IGLESIAS. Methexis
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ESTVDOS PLATÔNI(OS
para referir-se à relação existente entre o eidos comum e os particulares que têm
em comum esse eidos, nos diálogos da primeira fase, em que ainda não é
aparentemente,
reconhecidaacisãosensível/inteligível , é ligado ànoçãode
presença: einai, eneinai, pareinai, gignesthai, engignesthai, paragignesthai. 0
que faz que a coisa seja x é o fato de o eidos X estar na coisa ou ao lado da coisa.
A coisa, por sua vez, tem (ekhei)o eidos. No Górgias, Sócrates refere-se mesmo
à relação entre eidos e coisa como participação:
As coisas que não são nem boas nem más são aquelas que participam (uetéyéu)
ora do bem ora do mal ora nem do bem nem do mal... (467 E10)
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A RELAGÃO ENTRE SENSÍVEL E INTELIGÍVEL: METHEXIS OV MIMESIS?
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ARELAÇÃO ENTRESENSÍVELE INTELIGÍVEL: METHEXIS OV MIMESIS?
3. H.JACKSON,Plato 's Later Theory of Ideas. I. The Philebus and Aristotle's Metaphysics
I6, The Journal of Philology, 10 (1882) 253-298; II. The Parmenides 11 (1882) 285-331;
II. The Timaeus, 13 (1885) 1-40; IV. The Theaetetus, 13 (188S) 242-272; V. The Sophist, 15
(1886) 173-305.
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ESTUDOS PLATÔNICOS
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A RELAÇÃO ENTRE SENSÍVEL E INTELIGÍVEL: METHEXIS OV MIMESIS?
Examina o que se segue da existência dessas realidades ... Para mim é muito
claro: se há outra coisa bela além do belo em si, essa coisa não é bela senão
por uma razão: porque participa (ueréņeL) desse belo. (100 CS)
Eu me apego a essa razão: nada torna essa coisa bela a não ser a presença
(Tepovoia) ou a comunhão (Kouvovia) desse belo. (100 D5)
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Dizemos que há algo que é o igual (tò Loov)? Não quero dizer um pedaço de
pau igual a outro, ou uma pedra igual a outra, nem nada desse tipo, mas outra
coisa para além dessas o igual ele mesmo («ỦTÒ Tó Loov)...
De onde derivamos o conhecimento disso? Não é das coisas de que falamos
agora? Não é vendo pedaços de pau ou pedras ou outras coisas iguais que deri-
vamos a partir delas o conhecimento do igual mesmo, que é outra coisa que não
elas? Ou não achas que é uma outra coisa?..
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A RELAÇÃO ENTRE SENSÍVEL E INTELIGÍVEL: METHEXIS OV MIMESIS?
E logo depois:
Concordamos então que quando alguém, vendo uma coisa pensa: "essa coisa
que eu vejo almeja (BoúAerK) ser como alguma outra coisa que existe, mas ca
em falta (võeL Oč) e é incapaz de ser como essa coisa, mas é inferior a ela",
aquele que assim pensa deve necessariamente ter tido conhecimento prévio
dessa coisa que ele diz que se assemelha mas é de ciente em relação a ela
(evõeéorepoç čyeLw). (74 DE)
Aquele que pensa que há belas coisas, mas não um belo em si, nem é capazde
seguir alguém que o conduziria ao conhecimento disso, parece-te que elevive
realmente desperto, ou que vive como em sonho? Pois examina. O sonharnão
éo seguinte: se alguém, quer em sonho, quer acordado, crê ser o queseparece
com algo (tò ŐLOLOV TỘ) não o que se parece com algo mas aquilo mesmo a
que se parece (uh őuoLOv, dAN' airò iyñtau elvau G čouKev)? ...
Ao contrário, aquele que reconhece o belo em si e é capaz de perceber tanto obelo
mesmo como as coisas que dele participam (ràČKELVOUHeTÉzovre), e nãoacredi-
tando que são o belo mesmo as coisas que dele participam, nem queo belomes-
mo é as coisas que dele participam, parece-te que este vive desperto ou como
em sonho? (Rep., V 476 B ss.)
