiae;
– morte Compendium theologiae

+ + + +

1317 (João XXII) Doctor comunis


18-07-1323 (João XXII) Canonização
11-04-1567 (Pio V) Declarado
”Doctor
- da Igreja” e
- angelicus” e
- universalis”
04-08-1879 (Leão XIII) „Aeterni Patris“
04-08-1880 (Leão XIII) Patroeiro dos
estudos
eclesiásticos
29-06-1923 (Pio XI) “Doctor Concluiu dizendo: “Ite ad Thomam!”
eucharisticus”
1980 (S. João Paulo “Doctor
II) humanitatis”
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2. A Santidade de Santo Tomás


a) Suas virtudes e graças:
Tocco, aluno de S.Tomás, na biografia de 1320, fala das diversas virtudes de S.T. (BB 30ss.).
Santo Tomás era silencioso, zeloso no estudo e na oração, tinha boa memória, Tocco 12;
ditou no sono, T17,
entende pela graça tudo que lê, T17 e 39;
tinha o dom das lágrimas na oração, humildade no ensino, T23-267;
era obediente ao irmão, T25;
sua pureza T27-28,
celebrou Santa Missa diáriamente e atendeu outra, T29;
oração e contemplação T29-34;
chorou sobre a culpa dos outros como fosse sua, T36;
não importa o exterior ou as pessoas, desprezou os bens materiais e honras, T42-3;
leu a alma do Irmão na Missa, T46,
tinha visão das almas do purgatório, T44-45;
êxtasis no escrever, T46-47, V 20;
carregou consigo relíquia de S. Inês, T50 e livro de João Cassiano;
deu as sermões de Quaresma, fez curas e outros milagres, T53-56, V 21.8

b) Visão psicológica

Data Acontecimento Significado


psicologico
Chamado Profecia antes do parto / família = (= corre-
sponde)
/ plantado ao semente
De 5 a 14 Com os beneditinos perguntando: “Quem é Deus?” = Crescimento
anos estreito ou prote-
/ Igreja gido (como uma
planta na estufa)
De 14 a 19 Encontro do mundo – filosoficamente com o realismo =
anos artistotélico, que é a melhor resposta que podia receber ao Confrontação
seu zelo juvenil e à sua sinceridade (autenticidade) de com o mundo
adolescente / mundo como provação
Com 20 anos Prova e teste duro / posição pessoal =
da perseverança ou fidelidade e amor perdoador; Confrontação
da castidade que levou à pureza angelical e à liberdade com o mundo
das tentações de impureza; como provação
da sacralidade da verdade → ensinará que toda a
verdade vem do Espírito Santo.
Da 21 a 34 Silêncio contemplativo - primeiro na prisão familiar, = à formação
anos - E paz - nos estudos de Paris e Colónia, da flor
- cresce e como docente de novo em Paris;
De 34 a 49 Vive os conselhos evangélicos, = ao fruto:
anos - a humildade e pobreza viajando tudo à pé (ele pensa: no enterro,
quem usa um cavalo mereceria um castigo sensível); Frei Reginaldo
- floresce não tem nem papel para escrever a Suma contra os falou sobre a

7 Para isso precisa a revelação, porque “a verdade sobre Deus pesquisada pela razão humana chegaria apenas a um
pequeno número, depois de muito tempo e cheio de erros” (STh, p. I, q. 1, a.1).
8 Cf. também a notícia de São Pedro-Julião Eymard, em: Theologisches. Jg. 37, n. 5-6, p. 235-238.
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Gentios; pureza e
- a obediência ele deixa-se mandar no lugar de outro, humildade de
quase cada dois anos; Santo Tomás
sempre recomeçando outro trabalho; – e não
obedece até em acompanhar um irmão à sobre a sua
cidade. inteligência e
- a devoção saudade do tabernáculo; sabedoria !
zelo no oração no coro;
celebração diária da santa Missa e
participação em 1 ou 2 outras cada dia;
oração pessoal (confessou que aprendeu
mais de joelho diante do Crucifixo
de que dos livros!
- sentido sobrenatural pensa que uma velha analfabeta é
mais sábia que um filósofo pagão.
- caridade na verdade: não aceita respeito humano:
não pergunte quem fala, mas o que disse;
respeita a liberdade até diante da questão
batizar ou não (cf. Sth p. II-II, q.10, a.12).

Sobre o fim da Vida de Santo Tomás, Tocco no capítulo 60, conta uma visão de um frade, “Irmão
Paulo de Áquila, um homem muito bom e de boa fama”. Ele teve uma visão de Santo Tomás numa
aula com muitos alunos. Nessa viu entrar São Paulo, associado com outros Santos. Santo Tomás
queria descer da cátedra para ir ao seu encontro. Porém, o Apóstolo indicou a ele de continuar a
aula iniciada. Mas o Mestre pediu ao Apóstolo de lhe dizer se sua compreensão de suas cartas
corresponde à verdade. Aí este respondeu: “Ela é tão boa como um homem nesta vida – vivendo
no corpo – pode ter; mas eu quero, que venhas comigo e eu te conduzirei ao lugar onde terás um
entendimento ainda mais claro de tudo.” Parecia que pegou ele no manto e o conduziu fora da
escola. Sobre isto, o Frade começou lamentar-se muito”, e os irmãos que estavam com ele lhe
perguntaram o que viu na visão. Ele lhes contou segundo a ordem visto. Dias mais tarde, chegou
um mensageiro a este convento e contou o falecimento de Santo Tomás. E os irmãos observaram
que era a hora na qual São Paulo convidou Tomás – nessa visão – de ir à Glória.”9

A liturgia da Palavra A Consagração (Cruz) e Comunhão (Eucarística).

S. Tomás passou esta vida


em 4 lugares:
No púlpito e na cátedra, na cela e no coro, diante do sacrário,
ao altar,

com fé, esperança e caridade.

Leitura Pratica as virtudes Jesus confirmou a ele:


– Monte Cassino: Pobreza: Bem escreveste sobre
Lectio Divina, nem monta um burro; Mim.
Estudos Teve falta de papel p/ Visitou frequentemente o
- Nápoles: escrever a ScG; Senhor no Ss.
Estudo de Aristóteles Pureza: Cinto da castidade Sacramento;

9 Fontes sobre a vida são particularmente (veja nota 23 e a Bibliografia): Tocco, Pio XI (Studiorum ducem), e “Vida
de Santo Tomás de Aquino” (www.geocities.com/tomistas/life.htm?20069).
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- Roccasecca: dos Anjos; Celebrou a Santa Missa


Sacrada Escritura, na morte tão puro como diáriamente e
Sentenças de Pedro no nascimento (T28) assistiu ou serviu
Lombardo, Aristóteles Obediência: uma segunda;
- Paris e Colónia: Acompanha um irmão Compôs músicas e hinos
Alberto Magno, a cidade; em honra do Senhor
Neo-Platonismo (de “A vida consagrada se Eucaristico e toda a
Dionísio Areopagita) realiza na liturgia da Festa do
obediência”. Corpus Christi.
Viveu Oração e vigílias noturnas
- Aberto para todos pelo com penitência;
silêncio Não queria exceções;
- Sempre recolhido (mesmo Fiel na vida comunitária e
na companhia de no coro;
pessoas, seja Rei ou Renuncia o amor à família
Cardeal, 43) por amor a Deus e
- reza para receber a luz do a Igreja;
entendimento (31) Chorou sobre o pecado dos
- humildade: sempre se outros como fossem
apoiava às autoridades os próprios;
ou à razão, não à uniu a sua vida com a sua
experiências pessoais; doutrina.
- é servo da Palavra
ensinando,
pregando,
aconselhando.
“Contemplata aliis tradere”
(STh. P. II-II, q. 188, a. 6):
unindo a vida contemplativa e
ativa na caridade.

No fim da sua vida repetiu freqüentemente (como fosse a resposta à pergunta de sua infância):
“DEUS se tornou homem para nós. DEUS morreu por nós!”
“O Filho unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa natu-
reza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses.” (S.Tomás. Em: CIgC 460)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 12

2º Santo Tomás como mestre para todos os tempos

Seu ambiente cultural:


Apesar de ser membro da recem fundada ordem de mendigantes – de medigos,
Ele teve contato com todos as autoridades do seu tempo:
Almoçou com o Rei da França – e foi consultado pelo Rei de Cipre e escrveu para ele sobre a
política;
Cresceu na Ordem Beneditina – atniga e foi membro do movimento de reforma da Igreja;
Foi chamada a universidade para levar luz às tensões entre o mundo e a Igreja,
Pelo Papa para ajudar no entendimento entre a Igreja ocidental e problemas da Igreja Oriental;
Mais que 20 obras, eleesceveu por pedido de alguém, logo em diálogo com problemas do seu
tempo.

Porcurou a VERDADE:

(16) Dito isto, é bom ter consciência daquilo que se aprende da pastoral: quando se trata de
pessoas, se trata mais da vida e menos de teorias ou posições abstratas, e na compreensão das
pessoas é importante ver sua “história” pessoal (cf. n. 4), começando com eles mesmos como
com seu temperamento e seus talentos que são como potências a serem ativadas; junta a esses o
seu histórico desde a infância em casa até o acolhimento ou a rejeição pelo público. Começa com
a educação por um pai presente, violento ou paciente e uma mãe amorosa, por irmãos e irmãs
como coeducadores constantes, o ensino recebido individualmente (como nos tempos anteriores
era muito frequente) ou na comunidade de uma escola, tendo guias com sua visão particular e
pessoal de vida e do mundo, encontrando este ou outro livro que marca, conhecendo correntes
filosóficas e religiões com suas práticas.
Além disso, deve-se perguntar por acontecimentos durante a vida que tinham um impacto grave
e, consequentemente, influenciaram os pensamentos.10

Aqui vale observar que a maior contribuição na busca da verdade veio e virá também no futuro
por parte de homens das Congregações religiosas. E as razões são várias:
- Devido a sua formação pessoal cultural e religiosa;
- seus defeitos humanos são em grande parte eliminados;
- interesses pessoais, mais motivados pela curiosidades do que pela procura da verdade, também
são excluídos, em grande parte devido a renúncia de qualquer ambição pessoal;
- eles são livres, não precisam ganhar seu pão com teorias extravagantes e publicar livros novos
com ideias arriscadas por motivo financeiro.
- E por fim, eles partem de um depósito já iluminado pela verdade revelada.11

10
Seja lembrado um filme que apresenta um professor de filosofia que exige no início do seu curso que todos os
alunos escrevam numa folha: “Deus não existe”. Como, apenas, um hesitou e chegou a confrontação, se
desenvolveu primeiro uma reflexão objetiva ou teórica, mas no fim se chega a ver que o professor exigiu isto apenas
porque não conseguiu acreditar, ou melhor aceitar, que se existe Deus, como ele podia perder a sua mãe quando
tinha apenas 12 anos.
11 A consideração da vida dos filósofos permite dizer:
D. Um filósofo é um homem, e
E. No homem se distingue sua natureza ou essência (imutável e substancial), isto é, de ter alma e corpo,
e o que lhe é acidental (e variável) como a altura, o peso, a cor, conhecimento ...
e, toda a formação pertence ao acidental (pode adoecer, saber mais ou menos, ...)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 13

A seriedade se manifestA NOS CONSELHOS QUE DEU AO UM Irmão religioso de sua


ordem:

Carta de S. Tomás ao Irmão João, sobre a maneira de estudar.


"Porque me perguntaste, em Cristo caríssimo Irmão João, como deverias estudar, para adquirir o
tesouro da ciência, te seja dado por mim este conselho:

1. Que preferes entrar através dos riachos, e não imediatamente no mar, porque se deve ir através
do mais fácil até o mais difícil.
2. Isto é a minha admonição e tua instrução. Te digo: Seja lento no falar e tardio em ir ao parlatório.
3. Cuide de ter a pureza de consciência.
4. Não cesses de rezar.
5. Ama tua cela se queres ser introduzido na adega da sabedoria.
6. Mostra-te amável para com todos.
7. Não te preocupes com a vida dos outros.
8. Não te comportes com ninguém confidencialmente demais, porque confidencialidade exagerada
produz desprezo e também é uma causa do desvio do estudo.
9. Não te intrometas no falar e agir dos homens do mundo.
10. Fuja de discussões sobre todas as coisas.
11. Não deixes de imitar os exemplos dos santos e de homens justos.
12. Não olhes a pessoa que fala, mas a todo o bem que te foi dito, e retenha na memória.
13. Procura entender o que lês e ouves.
14. Sobre dúvidas, procura certeza.
15. Tudo que pode guardar no cofre da mente, coloque, como quererias encher um vaso.
16. Não procures o que é alto demais para ti.
Se seguires este exemplo, reflorescerás e darás frutos úteis na vinha do Senhor Deus".

F. Logo, um filósofo é humano, cresce, ser mais ou menos inteligente, pode errar ... (o que é diminuído num
monge ou religioso pelos motivos indicados ou, porque “morreu” a muitas dimensões variáveis da vida
humana.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 14

Vendo a Obra de Deus como harmonioso e, assim, perfeito, é facil entender que todas as criaturas,
também Anjos e homens, “apenas” participam, ou forma uma parte desse universe maravilhoso do
Divino Criador. Consequentemente, a prudência, ou a sabedoria mais alta possivel nos diz:
Observa Deus, olha a Sua obra, tenta de entender o que Ele fez … assim conseguirás de participar
na Sabedoria Daquele que sabe TUDO e FEZ tudo Segundo as suas ideas, e essas ideas são as
originais. Não há nada mais sábio de que humildemente ecomo Maria Santíssima escutar e olhar,
ler e tentar entender o que Deus nos disse na sua obra, a criação. Isso vale para a Filosofia como,
e ainda mais, para a Teologia. Assim entendemos:
Para estudar bem, a filosofia ou seja a criação toda criada por Deus ou a Teologia como ciência de
verdades reveladas por Deus, que é o mais importante? É a attitude Mariana ou a abertura e
docilidade, a recpetividade (para o estudo fundamental, ou n sala ou pela leitura pessoal) vale dizer

1 Acolher a matéria oferecida tomando notas. Fixa-se o essencial - e para poder distinguir isto,
o professor deve apresentar a matéria em forma pedagógica e clara e o aluno deve ter certa
formação intelectual.
Em quase todas as disciplinas teológicas se transmite a fé revelada, que o homem quer acolher
com gratidão e humildade intelectual, com a atitude mariana que a Igreja se faz sua (cf. II.
Vaticano, Dei Verbum). Além deste motivo principal condicionado pela própria natureza da
teologia, cabe ao aluno a atitude acolhedora, porque
- seu mister como aluno é aprender;
- não pode já saber o que vai precisar na sua vida futura;
- sendo incapaz de especializar-se em cada uma das disciplinas, o aluno deve aproveitar dos
estudos especiais do professor;
- não se trata na Teologia de teses ou ideologias a serem discutidas, mas sim daquela doutrina da
S. Igreja, para cujo pregador e ministro o aluno quer ser formado;
- o professor ensina pela missão e confiança recebida pela autoridade eclesiástica. A base comum
no estudo teológico, como em todos os niveis da formação sacerdotal deve ser a consciência de
formar o exército de Cristo “para combaterem ospacíficos mas duros combates da verdade contra
o erro, da luz contra as trevas, do Reino de Deus contro o reino de Satanás” (Pio XI, Sobre o
Sacerdócio Católico,1935, 81)!

2 Pela revisão das aulas vale o mesmo como é dito em cima para qualquer disciplina.

3 Se depois de todo este esforço o aluno não adquire clareza nem paz e até alegria sobre a verdade
do assunto, poderia haver três causas:
a) O aluno simplesmente não compreende a verdade e talvez não se aproxima suficientemente da
matéria com oração e fé, (a filosofia se deve compreender meditando, a teologia adorando!).
b) O professor está errado com aquilo que ensinou; para chegar a esta conclusão deve-se verificar
isto antes com o julgamento de outros e a repetição de tais desarmonias com o ensino oficial da
Igreja em outros pontos.
c) O aluno não há vocação (por falta de penetração e alegria) para tornar-se membro deste
exército de estudo.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 15
Psicologia e vida espiritual - 2022, 16

Como sacerdote e religioso


Queria primeiro servir a Igreja, - melhor ao MAGISTÉRIO.

1º Por isso dedicou-se primeiro a Exegese, a compreensão e interpretação da Sagrada Escritura

2º Mas para isso, refletiu, raciocinou, combinou um trecho com outro etc.
Logo praticou TEO-LOGIA

3º Porém, para ser um bom teólogo,


Ou seja, para pensar bem e falar coretamente, precisava entender
O conhecimento do homem e sua comunicação – para isso lhe serviu o ORGANON de
Aristóteles, cinco livros sobre a reta maneira de pensar e se comunicar.
Isto lhe fez FILÓSOFO.

Santo Tomás como filósofo e teólogo

Na introdução à 2ª questão da 1ª parte, no prólogo, Santo Tomás descreve o plano de sua obra
partindo do todo e sempre mais especificando – um exemplo do seu método claro no tratar
qualquer assunto!
O objetivo principal da doutrina sagrada está em transmitir o conhecimento de Deus não
penas quanto ao que ele é em si mesmo, mas também enquanto é o princípio e o fim das
coisas, especialmente da criatura racional, conforme ficou demonstrado.

[Refere às III partes de toda a obra:] No intento de expor esta doutrina, havemos de tratar:
Parte I: de Deus;
p. II: do movimento da criatura racional para Deus;
p. III: do Cristo, que, enquanto homem, é para nós o caminho que leva a Deus.

[Referendo à I parte apenas:]


A parte I, consideração de Deus, abrange três seções:
1. O que se refere à própria essência divina;
2. O que se refere à distinção das Pessoas;
3. O que se refere às criaturas enquanto procedem de Deus.
[Da primeira questão dessa parte divide de novo em três = I,1:]
Quanto à essência divina, indagaremos:
a) Deus existe?;
b) Como é Ele ou, antes, como não é?;
c) Como age, isto é, sua ciência, sua vontade e seu poder.
[De novo divide em três perguntas a respeito da primeira questão, três são as perguntas
I, 1. a):
a.1. A existência de Deus é evidente por si mesma?
a.2. Pode-se demonstrá-la?
a.3. Será que Deus existe?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 17

Como Exegeta

a) Temos dele as seguintes Obras exegeticas, os Comentários de livros do


AT: Isaias (1257/58),
Jeremias (1267/68; incompleto),
Salmos (só em 1-54; 1272/73);
Jó (1265/66; comentou este livro segundo o sentido literal, tendo S. Gregório
Mg. comentado-o espiritualmente.12
NT: São Mateus (1256-59 e 1269-72);13
São João (seria o melhor comentário até hoje!);14
São Paulo (1259-65)15; e a
Catena Aurea
= coleção de comentários dos Padres da Igreja,
de 57 gregos e 22 latinos,
sobre os 4 evangelhos16 – “uma mina para os exegetas, teólogos e pregadores”
(Spicq).
Publicado em português pela Ed. Ecclesiae, 4 volumes, juntos 2.451 páginas !!

b) Sobre a sinceridade e qualidade deste trabalho,


cf. Tocco, cáp. 31 (sobre In Isaias) e cáp. 60 (sobre In S. Paulo);
Pio XI, Studiorum ducem, II, 5 (1938).

c) Sua relação pessoal à Sagrada Escritura torna-se clara nas suas duas aulas inaugurativas:
1252: De Commendatione et Partitione Sacrae Scripturae.17

A frase condutor é (pedido na oração!):


”Ela é o livro dos mandamentos divinos e a Lei que subsiste para todo o sempre. Todos
aqueles que a seguem adquirirão a vida.” (Baruc 4,1)

1 - A Sagrada Escritura é recomendada por três motivos,


- sua autoridade pela origem, natureza e plenitude de saber, pela necessidade para a

12 Tradução inglêsa: The Literal Exposition on Job: A Scriptural Commentary Concerning Providence. Antlanta,
Georgia: Scholar Press, 1989.
13 Em 2011 foi publicado a versão inglês desse comentário com 1026 páginas, só do texto inglês, não bilingue.
14 A tradução do Comentário ao evangelho de São João, com 1044 páginas. O grande conhecedor de Santo Tomás,
Josef Pieper, traduziu e publicou apenas o comentário de Santo Tomás sobre o Prólogo no evangelho de São João,
como um próprio livro de 137 páginas: THOMAS VON AQUIN. Das Wort. (cf. nota 28. Na “nota introdutória” Pieper
conta que seu Professor indicou a ele os escritos de Santo Tomás como “nutritivo como pão. É era estranho,” assim
conta o grande interprete de Santo Tomás, “que o Comentário a São João era a primeira obra de Santo Tomás que caiu
na minha mão, ... desde aquele tempo não perdi de vista este homem e sua obra” (ibid., p. 8s.).
15 “São Tomás de Aquino deixou-nos um bonito comentário às ‘cartas paulinas’, que representa o fruto mais maduro
da exegese medieval” (Bento XVI, 4 de fevereiro de 2009).
16 S. THOMAE AQUINATIS. Catena aurea in Quatuor Evangelia. Taurini-Romae: Ed. Marietti, 1953; trad. em
português: Catena Aurea: Exposição contínua sobre os Evangelhos. Campinas: Ecclesiae, 2016ss. Cf. Grabmann,
Santo Tomás de Aquino, especialmente p. 42.
17 Cf. em baixo, 91-97; T. KIENINGER; P. SEEANNER. A Aula inaugural de Santo Tomás como baccalaureus
bíblicus. (latim e português) Em: Sapientia Crucis, 12 (2011), 5-53, p. 33-49: “De commendatione et partitione Sacrae
Scripturae – Sobre a Recomendação e Divisão da Sagrada Escritura”. O texto em latim é de Opuscula Theologica I,
ed. Marietti, Turino, 1954, 435-439; cf. ibid. p. 5-31: para Santo Tomás e a Sagrada Escritura; cf. TOCCO, cap. 16.
As exposições de Santo Tomás sobre os livros bíblicos são unidas no volume VI de Opera Omnia do Index
Thomisticus (sob o cuidado de R. Busa SJ). Stuttgart: Frommann-holzboog, 1980.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 18

salvação e pela unidade de doutrina;


- sua verdade eterna devido ao poder do legislador, de sua imutabilidade e da
verdade da lei;
- sua utilidade porque leva a triplice vida, a da graça, da justiça e da glória.

2 - Segue na segunda parte uma divisão da Sagrada Escritura nos livros do At e NT; especialmente
interessante são as caracteristicas que dá aos livros dos grandes profetas (ed. Marietti [= Ma] 1206)
e os livros atribuidos às virtudes cardeais (Ma 1207.b) e a divisão e característica de todos os livros
do NT.

1256: De Commendatione Sacrae Scripturae: 1256 (em: Opuscula Theologica I, 441-443).


A frase condutor dessa é:
”Do alto de Vossas moradas derramais a chuva nas montanhas, Do fruto de Vossas obras
se farta a terra” (Ps 103,13).
S.Tomás parte do princípio: Deus comunica os seus bens aos inferiores por médios. Aplicado a
Palavra de Deus se chega a quatro pontos:
- A altitude da doutrina: por sua origem, sublime verdade e seu fim, a vida eterna;
- A dignidade dos doutores: devido a contemplação, o esplendor e a defesa
- As condições dos ouvintes são: humildade, intenção reta e disciplina;
- A geração: segundo a ordem na communicação, a quantidade e a qualidade.
Tudo isto exige ministros inocentes, inteligentes, fervorosos e obedientes!
Psicologia e vida espiritual - 2022, 19

Exemplos: Como podemos teologar sobre


- a graça, se não conhecemos primeiro a natureza do homem?
- a culpabilidade no agir do homem se não conhecemos a psicologia do homem?
- as virtudes infusas se não conhecemos primeiro as virtudes naturais?
- os sacramentos sem o hilemorfismo?
- a inspiração (probl. Agostiniano e outros) sem clara teoria do conhecimento ?
- a comuhão sem antes esclarecer a individualidade do homem? Etc.

Santo Tomás como qualquer cristão


acredita e vive na presença de DEUS – que
é sempre presente - em todos os lugares de modo que nada escapa de Sua atenção.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 20

Papa Bento XV. (1914-1922) se dirigiu já no seu primeiro ano de pontificado à Academia tomista.
Em 1917 publicou o Código do Direito Canônico em que se prescreveu no Canon 1366 § 2: “Os
mestres devem observar santamente o método, as doutrinas e os princípios do Doutor
Angélico.”

Desorientação dentro da Igreja chama para “Voltar à escolástica!”18 O novo impulso de Leão XIII
com o apoio dos seus sucessores tinha um grande sucesso. Levou o tesouro dos escritos e a genial
sabedoria do Santo Doutor de novo à luz da Igreja e da humanidade. Esta iniciativa levou ao
movimento filosófico que é conhecido hoje pelo nome de “Neotomismo”.
Nele deve-se distinguir três fases:
1º A volta dos manuais escolásticos aos textos originais de Santo Tomás.19
2º A elaboração dos princípios de Santo Tomás (um passo seriam as 24 teses tomistas) e
3º A discussão sobre os problemas atuais a serem resolvidos (por ex. a Clonagem de seres
humanos; para isso servem os grandes Congressos Tomistas).
São representantes principalmente de filosofia devido ao fato que a teologia
a) como ciência - precisa do instrumentário filosófico que consiste nos elogiados momentos
– de método (sistemático)
– princípios (verdades fundamentais, das quais se pode conhecer outras) e
– doutrina (verdades fixas) e
b) enquanto disciplina ensinada - precisa estes somente na justificação e explicação racional que
vem depois dos argumentos escriturísticos, da tradição e do magistério.

Fulton Sheen escreveu 1925: “Santo Tomás nunca foi mais atual do que hoje, ... só acidentalmente
pertence ao século XIII.” (Deus e a Inteligência, p. 14)

J. Maritain (1882-1973) desistiu do suicídio quando encontrou os escritos de Santo Tomás.


Escreveu um livro, Le Docteur Angélique, 1930 em que disse (p. IX): “Vae mihi, si non
thomistizavero”.

Etienne Gilson (1884-1978) é hoje conhecido como um dos grandes filósofos tomistas, apesar –
ou será porque ? Escreve:
“O único filósofo que me fez entender claramente todas as implicações metafísicas deste
problema [da existência de Deus] foi São Tomás de Aquino. Prezo tanto a minha liberdade
intelectual como qualquer outra pessoa, mas quero ser livre para concordar com alguém quando
considero que o que diz é correto. São Tomás de Aquino nunca pensou em nada semelhante a
uma ‘verdade tomista’. Estas palavras nem sequer fazem sentido. Considerando diversas
respostas ao problema de Deus e avaliando a sua capacidade relativa de corresponder a todos os
requisitos, cheguei à conclusão de que a melhor resposta foi dada pelo homem que, por ter sido o
primeiro a compreender as implicações mais profundas deste problema, também foi o primeiro a
curvar-se livremente à necessidade metafísica da sua solução única.

18 De 1800 – 1920 se conta 2219 publicações; 1920-1940: mais 4.764; hoje mais que 15.000 publicações!
Bochenski diz (em: A filosofia contemporânea ocidental, 1975, p. 218-227): O tomismo é um dos movimentos mais
importantes da atualidade: Bulletin Thomiste (Bibliografia com ca. 500 títulos por ano); 25 revistas de tomismo
científico no mundo; muitos Congressos, já em 1932 ss., fundação da Academia tomista no Vaticano; cf. Sapientia
Crucis VII (2006), p. 251-253.
19 A edição crítica chamada “Edição Leonina” segundo o Papa que a exigiu, uma tarefa ainda muito longe de ser
completada, deve tornar-se o instrumento para isto.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 21

3º Por que e como começar a estudar S. Tomás

Como Ler

A Suma teológica

A Suma de Teologia de Santo Tomás de 1266 até 1273 quando parou de escrever, de modo que
ficou incompleto. Santo Tomás descreveu sua intenção logo no início assim:

PRÓLOGO
O doutor da verdade católica deve não apenas ensinar aos que estão mais adiantados, mas também
instruir os principiantes, segundo o que diz o Apóstolo: "Como a criancinhas em Cristo, é leite o
que vos dei a beber, e não ali mento sólido". Por esta razão nos propusemos nesta obra expor o que
se refere à religião cristã do modo mais apropriado à formação dos iniciantes.
Observamos que os noviços nesta doutrina encontram grande dificuldade nos escritos de diferentes
autores, seja pelo acúmulo de questões, artigos e argumentos inúteis; seja porque aquilo que lhes é
necessário saber não é exposto segundo a ordem da própria disciplina, mas segundo o que vai sendo
pedido pela explicação dos livros ou pelas disputas ocasionais; seja ainda pela repetição frequente
dos mesmos temas, o que gera no espírito dos ouvintes cansaço e confusão.
No empenho de evitar esses e outros inconvenientes, tentaremos, confiando no auxílio divino,
apresentar a doutrina sagrada sucinta e claramente, conforme a matéria o permitir

Conseguido realizar seu plano faz entender que essa obra “permanece, mesmo em nossa época,
por seu conteúdo e seu método a melhor exposição sistemática de toda a teologia especulativa,
dogma e moral” (M. Grabmann, Introdução, pág. 115).

É “o manual clássico por excelência” (M. Scheeben, 1835-1888),


“neque aliud superest, nisi lumen gloriae, post Summam Thomae” (Pedro Labbe).
Até o ano 1924 foram escritos 662 comentários.

Sua tríplice divisão

1) Sua tríplice divisão é já mencionado nos documentos da universidade de Paris nos anos 1275-
1286, a Suma naturalis (Iª), moralis (IIª) e sacramentalis (IIIª).
Se recebe uma visão de tudo pela leitura dos prólogos para as diversas partes.

2) Há uma subdivisão em 38 tratados; 512 questões (sem contar o Supplementum) e 2669 artigos.
A referência se faz assim: Parte Iª, questão 34, artigo 5
Psicologia e vida espiritual - 2022, 22

Conteúdo bem resumido:

Ia Parte: DEUS: 1. Em si e como trindade


2. Criador de três tipos de criaturas:
Espíritos puros ou anjos,
Mundo material (Cosmologia),
Homem (Antropl./Psicologia filosófica)
3. Conservador e Governador com o relacionamento entre as três criaturas

IIa Parte: O Homem – dividido em duas partes

O ambiente e os meios do agir humano O agir do homem segundo a vontade de


Ou: Deus (virtudes):
A antropologia psicológica geral A Moral cristã fundamental
Querer: O desejo natural (fim último), I. Virtudes
a vontade espiritual (vontade e liberdade) - Teologais: Fé, Esperança, Caridade
a vontade sensitiva (as paixões: q. 22-48) - Cardeais: Prudência, Justiça, Fortaleza,
Agir: - disposições positivas: Temperança
Hábitos, virtudes, dons do Espírito S. II. Vocações especiais:
- disposições negativas: Dons particulares
Vícios, pecados Vida contemplativa – ativa
Ajudas: Lei e Graça Estados de vida

IIIª Parte: O SALVADOR 1. JESUS CRISTO


a) Mistério da encarnação
b) Vida, morte e Ressurreição
2. Os sacramentos
(3. Supplementum )
Psicologia e vida espiritual - 2022, 23

4º O método do artigo da Suma Teológica

Cada artigo é estruturado sempre na mesma forma que oferece “espaço” para uma ampla
discussão das opiniões ou posições sobre o assunto. Pode-se olhar a ela em duas maneiras:20

1. Objeções (na maioria das vezes são 3) 1. Opiniões a) contrárias à solução de S.T.
b) em favor da solução de S.T.
2. - Sed contra (opinião positiva ou seg. a
posição de Tomás) 2. - Solução de Santo Tomás – ou:
- Solução de Santo Tomás – ou: corpo do artigo
corpo do artigo 3. Respostas às objeções
3. Respostas às objeções

A maneira de citar um artigo é esta: Segue parte, a questão, e depois o artigo:


abreviado: p. I, q. 34, a. 5.
Ainda há o costume (é livre) de indicar mais concretamente onde se encontra o texto citado dentro
do artigo: Neste caso vale o seguinte:
sed contra = s.c. (ou: sc) – para opinião positiva;
corpo do artigo = c.
objeção primeira = obj. 1
resposta à primeira objeção = ad 1um ou apenas: ad 1 .

4) Para uma leitura rápida desse imensa obra pode-se proceder dessa forma simples como nos
Catecismos:
1 - Se lê o título, por exemplo, da primeira parte da Suma, p. I, q. 2, art. 3, que é formulado em
forma de pergunta, da dúvida metódica: “Utrum ... sit? – Se Deus existe?”; na tradução de
Loyola: “Deus existe?”).
2 – A resposta breve é expressada na Opinião positiva ou favorável à resposta de Santo Tomás,
que em cada artigo sempre se inicia com as palavras “Sed contra - Mas, em contrário (seg. Corrêa)
ou “Em sentido contrário” (seg. Loyola); nesta artigo então seria assim:
Pergunta: “Se Deus existe?”
Resposta: “Mas, em contrário, diz a Escritura (Ex 3, 14), da pessoa de Deus: Eu sou quem
sou.”
Desta maneira, quando se sabe, em qual parte Santo Tomás trata do assunto desejado então pode-
se rapidamente informar dos artigos e da solução que Santo Tomás dá.

5) Para a leitura ordinária dos artigos da Suma


segue-se o título (= o problema), a solução principal, depois as respostas às objeções.
Um pouco mais detalhado recomendo estes passos:
1º Título: Utrum... = o pergunta inicial;
2º Sed contra = Opinião positiva;
3º Conclusão da resposta de S.Tomás: Unde ... Ergo ... Igitur = Por isso ...;
4º Estudar a resposta toda (o corpo do artigo);
5º 1ª opinião e resposta a ela (ad 1um);
2ª ... etc.

Uma outra observação é fundamental e ajuda demais:


Santo Tomás faz muito raciocínios. E estes consistem em três frases,
A – expõe um caso ou uma situação concreta.
B – depois menciona um princípio que escolheu para aplicar ao caso;

20 Cf. T. KIENINGER, O método no artigo da Suma teológica de S. Tomás, em: Sapientia Crucis V (2004) 229-267.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 24

C – em força do princípio (B), aplicando ao caso (A), tira a conclusão ou solução do problema
(C).
Então dá para ver, o que é muito valioso, não é tanto este ou outro problema, mas o principio
que vale para este caso, mas também ainda para muito mais casos. Aí está escondido a força,
sabedoria e riqueza de Santo Tomás.

Valorizando os princípios de Santo Tomás – devido do seu valor universal e sempre atual
seja dado alguns exemplos:
Seguem alguns exemplos de princípios filosóficos ou teológicos que Santo Tomás usa na
Summa Theologiae e Summa contra Gentiles

1. Principia philosophica

“Nullum corpus potest esse simul in pluribus locis - Nenhum corpo pode estar simultaneamente
em vários lugares.” (III,75, 1 obj. 3).
“Materia sine forma esse non potest - a matéria não pode existir sem a forma.” (III, 75, 3c).
“Propria operatio rei sequitur formam substantialem eius - A operação própria de um ser resulta
da sua forma substancial.” (III,75,6 obj 3).
„Natura dat formam substantialem,…sed omnes formae artificiales sunt accidentales“ (III,66,4).
“Finis habetur in desiderio et intentione. - alcançamos o fim pelo desejo e pela intenção.” (III,
73,3c).
“Omne ens est propter finem - Todos os agentes agem necessariamente para um fim” (I-II, q. 1, a.
2c).
“Generans generat sibi simile in specie. - O gerador gera um ser semelhante em espécie” (III, 74, 3 ad
2um).

“Est naturale homini ut per sensibilia ad intelligibilia veniat; quia omnis nostra cognitio a sensu
initium habet – é natural ao homem chegar, pelos sensíveis, aos inteligíveis — pois todo o
nosso conhecimento começa pelos sentidos.” (STh, p. I, q. 1, a. 9c).

“Per accidentia iudicamus de substantia - pelos acidentes julgamos da substância” ((III, 75,5 obj
2).

“Intellectus autem, cuius est proprium objectum substantia (ut dicitur III De Anima c.6,n.7), per
fidem a deceptione praeservatur - o intelecto, cujo objeto próprio é a substância, como diz
Aristóteles, é preservado do engano pela fé.” (III, 75,5 ad 2um).
“Impossibile est multiplicatio genere, non multiplicari speciem. – É impossível multiplicar-se o
gênero, sem multiplicar-se a espécie;” (III, 73, 2 obj 2).
“Omne agens agit in quantum est actu - todo agente age enquanto atual” (III, 75,4c).
“Sapientis enim est non curare de nominibus - não é com questões de palavras que se deve ocupar”
(In II Sent 3, 1, 1 resp.)

2. Principia theologica
Psicologia e vida espiritual - 2022, 25

“Bonum gratiae unius maius est quam bonum naturae totius universi - O bem da graça é, para
o indivíduo, melhor que o da natureza, para todo o universo“ (I-II, 113,9 ad 2um).

“Vita spiritualis vitae corporali conformatur. - a vida espiritual se conforma com a corporal, porque
com as causas corpóreas têm semelhanças as espirituais” (III, 73,1c).

“Gratia non tollit naturam, sed perficiat - a graça não tolhe, mas aperfeiçoa a natureza” (I, 1, 8 ad
2um).

“A maioria dos homens, não podendo alcançar os prazeres espirituais, que são próprios dos
virtuosos, resulta que
se voltem para os prazeres do corpo.” (Santo Tomás de Aq., Suma Teológica, I-II, 31, 5 ad1)

“O bem da graça é, para o indivíduo, melhor que o bem da natureza de todo o universo.” (S.
Tomás, Suma Teológica, I-II, 113, a. 9, ad 2) ou segundo Santa Maria Rivier: “A graça de Deus
numa alma é um Tesouro imensamente maior do que todas as riquezas do universo.” (L.-A.
LASSUS, Chama de Fogo, 47)

Estes princípios tem valor perene, são sempre válidos.


Por este motivo Santo Tomás foi chamado por Fulton SHEEN ser da Idade Média apenas
acidentalmente, quer dizer, substancialmente está a cima de tempo,

“só acidentalmente Santo Tomás pertence ao século XIII. Seu pensamento, como a tabuada de
multiplicar, não se limita a esse período da história humana; a verdade, embora sua expressão
verbal esteja situada no tempo e no espaço, é eterna” (Fulton SHEEN. Deus e a Inteligência na
Filosofia Moderna: Um Estudo Crítico à Luz da Filosofia de Santo Tomás. São Paulo: Molokai
Editora, 2021, p. 14)

Ou como também fala, ele é “ultra-moderno!” Sheen


Psicologia e vida espiritual - 2022, 26

5º Terminologia tomista (para saber ler seus textos, e a base do seu pensar)

Para entender Santo Tomás é importante distinguir dois momentos,


O crescimento do homem e a vida de adulto.
Faço esta distinção por que é um fenômeno muito atual: Muitas pessoas não crescem ao estado
de adulto! E para entender elas, é importante essa observação e distinção.

a) O crescimento do homem
Uma boa parte do que estuda a “psicologia” hoje é a atenção ao desenvolvimento porque deixa
as suas sequências ou sequelas.
- No seio da mãe só existe a criança, e isto continua ainda nos primeiros meses:
Tudo que é e dela (escuta o que vem de fora, mas não sabe ainda bem distinguir)

- Quando chora, pede o leite ou se sinta incômoda e quer ser limpada, acontece que não será
LOGO atendia. Aí aprende que eu e mamãe ou outros não somos idênticos;
então começa a conversa ou comunicação entre eu e tu: a mãe vem e provoca um sorriso como
resposta do nenê – conscientização psicológica – autoconsciência).

- Na base disto começa a aprendizagem: a formação de uma hierarquia, de um antes e depois,


De um primeiro e segundo – inclusive a aprendizagem de Deus. É a fase de formação ética!
(um pai conta que esqueceu fazer com a filha a oração da noite;
quando lembrou foi para o quarto dela, abrindo a porta, ela se escondeu
embaixo do lençol – ele acha, que ela estava já rezando sozinho e não quisesse
que ele soubesse.)
Esta se estende a escola e formação intelectual.

- Por fim, chega o tempo da opção própria, da escolha de valores e princípios com os quais
assume e forma sua vida!

b) Agora é o tempo do homem adulto, formado.


Que aontece? Como se realiza a vida? – Por favor, me permitem de levantar questões desse
gênero simples – por que – ao menos na teoria (e estamos aqui teoretizando, estudando – com
mais ou menos, para alguns totalmente abstraindo da realidade!)
Como vivemos? A nossa vida se realiza em 3 passos
No perceber - depois sobre o percebido pensar - e por fim (re-)produzir.
Na percepção acolhemos o que está fora de nos, o mundo e este entra em nós pelas 5 portas que
são os nossos 5 sentidos (por que 5?
Porque com estes cinco se explica tudo que encontramos fora de nós dentro de nós).
Acolhemos, fazemos nosso o que está lá fora – totalmente, tal qual – só menos seu ser, ou
na sua materialidade, existência real.

No pensar assimilamos, fazemos estas coisas nossas. Elas são em nós – igual como lá fora,
por isso, no nosso pensar se pode distinguir dois momentos:
– mesmo sendo em nós – é ainda sobre as coisas de fora!!!
- mas como elas tornaram-se nossas, nos podemos “pegá-las” e virar,
modificar, unir ou separar, criar novas combinações etc.
E isto leva ao terceiro momento, que chamamos:

Produzir (ou: re-produzir): isto acontece quando falamos ou escrevemos,


Psicologia e vida espiritual - 2022, 27

quando saimos de nos e


voltamos ao mundo objetivo de onde as primeiras coisas entraram.
Santo Tomás descreve isto – não obsrvando uma pessoa individual, mas a humanidade que
segue, parece, a mesma lógica:

Santo Tomás descreve num artigo de sua Suma de Teologia o caminho à profundidade,
Summa Theologiae, [= ST], parte I, questão 44, artigo 2 corpo21.

Ele descreve o processo do conhecimento que o homem faz e também historicamente se pode
observar:
partindo (1) do exterior e superficial, das “transmutações acidentais”
a (2) “causas mais universais”, e ao que é substancial e ainda submetido a “transmutações”,
até chegar (3) ao “ser enquanto ser” e a última “causa das coisas”, “a causa universal dos seres”.

Os antigos filósofos aos poucos, e como pé por pé, entraram no conhecimento da verdade.
(1) Assim, a princípio, como que, mais grosseiros de existência, não reputavam entes senão os corpos
sensíveis. E dentre eles, os que em tais corpos admitiam o movimento, consideravam-no a este
somente segundo certos acidentes, p. ex., segundo a raridade e a densidade, por congregação e
segregação. E supondo sem causa a substância mesma dos corpos, buscavam certas causas a tais
transmutações acidentais, como a amizade, a luta, a inteligência e coisas semelhantes.

(2) Outros filósofos, porém, mais em progresso, distinguiram, pelo intelecto, entre a forma
substancial, e a matéria sem causa; e perceberam transmutação nos corpos segundo formas essenciais.
Dessas transmutações admitiam certas causas mais universais como o círculo oblíquo, segundo
Aristóteles, ou as Idéias, segundo Platão. Deve-se, porém, considerar que a matéria é limitada pela
forma a uma determinada espécie; assim como a substância de uma espécie é limitada, por acidente
superveniente, a um determinado modo de ser; p. ex., homem é limitado por branco.
Uns e outros filósofos, portanto, consideraram o ser por certa consideração particular, seja enquanto
este ser, seja enquanto tal ser. E, por isso, atribuíram às coisas causas agentes particulares.

(3) Mas ulteriormente alguns se alçaram a considerar o ser enquanto ser e consideraram a causa das
coisas não só enquanto estas ou tais, mas enquanto entes.
Ora, a causa das coisas enquanto entes deve sê-lo
- não somente enquanto são tais coisas, pelas formas acidentais,
- nem somente enquanto são estas coisas, pelas formas substanciais;
- mas também segundo tudo o que lhes pertence ao ser de qualquer modo.
Assim que, é necessário também admitir a matéria prima como causada pela causa universal dos seres.

Depois de tal processo cognitivo se chega


Primeiro a ideias das cosias - que existem e que são tal qual conhecemos (caneta, cadeira...)
- essas ideias são quase como imagens dessas coisas – só sem aquelas partes que podem mudar -,
- essas ideias são distintas de outras, e para distingui-las entre si, que leva a formar conceitos, e
- a estes conceitos procuramos dar uma forma que permite de comunica-las a outros que dá
origem a nossas palavras.
E estas palavras constituem o vocabulário – ou de uma linguagem (como português, latim,
inglês) ou a términos técnicos, isto é, específicos para as diversas áreas.

21 Na ed. Loyola se lê este comentário ao artigo: “A resposta deste artigo apresenta uma história argumentada da
filosofia grega.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 28

Na Filosofia de Santo Tomás, seu vocabulário é bem limitado e muito exato. Uma vez
entendido ele e a que corresponde na realidade, é FACIL de entender Santo Tomás e seus
pensamentos. Por isso falta nos aqui ainda de dar umas palavras essenciais e seu significado
aqui.22

Começamos com o
SER (esse, em latim) – indica simplesmente o existir. Se refere ao fato que algo (qualquer coisa
– caneta, árvore, chão, ar, perna, madeira........, Deus ... ) existe,
o que nos expressamos pela palavra “é”.
É tão simples, mas importante, porque muitas filosofias, muitas mesmas, não começam com a
realidade, mas com os pensamentos – aqui o famoso ponto de partida de Descartes
com o seu “Cogito = penso em mim; - ergo sum = logo existo” – por isso mencionei
antes esse processo do desenvolvimento, porque
Cada criança começa observar si mesmo como 1º objeto, mas como objeto!!! E hoje, muitos não
querem aceitar o próximo, a realidade lá fora, e assim ficam nesse estado – se diz:
infantil e não crescem acima dele!!!!
Voltamos:
1 - O que observamos em cada coisa que existe são vários aspetos; tomamos a caneta:
Ela é algo – logo possui seu SER e é ESSE ser por uma determinação que faz ela caneta
e não sapato ou janela, e uma tal determinação (especificação) chama-se
ESSÊNCIA.
É importante constatar que não há nada = não existe nada, não há algo que seja somente ser,
mas também não há uma essência a não ser unido, isto realizada pelo ser, de modo que
TUDO QUE EXISTE é sempre composto por estes dois momentos: SER e
ESSÊNCIA.
E qualquer composto de Ser e Essência chamamos “ente” ou existe de fato e na realidade.

A essência é como necessária, eterna, imutável e universal;


O ser, por sua vez, faz que tal essência realmente exista aqui neste ente concreto, determinado
(pela essência), único e singular (pelo seu próprio ser)

Nos entes materiais s fala em vez de ser – matéria e em vez de essência se diz forma.
Um ente espiritual se chama pessoa, e por ser espiritual é ipso fato também livre.
2º Agora, em cada ente, especialmente em cada coisa ou ente desse mundo material, que nos
conhecemos pelos sentidos do nosso corpo, se pode distinguir

22 Para os que querem já aproximar mais a Santo Tomás sejam indicados estes ajudas:
O “vocabulário da Suma Teológica” por Marie-Joseph Nicolas, no início do primeiro volume da Suma Teológica
na edição de Loyola, p. 69-102 (completado pela apresentação dos “Autores e Obras citados na Suma
Teológica”, p. 103-123 – que porém varia em cada volume). Além desse, imediatamente acessível há:
JOLIVET, R. Vocabulário de Filosofia, Agir, Rio de Janeiro 1975 (vale para a filosofia tomista em geral).
J. B. MONDIN. Dizionario enciclopédico del pensiero di San Tommaso d’Aquino. Seconda edizione rivedutta e
correta. Bologna: Edizioni Studio Domenicano, 2000 (é específico para Santo Tomás, em italiano).
Summa Theologiae da editora BAC (5 volumes, só em latim, Madrid 1958, oferece no 5º volume com o
“Supplementum” um “Index Quaestionum”, um índice dos títulos das 512 questões, p. 1*-6* e um “Index
rerum” ou índice dos assuntos com frases e a indição onde nessa Suma só Santo Tomás trata desse assunto,
p. 7* - 332* (é tudo em latim). Este é semelhante ao trabalho do século XV, por
BERGAMO, Pedro de (+ 1482). Tabula aurea: In Opera Sancti Thomae Aquinatis Index. Alba-Roma: Ed.
Paulinae, 1960 (tudo em latim).
SCHÜTZ, L., Thomaslexikon. Sammlung, Übersetzung und Erklärung, Schöningh, Münster 1895; Holzboog,
Stuttgart 1983 (se estende sobre todas as obras de Santo Tomás; é em alemão, mas os termos são todos em
latim, segundo o original de Santo Tomás).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 29

- o fato que consistem em si, tal qual é aqui, e isto chamamos a SUBSTÂNCIA e
- momentos ou aspetos que podem mudar, sem, por isso, já mudar a coisa com tal; são aspetos
mudáveis em certos sentido num nível superficial, estes se chama
ACIDENTES, os aspetos mudáveis ou variáveis no mesmo ente;
o significado as palavras exprimem isso:
sub-stância quer dizer que “stá – sub = embaixo” dos aspetos variáveis e por isso fica,
permanece, mesmo que na superfície há mudanças; e
“acidentes” quer dizer “ad-iacere – algo que “cai a algo”, sob essa coisa, mas também se pode
retirar; a coisa (ou seja o ente, a substância) pode ter ou não ter esses características,
como por ex. a caneta de 5 ou 10 centímetros de comprimento (quantidade),
a cor azul ou vermelha (qualidade) que, neste momento (tempo),
está colocada na mesa ou pegado na mão (posição, lugar, relacionada a) ...
Se precisa dar atenção a eles para identificar exatamente esse ente aqui agora – inconfundível
com qualquer outra coisa, como a verdade do que conheço cá dentro em mim.

Exemplo: essa caneta:


É - pelo seu ser e é CANETA - pela sua essência (são os dois princípios constitutivos de
qualquer coisa, e sem estes não há = existe nada)!
Eles formam a base de toda e qualquer realidade; de tudo que nos tratamos, falamos, com
que vivemos – de tudo vale isto – é a razão porque a metafísica verdadeira é tão básico e
universal que nada se entende bem ou corretamente se não se começa aí.
e é comprida, e de cor azul, ... meio usada ou gastada etc. – estas são os variáveis ou acidentes,
mas ela continua ser caneta ou fica sempre o que é, isto é a substância “caneta”.

O “ser” é o conceito mais simples, de modo que pode se dizer este de TUDO que existe: essas
coisas todos são - ou possuem SER.
A essência é um pouco diferente, pois se pode considerar de diversos aspetos, por isso pode
receber outros nomes, mas sempre significando essa mesma determinação concreta
do ente; este outros nomes são
forma substancia (= a forma do ser dessa substância)
ou natureza (= se refere mais ao aspecto dinâmico: serve para ...).

3º Então temos ser e essência, substância e acidentes.


A observação da substância como o que permanece – “ao baixo”, ou “sub - sob” –
os acidentes que são as variáveis – nos leva a uma outra observação fundamental da
REALIDADE:
A mudanças, e estas se explica por acontecimentos. E, o que nós revela isto?
Outros dois momentos FUNDAMENTAIS,
ATO e potência e as causas.

3º a) Quando dizemos
“Ato” queremos dizer que algo “existe”, por seu ser e sua essência específica,
E por ser isto, tem uma devida potência, isto é capacidade, força de fazer e agir.
O ato chama-se um ente existente, composto por ser e essência.
e a potência chama-se o que ainda não é, mas pode ser – por um ente em ato.
Um homem pode se mover e falar, porque é um ente com a essência humana que possui
essas faculdades;
Uma pedra (como qualquer ente de natureza an-orgânica) não canta como um pássaro
nem cresce de dentro para fora como a semente de uma planta.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 30

Disto seguem certos princípios como por ex.


- Cada ente atual pode agir segundo o seu ser ato ou segundo a sua essência ou grau de
ser.
- Nenhuma potência pode tornar-se ato por si, a não ser por um ato. ...
Segundo estes princípios tão básicos e válidos para toda a realidade – a famosa evolução de
Darwin é impossível:
De uma semente pode crescer uma planta ou árvore – mas nunca de uma pedra morta.
Um fogo pode fazer uma árvore a cinza, mas a cinza nunca pode virar árvore.

Ato e potência explicam a relação e proporção entre o que já é e o que ainda não é,
E suas leis nos explicam também apenas a possibilidade de mudanças.

3º b) Então, precisa ainda mais algo que põe essas proporções em movimento, e isto se chama
CAUSAS:
Não qualquer coisa chama-se “causa”, mas só o que influencia a existência, que faz que uma coisa
é ou não é.
Por exemplo: A serpente no paraíso conversou, falou com Eva.
Um animal não tem o ato necessário para poder falar (potência de falar).
Mas se mesmo falou, deve ter sido presente um ente com essa capacidade (potência)
como um espírito puro, o diabo.
Neste caso, a causa veio de fora a serpente,
como também o efeito, o pecado, a distância de DEUS não era planejado por dentro do homem,
mas ele se afastou do fim pelo qual foi criado

Assim se distingue:
- Causas exteriores e objetivos: duas que ficam “fora” do ente (causas extrínsecas):
(1) causa eficiente (faz que o ente existe ou seja “por quem” o virou a ser ou é este ente)
(4) causa final (que é a finalidade: a intenção inicial e o fim para alcançar, “para que” é).23

- E são causas internas dos entes (quer dizer: se encontram no sujeito, como o próprio ser e
essência: são também duas causas que permanecem no ente enquanto existe:
(2) causa formal (faz “o que” o ente é – é a essência; ou a “forma substancial”) e
(3) causa material (faz “de que” o ente é, ou o ser desse ente).
Também sobre estas 4 causas dá para refletir e descobrir princípios válidos para todos os entes;
por ex. como não há o puro ser sem essência e não uma pura essência sem um ser,
Assim não há uma causa formal sem pensar também já numa causa material e vice-versa e
Um condicionamento mútuo.

A causa final é a primeira na intenção, e a última na execusão (cf. I-II, q. 25, a. 2)

O Criador / construtor a intenção e fim a alcançar


(causa eficiente) (causa formal)
\ qualquer coisa ou ente: ∕

23 Um cientista da NASA costumava repetir: “Crer que o universo é fruto do acaso é o mesmo que acreditar que da
explosão de uma tipografia nascesse uma encíclopédia.” (Paulo L. Medeiros Vieira, Deus nos bancos dos Réus. Uma
resposta da Ciência ao Ateismo Militante, ed. LEDIX, Florianópolis 2010, 53).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 31

Causa formal
= O que a coisa é
Sua forma substancial
Ou essência
(alma do homem)

E
Causa material
= Que é
Ou seu ser
(nas coisas materiais)
A matéria
(corpo do homem)

Princípios de primeira ordem


Destas observações se impõe ao homem um outro princípio de primeira ordem (cf. acima b):
- O princípio da razão suficiente, que diz: “Todo ser tem sua razão de ser”.
- O principio de causalidade (causa eficiente) refere-se ao vir-a-ser como:
“Todo ente contingente (isto é, tudo que tem um começo segundo o ser) tem uma causa”,
- o princípio de finalidade (causa final) referindo-se à finalidade:
“Todo agente, toda causa eficiente age por um fim.”

Os transcendentais
Outras características, que o ente possui simplesmente porque é, logo que se encontram em
cada ente, são chamadas ‘transcendentais’. O nome quer dizer que eles transcendem todas as
particularidades provenientes de essências determinadas ou tudo que faz os entes diferentes um do
outro, e, por isso, são características ou propriedades do ser enquanto ser.

Cada ente, simplesmente pelo fato que é e somente por isso, possui:
- a propriedade de ser ‘um’ ou ser indiviso em si mesmo, e por isso ser ‘identificável’,
- de ser ‘verdadeiro’, conhecível ou ser em conformidade com uma inte-ligência (“Veritas est
adaequatio rei et intellectus”, Sth I, 16, 1),
- de ser ‘bom’ ou possuir uma perfeição desejável, uma bondade absoluta (ou independente
de outras referências) enquanto desejado pelo Criador, ou
uma bondade relativa enquanto desejado por uma criatura e
- de ser ‘belo’ ou agradável para aqueles que o vêem (“quod visum placet – que é agradável
de ver”, Sth I, 5, 4 ad 1um).

