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Nação Jèjè

O documento descreve a história do Reino do Daomé e a fundação de terreiros de candomblé jeje na Bahia no século XVIII, incluindo a Roça de Cima em Cachoeira e o Zòògodò Bogun Malè em Salvador. Menciona sacerdotisas importantes como Ludovina Pessoa e lista de líderes espirituais desses terreiros.

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Nação Jèjè

O documento descreve a história do Reino do Daomé e a fundação de terreiros de candomblé jeje na Bahia no século XVIII, incluindo a Roça de Cima em Cachoeira e o Zòògodò Bogun Malè em Salvador. Menciona sacerdotisas importantes como Ludovina Pessoa e lista de líderes espirituais desses terreiros.

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O Reino do Danxome

Estabeleceu - se por volta do início do século XVII pelo povo Fon que havia
se situado na área do planalto de Abomey e nesta mesma época o palácio real foi
construído. Evidências sugerem que o planalto de Abomey foi colonizado por
várias tribos, comumente conhecidas como Gedevi, mas que o fundador do Reino
do Danxome seria Houegbadja que começou a conquistar cidades fora de
Abomey. Agaja, neto de Houegbadja, se torna rei em 1718. Ele inicia uma
expansão do reino e aumenta a atividade militar em toda a região, assumindo o
controle dos reinos de Quidah e Allada. Mas o Império de Oyo estava no auge de
seu poder e exercia uma hegemonia sobre as tribos locais. Assim, em 1729, Agaja
começa uma guerra contra Òyo que perdura até 1730, com a derrota do Danxome,
que a partir daí terá de pagar tributos a Oyo. Em pouco tempo, o comércio de
escravizados aumentou por meio de Ouidah e Allada. O reino se torna conhecido
pelos comerciantes europeus como uma importante fonte de escravizados. Um
século depois, o reino do Danxome é uma potência regional. Em 1818, Ghezo sobe
ao trono após um golpe contra seu irmão, Adandozan. Pouco tempo depois, com
a diminuição do poder de Oyo na região, o rei Ghezo foi capaz de incidir
militarmente contra os Mahi e o povo Gbe na década de 1820.
Após vitórias, ele concentrou o poder miliar em uma região que havia
estado entre o Império de Oyo e o Danxome.
Por volta de 1840, Abéòkúta se tornou uma grande potência e as guerras
entre ela e o Danxome tornaram - se regulares. Em 1849, o oficial naval britânico
Frederick Forbes foi em missão à corte do rei Ghezo em uma tentativa
malsucedida de convencer o seu envolvimento no comércio escravagista. O
Danxome se tornou um importante centro do comércio de escravizados do
Atlântico até 1852, por conta das pressões dos britânicos para coibir o tráfico
transatlântico. Aos britânicos Ghezo disse: " O comércio de escravos tem sido o
princípio governante de meu povo. É a fonte de sua glória e riqueza. Suas canções
celebram as vitórias e a mãe embala a criança para dormir com notas de triunfo
sobre o inimigo reduzido à escravidão. " Em 1851, Ghezo organizou um ataque à
cidade de Abéòkúta, mas não teve sucesso. Ainda assim, em 1858, uma facção
conservadora pressionou Ghezo para começar novamente as operações militares
em grande escala com ataque a Abéòkúta. Esta guerra levou Ghezo à morte. Ele
era filho de Ná Agontime que foi vendida por Adandozan para o comércio de
escravizados, pois ela apoiava o seu rival ao trono. Nesta ação ela vem como
escravizada para o Brasil e tempos depois funda a Casa das Minas no Maranhão.