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Sabes também, não é?, que eles utilizam guras visíveis e constroem raciocínios
sobre elas, embora não seja nelas que pensem mas em outras às quais essas se
parecem (oiç toûta čoLKE), construindo raciocínios em vista do quadrado mesmo
(tonTETprycóvou eiroü), da diagonal mesma (6Lauétpou «irîc), e não da diagonal
que traçam, e assim também para as outras guras. Todas aquelas que eles mo-
delam ou traçam, das quais há sombras (oKLcí) e imagens (eiKóveç) nas águas,
eles as utilizam como se fossem imagens (oçELKÓOLUaỦ XpóuevoL), ao procurar
ver aquelas coisas mesmas que não se veem senão pelo pensamento. (510 D)
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Então, caro Gláucon, disse eu, é preciso aplicar essa imagem (taútnv thv eikóve)
ao que foi dito antes, assimilando a região revelada pela visão (thv ôu' öljewç
þavouévmv öpav) ao local da prisão e a luz do fogo que há nela à potência do
sol... (517 B)
O que deve ser notado é que o mundo sensível, fora da caverna, faz o papel
do inteligível, o que quer dizer que, sendo a alegoria toda uma imagem, o sensí-
vel, de novo, aparece, também metaforicamente, como imagem do inteligível.
Note-se também que a República não é um diálogo sobre a natureza dos
aspectos sicos do mundo sensível, como será o caso do Timeu. Ē verdade que
é na República que a extensão do mundo das ideias atinge sua amplitude máxi-
ma. Ao contrário de outros diálogos, que parecem reconhecer claramente apenas
algumas ideias, ou até mesmo só uma (Banquete), a República reconhece a ideia
de tudo, até mesmo de artefatos?. Mas a investigação da República é sobre a
natureza do bem e das virtudes necessárias para a boa constituição da polis,
certamente sobre a paideia, o que leva ao exame minucioso de tudo o que tra-
dicionalmente se inclui na formação dos cidadãos, como a música e a poesia.
Não parece, porém, que a natureza do mundo sensível, como tal, seja objeto do
interesse de Platão, como será o caso no Timeu. O aparecimento do mundo todo
como imagem do inteligível é uma espécie de acidente, resultado das analogias
e metáforas usadas por Platão, na busca pela compreensão do bem.
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A RELAÇÃO ENTRE SENSÍVEL E INTE LIGÍVEL: METHEXIS OV MIMESIS?
... não julgas haver uma certa forma em sie por si da semelhança («itò Ka°xitò
eLöóç TL ÖuoLótntoc) e, por outro lado, contrária a tal forma, uma outra, aqui-
lo que realmente é dessemelhante (ô čoTuv dvópoLov)? E que, nestas duas
coisas, que são, tanto eu quanto tu, quanto as outras coisas que chamamos
múltiplas, temos participação (ueraÀaßévew)? E que algumas coisas, tendo
participação na semelhança (tñç ỏụoLÓtntoG ETaÀKußévoVTa), se tornam se-
melhantes, por causa disso (reÚti) e na medida em que nela tenham partici-
pação, e que outras, tendo participação na dessemelhança, se tornam desse-
melhantes, e que outras, tendo participação em ambas se tornam semelhantes
e dessemelhantes? (129 A)
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6. Ch. H.(KAHN, Plato and the Socratic Dialogue, Cambridge, Cambridge University
Press, 1996, 333.
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a mim está sendo evidente que o que se passa é, antes, o seguinte: que estas
formas estão na natureza como paradigmas (%OTEP TKpaðeLyu«ta), e que as
outras coisas se parecem com elas (tà 8e čada toútouç ČOLKÉVAL)e são seme-
Ihanças delas (Kaù elvaL juouóuata). E que essa participação (h uéêmğLç aÚtn)
nas formas, para estas outras coisas, não vem a ser senão o serem estas feitas
como imagens daquelas (oůK čan tuG îi eİK«ativeL aitotc). (132 D)
7.A tradução de eikaoħvaL segue a de Robin, que remete, em nota ad loc., a Timeu 28 A ss.,
30 C ss., et passim. O termo poderia ser traduzido como parecerem", evitando a introdução da
palavra imagem. Mas, aqui, parece que realmente entra em jogo a noção de imagem, no seu
sentido próprio, de cópia do modelo, independentemente de sua ligação com a produção divina
do Timeu, a que alude a nota de Robin. PLATON, Oeuvres complètes. Traduction nouvelle et
notes établies par L. Robin avec la collaboration de M. J. Moreau, Paris, Gallimard, 1950.