A participação: cada ente – participa na ideia ou essência ou forma (substancial) segundo qual é
Feita (Madeira, caneta, telefone...)
E como cada ente – pela essência só não existiria, se deve dizer também que
Pelo fato que existe (fo ifeito e é agora) participa também na “ideia” do Ser ou no ser, mesmo que
- Por ser um ente concreto, ESTE aqui, com a limitação constituiva pela essência,
Não está presente SER ABOLUTO E UNIVERSAL, mas apenas ESTE – logo se pode
dizer participa – no ser como todas as coisas.
Só o SER por ESÊNCIA é absoluto e possui, melhor É o SER ilimitado.
E a METAFÍSICA – geral - que estuda as leis do ser (o que estamos falando)
e específica – que estuda entes segundo essências diferentes:
= DEUS,
= entes vivos (psicologia – estuda tudo que tem uma alma = princípio de vida) e
Psicologia e vida espiritual - 2022, 32

= entes inorgânicos (cosmologia);


Todo estudo procura as CAUSAS ou raízes do ser, da EXISTÊNCIA do que existe,
Que exige a determinação das causas extrínsecas: de onde vem, por que existem, quem as fez?
Qual é a finalidade desse e do outro ente (causa final)
Pois tudo possui uma determinação ou especificação (causa formal) e
E possui esta por um motivo – que deve coincidir com a causa final – parcial ou última.
É diferente das ciências positivas de hoje, que
a) Se concentram apenas com os entes sob os aspetos acidentais
b) B) e por isso se contentam com o método descritivo e causa e efeito apenas descritivo,
observado, mas não explicado (em vez da metafisica que procura a causa e efeito
existencial).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 33

Suma teológica, parte I-II, q. 37, artigo 1: Se a dor elimina a faculdade (= potência) de aprender.
O primeiro discute-se assim. — Parece que a dor não elimina a faculdade de aprender.
1. — Pois, diz a Escritura (Is 26, 9):
A - Quando exercitares na terra os teus juízos, aprenderão justiça os habitadores do orbe; e mais adiante
(Is 26, 16): saudável lhes foi na tribulação do seu murmúrio a tua doutrina.
B - Ora, dos juízos de Deus e da tribulação resulta a dor ou tristeza nos corações dos homens.
C – Logo, a dor ou tristeza não elimina, mas antes desenvolve a faculdade de aprender.
2. Demais —
A - Diz a Escritura (Is 28, 9): A quem ensinará a ciência? E a quem fará entender o que se ouviu? Aos que
já se lhes tirou o leite, aos que já foram desmamados, i. é, dos prazeres.
B - Ora, a dor e a tristeza é que sobretudo exclui os prazeres; pois, impede qualquer prazer, como está em
Aristóteles1; e a Escritura diz (Ecl 9, 29), que o mal presente faz esquecer os maiores prazeres.
A - Logo, a dor não elimina, mas antes desenvolve a faculdade de aprender.
3. Demais —
A - A tristeza interior é mais forte que a dor externa, como já dissemos2.
B - Ora, o homem pode aprender, embora possuído de tristeza.
C - Logo, com maior razão, quando possuído pela dor corpórea.
Mas, em contrário, diz Agostinho:
Embora, nesses dias estivesse duramente afligido por uma dor de dentes, não me era possível voltar o
ânimo, senão talvez para o que já havia aprendido; pois, achava-me completamente impedido de aprender
o que estava completamente na tendência do meu espírito3.
SOLUÇÃO.
A — Como todas as potências da alma se lhe radicam na essência una, é necessário que, quando a intenção
da alma é levada veementemente à operação de uma potência, retraia-se da operação de outra, pois uma
mesma alma não pode ter senão uma intenção. E por isso o que atrair para si a intenção total da alma, ou
grande parte dela, não se compadecerá com mais nada que reclame grande atenção.
B - Ora, é manifesto que a dor sensível atrai soberanamente para si essa intenção; pois, as coisas tendem,
na sua intenção total, a repelir o que lhes é contrário, como bem se vê já nos seres naturais. E
semelhantemente, também é manifesto que para aprender de novo uma noção é necessário estudo e esforço,
com grande intenção, conforme está claro na Escritura (Pr 2, 4-5): Se buscares como o dinheiro, e cavares
pelo achar como os que desenterram tesouros, então acharás a ciência.
C - E portanto, se a dor for intensa, o homem não poderá aprender nada; e poderá ser tão intensa que nem
mesmo, enquanto domina, possa pensar no que antes já sabia.
Há nisto porém diferenças, relativas às diferenças do amor com que aprendemos ou refletimos; a este quanto
maior for tanto mais impedirá a intenção da alma de ser completamente dominada pela dor.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A tristeza moderada, exclusiva da evagação da alma,
pode ser útil para adquirirmos a ciência; e principalmente daquilo pelo que esperamos nos libertar da
tristeza. E deste modo, na tribulação do seu murmúrio, os homens recebem mais facilmente a doutrina de
Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Tanto o prazer como a dor, na medida em que arrastam a intenção da alma,
impedem a consideração racional; e por isso Aristóteles diz ser impossível compreendermos seja o que for
durante o prazer venéreo4. A dor entretanto, mais que o prazer, absorve essa intenção, como vemos, nos
seres naturais, em que a ação de um corpo natural é mais intensa em relação ao que lhe é contrário; assim,
a água quente, sofrida mais intensamente por um corpo frio, congela-se mais fortemente. Se portanto a dor
ou a tristeza for moderada, pode acidentalmente ser útil para aprendermos, na medida em que exclui a
superabundância do prazer; mas em si mesma é um impedimento; e se for intensa privará totalmente da
faculdade de aprender.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A dor externa provém da lesão do corpo, e por isso é, mais que a interna,
acompanhada da transmutação corpórea; a interna porém é maior, relativamente ao que há de formal na
dor, que depende da alma. E por isso, a dor corpórea impede, mais que a interna, a contemplação, que exige
o repouso completo. E contudo, se a dor interna também for demasiado intensa, arrastará a intenção de tal
modo que o homem não pode aprender nada de novo. Assim Gregório, levado da tristeza, abandonou a
exposição do livro de Ezequiel
Psicologia e vida espiritual - 2022, 34
Psicologia e vida espiritual - 2022, 35

1ª Questão é uma introdução à Sagrada Doutrina, como hoje a Teologia fundamental q. 01

Ia Parte: DEUS

DEUS (De Deo Uno e Trino)


1. a) Em si (Uno) Seu ser (ser, simples, perfeito, bem, infinito, imutável) qq. 02-13
(Teologia natural) Sua vida (intelecto, vontade, amor, providência, predestinação...) qq. 14-26

b) Trino (três) Processões e Pessoas Divinas qq. 27-42


As Missões q. 43
__________________________

2. a) O Criador (1) A criação (em geral: visível e invisível) (De Creatione) qq. 44-49

b) As criaturas (3): 1- Espíritos puros (Angelologia) qq. 50-64


2- Mundo material (com comentário aos 7 dias de criação; Cosmologia) qq. 65-74
3- Homem: Constituição ontológica (natureza: alma e corpo) qq. 75-76
Potências (Intelecto, synderesis, sensualidade, vontade, qq. 77-83
A antropologia filosófica)
Conhecimento qq. 84-89
Criação do homem (1os homens, paraíso) qq. 90-102
3. a) O Governador (1) O governo am geral qq. 103-105

b) O movimento entre as criaturas (3 para se unirem – 1)


Anjos entre si qq. 106-109
Anjos e mundo q. 110
Anjos e homens qq. 111-113
Demônios e homens q. 114
Criaturas materiais q. 115
O ”acaso” q. 116
Os homens qq. 117-119

IIa Parte: O Homem

I-II Parte: A antropologia psicológica geral – A Moral cristã fundamental


O homem vive – e quais forças tomam influência?

Prólogo:
Afirma Damasceno que o homem é criado à imagem de Deus, enquanto o termo imagem significa
o que é dotado de intelecto, de livre-arbítrio e revestido por si de poder.
Após ter discorrido sobre o exemplar, a saber, Deus, e sobre as coisas que procederam do poder
voluntário de Deus, deve-se considerar agora a sua imagem, a saber, o homem, enquanto ele é o
princípio de suas ações, possuindo livre-arbítrio e domínio sobre suas ações.

Raiz de sua vida: O desejo natural para o último fim e a bem aventurança24 qq. 1-5
(como motores)

24 Santo Tomás vai constatar “est implebile desiderium naturale” (ScG III, 48); por isso termina a I-II com o tratado
da graça e segue a toda a IIª parte a IIIª parte com o mistério da Encarnação.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 36

A Vontade (Circunstâncias, motivo, intenção, escolha,


Conselhos, consentimento, e moralidade dos atos 6-21

Diferença e distinções 22-25


As paixões da alma25 As concupisciveis (amor+ódio,desejo+fuga,alegria+tristeza)
26-39 As irascíveis (esperança+desespero,temor+coragem,ira; 23,4) 40-48
__________________
Fixação e firmeza Hábitos (49-54)
pelas decisões
repetidas -
Disposições Virtudes em geral 55-56; 63-67
- positivas intelectuais e morais 57-60
(para agir e cardeias 61
ajudas divinas) teologais 62
Dons do Esp.S. (e Bem-aventuranças, Frutos do Esp.S.) 68-70

- negativas Vícios distinções, comparações e sujeito 71-74, 88-89


(uma grave e causas (paixões, maldade, diabo, homem) 75-81
Perturbação pecados pecado original 82-83
pelos) Efeito e penas 84-87
_________________

Ajudas essência, formas (natural/eterna), mudança, valor 90-97


externas Lei antiga lei (10 mandamentos) e ceremônias 98-105
Nova lei e o evangelho 106-108

Necessidade 109
Graça essência 110
Divisão 111
Causa, efeito e méritos 112-114
Todos estes momentos tomam influência a cada ato humano.
Deve-se sempre levar todos estes momentos em consideração,
seja para exigir das pessoas,
seja para descobrir as causas principais,
seja para a avaliação do pecado.

II-II Parte: A Moral cristã particular

Prólogo:

Depois do tratado geral das virtudes e dos vícios e de outros dados referentes à· moral, é necessário
considerar cada ponto ém particular. Porqué, na moral, as generalidades são pouco úteis, já que as
ações se realizam em situações particulares.
Na moral, pode estudar-se algo em especial de duas maneiras: a primeira, a partir da própria matéria
moral, quando, por exemplo, se estuda tal virtude ou tal vício; doutro modo, quanto aos estados
especiais dos homens; assim, quando se estudam os súditos e os superiores; os de vida ativa ou
contemplativa e todas as outras categorias. Portanto, em primeiro lugar, abordaremos o que convém
a todas as categorias de homens; em segundo lugar, especialmente o que diz respeito a determinados
estados.
É preciso ter presente que se nós quisermos analisar separadamente as virtudes, os dons, os vícios
e os preceitos, seremos obrigados a muitas repetições. Com efeito, quem quiser tratar plenamente
deste preceito: Não cometerás adultério, é obrigado a estudar o adultério que é um tipo de pecado,
cujo conhecimento depende do conhecimento da virtude oposta. Será, pois, um método mais rápido

25 Santo Tomas tratou sobre as paixões humanas anterior a Suma em: In 3 Sent d 16 q 1 aa 1-5; De Ver q 26; De Malo
qq 10 e 12; De virtutibus; ScG; In Arist. Ethica Nichom., esp. II, l e 5; Quaest. De Anima.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 37

e mais cômodo se, no mesmo tratado, passarmos da virtude ao dom correspondente, aos vícios
opostos, aos preceitos afirmativos e negativos. Este modo de considerar será aplicado aos próprios
vícios, segundo sua espécie própria.
Como foi mostrado anteriormente, os vícios e os pecados se diversificam segundo sua matéria ou
objeto, não segundo outras diferenças de pecados, como os de sentimento, de palavra e de obra; ou
os pela fragilidade, a ignorância ou a malícia e outras diferenças desse tipo. É sobre a mesma
matéria que a virtude age retamente, enquanto os vícios opostos agem sem retidão. · Sintetizando,
portanto, toda a matéria moral no estudo das virtudes, podemos reduzir todas as virtudes a sete: três
teologais, que abordaremos em primeiro lugar (q . 1-46), e quatro cardeais, que trataremos em
seguida. Entre as virtudes intelectuais, uma delas é a prudência, que se arrola e enumera entre as
virtudes cardeais (q. 47-56). A arte, contudo, não pertence à ciência moral, que trata do 'agir',
enquanto a arte é o modo certo do 'fazer', como acima foi dito. As outras três virtudes intelectuais,
isto é, sabedoria, inteligência e ciência, têm os mesmos nomes de alguns dons do Espírito Santo.
Assim também, as estudaremos, ao considerarmos os dons que a elas correspondem. Quanto às
outras virtudes morais, todas se reduzem, de algum modo, às virtudes cardeais como está claro
pelo que acima foi dito. Portanto, na consideração de cada virtude cardeal, também serão
estudadas todas as virtudes que a ela se relacionam sob qualquer título, assim como os vícios
opostos. Dessa maneira, nada será omitido em nosso tratado de moral.

Fé qq 1 ss.
Teologais Esperança qq. 17 ss.
Caridade qq. 23 ss.
I. Virtudes
Prudência qq. 47 ss.
Cardeais Justiça qq. 57 ss.
Fortaleza qq. 123 ss.
Temperança qq. 141 ss.

II. Dons particulares qq. 171-178


Vocações Vida contemplativa – ativa qq. 179-182
especiais: Estados de vida qq. 183-18926

(Para explicar chegar lá – talvez essa visão de toda a Teologia)

26 “Em nenhum lugar o dom da sistematização de S. Tomás se manifestou tão brilhantemente como no domínio da
moral” (Baumgartner, em: Grabmann, Introdução à Suma, p. XLIV).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 38

Objeto Ato Virtude Causa/efeito Dom Pecado


Qu. 1 – fé qq.2-3 q. 4-5 q.6-7 Inteligência,ciência Heresia,apostasia...-10ss.
, 8s
qu. 17 – esp qq.17-18 q. 22 17,5-6 Temor de Deus, 19 Desespero, presunção,
20 s.

qu. 23 – car qq. 23-27 q. 44 Alegria,paz, Sabedoria, 45 Ódio,inveja,


mi- sericórd.- guerra,
28-33 34 ss., 46

qu. 47 – qq.47-51, Conselho, 52 Imprudência,


prudência 56 negligência, 53-55
qu. 58 – qq. 57-61 q.62s., 80ss.: Piedade, 121 Homicídio... 64-
justiça Oração,voto..
.
qu.123 – q.123-137 Fortaleza, 139 q. 138
fortaleza
qu.141 – q. 141-143 (Temor de Deus) 148,150,153s,156.
temperança ..

Salmo 55(54)
2 Ó Deus, escuta a minha oração, não rejeites minha súplica;
3 presta-me atenção e atende-me. Estou ansioso na minha tristeza e me perturbo
4 pelo grito do inimigo, pelo clamor do malvado. Pois sobre mim fazem cair desgraças, me
perseguem com furor.
5 Meu coração treme no meu peito e terrores mortais se abateram sobre mim.
6 Temor e tremor me invadem e me oprime o horror.
7 Então digo: “Ah! Se eu tivesse asas como a pomba para voar em busca de descanso!
8 Fugiria para longe, iria morar no deserto,
9 buscaria um lugar de refúgio, protegido da fúria do vento, longe de qualquer tempestade”.
10 Dispersa-os, Senhor, confunde suas línguas. Vejo na cidade violência e discórdia:
11 dia e noite circulam sobre seus muros, dentro há iniqüidade e tormento.
12 Insídias reinam no seu interior e não cessam em suas praças a opressão e a fraude.
13 Se fosse um inimigo que me insultasse, eu agüentaria; se fosse um adversário que se
levantasse contra mim, me esconderia dele.
14 Mas és tu, meu companheiro, meu amigo e confidente;
15 uma doce amizade nos unia, na casa de Deus caminhávamos alegres.
16 Que a morte caia sobre eles, que desçam vivos ao lugar dos mortos, pois a maldade mora
com eles.
17 Eu invoco a Deus e o Senhor me salva.
18 De tarde, de manhã e ao meio-dia lamento-me e suspiro, e ele escuta minha voz;
19 vai me dar a paz, livrando-me dos que me combatem: pois meus adversários são tantos!
20 Deus me escuta e os humilha, ele que domina desde sempre. Pois para eles não há
conversão, eles não têm temor a Deus.
21 E cada qual estendeu a mão contra seus aliados, violou sua aliança.
22 Mais macia que a manteiga é sua boca, mas no coração têm a guerra; mais fluidas que o
óleo são suas palavras, mas são espadas afiadas.
23 “Entrega ao Senhor tua ansiedade e ele te dará apoio, nunca permitirá que vacile o justo”.
24 Tu, ó Deus, os precipitarás no fundo do sepulcro; os homens sanguinários e fraudulentos;
não chegarão à metade dos seus dias. Mas eu em ti confio.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 39

Salmo 56 (55)
2 Piedade de mim, ó Deus, porque um homem me persegue; o dia todo um agressor me
oprime.
3 Meus adversários me humilham o dia todo, são muitos os que me atacam, ó Altíssimo.
4 Na hora do medo, em ti me refugio.
5 Em Deus, cuja promessa eu louvo, em Deus confio, não temerei: o que um homem me pode
fazer?
6 Estão sempre falando e tramando, não pensam senão em fazer-me o mal.
... 9 Contaste os passos da minha caminhada errante, minhas lágrimas recolhes no teu odre;
acaso não estão escritas no teu livro?
10 Então vão recuar meus inimigos, quando eu te invocar, sei que Deus está do meu lado.
11 Em Deus, cuja promessa eu louvo, no Senhor, cuja promessa eu louvo,
12 em Deus confio, não temerei: o que um homem me pode fazer?
13 Mantenho, ó Deus, os votos que te fiz: vou te render ações de graças,
14 porque me livraste da morte, preservaste meus pés da queda, para que eu caminhe na
presença de Deus, na luz dos vivos.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 40

Felicidade – segundo Santo Tomás


I. A felicidade

1 - O método de S. Tomás e a leitura da realidade! Os objetos exigem (revelam) as faculdades -


e as fac. a natureza nossa (I, 77,3) perceber - pensar – produzir

2 - A fome de felicidade: partir da Suma teol.: Exitus - reditus = voltar à origem = infinito.
- O caminho do reditus: I-II: vontade (racional, apetitivo - hábito - virtude / vício + ajuda divina.
- Determinar o que será para o homem saúde e doença (com / sem DEUS) que leva a
- Definição do homem: Ama (= deseja, quer por ser limitado) ser-amado (pelo Infinito,
único que satisfaz plena e perfeitamente).

3 - Então felicidade consiste em que? Santo Tomás analisa extensamente este ponto de partida
(I-II, qq 1-5). Base para entender os aspetos discutidos e o entendimento da estrutura interior do
homem que permite raciocinar pela "conaturalidade" entre o homem e o mundo em que vive.
e aprofundar (formar a sensibilidade em observar a realidade)
Vegetativo - comida - > crescer
sensitivo: olhos - cores -> ver e perceber uma caverna como proteção
emoções -> querer gozar dessa proteção
intelectivo: Intelecto (abstrair o geral = essência) - Entender objeto (casa como caverna) =
vontade (construir) querer fazer uma casa etc.
proteção é um bem; ... participação no Sumo Bem que é o Infinito real =
“o que todos chama DEUS.”

4 - Como livrar um infeliz do caminho errado por esperanças falsas


Como e por que Santo Tomás distingue 6 pecados contra o Espírito Santo (em que consistem, e a
que pessoa não quer deixar) e como Deus convida sair desses (S.th. II-II, q. 14, a. 2)

3 passos: - O mal do pecado (do mal)


- Mostrar o amor de DEUS (na prática da Igreja: caritas etc...)
- como tirar da indiferença

5 - A felicidade - bem-aventurança cristã (cf. Mt 5 e Catecismo 1701-1724; a loucura da Cruz ou


a temporalidade e eternidade em competição); exemplos bíblicos: Salmo 55, 1-16 e 17 e 23s.; Fil
3 e 4,4.6.

II. O Homem é quem AMA SER-AMADO

Explicação dessa última raiz da vida e de todas as ações humanas.

Seja que for, - se me alimento, - se trabalho para a família, - se me sacrifico para um amigo, - se
... é para ser amado por o “próximo” e/ou por Deus.
É a arte das artes, de observar o próximo, descobrir seu anseio por amor e ajuda-lo na medida
infinita pela união com Deus.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 41

1º A felicidade –
a) Observação universal (um desejo universal e perene dos homens: material/espiritual,
Aristóteles)
b) Definição (O que se entende por “felicidade” - conduz o homem fora de si; somos
parte de um universo)

2º A resposta de Santo Tomás: Suma teológica: As 5 questões da I-II parte (um fim; em que; é
material ou espiritual e como alcança-lo)
3º Felicidade psicológica
a) A inspiração de Santo Tomás
b) A psicologia da afirmação – “Feliz és tu – porque és!” (Tomas e Filosofia)
c) Aconselhamento “nutético” – com sabedoria bíblica (Jay E. Adams; Cristianismo) –
d) A saúde da alma no amor de Deus (vida sacramental: Catolicismo)

1º A felicidade – um desejo universal e perene dos homens: material/espiritual, Aristóteles

De qual “felicidade” falamos?


Três rapazes convidam Francisco para ir com eles para comer sorvete com eles.
Ele recusa, porque – diz – devo estudar; já fiz os meus cálculos...
Ai, Mônica ficará decepcionada, quando você não estará lá. Ela virá com Rosa e Sheila.
Então, deixa ver ... Chegado lá, não viu sua Mônica – ficou decepcionado –
Primeiro com rosto triste e silencioso diante da malandragem desses colegas, depois ficou
com raiva ...
Sua motivação não encontrou-se correspondido – virou escravo das emoções –
Refletiu e reorganizou-se e pensou na sua hierarquia dos valores e ficou calmo.

(Histórico)
É o que cada homem procura, - e sem ela não descansa

Se observa isto no extremo oriente:


Segundo o Budismo – mais recente que o Hinduismo –
- o homem é puxado pelo sofrimento, este seria universal.
- a dor tivesse sua origem nas paixões, de modo que
- o fim da dor se alcança pela “suspensão do desejo, o aniquilamento da existência, o Nirvana,
que é um estado de extinção completa do ser – que seria a única felicidade à qual deve aspirar o
homem:
O meio da libertação da dor é a contemplação (não o suicídio) e
A prática da mortificação dos apetites, da “óctupla via da libertação”.

O apático é o oposto de uma pessoa feliz – interessante aqui é para onde leva estes na fuga da
infelicidade, da dor e do sofrimento.
Mais interessante ainda é, quando se conta que de repente assim em 1919 – jogam toda essa
solução supérfluo ou oposto – mas de fato nem isto é – fora e correm atrás da busca da
felicidade, quando abraçam com força os valores do Ocidente.

Porém, ao menos em China, se fala de uma grande revolução no dia 4 de maio de 1919 (cf. W.
FRANKE. Chinas kulturelle Revolution, die Bewegung vom 4. Mail 1919. München 1957). Liga
as suas tradições, olhando ao “eterno ontem”, começou, de repente, dar valor ao futuro. Causa
Psicologia e vida espiritual - 2022, 42

foi a ameaça de sua existência no último século. Nos anos 20 e 30 foram sistematicamente
destruídos os valores tradicionais, e abraçado os novos que são: ciência, democracia, liberdade,
afirmação da nação, revolução mundial etc. (cf. Thaddäus HANG. Grundzüge des chinesischen
Volkscharakters. Würzburg: Echter-Verlag, 1964, p. 33)

Semelhante observação se faz no Ocidente – em todos os tempos.

Depois de Sócrates teve vários que sentiram o estímulo e desenvolveram suas ideias –
exatamente ao redor da felicidade.

Antístenes de Atenas (444-368)


diz: o prazer é um mal: “Eu preferia enlouquecer do que sentir prazer”.
Mas porque quer fugir do “prazer”? porque decepciona o homem, causa frustração
porque não é algo profundo e permanente o que o homem satisfaz.
Antístenes exige um esforço contínuo de autodomínio e um desprezo total pelos bens materiais
(incluída a ciência, religião e costumes). Para ele existe a bem-aventurança na virtude como
entendimento interior. Perseguindo isto como a única coisa valiosa, ele se desprende de todas as
coisas externas em absoluto desprendimento e num modo de vida individualista a-social.

Em geral, pode-se dizer dos “cínicos” (cf. Reale, I, 231-236): Seus aderentes pregavam o total
desprezo aos valores tradicionais (prazer, riquezas, fama) e a liberdade total (que chegava à
animalidade e licenciosidade). Eles apontavam aos defeitos de tempo, mas não ofereciam valores
alternativos. Assim, a palavra “cinismo” acabou adquirindo o caráter pejorativo de ironia.

Claro, aqui entram também os primeiros grandes filósofos como Platão e Aristóteles:
Os dois – mesmo que andaram um caminho diferente – viram a felicidade na contemplação ou
vida intelectual-espiritual. ...

Uma outra confrontação se encontra no Estoicismo.


Zenão (333-262), seu fundador, por ex., pensou que a paixão seja um movimento irracional da
alma e por isso contra a natureza; logo, o homem deve superar os afetos de tal maneira, que nem
prazer nem dor possam irritá-lo, e que ele permanece indiferente diante das eventualidades da
vida (a “paz estóica”). E a vida natural é regulada pela lei e pela razão, aí o homem encontra a
felicidade (eudemonia). A verdadeira e única felicidade é buscada apenas na virtude. Esta
consiste na fidelidade á lei, na consciência do dever, no domínio de si, na abnegação e no
contínuo rigor e dureza contra si próprio. Neste proceder não aninha nenhuma inclinação, gosto,
desejo ou prazer, bem como nenhuma especulação sobre a utilidade ou o aprazível. A ascese,
este elemento fundamental da ética estóica, concentra o homem no seu próprio interior. Daí são
deduzidas as finalidades da vida. Leva-se em consideração somente o homem interior e as suas
relações com a lei eterna. Com ela tem o homem o suficiente, e também a si mesmo se basta. O
estoico professa como o cínico, o ideal da autarquia.
Neste sentido Epicteto confessa: “Até hoje, não tinha nada que se tornasse para mim um
obstáculo ou uma necessidade. Por que? Porque sempre dispus minha vontade à vontade de
Deus. Se Deus quer que tenho febre, então eu também quero.” Agir por esta consciência de dever
faz que nosso agir torna-se moralmente precioso. Os bens externos e, também, os males fisicos
externos são sem importância. Glória e desprezo, prazer e dor, riqueza e pobreza, saúde e
doença, mesmo a vida e a morte, tudo é indiferente. Só parecem valores ou desvalores à
imaginação do homem e aos seus preconceitos; na realidade não o são. O virtuoso renuncia a
eles, e pode renunciar mesmo à vida, a que, não raramente, se decidiam os estóicos.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 43

Um exemplo famoso é Séneca, um dos homens mais ricos e poderosos no império romano: Foi
pedido pelo imperador de sair da vida e, assim, com “indiferença estóica” se suicidou.

Desde jeito se podia passar toda a história com os olhos a FELICIDADE.

Assim, pro ex., publicou um médico e psicólogo, especializado no problema do


homossexualismo, um livro com o título: “Erziehungsziel Glück” – quer dizer: “Meta da
educação: A felicidade”.

2º O que é “felicidade”

Vamos começar – como se faz num estudo sólido – e procuramos primeiro de eu se trata, ou: o
que se entende por FELICIDADE?
Entre as definições se distingue
as definições nominais (ou etimológicas, seg. o significado da palavra)
e definição real ou o que significa na realidade da nossa existência.
- algumas vezes se insere a definição descritiva – que é menos científico, mas pode ajudar.

a) Definição nominal:
b) Definição descritiva:
c) Definição real:

Entre os nomes pala “felicidade” também há outros – que não precisam ser totalmente
sinônimos, e por isso, podem contribuir a dizer algo.

Feliz – quer dizer alegre, ter paz, sossego, tranquilidade, satisfação -– Genügsamkeit.
Felicidade é o contentamento,

Felicidade é o resultado de um esforço, de um empenho quando se alcançou um bom resultado,


Logo é também sinal de uma vitória – que acompanha alegria, e certa liberdade,
de tensão que marcou o caminho para essa meta.
Por isso, pode-se associar também a bem-aventurança, uma certa beatitude, como
se lê mais na Sagrada Escritura (Sl 1; Mt 5,3; ...).
É sinal (fruto, consequência) da posse de um bem desejado, então é a satisfação de

Desejos.

Isto já nos leva a uma certa análise: Satis-fação – Quando será satisfeito - o que? e como?

Deve-se levar em conta o homem na sua riqueza psíquica – e as correspondentes necessidades


Nível da alma Experiência do bem Tipo de bem
Espiritual O verdadeiro
– intelecto Felicidade Espiritual, música, poesia,
- vontade ou o desejo da
posse do bem
Sensitivo Gozo
- as emoções – pelo bem
- as faculdades cognitivas
Vegetativo O
necessário que a natureza pede
Psicologia e vida espiritual - 2022, 44

Porque não se pode dizer que a música causa felicidade ao homem intelectual – porque é captada
pelo homem sensitivo...
Estas observações mostram que a felicidade é algo não restrita a um determinado nível ou a uma
certa faculdade;
Então deve-se localizar na ALMA do HOMEM, no centro de sua pessoa. ELE é feliz.
É o homem TODO que é feliz.

Para a purificação de um nível mais baixo para um superior


Precisa sofrer – ou DEIXAR- soltar o antes para pegar o depois.

(Aceitar: cf. de Faria, 82 - Ciúme é de Faria 80

Sofrer: Nossa Senhora de Guadalupe a San Juan Diego: Não tema a doença do teu tio. ... Não
sofre por causa da doença do teu tio .

Lourdes: Nossa Senhora A Santa Bernadette: Não te prometo felicidade nesta vida, mas na outra.

Alguns recebem a MISSÃO DE SOFRER !

3º A resposta de Santo Tomás: Suma teológica: As 5 questões da I-II parte (um fim; em
que; é material ou espiritual e como alcança-lo)

Santo Tomás trata desse desejo natural fundamental já na sua primeira Suma, a Suma contra os
Gentios, no 3º do 4º livros, quando trata de “Deus, do fim último e do supremo Governador”; já
trata muitas perguntas. Diz um estudioso desse tempo (Grabmann): “Em nenhuma outra obra
humana desta pequenez é contida uma plenitude de ideias como nesta.” Mais sistemático trata do
nosso tema na Suma Teológica, a Obra principal de Tomás, logo no início da Segunda Parte.
Se chama a 1ª parte “exitus” – a saída das criaturas de Deus, seu criador e
Agora a 2ª parte o “reditus”, ou seja a volta das criaturas a Deus, nisto se pode incluir a 3ª parte
também e quem trata de Cristo e dos sacramentos, pois
A 2ª parte é a volta do homem pelas virtudes e a 3ª parte trata de Deus que vem ao seu auxílio
para conduzi-lo de volta a Deus – obra da graça ou do amor de Deus para com as criaturas.

Santo Tomás, passando além do seu “Filósofo” Aristóteles, e como novidade na história
desenvolveu na Sua Suma Teológica, parte I-II, uma extensa análise da vida interior do homem:
Começa com o desejo natural de querer ser feliz (qq. 1-5), e
distingue para isso já o que nisso é “voluntário e involuntário” (q. 6) e
outros aspectos da vontade (qq.7-22),
presta nisso grande atenção
- ao apetite sensitivo e as emoções (qq. 23-48),
- à possibilidade de firmar-se mais e mais, seja no bem pelas virtudes (qq. 49-70),
seja no mal pelos vícios (qq. 71-89) e
- à ajudas que o homem encontra na Lei (de Deus, natural) e pela graça Divina (qq. 90-
114).
Apesar dessa riqueza e sua consideração na avaliação moral dos atos humanos, é verdade, como
Ignace Lepp menciona, que nos manuais, seja metafísicos seja morais, não se presta tanta
Psicologia e vida espiritual - 2022, 45

atenção a este mundo tão rico onde se encontram simpatia e antipatia, ódio e amor, entusiasmo e
desanimo etc.27

De um lado, se deve dizer, que olhando a esta vida interior da pessoa, se encontra mais e mais
diante da riqueza profunda individual-pessoal e de um mistério que é difícil de tratar em termos
gerais; mas
do outro lado, não se pode esquecer tampouco, que todos os homens participam na mesma natureza
humana, por isso valem as mesmas causas e se encontram todos no mesmo horizonte.
E como o agir está baseado no ser e segue ele, assim também o agir não goza qualquer liberdade.

A Filosofia, como ciência das causas, aponta às causas eficientes (Deus, pais, cultura etc.), a causa
formal e material do homem e de cada um (marcam o indivíduo, por isso são intrínsecas,
constituem o ente em si), e a causa final que, por último, é o Criador (Cat 1721, 282, 294...).
Por isso, a “matéria” na qual se considera hoje, na maioria das vezes, só o homem, era na cultura
judia-cristã sempre tratada, porém em vista da meta final, do destino do homem no céu, na vida
eterna. Desde o paraíso, em todo o Antigo Testamento (pensamos especialmente nos livros
sapienciais), no evangelho, nas Cartas de São Paulo e em toda a literatura na Patrística se ensina
sobre o bem e o mal, as inclinações a um e ao outro, se desenvolveu os “catálogos” de virtudes e
vícios (pensamos nos sete vícios capitais!).28 Não se era inconsciente das múltiplas influências
que o homem é exposto nas diversas fases de sua vida, seja no ambiente familiar (irmãos, irmãs,
avós, trabalhos e profissão do pai como contatos por visitas); seja na formação social, paroquial
ou escolar, por vizinhos e eventos culturais e costumes, circunstâncias políticas e climáticas...

Causa eficiente Causa formal e material Causa final


Deus Criador Busca de felicidade (cf. ST)
Pais e família Alma - com as criaturas
Formação escolar e religiosa - bens materiais
Sociedade E - prazer corporal
Nação e cultura e - honra social ou
Ambiente geográfico Corpo poder
- com Deus e no céu (cf. Rm
8,18; 2Cor 4,17; Fil 1,21-25;
Col 1,24)

27 Ignace LEPP. Psychoanalyse der Liebe. 10. ed. Freiburg: Herder, 1980, p. 7-11. Porém, em favor dessas tradições
deve-se dizer que se encontra extensas introduções às manuais de moral e espiritualidade com muitas distinções que
exatamente levam em consideração situações concretas da vida psicológica.
28 Rm 1, 29-31; Gal 5,19-21; 2 Tim 3,2-5; por ex. João CASSIANO. Instituições Cenobíticas. Juiz de Fora: Edições
Subiaco, 2015; R. ALVES GOMES. A Terapêutica das Doenças espirituais: Uma introdução à ascética da Igreja
ortodoxa. Aproximações psicológicas. Limeira, 2015; Gertrude und Thomas SARTORY. Lebenshilfe aus der Wüste:
Die alten Mönchsväter als Therapeuten. 5. ed. Freiburg: Herder, 1992; B. COLE. The Hidden Enemies of the
Priesthood: The Contributions of St. Thomas Aquinas. Staten Island, NY, 2007 (trata, entre outros, os vícios capitais
na vida do sacerdote). … cf. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Psicologia e vida espiritual - 2022, 46

No início do seu primeiro trabalho, “De ente et essentia – O ente e a essência”, Santo Tomás cita
logo na 1ª frase Aristóteles que diz: “Um erro insignificante no princípio faz-se considerável no
fim”29. Assim se entende que Santo Tomás vai com muita cautela (e não só neste tema).

Ele trata esse tema, a felicidade, em 5 questões, e em cada questão distingue e discuta 8 artigos,
então trata esse tema, a felicidade, em 40 perguntas. Isto já é incrível para a nossa maneira de
pensar rápido e, consequentemente superficialmente.
Mas ainda mais devemos considerar: em cada um desse 40 artigos, segundo o método
sistemático dele, apresenta primeiro diversas opiniões sobre esta mesma pergunta particular,
opiniões opostas ou contrárias a sua opinião e uma em seu favor. Contando, mesmo só por
curiosidade, ele discute 127 argumentos contrário a sua posição, e 40 autoridades em seu favor.
E ainda deve-se anotar esta característica: Se hoje um autor trata um tema e divide a análise e
solução em 40 capítulos, além disso discute 127 opiniões ou pontos de vista contrárias, qual
volume daria tal livro? Santo Tomás trata isto em duas colunas de 48 páginas, então se queremos
em 90 páginas.

Com esta pequena apresentação do tratado “por fora” ou sob o ponto de vista material se entende
também que não podemos agora neste tempo disponível apresentar tudo.

Para apresentar as ideias de Santo Tomás seguiremos a maneira como ele procede sempre, do
geral ao concreto
Ele verifica primeiro se felicidade existe, se há felicidade
E se sim, em que realmente consiste.
Se realmente existe, deve ser possível de alcança-la.
Sempre procede da maneira já explicada nos artigos:
Primeiro colhe as opiniões de outros,
Depois apresenta seu próprio raciocínio e reflexão, e
Por fim, discute as opiniões dos outros e vê o que é bom e o que seria errado.

Como procede? Primeiro pergunta para o fim último que se encontra em tudo e do qual tudo
recebe sua razão (de ser etc.), isto na vida cotidiana, e aqui para a vida, existência toda do
homem, ou seja o que depende do homem (seu fazer, 2ª parte) e o que DEUS faz para lhe ajudar
(a 3ª parte da Suma teológica), a Encarnação do Filho de DEUS e os sacramentos.
Para o homem, o fim último é a bem-aventurança que trata aqui no início dessa IIa e IIIa parte da
Suma toda.
Pergunta:
q. 1: o fim último em comum
q. 2: em que consiste a bem-aventurança
q. 3: o que é (a essência d-) a bem-aventurança
q. 4: os elementos da bem-aventurança
aa. 1-4 = o papel da vontade
aa. 5-8 = o papel do corpo
q. 5: de que modo podemos conseguir a bem-aventurança

29 Aristóteles, De coelho et mundo, I, V, a 271: “Para quem exorbita, um pequeno desvio da verdade torna-se dez
mil vezes maior quando se vai mais longe... assim é que pequeno erro, no princípio, faz-se grande no fim.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 47

Parte I-II, q. 1, a.1: Sem mais sem menos, Santo Tomás logo enfrenta a questão do “último
fim” – durante as análises se explica a razão.

O homem vive e age, diríamos hoje: ao seu agir específico pertence apenas aquelas ações sobre
as quais ele tem Domício, e estas são “as ações pela razão (rationem) e pela vontade”.30

Este domínio ele chama “livre arbítrio” que não abrange só a vontade, mas “a faculdade da
vontade e da razão” (1,1 e 2).

Agora o objeto da vontade é o fim (1, a.2) e o bem universal (ad 3), e se move por si mesmo a
ele – e depende desse fim, se a ação do homem aperfeiçoa ele ou o diminui (a. 3). A razão é este:

O fim é “o último na execução e o primeiro na intenção” (1,1, ad 1), mas a intenção pertence à
vontade, e por isso, ele dá ao ato humano a qualidade moral (1,3 ad2).

Dito isto,
S.T. levanta a pergunta se há um último fim e responde (a.4): Se não um último fim, o homem
nem começa mexer: “Eliminando o princípio (que move), não haverá o que mova o apetite”.31

30 Estas ações chama “ações humanas” enquanto há outras, que o homem tem em comum com os animais como
respirar, ou digerir etc. Estes ele chama atos do homem (actus hominis).
Mas aqui deve-se logo completar o entendimento pelo fato que a alma racional do homem assume as funções da
vida vegetativa e sensitiva; consequentemente, o homem racional tem uma certo poder ou certa influência também
sobre os atos do homem, logo uma certa responsabilidade.
31 Aqui devemos hoje já juntar essa observação, hoje, quando encontramos tantas pessoas que vive a vida sem
pensar muito (ou nada); elas se “deixam” viver ou pela opinião de outros ou pelos impulsos do apetite sensitivo
(gosto, paixões, fome e sede ...), mas não dirigindo sua vida pela razão e livre vontade – o que S.T. considera como
agir especificamente humano. - A experiência da vida hodierna mostra isso por tantas pessoas que não olham /
creem mais em Deus como último fim: elas ficam sem rumo e sem sentido verdadeiro de sua vida; se o sofrimento
não é “demais” percorrem a vida de 80 anos mas sem saber por que ou para que – e terminam como um animal: se
enterra o corpo e “o mundo” continua como não tivessem vividas, lhes esquece.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 48

I-II, 1, aa.5-8:
a. 5: Quantos últimos fins há?
Só um, pois ninguém pode servir dois senhores.
- a vontade quer a plena satisfação – e não pare, cansa enquanto não alcançou – logo só
descansa num só
- a natureza tende a uma coisa – que deve ser o seu fim – que pode ser apenas um só.
- cada gênero há um só princípio – assim também cada homem.

a. 6: Então – se há só um último fim – é tudo que o homem quer em vista do último fim?
- tende para o bem – e esse deve ser o bem perfeito, logo tende, desde o início para a sua
consumação – que só encontra no último fim.
- segundo os movimentos, todos são movidos pelo primeiro motor e este é ordenado ao primeiro
desejado.

a. 7: Este último fim é igual a todos os homens?


(sc: S.Agost.: Todos os homens são iguais em desejam o último fim, que é a bem-aventurança.)

- Todos são iguais no desejo do último fim porque querem alcançar a PERFEIÇÃO que é a
razão do último fim.
- E em que se encontra essa razão? Não todos estão de acordo !
Alguns deseja riqueza, outros o prazer,
outros o agradável ao paladar... e isto pode ser a doçura do vinho ou mel ou ...
e em que alguém pensa encontrar o seu último fim, esse deve alcançar perfeitissimamente.

Ad1: Os pecadores seguram a intenção do “último fim”,


mas “buscam falsamente em outras coisas”.
Ad3: Mesmo que os indivíduos vivem diferentemente, o primeiro princípio é a natureza, e ela
tende a uma só coisa – logo igual a todos.

a. 8: As outras criaturas tem como próprio esse último fim?


Não: por falta de razão lhes falta também a bem-aventruança. – logo tb. não tem como fim
próprio o fim do homem
- a coisa na qual se encontra a razão do bem:
se procuramos para o homem, então as coisas serão submetidas a último fim do homem
que é Deus
- o uso ou a aquisição dessa coisa:
O homem consegue o último fim conhecendo e amando Deus. Isto as outras criaturas não
tem – logo também não gozam dessa bem-aventurança.

Então, na 1ª questão S.T. pergunta pelo FIM, e este como último.


= o homem age por um fim – e não cansa até alcança o último fim que “mata” toda a ansiedade.
No art. 7, diz que este fim último é a bem-aventurança
Que porém não todos estão de acordo onde se encontra.
Assim segue a 2ª questão:
Psicologia e vida espiritual - 2022, 49

Assim surge a questão 2, com a pergunta: “Em que consiste a bem-aventurança?”


Podemos perguntar também assim:
O homem é como uma obra inacabada
é feito para um fim que ainda não há alcançado.
Então: Em que existe sua perfeição – sua bem-aventurança?

Santo Tomás discute 4 ofertas: riqueza, honra, fama ou glória e o poder.


[ele não diz, que se localizam - fora da alma – porque tb. a última, 8ª, está fora!!]

Em si, mesmo para nós hoje não é difícil entender e aceitar que
o homem não encontra sua última felicidade nestes – pois todos são tão frágeis, perecerias
que não demoram e satisfazem o homem.

Mas, vale apena escutar o Santo como ele argumenta para cada um.

Art. 1 – a riqueza: S.T. distingue entre riquezas naturais e artificiais. As duas servem para matar
As necessidades do homem como comida e bebida etc. logo não são o
último fim.
Ad 2: O dinheiro em particular serve para comprar coisas materiais – mas não espirituais
Como a sabedoria.

Art. 2: - a honra: A honra está no que honra – e não no honrado – por isso, não é o fim!
[o aplauso do presidente do banco ou do diretor de uma escola vale (pois sabem
que falam), e não de um empregado ou apenas de um vizinho]

Ad 1: Outra observação de S.T.: Honra é um prêmio – mas não o verdadeiro que é a bem-
aventurança; logo, quem procura honra, age mais por uma ambição que por
virtude.
[Ex. a “Miss Brasil” ligou a um colega da primária, que sabia ser Bispo, e pediu ajuda, pois
estava triste e perdida – a “Miss Brasil” !]

Art. 3 – fama ou gloria: Essas é um conhecimento com louvor = se conhece e louva;


Pode ser divino ou humano:
Se é divino: então o conhecimento é a causa da glória e bem-aventurança,
e não o fim!
Se é humano: ou: depende da bem-aventurança humana como causa, então
não é o fim;
ou: falha muito e é enganadora! [Na Suma contra os
Gentios (ScG III, c.29) se exprime assim: “A glória, que consiste na fama, é instável ao máximo,
pois nada é mais mutável do que a opinião e o louvor humano.”

Art. 4 - Poder: s.c.: Poder causa preocupações, medo e necessidade de guardas !


Poder tem razão de início - o fim é a bem-aventurança;
Refere-se ao bem e ao mal – só a bem-avent. é o próprio e perfeito bem do homem.

Olhando para trás dessas quatro razões e referindo-se a eles, dize ainda
A Bem-aventurança é o sumo bem do homem - esses bens podem ser encontrados nos bem
e maus;
Psicologia e vida espiritual - 2022, 50

A Bem-aventurança é suficiente por si - possuindo esses, faltam ainda muitos bens


(sabedoria, saúde);
A Bem-aventurança é o bem perfeito sem - desses todos mutas vezes são conservadas para o
mal nenhum mal do seu senhor.

O home ordena a ela os principais - eles originam de coisas exteriores e, muitas vezes,
intenções naturalmente de sorte, logo não constituem a bem-avent.

No segundo grupo, Santo Tomás olha ao homem mesmo [por isso, interiores]
Ele lista o - bem do corpo, o prazer, algum bem da alma, e pergunta: consiste em algo criado?

Art. 5 – num bem do corpo: s.c. há animais que – seg. o corpo - são melhores que nos no corpo.
1º O corpo não tem seu último fim em si – é dirigido pela vontade como um barco pelo
navegador; e seu fim é apenas conservar a existência.
E 2º o Corpo depende da alma (não vice-versa) – como a matéria da forma;
e o instrumento do motor;
logo todos os bens do corpo se ordenam para os bens da alma com seu fim
[a vida física é “sacrificada” para a vida da alma como nos mártires; S. Maximiliano Kolbe)

Art. 6 – no Prazer (em latim: voluptas): s.c. Boécio: Lembrar-se das paixões faz nos triste;
resulta da voluptuosidade – não fazem feliz.
1º Em cada coisa há o que pertence à sua essência e o que lhe é acidental;
o prazer é acidental e apenas acompanha a beatitude.
2º O prazer é o bem de um sentido do corpo, e de um indivíduo; mas o bem da alma é
universal e infinito, logo superior do bem do corpo e do prazer.
“A maioria dos homens, não podendo alcançar os prazeres (delectationes) espirituais, que são próprios
dos virtuosos, resulta que se voltem para os prazeres do corpo.” (Suma Teológica, I-II, 31, 5 ad1)

Art. 7 – em algum bem da alma: o fim é da posse – ou do uso:


Se é posse – é ainda apenas uma potência (com a inteligência) – logo, não o fim;
Se é uso – é uma forma de participação: A bem-av.ça é algo da alma, mas em si
é fora dela;
[Experimentamos: o homem nunca fica satisfeito, nunca se contenta – tende para o infinito].

Art. 8 – em algo criado: s.c. Sto Agostinho: “Feliz o povo cujo Deus é o Senhor!” (Sl. 143,15)
A bem-aventurança é – um bem perfeito; tranquiliza o desejo totalmente;
Se não fosse o fim último, ficasse algo a desejar!
O objeto da vontade é o bem universal e do intelecto a verdade universal
Só pode aquietar os dois o bem universal;
Este não se encontra em algo algo criado que apenas participa na bem-avent.
LOGO: “Só em Deus consiste a bem-aventurança do homem” (c.fi), pois “o bem do universo
não é o último fim do homem, mas o próprio Deus.” (ad 2).

S D S = Só DEUS Satisfaz = Cat 1718


Psicologia e vida espiritual - 2022, 51

S.Th. I-II, q. 3 e 4
q. 3 = a essência da bem-aventurança
q. 4 = os elementos da bem-aventurança
aa. 1-4 = o papel da vontade
aa. 5-8 = o papel do corpo

S.Th. I-II, q. 3
É belo de ver o procedimento lógico de Santo Tomás – tão agradável (= belo!) sua ordem:
A Bem-aventurança é algo criado?
Se criado uma ação?
Se uma ação, então ação sensitiva ou intelectiva?
Se é uma ação intelectiva é do intelecto ou da vontade?
Se uma ação do intelecto é do intelecto especulativo ou prático?
Se do intelecto especulativo é das ciências especulativas?
Então consiste no conhecimento - dos Anjos?
Ou, mesmo na visão da essência divina?

a. 1: A Bem-aventurança é algo criado?


O Fim se entende de duas maneiras
a) O que se deseja conseguir, ou seg. o objeto: – aí é o bem infinito, incriado, DEUS –
sua infinita bondade que – só – pode satisfazer a vontade do homem perfeitamente.
b) Segundo a posso, o uso, o gozo, o essencial que está no homem – então só pode ser
limitado, criado, alcançado.

a.2 - A Bem-aventurança é uma ação? Se é algo a ser alcançado, então seria um agir do
homem; e seg. isto deve – seg. Arist. (sc) “proceder de uma virtude perfeita”.
Para agir precisa ser em ato – e possuir a potência;
A última perfeição do homem consiste na bem-aventurança, no último ato do homem;
Logo deve ser o ato de considerar [= pensar, refletir, contemplar]
Ad 4: Há graus de perfeição: DEUS, Anjos, o homem in via, - na vida ativa dedicado a muitas ocupação e
na vida contemplativa onde há bem-aventurança mais contínua, maior, m.perfeita.

a.3 - A Bem-aventurança é ação da pare sensitiva ou somente intelectiva?


Essencialmente – a) a união do homem com o Bem incriado (fim último) não pode ser pelos
sentidos; b) a bem-aventurança não consiste em bens corporais – logo ...
Antecedentemente: Sim: pode participar enquanto a operação intelectiva pressupõe a sensitiva!
Consequentemente: Não: pois a perfeita b-av. no céu, união com DEUS, não depende dos sent.

a.4 - A Bem-aventurança na parte intelectiva é ação do intelecto ou da vontade?


Se for da vontade – seria ainda desejo, movimento – e não o fim !
Psicologia e vida espiritual - 2022, 52

Desejamos o fim inteligível, mas o intelecto o faz presente, logo consiste num ato da
inteligência. - Em seguida a vontade gozosa descansa no fim já possuído , logo pertence à
vontade o prazer consequente: Agostinho: “A bem-aventurança é o gozo da verdade.”

a.5 - A Bem-aventurança é ação do intelecto especulativo ou int. prático?


1- A bem-aventurança deve ser a melhor ação do homem – logo da melhor potência e respeito do
melhor objeto = é o do intelecto especulativo – com a contemplação das coisas divinas.
2- A contemplação é procurada por si mesmo (o int. prático busca algo – e o que é fora de si);
3- Na vida contemplativa o homem se comunica com os superiores, Deus e Anjos; na vida ativa
com os animais.

a.6 - A Bem-aventurança consiste na consideração das ciências especulativas?


A. As ciências – parem com os princípios, e – estes recebem do sentidos.
B. Logo a última bem-aventurança do homem “não pode estar na consideração das ciências
especulativas”; Mas como nas formas há a “alguma participação na semelhança das substâncias
superiores” a “consideração das ciências especulativas é uma participação da verdadeira e
perfeita bem-aventurança”.
[pensamos na reflexão sobre as leis na natureza; a harmonia ecológica; na “sabedoria” das
abelhas ...]

a.7 - A Bem-aventurança consiste no conhecimento das substâncias separadas ou dos


Anjos?
Tudo que é apenas por participação não pode ser o último fim ou dar a perfeita bem-aventurança.
Os Anjos são por participação - logo, seu conhecimento só pode dar uma bem-aventurança
participada – uma verdadeira, mas só participada.

Ad 2: “O Anjo auxilia o homem a conseguir a bem-aventurança, mas não é o objeto da bem-


aventurança humana.”

a.8 - A Bem-aventurança do homem consiste na visão da essência divina?


Só DEUS – sim, porque
- enquanto o homem deseja ainda algo – ainda não alcançou a bem-av. perfeita;
E enquanto não vê DEUS, deseja ainda ... mais e mais.
- enquanto o objeto: Quando o homem conhece a essência – mas ainda não a causa, não conhece
suficiente, e não fica contente. Logo, só satisfaz o conhecimento absoluto da causa primeira.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 53

I-II, q. 4: os elementos da bem-aventurança


aa. 1-4 = o papel da vontade
aa. 5-8 = o papel do corpo

a.1 – Requer-se o prazer (= delectatio – deleite) para a bem-aventurança?


Em palavra mais simples ainda: deve-se ser feliz quando alcança a bem-aventurança?
[falamos no início, que as duas palavras são quase sinônimos, logo parece evidente; porém, no
caminho, q.2 a.6, S.Tomás perguntou se a bem-aventurança consiste no prazer do corpo e
determinou que não é próprio daquilo que é próprio do homem, da alma espiritual; por isso volta
aqui a pergunta de novo, e como veremos logo, a respeito das faculdades espirituais, será que
podemos, ou até devemos ser “feliz”, alegres quando possuímos a bem-aventurança?]

S.Tomás distingue 4 modos de dependência – de um de outro


De preparação – como disciplina para a ciência
De aperfeiçoamento de algo - como a alma para o corpo
De auxílio extrínseco - como amigos numa ação
De concomitante - como o calor acompanha o fogo
Neste último sentido se requer o prazer, o deleite para a bem-aventurança pois
A – o prazer é causado quando o apetite se aquieta no bem conseguido;
B - a BA é a posse do Sumo Bem;
C – Logo não pode haver BA sem a concomitância do prazer.
Assim, se entende a citação de S.Agostinho (s.c.): “A BA é a alegria que provém da verdade.”
Ou ad 1: é na própria razão da recompensa (do descanso no bem alcançado)
Ad 2: Pela própria visão de DEUS é causado o prazer,
E ad 3: o prazer ajuda de agir com mais atenção e perseverança (sem prazer somos distraídos) e
“o prazer dos sentidos contrário a razão - impede
o juízo da prudência mais do que o juízo do intelecto especulativo.”

a.2 – É mais importante a visão do que o prazer (delectatio)?


s.c. a causa é superior ao efeito
visão é causa do prazer -logo é superior
corpo: a ação do intelecto – é superior ao prazer
o prazer está no descanso da bondade da coisa (ou ação) [= resulta, efeito]
ad 1: “o prazer ser uma perfeição concomitante à visão.”
ad 2: “O intelecto ... prefere o bem ao prazer” ...

a.3 – Se requer a compreensão?


Segundo uma análise perspicaz ... conclui:
“ser necessário para a BA o concurso das três coisas:
- a visão, que é o conhecimento perfeito inteligível do fim;
- a compreensão, que implica a presença do fim, e
- o prazer, ou fruição, que implica o repouso do amante no amado.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 54

a.4 – requer a retidão da vontade?


Antecedentemente – como a matéria deve ser disposto para receber a forma,
Assim o homem para o fim – e isto pela disposição ou vontade reta
Concomitantemente – a vontade ama o bem – que na BA se vê. Claro: para chegar a BA tem que
ter a reta intenção, buscar o bem (comum) que conhece – logo, esta é a abertura para a visão.

a.5 – requer o corpo?


Distinguindo a BA imperfeita nesta vida – na qual o intelecto precisa o corpo para conhecer
E da perfeita depois da morte –
- se a alma não pode ser sem o corpo, precisa; porém, isto é contra a Revelação (2 Cor
5,6-8) e a razão: Deus é espiritual, não pode ser visto por imaginação – logo não precisa o corpo.
- seg. a essência da alma – não precisa para chegar a BA perfeita,
Mas seg. “o seu bom ser como a beleza do corpo” – sim, a alma goza a BA, mas ainda
“conserva o desejo natural de governar o corpo” e por isso a BA é imperfeita.

Ad 1: A BA é perfeita seg. o intelecto que transcende o corpo; não enquanto a alma é a forma do
corpo. (cf. ad 4)

a.6 – requer alguma perfeição do corpo?


De um lado não (livrar-se do corpo facilita a inteleção),
do outro lado, a redundância da BA da alma leva o corpo a sua perfeição.

a.7 – requer bens exteriores?


s.c.: Sl 72: “Nenhuma outra coisa quero a não ser o que vem logo após: o meu bem é me unir
com DEUS.”
BA imperfeita: como a na terra – os bens exteriores são exigidos, não com essência, mas
Instrumentalmente
BA perfeita: consiste na visão de DEUS – esses bens “de nenhum modo são exigidos”.
A razão: eles servem para o sustento do corpo.

a.8 – requer a companhia de amigos?


felicidade presente: necessita amigos - não pela utilidade (pois se basta a si)
- não pelo prazer (pois possui perf. prazer na
ação da virtude)
mas para bem agir = fazer o bem e para alegrar-se ao vê-los fazer bem
tb. para ser por eles auxiliado
e para praticar o bem nas obras da vida ativa e contemplatia.

Felicidade perfeita: não é necessário a sociedade de amigos por possuir a plena perfeição em
Deus. Mas a companhia contribui ao bem estar da BA.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 55

I-II, q. 5: de que modo podemos conseguir a bem-aventurança

Art; 1 – O homem pode conseguir a bem-aventurança? POTÊNCIA OBEDIENTIALIS nota


- porque o homem – pelo seu intelecto e vontade é capaz do Sumo Bem. ... (Sl 93,12)

Art. 2 – Pode um ser mais BA que o outro? (Jo 14,2: há muitas moradas)
- o próprio fim = o Sumo Bem - = é objeto e causa das BA: É DEUS = um só
- enquanto “posse” ou gozo do bem: um mais que outro “porque está melhor disposto ou mais
ordenado para esse gozo.”
Ad3: “A nenhum b-ado falta algum bem a ser desejado.
Um mais disse por causa da participação diverso.