Os Gbe-Falantes
Na primeira metade do século XVIII, a área de cultivo de fumo e cana de
açúcar no Recôncavo baiano se expande e necessita de mão-de-obra escravizada.
Este período coincide com a expansão do Reino do Danxome.
Agaja, que se torna rei em 1718, inicia uma expansão do reino e aumenta a
atividade militar em toda a região, assumindo o controle dos reinos de Ouidah e
Allada. Neste contexto, grandes contingentes de prisioneiros de guerra gbe -
falantes (Ewè, Fon, Mahi, Fante, Așante etc.), são embarcados em Ouidah para a
Bahia e são comprados justamente por fazendeiros do Recôncavo. Todas essas
etnias são chamadas, genericamente, de Jeje, expressão que vem do yorùbá
" àjèjì " e significa estrangeiro, forasteiro. E assim vamos nos referir a partir de a
agora. O fumo de baixa qualidade se torna o produto básico do comércio entre a
Bahia e a Costa da Mina, na África, utilizado amplamente na troca por
prisioneiros de guerra do Reino do Danxome. Neste período, o número de
escravizados jeje em Cachoeira, São Félix e vilas vizinhas, sobe vertiginosamente
de 11 para quase 30 % da população escravizada. Nesta época, negros bantu e jeje
predominavam e assim se mantiveram até 1820, com o decréscimo dos bantu,
primeiramente. Entre 1730 e 1780, os jeje correspondiam ao grupo étnico
africano demograficamente mais importante entre a população escravizada não
só do Recôncavo, mas de toda Bahia.
A Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios, por exemplo, foi
fundada em Cachoeira, por africanos jeje e na qual a filiação de homens crioulos,
ou seja, pretos nascidos no Brasil, era dificultada. Neste contexto de maioria jeje
no recôncavo, diversos cultos domésticos, individuais ou coletivos se formaram,
dando origem aos calundus bantus e jejes tanto em Cachoeira, quanto em
Salvador.

Os primeiros terreiros jeje.


Um dos calundus mais famosos da Bahia foi o Oba Tèdò, também chamado
Bi Tedo, na cidade de Cachoeira, Bahia, formado por jejes Mussurumim, que
basicamente cultuavam ancestrais. O Oba Tèdò era uma fortaleza negra que não
permitia a presença de estranhos e era bem guardada por pessoas armadas. O
líder espiritual era Tio Xarene. Apesar da maioria étnica jeje, Oba Tèdò é uma
expressão yorùbá que significa " o lugar onde o rei se instalou primeiro “. O
provável é que esse local deu origem ao terreiro conhecido como Roça de Cima, e
ao Sejà Hundè, na mesma cidade de Cachoeira. É possível e provável que Tio
Xarene, num contexto de perseguição ao culto africano tenha arrendado terras na
área mais afastada e rural de Cachoeira. Nesta perspectiva surge a Roça de Cima,
liderada pelo mesmo Tio Xarene e por Ludovina Pessoa, figura emblemática e
lendária do candomblé. A tradição, tanto em África quanto no jeje da Bahia,
impõe que a direção no culto aos vodun seja dividido entre um homem e uma
mulher. Tio Xarene era consagrado a Daazoji, vodun da família de Azansu e
Ludovina a Ògún, o que pode nos revelar que ela, africana que era, seria yorùbá e
não fon.
É na Roça de Cima que são construídos os parâmetros do modelo litúrgico
- ritual que se perpetuaria em outros terreiros jeje de Cachoeira e Salvador. E
apesar da expansão dos cultos yorùbá no Recôncavo, tempos depois, essa região
sempre possuiu um conjunto etnolitúrgico bastante diferente dos cultos de
Salvador. As inequívocas influências bantu e jeje promoveram o surgimento de
diversas subnações em Cachoeira, como nagô - vodun, nagô - congo, nagô - agavi,
nagô - tedo, nagô - jexá entre outras. Somente na primeira metade do século XX
o seguimento Kétu vai ganhar força no Recôncavo com a fundação do Àse Ibese
Alákétu Ògún Méjéje, do bàbálòrìṣà Nezinho, em Muritiba. Temos, então, em
Cachoeira, a fundação do Zòògodò Bogun Malè Sejà Hundè, a Roça do Ventura.
A roça de baixo, que descende da Roça de Cima. Maria Agorensi, iniciada na Roça
de Cima por Mãe Ludovina, decide abrir um terreiro e conta com o apoio de Mãe
Ludovina, a qual executa os procedimentos rituais e litúrgicos da roça de baixo.
É muito provável que mãe Agorensi era muito querida, pois com sua saída
da Roça de Cima, muitos teriam " descido " com ela, o que causou impacto
estrutural na antiga casa jeje. Com a morte de Tio Xarene, o terreno da Roça de
Cima foi arrendado por Zé do Brechó, famoso sacerdote e influente nas políticas
sociais de Cachoeira, que fez fama, fortuna e amigos importantes tanto na cidade
quanto na Capital. Zé do Brechó registra oficialmente o sítio Xarene em 1896 e
passa a dirigir a Roça de Cima ao lado de sinhá Abalhe, iniciada por ele mesmo.
Ele morre em 1902 e a Roça de Cima, certamente aí deixa de existir. Hoje o que
sobrou desse terreiro jeje é uma jaqueira centenária onde seria o assentamento
do vodun Azongoroji (Daazoji), divindade do fundador.
Há dois fatos importantes que merecem destaque. Primeiro que a Roça de
Cima, segundo a tradição oral do Sejà Hundè não era Mahi e sim, Mundubi.
Segundo que ela era tradicionalmente dirigida também por homens. Na época da
fundação do Sejà Hundè, meados do século XVIII, início do XIX, inicia - se uma
tendência de terreiros importantes dirigidos apenas por mulheres. Isso pode ter
influenciado Mãe Agorensi e Mãe Ludovina a fundarem um terreiro, além do que,
como foi dito, a Roça de Cima era de tradição Mundubi, já o Sejà Hundè inicia
como tradição Mahi
Lista das sacerdotisas do Sejà Hundè:
 1896 a 1922 - Maria Agorensi de Gbesen
 1934 a 1950- Sinhá Abalhe de Gbesen
 1957 a 1971 - Pararasi de Parara
 1978 a 1994 - Agesi de Agé
 1994 a 2012- Gamo Lokosi de Loko
 2013 aos dias atuais - Etemi Alaíde de Oyá
Outro famoso e antigo terreiro é o Zòògodò Bogun Malè Hùndo, fundado
no Engenho Velho da Federação, em Salvador, e em atividade até os dias atuais.
Não se sabe a data de fundação exatamente, mas ele já - funcionava em 1830.
Observe que ambos os terreiros possuem praticamente o mesmo nome e há
indícios de que o Bogun de Salvador seja uma espécie de matriz do Bogun (Sejà
Hundè), de Cachoeira. Vimos a pouco que a roça de baixo (Sejà Hundè), derivou
da Roça de Cima. Porém, diante da dissidência de um grupo, o qual funda o Sejà
Hundè e da ligação íntima de Mãe Ludovina com o Bogun de Salvador, a hipótese
não pode ser descartada.
Numa carta escrita em 1940 por Maria Romana de Kposu, líder do Bogun
na época, ela descreve o Bogun como matriz da Roça de Cima, o que é pouco
provável. Mas dá indícios de que seria matriz do Sejà Hundè, em função da
presença de Mãe Ludovina em ambos e ambos serem jeje Mahi e não Mundubi
(Roça de Cima).
Lista das sacerdotisas do Bogun
 1890 a 1920- Valentina de Sogbo
 1937 a 1950 - Miliana de Agé
 1953 a 1956 - Romanina de Kpo
 1960 a 1975 - Runhó de Sogbo
 1978 a 1994 - Nicinha de Loko
 2002 aos dias atuais - Índia de Azansu

