Nação Jèjè
Nação Jèjè
Estabeleceu - se por volta do início do século XVII pelo povo Fon que havia
se situado na área do planalto de Abomey e nesta mesma época o palácio real foi
construído. Evidências sugerem que o planalto de Abomey foi colonizado por
várias tribos, comumente conhecidas como Gedevi, mas que o fundador do Reino
do Danxome seria Houegbadja que começou a conquistar cidades fora de
Abomey. Agaja, neto de Houegbadja, se torna rei em 1718. Ele inicia uma
expansão do reino e aumenta a atividade militar em toda a região, assumindo o
controle dos reinos de Quidah e Allada. Mas o Império de Oyo estava no auge de
seu poder e exercia uma hegemonia sobre as tribos locais. Assim, em 1729, Agaja
começa uma guerra contra Òyo que perdura até 1730, com a derrota do Danxome,
que a partir daí terá de pagar tributos a Oyo. Em pouco tempo, o comércio de
escravizados aumentou por meio de Ouidah e Allada. O reino se torna conhecido
pelos comerciantes europeus como uma importante fonte de escravizados. Um
século depois, o reino do Danxome é uma potência regional. Em 1818, Ghezo sobe
ao trono após um golpe contra seu irmão, Adandozan. Pouco tempo depois, com
a diminuição do poder de Oyo na região, o rei Ghezo foi capaz de incidir
militarmente contra os Mahi e o povo Gbe na década de 1820.
Após vitórias, ele concentrou o poder miliar em uma região que havia
estado entre o Império de Oyo e o Danxome.
Por volta de 1840, Abéòkúta se tornou uma grande potência e as guerras
entre ela e o Danxome tornaram - se regulares. Em 1849, o oficial naval britânico
Frederick Forbes foi em missão à corte do rei Ghezo em uma tentativa
malsucedida de convencer o seu envolvimento no comércio escravagista. O
Danxome se tornou um importante centro do comércio de escravizados do
Atlântico até 1852, por conta das pressões dos britânicos para coibir o tráfico
transatlântico. Aos britânicos Ghezo disse: " O comércio de escravos tem sido o
princípio governante de meu povo. É a fonte de sua glória e riqueza. Suas canções
celebram as vitórias e a mãe embala a criança para dormir com notas de triunfo
sobre o inimigo reduzido à escravidão. " Em 1851, Ghezo organizou um ataque à
cidade de Abéòkúta, mas não teve sucesso. Ainda assim, em 1858, uma facção
conservadora pressionou Ghezo para começar novamente as operações militares
em grande escala com ataque a Abéòkúta. Esta guerra levou Ghezo à morte. Ele
era filho de Ná Agontime que foi vendida por Adandozan para o comércio de
escravizados, pois ela apoiava o seu rival ao trono. Nesta ação ela vem como
escravizada para o Brasil e tempos depois funda a Casa das Minas no Maranhão.
Os Gbe-Falantes
Na primeira metade do século XVIII, a área de cultivo de fumo e cana de
açúcar no Recôncavo baiano se expande e necessita de mão-de-obra escravizada.
Este período coincide com a expansão do Reino do Danxome.
Agaja, que se torna rei em 1718, inicia uma expansão do reino e aumenta a
atividade militar em toda a região, assumindo o controle dos reinos de Ouidah e
Allada. Neste contexto, grandes contingentes de prisioneiros de guerra gbe -
falantes (Ewè, Fon, Mahi, Fante, Așante etc.), são embarcados em Ouidah para a
Bahia e são comprados justamente por fazendeiros do Recôncavo. Todas essas
etnias são chamadas, genericamente, de Jeje, expressão que vem do yorùbá
" àjèjì " e significa estrangeiro, forasteiro. E assim vamos nos referir a partir de a
agora. O fumo de baixa qualidade se torna o produto básico do comércio entre a
Bahia e a Costa da Mina, na África, utilizado amplamente na troca por
prisioneiros de guerra do Reino do Danxome. Neste período, o número de
escravizados jeje em Cachoeira, São Félix e vilas vizinhas, sobe vertiginosamente
de 11 para quase 30 % da população escravizada. Nesta época, negros bantu e jeje
predominavam e assim se mantiveram até 1820, com o decréscimo dos bantu,
primeiramente. Entre 1730 e 1780, os jeje correspondiam ao grupo étnico
africano demograficamente mais importante entre a população escravizada não
só do Recôncavo, mas de toda Bahia.
A Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios, por exemplo, foi
fundada em Cachoeira, por africanos jeje e na qual a filiação de homens crioulos,
ou seja, pretos nascidos no Brasil, era dificultada. Neste contexto de maioria jeje
no recôncavo, diversos cultos domésticos, individuais ou coletivos se formaram,
dando origem aos calundus bantus e jejes tanto em Cachoeira, quanto em
Salvador.