Art. 3 – Alguém pode ser b-a nesta vida? (Jó 14,1: nesta vida cheia de misérias)
É impossível
1º a BA pelo Bem perfeito exclui todo o mal e satisfaz todo o desejo – “nesta vida o desejo do
bem não pode ser saciado.” (Os bens são transitórios; o homem foge da morte por natureza...)
2º A BA consiste essencialmente na Visão da essência divina – não se pode atingir nesta vida.

Art. 4 – Pode-se perder a BA? (Mt 25,46 – sim)


1º a imperfeita BA nesta vida pode deixar de existir – por esquecimento, doença, trabalho ...
mudanças exteriores...
2º A perfeita BA: “É impossível eu alguém vendo a essência divina não a queria ver.”
(Contrário a opinião de Orígenes que o homem pode tronar-se misero) Confirma Sl 16,15: Sab
7,11. Ad 2: “O homem não pode não querer ser bem-aventurado.”

Art. 5 – Pode por seus dons naturais adquirí-la ?


s.c. a BA preparada ultrapassa o intelecto e a vontade do homme.
c.: “ver a Deus em sua essência está acima não só da natureza humana, como também das demais
criaturas... ultrapassa infinitamente toda a substância criada”.

Art. 6 – o homem consegue a BA pela ação e uma criatura superior ? (= Anjo, Santo)
Sl 83,12: Deus draá a graça e a glória.
C: “o que excede a natureza criada não pode ser feita pelo poder da criatura.
Ad 1: “o homem é auxiliado pelos anjos para conseguir o último fim, mediante algumas coisas
preparatórias, que o dispõem (só).

Art. 7 – Obras boas são exigidas? (s.c.: Rom 4,6: Se sabeis, sereis b-a se fizerdes)
A BA exige a retidão da vontade ... não se conclui que alguma ação do homem deve preceder a
sua BA. - ter a BA por natureza pertence só a DEUS. Com ao BA excede cada criatura,
nenhuma consegue convenientemente. ... mas conseguem-na por muitos movimentos de aç~eos
que são os méritos.

Art. 8 – Todo o homem deseja a BA? - s.c. Agost. Sim


Seg. a razão comum – é necessário que todos os homens a queiram.
Seg. uma razão especial - = em que consiste a BA, desse modo nem todos a conhecem, porque
não sabem a que atribuir a razão comum de BA. Assim sendo, quanto a isso, nem todos a
querem.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 56

Catecismo: Artigo 1 O HOMEM IMAGEM DE DEUS


1701 "Novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta
plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação." (GS 22, 2) Em
Cristo, "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15; cf. 2Cor 4,4), foi o homem criado à "imagem e
semelhança" do Criador. Em Cristo, redentor e salvador, a imagem divina, deformada no homem
pelo primeiro pecado, foi restaurada em sua beleza original e enobrecida pela graça de Deus (cf.
GS 22,1).
1702 A imagem divina está presente em cada pessoa. Resplandece na comunhão das pessoas, à
semelhança da unidade das pessoas divinas entre si (cf. capítulo II).
1703 Dotada de alma "espiritual e imortal" (GS 14), a pessoa humana é "a única criatura na terra
que Deus quis por si mesma" (GS 24,3). Desde sua concepção, é destinada à bem-aventurança
eterna.
1704 A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão, é capaz de
compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz de ir,
por si, ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeição na "busca e no amor da
verdade e do bem" (GS 15,2).
1705 Em virtude de sua alma e de seus poderes espirituais de inteligência e vontade, o homem é
dotado de liberdade, "sinal eminente da imagem de Deus" (GS 17).
1706 Por sua razão, o homem conhece a voz de Deus, que o insta a "fazer o bem e a evitar o
mal" (GS 16). Cada qual é obrigado a seguir esta lei que ressoa na consciência e se cumpre no
amor a Deus e ao próximo. O exercício da vida moral atesta a dignidade da pessoa.
1707 "Instigado pelo Maligno, desde o início da história o homem abusou da própria liberdade."
(GS 13,1) Sucumbiu à tentação e praticou o mal. Conserva o desejo do bem, mas sua natureza
traz a ferida do pecado original. Tornou-se inclinado ao mal e sujeito ao erro:
O homem está dividido em si mesmo. Por esta razão, toda a vida humana, individual e coletiva,
apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas (GS 13,2).
1708 Por sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos mereceu a vida nova no
Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado deteriorou em nós.
1709 Quem crê em Cristo torna-se filho de Deus. Esta adoção filial o transforma, propiciando-
lhe seguir o exemplo de Cristo. Ela torna-o capaz de agir corretamente e de praticar o bem. Em
união com seu Salvador, o discípulo alcança a perfeição da caridade, a santidade. Amadurecida
na graça, a vida moral desabrocha em vida eterna na glória do céu.

ARTIGO 2 NOSSA VOCAÇÃO À BEM-AVENTURANÇA


I. As bem-aventuranças
1716 As bem-aventuranças estão no cerne da pregação de Jesus. Seu anúncio retoma as
promessas feitas ao povo eleito desde Abraão. Jesus as completa, ordenando-as não mais ao
simples bem-estar gozoso na terra, mas ao Reino dos Céus:
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os
mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-
aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o
mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa
recompensa nos céus (Mt 5,3-12a).
1717 As bem-aventuranças traçam a imagem de Cristo e descrevem sua caridade; exprimem a
vocação dos fiéis associados à glória de sua Paixão e Ressurreição; iluminam as ações e atitudes
características da vida cristã; são promessas paradoxais que sustentam a esperança nas
Psicologia e vida espiritual - 2022, 57

tribulações; anunciam as bênçãos e recompensas já obscuramente adquiridas pelos discípulos;


são iniciadas na vida da Virgem Maria e de todos os santos.
II. O desejo de felicidade
1718 As bem-aventuranças respondem ao desejo natural de felicidade. Este desejo é de origem
divina: Deus o colocou no coração do homem, a fim de atraí-lo a si, pois só ele pode satisfazê-lo.
Todos certamente queremos viver felizes, e não existe no gênero humano pessoa que não
concorde com esta proposição, mesmo antes de ser formulada por inteiro (Sto. Agostinho, Mor.
eccl. 1,3,4: PL 32, 1312).
Então, como vos hei de procurar, Senhor? Visto que, procurando a vós, meu Deus, eu procuro a
vida bem-aventurada, fazei que vos procure para que minha alma viva, pois meu corpo vive de
minha alma, e minha alma vive de vós (Sto. Tomás de Aquino, Symb. 1).
Só Deus satisfaz (Sto. Tomás de Aquino, Symb. 1).
1719 As bem-aventuranças desvendam o objetivo da existência humana, o fim último dos atos
humanos. Deus nos chama à sua própria bem-aventurança. Este chamado se dirige a cada um
pessoalmente, mas também a toda a Igreja, povo novo formado por aqueles que acolheram a
promessa e nela vivem na fé.
III. A bem-aventurança cristã
1720 O Novo Testamento usa várias expressões para caracterizar a bem-aventurança à qual Deus
chama o homem: a vinda do Reino de Deus (cf. Mt 4,17); a visão de Deus: "Bem-aventurados os
puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5,8; Cf. 1Jo 3,2; 1Cor 13,12); entrada na alegria do
Senhor (cf. Mt 25, 21.23); entrada no repouso de Deus (cf. Hb 4, 1-11):
Aí descansaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis a essência do
fim sem fim. E que outro fim mais nosso que chegarmos ao reino que não terá fim? (Sto.
Agostinho, Civ., 22,30)
1721 Deus nos colocou no mundo para conhecê-lo, servi-lo e amá-lo e, assim, chegar ao paraíso.
A bem-aventurança nos faz participar da natureza divina (1 Pd 1,4) e da vida eterna (cf. Jo 17,
3). Com ela, o homem entra na glória de Cristo (cf. Rm 8,18) e no gozo da vida trinitária.
1722 Tal bem-aventurança ultrapassa a inteligência e as forças exclusivamente humanas. Resulta
de um dom gratuito de Deus. É por isso que se diz ser sobrenatural, como também a graça que
dispõe o homem a entrar no gozo divino.
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus." Por certo, de acordo com sua
grandeza e glória indizível, "ninguém verá a Deus e viverá", pois o Pai é inacessível; mas,
devido a seu amor, sua bondade para com os homens e sua onipotência, chega até a conceder
àqueles que o amam o privilégio de ver a Deus...
"pois o que é impossível aos homens é possível a Deus." (Sto. Irineu, Ad. haer., 4,20,5).
1723 A prometida bem-aventurança nos coloca diante de escolhas morais decisivas. Convida-nos
a purificar nosso coração de seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima de tudo.
Ensina que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana
ou no poder, nem em qualquer obra humana, por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e
as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo bem e de todo
amor.
A riqueza é o grande deus atual; a ela prestam homenagem instintiva a multidão e toda a massa
dos homens. Medem a felicidade pelo tamanho da fortuna e, segundo a fortuna, medem também
a honradez... Tudo isto provém da convicção de que, tendo riqueza, tudo se consegue. A riqueza
é, pois, um dos ídolos atuais, da mesma forma que a fama... A fama, o fato de alguém ser
conhecido e fazer estardalhaço na sociedade (o que poderíamos chamar de notoriedade da
imprensa), chegou a ser considerada um bem em si mesma, um sumo bem, um objeto, também
ela, de verdadeira veneração Newman, Mix., 5, sobre a santidade. (Newman, Mix., 5, sobre a
santidade)
1724 O Decálogo, o Sermão da Montanha e a catequese apostólica nos descrevem os caminhos
que levam ao Reino dos Céus. Neles nos engajamos, passo a passo, pelas ações de todos os dias,
Psicologia e vida espiritual - 2022, 58

sustentados pela graça do Espírito Santo. Fecundados pela Palavra de Cristo, daremos, aos
poucos, frutos na Igreja para a glória de Deus (Cf. a parábola do semeador: Mt 13,3-23).

Salmo 55 (54)
1 [Ao maestro do coro. Com instrumentos de corda. Poema de Davi.]
2 Ó Deus, escuta a minha oração, não rejeites minha súplica; 3 presta-me atenção e atende-me.
Estou ansioso na minha tristeza e me perturbo
4 pelo grito do inimigo, pelo clamor do malvado.
Pois sobre mim fazem cair desgraças, me perseguem com furor.
5 Meu coração treme no meu peito e terrores mortais se abateram sobre mim.
6 Temor e tremor me invadem e me oprime o horror.
7 Então digo: “Ah! Se eu tivesse asas como a pomba para voar em busca de descanso!
8 Fugiria para longe, iria morar no deserto,
9 buscaria um lugar de refúgio, protegido da fúria do vento, longe de qualquer
tempestade”.
10 Dispersa-os, Senhor, confunde suas línguas.
Vejo na cidade violência e discórdia:
11 dia e noite circulam sobre seus muros, dentro há iniqüidade e tormento.
12 Insídias reinam no seu interior e não cessam em suas praças a opressão e a
fraude.
13 Se fosse um inimigo que me insultasse, eu agüentaria;
se fosse um adversário que se levantasse contra mim, me esconderia dele.
14 Mas és tu, meu companheiro, meu amigo e confidente;
15 uma doce amizade nos unia, na casa de Deus caminhávamos alegres.
16 Que a morte caia sobre eles, que desçam vivos ao lugar dos mortos, pois a
maldade mora com eles.

17 Eu invoco a Deus e o Senhor me salva.


18 De tarde, de manhã e ao meio-dia lamento-me e suspiro, e
ele escuta minha voz;
19 vai me dar a paz, livrando-me dos que me combatem: pois meus adversários são tantos!
20 Deus me escuta e os humilha, ele que domina desde sempre.
Pois para eles não há conversão, eles não têm temor a Deus.
21 E cada qual estendeu a mão contra seus aliados, violou sua aliança.
22 Mais macia que a manteiga é sua boca, mas no coração têm a guerra;
mais fluidas que o óleo são suas palavras, mas são espadas afiadas.

23 “Entrega ao Senhor tua ansiedade e ele te dará apoio, nunca permitirá que vacile o
justo”. 24 Tu, ó Deus, os precipitarás no fundo do sepulcro; os homens sanguinários e
fraudulentos; não chegarão à metade dos seus dias. Mas eu em ti confio.

“Amabilíssimo Jesus, meu bom salvador, única felicidade de minha vida!” (Livrinho sobre as
Chagas, 87)
Não deveríamos chegar ao mesmo suspiro? – ao menos na Sta. Comunhão, na 1ª S.Co.?

“Coração de JESUS, fonte de toda a consolação!” (Ladainha ao Sagr. Coração de JESUS)


Psicologia e vida espiritual - 2022, 59

Carta aos Filipenses:


1,21: Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro.
22 Ora, se, continuando na vida corporal, eu posso produzir um trabalho fecundo, então
já não sei o que escolher.
23 Estou num grande dilema: por um lado, desejo ardentemente partir para estar com
Cristo – o que para mim é muito melhor –;
24 por outro lado, parece mais necessário para o vosso bem que eu continue a viver neste
mundo.

3,25-30:
25 Quanto a
Epafrodito – que é para mim irmão e companheiro de trabalho e de luta, e que foi enviado por
vós para me atender nas minhas necessidades – julguei que devia mandá-lo de volta a vós. 26
Ele estava com saudades de todos vós e andava muito preocupado, porque ficastes sabendo de
sua doença. 27 Realmente, ele esteve às portas da morte, mas Deus compadeceu-se dele, e não
somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. 28
Apressei-me, pois, em vo-lo enviar, para que tenhais a alegria de revê-lo e eu fique mais
aliviado. 29 Recebei-o, no Senhor, com muita alegria, e tende em grande estima pessoas como
ele. 30 Pois, pela causa de Cristo, ele esteve bem perto da morte, arriscando a própria vida
para me atender em vosso lugar.

8 Mais que isso, julgo que


tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor.
Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo 9 e ser
encontrado unido a ele. E isto, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a justiça
que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, com base na fé. 10 É assim que eu
conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornandome
semelhante a ele na sua morte, 11 para ver se chego até a Ressurreição dentre os mortos.
12 Não que eu já tenha recebido tudo isso, ou já me tenha tornado perfeito. Mas continuo
correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus. 13 Irmãos, eu
não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lançome
para o que está à frente. 14 Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do
alto, Deus me chama a receber, no Cristo Jesus. 15 É assim que nós, os “perfeitos”, devemos
pensar. E se tiverdes um outro modo de pensar, nisto também Deus vos esclarecerá. 16 No
entanto, qualquer que seja o ponto a que tenhamos chegado, continuemos na mesma
direção.17 Irmãos, sede meus imitadores, todos vós, e reparai bem os que vivem segundo o
exemplo que tendes em nós. 18 Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há
muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. 19 O fim deles é a
perdição, o deus deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam só as
coisas terrenas! 20 Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos como
salvador o Senhor Jesus Cristo.

4,4: Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos! 5 Seja a vossa amabilidade conhecida
de todos! O Senhor está próximo. 6 Não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda
ocasião, apresentai a Deus os vossos pedidos, em orações e súplicas, acompanhadas de ação
de graças. 7 E a paz de Deus, que supera todo entendimento, guardará os vossos corações e os
vossos pensamentos no Cristo Jesus. 8 Quanto ao mais, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é
verdadeiro, digno de respeito ou justo, puro, amável ou honroso, com tudo o que é virtude ou
louvável. 9 Praticai o que de mim aprendestes e recebestes e ouvistes, ou em mim
observastes. E o Deus da paz estará convosco.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 60

III.
TRATADO SOBRE O HOMEM - A antropologia de Santo Tomás

A. No início seja permito esta observação: Profundos conhecedores de Santo Tomás não acham
bom de falar de “tomismo” ou, como neste contexto nosso, de “antropologia ou psicologia
tomista”; e isto por vários motivos:
- O que se encontra nos escritos de Santo Tomás é demasiado amplo para restringir a um -ismo.
- Também, porque o ensino de Santo Tomás não é uma opinião ao lado de outros, ou seja, um
-ismo ao lado de outros...
- Principalmente, porque Santo Tomás queria simplesmente conhecer e ensinar a VERDADE,
aquilo que é, a REALIDADE, e essa é a obra de DEUS – como já falamos: Observa e ensina o
que leio na realidade.

Alguém pode opor: Mas, não querem todos apenas isto? Não querem todos os psicólogos apenas
tratar do mesmo, do homem? Não querem todos apenas apresentar e explicar a Verdade?

Bem se aceitamos essa intenção, surge a pergunta: Por que, então, não chegam todos a mesma
doutrina? Se todos querem o mesmo, será então que eles tratam de algo diferente? Será que dão
respostas diferentes a pergunta: “Quem é o homem?”
E alguém especifica: Quem é o homem? - ou: Quem é a alma?
Direi: se se pergunta pelo homem, então a pergunta é filosófica,
se a pergunta é pela alma será psicológica, porém consciente de que se olha só a uma parte, que
certamente dificultará uma visão correta e um conselho adequado, se consegue um
(entendermos mais sobre isso mais para frente).

Quando olhamos à felicidade com último fim da vida humana (aula passada), olhamos para fora,
para onde e para que viver; agora aqui queremos olhar principalmente para dentro do homem e
perguntar: Quem é o homem e como “funciona” ou realiza ele sua vida?
Seguiremos este fio de pensamento:

1º O homem é – como tudo que existe – uma união de


Do seu Ser (ou matéria) concreto e de uma ideia universal (que é primeiro em Deus)
a) Matéria e forma (página 2)
b) Homem (alma com corpo) existente (p. 3)
c) Com uma união total (alma como único princípio de vida do homem; p. 4)
d) E as influências que sofre (p. 6)

2º O problema da opinião de alma e corpo separados no tempo moderno (p. 12)


a) Por Descartes (p. 12)
b) Ideia materialista da alma por Herbart
c) Fundação da Psicologia experimental por W. Wundt (1879)
d) A volta à integridade – Antropologia em vez de Psicologia (p. 13)

3º A vida concreta do homem na visão cristã (p. 15)


a) Como a vida humana se manifesta (p. 15)
b) As dimensões da “antropologia cristã” (p. 16)
c) O exemplo da educação (p. 17)
d) A harmonia ou desarmonia na vida interior do homem (cf. Rom 7, 7-25; Papa Francisco,
Fratelli tutti, 13-15; p. 18)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 61

1º O homem é – como tudo que existe – uma união de


Do seu Ser (ou matéria) concreto e de uma ideia universal (que é primeiro em Deus)

a) Matéria e forma (chamado “hile-morfismo” = matéria - forma)


Para entender-nos precisamos primeiro poucos exercícios:
(algo em si = causas intrínsecas = matéria e forma)
Todo o mundo vê
1º que tenho algo na mão? (caneta)

2º Alguém sabe o que é? - Tem alguém que não está de acordo?


Ninguém vê outra coisa?
Quero dar parabéns, porque esse objeto é mesmo aquilo que dissestes.

3º Já que estamos vendo, posso convidar de dar algumas observações a mais:


Uma observação já fiz eu: Essa caneta está “na minha mão” – isto é, localizei onde está.
Há outras observações? Longo, colorido? Resistente? Único ou

4º Há duas ? - Uma ou duas?


Há uma segundo “o que é” pois as duas coisas são canetas, não uma caneta outro livro.
Mas também, devo afirmar que são duas – pois, não são duas ?
Vale repetir: Cada uma é, a ideia de caneta recebeu duas vezes um ser,
São duas porque são duas coisas, que virou seu ser, e fez que temos 2 canetas.
Mas são uma só porque são do mesmo tipo, de modo que tanto faz se pego esta ou a outra.

5º Me perdoem, mas é importante de constatar isso.


Para justificar a importância – me dão ainda um momento e seguem:
TODAS AS COISAS - são – e são assim ou assam!
Não há algo que apenas “é” (= puro ser) - que simplesmente “é”, sem ser isto ou aquilo!
Também não há puras ideias, isto é, ideias por si só não existem.
– Ideias são primeiro só pensamentos de Deus, em Deus é a origem universal de tudo;
– ideias podem existir também na nossa mente – mas se são em nossa mente, vieram de
coisas que conhecíamos antes e de lá abstraímos essa ideia, e sem isto na nossa inteligência não
teríamos também não tal ideia. Por isso, de novo, ideias só ou por si, não possuem ser próprio.

Tudo que há ou que existe, é composto por estes dois princípios, ser e essência, e sem estes não
teria nada, não existiria nada e não teríamos ideia de nada. Para nos conhecer algo e saber algo
precisa isto primeiro existir, e existe quando estes dois princípios são unidos, quando uma ideia
recebe um ser, ou um ser e determinado por uma essência e assim começa existir uma coisa, um
ente, qualquer coisa real, existe conforme a essência ou a forma substancial.

Isto comenta a filosofia do camponês, e do motorista do ônibus e cada um que tem bom senso32:
Um princípio podemos também chamar “matéria” ou “material” e ou outro princípio “forma”
que permite depois de identificar uma coisa da outra, como distinguimos a caneta do meu dedo
ou de um livro. Nunca mencionei ainda, mas já captaram, mas vou ainda dizer: Estes dois
princípios são unidos e, enquanto são unidos, constituem a coisa! Quer dizer: Não há caneta sem
esse material, e não há esse material senão tivesse a determinação ou forma de caneta. Claro,
mais exatamente seria dizer petróleo em vez de caneta, pois a forma natural da caneta é petróleo,
e esse petróleo virou caneta por juntar ao petróleo algumas características acidentais que variam

32 H. DOPPLESTEIN. Psychiatry for Priests – (orig. German: Psychiatrie und Seelsorge). New York: Kenedy &
Sons, 1953, p. 23.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 62

(Nós ajudámo-nos com a caneta porque o que vemos (uma coisa) é marcado por mudanças
acidentais e nós vemos as substâncias através dos acidentes, como mencionamos entre os
princípios de S. Tomás: “Pelos acidentes julgamos da substância”; ST. III, 75,5 obj 2).
b) Homem (alma com corpo) existente

Para aplicar esta lei fundamental, valido para toda a realidade, ao homem, peço seguir os
seguintes passos:

6º Encontramos em todas as coisas, em tudo que existe, em cada ente os dois princípios unidos,
Matéria e forma - o ser e a determinação como TAL ser, pela essência.

7º A matéria faz que existe aqui algo – e a forma é aquilo que nós captamos, entendemos que é.
(Agora olhamos às causas extrínsecas, à forma como pensamento de Deus e ideia
e a matéria (ao ser, que dá existência) criada por Deus do nada.)
8º Que isto é possível (e de fato é assim, como vimos), pressupõe que
DEUS pensa as coisas como um composto por matéria e forma, tem isto como ideia,
depois, num momento de tempo, histórico, quer que estes pensamentos sejam realizados,
existissem e por isso, e nesta hora, cria o ser para esta ou outra ideia.

9º Isto é o momento em que começa ser, agora podemos dizer existir algo, porque tem já ideia, e
ela, juntando o ser, dá a coisa, aquilo que nos vemos em cada ente:
uma matéria e forma, ou uma “matéria formada”, concreta, individual,

10º Distinto da ideia na mente de DEUS por possuir agora um ser próprio:
É lá, em Deus, como ideia – e cá, na terra ou entre as criaturas, como um ente concreto.

11º Ainda torna-se evidente assim que


A ideia em Deus é uma (por exemplo: “Homem”), mas
Essa mesma ideia pode receber muitas vezes um ser, de modo que
Resulta, de ter muitos indivíduos diferentes com a mesma forma ou essência,
de ter muitos homens
- diferentes segundo o ser que é próprio para cada um
- e iguais segundo a mesma forma, ou essência ou da mesma ideia.
Isto confirma e explica a “distinção real” entre ser e essência, matéria e forma.
AGORA:
12º O homem é pensado – por Deus – como um ente físico e espiritual;
Ou seja, com corpo e alma - como “animal racional”.
Que quer dizer: A ideia de “homem” é um ente, uma criatura material-física
com um princípio imanente que raciocina.
➔ A IDEIA do homem é assim:
Cada homem devemos pensar como um ente corporal e espiritual,
intrinsecamente, em si.

13º Quando agora essa ideia “animal racional”, essa forma, ou essência de “corporal-espiritual”
Se faz existir (cria) ou se uma com um ser, começa existir um homem,
um indivíduo, uma pessoa única, existencial, corporal-espiritual.

14º Aqui encontramos o mistério do ser humano:


O homem é um ente espiritual e, ao mesmo tempo, físico ou carnal;
não é que o corpo recebe o seu ser e a alma o seu, de modo que, no fim,
não que cada um seria um próprio ente, e
não que os dois fossem apenas juntados “por fora” como se junta 2as balas numa caixa.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 63

Isto se verifica, ao mais tradar, na morte que é a separação da alma do corpo: pois aí o corpo não
continua ser ele (quer dizer, com próprio ser), mas volta tornar-se pó(eira), enquanto a alma,
devido de sua espiritualidade, é capaz continuar existir por si só.
15º A racionalidade se percebe em cada parte do corpo – percebemos a dor..., se vê no rosto que
é uma pessoa. Todo o corpo é animado pela alma – mesmo que o corpo não é igual a alma.
Pela alma, o homem pode transcender, isto é ultrapassar os limites da matéria, do corpo, mas,
Enquanto o homem vive, a alma não existe fora do corpo.

Este homem aqui


Precisamos lembrar de novo que primeiro DEUS pensou a ideia do homem corporal-espiritual e
na sua individualidade (pois não há corpo geral), mesmo que Deus cria o ser desse homem por
um outro ato, “mais tarde”. Podemos ver essa possibilidade como não estranho, não ir-real:
O que aprendemos de cada ente – como composto de matéria e forma (hile-morfismo)
permite ver e entender cada ente – como uma união de ser e essência.
Isto ajuda de entender a união de corpo e alma, de físico e espiritual
1º como ideia ou pensado ou idealmente (animal racional),
E depois 2º existencialmente como realização concreta e individual (este homem aqui).
(F. Sheen afirma :”Não há um único erro da história que não seja uma perversão
dessa misteriosa unidade corpo-alma.” Em: Três para casar, p. 59)

(Vale aqui mencionar – apenas como observação apropriada aqui – que


o homem foi entendido na história corretamente como pastor (cuidador) de toda a criação
por unir em si estas duas realidades, o material-físico e formal-espiritual.
Esta grandeza do homem exige máximo cuidado no entender e tratar dele; até Deus se fez
homem (se fez um deles), para ajuda-lo!)

c) Com uma união total (alma como único princípio de vida do homem)

Esclarecido a natureza (metafísica) do ser humano permite um passo a mais,


- para a conaturalidade do homem com toda a realidade objetiva, material e espiritual,
- que permite explicar sua vida neste mundo (e não isolado como tantos pensam hoje).

16º Partimos do fato que


Em cada objeto, coisa, ente real encontra-se este duplo aspecto,
O espiritual – que é essa essência ou forma, ou ideia,
que é conhecível e inteligível por um intelecto, e
o material – que faz que as coisas são, logo o aspecto do ser;
igualmente
no homem existente, real, individual, concreto, neste aqui, que diz “eu”, encontra-se
a união (misteriosa, mas) evidente
do espiritual-corporal enquanto ideia de homem como alma e corpo e
do material-existencial do ser, criado por Deus diretamente enquanto alma e
indiretamente pelos pais.
Os dois se encontram no mesmo homem existente, num só homem como forma e matéria.

17º Consequentemente, existe uma correspondência entre as coisas no mundo lá fora e no


homem cá dentro, que com muito sentido (ou “lógica”) se chama conaturalidade, ser de uma
natureza semelhante (ou, análoga, isto é em parte semelhante e em parte diferente).
Esta correspondência possibilita e explica a comunicação do homem com o mundo.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 64

Ela é baseada na própria natureza do homem, por isso, se pode e deve chama-la natural e é
normal – não como uma norma que se impõe e por isso, o homem orgulhoso, ou quem quer ser
independente, quer fugir como o fogo do inferno, mas
- como norma do ambiente em que se encontra e em que se desenvolve sua existência na
dinâmica da vida.
18º Neste homem se observa um sentir e pensar, uma vida em vários níveis,
- um inconsciente como a digestão da comida ou batida do coração... (nível vegetativo)
- outro perceptível se queremos dar atenção como a lembrança de um encontro ontem,
Ou do sabor do vinho... (nível sensitivo)
- outro os pensamentos e amores de objetos distantes, passados e futuros etc.
e que (nível espiritual)
“eu” posso me conscientizar de todos estes modos de minha vida, ou seja, que
em todos estes níveis de vida está presente a minha e única alma (= princípio vital).

19º Consequentemente, podemos e devemos constatar que


meu contato com todas as coisas fora de mim, com todo o mundo independente de mim,
é contato comigo: Eu estou vendo, ouvindo, lembrando, imaginando, alegrando-me e
pensando como foi e podia ser de novo e desejando ou rejeitando.

20º Na base dessa união em mim – eu observo diversos objetos lá fora, as cores, os sons, ...
Mas cá dentro de mim, sou sempre EU que percebe, vê, escuta, reflete ou deseja....
as coisas materiais recebo pelas faculdades específicas do meu corpo,
as “coisas” espirituais (como ideias) acolho pela faculdade espiritual, do intelecto e vontade, e
respondo respectivamente:
uma flor movo pelo meu braço; a um cachorro dou um som que ele interpreta devidamente;
a uma pessoa (mesmo existente num corpo, a uma pessoa humana), e mais ainda a uma pessoa
puramente espiritual como aos anjos e a Deus – basta qualquer manifestação do meu interior e
talvez nem isto é necessário (pois basta o encontro direto).

Assim, por ex., se vejo uma comida familiar –


Sua cor entra pela visão e seu cheiro pela nariz ...
A minha memória complementa com a experiência anterior e
Assim o intelecto entende que é uma comida e a vontade faz mover a mim a ela.

Observação e estimação histórica


A maravilha dessa explicação é sua universalidade enquanto nada exclui e tudo dá seu devido ou
correspondente lugar e importância, ou seja, a ordem tão harmônica e universal – uma
explicação iniciada por Aristóteles 3 séculos antes de Cristo e aperfeiçoada por Tomás de
Aquino no século 13 depois de Cristo -
(Quem não conhece todas essas diferenciações em mim, não sabe explicar bem nossa vida.
Por exemplo, teve correntes filosóficas que queriam explicar toda a comunicação do homem com
o mundo apenas na base de associações (sensitivas: esse est percipi), sem conscientização ou
mêsmo sem reconhecer o intelecto do homem e sua racionalidade – atrás dessas estão teorias
filosóficas que não reconhecem a racionalidade do homem, mas o consideram igual aos animais.
Teve outras correntes como a escola filosófica da fenomenologia que não sabiam explicar bem a
dimensão corporal como parte essencial do homem, e por isso queriam explicar todo o pensar
humano numa forma angelical ou por intuições diretas da essência das coisas.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 65

Ambos desses dois exemplos são hoje – sempre com excepções – deixado ao lado como teorias
insatisfatórias. No fundo, todos separaram alma e corpo, espírito e matéria.)

d) As influências que sofre

Precisamos recorrer a toda essa estrutura que consideramos deste o início, deste a composição de
cada coisa, para entender e analisar tudo que
entendemos, captamos ou / e nos influencia.

21º Primeiro devemos esclarecer o que entendemos por


Influencia no entendimento – ou cognitivo, quer dizer tudo que pelos sentidos externos
entrou na nossa alma com sua forma
(não segundo o seu ser físico que sempre fica onde está:
o cachorro que vejo pelos meus olhos e reconheço com a ajuda da minha
memória no meu intelecto como cachorro do vizinho.)

influência ou experiência psicológica: com isto se refere principalmente (sem regra


absoluta) influências enquanto provocaram reações no apetite, - segundo
Santo Tomás, no apetito sensitivo ou no apetito espiritual que seria nossa
vontade e liberdade.
Por ex.
Há uma festa com várias pessoas: acontecem coisas agradáveis como uma boa conversa ou outro
desagradável com o barulho.
Agora, estes fatos exteriores “entram” em mim, uns mais porque me concentro neles, outros
podem passar até despercebidos por mim, porque não presto atenção.
Segundo o conhecimento e a apresentação consciente disso à minha vontade
- Analiso e
- avalio eles, e
depois - resolvo aceitando, alegrando-me ou
rejeitando e fugindo deles.

22º Assim se forma “a psicologia” ou o caráter do homem individual:


Para avaliar precisa pontos de vista.
Estas são em primeiro lugar deve ser simplesmente o valor ontológico das coisas: cada coisa,
criatura, ente tem seu valor específico segundo a sua essência, um animal vale mais que uma
planta e uma obra de arte em papel é diferente de uma fotografia etc. Aqui entra o conhecimento
das causas e a justiça como ajuda.
- O resultado será a personalidade.
Mas entra como luz para avaliar também valores religiosos, a avaliação segundo a última meta, a
pergunta o que me ajuda aproximar mais a Deus, o que não me preciso arrepender no meu
julgamento pessoal, etc. O conhecimento da Vontade de Deus, das virtudes e exemplo de Santos
servem muito como orientação.
– O Resultado dessa avaliação podemos chamar o Santo que sempre é uma
personalidade, mas aqui ainda mais, uma perfeição de valor eterno.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 66

O Homem na sua interioridade ou psique (Organismo psíquico)


segundo as potências da alma ou estaticamente, ou: antes do agir conhecer o ser na base.
O conhecimento de si mesmo é sempre o ponto de partida para cada promoção humana.

O Homem tem como faculdades dado para o objeto no MUNDO


Com alma (é feito bom por Deus e - mal pelo pecado,
e corpo explicado: na palavra de Deus, nos 10 mandamentos e na consciência dos homens.)
___________________________________________________________________________

é Com livre vontade para escolher o bem


um ser (o homem dirige e rejeitar o mal
espiritual sua vida por ela) (que conhece pelo intelecto e pela consciência)
(alma)
com intelecto para conhecer a realidade objetiva
(por meio dos sentidos conformando-se às coisas)
e
voluntários (= emoções ou motores):
(em si - presente - futuro)33
amor, alegria, desejo-esperança-desespero -- diante do bem objetivo
.... v a - r a i v a - r a i v a - r a ....
ódio, tristeza-fuga (=aversão), medo, audácia -- diante do mal objetivo
C/sentidos
internos imaginação ou fantasia (criativa)
sensitivo cognitivos: memória (guardando) – estimativa (organizando)
(corpo) sentido comum (componendo)

vista as cores (fogo, luz)


e sentidos ouvido o som (ar, som)
externos gosto o sabor (água)
(são as portas ao mundo) olfato o odor (terra)
tato temperatura e pressão
Com
funções vegetativas (três): (pertencem à sub-consciência!)
- A função nutritiva (fome e sede ..., para a conservação do ser individual),
- A função de crescimento,
- A função de geração (sexualidade, para a conservação da espécie humana).

Junto com esta visão estática deve-se conscientizar-se do desenvolvimento do homem.


1. As limitações do ser humano são físicas devido ao crescimento do corpo. Passam anos até que
o corpo serve como instrumento perfeito para a alma racional e todas as funções espirituais.
2. Mas mesmo tendo as faculdades todas a disposição, falta a “luz objetiva” ou o conhecimento
da verdade universal; por isso o intelecto precisa orientação objetiva da verdade ontológica, que
na educação escolar será comunicado.
3. Também a vontade sofre do defeito: pelo pecado original enfraqueceu a sua livre e fiel adesão
ao bem conhecido: como o instinto regula nos animais, o homem deve decidir-se com a sua
vontade; e este não só não funciona objetiva ou racionalmente ou pelo conhecimento ou a
verdade, mas sofreu até uma influência negativa pelo pecado original.

33 Cf. ST I-II, q. 23, a. 4: „Por onde é claro, que


- há três pares de paixões no concupiscível: amor e ódio, desejo e aversão, alegria e tristeza. Semelhantemente,
- há três no irascível: esperança e desespero, temor e audácia, e - a ira a qual nenhuma paixão se opõe.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 67

Para proceder corretamente, Santo Tomás faz esta observação radical (S.T. p. I, q. 77, a. 3):
(1) Pelos objetos – lá fora no mundo, com os quais o homem tem contato –
(2) se distingue os atos – com os quais o homem entra em contato, vive e se comunica
com o mundo, e por estes
(3) se distingue as potências/faculdades – que capacitam o homem dessa convivência.

Assim seja começado pelas observações mais imediatos, que se encontra, em cero sentido, na
superfície das coisas,
- as cores (e com elas a luz) – que o homem percebe, capta pela visão (os olhos)
- o som (que é transmitido pelo ar) - que o homem percebe, capta pelos seus ouvidos, a audição.
- o sabor que o homem percebe e capta pela paladar
- o odor que o homem é capaz de perceber pelo olfato (a nariz) e
- a temperatura e resistência, dois aspetos que, parece, a mesma faculdade percebe, o tato.
Nem por Aristóteles, nem por Santo Tomás de Aquino nós conhecemos da realidade ao nosso
redor outras coisas, que fariam necessário de supor outra faculdade ou outro sentido (I, 78,3).
Se pensamos no peso ou na redondeza de um objeto – como se explica este conhecimento ou
outros ainda (I, 78,4 e 79,6s)? Eles nos indicam um sentido comum – que será já interno na vida
humana. Este acolhe tudo o que estes sentidos – chamados – externos percebem e passam ao
Mundo interno do homem, a este sentido e ele junta, para assim dizer estes dados e forma uma
imagem completa.
Este estaria presente ao homem interno em colaboração de duas outras faculdades, da estimativa
que possui uma certa capacidade organizativa (pensamos quando dirigimos e “calculamos” por
ex. as distâncias; se chama faculdade estimativa. Outra é a memória que é semelhante um
armazém ou depósito do que já tinha entrado no homem e de onde o homem pode – num outro
tempo – chamar de volta à presença atual o que uma vez passou. Há uma faculdade ainda que
S.T. considera diferente nos animais e no homem, mas ainda só no nível sensitivo; esta chama a
faculdade imaginativa ou fantasia, que é capaz de unir várias imagens para uma nova – como
um tipo de colagem. É ainda no nível dos sentidos porque não deixa de tratar sempre com
imagens sensitivas – não ainda com ideias abstratas.
Depois, observamos que nos homens temos uma faculdade que abstrai do que é típico dessa
reprodução visto até aqui: Se vejo com os olhos a caneta – desconsidero seu ser material, mas
tomo em mim seu comprimento, sua cor, sua resistência etc. E tudo isso, está ainda presente
quando me perco, como se diz, na fantasia sobre a caneta. Mas vem um momento, em que capto
a ideia da caneta, como instrumento para escrever. Neste momento, não dou importância se é de
cor verde ou preta, e consequentemente se é esta ou outra, e assim abstraio mais uma vez: esta
vez dos detalhes acidentais que permitem distinguir um do outro, e fico só com a ideia, que tem
como característica de ser universal ou que se encontra em muitas coisas, em todas as coisas que
possuem esta característica e capacidade de escrever. Esta ideia não fui eu que criei, mas se
encontra no ente, lá fora, no mundo, e eu apenas conheci, e isto pela faculdade que se chama
intelecto (I,79). – Até aqui, observamos quase só o nosso conhecimento das coisas do mundo.
Agora há ainda um detalhe na nossa vida que até aqui ainda não se considerou: o interesse para
as coisas, a vontade, o apetite, a ânsia de possuir e ter aquilo ou aquele – e quantos sacrifícios o
homem assume para ter isto ou aquilo! Quanto sacrifício de nós aqui para chegar ao entendimen-
to do ser humano, e para depois, com este, viver mais prudentemente e poder ajudar outros...
A faculdade que observamos em nós e nos faz agir assim é a vontade; S.T. fala do apetite que
pode ser sensitivo ou racional espiritual (I, 80-83).
Se fala da vontade espiritual quando recebe do intelecto o conhecimento de algo, inclusive do
seu valor ou de sua bondade ontológica, e então quer mover-se até possui-lo. É uma própria
faculdade porque não procura automaticamente o que entende de ser bom. Uma vez vai e faz
esforço, outras vez não. O que observamos nisto? 1º a liberdade, uma certa independência da
Psicologia e vida espiritual - 2022, 68

vontade do intelecto, e 2º que há também outras influências, as do apetite sensitivo ou também


uma disposição menos favorável da parte do corpo com que a alma está unida, como dizemos!
Do apetite sensitivo que também quer possuir o bem, só que seu objeto é ainda o bem que lhe é
apresentado com os aspetos sensitivos, a imagem que os sentidos internos lhe apresentam. Neste
sentido pode ser mais forte ou – do ponto de vista espiritual menos forte, porque não tem
presente a ideia espiritual, mas apenas impressões sensitivas. Mas observamos que neste nível
sensitivo somos atraídos ou puxados (esforçados) de procurar possuir aquele bem – ou, de fugir
dele se nos é mostrado como mal. Em todos os casos, a vontade espiritual é o capitão da vida
humana, de modo que se diz: A vontade do homem é seu céu! E: Ninguém vai ao inferno a não
ser que quer.
Segundo estas reações se dá a este apetite sensitivo (I, q. 81; ou também chamado emoção e
paixão) diferentes nomes. Se distingue entre as reações às coisas boas e más:
Todas as coisas boas, por ser boas, causam no homem uma atração e esta se chama amor;
se este bem está atualmente presente esta atração provoca alegria em nós;
se é distante, seja localmente ou temporalmente (no futuro), se chama este apetite desejo,
e se é mais forte esperança; e
se é tão distante que não dá para esperar de conseguir, então causa em nós desespero.
Todas as coisas más, simplesmente por ser más, provocam no homem uma rejeição e esta
reação negativa se chama ódio;
se este mal está atualmente presente esta rejeição provoca tristeza em nós e o tentativo de fugir;
se este mal é ainda distante, seja localmente ou temporalmente (no futuro), causa medo de chegar
(ou como fosse já aqui), e se é muito provável que chega aí o apetite reage fortemente montando,
para assim dizer, a audácia, a forte coragem de enfrentar e defender-se contra ele.
As reações normais e gerais se resume sob o nome concupiscíveis (a palavra significa
simplesmente desejo), as reações fortes ou árduas sob o nome irascíveis pois encontram seu
motor principal pela raiva que pode se referir ao bem e ao mal.

Santo Tomás estudou estes movimentos no homem e os descreveu com tantas distinções, como
ninguém antes dele na história, e - segundo os estudiosos de psicologia hoje – como ninguém
depois dele até hoje. É na descrição do caminho do homem a sua meta final e definitivo em
Deus, na I-II da Suma Teológica, nas questões 22-48.

Não só aqui não podemos entrar nestas tantas detalhadas observações e distinções que o Santo
faz. Este é um trabalho que Professor Echavarría e Sales Victor Pinheiro estão fazendo.
Esperamos que muito mais capacidades intelectuais e namorados do ser humano seguem nesta
análise e assimilam esta sensibilidade e amor para a alma e vida humana.
Isto será o caminho de substituir as pobrezinhas psicologias que se encontra hoje tão espalhadas
no mundo e se oferecem como salvadoras do homem, mas que se baseia numa filosofia e
interpretação errada da realidade em geral e da do homem mesmo, e por isso, são longe de trazer
ajuda ás pessoas necessitadas.
Seguem dois esquemas que ajudariam
- assimilar esta estrutura rica e tão perfeito da vida psicológica do homem e
- facilitam, espero, entender o seu funcionamento concreto, prático e constante!
É importante familiarizar-se com isto porque
Em cada momento de nossa vida pessoal vivemos isto – e queremos viver bem, e
Esta visão global é importante de ter presente quando uma outra pessoa nos conta de sua vida – e
pede um conselho ou uma orientação para uma decisão que deve tomar.
Não queremos que reage e vive numa forma que depois se precisa arrepender por ter sido errado
e, se machucado na sua alma pessoalmente, um erro que depois carrega consigo até encontrar
uma cura ou alívio e correção...
Psicologia e vida espiritual - 2022, 69

1o Diante de mim, meu eu, diante da minha consciência está tudo aberto. A consciência ilumina,
com sua luz tudo, para refletir e escolher.
2º Não tudo que cai (bate) sob o meu olhar ou ouvido é tão forte ou explícito que me torno
consciente; esta restrição já não vale mais quando algo passa a porta do “sentido comum”.
3º Apesar dessa fraqueza da percepção humana, o homem é capaz de dirigir sua atenção através
dos sentidos externos a aqueles objetos aos quais quer-se dirigir: posso abrir ou fechar estas
“janelas” da alma.
4º As emoções são como os cachorros num largo redil: Seja que for, que entra, causa a reação
correspondente, se é bom ou mal, já eminentemente presente ou apenas avisado...
O dinamismo básico na alma humana e várias observações
Psicologia e vida espiritual - 2022, 70

Diante dessa realidade surgem várias observações.


- Muitas coisas entram em mim – quase sem serem percebidas.34
- O que entra pelo sentido comum,
- é logo apresentado à imaginação (tendo o objeto presente),
Mas também passa logo a memória – puxado “ao lado” pelo próximo objeto que entra.
(Aqui movemo-nos no “mundo da curiosidade”.)
- Se paro com o objeto que entrou pelo sentido comum, e me é presente pela imaginação,
e - provavelmente, também já dei atenção pela consciência (pessoal)35,
- o acolho e contemplo pela vis cogitativa que faz uma primeira avaliação
sobre o caráter bom ou nocivo do objeto.
- Esta valorização torna-se ainda mais explícita quando o apetite sensitivo, despertado e
provocado, reage – imediatamente –
- com a atração conatural a o que é bom (com amor, alegria e desejo para ainda mais...)
Ou - com a rejeição a o que é um “corpo estranho” (com ódio, tristeza e fuga se possível...).
(Aqui movemo-nos no “mundo dos gostos”.)

- Em vez de deixar-me contente com essa impressão sensitiva,


- Devo enfrentar este objeto (ou parte do “mundo de fora” que entrou em mim)
conscientemente, e livremente, ou com responsabilidade, isto é, pessoalmente,
ou acolhendo ou rejeitando diretamente, decidindo neste momento se me deixo
ou não me deixo – ou edificar com o que é bom
- ou infecionar (danificar) com o que é mal.

Assim consciente de mim, posso formar a minha vida.


Eu posso recolher-me em Deus onipresente, e, mais ainda,
no mistério da graça santificante em mim, Deus-comigo,
– como “os Anjos no céu contemplam sem cessar a face do (nosso) Pai que está nos
céus” (Mt 18,10; cf. 12,34-37).
Posso, ativamente, já fazer minhas opções principais para o que quero ser aberto e para que não
(por exemplo, a qual leitura vou me dedicar, para onde vou dirigir meu olhar e o que quero
escutar...).
Posso, mais passivamente, pedir a ajuda do meu Anjo pessoal no discernimento inicial de tudo
que vem a mim do mundo, e acolher com a receptividade dócil de Nossa Senhora o que Deus
providente permite.
Mas posso também – sair de mim, como que passar na “rua”, fugindo de minha interioridade
como os demônios fogem de si, inquieto, nunca parado... sempre procurando sem mesmo saber o
que e nunca ter paz.

Conscientizando-me dessa rica realidade minha, e da imensa grandeza de decidir por mim sobre
a minha vida eterna, escuto JESUS dizer:
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Mt 12,50).
2. O problema da opinião de alma e corpo separados no tempo moderno

34 Um médico pensa que depressões podem ser causadas pelo barulho constante durante o dia, ao qual não se dá
mais atenção, logo não se reage, se suporta inconscientemente, mas tira força de nós. Pode ser o barulho constante
dos carros na rua ou do Rádio ou da TV nunca desligado. Isto deixa-nos na noite esgotados, mesmo que não fizemos
tanto.
35 Se penso no que está diante de mim na mesa... e se imagino que, de repente, soube enfrente uma cobra, creio, que
não preciso “pensar muito” para reagir, e apesar disto, todas faculdades cumprem sua função, uma após outra.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 71

Até aqui, constatamos que sempre teve bêbados, adultério e até o “negócio de prostituição” –
prova do fato do “pecado original” que toca todos. Mas também o homem sempre podia corrigir-
se, converter porque sabia o que é correto.
No tempo da renascença (aí explicita e largamente aceito) nasceu de novo o paganismo, quer
dizer a exclusão da intervenção divina em e por Cristo, e assim o Cristianismo. Os pensadores
retomaram as posições dos filósofos gregos, até iam para antes de Aristóteles (ainda diziam que
queriam conhecer a verdade como Sócrates). Com isto, “cortaram” os dois braços do homem, ou
seja, o “braço esquerdo” que lhe disse de onde veio, a causa eficiente, ou ser criatura, e o
“bração direito” que lhe indicou para onde ia, ou sua causa final, a volta a Deus seu criador.
Continuando a imagem do corpo, não se admira que também perdeu a cabeça, quer dizer: chegou
a uma “psicologia sem alma” – como por muitos livros é caracterizado a psicologia do século 19.
Que aconteceu? – Se entende, estamos em plena área de filosofia!

a) Por Descartes
Apareceu no século 17 um homem que se chamava “Descartes” em francês ou “Cartésio” em
latim. Ele achou que tinha um sonho no qual “descobriu” que a única verdade é que ele pensa, e
só enquanto pensa em si, sabe existe – “cogito – ergo [= em consequência, não antes!] – sum!”
E, em consequência disto, pensou e afirmou (ensinou) que o homem consiste por duas
substâncias, a “res cogitans” – o pensar e a “res extensa” – a parte material que estão conectadas
apenas por uma “pequena glândula, chamada pineal, situada no centro do cérebro, que constitui a
sede da alma” (Reale, III, 386). Isto levou a separação do que acabamos indicar com união.
Os que aceitam essa nova concepção do homem e seguiram a filosofia de Descartes
- distanciam o homem de Deus e de religião – des-considerando primeiro sua origem espiritual,
depois – em certas partes – também de sua origem física e histórica. Metafisicamente falando:
desconsideram a causa eficiente do homem, e consideram apenas como ele está agora aqui (cf. a
descrição por Papa Francisco (veja p. 19 aqui): eles cortam toda a ligação com o passado).
- des-consideram também um fim de vida, a causa final, o sentido do viver que todos desejam
entender. A intenção dessa filosofia é de declarar o homem totalmente livre. Mas como tal
sentido ou meta implicaria um “dever” e uma “responsabilidade, ou seja, a obrigação de
responder a algo ou alguém”, e limitaria a liberdade, fica lógico de excluir essa da visão e ficar
apenas com o homem em si, com sua causa formal e material, ou, de alma e corpo.
b) Ideia materialista da alma por Herbart
Mas, para salvar a autonomia do homem individual, houve duas inovações:
- o filósofo Johann Friedrich Herbart (1776-1841), um dos mais decididos e significativos
contestadores do idealismo de Hegel, deu uma própria (e nova) interpretação da “alma” que nega
ela, a alma, e considera o homem apenas com uma máquina com certas funções e certa lógica de
procedimento, sempre controláveis.
- A outra inovação deixou o homem abandonado a si mesmo, totalmente livre (“condenado à
liberdade”, segundo o existencialismo).

c) Fundação da Psicologia experimental por W. Wundt (1879)


O ano 1879 é uma data crucial para a história da psicologia: neste ano Wilhelm Wundt (1832-
1920) fundou o primeiro instituto de psicologia experimental em Leipzig). Pelas experiências
com medidas materiais, era fácil que estas teorias filosóficas que acabamos mencionar tornaram-
se base pela futura nova ciência que se chama psicologia.36

36 “A psicologia científica tem apenas um século de vida. Se considera o ano 1879 como início... (Benito GOYA.
Psicologia e Vita spirituale. Sinfonia a due mani. Bologna: Edizioni Dehoniane Bologna, 2000, p. 9). O autor deixa
seguir uma breve história e descreve um desenvolvimento, p. 9-19. Mais para frente volta a história e diz:
Psicologia e vida espiritual - 2022, 72

O homem foi considerado sem a causa ou início e sem fim (causas eficiente e finais), e
consequentemente, ou foi considerado como um mecanismo determinado ou como um ente
absolutamente livre.

Para, em breve, caracterizar a consequência, era esta:


- O homem era considerado apenas como um corpo que funciona como uma máquina e que
Se deve abastecer por alimento e se algo não é normal, corrigir com medicamentos;
- Ou o homem era considerado como um ente espiritual, logo livre e pode fazer o que quiser,
tudo lhe é permitido. O que conta é apenas que ele quer e que é ele que faz (alguns juntam ainda:
que faz por amor); não importa se é bom ou mal – pois este critério já não existe mais; algo é
bom se alguém quer – seja que mata (como um médico em Espanha matou sua esposa que era
doente, e fez por compaixão) ou se ele rouba ou ajuda - apenas conta que ele faz – e faz
livremente.
Exemplo:
Se Lucas machuca o seu vizinho Lázaro, e se Lázaro não gosta isto – é uma coisa; mas se Lázaro
não aceita como Lucas o tratou, aí tem que ver como resolver entre os dois
- pode ser que Lázaro aceita (como opção dele) –
- se rejeita e se revolta – pode ser que Lucas se retira, pede perdão (= se humilha)
- ou brigam e o mais forte “vence” – recebe razão (aprovação com seg.
Nietzsche ou Nazismo, ou em qualquer sistema totalitário)
- talvez o poder público tem que entrar.

d) A volta à integridade – Antropologia em vez de Psicologia


Vale mencionar que se entende, por que não se fala mais tanto e “psicologia”, mas mais e mais
de “antropologia”. Com isto se quer voltar ao “todo”, quer dizer, se realiza que não se pode
estudar a alma sem considerar a pessoa – assunto que Santo Tomás explicitamente em 15 artigos
-, a pessoa com liberdade, mesmo limitada por tratar apenas de uma criatura que participa no Ser
por Essência que é Deus. Se trata de uma pessoa com responsabilidade, que é responsável para
todo o seu agir. A alma não é apenas, como o coração ou os rins, um órgão que se pode estudar
separada e isoladamente (e nem para os órgãos físicos se aceita isto hoje) que deve ser
considerada no contexto universal, inclusive sob influências espirituais (divina ou diabólica).37
Pensamos um momento que nos encontramos na calçada um parafuso ou semelhante objeto.