Jèjè no Rio de Janeiro


No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiacú Rosena, natural de
Alalá, o Terreiro do Podabá no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha
Adelaide São Martinho do Espírito Santo, também conhecida como Ontinha de
Oiá (Oiá Devodê), mais conhecida como Mejitó, que transferiu a casa de santo
para o bairro Coelho da Rocha, e esse axé foi herdado por Glorinha Tokweno (lê-
se: Toqüeno), com terreiro no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
Depois, descendente do Zobodô Bo Gu Ma Le Sejá Hundê, veio Antonio Pinto de
Oliveira, Tata Fomotinho que fundou o Kwe Sejá Nassó, no bairro de Santo Cristo,
depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de
Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem os mais velhos, que
Mejitó, ajudou muito Tata Fomotinho no começo de sua vida de santo no Rio de
Janeiro. Ele deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Ressalte-se ainda, a
importância do Jeje Maí quanto ao vodum Ajunsum – Azansu, Sapatá. [Todos os
Voduns, pertencentes ao panteão de Sapatá, são da família Dambirá. Nesse
panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toi Acossô, no
transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toi
Acossô é o patrono dos cientistas, ele lhes dá inspirações para a descoberta das
fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a própria “doença e
cura”, como também um excelente conselheiro. ]

Jèjè em São Paulo


Pai Vavá de Bessém era da nação Jeje Savalu de Cachoeira de São Félix
iniciado aos 3 anos como era comum na época, quando jovem foi para Salvador
onde teve um terreiro de candomblé e viveu por muitos anos, depois foi morar no
Rio de Janeiro e por último em São Paulo onde morou até morrer.