Jeje Mina: O Jeje Mina tem seu culto voltado à adoração real dos
voduns de Abomey. Isso porque a fundadora deste culto (presente
unicamente na Casa das Minas, pois nas demais casas de Tambor
de Mina, o culto é Mina Jeje-Nagô, com influências yorubás) era a
Rainha Nã Agontimé. “Adandozan também é retratado como
incompetente – como comandante e guerreiro – e como um traidor
da família real, pois teria vendido sua madrasta, a rainha Nã
Agontimé, aos traficantes de escravos. Pesquisas realizadas por
Pierre Verger sugerem que Nã Agontimé teria sido enviada como
escrava a São Luis do Maranhão – onde foi renomeada como Maria
Jesuína – e seria a fundadora da célebre Casa das Minas”. Pierre
Verger ainda cita: “A Casa das Minas teria sido fundada pela rainha
Nã Agontime, viúva do Rei Agonglô (1789- 1797), vendida como
escrava por Adondozã (1797-1818), que governou o Dahomey após
o falecimento do pai e foi destronado pelo meio irmão, Ghezo, filho
da rainha (1818-1858). Ghezo chegou a organizar uma embaixada
às Américas para procurar a sua mãe, que não foi encontrada. ” A
Casa das Minas cultua os Voduns dirigentes e nobres do Dahomey,
inclusive Zomadonu, que é chefe da Casa da Minas, juntamente com
Nochê Naé, a ancestral mítica da família Real.
O Grá
O Grá é uma divindade ou entidade violenta e agressiva que se manifesta
na Vodunsi apenas na sua iniciação, durante três dias, e próximo ao “dia do
nome”. O principal objetivo do Grá é matar o (a) zelador (a) que deverá
permanecer escondido nos aposentos da casa durante os três dias em que o Grá
estiver manifestado. O Grá é acompanhado pelos Ogans, Ekedis e algumas
Vodunsis antigas que farão com que ele realize algumas penitências, fazendo-o
cansar. Há um número certo de pessoas que poderão acompanhar o Grá que
durante estes três dias ficará solto pelo pátio da roça comendo tudo que encontrar
como folhas de árvores e frutos caídos, motivos estes que exigem que a roça seja
grande e com bastante árvores.
As pessoas que acompanham o Grá, assim como ele mesmo, carregam um
porrete com o qual ele tenta agredir as pessoas e realiza sua penitência, que tem
como objetivo levar todo mal e toda energia negativa da Vodunsi, e também o
objetivo principal de cansar o Grá para que ele não cause tanto transtorno.
Durante os dias de penitência, os acompanhantes entoam certas cantigas
específicas. Após os três dias procurando o (a) zelador (a), o Grá tem o encontro
tão esperado, que acontecerá no Agbasá (salão de dança). Ao som de paó e
adahun, o Grá entra pela porta principal do Agbasá e se deparara com o (a)
zelador (a), que estará sentado (a) em uma cadeira esperando por ele, partindo
para cima do mesmo para matá-lo. Neste instante todo cuidado é pouco, pois o
Grá pode ferir o (a) zelador (a).
Quando o Grá adentra o Agbasá, os Ogans correm para tirar-lhe o porrete
que ele luta para não entregar. É um momento de extase. Nesse instante os
tambores tocam com mais força e o (a) zelador (a), então nervoso e sem poder
sair da cadeira, entoa uma cantiga e a Vodunsi cai desfalecida no chão e logo em
seguida é pega pelo Vodun. É um alivio total e o ritual do Grá chegou ao fim.
A quem diga que o Grá é um Erê malvado, outros ainda dizem que é o lado
negativo do Vodun ou mesmo da própria Vodunsi, um lado animalesco e
primitivo seu, que está no seu inconsciente, que se manifestou em seu
renascimento e que foi mandado embora para sempre.
O Grá despeja para fora toda raiva e o ódio da Vodunsi. Como se depois do
Grá não houvesse mais ódio, raiva, rancor dentro da Vodunsi, somente o que é
bom e benéfico. Significa que a Vodunsi nunca mais sentirá fome, nunca mais vai
dormir no relento, nunca mais irá confrontar ou agredirá seu (a) zelador (a),
fisicamente ou com palavras, pois o Grá levou isso com ele. O ritual do Grá
envolve muitas simbologias e interpretações que pelas leis do Jeje não poderei
citá-las aqui.
O Dia do Nome
O Dia do Nome é um dia muito especial, com cerimônia pública (Zandró)
no Jeje Mahi.
O Vodum manifestar-se-á em sua Vodunsi e vai dançar na sala.
Antigamente, uma única pessoa era escolhida para tomar o nome particular (Hún
ìn) do Vodun de todas no “barco”, sendo considerado (a) padrinho ou madrinha
do “barco”.
Hoje geralmente são escolhidos mais de uma pessoa para esta tarefa. Após
este dia, a iniciante agora sim é uma Vodunsi. As vodunsis sempre usam seus
nomes religiosos, determinado por sua posição no barco e seu vodum, assim
poderemos ter, por exemplo, Dofona Ongorensi (feita de Gbesén), Dofonotinha
Sogbosi (feita de Sògbò), Fomo Togbosi (feita de Aziri Togbosi), Fomutinha
Òsúnsi (feita de Osún), Gamo Lokosi (feita de Loko), e assim por diante. Se a
Vodunsi atingir um grau sacerdotal apenas acrescentará a frente de seu nome, o
cargo, desta forma: Mègitó Dofona Ongorensi, Doné Dofonotinha Sogbosi,
Gaiaku Gamo Lokosi.