“Quem estudou psicologia ainda 30 anos atras, precisava confrontar-se com uma série de dificuldades para entender
em qual maneira esta matéria, apresentada com científica, podia andar juntos como a verdade evangélica ou com a
submissão filial. Esta foi elaborada sobre pressupostos completamente materialistas e ao mesmo tempo se
apresentava como absolutamente neutral ao nível teórico. Agora tornou-se claro que tal fingida neutralidade
filosófica-antropológica constitui no fundo uma sutil estratégia para impor as próprias teorias com única verdade
moderna.” (p. 39) E ainda (p. 50):
“Em certos ambientes psicológicos, a exigência religiosa aparece como algo de esterno, não veem nessa um convite
íntimo a realização do próprio ser, mas uma imposição externa, um peso inútil. De tal modo, o fato de ser um crente
é considerado sinônimo com ignorante, antiquariato, imaturo, dependente de ideais escuras da Idade Média: a fé,
segundo estes, destrói a personalidade, a liberdade e autonomia; e assim, para eles, a crença na dignidade e
independência da pessoa são valores fundamentais e prioritários36, desconfiam à fé em Deus que parece assim com
uma ameaça para a sua autonomia e liberdade ou como um inimigo da sua personalidade. Talvez são provocados
dos que praticam com decisão sua afirmação que creem em Deus, mas, ao mesmo tempo, não dão nenhum sinal de
fé na pessoa humana.” (Observação: a tradução é nossa; parece que existe uma tradução e publicação em português,
mas não podia ainda verificar se é fidedigna pois segundo o índice accessível não corresponde perfeitamente.)
37 É isto a explicação que um psicólogo publicou um livro com apenas 200 páginas sobre a Psicologia. Na
introdução escreve: “Toda a Psiquiatria e Psicoterapia em 200 páginas? ... Par ter certeza deixei ler o livro por
peritos de nome que tinham escritos grandes volumes de ensino, e eles acharam que estas 200 páginas seriam
absolutamente suficientes.” (H. LÜTZ. Neue Irre! Wir behandeln die Flaschen. Unser Problem sind die Normalen.
München: Kösel-Verlag, 2020; München: Penguin Verlag, 2022.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 73

Só entendemos que tem um sentido, e por isso serve para algo. Como ao lado uma oficina está
aberta, custa nada de pegar o parafuso e entregar a um funcionário lá. Ele logo disse: Ah, que
bom, esse pertence à bicicleta e é muito importante para a segurança ...
Como a reflexão filosófica no início mostrou que tudo tem sentido, e este é indicado pela forma
substancial ou essência (ou, natureza), tudo é útil e serve no seu lugar. No mundo há ordem, mas
que conta é que cada coisa está no seu lugar que a filosofia universal e até a verdadeira religião
indica. De uma psicologia sem correta visão filosófica e consideração religiosa não se pode
esperar muito! Um fato de 2021:
- O pequeno Pedro de 4 anos parou falar por longo tempo. Os pais preocupados levaram ao
médico, ao psicólogo; suspeitaram autismo. A avó escutou do caso, começou rezar ... de repente
a criança chamou “Pai!” – todos correram, ele fala! “Pedro – que foi?” “Pai, tu me bateste!” o
Pai: “Pedro, não te bati! Quando foi que te teria batido?” “Quando ...” e Pedro mencionou o
momento, aconteceu um bom tempo atrás; o pai lembrou, pediu perdão e a paz entrou no lar.
(1) Como a medicina conhece hoje tantos elementos numa só célula, assim é importante de
conhecer a estrutura da alma como Santo Tomás mostra com Aristóteles.
(2) Isto permite de observar e procurar a causa (dentro do homem – passadas, doenças, sexo,
Temperamento, educação; e fora - social, espirit.-religioso)
(3) Depois olhando ao contesto total e
(4) orientar o paciente nele de modo que
(5) se aceita (com livre vontade) encontra sua paz.
- Um Senhor tornou-se depressivo; se esforçou para seguir uma ambição razoável, mas não
conseguiu. – Mostrando a ele que essa meta era desnecessário para ele, e convencendo-o de
deixar seguir nessa direção, ele logo recuperou sua alegria.
- Um religioso estava no hospital, por poucas horas, num quarto com 5 outros doentes. Estes
logo perceberam queer diferente e 2 ou 3 dirigiram-se a ele para receber ajuda espiritual. Por
que? Porque eles – como cada homem – sabe que a verdadeira felicidade está no espiritual.
- Outra experiência mostra isto: Viajei uma vez com a ajuda do MapQuest (naquele tempo). O
que me indicou era fazer uma mudança de estrada quase cada 2 km. Era difícil demais porque
estava sozinho e não podia constantemente olhar a estrada e mapa ao mesmo tempo. Deixei ao
lado, peguei o livro com os mapas, olhei ao país e a região e vi que em apenas 20 km do local em
que me encontrei tinha acesso à autoestrada (Highway) que me levara diretamente a cidade que
precisava ir. - Usar bom senso, olhar ao todo, facilita encontrar a solução de problemas.
Semelhante experiência conta V. Frankl nas suas conferências no Radio, quando decidiu ir à
distância das técnicas e optar para o bom senso: Um juiz queria que ele examinasse um rapaz.
Frankl conta: Os testes de Inteligência falharam. No último momento, tinha ainda um
pensamento, inventou um caso diante do rapaz ao qual ele imediatamente reagiu, o que deu a
Frankl a resposta procurada.38

É na vida com Deus, na liturgia que o homem inteiro, com alma e corpo, e unido e dirige-se ao
seu fim último, ao qual anseia com todo o seu ser e com todas as suas faculdades (cf. por ex. Cat
1387).
Goya conclui uma parte do seu estudo (cf. p. 74):
“A psicologia é chamada de abrir-se sempre mais amplamente à uma visão integral do
desenvolvimento antropológico e de oferecer um contributo parcial, mas precioso ao
conhecimento e à promoção do crescimento espiritual numa base humana sólida e plenamente
desenvolvida.”
3º A vida concreta do homem na visão cristã

38 V. FRANKL. Psicoterapia para o leigo. Freiburg i Br.:Herder, 1978, p. 160s.


Psicologia e vida espiritual - 2022, 74

a) Como a vida humana se manifesta

O Homem é de forma animal racional


É um animal com capacidade racional
É um organismo raciocinante – por ser
uma união substancial de corpo e alma com se vê na sua vida:
(corpo) (alma)
Dorme

Anda deseja
Come escreve
Fala constrói

= um ser - vivo – individual


- se multiplicando - social (família)
- insaciável - se estendendo para o infinito - religioso

Isto é, a PESSOA INDIVIDUAL racional (“substância individual de natureza racional”, Boécio)


- única e irrepetível, consciente e responsável para seu falar e agir,
- condicionado e não independente, e por isso só com liberdade participada, pois está
- inserido e participante num mundo objetivo material e espiritual, temporal e eterno.
É importante de notar aqui que apenas 1947 foram descobertas as células e iniciou a biologia
nuclear – graças de um microscópio eletrônico – e a citologia ou seja a ciência das células.
Agora a ciência mostra o organismo humano com o mesmo DNA nas mais que 250 tipos de
células, das quais cada uma ficando e funcionando no seu lugar.
Semelhantemente o homem (e cada um indivíduo desse tipo/espécie) é desde a primeira célula
aquele que é formada por essa essência: uma alma (princípio vivificante) racional e livre (e não
segundo a um instinto cega como os animais irracionais).
A partir da separação dessa alma desse corpo (= que se chama morte)
O corpo se decompõe e vira pó (matéria não-animada).39
Santo Tomás estuda o homem na primeira parte da Suma teológica, quando trata da criação e do
homem como uma das três criaturas:
Depois dos puros espíritos criados (qq. 50-64)
E do mundo e das criaturas puramente materiais (qq. 65-74)
Estuda o homem por sua constituição como espiritual e material, de alma e corpo.
Nas qq. 75-76: Constituição do homem por alma e corpo; Suas faculdades/potências:
qq. 79s: Intelecto; 81: sensualidade; 82: vontade; 83: Libero arbítrio.
Na base deste ensino se entende
- o funcionamento da vida humana (aparelho psicológico – e seu correto uso),
- sua vida cotidiana e interior e

39 Testemunho de Jerome Lejeune (1926-1994)


O médico e pediatra Jérôme Lejeune foi o primeiro professor de genética na Faculdade de Medicina de Paris (em
1964). - Em 1990, o Parlamento Britânico aprovou uma lei que declarou que o embrião até o 14ºdia após a
fecundação “não é um ser humano”, podendo ser usado como material experimental. A Lei foi assinada pela Rainha
da Inglaterra. Numa Conferência sobre Genética humana e espírito, pronunciada no Brasil (Auditório Petrônio
Portela), dia 27/08/1991, J. Lejeune comentou esse fato com ironia:
“Isso é motivo de espanto para um biólogo como eu, porque se a lei inglesa diz a verdade, é inegável que a Rainha
da Inglaterra era um animal durante os quatorze dias de sua vida. Nesse caso, como é possível que haja uma linha de
dinastia após várias centenas de anos para se chegar à atual Rainha da Inglaterra, se a cada substituição do reino
passa-se por um animal para subir ao trono da Inglaterra?” (apud Lodi, 173).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 75

- todo o dinamismo envolvido na aprendizagem e na criatividade.


Aqui Santo Tomás, seguindo Aristóteles, descreve (= apenas lendo!, não criando) o “mundo
interno” do homem – que caracteriza seu corpo vivificado por essa alma racional. (Goya, 65:
“Todo organismo psíquico é envolvido no progresso espiritual.”)

b) As dimensões da “antropologia cristã”


“Deus nos colocou no mundo para conhecê-lo, servi-lo e amá-lo e, assim, chegar ao paraíso...
participar da natureza divina (1 Pd 1,4) e da vida eterna (cf. Jo 17,3)” (Cat 1721).
III. Nível (Com DEUS FILHO) (com DEUS PAI) (Com DEUS
Sobrenatural ESPÍRITO SANTO)
9. Virtudes Fé Esperança Caridade
Teologais
8. Conselhos Obediência Pobreza Castidade /
Evangélicos continência
7. Espiritual. Cristã Oração Esmola Jejum
/ boas obras
↕ ↕ ↕
I. Nível natural
3. Relacionado com Deus Natureza ou o mundo “próximo”
material
2. Direitos humanos Formação intelectual Propriedade privada Vida social e
cada um tem o e liberdade religiosa - individual formação de família
direito para:
Gn 1,27-28: ”Deus disse: “Façamos o homem à Que ele reine sobre os ... criou o homem e a
nossa imagem e peixes do mar, sobre as mulher. Deus os aben-
semelhança.” aves dos céus, sobre os çoou: Frutificai, disse ele,
- - - animais domésticos e e multiplicai-vos, enchei
1. Natureza sobre toda a terra ... disse a terra”
seg. Gn 1,27-28 cada Imagem de Deus ele, ... enchei a terra e - - -
homem é: (pela alma imortal, o submetei-a.
intelecto, vontade e - - -
“coração”) Senhor da terra Um ser sexual
↕ ↕ ↕
II. Nível do pecador
“No batizado, porém, certas consequências temporais do pecado permanecem, tais como os
sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter
etc., assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou,
metaforicamente, o ‘incentivo do pecado’.” (Cat 1264)
4. Concupiscências Orgulho (soberba): Concupis. dos olhos: Concupiscência da
herdadas Querer saber tudo Querer possuir tudo carne
(cf. 1 Jo 2,16; (enfim: ser tudo = ser (= querer ter e poder (= querer gozar tudo,
Gn 3,5) como Deus!) tudo) experimentar)
5. Ato pecaminoso Presunção, Ambição, Injustiça, Idolatria, Intemperança,
vanglória (jactância, intolerância, impureza
ostentação,hipocrisia) ociosidade
6. Vícios capitais Soberba, ira Avareza, inveja, Gula, luxúria
(Cat 1866 e outros) Preguiça ou acídia

c) exemplo da educação
O ser perfeito do homem pode e deve-se formar (4) Exemplo: O Belo e a (auto-)educação
Psicologia e vida espiritual - 2022, 76

I. A moldura da formação
1º O Belo como transcendental implica uma conaturalidade entre objetos belos e o homem.
2º Educação é a formação de bons hábitos (firmes e fortes) para agir rápido, fácil e alegremente.
3º Estas duas afirmações exigem que os meios de formação (“o que entra no homem”) sejam
bons e belos em si (segundo o seu ser) – não falsos e maus.

II. O processo da formação


4º O ponto de partida da formação são os objetos externos, o “mundo” oferecido ou exposto ao
homem. É o Belo (já no “olhar” e “entender” como bonum intellectus) que provoca no homem
uma complacência (visa placet). Por isso, tudo se apresenta, ou tenta de apresentar-se na
superfície como belo para poder “entrar” no homem (cf. Gen 3,6: bom e “atraente para os
olhos”). Isso exige dele atenção, reflexão, discernimento já na base do objeto dos sentidos
externos.
5º No dinamismo interno do homem cada faculdade contribui: capta o seu próprio aspecto do
objeto entrado e apresenta para a assimilação ou rejeição (S.Tomás, Compend. Theol., c. 128).
6º Na base da “estrutura” (natureza) do homem temos os “Primeiros Princípios” cognitivos
(princípio da não contradição etc.) e éticos (gostar, ser inclinado e atraído a “fazer o bem e evitar
o mal”) que por si são ativados (“vem à luz” e se manifestam) no contato com os objetos. Por
estes “primeiros princípios”, o homem todo, a pessoa, na “consciência”, sabe logo discernir o
bom e mal e recebe o impulso para agir, aceitando (se é bom) e rejeitando (se é mal).

III. Educação com responsabilidade


7º Um educador responsável cuida do que “entra” no homem que é formado desde o início (hoje
se chama atenção a esta responsabilidade já no tempo antes do parto!): evita a entrada de
qualquer mal que suje a alma (por ex. um bom pai diz: “em casa nunca se ouve esta palavra!”), e
“alimenta” a alma com o bem atraído pelo aspecto belo. Esta responsabilidade é tanto maior,
quanto mais conhece (intelecto) a grandeza da pessoa humana (e mais ainda quando é elevada
pela graça divina) e a aceita-a (vontade), estima e valoriza-a. Para corresponder às necessidades
e no momento correto segundo o crescimento, o educador deve atentamente acompanhar e
observar o educando de perto.
8º A coordenação das faculdades ao servir a única pessoa explica o pacífico, “orgânico”,
harmonioso e favorável desenvolvimento se os objetos são bons, porque estes podem ser aceitos
por todas as faculdades e passar assim, sem resistência ao centro da pessoa ou ao “Eu” (por ex.
uma criança de um ano e meio gostava tocar as estatuas de Nossa Senhora, mas não tocou as de
Jesus! Santa Rosa de Lima com seus 5 anos cativada “para sempre” pela imagem de Cristo
Coroado de espinhos). – Isto sublinha a importância de expor aos educandos – desde que
nasceram - a objetos bons (um lar limpo, um ambiente admirativo, orações simples e histórias da
vida de Jesus, imagens de Santos, cânticos e melodias simples e edificantes...)
9º Na medida que um educando é exposto também a objetos nocivos à natureza humana, o
centro pessoal dele é confrontado com o mal e experimenta em si uma luta de aceitação de uma
coisa e rejeição de outra. E se estes objetos são apresentados com major frequência e intensidade,
as reações emocionais serão mais fortes, o intelecto apresenta um e outro quase simultaneamente
à vontade espiritual que pode facilmente ser confusa e assim, com sua liberdade
(responsabilidade) reduzida, ser levada a decisões erradas, até no extremo “não sabe que faz”.

“Com a sua fineza e delicadeza, a arte auditiva ou visual penetra na inteligência e sensibilidade
do espectador ou do ouvinte a uma profundidade onde a palavra... jamais poderia chegar.” (Papa
Pio XII, 3.9.50)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 77

O cultivo de uma moradia harmônica, de sons agradáveis, cores como na natureza - do belo
íntegro, ordenado e claro conduz o homem ao que é bom e à verdade, a DEUS!

c) A harmonia ou desarmonia na vida interior do homem (cf. Rom 7,7-25; Papa


Francisco, Fratelli tutti, 13-15).

O inter-relacionamento e interdependência das faculdades: ST I-II, 59, 5; Torelló, 128

A Filosofia, como ciência das causas, aponta às causas eficientes (Deus, pais, cultura etc.), a
causa formal e material do homem e de cada um, e a causa final que, por último, é o Criador (Cat
1721, 282, 294...).
Por isso, o objeto do estudo, o homem, era na cultura judia-cristã sempre tratado, porém em vista
da meta final, do destino do homem no céu, na vida eterna. Desde o paraíso, em todo o Antigo
Testamento (pensamos especialmente nos livros sapienciais), no evangelho, nas Cartas de São
Paulo e em toda a literatura na Patrística se ensina sobre o bem e o mal, as inclinações na pessoa
humana a um e ao outro, se desenvolveu os “catálogos” de virtudes e vícios (pensamos nos sete
vícios capitais!).40
O texto mais explícito encontramos na carta aos Romanos de São Paulo (convida ler com atenção
– como faríamos se fosse de Descartes, Kant ou Freud, pois Paulo é também – um autor, um
pensador, um que se interessa do homem interior ou psicológico):

Rom 7, 5: “Quando vivíamos no nível da carne, as paixões pecaminosas, ativadas pela Lei,
agiam em nossos membros, a fim de que frutificássemos para a morte.
6 Agora, porém, mortos para aquilo que nos aprisionava, fomos libertados da Lei, de modo a
servirmos no novo regime do Espírito e não mais no regime antiquado da letra.”

- Se em seguida, São Paulo continua discutir sobre a lei” e o “pecado” no homem, não faz
menos “psicologia” que Freud quando este fala do “ego” e “id” que lhe atrapalha, de
repressão e liberdade limitada etc... Santo Tomás indica exatamente a lei como ajuda e
orientação para sair do pecado ou dos vícios (I-II, qq. 71-89 e em seguida a “lei”, qq. 90-108).

7 Que diremos então? Que a Lei é pecado? De modo algum. Mas foi por meio da Lei que eu
conheci o pecado. Nem mesmo a cobiça eu conheceria, se a lei não dissesse: “Não cobiçarás”.
8 Aproveitando a ocasião oferecida pelo preceito, o pecado produziu em mim toda espécie de
cobiça. Pois, sem a Lei, o pecado é coisa morta. 9 Outrora, sem lei, eu vivia; sobrevindo o
preceito, o pecado começou a viver, 10 e eu morri, pois o preceito feito para a vida se tornou,
para mim, fator de morte.

Quer dizer: Se não conhecemos a lei o que nos diz o que é correto e o que devemos fazer, eu sou
a minha norma, e nada parece errado, pois faço o que quero. Mas isto me leva a morte, fica
objetivamente errado. Aí a lei como descrição da ordem objetiva me revela esse caminho à
morte e me chama a mudar.

40 Rm 1, 29-31; Gal 5,19-21; 2 Tim 3,2-5; por ex. João CASSIANO. Instituições Cenobíticas. Juiz de Fora: Edições
Subiaco, 2015; R. ALVES GOMES. A Terapêutica das Doenças espirituais: Uma introdução à ascética da Igreja
ortodoxa. Aproximações psicológicas. Limeira, 2015; Gertrude und Thomas SARTORY. Lebenshilfe aus der Wüste:
Die alten Mönchsväter als Therapeuten. 5. ed. Freiburg: Herder, 1992; B. COLE. The Hidden Enemies of the
Priesthood: The Contributions of St. Thomas Aquinas. Staten Island, NY, 2007 (trata, entre outros, os vícios capitais
na vida do sacerdote). … cf. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 78

11 O que houve é que o pecado, aproveitando a ocasião oferecida pelo preceito, me seduziu e
acabou me matando. 12 Assim, a Lei é santa, como também o preceito é santo, justo e bom.
13 Então, o que é bom se tornou morte para mim? De modo algum. Mas o pecado, a fim de se
tornar conhecido como pecado, se serviu do que é bom para me matar. E assim, por meio do
preceito, o pecado mostrou ao extremo seu caráter pecaminoso.

- Então, esta guerra interior ou conflito se revela como guerra entre o homem espiritual com o
olhar a seu último fim, a DEUS, e a lei da carne que lhe puxa para o erro, a deformação, des-
ordem e destruição. É o trauma do qual a psicanálise fala sem, porém, conhecer uma saída,
conseguir dar uma luz ou – segundo o tentativo de Frankl – dar um sentido; - por que nem
segundo Frankl? Por que ele quer deixar cada um a sua absoluta liberdade e não lhe
prescrever nada; segundo ele, a consciência é a única e absoluta norma.
(“Com certeza: Tudo isto [gerar filhos, plantar árvores, escrever livros] são valores, valores
reais; mas eles são relativos – ao contrário, absoluto pode ser apenas uma coisa, e isto é o
mandato de nossa consciência ...”; V. FRANKL. Psychotherapie für den Laien - Psicoterapia
para os leigos. 7. ed. Freiburg: Herder, 1978, “Higiene psiquica do madurecimento”, pp. 58-61,
p. 60s.).
Então a que São Paulo se refere é a atenção exagerada ao objeto de uma ou outra faculdade da
alma, de modo que tal exagero exige das outras de dobrar-se diante dela e assim causa
desarmonia na vida interior do homem (como S. Paulo diz: “o deus deles é o ventre, a glória
deles está no que é vergonhoso.” Fil 3,19).

14 Sabemos que a Lei é espiritual; eu, porém, sou carnal, vendido ao pecado como escravo.
15 De fato, não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas o que detesto.
16 Ora, se faço o que não quero, estou concordando que a Lei é boa. 17 No caso, já não sou eu
que estou agindo, mas sim o pecado que habita em mim. 18 De fato, estou ciente de que o bem
não habita em mim, isto é, na minha carne. Pois querer o bem está ao meu alcance, não, porém,
realizá-lo. 19 Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. 20 Ora, se faço
aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim.
21 Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero fazer o bem, é o mal que se me
apresenta. 22 Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na Lei de Deus; 23 mas
sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei de minha mente e me aprisiona na lei
do pecado, que está nos meus membros. 24 Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo
de morte? 25 Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Em suma: pela minha mente sirvo à Lei de Deus, mas pela carne sirvo à lei do pecado.” (Rom 7)
Já antes, no início dessa carta, São Paulo se refere a todos os homens, judeus e não-judeus, que
justifica ainda mais de levar suas reflexões em conta. Escreveu:
“Quando os pagãos, embora não tenham a Lei, cumprem o que a Lei prescreve, guiados
pelo bom senso natural, esses que não têm a Lei tornam-se Lei para si mesmos.
Por sua maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus corações: disso dão
testemunho igualmente sua consciência e os juízos éticos de acusação ou de defesa que
fazem uns aos outros. É o que se verá no dia em que Deus vai julgar, segundo meu
evangelho, por Cristo Jesus, as intenções e ações ocultas das pessoas.” (Rom 2,14-16)
Quão maravilhoso é a descrição de São Paulo do homem e da convivência em estima e liberdade
verdadeira quando fala do escravo Onésimo na carta a Filêmon.

Em oposição a esta visão completa do viver aponta Papa Francisco a “de-formação”


intencionado hoje por certas fontes no mundo

Papa Francisco alertou nos fortemente na sua Carta encíclica “sobre a Fraternidade e a amizade
social – Fratelli tutti”, 2020, sobre
Psicologia e vida espiritual - 2022, 79

“uma perda do sentido da história que desagrega ainda mais. Nota-se a penetração cultural duma
espécie de «desconstrucionismo», em que a liberdade humana pretende construir tudo a partir do
zero. De pé, deixa apenas a necessidade de consumir sem limites e a acentuação de muitas
formas de individualismo sem conteúdo. Neste contexto, colocava-se um conselho que dei aos
jovens: «Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não
aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para
o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a
fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados,
desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus
planos. Assim procedem as ideologias de variadas cores, que destroem (ou desconstroem) tudo o
que for diferente, podendo assim reinar sem oposições. Para isso, precisam de jovens que
desprezem a história, rejeitem a riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo através das
gerações, ignorem tudo quanto os precedeu».[10]

14. São as novas formas de colonização cultural. Não nos esqueçamos de que «os povos que
alienam a sua tradição e – por mania imitativa, violência imposta, imperdoável negligência ou
apatia – toleram que se lhes roube a alma, perdem, juntamente com a própria fisionomia
espiritual, a sua consistência moral e, por fim, a independência ideológica, económica e
política».[11] Uma maneira eficaz de dissolver a consciência histórica, o pensamento crítico, o
empenho pela justiça e os percursos de integração é esvaziar de sentido ou manipular as
«grandes» palavras. Que significado têm hoje palavras como democracia, liberdade, justiça,
unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio, como
títulos vazios de conteúdo que podem servir para justificar qualquer ação.

15. ... “Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de exasperar, exacerbar e polarizar.
Com várias modalidades, nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à
estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua
parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à
prepotência do mais forte.” (n. 15)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 80

A felicidade de João – o Felizardo (segundo os Irmãos Grimm)

João servira ao seu amo durante sete anos e, um dia, disse-lhe:


- Meu amo, meu tempo de contrato esgotou-se; agora quero voltar para a casa de minha mãe;
dai-me o meu ordenado.
O amo respondeu:
- Serviste-me fiel e honestamente; tal serviço pede igual remuneração.
E deu-lhe uma barra de ouro grossa, quase como a sua cabeça. João pegou o lenço do bôlso,
embrulhou o pedaço de ouro, pô-lo às costas e meteu-se a caminho, rumo à casa da mãe. Ia
andando, sossegadamente, pela estrada afora, quando viu um cavaleiro alegre e pimpão, que
vinha trotando sobre um brioso cavalo.
- Oh, - disse João em voz alta - como há de ser bom andar montado num cavalo! Fica-se
comodamente sentado como numa cadeira, não se tropeça nas pedras, não se gasta o calçado e se
avança sem mesmo dar por isso.
O cavaleiro, que ouvira o que êle dizia, parou e gritou-lhe:
- Mas, João, por que andas a pé?
- Que remédio! - respondeu João - Tenho êste fardo pesado que devo levar para casa; é ouro,
bem sei, mas pesa tanto que me esmaga o ombro e nem sequer posso levantar a cabeça.
- Queres saber uma coisa? - disse o cavaleiro - façamos uma troca! Eu te dou o cavalo e tu me
dás o teu pedaço de ouro.
- Oh! de muito boa vontade, - disse João - mas vos previno que deveis fazer fôrça.
O cavaleiro apeou-se bem depressa, pegou na barra de ouro e ajudou João a montar a cavalo.
Meteu-lhe as rédeas na mão, recomendando-lhe:
- Se quiseres que corra como o vento, basta fazer um estalinho com a língua e gritar: hop, hop!
João estava felicíssimo em cima do cavalo e partiu a trote largo. Ao cabo de algum tempo teve a
idéia de ir mais depressa. Deu um estalinho com a língua e gritou: hop, hop!
O cavalo, obediente, partiu a galope desenfreado e, num bater de olhos, João foi pelos ares,
caindo dentro de um fôsso à beira da estrada. O cavalo teria continuado no galope se um
camponês, que vinha em sentido contrário, conduzindo uma vaca, não o agarrasse pelas rédeas.
João apalpou os membros doloridos e pôs-se de pé. Mas ficara aborrecido e disse ao camponês:
- Que belo gôsto montar a cavalo, sobretudo quando se topa com um animal como êste, que
tropeça e atira a gente pelos ares, fazendo quase quebrar o pescoço! Nunca mais tornarei a
montar a cavalo. Por falar nisso; a tua vaquinha, sim, me agrada. Pode-se ir atrás dela muito
sossegado e além disso, tem-se leite, manteiga e queijo garantidos. Quanto não daria para ter
uma vaca como essa!
- Ora, - disse o camponês - se te agrada tanto, poderemos trocar a minha vaca pelo teu cavalo.
João concordou todo feliz; o camponês saltou para cima do cavalo e partiu a galope. Tocando,
calmamente, a vaca diante de si, João ia refletindo nas vantagens do negócio que acabava de
realizar. "Contanto que eu tenha um pedaço de pão, e decerto não me há de faltar posso, quando
tiver fome, comer também um pouco de manteiga e queijo; quando tiver sêde, tiro leite da minha
vaca e bebo-o. Meu coraçãozinho, que podes desejar mais?"
Ao chegar a uma estalagem, parou, e julgando ter agora provisões para tôda a vida, liqüidou
tranqüilamen- te todo o farnel que levava para a viagem e, com os últimos vinténs que possuia,
deliciou-se com um bom copo de cerveja. Em seguida, encaminhou-se rumo à aldeia de sua mãe,
tocando a vaca diante de si.
Ao meio-dia, o calor tornou-se sufocante e João encontrava-se em plena charneca, onde se
demoraria ainda uma hora. Sentia tanto calor e sêde que até a língua se lhe pegava ao céu da
bôca. "Mas tenho um remédio, - pensou - vou ordenhar a minha vaca e refrescar a garganta com
o bom leite."
Amarrou a vaca a um pau, e por falta de coisa melhor, quis aparar o leite com seu boné de couro;
mas, por mais que puxasse e espremesse, das tetas não saiu uma só gôta de leite. Como não tinha
jeito para lidar com a vaca, ela zangou-se e atirou-lhe tal coice na cabeça que o fêz rebolar a dez
Psicologia e vida espiritual - 2022, 81

passos de distância, onde ficou estendido sem sentidos. Aí ficou um bom pedaço de tempo;
felizmente, porém, chegou um carniceiro empurrando um carrinho com um leitãozinho dentro.
- Que brincadeira sem graça! - disse êle, e ajudou João a levantar-se.
João contou-lhe tudo o que havia acontecido; o carniceiro ofereceu-lhe o seu frasquinho dizendo:
- Bebe um trago, que logo te reanimarás. Aquela vaca nunca mais dará leite, já está velha e sêca,
boa, quando muito, para ser atrelada a uma carroça ou então para ser levada ao matadouro.
- Oh diabo, - disse João puxando os cabelos desgrenhados; - quem diria uma coisa destas!
Naturalmente, seria uma grande vantagem matar o animal em casa! Quanta carne teríamos! Mas
não gosto de carne de vaca, não a acho saborosa. Ah! se fôsse um leitãozinho igual a êsse; então,
sim, seria delicioso! Sem falar nas salsichas que daria!
- Escuta, João, - disse o carniceiro; - por seres quem és e porque desejo ser-te agradável, estou
disposto a trocar o meu leitão pela tua vaca.
- Que Deus te recompense tanta bondade! - disse João.
Entregou-lhe a vaca e levou o leitão, segurando-o pela corda com que estava amarrado no
carrinho.
João continuou o caminho pensando em como tudo lhe ia às mil maravilhas; apenas tinha uma
contrariedade e logo se remediava. Nisso, aproximou-se um rapazinho, que levava debaixo do
braço um belo pato branco, muito gordo. Cumprimentaram-se desejando um bom dia e, conversa
vai conversa vem, João contou-lhe as suas aventuras, gabando-se da boa sorte, e das trocas
sempre tão vantajosas. O rapazinho, então, contou que levava o pato à aldeia vizinha e que
estava destinado a um banquete de batizado.
- Experimente o seu pêso, - disse, levantando-o pelas asas, - é pesado, não acha? Também, já faz
dois mêses que o venho engordando com o que há de melhor! Quem tiver a sorte de meter os
dentes em semelhante assado, verá a banha escorrer-lhe pelos cantos da bôca.
- E' verdade, - disse João levantando o pato com uma das mãos - é um bonito animal. Mas,
também, o meu leitão não é mau e tem o seu valor!
Entretanto, o rapaz olhava para todos os lados com certa precaução; depois, abanando a cabeça,
disse:
- Olha, a história do teu leitão não me parece muito limpa: acabam, justamente, de roubar um ao
prefeito da aldeia onde passei agora. Tenho palpite que deve ser êsse que levas aí. Mandaram
gente a procurá-lo por toda parte e seria uma coisa terrível se te apanhassem com êle; o menos
que te aconteceria era ser metido numa prisão escura.
O pobre João ficou assustadíssimo e exclamou:
- Ah, Deus meu! Livrai-me desta desgraça! Tu que conheces a região melhor do que eu e sabes,
portanto, onde esconder-te, leva o meu leitão e dá-me o teu pato.
- Arrisco-me muito com isso, - disse o rapazinho, - mas, só para te livrar de apuros, vou fazer o
que me pedes.
Pegou, então, na corda e bem depressa levou o lei- tãozinho, desaparecendo por um atalho. O
honrado João, livre dessa preocupação, continuou a caminhar rumo a casa, levando o pato
debaixo do braço e ia pensando:
- Calculando bem, saí ganhando na troca. Primeiro, a carne de pato é mais fina para assado e
mais saborosa que a de leitão; e com tôda esta banha terei gordura por uns bons três mêses e,
finalmente, com as belas penas brancas farei uma boa almofada, na qual dormirei sem que seja
preciso embalar-me. Santo Deus, como minha mãe vai ficar contente com tão lindo animal!
Após ter atravessado a última aldeia, antes de chegar à sua, viu um amolador parado com a sua
carangue- jola; a roda girava, girava e êle acompanhava-a cantando:

- Afio tesouras e rodo ligeiro;


e penduro a manta como sopra o vento...

João parou e ficou olhando o que êle estava fazendo, depois disse:
- Parece que tudo vai à medida dos teus desejos, visto que trabalhas tão alegremente!
Psicologia e vida espiritual - 2022, 82

- Oh, se vai! - respondeu o outro. - Qualquer ofício manual é ouro em barra. Um bom amolador é
um homem que, quando mete a mão no bôlso, sempre encontra dinheiro. Mas, onde compraste
êsse belo pato? Nunca vi tão bonito por aqui!
- Não o comprei, ganhei-o em troca de um leitão- zinho.
- E o leitão?
- Ganhei-o em troca de uma vaca.
- E a vaca?
- Tive-a em troca de um cavalo.
- E o cavalo?
- Por aquêle dei um pedaço de ouro do tamanho da minha cabeça.
- E o ouro?
- Era o pagamento que me deu meu amo por sete anos de serviço.
- Vejo que sabes te defender muito bem neste mundo; se agora chegares a ouvir tôdas as manhãs
tinir dinheiro no bôlso quando enfiares as calças, tua fortuna está feita.
- Sim, mas que devo fazer para isso? - perguntou João.
- Deves tornar-te amolador como eu; para isso é preciso, primeiro, ter a pedra de amolar; o resto
vem depois. Tenho aqui uma, na verdade está um pouco gasta, mas em troca desejo apenas que
me dês o teu pato; aceitas?
- Ainda mo perguntas? - respondeu João. - Se, como dizes, terei sempre dinheiro no bôlso, serei
o homem mais feliz do mundo; que mais posso desejar?
Entregou ao amolador o pato e recebeu em troca a pedra de amolar e mais uma outra qualquer
que apanhou no chão.
- Eis-te aqui mais esta bela pedra, - disse o amolador - é excelente para fazer uma bigorna e para
endireitar pregos ou arranjar as ferramentas. Fica com ela e guarda-a com cuidado.
João pegou nas duas pedras e partiu muito alegre, os olhos brilhando de felicidade.
- Devo ter nascido com a camisa da felicidade, - pensava êle - pois tudo o que desejo se realiza!
No entanto, como estava caminhando desde manhã bem cedo, sentiu-se cansado; além disso a
fome começava a atormentá-lo, pois já não tinha nada que comer, tendo devorado o farnel de
uma só vez a fim de festejar a troca da vaca. Por fim, andava a custo e a cada instante era
obrigado a descansar; as pedras pesavam tremendamente e lá consigo pensava quanto seria
agradável não ter de as carregar, agora que estava tão cansado. Arrastando-se como uma lesma,
conseguiu chegar até uma fonte, contente de poder refrescar a goela e descansar um pouco
estendido na erva.
Não querendo estragar as pedras, colocou-as cuidadosamente à beira da fonte, bem perto dêle.
Depois sentou e foi abaixar-se para encher o boné de água, mas, sem querer, empurrou um
pouquinho as pedras, que rolaram para dentro da água.
- João, quando as viu desaparecer dentro da água, deu um pulo de alegria, depois ajoelhou-se e
agradeceu a Deus, com lágrimas nos olhos, por tê-lo atendido mais essa vez, desembaraçando-o
do pesado fardo sem que êle tivesse de se censurar.
- Não há ninguém neste mundo mais feliz do que eu! - exclamou.
De coração aliviado, livre de qualquer pêso, saiu a correr e só parou quando chegou à choupana
de sua mãe.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 83

IV.

Psicologia ou Filosofia e Teologia

Introdução

Procuramos conhecer o próprio autor, Santo Tomás, sua vida e obra (I).

Depois perguntamos logo, segundo a maneira do autor, o que o homem quer, ou


qual é seu último motivo de sua vida e seu cumprimento que S. Tomás
explica que é Deus como Sumo Bem. (II)

Procuramos entender o homem, quem ele é e chegamos ao resultado que não é


apenas um “animal racional”, mas uma pessoa que “ama ser amado”! (III)

Depois que foram explicados os desafios na vida desse homem,


de segurar a diversidade das faculdades no homem harmonicamente unidos
e isto pela disciplina da vontade e com a ajuda e o apoio de fora, a educação,
especialmente do intelecto.

Agora, o que falta? Tudo leva a pergunta básica: A psicologia em si – o que é?


1º Quais são as respostas que se encontra na história, especialmente na
história moderna?
Com estas devemos confrontar a psicologia tomista.
2º Então procuramos encontrar segundo Santo Tomás a guia pela vida
psíquica saudável ou normal para todos os homens.
3º Isto então permite de olhar às falhas na vida humana, aos problemas,
o homem peca e como resolvê-los.

Em palavras mais simples ainda:


Nosso intelecto reconhece que somos criados para a eternidade com Deus.
Mas, podemos errar no caminho, e algumas vezes gravemente.
Porém, Deus é sempre Deus e o Senhor e espera que voltamos procura-Lo.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 84

Psicologia ou Filosofia e Teologia

A filosofia procura a verdade objetiva – perguntando pelas últimas causas de tudo que existe, e a
parte das coisas e dos entes reais. Logo tem, como objeto, a realidade mais ampla.
E a psicologia, enquanto ciência, deve também ter um próprio objeto (matéria e formal) e, para
conseguir isto, um seu método próprio.
Mas como estamos no meio do curso, aproximamos no momento a nossa pergunta pela
observação histórica, mas depois procuramos seguir com certa sistemática, e deixamos a resposta
a pergunta pelo objeto da psicologia para o fim (p. 126).

1º Visão global - Quem é o homem? (p. 85)


O homem é uma pessoa com alma espiritual – capaz de conhecer e querer possuir o infinito
e com um corpo material.

a) (Objeções) As teorias de Psicologia na história mais recente (Quem não entende o


homem nesta totalidade, escolhe uma parte, se concentra nessa e forma sua teoria sobre a
vida do homem). (p. 85)

b) (Sed contra) A visão cristã: A criação boa por Deus e hierarquia de criaturas (e de
valores, dados com os graus de ser); o homem e suas faculdades e a harmonia entre elas.
Por fim, a saúde do homem consiste na sua vivência (o sujeito) segundo a correta ordem
hierárquica objetiva (seg. a natureza) e a vontade de Deus. (p. 90)

2º (Solução) Saúde do ser humano e os tropeços -100

a) O que é um homem maduro. - 100


a.1) A maturidade - 100
a.2) A vontade - 103

b) O caminho de atravessar - 104


b.1) O caminho ascético ou da própria conversão - 105
b.2) O caminho de oração para a união com Deus - 107

c) Os tropeços no caminho - 112


c.1) O fato da desordem - 112
c.2) Orientação curativa - 120
O exemplo de “depressão” - 126
Diferença entre Confissão e psicoterapia - 129

Apêndice I: Critérios de Discernimento - 131


Apêndice II: Sensibilidade - 132
Apêndice III: Escrever – com caneta – por motivos psicológicos? - 134
Apêndice IV: Testes psicológicos - 139
Apêndice V: Para amar a Deus - 142

Mostrar a perspectiva:
Pela entrega ao Onipotente (e união com Ele) à onipotência – essa torna-se minha!
Essa é a solução universal, para mim e os outros, do passado e do futuro!
Psicologia e vida espiritual - 2022, 85

Psicologia ou Filosofia e Teologia

A filosofia procura a verdade objetiva. Ela pergunta pelas causas a partir das coisas e dos entes
reais. Logo tem, como objeto, a realidade mais ampla de todas as ciências.
O objeto da psicologia, segundo a sua definição e denominação seria a “psyché”, a alma.
Segundo a definição tradicional, a partir de Aristóteles, a “alma é o princípio vital de um
organismo”. Segundo este entendimento, a alma não é uma substância subsistente, mas apenas o
princípio animador ou a forma substancial de uma coisa. Mas o que a coisa é, e por que é
animada e possui um “princípio vital”, é assunto da filosofia.
Por isso surge a séria pergunta sobre o relacionamento da psicologia com a filosofia.

1º Visão global

Vamos primeiro olhar à história recente da “psicologia” e depois voltar a questão se tratamos aqui
realmente de um assunto de psicologia ou da filosofia. E o exame das propostas na área da
psicologia, especialmente aquelas que são dadas no último tempo, indicam uma opção
fundamental sobre a definição do homem antes de estudar sua alma.
A respeito do seguinte esquema se deve fazer logo três observações importantes:
- É sempre um grande risco (não necessariamente erro!) de resumir uma vasta pesquisa dos
pensamentos de um autor, muitas vezes desenvolvidos por anos ou até por sua vida toda. Porém,
cada um sempre procura o princípio, uma raiz, logo um ponto central. E isto justifica a procura de
uma ideia básica, muitas vezes inicial e geral de um pensador.
- Também é importantíssimo de constatar que ninguém se encontra fora da realidade. Por isso,
para tudo que alguém afirma, se encontra uma referência à realidade e neste sentido algo
verdadeiro. Mas na interpretação ou na passagem para a teoria e generalização acontece facilmente
uma distância à realidade que é a causa de erro, e este deve ser rejeitada.
- Seja também já permitido dizer: Quão maravilhoso é ver o homem todo, em todos os níveis,
ativada na liturgia da Igreja: Pela palavra do celebrante (apelo ao intelecto), toda a assembleia olha
a ele e escuta-o falar (com sentidos externos); o homem re-age (vontade), se levanta (corpo) e
responde animada e com alegria (paixões).

a) As teorias de Psicologia na história mais recente

Em muitas fontes se indica a “psicologia” como ciência recente. Alguns indicam concretamente
W. Wundt como iniciador pelo seu laboratório em que tentou medir os fenômenos psíquico. Isto
se pode encontrar ainda em várias formas, seja de observação (quando dizem que uma alma que
reza bem, desenvolve uma energia mais forte de que uma emissora de Radio), seja de tratamento
(quando se espera resolver todos os problemas “mentais” como “tratáveis” com remédios).
Mas a história aponta mais para trás, por ex. a Herbart (1776-1841) com sua explicação da “alma”
e ainda a Descartes com sua separação de alma e corpo: permitindo apenas uma conexão, mas
entre duas substâncias diferentes e separadas, a “res cogitans” – o pensar e a “res extensa” – a
parte material, e estas são conectadas apenas por uma “pequena glândula”. Por fim, tudo isto
manda voltar aos pré-socráticos quando os filósofos ainda procuraram a unidade e raiz de tudo, e
nesta procura generalizaram suas descobertas parciais. É exatamente isto que observamos hoje
nesta área da psicologia.
Na base do esquema mencionamos Nicolai Hartmann que na sua filosofia apresenta as pedras
como substância maior e melhor por sua persistência pelos séculos. Mencionamos este porque
mesmo na nossa visão cristã precisamos considerar esta parte enquanto também tais partes
encontramos no ser humano, bem simples como na força dos nossos dentes ou na flexibilidade dos
Psicologia e vida espiritual - 2022, 86

cabelos que em si são como “material morto” e ainda parte do nosso organismo pela influência e
animação de nervos.
Psicólogos Acentos A natureza do Visão cristã – tudo tem seu valor
/ Autores homem próprio – e unido forma41
Graça de a harmonia universal, cada coisa
DEUS participa nas propriedades do ser
revelação divino (é individual, inconfundí-
vel, verdadeiro, bom e belo.
Pela graça o homem
pode viver com Deus e nele.
C.G.Jung Universo dos Intelecto No intelecto consta a
(Suborde- Arquétipos grandeza do homem e
nação anônima) sua capacidade de entender
Frankl (self-made Dar-se sentido Intelecto e
Eu autônomo)
Adler – complexo Percepção dos Intelecto Pela vontade
da inferioridade outros (social)
Piaget Evolução – Vontade Desejar o Infinito,
Deixa se Amá-lo, viver para Deus e
desenvolver é capaz de possuí-lO um dia.
Konrad Lorenz Igual aos sentidos
Psicologia da Animais apetitivos, O corpo humano é querido por
comparação cognitivos Deus Criador e contribui à vida
sentidos No nível espiritual
externos pelo contato com o mundo
material ao redor do homem.
Freud O instinto, só o vida A vida vegetativa é querida por
organismo vale vegetativa Deus e ser santificado pela
presença do homem com Deus.
Toland O cérebro é tudo vida vegetativa
Nic. Hartmann Pedra é a Mundo Temos elementos como cabelo,
realidade maior anorgânico dentes nos quais se distingue entre
por ser estável a matéria e os nervos que animam
Aqui deve-se mencionar também “um certo Senhor Toland. Já em 1720 declarou o cérebro uma
máquina que segundo suas próprias leis produz nossos pensamentos”42. Hoje se conhece muito
essa teoria materialista e mecânica da psique do homem que termina num determinismo como por
exemplo a determinação da pessoa para o hetero- ou homossexualismo segundo o seu cérebro.43
A facilidade com que “alguns psicólogos transpessoais falam, em consequência, de uma cultura

41
“Enquanto que a psiquiatria moderna, em cada uma de suas tendências, parece de certo modo redutora, a concepção
dos Padres tem o mérito de levar em conta as três dimensões do ser humano: corporal, psíquica e espiritual.”
(Reginaldo Alves CAMPOE. (Tradução e compilação; autor: Jean-Claude LARCHET). A Terapêutica das doenças
espirituais: Uma Introdução à Tradição ascética da Igreja ortodoxa. Aproximações psicológicas. Limeira, 2015
(Reginaldo.campoe@yahoo.com.br), p. 5)
42 M. LÜTZ. Neue Irre! Wir behandeln die Falschen. Unser Problem sind die Normalen. München: Penguin Verlag,
2022, p. 7.
43 Cf. PEARS, Allan & Barbara. Why men don’t listen and women can’t read maps - Por que os homens nunca
ouvem nada e as mulheres não sabem ler mapas de estradas. Moir, A., Brainsex. The real differences between men
and women, London 1989. Lütz resolve o problema com a indicação que um piano sozinho [= cérebro] não toca a
sonata que Beethoven compus, mas isto faz o pianista Chinês Lang Lang ou com o hóspede num restaurante que
confunde a carta com a comida (cf. LÜTZ, p. 7s.). Para uma visão harmônica cf. Narciso IRALA. Controle Cerebral
e Emocional. 26. ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1984.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 87

do lado esquerdo e de uma cultura do lado direito”44 do cérebro parece dar razão a tal ideia. – Se
examinamos tal teoria, segundo Jesus, pelos frutos, não sobra o homem racional e livre; e se
perguntamos pela origem chegamos ao fundador da maçonaria.45
Freud se concentra no nível da vida vegetativa, a sexualidade por causa do seu confronto com
pacientes que foram sexualmente abusados; aprendeu isto em Paris, e, voltado a Viena, também
em Áustria. Esta causa não lhe foi permitido enfrentar abertamente no ambiente tradicional
religioso de Áustria. Por isso foi levado a inventar a psicanálise com traumas e complexos, em
grande parte inconscientes, mas que se manifestam no nível consciente ou até exterior devido da
forte perturbação sofrida. Depois de ter visto na casa da filha de Freud documentos não editados,
Masson escreveu a filha Anna (* 1895) de Freud que seu pai “estava errado em abandonar a
hipótese da sedução”. Então,
“Anna Freud escreveu-me (10 de setembro de 1981): ‘Manter a teoria da sedução
significaria abandonar o complexo de Édipo e, com ele, toda importância da fantasia,
fantasia consciente ou inconsciente. Na realidade, acho que não teria mais existido
psicanálise [sic!] depois disso.”46
Isto – mas não apenas esta razão - explica com qual ênfase Freud generalizou a sexualidade de tal
maneira que até a criatividade artística e a prática religiosa foram explicadas apenas por impulsos
sexuais. –
Rudolf Allers pertence aos psicólogos de Viena. Ele alargou sua visão psicológica por estudos
filosóficos. A partir desse novo ponto de vista conseguiu apontar com belíssima exatidão ao erro
fundamental de Freud: A sexualidade pertence à via vegetativa do homem e com este ao seu
inconsciente. Quando soube desse nível inconsciente ao nível consciente, ela acabe de estar “fora
do seu lugar” e perturba o homem como pessoa, e por isso pode causar problemas até no nível
espiritual. Que a vida vegetativa só sobe à consciência quando adoecemos, quando percebemos e
quando nos conscientizamos de uma batida acelerada do coração ou de uma dor no estômago.
Atendamos esta chamada de atenção, cuidamos até que volta ao seu nível inconsciente ou
saudável, e nos deixa em paz. Qual erro gravíssimo estamos expostos hoje com esta vastíssima
conscientização da sexualidade por todos os lados, mesmo na mais simples convivência com
pessoas imodestas. – E que esta tese da psicanálise fantasiosa gira ainda e influencia problemas
espirituais se pode ver na argumentação contra o celibato, quando se argumenta: “Quem não vive,
não entende!” A tal lógica está baseada na filosofia materialista que diz: O que não se experimenta,
não se conhece, então também não pode dar conselhos e orientação.
Difícil de encontrar algo sobre Konrad Lorenz (1903-1989) que considerou o homem apenas
como um animal. Por isso, aconselhou a observação da vida dos animais para saber como viver a
nossa vida emocional.
Muito mais conhecido e divulgado é como Piaget explicou a vida do homem – e assim também,
no maior tempo do seu ensino e de sua prática psicológica, Charles Rogers, não porém no fim de
sua vida! Piaget pensou poder sido capaz de observar que as crianças desenvolvem dons e
capacidades que já se encontram nelas. Logo, não seria bom de interferir, mas apenas oferecer
condições melhores para elas se desenvolvem seus talentos naturais. Sua teoria se vê aplicada hoje
amplamente na educação – num campo em que causou, de fato, e ainda causa uma influência
desastrosa. – Podemos pensar que aqui encontramos simplesmente uma forma do Darwinismo, do
desenvolvimento exclusivo de dentro para fora. Que tal teoria também ultrapassa um horizonte,

44 B. GOYA. Psicologia e Vita Spirituale: Sinfonia a due mani. Bologna: Edizioni Dehoniane 2000, p. 87.
45 John Toland (1670-1722) mencionou “que originalmente quisesse refutar Spinoza, suas obras polêmicas deístas,
mas quase materialistas, foram contestadas por Leibniz.” “Em 1717, ele reuniu todos os druidas sobreviventes Da
[sic!] Inglaterra e Irlanda para fundar a Ordem dos Druidas [Maçonaria], o primeiro movimento neo-druídico e do
qual ele foi o primeiro ‘Grande Druida’.” (Wikipedia (acesso 17-8-22, 9.01).
46 Jeffrey Moussaieff MASSON. Atentado a verdade. 2.ed. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1984, p. 107; ênfase
nossa. Já antes escreveu Sheen: “Se as pressuposições desta doutrina caírem, a teoria do complexo de Édipo perde
seus fundamentos.” (SHEEN. Angústia e Paz, p. 46, nota 1).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 88

em que talvez ainda tem certo valor, e vira ser generalizada se vê no nível espiritual e teológica
(por ex. Teilhard de Chardin) na larga aceitação da negação do pecado original. A raiz dessa
heresia se encontra muito antes e por vários motivos. Mas sua larga aceitação hoje, especialmente
no relativismo moral, é mais fácil compreensível quando se considera uma pedagogia e educação
baseada em tal psicologia.
Alfred Adler é um outro psicólogo que se distanciou de Freud pela atenção a dimensão social do
homem. Ele percebeu que se pode e deve explicar muitos comportamentos dos homens pelo mútuo
relacionamento com outros. Estes podem ser causados por rivalidades ou por tentativos de agradar
ou impressionar, por respeito humano com suas muitas formas de falsidade etc. etc.
Encontramos hoje muito espalhado a “logoterapia” de Viktor Frankl, por quem o homem é mais
que só um corpo animado. O homem é uma pessoa com própria vontade,47 e essa, em situações
não planejadas, pode libertar energias que antes não conhecia. Frankl descobriu essa dimensão do
ser humano no Campo de Concentração dos Nazis, sua vontade de sobreviver.48 Frankl, judeu,
mas sem fé judia ou em Deus vivo, preso, não encontrou outro motivo de opor-se aos Nazis de que
seu querer, seu orgulho de ser e existir. Daí desenvolveu a teoria da logoterapia, da cura de
perturbação interna ou psicológica por motivar sua vontade por um sentido. Seu querer é tudo. Se
há uma motivação para querer algo, ainda melhor. E se chega a uma situação em que não se vê
razão e motivação de aceitar, aceita por não ter outra opção, mas sejamos nós que aceitamos e
assim, mesmo em tais situações, ainda somos nós que ficamos “senhor” do destino. – Frankl não
libera o homem de si, pois “nessa regra de vida” o homem constrói a si mesmo. Se deve perguntar:
até qual ponto? Esta pergunta – e sua resposta – trona-se ainda mais clara quando perguntamos ele
para Deus: Que é Deus?
Frankl ou Jung, parece, que ainda querem dirigir seus pacientes a Deus, mas que Deus? “Para
Frankl, isto significa que de Deus não se pode dizer nada (e ‘do que não se pode falar, é melhor
calar’, dizia Wittgenstein, citado por ele). Não se poderia falar de Deus, mas somente a Deus,
através da oração.” (La vontade de sentido, Herder, Barcelona 1988, 66-67). De que Deus se trata?
Segundo Frankl, do ‘interlocutor de nossos mais íntimos solilóquios’. Como não se pode saber o
que é Deus, esta não é uma definição essencial, mas ‘operacional’. Neste sentido, pode ser religioso
tanto um teísta com um ateu. Só que o teísta nega a aceitar a hipótese de que este interlocutor seja
ele mesmo, coisa aceita pelo ateu. (Frankl. Homo Patiens. Ensayo de uma patodicea)”49
(Echavarría. A Práxis, p. 390). E ainda: “Contudo, mais profundamente, diz Frankl, o autêntico
interlocutor é o nada [griffo do editor]. O nível mais profundo seria chegar a Deus como ‘nada’,
que é o transcendente inexprimível.” (ECHAVARRÍA. A Práxis, p. 391)
Goya conclui sua observação sobre a “logoterapia de V. Frankl” com esta frase: “Parece supérfluo
insistir sobre a fé cristã como sentido e princípio de integração de toda a existência” (GOYA, p.
159), parece supérfluo pois é demasiado evidente! Ou perguntamos: Onde está a lembrança das
grandes figuras ou dos “nomes” da história da humanidade? Não são 99,9 % porcento dos homens
esquecidos – contrário de uma freira simples como a Santa Bernadette, que se chama “vassoura de
casa”, que é lembrada na Igreja universalmente como santo exemplo a ser honrado e imitado!

47 Herman Dobbelstein cita A. Bonnar que observou no seu livro The Catholic Doctor. (5.ed. New York: Kennedy,
1951, p. 124): “Hoje a medicina considera o homem individual mais e mais como unidade. A isto se chegou
provavelmente principalmente pela aceitação geral (entre não-católicos) do engano filosófico-científico que a mente
fosse um produto da matéria. Mesmo que nós não aceitamos a razão segundo qual chegaram a esta conclusão, nós
alegramo-nos sobre a volta a antiga ideia Católica da união do compositum humano.” (H. DOBBLESTEIN. Psychiatry
for Priests – (orig. German: Psychiatrie und Seelsorge). New York: Kenedy & Sons, 1953, p. 12, nota 4).
48 Em semelhante circunstância, Conrad Baars descobriu a força da emoção de “raiva”: Por não querer que os Nazis
vencem sobre ele, descobriu e libertou – por motivo da raiva – tanta energia que venceu todas as fraquezas e sobreviveu
o Campo de Concentração. Pela indicação de Anna Terruwe encontrou a psicologia nos escritos de Santo Tomás e
desenvolveu sua teoria da “Psicologia da afirmação” – afirmação, porém, não por si mesmo, mas pelos outros,
começando pelo amor e cuidado da mãe pelo seu filho, pois, o bem que merece ser honrado e respeitado está fundado
no ser em si ou por existir e não segundo qualquer outro aspecto (o ser e o bem são convertíveis segundo S. Tomás!).
49 M. ECHAVARRÍA, A Práxis da Psicologia, Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2021, p. 390; cf. embaixo nota 106.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 89

Por fim, lembramo-nos ainda de C. G. Jung. Ele cativou muitas pessoas pela afirmação que “a
aproximação ao sagrado é a verdadeira terapia”50, e que há “a necessidade de redescobrir a vida
do espírito”51. Porém, mesmo que fala de uma realidade “acima do homem”, não identifica essa,
mas chama antes o “Inconsciente absoluto coletivo” de todas as experiências dos homens, que o
levou a falar de arquétipos universais, “além do bem e mal” (cf. embaixo, nota 106). Mas tudo
isso, não lhe fez pessoalmente capaz de livrar-se da angústia noturna das manifestações por
espíritos. Ele não abraçou um Deus vivo que lhe teria protegido.
Torellò escreve:
“Jung, como Freud e Adler, permanece no âmbito do psicologismo. Os dogmas religiosos
são para eles simples fatos psicológicos, e Jung demonstra uma profunda ignorância do
valor objetivo da religião, quando não uma indiferença ‘profissional’.”52

Benito Goya faz repetidamente referência a Abraham Maslow que pela sua “Hierarquia de
necessidades” e a obra “Motivação e responsabilidade” queria abrir espaço para a auto-realização
como um aspecto da felicidade do indivíduo. Outro autor, frequentemente referido é Gordon
Allport, chamado “pai da personalidade”. Porém, nenhum dos dois dá lugar a Deus como causa
eficiente, e por isso não ultrapassam “uma religião natural imanentista”53, “em um sentido novo,
naturalista, empírico e não eclesiástico”54.

Diante desse espectro seja mais uma vez dito quão importante é de conscientizar-se da base
filosófica de cada autor. Dobbelstein disse já em 1953:
certamente não é por acaso que psiquiatria – mais que outras ciências – abriu, nas últimas
dezenas de anos, o caminho que leva de uma medicina sem alma a um conhecimento mais
profundo da alma. Oswald Bumke, sem dúvida um dos psiquiatras modernos mais
importantes, achou necessário declarar que nenhum investigador moderno podia duvidar
que Deus existe. Uma vida longa, em contato estreito com doentes mentais ensinou-lhe de
reconhecer Deus e a alma humana criado por Ele. (DOBBELSTEIN, p. 140)

Do outro lado escreve hoje, em 2015, Reginaldo Alves CAMPOE (p. 8):
Um fato importante de diferença é de outra parte dado ao fato que a psiquiatria atual está
constituída sobre o modelo das ciências médicas e está deste modo situado numa
perspectiva naturalista excluindo a priori toda a referência ao domínio religioso e moral.