VODUNS – As Divindades Jèjè


Os voduns no Jeje são basicamente os da Mitologia jeje e Fon.
 Dambê: é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
 Mawu: é o Ser Supremo dos jejes e fons.
 Lissá: que é masculino, e também corresponsável pela Criação.
 Loco: é o primogênito dos voduns. Dono da joia de maí que é o rumbê
 Gu: vodum dos metais, guerra, fogo e tecnologia.
 Quevioço: vodum que comanda os raios e relâmpagos.
 Sapatá: vodum da varíola.
 Dã: vodum da riqueza, representado pela serpente do arco-íris.
 Agué: vodum dono dos mares.
 Aizã: vodum feminino e dona da crosta terrestre e dos mercados.
 Agassu: vodum que representa a linhagem real do Reino do Daomé.
 Aguê: vodum da caça e protetor das florestas.
 Lebá: o caçula de Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a
sexualidade.
 Fa: vodum da adivinhação e do destino.
 Aziri: vodum das águas doces.
 Possum: vodum do po e da terra seca representado pelo tigre.
 Bessém: é o dono das águas doces em Abomé e Uidá, do qual é patrono.
 Sobô: vodum do trovão da família de Quevioço.
 Tobossi, Naê ou Mami Uata: são todas as voduns femininas das ezins
jeçuçu, jevivi e salobres.
 Nanã: considerada por todos os adeptos do culto vodum como a grande
Mãe Universal.

SEGMENTOS DA NAÇÃO JEJE


A Nação Jeje compreende as culturas de diversos povos, tais quais os Fons,
Ewes, Adjas, Minas, Popos, Gans, etc. Estes povos tinham e tem em comum sua
forma de religião: o culto ao Vodun. Mas a diversidade no culto varia de povo para
povo, de seguimento para seguimento. Estes povos habitavam o antigo reino de
Dahomey, Dahomé ou Daomé, situado onde hoje é o Benin, mantendo
proximidades com a Nigéria, onde situam-se os povos yorubás, e que mantém em
suas regiões fronteiristas, uma mescla de seus cultos, fazendo com que os “jejis”
adotassem alguns orixás em seu panteão (voduns nagôs como Oyá, Òsún,
Yemanjá), assim como os nagôs adotaram alguns voduns em seu panteão
(Oxumaré, por exemplo). Os povos da capital de Dahomey (Abomey ou Abomé)
eram pricipalmente os Adjas. Por volta de 1650, os Adjas conseguiram dominar
os Fons, e o rei Hwegbajá (1645-1685) declarou-se rei de seu território comum.
Tendo estabelecido sua capital em Abamey, Hwegbajá e seus sucessores
conseguiram estabelecer um Estado altamente centralizado com base no culto da
realeza (Voduns Reais) estruturado em sacrifícios (incluindo sacrifícios
humanos) aos antepassados do monarca. Toda a terra era propriedade direta do
rei, que coletava tributos de todas as colheitas obtidas. Logo este povo entraria
em confronto com vários outros, alguns pertencentes à própria origem “jeji”
(daomeana) como os povos de Aladá, Mahi, Uidá, e outros povos de origem
yorubá, tais como o Reino de Oyó, que acabou vencendo os daomeanos.
Economicamente, entretanto, Hwegbajá e seus sucessores lucraram
principalmente com o tráfico de escravos e relações com os escravistas
estabelecidos na costa. Como os reis do Daomé envolveram-se em guerras para
expandir seu território, e começaram a utilizar rifles e outras armas de fogo
compradas aos europeus em troca dos prisioneiros, que foram vendidos como
escravos nas Américas. No Brasil, chegaram principalmente os Minas (povos da
Costa da Mina, de origem Mina e Popo), os Mahis (povos camponeses de origem
Fon, Ewe e Gan), os Savalus (também de origem Fon, Ewe), povos de Aladá, Uidá
e os próprios Adjas. Esses diferentes povos de diferentes línguas e costumes
estabeleceram seu culto no Brasil, sob o nome de Nação Jeje, baseando-se no
culto aos Voduns e formando várias ramificações, dentre as quais se destacam:
 Jeje Dahomey: é a forma de culto estabelecida pelos povos adjas,
seu culto baseia-se principalmente na reverência aos Voduns Reais
(dirigentes do Dahomey), Voduns da família de Hevioso (voduns do
trovão, juntamente com os tòvoduns ou voduns aquáticos) e
Voduns da família de Dan (serpentes). Orixás não são cultuados
nesta ramificação. O terreiro que representa esta nação é o Terreiro
do Pinho (Hunkpame Dahomey) situado em Maragojipe na Bahia.
As línguas faladas são o adjagbé e o ewegbé.