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8. Essa interpretação foi proposta e sustentada sobretudo por Owen, que, para contornar
o obstáculo representado pelo Timeu, que a rma inquestionavelmente a transcendência das
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... por mneio da qual se poderá, aos jovens que uma longa distância separa ainda
da verdade das coisas, despejar pelos ouvidos palavras sedutoras, apresentar de
todas as coisas imagens faladas (eLõoa deyóueva) e dar assim a ilusão de que
aquilo que eles ouvem é verdadeiro e que aquele que fala sabe tudo melhor
que ninguém. (234 C)
ideias e que a tradição sempre considerou um dos últimos diálogos, propôs uma data para
sua composição próxima à da República. A posição de Owen foi veementemente criticada
por Cherniss. As duas posições estão expostas em artigos reimpressos em Studies in Plato 's
Metaphysics, R. E. ALLEN (ed.), London, Routledge&Kegan Paul; New York, The Humanities
Press, 1965, G. E. L. OWEN, The Place of the Timaeus in Plato's Dialogues, 313-338, e H. E.
CHERNISS,Relation of the Timaeus to Plato's Later Dialogues, 339-378.
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9. É digno de nota que o exemplo que o Estrangeiro dará de discurso falso, "Teeteto voa",
proferido diante de Teeteto sentado, não tem absolutamente a aparência de verdadeiro.
10. Ë de Th. Gomperz a comparação da parte central do So sta ao fruto e das de nições
do so sta à casca que o envolve.
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que a questão do não ser tenha sido introduzida a partir da noção da imagem,
quando poderia perfeitamente ter sido introduzida tal como foi discutida, isto é,
como a questão do discurso que diz o que não é.
Reconhecer isso reforça a tese de que a ontologia do So sta mantém as ideias
como realidades transcendentes e a rma sua relação com o sensível como a relação
de modelo e imagem. Para essa ontologia, é indispensável não só que imagens
sejam possiveis, mas que, de fato, existam. Eo Estrangeiro não se limita a provar,
por argumentação, que imagens são possíveis, uma vez que o não ser, de alguma
forma, é. Ele mostra que inmagens existem: o discurso é imagem. E, o que é mais
importante: não é uma imagem qualquer; a relação que ele tem com aquilo de que
ele fala é um exemplo privilegiado da relação modelo/imagem tal como Platão a
concebe para a relação inteligível/sensível: não só modelo e imagem são coisas
de natureza radicalmente distinta, como a relação entre eles não remete a nenhum
tipo de semelhança que os sentidos poderiam detectar, como no caso da seme-
Ihança entre uma coisa e sua imagem produzida pelo pintor.
Não é mais o caso de dizer que a coisa homônima da ideia é, de maneira
de ciente, isso que a ideia é plenamente, tampouco que a ideia, presente na coisa,
a faz ser isso que ela é. Porque a coisa, vista como imagem, não é absolutamente
o que é a ideia, nem mesmo de maneira de ciente. Não há como ligar modelo e
imagemn em um eidos comum.
Mas o que faz então uma coisa ser imagem da outra, isto é, ter, por natureza
e não por convenção, a propriedade de revelar, de trazer à presença isso que ela
radicalmente não é? No caso do discurso, vimos que é a tessitura de palavras que,
ao imitar a tessitura do real, produz a sua imagem. Entretanto, sobre como as
coisas sensíveis são imagens do inteligível, o So sta nada nos diz. Após a longa
digressão que demnonstrou como o discurso pode ser falso, o Estrangeiro retorna,
por assim dizer, ao plano do sensível, onde se insere a investigação sobre quem é
o so sta. E nesse mundo, tal como o tomamos intuitivamente, as coisas das quais
se diz que são por natureza (tà uev þúseL deYóuEVa, 265 E3) são tidas por aquilo
mesmo que elas parecem, e é assim que o Estrangeiro as toma todas - animais,
plantas, os componentes dos seres vivos como fogo, água e coisas desse tipo,
coisas inanimadas que se formam na terra, fundíveis ou não(265SC, 266 B). Delas,
ele não diz que são imagens, mas que delas há imagens: sonhos, sombras, re exOs
em super cies lisas e brilhantes (266 B6-C7). Mas a discussão sobre o que elas
realmente são é um assunto do qual ele deliberadamente se esquiva, limitando-se
a expressar sua convicção de que são obras da razão e da ciência divina, contra a
opinião de muitos, para quem é por uma causalidade espontânea que a natureza
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