50 GOYA, p. 5; numa outra citação já teria dito: “aproximação ao numinoso...” (ibid., p. 13).
51 Juan B. TORELLÒ. Psicanálise ou Confissão. (orig. italiano). Lisboa: Ed. Aster e Coimbra: Casa do Castelo-Ed.,
1967, p. 32.
52 TORELLÒ, p. 86s; cf. p. 84-90: “A vocação religiosa inconsciente de todo o homem”. Jung gosta de apontar que
as ideias da religião cristã servem muito para despertar nos doentes a esperança para uma vida melhor, e isto tem
grande influência positiva nos doentes (assim por ex. o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao céu com alma e
corpo! Mas isto não passa ao utilitarismo psicológico como se encontra bem frequentemente em muitos autores, como
em W. James e outros.
53 ECHAVARRÍA, A Práxis, p. 100, nota 181. Perguntámo-nos antes: devemos aplicar o pensamento de São Paulo
sobre o julgamento de direito também à psicologia: “Quando um de vós tem uma questão contra outro, como se atreve
a entrar na justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos?” (1Cor 6,1) Esta mesma pergunta se fez J. E.
ADAMS; e isto o levou a pensar no que depois se tornou uma psicologia na base da Bíblia, em particular, nos Salmos.
Adams se refere a Raymond Meyers que disse: O Salmista chama feliz o homem que não seguiu o conselho dos ateus.
Mas porque a Igreja cristã negligenciou de passar este bom e sábio conselho para os outros, os homens são esforçados
de ir aqueles que são ateus para buscar soluções para os seus problemas. ... Temos medo que nosso Senhor não podia
resolver nossos problemas humanos?” (Competent to counsel; título em alemão é: Befreiende Seelsorge - Pastoral
liberadora: Teoria e Práxis de um aconselhamento de vida bíblica. 8. ed., Giessen-Basel: Brunnen Verlag, 1988, p.
X; cf. em baixo, nota 46) Interessante é a análise filosófica de livros bíblicos (Ecclesiastes, Jó e Cântico dos Canticos)
no sentido que tratamos aqui pelo pastor batista, convertido ao Catolicismo: Peter KREEFT. Três Filosofias de Vida.
2.ed. São Paulo: Quadrante, 2016.
54 A. MASLOW. Toward a psychology of being; em: ECHAVARRÍA, p. 100, n. 181. F. INSA faz larga referência
aos “big five”, OCEAN, de R. McCrae e P. Costa no seu livro A Formação da Afetividade: Uma perspectiva cristã.
São Paulo: Cultor de Livros, 2021, p. 37-43 e 392.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 90

Parece que os dois se contradizem. Mas podemos reconciliar também assim: Quem é sério
reconhece a dimensão religiosa de cada homem.
Um psicólogo com uma visão do homem e da realidade como vimos até aqui, considerado médico,
como procede com um paciente? Deve 1º procurar um diagnóstico; depois 2º fará o que com o
paciente? Dá sugestões segundo o seu entendimento do homem e da realidade, isto é, procura
reorganizar a vida dele seg. sua ideia (ou seu ideal), ou há mais para oferecer?

Mas será que não deveríamos perguntar:


Ele não deveria incluir nos seus cálculos a livre vontade do paciente?
Não deveria reconhecer uma obrigação segundo a natureza (secundum naturam)?
Não deveria conduzir o paciente a pergunta pela Vontade de Deus?
Ao menos nós aqui, que cremos em Deus e nos confessamos Cristãos, não nós deveríamos
considerar livre de tais obrigações, nem como médico, nem como paciente.
Na base da análise e avaliação de um comportamento está a compreensão do homem, ou a visão
filosófica.
Campoe comenta este ponto na sua publicação sobre a “antropologia patrística”:
A natureza humana não pode jamais ser considerada inteiramente nela mesma, e se define
fundamentalmente por sua relação com Deus, o homem sendo, pela vontade do Criador,
naturalmente ordenado a Ele em todas as suas faculdades de seu ser, bem que ele dependa
de seu livre arbítrio de fazê-lo agir segundo a natureza ou contra a natureza. (CAMPOE, p.
8)
A visão filosófica de Santo Tomás inclui Deus como último fim e verdadeira, pois definitiva,
felicidade do homem. Por isso, um paciente deve ser guiado a Deus devido de sua natureza
humana, por ser homem, sem já incluir a questão da fé sobre-natural. A constatação de Adams é
bem simples: “Quanto mais claro expliquei ao povo o que Deus exige deles, tanto mais foi lhes
ajudado realmente.” (ADAMS, p. XI)

b) A Visão cristã

Então, mesmo psicólogos que parecem reconhecer a espiritualidade do homem com suas
faculdades de intelecto e vontade não conduzem o homem ao além de si para o qual o homem foi
criado e para o qual anseia toda a sua vida. Eles podem respeitar outros (relativismo), mas não
resistem de “absolutizar” a sua proposta – sinal típico do relativismo: pedir tolerância dos outros
para mim, mas absolutizo minha opinião diante dos outros.55
Santo Tomás fez isto claro logo no início de sua Obra magistral da Suma teológia. Respondeu
positivamente a pergunta pela necessidade da revelação:

“Para a salvação do homem, é necessária uma doutrina conforme à revelação divina, além
das filosóficas, pesquisadas pela razão humana. Porque, primeiramente,
(A) o homem é por Deus ordenado a um fim que lhe excede a compreensão racional,
segundo a Escritura (Is 64, 4): O olho não viu, exceto tu, ó Deus, o que tens preparado
para os que te esperam. Ora

55 Cf. M. ECHAVARRÍA. El Relativismo en la Psicología. E. aponta a divergência já no entender o que é “normal”!


Interessante que Georges Canguilhem (1904-1995), médico e pensador, tomou coragem em perguntar o que é
“normal” e o que é “patológico”? O que é o objeto dessa disciplina que chama-se “Psicologia”? Os psicólogos de hoje
têm um princípio, ou uma ideia do que estão tratando? Virtudes e vícios se encontram misturados – mas como
diferenciá-los? Segundo qual critério? Estes ficam apenas como “manifestações” de vida, da vontade, da vontade
própria (dos egoístas) ou vontade de outros (partido, opinião pública)?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 91

(B)o fim deve ser previamente conhecido pelos homens, que para ele têm de ordenar as
intenções e atos. De sorte que,
(C)para a salvação do homem, foi preciso, por divina revelação, tornarem-se lhe
conhecidas certas verdades superiores à razão.”56

Aqui também se encontra a razão porque o Santo discuta logo no início do seu tratado sobre toda
a vida do homem o desejo natural para a felicidade que o homem só encontra no fim infinito e
último que só pode ser um, ou seja, Deus.57
Então para tratar a vida do homem ou, se queremos chamar a “psicologia” do homem, do ponto
de vista cristão devemos começar com
a criação por Deus, criação boa, e de uma hierarquia entre as criaturas
(e dos seus valores, que são baseados e dados no grau de ser de cada uma).
Parte dessa criação é o homem com suas faculdades e a harmonia entre elas
pela correta ordem hierárquica objetiva (seg. a natureza) e a vontade de Deus.
Conclusão: como também a criação do homem foi “muito bom”, a saúde do homem
só pode consistir na sua vivência (o sujeito) segundo esta ordem objetiva.

Seja permitida essa observação: Quem escuta isto, facilmente pensa: Isto não tem ainda nada a ver
com a psicologia. Tal pensamento mostra quão avançado o neo-paganismo já é; ou: quão forte é a
separação da fé e razão, da revelação e do conhecimento natural, da vida da fé e da religião com
a vida ordinária e cotidiana, ou, em palavras mais simples: que não vivemos unidos com Deus
que está sempre presente na vida humana, e em todo o lugar!
Em certo sentido é nada novo, pois é o problema desta a Igreja primitiva. Novo é, que isto se
encontra agora no nível científico, e ainda, na área que trata da orientação da vida humana.58

Filosoficamente ou antes de recorrer à revelação pode-se explicar assim.


A filosofia começa com observações ou descrições como a psicologia. Segundo o modo do
conhecimento do homem, é sempre necessário de partir da realidade a abstrair. A filosofia procura
as causas que explicam a realidade. Na necessidade da seriedade dessa pesquisa a filosofia
descobra certas leis como por exemplo o par de “ato e potência”. Esse está na base de todo o
movimento e desenvolvimento com o simples fato que “o que ainda não é” – mas é possível, “é
em potência”, mas pode tornar-se realidade, pode vir a ser atual por outro. E por quem ou que?
Por algo que “já é atualmente”, e esse deve ser
- ou ao menos tão poderoso ou potente como o que será atualizado (como a semente já tem o
princípio de vida em si, de modo que seu cresccimento é apenas uma questão de tempo, enquanto
uma pedra não tem o poder de deixar crescer uma planta);
- ou é maior como o homem é maior que uma máquina (possível) que ele constroi e faz atualmente
existir.
Esta lei, a filosofia observa na realidade e abstrai dela, e por isso não reconhece como verdade
quando de repente alguém se levanta e disse: “Você tem vergonha (espiritual) porque seu sangue
se acumulou no seu rosto (físico)”; isto é a inversão das verdadeiras causas. – Você não aceita

56 ST, p. I, q.1, a.1; cf. II-II, q.2, aa.3 e 4; THOMAS DE AQUINO. Suma contra os Gentios (ScG), I, 4-5; ID.
Quaestiones Disputatae de Veritate, q.14, a.10; Sab 9, 13-17; etc.
57 Cf. ST, I-II, qq. 1-5; CATHY confessou: “Eu era insaciável, vazia por dentro, procurando a felicidade no fundo
da garrafa”. Alcoólicos Anônimos. Disponível em: <https://www.aaonline.com.br>.
58 Antigamente, o problema se limitou à vontade pela qual o homem facilmente falhou, quando não praticou o que
sabia e acreditava que será o correto e podia se corrigir. Hoje, depois de um desenvolvimento pelos últimos séculos,
a verdade é escurecida, de modo que até pessoas de boa vontade não sabem mais o que deveriam observar e como
deveriam viver. É o relativismo não só moral, mas até da verdade, por ele parece ser perdido o critério da correção, e,
em consequência, cada um, individualmente por si, deve fazer ou um ato de vontade conscientemente em favor da fé
e da escuta à voz silenciosa da consciência e natureza (cf. Rom 2,14-16) – ou fica também perdido no mar do
relativismo mais e mais universal. Cf. M. Echavarría. El Relativismo en la psicologia y en la psicopatologia
contemporâneas. El Concepto de Normalodad y Anormalidad.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 92

isto, porque sabe que uma pessoa sinta primeiro vergonha de algo, e depois e por esta razão e
causa sobe mais sangue que normal no seu rosto e este torna-se vermelho.
A filosofia que pesquisa as causas não acompamha um erro que algo inferior seria causa de algo
superior, o que acontece em todas essas terorias que partem de um fato concreto observado, mas
depois absolutizam ou generalizam essa parte como fosse a lei que dirige tudo.

Mas, se contesta dizendo: A psicologia nao quer fazer a mesma coisa? Sim, quer, por isso tem ao
menos a filosofia como base ou até emergulha nela, como a estrutura da alma humana e seu
comportamento sempre fez parte da filosofia ou, ao menos, deixou-se orientar por ela – na ética e
na educação (a pedagogia científica é do tempo moderno com Pestalozzi, Herbart etc. e está hoje
em grande crise de identidade também por causa da confusão na filosofia).
Diante da filosofia ou considerando o homem na sua integridade, se vê estas opções para a
psicologia:
- ou se contenta com a observação (analítica) da vida passada (num “tratamento” demorado e
conversas “sem fim”),
- ou, baseada na análise, orienta segundo regras comuns de “bom comportamento” no sentido do
“Imperativo Categórico” de Kant (cf. em baixo, nota 53),
- ou se faz sua própria filosofia e estabelece um próprio “fim último” (como Freud o prazer sexual
ou Frankl o “Ego”) e orienta na direção deste,
- ou relaciona o homem com a filosofia sólida, objetiva (aristotélica-tomista-cristã), mostra a sua
felicidade possível e indica o caminho para lá, inclusive com Deus que vem ao seu socorro.

Diante do fato que o homem transcende a si mesmo, é importante de anotar que a filosofia cristã
se deixa ajudar pela revelação divina e por ela indicar um horizonte que pela razão não é
imediatamente evidente. Por isso, podemos dizer:
Uma obseração válida da psicologia deve ser inserida na visão mais ampla da verdadeira filosofia
e até na Weltanschauung do cristianismo, isto é, na Concepção cristão do mundo que é a filosofia
aperfeiçoada e completada pela revelação, ou a razão corrigida e aperfeiçoada pela luz da fé.

Então, sejam permitidas algumas palavras, mesmo brevíssimas, sobre a “visão cristã” para
conhecer a saúde psíquica do homem, e a partir dessa tratar de uma psicologia
ou ordinária com uma descrição de comportamento normal e natural
ou extraordinária enquanto observa anormalidades e procura ajudar vencê-las.

No início da visão cristã está a verdade da Criação. A primeira frase da toda a Sagrada Escritura
se refere a toda a realidade: “No princípio, Deus criou o céu e a terra. ... Deus viu que ... era boa”
(Gen 1,1 e 4).
Este fato se refere a criação toda, do pó da terra até a via látea mais distante, da perfeição mais
estupenda de um organismo vivo até a hierarquia de espíritos puros incontáveis. É uma perfeição
e beleza tão estupenda que só não percebe que não quer olhar a aquilo.
Agora o homem, do qual estamos tratando e preocupando, faz parte desta criação, e logo,
evidentissimamente, se deve dizer, também é bom, participa nessa perfeição harmoniosa, de modo
que a narração da criação termina assim: “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom.”
(Gen 1,31).
E quem é este homem do qual se fala na criação?
Este homem foi criado como união viva e substancial de alma e corpo, com um nível apenas vivo,
a vida vegetativa, ou sensitivo e espiritual, mas constituindo o único homem que é animado pelo
mesmo princípio vital, sua alma.
Então é necessário falar de um ente só, de uma pessoa humana, que une em si o princípio espiritual
e corporal de tal maneira que tudo participa em tudo, o pensamento beneficia da boa nutrição e o
coração fica calmo quando a vontade opta para o bem e o agradável. E como há uma hierarquia
Psicologia e vida espiritual - 2022, 93

em toda a criação segundo os graus de ser, assim há também uma hierarquia entre as faculdades
no homem.59
Alguém observou si mesmo, esta união e se expressou assim:
“A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo ... As lágrimas são meu pão dia e noite...
Disto me lembro e meu coração se aflige: quando eu passava junto à tenda admirável, rumo
à casa de Deus, entre cantos de alegria e de louvor de uma multidão em festa. Por que estás
triste, minh’ alma? por que gemes dentro de mim? Espera em Deus, ainda poderei louvá-
lo, a ele, que é a salvação do meu rosto e meu Deus.” (Sl 42(41),3-6).
Este é o homem criado por Deus.60
Agora, depois de um tempo, Deus se fez homem, um fato inimaginável e incrível de um lado, mas
do outro lado, olhando hoje para trás, se podia quase esperar porque Deus fez o homem para ser
feliz só na união com Ele, mas esta meta, por parte do homem, nunca seria realizável a não ser por
Deus mesmo. Então Deus mesmo veio:

Verbo se fez carne para tornar-nos "participantes da natureza divina" (2Pd 1,4) ...
"Pois o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus." (Santo Atanásio)
"Unigenitus Dei Filius, suae divinitatis volens nos esse participes, naturam nostram assumpsit, ut
homines deos faceret factus homo - O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua
divindade, assumiu nossa natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses."
(Santo Tomás de Aquino, Opusc. 57 infesto Corp. Chr.; em: Cat 460)

Ligado a este fato se deve observar a participação desse homem todo, na sua união constitucional,
e nada excluído, nada desprezado, mesmo que fica conservado o valor diferente de cada parte.
Os sacramentos são administrados individualmente e sempre envolvendo o corpo.
A vida sexual recebe a benção sacramental e elevação por uma missão divina, a colaboração
criativa de Deus!
As emoções são marcadas pelo primeiro princípio moral que diz, fazer o bem e evitar o mal, de
modo que pelas emoções o homem é atraído ao bem e movido de rejeitar o mal!
Mais ainda: O ato mais sublime da pessoa humana, sua opção pela sua livre vontade, consiste em
submeter toda a vida à regra fundamental, inicial e final, que é a Vontade de Deus Criador: “Eis
que venho. No rolo do livro está escrito a meu respeito que eu cumpra tua vontade. Meu Deus, é
isto que desejo, tua lei está no fundo do meu coração;” (Sl 40,8-9; cf. Hb 10,7) Neste ato, nesta
união de vontade criada com a Vontade incriado de Deus, a vida humana é levada a uma dimensão
muito mais alta da qual o homem se encontra como criatura ou consigo mesmo.
Entende-se aqui – com conclusão – que em certo sentido Deus plantou no coração do homem uma
decepção existencial ou “depressão natural”, para que ele nunca pare consigo, mas busque mais,
busque Deus, sua origem, à qual todos os seres desejam sempre voltar – um pensamento que para
Santo Tomás vale quase como um princípio que explica tantos comportamentos e ânsias do
homem!61

O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus
e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de
encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à
comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com

59 Talvez um ou outro já estava uma vez com o médico que examinava seu coração. Ele nos conecta com a sua
máquina e deixa-nos ver tudo o que observa pela sua câmera. Vemos a pulsação desse órgão. Pode ser que ele pare
aí, porque é isto que ele se propus de ver. Mas, pode ser também que assusta e “fica de boca aberta” em observar que
esse órgão “se mexe”, se move, pulsa – e se questiona: “como ?”.
60 Josef GOLDBRUNNER. Heiligkeit und Gesundheit: Uma conferência. Freiburg im Br.: Herder, 1949, p. 27s.
61 Confira nesta mesma base o que Josef Pieper, na base de Santo Tomás ou dessa doutrina cristã elaborou sobre a
“depressão” (veja embaixo, p. 128-131).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 94

ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o
criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive
plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar
ao seu Criador (GS 19.1).62
“O nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós” (Sto. Agostinho, Conf.
I,1,1; em Cat 30)

É a altura ou profundidade da vida e do coração humano que só a fé capta e leva ao homem à


perfeição, à sua felicidade e – como já veremos – à saúde psíquica, à saúde da alma.
É a altura da união com o Filho de Deus e por ele com Deus Pai eterno. Pois também o Filho, Jesus
Cristo entendeu toda a sua vida apenas como isto: submeter-se em tudo com a vontade do PAI e
assim superar todas as limitações da natureza humana, e cada homem é chamado para imitá-lO e
unir-se com Ele para chegar à união total com Deus Pai (cf. Jo 4,34; 5,30; 6,38; Mt 26,39.42 e Lc
23,46).

Neste união e por ela se abre uma verdadeira e nova dimensão da vida humana que o uso da razão
pelo homem comum talvez não vê !
Um Cristão dizia (e São Paulo está no início de uma multidão de mártires):
“Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós” (Col l,24).
Seguindo esta visão cristã completada, a Igreja não hesita de exortar todos os seus membros com
estas palavras: “Vós, que participais dos sofrimentos do Cristo, alegrai-vos, para que, ao
manifestar-se a sua gloria, vossa alegria não tenha limites” (Ant. da Comunhão no dia 15 de
setembro). Se refere ao sofrimento vicarial ou expiação como missão da parte de Deus!
Esta verdade dá acesso à muitos sofrimentos na vida de cristãos que se manifestam em muitas
formas, mas que não tem causa natural e não há cura por remédios naturais. A fé nós diz:
O homem é uma criatura a qual Deus nunca se ausenta, sempre a acompanha e assiste, especial-
mente a aqueles que o amam mais.
Esta verdade, a mais profunda e raiz de toda a vida humana, escapa a todos que não acreditam em
Deus. Essa dimensão da vida real do homem escapa a uma consideração psicológica isolada.
Necessariamente, psicólogos que não consideram Deus ativamente presente na vida de cada
homem, podem observar a vida e interpretar segundo vários pontos de vista; mas eles não acertam
as conexões reais. Por isso precisamos tomar claro conhecimento de como Deus criou o homem,
como sua vida se realiza e, apenas depois, poder determinar desvios.

Repetimos que o Cristianismo aceita e reconhece todas as partes que vimos tocadas pelos autores
mencionados, mas coloca elas no seu lugar, cada um segundo a sua função e seu próprio sentido
e com sua contribuição ao todo, inclusive a vontade. Mas complementa que nenhuma parte serve
como norma absoluta ou explicação do resto, pois esta só se encontra no Criador.
Diante da seguinte imagem da realidade toda, do homem todo - se for necessário com a ajuda (dos
pais, dum mestre, professor, padre, psicólogo) - deve-se perguntar constantemente e, especial-
mente, em momentos de dificuldades (cf. em baixo p. 37s.)
- onde se localiza seu(s) “valor(es)” (interesse, desejo), qual é a hierarquia de valores dele
- se este peso que lhe dá é justificado e com qual esforço pode ou deve lutar para este e
- como este se insere no quadro inteiro da realidade temporal e eterna; e
se for deve corrigir a ênfase que lhe dá.
Aquelas pessoas que a Igreja reconhece terem alcançado a meta eterna, servem também como
orientadores (Maria SS., Lc 1,34: tenho nada; S. Paulo se considera “ser nada“, 2Cor 12,11; S.
Pedro: deixamos tudo, Mt 19,27; Santo Antão; S. Francisco de Assis; S. Maximiliano Kolbe ...)

62 Catecismo da Igreja Católica (= Cat), n. 27; cf. 27-30. Só quando se inclui Deus o homem encontra paz consigo:
James HILLMAN. Insearch. Psychology and Religion. London: 1967; trad. alemã: Stuttgart: Klett Verlag, 1969.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 95

DEUS – Senhor do universo – Nada Lhe escapa – Tudo está na SUA Mão
“Mei Pai trabalha sempre, e Eu também trabalho.” (Jo 5,17)

O homem
Milagres
---

vontade
Ar Fogo (luz)
Intelecto

Sentidos cognitivos e apetitivos (emoções)

Vida vegetativa da qual o homem fica normalmente inconsciente

Água terra

O que tenhais que não recebestes - rezai sem cessar

O que tendes direito de exigir? – O necessário para a vida natural, mas não absolutamente;
mesmo a vida terrestre só é de passagem; o último fim cada um alcançará se quer (Cat 1847).

– Dai graças ao Senhor sempre e em todo o lugar – recebei o bem e o mal e lovai ao Senhor! –

Ordem, harmonia, ou saúde do homem e a paz na sua alma consistem na vivência (do sujeito)
segundo a correta ordem hierárquica no homem mesmo e segundo os valores (dos objetos).
A partir dessa deve-se fazer o diagnóstico.
Por doença entendemos primeiro defeitos físicos, temporários ou permanentes;
doença “mental” não se pode atribuir à simplicidade da alma, como ainda vamos tratar, mas se
deve entender como comportamento contrário à ordem e vontade de Deus ou à natureza; mas
este depende da vontade.
Agora, tal erro pode ser ocasionalmente ou com certa constância (neste caso se fala de “vício”).
Quando se quer chamar um vício uma “doença”, há ao menos o perigo de não considerar a
liberdade e responsabilidade da pessoa, e ver apenas como um defeito que aparece como doenças
físicas.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 96

Já mostramos uma vez esta estrutura estática da interioridade ou psique da natureza humana:

O Homem tem como faculdades dado para o objeto no MUNDO


Com alma (é feito bom por Deus e - mal pelo pecado,
e corpo explicado: na palavra de Deus, nos 10 mandamentos e na consciência dos homens.)
___________________________________________________________________________

é Com livre vontade para escolher o bem


um ser (o homem dirige e rejeitar o mal
espiritual sua vida por ela) (que conhece pelo intelecto e pela consciência)
(alma)
com intelecto para conhecer a realidade objetiva
(por meio dos sentidos conformando-se às coisas)

voluntários (= emoções ou motores):


(em si - presente - futuro)63
amor, alegria, desejo-esperança-desespero -- diante do bem objetivo
.... v a - r a i v a - r a i v a - r a ....
ódio, tristeza-fuga (=aversão), medo, audácia -- diante do mal objetivo

C/sentidos
internos
imaginação ou fantasia (criativa)
sensitivo cognitivos: memória (guardando) – estimativa (organizando)
(corpo) sentido comum (componendo)

vista as cores (fogo, luz)


e sentidos ouvido o som (ar, som)
externos gosto o sabor (água)
(são as portas ao mundo) olfato o odor (terra)
tato temperatura e pressão

Com
funções vegetativas (três): (pertencem à sub-consciência!)
- A função nutritiva (fome e sede ..., para a conservação do ser individual),
- A função de crescimento,
- A função de geração (sexualidade, para a conservação da espécie humana).

Junto com esta visão estática deve-se conscientizar-se do desenvolvimento do homem consciente
da limitação e união de todas as funções, das vegetativas ate as espirituais. O “Eu” é o ponto
unificante com o intelecto como orientador e a “vontade” como comandante.

63 Cf. ST I-II, q. 23, a. 4: „Por onde é claro, que


- há três pares de paixões no concupiscível: amor e ódio, desejo e aversão, alegria e tristeza. Semelhantemente,
- há três no irascível: esperança e desespero, temor e audácia, e - a ira a qual nenhuma paixão se opõe.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 97
Psicologia e vida espiritual - 2022, 98

Benito GOYA oferece uma lista de “manifestações fisiológicas das emoções” e das “‘ações das
emoções sobre a mente”. (Psicologia Dinamica e vita spirituale. Roma: Teresianum, 1985):
Psicologia e vida espiritual - 2022, 99
Psicologia e vida espiritual - 2022, 100

2º Saúde do ser humano e os tropeços

Santo Tomás faz esta importante afirmação básica e lapidar:


“Onde há intelecto há livre-arbítrio” (ST p. I, q. 59, a. 3),
E ainda, “o livre-arbítrio é indiferente a escolher bem ou mal” (ST p. I, q. 83, a. 2).

A desordem na vida se pode manifestar em vários ou todos níveis. Porém, é evidente que
- não é a língua que gosta a cerveja,
- não é a mão que bate o vizinho, e
- não é a memória que perturba a fantasia.
Mas também
- não é o gosto que me faz pegar a garrafa, e
- não é a raiva que me faz bater o próximo, como também
- não é a memória que me tira a concentração.
É sempre a pessoa do homem, seu “Eu”, que é responsável para o seu agir, para a opção ou a
direção da sua vontade, do seu “querer” que é a causa desses comportamentos.
É a pessoa que não está disposta (não “tem vontade”)
- de perdoar uma ofensa, uma falsa acusação ou uma (aparente ou real) injustiça,
- de levantar da cama ou largar um jogo de futebol para assumir seu compromisso e dever,
- de superar o medo da opinião dos outros, da falha na prova, ...

Para a formação da pessoa, seja de suas virtudes, seja de vícios, não preciso explicar muito
porque se entende facilmente quando se tem conhecimento destas faculdades que acabamos de
ver e de sua coordenação, de umas às outras que era já assunto das aulas anteriores.

O que nesta base podemos ver, entender pessoalmente e – depois orientar outros – sejam os
seguintes pontos:
a) Vamos pensar quem é um homem maduro, ou se queremos riscar a palavra, “perfeito”.
Devemos primeiro procurar descrever
a.1) a maturidade natural (a natureza é a base pela graça) e a maturidade cristã ou
sobrenatural – que consiste na união com a Vontade de Deus e na imitação de Cristo.
a.2) o papel decisivo da vontade (p. 21).
b) Esta meta faz possível de examinar o caminho, as condições e meios a percorrer
b.1) o caminho ascético ou da própria conversão (p. 23) e
b.2) o caminho de oração para a união com Deus, e da vivência pela sua força (p. 25).
c) Este caminho ideal ou comum para todos leva, por fim,
c.1) a reconhecer os tropeços no caminho, o fato da desordem (p. 30) e
c.2) a uma orientação curativa (p. 38).

a) O que é um homem maduro.

Tratamos na “visão cristã” da parte estático do homem perfeito, das suas faculdades e de sua
coordenação hierárquica. Conseguindo isto, temos uma “pessoa madura”.

a.1) A maturidade
Nas conversas cotidianas, somos já acostumados de falar de “personalidade” que corresponderia
em certo sentido a “maturidade”.
Mas “o que é a personalidade?” pergunta Insa já no início do seu estudo. Sua resposta é:
“Personalidade é um modo estável de se relacionar consigo próprio, com os demais, e com o
mundo. Esta noção procede de ... George Kelly e é, como todas, incompleta e limitada...”,
Psicologia e vida espiritual - 2022, 101

observa já o autor.64 Também Goya trata da “Maturidade psicológica” e afirma, como Insa: “A
riqueza da personalidade madura é tal que dificilmente se pode ser descrita exaustivamente em
toda a sua plenitude e complexidade.”65 Por isso o Padre Carmelita toma refúgio no decreto
sobre a formação dos sacerdotes do II Concílio no Vaticano, Optatam totius (n. 11). Lá se lê:
A uma formação sapientemente ordenada, cultive-se nos alunos a
devida maturidade humana, que se manifeste principalmente
- em certa estabilidade de ânimo,
- na capacidade de tomar decisões ponderadas, e
- no reto juízo sobre homens e acontecimentos.
Porque são apenas indicações escolhidas (“principalmente”), os Padres do Concílio juntaram
mais umas características:
Habituem-se os alunos
- a dominar o próprio temperamento,
- cultivem a fortaleza de ânimo e
- aprendam a estimar em geral aquelas virtudes que são tidas em maior conta diante dos homens e
recomendam o ministro de Cristo,66 como são
a sinceridade, o sentido da justiça, a fidelidade às promessas, a urbanidade no trato,
a reserva e caridade no falar.
Depois, não tanto pastoralmente como o Concílio, mas sistematicamente como teólogo, indica
“cinco critérios da maturidade” (Goya, 100):
1 - Filosofia unificante da vida (- maturidade moral);
2 - Objetividade – e empenho no mundo, e
3 - cordial relacionamento com os outros (- maturidade social);
4 - Segurança emocional e
5 – o conhecimento e aceitação de si mesmo (- maturidade psíquica)
(maturidade afetiva localiza nos critérios 3 e 4).
A “aceitação de si mesmo” (Goya, p. 101-103; ST, I-II, 47,1) não se deve considerar como
último, mas antes como base de todos. Esta inclui todo o passado (por ex. de não ter vergonha de
meus pais e do meu país, da minha formação ou dos meus erros passados, ...; se não estou
reconciliado comigo mesmo e não me aceito, caio facilmente no pecado capital ou a “doença” da

64 INSA, p. 30 e 387; cf. “O que é a personalidade?”, p. 29-50; e “Transtorno de Personalidade”, p. 387-416. “O


tratamento costuma ser árduo e demandar muitos anos. Como se percebe, os remédios aqui são apenas paliativos para
algumas manifestações ... É necessária uma psicoterapia que indague pelas raízes, corrija as distorções cognitivas e
ajude a incorporar um modo sadio de se relacionar com os outros e de encarar os problemas.” (INSA, 390; é inevitável
que surge a pergunta: Onde está aqui Deus, o Divino Médico e Salvador? O Padre Francisco Insa esqueceu de envolver
Deus no tratamento? Antes de se ordenar sacerdote, se formou em Medicina e se especializou em Psiquiatria. Então
será que lhe falta ainda a inserção da sua psicologia na teologia e pastoral; cf. por ex. quando trata da passagem para
a vida eterna oferece orientações de Kübler-Ross, p. 221-234, até, por fim, trata no 7º e último ponto desse capítulo o
“acompanhar uma morte cristã”, 234-239; ou na sua valorização das “práticas diárias de piedade”, p. 394; ou quando
o título do 3º capítulo, “amar-se para poder amar”, como o título da última parte, “5. Deus, os demais e eu” podem ser
mal entendidos ou enganar: o autor explica corretamente a doutrina de Santo Tomás, mas os títulos não refletem o
coração da doutrina, por ex. “os demais” antes de mim, isto Santo Tomás ensina só a respeito do “próprio corpo” (p.
85), ou seja, que devemos sacrificar o bem o nosso corpo, o sono, ou comer, ou, como no caso de São Maximiliano
Kolbe até a vida física, quando o amor ao próximo exige isto; mas não se pode afirmar isto em geral ou a respeito da
alma, pois o amor “aos demais” não pode exigir um pecado para ajudar o outro. – Menciono isto não julgar sobre o
trabalho de Pe. Insa – ela é melhor que muitos outros -, mas para ajudar, com um exemplo, com qual atenção se deve
ler e sempre discernir; cf. também nossa nota 70).
65 GOYA, 97; cf. 95-117; num trabalho anterior, Goya se refere a um estudo acurado de Maslow em que este dá 14
critérios; entre eles um juízo realístico, aceitação de si, espontaneidade; independência da cultura e do ambiente e
atuando os verdadeiros valores; capacidade de centrar-se num problema sem preocupar-se de si mesmo; relações
profundas, mas selecionadas; criatividade; bom senso de humor... (Psicologia dinamica e vita spirituale. Roma:
Teresianum, 1985, p. 71-72.
66 Cf. PAULO VI, Carta apostólica Summi Dei Verbum, de 4 nov. 1963: AAS 55 (1963) p. 991.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 102

inveja com tantos filhos e filhas entristecedoras e desanimadores e reações até descontroladas
que a vida realmente torna-se complicada.
Isto não só faz parte da identidade natural, mas onde também pertence a “consciência e aceitação
da dignidade cristã” (Goya, p. 103-104). Na Áustria se pediu, até um meio século atrás, para a
identificação civil ou no passaporte também a indicação da “religião” a qual se adere.
Quanto mais seria necessário acolher esta pergunta na “ficha” do psicólogo que precisa conhecer
o “paciente” (se podemos ou queremos ainda chamá-lo assim), quando acredita que o homem
transcende a si mesmo, ou que é criado para a eterna união com Deus. É importante saber se ele
está consciente dessa profundidade de sua vida, ou se ainda deve ser conduzido a ela.
Para cada homem vale a afirmação de São Bernardo: “No caminho da vida, não crescer significa
cair para trás!” (Goya, 97)! E para descobrir isto, precisa princípios, as leis de Deus que indicam
não só onde se deve ir, mas principalmente se estamos caminhando.67
Segundo os tentativos humanos, psicológicos ou filosóficos, vemos que devemos, com Santo
Tomás, recorrer a revelação. Santo Tomás procurou saber desde os primeiros anos de vida não
“quem é o homem?”, mas “quem é Deus?” e só a partir dele entendesse também o homem. Por
isso, sua psicologia se encontra tanto no conjunto total da teologia que seus pensamentos e suas
reflexões sobre a psicologia do homem ficaram quase desconhecidas68, mesmo que com estas se
pode aprender mais que de grande parte dos manuais atuais de psicologia segundo o psicólogo
neomarxista Fromm69.
Na luz da revelação cristã, não se trata apenas de uma personalidade humana como do homem
perfeito (em si), mas da maturidade que exige de ir além de si e além do ambiente imediato.
Penso, maturidade se pode descrever em forma mais breve assim:
O homem maduro é quem possui domínio sobre si mesmo
(ou suas faculdades inferiores)
pela submissão à Vontade de Deus.
A primeira parte corresponde à maturidade natural, e a segunda à maturidade cristã ou
sobrenatural.
São João da Cruz ajuda com esta afirmação mais específica:
“A força da alma reside nas suas potências, paixões e apetites, governados pela vontade.
Quando esta os dirige para Deus e os afasta de tudo o que não é ele, guarda a fortaleza da
alma para o Senhor, e na verdade ama-o com toda a sua força.”70
Ou seja, o homem maduro cumpre o mandamento principal de Jesus:
“Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o
teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento.
Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e
os Profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,37-40).
Não precisamos estender-nos mais sobre isso.
O homem alcança sua maturidade na conformidade com a Vontade de Deus. Esta incluí seguir os
10 mandamentos – sempre e em todos os lugares. Isto, sem dúvida, é difícil para uma criatura
que – segundo os teólogos – dificilmente pode amar a Deus totalmente desprendida de si mesmo
ou sem olhar a um benefício seu (como por exemplo, “para chegar ao céu”). Por isso, disse São

67 É interessante ver qual profundidade está atrás de uma frase como essa: “Deus te ama como és”, quer dizer: aceita-
te a ti mesmo, como base, sem dúvida! Mas vai, se não se complementa com a segunda: “- e deseja que tornes-te
semelhante a Ele, e que seja como Ele quer para ti!”
68 Vale a pena dizer: Toda a 2ª e 3ª parte da Suma teológica tem como tema basicamente a “Volta do homem” ou de
toda a criação a Deus, o reditus. E ainda: Dando atenção à orientação à vontade do homem, seu agir, não se justifica
tão facilmente a qualificação “intelectualista” de Santo Tomás, mesmo que ele trata de todos os detalhes objetiva e
racionalmente.
69 E. Fromm, Psicologia per non psicologi, em: L’amore per la vita, Milão, 1992, p. 82, em: ECHAVARRÍA, 49 e
101.
70 São JOÃO DA CRUZ. Subida ao Monte Carmelo. III, 16.2.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 103

Francisco de Sales, “se pode-se considerar feliz se se alcança a plena maturidade mesmo só um
quart’ hora antes da morte” (em: GOYA, p. 97).
Lembrando as terias materialistas, citado no início (cf. n. 2), podemos falar aqui de uma inversão
das ideias deles, da verdadeira hierarquia de valores:
1º é necessário a partitura – que é escrita pela Vontade de Deus
2º depois precisa um pianista que é capaz e pronto a tocar a música escrita, e só como
3º precisa o piano que o pianista toca conforma a partitura e só assim chegaremos à música.

a.2) A vontade
Sendo assim, se chega a pergunta:
Como o homem pode ao menos procurar crescer na direção de sua maturidade?
Recorrendo a nossa definição da maturidade temos duas respostas:
- Procurar o domínio sobre nós mesmos e
- aperfeiçoar nossa submissão à vontade de Deus.

Antes de tudo, se podia dizer, especialmente hoje, vai a atenção à vontade.


Sem dúvida, olhando ao nosso quadro geral da pessoa, encontramos a pessoa, com seu “eu” e
com sua vontade como capitão e dirigente de toda a vida.
Nós constatamos antes que é o homem que gosta a cerveja e pega a garrafa, que bate o vizinho, e
se deixa distrair pelo apego a coisas passadas. É a pessoa que não tem vontade de perdoar uma
ofensa, de levantar da cama, e até de superar o medo da opinião dos outros, da falha na prova, ...
É sempre a pessoa do homem, seu “Eu”, que é responsável para o seu agir, para a opção ou a
direção da sua vontade, do seu “querer” que é a causa desses comportamentos.
Nesta vontade livre está a grandeza do homem. Aí o homem tem uma certa independência,
porém perigosa. São Bernardo referiu à teimosia e ao amor próprio numa homilia sobre os dez
leprosos que pediram de Jesus sua cura, e dos quais só um voltou e agradeceu: “Cesset voluntas
própria, et infernos non erit – desapareça a vontade própria e não terá mais o inferno.”71
Igualmente afirma Santo Tomás de Aquino: “Fica claro que todo pecado tem por causa o amor
desordenado de si mesmo.”72

A vontade está sob a influência imediata pelos impulsos internos, especialmente do intelecto,
e sob a influência mediata por Deus e o mundo social e material.

A vontade deve ser treinada (não tanto formada!) para querer e optar pelo bem.73 “Não digas
‘Eu sou assim..., são coisas do meu caráter.’ São coisas de tua falta de caráter. Sê homem – ‘esto
vir!’” (S.J. ESCRIVÁ. Caminho, n. 4).

71 S. BERNARDO. In tempore Paschae, Sermão III. (Ges. Werke, vol. VIII, Innsbruck: Tyrolia, 1997, p. 281.
72 ST, p. I-II, q. 77, a. 4c. Pieper no seu artigo sobre a “Acedia y desesperación anota: “La psiquiatría se encuentra
frecuentemente con el hecho de que un neurótico tiene superficialmente el deseo de curarse, pero en realidad nada
teme más que la exigencia delo que naturalmente se exige a una persona sana.” (em J. LAUAND. “O pecado capital
da Acídia na Análise de Tomás de Aquino”; www.pecapi.com.br/- Univ. Fed. Do Rio Grande do Sul, setembro de
2004). Torellò diz, “todos os neuróticos são egocêntricos” (TORELLÒ, p. 139). Echavarría na sua “Práxis da
Psicologia” afirma: O “egocentrismo é o núcleo central da maioria dos transtornos de caráter, em particular do ‘caráter
neurótico’” (p. 465); a “desordem cognitiva”, contra a prudência, abre para uma desordem interior, o “narcisismo”, o
“ódio de si”, a “concupiscência”, “um falso fim” e a dependência de afetos; “na base dos transtornos ... uma
desfiguração no modo de perceber a própria realidade” (p. 481-490).
Se a vontade tem a palavra decisiva no agir do homem, deve-se ter em mente que um paciente construiu muitos muros
ao redor de si e não deixa ninguém chegar perto à verdadeira raiz de sua vida; facilmente desvia a atenção do seu
“tesouro” e só permite acesso a quem realmente confia (cf. DOBBELSTEIN, p. 39, 59s).
73 Aqui se pode ver a diferença entre a formação do intelecto que é pelo estudo, e a formação da vontade que é a
própria tarefa da “educação”, abrangendo mais de que apenas o estudo; seu lugar é um ambiente de vida como a
família ou um seminário.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 104

Sobre as qualidades do uso da vontade se pode encontrar facilmente indicações. Goya74 por ex.
fala que a vontade por “ser o princípio unificador” deve ser forte, “capaz de regular e orientar in
modo construtivo as energias biológicas, psíquicas e intelectuais”, através a concentração que é
“indispensável para desenvolver uma atividade interior”, deve ser determinada com coragem e
audácia para perseverar no que deve fazer. Aqui entram também as muitas motivações (cf.
GOYA, p. 141-164).
Mesmo olhando ainda somente ao ponto de vista natural, Santo Tomás, como vimos segundo o
início da parte I-II da Suma teológica sobre o homem, perguntaria esse paciente: Você está feliz?
Pois, como lá examina e concluí: Todo o mundo quer ser feliz, e essa felicidade deve ser a
máxima, isto é, sem necessidade de recorrer anda a mais algo! E tal felicidade, nós
alcançaríamos apenas na união com Deus (cf. ST, p. I-II, qq. 1-5).
Então, com todo o respeito da liberdade da pessoa, do paciente, não dá para excluir a pergunta se
ela considerar Deus como uma realidade, ou se ela quer acreditar em Deus? Pois sem esta meta,
como já dissemos antes, sem Deus, a pessoa não pode ser feliz – no fundo do seu ser (ou
“coração”) e quando é sincera consigo mesma. Também não pode ser guiada a felicidade por
uma outra pessoa; e quão triste é o resultado que se encontra pelas novas religiões e seus
“pastores” ou seja pelas correntes psicológicas que se espalham desde um século.
Campoe começa seu trabalho sobe a “Terapeútica de doenças espirituais” segundo os Padres da
Igreja primitiva (especialmente os monges no deserto) com esta afirmação: “A finalidade do
cristianismo é a deificação do homem.” (CAMPOE, p. 2) E igualmente e como consequência
afirma Josef Goldbrunner na sua conferência sobre “Santidade e Saúde”: “Santidade é saúde.”75
Ao contrário, a filosofia existencialista, excluindo toda a determinação (pela essência) foi
chamada “a filosofia do desespero orgulhoso”76, “excluindo a priori toda referencia [sic!] ao
domínio religioso e moral” (CAMPOE, p. 8).

b) O caminho de atravessar

Uma vez concentrado na vontade e olhando a última felicidade, se abre o caminho a percorrer.

74 Cf. GOYA, 187-206: “A vontade humana e a união com a vontade divina”. – Aqui gostaria lembrar – apenas na
nota para não cansar pela repetição – que na noite se vê nada, então há nada para optar e a vontade está sem objeto;
talvez gira, mas sem motivo e meta, então esquenta e queima, que conhecemos como estresse e, em seguida, depressão.
Isto é hoje a situação de muitas pessoas. Este é o homem da civilização super-saturada e aquele psicólogo que não
considera uma causa final para a vida humana, e isto significa, “sem luz” e rumo; e se alguns psicólogos percebem a
necessidade de uma meta como os da “psicologia transpessoal” (Maslow, 1968; cf. GOYA, p. 16-18), eles não tem
coragem de indicar um rumo, preferem de não tocar a liberdade (absoluta) do paciente e, então, ficam na indiferença
religiosa; encorajam ainda o paciente, mas sem dizer para que (uma mentalidade que se encontram em tantas áreas da
vida humana hoje: cada um escolhe – qual religião quer seguir, qual quer aprender, que sexo quer ser ...
Ainda se junta outra tendência, a qual Papa Franciso com franqueza apontou: o desligar do passado, pessoal e histórico
(Fratelli tutti, 2020, 13-14; cf. em frente, nota 70 e apêndice III sobre escrever para pensar), filosoficamente dito,
desligar da causa eficiente ou do passado, então nós não sabemos mais quem somos, animais ou anjos, e acabamos
totalmente nas mãos dos que querem fazer de nós o que querem que somos, seja vivos ou mortos, vivos pelo
regulamento da natalidade (ou “remédio” até o aborto) e mortos pela eutanásia.
Assim, o homem se encontra sem luz ou no escuro; então, sua vontade não tem para que optar ou o que quer, é o
homem do WhatsApp dia e noite, influenciado, não escolhe mais; ele gira, e gira tanto até que é gastado (como os
dentes de uma roda dentada) – e não consegue mais e cai na depressão, um fenômeno mais e mais universal.
75 J. GOLDBRUNNER, p. 9. „Aos não-crentes se oferece no amor infeliz somente resignação ou a morte, o que é
ilustrado tão frequentemente na literatura... Mas ao Cristão, nesta sua maior necessidade, Deus vem ao encontro pelo
dom do seu amor, que contém em si a redenção: a Eucaristia.” (Ibid., p. 55)
76 G. SIEGMUND. Christentum und gesundes Seelenleben. Paderborn: Verlag Ferdinand Schöningh, 1940, p. 40.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 105

b.1) O caminho ascético ou da própria conversão

A primeira tarefa é de coordenar as forças ou as faculdades ao fim desejado pelo autodomínio,


que é conhecido sob o nome “ascética”, depois segue
o caminhar a Deus pela oração, na qual o homem se encontra com Deus; e Deus espera cada
um, vem ao seu encontro e lhe ajuda subir à sua felicidade.

Colocando ao claro esta última e mais profunda miséria de um homem, a ânsia pela felicidade,
deve-se ter clareza sobre o caminho para aquela meta pela qual cada um – inconscientemente ou
conscientemente – anseia: é Cristo que diz ser “o Caminho, a verdade e a Vida” (Jo 14,6), ou em
palavras mais próximos a nós: Cristo é o caminho verdadeiro à vida!, ou ainda, o Caminho à
verdadeira vida – onde não se sofre mais nenhuma excepção.

Aqui, se deveria apresentar toda a teologia ascética da história da Igreja nestes dois mil anos.77
Pois todas essas reflexões não tem nenhum outro objetivo que ajudar o homem chegar ao
autodomínio e com ele à união com Deus. Colocar as ligações com as criaturas na sua medida,
conforme à vontade de Deus: Ele quer que dormimos, quer que comemos, quer que o homem se
multiplica pela vida sexual – porém tudo isso “segundo a natureza” e “na medida certa”. Para
ordenar nossa vida interior a Deus, o evangelho nos fala do controle do olhar (cf. Mt 5,28) ... e
oferece tantos outros conselhos; até o preceito da Igreja da penitência de “cada sexta-feira em
memória da morte do Senhor” (Cat 1438), ou do descanso semanal dominical que põe um limite
ao esforço humano e pede um ato de confiança na providência divina que acompanha e, por fim,
abençoe todo o esforço humano... tudo isto são ajudas e exercícios do domínio de nossas
tendências exageradas que tem como finalidade servir e ajudar a pessoa de submeter-se a Deus
sempre e em todas as circunstâncias da vida, nos olhos do homem situações boas ou menos boas.
A regra antiga serve como orientação para uma ascese saudável: Mens sana in corpore sano –
Uma mente saudável se encontra (ou pressupõe) num corpo saudável (cf. GOYA, p. 219). Então,
segundo outra regra fundamental da Igreja, se deve cuidar primeiro do estado físico da pessoa
antes de exigir um esforço espiritual – o que a Igreja desde o início observou quando cuida
sempre da dignidade da vida humana pela Caritas.78

Olhando a medida como caraterística de todas as virtudes, deve-se hoje especialmente apontar a
necessidade da tranquilidade psíquica ou mental: Como o corpo consegue passar um bom tempo
sem comer e até beber, mas não sem dormir, assim deve ser também com a alma: não nos damos
conta, mas os outros percebem: se nós não paramos frequentemente (para não dizer, cada dia,
além do descanso noturno) por um tempo como uma meia hora, em que não fazemos nada ou
imitamos o povo antigo que se sentou diante da casa descansando mentalmente, olhando ao céu à
natureza ao seu redor etc. nós tornemo-nos “nervosos” e irritamo-nos facilmente sem
pessoalmente perceber, mas como uma “cruz a carregar” pelos outros.
Todo o argumento de Goldbrunner sobre a saúde da alma trata desse equilíbrio. Primeiro aponta
ao ideal de santidade que faz o corpo doente (exige morti-ficação) pois que elevá-lo à
proximidade de Deus que na Sagrada Escritura é descrita como morte: Não te aproximes demais,
se não morras! Nesta base distingue entre “doenças legítimas” pois a graça aperfeiçoa a natureza
de “doenças ilegítimas” que seriam consequências de falsas ideias de santidade ou perfeição, ou
do “querer ser santo ao seu modo” ou segundo a própria vontade (e cada pecador é inimigo de si
mesmo, cf. Tb 12); e isto leva a comportamentos contra as leis naturais. A medida seria a síntese
do ser guiado pelo amor disciplinado pela autoridade (obediência). Desta maneira dá espaço ao
largo mundo inconsciente na alma e alcança “viver sua verdade”, enquanto “doença” seria “viver

77 “A ascética... torna uma verdadeira medicina espiritual do homem total” (CAMPOE, p. 3, cf. DOBBELSTEIN,
p. 13; cf. em baixo, p. 132s).
78 Cf. BENTO XVI, Deus Caritas est, 2005: “A caridade como dever da Igreja” (20-25) e “As múltiplas estruturas
de serviço caritativo no atual contexto social” (30ss.).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 106

contra a sua verdade” (individual e única) e perseguir uma ficção, mesmo pelos propósitos mais
nobres.79

Mas fica claro: A pratica de ver e atender o próximo ao meu lado nas suas necessidades é a
melhor prova da maturidade humana, ou seja do domínio sobre si mesmo.

O segundo sinal seria a submissão à vontade de Deus.

Aqui deve-se apontar ainda um aspecto importante. Sabemos que muitas correntes de psicologia
não querem considerar a causa eficiente e causa final para não limitar a liberdade da pessoa
(esquecendo que com isto cada pessoa fica desorientada, abandonada aos impulsos internos, e,
por fim, cai no “nada” e no desespero, aonde guia a ideia do existencialismo). O homem não é
apenas como uma planta que cresce de dentro para fora (mas mesmo as plantas dependem da
água e luz de fora!). Ele é o homo sapiens e o homo social e religioso. Por isso deve-se
considerar na sua vida ordinária também o relacionamento com o mundo objetivo e exterior e
com Deus.
Desde os primeiros tempos da reflexão humana se considera como sua tarefa o autodomínio
como fundamental e se falou das virtudes cardeais
- da prudência nos julgamentos do intelecto prático que olha a todas as circunstâncias exteriores
em que o homem se encontra,
- da temperança e fortaleça no domínio das emoções internas, mas também na confrontação com
o mundo que lhe circunda; e especialmente
- a justiça que reconhece o valor próprio de cada ente, de si mesmo e dos exterior de si, de
criaturas e do Criador, o devido respeito no seu agir.

Não só deve-se dar atenção a essa convivência, mas também ver a base para julgar os valores.
Para Santo Tomás (com Aristóteles) o valor de tudo que existe está baseado no próprio grau de
ser: algo é bom porque é, e possui tanta bondade (valor80) quanto grau de ser possui.81
O homem é considerado como ente existente dentro de um mundo real e existente, significa, os
dois são limitados e criados por Deus que é a meta e felicidade de tudo.
As criaturas encontram si mesmo, quem são e como foram feitas somente em harmonia e
correspondência a este plano universal divino.

79 GOLDBRUNNER, p. 9-16. Ele concluiu sua conferência assim: “Santidade e saúde são conectadas pela Cruz do
Senhor” (p. 59).
80 De “valor” se fala também mais recentemente, no tempo moderno. No uso desta palavra se toma uma certa distância
do ser e olha mais a um outro critério com referência, especialmente segundo utilidade, logo a um ponto de vista
predominantemente material.
81 Frankl, por exemplo, considera “três tipos de valores: Os valores de criação… Os valores de experiência… e os
valores de actividade” (cf. Frankl, La idea psicológica del hombre, 1963, p. 85, em: VIAL. El sacerdote, Psicologia
de una vocación. Madrid: Palabra, 2020, p. 159).
Pensamos como podemos considerar estas três referências? São completas, são selecionadas segundo qual critério,
por referência a o que?... Como resposta Vial faz a sugestão: “estos valores se reflejan en un programa de vida: homo
faber – homo amans – homo patiens” (p. 19s). E então, ganhamos com isto algo? - É comparável como a estrutura
ética, das virtudes e vícios que o cristianismo oferece?
Partindo da ideia de Frankl, VIAL dá uma interessante extensão da moral cristã em Santo Tomás ao ambiente
psicológico de hoje quando diz (p. 86):
Prudência leva a autonomia, seguridade, coerência;
Justiça a sociabilidade, diálogo, tolerância, autoestima
Fortaleza a equilíbrio, perseverança, identidade
Templanza a autodominio, humorismo, creatividad, espontaneidade.”
Me parece um belo exemplo como se pode fazer psicologia até ao infinito quando não se baseia em algo firme,
objetivo, universalmente válido e reconhecido. Muitas coisas se pode dizer, são belos, úteis, razoável ... mas são a
resposta da verdade que se deveria procurar ou a qual se deve corresponder e o que é verdadeiramente importante?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 107

Consequentemente, não adianta de fazer poesia, mesmo com a forma artística mais linda e
cativante, mas conta simplesmente se aquilo que é dito ou afirmado ou ensinado corresponde ou
não corresponde à natureza do homem e das coisas e assim ao plano de Deus; só se corresponde
serve para a verdadeira realização de si.
E isto ganha mais uma importância quando se leva em consideração da unicidade da existência.
Ninguém voltou já e provou que sua vida anterior foi assim e assam e que agora quer viver de
outra maneira etc. A vida de cada homem é única e lhe é dada só por uma só vez. Daí torna-se
evidente a seriedade com que cada pessoa deve considerar sua vida e quão importante é que
ajudarmo-nos uns aos outros para não falhar.
“Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o Julgamento” (Hb 9,27)

Essa submissão a Deus começa de um lado com o conhecimento de Deus, ao qual dedica o Padre
Carmelita Benito Goya o último capítulo da Psicologia e vida espiritual: “Psicologia e Oração”
(p. 207-228), “o conceito de Deus” (p. 214-216); este é oferecido à vontade da pessoa para sua
opção.

b.2) O caminho de oração para a união com Deus

Depois de ter visto o caminho pelo esforço humano, podemos descrever os seguintes passos
diretamente em direção à meta final ou a Deus que é o caminho da oração.
Logo seja respondido a pergunta: Mas se pode sugerir ao paciente de rezar? Respondo com essa
pergunta: Se pode esperar que alguém mata sua sede quando lhe ofereço um copo de água sem
água? –
O homem é feito para Deus – creia quem quer ou não (já falamos da livre vontade própria). E se
queremos ajuda-lo, devemos leva-lo a fonte. Muitas ligações que o prendem se desfazem com
isto já.
São Paulo VI, o papa, chamou o programa dos “doze Passos” do movimento “Alcoólicos
Anônimos” como um livro caído do céu. Este movimento, fundado em 1935, contou em 2001
cerca de 2 milhões de membros ou mais com 100.800 grupos em cerca 150 países. A Jenyfer
apresentou os doze passos no seu trabalho “A Conquista de si mesmo pela Educação da
Vontade”, p. 37. Neste programa de tanta ajuda diz o 1º passo “admitimos que éramos
impotentes perante o álcool...” e o 2º Viemos acreditar que um Poder superior a nós poderia
devolver-nos à sanidade.” E, então o 3º passo é: “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida
aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.”

1 - Para ajudar ou “alimentar” a vontade precisa primeiro luz, que vem do conhecimento, do
conhecimento - de uma filosofia realista e
- das verdades transcendentes ou da fé.
Aqui se sublinha a importância - do ensino verdadeiro e exigente, e
- da Catequese na religião.82
Talvez nunca era mais fácil de que hoje de ter acesso a informações e leitura. Por isso se deve
aplicar muito discernimento para saber o que se permite entrar em nós, e o que oferecemos à
nossa vontade de optar e dedicar-nos.

2 - Logo deve-se hoje completar este primeiro ato, o conhecer.