 Jeje Mina: O Jeje Mina tem seu culto voltado à adoração real dos
voduns de Abomey. Isso porque a fundadora deste culto (presente
unicamente na Casa das Minas, pois nas demais casas de Tambor
de Mina, o culto é Mina Jeje-Nagô, com influências yorubás) era a
Rainha Nã Agontimé. “Adandozan também é retratado como
incompetente – como comandante e guerreiro – e como um traidor
da família real, pois teria vendido sua madrasta, a rainha Nã
Agontimé, aos traficantes de escravos. Pesquisas realizadas por
Pierre Verger sugerem que Nã Agontimé teria sido enviada como
escrava a São Luis do Maranhão – onde foi renomeada como Maria
Jesuína – e seria a fundadora da célebre Casa das Minas”. Pierre
Verger ainda cita: “A Casa das Minas teria sido fundada pela rainha
Nã Agontime, viúva do Rei Agonglô (1789- 1797), vendida como
escrava por Adondozã (1797-1818), que governou o Dahomey após
o falecimento do pai e foi destronado pelo meio irmão, Ghezo, filho
da rainha (1818-1858). Ghezo chegou a organizar uma embaixada
às Américas para procurar a sua mãe, que não foi encontrada. ” A
Casa das Minas cultua os Voduns dirigentes e nobres do Dahomey,
inclusive Zomadonu, que é chefe da Casa da Minas, juntamente com
Nochê Naé, a ancestral mítica da família Real.

 Jeje Mahi: Os Povos Mahi eram camponeses, tinham seu culto


voltado, principalmente a Dan Gbé Sén (Bessém, este termo
significa “adorar a vida” e dangbésén significa “serpente que adora
a vida”) e aos voduns de sua família, e também aos voduns da
família de Hevioso ou Kaviono, e os voduns da família de Sakpata.
Voduns reais e Eguns não são cultuados. Tem influências nagôs e
em seu panteão adotou-se alguns Orixás, formando a família Nagô-
Vodun, formada principalmente por Ogun ou Gú, Odé, Oyá, Òsún e
Yemanjá. O culto trazido pela africana conhecida como Ludovina
Pessoa, natural de Mahi, iniciada para o vodun nagô Ogun, que foi
escolhida pelos voduns para fundar três templos na Bahia. Ela
fundou o “Zoogodo Bogun Malé Hundo”, mais conhecido como
“Terreiro do Bogun”, consagrado a Hevioso e o “Zoogodo Bogun
Sejá Hundê”, mais conhecido como “Kwê Sejá Hundê”, consagrado
a Bessém. O templo que seria consagrado a Azansú Sakpata não
chegou a ser fundado. Dizem os antigos que o Ogun de Ludovina se
chamava “Ogun Rainha” ou “Ogun da Rainha”, podendo supor que
ela seria uma integrante da família real ou mesmo uma rainha do
território Mahi. No Rio de Janeiro, o Kpo Dagbá é o grande
representante desta nação, fundado pela africana da cidade de
Aladá, Gaiaku Rosena, iniciada para o vodun Bafono Deká. *Jeje
Modubi: * O jeje modubi cultua os voduns das famílias Dan,
Hevioso e Sakpatá e tem grande influência nagô. Também há o culto
aos eguns (akututos)

 Jeje Savalu: Com forte influência yorubá em seu culto.

Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da


família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo
feminino, de Doné.
Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de
Dan seria “Megitó Benoí? ” Resposta: “Benoí”; e aos iniciados da família Kaviuno,
ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao? ” Resposta: “Aótin”.
O termo usado “Okolofé”, cuja resposta é “Olorun Kolofé ou Kolofé
Olorun” vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns
só cresceu no antigo Dahomé e muitos desses Voduns não se fundiram com os
orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um
exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e
foi até as Antilhas.
Quanto à classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-
se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns
Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da
nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor
da Azan, onde Azan quer dizer “esteira”, em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje,
o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé.
Ainda sobre os voduns da terra encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado
também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno,
porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito
importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses.
A palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje
chama-se Kwe = “casa”. A casa matricial em Cachoeira e São Félix chama-se Kwe
Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de
florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das
cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os
animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo,
pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço
sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se
Runpame, que quer dizer “fazenda” na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa
chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame.
No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e
Tobosses e vários Voduns onde a “sacerdotisa” é chamada Noche e o cargo
masculino, Toivoduno.
Na cultura Jeje, ifá é chamado de Vodun-fá ou Deus do destino e o
Babalawo é denominado de Bokunó.
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o
primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo
altar sagrado”, porque Peji = “altar sagrado” e Gan = “senhor”.
O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade
os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje.
Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé,
etc.
A Nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que
vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em
solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.
A palavra “ajoié” é correspondente feminino de ogan pois, a palavra ekedi,
ou ekejí, vem do dialeto ewe, falado pelos negros fons ou Jeje. Portanto, o
correspondente yorubá de ekedi é ajoié, onde a palavra ajoié significa“mãe que o
orixá escolheu e confirmou”. Assim como os demais oloyés, uma ajoié tem o
direito a uma cadeira no barracão. Deve ser sempre chamada de “mãe”, por todos
os componentes da casa de orixá, devendo-se trocar com ela pedidos de bençãos.
Os comportamentos determinados para os ogans devem ser seguidos pelas
ajoiés.Em dias de festa, uma ajoié deverá vestir-se com seus trajes rituais, seus
fios de contas, um ojá na cabeça e trazendo no ombro sua inseparável toalha, sua
principal ferramenta de trabalho no barracão e também símbolo do óyé, ou cargo
que ocupa. A toalha de uma ajoié destina-se, entre outras coisas, a enxugar o rosto
dos omo-orixás manifestados. Uma ajoié ainda é responsável pela arrumação e
organização das roupas que vestirão os omo-orixás nos dias de festas, como
também, pelos ojás que enfeitarão várias partes do barracão nestes dias. Mas, a
tarefa de uma ajoié não se restringe apenas a cuidar dos orixás, roupas e outras
coisas. Uma ajoié também é porta-voz do orixá em terra.
Dentro dos cultos afros-brasileiros existe uma categoria de pessoas que são
classificadas de Abiyans. A palavra Abiyan quer dizer: Abi= “aquele que” e Na=
seria uma contração de “Onã”, que quer dizer “caminho”. As duas palavras
aglutinadas formaram o termo Abiyan, que quer dizer “aquele que começa”, “um
novo caminho”. O Abiyan é uma pessoa que está começando um novo caminho,
uma nova vida espiritual. O Abiyan também pode ter fios de contas lavados,
obrigação de bori e, até em alguns casos, ter orixá assentado. O Abiyan é um pré-
iniciado e não um simples frequentador, como muitas das vezes é classificado.
Pode desempenhar várias atividades dentro de um terreiro, como por exemplo,
varrer, ajudar na limpeza, ajudar nos cafés da manhã e almoços comunitários
realizados em dias de festas de orixá, lavar louças, ajudar na decoração do
barracão, enfim, o Abiyan pode desempenhar várias tarefas sem maior
envolvimento religioso. O período de Abiyan é de muita importância pois, é nesse
período que o recém-chegado no Candomblé passa a observar o comportamento
e a conviver com os já iniciados. Existem pessoas que passaram por um longo
período sendo Abiyan, antes de se iniciarem no Candomblé. Portanto, vale
ressaltar a importância deste período, ou seja, Abiyan e dizer que o frequentador
em yorubá, chama-se Lemó-mú.