82 Aqui se vê a importância dos livros em geral – que parecem (apenas) serem substituídos pelo “onisciente” Google
– e um livro como o Catecismo da Igreja Católica com um sumário extra-ordinário do conhecimento da realidade
natural e sobrenatural, da criação e salvação, do que cabe ao homem e do que Deus assume em nosso favor! Além
disso deve-se dar ênfase na imensa riqueza da tradição milenar do Cristianismo, seja no início pelos Padres da Igreja
primitiva, seja por imensa literatura sobre todos os assuntos... (tenho um livro do século 17, em que se encontram 55
páginas sobre “diversas tentações dos demônios”, que se apresenta hoje como um assunto apenas hoje descoberto...)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 108

Ao conhecer não se chega pelo olhar de vídeos ou pela passagem de leituras no Tablet; isto fica,
na grande parte, no perceber. O que é necessário é o pensar, o refletir sobre o que leu e assimilá-
lo. Torna-se sempre mais claro que pouca gente é capaz de entender o que estão lendo (cf.
apêndice III). Logo devem aprender refletir ou, “meditar”, meditar não como um método de
acalmar, “a meditação psicológica” por uma instrução “Como meditar”, no sentido que revela o
subtítulo: um “Guia para descoberta de si mesmo” como pelo Yoga e outros métodos
sugestivos;83 mas meditar como olhar a obra reveladora de Deus e escutar a “voz” de Deus, do
divino Pai e amigo, como a Igreja explica no Catecismo em forma breve, mas explicita e bela.84

3 – A meditação é a reflexão sobre a realidade, a realidade viva espiritual que é Deus e sua obra.
E o efeito da meditação ou reflexão verdadeira, profunda e séria, é a “saída de si”, a expressão do
seu íntimo, pôr para fora do “que o coração está cheio” (Mt 12,34), livrar-se e manifestar-se, um
produzir. Mas principalmente poder ir ao encontro do que é real, e mais ainda quando se trata de
pessoas e em especial da pessoa de Deus com que se pode intercalar ou, como se chama isto
também, rezar.85 Isto é para cada pessoa uma oportunidade tão grande que significa para eles
uma nova vida, a chance de se desenvolver de verdade, de entrar numa convivência valiosa, de
encontrar alguém que tem tempo, escuta, responde e – por fim, ama. Podemos e devemos ainda
mais dizer: Saindo de si para ir ao encontro de sua origem, daquele que conhece, planeja e
orienta, que quer – com amor – aperfeiçoar e levar a plenitude que cada criatura deseja no seu
coração.
A maravilha desse passo se encontra no livro dos Salmos, como se lê já no primeiro: “Feliz
quem ... na lei do Senhor encontra sua alegria e nela medita dia e noite” (Sl 1,1-2). A este livro
de Oração se dedica especialmente o pastor protestante, Jay E. Adams com seu livro “Competent
to Counsel”, como já indicamos.86

4 – O resultado maior dessa descoberta e desse passo, se alguém acompanha e resolve dar esse
passo, é a paz que resulta da posse do bem desejado, um aconchego e sossego, um saber-se
acolhido, uma libertação de si que se reconhece como um pobre “nada”. E como se explica tal
fruto? É pela calma – contra a agitação da vida de hoje (e não só de hoje), e o amor que de Deus
se recebe, pois a pessoa passa este tempo com quem é o AMOR EM PESSOA: “Quem não ama,
não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,8). A este fim conduz F. Sheen com sua

83 Cf. GOYA, 209s; isto não só no “mundo”, pois uma psicóloga de seminaristas recomenda “exercício” e “medi-
tação”, inclusive “dança” e “ioga” (L. CAMPOS. A dor invisível dos presbíteros. Petrópolis: Ed. Vozes, 2018, p. 58).
84 Cf. Cat 2705-2719; cf. GOYA, p. 213-228 e tantos outros livros sobre a oração segundo a tradição cristã.
85 Se trata da possibilidade de escrever, o que é muito mais de que apenas um “Diário” de desabafo. Devido de sua
importância (também psicologicamente) me permito de juntar no fim, como apêndice alguns pensamento sobre isto.
86 J. E. ADAMS (cf. nota 13); “A intenção desse livro é de mostrar que a psiquiatria (não a psicologia!) se apropriaram
a tarefa do pastor numa maneira injusta. ... A ideia de explicar que dificuldades espirituais fossem “doenças” tornou-
se o meio para assumir o poder.” (p. 11, nota 24). “Este livro quer tocar um tom totalmente novo. Servo do Evangelho
e outros colaboradores cristãos que são chamados por Deus de ajudar o seu povo nas necessidades, sejam encorajados,
de dirigir homens não ao psiquiatra, mas de assumir de novo seus direitos e deveres.” (Ibid. p. 17) Se refletimos bem,
o II Concílio no Vaticano insistiu numa forma máxima possível ao que o pastor queria dizer. O Concílio decretou que
todos são chamados á Santidade! (LG 40; Cat 823-829; 1265-1270; 2012-2016; 2807-2815). A ideia é simples:
Conduzir o “paciente” ao contato com Deus por meio da leitura dos Salmos que tanto falam das dores do homem e da
assistência poderosa de Deus.
Seria um bom projeto de procurar para cada doença mental um Salmo com resposta saudável, ou vice versa: Ler os
150 Salmos e listar para qual doença este Salmo serviria com remédio! Pelos Salmos a pessoa é conduzida diante de
Deus e, pela recitação confiante, Deus é permitido tocar a alma, entrar e concertar o que está torto, de restaurar a saúde
com a qual a pessoa foi criada e que agora está ferida e necessita de recuperação por uma mão forte que ninguém tem
melhor que o próprio Deus.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 109

recomendação da “Hora do seu dia”, de uma “Hora Santa” diante do Santíssimo Sacramento87,
ou, no caso de protestantes numa hora com a Palavra de Deus diante de si.88
Este é o caminho que se tornou tradição na Igreja, mas não impede adaptar ainda melhor a
“psiquê” do homem ou de formular em termos mais accessíveis.89

O passo importante é que a pessoa entra em si, toma coragem de enfrentar-se consigo mesmo e
ao mesmo tempo com Deus Amor, Libertador e Salvador. Isto acontece conscientemente na
meditação – pela disciplina física da tranquilidade, pelo tempo reservado, e pelo olhar interior e
pessoal a realidades espirituais e invisíveis. Isto deve levar a atualização ou a pratica na oração,
no encontro “Tu a tu com Deus amigo e amor”. Se realmente comunicamos com Deus, o
verdadeiro e vivo, será aquele que se fez homem por amor a nós e continua querer ser presente
entre nós e por isso fundou a Igreja, autorizou sacerdotes para faze-lO presente – para nós, de
modo que na Igreja, a oração vira ser e é uma “oração sacramental”, sacramentalizado – de modo
que o homem pode deixar que Deus toma posse de si (cf. Lc 10,16; At 9,5; Jo 14,23 e 25).
Quem chega a fé em Deus, naturalmente, em um Deus universal, encontra sempre a solução da
entrega a ele que sempre me espera e quer me ajudar; ele quer dar. Deus é sempre o Bem Maior
– por isso posso renunciar ou me livrar (soltar) de tudo, de mim mesmo, das criaturas amadas ou
de sonhos imaginados, com isto superar já todas as possíveis ofensas ou decepções, para abraçar
ele totalmente, com ambos os braços. E esta generosidade de fé e confiança me faz já feliz (cf.
TORELLÒ, p. 152-172).
Para não me estender mais, se pode contemplar o seguinte esquema que no seu centro coloca a
vida segundo a natureza, dada por Deus. O quadro mostra todas as dimensões da vida do
homem. Pode facilitar a diagnose do agir humano.
Então além [I] do nível natural se vê as maneiras [III] como Deus vem ao encontro do homem,
mas também, [II] como o homem está em perigo de opor-se a Deus.

87 “Às vezes, eu gostaria ter mantido um registro dos milhares de cartas que recebi de padres e leigos dizendo-me
como eles aderiram à prática da Hora Santa ... Muitas vezes, os retiros são parecidos com palestras sobre saúde. Todos
concordam que precisamos ter saúde, mas faltam recomendações específicas sobre como ser saudável. ... Um
monsenhor, devido a uma fraqueza pelo álcool e consequente escândalo, teve que deixar sua paróquia ... largou o
vício, voltou à atividade de seu sacerdócio, fez a Hora Santa todos os dias e morreu na Presença do Santíssimo
Sacramento.” (F. SHEEN. Tesouro em Barro: Autobiografia. São Paulo: Molokai, 2020, p. 208).
88 Um Sr. Jack McAllister, depois de um encontro com F. Sheen no aeroporto de Los Angeles, inseriu na sua
“evangelização mundial” o pedido “a seus fiéis que passassem uma hora inteira com as Sagradas Escrituras, em oração
e reparação pelos pecados do mundo”. Ele conseguiu por “um panfleto com o título ‘Jack McAllister escreve aos
Vigilantes de Uma Hora’ ... no fim do primeiro ano ... setecentos ministros que se haviam comprometido a fazer uma
Hora Santa por dia”, e escreveu a F. Sheen “cerca de seis anos após ... ‘Nós já mobilizamos e treinamos mais de cem
mil Vigilantes de Uma Hora” (F. SHEEN. Tesouro em Barro: Autobiografia, p. 211-212).
89 Me seja permita esta observação: Se digo que este método ou caminho é conhecido desde séculos, por quase mil
anos (cf. Catecismo 2654), os passos de leitura à meditação e de oração à contemplação, então alguém pode virar as
costas e dizer: É velho. Mas se dou um outro nome como fosse um “novo método” na ciência da Psicologia e digo:
“Recomendo conduzir seus pacientes no caminho PPPP, do perceber a pensar, e do produzir a possuir” (com
desenho de um quadrado para os quatro passos), aí talvez encontro interessados e promotores. E se num curso de
formação destes revelasse a eles que este método – como cada método – tem um fim em vista e que é tão rico e
eficiente porque inclui Deus vivo como “partner - companheiro” – aí, não será que uns desistem e outros se
entusiasmam ainda mais?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 110

As dimensões da “antropologia cristã”

“Deus nos colocou no mundo para conhecê-lo, servi-lo e amá-lo e, assim, chegar ao paraíso...
participar da natureza divina (1 Pd 1,4) e da vida eterna (cf. Jo 17,3)” (Cat 1721).

III. Nível (Com DEUS FILHO) (com DEUS PAI) (Com DEUS
Sobrenatural ESPÍRITO SANTO)
9. Virtudes Fé Esperança Caridade
Teologais90
8. Conselhos Obediência Pobreza Castidade /
Evangélicos continência
7. Espiritual. Cristã Oração Esmola Jejum
/ boas obras
↕ ↕ ↕
I. Nível natural
3. Relacionado com Deus Natureza ou o mundo “próximo”
material
2. Direitos humanos Formação intelectual Propriedade privada Vida social e
cada um tem o e liberdade religiosa - individual formação de família
direito para:
Gn 1,27-28: ”Deus disse: “Façamos o homem à Que ele reine sobre os ... criou o homem e a
nossa imagem e peixes do mar, sobre as mulher. Deus os aben-
semelhança.” aves dos céus, sobre os çoou: Frutificai, disse ele,
- - - animais domésticos e e multiplicai-vos, enchei
1. Natureza sobre toda a terra ... disse a terra”
seg. Gn 1,27-28 cada Imagem de Deus ele, ... enchei a terra e - - -
homem é: (pela alma imortal, o submetei-a.
intelecto, vontade e - - -
“coração”) Senhor da terra Um ser sexual
↕ ↕ ↕
II. Nível do pecador
“No batizado, porém, certas consequências temporais do pecado permanecem, tais como os
sofrimentos, a doença, a morte ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de caráter
etc., assim como a propensão ao pecado, que a Tradição chama de concupiscência ou,
metaforicamente, o ‘incentivo do pecado’.” (Cat 1264)
4. Concupiscências Orgulho (soberba): Concupis. dos olhos: Concupiscência da
herdadas Querer saber tudo Querer possuir tudo carne
(cf. 1 Jo 2,16; (enfim: ser tudo = ser (= querer ter e poder (= querer gozar tudo,
Gn 3,5) como Deus!) tudo) experimentar)
5. Ato pecaminoso Presunção, Ambição, Injustiça, Idolatria, Intemperança,
vanglória (jactância, intolerância, impureza
ostentação,hipocrisia) ociosidade
6. Vícios capitais Soberba, ira Avareza, inveja, Gula, luxúria
(Cat 1866 e outros) Preguiça ou acídia

90 GOLDBRUNNER, p. 35-59: Die Drei Göttlichen Tugenden und ihre Auswirkung auf die Gesundheit - As três
virtudes teologais e seu efeito à saúde.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 111

Talvez os seguintes dois exemplos servem como ponte para o próximo passa da nossa reflexão.
De São João da Cruz ouvi no meu estudo este exemplo (não procurei uma fonte para isto):
Se se vê uma criança com uma faca na mão [isto é, num perigo de se machucar] – que se faz?
- quando se toma a faca, ela chora;
- quando oferece um bem, um chocolate, ela solta e esquece a faca com sorriso.
De São João Dom Bosco se aprende: Quando viu vários rapazes juntos, sabia que não leva a um
bem, então que fez? Se iria perguntar, sobre o que falam, receberia provavelmente uma mentira;
então foi lá e pediu a um deles fazer aquilo e a um outro ajudar para tal etc. eles se irão separar
tranquilo e a conversa terminou. Resumindo: Vencer o mal pelo bem ! (Rm 12,21)
Precisa oração para receber a correta inspiração na hora. Isto foi dito por Santa Jacinta em
Fátima: Os médicos falham no diagnóstico porque não rezam.
E aplicado ao tratamento psicológico – bem semelhante ao aconselhamento no sacramento da
Confissão: Seria bom encontrar o bem que abraça a pessoa de bom grado e, em consequência,
afasta do mal que a faz doente. É um conselho dado na Teologia moral de conhecer a virtude
ofendida pelo vício, ou seja, o caminho de andar a Deus oposto ao do erro. No fundo se trata da
oposição entre Deus e o Eu.

Um Padre se aprofundou em Roma nos Exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. Hoje
está formando em todos os Estados Unidos de América no nível paroquial “diretores espirituais”
leigos. Provavelmente, estes têm pouco conhecimento de psicologia, mas com uma boa
catequese podem indicar o caminho à “autoestrada”, à “Highway para o céu”, partindo onde uma
pessoa atualmente está. Cada um que conversa com eles pega esse caminho com as condições
que tem, com seu “VW-fusca” ou “Fiat-Cinquecento” ou “Rolls Roys” ou “Mercedes”,
importante que pega o caminho correto e vai com a esperança de chegar ao Céu.
Lembramo-nos de Meyers, citado por Adams, que apontou ao primeiro versículo do primeiro
Salmo (cf. em cima, nota 13):
“Feliz quem não segue o conselho dos maus, não anda pelo caminho dos pecadores nem
toma parte nas reuniões dos zombadores” (Sl 1,1).
Ou, para apenas indicar qualquer uma das frases da Sagrada Escritura:
“Tranquilo espero o dia da angústia, que há de vir para o povo que nos oprime. ... E,
mesmo que a figueira não renove seus brotos, mesmo que ... estarei feliz no Senhor,
cantando a Deus, meu salvador.” (Hab 3,16-18)

Quando se acredita no projeto objetivo e universalmente válido, a chamada de Deus que quer
que cada um chegue a ele para sempre, então é importante que qualquer um que quer ajudar ao
outro, deve ser familiar com esta visão total para poder entender onde o outro está, quais passos
deve fazer para pegar a estrada correta. Na nossa visão cristã deve-se exigir, e o outro, o
“paciente”, deve poder confiar que quem quer ajudar, padre ou psicólogo, é familiar com Deus,
conhece o caminho a Ele e sabe dirigir a Deus, a meta final e feliz.
É sabido que a vida ascética coincidiu em muitos pontos com as orientações psicológicas, e que
os “Diretores espirituais”, os Superiores (Padres no deserto), homens e mulheres santos, dotados
de sabedoria e experiência cumpriram, por muitos séculos as tarefas de “psicólogos” com seus
conselhos.91

91 Por exemplo quantos benefícios todos ganhariam com as reflexões de São João da Cruz sobre as quatro emoções,
a alegria e esperança, a dor e o medo, e a explicação tão extensa da alegria na Subida ao Monte Carmelo, III, 16-45.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 112

c) Os tropeços no caminho

A obra de Deus Criador é perfeita. Mas com vimos, a vida espiritual exige a participação da
criatura, participação livre, e a vontade livre é como um instrumento: se pode usar para o bem e
corretamente, mas – em certas circunstâncias, ou mesmo por pura fraqueza de vontade ou por livre
decisão (não se pode negar isto sem negar a liberdade em si!) é possível de usar o instrumento mal,
para fazer um mal e não o bem pelo qual é dado. Por isso há de fato a possibilidade de uma
desordem, e essa em vários graus.

c.1) O fato da desordem

A possibilidade de uma desordem deve-se procurar exatamente na perfeição dessa obra, nas
criaturas racionais e inteligentes. “O livre-arbítrio é indiferente a escolher bem ou mal” (Sth I, q.
83, a. 2). Então pode ser usado para o bem, e pode ser usado para o mal. E responsável, ou quem
decide, é a pessoa, com ficou claro anteriormente.

A desordem na vida se pode manifestar em vários ou todos níveis. Porém, é evidente, como já
dizemos, que é sempre a pessoa do homem, seu “Eu”, que é responsável para o seu agir, para a
opção ou a direção da sua vontade, do seu “querer” que é a causa desses comportamentos.
É a pessoa que não tem vontade
- de perdoar uma ofensa, uma falsa acusação ou uma (aparente ou real) injustiça,
- de levantar da cama ou largar um jogo de futebol para assumir seu compromisso e dever,
- de superar o medo da opinião dos outros, da falha na prova, ...

O fato da desordem foi causado pelo pecado original92 e suas consequências que afetou todos
os homens (cf. Rom 5,12-19).
A harmonia na qual estavam, estabelecida graças à justiça original, está destruída;
o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido;
a união entre o homem e a mulher é submetida a tensões; suas relações serão marcadas pela cupidez
e pela dominação.
A harmonia com a criação está rompida: a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil.
Por causa do homem, a criação está submetida "à servidão da corrupção". (Cat 400)

Além disso somos instruídos sobre essas consequências:


É a privação da santidade e da justiça originais, mas
a natureza humana não é totalmente corrompida:
ela é lesada em suas próprias forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento e ao império
da morte, e inclinada ao pecado (esta propensão ao mal é chamada "concupiscência").
O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e faz o homem voltar
para Deus. Porém, as consequências de tal pecado sobre a natureza, enfraquecida e inclinada ao
mal, permanecem no homem e o incitam ao combate espiritual. (Cat 405)

O pecado original levou então a um enfraquecimento do intelecto como da vontade e pede de fazer
certas distinções na procura das causas dessa desordem. Se pode ver em tais comportamentos dois
motivos, um do lado objetivo, outro no lado interno do homem.

92 “Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com isso menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra
Deus, contrariando as exigências de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio bem. Constituído em
um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente ‘divinizado’ por Deus na glória. Pela sedução do
Diabo, quis ‘ser como Deus’ (cf. Gn 3,5), mas ‘sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus’ (S. Máximo
Confessor).” (Cat 398; cf. em baixo nota 106).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 113

- Do lado objetivo externo, as coisas se apresentam ao homem como ele encontra diante de si (ou
como aquilo que ele mesmo procura!). Elas têm seu valor, seu significado intrínseco, e segundo
este o homem deve valorizá-las. Porém, além desse valor real ou ontológico, pode facilmente
acontecer que elas se apresentam não como de fato são, mas aparecem melhores ou piores que em
realidade são, bens inferiores aparecem como fossem superiores e enganam pela aparência
acidental. Assim chamam atenção não adequadamente: atraem ou prometem mais de que são
capazes de cumprir ou causam repulsão exagerada, medo e tentativo de fugir sem razão justificada.
- Do lado interno, o homem ou a pessoa percebe e conhece as coisas ou reflete sobre o que já tinha
conhecido antes. O processo do conhecimento do homem (a abstração) passa pelas diversas
faculdades cognitivas e recebe apoio pelas faculdades apetitivas. Este processo está baseado na
presença clara do objeto de modo que não há motivo de questionar a realidade daquilo que
conhecemos.
Mas há situações, onde nós não dedicamos a devida atenção ao conhecimento, ou deixamo-nos
influenciar por lembranças passadas e assim, o resultado do nosso conhecimento pode, por um
momento, apresentar à vontade o “objeto” para a escolha não com toda a fidelidade e por isso, se
pode dizer, em certo sentido, que seduzimos e enganamos a nós mesmos em optar algo que no
fundo nem queremos. Normalmente, tais erros se corrige rápida e facilmente na vida cotidiana.
Tais erros fazem parte da nossa vida humana (errare humanum est) e mais ainda quando
consideramos nossa caminhada como de peregrinação para uma meta sublime como é a do céu.
Mas pode acontecer também que o homem
- não quer renunciar coisas de “valor inferior” mesmo que eles se tornam obstáculo no alcance de
valores superiores.
- Pode ser que duvida no alcance de bens no futuro e por isso, se agarra nos bens presentes;
- pode ser que não quer renunciar prazeres sensitivos em favor de alegrias espirituais e por isso, se
fixa em bens inferiores mais que eles merecem e que faz bem para ele.93
Todas essas variações na vida cotidiana constituem o “combate espiritual” que é comum a todos,
e por isso, nada de extraordinário. Seja o combate seja as quedas em pecados são comuns com
todos os homens e representam nada sensacional e especial na vida e história humana.94
Alguns defeitos todos nós temos.
Aí precisa apenas um pouco de humildade ou humilhação95, isto para um doente que precisa ir ao
médico, e assim para um fiel para se aproximar ao confessionário.
Foi o próprio Freud, que disse a uma paciente com acento irlandês:
A Senhora é católica? – Sim – Então não deveria vir cá, mas procurar o confessionário!
Imaginamos, num livro de psicologia se pode ler o seguinte:

93 Ainda existe em geral a ideia que o “Psicólogo” e a “Psicologia” tratam de doentes, são ramos da medicina. Mas
se deve anotar que em muitos livros de temas psicológicos se trata hoje simplesmente de “regras de comportamento”
ou se oferece indicações pedagógicos e orientações para a educação, como a proposta de Maslow com sua “Hierarquia
de necessidades” ou como Francisco Insa que dedica só uma de 4 partes do seu livro sobre a “formação” a
“transtornos” ou “afetividade enferma”, 60 das 440 páginas (ibid. por ex. “Um estilo formativo sadio”, 419-440). Isto
se pode explicar, de um lado, como consequência da perda do cristianismo, segundo a observação de V. Frankl que
percebeu que que parte das pessoas que hoje buscam um psiquiatra teriam procurado um pastor, sacerdote ou rabino
em épocas anteriores” (Cf. V. FRANKL. Em busca de sentido. 47. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2019, p. 140). Mas se
pode também entender segundo Echavarría, que a Psicologia neste sentido ou com tal função deveria ser antes
considerada como parte da ética e pedagogia: pois psicologia com esta temática “é mais próxima à pedagogia” e à
ética que a medicina; E. referiu a seguinte palavra de “Santo Tomás: ‘A filosofia [moral] se refere à cura da alma,
como a medicina à cura do corpo’ (In II Ethic., l. 4)” (cf. Echavarría, A Práxis da Psicologia, p. 614 e 616; cf. 613-
629).
94 Neste sentido, Lütz marca que os que são realmente psicologicamente doentes são uma grande minoria; mas quem
de fato são os doentes é a enorme quantia dos “normais” (cf. LÜTZ, p. XVIII).
95 “A humildade... sem ela ‘é impossível de se libertar do mal’ (Doroteu de Gaza)” (CAMPOE, p. 87; cf. 66, 72s).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 114

“Professor F. Raymond e P. Janet dizem: ‘Confessar-se regularmente parece ser introduzido por
um médico genial de doentes mentais para curar pessoas que sofrem imaginações torturadoras.’
Mas por que só dessas pessoas...?”96
De fato, quando se pensa nas diversas dimensões do sacramento da Confissão, da possibilidade de
poder falar sem medo devido do sigilo da confissão, de ser ouvido e receber conselhos e orientação,
e isto na presença de Deus que, mais vezes que se pensa, inspira o confessor e, acima de tudo,
Deus mesmo perdoa os erros mais vergonhosos; e ainda, pode se repetir tal encontro tantas vezes
quantas vezes necessita.

A desordem pode ser ocasional ou persistente


É importante referir já aqui a esta enorme ajuda pelo sacramento da confissão. A razão é
evidente: Quando se reconhece um erro, se arrepende dele e arranca-o pela apresentação à
misericórdia divina. Isto pode ser numa desordem ou pecado ocasional, mas muito mais ainda
quando uma pessoa cai neste mais frequentemente. Também neste caso, a confissão frequente
ajuda muito para não se formar um complexo, ou vício ou hábito tão forte que bloqueia a
vivência ordinária, ao menos em certas circunstâncias.
Se porém, apesar do esforço fiel e a perseverança no combate, as quedas são persistentes e
tornam-se um bloqueio no comportamento e na convivência social, então seria a hora para um
tratamento explícito.
Como regra pode servir a analogia com o costume no trato das doenças corporais:
Primeiro se espera na esperança que a dor passa; se não passa
se vai a farmácia e pergunta se tem um remédio apto para essa dor;
Se nem com um remédio passa a dor, se procura o médico para uma consulta melhor;
Se também por seus conselhos e remédios o problema não passa, aí precisa parar e
dedicar-se explicitamente à doença por uma cirurgia.
Este processo é bem descrito por Francisco Insa quando escreve:
A tristeza é uma paixão normal no homem, que se experimenta, como vimos mais atrás
ao se tomar consciência de um mal físico ou psicológico que não se pode evitar.
A passagem para a patologia se dá quando (a) objetivamente não existe motivo, ou
(b) este não é proporcional, em intensidade e tempo, aos sintomas que produz.
Além disto, para que se considere como enfermidade, ela deve persistir por pelo menos
duas semanas e impedir o funcionamento normal.97

Na vida emocional-psicológica ou espiritual podem aparecer também fenômenos persistentes,


semelhantes à doenças corporais que exigem uma parada e dedicação explícita. É o caso de

96 Fr. V. RAYMOND. Der Freund der Nervösen und Skrupulanten - O amigo de nervosos e escrupulosos.
Wiesbaden, 1911, p. 36-37.
97 INSA, p. 359; cf. Ibid., p. 383; esta orientação faz lembrar do pastor Jay E. Adams que conta: os pastores foram
alertados com insistência pela Mental Health Association, de não aconselhar ninguém pastoralmente cuja dificuldades
ultrapassaram a medida de uma “rachadura psíquica”, como ele chama (ADAMS, p. X). No sentido de Adams, se
pode tomar esta observação, junto com as vantagens psicológicas que acabamos de listar, como motivo de entender a
“Confissão regular”, recomendada pela Igreja (Cat 1459), como confissão de duas em duas semanas. Dobbelstein
recomenda de não tirar semelhante conclusão tão rapidamente; ele fala “de meses ou até anos” (cf. DOBBELSTEIN,
p. 16). – Num lugar, e seja talvez aqui, gostaria fazer a pergunta: Faz sentido de levar uma criança com suponhamos
4 aninhos ao psicólogo? Conheço uma pessoa que com 4 anos insistiu de poder confessar-se com o padre, logo uma
criança nessa idade já tem tanto uso de razão que sabe distinguir entre reto e falso; mas será que já tem as condições
de seguir ou raciocinar com um psicólogo? – Não seria mais propício que, se já parece bom de consultar um psicólogo
que este fale com os pais sobre a educação que dão ao seu filho? (cf. com grande esforço, Michael Winterhoff olha
além da miséria da juventude aos seus pais com três perturbações dos seus relacionamentos; Tyrannen müssen nicht
sein: Warum Erziehung allein nicht reicht – Auswege. 4. ed. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus, 2009 = Não precisa
ter tiranos).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 115

vícios. Falar de vícios é nada novo no ambiente cristão, pois desde sempre se interessa do
homem e o homem como pecador que luta para a santidade.98
Vícios se pode entender assim:
Vícios são consequências de opções e ações muitas vezes repetidas que formam um
hábito, e este toma tanta influência à vontade espiritual que esta é quase anestesiada e
paralisada diante do impulso da parte da vida vegetativa ou sensitiva e torna a pessoa
como uma escrava dos impulsos carnais, instigados, da sua parte, por circunstâncias
exteriores (como por exemplo o cheiro de álcool ou a pornografia).99

Aqui é talvez a ocasião melhor de referir a esta página na Carta de São Paulo aos Romanos que já
apresentamos, mas não conseguimos tratar no último encontro nosso.
São Paulo fala no 7º capítulo sobre a guerra interior ou sobre o conflito entre
- o homem espiritual com o olhar a seu último fim, a Deus, e
- a lei da carne que lhe puxa para o erro, a deformação, desordem e destruição.100
Então a que São Paulo se refere é a atenção exagerada ao objeto de uma ou outra faculdade da
alma, de modo que tal exagero exige das outras de dobrar-se diante dela e assim causa
desarmonia na vida interior do homem (que fez S. Paulo uma vez dizer: seu deus e o ventre, Fil
3,19).
14 Sabemos que a Lei é espiritual; eu, porém, sou carnal, vendido ao pecado como escravo.
15 De fato, não entendo o que faço, pois não faço o que quero, mas o que detesto.
16 Ora, se faço o que não quero, estou concordando que a Lei é boa.
17 No caso, já não sou eu que estou agindo, mas sim o pecado que habita em mim.
18 De fato, estou ciente de que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne.
Pois querer o bem está ao meu alcance, não, porém, realizá-lo.
19 Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. ...
21 Portanto, descubro em mim esta lei: quando quero fazer o bem, é o mal que se me
apresenta.
22 Como homem interior, ponho toda a minha satisfação na Lei de Deus;
23 Mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei de minha mente e me aprisiona na
lei

98 O problema é tão velho como o pecado, e a preocupação de “cura” ou melhoramento igualmente; cf. os livros
sapienciais antes de Cristo e a rica tradição na Igreja primitiva no esforço espiritual dos Padres no deserto como mostra
o trabalho de Reginaldo Alves CAMPOE que já indicamos. Também vale pensar sobre a imensa diferença entre os
conselhos nos livros do Antigo Testamento e dos que os filósofos daquele tempo podiam dar. Será que não devemos
pensar num paralelo entre o cristianismo e a psicologia como filha das filosofias ateistas de hoje?
99 Cf. ST, p. I-II, q. 71, aa. 1-3. No extenso tratado dos pecados em geral e em particular (ibid., qq. 71-89) se pode
ver o problema da nomeação e das definições: o que se entende por pecado, por hábito pecaminoso, por pecado grave
e venial, e mais ainda o fenômeno que “filosofias” (e psicologias que se baseiam em tais filosofias) que não aceitam
um rumo transcendente do homem (ou tal apenas de nome e por motivos terapêuticos) não tem ponto fixo de referência
e por isso não tem fundamento para falar de “pecado” ou “vicio”. Eles, no lugar de tal terminologia da visão cristã e
tradicional, inventam sua própria linguagem e, ainda mais, cada corrente a sua. Diz Insa sobre as “principais
classificações de enfermidades ... que não tem uma definição clara nem um nome unanimemente aceito” (INSA, p.
361). Assim se pode já ler que “o termo neurose está atualmente em desuso” (INSA, p. 356; ou p. 360, 361 etc.), e o
que nós chamamos desordem em distinção da ordem estabelecida por Deus se chama em ambientes moralmente
neutros “transtorno” no sentido de não-comum ou não-costume-da-maioria, considerando ela como norma (cf. INSA,
p. 355-385: “transtornos afetivos”, ibid., 387-416: “transtornos de personalidade”; o que é “pecado” é talvez ainda
uma “doença”, etc. Assim por ex. se pode perguntar na citação de Insa da nota 22, pela diferença entre “patologia” e
“enfermidade”). Campoe diz: “Hoje mesmo há variações notáveis entre as escolas e os países quanto à maneira de
classificar e definir as doenças mentais” (CAMPOE, p. 8; cf. DOBBELSTEIN, p. 8, nota 2).
100 É o trauma do qual a psicanálise fala sem, porém, conhecer uma saída, sem conseguir dar uma luz ou – segundo
o tentativo de Frankl – dar um sentido; mas nem Frankl consegue dar uma luz porque reconhece que precisa um
sentido para a vida, mas quer deixar cada pessoa com sua absoluta liberdade e não lhe prescrever nada. Para ele, a
consciência de cada um é a única e absoluta norma: “Com certeza: Tudo isto [gerar filhos, plantar árvores, escrever
livros] são valores, valores reais; mas eles são relativos – ao contrário, absoluto pode ser apenas uma coisa, e isto é
o mandato de nossa consciência” (V. FRANKL. Psychotherapie für den Laien - Psicoterapia para os leigos. 7. ed.
Freiburg: Herder, 1978, “Higiene psíquica do amadurecimento”, pp. 58-61, p. 60s.).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 116

do pecado, que está nos meus membros.


24 Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte?
25 Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. ” (Rom 7, 14-25)

Já antes, no início dessa carta, São Paulo se refere a todos os homens, judeus e não-judeus, que
justifica ainda mais de levar em conta suas reflexões. Escreveu:
“Quando os pagãos, embora não tenham a Lei, cumprem o que a Lei prescreve, guiados pelo bom
senso natural, esses que não têm a Lei tornam-se Lei para si mesmos.
Por sua maneira de proceder, mostram que a Lei está inscrita em seus corações:
disso dão testemunho igualmente sua consciência e os juízos éticos de acusação ou de defesa que
fazem uns aos outros. É o que se verá no dia em que Deus vai julgar, segundo meu evangelho, por
Cristo Jesus, as intenções e ações ocultas das pessoas.” (Rom 2,14-16)

Pecado (diante de Deus) ou doença (desconsiderando ou excluindo a liberdade e culpabilidade


no que se faz) ou falando de transtorno (apenas constatando um mal estar)101, é sempre uma
desarmonia entre as faculdades do homem; uma delas se torna tão forte ou importante que chama
demais atenção e causa que o homem se vira voluntariamente (isto é, com sua vontade) a essa,
mesmo que sua inteligência (a razão) sugere outra opção.

Também quero evitar entrar neste mundo porque, estudando ou lendo sobre tantas exposições da
psicologia humana que me sinto como na mata virginal que me serve só para ser perdido.
Pois o fundamento anterior a todas estas reflexões é sempre a compreensão do homem, que
tratamos no início desta colocação – questão filosófico-teológica que conduz além do horizonte
empírico.

Mesmo que não sou capaz e autorizado de entrar na discussão das doenças psíquicas, mas
também não posso fugir dos problemas da vida tendo uma co-responsabilidade pela salvação dos
homens como religioso, sacerdote e co-irmão do próximo.
Mais ainda que temos o dever de considerar os problemas, pelo dom da revelação divina, na
verdadeira perspectiva.
Assim, me seja permitido de apontar apenas a dois problemas que – num mundo a-religioso, me
parece, raramente se considera como problema porque serve para substituir Deus pelo nosso
“eu”, que é a nova divindade aceitada, por muitos, silenciosamente ou até inconscientemente.
- Já se levantam vozes que indicam a desastrosa consequência do feminismo na depreciação do
homem e de uma sociedade sem pai.102 Uma das contribuições de Santo Tomás é esta: “é
manifesto, que para a criação dos filhos, na espécie humana, não bastam só os cuidados da mãe,
que os amamenta; mas muito mais, os do pai que deve educa–los (instruendus), defendê–los e
dotá–los (promovendus) de bens tanto internos como externos.”103
- Ou qual corrente de psicologia aponta a destruição psicológica da mulher pela esterilização
cedo na vida, quando ela de repente é “transportada” – emocionalmente – da idade de 20 a 50

101 “Não me agradou, que como Cristão e pastor deveria chamar ‘doença’ o que parece ser pecado.” (ADAMS, IX).
102 Não podemos fugir dos problemas da vida, mas considerar da verdadeira perspectiva. Já se levantam vozes que
indicam a desastrosa consequência do feminismo na depreciação do homem e de uma sociedade sem pai.
103 ST, p. II-II, q. 154, a. 2 c. Um fenômeno recente é que mulheres na idade dos 50 sintam tanto falta de filhos que
procuram dar luz, e agora segundo as circunstâncias, pelo caminho torto da fertilização in vitro. Será que não se podia
esperar que hoje os psicólogos que cuidam delas (já que não se quer escutar a Igreja e os padres); que os psicólogos
levantam a voz para proteger a saúde mental das mulheres hoje e apontam ao dano psicológico dos métodos
preservativos? Já faz anos que ouvi: Na medida em que a mulher sai da Igreja, ela entra no consultório do psicólogo.
Ou consta nos EUA que – agora – 70 % das mulheres preferem ficar em casa, enquanto na Alemanha (sempre uns 20
anos atrás dos EUA) querem 70 % trabalhar fora da casa.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 117

anos, de um estado emocional de alta expectativa à perda de “utilidade” exclusiva de


mulher?!104
Quanta razão tem LÜTZ, o autor do atual Bestseller “Novos doidos! Nós tratamos os
pacientes falsos – Nosso problema sãos os normais” (título, e passim no livro; cf. nota 2).

Para falar um pouco de casos especiais relato apenas três casos que me foram apresentados com
pedido de dar umas orientações.
Paciente diagnosticado com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), tem atos e
pensamentos muito semelhantes aos escrúpulos, mas é acometido por premonições,
conhecimento de lugares nunca visitados e é acometido de amnésia após ter tais
eventos.

Paciente com queixas de ansiedade, relata intuições e sonhos premonitórios, todos se


realizam. Tornando-se mais supersticioso após tais eventos.

Paciente relata arroubos, como se "saísse do corpo", aparentemente poderia ser alguma
forma de psicose. Há outros fenomênos: Doenças físicas, após período intenso de oração
que desaparecem quando cessa de rezar, toques físicos quando reza, pesadelos,
pensamentos ordenando fazer coisas más e outros.

É evidente que não podemos discutir esses casos agora.


São muitos momentos diferentes na base que se deve primeiro separar para ver o problema
(causa) real.
Mais comuns é hoje o problema da ansiedade – que provavelmente se deixa resolver quando se
pode ajudar de corrigir a hierarquia dos valores que a sociedade provoca ou o ansioso se fez (cf.
Sl 83).
O problema do homossexual é já elaborado hoje claramente (por ex. por Aardweg) como
problema social e resultado da educação que deve ser reconhecido e depois enfrentado.105

Mas gostaria juntar no fim, como um apêndice uma lista de fenômenos para que nós tomemos
consciência na espiritualidade, ou seja, como discernimento das causas. Acho, um psicólogo
cristão deveria ter conhecimento e consciência quando está escutando um paciente destes, pois a
causa do problema ou fenômeno podia vir do lado espiritual. Também, estes exemplos mostram
que se pode provavelmente dizer o mesmo que um exorcista disse: 95 % que vem a mim, não são
para mim (isto é, são sem possessão) e aqui, sem real problema psicológico.

Só gostaria sugerir pensar numa pergunta que fica sempre no “ar” e pouco resolvida. Falando de
Psicologia, surge em certa forma sempre a pergunta:

104 Esta observação oferece a oportunidade de apontar a conscientizar-se de um fenômeno surpreendente: Temos
publicações que tratam da diferença psicológica entre homem e mulher; porém, na grande maioria dos estudos comuns
de psicologia não se dá atenção a este fato tão imediato, constante e universal que o homem-varão é diferente da
mulher em toda a existência e vivência e na psicologia não se leva ela em consideração, não se faz esta distinção! E
este fato não é apenas de agora no clima da ideologia do gênero, onde torna-se talvez perigoso de tratar dessa verdade,
mas de sempre. (Uns exemplos positivos: John FITZSIMONS. Woman today. London and New York: Sheed and
Ward, 1952 – os seus temas são: O dilema moderno; feminismo; a base da feminidade; sobre sexo e matrimônio;
inteligência e emoções da mulher; mulher e amor, trabalho e educação; a solteira e “para uma teologia da mulher”);
ou Christa MEVES. Ich will mich ändern: Geschichte einer Genesung. Freiburg i.Br.: Herder 1981: Uma psicóloga
compôs Cartas de uma esposa ao marido para lhe explicar o que passa numa mulher na vida cotidiana com ele. Já
referimos ao livro de Allan & Barbara Pears (nota 3), no qual, porém, não se sabe bem se a constituição do cérebro
causa a diferença de homem e mulher ou, partindo das diferenças se procura uma justificação no cérebro (problema
grave da causalidade, que é primeiro e o que o segundo!, espírito ou matéria).
105 Gerard van den Aardweg. A Batalha pela Normalidade sexual e homossexualismo. 5. ed. Aparecida-SP: Ed.
Santuário, 2010.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 118

Uma “doença mental” é uma “doença da alma”?


O que será uma doença mental? Será que a alma pode adoecer?106
Se olhamos aos hospitais psiquiatras, qual tratamento aplicam?
Se a “doença mental” é causada apenas por um defeito físico-corporal, então a indústria
farmacêutica resolverá os problemas.
Se consideramos a alma como puramente espiritual, podemos procurar luz na consideração dos
“puros espíritos” que são os anjos. Sabemos que existem anjos infelizes, cheio de raiva e inveja,
os diabos – se queremos dizer: casos para a psicologia (ou psiquiatria). Agora como foi possível
que chegaram a tal estado, pois não todos são assim. Será que eles tinham sidos doentes antes de
cometer seu pecado, e por tal doença agiram numa maneira torta e cometeram seu pecado? Não!
O que aconteceu era: Eles conscientemente desviaram sua própria e livre vontade da Vontade de
Deus e assim cometeram seu pecado. Foi sua decisão voluntária contrária à Vontade de Deus
que lhes separou dele e de sua própria felicidade. – Então,
se aplicamos esta observação à alma humana enquanto espiritual chegamos a duas opções diante
do que se chama “doença mental”:
– (1) ou o mal comportamento e a infelicidade interna do homem são causados pela
própria vontade do homem (= ativo),
– (2) ou, levando em consideração que o homem, não na sua alma sozinha, mas na união
de alma e corpo (hilemorfismo), pode adoecer por uma desordem na sua constituição
complexa, material e espiritual (= passivo).
(ao 1) No primeiro caso, é o homem mesmo que deve entrar em si e pensar: Deus fez o homem
“muito bom”; então o homem só pode ser “doente” como os diabos, porque se separou da
vontade de Deus pelo mal uso de sua livre vontade, e este mal uso o levou distante de Deus onde
não encontra sua paz e harmonia. É a hora de reconhecer humildemente: Estou errando, vou
mudar e ‘converter-me”.
(ao 2) No segundo caso, se deve considerar a “doença mental” como um efeito de uma
desarmonia interna entre os múltiplos momentos que constituem a interioridade do homem.

106 Echavarría trata dessa pregunta, na sua “Práxis da Psicologia”, no 4º capítulo, “As ‘Enfermidades da alma’” (p.
407-609), depois da “Normalidade e Virtude” (p. 269-404, o 3º capítulo): “Os diferentes sentidos de ‘enfermidade da
alma’ – 1. Enfermidades da alma per accidens. A. Enfermidade da alma e enfermidade corporal” (p. 407ss.) ... “2. As
‘enfermidades’ próprias da alma” (p. 418ss.) e “3. Enfermidade mental e pecado” (p. 446ss.). Assim a proposta de
Echavarría é de ver e identificar “enfermidades da alma” e uma “personalidade viciosa” (405-609). Na base do
hilemorfismo ou do homem como união de alma e corpo, começa por distinguir três causas de doenças: causas físicas
ou orgânicas que afetam a alma só acidentalmente e talvez no comportamento (p. 407-413); causas preternaturais,
ou seja, pelas diversas possibilidades de influências diabólicas (p. 414-417); e causas espirituais humanas por
“desordens” na “atividade das potências cognitivas e apetitivas”, “transtornos que poderiam ser chamados do caráter
ou da personalidade” (p. 418). Porque como as “faculdades (...) são como forma de órgãos corporais” (p. 423; cf. p.
449), elas podem “ter manifestações patológicas também no nível corporal”, que “podem, por analogia, ser chamadas
‘enfermidades da alma’.” (p. 418). “Insânia (da alma) quer dizer corrupção da saúde” sucede “quando alguém perde
o uso da razão ... ou o afeto humano” (p. 425). “A experiência mostra que os vícios patológicos são muitas vezes
voluntários em si mesmos ou em sua causa.” (ibid.; cf. 432, 477, 490, 643 ...)
Vícios, “hábitos operativos maus” (p. 419), são chamados “as vezes, por Santo Tomás ‘enfermidade da alma’” (p.
429). Enquanto “muitas vezes as terminologias pertencentes a diferentes escolas misturam-se” (p. 442), Tomás
distingue vícios “por debilidades (infirmitates)” que é “outro nome para as enfermidades (aegritudines)” e vícios
incuráveis de uma pessoa “que peca por malícia” (p. 429; 429-436). Quando Echavarría deixa claro que “a ‘norma’
não pode ser senão a natureza humana” (p. 444) e, ainda na visão cristã, chama os comportamentos desordenados
“pecado” (435, cf. 446-464), se revela que o problema de muitas correntes psicológicas hodiernas não é apenas a
escolha de uma linha filosófica como a de Hegel ou Nietzsche (p. 455-463), mas uma opção religiosa, uma “espécie
de religião pessoal egocêntrica” (Vitz; p. 100; cf. p. 489), na qual “Deus sou eu” (Fromm; p. 394); “no próprio Freud
aparece essa ideia do pecado como ontologicamente necessário” (p. 460); e Jung ensina que a “autêntica ‘cura’ ...
consistiria em colocar-se ‘além do bem e do mal’, através da aceitação do mal ontológico” (p. 460). Então, é “o tema
do pecado original ... (que) está no núcleo de toda a atividade psicológica contemporânea (Andereggen)” (p. 463).
“Para Santo Tomás, se pode ‘reprimir’ o caráter criatural, ... uma relação com Deus” (p. 540), o que acontece no
pecado e comportamento contra a natureza dada (cf. p. 489).
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Aí se começa com o exame do organismo físico corporal como a parte mais “acessível”, e se
reage a doença com remédios ou se trata a situação pela influência de remédios farmacêuticos.
Tendo o comportamento da pessoa sob controle, recebe “alta” do hospital e pode voltar a família,
mas deve tomar “remédios para toda a vida”, controlando apenas a disposição corporal pelos
remédios. Com isto o problema não está resolvido, mas apenas controlado.
Na base das teorias de psicologia sem levar em consideração o aspecto religioso não pode ser
diferente: não se pode exigir de alguém uma solução de um problema do homem quando não
conhece nada sobre sua origem e a finalidade da vida desse ente que encontra diante de si (com
vai saber que um prego é para bater numa madeira se não sabe o que é madeira nem martelo, e
no fim, também não o que é um prego e para que serve).
Mas pode ser que se alcança pelos remédios um estado espiritualmente calmo da pessoa. Então,
este permite de tratar o problema no nível da alma. Se examina as causas e, na medida do
possível e o paciente permite e acompanha, conduz (ou reconduz) ele à conformidade com a
vontade de Deus. E aí daria esperar uma solução definitiva do problema.
Olhando a situação de hoje..., será que se pode levantar então a pergunta sobre as “clínicas
psiquiatras”: O que são se as pessoas não encontram cura, mas são “apenas” conduzidas ao um
estado que lhes permite conviver com outras pessoas? Que pode esperar de um psicólogo além
de escutar pacientemente e fazer perguntas se não conhece ou não quer fazer conhecer ao
paciente uma meta para convidar ou conduzir?
Será que elas são o que os presídios são, apenas substituindo os policiais armados por médicos
com remédios e seringas?
O próximo passo neste processo do “veneno latente com efeito em toda a sociedade”107 (dos (1)
presídios as (2) clínicas psiquiatras) seriam – e já temos - (3) clínicas de suicídio assistido com
“um pequeno Cocktail, escolhido por si mesmo”108 ou de eutanásia mesmo. Por que será isto o
futuro? Porque a vida do homem e o homem mesmo não tem valor fora do contexto religioso,
sem Deus.
E “evangelho – a boa nova” dos mais variados psicólogos não muda nada nisto: Pois só há estes
dois caminhos, ou Deus ou eu; ou submissão obediente ao Criador ou a autoafirmação, mas logo
vem a confrontação: autoafirmação para que? E qual seria a resposta que dá sentido a vida, a
vida em todos os seus altos e baixos que se conhece?
O bem-estar da humanidade nos últimos quase 80 anos pode facilmente enganar sobre o valor
(ou desvalor) das múltiplas respostas teóricas enquanto ainda não passaram pelo teste do
sofrimento, das situações extremas e de crise, cristãmente falando, do “Teste da Cruz” que é a
base de toda a vivência (cf. a “Loucura da cruz” na “lógica” das Bem-aventuranças109).

Sem dúvida, quando reconhecemos no fundo dos problemas o mistério do homem, e


principalmente o de sua livre vontade (semelhante ao dos espíritos puros) torna-se evidente que
se deve primeiro perguntar pelo fundamento sólido como ponto de partida, e este é muito mais
uma pergunta filosófica (ou até teológica) antes de científica.

Além disso seja citado ainda Campoe com a contribuição dos Padres que aponta a uma triple
divisão que a Igreja hoje bem observa:

Para os Padres, uma primeira categoria de doenças mentais ou de formas de loucura tem [1]
uma etiologia [= causa] somática, e [2] uma segunda etiologia a etiologia demoníaca, [3] uma
terceira categoria tem uma origem espiritual. Ao passo que a primeira categoria tem uma causa
natural (decaída) e a segunda os demônios, a terceira categoria revela o livre arbítrio do
homem.

107 LÜTZ, p. 9.
108 Ibid.
109 Mt 5,3-11; Lc 14, 27; Fil 3,17-21; Cat 1716-1724.
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As doenças mentais que têm uma origem espiritual não devem portanto ser confundidas com
as próprias doenças espirituais.
As doenças espirituais são constituídas por uma desordem ou uma perversão da natureza (mais
precisamente de seu modo de existência) na relação pessoal do homem a Deus.
- As doenças mentais correspondem no plano psíquico às desordens análogas àqueles que
constituem sobre o plano do corpo as doenças somáticas; trata-se de perturbações do psiquismo
considerado em si mesmo, de uma disfunção de sua natureza considerada segundo sua ordem
natural. (CAMPOE, p. 7.)

Então vamos voltar a visão cristã como base e cume de toda a vida e de qualquer problema da
vida humana, e vamos ver o que se encontra nela em respostas para os problemas do homem.
Podemos ser conscientes que “segundo numerosos estudos, as crenças e a prática religiosa são
fatores que protegem, ao menos moderadamente, da depressão e do suicídio e melhoram a
capacidade de enfrentar as adversidades” (INSA, 378s.).

c.2) Orientação curativa

Me permitem indicar no trato de pessoas doentes ou com problemas os seguintes passos (mas
não quero ensinar “o Painosso ao pároco” !!!):
- dispor para a comunicação
- escutar com dedicação e grande circunspeção
- procurar a(s) causa(s) – o exemplo de “depressão”
- orientar

(1) Dispor para a comunicação


Normalmente só temos contato com pessoas que procuram ajuda, e com isto se pode pressupor
que estão abertas e dispostas ao menos para ouvir.
Difícil é quando alguém não quer mudar, talvez nem quer reconhecer a necessidade de ajuda. Em
todos os casos, nunca esqueço os passos que um exorcista indicou:
Procura primeiro ganhar confiança do “paciente”! Na base desta
procura sugerir desconfiança naquilo que ele adere; conseguido isto permite
procurar formar confiança em Deus.

Nós, ao menos, devemos ser bem convencidos que a saúde psicológica do homem está baseada
- na aceitação de ser uma criatura dependente de Deus e
- que Deus tem o direito absoluto sobre cada homem, e o homem deve permitir a Deus de agir
sobre si, em todas as maneiras (só não contraditórias aos seus próprios mandamentos).
Assim, Deus pode agir sobre cada um - por pessoas ordinárias ao meu lado,
- pela natureza cósmica em que me encontro e
- por eventos ou acontecimentos como
- por representantes ordinários dele.

(2) Escutar com dedicação e grande circunspeção


É muito importante de convidar a falar – e oferecer a confidencialidade máxima possível.
Se chega a uma conversa, quer dizer se a pessoa fala, devemos ser conscientes que temos –
provavelmente ou na maioria dos casos - uma pessoa muito ferida diante de nós, e por isso, ela é
super-sensível diante de nós (como uma pessoa sem pele, ou com o sistema nervoso exposto).
É altamente necessário de dar toda a atenção, de não ter nada que desvia a atenção a pessoa,
mesmo se ela fica calada, calada por um bom tempo. Se nós mostramos náusea, ela levanta e vai
embora e dificilmente volta.
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Esta atenção e observação, mesmo ao olhar, à posição do corpo, aos movimentos das mãos, a
acentuação as palavras etc... deve-se relacionar com o que a pessoa quer falar ou o que destas
formas indiretas revela o seu coração.110 Estenda-se o “radar” para – com a ajuda de Deus –
captar tudo o que pode ter acontecido à pessoa e levou ao estado em que se encontra no
momento, isto é, para descobrir o nó do problema.111

(3) procurar a(s) causa(s) –


Agora, confrontando cada observação feita com a visão total da realidade se deve perguntar-se (e
raramente o paciente):
- a) qual pode ser o ideal do que o paciente está sonhando, qual é sua ideia da felicidade que
espera alcançar e na qual se agarra o seu “Eu”, quer dizer sua vontade (!) – mas ainda não
conseguiu alcançar (pode ser dinheiro, casa, família, fama, ....), e, por isso, chega ao ponto de
“estar fora de si” (cf. Santo Tomás com a emoção de “desespero” se o bem desejado está fora do
alcance!).
- b) quais podem ser as causas para isso – bem sabendo que por último será o amor, ou melhor, o
amor (ainda) não recebido.112
Para começar, pode ser de uma ajuda grande quando se explica e faz consciente a pessoa qual
hierarquia de valores segue no seu agir e querer, nos seus julgamentos e nas suas frustrações.
Pois o homem pode errar no conhecimento do valor real de uma coisa, pode não querer renunciar
coisas de “valor inferior” até alcançar superiores... (cf. em cima, p. 30/31)
Tendo o paciente entendido tanto, se deve trabalhar – sempre com a máxima sensibilidade – de
conduzir o paciente por imagens, narrações, raramente por perguntas diretas (aos quais ele
facilmente procurará escapar!) ao coração insatisfeito e assim abrir para a orientação de um
futuro novo e mais feliz. Quando se lê o evangelho desta perspectiva, se pode encontrar muitas
vezes que Jesus agiu dessa maneira: numa maneira respeitosa, confrontou o outro com o
conhecimento de si mesmo e pediu-o tomar a correta decisão.

(4) Orientar
Na orientação também se pode distinguir dois passos:
- a) é bom de deixar o paciente descobrir (com nossa ajuda) os tantos amores que ele já recebeu
na sua vida, mas a que não dá atenção ou simplesmente nunca considerou como tal, por isso é
cego pelo bem na sua vida e descontente com o que atualmente passa.
- b) A descoberta dos bens já recebidos no passado, permite abri-lo os olhos pelas ofertas que
estão diante de si e que Deus, já por muito tempo preparou e espera poder dar agora. Devemos
ajudar de ver sua vida com muita esperança, criar expectativas fundadas – e se não for nesta vida
terrestre, antão na vida que vem e que Jesus prometeu que nos espera.113

Aqui entra a importância da convicção cristã de um psicólogo. Para ele deve existir clara
obrigação de indicar o “Caminho à verdadeira Vida” e oferecer a ajuda para poder andar nele.

110 Um juiz, se encontrando numa situação semelhante, mesmo por outro motivo, contou que se comunica com
palavras por 11 %, e por gestos e reações etc. por 89 %.
111 Posso por exemplo perguntar, o que significa se um fala “é bela” e “sabe tudo”? Primeiro já vale observar que a
primeira observação se refere muito provavelmente a uma mulher e a segundo a um homem (cf. a observação que
fizemos na nota 28); uma segunda observação é, que a frase não é completa e se pode completar em duas maneiras:
pode ser dito “você é bela” e “você sabe tudo”, e assim ser dirigida a pessoa diretamente; e pode ser completada em
tal maneira que será dita a uma terceira pessoa, “ela é bela” e “ele “sabe tudo”. E com esta diferença a frase recebe
um valor bem, e muito diferente, na forma direta é questionável porque foi dita, e não pode tomar a séria; no segundo
caso parece ser já objetivo e veraz.
112 Cf. T. KIENINGER. O Respeito Humano: A Morte de Toda a Religião. (Manuscrito), 2021.
113 cf. Jo 14,2-3; BENTO XVI. Spe salvi – Sobre a esperança cristã. 2007, 41-48.
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Pode começar com o testemunho de que Deus tem um plano de amor para com cada pessoa
humana. - Qual importância se deve dar a mensagem da Divina Misericórdia para o tempo de
hoje!
E aí segue a “Catequese” básica sobre o sentido e o fim último da vida como sobre a cruz no
caminho e a porta estreita que é a morte...
Aqui agora, na medida do possível – se pode mostrar esta maravilhosa perspectiva:
Pela entrega ao Deus Onipotente (e união com Ele) e à sua onipotência
essa torna-se nossa!
E assim, com ela temos a solução universal, para mim e os outros,
para o que aconteceu no passado (o que seria por ex. a perdoar)
e o que ainda pode acontecer no futuro (esperança e abandono em Deus)!
Esta verdade, tão saudável, precisa ilustração para convencer quem ainda não vê isto. Para isto
podem servir o exemplo de muitos Santos, que se dedicaram ao amor à custa da renúncia do
próprio bem como o exemplo de São Paulo (referindo a um exemplo bíblico).
São Paulo explica seu caminho e sua vida: “Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no
Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” (Gal 2,20)
E esta fé é tão claro e firme que São Paulo podia escrever: “Quem nos separará do amor de
Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada? Pois está escrito: ‘Por
tua causa somos entregues à morte, o dia todo; fomos tidos como ovelhas destinadas ao
matadouro’.” (Rom 8,35-36) “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de
ganhar Cristo.” (Fil 3,8) “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro.” (Fil 1,21)
Só nesta visão, percebendo que é tanto amado por Deus pode agora vencer o que antes lhe custou
muito. Agora consegue perdoar, agora nem percebe uma ofensa, agora lhe custa nada de ser
ridicularizado por outros ou seu nome mal usado... O AMOR o CUROU (cf. GOYA, 216s.).