Dialeto ewe: algumas das palavras mais utilizadas


 Esin = água
 Atinçá = árvore
 Agrusa = porco
 Kpo = pote
 Zó ou isso = fogo
 Avun = cachorro
 Nivu = bezerro
 Bakuxé = parto de barro
 Yan = fio de contas
 Vodun-se = filho do vodun ou iniciados da Nação Jeje
 Yawo = filho do vodun ou iniciados da Nação Ketu
 Tó = banho
 Zandro = cerimônia Jeje
 Sidagã = auxiliar da Dagã na Cerimônia a Legba
 Zerrin = ritual fúnebre Jeje
 Sarapocã = cerimônia feita sete dias antes da festa pública de apresentação
do (a) iniciado (a) no Jeje
 Sabaji = quarto sagrado onde fica os assentos dos Voduns
 Runjebe = colar de contas usado após sete anos de iniciação
 Runbono = primeiro filho iniciado na Casa Jeje
 Rundeme = quarto onde fica os Voduns
 Ronco = quarto sagrado de iniciação
 Bejereçu = cerimônia de matança.

INICIAÇÃO NA NAÇÃO JEJE


De um modo geral, a iniciação no Jeje é mais complicada do que a iniciação
da Nação Ketu, a começar pelo tempo de reclusão dos neófitos que no passado
durava até um ano. Hoje, devido ao ritmo de nossas vidas, este tempo caiu para
seis meses. Três meses a vodunsi fica dentro do Hundeme (quarto de santo) e os
outros três meses fora dele, mas ainda na roça. Durante seu período de iniciação
a Vodunsi passará por várias etapas, entre as quais pode-se citar Sakpokàn ou
Sarakpokàn, Vivauê, Kán, Duká, Zò, Sanjebé, Grá (ou Grã), etc. Dentre estes os
de maior destaque o Sakpokàn e o Grá.
A iniciação no Jeje Mahi sempre contece com formação de “barcos” ou
“ahamas”, pois pela tradição nunca se recolhe uma única pessoa e nem barcos
com números pares de componentes, levando ao entendimento de que sempre
que houver iniciação deve-se ter no mínimo três Vodunsis em processo, na roça.
Em geral cada sacerdote ou sacerdotisa Jeje Mahi, durante seu comando,
não recolhem muitos barcos; a quantidade controlável de filhos de santo é muito
importante, pois há um ditado que diz “é melhor ter poucos filhos bons a muitos
ruins”.
Na Casa das Minas também não é diferente. A iniciação da Vodunsi começa
com a filha “bolando” (caindo) aos pés da arvore consagrada a seu Vodun (atinsá),
e ali ela permanecerá desacordada durante sete dias e sete noites. Dizem que já
houve casos de vodunsis consagradas a voduns aquáticos que ficaram esse
período na água.
A ordem das vodunsis no barco se dá pela ordem conforme elas vão
“bolando” nos atinsás, assim teremos:
A primeira será Dofona (o) (Dòfònun)
A segunda será Dofonotinha (o) (Dòfònuntín)
A terceira será Fomo (Fòmò ou Yòmò)
A quarta será Fomotinha (o) (Fòmòtín)
A quinta será Gamo (Gàmò)
A sexta será Gamotinha (o) (Gàmòtín)
A sétima será vimo (Vimun)
E ainda pode-se seguir vimotinho, dimu, dimutinho, etc.
Durante o tempo que a Vodunsi permanecer debaixo do atinsá de seu
Vodun, será cuidada pelos Ogãs e Ekedjis. Neste período, a mãe de santo (ou pai)
é proibida de ir ver a filha. Isso por que a (o) zeladora (o) pode sentir pena da
Vodunsi e de certa forma pode querer ajudá-la, afim de aliviá-la de seu estado.
Acabando os sete dias, a vodunsi ainda desfalecida será levada pelos ogans até o
zelador, no Hundeme, para que este inicie a feitura. O momento em que a vodunsi
acorda do desfalecimento é considerado como um renascimento, após passar pela
morte ritual e acordar numa nova vida, agora como Vodunsi, um compromisso
que deverá carregar consigo por toda sua vida. A partir daí a vodunsi passará por
processos de limpezas, descarregos, banhos de ervas, ebós, e durante uma
semana deverá descansar até o dia do Sakpokàn ou Sarakpokàn.
O Sakpokàn é uma cerimônia que acontece sete dias após o início dos
rituais de feitura, quartorze dias após o “bolar”, na qual a vodunsi dança
manifestada com seu Vodun. A dança é desajeitada e desordenada. O Sakpokàn
também representa a despedida da Vodunsi de seus familiares que forem assistir
ao ritual, que só verão a vodunsi novamente meses depois, no “dia do nome”.
No dia do Sakpokàn a Vodunsi será raspada e catulada. Das etapas de
iniciação que a nova Vodunsi deve passar, a mais intrigante e misteriosa é o Grá.