E depois, para a resolução prática, pode ser necessário, e certamente sempre muitíssimo útil, o
“desligamento do passado” que seria pela ação do próprio Deus numa boa confissão sacramental
(e essa conversa é uma ótima oportunidade de preparar para esse sacramento, que os exorcistas
chamam “o melhor exorcismo”).
Pode ser bom ou necessário de dar ainda concretas orientações pelo tempo para evitar “ocasiões
de pecado” e aprender andar com (própria) firmeza. Isto pode significar uma certa mudança de
vida, do ambiente (para ganhar mais liberdade emocional), um “deserto” apropriado para a
pessoa... (disciplina corporal, prática da fé, o cultivo do espírito e da prática de oração e um
aprofundamento na nova visão, no conhecimento das promessas de Deus pela meditação para
permanecer aberto para a graça e ação de Deus).

Seria, no fim, ainda permitido de perguntar: É exigido demais para uma pessoa ordinária?
Jesus não pensou assim. Ele não deixou faltar clareza quando disse: “Quem se apega à sua vida,
perde-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna.”
(Jo 12,25). “O que para o mundo é loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios” (1 Cor
1,27).
E mais uma vez S. Paulo: “É assim que eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a
comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se
chego até a Ressurreição dentre os mortos.” (Fil 3,10-11)
Se for demais, vem a pergunta: “Onde estava nas Missas em que se celebra a Morte e
Ressurreição de Jesus? E o que pensou, quando aclamou com todos: “Anunciamos, Senhor, a
Vossa Morte, e proclamamos a Vossa ressurreição – Vinde, Senhor JESUS!”

Aqui chegamos de novo, onde já passamos algumas vezes, na necessidade de formação, do


conhecimento da fé, da Catequese. Ao menos dos conselheiros ou psicólogos se deve esperar
essa visão. Se eles não têm isto em peito, surge a pergunta:
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“Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?” (Lc 6,39)

Sempre existe o perigo de crer que a grama no campo do vizinho é melhor e se faz muito esforço
para apanhar mais um pouco. Esta é a tentação muito espalhado hoje na procura da verdade ou,
como aqui, no campo da psicologia.
Que uma vaca é cega e não vê a fartura no seu próprio campo é perdoável. Mas que um cristão
acredita de encontrar fora do cristianismo alimento melhor e luz mais clara de que dentro, é
difícil de perdoar. Só pode ser que se deixa levar pela curiosidade, ou por vergonha do vizinho
etc. – estes são erros que tentamos de ver, mas também, uma vez reconhecidos, procurar superar.
DEUS é MAIOR que tudo e todos, e a Ele devemos conduzir cada pessoa que vem ao nosso
encontro. Isto é - uma questão de gratidão para com Deus, e
- uma questão de justiça para com o outro que tem o mesmo direito de receber
a luz e riqueza do amor de Deus como nos, e é
- uma questão de obrigação nossa para com Deus que deu até sua vida por
nos e todos.

Echavarría escreveu “que ninguém pode avançar sozinho” (p. 618), mas necessita de um guia,
“pode ser um... sacerdote, um médico, um mestre, um trabalhador social”, p. 619). “Santo Tomás
e toda a tradição teológica conheciam de algum modo a intervenção psicoterapêutica, sob várias
formas e métodos. Mas esta chamava-se correção fraterna gratuita, chamava-se prudência no
operar..., ensinar” (p. 618s.). Entre as exigências e necessárias qualidades conta “uma autêntica
‘psicologia profunda cristã’, é aquela que vê no centro da transformação do homem a tripla ação
hierárquica da purificação, iluminação e união, que tem seu princípio divino nos mistérios da
vida de Cristo”114.
Conclui que “parece justo reconhecer uma autonomia profissional à psicologia,” mas
“reiteremos: SOMENTE UMA PESSOA PLENA PODE AJUDAR OUTRA MOVER-SE ATÉ
A PLENITUDE”.115

Uma outra palavra cnclusiva pode ser esta:


No nosso tema se deve considerar três momentos:
1º Definir quem é o homem – o que é uma tarefa teológica com o auxílio da (boa) filosofia, que
mostra o homem segundo sua origem e o fim de sua vida.
2º Depois tomando consciência que o homem é um ser vivo e livre com a possibilidade ou
obrigação de responder à sua vocaçaõ (perfeição), mas dentro das leis naturais e morais –
o que é tarefa a ética e pedagogia. – Se hoje, o que se lê sobre a psicologia, essa se decida
muito sobre as formas de comportamento é porque o homem é considerado – de princípio
– livre, mas na prática, limitado.
3º Quando um homem é de tal maneira doente que não domina mais a si mesmo e age por
pressões internas, então entraria a psiquiatria como ciência com o objetivo de descobrir as
causas e ajudar voltar ao estado normal e natural.116

114 ECHAVARRÍA, p. 655; cf. 705-709; “Os Padres (Irineu, Atanásio de Alexandria...) quase unanimemente, e desde
os primeiros séculos, Lhe (Cristo) aplicarão de maneira corrente o nome de Médico, e ajuntando em seguida os
qualificativos de ‘grande’, ‘celeste’, ‘supremo’ precisando, segundo o contexto, ‘dos corpos’, das almas’, sublinhando
que é o homem inteiro que ele vem curar.” (CAMPOE, p. 3).
115 ECHAVARRÍA, p. 729 e 730; cf. para Psicologia e vida de graça: Luís ROCHA E MELO, Se tu soubesses o dom
de Deus, Braga, 22000, 176 e 215s. B. GOYA, Psicologia e vida consagrada, Paulus, Lisboa, 1999.
116 Se pode também pensar dessa maneira: A Teologia Moral trata no início muitas distinções sobre as condições
subjetivas e circunstâncias objetivas do ponto de partida do agir, e estas, em parte, deram origem a Teologia Pastoral
com a dupla função, examinar a situação (o ponto de partida do agir) e daí descobrir melhoramento dessas condições.
Semelhantemente se pode pensar que à Ética se acrescenta hoje a Psicologia que assume um papel semelhante à
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Então, perguntamo-nos, qual é o objeto material e formal da Psicologia?117


O Objeto material é o homem (não só o corpo, nem só a alma, mas o homem todo; deste, porém,
se ocupam várias ciências, por isso, se precisa ainda determinar o objeto formal),
O objeto forma ou específico, segundo qual uma ciência é distinta da outra, qual é?
É o comportamento? O mal comportamento, os erros, os pecados?
E o método próprio e adequado? Como não tem unanimidade no objeto específico, também não
tem um método específico.
Mas, o mal não é algo para considerar, pois evidentemente se fala do mal apenas enquanto “falta
do bem” normal e desejado. Isto é evidente para um psiquiatra118. Mas para um psicólogo, o
que é sua “matéria” de tratar? O mal em si não pode ser um objeto a ser considerado,
estudado.119

Estas perguntas são importantes e levam a vários aspetos que trazem luz:
As correntes psicológicas hoje, como observamos na nota 53, tratam em muitos livros
simplesmente de “regras de comportamento” ou oferecem indicações pedagógicas e orientações
para a educação, como por exemplo a proposta de Maslow com sua “Hierarquia de
necessidades”. Mas isto não é coberto já pela ética, com aprendemos (nesta mesma nota 53) de
Santo Tomás: “A filosofia [moral = ética] se refere à cura da alma, como a medicina à cura do
corpo” (In II Ethic., l. 4); ou talvez pensamos ainda na “pedagogia” como aplicação das regras
gerais da ética à vida concreta. Porém, também a Pedagogia sistemática ou como ciência, é
apenas um filho do neopaganismo da renascença, como dizemos antes (cf. em cima, p. 9).
Por que então uma disciplina extra?
Como a última intenção dos seus “genitores” é de ter um homem absolutamente livre, não se
considera a dimensão religiosa da vida humana, sua causa eficiente e causa final, ou ser criada
por Deus e para Deus. E sem esta dependência existencial ou criatural (cf. nota 66) o homem é
solto mesmo, sem orientação, e por isso, surgiram substituições da ética que interpretou sempre a
lei de Deus; e o mesmo se pode dizer da pedagogia.
Também se chega ao mesmo resultado quando procuramos a método que cada ciência possui
segundo seu objeto específico particular. Há vários, mas sempre dependendo primeiro da
definição do seu objeto, ou mais concretamente do que é a “psyché”, a alma. Como não tem
clara definição desta, assim também não se encontra um método próprio.

Que esta confrontação breve com a filosofia ajude enxergar melhor do que se trata na psicologia
e recebe orientação para o seu próprio campo.
Por enquanto vale que diremos em breve:
A psicologia se manifesta auxiliadora da pastoral para homens que exigem mais tempo devido de
bloqueios comportamentais. Nestes casos, dedicando mais tempo, a descoberta psicológica é

Teologia pastoral. Também examina a situação da pessoa – ponto de partida de sua vida e descobre melhoramentos
dessas condições; mas estes pressupõem e necessitam o conhecimento do ideal e rumo do homem, que é, para uma
psicologia que ajuda, uma sólida filosofia ou até teologia. - Neste sentido, a psicologia assume o caráter auxiliar (e
não independente) e sua função positiva de acolher a pessoa onde está e conduzi-la a Deus, sua meta, por meio da
Igreja e dos sacramentos, esp. a confissão. Como se deve dar hoje mais acento, valor, atenção à teologia pastoral e às
condições subjetivas das pessoas, assim também deve-se dar mais atenção às condições interiores do homem ou
socorrer ao trabalho analítico da psicologia em vista da evangelização do evangelho e da distribuição das graças
Divinas.
117
Cf. Echavarría. Psicologia e Psicoterapia cristã. (2018), p. 25-29.
118 Podemos pressupor saber o que é um “psiquiatra”? Num “Dicionário de Psicologia”, em 3 volumes, de mais que
5.000 títulos e 2611 colunas, de 300 autores de 22 nações, não se explica esta profissão, e “psiquiatria” é explicada
com esta única frase: ”Psiquiatria, o ramo da medicina, se ocupa com perturbações e doenças mentais.” (ARNOLD,
EYSENCK, MEILI. Lexikon der Psychologie. 3 vol. 7.ed. Freiburg i. Br.: Herder, (1971) 1991, col. 1710). A
Wikipédia informa: “Existem dezenas de abordagens e áreas de atuações distintas de psicoterapias. Diferentes
abordagens são mais eficientes com diferentes pacientes e problemas.”
119
Cf. M. CHEVARRÍA. “Personalidad y mal moral. La conexión de los vícios”, em: Espíritu LXIX (2020), n. 159,
p. 71-94.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 125

como um guia à Igreja, aos sacerdotes e sacramentos e por este caminho a Deus pelo qual a
Igreja e cada padre é grato (em baixo, p. 131).

Procuramos uma ilustração no concreto.


Cada pessoa quer, mas não apenas por querer, mas por ser feliz e, para este fim, querer uma
coisa mais que outra: cerveja, sexo, namorada, dinheiro, “nome” (fama) ... mais que Deus,
eternidade, espírito (cf. “João – o felizardo” dos Irmãos Grimm).
Na Paixão de Jesus:
É a vontade do Pai / o Filho sofre com a natureza humana / os homens conformando-se a Ele.

Eventos Ética / psicologia Caso de psiquiatria?


Jesus agonizando – Que faz a psicologia com cada um Quando uma pessoa é
Os 3 dormindo; dessas personagens? candidata para a psiquiatria?
Judas Se pergunta: por que agem assim – Será,
Soldados bravos poderia dar várias respostas quando falta livre uso da
Anas e Caiafas (inveja, falta de amor, ganhar um vontade?
dinheiro, ...) - e então? quando a alma é escrava do
Povo gritado
corpo?
Herodes curioso Se consideramos estas pessoas quando torna-se um perigo
Pilatos covarde “livres”, como de fato todos usam para os outros?120
Flagelação ainda a sua vontade livremente,
Coroação de esp. não são “casos” (clientes” para um E o que vão fazer?
Visa sacra psicólogo. Como vão corrigir / curar
Jogo e sorteando Se já são “viciadas” (alcoólatra; ela?
drogadas; aditas em pornogr. ...), aí Enfraquecer (adormecer,
ao lado dos
Pertence para cá (ética) ou para lá paralisar? ) o corpo (a vida
crucificados
(psiquiatria) ? vegetativa) por remédios até
martelando poder usar de novo a razão e
... Se encontra por todos os lados, então vontade e viver
se abre o campo dos “loucos “normalmente” – então:
normais” como os chama Lütz. Será que não perguntam o
“por que” chegou a tal ponto
e “para que” irá viver no
futuro?

Com isto se vê a ligação dos diversos pontos e vista em relação a mesma pessoa humana. Mas
também se vê as diversas dimensões do homem, ser um “animal” dotado com “racionalidade”,
ser um ser social e uma pessoa religiosa. O homem é uma pessoa essencialmente perfeita, que,
porém, deve crescer física e espiritualmente, ajudado por fora, por outros e o ambiente, mas
também tomar suas próprias decisões. Alguns colocam nestas palavras: O homem é
potencialmente um anjo e um animal, um santo e um diabo. E cabe a cada um de se desenvolver,
crescer e amadurecer, ser atento a tudo que recebe no seu “caminho” e aproveitando cada hora e
oportunidade. Cada um constrói sua eternidade, uma vida em plena felicidade ou desesperado
sofrimento.

120
Lembramos da comparação de uma clínica psiquiatra com um presídio.(p. 37) ?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 126

O exemplo de “depressão”

Um “médico” deve observar e escutar muito para descobrir a causa de uma doença e poder
indicar um caminho para superá-la. O seguinte quadro quer apenas indicar em que se podia ou
até deveria pensar se estamos diante de uma pessoa com depressão. Qual podia ser a causa:

Possíveis C A U S A S
VONTADE:
“Quero ou não quero?”
Tem um ideal, uma meta? Intercessão de outros (avós)
Preguiça
Quer seu conforto? Deus julga no fim segundo
Acédia nossa decisão (Mt 25:
Tem leitura questionável v.1ss: medíocre diante Dele;
(filosofias orientais; se entrega a Depressão v.31ss: não servir ao próximo
estas? Nada vale para fazer um
esforço) Não levanta, Deus pode tirar a consolação
Não fala, temporariamente para que nós
e-ducar (guiar fora de si: pela Se fecha no quarto podemos provar nosso amor e
atração de um bem; pela No quarto escuro interesse Nele;
abstenção (restrição) até ... ............
Pensamento em suicídio Deus quer compensar o esforço,
educação recebida na família (Dobbelstein, 26) o amor, que pode mostrar com o
(problema da geração anterior; esforço agora aqui;
pais psicologicamente não
maduros; nunca foi nada
exigido, nunca nada negado) Nutrição melhor /
mais variada
sociedade materialista com
- exigências demais aos quais o maus exemplos e
indivíduo não consegue mas companhias
corresponder (-> burnout), Instigação diabólica (hoje tão
- ou que expõe o homem tão fácil pelos questionáveis temperamento melancólico /
constantemente ao barulho que contatos nas mídias: fleumático?
sua energia se esgota sem - Você também tem direitos
perceber. de descanso!
- Não seja loucos! Vou morrer em todos os
sociedade ideologizada - Você não quer trabalhar e casos, por que não já?
(“Fiquem em casa” = mortos, fazer-se escravos de outros;
sem própria iniciativa... - Nada vale nada, não se
– “nós cuidamos de vos, esforça por nada;
mandamos comida, dinheiro”, - Não vale a pena
Mas vos sois mais nada ...” - ....

E agora, o que fazer?


Há duas opções: Ou, se tem tempo para lhe escutar e ele está disposto a falar;
ou: orientar e motivar, animar e assim acelerar seu movimento (vida).
Mas será que tem efeito?

Prof. Jean Lauand fez um artigo sobre “O pecado capital da Acídia na Análise de Tomás de
Aquino”, comemorando 100 anos do nascimento de Josef Pieper que Lauand chama “meu
mestre” e “sem dúvida um dos mais destacados filósofos do século XX e tratou genialmente do
tema que nos ocupa” (cf. nota 26). Neste trabalho cita o Livro do desassossego de Fernando
Pessoa que “com incomparável lucidez... diagnostica em seus múltiplos aspectos esse tédio” e
Psicologia e vida espiritual - 2022, 127

“ressalta precisamente que o problema não está no trabalho nem no repouso, mas no centro do
eu: “.... estou cansado, não da obra ou do repouso, mas de mim”121. Que surpreende é que a
Igreja no Catecismo refere somente a esta causa:

Outra tentação, cuja porta é aberta pela presunção, é a acídia (chamada também "preguiça").
Os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão
devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração.
"O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mt 26,41).
Quanto mais alto se sobe, tanto maior a queda.
O desânimo doloroso é o inverso da presunção. Quem é humilde não se surpreende com sua
miséria. Passa então a ter mais confiança, a perseverar na constância. (Cat 2733)

Hoje há muitos estudos sobre este fenômeno que tornou-se a “doença do nosso tempo”. Ainda
deve-se considerar que cada doente tem sua história própria e sua causa particular. Mas a atenção
a acídia não é nova.
Campoe sistematizou as considerações dos padres no deserto e suas recomendações com o título
“A Terapêutica da Acédia”122
1- A virtude da paciência (Lc 21, 19)
2- A esperança (Sl 41, 6)
3- O arrependimento, o luto e a compulsão (Sl 6, 7)
4- Memória da morte (1 Cor 15, 31)
5- Medo de Deus (Clímaco: Nada é tão eficaz)
6- Trabalho manual (1 Ts 4,11)
7- A oração (Salmodia)
Echavarria elogiou o que Santo Tomás tratou sobre esse tema na Suma teológica, sobre a tristeza
(ST p. I-II, qq. 35-39, em 25 artigos!): a tristeza com suas várias causas, manifestações e efeitos,
a ânsia e preguiça, a inveja e angústia; Tomás dá especial atenção à acídia, “a quarta forma de
tristeza” (p. 520), a “enfermidade da cultura ocidental” (seg. Echavarría, p. 537; a depressão, p.
541-549). Echavarría trata esta parte do ponto de vista antropológico: o que se passa no homem
quando não age conforme a ordem objetiva dos valores? Quais são os motivos que o deixam
escolher metas secundárias como se fossem a primeira? É surpreendente como, à luz da
integridade da natureza do homem segundo Tomás e o Cristianismo, as distorções e os desvios
do “fim último” tornam-se evidentes. Echavarría explica: “todas as paixões são ‘hilemórficas’, e,
portanto, têm um aspecto orgânico” (p. 518). “Para explicar isso, Santo Tomás apresenta sua
interessante teoria das relações psicossomáticas: as manifestações corporais das paixões são
proporcionadas aos movimentos afetivos interiores” (p. 552). “Santo Tomás ... distingue essa
desordem de outras formas de tristeza ... soube reconduzir todos os sintomas e efeitos que os
Padres atribuíram à acídia ao seu princípio e à sua causa. De tal maneira, sem descuidar da
descrição deste mal, ele o tornou mais inteligível, a ponto de sua contribuição poder bem
considerar-se como perene.” (p. 541)
Esta base filosófica torna-se decisiva quando Santo Tomás trata dos “remédios contra a tristeza”
(ST p. I-II, q. 38). É belo de ler o que Lauand escreve a respeito: “O que Tomás, sim, afirma é o
homem total, com a intrínseca união espírito-matéria, pois a alma, para o Aquinate é forma,
ordenada para a intrínseca união com a matéria. ... em relação ao nosso tema, a tristeza, os
remédios para a tristeza, que reside na alma Tomás ... chega a recomendar banho e sono como
remédios contra a tristeza! Pois, diz o Aquinate, tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a
seu devido estado, tudo aquilo que causa prazer é remédio contra a tristeza. Tomás destrói assim

121 Cf. DOBBELSTEIN, p. 14s, p. 17; cf. em cima, nota 30.


122 Cf. CAMPOE, p. 57-61. Cf. M. Echavarría, “Acedia y Transtornos psicológicos por falta de Amor” (p. 80-83) no
seu artigo: “Acedia y Personalidad”, em AA.VV. Antropologia Cristiana y Ciencias de la Salud Mental. Barcelona,
2021, 73-85.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 128

a objeção ‘espiritualista’. “Sentir a devida disposição do corpo causa prazer e, portanto, mitiga a
tristeza.’ (I, 38, 5 ad 1). De resto, para os remédios contra a tristeza, Tomás não fala de Deus
nem de Satã, mas sim recomenda: qualquer tipo de prazer, a solidariedade dos amigos, a
contemplação da verdade, banho e sono.” (cf. ainda q. 32, a. 8 ad 2)

Lauand transcreveu então no seu artigo um breve trabalho de Pieper sobre “Psicose Maníaco-
Depressiva” existencial que hoje se chama “transtorno bipolar”.
Como sempre, Pieper analisou e pensou o que Santo Tomás disse sobre o tema, e resumindo aqui
as duas fontes, se explica esse fato simplesmente assim:
“A criatura é dúplice em sua estrutura fundamental: por um lado, participa do Ser (e da verdade,
da bondade, da beleza ...) de Deus; mas por outro lado, é treva, enquanto procede do nada.”
Então, a primeira dimensão causa alegria, a segunda tristeza.
Essa estrutura dúplice projeta-se num apelo contraditório ao homem... daí a ‘normalidade’ ... do
transtorno bipolar. A gravidade dessa ‘patológica’ normalidade ... passa, na verdade,
despercebida para a imensa maioria, que não se dá conta de nenhum dos dois pólos [sic!] do
transtorno, situando-se numa morna mediocridade ... a ‘tranquilidade’ do anestesiado, que só se
inquieta para reagir quando algo ameaça romper a segura redoma em que instalou seu pequeno
mundo.”
Então “o pólo positivo do transtorno bipolar ... é uma questão de saber ver” (quer dizer de
conscientizar que todas as coisas revelam ideias de Deus e nos permitem entender deus mehor e
crescer no agradecer, amar e lovó-lO).
E “o pólo negativo do transtorno bipolar” corresponde à bem-aventurança dos que choram .. pois
a criatura, enquanto procede do nada, de per si é treva.
Conclusão: ”Quanto mais scientia, maior a depressão: porque se constata quão deficientes são as
coisas do mundo.”
Pieper ainda cita a surpreende palavra de santo Tomás, comentando o evangelho quando os
Gerasenos mandaram Jesus embora: “a mediocridade não suporta a grandeza da sabedoria” (In
Mt 8,34).
Então, a depressão tem sua base no fundo da nossa existência, mas está dormindo enquanto não
somos confrontados com dificuldades. A reflexão, meditação sobre a dimensão espiritual da
realidade (a participação nos pensamentos de Deus) abriria a mente e daria acesso a alegria de
existir.
Do outro lado, torna-se mais compreensível porque a depressão é tão frequente hoje: a razão
mais profunda se encontra nas correntes filosóficas que negam a dimensão espiritual e tornaram-
se o fundamento de tantos sistemas psicológicas, especialmente a “filosofia do desespero
orgulhoso” como foi chamado o existencialismo (cf. em cima, p. 21).

Echavarría iniciou por isso com muita razão seu estudo sobre a “Práxis da Psicologia” pela
“Filosofia da História da Práxis da Psicologia” (p. 35-111), e nós entendemos, agora, espero, um
pouco mais a nossa pergunta principal: “Psicologia ou Filosofia e Teologia”.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 129

Diferença entre Confissão e psicoterapia

Antes de terminar com esta indicação e forte recomendação de colaboração entre os psicólogos e
os padres, seja apresentado uma competente descrição da diferença entre Confissão e
psicoterapia, ou a meta do confessor e a do psicólogo que um padre e psicólogo, na boa base de
experiência formulou, mesmo que também confessou: “todos os grandes mestres da vida
espiritual foram, em todos os tempos, óptimos psicólogos”123; ou, como diz um outro autor,
“nos textos patrísticos, os Padres são correntemente chamados ‘médicos’.”124

Referência125 No sacramento da Confissão Na psicoterapia


Objeto Pecados deste a última confissão; Toda a vida, bom e mal, passado presente,
realidade como desejos e sonhos ...
O sac. olha ao sobrenatural, O psicoterapeúta se move no nivel natural.
vontade de Deus, a graça, ...
O penitente se acusa dos seus O neurótico se dispõe à pesquisa,
pecados colabora com a descoberta do
inconsciente;
Se interessa do mal e do bem (planos,
sonhos, experiências de todo o tipo...)!
Então a “matéria” é muito mais ampla!
Função O sacerdote é juiz sobre a O médico não é juiz, nem tem essa autoridade;
moralidade das ações apenas analiza os processos psicológicos, as
relações existenciais a si mesmo e ao mundo
para compreender a essência e o sentido da
neurose.
O essencial ou a absolvição por poder superior O psicoterapeuto não pode nem deve perdoar
a “forma” é recebido do sacramento da Ordem pecados;
– eficiente independente da O efeito do seu agir não só não alcança sempre
“qualidade” do sacerdote o seu efeito, mas também depende muito de sua
personalidade; tenta discernir sentidos de culpa
autênticos de falsos.
Meta/ o fim é a santidade; o perdão O psicoterapeuta quer alcançar uma mudança
sacramental causa uma mudança profunda psicológica.
no penitente – pela graça, que se Tem grande perigo de terminar no Ego - sem
pode ou não perceber Deus e o mundo!
psicologicamente. É
transcendental, união c/Deus no
céu.
Manifestação O penitente sente normalmente um A libertação do neurótico da angústia e de
grande alívio e nova coragem, que doentinos sentidos de culpa é meta da
porém não é finalidade do psicoterapia – não a última, mas sempre
sacramento; por isso, não se deve necessária e desejada.
dar demasiada atençaõ a isto.
Satisfação (= penitência) é um elemento da O psicoterapeuto nunca dá uma penitência.
confissão.
Para quem? Aqueles que receberam o dom da Qualquer pessoa.
fé.

Esta separação clara entre o Psicoterapeuta e o Sacerdote (pastor de alma) significa:


1º Um psicoterapeuta é sempre médico (independente do fato que tem tantos psicoterapeutas
não-médicos). Ele precisa uma sólida formação de médico e psiquiatra seja para o diagnóstico

123 Cf. TORELLÒ, p. 195-197 e 199; cf. p. 182-188 e 191-194; Sobre a Confissão, cf. em cima, p. 28, 31, 39.
124 CAMPOE, p. 3.
125 TORELLÒ, 182-184.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 130

seja para o acompanhamento do paciente.


O Pastor de almas não possui esta tarefa, nem compete a ele no sentido próprio. Só é
médico no sentido análogo pois procura de alargar e aprofundar as relações a Deus, a
Cristo e Seu Corpo, seja de homens com saúde ou de homens doentes.
2º O psicoterapeuta se move sempre só no nível natural e tudo que procura fazer é conduzir o
homem à liberdade, paz interior, e união de vida e harmonia com os outros.
O Pastor de almas deve dar atenção ao sobrenatural, à Vontade de DEUS pela pessoa, a
ação da graça que se podem manifestar seja pela saúde, seja pelo sofrimento e mal-estar
(Vossos caminhos não são os meus, Is 55,8) Sua meta é a santidade, a plenitude da
caridade e não o bem-estar pessoal!)
3º Diante da culpa moral – a função do psicoterapeuta é distinguir entre sentimentos doentinhos
de culpa dos autênticos – sem jamais levantar-se como juiz, nem para condenar ou libertar.
O Pastor das almas vai muito além disso: Ele anima a pessoa de procurar a união com
Cristo e a plenitude da vida cristã, examina e orienta devidamente. – Se ele é sacerdote,
entra aqui o sacramento do perdão.
4º Também o não-crente pode-se dirigir ao terapeuta, e vai ter efeito.
Ao pastor de almas se confia apenas aquele que já possui o dom da fé e procura ajuda
para atualizar o olhar ao Reino de Deus.

A semelhante conclusão chega-se depois da leitura dos padres do deserto:


Um psicoterapeuta cristão não precisa tornar-se um pregador e deve exercer sua função
no respeito absoluto da liberdade daquele que ele cuida. Ele deve, portanto, relatar aquilo
que ele pensa ser a fonte de suas perturbações e o meio de curá-las. Indicar a alguém a
boa direção não seria força-la a tomar este caminho.
O papel do terapeuta não deve somente ser ajudar a uma tomada da consciência do
conteúdo do inconsciente. ... O espiritual, mais que uma ‘parte’ do homem, é uma
dimensão desta. ... Segundo isto, todo estado ou toda atividade de nosso psiquismo ou de
nosso corpo, quando são considerados em relação a Deus – ou do ponto de vista de nossa
relação a Deus -, adquirem uma dimensão e uma qualidade espirituais.126

Vale sublinhar a importância para o homem de não precisar andar sozinho na sua vida, ou qual
dom é de ter alguém com que pode compartilhar sua vida toda, interior e exterior. Que isto não
precisa ser um psicólogo como vimos na tradição secular.
Esta observação é feita por todos os que tratam sobre o caminhar do homem.

Enquanto no início parecia que a Filosofia dispensará a Psicologia, vemos agora no fim, que toda
a vida é psicológica, a vida natural e sobrenatural, a vida humana se realiza sempre diante de
Deus e com Ele, pois é vida religiosa e com o fim eterno.
Quando se volta a relacionar o homem e sua vida com Deus, se fala de novo de “pecado”; então
muitas páginas ou até livros de psicologia pode-se suspender.
Por fim, a psicologia se manifesta auxiliadora da pastoral para homens que exigem mais tempo
devido de bloqueios comportamentais. Nestes casos, dedicando mais tempo, a descoberta
psicológica é como um guia à Igreja, aos sacerdotes e sacramentos e por este caminho a Deus
pelo qual a Igreja e cada padre é grato.127

Aqui também vale: É difícil ir sozinho, e ir juntos ou em dois se faz “milagres”. Assim seja.

126 CAMPOE, p. 89-90; cf. p. 93-94.


127 Cf. DOBBELSTEIN. Psiquiatria para sacerdotes. Passim.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 131

Apêndice I:
Critérios de Discernimento128

De espíritos bons / positivos de espíritos maus / negativos

1. intelectuais:
Verdade - não contra a revelação Falsidade - mentiroso, envolvido em outras
ver., engano
Gravidade / Sinceridade - não sobre coisas Curiosidade - interessar-se de coisas
inúteis, infrutuosas inúteis, perder tempo
Luz - leva à claridade e não ao escuro, Angústia, Inquietação, Agitação,
insegurança Perturbação, - tenebroso
Docilidade - capaz ser corrigido (obediência, Teimoso - obstinação
submissão)
Discrição - ser prudente, reto, equilibrado, Indiscrição, espirito agitado, falta de
edificante, com paz, sem precipitação e concentração no seu dever
exagero
Humildade - pensar baixo de si mesmo, poder Soberba e vaidade
calar, ficar com segredos

2. de vontade:
paz - nunca cria confusão humildade falsa
confiança em DEUS - nasce da humildade Desespero, falta de confiança, ou f . de
segurança - ou: Segurança vã e otimismo
irracional
Vontade dócil e prontidão, obediência Desobediência, Dureza de coração
Intenção reta - só a glória de DEUS, sua Impaciência no trabalho e nos sofrimentos
Vontade, sem interesse próprio
= paciente nos sofrimentos
Abnegação de si mesmo - mortificação com Paixões descontroladas e inclinação forte
paciência e equilíbrio p/ a sensualidade
Sinceridade, veracidade e simplicidade na Hipocrisia, Simulação, Engano
conduta
Liberdade de espírito - não ligado Apego às coisas terrestres
Ânsia de imitar CRISTO Falta de devoção a JESUS e MARIA
Amor desinteressado Fanatismo (farisaísmo estreito)

Se pode distinguir pecados de


- "boa vontade" ( = por ignorância, por fragilidade) e
- "má vontade" ( = por frieza e indiferença, = pec. habituais!) que facilmente levam à obstinação
e malícia (blasfêmia, ataque da religião, apostasia e resistência à conversão).

128 Cf. S. INÁCIO DE LOYOLA, Exercícios, nn.313-370. “Physical stigmatization is medically speaking not a
miracle.” (DOBBELSTEIN, p. 37s.)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 132

Apêndice II: Sensibilidade - ou: Suscetibilidade

Sensibilidade - pode ser um sinal de circunspeção – de prudência


- pode ser amor como uma mãe vive no filho e esposo e percebe que passam;
é o amor atento, desprendido de si, disponível, forte, “oblativo” (Dom João
B. de Faria, Coração sacerdotal, p.16-22)
- pode ser suscetibilidade – aí egocentrismo, falta de confrontação com o mundo e
renunciar a si mesmo em favor do próximo:
“Quem busca a si mesmo não encontra ninguém, pois não sai de si
e, por isso, frustra-se permanentemente na sua busca” (Ibid., p. 19).

A suscetibilidade não é uma doença mas antes uma fraqueza de vontade devido de uma falha na
educação (e pedagogia).

S. João Paulo II escreveu uns quase 30 anos atrás (Pastores dabo Vobis, 48.4):
“Numa cultura que, com renovadas e cada vez mais subtis formas de auto justificação, se arrisca
a perder fatalmente o ‘sentido do pecado’, e, em consequência, a alegria consoladora do pedido de
perdão (cf. Sal 51, 14) e do encontro com Deus ‘rico de misericórdia’ (Ef 2, 4),
urge educar os futuros presbíteros para a virtude da penitência, que é sapientemente alimentada
pela Igreja nas suas celebrações e nos tempos do ano litúrgico e que encontra a sua plenitude no
sacramento da Reconciliação.
Daqui brotam
- o sentido da ascese e
da disciplina interior,
- o espírito de sacrifício e
de renúncia,
- a aceitação da fadiga e
da cruz.
Trata-se de elementos da vida espiritual que muitas vezes se revelam particularmente árduos para
tantos candidatos ao sacerdócio
- criados em condições relativamente cómodas e abastadas e por isso
- tornados menos dispostos e sensíveis a estes mesmos elementos
pelos modelos de comportamento e
pelos ideais veiculados pelos meios de comunicação social,
mesmo nos países onde as condições de vida são mais limitadas e
a situação juvenil se apresenta mais austera.
Por isso, mas sobretudo para realizar,
segundo o exemplo de Cristo Bom Pastor,
a ‘radical entrega da si mesmo’, própria dos sacerdotes, os Padres sinodais escreveram:
‘É necessário inculcar
o sentido da cruz que está no coração do mistério pascal.
Graças a esta identificação com Cristo crucificado, enquanto servo,
o mundo pode reencontrar
o valor da austeridade,
da dor e mesmo
do martírio,
no interior da atual cultura
embebida de secularismo,
de avidez e
de hedonismo’ (Propositio 23).”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 133

No tratado sobre a felicidade ou bem-aventurança na Suma Teológica (I-II, qq. 1-5), Sto. Tomás
pergunta
1º pelo fim - - pois sempre temos um fim em vista, mesmo no pecado (seja no dormir ou comer
ou ler). Procura-se um prazer, e este está ou em mim ou fora de mim.
2º A felicidade ou bem-aventurança é o que?
“Moleza” – seria um parar no que é cômodo e é comigo.
Aí vale que para Santo Tómas é “manifesta”: “é evidente que o amor desordenado de si é a causa
de todo pecado”129.

Pensando, depois destes poucos pensamentos,


será que atrás da sensibilidade doentia, manifesta na incapacidade de aceitar a cruz e enfrentar
dificuldades, não é simplesmente a uma falha de disciplina de vontade,
causada por falta do conhecimento de uma meta maior que tiraria a pessoa fora de si e acima de
suas forças atuais (por ex. quando em casa não tem mais possibilidades de ajudar, como antes
nos campos -, e quando nas escolas não se pode mais reprovar ninguém, logo dos jovens não é
mais exigido de alcançar um bem maior e de crescer além do que já são).
Logo, para ajuda-los seria propício de confrontar com dificuldades e suas limitações e nestas,
acompanhados pelo professor, formador ou educador, encorajar (e exigir) a virtude da fortaleza
para superar a moleza e autocompaixão.

Também, deve-se levar em consideração que a graça deve aperfeiçoar a natureza.


Então, a graça sobrenatural da vocação deve-se manifestar a força de dominar a natureza. Isto
vale para toda a vida porque Deus tem um plano com todos, este é uma vocação. E para seguir
ela, é necessária uma devida disposição – ou saúde espiritual.130

129 ST, p. I-II, q. 77, a. 4: cf. q. 74, aa. 3-4; cf. em cima, nota 30.
130 Conrad BAARS explica como uma vida celibatária é também necessário antes do casamento, pois sem esta
poderia se pensar de não estar livre para casar. Ou, ao contrário, como São Paulo VI anotou na encíclica sobre o
Celibato: A natureza pode ser tão arruinada que a graça não consegue concertá-la: “Não se deve pretender que a graça
supra o que falta à natureza.” Em outras palavras: Pode ser que a “natureza” é tão ferida que não suportará mais uma
exigência extraordinária que é a vida consagrada de continência total ou a vida sacerdotal celibatária.
(Cf. Paulo VI. Sacerdotalis coelibatus - Sobre o celibato. (24-VI-1967), nn. 51ss:
(51) A Igreja, por outro lado, não pode nem deve ignorar que a escolha do celibato é obra da graça,
quando é feita com prudência humana e cristã e com responsabilidade.
Mas a graça não destrói nem violenta a natureza: eleva-a e dá-lhe capacidade e vigor sobrenatural. ... (53) Não é justo
repetir ainda (cf. n.10) que o celibato vai contra a natureza, por se opor a legítimas exigências físicas, psicológicas e
afetivas, cuja satisfação seria necessária para a completa realização e maturidade da pessoa humana.
O homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27), não é somente carne, e o instinto sexual não é tudo
nele.
O homem é também e sobretudo inteligência, vontade, liberdade e, graças a estas faculdades, é e deve ter-se como
superior ao universo: elas tornam-no senhor dos próprios apetites físicos, psicológicos e afetivos.
(55) O celibato, elevando integralmente o homem, contribui efetivamente para a sua perfeição. ... (64) Uma vida tão
inteira e amavelmente dedicada, no interior e no exterior, como a do sacerdote celibatário, exclui, de fato, candidatos
com insuficiente equilíbrio psicofísico e moral. Não se deve pretender que a graça supra o que falta à natureza.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 134

Apêndice III: Escrever – com caneta – por motivos psicológicos?

O homem é alma e corpo, como espírito refletivo e com lembranças, é um ser e agir
(manualmente),
E esta observação é feita segundo uma certa orientação psicológica – ou pelo bom senso?131

Escreve Amedeo Cencini:


“Lo scrivere la lectio diventa esercizio tra i più salutari”132, pois
“nel normale apprendimento umano, non basta saper leggere, occorre anche saper scrivere.
Perché non basta leggere? Perché è proprio lo scrivere – in generale – che
aiuta a prendere coscienza dell’esperienza fatta, qualsiasi essa sai, anche quella intellettuale-
spirituale com’è la lectio,
a elaborala e
valorizzarla,
a concretizzarla e
personalizzarla,
a comprenderne meglio il senso oggettivo e soggettivo,
a coinvolgersi in esso,
a tornare sul già scritto per arricchirlo o correggerlo o approfondirlo, senza rischiare di
dimenticarlo, a trattenerne il valore,
a dare un tocco di definitività alla propria riflessione,
ad assumersi in qualche modo la responsabilità della riflessione,
ma soprattutto della vita,
a fare in modo che quell’esperienza diventi sapienza, ovvero che
l’illuminazione d’un momento no sparisca, ma
divenga parte, anche modificandolo, del proprio pensare e leggere la storia, del percepire gli altri
e interpretare la relazione, parte della propria identità, in modo stabile e definitivo.
Quante ispirazioni abbiamo perso o sono rimaste solo esperienza d’un momento senza diventare
sapienza, anche perché non abbiamo avuto l’umiltà e la pazienza si sottoporle ala complessa
elaborazione dello scritto.
Sì, perché scrivere è la più alta forma del pensare; ...
Per molti ‘scrivere è necessario per pensare.
Il fatto di scrivere obbliga ad esprimere ciò che si cela dentro di noi. Chi permette di fare il punto,
di orientarci’ (Guitton).”
In ogni caso lo scrivere chiama a raccolta tutte le risorse intellettuali ed emotive, /30-31/ tutti
l’essere pensante e amante, dunque obbliga a (e consente di) pensare di più e meglio.
A pescare più profondamente nel cuore e nella mente,
a giungere alla conclusione della riflessione,
a scegliere alcune parole per esprimere un determinato pensiero,
a comprometterci con esse, anche se forse incapaci di dire tutto fino in fondo quel che abbiamo in
cuore.
A volte à proprio lo scrivere (o il dover scrivere) che a capire quanto abbiamo ancora le idee
confuse circa un determinato argomento, e quante volte le idee si chiariscono proprio scrivendo,
mentre il prodotto finale è molto diverso da quello inteso all’inizio!
Per questo, forse, per tutto questo travaglio interiore lo scrivere è poco amato; anche
lo scrivere la propria esperienza spirituale, o quella esperienza spirituale che è, e dovrebbe essere,
la meditazione quotidiana della Parola.” (Cencini, p. 29-31).

131
Cf. W. HILSBECHER. Schreiben als Therapie (escrever com terapia), Stuttgart: Klett Verlag.
132 “Chi non sa scrivere non solo non sa leggere, ma mostra d’aver capito poco di quel che in qualche modo ha letto.”
(A. CENCINI. La vita al ritmo della Parola: Come lasciarsi plasmare dalla Scrittura. Cinisello Balsamo: Edizioni San
Paolo, 2008, p. 37; cf. “Lectio scripta”, p. 29-38).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 135

“Scrivere la lectio è chiudere il circolo ispirativo o ermeneutico, al cui inizio c’è la Scrittura opera
dello Spirito di Dio, che prosegue con l’ascolto o la lettura d’essa da parte del credente e che
termina ora ancora con una scrittura, con la quale lo stesso credente fa suo il verbo delle Scritture
sante, calandolo nella propria esistenza, quasi a purificarla e vivificarla, o immerge la propria
esistenza in quella parola (come intingesse la propria vita nell’inchiostro della Parola). Ed è bello
pensare che lo Spirito, che ha ispirato l’autore sacro, è il medesimo Spirito che ispira e illumina il
lettore a comprendere il brano biblico e infine ispira e tocca cuore e mente del lettore-scrittore a
scrivere il proprio testo, partendo sempre del testo sacro.
È certa una cosa: lo scrivere la lectio è un’espressione ulteriore di coscienziosità, di quanto il
credente prenda sul serio questo appuntamento quotidiano mattutino con la Parola, e cerchi ora,
fissandolo sulla carta, di non perderne il senso, l’illuminazione, la novità.” (Cencini, 31-32)
“Gratry dice che si dovrebbe meditare ‘sempre con la penna in mano’ (em: A.-D. Sertillanges.
A vida intelectual). È indicazione tanto símplice quanto saggio; natural-mente rivolta ai semplici
e umili, non agli ‘intelligenti e sapienti’, che non hanno bisogno di questi suggerimenti.” (Cencini,
p. 32).
Cencini continua e afirma:
“Scrivendo in vario modo la lectio, tra l’altro, si aiuta enormemente la lectio medesima, nel senso
che
- non si corre il rischio di dimenticarla,
- di scordare (= staccare dal cuore) durante il giorno la Parola-del-giorno,
- di perdere nel tempo le ispirazioni e le luci ricevute durante la meditazione; magari
- lo scrivere la lectio può aiutare la preghiera della sera, particolarmente nel momento della
verifica, e ‘solleva e libera dal peso del senso dell’inesprimibile e dell’ineffabile’, che a volte
diventa anche alibi, comoda scusante che dispensa dalla fatica di dire in parole semplici la
ricchezza della Parola.
In tal senso lo scrivere la lectio diventa esercizio tra i più salutari ...” (36-37).
“Chi non sa scrivere non solo non sa leggere, ma
mostra d’aver capito poco di quel che in qualche modo ha letto.” (Cencini, p. 37)

E do outro lado, Cencini se refere a pessoas que dizem de não poder traduzir em palavras humanas
o que meditaram. A este respeito, diz:
“s’illude forse d’essere un mistico che ha visto l’indicibile (e teme che la parola umana
rovinerebbe la bellezza di quel che ha visto-sentito), ma in realtà, se non trova parole umane
per comunicare l’esperienza, dimostra di non esser mai entrato in contatto con la Parola di
Dio” (Ibid., p. 37-38).

A alma deve educar-se para algumas anotações no final, porque isso a mostra mais claramente
quão bem fez a meditação.133
Sertillanges, indicado por Cencini, dá muitas razões para justificar “escrever ao longo de toda a
vda intelectual”:

133 Anota Lercaro: “Inácio não menciona nada no retiro sobre registros escritos após a meditação. Em contraste,
alguns dos seus discípulos imediatos, como o Pe. Peter Le Fèvre, Pe. Natal e Francisco de Bórgia, tinham o hábito de
escrever as iluminações e conhecimentos que eles receberam, e as resoluções que fizeram quando meditaram. Como
são graças divinas, anotá-las significa que se considera devidamente com respeito. Além disso, anotá-la é a maneira
mais segura de memorizá-la e esclarecê-la ainda mais. Os escritos mantêm sua eficácia, quando os lemos novamente,
sentimos seus bons efeitos.
Pe. Meschler não hesita em afirmar que, se você parar de escrever o que aconteceu enquanto o medita, isso pode ser
um sinal do início da mornidão, do relaxação e indiferença (ver M. MESCHLER , O Livro de Exercícios Espirituais
de Santo Inácio de Loyola). Em todos os casos, parece-nos bom atender também nisto à advertência de Santo Inácio:
usar os meios que servem para alcançar a meta. De fato, também pode acontecer que a preocupação excessiva consigo
mesmo prejudique o Espírito.” (Cardeal Giacomo LERCARO. Wege zum betrachtenden Gebet. Freiburg i. Br.:
Herder, 1959, p. 90-91).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 136

“Escreve-se
primeiramente para si,
para enxergar claramente sua situação,
determinar melhor seus pensamentos,
manter e reavivar a atenção que logo esmorece se a ação não se impuser a ela,
para desencadear as pequisas cuja necessidade é sucitada durante a produção,
para animar o esforço que se cansaria se não constatasse nunca algum resultado visível, finalmente
para modelar seu estilo e adquirir esse valor que complementa todos os demais: a arte do
escritor.”134

“Assim, aproveitando-nos da experiência,


- deveremos, na reflexão meditativa, quando não vier a inspiração, recorrer a leituras
especialmente apropriadas ao nosso objetivo,
- deveremos manter nossa atenção através de palavras pronunciadas em voz alta, o que, // como
vimos, é um meio seguro de violentar nossas representações e obrigá-las obedecer-nos.
- Deveremos mesmo escrever nossas meditações, em suma, usar, para dirigir à vontade nossas
representações, da precedência que têm sobre elas os estados presentes, e principalmente aqueles
que recomendamos (palavras pronunciadas, a escrita, etc.).
É assim que poderemos retirar da consciência os principais obstáculos à reflexão, a saber, a
lembrança dos prazeres sensíveis e as distrações da imaginação, e nela implantar as tramas das
ideias que quisermos.”135
“Anotações são para o trabalhador um poderoso alívio.”136

Tendo ouvido estas autoridades, é tempo de refletir e tomar posição:


1º Quem não tem a necessária memória, é feliz de poder-se ajudar com o lápis (caneta) e o papel.
2º A experiência ensina o seguinte:
- Se não anoto um ponto que me vem na meditação, preciso ou quero me esforçar de lembrar este
ponto, e para isso me concentro mais nele – e, em consequência, a meditação fica parada nisto e
não avança para outros pontos ou ideias.
- Outros – e são muitos - confessam que ficam tão facilmente distraídos.
- Ainda há outros que confessam, com certa vergonha, que facilmente caem no sono.
- Outros ainda dizem que não tiram muitos proveitos ou frutos da meditação, por isso não fazem
progresso na vida espiritual; fazem a “meditação” segundo a regra da comunidade, mas não
percebem o que se espera dessa prática.
3º Com tempo se segue, sem grande reflexão, os passos do método. Porém, para não cair no
autoengano ou ser mal-entendido, deve-se dizer, que dos seguintes pontos não podem-se dispensar,
se querem esperar frutos:
- ter um tema preparado;
- perseverar no tempo previsto; e
- escolher o lugar propício.
Para defender-se das distrações ajuda logo no início de segurar no papel não tanto por frases ou
palavras (também é possível, para se concentrar no tema, mas principalmente) que por desenhos
simbólico, gráfico – nada artístico!, apenas para concentrar-se no tema:
Indicar algo sobre o lugar – símbolos das pessoas e movimentos com linhas.
E depois, concentrado – através dessas indicações – ao tema, e talvez ainda se ajudando com estas
palavras ou observações: Quem ... / ... / .... está fazendo o que? Está falando o que?
Reage ... – por que? - Onde me encontro no meio disso?

134 A.-D. SERTILLANGES. A vida intelectual. São Paulo: Realizações Editora, 2014, cap. VIII.I: Escrever, p. 157.
135 Jules PAYOT. A Educação da Vontade. (1894). Campinas: Kírion, 2018, p. 126s.
136 Id. O Trabalho intelectual e a Vontade. Campinas: Kírion, 2020, p. 196.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 137

Abrindo o livro das Cartas de Santa Madre Teresa de Calcutá,


O primeiro texto que me caiu aos olhos era este do cap. 9, correspondente à nota 45 (engl. p. 197):
“May I ask you to do just one thing for me. – Please put on paper all the things you tell me–-so
that I can read it over (Por favor, escreva no papel tudo que me quer dizer, assim posso le-lo). –
Write as I wrote-to Jesus—& you need not sign either. I think it will help me—but if you think He
won’t like it—don’t do it. I know you pray for me.” (to Father Picachy, October 27, 1959).

Um testemunho importante sobre a importância de escrever de novo á mão dá este senhor.

Rodrigo GURGEL, De Volta ao papel e às Canetas Tinteiro (14 de Set. 2016)


Tenho a mania terrível de ir na contramão do meu tempo. Na verdade, não é terrível, mas salutar.
Há formas de pensar, valores, livros, comportamentos, hábitos que, hoje, começam a ser
esquecidos, mas não perderam sua importância. Podem inclusive estar completamente esquecidos
por alguns, mas continuam emitindo sinais inquestionáveis de que, se recuperados, têm o poder de
melhorar nossa vida.
Sou um aficionado da tecnologia. Um novo software — que esteja ligado, de alguma forma, à
escrita ou à leitura — sempre me atrai. E, graças à tecnologia, meu trabalho se tornou, nos últimos
anos, menos cansativo, pois pude suprimir etapas que me faziam perder tempo — como copiar,
para um arquivo Word, as anotações com que sempre preencho os livros que leio. Leitores de e-
books tornaram-se não só úteis, mas indispensáveis.
Entretanto, a onipresença do teclado me incomodava. O distanciamento de uma forma de escrita
que me obrigasse a desenhar as palavras pareceu-me, a partir de certo momento, uma perda estética
— ainda mais para mim, que sempre apreciei as canetas-tinteiro, a textura dos diferentes papéis, o
odor e as cores das tintas. Havia uma perda sensorial que me perturbava.
O que era uma impressão vaga, desconforto impreciso, ganhou corpo quando li o estudo de Pam
A. Mueller e Daniel M. Oppenheimer a respeito de como tomar notas em laptops resulta num
processamento mais superficial das ideias. No primeiro momento, desconfiei do estudo — não
seria mais uma conclusão apocalíptica? Depois, refletindo, comparando as conclusões dos
pesquisadores ao que tantos escritores afirmam, comecei a questionar meu julgamento: não,
concluí, voltar a escrever com canetas-tinteiro não se tratava apenas de nostalgia, ainda que esse
sentimento estivesse presente.

A única forma de descobrir os efeitos da escrita à mão seria voltar aos velhos instrumentos — e
quando decidi fazê-lo, percebi que, sim, eu desenvolvia as ideias com mais facilidade, com maior
rapidez. O texto brotava com uma celeridade que eu havia esquecido.
Pode parecer pedante, mas reutilizar a caneta-tinteiro, ver o desenho das letras no papel, alimenta
uma espécie de prazer. Tudo me parece mais real, mais vivo. Estou conectado ao meu próprio eu
de uma forma mais clara, mais intensa. A própria cadência da mão sobre o papel, desenhando os
sinais que me acompanham desde a infância, quando minha mãe ensinou-me a escrever em
pedaços de papel polvilhados de farinha, tudo me torna mais produtivo, mais próximo da minha
índole. A escrita deixou ser um ofício, ofício de que me orgulho, para ser também uma forma de
aconchego.
Estou convencido de que as canetas e o papel trouxeram-me uma conexão parcialmente perdida
entre meus pensamentos e a linguagem, a elaboração do texto. Escrever à mão talvez produza
outros tipos de sinapses. Ou talvez eu esteja apenas sonhando. Mas meus escritos, com certeza,
agora refletem melhor minha personalidade.
Estou convencido de que as canetas-tinteiro e o papel trouxeram-me uma conexão parcialmente
perdida entre meus pensamentos e a linguagem, a elaboração do texto.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 138
Psicologia e vida espiritual - 2022, 139

Apêndice IV: TESTES PSICOLÓGICOS

Se já chegamos, do ponto de vista da filosofia e teologia, a pergunta da identidade da psicologia


e sua função na ciência sobre o homem ou a antropologia, seja me permitido de perguntar
também sobre os testes que na psicologia se faz.

Me pergunto: Nos diversos TESTES PSICOLÓGICOS se olha a diversos pontos de vistas da


pessoa, e num resumo se dá uma ideia geral e pode indicar particularidades.
Porém, será que levam também em consideração a liberdade individual e esforço ascético
que a pessoa vive e talvez com empenho sério aplica?

1º Que o homem não é uma máquina que funciona segundo a lei material
Como o sangue, submetido ou exposta a certas condições, indica sua estrutura intrínseca;

2º que o homem é uma pessoa que


a) Inconscientemente pode reagir a certas condições numa maneira (aí podem tomar
influência muitas coisas que estão nele;
PORÉM SE DEVE TAMBÉM CONSIDERAR
b) Que ele é uma pessoa com livre vontade, e por isso pode ser
que ele usa pouco (ou: se deixa levar por emoção, instinto, expectativas de
outros ....);
que ele se esforça de controlar a si mesmo segundo princípios (ou morais, ou
expectativas do ambiente, ou de própria vontade
- pode ser que quer passar um exame, por isso não bebe
ou segue “a vontade de “... mas se disciplina! por isso...)
- pode ser que quer casar aquela menina e por isso,...
c) Que Deus pode entrar na vida dessa pessoa (por ela mesma procurando Ele e
pedindo, ou porque outra pessoa reza para ela, e neste caso
não devemos pensar apenas em milagres: Deus está sempre “de olho” a cada
pessoa e nada acontece a ela sem ELE saber, permitir ou até querer!

Então um teste pode indicar tendências devido de temperamento etc.,


Ou o que a pessoa podia ser – se não há nenhuma influência;
Mas como cada pessoa é um ser vivo, ela pode-se desenvolver em outras formas que naqueles
que indicaria a “lógica” normal.
Pensamos só, que Santa Rita tinha medo que seus filhos iriam vingar da morte do seu pai – o que
a ira e raiva seriam capazes, mesmo em pessoas calmas etc.

Em breve:
Influência (2) do ambiente e próximos \ / (3) de DEUS e da graça
|
Liberdade e flexibilidade da pessoa (1)

Temos tantos exemplos como a mudança do ambiente resolve tantos problemas:


- pensamos no projeto das “Fazendas da esperança” do Frei Hans – espalhados já em muitos
países: Lá se faz os jovens andar em duas pernas: trabalho e espírito religioso, ou seja, ocupação
e sentido de vida; ambiente melhor e perceber ser amado (1º por Deus, mas também pelos
homens) e longe dos perigos ou tentações. Aqui é importante de notar: Ele não começa com as
virtudes, mas oferece condições de praticá-las e assim adquirir hábitos que significam uma
defesa contar os vícios.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 140

Este exemplo sugere outra reflexão: Será que o homem só consegue sua saúde psicológica
quando vive segundo as virtudes, uma vida eticamente boa, ou somente num ambiente religioso?
As experiências no cuidado pastoral entre os prisioneiros confirma essa ideia: Se a assistência
pode oferecer o Amor de DEUS – concretamente nos sacramentos da Igreja – o presidiário
encontra motivos para assumir responsabilidade e depois ser livrado, mudar sua vida e não volta
mais para a prisão!