O Grá
O Grá é uma divindade ou entidade violenta e agressiva que se manifesta
na Vodunsi apenas na sua iniciação, durante três dias, e próximo ao “dia do
nome”. O principal objetivo do Grá é matar o (a) zelador (a) que deverá
permanecer escondido nos aposentos da casa durante os três dias em que o Grá
estiver manifestado. O Grá é acompanhado pelos Ogans, Ekedis e algumas
Vodunsis antigas que farão com que ele realize algumas penitências, fazendo-o
cansar. Há um número certo de pessoas que poderão acompanhar o Grá que
durante estes três dias ficará solto pelo pátio da roça comendo tudo que encontrar
como folhas de árvores e frutos caídos, motivos estes que exigem que a roça seja
grande e com bastante árvores.
As pessoas que acompanham o Grá, assim como ele mesmo, carregam um
porrete com o qual ele tenta agredir as pessoas e realiza sua penitência, que tem
como objetivo levar todo mal e toda energia negativa da Vodunsi, e também o
objetivo principal de cansar o Grá para que ele não cause tanto transtorno.
Durante os dias de penitência, os acompanhantes entoam certas cantigas
específicas. Após os três dias procurando o (a) zelador (a), o Grá tem o encontro
tão esperado, que acontecerá no Agbasá (salão de dança). Ao som de paó e
adahun, o Grá entra pela porta principal do Agbasá e se deparara com o (a)
zelador (a), que estará sentado (a) em uma cadeira esperando por ele, partindo
para cima do mesmo para matá-lo. Neste instante todo cuidado é pouco, pois o
Grá pode ferir o (a) zelador (a).
Quando o Grá adentra o Agbasá, os Ogans correm para tirar-lhe o porrete
que ele luta para não entregar. É um momento de extase. Nesse instante os
tambores tocam com mais força e o (a) zelador (a), então nervoso e sem poder
sair da cadeira, entoa uma cantiga e a Vodunsi cai desfalecida no chão e logo em
seguida é pega pelo Vodun. É um alivio total e o ritual do Grá chegou ao fim.
A quem diga que o Grá é um Erê malvado, outros ainda dizem que é o lado
negativo do Vodun ou mesmo da própria Vodunsi, um lado animalesco e
primitivo seu, que está no seu inconsciente, que se manifestou em seu
renascimento e que foi mandado embora para sempre.
O Grá despeja para fora toda raiva e o ódio da Vodunsi. Como se depois do
Grá não houvesse mais ódio, raiva, rancor dentro da Vodunsi, somente o que é
bom e benéfico. Significa que a Vodunsi nunca mais sentirá fome, nunca mais vai
dormir no relento, nunca mais irá confrontar ou agredirá seu (a) zelador (a),
fisicamente ou com palavras, pois o Grá levou isso com ele. O ritual do Grá
envolve muitas simbologias e interpretações que pelas leis do Jeje não poderei
citá-las aqui.

O Dia do Nome
O Dia do Nome é um dia muito especial, com cerimônia pública (Zandró)
no Jeje Mahi.
O Vodum manifestar-se-á em sua Vodunsi e vai dançar na sala.
Antigamente, uma única pessoa era escolhida para tomar o nome particular (Hún
ìn) do Vodun de todas no “barco”, sendo considerado (a) padrinho ou madrinha
do “barco”.
Hoje geralmente são escolhidos mais de uma pessoa para esta tarefa. Após
este dia, a iniciante agora sim é uma Vodunsi. As vodunsis sempre usam seus
nomes religiosos, determinado por sua posição no barco e seu vodum, assim
poderemos ter, por exemplo, Dofona Ongorensi (feita de Gbesén), Dofonotinha
Sogbosi (feita de Sògbò), Fomo Togbosi (feita de Aziri Togbosi), Fomutinha
Òsúnsi (feita de Osún), Gamo Lokosi (feita de Loko), e assim por diante. Se a
Vodunsi atingir um grau sacerdotal apenas acrescentará a frente de seu nome, o
cargo, desta forma: Mègitó Dofona Ongorensi, Doné Dofonotinha Sogbosi,
Gaiaku Gamo Lokosi.

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