3º Uma terceira pergunta me vem pensando que raramente, em testes que se oferece, se
considera a diferença entre masculino e feminino (cf. em cima, p. 33).
Será a causa no fato que foi perdido a base metafísica, onde homem e mulher participam na
mesma natureza humana. Segundo uma sólida filosofia, se reconhece a mesma natureza humana
no homem e na mulher, a mesma dignidade. Na Igreja os dois são chamados a mesma santidade
pelos mesmos sacramentos – menos naquele em que se refere a uma função a cumprir: pois
sendo igual no ser, são distintos no agir desde que se fala deles, ou seja, desde o paraíso.
No paraíso se diz:
O Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe
uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22 Depois, da costela tirada do homem, o
Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. 23 E o homem exclamou:
“Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada
‘humana’ porque do homem foi tirada”. 24 Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se
unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. (Gn 2,21-24)
E ela é explicitamente chamada “auxiliador”, e diferente de todos os outros seres vivos que
circundaram o homem:
E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar
que lhe corresponda”. 19 Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais
selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como os chamaria;
cada ser vivo teria o nome que o homem lhe desse. 20 E o homem deu nome a todos os
animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas não
encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse. (Gn 2,18-20)
São iguais e diferentes, iguais segundo o ser e a natureza, diferente segundo a sua função. Assim
se lê já depois do primeiro pecado. Deus tratou os dois diferentemente
À mulher ele disse:
“(1) Multiplicarei os sofrimentos de tua gravidez.
(2) Entre dores darás à luz os filhos.
(3) Teus desejos te arrastarão para teu marido, e ele te dominará”.
17 Ao homem ele disse: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore, de
cujo fruto te proibi comer,
(1) amaldiçoado será o solo por tua causa.
(2) Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias de tua vida. 18
(3) Ele produzirá para ti espinhos e ervas daninhas, e
(4) tu comerás das ervas do campo. 19
(5) Comerás o pão com o suor do teu rosto,
(6) até voltares ao solo, do qual foste tirado [morte]. Porque tu és pó e ao pó hás
de voltar”.
20 O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os
viventes. (Gn 3,16-20)

Observando e fiel a esta ação divina São João Paulo II sempre quis aplicar o que Concílio
Vaticano II afirma (GS 48-51; e em outros documentos depois do Concílio):
Os Padres do Sínodo afirmaram repetida e veementemente, perante as mais variadas
formas de descriminação e de marginalização a que se submete a mulher pela simples
Psicologia e vida espiritual - 2022, 141

razão de ser mulher, a urgência de defender e de promover a dignidade pessoal da mulher


e, portanto, a sua igualdade com o homem. ...
A consciência de que a mulher, com os dons e as funções que lhe são próprias, tem uma
vocação específica própria cresceu e aprofundou-se no período pós — conciliar,
encontrando a sua inspiração mais original no Evangelho e na história da Igreja.... (n)a
palavra e (n)o exemplo de Jesus Cristo.

Como é possível de não considerar esta diferença, que marca toda a vida e comportamento, do
olhar e interessar-se, de falar ou calar, de irritar e aclamar, de – exatamente a área da observação
psicológica.

Sem observar essa diferença na vida ativa, campo específico da “psicologia” só se colhe
confusão. Imaginamos a conversa do seguinte casal:
Uma mãe de três filhos fala aos seu esposo:
Meu Bem, estou cansada, não poderíamos trocar, e você dá luz ao nosso próximo filho.
Talvez também conseguiremos finalmente uma filha que tanto desejas – pois, por
enquanto e mim só vieram três filhos.
Podemos pegar o caso oposto:
Ele ficou decepcionado por sempre receber apenas um filho e faz a esposa a proposta de
trocar os papeis ?
O que diria um psicólogo, quando um deles, o marido ou a esposa lhe consulta e pergunta: Será
que está tudo em ordem com esta proposta de minha mulher / do meu marido?
Psicologia e vida espiritual - 2022, 142

Apêndice V: Para amar a Deus

Ainda uma verdade cativante, uma luz para TODOS, por todos serem criaturas de Deus:
O Infinito (Deus) está à procura do homem:
A chamada universal para a união com Deus, à santidade a custo da humildade de criatura
(Indicações sobre o que ou em qual mundo se realiza a vida humana.)
É importante do ponto de vista dinâmico, COMO o homem vive, em qual mundo se realiza a
vida humana.
Sejam sinalados os seguintes pontos, com a devida hierarquia!

1º Toda a criação foi feita PARA AMAR A DEUS sobre todas as coisas
Nisto está seu destino, sua ordem, a saúde da alma do homem.

2º Virtudes – são os repetidos e sempre mais fáceis atos corretos – segundo a natureza humana
(e a Vontade de Deus) – para tornar-se uma pessoa madura – e agradar a Deus.
E como adquirí-las? – Pela educação; pela “formação do caráter”; pela disciplina constante

3º Pecados são doenças que se cura pela confissão (que inclui aconselhamento e direção espir.)
Se eles são tão firmes que se deve falar de vícios, da dependência do espírito da carne.
a) É a pergunta se o homem quer ver e enfrentar - com a ajuda de alguém para descobrir
causas
b) Se não quer, não se pode ajustar nada.

Ao 1º deve-se dizer: Deus – e com ele a religião


– não é apenas um assunto em determinados momentos e restrito a locais como a Igreja,
- mas, como o próprio Deus é o Criador universal, ele não perde nada de vista,
É presente segundo a essência – pois as coisas são segundo a sua ideia,
segundo a sua ciência – sabe de tudo e
segundo o seu poder – pode tudo (Sth p. I, q. 8, a. 3 e q. 25)
Como o sol nasce, em pela sua iluminação, chama tudo à vida, à realidade, assim
a presença de DEUS é presente a todas as criaturas.
É facil, e ainda, não pode ser pressuposto, que só com Ele e por Ele se pode viver.
Como não lembrar aqui, que a Igreja na sua liturgia reza várias vezes cada dia
“Deus, vem em meu auxílio!”
Como então não calcular com sua presença ativa na nossa vida – cotidiana !!! Será que
“Temos medo que nosso Senhor não podia resolver nossos problemas humanos?” (cf. n. 12)

Ao 2º Virtudes que regulam a vida natural, foram vistas já por Aristóteles. Este fato nos diz que
O homem – já como criatura – deve-se entender como ligado a Deus (Gen 1,26ss)
Quanto mais como cristão (batizado; 1 Cor 6,19 etc...)
E ainda, deve ser possível de apontar que como criatura e como batizado,
vale para todo o homem e em todos os momentos da vida de rezar “sem cessar” (Lc 18,1ss;
21,35) – quer dizer, de estar constantemente em contato e comunhão com Deus ...
e deve também ser uma ótima notícia de ouvir que
Deus me espera, tem sede, me procura: Jo 4,28; 19, 28 tem sede;
É ansioso em esperar nossa resposta: Lc 12,50; 15,20; Ap 22,17.

Nosso contato com Deus pertence ao comportamento correto, saudável.


É isto para o qual fomos “construídos” = criados – logo assim devemos viver.
É a normalidade esquecida !
Psicologia e vida espiritual - 2022, 143

Pela entrega ao Onipotente (e união com Ele) à onipotência


– essa torna-se minha!
Essa é a solução universal, para mim e os outros, do passado e do futuro!
Psicologia e vida espiritual - 2022, 144

Viktor Frankl (1905 – 1997) – e sua logoterapia

1º Uma luz nas trevas?


Sem dúvida, a psicologia de Viktor Frankl aparece como uma estrela no universo psicológico,
quando se é acostumado de – ainda – pensar em Freud que quer que nós consideremos os
homens apenas um ente de impulsos sexuais.
Diferente, mas com princípio semelhante é a orientação de seguir aos nossos impulsos interiores
como aconselha Carl Rogers no tempo inicial e maior de sua atividade, não, porém, segundo a
sua correção no fim de sua vida, que infelizmente não foi muito divulgada!137).
“Para J. PIAGET... Quando crescem, as crianças param de perguntar `por que isso, por que
aquilo`, pois - `explica` o educador – aprendem que a vida não tem senão o sentido que lhe
damos.”138
Semelhante a Piaget, Viktor Frankl considera o homem ao menos como um ente espiritual, que
pode pensar e refletir. Ainda, ele aponta a este problema especial do nosso tempo (seg. vários
autores) que é a pergunta pelo sentido da vida e existência. Com isto, diz Torelló, chegou o
momento da passagem da “psicologia do profundo” à “psicologia das alturas”, da “psicologia
sem alma” do século 19 à atenção ao espírito, ao logos.139 “A doutrina do ser humano deve
estar aberta para o mundo e um mundo acima; deve deixar aberto a porta ao transcendente.”140

2º O único valor absoluto


Porém, quando se escuta (ou lê) Frankl, então diminui esta estima (ou esperança). E a razão para
isto é de um lado o seu relativismo religioso, seja em relação as denominações religiosas seja até
em relação à própria fé do indivíduo, e do outro lado o abandono da pessoa a si mesma, pois
mesmo o sentido da vida não é – segundo ele, objetivo, nem dado pela natureza do homem, nem
dado de “fora”, mas é o que cada um quer ou pode dar. Isto é bem semelhante com os outros
representantes de psicologia que entregam o homem a aquilo que já é em si (emoções ou
instintos) sem referência a critérios objetivos. Mesmo para Frankl, bom e mal é aquilo que me
ajuda a conseguir dar sentido a situações e assim sobre-viver. Escreveu:
“Fazer sentido seria moralizar. E a moralidade no sentido antigo logo terá acabado. Cedo
ou tarde não iremos mais moralizar, mas ontologizar a moral - bom e mau não serão
definidos no sentido de algo que devemos ou não fazer, mas bom nos parecerá o que

137 “Carta aberta aos pais portugueses” (William Coulson); Coulson foi investigador associado de Carl Rogers.
Em conjunto escreveram 17 volumes sobre psicologia e educação humanística. Neste artigo, Coulson dedica hoje o
seu tempo a falar a católicos e protestantes sobre os efeitos nefastos das suas teorias. Na carta escreve: “Em 1983,
num dos seus livros, Carl Rogers descreveu as nossas experiências como um «padrão de fracasso». Contudo, depois
da sua morte, o editor (que publica livros para professores e alunos de ciências da educação) reeditou o livro
removendo todas as referências ao «padrão de fracasso».”
(WWW.plataforma.rn.org/2009/09/22/Carta-aberta-aos-pais-portugueses-william-coulson - acesso em 20 de outubro
de 2020)
138 L. KOLAKOWSKI, Horror metafísico. Campinas: Papirus, 1990, p. 124. Em: Clodovic BOFF, O Livro do
Sentido. São Paulo: Paulus 2014, p. 491, nota 51.
139 J. B. TORELLÓ. Psychoanalyse und Beichte [Psicoanálise e Confissão], cap 6: “A análise existencial de Frankl
e a logoterapia”, (Wien, 2005), p. 86; existe uma tradução ao portugues!); cf. M. ECHAVARRÍA. A Práxis da
Psicologia, Rio de Janeiro: Ed. CDB, 2021, p. 539-540, 614 nota 1672. “Frankl afirma que é preciso olhar a pessoa
humana não apenas debaixo (os instintos), mas também do alto (as atividades psíquicas mais elevadas), sendo preciso
considerar um eu que decide e cuja decisão dá sentido àquela vida, que normalmente o neurótico percebe como privada
de sentido.” (G. REALE; D. ANTISERI. História da Filosofia. Vol. 3. 8.ed. São Paulo, Paulus, 2007, p. 625).
140 V. FRANKL. Homo Patiens. Wien 950, p. 84.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 145

ajuda realizar o sentido dado e exigido de um ente, e consideraremos mal o que impede
tal realização de sentido. O sentido não pode ser dado, ele deve ser encontrado.”141
Em várias observações, Frankl quer ser claro a este respeito:
- V. Frankl observa “que parte das pessoas que hoje buscam um psiquiatra teriam procurado um
pastor, sacerdote ou rabino em épocas anteriores. Agora eles ... confrontam o médico com
questões como: ‘Qual é o sentido da minha vida?’.”142 – Com isto, parece ser expressado a
ausência de fé religiosa (virando as costas ao “pastor, sacerdote ou rabino”) e a inquietude e
insatisfação do homem (buscando “um psiquiatra”, e não ficando só consigo mesmo, não
contente sem fé).
- “A logoterapia não é instrução nem pregação. Ela está tão distante do raciocínio lógico como a
exortação moral.”143 - Isto já complica de falar de “sentido”, mas escutamos.
Ele esclarece:
- “O sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma hora para
outra.”144
Isto deve levar-nos a sérias perguntas... Se perguntarmos, como isto é possivel, responde pelo título
de uma outra obra sua: “A vontade para o sentido” do ano 1972.
Continua a esclarecer:
- “O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido
específico da vida de uma pessoa em dado momento. ... Não se deveria procurar um sentido
abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; ... “145.
- Tudo isto recebe ainda um esclarecimento maior quando tranquiliza os seus ouvintes com estas
palavras:
“Devo dizer: qual vida seria isto, cujo sentido será e cairá com isto que se casa e tem
filhos, planta árvores e escreve livros? Com certeza: Tudo isto são valores, valores
reais; mas eles são relativos – absoluto, ao contrário, pode ser apenas uma coisa, e
isto é o mandato de nossa consciência ...”146
Agora com este único princípio “absoluto”, “o mandato de nossa consciência”, leva e prende o
homem na sua “prisão doméstica” e com isto, ao caminho da doença psíquica em vez de
cura.147
Juntamos ainda esta referência num livro que parece que estar em muitas mãos:

141 Man before the question of meaning, p. 155. No original alemão: „Sinn geben würde auf Moralisieren
hinauslaufen. Und die Moral im alten Sinn wird bald ausgespielt haben. Über kurz oder lang werden wir nämlich nicht
mehr moralisieren, sondern die Moral ontologisieren – gut und böse werden nicht definiert werden im Sinne von
etwas, das wir tun sollen beziehungsweise nicht tun dürfen, sondern gut wird uns dünken, was die Erfüllung des einem
Seienden aufgetragenen und abverlangten Sinnes fördert, und für böse werden wir halten, was solche Sinnerfüllung
hemmt. Sinn kann nicht gegeben, sondern muss gefunden werden.“ (Der Mensch vor der Frage nach dem Sinn, S.
155)
142 Cf. FRANKL. Em busca de sentido. 47. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2019, p. 140.
143 FRANKL. Em busca de sentido, p. 134s.
144 FRANKL. Em busca de sentido, p. 133.
145 FRANKL. Em busca de sentido, p. 133.
146 No original e mais extenso: „Und ich muß sagen: was wäre das auch schon für ein Leben, dessen Sinn damit steht
und fällt, daß man heiratet und Kinder kriegt, Bäume pflanzt und Bücher schreibt? Gewiß: das alles sind Werte,
wirkliche Werte; aber sie sind relativ – absolut hingegen kann nur eines sein, und das ist das Gebot unseres Gewissens.
Und dieses Gewissen gebietet uns, daß wir uns unter allen Bedingungen und Umständen unserem Schicksal stellen –
wie immer es auch sein mag; unser Gewissen fordert von uns, daß wir dieses Schicksal gestalten, daß wir handeln,
daß wir das Schicksal in die Hand nehmen, wo dies möglich ist - daß wir aber auch bereit sind, das Schicksal auf uns
zu nehmen – wenn dies nötig ist -, und daß wir dann das rechte, aufrechte Leiden echten Schicksals leisten.“ (V.
FRANKL. Psychotherapie für den Laien (Psicoterapia para os leigos). 7. ed. Freiburg: Herder, 1978, “Higiene
psiquica do madurecimento”, p. 58-61, p. 60s; cursivo no original). Cf. TORELLÓ. Psychoanalyse und Beichte, cap
6: “A análise existencial de Frankl e a logoterapia”.
147 “O homem descobre agora que está aferrolhado dentro de si mesmo, que é seu próprio prisioneiro.” (SHEEN.
Angústia e Paz, 6. ed. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1957, p. 13s.; existe nova ed. por ed. Molokai)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 146

- “Em busca de sentido”148, na 2ª parte, Frankl explica “Conceitos fundamentais da


Logoterapia”.
Entre estes o “Sentido da vida”, p. 133.
“Duvido que um médico possa responder a essa questão em termos genéricos. Isso
porque o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma hora
para outra.
O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o
sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento. ... Não se deveria procurar
um sentido abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na
vida ... “
Está certo que cada pessoa tem sua própria vocação, porém essa nunca pode ser independente ou
fora da ordem dada pela natureza humana e ordem universal da criação; a exclusão de um
“sentido da vida de um modo geral” significa a exclusão do “ser” antes do “agir”. Isto se
encontra formulado por Frankl um pouco mais tarde (p. 155) com estas palavras:
alguns “se portaram como porcos, ao passo que outros agiram como se fossem santos. O
ser humano tem dentro de si ambas as potencialidades; qual será concretizada depende de
decisões e não de condições.”
Este esquecimento do ser e a ênfase ao agir (solto!149) é o problema fundamental desde o tempo
quando os filósofos queriam entender o homem e explicá-lo “independente e livre de Deus” com
a consequência de grande confusão que se vê em muitos problemas de hoje.
O aspeto cativante para muitos em Frankl é que ficou fortemente confrontado com a realidade no
Campo de Concentração. Porém, mesmo diante de uma realidade que uma pessoa não consegue
mudar ela deve-se afirmar (como ele exercitou no Campo). Ele diz:
“Será que somos mesmos obrigados de aceitar tudo de nós [“von sich”]?
Será que não se pode ser mais forte de que a angústia?”150
– Estas perguntas retóricas, mudadas em forma positiva ou afirmações, querem dizer: Não deixa-
te vencer (ou, dominar), nem pelas dificuldades da vida. Afirma-te em todos os casos, seja que
for ou que acontece, mesmo se não pode mudar a situação (como era o caso dele no Campo de
Concentração). Não deixa-te tirar a última palavra, esta deve ser sua.
A filosofia atrás dessa visão da vida é o existencialismo, que quer que o homem apenas existe,
mas sem nenhuma predeterminação por uma determinada natureza, pois essa limitaria sua
liberdade. Sem tal, cada um tem (parece que tem) “plena” liberdade de se tornar quem quer ser;
isto encontramos por ex. na “ideologia do gênero” ou na liberdade de escolher sua religião com
14 anos, etc... Com seu divulgador Sartre se descobriu a “condenação à liberdade – zur Freiheit
verdammt” que levou muitos estudantes universitários do tempo dele ao suicídio.

3º Em relação a Deus

148 Ed. Vozes, 47ª edição, 2019 (as muitas edições se explicam por narrar extensamente sua história em Ausschwitz,
pp. 15-120).
149 Com a palavra “solto” queremos dizer: sem fundamento objetivo, e em consequência, como afirma Frankl: “o
sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma hora para outra”. Com isto se entende a
“pessoa de hoje” que não tem mais coragem ou força para assumir um compromisso para um preço maior, ou “pela
vida” como a “fidelidade matrimonial” ou um compromisso religioso..., pois pode ser que daqui em dez minutos
descubro outro “sentido de minha vida” e (parece que devo) “tomar outro rumo para a minha vida”. Também a
instabilidade profissional se explica aqui...
150 “Muss man sich denn auch alles von sich gefallen lassen? Kann man nicht stärker sein als die Angst?“
Psicologia e vida espiritual - 2022, 147

Torelló nos diz: “A partir da vida, entendida como tarefa151, Frankl abre a porta ao
comitente152: Deus. Frankl acompanha seus pacientes até a esta porta aberta: A eles sozinhos
pertence a decisão, de pisar sobre o limiar ou não.”153
Echavarría olha ainda mais diretamente a este ponto, de modo que chega a perguntar: em Frankl,
“De que Deus se trata?”154 E responde:
“Para Frankl, isto significa que de Deus não se pode dizer nada (e ‘do que não se pode
falar, é melhor calar’, dizia Wittgenstein, citado por ele). Não se poderia falar de Deus,
mas somente a Deus, através da oração.” (La vontade de sentido, Herder, Barcelona
1988, 66-67). De que Deus se trata? Segundo Frankl, do ‘interlocutor de nossos mais
íntimos solilóquios’. Como não se pode saber o que é Deus, esta não é uma definição
essencial, mas ‘operacional’. Neste sentido, pode ser religioso tanto um teísta com um
ateu. Só que o teísta nega a aceitar a hipótese de que este interlocutor seja ele mesmo,
coisa aceita pelo ateu. (Frankl. Homo Patiens. Ensayo de uma patodicea)” (Echavarría. A
Práxis, p. 390.
E ainda: “Contudo, mais profundamente, diz Frankl, o autêntico interlocutor é o nada [griffo do
editor]. O nível mais profundo seria chegar a Deus como ‘nada’, que é o transcendente
inexprimível.” (Echavarría. A Práxis, p. 391)
“... embora para Frankl o ’sentido último’ da vida não seja totalmente inventado pela
pessoa, como nas outras linhas da psicologia existencialista, mas dado, todavia, o doador
não é o Deus cristão, senão que o sentido é, como em Heidegger, um ‘evento’ do ser. O
que explica por que ‘as pessoas que a si mesmas consideram atéias não são menos
capazes de encontrar um sentido em suas vidas que aquelas outras que consideram a si
mesmas como crentes’ (Frankl. El hombre em busca del sentido último, 294).”
(Echavarría. A Práxis, p. 393)

4º Então?
Certamente, podemos começar ler todas as suas, não poucas, publicações para chegar ao
entendimento mais exato dele. Porém, não somos juízes sobre Frankl, descendente judeu e de
“crença” ateu. Mas devemos avaliar e discernir sobre suas ideias, mais ainda quando já vimos da
fé cristã. Também, nada exclui que ele mesmo tinha mudado suas opiniões no decorrer de sua
vida (faleceu em 1997) – como falamos de 1º e 2º e 3º Scheler.
O que conta é o que se entende por seus escritos ou métodos, e o que os seus ouvintes ou alunos
vão entender e passar para frente.
Quando Frankl defende:
“Absoluto pode ser apenas uma coisa, e isto é o mandato de nossa consciência ...”,
ele sente-se totalmente livre de fazer isto. Porém, a fidelidade à nossa crença e filosofia pede a
liberdade do nosso lado de não seguir seus conselhos pois devemos ter medo, e com razão
suspeitar, que podemos ser conduzidos a considerar a nossa vida e as situações que
encontraremos independente de DEUS, a quem queremos acreditar ser nosso “Pai” que vigia
sobre nós com amor dia e noite, de modo que não cai um cabelo de nossa cabeça sem Ele
perceber, permitir ou querer (cf. Mt 10,30; 6,25-34; 10,24-31).
Se encontramos em Frankl alguém que quer ficar reservado “no seu campo psicológico” (como
por ex. insiste também constantemente A. Cury, mesmo que não pare de tomar o nome de Jesus

151 Em alemão: “Aufgabe” como colocou Heidegger, que em si já leva a uma contradição, pois já limita a liberdade
e determina algo; traz consigo uma limitação da qual nunca se pode dispensar: Um homem é um homem e não um
animal ou uma planta ou até nada; não, ele é deste que existe um ser humano, com tudo que esta determinação traz
consigo.
152 “Auftraggeber” ou seja aquele que faz a encomenda, ou o cliente.
153 J. B. TORELLÓ. Psychoanalyse und Beichte, cap. 6; (trad. alemã, p. 86).
154 ECHAVARRÍA. A Práxis da Psicologia, p. 390; 389 nota 1027,
Psicologia e vida espiritual - 2022, 148

na sua boca e chamá-lo o grande “Mestre”), podemos entender isto como um reconhecimento do
serviço que a “Psicologia” pode prestar ao cultivo da nossa vida e no confronto com problemas.
Se, porém, querem se apresentar como ciência que seria capaz de resolver os problemas do
homem, então se apresentam ou declaram o homem (ou sua ciência – a psicologia surgiu com a
decadência da religiosidade das pessoas!) como auto-redentor, por ex. pelo “pensar positivo” ou
pelo “sentido que ele mesmo dá à sua vida e aos eventos”, ou se eles querem ensinar que o
homem deve “afirmar a si mesmo”,
então há o grande perigo de enganar o homem, e seu ensino precisa ser reduzido ao
horizonte e ambiente em que há competência.
Pois sua compreensão do “homem” deixa-nos no “ar”, não oferece fundamento para vida,
principalmente, quando o sofrimento bata na sua porta.
E por falar neste contexto até mesmo de Deus, não deve enganar-nos. Como C.G. Jung, Frankl é
da opinião que acreditar na continuidade da vida “depois da morte é grande ajuda à terapia”,
mas é como muitos psicólogos pensam (e nisto seguem ao marxismo): a fé (talvez até a prática
religiosa) ajuda psicologicamente, é um “ópio” para os que precisam se agarrar em algo ou em
alguém, mas não importa se, objetivamente, isto é, se realmente existe este mundo (seja Deus ou
uma eternidade para a alma imortal)! É uma fé e religião “útil” para o indivíduo, serve para
consolar, porém, só interessa que serve para esse fim, e não precisa interessar ao psicólogo saber
se tal consolo tem fundamento ou não!155
F. Sheen indica e elabora um paralelismo entre os conflitos sociais e individuais; desse consta
sobre o “materialismo histórico” e “materialismo psicológico, a filosofia de Freud, [que] são
filhos da mesma era e exprimem as mesmas atitudes básicas” (Sheen, Angústia e paz, p. 16; cf.
p. 11-25).

5º A “mensagem da Logoterapia” e o Cristianismo


É belo e bem vindo a Psicologia que não quer solucionar problemas, mas sim, ajudar levá-los à
luz como por um exame de consciência com a ajuda de pessoas maduras e com experiência de
vida156. Pode ajudar conduzir à solução, pois a verdadeira solução deve vir de cada pessoa pela
sua livre decisão sobre si – o aspecto que Frankl com toda razão (mas isoladamente) aponta –,
mas pela qual cada pessoa pode também contar com a ajuda de Deus vivo e verdadeiro (veja o
“filho pródigo” do evangelho: Ele precisava chegar a sua própria conclusão: melhor que volto
para casa – e aí, sim, Deus o espera(va)!)
Com a fé em Deus vivo Criador no início e fim da existência de cada criatura tudo recebe seu
sentido geral pela natureza e segundo ela, seu valor ontológico (independente do agir, fazer,
ganhar, ...) e merece – a devida – estima. Nisto está incluído o destino à uma vida social e
religiosa, do qual nunca ninguém pode abstrair ou pensar “negar” ou apenas “ignorar”. Nunca
ninguém pode dispensar um homem de ser homem: racional, social e religioso, quer dizer, estas
dimensões reais.
O único princípio “absoluto” para Frankl, “o mandato de nossa consciência”, leva e prende o
homem na sua “prisão doméstica”, como dizemos, e com isto, ao caminho da doença psíquica

155 Sem dúvida, isto já é melhor do que Freud e o primeiro Rogers afirmaram: Segundo Freud seria doente aquela
pessoa que “pergunta pelo sentido e valor da vida”, de modo que se precisaria dizer, em certa consequência, “Ritos
religiosos são ações forçadas neuróticas”; ou, uma discípula de C. Rogers escreveu: “Na medida em que um homem
omite desenvolver sua autonomia, ou perdeu-a, ele é doente.”
156 “O regular exame de consciência antes da confissão”, comparando a vida com a “norma” da Vontade de Deus,
obriga o homem de ser sincero consigo e “é um dos meios mais importantes para uma dieta da alma. Fundamental
para uma autolibertação do sofrimento nervoso é a coragem à veracidade interna” (Georg SIEGMUND, Christentum
und gesundes Seelenleben. Paderborn: Verlag F. Schöningh, 1940, cap. 8, p. 142s.; cf. ibid., cap. 5: “Culpa”; e ID. Fé
em Deus e Saúde Psíquica. São Paulo: Loyola, 1971). “Nenhum ser humano se sente satisfeito com a intranquilidade
no coração, a inflamá-lo e ulcerá-lo. A natureza inteira fala a favor do alívio e a consciência alega as suas
reclamações... A consciência de algo errado – de um pecado clamando para ser expelido – pode ser recalcada e muitos
homens e mulheres usam de tal ocultação para escapar à autocensura. ... esta repressão é bastante perigosa, afetando
a saúde tanto do corpo com do espírito.” (SHEEN. Angústia e paz, p. 139).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 149

em vez de cura. E porque? Como nenhum homem vive só para si, mas sempre numa comunidade
(de família, de bairro, de trabalho, ou seja onde for), assim também ninguém pode só seguir a sua
consciência, mas deve fazer o bem e evitar o mal que se encontra na realidade do mundo em que
cada um vive. E se uma pessoa, como acontece com cada um de nós, ofende esta regra de vida
mais básica e universal – fazer o bem e evitar o mal – e não sabe como consertar o seu erro, e se
acumulam tais acontecimentos, então ele entra em um problema interior ou psíquico que nada
alivia, a não ser que se abre com alguém, se acusa do seu erro (ou na religião dito “pecado”),
pede perdão e a recebe.157
Frankl trata dos problemas psicológicos no nivel da consciência intelectual e pessoal, mas se
distancia da consicência moral objetiva e comum a todos. Como não oferece ou se baseia em
uma filosofia objetiva, e por declarar “o mandato de nossa consciência” com único valor
absoluto, seu método leva e termina na prática da autosugestão e do método do “pensar
positivo”, na autonomia e independência, uma visão irreal já em casa, onde ninguém pode viver
só segundo a sua vontade, e menos ainda quando sai de sua casa e entra na vida e ambiente de
muitas pessoas.
Frankl toma a posição da indiferênça religiosa (!), deixa o valor objetivo da doutrina da fé como
qualquer crença religiosa ao critério pessoal do indivíduo.
Quem, porém, acredita em uma história sua, no passado e num futuro (cf. FRANCISCUS.
Fratelli tutti. n. 13), até em Deus como seu Criador e na felicidade esperada na união com Deus,
não pode esperar em Frankl um guia oportuno; Frankl se desculpa nesta parte. Então devemos
deixar ele a este lado e procurar orientação melhor.

A visão cristã (e esta que Santo Tomás explica, onde pode com raciocínios) é esta:
- Deus é amor em si (Um no ser e Três em pessoas) e só sabe agir por amor e destinar ao amor.
- Uma pessoa racional-espiritual, segundo santo Tomás, é necessariamente (seg. a sua natureza)
livre; e nessa espiritualidade e liberdade percebe ser determinado (criado; causa eficiente) e
capaz para o infinito que é Deus no conhecer pelo intelecto, e possuir ou amar pela sua vontade
(causa final). Por isso, diz Santo Agostinho, Santo Tomás (Suma Teológica, p. I-II, q. 2, art. 7;
cf. q.3, a.8) e já o evangelho: Só em DEUS o homem encontra sua meta, seu descanso:
SÓ DEUS Satisfaz todas as expectativas do homem (cf. Jo 14,1-3; Ap 7,13-17).
- Nesta perspectiva da existência do homem, é evidente a definição natural filosófica do homem,
isto é, ser um “animal racional”. Mas surge também uma definição escondida, mas radical no
sentido que explica cada respiro do ser humano e esta diz:
O homem AMA Ser AMADO !
Ele ”gosta”, deseja e faz tudo para receber amor, porque ama ser amado pelos outros e, mais
ainda, pelo INFINITO em Pessoa, por DEUS.158
“Ama” porque é já uma pessoa íntegra com consciência (intelectual e moral) e liberdade, mas
quer ser amado porque não é absoluto, infinito, totalmente autônomo; precisa ser plenamente e
perfeitamente realizado e na sua alma, capaz do infinito, pelas suas faculdades atualizadas. Cada
criatura participa na perfeição do Criador perfeito e enquanto criatura racional anseia ao melhor
ou seja à perfeição total. Esta não consegue alcançar por si mesmo, pois ela é criada e assim

157 Esta lógica de pensamento encontra-se hoje onde se quer reservar a religiosidade ao ambiente “privado”, ou como
Frankl, lavando-se as mãos, deixar o homem sozinho nessa questão. Encontramos isto em várias tendências na
sociedade hodierna, e é contra essa meta da vida humana, contra sua natureza – revela no fim que não se quer
considerar de onde o homem vem (causa eficiente) e para onde é destinado de ir (causa final), está baseada numa
filosofia insuficiente, e objetivamente falsa enquanto nega as dependências do homem – ele não é eterno nem infinito,
também não nas sua liberdade; ele não é deus!
158 É importante de ver a sede de “ser amado” como problema e fome mais radical em cada pessoa humana para
descobrir mais fácil e rapidamente a raiz de um mau comportamento e dirigi-la ao verdadeiro e infinito amor que é
Deus (cf. T. Kieninger. O respeito humano. Manuscrito. Anápolis, 2021). Esta perspectiva da vida humana com o
destino (psicológico) de homem e mulher, igual segundo a natureza (ser), diferente segundo as funções entre si ou
familiares e sociais (agir) fez, por exemplo, Fulton Sheen entender que o homem “bebe” (alcoólatra) porque gosta e a
mulher bebe (alcoólatra) porque tem um problema.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 150

limitada. Por isso deve aceitar a si mesmo como dom o que o Bom Deus de bom grado não
apenas quer dar, mas “anseia ardentemente de dar” (Lc 22,15; cf. 12,49-50). A isto se refere São
Paulo em vários lugares quando escreve, por ex. “Por meio de sofrimentos, levou à perfeição
aquele que iniciou a salvação deles.” (Hb 2,10).

Nesta perspectiva tudo começa florescer. Deus mesmo Se revelou a nós homens e explicou
“O Pai amou tanto mundo que deu Seu filho único!” (Jo 3,16)
e - quem aceita e crê nisto, para esta pessoa todos os problemas se resolvem. Em Jesus o próprio
Deus feito homem assumiu o pior mal, a morte, mas resuscitou dela e voltou a viver sem jamais
morrer outra vez. Ele abraçou nossa condição limidada e uniu-a com sua natureza divina na Sua
Pessoa Divina. No sacrifício do próprio Deus-feito-homem torna-se o Amor de Deus tão
evidente e presente que tudo ganhou sentido, o maior sofrimento e o pior mal, a morte. Pensamos
nos mártires, entre tantos, em Maximiliano Kolbe, sacerdote e mesmo como fundador de uma
Congregação religiosa, se prontificou livremente a morrer por um pai de família e estava
cantando no Bunker de fome, no mesmo Campo de Concentração em que Frankl esteve,
Ausschwitz. Como podia? Tem valores maiores dos que Frankl indica?159

A fé judaica e hoje cristã sempre ensinou a vivência diante do Deus Protetor e cuidador, de
modo que nunca deveríamos perder a paz de coração. A entrega confiante sempre deveria vencer
sobre a angústia e quaquer problema. O seguinte Salmo (55(54)) seja apenas um entre muitos
exemplos já do Antigo Testamento.
3 Estou ansioso na minha tristeza e me perturbo pelo grito do inimigo, me perseguem com furor.
5 Meu coração treme no meu peito e terrores mortais se abateram sobre mim.
7 Então digo: “Ah! Se eu tivesse asas ... fugiria para longe, iria morar no deserto,
13 Se fosse um inimigo que me insultasse, eu aguentaria; mas és tu, meu companheiro, meu
amigo e confidente; uma doce amizade nos unia ...
17 Eu invoco a Deus e o Senhor me salva. De tarde, de manhã e ao meio-dia lamento-me e
suspiro, e ele escuta minha voz; vai me dar a paz, livrando-me dos que me combatem.
23 “Entrega ao Senhor tua ansiedade e ele te dará apoio, nunca permitirá que vacile o
justo”. 24 Tu, ó Deus, os precipitarás no fundo do sepulcro; os homens sanguinários e
fraudulentos; não chegarão à metade dos seus dias. Mas eu em ti confio.160

O nosso problema hoje é a vivência da fé, a dificuldade de pôr em prática no dia-a-dia, de incluir
Deus na nossa vida e com ele a dimensão eterna da vida humana. Do mal do que o homem foge
por natureza querendo sobre-viver, e que pela justa auto-estima tenta vencer, ainda tem sentido
por Cristo e se pode abraçar com amor e por amor, como um tesouro para a vida eterna e como

159 Esta doação por amor, seguindo o exemplo e a palavra de Deus é o oposto da orientação de Frankl quando ele diz
que a todo o custo nós devemos afirmar-nos e não deixar-nos “vencer” por outros: “Será que somos mesmos obrigados
de aceitar tudo de nós [“von sich”]? Será que não se pode ser mais forte de que a angústia?”
160 Outro exemplo do livro dos Salmos, Salmo 68/9:
9 Tornei-me um estranho para meus irmãos, um estrangeiro para os filhos de minha mãe.
10 Pois o zelo por tua casa me devorou, os insultos dos que te insultam caíram sobre mim.
11 Se me mortifico com o jejum, eles zombam de mim.
12 Se me visto com traje de luto, sou alvo de sarcasmo.
13 Falam mal de mim os que se sentam junto à porta e os que bebem vinho fazem canções sobre mim.
30 Quanto a mim, pobre e doente, o teu auxílio, ó Deus, me proteja.
31 Quero louvar com um cântico o nome de Deus e exaltá-lo com ações de graças;
32 Que isto agrade ao Senhor mais que um touro, mais que um novilho com chifres e casco.
33 “Vede, humildes e alegrai-vos! Vós que buscais a Deus, vosso coração reviva!
34 Pois o Senhor atende os pobres, não despreza os seus cativos.
35 Que o louvem céu e terra, os mares e tudo quanto neles se move.
36 Pois Deus salvará Sião e reedificará as cidades de Judá; habitarão lá e a possuirão.
37 E a posteridade dos seus servos a herdará, e nela habitarão os que amam o seu nome.
Psicologia e vida espiritual - 2022, 151

uma chance de ganhar perdão e graça e para crescer na união amorosa com o próprio criador
nosso.

Papa Bento XVI, na sua encíclica Sobre a Esperança Cristã (2007, n. 40) fez uma pequena
observação indicando este rumo, ao sentido das “pequenas canseiras da vida quotidiana”:
Gostaria de acrescentar ainda uma pequena observação, não sem importância para os
acontecimentos de todos os dias. Fazia parte duma forma de devoção – talvez menos praticada hoje,
mas não vai ainda há muito tempo que era bastante difundida – a ideia de poder « oferecer » as
pequenas canseiras da vida quotidiana, que nos ferem com frequência como alfinetadas mais ou
menos incômodas, dando-lhes assim um sentido. Nesta devoção, houve sem dúvida coisas
exageradas e talvez mesmo estranhas, mas é preciso interrogar-se se não havia de algum modo
contido nela algo de essencial que poderia servir de ajuda. O que significa « oferecer »? Estas
pessoas estavam convencidas de poderem inserir no grande compadecer de Cristo as suas pequenas
canseiras, que entravam assim, de algum modo, a fazer parte do tesouro de compaixão de que o
gênero humano necessita. Deste modo, também as mesmas pequenas moléstias do dia-a-dia
poderiam adquirir um sentido e contribuir para a economia do bem, do amor entre os homens.
Deveríamos talvez interrogar-nos se verdadeiramente isto não poderia voltar a ser uma perspectiva
sensata também para nós.
O Cristão também é chamado de dar sentido, “dando-lhes assim um sentido”, porém
“convencidas de poderem inserir no grande compadecer de Cristo as suas pequenas canseiras”,
logo é de dar o sentido que a vida e os eventos tem nos olhos de Deus e por ele foram permitidos
por muitas razões para nós mesmos ou por outros. Este dar (como a volta livre do filho pródigo)
é desejado e esperado por Deus como colaboração livre e meritória de cada criatura racional.
Em dimensão maior, a teologia ajuda a entender muitos sentidos do sofrimento. E se uma
pessoa vive sua fé, a comunhão com Cristo, a solução de problemas internos espirituais está “à
mão” de modo que não chega a nós que complicam o comportamento.

O sentido do sofrimento é múltiplo:


A bênção, que sai da Cruz do Gólgota, faz o santo do dia-a-dia conhecer, desejar e
experimentar na sua própria vida o sentido profundo da cruz e sofrimento. O que os outros
temem e do que fogem, isto suporta, ama e procura como meio excelente de expiação e
purificação. Sobre isto ele se alegra como sobre um fogo eficaz e quase insubstituível de
prova e de amor.161 O sofrimento serve para
- fazer penitência pelos nossos pecados;
- purificar-nos dos nossos maus costumes (vícios);
- adquirir e firmar as virtudes (humildade, paciência, gratidão, confiança ...);
- tornar-se mais sensível pelos outros, os doentes ou fracos;
- desapegar-se das criaturas e aprender a morrer;
- testemunhar a fé, confiança e fidelidade;
- merecer o céu (cf. 2 Cor 4,17);
- conformar-se a Cristo e
- para expiar os pecados dos outros... (cf. Col 1,24 e Fil 1,29)162.
Os filhos de Deus não se encontram entre os "inimigos da Cruz de Cristo" (Fil 3,18; cf. Mt 16,21ss;
26,51-54; 4,1-11; Lc 9,52-55; Gal 1,8s; 5,11; Fil 3,4). Do contrário,
é o Espírito Santo (cf. Mt 16,23), que
- assiste (cf. Mt 10,19s),

161 Nailis, Werktagsheiligkeit, [Santidade quotidiana], Limburg, 1978, p. 153; “A dor é um santo anjo e o homem
aprende por ele mais que por todo o sucesso” (Adalbert Stifter).
162 “Nosso sofrimento é o mesmo sofrimento de Cristo.” O sofrimento “não foi criado por Deus, mas Cristo lhe
deu um enorme sentido.” O poder invisível de Deus se manifesta no sofrimento. Cura a alma, salva o espírito,
quebran-ta o orgulho, elimina a vaidade, abate a opulência, iguala os homens” (F. Aquino, Em busca da perfeição,
63-64).
Psicologia e vida espiritual - 2022, 152

- consola e
- fortalece (cf. Lc 22,42s),
- impele para enfrentar o sofrimento (cf. Mt 4,1), mas
- não o retira (cf. Gen 16,9; At 20,23)163.
Podemos determinar a seguinte “escala de perfeição”:
O pagão diz: Antes viver que morrer!
O cristão “jovem”, ao contrário, diz: Antes morrer que viver!
O cristão adulto e avançado esclarece: Antes sofrer que morrer!
O cristão perfeito, porém, reconhece: Quero o que Deus quer!, ou seja:
a conformidade com a Vontade de Deus,
pois, atrás de todo o resto pode-se ainda esconder facilmente a vontade própria desordenada, que
para Santo Tomás é a raiz de todos os pecados (cf. S.th. I-II,77,4; cf. Imitação de Cristo III,27).
Como Cristão, devemos conscientizar-nos mais da nossa nova identidade pelo Batismo, que São
Paulo esclareceu aos Coríntios com estas palavras (1Cor 6,19-20):
“Acaso ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e que
recebestes de Deus? Ignorais que não pertenceis a vós mesmos? De fato, fostes
comprados, e por preço muito alto! Então, glorificai a Deus no vosso corpo.
Assim entendemos que, unidos com Cristo, somos chamados
– não a auto-redenção, mas já redimidos e nesta qualidade –
a colaborar no que ainda falta na redenção, ou seja, a ajudar pelos sofrimentos aqueles que ainda
não abraçaram a fé em Cristo (Col 1,24). Pelo sofrimento contribuimos para a salvação dos
outros e nossa própria.

Então, não devemos aplicar o pensamento de São Paulo sobre o julgamento de direito
também à psicologia?
Ele dizia aos Coríntios:
“Quando um de vós tem uma questão contra outro, como se atreve a entrar na
justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos?” (1Cor 6,1)164

Não deveríamos entender para a área da psicologia que quer tratar o comportamento do homem e
o estado de sua alma que é destinada para a vida eterna e assim para o nosso campo dizer:
Como queremos esperar
- bons conselhos e
- buscar solução de problemas espirituais ou da alma,
com pessoas que não compartilham a nossa fé?

6º Segundo o método de Santo Tomás


Santo Tomás escuta – como raramente alguém. Todos os artigos na sua Suma Teológica tratam
uma pergunta ou um problema. Santo Tomás começa todos estes com a apresentações de
opiniões, quer dizer: Ele escuta o que outros dizem. Depois toma liberdade de pensar
pessoalmente, de raciocinar sobre a questão, mas não termina com isto. Segue ainda de voltar às
opiniões de outros e discute eles. Segundo esta maneira de proceder, é aconselhável que

163 Neste sentido não se entende como Roberto DeGrandis, SSJ, podia declarar “a teologia do sofrimento como
obstáculo da cura”, a não ser que se pergunta “cura de quê?” (cf. R. DeGrandis, SJ, Ministério da cura para leigos,
Ed. Loyola, São Paulo 31986, p. 13).
164 Esta mesma pergunta se fez J. E. ADAMS; e isto o levou a pensar no que depois desenvolveu, uma psicologia na
base da Bíblia, em particular, nos Salmos. (cf. Competent to counsel; título em alemão é: Befreiende Seelsorge -
Pastoral liberadora: Teoria e Práxis de um aconselhamento de vida bíblica. 8. ed., Giessen-Basel: Brunnen Verlag,
1988, p. X)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 153

voltamos à posição de Frankl como ouvimos no início e refletirmos de novo, pois será que a
confrontação com o Cristianismo permite de dar uma nova luz às suas afirmações iniciais?
Paramos, por enquanto, só com a primeira citação, já é tão radical que ele sugere de acreditar (ou
até profetiza) que a moral, ou seja, os costumes ou regras ou até leis sobre a conduta humana vão
(até em breve) desaparecer e começa uma nova orientação, quer dizer uma nova maneira de
determinar o que é “bom” e o que é “mau”.

Sua afirmação é esta (veja acima, p. 1s):


“Fazer sentido seria moralizar. E a moralidade no sentido antigo logo terá acabado. Cedo ou
tarde não iremos mais moralizar, mas ontologizar a moral - bom e mau não serão definidos no
sentido de algo que devemos ou não fazer, mas bom nos parecerá o que ajuda realizar o sentido
dado e exigido de um ente, e consideraremos mal o que impede tal realização de sentido. O
sentido não pode ser dado, ele deve ser encontrado.”
Refletimos em 4 passos:
“a moralidade no sentido antigo logo terá acabado. Cedo ou tarde não iremos mais moralizar mas
ontologizar a moral.”
Com esta afirmação, Frankl não olha a diferença entre ser e agir - o que é o problema em muitas
correntes no tempo moderno, logo, não estamos admirado se ele talvez nem está consciente disse
(se diz que Frankl estudou Heidegger, e com ele a concepção exitencialista do mundo, e que ele
gostou Max Scheler, que – ao menos numa de suas três fases de pensamento – já limitou o bem e
mau ao seu sentir subjetivo).
1º Qual é “a moralidade no sentido antigo”?
“A moralidade no sentido antigo”, a que ele se refer, deve ser o bem e o mau que são
determinados pelo próprio ser de cada ente, determinado pela essência ou natureza: Segundo seu
grau intrínseco existencial é um ser maior ou menor e com isto possui bondade maior ou menor,
pois o bem, o bonum, é um “aompanhamento”, um tipo de “qualidade absoluta” do ser, é uma de
suas propriedades: Onde há ser, há bondade. E enquanto os “entes” participam no “Ser Divino”,
também sua bondade é uma participação da Bondade infinite e por essência do Ser Divino. E
esta bondade das coisas determina o regulamento ou a moralidade do nosso agir na vida: A
bondade de um ovo se trata (moralmente falando) diferente da galina da qual vem o ovo, o ovo é
menos que a galina que é um animal.
2º Como então pode essa moralidade acabar?
Essa moralidade, baseada no ser das coisas só pode acabar quando se nega o (grau de) ser das
coisas, e quando, para condseguir isto, se nega o Criador que, com o ser, também determina o
sentido e grau de bondade da criatura. Logo quando se exclui Deus, ou se não considera ele
simplemente, ignora, ou nega diretamente ou deixa ele existir como apenas um pensamento do
homem – tudo isso não faz diferença, pois o que importa é que não manda mais e determina
ninguém o que é bom e mau.
Mas, então o que sobra? Nada, a não ser a liberdade absoluta do agente – e “absoluto pode ser
apenas o mandato de nossa consciência ...”, diz Frankl: Faças o que queres por não ter outra
regra que podia dar orientação ao teu agir.
„A consciência nos manda, que enfrentamos nosso destino em todas as condições e
circunstâncias, seja como for; nossa consciência exige de nos, que nos formamos
este destino – ‘dieses Schicksal gestalten’ – que nós agimos, que tomamos o destino
na mão.”165
Como a norma absoluta é o que a consciência manda, então o que é bom ou mau encontra aqui
seu ponto crucial. Segundo Frankl,

165 “dieses Gewissen gebietet uns, daß wir uns unter allen Bedingungen und Umständen unserem Schicksal stellen –
wie immer es auch sein mag; unser Gewissen fordert von uns, daß wir dieses Schicksal gestalten, daß wir handeln,
daß wir das Schicksal in die Hand nehmen“ (cf. encima, nota 10)
Psicologia e vida espiritual - 2022, 154

A. o homem deve dar sentido aos eventos ou acontecimentos ou a sua própria vida;
B. logo seu agir deve cuidar que este sentido se realiza. Então segue
C. a nova definição do que é bom e do que é mau:
“bom e mau não serão definidos no sentido de algo que devemos ou não fazer, mas bom
nos parecerá o que ajuda realizar o sentido dado e exigido de um ente, e consideraremos
mal o que impede tal realização de sentido.”
Frankl é cuidadoso quando diz “nos parecerá”, e é consequente no que projetou:
Não quer prescrever nada a ninguém e não tirar o valor que é absoluto para cada um, ou seja, sua
própria consciência e decisão (vontade). Consequentemente, fica também determinado o que é
“bom ou mau” pelo sentido que cada uma dá, e que pode num momento ser um e num outro
momento ser outro, como vale numas circunstâncias um e em outras circunstâncias outro, pois,
com diz Frankl, “o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma
hora para outra.”

3º Em consequência, e quando mais rapidamente a humanidade segue seus pensamentos tanto


mais rápido acontecerá que “cedo ou tarde não iremos mais moralizar”. Suponho que devemos
entender isto no “sentido antigo”, e aí “moralizar” significaria isto: primeiro, procurar entender o
valor objetivo e ontológio, ou seja, o valor “inscrito” nas coisas, e, segundo, respeitar esse valor
no nosso devido agir e comportamento, isto é, respeitando a dignidade de cada realidade. Dizer,
que tal ou tal coisa ou pessoa deve-se tratar assim ou assam, significa deixar determinar (normar)
nosso agir pelo valor intrinseco e objetivo das coisas do mundo lá fora. Isto significa uma
limitação da nossa liberdade, e isto não pode ser por um pensador existencialista ou ateu
moderno, entre os quais, parece Frankl quer colocar todos os homens. Por isso “não iremos
mais” proceder dessa maneira submissiva, restritiva, adaptando nos a outras realidade e
renunciando a nossa consiência e liberdade como único e último “valor absoluto”. A todo custo,
de novo, devemos segurar o valor absoluto da nossa consiência ou do nosso Ego.

4º Quase para confirmar e consolidar esta opinião ou posição, Frankl continua dizer: “mas
[iremos] ontologizar a moral”. Não sei se estou errado quando digo, que talvez 95 % dos leitores
não tem a preparação filosófica para entender seja só a palavra “ontologizar”, seja o significado,
e por isso baixam “com respeito” a cabeça diante de tal afirmação. Me considero parte dos
restantes 5 % que tem uma ideia do que diz “ontologizar”, mas não entendem na hora o que
realmente está implicado com tal afirmação. E se não se pare, fica assim. Só dias depois, me vem
o pensamento que isto significa a inversão da causalidade como apareceu com Descartes.
Me explico: na luz do que entendemos pela “moralidade no sentido antigo” ou pelo bem como
transcendental e propriedade do ser aparece um novo significado da intenção de Frankl (ou será
que ele mesmo não entendeu o que diz ?).
Dizemos primeiro: Lemos na narração da criação na Sagrada Escritura ou Revelação Divina:
“Deus disse: ’Faça-se a luz’! E a luz se fez.” A narração continua dizer: “Deus viu que a luz era
boa.” (Gênsis 1,3-4). Nesta simples descrição é dito: Com o ser das criaturas é também dado sua
bondade, sua “qualidade” de ser bom. Ou: a bondade das coisas está in-scrita no ser das coisas, e
esta união ou identidade ... se quer expressar com a palavra “ontológico” ou, enquanto ação
criativa que inicia ou dá o ser às coisas. Então “ontologizar” quer dizer inscrever a bondade nas
coisas pelo seu ser e com o seu ser.
Agora, quando Frankl fala do “ontologizar a moral”, só pode-se entender assim:
A. Depois de ter acabado – desconsiderado (negado? recusado?) – a ordem objetiva com o
devido valor das coisas segundo seu grau de ser, causada pela criação,
B. E estabelecido o que é bom ou mau, pela consciência (como “valor absoluto de cada
um”) e pelo sentido que essa decidiu de dar, logo o que é bom e mau para si mesmo, ao
menos agora no momento,
C. vamos declarar esta regra de comportamento (ou “moral”) – bom é o que ajuda realizar o
sentido dado e exigido de um ente, e consideraremos mal o que impede tal realização de
Psicologia e vida espiritual - 2022, 155

sentido – como norma absoluta universal, como fosse inscrito em cada pessoa, em toda a
realidade166, ou como fosse inscrita no “ser” e assim “óntológica”, inscrita no ser e por
isso – como na “moralidade no sentido antigo” – universalmente válida.
Isto significa:
A. Depois de “ter acabado” com esta moral antiga enraizada no ser da realidade,
B. falar do “ontologizar a moral - die Moral ontologisieren”,
C. significa que o homem toma a posição de Deus Criador, (se quer ser ou simplesmente se
comporta apenas como fosse Deus, não importa, pois de fato toma para si o que é de
Deus, a determinação o que é “bom” e o que é “mau”).

Com isto, V. Frankl não representa uma novidade na história. Nem foi uma novidade quando
Descartes começou descrever a sua maneira de entender o que é a verdade (sua “ideia clara e
distinta”). Esta maneira de pensar e raciocinar, pronunciar qualquer frase simples ou desenvolver
um sistema enorme com centenas de páginas, não faz grande diferença: é simplesmente errar em
não reconhecer que nós somos criaturas limitadas segundo o corpo (= vivendo no tempo e todos
um dia deixamos este mundo na morte) e segundo a alma (= como ninguém dos homens
consegue tudo que deseja nesta vida terrestre): Cada um nega o “início” que diz: “No princípio,
Deus criou o céu e a terra.” (Gn 1,1)
- - - - - - -
A Filosofia de V. Frankl é da afirmação de si mesmo -
“Será que somos mesmos obrigados de aceitar tudo de nós [“von sich”]?
Será que não se pode ser mais forte de que a angústia?” 167
Contradiz a “renúncia de si mesmo” do Cristianismo:
“renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24)
“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só.
Mas, se morre, produz muito fruto.
Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não faz conta de sua vida
neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna.” (Jo 12,24-25)
A filosofia de Frankl é o amor de si mesmo – ninguém vence sobre mim!168 – é compreensível
pela experiência do Campo da Concentração, aí se trata de sobre-viver;
Mas a “filosofia de Cristo”, o amor a Deus e ao próximo, é maior
como foi mostrado por São Maximiliano Kolbe, no mesmo campo de C.
O Amor de si mesmo – sem a devida subordinação ao Amor a Deus e ao próximo – é a raiz de
todos os pecados (cf. Sth, I-II, 77, a. 4169),
Mas a entrega e o oferecimento do nosso “ego” é o caminho para o verdadeiro encontro de nós:
reduzindo o amor a si mesmo ao limite de uma criatura e, a partir daí,
encorajar-nos à doação total e união com o Infinito, com Deus!
“Quem busca a si mesmo não encontra ninguém, pois não sai de si, e, por isso, frustra-se
permanentemente na sua busca.” (Dom João Bisco Óliver de Faria. Coração sacerdotal., p. 19)
Conclui Benito GOYA sua observação sobre a “logoterapia de V. Frankl” com esta frase:

166 Mas que seria a realidade, por exemplo, de uma árvore ou tempestade, do mar e da montanha, até de um peixe
ou pássaro - se em nada disso não se encontra “consciência”? Existe algo fora da consciência, e se for, como parece
evidente no mundo em que nos nos encontramos, como explica esse?
167 Outra afirmação que se encontra em Victor Frankl: “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a
liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.” – Será que esta atitude ajuda a pessoa de abrir-
se para a graça divina? – para o abandono na fé e confiança em DEUS – mais ainda quando não se entende mais os
pedidos – não só como no Caso da Abraão, mas também já em coisas menores na vida consagrada, pedidos, ordens
que não se entende (nem falar de não gostar)?
168 “Muss man sich denn auch alles von sich gefallen lassen? Kann man nicht stärker sein als die Angst?“
169 No 3º Sermão no tempo de Páscoa, São Bernardo disse ”Terminai com o Amor Próprio, e não existirá mais o
inferno.”
Psicologia e vida espiritual - 2022, 156

“Parece supérfluo insistir sobre a fé cristã como sentido e princípio de integração de toda a
existência.”170
Num mundo em que o homem toma o início e fim da vida nas suas mãos, o convite de, ele
mesmo, dar sentido a sua própria vida parece o cume de sucesso, mas mostra também já seu
fracasso. Se o próprio Cristo disse: “Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade!” (Hb
10,7), e confirma este motivo de sua existência várias vezes até a sua morte (Jo 4,34; 5,30; 6,38;
Mt 26,39.42 e Lc 23,46), como não entender nossa vida frágil e de criatura em dependência
existencial e cotidiana de Deus?171

170 B. GOYA. Psicologia e Vita spirituale: Sinfonia a due mani. Bologna: Edizioni Dehoniane, 2000, p. 159.
171 Assim refletiu São Tiago sobre a vida humana: “Agora vós, os que dizeis: ‘Hoje ou amanhã iremos a tal cidade,
passaremos ali um ano, negociando e ganhando dinheiro’! No entanto, não sabeis nem mesmo o que será da vossa
vida amanhã! De fato, não passais de uma neblina que se vê por um instante e logo desaparece. Em vez de dizer: ‘Se
o Senhor quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo’, vós fazeis alarde de vossas ostentações. Ora, toda
arrogância deste tipo é um mal. Quem, pois, sabe fazer o bem e não o faz, é réu de pecado.” (Tiago 4,13-17)

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